estudantes republicanos
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7/24/2019 Estudantes republicanos
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Ana M. Caiado Boavida*
Anlise Social, vol. XIX (77-78-79), 1983-3., 4. 5., 743-756
Tpicos sobre a prtica politica dos
estudantes republicanos (1890-1931):
limites e condicionantes do movimento
estudantil
Por terra, a tnica em pedaos,
Agonizando a Ptria est.
Mocidade, oio os teus passos . . .
Beija-a na fronte, ergue-a nos braos,
No morrer
(Guerra Junqueiro, Finis Patrae, 1891)
O estudante uma esperana. Consubstancia em si o futuro.
Os desiludidos confiam nas escolas como os antigos reis magos
confiavam na sua estrela.
(S .
Magalhes Lima, O jornal dos estudantes, in
Liberdade
de 31 de Janeiro de 1901)
1. Uma sociedade, uma classe, um grupo, quando se detm em pensa-
mento reflexivo, tendem a problematizar-se em trs vectores diacrnicos.
Feito o balano
das
jornadas idas e questionado o tempo corrente, volve-se o
olhar p ara m ais alm e traam-se os contornos do porvir. Correlativamente,
avaliam-se as foras juvenis que se vo enfileirando para a passagem do tes-
temunho . pocas h em que esta preocupao se torna obsidiante. pocas
de crise.
Exemplifiquemos: o apelo ao dinamismo arrebatador das novas camadas
geracionais irrompe com flagrncia na prtica discursiva republicana aps
1890,
salientando-se uma acentuada viso pico-messinica da mocidade
no uma qualquer mocidade, mas, em particular, a mocidade das esco-
las , um quase culto da juventude indomvel e sbia, caritativa e magn-
nima. Junqueiro exaltou-a, de modo paradigmtico, nesse FinisPatraede
que quase sempre s retemos a toada decadentistaefunebremente pessimista
das estrofes iniciais. Sebastio Magalhes Lima santificou-a, metamorfo-
seando jovens escolares em cruzados de novas Jerusalns. boa maneira
positivista, os estudantes envergam a capa de heris virtuosos, detentores do
fogo sagrado da cincia, pedras basilares da consecuo do progresso. Na
tradio da gesta rom ntica de 1848, a academia compadece-se com a mis-
Faculdade de Letras
da
Universidade
de
Lisboa.
74 3
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ria
dos
desprotegidos
da
sorte, tranquilizando-os
com a sua
mensagem
de
esperana:
[...]
enquanto houver um acadmico para m endigar pelas portas e um
jornal para clamar justia, haveis
de nos
encontrar
ao
vosso lado
com
toda
a
fora
da
nossa mocidade
e
toda
a
simpatia
das
nossas crenas
l
.
Enquanto houver um jornal para clamar justia...Naestratgia republi-
cana para
a
tomada do poder no
foi
descurado
o
papel dos organismos pro-
pangandisticos, no intuito, louvvel, de tornar comum a uma cadavez
maior parceladasociedadeosprincpios doutrinriosdorepublicanismoe
da democracia liberal. Tambm neste sector especfico
foi
atribudo
um
relevo
enftico aocontributo que os estudantes poderiam tributarcausadarevo-
luo.A apetncia destes para sevincularema umapoltica anticonserva-
dora vinha sendo estimulada
por
factores endgenos
e
exgenos
de j
longa
data. Reportando-sedcadade60,Ea deQueirs,emtexto memorativo
de Antero de Quental, inventariou para
a
posteridade um razovel acervo
de
elementos capazes
de
perturbar
o
mais ablico
dos
seres:
Cada m anh traziaasua revelao, como um Sol que fosse
novo.
Era
Michelet que surgia,eHegel,eVico,eProudhon;eHugo tornado profeta
e justiceirodosreis;eBalzac,com o seumundo perversoelnguido;e
Goethe, vasto como ouniverso;ePoe,eHeine,ecreiojque Darwin,e
quantos outros
2
.
Mas
no s as
novas teorias polticas,
os
diferentes ideais tico-filosfi-
cos,
as
renovadoras conquistas cientficas,
as
audazes propostas
de um ro-
mantismo em mutao, vieram convulsionar
os
espritos.
Em
1871,
a
Comuna
de Paris, em 1873, a Repblica em Espanha. Duas experincias fugazes,
duas marcas indelveis. Jos Falco fazcircularumopsculoemglriados
communards suscitandoaemergnciadencleos republicanos;emCoim-
bra festeja-se ruidosamente
a
queda
da
monarquia vizinha, solidarizando-se
com
o
acontecimento alguns membros
do
corpo docente
da
U niversidade,
como,
por
exemplo, Manuel Emdio Garcia, Mendona Corts
e
Rodrigues
de Brito, significativas excepes num meio consabidamente esclerosadoe
avessoagitaodassuas estruturas. Porqu e,eaqui depara-se-nosum dos
tais factores de raiz endgena,aUniversidade era, com efeito, uma grande
escola de revoluo
3
, um modelo miniatural
do
burocratismo, servilismo
e
mediocridade
em que
se plasmava
o
quotidiano portugus.
Num relance pelas movimentaes estudantis que se desenham nas derra-
deiras trs dcadas
de
Oitocentos torna-se difcil dissociar
as
condicionantes
polticas
dos
interesses especificamente acadm icos.
constituio,
em
1871,
da primeira e efmera Federao AcadmicadeLisboanodeveter sido
estranho o ideal federativo proudhoniano, expresso anteriormente numa
propostadePacto FederaldasEscolasdoReinodePortugaleSuas Depen-
dncias, provenientede umacomissoa quepertenceu Jaime Batalha Reis.
1
V. A fome, in
A Justia Jornal Acadmico Republicano),
n. 9, Lisboa,
19
de Junho de
1891,
p. 1.
2
Ea de Queirs, Um gnio que era um santo, inNotas Contemporneas\Lisboa, Livros do Brasil, s.
d., p. 254. Antero de Quental, no o esqueamos, pertence legenda dos dirigentes carismticos da falange
progressiva da academia coimbr.
744
3
Id., op. c/V.,
p.
258 .
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Em 1880, aquando do tricentenrio de Cames, alunos do Instituto Indus-
trial e Comercial de Lisboa fundam a Associao Camon iana Jos Vitorino
Damsio, local onde os intuitos beneficentes se mesclam com a apologtica
republicana. Quanto aos princpios que nortearam, a partir tambm de
1880, a organizao da Associao Acadmica de Lisboa, cujos Estatutos
datam de 1882, filiam-se numa inteno, relativamente lograda, de desen-
volver a conscincia corporativa entre estudantes de diversas escolas e graus
de ensino, bem como de reivindicar os seus direitos. Um pouco mais tarde ,
em 1887, congregam-se os alunos da academia de Coimbra numa Associa-
o de existncia duradoura, fenmeno justificvel pelo particularismo
caracterizador do pequeno universo escolar desta cidade.
