estratégias de reabilitação e sustentabilidade
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Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade Caso de estudo: Bairro Alto
Francisco Manuel Coutinho Barros de Figueiredo dos Santos
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Arquitectura
Júri:
Presidente: Prof. Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão
Orientador: Prof. Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes
Vogal: Prof. Doutor Manuel Guilherme Caras Altas Duarte Pinheiro
Maio 2010
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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RESUMO
O tema abordado abrange duas dimensões que, cada vez mais, são vistas como
indissociáveis, sendo elas o caminhar no sentido da sustentabilidade, de maneira a
diminuir os problemas e disfunções ambientais do nosso planeta, e a reabilitação física
e ambiental, neste caso concreto dos bairros históricos, que através da requalificação
dos mesmos e optimização energética do seu edificado, contribui para que se diminua
o impacte ambiental associado ao sector da construção.
Para tal procurou-se perceber a evolução histórica do Bairro Alto e do seu edificado;
compreender o conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável,
percebendo quais os seus objectivos e caminho a percorrer; entender os princípios da
reabilitação ambiental e energética dos edifícios; perceber quais os principais
condicionamentos e problemas do Bairro Alto e seu edificado, com base no
testemunho dos seus principais utilizadores, de maneira a serem definidas estratégias
gerais de reabilitação e sustentabilidade para este bairro, que visem a sua
requalificação ambiental.
Palavras-Chave:
Bairro Alto, Sustentabilidade, Reabilitação Urbana, Arquitectura Bioclimática.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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ABSTRACT
This theme covers two dimensions, which should be considered as inseperable
nowadays. These dimensions are the path towards sustainability in order to reduce the
environmental problems existing in our planet, and urban renewal, in this case of the
historical districts, that through urban and building renewal based on energy saving
design strategies, contributes to reduce the environmental impact of the construction
sector.
For this purpose a research was developed on the historical evolution of Bairro Alto,
the concept of sustainability and sustainable development and the main design
strategies oforf environmental and energy building renewal. A survey was also carried
out, aiming at identifying the main constraints and problems of Bairro Alto, based on
the testimonies of its users, in order to define overall strategies of rehabilitation and
sustainability.
Key-Words:
Bairro Alto, Sustainability, Urban Renewal, Bioclimatic Architecture.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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ÍNDICE
LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... 6
LISTA DE ANEXOS ........................................................................................................ 8
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9
1. BAIRRO ALTO ....................................................................................................... 11
1.1. Contexto ........................................................................................................... 11
1.2. Evolução histórica ............................................................................................ 13
1.3. O Quarteirão e Edifício Tipo do Bairro Alto ...................................................... 19
1.3. Sustentabilidade do Bairro Alto ........................................................................ 26
2. SUSTENTABILIDADE E REABILITAÇÃO .............................................................. 30
2.1. Sustentabilidade – Conceitos e objectivos ....................................................... 30
2.2 Sustentabilidade na construção ........................................................................ 35
2.3. Reabilitação Urbana como caminho para a sustentabilidade ........................... 36
2.4. Sustentabilidade em centros históricos ............................................................ 39
2.4.1. Barcelona ...................................................................................................... 39
2.4.2. Oslo ............................................................................................................... 40
2.4.3. Freiburg ......................................................................................................... 41
2.4.4. Madrid ............................................................................................................ 43
2.4.5. Guimarães ..................................................................................................... 44
3. ARQUITECTURA BIOCLIMÁTICA – ESTRATÉGIAS DE PROJECTO ................. 46
3.1. Arquitectura bioclimática .................................................................................. 46
3.2. Estratégias de design passivo para o clima de Lisboa ..................................... 49
3.3. Estratégias activas: sistemas de energia renovável ......................................... 58
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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4. TRABALHO DE CAMPO ........................................................................................ 62
4.1. Objectivos ......................................................................................................... 62
4.2. Metodologia ...................................................................................................... 63
4.3. Análise dos Resultados .................................................................................... 67
4.3.1. Moradores e Comerciantes ........................................................................... 67
4.3.1.1. Questões Ambientais ................................................................................. 67
4.3.1.2. Aspectos Construtivos ................................................................................ 90
4.3.1.3. Acessibilidade e Mobilidade ..................................................................... 102
4.3.1.4. Aspectos sociais ....................................................................................... 109
4.3.2. Frequentadores ........................................................................................... 117
4.4. Entrevista à Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica ................................. 120
4.5. Sumário .......................................................................................................... 122
5. RECOMENDAÇÕES DE PROEJCTO ................................................................. 126
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 130
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 132
ANEXOS .................................................................................................................. 136
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Vista aérea do Bairro alto e sua envolvente
Figura 2: Comércio na Rua do Norte e Rua da Atalaia
Figura 3: Rua Luz Soriano; Rua do Século; Rua da Rosa
Figura 4: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no final do século XV
Figura 5: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVI
Figura 6: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no final do século XVI
Figura 7: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVII
Figura 8: Quarteirões tipo do Bairro Alto
Figura 9: Alçado e planta térrea de 2 edifícios do Bairro Alto.
Figura 10: Alçado e plantas de 2 edifícios do Bairro Alto.
Figura 11: Ruão João Pereira da Rosa; Travessa dos Fieis de Deus
Figura 12: Bairro Alto: Edifícios em mau estado de conservação
Figura 13: Travessa do Poço da cidade; Travessa da Espera
Figura 14: Bairro Alto: Vida nocturna e graffiti
Figura 15: Bairro Alto: Falta de estacionamento
Figura 16: Evolução da população mundial no último milénio
Figura 17: Evolução do consumo mundial de energia
Figura 18: Esquema representativo das componentes do desenvolvimento sustentável
Figura 19: Consumos de energia final e energia eléctrica em Portugal
Figura 20: Segmento da reabilitação no sector da construção em 2002
Figura 21: Peso da construção nova no sector da construção em 2004
Figura 22: Apoio do Estado ao sector da habitação entre 1990 e 1999
Figura 23: Centro histórico de Barcelona
Figura 24: Centro histórico de Oslo
Figura 25: Centro histórico de Freiburg
Figura 26: Centro histórico de Madrid
Figura 27: Centro histórico de Guimarães
Figura 28: Exemplos de casas tradicionais portuguesas
Figura 29: Radiação Solar anual média na Europa
Figura 30: Incidência dos raios solares em Lisboa
Figura 31: Incidência média anual da radiação solar em plano vertical
Figura 32: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação
Figura 33: Efeito da radiação solar difusa e directa
Figura 34: Exemplos de sombreamento pelo exterior
Figura 35: Bairro Alto: Exemplos de vãos com sombreamento interior e sem sombreamento
Figura 36: Ventilação simples com uma e duas aberturas
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Figura 37: Ventilação simples e cruzada
Figura 38: Inércia térmica de manhã à tarde e à noite
Figura 39: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com paredes grossas
Figura 40: Paredes trombe
Figura 41: Sistema de colectores com depósito comum e depósitos individuais
Figura 42: Colectores solares instalados na cobertura do edifício Torre Verde
Figura 43: Exemplos de aplicação do sistema fotovoltaico
Figura 44: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação e incidência solar
Figura 45: Rua da Atalaia, 81 e 104
Figura 46: Bairro Alto: Exemplos de elementos em mau estado de conservação
Figura 47: Bairro Alto: Exemplos de mercearias em mau estado de conservação
Figura 48: Bairro Alto: Habitação e comércio
Figura 49: Rua das Gáveas; Travessa da Espera
Figura 50: Rua da Rosa
Figura 51: Bairro Alto: Exemplos de janelas abertas durante o dia
Figura 52: Bairro Alto: Exemplos de portas abertas durante o diia
Figura 53: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com e sem sombreamento exterior
Figura 54: Vista aérea do Bairro Alto
Figura 55: Bairro Alto: Exemplos de pouca incidência solar
Figura 56: Bairro Alto: Rua da Rosa
Figura 57: Bairro Alto: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação
Figura 58: Travessa da Espera; Travessa dos Fieis de Deus
Figura 59: Rua do Grémio Lusitano
Figura 60: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação
Figura 61: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação
Figura 62: Bairro Alto: Exemplo de elementos em mau estado de conservação
Figura 63: Bairro Alto: Transportes públicos
Figura 64: Rua das Gáveas; Rua do Norte
Figura 65: Travessa da Queimada; Travessa do Poço da Cidade
Figura 66: Bairro Alto
Figura 67: Bairro Alto
Figura 68: Rua da Rosa
Figura 69: Rua Luz Soriano; Travessa do Poço da Cidade
Figura 70: Bairro Alto: Vida diurna e nocturna
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LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: Questionário aos moradores do Bairro Alto
ANEXO 2: Questionário aos comerciantes do Bairro Alto
ANEXO 3: Questionário aos frequentadores do Bairro Alto
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INTRODUÇÃO
Esta dissertação centra-se no estudo da sustentabilidade em bairros históricos,
focando a importância de estratégias de projecto que permitam a recuperação
ambiental do seu edificado e sua revitalização.
O objecto de estudo é o Bairro Alto, um bairro histórico e um dos mais característicos
de Lisboa. A tendência para a degradação deste bairro nas últimas décadas, assim
como para o progressivo envelhecimento da sua população e consequente abandono
do parque habitacional, alerta-nos para a necessidade de uma intervenção que dê
resposta a estes problemas.
O caso de estudo escolhido, o Bairro Alto, é um bairro que me cativou e fascinou
desde sempre, sendo esta uma motivação forte para o estudo do tema da
sustentabilidade em bairros históricos.
A Reabilitação Sustentável assume-se como uma necessidade para o Bairro Alto, ao
promover a preservação do legado arquitectónico e histórico que este bairro
representa, proporcionando ao mesmo tempo os padrões de conforto e qualidade de
vida actualmente exigidos. A Reabilitação, quando conjugado com princípios de
Design Passivo, contribui então para que a autenticidade e integridade deste conjunto
seja preservada, ao mesmo tempo que os consumos de energia sejam minimizados,
assim como maximizados o desempenho ambiental de conforto ambiental dos
edifícios.
A necessidade de se caminhar no sentido da reabilitação antes da construção,
principalmente devido ao impacto negativo que a construção de novos edifícios tem
para a delapidação de recursos naturais, assim como para o maior consumo de
energia incorporada e consequente emissão de gases que contribuem para o efeito de
estufa, é uma das principais motivações para a escolha deste tema.
O principais objectivos da presente dissertação são o estudo do Bairro Alto ao nível do
seu funcionamento enquanto espaço urbano e do desempenho ambiental do seu
edificado, e a elaboração de estratégias de reabilitação e sustentabilidade para este
bairro, tendo como base o estudo efectuado. O estudo efectuado pretende dar
resposta às questões que contribuem para a sustentabilidade, sendo esse estudo
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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efectuado com base em questionários efectuados aos utilizadores do Bairro Alto,
sendo assim os próprios a identificar quais os principais problemas deste bairro,
permitindo que sejam elaboradas estratégias de reabilitação directamente
direccionadas para o conforto daqueles que efectivamente o utilizam.
A dissertação está organizada em cinco capítulos. No primeiro capítulo é feita a
contextualização histórica do Bairro Alto na cidade de Lisboa, de maneira a perceber a
sua evolução e suas características, assim como as diferentes tipologias do seu
edificado, sendo seguidamente efectuada uma descrição dos principais problemas do
Bairro Alto no que respeita à sua sustentabilidade.
No segundo capítulo é explicado o conceito de sustentabilidade e seus objectivos,
sendo posteriormente abordado o tema da reabilitação urbana e sua importância na
procura da sustentabilidade das cidades. São descritos, de seguida, exemplos de
boas práticas de reabilitação em centros históricos, nomeadamente os casos de
Barcelona, Oslo, Freiburg, Madrid e Guimarães.
No terceiro capítulo são sintetizados os princípios da arquitectura bioclimática e suas
estratégias de projecto, sendo descritos quais as técnicas aplicáveis no caso do
contexto climático de Lisboa.
O quarto capítulo corresponde à análise do caso de estudo. Primeiro são enunciados
os objectivos e metodologia utilizada, sendo seguidamente descritos os resultados
obtidos. É então explicada neste capítulo o objectivo e estrutura dos questionários
efectuados como base para a análise do caso de estudo, e seguidamente analisados
os resultados obtidos. São analisados em paralelo e comparados os resultados dos
questionários efectuados a moradores e comerciantes, sendo posteriormente
analisados os resultados dos questionários efectuados aos utilizadores. Finalmente é
efectuado uma síntese com os aspectos mais importantes decorrentes da análise
efectuada.
No quinto capítulo são sugeridas possíveis medidas a aplicar na reabilitação do Bairro
Alto e do seu edificado, tendo como base o estudo efectuado no capítulo anterior.
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1. BAIRRO ALTO 1.1. CONTEXTO
O Bairro Alto é um dos bairros históricos mais característicos da cidade de Lisboa,
cuja génese remonta ao século XV.
Com uma localização privilegiada na cidade, junto ao conjunto Baixa-Chiado, este
bairro assume-se como um bairro popular que tem ao mesmo tempo um forte carácter
cultural, tendo-se assumido ao longo dos séculos XIX e XX, quando diversas
tipografias estavam aqui instaladas, como lugar de encontro, tertúlia e animação
cultural.
Figura 1: Vista aérea do Bairro alto e sua envolvente
(fonte: Google Earth, 2010)
O desenvolvimento da cidade de Lisboa ao longo de século XX, levou a que o Bairro
Alto, à imagem de outros núcleos históricos, tenha vivido, nas últimas décadas, um
processo uma degradação do seu parque habitacional, resultado de um modelo de
crescimento urbano favorável à expansão para a periferia, em detrimento da
revitalização das áreas urbanas centrais já existentes.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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Outros factores, como o congelamento das rendas dos imóveis, promovido pelo
Estado Novo nos anos 40, levou a que décadas mais tarde os vários proprietários não
dispusessem dos meios financeiros necessários para proceder regularmente aos seus
deveres, enquanto proprietários, de tratar da manutenção física dos seus imóveis.
A partir dos anos 80 assiste-se a uma nova tendência, caracterizada pelo facto de os
jovens que procuram casa no Bairro Alto serem itinerantes, arrendando casas por
períodos curtos e sem, em regra, se fixarem neste local. Este conjunto de factores,
levou a que a população que ocupa maioritária e permanentemente o Bairro seja uma
população envelhecida, com rendimentos mais baixos, muitas vezes incapaz de fazer
face às obras de manutenção necessárias.
A partir dos anos 80 do século passado, este bairro afirma-se cada vez mais como
lugar de boémia e cultura. Hoje encontramos no Bairro Alto vários ateliers de design,
ateliers de moda, e variadas lojas especializadas para públicos muito específicos, e ao
mesmo tempo espaços tradicionais, como mercearias ou barbearias. De noite, os
inúmeros espaços para concertos, bares e restaurantes funcionam a par de várias das
tradicionais casas de fado que se mantiveram ao longo tempo, sendo este bairro um
dos espaços de eleição para a diversão nocturna na cidade de Lisboa.
Esta relação entre o carácter tradicional e vanguardista, entre a vivência bairrista e a
agitação nocturna, é hoje em dia a imagem que caracteriza o Bairro Alto, que para
tanta gente o torna tão especial. É ao mesmo tempo alvo de contestação por parte dos
moradores, principalmente por todos as questões que a vida nocturna acarreta, pelo
que tem sido sempre um problema sensível e polémico, de difícil resolução por parte
dos diversos governantes da cidade nas últimas duas décadas.
Figura 2: Comércio na Rua do Norte e Rua da Atalaia
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
O Bairro Alto viveu ao longo de mais de 400 anos de existência inúmeras
transformações, experimentou as mais diversas vivências. O bairro adaptou-se ao
longo da sua história a diversas situações, mostrando uma grande capacidade de
regeneração e adquirindo cada vez mais uma identidade muito própria.
Desde a construção dos seus primeiros edifícios, no século XVI, o Bairro Alto manteve
a sua estrutura original em quarteirões rectangulares que estruturam uma malha
urbana homogénea, que se manteve inalterada ao longo de toda a sua existência,
apesar dos diversos elementos de composição arquitectónica e das diferentes
tipologias características de cada época que este bairro viveu, podendo caracterizar-
se como a “primeira urbanização moderna de Lisboa” (Teixeira e Valla, 1999).
A clara definição dos limites do Bairro Alto na cidade de Lisboa, com algumas das
grandes vias de circulação na sua envolvente, foi protegendo sempre o interior do
bairro, com a sua malha ortogonal apertada e ruas e travessas muito estreitas,
mantendo desta maneira uma vivência muito característica ao longo de toda a história.
A capacidade de sobreviver a todas as alterações vividas nos mais de 400 anos de
história, mantendo sempre uma grande coesão e homogeneidade ao mesmo tempo
que apresenta marcas visíveis de diferentes épocas, fazem deste bairro uma das
zonas mais ricas a nível do legado arquitectónico na cidade de Lisboa.
Figura 3: Rua Luz Soriano; Rua do Século; Rua da Rosa
Fonte: (Autor, 2010)
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Este grande crescimento económico do país que acontece logo após uma época em
que se viveu em crise, com o aparecimento de grandes epidemias e pestes, gerou um
clima de euforia nacional, que chegou mesmo a atrair gente de toda a Europa.
A cidade de Lisboa era caracterizada nesta época pelas ruas estreitas e labirínticas e
pelos becos de forte influência islâmica. Os grandes balcões sobre a rua constituem
outra característica marcante nesta época, que tornavam ainda mais difícil a circulação
(Carita, 1994).
Este modelo de cidade começava a ser então incomportável perante a explosão
demográfica registada, quer a nível da circulação quer a nível de questões como o
saneamento ou o controle policial.
É então que, pela mão de D. Manuel, são assinadas um conjunto de cartas com vista
a regular a expansão urbana da cidade de Lisboa. Estas cartas não são na sua
essência um conjunto de teorias urbanas, mas antes o manifesto de uma nova atitude
A novidade da malha urbana do Bairro
Alto para época, e a sua permanência ao
longo do tempo remete para uma série
de regras ao nível do traçado urbano
criadas nesta época. Não seria possível
que o conjunto homogéneo que é o
Bairro Alto se tivesse assim
desenvolvido, sem uma base legal por
trás, que impediu que este bairro se
desenvolvesse de acordo com
interesses, desejos ou caprichos.
Na viragem do Século XV para o Século
XVI houve grandes transformações
sociais e económicas assim como uma
grande explosão demográfica,
potenciadas pelo grande enriquecimento
da Nação com os descobrimentos e
comércio marítimo (França, 1988).
Figura 4: Vista aérea da área de implantação Do Bairro Alto no final do século XV
(fonte: Carita, 1994)
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perante a cidade. Além destas surgem outras cartas régias com grande influência na
imagem da cidade, como as cartas Régias que determinaram o desaparecimento da
maioria dos balcões das casas (Aguiar, 1993).
O início do Século XVI marca então uma viragem na maneira de entender o espaço
urbano. A cidade passa a ser regulada por um conjunto de regras, que se eleva acima
do interesse de qualquer cidadão.
A imagem da cidade nesta época opõe-se à da cidade medieval, com o alargar das
ruas e a simplificação e maior regularidade das fachadas. O valor estético da cidade
está agora presente no seu desenvolvimento.
No início do Século XVI o contínuo crescimento demográfico na cidade de Lisboa
levou a que esta se tenha expandido para poente, ao longo do Rio Tejo, alargando os
seus limites.
A cidade, que se desenvolve nesta época segundo o conjunto de regras urbanísticas
impostas por D. Manuel, expande-se em direcção aos vastos domínios de Guedelha
Palaçano, um dos homens mais ricos de todo o Reino. Foi aqui que nasceu o Bairro
Alto, que está implantado na sua totalidade nos terrenos que outrora pertenceram a
Guedelha Palaçano, e que se estendiam ainda para Sul até ao Tejo e para Poente até
ao Pico de Belver (França. 1988).
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A segunda metade do Século XVI vai marcar uma segunda fase de expansão da Vila
Nova de Andrade em direcção ao Alto de S. Roque, altura em que os padres Jesuítas
aqui se instalaram. Nesta segunda fase de expansão em que esta toma o sentido
do Alto de S. Roque, esta nova zona mais a Norte começa a funcionar de uma forma
mais autónoma, à medida que as Portas de Santa Catarina vão perdendo a sua
importância como principal foco dinamizador. O principal pólo passa mesmo a ser o
Alto de S. Roque, muito devido à acção cultural por parte dos padres Jesuítas,
passando a Vila Nova de Andrade a designar-se nesta altura por Bairro Alto de S.
Roque (França, 1988).
A expansão do Bairro Alto, que na altura
nasceu com o nome de Vila Nova de
Andrade, dá-se numa primeira fase entre
as Portas de Santa Catarina e Cata-que-
Farás, sendo delimitada a Norte pela
Estrada de Santos. As Portas de Santa
Catarina assume-se nesta época como
um foco dinamizador da Vila Nova de
Andrade, visto se tratar, nesta época, de
uma das entradas mais importantes da
cidade.
Desde o início do Século XVI até
meados deste Século, o crescimento da
Vila Nova de Andrade deu-se a uma
ritmo quase vertiginoso, tendo a sua
população aumentado cerca de 20 vezes
desde o seu nascimento (Oliveira, 1987).
Na primeira metade do século a
expansão do bairro acompanha a
Estrada de Santos e começa também a
dar-se para Norte desta.
Figura 5: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVI
Fonte: (Carita, 1994)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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Este processo de urbanização revelou-se muito bem sucedido desde o seu início,
tanto que progressivamente assistimos a uma alteração a nível social dos moradores
do Bairro. Inicialmente dominado por artífices e marinheiros, começa a ser procurado
por mercadores, burgueses e também aristocratas.
Esta nova ocupação do Bairro Alto levou a que naturalmente fossem construídos
alguns palácios e casas senhoriais, o que poderia ter quebrado a continuidade da
malha da zona. Ao contrário do que seria de esperar e ao contrário do que se passa
no resto da cidade, os palácios e as grandes casas senhoriais construídas nesta
época respeitaram os lotes onde se inseriam, assim como as cérceas dominantes. Em
toda a zona do Bairro Alto observamos então um ambiente de ordem e harmonia que
se opõe por completo ao modelo da cidade de Lisboa até à data.
Entre 2ª Metade do Século XVI ao
Século XVIII, esta expansão contínua do
Bairro Alto aconteceu com uma
regularidade que marca uma grande
novidade nesta época, sem que a
estrutura original em quarteirões
rectangulares com ruas perpendiculares
se perdesse, mesmo que por vezes a
direcção principal destas se alterasse. É
evidente a continuidade existente entre a
zona primitiva do Bairro Alto, abaixo da
Estrada de Santos, e a zona a Norte
desta, no Alto de S. Roque (Teixeira e
Valla, 1999).
Figura 6: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no final do século XVI
Fonte: (Carita, 1994)
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O grande terramoto de 1755 que abalou a cidade de Lisboa com efeitos catastróficos,
destruiu quase por completo toda a cidade, tendo o Bairro Alto sido curiosamente
protegido na sua maior parte, principalmente na zona oriental. Os edifícios de boa
qualidade, com paredes grossas em alvenaria, e a sua baixa altura foram
determinantes para que estes não tenham sido muito afectados pelo abalo do sismo,
tendo sido, no entanto, afectados pelos incêndios que se deram nos dias seguintes
(França, 1988).
O Bairro Alto vai assim manter quase por completo o seu traçado original aquando das
grandes obras pombalinas de reconstrução da cidade. As intervenções no Bairro Alto
deram-se principalmente nas ruas principais como a Rua da Misericórdia, Rua do
Século e Largo de Camões, que foram alargadas e os seus edifícios reconstruídos à
imagem do Pombalino, mas respeitando a malha existente. Esta intervenção passou a
definir melhor os limites do Bairro Alto e suas relações com o resto da cidade. A zona
de Chagas acaba por se desagregar por completo do Bairro Alto, sendo aqui a
reconstrução feita completamente à feição do Pombalino, adquirindo assim um
carácter diferente, propício para a alta burguesia aqui habitar.
Outro factor que teve igual
preponderância para que a malha
ortogonal com as suas ruas largas e
contínuas tenham sido preservadas ao
longo de todo o processo de
urbanização desta zona, é o
aparecimento do coche e sua
generalização como meio de transporte
na cidade de Lisboa. A cidade medieval,
com o seu emaranhado de ruas estreitas
e becos não comportava a utilização
deste meio de transporte, mas este novo
modelo urbano é agora totalmente
vocacionado para a sua utilização.
Figura 7: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVII
Fonte: (Carita, 1994)
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Após o terramoto o Bairro Alto perde a sua característica de zona aristocrática ao ver a
maioria dos aristocratas mudar-se para as suas grandes quintas de Verão nos
arredores da cidade (Carita, 1994).
O bairro foi assim ganhando um carácter mais popular ao longo do tempo, embora
sempre com a grande qualidade da sua centralidade. Na viragem do Século XVIII para
o Século XIX o Bairro Alto começa a ser cada vez mais frequentado por artistas e
intelectuais, conferindo-lhe uma certa marginalidade que o tornou por isso muito
característico.
Com o passar dos séculos o Bairro Alto mantém sensivelmente a sua malha e
características originais, resistindo a intervenções arquitectónicas ao nível dos seus
edifícios ao longo dos séculos XIV e XX. As principais intervenções efectuadas foram
o aumento do número de pisos dos edifícios e obras de restauro.
Desde o século XIX que o Bairro Alto mantém o seu carácter popular, passando a ter
cada vez mais um carácter muito intimista e de união da sua comunidade, devido à
descontinuidade cada vez mais visível do bairro em relação ao resto da cidade.
O ambiente cultural e artístico que se vive no bairro desde o final do Século XVIII, foi-
se acentuando até ao aparecimento das primeiras tipografias que aqui se instalaram,
contribuindo para que a vida nocturna aqui se intensificasse e que o ambiente boémio
já patente no bairro se tornasse ainda mais evidente.
1.3. O Quarteirão e Edifício Tipo do Bairro Alto
A estrutura urbana do Bairro Alto é definida por ser mais do que um sistema de ruas,
sendo antes um sistema organizado de quarteirões consecutivos com uma
configuração rectangular. Esta nova lógica do quarteirão vem substituir o anterior
sistema medieval da rua e beco.
