estimação do custo de capital de terceiros a valor de mercado para
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Estimação do custo de capital de terceiros a valor de mercado para companhias fechadas no Brasil visando uma melhor gestão estratégica de projetos
Andrea M. A. Fonseca Minardi
Antônio Zoratto Sanvicente
Rinaldo Artes
Attilio Padovan P. Pereira
Fábio Wrobel Zausner
Insper Working PaperWPE: 092/2007
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ESTIMAÇÃO DO CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS A VALOR DE MERCADO PARA COMPANHIAS FECHADAS NO BRASIL VISANDO
UMA MELHOR GESTÃO ESTRATÉGICA DE PROJETOS1
ANDREA M. A. FONSECA MINARDI Ibmec São Paulo
ANTÔNIO ZORATTO SANVICENTE Ibmec São Paulo
RINALDO ARTES
Ibmec São Paulo ATTILIO PADOVAN P. PEREIRA
Ibmec São Paulo
FÁBIO WROBEL ZAUSNER Ibmec São Paulo
Resumo
A metodologia mais utilizada para estimar o custo de capital é o custo médio ponderado de capital: WACC (weighted average cost of capital). Consiste numa média ponderada entre o custo de capital próprio e o custo de capital de terceiros, que, de acordo com a literatura, deveriam ser estimados a valores de mercado. As duas fontes de capital são ponderadas com base na estrutura meta de capital, que é a relação entre capital próprio e capital de terceiros a ser perseguida pela empresa no longo prazo, objetivando a minimização do WACC. Esse trabalho apresenta uma metodologia para apurar o custo de capital de terceiros de unidades de negócios e empresas a valor de mercado. Para isso foram coletados ratings de crédito de Moody’s e Standard & Poor’s e diversas variáveis contábeis e de mercado de uma amostra de 627 empresas americanas. Utilizou-se um modelo logístico ordenado para selecionar as variáveis que melhor explicam os ratings de crédito dessas agências e desenvolver um modelo classificatório de rating de crédito. O custo de capital de terceiros é associado a cada um dos ratings de crédito e prazo de vencimento. Desta maneira, com base nas características de cada empresa, unidade de negócios ou projeto é possível determinar o rating de crédito e, com base na duração do empréstimo, o custo de capital de terceiros a valor de mercado. Esta ferramenta é estrategicamente poderosa, pois permite determinar mais precisamente o custo de capital, bem como identificar a estrutura de capital que minimiza o custo de captação e, conseqüentemente, cria mais valor para o acionista. Como o desempenho dos principais executivos são medidos por métricas de criação de valor, das quais uma variante é o custo de capital, nosso procedimento permite alinhar melhor a remuneração dos executivos com a estratégia da empresa ou organização e a criação de valor para o acionista.
Abstract The WACC (weighted average cost of capital) is the most often used methodology for estimating the cost of capital. The WACC is a weighted average between the cost of equity and the cost of debt. Both costs should be estimated at market value, and the weights must reflect the optimal capital structure. The optimal capital structure is that combination of equity and debt that should prevail in the long term so as to minimize the overall cost of capital. The objective of this paper is to present a methodology for estimating the cost of debt on a market-value basis. We collected credit ratings published by Moody’s and Standard & Poor’s as well as accounting and market variables for 627 US industrial companies on December 2004. We used the ordered logit model to select the relevant variables that better explain credit ratings and to develop a model to classify the company, business unit or project to assign them a rating. The cost of debt is then associated to the estimated rating and to debt maturity. In this manner, given the characteristics of each project, business unit or company, it is possible to determine its credit rating, and given the issue maturity, the corresponding cost of debt can be estimated. This should be a very useful tool from a strategic point of view. It allows us to estimate the cost of debt more adequately and to identify the capital structure that minimizes the overall cost of capital and consequently maximizes shareholder value. Because top management is evaluated on the basis of value-creation metrics, and one of the relevant variables is the cost of capital, it is then possible to better align compensation with the overall corporate business strategy and shareholder value creation.
Janeiro de 2006 1 Agradecemos o apoio financeiro do Centro de Pesquisa em Estratégia do Ibmec São Paulo.
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I. Introdução
O custo de capital tem uma importância estratégica bastante grande em administração de
empresas. Projetos são aceitos ou rejeitados pela regra do Valor Presente Líquido (VPL). Se a
taxa de desconto for muito alta, projetos estrategicamente interessantes e que criam valor para
o acionista podem ser rejeitados por apresentarem VPL inadequadamente negativo. Se for
muito baixa, projetos arriscados tenderão a apresentar VPL inadequadamente positivo e serão
indevidamente aceitos, aumentando o risco geral da empresa e podendo comprometer sua
sobrevivência no longo prazo. Os executivos são cada vez mais remunerados por métricas de
criação de valor para o acionista, como, por exemplo, EVA ou lucro econômico. Um dos
componentes dessas métricas é o custo médio ponderado de capital, ou WACC (Weighted
Average Cost of Capital). Para alinhar o interesse de criação de valor para os acionistas com a
estratégia a ser adotada e a remuneração dos executivos, é essencial que se apurem custos de
capital adequados ao risco a valor de mercado.
