empreendedorismo e effectuation : um estudo de...

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO EMPREENDEDORISMO E EFFECTUATION: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O PROCESSO DE DECISÃO NA CRIAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS IVAN VIEIRA ORIENTADOR: Prof.ª DR. RENATA PEREGRINO DE BRITO Rio de Janeiro, 29 de maio de 2014.

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO

EMPREENDEDORISMO E EFFECTUATION: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O PROCESSO DE DECISÃO NA

CRIAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS

IVAN VIEIRA

ORIENTADOR: Prof.ª DR. RENATA PEREGRINO DE BRITO

Rio de Janeiro, 29 de maio de 2014.

ii

“EMPREENDEDORISMO E EFFECTUATION: ESTUDO DE CASO SOBRE PROCESSO DE DECISÃO NA CRIAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS”

IVAN VIEIRA

Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Estratégia Empresarial

ORIENTADOR: Prof.ª Dr. Renata Peregrino de Brito.

Rio de Janeiro, 29 de maio de 2014.

iii

“EMPREENDEDORISMO E EFFECTUATION: ESTUDO DE CASO SOBRE

PROCESSO DE DECISÃO NA CRIAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS”

IVAN VIEIRA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Estratégia Empresarial

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________ Professora: Prof.ª Dr. Renata Peregrino de Brito (Orientador) Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________ Professor: Prof.ª Dr. Lucia Barbosa de Oliveira Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________ Professor: Prof. Dr.Paulo de Oliveira Reis Filho Instituição: UFRJ-RJ Rio de Janeiro, 29 de maio de 2014.

iv

V657

Vieira, Ivan.

Empreendedorismo e effectuation: um estudo de caso sobre o processo de decisão na criação de novos negócios / Ivan Vieira. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2014.

59 f.: il.

Dissertação de Mestrado Profissionalizante em

Administração do IBMEC. Orientador (a): Prof.ª Dra. Renata Peregrino de Brito.

1. Estratégia Empresarial. 2. Empreendedorismo. 3. Effectuation. 4. Estratégia. 5. Parceiros. 6. Objetivos estratégicos I. Título. CDD 658.4012

v

DEDICATÓRIA

“Dedico à minha família, minha esposa Lucimar e meus filhos Guilherme Felipe e Ana Clara pelo apoio e incentivo”.

vi

AGRADECIMENTOS

A Prof.ª Renata Peregrino de Brito, pela orientação recebida durante a preparação deste

trabalho de pesquisa, dedicando grande parte de seu tempo em várias reuniões

realizadas ao longo destes últimos meses.

A Prof.ª Lúcia Oliveira agradeço pela participação na banca, e pelas valiosas sugestões

recebidas.

Ao Prof. Paulo de Oliveira Reis Filho, agradeço pela disponibilidade e por ter

participado da banca.

Aos sócios e executivos da GoBooks, Marcus Teixeira, Vitor Oliveira e Mateus Brum

pela abertura, disponibilidade e apoio.

Ao meu colega de mestrado Mario Tinoco, por discussões a respeito do tema e sugestão

da empresa a ser pesquisada.

A Anna Holanda, diretora da Empresa Junior Panorama, do IBMEC.

vii

RESUMO

Este trabalho foca o processo de tomada de decisão dos empreendedores na criação de

novos negócios, à luz da abordagem do Effectuation. Segundo Sarasvathy (Sarasvathy,

2001a, 2001b, 2008), effectuation é um modelo de tomada de decisão alternativo ao

modelo clássico baseado no princípio da causalidade (causation). O raciocínio effectual

é resumido por Sarasvathy (2001) em três grandes princípios inseridos no contexto da

lógica do controle: perdas toleráveis, parcerias estratégicas e exploração de

contingências. Em effectuation o empreendedor parte do cenário micro: quem eu sou, o

que eu sei quem eu conheço, e, a partir deste ponto, utiliza-se dos meios disponíveis

para alcançar seus objetivos, ainda que não claramente definidos, enfatizando o quanto

pode suportar perder e utilizando-se de estratégias e combinações no uso dos recursos

que já estão sob seu controle (Sarasvathy & Kotta, 2001). Tomando como base a teoria,

o objetivo do estudo foi identificar como os princípios de perdas toleráveis, parcerias

estratégicas e exploração de contingências formatam a criação de uma empresa. O

estudo de caso da GoBooks, a primeira empresa de aluguel de livros do Brasil, criada

em 2012, revela a intensidade do papel dos parceiros na reformulação dos objetivos

estratégicos.

Palavras-chave: Empreendedorismo, effectuation, parceiros e objetivos estratégicos.

viii

ABSTRACT

This work focuses on the process of decision making of entrepreneurs in creating new

businesses in the light of the effectuation approach .According to Sarasvathy

(Sarasvathy, 2001a, 2001b, 2008); effectuation is a model of alternative decision-

making based on the classical principle of causality (causation) model. Sarasvathy

(2001) summarizes the effectual reasoning on three major principles within the context

of the control logic: tolerable losses, strategic partnerships and exploring contingencies.

In the effectuation of the micro entrepreneur scenario: who I am , what I know, who I

know , and from this point , is used in the means to achieve their goals , even if not

clearly defined , emphasizing how can support lose and using combinations of strategies

and use of resources that are already under its control ( Sarasvathy & Kotta , 2001) .

Based on the theory, the aim of the study was to identify how the principles of tolerable

losses, strategic partnerships and exploring contingencies format the creation of a

company. The case study of GoBooks, the first rental company books Brazil, created in

2012, reveals the intensity of the role of partners in reshaping the strategic objectives.

Keywords: Entrepreneurship, effectuation, partners and strategic objectives

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O processo effectual :dinâmico e interativo 30

x

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Quadrante do Suícidio 28

Quadro 2 - Relação de entrevistas realizadas 36

Quadro 3- Eventos e Linha do Tempo da GoBooks 40

Quadro 4- Meios Disponíveis 42

Quadro 5- Perdas Toleráveis 44

Quadro 6 - Dinâmica entre parcerias e objetivos 48

xi

ABREVIATURAS

GEM Global Entrepreneurship Monitor

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena empresa

FGV Fundação Getúlio Vargas

IBMEC Grupo IBMEC Educacional SA

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

TEA Total Entrepreneurship Activity

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

EUA Estados Unidos da América

PIB Produto Interno Bruto

IPO Initial Public Offer

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UCAM Universidade Candido Mendes

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

xii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 6

2.1 Empreendedorismo ..................................................................................................... 7

2.1.1 Empreendedorismo no Brasil ................................................................................ 11

2.2 EMPREENDEDORISMO E OPORTUNIDADES .................................................. 14

2.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DO EFFECTUATION .......................................... 16

2.3.1 Frank Knight: A noção da incerteza acerca de eventos futuros ........................... 18

2.3.2.James March: A existência de ambiguidade de objetivos ..................................... 19

2.3.3 Herbert Simon: A racionalidade limitada na tomada de decisão........................ 20

2.3.4 Karl Weick: Enactment e a impossibilidade de descolamento entre o tomador de

decisão e o ambiente ........................................................................................... 20

2.3.5 Henry Mintzberg: A noção de estratégias emergentes ....................................... 21

2.4 O PROCESSO DE EMPREENDER: CAUSATION E EFFECTUATION .............. 22

2.4.1 A dinâmica do Effectuation .................................................................................. 27

3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 31

3.1 Objetivos da pesquisa ............................................................................................... 31

3.2 Método do estudo de caso ........................................................................................ 32

xiii

3.3 Coleta de dados ....................................................................................................... 33

3.4 Forma de análise dos dados ...................................................................................... 35

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................ 36

4.1 Caracterizando os meios disponíveis ........................................................................ 39

4.2 Perdas toleráveis ................................................................................................. 41

4.3 Exploração de contingências .............................................................................. 42

4.4 Parcerias estratégicas ................................................................................................ 43

4.5 Dinâmica entre parcerias e objetivos estratégicos .............................................. 45

5 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES ................................................................................. 48

6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 51

1

1 INTRODUÇÃO

A figura central do processo do empreendedorismo é o empreendedor, que contempla várias

definições com características, traços, experiências específicas, e é dele que depende todo este

processo de empreender, criar novos negócios, gerar lucros, mover o mercado e contribuir

com a sociedade. Para Kirzner (1973), o empreendedor é aquele que identifica a oportunidade

a partir de desequilíbrios existentes nos mercados, e procura criar o equilíbrio de forma clara e

positiva em ambientes de turbulência, pois sabe que suas chances melhoram quando seu

conhecimento aumenta. Pesquisadores têm desenvolvido estudos no campo do

empreendedorismo, tentando descobrir e definir quem é o empreendedor, quais suas

características, habilidades e como ele age quando toma decisões.

A definição de empreendedorismo envolve o nexo de dois fenômenos: a existência de

oportunidades lucrativas e de indivíduos empreendedores (Venkataraman, 1997). Se

considerar que a definição de que empreendedor é aquele que cria um novo negócio, não se

estará levando em consideração a qualidade das oportunidades e como diferentes

empreendedores as identificam.

Venkataraman (1997), em contraste com pesquisas anteriores, acrescenta na definição de

empreendedorismo o como e o por quem as oportunidades para criar bens e serviços são

2

descobertas e exploradas. Questionamentos sobre como novos bens e serviços são criados,

como alguns empreendedores têm a capacidade de descobrir, reconhecer e explorar tais

oportunidades das mais diferentes formas são usuais e frequentes. A definição completa do

empreendedorismo é dificultada por pesquisas inconclusivas, dados difíceis de serem obtidos,

teoria ainda não totalmente desenvolvida.

A discussão do empreendedorismo como área de conhecimento foi recentemente retomada

com o objetivo de aprimorar sua compreensão, consolidar os progressos realizados e

direcionar os esforços sobre o tema para seu desenvolvimento, identificando-se os avanços

alcançados e desafios futuros (Shane; Venkataraman, 2000). A partir deste ponto poderemos

endereçar as duas formas de raciocínio: o raciocínio causal 1e o raciocínio effectual,

preconizado por Sarasvathy e que é normalmente utilizado pelos empreendedores quando

tomam decisões (Sarasvathy, 2001). A teoria do effectuation, que vem ganhando destaque

entre pesquisadores neste campo, é um modelo alternativo ao raciocínio clássico causal

(causation), segundo o qual, a forma de tomada de decisão a partir de escolhas dos efeitos que

podem ser produzidos, dado um determinado conjunto de meios, elimina consequentemente a

premissa de objetivos pré-existentes. Effectuation se baseia e se sustenta nos meios que o

empreendedor controla: quem é ele (identidade), o que ele conhece (conhecimento) e quem

ele conhece (rede de relacionamentos), focando nas perdas que podem ser por ele suportadas,

enfatiza alianças estratégicas, explora as contingências e busca controlar um futuro

imprevisível através da lógica do controle2.

1 Neste trabalho os termos effectuation, effectual, causation e causal serão descritos na forma original, por não

possuírem uma tradução para o português. 2 A lógica do controle na teoria do effectuation é derivada do papel do empreendedor que, ao invés de tentar

predizer o futuro, trabalha com os meios disponíveis para exercer o poder de agência sobre as possibilidades futuras.

3

Mais que uma descrição do processo racional, o modelo de effectuation também traz

consequências para a dinâmica do desenvolvimento dos empreendimentos. Na medida em que

parceiros são envolvidos no projeto como novos stakeholders3, os mesmos passam a compor a

nova configuração de meios disponíveis e formatar os objetivos do negócio (Sarasvathy,

2001; Wiltbank, Dew, Read, & Sarasvathy, 2006). Este processo recursivo entre

envolvimento de stakeholders e a criação de novas redes impulsiona a evolução da empresa e

a criação de novos mercados (Sarasvathy, 2001; Sarasvathy & Dew, 2005).

