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Espiritismo hoje MAIO/JUNHO – 2020 – EDIÇÃO 177 revista digital Veículo de comunicação da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo SETEMBRO/OUTUBRO 2020 – ANO 31 - EDIÇÃO 179

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Page 1: Espiritismo hojeMarlene Fagundes Carvalho Gonçalves 38O Departamento da Família e seus desafios Ângela Bianco 40Projeto Despertar: o plano divino e o evangelizador Equipe do Departamento

Espiritismo hoje

MAIO/JUNHO – 2020 – EDIÇÃO 177

revista digital

Veículo de comunicação daUnião das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo

SETEMBRO/OUTUBRO 2020 – ANO 31 - EDIÇÃO 179

Page 2: Espiritismo hojeMarlene Fagundes Carvalho Gonçalves 38O Departamento da Família e seus desafios Ângela Bianco 40Projeto Despertar: o plano divino e o evangelizador Equipe do Departamento

Falando ao leitor

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Entidade federativa, coordenadora e representativa do movimento espírita paulista no Conselho Federativo

Nacional da Federação Espírita Brasileira

Diretoria ExecutivaAparecido José Orlando

PresidenteRosana Amado Gaspar

1a Vice-PresidentePascoal Antonio Bovino

2º Vice-PresidenteHélio Corrêa Alves

Secretário GeralNewton Carlos Guirau

1º SecretárioEronilza Souza da Silva

2ª SecretáriaWalteno Santos Bento da Silva

3º SecretárioMaurício Ferreira A. Romão

1º TesoureiroElisabete Márcia Figueiredo

2º TesoureiroSilvio César Carnaúba da Costa

Diretor de Patrimônio

DepartamentosAPSE – Pascoal Antonio Bovino

Arte – Lirálcio RicciAtendimento Espiritual – Mauro dos Santos

Comunicação – Renato CaetanoDoutrina – Marco Milani

Estudos Sistematizados – Mário GonçalvesEventos – Ângela BiancoFamília – Ângela Bianco

Infância – Ana Luísa BoiagoJurídico-Administrativo – Julia Nezu

Mediunidade – Silvio CostaMocidade – Filipe Felix

Tecnologia da Informação – Walteno Silva

Conselho Editorial:A. J.Orlando, Julia Nezu e Marco Milani.

Jornalista ResponsávelAparecido José Orlando, MTb 39.211

ExpedienteRua Dr. Gabriel Piza, 433 – Santana

São Paulo - SP – CEP 02036-011Tel. (11) 2950 – 6554

[email protected]

sta é uma edição especial, comemorativa dos30 anos do Dirigente Espírita, como mostrado na capa.Desde o início de sua fundação, havia planos para aimplantação de um veículo de comunicação para aUSE. No entanto, somente após seis anos, o jornalUnificação inicia a divulgação das ações e das atividadesvisando a união dos espíritas e unificação domovimento espírita paulista.

Em 1990, com o objetivo de deixar de serapenas um jornal mensal para apresentar o queacontecia na USE, mesmo que algumas manifestaçõescontrárias, a Diretoria Executiva eleita naquele anoretirava de circulação o antigo e criava o novo veículopara comunicação direta com os dirigentes espíritas.Era a voz da USE chegando às organizações doscentros espíritas. A primeira edição foi emsetembro/outubro de 1990. Desde então, 179 ediçõesforam disponibilizadas levando reflexões, temas deimportância e análises, mas não esquecendo de deixarregistro histórico do que realiza o movimento espíritapaulista.

Para lembrar o seu início, convidamos um dosseus protagonistas para nos contar como foi o início doDirigente Espírita. Cesar Perri considera que a inovaçãonão foi exclusivamente na linha editorial, mas tambémna forma: tipo de papel, tamanho e composição.

A união dos espíritas é apresentada por RobertoWatanabe, presidente da Federação Espírita do Estadode São Paulo, entidade inicialmente patrocinadora daUSE, quando da realização do 1º Congresso Espírita doEstado de São Paulo.

Novamente contamos com a participação deJáder dos Reis Sampaio em nossas páginas. Agora,trazendo considerações sobre a serenidade de Yvonnedo Amaral Pereira. Nascida no Rio de Janeiro, foi emLavras, no estado de Minas Gerais que ela se inicia nocampo da mediunidade.

Eliana Haddad, ex-jornalista responsável peloDirigente Espírita, faz uma análise da imprensa espíritabrasileira na tarefa de divulgação da Doutrina dosEspíritos.

No Circuito Aberto, os departamentos da USEfalam com os centros espíritas e seus dirigentes.Desenvolvem reflexões sobre suas funções, procurandodar condições à contínua análise de suas práticas.

Para sua boa leitura, ainda os textos regularessobre análise comparativa das edições de A Gênese, aCiência Espírita e notícias sobre o que aconteceu e oque acontece no movimento espírita.

E

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Sumário

2 Falando ao leitor4 Mensagem da Presidência5 PerfilVanderly Inácio de Vargas

7 A relevância da obra A Gênese e apolêmica 5ª ediçãoMarco Milani

9 1ª Semana da Família Espírita

10 Onde as respostas são procuradasAlexandre Fontes da Fonseca

13 Dirigente Espírita: origem e objetivosAntonio Cesar Perri de Carvalho

15 A união dos espíritasRoberto Watanabe

17 A médium serenaJáder dos Reis Sampaio

19 3ª Semana Espírita Maria Virgínia & J. Herculano Pires

20 O desafio da imprensa espíritaEliana Haddad

24 Sobre o caráter apolítico da USEDa Redação

25 Arte, educação e espiritismoAlberto Centurião

27 Viver é a melhor opçãoJulia Nezu

28 Estudo e ensino do EspiritismoDa Redação

13 42 Arte, educação e espiritismoAlberto Centurião e atividades propiciadoras do desenvolvimento do ser humano

Dirigente Espírita: origem e objetivosAntonio Cesar Perri de Carvalho apresenta os primeiros momentos do Dirigente Espírita.

29 Promoção social espíritaPascoal Antonio Bovino

30 Acolhimento e acessibilidadeFernando Porto

32 Dicas e recomendações no meio virtualRenato Caetano

34 Encantamento, dependência e razãoMarco Milani

36 Estudo do espiritismo: aprender, sentir e agirMarlene Fagundes Carvalho Gonçalves

38 O Departamento da Família e seus desafiosÂngela Bianco

40 Projeto Despertar: o plano divino e o evangelizadorEquipe do Departamento de Infância

42 Reflexões sobre a pandemiaSílvio César Carnaúba da Costa

44 Assembleias de centros espíritas em tempo de pandemiaJulia Nezu

45 Anais do 1º Congresso Estadual

46 Desafios superados e desafios do presentePaulo Ricardo Bueno

48 A Lei Geral de Proteção de DadosWalteno Bento da Silva

50 A USE Intermunicipal de São José do Rio PretoAntonio Batista Pinheiro Junior

54 Painel Espírita Nacional

55 Painel Espírita Estadual3

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ntes da pandemia, os centros espíritas,em seus locais físicos, realizavam suas atividades.O interessado ia até o centro para acompanharpalestras, estudos e assistência. Hoje, na novasituação, todos os centros, que continuam suasatividades, encontram-se na grande rede chamadainternet. O local é o mesmo para todos. Basta usaro link para a atividade ser escolhida eacompanhada. Rapidamente as instituições espíri-tas souberam fazer uso da rede, para darcontinuidade às suas atividades.

No início, os centros continuaram com oque faziam no formato presencial. Agora, com amudança da situação, necessariamente devemosfazer palestras e cursos do mesmo modo? Enten-demos que isto não é uma verdade, sempre. Nossaproposta é que, com o pensamento e na prática daunião e na própria unificação, a divulgação daDoutrina Espírita, na grande rede de informação,possa ser feita de modo diferente. Propomos queos centros de uma mesma cidade, ou mesmoregião, estejam unidos na mesma tarefa, mas semnecessidade de independência e separadas. Oisolamento ou distanciamento recomendados é ode pessoas. Não é das instituições. Que os centrosestejam unidos e juntos fazendo a mesma palestrae disponibilizada para muitos. É uma novaoportunidade que temos à disposição.

Consideramos que ao se buscar a união dascasas para a divulgação, podemos trabalhar,inclusive, para a melhoria da qualidade dadivulgação. Hoje, temos muita quantidade, mas acaracterística da qualidade do que se divulga deveestar sempre presente no pensamento e na ação detodos os responsáveis.

A prática recomendada tem como suporte omanifesto aos espíritas, que consta dos Anais do ICongresso Espírita do Estado de São Paulo, divulgadopela nova entidade, que se formava, a USE UniãoSocial Espírita. Nele, lembrou-se do Codificadorpara anotar que a saudação feita era estendida atodos os espíritas e instituições espíritas do Brasil,“concitando-os a se esforçarem, sem perda detempo, para se conseguir o quanto antes aunificação geral do espiritismo nas bases daConstituição Espírita das Obras Póstumas de AllanKardec”

Apesar de se falar e se buscar a unificaçãono nosso movimento espírita, nem todos têm estavisão ou objetivo. A unificação tem como baseKardec e suas obras, codificadas a partir dascomunicações dos Espíritos Superiores. Ainda semque tenhamos compreendido completamente oque ele escreveu, alguns se advogam na condiçãode mestres de novas verdades, buscando corrigirou ampliar os ensinamentos trazidos desde oséculo XIX.

O que Kardec escreveu teve comofundamento o que os Espíritos trouxeram deinformações e com o uso da razão e utilizando-sedo Controle Universal dos Ensinamentos dosEspíritos, ele estabeleceu o corpo de doutrina doEspiritismo.

Pela coerência, entende-se que é um métodoútil e que devemos sempre utilizar para analisarnovas comunicações recebidas. Ficar restrito aoque poucos espíritos dizem e apenas contandocom a intermediação de poucos médiuns,fisicamente também limitados, não deve resultarem algo em benefício da Doutrina, ainda maisquando deixamos de levar em conta a análise e usoda razão.

mensagem da presidênciapresidê[email protected]

AUnidos na grande rede de informação

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DE-Como se tornou espí-rita?VIV- Em 1995, na cidade dePorto Alegre, RS, costumavalevar minha sogra a um CentroEspírita, onde ela laborava comopassista, um dia, levado pelacuriosidade, entrei nesse CentroEspírita, algum tempo depois,morando em Maringá, PR,comecei a frequentar uma casaespírita e, aos poucos, estoutentando deixar a DoutrinaEspírita entrar em mim.

DE-Conte-nos seu envolvi-mento com a USE e o movi-mento de unificação.VIV- Comecei a ligar-me com oMovimento Espírita Unificadoquando morei em CampoGrande, MS, onde participavadas campanhas da FEMS.Quando mudei para São Paulo,primeiramente em Sorocaba e,depois, em Dracena, comecei aenvolver-me com a USE.Inicialmente com os eventos láem Sorocaba e, depois, em 2014,fui convidado para dirigir arecém criada USE Regional daNova Alta Paulista.

DE-Como você analisa opapel do Espiritismo em suavida ?VIV- A abençoada e con-soladora Doutrina Espírita quedeparei-me nesta reencarnação,veio a ser um instrumentoimperioso no processo depequenas melhoras interioresque obtive. Estou longe deabsorver e praticar tudo o queela ensina, porém, creio queestou à caminho.

DE-Como você analisa oMovimento Espírita noestado?VIV-Uma maneira de analisar éfazer comparações com outras

“... aos poucos estou tentando

deixar a Doutrina entrar em mim.”federativas, como já morei em 6(seis) Estados da Federação,observo que o Movimento

Espírita em nosso Estado está sedesenvolvendo com assertivi-dade e progresso. Sem dúvida éo Estado que tem mais CentrosEspíritas no Brasil. Menos dametade destas casas espíritasfazem parte da USE. Aí estánosso grande desafio, comotrabalhadores da Unificação:buscar estas casas irmãs paracomporem conosco o movimen-to espírita unificado no Estadode São Paulo. Trabalho de“formiguinha”, com perseveran-ça, abnegação, sem ferirconsciências...

DE-Quais as principais difi-culdades encontradas pelascasas espíritas atualmente?VIV-Aqui na Nova Alta Paulistatemos vários municípios, todoscom baixa densidade demo-gráfica. A cidade de Dracena é omunicípio mais populoso comaproximadamente 50.000 habi-tantes, isto posto, fica evidenteque os Centros Espíritas daregião são bem pequenos,apresentando assim, sua prin-cipal deficiência: a falta detrabalhadores. Outra dificuldade

Vanderly é gaúcho, de Rosário do Sul, masatualmente reside em Dracena, SP. Frequenta doiscentros espíritas. Um, em Dracena, o CE AllanKardec, e o CE Fé, Amor e Caridade, da cidadede Junqueirópolis, distante 15 quilômetros de suacasa. É militar federal aposentado, vive comSandra Gonzaga e tem, aos 56 anos, duas filhas, aBibiana (o nome deve ter relação com o escritorgaúcho Érico Veríssimo) e a Amanda.

perfilVanderly Inácio de Vargas

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que temos é a manutenção dascasas no que diz respeito à verbapara pagamentos das despesascorrentes. O baixo número defrequentadores também leva,muitas vezes, a desestimular osdirigentes a manter o funcio-namento da casa. É uma situaçãode certa complexidade em queos dirigentes necessitam atuar.

“A união dos Espíritas, a despeito do

órgão ou instituição a que

estejam vinculados,

deverá, cada vez mais, num

processo natural, ser fortalecida.”

DE-Acredita que os jovensestão tendo espaço para atuarnos Centros Espíritas?

VIV-Sim, percebo que sãooferecidas oportunidades aosjovens, inclusive para ocuparema tribuna nas palestras públicas,porém, percebo que os jovens,com exceções, são, ainda,vacilantes no cumprimento doscompromissos assumidos, prin-cipalmente na assiduidade àstarefas abraçadas. É óbvio quetemos que considerar a imaturi-dade espiritual (com exceções),relacionada à faixa etária em quese encontram.

DE-Os Centros Espíritasserão os mesmos após apandemia?VIV-Para os verdadeiros traba-lhadores da Doutrina Espíritacreio que nada mudará. Comoasseverou o insígne Dr. Bezerrade Menezes: “O melhor lugarpara encontrar com os BonsEspíritos é no seu posto deserviço”, porém, haverá temornas pessoas em retornar afrequentar normalmente oscentros espíritas, principalmenteas que encontram-se nos gruposde risco (possuidoras decomorbidades e faixa etáriaavançada). Haverá necessidadesdas casas adequarem suas ativi-dades frente às novas medidasprofiláticas contra todos os tiposde vírus, inclusive a Covid-19.

DE-União e Unificação?VIV-A união dos Espíritas, adespeito do órgão ou instituiçãoa que estejam vinculados, deverá,cada vez mais, num processonatural, ser fortalecida. Já aunificação, seguindo o eixoregional-federativa-FEB, depen-derá, sempre, do esforço comoatividade-meio visando fortale-cer, facilitar, ampliar e aprimorara ação do Movimento Espírita,para atingir a atividade-fim, queé a de promover o estudo, adifusão e a prática da DoutrinaEspírita, como asseverou DrBezerra de Menezes: “Unifica-ção, sim. União, também.Imprescindível que nos unifi-quemos no ideal espírita, masque, acima de tudo, nos unamoscomo irmãos.”.

DE-Sua mensagem final.VIV-Nós que estamos procu-rando integrar o MovimentoEspírita Unificado, aqui na NovaAlta Paulista, estamos envidandoesforços para difundir o conceitoda união no mesmo ideal, comos mesmos objetivos e, recor-rendo novamente ao insígne Dr.Bezerra de Menezes, que nosorientou: “Solidários, seremosunião. Separados uns dos outros,seremos pontos de vista. Juntos,alcançaremos a realização denossos propósitos. Distanciadosentre nós, continuaremos àprocura do trabalho com que jános encontramos honrados pelaDivina Providência.” Que nossoMestre Amado alimente nossaalma com força, coragem eperseverança para “prosseguirpara o alvo”.

Abraços fraternos a todos.

perfil

Vanderly desenvolvendo palestra em centro de Dracena

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ançado no mês de janeiro de 1868, esseque é o livro mais maduro das chamadas obrasfundamentais, contém o complemento e o desen-volvimento de aspectos considerados desde oinício da estruturação do corpo doutrinário espíri-ta. Conforme declarou o próprio Allan Kardec naintrodução, essa nova obra representa “um passo àfrente nas consequências e aplicações do Espiritis-mo” e, ainda, que a respectiva publicação veio aseu tempo, quando as ideias chegaram à maturi-dade. A relevância dos assuntos abordados exigiuse “evitar qualquer precipitação”.

Ressalta-se que o caráter essencial dadoutrina é a generalidade e concordância doensino dos Espíritos, pois o resultado dos ensi-namentos coletivos e convergentes sobrepõem-seàs simples opiniões isoladas. Para se alterar essesensinamentos, portanto, não basta haver opiniõesdivergentes, mas a coletividade e a concordânciados Espíritos devem, obrigatoriamente, posiciona-rem-se em sentido oposto.

Kardec salienta que a redação de A Gênesefoi presidida com os mesmos escrúpulos das obrasanteriores quanto à generalidade do ensino, comexceção de algumas hipóteses devidamente apon-

tadas como opiniões pessoais e que careceriam deconfirmação. Tais hipóteses não se confundemcom o ensino dos Espíritos validado pelo critérioda universalidade.

Muitas das ideias desenvolvidas em A Gêneseforam apresentadas na forma de esboços naRevista Espírita, pois a mesma representaria umterreno de ensaio destinado a sondar a opinião doshomens e dos Espíritos sobre alguns princípiosantes de serem admitidos como partes cons-titutivas da doutrina. Assim, não basta ter sidopublicada nesse periódico para a ideia serconsiderada um ensino geral dos Espíritos, poisnecessita ser criteriosamente validada.

Ao explicitar as relações perenes entre osdois elementos constitutivos do universo, oespiritual e o material, a obra destaca que qualquerfenômeno natural, para ser plenamente compreen-dido, deve levar em conta essa interação constante.O Espiritismo, nesse sentido, pode oferecer achave para a compreensão dessa reciprocidade edos fatos decorrentes das leis da natureza,marchando lado a lado com a ciência.

O conteúdo desenvolvido em A Gênese,portanto, requer a atenção de qualquer adepto

Marco Milani *

L

Estudo comparativo

A relevância da obra A Gênese e a polêmica 5ª edição

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espírita.Desde o final de 2017,

quando o detalhado trabalho depesquisa documental realizadopor Simoni Privato Goidanichveio a público pelo livro de suaautoria intitulado O legado deAllan Kardec, reacendeu-se umapolêmica iniciada em 1884, como artigo A Infâmia, de HenriSausse. Na ocasião, Sausse de-nunciou no jornal Le Spiritisme,órgão de divulgação da UniãoEspírita Francesa, que as altera-ções sofridas na 5ª edição impac-tavam significativamente a obrae citou, como exemplo, a supres-são do item 67 do capítulo XV,o qual reafirma que Jesus teveum corpo carnal e aponta hipó-teses plausíveis para justificar odesaparecimento de seu corpoapós sua morte. Sausse finaliza oartigo lançando suspeitas de queessa supressão beneficiaria ospartidários de determinadas idei-as que contrariavam a lógica. Po-demos depreender que Sausse sereferia a partidários roustan-guistas, os quais defendiam ahipótese docetista de que a natu-reza do corpo de Jesus não eramaterial, como qualquer encar-nado, mas fluídica. Assim, essadenúncia voltava-se para umaeventual adulteração da obra porterceiros, após a morte deKardec em março de 1869 edestacava a deturpação doutrina-ria roustanguista, infiltrada no

Sausse destaca ha-ver prejuízo dou-trinário na análise comparativa.

movimento espírita francês na-queles tempos. Em 1884, osintegrantes da União EspíritaFrancesa, como GabrielDelanne, Léon Denis e aconfidente de Amelie Boudet,Berthe Froppo, dentre outros,criticavam os desvios de condutae as incoerências doutrinárias dosecretário-gerente da RevistaEspírita e administrador daSociedade Anônima da CaixaGeral e Central do Espiritismo,Pierre-Gaëtan Leymarie.

A polêmica prolongou-sepor mais alguns meses, comréplicas e tréplicas de Leymarie eoutros envolvidos, como Ar-mand Desliens, antigo adminis-trador da Sociedade Anônima noperíodo de 1870 a 1871. Aindaque o caso gerasse tensão eembates de narrativas no fragi-lizado movimento espírita fran-cês, a denúncia de Sausse não seperpetuou e tendeu ao adorme-cimento com o passar dos anos,até a descoberta de registroshistóricos realizada por SimoniPrivato que lançou novas luzessobre o caso.

