esquizofrenias póeticas

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ESQUIZOFRENIAS POÉTICAS

Felipe Saldanha

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Uma pela outra e a recíproca é verdadeira.

Para Tita, com amor.

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ÍNDICE

PRÓLOGO – pelo Autor

1. AGENOR, PUBLICITÁRIO

2. GEORGE LETITBE DOS SANTOS. ROCKSTAR.

3. SMALLER DAN VIRGULINO

4. LÚCIA FERNANDA

5. CORUJA

6. Paulo Pablo, o Poeta

DIAGNÓSTICO #7

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PRÓLOGO – pelo Autor

Antes de tudo, você tem que saber duas coisas. Sobre o que é

este conto e como ele termina. Não é uma história de amor e sim

a história de um amor. Na verdade, nem isso é. Este conto está

mais para um apanhado de histórias interligadas por este

sentimento maiúsculo, confuso e outros tantos substantivos os

quais não interessam listá-los, por enquanto. Como sei que você

olha a última página antes do fim, então, para poupar seu tempo,

a segunda coisa a saber é a última frase: EU TE AMO - assim

mesmo em letras maiúsculas e sem ponto. Essa é única grafia

que deveria ser aceita em toda e qualquer língua e é ela que me

livra do peso de ter que criar um final surpreendente.

E no final desse conto será a última vez que conto tudo o que

sentimos. E com o fim desse conto, contaremos para sempre

com este amor. No fim, aqui sou 8 ou infinito. Daqui ao infinito.

Mas chega desse assunto, já que logo menos, voltaremos a

esse tópico.

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CAPÍTULO I

AGENOR, PUBLICITÁRIO

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Já é madrugada e a insônia - minha fiel amante, teima em

não me deixar em paz. Minha cabeça segue a mil divagando

mais uma tentativa vã e pretensiosa de explicar algo que não

pode ser medido, tão somente sentido.

É mais uma noite que custo a dormir, e elas estão ficando

cada vez mais frequentes. Já tentei quase tudo, da bebida ao

baseado. Faltam pílulas e uma punheta. As pílulas que dão sono

são incovenientes e estou cansado de punhetas, por isso reluto

em adormecer deste jeito. Seria uma trapaça, algo equivalente a

falar “te amo” só para comer a menininha - não que eu seja

contra a punheta ou comer as menininhas, muito pelo contrário.

A sociedade ocidental deve seu auge ao pecado solitário e a

revolução sexual assim como deve seu declínio aos

condimentos em sachê e ao politicamente correto.

Foi graças a punheta que o Homem passou a enxergar a

Mulher como o milagre que é.

Page 11: Esquizofrenias Póeticas

Sigo acordado enquanto conceitos se confudem e tento

fingir que tudo está normal. Noites que se transformam em dias

e sentimentos misturados com sensações me permitem seguir

exprimentando o acaso, o deja vú, o amor e outras drogas até

que desisto de tentar entender o que sinto por Ela. Assim

descubro que ser insensato é a única maneira de me manter

lúcido e decido mudar, mais uma vez e como sempre, da mesma

maneira que a anterior ou a próxima: irei me aprimorar, em vez

de crescer.

No lusco-fusco, um breve relance e me lembro: tenho

trabalho a fazer, material para entregar, um prazo a seguir e um

anúncio pra escrever. À PUTA QUE O PARIU.

Desta vez é sobre o saldão de uma grande loja de

departamentos, cheia de pessoas e famílias que tentam te

convencer que o melhor lugar do mundo é o clichê de dentro de

um outdoor. A verdade é que, bêbado e hipnotizado pela luz do

modem que segue piscando códigos e sequências aleatórias de

1’s e 0’s numa linguagem simples demais para entender, eu não

Page 12: Esquizofrenias Póeticas

consigo parar de pensar nela e na pinta em seu ombro.

Enquanto isso, a penumbra, confunde a imensidão dos detalhes

que se projetam como rostos conhecidos, revelando-se nos

reflexos que causo quando rolo na cama: ele enrolando

supostos cachos e ela se escondendo atrás da franja; ele

fazendo contas imaginárias e ela medindo os cantos das

paredes; ele registrando com os olhos e ela apagando com o

sorriso.