A teoria do effectuation propõe uma combinação de aprender fazendo com tentativa e erro.

Este é o modelo utilizado pela maioria dos empreendedores seja porque descobriram uma

oportunidade, ou seja, por necessidade de terem uma ocupação que lhes proporcione a

possibilidade de auferirem algum resultado no final.

Este trabalho foca no aspecto dinâmico do processo de effectuation, como uma estratégia

adaptativa onde os meios e recursos disponíveis e o contexto formatam os negócios (Wiltbank

et al., 2006). O objetivo deste estudo é identificar como os princípios do effectuation, perdas

toleráveis, parcerias estratégicas e exploração de contingências formatam o processo de

criação de empresas. Mais especificamente, buscando explorar o papel dos stakeholders na

reformulação dos objetivos estratégicos ao longo do processo de criação.

Para tanto foi desenvolvido a análise do caso da GoBooks, a primeira empresa de aluguel e

venda de livros do Brasil, criada em meados de 2012, por dois estudantes universitários e

inspirada no modelo de uma empresa norte-americana, a Chegg, que abriu capital em

3 O stakeholder ou (parte(s) interessada(s)) é uma pessoa ou um grupo, que legitima as ações de uma

organização e que tem um papel direto ou indireto na gestão e resultados dessa mesma organização. É formado pelos funcionários da empresa, gestores, gerentes, proprietários, fornecedores, concorrentes, ONGs, clientes, o Estado, credores, sindicatos e diversas outras pessoas ou empresas que estejam relacionadas com uma determinada ação ou projeto. site htpp//www.significados.com.br, acessado em 15 de março de 2014.

4

Novembro de 2013. A contemporaneidade dos acontecimentos permitiu a análise dos

fundamentos da teoria do effectuation e a observação da dinâmica do processo em curso. A

análise dos resultados permitiu estender a compreensão da dinâmica do effectuation mesmo

frente à forte ancoragem do modelo da empresa norte-americana à pouca experiência dos

empreendedores.

A partir dos pressupostos do effectuation o objetivo deste trabalho, será desenvolver uma

pesquisa qualitativa por meio da metodologia do estudo de caso, objetivando verificar como

houve a ocorrência do effectuation nos processos de decisão dos empreendedores.

Os objetivos específicos do estudo serão tratados pelos questionamentos:

• Até que ponto, empreendedores, ao iniciar um novo negócio, tendem a limitar seus

investimentos à aquilo que toleram perder? Havia uma clara tolerância por parte

dos fundadores da empresa de quanto suportavam perder?

• Empreendedores ao iniciar um novo negócio, são orientados a partir dos meios que

já controlam isto é (i) quem eles são ? (ii) o que eles conhecem ? (iii) quem eles

conhecem ? Como estes meios disponíveis e recursos controlados contribuiram na

criação da GoBooks ?

• Empreendedores , ao iniciar um novo negócio, estão deliberadamente abertos às

surpresas, e buscam se alavancar e capitalizar a partir destas contingências? Até que

pontos as surpresas e contingências contribuíram na criação da empresa?

5

Relevância do tema effectuation:

• Este estudo procurou aprofundar o conhecimento desta nova forma de tomada de

decisão empreendedora, possibilitando o entendimento do tema , fornecendo os

principais conceitos e fundamentos teóricos , aplicados a uma empresa da vida real.

• Ajuda no entendimento e consolidação da teoria , ainda considerada nascente, e

carecendo de pesquisas quantitativas que comprovem o fenômeno.

• Effectuation representa uma mudança paradigmática da maneira de como vemos e

entendemos o empreendedorismo., residindo ai a dificuldade de trazer esta nova forma

adaptativa do modelo de empreender para casos reais.

O presente estudo é composto de cinco capítulos, sendo o primeiro a introdução e a

delimitação do tema. O segundo capítulo fará uma revisão do referencial teórico do

empreendedorismo e está subdividido em três seções : a revisão teórica do campo do

empreendedorismo conforme as principais correntes e o empreendedorismo no Brasil , do

empreendedorismo e oportunidades, dos pressupostos teóricos do effectuation e na terceira

seção serão tratados o modelo do effectuation, a sua dinâmica e discutiremos em detalhes a

abordagem dos processos do effectuation e causation. O terceiro capítulo tratará da

metodologia, do método e dos objetivos gerais e específicos da pesquisa. O quarto capítulo

trará a discussão dos resultados, o histórico da empresa pesquisada. O quinto capitulo finaliza

o trabalho apresentando a discussão e a conclusão.

6

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O objetivo deste capítulo é apresentar a abordagem utilizada para o estudo do

empreendedorismo na criação de novos negócios, tanto no Brasil como no exterior e está

dividido em treis seções, a saber:

A primeira faz uma revisão teórica acerca do campo do empreendedorismo conforme as

principais correntes teóricas detalhadas nos trabalhos de Schumpeter (1934), Kirzner (1973),

Baumol (1990) e Shane (2000), e dos seus antecedentes históricos. chegando aos dias atuais.

A segunda seção trata do empreendedorismo e oportunidades, como elas são criadas,

descobertas e reconhecidas, do empreendedorismo e incerteza, levando em consideração os

pressupostos teóricos e as contribuições de Knight (1921), Simon (1959), March (1991) e

Weick (1979) e Mintzberg (1991,1992). A terceira seção tratará do processo de empreender

especificamente da dinâmica do effectuation e seus pressupostos,das teorias causation e

effectuation.

7

2.1 Empreendedorismo

Schumpeter (1945) conceitua o empreendedorismo como sendo a peça central da destruição

criativa de mercados. De acordo com Schumpeter, o empreendedor é alguém versátil, que

possui habilidades técnicas para saber produzir, e reunir recursos financeiros das vendas de

suas empresas. É aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos

produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos

recursos e materiais, podendo também inovar dentro de negócios já existentes.

O empreendedor definido por Schumpeter consegue identificar uma oportunidade, inovar,

quebrar a ordem existente até então e criar um novo mercado. Segundo Schumpeter a

inovação pode tomar várias formas: 1) Introdução ou somente melhoria de um novo produto

que os consumidores não estejam familiarizados, 2) introdução de novo método de produção,

3) a criação de um novo mercado, 4) a descoberta de novas fontes de suprimentos dos

insumos e matérias primas, 5) criação de uma nova organização de qualquer setor. Pode-se

dividir o processo do desenvolvimento econômico em três estágios sucessivos e separados: 1)

invenção: a descobertas tecnológicas de novas coisas ou formas de fazer as coisas, 2)

inovação: comercialização de um novo bem ou serviço resultante das descobertas técnicas ou

de uma nova combinação do conhecimento, 3) imitação: adoção generalizada e difusão de

novos produtos ou processos nos mercados (Baumol, 1993).

A inovação contínua provoca a mudança exógena no sistema econômico, provocando a

destruição da situação do equilíbrio econômico e provocando a criação de um novo equilíbrio,

num fluxo circular. A inovação contínua implica na mudança descontínua constante e causa o

desequilíbrio permanente. A implementação de uma inovação permite ao empreendedor, a

obtenção temporária do monopólio (Baumol, 1993). Contudo, o lucro associado a esta

8

inovação chamará a atenção dos imitadores, para decidirem entrar ou não no negócio, se os

lucros auferidos forem superiores ao lucro normal obtido. Os imitadores ao entrarem no

negócio passam a competir com o inovador, aumentando a competição e erodindo a posição

lucrativa inicial, quando então se estabelece uma nova condição de equilíbrio, que para ser

quebrada, necessitará de novas inovações que restabelecerão o fluxo contínuo de criação de

mercados.

Para Kirzner (1973), o empreendedor descobre a oportunidade a partir da identificação de

desequilíbrios existentes nos mercados, e procura criar o equilíbrio de forma clara e positiva

em ambientes de turbulência, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento

aumenta. O equilíbrio de mercado reconhecido por Kirzner vem da exploração de

oportunidades de lucro até então não descobertas e exploradas. Kirzner não leva em

consideração como estas oportunidades foram criadas ou porque elas não tinham sido

percebidas. Os empreendedores são para Kirzner aqueles que adotam uma atitude vigilante

(alertness) para descobrir e explorar oportunidades lucrativas. Sendo eles, os responsáveis

pela força de equilíbrio nos processos de mercado, pela oscilação dos preços de curto prazo e

decisões de produção, bem como pelo crescimento e progresso de longo prazo, aparecendo

então com Kirzner o conceito do empreendedor como um árbitro que equilibra mercados. Na

definição estrita de Kirzner, empreendedores são aqueles indivíduos que realizam descobertas

(não leva em consideração como estas oportunidades são criadas ou porque não tinham ainda

sido percebidas) e conseguem obter lucros.

Baumol (1990), em seu artigo começa com uma citação do historiador Eric Hobsbawm,

(1969, p.40): “Supõe-se frequentemente que a economia da iniciativa privada tem um viés

automático para a inovação, mas isso não é assim. Tem um viés apenas para o lucro”.

9

E estabelece uma hipótese simples que :

Enquanto a oferta total de empreendedores varia entre as sociedades, a contribuição produtiva de atividades empreendedoras da sociedade varia muito mais por causa de sua alocação entre as atividades produtivas e atividades improdutivas como rent-seeking ou crime organizado4.(Baumol,1990 pp 893-921 tradução nossa).

Baumol (1990) rejeita a ideia de que diferentes graus de inovação ao longo do tempo que,

como uma leitura ingênua de Schumpeter , dependem dos altos e baixos de um espírito

misterioso do empreendedorismo poderia sugerir. Critica o conceito de atividade empresarial

de Schumpeter como sendo muito explicitamente inclinado em dar contribuições “positivas”

para a sociedade. O autor enfatiza que os empresários são, fundamentalmente individuos que

estão neste negócio por dinheiro, portanto vão persegui-lo de todas as maneiras que fizer mais

sentido.

A capacidade empreendedora sugere que o mais talentoso tem o maior retorno de inovação

produtiva e de gestão das empresas. No entanto, se outros tipos de atividades renderem um

retorno maior ao talento / habilidade, então os empresários, ao contrário, dirigirão seus

esforços nessas outras atividades, salienta o talento empresarial, onde o talento é assumido

para incluir tanto a capacidade e motivação Os retornos relativos são determinados pelo

contexto institucional, isto é, as regras do jogo (Baumol, 1990).

Baumol (1990) faz uma série de reflexões sobre as "regras do jogo" atuais e fala sobre

mudanças de políticas que podem ser usados para influenciar as taxas de empreendedorismo

produtivo. Em particular, o autor parece preocupado com o que ele vê como altas taxas de

litigiosidade e processos antitruste que são capazes de dificultar e de impedir o

4 "While the total supply of entrepreneurs varies among societies, the productive contribution of the society's entrepreneurial activities varies much more because of their allocation between productive activities and unproductive activities such as rent seeking or organized crime."

10

empreendedorismo produtivo e, presumivelmente, incentivar os empresários a entrarem em

formas menos produtivas de trabalho. Suas conclusões encontram um equilíbrio estranho

entre o pró-regulação (ou seja, é o poder e, talvez, a responsabilidade do estado para

impulsionar o empreendedorismo em direções mais produtivas) e o pró- livre mercado.

