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Câmpus de Presidente Prudente Curso de Graduação em Geografia (Licenciatura e Bacharelado)
Convênio: UNESP/INCRA/Pronera
Parceria: Escola Nacional Florestan Fernandes
ESTUDO DA JUVENTUDE NO ASSENTAMENTO SÃO
BENTO - MIRANTE DO PARANAPANEMA /SP:
RENÚNCIA OU RESISTÊNCIA AO TERRITÓRIO
CAMPONÊS?
LUCIANO BENINI DE OLIVEIRA
Monografia apresentado ao Curso Especial de Graduação
em Geografia (Licenciatura e Bacharelado), do Convênio
UNESP/INCRA/Pronera, para a obtenção do título de
Licenciado e Bacharel em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Maria Peregrina de Fátima Rotta
Furlanetti
Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Feliciano
Monitor: Annelise Mariano
Presidente Prudente
2011
ESTUDO DA JUVENTUDE NO ASSENTAMENTO SÃO
BENTO - MIRANTE DO PARANAPANEMA /SP:
RENÚNCIA OU RESISTÊNCIA AO TERRITÓRIO
CAMPONÊS?
LUCIANO BENINI DE OLIVEIRA
Trabalho de monografia apresentado ao Conselho do
curso de Geografia da Faculdade de Ciências e
Tecnologia, campus de Presidente Prudente da
Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título
de Licenciado e Bacharel em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Maria Peregrina de Fátima Rotta
Furlanetti
Co-Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Feliciano
Presidente Prudente
2011
ESTUDO DA JUVENTUDE NO ASSENTAMENTO SÃO
BENTO - MIRANTE DO PARANAPANEMA /SP:
RENÚNCIA OU RESISTÊNCIA AO TERRITÓRIO
CAMPONÊS?
LUCIANO BENINI DE OLIVEIRA
Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção
do título de Bacharel em Geografia da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, submetida à
aprovação da banca examinadora composta pelos seguintes
membros:
Presidente Prudente, novembro de 2011
DEDICATÓRIA
Para Witor Hugo e Lurdes Benini,
Meus pais;
Que nasceram camponeses e me ensinaram que a
vida está acima do lucro;
Que nasceram camponeses e me fizeram
compreender que a terra é fonte de vida;
Que nasceram camponeses e me incentivaram a
encarar a história e a lutar por um mundo onde
caibam todos os mundos;
Que nasceram camponeses e acompanham minha
caminhada e meus sonhos.
Para Rejiane,
Minha companheira;
Quando vejo teu rosto sou invadido por luzes e
sombras... Ao toque de suas mãos, meu corpo se
acende de febre, de frio... Todos os dias se pintam de
branco e de cores invisíveis, e quando estou ao seu
lado, cada minuto recebe uma pincelada da cor da
sua pele... E fica marcado no tempo...
Para Maria Carolina e Miguel,
meus Filhos;
Amor de minha vida
estrela linda e brilhante
de rostinhos fascinantes
razão desse meu viver
orgulho, carinho...bem querer.
Para todos os Sem Terras,
que neste caminhar, ousaram lutar e serem
arquitetos de seus próprios destinos.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho não teria se concretizado sem a inestimável ajuda de professores,
familiares e amigos. A todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram com esta
monografia, o meu sincero muito obrigado.
Peço licença para agradecer especialmente à professora Maria Peregrina de Fátima
Rotta Furlanetti, minha orientadora e amiga, que, nos momentos mais difíceis desses cinco
anos, perdoou as falhas e ausências. Com liberdade, paciência e muita responsabilidade
acadêmica, usou seu profundo conhecimento sobre o tema para corrigir rumos e apontar
direções. Se algum mérito existe nesta monografia, a participação da orientadora foi
determinante.
Agradeço também aos professores Carlos Alberto Feliciano (Cacá), José Gilberto de
Sousa (pedagogia do aço), Marco Mitidiero que durante todo momento estiveram sempre
dispostos a contribuir e mostrar caminhos em meio às incertezas.
Aos integrantes da Banca Examinadora, cujas oportunas e relevantes observações foram
fundamentais para clarear o objeto da pesquisa e melhorar o raciocínio que vinha sendo
construído.
Agradeço aos professores que contribuíram com a conquista e a constituição do curso
de Geografia para assentados: Campus de Presidente Prudente, especialmente aos professores
doutores Antônio Thomaz Junior e Bernardo Mançano Fernandes, cujo compromisso com os
trabalhadores do campo faz parte de suas vidas. Agradeço também, aos monitores que
acompanharam os trabalhos de execução das monografias dos educandos, em especial a minha
acompanhante Annelise Mariano.
Não posso deixar de agradecer aos professores, Eraldo da Silva Ramos Filho,
Alexandrina Luz Conceição, Jorge Montenegro, Luciana Henrique, Sergio Gonçalves (duas
unha) que em algum momento do processo foram responsáveis pela conquista dos
trabalhadores Sem Terra, e a minha.
Quero agradecer também aos amigos e companheiros da turma de geografia “Milton
Santos”, que durante estes cinco anos de caminhada me ensinaram a ter paciência,
responsabilidade e contribuíram para ainda mais ter certeza das minhas convicções pela
transformação social.
A todos aqueles que, nos bares, nas festas, nos corredores, nos ônibus, no trabalho, no
assentamento, no acampamento, ou em casa, apresentaram opiniões sobre o tema, meu sincero
agradecimento. Fiquem certos de que as várias observações feitas sem maiores pretensões
foram incorporadas ao texto final.
Agradeço, por fim, aos meus familiares – Witor Hugo, Lurdes, Heroldina (minha
dinda), Tais, Débora, Cleber, Diogo, Enio, Claudio, Silvio, Rejiane, Miguel, Maria Carolina,
Joel, Maristela, Tânia, Reginaldo, Danúbio, assim como aos meus amigos – Gerson, Rubão,
Judeu, Mazuquele, Marcos Rogério, Bruno, Daniela, Giba, Eulália, pelo incondicional apoio,
pedindo desculpas por ter suprimido um pouco de nossa convivência para que pudesse concluir
este estudo.
Epígrafe
O poeta da roça
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
Patativa do Assaré
RESUMO
Estudar a juventude do assentamento coloca grandes desafios onde podemos
levantar sua vida e seu cotidiano e perceber o conjunto de elementos que estão presentes nas
comunidades, e que influenciam na permanência destes jovens nos assentamentos de Reforma
Agrária.Buscamos traçar alguns caminhos como a educação e as políticas publicas que
diretamente influenciam na construção da identidade dos jovens, sendo a escola ferramenta
difusora de idéias e formadora de opinião.
Pensar a juventude como classe responsável pela continuação das lutas e
permanência dos camponeses nos territórios conquistados pelos trabalhadores, na perspectiva
de construção e consolidação do modo de vida camponês. Resgatando e construído meios de
produção como a agroecologia, como elemento não só produtor de alimento, mas como
filosofia de vida.
Palavras-Chave: Juventude, Assentamento, Educação, Políticas públicas.
RESUMEN
Estudar la juventud del asentamiento pone grandes desafíos donde podremos llevantar su vida
y su diario y darse cuenta del conjunto de elementos que están presentes en las comunidades,
y que influencian en la estancia de estes jovenes en los asentamientos de Reforma Agraria.
Buscamos seguir caminos como la educaciony las politicas publicas que directamente
influencian en la construccion de la identidad de los jovenes, la cual la escuela es herramienta
de difusión de ideas y formadora de opinión.
Piensar la juventud como clase responsable por la continuacción de las luchas y permanencia
de los campesinos en los territorios ganados por los trabajadores, en la perspectiva de
construcción y concolidación del manera de vida campesino. Rescatendo y construyendo
medios de producción como la agorecología, como elemento productor de comida y también
como filosofía de vida.
Palavras-clabes: Juventud; Asentamiento; Educación, Políticas Públicas.
Lista de Siglas
CAIXA Caixa Econômica Federal
CEB’S Comunidades eclesiástica de Base
CESP Companhia Energética de São Paulo
CPT Comissão Pastoral da Terra
DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf
DATALUTA Banco de Dados pela Luta pela Terra
DRF Departamento de Regularização Fundiária
EJA Educação para Jovens e Adultos
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio
FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos
FIES Programa de Financiamento Estudantil
IBGE Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPRS Índice Paulista de Responsabilidade Social
ITESP Instituto de Terras do Estado de São Paulo
LIBRAS Sigla da Linguagem Brasileira de Sinais
MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário
MEC Ministério da Educação e Cultura
MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG’S Organizações Não Governamentais
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
PC do B Partido Comunista Brasileiro
PIB Produto Interno Bruto
PNE Plano Nacional de Educação
PROJOVEM Programa Nacional de Inclusão dos Jovens
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PT Partido dos Trabalhadores
SAF Secretaria da Agricultura Familiar
UDR União Democrática Ruralista
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNIPONTAL União dos Municípios do Pontal do Paranapanema
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Assentamentos Rurais no Pontal do Paranapanema – 1984 – 2000 24
Tabela 2 Ocupações de terra no Pontal do Paranapanema por município – 1990 a 2009 25
Tabela 3 Municípios com maior número de ocupações - 1988 – 2000 27
Tabela 4 Assentamentos rurais - Pontal do Paranapanema - 1984 – 2009 32
Tabela 5 Assentamentos Rurais do Município de Mirante do Paranapanema 33
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 Conjunto de Jovens Entrevistados no Assentamento São Bento 19
Mapa 2 Municípios do Pontal do Paranapanema 22
Mapa 3 Pontal do Paranapanema – Geografia das ocupações de terra - 1990 – 2009.
Número de ocupações 26
Mapa 4 Localização dos assentamentos na 10ª região administrativa do Pontal do
Paranapanema – 2009 34
Mapa 5 - Pontal do Paranapanema – Geografia das ocupações de terra - 1990 – 2009.
Número de ocupações 35
Mapa 6 Produção Animal e Vegetal no Assentamento São Bento. Mirante do
Paranapanema – SP 39
LISTA DE FOTOS
Foto 1 Ocupação dos trabalhadores à fazenda Jangada no município de Getulina-SP 21
Foto 2 Despejo das 2.500 famílias fazenda Jangada no município de Getulina- SP 21
Foto 3 Reocupação da fazenda São Bento. (Barraco modular) 30
Foto 4 Reocupação da Fazenda São Bento 30
Foto 5 Reocupação da Fazenda São Bento, trabalho coletivo de plantio 31
Foto 6 Moça na casa dos pais 59
Foto 7 Jovens utilizando o laboratório de informática da escola São Bento 61
Foto 8 Jovens trabalhando na elaboração de ração para as vacas leiteiras 66
Foto 9 Jovem fazendo ração 67
Foto 10 Jovem no conserto da sua bicicleta 68
Foto 11 Família reunida conversando no final da Tarde 68
Foto 12 Jovens descansando a sombra das mangueiras 69
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Distribuição dos jovens por faixa etária. Assentamento São Bento 58
Figura 2 Distribuição dos jovens segundo moradia atual 58
Figura 3 Distribuição dos jovens de acordo com o nível de ensino 60
Figura 4 Freqüência dos jovens a outros cursos complementares 60
Figura 5 Trecho percorrido pelos jovens dos lotes até a escola 61
Figura 6 Desejos dos jovens em dar continuidade aos estudos 62
Figura 7 Motivos alegados pelos jovens para não continuar os estudos 63
Figura 8 Importância na continuidade dos estudos para os jovens 64
Figura 9 Ordem de nascimento dos jovens. Assentamento São Bento 64
Figura 10 Atividades desenvolvidas pelos jovens nos lotes 65
Figura 11 Declaração dos jovens quanto ao trabalho 66
Figura 12 Preferência dos jovens em relação ao campo. Assentamento 67
Figura 13 Expectativas dos jovens aos próximos 10 a 15 anos futuros 69
Figura 14 Conhecimento dos jovens em relação a saída do campo 70
Figura 15 Conhecimento dos jovens sobre os motivos das saídas do campo 71
Figura 16 Necessidades dos jovens para permanecer no assentamento 72
Figura 17 Conhecimento da juventude sobre as políticas públicas 73
Figura 18 Local de diversão do jovem do assentamento 74
Figura 19 Sonho profissional dos jovens 75
Figura 20 Desejo do jovem em relação ao futuro da comunidade 76
Figura 21 Visão dos pais a respeito da relação dos jovens com a comunidade 77
Figura 22 Expectativa dos pais em relação aos próximos 10 anos dos jovens 78
Figura 23 Necessidade do assentamento para garantir o futuro dos jovens 79
Figura 24 Apoio dos pais em relação às iniciativas dos jovens 79
Figura 25 Importância do resgate das lutas segundo os pais 80
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12
CAPITULO 1- AS DISPUTAS SÓCIOTERRITORIAIS E A FORMAÇÃO DOS
ASSENTAMENTOS NA REGIÃO DO PONTAL DO PARANAPANEMA.........................20
1.1 - A FORMAÇÃO DO MST NO ESTADO DE SÃO PAULO...........................................20
1.2 - LUTAS E CONQUISTAS DO MST NA REGIÃO DO PONTAL DO
PARANAPANEMA.................................................................................................................22
1.3 A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MIRANTE DO PARANAPANEMA E A
CONQUISTA DO ASSENTAMENTO SÀO BENTO...........................................................36
CAPÍTULO 2. EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A JUVENTUDE NO
CAMPO....................................................................................................................................41
2.1 – OS ASPECTOS DA EDUCAÇÃO NOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA
AGRÁRIA NO PONTAL DO PARANAPANEMA..............................................................41
2.2 - POLITICAS PÚBLICAS PARA OS JOVENS ASSENTADOS.....................................49
CAPÍTULO 3 - UMA CARACTERIZAÇÃO DA JUVENTUDE NO ASSENTAMENTO
SÃO BENTO............................................................................................................................56
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................86
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS....................................................................................88
ANEXO 1- FORMULÁRIO DE PESQUISA DOS JOVENS................................................91
ANEXO 2- QUESTIONÁRIO COM AS FAMÍLIAS............................................................97
12
INTRODUÇÃO
(...) É o meu Rio Grande do Sul céu, sol, sul terra e cor. Onde tudo que se planta
cresce o que mais floresce é o amor (...). O trecho da música do cantor nativista Jader Moreci
Teixeira o “Leonardo” revela algumas informações do meu estado de origem.
Onde de fato tudo que se planta cresce, pois temos solos férteis, abundância de água
e um povo trabalhador, mas nem todos possuem terras para cultivar devido a concentração da
propriedade nas mãos de grandes latifundiários, o que mais floresce é o amor para alguns
privilegiados. Como não tinha a terra e o privilégio, deixei meus pais para buscar no mundo
condições de trabalho e reprodução social, já que acreditava que um pequeno sítio no litoral
norte do Rio Grande do Sul ao pé da Serra do Mar, não tinha condições de permanecer com
meus pais e minhas duas irmãs. Para isto, depois de percorrer algumas regiões do estado e
conhecer o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST resolvi migrar para São Paulo,
ainda muito jovem em busca de trabalho e oportunidades.
Não consegui trabalho, mas tive oportunidades de conhecer outras realidades que
levaram ao engajamento na luta social. Atualmente tenho as sensações e a mesma angústia do
tempo que fui forçado a deixar minha terra e as pessoas que amo, para viver em um lugar
estranho, que em muitos aspectos apresenta condições inferiores ao lugar de origem. Isto me
motivou a elaborar um estudo sobre a juventude do assentamento de Reforma Agrária do
Pontal do Paranapanema.
A presente discussão terá como objetivo compreender a saída dos jovens das áreas de
assentamentos para viverem nas cidades deixando a terra e suas famílias. Pois segundo
Guaraná (2007, p. 315),
[...] diversos estudos no Brasil e em outros países, apontam para a tendência
da saída dos jovens, no dias atuais, de jovens do campo rumo a cidades. Se
estas pesquisas confirmam o deslocamento dos jovens, outros fatores
complexificam a compreensão deste fenômeno. O problema vem sendo
analisado por dois viés. Há um certo consenso nas pesquisas quanto as
dificuldades enfrentadas pelos jovens no campo, principalmente ao acesso a
escola e trabalho. Outro viés tem como principal leitura a atração do jovem
pelo meio urbano, ou ainda pelo estilo de vida [...]
A nossa preocupação é compreender esta saída/renúncia porque a percepção que
temos, é a de que um conjunto de fatores influencia a saída dos jovens dos territórios
conquistados. Deixando para trás os valores que estão ancorados na solidariedade e na ajuda
13
mútua que não considera elementos econômicos, mas sim a conquista na constituição de uma
agricultura soberana, ou seja, uma matriz produtiva que garanta a soberania alimentar de suas
famílias elementos, estes, fundamentais da constituição do modo de vida dos camponeses.
Não sendo o objetivo central deste trabalho, discutir esta definição, mas como elemento
demarcador trazemos a definição de camponês desenvolvida e trabalhada por Kaustsky
facilitando a compreensão dos caminhos percorridos pela pesquisa, onde o autor apresenta o
camponês como aquele individuo que:
Vende produtos agrícolas, mas não empregam assalariados, senão em
pequeno número, por vezes algum camponês que não seja capitalista, mas
simples produtor de mercadorias. Este é um trabalhador que não vive da
renda que traz sua propriedade; vive do seu trabalho [...]. Ele necessita da
terra como meio de transformar o seu trabalho em garantia de sua existência
e não para a obtenção de lucro ou renda fundiária. Posto que o resultado de
sua produção lhe reembolse as despesas e também lhe pague o trabalho
investido, ele terá a sua condição de existência garantida. (KAUTSKY,
1998, p. 151)
Para continuarmos na discussão gostaríamos de afirmar que o modo de vida dos
camponeses apresentado neste diálogo está norteada pelas reflexões de Shanin (2008), que
esclarece que para ser camponês é necessário a combinação de um conjunto de aspectos.
