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FCDEF Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física
Escalada em Portugal
Estudo de caracterização sociodemográfica e desportiva dos praticantes, da
prática e das variáveis determinantes no desempenho desportivo em escalada.
Nelson Mário Baião da Cunha
Dissertação apresentada com vista à
obtenção do grau de mestre em Ciências do
Desporto na área de especialização em
Desporto Recreação e Lazer, orientada pelo
Professor Doutor Domingos Lopes da Silva.
Porto, Outubro de 2005
Referência:
Cunha, Nelson M. B. (2005). Escalada em Portugal: Estudo de
caracterização sociodemográfica e desportiva dos praticantes, da prática
e das variáveis determinantes no desempenho desportivo em Escalada.
Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em
Ciência do Desporto, na área de especialização de Desporto de
Recreação e Lazer. Faculdade de Ciências do Desporto e Educação
Física – Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE:
ESCALADA, CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA, DESPORTO DE
AVENTURA, DESEMPENHO DESPORTIVO, ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
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À Sofia,
ao Gustavo
e à Susana.
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AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
- Ao Christopher B. Wall, do Department of Kinesiology and Applied Physiology da
Universidade de Colorado e colaboradores pelo envio e autorização para
aplicação do questionário por eles utilizado, pelo interesse demonstrado pelo
tema e disponibilidade para colaborar.
- À Ana Cristina Cunha por ter verificado a tradução do questionário.
- Ao Mestre Luís Quaresma da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, ao
Mestre João Brito professor na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, ao
Mestre Mário Rui Neves, professor no Instituto Superior da Maia, ao Dr. Alfredo
Azevedo professor na EBI de Forjães e praticante de escalada e ao Eng. Sérgio
Martins, referência nacional na prática de escalada pela análise crítica e
colaboração na elaboração do questionário.
- Ao Prof. Doutor Pedro Sarmento pela disponibilidade e ajuda prestadas.
- Ao Paulo Almeida – Departamento Técnico de Escalada da Federação de
Montanhismo e Campismo de Portugal (FMCP) e ao José Carlos da Federação
Portuguesa de Montanhismo e Escalada pela análise e emissão de parecer
sobre o questionário.
- Ao Sr. Carlos Baía, Presidente da Federação Portuguesa de Montanhismo e
Escalada, pela cedência da base de informação relativa aos praticantes inscritos
na Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada.
- Ao Alexandre Rebelo, ao Marco Inácio, ao Bruno Carvalho, ao Rui Duque, ao
Pedro Guedes, ao Filipe Cardinal, ao Fernando Enes e ao Francisco Crisanto e
ao Marco Cunha pela ajuda prestada na difusão do questionário.
- À Carla Lopes pelo ajuda prestada no lançamento dos questionários na base de
dados.
- Ao Dr. Marco Cunha, ao Dr. Paulo Loureiro, ao Cláudio Alves e ao Dr. Fernando
Enes pelas sucessivas revisões de texto.
- À Dr. Helena Pereira e à Dra. Anabela Oliveira pela tradução do resumo.
- À biblioteca Prof. Doutor António Marques da Faculdade de Ciências do
Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto pelo acesso à
informação.
- A todos os participantes na amostra pela colaboração e compreensão.
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ÍNDICE
ÍNDICE GERAL
1 Introdução______________________________________________ 1 1.1 Pertinência e Âmbito do Estudo _________________________________________ 1
1.2 Delimitação do Problema _______________________________________________ 3
2 Revisão da Literatura _____________________________________ 5 2.1 As Actividades Desportivas de Aventura na Sociedade_______________________ 5
2.2 Considerações Gerais sobre Escalada _____________________________________ 7
2.2.1 Origem da Escalada_______________________________________________________7
2.2.2 Evolução e Dispersão da Escalada___________________________________________10
2.2.3 As Sub-modalidades da Escalada ___________________________________________14
2.2.4 As Escalas de Dificuldade _________________________________________________19
2.2.5 A Evolução do Grau de Dificuldade na escalada livre ___________________________22
2.3 Escalada em Portugal _________________________________________________ 23
2.3.1 A Evolução do Grau de Dificuldade em Portugal _______________________________26
2.4 Caracterização sociodemográfica de praticantes de escalada_________________________ 27
2.5 Caracterização Morfológica dos praticantes de escalada ____________________ 29
2.6 Caracterização desportiva da prática de escalada __________________________ 31
2.7 Variáveis determinantes no desempenho desportivo________________________ 32
3 Objectivos e Hipóteses____________________________________ 35 3.1 Objectivos __________________________________________________________ 35
3.2 Hipóteses ___________________________________________________________ 36
4 Material e Métodos ______________________________________ 37 4.1 O instrumento de pesquisa – Questionário________________________________ 37
4.1.1 A tradução do questionário de Wall (2004)____________________________________38
4.1.2 Definição das Variáveis de Estudo __________________________________________39
4.1.3 A elaboração do Questionário ______________________________________________40
4.1.4 Revisão do questionário___________________________________________________40
4.1.5 Estudo preliminar _______________________________________________________41
4.1.6 Análise do questionário por parte das Federações_______________________________42
4.1.7 Metodologia de aplicação do questionário ____________________________________42
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ÍNDICE
4.2 Caracterização da Amostra ____________________________________________ 44
4.3 Procedimentos Estatísticos _____________________________________________ 46
5 Apresentação e Discussão dos Resultados ___________________ 49 5.1 Como se caracterizam os praticantes de escalada __________________________ 49
5.1.1 Género ________________________________________________________________50
5.1.2 Idade _________________________________________________________________52
5.1.3 Dados socioeconómicos e educacionais ______________________________________54
5.1.4 Morfologia_____________________________________________________________57
5.2 Caracterização da prática de escalada ___________________________________ 60
5.2.1 Iniciação à prática de escalada______________________________________________60
5.2.2 Tempo de prática de escalada e Idade de iniciação. _____________________________60
5.2.3 Análise da distribuição dos diferentes tipos de escalada_______________________________63
5.2.3.1 Relação entre o estilo de escalada de iniciação e tempo de prática______________65 5.2.3.2 Relação entre o estilo de iniciação e a forma como iniciaram a prática __________66 5.2.3.3 Estudo de correlação entre as 5 questões sobre os estilos de escalada ___________66 5.2.3.4 Estudo de características particulares dos praticantes que mais se associam a cada estilo de escalada ___________________________________________________________68 5.2.3.5 Grau de agrado pelos diferentes tipos de escalada __________________________69
5.2.4 Frequência de prática_____________________________________________________70
5.2.5 Desempenho Desportivo (Grau de dificuldade superado) _____________________________71
5.2.5.1 Coeficientes de correlação entre os diferentes indicadores aferidos _____________71 5.2.5.2 Graus de dificuldade superados_________________________________________72 5.2.5.3 Estratificação da amostra por níveis de desempenho desportivo _______________73 5.2.5.4 Análise dos diferentes indicadores de dificuldade superada ___________________78
5.2.6 Participação em competições_______________________________________________80
5.2.7 Filiação dos praticantes ___________________________________________________81
5.3 Estudo das variáveis determinantes no desempenho ________________________ 82
6 Conclusões_____________________________________________ 89 6.1 Sugestões para temas de investigação relativos à escalada: __________________ 94
7 Referências Bibliográficas ________________________________ 95 7.1 Citações Indirectas:__________________________________________________ 100
8 Anexos
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ÍNDICE
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Identificação das características que permitem diferenciar as diferentes sub-modalidades da escalada, segundo o tipo de progressão, a segurança, a dimensão, o terreno e a filosofia de prática. ...................... 18
Quadro 2 – Tabela de correspondência das diferentes escalas de dificuldade. .............................................................. 20 Quadro 3 – Descrição das características dos diferentes graus de dificuldade segundo Winter (2000).......................... 21 Quadro 4 – Compilação de referências da evolução do grau de dificuldade na escalada livre. ...................................... 22 Quadro 5 - Valores percentuais de frequência do género dos praticantes da nossa amostra. ........................................ 50 Quadro 6 - Valores de tendência central e de dispersão relativos à idade. ..................................................................... 52 Quadro 7 – Valores de frequências relativos ao estado civil, instrução escolar, ocupação dos praticantes e
Classificação Nacional de Profissões........................................................................................................... 54 Quadro 8: Valores percentuais das áreas profissionais do grupo 1. ................................................................................ 55 Quadro 9: Valores de tendência central e dispersão relativos à morfologia dos praticantes ........................................... 57 Quadro 10 - Valores relativos à morfologia dos praticantes, encontrados na literatura. .................................................. 58 Quadro 11: Valores percentuais relativos à forma como os praticantes iniciaram a prática de escalada........................ 60 Quadro 12: Valores de tendência central e dispersão relativos ao tempo de prática e à idade de iniciação................... 61 Quadro 13: Análise percentílica dos valores de tempo de prática e idade de iniciação................................................... 61 Quadro 14: Valores percentuais relativos às 5 questões sobre os diferentes estilos de escalada .................................. 63 Quadro 15: Análise comparativa dos valores médios de tempo de prática e ano de iniciação dos diferentes estilos de
escalada praticados na iniciação.................................................................................................................. 65 Quadro 16: Valores percentuais de associação da forma de iniciação à prática ao estilo de escalada de iniciação. ..... 66 Quadro 17: Valores de correlação entre os resultados das 5 questões relativas aos estilos de escalada. ..................... 66 Quadro 18: Análise comparativa dos valores da média e do desvio padrão relativos aos subgrupos de praticantes que
se identificam mais com cada um dos diferentes estilos de escalada. ........................................................ 68 Quadro 19: Valores percentuais de agrado pelos diferentes tipos de escalada............................................................... 69 Quadro 20: Valores percentuais de agrado pelos diferentes tipos de escalada............................................................... 70 Quadro 21: Valores dos coeficientes de correlação do tipo Pearson entre as diferentes respostas sobre grau de
dificuldade superado..................................................................................................................................... 72 Quadro 22: Valores relativos ao grau de dificuldade máximo e grau de dificuldade actual consolidado dos diferentes
subgrupos da amostra. ................................................................................................................................. 72 Quadro 23: Divisões do praticantes de escalada em níveis de rendimento desportivo. .................................................. 74 Quadro 24: Valores percentuais da distribuição dos praticantes que escalam “de primeiro” pelos graus de dificuldade.75 Quadro 25: Valores percentuais da distribuição dos praticantes da amostra segundo a classificação de Roghbourg et al.
(2000) para os masculinos e Wall et al. (2004) para os femininos............................................................... 75 Quadro 26: Proposta de estratificação do grau de dificuldade consolidado baseada nos quartis. .................................. 76 Quadro 27: Proposta de alterada de estratificação baseada nos quartís......................................................................... 77 Quadro 28: Valores relativos ao graus de dificuldade que caracterizam diferentes grupos de nível de rendimento,
segundo um divisão pelos percentis: 35, 65 e 95......................................................................................... 77 Quadro 29: Valores relativos ao grau de dificuldade máximo à vista e actual consolidado à vista.................................. 78 Quadro 30: Valores relativos ao grau de dificuldade média das diferentes variáveis estudadas..................................... 79 Quadro 31: Valores relativos ao grau de dificuldade médio das diferentes variáveis estudadas para uma divisão
quartílica da amostra segundo o grau de rendimento dos praticantes......................................................... 79 Quadro 32: Valores percentuais relativos à participação em competições e ao tipo de competições. ............................ 80 Quadro 33: Valores de associação da participação em competições com as restante variáveis .................................... 81 Quadro 34: Valores percentuais relativos à filiação dos praticantes ................................................................................ 82 Quadro 35: Valores dos coeficientes de correlação do tipo Pearson entre o grau de dificuldade consolidado e as
variáveis métricas estudadas. ...................................................................................................................... 83 Quadro 36: Valores dos coeficientes de correlação do tipo Spearman entre a frequência de prática e o grau actual
consolidado para subgrupos com diferentes tempos de prática. ................................................................. 85 Quadro 37: Valores médios das variáveis métricas nos diferentes grupos de nível de rendimento. ............................... 86 Quadro 38: Valores referentes à morfologia de praticantes de elite de diversas amostras. ............................................ 87 Quadro 39: Valores referentes à morfologia de praticantes de elite de diversas amostras. ............................................ 88
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ÍNDICE
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo I: Tradução do Questionário Anexo II: Questionário – 1ª fase Anexo III: Questionário – 2ª fase Anexo IV:Questionário – Versão Final Anexo V: Resultados do teste de Fiabilidade do Questionário
LISTA DE ABREVIATURAS
BMC – British Mounteineering Council FCMP – Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal FPME – Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada IMC – Índice de Massa Corporal INATEL - Instituto Nacional de Aproveitamento dos Tempos Livres. INE – Instituto Nacional de Estatística P – Percentil (Ex. P95) SPSS - Statistical Package for the Social Science UIAA – Union International des Associations d’Alpinisme YDS – Yosemite Decimal System
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RESUMO
RESUMO A escalada é uma actividade emergente do alpinismo clássico que, nas últimas
décadas, tem sofrido grandes transformações no sentido de uma maior segurança e acessibilidade da prática. Esta evolução, a par das transformações ideológicas da sociedade relativas à ocupação do tempo livre e à busca de actividades informais e de ar livre, têm conduzido a um aumento do número de praticantes e a uma progressiva implantação da prática de escalada nos padrões culturais da sociedade.
Perante o desconhecimento do estado evolutivo da prática desta modalidade no nosso país, o propósito fundamental deste estudo é realizar uma caracterização desportiva e sociodemográfica da prática e dos praticantes de escalada portugueses.
Para tal, utilizamos um questionário construído a partir de um modelo de Wall et al. (2004). A aplicação do questionário decorreu durante um período de 4 meses em locais diversos, tais como: zonas de escalada em rocha, locais de treino, competições, encontros de escalada, sedes de clubes e esteve disponível em linha em dois sítios na Internet. Deste processo resultou uma amostra de 380 praticantes activos de vários estilos de escalada, sendo 78,2% masculinos, oriundos de 16 distritos de Portugal Continental, com idades a variar entre os 10 e os 53 anos.
Os resultados relativos à caracterização sociodemográfica indiciam que os praticantes de escalada são predominantemente adultos, do sexo masculino, solteiros e de estatuto profissional e educacional elevado. Morfologicamente caracterizam-se por uma estatura média e índices de massa corporal dentro dos parâmetros de normalidade, com alguma tendência para a magreza, verificada sobretudo no sexo feminino e ainda mais nos praticantes escolares.
A caracterização desportiva revelou que os escaladores praticam maioritariamente uma combinação de 2 ou mais estilos de escalada. No entanto, a escalada desportiva é a mais praticada e a preferida. A prática de escalada clássica está mais associada a praticantes mais velhos e com mais tempo de prática. A prática exclusiva de escalada clássica ou de bloco é uma opção pouco frequente. A média dos graus de dificuldade superados em escalada livre de primeiro, aferidos por auto relato dos praticantes, foram de 6b consolidado e 6c máximo nos praticantes masculinos e 6a e 6a+, respectivamente, nos praticantes femininos. Os praticantes escolares apresentam um nível médio de V+, característico de iniciação. Para identificar praticantes portugueses como sendo de elite propomos os graus de dificuldade 7a e 8a para femininos e masculinos respectivamente. Os resultados denotam um aumento do número de praticantes nos últimos anos e indiciam um aumento da acessibilidade prática.
Perante a abrangência dos dados recolhidos, avançámos para o estudo das variáveis determinantes no desempenho desportivo. Os estudos mais recentes apontam para as variáveis treináveis. Considerando as variáveis idade, idade de iniciação, tempo de prática, frequência de prática, índice de massa corporal, estatura e peso, concluímos que a única variável que se correlaciona significativamente com o desempenho desportivo é a frequência de prática. Estes valores de correlação são progressivamente mais elevados com o aumento do tempo de prática até aos 10 anos, o que revela uma dependência entre estas duas variáveis. As variáveis índice de massa corporal e idade de iniciação de prática, apesar dos fracos valores de correlação com o desempenho desportivo, mostraram ter um relação inversa com o mesmo, na comparação de grupos de diferentes níveis de rendimento. Os praticantes de maior rendimento iniciaram a prática de escalada mais jovens e tendem a ter valores de índice de massa corporal mais baixos.
Palavras-chave: ESCALADA, CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA, DESPORTO DE AVENTURA, DESEMPENHO DESPORTIVO, ÍNDICE DE MASSA CORPORAL.
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ABSTRACT
ABSTRACT
Climbing is an activity emerged from classic mountaineering. In the last decades, it has suffered great transformations towards a bigger security and accessibility. This evolution, together with the ideological transformations of modern societies regarding spare time occupation and the search of informal activities and outdoor sports, has lead to an increase of climbers and to a progressive implantation of this sport in the cultural patterns of our society.
Due to the lack of knowledge concerning the evolutionary stage of this activity in our country, the main purpose of this study was to characterise climbing and its practitioners in a sportive and socio-demographic perspective.
In order to accomplish this task we used a questionnaire by Wall et al. (2004) which we adapted to the aim of our study. We applied it for a period of 4 months in several places such as: rock climbing areas, training gyms, competitions, headquarters of clubs and it was also available on line in two web sites. As a result we got a sample of 380 active climbers of different climbing styles, being 78,2% male, coming from 16 districts of Portugal, between the ages of 10 and 53.
The results regarding the socio-demographic characterisation indicate that climbers are mostly adults, male, single and with high professional and educational status. Anthropometrical measures show that climbers have medium height and normal body mass index values, with a tendency to be underweight. This was particularly verified in female climbers and even more in teenagers.
Climbing characterisation reveals that climbers usually practice a combination of several climbing styles. However, sport climbing is the most practised and preferred one. The traditional climbing practice is associated to older and more experienced climbers. The exclusive practice of traditional climbing or bouldering is not common. The average difficulty level for leading free climbing, assessed by self-report, were 6b for current perceived ability and 6c for past best performance in males and respectively 6a and 6a+ in females. School climbers present an average level of V+, which is typically a beginners’ performance. To identify Portuguese elite performers we propose a climbing level of 7a and 8a for females and males respectively. Our results show that the number of climbers has recently increased, suggesting that climbing have become accessible to a larger group in society.
Considering the range of the collected data, we proceeded with the study of the variables that determine climbers’ performance. The most recent studies point to the trainable variables. Considering age, beginning age, climbing experience and frequency, body mass index (BMI), height and weight we came to conclusion that climbing frequency is the only variable that has shown a significant correlation with climbing performance. These correlation values are progressively higher as the practice time increases up to 10 years, which shows a dependence between these two variables. Despite the low correlation values, the variables body mass index and beginning climbing have shown an inverse relation to climbing performance, among groups of different skill categories. The highly skilled performers began climbing at an earlier age and tend to have lower body mass index.
Key-words: ROCK CLIMBING, OUTDOOR SPORTS, SOCIODEMOGRAPHIC CHARACTERISATION, PERFORMANCE DETERMINANTS, BODY MASS INDEX.
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RÉSUMÉ
RÉSUMÉ L’escalade est une activité émergeant de l’alpinisme classique qui, dans les
dernières décennies, a souffert de grandes transformations dans le sens d’une sécurité renforcée et de l’accessibilité à la pratique. À côté des transformations idéologiques de la société en ce qui concerne les loisirs et la recherche d’activités informelles et à l’air libre, cette évolution a conduit à une augmentation du nombre de pratiquants et à une progressive implantation de la pratique de l’escalade dans les patrons culturels de la société.
Devant la méconnaissance de l’état évolutif de la pratique de cette modalité dans notre pays, le dessein fondamental de cette étude se rapporte à la caractérisation sportive et sociodémographique de la pratique et des pratiquants d’escalade portugais.
Pour ce faire, nous avons utilisé un questionnaire par Wall et al. (2004). Ce questionnaire a été appliqué pendant une période de quatre mois dans des sites d’escalade, des lieux d’entraînement, de compétitions, de rencontres d’escalade, des sièges de clubs, et il s’est aussi trouvé disponible en ligne sur Internet, sur deux sites. De ce procédé, nous avons recueilli un échantillon de 380 grimpeur actifs de plusieurs styles d’escalade, desquels 78,2% masculins, venant de 16 districts du Portugal Continental, ayant entre 10 et 53 ans.
Les résultats relatifs à la caractérisation sociodémographique donnent des indices selon lesquels les adultes, ont tendance à prédominer parmi les pratiquants de l’escalade, qu’ils sont plutôt du sexe masculin, célibataires et d’un statut professionnel et éducationnel élevé. Du point de vue morphologique, ils se caractérisent par une stature moyenne et des indices de masse corporell dans les paramètres normaux, avec une certaine tendance pour la minceur, que l’on vérifie surtout parmi le sexe féminin et encore plus chez les pratiquants scolaires.
La caractérisation sportif a revéle que les grimpeurs pratiquent surtout 2 ou plusieurs styles. Néanmoins l’escalade sportive est la plus pratiquée et la préférée. La pratique de l’escalade sur terrain d’aventure semble être plus associée à des pratiquants plus âgés et ayant plus de temps de pratique. La pratique exclusive de l’escalade sur terrain d’aventure ou sur bloc est peu fréquente. La moyenne des degrés de difficulté sermontée en escalade libre en tête, d’aprés le témoignage des pratiquants, a ét de 6b consolidé et de 6c maximium, chez les pratiquants masculin. Les pratiquants feminin at été respetivement 6a et 6a+. Les pratiquants scolaires présenten un nivueau moyen de V+ caractéristique des débutants. Afin d’identifique les pratiquants d’elite portugais, nous proposons les difficulté 7a por les féminins et 8a por les masculins. Les résultats révèlent une augmentation du nombre de pratiquants d’escalade sur les dernières années.
Face à l’étendue de la base de données recueillie, nous avons avancé vers l’étude des variables qui déterminent les performances sportif des grimpeurs. Les études les plus récentes pointent vers les variables susceptibles d’entraînement. Tenant en compte les variables âge, l’âge d’iniciation, experience et frequence de la pratique, indice de masse corporelle, taille et poids, nous avon conclu que la seule variable qui a une valeurs de correlation significatif avec la performance c’est la frequence de la pratique. Ces valeurs de correlation sont progressivement plus élévé avec l’augmentation le la pratique jusqu’à 10 ans. Cela demontre une dépendence entre ces deux variables. Les variable indice de masse corporelle et l’âge de iniciation malgré les faibles valeurs de correlation avec la performance sportive, ont demontré avoir un rapport inverse avec la performance dans la comparaison entre des sons-groupes de different performances. Les grimpeurs d’élite ont débuté la pratique de léscalade plus précocement et tendent vers des valeurs d’indice de masse corporelle plus basses.
Mots-clé : ESCALADE, CARACTERISATION SOCIODEMOGRAPHIQUE ET SPORTIVE, SPORT D’AVENTURE, PERFORMANCE, INDICE DE MASSE CORPORELLE.
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GLOSSÁRIO
Glossário
- Abertura de vias – processo de preparação, equipagem e limpeza de uma via de
escalada e/ou escalada de uma via pela primeira vez.
- Bloco – Termo traduzido para português da palavra boulder, que significa a prática de
escalada em pequenos blocos ou pequenas falésias sem recursos a corda.
- Canyoning – prática desportiva que consiste na descida de rios de montanha com
recurso a diversos meios de deslocação entre eles a descida por cordas em técnica de
rapel.
- Crampons – peça metálica que se encaixam nas botas dos alpinistas, com bicos
pontiagudos de forma a facilitar a progressão em gelo.
- Crash-pad – pequeno colchão que se coloca na base das vias de escalada de bloco
para proteger a recepção do escalador em caso de queda ao solo.
- Croquis – é um esquema que representa uma ou mais vias de escalada, indicando
várias informações relativamente a estas.
- Encadear – significa a realização total de um via completa, sem ajudas artificiais para
ascender até ao topo desta.
- Entaladores – são peças metálicas que se utilizam entalados nas fendas das paredes
como forma de segurança em caso de possível queda.
- Escalada “a abrir” ou “à frente” – significa realizar um via com a corda a partir de
baixo, passando esta pelos pontos de segurança à medida que o escalador vai
escalando.
- Escalada “à vista” – significa o encadeamento de uma via à primeira tentativa, sem
nunca ter estado nessa via.
- Escalada Desportiva – escalada realizada em rocha natural ou em paredes artificiais,
sobre vias protegidas com pontos fixos de segurança.
- Escalada em Gelo – escalada realizada sobre gelo glaciar ou de fusão
- Escalada em Top-Rope – escalada com a corda previamente colocada a passar no
topo da via, em oposição à escalada “à frente”.
- Expressos – é o conjunto de dois mosquetões unidos por uma cinta e que serve
normalmente para colocar um mosquetão num ponto intermédio de segurança e o
outro para passagem da corda.
- Extraprumo ou subprumo – inclinação de uma parede de escalada superior a 90º.
- Himalaismo – prática de actividades de montanha como ascensões e travessias na
Cordilheira Himalaia.
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GLOSSÁRIO
- Largo – é uma parte de uma via que vai desde a base da via até à 1ª reunião ou entre
duas reuniões. Normalmente não ultrapassa os 60 metros.
- Pés de gato – é o calçado utilizado pelos escaladores, uma vez que lhes permite uma
maior aderência à rocha.
- Piolet – é um armação utilizada pelos alpinistas, semelhante a um machado, que
permite a fixação no gelo servindo assim de apoio para a progressão em terrenos
nevados.
- Pitões – é um espécie de cravo que se coloca em fendas muito estreitas através de um
martelo, de forma a que sirva como ponto de segurança.
- Pontos de segurança – materiais instalados na rocha que se podem utilizar para a
segurança do escalador.
- Presa – qualquer saliência ou concavidade da rocha em que a mão ou os dedos se
podem apoiar para permitir a progressão ou sustentação na parede.
- Problema – designação utilizada para as vias na escalada de blocos.
- Progressão em artificial – uma via é realizada em artificial quando se utilizam
materiais para se progredir na parede.
- Progressão em estilo Livre – diz-se que uma via se ascendeu em livre quando o
escalador a realiza sem usar pontos artificias auxiliares para ajudar na progressão.
- Rapel – técnica utilizada para descer declives com recurso a corda utilizada na
escalada.
- Reunião – normalmente constituída por dois pontos de segurança, existentes no final
de uma via ou de um largo e que tem a função da passagem da corda para o escalador
poder descer ou como ponto de fixação do escalador.
- Rocódromo – é uma estrutura artificial de escalada.
- Tábua multipresas – é um método de treino dirigido que consiste na realização de
movimentos só com os braços numa pequena tábua, saltando de presa em presa.
- Top-rope – ver Escalada em top-rope.