O WACC consiste numa média ponderada do custo de capital próprio e do custo de capital de
terceiros. A ponderação é com base na estrutura meta de capital, que consiste na proporção
que deveria prevalecer no longo prazo entre capital próprio e capital de terceiros no
financiamento dos ativos da empresa.
A estimação do custo de capital próprio é uma questão bastante polêmica, mas foge do escopo
deste trabalho2. O objetivo deste trabalho é desenvolver uma metodologia para estimar o custo
2 O custo de capital próprio foi objeto de estudo do relatório do Centro de Estratégia – Minardi, A.M.A.F, Sanvicente, A.Z., Montenegro, C.M.G., Donatelli, D.H., Bignotto, F.G., “Estimando o custo de capital de companhias fechadas no Brasil para uma melhor gestão estratégica de projetos”, working paper CPE-003, fev. 2005.
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do capital de terceiros a valor de mercado, ou seja, a taxa de juros que seria justa nas
condições correntes de mercado.. Na prática, geralmente este é estimado com base no custo
histórico das diversas dívidas já contraídas, e isso pode não refletir a situação que a empresa
enfrentará hoje se tiver que captar o recurso novamente para financiar os novos projetos.
Para determinar o custo de capital de terceiros de empresas, unidades de negócios e
projetos,foi desenvolvido um modelo para atribuir ratings de crédito similares aos das
principais agências de crédito- Standard & Poor’s e Moody’s - com base em um conjunto de
variáveis. Para isso foram coletados ratings de crédito de Moody’s e Standard & Poor’s e
diversas variáveis contábeis e de mercado de uma amostra de 627 empresas americanas.
Utilizou-se um modelo logístico ordenado para selecionar as variáveis que melhor explicam os
ratings de crédito dessas agências e desenvolver um modelo classificatório de rating de
crédito. A Bloomberg divulga a estrutura a termo de taxas de juros de índices de títulos de
dívida privada (corporate bonds) agrupados por rating de crédito. A partir dos ratings e do
prazo de vencimento da dívida é possível estimar o custo de capital de terceiros a valor de
mercado.
O restante deste trabalho está estruturado da seguinte maneira: na seção II são apresentados
conceitualmente o custo de capital médio ponderado (WACC) e a existência de uma estrutura
ótima de capital; na seção III são explicados os ratings de crédito dados por agências de
crédito e discutida sua relação com qualidade de crédito e custo de capital de terceiros; na
seção IV é apresentada a metodologia para estimar os ratings de crédito e é ilustrado como
pode se apurar o custo de capital de terceiro a partir do rating de crédito e do prazo de
vencimento da dívida, e na seção V o trabalho é concluído.
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II. Custo médio de capital ponderado (WACC) e existência de estrutura ótima de capital
É comum em Finanças separar as decisões de investimento e de financiamento3. Por isso,
descontam-se os fluxos de caixa para a firma (free cash flow), que supõem que o projeto será
financiado integralmente com capital próprio. A decisão de financiamento é refletida no custo
de capital, o WACC (Weighted Average Cost of Capital), que corresponde à média ponderada
do custo de capital próprio e do custo de capital de terceiros líquido do imposto de renda da
empresa.Os pesos, por sua vez, correspondem às proporções dos financiamentos de capital
próprio e capital de terceiros em relação ao total.
O WACC é estimado conforme segue:
ecd kAETk
ADWACC ×+−××= )1( (1)
onde:
D = valor de mercado do capital de terceiros
E = valor de mercado do capital próprio
A = valor de mercado do capital total investido (A = D + E)
kd = custo de capital de terceiros antes do imposto de renda da empresa
Tc = alíquota de imposto de renda da empresa
ke = custo de capital próprio
3 A separação entre investimento e financiamento é uma das heranças da Hipótese de Mercado Perfeito, cujas principais premissas são: não existem custos de tributação, falência, corretagem; os investidores possuem expectativas homogêneas e mesmo horizonte de investimento; existe uma taxa de juros livre de risco e é possível aplicar e tomar emprestado a esta taxa
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A metodologia do WACC pressupõe que a empresa tenha uma estrutura ideal de capital. No
longo prazo, a empresa ajustará a relação entre capital próprio e capital de terceiros (D/E) à
estrutura ideal. Os fundamentos desta metodologia estão baseados na teoria do trade-off,
segundo a qual existe uma estrutura ótima de capital (que minimiza o WACC). Como a dívida
diminui o lucro tributável, gera um benefício fiscal que aumenta com a proporção de capital de
terceiros. O custo de capital de terceiros também é mais barato do que o custo de capital
próprio, porque o investidor que fornece capital de terceiros assume risco menor, dada a
prioridade que têm tanto a sua remuneração corrente quanto o seu ressarcimento em caso de
falência ou reorganização da empresa.. Por outro lado, o aumento da proporção de capital de
terceiros aumenta o risco de falência e o custo para o acionista. O acionista irá elevar seu
retorno exigido e, portanto, o custo de capital próprio, à medida que a relação D/E aumente.
Existe um determinado valor da relação D/E que minimiza o WACC, segundo essa teoria,
também conhecida como Teoria Estática.