Dotado de muitas ocupações laborais, com a terra como produzir alimentos, consertar
máquinas e equipamentos, cuidar dos animais e plantas. Onde o verdadeiro camponês é
construído na prática em constante lapidação com a realidade, sendo:
A verdadeira característica e definição dos camponeses têm como um de
seus fundamentos essa natureza especial do campesinato, que nunca é uma
coisa só, é sempre uma combinação. Também não é algo que se aprende na
universidade só se aprende com seus pais (SHANIN, 2008, p.41).
O autor ainda nos oportuniza o entendimento de modo de vida, colocando que:
A flexibilidade de adaptação, o objetivo de reproduzir seu modo de vida e
não o de acumular, o apoio e ajuda mútua encontrados nas famílias e fora
das famílias em comunidades camponesas, bem como a multiplicidade de
soluções encontradas para problemas de como ganhar a vida são qualidades
encontradas em todos camponeses que sobrevivem às crises. E, no centro
dessas particularidades camponesa está a natureza da economia familiar
(SHANIN, 2008, p. 25,26)
14
Assim, tratar da renúncia dos jovens camponeses aos territórios conquistados é
refletir sobre as histórias de lutas pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária,
ou seja, o conceito território nesta reflexão é abordado na perspectiva Raffestin, que define
como elemento produzido a partir da ação humana no espaço, ou seja, o espaço é anterior ao
território. Para melhor compreendermos esta definição e podermos relacionar com a proposta
da pesquisa no assentamento São Bento, observamos a definição:
[...] O território, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e
informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O
espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os homens constroem
para si [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 143, 144).
Para tanto, nos questionamos: Porque jovens abandonam estes territórios? Muitas
podem ser as respostas, entretanto, nossa hipótese é de que deixam para viverem em cidades
vizinhas oferecendo sua mão de obra a usinas, comercio, empresas, prefeituras, órgãos do
Estado, fortalecendo a lógica capitalista produtiva resultado da separação da força de trabalho
e dos meios de produção. Outra hipótese é a de que a referência de melhores condições de
vida, ainda, se encontra na vida da cidade. Refletiremos as possibilidades através de
entrevistas estruturadas por questionários que foram aplicados no assentamento São Bento no
município de Mirante do Paranapanema, Estado de São Paulo.
Acreditamos que o Estado responsável em realizar uma política de Reforma Agrária
adota medidas de compensação social, com um único fim, acomodar estas famílias não
levando em consideração elementos técnicos fundamentais (fertilidade do solo, declividade do
terreno, estágio erosivo da área, distância para comercialização) e quanto da implantação do
Projeto de Assentamento não discute com as famílias a diversificação da matriz produtiva, ou
seja, o que as famílias querem ou tem afinidade em produzir. Não viabiliza as infra-estruturas
necessárias para a prosperidade, comunicação e encontros da comunidade como a educação,
saúde, lazer, cultura, transporte coletivo o que agrava o movimento de renúncia dos jovens
assentados.
Esta política compensatória do Estado tem como fim realidades duras e
questionáveis. Comunidades em locais distantes de centros de comercialização, sem acesso a
saúde, lazer, sem escolas como nos mostra o PNE- Plano Nacional de Educação - que os
maiores índices de crianças fora da escola estão concentrados nos bolsões de pobreza
15
existentes nas periferias urbanas e nas áreas rurais, onde o ensino não está voltado as
realidades específicas da comunidade.
Acreditamos também, que a escola seja um fator muito importante para permanência
do jovem na terra, por isso, a discussão de qualidade do ensino não está somente relacionada
ao conteúdo ensinado em sala de aula, mas, a relação estabelecida entre professores e alunos
e, principalmente, a preocupação que estes professores venham a apresentar na compreensão
sobre a luta, o trabalho e a vida dessas crianças e jovens assentados.
[...], no entanto, sabemos que essa relação ainda está distante do real, muitas
vezes não há esse envolvimento dos educadores e nem a compreensão da
realidade do campo, sendo algo que necessita ser construído para fortalecer a
educação [...] (RIBAS, 2002, p.106).
Para nos aproximarmos do debate buscaremos analisar elementos da formação dos
territórios e os aparelhos do Estado, como a educação, que de forma legal e legítima foram
conquistados pelos camponeses e a falta de políticas públicas para juventude que cumprem
papel significante nesta realidade de renúncia ao território.
Organizamos o PRIMEIRO capítulo sobre as disputas sócioterritoriais e a formação
dos assentamentos na região do Pontal do Paranapanema, trabalhamos a formação do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no Estado de São Paulo, orientados por Fernandes e
Ramalho, abordamos de forma cronológica os fatos que levam a constituição e formação dos
assentamentos na região. Finalizando a discussão com a formação do Município de Mirante
do Paranapanema e a conquista do assentamento São Bento.
No SEGUNDO capítulo passamos a discorrer sobre a concepção da educação e as políticas
públicas para a juventude no campo, tecendo comentários sobre educação e sua construção
histórica, relativizando sua influência nos assentamentos, para isto, utilizamos vários
pensadores que contribuem para este entendimento como Mezarós, Chaui, Orso, Rossi,
Furlanetti, Ramalho, Fernandes, Carneiro. Levantamos ainda um conjunto de políticas
públicas divulgadas pelos governos e seus verdadeiros reflexos na realidade dos
assentamentos do Pontal do Paranapanema. O conjunto de informações trabalhadas
possibilita compreendermos a consolidação ou não consolidação da educação e as políticas
públicas desenvolvidas nos assentamentos do Pontal do Paranapanema.
16
Quanto ao terceiro capítulo discutimos a respeito da renúncia ao território, uma
caracterização da juventude no Assentamento São Bento, buscando realizar o levantamento
do público estudado, a partir da apresentação e analise dos questionários aplicados aos jovens
e suas famílias. Levantamos um conjunto de informações que nos permite compreender os
verdadeiros motivos ou possíveis causas da saída ou permanência dos jovens do
Assentamento São Bento.
Se tratando do quarto capitulo discorremos e tecemos comentários, buscando
aproximar dos verdadeiros elementos, que levam a juventude assentada a ter dificuldade de
permanência nas comunidades. Realizando o esforço de relacionar o acúmulo dos trabalhos
escritos e citados com as informações colhidas a campo que possibilita construir impressões e
pensamentos para melhor compreendermos está dinâmica nos assentamentos de Reforma
Agrária do Pontal do Paranapanema em especial o Assentamento São Bento, objeto de analise
desta pesquisa.
PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS.
Os caminhos metodológicos utilizados neste trabalho percorreram um conjunto de
atividades que serão descritas para melhor compreendermos os procedimentos ao longo da
pesquisa de conclusão do curso de licenciatura e bacharelado em Geografia da Universidade
Estadual “Julio de Mesquita” – UNESP – sendo as seguintes atividades:
Procedemos com a elaboração do projeto de pesquisa que objetiva estudar e mapear as
atividades desenvolvidas pela juventude, diagnosticando suas intenções e perspectivas de
futuro em relação ao assentamento. Sendo selecionado o assentamento São Bento no
município de Mirante do Paranapanema a partir dos seguintes os critérios:
a) Assentamento com mais de seis anos de implantação pela Fundação de Instituto de
Terras do Estado de São Paulo "José Gomes da Silva" (Fundação ITESP). Com esse critério
pôde-se, excluir um conjunto de assentamentos do Município que é composto por 33 áreas
com 1625 famílias assentadas em uma área de 34.984 há (DATALUTA, 2010), onde algumas
destas estão em fase de implantação não estando totalmente estruturados nos projetos
produtivos;
b) Pesquisar e analisar um assentamento implantado pela Fundação ITESP em razão
de ser de responsabilidade deste instituto a assistência técnica, facilitando o acesso mais fácil
e rápido aos dados secundários do assentamento;
17
c) Distância, em quilômetros, entre o assentamento e as cidades de médio ou grande
porte mais próximas. Supondo que as influências urbanas no modo de vida, aspirações e
inserção dos jovens no mercado de trabalho;
d) A escolha do assentamento também obedece à importância histórica e política na
conquista de territórios por camponeses no Pontal do Paranapanema, pois este teve sua
importância fundamental na conquista do complexo de assentamentos no município de
Mirante do Paranapanema.
Com a escolha do assentamento São Bento, teve inicio a preparação dos
questionários, onde a definição do tamanho da amostra a ser aplicada foi determinada por um
índice percentual de 20% das famílias, num total de 171 famílias, definições padrões e cálculo
de erro relativo1. Fazendo a opção de uma amostra no quesito gênero de modo a evitar
predominância em opiniões masculinas ou femininas. Apesar deste quesito, não foi possível
termos uma amostra com um total de 50% de homens e 50% de mulheres.
Iniciou-se a escolha dos jovens para aplicação dos questionários, onde mantivemos
contatos com pessoas deste assentamento para apresentação da pesquisa, seus objetivos e
produtos esperados tanto do ponto de vista acadêmico, quanto de contribuições e do retorno
dos resultados da pesquisa para a comunidade. Esta apresentação foi feita em uma reunião
com as famílias (pais, mães e jovens) na Escola Estadual São Bento situada no município de
Mirante do Paranapanema, seguindo aos seguintes critérios:
1. Os jovens identificados como moradores filhos ou filhas de assentados com
parentesco de primeiro ou segundo grau dos titulares do lote.
2. Estudantes ou formados nas últimas turmas na Escola Estadual São Bento, que
estejam atendendo os critérios do item A;
3. A classificação etária como definição de juventude, ou seja, uma população
como jovem a partir de um corte etário de 14-24 anos, que é adotado por organismos
internacionais, como Organização Mundial da Saúde - OMS e Organização das Nações
Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura- UNESCO, que procuram homogeneizar o
conceito de juventude a partir de limites mínimos de entrada no mundo do trabalho,
reconhecidos internacionalmente, e limites máximos de término da escolarização formal
básica (básico e médio).
1 O cálculo da distribuição da porcentagem da amostra foi definido a partir do número total de famílias
assentadas. O total de questionários a serem aplicados foi calculado pela multiplicação do percentual da amostra
pelo total de assentados.
18
O caminho em mapear e localizar estes jovens tem contribuição fundamental do
coordenador de ensino, diretor e os professores, pois possuem o mapa da distribuição social
na comunidade, facilitando a aplicação dos critérios descritos para eleição dos entrevistados.
O segundo passo da aplicação do questionário foi para a família do respectivo jovem.
Este trabalho começou em janeiro de 2007 e o levantamento a campo das informações
necessárias para análise da juventude nos assentamentos de Reforma Agrária, no Pontal do
Paranapanema aconteceu nos meses de janeiro e fevereiro de 2011, onde foram aplicados dois
questionários diferentes um para os jovens e outro para diagnosticar a visão dos pais.
Compostos por perguntas abertas e fechadas numa interlocução direta e presencial entre
pesquisador e entrevistados. Amplos os questionários possuem abordagens diferenciadas,
sendo organizados por partes facilitando a tabulação e analise das entrevistas após suas
aplicações.
Paralelo a este conjunto metodológico de elaboração, mapeamento e aplicação dos
questionários, seguiram várias incursões de busca e levantamento de bibliografias que
contribuíssem com a discussão proposta, onde podemos ter acesso a construções literárias de
diversos pensadores que trabalham com os temas proposto pela pesquisa, este acumulo
propiciou observarmos novos pontos de vista e revermos outros. O exercício de refletirmos a
prática associado a teoria nos abriu novos horizontes de interpretação da realidade vivido
pelos jovens nos assentamentos do Pontal do Paranapanema.
As conversas com o orientador serviram para demarcar e cercar da melhor forma o
tema, sendo estabelecido e construído de forma dialética, tendo avanços e reflexões sobre as
leituras e diagnósticos a campo. Esta dinâmica contribuiu para percebermos o quanto é
complexo tratar deste tema com a juventude assentada e a necessidade de realizarmos novos
estudos de pesquisa para buscar informações, para melhor compreender este universo de
situações possíveis, referentes à discussão proposta pela pesquisa.
O conjunto de jovens entrevistados se distribui no Assentamento São Bento nos
respectivos lotes: 01, 04, 05, 06, 08, 17, 20, 27, 56, 62, 63, 70, 71, 87, 92, 99, 119, 151, 152,
159 172, 179, 182, sendo entrevistado o total de 23 jovens (as), veja o (mapa 05) abaixo que
trás a localização dos respectivos lotes. O número de entrevistados foi abaixo das expectativas
determinadas pela pesquisa, pois na coleta de dados a campo tivemos muita dificuldade de
encontrar os jovens nos lotes2, necessitando de várias tentativas.
2 Percoremos o assentamento retornando as casas por mais de uma vez. Acredito que ausência dos jovens em
suas casas tenha se dado ao fato, que os questionários foram aplicados em finais de semana (sábado e domingo).
20
CAPITULO 1- AS DISPUTAS SÓCIOTERRITORIAIS E A FORMAÇÃO
DOS ASSENTAMENTOS NA REGIÃO DO PONTAL DO PARANAPANEMA.
1.1 - A FORMAÇÃO DO MST NO ESTADO DE SÃO PAULO.
Para compreendermos a dinâmica na territorialização das lutas pela terra no
Pontal do Paranapanema se faz necessário compreendermos brevemente a constituição do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST - no Estado de São Paulo.
Ramalho (2002) explicita que a expansão do capitalismo como relação social
hegemônica e a alteração na estrutura socioeconômica da agricultura brasileira, afirma-se
como predominante, ou seja, as ações capitalistas no tempo e no espaço consolidam uma
relação contraditória entre dominados e dominadores, assim, o surgimento do Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra se dá neste contexto, onde em um processo cumulativo de
experiências nos anos de 1980 e 1985/86 surge no estado de São Paulo a união das lutas e
conquistas dos movimentos isolados nas regiões de Andradina (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra do Oeste do Estado de São Paulo), Pontal do
Paranapanema, Itapeva e Campinas (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de
Sumaré).
Este autor afirma que a constituição e junção destas lutas se unificam em 1985,
assim, o MST-SP inicia o processo de territorialização a partir da região de Campinas,
sendo que também ocorreram diversas ocupações organizadas por movimentos sociais
isolados nas regiões de Sorocaba e Araçatuba. Estas ações pelo estado constituem uma
classe de expropriados com identidade, objetivos e localização definida com intuito de
resistir contra os avanços do capital e em contra partida disputando e conquistando os
territórios. Estas ações dos trabalhadores no estado de São Paulo consolidam um processo
de espacialização e de territorialização da luta pela terra, promovendo o aumento do
número de ocupações no estado de São Paulo. Como mostram as fotos (01 e 02) da época
na ocupação dos trabalhadores à fazenda Jangada no município de Getulina e o despejo
destas 2.500 famílias.
21
Foto 1- Ocupação dos trabalhadores à fazenda Jangada no município de Getulina-SP.
Fonte Fernandes - 1996.
Foto 2 - Despejo das 2.500 famílias fazenda Jangada no município de Getulina- SP.
Fonte Fernandes -1996.
22
1.2 - LUTAS E CONQUISTAS DO MST NA REGIÃO DO PONTAL DO
PARANAPANEMA
A região do Pontal do Paranapanema localiza-se no extremo Oeste do
Estado de São Paulo, compreendendo, segundo a Unipontal, 32 municípios, sendo eles:
Mapa 2 – Municípios do Pontal do Paranapanema
A ocupação fundiária da região fundamentou-se, basicamente, na grilagem de
terras, sendo este um processo de falsificação de documentos das propriedades. Este
termo nasceu do dito popular e foi descrito por Monteiro Lobato como a técnica de
envelhecer papeis usando grilos: os papéis são colocados em gavetas com centenas de
grilos, estas são trancadas e assim que os insetos morrem, apodrecem soltando toxinas
que mancham os papéis, dando-lhes, assim, o aspecto de velho (FERNANDES, 1996).
O inicio da grilagem nas terras do Pontal do Paranapanema está datado em maio
de 1856, com a chegada na região de Antonio José de Gouveia que registra uma imensa
gleba de terras chamada Pirapó-Santo Anastácio, tendo os limites da fazenda desde a
barranca do Rio Paranapanema, seguindo por 10 léguas o Rio Paraná acima e voltando-se
23
para leste, pelas vertentes do Rio Pirapó, até encontrar-se de novo com o Rio do
Paranapanema. No mesmo período o grileiro, José Teodoro de Souza, registra a posse da
Fazenda Rio do Peixe ou Fazenda Boa Esperança do Aguapehy com as divisas nas
barrancas do rio Turvo, cujas nascentes estão nos municípios de Agudos e Bauru, sendo
está fazenda ainda maior do que a primeira (FERNANDES, 1996).
É importante pontuar que após 1850,
A lei de terras permitia a legitimação das terras ocupadas até 1856
e proibia as ocupações de terras devolutas, determinando sua
aquisição unicamente por meio da compra. As terras que não
foram regulamentadas a partir das determinações desta Lei
passaram a ser consideradas como devolutas. (RAMALHO. 2002
p. 51).
Travando-se lutas judiciais e legislativas pelo reconhecimento destas posses
como ocorreu com o grileiro Manuel Goulart, que necessitava do reconhecimento oficial
de “suas” terras, para tanto, encaminhou petição ao Ministério da Agricultura
solicitando permissão para receber colonos estrangeiros (Ramalho. 2002, p. 52). Estes
reconhecimentos possibilitaram a “festa dos grileiros” que dividiram, venderam, trocaram
os grandes grilos em glebas de terras menores, buscando descaracterizar a grilagem de
terras na região. Estes colonizadores contrataram jagunços armados com o objetivo de
limpar o território e exterminar o “bugre ateu”. Esse foi o início do conflito fundiário no
Pontal do Paranapanema. (RAMALHO, 2002, p. 52).
