entrevista carlos humberto carvalhopropriedade ccdr‑lvt comissão de coordenação e...
TRANSCRIPT
entrevistaCarlos Humberto CarvalhoPresidente da Junta Metropolitana de Lisboa
reportagemEnergias Renováveis Lisboa será uma das capitais mais sustentáveis
territóriosMil EmoçõesEstoril | Cascais | Sintra
Agosto | 20076
P r o p r i e d a d e
CCDR‑LVT
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
de Lisboa e Vale do Tejo
Rua Artilharia 1, nº 33 – 1269‑145 Lisboa
Tel.: 21 383 71 00 | Fax: 21 383 12 92
www.ccdr‑lvt.pt
D i r e c t o r
António Fonseca Ferreira
D i r e c t o r e x e c u t i v o
Carla Gomes
P r o j e c t o e d i t o r i a l , d e s i g n e p r o d u ç ã o
DDLX [www.ddlx.pt]
José Teófilo Duarte [Direcção]
Eva Monteiro | Tânia Reis [Design]
Sofia Costa Pessoa [Contacto]
C o l a b o r a d o r e s
Ana Sousa Dias
Carla Amaro
Carla Maia de Almeida
David Lopes Ramos
Fernanda Câncio
Luís de Carvalho
Pedro Almeida Vieira
F o t o g r a f i a
Guto Ferreira
Pedro Soares
Rui Cunha [JTCE]
I m p r e s s ã o e A c a b a m e n t o
Euro‑Scanner
T i r a g e m 2500 exemplares
I S S N 1646‑1835
D e p ó s t i o L e g a l 224633/05
L V T # 6 – A g o s t o | 2 0 0 7 | Q u a d r i m e s t r a l
Fotografias [capa e contracapa]: Guto Ferreira
Editorial Novos desafios para o desenvolvimento sustentável............................. 3 António Fonseca Ferreira
Notícias Breves.........................................................................4
Opinião Lisboa a gosto............................................................................8 Fernanda Câncio
Entrevista Carlos Humberto Carvalho.................................................12 Ana Sousa Dias
Reportagem Energias renováveis Lisboa será uma das capitais mais sustentáveis... 20 Carla Amaro
Destaque Energia precisa-se................................................................ 30 Pedro Almeida Vieira
Territórios A Costa das Mil Emoções....................................................34 Carla Maia de Almeida
Património Moradas de Luz...................................................................... 44 Carla Maia de Almeida
Acontecimento A Estratégia de Lisboa 2020............................................. 52 Luís de Carvalho
Região Abrantes Uma cidade para as pessoas........................................... 54
Roteiro Comer e beber entre a serra e o mar Casacais | Sintra......................................................................58 David Lopes Ramos
Agenda Cultural.................................................................. 62
ín dice
Com a passagem da região de Lisboa. para. o..objectivo.comunitário.«Competitividade.Regional.e.Emprego».e.a.consequente.redução.de.fundos.estruturais,. colocam-se. novos. desafios. ao.desenvolvimento. sustentado. da. Região. de.
Lisboa.para.vencermos.os.atrasos.diagnosticados.e.atingir-mos. níveis. de. competitividade. e. internacionalização. . que.nos.aproximem.da.média.europeia..
Sabemos.como.lá.chegar.–.as.estratégias.de.investimento.públi-co,. afectação. de. recursos,. politicas. de. qualificação. de. recursos.humanos. ,. inovação.empresarial,.está.plasmada.no.documento.LISBOA.2020.-.Uma.Estratégia.de.Lisboa.para.a.Região.de.Lisboa.
Prevê-se.que.75%.dos.fundos.europeus.serão.destinados.às.áreas.da.competitividade.e.inovação,.num.esforço.de.convergência.para.modelos.europeus,.aumentando.em.2015,.de.1,2%.para.3%.do.PIB..o.investimento.em.ciência,.tecnologia.e.inovação,.com.a.meta.dos.3,5%. em. 2020.. Apostar. no. ensino. de. qualidade. e. em. parcerias.com.empresas.que.terão.um.papel.crucial.na.sociedade.de.conhe-cimento,.em.domínios.como.a.engenharia,.ciências.exactas,.ciên-cias.da.vida,.biotecnologia.ou.nanotecnologia..Para.a.transferên-cia. de. conhecimento. científico. e. tecnológico. é. imprescindível.desenvolver. infra-estruturas. e. equipamentos,. criar. vantagem.competitiva,. criar. massa. crítica.. As. empresas. e. os. empresários.terão. de. apostar. na. inovação. e. serão. protagonistas. destas.mudanças.qualitativas.para.a.regeneração.do.tecido.empresarial.
Mas.também.a.Administração.Pública,.cuja.reforma.se.iniciou.já.com.o.PRACE,.terá.de.saber.agilizar.os.seus.procedimentos.e.pôr.em. prática. as. reformas. que. lhe. permitam. modernizar. os. seus.serviços,. nomeadamente. a. administração. desconcentrada,. par-ceiros.e.co-responsáveis.pela.execução..da.Estratégia.
Este. esforço. requer. estratégias. de. cooperação. e. parceria. entre.agentes.públicos.e.privados,.e.neste.quadro.é.fundamental.a.cria-ção.do.Fórum.Metropolitano,.um.órgão.que.apreciará.e.acompa-nhará. a. execução. da. Estratégia,. no. sentido. de. recomendar. as.medidas.e.proposições.que.a.tornem.mais.eficaz.
A.Região.de.Lisboa.para.ganhar.projecção.e.competitividade.no.mercado. global. terá. de. se. projectar. internacionalmente. como.região.atractiva,..através.da.inovação.e.qualificação.das.activida-des. produtivas. e. a. concertação. de. investimentos. privados. ao.nível. da. indústria,. do. turismo,. e. a. captação. de. investimentos. e.capacidades. estratégicas. em. sectores. concorrenciais,. mas. tam-bém.nas.áreas.do.Ambiente.e.da.Cultura.
Para. isso. teremos. de. apostar. em. novos. segmentos,. nomeada-mente.no.reforço.da.oferta.para.o.turismo.de.negócios,.no.turis-mo.residencial,.em..sectores.qualificados.de.lazer,..e.no.desenvol-vimento. de. serviços. em. áreas. tão. fulcrais. como. a. saúde. . e. a.tecnologia,. sem.esquecer. as.plataformas. logísticas.ao.nível. dos.produtos. e. dos. processos. inovadores. que. representem,. no. con-texto.internacional,.ganhos.na.cadeia.do.valor.
Temos.de.saber.aproveitar.os.excelentes.recursos.da.região.e.tirar.o.melhor.benefício.das.oportunidades.que.se.nos.deparam.para.alcançar.os.objectivos.que.nos.propusemos.com.visão,.ambição.e.determinação..E.como.disse.Pessoa,.poeta.de.Lisboa,.«O.Homem.sonha.e.a.Obra.nasce»..
| �
Editorial.|.António Fonseca Ferreira
Região de Lisboa e Vale do Tejo Novos desafios para o desenvolvimento sustentável
NO
TÍCI
AS B
REVE
S
� |
CCDR-LVT encerra sucateiros ilegaisRemover.os.depósitos.ilegais.de.veículos.em.fim.de.vida.(VFV).e.de.sucatas.na.região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.é.o.objectivo.de.um.protocolo.assinado.entre.a.Comissão.de.Coordenação.e.Desenvolvimento.Regional.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.(CCDR-LVT).e.a.Valorcar,.assinado.a.27.de.Julho.
O.Secretário.de.Estado.do.Ambiente,.Humberto.Rosa,.homologou.o.protocolo..a.30.de.Julho,.em.Sobral.de.Monte.Agraço,.onde.assistiu.à.remoção.de.veículos.de.um.depósito.ilegal.de.sucatas.situado.na.Quinta.de.Monfalim,.naquele.concelho,.que.funcionava.ilegalmente.há.oito.anos..e.onde.se.encontrava.depositada.mais.de.uma.centena.de.viaturas.
Não.tendo.o.proprietário.acatado.as.ordens.de.remoção,.a.CCDR-LVT.tomou.posse.administrativa.do.terreno.e.iniciou..a.limpeza.do.mesmo.
Esta.é.a.primeira.acção.de.uma.iniciativa.que.se.pretende.alargar.a.toda.a.Região.de.
Lisboa.e.Vale.do.Tejo.e.mesmo,.afirmou.Humberto.Rosa,.a.todo.o.país,.mediante.protocolos.semelhantes..
O.protocolo.assinado.entre.a.CCDR-LVT.e.a.Valorcar.–.Sociedade.de.Gestão.de.Veículos.em.Fim.de.Vida.vai.assegurar.que,.aquan-do.do.encerramento.destas.actividades.ilegais,.e.caso.os.proprietários.não.acatem.
Ateliermob vence Concurso do Médio TejoAteliermob.WUDA.–.Wurfbaum-Dantas.Architects.e.Atelier.Rua.foram.os.aterliers.de.arquitectura.que.conquistaram.os.primeiros.prémios.do.Concurso.Internacional.para.a.Dinamização.do.Rio.nas.Margens.do.Médio.Tejo,.que.terminou.no.passado.mês.de.Junho..Ao.todo.23.concorrentes.responderam.ao.desafio.
O.concurso.tem.como.objectivos.contri-buir.para.um.maior.desenvolvimento.da.região.alvo.de.intervenção,.promover.e.qualificar.a.imagem.da.região.do.Tejo.de.modo.a.intensificar.os.diversos.tipos.de.fluxos.turísticos.e.consolidar.os.investi-mentos.no.âmbito.do.Parque.Almourol..e.Aquapolis,.numa.óptica.que.privilegie..as.actividades.que.ambos.permitem.
A.intervenção.incide.sobre.uma.extensão.de.24.km,.entre.o.açude.insuflável.de.Abrantes.a.norte.e.o.parque.ribeirinho.de.Vila.Nova.da.Barquinha.a.sul,.num.territó-rio.onde.o.Tejo.é.claramente.o.elemento.aglutinador..Procurou-se.valorizar.as.valências.existentes,.dar.resposta.a.novos.projectos.a.desenvolver.pelos.municípios,.
reflectir.sobre.a.paisagem.enquanto.valor.ambiental.a.preservar.na.perspectiva.da.sua.integração.territorial,.reavaliar.as.antigas.e.naturais.relações.do.rio.e.das.suas.margens,.como.tradicional.pólo.de.actividade.humana,.despertar.e.potenciar.novas.utilizações.da.paisagem.e.do.am-biente.natural.e.rural,.numa.perspectiva.de.desenvolvimento.sustentável.
O.projecto.do.Ateliermob.(na.foto).usou.como.material.principal.o.betão,.que.se.pretende.que.seja.apropriado.pela.nature-za.com.o.tempo,.tendo.procurado.consoli-dar.as.estruturas.de.lugar.existentes.e.pontuar.novos.territórios,.assim.como.melhorar.os.acessos.ao.rio,.incluindo.miradouros,.caminhos.pedonais.e.abrigos.para.pescadores.
A.iniciativa.foi.promovida.pela.TAGUS.-..Associação.para.o.Desenvolvimento.Integrado.do.Ribatejo.Interior.e.contou.ainda.com.a.participação.da.Associação..do.Desenvolvimento.Integrado.do.Ribatejo.Norte.(ADIRN).e.da.Associação.para.a.Promoção.Rural.da.Charneca.Ribatejana.(Charneca).
Estiveram.também.envolvidos.neste.projecto.de.cooperação.inter-territorial,.que.contou.com.o.apoio.do.programa.comunitário.LEADER+,.os.municípios.de.Abrantes,.Chamusca,.Constância,.Vila.Nova.da.Barquinha,.bem.como.o.Gabinete.Técnico.de.Apoio.de.Abrantes,.o.Parque.Almourol.e.a.Ordem.dos.Arquitectos..
a.ordem.de.remoção,.as.sucatas.sejam.removidas.por.operadores.licenciados,.tendo.um.destino.final.adequado.
A.CCDR-LVT.já.identificou.outros.depósitos.ilegais,.para.os.quais.foram.accionados.processos.de.encerramento,.e.está.a.proceder.a.um.levantamento.exaustivo.da.situação.em.toda.a.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.
O.secretário.de.Estado.do.Ambiente,.o.presidente.da.Agência.Portuguesa.de.Ambiente.e.o.presidente.da.CCDR-LVT..na.quinta.do.Monfalim
O.projecto.vencedor.assenta.no.uso.do.betão,.que.será.apropriado.pela.Natureza
| �
Cerca.de.um.milhão.de.euros.foi.investido.até.30.de.Junho.em.obras.de.requalifica-ção.do.litoral.no.âmbito.do.Plano.de.Ordenamento.da.Orla.Costeira.(POOC).Alcobaça-Mafra,.ainda.a.tempo.de.melho-rar.as.condições.de.usufruto.das.praias.da.região.nesta.época.balnear..Para.2007.está.previsto.um.investimento.que.ronda.os.6.milhões.de.euros,.dos.quais.perto.de.dois.milhões.provêm.de.fundos.comunitários.
A.requalificação.da.frente.de.mar.de.Santa.Cruz,.obra.a.cargo.da.Câmara.de.Torres.Vedras.e.inaugurada.a.1.de.Julho.(na.foto),.é.uma.das.mais.recentes.intervenções.que.puderam.ser.desfrutadas.já.nesta.época.balnear.
No.seguimento.deste.projecto.de.requalifi-cação,.a.CCDR-LVT.e.a.Câmara.Municipal.celebraram.um.protocolo.com.vista.à.colaboração.na.atribuição.de.títulos.de.utilização.de.apoios.de.praia.e.equipa-mentos,.bem.como.no.acompanhamento.da.actividade.de.todas.as.concessões.atribuídas.
Abrangendo.uma.área.de.4,5.hectares,.as.obras.têm.como.principal.objectivo.devolver.aos.peões.as.ruas.principais.e.os.largos,.eliminar.as.barreiras.arquitectó-
A.requalificação.de.Santa.Cruz,.em.Torres.Vedras,.foi.um.dos.projectos.em.destaque.este.Verão
Em.2004,.não.chegavam.às.cinco.mil.as.camas.com.pedidos.de.licenciamento.na.CCDR-LVT..Desde.então,.foi.dado.parecer.favorável.a.cerca.de.30.mil.camas,.com.destaque.para.os.concelhos.de.Palmela,.Sesimbra.e.Óbidos,.os.que.contam.com.maior.número.de.projectos.turísticos.com.parecer.favorável.da.CCDR.
Até.2010,.prevê-se.que.as.pretensões.de.promotores.turísticos,.para.a.região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo,.ultrapassem.mesmo.as.200.mil.camas..É.cada.vez.mais.expres-siva.a.procura.desta.região,.com.particular.incidência.para.a.península.de.Setúbal.e.para.a.sub-região.do.Oeste.
Só.no.concelho.de.Óbidos.tinham.sido.aprovadas,.até.Maio.deste.ano,.5.912.camas.turísticas,.distribuídas.por.quatro.comple-xos.turísticos:.Praia.D’el.Rey,.Turisbel.–.Casalito,.Bom.Sucesso.(1.ª.e.2.ª.Fases).e.Quinta.de.Óbidos..
Foram.entretanto.apresentadas.à.CCDR-LVT.para.parecer.cerca.de.dez.mil.camas.e.estão.em.negociação.pela.Câmara.Municipal.mais.sete.mil,.estimando-se.que.se.atinjam.cerca.de.25.mil.camas..
No.Oeste.existe.um.universo.de.cerca.de.32.mil.camas.associadas.ao.turismo.residen-cial,.com.forte.probabilidade.para.o.aparecimento.de.novos.pólos,.tanto.na.faixa.litoral.entre.Torres.Vedras.e.Alcobaça,.como.nas.zonas.mais.interiores,.associados.às.quintas.agrícolas.
A.elevada.procura.turística.tem.de.ser.compatibilizada.com.o.ordenamento.do.território,.neste.caso.com.o.já.existente.PROT-AML.e.com.o.Plano.Regional.de.Ordenamento.do.Território.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.(PROT-OVT),.em.elaboração...O.modelo.territorial.para.o.turismo.destas.sub-regiões,.discutido.num.workshop.em.Lisboa.a.27.de.Junho,.está.a.ser.elaborado..
e.poderá.vir.a.contemplar.um.modelo.de.contratualização.entre.administração.e.promotores,.que.preveja.as.necessidades.de.infra-estruturas.a.criar,.os.respectivos.financiamentos,.a.gestão.pós-construção.e.tectos.máximos.de.expansão.do.número.de.camas,.modelo.já.adoptado.no.PROT.Algarve).
O.turismo.residencial.tem.vindo.a.assumir.um.peso.crescente.na.Europa,.o.que.se.reflecte.num.aumento.da.procura.no.litoral.e.nos.países.do.Sul..Identifica-se.actualmente.para.a.RLVT.(excluindo.a.Grande.Lisboa),.uma.oferta.potencial.estimada.em.cerca.de.160.mil.camas,.vocacionada.para.o.turismo.residencial,.com.uma.clara.tendência.de.crescimento.nos.próximos.anos.
nicas,.disciplinar.o.trânsito.automóvel.e.o.estacionamento.dos.veículos,.e.ainda.revitalizar.o.comércio.tradicional.
Sob.a.alçada.directa.da.CCDR-LVT.está.a.requalificação.das.praias.de.Paredes.da.Vitória.e.da.Légua.(Alcobaça),.de.Salir.do.Porto.(Caldas.da.Rainha),.do.Peralta.e.as.demolições.em.Paimogo.(Lourinhã),.assim.como.as.praias.de.Medão/Super-Tubos,.Praia.da.Consolação.e.Consolação.Norte.(Peniche).e.o.plano.de.praia.de.Pisão/Mirante.(Torres.Vedras)..Na.área.de.inter-venção.do.POOC.Alcobaça-Mafra.existem.112.apoios.de.praia,.17.dos.quais.têm.já.projecto.de.adaptação.elaborado.e.oito.têm.projecto.aprovado.
No.âmbito.do.POOC.Cidadela-São.Julião..da.Barra,.foi.investido.também.mais.de..
Turismo residencial dispara em Lisboa e Vale do Tejo
Época balnear 2007 | Requalificação das praias a bom ritmo
um.milhão.de.euros.na.requalificação.de.praias,.nomeadamente.na.construção.de.espaços.públicos,.acessos.e.estacionamen-tos.das.praias.de.São.João.do.Estoril.e.de.Carcavelos..
3,8.milhões.de.euros.serão.ainda.investidos.nesta.faixa.litoral.até.ao.final.de.2007,.dos.quais.cerca.de.70.mil.euros.vão.ser.aplica-dos.na.praia.das.Avencas,.cujo.plano.de.praia.está.sob.a.responsabilidade.da.CCDR-LVT..O.projecto.já.está.concluído.e.aprova-do.e.foi.entregue.à.Câmara.Municipal.de.Cascais,.que.avançará.com.a.obra.
O.POOC.prevê.a.requalificação.de.52.apoios.de.praia,.das.quais.a.maioria.foi.já.adaptada..Quatro.deles.vão.ser.objecto.de.concurso.público,.nomeadamente.os.da.Praia.da.Duquesa,.da.Poça,.da.Azarujinha.e.de.Carcavelos.
� |
Os.Polis.da.região.de.Lisboa.estão.a.dar.origem.a.diversos.programas.integrados.de.formação,.inovadores.e.voltados.para.as.necessidades.locais..Cacém,.Costa.de.Caparica.e.Setúbal.têm.já.formações.concluídas,.outras.em.curso.ou.com.candidaturas.em.apreciação,.envolvendo.centenas.de.formandos.e.dirigidas.aos.domínios.das.intervenções.do.Polis.
Voltados.para.a.empregabilidade,.os.cursos.de.formação.-.apoiados.pelo.Fundo.Social.Europeu.através.da.medida.2.4.do.Programa.Operacional.da.Região.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.(PORLVT).–..envolvem.a.concepção.de.projectos,.criação.de.empre-sas,.visitas.de.estudo.e.até.a.realização.de.estágios.em.empresas.ou.instituições.locais..
Mais.do.que.meros.cursos.de.formação,.os.projectos.integrados.exigem.a.apresenta-ção.de.resultados.práticos.e.socialmente.úteis,.que.são.apresentados.publicamente.à.comunidade,.incluindo.aos.actores.com.poder.de.decisão.e.participação.no.território.
No.Cacém.foram.já.concluídos.dois.projectos.de.formação,.a.cargo.da.Cooptécnica.–.Escola.Profissional.Gustave.Eiffel.e.da.Nova.Etapa..A.Cooptécnica.tem.em.curso.desde.Junho.um.segundo.projecto.de.formação.no.âmbito.deste.Polis.
O.forte.índice.de.empregabilidade.é.uma.mais-valia.deste.tipo.de.projectos.de.formação..No.caso.da.Nova.Etapa,.mais.de.80.por.cento.dos.formandos.já.conseguiu.
obter.emprego..Já.foi.também.aprovado.um.projecto.da.Associação.Comercial.e.Industrial.do.Concelho.de.Sintra.
A.Costa.de.Caparica.foi.palco.de.dois.projectos.de.formação,.“Marca.o.Futuro”,..da.ETIC.-.Escola.Técnica.de.Imagem.e.Comunicação.e.o.projecto.conduzido.pela.Arribatejo,.tendo.sido.já.aprovado.um.outro.projecto.a.cargo.da.Nova.Etapa.e.mais.dois.da.Cooptécnica.–.Escola.Profissional.Gustave.Eiffel..A.criação.de.uma.marca.para.a.Costa.de.Caparica.e.de.um.projecto.de.dinamização.cultural.para.a.cidade.foi.o.objectivo.central.do.projecto.«Marca.o.Futuro»,.formação.conduzida.pela.ETIC.-.Escola.Técnica.de.Imagem.e.Comunicação.em.Almada..
Os.projectos.finais.do.curso.foram.apre-sentados.a.26.de.Julho,.tendo.sido.classifi-cados.por.um.júri.de.especialistas.em.design.e.comunicação..«Costa,.Cidade.dos.Sentidos».pela.Agência.Essência.foi.a.proposta.classificada.em.primeiro.lugar,.seguindo-se.por.ordem.de.classificação.a.«Costa.da.Caparica,.Movimento.Natural».pela.Agência.Nemesis,.«Costa.da.Caparica,.BiodiverCidade».pela.Agência.Magma,.«Costa.365».pela.Agência.Sen7idos.e.«Costa.de.Caparica,.Cidade.dos.Desafios».pela.Agência.Pró-Ideias.
Quanto.ao.Polis.de.Setúbal,.a.Escola.Profissional.de.Setúbal.tem.em.curso.o.Forpolis..Foi.já.aprovado.também.um.novo.projecto.da.ETIC,.«Vive.o.Futuro»,.que.se.inicia.no.próximo.mês.de.Setembro..
Os.cursos.da.Nova.Etapa.no.Cacém.atingiram.altos.índices.de.empregabilidade
Workshop.«Marca.o.Futuro».de.Processo.Criativo.e.Auto-Conhecimento,.Pousada.da.Juventude.de.Almada,.Março.2007
Projectos integrados de formação
Polis dão novas oportunidades
| �
OPEN-DAYSThe Water-Based Competitiveness NetworkLisboa lidera rede de regiões europeias
Regiões.avançadas.para.o.crescimento.económico
Grupo.do.Mar.Báltico
Regiões.e.Cidades.Capitais:.Fomentar.o.capital.Sustentável
Ligações.Célticas
Cooperação.para.o.Sucesso
O.Sector.Criativo.Fá-lo.Acontecer!
Profundo.Azul:.Regiões.Marítimas.Inovadoras
Regiões.Dinâmicas.para.a.Inovação.e.o.Investimento
As.Regiões.ERRIN.para.o.Crescimento.e.Emprego
Motores.Verdes.para.o.Crescimento
Aumentar.a.governança.local.por.acções.efectivas.de.proximidade
Rede.de.Fronteiras.Europeias
Inovação.nas.Regiões.Transfronteiriças
Conhecimento.e.Inovação.nas.Cidades.para.a.Coesão
METREX.(Rede.das.Áreas.e.Regiões.Metropolitanas.da.Europa)
Rede.das.Regiões.Fronteiriças.do.Leste
Regiões.Inovadoras.Abertas
Ciência.e.Inovação.na.Política.Regional
Pequenos.e.Inteligentes
O.Sucesso.pela.Cooperação.Interregional
As.Regiões.Energeticamente.Sustentáveis.II
O.Atlântico.como.um.Factor.de.Competitividade
A.Grande.Região
A.Rede.de.Competitividade.Baseada.na.Água
Open Days 2007: Regiões e Cidades Participantes
“A.água.como.factor.de.competitividade:.uma.via.para.o.crescimento.sustentável”.é.o.tema.que.vai.ser.debatido.em.Bruxelas.no.âmbito.dos.Open.Days,.por.um.consór-cio.de.regiões.que.a.CCDR.de.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.lidera.e.que.integra.as.Canárias.(Espanha),.a.Sicília.e.Veneza.(Itália).e.o.Algarve.
