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Gestão cultural
Semana 5Texto base 1
O gestor e o produtor cultural
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Até aqui já discutimos o conceito de cultura, observando sua centralidade e permanente
diálogo com questões como desenvolvimento, diversidade e cidadania. Discutimos a emergência
da cibercultura, percebendo-a como a cultura do século XXI, e, fi nalmente, analisamos o
papel das políticas públicas no campo cultural, entendendo que estas representam um pacto
articulado entre poder público, instituições civis, entidades privadas e grupos comunitários
dentro do campo do desenvolvimento do simbólico.
Nos últimos anos, o setor cultural brasileiro se expandiu e se tornou mais complexo, passando
a exigir, cada vez mais, dos gestores e produtores culturais, uma maior instrumentalização
para o desempenho de suas funções. Nesse sentido, é preciso, de saída, buscarmos uma
compreensão clara sobre os perfi s, esferas de atuação e atribuições desses profi ssionais, que
são centrais no campo que estudamos.
Em seu importante livro O avesso da cena: notas sobre produção e gestão cultural (2008)1,
Rômulo Avelar registra que são tênues as fronteiras das atividades de gestão e de produção
cultural, podendo um mesmo profi ssional acumular funções nessas duas perspectivas,
simultaneamente. Objetivando uma diferenciação mais objetiva, o autor defi ne o produtor
cultural como aquele que “cria e administra diretamente eventos e projetos culturais,
intermediando as relações dos artistas e demais profi ssionais da área com o Poder Público, as
empresas patrocinadoras, os espaços culturais e o público consumidor de cultura”.
Para ilustrar essa função, poderíamos pensar em um músico que deseja gravar sua obra
e que, para concretizar essa intenção, procura o profi ssional que estamos aqui identifi cando
como produtor cultural. É este quem vai, nesse momento inicial, buscar entender o que o
idealizador tem em mente, com perguntas como: Será um CD? Uma coleção com vários
volumes? A qual público se destina? As músicas são de autoria do próprio músico idealizador?
Quais os outros artistas envolvidos em participações e arranjos? O produto se destinará à
venda ou à doação? Será disponibilizado na internet? O CD é uma demanda de alguém que
1 AVELAR, Rômulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão cultural. Belo Horizonte: DUO Editorial, 2008.
O gestor e o produtor cultural
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se propõe a fi nanciá-lo? Qual será sua ideia inicial para a divulgação do trabalho? O artista
tem um site na internet? Pensa em fazer um show de lançamento? Em algum espaço cultural
específi co? Uma turnê?
Devemos considerar que, até esse contato inicial, o que há é, essencialmente, uma ideia. O
foco principal da atuação do produtor cultural neste momento é exatamente transformar essa
ideia em um projeto consistente e exequível, com prazos, orçamento, equipe, produtos fi nais
detalhados, estratégias de fi nanciamento etc. Nesse sentido, a partir das perguntas iniciais,
o produtor cultural poderá, com base em sua formação e experiência profi ssional, sugerir
alternativas e formular o que, só então, podemos chamar de projeto.
A partir desse ponto, o produtor cultural passará a ocupar a posição central no processo,
desenvolvendo diálogos e interfaces com empresas (se o projeto vai buscar patrocínio), com
o Poder Público (se o patrocínio se der por meio de leis de incentivo, ou mesmo para buscar
autorizações e cessão de espaços públicos), equipamentos culturais (se os shows forem se
realizar nesses espaços), mídia (para cumprir a estratégia de comunicação que está sendo
pensada), artistas e profi ssionais de cultura (músicos, arranjadores, diretores musicais,
profi ssionais nos estúdios, entre outros que comporão a equipe do projeto, aí incluídos
aqueles que cuidarão da contabilidade e da prestação de contas) e, claro, a relação com o
público a quem se destina o projeto. Trata-se, portanto, de um conjunto de diálogos que
envolve diferentes instâncias, cada uma com linguagem própria e um ponto de vista específi co
sobre o empreendimento, o que certamente exigirá do produtor uma atuação complexa e
qualifi cada.
Certamente, a atuação do gestor cultural também envolve essa centralização de diálogos, a
partir de interfaces com diferentes instâncias. Ele próprio, inclusive, pode estar em diferentes
posições e desempenhando papéis diversos: pode ser gestor público de cultura, ao qual
caberá a formulação, implantação e gestão de políticas e programas; pode ocupar a gerência
de cultura em uma empresa patrocinadora, elaborando seus editais e políticas de patrocínio;
pode estar à frente de uma organização não governamental ou outra qualquer iniciativa que
atue no campo cultural.
Quanto à natureza de sua atividade de gestão, ela pode envolver a formulação, implantação
e gestão de políticas e programas, bem como a coordenação dos processos, recursos e
agendas de organizações, de equipamentos culturais, de companhias e grupos artísticos, de
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empreendimentos de pequeno, médio e grande porte. Pode ainda envolver a gestão de ações
de comunicação e responsabilidade social no mercado, ou mesmo a gestão da cultura interna
de uma instituição.
De acordo com Avellar, o gestor cultural é “o profi ssional que administra grupos e instituições
culturais, intermediando as relações dos artistas e demais profi ssionais da área com o Poder
Público, as empresas patrocinadoras, os espaços culturais e o público consumidor de cultura;
ou que desenvolve e administra atividades voltadas para a cultura em empresas privadas,
órgãos públicos, organizações não-governamentais e espaços culturais”.
Embora considerando uma forte interseção entre os campos do produtor e do gestor
cultural, o autor distingue o primeiro pelo foco na “viabilização de produtos e eventos”, enquanto
o segundo tem sua atuação direcionada ao “desenvolvimento de programas e atividades essenciais
ao funcionamento de grupos, empresas e instituições ligadas ao fazer cultural”.