Após a apresentação à co-munidade espírita mundial deevidências históricas que coloca-vam em dúvida a autoria dasmodificações ocorridas na 5ªedição da obra A Gênese, diver-sos estudiosos e demais interes-sados passaram a acompanhar odesenvolvimento das investiga-ções e a explorar aspectos, atéentão, despercebidos.

Graças à pesquisa deSimoni Privato, a obra maismadura de Kardec recebeu odesvelo compatível à sua rele-vância, justamente em seu ses-quicentenário.

Recentemente, fatoscomo a descoberta de umasuposta 5ª edição de A Gênesepublicada em meados de 1869 e

a análise de manuscritos originaisde Kardec, revelando detalhesrelacionados não somente àrotina de trabalho do Codifi-cador do Espiritismo, mas tam-bém contendo informações coti-dianas e pessoais, alimentaram abusca por novas evidências capa-zes de auxiliar a identificação daautoria das modificações em suatotalidade ou, ainda, parcial-mente.

Sobre as hipóteses envol-vendo a autoria da 5ª edição,pode-se considerar:H0: Kardec não é responsável

pelas modificações;

H1: Kardec é parcialmente responsável pelas modificações;

H2: Kardec é integralmente responsável pelas modificações.

Se a acusação propostapor Sausse fosse restrita àadulteração da obra, semprejuízo doutrinário gerado pelasalterações, o aceite de uma dashipóteses anteriores encaminha-ria o caso. Sausse, entretanto,destaca haver prejuízo doutrina-rio na análise comparativa entre

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Graças à pesquisa da Simoni Privato,

a obra mais madura de Kardec recebeu o desvelo compatível à sua

relevância, justamente em seu sesquicentenário.

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No mínimo, o estudo comparativo entre as edições original e modificada enriquece o conhecimento de quem assim procede.

as edições original e modificada,citando os capítulos XV eXVIII, por exemplo.

Enquanto as investiga-ções avançam sobre a autoria dasmodificações, a análise compara-tiva sob a perspectiva doutrináriatambém se desenvolve por dife-rentes grupos de pesquisadorespara se verificar se, efetivamente,houve prejuízo sofrido na 5ªedição.

Pode parecer estranho edesnecessário para alguns, ou atéum “sacrilégio” para outros maisafeitos à idolatria, realizar-se umaanálise comparativa entre asedições, pois o mais importante,para eles, seria a autoria. Não éincomum encontrarmos pessoasque afirmam que, se H2 forconfirmada, então a 5ª ediçãoestaria, necessariamente, maisadequada e correta do que a 4ªedição e deveria ser aceita semqualquer questionamento.Kardec, entretanto, recomendaque façamos justamente o con-trário sobre qualquer objeto de

estudo, que analisemos criterio-samente sob a égide da razão enão do personalismo ou dacredulidade cega. No mínimo, oestudo comparativo entre asedições original e modificadaenriquece o conhecimento dequem assim procede e, ainda, se ashipóteses H0 ou H1 não puderemser rejeitadas, reforça-se anecessidade de análise de eventualimpacto doutrinário devido àsalterações.

Desde 2018 a União dasSociedades Espíritas do Estado deSão Paulo (USE-SP) vemincentivando a formação degrupos de estudos comparativosentre as edições original emodificada de A Gênese epromovendo análises doutrinariassobre essa questão, fomentando odebate de ideias e não de pessoas.

O produto dessas dis-cussões vem sendo publicado noperiódico Dirigente Espírita (DE),

minados trechos de capítulos da 5ªedição, sem impacto doutrinário.Esse fato não confirma nenhumadas hipóteses sobre a autoria.

Mesmo mantendo a expec-tativa de que em algum dia conte-mos com evidências objetivas parase aceitar com segurança qualqueruma das hipóteses elencadas ante-riormente, a análises comparativasjá realizadas permitem afirmarque, sob o aspecto da coerênciadoutrinária e clareza do texto, a 4ªedição de A Gênese mostra-se maisadequada do que a 5ª edição emdiferentes passagens, fazendo como estudo comparativo sejafortemente indicado a todo adeptoespírita.

* Marco Milani é Diretor doDepartamento de Doutrina da USESP e presidente da USE Regional deCampinas.

veículo oficialde comunica-ção da USE-SP, e diferentesprejuízos dou-trinários ou decompreensãodo texto jáforam identifi-cados na 5ªedição, comodetalhado nasanálises doscapítulos XIV,XV e XVIIIpublicadas, res-pectivamente,no DE nºs 169,167 e 168.

Adicio-nalmente, po-de-se afirmarque houve me-lhorias e corre-ções gramati-cais em deter-

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as duas últimas matérias, mostramos queo uso de técnicas e movimentos de braços e mãosconhecidos como longitudinal e transversal parainfundir ou dispersar fluidos, não é coerente com aDoutrina Espírita (DE). Isso pois, os fluidos semodificam apenas sob ação do pensamento e davontade (cap. XIV de A Gênese). Portanto, eles nãosão nem necessários nem suficientes para aeficácia do passe. Hoje, analisaremos um outrotema relacionado ao projeto VK: a forma comobuscamos soluções para certas dúvidasdoutrinárias. Será que isso pode mostrar seestamos valorizando Kardec?

SIM (X) NÃO ( )

No item VII da Introdução de O Livro dosEspíritos (LE), Kardec analisa a posição contráriaao Espiritismo de corporações científicas. Eleargumenta que ser especialista ou sábio em umaou algumas áreas do conhecimento não tornaninguém infalível para análise de todo e qualquerconhecimento. Nas palavras de Kardec, “... notocante a princípios novos, a coisas desconhecidas, essaopinião [dos sábios] quase nunca é mais do que hipotética

por isso que eles não se acham, menos que os outros,sujeitos a preconceitos.” Nisso, o ponto que nosinteressa aqui está nos seguintes comentários deKardec:

“Assim, pois, consultarei, do melhor grado ecom a maior confiança, um químico sobreuma questão de análise, um físico sobre apotência elétrica, um mecânico sobre umaforça motriz.” (Grifos em negrito, meus).

Por que isso e o que isso tem a ver com aquestão analisada neste artigo? Analisemos. Porque alguém consultaria “com a maior confiança”“um químico sobre uma questão de análise, um físico sobrea potência elétrica, um mecânico sobre uma força motriz”?

Será que isto pode mostrar se estamos

valorizando Kardec ?

Onde as respostas são procuradas?Alexandre Fontes da Fonseca*

N

ceef

a.or

g.br

Projeto Valorizar Kardec – VIII

setembro/outubro – 2020 – edição 179

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E poderíamos adicionar, por que alguémconsulta com confiança um médico para questõesde saúde, um engenheiro para projetar e construiruma casa, ou um advogado para questões jurídicas,etc.? Essa confiança decorre de vários fatores quevão do sistema educacional que avaliou oaprendizado desses profissionais, até o sucesso dautilização desses conhecimentos nas atividades quelhes dizem respeito. Por que temos confiança naCiência, nas Ciências Humanas, na Medicina, naEngenharia, etc.? Porque os profissionais dessasáreas as utilizam no seu trabalho. Se usassemoutros conhecimentos, esses outros conheci-mentos é que teriam a confiança e o respeito daSociedade. Nisso, há dois aspectos importantes: 1)sem estudo aprofundado, ninguém é capaz derealizar atividades importantes como as citadasacima; e, de outro lado, 2) não adianta ter estudoaprofundado em alguma área se não o utiliza nasatividades que lhe diz respeito. Há uma ligação decoerência entre atividade e conhecimento para realiza-la.Um bom profissional valoriza sua área deconhecimento justamente quando a utiliza nassuas atividades. Ou, dizendo de outra forma, se,um profissional (chamemo-lo de “trabalhador”),em uma dada atividade, não utiliza umdeterminado conhecimento, mas sim outro, ele(a)passa para a Sociedade a ideia de que o primeironão é necessário e não tem valor, enquanto que osegundo tem.

Embora isso possa parecer simples e óbvio,já imaginaram essa questão no meio espírita? Jáimaginaram a incoerência de um curso deespiritismo que não ensina o que está contido nasobras de Kardec? Ou de um grupo mediúnico quenão utiliza o Livro dos Médiuns (LM) como base eorientação para os participantes? Ou de umtrabalho de acolhimento fraterno que não adota asorientações de O Evangelho Segundo o Espiritismo(ESE)? Sabemos que o movimento espírita seesforça por valorizar Kardec, ao se esforçar poraplicar em todas as suas atividades o conteúdo daDE. Mas será que sem querer, não desvalorizamosa DE em algumas situações específicas no meioespírita? Vejamos.

Quando um assunto diferente, polêmico,incomum ou um pouco mais difícil de esclarecersurge num grupo de estudos espíritas, e o grupodecide pesquisar e estudar melhor a respeito, quesequência de fontes de consulta o grupo adota ourecomenda? Por exemplo, diante de temas como aespiritualidade dos animais, a pandemia do coronavírus, a

questão da vida nas colônias espirituais, a reencarnaçãode pessoas famosas, e muitas outras; que obras surgemà mente do leitor para pesquisar ou buscarinformações?

Provavelmente, virá à mente a lembrança deobras e Autores encarnados e desencarnados quejá expuseram esse assunto. Mas já parou pararefletir que isso pode gerar um gesto dedesvalorização da DE frente a esses outros autorese obras? Se, para elucidar uma dúvida, euconsidero que este ou aquele Autor deve ser lido epesquisado antes de ler, estudar e analisar o que asobras de Kardec da DE dizem a respeito, assimcomo o “trabalhador” acima citado, eu estareipassando para a Sociedade a mensagem de que oprimeiro Autor é mais importante e válido do queo segundo. Ou seja, não é necessário criticarKardec para desvalorizá-lo. Basta não usá-lo, citá-lo ou estuda-lo em nossas atividades.

Kardec não podia estar mais certo! Ensinar o

espiritismo não é só um compromisso dos cursos de

Doutrina Espírita.

A importância desse assunto pode serpercebida num detalhe que Kardec mencionasobre o método de disseminação do espiritismo,envolvendo o conceito de ensino (item 18 do LM):

“Não constitui ensino unicamente o que édado do púlpito ou da tribuna. Há também o dasimples conversação. Ensina todo aquele queprocura persuadir a outro, seja pelo processodas explicações, seja pelo das experiências.”(Grifos em negrito, meus).

Kardec não podia estar mais certo! Ensinaro espiritismo não é só um compromisso doscursos de DE. Todos nós estamos ensinando aspessoas, mesmo através de “simples conversação”.Se em nossas simples conversações, passamos aimpressão de que as obras de Kardec são menosimportantes do que outras, estamos, sem perceber,contribuindo para desvalorizar a Doutrina Espírita.Isso não significa que a valorização completa da

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DE requeira apenas citá-la ou escolhê-la nosestudos. Concordamos com Braga (2014) que noslembra que: “insta considerar que valorizar Kardec não ésó citá-lo em palestras ou artigos, por vezes com a inserçãode trechos de seus livros sem contextualização. Trata-se deestudar a sua obra, entendê-la e transpô-la para nossosproblemas atuais, enriquecida, obviamente, pelo que de bomsurgir; se é espírita pelas ideias, pelos fundamentos, e nãopor um selo nominal.” O que desejamos chamar aatenção aqui é para termos mais atenção comatitudes de desvalorização da DE. Isso pode terconsequências muito sérias e nós, sem perceber,podemos nos tornar responsáveis pelo desvio deobjetivos doutrinários de outras pessoas, porsimplesmente não usarmos a DE nos nossosestudos ou considerarmo-la em nossas atividades.Lembramos a resposta dos Espíritos dada àquestão 642 do LE, sobre o homem que desejaagradar a Deus: “cumpre-lhe fazer o bem no limite desuas forças, porquanto responderá por todo mal que hajaresultado de não haver praticado o bem.” Se lembrarmosdo que o Espírito Emmanuel disse, no cap. 40 daobra Estude e Viva, de que a divulgação da DE éuma importante forma de caridade, vemos que aquestão 642 do LE implica em sermosresponsáveis por “todo o mal” que haja resultadoda desvalorização da DE.

Qual seria a sequência de escolha de fontesde consulta que melhor valoriza a DE ?

Bezerra de Menezes sobre Valorizar Kardec.Não perca, então, a próxima edição da revistadigital Dirigente Espírita. Se desejar tirar dúvidasou sugerir temas para analisar, escreva para

([email protected]).

BibliografiaBRAGA, V. A. B. 2014. “Com Kardec eu

aprendi”, O Consolador Ano 8 - N° 371. Link:http://www.oconsolador.com.br/ano8/371/marcus_braga.html acessado em 24/07/2020.

KARDEC, A. 1995. O Livro dos Espíritos,Editora FEB, 76ª Edição, Rio de Janeiro, RJ.

KARDEC, A. 1996. O Livro dos Médiuns.Editora FEB, 96ª edição, Rio de Janeiro, RJ.

KARDEC, A. 1996. O Evangelho Segundo oEspiritismo, Editora FEB, 112ª Edição, Rio deJaneiro, RJ.

KARDEC, A. 2010. A Gênese, EditoraCELD, 3ª Edição, Rio de Janeiro, RJ.

XAVIER, F. C. & VIEIRA, W. 1965. Estudee Viva, pelos Espíritos de Emmanuel e André Luiz,Editora FEB, Rio de Janeiro, RJ (1965).

* Alexandre Fontes da Fonseca é físico e professor daUnicamp, escritor e palestrante espírita.

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Podemos sugerira seguinte sequência:obras de Kardec –outras obras espíritas –artigos ou livroscientíficos – sites denotícia ou esclarecimen-to sobre o tema dife-rente. Esgotar, primeironas obras de Kardec, abusca por respostase/ou interpretações dequestões, fenômenos eacontecimentos é de-monstrar que deposita-mos nossa principalconfiança nas mesmas.É mostrar quevalorizamos a DE, queVK.

Em nosso próxi-mo estudo, vamos anali-sar uma opinião de

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jornal Dirigente Espírita surgiu nummomento que ocorriam as intersecções detendências que vivíamos como recém empossadopresidente da União das Sociedades Espíritas doEstado de São Paulo (USE-SP) e como gestoruniversitário.

Na condição de presidente da USE-SPcoordenávamos uma equipe que propunha novosrumos à Instituição. Como linha mestra propunha-se a modernização da USE-SP adequando-a àsnecessidades do movimento e em apoio aosdirigentes espíritas. No trabalho universitárioestávamos incumbidos de implantar na UNESPum fato novo: os conselhos de cursos que,diferente da estrutura departamental já viciada emcorporativismos e ações “cartoriais”, propunha-seuma ação integrada para melhor se gerir os cursosde graduação. Ao mesmo tempo, entre oscompanheiros de direção da USE-SP alguns nostraziam as experiências inovadoras dos meiosempresarial e de comunicação e falava-se muitoem se eliminar as “caixas” e “gavetas” quetipificavam os departamentos e setores estanques.

Nesse contexto da USE-SP do 2o semestrede 1990, um dos instrumentos que deveria merecer

reanálise seria o órgão oficial da USE-SP, otradicional jornal Unificação. Esse órgão há algunsanos padecia de dificuldades de indefiniçõeseditoriais e, alguns momentos, com lapsos decirculação. Em avaliação e decisão rápida a novadiretoria da USE-SP definiu que seria o momentode se enfrentar um enorme desafio, de transformaro tradicional periódico em um veículo moderno edirecionado aos dirigentes espíritas. Foi aceita aproposta apresentada por Wilson Garcia, um doscolaboradores dessa diretoria.

Dois meses após a posse da nova diretoriacirculou o novo veículo, o Dirigente Espírita,mantendo como subtítulo “Unificação”, masrenumerando-o: Ano I, No 1, Setembro/Outubrode 1990. Equipe do jornal: Editor – Wilson Garcia;Secretário – Ivan René Franzolim; Redação – LuizAntonio Fuchs, Éder Fávaro e Antonio CesarPerri de Carvalho; Assinaturas – Carlos TeixeiraRamos.

Dos editoriais da edição inaugural,destacamos: “Em que pese toda a tradição e valordo jornal ´Unificação´, entendemos ser necessáriauma urgente e oportuna alteração de rota. Émomento da USE inovar e imprimir ‘novos

OAntonio Cesar Perri de Carvalho *

Dirigente Espírita: origem e objetivos

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A inovação não foi exclusivamente na linhaeditorial, mas também na forma: tipo de papel,tamanho e composição.

As reações foram imediatas, muitasfavoráveis e outras, até mais eloquentes, contráriase expressas com veemência em reuniões doConselho Deliberativo Estadual, correspondênciase até referências em outros periódicos. Compaciência e persistência a proposta inovadora foimantida e com o tempo o Dirigente espíritaconsolidou-se, sendo muito bem aceito pelo seupúblico alvo.

Simultaneamente, naquele contextoocorreram as providências de reformulaçãoestatutária, agilização do funcionamento doConselho Deliberativo Estadual, definição de temacentral para o 8o Congresso Estadual deEspiritismo. Um fato marcante e relacionado ànova linha editorial foi a concretização do 8º

Congresso Estadual de Espiritismo, em abril/maiode 1992, na cidade de Ribeirão Preto, pois o temacentral “Dimensão cósmica do centro espírita”,Destinado ao público: dirigentes e colaboradores,a forma de desenvolvimento do programa, osAnais e vídeos temáticos, coroaram o conjunto depropostas da diretoria da USE-SP e,especificamente, a inovação editorial de Dirigenteespírita.

A implementação de seminários voltadosaos dirigentes espíritas e agilização da Editora daUSE-SP vinculada à mesma linha de atuação geroua publicação de dezenas de livros temáticos,direcionados não ao grande público, mas aosdirigentes e colaboradores, tratando de temasintegrados, como: vários livros sobre CentroEspírita, direção de órgãos de unificação, família,educação, o idoso no centro espírita, montagem devideotecas e outros.

Fica claro que o surgimento de Dirigenteespírita estava inserido num projeto global dealterações no modus operandi da USE-SP. Passadostrinta anos, a nosso ver, a proposta do jornalDirigente espírita nasceu de um momento de ousadiapara a época e com propostas inovadoras enecessárias para o movimento espírita.

“Novos rumos” era a designação da chapapor nós encabeçada e que concorreu à eleição noCDE da USE-SP.

* Antonio Cesar Perri de Carvalho foi integrante dadiretoria da USE SP desde 1986, sendo presidente por trêsmandatos, a partir de julho de 1990.

rumos’ no campo da comunicação” – “Dirigenteespírita é fruto do desejo de preencher uma lacunaexistente na imprensa espírita brasileira, qual sejade produzir um veículo exclusivo para dirigentesespíritas” – “A proposta editorial de Dirigenteespírita é bastante clara: será um jornal destinado aocentro espírita”. E o Editor esclarece detalhes doobjetivo “O centro é nossa meta”.

... seria o momento de se enfrentar um enorme desafio, de transformar o tradicional periódico em um veículo moderno e direcionado aos dirigentes espíritas.

Dirigente Espírita, setembro/outubro 1990

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mundo passa, atualmente, por umasituação inusitada: uma pandemia que, além daspreocupações de ordem sanitária e econômica, temgerado intensa angústia devido às medidas deisolamento social e nos incita a repensar de formasubstancial o nosso modo de vida na sociedadecontemporânea.

Não resta dúvida que a Humanidade temrealizado grandes avanços no campo da Ciência eTecnologia, propiciando benefícios materiais rele-vantes, mas, por outro lado, convivemos com umaenorme desigualdade social e uma crescente degra-dação do meio ambiente, alertando para a questãoda sustentabilidade do nosso planeta.

Na dimensão ética, temos sido expectadoresde um individualismo exacerbado, intimamenteassociado ao consumismo desenfreado, momenta-neamente interrompido, e à polarização radical nocampo das ideias, gerando todo tipo de into-lerância e ausência de diálogo.

Em suma, apesar do seu notável progressointelectual, o ser humano tem ficado bem atrás noque tange ao aspecto moral, suscitando a neces-sidade premente da renovação de princípios e

valores, que possibilitem uma Humanidade maisjusta e fraterna, posto que mais espiritualizada.