O inicio da construção em 1917 da estrada de ferro Sorocabana, que ligaria o
estado de São Paulo ao estado do Mato Grosso, contribuiu com a chegada de imigrantes
para o vale do Paranapanema nas plantações do café formando povoados ao longo de
seus trilhos, tendo sua população regional crescido em 10 anos de 275.000 para 416.000
pessoas. Os povoados cresceram e se tornaram municípios: Marabá Paulista, Euclides da
Cunha Paulista, Teodoro Sampaio, Rosana, Mirante do Paranapanema, Venceslau,
Anastácio, entre outros.
As ações do “colonizador grileiro” desenvolveram a organização e
resistência dos posseiros, que na década de oitenta, recebe a contribuição de um novo
personagem na luta pela terra no Pontal do Paranapanema, o trabalhador expropriado,
excluído, marginalizado, que faz parte da reserva de mão-de-obra à disposição dos
24
capitalistas, que no movimento da luta foi se denominando de trabalhador sem-terra
(FERNANDES, 1996).
No ano 1995, a região do Pontal do Paranapanema torna-se uma das regiões do
país com maior índice de conflito fundiário, possuindo o maior número de ocupações de
terras, estratégia utilizada principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-
MST. Estas ações resultaram na conquista de várias áreas de assentamentos como nos
mostra o quadro. (veja tabela 01)
Tabela 1- Assentamentos Rurais no Pontal do Paranapanema – 1984 – 2000.
Ano Número de
Assentamentos
Número de
Famílias
Área ha
1984 01 572 13.310
1988 02 208 6.089
1990 01 51 805
1991 01 36 664
1992 01 99 865
1994 02 228 6.166
1995 10 510 13.206
1996 25 1.173 32.117
1997 12 315 7.708
1998 13 648 16.276
1999 03 274 5.897
2000 08 493 10.538
Fonte: DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra - 2002.
A estratégia de ocupação das terras pela forma de corte da cerca possibilita a
espacialização e territorialização do movimento por toda a região do Pontal do
Paranapanema, conquistando territórios em grande parte dos municípios (tabela 01).
25
Outro elemento que podemos destacar a partir dos dados abaixo é que, como observamos
na tabela 02, cerca de 75% do total das ocupações realizadas na região do Pontal do
Paranapanema ocorreram a partir de 1995, que é o ano em que o MST passa a organizar
ocupações de terra na região. (RAMALHO, 2002, p.72)
Outro elemento observado na tabela 02 e no mapa é o número de ocupações no
município de Mirante do Paranapanema totalizando, aproximadamente, 23% do total das
ocupações realizadas na região. Esse dado revela a importância desse município na
questão dos conflitos agrários no Pontal do Paranapanema.
Tabela 2 - Ocupações de terra no Pontal do Paranapanema por município – (1990
a 2009).
Municípios do Pontal Ocupações Famílias
Álvares Machado 02 94
Caiúa 43 2746
Emilianópolis 01 N.I
Euclides da Cunha Paulista 54 6966
Iepê 09 526
João Ramalho 03 74
Marabá Paulista 12 3484
Martinopolis 49 2580
Mirante do Paranapanema 171 33527
Nantes 04 465
Narandiba 05 417
Piquerobi 09 302
Pirapozinho 07 900
Presidente Bernardes 48 3300
Presidente Epitácio 81 9135
Presidente Prudente 04 620
Presidente Venceslau 54 2652
Rancharia 33 5750
Regente Feijó 03 55
Ribeirão dos Índios 01 60
Rosana 23 2197
Sandovalina 38 11882
Santo Anastácio 12 1424
Taciba 02 190
Tarabai 01 400
Teodoro Sampaio 74 11529
Fonte: DATALUTA – Banco de Dados da Luta pela Terra - 2010.
26
Mapa 3 - Pontal do Paranapanema – Geografia das ocupações de terra - 1990 –
2009. Número de ocupações
27
Os números de ocupações no município de Mirante do Paranapanema se
expressam nacionalmente, pois no período soma o maior número de ocupações no país,
(veja tabela 03).
Tabela 3 - Municípios com maior número de ocupações - 1988 – 2000.
Municípios UF Classificação Nª. de ocupações
Mirante do Paranapanema SP 1 40
Marabá PA 2 31
Aliança PE 3 28
Itaquipaí MS 4 27
Tamandaré PE 5 26
Escada PE 6 24
Maragogi AL 6 24
Caruaru PE 7 22
Abelardo Luz SE 7 22
Goiás GO 7 22
Barreiros PE 8 21
Bataiporã MS 9 20
Moreno PE 9 20
Fonte: DATALUTA - Banco de Dados da Luta pela Terra - UNESP, 2001.
A consolidação do MST na região possibilita a intensificação do conflito
fundiário, obrigando os gestores públicos a realizar um estudo da situação das terras em
todo o estado de São Paulo. Sendo coordenado e organizado pelo DRF (Departamento de
Regularização Fundiária) da Fundação ITESP (Instituto de Terras do Estado de São
Paulo), da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, onde os resultados deste
levantamento apontaram que existem 2.464.000 ha. de terras não discriminadas, 941.000
28
ha de terras devolutas e 389.000 ha a serem estudados em quatro regiões do estado:
Pontal do Paranapanema, Sorocaba, Vale do Paraíba e Vale do Ribeira. (Fernandes,
1996).
Estas ações do movimento organizado estimulam os latifundiários a criar a UDR
(União Democrática Ruralista), instituição organizada para representar os interesses dos
latifundiários, considerado o Pontal do Paranapanema o berço político organizativo
desta organização de defesa da “classe do grilo.”
As ocupações de terras pela região foram possibilitadas em contingentes
humanos devido a dois fatores determinantes que possibilitaram o agrupamento de
trabalhadores expropriados, sendo eles:
A construção da Destilaria Alcídia;
O início da construção de três usinas hidrelétricas (Porto Primavera no rio
Paraná, Rosana e Taquaraçu no Rio Paranapanema). Como nos afirma Antônio apud
Ramalho (2002, p. 62)
[...] essas obras, com recursos públicos, além de promover a
integração econômica na região, proporcionaria a elevação do
padrão de vida da população e, sobretudo, criaria a expectativa
de mais de trinta mil empregos. Entretanto, a década de 80
(1983), se caracteriza com a desaceleração das obras das usinas
e com a conseqüente demissão de milhares de trabalhadores.
Essa demissão, em massa, por parte da CESP, e das empreiteiras,
somada às enchentes do rio Paranapanema, foi o estopim de uma
situação crítica que já existia, renascendo assim o movimento
social dos camponeses, - „operários temporários‟. A partir daí,
tem-se toda a organização do movimento, e, que se transformará
em vários movimentos reivindicatórios por trabalho e terra [...]
O conjunto das ações desenvolvidas pelos trabalhadores na reivindicação
conquista e resistência nos territórios do Pontal do Paranapanema pode destacar a
ocupação da fazenda Água Sumida, no município de Teodoro Sampaio, que acabou
resultando no assentamento de 121 famílias em 1988.
Para Ramalho, 2002, neste mesmo ano foram assentadas oitenta e sete família na
fazenda Areia Branca no município de Marabá Paulista. Faz-se necessário ressaltar que
esse processo de organização pela conquista do território contou com a participação de
várias entidades e/ou instituições, destacando-se a CPT (Comissão Pastoral da Terra),
29
CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base), Sindicato dos Trabalhadores Rurais, partidos
políticos (PT, PC do B, etc.), que assumiram um papel fundamental na construção de um
espaço político-social que redimensionou (Ramalho, 2002), essas novas experiências de
luta.
A soma dos aliados em várias frentes de luta possibilitou que a primeira
ocupação enquanto Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST - acontecesse na
região do Pontal do Paranapanema no dia 14 de julho de 1990, com setecentas famílias
que ocuparam a fazenda Nova Pontal, no distrito de Rosana, município de Teodoro
Sampaio. Sendo estas famílias de trabalhadores vindas de vários municípios da região e
do norte do estado do Paraná.
Fernandes, 1996, faz um levantamento histórico que nos provoca e contribui
para compreender a construção deste novo território político/social descrevendo que
depois de um período de oito meses de muita fome, frio, doenças, despejos e repressão do
Estado por parte da polícia militar as famílias de trabalhadores do acampamento João
Batista da Silva saem das margens da Rodovia SP-613, no município de Teodoro
Sampaio para ocupar, em 23 de março de 1991, uma área de 2.872 hectares da fazenda
São Bento, no município de Mirante do Paranapanema. A fazenda tem 5.106 hectares e
estava sob domínio de Antônio Sandoval Neto, famoso grileiro da região. Desse imóvel,
2.872 hectares haviam sido classificados pelo INCRA como latifúndio por exploração. A
partir do dia 23, mais vinte e quatro famílias procedentes de Mirante do Paranapanema e
de municípios vizinhos também acamparam na fazenda São Bento.
Este autor nos mostra que os trabalhadores “ocupam e reocupam” por
diversas vezes está área adotando uma estratégia inédita na região, instalaram o
acampamento na estação Engenheiro Veras entrando na fazenda somente para trabalhar,
ou seja, no período do dia produziam alimentos na área e a noite se recolhiam ao
acampamento. Dessa forma, quando os oficiais vinham citá-los, os trabalhadores estavam
no acampamento, portanto, fora da fazenda ocupada. O processo de intensificação na luta
possibilitou que fosse realizado na fazenda São Bento vinte e duas ocupações. Está tática
de luta do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, gerou um desgaste do grileiro
Sandoval Neto e pressionou o Estado a realizar a desapropriação da área. A constituição
deste espaço de luta e resistência contra o latifúndio possibilitou confirmar a tese dos
trabalhadores de que a conquista da fazenda São Bento representava a “derrota dos
grileiros” e a possibilidade de territorialização da luta para as outras fazendas. Sendo
30
confirmada em 12 de fevereiro de 1994, quando acontece o acordo entre governo e o
latifundiário.
Foto 3 - Reocupação da fazenda São Bento. (Barraco modular).
Os camponeses adaptam barraco para facilitar as mudanças constantes
Fonte: Fernandes. 1996.
Foto 4 - Reocupação da Fazenda São Bento. Fonte: Fernandes. 1996
31
Foto 5 - Reocupação da Fazenda São Bento, trabalho coletivo de plantio.
Fonte: Fernandes. 1996
A partir deste momento histórico o MST iniciou o seu processo de
territorialização na região do Pontal do Paranapanema, ou seja, por meio da própria
práxis dos sujeitos sociais e das suas relações e manifestações no espaço (espacialização),
dimensionou-se a conquista da fração do território. (Ramalho. 2002, pag. 65)
Quando a Fazenda São Bento deixou de ser referência em articulação e
organização política e econômica na região, outros latifúndios do Pontal do
Paranapanema não resistem à pressão social e negociam com o Estado para formar novos
assentamentos, ou seja, a pressão social exercida pelos trabalhadores possibilita a
espacialização da luta contra o latifúndio e a territorialização dos trabalhadores Sem
Terra, aflorando o debate pela reforma agrária e a luta de classes no Brasil. Para ilustrar
didaticamente está reflexão traremos a seguir os quadros da quantidade de assentamentos
rurais por município da região na Região do Pontal do Paranapanema, veja (tabela 04).
32
Tabela 4 - Assentamentos rurais - Pontal do Paranapanema - 1984 – 2009
Municípios Assentamentos Famílias Área
Euclides da Cunha Paulista 9 517 10933
Iepê 1 50 68
João Ramalho 1 40 54
Marabá Paulista 5 173 4600
Martinopolis 2 124 2744
Mirante do Paranapanema 33 1625 34984
Piquerubi 3 84 2594
Presidente Bernardes 8 266 7189
Presidente Epitácio 4 342 7533
Presidente Venceslau 6 342 7702
Rancharia 2 178 4264
Ribeirão dos Índios 1 40 852
Rosana 4 243 6122
Sandovalina 2 198 4017
Teodoro Sampaio 19 735 18467
Fonte: DATALUTA - Banco de Dados da Luta pela Terra - 2010.
Estas informações constantes na tabela acima comprovam a importância de
Mirante do Paranapanema no contexto de luta e conquistas do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra na região do Pontal do Paranapanema, pois é o município que
representa 35% do total de conquistas territoriais dos trabalhadores. Outros municípios
que podem ser destacados são: Teodoro Sampaio com 15 assentamentos (17%) e
Euclides da Cunha, com 8 assentamentos (10%). (Ramalho, 2002, pag. 68)
Mirante do Paranapanema possui ainda outra particularidade por ser o município
propulsor da territorialização dos trabalhadores na região do Paranapanema e ao fato das
áreas conquistadas neste município serem contínuas, ou seja, a implantação destas
comunidades assentadas possibilita uma alteração na paisagem, nos costumes, nos
hábitos na consolidação social a partir de pequenas unidades familiares. Observe a (tabela
06) que retrata todos os assentamentos do município e logo em seguida observe o (mapa
03) da 10ª região administrativa, que trás os assentamentos do município segundo a sua
localização, onde ainda da destaque ao assentamento São Bento objeto da pesquisa. Já o
(mapa 04) trabalha a intensidade dos assentamentos em todos os municípios da região,
perceba estas alterações.
33
Tabela 5 - Assentamentos Rurais do Município de Mirante do Paranapanema.
ASSENTAMENTOS DE MIRANTE DO PARANAPANEMA
NOME DO ASSENTAMENTO FAMÍLIAS AREAS
PA ANTONIO CONSELHEIRO II 65 1.078
PA MARGARIDA ALVES 90 1.257
PA PAULO FREIRE 62 1.295
PE ALVORADA 21 565
PE ARCO ÍRIS 105 2.606
PE CANAÃ 56 1.223
PE CHE GUEVARA 46 976
PE ESTRELA DALVA 31 784
PE FLOR ROXA 39 953
PE HAROLDINA 71 1.964
PE KING MEAT 46 1.134
PE LUA NOVA 18 375
PE MARCO II 9 242
PE NOSSA SENHORA APARECIDA 9 175
PE NOVO HORIZONTE 57 1.540
PE REPOUSO 21 515
PE ROSELI NUNES 55 2.082
PE SANTA APOLONIA 104 2.657
PE SANTA CARMEM 37 1.043
PE SANTA CRISTINA 36 837
PE SANTA CRUZ 50 408
PE SANTA IZABEL 70 492
PE SANTA LÚCIA 24 597
PE SANTA ROSA I 24 692
PE SANTA ROSA II 27 766
PE SANTANA 29 212
PE SANTO ANTONIO 24 517
PE SANTO ANTONIO II 7 118
PE SÃO BENTO 182 5.190
PE VALE DOS SONHOS 23 617
PE WASHINGTON LUIS 16 343
PE SANTO ANTONIO I 21 515
PA DONA CARMEM 150 1.216
Fonte: DATALUTA - Banco de Dados da Luta pela Terra - 2010.
34
Mapa 4 - Localização dos assentamentos na 10ª região administrativa do Pontal
do Paranapanema – 2009
35
Mapa 5 - Pontal do Paranapanema – geografia dos assentamentos rurais –
1990 – 2009.
Número de assentamentos
Diante desta construção e consolidação histórica do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terras na região do Pontal do Paranapanema e a importância
estratégica destas comunidades para manutenção e resistência dos trabalhadores nesta
porção de terras no estado de São Paulo se faz pertinente discutirmos a juventude destes
assentamentos, pois compete a eles a herança de conquistas e manutenções do futuro da
luta.
36
As questões da juventude serão aprofundadas posteriormente antes se faz
necessários termos contato com alguns elementos da construção histórica do município
antes da chegada do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e conhecermos algumas
informações recentes da dinâmica econômica, social do município.
1.3 A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MIRANTE DO PARANAPANEMA E A
CONQUISTA DO ASSENTAMENTO SÀO BENTO.
Como já foi apresentado, o projeto de construção de trilhos da estrada de ferro
Sorocabana, que avançavam pelo sertão paulista em direção as barrancas do rio Paraná,
foram responsáveis por trazer os primeiros exploradores para o extremo oeste do estado
de São Paulo formando diversos núcleos populacionais.
A construção histórica de Mirante do Paranapanema tem suas raízes nestes
anos de expansão da estrada de ferro. Quando Labieno da Costa Machado de Souza,
nascido em 27 de setembro de 1880, no município de São José do Rio Preto, no estado de
São Paulo, resolve conhecer e colonizar uma área de 120 mil alqueires de terras, que
considera herança de seu pai, que se chamava José da Costa Machado, influente político
que chegou a ocupar importantes cargos públicos do Brasil, como, por exemplo, a
Presidência da Província de Minas Gerais nos anos 1867/68. (RAMALHO, p. 55).
Para agilizar as vendas da suas terras em pequenas glebas monta a “Empresa de
Terras e Colonização Labieno da Costa Machado” (De Martini, 2000) e abre picadas na
área realizando o desmatamento de uma porção de terras como clareira, fundando o
povoado sede de suas terras que futuramente se tornará o distrito de Costa Machado.
Estas iniciativas do colonizador em “comercializar os grilos” foram facilitadas
pela instabilidade mundial devido às incertezas do período Pós-Primeira Guerra, reinante
em muitos países, favorecendo a chegada de centenas de alemães, húngaros, romenos,
austríacos, lituanos, tchecos e até russos em busca de terras no Brasil. A intenção do Dr.
Labieno era formar em suas terras colônias distintas para cada nacionalidade de
imigrantes, assim, surgiram diversas colônias de imigrantes na região: Colônia do Costa
Machado (formada por alemães e romenos); Colônia Branca (formada por alemães);
Colônia Santo Antônio (povoada por húngaros e austríacos); Colônia Bessarábia
(formada por russos, búlgaros e tchecos); Colônia Lituana (constituída por lituanos).
