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Escola Superior de EducaçãoDepartamento de Português
Ciclo deConferências 2003:Estudos de Língua e Literatura
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Título: Ciclo de Conferências 2003: Estudos de Língua e Literatura Autor: Escola Superior de Educação - Departamento de PortuguêsEdição: Instituto Politécnico de Bragança · 2006 Apartado �038 · 530�-85� Bragança · Portugal Tel. 273 33� 570 · 273 303 000 · Fax 273 325 �05 http://www.ipb.ptExecução: Serviços de Imagem do Instituto Politécnico de Bragança (grafismo,AtilanoSuarez;paginação,LuísRibeiro;montageme
impressão,AntónioCruz;acabamento,IsauraMagalhães)Tiragem: 200 exemplaresDepósitolegalnº241533/06ISBN 972-7�5-087-3Aceite para publicação em 2005
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Vida,Escola,Literatura:Histórias,Mudanças,
PerplexidadesMaria Luísa Carvalho Branco
Seis longos anos dediquei a extenso emoroso trabalho,sofridoesolitário,mas,desdeaprimeirahora,feitoparaproveitodetodos.ApesardehaverquemdigaquearruineiestaEscolaportantoterdemorado,nãomepesatalruína!Antesvoscontarei,comtodoogosto,algumasdascertezasedasdúvidasqueomeutrabalhoprofissionalmevemcolocando,acadapasso,naperspectivageraldointeressedosEstudantes,destaEscolaedoPaís.
Dehámuitoqueconsideroumautênticoprivilégioterpodidoatravessarestetempofeitodemuitostempos,tãováriosediversosquemaisparecetermosatravessadotodaumahistóriadeséculosemapenas algumas décadas.
Nos anos cinquenta e sessenta, o tempo parecia-nos terficado suspenso, algures, esquecidode caminhar em frente, e porissoumpoetahouvequeescreveuque“NomeuPaísnãoacontecenada”.Enadaaconteciaporquedenadasepodiafalar;ecreioquefoientãoqueaprendioextraordináriovalordaspalavras–asaceiteseascensuradas;asditaseasinter-ditas;asquenãodizemnadaeasquedizemtudo!....E,talvezporisso,nuncahesiteinaescolhadomeuofício:semprequisserprofessoradePortuguês.
Dossegredosdagramática,desvendaram-mos,quasetodos,naescolaprimária;na4ªclasse,orgulhava-seanossaprofessorade
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sabermos distinguir as muitas funções do se,poisnemsempreeleécondicional....Evieramdepoisosclássicos,apresentadosnumasequênciaestranhaecujaimportânciaeramotivadanumaqualquerrazãoqueparecianuncaresolvida:paraládeduasoutrêsexcepções,todos os escritores se tinham rebelado contra um mesmo e incom-preensível“formalismoeacademicismo”quepersistiaaolongodosséculoseacabavasemprevitorioso,pormaisinovadoresquefossemalguns deles.
Sobreosquinhentistas–osqueaescolanosdeixaler–tudoiadandocerto:eraagrandezadaquelapoesiaumaespéciededuplodagrandezafantasiosadaPátriaquenosdavamacelebrar.
Masquantoaosséculosseguintes,eradifícilperceberporondesetraçaraalinhaderumodosnossosescritores;ashistóriasdaHistóriaoficialqueestudávamosnãocoincidiamcomosquadrosmaisoumenosridículosdeumFranciscoManueldeMelooucomosarrevesadossermõesdoAntónioVieira;muitomenosentendíamosoherói-cómicodoCorreiaGarçãoouFilintoElísio;parajánãofalarmosdaquelesversoscantantesdeumNicolauTolentino,numdivertidopoemeto,dedicadoaumamãedesesperadacomodesaparecimentodeumcolchãoeque,arremetendocontraosempoeiradoscabelosdafilha,“lhesaiocolchão/dedentrodoToucado”.
Ecaíamos,derepente,nosromânticos,semsabermosbemporquê,eeramjáosultra-românticoscomCastilhoàcabeçae“ONoivadodoSepulcro”,feitofado.
LíamosostextosdasAntologiasenadamaisnoserapedido,antespelocontrário,porissoeramlivrosúnicoseobrigatórios,for-matados para serem os limites dos nossos sonhos e dos nossos desejos deleituraquesecumpriam,noentanto,àreveliadaescola.
Estaéaexperiênciavividaqueguardonaminhamemóriadeestudanteeaquelaquesemprepressintonamaioriadosmuitosalunoscomquemjátrabalhei,aolongodetrintaanos.Eestefoiomistérioquesemprefuitentandodesvendar,comashabituaislimi-taçõesimpostaspeloquotidianodasescolas.
Entretanto,depoisdoinesquecível25deAbrilde74,otempoganhaumavelocidadeestonteante–sucedem-seasreformas,asmu-danças,dosistemaedosprogramas,dasterminologiasgramaticaiseanalíticas,dastemáticasemultiplicam-seasreferênciasautorais...