A pesquisa no campo do empreendedorismo deve levar em conta o como, por quem e com

que efeitos as oportunidades são descobertas, serviços e novos produtos são criados, avaliados

e explorados (Venkataraman, 1997). Consequentemente, envolve: o estudo das fontes de

oportunidades, o processo da descoberta, avaliação e melhoria das oportunidades; e foca

também no indivíduo que descobre, avalia e explora tais oportunidades. A importância do

estudo do empreendedorismo baseia-se em que até agora as definições são inconclusivas, e

algumas descobertas até agora são as mesmas já obtidas em outras áreas de negócios.

Empreendedorismo é o mecanismo pelo qual a sociedade transforma informações técnicas em

produtos e serviços, as ineficiências temporais e espaciais verificadas na economia são

descobertas e investigadas (Kizner, 1997). Schumpeter (1934) isolou a inovação em produtos

e processos como o mais importante fator na geração de mudança no processo empreendedor.

Shane & Venkataraman (2000) apontam a ausência do empreendedorismo nas atuais teorias

dos mercados, firmas, organizações fazem com que nosso entendimento do cenário de

negócios seja incompleto.

11

2.1.1 Empreendedorismo no Brasil

A definição de Empreendedorismo adotada pelo GEM tem o foco principal o indivíduo

empreendedor mais do que o empreendimento em si. O GEM-Global Entrepreneurship

Monitor em sua publicação de 2012, define empreendedorismo com sendo:

“Qualquer criação de um novo empreendimento como, por exemplo: uma atividade autônoma, uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente”.

O principal propósito do GEM é medir o envolvimento dos indivíduos na criação de novos

negócios, ou seja, o empreendedor inicial. Pode-se salientar aqui que tal definição é focada no

ato de empreender em si, não vinculando a inovação ou a qualquer outro atributo que possa

causar impacto no mercado. A inovação de produtos e serviços não estão dentro do

“empreendedorismo” desenvolvido no Brasil.

Conforme divulgado pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de apoio à Micro e Pequena

Empresa), com base no censo 2007 a 2010 da Secretaria da Receita Federal, de cada 100

empresas criadas no Brasil, 24 fecharam as portas antes de completar dois anos de atividade,

dados estes levantados no censo de sobrevivência de pequenos negócios. Mesmo assim,

segundo o SEBRAE o Brasil está num patamar compatível com seu tamanho e abrangência e

este número, é menor do que em países europeus como a Espanha (31), Itália (32), Portugal

(49) e Holanda (50).

Houve uma melhora considerável nos números de mortalidade, pois as Estatísticas do Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2004) apontavam para um

número de 50 empresas (em cada 100) encerravam suas atividades antes de completar dois

anos de existência. Se em 2004 as razões para o encerramento das empresas eram a falta de

12

financiamento, altos impostos, juros elevados, falta de clientes, no censo de 2007 a 2010,

constatou-se que algumas barreiras foram derrubadas como a criação do Ministério da Micro

e pequena Empresa, que foi um avanço na política de incentivo ao empreendedorismo no país.

As linhas de financiamentos foram facilitadas, a taxa de juros foi substancialmente reduzida e

a criação de uma nova forma de tributação instituída pelo Simples (Sistema Simplificado de

Tributação), também descomplicou e facilitou a vida do pequeno e microempresário. Crises

de mercado acontecem sem avisar deixando graves problemas a serem resolvidos pelos

países, tivemos na última década a crise financeira dos derivativos que abalou o mercado

financeiro mundialmente, e agora mais recentemente a crise do mercado imobiliário

americano de 2007/2008 (crise do sub prime). Todos estes fatores levaram um grupo de

instituições, e pesquisadores a organizar e publicar no Brasil, a partir de 1997 o GEM-Global

Entrepreneurship Monitor, que tem o objetivo de medir a atividade empreendedora dos países

e observar seu relacionamento com o crescimento econômico. Uma das medidas do estudo do

GEM é o TEA (total entrepreneurship activity), que mede o índice de criação de novos

negócios. Este índice mede a dinâmica empreendedora em cada país participante da pesquisa

e acaba por definir um ranking mundial do empreendedorismo. O valor TEA do Brasil, no

relatório de 2012, mostra que 16 % da população adulta (18 a 64 anos) do país envolvida na

criação de novos negócios e o Brasil está colocado em 16º lugar na classificação geral,

levando-se em conta o número total de 67 países participantes da pesquisa.

Tais resultados nos levam a concluir que a criação de empresas por si só, não leva ao

crescimento econômico. O GEM classifica e divide em duas as atividades empreendedoras: o

empreendedorismo por oportunidade, e o empreendedorismo por necessidade. O próprio

GEM define o empreendedorismo por oportunidade, como sendo aquele que leva o

empreendedor a vislumbrar uma oportunidade e daí toma a decisão de empreender e criar uma

13

nova empresa, visando à geração de lucros, riqueza, empregos, etc. O empreendedorismo por

necessidade é definido como sendo aquele no qual o empreendedor se aventura na criação de

um negócio ou empresa para satisfazer uma necessidade de obter uma renda mensal, seja

porque ficou desempregado, falta de alternativas de recolocação, criando negócios informais,

de forma não planejada fracassando dentro dos dois primeiros anos de vida, engrossando as

estatísticas de mortalidade das empresas no Brasil.

A pesquisa do GEM vem mostrando que no Brasil a criação de novos negócios por

oportunidade vem crescendo substancialmente, em 2007 era de 57%, em 2012 a taxa de

empreendedores iniciais por oportunidade chega a ser de 2,3 vezes superiores à por

necessidade, correspondendo a maior diferença entre estas taxas desde 2002.

Segundo o GEM (2012), 44% dos brasileiros tem o sonho de ter um negócio próprio. Eles

preferem ter uma empresa a ter um emprego formal. Hoje, de cada 10 empresas abertas 7 são

por oportunidade e não necessidade como ocorria no passado. O ambiente favorável pelo

crescimento do número de consumidores (cerca de 100 milhões), melhoria do ambiente legal,

aumento da escolaridade dos empresários, que está acima da média brasileira. Em 2002,

20,9% da população brasileira estava envolvida na criação ou administração de um negócio.

Em 2012, 10 anos depois, o índice saltou para 30,2% da população adulta entre a 18 e 64

anos. O crescimento de 44% na taxa de empreendedorismo é compatível com o crescimento

do (PIB) Produto Interno Bruto que cresceu em média 4% no período.

O principal propósito do GEM é medir o envolvimento dos indivíduos na criação de novos

negócios, ou seja, o empreendedor inicial.

14

Pode-se salientar aqui que tal definição é focada no ato de empreender em si, não vinculando

a inovação ou a qualquer outro atributo que possa causar impacto no mercado. A inovação de

produtos e serviços não estão dentro do empreendedorismo desenvolvido no Brasil.

2.2 EMPREENDEDORISMO E OPORTUNIDADES

Considerando que o reconhecimento de oportunidades é o ponto central do processo

empreendedor, essa capacidade pode ser considerada como a condição característica que

difere os empreendedores de não empreendedores. A literatura vem tentando responder a esta

questão, conforme apontam Shane e Khunama (2003). A existência de variáveis não

psicológicas (experiência prévia, o tamanho da rede social do empreendedor, a força de seus

laços e a disponibilidade de acesso a informações entre outros). Matlin (2002) e Baron (2004)

descrevem a abordagem sob uma perspectiva psicológica com vistas a esclarecer potenciais

diferenças entre aqueles que possuem habilidades para reconhecer oportunidades e aqueles

que não são dotados de tais competências.Esta diferença pode ser resumida na capacidade de

estruturar quadros mentais via estruturas robustas. Tais quadros mentais promovem a

organização das informações armazenadas na memória em formas úteis, servindo como

modelos que permitem às pessoas detentoras dessa capacidade perceberem conexões entre

eventos exógenos aparentemente sem relação. (Reconhecimento de relações causais,

habilidade em categorizar informações, reconhecimento de padrões, capacidade de avaliar

informações e alertness.). Em linhas gerais, as oportunidades podem ser entendidas como a

existência de uma situação factível de se criar uma solução para algum problema, mais ou

menos latente. A oportunidade empreendedora pode ser definida como sendo a possibilidade

de introduzir produtos e serviços em determinados mercados, com condição de obtenção de

algum lucro neste processo (Shane; Venkataraman, 2000). Tais argumentos sugerem que o

15

reconhecimento de oportunidades deve, de fato, estar intimamente conectado com o conjunto

de experiências e conhecimentos adquiridos pelo empreendedor (Baron & Ensley, 2006).

Empreendedores mais experientes tendem a direcionar suas análises para um horizonte

temático menor de oportunidades, com foco nas áreas em que possuem experiências, graças

ao conhecimento e vivência prévios ao passo que os empreendedores menos experientes

olham para as oportunidades de uma forma menos focada e com fronteiras menos firmes.

Eckhardt & Shane (2003) definem as oportunidades empreendedoras como sendo as situações

em que novos produtos, serviços e materiais, mercados e métodos organizacionais podem ser

introduzidos através da formação de novos meios, fins e relações meios fins, e considera que

o empreendedor constrói os meios, os fins ou os dois, ou seja, as decisões empreendedoras

envolvem a criação ou identificação de novos fins e meios previamente não detectados ou não

utilizados pelos participantes do mercado.

As oportunidades empresariais podem se manifestar de diferentes maneiras, como no caso de

mudanças no processo da cadeia de valor, ou seja, a criação de novos produtos ou serviços

podem criar oportunidades para a obtenção de lucro. Os autores argumentam que as

oportunidades empreendedoras devem ser analisadas sob a ótica do desequilíbrio de mercado

quando as oportunidades aparecem para serem exploradas.

Gartner, Bird e Starr (1992) e Sarasvathy(2001) apontam que as oportunidades são criadas e

promulgadas (enacted), “formatadas” pela interação entre o empreendedor e o contexto em

que ele atua.

Nesta linha Gartner, Carter e Hills (2003), numa investigação feita com 817 empreendedores

nascentes, concluiram que quando eles (individualmente) falam de

16

oportunidades, poucas vezes se referem a palavras como “descobri”,”vi”, “encontrei”ou

observei, no sentido de algo separado das suas experiências e do seu contexto. Mencionam

suas experiências prévias no “reconhecimento”e “formatação” das oportunidades. Em muitas

situações as oportunidadessão resultado das de interpretação e de atribuição do sentido por

parte de indivíduos e equipes.

Nesta perspectiva, quer as oportunidades quer o ambiente, são socialmente construídos

correspondendo mais ao produto das ações dos indivíduos ou da organização, do que um

conjunto de circunstâncias que devem ser objeto da resposta (Weick, 1979; 2001).

Para Sarasvathy (2004) o fenômeno principal de interesse dos pesquisadores do

empreendedorismo “as oportunidades” ocorrem na ausência de mercados. Embora

tradicionalmente a investigação tem-se centrado principalmente em: a) atributos dos

empreendedores, b) os fatores de sucesso relacionados ao desempenho do novo

empreendimento, mais, recentemente, o foco principal deste campo, se deslocou para o estudo

das oportunidades de empreender (Buzenitz et al, 2003).

2.3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DO EFFECTUATION

Sarasvathy (2001), estudando a forma de tomada de decisão de empreendedores articulou a

existência e o uso do effectuation como uma forma alternativa viável ao raciocínio preditivo

causal (causation). A teoria causal, aqui chamada de causation, foi definida por Sarasvathy

(2001):

O foco é a realização de um objetivo desejado através de um conjunto específico de determinados meios. Causation invoca pesquisa e seleciona tática e sub-reside na maioria das boas práticas de gestão.(Sarasvathy & Kotha, 2001, tradução nossa).