37
Essas informações revelam a complexidade étnica e cultural no processo de ocupação do
atual município de Mirante do Paranapanema. (RAMALHO, 2002, pag. 57).
Outra importante corrente de imigrantes para compreendermos o município de
Mirante do Paranapanema foram os Japoneses que em 1928, chegam a Bauru, para
trabalhar nas fazendas de café. Entre estes Japoneses estavam dois jovens chamados Iraku
Okubo e seu irmão, Takeo Okubo que em 1938, conheceram e foram trabalhar como
corretores do Dr. Labieno da Costa Machado de Souza. Em 1944, adquiriu da
Colonizadora uma gleba de 250 alqueires ainda coberta de mata. Depois de três anos,
destinaram uma área de 50 alqueires para a formação de um núcleo populacional com o
nome de Palmital. (RAMALHO, 2002, p. 59)
Em 30 de dezembro de 1953, Palmital foi simultaneamente elevado a condição
de Distrito e município por força da lei estadual nº 2456, com o nome Mirante do
Paranapanema, sendo eleito o primeiro prefeito o Sr. José Quirino Cavalcante e os
vereadores em 03 de outubro de 1954.
O município de Mirante do Paranapanema localiza-se a 448 metros de altitude e
suas coordenadas geográficas são de -22º17’31” latitude sul e 51º54'23" longitude oeste,
formado pelos distritos de Costa Machado e Cuiabá Paulista, possuindo extensão de
1.237,85 km2, sendo, portanto, segundo município de maior extensão territorial do
estado, respondendo por 0,49% do território do estado de São Paulo.
No entanto, sua população em 2000, ano da última estatística disponível
pelo Instituto de Geografia e estatística - IBGE era de apenas 17.261 habitantes e, por
conseguinte, a densidade demográfica de 13,94 hab./km2, cerca de doze vezes menor que
a média estadual. Sua taxa de crescimento populacional era também pequena, apenas de
0,79% a.a, pouco mais da metade da taxa estadual. O grau de urbanização de 60,65% era
bem inferior à média estadual e indica que 39,35% da população encontram-se na zona
rural.
O município de Mirante do Paranapanema está enquadrado desde o ano de 2002
e 2004 no grupo 04 do Índice Paulista de Responsabilidade Social – IPRS, cujas
características são de baixos níveis de riqueza e níveis intermediários de longevidade e
escolaridade. O Índice de Desenvolvimento Humano Médio - IDHM de 2000 apresentou
valor de 0, 735, representativo de médio desenvolvimento humano. Em 2006, a renda per
capta foi 1,29 salários mínimos (bem inferior à estadual), e o Produto Interno Bruto - PIB
38
de 85,60 milhões de reais também se revelou bem inferior quando comparado aos
802.551,69 milhões da somatória do estado, sendo a participação do município de apenas
0,01%.
Como podemos perceber, a história da Região do Pontal do Paranapanema
possui um “divisor de águas” uma história antes da organização dos trabalhadores em um
movimento de luta que estabelece uma relação com a terra e a natureza, mas
principalmente pelo fato de questionar a utilização do uso do solo, ou seja, a região e o
município de Mirante do Paranapanema possuem duas histórias uma antes e outra depois
da territorialização dos camponeses
O período anterior a conquista dos assentamentos estava fundamentado na
exploração da monocultura do algodão, amendoim e a criação de gado de corte, ou seja,
onde hoje esta localizado o assentamento São Bento era um grande latifúndio que tinha
em suas terras pastagens para criação de gado de corte. Predominando a produção de um
só produto, no caso a carne que servia para abastecer o mercado externo.
Para podermos compreender este segundo período gostaríamos de trazer ao
circuito de debate a pesquisa (Feliciano, 2010), que colabora para relacionarmos as
diversas mudanças na paisagem a partir dos assentamentos e a importância deles para a
diversificação da produção de alimentos na região Pontal do Paranapanema. (veja mapa
abaixo)
39
Mapa 6 - Produção Animal e Vegetal no Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema - SP
Fonte: Feliciano, 2010.
40
Como salientamos anteriormente o município de Mirante de Paranapanema possui a
maior área continua de assentamentos constituídos em seu perímetro, ou seja, o assentamento
estudado encontra-se cercado por várias comunidades, onde a realidade produtiva da São
Bento se reflete no conjunto das comunidades do município.
Predominando no assentamento São Bento a produção leiteira, onde 60.94% das
famílias têm como elemento principal o leite, 21.27% exploram o cultivo de vários produtos
como: melancia, café, manga, feijão, milho, coco, urucum, hortaliças, mandioca, milho
constituindo-se a produção de subsistência voltada para alimentar a família e o excedente é
comercializado. Ainda 17.79% produzem animais para o comercio como bezerros, bois,
vacas.
Diante destas informações trazidas pela pesquisa, podemos perceber que a geração
de renda das famílias do assentamento está voltada a produção de leite, que é comercializado
com os laticínios da região e a produção vegetal dos lotes, cumpre função de subsidiar a dieta
alimentar das famílias aliada ao comercio, tanto do leite como de animais. Ficando clara a
mudança nas relações humanas com a terra, os animais e o meio ambiente constituindo um
território social livre da classe trabalhadora.
Analisaremos a juventude destas comunidades com o objetivo de compreender os
aspectos sociais, econômicos e educacionais para nos aproximar do entendimento dos motivos
que levam a juventude a renunciar aos territórios camponeses ou é claro refutarmos tal
afirmação, pois o trabalho empírico de campo nos dará mais elementos de analise.
41
CAPÍTULO 2. EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A JUVENTUDE NO
CAMPO.
2.1 – OS ASPECTOS DA EDUCAÇÃO NOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA
AGRÁRIA NO PONTAL DO PARANAPANEMA
Iniciaremos a discussão pela estrutura da educação nos assentamentos. Para
contribuir com o debate buscamos em autores reflexões sobre a educação, dialogando sobre
suas implicações e políticas de desenvolvimento do conhecimento. Realidade que coloca os
camponeses, que lutam pela garantia dos direitos á dignidade humana inseridos em uma
realidade de enfrentamento, pois a educação se apresenta como território em disputa,
[...], pois educar na perspectiva da ideologia dominante para manter a
sociedade vigente, nas mesmas condições de exploração ou apontar
alternativas de acordo com os interesses históricos da humanidade
para superação das relações de exploração, bem como as
desigualdades sociais [...]. (ORSO, 2008, p. 66).
Diante destas observações traremos algumas considerações a respeito do ato de
educar que esta associada diretamente à manutenção do poder da classe dominante. Como nos
afirma Rossi (2000, p. 58):
[...] educar é uma atividade política, pois está associada aos interesses
dos legisladores e estes pertencem à classe dominante. Assim, como a
defesa dos direitos de propriedade é função do Estado, a escolha dos
conteúdos a serem estudados dentro de certo território também é
atribuição do estado [...]
Esta reflexão nos mostra a importância do Estado na educação, nos territórios
camponeses, pois cabe a ele decidir os rumos da educação, mesmo em assentamentos e
escolas conquistados com muita luta. Escolas estas que não representam condições
necessárias a tirar da exclusão educacional os camponeses, mas sim reforçar a estrutura de
valores consumistas da sociedade. Para isto, levantamos alguns questionamentos e reflexões
como: Qual o papel da educação para construção de outro mundo possível? Como construir
42
uma educação cuja referência seja o ser humano? Como se constitui uma educação que
realize as transformações políticas, econômica, culturais e sociais necessárias? Com relação a
essas questões mais abrangentes entendemos o contexto de acordo com Mezarós, (2002)
onde:
[...] o simples acesso a escola é condição necessária, mas não
suficiente para tirar das sombras do esquecimento social milhões de
pessoas cuja existência só é reconhecida nos quadros estatísticos. E
que o deslocamento do processo de exclusão educacional não se dá
mais principalmente na questão do acesso a escola, mas sim dentro
dela, por meio das instituições da educação formal. O que está em
jogo não é apenas a modificação política dos processos educacionais-
que praticam e agrava o apartheid social – mas a reprodução da
estrutura de valores que contribui para perpetuar uma concepção de
mundo baseada na sociedade mercantil[...].(MEZARÓS, 2002, p. 12).
Pois, educar não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim conscientização e
testemunho de vida. É construir, libertar o ser humano das cadeias do determinismo
neoliberal, reconhecendo que a história é um campo aberto de possibilidades, onde
[...] a educação deve ser sempre continuada, permanente, ou não é
educação. Defende a existência de práticas educacionais que
permitam aos educadores e alunos trabalharem as mudanças
necessárias para a construção de uma sociedade na qual o capital não
explore mais o tempo de lazer, pois as classes dominantes impõem
uma educação para o trabalho alienado, com objetivo de manter o
homem dominado. Já a educação libertadora teria como função
transformar o trabalhador em um agente político, que pensa que age, e
que usa a sua palavra como arma para transformar o mundo [...].
(MEZARÓS, 2002 p. 12).
Segundo Gramsci apud Maestri & Candreva (2007), um dos elementos produtores
das vontades ideológicas da classe dominante é a escola, pois:
[...] É a parte mais dinâmica desta estrutura, mas não é a única, tudo
que influi na opinião pública, direta ou indiretamente, pertence-lhe: as
bibliotecas, as escolas, os currículos e os clubes de vários gêneros, até
a arquitetura, a disposição das ruas e seus nomes. [...] sendo
responsável [...] em difundir a hegemonia dominante na sociedade
civil. [...] (MAESTRI & CANDREVA, 2007, p. 242)
43
A educação cumpre papel fundamental na criação e sistematização da coerência
ideológica, ou seja,
[...] nasce da determinação muito precisa: o discurso ideológico é
aquele que pretende coincidir com as coisas, anular a diferença entre o
pensar, o dizer e o ser e engendrar uma lógica da identificação que
unifique pensamento, linguagem, e realidade para, através da lógica,
obter a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem
particular universalizada, isto é, a imagem da classe dominante [...]
(CHAUÍ, 2006, p. 136)
Fundamentada em metodologias e conteúdos trabalhados nas escolas, como
elemento de desenvolvimento na formação de novos valores culturais como: o
individualismo, personalismo, a cultura da vantagem, do “jeitinho” enraizado na sociedade.
Outro elemento é a produção de novas tecnologias voltadas a modos de vida que
valorizam a produção de valores, atitudes, crenças e moralidades, que dão suporte para a
ordem social levando legiões de jovens camponeses a migrarem para os perímetros urbanos
em busca de oportunidades, onde acreditam que terão êxito longe de suas realidades e
histórias de vida. Cultura produzida através dos aparatos do estado, onde se cria no
subconsciente das pessoas que as oportunidades estão na cidade, constituindo como senso
comum a todos os jovens camponeses.
Para Furlanetti (2008, p.307)
A realidade da educação nos assentamentos tem exigido sensibilidade dos
educadores na construção de procedimentos didáticos e conteúdos a serem
ensinados... Vivenciar a cotidianidade de seus educandos seja através da
convivência do dia a dia ou através de estudos e participação ativa na
realidade, com comprometimento político. Encontrar subsídios para o
planejamento é pesquisar a comunidade a qual está inserida a sala de aula ou
a escola, é compreender a forma de vida e as atitudes diante da realidade. O
planejamento precisa ser criado para um lugar específico, com uma
combinação social, política, cultural, territorial e econômica, singular, deve
condicionar a pedagogia a essa singularidade. Uma pedagogia para a
tolerância, para a pergunta, para a ação política, para valorização dos
elementos culturais que brotam da existência particular, da formação da
identidade, para relações horizontais e, ser gerida pela comunidade. ...
Pensar em uma escola do campo é necessário que se analise as
transformações da realidade para que se possa planejar uma proposta
educacional voltada para o campo.
44
Como poderemos constatar na fala da Supervisora de Ensino do Estado responsável
pelas escolas de assentamentos no município de Mirante do Paranapanema, em sua visão a
escola cumpre papel somente de “letrar” o jovem, não trabalhando a reflexão critica desta
juventude, deixa a responsabilidade que é sua para outras instituições. Naturalizando sua saída
na busca de novas oportunidades, como nos coloca:
[...] nossa preocupação é básica, que eles aprendam o que todas as
crianças do ensino fundamental e médio têm que aprender. Agora,
depois que ele tiver essa formação, ele procura uma escola específica
como o Colégio Agrícola de Presidente Prudente ou Rancharia [...].
(In: RIBAS, 2002, p. 107-Entrevista realizada em setembro de 2001).
Este pensamento “conteudista” ancorado pelo amplo aparato disciplinar e burocrático
deixa pouco espaço para outras formas metodológicas de aprendizado, como a valorização
histórica da conquista e resistência dos territórios camponeses, suas particularidades políticas,
econômicas, sociais e culturais. Desenvolvendo conteúdos voltados a elementos abstratos para
compreender a vida real das comunidades assentadas em uma sociedade de classes, voltados
para a adaptação e alienação dos alunos, formatados ao conformismo do meio não os levando
a questionar o modo de vida e o modo de produção capitalista.
Estas características da educação formal são desenvolvidas pelo Estado Moderno
servindo como instrumento sofisticado de garantir a manutenção e reprodução das condições
de controle da classe dominante sobre a classe trabalhadora. Este controle político-econômico
toma outros veículos de construção hegemônica e ideológica, sendo a educação instrumento
de convencimento e transferência da cultura e formação de novos valores, construindo a
identidade dos sujeitos sociais. Realidade que coloca os camponeses, que lutam pela garantia
dos direitos á dignidade humana inseridos em uma realidade de enfrentamento, pois a
educação se apresenta como território em disputa, como (ORSO, 2008, p.66) descreve:
[...] educar na perspectiva da ideologia dominante para manter a sociedade
vigente, nas mesmas condições de exploração ou apontar alternativas de
acordo com os interesses históricos da humanidade para superação das
relações de exploração, bem como as desigualdades sociais [...].
45
Como nos afirma Ramalho, 2002, a importância da educação diferenciada, voltada
para determinado público especifico, valorizando aspectos relevantes a sua realidade, como é
o caso:
A educação no campo deveria ser uma educação específica e
diferenciada, estando voltada para a formação humana, emancipadora
e criativa, assumindo de fato a identidade do meio rural. Identidade
essa que se expresse não só como forma cultural diferenciada, mas
principalmente como ajuda efetiva no contexto específico, no sentido
não só da eliminação do analfabetismo, da reintegração do jovem e do
adulto à escola regular, mas como um instrumento da construção de
um projeto de desenvolvimento que elimine a fome e a miséria.
(RIBAS, 2002, p. 97).
Em concordância a reflexão de Ribas (2002), trago ao circuito de debate uma
dificuldade que está intra-classe, ou seja, os camponeses se verem enquanto classe social,
saindo do senso comum de forma a se enxergar enquanto sujeitos autônomos dentro do
território. Como vemos em entrevista realizada na comunidade assentada pela autora,
constatamos que a própria comunidade não tem clara a importância de um aprendizado
diferenciado, voltado a sua realidade, onde seus filhos teriam contato com temas locais,
regionais e nacionais, isto não significa que ficariam isolados do mundo, pelo contrario
discutiriam assuntos do mundo exterior, mas conscientes e críticos aos modos hegemônicos
de dominação, ou seja, jovens esclarecidos da importância de suas comunidades no contexto
da luta de classe. Como nos mostra a descrição da entrevista realizada por Ribas (2002, p.
101):
[...] Ao perguntarmos aos entrevistados se o ensino que seus filhos
recebem está voltado para a realidade do campo, obtivemos as
seguintes respostas: 30% responderam que sim, 26.8% que não e
43.2% não souberam responder. O diretor de ensino do município
nos relatou que a questão do ensino voltado para a realidade do campo
não pode ser uma preocupação para o ensino fundamental e médio [...]
(negrito nosso)
Percebamos ainda o posicionamento do responsável pela educação no município,
quando questionado sobre o ensino voltado a realidade do campo, coloca-se totalmente
descomprometido com as comunidades, afirmando que não cabe a escola a responsabilidade
46
de discutir assuntos de suas realidades. Colocando-nos na posição de alerta, pois se não é
responsabilidade desta instituição é de quem? Será que é da igreja? do sindicato? Ou será
ainda dos meios de comunicação? As crianças permanecem por grande parte do tempo dentro
das escolas, será que não seria de responsabilidade e compromisso da educação construir
jovens críticos e esclarecidos politicamente? Por uma questão de justiça, temos que expressar
que a formação destes jovens, não é somente de responsabilidade da escola, pois esta tem
função de alfabetizar. O que se questiona são as formas e as práticas de ensino, estando claro
que a formação destes jovens trilha caminhos que vão desde a família as organizações
populares que os vinculam.
O posicionamento do responsável pela educação nos leva a refletir! Será que a
escola está reforçando na educação dos jovens a meritocracia3? Sendo o indivíduo
considerado como tendo “livre escolha”,capaz de ir tão alto quanto sua motivação, desejo e
habilidade o levem. Um indivíduo que não alcance o sucesso só tem a si próprio para
culpar. Aqueles que conseguem sucesso orientam seu pensamento para louvar o sistema
que os permitiu vencer. Como nos afirma Rossi, (2000).
[...] A igualdade de oportunidades é ponto importante da ideologia
capitalista, pois garantiria aos mais capazes, aos mais esforçados, aos
que “trabalham duro,” o acesso ás melhores posições. A educação
tornaria permeáveis as classes sociais de modo que, quem não
“subisse,” ou não se teria esforçado o suficiente, ou teria sido menos
capaz. [...]
