entrevista com a agencia lusa

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Estimado António Oliveira, Foi uma surpresa agradável receber este seu email! Por aqui vai tudo mais ou menos dentro do que se pode esperar. Houve um ataque na sexta-feira passada aqui perto, no campo das Nações Unidas (UNAMA) e uma hora depois no hotel Serena. Aqui em Camp Eggers ouvia-se as rajadas do fogo supressante e via-se tambem uma coluna, não muito grande, de fumo a subir para o céu. Eramos até para sair nessa altura quando encerraram todas as saidas por cerca de uma hora. Saímos depois quando houve um breve intervalo. Felizmente nas vias publicas não vimos nada fora do normal, mas quando chegámos ao destino na área de Durulaman, recebemos a notícia que estava então em progresso o ataque no hotal Serena e no Ministério da Defesa (MoD), tudo aqui a uns mil metros de Eggers. Nessa altura já estávamos a uns dez kilometros de distancia, para os limites no sudeste de kabul. Mais recentemente na sexta feira passada houve outro ataque com carro suicida perto de Camp Phoenix um pouco passado do aeroporto na estrada para Jalalabad. Portanto respondendo agora às suas perguntas: 1 – Diga o seu nome completo, nomes dos pais, onde e quando nasceu, e onde e viveu até emigrar para os Estados Unidos. O meu nome completo é Luis Manuel Antunes Luis. Os meus pais são ambos portugueses mas emigraram para Angola em 1955. O meu pai (já faleceu) chamava-se Crispiniano Mendonça Luis e a minha mãe (ainda viva) chama-se Maria do Carmo Antunes (Luis). O meu pai nasceu em Grândola no Alto Alentejo e a minha mãe no Reguengo-Grande, na Estremadura. Eles viveram em Angola desde 1955 até 1975. Portanto eu nasci em 1959 e cresci em Luanda. Saímos de Angola, eu, a minha mãe e a minha irmã no fim de Julho de 1975, mas o meu pai ficou ainda em Luanda até 2 de Novembro de 1975 (8 dias antes da independência de Angola.) De Luanda fomos para Alcobaça em Portugal onde a família do meu pai vivia. Eu acabei o liceu em Alcobaça. Em Alcobaça vivi com a minha tia até acabar o liceu, enquanto que os meus pais dentro duns três a quatro meses foram para uma casa que a minha mãe tinha herdado situada no Reguengo-Grande, que não é muito longe de Alcobaça. Quando acabei a escola fui também para o Reguengo- Grande onde estivemos até Janeiro de 1978. Entretanto duranto o ano de 1977 um irmão do meu pai, que já vivia nos Estado Unidos durante uns dez anos naturalizou-se americano e iniciou o processo de "chamar" o meu pai para os EUA. Eu como ainda não tinha 19 anos fui incluido no processo. Embarcámos para o aeroporto JF Kennedy na noite de 18 de Janeiro de 1978 num vôo da TAP. (No dia seguinte de manhã tinha caído um dos maiores nevões na área de Elizabeth, Nova Jérsia onde o meu tio residia.) 2 – Onde vive nos Estados Unidos, o que estudou e qual é a sua profissão. Presentemente (desde 2003) vivo em Houston, no estado do Texas. Estudei no campus da Universidade do Estado de Nova Iorque que é a Faculdade Marítima de Fort Schuyler em Bronx, situada numa pequena península que fica

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Interview about deployment to Afghanistan. Portuguese language.

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Entrevista com a Revista Lusa

Estimado Antnio Oliveira,

Foi uma surpresa agradvel receber este seu email!

Por aqui vai tudo mais ou menos dentro do que se pode esperar. Houve um ataque na sexta-feira passada aqui perto, no campo das Naes Unidas (UNAMA) e uma hora depois no hotel Serena. Aqui em Camp Eggers ouvia-se as rajadas do fogo supressante e via-se tambem uma coluna, no muito grande, de fumo a subir para o cu. Eramos at para sair nessa altura quando encerraram todas as saidas por cerca de uma hora. Samos depois quando houve um breve intervalo. Felizmente nas vias publicas no vimos nada fora do normal, mas quando chegmos ao destino na rea de Durulaman, recebemos a notcia que estava ento em progresso o ataque no hotal Serena e no Ministrio da Defesa (MoD), tudo aqui a uns mil metros de Eggers. Nessa altura j estvamos a uns dez kilometros de distancia, para os limites no sudeste de kabul.Mais recentemente na sexta feira passada houve outro ataque com carro suicida perto de Camp Phoenix um pouco passado do aeroporto na estrada para Jalalabad.