E é nesse contexto que o Espiritismo, nasua qualidade de Evangelho Redivivo, tem ofere-cido e continuará a oferecer sua contribuição parao processo de transformação moral da Humani-dade, a fim de que esta leve a cabo em nosso orbe,a transição, ora em curso, de um mundo deexpiação e provas para um mundo regenerado.

Mas para a realização de tão grande pro-pósito, contam as fileiras espíritas com reduzidonúmero de adeptos, se considerarmos tanto a pe-quena proporção dos que professam a DoutrinaEspírita, quando comparados às demais deno-minações religiosas, como o imenso campo desemeadura que se descortina à frente, que é ovasto mundo.

Há que se lembrar, porém, que o próprioMestre iniciou com apenas doze apóstolos;todavia, o trabalho ingente dos cristãos dasprimeiras horas, que se mantiveram unidos por ummilênio, garante hoje ao Cristianismo o status dereligião que mais adeptos tem no mundo.

Dessa forma, a lição da História nos mostra

O

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A união dos espíritasRoberto Watanabe *

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que a realização de tão nobre egrandioso mister, qual seja adivulgação da Boa Nova emlinguagem própria aos temposatuais, clama pela aproximaçãofraterna de todos os espíritassinceros para que, unidos comoum sólido feixe de varas, logremsuperar as dificuldades da tarefa.

É necessário, em primeirolugar, estabelecer as bases sobreas quais se assentará essa preten-dida união: se por um lado, elanão implica em igualdade depensamento, que carregaria em sicerta rigidez e tendência ao dog-ma, por outro lado, também nãose consubstancia numa diversi-dade de visões tais que resultarianuma dispersão de esforços.

Nesse sentido, valelembrar que, já na introdução aoLivro dos Espíritos, Kardecbusca estabelecer a nítida distin-ção entre espiritualismo e Espiri-tismo, reconhecendo que esteliga-se àquele em termos gerais,mas que, em termos específicos,o Espiritismo adota princípiospróprios, justificando assim oneologismo criado pelo mestrelionês.

Há, portanto, limitesclaros entre a Doutrina Espíritae as demais crenças espiritualis-tas, estabelecendo-se um campobem definido em cujo núcleocentral está a Codificação levadaa cabo por Kardec. Todavia,dentro desses limites, há espaçopara a diversidade de aborda-gens, embora todas em confor-midade com o núcleo central.

É nesse sentido que, noartigo intitulado ‘Unificação’ de20 de abril de 1963, Bezerra deMenezes afirma: “Quem seafeiçoe à ciência que a cultive emsua dignidade, quem se devote àfilosofia que lhe engrandeça ospostulados e quem se consagre àreligião que lhe divinize asaspirações, mas que a base

kardequiana permaneça em tudoe todos”.

Dentro desse contexto,não haveria espaço para impo-sições de parte a parte, que sóresultariam em dissensões e de-bates infrutíferos, de maneiraque a atitude recomendada seriaa da tolerância e compreensãomútuas, com todos se esforçan-do para pensar acima das dife-renças, a fim preservar a unidadeda Doutrina.

Da mesma forma, há quese reconhecer o valor de outrascrenças espiritualistas, mormenteem sua essência, portadoras quesão de princípios nobres dosquais compartilha o próprioEspiritismo; na realidade, este,como doutrina nova, se assentasobre alguns desses princípios,assim como, sobre as valiosascontribuições da Ciência e daFilosofia.

Concluímos o tema daunião com as recomendações deVicente de Paulo: “A união faz aforça; uni-vos para serdes fortes.O Espiritismo germinou, lançouraízes profundas e vai estendersobre a Terra a sua ramagembenfazeja.” E mais adiante: “umaindulgência e uma benevolênciarecíprocas devem presidir àsvossas relações” (LM, XXXI).

A partir da união de todosos espíritas, assentada numa basesólida e bem fundamentada,estará aberto o caminho para atarefa da unificação, ou seja, parao trabalho em conjunto em prolda disseminação do EvangelhoRedivivo pelo mundo afora,apoiado na convergência de pro-pósito, no apoio mútuo e naausência de personalismos.

Mas, para que isso serealize, faz-se mister uma tarefahercúlea pertinente ao planeja-mento, organização e coordena-ção dos trabalhos conjuntos, queharmonize as orientações de

uma direção central, cuja base jáexiste a nível mundial, com asações autônomas das inúmerascasas espíritas espalhadas peloglobo.

Também faz parte dessatarefa o exercício de um intensodiálogo entre os representantesdas instituições espíritas, a fimde se obter o alinhamento deesforços e das ações necessáriasao cumprimento do desideratoque ora se coloca.

E concluindo essa brevemenção ao tema da unificação,citaremos a exortação de Erastoacerca da missão dos espíritas:“as revoluções morais efilosóficas vão eclodir em todosos pontos do globo. Aproxima-se a hora em que a luz divinabrilhará sobre os dois mundos.Ide, pois, e levai a palavra divina:aos grandes que a desdenharão,aos eruditos que exigirão provas,e aos pequenos e simples que aaceitarão” (ESE, XX, 4).

Assim, que possamos nós,trabalhadores da última hora,levar adiante tão nobre missãoiniciada pelos abnegadostrabalhadores das primeirashoras, a fim de deixarmos, comolegado às gerações futuras, ocumprimento de uma nova etapanesse longo caminho rumo aomundo de regeneração.

Sigamos, enfim, arecomendação de Bezerra deMenezes aos espíritas, expressano artigo intitulado União eunificação, datado de 29.12.2009:“Em união marcharemosajudando-nos reciprocamente.Em unificação estaremosampliando os horizontes dadivulgação doutrinária em basescorretas e equilibradas”.

* Roberto Watanabe é presidente daFeesp – Federação Espírita doEstado de São Paulo.

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o Dirigente Espírita, ainda este ano,escrevemos sobre Hermínio Miranda e algumaspossibilidades de estudo de sua obra nos centrosespíritas. Hoje temos um desafio menos exigente,que é estudar a obra mediúnica de Yvonne A.Pereira. Ela é uma médium singularíssima. Nascidano estado do Rio de Janeiro, mas criada emLavras-Minas Gerais, foi nas terras mineiras queteve contato com reuniões mediúnicas.

As faculdades de percepção de espíritos aperseguiam desde a infância. Embora ambicio-nasse ser professora, não passou do ensino entãochamado de primário. Leu alguma literatura naadolescência e chegou a escrever para jornais erevistas, mas nada profissional ou que lhe desserenda e independência. Outros tempos, em que sermulher filha de família pobre no Brasil nãopermitia muitas opções, mesmo sendo talentosa.

Seu primeiro trabalho mediúnico foi com oescritor português Camilo Castelo Branco, que lhenarrou a morte e, principalmente, a vida após amorte, por cinquenta anos em refazimento eestudos, na Legião dos Servos de Maria, no planoespiritual. Muito arrependido do suicídio e da

apologia que fez ao autocídio em vida, Camilousou suas habilidades de escritor para ditar“Memórias de um suicida”, publicado pela FEB,trinta anos depois da primeira página psicografada,considerado por muitos a obra-prima de Yvonne.

Alguns espíritas intransigentes não gostamde algumas coisas no livro, como a descrição decavalos no mundo dos espíritos, ou do uso desopas pelos espíritos. Nem costumam pensar quepossa se tratar de criações mentais de espíritosainda muito ligados à experiência corporal, algunsdeles até duvidando da desencarnação, comovemos no texto. Implicações à parte, o livro fala deum grande problema para uma sociedadematerialista, como a que vivemos, e traz umasegunda visão do suicídio: ele não resolve osofrimento psicológico, apenas o agrava, e pode vira trazer sofrimento às pessoas ligadas a nós.Suicídio não é liberdade, mas escravidão futura.

Recentemente, escrevemos um trabalho quecompara as descrições da desencarnação doespírito Camilo Castelo Branco por três médiunsdistintos: Fernando de Lacerda, Yvonne Pereira eChico Xavier. Não há contradições do texto

Jáder dos Reis Sampaio *

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A médium serena

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mediúnico dos três médiuns, e Yvonne e Chicopsicografaram sem conhecer o texto um do outro.Este fato mostra a relevância do Memórias... que é otexto mais desenvolvido de Camilo.

Estudamos o Memórias ... em nossa reuniãomediúnica, lendo capítulo a capítulo e escolhendoum dos membros para apresentar cada um deles. Aleitura gerou, inclusive, dúvidas, que exigiram umareunião à parte para discussão e comparação comoutras obras doutrinárias. Ao final, ficou umainesperada sensação de satisfação, de aprendizado,de profundidade na experiência do mundo íntimodos suicidas. Embora o livro tenha a contribuiçãoespiritual de Léon Denis, não se consegue en-contrar no texto onde termina Camilo e ondecomeça Denis. Apenas imaginamos que as explica-ções sejam da lavra do discípulo de Kardec.

Outra proposta interessante é a leitura doslivros que tratam das reencarnações de Yvonne,sempre marcadas pelo autoextermínio. A trilogiapublicada pela Federação Espírita Brasileira écomposta pelos livros Nas Voragens do Pecado, OCavaleiro de Numiers e O Drama da Bretanha.Yvonne, Roberto e Charles aparecem encarnadoscomo personagens que se reencontram na Europaao longo de alguns séculos. A ordem que indiqueipermite que o leitor acompanhe a linha dasencarnações. Os livros foram publicados “aocontrário”, ou seja, da encarnação mais recente àmais antiga.

Os estudiosos da obra de Yvonne Pereira,como Denise Corrêa de Macedo, indicam queoutros personagens em sua literatura podem tersido encarnações ainda anteriores da médiumfluminense. No livro Sublimação, seria apersonagem Lygia, no conto Evolução, escrito porCharles. No mesmo livro, na Espanha do século19, Yvonne seria a cigana Nina, no capítulo demesmo nome também escrito por Charles. Denisepsicografou o livro Leila, a filha de Charles, atribuídoa Arnold de Numiers, que falaria da encarnação deYvonne em Portugal do século 19. Essaencarnação é mencionada também por PedroCamilo, no seu livro Yvonne Pereira: uma heroínasilenciosa. Chico Xavier psicografou no primeiroencontro com Yvonne, em Pedro Leopoldo –1956, uma mensagem do escritor portuguêsAntero de Quental, que faz menção a essaencarnação e ao suicídio. Yvonne saiu certa daautenticidade da comunicação, porque “Chico nãosabia de nada do que havia passado comigo, nemmesmo da existência presente”.

Esses livros podem ser lidos comoromances, ou estudados nos centros espíritas. Umaideia que me ocorre é organizar uma semanaespírita, na qual em cada dia um expositorestudaria uma das vidas de Yvonne, traçaria suascaracterísticas e proporia conexões com as demais.O objetivo seria não apenas a busca da identidade,mas do progresso paulatino desse espírito,progresso intelectual e moral. Obviamente, oúltimo estudo seria sobre a biografia de YvonnePereira, que pode ser lida em diversas fontes: Alémdo já citado livro de Pedro Camilo, temos Peloscaminhos da mediunidade serena (Lachâtre), YvonnePereira entre cartas e recordações (Menta Aberta), doautor baiano. Gerson Sestini escreveu YvonnePereira: a médium iluminada (CELD) que trata dediversos encontros e informações obtidos com aprópria médium. Além desses, temos dois livrosautobiográficos, mas que se tornaram de leituraobrigatória aos estudiosos do espiritismo:Devassando o invisível (FEB) e Recordações daMediunidade (FEB). Esses dois últimos livrosmerecem ser estudados em grupo de estudo,capítulo a capítulo junto com o livro À luz doconsolador (FEB), que compreende os artigospublicados por Yvonne Pereira na revistaReformador, assinados com seu próprio nome oucom o nome de Francisco Frederico, a redaçãoaportuguesada dos dois primeiros nomes docompositor Chopin, que ela percebia em seusonambulismo mediúnico.

Temos agora os romances e contos. O jácitado Sublimação contém contos de Tolstoi e deCharles. Tolstoi traz sempre personagens,ambientes e histórias russas. Charles tem doiscapítulos já citados que falam de suas vidaspassadas com Yvonne. Tolstoi teve publicadoainda o livro Ressurreição e vida (FEB). O contoprincipal do livro é O segredo da felicidade, que sepassa também na Rússia, mas nessa coletânea seencontra o lado cristão do autor russo, como, porexemplo, a história do Discípulo anônimo, nostempos de Cristo.

Da Rússia ao Brasil, vemos as psicografiasde Bezerra de Menezes. O ambiente se altera, e atemática também. Em Dramas da Obsessão (FEB),uma história de suicídio incentivado pela obsessãovolta aos tempos da inquisição portuguesa, cheiode informações e detalhes de época. Uma segundahistória nesse livro, chamada “A severidade da lei”,conta a história de um casal no Rio de Janeiro doinício do século 20, cujas raízes estão em decisões

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estabelecidas em outra vida, noBrasil colonial. O mesmo autor,que quando encarnado partici-pou do partido liberal e do aboli-cionismo, escreveu por Yvonneo belíssimo A tragédia de SantaMaria (FEB), que mostra ahistória de uma fazenda de caféno interior do Rio de Janeiro,mantida com mão-de-obra escra-va, e as tramas dos personagensque têm suas histórias com-preendidas a partir do passado, edo futuro, pela lei das reencarna-ções. Recomendo ao leitor com-parar o texto do Bezerra com otexto de Tolstoi, tanto a formaquanto o conteúdo.

Os textos psicografadospor Yvonne trazem quasesempre uma análise doutrináriaque entremeia o enredo, e àsvezes é tão sutil que não inter-fere no ritmo da narrativa. Háainda muita coisa a escreversobre Yvonne Pereira, mas creioque o leitor já tem um roteiroseguro para conhecer a vida e aobra dessa médium impressio-nante.

ReferênciasSampaio, Jáder. Com-

parando informações mediúnicasapós Allan Kardec: o caso deCamilo Castelo Branco. In:Sampaio, Jáder e Milani Filho,Marco. O espiritismo da França aoBrasil: estudos escolhidos. São Paulo:CCDPE-ECM, USE-SP,LIHPE, 2019.

Macedo, Denise Corrêade. A sublimação do amor. Rio deJaneiro: CELD, 2013.

Camilo, Pedro. YvonnePereira: uma heroína silenciosa.Bragança Paulista - SP: Lachâtre,2010. p. 121.

* Jáder dos Reis Sampaio é psicólogo emembro da LIHPE Liga dePesquisadores do Espiritismo..

3ª Semana Maria Virgínia & J. Herculano Pires

As duas primeiras semanas Maria Virgínia & J. Herculano Piresaconteceram em 2018 e 2019, com a realização de palestras emcidades diferentes. Já eram transmitidas online. Agora, a 3ª Semanasegue os padrões das palestras em tempos de pandemia. Enquanto asprimeiras foram encerradas no aniversário de nascimento deHerculano, a deste ano, tem seu início naquela data.

A Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires, organizadora da3ª Semana, é uma instituição ligada à memória de José HerculanoPires e sua esposa Maria Virgínia que tem como objetivo conservar,recolher material e divulgar o acervo de Herculano Pires: sua obrapoética, literária, filosófica e doutrinária

Para as palestras de 2020 foram convidados Marcus de Mario (Riode Janeiro), Jáder dos Reis Sampaio (Belo Horizonte), Antônio Leite(Estados Unidos) e Maria Elizabeth Barbieri (Porto Alegre). Aspalestras acontecem de 25 a 28 de setembro, sempre no horário das20 horas pelo Youtube, Facebook.

No encerramento, dia 29 de setembro, Heloísa Pires, MarcoMilani e Fernando Benesi, todos paulistas participam de pinga-fogo.

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imprensa espírita, como a imprensa emgeral, enfrenta grandes desafios na atualidade.Numa época de aceleração digital, com excesso deinformações disponíveis e gratuitas, não tem sidofácil manter a continuidade de periódicos impres-sos. Há quem diga que exista público para todos ostipos de veículos e que, assim como a televisão nãoacabou com o rádio, também as versões digitaisnão substituirão totalmente as impressas. O tempodirá.

É indubitável a questão da economia decustos gráficos e de distribuição para a produçãode conteúdos divulgados em papel. Hoje tambémassistimos à incrível capilaridade proporcionadapela divulgação em rede sociais, com a explosão decriadores e participantes de sites, blogs, canais deáudio e vídeo. No formato digital, tudo é maisrápido. São lives, cursos, palestras, shows e eventosvariados, com praticidade de acesso e possibili-dades de interação. Em segundos, milhares oumilhões de pessoas são atingidas.

Isso não quer dizer, todavia, que todosestejam sendo contemplados com a divulgação detanto conteúdo, tendo em vista a existência ainda

de uma população desprovida dos recursos tecno-lógicos e equipamentos necessários. Ainda há mui-to a se fazer e, como sempre, fechar o circuito dacomunicação para que a mensagem chegue comeficiência do emissor ao receptor ainda continua aexigir muita atenção, convidando-nos a responderlogo de início a quatro perguntas bem básicas:Quem é o nosso receptor (público)? Onde se en-contra? O que ele deseja? O que necessita?

Acontece que, nesses tempos realmenterevolucionários para a comunicação, o maiordesafio a ser enfrentado não está em encontrar ainformação, mas em desenvolver a capacidade defiltrar tanto conteúdo com que somos bombar-deados todos os dias.

Mudança de paradigmaO paradigma mudou. Agora, quem escolhe

a informação é o leitor, assim como o ouvinte, oassinante, o “seguidor “. São eles que decidem oque buscar, o que lhes seja útil e relevanteconhecer, ao contrário de consumir passivamenteo que lhes seja oferecido. É verdade que tudo isso,constatado por meio de relatórios detalhados

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Eliana Haddad *

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O desafio da imprensa espírita

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(também digitais), serve também comoinstrumentos eficazes para pautar o conteúdo namídia, baseado em percentuais de interesses, bus-cas e perfis de consumo. Mas, mesmo assim, a“audiência” é resolvida num simples clique. Comessa mesma rapidez, tem-se à disposição um ocea-no de informações, muitas vezes com a profundi-dade de um palmo – ou até mesmo de um pires.

“Sua força estána filosofia, no apelo que faz à razão e ao bom senso.”

A imprensa espírita tenta acompanhar aevolução que se opera nessa nova forma decomunicação. E é aqui nos defrontamos com umproblema sério, que exige diálogo e reflexãourgentes no movimento espírita, tendo em vistaser o espiritismo obra de educação. “O espiritismoé uma questão de fundo; prender-se à forma seriapuerilidade indigna da grandeza do assunto”, tãosabiamente alertou-nos Kardec no século 19,empenhado que estava em combater dois inimigoscomuns: a incredulidade e o fanatismo.

Para a divulgação das ideias espíritas nãobasta empenhar-se, portanto, apenas em con-quistar a atenção por um instante, por uma curtida,mas em manter o foco na orientação, esclareci-mento e acolhimento do simpatizante do espiritis-mo para que, também em doutrina espírita, possaele ter um dia condições de filtrar o que lê, ouve eassiste.

A imprensa espírita, que tanto auxiliou paratornar conhecido o espiritismo, tem agora o papelfundamental de compromisso com seus postula-dos doutrinários, devendo funcionar como facili-tadora na separação do joio e do trigo nessemundo de informações para que se fomente otesouro maior da vida humana: o conhecimentoque liberta e consola.

Verdade para todosCuidar do conteúdo na mídia espírita é

condição indispensável, qualquer que seja a forma

da comunicação. Na verdade, esse risco nemdeveria ocorrer com relação ao espírita, tendo emvista as referências que já possui nas obrascodificadas por Allan Kardec, chamadasacertadamente de obras básicas do espiritismo.Mas estamos, todos, tropeçando ainda noscaminhos da perfectibilidade. E a comunicação ésempre tão sedutora que, sem um alicerce sólido,poderá provocar grandes estragos, que irão sorra-teiramente transformando a logicidade dos ensina-mentos espíritas em um festival de crenças eopiniões, atrasando o progresso e o “combate” aomaterialismo para dias mais felizes.

