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1 ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA Á COMPRESSÃO DO CONCRETO UTILIZANDO DEEP LEARNING EM REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PREDICTION OF COMPRESSIVE STRENGTH OF THE CONCRET USING “DEEP LEARNING” IN ARTIFICIAL NEURAL NETWORK Hiago Cavalcante Ribeiro 1 Larissa Muniz Lemos Leal² Michael Vinícius Martins Caldeira 3 RESUMO A resistência do concreto é uma propriedade fundamental para utilização desse material em inúmeros tipos de empreendimentos de engenharia. Comumente, mede-se a resistência de um corpo de prova exposto a condições distintas das reais em que a peça inteira se encontra. Assim, os métodos não destrutivos de ensaio tem se destacado para prever algumas propriedades, entre elas a resistência, de acordo com a composição do concreto. A previsão é realizada empregando-se algoritmos que permitam desenvolver um modelo matemático que descreva a correlação complexa e não linear entre a propriedade e os componentes – e seus teores – do concreto. As redes neurais artificiais apresentam precisão e confiabilidade suficientes para serem empregadas na previsão das propriedades do concreto. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou realizar um levantamento bibliográfico acerca da aplicação das redes neurais artificiais usando deep learning para prever a resistência do concreto a partir da proporção de areia, brita, água e cimento. Foi observado um consenso entre as publicações correlatas em relação à precisão, confiabilidade e flexibilidade da metodologia. Palavras-chave: resistência do concreto, deep learning, redes neurais artificiais, ensaios de engenharia, tecnologia do concreto. ABSTRACT Concrete strength is a fundamental property for the use of this material in many types of engineering endeavors. Commonly, the resistance of the concrete is determined by measuring the property of a sample wich is exposed to conditions other than the actual conditions in which the entire part is found. Thus, non-destructive testing methods have stood out to predict some properties, including strength, according to concrete composition. The prediction is performed using algorithms that allow the development of a mathematical model that describes the complex and nonlinear correlation between the property and the components - and their contents - of the concrete. Artificial neural networks have sufficient accuracy and reliability to be employed in the prediction of concrete properties. In this sense, the present workstudy aimed to conduct a bibliographic review about the application of artificial neural networks using deep learning to predict the strength of concrete from the proportion of sand, gravel, water and cement. 1 Graduando em Engenharia Civil (UNIRG), e-mail: [email protected]; 2 Graduanda em Engenharia Civil (UNIRG), e-mail: [email protected]; 3 Docente do curso de Engenharia Civil (UNIRG), Engenheiro Civil, Tecnólogo em Construção de Edifícios Especialista em Projeto, Execução e Controle de Estruturas e Fundações, e-mail: [email protected].

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ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA Á COMPRESSÃO DO CONCRETO

UTILIZANDO DEEP LEARNING EM REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

PREDICTION OF COMPRESSIVE STRENGTH OF THE CONCRET USING

“DEEP LEARNING” IN ARTIFICIAL NEURAL NETWORK

Hiago Cavalcante Ribeiro1

Larissa Muniz Lemos Leal²

Michael Vinícius Martins Caldeira 3

RESUMO

A resistência do concreto é uma propriedade fundamental para utilização desse material em inúmeros tipos de empreendimentos de engenharia. Comumente, mede-se a resistência de um corpo de prova exposto a condições distintas das reais em que a peça inteira se encontra. Assim, os métodos não destrutivos de ensaio tem se destacado para prever algumas propriedades, entre elas a resistência, de acordo com a composição do concreto. A previsão é realizada empregando-se algoritmos que permitam desenvolver um modelo matemático que descreva a correlação complexa e não linear entre a propriedade e os componentes – e seus teores – do concreto. As redes neurais artificiais apresentam precisão e confiabilidade suficientes para serem empregadas na previsão das propriedades do concreto. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou realizar um levantamento bibliográfico acerca da aplicação das redes neurais artificiais usando deep learning para prever a resistência do concreto a partir da proporção de areia, brita, água e cimento. Foi observado um consenso entre as publicações correlatas em relação à precisão, confiabilidade e flexibilidade da metodologia.

Palavras-chave: resistência do concreto, deep learning, redes neurais artificiais, ensaios de engenharia, tecnologia do concreto.

ABSTRACT

Concrete strength is a fundamental property for the use of this material in many types of engineering endeavors. Commonly, the resistance of the concrete is determined by measuring the property of a sample wich is exposed to conditions other than the actual conditions in which the entire part is found. Thus, non-destructive testing methods have stood out to predict some properties, including strength, according to concrete composition. The prediction is performed using algorithms that allow the development of a mathematical model that describes the complex and nonlinear correlation between the property and the components - and their contents - of the concrete. Artificial neural networks have sufficient accuracy and reliability to be employed in the prediction of concrete properties. In this sense, the present workstudy aimed to conduct a bibliographic review about the application of artificial neural networks using deep learning to predict the strength of concrete from the proportion of sand, gravel, water and cement.