No percamos, contudo , o fio d a meada. Falvamos da simbiose juven-
tude/republicanismo, enquanto catalisadora de um processo de expansionismo
ideolgico. Entre os estratos mais dinmicos e lcidos da jovem burgue-
sia frequentadora do meio acadmico ntida a percepo, sobremaneira
aps o despoletar da crise de 1890, de que a questo ingente da necessidadede uma total remodelao do sistema educativo passa por um novo equacio-
namento dos dados polticos e institucionais, qui pela revoluo armada.
A derrota do 31 de Janeiro e o consequente agravamento de certas tenses
latentes entre os principais obreiros do projecto republicano contriburam,
decisivamente, para ampliar a crena numa academia em que se julga ver
consubstanciada a verdadeira alma e vitalidade nacionais. Invocam-se actos
de romntica bravura praticados desde logo em plena Restaurao, conti-
nuados nas lutas peninsulares de 1808, confirmados nos combates em prol
do liberalismo nos con turbados anos da guerra civil. Mas, pa ra a sensibili-
dade epocal, em
1891,
emais do que nunca, dolorssima a crise que atraves-
samos. Depois da perda da honra e dos territrios, jaz o Pas adormecido,
deixando tripudiar impunemente os parasitas. O povo, a eterna vtima dos
impostos, dos monoplios e dos sindicatos, j no sabe para quem apelar.
Na monarquia tudo corrupto, cnico, incapaz de um sacrifcio que salve a
Nao. No campo republicano, as faces a distanciarem os homens que
deviam ter a compreenso do momento histrico e salvar o Pas, que tudo
espera deles
4
. Que resta ento? Resta acreditar na academia como outro ra
se acreditou em Nun'lvares. Ressuscitemos Nun'lvares. Ergamos o seu
vulto,
quer nas escolas quer nos templos, foi a palavra de ordem proferida
por Guerra Junqueiro no comcio promovido pelo Grupo Republicano de
Estudos Sociais em 27 de Julho de 1897
5
. Grupo este que m arca o incio de
uma nova fase na organizao das foras juvenis do republicanismo.
Fundado em 1895 por um grupo de estudantes, o Grupo Republicano de
Estudos Sociais desempenhou um papel relevante na propaganda anticlerical
e antimonrquica, actuando quer atravs de conferncias e comcios, quer
no seio das instituies de ensino. Contou com a colaborao de figuras
prestigiadas, como Joo Chagas, Tefilo Braga, Manuel de Arriaga. Anos
mais tarde , mais precisamente em 1900, d lugar Liga Acadmica Republi-
cana , a qual funcionou duran te dois anos, reunindo-se os seus scios nas ins-
talaes do peridico A
Vanguarda,
cuja direco competia a Sebastio de
Magalhes Lima, incansvel adepto da juventude, considerada, numa pers-
pectiva organicista, com o mtica fora revitalizadora do tecido social. Maga-
4
A academia, inA Justia Jornal Acadmico Republicano), n. 20, Lisboa, 4 de Julho de 1891, p, l.
5
V. Guerra Junqu eiro,Horas de Luta (prefcio de Mayer Garo), Porto, 19 73,2 .
a
ed. ( l .
a
ed.: 1924),
p. 93.
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lhes Lima, alis, foi um dos mais constantes colaboradores do jornal A
Liberdade
6
, porta-voz da Liga; este jornal orgulhava-se de uma pliada de
participantes verdadeiramente notvel e que, por si s, expressa, com vigor,
a im portncia atribuda mocidade das escolas na estratgia poltica e no
imaginrio republicano; assim, e para alm do j citado Magalhes Lima,
faziam parte da lista de colaboradores
d`A Liberdade:
Agostinho Fortes,
Brito Camacho, Frana Borges, Heliodoro Salgado, Joo Chagas, Sampaio
Bruno, Manuel Coelho, Mayer Garo, Alexandre Braga, Guerra Jun~
queiro, Celestino de Almeida, Jacinto Nunes, entre outros.
A um outro nvel, e paralelamente estruturao de ligas e centros repu-
blicanos acadmicos
7
, assiste-se ao fervilhar de associaes cujo carcter se-
creto as nimba de seduo cativante. Situa-se nesta categoria a Maonaria
Acadmica, matriz da Carbonria Portuguesa
8
. Composta exclusivamente
por estudantes das escolas superiores de Lisboa, foi presidida, desde finais
de 1895, pelo ento tambm estudante Luz de Alm eida. Aos filiados, que se
encontravam repartidos por quatro lojas Fu turo , Justia, Independncia
e Ptria , era adm inistrada instruo militar, a fim de, logo que surgisse a
ocasio propcia, tornar possvel a organizao de um batalho acadmico
verdadeiramente operacional.
Resumindo: quer atravs de organismos legalmente constitudos, quer
mediante a sua insero em sociedades iniciticas, parte da juventude acad-
mica foi efectuando a sua aprendizagem poltica, adquirindo um m aior grau
de conscincia possvel das formas mais adequadas ao desenvolvimento da
classe a que maioritariamente pertencia. No nos iludamos, porm, quanto
natureza do percurso trilhado por este grupo especfico at revoluo de
1910. Se a torrente verbal dos mais inflamados tribunos faz acreditar na
existncia de um entusiasmo em constante ascenso, a leitura atenta dos jor-nais oriundos do meio acadmico atenua esta imagem de triunfalismo. Em
1901,ano em que d os seus primeiros passos, em Coimbra, o Centro Aca-
dmico de D emocracia C rist, que se prope o papel de trincheira antijaco-
bina, o jornal A Liberdade convida a academia de Lisboa a levantar-se da
apa tia degradante em que tem estado imersa, dando como exemplo o rei-
nicio da movimentao dos estudantes republicanos de Coimbra, unidos
num processo de luta contra o decreto do ministrio H intze Ribeiro que pra-
ticamente autorizava a existncia de ordens religiosas em P ortug al
9
.
Nos anos subsequentes promulgao do decreto, e perante o bom aco-
lhimento proporcionado s escolas e colgios orientados por membros do
clero,
agudiza-se o contencioso existente entre os estudantes republicanos e
6
O jornal A Liberdade foi publicado pela primeira vez no dia 31 de Janeiro de 1901. Intitulando-se, ini-
cialmente, Jornal dos Estudantes Livres, passou a denominar-se, em subttulo, Dirio Republicano
Acad
mico
a partir de 1 de Maio de 1901.
7
Em 28 de Janeiro de 1906 realizou-se a sesso inaugural do Centro Republicano A cadm ico de Coim-
bra. Usaram da palavra os Profs. Bernardino Machado e Afon so Costa. Entre os convidados destacavam-se:
Antnio Jos de Almeida, Manuel de Arriaga e Frana Borges.
8
Em 1896, o carbonarismo em Portugal surgiu de novo , mas sem a menor relao com o de 1864, que
desapareceu para sempre. A organizao, o ritual e os prprios processos de conspirao e de combate eram
totalmente diferentes. (V. B orges Granha, Histria da Franco-Maonaria em Portugal/1733-1912, Lisboa,
Vega, reedio de 1976, p. 140.