E mais grave que não discutir suas realidades nas escolas do campo é o fato de
muitos não terem acesso ao ensino e quando tem as condições são precárias como nos mostra
[...] os dados do IBGE de 1995 apontam que 32.7% da população do
meio rural, 89% que tem acima de 15 anos, é analfabeta. Segundo o I
Censo da Reforma Agrária no Brasil, realizado em 1996, o índice de
analfabetismo dos trabalhadores assentados alcança 43% na média
nacional, chegando a alguns Estados até 70%. E a prestação de
3- Sistema educacional em que os mais dotados ou aptos são escolhidos e promovidos conforme seus
progressos e consecuções; sistema onde o mérito pessoal determina a hierarquia. (ROSSI,2000)
47
serviços escolares é precária ou não existe. Há ainda muitas crianças
fora da escola, mesmo tendo havido um aumento nos últimos cinco
anos de 5.9% das matrículas no ensino rural. [...] (RIBAS, 2002,
p.98).
Agora se coloca uma situação dúbia, ou seja, como não ter as escolas nos
assentamentos já que são necessárias e legitimas aos camponeses? Mas como tê-las
cumprindo um papel de fortalecimento do modo de produção capitalista que deslegitima e não
reconhece a luta dos camponeses na conquista e manutenção dos territórios?
Sendo necessário buscar elementos que reforce nossos argumentos, para melhor
entender está situação das escolas nos assentamentos e o papel que elas cumprem no conjunto
de elementos de manutenção das comunidades assentadas, pensamos ser necessário ter em
todas as comunidades camponesas estruturas físicas voltadas a atenderem as necessidades da
educação, pois as conquistas destes espaços são legítimas favorecendo a construção da
identidade camponesa.
O que se coloca como elemento de questionamento é a pedagogia e suas
metodologias utilizadas, pois os jovens camponeses necessitam além da alfabetização a
interação da sua comunidade na vida escolar, direcionando suas discussões a realidade local e
a interação ao global, para fortalecer o conjunto de ações de manutenção e reforço dos
camponeses enquanto classe.
Outro elemento é que as escolas que hoje já foram conquistadas pelos camponeses e
funcionam nos assentamentos e acampamentos não cumprem papel de superação das políticas
de padronização dos costumes culturais urbanos, pois, coloca a cidade como o melhor lugar
para viver, ou seja, a política educacional era manter as estruturas físicas no meio urbano,
onde os alunos do meio rural se deslocavam para estudar na cidade, diferenciando-se dos dias
atuais, apesar das escolas do meio rural e especificamente as dos assentamentos não possuir
pedagogia e metodologias, não voltadas à educação libertadora.
A conquista do espaço da escola dentro do território possibilita a tomada das
“rédeas” nos rumos da educação dos jovens camponeses, mesmo que necessite de um
conjunto de fatores conjunturais, a estrutura física está instalada, basta os camponeses se
conscientizarem enquanto classe e organizar-se. Para entender a gênese da formação da
identidade camponesa e compreender o estágio de passividade, em relação às escolas
48
dominadas por políticas que deslegitimam os camponeses, comprometendo sua criação e
recriação, como nos coloca Fernandes:
Outra forma de recriação do campesinato é por meio da ocupação da terra.
Em sua reprodução ampliada, o capital não pode assalariar a todos,
excluindo sempre grande parte dos trabalhadores. Da mesma forma, na
realidade brasileira, o capital em seu processo contraditório de reprodução
das relações não – capitalistas, não recria na mesma intensidade com que
exclui. Assim, por meio da ocupação da terra os trabalhadores se
ressocializam, lutando contra o capital e se subordinando a ele, porque ao
ocuparem e conquistarem a terra se reinserem na produção capitalista das
relações não capitalistas de produção. (FERNANDES, 2001, p.2)
Os camponeses Sem Terra ao lutar e conquistar o sonho “o tão custoso pedacinho de
terra” recebem além da terra a legitimidade enquanto cidadãos, passando a ser considerado
pelo Estado como contribuintes, eleitores, consumidores, trabalhadores, adquirindo
“identidade social licita”. Está “ascensão social” está carregada de enquadramentos legais,
burocráticos, morais, culturais, que os sujeitos antes os municípios e o estado alegavam não
ter responsabilidade, agora membros da sociedade, com o título de assentado na gleba agora
considerado cidadão.
Esta mudança leva os camponeses a aceitar as regras do Estado de Direito
constituído e construído ao longo da história pela classe dominante, onde quem quiser ser
considerado, deve cumprir as regras de boa conduta e bom comportamento, ou seja, passar a
negar a sua própria história de luta, com isto, se reinsere na produção capitalista. No campo
educacional não foge a regra, pois para os camponeses terem escolas em seus territórios
precisam lutar e posteriormente “acordar” moralmente com a classe dominante responsável
pela educação, que aceitarão as normas, sendo passivos ao acesso a escolarização que antes
lhes era negado.
Hoje temos escola, entretanto, uma escola que utiliza os conteúdos da cartilha da
Secretaria Estadual de Educação que está sistematizado metodologicamente, tratando de
assuntos gerais não oferecendo condições para a comunidade socializar seus conhecimentos e
sua história. O conhecimento transmitido pelas disciplinas no assentamento é o mesmo
ofertado em outras regiões do estado não diferenciando áreas urbanas ou rurais, ou seja, a
homogeneização do conhecimento visa educar a juventude da mesma forma. Não considera as
especificidades rurais, onde a transmissão do conhecimento deixa de valorizar alternativas
49
que contribuiriam com o cotidiano das famílias no lotes. Como por exemplo, utilizar a
interdisciplinaridade para compreender a química e biologia do solo, ajudando os assentados
na correção, para melhorar a produtividade ou ainda realizar experiências agroecológicas para
auxiliar no aprendizado da juventude melhorando as condições produtivas do solo, dos
animais, do meio ambiente. Ainda este projeto político pedagógico não possibilita a
ampliação e construção de disciplinas que possam favorecer o conhecimento desta juventude
a sua realidade e o contexto que estão inseridos.
2.2 - POLITICAS PÚBLICAS PARA OS JOVENS ASSENTADOS.
A sociedade deposita na juventude as maiores esperanças de vivermos em um mundo
melhor no futuro, por outro lado neste seguimento é que encontramos as principais
dificuldades e problemas na atualidade, tanto relacionados ao público do campo quanto ao
público urbano. Pois neste mundo globalizado onde a homogeneização dos costumes, valores
assemelham os espaços do campo e da cidade fortalecendo a contradição e a triste realidade
desta classe jovem que se encontra desestimulada nos “guetos” com resumidas perspectivas
de prosperidade social.
Os aspectos sociais geram a necessidade de que o poder público e a sociedade civil
definam planos e ações direcionadas a proteger, capacitar e gerar oportunidades aos jovens, de
modo a mudar está realidade. Este conjunto de planejamentos e ações dos governos com o
apoio da população são as políticas públicas para a juventude desenvolvida em ações
direcionadas em diversas áreas de interesse público.
O conjunto de políticas públicas também abrange assuntos novos de grande relevância
como, por exemplo, as políticas de inclusão digital, que beneficiam todas as pessoas
interessadas em adquirir conhecimento sobre informática e internet, qualificando-as para o
estudo e mercado de trabalho.
Para compreendermos o universo de iniciativas desenvolvidas pelos governos nas três
esferas administrativas, vamos apresentar os seguintes programas de governo: Projeto Agente
Jovem – Secretaria do Desenvolvimento Social do Governo do Estado de São Paulo
(www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br); Programa Brasil Alfabetizado – Ministério da
Educação (www.mec.gov.br); Programa Juventude e Meio Ambiente – Ministério do Meio
Ambiente e Ministério da Educação
(portal.mec.gov.br./secadi/arquivos/pdf/educacacaoambiental/pjma.pdf), Programa Nossa
50
Primeira Terra – Governo Federal/Programa Nacional de Crédito Fundiário
(www.mda.gov.br); Programa de Inclusão de Jovens (PROJOVEM) - Governo Federal
(www.projovem.gov.br); Programa PRONAF Jovem – Secretária da Agricultura Familiar
(www.mda.gov.br); Programa Universidade para Todos – Ministério da Educação
(www.mec.gov.br); Projeto Escola da Juventude – Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo (www.educacao.sp.gov.br); Projeto Guri – Governo do Estado de São Paulo
(www.projetoguri.org.br); Programa de Aquisição de Alimentos – Governo Federal
(www.mds.gov.br).
PROJETO AGENTE JOVEM
O Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, compreendido
como a conjugação da Bolsa Agente Jovem e da ação sócio educativo que tem por objetivo
propiciar ao jovem, entre 15 e 17 anos, iniciativas de fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários e possibilitando a compreensão sobre o mundo contemporâneo com ênfase sobre
os aspectos da educação e do trabalho. Sendo desenvolvido pela Secretaria de
Desenvolvimento Social do governo do Estado de São Paulo.
O programa tem por objetivo desenvolver ações que facilitem a integração dos
jovens ao convívio da família, à comunidade e à sociedade preparando-os para o mercado de
trabalho garantindo a inserção, re-inserção e a permanência de todos no ensino. Capacitando
para atuar como agentes de transformação e desenvolvimento das comunidades, contribuindo
com a diminuição dos índices de violência entre os jovens, uso de bebidas e drogas e a
preservação de doenças sexualmente transmissíveis ou a gravidez não planejada.
A iniciativa pública visa à atuação junto aos jovens que estejam fora da escola
e que participem de outros programas sociais e caracterizando-se em situação de
vulnerabilidade e risco pessoal e social, sendo 10% das vagas destinadas a adolescentes
portadores de deficiência. As ações estão planejadas a partir de um conjunto de atividades que
visam propiciar aos jovens o reconhecimento e o desenvolvimento de suas habilidades,
formas de expressão, trajetória pessoal e expectativas. Com metodologia de capacitação
teórico-prática, com duração de doze meses, sendo que a capacitação teórica compreende
carga horária mínima de 300 horas aula e a prática alternando a atuação do jovem na
comunidade.
51
PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO
O Programa Brasil Alfabetizado é desenvolvido desde 2003, pelo Ministério da
Educação e Cultura do Governo Federal voltado para a alfabetização de jovens, adultos e
idosos. Sendo desenvolvido em todo o território nacional, com o atendimento prioritário a
1.928 municípios que apresentam taxa de analfabetismo igual ou superior a 25%. Desse
total, 90% localiza-se na região Nordeste.
O programa visa recrutar e remunerar educadores nos municípios e comunidades
desde que possuam formação acadêmica ou nível médio completo para desempenhar
atividades de formadores no contra turno de suas atividades de trabalho. Onde os educadores
recrutados recebem o equivalente ao público que atendem:
Bolsa classe I: Para alfabetizadores com turma ativa de jovens, adultos e idosos;
Bolsa classe II: Para alfabetizadores com turma ativa que inclua jovens, adultos e
idosos com necessidades educacionais especiais, a população carcerária e aos jovens em
cumprimento de medidas socioeducativas;
Bolsa classe III: Para o tradutor-intérprete de LIBRAS que auxilia o alfabetizador com
turma ativa que inclui jovens, adultos e idosos surdos;
Bolsa classe IV: Para o coordenador de turmas de jovens.
PROGRAMA JUVENTUDE E MEIO AMBIENTE.
O Programa Juventude e Meio Ambiente é um projeto desenvolvido pelo
Ministério da Educação e Cultura e o Ministério do Meio Ambiente com parcerias de diversas
ONG’S. Tem como objetivo incentivar o debate da juventude e o meio ambiente, difusor de
idéias da educação ambiental ampliador e formador de lideranças ambientais comprometidas
com a preservação ambiental.
Tendo como público alvo, jovens de 15 a 29 anos participantes de coletivos, núcleos
e organizações defensoras do meio ambiente, alocadas em todos os estados da federação. Com
metodologia formativa em cursos e oficinas presenciais e a distância. As atividades
presenciais possuem características de oficinas formativas e as atividades à distância em aulas
por videoconferências. O conteúdo ofertado nestes encontros busca partir das realidades
52
locais, regionais e a interação entre os temas, buscando a resolução dos diversos problemas
socioambientais
PROGRAMA NOSSA PRIMEIRA TERRA
O programa Nossa Primeira Terra é uma iniciativa do Governo Federal, dentro
do Programa Nacional de Crédito Fundiário, que tem por objetivo possibilitar aos jovens
brasileiros a oportunidade de permanecer no campo e contribuir com o desenvolvimento rural.
Financiando jovens sem terra, filhos de agricultores e estudantes de escolas agrotécnicas na
faixa etária de 18 a 24 anos que tenham vontade de adquirir uma propriedade rural.
PROGRAMA DE INCLUSÃO DE JOVENS
O Programa de Inclusão de Jovens - PROJOVEM visa à escolarização de
jovens agricultores em nível fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos
(EJA), integrado à qualificação social e profissional, sendo uma ação do Ministério da
Educação em conjunto com diversas Secretarias de vários ministérios do Governo Federal.
Possui como alvos jovens camponeses de 18 a 29 anos. Organizando sua
intervenção em eixos articuladores e temáticos formativos, possui metodologia de
períodos/tempos escola e momentos comunidade, visa à formação e a qualificação social e
profissional em Agricultura Familiar sustentável. Ambos os eixos dialogam e fortalecem a
identidade camponesa, cultura, gênero e etnia relaciona a interação da formação com as
realidades de cultivo no campo. Este programa ainda possui variação para jovens do meio
urbano com especificações e adequações para este público.
PROJETO PRONAF JOVEM
O Programa PRONAF- Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
Jovem é uma linha de crédito do Governo Federal, que visa o investimento, sendo acessado
por jovens do campo que possuam os seguintes elementos:
Jovens agricultores e agricultoras em idade entre 16 e 29 anos, pertencentes a
famílias enquadradas no PRONAF, que possuam a Declaração de Aptidão- DAP;
Que tenham concluído ou estejam cursando o último ano em centros familiares
rurais de formação por alternância;
53
Tenham concluído ou estejam cursando o último ano em escolas técnicas
agrícolas de nível médio;
Já esteja participado de curso ou estágio de formação profissional que
preencham os requisitos definidos pela Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA) ou que tenha orientação e acompanhamento de
empresa de assistência técnica e extensão rural reconhecida pela SAF/MDA e pela instituição
financeira.
PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS
Programa desenvolvido pelo Ministério da Educação, tendo seu início no ano de 2004,
tem finalidade de conceder bolsas de estudos integrais e parciais em cursos de graduação em
instituições privadas de Educação Superior. Tem como público alvos o jovem egresso do
ensino médio da rede pública ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, com
renda per capita famílias máxima de três salários mínimos.
Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM, conjugando-se, desse modo, inclusão à qualidade e mérito dos estudantes
com melhores desempenhos acadêmicos. Possui ações conjuntas de incentivo à permanência
dos estudantes nas instituições, como a Bolsa Permanência, os convênios de estágio
MEC/CAIXA e MEC/FEBRABAN e ainda o FIES – Fundo de Financiamento ao Estudante
do Ensino Superior, que possibilita ao bolsista parcial financiar até 100% da mensalidade não
coberta pela bolsa do programa.
PROJETO ESCOLA DA JUVENTUDE
O projeto escola da juventude é uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo e
visa beneficiar jovens de 18 a 29 anos. Possuindo metodologia de aulas aos finais de semana
com caráter de supletivo. Criado para atender a demanda de jovens que possuem o ensino
fundamental e trabalham durante o dia e não conseguem freqüentar as aulas no período da
noite. O curso acontece em três módulos com duração de 6 meses cada um, onde o aluno
pode flexibilizar o tempo de participação para freqüentá-lo segundo sua disponibilidade de
tempo.
54
PROJETO GURI
O projeto é uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, administrado por
duas organizações sociais ligadas à Secretaria de Estado da Cultura. Possui 366 pólos
distribuídos em 310 municípios pelo interior e litoral do estado, com mais de 40 mil jovens
participando. Sendo considerado um dos maiores programas sociocultural do Brasil.
Criado no ano de 1995, oferece nos períodos de contra-turno escolar, cursos de
iniciação e teoria musical, coral e instrumentos de cordas, madeiras, sopro e percussão. Possui
o objetivo de promover a educação musical e a prática coletiva que visa o desenvolvimento
humano das gerações futuras.
PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma das ações do Fome Zero e
promove o acesso a alimentos às populações em situação de insegurança alimentar e promove
a inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar.
Este programa do Governo Federal busca contribuir com os agricultores no fortalecimento,
tem como uma das suas funções garantirem preços justos à produção dos agricultores
familiares.
O produto comercializado pelos agricultores por intermédio desta medida
governamental tem por destino contribuir com as populações mais carentes, pois organizações
sociais são beneficiadas com o recebimento destes produtos, ainda as instituições públicas
como: escolas, creches, asilos, hospitais também são beneficiados.
Este conjunto de programas e projetos governamentais descritos beneficiam jovens do
campo e da cidade favorecendo o desenvolvimento social e a geração de renda, auxiliando no
amparo e na formação de rapazes e moças nos respectivos seguimentos da educação, saúde,
lazer, capacitação para o trabalho com distintas significações e níveis de importância, como é
o caso dos jovens dos assentamentos. Pois muitas destes possuem dificuldades operacionais
para atingir o público alvo, outras possuem reflexos na comunidade, mas a logística envolvida
no processo de operacionalização possui falhas. Como o Projeto Guri que visa o
desenvolvimento da música com os jovens, apresentando as várias formas musicais e os
instrumentos. As aulas ocorrem aos sábados na cidade, onde em muitos lugares os jovens são
impedidos de freqüentar, devido à falta de transporte, pois este é de responsabilidade das
prefeituras que alegam pouco orçamento para realizá-lo.