1 Graduando em Engenharia Civil (UNIRG), e-mail: [email protected]; 2 Graduanda em Engenharia Civil (UNIRG), e-mail: [email protected]; 3 Docente do curso de Engenharia Civil (UNIRG), Engenheiro Civil, Tecnólogo em Construção de Edifícios Especialista em Projeto, Execução e Controle de Estruturas e Fundações, e-mail: [email protected].

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There was a consensus among the related publications regarding the accuracy, reliability and flexibility of the methodology.

Keywords: concrete strength, deep learning, artificial neural networks, engeneering analysis, concrete technology.

INTRODUÇÃO

A utilização do concreto nas edificações, se confunde com a própria

história da construção civil, um exemplo clássico é o Panteão romano construído

em 27 a.C.. A utilização do concreto permitiu grandes avanços para diversas

civilizações através da substituição das construções com pedras de trabalho,

transporte e aplicação exaustivos. Ao longo dos anos a combinação do material

ao aço permitiu vencer grandes vãos e superar diversas limitações do concreto

e o mesmo passou a ter grande aceitação. Atualmente este material é

fundamental em praticamente todos os projetos de construção e assegurar sua

adequação aos parâmetros de qualidade é indispensável.

Segundo Viera Filho (2007) o concreto pode ser definido como uma

“pedra artificial”, que resulta da mistura entre um ligante e materiais pétreos.

Suas características são uma função do tempo e da umidade do ambiente, e os

ensaios de controle de qualidade devem ser realizados sob condições

específicas, para que os resultados obtidos sejam válidos (NEVILLE, 2006).

Assim, existem normas para essa padronização e controle de qualidade, como

a NBR 12655 (ABNT, 2015) que lida com a forma do preparo, controle e

aceitação do concreto, a NBR 5738 (ABNT, 2015) para os procedimentos

relativos a moldagem e cura do corpo de prova e a NBR 5739 (ABNT, 2018) que

especifica os parâmetros para o ensaio de resistência a compressão de corpos

de prova cilíndricos sendo esta, a propriedade mais importante do concreto.

Segundo Mehta e Monteiro (2008) ao se falar em concreto, a resistência

à compressão é a propriedade que mais interessa aos engenheiros,

principalmente aos projetistas de estruturas. Pacheco e Henele (2013) destacam

que a resistência à compressão indica com precisão eventuais variações da

“qualidade” do concreto, da dosagem ou dos insumos empregados, do

transporte, do lançamento, do adensamento, do controle da cura do concreto,

entre outros. Quando a resistência do concreto é insuficiente podem surgir danos

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de elevado custo de correção, além da diminuição da vida útil e até o

desmoronamento de edificações (ÁVILA JACINTHO e GIONGO, 2005).

A resistência do concreto é a capacidade do material de suportar ações

aplicadas sem colapsar e é influenciada pela quantidade da água da mistura; os

tipos de agregados utilizados, a condição de cura empregada, a idade das

amostras no período de ruptura dos corpos de provas, entre tantas outras

variáveis (GAYARRE, PEREZ E CABO, 2014). O ensaio para determinação

desta propriedade tem sido usada como forma de controle do concreto mas sua

eficácia é questionável, principalmente porque o concreto é um material variável

e os parâmetros que influenciam na resistência são muitos.

O ensaio é realizado em corpo de prova moldado na concretagem das

estruturas e a exposição e cura deste apresenta características bastante

distintas das existentes na peça real. Dessa forma, os ensaios não destrutivos

que são aplicados na estrutura real tem se destacado para conferir maior

representatividade como o ensaio de propagação do pulso ultrassônico. Ao

procurar estabelecer relações confiáveis entre a resistência à compressão e

esse tipo de metodologia as ferramentas das redes neurais artificiais se mostras

bastante promissoras. Adicionalmente ainda tem-se a vantagem de reduzir

gastos financeiros e tempo para realização do processo (LORENZI, 2009).

Para Velloso (2014) as RNA’s se enquadram como uma inteligência

artificial, sendo capaz de aceitar comandos de leigos e, como o cérebro humano,

associam informações gravadas na memória, a partir delas desenvolvem um

raciocínio lógico. Segundo Sporl et al (2011), são muito utilizadas em resolução

de problemas complexos, onde não se conhece completamente o

comportamento das variáveis, tendo a capacidade de aprender por meio de

exemplos, bem como generalizar essas informações aprendidas, o que torna sua

aplicação na análise de dados extremamente eficiente.

Conforme Miranda et al (2009) a RNA é instituída a uma aprendizagem,

por meio de processos iterativos de ajustes aplicados aos pesos sinápticos, o

chamado treinamento. De tal modo, treinar uma rede é ajustar a sua matriz de

pesos sinápticos de modo que o vetor de saída coincida com um valor desejado

para cada vetor de entrada.