9
Com eam a movimentar-se as academias. Coube desta vez mocidade de Coimbra a iniciativa do
movim ento de protesto contra as ordens religiosas, infamemente toleradas, ilegalmente constitudas, porque
dispem da mais
alta
influncia, sombra da qual vo minando pou co a pou co, lanando os tentculos a tudo
o que podem alcanar
[ ]
[V. Os Jesutas, inA Liberdade Jornal dos Estudantes Livres), n. 4, Lisboa,
74 6 22 de Fevereiro de 1901. p. 1.].
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as velhas estruturas universitrias, identificadas com o clericalismoeo jesui-
tismo. Abaixo a Universidade Fradesca, a Universidade Inquisio, foi o
grito vibrante que deu impulso greve acadmica de 1907. Greve que visou
mais longe, no alvo das suas crticas, do que quiseram deixar pensar os diri-
gentes acadmicos e os chefes polticos do republicanismo, cuja principal
preocupao consistiu, por razes de ordem tctica, em circunscrev-la num
mbito meramente escolar
10
. Contudo, como impedir a ntima conexo en-
tre a crtica de uma dada forma de organizao do todo social e o combate
ao sistema educativo segregado pelas instituies da classe que detm o
poder poltico num a sociedade?
Na primeira semana de Fevereiro de 1909 constitui-se, em Lisboa, mais
um centro aglutinador de estudantes republicanos, o Centro Democrtico
Acadmico, que se arvora a misso de ser uma espcie de conscincia crtica
do Partido Republicano Portugus. Quanto ao problema da educao, o
Centro interessar-se- e procurar interessar a sociedade portuguesa, espe-
cialmente a sua
lite
intelectual, por todos os problemas pedaggicos de in-
dispensvel soluo entre ns, como sejam a refundio do ensino politcnico
e mdico, a criao duma Faculdade de Letras e de uma Escola Normal de
Ensino Superior, a instituio em Lisboa de uma Escola de Direito, baseada
na o rientao moderna dos estudos sociaisejurdicos e absolutamente inde-
pendente da Escola de Coimbra
H
.
O facto de o Centro Dem ocrtico Acadmico de Lisboa ter decidido pela
sua no filiao no Partido Republicano Portugus, alegando critrios de
honestidade poltica, na m edida em que se pretende reservar o direito de
livre apreciaoecrtica
12
sintomtico de uma atmosfera onde a unanimi-
dade ideolgicasevai rarefazendo, acaso alguma vez tenha verdadeiramente
existido Isto , se a ideia de repblica como negao da ideia de m onarquia
no est em causa, j se vai tornando mais problemtico reunir um perfeito
consenso quando se colocam na mesa questes que exigem uma
definio rigorosa dos conceitos e uma corajosa assuno dos compromissos
histricos.
2. Implan tado o regime republicano, que perspectivas se abriram para
essa mocidade das escolas to lisonjeada durante os tempos da propaganda
oposicionista? O desencanto manifesto nas pginas dos jornais republica-
nos acadmicos, poucos meses aps a euforia que rodeou a revoluo, tra-
duz a existncia de um crescente desencontro entre os que aspiram a uma
radical transformao das estruturas universitrias e aqueles que, to rnados
sbrios e sisudos pelas novas responsabilidades governativas, fazem a apologia
da m oderao. E nquan to, nas escolas, se reivindica a equidade nas relaes
docente/discente, a par de uma nova metodologia de ensino, enquanto, em
Coimbra, a chamada falange demaggica investe contra os smbolos da
tradio
13
, Antnio Jos de Almeida, na sua funo de ministro do Interior,
10
Natlia Correia recolheu um conjunto fundamental de documentos paraoestudo monogrfico desta
greve, que
se
encontram publicados
no
livro
A Questo Acadmica de1907
(prefcio de Mrio Braga), Lis-
boa, Minotauro, 1962.
11
V.A Revolta Semanrio Republicano Acadmico),
Coimbra,
n .
11,
de 13 de
Fevereiro
de
1909.
12
Ibid., p. 2.Entreosfiliados noCentro Democrtico Acadmico destaca-se Fideino deFigueiredo,
ento estudante
do
Curso Superior de Letras.
13
Com um programa semelhante ao dosintransigentesda greve de 1907 formou-se em Coimbra, no al-
vorecer da Repblica, um grupo acadmico, de 'renovao democrtica', que, a si prprio se denominando de
falange demaggica,
investiu, em 17 de Outubro, a tiro de cacete, as
doutrinas
e a decorao da
Salado sC a-
pelOS,chegando at
a
perfurar, bala, algumas das efgies que ali formam, ainda hoje, a galeria histrica dos
monarcas portugueses. (V.A .Jos de Almeida, Quarenta Anos de Vida Literria e Poltica, vol. III,p .84). 74 7
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declara em plena Assemb leia Constituinte que Qu em praticou actos d ignos
de castigo h-de ser castigado, porque preciso que a ordem se
implante, de uma vez pra sempre, em Portugal
14
.
Frustrado o radicalismo juvenil perante o evoluir dos acontecimentos e
dos actores histricos, iludidas as expectativas numa Repblica afeioada
aos mais nobres ideiais de incorruptvel intransigncia poltica, de generosa
justia so cial, de coerente cumprimento das suas promessas, adiada, enfim,
a concretizao da U topia, so encetados outros cam inhos, alinhadas outras
tendncias. Um pouco por todo o lado trabalha-se, de novo, na reorganiza-
o do movimento associativo, planejando-se o relanamento da Federao
Acadmica de Lisboa.
Em 1913, aps um movimento iniciado em Maro pela Associao Aca-
dmica do Instituto Superior do Comrcio, logo secundado pelas associa-
es A cadmicas das Faculdades de Letras e Cincias, da Escola de M edici-
na Veterinria e d os Institutos Superiores Tcnico e de Agronom ia, fundada
a to almejada Federao Acadmica de Lisboa
I5
. Dois anos mais tarde,
em Maro de 1915, publica-se o primeiro nmero da
Revista da Federao
Acadmica de Lisboa, precioso documento para o estudo do clima ideo lgico
no meio estudantil, cinco anos volvidos sobre o 5 de Outubro e em plena
ditadura de Pimen ta de C astro.
Principiemos por indicar a lista dos colaboradores: pelos professores, o
reitor da Universidade de Lisboa, Almeida Lima; o futuro dirigente da Cru-
zada Nun'lvares, professor e director da Escola Colonial, Anselmo
Braamcamp Freire; o futuro dirigente do Centro Catlico, professor no Ins-
tituto Superior do Comrcio, Antnio Lino Neto; e, ainda, Belo Morais, da
Faculdade de Medicina, Silva Teles, da Faculdade de Letras, J. Antunes
Pinto, director da Escola de Medicina Veterinria, Ernesto de Vasconcelos,
da Escola Colonial, Francisco da Veiga Beiro, do Instituto Superior do
Comrcio, entre outros
16
. Em representao dos estudantes colaboravam:
M oses B ensabat Am zalak, que vir a distinguir-se com o dirigente da Associa-
o Comercial de Lisboa e da U nio d os Interesses Eco nm icos; Francisco de
Almeida Carmo e Cunha, A. Morais Sarmento, Joaquim Jos de Barros,
Jos dos Santos e Silva e Maurcio Monteiro.