O Bairro Alto surge com uma imagem de coesão, conferida pela regularidade do
quarteirão, em detrimento do sistema das ruas medievais, onde era marcante a
diferença entre as ruas principais e as travessas. No Bairro Alto os valores do
quarteirão e sua coesão assumem uma grande importância, o que acaba por quase
diluir a diferença entre as ruas e travessas que definem o bairro.
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Este sistema urbano é uma novidade para a época na cidade de Lisboa, que vem de
encontro à tendência e necessidade de racionalizar melhor o espaço urbano, em
virtude do contínuo crescimento populacional da cidade.
A malha original do Bairro Alto tem um desenho aproximadamente ortogonal, sendo
constituído por um conjunto regular de quarteirões rectangulares. Estes quarteirões
apresentam quase todos uma métrica semelhante, onde os lotes onde se inserem têm
de comprimento aproximadamente o dobro da sua largura, apesar da existência de
quarteirões com algumas variações na sua métrica. A métrica dos lotes originais é
herdada da medida medieval “chão”, que era uma medida agrária que definia um
rectângulo com 60x30 palmos, o equivalente a 13,5m x 6,75m (Corona e Lemos,
1972). Esta métrica continua a ser respeitada mesmo nos posteriores quarteirões
pombalinos, em que as suas medidas são múltiplos destes quarteirões originais.
Figura 8: Quarteirões tipo do Bairro Alto
(fonte: Aguiar, Appleton e Cabrita, 1993)
Esta nova configuração urbana, assente na malha ortogonal, apresenta algumas
vantagens como a maior facilidade de circulação ou a posterior colocação de infra-
estruturas. Ao nível ambiental apresenta também vantagens, no caso dos quarteirões
que funcionam com saguão, ao promover uma melhor ventilação e iluminação
naturais.
Os edifícios originais do Bairro Alto tinham uma altura que variava entre os 2 e os 3
pisos, o que conferia aos quarteirões uma morfologia baixa e comprida. Além deste
aspecto estilístico dotava também o bairro de boas condições de ventilação e
iluminação natural. Com a chegada do período Pombalino e consequentes avanços
tecnológicos, os edifícios acabam por crescer em altura, o que vem contrariar um
pouco a lógica de horizontalidade característica da estrutura original do Bairro Alto e
consequentemente as boas características de ventilação e iluminação natural de que
este gozava.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
21
Na estrutura original do quarteirão do Bairro Alto, estes eram caracterizados pela
existência de logradouros no seu interior. Com o crescimento demográfico e procura
de uma maior rendibilidade do solo, em virtude de um progressivo empobrecimento do
bairro nos séculos XVII e XIX, estes logradouros foram desaparecendo com a
expansão dos edifícios para o interior dos quarteirões, provocando a redução do
tamanho dos saguões da maioria dos quarteirões do Bairro Alto (Aguiar, 1993).
A estrutura urbana do Bairro Alto original aproxima-se assim muito da que nós
conhecemos hoje, não tendo sofrido grandes alterações apesar dos diversos períodos
ao longo da qual foi sobrevivendo. Este factor deve-se muito ao facto de esta estrutura
se encontrar sedimentada desde muito cedo, o que levou a que as principais
alterações levadas a cabo no Bairro Alto tenham sido de ampliação ou preservação
dos edifícios, não comprometendo a unidade tão característica deste bairro desde a
sua criação.
Podemos observar algumas características próprias dos edifícios do Bairro Alto quer a
nível da sua composição e tipologia, quer a nível da sua tipologia construtiva, que
tiveram lugar em diferentes períodos da história deste bairro. Essas características,
que são facilmente identificáveis na maioria dos seus edifícios, conferem-lhes uma
grande heterogeneidade muito característica do Bairro Alto.
No capítulo 4, referente ao trabalho de campo, falar-se-á também dos aspectos de
desempenho ambiental destes edifícios.
De seguida passo a descrever as principais características dos edifícios do Bairro Alto,
divididas em 4 principais períodos históricos:
Do início do Bairro Alto (finais do século XV) até meados do século XVIII (Terramoto
de 1755)
Nesta época assistimos a uma transição entre o tipo de edifício medieval, ainda com
um carácter rural, para o tipo de edifício que se insere agora na lógica urbana do
Bairro Alto. Os edifícios de habitação do bairro apresentam desde o início uma forte
relação e conferem grande unidade ao sistema de quarteirão onde estão inseridos,
moldando desta maneira todo o sistema urbano do Bairro Alto.
Os edifícios construídos nesta época apresentam uma série de traços gerais
característicos, presentes na maioria dos edifícios. Estes edifícios são os que se
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
22
encontram virados para as ruas, ou seja, que estão implantados ao longo do eixo mais
comprido do quarteirão. As principais características destes edifícios são:
• A fachada principal normalmente é bastante estreita, havendo edifícios com
uma largura entre os 3 e 4 metros, e outros com largura entre os 6 e 8 metros;
• Os edifícios normalmente têm uma configuração rectangular, sendo estreitos e
profundos;
• A altura dos edifícios varia entre 1 piso e 3 pisos;
• Existência de duas portas de entrada, uma que dava acesso ao piso térreo,
outra que dava acesso aos pisos superiores. O acesso aos pisos superiores
era feito através de uma escada de tiro. Os pisos térreos eram usados muitas
vezes como lojas ou oficinas.
• Nas traseiras dos edifícios existiam logradouros onde se realizavam funções de
apoio às habitações e assegurava a ventilação e iluminação dos edifícios.
• A planta das habitações era bastante simples, apresentando uma divisão entre
espaço o espaço social, a sala, virada para a rua, e os quartos interiores. Havia
normalmente uma zona virada para o logradouro, que seria a zona funcional da
casa.
Figura 9: Alçado e planta térrea de 2 edifícios do Bairro Alto.
Rua da Rosa, Nº 141-143 (à esquerda); Rua Luz Soriano, Nº 114-116 (à direita)
(fonte: Carita, 1994)
Os edifícios desta época caracterizam-se todos por serem construídos com paredes
de alvenaria com uma grande espessura, conferindo-lhes grande solidez, o que terá
sido um factor preponderante para a maioria destes edifícios ter sobrevivido ao
Terramoto de 1755.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
23
Apesar dos edifícios deste período partilharem todos as mesmas características a
nível construtivo e estrutural, é possível dividir estes em 2 tipos, a nível da qualidade
da sua construção:
• Os edifícios de melhor qualidade construtiva, destinados aos nobres, clero e
burgueses mais endinheirados, apresentam alvenarias bem cuidadas, com
geometrias regulares e quase sempre com elementos de travamento nas
paredes. Os pavimentos eram normalmente de madeira e assentavam em
abóbadas e arcos de alvenaria de tijolo.
• Os edifícios de pior qualidade construtiva apresentam também alvenarias
espessas, mas com uma geometria imperfeita e sem elementos de travamento.
Nestes edifícios os pavimentos de madeira assentavam sobre vigas de
madeira e apoiavam-se directamente nas paredes meãs e na fachada.
De meados do século XVIII até ao segundo quartel do século XIX (período de
influência Pombalina)
Após o Terramoto de 1755 e conseguintes incêndios que abalaram a cidade de
Lisboa, grande parte da cidade teve de ser reconstruída. O interior do Bairro Alto que
não foi muito afectado, acabou por sofrer apenas obras de recuperação dos edifícios,
ao contrario do que se passou na sua envolvente e na ligação entre esta zona e a
Baixa, onde as obras de reconstrução adquiriram já uma dimensão urbana.
As marcas do período Pombalino nos edifícios do Bairro Alto reflectem-se então em
características como:
• A linguagem de algumas fachadas, que aumentam o tamanho e número dos
vãos, que sugerem um ritmo regular, mais homogéneo, característico do estilo
Pombalino;
• O aumento da área ocupada pelos lotes, expandindo-se os edifícios para a
área ocupada pelos logradouros, o que leva a transformação destes espaços
nos saguões característicos desta época;
• O aparecimento das mansardas no último piso;
• A agregação de 2 edifícios em 1 só, passando nestes casos a haver 2 fogos
por piso;
• Maior racionalidade na organização interior do espaço;
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
24
Figura 10: Alçado e plantas de 2 edifícios do Bairro Alto.
Rua da Rosa, Nº 113-115 (à esquerda); Rua das Gáveas, Nº 38-46 (à direita)
(fonte: Aguiar, Appleton e Cabrita, 1993)
Nesta época a principal inovação a nível de técnicas construtivas foi a invenção da
estrutura em gaiola. Esta consiste numa estrutura tridimensional em madeira, fazendo
lembrar uma gaiola, que é embebida nas paredes de alvenaria. Esta estrutura
apresenta um excelente comportamento sísmico, assim como uma maior resistência
face a possíveis incêndios do que os edifícios anteriores a esta época (França, 1988).
Como já referido anteriormente, esta não é das marcas da época mais significativas
nos edifícios do Bairro Alto, visto grande parte dos seus edifícios terem resistido ao
Terramoto.
Outras marcas desta época presentes nos edifícios de habitação do Bairro Alto são:
• O aumento do tamanho dos vãos nas fachadas;
• O aparecimento dos tabiques em madeira, que vieram provocar uma
sobrecarga muito menor nos edifícios;
• A elevação das paredes meãs acima dos edifícios, uma técnica que evita a
propagação de fogo em casa de incêndio, entre os edifícios vizinhos.
Da segunda metade do século XIX ao segundo quartel do século XX
Nesta época assistiu-se por toda a cidade de Lisboa a uma adulteração e perda de
rigor em relação às técnicas construtivas Pombalinas, o que levou a que os edifícios
desenvolvidos neste período se designem por “Gaioleiros”. Este termo traduz as
alterações e simplificações feitas ao nível dos sistemas estruturais e construtivos dos
edifícios Pombalinos, assim como no emprego de materiais de pior qualidade.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
25
Este estilo construtivo acaba por não ter grande expressão no Bairro Alto, visto que
nesta época o bairro já se encontrava com uma grande densidade de construção,
estando praticamente sedimentado.
Podemos ainda assim encontrar algumas marcas desta época em edifícios do Bairro
Alto em aspectos como:
• Crescimento em altura dos edifícios de habitação, para edifícios com 5 a 6
pisos;
• Maior complexidade a nível da organização interior dos fogos;
• Afirmação do corredor como principal meio de circulação e comunicação entre
as diferentes divisões das habitações;
• Mistura de linguagens estilísticas ao nível das fachadas, com a introdução do
ferro como material corrente de construção.
Do segundo quartel do século XX aos nossos dias
Este período será o que menos expressão a nível de linguagem estilística teve no
Bairro Alto, quer a nível do aspecto das fachadas, quer a nível da organização do
espaço interior.
A principal marca deixada por este período no Bairro Alto foi a introdução do betão
armado como material corrente de construção. Apesar de serem muito poucos os
edifícios construídos de raiz na segunda metade do século XX, o betão armado foi
utilizado várias vezes em obras de reabilitação. Inicialmente, antes da sua
banalização, terá sido utilizado em zonas traseiras das habitações ou como elemento
de suporte de alguns elementos em fachadas. Só mais tarde começou a ser utilizado
como material estrutural, o que veio adulterar muitas vezes a organização interior dos
edifícios, visto nesta altura ser comum a construção de prédios de rendimento,
perdendo muitas vezes toda a relação antes existente do espaço interior com a
fachada.
Esta utilização do betão nos edifícios do Bairro Alto tem também consequências ao
nível ambiental. O desempenho do betão não é tão bom como o das alvenarias
características destes edifícios, que apresentam uma maior inércia térmica,
contribuindo para um melhor desempenho térmico dos edifícios.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
26
Figura 11: Ruão João Pereira da Rosa; Travessa dos Fieis de Deus
Fonte: (Autor, 2010)
1.3. SUSTENTABILIDADE DO BAIRRO ALTO
O Bairro Alto vê, nas últimas décadas, a sua população a envelhecer e poucos jovens
a se fixarem aqui permanentemente – a maioria dos jovens que procura casa no Bairro
Alto, acaba por aqui ficar por períodos relativamente curtos – à medida que a
expansão da cidade de Lisboa se dá para a sua periferia, ficando aqui
maioritariamente instalada apenas a população mais velha e com menos recursos.
O congelamento das rendas promovido pela Estado Novo nos anos 40 contribuiu para
que, nas últimas décadas, os proprietários dos imóveis do Bairro fossem também
bastante afectados ao nível dos seus rendimentos. Apesar da actualização das rendas
antigas, que se tem vindo a efectuar através da nova legislação ao arrendamento, há
ainda várias rendas com valores mais baixos do que os padrões actuais, visto a
actualização das mesmas se efectuar de uma maneira gradual, de maneira a não
prejudicar os arrendatários.
O parque habitacional deste bairro histórico, cujos edifícios têm já alguns séculos de
existência, e consequentemente uma grande necessidade de manutenção física, vai
sofrendo uma degradação progressiva, a que os moradores e proprietários são
incapazes de dar resposta, em virtude da sua situação social.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
27
Figura 12: Bairro Alto: Edifícios em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
Em 1990 é criada a Direcção Municipal de Reabilitação Urbana, que teve como
missão recolher e tratar sistematicamente toda a informação e documentação
necessária e pertinente para efeitos de planeamento urbanístico e intervenção local,
sendo posteriormente criado o Gabinete Técnico do Bairro Alto e Bica, actualmente
designado por Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica. Este foi um passo muito
importante no sentido da conservação e recuperação dos centros históricos da cidade
de Lisboa, e mais concretamente do Bairro Alto.
Esta Unidade de Projecto tem a seu cargo um vasto parque habitacional, com cerca
de 2000 edifícios, e um tecido social bastante complexo, pelo que todas as
intervenções são acompanhadas por um grupo de técnicos de várias especialidades,
de maneira a encontrar a melhor solução a adoptar em cada caso.
Figura 13: Travessa do Poço da cidade; Travessa da Espera
Fonte: (Autor, 2010)
Outras questões, que não apenas as condições físicas e ambientais dos edifícios, se
levantam quando se fala acerca da sustentabilidade do Bairro Alto.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
28
Uma das questões incontornáveis é a do relacionamento entre a vida diurna e
nocturna deste bairro. O Bairro Alto, como é sabido, é um dos principais destinos para
quem procura animação nocturna, quer entre os habitantes da cidade de Lisboa, quer
entre os turistas que visitam Lisboa. A restauração e os bares que aqui funcionam
representam uma parte muito significativa da actividade económica do Bairro Alto,
contrastando com a queda progressiva no comércio tradicional que funciona durante o
dia neste bairro.
Por outro lado, a vida nocturna acarreta consigo vários problemas, que afectam
directamente os principais utilizadores do Bairro Alto, os seus moradores. O barulho
provocado pelos bares e pela enorme afluência de pessoas, o lixo espalhado pelas
ruas do bairro no final de cada noite, o tráfico de droga nas ruas do bairro, ou os actos
de vandalismo como as inscrições feitas nas paredes dos edifícios, os chamados
graffiti, são alguns dos principais problemas apontados pelos habitantes locais,
quando se fala na vida nocturna deste bairro.
Figura 14: Bairro Alto: Vida nocturna e graffiti
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
29
A questão das mobilidades no interior do bairro é outra questão complexa quando se
fala na sustentabilidade deste bairro. A configuração urbana deste espaço histórico
não é naturalmente a mais indicada para que haja trânsito automóvel, pela reduzida
dimensão das suas ruas e pela falta de zonas onde seja possível estacionar. Em 2002
a Câmara Municipal de Lisboa procedeu ao condicionamento do trânsito automóvel no
interior do Bairro Alto, de maneira a dar resposta a este problema.
Esta questão continua, no entanto, a ser um constrangimento para comerciantes que
necessitam de acesso automóvel aos seus estabelecimentos, para moradores que não
têm zonas de estacionamento perto das suas habitações, e ainda para potenciais
novos moradores, que acabam por ser desencorajados a ir morar para o Bairro Ato,
quando vivemos numa sociedade onde está fortemente enraizado o culto do
automóvel.
Figura 15: Bairro Alto: Falta de estacionamento
Fonte: (Autor, 2010)
No próximo capítulo serão abordados em maior profundidade os conceitos de
sustentabilidade urbana e reabilitação. As questões enunciadas, relativas à
sustentabilidade do Bairro Alto, serão abordadas posteriormente no trabalho de campo
(Capítulo 4), onde será efectuado um estudo mais aprofundado dos aspectos
ambientais, construtivos e sociais.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
30
2. SUSTENTABILIDADE E REABIITAÇÃO
2.1. SUSTENTABILIDADE – CONCEITOS E OBJECTIVOS
As actividades humanas, das quais faz parte a construção, têm acompanhado o
desenvolvimento e o crescimento da população ao longo de toda a história,
aumentando consigo a capacidade de mobilizar recursos e suas consequências para o
ambiente. O sector da construção é, actualmente, um dos principais emissores de
gases que contribuem para o efeito de estufa, tendo assim um forte impacto no
fenómeno do aquecimento global.
Figura 16: Variação da Temperatura média no hemisfério norte
Fonte: (Michael Mann, 1998)
No último século assistiu-se a uma grande evolução demográfica, quando a população
aumentou mais de duas vezes desde 1950, ultrapassando já os 6 400 milhões de
habitantes.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
31
Figura 16: Evolução da população mundial no último milénio
Fonte: (Pinheiro, 2006)
Este aumento exponencial da população dá-se numa época de viragem definitiva, com
os constantes avanços tecnológicos, impulsionados pela Revolução Industrial.
A Revolução Industrial inicia-se em Inglaterra em meados do século XVIII e alastra-se
ao resto do mundo a partir do século XIX. A politica económica liberal1 praticada no
Reino Unido, uma burguesia com recursos financeiros que permitiam financiar as
fábricas, matérias primas e empregados, e as grandes reservas naturais de ferro e
carvão, reuniam as condições para que este processo aqui tenha ocorrido.
Ao longo desta época de grandes avanços tecnológicos, as ferramentas foram
substituídas pelas fábricas e a energia humana pela energia motriz, resultando num
processo de produção mais rápido e mais económico, que permitiu uma redução
significativa dos preços dos produtos, e com capacidade de gerar lucros muito
maiores.
As mudanças radicais que ocorreram durante esta revolução, a um ritmo muito
acelerado, trouxeram também algumas consequências negativas, como o aumento do
desemprego, uma vez que a mão-de-obra vinha sendo substituída pelas máquinas; o
êxodo rural, com as populações a invadir as cidades em busca de emprego, o que
provocou um crescimento urbano muitas vezes desordenado; o aumento da poluição
ambiental e sonora. Interessa salientar que ao longo de toda esta evolução não houve
preocupações com os gastos de energia, nem uma percepção das consequências a
longo prazo do consumo desmesurado dos recursos naturais finitos.
1Politica económica liberal: doutrina baseada na defesa individual, no campo económico, face às atitudes coercivas do poder estatal
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
32
Figura 17: Evolução do consumo mundial de energia
Fonte: (IEA, 2002)
No início dos anos 70, a procura internacional de petróleo começou a exceder a
produção, que desde os anos 50 era um recurso com bastante mais oferta do que
procura, sendo os preços praticados até esta década mais baixos. Em 1973 a OPEP2
triplica o preço do barril de petróleo, uma maneira dos alguns dos membros árabes da
OPEP exercerem pressões politicas sobre os EUA e Europa Ocidental. Em 1977 uma
nova crise petrolífera, motivada por pressões politicas por parte do Irão aos EUA volta
a preocupar o mundo ocidental, sendo esta década um ponto de viragem na
consciência do problema dos recursos naturais e ambiente, passando os estas
questões a fazer parte da agenda politica internacional, com as conferencias
realizadas a partir desta década.
Em 1972 realizou-se em Estocolmo a “Conferencia das Nações Unidas sobre
Ambiente Humano”, centrada nas questões da poluição, saúde humana e do Homem.
A declaração resultante desta conferencia proclama que “O homem é, a um tempo,
resultado e artífice do meio que o circunda, o qual lhe dá o sustento material e o brinda
com a oportunidade de desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente”
(UN, 1972).
As questões ambientais e suas consequências eram ainda compreendidas de uma
forma algo incipiente, não existindo ainda um compromisso sério para a sua resolução.
2 OPEP: Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Organização constituída por alguns dos países com maiores reservas de petróleo, que controla os preços e quantidades de produção de petróleo.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
33
Em 1987, as Nações Unidas criaram a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, também conhecida como Comissão Brundtland (UN, 1987), onde os
governos envolvidos se comprometeram a promover o desenvolvimento económico e
social em conjunto com a preservação ambiental.
A partir de então, desenvolvimento e meio ambiente passam a fundir-se no conceito
de “Desenvolvimento Sustentável”, que assenta na ideia da compatibilização das
dimensões económica, social e ambiental, num só modelo de desenvolvimento para o
século XXI, que dê resposta a estes três elementos.
Figura 18: Esquema representativo das componentes do desenvolvimento sustentável
Fonte: (Dréo, 2009)
No Relatório de Brundtland, O Nosso Futuro Comum encontramos a definição mais
usada para o conceito de Desenvolvimento Sustentável: “Aquele que atende as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades”.
Para promover o Desenvolvimento Sustentável, o Relatório da Comissão Brundtland
definiu uma série de medidas a serem tomadas pelos diversos países, entre elas:
• Limitação do crescimento populacional;
• Garantia de recursos básicos (água, alimento, energia) a longo prazo;
• Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
• Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso
de fontes energéticas renováveis;
• Aumento da produção industrial nos países não industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
• Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades
menores;
• Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, habitação).
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
34
Foram também propostas meta a alcançar a nível internacional, entre as quais se
destacam:
• Adopção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de
desenvolvimento (órgãos e instituições de financiamento);
• Protecção pela comunidade internacional dos ecossistemas supra nacionais
como a Antárctica, oceanos, etc.;
• Banimento das guerras;
• Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela
Organização das Nações Unidas.
Depois do lançamento do Relatório Brundtland, várias iniciativas foram desenvolvidas
às escalas local, nacional e global, tornando-se mais nítida a percepção do longo
caminho ainda a percorrer para atingir o fundamental ponto de viragem global, rumo a
um futuro sustentável.
A Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO
92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, veio consagrar definitivamente o conceito de
Desenvolvimento Sustentável.
Desta conferencia resultou a Agenda 21, um documento que estabeleceu a
importância de cada país se comprometer a reflectir, global e localmente, sobre a
forma como governos, empresas e todos os sectores da sociedade poderiam
promover a regeneração ambiental e o desenvolvimento económico e social.
Cada pais desenvolveu a sua Agenda 21, sendo esta aplicada também a nível
municipal, de maneira a que sejam tomadas as medidas mais adequadas ao contexto
local.
Em Dezembro de 1997, realiza-se, em Quioto, a Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Alterações Climáticas. Nesta convenção os diversos países participantes
comprometeram-se a reduzir a emissão de gases que contribuem para o aquecimento
global, através da assinatura do Protocolo de Quioto.
No protocolo fixou-se um calendário pelo qual os países desenvolvidos têm a
obrigação de “reduzir a emissão de gases com efeito de estufa em pelo menos 5.2%
em relação aos níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012”. (Protocolo de Quito
relativo às alterações climáticas, 2002)
A redução destas emissões deverá acontecer nas mais variadas actividades
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
35
económicas, sendo promovida a cooperação entre os países signatários, através de
algumas acções básicas, entre as quais se destacam:
• Reformar os sectores de energia e transportes;
• Promover o uso de fontes energéticas renováveis;
• Limitar as emissões de metano na gestão de resíduos e dos sistemas
energéticos;
• Proteger florestas e outros sumidouros de carbono3
Caso o Protocolo de Quioto seja implementado com sucesso, estima-se que a
temperatura global reduza entre 1,4ºC e 5,8ºC até 2100.
Desde então houve mais encontros e conferências focadas na questão do
Desenvolvimento Sustentável, de maneira a perceber quais as melhores medidas e
estratégias a adoptar aos diversos níveis (económico, social e ambiental), e mais
recentemente também ao nível cultural, considerado como outra das variáveis
basilares no caminho rumo a um Desenvolvimento Sustentável.
2.2. SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO
Actualmente, a indústria da construção é um dos sectores económicos mais
importantes da Europa, sendo caracterizada pelo consumo excessivo de matérias-
primas, recursos energéticos não renováveis e excessiva produção de resíduos.
Globalmente, a construção de edifícios é responsável pelo consumo de 40% dos
recursos minerais (pedra, areia, brita, etc.), 25% da madeira, 40% da energia e 16%
da água consumidos anualmente (Roodman, 1995).
Segundo a Estratégia da União Europeia para o Ambiente (UE, 2004) c climatização e
iluminação dos edifícios são responsáveis pela maior quota individual de utilização de
energia (42%, dos quais 70% destes para aquecimento) e produzem 35% de todas as
emissões de gases com efeito de estufa, sendo uma das principais causas do
aquecimento global.
Em Portugal, o consumo energético dos edifícios representa 30% do consumo de
energia final do pais, representando os edifícios de uso habitacional 17% e os serviços
3Sumidouros de Carbono: Designação dada à capacidade das plantas reterem o dióxido de carbono, evitando que este seja emitido para a atmosfera
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
36
13% deste consumo. Nas grandes cidades portuguesas, o consumo energético dos
edifícios caminha já para os 40% de energia, à semelhança do que se passa na U.E..
Estes números revelam a pouca eficiência energética dos edifícios no nosso pais, e a
importância de promover melhorias neste campo.
Figura 19: Consumos de energia final e energia eléctrica em Portugal
Fonte: (DGEG, 2005)
2.3. REABILITAÇÃO URBANA COMO CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE
O conceito de preservar o património arquitectónico construído manifestou-se pelas
primeiras vezes já há vários séculos. No Renascimento surgem os primeiros exemplos
de reutilização respeitando o legado, fruto do interesse pela arquitectura clássica.
Durante os séculos seguintes, o conceito de reabilitação esteve sempre presente,
sendo no entanto muito redutor, ao se restringir à preservação do monumento
histórico.
Este conceito manteve-se até à segunda metade do XIX, quando surge o conceito de
cidade histórica através de Ruskin. A ideia de monumento histórico deixa de estar
limitada apenas ao edifício, passando então a englobar também “o sítio urbano ou
rural que são testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa,
ou de um acontecimento histórico. Esta noção estende-se não somente às grandes
mas também às obras modestas que adquiriram com o tempo um significado cultural.”