O.objectivo.é.promover.uma.mudança.de.paradigma.nesta.temática:.a.água.deve.ser.encarada.já.não.apenas.como.um.recurso.a.gerir,.mas.como.um.factor.de.competiti-vidade.a.valorizar.no.seio.de.estratégias.territoriais.integradas..As.políticas.desen-volvidas.neste.âmbito.deverão.ambicionar.o.desenvolvimento.sustentável.de.activida-des.ligadas.à.água,.com.vista.ao.cresci-mento.económico,.à.qualificação.territorial.e.à.criação.de.empregos.
No.âmbito.da.candidatura.do.consórcio,.foram.definidos.dois.seminários.para.debater.esta.temática,.sob.os.temas.“Water.Ecosystems:.assets.for.regional.attractiveness”.e.“Enhancing.Tourism.Clusters:.public.bodies.face.the.challenge.of.water.and.coastal.preservation”.
Os.Open.Days.–.Semana.Europeia.das.Regiões.e.Cidades.–.realizam-se.entre.8.e.11.de.Outubro.e.são.o.maior.evento.europeu.no.domínio.das.políticas.regionais,.organi-zado.em.Bruxelas.pela.Comissão.Europeia.e.pelo.Comité.das.Regiões.em.cooperação.com.consórcios.de.regiões.e.cidades..Participam.no.evento.25.redes.temáticas.constituídas.por.grupos.de.regiões.europeias..
MARE: Cinco projectos promovem mobilidadeAté.Março.de.2008.estarão.concluídos.os.cinco.sub-projectos.financiados.pelo.FEDER.no.âmbito.MARE.-.Mobilidade.e..Acessibilidade.Metropolitana.nas.Regiões.do.Sul.da.Europa,.Operação-Quadro.Regional.que.envolve.as.regiões.de.Lisboa,.Génova.e.Valência.e.conta.com.um.finan-ciamento.elegível.de.5.944.100.euros.elegíveis,.dos.quais.perto.de.4.milhões..de.euros.provêm.do.Fundo.Europeu.de.Desenvolvimento.Regional.(FEDER).
Cada.um.dos.sub-projectos.envolve.um.conjunto.de.entidades.de.diferentes.
regiões..O.TRAMO.–.Transporte.Responsável,.Acções.de.Mobilidade.e.Ordenamento.é.um.deles,.e.tem.como.objectivo.criar.uma.metodologia.única.para.a.elaboração.de.planos.de.mobilidade.em.cidades.até.100.mil.habitantes,.assim.como.uniformizar.os.métodos.de.adminis-tração.do.território.e.aumentar.o.conheci-mento.sobre.a.mobilidade.
Em.curso.estão.também.os.sub-projectos.ACFER.–.Acessibilidade.às.Estações.Ferroviárias,.que.visa.estimular.a.intermo-dalidade.no.acesso.aos.centros.urbanos,.o.MOBQUA.–.Mobilidade.nos.Quarteirões,.que.aposta.na.fruição.pedonal.e.ciclável.das.cidades,.o.FLEXIS.–.Serviços.Flexíveis.para.o.Sul.da.Europa,.que.tem.em.vista.reduzir.o.fosso.entre.o.transporte.público.tradicional.e.a.procura.de.serviços.de.mobilidade.e.o.E-Mobility.–.Novos.Sistemas.e.Serviços.Informativos.para.a.Mobilidade.no.Sul.da.Europa,.que.pretende.contribuir.para.uma.melhor.gestão.da.mobilidade.e.facilitar.as.decisões.dos.utilizadores.
Participam.nos.Open.Days.25.redes.temáticas.de.regiões
� |
Opinião.|.Fernanda Câncio Fotografia.|..Pedro Soares
Como o resto dos portugueses, os lisboetas escolhem o meio do Verão para partir,
em manada automobilística, para a praia. Lisboa fica quase deserta (e que bem fica).
É o melhor mês para circular na cidade, e seria perfeito não fosse tanta coisa fechar:
restaurantes, piscinas, lojas. É também o melhor mês para começar a apanhar os bocados
da cidade. E oferecê-la, recomposta, aos veraneantes reentrados. Um roteiro de desejos,
à atenção de António Costa.
Lisboa a gosto
| �
Meio mês após a eleição,. ainda. não. era.visível. qualquer. alteração. na. cidade..Cedo,. . decerto.. Mas,. como. diz. o. outro,.«não. há. uma. segunda. oportunidade.para. causar. uma. primeira. boa. impres-
são»..E.causar.boa. impressão.aos.munícipes.de.uma.capi-tal.abandonada.até.à.caricatura.é.muito.fácil..Basta.começa-rem. a. ver. coisas. a. mudar.. E,. melhor. ainda,. voltarem. de.férias.e.constatarem.que.as.coisas.já.mudaram..Que.alguns.das.seus.mais.renitentes.motivos.de.irritação.desaparece-ram..Que.ao.fim.de.anos.e.anos.de.desmandos.e.descalabro,.a.cidade.está.a.ser.mimada..
Claro. que. é. preciso. fazer. planos,. pensar. o. modo. e. o. critério. de.desenvolvimento,. as. prioridades.. Claro. que. é. preciso. projectar,.pensar.grande..Mas.é.nas.pequenas.coisas.–.que,.na.verdade,.de.pequenas.nada.têm.–.que.se.reconstrói.a.auto-estima.de.Lisboa.ou,.o.que.é.dizer.o.mesmo,.dos.lisboetas.
O.«problema.do.estacionamento»,.por.exemplo..De.cada.vez.que.se. fala. dele,. ouve-se. clamar. por. mais. parques. em. Lisboa...Ora.alguns.parques.fazem.decerto.falta..Para.moradores.de.zonas.sem. lugares. legais. suficientes. na. rua,. por. exemplo.. Mas. não..se.pense.que.se.tiram.os.carros.de.cima.dos.passeios.com.parques.espalhados.por.todo.o.lado..Não.raro.se.vêem.dezenas.de.automó-veis.em.contravenção.em.zonas.bem.servidas.de.parques.–.e.com.eles.quase.vazios..O.problema.do.estacionamento.não.é.apenas..o. de. entrarem. mais. carros. no. centro. de. Lisboa. que. os. lugares.legais.disponíveis..É.que.mesmo.quando.há.lugares.legais.dispo-níveis,. sendo. grande. parte. deles. a. pagar,. a. pessoas. preferem.arriscar.e.estacionar.mal.(a.zona.do.Martim.Moniz,.onde.existe.
um. grande. parque. subterrâneo. que. nunca. está. cheio,. mas. há.sempre.carros.mal.estacionados.em.todo.o.lado.é.disso.exemplo),.porque.sabem.que.a.probabilidade.de.serem.multadas.e.verem..o.carro.rebocado.ou.bloqueado.é.mínima..E. isto.porque.é.mais.que. conhecida. e. propagandeada. a. proverbial. falta. de. zelo. das.polícias.para.fazer.cumprir.as.regras.na.cidade..De.outra.forma.não. se. compreende. que. a. Avenida. da. Liberdade. se. transforme,.sempre. que. há. espectáculos. no. Coliseu. ou. no. Politeama. e. nas.noites.de.fim-de-semana,.num.gigantesco.parque.de.estaciona-mento,.com.automóveis.em.espinha.sobre.os.enormes.passeios.do. nosso. único. boulevard,. numa. demonstração. deprimente. do.absoluto.laxismo.policial..Como.todos.os.habitantes.e.frequenta-dores.de.todos.os.centros.de.cidade.do.mundo.civilizado.aprende-ram.à.respectiva.custa,.os.carros.não.se.podem.arrumar.em.qual-quer. lado. «só. porque. vou. ali. ver. o. La. Féria».. Um. presidente. de.Câmara. que. ama. a. sua. cidade. e. que. se. orgulha. dela. não. pode.admitir.que.a.sua.artéria.mais.nobre.se.transforme.num.paraíso.de.arrumadores.e.automobilistas.selvagens,.que.fazem.manobras.no. meio. de. uma. via. rápida. como. se. fosse. a. coisa. mais. natural..e.aconselhável.do.mundo..Que.os.seus.munícipes.se.vejam.impos-sibiltados.de.percorrer.os.passeios.sem.contornar.carros.ou.ter.de.correr. risco. de. atropelamento.. E. um. presidente. da. Câmara. que.até.há.pouco.tempo.era.ministro.das.polícias.deve.ter.facilidade.acrescida.em.identificar.os.problemas.relacionados.com.o.défice.de.actuação.policial.e.encontrar.uma.solução.–.nem.que.passe.por. contratualizar. toda. a. fiscalização. do. estacionamento. com.empresas.. Fazer. passar. a. mensagem. de. «tolerância. zero». para..o.estacionamento.sobre.passeios.seria.um.dos.melhores.presentes.de. reentrée. que. o. novo. executivo. camarário. poderia. dar. aos.munícipes. –. um. presente. que. certamente. contribuiria. também.para.reduzir.o.fluxo.de.tráfego.na.cidade,.já.que,.se.perceberem.que.
10 |
vão.ter.impreterivelmente.de.pagar.para.estacionar,.muitos.dos.automobilistas.que.demandam.a.cidade.passarão.a.encarar.com.outro.interesse.os.transportes.públicos.
Depois.–.quer.dizer,.antes.–.é.necessário.reparar.o.piso..Os.pas-seios.e.as.faixas.de.rodagem..Mais.outra.tolerância.zero.-.para.os.buracos..Inadmissível.que.zonas.tão.emblemáticas.como.a.Baixa.–.onde,.recorde-se,.se.situam.os.Paços.do.Concelho.–.apresentem.passeios.esburacados.e.ondulantes.e.zonas.de.trânsito.automó-vel. dignas. de. uma. urbe. bombardeada,. com. o. alcatrão. em.patchwork.de.texturas.e.densidades.e.desníveis.dignos.de.qual-quer.honesto.caminho.de.cabras.(impressionante.como.a.autar-quia.não.está.inundada.de.processos.por.danos.em.automóveis.e.por.ofensas.corporais.às.pessoas.que.todos.os.dias.caem.ou.tor-cem.os.pés)..Quando.chove,.toda.a.Baixa.(que.como.o.nome.indica.fica.num.baixio).se.transforma.numa.sucessão.de.poças.de.água..Na.Rua.Augusta.(fechada.ao.trânsito),.dezenas.de.metros.quadra-dos.ficam.intransitáveis.para.quem.não.calçar.galochas..É.normal.que.a.rua.mais.nobre.da.zona.mais.nobre.da.cidade,.uma.zona.que.é.património.nacional.e.que.se.deseja.candidatar.a.patrimó-nio. mundial,. seja,. no. Inverno,. uma. espécie. de. lago. baixinho?..É.justificável.que.ninguém.tenha.reparado.que.é.necessário.nive-lar.os.pavimentos?
Mais.uma.tolerância.zero:.para.as.pichagens..Depois.de.nos.últi-mos.anos,.perante.a.passividade.incompreensível.das.autorida-des.e.do.governo.da.cidade,.o.Bairro.Alto.ter.sido.garatujado.de.
alto.a.baixo,.a.doença. tem.vindo.a.espalhar-se..Desce.o.Chiado,.atravessa. a. Baixa,. chega. à. Sé.. Prédios. pombalinos. pintados. de.fresco,.a.pedra.porosa.das.fachadas,.as.portadas.de.madeira,.nada.é.sagrado.para.os.selvagens.do.spray...Pouco.a.pouco,.o.centro.da.cidade. adquire. o. aspecto. de. um. bairro. suburbano. degradado..Não.será.fácil.dar.resposta.a.esta.«tendência».mas.não.é.possível.baixar.os.braços,.como. tem.acontecido..É.preciso. fazer.passar.a.mensagem. de. que. se. trata. de. um. atentado. ao. património.comum,.e.que.não.será.admitido.
Outro. tipo. inadmissível. de. selvajaria:. a. ocupação. desregrada..e.descontraída.da.via.pública..Deve.ser.estabelecido.sem.sombra.de.dúvida.que.as.obras,.sejam.elas.de.que.natureza.forem,.devem.ocupar.o.mínimo.de.espaço.da.via.pública.e.causar.o.mínimo.de.transtorno..O.modo.inadmissível.como.qualquer.estaleiro,.seja.de.um.prédio,.do.metro.ou.de.um.túnel.ou.de.uma.daquelas.repara-ções.cíclicas.da.EDP,.EPAL,.Gás.ou.PT,.se.acha.no.direito.de.deixar.montes.de.estulho.durante.meses.no.mesmo.sítio,.esburacar.pas-seios.e.deixá-los.por.arranjar,.fazer.os.peões.andar.pela.estrada,.caminhar.em.lama,.terra.ou.cascalho,.ou.andar.o.triplo.do.cami-nho.normal.para.chegar.ao.destino.deveria.há.muito.ter.desenca-deado.um.conjunto.de.medidas.para.acabar.com.o.regabofe..
Quem.passou.a.pé.na.zona.do.Saldanha,.do.Marquês.e.da.Fontes.Pereira.de.Melo.no.último.ano.não.pode.ter.deixado.de.espumar.com.o.absoluto.desprezo.a.que.foi.votado.pelos.responsáveis.das.obras.(metro.e.túnel.do.Marquês)..Houve.alturas.em.que.nem.se.
| 11
conseguia.perceber.por.onde.era.suposto.ir..Viam-se.transeuntes.parados,.a.olhar.em.volta,.hesitando,.à.procura.da.sinalização.ine-xistente..Sendo.impossível.atravessar.a.Fontes.Pereira.de.Melo.ao.longo. de. centenas. de. metros,. tinha. de. se. andar. o. triplo.. No.Saldanha,.a.brutalidade.de.espaço.(vazio.em.grande.parte,.sem.sinal. de. operários. ou. máquinas). ocupado. pela. obra. do. metro.obrigou,. durante. pelo. menos. meio. ano,. a. autênticas. gincanas..Que. departamento. camarário. autoriza. estes. abusos. imperiais?.Será.que.alguém.na.autarquia.leva.em.conta.as.necessidades.de.quem.anda.a.pé,.ou.só.há.preocupação.com.o.chamado.«escoa-mento.de.tráfego»?.Será.que.é.impossível.pôr.ordem.nas.obras?.Claro.que.não..Basta.percepcionar.o.problema,.ter.vontade.de.o.resolver. e. usar. os. bastos. instrumentos. existentes. na. estrutura.camarária.para.assegurar.a.resolução.
Outra.inadmissibilidade.é.a.do.claro.abandono.a.que.são.votados.tantos.edifícios.devolutos..Em. todas.as.zonas.da.cidade.há.pré-dios. vazios. de. janelas. escancaradas. à. chuva. e. aos. bichos,..à.espera.da.derrocada..Há.até.casos.de.imóveis.que.foram.entai-pados.nos.primeiros.tempos.do.reinado.de.Santana.Lopes.e,.cinco.anos.depois,.assim.permanecem..Um.dos.exemplos.mais.extraor-dinários. é. o. de. um. edifício. de. esquina. da. rua. da. Madalena. –.fechada.ao.trânsito.em.2002.«para.ficar.mais.bonita».-.que,.estan-do. em. risco. de. derrocada,. foi. escorado. com. vigas. e. entaipado,.sendo. feita. uma. passagem. de. madeira. para. peões.. Em. 2007,. o.edifício.permanece.assim,.com.a.passagem.de.peões.já.completa-mente. podre. e. esburacada,. obrigando. quem. o. quer. contornar. a.
caminhar.pela.estrada.ou.a.passar.para.o.outro.lado.da.rua..Como.explicar.este.tipo.de.situação?.Como.perceber.que.o.departamento.camarário.responsável.pelo.processo.do.edifício.permita.isto?
A. limpeza. da. cidade. é. outra. das. prioridades. óbvias. de. uma.Câmara.que.queira.realmente.fazer.a.diferença.e.tornar.claro.que.assim. é.. Devem. ser. efectivamente. proibidos. os. sacos. de. lixo. à.porta.de.casa..Os.ecopontos. têm.de.deixar.de.ser.um.ponto.de.nojo.e.mau.cheiro.(em.tempos,.os.responsáveis.pelo.departamen-to.de.resíduos.sólidos.certificaram-me.de.que.os.receptáculos.só.são.limpos.duas.vezes.por.ano.–.o.que.explica.a.camada.de.porca-ria. que. os. cobre),. quase. sempre. repletos. e. rodeados. de. todo..o.género.de.detritos.e.assegurar.uma.cobertura.efectiva.da.cida-de.–.há.zonas.em.que.é.preciso.andar.500.metros.para.chegar.ao.ecoponto.mais.próximo..A.reciclagem.é.uma.necessidade.e.uma.obrigação.–.mas.não.pode.ser.um.martírio..Se.a.Câmara.de.Lisboa.não.tem.condições.para.dotar.a.cidade.de.uma.rede.de.recolha.de.recicláveis.digna.e.eficaz,.talvez.deva.assumi-lo..Talvez.deva.passar.a. responsabilidade. dessa. tarefa. a. outra. ou. outras. entidades..Talvez. haja. empresas. interessadas. no. negócio. –. se. há. negócio..na.reciclagem...
Muito.há.a.fazer.por.uma.cidade.abandonada,.desprezada,.humi-lhada.. As. ideias. de. intervenção. rápida. não. se. esgotam. decerto.nesta. meia. dúzia. de. desejos.. Mas. corresponder-lhes. seria. um.bom.princípio..O.princípio.da.esperança...
12 |
Entrevista.|.Ana Sousa DiasFotografia.|.Pedro Soares
Carlos Humberto CarvalhoPresidente da Junta Metropolitana de Lisboa
O Presidente da Junta Metropolitana de Lisboa espera que o Governo modifique a proposta
avançada em Maio último para o regime jurídico das áreas metropolitanas, aproximando-a
do modelo defendido pelas juntas de Lisboa e do Porto. Carlos Humberto Carvalho volta
a afirmar que gostaria de ser o último presidente não eleito, e insiste em três pontos que
considera fundamentais: o órgão metropolitano deve ser eleito por voto directo, as suas
competências têm de ser claras e deve ser dotado de meios financeiros para cumpri-las,
num sistema em que esteja sempre salvaguardada a autonomia das autarquias.
Eleito em 2005 para a presidência da Câmara Municipal do Barreiro, que recuperou para
a CDU depois de um mandato em que fora ganha pelo PS, Carlos Humberto prepara
projectos estruturantes para o concelho, entre os quais uma estratégia integrada para a
recuperação do território da Quimiparque e a revitalização da zona ribeirinha e do centro
histórico – onde nasceu e passou a infância. Numa autarquia a braços com dificuldades
financeiras, diz que vive na angústia de não ter tempo para tudo o que gostaria de fazer.
| 13
14 |
As juntas metropolitanas [de Lisboa e do Porto] existem desde 1991 mas o papel delas tem sido pouco relevante. O que é que impede a sua acção?
Esta.solução.de.Junta.Metropolitana.está.esgotada..É.indispensá-vel.um.órgão.na.área.metropolitana.com.consistência.democrá-tica,.isto.é,.proveniente.de.eleições.directas..Os.membros.da.Junta.Metropolitana.deviam.ser.eleitos.directamente.pela.população.Esta.é.a.minha.opinião.pessoal.mas.é.também.fruto.de.reflexão.colectiva,.e.é.consensual.entre.os.18.presidentes.de.câmara.que.hoje.integram.a.Junta.Metropolitana.de.Lisboa..Ninguém.despe.o.casaco.de.presidente.em.nenhuma.circunstância..Eu.próprio.sou,.acima.de.tudo,.presidente.de.Câmara.do.Barreiro.e,.cumulativa-mente,.sou.presidente.da.Junta.Metropolitana.de.Lisboa..Tenho.dito. que. gostaria. de. ser. o. último. presidente. não. eleito.. Dificil-mente.há.uma.visão.metropolitana,.há.o.somatório.de.18.visões.
concelhias.. Precisamos. de. um. órgão. metropolitano. eleito. para.gerir.com.uma.visão.integrada,.supra-municipal.Vivemos.um.vazio.institucional..Existe.a.estrutura.de.poder.nacio-nal.e.há.depois.a.estrutura.local..Mas.está.prevista.na.Constitui-ção.uma.estrutura.relativa.às.áreas.metropolitanas.que.é.indis-pensável..Há.questões.de.carácter.metropolitano.–.se.quisermos,.podemos.dizer.de.carácter.regional,.numa.perspectiva.de.regio-nalização. –. que. umas. vezes. são. tratadas. pelo. governo,. outras.vezes.pelos.municípios.A. futura. estrutura. metropolitana. tem. de. ter. atribuições. claras,.não.podem.ser.apenas.competências.de.coordenação,.de.coope-ração..Defendo.que.tenha.competências.ao.nível.do.ordenamento.do.território,.da.mobilidade.e.dos.transportes,.algumas.de.carác-ter. ambiental,. entre. outras.. E. tem. de. ter. meios. para. executar.essas.competências.
Essa estrutura não colide com as atribuições das comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR)?
Não,.na.medida.em.que.as.CCDR.são.estruturas.da.administração.central.e.como.tal.têm.competências.claras..O.próprio.presidente.da.CCDR.defende.que.a.junta.metropolitana.tenha.áreas.de.inter-venção.claras.Fui.eleito.pela.CDU.e.não.estou.a.defender.isto.numa.perspectiva.partidária,.porque.provavelmente.nem.sequer.é.a.CDU.que.ganha,.apesar.de.ter.a.maioria.em.oito.dos.18.municípios..Não.se.trata.de.uma.questão.de.interesse.partidário,. trata-se.daquilo.que.serve.melhor.a.região.
Actualmente o que faz a Junta Metropolitana de Lisboa?
Discutimos.questões.de.carácter.regional,.procuramos.articular.e.afinar.posições.sobre.essas.matérias,.mas.depois.ficamos.por.aqui.No. âmbito. do. Quadro. Comunitário. de. Apoio. (QCA/III),. tivemos..a. gestão. de. uma. parte. dos. fundos. comunitários. e. essa. é. uma.intervenção.interessante..Mas.Lisboa.deixou.de.ser.Objectivo.I.e.as.verbas.diminuíram.significativamente..O.mais.provável.é.que.a.Junta.não.seja.chamada.a.essa.função,.ainda.que.eu.discorde,.pois.penso.que.as.autarquias.e.a.Junta.Metropolitana.deviam.ter.uma.maior.intervenção.nesse.mecanismo.Claro.que.temos.intervenções.interessantes,.é.justo.reflectir.sobre.o. Portal. da. Junta. e. sobre. alguns. trabalhos. informáticos,. como..as.compras.electrónicas.
Apesar de diferenças políticas e até ideológicas muito acentuadas entre nós,
que cada um assume com um certo à-vontade, há uma grande experiência de
saber os momentos em que é preciso afirmar as diferenças e os momentos
em que é preciso sublinhar o que nos une. Não tem sido difícil gerar consenso
alargado sobre a esmagadora maioria das matérias. E também temos o bom
senso de retirar quando vemos que as coisas não são consensuais. Não me
lembro de haver uma votação na Junta que não fosse por unanimidade.
| 15
Compras de quê?
É.um.processo.que.está.no.início,.com.uma.experiência.pequenís-sima.mas.com.resultados.entusiasmantes..Depois.de.um.levanta-mento.das.necessidades.dos.municípios.e.das.condições.de.com-pra. de. cada. um,. faz-se. um. concurso. público. para. o. seu.fornecimento. em. conjunto.. Até. agora,. temos. este. sistema. para.material.informático,.papel,.pneus..As.câmaras.depois.compram.directamente.por.via.electrónica.a.quem.ganha.o.concurso,.e.há.prazos.para.a.resposta.e.para.os.pagamentos..Isto.desburocratiza,.facilita.e.permite.poupanças.Outra.função.da.Junta.são.as.representações.internacionais,.faze-mos.parte.de.cinco.ou.seis.redes.a.nível.dos.portos,.dos.estuários,.por.exemplo,.e.aí.trocamos.experiências,.aprofundamos.reflexão.sobre.estas.matérias.
Mas considera que isso é pouco?
É. claramente. insuficiente.. Nos. problemas. com. dimensão. clara-mente. metropolitana,. como. os. transportes,. qual. é. o. papel. da.Junta?.Faz.comentários,.apreciações..A.região.metropolitana.pre-cisa. de. uma. intervenção. distinta,. e. por. isso. defendemos. com.muito.ênfase.a.criação.da.Autoridade.Metropolitana.de.Transpor-tes.. É. um. projecto. ambicioso,. necessariamente. complexo,. com.posições.diferentes.dos.parceiros,.dos.municípios.e.do.Governo,.mas.indispensável.para.darmos.um.contributo.para.a.atenuação.–.já.nem.digo.a.resolução.–.dos.problemas.de.transportes.e.mobi-lidade..Cada.vez.mais.é.preciso.ter.uma.visão.global.e.integrada.porque.os.transportes.têm.muito.a.ver.com.a.qualidade.de.vida,.o.emprego,.o.urbanismo,.a.ocupação.do. território,.a.vida.de.cada.um.de.nós.
