estudo da dieta do coelho-bravo e lebre-ibérica em trás-os
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Estudo da dieta do Coelho-Bravo e Lebre-Ibérica em
Trás-os-Montes: Influência da alimentação na estratégia
reprodutora
Armindo Augusto Valadar Lopes
Dissertação apresentada à Escola Superior Agrária de Bragança para
obtenção do Grau de Mestre em Gestão de Recursos Florestais
Orientado por
Doutor José Paulo Mendes Marques Cortez
Bragança
2012
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho não seria possível sem a colaboração de várias pessoas, a
quem quero expressar o meu sincero agradecimento.
Ao meu orientador Professor Doutor José Paulo Cortez, pela disponibilidade ao longo
da realização do trabalho, ajuda e valiosas sugestões.
Ao Professor Doutor Carlos Aguiar, pela disponibilidade e ajuda na identificação das
espécies de plantas recolhidas na área de estudo.
A todos aqueles que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização da
investigação.
Aos meus Pais, agradeço a oportunidade que me possibilitaram ao longo do meu
percurso académico, carinho, interesse, apoio, incentivo e confiança em mim depositada
ao longo desta caminhada.
À Marta, pela dedicação, ternura, confiança, apoio, enfim, por estares sempre presente
nos bons e maus momentos.
A todos, o meu mais sincero agradecimento.
RESUMO Em Portugal, o Coelho-Bravo (Oryctolagus cuniculus algirus) e a Lebre-Ibérica (Lepus
granatensis) são espécies muito importantes dentro dos ecossistemas. Desempenham
um papel fundamental na cadeia alimentar de predadores com estatuto de espécie rara
ou em perigo de extinção como é o caso do Lince-Ibérico (Lynx pardinus). Ambas as
espécies têm elevado valor económico, uma vez que são bastante procuradas pelos
caçadores. No entanto, nas últimas décadas têm vindo a sofrer uma preocupante
diminuição nas suas populações. Esta diminuição relaciona-se diretamente com o
aparecimento de epizootias, fragmentação do habitat, predação, pressão cinegética
excessiva e a intensificação da agricultura. O presente estudo foi efetuado entre Janeiro
e Setembro de 2012, incidiu na influência que a alimentação tem para com a
reprodução, num cercado onde coexistem ambas as espécies de lagomorfos. Os
resultados deste trabalho revelaram que na área de estudo o coelho não apresenta pausa
reprodutora no verão, provavelmente devido ao consumo de plantas hortícolas
evidenciado pelo estudo do regime alimentar, durante o período estival. Pretendeu-se
dar a conhecer o comportamento alimentar e reprodutivo do coelho-bravo e da lebre,
regimes alimentares essenciais para a estratégia reprodutora e principalmente concentrar
um conjunto de informações de elevada utilidade na gestão de zonas de caça e na
tomada de decisões a fim de preservar as espécies.
PALAVRAS-CHAVE
Oryctolagus cuniculus algirus, Lepus granatensis, reprodução, dieta.
ABSTRACT
In Portugal the Wild Rabbit (Oryctolagus cuniculus algirus) and Iberian Hare (Lepus
granatensis) are very important species in ecosystems. They play a key role in the food
chain, mainly for predators with the status of rare species or endangered species such as
the Iberian Lynx (Lynx pardinus). Both species have high economic value because are
quite sought by hunters. However, in recent decades both species have been suffering an
worrying decline in their populations. This decrease relates directly to the emergence of
animal diseases, habitat fragmentation, predation, hunting pressure and excessive
intensification of agriculture. The present study was conducted between January and
September 2012, focused on the influence of feeding importance to reproduction
strategy, in a pen where both species coexist. The results of this study revealed that the
rabbit hasn’t register of pause on reproduction in summer, probably due to consumption
of vegetable plants evidenced by the diet during the summer period in this study. We
intend to show reproductive and feeding behavior of wild rabbit and hare diets essential
for reproductive strategy, and focus mainly a collection of information of high utility in
the management of hunting areas and in making decisions in order to preserve the
species.
KEYWORDS
Oryctolagus cuniculus algirus, Lepus granatensis, reproduction, diet.
iv
ÍNDICE Lista de Figuras, Tabelas e Anexos .................................................................................................... v
1. Introdução............................................................................................................................................ 1
2. Caracterização das Espécies ........................................................................................................ 3
2.1 O Coelho-Bravo, Oryctolagus cuniculus algirus ............................................................................. 3
2.1.1 Medidas .................................................................................................................................................... 12
2.2 A Lebre-Ibérica, Lepus granatensis.................................................................................................... 13
3. Área de Estudo.................................................................................................................................. 17
3.1 A Região ...................................................................................................................................................... 17
3.2 O Cercado ................................................................................................................................................... 19
4. Metodologia ..................................................................................................................................... 26
4.1 Reprodução ................................................................................................................................................. 26
4.2 Regime Alimentar .................................................................................................................................... 30
4.2.1 Elaboração da Coleção de Referência ................................................................................... 30
4.2.2 Análise Microhistológica dos Excrementos ........................................................................ 31
4.3 Tratamento de dados ................................................................................................................................ 33
5. Resultados .......................................................................................................................................... 34
5.1 Reprodução ................................................................................................................................................. 34
5.1.1 Coelho-bravo .................................................................................................................................... 34
5.1.2 Lebre-ibérica .................................................................................................................................... 37
5.2 Regime alimentar ...................................................................................................................................... 39
5.2.1 Coelho-bravo .................................................................................................................................... 39
5.2.2 Lebre-ibérica .................................................................................................................................... 41
5.2.3 Diversidade trófica ........................................................................................................................ 45
5.3 Discussão .................................................................................................................................................... 46
6. Considerações Finais ....................................................................................................................... 48
Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 50
Anexos .................................................................................................................................................... 62
v
LISTA DE FIGURAS, TABELAS E ANEXOS
FIGURAS
Figura 1: Distribuição geográfica das duas subespécies de coelho-bravo ...................................................... 3
Figura 2: Coelho-bravo ............................................................................................................................................................ 4
Figura 3: Tocas comunitárias do coelho-bravo ............................................................................................................ 5
Figura 4: Latrinas ...................................................................................................................................................................... 5
Figura 5: Coelho-bravo nas proximidades da toca ..................................................................................................... 6
Figura 6: Toca de reprodução do coelho-bravo (Fonte: Pires, 2009) ................................................................. 8
Figura 7: Cria de coelho-bravo, 4 semanas .................................................................................................................... 8
Figura 8: Coelho-bravo após ataque de ave de rapina ........................................................................................... 10
Figura 9: Lebre-ibérica ......................................................................................................................................................... 13
Figura 10: Lebre-ibérica em corrida .............................................................................................................................. 14
Figura 11: Cria lebre-ibérica 10 dias ............................................................................................................................. 15
Figura 12: Camuflagem, lebre-ibérica ........................................................................................................................... 15
Figura 13: Restos mortais de lebre-ibérica devido ao ataque de ave de rapina ........................................ 16
Figura 14: Península Ibérica .............................................................................................................................................. 17
Figura 15: Vila de Izeda ....................................................................................................................................................... 17
Figura 16: Área de estudo................................................................................................................................................... 19
Figura 17: Povoamento misto Sobreiro e Pinheiro, Cercado .............................................................................. 19
Figura 18: Pomar do cercado ............................................................................................................................................ 20
Figura 19: Sementeira realizada entre linhas no cercado .................................................................................... 20
Figura 20: Fruta da época ................................................................................................................................................... 21
Figura 21: Comedouro de centeio ................................................................................................................................... 21
Figura 22: Comedouro com feno e aveia ...................................................................................................................... 22
Figura 23: Bebedouro ........................................................................................................................................................... 22
Figura 24: Indícios de presença de coelho-bravo (raspado) .............................................................................. 23
Figura 25: Indícios de presença de coelho-bravo no cercado (esconderijo de pedra) ........................... 24
Figura 26: Cama de lebre-ibérica no cercado ............................................................................................................ 24
Figura 27: Pegadas de lebre-ibérica no cercado ....................................................................................................... 25
Figura 28: Excrementos de lebre-ibérica (esquerda) e de coelho-bravo (direita) ................................... 25
Figura 29: Armadilha artesanal ....................................................................................................................................... 26
Figura 30: Redes de tresmalho ......................................................................................................................................... 27
Figura 31: Capturas de coelho-bravo ............................................................................................................................ 27
Figura 32: Capturas de lebre-ibérica ............................................................................................................................. 28
Figura 33: Lebre-ibérica jovem macho em Setembro 641 g ............................................................................... 28
Figura 34: Macho sexualmente ativo, visibilidade de testículo externo (coelho-bravo) ........................ 29
Figura 35: Fêmea sexualmente ativa, visibilidade de glândula mamária (lebre-ibérica) ...................... 29
vi
Figura 36: Epiderme do caule de uma herbácea (Dactylis glomerata; 100x). ............................................. 31
Figura 37: Preparação da análise microhistológica dos excrementos ........................................................... 32
Figura 38: Número total de indivíduos capturados, coelho-bravo .................................................................. 34
Figura 39: Variação mensal na atividade reprodutora, coelho-bravo ............................................................ 35
Figura 40: Variação mensal do peso médio, coelho-bravo, com indicação do erro padrão ................. 36
Figura 41: Relação Jovens/Adultos, coelho-bravo .................................................................................................. 36
Figura 42: Número total de indivíduos capturados, lebre-ibérica ................................................................... 37
Figura 43: Variação mensal na atividade reprodutora, lebre-ibérica ............................................................. 38
Figura 44: Variação mensal do peso, lebre-ibérica, com indicação do erro padrão (barras verticais a
preto)............................................................................................................................................................................................. 38
Figura 45:Relação Jovens/Adultos, lebre-ibérica .................................................................................................... 39
Figura 46: Variação da frequência relativa (%) das espécies consumidas ................................................... 40
Figura 47: Variação da frequência relativa (%) das famílias consumidas .................................................... 41
Figura 48: Variação da frequência relativa (%) das espécies consumidas ................................................... 42
Figura 49: Variação da frequência relativa (%) das famílias consumidas .................................................... 43
Figura 50: Representação gráfica dos eixos principais (Fator 1 x Fator 2) de uma análise de
componentes principais sobre a reprodução de coelho e lebre. (A castanho os dados referentes ao
coelho e a verde os dados referentes à lebre. A negrito os dados relativos ao período estival). ......... 44
Figura 51: Representação gráfica dos eixos principais (Fator 1 x Fator 3) de uma análise de
componentes principais sobre a reprodução de coelho e lebre. (A castanho os dados referentes ao
coelho e a verde os dados referentes à lebre. A negrito os dados relativos ao período estival). ......... 44
Figura 52: Índice de diversidade de Shannon ........................................................................................................... 46
TABELAS
Tabela 1: “Scores” da PCA sobre os resultados da atividade reprodutora para o período. Testando o
efeito do Mês, Atividade Sexual, Jovens / Adultos, Espécies (de plantas), Animal, Diversidade
Trófica. .......................................................................................................................................................................................... 43
Tabela 2: “Eigenvalues” para cada um dos eixos...................................................................................................... 45
Tabela 3: ANOVA realizada para análise da reprodução ...................................................................................... 45
Tabela 4: Resumo da ANOVA testando o efeito da Espécies (de plantas), Mês e Animal da dieta de
coelho e lebre. A negrito assinalam-se os resultados significativos (p <0,05). ............................................ 46
ANEXOS
Anexo I: Capturas Animais.................................................................................................................................................. 62
Anexo II: Dieta ......................................................................................................................................................................... 68
1
1. INTRODUÇÃO
O coelho-bravo e a lebre-ibérica são duas das espécies cinegéticas mais emblemáticas
de Portugal, sendo o coelho-bravo uma “Keystone specie” dentro dos habitats.