(ICOMOS, 1964). Na Carta Europeia do Património Arquitectónico, assinada em
Amesterdão, em Outubro de 1975 ficou consagrado que “O património arquitectónico
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
37
europeu é formado não apenas pelos nossos monumentos mais importantes mas
também pelos conjuntos que constituem as nossas cidades antigas e as nossas
aldeias com tradições no seu ambiente natural ou construído.” (Conselho da Europa,
1975).
A reabilitação urbana assume-se actualmente e, cada vez mais, como um instrumento
que engloba as dimensões histórico-cultural, ambiental, económica e social. A reunião
destas dimensões no conceito de reabilitação urbana, ultrapassa a ideia redutora da
preocupação física com o restauro dos edifícios que até há algumas décadas ainda
estava presente.
Assim, ao mesmo tempo que se procura dar resposta à recuperação física dos
edifícios, o conceito de reabilitação urbana actual foca-se também em outros
objectivos, que acabaram por trazer novos conceitos directamente ligados com a
reabilitação urbana e seus objectivos, como a requalificação, regeneração ou
revitalização.
Estas motivações a nível histórico-cultural (ressaltam a importância da do património
como identidade e expressão do insubstituível legado do passado), ambiental (a
reabilitação consome menos energia e recursos, sendo preferível à construção de
novos edifícios), económico (o desenvolvimento cultural e patrimonial é visto como
factor de vitalidade e competitividade das cidades) e social (a reabilitação assume um
papel fundamental quando intervém em zonas históricas, caracteristicamente zonas
com tecidos sociais problemáticos), assumem uma grande importância no campo da
reabilitação urbana, que se assume cada vez mais como um instrumento essencial
para o desenvolvimento sustentável das cidades.
Na Europa assiste-se já há algum tempo ao desenvolvimento sustentável das cidades,
assente na reabilitação e requalificação do seu edificado e revitalização cultural,
social, económica e ambiental. O segmento da reabilitação representa em média cerca
de 40% do sector da construção na União Europeia. Portugal tarda em investir neste
segmento, que representa apenas 10% do sector da construção no nosso pais.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
38
Figura 20: Segmento da reabilitação no sector da construção em 2002 – contexto internacional
Fonte: (Pinho e Aguiar, 2005)
Figura 21: Peso da construção nova no sector da construção em 2004 – contexto internacional
Fonte: (Pinho e Aguiar, 2005)
Portugal era em 2004 o pais em que a construção nova tinha mais peso no sector da
construção, representando cerca de 90% deste sector, quando a média europeia se
situa nos 52,5%.
Desde os anos 70 que Portugal apresenta um crescimento fortíssimo na construção de
habitações novas, com o crescimento das cidades para a periferia, que não é, no
entanto, correspondido pelo crescimento demográfico. Em 2001 apenas 71% dos
fogos das 16 capitais de distrito “eram ocupados por famílias residentes, triplicando no
mesmo período a percentagem de alojamentos com “ocupação ausente” e mais que
triplicando os fogos com “usos sazonal” e “vagos”. ... este crescendo de fogos “vagos”
ou abandonados, já não ocorre só nas zonas antigas mas também nas partes “novas”
– e suburbanas – das cidades.” (Pinho e Aguiar, 2005).
Esta situação foi potenciada, durante a década de 90, pelo reduzido apoio financeiro
dado pelo Estado às iniciativas de reabilitação, enquanto que concentrou o seu
investimento no subsídio de juros para empréstimos destinados à compra de
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
39
habitações próprias, na sua maioria novas construções, estrangulando ao mesmo
tempo o mercado de arrendamento.
Figura 22: Apoio do Estado ao sector da habitação entre 1990 e 1999
Fonte: (Pinho e Aguiar, 2005)
Numa tentativa de contrariar esta tendência, têm sido tomadas algumas medidas de
incentivo à reabilitação física dos edifícios, pelo Instituto da Habitação e da
Reabilitação Urbana (IRHU), como é o caso da criação de programas de apoio
financeiro à reabilitação como o Recria, Recriph, Rehabita e o Solarh. Têm sido dados
também incentivos e benefícios fiscais aos particulares que procedam a intervenções
de reabilitação nos seus edifícios, como a redução da taxa do IVA, a possibilidade de
isenção do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) durante 5 anos, podendo esta ser
renovada por mais 3 anos.
Foram criadas as Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU) – empresas municipais
de reabilitação urbana, criadas pelos município, para promover a reabilitação urbana
de zonas históricas e de áreas criticas de recuperação e reconversão urbanística. Para
tal foram dotadas de competências como o licenciamento e autorização para
operações urbanísticas, a expropriação por utilidade pública, o procedimento a
operações de realojamento, entre outras.
Foram também criados Gabinetes Técnicos Locais, hoje em dia denominados de
Unidades de Projecto, como é o caso da Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica.
Estas Unidades de Projecto, foram criadas para acompanhar os projectos de
reabilitação urbana e/ou urbanização de locais específicos, sendo para o efeito,
constituídas por equipas multidisciplinares, que procedem a estudos, projectos e
acções de reabilitação, asseguram o acompanhamento de programas e projectos de
reabilitação, propõem e/ou participam em acções de dinamização social, cultural e
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
40
económica das populações locais, entre outros.
Em Portugal temos assistido a este processo de degradação e desocupação das
zonas centrais e zonas históricas das cidades, em virtude da expansão das cidades
para a sua periferia, com a constante construção de novos edifícios.
Esta tendência tem vindo a decrescer aos poucos, sendo imperativo que esta se
inverta por completo, no sentido de se procurar o desenvolvimento sustentável das
cidades, onde a reabilitação urbana, assente nas suas dimensões cultural, ambiental,
económica e social, se assume como um factor basilar para este desenvolvimento
sustentável.
2.4. SUSTENTABILIDADE EM CENTROS HISTÓRICOS
Seguidamente serão descritos alguns exemplos de boas práticas ao nível da
reabilitação em centros históricos, em Portugal e na Europa.
2.4.1. Barcelona
O centro histórico de Barcelona é alvo de intervenção a partir de 1987. De maneira a
contrariar a tendência para a degradação dos edifícios, problemas sociais,
delinquência e envelhecimento da população que se vinha a verificar até então, a
Cidade Velha é considerada como Área de Rehabilitación Integral. Foi assim levada a
cabo uma intervenção intensiva, num curto espaço de tempo, de maneira a alterar a
tendência evolutiva negativa da Cidade Velha. Para que esta tenha sido possível, foi
feita uma parceria entre poder público e algumas instituições privadas.
A reabilitação da Cidade Velha foi um processo muito activo e complexo, em que as
principais estratégias adoptadas foram:
• Grande investimento na reabilitação de edifícios, espaços públicos e infra-
estruturas urbanas;
• Incentivo à reabilitação dos edifícios por parte dos proprietários, potenciada por
uma parceria entre o Gabinete de Reabilitação da Cidade Velha e o Ministério
para o fomento e governo da Catalunha;
• Requalificação dos acessos pedonais, restrição do uso do automóvel e
incentivo ao uso de transportes públicos;
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
41
• Investimento na criação de equipamentos públicos como escolas e espaços de
apoio social;
• Promoção da Cidade Velha como espaço cultural, trazendo assim mais
visitantes de outras zonas da cidade
• Criação de um plano para a segurança e prevenção, com a participação do
poder local e também dos habitantes, de maneira a regular questões como o
tráfico de droga, prostituição, roubos, etc.
Figura 23: Centro histórico de Barcelona
Fonte: (http://www.barcelonaturisme.com/)
2.4.2. Oslo
A intervenção no Centro Histórico de Oslo deu-se entre 1990 e 2000. Esta zona
histórica da cidade, era uma das zonas com mais carências da cidade, onde o nível de
vida estava muito abaixo da média do resto da cidade, com uma taxa de desemprego
muito alta. Os edifícios apresentavam na altura sinais grandes de degradação, sendo
as rendas praticadas nesta zona das mais baixas em toda a cidade. As vias
automóveis, linhas de comboio e o porto ocupavam 35% da área do Centro Histórica,
contribuindo para que a salubridade do ambiente e taxas de ruído fossem as piores da
cidade, havendo também uma grande carência de espaços verdes nesta zona.
A estratégia de intervenção foi planificada de maneira a que se procedessem
inicialmente a melhorias de pequena escala, e uma meta a atingir à escala do Centro
Histórico, ao nível da qualidade ambiental desta zona da cidade. Esta estratégia de
intervenção teve como intervenientes activos o poder público (central e municipal),
assim como os próprios moradores.
As intervenções a pequena escala efectuadas passaram pela requalificação dos
espaços públicos já existentes e criação de espaços de lazer e recreativos para as
crianças dos diferentes bairros.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
42
A estratégia de intervenção global levada a cabo no Centro Histórico foi feita tendo
sempre como uma das principais metas, a melhoria das condições ambientais desta
zona. Foram aplicadas medidas como:
• Incentivos à reabilitação dos edifícios de habilitação;
• Condicionamento do trânsito automóvel, oferecendo percursos alternativos e
promovendo o uso dos transportes públicos;
• Requalificação dos arruamentos com oferta de estacionamento para bicicletas;
• Criação de espaços de apoio social e equipamentos públicos;
• Valorização cultural e histórica desta zona.
Figura 24: Centro histórico de Oslo
Fonte: (http://www.visitoslo.com/)
2.4.3. Freiburg
Freiburg é hoje conhecida como a “capital ecológica” da Alemanha, havendo uma
série de organizações ambientais e institutos de investigação aqui sediados. A
consciência ambiental dos cidadãos é despertada quando, em 1970, foi planeada a
construção de uma central nuclear em Wyhl, a apenas 30 km de Freiburg. Houve uma
enorme manifestação por parte dos cidadãos, acabando a central por não ser
construída. O desastre de Chernobyl em 1986 contribuiu também para que o município
de Freiburg tenha adoptado uma estratégia para um futuro orientado por uma politica
de baixo consumo de energia, ganhando assim a reputação de Cidade Solar.
A politica energética da cidade assenta em três pilares fundamentais:
• Conservação de energia;
• Uso das novas tecnologias como a combinação de calor e potencia;
• Uso de fontes de energias renováveis em detrimento das energias de origem
fóssil.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
43
Esta politica energética tem como principal objectivo potenciar o desenvolvimento
sustentável desta região como um todo. Em 1996 esta politica foi
fortalecida por uma decisão da cidade em reduzir as emissões de CO2 até 2010, em
25% abaixo do nível registado em 1992, o que desencadeou uma série de iniciativas
nas áreas dos transportes, lixeiras e indústria.
Foram tomadas várias medidas na procura do desenvolvimento sustentável desta cidade:
• Na reabilitação de habitações deve ser aplicado isolamento térmico para
melhorar o conforto térmico;
• Na construção de novas habitações devem ser usadas técnicas de design
passivo e eficiência energética, o que acaba por tornar a construção 3% mais
onerosa, mas reduz os custos energéticos e emissões de CO2 em 30%;
• Utilização de painéis fotovoltaicos e/ou colectores solares para aquecimento de
águas sanitárias nas novas construções;
• Utilização e combinação de técnicas que permitam o aproveitamento da
energia solar como as chamadas baywindows, jardins de inverno ou técnicas
de design passivo.
Figura 25: Centro histórico de Freiburg Fonte: (http://www.freiburg.de/index.html/)
Além das iniciativas a nível da energia solar, Freiburg também apostou em campos
como as mobilidades, que contribuem para a qualidade de vida e desenvolvimento
sustentável da cidade. A primeira planta para uma ciclovia na cidade foi desenhada
em 1970, havendo hoje mais de 500 km de vias para bicicletas e mais de 5000 vagas
de estacionamento para bicicletas espalhadas pela cidade, assim como
estrategicamente localizadas junto às paragens do comboio de superfície.
O acesso automóvel ao centro histórico é restrito aos moradores, sendo o limite de
velocidade máximo permitido 30 km/h. O preço de uma habitação pode ser reduzido
substancialmente se o comprador decidir não ter carro. Este tipo de medidas traduziu-
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
44
se num aumento da utilização dos transportes públicos na ordem dos 100%, tendo 30
– 35% dos residentes escolhido viver sem automóvel.
2.4.4. Madrid
A intervenção no centro histórico de Madrid é levada a cabo entre 1994 e 2000.
Assistia-se nesta altura a uma tendência para uma degradação urbana, a nível do
estado de conservação dos edifícios, poluição, problemas sociais, envelhecimento da
população e abandono desta zona por parte dos sectores económicos que aqui
funcionavam. Face a este cenário, as administrações central, regional e local uniram
esforços para que fosse levada a cabo a reabilitação do centro histórico de Madrid. A
coordenação das diversas acções a levar a cabo no terreno foi feita pela Empresa
Municipal de la Vivienda.
O primeiro passo a dar foi declarar as áreas de reabilitação prioritária, começando
pelos espaços urbanos mais significativos, como praças ou ruas principais,
estendendo-se posteriormente às ruas adjacentes dentro das áreas assinaladas.
Em cada uma das áreas assinaladas foram então tomadas várias medidas para levar
a cabo esta intervenção:
• A reabilitação interior dos edifícios de habitação foi suportada em conjunto
pelos proprietários e pelo poder público, que suportou entre 50 a 60% das
obras de cada proprietário;
• Reabilitação dos espaços públicos assim como dos elementos exteriores dos
edifícios, obras financiadas pelo poder público;
• Reabilitação das infra-estruturas em pior estado (gás, electricidade, água, etc.);
• Desenho urbano a pensar nos utilizadores pedestres, com o condicionamento
da circulação automóvel, criação de espaços de estada e plantação de árvores;
• Promoção de encontros com os moradores e comerciantes desta zona de
maneira a dar a conhecer os objectivos da intervenção, promovendo a
participação dos mesmos na intervenção;
• Construção de parques de estacionamento para os residentes, ludotecas e
outros espaços de lazer, assim como disponibilização de espaços para que os
residentes se possam reunir e promover actividades locais, etc.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
45
Figura 26: Centro histórico de Madrid
Fonte: (http://www.esmadrid.com/en/portal.do/)
2.4.5. Guimarães
O centro de histórico de Guimarães sofre até meados de 1980 um processo de grande
degradação física e social, que na altura parecia não ser possível travar.
É assim criado, pela Câmara Municipal de Guimarães, em 1985, o Gabinete Técnico
Local (GTL) com o intuito de se proceder a um processo de recuperação e
revitalização do centro histórico da cidade.
A intervenção levada a cabo em Guimarães foi pioneira em Portugal, focando-se não
só nos objectivos de reabilitação do edificado, mas também em tentar manter a
população residente, proporcionando-lhe melhores condições nas suas habitações, e
ao mesmo tempo procurar intervir da maneira mais autêntica possível no património
edificado.
Nas diversas intervenções no edificado do centro histórico a manutenção dos sistemas
construtivos, materiais e técnicas tradicionais foi uma constante, o que permitiu que se
tenha mantido o centro histórico como uma unidade formal e ambiental.
As intervenções no edificado do centro histórico foram feitas de acordo com uma
avaliação criteriosa de cada caso, tendo havido intervenções mais profundas, ao nível
da estrutura e organização do espaço interior, assim como intervenções mais ligeiras,
onde se procedeu a reparações de coberturas, caixilharias, pinturas de fachadas, etc.
As intervenções levadas a cabo no edificado do centro histórico procuraram sempre
ser de impacto mínimo, recusando por completo o fachadismo4. A lógica de
intervenção foi sempre a de fazer obras de impacto mínimo, o que permitiu manter os
residentes durante o decorrer das obras em vários casos, assim como diminuir o custo
4Fachadismo: Demolição de antigos edifícios e sua substituição por novas construções com profundas mudanças tipológicas, volumétricas, estruturais e construtivas, onde a antiga fachada é preservada ou reconstruída numa imitação da antiga.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
46
das obras e os impactos psicológicos a uma população um bocado envelhecida. Este
tipo de intervenção pode também permitir que a actualização das rendas após a
realização de obras seja bastante mais tolerável para os habitantes que ainda paguem
rendas desactualizadas.
A intervenção no centro histórico de Guimarães estendeu-se aos espaços públicos e
mobiliário urbano, assim como às infra-estruturas em mau estado ou por vezes mesmo
inexistentes, como infra-estruturas de saneamento, a rede eléctrica, rede de gás, etc.
A intervenção nos espaços públicos privilegiou a circulação pedonal, com o
condicionamento de trânsito automóvel a moradores em várias vias e a transformação
de algumas ruas e praças em espaços exclusivamente pedonais.
O financiamento das intervenções no edificado foi suportado em grande parte pelos
proprietários, tendo havido um bom trabalho de consciencialização dos deveres destes
enquanto proprietários, assim como, por outro lado, a cidade não procedeu a uma
lógica de expropriações sistemáticas, o que permitiu que se tenham conservado os
recursos necessários para que se desse continuidade a todas as obras de
conservação.
A administração Central e Local terá financiado cerca de 20% das intervenções no
edificado do centro histórico, tenho cerca de 45% das obras sido feitas pela iniciativa
privada, sem qualquer tipo de comparticipação.
Figura 27: Centro histórico de Guimarães
Fonte: (http://www.cm-guimaraes.pt/PageGen.aspx)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
47
3. ARQUITECTURA BIOCLIMÁTICA – ESTRATÉGIAS DE PROJECTO
3.1. ARQUITECTURA BIOCLIMÁTICA
Desde sempre, existiu um esforço na consideração das componentes ambientais,
havendo uma relação da construção com o ambiente, com a adequação do tipo de
construção ao clima local e o aproveitamento dos materiais disponíveis. A arquitectura
tradicional, ou vernacular, é exemplo de como dar resposta às questões do conforto
interior dos edifícios, face às condições climáticas.
Figura 28: Exemplos de casas tradicionais portuguesas
Fonte: (Autor desconhecido)
Como já referido no capítulo anterior, ao longo do século XX, a construção afasta-se
progressivamente das preocupações ambientais, criando sistemas de elevado
consumo de energia, muito devido à sua banalização e preço mais acessível, assim
como de materiais.
As crises petrolíferas dos anos 70 e a progressiva consciencialização de que as
energias fósseis são recursos finitos, aliadas aos actuais problemas ambientais como
o aquecimento global, desflorestação, entre outros, tornam imperativo uma mudança
no actual paradigma da construção.
A Arquitectura Bioclimática (ou Solar Passiva), tem uma abordagem à concepção de
projectos baseados em princípios seculares, que permitem a optimização energética
dos edifícios e ao mesmo tempo os padrões de conforto ambiente.
Integrando estrategicamente os diversos factores naturais e utilizando técnicas de
design passivo (técnicas que aproveitam factores ambientais naturais com o objectivo
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
48
promover um bom desempenho ambiental do edifício) como a orientação do edifício,
correcto dimensionamento dos vãos, entre outras, a arquitectura bioclimática procura
proporcionar, durante todo o ano, as melhores condições de conforto (i.e. o conforto
térmico, conforto acústico, iluminação, etc.) aos seus utilizadores.
Aplicando estes princípios correctamente é possível obter as melhores condições de
conforto com o mínimo consumo de energia possível, o que economicamente se
reflecte numa redução dos custos de manutenção a nível da temperatura, iluminação e
ventilação do edifício.
É também possível conjugar estes princípios com medidas de design activo (i.e.
medidas que recorrem a equipamentos instalados nos edifícios, de maneira a captar e
fornecer energia ao edifício). Este tipo de medidas assenta no aproveitamento das
fontes de energia renováveis, mantendo o princípio de interacção com o ambiente
envolvente.
Um dos objectivos principais na concepção de um edifício bioclimático é garantir as
melhores condições de conforto aos seus utilizadores, tendo em conta que estas
variam dependendo do clima, da tipologia construtiva e ainda da sua utilização. Estes
três parâmetros devem ser tidos em conta desde o início da concepção do edifício.
A concepção de um edifício dito bioclimático, deve então ter em conta as condições
climáticas do local e da sua interacção com o clima, procurando adequar o edifício ao
clima local. Desta maneira o edifício irá tirar partido das condições climáticas do local,
recorrendo ao mínimo de energia possível, de maneira a garantir o conforto desejado
para os seus utilizadores.
Em Portugal, o clima temperado mediterrânico proporciona temperaturas médias
bastante amenas (entre 18 e 26º graus centígrados). Uma construção adequada, que
promova ganhos solares durante a o Inverno, e elimine os ganhos excessivos durante
o Verão, facilmente proporciona boas condições de conforto ambiental ao longo de
todo o ano.
A disponibilidade de radiação solar em Portugal é das mais altas em toda a Europa,
com um número médio de horas de sol, que varia entre 2.200 e 3.000 horas por ano,
enquanto que por exemplo na Alemanha, essa média varia entre as 1.200 e as 1.700
horas por ano. É de referir que na Alemanha a radiação solar é muito mais explorada
do que em Portugal, apesar das condições mais propícias para tal no nosso pais.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
49
O clima em Portugal é um recurso que oferece boas condições de temperatura e
humidades relativas médias, assim como uma excelente radiação solar, ao contrario
do que acontece na maioria do território Europeu. É imperativo que se explore estas
condições climáticas, de maneira a reduzir as necessidades energéticas dos edifícios
no nosso pais.
Figura 29: Radiação Solar anual média na Europa
Fonte: (PVGIS European Communities, 2001 - 2007)
Podemos observar na Figura 29 que a região de Lisboa se insere neste contexto,
apresentando um clima temperado, que beneficia da presença marítima que ajuda a
suavizar as amplitudes térmicas nesta zona ao longo de todo o ano, e com níveis
elevados de radiação solar. Em outras zonas com climas mais frios, ou com climas
mais quentes, é igualmente importante a aplicação dos princípios de arquitectura
bioclimática, devendo ser efectuado uma abordagem diferente consoante o clima local.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
50
3.2. ESTRATÉGIAS DE DESIGN PASSIVO PARA O CLIMA DE LISBOA
As técnicas de design passivo procuram, como já referido, reduzir os consumos
energéticos dos edifícios e simultaneamente, proporcionar as melhores condições de
conforto possível, ao nível da temperatura, iluminação e ventilação, aos seus
utilizadores.
As técnicas a seguir descritas, são algumas das técnicas utilizadas mais
frequentemente, e dizem respeito sobretudo à climatização do interior dos edifícios,
procurando encontrar soluções para o arrefecimento destes no Verão, articuladas com
as necessidades de aquecimento no Inverno. Estas contribuem não só para a
climatização, mas também para a boa iluminação e ventilação dos edifícios.
A forma e orientação do edifício, dimensionamento e orientação dos vãos
envidraçados, sombreamentos e isolamento térmico, são técnicas que permitem o
arrefecimento do edifício, através da protecção ao calor, assim como o aquecimento
através da promoção de ganhos solares.
A ventilação natural e inércia térmica são térmicas que permitem sobretudo o
arrefecimento do edifício, através da dissipação de calor.
Forma e orientação do edifício
De maneira a optimizar os ganhos solares ao longo de todo o ano, o que resulta num
maior conforto térmico do edifício, reduzindo simultaneamente as suas necessidades
energéticas, deve-se privilegiar a orientação a Sul.
A fachada principal e espaços de permanência devem ter preferencialmente esta
orientação, de maneira a beneficiar dos ganhos solares durante o Inverno, em que o
ângulo de incidência é mais baixo e permite ganhos solares ao longo de todo o dia, e
proteger a mesma da radiação solar durante o Verão, estação em que o ângulo de
incidência solar é mais inclinado, sendo mais fácil de evitar a radiação solar directa
nos vãos com esta orientação.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
51
Figura 30: Incidência dos raios solares em Lisboa
(à esquerda) no Verão, (à direita) no Inverno Fonte: (Gonçalves e Graça, 2004)
Quando não é possível determinar a orientação dos edifícios, no caso de edifícios em
áreas urbanas consolidadas, como é o caso do Bairro Alto, é importante considerar a
incidência da radiação solar em todas as orientações, definindo a melhor a orientação
possível para os principais espaços de permanência, interessando que estes sejam
orientados para a exposição solar mais vantajosa.
Figura 30: Rua do Diário de Notícias; Travessa dos Fieis de Deus
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
52
Dimensionamento e tipo dos vãos envidraçados
O dimensionamento e tipo dos vãos envidraçados, quando bem aplicada, é uma
medida que contribui consideravelmente para o conforto em espaços interiores. É
através destes que se controla a luminosidade dos espaços interiores, e que se
efectua a relação visual entre interior e exterior. É também através dos vãos
envidraçados que o edifício tem a interacção mais directa com o clima, pelo que o um
correcto dimensionamento, tipo e orientação dos vãos envidraçados, contribui para um
melhor desempenho energético do edifício.
Os vãos orientados a Sul são os que permitem mais ganhos por radiação solar no
Inverno (quando o Sol está mais baixo) e que evita a radiação solar directa mais
facilmente no Verão (quando o sol está mais alto). Deve ser feito um dimensionamento
correcto dos vãos virados a Sul, que no caso do clima de Lisboa não devem exceder
os 35% da área total da fachada, para evitar ganhos solares excessivos durante o
Verão. É também importante que os vãos com esta orientação disponham de um
sistema de sombreamento exterior, de maneira a controlar o excesso de ganhos
solares no Verão, as perdas de calor no Inverno, e controlar o grau de entrada de luz
natural.
Os vãos envidraçados orientadas a Norte são as que causam mais perdas e nunca
têm ganhos energéticos pela radiação solar, pelo que o dimensionamento destes deve
também ser bem controlado. Por outro lado estes vãos permitem garantir uma boa
ventilação natural dos espaços interiores, e fornecem uma excelente iluminação
natural difusa, que contribui para um bom conforto visual.
Os vãos envidraçados orientados a Nascente e Poente são os que recebem uma
radiação solar directa mais constante ao longo do ano – os vãos orientados a
Nascente ao longo da manhã, e os vãos orientados a Poente ao longo da tarde. É
importante uma correcto dimensionamento e sobretudo uma boa protecção destes
vãos, através de sombreamento pelo exterior, de maneira a promover os ganhos
solares durante o Invernos, e proteger principalmente os vãos orientado a Poente
durante os meses mais quentes. O ângulo de incidência dos raios solares nestas
orientações é mais directo, pelo pode causar desconforto também a nível visual, sendo
também neste aspecto importante o sombreamento destes vãos.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
53
Figura 31: Incidência média anual da radiação solar em plano vertical
Fonte: (Tirone, 2007)
Não sendo possível alterar a dimensão e orientação dos vãos envidraçados, como no
caso dos edifícios do Bairro Alto, é possível substituir os seus constituintes por
caixilhos de melhor qualidade e dotar estes de vidro duplo, de maneira a conferir um
melhor comportamento térmico e acústico ao edifício.