A literatura de Finanças também contempla a Teoria Dinâmica, segundo a qual os
administradores não otimizam sua estrutura de capital período a período conforme sugere a
Teoria Estática, mas sim como resultado de um processo dinâmico que leva em conta os
custos associados aos ajustes da estrutura de capital. Neste caso, em qualquer momento
considerado, as empresas podem se desviar de sua estrutura ótima de capital de longo prazo.
Donaldson (1999) e Myers (1977) definiram a maneira como os administradores financeiros
tomam suas decisões financeiras de acordo com a chamada regra de pecking order. São feitas
as seguintes observações:
- As empresas preferem financiar seus investimentos com lucros retidos do que com outras
fontes de fundos.
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- Por causa desta preferência, as empresas procuram adaptar suas políticas de dividendos para
refletir esta antecipação de necessidade de investimento.
- Como existe relutância em alterar substancialmente a política de dividendos e os fluxos de
caixa e as necessidades de investimentos são flutuantes, os lucros retidos podem ser
maiores ou menores que as necessidades de investimento. Se as empresas possuírem
excesso de caixa, tenderão a pagar suas dívidas antes de recomprar ações. Se precisarem
de financiamento extra, tenderão a emitir os títulos mais seguros em primeiro lugar.
Preferem tomar empréstimos regulares, em seguida recorrem a títulos de dívida
conversível, e apenas como último recurso emitem ações.
Existem estudos empíricos que suportam a Teoria Estática, a qual prevê que as empresas
buscam uma estrutura ótima de capital, e há outros estudos que suportam a teoria da pecking
order, ou Teoria Dinâmica No Brasil também existem pesquisas apoiando as predições das
duas correntes.
Nakamura (1992) analisou dados de 427 empresas divulgados nas edições de Melhores e
Maiores da revista Exame no período de 1984 a 1989. Concluiu que as decisões de
financiamento são tomadas levando-se em conta a maximização da riqueza do acionista,
estando fortemente condicionadas à oferta de fundos.
Couto (1995) realizou análises estatísticas com dados de 1980 a 1993 de 13 empresas do setor
de papel e celulose, além de entrevistas com administradores financeiros, e não chegou a uma
conclusão sobre as variáveis que determinam o endividamento das empresas. Confrontando os
resultados obtidos nas regressões com as entrevistas, verificou que existe uma preferência por
capitais de terceiros subsidiados e recursos gerados internamente. Inexiste uma meta de
endividamento e a busca de recursos é efetuada de acordo com as necessidades de caixa para
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capital de giro e novos investimentos. A seleção de fonte de financiamento é feita pelo critério
de menor custo e maior prazo de pagamento. Observou também que, quanto maior o grau de
imobilização, maior o endividamento, pois os ativos fixos geralmente são dados como garantia
real. Aparentemente, existe um grau de hierarquização na decisão de estrutura de capital.
Eid (1995) pesquisou o comportamento de empresas brasileiras no tocante a custo e estrutura
de capital através de um questionário respondido por 161 empresas. Aparentemente, as
empresas buscam as fontes de recursos economicamente mais vantajosas do momento, e existe
uma hierarquização das fontes de captação. Esta hierarquização, entretanto, não está de acordo
com o previsto pela teoria da pecking order. A fonte prioritária é a obtenção de empréstimos
bancários, seguindo-se ações ordinárias, e por último lucros retidos.
Carrete (2001) testou se as empresas brasileiras procuram uma estrutura ótima de capital ou
seguem uma hierarquização das fontes. Sua amostra era composta por 42 empresas, analisadas
de 1988 a 1999. O endividamento não explicou os movimentos esperados da estrutura de
capital agregada; as empresas apresentaram aumento de endividamento no início da década de
90, com o acesso ao mercado de capital, e esse aumento foi ainda mais expressivo a partir de
1995, com a estabilização do processo inflacionário. As empresas utilizam prioritariamente
recursos gerados internamente, em seguida endividamento e como última prioridade a emissão
de ações.
A utilização do WACC está condicionada à existência de uma estrutura meta de capital. Caso
a estrutura meta de capital não seja adequada à política de financiamento da empresa em
questão, a metodologia indicada pela literatura é o APV (Adjusted Present Value) ou Valor
Presente Ajustado4. O APV corresponde à soma do VPL dos fluxos de caixa da firma
4 Uma boa discussão e apresentação do APV (Adjusted Present Value) ou Valor Presente Ajustado pode ser encontrada em Luehrman (1997).
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descontados pelo custo de capital que prevaleceria se a empresa financiasse os projetos
unicamente com capital próprio, somados aos benefícios e custos decorrente da utilização de
capital de terceiros (veja-se a equação (2)):
dívidacustosdívidabenefíciosprópriocapitalunicamentefinanciado VPVPVPLAPV _____ −+= (2)
O principal benefício decorrente da utilização de capital de terceiros é o benefício fiscal. Este
pode ser apurado como sendo:
d
n
1tCt
k
T*JBF
∑== (3)
onde:
BF = benefício fiscal da dívida
Jt = despesas de juros no ano t, decorrentes da dívida
TC = alíquota de imposto de renda da empresa
kd = custo de capital de terceiros
n = número de anos para os quais foi contratado o financiamento
Portanto, desde que o uso crescente de capital de terceiros não eleve o custo do
endividamento, sempre será vantajoso para a empresa aumentar seu endividamento, porque o
benefício fiscal é crescente com a alíquota do imposto, um dado exógeno à empresa.