Assumem igualmente importância num contexto ecológico, na medida em que também
servem de alimento a diversas espécies de predadores, alguns deles protegidos por Leis
e Convenções internacionais (Delibes & Calderón, 1979). Adaptam-se facilmente a
alterações que ocorram dentro do habitat, graças à sua plasticidade e oportunismo
ecológico.
Nos últimos anos as populações de ambas as espécies têm vindo a sofrer uma acentuada
diminuição no seu efetivo. As crescentes pressões a que têm estado sujeitas, alterações
ambientais, degradação do habitat, doenças, o aparecimento de novas patologias e o
acentuado aumento da pressão cinegética, reforçam cada vez mais a importância de uma
adequada gestão das populações naturais. As autoridades e gestores de zonas de caça,
têm-se empenhado na criação e desenvolvimento de novos mecanismos de gestão para
melhoramento do habitat e fixação das espécies, porém para obter resultados de sucesso
é necessário compreender o regime alimentar e reprodução de ambas as espécies. Neste
contexto, diversos estudos têm sido elaborados com o propósito de aumentar o
conhecimento do ciclo reprodutivo das espécie (Pires, 2009; Alves & Ferreira, 2004)
bem como do regime alimentar, em diferentes regiões do nosso país e da Europa. De um
modo geral, em regiões mais frias do centro e norte da europa verifica-se uma pausa
reprodutora nos meses de inverno, altura em que as temperaturas são o principal fator de
interrupção do ciclo reprodutivo. Na região mediterrânea, a ocorrência de verões mais
secos e quentes e invernos suaves, leva a que esta pausa se verifique no pico do verão,
nomeadamente durante o mês de agosto. Nas regiões do sul da europa a pausa
reprodutora parece dever-se principalmente ao facto de a alimentação se alterar de
forma acentuada, uma vez que muitas espécies herbáceas de ciclo anual terminam o seu
ciclo nesta altura e o valor nutritivo das plantas de que o coelho se alimenta decresce
acentuadamente. Perante esta alteração da vegetação, os animais são obrigados a
alimentar-se de plantas com menor qualidade, incluindo espécies lenhosas como matos
e algumas árvores, bem como erva que entretanto secou.
2
Estudos recentes como o de Pires (2009) e Paupério (2003), sobre a reprodução e as
estratégias alimentares dos lagomorfos em Trás-os-Montes trazem à luz indicações
importantes no sentido de melhor compreender os fatores que influenciam a ecologia
das espécies e que permitem melhorar as características dos habitats onde ocorrem estes
animais. Estes estudos basearam-se na captura de animais ao longo do ano para
verificação da atividade reprodutora. O que se observa em Portugal, nomeadamente em
Trás-os-Montes é a existência de animais em reprodução durante a época cinegética e
uma pausa de reprodução de 1 a 2 meses antes de abrir a caça.
A presente dissertação desenvolvida no âmbito do mestrado em gestão de recursos
florestais da ESA/IPB têm como principal objetivo aumentar a informação referente à
biologia, alimentação e reprodução do coelho-bravo e lebre-ibérica.
Neste sentido foram estabelecidos os seguintes objetivos científicos:
Caracterizar a dieta de coelho-bravo e lebre-ibérica através da análise
microhistológica de excrementos, numa área onde coexistem ambas as espécies.
Caracterizar o ciclo reprodutivo de coelho e lebre de modo a observar indícios
de reprodução ou verificação manual após captura.
Identificar padrões de alteração na dieta que coincidam com variações
importantes no ciclo reprodutivo de ambas as espécies, nomeadamente a pausa
reprodutiva estival.
O presente estudo pretende aumentar o conhecimento sobre as espécies, de modo a
apoiar a tomada de decisões para uma correta implementação de mecanismos de gestão,
prevenção e conservação.
3
2. CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES
2.1 O COELHO-BRAVO, ORYCTOLAGUS CUNICULUS ALGIRUS
O coelho-bravo, Oryctolagus cuniculus, é um pequeno mamífero pertencente à Ordem
Lagomorpha e Família Leporidae. Teve origem na Península Ibérica (Arthur, 1989;
Alves, 1994; Iborra, 1995; Branco et al., 2000; Angulo 2003). A distribuição da espécie
e consequente expansão em diferentes regiões geográficas foi influenciada por
condições ecológicas favoráveis e pela acção antropogénica (Flux, 1994; Iborra, 1995),
conduziram à origem de duas subespécies, o Oryctolagus cuniculus cuniculus que se
expandiu de maneira natural pela Europa Ocidental, Espanha e Sul de França (Paula,
2007) e foi levada pelo Homem para o resto do mundo, e a subespécie Oryctolagus
cuniculus algirus que se estendeu pelo sudoeste da Península Ibérica, sendo introduzida
nos Açores e Madeira (Ferrand, 1995; Hardy et al., 1995) (Figura 1).
Figura 1: Distribuição geográfica das duas subespécies de coelho-bravo (Fonte: Ferreira et al., 2006)
As duas subespécies apresentam as principais diferenças no sistema reprodutivo, o
Oryctolagus cuniculus algirus evidencia tamanho inferior nas gónadas, na produção
4
diária de espermatozóides, dimensões dos corpos lúteos e no tamanho de ninhadas
(Villafuerte & Jordan, 1991; Gonçalves, 1999; Gonçalves et al., 2002). O coelho-bravo,
Oryctolagus cuniculus algirus, é a única espécie existente na região de Trás-os-Montes,
apresenta coloração que varia pelas diferentes regiões do corpo, podendo ir de cinzento
acastanhado no dorso até branco no ventre. Normalmente ostenta entre os 35 e 45
centímetros de comprimento e um peso médio de aproximadamente 1 quilograma
(Figura 2). As orelhas medem cerca de 7 centímetros, as patas traseiras são longas e
podem atingir os 9 centímetros. A cauda é em forma de tufo e as unhas são grandes e
afiadas permitindo a escavação das tocas e ajudam nas fugas rápidas. A espécie não
apresenta dimorfismo sexual, e a sua distinção somente se faz pela observação dos
órgãos genitais, no entanto as fêmeas tendem a ser mais pesadas e compridas que o
macho (Blanco, 1998; Villafuerte, 2002).
Figura 2: Coelho-bravo
São animais com hábitos crepusculares e noturnos, durante o dia restringem a atividade
às imediações da toca ou em áreas de mato denso, para evitar as aves de rapina e outros
predadores carnívoros (Angulo, 2003), à noite registam-se os períodos de alimentação e
de deslocação, uma vez que a sua visão está adequada à fraca luminosidade (Villafuerte
& Jordan, 1991; Villafuerte, 1994).
São indivíduos bastante sociáveis, vivem em colónias que se organizam em volta das
tocas comunitárias (Figura 3) constituídas por numerosas e extensas galerias ligadas
entre si e com várias entradas e saídas, cujo tamanho varia ao longo do ano. Vivem em
5
grupos familiares de 2 a 7 indivíduos apresentando uma hierarquia social rígida com um
macho e fêmea dominante (Villafuerte et al., 1994).
Figura 3: Tocas comunitárias do coelho-bravo
Na comunicação entre indivíduos, as fezes desempenham um papel essencial ao nível
da demarcação de territórios (Paula, 2007). As latrinas (Figura 4) localizadas em locais
específicos são um método eficaz de comunicação olfactiva e de troca de informação
entre indivíduos (Sneddon, 1991).
Figura 4: Latrinas
6
A qualidade do habitat é um dos fatores com maior relevância na distribuição e
sobrevivência das populações de Coelho-bravo (Gomes, 2004), embora a espécie tenha
uma enorme capacidade de adaptação aos vários habitats (Lopes, 1995), é mais comum
a sua ocorrência em regiões caracterizadas por um clima mediterrânico (Villafuerte &
Blanco, 1993; Martins & Borralho, 1998; Ferreira, 2003; Lombardi et al., 2007), com
precipitação média anual de 500 milímetros, altitude abaixo dos 1000 metros, solo
macio com uma cobertura arbórea de 20 a 25%, cobertura arbustiva 40%, pasto 35%,
solo nu 25% e com linhas de água nas proximidades (Paula, 2007). Outros fatores como
a predação e pressão cinegética também influenciam a sua distribuição (Villafuerte,
2002; Delibes-Mateos et al., 2008). Em termos edáficos, os solos profundos, fáceis de
escavar e bem drenados são os ideais, pois permitem uma boa estrutura para as tocas
(Borges, 2004; Calvete et al., 2004). O coelho faz uso do habitat de forma variável ao
longo do dia em função dos predadores existentes, da hora e das características da
vegetação (Villafuerte et al., 1994; Moreno et al., 1996; Villafuerte & Moreno, 1997).