Segundo Fernandes (2003) existem duas formas principais de

aprendizados de redes neurais: aprendizado supervisionado e aprendizado não

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supervisionado. No supervisionado, o indivíduo expõe à rede neural á alguns

conjuntos de padrões de entrada e seus correspondentes padrões de saída,

sendo imprescindível conhecimento prévio do comportamento que se deseja ou

se espera da rede. Já no não supervisionado, não existe a parte humana para

acompanhar o processo de aprendizado, sendo assim, nesse caso, somente os

padrões de entrada estão disponíveis para a rede neural.

Mediante a escolha do melhor método de treinamento da rede, através

de algoritmo de aprendizado, é alimentada a RNA, após dados obtidos e

comprovados, para determinar a resistência à compressão de um corpo de prova

de concreto. Velloso (2014) define algoritmo como etapas de resoluções de

problemas ou sequência de ações bem definidas a serem executadas. Existem

vários métodos de aprendizagem para as redes neurais artificiais, como:

algoritmo backpropagation, Gradiente Descendente com Momentum, Levenberg

– Marquardt e Aprendizagem Profunda (Deep Learning).

Nesse sentido, o presente estudo objetivou, através de uma revisão da

literatura, analisar a viabilidade do uso de redes neurais artificiais através do

método de aprendizagem profunda para estimar resistência à compressão do

concreto, usando dados secundários.

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1. METODOLOGIA

Esta pesquisa trata-se de uma revisão sistemática com objetivo de

analisar a viabilidade do uso de redes neurais artificiais para estimar resistência

à compressão do concreto, usando dados secundários. As revisões sistemáticas

são consideradas estudos secundários, que têm nos estudos primários sua fonte

de dados. Essa forma de investigação disponibiliza evidências relacionadas a

uma estratégia de determinada intervenção, mediante a aplicação de métodos

sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação (SAMPAIO;

MANCINI, 2007).

Segundo Galvão e Pereira (2014), os métodos para elaboração de

revisões sistemáticas preveem: elaboração da pergunta de pesquisa; busca na

literatura; seleção dos artigos e extração dos dados; avaliação da qualidade

metodológica dos artigos analisados; síntese dos dados e análise e redação dos

resultados. De acordo com Tasca (2010), o ato de analisar um contexto definindo

uma problemática e as questões relacionadas, dão início a um processo de

pesquisa científica, fazendo com que os pesquisadores busquem diferentes

informações em bases de dados.

A primeira etapa da revisão sistemática consistiu em definir uma pergunta

sobre o que se investiga.

o Como se aplica a rede neural artificial para prever a resistência do

concreto?

Em seguida, buscou-se evidências, através da definição das palavras-

chave:

o Artificial neural networks

o Concrete

o Artificial neural networks

o Concrete compressive strength

Posteriormente a esta definição, traçaram-se as estratégias de busca:

definição das bases de dados a serem pesquisadas. Na atual pesquisa, foram

utilizadas as bases de dados eletrônicas ScienceDirect e Springerlink, de ano

indefinido ao ano 2021, no idioma inglês, usando as palavras-chaves

anteriormente definidas. Em seguida, realizadas a revisão e seleção dos

estudos, escolheu-se aqueles que se adequaram ao objetivo da pesquisa. Na

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quarta fase da revisão, foi avaliada a qualidade metodológica do material

selecionado, afim de utilizar adequadamente o material na pesquisa sobre

estimativas da resistência à compressão do concreto, utilizando redes neurais

artificiais. Por fim, os resultados estão apresentados na revisão a seguir.

2. REVISÃO

A busca por termos relacionados a estimativas da resistência à

compressão do concreto, utilizando redes neurais artificiais, e posterior

compilação do banco de dados utilizando os termos "Artificial neural networks" e

“concrete” totalizou 5159 resultados no Science Direct e 4407 no Springer Link,

respectivamente. Em relação aos termos "Artificial neural networks" e "concrete

compressive strength" foram encontrados 249 resultados no Science Direct e

111 no Springer Link, respectivamente. Posteriormente a essas buscas foram

“refinados” os trabalhos de modo a compilar uma base de dados de trabalhos

selecionando assim aqueles que se adequaram ao objetivo desta pesquisa, isto

é, resultados secundários obtidos utilizando redes neurais artificiais em

detrimento ao ensaio de resistência à compressão convencional. O desempenho

dos estudos é analisado e discutido a seguir.

2.1. Concreto

A utilização do concreto como material na construção civil é remota e se

confunde com a história da própria construção por suas características ímpares

como a resistência à água, baixo custo, facilidade de uso e disponibilidade em

todo o mundo. Ao longo do tempo o material evoluiu e se consolidou como

essencial (MEHTA e MONTEIRO, 2008).

A história do concreto se inicia com o cimento, o primeiro cimento utilizado

pelo homem foi o chamado “cimento natural” resultante da reação química entre

o calcário e a argila xistosa durante combustão espontânea (LORENZI, 2009).

