elucubrações entre loucos
DESCRIPTION
Seleção de poesias de Junior Salvador.TRANSCRIPT
Elucubrações Entre Loucos
- 3 –
Sumário
Perfil do autor 05
Insônia 07
Noite Entre Amigos 09
H.D.K > LSF 11
O Barco 13
O Vinho 15
Afrodite 17
A última dança 19
Olho Mágico 21
Essa Luz 23
A Onda 25
Festa 27
Escalada 29
Dúvidas e Incertezas 31
Eu ... quem sabe... 33
Nós 35
Despedida 37
A morte e o forte 39
03 de julho 41
Gira mundo 43
Encontro com a Morte 45
Elucubrações Entre Loucos
- 4 –
Fé 47
Apenas mais um fim 49
Sílabas 51
Pó 53
Eu vou 55
Tempos modernos 57
Muros 59
Um dia 61
Calendário 63
Esses Ss e Cs 65
Elucubrações Entre Loucos
- 5 –
Perfil do Autor
Aparecido Salvador Junior nasceu na
cidade de Rancharia, no interior do
Estado de São Paulo, em 06 de outubro de
1985. Aos catorze anos começou a
trabalhar, mais para adquirir maturidade e
senso de responsabilidade que para ajudar no sustento da
família, passando a conciliar as atividades profissionais e
educacionais.
Em 2004 ingressou no serviço público, profissão pela
qual se apaixonou e para a qual passou a dedicar todos os seus
esforços profissionais nos anos que sobrevieram.
No ano seguinte iniciou o curso de licenciatura em
letras na Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP),
onde se formou no ano de 2008, apto para lecionar tanto a
língua portuguesa quanto na língua alemã.
No fim do ano de 2008, a nomeação para um novo
concurso público desencadeou uma sucessão de fatos que o
levaram a, não só a erradicar-se em Araçatuba/SP, como
também a iniciar o curso de bacharelado em direito.
Elucubrações Entre Loucos
- 7 –
Insônia
O tic tac do relógio empoeirado
O triste girar do ventilador de teto
o calor insuportável, o suor escorrendo
o lençol molhado
A garrafa d'água
e o vento
As horas parecem não querer passar
O sono não vem, Morpheus não chega
amanhã nos perseguirá por todo o dia
menos uma noite de sono,
não há quem desaperceba
Mais dez minutos se passaram, aqui estou
Elucubrações Entre Loucos
- 8 –
ainda de pé diante da noite que passa
envolto em silêncio e escuridão
pensando na vida e na morte
sentindo o tempo sem graça
A noite é deveras intensa
há momentos de pura loucura e prazer
em meio à escuridão
fazer o que não se imagina
em meio a uma sala escura
sentir o sono que chega
Depois de breves elucubrações à volta
de novo a cama, os lençóis e o sono
mais uma vez a tentativa
amanhã um novo dia
quem dera pudesse não dormir
viver intensamente cada noite
sem sono, insone pela vida
somente a sentir
Elucubrações Entre Loucos
- 9 –
Noite entre Amigos
Sentado na varanda, olhando as estrelas
Numa noite quente, de um verão passado
O céu todo iluminado, a boca seca,
Lá embaixo barulho, um mundaréu de gente
Abro mais uma garrafa e olho ao longe
A lua brilha disforme num céu claro
Meus pés descansam sobre a mobília
Minha mente dispersa, entorpecida
Mais um cigarro sai do maço
Um trago, um gole,
Outro trago, mais um gole
Substituindo um abraço
Elucubrações Entre Loucos
- 10 –
“Se você ouvisse as vozes que ouço a noite,
acharia tudo que eu faço natural”
Elas vêm de todos os lados, de todas as formas
Entre um soluço e um trago, todas as noites
Mais uma garrafa, outro cigarro
Sempre fiéis nos dias mais difíceis
Trazendo conforto, paz e alegria
Até o último gole
Até o último trago
Até que se vá o último suspiro
Elucubrações Entre Loucos
- 11 –
H.D.K > LSF
Não falo, não grito, não digo
fecho-me em pura infusão
meu coração sem pulso
minha mente em castigo
não há nada mais a querer
nada a fazer ou inventar
pensar, criar ou dizer
as estrelas giram mais rápido
Elucubrações Entre Loucos
- 12 –
o bailar do universo leva ao delírio
ao deleite, a morte e ao destino
ao crime, a pena e a prisão
às delícias de um mundo sem razão
fútil, leve, sem sentimento
amado, pesado, ressentimento
um pecado sem deus nem diabo
sem peso, ou destino traçado
fervendo em pura ebulição
entre gelo e fogo, transpiração
um engodo sem luz
pedra que reluz
sem razão.