- Trabalho de uma via – processo de treino e ensaio múltiplo antes de conseguir
encadear uma via.
- Via – é o percurso definido na parede por onde se deve ascender.
- Via de Escalada – itinerário em rocha, gelo ou estrutura artificial preparado para a
prática de escalada.
- Via encadeada após trabalho – via superada depois de estudada e ensaiada várias
vezes.
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INTRODUÇÃO
11 INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO
“A melhor forma de trabalharmos nos nossos limites e
realizarmos as coisas mais assombrosas é divertirmo-nos.
Não se trata de fazer uma coisa apenas porque
alguém nos disse que era impressionante.
Trata-se de não ser capaz de imaginar um lugar
no mundo onde gostaríamos mais de estar.”
Peter Croft
1.1 PERTINÊNCIA E ÂMBITO DO ESTUDO
A Escalada que hoje conhecemos e pretendemos estudar é muito
diferente das suas origens. Este complexo e interessante processo evolutivo,
característico da actividade, encontra fundamentos em fenómenos de ordem
desportiva e social sobre os quais importa reflectir.
Uma análise histórica da modalidade permite-nos perceber que a
utilização de técnicas de escalada surgiu com um intuito prático e exploratório.
No entanto, da exploração dos limites da natureza, a utilização das técnicas de
escalada evoluiu para a exploração dos limites do homem.
Nos dias de hoje, mais do que uma actividade de alto risco, praticada em
ambientes extremos, por homens de excepcional coragem e grande
capacidade física, a escalada é, cada vez mais, uma actividade urbana,
acessível a todos e de risco controlado.
Do sentido exploratório ao sentido desportivo, da marginalidade à
massificação, da informalidade à regulamentação, a escalada de hoje é
produto de enormes transformações.
“O que era então loucura,... passou a ser cultura!” (Vieira, 2002).
1
INTRODUÇÃO
No entanto, estas transformações da modalidade não têm sido
uniformes nem convergentes. Pelo contrário, tem-se assistido a um processo
de divisão da actividade em diferentes sub-modalidades. Estas diferentes sub-
modalidades fazem da escalada um fenómeno disperso, orientado por
diferentes éticas e filosofias de prática, que diferem entre si no grau de risco,
na dificuldade, nas técnicas de progressão, nas regras e no terreno de jogo.
Os países da Europa Central têm sido pioneiros e lideres no
desenvolvimento da escalada. Não sendo um país com tradição nos desportos
de montanha, Portugal tem revelado uma tendência de acompanhamento da
implantação desta disciplina desportiva, ainda que a ritmo próprio. No nosso
país existe uma comunidade de praticantes de escalada, que se supõe
crescente em número, nível desportivo e recursos para a prática.
Perante o desconhecimento de dados que nos permitam identificar, com
rigor, em que estado está e de que forma evolui a prática de escalada no nosso
país, parece-nos pertinente fazer um corte transversal que nos permita
caracterizar a prática de escalada em Portugal. Assim, pretendemos
caracterizar quantitativa e qualitativamente uma amostra de praticantes e a
respectiva prática de escalada. Vários estudos disponíveis na literatura
científica debruçaram-se sobre as correlações entre a morfologia e o nível de
rendimento desportivo dos praticantes.
No entanto, os estudos mais recentes apontam para que as variáveis
que dependem directamente do processo de treino sejam as que melhor
explicam as variações do desempenho. Estes estudos têm sido realizados com
amostras relativamente pequenas e alguns deles com amostras muito
específicas e especializadas. A vasta informação relativa a uma amostra
numerosa e abrangente do nosso estudo permite-nos fazer inferências nesta
área de estudos.
Acreditamos que os resultados deste estudo possam contribuir para uma
melhor compreensão do estado do desenvolvimento da modalidade e possam
ser uma referência na definição de políticas de desenvolvimento da
modalidade.
2
INTRODUÇÃO
1.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Como referido anteriormente, o fundamento deste estudo é realizar um
corte transversal na prática de escalada relativa a um País (Portugal) e a um
tempo (2004-2005). Tendo por base este fundamento e apoiados na revisão de
literatura, as áreas temáticas que pretendemos analisar neste estudo são as
seguintes:
- Quem são os praticantes de escalada em Portugal? Não sendo a
escalada uma actividade desportiva de massas, pretendemos
compreender se existem padrões socioculturais que possam estar
associados à prática de escalada. Serão os mais instruídos, os mais
ricos, os mais jovens? Serão os homens mais do que as mulheres?
- Como se caracteriza a morfologia dos praticantes? Na mesma ordem
de ideias, ainda que de uma forma grosseira, pretendemos perceber
se existem tendências morfológicas associadas à prática desta
modalidade.
- Desportivamente, como se caracteriza a prática de escalada em
Portugal? Existindo várias sub-modalidades de escalada,
pretendemos compreender a distribuição dos praticantes pelas
diferentes modalidades e analisar o desempenho desportivo dos
praticantes.
- Para além desta vertente mais descritiva, utilizando procedimentos
estatísticos de cruzamento de variáveis, pretendemos também
realizar as seguinte inferências:
- Compreender se os aspectos de caracterização pessoal e desportiva,
poderão explicar as opções pela prática dos diferentes tipos de
escalada.
- Perceber quais as variáveis e em que medida explicam o nível de
desempenho desportivo dos praticantes.
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4
REVISÃO DA LITERATURA
22 REVISÃO DA LITERATURAR LEVISÃO DA ITERATURA
2.1 AS ACTIVIDADES DESPORTIVAS DE AVENTURA NA SOCIEDADE
O desporto assume-se nos dias de hoje como um dos fenómenos mais
importantes da sociedade contemporânea. A partir da década de 60 do século
passado, aconteceram uma série de alterações culturais, económicas e
ideológicas que afectaram as sociedades dos países mais desenvolvidos.
Neste contexto, alguns sociólogos têm tentado analisar o fenómeno do
desenvolvimento e implantação das actividades desportivas de aventura e
exploração da natureza na sociedade actual (Bertan, 1995)b.
Perante uma mudança ideológica tão grande os analistas dizem que
estamos a viver uma nova era designada por pós-modernidade. Passámos de
uma sociedade industrial (era da modernidade), para uma sociedade de
serviços e da informação (Bertan, 1995)b.
O desporto, que nasce e se desenvolve na era da modernidade, sendo
uma das grandes marcas deste período, com as mudanças dos paradigmas,
conceitos e mentalidade da sociedade, dá origem a um novo conjunto de
práticas corporais que parecem mais adequadas às necessidades e gostos da
pós-modernidade (Bertan, 1995)2. O desporto, vem disputar a ocupação do
tempo de ócio activo, que se tornou numa necessidade, sobretudo para as
camadas jovens (Tojeira, 1992).
O prazer, a natureza, a emoção, a diversão e a aventura ao alcance de
todos, no entanto, consumidos de forma individualizada, ainda que geralmente
na companhia de outros e inclusivamente em cooperação, sem distinção de
género, idade ou nível desportivo, são elementos essenciais para a
identificação com estas actividades (Bertán, 1995)a. As sensações vividas em
grupo nas ondas, nas falésias ou na neve, substituem as noções de
competição e da batalha pela vitória. Deixa de ser um questão de “lutar contra”
para passar a ser uma questão de “partilhar com” (Lésélouc et al., 2002).
5
REVISÃO DA LITERATURA
Esta recente vaga de actividades desportivas torna-se aliciante porque
contém uma oferta de práticas individualizadas e pouco regulamentadas, em
que os adversários deixam de ser concorrentes directos e passam a ser as
forças da natureza e auto superação do próprio praticante, aliado a uma
componente de aventura com a exaltação do risco (Padiglinone, 1995).
O risco, ainda que controlado, é um elemento aliciante pelo sentido de
contradição de toda a segurança e tecnologia características da sociedade em
que vivemos. Não deixa de ser ilusório se pensarmos que os avanços
tecnológicos introduzidos nestas actividades é que permitem uma prática
segura, baseada na qualidade e resistência dos materiais e nos meios de
informação e comunicação, que minimizam e controlam as situações de risco
(Bertrán, 1995) a.
Neto (1995) sistematizou cinco motivações principais para a proliferação
desta vaga de novas actividades desportivas:
- o confronto com o espaço natural – natureza;
- a imprevisibilidade deste meio – aventura;
- o risco e aventura corporal - perícia, autocontrole, disciplina,
sobrevivência;
- a liberdade de escolha das práticas e das condutas – informalidade;
- o desenvolvimento e identificação com um grupo e uma cultura –
socialização.
Esta nova gama de actividades, frequentemente apelidada como
Desportos Radicais, pode ser uma forma de mudar os conceitos que temos da
prática desportiva formal, com vista ao rendimento e ao negócio. Estas novas
modalidades desportivas podem ajudar a difundir o conceito de desporto como
actividade física para todos, desprovida de sentido competitivo e elitista. No
entanto, a sociedade já tem levado estas novas práticas desportivas a perder
este sentido, com a progressiva institucionalização e comercialização das
mesmas (Neto, 1995).
6
REVISÃO DA LITERATURA
2.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE ESCALADA
Quando falamos de escalada estamos a falar de um conjunto de práticas
distintas e de uma quantidade de jogos que se podem fazer na vertical
(Hanting, 1998). A evolução que a escalada sofreu ao longo das últimas
décadas, tornou-a num fenómeno, de tal forma disperso, que é difícil encontrar
uma definição abrangente. Nas definições de vários autores como Stückl e
Sojer (1993), Hoffmann (1993) e Long e Raleigh (1995) verifica-se que quanto
mais específicas são, menos abrangentes se tornam. Assim sendo,
escolhemos a definição de Chumbinho (1996), que por ser breve e
generalizada se revela mais abrangente:
“Escalada é uma actividade que consiste na progressão quadrúpede sobre um plano que tende para a vertical.”
Uma análise mais aprofundada das diferentes sub-modalidades de
escalada existentes na actualidade, permitirá perceber que esta definição
também não é totalmente abrangente, no entanto, adequa-se satisfatoriamente
ao conceito de escalada que pretendemos tratar neste estudo.
A escalada pode variar entre a superação de pequenos blocos de rocha,
a escalada de alta competição, a superação de grande vertentes montanhosas,
ou de qualquer objecto grande o suficiente para ser trepado (Viviani e
Calderan,1991). Tudo isto é escalada!
Acreditamos que qualquer tentativa de compreensão de fenómenos
relacionados com a escalada, mais do que uma definição perfeita, necessita de
uma análise histórica da origem, evolução e dispersão da modalidade.
2.2.1 ORIGEM DA ESCALADA
A literatura é consensual em considerar que a escalada tem a sua
origem no montanhismo. A escalada evoluiu do aperfeiçoamento das técnicas
de progressão em rocha e gelo utilizadas para superar as partes mais
íngremes dos itinerários que conduziam aos cumes das montanhas. Assim, a
história da escalada aparece sempre associada à história do montanhismo.
7
REVISÃO DA LITERATURA
Até ao séc. XIII, as montanhas eram vistas como gigantescos
elementos da natureza, absolutamente adversos ao homem. Porém, eram
conhecidas algumas histórias de ascensões e travessias. As explorações de
caça, pastoreio e recolha de minerais levavam o homem a aventurar-se no
mundo das montanhas. Mas, mesmo depois de ultrapassada a ideia de que os
cumes das neves eternas eram habitados por demónios ou deuses
adormecidos capazes de fulminar quem invadisse os seus domínios, ainda
não haviam razões suficientes que levassem as pessoas a subir aquelas
paragens. Não obstante, os grandes maciços sempre foram objecto de
admiração e respeito. Adorados ou temidos, os colossos do mundo jamais
foram ignorados (Roxo, 2001).
Durante séculos, as actividades de exploração das montanhas
estiveram ligadas a razões meramente utilitárias (caça, religião, recolha de
minerais e estratégia militar). Estes comportamentos do homem, não são
considerados na literatura como sendo as origens da escalada, mas
implicaram a utilização de técnicas de escalada para aceder aos locais onde
foram encontrados.
Alguns historiadores remontam o nascimento do Alpinismo ao ano de
1358 com ascensão ao monte “Rocciamelone”, com 3358 metros de altitude.
Naquela época era considerado o cume mais elevado da cordilheira do Alpes.
Esta ascensão foi levada a cabo por Rotário d’Asti. Outros historiadores
remetem-nos para 1492, quando Carlos VIII (Rei de França) após ter negado a
cedência de fundos a Cristovão Colombo ordenou ao seu tenente que
escalasse o Monte-Aiguille (Dauphiné), um cume rochoso, até então reputado
de inacessível (Paci, 1994).
No entanto, a data de 8 de Agosto do ano de 1786 é provavelmente a
mais emblemática da história da exploração Alpina. Michel Gabel Paccard, em
conjunto com Jaques Balmat, ascende finalmente ao topo da Europa
Ocidental, o Monte Branco. Porém todos estes esforços nunca poderiam ser
compreendidos pela sociedade de então, se não tivessem um cariz
exclusivamente científico (Roxo, 2001).
8
REVISÃO DA LITERATURA
O Alpinismo havia nascido. Os Alpes tornaram-se, desde então, num
vasto território de aventuras. Uma por uma, as grande montanhas foram sendo
ascendidas, a última das quais o Cervino em 1865 por E. Whymper,
considerado até então inacessível. É no decorrer do séc. XIX que se dá o
afirmar do alpinismo como uma actividade desportiva rompendo com a
actividade científica (Paci, 1994).
Depois de todos os grandes cumes dos Alpes terem sido alcançados, os
exploradores das montanhas começaram a ansiar novos desafios. A par da
proliferação das expedições extra europeias na década de 50 do século passado,
começou-se a olhar a cordilheira dos Alpes de uma forma mais detalhada. Ao
conceito amplo de conquista do cume sucedeu o interesse pela escolha dos
itinerários de ascensão. Em breve, as montanhas dos Alpes começaram a ser
ascendidas por faces e arestas nunca antes pensadas (Roxo, 2001).
Esta audácia de escolher itinerários mais íngremes e de maior
exposição, que obrigam à progressão quadrúpede e sugerem a utilização de
técnicas de segurança com corda, demarca o caminho para o conceito de
escalada que conhecemos hoje. A dificuldade começou a ser o objectivo
principal e o desporto começou a suceder à exploração. A partir de 1960
começam-se a diferenciar os escaladores alpinistas dos escaladores ditos
“puros”. A partir da década de 70, a escalada liberta-se do alpinismo,
consagrando-se progressivamente numa disciplina autónoma, assumindo-se
como um fim em si (Viret et al., 1987).
Começaram a ser superados itinerários cada vez mais difíceis,
sobretudo em rocha, deixando de lado a ideia dos grande cumes. Grandes
paredes começam a ser cruzadas por escaladores e novos desafios se
impõem. No montanhismo enfrentam-se o frio, a altitude, as intempéries e as
vertentes geladas. Na escalada enfrentam-se a verticalidade, as fissuras
difíceis, as placas lisas e expostas e os tectos desafiantes (Roxo, 2001).
É durante esta evolução progressiva de ideias, técnicas e materiais que
uma técnica do alpinismo ganha uma identidade própria – a Escalada (Viviani
e Calderan, 1991).
9
REVISÃO DA LITERATURA
2.2.2 EVOLUÇÃO E DISPERSÃO DA ESCALADA
A evolução da escalada nunca foi linear nem consensual. Durante
muitos anos o objectivo principal foi sempre alcançar o cume sem que se
valorizasse o itinerário escolhido ou a forma de progressão (Hochholzer e
Schoeffl, 2003). No entanto, na primeira década do século XX começa a
despertar uma polémica sobre a ética na utilização de meios ditos artificiais. Se
por um lado alguns escaladores prestigiados defendiam incondicionalmente a
escalada de “mãos nuas”, por outro lado, outros escaladores igualmente
prestigiados defendiam a utilização de meios ditos artificiais, utilizando
regularmente “pitons” cravados na rocha como auxílio à progressão (Paci,
1994).
Esta divergência levou à criação de dois conceitos diferentes de
progressão em escalada: livre e artificial.
A técnica de escalada em livre define-se pela progressão através do uso
exclusivo dos segmentos corporais, sem ajudas externas para progredir. As
cordas, mosquetões e outros materiais servem apenas para deter o escalador
em caso de queda (Hoffmann, 1993; Long, 1995). Os únicos meios artificiais
permitidos são as sapatilhas de escalada (pés-de-gato) e o pó de magnésio
para secar o suor das mãos (Winter, 2000). Em oposição, à progressão em
livre, na técnica de progressão em artificial, o escalador utiliza os materiais
para se apoiar, descansar e progredir. Esta técnica permite superar itinerários
de maior dificuldade, de inclinação muito acentuada e com poucos apoios para
progredir em livre (Hoffmann, 1993).
Um dos tipos de escalada hoje existentes, designado como Escalada Clássica, identifica-se muito com a origem da escalada, apesar de ser ainda
praticada na actualidade. Tem como principal intuito a superação e exploração
de grandes acidentes naturais. Este tipo de escalada admite os dois tipos de
progressão (livre e artificial) e decorre geralmente por itinerários não
equipados, tendo de se recorrer à técnica de colocação de pontos de protecção
(Stückl e Sojer, 1993).
10
REVISÃO DA LITERATURA
Com o desenvolvimento da técnica de escalada livre e libertos dos
conceitos tradicionais da escalada, alguns escaladores concentram-se em
movimentos explosivos e gímnicos conseguindo superar vias cada vez mais
exigentes (Hoffmann, 1993). Em 1970, é alcançado o sétimo grau de
dificuldade nos Estados Unidos da América. O vale de “Yosemite” converteu-se
numa Meca da escalada na América do Norte, sucedendo-se o mesmo com o
“Verdon” em França. Definitivamente começam a surgir novas tendências no
mundo da escalada, sendo a atracção pela dificuldade cada vez maior (Campo,
2002).
Esta atracção pela dificuldade levou à instituição em França de uma
nova filosofia. As abundantes placas de calcário existentes neste país repletas
de buracos que, embora não favoreçam a colocação de entaladores, são muito
aliciantes para serem escaladas. A evolução dos materiais permitiu equipar
estas falésias com pontos de segurança fixos, permitindo que as mesmas
fossem escaladas em maior segurança (Hoffmann, 1993).
A segurança relativa dos pitões foi substituída pela garantia das buchas
expansivas. A grande quantidade de acessórios que os escaladores
carregavam, foi reduzida a uma conjunto de mosquetões unidos por cintas
(expressos), tornando a colocação dos pontos de segurança um processo
rápido e mecânico. Desenvolve-se o culto do “corpo-rocha”. O material utilizado
é apenas o mínimo indispensável para garantir a segurança. Estamos perante
uma nova filosofia com um carácter próprio, a Escalada Desportiva (Campo,
2002).
Inserido no espírito de escalada de dificuldade nasce também a
Escalada de Competição. As provas de escalada de velocidade já se
realizavam na ex-URSS desde há muito anos, mas as provas de dificuldade só
se começaram a realizar no início da década de 80 do século passado.
(Hochholzer e Schoeffl, 2003). As primeiras competições realizaram-se em
rocha, no entanto, começaram a construir-se paredes de escalada artificiais,
para receber as competições internacionais. As estruturas artificiais, também
designadas como “rocódromos”, permitem uma maior igualdade de condições
11
REVISÃO DA LITERATURA
entre escaladores e uma mais fácil adequação dos níveis de dificuldade aos
atletas. Nas competições em velocidade, ganha quem chegar ao topo da via
em menos tempo e nas de dificuldade ganha quem conseguir chegar mais alto.
A partir de 1985, em Bardonechia (Itália), as competições começaram a
adquirir um carácter organizativo mais formal (Albesa e Lloveras, 1999). Em
1986 duas competições organizadas em França, nomeadamente em Janeiro,
em “Vaulx en Velin” e em Setembro em “Troubat”, vieram dar um grande
entusiasmo para a continuidade destas manifestações desportivas competitivas
(Viret et al., 1987).
A primeira competição de carácter mundial realizou-se em Grenoble,
França, com a participação de 18 países; e em 1988 o Master’s de Paris-Berci
foi um enorme sucesso. A primeira Taça do Mundo realizou-se em 1989, com 7
provas. Actualmente, existe um programa internacional de competições, com a
realização de Taças do Mundo todos os anos, campeonatos internacionais de 2
em 2 anos e Campeonatos do Mundo de 4 em 4 anos. Nos Jogos Olímpicos de
Inverno de Albertville (1992) em França, celebrou-se uma competição não
oficial com carácter de demonstração, esperando-se que venha a integrar os
Jogos Olímpicos de Turino, Itália em 2006 (Winter, 2000). No entanto, Payne
(2004) considera que, ao nível de organização interna, há ainda um grande
percurso a percorrer até que a escalada se torne uma modalidade olímpica.
Entretanto, a escalada de pequenos blocos de pedra, que pode parecer
uma moda recente, tem origens anteriores à escalada desportiva. Não existe
uma data concreta para o nascimento da escalada de blocos. Identificar essa
data seria tentar descobrir quando é que pela primeira vez, alguém observou
atentamente um bloco de pedra e sentiu apelo para o subir.
Referências relativas aos finais do século XIX, falam de um
comportamento curioso de uma população como sinal de virilidade e preparação
para o matrimónio. Esta comunidade levava os jovens a escalar um emblemático
bloco de pedra, designado por “Eagle Stone”. Este ritual passava-se numa zona
Britânica chamada Peak District, que actualmente é um dos pontos de maior
importância mundial para prática da Escalada de Bloco (Campo, 2002).
12
REVISÃO DA LITERATURA
A escalada de bloco, ou simplesmente “bloco”, é mais uma das sub-
modalidades da escalada que consiste em superar blocos e falésias de baixa
estatura, que permitam ser escalados em segurança sem recurso a cordas. A
integridade física dos praticantes é assegurada apenas por colegas e
pequenos colchões portáteis colocados no chão, para amparar e amortecer as
quedas (Sherman, 1998).
As primeiras referências da escalada de bloco como modalidade lúdica,
remontam ao ano 1910 em Bas-Cuvier, Fontainebleu, protagonizadas por uma
grupo de jovens designado “Groupe des Rochassiers” que se dedicava à
escalada de pequenos blocos (Campo, 2002). O bosque de Fontainebleu é
hoje considerado o berço da escalada de bloco devido à actividade aí
desenvolvida no início do século XX (Zorrilla, 2000).
A prática da escalada de blocos, para além de actividade lúdica,
começou a ser também entendida como um óptimo método de treino e
preparação para as grandes escaladas Alpinas. O número de praticantes e de
zonas de prática foi aumentando ao ponto de justificar a publicação dos
primeiros guias de zonas de bloco por volta da década de 40 (Campo, 2002).
Nos anos 50 aparece um nome que é hoje considerado o pai da
escalada de bloco moderna, Jonh Gill. Este homem foi quem mais influenciou a
prática de bloco como conhecemos hoje. Jonh Gill, que tinha formação
desportiva de ginasta, transpôs parte da metodologia do treino e as suas
capacidades físicas para a escalada. Desta forma, conseguiu revolucionar a
técnica de escalada em bloco e aumentou em muito o grau de dificuldade até
então superado (Sherman, 1998). Outra inovação que Jonh Gill trouxe da
ginástica para a escalada, foi a utilização do pó de magnésio para absorver a
transpiração das mãos e consequentemente aumentar a aderência à rocha.
Com toda a sua inovação técnica e capacidade física, John Gill foi responsável
pela abertura de uma enorme lista de vias de bloco (problemas), alguns deles
emblemáticos e que esperaram mais de uma década para serem repetidos
(Hochholzer e Schoeffl, 2003).
13
REVISÃO DA LITERATURA
No entanto, o “boom” da escalada de blocos só acontece nos anos 90.
Nesta década o bloco transforma-se num verdadeiro fenómeno social, com
muitos praticantes de escalada a trocar as cordas por um simples colchão
portátil, uma escova de aço e muita vontade de trepar. Nesta modalidade
também existe uma vertente competitiva com competições nacionais, Taça do
Mundo e Campeonato do Mundo (Campo, 2002).
Do Alpinismo e da progressão sobre terrenos nevados e corredores de
neve gelada, surge também a Escalada em Gelo. O declive acentuado deste
percursos levou à adopção de técnicas de segurança com corda e a
instrumentos que facilitam a progressão, nomeadamente os nas botas e os
piolets manipulados com as mãos. Esta actividade que tem por base
essencialmente as actividades invernais, foi progressivamente evoluindo no
sentido do aumento da dificuldade e da desportivização. Hoje, progride-se
sobre vertiginosas colunas de gelo, em cascatas naturais, utilizando crampons
e piolets com formas especialmente concebidas para este efeito. Também já
existe uma vertente competitiva de escalada em gelo.
A dispersão dos vários estilos de escalada existentes na actualidade
nasce das dicotomias éticas anteriormente descritas, relativas a aspectos
como: a técnica de progressão, os locais de prática, o grau de dificuldade a
superar e o risco assumido pelo praticante.
2.2.3 AS SUB-MODALIDADES DA ESCALADA
Cada disciplina da escalada possui uma filosofia própria, bem como
necessidades diferentes. É totalmente diferente escalar um pequeno bloco em
Fontainebleu (França), escalar uma via de 900 metros em Yosemite (EUA),
escalar uma falésia totalmente equipada, junto ao mar ou mesmo escalar uma
cascata congelada em Gavarnie (Pirinéus). Tudo isto é escalada, mas a
filosofia e os objectivos destes escaladores são, à partida, diferentes. A história
da evolução da escalada e a literatura disponível leva-nos a identificar como
principais correntes da escalada: a clássica, a desportiva, o bloco e a
escalada em gelo. No entanto, existem outras correntes, mais recentes, que
14
REVISÃO DA LITERATURA
acabam por ser variantes, fusões ou extremos das anteriormente
apresentadas, às quais também faremos curta referência.
Com base em vários autores (Hoffmann, 1993; Long, 1995; Sherman,
1998; Hatting, 1998; Zorrilla, 2000 e Schuster et al., 2001) apresentamos de
seguida uma definição para as principais sub-modalidades da escalada.
Escalada Clássica: consiste na escalada de grandes vias, em
montanha ou grandes falésias, que não estão previamente equipadas com
pontos de segurança fixos. Desta forma, a segurança é feita através da
colocação de entaladores (objectos criados para se entalarem nas fissuras da
rocha) à medida que se progride. Estes objectos vão sendo retirados, pelo
segundo escalador ficando a rocha como estava anteriormente. Este tipo de
escalada é o mais fiel às origens da escalada, tendo por objectivo o cume, a
conquista e a exploração. Para tal, é aceite a utilização das duas técnicas de
progressão – livre e artificial.