Ganha visibilidade a avalanche de alunos que invade aEscola;aincapacidadedaEscolaparaosrecebereeducar;asnovasgerações de professores formados na inevitável confusão dos novos currículos;anovadiferenciaçãoentreuniversidadesepolitécnicos,entrepúblicoeprivado;esucedem-seocavaquismo,opartidarismo,ooportunismo,oguterrismo,astecnologiasdainformação,acon-corrência,omercado,aEuropa,aglobalização.
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TudoistoentreaquedadomurodeBerlimedastorresdeNovaYork!........
Eavelocidadeaqueofuturoparecequererchegarapanha-nosatodosdesprevenidos.Esóháduassoluções:oujulgamosmaisurgenteagarrarofuturodequalquermaneira,convencidosdequeelenadateráavercomoquefoiatéaqui;ouestudamosopassado,maisemenosdistante,paramelhornosprepararmosparaoqueaívem.Evalesempreapenapisarterrenofirme!
Aissodedicámosessesseisanosdetrabalhoqueculminaramnanossatesededoutoramento.Eparachegarmosaqueconclusões?Nadaanimadoras,emsimesmas.Masclarificadorasdofunciona-mentodeumsubtilmecanismodereproduçãosocialecultural,quetem, exactamente, por base aquilo a que chamamos a linguagemliterárianasuadimensãolinguísticaeaqueJohnGuillorychamouo capital cultural.
Umcapitalgerido,conscienteouinconscientemente,pelasescolas,queproporcionamadistribuiçãodessecapitalpelosalunosempresença,equedepende,directamente,dasactividadespedagógicasquedesenvolvemos,dostextoseautoresqueestudamosecomamaioroumenordiferenciaçãolinguísticae/ouliteráriaqueseestabeleceentre os currículos disciplinares dos vários níveis de ensino.
Anaturezadecapitalculturaladvém,historicamente,nocontexto europeu,do factodeoLatim ter sido a língua imperial,impostaaospovosconquistados,porforçadaaplicaçãodoquadrolegislativoromano.OestudoqueCurtius1 levou a efeito sobre a cultura nabaixaidademédialatina,permitiuentenderquefoinesseprocessodecolonizaçãopolíticaeadministrativaquealíngualatinaganhouasua dimensão verdadeiramente reprodutiva de uma sociedade hierar-quizadaemdominantesedominados,emcolonizadoresebárbaros,emletradose iletrados,cujosmodosdeexpressãopróprios foramganhandovaloressimbólicosfundamentais,distinguindolinguagensqueeramsocialmentecapitalizáveisdasqueonãoeram,detodo.Edesdeesseslongínquostempos,seinstalouestemodelodedistinçãosocial,assentenosmodosdefalaredeescrever,aqueostextosdosgrandes autores gregos e latinos davam autoridade bastante.
Quando,noRenascimento,Portugalsefezaosmaresefoipor essemundodealém, conhecendoe comunicandocomoutrospovos,anaturezadebárbaros,quenosforaatribuídapeloscoloni-zadores latinos,demo-lanósaospovosdesconhecidosque fomosencontrando.Edescobrimos,então,quealínguanacionaleraomaisseguromeiodeexercer influênciasduradoiras.Eessadescoberta,quenãofoidemenorimportânciadoqueasoutras,registou-amuitoclaramenteFernãodeOliveira,naprimeiraGramática da linguagem portuguesa,editadaem1536:
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“tornemos sobre nós agora que é tempo e somos senho-res, porque melhor é que ensinemos a Guiné do que sejamos en-sinados de Roma. (...) Grécia e Roma só por isto ainda vivem: porque quando senhoreavam o mundo mandaram a todas as gentes a eles sujeitas aprender suas línguas: (...) e desta feição nos obrigam a que ainda agora trabalhemos em aprender e apurar o seu esquecendo-nos do nosso não façamos assi [sic] (...)”.
Aobraquenosdeixaramtantosportuguesesdequinhentosfoiconscientementeproduzidaparaalcançar,paraalínguaportuguesa,esteestatutodelínguacultural,aptaatratartodosostemaseaveicu-lartodootipodeconhecimentos.Masnãofoipacífica,estaposição.Comefeito,viveu-se,aolongodoséculodezasseis,umsérioconflitolinguístico e cultural entre duas tendências opostas: a dos humanistas livrescos,possuidoresdeumsaberadquiridoatravésdoslivrosdosclássicos,aqueoLatimemprestavaumaevidenteautoridade;eoshumanistaspráticos,temperadosnasaventurasdasnavegaçõesma-rítimasenaexperiênciadecomunicaçãocompovostãodiversos,equerevelaramumavivaconsciênciadopapelquealínguaportuguesadeveriater,nesseenormeempreendimentocultural.