O facto de o executivo da Junta Metropolitana ser constituído a partir de um acordo partidário não inviabiliza a tomada de grandes decisões, não as torna enviesadas?
Está.a.falar.da.Comissão.Permanente,.que.tem.um.papel.de.repre-sentação.e.de.preparação.das.discussões.da.Junta.mas.não.tem.muita. capacidade. de. decisão.. As. grandes. decisões. são. do. con-junto.dos.18.municípios..A.Comissão.Permanente.não.é.um.órgão.executivo,.a.Junta.é.que.é.um.órgão.executivo.da.Área.Metropoli-tana.Apesar.de.diferenças.políticas.e.até. ideológicas.muito.acentua-das.entre.nós,.que.cada.um.assume.com.um.certo.à-vontade,.há.uma.grande.experiência.de.saber.os.momentos.em.que.é.preciso.afirmar.as.diferenças.e.os.momentos.em.que.é.preciso.sublinhar.o.que.nos.une..Não.tem.sido.difícil.gerar.consenso.alargado.sobre.a. esmagadora. maioria. das. matérias.. E. também. temos. o. bom.
senso.de.retirar.quando.vemos.que.as.coisas.não.são.consensuais..
Não.me.lembro.de.haver.uma.votação.na.Junta.que.não.fosse.por.unanimidade.
Isso não seria assim se a Junta tivesse competências executivas.
É. evidente.. Todos. percebemos. o. patamar. em. que. estamos.. Se.tivéssemos.de.decidir.se.se.constrói.isto.ou.aquilo,.ou.se.se.investe.mais.nesta.ou.naquela.área,.seria.diferente..Mesmo.assim,.temos.consensos. em. questões. políticas. muito. importantes,. como. a.Autoridade. Metropolitana. de. Transportes. ou. a. definição. do.futuro. da. área. metropolitana.. Cada. um. de. nós. percebe. o. seu.papel.e.distingue.o.essencial.do.secundário.
16 |
Em que é que não está de acordo com a proposta do Governo sobre as áreas metropolitanas?
As.competências.que.estão.na.proposta.do.Governo.são. insufi-cientes.e.pouco.claras..Esperamos.que.o.Governo.tenha.em.conta.a. posição. da. Junta. Metropolitana. de. Lisboa. quanto. à. eleição.directa..Penso.que.o.Governo.menoriza.o.papel.dos.municípios.e.dos. presidentes,. já. que. cria. um. órgão. executivo. a. que. chama.“Junta”,.constituído.por.cinco.pessoas.não.eleitas.directamente.–.eleitas. pela. Assembleia. Metropolitana. a. partir. de. proposta. do.Conselho.Metropolitano,.isto.é,.dos.18.presidentes..É.inaceitável.e.não. resolve. nada,. nem. do. ponto. de. vista. institucional. nem. do.ponto.de.vista.da.solução.metropolitana..Estes.cinco.técnicos.da.chamada.“Junta”.passavam.a.ser.os.interlocutores.do.Governo.
Mas esses nomes eram propostos pelos eleitos, o perfil deles dependeria da vossa proposta.
Independentemente. do. perfil. pessoal,. técnico,. político,. de. qual-quer.um.deles,.claramente.não.eram.eleitos..E.essa.é.a.questão:.ser.ou.não.ser.eleito..Um.técnico.pode.ser.um.político,.um.político.pode. ser. um. técnico,. não. se. trata. disso.. Neste. modelo,. formal-mente. tinha. funções. técnicas. mas. de. facto. assumia,. quer. do.ponto.de.vista.técnico.quer.do.ponto.de.vista.político,.as.opções.fundamentais..Algumas.decisões.deste.órgão.eram.obrigatórias.para.as.autarquias..Não.é.aceitável..Do.ponto.de.vista.constitucio-nal,.o.poder.local.tem.autonomia,.tem.competências.próprias..A.construção.da.democracia.portuguesa.fez-se.na.base.de.princí-pios.e.um.deles.é.a.autonomia.entre.o.poder.local.e.o.poder.cen-tral..Estou.em.frontal.desacordo.com.tudo.o.que.ponha.em.causa.esse.princípio..A.não.ser.que.cheguemos.à.conclusão.de.que.isto.é.
para.mudar,.e.eu.admito-o..Mas.então.discutamos.abertamente,.conclua-se.que.é.para.mudar.e.altere-se.a.legislação..Vir.com.pezi-nhos.de.lã.alterar.um.dos.elementos.estruturantes.da.democra-cia.portuguesa.é.inaceitável.Na.vida,.nada.é.indiscutível..Há.maiorias.e.minorias,.não.temos.de.estar.de.acordo.em.tudo..Estou.disponível.para.aceitar.as.decisões.da.maioria,.até.porque.sou.comunista..Mas.tudo.o.que.ponha.em.causa. a. autonomia. do. poder. local,. mesmo. que. seja. para. um.poder.regional.ou.metropolitano,.estou.em.desacordo.
Mas admite-o se o poder intermédio – metropolitano, regional – for eleito?
Só.não.admito.que.se.ponha.em.causa.a.autonomia,.mesmo.com.a.criação.da.região..Há.competências.que.hoje.são.das.autarquias.e. passarão. a. ser. de. carácter. regional,. mas. as. autarquias. conti-
nuam.a.ser.autónomas.nas.matérias.que.lhes.dizem.respeito.Interrogo-me.se.as.áreas.metropolitanas.não.deviam.ser.regiões..Também.admito.que.dentro.de.uma.grande.região.haja.uma.área.metropolitana,.ou.concretamente.que.dentro.da.região.Lisboa.e.Vale. do. Tejo. haja. uma. área. metropolitana. de. Lisboa.. Não. vejo.incompatibilidade. em. que. ambos. esses. órgãos. sejam. eleitos,.quanto.mais.aprofundada.for.a.democracia,.melhor.
Desde que as competências sejam claras?
É.preciso.que.as.áreas.de. intervenção.estejam.claras..Não.pode.haver.áreas.cinzentas,.em.que.não.se.sabe.bem.de.quem.são.as.competências.
Vai estando esgotada a
expressão que vou utilizar
mas gosto dela: a cidade das
duas margens, o Tejo como
elemento aglutinador desta
cidade-região. Até diria: o Tejo
como grande praça da Área
Metropolitana, a maior praça
do País. É nesse sentido que
temos de caminhar.
| 17
A Junta defende uma autoridade metropolitana de transportes. É uma matéria que deixaria de passar pelo Governo central?
O.Governo. tem.de.ser.chamado.a. intervir.nessa.matéria.mas.é.claramente.uma.questão.que.deveria.ser.resolvida.a.nível.regio-nal..É.preciso.definir.as.áreas.de. intervenção,.a.composição.dos.vários. órgãos,. mas. é. muito. importante. a. questão. do. financia-mento. desta. Autoridade.. Não. podem. dizer-nos,. por. exemplo:.“toma. lá. o. Metro,. com. não. sei. quantos. milhões. de. défice/ano,.resolve.isso”..Tínhamos.de.parar.as.câmaras.todas,.não.fazer.mais.nada,.passar.o.dinheiro.todo.para.a.autoridade.metropolitana.e.se.calhar.não.chegava.Os.transportes.são.um.elemento.estruturante..A.autoridade.tem.de.ter.articulação.com.outras.entidades.ao.nível.regional.e,.com.certeza,. nacional,. são. problemas. de. dimensão. que. ultrapassa. a.
região..Admito.que,.pelo.menos.nesta.fase,.não.seja.dispensável.a.participação.dos.órgãos.da.administração.central..O.que.é.dife-rente.de.eles.terem.um.papel.preponderante.
As opções da Estratégia Lisboa 2020 são coincidentes com a opinião da Junta Metropolitana?
Gostaríamos.de.que.a.Estratégia.Lisboa.2020.tivesse.sido.constru-ída.pela.Junta.Metropolitana..Claro.que.não.foi.porque.as.compe-tências.da.Junta.são.o.que.são.e.o.Governo.optou.por.definir.a.estratégia.através.da.CCDR..Mas.podia.ter.pedido.à.Área.Metropo-litana.uma.articulação,.ou.podia.ter.desafiado.a.Junta.a.participar.
Mas estão de acordo com a Estratégia?
Globalmente,.não.se.pode.dizer.que.tenhamos.discordâncias.de.fundo,.até.há.coisas.que.consideramos.muito.interessantes.
Por exemplo?
A. visão. global. da. região. e. a. ideia. do.Tejo. como. centro. da. Área.Metropolitana..Vai.estando.esgotada.a.expressão.que.vou.utilizar.mas.gosto.dela:.a.cidade.das.duas.margens,.o.Tejo.como.elemento.aglutinador. desta. cidade-região.. Até. diria:. o. Tejo. como. grande.praça.da.Área.Metropolitana,.a.maior.praça.do.País..É.nesse.sen-tido.que.temos.de.caminhar.Outro. aspecto. positivo:. valorizar. muito. as. pessoas,. apostar. nos.cidadãos,. na. sua. formação.. E. ainda. a. ideia. de. Lisboa. desempe-nhar. um. papel. de. grande. metrópole. internacional,. sem. uma.
visão.localista.ou.regionalista..O.País.precisa,.com.naturalidade,.de.máquinas.que.puxem.as.carruagens..Tudo.isto.é.muito.impor-tante,. mas. precisamos. de. associar. à. Estratégia. mecanismos. de.concretização..E.esses.não.estão.garantidos.
Não há meios financeiros?
Ainda.não.há,.e.sublinho.o.«ainda».porque.quero.dar.uma.mar-gem.de.confiança..O.QREN.pode.dar.um.contributo.mas.Lisboa.saiu.do.Objectivo. I.e.portanto.os.meios.disponibilizados.para.a.região.vão.reduzir.talvez.em.um.sétimo.ou.um.oitavo.daquilo.que.foram.no.QCA,.e.não.sabemos.o.que.acontece.depois..Como.é.que.se.concretiza.uma.estratégia.quando.há.menos.fundos.comuni-tários.e.o.Estado.tem.poucas.disponibilidades.financeiras?.Pode.recorrer-se.a.privados.e.articular.o.seu.papel.com.a.intervenção.pública,.é.justo.fazê-lo,.mas.é.necessário.ter.meios.financeiros.
18 |
Há três grandes obras – o Aeroporto da Ota, o comboio de alta velocidade e a terceira travessia do Tejo – previstas para os próximos anos na região. Qual é a sua opinião sobre estes empreendimentos?
A.Junta.Metropolitana.não.discutiu.nenhuma.das.três.matérias..Sabemos. que. dificilmente. vamos. chegar. a. consenso,. tem. sido.isso.que.nos.tem.levado.a.não.discutir.uma.coisa.que.só.nos.vai.partir..Sou.do.município.do.Barreiro.e.tenho.posição.clara.sobre.estas. três. matérias. mas,. como. presidente. da. Junta. Metropoli-tana,.não.tendo.havido.discussão,.não.vou.pronunciar-me.O. aeroporto. tem. uma. importância. muitíssimo. grande. para. a.Região.Metropolitana.de.Lisboa,.mas.é.claramente.uma.questão.nacional..A.posição.dos.presidentes.de.Câmara.e.do.conjunto.dos.eleitos.autárquicos.da.península.de.Setúbal.–.nove.dos.18.municí-pios.da.Área.Metropolitana.–.foi.muito.equilibrada.relativamente.a.esta.matéria.e.sinto-me.muito.satisfeito.pela.posição.que.toma-ram:.nunca.defenderam.o.aeroporto.na.península.de.Setúbal..A.única. coisa. que. exigiram. foi. que. se. estudasse. as. localizações,.incluindo.as.da.península.de.Setúbal..A.solução.tem.de.ser.a.que.serve.o.País.e.não.a.que.serve.a.península.de.Setúbal..O.pior.que.pode.acontecer,.e.já.aconteceu,.é.os.concelhos.e.as.regiões.discu-tirem.se.é.importante.para.si.ou.não..Porque.então.não.há.aero-porto.em.lado.nenhum..O.mesmo.se.passa.com.o.comboio.de.alta.velocidade.
Já a terceira travessia do Tejo não é o mesmo caso?
A.terceira.travessia.do.Tejo.pode.ser.importante.se.não.se.limitar.à.alta.velocidade,.porque.a.alta.velocidade.é.só.para.passar,.não.resolve.nenhum.problema.local..Mas.se.tiver,.como.está.previsto,.o. comboio. tradicional,. então. traz. maior. mobilidade,. melhores.acessibilidades.A.ponte.deve.ter.também.a.vertente.rodoviária..Não.é.para.servir.o.Barreiro.nem.para.a.população.do.Barreiro.chegar.mais.depressa.a.Lisboa,.porque.isso.não.resolve.problemas.da.região,.pelo.con-trário..Se.for.uma.ponte.rodoviária.com.a.perspectiva.de.cresci-mento.a.sul,.de.localização.a.sul.de.equipamentos-âncora,.parti-cularmente. ao. nível. do. emprego,. mas. também. do. ensino,. da.cultura,.do.lazer,.então.vale.a.pena..Mas.não.quero.que.o.Barreiro.se.desenvolva.à.custa.da.região.No.quadro.da.Estratégia.Lisboa.2020,.a.ideia.da.cidade-região.é.útil,.para.a.região.e.para.o.País..Mas.é.uma.cidade.de.duas.mar-gens.e.portanto.só.se.consolida.se.crescer.para.sul.de.forma.sus-tentada.. Só. assim. Lisboa. pode. assumir. o. papel. de. metrópole.internacional. que. ajuda. o. país. a. desenvolver-se.. É. preciso. que.cresça.para.sul,.com.mais.gente.e.mais.desenvolvimento.econó-mico.e.emprego,.para.se.reequilibrar,.para.que.o.Tejo.seja.de.facto.o. centro.. Paralelamente. ao. desenvolvimento. sustentável. que.pressupõe.questões.ambientais,.sociais,.desportivas,.de.lazer,.de.equipamentos-âncora.
A questão do emprego continua a ser central na península de Setúbal?
É.o.principal.problema.não.só.da.margem.sul.mas.de.toda.a.Área.Metropolitana.de.Lisboa..Estou.convencido.de.que.Lisboa.é.a.zona.do.País.onde.se.vive.pior..É.aqui.que.estão,.quantitativa.e.qualita-tivamente,. os. maiores. dramas. sociais.. Aquela. ideia,. justa,. da.desertificação.do.interior,.da.litoralização,.que.é.verdadeira.e.que.é.preciso.combater,.leva.a.esquecer.quais.são.as.zonas.de.maior.
desemprego,.e.não.só.em.taxas.mas.em.número.de.pessoas.con-cretas,.dramas.de.vida..Lisboa.é.onde.há.mais.sem-abrigo,.onde.estão.os.imigrantes.sem.condições.de.vida,.onde.há.maior.número.de.pessoas.sem.médico.de.família.A.Estratégia.fala.muito.bem.sobre.o.“arco.ribeirinho.sul”.que.é,.no.fundo,. toda. a. margem. sul. do.Tejo,. de. Almada. a. Alcochete. pas-sando. por. Seixal,. Barreiro,. Moita. e. Montijo,. e. que. tem. espaços.extraordinários.que.é.possível.requalificar.
Por exemplo?
A.antiga.Lisnave,.a.antiga.Siderurgia,.a.antiga.CUF.que.hoje.é.a.Quimiparque..Precisamente.aqui.no.Barreiro.São. 300. quilómetros. quadrados,. com. uma. margem. do.Tejo. de.três. quilómetros.. É. uma. área. desqualificada,. na. antiga. zona.industrial.e.ainda.com.algumas.indústrias,.onde.chegaram.a.tra-balhar.onze.mil.pessoas..É.um.território.excepcional.e.não.tenho.dúvidas.de.que.vai.dar.um.contributo.essencial,.tal.como.a.antiga.Siderurgia.e.a.antiga.Lisnave.da.Margueira.
Quando foi eleito presidente da Câmara do Barreiro, em 2005, nunca tinha sido autarca, vinha de responsabilidades relacionadas com as autarquias dentro do PCP. O facto de estar na autarquia trouxe-lhe uma visão diferente?
Dificilmente.percebemos.as.situações.por.que.os.outros.passam.sem.as.viver,.sem.estar.nelas..Em.relação.aos.grandes.problemas,.às.grandes.estratégias,.não.sinto.diferenças..Mas.a.pressão.quoti-diana.de.um.eleito.autárquico.não.me.passava.pela.cabeça..Entro.na.Câmara.todos.os.dias.às.sete.de.manhã.e.saio.à.meia-noite,.à.uma.ou.duas.da.manhã,.às.dez,.quando.calha.
Todos os dias há trabalho que justifique tantas horas?
Todos. os. dias.. Simplificando,. o. maior. problema. do. Barreiro. é. o.desenvolvimento.económico.e.o.emprego;.o.maior.problema.da.Câmara.é.a.situação.financeira;.o.maior.problema.do.presidente.é.não.ter.tempo.A.pressão.do.quotidiano,.a.incapacidade.de.responder.ao.dia-a-dia.das.pessoas,.a.angústia.de.as.pessoas.quererem. todas.falar.comigo.e.ter.de.dizer.que.não,.é.materialmente.impossível..Nas.autarquias,.acabamos.por.intervir.em.tudo,.não.temos.condições.para.voltar.as.costas..Todos.os.dias.vêm.pedir-me.emprego,.casas,.dizem-me.que.é.preciso.tapar.buracos.nas.ruas.ou.que.a.rua.não.está.limpa,.que.as.ervas.estão.a.nascer.no.passeio,.ou.que.a.casa.está.a.cair.
A população do Barreiro passou de 100 mil para 80 mil. O que se passou?
Isso. deu-se. com. a. desindustrialização,. o. encerramento. das.empresas.. Muitos. trabalhadores. eram. imigrantes. internos. e.regressaram.às.origens..Há.também.um.certo.envelhecimento.e.os.mais.jovens.procuram.emprego.fora,.particularmente.os.que.têm. maior. formação. académica. e. profissional.. Há. cerca. de. 15.anos,. com. o. encerramento. das. fábricas,. o. Barreiro. começou. a.atravessar. uma. crise. de. desenvolvimento. económico. e. de.emprego. que. se. tem. vindo. a. acentuar,. depois. veio. a. perda. de.população,.os.problemas.de.carácter.social..E.hoje.há.uma.situa-ção.do.ponto.de.vista.emocional.que.não.é.boa..Fomos.da.crise.económica.à.crise.social.e.agora.à.crise.emocional..Isto.é.simplista.
| 19
mas. reflecte. a. situação. actual.. As. duas. pontes. deixaram. o. Bar-reiro. no. centro. geográfico. mas. o. crescimento. deu-se. onde. há.acessibilidades..O.Barreiro.era.o.principal.pólo.ferroviário.a.sul.e.perdeu.valências.ferroviárias..Talvez.estes.sejam.os.dois.factores.principais:.o.emprego.e.a.mobilidade..O.Barreiro.é.o.único.conce-lho.da.área.metropolitana,.tirando.Lisboa.por.outras.razões,.que.perde.sempre.população.nos.últimos.20.anos.
O que é possível fazer para inverter essa tendência?
Estas.situações.geram.oportunidades.e.desafios,.podemos.estar.a.atravessar. o. momento. mais. interessante. das. últimas. décadas...O.Barreiro.está.a.discutir.as.questões.que.vão.marcar.o.concelho.no.século.XXI..Estamos.a.trabalhar.para.levar.a.bom.porto.gran-des.projectos.
E quais são os projectos?
Há.quatro.ou.cinco.questões.essenciais..Vamos.intervir.no.territó-rio.da.Quimiparque,.estamos.a.preparar.a.estratégia.e.a.forma.de.sustentá-la..Penso.que.deve.ser.um.pólo.de.desenvolvimento.eco-nómico.e.de.emprego,.para.que.tenha.no.século.xxi.o.papel.que.teve.no.século.xx,.e.paralelamente.deve.alargar.e.fechar.a.malha.urbana. do. centro. da. cidade,. com. alguma. habitação.. Estamos. a.trabalhar.com.a.Administração.do.Porto.de.Lisboa.e.com.a.Quimi-parque,.com.a.CCDR.também.a.cooperar.Temos.de.aproveitar.as.margens.do.Tejo.e.do.Coina,.com.equipa-mentos.lúdicos,.desportivos,.recreativos,.administrativos,.se.pos-
sível. associar. alguma. coisa. à. educação,. às. novas. tecnologias...É.preciso.recolocar.os.rios.como.elemento.central.do.desenvolvi-mento.não.só.do.ponto.de.vista.económico,.e.esta.é.uma.segunda.linha.da.estratégia.Outra.é.relativa.às.acessibilidades.e.à.mobilidade..A.terceira.tra-vessia.do.Tejo.pode.ter.aqui.um.papel.determinante,.particular-mente.se.tiver.a.vertente.rodoviária.e.se.for.associada.ao.Metro.a.Sul.do.Tejo,.que.está.previsto.vir.de.Almada.e.passar.pelo.Barreiro..Outro. investimento. importante. é. a. construção. de. uma. ponte.para. o. Seixal,. no. quadro. de. uma. estratégia. de. requalificar. as.acessibilidades.intra-regionais.que.inclui.ainda.a.Circular.Regio-nal.Interna.da.Península.de.Setúbal.(CRIPS).Estamos.a.discutir.uma.estratégia.para.o.centro.do.Barreiro.com.o.professor.Joan.Busquets,.urbanista.catalão..Ele.vai.projectar.um.edifício,.uma.praça.e.um.parque.no.centro.do.Barreiro,.e.vai.estu-dar.as.três.principais.ruas.para.alargar.e.requalificar.o.centro..Gostaria.de.intervir.também.o.Barreiro.velho,.o.nosso.centro.his-tórico,. onde. nasci. e. vivi. a. minha. infância,. que. está. completa-mente. desertificado.. É. uma. zona. com. personalidade,. de. frente.para.o.rio,.tem.um.bom.movimento.associativo,.mas.está.em.tal.estado.que.exige.uma.intervenção.para.a.qual.não.temos.condi-ções.. Se. recuperarmos. o. centro. do. Barreiro,. a. Quimiparque. e. a.zona. ribeirinha,. estou. convencido. de. que. acabamos. por. mexer.também.no.Barreiro.velho.Temos. um. presente. difícil. mas. temos. perspectivas. favoráveis...E.não.são.mudanças.para.daqui.a.20.anos,.podem.concretizar-se.dentro.de.dois.ou.três..
20 |
| 21
a Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) tem um elevado potencial renovável
capaz de tornar a capital uma das cidades do mundo energeticamente mais
sustentáveis. As renováveis não são a “galinha dos ovos de ouro” do país,
mas são, seguramente, um sector que poderá trazer muitas mais valias para
Portugal, que apesar de já ter algum trabalho feito nesta área, ainda não
soube ou não quis tirar o máximo partido de fontes de energia gratuitas
e fartas. é que portugal não dá cartas só no sol (o algarve é das zonas
do mediterrâneo com mais radiação solar) e vento (a RLVT tem duas
mil horas por ano), tem também as melhores ondas do mundo
para aproveitamento energético. Mas enquanto a energia dos oceanos
estiver numa fase de desenvolvimento tecnológico, o mais provável é que
a eólica offshore assuma protagonismo. Sabia que em uma hora
de electricidade gasta em sua casa, cinco minutos provêem do vento? Electricidade é maravilha recente para Laurinda da Cunha.
Reportagem.|.Carla AmaroFotografia.|.Guto Ferreira
energias renováveisLisboa será uma das capitais mais sustentáveis
22 |
A primeira vez que viu luz.surgir.numa.peque-na.bola.de.vidro.não.terá.sido.há.mais.15.anos,.e.só.porque.a.senhoria.da.casa.que.habita,.num.bairro. antigo. e. degradado. construído. há. cem.anos,. foi. obrigada,. pela. autarquia,. a. proceder..
à.instalação.do.contador..Até.então,.Laurinda.não.sabia.o.bem.que. sabe. ler. as. histórias. que. se. contam. em. livro. do. herói. da.terra,. D.. Nuno. Álvares. Pereira,. muito. para. lá. das. horas. de.sol..«Sou.velhinha.e.sou.mulher.e.felizmente.tive.a.sorte.de.aprender.as.letras.e.os.números»..
Escrever.é.exercício.que.as.artroses.nas.mãos.já.não.lhe.permitem.há.muito..Ler,.«graças.a.Deus»,.tem.olhos.que.ainda.lhe.concedem.essa.generosidade..«É.das.poucas.capacidades.que.tenho,.o.meu.corpo.já.não.funciona..As.pernas.já.quase.não.andam..Sou.uma.mulher.doente...»..Foi.apoiada.aos.móveis.que.conseguiu.arrastar.os.pés.até.à.porta.para.ver.«quem.é?»..E,.a.custo,.alcançou.a.cadeira.de. plástico. branca,. junto. à. soleira,. onde. se. senta. sempre. que..a.temperatura.no.interior.da.habitação.exige.que.sinta.a.frescura.da.brisa.que.vem.de.um.fio.do.Tejo,.aqui.mesmo.ao.lado.