São estes os sorrisos que assombram e acabam com

qualquer tentativa que faço de afastá-la dos meus mundos.

Ela sorri com os olhos, algo lindo para alguém que como

eu esconde o seu. No meu caso, amarelado por desleixo e

assumido como lembrança de uma época sem vergonhas e sem

medidas. E é desde então, com a polidez exigida nas relações

superficiais, virtuais e normais, que alguns afirmam sutilmente

que não tenho o tal do juízo, fato no qual eu nunca acreditei,

pois sentia justamente o contrário.

Page 13: Esquizofrenias Póeticas

Sempre fui centrado, mas minha gravidade é diferente. No

meu mundo, a distorção é a ótica que prevalece. Desde então,

minha consciência já ia de encontro com inverdades propagadas

e muito contestadas, mesmo sendo pelos motivos errados. Mas

só foi quando ela me deixou enxergá-la de verdade, conhecê-la

de verdade e aceitá-la de verdade que pude enxergar, conhecer

e aceitar minhas limitações.

Quando me vi preso a este corpo como à Lua presa a

Terra, tive a revelação de que não existem limites para o sentir e

descobri que ela também não os têm, e assim meu único querer

passa a ser o querer que ela seja cada vez mais ela – para

assim amá-la ainda mais, ampliando minhas fronteiras e

negando o meu fim.

A única maneira de tê-la de verdade, sem possuí-la. Um

círculo virtuoso, destrutivo por natureza e tão profano quanto

divino. Tão yin, tão yang.

Com o último gole, um desabafo em voz alta:

“-Eu, tão in. Ela, tão young.”

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Acaba a garrafa mas não enxergo final para o que sinto

nem nada é pecado quando se é bem-intencionado. Nem

mesmo a Vaidade, o meu preferido, diga-se de passagem. Já

não caio mais nessa e nem na Gula, Ira, etc - pelo menos não

em público. Confesso que sinto falta da Luxúria e adotei a

Preguiça como uma espécie de afronta ao senso-comum, que

me cansa com todos os seus preconceitos e preceitos ou morais

e rituais dentro dos quais eu fui criado e batizado e comungado

e crismado e debutado e o caralho a quatro e tudo mais a que se

tem direito e, principalmente, onde ninguém é santo.

Veja bem, não confunda as coisas: Isso não é uma

questão de espiritualidade e sim uma posição política. Respeito

a ideia dos sacramentos, mas fora com a culpa católica!

Também respeito o Estado, mas fora com os impostos! – sejam

impostos por quem sejam.

Hoje me declaro Budista não-praticante - motivado pelo

estupor que me protege das obrigações de ter religião, emprego,

esposa e filhos, carro, fama, pau-duro, grife, modos, maneiras,

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modismos e de ter que resolver tudo nessa vida. Pera-lá! Pau

duro é um mal necessário, tem que ter. Dar a primeira é

obrigação, a segunda merecimento. Meu avô sempre me

desejava, em todos os aniversários: “Saúde e bicho-de-pé!”. Por

favor, exclua o pau-duro dessa lista.

Com outras vidas pela frente e sem a menor pressa em

atingir a Iluminação, essa letargia soma-se ao fato que passo a

maior parte do tempo sonhando com ela, seja dormindo ou

acordado, e não consigo terminar a porra do anúncio. Enfim,

para me livrar do fantasma da consciência que me atormenta

incessantemente miro o teclado preto e branco, como se fosse

um piano, e expurgo o rabisco de um texto qualquer.

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JINGLE DA PIEDADE.

Se vais partir meu coração

Por favor faça rápido

Como quem arranca um Band-Aid™

De uma vez para doer menos

Se vais partir meu coração

Que seja bem quebrado

Como nem Superbond™

Consiga remendá-lo

Se for me cortar, use Facas Ginsu™

Se for picar um Multiprocessador®

Eletrodomésticos que não guardam segredos

Assim como o seu Liquidificador®

Vamos pedir piedade,

Senhor piedade.