Importante aqui prestar muita atenção àspalavras de Allan Kardec em O livro dos espíritos(Conclusão 6). “Seria fazer uma ideia bem falsa doespiritismo acreditar que a sua força decorre daprática das manifestações materiais e que, portan-to, entravando-se essas manifestações pode-seminar-lhe as bases. Sua força está na sua filoso-fia, no apelo que faz à razão e ao bom senso.Na Antiguidade, era objeto de estudos misteriosos,cuidadosamente ocultos ao vulgo. Hoje, não temsegredos para ninguém: fala uma linguagem clara,sem ambiguidades; nada há nele de místico, nadade alegorias suscetíveis de falsas interpretações. Elequer ser compreendido por todos porque chega-ram os tempos de se fazer que os homens conhe-çam a verdade. Longe de se opor à difusão da luz,ele a deseja para todos; não reclama uma crençacega, mas quer que se saiba por que se crê, ecomo se apoia na razão será sempre mais forte doque as doutrinas que se apoiam sobre o nada. (...)O espiritismo não é obra de um homem. Ninguémse pode dizer seu autor porque ele é tão antigoquanto a Criação; encontra-se por toda parte. (...)Essas ideias tornarão os homens melhores unspara os outros, menos ávidos de interesses

Se tomarmos, como exemplos, apenas alguns de seus temas principais ... isso bastará para a produção de

um bom material de divulgação.

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materiais e mais resignados ante os decretos daProvidência”. É emocionante a segurança deKardec. Para a imprensa espírita, escrita ou falada,assunto é o que não falta, já que o espiritismoalude às principais questões que afligem ahumanidade. Se tomarmos, como exemplos,apenas alguns de seus temas principais, como: aimortalidade da alma, a reencarnação, acomunicabilidade entre os espíritos, a existência ejustiça de Deus, isso bastará para a produção deum bom material de divulgação. Que façamos comrelação a eles as perguntas elementares que todobom conteúdo jornalístico exige: o que?, quem?,quando?, onde? e por que? para que tenhamosmateriais sempre atuais e de extremo interesse aqualquer público e em qualquer época, não apenaso espírita.

Allan Kardec, na Revista Espírita esboçoualguns apontamentos interessantes para nortear aimprensa espírita (ver página 23). O maisimportante, porém, é que não nos esqueçamos daresponsabilidade do servir, enaltecendo a caridade,a ética, a clareza e a simplicidade da informação,para que a mensagem espírita seja generosa,fraterna em seu objetivo primordial de auxílio aosproblemas humanos, apontando possibilidadespara o desenvolvimento de olhares maisabrangentes sobre a vida, sobre a espiritualidade,abrindo as portas do conhecimento com lógica elucidez, e as janelas do coração, com muito amor eesperança.

Responsabilidade na divulgaçãoO espiritismo é mesmo obra vastíssima,

que exige estudo dedicado, e não se pode esquecerque o trabalho da imprensa espírita é desafiador.“É preciso tocar as almas”, como tão bem foraaconselhado um dia o espírito Silveira Sampaio,famoso médico, jornalista, radialista e dramaturgo,que contou sua experiência no mundo espiritualno livro O repórter do outro mundo..

É claro que o trabalho com as fontesprimárias continua sendo imprescindível,cumprindo-nos cuidar também da preservação dahistória da doutrina espírita. Ela está em livros,atas, fotos, jornais, revistas, catálogos, documen-tos, etc. Que lembremos sempre de digitalizá-los,organizá-los e guardá-los em grandes servidores(in-cloud) para consultas pelas novas gerações.Ninguém sabe como se darão as pesquisas histó-ricas sobre o espiritismo no futuro. Até se seremosnós mesmos esses ávidos pesquisadores. Agora,

O espiritismo é mesmo obra vastíssima, que exige estudo dedicado, e não se

pode esquecer que o trabalho da imprensa espírita é desafiador.

porém, o trabalho, coletivo e cada vez mais com-partilhado, é responsabilidade nossa. Tantos sededicaram na divulgação do espiritismo através daimprensa – Olímpio Teles, Cairbar Schutel,Bezerra de Menezes, Pedro Camargo (Vinícius),Batuíra, Herculano Pires, Deolindo Amorim, JorgeRizzini, Anália Franco, Eduardo CarvalhoMonteiro, Edgard Armond e tantos outros. Éenorme a lista dos que já se foram – jornalistas,escritores, pesquisadores e articulistas – e quetanto contribuíram para que o espiritismo fosseconhecido. Hoje, todos nós estamos sendoconvidados a dar continuidade a essa obra, quenão necessita de proselitismos – sabemos –,porque está na Natureza, mas que conta, sim, comnosso empenho para o amadurecimento dos frutosde tantas sementes que já foram plantadas eoutras que ainda serão semeadas.

“Amai-vos e instrui-vos”, exortou-nos oEspírito da Verdade. Fazemos parte dessa enormeengrenagem! Mãos à obra!

Que possamos movimentá-la sempre comesse trabalho, com amor e precisão, para que nãoenferruje, emperrando uma obra que com tantocuidado e dedicação já foi por muitos iniciada.

Emmanuel, através da psicografia de ChicoXavier, afirma em Pensamento e vida que a vocação éa soma dos reflexos da experiência que trazemosde outras vidas. “É natural que muitas vezessejamos iniciantes, nesse ou naquele setor deserviço, diante da evolução das técnicas detrabalho que sempre nos reclamam novasmodalidades de ação; todavia, comumente,retomamos no berço a senda que já perlustramos,seja para a continuação de uma obra determinada,seja para corrigir nossos próprios caminhos”.

* Eliana Haddad é jornalista do Correio Fraterno doABC e ex-jornalista responsável pelo Dirigente Espírita.

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Allan Kardec foi simples e preciso. Em 1858,em dois artigos que publicou na RevistaEspírita, ele esclareceu as diretrizes quenorteavam sua ética editorial, as quais podemser conferidas a seguir:

• apreciação razoável dos fatos e dasconsequências que deles decorrem é umcomplemento sem o qual a nossapublicação seria de uma medíocreutilidade.

• colheremos todas as observações quenos forem endereçadas. Tentaremos, noslimites de nossos conhecimentos, levantardúvidas e esclarecer pontos ainda obscuros.Discutiremos, mas não disputaremos. Asinconveniências de linguagem jamaistiveram boas razões aos olhos de pessoassensatas.

• história da doutrina espírita, de algumaforma, é a do espírito humano. Os estudosdessas fontes nos fornecerão uma minainesgotável de observações, instrutivas einteressantes, sobre fatos gerais poucoconhecidos.

• s princípios da Doutrina Espírita sãoos decorrentes do próprio ensinamento dosEspíritos. Faremos sempre abstrações dasnossas próprias ideias. Não será, então, umateoria pessoal que exporemos.

• ontamos com o concurso benevolentede todos aqueles que se interessam poressas questões. Seremos agradecidos pelascomunicações que nos forem enviadassobre os temas de nossos estudos.

• aremos indicação de obras, antigas emodernas, onde se encontrem fatosrelativos à manifestação das inteligênciasocultas.

• ão responderemos aos ataques dirigidosao espiritismo, contra seus partidários emesmo contra nós. Em certos casos, osilêncio é a melhor resposta. Aliás, nosabsteremos das polêmicas que podemdegenerar em personalismo.

• as há polêmicas e polêmicas. E existeuma diante da qual não recuaremos jamais:a discussão séria dos princípios queprofessamos.

• em nos envergonhar, confessaremosnossa ignorância sobre todos os pontos aosquais não nos for possível responder.Longe de repelir as objeções e as perguntas,nós as solicitaremos. Serão um meio deesclarecimento.

• e emitirmos nosso ponto de vista, issonão será senão uma opinião individual quenão pretenderemos impor a ninguém. Nósa entregaremos à discussão e estaremosprontos para renunciá-las, se nosso erro fordemonstrado.

• sta publicação tem a finalidade deoferecer um meio de comunicação a todosque se interessam por essas questões. Eligar, por um laço comum, os quecompreendem a doutrina espírita sob seuverdadeiro ponto de vista moral: a práticado bem e a caridade do evangelho para comtodos.

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Uma ética para a imprensa espírita

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onforme evidencia-se no Artigo 1º deseu Estatuto Social, a União das SociedadesEspírita do Estado de São Paulo é, dentre outrascaracterísticas, uma pessoa jurídica de direitoprivado apolítica.

Allan Kardec, em texto dirigido aos espíritaslioneses, registrado na Revista Espírita - fev/1862,fez o seguinte alerta: “Não vos deixeis cair nessaarmadilha; afastai cuidadosamente de vossasreuniões tudo quanto se refere à política e àsquestões irritantes; a tal respeito, as discussõesapenas suscitarão embaraços...”.

De maneira compreensível para a maioriadas pessoas, o uso do termo “apolítico” sob aperspectiva institucional refere-se à necessidade denão se imiscuir nas escolhas particulares,respeitando-se o livre-arbítrio e a liberdade deconsciência de cada indivíduo.

Alguns, entretanto, no afã de verem aspróprias convicções políticas e partidárias galgadasa temas pertinentes e prioritários nas reuniões dediferentes naturezas, inclusive nas reuniõesespíritas, procuram provocar o embate ideológicocom a finalidade de impor a sua receita de comoconsertar o mundo e materializar o paraíso naTerra, estigmatizando e condenando aqueles quepossuem outros olhares sobre os mesmosproblemas.

Servindo-se de passagens convenien-temente pinçadas de trechos doutrinários eaplicando-as aos seus objetivos de persuasão comnarrativas próprias, aqueles que tentam promovera militância política nas fileiras espíritas seautointitulam “bons” e acusam de omissão todosos que não compactuam com suas propostas dereformas sociais ou, ainda, apontam e classificamdesrespeitosamente quem posiciona-se de maneiradiversa. Esse tipo de comportamento faz com que

surjam grupos que capturam a denominaçãoespírita com o acréscimo de adjetivos relacionadosàs suas opções políticas.

Allan Kardec, no terceiro diálogo descritono Capítulo I do livro O que é o espiritismo, afirmaque a “liberdade de consciência é consequência daliberdade de pensar, que é um dos atributos dohomem; e o espiritismo, se não a respeitasse,estaria em contradição com os seus princípios deliberdade e tolerância”.

Assim, a tolerância com relação àpluralidade de ideias, o respeito e a defesa daliberdade de consciência fazem parte do caráterespírita. A tentativa de imposição de pautasideológico-partidárias que suscitam a discórdia e adivisão, sob a justificava de debate necessário,enquadra-se como a armadilha preparada pordetratores encarnados e desencarnados que Kardecalertou aos espíritas lioneses.

Ainda enfatizando-se a sábia orientação deKardec na obra supra citada e alinhando-sediretamente com o papel da USE, o espiritismo,como doutrina moral, só impõe uma coisa: anecessidade de fazer o bem e evitar o mal; quantoàs questões secundárias, ele as abandona àconsciência de cada um.

Fundamental, portanto, que todo dirigenteda USE expresse e exemplifique esse caráterapolítico em qualquer atividade sob a égideinstitucional, uma vez que não se confundem asações e preferências particulares com a pessoajurídica que representam.

A responsabilidade doutrinária e aconsistente divulgação do espiritismo comfraternidade são algumas das prioridades da USEque a fazem conhecida e respeitada e,necessariamente, colaboram para o entendimentodo verdadeiro sentido de união.

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Sobre o caráter apolítico da USE

Da Redação

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osso objetivo é estabelecer nexo entreesses três conceitos, que identificam atividadespropiciadoras do desenvolvimento do ser humano:Arte, Educação e Espiritismo.

Educação é uma forma de instruir,informar, formar, sensibilizar, desenvolver eaprimorar o indivíduo. Ou seja, um meio paraacessar e explorar o potencial psicológico eintelectual da pessoa, proporcionando-lheinformações e desenvolvendo-lhe autoconsciênciae habilidades, a fim de dotá-la das condiçõesnecessárias para conviver e contribuir com ocoletivo. Em outras palavras, possibilitar ao sermanifestar-se, relacionar-se e tornar-se um agentesocial produtivo. Educação é abordagem metodo-lógica focada na formação e informação, que resul-tam no desenvolvimento de habilidades físicas,emocionais, mentais e espirituais.

A educação tem entre seus instrumentosa linguagem, a didática, a ilustração, o exemplo, aexperiência e a repetição, para citar somente osprincipais.

Já a Arte é uma forma de olhar, ouvir, tocar,perceber, fazer e transformar, produzindo algumaforma de manifestação com valor simbólico trans-

cendente (a obra de arte), de modo a sensibilizar oser para seus próprios sentimentos, os sentimentosdos outros e o seu ambiente, especialmente oambiente humano, em que se insere comoindivíduo no mundo das relações.

A Arte se configura como um modo deperceber o mundo, a vida e as relações, atribuindo-lhes um sentido estético, ético e de transcendência,despertando no indivíduo o Ser sensível ao bom,ao belo e à sua própria natureza imaterial.

Arte é linguagem que comunica, expressa, convence e transforma.

Como toda linguagem, é meio decomunicação (do latim comunicare – tornamcomum, compartilhar), ou seja, um meio decompartilhar experiências, emoções, percepções edescobertas.

Cada linguagem tem sua própria gramática eseu próprio vocabulário, que permitem aconstrução de discursos em variadas prosódias, ouseja, cada escola artística tem seu jeito peculiar deexpressar sua arte, desenvolvendo um repertórioformal que a caracteriza como forma de expressão

Alberto Centurião *

NArte, educação e espiritismo

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Cada forma de arte tem seu próprio idioma, expressando-se de forma autônoma, embora possa incorporar elementos expressivos de outras artes.

1. Arte é transcendente (espírito); 2. Arte éum agente físico (técnica); 3. Atuando sobre oextrafísico (psicotécnica). 4. Arte tem conexãocom o Sagrado.

Por ser o que é, como é, a Arte tem efeitotransformador:

1. Sobre o Espectador, o Ouvinte, o Leitor,o Observador – em suma – o Fruidor da obraartística. 2. Sobre o Artista, pois é impossívelpassar por todo esse processo, a fim de transmitiralgo transcendente ao seu público, sem que oartista se transforme também no processo.

Aqui podemos observar que Educação eArte são totalmente compatíveis e comple-mentares.

E como se relacionam Arte e espiritismo?O espiritismo tem por objetivo central atransformação moral do Ser para odesenvolvimento de sua natureza transcendente,ou seja, promover a renovação íntima, direcionadaà evolução espiritual. A Arte é agentetransformador, tanto do público, quanto do artista.

Como situar, então, o binômio Arte +Educação, no contexto espírita? Para que serviriaessa Arte com enfoque educativo, dentro doMovimento Espírita?

Na minha definição,“Teatro é Corpo

brincando de Espírito”.

Para Informar, Vivenciar, Ensinar,Sensibilizar, Renovar, Desenvolver... os Espíritas eos não Espíritas... no sentido da transcendênciaespiritual, tão bem descrita pela Doutrina Espírita.

Arte é muito mais do que instrumento depropaganda! É vetor de evolução.

* Alberto Centurião é escritor, teatrólogo e Secretário doDepartamento de Arte da USE SP.

ideal para certos conteúdos, em determinadocontexto histórico/cultural.

Cada forma de arte tem seu próprioidioma, expressando-se de forma autônoma,embora possa incorporar elementos expressivosde outras artes, ampliando seu instrumental,como o teatro incorpora a literatura, a música, adança e a arquitetura, por exemplo estudiososmelhor traduzida por “O Teatro é a imitação da ação”.Com Aristóteles aprendemos que a ação cênicaassume caráter simbólico/ficcional ao representara vida.

Socorramo-nos agora da definição deConstantin Stanislavski: “O Teatro é a representaçãoda vida do espírito humano, ao vivo e em forma artística”.Tratando-se, portanto de uma representação, o teatrositua-se no universo simbólico/ficcional,traduzindo-se como uma metáfora ... do que? ... –da vida do espírito humano – e este ponto éfundamental. Não se retrata simplesmente a vida,mas a vida do Espírito. Stanislavski enfatiza oaspecto transcendental da cena. E conclui: “emforma artística”, para estabelecer que o espetáculonão pode prescindir de valor estético.Representação, vida, espírito humano, beleza e, nocaso do teatro, presença do ser humano vivo emcena.

Na minha definição, “Teatro é Corpo brincandode Espírito”. Um esforço do ser encarnado para,por meio de uma atividade lúdico/criativa,reconhecer e expressar sua espiritualidade.

Partindo da especificação podemos genera-lizar, concluindo que:

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livro é de autoria do jornalista AndréTrigueiro, pós-graduado em Gestão Ambiental ecriador do curso de jornalismo Ambiental dasPUC-Rio. É apresentador de programa da TVGlobo e editor chefe do programa Cidades e Solu-ções, da Globo News. Desde 1.999 vem pesqui-sando o fenômeno do suicídio e as diferentesestratégias de prevenção, considerando que de ca-da 10 casos de suicídio 9 são previsíveis.

Na sua pesquisa, o autor informa que acada 40 segundos um pessoa se suicida no mundo,

90% dos suicídios poderiam ter sido evitados, umavez que são acometidos por transtornos mentais epassíveis de tratamentos, como é o caso dadepressão. No capítulo 5, o autor apresenta váriasações concretas em favor da vida, A OMSreconhece, segundo o autor, a importância dasorganizações voluntárias - como os Samaritanosem Londres, ou o CVV (Centro de Valorização daVida), criado, em São Paulo, em 1962, queoferecem ajuda por telefone e pela internet.

Para o profissional de saúde que lida compessoas que tentam se suicidar diz o autor que o

Julia Nezu *

Viver é a melhor opçãoA prevenção do suicídio no Brasil e no mundo

Resenha literária

O

Na primeira parte do livro, o autor compartilhadados, estatísticas e conhecimentos científicos queemergem da Academia e dos trabalhos de campona área da suicidologia. Na segunda parte, contéminformações doutrinárias, à luz da DoutrinaEspírita que o autor vem estudando há mais de 30anos, ampliando os horizontes de investigaçãopara a melhor compreensão de quem somos, deonde viemos, para onde vamos, as razões da dor edo sofrimento, e porque o suicídio não representaem nenhuma hipótese alívio ou libertação.

A prevenção é a melhor forma de se evitareste ato, considerando que a estatística mostra que

ou seja, são 2.200 suicídios por dia ehá a cada 2 segundos uma tentativa.No Brasil, há um suicídio a cada 45minutos, num total de 32 pessoaspor dia e percentualmente aonúmero de habitantes o Brasil seencontra no 8º lugar em número desuicídio e a Índia em 1º lugar,seguindo-se a China, EstadosUnidos, Rússia e em 5º lugar o Japão.

Segundo a estatística daOrganização Mundial da Saúde, amaior taxa de suicídio acontece comidosos acima de 70 anos e entrejovens de 15 a 29 anos de idaderepresentam 8,5% do to-tal. Aestatística mostra que o suicídio émaior entre os homens, mais entre ossolteiros e sem filhos.

do Amaral Pereira, que psicografou o livroMemórias de um suicida, Francisco Cândido Xavier eoutros autores, mostrando as dificuldadesenfrentadas pelo Espírito suicida no mundoespiritual.

Os direitos autorais da obra foram doadosao Centro de Valorização da Vida (CVV), de SãoPaulo, www.cvv.org.br, publicado pela EditoraCorreio Fraterno, com 192 páginas, 1ª edição emmaio de 2015.

* Julia Nezu é do Conselho Editorial da revista digitalDirigente Espírita.

acolhimento é fundamental. Épreciso saber ouvir quem o pro-cura nessa situação. Todos os queestiverem por perto devempermitir que a pessoa fale de suador, expresse o seu sofrimentosem ser interrompido. Que sepromova um ambiente entre elesde confiança e com esse relato oprofissional da saúde poderáconduzir melhor as suas orienta-ções.

Por fim, a partir docapítulo 7, o autor aborda asinformações do outro lado davida, traz um embasamento teóri-co dos livros da Codificação ediversos autores como Yvonne

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ste livro é dedicado inteiramente ao temaEstudo e Ensino do Espiritismo. Foi elaboradopela equipe do Departamento de EstudosSistematizados da USE – União das SociedadesEspíritas do Estado de São Paulo. Traz umacontribuição para formação continuada dostrabalhadores dos centros espíritas.

O trabalho fundamentou-se em instruçõesde Allan Kardec, contidas em seus livros. Trata-sede um documento com reflexões e sugestões parao desenvolvimento do estudo nos centros espíri-

tas. Visa reforçar aos dirigentes espíritas a rele-vância do estudo do Espiritismo e estimulá-los abuscarem mais subsídios para o planejamento doensino nas instituições espíritas.

O leitor que não é um dirigente espírita,também encontrará informações úteis para nortearo seu estudo do Espiritismo.

Para a elaboração deste trabalho, foramutilizadas também publicações desenvolvidascoletivamente pelas federativas na Área deEstudos do Espiritismo do Conselho FederativoNacional da Federação Espírita Brasileira, e pelaequipe do Departamento de Estudos Sistematiza-dos da USE SP.