entre delitos e delicias
deleite sem violência
travestida em pura
sapiência
Elucubrações Entre Loucos
- 13 –
O Barco
Quando abri a janela senti o ar frio
Invadiu minha alma, flamejando
Queimou meu coração e o partiu
Deixou meu espírito delirando
Olhei ao longe e vi o mar
As ondas vindo como sonhei
Batendo nas pedras sob o luar
tocando a areia por onde passei
Um barco embriagado dançava na noite
entre cobras e corais bailava sem rumo
ziguezagueando, açoitado pelas ondas
Sem velas, sem cais, sem prumo
Elucubrações Entre Loucos
- 14 –
Fechei os olhos e imaginei seu destino
Quantos lugares visitou? Para onde iria?
Talvez fosse apenas um devaneio de menino
Quem é seu capitão? Quando enfim voltaria?
Quando abri os olhos vi
Vi que meu barco não estava mais ali
Desapareceu no meio da noite branca
Levou meus sonhos, alma e inocência
A infância, o coração e a esperança
Deixou apenas a visão do mar
a única que ainda me encanta.
Elucubrações Entre Loucos
- 15 –
O VINHO
O doce líquido da uva corre,
Vívido fluido inebriante,
Ardente, distinto, gritante
É tinto, rose e espumante,
Cerrado, forte, vibrante
Um cálice de luz e poder
Oculta sob o intenso semblante
Um delicado e sensível sabor
Elucubrações Entre Loucos
- 16 –
Passa o tempo na adega, escondido,
Cronos, em vão acredita, ameaça
Dessa batalha sai fraco, vencido
Baco não perdoa, pede mais uma taça
Inconseqüente o corpo se envolve
A boca seca aspira mais um gole
A cabeça gira, o olho não se move
Em um instante perde-se o controle
Aos sentidos o suave sabor entorpece
Dos dias mal vividos o louco se esquece
Entre delírios o deleite conhece
Em prazer e volúpia se aquece
Cessados os efeitos, à realidade retorna
Ausência sentida no fundo da alma
veracidade morna, mundo imperfeito
Ao cálice se volta, o corpo tem sede
Elucubrações Entre Loucos
- 17 –
AFRODITE
Alegria e paixão, luxúria, enganação
Roupas jogadas, respiração ofegante
Olhos revirados, coração disparado
palavras sussurradas, flagrante excitação
Suor escorrendo pela face
Abraços quentes se vão
Enlace de pernas e braços
Ágeis movem-se as mãos
Furor de excitação e prazer
Deleite, distração e encanto
Delicias enlouquecem os santos
Coração dispara e se vai
Elucubrações Entre Loucos
- 18 –
Calor que percorre todo corpo
Incandescentes sentidos e vozes
Labaredas que sobem pelas pernas
Eternas, ardentes chamas
Aproximam-se,
tocam-se e ensinam
sentem e trocam,
mentem e gozam
Elucubrações Entre Loucos
- 19 –
A ÚLTIMA DANÇA
Olho aquela luz outra vez no espelho
Ajoelho-me perante a imagem
Um frio que percorre toda espinha
Um tremor que fraqueja as penas
A boca seca não consegue gritar
Aquela imagem me atormenta
são vozes que ecoam na alma
acalma-me a leveza do seu olhar
Um grito de desespero e dor
Pavor, loucura e paixão
O espelho reflete o passado
A morte dança com o amor
Elucubrações Entre Loucos
- 20 –
Correntes tilintam nos cômodos vazios
Ouço o som das carroças que passam
É a mesma imagem que surge no espelho
A última prece não terá sido em vão
A última dança de um espírito pagão
Que se vai inútil de volta à vida
Maldita vida de flagelação
De novo e de novo
Em vão
Elucubrações Entre Loucos
- 21 –
OLHO MÁGICO
Sempre quis ter um olho mágico em casa
Sabe aquele da TV, dos seriados fantásticos?