Nos dê dinheiro e um bom crediário.

Vamos pedir piedade,

Senhor piedade.

A promoção e milhas pra passagem.

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E só eu que podia, dentro da tua orelha fria

Sinto-me tão ofendido que troco o suspiro por uma última

risada cínica. Antes de cair no sono, penso:

"- Para cortar os pulsos só me falta um Chiclets™ e a Gillette™."

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CAPÍTULO II

GEORGE LETITBE DOS SANTOS.

ROCKSTAR.

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Transcrição de páginas aleatórias extraídas duma cópia pirata do roteiro

do documentário SÃO GEORGE, lançado em 30/10/2043, durante o

festival de Cannes.

Hoje, George vive recluso em sua casa de campo, junto ao seu cão, Ringo.

Ocasionalmente faz shows beneficientes em prol do B.A.C.O.N.*

*Benefits Advised Can Overcome Narcs – uma ONG que defende a liberdade do indivíduo no uso de substância psico-ativas,

pisco-trópicas e psico-somáticas na busca do auto-conhecimento, auto-consciência, auto-sustentabilidade e, ocasionalmente, pelo

barato também, porque ninguém é de ferro.

Heading

“sou gigante no meu mundo,

maior ainda no seu

sou infinito e profundo

o novo Prometeu”

Trecho de “Novo Prometeu” – Billboard #1 song 2019

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Take 1 - Exterior piscina

George sentado de frente para a câmara. Não se vê o entrevistador.

(nota: na montagem final cortar áudio da pergunta)

George, como tudo começou?

Uns copos de Gin e Gil transou Jim e transou Jill, que transou

Jack, que transou June, que transou Jules, que transou Jude,

que transou Jackson, que transou Jerry, que transou Janis, que

transou Jay, que transou Jane, que transou Jennifer, que

transou Jamie, que transou James, que transou Jade, que

transou Janet que transou Juliet, que largou Romeo. E transou

Tom, transou Rita, transou Arnaldo, e transou Tim. E o Rei e

Chico, Caetano, Gal, Pepeu, Erasmo, Mick, Keith, King Elvis,

Tout le Monde + Wando e Raul = moi, George. Mas nada disso

me define.

De batismo sou Jorge, só que o Oráculo de Oroz previu que eu

devia mudar meu nome, trocar o JOTA pelo GÊ-Ê para alinhavar

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minha aura e alma ao concênctrico excêntric do chacra RÁ

BICHIN e que também porque é muito mais chik, nénão? Como

sempre fui avant-garde, na hora achei super in e topei right on

time.

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Narração em off, cenas aleatórias de George como em uma espécie de linha do tempo, editadas

ao som de “Jovem como sempre, Velho como nunca”. Voz de Paulo Cezar Pereio (ou meu tio-

avô de ressaca, é o grave que importa).

George Letitbe dos Santos, surgiu na tríplice fronteira entre Bahia, Sergipe e

Alagoas. Possui três certidões de nascimento: uma em Canindé do São

Francisco, outra em Paulo Afonso e a terceira em Piranhas mas sempre

afirma que isso não importa pois, para fins biográficos, entre o fato e a lenda,

publica-se a lenda:

Um grito de alívio e espanto interrompe o assobio do vento na beirada do

Velho Chico. No mesmo sertão onde um bando de macaco perseguia

Lampião, filhos de mãe estrangeira com pai desconhecido, nascem George

Letitbe dos Santos e seu meio-irmão-gêmeo, Jhon Digapony dos Santos, e

de lá mesmo vivenciam a fama desde muito cedo. Relatos médicos afirmam

que o primeiro choro dos bebês foi uma das mais belas melodias já

executadas e sem registro. Conhecidos no Xingó e no Xingú como “Jota e

Jão”, sempre mostraram habilidade para belos arranjos vocais,

impressionantes solos de viola e por fazer a gaita chorar. Anos mais tarde

ganhariam o segundo irmão - ou único, segundo os próprios. Parte da lenda

afirma que George e Jhon eram a mesma pessoa, só trocavam o corte de

cabelo e mudavam a maquiagem. Paul Imemine da Silva (fruto da união de

sua mãe, Maria Shelovesyou Iê com o obscuro compositor José da Silva) logo

conquistou a todos com sua pronúncia perfeita e letras intrigantes.