Os movimentos do coelho-bravo dependem da disponibilidade e quantidade de
alimento, deslocando-se entre os 150 a 400 metros em redor da sua toca (Gibb, 1977;
Kolb, 1991) (Figura 5). Em meio natural/selvagem o domínio vital do grupo familiar
varia entre 0.4 a 2 hectares (Morgado, 2008) em condições favoráveis (por exemplo
cercados) é inferior a 1 hectare (Queirós, 1994). Os animais jovens para estabelecerem
um novo domínio familiar dispersam para distâncias superiores a 1 quilómetro do
refúgio inicial (Villafuerte & Jordan, 1991).
Figura 5: Coelho-bravo nas proximidades da toca
7
O coelho-bravo é herbívoro, apresenta uma dieta alimentar diversificada e flexível que
permite adaptar-se aos recursos disponíveis, estado de desenvolvimento e valor
nutricional das plantas (Chapuis & Gaudin, 1995; Carvalho, 2001; Alves et al., 2006).
A dieta alimentar é essencialmente caracterizada pelo consumo de gramíneas,
aproximadamente 70% (Chapuis, 1979; Soriguer, 1988; Villafuerte & Jordan, 1991;
Ferreira, 2003), incluindo também plantas herbáceas e plantas lenhosas (Ferreira, 2003;
Alves, 2004; Alves et al., 2006). A variedade de espécies consumidas é maior na
Primavera do que nas restantes estações do ano, no Outono e Inverno a espécie inclui na
dieta alimentos como raízes e caules ricos em fibras celulósicas (Cooke, 1982) cuja
digestão é facilitada pelas características morfológicas e pelo processo de coprofagia
(Hirakawa, 2002).
Durante a época reprodutora, os machos e fêmeas envolvem-se lutas para determinar o
seu estatuto social, o macho dominante é o que realiza a maior parte das cópulas
(Gomes, 2004) e a fêmea dominante, a que reproduz e mantém a coesão do grupo
(Villafuerte & Jordan, 1991; Alves, 2004). É uma espécie muito prolífica, porém as
características reprodutivas são influenciadas pelas condições climatéricas (Alves, 1994;
Alves & Moreno, 1997; Gonçalves, 1999). A reprodução coincidente com o período de
maior quantidade e qualidade de alimento disponível. Na Península Ibérica a época
reprodutiva decorre entre o final de Outubro e estende-se até Junho, atingindo o período
máximo entre Fevereiro e Maio, alguns autores registam pausa na reprodução durante
os meses de Julho a Setembro (Alves, 1994; Delibes et al., 1979; Gonçalves et al.,
2002) A estratégia reprodutiva do coelho-bravo é do tipo “r” (Villafuerte, 1994). Este
tipo de reprodução é muito utilizado por pequenos mamíferos, para fazer frente à
elevada predação a que a espécies está sujeita, e consiste em ter um elevado número de
ninhadas ao longo do ano. O período de gestação dura entre os 28 e os 30 dias podendo
as fêmeas ter 3 a 5 ninhadas por ano, resultando cada ninhada em 3 a 6 crias (Southern,
1940; Alves, 1994; Villafuerte, 2002). A fêmea, quando fica prenha, escava uma toca
especial (Villafuerte & Jordan, 1991), caracterizadas por serem galerias simples e pouco
profundas, aproximadamente 50 a 100 centímetros, e cujo interior é forrado com ervas,
folhas secas e pêlos da progenitora retirados da sua área ventral, onde as crias
permanecem entre 19 a 21 dias após o nascimento (Figura 6).
8
Figura 6: Toca de reprodução do coelho-bravo (Fonte: Pires, 2009)
As crias nascem cegas, surdas e sem pêlo com cerca de 45 gramas cada, ao nono dia
começam a ouvir aparece a primeira dentição e unhas, os olhos abrem por volta do
décimo dia. Três semanas após o nascimento a fêmea muda as crias para a toca comum
(Pires, 2009) (Figura 7).
Figura 7: Cria de coelho-bravo, 4 semanas
A alta fertilidade da espécie deve-se ao facto de os coelhos-bravos alcançarem a
maturidade sexual logo aos quatro meses (Gomes, 2004; Morgado, 2008), isto é, as
fêmeas nascidas durante o Outono, podem reproduzir-se na Primavera seguinte
(Villafuerte & Jordan, 1991) e ainda, logo após o parto podem ter cio e estarem
novamente recetivas (Soriguer, 1981; Villafuerte, 1994; Angulo, 2003). Os machos têm
como fatores reguladores o fotoperíodo, enquanto nas fêmeas a disponibilidade de
9
alimento é o principal fator envolvido (Villafuerte & Jordan, 1991). A esperança média
de vida da espécie é de 3 anos, estando o coelho-bravo associado a uma alta taxa de
reprodução compensada pela elevada mortalidade (Angulo, 2003), nos jovens do ano
que são recrutados, a maior taxa de sucesso verifica-se nas fêmeas (Villafuerte, 1994).
A dinâmica populacional da espécie difere de local para local, consoante as condições
ecológicas e as características intrínsecas de cada população (Gilbert et al., 1987), deste
modo, a sobrevivência do coelho-bravo está sujeita a diversos fatores nomeadamente a
caça, predação, as doenças (Villafuerte & Jordan, 1991 e Morgado, 2008).
Do ponto de vista cinegético, é a espécie de caça menor mais procurada pelos
caçadores, levando ao aumento do número de animais abatidos (entre as épocas
venatórias de 1989/90 e 2002/03 estima-se que tenham sido abatidos cerca de 88.000
coelhos por ano em todo o território nacional. Só no período entre 1995 e 1998 foram
abatidos mais de 640.000 coelhos em todo o país, Alves et al., 2005). Adicionalmente a
modernização da caça tradicional, o abate furtivo da espécie e a caça ilegal ameaçam
cada vez mais a subsistência das populações de coelho-bravo (Delibes et al., 2000;
Angulo, 2003).
O Coelho-bravo integra a cadeia alimentar de uma ampla gama de predadores ibéricos
(Soriguer, 1981), dos quais 19 são espécies nidificantes de aves de rapina diurnas e
noturnas (Figura 8) e 10 espécies de mamíferos carnívoros, algumas das quais
detentoras do estatuto de espécie rara ou em perigo de extinção tais como o Lince-
ibérico (Lynx pardina), o Lobo-ibérico (Canis lupus), a Águia-imperial (Aquila
adalberti), a Águia-de-Bonelli (Hieraaetus fasciatus), a Águia-real (Aquila chrysaetos)
e o Bufo real (Bubo bubo) (Delibes, 1981; SNPRCN, 1990).
10
Figura 8: Coelho-bravo após ataque de ave de rapina
As doenças mais preocupantes e mortíferas são a mixomatose e a doença hemorrágica
viral. A mixomatose é uma virose altamente contagiosa provocada por um vírus
proveniente do continente americano, do grupo Poxvírus (Fenner & Ross, 1994). No
caso do seu hospedeiro natural, o coelho selvagem americano, a doença provoca apenas
uma ligeira infecção caracterizada por tumores benignos localizados, não se revelando
fatal, ao contrário do que acontece em caso de incidência no coelho-bravo, no qual a
doença conduz à morte os animais infetados num período de 12 a 21 dias após o
contágio (Ferrand et al., 1998). O vírus é transmitido por via directa através do contacto
com coelhos doentes, ou por via indirecta através de vectores de transmissão como
pulgas e mosquitos (Blanco & Villafuerte, 1993), tendo estes épocas óptimas para o seu
desenvolvimento, primavera e verão respetivamente. A mixomatose pode afetar
indivíduos de qualquer idade, embora se revele mais aguda e mortal nos indivíduos
mais jovens. A percentagem de mortalidade dentro da população está intimamente
relacionada com a percentagem de jovens presentes (Fouchet et al., 2006). A Doença
Hemorrágica Vírica (DHV) foi detetada pela primeira vez na China (Morgado, 2008) é
uma doença provocada por um vírus do grupo Calicivírus altamente contagiosa que
afecta o coelho-bravo com taxas de mortalidade entre os 50% e os 100%. O vírus é
transmitido por via directa através do contacto com coelhos infetados, ou por via
indireta através de vetores como aves, ou mamíferos, nomeadamente no outono e no
inverno, ou seja, épocas em que ocorrem os maiores surtos da doença (Priddel et al.,
2000). O homem pode também de uma forma involuntária ajudar na disseminação da
11
doença aquando da realização de repovoamentos com animais infetados. A doença tem
um período de incubação de 24 a 48 horas. No entanto, até à data nunca houve
ocorrência de qualquer doença no cercado.
Para além da pressão cinegética, predação e doenças que provocam altas taxas de
mortalidade entre as populações de coelho-bravo, também a deterioração do habitat
(perda da heterogeneidade dos habitats que proporcionam abrigo e alimento para a
espécie), constituem variáveis determinantes que contrariam a recuperação desta espécie
(Monteiro, 1999; Marchandeau & Boucraut, 2000), normalmente devido ao abandono
da agricultura tradicional e a intensificação e modernização da agricultura recorrendo
constantemente ao uso de pesticidas e herbicidas, que leva à degradação dos solos e
habitat da espécie. As variações meteorológicas como seca ou nevões extremos (Gomes,
2004) podem levar ao aumento de mortalidade da espécie.
Na Península Ibérica, as populações de coelho-bravo têm vindo a diminuir
substancialmente nas últimas décadas (Villafuerte et al., 1997). Em Portugal só na
última década a diminuição das populações é superior a 30% (Alves & Ferreira, 2002).
Este cenário de decréscimo verificou-se também em diversas áreas com estatuto de
protecção, como o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina onde as
populações de coelho-bravo diminuíram entre 50% e 100% entre 1995 e 2002 (Alves et
al., 2005), esta redução levaram à classificação da espécie com o estatuto de “Quase
ameaçada” (Cabral et al., 2005).
A conservação do coelho-bravo assume uma importância extrema na Península Ibérica,
pela pertinência económica e ecológica que tem para a manutenção dos ecossistemas
mediterrânicos e no desenvolvimento social e económico que a espécie possibilita
enquanto recurso cinegético nos meios rurais (Borges, 2004). Há um conjunto de
medidas que visam a recuperação das populações de coelho-bravo e que têm vindo a ser
aplicadas de forma complementar nomeadamente a gestão do habitat, gestão da pressão
cinegética, reintrodução de animais e monitorização das populações (Ferreira & Alves,
2006).