Figura 32: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
Sombreamentos
Um sombreamento eficaz é um elemento importante, pois os vãos envidraçados são
os elementos que promovem o contacto visual com o exterior, fornecem a entrada de
luz natural e recebem o calor da radiação solar necessário no Inverno. A protecção
dos vãos envidraçados torna-se então essencial nas fachadas com maior exposição
solar – Sul, Nascente e Poente. O sombreamento, de maneira a ser mais eficaz, deve
ser feito pelo exterior, para cortar a incidência da radiação solar antes de esta
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
54
atravessar o vidro – uma vez que os raios solares ultrapassam o vidro, o calor
acumulado não volta a sair, ficando retido no interior.
Ao nível do conforto visual, é importante que a iluminação natural seja controlada
pelos sistemas de sombreamento reguláveis, de maneira a que esta nunca seja
escassa nem seja demasiado forte, provocando desconforto conforto visual.
Existe uma grande variedade de sistemas de sombreamento a aplicar no exterior dos
vãos envidraçados como portadas, persianas, venezianas, estores laminados
orientáveis, etc. É também possível realizar o sombreamento exterior através de
elementos da própria construção, com o uso de palas projectadas no topo das janelas,
ou através de varandas.
Figura 33: Efeito da radiação solar difusa, controlada por um sistema de sombreamento regulável (à
esquerda); Efeito da radiação solar directa, sem a protecção do sombreamento (à direita) Fonte: (Tirone, 2007)
Figura 34: Exemplos de sombreamento pelo exterior
Fonte: (http://windows.lbl.gov/)
Quando não é possível aplicar sombreamentos exteriores, interessa aplicá-los pelo
interior, cumprindo na mesma a sua função de controlar a iluminação natural dos
espaços e conferir privacidade, apesar de ver a sua eficácia como medida para
controlar os ganhos térmicos através dos vãos envidraçados bastante reduzida. Outra
maneira eficaz de se efectuar o sombreamento exterior é através de varandas, como
acontece em alguns edifícios do Bairro Alto.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
55
Figura 35: Bairro Alto: Exemplos de vãos com sombreamento interior e sem sombreamento
Fonte: (Autor, 2010)
Isolamento térmico
O isolamento térmico, de preferência aplicado de modo contínuo pelo exterior, é um
elemento que pode contribuir bastante para o conforto térmico e optimização
energética de um edifício. A correcta utilização deste elemento apresenta vantagens
como:
• Eliminação das pontes térmicas, que podem causar o aparecimento de
condensações e patologias nas paredes interiores, fruto das condensações;
• Protecção física dos elementos maciços do edifício face às amplitudes térmicas
mais fortes e intempéries, garantindo uma maior longevidade dos materiais
constituintes e do edifício;
• Contribuição para a optimização do efeito da inércia térmica – conforme
referido anteriormente;
• Possibilidade de aplicação na reabilitação de edifícios que não tenham ou
apresentem um isolamento térmico pouco eficaz.
O isolamento térmico, mesmo que não seja possível aplicar pelo exterior, deve ser
aplicado em cavidade nas paredes (processo mais comum), ou pelo interior no caso
das coberturas, de maneira a contribuir para um melhor comportamento térmico do
edifício.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
56
Ventilação natural
A ventilação natural é um processo através do qual é possível arrefecer os edifícios,
através da dissipação de calor promovida pelas diferenças de temperatura interior e
exterior, onde há movimentação e troca de fluxos de ar quente e ar fresco. Este
processo é importante ser explorado no clima de Lisboa, onde durante o Verão
existem amplitudes térmicas consideráveis entre o dia e a noite. Esta técnica deve ser
efectuada durante a noite, quando a temperatura exterior é inferior a temperatura
interior do edifício, de maneira a que o calor acumulado durante o dia seja dissipado.
O dimensionamento e posicionamento dos vãos é muito importante para que se
consiga uma boa ventilação natural, que genericamente se divide em duas técnicas –
ventilação simples ou ventilação transversal.
A ventilação simples – no caso de haver aberturas em apenas uma parede – é menos
eficaz que a ventilação transversal, sendo preferível nestes casos ter vãos espaçados,
o que melhora o escoamento das massas de ar.
A ventilação transversal (ou ventilação cruzada) torna-se bastante eficaz ao aproveitar
as diferenças de temperatura entre ar interior e exterior, ou entre o ar junta da fachada
exposta ao sol e o ar junto da fachada oposta, que estará em sombra, com
temperaturas mais reduzidas.
Figura 36: Ventilação simples com uma abertura (à esquerda) com duas aberturas (à direita)
Fonte: (Gonçalves e Graça, 2004)
Figura 37: Ventilação simples (à esquerda); Ventilação cruzada (à direita)
Fonte: (http://www.passivent.com)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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Inércia Térmica
A inércia térmica é uma característica que é particularmente eficaz em climas sujeitos
a amplitudes térmicas significativas, como é o caso do clima de Lisboa. A utilização de
materiais pesados e maciços confere a inércia térmica dos edifícios, contribuindo para
espaços interiores com uma boa estabilidade térmica.
A massa do edifício interage lentamente com as temperaturas que a rodeia,
armazenando a temperatura média ambiental, visto os picos de temperatura se darem
apenas durante uma pequena parte do dia. A temperatura média vai sendo libertada
continuamente para os espaços interiores, contribuindo para arrefecer o edifício
quando a temperatura exterior é mais alta, e para aquecer o edifício quando a
temperatura exterior é mais baixa.
Para que o efeito da inércia térmica seja maximizado, é preferível que seja aplicado
um isolamento térmico de forma contínua e no pelo exterior, de maneira a proteger os
elementos maciços do edifício das fortes amplitudes térmicas características do nosso
clima.
Figura 38: Inércia térmica de manhã à tarde e à noite
Fonte: (Tirone, 2007)
A imagem da esquerda corresponde ao efeito da inércia térmica durante a manhã, em
que o calor é armazenado nos elementos maciços da construção, sendo apenas
libertado quando a temperatura do ar interior for inferior à temperatura da massa do
edifício, promovendo sempre o equilíbrio térmico.
A imagem do meio corresponde ao período da tarde, em que o calor é acumulado nos
elementos maciços do edifício ao longo do dia, aumentando o conforto térmico interior.
A imagem da direita corresponde ao período nocturno, no caso dos dias de Verão, em
que a ventilação permite a libertação do calor acumulado pelos elementos maciços
durante o dia, para que no dia seguinte armazene novamente o calor do interior do
edifício.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
58
Os edifícios do Bairro Alto, com a sua estrutura robusta e paredes grossas,
apresentam uma excelente inércia térmica, sendo importante que se promova uma
boa ventilação natural, para que esta característica contribua para o bom desempenho
térmico destes edifícios.
Figura 39: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com paredes grossas
Fonte: (Autor, 2010)
Paredes Trombe para aquecimento
A Parede Trombe é um elemento que tem como finalidade armazenar calor
proveniente da irradiação solar durante os dias de Inverno. Esta é composta – da
seguinte ordem, do exterior para o um interior – por um vão envidraçado, uma caixa de
ar e uma parede de betão, que deve ser pintada na face exterior de uma cor escura
para que potencie a absorção da radiação solar. A radiação solar ao atravessar o vão
envidraçado, fica acumulada na caixa de ar, penetrando progressivamente na parede
de betão que, por sua vez, libertará o calor acumulado na mesma durante a noite.
A Parede Trombe, para funcionar correctamente, deve ser orientada a Sul, pois é com
esta orientação que é possível beneficiar da radiação solar ao longo do Inverno
(quando apresenta menor inclinação) e evitar os ganhos solares durante o Verão (a
grande inclinação dos raios solares resultam na reflexão da maioria dos mesmos).
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
59
Figura 40: Parede trombe a ocupar parte do vão (à esquerda) de dia e de noite; a ocupar totalidade do
vão (à direita) de dia e de noite Fonte: (Tirone, 2007)
3.3. ESTRATÉGIAS ACTIVAS: SISTEMAS DE ENERGIA RENOVÁVEL
A utilização de estratégias activas como complemento às estratégias de design
passivo, é uma medida que permite contribuir para o conforto ambiental e reduzir o
consumo de energias não renováveis do edifício, o que é vantajoso para o meio
ambiente, assim como a nível económico para os seus utilizadores.
As estratégias activas utilizadas em edifícios, passam pela utilização de equipamentos
que aproveitam a energia solar, pelo que, no nosso pais as condições para a utilização
destes equipamentos óptimas, fruto da excelente enorme disponibilidade de radiação
solar ao longo de todo o ano.
Apesar de ser uma medida extremamente vantajosa a nível ambiental, a utilização
destes sistemas activos ainda está longe de ter alguma expressão em Portugal.
Sistema Solar Térmico
O Sistema Solar Térmico pode ser utilizado para aquecer as águas quentes sanitárias
e para abastecer os sistemas de aquecimento central. Os equipamentos mais comuns
utilizados no aquecimento de água são os esquentadores e caldeiras murais gás e
termoacumuladores a gás e eléctricos. Estes equipamentos representam cerca de
50% do consumo energético mensal das famílias portuguesas, pelo que a utilização de
sistemas solares térmicos seria uma contribuição importante na redução da factura
energética mensal, e também ao nível ambiental, se utilizados em larga escala.
A disponibilidade de radiação solar em Portugal está bem acima da média Europeia,
com um número médio anual de horas de Sol de aproximadamente 2500 horas, o que
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
60
significa que o potencial para a utilização destes sistemas é muito elevado. Estes
equipamentos funcionam com dois componentes essenciais: o colector solar para
captação da energia solar e o depósito para armazenamento de água. Normalmente
instalados nas coberturas dos edifícios, devem ser orientados a Sul, de maneira a
captar o máximo de energia solar, que se mantém no colector solar. A energia captada
aquece o fluído que circula nos tubos interiores, aquecendo por sua vez a água no
depósito para armazenamento de água quente.
Os sistemas solares mais utilizados são os monoblocos – sistemas em que a captação
e armazenamento funcionam na mesma unidade – e os sistemas colectivos –
sistemas que servem mais do que uma habitação no mesmo edifício.
Figura 41: Sistema de colectores com depósito comum (à esquerda); Sistema de colectores com
depósitos individuais (à direita) Fonte: (Tirone, 2007)
Os colectores solares podem armazenar mais ou menos energia, consoante o seu
dimensionamento. O seu dimensionamento normalmente é feito de maneira a cobrir as
necessidades de água quente durante o Verão, sendo que no resto do ano, serve de
apoio ao sistema energético convencional, podendo satisfazer entre 50 a 80% das
necessidades de aquecimento de água.
O período de tempo necessário para recuperar o investimento da instalação destes
sistemas situa-se entre os 5 e os 7 anos, sendo já obrigatória a sua aplicação no caso
de construções novas.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
61
Figura 42: Colectores solares instalados na cobertura do edifício Torre Verde
Fonte: (Tirone, 2007)
Sistema Fotovoltaico
Este sistema consiste na conversão directa da energia solar captada pelos painéis
fotovoltaicos em energia eléctrica. A energia convertida é armazenada em baterias,
podendo ser utilizada directamente no próprio edifício, ou ser vendida à rede pública.
Os painéis fotovoltaicos, tal como os colectores solares, são normalmente colocados
na cobertura dos edifícios, orientados a Sul, como uma inclinação entre os 30º e 45º
de maneira a tirar partido do máximo de radiação solar possível. A energia fotovoltaica
é vista como uma das mais promissoras fontes de energia renováveis, apresentando
vantagens como a quase total ausência de poluição; a ausência de partes móveis
susceptíveis de partir; não produzir cheiros ou ruídos, a reduzida necessidade
manutenção; o tempo de vida elevado; a possibilidade de aplicação de células
fotovoltaicas nos edifícios é bastante versátil, o que permite haver uma grande
liberdade criativa na concepção de edifícios; um campo de aplicação muito variado ao
nível de mobiliário urbano.
Esta tecnologia apresenta ainda, no entanto, um período de retorno elevado – cerca
de 16 anos. Este factor torna-se num desincentivo grande à sua utilização, prevendo-
se, no entanto, que haja uma redução deste período de retorno para níveis aceitáveis
nos próximos anos.
Figura 43: Exemplos de aplicação do sistema fotovoltaico
Fonte: (http://www.energiasrenovaveis.com)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
62
Os sistemas de energia renovável referidas são, como já referido, um excelente
complemento às medidas de design passivo, de maneira a optimizar o desempenho e
eficiência energética dos edifícios. Estas podem ser aplicadas de diversas maneiras,
contribuindo para a estética exterior dos edifícios.
No caso concreto do Bairro Alto, onde o desenho original dos edifícios faz parte do
património cultural deste bairro, a aplicabilidade destas medidas activas é complexa,
visto estas poderem ser bastante intrusivas ao nível visual. Os colectores solares
térmicos e painéis fotovoltaicos, normalmente aplicados nas coberturas dos edifícios,
poderão não ser em alguns casos as soluções mais indicadas para estes edifícios. Há
também a possibilidade de aplicar os painéis no interior dos quarteirões, onde o seu
constrangimento ao nível visual é mais pequeno, perdendo estes, no entanto, um
pouco do seu rendimento. Há ainda a possibilidade de integrar células fotovoltaicas
nas coberturas e fachadas, aplicando-as nas próprias telhas no caso das coberturas e
vãos envidraçados no caso das fachadas. Esta alternativa aos painéis comuns é, no
entanto, mais onerosa, pelo que a aplicação destas medidas nos edifícios do Bairro
Alto, deve ser bem ponderada.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
63
4. TRABALHO DE CAMPO
4.1. OBJECTIVOS
O âmbito de estudo do presente trabalho de campo centra-se nas características e
problemas do edificado de Bairro Alto, e no seu funcionamento enquanto espaço
urbano, de maneira a encontrar respostas que sirvam de base para a reabilitação do
seu edificado, assim como para a revitalização social, económica, cultural e ambiental
do Bairro Alto.
Desta maneira, o presente estudo procura responder aos seguintes objectivos:
1. Estudar o desempenho ambiental e conforto dos edifícios do Bairro Alto;
2. Verificar o estado de conservação e aspectos construtivos dos edifícios do
Bairro Alto;
3. Analisar os aspectos sociais do Bairro Alto;
4. Elaborar recomendações de projecto, que dêem resposta aos problemas
identificados.
O estudo efectuado pretende elaborar princípios de intervenção para a reabilitação e
revitalização do Bairro Alto, baseados nos princípios da sustentabilidade, quer ao nível
da reabilitação ambiental do seu edificado, quer ao nível da revitalização do seu
espaço urbano.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
64
4.2. METODOLOGIA
Através da metodologia a seguir descrita, serão identificados e sistematizados os
problemas e carências do Bairro Alto enquanto espaço urbano e do seu edificado,
identificados com base nos seus principais utilizadores, ou seja, moradores,
comerciantes e frequentadores. Com base nas informações recolhidas, serão então
sugeridas possíveis soluções, definidas como linhas gerais de intervenção para os
problemas urbanos do Bairro Alto e problemas ambientais do seu edificado.
Esta abordagem permitirá perceber quais os aspectos das questões em estudo mais
importantes para os diversos utilizadores do Bairro Alto, assim como elaborar com
estratégias de reabilitação e sustentabilidade não apenas para o Bairro Alto, mas
principalmente focadas nas pessoas que o frequentam e habitam.
Para o presente estudo procedi à recolha de opiniões relativamente ao comportamento
e funcionamento do edificado do Bairro Alto e do seu espaço urbano, através da
metodologia a seguir descrita:
1. Recolha bibliográfica acerca do método de elaboração de questionários;
2. Realização de um entrevista a duas arquitectas da Unidade de Projecto do
Bairro Alto e Bica;
3. Elaboração de questionários aos moradores, comerciantes e frequentadores do
Bairro Alto (Anexos 1, 2, 3);
4. Sistematização, análise e interpretação dos resultados obtidos nos
questionários efectuados.
Os questionários afirmam-se como a cerne do presente trabalho, tendo sido
efectuados um total de 154 questionários, distribuídos em 49 questionários a
moradores, 50 questionários a comerciantes e 55 questionários a frequentadores , de
maneira a reunir uma amostra o mais significativa possível.
Esta foi a amostra possível reunir, pelo que, com base nesta, foi efectuada um análise
estatística descritiva dos resultados. Este estudo poderá ser uma boa base para um
estudo futuro, com uma amostra maior e um tratamento estatístico mais apropriado,
visando obter correlações significativas entre os vários parâmetros.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
65
Os questionários elaborados foram efectuados com os seguintes objectivos:
Moradores e Comerciantes:
1. Aferir o grau de satisfação dos utilizadores relativamente ao conforto térmico
dos seus edifícios e perceber quais as práticas de actuação dos inquiridos em
relação às condições ambientais dos mesmos;
2. Aferir o grau de satisfação dos utilizadores relativamente à qualidade do ar e
iluminação natural;
3. Avaliar o estado de conservação dos edifícios dos utilizadores inquiridos e
perceber quais os elementos construtivos em pior estado;
4. Avaliar a satisfação dos utilizadores com aspectos relacionados com a vivência
e funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano, que tenham
implicações na sustentabilidade do bairro;
5. Observar as manifestações de maior desagrado e recolher opiniões de como
melhorar os parâmetros avaliados.
Frequentadores:
1. Observar a opinião destes utilizadores mais esporádicos relativamente ao
funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano e das condições físicas
do seu edificado;
2. Recolher sugestões de como melhorar o Bairro Alto nos parâmetros avaliados.
A estrutura dos questionários destinados aos moradores e comerciantes é
semelhante, estando quase todas as perguntas agrupadas por temas, havendo no
entanto algumas questões relativas ao mesmo tema que surgem em momentos
diferentes, de maneira a não conduzir os inquiridos a certas respostas. As respostas
dadas pelos utilizadores foram tratadas estatisticamente, sendo apresentadas em
gráficos de barras. A análise feita é uma análise descritiva, onde se procura perceber
o porquê dos resultados obtidos. A estrutura dos questionários apresenta-se então da
seguinte forma:
As questões 1 a 4 têm como principais objectivos avaliar o comportamento do
edificado do Bairro Alto em diversos factores determinantes para o conforto dos seus
utilizadores, avaliar o estado de conservação geral e perceber quais os principais
problemas físicos do edificado do Bairro Alto.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
66
As questões 5 a 8 pretendem aferir o grau de satisfação dos utilizadores com o
conforto térmico do edificado do Bairro Alto durante o Inverno e de outros indicadores
que estão directamente relacionados com o conforto térmico dos edifícios, assim como
reunir sugestões para a melhoria da temperatura do edificado do Bairro Alto neste
período.
As questões 9 a 13 foram efectuadas com o mesmo propósito das anteriores, mas
relativamente ao período do Verão, assim como para perceber que tipo de acções são
efectuadas pelos utilizadores de maneira a melhorarem a temperatura no interior dos
edifícios e suas consequências.
A questão 14 pretende aferir o grau de satisfação dos utilizadores com o
funcionamento de alguns agentes do Bairro Alto enquanto espaço urbano, ao nível da
sua oferta e proximidade, assim como de questões relacionadas com a mobilidade no
Bairro Alto, de maneira a perceber se a dinâmica urbana existente é ou não
satisfatória.
A questão 15 foi efectuada para perceber se para os utilizadores do bairro existe
alguma harmonia entre a vida diurna e nocturna, ou se por outro lado esta entra em
conflito, e para saber quais os principais problemas desta relação enunciados pelos
utilizadores do Bairro Alto e/ou sugestões para melhorar esta relação.
A questão 16 foi efectuado com o propósito de aferir o grau de satisfação dos
utilizadores com o conforto acústico dos edifícios do Bairro Alto, e quais os principais
agentes que contribuem para um possível desconforto neste campo.
A questão 17 pretende perceber se a circulação pedonal e automóvel no Bairro Alto
coexistem harmoniosamente ou se de alguma forma existem constrangimentos que
tornem esta relação pouco eficaz, assim como, para este caso, perceber quais as
razões para que esta relação não seja a melhor.
A questão 18 pretende avaliar o grau de satisfação dos utilizadores com a segurança
no Bairro Alto, e perceber quais os agentes que contribuem para que haja um
sentimento de insegurança por parte dos utilizadores.
A questão 19 pretende reunir todo o tipo sugestões por parte dos utilizadores do Bairro
Alto, com vista à melhoria das condições e conforto do edificado do Bairro Alto, assim
como das questões relacionadas com o Bairro Alto enquanto espaço urbano, visto
estes serem os principais afectados com os possíveis problemas que afectem o Bairro
Alto.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
67
Os questionários efectuado aos frequentadores do Bairro Alto consiste apenas em 3
perguntas de resposta aberta, tendo estas sido efectuadas com o seguinte propósito:
A questão 1 pretende perceber qual a opinião deste grupo relativamente à relação
entre vida diurna e nocturna do Bairro Alto, sabendo que este grupo de frequentadores
abordará esta questão de maneira diferente, vista da óptica de quem frequenta mas
não habita o bairro, perceber o que estes consideram funcionar melhor e pior na
relação entre a vida diurna e vida nocturna do Bairro Alto e reunir sugestões com vista
à melhoria desta questão.
A questão 2 foi efectuada de maneira a perceber qual a opinião das pessoas que
visitam o Bairro Alto relativamente às condições e desempenho ambiental do seu
edificado, e para reunir sugestões diversas de como melhorar as condições do
mesmo.
A questão 3 foi efectuada para reunir sugestões dos frequentadores relativamente ao
funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano. Esta questão é mais aberta
que as anteriores, de maneira a perceber quais as questões que os frequentadores
inquiridos identificam ou denunciam como problemas funcionais do espaço urbano do
Bairro Alto.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
68
4.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.3.1. Questionários a Moradores e Comerciantes
4.3.1.1. Questões Ambientais
Temperatura
Esta pergunta relativa às questões ambientais, insere-se na questão 1, onde foi pedido
aos utilizadores para classificarem os diferentes factores enunciados numa escala que
varia entre 1 e 5, correspondendo respectivamente à pior e melhor classificação.
Moradores Comerciantes
A quase totalidade dos moradores classificou a temperatura das suas habitações em 2
e 3. Estes resultados exprimem uma opinião algo neutra acerca do conforto térmico
das suas habitações, demonstrando que não se encontram muito satisfeitos nem
muito insatisfeitos com a temperatura das suas habitações ao longo de todo o ano. A
expressão que o valor 2 tem nas respostas dos moradores, demonstra, no entanto,
uma tendência para estes considerarem a temperatura um pouco negativa. Este
resultado poderá indicar que os habitantes do Bairro Alto sentem algum frio durante o
Inverno e calor durante o Verão nas suas habitações, não havendo portanto
satisfação com o desempenho térmico dos edifícios.
Sendo a temperatura um factor influenciado por diversos factores, como o isolamento
térmico, inércia térmica, orientação do edifício, orientação dos vãos, qualidade dos
caixilhos e envidraçados, entre outros, assim como controlável pelos utilizadores
através da utilização de aparelhos de aquecimento e/ou arrefecimento, é possível que
os edifícios de habitação do Bairro Alto tenham algumas carências nas características
construtivas enunciadas que influenciam o conforto térmico.
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
69
Figura 44: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação; Incidência solar
Fonte: (Autor, 2010)
Quando inquiridos acerca da temperatura no seus estabelecimentos, cerca de metade
dos comerciantes classificaram-na em 3, tendo a outra metade se dividido
praticamente entre a classificação 2 e 4, havendo 2 comerciantes que a classificam
em 1 e apenas 1 comerciante que a classifica em 5. Este resultado demonstra que os
comerciantes consideram que a temperatura dos seus espaços comerciais ao longo
do ano é razoável, não havendo uma insatisfação nem satisfação geral relativamente
a este factor.
As razões enunciadas no caso da temperatura nas habitações do Bairro Alto poderão
ser também válidas no caso dos espaços comerciais.
Figura 45: Rua da Atalaia, 81 e 104
Fonte: (Autor, 2010)
Ao compararmos a classificação dada por moradores e comerciantes à temperatura no
interior dos edifícios, verificamos que os comerciantes dão uma classificação mais
positiva, o que poderá acontecer devido às melhores condições de conservação no
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
70
geral, dos espaços comerciais relativamente às habitações do Bairro Alto. Esta
diferença poderá ser também causada, no inverno, por factores como o funcionamento
de máquinas necessárias nos espaços comerciais, como por ex. frigoríficos no caso
de mercearias, que libertam calor com o seu funcionamento, e/ou a presença de mais
pessoas no mesmo espaço, o que é também uma fonte de calor que influencia a
temperatura interior dos espaços. No verão, a temperatura nos espaços comerciais
poderá ser também melhor do que nos edifícios de habitação, visto os espaços
comerciais se situarem no piso térreo, recebendo menos radiação solar do que nos
pisos superiores, ou pelo facto de estes poderem ter sempre as portas e/ou janelas
abertas promovendo a ventilação natural que ajuda a arrefecer a temperatura interior.
Questão 5: Conforto térmico
Nesta questão foi pedido aos inquiridos para classificarem a satisfação com o conforto
térmico durante o Inverno no interior dos seus edifícios, de acordo com uma escala
que varia entre o “Muito satisfeito” e o “Muito insatisfeito”.
Moradores Comerciantes
A quase totalidade dos moradores inquiridos escolheu as opções “Um pouco
insatisfeito”, “Insatisfeito”, havendo alguns a escolher a opção “Muito insatisfeito”,
manifestando uma grau de insatisfação elevado com a temperatura dos seus edifícios.
Este resultado demonstra que os edifícios do Bairro Alto poderão ter carências nos
aspectos construtivos que contribuem o desempenho térmico dos mesmos, como é o
caso das portas, janelas e caixilhos, isolamento térmico, entre outros. Sendo a
temperatura um factor fundamental para o conforto dos moradores, torna-se
imperativo adoptar medidas que promovam uma melhoria substancial na temperatura
das habitações durante o Inverno. É de referir ainda que os edifícios do Bairro Alto
possuem uma boa inércia térmica, devido às suas paredes grossas, o que poderá ser
0
5
10
15
20
Muito satisfeito
Satisfeito Um pouco insatisfeito
Insatisfeito Muito insatisfeito
0
5
10
15
20
25
Muito satisfeito
Satisfeito Um pouco insatisfeito
Insatisfeito Muito insatisfeito
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
71
um sinal de os edifícios terão carências graves ao nível dos aspectos anteriormente
enunciados.
