eleição para governador de são paulo - 2010: as variáveis petistas e a confirmação do...
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O quadro político que Aloizio Mercadante tinha na disputa ao governo de São Paulo em 2010 era o mais favorável em sua carreira eleitoral: pleiteava o cargo que o ocupante do PSDB havia abandonado antes de completar o mandato, deixando expostos vários gargalos administrativos; e havia a aprovação recorde do presidente Lula, seu aliado político, que lhe garantiria bom desempenho eleitoral. Entretanto, ele não conseguiu vencer a hegemonia do PSDB no Estado. A presente pesquisa avalia, sob a ótica do marketing político, a campanha eleitoral, a participação do candidato no horário eleitoral gratuito e nos debates, e a cobertura dada pela imprensa à sua campanha para avaliar quais foram os erros que o impediram de avançar no segundo turno e se aproximar da vitória eleitoral.TRANSCRIPT
ELAIDES BASILIO ANDRELINO
Eleição para governador de São Paulo –
2010: As variáveis petistas e a confirmação
do continuísmo
Monografia apresentada ao Departamento de Relações
Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em
cumprimento parcial às exigências do Curso de
Especialização, para obtenção do título de Especialista em
Marketing Político e Propaganda Eleitoral sob a orientação
do Prof. Dr. Celso Toshito Matsuda.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Escola de Comunicações e Artes
São Paulo
Dezembro de 2011
Banca Examinadora:
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_____________________________________________
Dedico à minha querida mãe Francisca Andrelino Basilio e
meus irmãos Edivino, Joelma e Francisco Ivan, pela pessoa que
me tornaram e, em especial ao meu pai José Basilio que,
infelizmente, não pôde estar presente para ver esse trabalho.
Agradecimentos
Ao meu orientador Prof. Dr. Celso Toshito Matsuda pela preciosa atenção no decorrer
deste trabalho. Aos demais professores da casa e aos professores convidados que despertaram
em mim o gosto pelo saber e pela reflexão, principalmente aos professores Ivan Santo
Barbosa, Mariângela Furlan Haswani, Reinaldo Polito, Vera Chaia e Vera Crevin, os quais
tenho uma grande admiração, por serem fundamentais na base de construção dessa pesquisa e
por contribuírem para uma abertura de um novo olhar fascinante para o Marketing Político.
Sobretudo ao professor Mitsuru Higuchi Yanaze que teve papel fundamental na organização
de minhas ideias durante suas aulas, na disciplina Planejamento Estratégico de Marketing e a
Comunicação Integrada (stricto sensu), e lançou feixes de luz que me ajudaram a desenvolver
propostas e sugestões embasadas em sua metodologia, não somente para uma próxima
campanha, mas para uma nova forma de gestão de marketing como princípio de trabalho
eficaz, que se encontra no final desta pesquisa.
Não poderia deixar de agradecer aos entrevistados, pela credibilidade dada a esta
pesquisa e por dividirem suas experiências que foram essenciais para refletir e escrever este
trabalho: Carlos Cordeiro, Geraldo Figueiredo de Almeida, Luiz dos Santos Pereira
Mendonça, Paulo Victor de Angeli Filho, Vereador Chico Macena, Vereador José Américo, e,
em especial, a Justino Pereira Junior que de alguma forma teve influência no meu interesse e
na escolha pelo Marketing Político.
A Nilton Sousa Lopes, que atendeu, gentilmente, o meu pedido para a diagramação da
capa dessa monografia.
Aos colegas da turma e, principalmente, os que viraram amigos, Fábio de Lima, Paula
Bragalda, Carla Silva e Walter Mello.
Aos amigos e colegas de trabalho: Luciano Somenzari por acreditar que conseguiria
superar as diversas dificuldades que ocorreram desde o início do curso, e Jaime Silva, por
contribuir com o empréstimo de alguns livros que me ajudaram, e muito. Como também às
amigas Agnes Guidini e Shirley Valadares pela paciência de escutar minhas descobertas no
decorrer desta pesquisa mesmo não havendo muito interesse pelo assunto.
Agradeço também à Renata Sales, amiga de todas as horas, pelo apoio.
À minha amiga Francisca Ramalho que, como sempre, não poderia deixar de estar
presente nos momentos mais importantes de minha vida, e que ainda abriu o caminho para a
obtenção de uma importante entrevista.
Ao compadre Vitor Manuel Olival D’Assunção pela doação de um livro que, após ser
utilizado, foi para o sebo e, como num passe de mágica, acabou voltando para esta
pesquisadora.