A principal causa da diminuição do número de efetivos numa população deve-se ao
habitat. A recuperação surge como uma das formas mais eficazes, apresentado como
principal objetivo a optimização do habitat em função dos requisitos ecológicos da
12
espécie (Ferreira & Alves, 2006). A recuperação do coelho-bravo num determinado
local, implica a criação de refúgios, disponibilidade de alimentos e água. O coelho-
bravo habitualmente constrói as tocas em zonas altas, bem drenadas, sem vegetação e
perto de áreas de mato para protecção dos predadores (Paula, 2007). Quando o solo não
permite a sua construção, a criação de abrigos artificiais (morouços) constitui uma
alternativa eficaz à falta de refúgios naturais. A implementação de zonas de alimentação
próximas da toca permite fixar populações em áreas rodeadas por mato. A criação de
aceiros e corta-fogos em zonas de matos também favorece o desenvolvimento de áreas
de alimentação (Paula, 2007). Embora coelho necessite de cerca de 55% de água na sua
dieta, normalmente o coelho não bebe água, isto porque a elevada percentagem de água
existente nos tecidos vegetais de que se alimenta é suficiente (Cooke, 1982). Porém as
elevadas temperaturas que se fazem sentir no Verão em ecossistemas mediterrâneos
secam a vegetação, deste modo é sugerido a implementação de bebedouros nas
imediações dos abrigos. A exploração cinegética deverá ser vista como um
aproveitamento racional e sustentável de um recurso renovável (Borges, 2004), sendo
planificada e ordenada, com base nos princípios de preservação, conservação e melhoria
dos recursos cinegéticos. Em cada época venatória é importante uma gestão coerente
das quotas de abate tendo em conta o estado das populações (Ferreira, 2003).
2.1.1 MEDIDAS
Os repovoamentos são uma prática que têm apresentado um grande insucesso devido à
elevada mortalidade que ocorre nos primeiros dias, após a libertação dos animais,
caracterizado sobretudo pelos níveis de stress relacionado com o manuseamento e a
libertação dos animais num ambiente que não lhes é familiar, aumentando a
vulnerabilidade à predação e a doenças (Arthur, 1989; Letty et al., 2000; Letty et al.,
2002; Calvete et al., 2004). É deste modo essencial reavaliar o repovoamento dos
animais salvaguardando a protecção da espécie (Moreno et al., 2004). A construção de
cercados tem contribuído para aumentar o sucesso dos repovoamentos, uma vez que
restringe a dispersão inicial dos animais e proteger dos principais predadores,
proporcionando tempo de adaptação (Ferreira & Alves, 2006). Há ainda registo de casos
que aumentam o insucesso desta prática como a introdução de novas estirpes de vírus e
parasitas na população receptora, além do facto de poderem vir a alterar as
características genéticas das populações autóctones (Lumeij, 1997), deste modo, o
repovoamento deve ser considerado com última opção de intervenção (Ferreira, 2003).
13
2.2 A LEBRE-IBÉRICA, LEPUS GRANATENSIS
A lebre é um mamífero pertencente à ordem Lagomorpha e ao género Lepus. Na Europa
verifica-se a existência de cinco espécies de lebres com distribuição natural,
nomeadamente a Lebre-variável (Lepus timidus), a Lebre-europeia (Lepus europaeus), a
Lebre-ibérica (Lepus granatensis), a Lebre-de-piornal (Lepus castroviejoi) e a Lebre-
italiana (Lepus corsicanus), e uma espécie introduzida na Sardenha, a Lebre-do-cabo
(Lepus capensis) (Paupério, 2003). Na Península Ibérica verifica-se maior ocorrência de
lebre-europeia e lebre-ibérica (Cabrera, 1914). Em Portugal a única espécie relatada é a
lebre-ibérica.
A lebre-ibérica é um mamífero que se caracteriza por apresentar uma coloração de pelo
com vários tons, podendo ir de branco no ventre, até castanho dourado no dorso. Em
média pesa 2,3 quilogramas, variando entre 1,8 e 3 quilogramas (Palacios, 1989). Têm
orelhas compridas e as suas patas traseiras são mais longas que as patas dianteiras o que
lhe proporciona grande agilidade, essenciais para uma fuga rápida em situações de
perigo (Chapman & Flux, 1990; Péroux, 1995) (Figura 9).
Figura 9: Lebre-ibérica
Apresenta um esqueleto mais leve e um coração maior que os coelhos, que lhe permite
regular a temperatura corporal e maior velocidade de corrida (Flux & Angermann,
1990). Desloca-se por salto, em média percorrem diariamente cerca de 2620 metros,
analisando-se deslocações máximas de 7700 metros (Alonso et al., 1997) (Figura 10).
14
Em condições meteorológicas adversas (seca ou neve extrema) uma população pode
deslocar-se mais de cem quilómetros (Angermann et al., 1990) (Figura 10).
Figura 10: Lebre-ibérica em corrida
São animais crepusculares e noturnos, encontrando-se ativas essencialmente durante a
noite, no verão com as noites são mais curtas, podem iniciar e terminar o período de
atividade ainda durante o dia, porém registam-se situações diferentes em fêmeas
cobertas ou em aleitamento, estas podem encontrar-se ativas por períodos de tempo
mais longos (superiores a 16 horas). A lebre não apresenta comportamento territorial,
são animais que formam pequenos grupos hierarquicamente estruturados em níveis de
dominância mais evidentes na altura de acasalamento, tanto entre machos como entre
fêmeas (Péroux, 1995). O período de reprodução da espécie em meio selvagem verifica-
se ao longo de todo o ano, apesar de se evidenciar uma certa sazonalidade na atividade
reprodutiva, que apresenta um mínimo no Outono. (Alves et al., 2002). A gestação dura
aproximadamente vinte e oito dias. As crias nascem com pêlo, olhos abertos e a
capacidade de se movimentarem ao fim de poucos minutos depois do nascimento
(Figura 11), características que diferenciam as lebres de outros lagomorfos (Corbet,
1983). Podem ter entre 2 a 4 ninhadas por ano e 1 a 3 crias por ninhada, no entanto
verificam-se variações do número de ninhadas dependendo do clima. A fêmea na fase
de aleitamento afasta-se da cria durante todo o dia, para a proteger contra eventuais
predadores, só vai ao seu encontro ao anoitecer.
15
Figura 11: Cria lebre-ibérica 10 dias
As lebres são animais herbívoros, que se alimentam ao longo do ano essencialmente de
gramíneas, leguminosas e pequenos arbustos (Paupério, 2003). A lebre-ibérica tal como
todos os lagomorfos tem a capacidade de cecotrofia, que consiste essencialmente no
acto de ingestão de cecotrofos (fezes duras), após expulsão das mesmas. Esta acção
permite que os alimentos passem duas vezes pelo tubo digestivo para obter maior
aproveitamento nutritivo. Os espaços abertos com vegetação rasteira são o habitat
preferido das lebres (Figura 12), permite que se escondam (camuflagem) para confundir
os predadores.
Figura 12: Camuflagem, lebre-ibérica
16
Alguns dos quais com um estatuto de proteção, nomeadamente a Águia-real (Aquila
chrysaetos) e o Bufo-real (Bubo bubo), a Raposa (Vulpes vulpes) e o Gato-bravo (Felis
silvestris), que são os principais predadores da espécie (Figura 13).
Figura 13: Restos mortais de lebre-ibérica devido ao ataque de ave de rapina
No norte da Península Ibérica as populações de lebre têm vindo a sofrer uma
significativa redução, maior que em qualquer outra região, embora existam áreas onde
continuem a ter populações abundantes. A redução das populações de lebre no norte da
Península Ibérica está diretamente relacionada com diversos fatores como sejam a perda
de diversidade nos habitats, a intensificação da agricultura, a crescente pressão
cinegética e também o aumento da homogeneidade nas áreas florestais (Duarte &
Vargas, 1998). A lebre-ibérica não apresenta registo de doenças preocupantes que
dizimem as populações, contudo, têm surgido registos de um parasita (Echinococus
granulosus) que é transmitido através das fezes dos cães e das raposas. Os animais
contaminados apresentam “bolas gelatinosas” semelhantes a cachos de uva no fígado.
A lebre-ibérica para além de ser uma espécie de grande importância ecológica é também
importante economicamente devido ao elevado interesse cinegético que apresenta para a
grande maioria dos caçadores.
17
3. ÁREA DE ESTUDO
O presente trabalho foi realizado no distrito de Bragança, localizado na Península
Ibérica, mais precisamente na freguesia de Izeda pertencente ao concelho de Bragança
(Figura 14).
Figura 14: Localização geográfica da área de estudo
3.1 A REGIÃO
Izeda é uma vila situada na extremidade meridional
do concelho de Bragança, no Nordeste
Transmontano. Faz fronteira concelhia com Macedo
de Cavaleiros e Vimioso respetivamente a sul e
nascente. Izeda tem 33.77 quilómetros quadrados de
área, encontrando-se toda ordenada. Faz parte da
bacia orográfica do Sabor, pelo que, na sua margem
direita Izeda se estende a ocidente por uma área
planáltica de mediana altitude (500 a 700 metros), e
deste modo pouco acidentada em termos topográficos
(Figura 15).
Figura 15: Vila de Izeda
18
A formação geológica que decorreu ao longo do tempo na região, e provocou variações
hipsométricas, tendo a altimetria uma relação directa nos elementos naturais. A
influência mais relevante da hipsometria é a diminuição da temperatura à medida que
aumenta a altitude, fator conhecido como gradiente térmico.
O clima é temperado, apresentando influências continentais e atlânticas. O carácter
continental, característico da chamada Terra Fria Transmontana, apresentando
condições climáticas rigorosas, representado por longos e frios Invernos e Verões curtos
e quentes, com grandes amplitudes térmicas anuais e menor frequência e intensidade de
precipitação. O carácter atlântico é devido à distância da costa e à elevação da região
(600 metros de altitude). Em média regista-se uma temperatura anual de 12,2ºC e uma
precipitação média anual inferior a 600 mm. O clima é típico de Terra de Transição,
uma vez que apresenta aspetos de transição climática, ou seja, apresenta aspetos
climáticos de Terra Quente e Terra Fria. A presença de paisagens onde o castanheiro, a
oliveira e a vinha, se misturam, e a presença de geadas entre Outubro e Abril, são sinais
evidentes da Terra de Transição.