Além do cimento outros materiais foram utilizados em funções em que,

atualmente, se emprega concreto, como a argamassa, pedra, madeira, tijolo de

barro e cimento hidráulico. Esse materiais apresentavam limitações sérias em

relação à impossibilidade de contato constante com a água, baixa resistência

mecânica e incapacidade de cobrir grandes vãos (KAEFER, 1998).

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Um cidade romana inovou no século IV a.C. ao empregar o concreto na

construção de seus muros e no século II a.C. o material “novo” começou a ser

usado nas edificações romanas. Esse concreto romano utilizava cal como

material cimentíceo e tem-se registros de uma argamassa com proporção 1:4

cal/areia e 1:5 cal/pozolana. O concreto era comumente aditivado com materiais

como gordura animal, leite e sangue. Com a intenção de construir edificações

maiores e mais robustas os romanos desenvolveram uma série de soluções

técnicas que permitiram ampliar a aplicação do concreto romano. A inovação

mais significativa nas fundações romanas foram as plataformas de concreto. Só

foi possível emprega-lo na construção devido à capacidade hidráulica do cimento

pozolânico que permitia que as fundações fossem lançadas sob a água

(KAEFER, 1998).

O concreto pozolânico foi utilizado ainda em construções

importantíssimas em Roma como o Panteão (Pantheon) cuja cúpula de 43 m de

diâmetro foi apoiada num cilindro composto por concreto pozolânico revestido

com tijolos e mármore. Em Roma o concreto ainda foi utilizado nas estradas que

resistem até hoje e foram essenciais para o fortalecimento da economia do

império romano. Durante a idade média não foram feitos grandes avanços na

composição do concreto. Depois diversos estudiosos contribuíram para evolução

da composição do cimento e melhoria das suas propriedades (KAEFER, 1998).

Na década de 1830, segundo Kaefer (1998), observou um avanço no uso

do concreto, principalmente em fundações. O termo concreto era empregado

para designar uma massa sólida resultante da combinação de cimento, areia,

água e pedras. Em 1850 o francês Lambot publicou o resultado de suas

experiências com concreto armado no qual ele estudou os efeitos de se introduzir

ferragens à uma massa de concreto.

Atualmente o concreto é utilizado numa vasta diversidade de projetos

inclusive em ambientes agressivos graças aos diferentes tipos de concretos

elaborados a partir de distintos cimentos, agregados, aditivos e formas de

aplicação (armado, protendido, projetado, etc.). O maior desafio é o aumento da

durabilidade das estruturas, a recuperação das estruturas danificadas e o

entendimento do mecanismo químico e mecânico dos cimentos e concretos

(KAEFER, 1998).

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Isaia (2005) descreve como os componentes do concreto a água e

cimento, essa mistura é denominada pasta, que poderá ser adicionando

agregado miúdo, obtendo assim a argamassa, por fim sendo nesta adicionado

agregado graúdo, chegando assim ao concreto propriamente dito. Assim, pode-

se dizer que o concreto é um material composto de um meio contínuo

aglomerante no qual estão inseridas partículas de agregados. No Brasil

predomina o uso do cimento Portland como aglomerante. Já os agregados são

classificados em grupos a partir de seus tamanhos, as britas – partículas maiores

que 4,8 mm – são denominados agregados graúdos enquanto a areia constitui

o agregado miúdo (O USO DO..., 2019).

Algumas propriedades do concreto são modificadas com aditivos afim de

melhorar a trabalhabilidade. Segundo Salgado (2009), essas modificações

ocorrem com incremento de aditivos, que são produtos químicos adicionados

além da mistura convencional. Desse modo precisa cautela no seu manuseio,

pois há casos que podem trazer malefícios e até mesmo prejuízos inimagináveis.

É importante observar algumas propriedades essenciais para possibilitar

o uso do concreto com segurança como resistência, abatimento, agregado

graúdo, quantidade de cimento e de cada componente, cor e atendimento aos

requisitos da utilização. Assim, um concreto é definido como “de boa qualidade”

quando apresenta facilidade de transporte, mistura e adensamento;

uniformidade na aplicação e nas características em toda obra; não pode

segregar e precisa apresentar acabamento adequado na superfície das formas

(O USO DO..., 2019).

2.2. Resistência do concreto

Até pouco tempo acreditava-se que as estruturas de concreto seriam

praticamente “eternas” caso fossem feitas com o devido cuidado e ética durante

as fases de projeto e execução. Entretanto, desde meados da década de 90 a

comunidade internacional passou a dar mais atenção à deterioração das

estruturas de concreto e foram desenvolvidos procedimentos, conceitos e

ferramentas de cálculo e quantificação da vida útil das estruturas de concreto

(HELENE, 2005). Em consonância com essa tendência o assunto também é

tratado por norma brasileira a NBR 6118-2003 – “Projeto de estruturas de

concreto” que entrou em vigor em março de 2004 e apresentou bastante rigor

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nos requisitos de durabilidade no projeto das estruturas de concreto (VIEIRA

FILHO, 2007; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA..., 2003).