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III. Ratings de crédito: relação com qualidade de crédito e custo da dívida
As avaliações de crédito atribuídas por agências de classificação são largamente utilizadas
pela comunidade financeira como medida de risco de títulos privados. Novas emissões de
títulos dificilmente ocorrem sem a avaliação de uma das principais agências. Os ratings
representam o julgamento de analistas financeiros presumidamente bem informados e
competentes. Os yields (taxas de mercado) de títulos privados também estão fortemente
correlacionados com os seus ratings. Títulos com ratings bons possuem yields
substancialmente mais baixos do que títulos com ratings ruins, pois estes representam
julgamentos de risco de crédito mais elevado. Maltzan e Reisen (1999) encontraram
evidências de que os yields de títulos de dívida soberana reagem significativamente na
iminência de uma promoção para ratings melhores pelas três maiores agências de crédito:
Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, e na efetivação de um rebaixamento.
A definição de ratings de emissores pela Standard & Poor’s (2003) é uma opinião corrente a
respeito da capacidade financeira geral do emissor para saldar suas obrigações financeiras. A
opinião se concentra na capacidade e na disposição de um emissor de cumprir suas obrigações
financeiras à medida que elas vençam. Não é referente a nenhuma obrigação financeira
específica, pois não considera a natureza e as cláusulas específicas de qualquer título, e nem a
qualidade de crédito dos garantidores, seguradores ou outras formas de garantia de crédito da
obrigação específica. Os ratings de emissores podem tanto ser corporativos, no caso de
empresas emissoras, como soberanos, no caso de países. Para dar ratings aos títulos, as
agências levam em conta, além das características do emissor, as garantias, a qualidade da
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entidade que concedeu a garantia, seguradoras em caso de existência de seguros e a moeda na
qual a emissão é denominada.
Para atribuir um rating de crédito, as agências baseiam-se em informações correntes
quantitativas e qualitativas disponibilizadas pelos emissores de títulos ou obtidas junto a outras
fontes consideradas confiáveis. Os ratings de crédito podem ser alterados, suspensos ou
retirados como resultado de mudanças ocorridas ou de falta de disponibilidade de tais
informações.
A atribuição de rating a um título de dívida é um evento importante. Portanto, entender os
determinantes do rating é um exercício útil. Considerações sobre o risco país fazem parte da
análise de risco de crédito tanto de emissões como de emissores. A moeda dos pagamentos é
um fator chave nesta análise. A capacidade de um emissor de pagar uma obrigação em moeda
estrangeira pode ser menor do que sua capacidade de pagar obrigações em sua moeda local,
devido à possibilidade de que um governo soberano seja menos capaz de pagar dívidas
externas do que dívidas internas. Em caso de moratória de um país, o Banco Central pode
bloquear fluxos de capitais em moeda estrangeira, impedindo o envio de um pagamento dos
serviços de uma obrigação em moeda estrangeira. As considerações sobre risco soberano são
incorporadas aos ratings atribuídos a emissões específicas. Os ratings de crédito de emissores
em moeda estrangeira também são distintos dos ratings de crédito em moeda local, para
identificar situações nas quais o risco soberano os torna diferentes para o mesmo emissor.
Os ratings de crédito de emissores em moeda estrangeira possuem como teto o rating
soberano do país. Os ratings de crédito de emissões em moeda estrangeira não estão
necessariamente sujeitos a esse teto, pois podem ter garantias, seguros ou outros instrumentos
que garantam que sejam honrados mesmo na eventualidade de uma moratória do país.
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A Figura I contém o significado de cada rating. De acordo com Altman, Caouette e Narayanan
(1998), para dar um rating de crédito a Standard&Poor’s se concentra no risco de negócio
(características da indústria, posição competitiva, administração) e no risco financeiro
(características financeiras, política de financiamento, lucratividade, estrutura de capital,
proteção em termos de fluxo de caixa, flexibilidade financeira).
Figura I. Ratings de Crédito de Emissores
Rating de Grau de Investimento Rating de Grau Especulativo S&P e outras agências
Moody’s Interpretação S&P e outras agências
Moody’s Interpretação
AAA Aaa A maior qualidade de crédito. Capacidade de pagamento de juros e principal extremamente elevada.
BB+ BB BB-
Ba1 Ba2 Ba3
Provavelmente irá pagar juros e principais. Representa o menor grau de especulação
AA+ AA AA-
Aa1 Aa2 Aa3
Capacidade muito forte de pagamento de juros e principal.
B+ B B-
B1 B2 B3
Obrigações de alto risco.
A+ A A-
A1 A2 A3
Capacidade forte de pagar juros e principal
CCC+ CCC CCC- CC
Caa1 Caa2 Caa3
Vulnerabilidade corrente a inadimplência
BBB+ BBB BBB-
Baa1 Baa2 Baa3
Capacidade adequada de pagar juros e principal.
C
Ca Reservado a “income bonds” quando não são pagos juros.