55
Temos o PROJOVEM e o AGENTE JOVEM, iniciativas positivas, pois o pouco
recurso distribuído com a compra de materiais. Servindo ainda, como elemento de dominação,
pois os jovens são coagidos ao enquadramento do Estado, além de ser uma política
assistencialista que não possui vinculo futuro e benefícios para os jovens e suas famílias,
vigorando por um determinado período, da vida escolar do jovem.
Agora, muitas políticas e programas são propagandas ou bandeiras de governo
beneficiando algumas pessoas da população, como a Primeira Terra e o PRONAF Jovem que
não saem da esfera dos gabinetes do ministério, poderiam contribuir com o desenvolvimento
de muitos jovens, favorecendo a reprodução social das famílias no campo, com possibilidade
de novas perspectivas. Mas se resumem a propagandas e o público atendido é irrisório em
relação à demanda do conjunto de jovens.
Observamos que os programas como Juventude e Meio Ambiente, Escola da
Juventude são iniciativas que não fazem parte do cotidiano da juventude dos assentamentos.
A universidade para todos é um programa muito interessante pois traz reflexos futuros
mas esbarra na falta de perspectiva dos jovens, em se ver, cursando um curso de nível
superior, com isto, apesar da sua importância possui pouco conhecimento. Tendo ainda, o
programa de aquisição de alimentos que tem possibilitado a muitas famílias dos
assentamentos comercializarem seus produtos com preços justos. Mas, com escala limitada ao
número de ofertas de produtores, podendo ainda ser estendida aos jovens incentivando a
produção e a geração de renda para os jovens.
As boas iniciativas sejam de programas ou projetos devem elevar-se a políticas
públicas de Estado garantindo o desenvolvimento e a reprodução social dos jovens do campo,
ultrapassando o patamar de vontade de governo, pois é, necessário construir iniciativas
consolidadas que possibilitem a construção de suas vidas, com garantias e perspectivas de
desenvolvimento social.
56
CAPÍTULO 3 - UMA CARACTERIZAÇÃO DA JUVENTUDE NO
ASSENTAMENTO SÃO BENTO.
Conforme os dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) referentes ao censo de 2000, há 34.081.330 jovens com 14 a 24 anos de
idade no Brasil, mas apenas 18% deles residem no meio rural. Ainda segundo este Instituto,
de 1991 a 2000 houve uma redução de 26% da população jovem no meio rural, sendo os
processos migratórios responsáveis por este fenômeno demográfico.
Quando fazemos referência à juventude é necessário conceituar e buscar aproximar a
análise do público alvo, pois existem várias definições de jovem, estes exercícios
consideraram a fase que se inicia na adolescência e atinge o início da fase adulta, ou seja,
indivíduos que estão entre a vivência dos conflitos, anseios e descobertas características da
adolescência e as preocupações relacionadas ao papel do adulto como o trabalho, a
independência e a constituição de famílias.
Como nos afirma Carneiro (2007, p.85)
[...] os jovens oscilam entre o projeto de construírem vidas mais
individualizadas, o que se expressa no desejo de “melhorarem o
padrão de vida”, de “serem algo na vida”, e o compromisso com a
família, que se confunde também com o sentimento de pertencimento
à localidade de origem, já que a família é o espaço privilegiado de
sociabilidade nas chamadas “sociedades tradicionais [...]
Dentro dessa ambigüidade está em curso a construção de uma nova identidade. O
autor ainda nos afirma que
[...] os jovens cultuam laços que os prendem ainda à cultura de origem
e, ao mesmo tempo, vêem sua auto-imagem refletidas no espelho da
cultura “urbana”, “moderna”, que lhes surge como uma referência
para a construção de seus projetos para o futuro, geralmente
orientados pelo desejo de inserção no mundo moderno [...]
(CARNEIRO, 2007, p.85)
Essa inserção, no entanto, não implica a negação da cultura de origem, mas supõe
uma convivência que resulta na ambigüidade de quererem ser, ao mesmo tempo, diferentes e
iguais aos da cidade e aos da localidade de origem.
Para facilitar as reflexões faremos o recorte etário considerando jovens da faixa entre
os 14 e 24 anos adotado por organismos internacionais, como Organização Mundial da Saúde
57
- OMS e Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura- UNESCO,
que procura homogeneizar e estabelecer limites máximos de término da escolarização formal
básica (fundamental e médio).
O MST caminha no sentido de colocar os jovens camponeses enquanto classe
herdeira da luta pela terra, associada ao futuro do assentamento. E neste sentido, pontuamos
duas partes envolvidas, a primeira relaciona-se às perspectivas, expectativas e necessidades
dos jovens que podem ser expressas em: o que os jovens querem? A segunda parte relaciona-
se com as expectativas e viabilidades das comunidades, dos movimentos sociais e até mesmo
da reforma agrária em relação a essa população e as possibilidades de atenderem suas
necessidades, ou seja, o que o Estado e a sociedade lhes oferecem? Esse embate fica
materializado nos processos de reprodução social das famílias com o crescimento da
juventude assentada constituindo uma demanda e necessidade de trabalho, lazer, estudo, além
de outras necessidades para futuras famílias.
Para melhor compreender esta relação com a problemática passamos agora a
exposição dos dados coletados nas pesquisas de campo realizado na comunidade do
assentamento São Bento, estando organizados por itens para melhor facilitar a compreensão
das informações.
IDENTIDADE DOS JOVENS DO ASSENTAMENTO SÃO BENTO.
A distribuição por gênero no assentamento São Bento possui sua maioria, 65%
masculina num total de 15 e a feminina 35% como minoria 08, frustrando o quesito de gênero
previsto pela pesquisa que tinha por objetivo igualdade de homens e mulheres entrevistados.
Neste grupo de jovens 86.9% encontra-se na faixa etária de 14 a 19 anos, com predominância
entre 14 e 16 anos, como nos mostra a (figura 01). Destes, 69% se declararam serem de cor
parda, 13% negro e 17.3% branco.
58
Figura 1 - Distribuição dos jovens por faixa etária. Assentamento São Bento.
Mirante do Paranapanema/SP, 2011.
MORADIA
Podemos observar que a idade de jovens é composta pela idade em que ainda são
dependentes dos pais e estão na faixa etária de cursarem o ensino médio, temos ainda a
declarar que dos 23 jovens entrevistados temos:
- 19 jovens solteiros dando um percentual de 82.6%, desses 14 jovens moram com os
pais na mesma casa no lote.
- 02 jovens (8.6%) possuem lote próprio, onde um deles é casado (4.3%) com filho, e
outro mantém relação estável.
- 02 jovens que mantém relação estável entre si prestam serviços de caseiro em outro
lote no assentamento (figura 02).
Figura 2 - - Distribuição dos jovens segundo moradia atual.
Assentamento São Bento.Mirante do Paranapanema/ SP, 2011.
59
Foto 6 - Moça na casa dos pais. Campo, Oliveira, 2011.
NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS JOVENS
A pesquisa possibilitou o levantamento da escolaridade da juventude do
Assentamento São Bento, onde 20 (87%) dos jovens freqüentam a escola e 03 (13%) dos
jovens não estão estudando ou porque concluíram o ensino médio ou evadiram da escola.
Destes que freqüentam a escola 06 (27%) cursam o ensino fundamental entre 5ª a 8ª serie, 13
(65%) estão no ensino médio. Os dados ainda mostram que um jovem do sexo masculino
(4.3%) com idade de 17 anos cursa o ensino fundamental entre 1ª a 4ª e uma jovem do sexo
feminino (4.3%) cursa o Ensino Superior (figura 03).
60
Figura 3 - Distribuição dos jovens de acordo com o nível de ensino que
está cursando. Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, 2011.
CURSOS COMPLEMENTARES
O conjunto das informações ainda revela que os jovens (20) que freqüentam a escola
85.7% estão realizando cursos complementares, sendo 14.3% no curso de espanhol oferecido
na escola Estadual São Bento, ofertado no contra turno das aulas dos estudantes e 85.7%
realiza o curso de informática nos centros particulares nas cidades próximas como Teodoro
Sampaio (figura 04). O empenho e o interesse dos jovens na busca do conhecimento, ficando
claro que os cursos que forem oferecidos o jovens participaram, pois buscam novos
conhecimentos, isto mostra a conexão dos jovens assentados às mudanças dentro e fora dos
assentamentos.
Figura 4 - - Freqüência dos jovens a outros cursos complementares.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, 2011.
61
Foto 7 - Jovens utilizando o laboratório de informática da escola São Bento.
Campo, Oliveira, 2011.
DISTÂNCIA PERCORRIDA DA CASA ATÉ A ESCOLA
Dos 20 alunos que freqüentam a escola 95.7% estuda na Escola Estadual São Bento
localizado no assentamento Haroldina, apenas 01 moça freqüenta o curso de Direito em uma
universidade privada localizada em outro município a 100 km, na cidade de Presidente
Prudente. A realidade que se configura na análise dos dados revela que a maioria dos jovens
nesta fase de estudo não tem a necessidade de se deslocar para os centros urbanos para
estudar, percorrendo em média de 6 a 10 km até a escola, realidade que possivelmente sofrerá
alterações a partir do momento que estes jovens atingirem a idade de cursar o nível superior.
Atualmente 91.3 % dos jovens utilizam o transporte público (ônibus escolar) para a
locomoção e 8.7% utiliza ônibus de linha. (figura 05)
Figura 5 - Trecho percorrido pelos jovens dos lotes até a escola.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, Campo,
Oliveira, 2011.
62
CURSOS QUE OS JOVENS PRETENDEM FAZER
O conjunto de 20 jovens estudantes, portanto, 82.6% que frenquenta a escola
pretende continuar seus estudos em níveis sequenciais ao atual. Deste montante de jovens,
65% deseja curso do ensino superior nas mais variadas áreas dos conhecimento como:
Pedagogia, Ciências da Computação, Engenharia Agronômica, MedicinaVeterinária, Direito,
Engenharia Mecânica. Já 17% gostaria de cursar os cursos de técnico profissionalizante de
Agropecuária e o curso Tecnico de Segurança do Trabalho, ainda outros 9% desejam concluir
o ensino médio e 9% não tinha decidido sobre o futuro.(figura 06).
Figura 6 - Desejos dos jovens em dar continuidade aos estudos.
Assentamento São Bento. Mirante do ranapanema/SP, Campo,
Oliveira, 2011.
MOTIVO DA DESISTÊNCIA DOS ESTUDOS:
Do contingente de jovens, 17.4% que declararam não estar estudando alegaram
a dificuldade em conciliar o trabalho com o estudo, 50% abandonaram ou não seguiram nos
estudos 25% para ajudar a família no desenvolvimento e manutenção do lote e 25% acredita
não ser necessário estudar para permanecer no campo. (figura 07).
63
Figura 7 - Motivos alegados pelos jovens para não continuar nos
estudos. Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo,Oliveira, 2011.
A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS
A principal necessidade dos jovens 34.7% aponta a formação profissional, onde 20%
acredita ser necessário estudar para melhorar o assentamento, ainda 17% deseja estudar para
ampliar os conhecimentos e 9.6% deseja estudar para melhorar a vida no lote de Reforma
Agrária. Apenas 17.3% desejam continuar estudando para terem facilidades em arrumar
trabalho na cidade. (Figura 08)
64
Figura 8 - Importância na continuidade dos estudos para os jovens
dos assentamentos. Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo,Oliveira, 2011.
LUGAR OCUPADO NA COMPOSIÇÃO FAMILIAR
A ordem de nascimento dos jovens entrevistados é muito importante analisar, pois
de acordo com esta posição os jovens desempenham atividades e tem responsabilidades que
estão ligados a estratégia de sobrevivência da família. Dos jovens entrevistados no
Assentamento São Bento 44% ocupam lugar de filhos mais velhos, 26% nasceram no meio e
30% são os filhos mais novos. (figura 09).
Figura 9 - Ordem de nascimento dos jovens. Assentamento São Bento.
Mirante do Paranapanema/SP,Campo,Oliveira 2011.
65
ATIVIDADES FAMILIARES DOS JOVENS
Esta realidade nos mostra a importância dos jovens na manutenção das famílias
nos lotes, pois 52% dos entrevistados contribuem na produção do lote, cultivando culturas
para a subsistência e trabalhando na principal atividade econômica do assentamento São
Bento que é a pecuária leiteira. Seguido por 30.40% a produção e manutenção do quintal,
onde os assentados produzem frutas, horta e criam pequenos animais que servem para
manutenção da dieta alimentar da família e não menos importante 17.50% dos jovens
contribuem nos cuidados com a casa, elaborando as refeições e mantendo um ambiente
agradável para toda a família. (figura 10).
Figura 10 - Atividades desenvolvidas pelos jovens nos lotes.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, Campo,
Oliveira 2011.
QUANTIDADE DE JOVENS TRABALHANDO
Do grupo estudado 77% declarou que não trabalha enquanto 23% disseram que
trabalha (figura 11) isto, devido talvez ao fato destas atividades não serem remuneradas e na
consciência dos jovens o ato de trabalhar está ligado a uma remuneração mensal.
Já os 23% que declaram trabalhar são dois jovens que moram em lotes próprios
e possuem suas famílias, onde um deles é motorista do ônibus escolar no assentamento e o
outro técnico agrícola que presta serviços ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária- INCRA- nos assentamentos do município, recebendo respectivamente R$ 900 e R$
1200 reais mensais. Outro rapaz que desempenha atividades de caseiro em um lote do
assentamento, possuindo ganhos de R$ 400 reais, tendo ainda um jovem do sexo masculino
66
que trabalha fora do assentamento no corte da cana-de-açúcar, com salário de R$ 1200 reais
mensais.
Figura 11 - Declaração dos jovens quanto ao trabalho. Assentamento
São Bento.Mirante do Paranapanema/SP, Campo,Oliveira 2011.
Foto 8 - Jovens trabalhando na elaboração de ração para as vacas leiteiras.
Campo, Oliveira, 2011.
67
Foto 9 - Jovem fazendo ração. Campo, Oliveira, 2011.
O GOSTO DO JOVEM EM MORAR NO ASSENTAMENTO
A maioria 69.5% declara que gosta de morar no assentamento, devido às
características do meio rural como: a qualidade de vida, o sossego, a paz, a tranqüilidade, as
amizades, a união e ao ato de cultivar a terra. Já 13% gostam em parte e 17.3% não gostam de
morar no assentamento (figura 12).
Figura 12 - Preferência dos jovens em relação ao campo. Assentamento
São Bento.Mirante do Paranapanema/SP, Campo, Oliveira 2011.
68
Foto 10 - Jovem no conserto da sua bicicleta. Campo, Oliveira, 2011.
Foto 11 - Família reunida conversando no final de tarde. Campo, Oliveira, 2011
69
Foto 127 - Jovens descansando a sombra das mangueiras. Campo, Oliveira, 2011.
EXPECTATIVAS DOS JOVENS AOS PRÓXIMOS 10 A 15 ANOS;
Neste diagnostico, a maioria 83% tinha preferência pela cidade e 17% não tinha
preferência. Os jovens na sua maioria 61% possui expectativas de nos proximos 10 a 15 anos
sair do campo e morar na cidade não sabendo precisar o local, já 34.7% deseja morar no
assentamento e um jovem apenas gostaria de trabalhar como peão e morar em uma fazenda da
região. (Figura 13)
Figura 13 - Expectativas dos jovens aos próximos 10 a 15 anos futuros
em suas vidas. Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira, 2011.
70
CONHECIMENTO DE OUTROS JOVENS QUE DEIXARAM O ASSENTAMENTO
Dos 23 jovens entrevistados 91.4% conhecem ou tem amigos e parentes que
deixaram o assentamento, ou seja, 21 jovens já presenciaram a saída de familiares ou
companheiros para viver nas cidades da Região do Pontal do Paranapanema ou no Estado do
Paraná e apenas 02 jovens 8.4% não conhecem esta realidade (figura 14).
Figura 144 - Conhecimento dos jovens em relação à saída do campo.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
MOTIVO DA SAÍDA DOS ASSENTAMENTOS
O coletivo dos jovens entrevistados em sua maioria, 74% declarou que estes
jovens saíram do campo para trabalhar, pois o assentamento não tinha condições de se
conseguir emprego. Ainda 17% dos jovens saíram do campo para estudar e muitos destes em
escolas agrícolas da região e 9% não souberam relatar os motivos da saída do assentamento
São Bento (figura 15).
71
Figura 155 - Conhecimento dos jovens sobre os motivos das saídas do campo.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, Campo, Oliveira 2011.
NECESSIDADES DOS JOVENS PARA A PERMANÊNCIA NO ASSENTAMENTO.
A maioria 86.9% dos entrevistados afirma, para conter a saída dos jovens da
comunidade é necessário oferta de empregos possibilitando melhoria na geração de renda das
famílias. 17.40% acreditam que se a infra-estrutura coletiva do assentamento fosse melhor e
houvesse investimentos a maioria dos jovens não sairia dos assentamentos. Apenas (4.3%) um
rapaz declarou que a saída dos jovens seria contida a partir da construção de universidades
nos assentamentos (figura 16).
72
Figura 166 - Necessidades dos jovens para permanecer no assentamento.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, Campo, Oliveira 2011.
A RELAÇÃO E O CONHECIMENTO DOS JOVENS SOBRE AS POLÍTICAS
PÚBLICAS:
Quanto ao conjunto de politicas públicas nacionais e estaduais que os jovens foram
questionados somente conheciam ou participam das seguintes:
pro jovem - 17.2%
ação jovem - 43.4 %.
projeto Guri - 43.40%
73
Figura 17 – Conhecimento da juventude sobre as políticas públicas no
Campo. Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
LOCAL DE DIVERSÃO DO JOVEM
O futebol, com 73.9%, é a principal atividade de divertimento e realização de
exercícios físico, seguido por 26% da biblioteca da escola que é vista como atividade cultural
e 21.7% encontra nos passeios por trilhas, represas e andar a cavalo como atividade de
descontração entre os jovens do assentamento. Quanto a saírem para se divertirem a maioria,
60.8% fica no próprio assentamento, enquanto 34.9% buscam atividades de diversão em outra
cidade da região predominando a cidade de Teodoro Sampaio e apenas 4.3% busca diversão
na sede do município de Mirante do Paranapanema (figura 19).