Escalada Desportiva: consiste na escalada de vias totalmente equipadas
com pontos fixos intermédios de segurança fiáveis, que permitem ao escalador
concentrar-se essencialmente no movimento do corpo para a superação da
dificuldade. Ao contrário da escalada clássica, a escalada desportiva, prima pela
técnica de progressão em livre. Procura-se a todo o custo superar cada via de
início ao fim sem repousar no material, o que nos conduz ao conceito de
encadeamento de uma via. O conceito de encadeamento de uma via refere-se à
capacidade de escalar a via toda de uma vez, sem qualquer recurso aos
materiais para repouso ou auxílio na progressão.
Este tipo de escalada pode ser praticada em rocha ou em estruturas
artificias, habitualmente designadas por rocódromos. A escalada desportiva
inclui também uma vertente competitiva, com as competições de dificuldade e
as de velocidade. Existe uma variante da escalada desportiva que transpõe a
mesma filosofia para as grandes paredes. Nesta variante, designada por
desportiva em parede, os escaladores propõem-se a escalar vias de muitos
metros de dificuldades elevadas, com a preocupação do encadeamento (em
estilo livre).
15
REVISÃO DA LITERATURA
Escalada de bloco: esta é considerada a forma mais simples da
escalada. Este tipo de escalada consiste na subida de blocos de rocha sem
recurso a corda, a altura tal que nos permita saltar para o solo. A filosofia da
escalada de bloco consiste na chamada “resolução de problemas”,
concentrando toda a capacidade física e técnica em apenas alguns
movimentos. O material associado a esta prática resume-se a umas sapatilhas
de escalada (vulgo “pés-de-gato”), um saco com magnésio, um colchão portátil
(vulgo “crash-pad”) e um conjunto de várias escovas que permitem limpar os
liquens e pó das rochas, de modo a ficarem em melhores condições.
A escalada em gelo: consiste na progressão sobre gelo glaciar ou de
fusão, recorrendo à utilização de crampons aplicados nas botas, para
conseguir cravar as mesmas no gelo e traccionar com os membros superiores
cravando os piolets no gelo. Esta variante pode decorrer sobre vertentes ou
falhas de glaciares, sobre corredores de neve gelada nas pendentes
montanhosas ou sobre cascatas geladas. Existe também uma vertente
competitiva de interior, com formação de cascata de gelo artificiais.
Grandes Paredes: habitualmente conhecida por “big-wall” consiste na
escalada de vias com um dimensão tal que impliquem a pernoita dos
escaladores na parede, por vezes ao longo de vários dias. Este estilo está mais
associado à técnica de progressão em artificial. É uma escalada morosa e que
implica aspectos logísticos complexos, grandes quantidades de material e
conhecimentos técnicos muito específicos.
Escalada Urbana: também designada por “buildering”, consiste na
escalada de construções como edifícios, monumentos, barragens, etc. Por ser
uma prática mediática, por vezes é praticada com o intuito de aparecer nos
serviços noticiosos.
Escalada em solitário: esta escalada identifica-se pela progressão
solitária do escalador que se propõe superar uma determinada parede. No
entanto, este tipo de escalada é feito com recurso a complexas e morosas
técnicas de segurança com corda.
16
REVISÃO DA LITERATURA
Escalada em solo integral: esta designação utiliza-se quando o
escalador progride em solitário e sem recurso a qualquer tipo de segurança
acessória. Assim, o escalador depende apenas das suas mãos e pés para se
agarrar. Qualquer falha compromete a vida do praticante. É uma escalada
restrita apenas a escaladores com uma capacidade técnica, física e sobretudo
psicológica muito apurada.
“Dry-tolling”: esta variante evoluiu da escalada em gelo e terreno misto,
em que, por vezes, por imposição do terreno, os praticantes têm que progredir
em rocha. Para tal, utilizam os crampons e os piolets directamente na rocha.
Este recurso técnico da escalada mista evoluiu para uma recente filosofia de
prática de escalada em rocha com recurso a crampons e piolets. Existe
também uma vertente competitiva de dry-tolling em estruturas artificiais.
Escalada Desportiva em grandes paredes: este tipo de escalada
surge da transposição da filosofia da escalada desportiva. Assim sendo, os
praticantes têm por objectivo encadear em livre vias de grande dificuldade e de
grande dimensão, sendo isto feito frequentemente em terreno de montanha.
“Psicobloc” –este termo designa a escalada de falésias sobre água,
sem recurso a corda de segurança. Esta modalidade tem-se desenvolvido
muito nos últimos anos e é uma transição do espírito da escalada de bloco para
as falésias da orla marinha, podendo os escaladores arriscar escalar
obstáculos mais altos com a salvaguarda de cair na água.
Escalada em estruturas artificiais: a prática de escalada nestas
estruturas insere-se sobretudo no âmbito da escalada desportiva. Esta
escalada é geralmente utilizada como forma de treino e de aprendizagem,
apesar de haver praticantes que fazem desta prática um fim em si. As
estruturas artificiais de escalada permitem treinar com grande regularidade,
indepentemente das condições climatéricas e permitem um maior controlo
sobre as componentes da carga. No entanto, também existem estruturas
artificiais para a prática de escalada de bloco, clássica e gelo.
No próximo quadro, apresentamos um resumos das características de
cada sub-modalidade relativamente a: tipo de progressão, segurança,
dimensão, terreno e filosofia de prática.
17
REVISÃO DA LITERATURA
Quadro 1 – Identificação das características que permitem diferenciar as diferentes sub-modalidades da escalada, segundo o tipo de progressão, a segurança, a dimensão, o terreno e a filosofia de prática.
Progressão Segurança Dimensão Terreno Filosofia
Clássica Artificial e Livre
Auto protecção
Vários largos (geralmente + de 100m)
Grandes falésias e pendentes
Superar vias de grande dimensão
Desportiva Livre Pontos de segurança fixos
Vias curtas Falésia Rocha Rocódromo
Superar vias curtas de dificuldade e segurança máximas. Tem uma vertente competitiva.
Bloco Livre Sem corda Vias muito curtas (até 5m)
Falésia Rocha Rocódromo
Concentrar toda a dificuldade em poucos movimentos – resolver problemas. Tem uma vertente competitiva.
Escala em gelo
Livre, com recurso a piolet e crampons
Normalmente assegurada por pitões de gelo
Variado Corredores, cascatas, pendentes de gelo e glaciares
Progredir sobre gelo, alcançar o topo ou pelo desafio da escalada em si. Também já tem vertente competitiva.
Grandes Paredes
(Big-wall)
Existem as duas tendências
Auto protecção
Vias muito grandes (mais de um dia de escalada)
Grandes paredes
Superação de grandes desafios, com grande logística, incluindo pernoita nas vias.
Escalada Urbana
Artificial e livre
Variável Muito variada Monumentos, fachadas, edifícios
Escalar construções do homem – pura diversão ou mediatismo
Escalada em Solitário
Não definido Técnicas de auto segurança
Variado Variado Progredir sozinho em vias de escalada, utilizando técnicas complexas e morosas de auto segurança
Escalada em solo integral
Livre Sem segurança
Variado, mas sempre acima dos limites de segurança
Variado Escalar sem segurança, no limite da auto confiança, “segurando a vida pela ponta dos dedos”.
“Dry tolling” Livre com recurso a crampons e piolets.
Não define Tendem a ser vias curtas – tipo desportiva
Falésias de rocha, junto a cascatas geladas
Escalar percursos em rocha que possam dar acesso a estalactites de gelo.
Desportiva em grandes paredes
Livre Com pontos fixos e auto protecção
Vários largos
(+ de 100m)
Grandes falésias.
Transpõe o espírito da escalada desportiva para o terreno da escalada clássica e do big-wall. Encadear grandes vias de dificuldade elevada.
“Psicobloc” Livre Quedas para a água
Normalmente inferior a 20m
Falésias à água
Escalar livre de corda sobre a água.
18
REVISÃO DA LITERATURA
2.2.4 AS ESCALAS DE DIFICULDADE
Pela necessidade de referenciar e hierarquizar as dificuldade das vias de
escalada e de avaliar as prestações dos diferentes escaladores, surgiram as
escalas de dificuldade. Estas escalas de dificuldade são específicas de cada
sub-modalidade e podem variar conforme as regiões, o tipo de rocha e a
morfologia do escalador (Arocena, 1997). Na ética dos praticantes e apesar da
sua subjectividade, estas escalas são aceites como um protocolo de avaliação
de dificuldade das vias de escalada e do nível de rendimento dos praticantes
(Schuster et al., 2001). Ainda que de forma inconsciente, não existe nenhum
escalador que não tenha regras ou moldes pelos quais avalia as suas
realizações (Simes, 2005).
Por todo mundo desenvolveram-se diferentes escalas de dificuldade,
existindo quase uma por cada um dos países de maior desenvolvimento desta
modalidade, nomeadamente Estados Unidos da América, Reino Unido, França.
Alemanha, Austrália, Brasil, entre outros.
A escala de dificuldade mais utilizada no nosso país é a semelhante à
usada em Espanha. Esta escala é um misto de duas outras escalas. Nos níveis
de dificuldade mais baixos, adopta a escala da Union Internacional des
Associations d’Alpinisme (UIAA), representada por numeração romana, até ao
“V” grau. A partir do sexto grau de dificuldade, adopta a representação da
escala francesa com numeração árabe, à qual se acrescentam as letras "a", "b"
e "c". Para todos estes níveis de dificuldade, existe ainda um sufixo “+”, criando
assim um nível intermédio entre duas letras.
No quadro 2 apresentamos uma tabela de equivalência entre as
escaladas de dificuldade utilizadas pela comunidade de escaladores de
diversas partes do mundo. Note-se que a correspondência destas escalas é
feita por aproximação e não é absolutamente consensual. O modelo de
correspondência que apresentamos foi construído com base em Paci (1994)
com ligeiras adaptações baseadas em Sheel (2003) nos graus de dificuldade
mais elevados.
19
REVISÃO DA LITERATURA
Quadro 2 – Tabela de correspondência das diferentes escalas de dificuldade.
Portugal UIAA EUA França Reino Unido Austrália AlemanhaI
II
III
IV IV+
V
V+
6a
6a+
6b
6b+
6c
6c+
7a
7a+
7b
7b+
7c
7c+
8a
8a+
8b
8b+
8c
8c+
9a
9a+
9b
...
I
II
III
IV IV+ V - V
V+ VI –
VI
VI+
VII –
VII
VII +
VIII –
VIII
VIII +
IX –
IX
IX+
X –
X
X +
5.0
5.1
5.2
5.3
5.4
5.5
5.6
5.7
5.8
5.9
5.10 a
5.10 b
5.10 c
5.10 d
5.11 a
5.11 b 5.11 c 5.11 d 5.12 a 5.12 b 5.12 c 5.12 d 5.13 a 5.13 b 5.13 c
5.13 d
5.14 a
5.14 b
5.14 c
5.14 d
5.15 a
5.15b
...
1
2
3
4
5
5+
6a
6a+
6b
6b+
6c
6c+
7a
7a+
7b
7b+
7c
7c+
8a
8a+
8b
8b+
8c
8c+
9a
9a+
9b
...
Moderate
Difficult
Very Difficult
4a
4b
4c
5a
5b
5c
6a
6b
6c
7a
7b
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
I
II
III
IV
V
VI
VIIa
VIIb
VIIc
VIIIa
VIIIb
VIIIc
IXa
IXb
IXc
Xa
Xb
Xc
Em Portugal a escala de dificuldade mais utilizada para a escalada livre
é idêntica à utilizada em Espanha e consiste num misto entre a escala do UIAA
até ao quinto grau, seguindo na escala Francesa a partir do sexto grau.
Segundo Josune (2003) as variáveis que alteram a dificuldade de
superação de uma via são o tamanho dos agarres e apoios, a distância entre
os mesmos, a inclinação do itinerário, o número total de movimentos e as
oportunidades de repouso e recuperação da fadiga.
20
REVISÃO DA LITERATURA
Para complementar a compreensão do que caracteriza e distingue os
diferentes graus de dificuldade, apresentamos um modelo descrito por Winter
(2000) adaptado à escala de dificuldade utilizada em Portugal.
Quadro 3 – Descrição das características dos diferentes graus de dificuldade segundo Winter (2000)
I Grau O terreno já não permite andar com facilidade. Os braços e as mãos são utilizados para apoiar, agarrar, equilibrar e levantar com o fim de manter o equilíbrio.
II Grau Marca o começo da escalada propriamente dita. O terreno já é exposto e para principiantes torna-se necessária a utilização de materiais de segurança
III Grau Traçados verticais que exigem força e coordenação. Para iniciantes pode exigir já várias tentativas para realizar a via. É o nível mínimo em Estruturas Artificias de Escalada
IV
IV+
O tipo, a distância e o tamanho dos agarres são cada vez mais comprometedores. Realiza-se em paredes verticais que exigem já a utilização de várias técnicas.
V
V+
Posições cada vez mais instáveis. Aumenta a exigência de força. A utilização de pés de gato é aconselhável
6a Exigências complexas de força, da flexibilidade e da coordenação. Os dedos sofrem uma carga cada vez maior em agarres cada vez mais pequenos. A utilização de pés de gato é já uma necessidade.
6a+ / 6b
6b+
Começam as dificuldade extremas. Passo largos, com dificuldade constante e que exigem continuidade. Exige uma força e habilidade consideráveis, assim como, treino específico.
6c / 6c+
7a / 7a+ / 7b
Necessário em todas as ocasiões técnicas acrobáticas. O tamanho dos agarres e apoios diminuem cada vez mais. Imprescindível uma boa planificação dos movimentos e uma boa memória motriz. É necessário treino contínuo.
7b+/ 7c/ 7c+ Só é possível ser atingido por escaladores que treinem de forma específica e com uma frequência de escalada alta. É o limite superior das competições juvenis.
8a / 8a+
8b / 8b+
Aumento considerável da inclinação média da parede. As sucessões de passos difíceis são cada vez mais frequentes e mais largas. É necessário treino específico com alta periodicidade.
8c / 8c+
9a / 9a+
Máxima dificuldade alcançada até à actualidade. É necessário ensaiar e estudar a via durante dias, semanas ou meses. Reservado a atletas excepcionais quando em plena forma.
Falta referir que em Portugal são utilizadas outras escalas de dificuldade
para a escalada em livre, em casos particulares de zonas de escalada que
sofreram forte influência de outras regiões ou em tipos de escalada com
escalas específicas. Como exemplos, temos a escala de Hueco Tanks, oriunda
dos Estados Unidos da América, para a escalada de Bloco ou as escalas para
graduar escalada em gelo, escalada artificial e o dry-tolling.
21
REVISÃO DA LITERATURA
2.2.5 A EVOLUÇÃO DO GRAU DE DIFICULDADE NA ESCALADA LIVRE
A capacidade do homem de superar itinerários em escalada livre tem
evoluído ao longo das décadas. No próximo quadro, apresentamos algumas
referências bibliográficas sobre a evolução mundial do grau de dificuldade. No
entanto, verificámos incoerências cronológicas que denotam algum atraso da
literatura científica em relação à literatura técnica da modalidade:
Quadro 4 – Compilação de referências da evolução do grau de dificuldade na escalada livre.
Ano Especificação Fonte
1904 Caenejo e Pidal escalam pela primeira vez o Naranju de Bulnes, cotada coma dificuldade de IV+
Enciclopédia Desnível (2005)
1911 V grau ou “Extremamente Difícil”, escalado por Preuss, na face Este do Campanil Baso em Brenta
Belo (1996)
1918 6º grau escalado em livre por Emanuel Strubich, no “West Arete” em Wild Kopf, na Alemanha de Leste.
(Hochholzer e Schoeffl, 2003).
192.. 6º grau escalado nos Dolomitas, no Alpes Italianos Belo (1996)
1960 7º grau - vias desta dificuldade são escaladas nos EUA Stückl e Sojer, (1993)
196... 5.11+ escalado em bloco por John Gill. (Hochholzer e Schoeffl, 2003).
1977 7º grau: Kiene e Karl escala este grau “oficialmente” pela primeira vez, na Alemanha
Stückl e Sojer, (1993)
1979 8º grau (5,13c) é alcançado por Toni Yaniro na Califórnia, numa via chamada “The grand illusion”
Stückl e Sojer (1993) e (Hochholzer e Schoeffl, 2003).
1980 7b como grau de dificuldade máximo Deligniéres et al. (1993)
1981 7c como grau de dificuldade máximo Deligniéres et al. (1993)
1983 8a como grau de dificuldade máximo Deligniéres et al. (1993)
1985 8b como grau de dificuldade máximo Deligniéres et al. (1993)
1989 8c como grau máximo da desportiva e 8a no Bloco Deligniéres et al. (1993)
1987 7c+ à vista e 8b+ trabalhado como grau máximo Viret et al. (1987)
1987 5.14b por Wolfgang Güllich, na via “Wallstreet”. (Hochholzer e Schoeffl, 2003).
1991 8c+ em Inglaterra escalado por Ben Moon na via “Hubble” Ataíde (2000)
1991 9º grau escalado pela primeira vez, por Wolfgang Güllich, na via a que chamou “Action Direct” , em Frankenjura, Alemanha.
Arocena (1997)
1991 8c (5.14a) escalado pela primeira vez por uma mulher – Lynn Hill, na via “Masse Critique em França.
Arocena (1997)
1993 8c como grau de dificuldade máximo Watts et al. (1993)
1995 5.14 (8c) como grau de dificuldade máximo Watts e Drobish (1998)
2001 9a+ escalado pela primeira vez por Chris Sharma, na via Realization em Ceuse (França)
Josune (2003)
2003 5.15b (9b) como grau máximo da actualidade Sheel et al., (2003)
2005 9a/9a+ escalado por uma mulher de nacionalidade Espanhola, Josune Bereziartu – “Bimbaluna” em Saint Loup, Suíça.
Ynews (2005)
22
REVISÃO DA LITERATURA
2.3 ESCALADA EM PORTUGAL
Mais uma vez se verifica que a história da escalada se funde na história
do montanhismo. As alusões ao berço do montanhismo em Portugal surgem
sempre associadas ao matemático Francisco Gomes Teixeira (1851-1933) que
terá escalado alguns dos montes dos Alpes e Pirinéus e que em 1926 escreveu
a primeira obra publicada em Portugal sobre montanhismo, intitulada
“Santuários de Montanha: impressões de viagem” (Farinha, 2003).
Rui Silva, médico de profissão, iniciou há muitos anos a prática desta
actividade na ilha da Madeira de onde é originário. Curiosamente, a informação
existente sobre as escaladas deste senhor foi obtida através de vestígios
encontrados em vias de escalada, nomeadamente determinadas cunhas de
madeira, feitas de uma forma muita própria, que se identificam como sendo
dele. Estes vestígios foram encontrados em vias por ele abertas na ilha da
Madeira, que ainda constituem ambiciosos desafios para os escaladores
actuais. Entretanto, enquanto escaladores mais recentes, pensavam estar a
abrir novas vias no continente também encontraram as ditas cunhas que Rui
Silva usava. Estes achados provam que ele já lá tinha passado anteriormente.
A informação mais recente de que temos conhecimento sobre este escalador
data de 2003, e diz ter cerca de 90 anos e ainda estar activo como praticante
de escalada (Pacheco, 2004).
Jorge Santos e o Guia Lázaro entre outros foram alguns dos nomes da
zona norte do País que começaram a desenvolver as suas actividades de
montanhismo e escalada nas Serras do Gerês e da Peneda, assim como de
falésias rochosas em Valongo e em Vila Nova de Cerveira. Em 1944, pela mão
de Jorge Santos funda-se o Clube Nacional de Montanhismo, representante
perante o estado da prática de montanhismo em Portugal (Martins, 2001;
Farinha, 2003).
Jorge Monteiro, nascido em 1930 na Cidade de Coimbra, terá sido
também um dos primeiros praticantes de escalada e montanhismo em
Portugal. Durante muitos anos fez marchas pela Serra da Lousã e Estrela e
23
REVISÃO DA LITERATURA
iniciou as suas actividades de escalada nas escarpas de Penacova. Em 1953,
Jorge Monteiro, juntamente com um parceiro, escalou a via Central do Cântaro
Magro na Serra da Estrela, tendo no dia seguinte sido repetida por várias
parelhas de escaladores. “Terá sido o primeiro encontro de escaladores?”,
questiona o próprio Jorge Monteiro (Monteiro e Queirós, 2000, pág. 47).
Existem registos pontuais de algumas façanhas que foram marcando a
história da modalidade nomeadamente:
- em 1955, é escalado pela primeira vez o Pé de Cabril na Serra do
Gerês;
- em 1982, José Barros Basto e Alexandre Granhão atingem o cume
do Monte Branco, que é o ponto mais alto da cordilheira dos Alpes;
- em 1991, Gonçalo Velez atinge o cume do Annapurna (8.091m)
tornando-se o primeiro português a superar um cume de oito mil
metros;
- em 1992, Pedro Pacheco tenta atingir o cume do Evereste sendo
forçado a desistir aos 8300m devido a ventos fortes (Farinha, 2003).
Um feito mais recente, que não passou despercebido aos média pelo
aspecto trágico da situação, foi a primeira ascensão da montanha mais alta do
mundo, realizada por um português: João Garcia, no ano de 1999, alcançou o
cume do Monte Evereste na cordilheira do Himalaia (Garcia e Rodrigues, 2001;
Farinha, 2003).
No âmbito do himalaismo começam a organizar-se as primeiras
expedições portuguesas, nomeadamente a expedição que levou um grupo de 6
alpinistas portugueses ao cume da montanha Pumori, com 7161m de altitude,
no dia 19 de maio de 2003 (Campo Base, 2003). Outro feito notável, e bastante
actual, foi a primeira ascensão de uma montanha de 7000m feita por uma
mulher portuguesa. Daniela Teixeira, acompanhada por Paulo Roxo, alcançou
o cume do Korjenevskaya de 7105m, na Cordilheira do Pamir no Tadjiquistão,
em 9 de Agosto de 2004 (Teixeira, 2004; Campo Base, 2004).
24
REVISÃO DA LITERATURA
No âmbito da escalada em rocha, alguns nomes tornam-se referências
pelo seu pioneirismo, nível técnico e notável abertura de vias por todo o país.
Na escalada clássica, Paulo Alves, Pedro Pacheco, nas décadas de 80 e início
de 90 e pertencentes a uma geração mais recente, Paulo Roxo e Miguel Grilo.
Relativamente à descoberta de zonas e equipagem de vias de escalada
desportiva, Sérgio Martins, Francisco Ataíde, Filipe Costa e Silva e Filipe
Cardinal, entre outros, são alguns dos escaladores que mais contribuíram para
o desenvolvimento desta faceta da escalada.
Em paralelo, desenvolveu-se um movimento de escalada de competição.
As primeiras competições realizadas no nosso País foram da iniciativa do
INATEL, seguindo-se as competições Federadas e alguns Masters.
Recentemente foi criada uma selecção nacional que nos últimos dois anos tem
participado em competições internacionais. Embora os resultados não sejam
ainda de grande excelência, denotam uma notória melhoria (FPME, 2003).
Em termos de suporte federativo a escalada encontra-se sobre a alçada
da Federação de Montanhismo e Campismo de Portugal, que tem o estatuto de
utilidade pública desportiva, perante o estado português. No entanto, desde
meados de 2002, uma comunidade descontente de praticantes fundou a
Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada com o intuito de ter uma
intervenção mais direccionada para o montanhismo e a escalada. Actualmente,
estas duas organizações rivalizam-se pelos direitos de representatividade
perante o estado, pela organização de competições e pela filiação de clubes e
praticantes. Esta rivalidade que se vive, tem contribuído para um ligeiro
aumento da dinâmica em torno da modalidade.
Aparentemente, o panorama da escalada em Portugal é o de uma
actividade recente, praticada ainda por poucos, passando despercebida aos
média e à sociedade em geral. A dinâmica da actividade divide-se entre a
prática organizada e formal dos clubes mais antigos e conservadores e uma
prática informal, sem qualquer suporte organizativo. Outros movimentos de
praticantes como o Desporto Escolar e Universitário, começa também a ter
expressão no número de praticantes e na realização de competições de nível
regional e nacional.
25
REVISÃO DA LITERATURA
2.3.1 A EVOLUÇÃO DO GRAU DE DIFICULDADE EM PORTUGAL
As referências existentes sobre a evolução do grau de dificuldade em
escalada livre são escassas. Sobre a primeira via de sétimo grau encadeada
por portugueses, ouvimos uma especulação que referia o nome de Paulo
Gorjão, sem que tenhamos encontrado qualquer referência concreta.
Sobre a primeira via de oitavo grau de dificuldade, existe também
alguma divergência, uma vez que a primeira via desta dificuldade em Portugal
surge isolada no tempo e no terreno. Esta via foi equipada e escalada entre
1988 e 1989 por Fernando Ferreira e Robert Cortijo, no Parque Natural de
Montesinho (Bragança) (Ataíde, 2000). Segundo este autor, este feito
desenquadra-se do panorama da evolução histórica da escalada de dificuldade
em Portugal por pertencer a indivíduos residentes em França, com um nível
desportivo muito elevado e que, numa passagem pelo nosso país, equiparam e
encadearam esta via à qual deram o nome de “Lobo das Estepes”. Este feito
passou despercebido à comunidade nacional de escaladores de dificuldade
dessa altura.
Entretanto, no início da década de 90 dois escaladores nacionais
alcançam o oitavo grau de dificuldade em incursões ao estrangeiro.
Nomeadamente, Paulo Gorjão na Serra de Prades em Espanha, e Tomás
Martins, no Verdon em França numa via chamada “Take it or leave it” (Ataíde,
2000).
A dificuldade das vias encadeadas em Portugal foi aumentando
progressivamente até que finalmente, em 1995, Filipe Costa e Silva e no
mesmo dia Pedro Martinho, conseguem encadear aquela que se considera a
primeira via de oitavo grau inteiramente nacional. A via chama-se “Marsupilami”
e localiza-se no Portinho da Arrábida (Ataíde, 2000).
Desde então, as capacidades dos praticantes foram evoluindo tanto em vias
trabalhadas como na escalada à vista. Em pesquisa paralela, por nós realizada
(não publicada), verificámos que o oitavo grau de dificuldade já foi atingido
por cerca de 20 praticantes nacionais sendo o máximo conhecido de 8b+.