Duastendênciaslinguísticasquerepresentavam,também,duas diferentesmaneiras de encarar oConhecimento: enquanto acultura livresca e latinista apenas reconhecia valor e autoridade ao saber depositado num conjunto acabado de obras herdadas do passa-do,osmodernos,depreferêncialinguísticavernácula,acreditavamqueoconhecimentoestavaempermanenteconstrução,nocontactocomarealidadedaNaturezaedaVida,equesóaexperiênciaabririacaminhoparaacríticaeaverificação.
A adesão da Igreja portuguesa ao movimento da Contra-Reforma, a instalação do SantoOfício e daCompanhia de Jesusacabariampordecidirafavordatendêncialatinista,conservadoraecatólica,tendocondenadoaumsilênciodeséculosmilharesdepáginasredigidas em vivo e experimentado português do tempo.
Osdoisséculosqueseseguiramhaviamdepassarnaquela“apagadaeviltristeza”emqueCamõesviracairaPátria...queacustofoisobrevivendo,tentandomantervivasalínguaeaculturanacionais.Easopçõeslatinistashão-deconservarasuasituaçãomaioritária,mantidascomomarcassociaisdeelite,numespaçohistóricoesocialrestritoaqueAuerbachdeuonomedecorte e cidade2.
Osmuitosqueficavamforadestecírculodepodercaíamnoconceito de “plebeus e idiotas” cujo “falar incorrecto” “os polidos nãodevemusar”,segundoescreveuDuarteNunesdeLeão.
Foiaindaaospolidoshomensdecortequecoubeexperi-
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mentaraslabirínticasformasdobarroco,emtodasassuaspossíveismanifestações e exageros.
EaqueleNicolauTolentino,doToucadodocolchão,há-deaparecer-nos,nosfinaisdoséculodezoito,comooacabadoartistadeumaclassemédiaemergente;quandoosgalicismosinvadiramalínguaportuguesaeasmodasfrancesassecopiavamacadaesquinadacidadedeLisboa,cidadeprovinciana,tacanhaerequentadacomoochádeumascertasdamas,cincovezesaquecidonumamesmatarde...
Epercebemosque,nestafasederesoluçãodaexcessivaagi-taçãopombalina,permanecevisívelumamesmaclivagemlinguística:umalíngualiteráriaressequidapeloíntimocontactocomoLatimede tantapurezagramatical,masquecontinuaa funcionarcomoo“selodequalidadedeumacomunidadeprivilegiada”(Bakhtin);eumalinguagemnova,aindaindiferenciada,vagamenteatribuídaaopovo,quenãomerecequalquercréditoculturalousocialeémanifestamenteimprópriaparaosletrados.
Numpoemaintitulado“CartaaoamigoBrito”,FilintoElísioredigiunotaderodapé,comoseguinteesclarecimento:“ParaopovoaéclogadeMatosouozamzamdoCaldasselheacomodamelhorcomasorelhasqueumaodedoDiniz;mastambémasgentesquenãosãopovosentemcomregaladoprazerumatransiçãobemmodeladanaária;(...)eumcertoesconderijotransparentenoconceitoenaspalavrasosarrebata.”OraesteMatoseraumpoetapobre,imitadorepigonaldeCamõesque,porissomesmo,conseguiuoapoiodealgunsmecenas,paraanimarossalõestãonamoda;eo“zamzamdoCaldas”ficamosasaberquesão“cantigasamorosasdesospiros,derequebros,dena-morosrefinados,degarridices(...)comqueembalamascrianças;(...)queensinamaosmeninosequecantamaosmoços;e(...)quetrazemnabocadonasedonzelas.”Esteesclarecimentopreciosoé-nosdadoporumsisudoAntónioRibeirodosSantos,umnotáveldeCoimbra,emmissãoacadémicanacapital,queassimcomentaoserãoaqueassistiu: “Esta praga é hoje geral, depois que o Caldas começou de pôr em uso os seus rimances, e de versejar para as mulheres; eu não conheço um poeta mais prejudicial à educação particular, e pública, do que este trovador de Vénus e de Cupido.”3
Enquantonasociedadelisboetaseiainsinuandoumalínguanova,ospoetasmaisatentosrepetiamapelosdestegénero:
“Imite-se a pureza dos antigosmas sem escravidão, com gosto livre,com polida dicção, com frase nova,que a fez, ou adoptou a nossa idade.”Correia Garção, “Sátira sobre a imitação dos antigos”
Estava em crescendo um notório processo de mudança
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discursiva,apoiadaefomentadaporpublicaçõesliteráriasdeinspi-raçãoenciclopédicaqueiamdivulgandomanifestaçõesrecentesdasensibilidadeedogosto, formasdiferentesdeestaremsociedadeque,lentamente,sevãopopularizandoemLisboa,atravésdamoda,damúsica,doteatro,daópera,dasassembleias,dosserões.
Estasnovasformasdeconvivialidadevão,naturalmente,gerandonovasnecessidadesenovosdiscursos,trocasverbaisdife-rentes,tantonavidaprivadacomonapública,cujaimportâncianãoparou de crescer. E assim se foi construindo uma linguagem nova que,acusto,vaiassimilandoalíngualiteráriadacorte e cidade e cujodomíniopermitiráumaascensãosocialinesperada,dequeReisQuita e Filinto Elísio são os exemplos mais perfeitos.