Queria poder olhar sem que me vissem
Ver o outro sem sair da minha casca
Queria poder olhar sem ser visto
Comentar sobre os defeitos alheios
Rir dos trejeitos e enganar
Sentir-me perfeito sem me expor
Elucubrações Entre Loucos
- 22 –
Mas nunca tive um olho mágico
Nunca pude me esconder atrás da porta
Nem de um lado nem de outro
“O inferno são os outros”
Isso não deve ser só para poucos
Sinto falta da porta entre nós
Queria mesmo é morrer só
Sem olhos, sem portas, sem lados
Elucubrações Entre Loucos
- 23 –
ESSA LUZ
Um brilho eterno numa noite de inverno
Reluzente, estonteante, miraculoso
Um inferno fabuloso e demente
Uma luz mágica de fulgor interminável
Olhe, sinta seu cheiro sufocante
Se encante com o som fumegante
Sinta o calor congelante
Cante
Elucubrações Entre Loucos
- 24 –
Essa luz que conforta e aquece
Trás a alegria para a vida torta
Arrefece a tristeza que nasce na alma
Acalma a vil natureza morta
Sobre as árvores ilumina e aquece
Esperanças e sonhos povoam
A mente do caboclo destoa
a lucidez esvai-se, enlouquece
Ó luz! Diga-me o que queres!
Pega o que desejas e vá
Meu corpo tem sede de ti,
Mas minha mente não esquece
Vá e não volte mais, ó luz
Deixe-me em paz
No escuro.
Elucubrações Entre Loucos
- 25 –
A ONDA
Um dia o poeta gritou e pude ouvir
Para pegar a onda era preciso estar
“Na hora certa, num certo lugar”
Enfrentá-la, sem nunca desistir
Era uma metáfora sobre a vida
Incrível espelho do agora
vontade de largar tudo, ir embora
Pegar a onda ensandecida
Ele também disse aquele dia
“feche os olhos, tome ar, é hora do mergulho”
Elucubrações Entre Loucos
- 26 –
Sem medo ou cuidado, todos ficaram mudos
Tinha certeza que essa onda viria
É a hora certa, o mesmo lugar
Cada dia sem sentido ganha novo brilho
Agora é fechar os olhos, deixá-la guiar
A onda traz a futuro, leva o tempo perdido
Pra onde você me levará? Aonde iremos juntos?
Sinto que ainda tenho coragem e medo
Percebo de longe quando vejo uma miragem
Leve-me onda para os mais variados mundos
“Só não se esqueça de que você também tem defeitos
Não se esqueça, nunca fomos perfeitos”.
Não me esquecerei, brilhante onda, me lembrarei
Seja qual for o futuro, sob os meus pés ele estará.