Figura 46: Bairro Alto: Exemplos de elementos em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
Analisando o gráfico, verificamos que 15 dos comerciantes estão ‘Satisfeitos’ com a
temperatura dos seus estabelecimentos no Inverno, havendo 21 ‘Um pouco
insatisfeitos’, 12 ‘Insatisfeitos’ e 2 ‘Muito insatisfeitos’.
O resultado aponta também para o mau funcionamento destes espaços ao nível do
conforto térmico, podendo as razões referidas relativamente aos moradores serem
igualmente válidas para o caso dos comerciantes.
Um factor que não está directamente ligado às características dos edifícios, mas que
poderá contribuir para que haja insatisfação face à temperatura durante o Inverno, é o
próprio funcionamento dos estabelecimentos comerciais, com entrada e saída
constante dos clientes, o que leva a que o calor seja constantemente libertado para o
exterior.
Figura 47: Bairro Alto: Exemplos de mercearias em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
72
Ao comparar os resultados, é possível verificar que estes são bastante parecidos,
havendo uma maior satisfação por parte dos comerciantes, apesar de muito ligeira.
Além dos aspectos já referidos, que influenciam a temperatura no interior dos edifícios
no Inverno, o estado de conservação poderá ser outro factor que terá bastante
influência no desempenho térmico dos edifícios, quer no caso dos edifícios de
habitação, quer nos espaços comerciais.
O aproveitamento da radiação solar através da orientação do próprio edifício é
naturalmente um factor que não é possível controlar, visto este ser um espaço urbano
consolidado, havendo edifícios que terão uma exposição bastante mais favorável do
que outros, para que haja um contributo da radiação solar para o aquecimento dos
mesmos, o que poderá explicar a dispersão dos resultados apresentados. É
importante que se tomem outras medidas como aplicação de isolamento térmico nas
coberturas, correcto dimensionamento dos vãos envidraçados, aplicação de vidros
duplos e caixilhos de qualidade, aplicação de colectores solares e fotovoltaicos, entre
outras, que permitam compensar esta condicionante.
Questão 6: Conforto térmico
Foi pedido nesta questão aos moradores e comerciantes para indicarem qual a
frequência com que utilizam aparelhos de aquecimento durante o Inverno, numa
escala que varia entre “Muito frequentemente” e “Nunca”.
Moradores Comerciantes
A maioria dos moradores assinalou as opções “Frequentemente” e “Por vezes”,
demonstrando que os edifícios por si só estão longe de proporcionar um conforto
térmico satisfatório durante o Inverno. Sendo este um indicador do conforto térmico
numa habitação, é importante não esquecer que o uso de aparelhos de aquecimento
acarreta consigo gastos monetários para os utilizadores, o que não nos permite
0
5
10
15
20
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
5
10
15
20
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
73
concluir se esta é a frequência média de utilização necessária para satisfazer as
necessidades de conforto térmico no Inverno.
Através da análise das respostas dadas não é possível encontrar um padrão para a
frequência com que os comerciantes utilizam aparelhos de aquecimento, havendo
antes uma grande dispersão nas respostas dadas, sendo possível, no entanto,
verificar uma tendência para estes não serem utilizados regularmente. Tendo em
conta os gastos energéticos e monetários ligados ao uso de aparelhos de
aquecimento, e o pouco tempo de permanência por parte dos clientes nestes espaços,
é compreensível que estes não sejam utilizados com frequência, apesar da relativa
insatisfação com a temperatura por parte dos comerciantes.
Comparando as respostas de moradores e comerciantes, é possível observar que os
moradores utilizam aparelhos de aquecimento com maior frequência, o que poderá ser
um indicador de que há uma insatisfação maior com a temperatura durante o Inverno
por parte dos mesmos.
Questão 7: Conforto térmico no Inverno
Nesta questão foi pedido aos moradores para a indicarem a frequência com que
sentem frio durante o Inverno, de acordo com uma escala que varia “Muito
frequentemente” e “Nunca”.
Moradores Comerciantes
A maioria dos moradores inquiridos dividiu-se entre as opções “Frequentemente” e
“Por vezes”, tendo alguns constatado que sentem frio “Muito frequentemente” dentro
de casa, sendo o poucos os que “Raramente” sentem frio e, nenhum o que afirma
“Nunca” ter frio dentro da sua habitação.
0
5
10
15
20
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
5
10
15
20
25
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
74
Os resultados demonstram mais uma vez que o conforto térmico durante o Inverno
está longe de ser satisfatório nas habitações do Bairro Alto, alertando para a
necessidade de se melhorar os aspectos construtivos que contribuem para o mau
desempenho térmico dos edifícios ao longo do Inverno, assim como tomar medidas
passivas e activas (aplicação de isolamento térmico, instalação de painéis solares,
entre outras) no sentido de promover a conservação do calor nos edifícios, de maneira
a melhorar o conforto térmico no interior dos mesmos.
Relativamente aos comerciantes, apenas 11 afirmam sentir frio ‘Raramente’, havendo
22 que afirmam sentir frio ‘Por vezes’ e 15 que sentem frio ‘Frequentemente’. Este
resultado é outro indicador de que o conforto térmico dos espaços comerciais do
Bairro Alto não é bom, alertando para a necessidade de se intervir neste campo.
Comparando os resultados de moradores e comerciantes, é possível observar um
equilíbrio na frequência com que sentem frio dentro dos seus edifícios, havendo ainda
assim mais moradores do que comerciantes a afirmar sentir frio com mais frequência,
demonstrando que o desempenho térmico dos edifícios do Bairro Alto não é
satisfatório, sendo pior ainda no caso dos edifícios de habitação.
Figura 48: Bairro Alto: Habitação e comércio
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
75
Questão 8: Propostas de melhoria para a temperatura no Inverno
Relativamente a esta questão, foi pedido aos habitantes e comerciantes para darem
sugestões para melhorar a temperatura dos seus edifícios durante o Inverno.
Alguns moradores não deram qualquer sugestão, tendo os restantes indicado como
possíveis soluções para a melhoria deste factor: ‘Isolamento das portas e janelas’;
‘Colocar isolamento térmico nas paredes’; ‘Colocação de janelas novas com vidro
duplo’; ‘Instalação de aquecimento central’; ‘Corrigir as folgas entre janelas/portas e
parapeitos/chão’; ‘Colocar caixilhos novos’; ‘Realizar obras na fachada’; ‘Realizar
obras gerais no edifícios’.
As soluções sugeridas com mais frequência foram a ‘Colocação de janelas novas com
vidro duplo’; ‘Instalação de aquecimento central’; ‘Colocar isolamento térmico nas
paredes’.
Entre as respostas dadas pelos comerciantes, destacam-se pela maior frequência com
que foram dadas as seguintes sugestões: ‘Utilizar mais os aparelhos de aquecimento’;
‘Colocar isolamento térmico nas paredes’; ‘Realizar obras que substituam as portas e
janelas’. Outras sugestões dadas foram: ‘Colocar janelas novas com caixilhos de
qualidade’; ‘Colocar portas automáticas de maneira a não ter a porta sempre aberta’.
Através das sugestões dadas, é possível perceber que haverá factores enunciados
pelos utilizadores, que contribuem para um melhor desempenho térmico dos edifícios,
que não estão presentes nos edifícios do Bairro Alto, como é o caso do isolamento
térmico. É necessário ter em atenção que o isolamento térmico quando aplicado pelo
interior, corta o efeito de arrefecimento, ao neutralizar o efeito da inércia térmica, não
sendo aconselhável a sua aplicação pelo interior. É possível deduzir também que há
vários elementos em mau estado de conservação, como é o caso de janelas e
caixilhos, que contribuem para que a temperatura no interior dos edifícios durante o
Inverno não seja a melhor.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
76
Questão 9: Conforto térmico no Verão
Foi aqui pedido aos moradores e comerciantes para indicarem o grau de satisfação
com a temperatura das suas habitações durante os meses de Verão, numa escala que
varia entre o “Muito satisfeito” e o “Muito insatisfeito”
Moradores Comerciantes
Os resultados demonstram que apenas 13 dos moradores se encontram Satisfeitos
com o conforto térmico da sua casa nos meses de Verão, enquanto que a maioria dos
restantes se encontra “Um pouco insatisfeita” ou “Insatisfeita”.
É possível observar uma ligeira melhoria da satisfação com a temperatura no Verão
em relação ao Inverno, apesar de nos meses de Verão a tendência geral ser a de
haver uma ligeira insatisfação com este factor. Esta melhoria da satisfação
relativamente ao Inverno, poderá ter a ver com o facto de os elementos em mau
estado de conservação terem mais influência no conforto térmico durante o Inverno,
onde se procura conservar o maior calor possível, do que no Verão, onde o objectivo é
libertar o calor do interior dos edifícios.
Não sendo possível controlar todos os factores que influenciam o comportamento
térmico dos edifícios do Bairro Alto, como a orientação do edifício e vãos, dimensão e
número de vãos, entre outros, é da maior importância promover a optimização das
características dos edifícios que permitam uma melhoria do conforto térmico.
Para tirar o melhor partido da inércia térmica, que é uma característica dos edifícios do
Bairro Alto, deve ser promovida uma boa ventilação natural nocturna, abrindo as
janelas durante a noite, ou aplicando bandeiras para que a ventilação se processe
com eficácia. Devem-se também aplicar sombreamentos quando estes não existam,
de preferência pelo exterior, de maneira a cortar a incidência da radiação solar antes
de esta atravessar o vidro, protegendo assim o interior do calor.
0
5
10
15
20
Muito satisfeito
Satisfeito Um pouco insatisfeito
Insatisfeito Muito insatisfeito
0
5
10
15
20
25
Muito satisfeito
Satisfeito Um pouco insatisfeito
Insatisfeito Muito insatisfeito
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
77
Figura 49: Rua das Gáveas; Travessa da Espera
Fonte: (Autor, 2010)
No caso dos comerciantes é possível observar uma divisão das opiniões, estando
cerca de metade dos comerciantes satisfeitos, e a outra metade um pouco insatisfeita
ou insatisfeita com a temperatura no Verão. A temperatura no Verão, além dos
factores já expostos no caso dos moradores, poderá ser, no caso dos
estabelecimentos comerciais, influenciada também por factores que não as
características do próprio edifício, como o funcionamento de frigoríficos e outros
aparelhos que libertam calor, no caso de mercearias, talhos, entre outros.
O conforto térmico é também considerado pelos comerciantes ligeiramente melhor do
que no Inverno, podendo ser explicado pelas razões anteriormente enunciadas para o
caso dos moradores.
Figura 50: Rua da Rosa
Fonte: (Autor, 2010)
Ao compararmos a satisfação com a temperatura no interior dos edifícios de habitação
e comerciais, verifica-se que há uma maior satisfação por parte dos comerciantes.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
78
Este facto pode ser reflexo de vários factores, como a exposição solar dos espaços
de comércio, que é mais reduzida do que os de habitação por estes se situarem no
piso térreo ou o facto de vários espaços comerciais apresentarem sombreamento
exterior.
Questão 10: Acções que contribuem para o conforto térmico no Verão
Nesta questão foi pedido aos moradores para indicarem com que frequência executam
determinadas acções que tenham como finalidade arrefecer a temperatura no interior
dos edifícios no Verão, de acordo com uma escala que varia entre o “Muito
frequentemente” e o “Nunca”, de maneira a perceber que consequências terão esses
hábitos.
Abrir Janelas
De dia: Moradores Comerciantes
De noite: Moradores Comerciantes
Ao compararmos a frequência com que os inquiridos abrem as janelas durante o dia e
durante a noite, verificamos que quase todos o fazem no período diurno, enquanto que
0 5
10 15 20 25 30 35
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
5
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Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
5
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0
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Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
79
no período nocturno uma parte considerável dos moradores inquiridos não o faz.
Como já referido (ver Capítulo III, p. 56), abrir as janelas durante a noite permite que o
calor acumulado na massa do edifícios pela sua inércia térmica seja libertado e o ar
renovado por ar mais fresco durante este período, contribuindo para o arrefecimento
do interior do edifício.
Através da análise destes resultados, é possível concluir que pelo menos parte dos
moradores do Bairro Alto não terão a noção correcta do benefício desta prática ao
nível do conforto térmico dos edifícios, quando executada durante a noite, sendo
importante uma sensibilização acerca desta prática junto da população. Poderá ser
também condicionante o piso em que se encontra a habitação, uma vez que naquelas
que se encontraram no piso térreo, não será seguro abrir as janelas durante a noite. A
aplicação de bandeiras poderá ser um boa solução para que se efectue a ventilação
nocturna nestes casos.
Figura 51: Bairro Alto: Exemplos de janelas abertas durante o dia
Fonte: (Autor, 2010)
A partir da análise do gráfico relativo aos comerciantes, é possível verificar uma
grande dispersão de hábitos relativamente ao acto de abrir as janelas durante o dia.
Esta dispersão pode ser explicada pelo facto de alguns comerciantes utilizarem ar
condicionado, pelo que não lhes interessa abrir as janelas para terem uma
temperatura interior confortável, pelo facto de alguns estabelecimentos não terem
janelas, tendo apenas montras e uma porta, ou pela orientação e exposição solar do
estabelecimento, interessando nuns casos ter as janelas abertas com maior frequência
e noutros ter as janelas fechadas e sombreadas de maneira a proteger da radiação
solar.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
80
A grande maioria dos comerciantes afirma nunca abrir as janelas durante a noite. Este
facto dever-se-á ao facto de a maioria dos estabelecimentos em estudo terem um
funcionamento exclusivamente diurno, pelo que, por motivos de segurança, não é
possível abrirem as janelas durante o período nocturno. A aplicação de bandeiras
poderá ser uma boa solução para se promover a ventilação nocturna estes casos.
Figura 52: Bairro Alto: Exemplos de portas abertas durante o diia
Fonte: (Autor, 2010)
Fechar estores/persianas
Moradores Comerciantes
Cerca de metade dos moradores inquiridos afirmam nunca fechar estores, ou outros
elementos de sombreamento, enquanto que os restantes o fazem com frequências
diferentes.
A utilização de técnicas de sombreamento é, como já referido (ver Capítulo III, p. 54),
uma medida importante para a melhoria do conforto térmico no interior dos edifícios,
utilizada preferencialmente pelo exterior, possibilitando no Verão um controle da
radiação solar e consequentes ganhos de calor, além de ser também importante ao
0 5
10 15 20 25 30
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
10
20
30
40
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
81
nível do conforto visual. Sendo esta uma acção praticada naturalmente, por
necessidade das pessoas, leva a crer que várias habitações do Bairro Alto não têm
qualquer sistema de sombreamento, interior ou exterior. O facto de o sombreamento
durante o dia bloquear a vista para o exterior, poderá ser um factor que condiciona a
prática desta acção. Outra possível explicação para que estes moradores não
executem esta acção, poderá ter a ver com o facto de a iluminação natural nas suas
casas ser escassa, não lhes interessando dessa maneira sombrear os vãos que
permitem a entrada de luz natural.
A grande maioria dos comerciantes afirma nunca fechar estores ou persianas, sendo
poucos os que executam esta acção de maneira a protegerem o seu estabelecimento
do calor. Este facto poderá ser explicado pelo facto de a maioria das lojas ter montra,
sendo do interesse dos comerciantes que o interior seja o mais visível possível para as
pessoas que circulam na rua, levando a que estes espaços não possuam ou não
utilizem sistemas de sombreamento.
Figura 53: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com e sem sombreamento exterior
Fonte: (Autor, 2010)
Ligar Ar Condicionado
Moradores Comerciantes
0 10 20 30 40 50 60
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
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20
30
40
50
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
82
A totalidade dos moradores inquiridos referiu que nunca liga o ar condicionado, dado
que nenhum deles possuirá um aparelho de ar condicionado.
A grande maioria dos comerciantes inquiridos refere também nunca utilizar o ar
condicionado, uma vez que nenhum terá também aparelho de ar condicionado.
Os gastos monetários necessários para a instalação e utilização destes aparelhos
poderá ser a principal razão para que estes não sejam utilizados quer por moradores,
quer por comerciantes. Esta situação é, no entanto, positiva, tendo em conta a
contribuição que a utilização destes aparelhos tem para as emissões de gases que
contribuem para o efeito de estufa, assim como para uma menor salubridade do ar no
interior dos edifícios.
Ligar ventoinha
Moradores Comerciantes
Relativamente à frequência com que os moradores utilizam uma ventoinha,
observamos que a quase totalidade utiliza a ventoinha “Frequentemente” ou “Por
vezes”. Este resultado poderá ser um reflexo da insatisfação dos moradores com a
temperatura interior das suas habitações no Verão, provocada pelo mau
comportamento térmico dos edifícios neste período do ano. A utilização de ventoinhas
acontece normalmente quando a temperatura interior é demasiado desconfortável, o
que poderá demonstrar que os edifícios dos moradores que a utilizam frequentemente
serão bastante desconfortáveis neste campo, sendo também bastante desconfortável
nos restantes, pelo menos nos dias de maior calor.
Relativamente à frequência com que os comerciantes utilizam a ventoinha, é possível
observar que a maioria utiliza este aparelho, uns com maior frequência do que outros.
0
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Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
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20
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
83
Este facto demonstra também que a temperatura durante o Verão não é satisfatória na
maioria dos espaços comerciais do Bairro Alto.
A utilização de ventoinhas é, do ponto de vista ambiental e energético, muito mais
vantajosa do que o uso do ar condicionado. Verificamos que apesar da frequência com
que esta é utilizada pelos utilizadores, existe alguma insatisfação com a temperatura
dos edifícios no Verão. Caso se promova uma ventilação natural eficaz destes
edifícios, a ventoinha poderá ser um bom complemento de baixo consumo para
conferir um bom conforto térmico aos edifícios durante o Verão.
Questão 11: Conforto térmico no Verão
Nesta questão pedido aos moradores e comerciantes para referir com que frequência
sentem calor dentro dos seus edifícios durante o Verão, de acordo com uma escala
que varia entre o “Muito frequentemente” e o “Nunca”.
Moradores Comerciantes
É possível observar que cerca de metade dos moradores sentem calor “Por vezes”,
havendo ainda um número significativo de pessoas que sentem calor
“Frequentemente”, não havendo grande expressão nas restantes opções.
Estes resultados voltam a confirmar que o desempenho dos edifícios no que toca ao
conforto térmico durante o Verão não é o melhor, e demonstram a importância de se
proceder às medidas necessárias para que se minimizem os ganhos solares que
contribuem para o aquecimento excessivo das habitações, e se promova o
arrefecimento dos edifícios durante este período do ano.
0 5
10 15 20 25 30
Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
0
5
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Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
84
No caso dos comerciantes, a maioria destes sente calor “Por vezes” ou
“Frequentemente”, havendo uma tendência maior para sentir calor “Por vezes”. Alguns
comerciantes referem ainda apenas sentir calor “Raramente”.
Este resultado demonstra mais uma vez que a maioria dos comerciantes não estão
satisfeitos relativamente ao conforto térmico dos seus estabelecimentos durante o
Verão, sendo importante tomar medidas que promovam o arrefecimento destes
espaços durante o Verão.
Comparando o caso dos edifícios de habitação e de comércio, é possível observar que
os comerciantes sentem calor com uma frequência ligeiramente mais pequena, o que
demonstra, como já referido, uma maior satisfação com a temperatura interior durante
o Verão.
Questão 12: Ar condicionado
Nesta questão os utilizadores referiram se preferem ou não, uma alternativa natural ao
ar condicionado, como sistema de arrefecimento do edifício.
Moradores Comerciantes
A maioria dos moradores afirma preferir um sistema natural alternativo ao ar
condicionado, havendo no entanto um grupo relevante de moradores que afirma
preferir o ar condicionado. Sendo o ar condicionado um sistema que não é saudável
quer para o ar interior, quer pelo contributo para a poluição atmosférica, o grupo que
afirma preferir o ar condicionado a um sistema alternativo natural chama a atenção,
levando a crer que seria necessária uma sensibilização junto da população do Bairro
Alto acerca das desvantagens ambientais do uso do ar condicionado.
Os moradores que afirmam preferir uma alternativa natural ao ar condicionado referem
como razões para essa preferência: ‘Ser mais económico’; ‘Ser mais saudável’; ‘Ser
0 5
10 15 20 25 30 35
Sim Não 0 5
10 15 20 25 30 35
Sim Não
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
85
melhor para o ambiente’; ‘Ser prejudicial para as crianças’. O factor de ser mais
económico é a razão referida com maior frequência por parte dos moradores
inquiridos, demonstrando que esta preocupação se sobrepõe à questão da
salubridade e ecologia.
A maioria dos comerciantes afirmou preferir uma alternativa natural ao ar
condicionado, havendo também um grupo considerável que afirma preferir o uso do ar
condicionado, apesar das desvantagens relativamente ao ambiente e salubridade
ambiental já referidas.
Entre os comerciantes que afirmam preferir uma solução natural ao ar condicionado, a
maioria refere como principal motivo o facto de esta ser mais económica. Outras
razões apontadas foram o facto de uma solução natural ser mais saudável, Razões
logísticas e dificuldade de instalação de um aparelho de ar condicionado e ainda
motivos estéticos, visto o aparelho de ar condicionado ter de ser instalado no exterior
do edifício.
Esta tendência para os moradores e comerciantes preferirem uma alternativa natural
ao ar condicionado, pode ser um sinal de que a relativa insatisfação demonstrada com
a temperatura no Verão não é preocupante, levando a crer que o recurso ao ar
condicionado seria um último recurso para os utilizadores inquiridos. A frequência com
que utilizam ventoinhas e abrem janelas com o intuito de arrefecer os edifícios não é
muito elevada, o que poderá indicar que o desempenho térmico dos edifícios no
Verão, caso se proceda a medidas como aplicar sombreamentos ou promover uma
boa ventilação natural, pode ser satisfatório.
Questão 13: Propostas de melhoria para a temperatura no Verão
Nesta questão os utilizadores foram questionados acerca do que se poderia fazer para
melhorar a temperatura dos seus edifícios durante o Verão.
Vários moradores afirmaram não saber como melhorar a temperatura interior neste
período do ano, tendo os restantes apresentado as seguintes sugestões: ‘Colocar ar
condicionado’; ‘Ter as janelas abertas durante mais tempo’; ‘Colocar portadas ou
persianas’; ‘Utilizar a ventoinha com mais frequência’.
Vários comerciantes afirmaram também não saber o que poderia ser feito, tendo a um
grande número indicado que a instalação de um aparelho de ar condicionado seria
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
86
uma solução para melhorar a temperatura no Verão. Outras soluções referidas foram:
‘Utilização de um sistema natural de arrefecimento’; ‘Ter mais janelas’; ‘Instalar
estores’; ‘Sistema de ventilação sem impacto visual e pouco consumo energético’;
‘Utilização de aparelhos que emitam menos calor com o seu funcionamento’.
Qualidade do ar
Esta pergunta relativa às questões ambientais, insere-se na questão 1, onde foi pedido
aos utilizadores para classificarem os diferentes factores enunciados numa escala que
varia entre 1 e 5, correspondendo respectivamente à pior e melhor classificação.
Moradores Comerciantes
A qualidade do ar das habitações do Bairro Alto é classificada pela maioria dos
moradores em 3, havendo uma dispersão da outra metade nas classificações 2 e 4.
Esta classificação poderia ser melhor, caso todos as habitações tivessem vãos em
mais do que uma frente do edifício, o que não acontece em alguns edifícios que
apenas têm vãos na frente virada para a rua, não tendo saguão nas traseiras do
edifício, ou este por vezes pode ser demasiado estreito para que contribua
convenientemente para a renovação do ar no interior das habitações. A renovação do
ar interior pode processar-se assim de maneira deficiente, contribuindo para que a
qualidade do ar não seja a ideal.
Outra razão que poderá contribuir para que a qualidade do ar não seja a ideal é a
organização do espaço interior, no caso de este não ter uma comunicação eficaz entre
as fachadas com vãos para o exterior.
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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
87
Figura 54: Vista aérea do Bairro Alto
Fonte: (Google Earth, 2010)
A grande maioria dos comerciantes classificou a qualidade do ar no interior dos seus
espaços comerciais em 3 ou 4, tendo apenas 6 comerciantes classificado a qualidade
do ar em 2, e 2 comerciantes classificado esta em 5, revelando uma satisfação geral
com este factor.
O facto de os espaços comerciais durante o seu período de funcionamento terem
normalmente as portas abertas, poderá para que haja uma constante renovação do ar,
conferindo uma boa qualidade do ar no interior destes espaços. Alguns espaços, em
que a sua tipologia não seja favorável a que se dê esta renovação do ar, como por
exemplo espaços estreitos e compridos, poderão ter uma qualidade do ar inferior.
Se compararmos os resultados das respostas dos moradores e comerciantes,
verificamos que há uma maior satisfação por parte dos comerciantes, o que poderá
ser explicado pelo facto já referido, de os comerciantes, em virtude da sua actividade,
terem muitas vezes as portas e/ou janelas abertas ao longo de todo o dia, promovendo
uma renovação do ar constante.
Outra questão igualmente importante para a qualidade do ar, é a qualidade do ar
exterior, que é principalmente afectada, no caso da cidade de Lisboa, pelos
automóveis. Além de medidas como o condicionamento do tráfego automóvel, já em
vigor no Bairro Alto, é possível tomar outras medidas na área dos transportes, como
utilizar autocarros eléctricos ou carros eléctricos, que podem ser disponibilizados para
aluguer, como já acontece na vila de Óbidos (CMO, 2010).
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
88
Luz natural
Moradores Comerciantes
Luz artificial
Moradores Comerciantes
A iluminação natural é classificada pela maioria dos moradores em 3, havendo ainda
alguns a classificarem esta característica em 2, enquanto que muito poucos deram
uma classificação satisfatória. Esta classificação poderá ser reflexo da tipologia urbana
e dos edifícios do Bairro Alto, com as suas ruas estreitas que não favorecem a
exposição solar, e com vários edifícios estreitos e compridos, em que por vezes existe
apenas uma frente com vãos que permitam a iluminação natural das habitações. Por
outro lado poderá haver o caso de edifícios cuja orientação se traduza numa
exposição solar excessiva, principalmente no caso dos pisos superiores, penalizando
desta maneira o conforto visual.