Devido às limitações na durabilidade das estruturas de concreto é

necessário a realização de intervenções periódicas (medidas preventivas) para

manter a edificação devidamente conservada, além da análise do concreto na

aplicação. Nesse contexto, na etapa de avaliação estrutural do projeto

precedente às intervenções estima-se a resistência do concreto que constitui

parâmetro essencial à tomada de decisões. Os ensaios de resistência são

realizados com corpos de prova sob condições padronizadas cujos resultados

orientam a aceitação ou rejeição de acordo com a finalidade da estrutura (VIEIRA

FILHO, 2007).

A capacidade do material de suportar ações aplicadas sem entrar em

colapso é designada “resistência do concreto” conforme Avila Jacintho e Giongo

(2005). A falta de atendimento a este parâmetro acarreta em prejuízos

significativos com as medidas corretivas e , dependendo da gravidade e do tipo

de edificação, até no desmoronamento da estrutura edificada (NEVILLE, 2013).

Para Helene e Pacheco (2013), por meio da Figura 1, é apresentado

representativo da resistência efetiva e resistência potencial do concreto.

Figura 1 - Resistência efetiva e resistência potencial do concreto

Fonte: Adaptado de Helene e Pacheco (2013).

Helene e Pacheco (2013) destacam que a resistência real do concreto

está empregada com todas as variações encontradas nas obras, como

diferenças de temperatura, formas de adensamento, cura e manuseio do

Resistência do concreto

Aditivos

Agregados

dosagem

equipamentos

mão de obra

Betoneira

Operações de

execução da estrutura

Resistência real do

concreto na obra

Operações de ensio e controle

Resistência potencial de controle do

concreto

Água

Cimento

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concreto. Considerando que existe possibilidade de não se ter o adensamento,

a temperatura ou tempo de cura desejados é possível que a resistência real seja

diferente da resistência potencial. Por exemplo, nos casos em que a cura é

interrompida, por fontes naturais ou não, antes que se obtenha a resistência

requerida verifica-se ganhos em resistência mas inferiores ao obtido através de

processos contínuos (BAUER, 1991). Neville (2013) afirma que para idade de 28

dias é suficiente para obtenção da resistência característica à compressão do

concreto.

Além do tempo de cura a resistência depende, essencialmente, de acordo

com a Associação Brasileira de Cimento Portlando (ABCP, 2002), da relação

água cimento para um mesmo grau de hidratação. Neville e Brooks (2013)

estabelecem a forte correlação entre a relação água cimento e os diferentes

tempos de cura. Cada grau de hidratação demanda tempos de cura distintos

para evitar a propagação de poros capilares uma vez que esse fenômeno

aumenta os vazios e, consequentemente, diminui a resistência.

2.2.1. Normas para determinação da resistência do concreto

A norma brasileira mais diretamente relacionada à determinação da

resistência é a ABNT NBR 5738 (2015) que preconiza o emprego de

procedimentos para moldagem e cura de corpos de prova, e especifica

detalhadamente esse procedimento para definir a sua resistência. Como

exemplo a moldagem cilíndrica, deverá ter uma altura igual ao dobro do

diâmetro. O diâmetro deve ser de 10 cm, 15 cm, 20 cm, 25 cm, 30 cm ou 45 cm.

As medidas diametrais têm tolerância de 1 % e a altura, 2 %. Os planos das

bordas circulares extremas do molde devem ser perpendiculares ao eixo

longitudinal do molde.

A ABNT 5739:2018 especifica, por outro lado, como deve ser realizado o

ensaio de resistência. O corpo de prova moldado e curado segundo

especificações da ABNT 5738 (2015) deve ser disposto na mesma direção em

que foi moldado em posição centralizada no prato inferior da prensa (na qual o

ensaio será realizado). A amostra deve ser posicionada de maneira tal que o seu

eixo coincida com o eixo da prensa. O carregamento de ensaio é aplicado,

então, continuamente e sem choques com velocidade de 0,45 ± 0,15 MPa/s até

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a ruptura do corpo de prova quando é interrompido. A carga máxima aplicada

que provocou a ruptura é registrada como a força máxima alcançada, expressa

em Newtons. Obtido este dado é possível calcular a resistência à compressão

utilizando a área do corpo de prova em mm2, a resistência é registrada em MPa

(megapascals).

Nesse procedimento, observa-se que o corpo de prova é exposto a

condições ambientais e cura muito distintas das existentes na peça real e,

conforme exposto anteriormente estes constituem fatores decisivos para a

resistência do concreto. Dessa forma, os corpos de prova apresentam

resistência potencial muito distinta da resistência real da peça acarretando em

perda de precisão da medida. O fato de medir-se erroneamente a resistência do

concreto pode levar a erros também na tomada de decisão quanto a medidas

preventivas, corretivas em relação à deterioração e até mesmo na provação de

peças que não deveriam ser aprovadas e comprometem a segurança e

qualidade da edificação.