Portanto respondendo agora s suas perguntas:

1 Diga o seu nome completo, nomes dos pais, onde e quando nasceu, e onde e viveu at emigrar para os Estados Unidos.O meu nome completo Luis Manuel Antunes Luis. Os meus pais so ambos portugueses mas emigraram para Angola em 1955. O meu pai (j faleceu) chamava-se Crispiniano Mendona Luis e a minha me (ainda viva) chama-se Maria do Carmo Antunes (Luis). O meu pai nasceu em Grndola no Alto Alentejo e a minha me no Reguengo-Grande, na Estremadura.Eles viveram em Angola desde 1955 at 1975. Portanto eu nasci em 1959 e cresci em Luanda. Samos de Angola, eu, a minha me e a minha irm no fim de Julho de 1975, mas o meu pai ficou ainda em Luanda at 2 de Novembro de 1975 (8 dias antes da independncia de Angola.)

De Luanda fomos para Alcobaa em Portugal onde a famlia do meu pai vivia. Eu acabei o liceu em Alcobaa. Em Alcobaa vivi com a minha tia at acabar o liceu, enquanto que os meus pais dentro duns trs a quatro meses foram para uma casa que a minha me tinha herdado situada no Reguengo-Grande, que no muito longe de Alcobaa. Quando acabei a escola fui tambm para o Reguengo-Grande onde estivemos at Janeiro de 1978. Entretanto duranto o ano de 1977 um irmo do meu pai, que j vivia nos Estado Unidos durante uns dez anos naturalizou-se americano e iniciou o processo de "chamar" o meu pai para os EUA. Eu como ainda no tinha 19 anos fui incluido no processo. Embarcmos para o aeroporto JF Kennedy na noite de 18 de Janeiro de 1978 num vo da TAP. (No dia seguinte de manh tinha cado um dos maiores neves na rea de Elizabeth, Nova Jrsia onde o meu tio residia.)2 Onde vive nos Estados Unidos, o que estudou e qual a sua profisso.Presentemente (desde 2003) vivo em Houston, no estado do Texas.

Estudei no campus da Universidade do Estado de Nova Iorque que a Faculdade Martima de Fort Schuyler em Bronx, situada numa pequena pennsula que fica por baixo da ponte de Throggs Neck. Ingressei nessa universidade em 1979 e graduei em 1983 com um diploma de bachelor de engenharia no ramo de arquitectura naval. Trabalhei muito tempo como arquitecto naval num grande estaleiro que hoje se chama Northrop-Grumman Ingalls Shipbuilding em Pascagoula, no estado de Mississippi. Da mudei com a famlia para Slidell e trabalhei para Textron Marine and Land Systems em Nova Orlees como engenheiro estructural num projecto de construo dos hovercraft para a marinha, conhecidos como LCACs. Foi depois desse emprego que me virei para o campo de estructuras martimas para a explorao de petrleo e gs sobre o mar. Comecei em 1995 num pequeno escritrio em Metairie que se chamava Barnett & Casbarian cujo dono, Peter Casbarian de origem Armena (como o Calouste Gulbenkien que deixou a famosa fundao do mesmo nome em Lisboa).Presentemente trabalho h trs anos em Port Harcourt na Nigria para um indivduo nigeriano, George Okoyo que dono dum escritrio de consultaria de engenharia para as plataformas de petrleo e gs no Golfo da Guin. Tenho esperana de estar involvido nalgum trabalho em So Tom e Prncipe que compartilha reas de explorao martima de recursos naturais com a Nigria.3 Como foi parar ao Afeganisto?Estar no afeganisto no foi escolha minha directa!