26
REVISÃO DA LITERATURA
O primeiro escalador nacional a alcançar esta dificuldade parece ter sido
Francisco Ataíde, em 2002, em Monsant, França (Martins, 2002). Se
compararmos este valor com a evolução global do grau de dificuldade que
ronda actualmente valores máximos de 9b (Sheel et al. 2003), o 8b+ máximo
remete-nos para cerca do ano de 1987 (Viret et al. 1987).
O nível de dificuldade superado por mulheres portugueses andou
sempre abaixo dos níveis masculinos anteriormente descritos. No entanto, nos
últimos 2 anos assistiu-se a uma notável evolução tendo já sido alcançado os
níveis de 7c+ trabalhado e 7b à vista (Duque, 2005).
2.4 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DE PRATICANTES DE ESCALADA
Os praticantes de escalada, desde as origens da sua existência, têm
desempenhado diferentes papeis na sociedade. Começaram por ser vistos
como exploradores, aventureiros e homens de extrema coragem que
arriscaram a vida pelo conhecimento da geografia terrestre (Courneloup, 1991).
Após a conquista dos principais cumes da Europa e do mundo, a escalada
evoluiu num sentido mais desportivo e lúdico. Os códigos de ética da
modalidade sofrem ligeiras alterações e a montanha e a natureza deixam de
ser os reguladores da actividade. Cada vez mais os praticantes se concentram
nas performances da escalada em rocha (Courneloup, 1991).
Esta perda do sentido de utilidade da actividade conotou-a perante a
sociedade como algo fútil, desnecessária, marginal ou até mesmo socialmente
imatura (Léséleuc, 2002) – “a conquista do inútil”. António Jorge, que iniciou a
sua prática de montanhismo e escalada por terras lusas, já no ano de 1958,
refere que nos primórdios eram vistos como excêntricos e “maluquinhos” pelas
pessoas da cidade, mas curiosamente, nas aldeias serranas tinham uma
receptividade formidável por parte das populações (Martins, 2001).
O espírito “free-climbing” que cresceu em Yosemite, nos EUA, esteve
sempre associado ao espírito dos desportos ditos “californianos” e radicais.
Nesta fase, criou-se uma imagem da escalada como uma forma de estar na
vida fortemente associado à filosofia “hippie” (Hochholzer e Schoeffl, 2003).
27
REVISÃO DA LITERATURA
Hoje, o espírito da pós-modernidade tem transformado a escalada numa
forma de neotribalismo. Um estudo etnográfico de um grupo de escaladores na
década de 90 revela algumas estratégias de adaptação da comunidade ao
mundo actual e o afastamento progressivo do estereótipo clássico do escalador
alpinista (Corneloup, 1991).
Um aspecto curioso de análise sociológica da prática de escalada vem
no seguimento da ideia da prática de um desporto diferente, e que foge aos
padrões rígidos da sociedade actual. Pensa-se que, numa actividade como a
escalada, o praticante procure alguma liberdade e possibilidade de fuga aos
modelos de vida padronizados. No entanto, verifica-se que nesta tentativa de
uma prática, postura e atitude livre, haja já alguma prisão a outros modelos
padronizados que servem de referência entre os praticante da modalidade
(Kiema, 2002).
Denota-se também que, por vezes, o factor mais influente para manter
os praticantes ligados a uma modalidade como a escalada, não é o desporto
em si, mas a possibilidade de estar ligado a uma comunidade e de sentir
afinidade com um grupo que em comum tem o interesse por uma modalidade
(Léséleuc et al., 2002).
Num estudo publicado já na década de 70, Griffiths (1970) considera que
os desportos novos como o golfe, o esqui, a vela, a escalada e o montanhismo,
surgem inicialmente em classes sociais de estatuto social mais elevado,
alargando-se às classes de estatuto social médio, após um período de tempo.
Na sub-cultura dos jovens, a adesão a estas actividades atravessa as barreiras
das classes sociais, no entanto, funcionam como modas que chegam aos
diferentes estratos da sociedade em tempos diferentes.
Na era em que vivemos o conceito de classe social encontra-se um
pouco diluído sobretudo nos países desenvolvidos. O conceito de classe é visto
como um grupo entre os quais podemos identificar crenças, valores e
circunstâncias comuns (Lynch e Kaplan, 2000).
28
REVISÃO DA LITERATURA
A maior parte dos estudos que nos fornecem dados de caracterização
sociodemográfica relativa a praticantes de escalada, são baseados em
amostras reduzidas e específicas para cumprir os objectivos do estudo em
questão. Geralmente incidem sobre praticantes de elite.
Os estudos mais abrangentes que encontrámos são estudos de
incidência de lesões, nomeadamente, Rooks et al. (1995) e Logan et al.
(2004), e um estudo sobre atitude perante a gestão das zonas de escalada de
Schuster et al. (2001), cujos resultados utilizaremos no capítulo da discussão.
Um artigo sobre o desenvolvimento da escalada de interior (Rockmael,
1998) refere que nestes locais encontraremos desde advogados, estudantes,
crianças, mães e idosos, numa perspectiva de praticar uma actividade física de
ginásio aliciante e desafiante. A respeito da acessibilidade da escalada de
dificuldade, Hörst (1998) diz trabalhar com uma variedade de pessoas a
escalarem sétimo grau de dificuldade e mais. Desde uma menina de 14 anos a
vários sexagenários, incluindo os mais variados estatutos profissionais, entre os
quais um chefe de cozinha, professores, médicos e estudantes de doutoramento.
Neto (1995) identifica a prática de desportos radicais com as camadas
jovens, pela necessidade de afirmação de um “estilo de vida” e a tentativa de
rotura perante os modelos padronizados da sociedade em que vive. Griffiths
(1970) corrobora esta ideia ao afirmar que os jovens tendem a rejeitar as
actividades de lazer que consideram “quadradas”.
2.5 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DOS PRATICANTES DE ESCALADA
Este tema desperta muito interesse na comunidade científica existindo
bastantes estudos realizados nesta área. Está reconhecido pela literatura, e é
comum pensar-se, que a composição corporal desempenha um papel
importante na obtenção de sucesso desportivo, sobretudo, nas modalidades
que exigem tarefas motoras peculiares (Viviani e Calderan, 1991). No entanto,
a relação entre composição corporal e o desempenho desportivo na escalada
ainda não foi claramente esclarecida, pela impotência estatística dos resultados
dos estudos realizados (Sheel, 2003).
29
REVISÃO DA LITERATURA
Parece pacífico que a escalada seja acessível a todos, numa
perspectiva de prática de iniciação e recreação. Esta ideia, defendida por
Belo (1996) e Mermier et al. (2000), tem grande valor pedagógico na medida
em que não descrimina praticantes pela sua morfologia, motivando todos a
experimentarem a satisfação de auto superação em meio vertical. Scanlan e
Lund (2000) defendem mesmo que os alunos obesos ou fisicamente menos
aptos poderão elevar a sua auto estima na prática desta modalidade, à
medida que experenciam progressos pessoais e sensações de auto
superação. Também pode tornar-se muito gratificante o trabalho de
cooperação entre praticantes no qual estes jovens podem participar com
grande entusiasmo.
Os estudos consultados (Grant et al., 2001; Wall et al., 2004; Watts et
al., 2004) são unânimes em caracterizar os escaladores de alto rendimento
como sendo de estatura baixa e extremamente magros. Estes resultados
sugerem que este padrão morfológico é favorável, apesar de, por si só, não
explicar o êxito dos escaladores (Wall et al. (2004).
Os autores que tentaram encontrar os factores mais influentes no
rendimento dos escaladores atribuíram um peso mais significativo às variáveis
treináveis do que propriamente à morfologia dos praticantes (Mermier et al.,
2000; Grant et al., 2003; Wall et al., 2004). Isto apesar de ser unânime que o
peso é inimigo do êxito na escalada (Viviani e Caldera, 1991).
Outro aspecto interessante, relativo à caracterização morfológica dos
praticantes de escalada, é a alteração progressiva dos resultados obtidos nos
vários estudos em atletas de elite, à medida que se progride no tempo. Desde
o primeiro estudo de que temos conhecimento, realizado por Viret et al. (1987),
até aos estudos mais recentes de Watts et al. (2003, 2004), os escaladores de
alto rendimento tendem a ser cada vez mais longilíneos.
30
REVISÃO DA LITERATURA
2.6 CARACTERIZAÇÃO DESPORTIVA DA PRÁTICA DE ESCALADA
Vários estudos têm tentado caracterizar os níveis de rendimento
desportivo dos praticantes de escalada. Uma caracterização generalizada de
rendimento desportivo na prática de escalada torna-se, de certa forma,
incoerente, na medida em que engloba diferentes objectivos, desafios e
escalas de dificuldade, que correspondem a distintas formas de auto
superação.
É pouco viável comparar a dificuldade da superação de um bloco de 3
movimentos explosivos com três dias de permanência numa grande via, sobre
condições meteorológicas adversas. Mesmo restringindo a comparação a um
único estilo de escalada, é difícil comparar a dificuldade de uma via de pouca
inclinação, extremamente lisa, que exige sobretudo uma técnica apurada, com
uma via de extraprumo, com boas presas, que exige, sobretudo, força resistente.
Apesar do exposto anteriormente, as escalas de dificuldade existem e
são utilizadas para caracterizar os graus de dificuldade de execução de cada
desafio. É curioso como a institucionalização destas escalas de dificuldade
assenta apenas em processos de avaliação subjectivos, cuja validade não é
comprovável, excepto empiricamente por uma certa estabilidade interna
(Tiberghien, 1984, citado por Deligniéres et al., 1993).
Deligniéres et al., (1993) levaram a cabo um estudo sobre esta
capacidade de avaliar o grau de dificuldade dos itinerários. Neste estudo
constataram que o processo de avaliação é subjectivo, baseando-se na
sensação de esforço técnico e físico. A subjectividade das graduações está
também dependente das referências locais, da estatura do escalador que
estabelece a graduação, do tipo de rocha e, ainda que de forma inconsciente,
do grau de exposição das quedas (Sheel, 2003).
A precisão de avaliação parece ser mais fiável em níveis de dificuldade
próximos do limite superior do avaliador, sendo os graus de dificuldade mais
baixos avaliados com menor acuidade. Outra constatação interessante foi a
relação de aumento exponencial entre indicadores fisiológicos avaliados numa
escala contínua e os valores de grau de dificuldade percepcionados. Estes
31
REVISÃO DA LITERATURA
resultados levam a crer que os intervalos entre os graus de dificuldade não são
iguais entre si, sendo maiores quanto mais elevada é a dificuldade (Deligniéres
et al., 1993).
Para a realização de estudos de comparação de características
fisiológicas, pessoais ou morfológicas entre praticantes de escalada, Wall et al.
(2004), sugerem que os praticantes sejam organizados em grupos de nível,
nomeadamente, os praticantes de recreação, os de nível moderado, os de nível
elevado e os de elite.
No entanto, este tipo de hierarquização dos níveis de rendimento
aparece nos diversos estudos de formas muito variadas e sem coerência de
parâmetros (Watts et al., 1996; Booth et al., 1999; Watts et al., 2000; Grant et
al., 2001). As divisões variam nas designações utilizadas, no número de grupos
e nas dificuldades atribuídas a cada subgrupo.
2.7 VARIÁVEIS DETERMINANTES NO DESEMPENHO DESPORTIVO
Vários investigadores tentaram encontrar as variáveis que se
correlacionam mais fortemente com a variação do desempenho na escalada.
Contrariamente a uma ideia comum entre praticantes, os resultados destes
estudos atribuem cada vez menos importância à morfologia dos atletas (Viviani
e Calderan, 1991; Watts et al., 1993; Mermier, et al. 2000).
Os diversos estudos antropométricos não verificaram diferenças
estatisticamente significativas entre praticantes com diferentes níveis do
desempenho desportivo. No entanto, grande parte destes estudos (Viret et al.,
1987; Viviani e Calderan, 1991; Watts et al., 1993) foram realizados com atletas
de elite com diferenças de desempenho desportivo pouco significativas, como
por exemplo, semifinalistas e finalistas de uma prova de nível mundial. Pelo
que estes estudos apenas demonstram que entre atletas de elite as pequenas
diferenças antropométricas encontradas não se correlacionam
significativamente com as diferenças de desempenho na escalada.
Apesar da morfologia, por si só, não explicar as diferenças de desempenho
desportivo entre praticantes, todos os estudos apontam para uma tendência dos
praticantes serem de estatura baixa e maioritariamente longilíneos, sendo o peso
32
REVISÃO DA LITERATURA
corporal considerado como contraproducente à progressão na vertical. Os
melhores escaladores tendem a ser baixos em estatura. Uma estatura mais
elevada pode permitir um maior alcance entre movimentos, no entanto, é possível
que haja um desvantagem biomecânica associada ao aumento do momento das
forças provocada pelo maior comprimento dos segmentos corporais. Os
escaladores mais altos também tendem a ser mais pesados. Um maior peso
corporal também aumenta os índices de força a desenvolver para manter o
contacto com as presas (Viviani e Calderan, 1997). Entretanto, estudos mais
recentes (Mermier et al., 2000; Grant et al., 2001; Wall et al., 2004) utilizaram
amostras mais abrangentes em desempenho desportivo e também verificaram
que as variáveis de ordem antropométrica não revelam fortes correlações
estatísticas com o desempenho dos praticantes.
O desempenho desportivo na escalada parece ser o resultado de um
grande conjunto de variáveis que ultrapassa em muito as características
morfológicas do atleta, entre elas a inteligência motora (Viviani e Calderan,
1991). Goddard e Neumann (1993), citados por Watts (2004), descreveram um
modelo de 6 componentes que interferem no rendimento dos praticantes:
1. Condições do praticante: apetência, saúde, disponibilidade e
proximidade dos locais de prática.
2. Condições externas: recursos naturais e artificiais para a prática.
3. Aspectos tácticos: experiência, conhecimento e planeamento de
objectivos.
4. Aspectos psicológicos: medo, concentração e vontade.
5. Técnica: habilidade motora, coordenação e domínio de técnicas
específicas.
6. Aspectos fisiológicos e de capacidade física: força, resistência e
flexibilidade.
Peteleiro e Garcia-López (2003) também fazem referência a este
modelo, ainda que com algumas discrepâncias.
As variáveis que melhor explicam a variação entre níveis de rendimento
dos praticantes parecem ser as que estão associadas ao processo de treino
(Belo, 1996; Mermier et al., 2000).
33
34
OBJECTIVOS E HIPÓTESES
33 OBJECTIVOS E HIPÓTESESO HBJECTIVOS E IPÓTESES
3.1 OBJECTIVOS
- Encontrar um padrão de caracterização sociodemográfica entre a
população de praticantes de escalada em Portugal.
- Analisar as preferências dos praticantes de escalada pelos diferentes
tipos de escalada e factores associados.
- Identificar características dos praticantes que mais fortemente se
identificam com os diferentes estilos de escalada.
- Caracterizar o desempenho desportivo dos praticantes de escalada
em Portugal.
- Aferir a diferença média entre o grau escalado à vista e após
trabalho.
- Analisar de que forma as variáveis estudadas poderão explicar o
desempenho desportivo dos praticantes.
- Comparar características entre subgrupos com diferentes níveis de
desempenho desportivo.
35
OBJECTIVOS E HIPÓTESES
3.2 HIPÓTESES
Os dois primeiros objectivos referidos não apelam à formulação de
hipóteses, na medida em que os valores resultantes da amostra são descritivos
e conclusivos, por si só. No entanto, relativamente aos restantes objectivos
apresentados, formulamos as seguintes hipóteses:
1. Os praticantes que mais se identificam com a escalada clássica diferem
significativamente dos restantes por terem:
- mais idade;
- maior tempo de prática;
- maior índice de massa corporal (IMC);
- menor frequência de prática;
- menor rendimento desportivo.
2. As variáveis idade, tempo de prática, idade de iniciação, IMC, estatura,
peso e frequência de prática correlacionam-se moderadamente com o
rendimento desportivo.
3. A variável frequência de prática tem uma forte dependência da variável
tempo de prática.
4. Verificam-se diferenças estatisticamente significativas entre os valores
médios das variáveis idade, tempo de prática, idade de iniciação, IMC,
estatura, peso entre grupos de diferentes níveis de rendimento desportivo.
5. Relativamente à generalidade, os praticantes de elite tendem a:
- ser mais jovens;
- iniciar a prática com menos idade;
- ter mais tempo de prática;
- ter IMC mais baixos;
- ter menos peso;
- ter maior estatura.
36
MATERIAL E MÉTODOS
44 MATERIAL E MÉTODOSM MATERIAL E ÉTODOS
A metodologia utilizada no nosso estudo consistiu na aplicação de um
questionário a praticantes nacionais de escalada. Tentámos que fosse
abrangente na quantidade e diversidade de praticantes abordados. O
questionário utilizado, teve por base um modelo de Wall et al. (2004). No
entanto, este instrumento de pesquisa sofreu uma grande intervenção de
nossa parte no sentido de o adequar aos objectivos do nosso estudo.
4.1 O INSTRUMENTO DE PESQUISA – QUESTIONÁRIO
Dando cumprimento à estratégia de investigação delineada foi
necessário construir um questionário que desse garantias de fiabilidade na
recolha dos dados, isto é, que conseguisse caracterizar de forma inteligível
a população de praticantes de escalada em Portugal, relativamente aos
dados pessoais, sociodemográficos, morfológicos e desportivos.
Com esse fim, havia que ter em conta a operacionalização dos
conceitos subjacentes à pesquisa de uma forma que fosse adequada e ao
mesmo tempo acessível aos indivíduos da amostra. Este aspecto coloca
sempre algumas dificuldades e é um dos grandes problemas que, a não ser
resolvido, pode limitar grandemente a eficácia do questionário enquanto
instrumento de recolha de dados. Como tal, a elaboração deste instrumento
de investigação foi morosa, dispendiosa, mas enriquecedora, permitindo que
o questionário evoluísse e amadurecesse ao longo de múltiplas etapas.
Na revisão de literatura encontrámos diversos estudos (Watts et al.,
1993; 2000; 2003; Mermier et al., 2000; Wrigh et al., 2001; Sheel et al.,
2003; Logan et al., 2004) que utilizaram questionários para recolher
informações sobre os dados sociodemográficos, os antecedentes de saúde
e de prática desportiva dos praticantes de escalada. Nestes estudos, o
método de auto relato do nível de rendimento desportivo, foi assumido pelos
investigadores como sendo fidedigno.
37
MATERIAL E MÉTODOS
A reforçar este pressuposto, um estudo realizado por Wall et al.
(2004), concluiu que aplicação de um questionário para apurar o nível de
rendimento desportivo do praticante de escalada é um método válido e com
um elevado coeficiente de correlação quando comparado com os resultados
efectivos de um exercício prático de escalada.
Partindo deste pressuposto, dispusemos de um instrumento validado
para aferir uma das principais variáveis pretendidas no nosso estudo, que é
o nível de rendimento desportivo. Assim sendo, contactámos o primeiro
autor do referido estudo (Christopher Wall) para lhe pedir que nos
disponibilizasse e autorizasse a utilizar o seu modelo de questionário. Este
pedido foi prontamente acedido pelo autor.
4.1.1 A TRADUÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE WALL (2004)
A tradução da versão original do questionário utilizado por Wall et al.
(2004) foi feita inicialmente com o nosso conhecimento corrente da língua
inglesa e com recurso a dicionários. No entanto, encontrámos uma série de
termos específicos da gíria dos praticantes de escalada Anglo-Saxónicos
que não permitiram realizar uma tradução directa. Contactámos novamente
o autor e pedimos que nos explicasse o que significavam alguns dos termos
por ele utilizados. Este pedido foi também acedido prontamente, permitindo-
nos encontrar os termos equivalentes na gíria dos escaladores portugueses.
Por uma questão de verificação final, o questionário foi revisto por
Eng. Ana Cunha, indivíduo de nacionalidade portuguesa, que por motivos
profissionais reside actualmente no Reino Unido, com formação académica
pós graduada e formação específica na língua inglesa que verificou e
aprovou a tradução feita (Anexo 1).
38
MATERIAL E MÉTODOS
4.1.2 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE ESTUDO
Um passo metodológico chave foi, a definição concreta e objectiva
das variáveis de estudo relativas aos praticantes de escalada. Estas
variáveis dividem-se em duas grandes áreas: a caracterização pessoal e a
caracterização desportiva.
A inquirição dos dados pessoais teve por objectivos a identificação do
indivíduo, a caracterização sociodemográfica e aspectos morfológica. Para
tal, definimos as seguintes variáveis de estudo:
a) Identificação do Indivíduo: nome, morada, contactos;
b) Caracterização Sociodemográfica: data de nascimento, nacionalidade,
género, estado civil, nível de instrução escolar e situação profissional;
c) Caracterização Morfológica: peso e estatura.
A inquirição dos dados desportivos teve por objectivo caracterizar a
actividade desportiva do indivíduo, enquanto praticante de escalada,
relativamente a:
d) tempo de prática;
e) forma como iniciou a prática;
f) tipo de escalada pelo qual iniciou a sua prática;
g) tipos de escalada que já praticou;
h) tipos de escalada que pratica habitualmente;
i) tipo de escalada que mais pratica actualmente;
j) tipo de escalada preferido;
k) nível de agrado pelos diferentes tipos de escalada;
l) frequência habitual de prática;
m) tipos de estrutura onde habitualmente realiza a sua prática;
n) grau de dificuldade superado em escalada livre;
o) participação em competições;
p) ligação a instituições;
q) actividades físicas complementares do praticante.
39
MATERIAL E MÉTODOS
4.1.3 A ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Depois de traduzido, verificámos que o questionário de Wall et al.
(2004) correspondia apenas a uma parte das variáveis de estudo por nós
pretendidas, pelo que sentimos necessidade de o adaptar, acrescentando
umas questões e retirando outras. Da versão original, utilizámos apenas as
questões relativas ao nível de rendimento, tipo de escalada preferido e anos
de prática. Tendo por base a literatura técnica sobre investigação por
questionário (Hill e Hill, 2002), elaborámos então um esboço composto por
19 questões, das quais 11 de escolha múltipla e as restantes de resposta
aberta, mas de curto desenvolvimento (Anexo 2).
4.1.4 REVISÃO DO QUESTIONÁRIO
Depois de elaborado, o questionário foi dado a analisar a diversas
pessoas, ligadas à prática de escalada e ao universo académico,
nomeadamente:
- Mestre Luís Quaresma, professor na Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro, Coordenador do Departamento de Desporto
de Recreação.
- Mestre João Brito, professor na Escola Superior de Desporto de
Rio Maior.
- Mestre Mário Rui Neves, professor no Instituto Superior da Maia
de disciplinas relativas à prática de escalada e orientador de
monografias na área das Actividade Físicas de Exploração na
Natureza.
- Dr. Alfredo Azevedo, licenciado em Ciências do Desporto e
Educação Física e praticante de escalada.
- Dr. Marco Cunha, licenciado em Educação Física e Desporto e
praticante de escalada.
- Eng. Sérgio Martins, praticante de escalada há 18 anos e
referência nacional nas mais diversas actividades relacionadas
com a escalada.
40
MATERIAL E MÉTODOS
Das variadas análises resultaram pequenos debates sobre o
conteúdo e a eficácia do questionário face aos objectivos pretendidos.
Destes debates resultaram uma série de alterações de forma, estrutura e
conteúdo. Efectuadas estas alterações, chegámos a uma versão que
considerámos pronta para a realização do estudo preliminar (Anexo 3).
4.1.5 ESTUDO PRELIMINAR
O estudo preliminar consistiu na aplicação do questionário a dez
indivíduos praticantes de escalada, com o objectivo de verificar a eficácia da
aplicação do questionário. Na escolha dos indivíduos do estudo preliminar,
houve a preocupação de estes serem bastante diferentes entre si.
Procurámos abranger indivíduos com diferentes níveis de instrução,
vivências de escalada e residentes em várias regiões do país.
Este estudo preliminar constituiu também um ensaio da metodologia
de aplicação dos questionários. Foi contabilizado o tempo médio de
aplicação, tendo variado entre 4 a 5 minutos. Depois de terminarem o
preenchimento, os inquiridos foram questionados sobre dificuldades e
dúvidas sentidas, sobre a opinião geral e sobre o grau de satisfação com o
questionário. Todas as dúvidas e sugestões foram devidamente analisadas
e registadas para posterior ponderação.
Com estes primeiros 10 questionários foi construída uma base de
dados em Microsoft Excel e elaborada uma primeira análise exploratória dos
resultados. Esta análise permitiu-nos verificar algumas dificuldades,
nomeadamente da necessidade de codificar todas as questões. Este
processo de aplicação do estudo preliminar e construção da base de dados
experimental fez-nos sentir a necessidade de realizar mais alterações ao
questionário, para chegarmos à versão final do nosso instrumento de
pesquisa (Anexo 4).
41
MATERIAL E MÉTODOS
4.1.6 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO POR PARTE DAS FEDERAÇÕES
Na continuação do processo de validação do nosso instrumento de
investigação, enviámos a versão final no nosso questionário para o
Departamento Técnico de Escalada da Federação de Campismo e
Montanhismo de Portugal (FCMP) e para o Director Técnico da Escalada
Desportiva da Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada (FPME),
para obter um parecer sobre o mesmo.
O director técnico da FCMP deu um parecer favorável, tendo
considerado o questionário bem estruturado, bem apresentado, coerente e
fácil de preencher. No entanto, ressalvou que este parecer se refere
essencialmente à componente de caracterização desportiva de praticantes
de escalada. O Departamento Técnico da FCMP, fez apenas uma sugestão
de alteração que foi a utilização da expressão “à frente” em alternativa ou
acréscimo à expressão “a abrir”, visto esta segunda ser utilizada apenas
pelos praticantes de escalada da zona norte do país.
Para além deste reparo técnico, sugeriu que seria interessante fazer
um estudo das lesões mais comuns e também comparar os níveis de
rendimento do mesmo praticante nos diferentes tipos de escalada.
Consideramos estas sugestões interessantes, no entanto, não se
enquadram nos objectivos definidos para o presente estudo.
Recebemos também um parecer positivo sobre os aspectos
desportivos e técnicos do nosso questionário, da parte do Director Técnico
da Escalada Desportiva da FPME.
4.1.7 METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
A estratégia de aplicação do questionário consistiu na deslocação
pessoal a locais, onde potencialmente encontraríamos praticantes de
escalada. Depois de uma breve abordagem explicativa do estudo, os
praticantes foram convidados ao preenchimento do questionário de imediato
e no local.