Aos queridos amigos Paulo Pepe e Elisângela Cordeiro pela boa vontade e disposição
para conversar diversas vezes sobre o andamento do trabalho e, por terem contribuído na
indicação de um entrevistado.
Aos meus sogros: Waltão e Dona Marlene, e cunhadas: Adriana e Márcia, que
gentilmente mudaram as datas dos festejos familiares que aconteciam aos sábados para que eu
pudesse participar.
Enfim, aos homens da minha vida que sempre acreditaram no meu potencial,
dedicando todo amor e apoio imprescindíveis nesse percurso, sem os quais não seria possível
chegar até aqui: Walter de Sousa Junior, meu grande amor e companheiro, pelo apoio
incondicional, sempre disposto a discutir sobre o tema, dando contribuições importantes para
o desenvolvimento desta pesquisa e pelo precioso trabalho de transcrição das entrevistas; aos
meus queridos filhos Geancarlo e Cauã, pela paciência, compreensão de minha ausência no
decorrer do curso e que me ensinam muito sobre a vida; à minha filha de coração, Beatriz, que
de alguma forma também fez parte desse processo fazendo companhia ao pai nos momentos
em que eu não poderia estar presente.
Convicção cada dia mais enraizada, de que não menos que as iniciativas,
tem importância o controle para que elas se realizem, para que meios e fins
coincidam perfeitamente (coincidência que não deve ser entendida
materialmente). Convicção de que não se pode falar de querer um fim
quando se sabe predispor com exatidão, acuidade, meticulosidade os meios
adequados, suficientes e necessários (nem mais, nem menos; nem para cá
nem para lá do objetivo).
Antonio Gramsci, (Cadernos do cárcere – planejamento).
RESUMO
O quadro político que Aloizio Mercadante tinha na disputa ao governo de São Paulo em 2010
era o mais favorável em sua carreira eleitoral: pleiteava o cargo que o ocupante do PSDB
havia abandonado antes de completar o mandato, deixando expostos vários gargalos
administrativos; e havia a aprovação recorde do presidente Lula, seu aliado político, que lhe
garantiria bom desempenho eleitoral. Entretanto, ele não conseguiu vencer a hegemonia do
PSDB no Estado. A presente pesquisa avalia, sob a ótica do marketing político, a campanha
eleitoral, a participação do candidato no horário eleitoral gratuito e nos debates, e a cobertura
dada pela imprensa à sua campanha para avaliar quais foram os erros que o impediram de
avançar no segundo turno e se aproximar da vitória eleitoral.
PALAVRAS-CHAVE: Eleições, marketing político, PT, PSDB, Mercadante, horário
político, debates, imprensa.
ABSTRACT
The political framework that Mercadante was in the race for governor of São Paulo in 2010
was the most favorable election in his career, pleaded to the charge that the inmate PSDB was
abandoned before completion of the term, exposing various administrative bottlenecks, and
there was record approval of President Lula, his political ally, would enjoy good electoral
performance. However, he failed to win the hegemony of the PSDB in the State. This study
evaluates, from the perspective of political marketing, election campaign, the applicant's
participation in and free electoral debate and press coverage of their campaign to assess what
were the errors that prevented him from advancing in the second round and approach the
election victory.
KEYWORDS: Elections, political marketing, PT, PSDB, Mercadante, political time,
political debates, the press.