Em 1995 em Nova Orlees resolve assim de momento aceitar um recrutamento para a Reserva Naval dos EU. Portanto j sou Reservista h 14 anos e pela primeira vs fui mobilizado agora. Eu tive (e ainda tenho) a opo de me extricar desse contrato qu j foi renovado duas vezes, mas tal acto faria com que eu fosse considerado inadequado para continuar na Reserva. Agora que j investi 14 anos na Reserva, que ao fim de pelo menos 20 anos me dar direito a penso para a minha reforma e acesso a seguros de sade e tratamentos medicos a custo reduzido, decidi fazer o sacrifcio e aguentar-me aqui em Kabul por um ano. O sacrifico maior a que me refiro a perda de vencimento mensal na ordem de sete mil dlares por ms! O nigeriano ajuda-me um pouco quando pode mas no tem os meios neste ambiente econmico presente para me poder compensar adequadamente enquanto eu estou no activo militar aqui.

4 Sei que estava na Guarda Costeira. Porque escolheu a Guarda Costeira e no foi para o Army quando era mais novo?Depois de ter estado na universidade em Fort Schuyler onde o currculo incluia disciplina militar durante os quatro anos de estudo jurei nunca mais querer estar sujeito a tal coisa e portanto durante os doze anos seguintes fui civil. Quando entrei na Reserva, escolhi a marinha; nunca estive na Guarda Costeira. O exrcito (Army) sempre esteve fora da minha seleco. Hoje sou Petty Officer First Class (E-6) porque embora tivesse o meu diploma de engenheiro j tinha mais de 36 anos de idade e no pude entrar como oficial. Agora com a experincia do Afeganisto tenho esperana de poder adquirir uma Comisso e ficar ento a ser oficial.5 Quando foi mobilizado? Onde est neste momento (se pode dizer) e qual a sua funo neste no Army, isto , o que faz.Recebi notcia da mobilizao no princpio de Maio quando estava ainda em Lagos a trabalhar num projecto para a Total. No disse nada ao George Okoyo at chegar a Houston e ter a certeza que de facto no poderia escapar desta. As Ordens oficiais tem a data de 13 de Abril, mas tive que me apresentar finalmente para embarque no dia 26 de Junho em Houston. Da fui para a base naval em San Diego por 5 dias, para preencher papelada e ser examinado mdicamente. Depois fomos para Fort Jackson (na Carolina do Sul) para treino intensive com armas, especialmente a metralhadora M-16. Classifiquei-me como atirador apurado que quer dizer que acertei 33 tiros em 40 que dei para a qualificao. Estivemos em Fort Jackson por quase trs semanas. Estava com medo que o treino involvesse actividade fsica que talvez fosse demais para a minha idade, mas felizmente s corremos uma vez por cerca de uma milha. No entanto a maior parte do tempo tinhamos que vestir a jaqueta prova de balas que pezava umas 35 libras (15,8 kg) e um dia caminhamos talvez milha e meio para treinar com colunas militares e no fim tarde voltmos pelo mesmo caminho. De Fort Jackson fomos para o Kuwait onde estivemos mais uma semana e mesmo a ainda treinamos outra vez com colunas militares no deserto em Udairi Range. Depois viemos de Kuwait para Bagram a base principal dos aliados perto de Kabul. Estivemos em Bagram uns trs dias e viemos de avio para o aeroporto em Kabul. Quando chegmos a Kabul tinha havido, umas horas antes, um ataque no aeroporto. Um dos primeiros tropas que encontrei na hora do almoo no refeitrio foram portugueses da Fora Area Portuguesa (FAP). Eu vim com um grupo dos indivduos com quem tinha treinado em Fort Jackson. Foram-nos buscar com SUVs e vim para Camp Eggers, que prticamente ao lado do palcio do governo no centro de Kabul. Em Camp Eggers no h portugueses permanentes mas j aqui vi membros da Guarda Nacional Republicana. Camp Eggers a sede do commando chamado Combined Security Transition Command-Afghanistan (CSTC-A), e a esse comando que eu perteno.

Portanto aqui estou em Camp Eggers. Tenho vrias funes aqui mas a principal organizar e participar em colunas militares usando SUVs para levar oficiais para reunies com nacionais afegs em vrias localizaes ou ministrios do governo. Outra funo e manter listas de quem chega e quem parte, quando a avaliaes tm que ser completas e outras funes de escrita, porque na Reserva eu sou escrivo (yeoman).6 Como reagiu quando foi mobilizado? Estava espera?Fiquei admirado e bastante preocupado porque previ uma perda grave de salrio mensal. Fiquei tambm nervoso por no saber o que esperar, uma vz que nunca tinha sido mobilizado antes. Estava espera? No!