D Inadimplente
Dessas categorias, a Standard & Poor’s diz que o risco da indústria (análise da atratividade e
estabilidade da indústria na qual a firma opera) possui o maior peso na decisão de atribuição
de rating. A Moody’s alega que também enfatiza os fundamentos do negócio, como
características de oferta e demanda, liderança do mercado e posição de custo. Ao analisar o
risco financeiro, a S&P calcula diversos índices financeiros (cobertura de juros, alavancagem e
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fluxo de caixa) e os acompanha ao longo do tempo. Embora existam algumas divergências
entre os ratings concedidos pela Standard & Poor’s e pela Moody’s, na maior parte do tempo
existe concordância, pelo menos no nível da letra. As taxas de inadimplência entre os ratings
também são bastante similares.
A Figura II contém a taxa acumulada média de inadimplência por rating de crédito divulgada
por Moody’s (2004) por grande letra (AAA, AA, A, BBB, BB, B, CCC). Observa-se que a
taxa de inadimplência é inversamente proporcional à qualidade do emissor e cresce
significativamente para os ratings especulativos.
Figura II. Taxa Acumulada Média de Inadimplência por Rating Consolidado na Letra (1970-2004) Moody's Anos após a emissão
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Aaa 0 0 0 0,04 0,12 0,21 0,3 0,41 0,52 0,63Aa 0 0 0,03 0,12 0,2 0,29 0,37 0,47 0,54 0,61A 0,02 0,08 0,22 0,36 0,5 0,67 0,85 1,04 1,25 1,48Baa 0,19 0,54 0,98 1,55 2,08 2,59 3,12 3,65 4,25 4,89Ba 1,22 3,34 5,79 8,27 10,72 12,98 14,81 16,64 18,4 20,11B 5,81 12,93 19,51 25,33 30,48 35,1 39,45 42,89 45,89 48,64Caa-C 22,43 35,96 46,71 54,19 59,72 64,49 68,06 71,91 74,53 76,77
Fonte: Moody’s
As taxas de juros estão relacionadas aos ratings de crédito. Isso pode ser observado nas
Figuras III e IV. Essas figuras foram elaboradas a partir dos dados da Bloomberg em outubro
de 2005, levantando-se a estrutura a termo de índices de obrigações emitidas por empresas
americanas de uma determinada categoria de rating. Observa-se que, quanto melhor o rating
de crédito, menor é a taxa de yield to maturity em qualquer prazo. A estrutura a termo também
mostra que a taxa de juros aumenta com o prazo até o vencimento.
É interessante observar também o comportamento da estrutura a termo dos títulos de dívida
soberana do Brasil. Para prazos menores que um ano, os yields são inferiores aos de títulos
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corporativos classificados como BBB, porém para prazos acima de 15 anos os yields de
títulos do governo brasileiro superam o yield médio de títulos de empresas americanas
classificados no nível B, sendo que a classificação dos títulos soberanos brasileiros é BB.
Pode-se interpretar que o mercado considera muito improvável a inadimplência do governo
brasileiro no curto prazo, mas o mesmo não acontece para prazos muito longos.
Figura III – Yields de títulos em função de rating e prazo até o vencimento
Corporate Bonds - ratings - S&P - Curva de Yields - novembro 2005
0.00%
1.00%
2.00%
3.00%
4.00%
5.00%
6.00%
7.00%
8.00%
9.00%
10.00%
0 5 10 15 20 25 30 35
T-StripAAAAAABBBBBBGov.Brasil
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Figura IV – Dados de yields de títulos de dívida em função de rating e prazo de
vencimento
YieldsPrazo US US Ind. US Ind. US Ind. US Ind. US Ind. US Ind. Títulosanos T-Strip AAA AA A BBB BB B Gov.Brasil
0.25 3.91% 4.26% 4.36% 4.49% 4.82% 5.30% 5.91% 4.64%0.5 4.26% 4.39% 4.50% 4.60% 4.91% 5.33% 6.08% 4.77%
1 4.36% 4.69% 4.70% 4.77% 5.02% 5.44% 6.40% 4.77%2 4.36% 4.71% 4.74% 4.86% 5.12% 5.81% 6.75% 5.78%3 4.43% 4.72% 4.76% 4.87% 5.25% 6.16% 7.09% 6.20%4 4.46% 4.75% 4.81% 4.93% 5.35% 6.40% 7.39% 6.65%5 4.47% 4.83% 4.89% 4.99% 5.39% 6.62% 7.54% 6.90%7 4.52% 4.93% 5.00% 5.11% 5.56% 6.91% 7.73% 7.34%8 4.60% 4.99% 5.05% 5.18% 5.64% 7.05% 7.79% 7.59%9 4.63% 5.04% 5.11% 5.24% 5.72% 7.11% 7.78% 7.77%
10 4.69% 5.11% 5.17% 5.30% 5.83% 7.23% 7.77% 7.57%15 4.85% 5.37% 5.40% 5.58% 6.10% 7.39% 8.08% 8.61%20 4.86% 5.47% 5.51% 5.68% 6.21% 7.40% 8.04% 8.44%25 4.79% 5.43% 5.52% 5.69% 6.20% 7.33% 8.00% 8.99%30 4.66% 5.30% 5.54% 5.70% 6.25% 7.34% 8.03% 8.26%
Fonte: Bloomberg
IV. Metodologia
IV.1. Revisão da literatura
O primeiro trabalho desenvolvido para estimar e prever ratings de títulos de dívida com base
nas características dos títulos e das firmas emissoras foi Horrigan (1966). Este autor utilizou
uma abordagem de regressão e codificou a variável dependente – rating de títulos - em uma
escala de 9 pontos, sendo 9 o rating mais alto (AAA ou Aaa) e 1 o mais baixo (C). As
variáveis selecionadas foram: ativo total, patrimônio líquido sobre exigível total, lucro
operacional líquido sobre vendas, capital de giro sobre vendas, vendas sobre patrimônio
líquido. Além disso, utilizou uma variável dummy para representar o status de subordinação do
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título. As variáveis mais significativas foram a dummy e as variáveis de ativo total. As seis
variáveis independentes explicaram 65% das variações da variável dependente e o modelo foi
capaz de acertar 55% dos ratings de novas emissões. Apenas poucos títulos foram
classificados em categorias de rating muito distantes das categorias verdadeiras.