Outro factor que poderá ser penalizador para a iluminação natural dos edifícios, é a
organização interior, com as divisões interiores características da maioria das
habitações do Bairro Alto. Aqui a definição dos espaços de permanência adquirem
uma grande importância, sendo importante que estes estejam localizados o mais
próximo possível das janelas, enquanto que os espaços interiores sejam destinados
por exemplo a arrumos ou casas de banho.
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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
89
A classificação dada pela maioria dos utilizadores à luz artificial nas suas habitações é
expressivamente positiva, maioritariamente classificada em 4. Este é um factor
facilmente controlado pelos próprios moradores, pelo seria estranho haver uma
classificação tendencialmente mais negativa.
É ainda de assinalar que nenhum dos moradores classificou a luz artificial da sua
habitação com a classificação 5, tendo alguns moradores classificado esta
característica em 3, o que indica que não há uma satisfação plena, ao contrario do que
seria de esperar, de um parâmetro de conforto que ode ser directamente controlado
pelos utilizadores. Este resultado poderá indicar que os edifícios de habitação do
Bairro Alto não têm as instalações eléctricas mais eficazes para satisfazer as
necessidades de iluminação artificial dos mesmos.
Figura 55: Bairro Alto: Exemplos de pouca incidência solar
Fonte: (Autor, 2010)
A grande maioria dos comerciantes classificou a iluminação natural nos seus espaços
comerciais em 3, revelando uma tendência para considerar este factor razoável.
Houve ainda 7 comerciantes a classificarem a luz natural em 3, 6 comerciantes a
classificarem-na em 4 e apenas 2 deram a classificação 5.
Tal como no caso da dos edifícios de habitação, a iluminação natural poderá também
no caso dos espaços comerciais ser condicionada pela tipologia urbana do Bairro Alto.
O facto dos estabelecimentos se encontrarem no piso térreo, poderá levar a que não
haja uma incidência directa do sol favorável, quando comparada com os pisos
superiores, sendo determinante para que não haja uma satisfação geral com a luz
natural por parte dos comerciantes. Por outro lado, os espaços comerciais têm
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
90
normalmente mais e maiores vãos envidraçados, o que permite que haja uma maior
iluminação natural, mesmo quando não há incidência solar directa.
Figura 56: Bairro Alto: Rua da Rosa
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
91
4.3.1.2. Aspectos Construtivos
Questão 1: Estado de conservação
Nesta questão, foi pedido aos utilizadores para classificarem os vários factores numa
escala de 1 a 5, em que 1 representa a pior classificação e 5 a melhor classificação.
Os utilizadores foram inquiridos acerca das seguintes factores de desempenho das
suas habitações:
Estado de Conservação
Moradores Comerciantes
Quando questionados acerca do estado de conservação da sua habitação, os
moradores classificam-no entre 2 e 3, tendo cerca de metade dos utilizadores
inquiridos classificado o estado de conservação em 2, uma classificação
expressivamente negativa.
Os edifícios do Bairro Alto, como é sabido, são edifícios com vários séculos de
existência, pelo que requerem manutenção e cuidados especiais, que nem sempre
são efectuados, muito devido aos problemas de índole social da população deste
bairro. A falta de verbas por parte dos proprietários, a falta de verbas por falta da
Câmara Municipal, as rendas não actualizadas ainda em vigor, a falta de
sensibilização dos deveres dos proprietários, a existência de vários edifícios que não
se encontram em propriedade horizontal ou outras questões burocráticas5 poderão
são algumas das principais razões que contribuem para que não se proceda a uma
manutenção física mais regular dos edifícios do Bairro Alto.
5Entrevista à Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica
0 5
10 15 20 25 30
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30
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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
92
Figura 57: Bairro Alto: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
Quando questionados acerca do estado de conservação dos seus estabelecimentos,
cerca de metade dos comerciantes classificou-o em 3, tendo entre os restantes, 14
classificado o estado de conservação em 2, 8 classificado em 4 e, apenas 2
comerciantes classificado em 1. Este resultado demonstra uma tendência para os
espaços comerciais apresentarem um estado de conservação razoável, havendo no
entanto alguns em mau estado.
Os inquéritos efectuados aos comerciantes incidiram principalmente sobre os espaços
de comércio tradicional, que apresentam naturalmente um estado de conservação pior
do que os espaços de comércio mais recentes, espaços esse que foram recentemente
alvo de obras de reabilitação física na sua grande maioria.
Algumas das razões apontadas para que se verifique um mau estado de conservação
geral dos edifícios de habitação do Bairro Alto poderão ser válidas também para que o
estado de conservação dos espaços de comércio no bairro não seja o melhor, não
tendo os comerciantes e/ou proprietários as verbas necessárias para executar obras
de recuperação física dos seus edifícios. O envelhecimento da população sem que
haja uma regeneração da população e progressiva desertificação do bairro será outro
factor que tem prejudicado os comerciantes, tornando mais difícil que estes tenham os
meios necessários para proceder a obras de reabilitação nos seus edifícios.
Ao comparar o estado de conservação das habitações do Bairro Alto com os espaços
comerciais, verificamos que os moradores classificam pior o estado de conservação
das suas habitações. É possível que esta situação se verifique devido a uma possível
maior dinâmica no mercado de arrendamento dos espaços comerciais, ou pelo
simples facto de os comerciantes necessitarem de ter os seus espaços com um
estado de conservação aceitável para a prática da sua actividade.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
93
O facto de os espaços comerciais se localizarem no piso térreo dos edifícios, pode
contribuir para que estes estejam sujeitos a uma degradação física menos grave do
que as habitações no pisos superiores, sujeitas a mais problemas como por exemplo
infiltrações através da cobertura.
Organização do espaço interior
Moradores Comerciantes
Relativamente à organização do espaço interior das suas habitações, os moradores
classificam-na maioritariamente em 3 e 4, havendo poucos moradores a darem uma
classificação negativa a esta característica. Esta classificação mediana poderá ser um
reflexo da organização espacial das habitações antigas do Bairro Alto, que
naturalmente procurava dar resposta a outras necessidades, sendo a concepção da
organização de espaço interior da época diferente da actual. Sendo este um factor em
que o também próprio morador pode ter influência directa, quer através da realização
de obras, ou através da definição do uso de cada divisão, é natural que este factor não
apresente uma classificação média negativa.
Relativamente à organização do espaço interior dos seus espaços comerciais, a quase
totalidade comerciantes classificam-na maioritariamente em 3 e 4, tendo apenas 3
comerciantes classificado este factor em 2 ou 1, e 3 comerciantes classificado em 5.
Sendo este um factor em que o utilizador tem influência directa, através da
organização que dá ao espaço interior, a classificação apresenta naturalmente um
resultado positivo.
Comparando a classificação dada ao espaço interior por parte dos moradores com a
dada pelos comerciantes, verificamos que os moradores deram uma classificação m
pouco mais baixa, o que poderá ser explicado pela configuração bastante mais
simples dos espaços comerciais, que servirá de forma mais eficaz função para qual
estes espaços são utilizados.
0 5
10 15 20 25 30
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5
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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
94
Decoração/Mobiliário (Aspectos construtivos)
Moradores Comerciantes
A classificação de decoração interior e mobiliário, divide-se quase na sua totalidade
entre os valores 3 e 4. Sendo este uma parâmetro completamente controlável pelos
moradores, o resultado médio expressivamente positivo não causa surpresa.
Por outro lado, é possível observar que apenas 1 morador classificou este parâmetro
em 5, o que demonstra que não há uma satisfação plena relativamente a este factor.
Este poderá ser um indicador de problemas ao nível económico da população do
Bairro Alto, que não terá possibilidades económicas para melhorar este factor que
contribui para o conforto no interior das suas habitações.
Relativamente a este factor de conforto para os comerciantes, estes classificaram-no
em 4 na sua grande maioria. Este é um factor exclusivamente controlado pelos
próprios comerciantes, pelo que é natural que haja uma satisfação geral neste
aspecto. A decoração e mobiliário dos espaços comerciais é praticamente definida
pelo tipo de actividade comercial praticada, pelo que esta poderá limitar bastante os
comerciantes no que respeita a este ponto.
É possível observar que a classificação dada pelos moradores e comerciantes à
decoração/mobiliário, quando comparada com a temperatura (ver Capítulo IV, p. 68),
iluminação natural (ver Capítulo IV, p. 88) e estado de conservação dos edifícios (ver
Capítulo IV, p. 90), tem uma classificação um pouco mais satisfatória do que qualquer
uma das referidas. Este facto poderá indicar que os utilizadores dão um pouco mais de
importância a estes factores ambientais, o que será um sinal de que os aspectos
ambientais referidos não são satisfatórios, não se apresentando, no entanto, num
estado crítico, a avaliar pela diferença das classificações observadas.
0
5
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20
25
1 2 3 4 5 0 5
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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
95
Vista para o exterior
Moradores Comerciantes
A vista para o exterior é um factor que contribui para o conforto visual dos moradores
na sua habitação, pelo que interessa que seja o mais apelativa e com menos
elementos que a possam obstruir possíveis. Observamos que cerca de metade das
dos inquiridos classificou este factor em 3, tendo a classificação 4 obtido também um
resultado relativamente expressivo, o que leva a concluir que os moradores do Bairro
Alto estão minimamente satisfeitos com a vista para o exterior das suas habitações.
A configuração do Bairro Alto, com as suas ruas estreitas, onde os edifícios estão
bastante próximos uns dos outros, poderá ser determinante para que não haja uma
grande extensão visual para o exterior na maioria dos edifícios do bairro, levando a
que a classificação deste factor não seja mais positiva. O mau estado do edificado,
visível nas fachadas dos edifícios, em conjunto com os vários graffiti espalhados por
vários edifícios em todo o bairro, poderá ser outra razão para que a satisfação com a
vista para o exterior dos moradores não seja melhor.
Figura 58: Travessa da Espera; Travessa dos Fieis de Deus
Fonte: (Autor, 2010)
0 5
10 15 20 25 30
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
96
A vista para o exterior é classificada em 3 por cerca de metade dos comerciantes
inquiridos, tendo a maioria dos restantes comerciantes classificado este factor em 4.
Este é um factor importante para o conforto visual dos utilizadores, sendo importante
que esta seja o mais apelativa e com menos obstruções possível. Funcionando no
piso térreo, os espaços comerciais terão todos uma vista para o exterior semelhante,
havendo apenas diferenças mais significativas no caso de ruas em que haja circulação
e/ou seja possível o estacionamento de automóveis.
Este resultado demonstra que os comerciantes inquiridos estão razoavelmente
satisfeitos com a vista para o exterior dos seus estabelecimentos.
Figura 59: Rua do Grémio Lusitano
Fonte: (Autor, 2010)
Comparando os dois resultados, é possível observar que estes são quase
semelhantes, o que poderá ser explicado pela configuração urbana do Bairro Alto, com
as suas ruas estreitas, em que a vista para o exterior não difere muito de piso para
piso.
É possível observar que a classificação dada pelos moradores e comerciantes à vista
para o exterior, à semelhança do que acontece com a decoração/mobiliário, quando
comparada com a temperatura (Capítulo IV, p. 68), iluminação natural (Capítulo IV, p.
88) e estado de conservação dos edifícios (Capítulo IV, p. 90), tem uma classificação
um pouco mais satisfatória do que qualquer uma das referidas. Este facto poderá
indicar igualmente que os utilizadores dão um pouco mais de importância a estes
factores ambientais, o que será um sinal de que os aspectos ambientais referidos não
são satisfatórios, não se apresentando, como já referido, num estado crítico, a avaliar
pela diferença das classificações observadas.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
97
Questão 2: Obras de reabilitação
Foi aqui pedido aos utilizadores para indicarem se os seus edifícios foram alvo de
obras de reabilitação nos últimos anos, e quando é que essas obras aconteceram.
Alguns utilizadores não tiveram condições de responder a esta questão, ou de indicar
com algum rigor quando é que a sua habitação foi alvo de obras pela última vez, por
se tratar de habitantes e/ou comerciantes que se mudaram à relativamente pouco
tempo para o Bairro Alto, e/ou terem iniciado a sua actividade também há pouco
tempo, ou devido as últimas obras de reabilitação terem acontecido há um tempo
considerável.
Houve assim 27 moradores e 27 comerciantes a indicar uma estimativa de quando
aconteceram as últimas obras de reabilitação nos seus edifícios, tendo os restantes 22
moradores e 23 comerciantes afirmado não saber quando tiveram lugar as ultimas
obras de reabilitação. Organizei então as respostas cronologicamente em períodos de
5 anos, tendo obtido os seguintes resultados:
Moradores Comerciantes
Podemos observar, no caso dos moradores, uma distribuição relativamente uniforme
das obras realizadas, tendo havido um número maior de obras de reabilitação nos
últimos 10 e 15 anos. Estes resultados não significam que as habitações em causa
estejam em boas condições físicas, pois as obras realizadas podem ter sido de tipos
muito diferentes. Com efeito, 16 dos moradores que responderam a esta questão,
indicaram que as obras realizadas foram obras ligeiras ou pequenas reparações, e
não obras de reabilitação integral das suas habitações.
0
2
4
6
8
30 anos 25 anos 20 anos 15 anos 10 anos 5 anos
0 2 4 6 8
10 12 14
30 anos 25 anos 20 anos 15 anos 10 anos 5 anos
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
98
Figura 60: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
É possível observar, no caso dos comerciantes, que cerca de metade das obras
realizadas foram efectuadas nos últimos 10 anos, havendo algumas que se realizaram
nos últimos 5 e 15 anos, sendo poucas as que se realizaram há mais de 25 anos. Foi
indicado por 19 comerciantes que as obras realizadas foram obras ligeiras, ou
pequenas reparações, não resolvendo problemas mais graves relativamente ao estado
de conservação dos espaços avaliados.
Figura 61: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
Ao compararmos os dois resultados, verificamos que há mais obras realizadas
recentemente nos estabelecimentos comerciais do que nas habitações, o que poderá
ser explicado pela maior necessidade por parte dos comerciantes terem os seus
espaços em condições físicas aceitáveis para a prática da sua actividade comercial.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
99
Questão 3. Urgência de obras de reabilitação
Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes para indicarem com que grau
de urgência consideram que suas habitações necessitam de sofrer obras de
reabilitação, entre 5 graduações que vão desde o “Muita urgência” até ao “Não
necessita”.
Moradores Comerciantes
As respostas dos moradores incidiram principalmente sobre a opção “Urgência” tendo
a opção “Pouca urgência” também alguma expressão. Foram poucos os inquiridos que
consideraram que a sua habitação não necessita de obras de reabilitação, o que
reflecte a necessidade de proceder à recuperação física do parque habitacional do
Bairro Alto.
Estes resultados são indicadores do estado de conservação do edificado do Bairro
Alto, pelo que poderão ser explicados pelos factos já referidos na Questão 1 deste
questionário (ver Capítulo IV, p. 90).
Perto de metade das respostas dos comerciantes incidiram principalmente sobre a
opção “Pouca urgência” tendo 13 comerciantes referido que o seu estabelecimento
“Não necessita” de obras de reabilitação. Dos restantes 14 comerciantes inquiridos, 6
afirmaram que o seu estabelecimento necessita de obras com “Alguma urgência”, 4
com “Urgência” e 4 com “Muita urgência”.
Comparando os dois resultados, é possível observar uma necessidade mais urgente
por parte dos moradores em efectuar obras de reabilitação relativamente aos
moradores, o que poderá ser explicado pelos factos referidos na Questão 1 do
presente questionário (ver Capítulo IV, p. 90).
0
5
10
15
20
Muita urgência
Urgência Alguma urgência
Pouca urgência
Não necessita
0 5
10 15 20 25
Muita urgência
Urgência Alguma urgência
Pouca urgência
Não necessita
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
100
Questão 4. Tipos de obras de reabilitação
Relativamente a esta questão, foi pedido aos moradores e comerciantes para indicar
qual o tipo de obras que consideram ser mais prioritárias nos seus edifícios.
Depois de reunir e analisar as respostas, verificamos que os moradores apresentam
necessidades variadas no que diz respeito à recuperação física das suas habitações.
Os elementos e/ou espaços considerados como prioritários em futuras obras de
reabilitação física que aparecem com mais frequência são: Janelas; Pavimento; Casas
de banho; Paredes interiores; Fachada; Cozinha.
A realização de obras nas montras e fachada, no pavimento, nas paredes interiores e
nova pintura são os elementos que aparecem com maior frequência nas respostas
dadas pelos comerciantes
Moradores Comerciantes
Outros aspectos considerados como prioritários pelos moradores, mas com menos
expressão do que os enumerados supra, são: Pintura; Portas; Tecto; Rodapés;
Isolamento acústico; Obras que resolvam infiltrações; Escadas; Obras totais.
Outros elementos referidos pelos comerciantes inquiridos como prioritários numa
futura obra de reabilitação foram: ‘Realização de obras no tecto que resolvam as
infiltrações’; ‘Colocação de portas novas’; ‘Colocação de janelas e caixilhos novos’;
‘Realização de obras totais’.
O facto de haver vários elementos, considerados como prioritários numa futura obra
de reabilitação, referidos com alguma frequência quer por moradores quer por
comerciantes, poderá ser um indicador de que a manutenção física dos edifícios não
tem sido efectuado com a frequência ou na altura necessária, resultando num estado
de degradação avançado destes elementos. Estes resultados remetem para a questão
do estado de conservação dos edifícios e suas causa, já referido anteriormente (ver
Capítulo IV, p. 90).
0
5
10
15
20
Janelas Pavimento WC Paredes Fachada Cozinha
0
5
10
15
20
Montra/Fachada Pavimento Pintura Paredes
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
101
Importa referir também que alguns dos aspectos construtivos que os utilizadores
referiram estar em mau estado de conservação, têm influência no desempenho
ambiental dos edifícios. As janelas, fachadas e portas, referidas tanto por moradores
como por comerciantes, como os elementos que se apresentam em pior estado de
conservação, têm bastante influência do desempenho térmico do edifício,
influenciando assim o conforto dos utilizadores.
Comparando agora as classificações dos diversos factores relativos às questões
ambientais e aspectos construtivos, verificamos que há uma tendência para os
utilizadores se mostrarem algo insatisfeitos com estas duas questões. Esta relativa
insatisfação demonstrada por moradores e comerciantes nas questões enunciadas
não difere muito de um tema para o outro, o que leva a crer que não há uma
insatisfação maior com as questões ambientais relativamente aos aspectos
construtivos. Sendo as questões ambientais aquelas que mais influenciam o conforto
dos utilizadores, verifica-se que os edifícios do Bairro Alto necessitam com igual
urgência de intervenções que melhorem o conforto e estado de conservação dos
mesmos.
Figura 62: Bairro Alto: Exemplo de elementos em mau estado de conservação
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
102
4.3.1.3. Mobilidade e Acessibilidade
Questão 14: Transportes
Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes para classificar vários
factores acerca do Bairro Alto como espaço urbano. numa classificação que varia
entre 1 e 5, sendo 1 a pior e 5 a melhor classificação.
Proximidade de transportes públicos
Moradores Comerciantes
A maioria da população inquirida classificou a proximidade de transportes públicos em
4 ou 5, demonstrando que o Bairro Alto está bem servido de transportes públicos na
sua proximidade, havendo portanto, para os moradores, uma alternativa viável ao
automóvel.
A quase totalidade dos comerciantes classificou também a proximidade de transportes
públicos em 4 ou 5, demonstrando também uma grande satisfação com a oferta e
proximidade dos mesmos.
A boa oferta de transportes públicos no Bairro Alto permite que se pensem em
medidas de incentivo ao uso dos mesmos em detrimento do automóvel. Como é
sabido o automóvel é uma das principais fontes de CO2 nas cidades, contribuindo
para a má qualidade do ar. A relativa insatisfação demonstrada pelos utilizadores
relativamente à qualidade do ar, que poderá ter a ver, como já referido, com a
qualidade do ar exterior, pode ser melhorada caso se tomem medidas no sentido de
se desincentivar o uso do automóvel.
0 5
10 15 20 25 30
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30 35
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
103
Figura 63: Bairro Alto: Transportes públicos
Fonte: (Autor, 2010)
Acesso automóvel
Moradores Comerciantes
O acesso automóvel foi classificado em 3 por cerca de metade dos moradores, tendo
os restantes uma tendência para o classificar com 1 ou 2, classificações estas
negativas. Como é sabido, actualmente está em vigor um modelo de tráfego
condicionado aos moradores e comerciantes na maioria das vias do bairro alto,
podendo este resultado ser um sinal de que há alguma insatisfação relativamente ao
actual modelo de tráfego6 praticado no Bairro Alto.
6Regulamento Específico da Zona de Estacionamento de Duração Limita do Bairro Alto, CML 2002
0
5
10
15
20
25
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
104
Figura 64: Rua das Gáveas; Rua do Norte
Fonte: (Autor, 2010)
Cerca de metade dos comerciantes classificou o acesso automóvel em 2, tendo a
outra metade classificado este factor em 1 ou 3 na sua maioria. Este resultado pode
ser também um sinal de um descontentamento geral por parte dos comerciantes
relativamente ao actual modelo de tráfego condicionado em vigor no Bairro Alto.
A maior parte dos comerciantes terá necessidade de ter acesso automóvel de
preferência à porta dos seus estabelecimentos, para receberem fornecedores e outros,
pelo que o modelo de acesso condicionado em vigor poderá ser menos bem visto por
parte dos comerciantes do que pelos moradores, o que é visível ao comparar as
respostas do moradores e comerciantes, onde os comerciantes classificam pior a
circulação automóvel do que os moradores.
O descontentamento também demonstrado por parte dos moradores, poderá ter a ver
com os moradores que têm automóvel próprio, e que poderão não ter acesso à própria
rua.
Figura 65: Travessa da Queimada; Travessa do Poço da Cidade
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
105
Vaga de estacionamento perto de casa
Moradores Comerciantes
A maioria dos moradores e comerciantes inquiridos classificou este aspecto em 1,
revelando uma grande insatisfação com a oferta de vagas de estacionamento no
Bairro Alto. A estrutura urbana deste bairro, com ruas bastante estreitas, em conjunto
com o modelo de tráfego automóvel no interior do Bairro Alto actualmente em vigor,
serão as razões de não haver uma maior oferta de estacionamento para os
moradores e comerciantes do bairro.
Figura 66: Bairro Alto
Fonte: (Autor, 2010)
0 5
10 15 20 25 30 35
1 2 3 4 5 0
10
20
30
40
50
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
106
Garagem
Moradores Comerciantes
Entre moradores e comerciantes, apenas 2 dos moradores inquiridos revelaram ter
garagem no seu edifício. Este poderá ser um factor que se torna num condicionante
para os moradores com automóvel próprio, ou num factor desfavorável para quem
procure casa nesta zona. Havendo várias ruas sem acesso automóvel e tendo em
conta a tipologia dos edifícios do Bairro Alto, percebe-se que não é possível haver
muitos edifícios com garagem, sem que para isso se proceda a obras que alterem a
tipologia construtiva dos mesmos.
Figura 67: Bairro Alto
Fonte: (Autor, 2010)
0
10
20
30
40
50
1 2 3 4 5 0
10 20 30 40 50 60
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
107
Condições de acesso a pé
Moradores Comerciantes
Quando questionados acerca das condições de acesso a pé, a maioria dos moradores
classificou este factor em 4, havendo alguns moradores a dar a classificação 3 e 5.
Quando questionados acerca das condições de acesso a pé, a maioria dos
comerciantes classificou este factor em 4, havendo alguns moradores a dar a
classificação 3 e 5.
Estes resultados revelam uma satisfação geral de moradores e comerciantes com as
condições de acesso pedonal no Bairro Alto, que poderá ser explicada pela vocação
original do bairro para a circulação a pé, assim como pelo modelo de tráfego
condicionado em vigor, que ao reduzir o fluxo automóvel e vias onde é permitida a
circulação automóvel, beneficia a circulação pedonal.
Figura 68: Rua da Rosa
Fonte: (Autor, 2010)
0 5
10 15 20 25 30 35
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30 35
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
108
Questão 17: Mobilidade a pé e automóvel
Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes inquiridos para classificarem
a relação entre mobilidade a pé e automóvel no Bairro Alto, de acordo com uma
classificação que varia entre “Muito boa” e “Muito má”.
Moradores Comerciantes
A classificação dada pela generalidade dos moradores e comerciantes é mediana,
tendo 22 moradores classificado esta relação como “Razoável”, 14 como “Boa”, 12
como “Má” e 1 como “Muito má”, sendo os resultados dos comerciantes bastante
parecidos. O Bairro Alto é, como já referido, um espaço urbano como vocação natural
para a circulação pedonal, tendo sido adaptado em função da evolução natural no
tempo, à circulação automóvel. Para ser possível a circulação automóvel em algumas
das ruas deste bairro, os passeios criados para circulação pedonal ficaram
naturalmente estreitos, podendo este ser um factor que por vezes dificulta a
circulação dos peões. Os carros estacionados na rua poderão também funcionar por
vezes como outra barreira à circulação dos peões.
Uma grande parte dos moradores inquiridos indicou como principais razões para que
esta relação entre por vezes em conflito: ‘A existência de zonas onde a circulação
automóvel dificulta a circulação pedonal’; ‘Os carros estacionados nos passeios’; ‘As
ruas demasiado estreitas, onde não devia ser permitido o estacionamento’. Alguns
moradores indicam outras razões para que haja um constrangimento para o peões,
causado pelos automóveis, como: ‘Falta de cuidado dos condutores, que várias vezes
estacionam à porta dos moradores, dificultando a entrada e saída dos edifícios’; ‘Mau
serviço prestado pela EMEL7’. Alguns dos habitantes chama a atenção para o ‘mau
estado do pavimento das ruas do Bairro Alto’.
7 EMEL: Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa
0
5
10
15
20
25
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
0
5
10
15
20
25
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
109
Uma pequena parte dos moradores refere que com o actual modelo de tráfego
condicionado, as condições de circulação pedonal melhoraram substancialmente.