2.2.2. Ensaios não destrutivos para determinação da resistência do

concreto

Conforme Almeida (2002) para se obter concreto resistente, durável,

econômico e de bom aspecto, é necessário levar em consideração as

propriedades de cada um dos materiais componentes; fatores que podem alterá-

las; a execução cuidadosa da mistura, transportado, lançados nas fôrmas e

adensado corretamente; bem como uma cura cuidadosa.

Como dados prévios já pesquisados tem-se alguns fatores cruciais que

influenciam no resultado de resistência à compressão, tais como, relação

água/cimento, idade do concreto, forma e dimensões dos corpos de prova,

duração do carregamento do concreto até ser levado para local de molde,

aditivos entre outros.

Realizado esse levantamento de causalidades que influenciam no

resultado para determinar a resistência, serão fornecidas informações para a

rede neural artificial, bem como os traços e materiais utilizados onde será feita a

aprendizagem da rede. Assim pretende-se que a rede neural artificial se alinhe

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com as variáveis expostas de modo a servir de parâmetro de entrada na

estimação da resistência à compressão do concreto.

A busca por ferramentas mais confiáveis para controle de qualidade mais

preciso do concreto levou ao desenvolvimento de métodos de ensaios não

destrutivos (END), que são aplicados na estrutura real. Dentre esses, Vieira Filho

(2007) destaca o ensaio de velocidade de propagação de pulso ultra-sônico,

rápido, simples e de baixo custo.

Deng et al. (2018), destaca que inúmeras investigações foram realizadas

nas últimas duas décadas na busca por métodos para predizer as propriedades

do concreto com diferentes componentes. O autor destaca a forte relação entre

a resistência e à proporção de areia, razão água/cimento, tipo de agregado,

aditivos e dosagem. A grande limitação é que essa relação é complexa, não

linear e não há fórmula teórica definida que pode refletir essa relação com

precisão.

Atualmente inúmeros algoritmos de inteligência artificial como redes

neurais e máquinas vetorialmente suportadas são mais usualmente empregadas

para determinar a resistência do concreto. As redes neurais artificiais – foco de

estudo deste trabalho – permitem prever a relação ente os diferentes fatores e a

resistência do concreto. A habilidade de mapeamento não linear da propagação

de fundo da rede neural é adotada para estabelecer um modelo não linear entre

as variáveis intrínsecas e extrínsecas. Apesar da habilidade da rede neural de

propagação de fundo em resolver problemas não lineares, existem algumas

desvantagens como a baixa convergência, excesso de aprendizagem e

otimização local que afetam a acurácia e eficiência da medida. Outros algoritmos

são as redes neurais e o sistema de inferências neuro-fuzzy adaptativas

combinados, as redes neurais artificiais e as técnicas de regressão, regressão

multivariada e outros (DENG et al., 2018).

2.3. Rede neural artificial

Segundo Haykin (2001) a rede neural é um sistema que realiza tarefas

particulares como o cérebro, que utiliza componentes eletrônicos ou é simulada

por propagação em um computador digital. Com o objetivo de alcançarem bom

desempenho, essas redes empregam uma interligação maciça de células

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computacionais simples, designadas de “neurônios” ou unidades de

processamento.

Conforme Spörl et al. (2011) as RNAs são empregadas na busca de

resolubilidade de problemas complexos, de forma que não se conhece

rigorosamente o comportamento das variáveis. Tendo como característica

principal a competência de aprender por meio de exemplos e de generalizar a

informação instruída, na qual sua aplicação na análise espacial é excepcional.

São algoritmos computacionais que exibem um modelo matemático inspirado na

estrutura de organismos inteligentes. Sendo assim capaz de aprender e a partir

de então tomar decisões. Correspondendo um plano de processamento possível

de armazenar informação e disponibilizar estes dados para a aplicação à qual

se destina.

Segundo Miranda et al. (2009) o aprendizado da RNA é um método

iterativo de ajustes aplicados aos pesos sinápticos, sendo denominado de

treinamento. Só é possível esse treinamento quando a rede neural, a partir de

um problema atinge solução generalizada. Sendo assim, habilitar uma rede é

ajustar a sua matriz de pesos sinápticos, de modo que o vetor de saída coincida

com um valor almejado para o vetor de entrada específico.

Segundo Deng (2018) a rede neural multicamadas são camadas linhadas

de neurônios. A primeira camada é de entrada, que distribuirá as informações

para a(s) camada(s) escondida(s), onde é feita a maior parte do processamento,

através das conexões ponderadas. A camada de saída resulta na solução do

problema. Não existe comunicação unidirecional nem mesmo conexões entre

neurônios da mesma camada, porém as camadas são completamente

conectadas. Exemplificando esse processo na Figura 1.