MortificadospelasinvasõesfrancesasepeloabandonodaCorteparaterrasbrasileiras,osportuguesesirão,depois,viverpe-ríodos de avanços e de recuos políticos divididos entre absolutistas eliberais,ecaberáaograndeAlmeidaGarrettreacenderalutapeladefesadalínguanacional,praticaroseuaperfeiçoamento,descobriredivulgara“almanacional”,criarrevistasdeeducaçãofemininaetrabalhar,detodasasmaneirasqueteveaoseualcance,paraade-mocratizaçãodaculturanacional.Foinestagrandetarefa,partilhadacomHerculano,quesecumpriuonossoprimeiroromantismo.Umamanifestaçãoadois,aindafortementecombatidospelopensamentoconservador,tradicionalistaeavessoàsnovasliberdadesprometidaspelo liberalismo. Inclusive na linguagem.
Oranessaimensatarefademodernizaredemocratizaropaísincluía-se,naturalmente,arenovaçãodosistemadeensinoquetenderiacadavezmaisaserpúblicoequedeveriaofereceratodososcidadãosapossibilidadedeaprenderalereaescrever,comtodasasconsequênciasquedaíseesperariam.
Desde1836,anodapublicaçãodaprimeiralegislaçãoli-beralsobreaInstruçãopública,eatéàimplantaçãodaRepública,asreformasforammuitasedevariadosentido;numprimeiroperíodo,semorganizaçãointerna,esemcritériodisciplinar,cadaqualdeixavaempiorestadooquejáestavamal;peloque,em1894-5,eemes-tadodeditadura,seimpôsumareformaqueimplantaria,nosliceus,algunsdosmecanismosorganizativosqueaindahojeperduramequejustificaramgrandepartedosapoiosqueentãomereceu,apesardemuitos serem também os seus defeitos.
Aquilo que nos interessa destacar, naquele período, é ocasodasdisciplinasqueacabariampordarorigemàsdisciplinasdeportuguêsedeliteraturaportuguesadosLiceus,entãocriados.
Nãovoumaçá-loscomoquadropormenorizadodesteper-curso,massemprevosdireioessencial:aprimeiradisciplinaquesecriou para ensinar a nossa língua chamava-se Gramática portuguesa
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e latina, Clássicos portugueses e latinos, e no último ano do curso liceal,haviaumacadeiradeOratória, Poética e Literatura Clássica, especialmente a portuguesa.
Mostra-nosestaopção,oquantopesavaaindaavelhafor-maçãolatinista,dandorelevânciaàgramáticalatinaeàleituradosclássicos.Paraalémdisso,nãohavianemgentenemmateriaisdeensinocapazesdealteraraspráticasvigentes.Detalmaneiraqueoprimeiroautordemanuaisparaestasdisciplinas,AntónioCardosoBorgesdeFigueiredo,professordo liceudeCoimbra, tratoudepublicar trêsobrasfundamentaisqueconstituíramumautênticosucessoeditorial,atéfinaisdoséculo:começouem1844,comoBosquejo Histórico da literatura clássica, Grega, latina e portuguesa, para uso das escolas;em �8�5 publica os Lugares Selectos dos clássicos portugueses nos principais géneros de discurso em prosa; em1846,ummanualde Retórica, redigidoemlatim,equenasdécadasseguintessehaviadereeditar,jáemtraduçãoportuguesa.Estatrilogiaescolarparece,aliás,tersidotípicadestafasehistóricadoensinodaslínguaseuro-peiasmodernas,comopudemosperceberdotrabalhofundamentaldeGeraldGraff,Professing Literature (1987),apropósitodoestudodalínguaeliteraturainglesas,nosprimeirostemposdosistemaeducativonorte-americano,edotrabalhosimilardeMartineJay,La littérature au lycée: invention d’une discipline (1998),paraocasofrancês.
Aselectadetextosescolhidos,aretóricaeahistórialite-ráriaconstituíram,pois,abaseantológicadaformaçãoemlínguase literaturasda segundametadedo séculoXIX,oquedeveremosentenderàluzdoconhecimentoentãodisponível,sobreaslínguasesobreasliteraturasnacionais.Nãopoderemosesquecerqueestavaaindapornasceralinguísticamoderna,eashistóriasliteráriases-tavamemconstrução,iniciadaspelavastacuriosidadehistórica,defiliaçãoromântica,aqueospositivistasdofinaldoséculoirãodarcontinuidade.
Nãoserá,pois,deadmirarqueestesmanuaissefizessemsobretudodalistagemdenomesdeautores,comassuasdataselugares,edetítulosdeobras,muitasdelaspraticamentedesconhecidasesemedições disponíveis no mercado. Se era este o manancial informativo disponível,nãonosadmiremos,também,dequeopedidoaosalunosfosse, emgrandemedida,odememorizarestas informações,queconstituíam,emsimesmas,umnotávelavançoemrelaçãoafasesanteriores.