17

A abordagem causal, ensinada na maior parte das escolas de empreendedorismo e

administração de empresas do país e com origem nos cursos de empreendedorismo de MBAs

americanos, é preciso elaborar um plano de negócios para desenvolver uma oportunidade de

mercado, definir um público alvo, elaborar estratégias para atendê-lo e fazer uma previsão de

vendas para finalmente calcular a taxa de retorno do investimento para saber se o negócio é

viável ou não.

A racionalidade causal enfatiza em maximizar retornos esperados, evitando surpresas através

de projeções acuradas e análises competitivas de mercado e tem a longo tempo servido como

base para pesquisas em economias e negócios. Causation assume objetivos pré-determinados

e bem estruturados fins e formula o problema de decisão para então descobrir e definir a

melhor maneira possível de atingir tais objetivos. Causation foca no “o que devemos fazer” a

partir de objetivos pré-determinados e possíveis meios de atingir tais objetivos, utiliza

técnicas de análise e estimativas para previsíveis de um futuro incerto, e tem como lógica

subjacente: “Se podemos prever o futuro, nós podemos controla-lo”. O raciocínio causal usa

metas, tarefas individuais específicas e desdobradas em diversos níveis para atingir mercados

ou segmentos. Os princípios de tomada de decisão utilizados no raciocínio causal são:

• Maximização dos retornos esperados através da seleção das melhores estratégias;

• Uso de estratégias e análises competitivas, como as cinco forças de Porter (1980); e.

• Utiliza o conhecimento pré-existente como uma vantagem competitiva.

• Concentram-se nos aspectos previsíveis de um futuro incerto.

18

As bases teóricas do effectuation integram os espaços identificados por Knight (1921), March

(1982) e Weick (1979), cada um dos quais é inacessível à abordagem causal. São espaços

onde o futuro é incerto e não previsível (Knight, 1921), os objetivos não são pré-determinados

(March, 1982), e o ambiente não seleciona independentemente os resultados e sim a ação do

agente como ator da mudança no seu em torno (Weick, 1979). A partir destes pressupostos,

effectuation desenvolve técnicas que dão as mais novas fundamentações teóricas a esta

alternativa ao raciocínio causal.

2.3.1 Frank Knight: A noção da incerteza acerca de eventos futuros

Distribuições futuras de eventos não podem ser previstas. Como na ausência de mercados

existentes para bens e serviços futuros, estes mercados são criados? (Shane &Venkataraman,

2000). A destruição e a criação de novos mercados parece ser a resposta (Schumpeter, 1934).

Esta destruição /criação é a essência do capitalismo e o motor da atividade econômica. É na

noção de incerteza que reside o potencial econômico de exploração das contingências. A

assimetria de informação que viabiliza per se a noção de lucro. Frank Knight emite um dos

primeiros ensaios exploratórios da ideia de incerteza e lucro. Para Knight (1921) é a incerteza

sobre os eventos futuros que permite aos empreendedores a possibilidade de auferir lucros,

aproveitando os desequilíbrios de mercado. Knight identifica e descreve os três tipos de

incerteza: risco, incerteza e incerteza verdadeira, detalhados abaixo:

1) Risco: Futuro com distribuição previsível, portanto conhecido, quantificável.

2) Incerteza: Futuro com distribuição desconhecida podendo ser estimada a partir do

estudo dos eventos probabilísticos ao longo do tempo.

3) Incerteza verdadeira ou incerteza Knightiana: Futuro com distribuição

desconhecida, com o agravante de que não pode sequer ser conhecida.

19

Pesquisas desenvolvidas com modelos normativos mostram que seres humanos no geral

preferem “risco ou distribuição conhecida”, sobre, “incerteza ou distribuição desconhecida”.

Pesquisas que estudavam a solução de problemas criativos, descobertas cientificas e

empreendedorismo, especulam que empreendedores preferem a distribuição desconhecida,

quando esta tem grande tolerância e ambiguidade. Isto não significa que os tomadores de

decisão são irracionais. Por outro lado as evidências sugerem que dentro de certos limites, os

tomadores de decisão usam lógicas heurísticas e indutivas que levam a decisão ao modelo

effectual.

2.3.2.James March: A existência de ambiguidade de objetivos

March (1991) criou um corpo substancial de teorias e evidências empíricas de como o ser

humano se comporta ao tomar decisões e interagir uns com os outros e com o ambiente

externo nas organizações. De especial valor na construção da teoria do effectuation são suas

ideias sobre compensações e interações entre exploration e exploitation (March, 1991) na

aprendizagem organizacional, e sua exortação para pesquisadores a desafiar o pressuposto de

metas pré-existentes na tomada da decisão (Sarasvathy, 2001). March (1991) ressalta que a

aprendizagem organizacional trabalha com recursos escassos, com natureza distinta, a

distribuição nos processos de alocação destes recursos se faz necessária. March (1991) define

que: exploration e a exploração de novas possibilidades e inovações como busca variação,

assunção de riscos, experimentação, jogo, flexibilidade, descoberta, inovação. Exploitation

enfatiza a melhoria, escolha, produção, eficiência, seleção, implementação e execução. O

equilíbrio entre exploration e exploitation sugerem melhores chances de sobrevivência e

prosperidade às empresas, equilíbrio este particularmente complexo. As atividades de

exploration acabam sendo preteridas devido às incertezas inerentes a novas descobertas e

processos inovadores, enquanto as atividades de exploitation, de melhorias continuas, têm

20

maiores níveis de adoção, devido ao fato de que seus retornos são mesuráveis e relativamente

seguros de serem atingidos.

2.3.3 Herbert Simon: A racionalidade limitada na tomada de decisão

Na tomada de decisão a racionalidade limitada se deve a informação limitada, limitação

cognitiva e o tempo disponível para a tomada de decisão. É impossível ao ser humano ter uma

completa e perfeita informação a tempo, para tomar uma decisão ótima e não apenas

aceitável. Incertezas em relação ao futuro e custos em adquirir a informação no presente

levam ao tomador de decisão a toma-la sem ter todas as informações necessárias para a

decisão mais racional, levando a tomada de decisão via uma “racionalidade limitada” Simon,

sugere que os agentes usam heurísticas para tomar decisões em vez de uma estrita regra de

otimização.

Conforme Kahneman & Tversky (1981), as heurísticas podem ser definidas como “atalhos

mentais que tornam mais leve a carga cognitiva de tomar decisões, mais que podem conduzir

a vieses no processo decisório”. Eles fazem isso devido à complexidade da situação, sua

incapacidade de processar e calcular a utilidade de cada ação alternativa.

2.3.4 Karl Weick: Enactment e a impossibilidade de descolamento entre o tomador de

decisão e o ambiente

Weick (1988) descreve o termo “enactment” como a noção de que quando as pessoas agem,

trazem estruturas e eventos para a existência e os coloca em ação. Enactment é relativo às

organizações e seu meio ambiente e gerenciamento estratégico. Weick usa este termo no

contexto da construção do sentido (sensemaking) por gerentes ou empregados, tendo estes o

21

poder de decretar limitações sobre o sistema para evitar problemas. Empresas em processo de

organização atravessam constantes mudanças. O processo de formação de sentido das

informações ou sensemaking foi um tema pesquisado sob diversas perspectivas e pontos de

partida. Sensemaking pode ser concebido e envolve um lugar de estímulo dentro de uma

estrutura chamada “frame de referência” e a partir deste estímulo, forma-se uma estrutura

completa de significados que passa a fazer sentido (Dundar, 1981; Goleman, 1985; Starbuck;

Millike, 1998). A principal contribuição de Weick (1979) para a teoria do effectuation é:

aquela em que “o tomador de decisão exerce um papel de agente, com um papel central no

processo evolucionário das organizações”.A lógica do controle em que se assenta a teoria do

effectuation é derivada do papel do empreendedor, que ao invés de predizer o futuro, trabalha

com os meios disponíveis para exercer o poder de agência sobre essas probabilidades futuras.

É através do enactment que a vontade do empreendedor se torna realidade, transformando

aspirações e desejos em realidade.

2.3.5 Henry Mintzberg: A noção de estratégias emergentes

Mintzberg (1991; 1992) enfatiza a importância das estratégias emergentes, que nascem

informalmente em qualquer nível da organização, como uma alternativa ou um complemento

a estratégia deliberada, a qual e determinada conscientemente pelos gestores ou com a

autorização e conhecimento destes. A dimensão do processo é apresentada por Mintzberg sob

a forma de um continuo que vai de um extremo em que adota um processo deliberado de

estratégia, até outro em que a estratégia é vista como um processo emergente. Para o autor, as

estratégias podem estar emergindo continuamente; a estratégia que uma organização pratica

não é apenas o resultado de um plano rígido, mas também um padrão que se forma a partir de

uma sequência de decisões e ações. A estratégia efetivamente realizada é fruto de estratégias

22

pretendidas (intencionais), deliberadas, emergentes e não realizadas. A partir do pressuposto

acima Mintzberg e Waters (1985) identificam diferentes tipos de estratégia, desde a

puramente deliberada até a puramente emergente, observando-se na prática diferentes

combinações destas condições.

2.4 O PROCESSO DE EMPREENDER: CAUSATION E EFFECTUATION

A conjectura de incerteza, ambigudade de objetivos e racionalidade limitada pode ser

incorporada nos quatro princípios da teoria do effectuation como segue (Sarasvathy, 2001).

a) Perda tolerável versus retornos esperados: Modelos causais concentram-se em

maximizar os retornos potenciais de uma decisão, selecionando as melhores

estratégias. Segundo a teoria do effectuation o empreendedor predetermina o

valor de perda tolerável e centra-se na experimentação das estratégias possíveis

com os meios limitados dados, e prefere opções que criam mais alternativas no

futuro, sobre aquelas opções que maximizam o retorno no presente.

b) Alianças estratégicas e compromissos pré-acordados versus análises

competitivas: Modelos causais como o de Porter, em estratégia, enfatizam

analises competitivas detalhadas (Porter, 1980). Effectuation prioriza alianças

estratégicas e pré-compromissos das partes interessadas, como forma de reduzir

ou eliminar a incerteza e para criar barreiras de entrada.

c) Exploração de contingências versus exploração de conhecimento pré-

existentes: Modelos causais podem ser indicados quando o conhecimento pré-

existente, como a experiência em uma nova tecnologia particular constitui uma

fonte de vantagem competitiva. Effectuation, no entanto, seria melhor para a

exploração de contingências que apareçam inesperadamente ao longo do tempo.

23

d) Controlado o futuro imprevisível versus previsões sobre o futuro incerto:

Processos causais se concentram nos aspectos previsíveis de um futuro incerto.

A lógica para processos de causalidade é a seguinte: na medida em que podemos

prever o futuro, podemos controla-lo. Effectuation, no entanto, concentra-se nos

aspectos controláveis de um futuro imprevisível. A lógica para a utilização de

processos de effectuation é: na medida em que podemos controlar o futuro não é

necessário prevê-lo. Esta lógica é particularmente útil em áreas onde a ação

humana é o fator predominante para moldar o futuro. Por exemplo: Em vez de

definir o mercado como o universo de todos os clientes possíveis conforme

modelos propostos por Kotler (1991), em effectuation, o mercado será definido

como uma comunidade de pessoas dispostas e capazes de comprometer recursos

suficientes e talentos para sustentar tal empreitada. No primeiro caso, presume-

se a existência do mercado, independente da empresa e do empresário. No

segundo caso, o fundador junto com os outros, cria o mercado, reunindo os

interessados suficientes que compram a ideia de manter uma empresa.

Situações de riscos e incertezas são normalmente operadas e mitigadas por atribuições e

distribuições de cenários futuros, estimativas e análises. Como exemplos pode-se citar o de

mercado de seguros e portfólio diversificado de ações são posições apropriadas para serem

tratadas como situações de incerteza. Incertezas Knightianas, entretanto são caracterizadas

pelo fato de não serem possíveis de tratá-las com as previsões racionais, pois se tratam de um

futuro não só desconhecido mais impossível de ser conhecido.