O coberto vegetal da região divide-se pelos andares mesomediterrâeo e
supramediterrânico. No andar mesomediterrânico a paisagem é dominada por sobreirais,
enquanto no andar supramediterrânico verifica-se uma predominância de carvalhais
(Costa et al., 1998). O coberto de vegetal da área de Izeda apresenta uma elevada
presença de Sobreiro, Azinheira, Pinheiro, e matos fortemente marcados por giesta e
esteva, que ocupam terrenos antes dedicados à produção de cereal. A nível paisagístico,
a região é muito rica e diversificada em todos os níveis de fauna, flora e do ponto de
vista geomorfológico, contribuindo fortemente para a valorização do património natural.
Ao longo dos anos, a acção humana aliada a fatores físicos, tem vindo a alterar
constantemente a paisagem e o coberto vegetal. A observação da paisagem permite
verificar que em vales de difícil acesso, em encostas com elevados declives, ou campos
abandonados onde antes se praticava a agricultura e faziam parte da estepe cerealífera,
predomina agora a vegetação natural, como sejam os matos de Cistus ladanifer, Cytisus
multiflorus, ou Cytisus striatus.
19
3.2 O CERCADO
A área de estudo situa-se próximo da vila de Izeda, a uma Latitude (N) 41° 33' 23.718"
e Longitude (W) -6° 43' 38.697", com uma área de aproximadamente 2,2 ha (Figura 16).
Trata-se de um cercado privado onde durante a construção do mesmo ficaram
acidentalmente retidos alguns exemplares das duas espécies em estudo, que rapidamente
expandiram a sua população.
Figura 16: Área de estudo
A área caracteriza-se por ter um povoamento misto de Sobreiro (Quercus suber) e
Pinheiro bravo (Pinus pinaster) com cerca de 9 anos (Figura 17).
Figura 17: Povoamento misto Sobreiro e Pinheiro, Cercado
20
Há ainda um pequeno pomar com cerca de 100 árvores de fruto (macieiras e pereiras) e
toda a vegetação espontânea que emerge no terreno (Figura 18).
Figura 18: Pomar do cercado
Anualmente realiza-se a sementeira entre linhas de centeio e aveia (Outubro) e lentilha e
feijão-frade (Março e Abril) (Figura 19).
Figura 19: Sementeira realizada entre linhas no cercado
Ao longo do ano os animais têm ainda acesso a fruta, em especial no verão (maças,
pêras, melão e melancia) (Figura 20).
21
Figura 20: Fruta da época
As sementeiras efetuadas e a disponibilidade de fruta ajudam a colmatar a falta de
alimento, principalmente no pico de verão, de modo a que as espécies não interrompam
o ciclo reprodutivo na época de menores recursos.
No cercado foram construídos quatro comedouros, três dos quais, são semanalmente
abastecidos com centeio em grão (Figura 21), o consumo é em média de 25 a 30 kg por
mês, e no quarto comedouro são colocados fardos de feno e aveia (Figura 22).
Figura 21: Comedouro de centeio
22
Figura 22: Comedouro com feno e aveia
Encontram-se ainda disponíveis, ao longo do cercado, dois pontos de água, bebedouros
(Figura 23).
Figura 23: Bebedouro
As espécies acabam por controlar a vegetação no povoamento, funcionando como
agentes de manutenção e prevenção.
23
No cercado é possível monitorizar a existência de ambas as espécies através da
utilização de métodos diretos e indiretos (Tellería, 1986). Os métodos diretos baseiam-
se na observação ou captura dos animais. Métodos indiretos consideram-se todos os que
determinam a existência de uma espécie com base no estudo dos seus indícios de
presença, nomeadamente tocas, camas, restos metabólicos, excrementos e pegadas
(Villafuerte & Jordan, 1991). O método indireto apresenta vantagens importantes uma
vez que são fáceis, económicos e permite conhecer, embora com pouca precisão, o
número de indivíduos. Contudo, a obtenção de um índice através deste tipo de métodos
pode induzir erros ou subestimar a densidade real da população (Tellería, 1986). Neste
método também é comum a captura de indivíduos para pesagem, medição e
identificação de sexos da população (Ferreira, 2003).
No cercado estima-se que existam entre 200 a 250 coelhos-bravos, distribuídos pelas 15
tocas que existem no cercado. Os indícios da espécie são visíveis pela existência de
tocas, cama, raspado e pegadas (Figura 24). A lenha e pedras também são esconderijos
úteis à espécie (Figura 25).
Figura 24: Indícios de presença de coelho-bravo (raspado)
24
Figura 25: Indícios de presença de coelho-bravo no cercado (esconderijo de pedra)
A lebre-ibérica está em menor número, registando-se entre 40 a 50 indivíduos. Utiliza a
camuflagem para se proteger e camas (Figura 26), onde passa a grande maioria do dia,
as pegadas são igualmente úteis na identificação da espécie no local (Figura 27).
Figura 26: Cama de lebre-ibérica no cercado
25
Figura 27: Pegadas de lebre-ibérica no cercado
Os excrementos são bastantes úteis, os de lebre são mais arredondados e mais claros, os
de coelho são mais pequenos, alongados e escuros (Figura 28).
Figura 28: Excrementos de lebre-ibérica (esquerda) e de coelho-bravo (direita)
26
4. METODOLOGIA
4.1 REPRODUÇÃO
A reprodução estabelece o mecanismo básico de renovação das populações, deste modo
é importante a compreensão dos fatores que a regulam, tal como a gestão de habitats
(Alves, 1994). Nos ecossistemas mediterrânicos, a duração do período de atividade
reprodutora é apontada como um fator decisivo na diferenciação das características
reprodutivas dos lagomorfos, coincidente com a época de maior número de alimento
disponível, tendo um efeito bastante acentuado na fertilidade destas espécies (Delibes &
Hiraldo, 1979; Alves, 1994; Gonçalves et al., 2002). Em espécies de lagomorfos, a
ovulação nas fêmeas não é um acontecimento espontâneo, acontecendo normalmente
perto de 12 horas depois da cópula (Swihart, 1984). Após a cópula, sucede na maior
parte das vezes a gestação, no entanto, em alguns casos as fêmeas podem mostrar sinais
típicos de gestação sem estarem de facto prenhas, acontecimento designado por
pseudogestação.
No presente estudo a metodologia adotada incidiu na captura de indivíduos no cercado
entre os meses de Janeiro e Setembro de 2012. Os animais foram capturados vivos com
recurso a uma armadilha artesanal desenvolvida para o efeito (Figura 29) e redes de
tresmalho (Figura 30).
Figura 29: Armadilha artesanal
27
Figura 30: Redes de tresmalho
No total realizaram-se 251 capturas ao longo dos nove meses, das quais se registaram
177 coelhos-bravos e 74 lebres (Anexo I). No coelho-bravo identificaram 75 machos e
102 fêmeas (Anexo I), (Figura 31).
Figura 31: Capturas de coelho-bravo
No caso da lebre-ibérica, o total de capturas foi bastante inferior identificando-se 19
machos e 55 fêmeas (Figura 32).
28
Figura 32: Capturas de lebre-ibérica
Após as capturas, os animais eram pesados numa balança electrónica com 1 gr de
precisão (Figura 33).
Figura 33: Lebre-ibérica jovem macho em Setembro 641 g
De seguida procedia-se à determinação do sexo de cada individuo por observação direta
dos órgãos genitais. No caso dos machos, em ambas as espécies, a determinação do
estado reprodutor, foi verificada através da posição dos testículos, que varia conforme a
atividade e inatividade sexual, aumentando e diminuindo o seu tamanho e alterando a
29
sua posição de escrotal a abdominal, respetivamente. Consideram-se sexualmente ativos
quando têm pelo menos um testículo externo visível (Figura 34).
Figura 34: Macho sexualmente ativo, visibilidade de testículo externo (coelho-bravo)
Nas fêmeas, de ambas as espécies, a determinação do estado de reprodutor foi efetuado
através da observação direta do seu estado de gravidez e de lactação, ou em alguns
casos pela palpação do abdómen onde eram perceptíveis a presença de crias, permitindo
assim identificar a atividade reprodutora. Consideram-se sexualmente ativas quando as
glândulas mamárias estão desenvolvidas ou estão prenhas (Figura 35).
Figura 35: Fêmea sexualmente ativa, visibilidade de glândula mamária (lebre-ibérica)
30
4.2 REGIME ALIMENTAR
A análise do regime alimentar de herbívoros pode ser efetuada através de métodos
diretos e indiretos. A observação de indivíduos a alimentaram-se e o registo das
espécies que consomem é um método direto de análise (Hewson, 1962). Os métodos
indiretos passam pela observação das epidermes de plantas presentes no estômago dos
animais (Wallage-Drees et al., 1986; Homolka, 1987a) e nos seus excrementos (Storr,
1961; Chapuis, 1979; Rosati & Bucher, 1992; Cervantes & Martinez, 1992 e Martins et
al., 2002).
A análise microhistológica de excrementos é um método indireto bastante utilizado para
a determinação do regime alimentar em herbívoros, tendo sido já utilizada em alguns
estudos da dieta alimentar. No caso do Oryctolagus cuniculus seleccionam-se como
estudos de referência o de Bhadresa (1977), Chapuis (1979), Homolka (1988), Butet et
al., (1989), Chapuis (1990), Reis (1999), Ferreira (2001) e Marques & Matias, (2001),
em espécies pertencentes ao género Lepus os estudos de Chapuis (1990), Dingerkus &
Montgomery, (2001) e Paupério & Alves, (2008) são os mais relevantes e ainda em
espécies de ungulados o estudo realizado por Cortez (2010). Este método tem por
objetivo identificar as cutículas das epidermes de plantas consumidas, e que não são
totalmente digeridas pelos animais, sendo excretadas nos excrementos. As pequenas
cutículas presentes nos excrementos dos animais contêm o formato das células das
epidermes que varia em cada espécie de planta, facilitando deste modo a identificação
da vegetação consumida (Chapuis, 1979).
4.2.1 ELABORAÇÃO DA COLEÇÃO DE REFERÊNCIA
A observação, identificação e contagem das cutículas das epidermes nos excrementos só
foi possível através da comparação com a coleção de referência das epidermes das
plantas presentes na área de estudo. Deste modo, a fim de preparar uma coleção de
referência das epidermes vegetais recolheram-se as espécies presentes no cercado.
Como a área em estudo é relativamente pequena, no total identificaram-se e analisaram-
se 17 espécies de plantas pertencentes a 6 famílias (Anexo II).