Éem1860que,pelaprimeiravez,selegislaumadisciplinapara os liceus nacionais chamada Gramática e língua portuguesa,quecontinuaráaserensinadanosmesmosmoldes,porprofessoressemqualquertipodeformaçãoespecífica,quecontinuarãoausarosmesmosmateriaisescolaresdisponíveis.E,compequenasalteraçõesdepormenor,assimseirámanteroestudodestasdisciplinas,atéque
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areformadeJoãoFranco-JaimeMoniz,em1894-5,decidem,umavezmais,pelaversãomaistradicionalista,aoimporemumaumentosignificativodashorasdedicadasaoestudodoLatim,oquejustificamnestestermos:“NalínguadoLácio(...)expressivadarazãocomum,nosavistamosereconhecemoshumanostodososhomens.Eenfimaalmaportuguesaéumpedaçodaalmalatina!”
Adolfo Coelho foi um dos actores importantes do sistema deensinoqueentãoseorganizava,eescreveuO ensino da Língua portuguesa nos Liceus,nesteperíodoquefoideDezembrode1894aAgostode1895,enelenosdeixouumquadrodaimprecisãoemqueosestudosliteráriosseforammantendo,aolongodedécadas.Escreveuelequequandoseiniciouoensinodalínguaedaliteraturaportuguesa,nosliceus,“Faltava...omaterialparaoensino;faltavamas instruções,ospreceitosdidácticos;nãohaviaediçõesescolaresdosclássicosnacionais;apenasestavamaoalcancedeprofessoresealunosselectasmalfeitas,pesadas,eoensinodesandoulogodecomeçoemsecasanálisesgramaticaiselógicas,eclassificaçõesdetroposedefiguras. (...)peloqueascoisasficaramnaessênciaasmesmasnostrintaequatroanosquedecorreramdesdeaintroduçãodoportuguêscomodisciplinaindependentenosLiceus.(...)Amar-cha e resultadodo estudoda língua (compreendendoa literatura)portuguesasomam-senoseguinte:estudodagramática,commuitopoucoconhecimentorealdalíngua,nenhumacapacidadepráticaparaosalunosdeseexprimiremoralmenteouporescrito;conhecimentodenomesdeautoreseobras,quesebaralhamnamemória,pornãoassentaremsobreoestudodessasobras,ignorânciatotaldaliteraturanacional;(...)ideiasbaralhadassobreoratóriaepoética,cujasdefini-ções(muitasvezesfalsasoucómicas)malaprendidasseesquecemno dia seguinte ao do exame. Não exageramos.”
Enãodeviaexagerar,jáqueoutrossehaviamqueixadodomesmo,emtermosaindamaisradicais,quandosetrataradeopôroensinopúblicoaoprivado,dosmuitoscolégiosqueproliferaram,então,nacapitaldoReino,ecertamentedenorteasuldoPaís.ComoéocasodeRamalhoOrtigãoque,tendofeitopartedejúrisdeexamenoliceudeLisboa,por1875,sesentiunaobrigaçãodecomunicaraoministrodoReinoastremendasimpressõesquetalexperiêncialhehaviacausado.Entremileumacoisascuriosíssimas,diznessaCarta,tornada pública nas Farpas: “Ora a maioria dos colégios particulares sãoamaistorpeeamaisignóbilespeculaçãoaquepodedarlugarointeressedeindivíduosinaptosparaqualqueroutraprofissão,semasmaislevesnoçõesdepedagogia,semciência,semelevaçãodecarácter,semprincípiostécnicos,semdedicação,semsensomoral.”
Sobre os alunos preparados pelos colégios, “ Dir-se-iapertenceremaoutraraça,seremoprodutodeoutromeiosocial.Sãosimplesmente o fruto do colégio português”, caracterizados pela
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“inacçãomental,aapatiadacuriosidade,oentorpecimentodocritério,aatrofiadosensomoral,finalmenteamedonhapreguiçadocérebro.É desta grande massa de jovens cidadãos combalidos nos centros nervososenasfaculdadesmoraisquesaemosociososincorrigíveis,ospéssimosestudantesdoscursossuperiores,osfuturosvadios,osfuncionários relassos.”