Os propsitos daRevista, que pretendem ser idnticos aos prop sitos da
Federao de que porta-voz, so enunciados no artigo de apresentao.
Depois de se declarar que em torno da bandeira da Federao Acadmica,
smb olo da obra de confraternizao e progresso que se prope efectivar,
se enfileiram,
omo
soldados do Bem e do Dever, todos os estudantes,
prontos a defenderem os seus interesses, que so os interesses da Ptria,
abordado o p lano de realizaes que a
Revista
pensa levar a cabo:
Propondo-se realizar uma obra verdadeira e acentuadamente patri-
tica, esforar-se- por inserir artigos em que se abordem e discutam prin-
1 4
Antnio Jos de Almeida,
Q uarenta Anos de V ida Literria e Poltica,
vol III, p. 77.
15
A ideia de congregar o s principais dirigentes estudantis num Congresso que servisse de po nto de partida
para um novo alento do movimento associativo tinha j sido ventilada em 1890 e, posteriormente, em 1909,
desta feita por sugesto do Centro D emocrtico Acadm ico de Lisboa. Em ambos os ca sos, a prioridade con-
cedida actividade poltica n o seio da oposio republicana desmobiliza os esforos conducentes efectivao
do congresso.
1 6
Pod emo s ainda acrescentar os nom es de Cincinato da Costa, professor no Instituto Superior de Agro-
nomia; Jos Eugnio Dias Ferreira, professor no Instituto Superior do Comrcio; Pedro Jos da Cunha, di-
rector da Faculdade de Cincias; Fernandes da Cruz, professor na Escola Superior de Farmcia, e Joaquim
74 8
Rasteiro, professor no Instituto Superior de Agrono mia.
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cipalmente assuntos de interesse nac ional, desde a mais simples comemo-
rao histrica que recorde passadas glrias at aos mais complexos e
autorizados projectos de comrcio, de indstria, de agricultura, de finan-
as, de colnias, de instruo e educao que possam directamente
concorrer pa ra o renascimento portugus, fazendo ingressar a N ao no
movimento moderno, de que anda, infelizmente, to afastada
17
.
A vocao da academia para os altos voos da histria surge-nos, agora,
alicerada nos valores P rogresso, Dever, R enascimento e Ptria . Poder-se-
objectar que foi em nome do Progressoepara o Renascimento da Ptria que
se difundiu o ideal da Repblica. Nada mais exacto. Simplesmente, antes de
1910 foi o valor mximo Repblica que a academia, com toda a carga de
religiosidade e utopismo que caracteriza os grandes impulsos colectivos,
orientou a sua aco. Ulteriormente, tanto em 1915 como em 1918 e, mais
tard e, em 1926, um vasto sector da juventude, que aindasereclama do repu-
blicanismo, tende a apostar numa reviso das formas que configuram o regi-
me republicano. Neste sentido, muitos apoiam o professor Lino Neto quando
este escreve, na Revistada ederaoAcadmicadeLisboa,que a unidade
da Ptria est enfraquecida. Todos os partidos polticos dos ltimos 85
anos,
alm de outros factores de secundria importncia, fizeram dela o que
quer que seja de triste e de confrangedor
18
. Uns poucos, noutro quadrante
ideolgico, escutam o pedagogo A ntnio Srgio, lem as suas palavras:
Cumpre mocidade estudar e discutir as questes vitais do seu pas,
mas de maneira alguma imiscuir-se nas brigas partidrias; o seu dever
exprimir,
acima dos partidos
(de
todos
eles) o verdadeiro protesto da
Nao [...]
19
Outros h , porm, qu e, teimosamente fiis ao iderio que lhes foi legado
pelos seus antecessores, acorrem sempre que vem perigar o sistema republi-
cano liberal e parlamentar.
3. Em Abril de 1918, uma comisso de alunos da Universidade de Lis-
boa convida a mocidade republicana das escolasetoda a mocidade republi-
cana, seja qual for o ramo de actividade a que se dedique, a comparecer
num a reunio que ter por finalidade a fundao de uma Liga Republicana
onde se possam congraar todos os republicanos da nova gerao, com ou
sem filiao partidria
20
. A inteno de ilibar esta iniciativa de possveis
acusaes de sectarismo partidrio transparece no cuidado com que se esta-
belecem os contactos. G rupos de estudantes dialogam com Brito C amacho,
17
V . Revista da Federao Acadmica de Lisboa, n. 1, M aro de 1915, pp . 1-2.
18
A. L ino
Neto ,
in
Revista da Federao Acadmica de Lisboa,
n . 1 , p . 10.
1 9
A . Srgio, in Pela Grei, n . 3 , de Julho de 1918, p . 188.
2 0
V. A moc idaderepublicana , inO Mundo de 24 de Abril de
1918,
p . 1 ; a props i to da
reorganizao
do sj ovensrepublicanos,p odem os ler no jorna lO Mundo de 29 de Abril de 1918, na sua primeira pgin a, as
seguintesi n fo rmaes :
H
mu i to que a ide ia generosa e a l ta do cent ro repu bl icano
acadmico ,o n d e ,
sem distin o de
par t i-
dos ,
se juntassem todo s osrepublicanosd asescolas,and ava na a lma daacad emia . J depois da implanta-
o da Repbl ica tm sido fundados, com um maior ou menor xito, na Universidade de Coimbra
centrosrep ubl icanos acadmicos, a lguns de na tureza par t id r ia , out ros simplesmenterepublicanos. E m
Lisb o a , depois da revoluo de 14 deMaio , tentou-se na academia a fundao du m cent ro republicano . 74 9
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com um elemento do Directrio do Partido Democrtico e com um m embro
da Junta Central do Partido Evolucionista.
Enquanto nacapital seprocede soperaes delanamento daLiga
Nacional daMocidade Republicana, emCoimbra, os jovens republicanos
agitam-se
em
torno
da
construo
do seu
Bloco Acadmico Republicano;
por seu turn o, no Porto avana-se com aorganizao do respectivo Grmio
Acadmico Republicano. Mais uma vez
a
Repblica
se
socorre
do
aval
da
juventude para demonstrar aos incrdulosajusteza das suas razes.
A conjuntura politica de 1918 no ,contudo, propiciaauma reedio
das jornadas gloriosas de 1890. No s contra a policia de Sidnio Pais ea
crescente arrogncia dosmonrquicos detodososmatizes que se tem de
lutar. Divergncias profundas, ede longa data, fraccionam a famlia repu-
blicana, provocando inevitveis divrcios. Um escasso ms aps aprimeira
convocatria para os trabalhos preparatrios da organizao da Ligaj
Nbrega Quintal, chefe de gabinetedeAntnio Jos de Almeidaeum dos
principais impulsionadores deste projecto, declarava:
A princpio pretendeu-se-lhe dar um carcter abstractamente republi-
cano,
isto,onde se olhasse o
facto de o
ser,e no
maneirade o ser.
