entre o luso e o holandêsdo-se á aventura de conquistar territorios, não conseguiu outras...

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146 v IRIAT-O CORR Ê A dido a comicidade da expedição. Relatando, á côrte portugueza, a volta das tropas, affirmou que, "depois de fazerem o seu passeio com todas as regras da ta- ctica, se haviam recolhido por não ser propria a estação, produzindo, apesar disso, o passeio um grande eHeito moral". O Nicoláo pôde saber, em vida, a extensão e a gra- vidade da sua pilheria. - O coronel João Paulo Carneiro, annos depois, pren- deu-o e trancou-o numa prisão perpetua. Que respeitavel toupeira devia ter sido aquelle d. Fernando Antonio de Noronha! ENTRE O LUSO E O HOLLANDEZ ... Ha;' no Brasil, o velho habito de prantear-se o mallogro da colonização flamenga e de attribuir-se ao portuguez os defeitos e os males da nossa organização. - Se os hollandezes tivessem ficado em Pernambu- co, ah! outros gallos nos cantariam! exclamam os nossos homens. E, até espíritos de larga responsabilidade e de in- contestáveis virtudes de analyse, se têm deixado levar pela onda, affirmando que seriamos outro povo, de outro cunho moral, de outra vitalidade progressista, se a Hollanda predominasse nas suas conquistas americanas. Teria realmente o Brasil perdido com a coloniza- ção portugueza? Teria ganho muito mais com o do- minio hollandez? A resposta não se pode dar em duas ou tres pa- lavras. !: '1 Quando a gente, ao estender os olhos por esse ~- menso territorio de mais de 8 milhões de kilometros qua- drados, sabe que tudo é obra rude do portuguez, parece não haver razão para maldizer a conquista lusa e para lamentar que os batavos tivessem malogrado.

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Page 1: Entre o Luso e o Holandêsdo-se á aventura de conquistar territorios, não conseguiu outras virtudes sinão a do ganho. Sendo, até hoje, um povo colonizador, até hoje não deu,

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dido a comicidade da expedição. Relatando, á côrteportugueza, a volta das tropas, affirmou que, "depoisde fazerem o seu passeio com todas as regras da ta-ctica, se haviam recolhido por não ser propria a estação,produzindo, apesar disso, o passeio um grande eHeitomoral".

O Nicoláo pôde saber, em vida, a extensão e a gra-vidade da sua pilheria. -

O coronel João Paulo Carneiro, annos depois, pren-deu-o e trancou-o numa prisão perpetua.

Que respeitavel toupeira devia ter sido aquelle d.Fernando Antonio de Noronha!

ENTRE O LUSO E O HOLLANDEZ ...

Ha;' no Brasil, o velho habito de prantear-se omallogro da colonização flamenga e de attribuir-se aoportuguez os defeitos e os males da nossa organização.

- Se os hollandezes tivessem ficado em Pernambu-co, ah! outros gallos nos cantariam! exclamam os nossoshomens.

E, até espíritos de larga responsabilidade e de in-contestáveis virtudes de analyse, se têm deixado levarpela onda, affirmando que seriamos outro povo, deoutro cunho moral, de outra vitalidade progressista, se aHollanda predominasse nas suas conquistas americanas.

Teria realmente o Brasil perdido com a coloniza-ção portugueza? Teria ganho muito mais com o do-minio hollandez?

A resposta não se pode dar em duas ou tres pa-lavras. ! : '1

Quando a gente, ao estender os olhos por esse ~-menso territorio de mais de 8 milhões de kilometros qua-drados, sabe que tudo é obra rude do portuguez, parecenão haver razão para maldizer a conquista lusa e paralamentar que os batavos tivessem malogrado.

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Mas, pode haver, nesse juizo, algumas doses de sen-timentalismo. E' melhor analysar a questão com sereni-dade historica.

Diante da historia, o dominio hollandez, no Brasil,foi um desastre, ou melhor, a triste revelação da incapa-cidade da HoIlanda como paiz colonizador.

Entre o portuguez e o flamengo, dos tempos co-loniaes, a differença era profunda. O primeiro, ao pisarem terras brasileiras, vinha preparado para a grandemissão de formador de povos, o segundo apenas ensaia-va, com desassombro, os arrojos da pirataria.

Portugal veio ao Brasil para colonizar. A Hollandaentrou-nos pelas terras carregando, ás costas, o cofre deuma empresa mercantil.

No espirito do primeiro havia, com toda a sua ru-dez, o impulso de expansão; no outro, com toda a suacultura e todos os rasgos progressistas, havia apenas afrieza do lucro.