Para a determinação do regime alimentar foram identificados 900 fragmentos para cada
uma das espécies ao longo do período de estudo. As plantas recolhidas na área de
estudo foram identificadas com o auxílio do Professor Doutor Carlos Aguiar.
31
Em laboratório através de uma adaptação do método de separação mecânica (utilizado
igualmente por Maia et al., 1997; Reis, 1999; Ferreira, 2001 e Paupério & Alves, 2008),
as plantas foram fragmentadas e colocadas em placas de petri, ao qual se adicionou uma
solução de lixívia a 5%, para que os fragmentos adquirissem uma tonalidade
transparente e aguardou-se pela descoloração das plantas (que é variável de espécie para
espécie). Seguidamente lavaram-se os fragmentos com água destilada, colocaram-se
numa lâmina com uma gota de água destilada e à lupa separam-se as duas epidermes,
abaxial e adaxial, mecanicamente, com recurso a uma pinça e a um bisturi.
Posteriormente, as epidermes foram colocadas numa lâmina com uma gota de xilol
(solução fixante), na qual se aplicou uma lamela, e de seguida utilizou-se um tipo de
verniz para selar a preparação definitiva. A forma e disposição das células da epiderme
difere entre as diferentes partes da planta, e por este motivo realizaram-se preparações
das epidermes dos diferentes tecidos das plantas, nomeadamente, caule, folha, pecíolo,
fruto e sementes (metodologia também adoptada por Storr, 1961; Chapuis, 1990 e
Paupério & Alves, 2008). As preparações realizadas permitiram fotografar as epidermes
das espécies florestais com ampliações de 100 X (Figura 36).
Figura 36: Epiderme do caule de uma herbácea (Dactylis glomerata; 100x).
4.2.2 ANÁLISE MICROHISTOLÓGICA DOS EXCREMENTOS
Os excrementos usados no estudo da dieta da lebre-ibérica e do coelho-bravo foram
recolhidos mensalmente, entre os meses de Janeiro a Setembro de 2012, de forma
32
aleatória. Este procedimento permitiu contabilizar e recolher excrementos frescos de
lebre-ibérica e coelho-bravo, de modo a permitir variabilidade no estudo para não haver
probabilidade dos excrementos analisados pertencerem ao mesmo individuo (Chapuis,
1990; Paupério & Alves, 2008).
Após recolha, os excrementos secavam num ambiente isento de humidade, e foram
posteriormente analisados microhistológicamente a fim de definir as preferências
alimentares das espécies em estudo. As amostras mensais eram constituídas por cerca de
30 excrementos de variados tamanhos das duas espécies em estudo.
No laboratório foram retiradas da recolha mensal cerca de 2.5 gramas de material fecal,
trituradas num misturador durante um minuto, a fim de homogeneizar o tamanho das
epidermes, ao qual se adicionou uma solução de lixívia a 5% para descolorar as
epidermes numa placa de petri. Posteriormente foram efectuadas 10 montagens em
lâmina e lamela de cada amostra, previamente selecionadas e identificadas 10 epidermes
em cada uma, totalizando 100 epidermes por cada recolha (Figura 37).
Figura 37: Preparação da análise microhistológica dos excrementos
Para observação e identificação das epidermes contidas em cada amostra utilizou-se um
microscópio óptico, sendo que os fragmentos eram identificados através da comparação
com as fotografias da coleção de referência, tal como feito por Ferreira (2003) e
Paupério & Alves, (2008). Para a identificação dos fragmentos, tinham-se em conta
características como o tamanho, forma, densidade de células, tipo e espessura da parede
33
celular, estrutura dos estomas (Storr, 1961 e Reis, 1999). Os fragmentos foram ainda
identificados, mediante a parte da planta a que pertenciam.
4.3 TRATAMENTO DE DADOS
No tratamento dos dados foi utilizada uma estatística descritiva, a fim de determinar a
média, e erro padrão. Foram calculados para amostras mensais, a percentagem e os
valores totais. Utilizou-se uma análise de variância (ANOVA). Os dados foram
previamente transformados (Transformação ArcoSeno), em ambas as análises, com o
objetivo de garantir a normalidade das observações. Para cada uma das espécies de
lagomorfos avaliou-se também o efeito dos fatores Diversidade Trófica, Mês e
Espécie, através de análises de variância (ANOVA) e após transformação Arcoseno das
percentagens relativas à contagem de epidermes, de modo a garantir a sua normalização
(Zar, 1996). Os pressupostos de normalidade dos dados foram verificados através do
teste de Hartley (F-max), Cochran (C) e Bartlett (Chi-Sqr) e as diferenças significativas
(p <0.05) foram exploradas com base em testes à posteriori (Tukey HSD). No
tratamento de dados referentes à reprodução foram apenas considerados os indivíduos
adultos (no caso do coelho-bravo considerou-se indivíduo adulto todo aquele que
ostentou um peso superior a 800g, para a lebre-ibérica estipulou-se um peso mínimo de
1000g para indivíduos adultos). Os valores mínimos estipulados são ligeiramente
superiores aos estabelecidos em estudos anteriores (Pires, 2009) uma vez que no
cercado a abundância de alimento e a ausência de stress a que as espécies estão sujeitas,
possibilita um crescimento mais rápido.
Efectuou-se uma ANOVA com os “Scores” da Análise dos Componentes Principais
para analisar os fatores Diversidade Trófica, Mês e Espécie, sobre os padrões gerais da
dieta. A interação de grau 3 não foi considerada para aumentar o nº de graus de
liberdade (Zar, 1996). Os resultados significativos (p <0,05) foram assinalados a
negrito.
Relativamente à diversidade de espécies que constituem o regime alimentar, utilizamos
os valores do índice de diversidade obtido e comparamos as duas espécies através de
uma Anova fatorial.
34
5. RESULTADOS
5.1 REPRODUÇÃO
5.1.1 COELHO-BRAVO
Durante o período de estudo compreendido entre Janeiro e Setembro de 2012,
foram capturados e analisados 75 machos e 102 fêmeas. O número de animais
observados pode considerar-se constante, regista-se em Maio o mês de maior
captura e em Fevereiro o mês de menor captura. Uma vez que o estudo foi
desenvolvido num cercado a probabilidade de captura aumenta
substancialmente (Figura 38).
Figura 38: Número total de indivíduos capturados, coelho-bravo
A análise dos animais capturados permite delinear a atividade reprodutora de
machos e fêmeas. Verifica-se um pico de reprodução na primavera, nas fêmeas
verifica-se em Abril a maior taxa de indivíduos, no caso dos machos acontece
no mês de Março. Há uma acentuada quebra da atividade sexual, para ambos os
sexos, no verão em especial no mês de Agosto, não se verificado no entanto,
pausa de reprodução, contrariando alguns estudos como o de Alves (1994) e
Pires (2009) provavelmente devido ao suplemento alimentar que os
animais recebem no período estival. No pico de reprodução regista-se uma
população sexualmente ativa, aproximadamente 30% dos machos e 45% das
35
fêmeas. É possível distinguir que ao longo de todo o estudo as fêmeas
apresentam um número superior de indivíduos em atividade sexual (Figura 39).
Figura 39: Variação mensal na atividade reprodutora, coelho-bravo
Na análise de variação de pesos regista-se um peso mínimo de 496 gramas e o máximo
de 1280 gramas. A espécie apresenta pesos médios máximos no mês de Abril, registam-
se pesos médios mínimos no mês de Junho para as fêmeas e no caso dos machos no mês
de Março (Figura 40). Verifica-se ainda que as fêmeas apresentam pesos médios
superiores entre o mês de Janeiro e Março. Entre Abril e Setembro os machos
apresentam peso médio superior. Nos jovens registaram-se pesos compreendidos
entre as 496g e 799g correspondendo a idades entre as 7 e as 15 semanas.
36
Figura 40: Variação mensal do peso médio, coelho-bravo, com indicação do erro padrão (barras verticais a preto)
A presença de animais mais jovens atinge os valores mais elevados em Março,
Junho, e Setembro, embora o aumento de jovens seja ponderado e não repentino
(Figura 41).
Figura 41: Relação Jovens/Adultos, coelho-bravo
37
5.1.2 LEBRE-IBÉRICA
Ao longo do estudo foram capturadas e analisadas 55 fêmeas e 19 machos. O
número de animais observados considera-se constante, apesar de se verificar um
ligeiro aumento a partir o mês de Março (Figura 42). O mês de Abril é o que
apresenta mais capturas.
Figura 42: Número total de indivíduos capturados, lebre-ibérica
Na atividade reprodutora verifica-se um pico de reprodução em Abril no caso
das fêmeas, no caso dos machos registam-se valores similares entre a
Primavera, nunca chegando a atingir os 20% do total de indivíduos sexualmente
ativos. Verifica-se uma quebra de indivíduos sexualmente ativos nos meses de
Verão, não se registando pausa reprodutiva nas fêmeas, contrariamente aos
machos, que apresentam pausa no mês de Fevereiro e Junho. É possível
distinguir que ao longo de todo o estudo as fêmeas apresentam um número
superior de indivíduos em atividade sexual (Figura 43).
38
Figura 43: Variação mensal na atividade reprodutora, lebre-ibérica
Na análise das variações de peso entre os indivíduos, regista-se um peso mínimo de 574
gramas e máximo de 2578 gramas. A espécie apresenta pesos médios máximos no mês
de Fevereiro, registam-se pesos médios mínimos no mês de Agosto para as fêmeas e no
caso dos machos no mês de Setembro (Figura 44). A análise dos dados permite verificar
que as fêmeas apresentam pesos médios superiores entre o mês de Janeiro e Março e em
Setembro, entre Abril e Agosto os machos apresentam um peso médio superior. Nos
jovens verificam-se pesos entre as 574g e 926g com idades compreendidas entre a 4 e as
10 semanas.
Figura 44: Variação mensal do peso, lebre-ibérica, com indicação do erro padrão (barras verticais a preto)
39
A presença de animais mais jovens atinge valores mais elevados no mês de Setembro,
regista-se ausência nos meses de Fevereiro, Maio e Junho (Figura 45).