Elucubrações Entre Loucos
- 27 –
FESTA
O brilho da lua sem graça
O cheiro da erva ressecada
O calor das paredes amareladas
A sujeira do cimento e da massa
Gente que passa e repassa
Espreme-se, meio sem graça
O álcool destrói a couraça
Em um minuto faz-se a desgraça
Elucubrações Entre Loucos
- 28 –
Amanhã ninguém se lembra de nada
Queimadura de cigarro, boca inchada
Bebida quente, viagem apertada
Descalços na via toda empoeirada
De resto as fotos comprovam os fatos
Os patos, os ratos e também os gatos
No meio do caminho vão-se os sapatos
Mundo perdido em meio aos retratos
Dia seguinte boca seca, cabeça doendo
Historias engraçadas de amigos morrendo
No melhor sentido da palavra
Não era morte, estavam só vivendo
Elucubrações Entre Loucos
- 29 –
ESCALADA
Vou subindo até o topo sem medo,
a respiração foge do corpo
Um pouco de luz no horizonte
Vento forte, chuva fina. Estarei louco?
Lá do alto tudo deve ser lindo
Pressinto por onde passo, ainda vivo
Lá de cima vou gritar enlouquecido
Verei um mundo luminoso,
Minha vida terá sentido
Elucubrações Entre Loucos
- 30 –
Poucos metros me separam da glória
Eterna, fraterna, inalcançável
Poucos segundos restam de vida
Sairei do mundo, viverei na memória
Vejo como tudo é belo
Talvez esteja delirando
Ou ainda sonhando
Tudo brilha em torno dela
Atiro-me daqui de cima sem remorso
Quando se chega tão alto,
é o que se espera
Lá embaixo vejo o fundo do poço
Não desejo a fuga dos fracos
tampouco o heroísmo de guerra.
Elucubrações Entre Loucos
- 31 –
DÚVIDAS E INCERTEZAS
No dia em que tudo se apaga
O nada invade seu corpo
Um sopro vazio de dor
Uma ardente nova chaga
Tantos sonhos se vão num minuto
Lágrimas escorrem pelo rosto
O frio percorre todo o corpo
Uma aposta, um erro absoluto
Elucubrações Entre Loucos
- 32 –
Na balança da vida, sonhos e planos
Sofrimento eterno ou dor presente
O quanto se pode agüentar? Pese-se.
Dói dentro d’alma, o amor que se sente
A decisão que se toma leva a agonia
Leva a alegria que habitava o coração
Traz a angústia de vê-la sofrer
Amargura no feito por não fazê-la feliz
O inverno entra pela porta deixada aberta
Porta que se abre por medo e covardia
Um futuro que nasce novo, incerto
Queria vê-la feliz, um dia
Depois que a porta se fecha há o nada
Somente o nada e a incerteza
O vazio, a dúvida de ter feito a coisa errada
Só quero que seu futuro não tenha tristeza
Elucubrações Entre Loucos
- 33 –
EU... QUEM SABE
Eu sou aquele que tudo vê
aquele que tudo sabe
aquele que nada enxerga
aquele que tem as perguntas
sou aquele que leva ao paraíso
aquele que foge da festa
aquele, às vezes, indeciso
o dono da jogada mestra
Elucubrações Entre Loucos
- 34 –
o louco que leva alegria
um pouco de negro humor
sem muita simpatia
destruo-te fazendo um favor
palavras sem demagogia
sinceridade sem harmonia
atos sem anestesia
levo toda sua alegria
mais um passo e será conquistado
pelo jeito difícil tão atacado
minha amizade não será um fardo
você verá, sempre estarei ao seu lado
respeite o sono daquele que luta
o descanso da vida bruta
se estou quieto não encha
não seja tão filho da puta
Elucubrações Entre Loucos
- 35 –
NÓS
Você utilizou seus meios mais fúteis
Traiçoeira quase me pegou
Em transe, você, fraca, tentou
Mas seus atos foram inúteis
Seu ataque veio de inopino
Por pouco tempo assustou o menino
Que guiava pela estrada, indo e vindo
Pensando em nada, nada sentindo
Elucubrações Entre Loucos
- 36 –
Em um segundo quis me levar
Para seu mundo infeliz de dor e pesar
Mas a ti, agora, só resta o sonhar
Comigo, você jamais irá estar
No papel lembro-me do riso seu
Sorrateiro, querendo calar o meu
Você é fraca, incapaz, percebeu?