Sarasvathy (2001a), em seu artigo seminal salienta que em economia e teorias de gestão, os

estudiosos assumem a existência de artefatos, como empresas, organizações e mercados. A

24

autora defende que uma explicação para a criação de tais artefatos requer a noção de

effectuation. Causation repousa sobre a lógica de previsão, effectuation na lógica do controle5.

Tomando como base a existência de tais artefatos, (Sarasvathy, 2001) questiona como tratar

algumas questões importantes da realidade empreendedora como:

a) Como tomar a decisão sobre preço é tomada quando a firma ainda não existe, ou mais

interessante, o mercado no qual a firma irá produzir não existe?

b) Como se contrata funcionários para uma firma que ainda não existe? Como é possível

que as pessoas se candidatem a cargos em uma empresa que ainda é uma

possibilidade?

c) Como se avaliam firmas que estão em mercados que não existiam a 5 anos atrás, ou

mesmo em mercados que ainda não estão formados? Ou melhor, como tais firmas

seriam avaliadas 5 anos atrás?

d) No nível macro, como se cria uma sociedade capitalista a partir de uma sociedade que

antes era socialista? Ou como se espera que uma sociedade pós-capitalista apareça?

O primeiro estudo empírico relativo ao effectuation foi feito por Sarasvathy (1999) com 27

empreendedores e acadêmicos de diferentes áreas. Todos haviam criado empresas que

5 A lógica do controle em que se assenta a teoria do effectuation é derivada do papel do empreendedor, que ao

invés de predizer o futuro, trabalha com os meios disponíveis para exercer o poder de agência sobre essas probabilidades futuras. É através do enactment que a vontade do empreendedor se torna realidade, transformando aspirações e desejos em realidade.

25

faturavam de $200 MM a $6,5 bilhões de dólares. Na solução de problemas hipotéticos

apresentados a eles, 74 % dos participantes usaram o modelo effectual em 63% do tempo e

44% destes mesmos participantes usaram o modelo effectual em pelo menos 85% do tempo.

Conforme Sarasvathy (2001a) a maioria das pessoas que tomam decisões em negócios, se

confrontam com tais questões todos os dias. Negócios ao redor do mundo vêm se tornando

cada vez mais orientado pelo livre mercado e por um mercado mais empreendedor. Aponta

que mais de 50% das 500 empresas listadas na revista Fortune 500, não existiam 15 anos atrás

o que prova a força do processo empreendedor e da criação de novos negócios.

O interesse pela teoria do effectuation tem ensejado a estudiosos e pesquisadores a realizarem

estudos empíricos desenvolvidos em diferentes visões do construto effectuation, conforme

descrito por Svensrud e Asvoll (2012) em seu artigo “Innovation in large corporations: a

development of the rudmentary theory of effectuation”. Tal estudo relaciona vários artigos

escritos e seus principais objetivos, a saber: Sarasvathy (2001) conduziu a regras

fundamentais e princípios e conceitos teóricos. Aspectos dinâmicos e transformativos do

effectuation (Sarasvathy & Dew 2005; Sarasvathy, Dew, Read & Wiltbank 2010). A lógica do

effectuation é também tratada, elaborada em vários níveis em áreas como expert

empreendedores (Read & Sarasvathy, 2005; Sarasvathy 1998; Dew, Read, Sarasvathy &

Wiltbank, 2009), criação de oportunidades (Alvarez & Barney, 2007; Miller, 2007;

Sarasvathy, Dew, Velamuri & Venkataraman, 2002), educação empreendedora (Fiet, 2000),

empreendedorismo corporativo e estratégia da alta gestão (Angier & Sarasvathy, 2004;

Sarasvathy & Kotha, 2003); (Pacheco, York, Dean & Sarasvathy, 2002). Esta é uma amostra

sobre o que está sendo pesquisado a respeito de identificar o effectuation como uma lógica

emergente, multifacetada e um tema persuasivo para pesquisas empíricas.

26

Para tentar classificar e entender o fenômeno de como os artefatos (empresas, mercados e

organizações) são criados já que a predição e casualidade parece não apresentar o

embasamento necessário, os estudos de Sarasvathy (2001a) ajudam a entender e dar pistas de

elucidação deste fenômeno.

Effectuation pode-se dizer é o inverso de causalidade, a racionalidade effectual não é

meramente um desvio da racionalidade da lógica causal, e sim, um modelo alternativo de

decisão em novos negócios. De acordo com Sarasvathy & Dew (2005), pode-se estabelecer

algumas características que ajudarão a entender as diferenças entre as duas teorias.

Effectuation toma lugar onde a previsibilidade, metas pré-existentes e um ambiente

independente não estão disponíveis para o tomador de decisão. Este problema em particular

tipifica os problemas enfrentados pelos tomadores de decisão em particular pelas startups.

Effectuation serve também como um arcabouço teórico para estudos empíricos de tomada de

decisão empresarial, tais como os envolvendo o quadrante do suicídio, mostrado na figura

abaixo:

Quadro 1: Quadrante do suicídio Adaptado pelo autor de Wiltbank at al (2010)

27

O quadrante do suicídio é um exemplo claro de problemas identificados pelos espaços das

teorias estabelecidas por Knight-March-Weick. Quando empreendedores procuram colocar no

mercado uma nova tecnologia ou produto, eles não podem de antemão contar com previsões

de demanda, porque o mercado ainda não existe. Na ausência de mercados (ambiguidade de

objetivos previstos por March) as previsões são inúteis. (incertezas verdadeiras de Knight).

Na essência o que faz da teoria do effectuation ser diferente é o fato que se, por um lado, a

teoria integra varias teorias existentes (com desvios parciais da escolha racional), por outro,

fornece um modelo alternativo com o seu próprio espaço do problema delimitado, os

processos de solução viáveis e principios específicos, com uma lógica subjacente (lógica do

controle) que amarra tudo em uma lógica completa. A teoria do effectuation tenta explicar o

processo de como alguns individuos utilizam a lógica do controle e não a lógica de previsões

pré-existentes, para eliminar as incertezas do caminho. A lógica de previsão (causation)

viabiliza o processo de exploração, a lógica do controle (effectual) sustenta o processo de

explotation tornando irrelevante a incerteza por meio de compromissos pré acordados com as

partes interessadas, aproveitando as incertezas em seus processos chave.

2.4.1 A dinâmica do Effectuation

Como alternativa ao modelo de racionalidade causal, o modelo do effectuation, apresenta um

processo de racionalidade que se desenvolve a partir dos meios disponíveis trazendo

resultados emergentes e delineando objetivos que se tornam evidentes apenas no desenrolar

da ação no tempo (Sarasvathy, 2001). Desta forma, enquanto o raciocínio causal assume

objetivos pré-determinados, enfatiza as tarefas a partir de objetivos pré-determinados e utiliza

estimativas para explorar e desenvolver mercados latentes e já existentes; o effectuation parte

de uma lógica reversa (Sarasvathy, 2001).

28

O processo de effectuation é inerentemente dinâmico e interativo, estudos demonstram como

o envolvimento de stakeholders e a criação de novas redes pode impulsionar a evolução da

empresa e a criação de novos mercados (Sarasvathy, 2001; Sarasvathy & Dew, 2005). No

início os meios (identidade, conhecimento e rede de relacionamento) formatam os objetivos

iniciais do empreendimento, sendo que conforme o processo se expande e envolve novas

pessoas e compromete recursos de stakeholders, novos meios são gerados e novos objetivos

traçados (Wiltbank et al., 2006). A Figura 1 ilustra este aspecto dinâmico do processo de

effectuation, como uma estratégia adaptativa onde os meios e recursos disponíveis e o

contexto formatam os negócios (Wiltbank et al., 2006).

Figura 1: O processo effectuation dinâmico e interativo.

Fonte: Wiltbank (2006, p. 992) Adaptado pelo Autor

O modelo de effectuation revisita as ideias de previsão e controle e sugere a inserção de

aspectos outros aspectos na elaboração da estratégia como: incerteza e a estabilidade

institucional; velocidade de mudanças ao longo do tempo; fatores tecnológicos e

macroeconômicos; e pressupostos comportamentais sobre os atores envolvidos (Wiltbank et

al., 2006).

Quem sou euO que eu sei

Quem eu conheço

O que eu posso fazer?

Contato pessoas que conheço

Compromissos com

stakeholders

Novos meios

Novos objetivos

Objetivos

Meios

Expande o ciclo dos recursos

Converge o ciclo de restrições em objetivos

Novos meios e novos objetivos representam mudança nas restrições impostas

29

Especificamente em economias emergentes, onde o arcabouço institucional é falho, a

instabilidade institucional aumenta a incerteza que cerca novos negócios e diminui a

capacidade de predição do futuro (Hoskisson, Eden, Lau, & Wright, 2000). Neste contexto, o

alto grau de incerteza e custos de transação tem um impacto negativo sobre a atividade

empreendedora e a busca por inovação (Peng, 2002; Wan, 2005). Nas últimas décadas,

economias emergentes como o Brasil, vêm desenvolvendo processos de aprendizado e a

capacidade de absorção de novos modelos o que têm influenciado a inovação tecnológica

baseada na imitação de modelos internacionais (Luo, Sun, & Stephanie, 2011). Alguns

projetos exitosos trazem ideias de empresas e projetos consagrados em mercados

desenvolvidos, adaptando-os ás condições locais (Luo et al., 2011).

No Brasil, o empreendedorismo de inovação ainda não tem tradição. Pesquisa sobre o

empreendedorismo, o GEM-Global Entrepreneurship Monitor (2012) reconhece um elevado

grau de empreendedorismo no Brasil, sendo em sua maioria caracterizado por um

empreendedorismo por necessidade, isto é, sem a busca de inovação. Contudo as

oportunidades de crescimento econômico e reformulação de políticas públicas têm buscado

favorecer o empreendedorismo inovador, aumentando a relevância do estudo do

empreendedorismo no país.

Podem-se estabelecer, em linhas gerais, algumas contribuições da teoria do effectuation nos

estudos do empreendedorismo: (Sarasvathy, 2001a, 2001b; Sarasvathy et al. 2005).

• A incerteza passa a ser encarada como um recurso e um processo;

• As contingências que surgirem no caminho podem ser transformar em um fator

gerador de oportunidades.

30

• A capacidade de ação (enactment) do empreendedor sobre o ambiente e as estruturas

de seu entorno elimina uma das premissas básicas da lógica causal, a passividade do

empreendedor frente ao ambiente e contingências.

• A noção de controle sobre aquilo que se pode fazer com os recursos atualmente

disponíveis, ao invés da otimização de decisões sobre o que se esperaria ser feito, dado

um conjunto de previsões.

A lógica do controle sobre a lógica causal, também contribui para o entendimento das

bases teóricas do effectuation.

31

3 METODOLOGIA

Tomando como base o modelo do effectuation, este estudo foca na investigação de como

princípios de perdas toleráveis, parcerias estratégicas e exploração de contingências

formataram o processo de criação de uma empresa de aluguel de livros, a GoBooks, e como o

compromisso com stakeholders atuou na reformulação dos objetivos estratégicos ao longo do

processo de criação. A GoBooks é a primeira empresa de aluguel e venda de livros físicos e

on line do Brasil, criada em meados de 2012, por dois estudantes universitários, Marcus

Teixeira e Vitor Oliveira, e vem apresentando rápido desenvolvimento do seu negócio. A

empresa é estudada no exato contexto de início de atividades e interações empreendedoras

que são teorizadas pelo processo do effectuation. sendo assim , pode ser considerada bastante

representativa dos fenômenos a serem investigados.