Laurinda. sabia.que. a.electricidade.existia.antes. de. ter. em.casa.lâmpadas.alimentadas.a.energia.eléctrica,.que.lhe.prolongaram.os.momentos.de.prazer.-.«ler.é.o.que.mais.gosto».-.e.atenuaram..a. sensação. de. solidão. –. «sou. viúva. há. 50. anos,. tenho. um. filho..que. é. muito. seco. para. mim».. . Mas. do. potencial. da. energia. só.conhecia. o. do. sol,. . através. da. secagem. de. roupa. no. estendal,..e.o.da.água,. tendo.como.referência.o.moinho.de.maré.da. terra.que.trabalhava.dia.e.noite.e.mesmo.assim.«não.chegava.para.as..encomendas.de.farinha».
Tem.82.anos.e.lembra-se.como.se.ontem.fosse..«Quando.era.garo-ta,.tinha.seis,.sete,.dez.anos,.andava.aos.caranguejos.acolá.ao.pé.do.moinho.e.aquilo.era.um.corropio.de.barcos.a.chegar.e.a.partir..Vinham.buscar.a.farinha.de.trigo.com.que.antigamente.se.fazia.o.pão»..O.cereal,.«não.sei.se.vinha.de.fora.ou.se.daqui.da.nação.».Aqui.de.Corróios.não,.que.isto.dantes.era.um.deserto».em.gente.mas.muito.povoado.em.«mato»..Laurinda.sabe.bem.do.que.fala,.porque.é.das.«raras.pessoas.de.Corroios».que.permanece.na.terra.onde. nasceu. e. de. onde. nunca. saiu.. E. por. isso. tem. presente..na.memória.o.movimento.de.outrora.do.moinho.de.maré.
Nessa.altura,.e.nesta.de.resto,.energia.renovável.é.termo.estranho.para. Laurinda.. Mas. já. antes. da. sua. meninice. houve. alguém,..português,.visionário,.que.percebeu.que.o.país.e.o.mundo.deviam.tirar.partido.de.fontes.de.energia.como.o.sol.e.o.vento..Era.padre,.chamava-se. Manuel. António. Gomes. (nasceu. em. 1869). e. a. sua.estatura,.alta,.fez.com.que.os.amigos.lhe.chamassem.Himalaya,.que.acabou.por.adoptar..Este.homem.foi.o.primeiro.a.defender..o. desenvolvimento. de. um. país. através. do. aproveitamento. das.suas. forças. naturais. e,. para. fazer. valer. a. sua. tese,. inventou..a. primeira. máquina. solar:. um. forno. para. transformar. o. azoto..da. atmosfera. em. azotatos,. com. os. quais. pretendia. produzir..fertilizantes.para.a.agricultura..A.revista.Scientific American.noti-ciou. o. invento,. que. ficou. credibilizado. junto. da. comunidade.técnico-científica.da.época..
O. pioneirismo. deste. sacerdote. no. investimento. em. energias.renováveis. inspirou. o. actual. «Concurso. Solar. Padre. Himalaya»,..de.âmbito.nacional,.organizado.em.seis.escalões.de.competição.e.abordando.os.diferentes.ciclos.do.ensino.básico,.secundário,.pro-
A Região de Lisboa e Vale do
Tejo, em particular, é uma zona
de elevado potencial renovável,
sobretudo solar e eólico, que
«podem contribuir para tornar
a cidade de Lisboa uma das
capitais do mundo
energeticamente mais
sustentáveis».
Laurinda
| 23
fissional.ou.superior..Dirigido.a.equipas.de.professores.e.alunos.de.todas. as. escolas. nacionais,. a. ideia. do. concurso,. segundo. o. seu.coordenador,.David.Loureiro,.é.contrariar.«o.atraso.da.sociedade.portuguesa.em.despertar.para.as.energias.renováveis»,.por.um.lado,. e. «estimular. os. gosto. pela. actividade. experimental»,..por.outro.
Laurinda.nunca.ouviu.falar.do.padre.Himalaya,.que.«não.deve.ter.sido. homem. importante»,. seguramente. não. tanto. como. o. seu.conterrâneo. D.. Nuno. Álvares. Pereira,. «esse. sim,. homem. de..primeira.e.de.grande.coragem»,.que.com.meia.dúzia.de.pessoas.venceu.o.inimigo.mouro.que.queria.tirar-lhe.esta.terra.e.as.outras.à.volta..Isto.tudo.conta.Laurinda.com.a.lágrima.a.querer.formar-se,.tal.a.emoção.quando.fala.do.herói.de.Corroios..Herói,.porque.herói.é.quem.luta.para.defender.até.à.morte.a.sua.propriedade,.e.não.alguém.que. tem.a.coragem.de.falar.ao.mundo.de.um.conceito.futurista.chamado.sustentabilidade.e.que.passa.pela.aposta.nas.energias.renováveis..Mas.o.padre.Himalaya.tem.mais.em.comum.com.D..Nuno.Álvares.Pereira.do.que.Laurinda.imagina,.pois.também.ele. tirou. proveito. de. uma. fonte. energética. renovável. como..a. água:. mandou. construir. o. moinho. de. Corroios,. o. primeiro.naquela.região.(D..Nuno.Álvares.Pereira.era.proprietário.de.quase.todos. os. terrenos. banhados. pelo. braço. do. rio. Tejo. que. entra..no.Seixal)...
Laurinda. sabe. de. cor. e. salteado. a. história. deste. engenho,. que.desde.1984.é.um.Edifício.Classificado.de.Interesse.Público..Dessa.história. fazem.parte.as.obras.«que.nunca.mais.acabam».e.que.impõem. um. interregno. forçado. na. sua. função. actual:. a. de..satisfazer.a.curiosidade.de.turistas.que.querem.saber.como.é.que.dos.cereais.se.fazia.farinha.-..a.figura.do.moleiro.era.aqui.repre-sentado.por.um.funcionário.da.câmara,.«o.senhor.Vítor»,.antes.do. moinho. fechar. para. recuperação.. Aproveitado. ao. longo. dos.últimos. anos. como. atracção. de. cartaz. turístico,. . integrando..o. núcleo. museológico. da. Câmara. Municipal. do. Seixal,. está..em.obras.há.«seis.anos,.pelo.menos»,.se.não.se.engana.o.povo,.representado. por. uma. ínfima. amostra. constituída. por. Maria.Filomena. Mateus,. Ana. Maria. Duarte,. Felismina. Veiguinha..e.Joaquim.Esteves....
Os. moinhos. de. maré. representam. uma. utilização. precursora..de. um. recurso. renovável:. a. energia. das. marés.. No. passado,..os.estuários.dos.principais.rios.portugueses.estavam.cheios.destas.tecnologias.seculares,.simples.mas.eficazes..Já.no.século.xvi.existiam.cerca..de.60.engenhos.entre.Almada.e.o.Montijo,.mas.desses.nem.sequer. restam. ruínas.. Só. o. de. Corroios. se. mantém. em. bom..estado.e.capaz.de.funcionar,.apesar.das.obras.
Moinho.de.Maré.de.Corroios
24 |
Portugal, país de sol e vento
Aproveitar.o.pontencial.da.água.como.fonte.energética.faz.parte.da. agenda. política. nacional. em. matéria. de. energia.. Portugal.apresenta. excelentes. condições.. As. zonas. costeiras,. em. especial..a.costa.ocidental.do.continente.e.as.ilhas.dos.Açores,.têm.condi-ções.naturais,.garantem.os.especialistas,.«entre.as.mais. favorá-veis. em. qualquer. parte. do. mundo. para. o. aproveitamento..da. energia. das. ondas.». De. resto,. em. matéria. de. investigação..e. desenvolvimento,. Portugal. é. um. dos. países. pioneiros. e. com.maior. impacto. em. termos. de. participação. e. coordenação. de..projectos.europeus..Liderou,.por.exemplo,.um.projecto.na.Ilha.do.Pico. e. a. elaboração. do. Atlas Europeu de Energia das Ondas. O.problema.é.que.este.recurso.exige.tecnologia.complexa.e.por.isso. o. seu. desenvolvimento. no. país. está. bastante. aquém. das.potencialidades,. em. comparação. com. a. utilização. que. se. faz..de.outras.fontes.energéticas.como.o.vento,.o.sol.e.a.biomassa..
A. Região. de. Lisboa. e. Vale. do. Tejo,. em. particular,. é. uma. zona..de. elevado. potencial. renovável,. sobretudo. solar. e. eólico,. que,..na.opinião.de.Ana.Estanqueiro,.directora.da.Unidade.de.Energia.Eólica.e.dos.Oceanos,.do.INETI.(Instituto.Nacional.de.Engenharia,.Tecnologia.e. Inovação),.«podem.contribuir.para. tornar.a.cidade.de. Lisboa. uma. das. capitais. do. mundo. energeticamente. mais..sustentáveis».
Existem.já.mais.de.200.MW.instalados,.só.no.distrito.de.Lisboa,.pelo.que.a.situação.na.região.de.LVT.«é.claramente.positiva»..A.fonte.de.energia.renovável.com.desenvolvimento.mais.marcante.é.a.eólica,.facto.explicável.pelo.interesse.que.esta.forma.de.ener-gia.renovável.gera.no.tecido.empresarial.nacional.em.todo.o.país,..aqui.reforçado.pelo.elevado.recurso.eólico.da.região,.e,.por.sinal,.um.dos.mais.elevados.do.país..Na.região.de.LVT.existem.também.condições.naturais.para.o.desenvolvimento.de.aproveitamentos.offshore,.cuja.viabilidade.técnico-financeira.importa.caracterizar.com.detalhe..«O.potencial.eólico.offshore.da.região.pode.não.ser.inteiramente.aproveitável,.tendo.em.conta.os.condicionamentos.impostos. pelos. corredores. de. navegação. de. um. porto. com..a.dimensão.do.de.Lisboa,.ou,.se.pensarmos.na.região.do.estuário.do. Tejo. -. por. exemplo. nos. mouchões. do. Tejo. pode. ser. muito..rentável,. já. que. há. uma. subestação. para. interligação. de. um..parque. offshore. a. cerca. de. 500. m…,. os. impactos. ambientais.devem.ser.cuidadosamente.caracterizados»..Ainda.assim,.atente-se.ao. exemplo. de. Copenhaga,. onde. existem. turbinas. offshore..na.zona.urbana.da.cidade,.que.tem.uma.densidade.de.avifauna.muito.superior.à.de.Lisboa.
Ana. Estanqueiro. considera. que. «o. nosso. país. tem. a. obrigação.moral. histórica. de. apoiar. o. desenvolvimento. da. energia. dos..oceanos.e.eólica.offshore»,.tanto.mais.que.«o.mar.foi.sempre.um.aliado.no.nosso.percurso.como.nação»..Há.que.investir.com.visão.de. médio. e. longo. prazo. e. não. esperar. resultados. imediatos:.«Temos.normalmente.pouca.paciência.para.esperar.por.resulta-dos.que.tardam.em.aparecer..Devíamos.pensar.que.o.período.da.nossa.história.de.que.mais.nos.orgulhamos,.os.Descobrimentos,.são.fruto.da.visão,.da.motivação.e.da.persistência.que.hoje.em.dia.tanto. nos. falta.. Contudo,. dado. que. a. energia. dos. Oceanos. está.ainda. numa. fase. de. definição. tecnológica. -. existem. muitas..tecnologias. concorrentes,. nenhuma. inteiramente. de. eficácia..e.sobrevivência.testadas,.assemelhando-se.ao.que.se.passava.na.
área. da. eólica. há. 30. anos. –,. é. muito. provável. que. venha. a. ser..o.aproveitamento.da.energia.eólica.offshore,.bem.como.a.hídrica.(que.LVT.não.tem),.a.fazer.a.maior.contribuição.para.os.objectivos.europeus.de.2020».
É. nos. cinco. distritos. das. zona. Centro. -. Coimbra,. Viseu,. Aveiro,.Castelo.Branco.e.Guarda.-.que.se.encontra,.em.números.redon-dos,.praticamente.metade.da.potência.eólica..instalada.no.país..LVT.e.o.Norte.contam.com.25%.cada..E.dentro.da.Região.de.Lisboa..e. Vale. do. Tejo,. a. maior. concentração. de. turbinas. está. na. zona..de.Torres.Vedras..Quem.passa.pela.A8,.não.tem.dificuldade.em.ver.as.gigantescas.ventoinhas.que.já.começam.a.marcar.a.paisagem.do.Oeste.português..
Segundo.os.cálculos.da.Associação.de.Energias.Renováveis.(AER),.a.capacidade.instalada.em.Lisboa.e.Vale.do.Tejo.-.40.parques.eóli-cos,.com.uma.potência.à.volta.de.480.MW.-,..dará.para.«abastecer.o.consumo.doméstico.de.um.milhão.e.cem.mil.pessoas»..António.Sá.da.Costa,.que.preside.a.esta.associação,.avança.o.resultado.de.outras.equações:.«Portugal.está.a.produzir.cerca.de.dois.mil.MW.de. electricidade. a. partir. da. energia. eólica.. Feitas. as. contas,. por.cada.hora.de.electricidade.gasta.nas.casas,.fábricas,.escritórios.e.iluminação. pública,. cerca. de. cinco. minutos. provém. da. energia..do.vento»..
Dado que a energia dos Oceanos
«está ainda numa fase de
definição tecnológica, é muito
provável que venha a ser
o aproveitamento da energia
eólica offshore, bem como
a hídrica (que LVT não tem), a
fazer a maior contribuição para
os objectivos europeus de 2020».
| 25
Quem. nada. sabe. dessa. matemática. é. o. pastor. José. Armando.Esteves,.52.anos,.que.já.ouviu.falar.«dessas.coisas.da.eólica».mas.que.prefere.o.nome.que.sempre.utilizou:.«Está.a.falar.do.vento,.não. está?. Ele. há. cada. uma. que. inventam.. Eólica!. Por. que. não.dizem.vento?.Isso.toda.a.gente.sabe.o.que.é..Já.ouvi,.sim.senhora,.e.não.tenho.nada.contra..Se.não.fizerem.mal.à.saúde.da.gente,.não.tenho.perturbações.com.isso».
José. Armando. guarda. um. rebanho. de. 120. ovelhas. com. a. ajuda.da. pequena. Canita,. aparentemente. inofensiva. com. estranhos,.mas. o. dono. garante. . estarmos. «com. sorte»,. pois. o. «diacho. da.cadela. não. é. de. confiança».. Canita. está. de. olho. nos. animais,..que. pastam. a. erva. quase. seca,. num. monte. de. Sisandros,..em.Sapataria.(Loures)..Uns.metros.acima,.bem.no.cimo.do.monte,.um.moinho.de.vento.muito.bem.recuperado.e.que.hoje.não.tem.outra.função.que.não.a.de.sevir.de.habitação.de.fim-de-semana..e.de.férias.do.actual.proprietário..«Aquilo.sim,.era.uma.verdadei-ra. máquina. que. funcionava. a. vento.. A. menina. não. deve. saber,.que.é.muito.nova,.mas.ali,.quando.eu.era.assim.um.cachopo.desta.altura».(estende.o.braço.e.distancia-o.do.chão.um.metro).«moia-se.muita. farinha».. Entusiasma-se:. «Era. a. força. do. vento. que. fazia.rodar. aquela. roda. grande,. a. roda. accionava. um. engenho. lá..dentro.que.fazia.girar.as.mós..Umas.mós.de.pedra,.muito.pesadas,.que. esmagavam. os. cereais. e. os. transformavam. em. farinha..Aquilo. sim,. era. uma. máquina. e. a. gente. sabia. para. que. servia..e.tinhamos.a.certeza.que.não.faziam.mal.à.saúde..Aquilo.acolá».
(olha.novamente.para.as.turbinas.ao.longe).«deixa-nos.um.bocado.apreensivos....Eles.fartam-se.de.andar.por.aí,.é.um.sobe.e.desde.de.gente.que.vem.até.cá.acima.ao.monte,.o.povo.diz.que.andam.a.ver.se.põem.aqui.mais.algumas.ventoinhas»...
Turbinas no rio Tejo
Alguém. tem. visão. capaz. para. imaginar. que. daqui. a. dez. anos,.dentro. do.Tejo,. veremos. turbinas. gigantes. como. as. que. se. vêm..ao.longo.da.A8?.Pois.é.o.que.irá.acontecer,.caso.vingue.o.projecto.da. Lisboa. E-Nova,. Agência. Municipal. de. Energia. e. Ambiente.Lisboa.E-Nova..A.proposta.consiste.na.inslatalação.de.vinte.aero-geradores.entre.a.Ponte.Vasco.da.Gama.e.Vila.Franca.de.Xira,.um.trajecto.que,.segundo.um.estudo.do.INETI,.tem.duas.mil.horas.de.vento.por.ano..«Propusemos.vinte,.mas.se.nos.concederem.auto-rização. para. instalar. apenas. duas,. já. não. será. mau,. pois. essa.quantidade.irá.satisfazer.as.necessidades.da.população.da.EXPO»..As. vinte. turbinas,. imagine-se,. dariam. para. abastecer. «360. mil.habitações,.aproximadamente»,.garante. a.administradora.dele-gada.da.Lisboa.E-Nova,.Livia.Tirone.
Os.aerogeradores.gigantes.não.são.a.única.forma.de.aproveitar..o.vento.para.produção.de.energia..No.futuro,.que.tudo.indica.ser.mais. próximo. do. que. imaginamos,. os. aerogeradores. em..tamanho.mini.serão.parte. integrante.do.telhado.de.um.prédio...E.a.cidade.de.Lisboa,.pelos.vistos,.tem.óptimas.condições..A.presi-dente. do. departamento. de. energia. eólica. do. INETI. acredita.mesmo.que.as.pequenas.turbinas.eólicas.para.ambientes.urba-nos,.construídos.a.par.dos.sistemas.fotovoltaicos,.«podem.contribuir.com.uma.percentagem.não.desprezável.dos.consumos.de.cidades.como.Lisboa»..Para.estas.aplicações,.Ana.Estanqueiro.adianta.que.o.INETI.está.a..desenvolver.a.turbina.TURBan,.«a.primeira.turbina.eólica.de.concepção,.projecto.e.fabrico.inteiramente.nacional»..
Instalar. eólicas. urbanas. exige,. no. entanto,. cuidados. ao. nível..da.segurança,.pois,.como.alerta.a.arquitecta.Livia.Tirone,.poderá.haver.edifícios.sem.condições.estruturais:.«A.força.do.vento.nos.mini-aerogeradores. pode. partir. a. estrutura. que. está. por. baixo..e,.por.isso,.há.que.garantir,.primeiro,.que.a.estrutura.do.edifício..é.resistente»..Uma.questão.que,.para.Ana.Estanqueiro,.não.será.problema,. pois. Lisboa,. sendo. uma. cidade. aonde. os. sismos..se.fazem.sentir,.tem.construções.à.altura.desses.abalos..
Além.de.um.país.com.muito.vento,.Portugal.é.também.um.país.cheio.de.sol,.mas.este.enorme.potencial.ainda.está.muito.suba-proveitado,.apesar.de.ser.em.Brinches,.Serpa,.que.está.instalada.uma.das.maiores.centrais.fotovoltaicas.do.mundo..Foi.inaugura-da. em. Março. deste. ano. e. já. produz. electricidade. para. oito. mil.casas..Na.região.de.Lisboa.e.Vale.de.Tejo,.os.exemplos.do.aprovei-tamento.solar.são.pouco.expressivos.e.os.que.existem.estão.associados.a.outra.tecnologia:.painéis.ou.colectores.solares.térmicos..Um.dos.casos.mais.relevantes.situa-se.na.zona.da.EXPO,.na.Torre.Verde...O.edifício,.projectado..pelo.atelier.de.arquitectura.de.Livia.Tirone,.está.equipado.com.56.painéis.solares.térmicos.que.abastecem.os.41. apartamentos,. onde. vivem. 150. pessoas.. Livia. vive. no. último.andar,.um.12º.com.vista.desafogada.para.o.rio.e.para.as.urbaniza-ções.do.Parque.das.Nações..«Com.a.instalação.dos.painéis.solares,.conseguimos. reduzir. em. 70%. a. necessidade. energética. para..o.aquecimento.das.águas.sanitárias»..Nunca.poderá.ser.100%.por.uma.razão.muito.simples:.nos.dias.sem.sol,.que.acontecem.sobretudo.no.Inverno,.há.necessidade.de.recorrer.à.fonte.de.energia.convencional.
José.Armando
26 |
Se,. actualmente,. exemplos. como. a. Torre. Verde. escasseiam..no.país,.no.futuro.iremos.estar.para.as.energias.renováveis.como.um.país.como..a.Grécia.já.está.nos.dias.de.hoje..Se.se.pedir.a.uma.criança. grega. que. desenhe. a. sua. casa,. os. painéis. estão. lá,. tal.como.as.janelas.e.a.porta..De.resto,.com.o.Sistema.de.Certificação.Energética.finalmente.em.vigor,.tudo.indica.que.não.tardaremos.a.assistir.à.instalação.de.painéis.solares.nos.prédios.com.orientação.a.Sul.-.os.novos.são.obrigados.a.ter,.os.velhos.têm.um.prazo.para.cumprirem.a.legislação..
Mas. afinal,. por. que. razão. Portugal. deve. apostar. nas. energias.renováveis?. Porque,. além. de. os. combustíveis. fósseis. terem..um. fim. à. vista. -. as. previsões. mais. optimistas. indicam. que. o.petróleo.estará.esgotado.dentro.de.45.anos;.o.mesmo.irá.suceder.daqui.a.60.anos.com.o.gás.natural;.teremos.carvão.para.mais.206.anos;.e.35.a.100.anos.é.o.tempo.de.duração.do.urânio.disponível.-,.temos. compromissos. europeus. a. cumprir,. estabelecidos..no.âmbito.do.Protocolo.de.Quioto..Acresce.que.as.fontes.de.ener-gia.renováveis.são.menos.poluentes..Este.factor.não.é.de.despre-zar,.sobretudo.agora.que.os.alertas.sobre.o.aquecimento.global..e.as.alterações.climáticas.começam.a.assustar..Se..aproveitarmos.mais. a. energia. do. sol,. do. vento,. das. ondas,. da. biomassa,. etc.,..estaremos. a. reduzir. a. nossa. dependência. energética. dos..combustíveis.fósseis.e.a.contribuir.para.diminuir.as.transferências.de. GEE. (gases. de. efeito. de. estufa). para. a. atmosfera,. que,. como..já.estamos.cansados.de.saber,.são.os.principais.responsáveis.pelo.
aumento.do.efeito.de.estufa,.que.por.sua.vez.provoca.aquecimen-to. global,. que. por. vez. causa. alterações. no. clima.. A. mudança..climática.global.já.está.a.alterar.ecossistemas.e.a.causar.cerca.de.150. mil. mortes. por. ano.. Um. aquecimento. global. médio. de. 2ºC,.como.o.que.se.prevê,.irá.afectar.milhões.de.pessoas.com.o.aumen-to. da. fome,. a. malária,. as. inundações. e. a. escassez. de. água...A.Península.Ibérica.é.das.regiões.que.em.2025.mais.sofrerá.com..a.falta.de.água..Razões.não.faltam.para.investir.cada.vez.mais.nas.fontes. renováveis. de. energia.. Portugal,. e. em. particular. a. região..de. Lisboa. e. Vale. do. Tejo,. têm. condições. naturais. para. esse..aproveitamento..
As pequenas turbinas eólicas
para ambientes urbanos,
construídos a par dos sistemas
fotovoltaicos, «podem contribuir
com uma percentagem não
desprezável dos consumos de
cidades como Lisboa».
Lívia.Tirone
| 27
28 |
As renováveis
Solar fotovoltaica: utiliza. uma. tecnologia. capaz. de. absorver. os.raios.solares.e.convertê-los.em.energia.eléctrica.
Solar térmica:..capta.os.raios.solares.e.transforma-os.em.energia.para.aquecer.as.águas.sanitárias.
Eólica:. energia. do. vento.. É. captada. através. de. aerogeradores.gigantes.ou.de.mini-turbinas.urbanas.que.se.instalam.nos.telha-dos.dos.edifícios.para.consumo.doméstico.
Biomassa:.Os.restos.de.madeira,.as.folhas.e.os.ramos.das.árvores.caídos.no.chão.podem.ser.queimados.em.incineradores.para.pro-duzir.vapor.e.electricidade..Esses.resíduos.florestais,.e.outros.de.origem.vegetal,.são.biomassa...
Ondas:. num. país. com. quase. dois. mil. quilómetros. de. costa,.incluindo.Açores.e.Madeira,.e.com.uma.ondulação.das.mais.favo-ráveis.do.mundo.para.o.aproveitamento.de.energia.dos.oceanos,.é.lamentável.a.falta.de.investimentos.à.altura.deste.potencial..
Geotérmica:.é.sobretudo.nas.ilhas.dos.Açores.que.se.gera.energia.a.partir.desta.fonte..Quem.já.não.provou.o.cozido,.cozinhado.no.interior.da.terra?.