Page 24: Esquizofrenias Póeticas

Ganharam alcance mundial com hits como: “Nós pra sempre”, “Nada sem

você”, a trilogia romântica em quatro discos “Sei ser só”, “Ser só seu”, “Só ser

sei” e “Seu sei ser”, além da inesquecível “Amor não é Merecimento”,

videoclipe que rendeu o disco de platina e o recorde de downloads de todos

os tempos.

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Take 2 – Interior, sofá

George vasculha um baú de fotos e vídeos antigos em sua biblioteca, enquanto na radiola o lado

B de Ziggy Stardust chega ao fim. Ele encontra um rolo de filme e uma seda há muito esquecida.

Em um momento intimista de um pequeno ritual enrolado, ele pede a Deus pra ser do bem e

agradece por ser do bom. Na sala de cinema inprovisada, as luzes do projetor se acendem junto

com otras cositas más. O filme contém trechos de um popular programa de auditório popular, as

últimas imagens registradas de George antes do fim do grupo.

George se cala e assiste ao filme com olhar fixo.

Segue transcrição da matéria.

Líder do grupo e do movimento BREGA IS BACK, segundo ele

por ser o mais velho e mais bonito, o excêntrico e temperamental

George não foge de polêmicas. Um exemplo foi quando, depois

de um show de Madonna, perguntado sobre os boatos do

relacionamento não-ortodoxo entre o grupo e a cantora, afirmou:

“- Os nossos são maiores que o do Jesus.”

Jhon, como de costume, não foi encontrado para comentar o

fato.

Paul, encolhendo os ombros em um italiano perfeito, concluiu:

“- Madonna Mia!”

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No dia seguinte, por correio chega a declaração de Jhon.

Num envelope pardo, escrito em carmim, lê-se a seguinte frase.

Sim, eu a amo (and I love her)

Dentro do envelope apenas uma foto, sem foco. Impossível

saber quem é. Inegável a felicidade de quem estava lá.

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CAPÍTULO III

SMALLER DAN VIRGULINO

(OR THE ARTIST FORMERLY KNOWED AS GEORGE LETITBE DOS SANTOS)

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PROFILE WRITTEN FOR THE COVER OF THE JUBILLEE EDITION ON

THE ROLLING STONE MAGAZINE

ISSUED IN 01/11/2043

Converted to Yes-ism, a non-religion with non-followers spends

his time wandering the streets at night and - I quote: “Doing

whatever the fuck I want to do, including this shitty testimonial.

Now, anonymity is my treasure and I can love her in the way it´s

meant to be. Fancy a beer, mate?”

No further comments were made by the interviewed.

For extra information, please send a postcard to P.O. BOX 6070 - XX and don´t forget to place an extra stamp. Responses will be

upon censorshit* approval

*sometimes mistaken for privacy or intimacy

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CAPÍTULO IV

LÚCIA FERNANDA

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QUANDO INCORPORADA, LUCY FER, FÊMEA ORGULHOSA, GRITA

MINHA PARTE MAIS NERVOSA. ENTIDADE BATE FORTE, GIRAMUNDO,

QUE SOLTA AO VENTO A PIPA, A VIDA, O TENTO. ROCK AND ROLL COM

BOLERO, MAMBO, RUMBA, SALSA OU VALSA E TANTOS OUTROS

RITMOS PUTOS QUE RODANDO EMBALAM NOSSOS QUADRIS COMO UMA

TRANSA ORQUESTRADA E SEM ENSAIO, MEU RITMO REQUEBRADO QUE

ESFREGA ESSE SUÍNGUE RUMO AO ÊXTASE. MINHA TESÃO, MINHAS

PAIXÕES E MEUS AMORES SÃO DESSA MULHER PLENA E SAFADA,

ABUSADA, NINFA, DIVA, BELDADE, FADA, BRUXA E MUSA. DAMA NA

SOCIEDADE E PUTA NA CAMA DO MEU AMOR. QUERO DESCOBRÍ-LA E

JUNTO ME DESCOBRIR. QUERO O MILAGRE DO ORGASMO. QUERO O

UNIVERSO EM SEU SEXO. QUERO ME PERDER NAS SUAS COXAS.