3.1 Objetivos da pesquisa

Foi realizado um estudo de caso com a coleta de dados via um roteiro semiestruturado e

entrevistas com os sócio-fundadores e executivos e parceiros da empresa, com objetivo de

identificar como os princípios do effectuation,- perdas toleráveis, parcerias estratégicas e

exploração de contingências estiveram presentes na criação da empresa GoBooks.

32

3.1.1 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos do estudo serão tratados pelos questionamentos:

• Tomando como base a teoria do effectuation, como os princípios de perdas toleráveis,

parcerias estratégicas e exploração de contingências formataram a criação da

empresa. ?

• Qual a importância e o papel dos parceiros na reformulação dos objetivos

estratégicos?

• Como os empreendedores lidaram com as contingências que apareceram ao longo

do processo de criação da empresa ?

3.2 Método do estudo de caso

O estudo de caso busca investigar um fenômeno definido e contemporâneo dentro de seu

contexto de inserção (Yin, 2000). Trata-se de um estudo exploratório, no qual se busca

verificar a interação entre construtos teóricos, princípios formulados pelo modelo do

effectuation, e sua dinâmica de desenvolvimento do empreendimento (Yin, 2001)

Yin (2001) observa que: “em geral estudos de caso são as estratégias preferidas quando as

questões a serem aplicadas são “como” e “por que”, que é quando os pesquisadores têm

pouco controle dos eventos e o foco da pesquisa é um fenômeno contemporâneo dentro da

vida real.” Yin (2001) especifica três parâmetros quando o estudo de caso são particularmente

apropriados, que formam os elementos chave na investigação atual:

33

1) Existem mais variáveis de interesse que dados.

2) Múltiplos recursos e evidências estão disponíveis, de uma forma convergente e

triangular.

3) O desenvolvimento de proposições teóricas, coleta e análise.

A relevância do estudo de caso está na sua capacidade de prover evidência qualitativa rica,

permitindo desenvolver medidas e proposições que serão posteriormente testáveis em uma

pesquisa dedutiva (Eisenhardt & Graebner, 2007).

O estudo do empreendedorismo e suas características de effectuation tem alguma tradição

na literatura (Sarasvathy & Kotha, 2001; Tasic & Andreassi, 2013). Contudo, a

investigação da interação entre meios e fins esta ainda em um estágio inicial na literatura

(Perry, Chandler, & Markova, 2012). O desafio deste estudo foi identificar os construtos

que perfazem os princípios do effectuation e mapear a dinâmica do processo de interação

da empresa e seus stakeholders e a consequente configuração de novos meios e fins. A

escolha da GoBooks como objeto de estudo foi motivada por aspectos exemplares do seu

processo de criação e desenvolvimento como: o pioneirismo do tipo de serviço no Brasil,

o protagonismo de empreendedores com recursos limitados e a fase de desenvolvimento

do negócio.

3.3 Coleta de dados

Uma das caracteristicas dos estudos de caso está na utilização de mais de uma fonte para

coleta de dados como entrevistas em profundidade, análise de arquivos e observação

direta(Yin,2001).

34

O planejamento da coleta de dados baseou-se na revisão da literatura e nos construtos lá

desenvolvidos para a formulação e execução da pesquisa, incluindo um roteiro para

entrevistas.O roteiro de entrevistas (apêndice 1-anexo),foi estruturado a partir dos modelos

préviamente utilizados por Wiltibank (University of Washington) e por Tasic (2007), quando

do estudo de caso da empresa Buscapé. Assim, a coleta de dados deu-se pelas seguintes

fontes:

• Entrevistas: Foram feitas cinco entrevistas, sendo quatro com os empreendedores e

sócios fundadores da empresa Marcus Teixeira (E1 – 25, duas entrevistas), formado

em relações internacionais pelo IBMEC e Vitor Oliveira (E2 – 26 anos, uma

entrevista), estudante de engenharia de computação na PUC. Uma entrevista com

Mateus Brum que se juntou á empresa após 10 meses como coordenador, é estudante

de administração (C1– 22 anos). As entrevistas foram feitas em diferentes ocasiões

entre Dezembro de 2013 e Março de 2014, buscando confirmar as informações

coletadas e aprofundar assuntos de foco da pesquisa. Posteriormente foi tambem

entrevistada a diretora da Empresa Junior Panorama (relações internacionais ) do

Ibmec, Anna Holanda , parceira do projeto (P1) .O Quadro 2 detalha a relação dos

entrevistados, bem como o mesmo é referenciado na pesquisa.

Nome do entrevistado Empresa Referência na pesquisa

Marcus Teixeira Sócio Fundador GoBooKs E 1

Vitor Oliveira Sócio Fundador GoBooks E 2

Mateus Brum Coordenador na GoBooks C 1

Anna Holanda Diretora Emp. Jr Panorama P 1

Quadro 2 : Relação de entrevistas

35

• Depoimentos : Foram utilizados cinco depoimentos de parceiros em entrevistas

disponíveis na internet, a saber: Rodrigo Mentz (Diretor Nacional de Vendas da

Editora Elsevier ), Daniela Abrantes (Prof. do curso de administração,UFRJ), Tania

Petersen, (Diretora da Faculdade de Ciências Econômicas, da UCAM) , Tulio Terra

(Professor do Ibmec). e Otakar Svacina, ( executivo e mentor da GoBooks).

• Documentação: Foram também utilizadas entrevistas e reportagens sobre a empresa

nos jornais O Globo, O Estado de São Paulo e nos sites de internet, UOL.com.br e

Catraca Livre.

• Observação direta: As entrevistas foram realizadas na sede da GoBooks na cidade

do Rio de Janeiro, tendo o entrevistador a chance de verificar in loco o ambiente de

negócios empresa.

3.4 Forma de análise dos dados

A utilização de diferentes fontes permitiu triangular as informações e verificar os

significados atribuídos durante o processo de análise. Para tanto, o material coletado e as

entrevistas transcritas foram analisados em seu conteúdo, no qual se buscou identificar

de maneira sistemática e objetiva de características especiais da mensagem (esquema de

codificação) (Miles & Huberman, 1994). O processo de codificação buscou evidências

dos construtos de perdas toleráveis, parcerias estratégicas e compromisso com

stakeholders, assim como indicadores de meios (existentes) e objetivos estratégicos. As

codificações foram posteriormente analisadas quanto à interação entre as mesmas

visando identificar a existência dos construtos propostos teoricamente e a dinâmica de

relação entre os mesmos.

36

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O caso da GoBooks, no estágio analisado, representa o fenômeno de adaptação de uma idéia a

novas formas de fazer visando atender a um novo mercado. Oportunidades e incertezas

caracterizam o estágio de desenvolvimento do empreendimento, pois não se sabia se haveria

mercado, não se conhecia o perfil dos clientes e nem o nível de aceitação entre estudantes

(demanda) e editoras (oferta).

A GoBooks,foi a primeira empresa locadora on line de livros físicos (de papel) do Brasil, foi a

empresa escolhida para este trabalho. Os empreendedores eram colegas na aceleradora de

negócios digitais 21212, o Marcus na área de pesquisa de negócios e o Vitor na área de

desenvolvimento de sistemas como programador.

A ideia de montar uma empresa surgiu na junção do conhecimento do Marcus, que estudava o

mercado americano de educação, com as habilidades de Vitor como programador. O modelo

de negócio dos empreendedores for inspirado no site norte americano de aluguel de livros

Chegg (www.chegg.com), uma empresa que começou suas atividades de aluguel de livros em

2007, passando depois a também vendê-los e ao aluguel de livros digitais. Hoje a Chegg

oferece uma gama de recursos para a aprendizagem, inclusive reforço escolar. Em 2011, 20%

dos estudantes utilizavam livros alugados nos Estados Unidos, sendo que a Chegg faturou

mais de 200 milhões de dólares.

37

Baseados neste exemplo, os empreendedores decidiram lançar uma “página isca” para

verificar se o modelo teria mercado no Brasil. Em no segundo semestre de 2012 é lançada a

página na internet “Cansados de usar e comprar livros caros nós temos a solução”, que gerou

10 mil acessos e resultou em três mil estudantes interessados. Animados com os resultados, os

empreendedores resolveram criar a empresa, contando com um aporte inicial da aceleradora

21212 de 50 mil reais.

Para criar o acervo inicial da GoBooks, foi feita uma pesquisa com estudantes das principais

universidades do Rio de Janeiro para saber quais eram os títulos mais utilizados em cada

curso de graduação. Começaram pelo curso de administração na PUC-RJ (Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro) e atualmente já estão atendendo aos cursos de

Administração, Economia, Engenharia e Medicina.

A GoBooks trabalha com um modelo semelhante ao das livrarias. Compra os livros

diretamente das editoras e distribuidoras e os dispõe para aluguel e posterior venda. O

objetivo é vender o livro após três ciclos de aluguel (semestres). A empresa também compra e

vende livros usados e faz doações de livros que estão fora de catálogo ou não são da última

edição. Para se tornar um usuário, é preciso efetuar um cadastro pela internet e efetuar o

pagamento via cartão de crédito, débito ou por meio de boleto bancário. Após o pagamento o

livro é entregue no endereço do estudante via correio e o aluguel tem o prazo de seis meses. A

devolução é feita em pontos de coleta presentes em cada universidade, e em caso de atraso na

entrega é cobrada uma multa.

Em menos de um ano a empresa ampliou seus serviços para várias universidades do Rio de

Janeiro, incluindo a Universidade Federal do Rio de Janeiro, as faculdades IBMEC, a

faculdade Candido Mendes, a Universidade Estácio de Sá e a Universidade Estadual do Rio

de Janeiro. Atualmente a empresa busca superar os desafios logísticos para poder expandir

38

seu negócio. No ano de 2014 eles esperam alugar três mil livros. Em pouco mais de um ano

os empreendedores saíram do desenvolvimento da ideia, para o aluguel de mil livros no fim

de 2013. No Quadro 3 podemos verificar o histórico dos principais eventos desde a criação da

GoBooks. Chama a atenção para a velocidade do desenvolvimento do negócio.

Data Eventos

2012(Jun) -Empreendedores Marcus e Vitor se conhecem no trabalho na aceleradora 21212 -Conhecem modelo de negócio da Chegg

2012(Jul-Nov) -Desenvolvimento da ideia -Teste de protótipo -Página isca -300 livros alugados.

2012(Nov) -Lançamento do site da empresa -Projeto selecionado para ser acelerado pela 21212 com investimento inicial e tutoria -Pesquisas junto a alunos na PUC para montar o acervo inicial

-2013(Jan) -Início de desenvolvimento de produtos -2013(fev) -Teste na plataforma da PUC curso de Administração -2013(Mar) -Programa piloto PUC curso de Engenharia 2013(abr) -Chegada do mentor Otakar Svacina 2013(mai) -Road Show Apresentação do projeto a investidores 2013(Jun) -Participam do Investor Day e conseguem investimento no valor de 600 mil 2013(Set a Dez)

-Montagem da estrutura operacional: logística, tecnológica e marketing -Aluguel de mais de mil livros

Quadro 3 :Histórico da GoBooks

Seguindo a lógica do processo de effectuation, nossa análise buscou identificar os meios que

os empreendedores dispunham, assim como suas aspirações que formataram as decisões.

A GoBooks foi criada em meados de 2012, por dois estudantes universitários Marcus Teixeira

e Vitor Oliveira. Marcus Teixeira é formado em relações internacionais pelo IBMEC e Vitor

Oliveira estudante de engenharia de produção na PUC.