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
Gráfico 1: Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha um mês antes do pleito
sobre a expectativa de vitória ........................................................................... 23
Gráfico 2: Pesquisa feita pelo Instituto IBOPE pós-eleição ............................................. 24
Gráfico 3: O tamanho dos partidos no Estado ................................................................... 66
Gráfico 4: Prefeituras do Estado de São Paulo divididas por partido ............................... 67
Gráfico 5: Prefeituras conquistadas por partidos nas eleições 2008 no Estado de
São Paulo .......................................................................................................... 128
Tabela 1: Programa de debate realizado pela TV Bandeirantes dividido por tema .......... 108
Tabela 2: Programa de debate realizado pela TV Record dividido por tema .................... 112
Tabela 3: Programa de debate realizado pela TV Globo dividido por tema ..................... 115
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANDES – Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior
ARENA – Aliança Renovadora Nacional
BBDO – Batten, Barton, Durstin, e Osborne
CEUs – Centros Educacionais Unificados
CNB – Construindo um Novo Brasil
Contraf – Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
CUT – Central Única dos Trabalhadores
DCE – Diretório Central dos Estudantes
DEM – Democratas
DF – Distrito Federal
DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda
FHC – Fernando Henrique Cardoso
FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
FMI – Fundo Monetário Internacional
HGPE – Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral
IBOPE – Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
IUPERJ – Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro
LOPP – Lei Orgânica dos Partidos Políticos
MDB – Movimento Democrático Brasileiro
MP – Ministério Público
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PC do B – Partido Comunista do Brasil
PCB – Partido Comunista Brasileiro
PCC – Primeiro Comando da Capital
PCO – Partido da Causa Operária
PDS – Partido Democrático Social
PDT – Partido Democrático Trabalhista
PF – Polícia Federal
PFL – Partido da Frente Liberal
PL – Partido Libertador
PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PP – Partido Progressista
p.p. – pontos percentuais
PR – Partido da República
PRB – Partido Republicano Brasileiro
PRN – Partido da Reconstrução Nacional
PRP – Partido Republicano Progressista
PRTB – Partido Renovador Trabalhista Brasileiro
PSD – Partido Social Democrático
PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira
PSDC – Partido Social Democrata Cristão
PSF – Programa Saúde da Família
PSOL – Partido Socialismo e Liberdade
PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PT do B – Partido Trabalhista do Brasil
PT – Partidos dos Trabalhadores
PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
PTN – Partido Trabalhista Nacional
SBT – Sistema Brasileiro de Televisão
SMSBCD – Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema
STF – Supremo Tribunal Federal
SUS – Sistema Único de Saúde
TSE – Tribunal Superior Eleitoral
UDN – União Democrática Nacional
Univesp – Universidade Virtual do Estado de São Paulo
UPAs – Unidades de Pronto Atendimento
VLT – Veículo Leve sobre Trilhos
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................... 15
Capítulo 1
O processo de reconstrução da democracia brasileira.................................................. 18
1.1 Redemocratização e ascensão do PMDB.......................................................... 18
1.2 O surgimento do PT: novidade e inovação....................................................... 20
1.3 Assembléia Nacional Constituinte e o surgimento do PSDB........................... 25
1.4 São Paulo e o quercismo................................................................................... 28
1.5 Ascensão do PSDB e do PT.............................................................................. 29
Capítulo 2
A revolução do marketing político e da propaganda eleitoral..................................... 35
2.1 A propaganda política e a evolução do horário eleitoral gratuito..................... 42
2.2 Os programas de debate político....................................................................... 50
2.3 A cobertura da imprensa................................................................................... 54
Capítulo 3
Premissas e variáveis para as eleições 2010................................................................... 61
3.1 Histórico político de Aloizio Mercadante........................................................ 61
3.2 Campanha de 2010........................................................................................... 63
3.3 Divergência das pesquisas................................................................................ 70
Capítulo 4
Metodologia e análise dos dados...................................................................................... 75
4.1 Análise de conteúdo e comparação das justificativas dos entrevistados.......... 78
4.2 Estratégia de campanha.................................................................................... 78
4.3 Imagem do candidato....................................................................................... 83
4.4 Diferenças entre os eleitores de Mercadante e Alckmin.................................. 84
4.5 Hegemonia do PSDB no Estado de São Paulo................................................. 88
4.6 Desempenho da militância entre majoritários e proporcionais e os gargalos com
os candidatos proporcionais............................................................................. 91
4.7 Capacitação e qualificação da equipe envolvida na campanha........................ 92
4.8 Reta final e o que faltou para chegar ao segundo turno................................... 96
Capítulo 5
Campanha na TV e a cobertura da imprensa............................................................... 100
5.1 Análise do HGPE e dos programas de debate............................................ 100
5.1.1 Propaganda eleitoral veiculada em 18 de agosto.......................................... 101
5.1.2 Propaganda eleitoral veiculada em 8 de setembro........................................ 103
5.1.3 Propaganda eleitoral veiculada em 29 de setembro...................................... 104
5.2 Análise do HGPE por tema........................................................................... 106
5.2.1 Estratégia de campanha................................................................................. 106
5.2.2 Ausência de discurso de oposição................................................................. 106
5.2.3 Crítica e apelo emocional.............................................................................. 107