Ora tudo isto acontecia dentro dos limites institucionais dasescolas,emparalelocomumperíododeproduçãoliteráriadeexcepcionalvalor,cujapaternidadepertenceriaàchamadageração de 70.Umageraçãomultímodaeideologicamentediferenciadaquepôdeusaraseufavora imprensaescrita,eoenormesucessoquetinha,juntodepúblicoscadavezmaisamplos,umespecíficogéneroliterárioqueaíganhouadianteira–ofolhetim,usadopormuitosdosnossos grandes escritores de oitocentos.4
Deumpontodevistamaisespeculativo,são,semdúvida,importantesosmuitostextosqueTeófiloBragadeixouescritossobretodasasgrandesquestõespolíticasdoséculoXIXeque,aomesmotempoquenospermitemestabelecerumaclaralinhadecontinuida-decomaacçãodosprimeirosromânticos,GarretteHerculano,nospermitemtambémperceberopassoemfrentedadoentretanto:équeaqueles dois românticos eram ainda personalidades perfeitamenteapropriadasàquelaformaçãosociald’acorte e cidade – íntimosdereis,tambémelesfeitosnobres,ounão,poropçãoprópria.Pelocontrário,TeófiloBragadesenha-seplebeu,usaumalinguagemmaisdirectae‘positiva’,fixaosolhosnointerlocutor,apontaodedosemcharme,enfim,calhabemmelhornumoutroespaçonoslimitesdacidade,aquenósdamosonomedea cidade e o campoequedefinimosnosseguintes termos:
“A cidade e o campo são uma unidade que assume forma visível no curso do século XIX, de carácter decididamente pú-blico e onde se constituirá a ‘opinião pública’ contemporânea. As duas partes desta unidade são, por certo, distintas, a nível formal, mas a linha divisória entre elas é repetidamente atra-vessada e, acima de tudo, cada parte vai perdendo as suas ba-ses autênticas. A cidade, ou pelo menos aquela parte da popu-lação a que podemos chamar cidade na acepção contemporâ-nea do termo, deixa de se identificar com a corte, cada vez mais tida por excedentária e anacrónica, assumindo, juntamente com as funções próprias de classe económica, valores de igualdade, de progresso e de justiça, próprios de uma sociedade moderna. À ausência parasitária de função do que restava d’ ‘ a corte e cidade’, a nova cidade opõe a função de sujeito cada vez mais consciente de um desígnio histórico assente em princípios e valores democráticos, aliada, cada vez mais, duma formação
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de origem popular, cujo ideal cultural começa a ser compar-tilhado. Ao passado de longo curso d ’a corte e cidade opõe a cidade e o campo um futuro de longo e imprevisível alcance.”5
Vivia-se,então,umnovoperíododealargamentodabasesocialcapazdeusaremseufavorumalíngualiteráriamodernizadaque,diariamente,seserviaemjornaiserevistas,emromancescujasprimeirastiragensseesgotavamemdias,empoemaslongoseinfla-madoscomoosdumGuerraJunqueiroquetodosqueriamdeclamareque,deformaabruptamas implacável,davamavera realidadecrua da vida dos mais desfavorecidos e as facetas mais obscuras dos inefáveis poderosos.
Verificamos,assim,nestafasefundadoradadisciplinaescolardeportuguêse,simultaneamente,deinstitucionalizaçãodaliteraturaenquanto criação livre eficcional, que se estabelece uma enormedistânciaentreosobjectivospedagógicosdoensinoeasmotivaçõesmaisinovadorasdaliteraturaenquantofenómenocriativo.Ouditodeoutramaneira,alinguagemdeestudodaliteratura,dentrodaescola,écompletamentediferentedalinguagemcomquesefazaliteraturadaqueletempo.
Semquererabusardavossapaciência,gostariaaindadevostraçar,emgrandeslinhas,oquadrointeressantíssimodoquefoioprimeirocursosuperiordeLetras,quefuncionouemLisboa,entre1861e1911,fundadopordoaçãoespecialdeD.PedroV(1858)eque,noscinquentaanosdasuaexistência,viveuaspioresdificuldadesqueumaescolasuperiorpodeviver:faltadeinstalações,comapenasduassalasdevãodeescada,paratodooserviçoacadémico,cedidaspelaAcademiaRealdasCiênciasdeLisboa; indisponibilidadedealgunsdosseuscincoaseteprofessores,queeramsistematicamenteconvidadospelospartidosganhadores,paraexerceremcargospolíticose/oucargosnaadministraçãopública;faltadealunos,tendohavidováriosanosemquenenhumamatrículanovaseefectuou;orçamentossemprelimitadosparaládoimpossível,umsemfimdepropostasdealteraçãodoscurrículosdoscursos,quenuncapassariamdopapel;atéque,naúltimafasedasuaexistência,acabouporsertransformadonaquiloquebempodíamos,hoje,chamar,aprimeiraescolasuperiordeeducaçãodoPaís.Comefeito,apartirde1901,sãopelaprimeiravez integradas no curso superior de letras, cadeiras de formaçãopedagógicaeumanodepráticapedagógica.Aavaliaçãofeitaporcoevosdessareformasónospodefazer,hoje,sorrir!
Ouçamoqueescreveu,em1905,ManuelBorgesGrainha,professor do liceu de Lisboa e atento seguidor do estado do nosso ensino,novirardoséculoXIXparaoXX:
“Éimpossívelqueemtrêsanoshaja tempoparaestudartodas estas disciplinas com o carácter de superior elevação que
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compete a um curso superioreaindivíduosquehão-deserprofes-soresequedevemsairdalicomhabilitação sólida e completa para poderem ensinar com séria proficiência e verdadeira autoridade.” É que“Paratermosprofessorelhosenãoprofessores,nãovaliaapenaorganizartalcurso.”