Microgeração: é.a.geração.de.electriciade.ou.calor.em.pequena.escala,.associada.a. tecnologias.renováveis. (solar. térmica,.eólica,.fotovoltaica,.mini-hídrica...).e.a.uma.menor.emissão.de.gases.de.efeito.de.estufa..Permite. que. as.empresas. e. as. famílias. satisfa-çam.as.suas.necessidades.de.consumo.de.energia.e.vendam.os.excedentes.à.rede.eléctrica.
Renováveis criam emprego
Em.todo.o.mundo,.são.14.milhões.os.postos.de.trabalho.criados.pelas. empresas. ambientalmente. sustentáveis.. E. as. previsões.apontam. para. um. aumento. significativo. nos. próximos. anos.. A.estimativa. é. de. um. estudo. norte-americano,. da. autoria. de.Michael.Renner.para.o.Instituto.Worldwatch..Só.na.área.da.ener-gia,.o.número.de.empregos.duplicou.entre.1999.e.2001,.situando-se.em.mais.de.172.mil..Em.2020,.altura.em.que.esta.fonte.repre-sentará. 10%. do. total. da. electricidade. consumida,. este. sector.empregará.1,7.milhões.de.pessoas..O.autor.do.estudo.acredita.que.«o.investimento.nas.energias.renováveis.e.o.uso.mais.eficiente.de.energia.criarão.mais.postos.de.trabalho.do.que.a.indústria.extrac-tiva.e.combustíveis.fósseis»...
| 29
A energia nuclear.continua.a.levantar.desconfianças.e.a.ser. alvo. de. . polémica.. Associações. ambientalistas. e.
cientistas. da. área. têm. posições. opostas.. O. catedrático. do.Instituto. Superior.Técnico,. Carlos.Varandas,. presidente. do.Centro.de.Fusão.Nuclear,.não.esconde.os.riscos.da.energia.que.tanto.assusta,.mas.não.é.indiferente.às.vantagens.eco-nómicas.e.ambientais..Para.este.investigador,.recentemen-te. eleito. presidente. do. Conselho. de. Administração. do.European. Joint. Undertaking. -. Empresa. Comum. Europeia.para. o. projecto. internacional. ITER,. que. vai. ser. a. maior.experiência. mundial. de. fusão. nuclear. e. visa. demonstrar.científica.e.tecnicamente.a.viabilidade.da.energia.de.fusão.e. testar. a. operação. simultânea. das. tecnologias. necessá-rias. para. a. operação. de. um. reator. de. fusão. nuclear,. agre-gando. sete. parceiros:. EUA,. China,. Índia,. Japão,. Coreia..e.Rússia.-.«trata-se.de.uma.energia.extremamente.barata,.limpa,.potente.e,.actualmente,garante.níveis.de.segurança.incomparavelmente.maiores.que.os.da.primeira.geração»..
É. barata,. porque. mesmo. que. se. contabilizem. os. custos. do. des-mantelamento. das. centrais,. o. preço. do. quilowatt.hora. gerado.numa.central.nuclear.é.altamente.competitivo.se.comparado.ao.custo. das. centrais. térmicas. que. usam. combustíveis. fósseis»...É.limpa,.no.sentido.em.que.«não.há.queima.de.combustíveis.fós-seis;.e,.não.havendo.esta.queima,.não.há.libertação.de.gases.de.efeito.de.estufa.para.a.atmosfera»..Segura,.porque,.ao.contrário.das.centrais.nucleares.convencionais.-.infelizmente.ainda.opera-cionais.em.alguns.países.de.Leste,.o.que.constitui.um.problema.grave,.pois.já.passaram.o.prazo.de.validade.e.são.uma.fonte.per-manente.de.risco.-,.as.novas.centrais.têm.os.chamados.reactores.de.segunda.geração,.construídos.de.maneira.a.que.«as.radiações.e.os.resíduos.radioactivos.ficam.circunscritos.no.interior.do.edifício.da.central,.impedindo.a.sua.propagação.para.o.exterior».
Potente,. porque. «produz. grandes. quantidades. de. energia. com.pequenas. quantidades. de. massa. (combustível)».. Os. cálculos. já.foram.feitos:.para.produzir.um.megawatt.(MW).de.energia.eléc-trica.durante.um.ano.são.precisas.2500.toneladas.de.carvão,.1500.toneladas.de.fuelóleo,.700.toneladas.de.gás.natural,.25.quilos.de.urânio. (isto.no.caso.da.energia.nuclear.de.fissão).e.apenas.250.gramas.de.deutério.(se.for.energia.nuclear.de.fusão)..Só.para.dis-tinguir.fissão.e.fusão,.é.importante.saber.que.a.energia.nuclear.pode. materializar-se. de. duas. formas:. por. fissão/cisão. ou. por.fusão..A.segunda.é.um.sonho,.a.primeira.é.a.que.existe.e.consiste.na. «desintegração. de. um. átomo. de. um. elemento. pesado;. ao.desintegrar-se,.os.fragmentos.vêm.com.energia.que.vai.ser.usada.para. aquecer. a. água,. transformá-la. em. vapor. de. água,. que. por.sua.vez.vai.fazer.mover.a.turbina.e.assim.produzir.a.energia.eléctrica»..
Este.é.o.processo.que.está.hoje.comercializado.e.que.se.encontra.em.alguns.países.da.Europa,.sendo.responsável.pela.produção.de.12%.da.energia.eléctrica.mundial..
Ou.seja,.enquanto.crescem.os.protestos.à.construção.de.uma.cen-tral.de.fissão.nuclear.em.Portugal,.cá.e.noutros.lados.do.mundo.já.se.anseia.pela.energia.nuclear.do.futuro:.a.de.fusão,.que,.se.por.enquanto. é. um. sonho,. não. tarda. a. ser. real.. Segundo. Carlos.Varandas,.a.energia.de.fusão.nuclear.apresenta.três.grandes.van-tagens.em.relação.à.de.fissão..«É.inesgotável,.é.amiga.do.ambien-te.e.é.ainda.mais.segura»..Inesgotável,.porque.os.combustíveis.de.base.-.o.deutério.e.o.trítio.-.existem.em.quantidades.abundantes.na. Terra.. Amiga. do. ambiente,. na. medida. em. que. «não. produz.lixos.radioactivos.e.não.implica..o.transporte.de.elementos.radio-activos.fora.da.central».(a.explicação.está.no.facto.de.o.único.ele-mento.que.em.toda.a.produção.é.radioactivo.é.o.trítio,.o.qual.é.produzido.no.interior.do.reactor)..Segura,.porque.«o.combustível.só.entra.para.o.reactor.à.medida.que.vai.sendo.consumido»..
Uma.das.questões.que.nos.últimos.meses.tem.estado.na.ordem.do. dia. é. se. é. mesmo. nuclear. uma. central. em. Portugal.. E. neste.aspecto,.alguns.investigadores.têm.dificuldade.em.responder.tão.prontamente. a. favor. ou. contra.. Para. Carlos. Varandas,. para. se.poder.decidir.a. favor.do.Sim.ou.do.Não,.é.preciso.que.se.verifi-quem.alguns.pressupostos..Primeiro,.«um.plano.energético.por-tuguês,.onde.se.demonstre.a.necessidade.de.construir.uma.cen-tral.em.Portugal»..E.isto.porque.pode.ser.mais.vantajoso.e.mais.barato.para.o.país.comprar.energia.nuclear.a.França.ou.a.Espanha..Segundo,. «um. organismo. regulador. do. nuclear,. independente.dos.poderes.económico.e.político»..Esta.é,.de.resto,.uma.das.con-dições.exigidas.pela.Agência.Internacional.de.Energia.Atómica.a.cada.país.no.licenciamento.de.uma.central.nuclear..Terceiro,.«téc-nicos.portugueses.especializados.em.energia.nuclear»..E.por.últi-mo,. «um. levantamento. geológico. do. país»,. sem. o. qual. não. se.sabe.se.o.local.onde.se.poderia.construir.a.central.apresenta.fra-gilidades.sísmicas..
Quanto. às. energias. renováveis,. este. especialista. defende. que. o.país.deve. investir.mais,.mas.avisa.que.«não.podem.ser.o.único.veículo.para.obter.energia,. já.que.não.conseguem.responder.às.necessidades. mundiais».. . Nos. próximos. 50. anos. a. população.mundial.crescerá.de.6.para.cerca.de.10.mil.milhões.de.pessoas,.sendo.que,.no.mesmo.período,.a.procura.de.energia.duplicará.ou.mesmo.triplicará..A.concentração.do.aumento.da.população.nas.cidades.fará.aumentar.a.necessidade.de.sistemas.de.produção.de.electricidade. em. grande. escala.. Este. cientista. crê. que. a. fusão.nuclear.e.o.hidrogénio.são.as.energias.do.futuro.capazes.de.satis-fazer.o.aumento.da.necessidade.energética.mundial...
nuclear e hidrogénio o futuro
precisa-se!energia Reportagem.|.Pedro Almeida VieiraFotografia.|.Pedro Soares
A região do Oeste e Vale do Tejo consome mais do que devia e produz menos do que neces-
sita. O diagnóstico da equipa que se encontra a elaborar as medidas a implementar no
âmbito do Plano Regional de Ordenamento traçou um diagnóstico que detectou muitas
maleitas, mas também caminhos para inverter o rumo. Haja energia para tal.
| 31
P ortugal,. já. se. sabia,. não. pode. orgulhar-se. do.seu. desempenho. energético:. tem. elevada.dependência.externa.de.combustíveis,.aumen-ta.de.forma.galopante.as.emissões.carbónicas.associadas. ao. consumo. energético. e,. pior.
ainda,. agravou. o. seu. índice. de. eficiência. energética. na.última.década..Ou.seja,.para.aumentar.a.sua.riqueza,.gasta.mais.do.que.devia.e.polui.mais.do.que.é.admissível..Mas.se.a.situação.nacional.é.embaraçosa,.a.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.tem.vastos.motivos.para.corar.de.vergonha..
A.equipa.da.Universidade.do.Porto.responsável.pelo.sector.energético.do.plano.de.ordenamento.desta.região.(PROT-OVT),.cuja.coorde-nação. é. de. Eduardo. Oliveira. Fernandes. –. antigo. secretário..de. Estado. da. Energia. –,. traçou. um. diagnóstico. que. é. pouco..abonatório..Com.efeito,.a.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.consome.cerca. de. 55%. mais. energia. final. (sob. a. forma,. por. exemplo,..de.electricidade.ou.combustíveis.para.veículos).do.que.a.média.nacional,.enquanto.as.emissões.per.capita.de.dióxido.de.carbono,.responsável.pelo.aquecimento.global,.superam.em.cerca.de.40%.a.média.do.país..Se.cada.português.é.responsável.pela.emissão.anual.de.6,4.toneladas.de.dióxido.de.carbono.para.a.atmosfera,.na.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.atinge-se.as.9,0.toneladas...
E,.para.agravar.ainda.mais,.a. intensidade.energética.é.bastante.sofrível:.para.produzir.um.milhão.de.euros.de.riqueza,.esta.região.necessita.de.gastar.aproximadamente.280.toneladas-equivalente.de.petróleo.contra.as.cerca.de.200.toneladas.que.o.país.necessita..
De. acordo. com. os. autores. do. diagnóstico. energético,. as. causas.para.esta.situação.são.sobretudo.o.peso.significativo.da.actividade.logística,.a.existência.de.uma.actividade. industrial.significativa.(que,.convém.destacar,.é.superior.à.média.nacional),.a.dispersão.urbana.(que.aumenta.a.necessidade.de.transportes.e.o.consequente.consumo.de.combustíveis),.a.grande.expressão.de.edifícios.isolados.(vivendas),. que. são. mais. susceptíveis. ao. consumo. energético,.bem.como.a.desarticulação.dos. transportes.colectivos.e.a.fraca.optimização. das. redes. de. transportes.. Neste. último. aspecto,..a.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.gasta.mesmo.mais.61%.de.energia.do.que.a.média.nacional...
Também. no. consumo. de. electricidade,. a. região. destaca-se. do.país,. sobretudo. no. eixo. de. desenvolvimento. do. Vale. do. Tejo.(Alenquer,.Azambuja,.Cartaxo.e.Golegã).–.por.via.do.aumento.do.consumo.doméstico,.do.comércio,.dos.serviços.e.das.indústrias-,.na.zona.no.concelho.de.Coruche,.essencialmente.associado.à.moder-nização. do. sector. agrícola,. e. na. zona. do. Oeste. Litoral. (Peniche,.Óbidos,.Caldas.da.Rainha.e.Alcobaça),.neste.caso.sobretudo.por.causa. do. consumo. doméstico.. Aliás,. os. sectores. domésticos,..de. iluminação. e. serviços. públicos. são. responsáveis. por. quase.metade.do.aumento.do.consumo.de.electricidade..
32 |
Uma.situação.que.os.responsáveis.pelo.diagnóstico.dizem.«mos-trar.claramente.uma.despreocupação.com.aspectos.de.eficiência.energética.em.sectores.em.que.praticamente.não.há.produção.de.riqueza».
O.cenário.ainda.se.mostra.mais.preocupante.sabendo-se.que,.até.agora,.a.capacidade.de.produção.energética.desta.região,.recor-rendo.a.meios.próprios,.é.bastante.fraca..«Se.excluirmos.as.cen-trais.térmicas.do.Pego.e.do.Ribatejo,.que.necessitam.de.combustível.fóssil.importado,.a.electricidade.produzida.nesta.região.por.recur-sos.endógenos.(água.e.vento).apenas.se.situa.nos.26%»,.destaca.Vítor.Leal,.professor.da.Universidade.do.Porto,.que.integra.a.equi-pa. do. PROT.. Ou. seja,. para. consumos. de. electricidade. da. ordem.dos.4000.GWh.por.ano,.a.região.apenas.produz,.através.das.bar-ragens.(sobretudo.de.Castelo.de.Bode).e.dos.parques.eólicos,.um.pouco. mais. de. 1000. GWh.. Se. se. considerar. a. energia. primária,..o.balanço.ainda.se.agrava.mais:.em.2006.estimou-se.que.a.região.consumiu. cerca. de. 2,6. milhões. de. toneladas-equivalente. de.petróleo,. tendo. apenas. produzido,. com. recursos. endógenos,..300.mil.toneladas..
Mudar. este. panorama. é,. por. isso,. o. objectivo. fundamental. dos.autores. do. capítulo. energético. do. PROT-OVT.. Porém,. não. numa.perspectiva.clássica,.de.apenas.aumentar.a.produção.energética..«Em.qualquer.mercado.é.tão.importante.a.oferta.como.a.procura»,.destaca.Oliveira.Fernandes,.para.quem.«não.se.deve.persistir.na.leitura.da.problemática.energética.apenas.sob.a.óptica.da.oferta,.mas. sim. compatibilizá-la. com. a. vertente. da. procura».. Assim,..a.equipa.da.Universidade.do.Porto.propõe.a.realização,.para.cada.região.NUT.III. (Oeste,.Médio.Tejo.e.Lezíria.do.Tejo),.de.um.Plano.Local.de.Acção.para.a.Energia.que.procurará.optimizar.as.utilizações.e.conjugá-las.com.o.potencial.endógeno..Para.a.execução,.e.poste-rior. monitorização,. sugere-se. que. sejam. criadas. três. Agências..de.Energia,.uma.por.cada.sub-região..
Alguns.dos.aspectos.que.estão.a.ser.equacionados.passam.pela.melhoria.da.eficiência.energética.dos.novos.edifícios.–.algo.que.está.previsto.já.com.a.legislação.recentemente.criada.–,.mas.tam-bém.pela.adopção.de.medidas.em.equipamentos.públicos..Neste.âmbito,. prevê-se. uma. forte. aposta. na. energia. solar.. Durante..a. próxima. década. espera-se. que. sejam. instalados. cerca. de. 100.MW. de. sistemas. fotovoltaicos,. dos. quais. 30%. em. edifícios,..bem.como.a. implantação.de.100.mil.metros.quadrados.de.pai-néis. solares. para. aquecimento.. Neste. último. caso,. representará.uma.poupança.de.5,4.mil.toneladas.de.petróleo.por.ano..
Mas. será. no. sector. dos. transportes. que. se. espera. –. e. deseja. –.maiores.melhorias,.tanto.mais.que.é.essencial.para.fazer.diminuir.os. consumos. energéticos.. «Existem. muitas. carências. em. trans-portes.públicos.nesta.região,.induzindo.a.um.grande.uso.do.auto-móvel»,.destaca.Vítor.Leal..Mas.nem.é.por.falta.de.infra-estrutu-ras..Por.exemplo,.na.ferrovia.até.existem.quatro.linhas.a.atravessar.a.região,.embora.actualmente.apenas.três.estejam.activas.(Norte,.Oeste.e.Beira.Baixa)..Porém,.com.excepção.da.Linha.do.Norte,.o.serviço.disponibilizado.é.fraco.e,.sobretudo.no.caso.da.Linha.do.Oeste,.exasperantemente.lento..Por.exemplo,.uma.ligação.entre.Cacém.e.Figueira.da.Foz,.pela.Linha.do.Oeste,.demora.entre.três.e.cinco. horas,. consoante. a. escolha. que. se. fizer. entre. os. (apenas).sete. comboios. diários. que. fazem. esta. viagem. de. um. ponto. ao.outro.. Na. Linha. da. Beira. Baixa,. a. CP. apenas. consegue. oferecer.uma.dúzia.de.comboios.por.dia..Vítor.Leal.salienta.que.existem.
algumas.dificuldades.orográficas.que.impedem.uma.moderniza-ção.em.alguns.troços.da.Linha.do.Oeste,.mas.que.poderia.existir.uma. melhoria. caso. se. avançasse. com. uma. interligação. com..a.Linha.do.Norte,.entre.a.zona.de.Santarém.e.Caldas.da.Rainha..Aliás,.nada.mais.do.que.já.se.fez.na.rodovia,.ligando-se.as.auto-estradas.do.Norte.e.do.Oeste..
Embora.se.note.uma.preocupação.especial.em.fazer.com.que.a.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.consuma.melhor.(a).energia,.o.PROT.está.a.dar.uma.especial.atenção.ao.aumento.da.produção.ener-gética.usando.os.seus.próprios.recursos.naturais..Para.além.de.se.ter. esperança. no. bom. sucesso. das. prospecções. de. petróleo. ao.largo.de.Peniche.–.mas.que.não.convém.serem.exageradas.–,.a.maior.aposta.dirige-se.para.as.fontes.renováveis..E.de.entre.estas,.a.eólica.parece.merecer.especial.destaque..
Fruto.dos.fortes.incentivos.do.actual.Governo,.nos.últimos.anos.têm. crescido. os. parques. eólicos. nesta. região,. bastante. patente.numa.viagem.ao.longo.da.auto-estrada.do.Oeste..Neste.momen-to.estão.já.em.funcionamento,.ou.aprovados,.cerca.de.300.MW.de.potência.eólica,.mas.prevêem-se.muitos.mais..«Os. levantamen-tos.que.se.fizeram.apontaram.para.a.possibilidade.de.se.instalar.até. quase. 4.000. MW. de. potência. eólica»,. salienta. Vítor. Leal..Porém,. tendo. em.consideração. vários. factores. técnicos. limitati-vos.e,.sobretudo,.condicionantes.ambientais,.as.projecções.para..a.próxima.década.apontam.para.cerca.de.1.000.MW..«A.decisão.de.avançar.para.mais.terá.de.ser.uma.opção.política»,.refere.Vítor.Leal,. sabendo. que. grande. parte. dos. melhores. locais. se. situa..em. zonas. protegidas,. como. a. cordilheira. de. Aire. e. Candeeiros.(Parque.Natural).e.a.serra.de.Montejunto.(Rede.Natura).
O.olhar.para.as.energias.renováveis.também.se.volta.para.o.mar..Em.2004,.um.estudo.do.Instituto.Superior.Técnico.e.do.INETI.já.tinha.destacado.que.duas.das.sete.zonas.com.bom.potencial.para.a.produção.de.electricidade.através.das.ondas.se.localizavam.no.litoral. da. sub-região. Oeste:. uma. de. 22. quilómetros. ao. largo..de.Nazaré.e.Peniche,.e.outra,.mais.a.sul,.que.se.estendia.até.à.zona.de.Cascais..Entretanto,.a.equipa.da.Universidade.do.Porto.responsável.pelo.sector.energético.do.PROT-OVT.já.identificou,.com.maior.por-menor,.quatro.locais.onde.se.poderá.avançar.com.centrais.mare-motrizes..
Outra. grande. aposta. energética. passará. pela. agricultura.. Para.cumprir.a.obrigatoriedade.de.uso.de.biocombustíveis.nos.trans-portes,.a.região.do.Oeste.e.Vale.do.Tejo.coloca-se.como.uma.das.zonas.preferenciais.de.produção..Assim,.o.objectivo.estabelecido.no. PROT-OVT. é. conseguir-se. que. 17,5%. e. 25%,. respectivamente,..da.matéria-prima.para.a.produção.de.biodiesel.e.de.etanol.neces-sária.para.Portugal.provenha.das.terras.agrícolas.desta.região..
Se.todas.estas.medidas,.e.mais.algumas,.se.conseguirem.implan-tar.com.sucesso,.cumprir-se-á.então.um.dos.desígnios.da.parte.energética. do. PROT-OVT:. a. região. tornar-se. menos. dependente.energeticamente. do. exterior,. pois. passaria. a. ter. uma. taxa..de.cobertura.endógena.de.84%.nos.consumos.de.electricidade.e.de. 42%. no. consumo. global. de. energia..Veremos. se. há. energia,..e.vontade,.para.tanto...
| 33
Eolica
Radiação.Solar
Ondas
Zona.com.locais.de.produtividade.muito.elevada
Zona.com.locais.de.produtividade.elevada
Zona.com.condições.favoráveis
Recurso.muito.significativo
Recurso.significativo
Mapa de Potencial de Recursos Endógeneos na OVT*
BiocombustíveisZona.de.potencial.elevado(agricultura.intensiva.de.regadio)
BiomassaFloresta.de.produção
Floresta.multifuncional
Pontos.de.injecção.actuaisZona.de.influência.da.centraltermoeléctrica.a.biomassa.em.concurso
NUTS.III
0 10 20 30 405Kilometers
Legenda
*Oeste.e.Vale.do.Tejo
34 |
Em 1870, D. Luís mandou transformar a Cidadela de Cascais em residência balnear para
a família real, ditando o futuro da aldeia de pescadores. Cinquenta anos depois, Fausto
de Figueiredo fez do Estoril a primeira zona de turismo de nível internacional. É este
o legado da Junta de Turismo da Costa do Estoril e do seu actual presidente, Duarte
Nobre Guedes. «Um lugar. Mil sensações» eis o slogan de uma região privilegiada no
que toca à natureza, cultura, lazer e património.
A Costa das Mil Emoções
Territórios.|.Carla Maia de AlmeidaFotografia.|.Rui Cunha
| 35
36 |
A Costa do Estoril é talvez a região mais antiga de Portugal que integra as rotas turísticas mundiais. O que representa isso, para este organismo a que preside?
É.mesmo.a.mais.antiga,.e.claro.que.isso.representa.uma.respon-sabilidade. enorme.. A. tradição. de. turismo. na. Costa. do. Estoril.nasce.com.o.rei.D..Luís,.que.pela.primeira.vez.vem.para.aqui.vera-near.em.1870,.e.atrás.dele.vem.a.corte.e.nobreza..Depois,.entre.o.final.do.século.xix.e.o.início.do.século.xx,.desenvolve-se.a.zona.de.Cascais.e.Monte.Estoril..Em.1918,.vem.Fausto.de.Figueiredo,.com.o.projecto.da.Sociedade.do.Estoril..As.pessoas.não.sabem,.mas. já.nos.anos.trinta.havia.um.comboio.directo.de.Paris.ao.Tamariz..Há.cinco.anos,.a.Secretaria.de.Estado.do.Turismo.definiu.quais.são.as.marcas.turísticas.internacionais.em.Portugal.e.considerou.clara-mente.o.Estoril.entre.elas..O.que.quer.dizer.que.a.marca.Estoril.tem. notoriedade,. tem. visibilidade,. tem. economia,. tem. história,.tem.dimensão,.tem.produtos.turísticos,.tem.tudo.isso.
Quais são exactamente os limites geográficos abrangidos pela Junta de Turismo da Costa do Estoril?
Não. é. muito. claro..Temos. aqui. duas. situações:. a. nível. de. obras..e.de.infra-estruturas,.toda.essa.parte.diz.respeito.ao.concelho.de.Cascais,.que.começa.em.Carcavelos.e.vai.até.ao.Guincho..Depois,..a.nível.de.promoção.para.o.mercado.externo,.se.bem.que.debaixo.do.umbrella.Costa.do.Estoril,.temos.os.concelhos.de.Cascais,.Sintra,.Mafra.e.Oeiras..
Estão situados entre Sintra e Lisboa, dois grandes pólos de atracção turística. Como gere essa concorrência?