Assim entrariam nela estudantes afectos actual situao. Desdeapri-
meira ho ra que me opusa tal programa. Uma LigadaMocidade Repu-
blicananopoderia, j no digo pactuar, mas transigir sequer coma
Repblica que para ai est, uma Repblica vazia de sentido republicano
21
.
De depurao em depurao, o processo construtivo da Liga caracteriza-
-se por uma acentuada morosidade
22
; en tretanto , as camadas intransigente-
mente conservadoras e nacionalistas do republicanismo agitam opendode
Nuno lvares Pereira, aliciando grande parte
dos
estudantes afectos
actual situao, de que falava Nbrega Quintal
23
.
Superadoo interldio sidonista,a actividade das ligas, blocos e grmios
acadmicos republicanos logo se esbate num remoer narcisista da mais
recente proeza das suas hosteso com bate do Batalho Acadmico nas fal-
das de Monsanto. Masoevoluir dos acontecimentos histricos no se com-
padece com as pequenas distraces humanas. Cnscios desta verdade esto
os jovens que,
no
dealbar
de
1924, se propem ressuscitar, em novos mol-
des,
aUnioda Mocidade Republicana. Rodrigues Miguis, presidentedo
movimento, lana um alerta, traa um programa, aponta uma outra rota:
Responsabilidades bem graves, bem duras, pesam sobre os novos de hoje.
As geraes passadas agitaram luz do ideal ardente a bandeira vermelha da
revolta; abriram para os ventos desordenados que ento sopravam sobreas
frmulas polticas em decadncia e runa as suas palavras com o fogo e lava.
Mas passadas
as
horas
da
luta, horas
de
perigo incerto, horas
de
febre
eles,
que no haviam cultivado mais do queosentimento republicano, sem
cuidarem talvez, que acima desse mister que vibre ainteligncia construtora
das dem ocracias, viram-se a braos com as maiores dificuldades e no pude-
ram, ainda queo desejassem, conjurar osperigosedestruir oserros. [...]
2 1
V.
OMundo
de 26de Maiode 1918,p . 1.
2 2
Em Agostode1918 ainda decorrea discussodoprogramadaLiga;a publ icao do jorn alA Moci-
dade, efmero porta-voz da Liga Nacional da Mocidade Republicana, efectua-se somente emOutubro do
mesmo ano enele colabo ram os principais dirigentesda Liga: Nbrega Quintal , Joo Camoesas ,etc.
750
2 3
Referimo-nos, obviamente, Cruzada Nun lvares Pereira, fundada em 18 de Julho de 1918.
-
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9/14
Lanadas, em Por tugal, as bases do regime republicano [...] falta-nos, como
escreve um grande esprito da nossa terra, criar umalitepoltica e cientfica
com fora bastante para enquadrar a massa e torn-la digna, finalmente, da
gloriosa histria dos seus avs. Eis, nessas palavras, realmente desenhada a
face poltica da questo portuguesa. perante este problema fundamental
criao das
lites
polticas e pensantes
que a mocidade portuguesa tem
de agir e reag ir
24
.
4. tempo, talvez, de nos questionarmos sobre a real dimenso e pro-
jeco de todos estes grupos sados dessa vaga e abstracta mocidade das
escolas para quem um dia Guerra Junqueiro apelou. tempo de tentarmos
averiguar at que ponto o movimento estudantil, durante o tempo que me-
deia entre o apogeu e a queda de uma certa ideia de realizar a Repblica, no
sofreu as consequncias do forte partidarismo da juven tude
r
radicalizada em
integralismos mais ou menos ortodoxos, em conservadorismos neo-sidonis-
tas ou cruzadistas, em republicanismos de feio jacobina ou socializante e,
na transio da dcada de 20 para a dcada de 30, no marxismo-leninismo
do reorganizado Partido Comunista Portugus.
A resposta nossa primeira interrogao no fcil, se nos quisermos
estribar em dados estatsticos, dada a escassez de elementos desta natureza
de que dispom os. Desconhecemos as listas de adeses e s muito esporadica-
mente as detectamos com um ou outro nmero veiculado pela imprensa
afecta s organizaes
25
. Um dos principais objectivos, desde sempre, dos
centros e ligas acadmicos consistiu na prom oo de conferncias, por vezes
na realizao de comcios; tambm aqui nos surgem hesitaes, quando pro-
curamos medir o alcance da palavra dos oradores atravs duma impossvel
contabilizao dos participantes. E j nem sequer falamos da ignorncia que
temos da tiragem dos poucos jornais republicanos acadmicos que conse-
guem sobreviver ao herosmo do primeiro exem plar...
Certo que a capacidade de expanso de uma ideia se no pode aquilatar
unicamente pelo nmero inicial dos seus apstolos e seguidores, mas antes
pela sua maior ou menor adequao s necessidades dos grupos sociais a
quem se dirige e ainda quando demonstra saber enfrentar os grandes cam-
pees das tendncias opostas, quando resolve com os prprios meios as
questes vitais que eles puseram, ou demonstra peremptoriamente que tais
questes so falsos problemas
26
. Parece-nos que de 1880-90 at 1910, com
todos os fluxos e refluxos inerentes a qualquer processo histrico, a difuso
do corpo doutrinrio e ideolgico republicano contou com a participao de
um substancial contingentede jovens estudantes, sobretudo dos cursos supe-
riores. A sua incluso na estratgia dos dirigentes do Partido Republicano
Portugus decorre no s de uma mticaemstica imagem da m ocidade das
escoias, mas talvez essencialmente da verificao da existncia de uma
dinmica
suigeneris
no meio acadmico, consequncia, em pa rte, dos condi-
cionalismos especficos a esse meio.
Aps 1910, a correlao de foras no meio acadmico sofre uma conside-
rvel alterao. Os testemunhos que nos chegaram do conta de um inquie-
24
V. Jos Rodrigues Miguis, Unio da mocidade republica na, inSeara Nova, n. 32, de 1 de Maro
de 1924.
25
Por exemplo, o jornalO Mundo de 26 de Maio de 1918 noticiaaadeso de 300 joven sLiga Nacional
da Mocidade Republicana.
2 6
A .
Gramsci, Os intelectuais,
inObras Escolhidas,
vol.
I,
Lisboa, Estampa, 1974,
p .
188.