Ha, na corrente que eleva o colonizador flamengo,um grave erro de visão. E' que se quer julgar o hollandezpelo que elle é na Hollanda. Na Hollanda, o hollandez égrande. Não foi só uma civilização que construiu: fezesta coisa virgem na historia do mundo - edificouum solo. .

Mas, fóra de lá, é pequenino e mesquinho. Atiran-do-se á aventura de conquistar territorios, não conseguiuoutras virtudes sinão a do ganho. Sendo, até hoje, umpovo colonizador, até hoje não deu, ao mundo, uma na-cionalidade formada, como Portugal deu o Brasil, como

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a Inglaterra deu os Estados Unidos, como a Espanhadeu as Republicas da America. .

No ponto de vista moral; no ponto de v~sta ~o-litico, no ponto de vista social, as suas c.ol~mas sao,hoje, o que eram nos primeiros dias do dO~l1mo- umavasta seara que a metropole explora intelhgente e tran-quillamente. Não se conhece uma nação formada e edu-cada pela Hollanda. . .

Com Portugal é justamente o contrario. Dentro daterra natal o portuguez não é grande. Ha nelle a neces-sidade de alargar os braços, de desafogar o peito naslutas heroicas do mar e dos continentes longinquos. Malperde de vista os horizontes nativos transforma-se emtitan: vem para a historia como o devassador de ocea-nos desbravador de terras incultas e formador de povos.Co:U quatro ou cinco calhambeques domina a irnmen-sidão das Indias, com um punhado de homens consegueimpôr-se na vasta costa brasileira e em todo o perfil dolittoral da Africa.

Pondo em confronto os dois povos, as qualidadesinnatas de cada um, parece não haver motivos para cho-rarmos a ruina dos flamengos. -

Nada perdemos em ter perdido o holIandez. .E basta lançarmos um rapido olhar sobre a domi-

nação neerlandeza no Brasil., Os apaixonados da Hollanda trazem sempre á luz

aquelle maravilhoso tempo de Nassa~. ,E' realmente impressionante. Ninguem poderá ne-

gar a grandeza e o esplendor daquella época. Nin~empoderá aHirmar que Portugal, no seculo XVII, tivesse

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conseguido, em Pernambuco ou em qualquer outra ca-pitania, uma phase egual áquella.

Mas é preciso distinguir os factos. Pernambuco tevesempre, com os hollandezes, aquelle esplendor, ou qual-quer coisa que, com aquillo, se parecesse? Não.

A conquista flamenga, no Brasil, teve tres periodosdistinctos: o anterior a Nassau, o de Nassau e o que seseguiu á retirada daquelle principe.

No primeiro periodo quasi se não podem pedircontas ao hollandez. Nada poude elle fazer, porque, du-rante cinco annos, viveu acossado pela resistencia formi-davel dos patriotas do Arraial de Bom Jesus, Dizia-sesitiante, mas, na verdade, era sitiado. Mas, mesmo nesseperíodo em que não poude mostrar qualidades, teve apouca intelligencia de mostrar os defeitos. Apresentam-se, diante do povo brasileiro, como piratas insaciáveis;mostram-se, aos olhos de uma população catholica, comointolerantes em materia religiosa e profanadores de tem-plos. Aterram as suas conquistas pelo excesso de cruel-dade com os vencidos.

O segundo período é simplesmente admiravel. Nas-sau é um grande espirito, um grande politico e umagrande generosidade. A paz solidifica-se. A alma doprincipe anda em toda parte como uma asa branca. A la-voura refIorece; a tranquillidade implanta-se; tudo cami-nha e avança alacremente. Pernambuco progride danoite para o dia. Nada-se em ouro; renasce o commercio;

. r· . .revive a connança; restaura-se a Justiça.O principe vae buscar os proprios guerreiros do Ar-

raial de Bom Jesus, aquelles que mais combateram a Hol-

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landa, para sental-os á sua mesa. E' a grandeza, é o es-plendor, é a paz. •

E depois de Nassau? Volta-se ao período das cruel-dades, -3. justiça empana-se, o commercio vive ao sabor daavidez horrivel da Companhia das Indias Occidentaes,sobem os impostos. E' o desenfreio enfim. Mal o prin-cipe se some na curva do mar, tudo muda: os prepostosda companhia revelam-se os mercadores que sempre fo-ram, mas que o prestígio moral de Nassau tolhia: a po-pulação assombra-se diante de tanta ganancia hollan-deza; volta-se á intolerancia religiosa; a indisciplina cam-peia na tropa; a venalidade corrompe o funccionalismocivil; perseguem-se os lavradores; confiscam-se os enge-nhos. A liberdade desapparece completamente. As popu-lações fogem e o espirito de revolta, que o príncipe con-seguira apagar, desperta e deflagra •

. Diante de tudo isso, poder-se-à dizer que, a mara-vilhosa quadra de esplendor de Pernambuco, se deve aopovo hollandez? Não. Devemol-a a um homem e não aum povo, a um homem excepcional que ~ accaso fez aHoIlanda possuir naquella interessante phase historica.