West (1970) utilizou as mesmas variáveis dependentes de Horrigan, mas estimou a equação
em forma logarítimica. As variáveis testadas foram: variabilidade dos lucros (coeficiente de
variação dos lucros nos 9 anos anteriores), confiabilidade (número de anos sem prejuízo aos
credores), estrutura de capital (valor de mercado das ações em relação ao exigível financeiro)
e valor de mercado. O poder de previsão do modelo de West foi similar ao de Horrigan.
Pinches e Mingo (1973) utilizaram a técnica de análise discriminante múltipla para analisar os
ratings de títulos de dívida. Selecionaram uma amostra de estimação de 132 títulos e uma
amostra de teste de 48 títulos emitidos entre 1967 e 1968, nas categorias de Aa a B da
Moody’s. Uma análise fatorial foi realizada para identificar as variáveis financeiras e
contábeis que mais agregavam explicação à variável dependente. Foram identificados sete
fatores: tamanho, alavancagem, intensidade de capital de longo prazo e de curto prazo, retorno
sobre o investimento, estabilidade dos lucros e índice de cobertura de juros. Os fatores de
intensidade de capital de curto prazo e de longo prazo foram inexpressivos na explicação dos
ratings. O modelo de previsão utilizou os fatores tamanho da emissão, exigível financeiro de
longo prazo sobre ativos (média de 5 anos), lucro líquido sobre ativo total, anos consecutivos
de pagamento de dividendos, razão de lucro líquido + despesas de juros sobre despesas de
juros e uma variável dummy para o status de subordinação5. A dummy de subordinação foi a
variável mais importante na função discriminante, seguida pelos anos consecutivos de
5 O status de subordinação está relacionado ao grau de prioridade no recebimento das garantias e do ativo em caso de liquidação da empresa.
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dividendos e pelo tamanho da emissão. Na amostra teste, 65% dos títulos foram corretamente
classificados e nenhum deles foi classificado em categoria de rating mais distante do que a
categoria mais próxima.
Altman e Katz (1976) utilizaram análise discriminante múltipla em ratings de títulos de
companhias concessionárias de serviços de eletricidade. As variáveis que aparentemente mais
contribuíram para a função discriminante foram os índices de cobertura, variabilidade dos
lucros, variabilidade da cobertura dos juros, retorno sobre os investimentos e despesas de
manutenção e depreciação sobre receita operacional. O modelo classificou corretamente 80%
a 90% dos títulos na amostra de estimação.
Segundo Kaplan e Urwitz (1979), tanto a técnica de mínimos quadrados ordinários (OLS)
quanto a de análise discriminante múltipla apresentam limitações. As regressões por OLS
pressupõem que os ratings representam intervalos iguais numa escala de medidas, enquanto
que na realidade não se pode esperar essa igualdade. A técnica de análise discriminante evita
essa premissa ao supor que os ratings são medidos em uma escala nominal, o que também é
insatisfatório de acordo com o processo de rating. Conforme a visão dos autores, ao atribuir
um rating o analista procura medir o risco ou probabilidade de inadimplência. Devido às
técnicas inadequadas de medição, os analistas não podem medir o risco de inadimplência num
intervalo de escala, e apenas fazem um ranking ordinal das emissões. Isso significa que títulos
classificados como Aaa são menos arriscados que títulos Aa, e assim por diante. Esperam que
nas classes de pior rating ocorram mais inadimplências que nas classes de melhor rating. Por
isso, é pouco provável que o processo de rating resulte em intervalos iguais, como pressuposto
pela técnica de OLS. O problema da análise discriminante é supor que os ratings contêm
apenas informações nominais, além de exigir normalidade multivariada para as variáveis
17
independentes e não fornecer testes convenientes de significância. Por isso, recomendam a
técnica logística ordenada.