Eu. acho. que. é. mais. uma. relação. de. complementaridade,. mas.diferencio.ambos.os.casos..Sintra.é.um.pólo.de.atracção.turística,.enquanto.Lisboa.é.um.destino. turístico..A.nossa.posição.é. tirar.partido.da.proximidade.de.ambas..Aos. turistas.que.vêm.para.a.costa.do.Estoril.nós.aconselhamos.que.visitem.tanto.Sintra.como.Lisboa...
Nos últimos anos, tem detectado transformações no perfil do turista que procura esta zona?
Claramente..E.para.isso.trabalhámos..Nos.últimos.30.anos,.a.Costa.do.Estoril.foi.muito.esquecida.como.destino.turístico,.internacio-nalmente. falando.. E. acho. que. isso. aconteceu. por. falta. de. uma.estratégia.de.posicionamento..Até.aos.anos.sessenta,.o.Estoril.era.tido.como.uma.estância.balnear,.mas.agora.o. turismo.evoluiu....O.Estoril.já.não.é.exclusivamente.um.destino.de.sol.e.praia..Para.isso,.as.pessoas.vão.para.o.México,.vão.para.a.Grécia,.vão.para.as.Caraíbas,.etc..O.Estoril.tem.que.se.actualizar.em.relação.aos.novos.produtos. turísticos. como. o. golfe,. o. MICE. [Meetings,. Incentives,.Congresses. and. Events],. o. turismo. náutico,. o. turismo. cultural,.o.turismo.de.natureza,.a.gastronomia,.a.saúde.e.bem.estar….Cada.vez. mais,. o. turismo. está. compartimentado. nessas. especializa-ções..Em.função.dessa.evolução,.os.nossos.turistas.têm-se.modi-ficado.muito..Agora.temos.turistas.de.golfe,.turistas.de.negócios,.turistas. de. desportos. náuticos,. começamos. a. ter. turismo. de.natureza….Isso.faz.uma.clara.diferença.entre.o.Estoril.ser.um.des-tino.de.“sol.e.praia”.–.embora,.no.nosso.caso,.eu.acho.que.é.mais.correcto.dizer.“sol.e.mar”.–.e.ter.uma.oferta.muito.diversificada.que.aposta.em.produtos.específicos,.como.acontece.agora..
Levaram a cabo uma acção de promoção interessante: anunciar o Estoril nos táxis de Londres. Mas esse não é um público já conquistado à partida?
Não,. antes. pelo. contrário.. Quando. eu. dizia. que. o. Estoril. estava.muito.esquecido,.queria.dizer.que.perdeu.muita.da.notoriedade.que.tinha.lá.fora..Essa.foi.uma.acção.muito.dirigida.ao.consumi-dor.inglês,.em.função.de.uma.quebra.que.vínhamos.a.sentir..Con-siderámos.que.era.preciso.fazer.uma.acção.de.rua.para.inverter.essa.tendência.e.já.conseguimos..
Qual é neste momento, o produto turístico a que estão a dar maior atenção? Os desportos náuticos? O golfe?
Há.vários..Há.alguns.que.já.estão.mais.maduros,.outros.que.estão.a.nascer.agora,.outros.que.ainda.estão.para.nascer....Dou-lhe.um.caso.concreto:.o.golfe.e.o.turismo.de.negócios.Esses.já.estão.sufi-cientemente.maduros..E.a.sua.promoção.está.a.cargo.de.parce-rias.publico.privadas.criadas.para.o.efeito.Onde.estamos.agora.a.investir.é.no.sector.náutico.e,.sobretudo,.no.turismo.de.natureza..Estamos.a.trabalhar.muito.com.o.Parque.Natural.de.Sintra-Cas-cais,.à.volta.do.qual.estamos.a.desenvolver.uma.série.de.acções,.assim.como.no.turismo.náutico.e.na.gastronomia,.também.
Criaram há quatro anos um Prémio de Qualidade para a restauração. Que retorno têm tido dessa iniciativa?
Muito. bom.. Começou. timidamente,. os. restaurantes. não. aderi-ram. logo,. mas. depois. começámos. a. prosperar.. Ainda. a. semana.passada. atribuímos. 70. prémios. de. qualidade.. Isso. é. fruto. da.Junta. estar. sempre. em. contacto. com. os. diversos. restaurantes,.com. a. Escola. Superior. de. Hotelaria. e.Turismo. do. Estoril,. com. a.ARESP.[Associação.da.Restauração.e.Similares.de.Portugal]....Esse.contacto.permanente.tem.dado.os.seus.frutos.
Em relação à oferta hoteleira, têm razões para estar satisfeitos. Os resultados dos três primeiros meses de 2007 revelam uma tendência de crescimento na ocupação hoteleira de cerca de 8% em relação ao mesmo período do ano passado. É correcto?
O.que.eu.penso.em.relação.à.oferta.hoteleira.e.não.só,.e.isso.é.que.é.gratificante,.é.que.há.seis.anos.nós.delineámos.um.plano.estra-tégico. para. a. Costa. do. Estoril.. Esse. plano. estratégico. assentava.em. três. vertentes:. melhoria. do. destino,. melhoria. da. gestão..e.melhoria.do.marketing.e.promoção..Para.concretizar.esse.plano.era.fundamental.a.aceitação.e.a.colaboração.de.todos.os.actores.intervenientes.na.região,.desde.públicos.a.privados..Só.com.uma.estreita.colaboração.entre.todos.os.players.se.consegue.alcançar.os. objectivos.. O. aumento. da. performance. hoteleira. deve-se. ao.conjunto.das.acções.que. foram.desenvolvidas.e.considero.mais.importante. o. acréscimo. das. performances. qualitativas. do. que.quantitativas.. Infelizmente,. só. ouvimos. falar. no. aumento. das.dormidas,.mas.penso.que.mais.importante.do.que.esse.factor.é.o.facto. de. termos. aumentado. as. receitas.. Esse. sim,. é. um. factor.determinante.para.o.desenvolvimento.do.destino.turístico..
| 37
A afirmação de um turismo de qualidade passa também por uma grande aposta na cultura. Produtos como o Estoril Jazz ou o Festival de Música do Estoril são facilmente integrados na promoção turística da Costa do Estoril, junto dos operadores? Ou seja, a cultura vende?
Eu.acho.que.é.exactamente.isso.que.se.vende:.a.diferenciação.cul-tural.. Cultura. é. muito. genérico,. mas. vamos. ver,. por. exemplo,..a.Feira.do.Artesanato..Até.há.cinco.anos,.era.uma.feira.que.tinha.lá. tudo,. desde. os. tapetes. marroquinos. aos. chinelos. da.Tunísia..Nós. acabámos. com. isso. e. passámos. a. ter. só. artesanato. portu-guês..É.a.nossa.cultura.–.temos.lá.o.folclore,.temos.lá.o.fado,.temos.lá.os.nossos.artesãos.a.trabalhar.ao.vivo….Muito.sinceramente,.eu.acho. que. a. cultura. é. a. base. de. desenvolvimento. do. turismo,..é. a. nossa. personalidade.. O. próprio. turista,. sente-se. isso. muito..claramente,.quer.ver.e.quer.viver.as.coisas.próprias.do.país.que.visita..Nós.temos.aqui.unidades.culturais.muito.boas.e.estamos..a.requalificar.uma.série.delas..Também.temos.a.oferta.comple-mentar.quer.de.Sintra.quer.de.Lisboa..
Quer dar alguns exemplos dessa requalificação?
Em.termos.culturais,.o.projecto.de.recuperação.e.requalificação.da.Cidadela.de.Cascais.é.sem.dúvida.o.exemplo.mais.importante.de. todos.. Os. oito. fortes. que. a. autarquia. adquiriu. ao. longo..
da.costa.para.requalificar,. também..Referiria.ainda.o.Museu.da.Música.Portuguesa.-.Casa.Verdades.de.Faria,.no.Monte.Estoril,.e.a.Casa.das.Histórias.e.Desenhos.Paula.Rego,.em.Cascais,.que.já.tem.pronto.o.projecto.do.arquitecto.Souto.Moura..
E outros investimentos mais consentâneos com as preocupações actuais, como o ecoturismo?
Estamos.a.desenvolver..Com.Sintra.e.com.Mafra,.estamos.a.come-çar.a.explorar.turisticamente.o.Parque.Natural.de.Sintra-Cascais..Abrimos. recentemente. dezenas. de. trilhos. para. andar. a. pé..e. de. bicicleta,. com. zonas. de. interpretação,. tudo. devidamente..identificado…
Parece que esta região tem tudo: praia, bons hotéis, tradição desportiva, golfe, gastronomia, arte e cultura, vinhos… O que é que a Costa do Estoril não tem e gostava de ter?
Sinceramente,.eu.acho.que.tem.tudo..A.personalidade.e.o.posicio-namento.da.Costa.do.Estoril.é.ter.uma.grande.oferta.muito.diver-sificada. e. muito. concentrada. num. espaço. reduzido.. E. isso,. no.enquadramento.da.natureza.e.do.património.histórico,.é.fantástico..E.com.Lisboa.ao.lado,.o.que.é.uma.grande.vantagem..
Reflectindo as tendências da procura
O Estoril já não é exclusivamente um destino de sol e praia. Para isso, as pessoas vão para o México, vão para a Grécia, vão para as Caraíbas, etc. O Estoril tem que se actualizar em relação aos novos produtos turísticos como o golfe, o MICE [Meetings, Incentives, Congresses and Events], o turismo náutico, o turismo cultural, o turismo de natureza, a gastronomia, a saúde e bem estar… Cada vez mais, o turismo está compartimentado nessas especializações.
GOLFE
Portugal.tem.sido.aclamado.como.um.dos.melhores.destinos.da.Europa.para.a.prática.do.golfe.e,.como.é.natural,.este.é.um.dos.produtos. alvo. de. maior. investimento. por. parte. da. Junta. de.Turismo. da. Costa. do. Estoril.. Criada. em. 2007,. a. Associação. de.Golfe.de.Cascais,.Sintra,.Oeiras.e.Mafra.afirma-se.como.a.entida-de. responsável. pela. promoção. do. produto. na. região,. tendo. o.Reino.Unido.como.principal.mercado..
A.costa.do.Estoril.e.Sintra.conta.com.um.total.de.sete.campos.com.18.buracos:.Belas.Clube.de.Campo,.Golf.do.Estoril,.Lisbon.Sports.Club,. Penha. Longa,. Quinta. da. Beloura,. Quinta. da. Marinha. e.Quinta.da.Marinha.Oitavos.Golf.
Refira-se.ainda.que.o.golfe.representa.1,25.por.cento.do.PIB.nacio-nal.e. 14.por.cento.do.PIB. turístico,.para.um. total.de.70.campos.espalhados.pelo.continente.e.ilhas..
PRAIA E DESPORTOS NÁUTICOS
Oferecendo. dezenas. de. praias. que. atraem. não. só. os. turistas.como.muita.da.população.da.Grande.Lisboa,.é.como.lugar.privile-giado.para.a.prática.de.desportos.náuticos.que.a.Costa.do.Estoril.tem. demonstrado. a. sua. vitalidade. e. capacidade. de. renovação..Prova-o.a.realização.dos.Campeonatos.do.Mundo.de.Vela.Olímpica,.que.entre.Junho.e.Julho.trouxeram.mais.de.1.700.velejadores.de.todos.os.continentes.à.baía.de.Cascais..
Reflectindo as tendências da procura
internacional, o Plano Estratégico
Nacional do Turismo (PENT) enunciou dez
produtos que devem merecer a atenção dos
investidores e das políticas de
desenvolvimento nesta área. A saber: sol
e mar, turismo de natureza, turismo
náutico, conjuntos turísticos integrados
(resorts) e turismo residencial, turismo
de negócios, golfe, gastronomia e vinhos,
saúde e bem-estar, circuitos (touring)
cultural e paisagístico, e estadias de curta
duração em cidade (city breaks). Conseguir
juntar toda esta oferta numa pequena área
é a grande vantagem da Junta de Turismo
da Costa do Estoril.
Eis algumas das principais apostas.
| 39
Graças.às.condições.do.vento.e.ondulação,.a.costa.sul.e.a.costa.oeste.são.também.ideais.para.a.prática.do.surf,.windsurf, bodybo-ard e kitesurf..Nas.praias.do.Guincho,.Grande.e.Ribeira.d’Ilhas.rea-lizam-se.importantes.campeonatos.destas.modalidades.de.des-portos. radicais.. No. final. de. Agosto,. ainda. no. âmbito. da. vela,.Cascais.recebe.o.Troféu Quebra-Mar Chrysler,.onde.pela.primeira.vez.vão.estar.as.principais.unidades.da.nova.frota.de.veleiros.da.classe.cruzeiro.
OUTROS DESPORTOS
Tanto.a.proximidade.do.mar.e.da.montanha.como.o.clima.ameno.fazem. da. Costa. do. Estoril. um. pólo. de. atracção. desportiva,. seja.num. regime. amador. ou. profissional.. Se. os. adeptos. do. jogging dispõem.de.vários.circuitos.integrados.na.natureza,.quem.prefere.o.ténis.encontra.numerosos.clubes.e.courts.de.ténis.de.qualidade,.a.começar.pelo.Clube.de.Ténis.do.Estoril.
Algumas. modalidades. possuem. infraestruturas. de. referência;.caso.do.Autódromo.do.Estoril,.onde.se.realizam.várias.provas.de.competição. em. automobilismo. e. motociclismo.. Caso,. também,.da. equitação. e. hipismo,. que. tem. no. Hipódromo. de. Cascais..o. palco. do. Global Champions Tour. -. Concurso. de. Saltos.Internacional.
NATUREZA
Entre. as. benesses. da. praia. e. da. montanha,. o. Parque. Natural.Sintra-Cascais. é. a. jóia. da. coroa. no. que. respeita. à. diversidade.natural..Inclui.dunas,.florestas,.lagoas,.uma.acidentada.linha.cos-teira.em.que.as.arribas.dão.lugar.às.praias,.o.imponente.Cabo.da.Roca.e,.no.centro,.a.Serra.de.Sintra.e.toda.a.área.classificada.pela.UNESCO.como.Património.Cultural.da.Humanidade..
Menos.conhecido.é.o.Centro.de.Interpretação.Ambiental.da.Ponta.do.Sal,.em.São.Pedro.do.Estoril..Neste.espaço.virado.ao.mar,.o.visi-tante.é.convidado.a.observar.as.características.da.orla.costeira,.a.experimentar.um.percurso.pedonal.com.cerca.de.800.metros.e.a.visitar.a.arriba.para.descobrir.as.espécies.de.fauna.e.flora.aí.exis-tentes.
ARTE E CULTURA
A.Costa.do.Estoril.é.palco.habitual.de.um.grande.leque.de.eventos.culturais,. alguns. deles. emblemáticos.. É. o. caso. do. Estoril Jazz,. o.mais.antigo.festival.de.jazz.em.Portugal,.ou.da.Feira de Artesanato.do.Estoril,.que.goza.de.idêntico.estatuto..Ainda.na.área.da.música,.refira-se.o Cool Jazz Fest.e.os.festivais.de.Música do Estoril.e.Rota dos Monumentos,.ambos.na.área.da.música.clássica..
Muito.do.património.edificado. tem.sido.objecto.de.requalifica-ção. nos. últimos. anos,. permitindo. a. renovação. de. espaços. para.acolher.esta.vasta.oferta.cultural..Destaque.para.o.Centro.Cultural.de.Cascais,.no.antigo.Convento.de.Nossa.Senhora.da.Piedade;.o.Espaço.Memória.dos.Exílios,.na.estação.de.Correios.do.Estoril;.
40 |
| 41
e. o. Museu. da. Música. Portuguesa. -. Casa. Verdades. de. Faria,. no.Monte. Estoril.. Entretanto,. está. aberto. o. concurso. público. para.reabilitação.e.concessão.para.fins.turístico-culturais.da.Cidadela.de. Cascais,. que. prevê. transformar. este. monumento. num. pólo.dinamizador.que. incluirá.o.Museu.de.Arqueologia.de.Cascais.e.vários. equipamentos. de. interesse. turístico:. hotel,. restaurantes,.galerias.de.arte,.etc.
Outros. equipamentos. museológicos. de. relevo. são. o. Museu. do.Mar. Rei. D.. Carlos,. o. Museu-Biblioteca. do. Conde. de. Castro.Guimarães.e.o.Forte.de.S..Jorge.de.Oitavos,.todos.em.Cascais..
ANIMAÇÃO E LAZER
Com. ambientes. para. todos. os. gostos. e. idades,. não. faltam. na.Costa. do. Estoril. lugares. para. usufruir. do. tempo. livre.. Desde. as.esplanadas.e.bares.de.praia.até.aos.sítios.de.diversão.nocturna,.difícil.é.escolher..Escusado.será.dizer.que.também.aqui.se.encon-tra.o.Casino.Estoril,.o.maior.da.Europa.e.o.mais.antigo.em.Portugal..Além.de.uma.grande.variedade.de.modalidades.de.jogo,.há.espec-táculos.diários.de.música,. cabaret.ou. music-hall,. sempre.numa.atmosfera.de.elegante.sofisticação...
42 |
| 43
Uma casa virada ao mar onde o sol nunca foi impedido por cortinas.
Um farol que ganha uma segunda vida, brilhando agora à luz do dia. A Casa de Santa
Maria e o recém-inaugurado Farol-Museu de Santa Marta são dois exemplos
de recuperação do património no concelho de Cascais. Situados num dos lugares mais
cénicos da vila, quem vê um não pode esquecer o outro.
Texto.de.Carla Maia de Almeida.Fotografia.de.Guto Ferreira
Moradas de Luz
| 45
46 |
A.Casa.de.Santa.Maria.e.o.Farol.de.Santa.Marta.são.vizinhos.na.mesma.enseada,.tão.vizinhos.que.às.vezes.há.quem.lhes.troque.os.nomes..Uma.antiga.casa.de.família.ao.lado.de.um.farol.solitá-rio. –. até. hoje. activo. –. é. um. parentesco. curioso,. para. não. dizer.insólito..Diferentes.na.origem.e.nas.funções,.a.única.explicação.para. tão. grande. proximidade. remete-nos. directamente. para..a.visão.do.arquitecto.Raul.Lino,.que.idealizou.a.casa.em.harmonia.com.o.cenário.à.sua.volta..Estávamos.em.1902,.numa.época.em.que. os. constrangimentos. da. construção. à. beira-mar. não..se. faziam. sentir,. e. importa. dizer. que. o. farol. era. bastante. mais.pequeno.do.que.é.agora..A.enseada.pertencia.ao.mar.e.às.rochas,.e.só.o.palacete.mandado.erguer.ali.perto.por. Jorge.O’Neill,.dez.anos.antes,.marcava.distintamente.a.paisagem..
O’Neill,.descendente.da.Casa.Soberana.da.Irlanda,.estabeleceu-se.como.homem.de.negócios.em.Portugal,.demonstrando.especial.apreço.pela.vila.de.Cascais,.ponto.crescente.de.veraneio.da.nobreza.e. burguesia.. A. Casa. de. Santa. Maria. foi. encomendada. como..presente.para.a.filha,.Maria.Teresa..Não.há.registos.documentais.que.expliquem.o.porquê.do.nome,.nem.se.Maria.Teresa.influenciou.a. escolha,. directa. ou. indirectamente.. Mais. relevante,..é.o.facto.de.ter.sido.construída.em.três.fases,.como.uma.espécie.de.work-in-progress,.sempre.sob.a.alçada.de.Raul.Lino:.a.primeira.em.1902,.a.segunda.em.1914.e.a.terceira.em.1918..No.final,.a.casa.tinha.sido.aumentada.em.mais.de.o.dobro,.tomando.a.aparência.que.hoje.se. lhe.conhece..Projectada.em.comprimento,.começou.por.um.corpo.com.rés-do-chão.e.primeiro.andar,.crescendo.depois.em. todas. as. direcções. excepto. para. oeste,. o. lado. da. fachada..posterior.onde.se.encontra.a.porta.de.entrada..
| 47
48 |
Apesar. de. encomendada. pelo. mesmo. proprietário,. a. Casa. de.Santa.Maria.não.podia.contrastar.mais.com.o.exuberante.palace-te.de.reminiscências.gótica.e.manuelina.imediatamente.oposto,.a. que. O’Neill. chamou.Torre. de. São. Sebastião. (o. actual. Museu-Biblioteca.do.Conde.de.Castro.Guimarães)..Enquanto.este.sugere.um.imaginário.mítico,.cruzado.por.estilos.arquitectónicos.e.povoa-do.de.elementos.cenográficos.(um.pouco.como.sucede.na.Quinta.da.Regaleira,.em.Sintra),.o.projecto.de.Raul.Lino.assumiu.a.tradi-ção. da. arquitectura. mediterrânica. e. da. «casa. portuguesa». em.particular..Esta.influência.haveria.de.transformar-se.em.questão.e.daí.em.polémica,.opondo-o.frontalmente.aos.modernistas.no.decurso.das.décadas.seguintes..Mas,.em.1902,.a.discussão.ainda.estava.longe.
Raul.Lino.é.então.um.jovem.arquitecto.de.23.anos,.sem.diploma.oficial,.para.o.que. teria.de.esperar.outro. tanto..A.sua.formação.faz-se.em.Inglaterra.e,.sobretudo,.na.Alemanha,.onde.é.decisiva.a.aprendizagem. no. atelier. de. arquitectura. de. Albrecht. Haupt..(«a.ele.devo.o.grande.amor.que.passei.a.nutrir.pela.minha.terra»,.escreve)..Regressado.a.Portugal,.viaja.pelo.país.recolhendo.ideias.e. executa. os. primeiros. trabalhos,. entre. os. quais. o. projecto. do.pavilhão.português.para.a.Exposição.Universal.de.Paris.de.1900,.que.perde.para.Ventura.Terra..Estas.viagens.de.reconhecimento.contribuem.para.consolidar.uma.linguagem.em.que.assume.os.valores. nacionais. e. uma. certa. cultura. natural. da. vivência. do.espaço. de. habitação.. Não. se. limita. ao. território. português..Também.em.1902,.deslocar-se-á.a.Marrocos,.«um.país.desconhecido.que. parecia. recuado. pelo. menos. três. séculos. no. tempo»...Ali. passa. um. mês,. imbuído. do. espírito. romântico. da. aventura,.para.depois.regressar.com.a.convicção.de.ter.recebido.influências.que. extravasam. os. limites. do. exercício. da. profissão:. «Creio. ter.aprendido.a.encarar.a.vida.com.mais.compreensão.e.placidez»,.diz..
A. Casa. de. Santa. Maria. é. a. segunda. das. chamadas. «casas. mar-roquinas».que.Raul.Lino.desenhou.entre.1901.e.1903,.e.uma.das.dezenas.que.assinou.no.concelho.de.Cascais..O.ascendente.surgiu.através. do. pianista. e. amigo. Alexandre. Rey. Colaço,. cujo. irmão.vivia. em. Tânger.. Para. Rey. Colaço,. Raul. Lino. projectou. a. Casa.Monsalvat,.no.Monte.Estoril..Seguiu-se.a.Casa.de.Santa.Maria.e,.pouco.depois,.a.Casa.Silva.Gomes.e.Vila.Tânger,.ambas.também.no.Monte.Estoril..Diferentes.entre.si,.todas.reflectem.a.experiência.do.Alentejo.e.de.Marrocos,.como.resume.Manuel.Rio-Carvalho.na.História. da. Arte. em. Portugal:.“Pela. via. marroquino-alentejana,.Raul. Lino. adquire. um. particular. gosto. pelos. valores. matéricos.das. paredes. expostas. à. luz. crua. meridional,. pelas. moldurações.que.adoçam.e.jogam.com.os.efeitos.de.sombra,.pelos.ambientes.de.frescura.dos.espaços-transição,.quer. interiorizando.varandas..e.alpendres,.quer.exteriorizando.salas.e.átrios,.jogando.com.aquilo.que.chama.“almofadas.de.penumbra”.»
A. importância. da. luz,. que. o. crítico. sublinha. ter. para. Raul. Lino..o. papel. de. um. «material. arquitectónico»,. é. notória. para. quem.visite.a.casa.e.possa.aperceber-se.do.percurso.do.sol.ao.longo.do.dia.. «Luz. em. toda. a. parte»,. era. um. dos. princípios. do. autor. de.Casas. Portuguesas:. «Feliz. disposição. da. planta,. conveniente.orientação,.boas.qualidades.construtivas,.isolamento.desejado,.o.bom.ar.e.luz.em.toda.a.parte»,.eis.os.elementos.essenciais.da.sua.noção.material.de.«comodidade»..A.ligação.à.natureza,.um.valor.de. outra. ordem,. mas. não. menos. relevante. para. Lino,. também.encontrou.eco.em.Santa.Maria..Das.quatro.«casas.marroquinas»,.é.sem.dúvida.aquela.que.melhor.usufrui.deste.privilégio..
| 49
A.preocupação.de.criar.espaços.de.interiorização.e.vivência.fami-liar,.aproveitando.o.cenário.circundante,.tem.exemplo.no.terraço.alpendrado.que.dá.para.o.exterior..Uma.pequena.zona.ajardina-da.faz.fronteira.com.o.mar,.quase.trazendo.as.ondas.à.porta.de.casa.. Como. que. prolongando. essas. texturas. naturais,. tanto. o.alpendre.como.grande.parte.da.fachada.principal.se.cobriram.de.vinha. virgem,. planta. trepadeira. que. surpreende. com. as. cores.rubras.e.ocres.do.Outono,.e.no.Verão.empresta.frescura.ao.lugar..