75 1
-
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tante acrscimo de desinteresse e apatia pela
res
publica;se esses testemu-
nhos provm do sector republicano, predomina o espanto ocasionado pela
eficcia revelada pelos monrquicos integralistas em captar para a sua mun-
dividncia grande parte da juventude. Quando, em 1918 e nos primeiros
meses de 1919, quando at em 1926 e, com particular incidncia, nos anos
imediatamente posteriores a esta data ,seglorifica de novo o esprito generoso
e idealista da mocidade das escolas republicana, julgamos assistir a um
acto de exorcismo, que s provisria e superficialmente actua sobre as som-
bras que se pretende esconjurar. No entreacto tentam-se explicaes, apon-
tam-se solues. De um modo geral, existe a convico de que a principal
causa do desinteresse da juventude pelos princpios democrticos advm do
carcter conservador ou mesmo reaccionrio do corpo docente das vrias
escolas secundrias e superiores do Pas. No sentido de eliminar o efeito,
tomam-se medidas contra a suposta causa, decretando-se a fiscalizao do
grau de republicanismo dos professores contratados pelo Estado , facto que
sempre suscitou o desagrado da instituio universitria, ciosa das suas prer-
rogativas autonm icas, concedidas precisamente pela R epblica
27
.
H quem, no entanto, no concorde com a pertinncia dos argumentos
que atribuem educao a fonte do insucesso republicano, recordando que
nos tempos da Monarquia se formou uma juventude revolucionria dentro
dum sistema caduco de ensino. H mesmo quem considere que a dilucidao
do problema passa pelo uso de ou tros pressupostos tericos:
[...] a gerao que anda agora nas escolas no representa o Povo por-
tugus. Com poucas excepes, apenas confirmantes da regra, os rapazes
da academia pertencem s classes dom inadoras da sociedade portuguesa.
Os pobres, os filhos do Povo, no passam da instruo primria, blo-
queados pelo preo das propinas e dos livros. J era assim no meu tempo.
Mas, no meu tempo, a classe a que eu e os meus condiscpulos pertenca-
mos estava solidamente instalada no Poder. Podamos ns, os moos,
permitir-nos idealismos avanados, que a vida e o interesse pessoal mais
tarde quase sempre esbatiam, sem que mal de maior viesse ao mundo.
[...] Mas agora... Agora que a tormenta anda no cu, o plcido lago
antigo tem onda, cria torvelinhos e sacode por si prprio o batel dos nos-
sos privilgios. Como ao ou tro que diz: a coisa no est para brincadei-
ras.. .
E os rapazes sentem que,seno defenderem com cuidado a lancha,
arriscam-se a ter de nadar. [...] este o aspecto espiritual da nossa moci-
dade.
Uma agonia de classe que ingenuamente se amarra a princpios de
reaco
28
.
Quanto s condicionantes e limites do movimento estudantil, julgamos
no errar ao considerar que eles esto intimamente ligados ambincia pol-
tica envolvente do meio acadmico. Mas no s. Factores de ndole especfica
so poderosos
1
agentes no processo evolutivo de uma dada estrutura.
O desenvolvimento do associativismo, sobretudo do associativismo federativo,
27
Dois exemplos:
a
luta levada
a
efeito,
em
1919, pela Federao A cadmica de Lisboa contra
o
prop-
sito de
o
Governo e o Parlam ento intervirem na vida e na orgnica universitria, atravs
da
fiscalizao da exe-
cuo
das
suas leis
e da
escolha
e
nomeao
do
professorado
e
reitores;
em
1926,
e
durante largos meses,
as
trs academias esto em greve, entre outros motivos,
po r
discordarem
de um
decreto que torn a
a
contratao
de professores dependente
de
factores
de
ordem poltica.
752
28
Amncio
de
Alpoim,
A
mocidade
das
escolas,
in
O Povo,
n. 8, de 9 de
Maro
de
1928,
p . L
-
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depende de circunstncias vrias, que vo desde o distanciamento espa-
cial entre as diversas escolas, institutos e faculdades, passando pelo desnive-
lamento social, que conduziu, no raras vezes, a uma hostilidade latente
entre, por exemplo, alunos do Instituto Superior Tcnico e alunos dos Insti-
tutos Indu striais
29
, at inexistncia de uma m entalidade propiciadora dos
gestos colectivos.
O impulso que, em
1913,
produziu a Federao Acadmica de Lisboa foi
esmorecendo lentamente, apesar dos peridicos sobressaltos suscitados por
alegadas violaes dos direitos estudantis. Os dois nmeros da Revista da
ederaoAcadmicadeLisboa atestam bem a pouca consistncia da estru-
tura federativa, sobrevivendo custa do entusiasmo de meia dzia de boas
vontades. Como todas as regras tm as suas excepes, a Associao Acad-
mica do Porto oferece, talvez por razes de ordem sociolgica, um panorama
relativamente menos sombrio, em especial durante a dcada de 20, tendo
conseguido manter de 1922 a 1929 a publicao regular do jornal
Porto
Acadmico.
Jornal que, no entanto, no deixa de nos transmitir, em Ja-
neiro de 1929, uma toad a de profundo desencanto:
A falta de pensamento e de aco, j no digo da academia do Po rto ,
mas da actual gerao acadmica portuguesa, tem sido um facto to real,
to patente, que se impe, com fora de evidncia, nossa sensibilidade.
[...] A quase totalidade da massa acadmica encontra-se ainda hoje do-
minada por um preconceito deplorvel. Entende ela que a vida de estu-
dan te, para alm do tempo ordinrio que o seu curso lhe exige, deve ser
completamente esgotada pela blague,pela faccia, alheada por completo
dos problemas graves que afectam a N acionalidade
31
.
Escassos meses aps terem sido escritas estas palavras, a fora de novos
acontecimentos provocar o agitar das vontades adormecidas.
5. Uma das primeiras manifestaes de inconformidade oriunda da ju-
ventude republicana, perante o evoluir do processo poltico desencadeado na
Primavera de 1926, surgiu paradoxalmente adentro do tradicional bastio
do conservantismo nacional. Pouco mais de um ms volvido sobre a fracas-
sada tentativa de restituir ao Pas a legalidade institucional, precisamente em
9 de Abril de 1927, um grupo de rapazes republicanos de Coimbra, mais ou
menos dispersos e confundidos no seio dum grmio de estudantes de famareaccionria, resolveram desfazer esse equvoco e definir, num momento no-
toriamente difcil da vida nacional, que coisa o seu republicanismo e em
que princpios basilares se sustenta uma conscincia cvica de que se
ufanam
32
.
Liderando a iniciativa, quatro nomes sonantes do Centro Republicano
Acadmico de Coimbra: Carlos Cal Brando, Paulo Quintela, Slvio de
2 9
Ou tra das causas da greve de 1926 residiu nacontestaom ovida pelos es tudantes do Ins t i tuto
Supe-
rior
Tcnico de Lisboa e da Faculdade Tcnica do P ort o contra a
atribuio
d o t tulo de
engenheiro-auxiliar
ao s forma dos pelos ins t i tutos industr ias , a legando que es tes se pretendiam confu ndir com os l icenciados pelos
insti tutos
super iores . . .
3 0
O primeiro nm ero define o jornal como sendo um Q uinzenrio de Estudan tes da Univers idade do
P o r t o ;
a part i r de Novem bro de 1923 o
Porto Acadmico
passa a considerar-se rg o da Associao dos
Estudantes d o
P o r t o .