Os comerciantes referem como principais problemas: ‘Falta de estacionamento’; ‘Ruas
demasiado estreitas, por vezes sem passeio para os peões’; ‘Carros mal estacionados
que dificultam a circulação dos peões’; ‘Falta de planeamento’. Alguns referem que o
modelo de tráfego deveria ser revisto, por vários veículos com mercadorias serem
impedidos de entrar no bairro, prejudicando o funcionamento dos seus negócios.
Figura 69: Rua Luz Soriano; Travessa do Poço da Cidade
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
110
4.3.1.1. Aspectos sociais
Oferta de serviços/equipamentos
Moradores Comerciantes
A grande maioria dos moradores inquiridos classificaram como 3 ou 4 a proximidade
de serviços e equipamentos públicos, revelando alguma satisfação com a oferta
destes no Bairro Alto e sua envolvente.
Relativamente aos comerciantes, estes classificaram a proximidade de serviços e
equipamentos públicos 3 ou 4, revelando também alguma também uma satisfação
com a oferta destes no Bairro Alto e sua envolvente.
Os resultados demonstram que quer moradores quer comerciantes, ao classificarem
este factor em 3 e 4, não apresentam uma satisfação plena com a oferta de serviços e
equipamentos, o que poderá ser um indicador de quem estes não servem com total
eficácia os utilizadores do Bairro Alto.
Proximidade de bens de 1ª necessidade
Moradores Comerciantes
0
5
10
15
20
1 2 3 4 5 0 5
10 15 20 25 30 35
1 2 3 4 5
0
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10 15 20 25 30 35
1 2 3 4 5
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
111
Relativamente à proximidade de bens de 1ª necessidade, a grande maioria dos
moradores classificou este factor em 4, revelando-se satisfeita com a oferta deste tipo
de bens no Bairro Alto. As várias mercearias existentes no bairro serão os
estabelecimentos que disponibilizam bens de 1ª necessidade mais próximo da
população local.
Entre os comerciantes, a grande maioria dos comerciantes classificou este factor em
4, revelando-se também satisfeita com a oferta deste tipo de bens no Bairro Alto.
Questão 15: Relação entre vida diurna e nocturna
Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes para classificarem a relação
entre a vida diurna e a vida nocturna do Bairro Alto, de acordo com uma escala que
varia entre “Muito boa” e “Muito má”.
Moradores Comerciantes
No caso dos moradores resultado tem uma expressão negativa, tendo 21 dos
moradores classificado esta relação como “Má”, 12 como “Razoável” e 11 como “Muito
Má”. Apenas 5 moradores classificaram a relação entre a vida diurna e nocturna do
Bairro Alto como “Boa” ou “Muito boa”.
Este descontentamento por parte dos moradores do Bairro Alto, com a relação entre a
vida diurna e vida nocturna do bairro, poderá ser explicado por diversos factores. A
vida nocturna que tem lugar no Bairro Alto, faz com que inúmeros visitantes visitem o
bairro durante todas as noites da semana, o que traz consigo consequências
inevitáveis, como o barulho e confusão provocado pelos aglomerados de pessoas que
se juntam ou o barulho de música proveniente dos bares, o que naturalmente será um
incómodo grande para os moradores deste bairro. As características do Bairro Alto e
do seu edificado, que tem uma vocação puramente habitacional, com ruas estreitas e
0
5
10
15
20
25
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
0
5
10
15
20
25
Muito Boa Bom Razoável Má Muito Má
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
112
edifícios antigos com 4 a 5, poderão contribuir também para que os efeitos da vida
nocturna sejam ainda mais sentidos pelos moradores do bairro.
Foi pedido também aos moradores para indicarem possíveis razões para essa relação
ser boa ou má, tendo a maioria referido o barulho e confusão gerada pelas inúmeras
pessoas que frequentam o Bairro Alto como principais elementos que leva a que esta
relação entre vida diurna e nocturna seja considerada negativa. Foram referidos outros
factores que contribuem para que esta relação entre em conflito, nomeadamente:
‘Falta de bom senso das pessoas que frequentam o Bairro Alto à noite’; ‘Volume da
música dos bares excessivamente alto’; ‘Vandalismo e furtos’; ‘Falta de controlo por
parte da policia’. Poucos referem que a relação entre a vida diurna e nocturna é
positiva, considerando estes que a vida nocturna traz o movimento e vida que não
existe durante o dia no Bairro Alto.
Entre os 50 comerciante inquiridos, 20 consideram que a relação entre vida diurna e
nocturna do Bairro Alto é “Razoável”, 13 consideram que é “Má”, 12 consideram que é
”Boa” e 5 consideram que esta é “Muito Má”. Ao comparar este resultado com o dos
moradores, há tendência para os comerciantes considerarem que esta relação é mais
harmoniosa do que os moradores, o que poderá ser explicado pelo facto de nem todos
os comerciantes serem também moradores do Bairro Alto.
São apontadas algumas razões por parte dos comerciantes pelas quais esta relação
entre vida diurna e nocturna não é a ideal: ‘Barulho excessivo dos bares’; ‘Falta de
policiamento, torna o bairro uma zona insegura durante a noite’; ‘Actos de vandalismo
acontecem durante a noite’; ‘Tráfico de droga acontece de noite para servir os jovens
que frequentam o bairro’; ‘De manhã há imenso lixo nas ruas’; ‘As ruas do bairro são
usadas pelos frequentadores nocturnos como um autêntico urinol público’.
Figura 70: Bairro Alto: Vida diurna e nocturna
Fonte: (Autor, 2010)
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
113
Questão 16: Ruído
Foi pedido aos habitantes do Bairro Alto para classificarem o grau de satisfação face
aos ruídos, vindos do exterior ou de vizinhos, ouvidos nas suas casas, de acordo com
uma escala que varia entre “Muito satisfeito” e “Muito insatisfeito”.
Moradores Comerciantes
Podemos observar que 22 dos moradores inquiridos consideram estar “Insatisfeitos”,
13 “Um pouco insatisfeitos” e 8 “Muito insatisfeitos”, enquanto que apenas 6
moradores consideram estar “Muito satisfeitos” ou “Satisfeitos”. Esta forte tendência
para a insatisfação por parte dos moradores face aos ruídos ouvidos dentro das
habitações poderá ser explicada pelos edifícios antigos, com um deficiente ou
inexistente isolamento acústico e em mau estado de conservação, que não terão
naturalmente um bom funcionamento face ao ruído proveniente do exterior ou de
vizinhos do mesmo edifício. O ruído durante o dia no Bairro Alto nunca será maior do
que o ruído normal das actividades da cidade. Assim, a vida nocturna do Bairro Alto,
período em que o nível de ruído emitido é maior, poderá ser a principal razão para que
se verifique esta insatisfação geral dos moradores face ao ruído ouvido no interior das
suas habitações.
A maioria dos moradores indicam o ‘barulho causado pela vida nocturna’ como a
principal causa para a insatisfação ao nível do conforto acústico nas suas casas.
Referem a ‘música dos bares com volume demasiado alto’ e os ‘aglomerados de
pessoas que se juntam à porta dos bares’ como as principais fontes de ruído durante a
noite. Alguns moradores afirmam sentir incómodo com o ‘ruído provocado pelos
vizinhos’, indicando que os ‘edifícios antigos, sem isolamento acústico’ em que vivem,
são os principais potenciadores deste problema.
Relativamente aos comerciantes é possível observar no gráfico que 23 dos
comerciantes inquiridos se encontram “Satisfeitos” e 22 “Um pouco insatisfeitos”, o
0
5
10
15
20
25
Muito satisfeito
Satisfeito Um pouco insatisfeito
Insatisfeito Muito insatisfeito
0
5
10
15
20
25
Muito satisfeito
Satisfeito Um pouco insatisfeito
Insatisfeito Muito insatisfeito
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
114
que revela uma tendência para estes considerarem os ruídos ouvidos nos seus
estabelecimentos como minimamente aceitáveis.
Como já referido no caso dos moradores, o facto dos edifícios do Bairro Alto serem
bastante antigos, sem isolamento acústico e por vezes em mau estado, poderá
contribuir para que não haja uma satisfação plena por parte dos comerciantes perante
o ruído exterior. Ao compararmos este resultado com o dos moradores, é possível
verificar uma maior satisfação com este factor por parte dos comerciantes, o que
poderá acontecer visto o período de funcionamento dos estabelecimentos não se
estender até à noite, período em que o ruído exterior é muito maior, em virtude da vida
nocturna do Bairro Alto.
Relativamente às causas enunciadas pelos comerciantes, alguns referem que o ruído
ouvido durante o dia não causa incómodo, sendo este o ruído normal da actividade
diária da cidade. Outros referem que sentem algum incómodo devido ao ruído de
automóveis, ao estado de conservação e falta de isolamento acústico dos edifícios, ou
ainda pelo barulho emitido por vizinhos, nomeadamente pelo volume alto de música.
Questão 18: Segurança
Nesta questão foi pedido aos moradores para classificarem a segurança no Bairro
Alto, numa escala que varia entre “Muito boa” e “Muito má”.
Moradores Comerciantes
Podemos verificar que 22 dos habitantes a classificaram como “Razoável”, 16 como
“Má”, 6 como “Muito má” e apenas 5 como “Boa”. Estes resultados reflectem um
sentimento de insegurança partilhado pela maioria dos habitantes de Bairro Alto. Esta
insegurança sentida pode encontrar algumas explicações como a vida nocturna, que
acarreta consigo problemas como o tráfico de droga, furtos, desacatos, entre outros; a
0
5
10
15
20
25
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
0 5
10 15 20 25 30 35
Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
115
má iluminação de algumas ruas; o pouco movimento de pessoas que se verifica
durante o dia.
A quase totalidade dos moradores inquiridos refere que a insegurança que sentem no
Bairro Alto se deve à falta de policiamento durante a noite, sendo neste período que
mais sentem essa insegurança. Alguns referem que há ‘ruas mal iluminadas, propícias
a que haja assaltos’ e ‘tráfico de droga que aparentemente não é controlado’, o que
provoca um clima de insegurança para os moradores do bairro. Alguns moradores
afirmam já terem sido vítimas de tentativas de assalto, assim como de arrombamento
das suas habitações.
A maioria dos comerciantes considera a segurança no Bairro Alto “Razoável”, havendo
ainda alguns a considerarem que esta é “Má”. Se compararmos este resultado com o
dos moradores, é possível observar que os moradores apresentam uma tendência
para considerar a segurança pior do que os comerciantes, o que pode ser explicado
pelo facto de muitos dos comerciantes não habitarem no Bairro Alto, acabando por
não estar no bairro durante o período nocturno, período esse em que a segurança
será pior.
A maioria dos comerciantes considera que há ‘Pouco policiamento nas ruas do Bairro
Alto durante a noite’. Outros referem que há ‘Pouco controlo ao tráfico de droga nas
ruas do bairro’; ‘Devia ser posta em prática a videovigilância do Bairro Alto.
Questão 19. Propostas de melhoria
No que respeita a esta questão, foi pedido aos habitantes e comerciantes para
indicarem sugestões que possam melhorar as condições dos seus edifícios, assim
como as condições de vida no Bairro Alto.
As principais sugestões apresentadas por parte dos moradores com maior frequência,
tendo em vista a melhoria das condições dos edifícios, foram as seguintes:
• ‘Criação de um programa de reabilitação dos edifícios mais carenciados por
parte da Câmara Municipal’;
• ‘Disponibilização de maiores ajudas e subsídios aos proprietários para
realizarem obras de reabilitação nos seus edifícios’;
• ‘Melhor articulação entre Junta de Freguesia e Câmara Municipal, de maneira a
conseguir mais apoios aos proprietários, para a realização de obras de
reabilitação’;
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
116
• ‘Nova Junta de Freguesia, que esteja mais atenta aos problemas dos
moradores, e que se concentre menos nos problemas dos proprietários de
restaurantes e estabelecimentos nocturnos’.
Foram ainda apresentadas outras sugestões, por parte de alguns moradores, como:
‘Realização de obras nos edifícios, por parte da Câmara, que renovem as fachadas
dos edifícios e coloquem isolamento acústico, de maneira a que a vida nocturna e
diurna coexistam de uma maneira mais harmoniosa’; ‘Obrigar proprietários a realizar
obras de manutenção mais regulares nos seus edifícios’.
No que diz respeito às condições de vida no Bairro Alto, houve também opiniões
partilhadas por muitos dos moradores inquiridos, nomeadamente:
• ‘Aumento de policiamento durante a noite’;
• ‘Melhorar a iluminação das ruas mais escondidas e com má iluminação’;
• ‘Pôr em funcionamento câmaras de vigilância em todas as ruas do bairro’;
• ‘Criar soluções de estacionamento para os moradores’.
Outras sugestões apresentadas por alguns dos moradores para melhorar as
condições de vida e o Bairro Alto enquanto espaço urbano foram: ‘Melhorar a
pavimentação das ruas’; ‘Redução do horário de funcionamento dos bares’; ‘Limitação
do nível de ruído da música nos bares’; ‘Instalar mais caixotes do lixo nas ruas’;
‘Realização de uma limpeza mais eficaz e, de preferência logo no final da noite, das
ruas do Bairro Alto’; ‘Proibição da venda de garrafas de vidro nos bares, durante a
noite, visto serem utilizadas muitas vezes em actos de vandalismo’.
As sugestões indicadas pelos comerciantes com maior frequência, tendo em vista a
melhoria das condições dos edifícios, foram:
• ‘Incentivos aos proprietários por parte da Câmara Municipal para a reabilitação
dos seus edifícios’:
• ‘Programa de reabilitação integral dos edifícios do Bairro Alto por parte da
Câmara Municipal’.
Outras sugestões apresentadas pelos comerciantes, com vista à melhoria das
condições dos edifícios do Bairro Alto foram: ‘Maior articulação entre Câmara
Municipal e Junta de Freguesia no apoio aos moradores e comerciantes’; ‘Obrigação
dos proprietários de realizarem manutenção regular dos edifícios’.
Relativamente às condições de vida no Bairro Alto, houve algumas opiniões
partilhadas por vários comerciantes inquiridos, nomeadamente:
• ‘Rever o actual modelo de tráfego condicionado’;
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
117
• ‘Aumentar o policiamento das ruas do bairro durante a noite’;
• ‘Regular o nível de ruído dos bares durante a noite’;
• ‘Melhor entendimento entre a Junta de Freguesia e Câmara Municipal, de
maneira a dar resposta mais depressa aos problemas dos moradores e
comerciantes’.
Outras sugestões apresentadas por alguns dos comerciantes para melhorar as
condições de vida e o Bairro Alto enquanto espaço urbano foram: ‘Facilitar a entrada
de automóveis no bairro, mas controlar o estacionamento’; ‘Maior controlo
relativamente aos graffiti’; ‘Pôr em prática o sistema de videovigilância do Bairro Alto’;
‘Dotar as ruas de mais caixotes do lixo, visto ao fim de cada noite as ruas estarem
repletas de lixo no chão, janelas e entradas dos edifícios’; ‘Instalar sanitários públicos
para evitar o cheiro insuportável que se sente todas as manhãs, principalmente aos
fins de semana’; ‘Facilitar a entrada de veículos de fornecedores sem se cobrar
qualquer taxa’.
Ao analisar as sugestões dadas por moradores e comerciantes, é possível verificar
algumas sugestões semelhantes, o que demonstra uma preocupação geral destes
utilizadores com certas questões prontamente enunciadas pelos mesmos, ao nível
das questões relativas ao Bairro Alto e ao seu edificado, levando a crer que estas
serão os problemas que mais incomodam os utilizadores do Bairro Alto.
Observando as sugestões que aparecem com mais frequência para dar respostas aos
problemas do edificado do Bairro Alto, é possível verificar que moradores e
comerciantes partilham a opinião de não há apoios suficientes aos proprietários, que a
dinâmica da Câmara Municipal neste campo não é suficiente e que o entendimento
entre a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia não é o melhor, de maneira a
promover a recuperação e/ou preservação física do edificado do Bairro Alto.
Relativamente às sugestões dadas com maior frequência, tendo em vista a melhoria
do Bairro Alto enquanto espaço urbano, verificamos que há preocupações comuns,
principalmente no que respeita à segurança do bairro, assim como à questão da
circulação automóvel e falta de estacionamento.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
118
4.3.2. Questionários a Frequentadores
Questão 1: Vida diurna e nocturna
Nesta questão foi pedido aos frequentadores inquiridos para classificarem a relação
entre vida diurna e vida nocturna do Bairro Alto, e para indicarem sugestões do que
poderia ser feito para a melhorar.
Após analisar e sintetizar as respostas dadas, é possível apurar que a esmagadora
maioria dos frequentadores tem uma postura neutra relativamente à relação entre vida
diurna e nocturna do Bairro Alto, considerando que estas são diferentes. Os restantes
frequentadores referem que esta relação é boa ou má, havendo uma divisão de
opiniões entre este grupo. Quase unânime é a opinião de que o Bairro Alto é vivido de
maneira completamente distinta de dia e de noite, havendo muito pouco ou quase
nenhum movimento durante o dia, sendo invadido por pessoas no período nocturno.
Entre as sugestões apresentadas, é possível observar sugestões que são dadas por
vários frequentadores. As sugestões dadas, as que aparecem com maior frequência
são:
• Criar novos espaços de comércio, com uma maior heterogeneidade da oferta
para chamar mais e diferentes tipos de pessoas durante o dia;
• Aumentar o policiamento durante a noite;
• Efectuar uma manutenção e limpeza mais regular do bairro;
• Prolongar o horário de funcionamento do comércio para promover uma maior
mistura e encontro das diferentes pessoas que visitam o bairro;
• Instalar sanitários públicos no Bairro Alto;
• Divisão clara entre zonas de habitação e zonas de diversão, de maneira a que
as duas coexistam pacificamente, sem incómodo para os moradores.
Outras sugestões apresentadas por parte dos frequentadores com vista à melhoria da
relação entre vida diurna e nocturna do Bairro Alto foram: Melhor selecção e controle
das zonas onde se abrem novos bares, de maneira que haja maior segurança; Criar
atractivos diurnos diversos; Abrir escolas de artes, línguas, música, etc. de maneira a
atrair mais jovens durante o dia; Limpeza mais assídua das ruas; Incentivos fiscais
para se criarem mais espaços comerciais e culturais; Organizar feiras do livro, de
artistas, workshops, entre outros, de preferência diariamente; Criar associações,
galerias de arte, lojas de videojogos para atrair jovens durante o dia; Promover mais
actividades culturais de rua nas horas de transição entre o dia e noite, fazendo a
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
119
divulgação destas através da colocação de MUPIS8 na rua; Incutir uma cultura de rua
através da introdução de mobiliário urbano nas ruas; Maior controlo do tráfico de
droga; Maior controlo da questão dos graffiti; Recolha do lixo deve ser efectuada
apenas depois do fecho dos bares; Espaços de comercio com rendas mais acessíveis.
As sugestões dadas pelos frequentadores demonstram uma grande tendência para
estes se focarem em três questões diferentes, sendo provável que estas sejam as
questões e/ou problemas que são imediatamente identificados pelas pessoas que
frequentam o Bairro Alto. As sugestões apresentadas apontam principalmente para a
dinamização do Bairro Alto durante o dia, para uma uniformização ou transição mais
suave entre o período diurno e o período nocturno, e para o aumento da segurança
principalmente durante o período nocturno.
Questão 2: Propostas de melhoria
Nesta questão foi pedido aos frequentadores para indicarem o que poderia ser feito
para melhorar o estado de conservação e condições ambientais dos edifícios do Bairro
Alto.
Entre as sugestões apresentadas, as que aparecem com maior frequência são:
• Programa de reabilitação geral do edificado do Bairro Alto promovido pela
Câmara Municipal ou em conjunto com outra entidade competente, ou
entidades privadas;
• Esforço conjunto entre proprietários e Câmara Municipal para se proceder à
reabilitação do edificado;
• Promover uma orientação para o arrendamento e/ou compra de imóveis por
parte dos jovens, de maneira a regenerar a população e recuperação do
edificado;
• Instalação de mais caixotes do lixo e limpeza mais regular do Bairro Alto, de
maneira a preservar com maior eficácia as fachadas dos edifícios;
• Proceder a medidas que obriguem os proprietários a reabilitar os edifícios em
pior estado.
Outras sugestões apresentadas pelos frequentadores inquiridos tendo em vista a
melhoria das condições físicas do edificado do Bairro Alto são: Instalação de sanitários
públicos de maneira a proteger as fachadas da sua utilização como um “grande urinol
8 MUPI – Mobiliário Urbano para Informação
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
120
público”; Criação de espaços onde sejam permitidos os graffiti, de maneira a acabar
com este problema nos edifícios do bairro; Manutenção mais regular das fachadas.
As sugestões dadas pelos frequentadores demonstram uma tendência para haver
duas preocupações principais no que respeita ao estado de conservação dos edifícios
do Bairro Alto, sendo elas a urgência de uma intervenção geral no edificado do bairro,
tendo em conta as limitações económicas dos proprietários, e uma preocupação com
a imagem e limpeza do Bairro Alto, através manutenção e cuidado das fachadas dos
edifícios.
Questão 3: Propostas de melhoria
Foi pedido nesta última questão para os frequentadores apresentarem sugestões para
melhorar o funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano.
As sugestões apresentadas com maior frequência são:
• Medidas que obriguem os proprietários a reabilitar os edifícios em pior estado
de conservação;
• Parcerias público-privadas com vista a uma reabilitação integral do edificado do
Bairro Alto;
• Melhorar a segurança através de um policiamento mais eficaz do bairro,
principalmente durante a noite;
• Pôr em prática o sistema do vídeo-vigilância em todo o bairro;
• Melhorar a iluminação das ruas;
• Instalação de sanitários públicos;
• Restringir o acesso automóvel apenas a cargas e descargas;
• Melhoramento e/ou nivelamento dos pavimentos;
Outras soluções propostas pelos frequentadores para melhorar o funcionamento do
Bairro Alto enquanto espaço urbano foram: Criação de espaços de estada na rua, de
maneira a promover a mistura e encontro entre os diversos utilizadores do bairro;
Divisão entre zonas de habitação e zonas de lazer, de maneira a minimizar o impacto
da vida nocturna junto dos moradores; Reforçar o estacionamento na envolvente que
serve os habitantes do bairro; Repensar os acessos e sentidos de trânsito para evitar
os conflitos entre carros e pessoas; Repensar os acessos e sentidos de trânsito para
evitar os conflitos entre carros e pessoas; Prolongar o horário de funcionamento do
metropolitano para evitar o congestionamento do trânsito durante a noite; Colocar
isolamento acústico nos edifícios de habitação, sendo essas obras custeadas pelos
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
121
proprietários dos bares; Limpeza mais regular das ruas e fachadas; Lançar concurso
de ideias para dinamização do bairro durante o dia; Rentabilizar os espaços através do
uso destes para comércio diurno e estabelecimentos nocturnos; Maior
heterogeneidade de comércio e usos dos edifícios de maneira a atrair diferentes tipos
de pessoas durante o dia.
Analisando as sugestões dadas pelos frequentadores do Bairro Alto, é possível
verificar que as principais preocupações ou problemas imediatamente identificados por
estes se prendem com as seguintes questões: Acesso automóvel, estacionamento e
conflito entre os automóveis e peões; Estado de conservação do edificado e condições
dos proprietários darem resposta a esta questão; Segurança do bairro no período
nocturno; Minimização do impacto da vida nocturna junto dos moradores; Dinamização
do bairro durante o dia.
4.4. ENTREVISTA COM A UNIDADE DE PROJECTO DO BAIRRO ALTO E BICA
Antes da elaboração dos inquéritos, e com o intuito de reunir mais informação para a
elaboração dos mesmos e do trabalho de campo, foi marcado um encontro com duas
arquitectas da Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica (UPBAB), que teve lugar no
dia 14 de Janeiro de 2010.
Encontrei-me com a Arq. Luísa Pereira Pinto e a Arq. Joana Cintra Gomes, com quem
conversei acerca de algumas questões do Bairro Alto, tentando tirar o melhor partido
da experiência das duas Arquitectas neste campo. Ao longo da conversa procurei
perceber qual a opinião das Arquitectas em relação a questões como os problemas
construtivos dos edifícios do Bairro Alto; o ambiente interior e condições de conforto
dos edifícios do Bairro Alto ou questões e relações funcionais do Bairro Alto enquanto
espaço urbano.
Relativamente aos problemas construtivos dos edifícios do Bairro Alto, a degradação e
falta de manutenção dos mesmos foi imediatamente apontada como o problema mais
flagrante. Muitos dos edifícios do bairro apresentam graves problemas de
manutenção, com problemas de infiltrações, deterioração de elementos estruturais e
fachadas. Além destes problemas algumas habitações apresentam carências graves a
nível funcional, como a inexistência de casa de banho, o que actualmente pode ser
considerado preocupante.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
122
Apesar de ser facilmente diagnosticados, são problemas cuja solução está longe de
ser fácil, devido a todas as questões de carácter social directamente associadas ao
mesmo. A falta de verbas por parte dos proprietários, falta de verbas por parte da
Câmara, as rendas antigas ainda em vigor, a falta de sensibilização dos deveres
enquanto proprietários, a existência de vários edifícios que não se encontram em
propriedade horizontal ou questões burocráticas são apontadas pelas Arquitectas da
UPBAB como algumas das principais causas para o agravar contínuo das condições
de preservação dos edifícios do Bairro Alto.
Apesar de não haver uma “fórmula” para solucionar este problema, as Arquitectas da
UPBAB sugerem um novo Regime de Arrendamento Urbano, mais eficaz, e uma
fiscalização mais apertada, com sanções mais fortes, como possíveis medidas para
ajudar a melhorar o panorama actual. Podendo a UPBAB recorrer a instrumentos
legais como a expropriação ou o direito de preferência, não existem no entanto verbas
para que estes, por si só, contribuam para o solucionar deste problema.
A questão da reabilitação ambiental e energética, na procura da sustentabilidade
ambiental dos edifícios Bairro Alto, foi um bocado secundarizada pelas arquitectas da
UPBAB, que preferiram focar a atenção nos problemas de degradação e manutenção
dos edifícios. Referiram, apesar disso, que o Bairro Alto foi dos primeiros bairros a ser
equipado com lâmpadas de baixo consumo, e que foi pioneiro com o seu calendário
da recolha do lixo porta a porta.