Quantoàcadeiradeliteraturaportuguesa,reduzidaa“apenasumanodeestudo”,eramanifestamenteinsuficienteparaformar“umbomprofessordeportuguêsdosliceusquedevesaberfalareescreverasualínguacompropriedadeeelegânciaparaservirdemodeloaosdiscípuloseossaberensinarnesteparticular.”Paraquasetodasascadeirasdelínguastornava-senotóriaaescassezdotempoquelhesera dedicado.
Ascadeiraspedagógicasintroduzidasnoscurrículoseram:PsicologiaeLógica;Pedagogia;HistóriadaPedagogia;LiçãoparaalunoseumaDissertaçãonaáreaespecíficade formaçãoque,noseuconjunto,formavamumcursoautónomodeformaçãopedagó-gica,quepassaria,quatroanosdepois,aserobrigatórioparatodososcandidatosaprofessoresdosliceus:querparaosalunosdeletrasquerparaosalunoscomformaçãosuperioremmatemática,ciênciasfísico-químicas,histórico-naturaisedesenho,queaquicumpriamoquartoeúltimoano.Grainhadedicaseverascríticasàsupervisãodes-taspráticas,dequehojeestamosrepetindoosmesmoserros,sempreasseguradas pelos professores do curso superior de letras e por eles avaliadas,mesmoparaosalunosdoscursoscientíficos.
Comasprimeirasmatrículasefectuadasem1902/03,há exactamente cem anos atrás,eram19osalunosmatriculadosdequesóquatrochegariamao4ºano;eem1905-06,anodapublicaçãodolivrodeGrainhaqueestamosacitar,haviaseisalunoseduasalunas,no1ºano;no2ºano,3alunos;no3ºano,trêsalunoseuma aluna eno4ºano,3alunos:1paraasecçãodefilologialatinaefilologiaportuguesa;1paraafilologiaportuguesa,línguaeliteraturafrance-sa;e1paraasecçãodegeografiaehistóriaantiga,daidademédiaemoderna.ImaginemsóoluxodeterumTeófiloBragaouumAdolfoCoelhoaensinaremmeiadúziadealunosporano.
E se o numerus claususera,então,umconceitosemapli-cação,outras situaçõeshaviadeenormesemelhançacomanossacontemporaneidade.Grainhaterminaassimesteseutrabalho:
“Porque – convém que os legisladores e os pais de família, que se queixam do nosso ensino, tenham presente esta verdade – enquanto os nossos professores de liceu virem, como actualmente vêem, que o seu trabalho é desconhecido e menosprezado, superiormente, que o seu bom serviço não tem compensação nenhuma, que tanto ganham e são estimados en-sinando bem como ensinando mal, e, o que é pior ainda, - que a
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injustiça campeia nos serviços da instrução, dando-se coloca-ções e comissões honrosas e lucrativas a quem menos trabalha e mais descuidado é, com tanto que fervilhe política e intrigan-temente – enquanto se derem todos estes factos, que são hoje correntes, impossível será ter bons professores, e, até aqueles que naturalmente o seriam, e que começam animosamente e procedem com zelo durante algum tempo, virão a desanimar, descair e tombar no mesmo descuido e caminho tortuoso dos outros, que por ele vêem subir e trepar.”6
AsduasdécadasdaRepúblicaforamdeenormecriatividade,sobretudolegislativa,associativaeinstitucional.Nasceramentão,asfaculdadesdeLetrasdeLisboa,deCoimbraedoPorto,sendoestaencerrada alguns anos mais tarde.
A de Lisboa herdou a tradição de ensino e alguns dos professoresdoCursoSuperiordeLetras,entreosquaisovelhoemalqueridoTeófiloBragaquecumpriuumacarreiraacadémicadequasecinquentaanos.Eocursodefilologiaromânicaqueentãoseinstituiu,comalgumasalteraçõescurricularesdeposterioresreformasdoEstadoNovo,foiaindaocursoqueeufrequentei,nosfinaisdosanossessenta.E,depoisdovinteecincodeAbril,todososcursosdeFilologias seriam substituídos pelos cursos de línguas e literaturas. Afinal, asorigens estavamali tãoperto, enós convencidosdumaancestralidadeindiscutível!...
Face a este rápido quadro que tentei traçar-vos, resultaclaroque,nalentasucessãodosséculos,umaideiapermanecequeosatravessa,atéhoje:osperíodosdemaiormobilidadesocialsão,quasesempre,osperíodosdemenorestabilidadelinguística,caben-doaoscriadoresliteráriosconquistarcredibilidadeculturalparaasrealizaçõeslinguísticasmenoscreditadassocialmente.Porsuavez,aEscola,nassuasdiversasmodalidadeshistóricas,serásempreolugardecontrolodadistribuiçãodalinguagemliterária,sobretudonasuaforma linguística.