Esta ́ dividido em cinco partes:

1. Princípios norteadores

2. Estudo do espiritismo

3. Ensino do espiritismo

4. Monitor de Grupos de Estudos

5. O estudo do espiritismo comtecnologias digitais

A formação de trabalhadores e ́ fundamentalpara o aprimoramento da tarefa, aperfeiçoamentodo modo de fazer e introdução das tecnologiasdigitais na casa espírita. E ́ um trabalho complexo,mas necessário. Deve- se considerar as necessi-dades e características de cada instituição e de cadaregião, promovendo o auxílio mútuo para que, emconjunto, sejam superadas as dificuldades enecessidades específicas. Isso fortalecera ́ o própriomovimento espírita em sua expansão e continui-dade seguras.

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Estudo e ensino do Espiritismo

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Da Redação

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Pascoal Antonio Bovino *

departamento deAPSE

[email protected]

Departamento de APSE – Assistência ePromoção Social Espírita tem suas finalidades eobjetivos definidos no livro Orientação ao CentroEspírita auxiliando os dirigentes condições aprogramarem e planejarem suas atuações nestaárea com segurança e competência.

A Promoção Social Espírita é definidacomo “a prática da caridade na abrangênciadefinida pelo Espiritismo, às pessoas em situaçãode vulnerabilidade e risco social. Promover o serhumano é oferecer-lhe condições para superar asdificuldades econômicas, sociais, morais eespirituais em que momentaneamente se encontre;... auxiliá-lo de todas as formas possíveis, peloacompanhamento constante e amigo, a desenvol-ver as próprias potencialidades, estimulando-o, aomesmo tempo, a auxiliar as pessoas que compar-tilham seu núcleo famiiar.”¹

Muitos aspectos precisam ser consideradosquando estamos desenvolvendo o trabalho de Pro-moção Social com ressaltamos abaixo:

O Serviço de Assistência e Promoção SocialEspírita deve seguir cuidadoso planejamento,observando a necessidade de colaboradores, efuncionários e de recursos materiais e financeiros,sobretudo quando envolva despesas permanentes,a fim de evitar-se deficiente atendimento ou para-lisação da tarefa por falta de recursos. Recorde-seque a caridade, segundo o Apóstolo Paulo, não étemerária, nem age com precipitação.

Os Centros Espíritas devem reunir,selecionar e capacitar continuamente o trabalhadordo Serviço de Assistência e Promoção SocialEspírita, nos aspectos doutrinário e técnico, com

vistas ao seu melhor desempenho. É preferívelfazer um trabalho modesto, mas de boa qualidade,a buscar realizações de grande vulto dentro daimprovisação e da imprevidência.

Os Centros Espíritas de uma mesmalocalidade devem compartilhar informações eserviços, auxiliando-se mutuamente, podendoorganizar as atividades do Serviço de Assistência ePromoção Social Espírita de forma articulada ecomplementar.

Nas atividades do Serviço de Assistência ePromoção Social Espírita que envolvam aaceitação de donativos, contribuições e financia-mentos, devem ser apresentados, periodicamente,relatórios estatísticos e financeiros, demonstrativosdas atividades desenvolvidas. Esses relatóriosdevem ser afixados em lugar visível no CentroEspírita, como satisfação justa e necessária aoscooperadores, atendendo-se, ainda, com talprocedimento, aos preceitos legais vigentes. ²

O dirigente espírita precisa estar atento aestas instruções para atingir os objetivos que aDoutrina Espírita nos propõe em tudo aquilo queenvolve a prática da Caridade.

Referências:1. Orientação à assistência e promoção social espírita –CFN/FEB - Federação Espírita Brasileira

2. Orientação ao centro espírita – CFN/FEB -Federação Espírita Brasileira

* Pascoal Antonio Bovino – Diretor do Departamento deAPSE - Assistência e Promoção Social Espírita.

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Promoção social espírita

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ma das questões mais relevantes a serlevada em consideração pelo Movimento Espírita éa compreensão sobre a deficiência, como condiçãoessencial do processo evolutivo do Espíritoperante provas específicas, que gere ações deacessibilidade que favoreçam a inclusão dessepúblico em termos de acesso ao conhecimento e àconvivência no meio espírita.

Inicialmente existe uma confusão aindafrequente em relação à nomenclatura em torno dotema. Observa-se o uso de expressões como“pessoa portadora de deficiência” ou “portador denecessidades especiais”. Trata-se de termosequivocados. Segundo o que foi definido pelaConvenção das Nações Unidas, o termo correto épessoas com deficiência (PcD), uma vez queaquele que apresenta uma deficiência física, visual,auditiva ou intelectual não é um doente e nãoprecisa ser tratado de uma maneira especial. Taisconcepções somente fortalecem preconceitos eerguem barreiras de comunicação.

Segundo a ONU, em torno de 80% daspessoas com deficiência vivem em países emdesenvolvimento, como o Brasil. A ausência deestatísticas precisas favorece a invisibilidade dessaspessoas, o que contribui para a dificuldade na

implementação de políticas públicas, no intuito defavorecer e facilitar suas vidas. O custo de vidaaumenta consideravelmente nas famílias onde hápessoas com deficiência, o que impede o acesso aserviços de saúde de qualidade. Além disso, aeducação é um grande desafio para muitosdeficientes, o que os torna dependentes eincapazes do próprio sustento e emancipaçãopessoal.

Segundo a ONU,em torno de

80% das pessoas com deficiência vivem em

paísesem desenvolvimento,

como o Brasil.

UFernando Porto *

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Acolhimento e acessibilidade

departamento deatendimento espiritual

[email protected]

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O Movimento Espírita, dentro do contextode um país em desenvolvimento, acaba refletindoesses mesmos preconceitos, somando-se a falta deestrutura e recursos, ou mesmo da ausência depercepção sobre essa prioridade, relegando opotencial público espírita das pessoas comdeficiência à mesma condição de invisibilidade quea sociedade brasileira já oferece.

A benfeitora espiritual Joanna de Ângelis,na obra Lições para a felicidade, faz-nos um alerta aoconsiderar que “a civilização dita cristã noOcidente ainda não compreendeu que Jesus é oexemplo da centralidade mais admirável que seconhece. Em todo o Seu ministério jamais houvelugar para a exclusão, para a exceção. Ele semprese caracterizou pela proposta de solidariedadehumana e pela igualdade dos direitos humanos.”

Ao pensarmos sobre o papel do aten-dimento espiritual no centro espírita, no seuconjunto de atividades que visam o apoio, o escla-recimento, a consolação e o amparo às pessoas noenfrentamento de suas dificuldades, precisamosrefletir se de fato as pessoas com deficiência temrecebido o olhar fraterno conforme Jesus nosexemplificou e a doutrina espírita nos recomenda.

Faz-se premente a adoção de estratégiasinclusivas e de acessibilidade perante as pessoascom deficiência, considerando-a como o plenoexercício de todos os direitos humanos eliberdades fundamentais, de maneira plena e equi-

tativa. Isso exige, inicialmente, uma mudança deatitude para que as barreiras interativas sejam defato eliminadas.

Além da superação das barreiras físicas edos ambientes das casas espíritas, há de seconsiderar como prioritária a eliminação dasbarreiras de comunicação, particularmente nocontexto em que vivemos onde as mídias sociais eos meios virtuais assumiram um protagonismoinédito na história do mundo.

Hoje já se dispõe de inúmeros recursostecnológicos ainda ignorados ou desconhecidos noMovimento Espírita, como a linguagem de Libras,a audiodescrição, as legendas, ou seja, a aplicaçãoda tecnologia assistiva, compreendida como o con-junto de recursos e serviços que visam a ampliaçãodas habilidades funcionais de pessoas comdeficiência.

Fica, portanto, o convite para que oMovimento Espírita se debruce sobre o tema paradesenvolver as estratégias necessárias para oatendimento digno às pessoas com deficiência.

Lembremos da orientação do EspíritoBernardin, em O Evangelho Segundo o Espiritismo arespeito da pergunta se cabe a cada um de nóssuavizar as provas do nosso próximo: “Portanto,não digais, ao verdes um de vossos irmãos feridos:

‘É a justiça de Deus, é preciso que ela sejacumprida.’ Dizei, ao contrário: ‘Vejamos quais osmeios que nosso Pai misericordioso colocou em

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meu poder, paraamenizar o sofrimentode meu irmão’.”

Referência:Área de EducaçãoEspírita. Serviço deAtendimento Espiritual.Inclusão e acessibilidades nocontexto do atendimentoespiritual. Rio de Janeiro:CEERJ, 2018.

* Fernando Porto é 1ºsecretário do Departamentode Atendimento Espiritualno Centro Espírita.

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Espiritismo passa por um momentodiferente no Brasil e no Mundo, uma mudança nosseus modos de trabalho e nas suas formas dedivulgação. Acelerados pelo novo contexto, vimosum crescimento exponencial da participação doscentros espíritas na Internet e nas redes sociais.Mesmo àqueles mais resistentes, ao se veremimpedidos de continuar as atividades presenciais,renderam-se às facilidades que hoje os recursostecnológicos promovem. A grande maioria migrousuas atividades para o modelo digital, evitandoassim a completa paralisação dos trabalhos. Hojevemos grupos de estudos virtuais, palestras ao vivoe uma série de outras iniciativas que buscam levaro Espiritismo para dentro dos lares das pessoas.

O impacto tem sido tão positivo que muitospensam em não interromper a criação de conteúdopara a internet mesmo quando as atividadesvoltarem ao modelo presencial. Todos perceberamo grande potencial que esses recursos possuempara a divulgação da Doutrina Espírita. Umasimples palestra gravada e publicada no Facebookou no YouTube, pode ter a visualização de centenase até milhares de pessoas dentro de um curto

espaço de tempo. Número muitas vezes maior doque o total de participantes do centro espírita.

Como muitos Centros não tinhamexperiência com transmissões ao vivo, vídeos eredes sociais antes da pandemia, o processo deaprendizagem foi o clássico “Aprender Fazendo”.É notável o esforço de cada dirigente,coordenador(a) de estudos, evangelizador(a) paranão interromper as atividades e levar o espiritismopara dentro do lar de milhares de pessoas, comcerteza inspirados e fortalecidos pelos bonsespíritos, que não nos deixaram desamparadosnesse momento desafiador.

No artigo de hoje, queremos abordaralgumas iniciativas dos Centros Espíritas, passandopelos diferentes formatos que podem ser adotadospara a realização das atividades; quais ferramentasferramentas podem ser utilizadas; além de tambémoferecer dicas para a melhora do trabalho nosmeios digitais

PalestrasAs palestras podem ser desenvolvidas

usando diferentes ferramentas, sendo elas o

ORenato Ce1sar do Nascimento Rodrigues Caetano *

departamento decomunicação

[email protected]

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Dicas e recomendações no meio virtual

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Page 33: Espiritismo hojeMarlene Fagundes Carvalho Gonçalves 38O Departamento da Família e seus desafios Ângela Bianco 40Projeto Despertar: o plano divino e o evangelizador Equipe do Departamento

servir para distribuir o conteúdo nas redes sociaiscomo o YouTube e o Facebook. Destacamos aquiapenas duas: o StreamYard e o OBS (OpenBroadcaster Software).

O StreamYard possui uma versão gratuitaque permite a realização de até 20 horas mensaisde transmissão ao vivo por mês. Na versão paga épossível distribuir o vídeo para mais de um canalde forma simultânea, com horas ilimitadas.

O OBS é uma ferramenta para ser instaladono computador (desktop) e permite também arealização de transmissão ao vivo. Exige um nívelde conhecimento um pouco mais avançado, mais ainternet é vasta de materiais de instrução quepodem ajudar na elaboração dos conteúdos.

Cuidados com a segurança

É muito importante que os CentrosEspíritas zelem pela segurança dos trabalhos nomodelo virtual, não publicando dados sensíveis nasredes sociais, como número de telefone pessoal ouinformações de e-mail e senha. Até mesmo osendereços das reuniões privadas (Google Meet, Zoom)devem ser enviadas somente por e-mail ou whatsapppessoal, evitando assim a entrada de qualquerindivíduo que possa vir a atrapalhar o climaespiritual das atividades.

Atenção aos direitos autorais

Outro ponto importante, do qual falaremosaqui de forma breve, mas que merece um outroartigo, é em relação aos direitos autorais. Ainternet hoje possui recursos de inteligência quedetectam a utilização de imagens, vídeos e músicascom direitos autorais. Por isso, procure sempreutilizar bancos de imagens, vídeos e sons gratuitos,que permitam a utilização de forma gratuita. OYouTube e assim como o Google Imagens possuemfiltros de pesquisas para encontrar recursos creativecommons, dos quais você pode baixar e utilizar semmaiores preocupações.

Esperamos que as informações acimapossam ser úteis a todos os Centros Espíritas doestado de São Paulo.

O Departamento de Comunicação, assimcomo o Departamento de Tecnologia da USE,colocam-se à disposição para auxiliá-los no queprecisarem para a continuidade das tarefas.

* Renato César do Nascimento Rodrigues Caetano édiretor do Departamento de Comunicação da USE SP.

Facebook, o Instagram e o YouTube.No Facebook é comum o responsável pelo

organização da palestra definir o perfil dopalestrante como editor na página do centro, afimde que ele mesmo possa criar a transmissão aovivo diretamente. Outra opção é o palestrantefazer transmissão em sua própria página pessoal,no modo público e assim basta o vídeo sercompartilhado na página do Centro Espírita.

No Instagram também é possível realizar apalestra ao vivo, no modo “stories”, com o detalhede que o vídeo só fica disponível durante 24 horas.Ao iniciar o vídeo é possível fazer o convite parauma ou mais pessoas.

O YouTube é uma outra ferramenta muitoutilizada pelo Centros Espíritas, permitindo acriação de um canal e a publicação de vídeos. Paraa realização de transmissão ao vivo no YouTube énecessário que o canal tenha no mínimo milinscritos, o que pode ser uma dificuldade paramuitos centros espíritas.

Reuniões e estudos em grupo

Para a realização de estudos em grupoexistem diversas ferramentas, pagas e gratuitas. Omais adequado é que os Centros testem as váriasopções afim de verificar qual melhor se adapta ascaracterísticas e necessidades do grupo. Na USE,temos utilizado o Google Meet como ferramentapadrão de comunicação, para reuniões de equipe erealização de seminários virtuais. Na ferramenta doGoogle é possível receber 100 pessoas e fazerreuniões ilimitadas. Na versão GSuite, é possívelreceber até 250 pessoas e realizar a gravação dasreuniões. A USE SP fornece o acesso a essaferramenta de forma gratuita para todos os centrosespíritas que assim desejarem, bastando seinscrever no formulário que pode ser encontradono link a seguir: https://usesp.org.br/conecte/.

Como dissemos, existem outras ferramentascomo o Zoom, o Microsoft Teams, Jitsi Meet,TeamLink, Cisco Webex entre outras ferramentasque podem ser encontradas na Internet. O quevaria entre elas é o preço, a quantidade de pessoasque podem ser recebidas simultaneamente e otempo da reunião. Muitas delas possuem versãogratuita.

Ferramentas para transmissão ao vivo

Existem ferramentas que facilitam otrabalho das transmissões ao vivo e que podem

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Page 34: Espiritismo hojeMarlene Fagundes Carvalho Gonçalves 38O Departamento da Família e seus desafios Ângela Bianco 40Projeto Despertar: o plano divino e o evangelizador Equipe do Departamento

a Parábola do Semeador, identificamosas diferentes maneiras pelas quais os ensinamentosdo Evangelho podem ser aproveitados. Variandodaqueles que nada se servem da Boa Nova atéaqueles que a compreendem e aplicam a simesmos, beneficiando-se do progresso realizado.

A mesma analogia pode ser feita aosadeptos do Espiritismo, passando por aqueles quenada mais fazem do que admirarem asmanifestações espirituais e deterem-se na atitudemística e contemplativa até aqueles quedepreendem as profundas consequências morais eseguem a orientação do Espírito da Verdade paraamarem-se uns aos outros e instruírem-se.

Um dos pilares da doutrina espírita é a féraciocinada, ou seja, aquela que se sustenta pelalógica diante da análise crítica dos fatos. Crê-seporque efetivamente conhece-se e não porque sereproduz argumentos aceitos sem a necessáriaponderação.

Assim como as sementes espargidas pelosemeador da parábola necessitam de boa terra parafrutificarem, os ensinos dos Espíritos de escol quecontribuíram diretamente para a construção do

corpo teórico-doutrinário do Espiritismopressupõem a fé raciocinada para a plenacompreensão e aplicação.

A essência desses ensinamentos é simples etotalmente acessível. Porém, quanto mais nosaprofundarmos no conhecimento de nós mesmose da realidade em que estamos inseridos, maisteremos elementos para planejar e agiradequadamente em prol de nossa melhoria efelicidade.

“... as boas palestras atuam como poderosos

elementos disseminadores dos princípios e valores

espíritas e devem ser incentivadas.”

NMarco Milani *

departamento dedoutrina

[email protected]

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Encantamento, dependência e razão

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Determinados autores de livros espíritastambém provocam encantamento para um públicoespecífico de leitores. Foi o fulano quempsicografou ou escreveu, alegam alguns, portanto éverdade. Será?

Para identificar o grau de dependência ouemancipação de alguém perante algum autor oupalestrante, pode-se fazer o seguinte questio-namento: se esse autor ou palestrante afirmar algosem apresentar evidências objetivas (e nãoopiniões de encarnados ou desencarnados) sobreum assunto que eu tenha dúvidas ou discorde, apartir desse momento passarei a aceitar a ideia deleporque confio mais nele do que em mim?

Que possamos nos encantar pelo verdadeiro

conhecimento, sempre valorizando a

fé raciocinada.

Se a resposta for “sim”, então a depen-dência é grande.

O próprio Kardec insiste na necessidade detudo ser confrontado racionalmente mediantefatos e argumentos válidos, então por que acreditarcegamente em um palestrante ou escritor? Se talafirmação contrariar os ensinamentos dosEspíritos que Kardec validou servindo-se derigoroso método e publicou no conjunto de suasobras, mais um motivo para redobrar a cautela eanalisar as evidências que são apresentadas. Diantede incerteza, não se pode aceitar ou refutar algo,a priori, mas aprofundar-se no que já se sabe pordiferentes fontes, nunca por uma ou poucaspessoas somente.

Que possamos nos encantar pelo verdadeiro conhecimento, sempre valorizando a fé raciocinada.

* Marco Milani é diretor do Departamento de Doutrinada USE SP.

Até que ponto o carisma pessoal de terceiros estimula o próprio potencial de crescimento interior ?

A jornada evolutiva é uma conquistainterior, mas necessariamente implica aprender aamar a si mesmo e ao próximo, além de Deus.

Certamente esses ensinamentos podemtocar o coração de cada um em diferentesmomentos, conforme esforço nesse sentido, masse torna cada vez mais premente nos desven-cilharmos da inércia contemplativa e abraçarmos aatitude libertadora dos grilhões da ignorância.Ninguém absorve conhecimentos, como equivoca-damente alguns supõem, mas os obtém porméritos próprios.

No movimento espírita encontramosmuitos que acreditam estar absorvendo Sabe-doria ao deixarem-se encantar pela oratóriaeloquente deste ou daquele palestrante.Preocupantemente, o conteúdo pode passar a sersecundário diante da envolvente forma como éexpresso. Que oratória fantástica, dizem, ainda quenão se lembrem exatamente do que foi abordadonem como isso pode fazê-los progredir moral eintelectualmente. Locupletam-se emocionalmentee quanto mais famoso for o palestrante, maisafortunados se consideram.

Muitas casas espíritas convidam notóriosexpositores buscando lotar os seus salões semconhecerem, muitas vezes, o teor do que será dito.Basta o nome do palestrante. O título da palestra éanunciado como “tema livre”, pois vin-do dequem vem, supõem que será ótima.

Obviamente, as boas palestras atuam comopoderosos elementos disseminadores dos princí-pios e valores espíritas e devem ser incentivadas.

O que poderíamos refletir é: até que pontoo carisma pessoal de terceiros estimula o própriopotencial de crescimento interior? O encanta-mento provocado por palestrantes carismáticosfavorece o pensamento crítico ou a dependênciaintelectual?

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alar sobre o estudo do Espiritismoprovoca algumas reflexões, por exemplo, o que éestudar? Segundo o dicionário1, o verbete estudosignifica, entre outras coisas: “Aplicação doespírito para aprender”. Seria o voltar-se, comdedicação, para um objeto que é foco de atenção,debruçando-se sobre ele para entendê-lo.