E, tanto é a um homem e não a um povo, que, malNassau se retirou de Pernambuco, tudo que havia degrande desappareceu.

O povo hollandez não teve forças para suster noshombros tão largo e bello legado. Não havia nascidopara missão tão alta.

E a missão do hollandez, no Brasil, não foi outrasenão aquella por elle mostrada, ruidosamente, depois daretirada do principe - mercadejar, '

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A Companhia da Indias Occidentaes só via, no Bra-sil, uma boa estrada para um rendoso salteio. E tantofez, que desgostou Nassau, unicamente porque Nassauvira Pernambuco, não através do prisma de um commer-ciante, mas com olhos de estadista e de homem d'arte.A companhia nunca perdoou ao príncipe o dinheiro gastoem obras, no Recife. Muito se zombou dos palacios er-guidos pelo gosto artistico de Nassau, na capital pernam-bucana.

Pela alma da HoIlanda nunca passou a mais vagaintenção de formar um povo no Brasil. A Companhiafoi organizada apenas par~ explorar o povo do Brasil.

E a impressão trazida através da historia é umaimpressão dolorosa. Nos menores movimentos do povohollandez, em Pernambuco, sente-se a pressa de arreba-nhar e de arrecadar, o mais rapidamente possivel, comouma scena de roubo. Parece que a gente Flamenga: nãotinha a. consciencia do seu dominio. Tem-se a sensaçãode que a sua consciencia era a de haver um dono maiordo que ella e, que, esse dono, de um momento para ooutro, a alijaria.

O povo hoIlandez nunca amou um só pedaço doBrasil. Uma das accusações atiradas a Nassau, pelos seuscompatriotas, é de que eIle "construia pala cios em terraalheia".

Sómente o espirito mercantil dominava.

E, affirmar-se isso, não é infamar as intencôes neer-landezas. E' o proprio Nassau quem assim se· exprime,no seu celebre Testamento polit~co, quando diz que os

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compatriotas "amavam os bens de fortuna mais do quea propria vida".

A colonização flamenga talhou em todos os senti.dos. A incapacidade hollandeza patenteou-se em todas asmodalidades.

O portuguez colonizou o Brasil com a sua prover-bial rudez. Foi aspero e muitas vezes cruel. Mas o fla-mengo teve todas aquellas crueldades e mais a intole-rancia e mais o espirito do ganho que devastava tudo.

Não ha, na colonização portugueza do Brasil, umapagina tão negra como a da historia de Pernambuco hol-landez, após a retirada de Nass~u. Quanto á moralidade,é confrangedora. Os empregados da Companhia vendem-se miseravelmente, a justiça anda em leilão, os lares sãoprofanados, sem que a gente tenha a quem se queixar.

Os successores do principe roubam tanto que sãolevados á Hollanda sob a carga de processos.

Nem para solucionar as crises financeiras, a Hol-landa mostrou capacidade. Quando a situação se tornoudifficil, a medida genial tomada pelo Conselho dos De-zenove não foi senão esta coisa vulgarissima: augmentarincrivelmente os impostos e arrecadar os atrasados.

Foi uma época tremenda na terra pernambucana;os engenhos eram despejados e vendidos, para poder se-guir dinheiro para a Hollanda; a miseria campeava emtodas as regiões laboriosas do Brasil hollandez.

A tal liberdade do commercio que, segundo se diz,era o motivo das conquistas flamengas na America, nun:ca passou de uma burla. Só houve liberdade de com-mercio no tempo de Nassau. O que depois existiu foi o

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monopolio official, mais perro e mais duro que o mono-polio estabelecido pela Espanha.

O contraste entre os dois povos - o portuguez e oflamengo - revela-se 'a todo o instante, na historia.

O portuguez, ao vir para o Brasil, vinha estabelecer-se e morar. O •fjamengo apenas aqui esteve - paraganhar. • I

E dahi, os movimentos expansivos de um e a acçãorestricta e mesquinha de outro.

Ao chegar ao Brasil, o primeiro gesto do 'portu-guez era estender-se pelo interior.