Marcus e Vitor eram colegas no Startup 21212, (o Marcus na área de pesquisa Business) e o

Vitor na área de desenvolvimento de sistemas. Programador desde os 15 anos de idade, com

sete anos de experiência em programação. “Meu padrasto era programador de sistemas e me

ensinou a programar quando eu tinha uns 15 anos”, enfatiza Vitor Oliveira.

39

Não se conheciam, ficaram se conhecendo quando trabalharam juntos na empresa aceleradora

de startups 21212, e o Vitor identificou sinergia entre o trabalho que os dois desenvolviam na

aceleradora e numa reunião num bar da Urca, para um Chopp e relata:

“A ideia surgiu porque o Marcus já estudava o mercado americano de educação e eu era programador.” (E2). “Falei pro Marcus :Precisamos criar um negócio nosso, você já esta estudando e conhece este mercadonos Estados Unidos e eu posso programar”.(E2)

Assim nasceu a GoBooks . A mídia deu bastante cobertura a criação deste novo negócio

conforme reportagens dos jornais O Globo, O Estado de São Paulo, UOL o site Catraca Livre

dentre outros.

“Os dois sócios perceberam por experiência própria, uma oportunidade da criação de um novo

negócio no sistema universitário brasileiro e resolveram investir pesado numa demanda real

das universidades, públicas e particulares”.(Jornal O Globo,18/03/2013) . O objetivo era atuar

num mercado até então inexistente neste meio: o aluguel de livros papel (físicos) didáticos, a

preços baixos com redução de até 70% do valor da capa. Eles se inspiraram no modelo

americano em que 20% dos alunos utilizam livros alugados e no Brasil não havia nada disto.

4.1 Caracterizando os meios disponíveis

Seguindo a lógica do processo de effectuation, nossa análise buscou identificar os meios que

os empreendedores dispunham, assim como suas aspirações que formataram as decisões. O

Quadro 4 expõe a identidade, o conhecimento e a rede de relacionamento dos

empreendedores.

40

Quadro 4 : Meios disponíveis

Identidade (“quem é ele”)

“No meu caso eu gosto de empreendedorismo desde ensino médio, no Santo Inácio eu já trabalhei com empreendedorismo na Junior Achievement que é uma ONG que promove lideranças estudantis, e fui presidente de uma empresa que produzia porta-treco, eram produtos de madeira.” (E1) “Para mim ser empreendedor é ser feliz, eu sou feliz fazendo o que faço.” (E2)

Conhecimento (“o que ele sabe”)

“comecei a analisar o mercado norte americano mercado educação nos EUA os estudantes tinham hábito de alugar livros de 7 ou 8 empresas como por exemplo a CHEGG. Porque o brasileiro não poderia replicar?” (E1) “Falei pro Marcus: “Precisamos criar um negócio nosso, você já está estudando e conhece este mercado nos Estados Unidos e eu posso programar.”(E2)

Rede de relacionamento (“quem ele conhece”)

“Vitor tratava do marketing, relacionamento com alunos, professores, ele é estudante de graduação em engenharia na PUC. Eu cuidava da administração comprava livros, fazia expedição, pagamento, etc. Vitor apresentava a empresa aos alunos, fazia os contatos externos com editoras e professores.” (E1) “Olha, eu acho que a gente teve muita sorte, porque nós estávamos no lugar certo, na 21212, nos conhecemos na 21212, recebemos o primeiro aporte de desenvolvimento de protótipo da 21, foi um capital muito baixo, mas nos ajudou a nos manter.”( E1).

Quadro 4 :Caracterizando os meios disponíveis. Fonte: O autor

Um aspecto que parece caracterizar os empreendedores é a complementaridade de

conhecimento existente entre eles, conforme relato do próprio empreendedor “[...]eu

trabalhava na parte de business, então nós nos conhecemos na 21212 foi muito complementar,

porque ele fazia uma coisa que eu não fazia que era desenvolvimento de produtos, e nós dois

estávamos motivados a criar uma coisa própria, a gente se conheceu aqui. ”(E1).

Do ponto de vista técnico, os dois sócios um formado em relações internacionais e outro

graduando em engenharia de produção, traziam uma grande gama de conhecimentos iniciais,

e com a aceleração do projeto pela 21212 tiveram acesso a mentores e empresários

experientes que ajudaram a moldar o que seria este novo negócio. Do ponto de vista gerencial,

a 21212 como mentora fornece o suporte gerencial, bem como capital intelectual necessário

ao desenvolvimento da empresa.

41

4.2 Perdas toleráveis

Conforme relato dos entrevistados, no início havia a inspiração relativa ao modelo de negócio

a ser adotado, baseado no modelo da empresa americana Chegg. Entretanto não se sabia

como as coisas funcionariam no mercado brasileiro tendo em vista das diferenças existentes

entre os dois mercados americano e brasileiro, então decidem lançar mão de uma página isca

na internet como forma de testar o interesse dos estudantes universitários. Neste processo eles

se valem dos meios disponíveis (habilidades de programação e rede de conhecimento) para

avaliar o potencial do projeto. A página isca traz para os empreendedores a primeira

informação do que seria o mercado potencial (três mil e-mails de resposta) sem que os

empreendedores tivessem estruturado a empresa.

Identificada a primeira opção de viabilidade do projeto, os empreendedores passam para o

seguinte passo de prospectar o mercado potencial. Mais uma vez eles utilizam os meios que

lhe estavam à disposição (rede de conhecimento) e fazem uma pesquisa com 50 estudantes da

PUC sobre suas necessidades em termos de livros acadêmicos.As respostas às duas sondagens

de mercado, buscaram delimitar o espaço de experimentação e sondar, com cautela, as

possibilidades para o desenvolvimento do negócio.

Seguindo processo do effectuation os empreendedores, com seus meios limitados, saem

buscando opções cujas perdas são minimizadas e que apresente estratégias possíveis

(Sarasvathy, 2001). Assim, os empreendedores investiram trabalho, alguns recursos

financeiros e tinham o controle do quanto podiam perder. Ao longo do processo, percebe-se a

preferência dos empreendedores por criar mais opções no futuro, até mesmo opções pessoais,

do que maximizar o retorno no presente.

42

Por fim, destaca-se que a noção de risco e incerteza atrelada ao processo, pode ser vista como

promotora da própria atividade de empreender.

Quadro 5 : Perdas Toleráveis

Espaço para experimentação

“[...] decidimos lançar um site, e via e-mail, para testar o mercado, com a chamada “estudantes cansados de comprar livros caros” A GoBooks tem uma novidade para você. O objetivo era a pessoa entrar e cadastrar, era só entender o problema livros caros de graduação. A resposta foi imediata. “Tivemos 10 mil acessos, 3 mil e-mails, não gastei 1 centavo de mídia e o próprio estudante começou a compartilhar, deixar seu e-mail para que a Gobooks enviasse a novidade para você.” (E1). “Teu ativo no início é seu time, motivação, o valor investido foi pequeno, de outubro a dezembro de 2012, 600 reais de investimento...” (E1). “[...] gastar menor quantidade de dinheiro possível para testar aquilo, se aquilo deu certo, aí sim a gente investe.” (E2).

Criando opções para o futuro ao invés de retorno imediato

“[...]nossa expectativa de fato é o crescimento da empresa, e é isso que de alguma forma nos daria uma tranquilidade financeira.” (E1). “[...]O mercado norte americano entende esta tentativa de empreender mesmo quando não dá certo. Não e valorização do fracasso, a possibilidade de retorno e muito maior. Quando o empreendedor vai numa entrevista de emprego e diz que ele já teve uma empresa ele e visto com outros olhos.”(E1 ). “Foi muito interesse, muito trabalho, não tínhamos salários ficamos 7 meses sem salário só comprava livro quando havia aluguel. Tínhamos voluntários.” (E1). “[...]não tivemos salário nesse período de aceleração, a gente pegou investimento e desenvolveu produtos, comprou os primeiros livros, contratou um estagiário, investiu um pouco em publicidade.” (E1).

Incerteza “Sei que todo negócio tem riscos, incertezas, faltam recursos, os recursos são escassos, não dá para brincar com dinheiro dos outros, tem que fazer escolhas certas, é desafiador…”(E2).

Quadro 5 : Perdas Toleráveis Fonte:o autor

4.3 Exploração de contingências

A existência de contingências é parte do processo de empreender e , assim, no processo de

effectuation os gestores procuram capitalizar essas ocorrências. Em outras palavras, as

surpresas podem, além de oferecer problemas e imprevistos, apresentar oportunidades a serem

exploradas. Contingências podem prejudicar o valor dos meios atuais para alcançar os

objetivos, mas também proporcionar oportunidades e novas metas (Wiltbank et al., 2006).

Na medida em que o projeto da GoBooks é desenvolvido, surpresas e contingências foram

enfrentadas conforme podemos observar no relato dos sócios fundadores. “O primeiro perfil

de cliente que a gente trouxe foi muito diferente do perfil de cliente que a gente imaginava,

43

quando a gente pensou em aluguel de livro a gente acreditou que eram as pessoas de baixa

renda que não teriam capacidade para comprar um livro, o primeiro da família dele no

mercado de trabalho que estaria muito interessado em alugar um livro, e seria algo como a

democratização do acesso a informação. No primeiro semestre o bairro que mais alugou foi

Leblon.”(E1). No processo de enfrentamento de contingências a empresa utilizou-se

largamente das parcerias, como vemos a seguir.

4.4 Parcerias estratégicas

O papel das parcerias estratégicas está exatamente na redução de incertezas e no controle do

ambiente. No caso GoBooks, as parcerias foram identificadas prematuramente e reconhecidas

como importante no processo do desenvolvimento do projeto. Deste modo, GoBooks buscou

parcerias desde o momento inicial do projeto, usando a rede de relacionamento dos

empreendedores e oportunidades que apareceram ao longo do desenvolvimento.

Os primeiros parceiros foram a aceleradora 21212, na qual eles “mudam de lado” e passam a

ser empreendedores e investidos. Movidos pela necessidade de acesso ao mercado

universitário, a empresa estabeleceu parcerias com todas as Empresas Júnior das faculdades e

universidades atendidas. Tais parcerias foram usadas para ponto de contato com os estudantes

e promoção da empresa dentro das escolas, os chamados “embaixadores”. As Empresas

Júnior também tem servido como ponto de devolução dos livros, reduzindo custos para o

negócio.

“Os alunos vinculam muito a Panorama com a GoBooks, e sentem que têm um acesso maior à GoBooks por aqui. Qualquer dúvida entrega ou recebimento de livro, pode ser feito por aqui, como ponte”. (P1).

44

Os empreendedores reconheceram a necessidade de elevar barreiras para imitação, já que o

projeto não parecia apresentar muitas, e buscam nas parcerias uma forma de “agregar valor”

ao projeto e diminuir as chances de novos entrantes: “[...]a gente presta serviços, que é o

aluguel, então a gente tem que gerar valor, agregar para cada vez mais ser mais difícil para

outros players entrarem nesse mercado.” (C1).