Figura 45:Relação Jovens/Adultos, lebre-ibérica
5.2 REGIME ALIMENTAR
Os resultados alcançados no decorrer da realização do presente estudo são contrários
aos trabalhos que têm vindo a ser desenvolvido na área. A reprodução não chega a
desaparecer no verão, o que leva a crer que nesta área os animais se reproduzem todo o
ano. Para tentar entender o que poderá estar na base destas diferenças, iniciou-se um
estudo paralelo sobre o regime alimentar dos coelhos e lebre.
5.2.1 COELHO-BRAVO
Na área de estudo, as espécies mais consumidas ao longo do período são o sobreiro
(Quercus suber), o tomilho (Thymus mastichina), a aveia (Avena sativa), o centeio
(Secale cereale) e a maça (Malus domestica). No entanto, verifica-se que a partir de
Junho o consumo destas espécies sofre uma acentuada diminuição na frequência
relativa, passando a predominar o feijão-frade (Vigna unguiculata), e o melão (Cucumis
melo), apresenta uma frequência relativa de aproximadamente 40% (Figura 46).
40
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Fre
qu
ênci
a R
elati
va
N identificados
Citrullus lanatus
Cucumis melo
Pyrus
Malus
Vigna unguiculata
Echinochloa crus-galli
Anagallis monelli
Dactylis glomerata
Hypericum perforatum
Secale cereale
Avena sativa
Cistus ladanifer
Ttymus mastichina
Pinus pinaster
Quercus suber
Figura 46: Variação da frequência relativa (%) das espécies consumidas
A dieta do coelho-bravo apresenta elevado consumo de gramíneas, arbóreas e arbustivas
entre Janeiro e Abril. O consumo de gramíneas representa aproximadamente 30% da
dieta do coelho nos meses de Janeiro e Fevereiro. As arbóreas têm em Abril o seu valor
mais elevado presente na dieta do coelho com cerca de 30%. A partir de Abril verifica-
se uma diminuição progressiva do consumo de arbóreas, arbustivas e gramíneas,
passando a prevalecer as herbáceas, as leguminosas e as frutas. As herbáceas
apresentam no mês de Maio o seu valor mais elevado com aproximadamente 40%, e
partir Junho verifica-se também a diminuição no seu consumo. Com a aproximação do
verão o coelho passa a optar essencialmente por leguminosas e frutas, com frequências
muito elevadas, as leguminosas e frutas representam mais de 50% da dieta do coelho,
provavelmente por terem maior teor de humidade e saciarem mais facilmente as
necessidades dos animais (Figura 47).
41
Figura 47: Variação da frequência relativa (%) das famílias consumidas
5.2.2 LEBRE-IBÉRICA
Ao longo do período de estudo, é visível a alteração de consumos. Verifica-se que a
aveia (Avena sativa), o centeio (Secale cereale), e a maça (Malus domestica) estão
presentes no regime alimentar durante todo o período de estudo e com percentagens
significativas. A partir do mês de Maio o aparecimento do feijão-frade (Vigna
unguiculata), resulta no mês de agosto num consumo com uma frequência relativa de
aproximadamente 40%. A partir do mês de Julho, observa-se consumo de melão
(Cucumis melo) e melancia (Citrullus lanatus), representado cerca de 30% da dieta.
Entre Julho e Setembro o regime alimentar da lebre assenta principalmente no consumo
de leguminosas e frutos (Figura 48).
42
Figura 48: Variação da frequência relativa (%) das espécies consumidas
No regime alimentar da lebre-ibérica regista-se um elevado consumo de gramíneas ao
longo de todo o período de estudo. O consumo de gramíneas representa nos meses de
Janeiro e Fevereiro mais de 30% da dieta. As arbóreas e arbustivas representam
aproximadamente 30% da dieta até ao mês de Abril, e partir de Maio o seu consumo
diminui para 10%. As herbáceas também apresentam um consumo elevado de Janeiro a
Junho, e depois diminuem progressivamente. A partir de Junho verifica-se uma
diminuição progressiva do consumo de arbóreas, arbustivas, gramíneas e herbáceas,
passando a prevalecer as leguminosas e outras espécies como as frutas. Com a
aproximação do verão a lebre altera as suas preferências, consumindo maioritariamente
leguminosas e frutas, com frequências muito elevadas, estas representam no mês de
Agosto cerca de 70% da sua dieta, provavelmente por terem maior teor de humidade e
saciarem mais facilmente as necessidades dos animais (Figura 49).
43
Figura 49: Variação da frequência relativa (%) das famílias consumidas
A análise dos componentes principais da atividade reprodutora mensal de coelho e lebre
originou três fatores explicando 87% da variação (Tabela 2). O primeiro eixo (Fator 1)
separou os meses em que as espécies apresentam maior ou menor diversidade trófica e
se verifica um maior ou menor número de espécies de plantas incluídas na dieta das
espécies em estudo. Este eixo distingue principalmente as variações mensais na
diversidade trófica e nas espécies de plantas. O segundo eixo (Fator 2) relaciona-se com
a atividade reprodutora, presença de jovens e a espécie animal, permitindo analisar a
variação mensal que cada um destes componentes apresenta durante o período. O
terceiro eixo (Fator 3) está relacionado com os meses em que se verifica o aumento ou a
diminuição da diversidade trófica e o maior ou menor número de espécies de plantas
durante cada mês (Tabela 1) (Figura 50 e 51).
Tabela 1: “Scores” da PCA sobre os resultados da atividade reprodutora para o período. Testando o efeito do Mês,
Atividade Sexual, Jovens / Adultos, Espécies (de plantas), Animal, Diversidade Trófica.
Fator 1 Fator 2 Fator 3
Mês 0,057099 0,103871 0,980541
ActSex 0,019132 -0,837902 -0,076729
Jov_Ad -0,206931 0,737505 0,445684
N_Esp_Pl -0,927986 0,249123 0,129671
Anim_1c_2l 0,419702 -0,818703 0,073234
Div_Trof -0,972360 0,110474 -0,149916
44
Figura 50: Representação gráfica dos eixos principais (Fator 1 x Fator 2) de uma análise de componentes principais
sobre a reprodução de coelho e lebre. (A castanho os dados referentes ao coelho e a verde os dados referentes à
lebre. A negrito os dados relativos ao período estival).
Figura 51: Representação gráfica dos eixos principais (Fator 1 x Fator 3) de uma análise de componentes principais
sobre a reprodução de coelho e lebre. (A castanho os dados referentes ao coelho e a verde os dados referentes à
lebre. A negrito os dados relativos ao período estival).
45
Tabela 2: “Eigenvalues” para cada um dos eixos.
Eigenvalue % Total variance Cumulative Eigenvalue Cumulative %
1 2,916188 48,60314 2,916188 48,60314
2 1,491416 24,85693 4,407604 73,46007
3 0,833595 13,89325 5,241199 87,35332
A contribuição dos fatores Mês e Espécie Animal permite realizar uma ANOVA a fim
de analisar a reprodução. Esta revelou a ausência de diferenças significativas. (Tabela
3).
Tabela 3: ANOVA realizada para análise da reprodução
G.L SS MS F P
Mês 8 2713,12 339,14 1,7544 0,153267
Animal 1 217,50 217,50 1,1252 0,302835
Mês*Animal 8 588,55 73,57 0,3806 0,917217
5.2.3 DIVERSIDADE TRÓFICA A diversidade trófica foi determinada com base no regime alimentar de ambas as
espécies. Verifica-se que, no caso da lebre-ibérica, a diversidade trófica diminui de
forma mais acentuada que no coelho, uma vez que esta concentra a sua dieta em poucas
espécies. As espécies apresentam uma maior diversidade no fim do inverno e durante
toda a primavera, sendo Julho o mês mais rico para o coelho e Maio o mês das lebre. A
diversidade da dieta diminui a partir de Julho para ambas as espécies. A diversidade no
coelho foi superior durante todo o período de estudo, uma vez que a sua dieta incluiu
espécies arbóreas e arbustivas ao longo dos 9 meses (Figura 52).
46
0,00
2,00
4,00
Jan Abr Jul
Índ
ice
de
Shan
no
n
Diversidade Alimentar de
Coelho e Lebre
DT_C
DT_L
Figura 52: Índice de diversidade de Shannon
Procedeu-se à realização de uma ANOVA para coelho-bravo e lebre-ibérica,
considerando como fatores, a Diversidade Trófica, os Meses e as espécies de Animais.
Verifica-se que a dieta difere (p <0,05) mais entre as espécies de plantas (Tabela 4).
Tabela 4: Resumo da ANOVA testando o efeito da Espécies (de plantas), Mês e Animal da dieta de coelho e lebre. A negrito
assinalam-se os resultados significativos (p <0,05).
Origem da Variação G.L. F P
Espécies 15 9,1652 0,000000
Mês 8 0,1875 0,992496
Animal 1 0,8244 0,364729
Error 263
5.3 DISCUSSÃO
A análise efetuada referente à reprodução permitiu verificar diferenças significativas
entre o presente estudo e outros anteriormente realizados sobre a reprodução de
lagomorfos. A variação do peso da lebre permite observar que o mês de Fevereiro
apresenta os pesos médios mais elevados em ambos os sexos, no mês de Agosto as
fêmeas apresentam o peso médio mínimo e no mês de Setembro os machos apresentam
o peso médio mais baixo. Relativamente ao coelho, ambos os sexos apresentam o peso
médio mais elevado em Abril e peso médio mínimo em Julho nos machos e Setembro
nas fêmeas, resultados muito próximos dos apresentados por Pires (2009).
47
A atividade reprodutora da lebre apresenta um pico máximo em Abril nas fêmeas e em
Janeiro nos machos. No coelho a atividade reprodutora tem o pico máximo em Abril nas
fêmeas, e Maio nos machos. A análise da reprodução do coelho permitiu constatar que
durante o período de estudo não se verificou qualquer pausa reprodutora, contrariando
estudos anteriormente realizados como o de Alves (1994) e Pires (2009). A ausência de
pressões idênticas às que as populações de coelho e lebre estão sujeitos no seu habitat
natural e o suplemento alimentar que é fornecido no período estival parecem estar
diretamente relacionados com a inexistência da pausa reprodutora. A pausa reprodutora
verificada no pico da época estival, apresenta-se como uma condicionante na gestão de
zonas de caça, pelo que as entidades gestoras devem primeiramente preocupar-se com a
melhoria e estabilização dos habitats, proporcionando melhores condições às
populações de espécies cinegéticas.