Para Fleck (2016) a qualidade das RNAs depende da arquitetura

adequada, processo de treinamento e validação eficiente, obtendo então bons

resultados. Para isso é necessário que se forneça à rede os dados

representativos da dinâmica do processo, de forma que a determinação dos

valores seja executada de modo a propiciar uma rede capaz de fornecer

resultados satisfatórios sem esforço computacional excessivo.

2.4. Método de deep learning

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Segundo Bengio et al. (2015) o Deep Learning abrange vários graus de

aprendizado de características, de forma que compreende diferentes níveis de

abstração. Para o entendimento das características usa aprendizado de máquina

não só para descobrir como a particularidade está mapeada, como também para

entender o que é a própria da mesma. Códigos de aprendizado de características

que são adicionadas ao sistema, permite distinguir um conjunto de atributos para

uma tarefa simples ou complexa em questão de minutos, sendo que da forma

tradicional poderia levar de horas a meses.

Segundo Ponti e Costa (2018) o uso da Deep Learning, nos últimos

tempos vem mudando o campo de aprendizado de máquina, assim como

influenciando a habilidade em entender como funciona a percepção humana. Tal

meio tem revolucionado várias áreas, como reconhecimento de voz,

compreensão de imagem, análise de sentimentos em textos e tradução

automática de textos. Diversas empresas estão se baseando em métodos que

usam essa forma de aprendizagem, como Google, Facebook, Ibm, Microsoft,

Nec, Baidu.

Ponti e Costa (2018) ainda afirmam que o aprendizado Deep Learning usa

método que guia o aprendizado, a partir de modelo utilizando um conjunto de

dados (exemplos). Por fim, o processo de aprendizado profundo tem como base,

o recebimento por entrada dos dados brutos, a fim de fornecer como saída uma

representação apropriada para o problema em questão.

Para Chollet (2017) essa técnica de Deep Learning tem alcançado

excelentes resultados. Porém existem limitações no uso de redes neurais

profundas, pois o vetor de entrada se aplica uma forma de aprender e se

transformar. Assim, essa transformação, se dá por pesos (parâmetros), que se

atualiza durante o treinamento minimizando a função de custo. Como limitação

primária ao treinamento é que as transformações precisam ser deriváveis, ou

seja, o mapa entre a entrada e saída da rede deve ser contínuo.

Por fim, para Ponti e Costa (2018). É evidente o impacto positivo de Deep

Learning em diversos seguimentos onde o aprendizado da máquina é agregado

para busca de soluções.

Sendo assim nota-se a excelência de sua aplicabilidade em análise para

determinação de resistência do concreto. Para entendimento, exemplificamos o

princípio básico de funcionamento do aprendizado Deep Learning, na qual

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utilizando características faciais, o computado identifica formas simples até

complexas a partir de análise de traços, com objetivo final o reconhecimento

facial. A partir desse princípio será utilizado esse aprendizado para determinar

resistência do concreto referente ao traço e variáveis solicitadas.

Figura 2 - Tarefa de reconhecimento facial usando deep learning

Fonte: Jones (2014) adaptado por Pereira, J.C.

Estratégias de Deep Learning usam Redes Neurais com múltiplas

camadas onde camadas mais profundas são capazes de aprender

características mais abstratas e reconhecer padrões cada vez mais complexos.

De forma simplificada a diferença básica entre a Rede Neural e o Deep

Learning, são as camadas escondidas contidas no sistema de aprendizagem, na

RNA básica possui apenas uma camada escondida, conforme apresentando na

Figura 3.

Figura 3 - Exemplo da Rede Neural

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Fonte: DENG, et al. (2018).

Em contrapartida o Deep Learing refere-se a ter mais de uma camada,

sendo melhor o processamento de informações para o treinamento da rede,

apresentando na Figura 4, aplicado à determinação da resistência do concreto.

Figura 4 - Método de Aprendizado Profundo (Deep Learning)

Fonte: autoria própria (2019).

2.5. Matlab

Segundo Marchetto (2016) o software MATLAB é pago, na qual é

instituído a fazer cálculos com matrizes (Matlab = MATrix LABoratory)

desenvolvido pela MatWorks. Sendo de alto nível, direcionado para cálculos

numéricos, análise de dados, cálculos com matriz, construções de gráficos e

algoritmos, assim é possível solucionar problemas. Seu manuseio é fácil, devido

os comandos serem mais próximos da forma que escrevemos as expressões

algébricas. Atualmente encontra-se na versão MATLAB (R2019a) atualizado em

2019, apresentando melhorias na sua execução, principalmente nas áreas de

Deep Learning e system engineering.

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Marchetto (2016) ainda afirma que esse software foi adotado pela primeira

vez por engenheiros de projeto de controle, sendo rapidamente espalhado para

outros campos de aplicação, atualmente é vastamente utilizada. Matsumoto

(2002) definiu MatLab como computação técnico-científica desempenhada para

o desenvolvimento de sistemas.