Sempre admiti a possibilidade de um dia ser mobilizado mas umas vz que os anos foram passando e nunca tinha acontecido eu fui-me relaxando e desta vz posso mesmo dizer que foi uma surpresa amarga. Mas como j disse antes, agora que estou engatado tenho que aguentar para no desperdiar os quatorze anos j investidos em direco reforma.7 - Tem esposa e filhos? Como reagiram sua partida? Como comunicam?Tenho esposa e duas filhas. Vivem todas em Houston. A filha mais velha anda na universidade em Houston e vive na baixa, enquanto que a minha casa nos arredores do nordoeste de Houston. Toda a famlia ficou surpreendida e por vezes inculpam-me por ter aceite esta mobilizao, bviamente no olhando para os benefcio potenciais no futuro, especialmente para a minha esposa que sofre de artrite pseuritica. Ns no somos fatalistas e portanto no ouve choros, simplesmente um abrao e um beijinho a todas e at prxima se Deus quizer. Agora comunicamos por telefone gratutamente. Eu j esperimentei o Skype mas acho que no vale para aqui porque no ter a interaco que tem um telefonema. No Skype por minha experincia, um fala e o outro tem que estar calado at ter a sua vez de falar. Outra coisa o acesso para a Internet aqui tem que ser pago. Eu como j estou a perder tanto dinheiro mensalmente s quero gastar o que for essencialmente o meu mnimo de um espressozinho duas vezes por dia. Portanto para falar para minha casa uso um carto grtis de 300 minutos que me do uma vez por mz no escritrio do MWR (Morale, Welfare and Recreation).8 Quantos homens tem a sua companhia e onde vivem, isto , tm base, acampamento, etc., com todas as condies, ou passam privaes.O comando CSTC-A tem muitas seces, como por exemplo CJ-1, CJ-2, CJ-3, CJ-4, etc. Eu estou em CJ-3, que por sua vz est dividido em CJ-33, CJ-34, CJ-35 e CJ-37, mas eu estou em CJ-3 Administrao juntamente com outros 9. O total de CJ3 uns 60, mas em Camp Eggers h talvez uns mil e cem tropas de vrias naes e tambm muitos civis que trabalham nas cozinhas, etc para a companhia KBR ou MPRI.

Presentemente vivo numa casa feita de contentores de 6 m x 2,5 m encostados uns aos outros em dois nveis. Portanto cada contentor um quarto. Eu vivo com outro tropa da marinha no meu quarto. No entanto quando cheguei aqui a Eggers primeiro vivi numa tenda com vinte camas. Estive nessa tenda chamada Liberty Tent por sete semanas antes de haver quarto disponvel para mim. A tenda tem ar condicionado e aquecimento, mas mesmo assim no outono comea a sentir-se frio dentro dela. Tinha tambm mosquitos. Na questo da comida pelo menos no mau. Temos uma variedade de comidas com galinha e beef e tacos e enchiladas, fruta, gazosas, gelados e sorvetes e gua engarrafada. A gua da torneira tem muito cloro e eles aconcelham a usar a gua da torneira para lavar as mos e tomar banho, mas no para lavar os dentes. Avisam que usem gua engarrafada para lavar a boca.Existem algumas casa que so exclusivamente para as mulheres.

Existe tambm aqui duas lojas de barbeiros, uma s com mulheres do Kirgisto e outra com homens locais. Uma casa (contentores pegados uns aos outros) onde se pode comprar pizza e gazosas, chamada Cianos e um restaurante (contentores unidos) que serve comida da Tailndia. Alm destes existe um caf que tem espresso, latts e frapuccinos, cappuccinos, etc chamado Green Bean Coffee. Existe tambm outro casa onde se pode ter acesso gratis Internet usando os computadores deles (do MWR). Existem tambm dois ginzios com muitas mquinas para correr, andar de bicicleta, levantar pesos, etc. Camp Eggers pode ser visto para quem tiver o Google Earth, se procurar pelo nome em Kabul.9 - Como o seu dia-a-dia no Afeganisto, isto , passam o dia a fazer patrulhas, ajudar as populaes ou outra coisa, de dia ou de noite?

Normalmente trabalhamos todos os dias com a excepo, se for possvel, de tirar fora a sexta feira de manh.