Outro elemento que chamou atenção foi os que declararam permanecer em frente à
televisão acompanhando a programação dos canais abertos, onde 47.8% assistem todos os
dias por poucas horas e 21.9% assistem todos os dias durante várias horas.
74
Figura 18 - Local de diversão do jovem do assentamento.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
SONHO PROFISSIONAL DOS JOVENS.
Temos neste quesito um conjunto grande de variações onde cada jovem desejava ter
uma profissão, sendo elas: motorista, nutricionista, peão, professor, mecânico, fazendeiro,
cientista da computação, engenheiro civil, porém se destacam as mais tradicionais como:
Veterinários – 17.30%
Engenheiros Agrônomos – 13.8%,
Técnicos Agrícolas - 3%;
Advogados – 8.6%
Jogador de futebol – 8.6%
75
Figura 1917 - Sonho profissional dos jovens.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
DESEJO DO JOVEM EM RELAÇÃO AO FUTURO DO ASSENTAMENTO
Quando perguntados quais seriam as iniciativas para concretização dos sonhos a
maioria 60.9% declara ser necessário estudar, 13.3% acredita que para realizar o sonho será
necessário trabalhar e 8.6% relata que para efetivação do desejado será necessário ir para
cidade, mostrando a maturidade da juventude assentada que tem claros seus objetivos e os
desafios a serem vencidos. Pois, 57% dos jovens sabem que não realizaram seus sonhos
morando no assentamento, enquanto 39% acreditam ser possível realizar os sonhos morando e
permanecendo ali, e 4% não soube responder.
Com relação ao futuro do assentamento várias opiniões foram levantadas, pois a
pergunta deixava o entrevistado colocar de forma espontânea sua opinião, devido a isto, uma
serie de possibilidades surgiram, sendo 17.39% tem a opinião de que o assentamento vai
retroceder e tornar-se novamente fazenda de cana de açúcar e 17.3% acredita que o
assentamento futuramente estará mais desenvolvido, não sabendo responder quais os
parâmetros e as perspectivas deste desenvolvimento. Acreditam 8.6%, que o assentamento
terá asfalto, 8.6% desejam que tenha uma escola boa. Alguns 13% imaginam o lugar onde
mora mais bonito no futuro, ainda 13% deseja para o assentamento a construção de várias
microempresas. Temos ainda 8.6%, que acredita que o assentamento vai estar pior,
76
perguntado em que sentido não soube responder e 4.6% não tem idéia do futuro da
comunidade. (figura 20)
Figura 20 - Desejo do jovem em relação ao futuro da comunidade.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
Quanto ao questionário dos pais temos por objetivo colher dados sobre a sua relação
com os filhos, seus sonhos ao futuro e a relação destes desejos com o assentamento.
Obedecemos ao critério de não aplicar o questionário dos pais na presença dos jovens
garantindo, assim, a independência das opiniões e respostas.
Prevíamos que ao escolher o jovem conseguiríamos entrevistar os pais, não sendo isto
que ocorreu em todos os casos, pois não conseguimos atingir o mesmo número respectivo de
entrevistados em relação aos jovens, devido a alguns fatores como: falta de disponibilidade do
pai ou da mãe em ser entrevistado ou ausência. Sendo entrevistados os pais dos respectivos
lotes: 01, 04, 06, 27, 63, 71, 99, 119, 159, 172, 179, 182, totalizando 12 pais ou mães
entrevistados.
Diagnosticamos a compreensão dos sujeitos que passaram por todo o processo de luta e
conquista dos territórios e nos dias atuais encontra-se nos lotes produzindo e vivenciando a
rotina do assentamento. Sendo as perguntas direcionadas a colher opiniões, informações,
desejos dos pais a respeito dos jovens da família e de forma mais ampla do Assentamento São
Bento. Como salientamos anteriormente a pesquisa previa entrevistar 23 pessoas entre pais e
mães e por problemas já relacionados, tivemos êxito com 5 mães e 7 pais, sendo elas 58.4%
homens e 41.6% mulheres.
77
VISÃO DOS PAIS EM RELAÇÃO AOS JOVENS DO ASSENTAMENTO:
Questionados sobre suas visões da relação da juventude com o assentamento nos dias
atuais a maioria 33.8% acredita que os jovens possuem bom comportamento e são pessoas
tranqüilas sem maiores problemas, 26.6% vê na juventude um público sem estrutura para
estudar e continuar seu desenvolvimento formativo e devido a este elemento 26.6% acredita
ser o motivo da saída dos jovens das comunidades (figura 21).
EXPECTATIVAS PARA OS PRÓXIMOS 10 ANOS
A maior preocupação dos pais, 53.3% em relação aos filhos está centrada no não
envolvimento deles a bebidas e drogas, seguida 40.1% pelo medo de que os filhos abandonem
o assentamento para viver em outro lugar e 6.6% um pai teme que o filho deixe de preservar
os valores da honestidade e seriedade trabalhados pelos pais ao longo da formação dos filhos.
Quanto a participação dos jovens nas decisões na condução da produtividade do lote a
maioria 53.4% não permite ou não aceita as opinião dos filhos, enquanto 46.6% declaram
compartilhar e escutar os jovens em relação a condução das atividades.
Em contra partida a este elemento aparece as expectativas dos pais em relação de
quem assumirá as atividades nos lotes após a aposentadoria, onde a maioria 86.8% deseja que
os filhos assumam a responsabilidade na condução dos trabalhos. Um pai 6.6% por ter todos
os filhos morando na cidade e ter em sua companhia somente dois netos acredita que estes
Figura 21 - Visão dos pais a respeito da relação dos jovens com
a comunidade. Assentamento São Bento. Mirante do
Paranapanema/SP, Campo, Oliveira 2011.
78
tomarão conta futuramente do lote, outro caso 6.6% uma senhora que perdeu o companheiro e
também possui os filhos morando em outra região relata que futuramente deve entregar o lote
para o Estado.
No conjunto de pais e mães entrevistados, a maioria, 53% possuem a expectativa para
o futuro do filhos, que todos estudem e consigam um bom emprego, e, 37.7% tenham uma
vida digna, Apenas 13.30% dos entrevistados possuem expectativas que seus filhos
futuramente tenham posse de um lote de Reforma Agrária.
Figura 182 - Expectativa dos pais em relação aos próximos 10 anos dos jovens.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, Campo, Oliveira 2011.
NECESSIDADES PARA O FUTURO DOS JOVENS
A maioria dos pais, 67%, quando questionados a respeito do que seria necessário fazer
para possibilitar uma vida melhor para os jovens no assentamento, seria um conjunto de
políticas públicas, outro quesito que os pais, 20%, acham que importante seria ter mais
oportunidades de trabalho no assentamento. Para algumas mães, 13%, seriam melhorar a
educação dentro do assentamento. (figura 23).
79
Figura 23 - Necessidade do assentamento para garantir o futuro dos jovens.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP, Campo, Oliveira 2011.
APOIO NAS INICIATIVAS DOS JOVENS
A figura 24 mostra que os pais: 73.3% apóiam a participação dos jovens em
associações e cooperativas dentro dos assentamentos, porém, 26.7% são contra esta
participação. Nas atividades de lazer na cidade 60% são contra e 40% são a favor; fazer parte
de grupo de jovens 86.60% concorda e 13.40% discordam; já no quesito namorar e parar de
estudar os percentuais se assemelham onde 33.30% dos pais concordam com o namoro e ao
fato dos filhos deixarem os estudos e 66.70% não são a favor que os filhos namorem ou
parem seus estudos. (figura 24).
Figura 24 - Apoio dos pais em relação às iniciativas dos jovens.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
80
IMPORTÂNCIA EM RESGATAR AS LUTAS
A importância do resgate das lutas feitas para conquistar o território do
assentamento São Bento, sendo a maioria 73% a favor deste resgate e 27% contra a retomada
destas lembranças. (figura 25)
Figura 25 - Importância do resgate das lutas segundo os pais.
Assentamento São Bento. Mirante do Paranapanema/SP,
Campo, Oliveira 2011.
Outra informação coletada pelo questionario junto aos pais foi que a maioria 100%
acredita que a Escola Estadual São Bento que foi conquistada pelos assentados, contribuiu
para a formação e o aprendizado necessário dos jovens para a vida.
ANÁLISE DOS DADOS
Analisando os gráficos e refletindo sobre as observações e as entrevistas informais
durante o preenchimento dos questionários, podemos declarar que os jovens e seus pais
entrevistados no Assentamento São Bentos sentem dificuldades em continuar os estudos, pois
há grande distância do assentamento aos lugares de oferta de cursos profissionalizantes e de
cursos superiores. Relatam o abandono do poder público em implantar políticas públicas que
dêem condições de realização de cursos dentro do assentamento com caráter de difusores de
técnicas e tecnologias voltadas às áreas agropecuárias do assentamento, capacitando às
famílias.
81
O conjunto de políticas e programas públicos na sua maioria não é conhecido pelos
jovens do assentamento São Bento, pois os de conhecimento comum estão relacionados a
escola, sendo vinculados ao bom desempenho e freqüência nas aulas. Já os programas que
estão relacionados à reprodução social dos jovens, como acesso a outra terra ou crédito para
iniciar uma atividade econômica produzindo renda para suas necessidades, nenhum dos
jovens conhecia ou tinha ouvido falar, isto mostra a relação assistencialista estabelecida pelo
Estado na constituição e fomento deste publico, ao invés de dar condições e perspectivas de
independência cria-se mecanismos de vinculação e dependência da juventude.
Exemplo que ilustra está situação é o programa de aquisição de alimentos que objetiva a
compra de produtos dos agricultores para servirem de alimento a uma serie de instituições
públicas. A demanda de agricultores com produção é superior a oferta do governo na
distribuição de ingresso no programa, ou seja, este programa poderia gerar renda para as
famílias, incentivando os jovens a desenvolverem atividades agrícolas para abastecer as
necessidades da população atendida pelo programa, como a escola São Bento, fazendo com
que deixem de consumir alimentos enlatados fornecidos por grandes empresas.
Vimos também que eles pensam em soluções práticas e rápidas para resolverem as
dificuldades formativas, declaram os jovens, se houvesse transporte público regular ligando o
assentamento aos centros fornecedores de cursos profissionalizantes e superiores haveria uma
possibilidade da continuidade nos estudos.
Uma alternativa encontrada pelo conjunto de jovens entrevistados e suas famílias é
freqüentar escolas agrícolas que possuem metodologia de trabalho formativo baseado na
alternância, sendo o caso da escola localizada no município de Racharia. Os rapazes e moças
permanecem por três anos, estudando em períodos na escola, realizando as disciplinas e
períodos em sua comunidade, fazendo os trabalhos e contribuindo com suas famílias na
produção do lote. Ao termino se profissionalizam como técnico agrícola, onde passam a
prestar assistência técnica a instituições públicas e privadas, como é o caso de um dos jovens
entrevistados ou utilizam o conhecimento para desenvolverem atividades produtivas do lote.
Diante disto podemos observar o desejo dos jovens em ter uma profissão, com o
objetivo de futuramente ter melhores condições de vida no assentamento, pois os índices de
melhorar o trabalho no lote e melhorar o assentamento são elementos importantes para
diagnosticarmos o desejo dos jovens de futuramente viverem e trabalharem no campo.
Observamos que no trabalho do campo é muito comum o jovem iniciar suas atividades
ajudando as famílias na elaboração e manutenção de atividades produtivas, onde o que
82
determina o tipo de serviço é a condição física e a faixa etária, os jovens mais velhos da
família fazem serviços mais pesados como limpar a roça, tirar leite já os mais novos realizam
atividades mais leves como molhar a horta, apartar os bezerros. Mas apesar de todos
desempenharem atividades na produção do lote, garantindo suas participações na viabilização
econômica da família, eles ainda estudam, brincam, assistem TV, fazem serviços domésticos
e buscam alguma forma de se divertir.
Salientamos que alguns não gostam de morar no assentamento por falta de perspectivas
devido aos aspectos de falta de emprego, infra-estrutura, a péssima condição das estradas e
principalmente o isolamento do assentamento em relação à cidade, além da penosa e árdua
realização dos trabalhos na terra. Para estes jovens o ato de trabalhar está relacionado a
ganhos para que possam comprar suas coisas e realizar seus sonhos enquanto pessoas
independentes das famílias.
Em conversas com os jovens durante as entrevistas e das coletas de dados muitos
alegavam que deixar o assentamento era uma questão de tempo, pois ao concluir o ensino
fundamental e médio as alternativas de prosperidade nos estudos e na vida se reduziam, pois o
assentamento não possuía condições de infra-estrutura e políticas públicas para o seu
desenvolvimento. Isto talvez se dê pelo fato de que o assentamento tenha sido projetado e
construído pelos gestores públicos que não consideraram a reprodução social daquelas
famílias assentadas, restando aos jovens buscarem alternativas de prosperidade fora do
assentamento.
Diante dos dados podemos diagnosticar que a geração de renda neste assentamento
seria boa se houvesse investimentos públicos e atualização nas informações de políticas
voltadas para a juventude camponesa, amenizaria o destino dos jovens e reforçaria o desejo de
rapazes e moças de viverem no campo se constituindo como cidadãos brasileiros.
Ficou claro que as poucas opções de atividades culturais, recreativas, formativas
disponíveis na comunidade assentada obriga a juventude buscar na televisão, distração e
entretenimento. Somente uma jovem que realiza a formação de nível superior coloca a pouca
disponibilidade e a falta de tempo para assistir TV, pois o curso e os estudos consomem seu
tempo. Sabemos que a mídia televisa tem como um dos objetivos, o estimulo ao consumismo
e o entretenimento contribuindo, desta forma, para a desconstrução da identidade camponesa.
No conjunto de jovens entrevistados percebemos ao longo do diálogo uma série de
carências, dificuldades, expectativas e sonhos futuros em relação as suas vidas na comunidade
do Assentamento São Bento. Onde um grande percentual de jovens declara sonhar em realizar
83
cursos superiores ligados as atividades agropecuárias, para melhor conhecer a sanidade
animal solucionando os problemas das vacas leiteiras ou ainda conhecer o tratamento e
recuperação dos solos para fazer com que a produção agrícola de suas famílias tenha números
significativos.
A formação destes jovens em cursos profissionalizantes e atividades coletivas, como
palestras e seminários voltados a construção de um pensamento crítico, contribuiria para a
constituição de pessoas que apesar de todas as dificuldades apresentadas, teriam função de
buscar respostas aos problemas da comunidade na região do Pontal do Paranapanema.
Vimos, também, que grande percentual dos pais desejam melhorar as condições para os
filhos, tendo como base a profissionalização que soma com o quesito dos jovens em querer
profissões que dão “status” e com isto todos acreditam que a vida irá melhorar, de certa forma
os pais têm consciência de que a vida que tem hoje não é a vida almejada para os seus filhos.
Chamando atenção o fato dos sonhos e desejos dos jovens a profissionalização, estão na sua
maioria ligados a terra, pois o objetivo comum é trabalhar em funções ligadas ao campo,
como Médico Veterinario, Engenheiro Agronomo, Técnico Agrícola, reforçando a analise de
que o jovem deseja permanecer no campo.
Entretanto percebemos pelas respostas que há muita esperança, acreditam que a melhora
para o assentamento está centrada na implantação de um conjunto estruturante de políticas
públicas imediatas e a médio e longo prazo, que possibilite a construção de infra-estruturas
coletivas no assentamento. Somando-se a projetos e programas de melhora da renda a partir
da produtividade do lote, ou seja, programas de crédito para geração de renda aos jovens
dentro do assentamento dariam oportunidades de trabalho na própria comunidade.
Outro elemento se coloca que 73% da comunidade acreditam ser importante o resgate
histórico, ou seja, trazer ao assunto do dia a luta e as conquistas vividas pelo assentamento
São Bento. Dando a oportunidade aos jovens de ter contato com os sonhos, as lutas e a
resistência dos camponeses na conquista do território, resgatando seus valores, para a vida das
famílias assentadas. Diante desta contradição encontramos um dado importante, por
unanimidade as famílias acreditam que a escola estadual São Bento tem papel importante na
vida formativa dos jovens. Cumprindo destaque como elemento fundamental para a
permanência dos jovens, desde que haja segundo os pais a melhoria do ensino na escola do
assentamento, ou seja, a escola pode cumprir papel determinante naquele território ofertando
diálogos críticos e aprendizado e formação técnica que levante a alta estima das famílias,
agravado pelos longos anos de descapitalização fruto da falta de investimentos públicos.
84
A melhora na educação com cursos profissionalizantes técnicos e superiores, voltados
as realidades do campo trariam aprofundamento nos conhecimentos empíricos acumulados,
favorecendo a construção de um espaço onde os jovens teriam condições de permanecer e
desenvolver-se enquanto sujeitos conscientes da sua importância na conquista do território,
reforçando com isto, a reprodução camponesa.
A sociedade coloca a homogeneização e a padronização do consumo para os jovens, ou
seja, reforça que todos tem acesso a consumir produtos e serviços de forma igualitária,
criando na consciência comum desejos e expectativas que a vida e a renda do campo nem a
da cidade conseguem dar resposta. Fazendo que os jovens acreditem que a cidade, ou “o
território desconhecido” oferece oportunidades que o “território conhecido” (campo), não tem
condições de oferecer, mas o que se esconde nesta armadilha e a necessidade do mercado de
constituir novos consumidores. O conjunto de medidas e expectativas consolidadas faz com
que jovens migrem para a cidade em busca de oportunidades e o consumo comum.