5.3 Análise dos debates........................................................................................ 108
5.3.1 Programa de debate: TV Bandeirantes.......................................................... 108
5.3.2 Programa de debate: TV Record................................................................... 112
5.3.3 Programa de debate: Rede Globo.................................................................. 114
5.4 Análise da cobertura dos jornais impressos................................................. 118
5.4.1 Folha de S. Paulo.......................................................................................... 119
5.4.2 Diário de S. Paulo......................................................................................... 122
Considerações finais......................................................................................................... 125
Propostas e sugestões....................................................................................................... 128
Referências Bibliográficas............................................................................................... 131
Apêndices.......................................................................................................................... 138
Entrevistas com coordenadores da campanha e militantes.......................................... 139
Coordenadores........................................................................................................ 139
Militantes................................................................................................................ 158
Anexos................................................................................................................................ 184
Propagandas eleitorais..................................................................................................... 185
Programa veiculado em 18 de agosto de 2010....................................................... 185
Programa veiculado em 8 de setembro de 2010..................................................... 186
Programa veiculado em 29 de setembro de 2010................................................... 188
Cobertura da Imprensa................................................................................................... 190
Folha de S. Paulo................................................................................................... 190
Diário de S. Paulo.................................................................................................. 195
Introdução
A campanha para o governo estadual de São Paulo em 2010 revelou um conjunto de
variáveis que parecia apontar para uma possível disputa com o PT no segundo turno, partido
que tinha como candidato o senador Aloizio Mercadante. Entre essas variáveis se destacavam:
um Estado comandado há 16 anos pelo mesmo partido, o PSDB, e uma gestão de governo
interrompida, a de José Serra, que ao optar pela candidatura à Presidência da República, havia
exposto uma série de gargalos que contribuíam para os argumentos da campanha petista:
pedágios caros, programas de educação questionáveis, segurança envolta na guerra entre
polícias, saúde e transporte ruim. Por outro lado, a popularidade do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, companheiro partidário de Mercadante, inédita na história política do país,
contribuía para puxar-lhe votos, especialmente na reta final da campanha, quando o próprio
presidente intensificou sua participação no horário eleitoral gratuito. Mesmo assim, a vitória
do candidato da situação, Geraldo Alckmin, foi acachapante: 50,63% dos votos válidos (11,5
milhões de votos) contra 35,23% de Mercadante (8 milhões de votos), o que garantiu a eleição
ainda no primeiro turno. A possível explicação para a vitória do tucano, que seria o fato de a
corrida presidencial ter sido levada para o segundo turno, não justifica, à primeira vista, o
desempenho de Alckmin, pois o candidato do PSDB à presidência, José Serra, só conseguiu
avançar por conta do súbito crescimento da candidata do PV, Marina Silva. Assim, ficam as
questões a serem analisadas nesta pesquisa: O que impediu o candidato da oposição de
conseguir ao menos levar a disputa ao segundo turno? Quais oportunidades foram
desperdiçadas pela organização da campanha que justificasse o mau desempenho ante tantas
variáveis favoráveis? Por que essas variáveis não influenciaram o eleitor a ponto de fazer
valer a proposta oposicionista num estado que, apesar da fama de ser conservador, revelou
disposição para mudar pelo menos na última semana de campanha, quando Mercadante
apresentou crescimento nas intenções de voto mostradas pelas pesquisas eleitorais?
Essas e outras questões serão abordadas neste trabalho, no intuito de avaliar os
motivos pelos quais as variáveis envolvidas na campanha de Aloizio Mercadante não o
ajudaram a superar a vantagem do candidato da situação, Geraldo Alckmin, e evitar que o
pleito fosse decidido no primeiro turno.
A pesquisa foi desenvolvida e fundamentada em quatro eixos: análise de entrevistas
com membros que participaram da coordenação da campanha e militantes, análise das
propagandas políticas na televisão, dos programas de debate, e da cobertura da imprensa.
Com o objetivo de demonstrar se as estratégias de campanha usadas pelo PT –
considerando os argumentos desfavoráveis ao candidato da situação – foram bem
empregadas, e de avaliar os erros e acertos no período de campanha, foram realizadas
entrevistas com coordenadores (articuladores/políticos) da campanha de Mercadante, assim
como com militantes que conduziram a campanha. Além disso, foram analisados três
propagandas eleitorais e três debates para que se pudesse compreender o desempenho do
candidato na argumentação do seu plano de governo e na defesa das variáveis que acreditou
serem cruciais para a comparação, por parte do eleitor, entre ele e seus oponentes. Por fim, foi
realizada uma pesquisa nos jornais Folha de S. Paulo e Diário de S. Paulo, para avaliar como
estes cobriram a campanha de Mercadante, se foi de forma isenta ou tendenciosa. O trabalho
buscou também discutir que estratégias poderiam ter sido empregadas e não foram, e quais as
usadas pelo candidato da situação que inviabilizaram o bom desempenho do candidato petista.
Na bibliografia consultada estão autores como Adolpho Queiroz, Marcus Figueiredo e
equipe, Mitsuru Higuchi Yanaze e colaboradores, Nelson Jahr Garcia, Paulo Roberto Figueira
Leal, Rubens Figueiredo, Wilson Gomes, entre outros. No entanto, para fazer a análise de um
dos eixos da pesquisa, o da propaganda eleitoral, optou-se pela metodologia de Marcus
Figueiredo e equipe. E, para desenvolver parte das propostas e sugestões para o próximo
pleito, foi empregada a metodologia de Mitsuru Higuchi Yanaze e colaboradores.