Sou mais forte que você, enfim entendeu
Não voltes mais sem ser convidada
De nada adiantam seus atos espúrios
Lamúrias de um dia que não chegará
Para ti, ao meu lado, nunca haverá nada
Elucubrações Entre Loucos
- 37 –
DESPEDIDA
É triste quando finalmente chega a hora
Aquele sorriso de outrora não mais existe
Um sentimento triste, futuro indeciso
Às vezes é preciso, às vezes se insiste
As palavras de antes já não existem
A conversa animada ficou no passado
Olha ao lado e de nada lembra
Tudo passa, o vazio vem
Elucubrações Entre Loucos
- 38 –
O vazio invade e trás o inverno
Trás o inferno ao frio coração
Leva a lágrima pelo portão aberto
Resta a tristeza da decisão
Um dia isso passa, sempre passa
Não é impossível, pense e faça
O medo ataca o que muito pensa
Um dia passa, um dia isso passa
Seria melhor não sentir
Seria melhor poder sorrir
Quem dera um dia poder sair
Sem tristeza, te ver partir
Não há nada que se possa fazer
Um ciclo termina, outro começa
Não que um dia eu te esqueça
Cada minuto foi um intenso prazer
Um dia passa, sempre passa...
Elucubrações Entre Loucos
- 39 –
A MORTE E O FORTE
Quando a morte encontra o forte
Encontra a morte de sua própria sorte
Que nãos mãos do forte perde-se ao norte
Pois, Oh morte! a sorte pertence ao forte
Para o forte não há sorte
Nem morte
Há apenas a morte
Da sorte
Pois só ao forte cabe a sorte
da morte
Elucubrações Entre Loucos
- 40 –
E à morte, levar a sorte
Do forte
Se não houvesse sorte
O que seria da morte
Andando longe ao norte
Padecendo diante do forte?
Tem a morte a sorte
A sorte de levar o forte
Pois o forte não teme a morte
Muito menos o caminho do norte
Ao forte cabe a morte
À morte, a triste sorte.
Ao norte, a sorte da morte
À sorte, a morte do forte.
Elucubrações Entre Loucos
- 41 –
03 DE JULHO
Hoje vi a morte e ela sorriu
Vi o mundo, mas ele se partiu
Fechei os olhos, mas eles se abriram
Vi um deus, que de nada serviu
A luz do sol escureceu minha visão
Meu coração disparou e esmaeceu
A respiração fugiu, enfraqueceu
No fim do túnel, vi meu irmão
Elucubrações Entre Loucos
- 42 –
Não me deixou partir e me chamou
Me fez sorrir quando me xingou
Estava ali quando tudo começou
Já não estava quando acabou
A morte sorria com desdém
O mundo se partia em vários pedaços
A vida fugia entre os meus braços
Os deuses diziam amém
“Uma nova vida”, hão de dizer
“nasceu de novo”, vão me falar
É assim que é e assim deve ser
Afinal, aos fracos, deuses não podem faltar.
O que fica é o dia em que vi o mundo
de cabeça para baixo
em que pude, por um segundo
estar em cima e embaixo
Elucubrações Entre Loucos
- 43 –
GIRAMUNDO
Quando o mundo girou nada mais senti
Olhava pelas janelas, queria ser um bem-te-vi
Vi as glórias e derrotas que deveras vivi
Respirava como criança, esperando cair
Os vidros partindo-se em pedaços
Sonhos se desmanchando a cada rodopio
O chão se aproximando e sumindo, esguio
Girava o mundo diante dos meus olhos
Elucubrações Entre Loucos
- 44 –
Não temi pelo pior em nenhum momento
A você me apresento e aguardo seu retorno
Não guardo mágoas nem faço juramentos
Apenas espero que não brinques mais com fogo
O mundo girou e você me perdeu
Não acompanhou o momento que era seu
Sua incapacidade decepcionou
Com fraqueza você me atacou
Quando o giro parou te ouvi me chamar
Uma voz inebriante que tentava conquistar
Sussurrando baixinho, querendo me levar
Falhou novamente, não vais me matar.