Ao.longo.da.sua.história,.a.Casa.de.Santa.Maria.passou.por.três.proprietários.. Dificuldades. financeiras. obrigaram. Jorge. O’Neill..a. vender. o. imóvel,. o. mesmo. tendo. sucedido. com. a. Torre. de..S..Sebastião,.comprada.pelos.Condes.de.Castro.Guimarães.apenas.alguns.anos.antes..Neste.caso,.coube.a.sorte.a.José.Lino,.coleccio-nador.e.apreciador.de.arte,.que.acedeu.em.ficar.com.Santa.Maria.na. condição. de. o. irmão. resgatar. do. abandono. os. azulejos. e. o.tecto.da.capela.da.Quinta.da.Ramada,.em.Frielas..Raul.Lino.con-cordou.e,.em.1918,.iniciou.a.terceira.fase.de.construção,.cuja.marca.é.a.ampliação.do.primeiro.piso:.o.oratório,.a.sacristia.e.o.salão.de.jantar..Com.o.saber.técnico.do.seu.tempo,.«importou».para.aqui..o.rico.património.azulejar.barroco.e.o.tecto.de.madeira.pintado..a. óleo. de. António. de. Oliveira. Bernardes,. salvando-os. da. morte.anunciada..Muitos.visitantes,.especialistas.ou.não,.chegam.com..a.intenção.expressa.de.conhecer.os.painéis.de.Oliveira.Bernardes,.visíveis. também. ao. longo. da. escadaria. principal. que. conduz..ao.primeiro.piso..
50 |
Antes.do.farol,.porém,.havia.já.o.Forte.de.Santa.Marta,.que.se.crê.ter.sido.edificado.entre.1642.e.1650..Desempenhou.funções.mili-tares. sobretudo. nos. séculos. xvii e. xviii,. entrando. em. declínio.durante.a.primeira.metade.do.século.xix..Foi.justamente.a.cons-trução. do. farol. que. o. salvou. da. ruína. total.. Desde. então. e. até..à. nossa. época,. o. forte. passou. a. ser. morada. dos. faroleiros. que..o. habitaram. e. lhe. deram. vida..Veio. depois. a. automatização. do.sistema.de.luz,.no.princípio.da.década.de.1980,.e.tudo.esmoreceu.de. novo.. O. espaço. caminhou. naturalmente. para. a. degradação,.por. certo. irreversível. se. não. fosse. a. ideia. de. criar. ali. um. farol-museu.(e.não.um.museu.dos.faróis,.como.alguns.podem.pensar)..O. projecto. arquitectónico. pertence. ao. atelier. dos. irmãos. Aires.Mateus,. autores. de. equipamentos. culturais. como. a. sede. da.Orquestra.Metropolitana.de.Lisboa,.o.Centro.Cultural.de.Sines.ou.o.Grande.Museu.Egípcio,.no.Cairo..O.plano.museológico.e.o.pro-jecto. museográfico. é. da. responsabilidade. de. Joaquim. Boiça,.conhecedor.profundo.do.tema.das.fortificações.marítimas.e.dos.faróis.portugueses.
Seguindo.a.geometria.do.lugar.e.aproveitando.as.estruturas.exis-tentes,. nomeadamente. o. antigo. paiol. e. as. casas. dos. faroleiros,..o.Farol-Museu.de.Santa.Marta.organiza-se.em.três.zonas.exposi-tivas,. complementadas. com. cafetaria,. loja. e. outros. serviços..Sempre. em. regime. de. visitas. guiadas. para. grupos,. o. percurso.começa.com.uma.selecção.de.imagens.que.servem.de.aperitivo.ao.documentário.«Faróis.de.Portugal:.Cinco.Séculos.de.História»,.cuja. visualização. está. prevista. para. finais. de. Outubro.. Para. já,..o. visitante. pode. aceder. aos. dois. núcleos. temáticos. principais,.onde.uma.das.características.é.o.revestimento.de.cor.cinzento-antracite.do.espaço.interior,.simbolizando.a.noite..
O.primeiro.núcleo.exibe.um.conjunto.representativo.de.ópticas,.equipamentos.e.elementos.que.foram.construindo.a.história.dos.faróis.em.Portugal,.cuja.evolução.científica.e.tecnológica.poderá.ser. mais. facilmente. entendida. com. o. recurso. aos. dispositivos.multimédia..Do.geral.para.o.particular,.o.segundo.núcleo.recupe-ra.a.memória.do.Forte.e.Farol.de.Santa.Marta.e.dos.seus.congéneres.na.barra.do.Tejo..Aqui,.exibem-se.peças.e.aparelhos.que.remetem.para. o. ofício. de. faroleiro,. incluindo. um. candeeiro. primitivo. de.1874,.autêntica.relíquia..Todas.as.peças.são.património.da.Direcção.dos. Faróis. e. foram. recuperadas. e. reconstituídas. pelos. próprios.faroleiros..Dão-se.agora.a.conhecer.aos.olhares.dos.leigos,.recorta-das.sob.fundo.quase.negro,.em.contraste.com.a.brancura.ofuscante.do.exterior..Da.luz.para.a.noite,.da.noite.para.a.luz,.o.visitante.está.apenas.a.um.passo.de.distância...
Raul.Lino.quis.ser.um.artista.completo.e.o.seu.trabalho.estende-se. muito. além. do. domínio. da. arquitectura.. Imaginou. cenários..e.figurinos.para.teatro,.ópera.e.bailado;.desenhou.mobiliário,.azu-lejos,.pratas,.louças,.têxteis.e.molduras;.ilustrou.livros.de.Afonso.Lopes. Vieira;. foi. até. responsável. pela. programação. do. «seu».Cinema.Tivoli.durante.alguns.meses,.trazendo.a.Portugal.filmes.de. Fritz. Lang,. Charles. Chaplin,. Ernst. Lubitsch,. Carl. Dreyer,.Murnau….Na.Casa.de.Santa.Maria,.é.dele.a.decoração.do.tecto.do.oratório,. de. inspiração. tardo-barroca. e. neoclássica,. assim. como.uma. série. de. revestimentos. em. azulejo. e. pinturas. murais..Revelando. a. prática. da. escola. Arts. &. Crafts,. idealizou. vários.móveis,.sem.esquecer.o.pormenor.das.ferragens.das.portas..Um.património.que.se.manteve.à.vista.mesmo.depois.da.casa.sair.da.posse.da.família.Lino,.em.meados.da.década.de.1920,.quando.foi.vendida.a.Manuel.do.Espírito.Santo.Silva..
Com.o.terceiro.e.último.proprietário,.Santa.Maria.viveu.a.sua.fase.mais.mundana.e.cosmopolita..Figuras.da.sociedade.portuguesa,.personalidades.das.casas.reais.europeias.em.busca.de.exílio.ou.simples. acolhimento,. muitos. nomes. desfrutaram. deste. cenário.privilegiado.–.entre.eles,.os.Duques.de.Windsor,.o.Rei.Humberto.II.de.Itália,.os.Condes.de.Barcelona,.os.Condes.de.Paris.e.o.Rei.Juan.Carlos.de.Espanha..A.própria.família.Espírito.Santo.continuou.a.usufruir.da.casa.até.à.construção.da.marina.de.Cascais,.altura.em.que,.desgostada.com.a.inevitável.invasão.da.privacidade,.decidiu.vendê-la..A.oportunidade.foi.agarrada.pela.Câmara.Municipal.de.Cascais.e,.a.18.de.Maio.de.2005,.no.Dia.Internacional.dos.Museus,.a.Casa.de.Santa.Maria.inaugurou.como.espaço.de.vocação.multi-funcional,. voltado. para. a. cultura. e. para. os. munícipes.. Acolhe.regularmente.conferências,.apresentações.de.livros,.cursos.livres,.exposições. temporárias. e. outras. iniciativas.. Em. 2009,. o. espaço.deverá. ser. intervencionado,. projectando-se. uma. ampliação. das.zonas.abertas.ao.público.e.o.restauro.do.acervo.
A. casa. está. tão. próxima. do. farol. que,. à. primeira. vista,. parece.haver.ligação.pelo.lado.do.mar..No.entanto,.é.preciso.cruzar.a.rua.estreita. que. os. separa. para. chegar. àquele. que. é. agora. o. Farol--Museu. de. Santa. Marta,. a. primeira. estrutura. do. género. a. ser.musealizada.em.Portugal,.com.uma.temática.histórico-patrimo-nial..A.ideia.e.as.negociações.já.vinham.de.longe,.mas.foi.em.2006.que.se.celebrou.o.protocolo.definitivo.entre.a.Marinha.e.a.Câmara.Municipal.de.Cascais,.com.o.fim.de.requalificar.o.espaço.e.torná-lo. disponível. ao. público.. O. acesso. ao. farol. propriamente. dito.ainda. é. restrito,. estando. a. ser. equacionadas. soluções. para. cor-responder. ao. interesse. dos. visitantes,. certamente. aquele. que.maior.curiosidade.e.fascínio.provoca..
No. século. xix,. o. Farol. de. Santa. Marta. eleva-se. por. impulso. de.Francisco.Pereira.da.Silva,.um.dos.homens.do.seu.tempo.que.pro-curou,. literalmente,. retirar. a. costa. portuguesa. da. obscuridade,.projectando. a. construção. de. uma. série. de. faróis. no. continente..e.ilhas..Inaugurado.em.1868,.surge.como.reforço.do.Farol.da.Guia,.funcionando. em. articulação. com. este. no. sentido. de. sinalizar..e. iluminar. uma. zona. costeira. de. vital. importância.. Até. hoje..é. assim.. No. início,. quando. o. farol. era. mais. pequeno,. o. sistema.iluminante.estava.integrado.na.torre,.saindo.a.luz.por.uma.espé-cie.de.janelão..Em.1910,.adaptou-se.a.parte.cimeira.para.receber.uma.lanterna.óptica;.e,.em.1936,.para.que.as.luzes.da.vila.não.se..confundissem. com. a. do. farol,. a. torre. foi. acrescentada. em. oito.metros,.ganhando.a.aparência.que.agora.se.lhe.reconhece.
Casa de Santa Maria De.terça.a.domingo,.das.10h00.às.13h00.e.das.14h00.às.17h00
Farol-Museu de Santa Marta De.terça.a.domingo,.das.10h00.às.19h00
| 51
52 |
A Estratégia de Lisboa 2020Destaque.|.Luís de Carvalho
| 53
N o.passado.dia.4.de.Junho,. teve. lugar.na.FIL,.no.Parque.das.Nações,.a.apresentação.públi-ca. do. documento. Lisboa. 2020. –. Uma.Estratégia.de.Lisboa.para.a.Região.de.Lisboa,.que. contou. com. a. presença. do. ministro. do.
Ambiente,. Nunes. Correia,. do. secretario. de. Estado. do.Desenvolvimento. Regional,. Rui. Baleiras,. do. secretario. de.Estado. do. Ordenamento. do. Território. e. das. Cidades,. João.Ferrão,.do.presidente.da.CCDR-LVT,.António.Fonseca.Ferreira,.as.vice-presidentes.da.CCDR-LVT.Eurídice.Pereira.e.Fernanda.do. Carmo. e,. ainda,. de. João. Cravinho,. ex-ministro. do.Equipamento,. Planeamento. e. Administração. do. Território.do.XIII.Governo,.entre.outras.individualidades.e.autarcas.
Durante.mais.de.dois.anos.centenas.de.entidades.e.especialistas.trabalharam. no. documento. onde. estão. vertidas. as. linhas. de.orientação.e.traçados.os.caminhos.para.transformar,.num.breve.espaço. de. treze. anos,. . a. região. de. Lisboa. numa. metrópole. de.dimensão.europeia.
Na.opinião.de.João.Cravinho,.que.o.apresentou,.este.documento.encerra. «ideias. extremamente. ambiciosas»,. para. além. de. repre-sentar.uma.visão.«coerente.e.mobilizadora».do.caminho.a.percorrer.
O. ministro. do. Ambiente,. na. sua. intervenção,. frisou. o. trabalho.pioneiro.da.CCDR-LVT.na.liderança.do.processo.de.planeamento.e.gestão. estratégicos,. destacando. ainda. os. recursos. da. região,.nomeadamente. em. matéria. ambiental,. e. anunciou. um. novo.regime.jurídico.para.os.planos.de.ordenamento.e.a.consequente.redução. dos. prazos. para. aprovação. dos. Planos. Directores.Municipais,.de.Urbanização.e.de.Pormenor..
Na. sua. intervenção,. Fonseca. Ferreira,. presidente. da. CCDR-LVT,.salientou.que.a.região.de.Lisboa.«dispõe.de.excelentes.recursos.para.se.tornar.uma.região.europeia.competitiva..Mas.as.nossas.capacidades. são. sufocadas. pelas. nossas. . atitudes. e. comporta-mentos»,. pelo. que. teremos. de. «afrontar,. e. vencer,. arcaísmos. e.inércias.que.persistem.ao.nível.das.mentalidades.e.dos.compor-tamentos.»
E. para. que. a. Estratégia. se. concretize,. Fonseca. Ferreira. apontou.três.condições.essenciais.–.rigor.e.responsabilidade,.governabili-dade.e.o.compromisso.da.CCDR..No.seu.diagnóstico,.a.persistên-cia.dos.problemas.deve-se,.também,.às.«.insuficiências.culturais.e. organizacionais. dos. responsáveis. políticos,. institucionais. e.empresariais.–.e.dos.cidadãos.em.geral»..E.esta.questão.entronca-se,.necessariamente,.na.qualificação.profissional.e.no.baixo.nível.de.exigência.que.se.tem.verificado.
Fórum Metropolitano
Com. a. apresentação. da. Estratégia,. abre-se. um. novo. ciclo,. mais.exigente.e.complexo,.que.é.o.da.sua.execução.e.avaliação..Para.tal,.foi.proposta.a.criação.do.Fórum,.que.terá.já.a.sua.primeira.reu-nião.em.Outubro.de.2007.
O.Fórum.é.constituído.pelas.instituições.mais.representativas.da.comunidade.regional,.da.Administração.Central,.entidades.públi-cas.e.privadas,.assim.como.de.individualidades,.e.terá.a.função.de.«impulsionar.e.acompanhar.a.execução,.a.avaliação.e.dar.conse-lho.para.a.revisão.estratégia.ao.longo.do.período.da.sua.execu-ção»,.segundo.o.presidente.da.CCDR..A.esta.participação.dos.acto-res.da.sociedade.civil.nas.decisões..e.acompanhamento.da.vida.pública.chama-se.governança,.processo.que,.contudo,.«.não.subs-titui. o. comando. hierárquico. das. instituições. representativas»,.como.sublinhou.Fonseca.Ferreira,.mas.que.«impulsiona.a.concer-tação.e.a.contratualização.estratégicas.de.base.territorial».
Para.o.efeito,.serão.constituídos.seis.grupos.de.trabalho.em.áreas.como. o. planeamento. e. a. mobilidade,. a. eficiência. energética,. a.protecção.ambiental,.a.logística,.o.turismo,.o.património.e.a.cul-tura,.a.saúde.e.a.educação..
Estes.programas.estruturantes.serão.desenvolvidos.em.parceria.entre. várias. entidades,. como. as. autarquias,. empresas,. a. Junta.Metropolitana,.instituições.de.ensino.e.associações.empresariais,.entre.outras.
O.Fórum.acompanhará. também.outros.planos.da.responsabili-dade.da.CCDR-LVT,.como.o.PROT-AML,.o.PORL..e.o.PROT-OVT.
Compromisso da CCDR-LVT
Fonseca.Ferreira.passou.depois.em.revista.as.acções.desenvolvi-das.anteriormente.pela.CCDR-LVT,.nomeadamente.o.programa.de.desburocratização.e.modernização.dos.seus.serviços,.a.apresen-tação.do.Manual.de.Gestão,..e.os.efeitos.já.visíveis.pelas.medidas.de.modernização.postas.em.prática..Na.ocasião.referiu-se.à.agen-da.estratégica.para.a.gestão.da.CCDR.–.gestão.por.objectivos,.des-concentração,. certificação. da. qualidade,. inovação. e. desenvolvi-mento.organizacional.
No. final. da. sua. intervenção,. declarou:. 2. Queremos. e. podemos.progredir,. ser. ambiciosos,. ser. campeões,. pragmáticos,. tornar. a.região.mais.competitiva.e.com.melhor.qualidade.de.vida..Estamos.nessa. rota.. Com. uma. visão,. projectos. e. determinados. a. obter.resultados.»
Sendo.a.região.relativamente.desenvolvida,.deseja-se.que.com.a.implementação.da.Estratégia.2020,.se.assegurem.níveis.de.cres-cimento. baseados. numa. economia. mais. coesa. e. inovadora,. na.criação.de.riqueza.a.partir.do.conhecimento,.do.desenvolvimento.tecnológico,.da.ciência.e.da.inovação,.com.particular.atenção.para.as.questões.da.sustentabilidade.ambiental.e.energética,.valorização.territorial.e.coesão.social..
54 |
ABRANTES UMA CIDADE PARA AS PESSOASCom um empenho notável, a Câmara Municipal de Abrantes tem vindo a desenvolver
projectos que devolvem à cidade crescimento económico, cuidado ambiental e qualidade
de vida para os seus habitantes. Eis alguns exemplos.
Acontecimento.|.Luís de CarvalhoFotografia.|.SDI-CMA
| 55
A cidade de Abrantes,.com.um.vasto.patrimó-nio. histórico,. tem. vindo. a. desempenhar. um.importante. papel. no. desenvolvimento. eco-nómico. da. região,. quer. na. área. de. serviços,.quer,.ainda,.como.pólo.industrial,.colocando-
se. em. posição. privilegiada. como. motor. de. modernização.para.a.região.do.Médio.Tejo.
Com.a.criação.do.Aquapolis,.projecto.que.tem.uma.área.de.inter-venção.de.85.hectares,.que.se.integra.no.programa.Valtejo.(.Eixo.Prioritário.2.do.PORLVT),.e.cujo.investimento.resulta.de.uma.par-ceria.activa.entre.o.município.de.Abrantes,.o.Governo.e.a.União.Europeia-,. essencialmente. pensado. como. espaço. de. lazer. das.suas.populações,.e.para.os.turistas.que.ali.busquem.momentos.de.desporto,.cultura.ou.simples.repouso,.Abrantes.fica.apetrecha-da.com.um.dos.melhores.complexos.de. lazer.e.cultura.do.país,.com. um. enquadramento. paisagístico. ímpar. e. um. cuidado.ambiental.que.resulta.de.uma.reabilitação.e.requalificação.que.não. pode. deixar. de. ser. assinalada,. nomeadamente. no. cuidado.posto. na. preservação. da. memória. histórica,. com. a. preservação.dos.pilares.de.uma.ponte.de.barcas.do.século.xix.e.a.Fonte.dos.Touros,.antigo.lavadouro.público,.também.restaurado.
O.projecto.tem.uma.área.de.implantação.a.norte,.com.23.hecta-res,.e.a.sul,.com.13.hectares,.compreendendo.ainda.os.50.hectares.no. rio.Tejo.. Na. margem. norte. do. Aquapolis. estão. uma. série. de.infra-estruturas.para.a.prática.de.várias.modalidades.desportivas.como. o. futebol. e. o. voleibol,. uma. ciclovia,. zona. para. prática. de.skate,.um.parque.infantil,.um.anfiteatro,.o.Terraço.das.Oliveiras,.o.Parque.das.Merendas,.a.praia.fluvial.para.a.prática.de.desportos.de.praia,.o.jardim.do.rio.para.passeios.a.pé,.uma.zona.de.restau-ração.e.bares.e.um.espelho.de.água.onde.é.possível.praticar.remo,.pesca.desportiva,.canoagem,.etc..Há,.ainda.uma.zona.disponível.para.o.parqueamento.de.autocaravanas,.com.alguns.serviços.de.manutenção.e.uma.zona.de.parqueamento..
Prevê-se,.ainda,.uma.outra.infra-estrutura.a.instalar.nesta.zona.norte,.que.será.o.futuro.Centro.Náutico,.que.terá.um.restaurante,.ginásio,. sala. polivalente. para. reuniões/exposições,. arrecadação.de.embarcações.e.jardim.
Para.a.margem.sul,.estão.projectados.uma.Praça.e.Auditório.com.cobertura.tensível,.um.Jardim Géiser,.percursos.pedonais,.zona.de.estar,.quiosques.de.apoio.e.zonas.de.estacionamento.
Também.a.denominada.Cidade Desportiva,.localizada.numa.das.áreas.de.expansão.da.cidade,.é.uma.das.apostas.que..a.Câmara.Municipal.da.cidade.tem.vindo.a.desenvolver,.e.que.congrega.um.
56 |
Estádio.Municipal.de.Futebol,.com.pista.de.atletismo,.um.campo.com. relva. sintética,. um. campo. de. basebol. e. um. Complexo. de.Piscinas,. composto. por. tanques. exteriores. e. tanques. interiores,.destinados.ao.ensino.da.natação,.à.competição.e.ao.lazer..Neste.espaço.encontramos.outras.valências.de.apoio,.como.uma.sala.de.prestação.de.primeiros.socorros,..bar.e.balneários.
No.Estádio.Municipal.podem.ser.praticadas.várias.modalidades,.desde.o.salto.à.vara.ao.lançamento.do.dardo,.lançamento.de.disco.e.martelo,.para.além.de.salas.de.squash,.sauna.e.jacuzzi,.bar,.audi-tório.e.uma.sala.de.conferências.
O.conjunto.de.obras.na.Cidade Desportiva.será.completado.com.o.Pavilhão.Multiusos,.que.irá.alargar.a.oferta.já.existente,.permitindo.outras.utilizações.
A.esta.atenção.ao.meio.ambiente.e.à.qualidade.de.vida.dos.seus.habitantes,. Abrantes. tem. desenvolvido. outras. infra-estruturas.para.a.captação.de.investimentos.na.área.da.ciência.e.da.tecnolo-gia,.tendo.assim.nascido.o.Tecnopólo.do.Vale.do.Tejo,.parque.de.Ciência. e. Tecnologia. promovido. em. parceria. entre. a. Câmara.Municipal. e. o. Núcleo. Empresarial. da. Região. de. Santarém..e.Instituto.Politécnico.de.Tomar.
Este.Parque,.com.15.hectares,.é.composto.por.infra-estruturas.que.pretendem.dinamizar.a.aposta.na. Inovação,.na.Tecnologia.e.na.Investigação.&.Desenvolvimento.
A.título.de.exemplo,.está.a.Associação.para.o.Desenvolvimento.de.Assessoria.e.Ensaios.Técnicos.(A.Logos),.um.projecto.intermunici-pal.que.desenvolve.trabalhos.no.âmbito.do.controlo.de.qualidade.de. águas. residuais,. piscinas,. géneros. alimentícios. e. alimentos.para.animais,.e.que.presta..apoio.a.autarquias,.empresas.e.orga-nismos.do.Estado.
Também. em. funcionamento. encontra-se. o. Pólo. de. Formação,.que,.com.o.IEFP,.oferece.cursos.de.referência.a.nível.nacional.em.áreas. como.Técnicas. administrativas. e. informáticas. de. apoio. à.gestão,.logística.e.armazenamento,.carpintaria,.desenho.de.constru-ções.mecânicas,.contabilidade.e.gestão.ou.mecatrónica.automóvel.
Em.fase.de.concurso.encontra-se.o.CIIDE,.Centro.de.Incubação.de.Empresas. de. Base. Tecnológica,. que. tem. por. objectivo. tornar.ideias. de. . projectos. tecnológicos. em. sucessos. de. mercado.. Está.previsto. acolher. 22. empresas. em. fase. de. incubação,. cabendo. a.cada. uma. um. espaço. totalmente. equipado. –. comunicações,.mobiliário.e.meios.informáticos-,.partilhando.outros.equipamen-
| 57
tos.como.salas.de.reunião,.redes.informáticas.e.de.telecomunica-ções,.serviços.administrativos,.repografia.e.assistência.técnica.
Esta. unidade. integrará. um. Gabinete. de. Apoio. à. Inovação,. que.prestará.apoio.aos.empresários.em.várias.vertentes,.desde.a.ela-boração. de. planos. de. negocio,. à. organização. de. contabilidade,.consultoria.jurídica,.modernização.tecnológica.e.higiene.e.segu-rança.no.trabalho.