A linha do Iitroral parece pequena para o seu ar-rojo. E esse movimento de expansão, encontramos logo!tos primeiros dias coloniaes, Ao aportar ao Rio em 1531,Martim Affonso de Souza, antes de desembarcar a ba-gagem em Sã~ Vicente, manda quatro homens para ()fundo da mata, os quaes devassam mais de cem léguas.Em Cananéa, sob o commando de Pero Lobo, envia 80portuguezes a transpor as muralhas da Serra do Mar, emprocura de prata.

Duarte Coelho desvenda a floresta pernambucana,até quasi as nascentes do Capiberibe e do Ipojuca.

No primeiro seculo do descobrimento já estava des-vendado o Tieté, no século seguinte alcançava-se o S.Francisco por Jacobina, e, pelo rio Pajeú, entrava-se noamago dos sertões pernambucanos até o Piauhy.

Em 1638, Pedro Teixeira, partindo do Maranhâo,commette aquelle episodio de arrojo, que enche de as.sombro o segundo seculo da vida brasileira: - sóbe oAmazonas em todo o seu curso, entra pelo Napo e vae

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ter a Quito, no Perú, conquistando terras para el-rei dePortugal, numa época em que a sua patria era da Es-panha.

Em todos os periodos da historia americana, domi-na, nos portugue~es, o espírito da expansão. Mesmo noprimeiro seculo, em que as actividades se voltam todaspara a linha do littoral, eil-os a perder-se no planaltobrasileiro, á procura dos sertões remotos.

Com o hollandez observa-se justamente o contrario.Encontrando já a linha da costa perfeitamente explo-rada, não dá um passo além da costa.

O sertão aterra-o; tem o pavor da floresta espessae inculta. A sua acção restringe-se á beira das praias. Osertão é o desconhecido, é a vida asperrima e selvagem.Não ha nada que explorar, ou melhor, nada a render nosertão.

A famigerada companhia só quer lucros e é no lir-toral que estão os engenhos e as lavouras, para sugar.

Nunca o pé hollandez pisou no planalto brasileiro.Um drama da grandeza e do desasombro das Bandeirasnão seria possível com o povo flamengo. Até mesmo umavia natural, com o Amazonas, não attraiu o seu arrojo.Apesar de ter conquistado o Maranhão, o hollandez nãofoi além das boccas do Xingú, que ficam quasi ás portasdo rio-mar.

. Tudo isto leva a esta consideração importantíssimapara nós, brasileiros. Se o Brasil tivesse ficado nas mãosneerlandezas, não seria este immenso paiz que vae doscontrafortes de Parima aos affluentes do Prata e que seestende, pelo oeste, até ás faldas da cordinheira andina,

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o flamengo não fôra feito para o sertão, e talvez nuncatranspuzesse as elevações da Serra do Mar.

Se os hollandezes tivessem dominado o Brasil, oBrasil seria hoje uma faixa de terra estreita como o Chi-le. Fatalmente os espanhoes do poente teriam avançadoalém das nossas fronteiras actuaes.

E essa obra de grandeza do territorio nacional, deve-mol-a inteira á resistencia e aos assomos expansionistasdo povo luso.

Não se satisfez com o longo perfil da costa, afund iue desbravou os sertões inhospitos.

Com que intenção, a da fortuna? Não se tem o di-reito de perguntar. Nunca houve povo que colonizassepela intenção angelica de fazer nacionalidades. As' suasqualidades colonizadoras é que formam povos.

E, . quando o portuguez nenhuma outra virtude ti-vesse) teve essa de dar-nos um territorio formidavel e defazer-nos uma nação.

Dar-nos-ia isso a Hollanda? Até hoje não o deu anenhuma das suas colonias.

o BOI DO MELCHIOR

o boi do Melchior Alvares foi, naquelles primeirostempos do governo de Nassau, um dos seres mais cele-bres de Pernambuco.

Não houve, no mundo, um boi mais manso, maisdocil, mais vagabundo e mais garoto. Por onde o donoandava, andava elle tambem. Se o Melchior entrava emuma casa, lá ficava o boi á porta, á espera, como umcachorrinho.

As crianças amavam-no, as moças davam-lhe gulo-seimas á janella. Um mimo! Se alguem lhe pronuncia-va o nome, lá ia o bicho, muito contente, a seguir quemlhe fazia agrados .. -,

O boi do Melchior devia ter nascido boi por engano.Havia na 'sua maneira de ser os traços característicos deum legitimo rafeiro.

E foi realmente um escandalo, no Recife e na cidadeMauricia, quando a noticia rebentou. Annunciava-se que)na noite de inauguração da ponte que Nassau concluía,para ligar Mauricia ao Recife, haveria um numero doprogramma absolutamente sensacional - o boi do Mel-