Elucubrações Entre Loucos
- 45 –
ENCONTRO COM A MORTE
Sua fraqueza me decepciona
Não engana minha certeza
Tua leveza nada emana
Te amo, e te desprezo
Vi seu rosto sem cor e sem gosto
Vi o oposto do pré-vida proposto
Vi desgosto sobrevindo à ferida
Via sua partida com um sorriso no rosto
Elucubrações Entre Loucos
- 46 –
Ri de ti como nunca dantes
Como nunca antes enfim sorri
Não cantes seu triste canto a mim
Enfim, mais uma vez te venci
Dispensei mais uma vez seu frio beijo
Em ti, tento, mas nada vejo
Perceba sua mais nova derrota
Fico sem medo, esperando sua volta
Você não é nada, não merece respeito
Carece de força, só merece despeito
Não pode com quem a enfrenta,
Este é seu defeito
Quando novamente nos encontrarmos
Será, de novo, do meu jeito.
Vejam só como é
Eu vi a cara da morte, mas ela não estava viva
Furtiva, se aproximou como nem queria nada
Enganada, saiu como chegou, calma e vingativa
Perdida, mais uma vez saiu, derrotada
Elucubrações Entre Loucos
- 47 –
FÉ
Esperança e fé levam a glória
Eterna memória que nunca se cansa
Lembrança que lembra a escória
Estória que leva a desgraça
A massa grita de pura dor
Puro pavor, bendita sois vós
A nós o amor que tens
A tudo nosso mais belo
Amém
Elucubrações Entre Loucos
- 48 –
Pecados perdido dentro da noite
Penitência paga, Sagrada imagem
Uma Mensagem de amor
Louvado seja
o senhor
Foi um dia de cão
Antes de dormir faça sua oração
O sermão falava de outros
Nossos pecados estão perdoados
Que a paz esteja com você
Que você não saiba o que faz
Minha paz depende de ti
Meu sucesso é sua desgraça
Dai graças e diga aleluia
Aperte minha mão, me de um abraço
Minha fé depende da massa
Nenhuma desgraça ofende o irmão
Elucubrações Entre Loucos
- 49 –
APENAS MAIS UM FIM
De tudo aquilo que nasce
Surge a esperança que cai
A criança cresce e parte
A arte soa, se esvai
Luz que nasce no frio da caverna
Sentimento eterno de ódio e amor
Sabor intenso, inferno de almas
Moderno caos sincero
Elucubrações Entre Loucos
- 50 –
Algemas e palavras de ordem
Guerras e lavras de ouro
Garras em luta constante
Um instante e tudo se acaba
Frágil ser ante o vasto mundo
Nefasto errante submundo
Imunda vida passante
Num instante
a luz se apaga
a natureza morta de cada um
ninguém se importa
em um segundo se acaba tudo
um piscar de olhos e tudo desaba
Elucubrações Entre Loucos
- 51 –
SÍLABAS!
Foi. O momento passou, a luz se perdeu
É. A escuridão nasceu, a noite chegou
Não. Não quero enfrentar os monstros de lá
Só. Perdido em sonhos, a deriva no mar
Diga. Qual é o motivo do mundo cair?