Kaplan e Urwitz (1979) utilizam o modelo logístico ordenado, que trata a variável dependente
como latente. Isto é, observa-se o rating, mas não se observa a variável teórica de interesse, ou
seja, a qualidade de crédito ou probabilidade de inadimplência. Por esse motivo, os autores
consideram o modelo logístico ordenado superior às técnicas de OLS e análise discriminante
múltipla. As variáveis analisadas pelos autores são:
Índices de cobertura: fluxo de caixa antes de juros e impostos despesas financeiras e fluxo de
caixa antes de juros e impostos/endividamento total;
Índices de capitalização: endividamento de longo prazo/ativo total, endividamento de longo
prazo/patrimônio líquido;
Índices de rentabilidade: lucro líquido/ativo total;
Variáveis de tamanho: ativo total, tamanho da emissão;
Estabilidade das variáveis: coeficiente de variação do ativo total, coeficiente de variação do
lucro;
Subordinação: variável dummy indicando o status de subordinação;
Variáveis de mercado: beta e resíduo da regressão obtida com o modelo de mercado. Os
autores alegam que o risco específico ou resíduo da regressão pode ser interpretado como
indicador da habilidade da gestão da empresa.
As variáveis de subordinação e tamanho foram bastante significativas. O índice de cobertura
de juros não foi significante. O beta foi significante, enquanto que o resíduo da regressão foi
insignificante. O modelo classificou corretamente 74% da amostra.
18
IV.2. O modelo logístico ordenado
O modelo logístico ordenado é um modelo de variável latente, no qual não se observa o
verdadeiro valor da variável dependente de interesse Y, mas apenas a variável dependente Z,
que contém informação sobre a variável Y. Supõe-se que a variável de interesse (risco de
inadimplência) está num intervalo de escala e, se fosse possível medi-la, iria satisfazer um
modelo linear. É possível observar apenas uma versão ordinal de Y, denominada Z (rating de
crédito) para a qual o modelo linear não é satisfeito. Formalmente, tem-se que:
Y = Xβ + ε (4)
Sendo ε um vetor dos termos de erro que se supõe serem independentes e identicamente
distribuídos normalmente, ou seja, ε ~ N(0, σI). Supõe-se que Z seja uma variável categórica
com M categorias de resposta (cada M corresponde a uma categoria de rating), denominadas
R1,..., RM, derivadas da variável não observada Y. São postulados M + 1 números, µ0, µ1, ...,
µM, com µ0 = -∞ e µM = +∞ e µ0 ≤ µ1 ≤ ... ≤µ M de tal maneira que µk-1 ≤ Yj ≤µk ↔ Zj∈ Rk
para 1 ≤ j ≤ N. Sendo Xj o vetor (k+1) X 1 das variáveis independentes da empresa j (X0j =1),
tem-se que:
σβµ
σε
σβµ
µεβµµµ jkjjkkjjkkjk
XXXY
−≤<
−⇔≤+<⇔≤< −
−−1
11 (5)
e
−Φ−
−Φ=≤< −
− σβµ
σβµ
µµ jkjkkjk
XXY 1
1 )Pr( (6)
19
sendo Φ (.) uma função de distribuição cumulativa para uma variável aleatória padronizada. O
modelo é super-identificado, pois qualquer transformação linear da variável de escala
subjacente Y, se também for aplicada aos parâmetros, µ0, µ1, ..., µM, resultará no mesmo
modelo. Para identificar o modelo, será suposto, sem perda de generalidade, que µ1 = 0 e σ =
1. O modelo estimado será:
( ) ( )jkjkkjk XXY βµβµµµ −Φ−−Φ=≤< −− 11 )Pr( (7)
Será necessário estimar os M + K - 1 parâmetros: µ1, ..., µM-1 e β0, β1,...,βk.
Supondo-se que Φ (.) é uma distribuição logística, obtém-se que:
Pr(Yj≤µk)=1/(1+e Xβ-µk) (8)
Pr(Yj>µk)=1-1/(1+e Xβ-µk) (9)
Pr(µk-1<Yj≤µk)=1/(1+e Xβ-µk)- 1/(1+e Xβ-µk-1) (10)
A função de log-verossimilhança é:
))1/(1)1/(1ln(ln 1
1 1
−−
= =
− +−+= ∑∑ kk Xn
j
m
k
Xjk eeZL µβµβ (11)
IV.3 Amostra e resultados
Foram coletados dados de dezembro de 2004 de 627 empresas americanas do setor industrial,
com ratings atribuídos pela Moody’s e pela Standard & Poor’s, bem como as seguintes
variáveis:
20
- Tamanho:
- ln(ativo)
- ln(patrimônio líquido)
- Alavancagem financeira:
- Exigível total/Ativo total
- Exigível total/Patrimônio Líquido
- Patrimônio Líquido/Ativo total
- Dívida Financeira Bruta/Ativo total
- Dívida Financeira Bruta/Patrimônio Líquido
- Capacidade de Pagamento:
- Lucro operacional (EBIT)/Dívida Financeira Líquida
- (Lucro operacional + Depreciação + Amortização (EBITDA))/Exigível total
- (Ativo Circulante – Passivo Circulante)/Ativo total
- Lucro operacional (EBIT)/Ativo total
- Desempenho operacional:
- Retorno sobre o ativo (ROA) = Lucro líquido/Ativo total
- Giro do Ativo = Receita Líquida/Ativo total
- Margem operacional = Lucro operacional (EBIT)/Receita Líquida
- Estabilidade:
- Coeficiente beta (β), relativo à sensibilidade dos retornos da ação em relação aos
retornos do índice de mercado
- Volatilidade dos retornos das ações (σi) = desvio padrão dos retornos da ação nos 12
últimos meses
21
- Desvio-padrão dos 12 últimos valores anuais do lucro líquido
- Erro específico = σi2- βi
2*σM2, sendo σM igual ao desvio padrão dos retornos do índice
S&P500 nos últimos 12 meses.