Quando o objeto é o Espiritismo, já seantevê a dedicação, o esforço, a vontade que esseato demanda. Kardec alerta, em O livro dos espíritos2:“Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismoé imenso; interessa a todas as questões dametafísica e da ordem social; é um mundo que seabre diante de nós”.

Então fica claro que um importantecaminho para avançar no Espiritismo é o estudo.É preciso estudar para conhecê-lo.

Essa ideia da importância do estudo paraconhecimento das questões relativas às Leis deDeus, não é nova. Emmanuel, no livro Vinha deluz3, apresenta uma passagem na qual Jesus disseaos apóstolos, que estavam maravilhados com osensinos sobre a grandeza de Deus: “Ponde vósestas palavras em vossos ouvidos” (Lucas, 9:44). O

que estaria Jesus querendo dizer com isso? Comocolocar palavras nos ouvidos? Seria “decorar” osensinamentos?

Emmanuel explica: “Não se trata deregistrar meros vocábulos e sim fixarapontamentos que devem palpitar no livro docoração.”

Fixar apontamentos quer dizer registrarpontos importantes daquilo que foi ouvido ouexperienciado. Então isso sugere que os vocábulossão mais que sons a serem decorados, são palavrasque remetem a significados e sentidos, que nãopodem ficar estáticos na lembrança, mas devempalpitar no livro do coração.

Palpitar remete a movimento, agitação, e“no livro do coração” mostra que não é algo a serregistrado mecanicamente, mas com sentimento,sendo sentido a partir de relações estabelecidascom as experiências anteriores e cotidianas. Sóassim o ensinamento faz sentido, e pode serapropriado por aquele que está aprendendo.

Pois bem, essa lição de Emmanuel fazperceber a importância de tudo aquilo que Jesusensinou e da necessidade de os ensinamentos

FMarlene Fagundes Carvalho Gonçalves *

departamento de estudossistematizados

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Estudo do espiritismo: aprender, sentir e agir

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constituição do ESDE – Estudo Sistematizado daDoutrina Espírita), publicada na revista Reformadorde abril de 20188.

Bezerra de Menezes exorta a viver aquiloque se ensina: “Todos nós, espíritas, encarnadosou não, deveremos esforçar-nos para divulgar aMensagem de libertação, vivendo-a integral-mente.” 8

Também Angel Aguarod faz seu apelo:“Diremos aos queridos irmãos que laboram nessaárea grandiosa de libertação de consciências e devivência espírita-cristã, que permaneçam comentusiasmo, demonstrando a excelência dos pos-tulados divulgados na própria conduta, conforme aviveram o insigne Codificador e os fiéis seguidoresde todas as horas. O exemplo do divulgador doEspiritismo e ́ portador de grande poder, porquearrasta as pessoas atraídas pelas palavras à vivênciado que lhes é transmitido.” 8

Está muito claro que, primeiro, a espi-ritualidade continua guiando e amparando todotrabalhador da Doutrina, buscando incentivar atodos a encontrar forças para persistir no trabalhoda Seara do Mestre. E, segundo, que o exemplo e avivência do Evangelho são fundamentais paraaqueles que se propõem a ensinar.

Reconhecendo o quanto é difícil estaempreitada, vem a lembrança dos Espíritos amigosalertando para o fato de que quem quiser educaralguém, precisa começar por si mesmo.

Referências:1. Dicio, Dicionário Online de Português,Disponível em: < https://www.dicio.com.br >.2. Allan Kardec, O livro dos espíritos. Introdução,item XIII.3. Emmanuel, psicografado por Francisco CândidoXavier, Vinha de luz, FEB, Cap. 70.4. Allan Kardec. O evangelho segundo o espiritismo,cap. XVII item 4.5. Allan Kardec. Obras póstumas, Questões eProblemas.6. Emmanuel, psicografado por Francisco CândidoXavier. Fonte viva, FEB, cap. 18.7. Humberto de Campos, psicografado porFrancisco Cândido Xavier. Boa nova, FEB, cap. 21.8. Revista Reformador, abril de 2018.

* Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves é membro da 3aAssessoria, em Ribeirão Preto, do Departamento deEstudos Sistematizados da USE SP.

partirem do campo intelectual para chegarem aossentimentos e finalmente à ação.

Essa reflexão se faz muito importante noâmbito dos responsáveis por estudos nas CasasEspíritas. Ensinar implica provocar o seguintemovimento naquele que está aprendendo: estudar,sentir e agir. A consciência desse caminho porquem se propõe a ensinar impele a buscar, maisvivamente, seu próprio desenvolvimento. Poiscomo ensinar a fazer o bem, se não o faz? Comoensinar ser honesto, se é desonesto? Não se trata,porém, de desistir de ensinar, mas de reconhecerque há muito a fazer em prol da própria evolução.

A Doutrina Espírita coloca essa meta, comose lê nO evangelho segundo o espiritismo4: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformaçãomoral e pelos esforços que emprega para domarsuas inclinações más”. Kardec afirma ainda, emObras póstumas5: “Não será por meio de algumasfórmulas, expressas em palavras ou atos, queconseguirão [progredir], sim por efeito de umareforma séria e radical de suas imperfeições,modificando-se, despojando-se das paixões más,adquirindo dia a dia novas qualidades, ensinando atodos, pelo exemplo, a linha de proceder quelevara ́ solidariamente todos os homens a ̀ ventura,pela fraternidade, pela tolerância, pelo amor.”

Emmanuel, em Fonte Viva6, insiste: “Nãosomente ensino continuado, mas igualmente de-monstração ativa. Não só teoria excelente, mastambém prática santificante.”

Humberto de Campos, no livro Boa nova7:“as palavras dos ensinos somente são justasquando seladas com a plena demonstração dosvalores íntimos.”

Por fim, apresenta-se aqui fragmentos deuma interessante entrevista, realizada por inter-médio do Divaldo Franco, a Espíritos envolvidoscom a área de estudo do Espiritismo, entre eles:Bezerra de Menezes e Angel Aguarod (Espíritoque teve grande influência na constituição do

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“Todos nós ... deveremos esforçar-nos para divulgar a mensagem de libertação, vivendo-a integralmente”

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os últimos meses devido à pandemia,muitos de nós, dirigentes de órgãos, de departa-mentos, cientes do compromisso que temos comos trabalhadores ligados ao nosso núcleo deatuação, nos perguntamos qual a melhor maneirade continuarmos contribuindo na Seara de Jesus.

O Departamento da Família, assim comooutros departamentos, procura levar subsídios paraauxiliar neste momento de grandes desafios, comrespostas seguras encontradas na Doutrina Espí-rita!

Com o distanciamento social que se feznecessário, encontramos inúmeras situações, algu-mas com grandes conflitos familiares.

Muitas vezes os dirigentes são procuradospor suas equipes de trabalho, solicitando diretrizes,a fim de auxiliá-los no acolhimento dos quebuscam suas Casas, pois muitos continuam atuan-do mesmo que de forma virtual.

Acostumados à rotina e segurança que antesencontravam no trabalho presencial, repentina-mente, sem o contato com seus companheiros detrabalho, esquecem-se da importância do exercícioda fé e da sintonia mental equilibrada.

Vale lembrar que o trabalho dos amigosespirituais não cessa e cabe a nós, dirigentes, nestemomento, levar a luz da verdade impedindo que adúvida se instale.

Dentro dos hábitos que adquirimos emnossos trabalhos, o Evangelho Segundo o Espiritismo,se tornou nosso livro de cabeceira. Os Espíritosnos trazem profundas reflexões no que tange àfamília, em diversos capítulos que vale a penarelembrar:

No capítulo IV - Ninguém poderá ver oreino de Deus se não nascer de novo, no item 8: Oque é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espíritoé Espírito. Jesus estabelece aí uma distinção positivaentre o Espírito e o corpo. O que é nascido da car-ne é carne, indica claramente que só o corpo pro-cede do corpo e que o Espírito independe deste.

Dentro do entendimento de que cadamembro de uma família tem um passado, queremonta a diversas experiências, em reencarnaçõesonde muitos encontros e desencontros ocorreram,os traços de personalidade, com suaspeculiaridades, torna cada ser único, com DNApróprio, sentimentos e emoções que pertencem

NÂngela Bianco *

departamento dafamília

[email protected]

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O departamento da Família e seus desafios

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Elas são um valioso instrumento para onosso aprendizado, assim como uma formadinâmica de levarmos conhecimento às nossasequipes.

Nesse momento quando o nosso contatocom outros trabalhadores é quase exclusivamentevirtual, necessitamos superar nossas limitações.

Importante que os órgãos estimulem asCasas Espíritas na criação de um Departamentoque cuide dessa “abertura” tecnológica, ostrabalhadores devem ser treinados para poderematuar de forma assertiva nos trabalhos virtuais, quevieram para ficar.

Importante ressaltar que essas atividades,não substituirão todos os trabalhos presenciais esim serão uma complementação, que muito iráauxiliar no fortalecimento da Casa e do traba-lhador.

Cabe a nós do Departamento da Família,sugerirmos assuntos para essas atividades, quepossam alicerçar os trabalhadores em seuconhecimento, pois sabemos que na convivênciafamiliar que se tornou intensa durante a fase dedistanciamento social, muitas famílias enfrentamgrandes dificuldades e são elas que irão procurarauxilio para suas dores e as Casas deverão estarpreparadas para recebe-los.

O Departamento da Família, dentro dadiretriz de levar ao trabalhador a necessidade deEntender para Acolher, está sempre à disposiçãodos órgãos para através da união e da dedicação notrabalho no Bem, contribuir para um mundotransformado no amor e na paz!

* Ângela Bianco é Diretora do Departamento da Famíliada USE.

apenas a ele.E no item 18 do mesmo capítulo: A

reencarnação fortalece os laços de família, ao passo que aunicidade da existência os rompe.

Essa reflexão nos permite levar àqueles quebuscam a Doutrina, o entendimento do porquêdas diferenças existentes entre pessoas de umamesma família, sentimentos diferentes entre um ououtro irmão, a afinidade encontrada tantas vezesem um ou outro progenitor.

Entendemos que, dentro da fé raciocinada oser desperta, se fortalece conseguindo superar osdesafios que estão à sua frente, a seu lado, no seiode sua família. Aquela criança que o desafia, é umEspírito com histórias de amor e de dor, mesmoque na amnesia temporária da atual reencarnaçãopareça um ser que apenas inicia a sua trajetóriadentro da eternidade!

O cônjuge difícil, talvez seja o ser queabandonamos em vidas passadas, ainda na imaturi-dade espiritual que atravessamos e que ainda estáinserida em nós.

Aquele irmão amoroso, pode ser ocompanheiro de jornada há muitas vidas.

Como também no capitulo XIV – Honraivosso pai e vossa mãe, encontramos material queauxiliarão a entender as responsabilidades assumi-das com aqueles que hoje fazem parte da mesmajornada.

Com esses conceitos, conseguiremos ca-pacitar os trabalhadores a desenvolverem palestras,que poderão ser divulgadas de forma virtual, comotambém argumentos para serem usados nosatendimentos fraternos a distância, estruturadosem nossas regiões.

Assim na segurança das diretrizes karde-quianas, embasados nos ensinamentos de Jesus,teremos segurança para fornecer material àquelesque continuam no acolhimento necessário, notrabalho libertador da Doutrina Espírita, uminstrumento extremamente importante ao ho-mem, em constante busca de sua ascensão.

Para continuarmos o nosso trabalho dentrodo Departamento da Família durante o distancia-mento social, temos que aprender a utilizar atecnologia para realizar as transmissões online, asreuniões virtuais, importante instrumento da atua-lidade.

Por esse meio temos também muitasoportunidades de ampliar nossos conhecimentosatravés das inúmeras palestras, reuniões e lives quese encontram nas redes sociais.

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o Fórum Paulista de Evangelizadores de2018, representantes dos departamentos deinfância de todo o estado identificaram umanecessidade comum: trabalhar para fortalecer ocomprometimento dos trabalhadores da infânciacom a tarefa da evangelização espírita, a fim deprevenir a evasão dos mesmos. Não basta formarnovos evangelizadores respondendo à questão do“como” evangelizar, mas também alimentarconstantemente a resposta ao “por quê”realizamos essa tarefa, renovando a chama dopropósito que sustenta o trabalhador nosmomentos mais desafiadores de sua trajetória.

Tendo esse objetivo em mente, a equipe doDepartamento de Infância da USE São Paulo criouo Projeto Despertar, ofertando ao MovimentoEspírita um bloco de reuniões que visa atuar nodespertar dos evangelizadores para o sentidoespiritual da tarefa. Acreditamos que o materialpode servir de inspiração aos demais órgãos paraque eles próprios desenvolvam encontrosdoutrinários com propósitos semelhantes.

Em nossa primeira reunião, que teve comotema “O plano divino e o Evangelizador Espírita”,

refletimos, com evangelizadores e dirigentesespíritas de todo o Brasil, sobre o profundosignificado do Reino de Deus e como conquistá-lo.Através de uma série de reflexões, constatamosque existe um Plano divino para a transformaçãoindividual e coletiva em nosso planeta, e que nós,evangelizadores, desempenhamos papel importan-tíssimo nesse processo porque trabalhamos pelaelevação moral dos Espíritos no momento maispropício ao aprendizado, a infância.

Nos propusemos a desvendar a alegoria doReino de Deus através do estudo da Parábola doFestim de Bodas, que carrega tantos ensinamentossobre a nossa relação com Deus, enquantoEspíritos Imortais, e sobre o caminho que noslevará ao Seu encontro. Por meio da féraciocinada, é possível compreender que o Reinodos Céus não é uma construção física, mas umaconstrução moral a ser realizada no interior decada Espírito, através da conquista das virtudes.

A parábola conta a história de um Rei que,querendo festejar o casamento de seu filho enviaseus servos para chamar os convidados. Estes,porém, recusaram o convite. Indiferentes aos

NEquipe do Departamento de Infância

departamento deinfância

infâ[email protected]

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Projeto DespertarO plano divino e o evangelizador

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chamados do Rei, eles trocam o casamento pelacasa de campo e pelos negócios e, se não bastasseessa afronta, matam os servos do Rei. O soberano,por sua vez, se enche de cólera, extermina-os, equeima as suas cidades. Em outro momento,durante a festa de casamento, ao reparar que umconvidado não se achava com as vestes adequadas,toma uma atitude aparentemente desproporcionallançando-o nas trevas exteriores com mãos e pésamarrados.

Como nos diz Kardec: “O incrédulo sorridesta parábola, que lhe parece de puerilingenuidade, por não compreender que se possaopor tantas dificuldades para assistir a uma festa e,ainda menos, que os convidados levem a resistên-cia a ponto de massacrarem os enviados do donoda casa” (Kardec, 2015, p. 240). É preciso ir alémdas aparências para captar as profundas liçõescontidas nesta parábola, passível de diferentesinterpretações. Optamos por realizar a sua leiturarecolhendo reflexões para o trabalhador dainfância.

Decifrando seus símbolos, compreendemosque o Rei representa Deus, o seu filho, Jesus, e anoiva, a humanidade. O casamento, nesse sentido,é o símbolo que expressa a união de Jesus com ahumanidade, não uma união física, mas umacomunhão espiritual, caracterizada pela unidade deaspirações e sentimentos, sendo o mais sublimedestes o amor, reunião de todas as virtudes.

A humanidade há de elevar-se, e nósestamos sendo convidados para participar dessafesta e compartilhar a alegria dessa união. Aomesmo tempo em que o evangelizador é convi-dado, ele também é servo que prepara o banquete e oferece as condições espirituais para que

tal comunhão um dia se realize plenamente. Nessafesta, o banquete que será servido é o do alimentoespiritual, pois nem só de pão vive o homem. Averdade que liberta, as lições que fortificam oEspírito em sua jornada, a palavra que ganha vidaem nossa vivência será ofertada em abundância:primeira, segunda e terceira revelações compõemos pratos principais.

Embora o convite fosse atrativo, osconvidados não viram da mesma forma, trocandoo banquete divino pela casa de campo, querepresenta o lazer, e os negócios. Atrativosmundanos, repouso excessivo e chamadosprofissionais muitas vezes podem nos distrair dochamado para participar da comunhão com oCristo, atuando na obra de implantação do Reinode Deus através da evangelização infantil. Se nãobastasse a recusa, matamos os servos, ou seja,minamos as lideranças espíritas com críticas ácidase ausência de apoio nas tarefas.

Por fim, destacamos o símbolo da túnicanupcial. Muito mais do que as vestes físicas, atúnica representa a roupagem da alma, asqualidades do coração que se expressam em nossocorpo perispiritual, sob a forma de luz e de beleza.“Não basta dizer-se Cristão, nem sentar-se à mesapara tomar parte no banquete celestial. É preciso,antes de tudo, estar revestido da túnica nupcial,isto é, ter a pureza de coração e praticar a Leisegundo o espírito” (Kardec, 2015 p. 241),traduzindo para o nosso contexto: não basta dizer-se evangelizador espírita, realizar a tarefa e par-ticipar de estudos se esse trabalho não éacompanhado por uma renovação interior pro-funda.

Ainda existem muitos aspectos a seremexploradas nessa parábola. Para os interessados,sugerimos a leitura integral dos itens um e dois docapítulo XVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo.Além disso, nossa equipe disponibilizou o primeiroencontro do Projeto Despertar e um estudocompleto da parábola do Festim de Bodas nocanal da USE no Youtube.

Referências:KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra.Brasília: FEB, 2015.

* Ana Luiza Boiago é diretora do Departamento deInfância da USE SP.

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uito ouvimos e lemos que fases iguais aque estamos passando nesta pandemia acontecempara que possamos evoluir mais rapidamente.Frase prontas como “sairemos melhores desta” ouque “tragédias acontecem para que possamos valo-rizar o que importa”, logo na sequência, sãoesquecidas quando as rotinas voltam ao seu co-mum. Sim, como seres ainda imperfeitos, estas ex-pressões servem como um fio de esperança e quealiás, são muito bem vindas.

Entretanto, acreditamos que também énecessário que estas situações nos façam refletirsobre o que fazemos e como estamos fazemos.Precisam nos trazer para a realidade, mesmosabendo que esta realidade é limitada a nossa visão,condicionada a nossa evolução.

Neste período em que os eventos pre-senciais foram impossibilitados, o departamento demediunidade da USE-SP, em conversa com diver-sos companheiros e no desenvolvimento de suastarefas, tem procurado obter informações e refletirsobre diversas opiniões sobre a prática mediúnicanesta fase.

Surgiram diversos questionamentos sobre a

prática mediúnica neste momento de fechamentodos Centros Espíritas. Estas dúvidas refletem nãosó o momento, mas de forma geral, a dificuldadede termos de forma clara e embasada doutrina-riamente o entendimento da prática mediúnica.Assim como tantas outras situações, a pandemiatambém nos fez pensar melhor sobre o que faze-mos, como fazemos e por que fazemos algumascoisas e, obviamente, com a mediunidade não po-deria ser diferente. A partir destas conversas,listamos algumas dificuldades que ainda vemos nonosso dia a dia:

a) Passe – Como viver sem? -Começamos por esta questão, pedindo licença esabendo que o departamento responsável pelotema é o AECE (Atendimento Espiritual noCentro Espírita). Um dilema (e até um sofrimento)de muitos tarefeiros e frequentadores é pensar queestão sem tomar passe no Centro Espírita. Muitosquestionamentos se levantaram em relação ao“passe a distância”, “ao passe direcionado”, “aassistência espiritual virtual” e até sobre o “passevirtual”.

MSilvio César Carnaúba da Costa *

departamento demediunidade

[email protected]

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Reflexões sobre a pandemia

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também que muitos médiuns ancoram suasnecessidades psicológicas na reunião mediúnica.Segue assim a necessidade do amadurecimento danossa visão do que se trata este momento tãoimportante no Centro Espírita. O contato com osEspíritos desencarnados no Centro Espírita é umaoportunidade de reflexão, aprendizado, auxílio eprática do bem, não sendo um momento deexacerbação das nossas frustrações ou ego, nosentido da auto afirmação.

e) A proteção do Centro Espírita e adiferença da prática em casa – Sim, podemosafirmar que o adequado é a prática mediúnica noCentro Espírita. Entretanto, sempre com odiscernimento que precisamos, antes disso,transformar o Centro Espírita neste lugar maisadequado! Isto é, não podemos achar que a CasaEspírita, só por sua construção e rótulo, seja maisequilibrada que qualquer outro lugar. A CasaEspírita, inicialmente, é uma construção como asoutras. O que a torna apta e preparada para arealização harmoniosa de suas atividades são ospensamentos, atitudes e fraternidade de seusparticipantes!