42
MATERIAL E MÉTODOS
Os locais de aplicação foram diversificados, na tentativa de abranger
praticantes com diferentes características. Em casos pontuais, foram
deixados questionários em branco a indivíduos que se ofereceram para
difundir o questionário juntos de outros praticantes, sendo posteriormente
devolvidos pelo correio. Esta metodologia foi utilizada em sedes de clubes,
lojas de material desportivo de escalada e locais de treino.
Dois gestores de sítios temáticos de escalada, na rede global
(Internet), disponibilizaram o questionário em linha, tendo alguns sido
preenchidos e devolvidos por correio electrónico.
Deste complexo e abrangente processo, resultou que 36,8% foram
aplicados em locais de treino; 23,2% em zonas de escalada em rocha; 18,4
% em competições de escalada escolares e universitárias (uma vez que não
houve qualquer competição nacional federada durante os 4 meses de
aplicação do questionário); 8,9% chegaram através do correio e pela
Internet; 8,3% foram aplicados em sedes de clubes e 4,5% foram aplicados
em lojas de material desportivo relacionado com a prática de escalada.
Os locais de aplicação foram o mais exaustivos e variados que
conseguimos, nomeadamente:
a) zonas de escalada em rocha – Serra de Sicó (Senhora da Estrela –
Redinha e Vale de Poios), Reguengo do Fetal, Serra do Caramulo,
Penacova, Serra da Freita;
b) locais de treino em estruturas artificiais – “Rocódromo Econauta” em
Lisboa, Nave Desportiva de Espinho, Clube Ar Livre em Sto. Tirso,
Universidade do Minho em Braga, Faculdade de Ciências do Desporto e
de Educação Física na Universidade do Porto, Escola Secundária de
Tondela, Pavilhão de S. Miguel na Guarda;
c) competições: Campeonato Regional da Zona Centro de Desporto
Escolar - Guarda, Campeonato Nacional de Desporto Escolar -
Esposende, Competição Nacional Universitária – Universidade do Minho
(no período de recolha de dados, não se realizou qualquer competição
ao nível federado em Portugal);
43
MATERIAL E MÉTODOS
d) encontros de Escalada e Montanhismo – III Encontro Nacional de
Montanhismo, da FPME (2005) - Serra da Gardunha, Climbing Trip do
Clube de Montanha de Faro e III Encontro Nacional de Escaladores da
FPME (2005) no Reguengo do Fetal (Batalha);
e) sedes e reuniões de clubes relacionados com a prática de escalada:
Associação Desnível (Lisboa), Clube de Campismo do Porto, Clube
Nacional de Montanhismo – secção Norte (Porto), Grupo de
Montanhismo de Faro;
f) lojas de Material de Montanha: Espaços Naturais (Porto) e Econauta
(Coimbra);
g) o questionário esteve também disponível em sítios da rede global
nomeadamente: www.jba/montanha.pt e www.socurti.com.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
O questionário foi aplicado a 398 indivíduos, tendo 18 sido excluídos
por preenchimento insuficiente ou por não serem residentes no país. Todos
os indivíduos da amostra são praticantes de escalada no activo. A amostra é
constituída 380 indivíduos, sendo 297 (78,2%) masculinos e 83 (21,8%)
femininos, oriundos de 16 distritos de Portugal Continental, com idades
compreendidas entre os 10 e os 53 anos de idade.
A população em estudo inclui praticantes federados (que se repartem
entre duas federações), os praticantes ligados ao movimento do Desporto
Escolar, os praticantes associados à prática do Desporto Universitário, os
praticantes ligados a outros movimentos como escuteiros e empresas, e
ainda os praticantes autónomos e informais que não estão associados a
qualquer organização.
A adopção do critério de inclusão foi controverso. As referências de
critérios adoptados nos estudos encontrados na literatura científica (Mermier
et al., 2000; Watts, 2003), justificam-se pelos objectivos específicos de cada
investigação, nomeadamente a caracterização do perfil do praticante de elite
ou a avaliação de adaptações fisiológicas resultantes da prática, que
implicam mínimos de experiência e níveis de rendimento.
44
MATERIAL E MÉTODOS
Perante o objectivo de caracterização sociodemográfica e desportiva
do praticante de escalada nacional, nenhuma das possíveis condições de
exclusão seria impeditiva de considerar praticante de escalada, como
demonstramos de seguida:
a) Ligação a um organismo ou federação - deparámos com a existência de
bastantes indivíduos que mantêm uma prática informal, desligados de
qualquer organização de praticantes.
b) Autonomia de material - deparámos com a existência de indivíduos que
dependem sempre de segundos para praticar, não deixando por isso de
serem praticantes de escalada, como por exemplo os praticantes do
Desporto Escolar.
c) Autonomia técnica ou nível desportivo - deparámos com a existência de
indivíduos que praticam escalada durante muito tempo, não chegando
adquirir um nível desportivo elevado ou autonomia técnica.
d) Tempo de experiência – deparamo-nos com a existência de indivíduos
que, apesar de serem praticantes a apenas alguns meses, apresentam
um nível desportivo elevado e um conhecimento profundo da
modalidade.
Posto isto, optámos por aplicar o questionário a todos os indivíduos
que manifestamente são ou se consideram praticantes de escalada no
activo, deixando que o tratamento estatístico nos levasse a tomar decisões
sobre a inclusão de todos os indivíduos ou exclusão de alguns. Na primeira
análise exploratória da base de dados, acabámos por excluir apenas os
indivíduos de nacionalidade estrangeira, não residentes em Portugal.
45
MATERIAL E MÉTODOS
4.3 PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS
A análise estatística dos questionários foi feita a partir de uma base
de dados criada no programa informático Excel, que depois de devidamente
preparada foi importada a partir do programa SPSS (Statistical Package for
the Social Science), versão 12.0.
A fiabilidade do questionário foi estimada segundo um procedimento
do tipo de estabilidade temporal pelo coeficiente de correlação de Pearson
entre dois conjuntos de valores observados em momentos diferentes (Hill e
Hill, 2002). Para tal, utilizamos a repetição de 15 questionários, com um
intervalo de tempo médio de 40 dias.
Após o teste de fiabilidade, procedemos a uma análise exploratória
dos valores de todas as variáveis que nos familiarizou com a distribuição
dos valores da amostra e permitiu detectar erros de inserção de valores.
Esta primeira análise exploratória fez-nos sentir necessidade de recodificar
os valores de algumas variáveis, nomeadamente:
- as questões que permitiram respostas múltiplas, foram
recodificadas, utilizando o procedimento de recodificação
automática disponível no SPSS;
- a variável idade foi recodificada tendo em conta o processo de
cálculo de idade decimal segundo Healy et al. (1981);
- os valores de IMC foram aferidos a partir dos valores de estatura e
peso, pela aplicação da respectiva equação;
- os valores relativos ao grau de dificuldade, inicialmente
apresentados na escalada de dificuldade utilizada no nosso País
(semelhante à francesa), foram convertidos para uma escala
métrica contínua. Ao grau de dificuldade mínimo (III grau) fizemos
corresponder o valor 1, ao próximo (IV grau) o valor 2 e assim
sucessivamente até ao grau dificuldade máximo de 8b ao qual
correspondeu o valor 22. Esta metodologia foi adoptada em dois
estudos recentes (Logan et al. 2004 e Wall et al., 2004) que
46
MATERIAL E MÉTODOS
também converteram as escaladas de dificuldade utilizadas nos
seus países em escalas numéricas contínuas (Reino Unido e
Estados Unidos da América, respectivamente);
- os valores resultantes dos cálculos relativos ao grau de dificuldade
foram arredondados às unidades e novamente convertidos por
para a escalada de dificuldade utilizada no nosso país.
Depois da análise das características dos casos dividimos a
totalidade da amostra em subgrupos. Esta divisão permitiu realizar análises
mais detalhadas e coerentes com a especificidade das variáveis e a
diversidade dos indivíduos da amostra. Esta necessidade de divisão
justificou-se pela grande diversidade de indivíduos incluídos na nossa
amostra, no que toca ao género, idade, tipo de escalada praticada e
movimento organizativo a que está associado.
Assim sendo, a divisão mais utilizada é a seguinte:
- Escolares (n= 51) - praticantes associados exclusivamente ao
movimento do Desporto Escolar.
- Masculinos (n= 264 ) - praticantes masculinos não escolares.
- Femininos (n= 65) - praticantes femininos não escolares
A maioria das variáveis foi analisada segundo os procedimentos de
estatística descritiva. Foram calculados os valores de tendência e central e
de dispersão das variáveis medidas em escalas contínuas de rácio e
ordinais. Ainda que maioritariamente só sejam apresentados os valores
relativos à média, ao desvio padrão e aos valores máximo e mínimo, foram
também analisados os valores da média aparada a 5% e a distribuição
percentílica, de modo a termos uma noção mais pormenorizada da
distribuição dos valores.
As variáveis medidas em escalas nominais foram analisadas segundo
os valores de frequência percentual de cada hipótese de resposta. Nas
variáveis que permitiram respostas múltiplas procedemos ao cálculo de
frequências acumuladas.
47
MATERIAL E MÉTODOS
Para estudar a relação entre variáveis, foram também calculados os
coeficientes de correlação do tipo Pearson ou Spearman, consoante a
normalidade de distribuição dos valores em questão. Para comparação de
valores médios entre subgrupos, foi utilizada a análise de variância (One-
Way Anova) com post-hoc de Bonferroni.
Realizamos também um procedimento estatístico descritivo de uma
base de dados dos praticantes inscritos na Federação Portuguesa de
Montanhismo e Escalada, de modo a obter valores médios de idade e
valores de frequência relativos ao género. Esta base foi-nos disponibilizada
em formato Excel, com uma organização grosseira, tendo sido por nós
tratada em SPSS.
48
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
55 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSA D RPRESENTAÇÃOE ISCUSSÃO DOS ESULTADOS
Os valores de correlação resultantes do teste de fiabilidade do
questionário foram elevados, na ordem dos 0.98, para a quase totalidade
das variáveis, o que nos dá confiança na análise destes resultados. A
variável “Actividade física complementar à escalada” apresentou um grau de
correlação inaceitável (r = 0,04), pelo que não foi incluída no tratamento
estatístico (Anexo 5).
5.1 COMO SE CARACTERIZAM OS PRATICANTES DE ESCALADA Quando colocamos esta questão, estamos a incluir todos os
praticantes de escalada, desde os mais jovens aos mais velhos de ambos
os sexos, incluindo os mais variados tipos de práticas, associadas a
diferentes organizações que promovem a prática de escalada. Desta forma,
os resultados da globalidade da amostra permitem-nos caracterizar na
generalidade os 380 praticantes que a constituem. Esta caracterização
torna-se interessante, perante o objectivo geral de realizar um corte
transversal na prática de escalada e fazer uma caracterização global dos
praticantes e da prática de escalada do nosso País.
No entanto, devido à grande diversidade de indivíduos incluídos na
amostra e à especificidade de determinadas variáveis, entendemos que a
análise da amostra dividida em subgrupos permite-nos realizar análises
mais coerentes. Como exemplo, podemos referir que na análise da variável
estatura, parece-nos coerente diferenciar os indivíduos adultos dos
indivíduos ainda em fase de crescimento.
Assim sendo, os resultados da globalidade da amostra são
maioritariamente acompanhados dos resultados obtidos nos diferentes
subgrupos criados. Os subgrupos mais frequentes são os que dividem os
praticantes em, praticantes exclusivamente ligados à prática escolar,
praticante não escolares masculinos e praticantes não escolares femininos.
49
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Posto isto, apresentamos os resultados que nos permitem
caracterizar os praticantes de escalada da nossa amostra.
Como resposta ao o objectivo de caracterização generalizada do
“típico” praticante de escalada, os resultados apontam para um praticante
maioritariamente masculino na razão aproximada de 4 para 1, adulto, com
uma idade média próxima dos 27 anos de idade, magro, de estatura média
de 172 cm, solteiro, com um nível de instrução superior e de estatuto
profissional alto.
Alcançado este objectivo passámos à exploração minuciosa da
especificidade de cada variável.
5.1.1 GÉNERO
A primeira análise que fazemos é relativa à distribuição dos
praticantes pelo género.
Quadro 5 - Valores percentuais de frequência do género dos praticantes da nossa amostra. Género Globalidade
n= 380
Não escolares
n= 329
Escolares
n= 51
Masculino
Feminino
78%
22%
80%
19%
65%
35%
Os valores percentuais por nós encontrados são próximos dos
valores resultantes da base de dados cedida pela Federação Portuguesa
de Montanhismo e Escalada: 74% masculinos. Este valor percentual
refere-se a 1388 praticantes inscritos na Federação Portuguesa de
Montanhismo e Escalada até ao ano de 2005 (FPME). Ressalva-se que a
listagem de praticantes cedida pela federação não implica que os
inscritos sejam praticantes de escalada activos, pelo que os valores
apresentados são relativos aos praticantes de todas as modalidades que
esta federação tutela, nomeadamente a escalada, o montanhismo, o
canyoning e a marcha de montanha. A pedido nosso, o presidente da
FPME estimou o valor aproximado de 800 praticantes de escalada, entre
os 1388 federados.
50
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados disponíveis na literatura científica, relativa a outros
países, apontam para alguns valores próximos da nossa amostra, como
poderemos verificar:
- 78% masculinos entre 400 questionários aplicados nos EUA num
estudo de incidência de lesões (Schuster et al., 2001);
- 77% masculinos, entre 39 escaladores de recreação (Rooks et al.,
1995);
- 88% masculinos entre os inscritos British Mounteiniring Council
(British Mounteiniring Council, 1998, citado por Grant et al., 2001);
- 90% homens (aproximadamente) inscritos no “The Climbers Club
of Great Britain” (Logan et al., 2004);
- 35% feminino entre população de praticantes de escalada de
interior e de exterior nos Estados Unidos da América (Wall et al.,
2004).
Os nossos resultados denotam um valor percentual mais elevado
relativo ao sexo feminino entre a população mais jovem, representada pelo
subgrupo escolares. Esta tendência de aumento do valor percentual do
género feminino entre os praticantes mais jovens é concordante com
algumas referências da literatura científica como poderemos verificar:
- diferença do valor percentual feminino de 12 % para 27% entre os
inscritos no British Mounteiniring Council, se considerarmos
apenas os menores de 18 anos (BMC, 1998, citado por Grant et
al., 2001);
- acréscimo da percentagem de femininos de 30% para 40% no
últimos 9 anos, num ginásio de escalada no Colorado EUA (Wall
et al. 2004);
- admissão de mulheres inscritas no “The Climbers Club of Great
Britain” é relativamente recente (Logan et al., 2004).
51
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1.2 IDADE
Passámos à análise dos valores relativos à idade, cujos valores
descritos (média, desvio padrão, mínimo e máximo) podemos consultar no
quadro seguinte:
Quadro 6 - Valores de tendência central e de dispersão relativos à idade.
Idade Globalidade
n= 380
Masculinos
n= 264
Femininos
n= 65
Escolares
n= 51
Média e DP
Min / Max.
26,9 ± 8,3
10,1 / 53,3
28,9 ± 7,2
16,6 / 52,3
28,2 ± 7,2
16,1 / 53,3
14,7 ± 1,8
10,1 / 17,9
Estes resultados revelam claramente que o praticante de escalada é
maioritariamente um indivíduo adulto. A análise de uma tabela de
frequências, não disponível neste documento, permitiu-nos verificar que
mais de 98% dos praticantes não escolares têm mais de 18 anos de idade.
Os valores do desvio padrão justificam-se pela grande dispersão
entre os valores extremos, que constituem um dado importante a analisar.
Por um lado, é possível verificar que entre os “escolares” temos praticantes
a partir dos 10 anos. Este valor é interessante numa perspectiva de
desenvolvimento desportivo da modalidade, uma vez que corresponde aos
períodos óptimos de aprendizagem referidos por Vicente (2003).
Por outro lado verificámos que entre os “não escolares” temos
praticantes entre os 16 e os 53 anos de idade. Estes valores, podem
significar que a prática de escalada durante a infância e juventude se
encontra quase consignada ao Desporto Escolar. Numa análise mais
detalhada dos resultados, não exposta neste documento, pudemos
constatar que os valores extremos por excesso apresentados não são casos
isolados. Encontramos 29 indivíduos com mais de 40 anos de idade,
repartidos pelos dois géneros, 6 dos quais com mais de 50 anos de idade.
Note-se que se tratam de praticantes de escalada no activo, uma vez esta
foi uma das condições de inclusão na amostra.
52
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os valores resultantes da nossa amostra são ligeiramente inferiores
aos da Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada, com 31,6 ± 9,6
existindo uma diferença média de apenas 0,2 anos entre masculinos e
femininos. No entanto, a abrangência da nossa amostra ultrapassa o
universo dos praticantes federados, como poderemos verificar na análise da
variável “filiação dos praticantes”. Esta pequena diferença poderá ser
explicada pela inclusão na nossa amostra de uma significativa percentagem
de universitários não federados, que poderão ajudar a baixar ligeiramente a
média.
A literatura é vasta em dados relativos à idade média dos praticantes
de escalada, que variam geralmente entre os 25 e os 30 anos (Dégliniéres
et al., 1993; Watts et al., 1998; Grant et al., 2003; Wall et al., 2004). No
entanto, estes valores merecem uma análise cuidada devido à
especificidade das amostras a que se referem. Os estudos mencionados
referem-se maioritariamente a amostras diminutas e direccionadas para os
objectivos do estudo em questão, incidindo sobretudo sobre praticantes de
alto nível.
Os únicos valores relativos a uma amostra mais abrangente, quanto
ao tipo de praticantes referem-se a um estudo de incidência de lesões
realizados por Rouhrbough et al. (2000), com uma média de 25 anos,
resultante de uma variação entre os 13 e os 40 anos de idade, entre 42
praticantes de recreação de ambos os sexos.
Curiosamente, um estudo realizado com 545 membros do “The
Climbers Club of Great Britain” obteve uma média de idades de 50 anos,
com uma variação entre os 23 e os 93 anos de idade (Logan et al., 2004).
Os autores justificam este valor dizendo que os participantes na amostra
não eram forçosamente praticantes activos uma vez que a filiação neste
clube é tradicionalmente vitalícia.
53
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1.3 DADOS SOCIOECONÓMICOS E EDUCACIONAIS
De seguida, apresentamos um quadro com vários dados relativos a
ao estatuto socioeconómico, educacional e profissional dos praticantes.
Quadro 7 – Valores de frequências relativos ao estado civil, instrução escolar, ocupação dos praticantes e Classificação Nacional de Profissões.
Estado Civil Globalidade
n= 380
Masculinos
n = 262
Femininos
n = 65
Escolares
n = 51
Solteiro 78,9 % 75,8 % 75,4 % 100 %
Casado 14,2 % 16,7 % 15,4 % 0
Divorciado 4,7 % 5,7 % 4,6 % 0
Unido de Facto 1,8 % 1,5 % 4,6 % 0
Outro 0,3 % 0,4 % 0 0
Instrução Escolar Globalidade
n= 280
Masculinos
n= 262
Femininos
n = 65
Escolares
n = 51
Básico 21,1% 11,7% 0 %
Secundário 18,4% 23,9% 7,7%
Freq. Ens. Superior 23,2% 26,1% 29,2%
Bacharelato 5,5% 5,7% 9,2%
Licenciatura 25,8% 25,4% 47,7%
Mestrado 4,5% 4,9% 6,2%
Doutoramento 1,1% 1,5% 0%
Outro 0,5 % 0,8% 0%
Frequentam todos os ensinos básico
e secundário
Situação Ocupacional
Globalidade
n= 380
Masculinos
n= 262
Femininos
n= 65
Escolares
n = 51
Estudante 38,7 % 28,8 % 30,8 % 100 %
Empregado 48,7 % 58,2 % 52,3 % /
Trabalhador / Estudante 9,2 % 10,6 % 10,8 % /
Desempregado 3,4 % 3,4 % 6,2% /
Classificação Nacional Profissões
(Foram considerados apenas os indivíduos activos)
G
n= 217
M
n= 176
F
n= 41
Grupo 1 – Profissões científicas técnicas, artísticas 48,4 41,5 78,0
Grupo 2 – Directores e quadros superiores administrativos 9,7 10,8 4,9
Grupo 3 – Administrativos e similares 6,5 6,3 7,3
Grupo 4 – Comércio e vendedores 11,1 13,1 2,4
Grupo 5 – Protecção e serviços 18,9 22,2 4,9
Grupo 6 – Trabalhadores agrícolas, florestais e pescadores 0 0 0
Grupos 7,8 e 9 – Operários, maquinistas e construção civil 4,1 4,5 2,4
Militares 0,9 1,1 0
Desempregado, reformado ou domésticas 0,5 0,6 0
54
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No que concerne ao estado civil verificamos que, entre os não
escolares, a maioria (75%) dos indivíduos são solteiros.
Relativamente à instrução escolar verificam-se níveis elevados. O
predomínio é de licenciados, seguidos pelos que ainda frequentam o ensino
superior. Uma análise de frequências acumuladas dos indivíduos com
frequência de formação superior permitiu-nos constatar frequências
acumuladas de 65% entre os masculinos e 93% entre os femininos. Os
praticantes escolares, por serem ainda estudantes dos ensinos básico e
secundário, têm obviamente o seu grau de instrução consignado a esse
nível de ensino.
Os resultados relativos ao estatuto apontam para uma predominância
de indivíduos empregados verificando-se taxas de desemprego ligeiramente
mais baixas que os níveis nacionais actuais. Segundo o Instituto Nacional de
Estatística, no ano de 2004 verificou-se em Portugal um desemprego médio
de 7,2% entre a população activa (maiores de 16 anos) (INE, 2004).
Também Rooks et al. (1995) encontraram valores próximos dos nossos com
63% empregados e 23% estudantes, entre uma amostra de 39 escaladores
de recreação.
No quadro n.º 7 podemos encontrar uma provável explicação para os
níveis elevados de emprego, que é a predominância de profissões
tipificadas no “Grupo 1”. Este facto é mais notório no género feminino (78%).
Na Classificação Nacional de Profissões (INE, 1980), o Grupo 1
engloba a maior parte dos trabalhadores que receberam formação de nível
superior e desempenham funções de natureza intelectual nos domínios da
ciência, técnica, educação e outros. Apresentamos no quadro 8 a
distribuição do Grupo 1 da nossa amostra pelas diferentes áreas de trabalho
predominantes.
Quadro 8: Valores percentuais das áreas profissionais do grupo 1.
Áreas profissionais Educação Engenharia Saúde Artes Outras
Valores Percentuais 37,5% 19,2% 13,5% 9,6% 20,2
Rooks et al. (1995) também verificaram entre a sua amostra um
predomínio de profissões ligadas às áreas de investigação, saúde e
55
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
prestação de serviços. O valor elevado relativo à área da educação é
maioritariamente constituído por professores entre os quais 54% disseram
leccionar a disciplina de Educação Física.
O valor percentual elevado de homens a trabalhar na área de
serviços justifica-se, em parte, pela inclusão neste campo de algumas
profissões relacionadas com a prática de escalada como os trabalhos
verticais e a monitorização de actividades de desporto de aventura.
Os resultados obtidos nos quadros relativos ao nível de instrução e à
classificação nacional de profissões revelam um estatuto educacional e
profissional elevado. Esta característica dos praticantes de escalada é mais
notória entre os indivíduos do sexo feminino.
A constatação de que a prática de escalada está difundida sobretudo
entre indivíduos de estatuto educacional e profissional elevado, leva-nos a
pensar que a adesão à modalidade poderá, de alguma forma, estar
condicionada por barreiras culturais e/ou económicas. Queremos com isto
dizer que é provável que a prática de escalada não seja ainda uma
actividade de fácil acessibilidade cultural e/ou financeira para a generalidade
da população.
Griffiths (1970) refere que as modalidades mais inovadoras, entre
elas a escalada, começam por ser praticadas por indivíduos de estatuto
social superior alargando-se posteriormente às classes médias e baixas. No
entanto, existe sempre um intervalo de tempo que medeia este alargamento
das práticas à classe média. Esta ideia leva-nos a questionar se a prática de
escalada no nosso país estará a passar por um processo semelhante de
difusão, no sentido de se tornar mais acessível.
A constatação de que a prática de escalada está menos difundida
entre o género feminino, aliada à constatação deste género revelar níveis de
estatuto profissional e educacional mais elevado leva-nos de encontro à
ideia defendida por Griffiths (1970). Podemos associar a menor difusão da
prática de escalada entre as mulheres a uma estratificação social mais
evidente que a verificada nos homens.
56
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1.4 MORFOLOGIA
Passamos então à análise dos valores que permitem caracterizar,
ainda que grosseiramente, a morfologia dos praticantes de escalada,
através dos valores do peso, estatura e do cálculo do IMC.
Quadro 9: Valores de tendência central e dispersão relativos à morfologia dos praticantes
Morfologia Globalidade
n= 380
Masculinos
n= 264
Femininos
n= 65
Escolares
n= 51
Peso
Média e DP
Min / Max
65,6 ± 11,3
30 / 98
70,5 ± 8,5
50 / 98
55,3 ± 6,6
43 / 76
53 ± 11,1
30 / 76
Esta
tura
Média e DP Min / Max
171,9 ± 9,3 135 / 195
175,6 ± 6,6 160 / 195
162,9 ± 6,1 152 / 178
163,2 ± 11,6 135 / 184
IMC
Média e DP Min / Max
22,0 ± 2,7 13,8 / 32,9
22,8 ± 2,3 15,4 / 32,9
20,8 ± 2,2 16,8 / 26,7
19,7 ±2 ,9 13,8 / 29,1
A primeira análise que fazemos diz respeito aos valores de desvio
padrão encontrados no grupo dos escolares, que reflectem as grandes
variações verificadas no peso e da estatura. Esta variações são facilmente
explicáveis com a variação de idade entre os 10 e os 17 anos, o que
corresponde a idades onde naturalmente existirá entre os indivíduos
grandes discrepâncias de estatura e peso.
Nos subgrupos “masculino” e “feminino” observamos valores médios
de IMC, que se enquadram nos padrões de normalidade das várias escalas
disponíveis na literatura (Garrow, 1981; OMS, 1997), apesar do subgrupo
feminino se aproximar mais do limite inferior da normalidade. Os valores
médios de estatura rondam os 176 cm para os homens e 163 cm para as
mulheres.
A literatura é vasta em valores relativos ao peso e estatura dos
praticantes. No entanto, estes valores são predominantemente relativos a
estudos que incidiram sobre grupos de praticantes de elite, como podemos
verificar no próximo quadro 10.
57
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 10 - Valores relativos à morfologia dos praticantes, encontrados na literatura.