3 1
Augus to Sara iva , Com eando , in Porto Acadmico de 26 de Jan eiro de 1926, p. 1.
3 2
V .
Gente Nova,
n. 1, de 9 de Abril de 1927, p . 1.
75 3
-
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Lima e um jovem a quem muitos auguram uma brilhante carreira literria,
Vitorino Nemsio. Entre a lista de eventuais colaboradores destacam-se Ro-
drigues Miguis e Antnio Srgio, este ltimo j exilado em Paris, de onde
envia alguns artigos para o jornalGenteN ova
33
.
Paralelamente ao relanamento das actividades do Centro Republicano
Acadmico de Coimbra, procura-se dinamizar a Associao Acadmica,
partindo esta diligncia de um grupo de estudantes que se pretende acima de
querelas partidrias ou religiosas. Desde modo, o jornal Mocidade,editado
pela Associao Acadm ica
34
, apresenta-se aos seus potenciais leitores como
um exemplo de imparcialidade, iseno de paixes, ideias claras e desem-
poeiradas, crtica acerada dos que com culpa prevaricam, perdo pleno para
os pobres de espirito, vigor no ataque e lealdade na defesa
35
.
Os tempos, con tudo , no corriam de feio para pretensos apoliticismos.
Agudiza-se o combate ideolgico entre os jovens integralistas de Coimbra,
que se expressam atravs do peridico A Ideia N ova,e os jovens republica-
nos do Centro Acadmico, que no se abstm de lanar contra os seus cole-
gas monrquicos graves acusaes de vandalismo
36
.
Nos primrdios de 1928
37
, e enquanto uma assembleia geral reunida em
22 de Janeiro aprova o novo Estatuto Poltico do Centro Republicano Aca-
dmico de Coim bra, reactiva-se o Centro Acadmico Republicano do Po rto ,
que publica o primeiro nmero do seu jorna l, o Dem ocracia,no dia do ani-
versrio do31de Janeiro de1891,data que os republicanos passam a come-
morar com redobrada emoo. Subtis diferenas de pressupostos tericos e
de objectivos polticos podem ser detectados nesta fase da vida dos dois Cen-
tros.
Enquanto o Centro Republicano Acadmico de Coimbra se define,
prioritariamente, como um grmio de aco e cultura poltica, orientado
para a defesa dos princpios da Repblica democrtica, e preconiza o mais
rasgado esprito de reforma no regime da propriedade e do trabalho , no sen-
tido de tornar aquela acessvel ao maior nmero e este produtivoeliberto da
tendncia da mo-de-obra para o menor esforo
38
, elementos do Centro
Acadmico Republicano do Porto organizam o Comit Acadmico O perrio
do P orto, cujo escopo consiste em desenvolver uma forte p ropaganda contra
o analfabetismo, alcoolismo, integralismo, fascismo, clericalismo, e em
defesa da organizao operria
39
.
3 3
O
jo rna l Gente Nova, rgo
d o
Centro Republicano Acadmico
de
Coimbra , publ ica-se , pela
pr i -
meira vez,
n o dia 9 de
Abri l
d e
1927.
O
l t imo exemplar
por ns
recenseado da ta
de 30 de
Abri l
d e
1928
e tem
como director Vitorino Nemsio.
3 4
O jo rna l
Mocidade,
d eC o i m b r a , t e m p o r director Jos d e Matos Brs e por secretrio d a redaco
Carlos Telo
de
Cas t ro .
3 5
V .
Mocidade,
n . 1 ,
C o i m b r a ,
de 12 de
Ma io
de 1927, p . 1.
3 6
V .
Demagog ia b ranca ,
in
Gente Nova,
n . 1 ,
C o i m b r a ,
de 9 de
Abri l
d e 1927, p . 6.
3 7
O ano de1928foiass inaladop o r u mcon jun to d e medidas governamentais extremamente impopulares
j u n t o
d a
camada es tudant i l , fac to
que, por s i s,
ter contr ibudo para
u m a
maior consciencializao
do ca-
rcter prepotente
d a
Ditadura Mil i tar .
A
inteno, consagrada
em
decre to datado
de 12 de
Abri l
d e
1928,
d e
extinguir asFaculdades d eDire i to d eLisboa, d eLetras d o P o r t o e d eFa rmc ia d eC o i m b r a , b e mc o m o a Es-
cola Normal Superior
d a
Univers idade
d e
C o i m b r a
e as
Escolas Normais Primrias
d e
Co imbra , Braga
e
Ponta De lgada
(e
a inda
o
liceu
d a
Hor ta ) , p rovocou
u m
surto grevista
n as
t rs academias .
3 8
V .
Es ta tuto Pol t ico
d o
Centro Republicano Acadmico
d e
Co imbra , pub l i cado
n o
jo rna l Gente N ova
de 19 de Fevereiro de 1928 (n. 10, pp . 1 e 6) e de 26 de Fevereiro de 1928 (n. 1 1, p . 3) .
3 9
V .A Notcia de 15 deJ u n h o d e 1928,p . 4 . Na primeira reunio des te Comit foram nomeados o sseus
corpos gerentes , compostos
p o r
t rs es tudantes
e
t rs operrios . Horcio Cunha, chefe
d e
redaco
d o
Demo-
cracia,
fo i
eeito presidente; Alexandre Pinto, secretrio
d o
mes mo jo rna l ,
fo i
escolhido para secre trio adm i-
754 nis t ra t ivo
d o
Comit Acadmico Operrio
d o
P o r t o .
-
7/24/2019 Estudantes republicanos
13/14
En tretan to, e a fim de tornar mais eficienteeproveitosa a aco dos cen-
tros acadmicos, trabalha-se no sentido de conjugar esforos, coordenando
iniciativas que contribuam para viabilizar um futuro social que nos honre e
do qual sejamos dignos, como declara Emidio G uerreiro, em nome do Cen-
tro Acadmico Republicano do Porto, a Vitorino Nemsio, presidente do
Centro Republicano Acadmico de Coimbra; futuro que, reconhece-se,
passa pela preparao de uma verdadeira revoluo
40
.
Os estudantes republicanos da academia de Lisboa no podiam, obvia-
mente, marginalizar-se deste renascimento de velhas prticas e estratgias.
Em Dezembro de 1927,ecom grande regozijo da imprensa afecta ao P artido
Democrtico, Esquerda Democrtica e ao Partido Socialista, a Liga dos
Estudantes Republicanos de Lisboa participa nas manifestaes do dia da
Restaurao, que se pretendem grandiosas e politicamente significativas.
O relativo insucesso que rodeia este acontecimento no faz desmobilizar a
jovem vanguarda da oposio republicana Ditadura Militar. Assim, em
Maio de 1928 posto venda aquele que vir a ser o mais importante e
expressivo jornal da academia republicana, o
Liberdade.