- Beta desalavancado = βação/(1-D/E*(1-TC)) sendo D/E a razão entre capital de terceiros
e capital próprio e TC a alíquota de imposto de renda da empresa.
Diferentemente de Kaplan e Urwitz (1979), optou-se por coletar o rating de emissores, que
considera apenas emissões subordinadas. Em virtude de garantias e graus de prioridade
superiores, é possível que algumas emissões possuam rating superiores ao do próprio emissor.
Os ratings também se referem unicamente a emissões em moeda doméstica. Conforme
discutido, emissões em moedas estrangeiras podem estar sujeitas ao piso soberano de rating, e
por isso ter ratings inferiores aos dos emissores em moeda doméstica.
A Figura V contém a atribuição da variável categórica Z a cada rating de crédito. Z é a
variável dependente. Como os ratings foram consolidados na grande letra, não houve nenhum
caso de divergência entre os ratings das duas agências.
22
Figura V – Variável categórica Z e ratings de crédito
Rating S&P Moody’s Variável Z AAA Aaa 1 AA Aa 2 A A 3
BBB Baa 4 BB Ba 5 B B 6
CCC Caa 7
Através de uma análise stepwise, foram selecionadas as seguintes variáveis:
Tamanho: ln(ativo)
Alavancagem financeira: Dívida bruta/ativo total
Capacidade de pagamento: EBIT/dívida financeira líquida
Desempenho operacional: ROA e EBIT/Receita líquida
Estabilidade: volatilidade
Pode-se observar na Figura VI que ln(ativo), dívida bruta/ativo total, ROA e volatitilidade são
significativas e apresentam o sinal esperado. Quanto maior o tamanho medido por ln(ativo),
menor é o valor da variável dependente, e conseqüentemente melhor o rating. Quanto mais
endividada a empresa, ou seja, maior a alavancagem financeira medida por dívida bruta/ativo
total, maior é o valor da variável dependente, e conseqüentemente pior o rating. Quanto maior
a eficiência operacional medida pelo ROA, menor é a variável dependente Z e melhor é o
rating de crédito. Quanto maior a volatilidade, ou seja, menor a estabilidade dos resultados,
maior é Z e conseqüentemente pior é o rating de crédito. As variáveis relativas à capacidade
23
de pagamento e margem operacional não foram significativas. Kaplan e Urwitz (1979)
também observaram que a capacidade de pagamento não foi significativa em seu estudo.
Figura VI – Resultados da regressão logística ordenada
Variável Coeficiente Estatística t ln(ativo) -0,6899 -7,23
Dívida bruta/ Ativo total 4,4294 6,40 EBIT/ Dívida Financeira Líquida 0,0013 1,25
ROA -13,3429 -7,18 EBIT/ Receita Líquida 0,2938 0,84
Volatilidade 9,3877 11,14 µ1 -12,7225 µ2 -10,7605 µ3 -7,9505 µ4 -5,0147 µ5 -1,5903 µ6 2,2964
Ln(máxima verossimilhança) -432,0123 LR 369,6700
O resultado do modelo foi bastante satisfatório, pois 58,14% da amostra foram classificados
no rating correto, 19,30% foram classificados no rating imediatamente superior (por exemplo,
se o rating correto era A, a observação foi classificada em AA) e 19,30% foram classificados
no rating imediatamente inferior (por exemplo, se o rating correto era A, a observação foi
classificada em BBB). Apenas em 3,26% da amostra o erro pode ser considerado grave, ou
seja, porque a classificação ocorreu em categorias distantes da observada.
V. Conclusão
O estudo apresentado mostra que é possível, a partir de variáveis contábeis e de mercado,
determinar com uma precisão razoável os ratings de crédito de empresas, unidades de negócio
e até projetos.
24
A partir das equações (8), (9) e (10), das variáveis de cada observação e dos coeficientes
apresentados na Figura VI é possível determinar qual é a probabilidade de que a observação
pertença a cada um dos 7 níveis de ratings. Atribui-se à observação o rating cuja
probabilidade seja a mais elevada.
O rating de crédito de um título pode ser atribuído a uma taxa de juros de acordo com o seu
prazo de vencimento. Uma maneira para isso é utilizar as curvas de yields por categorias de
rating divulgadas pela Bloomberg (Figuras III e IV). Por exemplo, um título com rating de
crédito A que vence em 10 anos teria em novembro de 2005 uma taxa de juros próxima a
5,30%, enquanto que um de categoria BBB com mesmo vencimento teria uma taxa de juros de
aproximadamente 5,85%. As curvas de yields por categorias de ratings utilizadas para essa
finalidade devem ser constantemente atualizadas, para captar valores de mercado atuais.
Embora não previsto pelo modelo, as taxas de juros de emissões em moeda estrangeira devem
ser ajustadas pelo risco país e por garantias dadas na emissão. Por exemplo, se as emissões
forem em moeda estrangeira e subordinadas, sem nenhuma garantia contra risco país, o rating
deve ser ajustado pelo risco do país.
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