Normalmente levanto-me s 6:30 e estou no escritrio por volta das 7:30. Mas j tem havido vezes em que samos numa coluna militar s 6:30 para ir levar algum ao aeroporto. Tenho uma hora para o almoo entre as 11:30 e as 12:30. Depois vou para o jantar por volta das 17:00. Mas algumas vezes temos sadas at as 22:00 tambm.

Patrulha na rua s fiz ainda uma vz por cerca de 1,5 horas na periferia do Ministrio do Interior enquanto o coronel andava com os oficiais locais a averiguar as condies dos sistemas de barricadas existentes. Isto foi no meio de Agosto. H umas trs semanas rebentou um carro suicida em frente embaixada da India na rua onde andei. Estava muito alerta e com a arma pronta para qualquer aco. Felizmente nada aconteceu.

Doutro modo ns samos quase diriamente usando dois Toyotas Land Cruiser com proteco prova de balas de armas ligeiras smente. Certamente no resistiram se um carro suicida rebentsse prximo dos nossos veculos. Temos a bordo um sistema electrnico de cancelamento de sinais de radio para evitar que os insurgentes activem por meio de telefone ou radio, bombas na borda da estrada enquanto estamos a passer. As nossas viagens esto limitadas smente cidade de Kabul e arredores como a area onde esto as runas dos palcios reais em Durulaman. Vamos frequentemente ao aeroporto, a ISAF, etc. Um dos stios mais perigosos que temos sempre que atravessar quando samos da zona verde o crculo de Massood. Em geral se estivermos noutra base na altura do almoo ou jantar, comemos l. H aqui algumas viagens de Voluntary Community Relations (VCR) onde as tropas vo com humvees visitar uma escola ou um campo de refugiados, mas eu nunca participei ainda nessas viagens. Normalmente os fuzileiros navais (Marines) so os que se oferecem par air nessas viagens para terem uma oportunidade de fazer fogo com as metralhadores maiores no topo dos humvees.10 - Com que os afegos vos receberam? Eles aceitam os americanos e os outros estrangeiros bem ou acham que so invasores?Em geral a populao local pacfica e sempre a maior vtima dos ataques contra as forces da coalio. Nas poucas oportunidades que tenho tido de falar com os afegos tenho sido sempre tratado com muita amabilidade e respeito, e parece at ser melhor quando revelo que sou de origem portuguesa.No entanto o sentimento acho que que os estrangeiros esto aqui a ocupar o pas.Outros tropas com quem convivo j me disseram que foram insultados por gestos de mostrar o dedo erecto por jovens machos de 17 ou 18 anos. E at hoje mesmo um dos indivduos do meu escritrio que esteve na rua hoje disse que outro carro abriu a janela com jovens l dentro e eles atiraram lixo para cima do nosso SUV. Os nossos SUVs no podem abrir as janelas e as nossas instrues exigem que tenhamos as portas sempre trancadas e nunca podemos abri-las enquanto andamos fora do nossa base.

11 - J esteve em misses de muito perigo? Como aconteceu? O que sentiu?

No. Alm da vez em que fiz a patrulha na rua, nunca estive am outras misses que achei serem perigosas. S uma outra vez ainda que tive um pouco de receio quando um Toyota Surf (4 Runner na Amrica) estava parado na faixa da direita na rua que vai directa do aeroporto para o Crculo Massood e conforme eu ia a aproximar-me dele na faixa da esquerda ele sbitamente arrancou rpido em ngulo de se ir meter na minha frente como uma provocao e depois voltou para a faixa da direita e afastou-se de ns. Isto uma manobra tpica quando um carro suicida ataca a coluna militar.Tinha um tenente coronel ingls ao meu lado e ele ficou tambm bastante nervoso porque naquele momento eu pensmos que a nossa vida estava muito perto do fim.12 - J viu ser ferido, ou morrer, algum dos seus camaradas?Felizmente no! Mas cada vz que nos preparamos para sair temos que ter uma breve sesso explanatria que inclui falar sobre a contingencia de sofrermos um ataque e termos feridos ou mortos. Portanto temos que ter pessoal a bordo qualificado para prestar assistncia mdica imediata. Eu sou qualificado como salvador de vidas em combate (Combat Life Saver CLS). Esse treino involve ver fotografias grficas de casualidades de combate, instruco como usar um turniquete, tartar uma vtima que tenha uma perfurao no peito e um pulmo colapsado e administrar soro. O treino para administrao de soro inclui eu prprio meter a agulha na veia do brao dum colega. A agulha tem no esterior um tubinho de plstico que tem que entrar dentro da veia para ser o cteter, para depois se poder retirar a agulha e deixar meio de ligar ao cteter o tubo do soro. Assim como eu fiz esse treino noutro tambm fizeram em mim.13 - Qual o maior perigo que correm diriamente?Cada vez que saimos corremos o risco de ser atacos por um carro suicida ou receber fogo de armas ligeiras ou talvez uma granada-roquete.