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QUERO VIAJAR POR SUA NUCA E MORAR EM SEU SEIO. E QUERO QUE

ELA FAÇA O MESMO COMIGO. TAMBÉM SOU MOÇA, MADAME, ESPOSA,

AMANTE, PARCEIRA, PATROA, SENHORA, MENINA, CONSORTE, SOU O

DIVINO, USO SAIA E CARREGO A ESPADA. SOU NEGONA, SOU NEGÃO.

‘CÊ SABE QUEM SOU, NÃO?

Please allow me / To introduce myself

Então não me trate / Como qualquer um

Je ne suis suas negas / Je suis Ogum

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CAPÍTULO V

CORUJA

Page 34: Esquizofrenias Póeticas

.

Alguns me chamam de Coruja, um cara

sábio em busca do seu som e do OHM. Falo

baixo com quem vai longe e berro com quem

caminha ao meu lado. Herdei esse e outros

apelidos e cresci mais do que todos eles. Depois

vieram outros Corujas e outros outros, mas

continuo sendo a referência, o original, aquele

que importa.

Meu único objetivo na vida, é o de não ter

objetivos formais. Seria extremamente leviano

classificar isso como vagabundagem pois fato é

que sou gênio de nascença, e desde sempre

soube que iria longe. Justamente por isso

sempre deixo o caminho me levar pra onde devo

ir, sem impulso ou resistência. Alguns chamam

Page 35: Esquizofrenias Póeticas

Uns chamam de destino, outros de

predestinação, outros de sorte. Já eu, acho que é

assim porque é assim que tem que ser. Sem

fazer força, sem forçar nada, sem nada a fazer.

Nada a fazer além de ser. E sendo eu, também

sou ela.

Ela é meu mais bonito espelho, e nela

enxergo quem quero ser, o que devo ter e em

quem irei crer.

Sendo assim, que seja o que quiser, que

venha o que vier. Que assim seja e assim será.

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CAPÍTULO VI

Paulo Pablo, o Poeta

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Como disse um dos poetas, “hoje, finalmente não sei”.

Não sei quem sou, nem quem fui. Muito menos quem

serei. Sou ponto e vírgula, interrogação, exclamação,

aspas e letras. Sou frases sem sentido e conclusões

precipitadas. Sou mais um. Sou só um. Sou o um. E

dois, três, quatro, cinco, seis. Serei também o sete?

Serei seu, serei teu, serei somente eu. Serei sem,

serei cem, serei o que sou e sem querer serei

também.

SIM.

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DIAGNÓSTICO #7

Uma mente singular que vive no plural. Sete vidas em uma só. Todas

convergindo para esse buraco negro, que me engole e cospe como o suplício

eterno, o ruminar das vacas ou o seu chiclé. Todas atraídas por esta força

magnética que expulsa e repulsa como em um encontro de mesmas cargas com

cores diferentes.

Tudo, por ela. Egoísta que sou, só a faço sorrir porque seu sorriso é meu

maior bem. Sou esquisofrênico, e eu também.

Diagnosticado irremediavelmente apaixonado, sigo alegando insanidade

temporária.

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Deixo estas páginas para que ela me descreva. Ninguém me conhece tanto assim, nem mesmo eu, nenhum de nós.

Page 41: Esquizofrenias Póeticas

Seja prosa ou poesia, um romance ou uma memória, este é o meu capítulo, escrito na sua história.

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p.s.

EU TE AMO

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ESQUIZOFRENIAS POÉTICAS

um produção de

CAPA E CONTRA-CAPA: Visões do Mundo II & I

São Paulo, 2015

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