O regime alimentar de ambas as espécies apresenta alterações ao longo do ano. No
entanto, os testes de análise estatística realizados permitem verificar que o regime
alimentar não apresenta uma relação directa com a atividade reprodutora. A diversidade
alimentar apresenta-se constante e relativamente idêntica entre as espécies de Janeiro
até Junho, altura em que se verificam diferenças significativas na diversidade alimentar
de coelho e lebre. Entre Junho e Julho verifica-se um aumento da diversidade alimentar
no coelho e depois uma diminuição moderada de diversidade até Setembro. De Julho a
Agosto a lebre tem uma significativa perda de diversidade, apontando para uma maior
especificidade do regime alimentar que o coelho. Paupério (2003) constatou que o
número de espécies consumidas diminuía embora não se verifique uma perda de
diversidade alimentar tão acentuada nas lebres como no presente estudo. Ferreira (2003)
verificou que entre Julho e Agosto o coelho perdia diversidade alimentar em duas áreas
de estudo, tal como verificamos na realização deste trabalho.
O facto de no presente estudo os animais estarem confinados a um cercado e lhe serem
fornecidos complementos alimentares, não pode ser entendido como representativo de
toda a região. Deste modo, os resultados obtidos, embora estejam corretos e sejam úteis,
podem não ser aplicáveis a toda a região de Trás-os-Montes. Deste modo, considera-se
um estudo de apoio a medidas complementares de introdução da espécie,
nomeadamente para a prática cinegética e carece de mais dados provenientes de áreas
com diferentes características.
48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cercado em estudo apresenta um ambiente natural, disponibilidade de água e alimento
ao longo de todo o ano bem como suplemento alimentar de frutas, como maças,
melancias e outras frutas da época, permitindo às espécies facilidade de adaptação ao
meio e menores riscos sanitários.
Na época de reprodução da lebre-ibérica e o coelho-bravo identificou-se como período
de maior reprodução a Primavera e uma quebra acentuada no Verão. A reprodução
verifica-se ao longo de todos os meses do ano, embora com menor intensidade em
especial no mês de Agosto, não se registando porém em mês nenhum pausa de
reprodução. Os trabalhos de monitorização permitiram identificar os animais com o
menor peso em atividade reprodutora, tendo sido registado no caso da lebre-ibérica um
valor de 1541g e no caso do coelho-bravo 891g.
Para tentar perceber o que poderá estar na base destas diferenças iniciou-se um estudo
paralelo sobre a dieta dos lagomorfos no cercado. A análise do regime alimentar revela
que as gramíneas constituem a base da dieta do coelho-bravo. Nos meses de Janeiro a
Abril regista-se um elevado consumo de arbóreas e arbustivas, nos meses de Verão,
verifica-se uma substituição da ingestão de herbáceas e aumento de consumo de
leguminosas e frutos, provavelmente devido aos seus teores nutritivos e humidade. A
dieta alimentar da lebre-ibérica apresenta elevado consumo de gramíneas e herbáceas ao
longo de todo o estudo, registando-se nos meses de verão uma redução progressiva do
consumo de arbóreas, arbustivas, gramíneas e herbáceas dando lugar à ingestão de
leguminosas e frutos. Ambas as espécies apresentam uma maior diversidade de
alimentos no final do Inverno e durante toda a Primavera, registando-se Julho como o
mês mais rico no cado do coelho-bravo e Maio para a lebre-ibérica, a partir do final do
mês de Julho há um registo de diminuição da diversidade nas duas espécies. Uma vez
que o coelho inclui no regime alimentar mais espécies arbóreas e arbustivas regista-se
uma maior diversidade de alimentos ao longo de todo o estudo.
Os resultados obtidos apontam para a necessidade de promover culturas para a fauna
cinegética, nomeadamente para o coelho-bravo e lebre-ibérica, com o intuito de
melhorar as características físicas dos animais. Consequentemente é expectável que
devido à melhoria do alimento disponível, mantenham atividade reprodutora durante o
49
verão, contribuindo assim para um aumento do efetivo durante o período de caça. A
importância de manter algumas hortas nas zonas de caça é, assim, realçada como uma
ferramenta de gestão cinegética, sobretudo num período crítico dos climas
mediterrâneos como o verão. Outro aspeto importante é que as culturas devem
proporcionar alimento fresco, como frutas e legumes, de modo a suprir as necessidades
em água por parte dos animais. Neste sentido, as culturas cerealíferas para a fauna
apresentam menos interesse na época estival.
O coelho-bravo e a lebre-ibérica assumem um papel fundamental no ecossistema
mediterrânico, sendo a base da dieta alimentar de muitas espécies algumas das quais
ameaçadas, são igualmente espécies com elevado interesse cinegético em Portugal,
sendo em muitas zonas de caça as espécies mais representativa e as principais como
objecto de caça. É imprescindível o conhecimento que condicionam ou influenciam a
reprodução e a dieta alimentar, a fim de possibilitar a melhoria da dinâmica
populacional e gestão das populações.
50
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ANEXOS
ANEXO I: CAPTURAS ANIMAIS
Coelho-bravo
Mês Peso (gr) Macho / Fêmea (M/F) Atividade Sexual
(S/N)
Janeiro
837 F N
924 F N
993 F N
847 F N
1235 F S
786 F N
1023 F N
883 F N
949 F N
935 M N
1014 M N
906 M S
869 M N
937 M N
972 M N
769 M N
1028 M S
Fevereiro
996 F S
1106 F S
743 F N
873 F N
694 F N
941 F N
1089 F S
1008 F S
996 M N
879 M N
973 M S
849 M N
997 M N
951 M N
788 M N
953 M N
Março
1132 F S
1151 F S
967 F N
1025 F S
63
1134 F N
1064 F S
612 F N
766 F N
1058 F S
1169 F S
1208 F S
903 F S
897 F N
649 F N
787 M N
1089 M N
695 M N
641 M N
971 M S
953 M N
Abril
736 F N
1059 F S
1087 F S
954 F S
787 F N
1203 F S
901 F N
1264 F S
1021 F S
802 F N
994 F S
1125 F S
1034 M N
1087 M S
967 M S
1023 M N
864 M N
1124 M N
Maio
799 F N
1098 F S
906 F S
963 F S
774 F N
946 F N
1058 F S
1006 F S
776 F N
964 F S
969 F S
896 F N
64
1263 F S
779 F N
689 F N
911 M N
1173 M S
856 M N
812 M N
997 M S
1164 M S
944 M S
954 M S
978 M S
672 M N
Junho
756 F N
1045 F S
1007 F S
736 F N
662 F N
991 F S
621 F N
906 F N
541 F N
801 M N
1178 M S
822 M N
954 M S
911 M N
638 M N
994 M S
965 M S
Julho
949 F N
791 F N
896 F S
659 F N
1113 F S
774 F N
734 F N
790 F N
826 F N
893 F N
981 M S
873 M N
1005 M S
844 M N
931 M N
842 M N
65
861 M N
1056 M S
Agosto
968 F N
799 F N
746 F N
947 F N
1005 F S
622 F N
915 F N
943 F N
997 F S
844 F N
812 F N
714 F N
771 M N
1024 M S
868 M N
745 M N
916 M N
934 M N
977 M N
924 M N
641 M N
864 M N
Setembro
632 F N
846 F N
943 F N
648 F N
791 F N
978 F N
967 F N
496 F N
665 F N
1238 F N
811 F N
836 F N
1089 F S
921 M S
723 M N
891 M S
782 M N
1280 M S
1186 M S
1278 M N
1035 M S
610 M N
66
632 M N
1094 M S
Lebre-ibérica
Mês Peso (gr) Macho / Fêmea (M/F) Atividade Sexual (S/N)
Janeiro
874 F N
1876 F N
2374 F S
2169 F S
1786 F N
1498 M N
1986 M S
Fevereiro
2368 F N
1863 F S
2184 F S
2098 F S
1997 M N
Março
2149 F S
1846 F S
1762 F N
2149 F N
1846 F S
1487 F N
2067 M S
2538 M S
926 M N
Abril
1626 F S
1756 F S
1846 F N
647 F N
1689 F S
1923 F S
2361 F S
1567 F S
2104 M S
1778 M S
Maio
1578 F S
1579 F N
1468 F N
1601 F S
1882 F S
2264 F S
1433 F N
1829 M N
2135 M S
67
Junho
1604 F S
1333 F N
1437 F N
1964 F S
2065 F S
1115 M N
2231 M S
1701 M N
Julho
2068 F S
2386 F N
659 F N
1431 F N
2164 F S
2043 F N
1932 F S
1856 M N
Agosto
1763 F S
1752 F N
1426 F N
1792 F S
574 F N
1846 F N
861 M N
1856 M N
2342 M S
Setembro
2163 F S
1642 F N
1952 F S
856 F N
2578 F S
1806 F N
2051 F S
641 M N
1541 M S
68
ANEXO II: DIETA ALIMENTAR
Dieta Alimentar Família Género Espécie Morfologia
Arbóreas
Fagaceae Quercus Quercus suber Caule
Quercus suber Folha
Quercus suber Pecíolo
Pinaceae Pinus Pinus pinaster Casca
Pinus pinaster Agulha
Arbustivas
Lamiaceae Thymus Thymus mastichina Caule
Thymus mastichina Folha
Fabaceae Cytisus Cytisus multiflorus Folha
Cytisus multiflorus Folíolo
Cistaceae Cistus Cistus ladanifer Folha
Cistus ladanifer Caule
Leguminosa
Fabaceae Vigna Vigna unguiculata Folha
Vigna unguiculata Caule
Vigna unguiculata Fruto
Gramínea
Poaceae Avena Avena sativa Folha
Avena sativa Bractea
Secale Secale cereale Folha
Secale cereale Bractea
Herbácea
Poaceae Dactylis Dactylis glomerata Caule
Dactylis glomerata Folha
Echinochloa Echinochloa crus-galli Folha
Echinochloa crus-galli Folha
Hypericaceae Hypericum Hypericum perforatum Caule
Hypericum perforatum Folha
Myrsinaceae Anagallis Anagallis monelli Caule
Anagallis monelli Folha
Polygonaceae Polygonum Polygonum aviculare Folha
Polygonum aviculare Caule
Outros
Cucurbitaceae Cucumis Cuvumis melo Fruto
Citrullus Citrullus lanatus Fruto
Rosaceae Malus Malus domestica Fruto
Pyrus Pyrus communis Fruto