Fale. Conte-me o que há adiante do muro
Siga. Encante o céu com sua luz
Jogue. Os dados serão o guia do amor
Elucubrações Entre Loucos
- 52 –
Levante, Bata a poeira e caia de novo
Enfrente, O povo não sabe nem o que quer
Evite, Aqueles que sempre te puxam pra baixo
Derrote, a escuridão que traz o inverno
Só bata naquilo que deve odiar
Só sinta aquilo que possa encontrar
Não diga amigo, eu quero enfrentar
Eu penso comigo, só quero amar
Sílabas, de um mundo novo nascerão enfim
Pétalas, da rosa mais linda das capitais
Fúlgidas, intensas estrelas no negro do céu
Sôfregas, contemplando os homens sobre a terra
Só. Aqui o mundo nem parece tão triste
Vá. Mude o que não te agrada
Cá. Estamos nós aqui outra vez
Dó, a primeira nota de nossas vidas
Elucubrações Entre Loucos
- 53 –
PÓ
O caminhar do destino entrega
Não há vida que nunca se leva
Momentos preciosos perdidos pra sempre
Caminhos traçados em uma direção
Do pó vieste, ao pó voltarás
Criança nasceu, criança morrerás
É o ciclo da vida, morrer e nascer
Nascer e morrer no ciclo mortal
Elucubrações Entre Loucos
- 54 –
O tempo é calculado em todo lugar
Nem um minuto a mais ou a menos
Cada segundo tem sua função
Só com a morte a plenitude virá
Atitudes e atos serão pesados
Amores e filhos considerados
No fiel da vida todos pesados
Vida e Morte dos desesperados
Do pó ao pó, da vida à morte
Do nascimento ao fim
Do leste ao oeste, do sul ao norte
Das alegrias as tristezas enfim
Elucubrações Entre Loucos
- 55 –
EU VOU
Eu vou contra a onda que vem
Divergindo da mãe e do pai
Contra os que mandam e dizem o que
Tirando o sono dos que dizem amém
Não sou um burguês sem cultura
Freguês de propaganda e TV
Coca-cola é a geração que passou
Agora é meu olho que tudo vê
No meu coração sou o rei do planeta
Elucubrações Entre Loucos
- 56 –
Pego carona no rastro do cometa
Em direção ao mundo infinito
Digo tudo que deveria ser dito
Não há nada que eu deva temer
Não há nada que eu não faça por merecer
Eu vou confiante na força que tenho
Vou com fé seguindo o caminho
Um dia serei recompensado
Muito feliz, quem sabe até amado
Não tenho dúvidas esse dia virá
Não se preocupe, você saberá
Por isso eu vou sem medo ou temor
Confio na força do homem
Sou forte como a terra que cria
Minha força vem do amor
Se viesse comigo você entenderia
Vem comigo...
Elucubrações Entre Loucos
- 57 –
TEMPOS MODERNOS
Tic-tac, tic-tac, tic-tac
Peraí, tem algo errado no ar
Já é tarde e tenho que correr
O mundo não pode parar
Olhe a hora e veja
Na globalização, parar é morrer
No corre-corre da cidade grande
Os carros somem no horizonte.
A laranja mecânica atropela o mundo
O mundo gira sem direção
Elucubrações Entre Loucos
- 58 –
Os ponteiros giram pra qualquer lugar
Carteiros poetas enfrentando a chuva
A vida é breve, a natureza é leve
O tempo é tudo no quase nada
Tic-tac, tic-tac, tic-tac
Peraí, tem algo errado no ar
Hei Alice, aonde você vai?
Já é tarde e o mundo está louco
Um pouco mais louco do que já esteve
Olhe os ponteiros indo e vindo
A hora da estrela chegou
O dia D começou
Sinta o sabor do futuro que chega
Sinta a loucura da hora que vai
Tic-tac, tic-tac, tic ...