Estudo Amostra Peso
Média ± DP
Estatura
Média ± DP
IMC
Média ± DP
Wall et al., 2004 6 escaladoras de nível moderado
6 escaladoras de nível médio
6 escaladoras de nível elevado
56,6 ± 3,9
60,3 ± 5,3
55,0 ± 5,2
163,0 ± 4,8
170,1 ± 8,0
154,5 ± 8,5
21,3
20,8
23,0
Sheel et al., 2003 9 escaladores com pelo menos 2 anos de experiência competitiva
62,2 ± 9,2 168,5 ±7.2 21,9
Grant et al., 2003 9 escaladores intermédios 71,6 ± 6,2 180,0 ± 7,0 22,1
Quaine et al., 2003 20 escaldores: 10 de elite e 10 noviços 65,2 ± 2,0 177,4 ± 4,5 20,7
Grant et al. 2001 10 escaladoras de elite
10 escaladoras de recreação
59,5 ± 7,4
59,9 ± 5,7
166,0 ± 7,0
164,4 ± 4,0
21,6
22,2
Booth et al,, 1999 7 praticantes de nível elevado 62,6 175,0 20,4
Grant et al. 1996 10 escaladores de elite
10 escaladores recreacionais
72,9 ±10,3
74,5 ± 9,6
179,4 ± 7,9
178,9 ± 8,5
22,7
23,3
Watts et al., 1996 11 escaladores experientes 65,9 ± 8,6 175,6 ± 5,9 21,4
Belo, 1996 27 escaladores de elite 64,7 ± 6,0 172,4 ± 4,9 21,4
Watts et al. 1993 21 homens, grau médio de 8b 66,6 ± 5,5 177,8 ± 6,5 21,1
Strojnik et al. 1989 8 escaladores de topo 65.3 ± 4,9 177,7 ± 3,8 20,7
Viviani e Calderan, 1991
39 escaladores europeus de topo 63,6 ± 4,5 175,9 ± 6,2 20,6
Viret et al., 1987 24 escaladores de competição 62,0 171,0 21,2
Presente Estudo 380 praticantes de escalada 65,6 ± 11,3 171,9 ± 9,3 22,0 ± 2,7
Os valores encontrados na literatura, relativos à mais variada gama
de amostras, não diferem muito dos nossos valores médios. Pelo que se
confirmam as tendências morfológicas de estatura e IMC dos praticantes de
escalada, que são referidos na literatura científica como baixos e longilíneos.
No entanto, se analisarmos as poucas referências existentes sobre os
padrões antropométricos da população portuguesa (Areses, 2003), os
praticantes de escalada da nossa amostra tem uma estatura que se
considera média para idade análoga.
A relação do IMC com o rendimento desportivo será analisada mais
adiante aquando da análise das variáveis que se correlacionam com o
rendimento desportivo (5.3).
Apesar da distribuição da nossa amostra centrar uma elevada
percentagem de indivíduos próxima dos valores médios, existem valores
extremos notáveis. Por defeito, encontramos valores de IMC extremamente
58
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
baixos próximos dos limites inferiores de magreza considerados como
valores de desnutrição pela OMS (1997). Por excesso, verificámos valores
de IMC tão elevados, que entram nos valores considerados de excesso de
peso.
Estes valores de IMC elevados estão descritos na literatura como
pouco associados à prática de escalada. Numa tentativa da explicação da
existência na nossa amostra de indivíduos com IMC acima do esperado,
correlacionamos o IMC com as variáveis: tempo de prática, frequência de
prática e idade. Os valores de correlação para as duas primeiras variáveis
foram muito baixos, (r=0,17 e r=–0,13, respectivamente), sendo próximo do
moderado para a idade (r=0,35).
De modo a clarificar este procedimento, isolámos os indivíduos com
IMC superior ou igual a 25 e fizemos uma análise das frequências das
variáveis anteriormente referidas tendo verificado o seguinte:
- tempo de prática: verificámos uma distribuição bastante
heterogénea destes indivíduos a variar entre 1 mês e 36 anos de
prática;
- frequência de prática: verificámos uma maior incidência de
indivíduos com uma prática frequente, de aproximadamente 1 vez
por semana;
- idade: verificámos que este grupo de praticantes apresenta
efectivamente uma média de idades superior à globalidade da
amostra com 32 anos de média de idade.
Desta forma constatámos que a possível razão para a existência de
valores de IMC acima do esperado se poderá explicar pela existência na
nossa amostra de praticantes de idade mais avançada. Teremos ainda que
clarificar que não estamos forçosamente a falar de índices de massa gorda
elevados. O IMC apenas nos esclarece da relação peso / estatura, não
especificando a quantidade de gordura corporal. No entanto, a metodologia
por nós adoptada, não nos permite fazer esta distinção.
59
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA PRÁTICA DE ESCALADA
5.2.1 INICIAÇÃO À PRÁTICA DE ESCALADA
O próximo quadro é relativo à forma como os indivíduos tomaram
contacto com a prática de escalada.
Quadro 11: Valores percentuais relativos à forma como os praticantes iniciaram a prática de escalada
Como se iniciam na prática de escalada?
Globalidade
n= 380
Masculinos
n= 264
Femininos
n= 65
Escolares
n= 51
Com amigos 36,5 39,0 46,2 2,0
Num clube 25,4 29,2 24,6 10,2
Na Escola 21,7 12,5 18,5 75,5
Outra 4,8 5,3 4,6 0
Sozinho 3,7 4,9 1,5 6,1
Com uma empresa 3,4 3,4 4,6 2,0
Combinações de várias respostas 4,5 5,7 0 4,2
Nesta variável verifica-se que o subgrupo “escolares” se distingue dos
restantes, uma vez que a maioria iniciou a prática na escola. Relativamente
aos subgrupos masculino e feminino temos uma maioria de praticantes a
iniciar a prática com os amigos, o que indicia uma iniciação informal e
espontânea. Também verificámos valores elevados de praticantes que
iniciaram a sua prática em clubes e em escolas, sendo esta última mais
notória nas mulheres. Os resultados revelam que as empresas representam
um papel pouco significativo na iniciação à prática da modalidade.
Adiante, analisaremos a associação entre a forma como iniciaram a
prática de escalada e o estilo de escalada pelo qual iniciaram.
5.2.2 TEMPO DE PRÁTICA DE ESCALADA E IDADE DE INICIAÇÃO.
De seguida, passámos à análise dos valores relativos ao tempo de
prática e à idade em que os praticantes da nossa amostra iniciaram a prática
da modalidade.
60
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 12: Valores de tendência central e dispersão relativos ao tempo de prática e à idade de iniciação.
Vaiáveis dos “timings” de prática
Globalidade
n= 380
Masculinos
n= 264
Femininos
n= 65
Escolares
n= 51
Tem
po d
e P
rátic
a Média e DP
Min / Max
5,3 ± 6,3
0,1 / 36
6,2 ± 6,4
0,1 / 34
4,7 ± 6,8
0,1 / 36
1,4 ± 1,8
0,1 / 6
Idad
e de
In
icia
ção
Média e DP
Min / Max
21,6 ± 6,5
10 / 45
22,7 ± 6,2
12 / 45
23,4 ± 5,3
13 / 43
13,3 ± 1,9
10 / 17
Quadro 13: Análise percentílica dos valores de tempo de prática e idade de iniciação.
Tempo de Prática
(em anos)
Idade de Iniciação
(em anos)
Percentis
Masculinos
n= 264
Femininos
n= 65
Escolares
n= 51
Masculinos
n= 264
Femininos
n= 65
Escolares
n= 51
P10 0,5 0,36 0,22 16 18 11
P20 1 0,6 0,5 18 20 12
P30 2 1 0,56 19 20 12
P40 3 2 0,6 20 21 13
P50 4 3 1 21 22 13
P60 6 3 1 24 23 14
P70 7 5 2 26 25 14
P80 10 8 2 27 27 15
P90 16 10 4 30 40 16
P95 20 15 4,5 34 32 17
Relativamente aos restantes, o subgrupo dos escolares revela valores
médios mais baixos de tempo de prática com apenas 30% dos casos a
ultrapassar os 2 anos e uma idade de iniciação que se focaliza
maioritariamente entre os 12 e os 15 anos. Estes valores são esperados
para a idade escolar, apesar do valor médio de 1,4 anos de prática revelar
uma predominância de uma prática pouco continuada no tempo, quando
comparado com o valor médio de 3,2 ±1,9 anos resultante de um estudo
feito em 90 participantes numa competição júnior nos Estados Unidos da
América (Watts et al., 2003).
Os valores médios do tempo de prática dos subgrupos masculino e
feminino requerem uma análise mais atenta uma vez que têm uma
61
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
distribuição claramente assimétrica. A análise percentílica do Quadro 13,
permite-nos constatar que uma grande parte dos praticantes se localiza nos
primeiros 5 a 6 anos de prática, estendendo-se os restantes até valores
bastante elevados. Verificámos que o P90 se encontra nos 10 anos de
prática para as mulheres e 16 anos para os homens. Mais notável, é
verificarmos que 5% dos homens da nossa amostra praticam escalada há
mais de 20 anos.
O valor médio de tempo de prática, encontrado na literatura, mais
próximo dos nossos resultados é de 5 anos, resultante de um estudo de 42
praticantes de recreação (Rooks et al., 1995).
A análise de percentis, permite-nos também constatar que, para além
dos valores médios aproximados de 6 anos de prática para os homens e 5
anos para as mulheres, 20% dos homens e 30% das mulheres da nossa
amostra tem 1 ano ou menos de tempo de prática. Este valor percentual de
praticantes em fase de iniciação sugere uma tendência para o aumento do
número de praticantes de escalada. Esta tendência de crescimento do
número de praticantes nos últimos anos é referida por diversos autores
(Watts et al., 2003 e Logan et al., 2004).
Os valores expostos no quadro 12 permitem constatar que, em
média, os praticantes “não escolares”, iniciaram a sua prática
aproximadamente aos 23 anos de idade. Se considerarmos como idade
adulta os 18 anos, os valores percentílicos resultantes são de 80% para os
homens e de 90% para as mulheres (Quadro 13). Estes resultados sugerem
que a iniciação à prática da modalidade é maioritariamente efectuada na
idade adulta. Esta constatação remete-nos para a discussão sobre a
acessibilidade cultural e financeira da prática de escalada. Exceptuando
algum trabalho feito ao nível escolar, uma vez mais constatámos que a
modalidade é essencialmente praticada por pouco indivíduos adultos.
62
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.2.3 ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS DIFERENTES TIPOS DE ESCALADA
Relativamente às 5 questões sobre os diferentes tipos de escalada praticados e preferidos fizemos uma análise da globalidade dos resultados, de modo a poder apresentar a informação de forma reduzida e simplificada. Esta simplificação da apresentação dos resultados baseou-se na constatação de tendências muito semelhantes entre os subgrupos “masculinos” e “femininos”.
Contrariamente, o subgrupo “escolares” revelou tendências muito diferentes da globalidade, pelo que apresentámos separadamente as características deste subgrupo numa breve discrição. O subgrupo “escolares” caracteriza-se pela quase exclusividade da escalada desportiva em todas as respostas, exceptuando valores muito baixos relativos à escalada de bloco entre as modalidades já praticadas e preferidas. Estes resultados são esperados na medida em que o trabalho ao nível escolar é feito essencialmente em estruturas artificias de escalada, com o intuito de treino para escalada desportiva de competição. No entanto, autores como Vicente (2003) e Winter (2000) defendem que, ao nível escolar, a prática de escalada de bloco constitui uma óptima estratégia para o ensino da técnica e treino de capacidade condicionais.
O quadro 14 apresenta os resultados dos subgrupos “masculinos” e “femininos” como um todo, excluindo o subgrupo escolares.
Quadro 14: Valores percentuais relativos às 5 questões sobre os diferentes estilos de escalada
Estilos de escalada...
n = 329 (escolares excluídos)
...pelo qual iniciou a prática
...que já praticou
...que actualmente
pratica
...que habitualmente mais pratica
... preferido
Clássica 12,2% 0% 1,5% 6,7% 22,3%
Desportiva 77,5% 9,1% 27,4% 66,6% 54,7%
Bloco 3,6% 5,8% 2,1% 7,6% 8,3%
Gelo 0,3% 0,3% 0% 0% 3,4%
Clássica e Desportiva 1,5% 9,7% 14,6% 5,8% 3,4%
Desportiva e Bloco 4% 29,5% 33,7% 10,9% 1,2%
Clássica, Desportiva e Bloco 0,3% 19,5% 6,7% 0,3% 0,6%
Clássica Desportiva e Gelo 0,3% 6,1% 4,9% 0,3% 0,6%
Todos os estilos 0% 18,2% 4,3% 0% 0,3%
Outras combinações 0,3% 1,8% 4,8% 1,8% 5,2%
63
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Uma primeira análise deste quadro permite-nos afirmar que a
escalada desportiva é dominante em todos os aspectos estudados. Ainda
que, em dois casos, isso tal não aconteça em frequências absolutas. Uma
análise de frequências acumuladas não deixa qualquer dúvida que a
escalada desportiva é o estilo mais referido. Esta tendência é contrária à
verificada em Inglaterra, onde a escalada clássica parece ser predominante
(Wilson, 1998, citado por Lewis, 2000).
De seguida, apresentamos uma análise sumária dos valores mais
significativos:
- a escalada desportiva é o estilo mais praticado na fase de
iniciação (77,5%), no entanto, uma percentagem significativa de
praticantes iniciaram a modalidade pela prática de escalada
clássica (12,2%);
- o estilo mais praticado é a escalada desportiva (67,8% de
frequência acumulada), no entanto, 18,2% já praticaram os 4
estilos;
- salientamos também, que na nossa amostra não existem
praticantes que tenham praticado unicamente escalada clássica;
- a maioria pratica actualmente uma combinação de dois ou mais
estilos de escalada (69%), sendo as combinações mais comuns o
bloco com a desportiva (33,7%) e a clássica com a desportiva
(14,6%)
- apesar do predomínio da prática de dois ou mais estilos de
escalada, existe uma percentagem considerável (27,4%) de
praticantes que praticam unicamente escalada desportiva,
- os resultados revelam valores percentuais muito baixos de
praticantes que se dedicam exclusivamente à prática de escalada
clássica (1,5%) e de bloco (2,1%);
- o estilo de escalada preferido pela maioria dos praticantes é a
desportiva (54,7%), seguindo-se a escalada clássica (22,3%) e o
bloco (8,2%).
64
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Depois de evidenciarmos os aspectos mais significativos expressos
no quadro de valores, apresentamos algumas das inferências que fazemos
com base nestes resultados.
5.2.3.1 Relação entre o estilo de escalada de iniciação e tempo de prática
Relativamente ao estilo de escalada praticado na iniciação
procurámos encontrar uma explicação cronológica dos valores obtidos. Para
tal, procedemos a uma análise de variância (ANOVA) dos valores médios de
tempo de prática, entre os praticantes que iniciaram a prática pelos
diferentes estilos, tendo obtido os seguintes resultados:
Quadro 15: Análise comparativa dos valores médios de tempo de prática e ano de iniciação dos diferentes estilos de escalada praticados na iniciação.
Estilos de escalada pelos quais iniciaram a prática de
escalada.
Clássica
n = 40
Clássica e Desportiva
n = 5
Desportiva
n = 255
Desportiva e Bloco n = 13
Bloco
n = 12
p
Tempo médio de prática 15,1 ±9,9 10,1±8,6 4,5±4,2 3 ±2,1 1,8 ±2,7 0,00
Este resultados indiciam que a escalada está mais associada aos
praticantes que iniciaram a prática da modalidade há mais anos. Na última
década passou a ser mais comum iniciar a prática da actividade pela
escalada desportiva. Verifica-se também que a iniciação pela escalada de
bloco é um fenómeno dos últimos 2 a 3 anos.
Embora os nossos resultados se refiram especificamente aos
estilos adoptados na iniciação da modalidade, esta associação
cronológica, mais do que o estilo adoptado na iniciação, é possível que
reflicta a evolução cronológica da implantação da prática dos diferente
estilos de escalada no nosso País. A literatura diz-nos que a escalada
clássica é mais antiga, tendo a filosofia da escalada desportiva surgido
nos anos 70 nos países de vanguarda da modalidade (Stückl e Sojer,
1993). A escalada de bloco, apesar de ser anterior à escalada desportiva,
tem assistido a um grande aumento do número de praticantes nos últimos
anos (Campo, 2002).
65
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.2.3.2 Relação entre o estilo de iniciação e a forma como iniciaram a prática
Em paralelo com a análise cronológica, testámos a associação entre
o estilo de escalada de iniciação e a forma como iniciaram a prática.
Quadro 16: Valores percentuais de associação da forma de iniciação à prática ao estilo de escalada de iniciação.
Como se iniciam na prática de escalada?
Clássica
n = 42
Desportiva
n = 298
Bloco
n = 13
Desportiva e Bloco
n = 16
Com amigos 26,2 36,8 38,5 43,8
Num clube 42,9 22,7 23,1 25
Na Escola 4,8 25,4 15,4 12,5
Com uma empresa 2,4 4 0 0
Outras entidades 23,7 11,1 23 18,7
Cruzando estas duas variáveis retirámos as seguintes ilações:
- a iniciação à prática da escalada clássica está mais associada à
iniciação feita nos clubes;
- os estilos de escalada que mais se associam a uma iniciação
informal, feita com amigos, são a escalada desportiva e o bloco.
5.2.3.3 Estudo de correlação entre as 5 questões sobre os estilos de escalada
Para tentar comprovar se foi pertinente incluir no questionário 5
questões diferentes relativas aos estilos praticados necessários, realizamos
um estudo de correlação (do tipo Spearman) entre as respostas das várias
questões relativas aos estilos de escalada, tendo obtido os seguintes
valores.
Quadro 17: Valores de correlação entre os resultados das 5 questões relativas aos estilos de escalada.
Valores de correlação do tipo Spearman
n= 327
Estilo pelo qual iniciou a
prática
Estilos de escalada já praticados
Estilos de escalada que actualmente
pratica
Estilos de escalada que mais pratica
Estilos de escalada já praticados
- 0,14 - 0,02 0,23 0,22
Estilos de escalada que actualmente pratica
0,56 0,08 0,08
Estilos de escalada que mais pratica
0,25 0,22
Estilo de escalada preferido
0,42
66
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A abundância de valores de correlação baixos verificados, vem
comprovar a necessidade da inclusão no questionário de tantas questões
diferentes, relativas aos diferentes estilos de escalada. Uma vez que uma ou
duas das perguntas apenas iriam encobrir muita da informação por nós
aferida. Como exemplo, se perguntássemos apenas qual o estilo preferido,
não ficaríamos a saber se esse seria o estilo mais praticado ou quais os
outros estilos que pratica.
Assim sendo, a análise dos valores de correlação obtidos permite-nos
fazer as seguintes inferências:
- o valor de correlação moderado entre os estilos de escalada já
praticados e os estilos de escalada que actualmente pratica
(rs=0,56) revela que existe uma tendência moderada para que os
praticantes dêem continuidade à pratica dos estilos já
experimentados;
- o valor de correlação moderado entre o estilo de escalada
preferido e o estilo de escalada que mais pratica (rs=0,42) deixa-
nos a dúvida se os escaladores praticam mais o estilo que
preferem ou se preferem o estilo que mais praticam!
Uma análise de tabelas cruzadas, com o cálculo das percentagens
acumuladas, diz-nos que entre os 60 praticantes que dizem preferir a
escalada clássica, apenas 40% afirmam ser este o estilo que mais pratica.
Já entre os 179 que dizem preferir a escalada desportiva, 95% referem ser
este o estilo que mais praticam. Entre os 27 que dizem preferir a escalada
de bloco, 70% referem-no como o mais praticado.
Ainda que os praticantes prefiram a escalada clássica, os valores
anteriores revelam que a prática da escalada desportiva continua a ser
dominante. A possível explicação para esta constatação prende-se com a
acessibilidade e comodidade da escalada desportiva, que permite ser
praticada com maior frequência. Por maior comodidade e acessibilidade
entenda-se, para além da possibilidade da prática de interior, a facilidade e
rapidez com que os praticantes se podem deslocar a uma zona de escalada
67
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
desportiva para desfrutar de 2 a 3 horas de prática. O mesmo não acontece
com a escalada clássica que implica geralmente maiores deslocações, um
melhor planeamento da escalada, mais tempo de preparação e de escalada
e maior compromisso de segurança.
A escalada de bloco, por ser igualmente ou ainda mais cómoda que a
escalada desportiva, podendo ser praticada em solitário com relativa
facilidade e segurança, permite aos praticantes que preferem este tipo de
escalada praticá-lo com uma frequência dominante.
5.2.3.4 Estudo de características particulares dos praticantes que mais se
associam a cada estilo de escalada
Posto isto, interrogámo-nos sobre a existência de características
comuns entre os praticantes que mais se identificam com cada um dos
diferentes estilos de escalada. Para tal, criámos subgrupos de praticantes
que mais se associam a cada um dos estilos de escalada. O critério a
adoptar para a formação dos subgrupos poderia variar entre estilo mais
praticado e o preferido ou a associação dos dois.
Após uma análise cuidada dos resultados destas três possibilidades
verificámos que a tendência geral é coincidente, sendo que nas duas
primeiras os valores de “n” são ligeiramente mais elevados e as diferenças
entre os grupos são menos evidentes. De seguida, apresentámos os
resultados dos praticantes que reúnem as duas condições, revelando uma
opção ainda mais forte por cada uma das diferentes modalidades.
Quadro 18: Análise comparativa dos valores da média e do desvio padrão relativos aos subgrupos de praticantes que se identificam mais com cada um dos diferentes estilos de escalada.
Estilos de escalada pelos quais iniciaram a prática de escalada.
Clássica
n = 18
Desportiva
n = 151
Bloco
n = 12
Idade decimal 37,6 ±10,2 27 ±6 28,4 ±6
Tempo de prática 16 ±11 3,6 ±4,1 6,1 ±5,1
IMC 22 ± 2,3 22,4 ±2,7 21,9 ±1,4
Frequência de prática 2,3 ±1,3 3,4 ±1,3 4 ±1,6
Grau de dificuldade que supera 6a+ 6a+ 6c
68
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As constatações feitas a partir do quadro 18 levam-nos a especular
sobre a possibilidade da caracterização de estereótipos de praticantes de
cada modalidade.
Podemos afirmar que os praticantes com uma forte opção pela
escalada clássica tendem a ser mais velhos, com mais tempo de prática e
menor frequência de prática, lembrando o conceito de “velha guarda”. Este
facto indica que não é frequente praticantes jovens e com pouco anos de
prática dedicarem-se prioritariamente à prática de escalada clássica.
Os praticantes que se dedicam maioritariamente à prática da
escalada desportiva não revelam valores médios que se diferenciam da
globalidade. Este grupo é o mais abrangente, podendo incluir desde o
praticante iniciado ao campeão nacional de escalada de dificuldade.
A dedicação exclusiva à escalada de bloco é também uma opção
pouco frequente. Os resultados revelam que este grupo tem um nível de
rendimento desportivo médio superior aos restantes grupos.
5.2.3.5 Grau de agrado pelos diferentes tipos de escalada
Como complemento da questão relativa ao estilo preferido o nosso
questionário continha uma escala de avaliação de 6 níveis relativos a cada
um dos estilos de escalada. O nível “0” correspondia à frase “não tenho
opinião” e foi incluída a pensar nos praticantes que ainda não tivessem
experimentado alguns dos 4 estilos de escalada questionados.
Quadro 19: Valores percentuais de agrado pelos diferentes tipos de escalada.
Agrado pelos Diferentes Tipos de Escalada
Não tenho opinião
Não gosto Gosto Pouco
Nem Gosto nem
desgosto
Gosto Gosto Muito
Escalada Clássica 28,1% 1,6% 3,7% 7,7% 27,1% 31,8%
Escalada Desportiva 1,9% 0,0% 0,8% 2,1% 32,1% 63,1%
Escalada de Bloco 19,1% 3,2% 6,9% 16,2% 29,7% 24,9%
Escalada em Gelo 52,5% 2,7% 2,7% 5,0% 29,6% 17,5%
69
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Mais uma vez, a escalada desportiva tem os maiores valores de
agrado revelados pelos praticantes. Também se comprova que todos os
estilos têm valores elevados de apreciação. O estilo que recebe opiniões de
agrado menos positivas é a escalada de bloco, sendo a escalada desportiva
a mais apreciada. A escalada clássica e no gelo têm os valores mais
elevados de opinião nula, o que comprova que estes estilos de escalada são
menos acessíveis, havendo uma elevada percentagem de praticantes que
nunca as experimentaram.
5.2.4 FREQUÊNCIA DE PRÁTICA
Para analisar a frequência de prática incluímos uma questão com
uma escalada de intervalo de 4 categorias.
Quadro 20: Valores percentuais de agrado pelos diferentes tipos de escalada. Frequência de Prática
Globalidade
n = 380 Masculinos
n = 264 Femininos
n = 65 Escolares
n = 51
Nada frequente (Apenas algumas vezes por ano)
9,0% 9,1% 15,4% 0,0%
Pouco frequente (1 a 3 vezes por mês)
16,9% 15,2% 33,8% 4,0%
Frequente (1 a 2 vezes por semana)
52,5% 50,8% 36,9% 82,0%
Muito Frequente (3 ou mais vezes por semana)
21,6% 25,0% 9,1% 14,0%
Os valores relativos à frequência de prática apontam para um
predomínio claro de uma prática de pelo menos 1 a 2 vezes por semana
(52,5%). Nos escolares, o valor percentual relativo a esta frequência de
prática é ainda mais elevado (82%). Como explicação para este valor
atribuímos a regularidade imposta pelos treinos do Desporto Escolar.
Os valores de frequência dos femininos são menos elevados,
destacando-se que apenas uma pequena percentagem (9,1%) tem uma
prática “muito frequente” de 3 ou mais vezes por semana.
70
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.2.5 DESEMPENHO DESPORTIVO (GRAU DE DIFICULDADE SUPERADO)
A análise do desempenho desportivo dos praticantes da nossa
amostra constitui para nós um dos aspectos de maior interesse deste
estudo. Este indicador foi aferido por auto relato dos graus de dificuldade
superados pelos praticantes. As diversas questões colocadas são
abrangentes em relação ao tipo de escalada, no entanto, referem-se
exclusivamente ao encadeamento de vias em técnica de progressão em
livre. A maioria dos praticantes (93,9%) referiu a escalada desportiva como o
estilo em que atingiu o desempenho desportivo mais elevado sendo os
outros estilos considerados excepções com 3,6% para a clássica, 1,4% para
o bloco e 0,6% para diversas combinações de estilos.