Conforme Matsunaga (2012), o software apresenta diversas bibliotecas

ou ferramentas (toolboxes) para aplicações específicas, como: Redes Neurais,

Lógica Fuzzy, Otimização de Sistemas, Wavelets, Cálculo Simbólico,

Processamento de Sinais e outras. Ainda disponibiliza versões para diferentes

ambientes operacionais: Windows, Linux, UNIX, Macintosh.

Matsunaga (2012) descreve a existência da interface gráfica NNTool

(Neural Network Toolbox ), na qual possibilita importar, criar, utilizar e exportar

dados da RNA. Depois que a RNA foi criada, é necessário treina-la. Onde será

determinado cada parâmetro de treinamento, como: dados de validação e teste,

valores dos pesos ou bia. Por fim, gerando os valores de saída desejados.

Deng et al. (2018) aplicou o método deep learning usando o Mat Lab para

prever a resistência do concreto a partir da quantidade de agregados miúdos e

graúdos, quantidade de substituição por reciclados, razão água/cimento. Os

autores observaram que o modelo apresentou inúmeras vantagens como

elevada precisão, elevada eficiência e elevada generalização quando

comparada ao modelo tradicional de rede neural.

Oliveira, Neto e Tavares (2007) empregaram as redes neurais artificiais

para obter o traço e a resistência de concretos de alta resistência. Os autores

empregaram o software MATLAB® versão 7, desenvolvido pela

MATHWORKS®, para realizar a modelagem, treinamento e posterior execução

das redes neurais através do toolbox de redes neurais do software. No estudo

foram testadas várias RNA’s para determinar o traço e a resistência

empregando-se padrões variados de:

i. Número de camadas escondidas; ii. Número de elementos processadores por camada;

Os autores verificaram que a metodologia proporcionou inúmeras

vantagens, entre elas a agilidade uma vez que foi possível obter os traços ou

propriedades dos concretos rapidamente após a RNA ter sido treinada. Outra

vantagem destacada pelos autores foi a flexibilidade, dada as variadas

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possibilidades de materiais devido às suas distinções regionais e técnicas de

dosagem as RNAs podem ser treinadas em acordo com essas variações. Assim

verificou-se a ausência de limitações à adaptação quanto às diferentes origens

do material. Finalmente, observou-se confiabilidade através das margens de

erros ínfimas – menores de 0,10% (OLIVEIRA, NETO E TAVARES, 2007).

Pinheiro e colaboradores (2011) estudaram as redes neurais artificiais

para determinar a resistência de concretos produzidos com agregados

reciclados e observaram vantagens similares a Oliveira, Neto e Tavares (2007).

Os autores realizaram ainda uma comparação com modelo multivariado e

verificaram resultados próximos mas com maior confiabilidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O concreto é um dos materiais mais amplamente utilizados em

edificações e sua qualidade e utilização corretas são determinantes para a vida

útil de qualquer empreendimento, Dentre as suas características, a resistência é

uma das mais importantes, trata-se da capacidade do material de suportar ações

aplicadas sem colapsar e é influenciada pela quantidade da água da mistura.

Suas características são uma função do tempo e da umidade do ambiente, e os

ensaios de controle de qualidade devem ser realizados sob condições

específicas, para que os resultados obtidos sejam válidos. De forma que

procedimentos confiáveis são indispensáveis à sua realização.

As redes neurais artificiais tem sido amplamente empregadas em vários

ensaios da engenharia com sucesso. No caso da determinação da resistência

do concreto à possível obter resultados mais confiáveis que os obtidos através

da metodologia oficial. Isso porque o método preconizado pelas NBRs não

exprime a propriedade na peça real, por distinções no método de curo e

condições de exposição.

O emprego das redes neurais artificiais se enquadra nos métodos não

destrutivos que permitem prever a propriedade sem extração do corpo de prova

e possibilita a modelagem não linear das relações empíricas entre as condições

e parâmetros de produção do concreto e suas propriedades de controle.

Para obter essa modelagem foi verificado que a literatura apresenta

variados algoritmos, o enfoque deste trabalho foi o deep learning e, segundo a

revisão da literatura, esse algoritmo reflete melhor o tipo de relação entre as

propriedades do concreto e os teores e tipos de agregados, razão água cimento

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e tempo de cura permitindo prever a resistência antes mesmo de produzir o

concreto com elevada confiabilidade.

Assim, pode-se dizer que o algoritmo do deep learning apresenta

inúmeras vantagens como a flexibilidade em relação às variações regionais na

dosagem do concreto. Além disso, o software MATLAB mostra-se adequado

para emprego da ferramenta de controle de qualidade agregando elevada

precisão, elevada eficiência e elevada generalização quando comparada ao

modelo tradicional de rede neural.

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