Poderão ser variadíssimas as soluções e complexamente ligadas amuitasoutras circunstânciasdemaior edemenorpeso:Queremos assegurar um determinado nível de execução da lingua-gemliteráriaediferenciá-la,omaispossível,deoutros“falareseescreveres”socialmentediminuídos?Cria-se,então,umsistemadeensinorígidoecomcompartimentosrelativamenteestanques,comuma clara progressão de conteúdos a separar os diversos níveis. Foi oqueaconteceu,durantetodootempodoEstadoNovo,pordetrásdaaparenteeficáciaquealgunslhereconhecem.
Queremosdemocratizara língua,abriraescolaa todootipodediscursos,proporcionar,atodos,ocontactocomaliteratura?Háqueadmitiranecessidadedebaixaralgunsíndicesdequalidade
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edeexigência,duranteumcertotempo.Dosearerevelardiferenças,deixarexperimentaraqualidade,criarhábitosdeboaconvivênciacomosgrandesautoresetextos.Mas,esobretudo,éprecisocontarcomum corpo docente consciente destas sucessivas curvas ascendentes e descendentes,paraquepossamprevermecanismospedagógicosquetravemainevitávelconfusãoeaineficáciatemporáriadosistema.Sobretudo não adormecer sobre a aparente comodidade oferecida por alguma perda temporária de exigência.
Epassoaperplexidadesmaisrecentes,provocadaspelosdesafiosquehojesecolocam,comqueterminarei.Ostemposmuda-rammuito,nestasúltimasdécadas,emtudo,etambémnasformasdedizeredeescrever.Hão-de,forçosamente,perceber-seasmudançasenormes de linguagem que entretanto se operaram na sociedadeportuguesa:umaautênticaavalanchedenovosconceitos,traduzidosemnovos vocábulos que não paramde enriquecer a língua, e derepresentarnovasformasdeconhecimentoedeconvivência,novoscomportamentossociaisenovasexigênciascívicas,tecnológicasecomunicativas.
Parece,hoje,emmoda,adesvalorizaçãodasHumanidades,atrocodeumalinguagemtecnicista,seca,meramenteinstrumental,quetemvindoasergeneralizadacomasnovastecnologias,eque,segundomuitosobservadoresatentos,constitui,hoje,amaissériaconcorrentedaslínguasnacionais.Masperceberemostantomelhoradimensãodevastadoradasuaadopçãocegaquantomelhorsouber-mosperceberomuitoquesejoganaslínguasnacionais,amassadasdesentimentos,deafectos,desolidariedadesedecumplicidades,equesónaliteraturasepreservam.
Amissãodaescola,edaliteraturadentrodela,jánãoseráhojetantoadeproporcionarumalinguagemdeeliteaosfilhosdopovo,massimadeensinarumalínguacomhistória,comalma,commemória,ecomcultura,aosjovensestudantesquehojenascemsobreainfluênciademolidoradosformatosfabricadospelosaudio-visuais.
Emvésperasdesedecidirsobreumaguerraquenãosabe-remosondepodelevar-nos,aopinião pública mundial ganha foros de potênciaconcorrentecomospoderesdodinheiroedosnegócios.Oquesignificaqueaquelaformaçãosocialaquechamámos a cidade e o campocontinuaacrescer,aamadurecereasolicitar,decadaumdenós,umaacçãocadavezmaisviva,maiscrítica,maisexigenteemaiscorajosa,nadefesadosvaloresdecujaperdatantonosqueixamos.
EtodoselessedizemembomPortuguês...peloqueconti-nuaraensinarportuguêseliteraturaportuguesaé,maisdoqueumapaixãopessoal,-eparaestabelecermosumapontecomaprimeiraConferênciaaquiapresentada–umanovafasenabuscapermanentee cada vezmais necessária daArte de Ser português...nomundoglobalizadoqueaítemos.
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Bibliografia
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Notas1ErnstRobertCurtius,(1953),trad.esp.Literatura Europea y Edad Media Latina,
México-Madrid-BuenosAires,FondodeCulturaEconómica,1976.2ErichAuerbach,(1965),Literary Language and its Public in Late Latin Antiquity and
in the Middle Ages,trad.esp.Lenguaje Literário y Publico en la Baja Latinidad y en la Edad Media,Barcelona,Seixe-Barral,1969.
3CitdeRogérioFernandes,Os Caminhos do ABC. Sociedade Portuguesa e o Ensino das Primeiras Letras,Porto,PortoEditora,1994:235.
4VerErnestoRodrigues,Mágico Folhetim. Literatura e Jornalismo em Portugal,Lisboa,EditorialNotícias,1998.
5Estadefiniçãodoconceitodecidade e campoqueaquipropomossegueecontrastaadefiniçãopropostaporAuerbachparaoconceitodecorte e cidade,aqueatrásnos referimos.
6M.BorgesGrainha,A Instrução secundária de ambos os sexos, no estrangeiro e em Portugal,Lisboa,TipografiaUniversal,1905.