As 4 questões colocadas aos praticantes referem-se a 4 formas
diferentes de superação de dificuldade:
- “Máximo alguma vez superado” - a dificuldade máxima que o
praticante alguma vez conseguiu superar ao longo de todo o seu
percurso desportivo;
- “Máximo alguma vez superado à vista” - a dificuldade máxima que
o praticante alguma vez conseguiu superar à vista;
- “Actual consolidado após trabalho” - a dificuldade que o praticante
actualmente supera com uma elevada percentagem de êxito,
conseguindo encadear a via após 2 a 5 tentativas;
- “Actual consolidado à vista” - dificuldade que o praticante
actualmente supera à vista com uma percentagem de êxito de
cerca de 80%.
5.2.5.1 Coeficientes de correlação entre os diferentes indicadores aferidos
A primeira análise que fazemos é relativa aos coeficientes de
correlação do tipo Pearson entre os resultados das diversas componentes
questionadas.
71
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 21: Valores dos coeficientes de correlação do tipo Pearson entre as diferentes respostas sobre grau de dificuldade superado.
Grau de dificuldade
Valores de Correlação
Máximo alguma vez superado
à vista
Actual consolidado
após trabalho
Actual consolidado
à vista
Máximo Alguma vez superado 0,94 0,95 0,90
Máximo alguma vez superado à vista 0,91 0,95
Actual consolidado após trabalho 0,91
Os valores de correlação elevados dão consistência à validade das
respostas, na medida em que é esperado que haja uma relação constante
entre os graus de dificuldade superados à vista e após trabalho. A única
discrepância esperada seria entre o grau máximo e o grau actual, pelo
declínio de forma, o que não se verificou.
5.2.5.2 Graus de dificuldade superados
Os valores de “n” apresentados não representam a totalidade dos
casos porque foram excluídos os praticantes, cujo nível de autonomia
técnica, não permite ser comparado com os restantes (24% da globalidade).
Isto acontece com os praticantes que escalam unicamente em técnica de
top-rope, não se podendo comparar a dificuldade superada com os que
escalam “de primeiro”. Escalar apenas em top-rope é característico,
sobretudo da fase de iniciação, devido a falta de autonomia técnica.
Quadro 22: Valores relativos ao grau de dificuldade máximo e grau de dificuldade actual consolidado dos diferentes subgrupos da amostra.
Grau Globalidade
n= 287 (76%)
Masculinos
n= 228 (86%)
Femininos
n= 44 (68%)
Escolares
n= 15 (29%)
Consolidado
Média
Min / Max
6b
III / 8a
6b
IV / 8a
6a
III / 7b+
V+
V / 6a
Máximo
Média
Min / Max
6b+
III / 8b
6c
IV / 8b
6a+
III / 7c+
6a
V / 6a+
Perante este quadro podemos verificar que o subgrupo “escolares” é
o que apresenta menor nível de rendimento desportivo. Este subgrupo
apresenta uma elevada percentagem de casos omissos. Este facto significa
que um elevado número de praticantes não tem autonomia técnica, nem
nível desportivo suficiente para escalar “de primeiro”. Considerando apenas
72
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
15 casos válidos, o grau de dificuldade caracteriza-se de uma forma muito
consistente entre o V grau e o 6a.
O subgrupo feminino apresenta uma maior percentagem de casos
válidos. Podemos dizer que tem uma média de grau máximo de 6a+ e
consolidado de 6a. A análise de uma tabela de frequências permitiu-nos
verificar a existência de 2 casos extremos com um grau máximo de 7c+ e
um grau consolidado de 7b. Estes dois casos são perfeitamente atípicos,
sendo que os valores mais elevados que se seguem são de 7a máximo e 6c
consolidado. O nível máximo das praticantes da nossa amostra coincidem
com o grau máximo nacional conhecido no nosso país (Duque, 2005).
No subgrupo masculino a distribuição dos graus de dificuldade é mais
homogénea, verificando-se uma coincidência aproximada do valor da média
e da mediana. No entanto, o aumento do grau de dificuldade é exponencial,
verificando-se um crescimento mais pronunciado a partir do P75. Só no
último quartil os valores variam entre o 7a e o 8b de grau máximo. A
dificuldade máxima de 8b não iguala o máximo nacional de 8b+ descrito na
literatura por Martins (2001).
5.2.5.3 Estratificação da amostra por níveis de desempenho desportivo
Na literatura encontramos diversas formas de estratificar e classificar
níveis de rendimento dos praticantes de escalada, sem que haja entre elas
concordância no que se refere às designações utilizadas ou aos critérios de
divisão. A diversidade de classificações encontradas na literatura refere-se a
momentos, âmbitos e populações diferentes, específicas de cada estudo.
Queremos com isto dizer que uma caracterização estratificada de níveis de
dificuldade realizada no ano de 1986, num grupo feminino de praticantes de
recreação, não se pode esperar que sirva, por exemplo, para uma
caracterização efectuada em 2004 para um grupo de praticantes juniores
masculinos de competição.
73
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Apresentamos de seguida algumas dessas classificações utilizadas
na literatura científica, com as designações na língua original e os graus de
dificuldade referentes a cada estrato.
Quadro 23: Divisões do praticantes de escalada em níveis de rendimento desportivo.
Estudo Designações Graus de dificuldade
Wall et al. (2004), EUA
(para praticantes femininas)
“moderate”
“intermediate”
“expert”
5.9 5.10 (V+ 6a)
5.10 5.11 (6a 6c)
5.11 5.12 (6c 7b)
Quaine et al., (2003), França “elite” 8a (à vista)
Grant et al., (2003) “Intermediate” 6a
Rohrbough et al., (2000), EUA, citando fonte indirecta relativa a 1998.
“beginner”
“intermediate”
“advanced”
“expert” ou “elite level”.
5.1 5.7 (III V)
5.8 5.10c ( V+ 6b)
5.10d 5.11d (6b+ 6c+/7a)
5.12a 5.14d (7a/a+ 8c+/9a)
Watts et al., (1996), EUA. “extremely skilled” 5.12a 5.13d (YDS)
(7a 8a+/8b)
Belo, (1996), Portugal Elite: 20 a 25 anos 6b à vista e 7a após trabalho
Viret et al., (1987), França. “elite mundial” 7c+ à vista e 8b+ trabalhado
Perante esta diversidade de informação, a nossa pretensão de
estipular uma classificação estratificada do rendimento desportivo da nossa
amostra fica dificultada. Agrava-se pelo desconhecimento dos
procedimentos estatísticos ou critérios que levaram à definição das
classificações dos diferentes estudos citados.
Assim, para caracterizar os casos da nossa amostra segundo estratos
de nível de rendimento, podemos seguir vários caminhos:
- analisar a distribuição dos praticantes segundo uma divisão
grosseira feita com base nos principais patamares da escalada de
graus de dificuldade: quinto, sexto, sétimo e oitavo graus.
- adoptar classificações da literatura e observar como se distribuem
os nosso praticantes segundo esses critérios;
- fazer uma análise da distribuição percentílica e a partir desta
estipular para a nossa amostra diferentes patamares de níveis de
rendimento.
74
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Apresentamos então os resultados relativos a cada um dos caminhos
possíveis. A variável do grau de dificuldade tida por referência será a do
grau de dificuldade actual consolidado, visto ser aquela que melhor
caracteriza o nível desportivo actual do praticante.
Quadro 24: Valores percentuais da distribuição dos praticantes que escalam “de primeiro” pelos graus de dificuldade.
Níveis de Rendimento
Globalidade
n= 288 (76%)
Masculinos
n= 228 (86%)
Femininos
n= 44 (68%)
Escolares
n= 15 (29%)
Grau
Consolidado “de primeiro”
Até V+
6º grau
7º grau
8º grau
26,4%
60,4%
11,8%
1,4%
18,8%
65,5%
14,0%
1,7%
50,0%
45,5%
4,5%
0%
73,3%
26,7%
0%
0%
Observamos que o grosso da população masculina (65,5%) escala
sexto grau de dificuldade, os femininos repartem-se entre o V e o 6º grau de
dificuldade e que os escolares incidem mais sobre o v grau de dificuldade.
Também se verifica que o sétimo grau consolidado constitui já um nível
bastante restrito (11,8% da globalidade) e que o oitavo grau é dominado por
muito poucos (1,4%) e exclusivamente pelos masculinos.
Adaptando para português as divisões de Rougbourh et al. (2000)
para praticantes masculinos e de Wall et al. (2004) para praticantes
femininos, obtemos as seguintes distribuições percentuais segundo o grau
de dificuldade actual consolidado dos praticantes da amostra.
Quadro 25: Valores percentuais da distribuição dos praticantes da amostra segundo a classificação de Roghbourg et al. (2000) para os masculinos e Wall et al. (2004) para os femininos.
Níveis de Rendimento segundo Roghbourg et al.,
(2000) para masculinos Masculinos
n= 228 (86%)
Níveis de Rendimento segundo Wall et al., (2004)
para femininos Femininos
n= 44 (68%)
Iniciantes: V grau
Intermédios: V+ 6b
Avançados: 6b+ 7a
Peritos: 7a+
9.6
49.6
28.8
11.8
(não designado) V
Moderado: V+ 6a
Intermédio: 6a 6c
Perito: 6c 7b
36,4
40,9
18,2
4,5
Podemos verificar que esta distribuição classifica uma elevada
percentagem de praticantes masculinos no nível intermédio e de femininos
no nível moderado. Também revelam a existência de poucos praticantes
75
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
masculinos com um nível de iniciante e de muitos femininos com um nível
inferior ao nível mais baixo considerado por Wall et al. (2004). Teremos que
considerar alguma desactualização da classificação masculina por ser
relativa ao ano de 2000. Observamos uma moderada adequação da nossa
amostra às estratificações anteriormente analisadas. No entanto, a análise
dos resultados segundo estas classificações acaba por ser insípida, na
medida em que são baseadas em valores relativos a duas realidades
diferentes entre si e sobretudo diferentes da realidade da nossa amostra.
Passamos então à análise estatística dos níveis de rendimento
directamente resultantes da nossa amostra, começando por uma divisão da
amostra em quatro grupos equitativos, tempo por referência os quartis.
Quadro 26: Proposta de estratificação do grau de dificuldade consolidado baseada nos quartis.
Níveis de Rendimento
Globalidade
n= 287 (76%)
Masculinos
n= 228 (86%)
Femininos
n= 44 (68%)
Escolares
n= 15 (29%)
< Q1
Q1 – Q2
Q2 – Q3
>Q3
V+
6a 6a+
6b 6c
6c+
6a
6a+ 6b
6b+ 6c
6c+
V
V+
6a
6a+
V
V
V+ 6a
6a+
No nosso entender a distribuição equitativa por quartis não é
totalmente satisfatória por dois motivos. Por um lado, não nos dá uma ideia
do nível de elite, uma vez que o 4º grupo (>Q3), correspondendo a 25% da
amostra constitui um grupo de praticantes que entendemos ser demasiado
alargado para se considerar uma elite de praticantes. Por outro lado, não
nos permite identificar um grupo de nível de rendimento médio, uma vez que
nem o 2º nem o 3º grupo correspondem a esse estrato. Uma possibilidade
de classificação interessante baseada nos quartis, seria incluir todos os
indivíduos compreendidos entre o Q1 e Q3 e classificar esta faixa de 50%
da amostra como nível médio. Nesta proposta, o Q1 estabelece o nível
baixo, o Q3 o nível elevado e o P95 identifica a elite, resultando a seguinte
estratificação.
76
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 27: Proposta de alterada de estratificação baseada nos quartis.
Níveis de Rendimento
Globalidade
n= 287 (76%)
Masculinos
n= 228 (86%)
Femininos
n= 44 (68%)
Escolares
n= 15 (29%)
Nível Baixo (< Q1)
Nível médio (Q1 – Q3)
Nível elevado (Q3 – P95)
Elite – (> P95)
V+
6a 6c
6c+ 7b
7b+
6a
6a+ 6c
6c+ 7b+
7c
V
V+ 6a
6a+ 6c
6c+
V
V 6a
6a
6a+
No nosso entender esta proposta tem apenas uma limitação que é
uma divisão não equitativa dos grupos, compreendendo o nível baixo 25%, o
nível médio 50%, o nível elevado 20% e a elite 5% dos praticantes. Para
terminar a problemática da classificação dos níveis de rendimento
desportivo dos praticantes da nossas amostra, apresentamos uma proposta
de classificação, com uma distribuição mais equitativa, baseada nos
percentis 35, 65 e 95.
Quadro 28: Valores relativos ao graus de dificuldade que caracterizam diferentes grupos de nível de rendimento, segundo um divisão pelos percentis: 35, 65 e 95.
Grupos de nível segundo o grau actual consolidado
Globalidade
n=288 (76%)
Masculinos
n= 228 (86%)
Femininos
n= 44 (68%)
Escolares
n= 15 (29%)
Baixo: <P35
Médio: P35 - P65
Elevado: P65 - P95
Elite: >P95
6a
6a+ 6b
6b+ 7b
7b+
6a
6a+ 6b+
6c 7b+
7c
V
V+ 6a
6a+ 6c
6c+
V
V
V+ 6a
6a
Grupos de nível segundo o grau máximo
Globalidade
n= 291 (76%)
Masculinos
n= 230 (86%)
Femininos
n= 45 (68%)
Escolares
n= 16 (29%)
Baixo: <P35
Médio: P35 - P65
Elevado: P65 - P95
Elite: >P95
6a
6b 6b+
6c 7c
7c+
6a+
6b 6c
6c+ 7c+
8a
V
V+ 6a
6a+ 6c+
7a
V
V
6a
6a+
Os valores resultantes desta distribuição constituem uma proposta de
parâmetros de classificação de níveis de rendimento construída com base
numa amostra alargada de escaladores nacionais referente ao ano de 2004,
que poderá ser utilizada em futuras investigações.
Segundo esta divisão obtemos um nível de elite masculina a partir do
grau de dificuldade máximo de 8a. Este valor é baixo relativamente aos
77
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
valores referidos como elite em estudos realizados em outros países e a
nível mundial, nomeadamente 8a à vista, referente a 10 escaladores de elite
(Quaine et al., 2003). No entanto, quando comparado com os valores
máximos de 7b à vista e 8a após trabalho referidos por Belo (1996) relativos
a uma amostra de praticantes de elite portuguesa, os nossos resultados
denotam uma melhoria do desempenho.
O P95 caracteriza a elite feminina a partir dos graus de dificuldade de
7a máximo e 6c+ consolidado o que concentra nesta patamar um alargado
leque de dificuldades, sabendo nós que o máximo feminino da nossa
amostra se estabelece no 7c+. Estes resultados denotam o fosso existente
entre o nível desportivo das praticantes de elite e do grosso das restantes
praticantes.
5.2.5.4 Análise dos diferentes indicadores de dificuldade superada
Outro indicador de desempenho desportivo por nós estudado foi grau
de dificuldade superado “à vista”. Nesta variável a percentagem de casos
válidos é ainda menos significativa, uma vez que os praticantes mais
esporádicos ou iniciantes não valorizam este parâmetro de dificuldade, pelo
que não dispõem de informação para responder a esta questão. O exemplo
mais notório é o referente ao subgrupo escolares, no qual apenas 5
indivíduos responderam a estas duas questões.
Quadro 29: Valores relativos ao grau de dificuldade máximo à vista e actual consolidado à vista.
Grau Globalidade
n= 287 (76%)
Masculinos
n= 192 (83%)
Femininos
n= 32 (73%)
Escolares
n= 5 (33%)
Máximo “à vista”
Média
Min / Max
6b
III / 8a
6a+
III / 8a
6a
III / 7a+
V+
IV / 6a+
Actual “à vista”
Média
Min / Max
6b
III / 7c
6a+
IV / 7c
V+
III / 7a
V+
IV / 6a
Quando comparado com os resultados dos graus após trabalho da via
estes valores são obviamente mais baixos.
78
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No próximo quadro analisamos as diferenças entre os diferentes
valores de dificuldade máxima superada.
Quadro 30: Valores relativos ao grau de dificuldade média das diferentes variáveis estudadas.
Grau de dificuldade
Máximo Alguma vez superado
Máximo alguma vez superado à
vista
Actual consolidado
após trabalho
Actual consolidado à
vista
Globalidade 6b+/c 6b 6b 6a+
Os valores das médias das diferentes variáveis de dificuldade
apresentados no quadro 30, auxiliam-nos a compreender as seguintes
inferências:
- em média, os praticantes escalam um grau de diferença entre a
escalada à vista e a escalada após trabalho (P=0,00);
- a mesma diferença estatística se verifica entre o grau máximo e o
grau consolidado (P=0,00)
- verifica-se uma igualdade entre o valor médio do nível máximo à
vista e o nível actual consolidado após trabalho.
Esta última inferência sugere que o grau máximo à vista pode ser
utilizado como referência para a estipulação do grau consolidado que é
sempre de análise subjectiva do praticantes, necessitando, no entanto de
um estudo mais aprofundado para validar esta metodologia.
No entanto, estes valores médios não expressam se esta diferença se
mantém à medida que varia o grau de dificuldade. Fizemos então uma
divisão quartílica da amostra e comparamos os valores médios das 4
variáveis em causa.
Quadro 31: Valores relativos ao grau de dificuldade médio das diferentes variáveis estudadas para uma divisão quartílica da amostra segundo o grau de rendimento dos praticantes.
Grau de dificuldade
Máximo Alguma vez superado
Máximo alguma vez superado à vista
Actual consolidado após trabalho
Actual consolidado à vista
<Q1 V+ V V IV+
Q1- Q2 6a+ 6a 6a V+
Q2 – Q3 6c 6b 6b 6a+
>Q3 7b 7a 6c+ 6c
79
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados revelam uma maior diferença no quartil de dificuldade
mais elevado, entre o grau máximo escalado à vista e o grau máximo
trabalhado, pelo que depreendemos que quanto mais elevado é o nível de
rendimento do praticante, mais difícil será escalar à vista uma dificuldade
aproximada do grau após trabalho.
5.2.6 PARTICIPAÇÃO EM COMPETIÇÕES
Depois das várias análises relativas ao desempenho desportivo dos
analisamos em que medida os praticantes da nossa amostra se dedicam à
participação em competições de escalada.
Quadro 32: Valores percentuais relativos à participação em competições e ao tipo de competições.
Participação em Competições Globalidade
n = 380
Masculinos
n = 264
Femininos
n = 65
Escolares
n = 51
Não 61,1% 65,4% 76,9% 18,0%
Sim 38,9% 34,6% 23,1% 82,0%
Tipos de Competição Globalidade
n = 145
Masculinos
n = 89
Femininos
n = 15
Escolares
n = 41
Escolar 34,5% 7,9% 13,3% 100%
Universitária 5,5% 7,9% 6,7%
Federada 27,6% 41,6% 20,0%
Outra 10,3% 14,6% 13,3%
Escolar e Universitária 2,1% 1,1% 6,7%
Universitária e Federada 11,7% 14,6% 26,7%
Escolar, Universitária e Federada 2,1% 3,4% 0%
Outras combinações 6,2% 8,9% 13,3%
Os resultados revelam que a maioria dos praticantes (61,1%) nunca
participou em competições. Este facto indicia que a escalada é
maioritariamente uma prática desportiva de recreação.
No entanto, o subgrupo “escolares” contraria esta tendência uma vez
que já todos os sujeitos participaram em competições. Existe uma
explicação para esta constatação que é a vertente competitiva a que o
Desporto Escolar está associado, sendo que os praticantes escolares
treinam com o intuito de participar em competições.
80
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Tentamos fazer uma analogia das características dos praticantes que
já participaram em competições entre as variáveis por nós estudadas. Os
resultados que apresentamos, não incluem os escolares pela sua
especificidade relativa a esta variável.
Quadro 33: Valores de associação da participação em competições com as restante variáveis
Variáveis Idade Média ± DP
Idade de IniciaçãoMédia ± DP
Tempo de prática
Média ± DP
IMC Média ± DP
Frequência de prática
Grau Máximo
Média
Participa em competições 28,5 20,2 8,2 22 Muito frequente
6c
Não participa em competições 29 24,1 4,8 22,6 Frequente 6a+
Coeficiente de correlação com a participação em
competições -0,06 -0,32 0,30 -0,14 0,25 0,47
Os participantes em competições revelam as seguintes tendências: - começaram a praticar mais novos,
- praticam há mais anos e
- escalam com maior frequência.
Os resultados indicam um coeficiente de correlação moderado entre o
grau de dificuldade máximo escalado e a participação em competições. Os
participantes em competições tendem a ter um nível de rendimento mais
elevado.
5.2.7 FILIAÇÃO DOS PRATICANTES
O último aspecto a considerar sobre a prática de escalada diz
respeito à filiação dos praticantes. Pretendemos analisar quais os
organismos que promovem e apoiam o desenvolvimento da modalidade e
de que forma os praticantes de escalada se distribuem pelos mesmos. Outro
aspecto analisar é a existência de indivíduos que desenvolvem uma prática
completamente independente de qualquer estrutura organizativa.
81
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 34: Valores percentuais relativos à filiação dos praticantes
Participação em Competições Globalidade
n = 374
Masculinos
n = 260
Femininos
n = 54
Escolares
n = 60
Clube 46% 53,5% 45,3% /
Empresa 2,7% 2,3% 6,3% /
Escola 14,2% 2,3% 3,1% 100%
Nenhum 27,3% 30,8% 34,4% /
Outros 1,3% 1,9% 0% /
Universidade 4,0% 3,8% 7,85 /
Clube e Empresa 1,9% 2,3% 1,6% /
Clube e Escola 2,7% 3,1% 1,6% /
Os resultados revelam que a prática de escalada acontece
maioritariamente associada aos clubes (46%), no entanto, existe uma
elevada percentagem de praticantes que não estão ligados a qualquer de
organismo (27,3%). O desporto universitário e as empresas desempenham
um papel pouco significativo na dinamização da prática de escalada.
5.3 ESTUDO DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES NO DESEMPENHO
Temos consciência que este tema não se circunscreve com as
variáveis antropométricas, fisiológicas ou da carga do treino. A literatura
fala-nos da complexidade de factores que interferem no desempenho dos
praticantes, que para além das características físicas ou do processo de
treino alargam-se a aspectos de ordem psicológica, motivacional e
circunstancial.
No entanto, vários autores têm publicado estudos nos quais
procuraram encontrar explicações para as diferenças de desempenho
baseadas nas variáveis treináveis e antropométricas. O facto da nossa
amostra reunir uma informação abrangente relativa aos níveis de
rendimento desportivo dos praticantes, permite-nos contribuir para o estudo
desta temática. Para tal, procedemos a um estudo de correlação do nível de
rendimento desportivo dos praticantes com as variáveis medidas em escalas
métricas, nomeadamente: a idade, o tempo de prática, a idade em que
iniciou a prática, o IMC, a estatura, o peso e a frequência de prática.
82
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O rendimento desportivo foi aferido pela variável relativa ao grau de
dificuldade consolidado actualmente. Esta opção justifica-se por dois
motivos:
- Em primeiro lugar porque só faz sentido correlacionar os dados
actuais das variáveis idade, IMC, frequência de prática, entre
outras, com o nível de rendimento actual do praticante. Um
praticante obeso, de idade avançada e com uma frequência de
prática baixa, pode responder que a dificuldade máxima alguma
vez escalada foi oitavo grau, não correspondendo esse nível ao
seu desempenho actual.
- Por outro lado, o grau consolidado, apesar de ser de maior
subjectividade na apreciação dos praticantes, é aquele que melhor
caracteriza o nível de um praticante. Um praticante pode já ter
superado uma via de elevada dificuldade por motivos particulares
de especialização ou adaptação, no entanto, esse nível não está
consolidado.
Nesta análise de correlação faremos apenas referência aos
resultados dos subgrupos masculino e feminino. O subgrupo escolares foi
excluído da apresentação por ter um número de casos válidos insuficiente
análise.
Quadro 35: Valores dos coeficientes de correlação do tipo Pearson entre o grau de dificuldade consolidado e as variáveis métricas estudadas.
Valores de Correlação com o grau de dificuldade actual consolidado
Masculinos
n= 229
Femininos
n= 44
Idade - 0,14 0,10
Tempo Prática 0,16 0,35
Idade em que iniciou a prática - 0,35 - 0,15
IMC - 0,38 0,07
Estatura - 0,01 0,24
Peso - 0,32 0,21
Frequência de Prática 0,53 0,50
83
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Numa primeira análise, destacamos o coeficiente de correlação
moderado da variável “frequência de prática” e os coeficientes de correlação
baixos e negativos no subgrupo masculinos das variáveis “Idade em que
iniciou a prática” e “IMC” (Pestana e Gajeiro, 2003).
Grosso modo estes valores significam que existe alguma relação
entre o a frequência de treino e o desempenho desportivo dos praticantes e
que no subgrupo masculinos se verifica uma ligeira tendência para o IMC e
a idade de iniciação se correlacionarem inversamente com o desempenho.
Estes baixos valores de correlação, ainda que com pouca expressão, levam-
nos a pensar que a idade de iniciação e o IMC poderão ter alguma influência
no rendimento dos praticantes.
Esta primeira análise está de acordo com a literatura, na medida em
que os estudos realizados indicam que a morfologia explica uma pequena
percentagem da variação no desempenho, sendo as variáveis treináveis as
que melhor explicam o desempenho dos praticantes (Mermier et al, 2000;
Wall et al. 2004).
Nos estudos anteriormente citados, as variáveis treináveis referem-se
às capacidades condicionais e coordenativas susceptíveis de serem
melhoradas com o processo de treino, nomeadamente a técnica, a força e a
resistência. No nosso estudo as variáveis que melhor podemos associar ao
processo de treino, são aquelas que nos dão indicações sobre as
componentes da carga de treino dos praticantes, nomeadamente a
frequência, o volume e a intensidade (Matvéiev, 1991).
Logan et al. (2003), ainda que com um intuito diferente do nosso,
utilizaram o produto da frequência de prática pelos anos de prática para
aferir a intensidade de exposição à prática de escalada. Apesar da variável
“tempo de prática” não ter revelado um coeficiente de correlação alto com o
nível de rendimento, acreditamos que esta esteja fortemente associada à
frequência de prática. Para testar esta ideia, repetimos o estudo de
correlação da frequência de prática com o rendimento desportivo, para
subgrupos com diferentes tempos de prática.
84
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quadro 36: Valores dos coeficientes de correlação do tipo Spearman entre a frequência de prática e o grau actual consolidado para subgrupos com diferentes tempos de prática.