As parcerias podem ser agregadas com premissas de valor ao produto, alguns destes

parceiros , vieram de idéias propostas pelos próprios estudantes, como o Post it (adesivo da

empresa 3M) que busca promover a “conscientização da conservação do livro”.Para cada

livro alugado, a GoBooks e a 3 M enviam um brinde , folhas adesivas para que o aluno possa

marcar as páginas mais importantes do livro alugado e fazer as anotações sem rasurá-lo. O

Red Bull (bebida energética) , que já faz campanhas junto ao publico universitário dentro das

universidades , tambem veio se juntar a esta parceria., e serve para trazer “energia no dia da

prova”, Os parceiros foram aparecendo ao longo do processo tanto por sugestões, estudantes

como por iniciativa das próprias empresas que veem na associação com GoBooks uma forma

de se aproximar do público universitário, caso do cartão Bradesco universitário. “O Bradesco

Universitário acredita que ajudar seus clientes-estudantes é o melhor caminho para se ter uma

marca valiosa. Existe forma melhor de se fazer isso do que rachando o custo dos livros

universitários com os alunos?”(site da GoBooks.com.br).

Além de aumentar o valor percebido, as parcerias também têm o objetivo de diminuir a

pressão das forças competitivas. Desta forma, na relação com as editoras a GoBooks foi de se

apresentar “como uma parceira, contra a cultura da cópia Xerox” (E2), ao invés de uma

potencial concorrente e desestimuladora da compra de livros. A parceria com as editoras

desenvolveu-se para um projeto de plataforma de acesso para professores e alunos,

aumentando a oferta de livros que podem ser posteriormente vendidos para os alunos. Assim a

45

GoBooks seria um canal de distribuição para as editoras e uma alternativa à cópia, conforme

relato de Marcus Teixeira (E1), sócio executivo da Gobooks:

“Eu sou a sua frente contra a cópia do livro, estamos dando uma opção de não copiarem o livro, porque neste caso o autor e a livraria nada ganham.Se voces não me perceberem como parceiro vão sair perdendo.”

As parcerias até então desenvolvidas podem ser categorizadas como:

-Parceiros por benefícios: 3M, Red Bull, Bradesco.

-Parceiros por necessidade : editoras , distribuidoras de livros, empresa junior., e os

embaixadores, que são estudantes contratados pela GoBooks para para divulgar a empresa

dentro das universidades.

-Parceiros por cooperação: A aceleradora 21212, pelo investimento inicial e tutoria

operacional, foi importante, pela extrema incerteza e falta de recursos próprios para investir

na fase inicial do projeto.

-Parceiros investidores: 4 Anjos, que chegam na fase de aportarem recursos para o

crescimento e desenvolvimento do negócio.

4.5 Dinâmica entre parcerias e objetivos estratégicos

As parcerias podem abastecer um determinado projeto de modelo de negócio, bem como

servir de inspiração para um novo modelo de negócio, seja complementando o inicialmente

imaginado, ou mesmo algo diferente do pensado inicialmente. Neste caso as parcerias ajudam

na complementação e evolução do negócio inicialmente imaginado.

46

Em um determinado momento o que chamamos de parcerias estratégicas começam a se tornar

evidentes, a solidificarem, moldando novos meios e atingindo novos fins. As parcerias que

inicialmente visavam somente agregar valor ao cliente, agora começam a se cristalizar e a

tomar a forma de uma potencial fonte de receita, possibilitando a empresa no futuro

redesenhar seu modelo de negócio, pois as empresas parceiras têm interesse no cliente da

GoBooks, e para atingi-lo começam a oferecer parcerias que podem começar a moldar

negócios complementares, conforme relatam os entrevistados:

“...eu acho que a gente vai ter uma postura mais agressiva de buscar novos serviços, de buscar novos produtos, até para a fonte de receita não depender 100% do aluguel de livros, que é uma coisa que a gente vê até na Chegg.” (C1) “[…] empresas querendo se associar a GoBooks de maneira espontânea, e de ter parceiros querendo oferecer produtos que tinham alguma coisa a ver com universidades de maneira espontânea, então a gente começou a perceber ao longo do caminho que fazia mais sentido a gente oferecer a GoBooks como um agregador de serviços do que necessariamente só como uma locadora de livros.” (E1) “Muitas empresas querem se aproximar do público universitário, mas elas não sabem como falar com o público universitário, você vê empresas gastando muito dinheiro para tentar se comunicar com o público universitário, e para a GoBooks isso é natural, acontece naturalmente, então para a gente é um diferencial competitivo sim.” (E1)

“[..]. Então a primeira grande estratégia desse ano vai ser se aproximar de empresas que tenham base forte, de alguma forma aproximar essa base da nossa, trabalhar muito forte o marketing digital para aumentar a nossa base, para a partir de 2015 a gente ter esse modelo de empresas como modelo de receita.” (E1)

O modelo de negócio inicial de aluguel de livros físicos vem sendo adaptado e remodelado na

medida em que surgem as parcerias. As parcerias que no início procuravam trazer benefícios

aos clientes, agora começavam a desenhar um novo modelo de receita, auxiliando a GoBooks

vislumbrar a possibilidade de redefinir o modelo de negócio. O objetivo agora, a partir das

novas parcerias, é transformar aos poucos a empresa em um HUB (plataforma ) de serviços

em educação, possibilitando a mudança do mix de produtos e serviços oferecidos, ensejando a

diminuição da dependência do aluguel de livros como gerador de receitas.

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Quadro 6 : Dinâmica entre parcerias e objetivos estratégicos

Parceiros Objetivo Estratégico Empreendedores Locação de livros e posterior venda (modelo Chegg) Aceleradora e Investidores Expansão de mercado Parceiros 3M, Red Bull, Bradesco Locação de livros com benefícios aos clientes Negociação com editoras Plataforma para auxiliar professores Empresa de Logística com abrangência nacional (em negociação)

Aumento da abrangência territorial

Novos Investidores (em negociação) Implantação de um HUB acadêmico com modelo de partilha de receita com empresas parceiras e menor dependência do aluguel de livro

Quadro 6 : Dinâmica entre parcerias e objetivo

O processo dinâmico e interativo entre meios e objetivos que redesenha o modelo de negócios

inicial mesmo antes que ele tenha sido testado. Nesta dinâmica, os meios, como a identidade e

a rede de relacionamentos, demonstraram ser importantes na redefinição destes objetivos,

dado o nível de maturidade dos empreendedores e o ambiente de trabalho onde eles atuavam.

48

5 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Esta pesquisa focou o processo de tomada de decisão dos empreendedores na criação de um

novo negócio, à luz da abordagem do effectuation. Tomando como base a teoria, procurou-se

aqui identificar a extensão o processo do effectuation aconteceu na criação da empresa

GoBooks, o primeiro site de aluguel de livros físicos universitários no Brasil O raciocínio

effectual em três grandes princípios inseridos no contexto da lógica do controle: perdas

toleráveis, parcerias estratégicas e exploração de contingências foram analisados

detalhadamente, assim como o papel das parcerias (stakeholders) na reformulação dos

objetivos estratégicos ao longo do processo de criação.

O caso da GoBooks mostrou-se bastante profícuo aos objetivos deste estudo, dada o seu

empreendedorismo de inovação e ao estágio de desenvolvimento do projeto, que possibilitou

observar os processos em tempo real.

A análise dos resultados possibilitou a identificação dos meios e do contexto do

empreendimento, que é protagonizado por jovens estudantes e recém-formados que

trabalhavam em uma aceleradora de negócios. Com meios restritos à breve experiência

profissional, mas expandidos pela vontade de empreender, os empreendedores se utilizam

amplamente de sua rede de conhecimentos para alavancar potencial do negócio inicial. Os

comprometimentos dos empreendedores com parceiros que emergem no processo imprimem

49

uma velocidade nos acontecimentos e na constante redefinição dos objetivos do negócio. De

certa forma os empreendedores, mesmo sendo novatos e estudantes, não aparentam utilizar-se

de informação preditiva, mas de uma racionalidade analógica, criando mais alternativas e

opções para o negócio (Dew et al., 2009).

Dentre os princípios do effectuation, a noção de perdas toleráveis e a busca de parcerias

tiveram papel relevante tanto na decisão de empreender como em moldar os objetivos

estratégicos. Assim a chegada de parceiros, como a incubadora, os investidores, as Empresas

Junior, e as editoras foi o que permitiu o nascimento do negócio e fomenta os planos de

expansão de escala e escopo do empreendimento. O processo incerto do empreendedorismo é

paulatinamente superado com a ajuda das alianças estratégicas que visam diminuir a

rivalidade do ambiente e a imitabilidade do negócio.

Do ponto de vista da inserção contextual do projeto, fica evidente que o processo de

effectuation aplica-se a modelos inovadores e também a modelos de adaptação como o caso

da GoBooks. Mesmo tendo uma forte âncora no modelo americano da Chegg, os

empreendedores moldam os objetivos pelos seus próprios meios, seguindo a sequência dos

meios disponibilizados e não o histórico da empresa americana.

Além da confirmação de vários aspectos prescritos pelo modelo de effectuation, os resultados

deste estudo trazem a demonstração clara da dinâmica entre meios (parcerias e stakeholders) e

objetivos estratégicos. Esta dinâmica resiste à influência de um modelo pré-existente (caso da

Chegg) e à pouca experiência dos empreendedores, que poderiam optar por métodos mais

preditivos e analíticos como forma de lidar com a incerteza.

Dentre as limitações deste estudo está a limitada amostragem e exposição ao evento, que deve

continuar a ser investigado para o caso da GoBooks. Neste sentido, este estudo deixa

50

caminhos para estudos futuros deste mesmo caso (e outros), na análise da manutenção da

dinâmica do effectuation ao longo do processo de desenvolvimento do empreendimento.

51

6 REFERÊNCIAS

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Apêndice 1

• Roteiro de pesquisa:

O roteiro de entrevistas abaixo foi estruturado a partir de uma adaptação de roteiros de

entrevista para estudos de casos previamente utilizados por Wiltbank (University of

Washington) e por Tasic (2007), quando do estudo de caso da empresa Buscapé.

1. Como a empresa foi formada? Quais foram seus objetivos, eram específico-claros ou

amplos?

2. Como vocês selecionaram seus objetivos, mercados-alvo, produtos, serviços? O que era

atraente em relação a cada um e de onde eles tiraram a ideia? Que tipo de pesquisa de

mercado foi feita (se é que foi feita)?

3. Em que medida vocês concentram seus investimentos e o posicionamento da empresa

para o sucesso em função das predições de mercado?

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4. Quando novos meios / recursos são apresentados, vocês estavam dispostos a

reconsiderar seus objetivos?

5. Vocês procuraram meios e recursos para validar seus objetivos pré-existentes?

6. Vocês trabalham com algum parceiro? Como estes relacionamentos iniciaram e por

quê? Vocês procuraram outros parceiros ao mesmo tempo?

7. Que tipo de parceiro foi escolhido? Algum deles era um potencial concorrente?

Trabalhou-se com os parceiros de modo a promover/aperfeiçoar alguma mudança

substancial no modelo de negócio? Ou os parceiros focaram na execução de objetivos pré-

existentes?

8. Os empreendedores trabalham de forma mais cooperativa ou competitiva?

9. Como vocês escolheram os locais de estabelecimento do negócio?

10. Que surpresas surgiram ao longo de seus caminhos? Como vocês lidaram com aquelas

surpresas?

11. O que aconteceu quando um cliente veio até vocês e queria algo que vocês não

ofereciam à época?

12. Em que vocês estão trabalhando agora ou em seguida, no futuro? Por que vocês

escolhem estas coisas?

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13. Quando vocês fazem decisões de investimento, como vocês decidem quanto irão

investir? Em suma, os procedimentos de coleta de dados serão múltiplos, em linha com

aqueles adotados por Sarasvathy e Kotha (2001). Neste sentido, como apontam os autores,

esperou-se que tal abordagem de coleta de dados permitisse ao pesquisador analisar o

fenômeno do processo empreendedor a partir de múltiplos pontos de vista, bem como

triangular fatos e inferências, dotando o estudo de maior confiabilidade e validade.