Outro perigo que causaria um incidente grave seria se atropelssemos algum. Os pees aqui parecem desafiar a sorte quando atravessam a estrada em qualquer stio sem esperarmos. Outro dia eu era o comandante de um dos nosso SUVs e o conductor era um marine jovem. Numa interseco estava um garoto de talvez 8 anos mesmo no meio da interseco. Eu notei que o marine conforme estava a preparar-se para ver se vinha algum veculo do nosso lado direito no se tinha apercebido que o garoto estava na frente do nosso veculo at eu lhe ter gritado rpidamente que um mido estava no meio do caminho.

14 Sabe quando vai regressar? Acha que o Afeganisto tem futuro como pas ou vai ser como o Iraque? O que pensa das eleies?

Devo sair daqui no fim de Junho de 2010. As minhas Ordens dizem 400 dias de mobilizao dos quais 350 so botas no cho (Boots on the ground). Quando sair daqui vou por Bagram, Kuwait e San Diego.H cerca de um ms estive presente numa reunio de introduo do novo comando chamado NATO Training Mission Afghanistan (NTM-A) na qual o general Formica apresentou um resumo da funo desta NTM-A e depois houve uma sesso de perguntas e respostas duns 40 oficiais que esto involvido na funo e CSTC-A que tem sido primriamente o treino da polcia e do exrcito do Afeganisto. O general Formica o comandante de CSTC-A. Quando fizeram essa pergunta se o presente clima de corrupo estava a mostrar alguns sintomas de melhoramento o general Burgio dos Carabinieri (a polcia italiana) comentou que na opinio dele iria levar mais de trinta anos para mudar a mentalidade do povo, porque os que so adultos hoje j esto to imbebidos com este sistema que seria impossvel de os mudar totalmente. Levaria outra gerao que a das crianas que hoje esto a entrar na primeira classe que teriam que ser educados no novo sistema desde o incio para se libertarem deste cclo vicioso. Este mesmo cclo vicioso foi aparentemente responsvel pelo fraude que houve nas eleies em Agosto o que levou at o segundo candidato, Abdulah Abdulah, a retirar-se do processo de re-eleies que estava planeado para h uma semana ou duas atrs. O que por sua vez levou ao cancelamento das re-eleies e declarao de vitria do presente incumbente Karzai. O governo do Karzai est considerado como no sendo o governo legtimo do Afeganisto e o prprio Karzai chamado smente o mayor de Kabul.Acho que os americanos e os aliados iro estar aqui mais uns dez anos, mas assim que sarem isto possvelmente volta ao estado de guerilha que tem permanecido aqui por muitas dcadas. Este pais um espelho dos sistemas polticos em frica que tem crnicamente sido dominados pelas tribos que controlam ou a maioria do povo ou as finanas do pas. Uma vez que esses individuos se entrenhem nas instituies do governo torna-se impossvel efectuar qualquer mudana que leve a uma limpeza desses individuos e dos seus cadres. Aqui aparentemente a tribo dos Pashtuns domina a situao e joga com um pau de dois bicos se for necessrio para manter esse domnio. O Karzai um Pashtun.15 - Conhece outros portugueses a na zona onde est? Comunica com eles?Conheo sim. J encontrei vrios e at j vi colunas militares de humvees com a bandeira portuguesa nas ruas em Kabul. Um coronel americano que a comigo outro dia at me disse que os humvees portugueses eram feitos na Espanha.H um contingente de uns 60 tropas portuguesas da FAP estacionados na parte sul do aeroporto em Kabul. H um outro contingente que at tem umas oficinas para veculos militares numa base francsa chamada Camp Warehouse uns 7 km passado do aeroporto. E h tambm uns poucos estacionados em ISAF, aqui muito perto de Camp Eggers. Sempre que vou a ISAF com algum dos nosso oficiais fao por ter uma refeio l e depois procuro os meus amigos da FAP no bar ou restaurante que l existe. Por sinal, no bar que se chama Tora Bora, at l tem a camisola da seleo de futebol de Portugal pendurada na parede. H tambm uns civis portugueses que so parte da tripulao dum avio C-130 pintado todo de branco que pretence a uma companhia de carga em Dubai e est frequentemente no aeroporto. E ainda mais, encontrei outro dia na hora do almoo uma mulher jovem chamada Teresa de Lisboa que trabalha para as Naes Unidas em Kunduz, mas que vem frequentemente a Kabul nos helicpteros russos e vem dentro de Eggers para tomar um cappuccino porque as Naes Unidas tem um compound mesmo do outro lado da rua do nosso Camp Eggers e ela s tem que atravessar a rua. Encontrei um major do exercito portugus no aeroporto a semana passada que tambm era de Angola, mas nasceu em Novo Redondo e tambm saiu de Angola em Julho de 1975!Na ISAF o tenente coronel Loureno fala frequentemente comigo e at j me tem contado histrias de quando a FAP teve que fazer uma ponte area entre So Tom e Luanda em 1992 para evacuar portuguesas quando a situao em Angola estava a deteriorar rpidamente durante a Guerra civil com o Savimbi. Eu falei de aventuras na Nigria e ele contou-me passagens dele em Kinshasa.Pronto! Espero que seja suficiente e succinto para o ajudar a organizar um artigo interessante. Junto aqui algumas fotografias, mas acho que vou que ter que enviar as fotos em emails separados. Vou pr legendas nos nomes das fichas para o ajudar a orientar-se com as fotografias.Se chegar a publicar esta entrevista gostaria se me enviasse a revista. O meu endereo em Houston , 16226 Cliff Haven Dr, Houston, TX 77095Aqui em Kabul o meu endereo postal , Luis M. Luis, CSTC-A CJ-3, APO AE 09356--- On Mon, 11/2/09, ComunidadesUSA wrote:

From: ComunidadesUSA Subject: Entrevista para a LUSA e ComunidadesUSATo: [email protected]: Monday, November 2, 2009, 2:58 PM

Caro Lus,Como vo as coisas por a?Lembra-se de mim, Antnio Oliveira, da revista ComunidadesUSA e da agncia LUSA?No seguimento do nosso ltimo e-mail, aqui lhe envio as perguntas para a nossa entrevista.Queria pedir-lhe se podia tambm enviar fotos maiores em resoluo, pois as que tenho so muito pequenas.Perguntas:1 Diga o seu nome completo, nomes dos pais, onde e quando nasceu, e onde e viveu at emigrar para os Estados Unidos.2 Onde vive nos Estados Unidos, o que estudou e qual a sua profisso.3 Com foi parar ao Afeganisto?4 Sei que estava na Guarda Costeira. Porque escolheu a Guarda Costeira e no foi para o Army quando era mais novo?5 Quando foi mobilizado? Onde est neste momento (se pode dizer) e qual a sua funo neste no Army, isto , o que faz.6 Como reagiu quando foi mobilizado? Estava espera?7 - Tem esposa e filhos? Como reagiram sua partida? Como comunicam?8 Quantos homens tem a sua companhia e onde vivem, isto , tm base, acampamento, etc., com todas as condies, ou passam privaes.9 - Como o seu dia-a-dia no Afeganisto, isto , passam o dia a fazer patrulhas, ajudar as populaes ou outra coisa, de dia ou de noite?10 - Com que os afegos vos receberam? Eles aceitam os americanos e os outros estrangeiros bem ou acham que so invasores?11 - J esteve em misses de muito perigo? Como aconteceu? O que sentiu?12 - J viu ser ferido, ou morrer, algum dos seus camaradas?13 - Qual o maior perigo que correm diariamente?14 Sabe quando vai regressar? Acha que o Afeganisto tem futuro como pas ou vai ser como o Iraque? O que pensa das eleies?15 - Conhece outros portugueses a na zona onde est? Comunica com eles?ObrigadoAntnio Oliveira