Elucubrações Entre Loucos
- 59 –
MUROS
Uma pedra a mais no muro da desonra
Rabiscos e letras soltas no escuro
Lamentações que se cruzam naquela parede
A boca com sede e o sangue morto nas veias
O caminho se acaba na base do muro
a alegria se esvai no meio do fogo
Lágrimas sofridas cortando uma cidade
um bando de loucos que andam soltos
Armas protegendo túmulos velhos
Arames farpados cercando a igreja
Mãos juntas rezando aos céus
Deus chora assistindo ao final
Elucubrações Entre Loucos
- 60 –
Amores que nunca mais serão vistos
Palavras que nunca mais serão ditas
Crianças que não serão mais amadas
Vidas perdidas sem nenhuma razão
Muros e grades cercando a cidade
A cidade que queima a luz do luar
Luz que apaga a alegria dos jovens
Jovens calados entre muros e grades
Não há esperança no caos da razão
Nada que se diga fará diferença
O amor é um sonho muito distante
Ao dinheiro os homens pedem a benção.
Elucubrações Entre Loucos
- 61 –
UM DIA
Não penso em tudo que já me ocorreu
Não sinto tristeza pelo que já passou
Águas passadas não furam a pedra
Águas muito moles não movem moinhos
Moinhos de vento não serão mais dragões
O pássaro azul voará pelos céus
No teatro mágico poderei entrar
Da pedra do gênese farei um colar
Elucubrações Entre Loucos
- 62 –
Nesse dia o mundo terá muita paz
Nesse dia as crianças serão mais felizes
Brincarão pelas ruas sem sofrimento
Meninos de engenho serão livres assim
Um dia em que o mundo nascerá de novo
Poderei cantar feliz com meu povo
Um dia pra nunca mais esquecer
Um dia pra levantar o troféu
Um dia para chorar e sorrir
Um momento lindo virá enfim
O teatro mágico exalará carmim
O pássaro azul se juntará a mim
Fraterno como os irmãos Abel e Cain
Em um carnaval greco-romano
Em um bacanal santíssimo cristão
Um dia como esse não dá pra esquecer
Num dia como esses, me deixaria morrer.
Elucubrações Entre Loucos
- 63 –
CALENDÁRIO
Dia após dia caçando no escuro
Hora após hora no meio da chuva
Chuva que queima os olhos do mar
Escuro que esconde a presa a correr
Um dia como este não se esquece
Não se podia ter outro melhor
o calor da água esfria meu corpo
a dor da morte ecoa no ar
Elucubrações Entre Loucos
- 64 –
minuto a minuto eu penso em parar
parece tão triste quando a vida termina
o sangue que escorre não é mais o meu
mesmo assim eu grito: Onde está Deus?
Um minuto que passa e a morte se aproxima
Uma menina saltitante vestida de azul
Sua pele suave esquenta minha mão
Meu coração acelera com seu beijo e paixão
A festa esperada é logo ali
a menina me chama pra irmos embora
choro de medo do que há por vir
eu nem percebo, ela sorri e chora.
Morte não me leve, ainda tenho tantos planos
Eu sei que é tarde e já passaram tantos anos
Deixe-me ficar, me conceda mais um desejo
Eu só quero sentir mais uma vez o seu beijo
Eu só quero sentir, mais uma vez,
Seu doce, quente, vivo beijo
Elucubrações Entre Loucos
- 65 –
ESSES Ss e Cs
Eu estava errado
Somente sussurrando em seus ouvidos
Simplesmente solitário, sozinho no meu
Egoísmo de pensar
Simplesmente em nós
Elogio sua essência
Sugiro sejamos sábios
Sem sofrer, sem sentir o sangue
Escorrendo entre esses ecos
Sujando seus sapatos
Elucubrações Entre Loucos
- 66 –
Eu sou seu ego sangrando
Enquanto Seu sangue escorre sofrido
Enquanto choro e sangro.
Cala-te
Esqueça-te
Suplique-me
Elogio sua essência
Sugiro sejamos sábios
Sem sofrer, sem sentir o sangue
Escorrer entre esses ecos
Sujando seus sapatos
Eu estava errado
Somente sussurrando em seus ouvidos
Simplesmente solitário, sozinho no meu
Egoísmo de pensar
Simplesmente em nós
Cegue-se
Esvaia-se
Suma