A complexidade social e econômica que se coloca no assentamento não possibilita o
alcance deste consumo midiático, é, necessário constituir comunidades conscientes que
tenham acesso a políticas publicas que busquem a estruturação de mecanismos de suporte
adequados a juventude, possibilitando o desenvolvimento da sua formação, processamento de
suas buscas, construção de seus projetos e percursos de inserção na vida social. Para
concretizar serão necessárias ações em diferentes áreas como: educação, trabalho, saúde,
cultura, lazer, esporte etc.. Políticas universais que atendam os jovens. Principalmente
iniciativas que valorizem as realidades vividas nas comunidades com enfoque para resolver a
problemática colocada.
Pois a migração é um elemento da natureza humana, onde buscamos coisas novas,
temos a necessidade de estarmos em constante movimento conectados aos acontecimentos e
dinâmicas das diversas partes da realidade. A questão não está no fato de sair ou ficar, mas as
formas e as condições desta permanência, pois a luta pela terra não é a única bandeira do
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, pois, estes jovens podem lutar pela transformação
social que independente do local de moradia, estaria preparado para contribuírem, deste que a
relação na comunidade apresente e propicie elementos formativos, reflexivos de analise da
realidade. Algo que a priori não parece positivo, transforma-se e coloca novas perspectivas de
debate social, pois os jovens ao longo das entrevistas não negam suas origens, mas sim,
colocam as dificuldades da comunidade.
85
Possibilitando que o conjunto das realidades vividas pelo assentamento seja
compreendido com suas dificuldades e necessidades produtivas, dando condições das famílias
elevarem suas rendas, contribuindo para que os jovens estudem e tenham a possibilidade de
realizar um dos seus principais anseios que é a profissionalização.
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho não tem a intencionalidade de fechar o debate, pelo contrario,
nos sentimos ainda mais motivados em pesquisar e buscar compreender a respeito da vida e o
cotidiano dos jovens nos assentamentos. Devido ao fato, que este assunto nos mostrou uma
serie de complexidades, e um conjunto de elementos que influenciam este público nas
comunidades de Reforma Agrária no que diz respeito a sua permanência e os motivos de sua
saída.
Ao longo da pesquisa podemos perceber o envolvimento e o empenho dos jovens e
suas famílias para realizar seus estudos e a vontade de profissionalizar-se, onde a escola
cumpre na visão dos pais um papel fundamental na conectividade dos jovens ao mundo, pois
disponibiliza espaços e oportunidades, mas com ressalvas que nos permite questionar as
metodologias e formas de ensino trabalhadas, onde um dos elementos que surgiram a campo
foi a necessidade de melhorar o ensino. Esta reflexão nos leva a resgatar uma das nossas
percepções levantadas, onde as estruturas físicas nos assentamento não são problema, mas
sim, o que se ensina em sala de aula, ao nosso entendimento o programa oferecido e as
informações sobre os programas para o campo.
As profissões desejadas pelos jovens estão ligadas a atividades da terra, ou seja, o
desejo destes de permanecer futuramente ao meio rural nos mostra que apesar das
dificuldades estruturais que relatam que o assentamento apresenta, a vontade é de ficar, em
nenhum momento cogitaram a renúncia. Pelo contrário podemos perceber formas de
resistência desenvolvidas pela juventude, como o trabalho assalariado, como elemento de
permanência e garantia das necessidades da juventude.
Diante destes aspectos analisado a questão que nos chama atenção não está no fato
de sair ou ficar, mas as formas desta permanência ou saída, e os níveis de consciência
construídos ao longo da formação dos jovens.
Desta forma, temos que construir as condições de elevação da consciência do modo
de vida do camponês que deverão ser trabalhadas na comunidade para desenvolverem e
formar a sua referência e a sua identidade camponesa.
Compreendemos através desta pesquisa que estes jovens independentes do local que
estejam estarão lutando pela conquista e resistência na terra e a transformação social, pois os
movimentos possuem bandeiras de luta diferenciadas, mas com o mesmo objetivo, a
construção do projeto popular de transformação social.
87
Esta reflexão nos remete a necessidade de pensar as bases desta construção, ou seja,
desenvolver cursos de aprimoramento, capacitação, de técnicas novas para tratar a terra que
contribuam com os jovens no assentamento possibilitando esperança e expectativas no seu
modo de vida camponês.
Para tanto pensamos, como proposta, uma educação que tenha como princípio a
agroecologia, como filosofia e construção do modo de vida camponês, recuperando e
valorizando os aspectos culturais, políticos, sociais, ou seja, não se prendendo na questão
produtiva do agro negócio, mas que traga perspectiva de vida saudável. Esta metodologia
favorece a construção e a resistência na terra a partir da consolidação da identidade
camponesa.
Verificamos que os programas para a juventude no campo não respondem ao
conjunto de demandas e necessidades, entretanto, a leitura que fazemos é que a partir das
demandas da vida camponesa poderia se recuperar o trabalho com a terra e, assim, os jovens
poderiam ter como forma de resistência a recuperação do modo de vida camponês
contrapondo ao modelo de produção capitalista, que os leva a um mundo alienado e de
subemprego.
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ANEXO 1- FORMULÁRIO DE PESQUISA DOS JOVENS
Nome do Assentamento: _______________________Nº do lote: ______
Município: __________________________
IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
1. Qual é o seu
nome?__________________________________________________________
2. Anote o sexo do entrevistado (a).
a) Feminino b) Masculino
3. Qual é a sua idade? ______________ anos.
4. Qual sua cor?
a) branca b) parda c) negra d) amarela
5. Onde você mora atualmente?
a) Na casa com meus pais b) Em casa separada dos meus pais, mas no mesmo lote da família
c) Em lote próprio no mesmo assentamento d) Outro local. Especifique:
__________________________
6. Qual é o seu estado civil?
a) Solteiro b)Casado c) Separado d) Divorciado e) Viúvo f) Relação estável (vive junto
sem casar)
g) Não respondeu
7. Você tem filhos?
a) Sim b) Não
8. Quantos filhos (as) você tem e qual é a idade deles (as)?
Nome do filho (a) Idade (em anos)
ESCOLARIDADE DO ENTREVISTADO
9. Está estudando?
a) Sim b) Não
10. Qual nível de ensino está estudando?
a) Ensino Fundamental 1a a 4a série
b) Ensino Fundamental 5a a 8a série
c) Ensino Médio
d) Educação Profissional Técnico. Especifique:_________________________________
e) Educação de Jovens e Adultos: alfabetização
f) Educação de Jovens e Adultos: 1ª a 4ª séries
g) Educação de Jovens e Adultos: 5ª a 8ª séries
h) Educação de Jovens e Adultos: Ensino Médio/ Supletivo
i) Ensino Superior
j) Outro. Especifique:____________________________
11. Caso seja negativo, por que você parou de estudar?
a) Não gosta de estudar b)Os pais não deixam c) Tem que trabalhar para ajudar a família d)
Não dá para conciliar trabalho e estudo e) Já estudou o suficiente f) Não precisa estudar
para ficar no campo
g) Casou h)Teve filhos i) Outro. Especifique:
_______________________________________________
12. Onde fica a escola que você freqüenta?
a) No assentamento b) No bairro rural próximo c) Na cidade. Qual?
_________________________
12. Qual a distância entre a sua casa e a escola que freqüenta?
a) Até 2 km b) De 2 a 5 km c) De 6 a 10 km d) De 11 a 15 km e) Mais de 15 km
13. Qual o meio de transporte que você utiliza para ir à escola?
a) Ônibus escolar b) Ônibus do assentamento c) Ônibus de linha d) Bicicleta e) Veículo
particular (automóvel, moto) f) À pé g) cavalo
14. Além desse curso, você freqüenta outro curso? (informática, inglês, etc)
a) Sim b) Não
Se sim, Especifique:_________________________________________________________
15. Você pretende continuar seus estudos?
a) Sim b) Não
16. O que você gostaria de fazer?
a) Ensino médio
b) Ensino profissional – técnico. Especifique: ___________________________________
c) Curso superior. Especifique: _______________________________________________
d) Outro. Especifique: ______________________________________________________
17. Para você, porque é importante estudar?
a) Ampliar os conhecimentos sobre a sociedade (questões sociais, econômicas,
políticas e ambientais)
b) Ampliar os conhecimentos sobre a produção agrícola
c) Profissionalizar-se
d) Melhorar a sua vida onde mora
e) Arrumar trabalho mais fácil na cidade
f) Melhorar o trabalho no lote da família
g) Melhorar a vida do coletivo do assentamento
h) Melhorar a participação em organizações, comissões ou movimento social
i) Outro. Especifique ____________________________________________
O JOVEM NA FAMÍLIA
18. Na composição da sua família, qual o lugar que você ocupa em relação à ordem de
nascimento?
a) Filho(a) mais velho(a)/ 1º filho(a)
b) Filho(a) do meio. Especifique:____________________________________________
c) Filho(a) mais novo(a)/ filho(a) caçula
19. Nas atividades familiares, no que você participa?
a) Nos afazeres da casa (fazer comida, lavar roupa, cuidar da limpeza da
casa)
b) No cuidado com os irmãos mais novos, ou com pessoas idosas
c) No cuidado com os cultivos ou criações no quintal
d) Nos trabalhos de cultivo ou criação nos lotes de produção
e) Outro. Especifique:_________________________________
20. Seus pais aceitam suas opiniões sobre:
a) Sim b) Não
1 Estudos
2 Participação nas decisões sobre a produção no lote
3 Namoro, casamento
4 Trabalho
5 Participação em projetos coletivos no assentamento
6 Outro. Especifique: ________________________
21. O que seus pais te ensinaram que você levaria para sua vida futura?
O JOVEM E O ASSENTAMENTO
22. Você gosta de morar no assentamento?
a) Sim b) Em parte (gosta de algumas coisas e de outras não) c) Não
23. O que dá gosto de morar no assentamento?
24. O que não dá gosto de morar no assentamento?
25. O que o assentamento representa para você?
26. Você participa de alguma organização?
a) Sim b) Não
27. Quais dessas organizações e qual sua função? Qual função?
a) Comissões, coordenações no assentamento
b) Associações, cooperativas no assentamento
c) Sindicatos de trabalhadores rurais
d) Conselhos municipais
e) Grupos informais. Qual?
f) Núcleo de partido político
g) Grupos religiosos. Qual?
h) Organizações fora do assentamento.Qual?____________
i) Outro. Qual? _______________________________
JOVEM: LAZER E CULTURA
28. O que existe no assentamento em termos de divertimento ou atividades culturais para os
jovens?
a) Futebol
b) Festas / baladas
c) Passeios
d) Local para exibição de filmes / DVD
e) Biblioteca
f) Banda de Música / Grupo musical
g)Quadra Poliesportiva
h)Outros. Quais?
29. Para se divertir, aonde você vai com mais freqüência?
a) Fica no assentamento
b) No bairro mais próximo
c) Na sede do município
d) Outra cidade da região
e) Outro lugar. Especifique: ______________________________________
f) Outro. Qual? _______________________
30. Com que freqüência você assiste televisão?
a) Todos os dias durante várias horas (mais de 3 horas)
b) Todos os dias por poucas horas (menos de 3 horas)
c) De vez em quando
d) Não assiste televisão
e) Outro. Especifique: _______________________
31. Você vai ao cinema?
a) Uma (1) vez por ano b) Uma (1) vez por mês c) Uma (1) vez por semana d) Foi poucas
vezes
e) Nunca foi
32. Você vai ao teatro?
a) Uma (1) vez por ano b) Uma (1) vez por mês c) Uma (1) vez por semana d) Foi poucas
vezes
e) Nunca foi
33. Você pratica algum esporte regularmente?
a) Sim. Especifique________________________ b) Não
34. Dos divertimentos que costuma ter, qual deles você mais gosta? (assinalar uma ou mais
alternativas)
a) Festas da família
b) Festas no assentamento
c) Festas ou bares na cidade 4 Futebol/ esportes
d) Viajar
e) Pescar
f) Cinema
g) Vídeo ou DVD em casa
h) Música
i) Leitura
j) Encontro de grupos (de jovens, teatro, etc.)
k) Trabalhos manuais. Qual?____________________________________
l) Jogos (baralho, ping pong, etc.)
m) Outros. Especifique:________________________________________
35. Você tem namorado(a)?
a) Sim b) Não
36. Se tem namorado (a), onde ela(e) mora?
a) No assentamento b)No bairro rural próximo c) Na cidade d) Outro lugar. Qual?
_______________
JOVEM E A CIDADE
37. Você gosta de ir à cidade?
a) Sim b) Não
38. Quando você vai à cidade, o que vai fazer?
a) Estudar
b)Trabalhar
c) Passear
d)Procurar serviço
e)Fazer compras
f) Vender produtos
g)Missa ou culto
h)Outro. Especifique: _________________________________________
39. Seus amigos da cidade costumam visitá-lo no assentamento?
a) Sim b) Não
40. Você já sofreu ou sofre preconceito por ser do assentamento?
a) Sim b) Não
Se sim, por quem: __________________________________________________________
41. Para você, o que é a cidade?
42- Conhece algum jovem que foi embora do assentamento?
a)Sim
b) Não
43- Caso que sim, conhece os motivos?
44- Para evitar que ele fosse embora o que seria necessário?
a) Emprego
b) Infra-estruturas coletivas
c) Padaria
d) Mercado
e) Universidade
f) Festas
O JOVEM E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
45. Com relação aos programas de políticas públicas relacionados abaixo, você:
Programas de Políticas Públicas Conhece? Se sim, já participou ou
participa?
a) Projeto Agente Jovem
b) Programa Brasil Alfabetizado
c) Programa Juventude e Meio Ambiente
d) Programa Nossa Primeira Terra
e) ProJovem - Programa Nac. de Inclusão de Jovens
f) Programa Pronaf Jovem
g) ProUni - Programa Universidade para Todos
h) Projeto Escola da Juventude
i) Projeto Guri
j) Projeto Ação Jovem
k) Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
l) Outro. Especifique:_______________________
O JOVEM E SEUS SONHOS
46. Para você, o que é ser jovem?
___________________________________________________________________________
47. O que você gostaria de ser profissionalmente no futuro?
___________________________________________________________________________
__________
48. O que é preciso você fazer para realizar este sonho?
49. Como você imagina o assentamento no futuro?
___________________________________________________________________________
__________
50. Você acha que pode realizar esse sonho morando aqui no assentamento?
a) Sim b) Não c) Não sabe d) Não respondeu
51. Por quê?
___________________________________________________________________________
__________
52. Como você se vê daqui a 10 ou 15 anos, morando onde e fazendo o quê?
ANEXO 2- QUESTIONÁRIO COM AS FAMÍLIAS
Nome do Assentamento: _______________________ Nº do lote: ______
Município: __________________________
INFORMAÇÕES SOBRE O(A) ENTREVISTADO(A)
1. Qual é o seu nome?______________________________________________
2. Qual é o seu endereço: __________________________________________
3. Qual é o número do seu lote?_____________________________________
Visão dos Pais
4. Como o (a) Sr. (a) vê a juventude de hoje em dia no assentamento?
5. Que preocupações o (a) Sr. (a) tem em relação aos jovens da casa?
6. Seu filho (a) dá opiniões em relação às coisas aqui do lote/sítio?
7. O que o (a) Sr.a (a) espera para seu filho daqui a 10 (dez) anos ?
8. E em relação a sua filha? O que o (a) Sr.a (a) espera para ela daqui a 10 (dez) anos ?
9. O que é preciso fazer para que isso ocorra?
10. Quando o (a) Sr. (a) se aposentar, quem cuidará do lote/ sítio?
11. O que precisa ter no assentamento para garantir um bom futuro para seus filhos?
12. Sua família possui algum jovem que saiu do assentamento?
a) Sim b) Não
13.Caso que sim, foi fazer o que?
a) Estudar
b) Trabalhar
c) Morar definitivamente
14. Gostaria de ver seu filho participando de alguma organização política?
a) MST
b) Sindicato
c) Partido político
d) Igreja
e) Outras. Quais _______________________________________________
15. Onde seus pais moravam antes de vir para o assentamento?
a) No sítio
b) No bairro rural
c) Na cidade
d) Em outro assentamento
e) Não respondeu
f) Não sabe
16. Vocês apóiam as iniciativas dos seus filhos em relação a:
a) Estudar ( ) sim ( ) não
b) Trabalhar ( ) sim ( ) não
c) Participar das atividades coletivas no assentamento ( ) sim ( ) não
d) Fazer parte do movimento social organizado ( ) sim ( ) não
e) Fazer parte de comissões, associações, cooperativas ( ) sim ( ) não
f) Participar de atividades de lazer na cidade ( ) sim ( ) não
g) Fazer parte de grupos de jovens ( ) sim ( ) não
h) Namorar ( ) sim ( ) não
i) Parar de estudar ( ) sim ( ) não
17. Em sua opinião, os jovens têm possibilidades de trabalho (agrícola e/ou não agrícola)
nesse assentamento?
a) Sim. Quais?__________________________________
b) Não
18. Em sua opinião, os jovens têm mais possibilidades de trabalho na cidade?
a) Sim. Por quê?__________________________________
b) Não
19. Em sua opinião a escola do assentamento contribui com a formação dos jovens deste
assentamento, garantindo os devidos conhecimentos para a vida?
20. Você acredita ser importante resgatar a história das lutas e as conquistas das comunidades
com os jovens dos assentamentos?
21. Se sim, quais aspectos acredita ser trabalhado? E qual a importância disso para os jovens?