Estas 5 situações levantadas levam-nos ànecessidade de falar e discutir mais profundamentesobre o entendimento da prática mediúnica, damediunidade e do que é o Centro Espírita. Comotambém termos os cuidados necessários e nosafastarmos cada vez mais do misticismo e deentendimentos equivocados.

Que precisamos entender a necessidade dapreparação dos médiuns, dos monitores, doestudo, da troca de ideias e principalmente, que amediunidade visa, através do conhecimento, aprática do bem.

Vamos refletir: para que está servindo estesdias de pandemia?

“Fé inabalável só o é a que pode encarar, frente a frente, a razão, em todas as épocas da

Humanidade.”Allan Kardec

* Silvio César Carnaúba da Costa é Diretor do Departamento de Mediunidade da USE.

“... necessidade de falar e discutir mais profundamente sobre o entendimento da prática mediúnica.”

Situações como esta mostram ainda queprecisamos estudar e refletir muito sobre o que é aprece, o passe, a água fluidificada, assistênciaespiritual e sobre a irradiação ou vibração. Será queestamos estudando de forma correta e informandoaos frequentadores do que realmente se tratamestes processos?

b) Médiuns ostensivos sem prática -Ouve-se muito que a saúde dos médiunsostensivos poderia ficar comprometida se estesnão trabalharem mediunicamente, pois por possuí-rem “muita energia” e não darem vazão a ela (oque ocorreria geralmente nas reuniões de desob-sessão), poderiam ter sua saúde comprometida econsequentemente, até sua condição espiritual, nosentido das obsessões.

Isto nos chama atenção sobre a necessidadedo estudo e desmistificação do entendimento doque são energias e da possibilidade mediúnica. Nãoobstante, termos o devido cuidado de nãocunharmos o rótulo de “mediunidade sofredora”,pois poderemos nesta condicional estar propondoque “se o médium não trabalha, ele adoece”.

c) Como os Espíritos desencarnadosconseguiriam ajuda – obviamente, o trabalho doplano Espiritual no atendimento dos desencar-nados é superior ao nosso entendimento e asnossas possibilidades. Supor que os irmãos desen-carnados em necessidade não conseguiriam ajudapela impossibilidade atual dos encarnados, podesoar até como uma “arrogância” da nossa parte.Assim como, os encarnados também, que passampor dificuldades, serão devidamente amparados,pois caso contrário, qual o bom senso dos espíritosBenfeitores desencarnados?

d) O apego dos médiuns em relação aocontato na reunião mediúnica – assim comomuitos se colocam dependentes do passe, sabemos

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uitas instituições espíritas, no cumpri-mento do Estatuto da entidade, necessitam realizarAssembleias Gerais Ordinárias para aprovação decontas do ano ou de eleições da Diretoria Execu-tiva e do Conselho Fiscal para nova gestão, ouainda, Assembleia Geral Extraordinária para a alte-ração Estatutária, nesse período que as instituiçõesespíritas encontram-se temporariamente fechadas,em virtude do isolamento social por Covid 19.

A Lei nº 14.010, de 10 de junho de 2020,dispõe sobre o regime jurídico emergencial e tran-sitório das relações jurídicas de Direito Privado noperíodo da pandemia do Coronavírus (Covid 19).

No seu artigo 5º, da Lei acima, diz que aassembleia geral, inclusive para os fins do art. 59do Código Civil - destituição de administradores ealteração estatutária, até o dia 30 de outubro de2020 poderá ser realizada por meios eletrônicos,independentemente de previsão nos atos constitu-tivos da pessoa jurídica.

A manifestação dos participantes poderáocorrer por qualquer meio eletrônico indicadopelo administrador, que assegure a identificação doparticipante e a segurança do voto, e produzirá

todos os efeitos legais de uma assinaturapresencial.

As atas das Assembleias Gerais de eleiçõesda Diretoria Executiva e dos membros doConselho Fiscal ou de aprovação anual de contas,devem ser averbadas no Registro de Títulos eDocumentos onde tiver sido registrado os atosconstitutivos da instituição. São necessários osseguintes documentos:

a. Requerimento, assinado pelo representante:b. Edital de convocação conforme determinar

o estatuto;c. Ata da assembleia em duas vias, devidamente

assinada e vistada pelo presidente e secretário dareunião;

d. Se a assembleia for de alteração de estatuto,apresentá-lo com a nova redação em duas vias,devidamente assinado e vistado pelo presidente eadvogado;

e. Lista de presença da assembleia, contendonomes, assinaturas e cabeçalho completo: nome daentidade, data, local, hora e chamada.

MJulia Nezu *

departamentojurídico-administrativo

[email protected]

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Assembleias de Centros Espíritas na pandemia

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Enquanto durar o isolamento social e asrestrições, independentemente do que dispuser oEstatuto, as Assembleias podem ser realizadas pormeio virtual, uma vez que a Lei acima referida, denº 14.010, de 10/6/2020, permitiu realizá-las pormeios eletrônicos. Para a averbação das Assem-bleias assim realizadas, seria oportuno entrar emcontato com o Registro de Títulos e Documentos(RTD) e lhes perguntar qual o procedimentoadotado, pois, é sabido que há diferença no modusoperandi de um cartório para outro, mas todosdevem aceitar a averbação das atas das Assem-bleias Gerais realizadas por meio eletrônico.

Alguns centros espíritas fizeram suaseleições por meio eletrônico e o RTD aceitou aconvocação com pauta por e-mail enviado noprazo legal e pediu comprovantes de recebimentodo e-mail de alguns associados (pedir para algunsassociados responderem o e-mail de convocaçãoinformando que a recebeu), devendo na convo-cação constar o meio eletrônico utilizado. A listade presença foi substituída por registro do nomecompleto no chat (bate papo), a ata com a assinaturado Presidente e o termo de posse com a quali-ficação dos eleitos aos cargos de Diretoria executi-va e do Conselho Fiscal, apenas com a assinaturado Presidente.

Conforme o Código Civil Brasileiro, noartigo 44, as instituições espíritas (centros espíritas)são pessoas jurídicas de direito privado na formajurídica de associações ou organizações religiosas,

sem fins econômicos, dependendo das atividadesque exercem.

Até a inclusão de organizações religiosas(Lei 10.825, de 22/12/2003) no item IV do art. 44,do atual Código Civil, os centros espíritas tinham aforma jurídica de Associações. Com essa inclusão,muitos centros espíritas alteraram seus Estatutos emudaram para Organização Religiosa, o que foiuma medida acertada, desde que tivessem somentepalestras, assistência espiritual e ensino da Dou-trina Espírita, de adultos ou infantojuvenis. Paraessas, são livres a criação, organização, a estrutura-ção interna e o funcionamento, sendo vedado aopoder público negar-lhes reconhecimento ouregistro dos atos constitutivos e necessários ao seufuncionamento. Conforme Constituição Federalvigente, possuem imunidade de impostos. Asinstituições espíritas que não se enquadram nosrequisitos de Organização Religiosa estão na formajurídica de Associações e são disciplinadas noCódigo Civil, nos artigos de nº 53 a 61.

Na atualidade, o entendimento da maioriados RTD e das Corregedorias da Justiça é que aspessoas jurídicas que, ao lado das atividadesreligiosas, dedicam-se, sem fins econômicos, àprestação de serviços de assistência social,educacionais, culturais, recreativos, esportivos,entre outros, não se encaixam, como OrganizaçãoReligiosa e sim ao regime jurídico de Associações.

* Julia Nezu é diretora do Departamento Jurídico-Administrativo da USE.

UNIÃO SOCIAL ESPÍRITA____

A N A I SDO

1º CONGRESSO ESPÍRITADO

ESTADO DE SÃO PAULO

REALIZADO NA CAPITAL NOS DIAS1 A 5 DE JUNHO DO ANO DE 1947

SÃO PAULO

Anais do 1º Congresso Estadual

A Diretoria Executiva elaborou nova ediçãodos Anais do 1* Congresso Espírita do Estadode São Paulo, realizado de 1 a 5 de junho de1947.

Os preparativos, as reuniões preliminares, orecenseamento, a situação da época, osprotagonistas, as notícias dos jornais, adivulgação do evento e as reuniões doCongresso, e suas decisões, estão apresentadasnos Anais por aqueles que ajudaram a construireste marco para o movimento espírita paulista.

Conheça nossa história e valorize a atuaçãodos dirigentes e trabalhadores do difícilerguimento da USE SP.

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rinta anos de publicações do DirigenteEspírita se passaram e, tomados pela curiosidade,nos perguntamos: o que será que os jovens daépoca publicaram na edição número um desteinformativo, lá nos anos 90?

Abrimos e reviramos, então, o baú dasedições antigas. Eis o que encontramos: adivulgação de um encontro de dirigentes democidade no Campus Universitário de PresidentePrudente. Além de mencionar o tema a ser debati-do (“Mocidade Espírita – uma questão pessoal esocial”), a nota explicava que “as inscriçõescontinuam abertas à taxa de apenas Cr$ 500,00,com alimentação por conta dos organizadores,devendo os inscritos levar apenas roupa de cama”.Por fim, lembrava que seriam aceitos somente doisjovens por mocidade.

Por vezes, são esses saltos inesperados notempo os responsáveis por nos lembrar que asações do Departamento de Mocidade da USE jáfuncionaram de maneira bem diferente da atual.Os frequentadores atuais dos grupos de jovenstalvez nem imaginam que, além da nossa moeda játer sido chamada de cruzeiro ou cruzado (só paracitar dois nomes), as inscrições dos eventos de

décadas atrás era feita em formulários de papel,enviados pelo correio, e causavam alvoroço nasmocidades, considerando-se que o número deformulários disponível por mocidade era bastantereduzido – ou seja, eram muito disputados entre osinteressados.

Hoje, formulários eletrônicos substituem osantigos; divertidas postagens nas redes sociais comimagens e vídeos substituem a divulgação doseventos feita no passado somente por cartas ecartazes; aplicativos em celulares, tablets e laptopsfacilitam a confecção e utilização do material deestudo dos participantes, que anteriormenteconsultavam os próprios livros das obras estudadasou cópias de xérox – quem sabe não utilizavamtambém as cópias mimeografadas? Se há algo quenão mudou e que continuamos a observar narealização desses encontros e tantas outras ativi-dades, e aqui incluímos as lives e reuniões onlineestimuladas pelo isolamento da pandemia, é ocaracterístico entusiasmo dos jovens, acompa-nhado pela criatividade, inovação e trabalho emequipe.

Se por um lado muitas ações transfor-maram-se e foram se adaptando às novas rea-

TPaulo Ricardo Bueno *

departamento democidade

[email protected]

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Desafios superados e desafios do presente

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participantes e dirigentes, etc.) e a forma comointeragem com a instituição que os acolhem. Osdados servirão de base para o planejamento deações que visam justamente estimular a interaçãodos departamentos dos centros entre si, promovero protagonismo juvenil e colaborar com omovimento de unificação.

Esperamos que os adeptos do espiritismopossam viver uma nova realidade, e que os atuaisdesafios do auxílio mútuo sejam superados. Tãobem superados a ponto dos futuros leitores doDirigente Espírita, daqui 20 ou 30 anos, malsaberem que eles existiram. Poderão serdescobertos em um eventual artigo contandonossa história, mas nos sentiremos vitoriosos porsaber que são desafios do passado.

* Paulo Ricardo Bueno é secretário de integração doDepartamento de Mocidade da USE SP.

lidades tecnológicas e sociais, por outro, certosdesafios continuam atravessando o tempo e insti-gando lideranças espíritas. Por exemplo, podemosdestacar o isolamento ou a distância entre o grupode jovens e os demais departamentos do centroespírita. Embora não seja uma realidade gene-ralizada, ainda é possível observar em muitaslocalidades a falta de diálogo, objetivos difusos e odesinteresse entre as partes, dificultando umalcance maior das ações e dos projetos desenvol-vidos pelo movimento espírita brasileiro. Seria essaa realidade da sua casa, leitor?

Está sendo desenvolvida pela Mocidade, emparceria com outros departamentos da USE-SP, oprojeto “O Jovem e a Casa Espírita”, que possuiem suas etapas uma pesquisa junto às casasespíritas paulistas. O questionário vai traçar umdiagnóstico dos grupos de jovens existentes(estrutura, metodologias de estudo, perfil dos

Programa

Momento Espírita

Aos domingos, 12 hRádio Boa Nova AM

1450 kHz – Guarulhos1080 kHz – Sorocabaradioboanova.com.braplicaRvo no celularProgramas gravados e disponibilizados

no site da USE (usesp.org.br/momentoespirita)

desde 1972 falando deDoutrina e Movimento Espírita

com você !

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m tema que deveria estar na pauta dasinstituições espíritas e que talvez ainda não seja umponto de atenção pelos seus dirigentes e responsá-veis, é a Lei Geral de Proteção de dados (LGPD).

Procuraremos explorar nesse artigo o quetrata essa nova lei e qual é a implicação dela para ocentro espírita. A Lei nº 13.709/18, denominadaLei Geral de Proteção de Dados (LGPD), é umalei que determina as normas de uso earmazenamento de dados. Essa lei protege aspessoas em geral em relação ao mau uso de suasinformações armazenadas e faz com que asempresas e tantas outras entidades legais, como ocentro espírita, adotem práticas mais transparentesno armazenamento e uso de tais dados.

Vejamos o que diz a Lei a partir do primeiroartigo:

“ Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento dedados pessoais, inclusive nos meios digitais, porpessoa natural ou por pessoa jurídica de direitopúblico ou privado, com o objetivo de proteger osdireitos fundamentais de liberdade e de pri-vacidade e o livre desenvolvimento da personali-dade da pessoa natural.”

Avaliando a lei de uma maneira simples,dentro das nossas limitações do juridiquês, temosalgumas anotações básicas. Primeiro, a lei querproteger a “pessoa natural”, que seria a pessoafísica, uma pessoa comum qualquer. A lei regula aforma como se tratam os dados dessa pessoanatural. Essa pessoa tem direito a privacidade,liberdade de expressão, de opinião, decomunicação, de que a sua intimidade não sejaviolada, entre outras coisas. O que é bom.

Importante frisar que os dados que manti-vermos sobre empresas ou centros espíritas, ouqualquer outra entidade legal, não estarão dentrodo âmbito dessa lei. Em outras palavras, a lei nãoregula o tratamento de dados das pessoas jurídicas.

O nosso desafio ao escrever essa matériaestá em avaliar a aplicação dessa lei no universodo Centro Espírita, que é uma pessoa jurídica dedireito privado.

Toda vez que houver um cadastro dealguma pessoa dentro do Centro Espírita, seja parauma tratativa administrativa, doutrinária, oumesmo econômica, a instituição deverá tomaralgumas medidas e adotar procedimentos específi-

U

departamento detecnologia de informação

[email protected]

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Walteno Santos Bento da Silva *

e o centro espı́rita

A

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§ Levantamento - Fazer um levantamento dosdados pessoais existentes no centro espírita eas atividades de processamento desses dados.Em outras palavras, identificar onde seencontram os arquivos de pessoas e quais sãoas situações em que se capturam e atualizamas informações. Esse momento deverá serum dos que exigirá maiores esforços,sugerimos que se tome nota em uma planilhacom as informações : nome daatividade/processo, como os dados sãocoletados, qual o destino/utilização dosdados, tempo de armazenagem, formato dearmazenagem, quem tem acesso, quem é oresponsável. Certamente essa estrutura deplanilha pode ser ampliada, mas com ela já seconseguirá responder as principais perguntasnum caso de auditoria/perícia.

§ Definição do encarregado de dados- Definiruma pessoa para a função de encarregado dedados, conforme escrito na lei. Essa pessoaterá dentre outras funções a de mediar acomunicação com a ANPD (AgênciaNacional de Proteção de Dados) quandonecessário. Mas dentro da organização será apessoa responsável por administrar o fluxo dedados, orientar os funcionários e fiscalizar aspráticas da organização. Outros atoresexistem dentro desse novo contexto, entreeles o Controlador e o Operador. Mas estesseriam o representante legal ( ou mais de um),e também as pessoas que operam sobre osdados, realizam suas atividades conformecomando do controlador.

Procuramos aqui apresentar uma visão geral da leino contexto das instituições espíritas, e, na nossafunção de órgão de unificação do movimentoespírita do estado de São Paulo, desejamos apoiarnossos companheiros para a adequação de suasatividades pela forma da lei. Receberemos commuito alegria toda contribuição de entendimento eaplicação da lei para podermos divulgar entre ascasas espíritas. Dai a Cesar o que é de Cesar, assimdisse Jesus.

* Walteno Bento da Silva é Diretor do Departamento deTecnologia de Informação e 3º Secretário da DE da USE.

específicos para manter esse cadastro de formasegura e dentro do que pede a lei.

Outra informação digna de nota é que alei não abrange somente os meios digitais. Eladiz: inclusive nos meios digitais, o que significa quequalquer anotação que um Centro Espírita fizersobre uma pessoa, e que possa fazer com que amesma seja identificada, deverá ser tratada pelostermos dessa lei. Por exemplo, se alguémpreencher um formulário, de forma manualmesmo, contendo o nome de uma pessoa e outrosdados como endereço, CPF, etc... espera-se queesse formulário seja bem controlado e cumpra umasérie de orientações.

Podemos então abrir nossa mente paraencontrar muitas situações onde dados de pessoas,os frequentadores da casa espírita, estejam sendomanuseados pelos trabalhadores desta. Desde aficha de cadastro das pessoas que recebem cestasde alimentos ou outras ajudas, como tambémfichas de inscrições em cursos, eventos ou mesmocadastros de contribuintes.

Quando essa lei entrar em vigor, espera-seque ela traga um impacto inicial considerável emface do esforço para se adequar às práticasrequeridas e aos novos procedimentos que deverãoser implantados. A referida lei pode entrar emvigor ainda neste ano de 2020.

Algumas recomendações preliminares paraque o centro espírita se prepare para as mudanças:

§Realizar reunião específica para tratar o temacom o comitê diretor da instituição e tambémos seus coordenadores de atividades e depar-tamentos.

§ Sensibilização - Sensibilizar os seus membrossobre a implicação do mesmo. Por exemplo, ainstituição que infringir a lei poderá receberuma multa de até 2% do faturamento daentidade. Sinceramente não sabemos comoum juiz avaliaria o caso de um centro espírita,mas podemos sugerir que, se houver umasituação de aplicação de multa, então o valorda receita da casa espírita seria o ponto departida para esse cálculo. Isso sem consideraro prejuízo de imagem para a entidade queestiver envolvida num escândalo onde umainstituição espírita desrespeitou a privacidadede alguém, o que certamente estará no focoda mídia tendo em vista a novidade da lei.

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USE Intermunicipal de São José do RioPreto foi fundada no ano de 1946, com o nome deUME. Em 27 de dezembro de 1991, o nome UMEfoi substituído por UNIME, o qual foi utilizadoaté 20 de julho de 1996, quando em assembleiageral, o nome passou para o atual (USE Intermu-nicipal de São José do Rio Preto) e tem sob seuguarda-chuvas de atuação, mais de 120 instituiçõesespíritas espalhadas por 35 cidades.

Nossa USE Intermunicipal mantém umasede própria para realização de reuniões,assembleias, eventos doutrinários e para eventosbeneficentes às instituições unidas à nossafederativa.

Para divulgação do Espiritismo, a USEIntermunicipal também mantém uma LivrariaEspírita em São José do Rio Preto, em um dosmais importantes pontos comerciais da cidade, ochamado Calçadão, no centro da cidade.

Dentre as principais atividades de nossaIntermunicipal, apresentamos o empenho ativo devários departamentos, nos quais destacamos:

Departamento de Evangelização /Infância: com programa constante de monitoriapara evangelizadores on-line e off-line, auxiliandoinclusive instituições de fora do país a implantareme a manterem as atividades de evangelização.

Departamento de Artes: com o programaMCE – Movimento Coral Espírita, que une várioscorais das mais diversas casas espíritas, onde pormeio de encontros periódicos na sede da USE emateriais audiovisuais disponibilizados na internet,os corais têm treinamento técnico especializado(para serem utilizados nas suas atividades), além dese unirem e prepararem repertórios em conjuntopara apresentações especiais, onde todos setornam um só coro de muitas vozes.