Refira-se.ainda.ao.Centro.Tecnológico.Alimentar,.que.tem.o.apoio.da. CCDR-LVT,. e. que. aguarda. instalação. de. equipamento.. Este.Centro.dedica-se.à.produção.agro-alimentar,.fiscalizando.a.quali-dade. dos. produtos. e. garantindo. a. sua. adaptação. ao. mercado,.preservar. os. sabores. regionais. tradicionais. e. formar. quadros. e.operadores.
O.Centro.Tecnológico.alimentar.tem.como.promotores.a.Câmara.Municipal,.a.NERSANT,.a.Escola.Superior.de.Tecnologia.de.Abrantes,.o.A.Logos.e.a.empesa.STI.e.empresas.do.sector.agro-alimentar..
Açude
Foi.inaugurado.pelo.Primeiro-Ministro.no.passado.mês.de.Junho.uma. das. infra-estruturas. mais. importantes. da. intervenção.Aquapolis,.o.denominado.Açude.Insuflável.
Localizado. a. cerca. de. 1. Km. a. jusante. da. ponte. rodoviária. de.Abrantes,. é. a. maior. empreitada. de. sempre. no. concelho. de.Abrantes,.e.única.no.género.na.Península.Ibérica.
É. uma. obra. de. engenharia. que. envolveu. várias. especialidades,.onde.foi.utilizada.tecnologia.de.ponta.importada.do.Japão,.com-posta.por.uma.estrutura.de.betão.armado.em.que.assentam.qua-tro. comportas. insufláveis,. que. permitiram. a. criação. do. vasto.espelho.de.água,.vital.para.o.desenvolvimento.de.espaços.desti-nados.à.prática.de.desportos.náuticos.e.actividades.de.lazer.
Com.cerca.de.240.metros.de.comprimento,.o.açude.insuflável.cria..uma. área. inundada. de. cerca. de. 150. ha. e. um. volume. de. água.armazenada.da.ordem.de.2,6.Mm3.
O.Açude. integra.ainda.uma.escada.para.a.passagem.de.peixes,.que. se. localiza. na. margem. esquerda,. sobre. uma. plataforma.rochosa,.que.permite.a..circulação.de.diversas.espécies.piscícolas.
Comer e beberentre os encantos da serra e do marHá.algumas.regiões.portuguesas,.em.lugar.cimeiro.das.quais.poderemos.colocar.
Cascais/Sintra,.a.que.nada.falta.para.a.alegria.de.quem.lá.vive.ou.as.visita..
Roteiro.|.David Lopes RamosFotografia.|.Pedro Soares
| 59
O património natural e o património construído são. dos. mais. ricos. de. Portugal:. uma. costa.marítima.que.alterna.os.areais.dourados.com.escarpas.monumentais,.um.mar.azul,.batido,.oxigenado.e.iodado,.zonas.florestadas,.como.
a. da. serra. de. Sintra,. panoramas. fantásticos,. como..o. que. se. avista. das. Azenhas. do. Mar,. palácios. e. solares,.grande. parte. deles. em. bom. estado. de. conservação..e. visitáveis,. hortas. e. pomares. bem. cultivados,. que. nos..fornecem. matérias-primas. de. frescura. e. qualidade. por.vezes.excepcional..
E.os.peixes.e.mariscos,.muitos.deles.capturados.por.pescadores.artesanais,. expostos. na. lota. de. Cascais. e. nos. mostruários. dos..restaurantes. da. região?. Quem,. jornadeando. por. estas. terras,.nunca.se.deliciou.com.as.rosadas.gambas.da.costa,.ou.os.perce-bes. das. rochas,. as. lagostas. e. os. lavagantes?. Com. peixes. como..as. pescadas,. os. chernes,. os. rodovalhos,. pregados,. linguados,..sargos,. robalos. ou. douradas?. Mas. os. que. se. alegram. de. comer.carne. também. não. têm. razões. de. queixa:. há. carnes. de. porco,..de.vaca.e.de.gado.caprino.de.qualidade,.muitas.vezes.à.disposição.em.pequenos.talhos.à.beira.da.estrada..E,.até,.alguma.caça,.como..perdizes,.coelhos.bravos,.lebres,.codornizes,.rolas.e.tordos.
Vinho.também.há,.como.se.sabe,.embora.já.tenha.vivido.melhores.dias.. Deve,. no. entanto,. reconhecer-se. que,. nos. últimos. tempos,.
sobretudo. em. Colares,. se. está. a. trabalhar. pela. sobrevivência..e. renascimento. dos. seus. brancos. e. tintos,. com. destaque. para..o. mais. famoso,. o. da. casta. Ramisco. cultivada. em. chão. de. areia...Já.a.realidade.do.generoso.de.Carcavelos,.que.divide.o.que.resta.das.vinhas.que.sobreviveram.ao.avanço.do.cimento.entre.terras.de.Oeiras.e.Cascais,.é.mais.problemática,.sendo.este.vinho,.cria-ção.do.marquês.de.Pombal,.Sebastião. José.de.Carvalho.e.Mello,..na. segunda. metade. do. século. xviii,. cada. vez. mais. uma..referência.histórica.
E. agora. vamos. para. Sintra,. belíssima. terra. sempre. cheia. de..turistas.. Do. seu. receituário,. António. Maria. de. Oliveira. Bello. -.Olleboma,. na. sua. obrigatória. «Culinária. Portuguesa»(Edição.Assírio.&.Alvim,.Novembro.de.1994),.cita.o.bacalhau.Alba.Longa..José. Quitério,. no. seu. «Livro. de. Bem. Comer. —. crónicas..de.gastronomia.portuguesa».(Edição.Assírio.&.Alvim,.Novembro.de.1987),.junta.uma.vitela.à.Manuel.da.Neta..
Na. freguesia. das. Mercês,. na. feira. anual,. comeremos. a. carne..de.porco.frita.à.moda.da.terra:.carne.aos.pedaços.pequenos,.tem-perada.com.colorau,.sal,.alho,.louro,.um.nada.de.picante.e.vinho.branco,. que. se. frita. com. banha. numas. pequenas. frigideiras. de.barro.vermelho,.nas.quais.é.servida..
Não. pode. também. ser. esquecido. o. leitão. de. Negrais,. um. dos.emblemas.gastronómicos.da.região.de.Sintra,.nos.últimos.anos.
60 |
tema.de.um.festival.promovido.pela.Câmara.Municipal..Diferente.do. bairradino. na. forma. (embora. assado. em. forno,. é. aberto..e.espalmado).e.também.no.tempero,.o.leitão.de.Negrais.encontra.a. maioria. dos. seus. adeptos. no. seu. lugar. de. nascimento. e. na.Grande.Lisboa..Nas.secções.de.pronto-a-comer.das.grandes.super-fícies.encontra-se.muito,.em.geral.com.mau.aspecto..Característica.comum.ao.à.moda.da.Bairrada..Por.isso,.seria.avisado.que,.quer.em.Negrais,.quer.na.Bairrada,.se.tomassem.as.medidas.necessárias.à.defesa.da.genuinidade.e.qualidade.dos.seus.leitões.assados.
A.doçaria.da.região.é.abundante.e.conhecida,.com.destaque.para.as. queijadas,. mais. os. travesseiros. de. noiva,. os. biscoitos. vários,.bem.como.os.fofos,.as.broas.e.os.fartos.de.Belas.
Em.Cascais,.a.sempre.vila.e.bela,.voltamos.ao.chorume.marítimo..Ao.caldo.de.peixe,.ao.mexilhão.de.caldeirada.à.fragateira,.à.caldeirada.de. robalo. grande,. às. sardinhas. assadas. no. forno,. à. salada..de. lagosta.e.à. lagosta.à.faroleiro,.às.sardas.ou.cavalas.salgadas.cozidas. em. leite.. Adoçaremos. a. boca. com. areias,. nozes,. pratas,..joaninhas.e.raivas.
Colares do século xix aos nossos dias
Os. admiradores. de. Eça. de. Queirós. e. dos. seus. romances. sabem.que. os. tintos. de. Colares. são. várias. vezes. referidos. e. elogiados..Estes.vinhos,.produzidos.em.terras.situadas.entre.Sintra.e.o.mar,.na. várzea. de. Colares. e. em. terrenos. de. Azenhas. do. Mar,. eram..comparados,. na. elegância. e. aroma. delicado,. aos. Bordéus,. fama.que.transitou.para.o.século.xx..Ainda.na.década.de.70,.o.conheci-do.especialista.e.crítico.de.vinhos.britânico.Hugh.Johnson.assim.os.tratava.no.seu.influente.«The.World.Atlas.of.Wine»..Foi.no.final.dessa.época.que.bebi.o.único.Colares.Ramisco.de.chão.de.areia..de. que. me. recordo. com. saudades:. um. tinto. de. um. produtor..de. Banzão. da. colheita. de. 1948.. Foram. duas. garrafas. e. o. vinho.estava. perfeito:. cor. casca. de. cebola. seca,. aroma. delicado. com.notas.salgadas.de.terra,.bosque.e.cogumelos,.aveludado.e.longo.na.boca,.acompanhou.na.maravilha.um.rosbife,.caramelizado.por.fora.e.rosadíssimo.no.interior.
Os.vinhos.tintos.de.Colares.da.casta.Ramisco.cultivada.em.chão.de.areia.perto.do.mar,.plantas.protegidas.dos.ventos.e.da.salsugem.
por. paliçadas. de. canas,. foram. sempre. muito. difíceis. de. beber..em.novos,.por.serem.muito.taninosos,.adstringentes,.até.acerbos,.serem.magros.de.corpo.e.de.baixa.graduação.alcoólica..Tinha.que.se. ter. paciência. para. esperar. por. eles. uma. vintena. de. anos...Esta.questão.técnica,.aliada.à.pressão.urbanística,.fez.com.que.os.Colares. entrassem. numa. decadência,. que. quase. os. matou...A.Adega.Regional.de.Colares,.que.detinha.o.monopólio.da.concessão.da. denominação. de. origem,. enredada. numa. teia. burocrática.difícil. de. deslindar,. também. não. ajudou. à. modificação..da.situação,.embora.recentemente.dê.mostras.de.algum.dinamismo.
Neste. quadro,. a. compra. pela. Fundação. Oriente,. de. Carlos.Monjardino,. a. pedido. da. Câmara. Municipal. de. Sintra,. da. única.vinha.contínua.com.uma.dimensão.razoável,.plantada.nos.anos.80. do. século. passado. pela. antiga. firma. Carvalho,. Ribeiro..&.Ferreira.nas.Azenhas.do.Mar,.deu.algum.alento.a.Colares,.mas..a.Adega.Regional.de.Colares.defende.posições.de.algum.funda-mentalismo,.que.não.são.bom.augúrio..Da.vinha.original.com.a.casta. Ramisco. plantada. em. chão. de. areia. fez-se. um. tinto,. em.2004,. agora. colocado. à. venda.. O. seu. perfil,. porém,. ainda. tem.muito.do.Colares.à.antiga,.sendo.necessário.esperar.algum.tempo.pela.evolução.do.vinho.em.garrafa.para.ver.o.que.dá..
Entretanto,. a. Fundação. Oriente,. que. contratou. o. enólogo. Paulo.Nigra.para.fazer.os.novos.vinhos,.decidiu.arrancar.a.vinha.velha,.que.tinha.problemas.sérios.de.ordem.sanitária,.e.plantou,.segundo.as.melhores.regras,.nova.vinha.com.plantas.sãs..Já.há.um.tinto.de.2005.engarrafado.e.outro.de.2006.ainda.em.barricas..São.vinhos.em.que.os. taninos.se.mostram.mais.civilizados.e. têm.um.grau.alcoólico. de. 12º/12,5º,. bem. acima. dos. tradicionais. 10º,..e.podem.ser.bebidos.mais.cedo.
Mas.a.grande.novidade.dos.novos.Colares.é.um.branco.da.colheita.de.2006,.elaborado.com.uvas.da.casta.Malvasia.de.Colares,.que..só.na.região.existe,.a.dominar.o.conjunto,.que.deu.origem.a.um.vinho.de.perfil.exótico,.com.fruta.e.frescura.no.aroma,.uma.acidez.expressiva,.corpo.elegante.e.bem.estruturado.com.notas.minerais,.que.está.mesmo.a.pedir.uma.dúzia.de.ostras.de.Setúbal.ao.natural.ou.um.peixe.grande.daquela.costa.assado.no.forno.. Quer.dizer,.nem.tudo.parece.perdido.em.Colares.
| 61
Onde COmer
No.Guincho,.Cascais,.há.dois.restaurantes.com.uma.estrela.Michelin:.o.Porto.de.Santa.Maria,.o.que.ostenta.o.galardão..há.mais.tempo.em.Portugal;.e.o.da.Fortaleza.do.Guincho,..que.tem.como.consultor.o.grande.chefe.de.cozinha.francês,.Antoine.Westermann,.três.estrelas.Micchelin..Mas.há.mais.restaurantes.categorizados.em.Cascais/Sintra..
Alguns.exemplos:
restaurante da FOrtaleza dO GuinChOEstrada.do.Guincho,.CascaisTel.:.214.870.491;.fax:.214.870.431
POrtO de santa mariaEstrada.do.Guincho,.CascaisTels.:.214.870.240/214.879.450;.fax:.214.879.458
100 maneirasHotel.Villa.AlbatrozRua.Fernandes.Tomás,1,.CascaisTele.:.214.835.394
enOteCa restaurantRua.Visconde.da.Luz,.17,.Lj.3,.CascaisTels.:.214.822.382;.962.569.609
taverna dO FranCêsRua.das.Amoreiras,.178,.Torre,.CascaisTel.:.214.864.550
mOnte marEstrada.do.Guincho,.Oitavos,.CascaisTel.:.214.869.270;.fax:.214.869.356
Casa dO larGOLargo.da.Assunção,.6.e.7,.CascaisTels.:.214.831.856;.966.831.324
mésOn andaluzCascaisshopping,.Loja.1089,.AlcabidecheTel.:.214.600.659;.faz.214.600.809
tOsCanOTravª..Barbosa.de.Magalhães,.2,.ParedeTel.:.214.582.020;.fax:.214.572.849
vin rOuGeRua.Carlos.Anjos,.Lote.2,.Loja.Dtª,..Amoreira,.EstorilTel.:.214.684.439
restaurante dO hOtel lawrenCe’sRua.Consiglieri.Pedroso,.30-40,.SintraTel.:.219.105.500;.fax:.219.105.505
Curral dOs CaPrinOsCabriz,.SintraTels.:.219.233.113;.219.241.417.|.fax:.219.235.583
Carcavelos a agonizar
Quanto. ao. Carcavelos,. citando. um. texto. do. especialista. João.Paulo.Martins,.«a.vinificação.segue.de.perto.a.técnica.usada.para.a.produção.de.generosos.(interrupção.da.fermentação.alcoólica.por.adição.de.aguardente.vínica).mas,.não.poucas.vezes,.o.mesmo.era. deixado. a. fermentar. até. o. vinho. ficar. seco,. sendo,. então,..o.grau.de.doçura.dado.pela.adição.de.um.abafado.(mosto.ao.qual.foi. adicionada. aguardente).. Os. vinhos. eram. sempre. mais. secos.do.que.o.Vinho.do.Porto.e.assemelhavam-se.a.um.Porto. tawny,.com. . dominância. dos. aromas. de. frutos. secos.. Sempre. foram,..por. isso,. vinhos. de. sobremesa,. especialmente. apreciados. pela..elegância.e.frescura.dos.aromas,.autênticos.vinhos.de.cheiro.»
«Actualmente,.a.produção.concentra-se.em.três.quintas:.Quinta.dos. Pesos. com. um. vinho. marca. Carcavelos. (família. Bulhosa),..a.Quinta.da.Ribeira.(Patriarcado.de.Lisboa).e.a.Estação.Agronómica.de.Oeiras,.perfazendo.um.total.de.15.hectares..No.mercado.ape-nas.é.possível.encontrar.o.vinho.da.Quinta.dos.Pesos.e.da.Estação.Agronómica.. Comparando-se. estes. dois. vinhos,. não. é. possível.concluir. sobre. o. novo. estilo. do. Carcavelos.. Os. dois. vinhos. têm..perfis. completamente. distintos,. sendo. mais. os. factores. que. os.afastam.do.que.aqueles.que.os.juntam..O.consumidor.terá.assim.dificuldade. em. perceber. qual. é. o. vinho. que. melhor. representa..o. Carcavelos.. As. poucas. garrafas. que. ainda. restam. da. antiga.Quinta.da.Bela.Vista.atingem.preços.muito.elevados.mas.podem.servir.como.modelo.para.quem.quiser.saber.o.que.era.realmente.o. Carcavelos. de. antigamente.. As. garrafas. existentes. da. Quinta..do.Barão.nem.sempre.justificam.o.que.por.elas.se.pede..Perguntar-se-á:.neste.quadro,.que.escolha.tem.o.consumidor?.Por.enquanto,.a.única.resposta.é.a.seguinte:.ainda.há.vinho.feito.em.Carcavelos,.mas.se.será.este.“o”.Carcavelos.existem.algumas.dúvidas..A.escolha.é,.por.isso,.complicada»..
Depois. da. publicação. deste. texto,. a. situação. já. se. alterou...Com.a.morte.de.Manoel.Cordo.Bullosa,.a.Quinta.dos.Pesos.deixou..de. produzir. Carcavelos.. A. última. paixão. do. milionário. galaico-.-português.terá,.assim,.morrido.com.ele..E.o.futuro.do.Carcavelos.tornou-se.ainda.mais.problemático..
ARTE
MRE
DE
62 |
CrianÇas e JOvensmidimi - outras músicas para bebésPassos e Compassos
sexta-feira, 16 setembroCine-Teatro S.João, Entroncamento
einsteinTeatro Extremo
sexta-feira, 02 novembro | 21h30 Teatro Sá da Bandeira, Santarém
Quinta-feira, 08 novembro Teatro Sá da Bandeira, Santarém
Quinta-feira, 15 novembro | 21h30
Cine Teatro S.João, Entroncamento
agakuke e a princesa Putri telurLua Cheia Teatro para Todos
sexta-feira, 28 setembro | 10h30Cine-teatro S.Pedro, Abrantes
domingo, 07 Outubro | 16h00Auditório Municipal, Pinhal Novo
sábado, 13 Outubro | 11h00Teatro-Cine, Torres Vedras
sexta-feira, 26 Outubro | 10h30Centro Cultural, Cartaxo
domingo, 04 novembro | 16h00Auditório Augusto Cabrita, Barreiro
agakuke e a filha do solLua Cheia Teatro para Todos
domingo, 14 Outubro | 16h00Auditório Municipal, Pinhal Novo
sexta-feira, 19 Outubro | 10h30Cine teatro S.Pedro, Abrantes
sábado, 20 Outubro | 11h00Cine Teatro, Torres Vedras
sexta-feira, 09 novembro | 10h30Centro Cultural, Cartaxo
domingo, 18 novembro | 16h00Auditório Municipal António Silva, Sintra
Na sequência do investimento realizado em conjunto
com as autarquias na construção, recuperação,
modificação de cine-teatros e outros equipamentos
culturais congéneres destinados à apresentação
de espectáculos, maioritariamente financiado através
dos fundos estruturais europeus, decidiu a CCDR-LVT
– Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional de Lisboa e Vale do Tejo promover a
realização de um estudo que identificasse os meios
e instrumentos mais adequados à dinamização,
qualificação e criação de condições de sustentabilidade
desses equipamentos.
A realização do referido estudo incluiu um trabalho
de inventariação dos teatros e cine-teatros e de
análise das dinâmicas culturais da Região, bem como
uma ampla discussão e troca de ideias com as
autarquias, ao nível, quer dos seus responsáveis
políticos, quer de responsáveis dos departamentos
culturais ou dos próprios teatros. Este processo
culminou com a proposta de criação de uma rede
formal que integrasse os teatros e equipamentos
culturais congéneres da região, entendida como
a melhor solução para dar resposta às necessidades
de qualificação, assistência técnica e
desenvolvimento que as autarquias sentem neste
domínio. A criação da Rede foi consubstanciada
através da constituição de uma associação cultural
privada sem fins lucrativos «Artemrede – Teatros
Associados», integrando, presentemente, o projecto
15 autarquias: Abrantes, Alcanena, Alcobaça, Almada,
Almeirim, Barreiro, Cartaxo, Entroncamento, Moita,
Montijo, Palmela, Santarém, Sintra, Sobral de Monte
Agraço e Torres Vedras.
| 63
O Guarda da noiteA Tarumba
sábado, 13 Outubro | 16h00Auditório Municipal António Silva
noite de reisCompanhia Paulo Ribeiro
terça-feira, 30 OutubroCine Teatro S.João, Entroncamento
sábado, 24 novembro | 11h00 Teatro Cine, Torres Vedras
mÚsiCasolistas de salzburgoSolistas de Salzburgo
sexta-feira, 12 Outubro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, Santarém
sábado, 13 Outubro | 21h30Auditório Augusto Cabrita, Barreiro
sexta-feira, 19 Outubro | 22h00Centro Cultural Olga Cadaval
sábado, 20 Outubro | 21h30Cine Teatro Joaquim d´Almeida, Montijo
domingo, 21 Outubro | 18h30Mosteiro, Alcobaça
sexta-feira, 26 Outubro | 21h30Auditório Fernando Lopes Graça, Almada
terça-feira, 30 OutubroCine Teatro S.João, Entroncamento
steel drummingDrumming
Quarta-feira, 31 Outubro | 21h30Cine Teatro do Sobral de Monte Agraço
sexta-feira, 26 Outubro | 21h30Cine Teatro S. Pedro, Abrantes
Quarta-feira, 31 Outubro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, Santarém
sexta-feira, 09 novembro | 21h30 Cinema Teatro Joaquim d´Almeida, Montijo
nOvO CirCOFerloscardoNovo Circo Ribatejano
sábado-feira, 20 Outubro | 21h30Auditório Municipal António Silva, Sintra
Quarta-feira, 31 Outubro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, Santarém
laissez-PorterCie XYQuinta-feira, 29 novembro | 22h00 Fórum Cultural JM Figueiredo
teatrOd.QuixoteChapitô
sexta-feira, 28 setembro | 21h30Cine-Teatro Almeirim, Almeirim
sábado, 29 setembro | 21h30Centro Cultural, Cartaxo
Quinta-feira, 04 Outubro | 21h30Cine-Teatro, Abrantes
sexta-feira, 05 Outubro | 21h30Cine-Teatro do Sobral de Monte Agraço
64 |
animação suspensaHuber Marionettes
Quinta-feira, 11 Outubro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, Santarém
sexta-feira, 12 Outubro | 21h30Teatro-Cine, Torres Vedras
sábado, 13 Outubro | 21h30Centro Cultural, Cartaxo
domingo, 14 Outubro | 16h00Cine Teatro Joaquim d´Almeida, Montijo
Quinta-feira, 18 Outubro | 21h30Auditório Municipal, Pinhal Novo
sexta-feira, 19 Outubro | 22h00Fórum Cultural JM Figueiredo
sábado, 20 Outubro | 21h30Auditório Augusto Cabrita, Barreiro
antOlOGiaCIA JORDI BERTRAN
sexta-feira, 02 novembro | 21h30 Auditório Augusto Cabrita, Barreiro
multidisciplinarsherlock JrQuase por Quatro
Quinta-feira, 15 setembro | 22h30Centro Cultural, Abrantes
sexta-feira, 28 setembro | 21h30Cine-Teatro de Almeirim, Almeirim
sábado, 29 setembro | 21h30Cine-Teatro, Sobral de Monte Agraço
sexta-feira, 12 Outubro | 21h30Auditório Municipal, Pinhal Novo
OlíviaBalleteatro
sábado, 22 setembro, 11h00Teatro-Cine, Torres Vedras
domingo, 30 setembro, 16h00Auditório Municipal António Silva, Sintra
domingo, 07 Outubro, 16h00Cinema Teatro Joaquim d´Almeida, Montijo
terça-feira, 23 OutubroCine-Teatro S.João, Entroncamento
noite BrancaCorpus
Quinta-feira, 18 Outubro | 21h30Auditório Fernando Lopes-Graça, Almada
sábado, 20 Outubro | 21h30Cine Teatro de Alcobaça, Alcobaça
sexta-feira, 26 Outubro | 22h00Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra
Quarta-feira, 31 Outubro | 21h30Teatro Sá da Bandeira, Santarém
danÇasubmersão do meu serCompanhia de Dança de Almada
domingo, 30 setembro | 21h30Centro Cultural, Cartaxo
sábado, 06 Outubro | 21h30Teatro-Cine, Torres Vedras
a arte da FugaCRLG+CPDSCA
sexta-feira, 21 setembro Teatro Camões
sábado, 22 setembro Teatro Camões
sábado, 03 novembro | 21h45Teatro Sá da Bandeira, Santarém
segunda-feira, 10 setembro | 21h30Auditório Augusto Cabrita, Barreiro
sábado, 17 novembro | 21h30Cine-Teatro S.João, Palmela
domingo, 23 setembro | 21h30Cine-Teatro S.Pedro, Abrantes
Noi
te B
ranc
a, C
ompa
nhia
Cor
pus
Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território
e Desenvolvimento Regional