Uma das facetas mais significativas dos primeiros anos post-28 de Maio
reside no s no relevo de novo concedido, pela oposio republicana, ao
papel que a propaganda politica e ideolgica deve desempenhar no seu com-
bate pelo derrube da Ditaduraedos grupos sociais que sustentam, mas, e so-
bretudo, no contedo da mensagem veiculada por essa propaganda. Diga-
mos que, genericamente, a estratgia dos diversos sectores oposicionistas
exige a movimentao de trs importantes peas: a manobra politica tendente
a desagregar a mal cimentada faco da classe dominante que se encontra
instalada no poder; a revolta armada, englobando militares democrticos e
civis;e o ap ostolado , atravs da imprensa e dos centros e ligas republicanos,
dos princpios do liberalismo e da democracia representativa, herdados das
geraes mais progressivas do sculo anterior. Apostolado que , essencial-
men te, antimonrquico e anticlerical.
O jornalLiberdade4
1
,entre outras virtudes, tem a de ser um paradigma.
Por sintetizar, de 1928 a 1932
42
, uma m aneira de ser e de se conceber
43
. Por
4 0
V .
O Povo
de 14 de Maro de 1928, p. 2.
4 1
Publica-se pela primeira vez em 27 de Ma io de 1928, tend o com o director e editor Virglio M arinh a de
Campos
e como redactor Jo o C arlos Nordeste . Antnio Jos de Almeida foi convidado para redigir o pr i -
meiro editorial , no qual diz, a dada altura:
Encon t ramo-nos
envolvidos num lance calamitoso, e que o sobretudo pela confuso das ideias e
pela conturbao dos sentimentos. [ . . .] Como sair dele? S h um processo: disciplinar o pensamento
pol t ico p or tugus .
4 2
OLiberdade reflecte uma interessan te evoluo ideolgica dos seus colabo rado res. Num a fase inicial ,
de
1928 a 1930, a tnica colocada na apo logia da obra realizada pela Repblica, con trap ond o a esta obra be-
nfica a aco perniciosa dos monrquicos e dos jesutas. Numa segunda fase, de 1930 at finais de 1932,
comea a ser dada uma particular ateno s relaes entre o operariado e a Repblica. Por fim, de 1933 a
1935,
o
Liberdade
adquire uma fe io progressivamente marxista , predominan do a aspi rao de levar a toda
a parte on de se sofre, ond e se vive inconscientemen te, a nossa palavra entusias ta, pro pag and ean do o credo no -
bi l ssimo da em ancipao hum ana , como declara Virgl io Marinh a de Cam pos no n. 189, de 12 de Janei ro
de
1933, o pr imeiro que ostenta a designao de Semanrio Repub l icano de Esqu erda.
4 3
Q u a n d o a Liberdade apareceu, foi acusada de avanada e de revolucionria. [ . . .] Pois agora h
quem a acuse de conservadora e reaccionria. certo que ainda no defendeu a supresso do capital , nem a
diviso das terras pelos seus leitores. Mas, enfim, tem defendido a Repblica, a Liberdade, a Democracia, o
Livre-Pensamento, o Estado la ico, o aprovei tamento obr iga tr io da prop riedade rstica ou a sua a l ienao,
um a
m ais equitativa remun erao do traba lho e os seguros sociais e tem co mb atido a reaco polt ica, o cleri-
ca l i smo,
a sup erstio, a guerra, a iniquidade de certas desigualdades econmica s, o retrocesso no pensa men to 75 5
-
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congregar, lado a lado e em ideal camaradagem, velhos e novos republica-
nos, irmanados na convico de que, enquanto a academia e a Repblica se
derem as mos, a Ptria no morrer. Por, finalmente, assumindo-se em-
bora como jornal acadmico republicano, ter privilegiado a luta pela Re-
pblica, secundarizando a existncia da academia, excepto quando esta se
torna elemento indispensvel do jogo poltico.
Quando, no incio do ano lectivo de 1930-31, as eleies nas trs associa-
es acadmicas do Pas so ganhas por estudantes republicanos, pensa-se
que uma irresistvel onda de esprito democrtico est em formao nas pro-
fundezas do descontentamento popular. Quando, entre Abril e Maio de
1931,
se agitam bandeiras vermelhas nas faculdades
44
, olhos postos no
exemplo oriundo da Madeira
45
, coraes alvoraados pelas notcias trazidas
de Espanha
46
, acredita-se que um retorno rpido Repblica liberal e parla-
mentar pertence ao universo dos possveis. Quando, por fim, a derrota das
iluses se abate sobre a academia, um pouco como se um tempo que teimava
em no passar acabasse por morrer. Quanto ao futuro... ele ir estar nas
mos de outras vanguardas, portadoras de outras concepes do mundo, de
outras formas de actuar, quer na academia, quer na sociedade.
ou na aco . Cham em-lhe nomes: a
Liberdade
prosseguir. (V.
Liberdade,
n. 22, de 28 de Outu bro de 1928,
p . 1.)
4 4
Sob retud o a partir de 1929, come a a fazer-se notar no meio universitrio a influncia da Juv entu de
Com unista . Sobre es te fenmeno v . J . Arsnio Nunes, Sobre alguns aspectos da evoluo do Par t id o Com u-
nista Portugus aps a reorganizao de 1929 (1931-33), in Anlise Social, n .
o s
67-69, de Julho a Dezembro
de 1981, pp . 719-728.
4 5
A propsito dos acontecimentos de 1931 escutemos o tes temunho de um pro tagonis ta , Vasco da
Gama Fernandes, en to es tudante da Faculdade de Direi to de Lisboa:
Era al ician te e em cheio a minha act iv idade: es tudava como podia, tomava par te em reunies pbli-
cas,
uma delas no Centro Republicano Dr . Antnio Jos de Almeida, sob a presidncia de Nor ton de
Matos [ . . .] conspirava com estranhos e com companheiros da Faculdade [ . . .] empenhados na organiza-
o dum Batalho Acadmico [ . . .] Foi precisamente nessa ocasio que se deu a revolta da Madeira e nos
Aores, com implicaes frustes em Angola e na Guin. Oficiais republicanos, deportados nas ilhas, sob
o comando do impoluto general Sousa Dias, ocuparam as posies estratgicas e aliciaram o entusiasmo
das populaes . D ado que a revoluo no era secundada, com o era de esperar , na metrpole, os rapazes
do Batalho e outros poucos romperam no assalto Faculdade de Direito, invadiram as suas salas, des-
pejaram as carteiras pela janela, f izeram frente a dois ou trs reaccionrios mais decididos e, perseguidos
pela polcia, entrincheiraram-se na Faculdade de Medicina [ . . .] [V. da Gama Fernandes, Depoimento
Inacabado, Lisboa, Publicaes Europa-Am rica, 1974, pp . 29-41.].
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Sobre o papel desempenhado pelos es tudantes no processo que conduziu implantao d a R epblica
em Espanha, em 1931, v. Shlomo Ben-Ami, La rbellion universitaire en Espagne (1927-1931), in Revue
756 d Histoire Moderne et Contemporaine, t. XXVI, Julho -Sete mbro de 1979, pp . 365-390.