Departamento da Área de Estudos: alémde promoverem e auxiliarem a implantação dediversos estudos nas casas espíritas, odepartamento reúne bimestralmente, váriosconfrades espíritas para um estudo continuado, na

AAntonio Batista Pinheiro Junior *

A USE Intermunicipal deSão José do Rio Preto

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Departamento de Mocidades: comgrande atividade regional, o departamento atuafirmemente no auxílio das mocidades espíritas,orientando implantação e manutenção dos estudose atividades, além de promover encontros, cursos edemais atividades doutrinárias, inclusive sendobastante atuante no movimento estadual.

Além dessas atividades dos Departamentos,gostaríamos de citar o curso de Libras (linguagemde sinais para surdos), realizado mensalmente emnossa sede, para as mais variadas pessoas dacomunidade e que por agora, por conta dapandemia, deve ocorrer online via canais de nossaIntermunicipal.

Outra contribuição de grande importânciaem nossa região, oferecida pela USE Intermu-nicipal de São José do Rio Preto é o “Programa deExpositores”, que agenda mais de 1.600 palestraspor ano para as casas espíritas cadastradas noprograma, envolvendo cerca de 115 expositores.

Compartilhamos ainda que, sempre emesforço conjunto, unindo diversos departamentose trabalhadores de diversas casas espíritas,realizamos anualmente vários eventos, ondedestacamos: “Domingo do Pastel”, evento que reúnepessoas para momentos de confraternização emuito sabor; “Espaço Food da União”, congregandotrabalhos artesanais e guloseimas de diversasinstituições num espaço descontraído e cheio de

sede da Intermunicipal, auxiliandodirigentes e responsáveis por estu-dos quanto às técnicas e conteúdo.

Departamento de Livro:responsável pela realização anual datradicional Feira do Livro Espíritade São José do Rio Preto e Região,durante 10 dias, num dos maisimportantes centros de compras denossa região, o Riopreto Shopping,além de dar todo o suporte para aLivraria Espírita da USE.

Departamento de Orienta-ção Doutrinária: com eventosconstantes, tem promovido cursospara expositores espíritas, mesasredondas, seminários entre outrasatividades doutrinárias, dandosempre o suporte necessário àscasas espíritas.

Departamento de Comunicação:trabalhando fortemente na divulgação dos eventosde nossa Intermunicipal e nas ações promovidaspelas instituições espíritas, atua constantementenos canais sociais, oferecendo informação a todos,seja via Instagram, Facebook, Youtube ou grupos deWhatsapp. Inclusive, com esta triste pandemia queabrange nosso planeta, tem oferecido palestrasdiárias ao vivo, em horário previamente definido ealém de outras atividades, também ao vivo, paraque todos possam continuar conectados com adoutrina.

“... sempre em esforço conjunto, unindodiversos departamentos e trabalhadores de diversas casas espíritas, realizamos anualmente vários eventos ...”

Livraria Espírita de São José do Rio Preto, em praça pública

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cultura e arte; além do nosso tradicional “Arraiá”,que também reúne grande público, com barracasde comidas típicas e artesanato das instituiçõesespíritas, música e muita alegria, tudo realizado nasdependências de nossa sede.

Num trabalho grande, envolvendo diretoriaexecutiva e alguns departamentos, nossaintermunicipal colocou recentemente à disposiçãode nossas instituições espíritas, os recursos doGoogle for Education. Plataforma completa (que temum custo elevado para as empresas que a utiliza),oferecida gratuitamente às instituições cadastradas.Dentre os vários benefícios, destacamos e-mailpersonalizado, ferramenta de construção de sites,domínio gratuito, espaço de armazenamentoilimitado em nuvem, agenda compartilhada,transmissões e canal personalizado no Youtube,salas de reuniões online e muitas outrasferramentas, sem custos algum para nossas unidas.

Este é um pouco da nossa USEIntermunicipal de São José do Rio Preto. Tra-balho realizado com integração de nossa DiretoriaExecutiva e Departamentos, sempre com foco emenvolver as casas espíritas, além de oferecersuporte e estrutura, das mais várias formas.Sabemos que trabalho e necessidade não nosfaltam, pois sempre podemos fazer mais e melhor.Então busquemos aproveitar as oportunidades deservir da melhor forma possível, somando forças,unindo as casas espíritas de nossa região efortalecendo a doutrina.

Palestra na sede daUSE Intermunicipal de São José do Rio Preto

José Antônio Luiz Balieiro em reunião na sede da USE Intermunicipal de São José do Rio Preto

Nota da redação:A USE Intermunicipal de São José do Rio Preto éconstituída de 37 cidades, além da cidade sede, deAdolfo, Altair, Américo de Campos, Bady Bassitt,Bálsamo, Cedral, Cosmorama, Guapiaçu, Guaraci,Ibirá, Icém, Ipiguá, Jaci, José Bonifácio, Magda,Mendonça, Mirassol, Mirassolândia, MonteAprazível, Neves Paulista, Nipoã, Nova Aliança,Nova Granada, Olímpia, Onda Verde, Orindiúva,Palestina, Paulo de Faria, Pontes Gestal,Potirendaba, Sebastianópolis do Sul, Severínia,Tanabi, Ubarana, Uchoa e União Paulista.

* Antonio Batista Pinheiro Junior é presidente da USEIntermunicipal de São José do Rio Preto.

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CRSul realizou reuniões virtuais em julho

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Da Redação

MovimentoVocê e a pazCom o objetivo de divulgar a convivênciapacífica entre as pessoas, a cidade de Amparo(SP) realizou o Movimento Você a Paz em suaoitava edição, evento online com transmissão aovivo, no último dia 30 de agosto, das 19 às20h30, com participações de Divaldo PereiraFranco, do Pastor José Lima, presidente daAssembleia de Deus Ministério do Belém deAmparo, do bispo Dom José Gonzaga Fechio,de Amparo.

Idealizado por Divaldo, o evento, sem caráterreligioso ou político, já foi promovido em maisde 75 cidades ao redor do mundo.

A 8ª edição, neste ano, em função dos novosprotocolos decorrentes do momento atual, foirealizada somente no formato virtual.

O evento proporcionou aos participantesreflexão sobre a importância de uma vivênciapacífica, evidenciando que somente juntos, emunião e solidariedade, é possível construirmosum mundo de paz e amor.

Os presidentes das federativas da Comissão Regio-nal Sul do Conselho Federativo Nacional, formadapelos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Riode Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina eSão Paulo, estiveram reunidos com a presidênciada Federação Espírita Brasileira para cumprir ex-tensa pauta de assuntos, em reuniões ordinárias,em julho, agora no formato virtual.

Os assuntos foram definidos quando dareunião ordinária do CFN, em 2019. Buscando odesenvolvimento de construção de forma coletivaas federativas analisaram os seguintes temas:

Pacto ÁureoCom apresentações de propostas da Fergs e

da USE SP, houve consenso e decisão quanto aencaminhar o assunto para a pauta da reuniãodeste ano do CFN. A USE apresentou e fez a lei-tura de documento aprovado pelo Conselho Deli-

berativo Estadual, em sua última reunião.Orientação ao Centro EspíritaInicialmente previsto para pauta, pela sua

extensão foram ainda realizados quatro outrosencontros, ainda em julho, para análise e consoli-dação do documento pela Comissão Regional Sul.

Outros temasPreservação da memória histórica; estra-

tégias de implantação do documento sobre o livroespírita e a sustentabilidade do movimento espírita;ações editoriais conjuntas entre federativas;estratégias para implantação nos estados e troca deexperiências na CRSul sobre programa deformação de lideranças; avaliação permanente dascoordenações nacionais e regionais de área doCFN; a evasão de jovens das casas espíritas;projeto “Aborto, amor e educação” e participaçãoem sociedade e influência sobre a ordem social.

Painel Espírita Nacional

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Da Redação

Durante o mês de julho, o Departamento deInfância (DI) realizou tarefas doutrinárias, com oseminário sob o nome “Despertar”, além dereuniões regulares com os representantes dosórgãos de Infância do Estado, com a finalidade deorganizar ações em conjunto e aumentar a repre-sentatividade e a unificação.

O projeto “Despertar” foi a continuação dosseminários “A Semeadura Prossegue”, que por suavez tinha um intuito de estimular o prosse-guimento das tarefas da evangelização, durante operíodo de pandemia.

Os seminários foram realizados através daplataforma Google Meet e Youtube, o primeiromódulo O Plano divino e o trabalhador espírita ocorreudia 03 de julho. O segundo módulo Auto-conhecimento: o Roteiro para a Felicidade foi realizadono dia 24 de julho. Ambos os seminários estãodisponíveis no canal da USE no Youtube. Con-tamos com a presença de mais de 700 com-panheiros ao vivo durante as duas transmissões.

O projeto “Despertar” conta com 6 lives sendoque as próximas acontecem nos dias 4 e 25 desetembro e no dia 16 de outubro. No dia 4 desetembro, será a vez do tema Paulo de Tarso, exemplode evangelizador.

O Departamento de Infância (DI) deu início àsReuniões Regulares (mensais), no dia 26 de julho,com a participação de 21 pessoas de 8 órgãos.Nestas reuniões, as ações do departamento serãorealizadas e planejadas em equipe com os repre-sentantes do DI do Estado, estimulando aunificação através de maior engajamento erepresentatividade.

Nestas Reuniões Regulares estão sendorealizados três projetos, o “Projeto São Paulo”,que visa coletar informações sobre os represen-tantes de infância do estado, formando uma redede contato. Também em desenvolvimento osprojetos “Capacitação Inicial de Evangelizadores”e “Inclusão na Evangelização”, com participantesdo estado para a construção desses caminhos.

Infância desenvolve ações com evangelizadores

Com base em texto da Revista Espírita, dedezembro de 1868, em que Kardec consideradaque “um ponto essencial na economia de todaadministração previdente é que sua existência não repousasobre produtos eventuais, que podem faltar, mas sobrerecursos fixos, regulares, de maneira que sua marcha,aconteça o que acontecer, não possa ser entravada” e asituação com os centros espíritas fechados, a USEapresentou, em treinamento no último dia 22 deagosto, ferramenta digital para arrecadação derecursos financeiros.

A ferramenta permite que, mesmo durante aausência dos associados do Centro Espírita, ascontribuições mensais sejam feitas, o que permite àinstituição a continuidade do recebimento dereceitas para pagamentos de sua manutenção.

As informações podem ser obtidas no site daUSE SP (usesp.org.br), incluindo o vídeo dotreinamento.

USE apresenta ferramenta e treinamento para centros espíritas

Painel Espírita Estadual

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Da RedaçãoPainel Espírita Estadual

Circuito das Águas realiza Roda de ConversaA 1ª Vice-Presidente da DE daUSE, Rosana Amado Gaspar,participou, no dia 2 de julho, deroda de conversa realizada pelaUSE Intermunicipal do Circuitodas Águas, com o tema Conhe-cendo o movimento espírita através daUSE.

Com moderação de AndréaLaporte, contou, ainda, com asparticipações de Marco Milani,presidente da USE Regional deCampinas e Caio Mello, presi-dente da USE Intermunicipal doCircuito das Águas.

O primeiro evento realizadopela USE Intermunicipal doCircuito das Águas sobre ahistória do movimento espírita,entrevistando dirigentes e repre-sentantes de centros e de órgãosde unificação da região, acon-teceu no mês de junho.

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No portal da Feal (feal.com.br), para os centros espíritasinteressados e parceiros, fica à disposição a plataforma paraagendamento dos atendimentos fraternos que serão deresponsabilidade dos trabalhadores da instituição. Para a utilização doacervo a ser disponibilizado, as pessoas cadastradas, também peloportal, podem participar das escolhas dos áudios, vídeos e artigos.

Feal lança campanha de conteúdos a centros espíritasOs cursos e palestras são umaforma de manter o público e ocentro conectados, daí a impor-tância de ter um bom conteúdopara criar interesse. Pensando emcolaborar com os estudos daDoutrina Espírita, a Feal vaicompartilhar sua experiência demais de 30 anos na área dacomunicação espírita, com aRádio Boa Nova e TV MundoMaior com os dirigentes, exposi-tores e trabalhadores das CasasEspíritas, oferecendo conteúdosselecionados por estudiosos doespiritismo, a partir de amploacervo espírita que conta cominúmeros vídeos, áudios e artigosdos mais diversos temas.

C.A.S.O. – A FundaçãoEspírita André Luiz tmbém estádisponibilizando aos centrosespíritas interessados, plataformapara agendamento deatendimento fraterno, chamadoC.A.S.O. (Centro de Atendimen-to Solidário Online).

“Nós da Feal junto a centrosespíritas parceiros estamosdispostos a ofertar a você umatendimento solidário a distância,de forma simples e prática”,comenta seus organizadores.

“Se deseja participar doatendimento ou conhece alguémque precisa indique nosso Centrode Atendimento SolidárioOnline”, complementam.

FEAL.COM.BR/JUNTOSPELOESPIRITISMO

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Aconteceu ...O Departamento d..

Valorização da vida em setembroA USE Intermunicipal de São Bernardodo Campo em parceria com oMovimento Espírita de Diadema, realizaa Jornada Espírita pela Valorização daVida, dentro das atividades doSetembro Amarelo, campanha deprevenção ao suicídio da ABP, junto aoConselho Federal de Medicina.As palestras tiveram início no dia 31 deagosto e continuam acontecendo aosdomingos e segundas-feiras de setem-bro.

Marco Milani, diretor do Depar-tamento de Doutrina da USE SP epresidente da USE Regional de Campi-nas, é o convidado para desenvolver otema O suicídio diante da justiça divina,prevista para dia 27 de setembro,domingo, às 10 horas.

Aconteceu ...O Departamento de Atendimento

Espiritual no Centro Espíritacoordenou o Seminário de AtendimentoFraterno pelo Diálogo, com o temaAcolher com o coração, esclarecer com arazão”, organizado e realizado pela USEIntermunicipal de Jacareí, no dia 23 deagosto, das 9 às 12 horas. O objetivodo seminário foi atualizar e preparartrabalhadores para a tarefa doatendimento fraterno.

A USE Regional de Campinasfinaliza neste mês o curso comparativode estudo das edições de A Gênese, osmilagres e as predições segundo o espiritismo.Ao final, os 18 capítulos de ambas asedições foram analisados pelosparticipantes.

O Departamento de Assistência ePromoção Social Espírita está emnegociação com a Federação EspíritaBrasileira para utilização de aplicativopara cadastro de pessoas assistidas peloscentros espíritas de determinada região,visando controle e conhecimento dovolume de pessoas apoiadas por seusprogramas sociais.

GEP realiza mais uma palestra onlineDando continuidade às palestras mensais para divulgação

do Encontro Espírita Paulista, previsto para as comemoraçõesdos 160 anos de lançamento da primeira edição de O livro dosmédiuns, aconteceu no sábado, dia 29 de agosto, o quartoencontro.

Desta vez, o convidado foi Artur Valadares que apresentouos aspectos doutrinários sobre Animismo. Artur reside em SãoCarlos, é integrante da Associação Espírita Obreiros do Bem eum dos fundadores e coordenadores do Núcleo de EstudosEspíritas do Evangelho (NEPE) Paulo de Tarso.

O evento contou ainda com a participação de SilvioCarnaúba Costa, diretor do Departamento de Mediunidade, daUSE SP. Esta é uma das novidades introduzidas, com aparticipação de outros representantes das três entidadescomponentes do GEP - Grupo Espírita Paulista: a AliançaEspírita Evangélica, a FEESP - Federação Espírita do Estadode São Paulo e a USE SP - União das Sociedades Espíritas doEstado de São Paulo.

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Acontece ...Assis realiza a 43ª Jornada de Confraternização Espírita

Agora no formato virtual, a USEIntermunicipal de Assis realiza durante ossábados de setembro, sua 43ª Jornada deConfraternização Espírita, com palestrasdivulgadas pelo YouTube.

José Antonio da Cruz (Catanduva-SP), DécioIandoli (Campo Grande – MS), DonizetePinheiro (Marília – SP) e Alessandro VianaVieira de Paula (Itapetininga – SP) são osexpositores convidados e desenvolvem suaspalestras sempre a partir das 20 horas,respectivamente, com os temas: Espiritualidade noprocesso de valorização da vida; Terapia do perdão; Sonoe sonhos e O homem, a consciência e Deus.

As transmissões serão feitas pela página doFacebook da USE Intermunicipal de Assis.

Diskardec, de Ribeirão Preto, com treinamento na Baixada

Começou no último dia 25 de agosto, e está emdesenvolvimento em 8 terças-feiras, no horário das19h30 às 21h30, o treinamento para formação deatendentes do serviço telefônico gratuito deutilidade pública Diskardec.

A realização é da USE Regional da BaixadaSantista e Vale do Ribeira. Seu presidente, AllanKardec Veloso, comenta que “é uma parceria feitacom o Diskardec, de Ribeirão Preto. O curso erafeito presencialmente duas vezes por ano paraformar novos voluntários”.

O treinamento, primeiro no formato virtual,apresenta a teoria sobre o atendimento, bem comoexemplos e exercícios relacionados. Tem limite de200 inscritos, pelo Google Meet. O treinamento foidisponibilizado aos sete órgãos locais da região.

Para os organizadores, “o Diskardec visa “:oatendimento fraterno auxiliando quem necessitadesabafar ou apenas conversar, oferecendo esclare-cimentos sob total sigilo e sem custo algum”.

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Clara Lila Gonzalez de Araújo *

assunto suicídio vem ganhando espaçonas redes sociais, nas discussões de estudosvariados, nas narraMvas curiosas e alarmantes,além da apresentação de dados estaQsMcos demortes voluntárias cada vez mais elevados,dando ao tema importância capital nos dias dehoje e atraindo mulMdões que querem sabersobre as questões que envolvem os dramas e ascausas que levam alguém a dar fim a própriavida.

Estamos vivendo tempos ominosos, poisos costumes de determinadas sociedadesparecem desconhecer que o suicídio é um dosmais graves atos que poderíamos praMcarperante o Criador. Em consequência, há certabanalização sobre o problema, tornando-se, paramuitos, uma decisão comum e consideradadesculpável, dependendo dos moMvos quelevam as pessoas ao autoextermínio, sobretudo,os jovens que procuram, dessa forma, dar fimaos seus sofrimentos.

Na visão espírita, como avaliar as causasque esMmulam crianças e adolescentes aosuicídio?

Um dos moMvos é a obsessão. Infeliz-mente, essa situação ocorre com certas crianças

O

Comportamento suicida na infância e na adolescência

e adolescentes e, geralmente, manifes-tam comportamentos di`ceis de seremcontrolados. É importante ressaltar, to-davia, que ao tratarmos de suicídio, nãopodemos apenas nos referir às obses-sões. É essencial considerar que os paisprecisam avaliar cuidadosamente as peri-gosas práMcas atuais de inMmidação(bullying) e ameaças, em forma dejogos perigosos e de brincadeiras derisco, sem nenhuma preocupação de serespeitar aos colegas escolares, queprocuram se ocupar desses entreteni-mentos arriscados.

Aos pais cabe a tarefa maior deampará-los, dispensando-lhes muitoamor, a fim de que se sintam amados

e possam superar esses estados de sofrimento,choques e dores que necessitam ser atenuadospor meio, principalmente, da educação espírita-cristã, na práMca de exercícios moralizadores, atéque consigam transformar suas disposiçõesmentais, na busca do rumo feliz que tantoanelam. Educação que deve preparar o indivíduopara vida como legiMmamente ela é, destacandosempre a bênção da reencarnação.

O presente livro traz para o leitor osresultados obMdos ao longo de muitos anos deestudos, demonstrando que é possível realizaruma proposição que atenda a essas necessi-dades primordiais de assistência infanMl, não sóde caráter espiritual, mas de forma integral eduradoura, garanMndo uma vida familiar equili-brada, fraterna e em condições de propiciar àscrianças e aos adolescentes maior compreensãopara as dificuldades emocionais que os aMngem,fruto, muitas vezes, de traumas obMdos em exis-tências passadas, e não superados. É primordialsaber lidar com as fraquezas morais dos filhos,suas possibilidades e aspirações, conhecendocertos aspectos de sua personalidade, e que irãoinfluenciar fortemente a sua formação na faseadulta.

* Clara Lila Gonzalez de Araújo é psicóloga e autora do livro Comportamento suicida na infância e na adolescência.

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