Outro tema abordado ao longo da conversa foram as relações funcionais no Bairro
Alto, como o tráfego/mobilidade a pé; comércio/habitação e a vida diurna/nocturna. As
arquitectas da UPBAB consideram que o actual modelo de tráfego em vigor no Bairro
Alto está longe de funcionar bem, sendo visível que não há oferta de estacionamento
suficiente para os automóveis que circulam no bairro, sendo recorrente haver carros
estacionados nos passeios, o que contribui para uma certa desordem e penaliza as
condições de acesso pedonal, sendo os moradores do bairro os principais
prejudicados. Sendo esta uma questão também muito delicada, tendo em conta todas
as implicações que uma alteração mais ou menos profunda ao modelo de tráfego
actual iria ter para os moradores e comerciantes do bairro, as arquitectas da UPBAB
apresentam como solução mais imediata para este problema uma maior fiscalização a
nível da circulação e estacionamento no bairro.
Relativamente à relação entre comércio e habitação, as arquitectas consideram que
estes coabitam com harmonia, sendo que há dois tipos de comercio no bairro: o
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
123
tradicional, que serve a população do bairro, e o comércio das novas lojas de roupa e
outras, que não servem propriamente os habitantes do bairro, mas que acabam por ter
efeito positivo ao trazer visitantes ao bairro ao longo do dia.
A relação entre a vida diurna e vida nocturna é para as arquitectas da UPBAB outra
questão muito sensível, havendo implicações quer para moradores quer para os
comerciantes, qualquer que seja a medida tomada com vista a melhorar esta relação.
As arquitectas consideram que esta relação está longe de ser harmónica, entrando
antes em profundo conflito. Vêem como possíveis medidas a curto prazo, que podem
ajudar a caminhar no sentido de encontrar uma relação mais pacífica, as que têm sido
tomadas em reduzir o horário de funcionamento dos bares, e a “proibição” de abrir
novos bares no bairro.
A questão da gentrificação foi também abordada durante a conversa, considerando as
arquitectas da UPBAB que este fenómeno não aconteceu ainda, nem será provável
acontecer para já no Bairro Alto. Apesar de várias pessoas jovens irem morar para o
Bairro Alto, acaba por ser uma estadia passageira, mudando-se estes posteriormente
para outras zonas da cidade. A principal razão para que este fenómeno não tenha
ocorrido no bairro é para as arquitectas o facto de não existir oferta de estacionamento
ou garagens a servir as habitações, o que é uma exigência primária, que se encontra
já bastante enraizada na população mais jovem.
4.5. SUMÁRIO
Moradores
Após a análise dos inquéritos efectuados aos moradores do Bairro Alto, é possível
retirar algumas conclusões relativamente aos principais problemas ao nível do
edificado e do Bairro Alto enquanto espaço urbano, referenciados pelos moradores
inquiridos.
Relativamente aos edifícios de habitação, apura-se que para os moradores:
• O estado de conservação dos edifícios de habitação no geral é mau, com
vários elementos em estado de degradação elevado, como é o caso de
janelas, pavimentos, paredes e fachadas, sendo importante uma intervenção
geral ao nível das condições física dos mesmos, assim como um apoio mais
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
124
eficaz e melhor articulação por parte da Câmara Municipal e Junta de
Freguesia aos proprietários e moradores;
• Foram reportados problemas ao nível do conforto térmico nos meses de Verão
e Inverno, sendo mais problemático o aquecimento durante o Inverno do que o
arrefecimento durante o Verão. É da maior importância a adopção de medidas
que melhorem o conforto térmico dos edifícios, que devem passar pela
reabilitação física dos mesmos, de maneira a recuperar, substituir ou introduzir
os elementos construtivos que influenciam o comportamento térmico no interior
dos edifícios, assim como a aplicação de painéis solares e colectores
fotovoltaicos;
• A iluminação natural nas habitações não é satisfatória, devendo ser outro
aspecto importante a ter em conta em futuras obras de reabilitação;
• A qualidade do ar não é a melhor, devendo-se dar especial atenção à
ventilação natural em futuras obras de reabilitação para melhorar o ar interior.
Para o caso do ar exterior, devem-se tomar medidas ao nível de politicas de
transportes;
• O conforto acústico é mau, sendo outro aspecto que é imperativo melhorar,
principalmente pela vida nocturna que funciona diariamente no Bairro Alto,
sendo uma forte fonte de ruído para os habitantes do bairro.
Relativamente ao Bairro Alto enquanto espaço urbano, os resultados permitem apurar
que para os moradores:
• A oferta de transportes públicos que servem o bairro é boa;
• A oferta de serviços e bens primários é boa;
• A circulação pedonal é boa, apesar de dificultada pela circulação e
estacionamento de automóveis em várias ruas do Bairro Alto, sendo importante
rever a questão do acesso automóvel ao interior do bairro;
• A oferta de estacionamento é escassa, sendo importante actuar neste campo,
ponderando bem as medidas a tomar, de maneira a não causar um maior
constrangimento à circulação pedonal;
• A relação entre a vida diurna e nocturna não é pacífica, havendo insatisfação
dos moradores principalmente face ao barulho e insegurança causados pela
grande afluência de pessoas ao bairro durante a noite.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
125
Comerciantes
Depois de analisar os inquéritos efectuados aos comerciantes do Bairro Alto, é
também possível sintetizar e retirar algumas conclusões relativamente aos problemas
enunciados pelos comerciantes, quer ao nível do edificado quer ao nível do Bairro Alto
enquanto espaço urbano.
Relativamente aos edifícios, apura-se que para os comerciantes:
• Há uma tendência para os edifícios se encontrarem num estado de
conservação razoável, havendo, no entanto, vários espaços em mau estado de
conservação. É importante que se proceda à reabilitação física destes espaços
comerciais, com prioridade para os que se encontram em pior estado de
conservação;
• O conforto térmico dos espaços comerciais do Bairro Alto é razoável, havendo
uma maior insatisfação com este factor no Inverno do que no Verão. Tomando
as medidas adequadas em futuras obras de reabilitação é possível melhorar
substancialmente o conforto térmico destes espaços, pelo que é importante
que se proceda à recuperação dos elementos construtivos que contribuem
para o comportamento térmico dos edifícios;
• A qualidade do ar é minimamente satisfatória, não sendo um factor prioritário a
melhorar. A qualidade do ar exterior, será a que mais influencia este factor,
visto os espaços comerciais se situarem no piso térreo. Devem ser tomadas
medidas, como já referido, ao nível da politica de transportes.
• A iluminação natural é razoável, pelo que também deve ter sida em conta em
futuras obras de reabilitação, de maneira a que seja melhorada;
• O conforto acústico é razoável face ao ruído emitido durante o período diurno.
Durante a noite a maioria dos estabelecimentos em estudo não se encontram
abertos, pelo que a melhoria do conforto acústico não é uma prioridade, sendo,
no entanto, um factor que interessa melhorar nos estabelecimentos comerciais
do Bairro Alto.
Relativamente ao Bairro Alto enquanto espaço urbano, os resultados permitem apurar
que para os comerciantes:
• A oferta de transportes públicos que servem o bairro é boa;
• A oferta de serviços e bens primários é boa;
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
126
• O acesso automóvel condicionado causa alguns constrangimentos aos seus
negócios, ao impedir a entrada de fornecedores sem o pagamento de qualquer
taxa;
• A relação entre circulação automóvel e circulação pedonal é razoável.
• A oferta de estacionamento é escassa, sendo importante actuar neste campo,
ponderando bem as medidas a tomar, de maneira a não causar
constrangimentos à circulação pedonal;
• A relação entre vida diurna e vida nocturna do Bairro Alto é razoável, havendo
no entanto alguma insegurança durante o período nocturno.
Frequentadores
Através da análise das opiniões e sugestões dadas pelos frequentadores esporádicos
do Bairro Alto, relativamente ao seu edificado, é possível apurar que para estes:
• A condição física dos edifícios do Bairro Alto é má, sendo importante que os
proprietários realizem as obras de reabilitação e manutenção necessárias, ou
no caso de estes não terem condições para suportar os custos das obras da
intervenção, haver apoios da Câmara Municipal, ou ainda esta fazer parceria
com privados para se proceder a uma intervenção geral;
• As fachadas estão mal conservadas, mesmo em casos em que o interior dos
edifícios esteja em boas condições, sendo importante uma manutenção e
limpeza mais regular das mesmas;
Relativamente ao funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano, os
frequentadores consideram que:
• Há uma grande diferença entre a vida diurna e nocturna, não sendo esta
diferença necessariamente má. Devem ser tomadas medidas que diminuam o
impacto da vida nocturna junto dos moradores do bairro, assim como se deve
promover uma dinamização e revitalização da vida do bairro durante o dia;
• A segurança no Bairro Alto não é boa, sendo importante tomar medidas para
que esta seja mais eficaz, principalmente durante a noite;
• O acesso automóvel e estacionamento é mau, havendo certos conflitos entre a
circulação automóvel e pedonal, sendo importante actuar no sentido de reduzir
o impacto dos automóveis na vida do Bairro Alto.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
127
5. RECOMENDAÇÕES DE PROJECTO
Após o estudo, análise e síntese dos questionários efectuados aos diversos
utilizadores do Bairro Alto, é possível estabelecer linhas orientadoras para a
reabilitação e revitalização urbana deste bairro, assim como para o seu edificado.
Neste capítulo pretende-se então sintetizar possíveis medidas a tomar na reabilitação
e revitalização do Bairro Alto e na reabilitação ambiental do seu edificado.
Estratégias para a requalificação do Bairro Alto:
1. A reabilitação do edificado do Bairro Alto é essencial de maneira a travar o
progressivo envelhecimento da população e desertificação do bairro, e atrair novos
moradores. A reabilitação do edificado deverá ser feita de maneira a garantir a
salvaguarda e autenticidade deste conjunto urbano, dotando-o das condições
necessárias para atrair novos moradores, de diferentes tipos sociais, actividades e
idades.
A falta de verbas por parte dos proprietários e/ou a pouca consciência destes
relativamente aos seus deveres, como já referido, será sempre um entrave à
reabilitação do edificado do bairro. Seria importante que a par dos incentivos
fiscais já existentes, houvesse por exemplo parcerias entre a Câmara Municipal e
investidores privados – à imagem do que acontece em vários centros históricos
europeus – de maneira a garantir a reabilitação de todo o parque habitacional. A
actualização das rendas é outra questão que deve ser respondida, de maneira a
que os proprietários tenham condições de cumprir os seus deveres, e que o
mercado de arrendamento do bairro ganhe uma nova dinâmica, essencial para a
atracção de novos moradores.
2. A aposta numa maior heterogeneidade da oferta de espaços comerciais seria
importante, de maneira a satisfazer as necessidades dos habitantes, sem estes
terem de fazer grandes deslocações. O bairro está bem servido ao nível do
comercio de bens primários, tendo o restante comércio um carácter dirigido a um
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
128
público alvo muito específico, pelo que interessa apostar numa maior diversidade
de oferta ao nível do comercio.
Esta oferta de comércio mais diversa seria importante também para atrair mais
pessoas ao bairro durante o dia. A criação de espaços culturais que tivesse uma
boa oferta de actividades durante o dia seria uma possível medida para atrair
também diversas pessoas ao Bairro Alto durante o dia.
3. Relativamente à relação entre vida diurna e nocturna, seria importante que
houvesse uma transição o mais suave possível entre os dois períodos, e que a
vida nocturna tivesse o menor impacto possível para os moradores. O fecho dos
bares nocturnos, ou uma redução ainda maior dos horários de funcionamento
seriam medidas demasiado extremas, com fortes consequências para os
proprietários dos bares. Medidas referidas pelos utilizadores inquiridos, como a
participação dos proprietários dos bares em obras de reabilitação dos edifícios de
habitação de maneira a dotar estes de um isolamento acústico eficaz, ou a
concentração das zonas de lazer nocturna apenas numa parte do bairro poderiam
ser um princípio para que este problema fosse atenuado.
A melhoria da segurança durante a noite é uma questão a que importa também dar
resposta, devendo as ruas secundárias ser bem iluminadas. Outras medidas como
o reforço do policiamento ou a posta em prática do sistema de vídeo-vigilância são
possíveis medidas para aumentar a segurança do bairro durante a noite, sendo
estas, no entanto, medidas discutíveis.
4. O espaço público do Bairro Alto deve ser alvo de intervenção, através da
requalificação de pavimentos, escadas, corrimãos, entre outros, sendo importante
a limpeza e manutenção regular dos mesmos, principalmente após o fecho dos
bares. A colocação de caixotes do lixo e pequenos depósitos para recolha de
plásticos e vidro nas ruas seria importante para que durante a noite o lixo deixado
no chão fosse mais reduzido. Apesar do tecido urbano do Bairro Alto, com as suas
ruas bastante estreitas, poderia ser equacionada a instalação de novo mobiliário
urbano, como bancos e pequenas mesas, em ruas em que não haja acesso
automóvel, de maneira a promover o encontro de diferentes grupos de pessoas.
5. A oferta de transportes públicos é bastante boa, havendo várias paragens de
eléctrico e autocarro, assim como a estação de metropolitano Baixa-Chiado a
servir o Bairro Alto. Desta forma interessa promover o uso dos transportes
públicos, em detrimento do uso de veículo próprio.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
129
A circulação automóvel e oferta de estacionamento são um problema ao qual é
difícil dar resposta no Bairro Alto, devido à sua configuração urbana. Estando já em
prática uma modelo de tráfego condicionado, interessa promover ao máximo o
incentivo ao uso de transportes públicos em detrimento do uso de veículo próprio,
através de medidas como uma redução considerável do preço na compra de uma
habitação, às pessoas que se comprometerem a não ter um veículo próprio, como
acontece no caso já referido da cidade de Freiburg (ver Capítulo II, p. 42). O
acesso automóvel dever-se-á manter restrito aos moradores e comerciantes,
sendo importante que haja um maior controle relativamente ao estacionamento, de
maneira a evitar situações de carros mal estacionados que causem
constrangimentos à circulação automóvel e circulação pedonal.
Reabilitação ambiental e energética do edificado:
A reabilitação física do edificado do Bairro Alto é, como já referido, uma necessidade
para que estes dêem resposta às necessidades habitacionais actuais. De maneira a
conferir as melhores condições de conforto aos seus utilizadores e diminuir o consumo
de energia com o aquecimento, arrefecimento, ventilação e iluminação, contribuindo
assim para a redução das emissões de CO2, a reabilitação dos edifícios deve ter em
atenção os princípios do design passivo.
Apresento, de seguida, uma síntese de possíveis medidas de design passivo e activo
a tomar na reabilitação física dos edifícios do Bairro Alto, de maneira a promover o
maior conforto possível aos seus utilizadores:
1. A localização dos espaços interiores de permanência deve ser definida de maneira
a que estes tenham a melhor orientação solar possível, devendo os espaços de
utilização mais esporádica, como casas de banho e arrumos, ser localizados no
interior;
2. Proceder à reparação ou substituição dos caixilhos e vidros que constituem os
vãos por soluções mais eficientes. De preferência aplicar caixilhos de alumínio e
vidro duplo:
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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3. Aplicar sombreamentos pelo exterior como portadas, venezianas, persianas,
toldos, ou, quando não for possível, pelo interior, de maneira a reduzir os ganhos
térmicos durante o Verão, e a controlar o nível de iluminação natural. Considerar
também o sombreamento já existente, originado pelos prédios vizinhos;
4. Definição dos espaços interiores, de preferência com poucos obstáculos entre
fachadas opostas, de maneira a promover a ventilação cruzada nocturna,
importante para o arrefecimento do interior durante o Verão;
5. Aplicação de bandeiras na parte superior das janelas e paredes interiores, de
maneira a que a ventilação natural nocturna se processe da maneira mais eficaz;
6. Desocupar os saguões de maneira a promover a ventilação cruzada, assim como
a iluminação natural dos edifícios;
7. Reparação das fachadas, de preferência com materiais originais, de maneira a
promover o efeito da inércia térmica, característico dos edifícios do Bairro Alto;
8. Aplicação de isolamento térmico nas coberturas, pelo interior, de maneira a evitar
perdas térmicas durante a estação de aquecimento, assim como proteger a
entrada de calor na estação de arrefecimento;
9. Aplicação de colectores solares e/ou paneis fotovoltaicos na cobertura ou no
interior dos quarteirões. Quando não for possível, aplicar células fotovoltaicas nas
coberturas, de maneira a não causar impacte visual;
10. Substituir aparelhos eléctricos e sistema de iluminação por aparelhos de maior
eficiência energética e dispositivos de iluminação de baixo consumo;
11. Aproveitamento das águas pluviais para usos não potáveis, como em descargas
de autoclismos;
12. Sensibilização ou fornecimento de documentação aos utilizadores, de maneira a
explicar como tirar o melhor partido de aspectos como a ventilação natural,
sombreamentos, entre outros, para que o desempenho ambiental e energético dos
edifícios seja o mais eficiente possível.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
131
CONCLUSÃO
A presente dissertação debruçou-se sobre o tema da reabilitação e sustentabilidade
em bairros históricos, tendo-se baseado num estudo junto dos utilizadores do Bairro
Alto de maneira a estudar a necessidade e pertinência de uma intervenção ao nível do
seu tecido urbano e edificado, na óptica da procura da sustentabilidade.
Observamos que no Bairro Alto, tal como na maioria dos bairros históricos
portugueses, tem havido um processo de degradação e desocupação em virtude da
expansão das cidades para a periferia, com a constante construção de novos e mais
atractivos edifícios. Este processo caminha no sentido oposto da sustentabilidade, ao
se promover a construção de novos edifícios em detrimento da recuperação dos já
existentes, e ao promover uma grande descentralização, que resulta num volume
maior de deslocações dos habitantes da periferia para o centro, e num maior
congestionamento do centro das cidades.
A reabilitação urbana, assente nas suas dimensões social, económica, cultural e
ambiental, assume assim uma grande importância para o desenvolvimento sustentável
das cidades. É através dela que é possível, além de ser preservada a integridade e
autenticidade do património, conferir aos edifícios mais antigos e/ou degradados, as
condições de habitabilidade e conforto necessárias para que sejam novamente
ocupados, resultando numa maior centralização, redução da construção de novos
edifícios, menor número e mais curtas deslocações, sendo assim promovido um
desenvolvimento mais sustentável das cidades.
O estudo apresentado mostra que a reabilitação urbana, no caso específico da
recuperação do edificado, representa por si só um forte contributo para o
desenvolvimento sustentável das cidades, quando esta procura conferir o melhor
desempenho energético e ambiental aos edifícios. Este bom desempenho dos
edifícios é possível ser alcançado através da utilização da aplicação de estratégias de
design passivo, que procuram tirar o melhor partido das características do clima local,
conferindo um maior conforto ao nível da temperatura, iluminação e qualidade do ar,
resultando num consumo de energia consideravelmente mais baixo.
O estudo realizado junto dos principais utilizadores do Bairro Alto mostra que, além
das condições físicas, o desempenho ambiental e energético dos edifícios não é
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
132
satisfatório em factores como a temperatura, iluminação natural e ventilação natural.
Aplicando estratégias de design passivo nos edifícios do Bairro Alto, que originalmente
têm características propícias para a aplicação das mesmas, com as suas estruturas
pesadas, sólidas, com uma forte inércia térmica e com grande longevidade, poderá
contribuir-se para uma grande melhoria do desempenho ambiental e energéticos
destes edifícios.
Além das medidas passivas, é também importante considerar a medidas activas como
complemento para um melhor desempenho energético e ambiental, desde que seja
garantida a salvaguarda das características originais do edificado do Bairro Alto.
É possível observar também que ao nível do funcionamento do Bairro Alto como
espaço urbano, as questões da circulação automóvel, e principalmente da relação
entre vida diurna e vida nocturna, são factores de insatisfação para a generalidade dos
seus utilizadores, sendo importante actuar no sentido de minimizar o impacte destes
factores, nunca esquecendo que estes têm implicações no que respeita à
sustentabilidade económica do Bairro Alto.
O presente trabalho, baseado nos testemunhos dos diferentes utilizadores do Bairro
Alto, poderá constituir um ponto de partida para estudos futuros, na área da
reabilitação sustentável, mais aprofundados, que tenham como base uma amostra
maior e um tratamento estatístico mais adequado.
Concluindo, é possível afirmar que o Bairro Alto – com localização privilegiada na
cidade de Lisboa, grande valor patrimonial e cultural, edifícios com características
propícias à aplicação de medidas de design passivo, excelente oferta de transportes
públicos e boas condições de acesso pedonal – reúne um conjunto de potencialidades
que, através da sua conjugação com estratégias sustentáveis, poderá proporcionar
uma melhoria da qualidade de vida dos seus utilizadores.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
133
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http://www.edp.pt
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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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ANEXOS
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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ANEXO 1: Questionário aos moradores do Bairro Alto
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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O presente questionário tem por objectivo recolher informação acerca das condições dos edifícios e condições de vida do Bairro Alto, para a elaboração de uma tese de Mestrado. Agradeço desde já a sua colaboração em responder atentamente às perguntas feitas. Todas as respostas são estritamente confidenciais.
MORADORES 1 – Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):
2 - A sua habitação já sofreu obras de reabilitação? Quando?
....................................................................................................................................... 3 - Com que urgência pensa que a sua casa necessita de sofrer obras de reabilitação? ( ) Muita urgência ( ) Urgência ( ) Alguma urgência ( ) Pouca urgência ( ) Não necessita 4 - Que tipo de obras mais prioritárias considera serem necessárias na sua casa?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
DURANTE O INVERNO: 5 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura na sua casa? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito
6 - Com que frequência utiliza aparelhos de aquecimento? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca
7 - Com que frequência sente frio dentro de casa?
( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca
Estado de conservação Temperatura Organização do espaço/divisões Luz Natural Qualidade do ar Decoração/Mobiliário Luz artificial Vista para o exterior
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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8 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura da sua casa durante o
Inverno?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
DURANTE O VERÃO: 9 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura na sua casa? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito 10 - Com que frequência executa as seguintes acções para arrefecer a casa? Muito
frequentemente Frequentemente Por vezes Raramente Nunca
Abrir janelas de dia
Abrir janelas de noite
Correr estores/portadas
Ligar ar condicionado
Ligar ventoinha
11 - Com que frequência sente calor dentro de casa? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca 12 - Preferia usar uma alternativa natural ao Ar Condicionado? ( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, porquê?.............................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
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13 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura da sua casa durante o
Verão? ........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
14 - Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):
15 - Como classifica a relação entre a vida diurna (moradores) e vida nocturna (bares) do Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
16 – Qual o grau de satisfação com os ruídos (vindos de vizinhos ou da rua) que ouve em sua casa? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
Proximidade de transportes públicos Condições de acesso a pé Acesso automóvel Garagem Oferta de serviços/equipamentos Vaga de estacionamento perto de casa Proximidade de bens de 1ª necessidade
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17 - Como classifica a relação entre mobilidade a pé e os automóveis no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
....................................................................................................................................... 18 - Como classifica a segurança no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
....................................................................................................................................... 19 - Que sugestões tem para melhorar as condições do seu edifício e condições de vida no Bairro? .......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
MUITO OBRIGADO.
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ANEXO 2: Questionário aos comerciantes do Bairro Alto
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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O presente questionário tem por objectivo recolher informação acerca das condições dos edifícios e condições de vida do Bairro Alto, para a elaboração de uma tese de Mestrado. Agradeço desde já a sua colaboração em responder atentamente às perguntas feitas. Todas as respostas são estritamente confidenciais.
COMERCIANTES 1 – Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):
2 – O seu estabelecimento já sofreu obras de reabilitação? Quando? ....................................................................................................................................... 3 - Com que urgência pensa que o seu estabelecimento necessita de sofrer obras de reabilitação? ( ) Muita urgência ( ) Urgência ( ) Alguma urgência ( ) Pouca urgência ( ) Não necessita
4 - Que tipo de obras mais prioritárias considera serem necessárias no seu
estabelecimento?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
DURANTE O INVERNO: 5 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura no seu estabelecimento? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito
6 - Com que frequência utiliza aparelhos de aquecimento? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca
7 - Com que frequência sente frio dentro do seu estabelecimento?
( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca
Estado de conservação Temperatura Organização do espaço/divisões Luz Natural Qualidade do ar Decoração/Mobiliário Luz artificial Vista para o exterior
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8 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura do seu estabelecimento
durante o Inverno?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
DURANTE O VERÃO: 9 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura no seu estabelecimento? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito 10 - Com que frequência executa as seguintes acções para arrefecer o ambiente? Muito
frequentemente Frequentemente Por vezes Raramente Nunca
Abrir janelas de dia
Abrir janelas de noite
Correr estores/portadas
Ligar ar condicionado
Ligar ventoinha
11 - Com que frequência sente calor dentro do seu estabelecimento? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca 12 - Preferia usar uma alternativa natural ao Ar Condicionado? ( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, porquê?.............................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
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13 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura do seu
estabelecimento durante o Verão? ...............................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
14 - Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):
15 - Como classifica a relação entre a vida diurna (moradores) e vida nocturna (bares) do Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
16 – Qual o grau de satisfação com os ruídos (vindos de vizinhos ou da rua) que ouve no seu estabelecimento? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
Proximidade de transportes públicos Condições de acesso a pé Acesso automóvel Garagem Oferta de serviços/equipamentos Vaga de estacionamento perto de casa Proximidade de bens de 1ª necessidade
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17 - Como classifica a relação entre mobilidade a pé e os automóveis no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
....................................................................................................................................... 18 - Como classifica a segurança no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
....................................................................................................................................... 19 - Que sugestões tem para melhorar as condições do seu edifício e condições de vida no Bairro? .......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
MUITO OBRIGADO.
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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ANEXO 3: Questionário aos frequentadores do Bairro Alto
ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO
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O presente questionário tem por objectivo recolher informação acerca das condições dos edifícios e condições de vida do Bairro Alto, para a elaboração de uma tese de Mestrado. Agradeço desde já a sua colaboração em responder atentamente às perguntas feitas. Todas as respostas são estritamente confidenciais.
FREQUENTADORES 1 – Como classifica a relação entre a vida diurna e a vida nocturna do Bairro Alto? O que poderia ser feito para a melhorar? .......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
2 - O que poderia ser feito para melhorar o estado de conservação e condições ambientais dos edifícios do Bairro Alto? .......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
3 – Que sugestões tem para melhorar o funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano? .......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
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.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
MUITO OBRIGADO.