Masc. Fem Spearman Subgrupos por tempo de prática
N Masc. Fem.
Globalidade 229 44 0,50 0,49
- de 1 ano de prática 23 8 -0,10 -0,10
1 a 2 anos de prática 26 6 0,46 0,26
2 a 3 anos de prática 23 6 0,66 0,16
3 a 4 anos de prática 28 7 0,60 0,63
4 a 6 anos de prática 27 3 0,70 0,99
6 a 8 anos de prática 33 6 0,72 0,88
8 a 10 anos de prática 6 3 0,93 0,85
10 a 15 anos de prática 34 5 0,66 0
15 a 20 anos de prática 12 0 0,54 /
Mais de 20 anos de prática 17 0 0,30 /
A evolução dos valores de correlação veio de encontro à nossa
expectativa. O valor de correlação para o primeiro ano de prática é baixo e
negativo, o que sugere a necessidade de um tempo mínimo de aplicação do
estímulo para que o treino surta os seus efeitos. Este tempo mínimo poderá
estar relacionado com o tempo de aprendizagem dos exercícios e a
aquisição das competências básicas para a prática da modalidade.
A partir do primeiro ano de prática o valor de correlação aumenta
progressivamente com o tempo de prática, atingido valores elevados a partir
dos 4 anos de prática. Os valores verificados nos femininos são menos
regulares nesta tendência.
Nos indivíduos masculinos, os valores de correlação decrescem a partir
dos 10 anos de prática. Vários factores poderão estar relacionados com esta
diminuição do valor de correlação a partir dos 10 anos de prática,
nomeadamente um decréscimo da intensidade do treino, a alteração dos
objectivos e motivos para a prática e o aumento da idade dos praticantes. O
nosso estudo não nos permite testar qualquer uma das anteriores especulações.
O que podemos constatar das correlações anteriores é que apesar da
frequência de prática explicar parte da variação do nível de rendimento dos
praticantes, esta variável é dependente do tempo de prática.
85
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Depois de compreendermos a forma como se associam estas duas
variáveis e sabendo que o desempenho desportivo é o resultado de um
complexo processo de inter-relação de variáveis (Viviani e Calderan, 1991;
Goddard e Neumann, 1993, citados por Watts, 2004), partimos para uma
análise exploratória do comportamento das variáveis cuja correlação com o
nível de rendimento não é evidente.
Para tal, realizamos uma análise de variância dos valores médios
resultante de grupos com diferentes níveis de rendimento, tendo por base a
divisão por nós proposta: baixo, médio, elevado e elite. Com esta análise
pretendemos testar a existência de diferenças significativas entre nos
valores médios dos diferentes grupos de nível, assim como identificar
características específicas dos praticantes dos diferentes subgrupos.
Quadro 37: Valores médios das variáveis métricas nos diferentes grupos de nível de rendimento.
Masculinos Femininos
Variáveis Baixo n = 81
Médio n = 71
Elevado n = 67
Elite n = 10
p Baixo n = 16
Médio n = 18
Elevado n = 8
Elite n = 2
p
Idade 30,3 ± 7,7
28,9 ± 7,2
28,5 ± 6,3
24,6 ± 4,6
0,08 25,5 ± 3,0
29,1 ± 5,5
28 ± 4,8
26,2 ± 8,1
0,14
Idade iniciação
24,9 ± 6,6
22,1 ± 5,1
20,4 ± 4,7
16,8 ± 3,7
0,00 23,2 ± 2,8
23,9 ± 5,4
24,7 ± 4,9
18,1 ± 3,2
0,30
Tempo de prática
5,3 ± 6,6
6,8 ± 6,6
8,0 ± 6,4
7,8 ± 2,3
0,07 2,2 ± 2,2
5,1 ± 3,6
3,2 ± 2,9
8,0 ± 5,3
0,01
IMC 23,6 ± 2,5
22,8 ± 1,9
21,9 ± 2,0
20,5 ± 1,0
0,00 19,9 ± 2,6
21,4 ± 2,0
21 ± 2,6
19,6 ± 0,3
0,24
Estatura 175,6 ± 7,3
174,9 ± 6,1
174,9 ± 5,9
176,9 ± 5,9
0,73 162,1 ± 4,9
160,9 ± 6,5
165,3 ± 6,0
166 ± 6,4
0,29
Peso 72,2 ± 8,4
70 ± 8,5
67 ± 6,8
64,2 ± 5,5
0,00 52,4 ± 6,0
55,4 ± 6,1
57,5 ± 7,0
54 ± 4,6
0,28
No subgrupo femininos os valores de significância estatística da diferença
de médias não nos permitem retirar ilações sustentadas. A falta de significância
dos resultados poderá prender-se com pouca diferença de rendimento entre os
níveis de rendimento baixo, médio e elevado. Os primeiros três níveis estão muito
concentrados em dificuldade relativamente baixas com diferenças ténues entre
eles, que poderá não justificar diferentes características entre as praticantes.
86
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As praticantes de elite, apesar de serem apenas 2, diferenciam-se
claramente das outras praticantes por terem iniciado a prática da
modalidade em idade mais precoce e por praticarem escalada há mais anos.
Os resultados do subgrupo masculino revelam que apesar das
variáveis estudadas não terem revelado fortes correlações, algumas
apresentam valores médios significativamente diferentes entre os diferentes
grupos de nível de rendimento, nomeadamente as variáveis idade de
iniciação, IMC e peso corporal. A variação dos valores médios das variáveis
dos diferentes grupos de nível de rendimento leva-nos a fazer a seguinte
interpretação:
Idade: apesar de os valores médios denotarem um ligeiro decréscimo à
medida que se aumenta no grau de rendimento, o baixo valor de significância
não nos permite inferir qualquer relação entre esta variável e o desempenho
dos praticantes. Apenas constatar que o valor médio dos praticantes de elite é
inferior aos restantes e se aproxima dos valores médios descritos na literatura
científica relativos a amostras de praticantes de elite:
Quadro 38: Valores referentes à morfologia de praticantes de elite de diversas amostras.
Idade dos praticantes de elite Idade Amostra
Strojnik et al. 1989 24,5 ± 3,8 8 escaladores de topo
Viviani e Calderan, 1991 26,1 ± 4,3 39 escaladores europeus de topo
Watts et al. 1993 24 21 homens finalistas do Campeonato do Mundo
Watts et al. 1993 27,5 18 mulheres finalistas do Campeonato do Mundo
Presente Estudo 24,6 10 praticantes de elite masculinos
Idade de iniciação: esta variável apresenta valores médios muito
distintivos entre os 4 grupos de nível. Um procedimento estatístico de
comparação múltipla (post-hoc) diz-nos que as diferenças de média
verificadas são significativas entre todos os grupos, excepto entre os grupos
de rendimento médio e elevado (p=0,57). Sendo as diferenças entre os
diferentes grupos estatisticamente significativas constata-se que há uma
tendência para que os praticantes que iniciam a prática de escalada em
idade mais precoce venham a ter um nível de rendimento mais elevado na
prática da modalidade.
87
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
88
Tempo de prática: apesar do valor médio do tempo de prática ser
crescente até ao grupo de nível elevado, os resultados do subgrupo
masculino demonstram que os praticantes de elite não praticam
necessariamente à mais tempo que os praticantes de nível elevado.
O IMC também apresenta uma distribuição decrescente nos 4 grupos
e com diferenças médias estatisticamente significativas. Pelo que se infere
que efectivamente os praticantes com melhor desempenho desportivo
apresentam um IMC médio inferior aos praticantes com menor desempenho.
Estatura: nesta variável não se verifica uma tendência clara nos
valores médios. Os valores descritos não nos conduzem a qualquer relação
directa entre a estatura dos praticantes e o nível de rendimento.
Peso: os valores médios do peso revelam um claro e significativo
decréscimo à medida que aumenta o grau de rendimento.
Se compararmos os valores médios da morfologia dos praticantes de
elite da nossa amostra com os valores descritos na literatura para
praticantes de elite, verificamos que se enquadram perfeitamente dentro da
variação verificada entre os vários estudos. Pelo que se constata que
morfologicamente a elite de praticantes nacionais se encontra dentro dos
parâmetros internacionais (Quadro 38).
Quadro 39: Valores referentes à morfologia de praticantes de elite de diversas amostras.
Estudo Amostra Peso Estatura IMC
Viret et al, 1987 24 escaladores de competição 62 171 21.2
Strojnik et al. 1989 8 escaladores de topo 65.3 ±4.9 177.7 ±3.8 20.7
Viviani e Calderan, 1991 39 escaladores europeus de topo 63.6 ± 4.5 175.9 ±6.2 20.6
Watts et al. 1993 21 homens, grau médio de 8b 66.6 ± 5.5 177,8 ± 6,5 21.1
Grant et al. 1996 10 escaladores de elite 72.9 ±10.3 179.4 ±7.9 22.7
Belo, 1996 27 escaladores de elite 64.7 ±6.0 172.4 ± 4.9 21.4
Booth et al, 1999 7 praticantes de nível elevado 62.6 175 20.4
Presente Estudo 10 praticantes de elite masculinos
64.2 ± 5.5 176.9 ± 5.9 20,5 ± 1,0
CONCLUSÕES
89
66 CONCLUSÕESCONCLUSÕES
Uma constatação previsível e suportada pela literatura científica foi a
dificuldade de estudar a escalada como um fenómeno global. Este facto deve-
se à diversidade de práticas e praticantes que coexistem sob a mesma
designação - Escalada. A nossa amostra é prova disso, uma vez que inclui
praticantes de características extremas relativamente à idade, aos anos de
prática, aos estilos de escalada e à base organizativa que sustenta a prática,
nomeadamente os federados, os informais, os escolares, os universitários,
entre outros grupos de menor expressão como os utentes de empresas e os
escuteiros.
No entanto, o desconhecimento dos limites de diferenciação destas
comunidades fez-nos partir para o estudo dos praticantes de escalada de uma
forma generalizada, assumindo a diversidade como um fenómeno a analisar e
compreender. A única diferenciação efectuada foi entre subgrupos cujas
diferenças etárias e morfológicas se tornaram evidentes após a primeira análise
exploratória dos dados.
No que se refere ao padrão sociodemográfico, o praticante de escalada
caracteriza-se por ser um indivíduo predominantemente:
- masculino, numa razão aproximada de 4 para 1, sendo a
percentagem de femininos superior entre os escolares;
- adulto, com uma média de idade de 27 anos, que aumenta para os 29
anos se não consideramos os praticantes escolares;
- solteiro, numa razão aproximada de 3 em cada 4 praticantes;
- com um estatuto educacional elevado, sendo o predomínio de
indivíduos que frequentaram o ensino superior;
- com um estatuto profissional elevado, com um predomínio de
profissões ligadas à educação, engenharias, saúde e artes.
Relativamente à estatura, encontramos valores que se consideram
médios entre a população portuguesa de idade análoga, nomeadamente 176cm
para os homens e 163cm para as mulheres.
CONCLUSÕES
90
Ao analisarmos os valores de IMC da nossa amostra, segundo o conceito
de “escalada para todos”, defendido por Belo (1996) constatamos que: - por um lado, a dispersão dos valores de IMC abrange indivíduos
desde os extremamente magros até indivíduos com excesso de peso;
- por outro lado, é factual que os praticantes de escalada apresentam
uma clara tendência para valores de IMC próximos dos padrões de
magreza. Esta tendência é mais notória nos femininos e ainda mais
nos escolares.
Os resultados do nosso estudo apontam para um aumento do número de
praticantes nos últimos anos, sendo esta tendência concordante com a
literatura científica. Vários factores analisados levam-nos a considerar que a
prática de escalada tem vindo a tornar-se acessível a uma faixa mais ampla da
sociedade, perdendo progressivamente algum do sentido de elitismo social que
lhe está associado. Esta estratificação social dos praticantes de escalada é
mais notória no género feminino, entre o qual a escalada está menos difundida.
O facto de que 90% dos praticantes activos, não escolares, ter iniciado à
prática de escalada em idade adulta, denota dificuldade aceder a esta prática
enquanto jovens ou adolescentes.
Relativamente à prospecção sobre os diferentes estilos de escalada,
concluímos que a escalada desportiva é dominante em todos os aspectos
estudados, o que lhe confere o estatuto de estilo de escalada mais praticado e
preferido. Curiosamente, muitos dos praticantes que referem a escalada
clássica como estilo preferido, referem a escalada desportiva como o estilo que
mais praticam. As explicações empíricas que atribuímos a este facto prendem-
se com a maior acessibilidade e comodidade da prática de escalada desportiva,
relativamente à escalada clássica.
A prática exclusiva de um único estilo de escalada é pouco frequente. A
maioria dos praticantes conjuga a prática de dois ou mais estilos de escalada.
As conjugações mais frequentes são: desportiva com o bloco (33,7%) e
desportiva com a clássica (14,6%). O único estilo praticado em exclusividade
por um número elevado de praticantes é a escalada desportiva (27,4%).
Os praticantes com uma forte opção pela escalada clássica são pouco
CONCLUSÕES
91
significativos (4,7%). Quando comparados com a generalidade dos praticantes
têm mais idade, mais tempo de prática e uma menor frequência de prática.
Os praticantes que mais se identificam com a escalada de bloco são
ainda menos que os da escalada clássica (3,1%). A única característica que os
diferencia dos restantes é um nível de desempenho desportivo ligeiramente
mais elevado.
A frequência de prática de escalada predominante é de 1 a 2 dias por
semana, o que reflecte a implantação do conceito de prática de escalada como
actividade física regular, contrariamente ao conceito de actividade esporádica
de aventura e exploração.
Relativamente ao rendimento desportivo aferido pelo método de auto
relato do grau de dificuldade superado de primeiro em progressão livre,
retiramos as seguintes conclusões:
- os praticantes escolares revelam um nível desportivo baixo entre o V
grau e o 6a, característico de uma fase de iniciação à prática;
- os praticantes masculinos não escolares escalam em média 6b de
grau consolidado e 6c de grau máximo, resultante de uma variação
entre o IV e o 8b (máximos);
- os praticantes femininos não escolares escalam em média um 6a de
grau consolidado e 6a+ de grau máximo, resultantes de uma variação
entre o III e o 7c+ (máximos);
- resultante do cálculo do P95, os graus de dificuldade que propomos
para identificar praticantes masculinos de elite são: 7c consolidado e
8a máximo;
- para identificar praticantes femininos de elite, propomos os graus de
dificuldade 6c+ consolidado e 7a máximo. Estes valores não revelam
o fosso verificado entre o grosso das praticantes e dois casos
extremos, com um nível de rendimento na ordem do 7c.
CONCLUSÕES
92
Comparando os valores de rendimento da nossa amostra com os valores
mencionados na literatura científica verificamos que a nossa elite se encontra
aquém da elite mundial.
Encontramos uma diferença média entre o grau de dificuldade escalado
à vista e o grau de dificuldade após trabalho da via de 1 grau. No entanto,
também verificamos que esta diferença tende a aumentar à medida que o grau
de dificuldade também aumenta, verificando-se uma diferença média de 2 graus
entre os praticantes de nível mais elevado.
Também constatámos que existe uma tendência para a igualdade entre o
grau máximo escalado à vista e o grau consolidado após trabalho da via. Esta
igualdade sugere um método de compensação da subjectividade da auto
percepção do grau de dificuldade consolidado.
Relativamente ao estudo das variáveis mais determinantes no
desempenho desportivo dos praticantes, verificamos coeficientes de correlação
fracos na quase totalidade das variáveis estudadas. A única variável com um
coeficiente de correlação moderado foi a frequência de prática (rs= 0,50 e 0,53).
No entanto, temos consciência que a análise desta temática não dispensa a
consideração de um complexo modelo de interligação das variáveis que
influenciam o desempenho dos praticantes de escalada. Assim sendo,
consideramos que estes valores de correlação constituem apenas um pequeno
contributo para o conhecimento desta temática.
Avançando no sentido do cruzamento e isolamento de variáveis,
verificamos que o coeficiente de correlação da frequência de prática com o
rendimento desportivo está fortemente dependente da variável tempo de
prática. Os valores de correlação são muito baixos nos praticantes que têm
menos de 1 ano de prática, aumentando progressivamente até atingir valores
de correlação elevados. No subgrupo masculino verificamos um decréscimo do
valor de correlação a partir dos 10 anos de prática.
CONCLUSÕES
93
Através de um estudo exploratório de comparação de médias entre
subgrupos com diferentes níveis de rendimento, verificamos algumas
tendências estatisticamente significativas que passamos a referir: - a idade de iniciação tende a ser menor nos praticantes de maior nível
de rendimento;
- os praticantes de maior nível de rendimento não são necessariamente
os que praticam escalada há mais anos, sendo necessários em média
cerca de 8 anos para se atingir um nível de rendimento elevado;
- os praticantes de maior rendimento tendem a ter um peso e um IMC
menos elevados que os restantes;
- não se verificam diferenças significativas relativamente à idade e à
estatura dos praticantes.
Outra informação resultante do nosso estudo foram as características
particulares dos praticantes que consideramos de elite. Estes revelaram: - ter uma idade que ronda os 25 anos;
- ter uma frequência de prática muito elevada (3 ou mais vezes por
semana);
- ter um IMC e um peso pouco elevados;
- ter um tempo de prática que ronda os 8 anos.
Consideramos que, a metodologia utilizada neste trabalho de
investigação permitiu reunir uma informação substancial relativa aos praticantes
e à prática de escalada no nosso País. Esta base de conhecimento do estado
actual da actividade poderá, tornar-se útil para compreensão de variados
fenómenos relativos à prática de escalada em temáticas diversas como as que
passamos a referir.
CONCLUSÕES
94
6.1 SUGESTÕES PARA TEMAS DE INVESTIGAÇÃO RELATIVOS À ESCALADA:
- estudo das motivações para a prática dos diferentes estilos de
escalada;
- estudo de incidência de lesões na prática de escalada;
- estudo comparativo dos níveis de rendimento nos diferentes estilos
de escalada
- estudo das metodologias de treino dos praticantes de maior
rendimento;
- estudo dos recursos existentes para a prática de escalada no nosso
país;
- estudo da distribuição geográfica dos praticantes e dos recursos para
prática de escalada no nosso país;
- estudo da aposta federativa e dos clubes na formação de camadas
jovens;
- estudo do sistema competitivo de escalada existente em Portugal;
- estudo sobre a gestão e o desenvolvimento dos locais naturais
equipados para a prática de escalada;
- estudo da exploração de oportunidades comerciais relacionadas com
a comunidade de praticantes de escalada;
- estudo do impacto económico da prática de escalada no comércio
local.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS
ANEXO I
Tradução do Questionário de Wall et al. (2004)
xix
ANEXOS
xx
ANEXOS
xxi
ANEXOS
xxii
ANEXOS
ANEXO II
1ª versão original do Questionário
xxiii
ANEXOS
xxiv
ANEXOS
xxv
ANEXOS
xxvi
ANEXOS
ANEXO III
Questionário utilizado no Estudo Preliminar
xxvii
ANEXOS
xxviii
ANEXOS
xxix
ANEXOS
xxx
ANEXOS
Justificação das alterações feitas relativamente à versão anterior:
a) a questão n.º 1, relativa à idade, deixou de ser apresentada sobre a forma
fechada, com intervalos de idades, passando a ser uma pergunta aberta –“
Qual a sua idade?”. A justificação desta alteração prende-se com a maior
facilidade de resposta para o inquirido, por permitir criar uma variável
quantitativa e efectuar procedimentos estatísticos mais simples e
expressivos.
b) a questão n.º 4, relativa ao estado civil teve o acrescento da opção “outro”,
de modo a abranger todas as possibilidades.
c) a questão n.º 5, relativa à constituição do agregado familiar foi retirada, por
ter sido considerada confusa e pouco significativa para a aferição do
estatuto sócio-económico do praticante.
d) a questão n.º 6, relativa à situação profissional, sofreu apenas algumas
alterações ao nível da estrutura e passou a incluir a possibilidade
trabalhador / estudante.
e) a questão n.º 8, relativa à morada, passou para o início do questionário e
resume-se a inquirir sobre o distrito onde habita, uma vez que este será o
dado mais importante a reter em termos de tratamento estatístico. A morada
foi considerada desnecessária e até mesmo invasiva para o inquirido.
f) a questão n.º 9, relativa às características morfológicas, foi reduzida apenas
ao peso e estatura. Justifica-se esta opção uma vez que a metodologia
adoptada não permitiria a altura utilizável e a envergadura, tendo-se optado
por uma caracterização mais grosseira da morfologia dos indivíduos
praticantes;
g) a questão n.º 10, relativa ao tipo de escalada mais praticado e também ao
tipo de escalada preferido, foi considerada confusa em termos de
interpretação e insatisfatória relativamente às opções oferecidas. Assim,
optou-se por separar as questões, sendo uma sobre o tipo de escalada
preferido e outra sobre o tipo de escalada que mais pratica. A informação
sobre o tipo de escalada preferido, não nos permitiria perceber se os
praticantes gostam ou não dos outros tipos. Acrescentou-se então uma
xxxi
ANEXOS
tabela, com uma escala de Likert de 5 categorias (1 – não gosto; 2 gosto
pouco; 3 – nem gosto nem desgosto; 4 – gosto; 5 – gosto muito), relativas
ao agrado por cada um dos estilos de escalada. Aqui sentimos necessidade
de definir em concreto quais seriam os estilos de escalada mais
significativos, tendo a revisão bibliográfica (Hoffmann, 1993; Long, 1995;
Sherman, 1998; Hatting, 1998; Zorrilla, 2000; Schuster et al., 2001) indicado
4 grandes grupos, nomeadamente a Escalada Clássica, a Escalada
Desportiva, a Escalada de Bloco e a Escalada em Gelo. Retirámos a
escalada em gelo por considerarmos pouco significativa e acrescentámos a
categoria outros, com uma nota para quem quisesse acrescentar algum tipo
de escalada não contemplado no questionário;
h) a questão n.º 11, relativa aos anos de prática, foi também alterada do
sistema de intervalos para uma questão aberta pelos mesmos motivos
apresentados relativamente à idade;
i) a questão n.º 12, relativa à frequência de prática foi alterada no que se
refere aos intervalos apresentados, por terem sido considerados confusos.
Optou-se então por 3 categorias: pouco frequente (algumas vezes por ano),
frequente (pelo menos 1 vez por mês) e muito frequente (pelo menos 1 vez
por semana);
j) a questão n.º 13, relativa ao rendimento desportivo dos praticantes sofreu
algumas alterações, nomeadamente o acrescento de uma pergunta sobre o
grau de dificuldade que habitualmente escala à vista, com 80% de êxito,
com base num questionário utilizado por Hörst (1998). Foram também
retiradas as questões relativas ao número e ao nome das vias superadas,
por serem consideradas informações desnecessárias para o tratamento
estatístico pretendido;
k) a questão n.º 14, relativa à participação em competições foi acrescentada
de uma questão (14.1) sobre o tipo de competições;
l) foi acrescentada uma questão para aferir o envolvimento profissional com a
prática de escalada;
m) foram retiradas as questões do grupo “Curiosidades”, pelo carácter que
representavam demasiado informal e pela falta de interesse científico.
xxxii
ANEXOS
xxxiii
.
ANEXO IV
Versão Final A5
ANEXOS
xxxiv
ANEXOS
xxxv
ANEXOS
xxxvi
ANEXOS
Justificação das alterações feitas relativamente à versão anterior:
a) acrescentámos informação ao texto de introdução relativa aos objectivos do
estudo, para o caso deste ser respondido na ausência do investigador,
como por exemplo em lojas e clubes de escalada;
b) acrescentamos mais dados pessoais, de modo a permitir identificar o
indivíduo, assim como contactá-lo para participar em futuros trabalhos
científicos, assim como pela simpatia de enviar por correio electrónico um
pequeno agradecimento e resumo dos resultados do estudo;
c) as questões relativas aos tipos de escalada preferidos e mais praticados,
passaram a ser fechadas, com as opções Clássica, Desportiva, Bloco, Gelo
e outras. Justifica-se esta alteração por termos encontrado diferentes
designações para os mesmos géneros de escalada nos resultados do
estudo preliminar, pelo que entendemos ser melhor uniformizar a
terminologia, para que a resposta fosse mais cómoda e rápida;
d) acrescentamos duas questões relativas aos tipos de escalada já praticados
e aos tipos de escalada que actualmente pratica, para complementar as
duas questões anteriormente referidas;
e) a categoria gelo foi acrescentada em todas as opções por termos verificado
que foi mencionado por vários inquiridos do estudo preliminar, ficando desta
forma mais coerente com a revisão bibliográfica;
f) devido a uma necessidade manifestada pelos inquiridos no estudo
preliminar, a questão relativa à frequência de prática passou de 3 para 4
opções tendo sido acrescentada uma frequência intermédia entre “1 vez por
mês” e “1 vez por semana”;
g) na questão relativa ao nível de rendimento desportivo, sentiu-se
necessidade de incluir os escaladores que habitualmente não escalam “à
frente”, uma vez que consideramos que por escalarem só com corda por
cima não deixam de ser praticantes de escalada, no entanto, estes
praticantes não referem o grau de dificuldade, uma vez que o grau de
dificuldade superada desta forma não é passível de ser comparado com a
dificuldade superada “de primeiro”;
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ANEXOS
h) na questão relativa ao tipo de competições em que já participou, retirámos
as categorias, “Inatel” e “Masters”, por terem causado dúvidas a vários
questionados. Por já não se realizar há bastantes anos ou por serem menos
comuns, estes tipos de competições não são familiares à maioria dos
praticantes de escalada, ficando abrangidas pela categoria “Outros”;
i) a questão relativa à ligação a organizações, revelou-se pouco explícita no
estudo preliminar, tendo alguns elementos indicado o tipo de organização e
outros o nome da organização. Assim, dividimos a questão em duas partes,
uma fechada, relativa ao tipo de organização e uma aberta para colocar o
nome da Instituição. Esta segunda não terá grande interesse estatístico, no
entanto, notamos algum orgulho e necessidade dos inquiridos de referir o
nome da Instituição a que estão ligados;
j) uma vez que o questionário aumentou bastante, experimentamos uma
estruturação diferente, em tamanho A5, ficando assim todo contido numa
folha A4, dobrada ao meio em forma de pequeno livro. Este formato
pareceu-nos mais funcional por evitar que se usassem várias folhas
agrafadas e por ser mais cómodo de preencher nas condições de aplicação
do questionário.
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ANEXOS
ANEXO V
Resultados do Teste de Fiabilidade do Questionário
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