Convém esclarecer duas questões consideradas importantes para a pesquisadora acerca
do desenvolvimento desta pesquisa. Primeiro, este trabalho não pretende explicar ou justificar
o resultado eleitoral da campanha pesquisada, mas chegar mais próximo de analisar as
variáveis que, de alguma forma, poderiam ter contribuído para um impulso maior em direção
a uma possível disputa no segundo turno e, principalmente, os principais fatores que
impediram esse avanço. Segundo, esta pesquisa se limita a analisar apenas um lado do diálogo
da campanha eleitoral, apenas o desempenho da campanha do Mercadante. Infelizmente, não
tivemos tempo hábil para investigar como o eleitor se comportou no decorrer da campanha
em relação à recepção do que era divulgado, como o horário de propaganda eleitoral gratuita e
os programas de debates.
A monografia está composta por cinco capítulos. No primeiro abordamos o processo
de reconstrução da democracia brasileira nos últimos 25 anos, e o papel desempenhado pelas
diversas forças políticas para a construção da democracia, pós Ditadura Militar, para
contextualizar nosso objeto de pesquisa. No capítulo 2, fizemos uma reflexão sobre uma breve
história da revolução do marketing político e da propaganda eleitoral, da propaganda política
e a evolução do horário eleitoral gratuito, dos programas de debate político e da cobertura da
imprensa nas campanhas eleitorais, para dar base aos quatro eixos de nossa pesquisa. Já no
capítulo 3 constituímos as premissas e as variáveis para as eleições de 2010. Nos capítulos 4 e
5 fizemos as análises do material que resultou de nossa pesquisa empírica, sendo o capítulo 4
dedicado à metodologia e à análise das entrevistas, e no 5 à análise da campanha na televisão
e da cobertura da imprensa. Após nossas considerações finais foram apresentadas propostas e
sugestões de marketing para fechamento da pesquisa.
Capítulo 1
O processo de reconstrução da democracia brasileira
Nas últimas duas décadas e meia, diversas forças políticas desempenharam papéis
importantes na democracia construída após o período de Ditadura Militar. Este capítulo tem o
objetivo de reconstruir esse cenário para que se contextualize o objeto da presente pesquisa.
1.1 Redemocratização e ascensão do PMDB
As eleições diretas no Brasil foram retomadas em meio ao longo processo de
redemocratização, que teve início com a Anistia em 1979 e chegou ao seu ponto mais alto
com o fim da ditadura militar em 1985. Um ano antes, a despeito da mobilização política e
social pelas Diretas Já, não se conseguiu vencer a votação da emenda Dante de Oliveira,
derrotada no Congresso. O processo de redemocratização só iria viabilizar a primeira eleição
presidencial em 1989. Mas, antes disso, as primeiras eleições para governador ocorreram em
1982 e foram marcadas pelas vitórias notáveis, considerando o novo cenário brasileiro, de
Franco Montoro para o governo do Estado de São Paulo, e as de Leonel Brizola no Rio de
Janeiro e de Tancredo Neves em Minas Gerais.
Naquele ano, André Franco Montoro concorria ao governo do Estado de São Paulo
pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, antigo MDB) tendo como
adversários Reynaldo de Barros, do Partido Democrático Social (PDS); Jânio Quadros, do
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); Rogê Ferreira, pelo Partido Democrático Trabalhista
(PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva, candidato pela primeira vez pelo recente Partido dos
Trabalhadores (PT).
O período marcou também o início de uma nova política em meio ao processo de
abertura, que envolveu a troca do bipartidarismo pelo multipartidarismo, de modo que a
disputa entre o MDB (oposição) e a ARENA (Aliança Renovadora Nacional, governista),
embora com legendas renovadas – PMDB e PDS – continuou polarizando as eleições neste
novo cenário político partidário. Mesmo assim, o período foi de diversificação política. Abriu-
se espaço para a criação de novos partidos, entre eles PTB, PDT, PP e PT, inaugurando um
novo cenário político com a possibilidade de disputas diversificadas e multipartidárias.
Nesse processo, porém, interferiram alguns casuísmos políticos criados pelo regime
militar para interferir nas escolhas políticas, como a proibição de coligações e a
obrigatoriedade do voto vinculado – o eleitor era obrigado a votar em candidatos da mesma
chapa e de um mesmo partido – determinação que privilegiava senadores, deputados federais
e estaduais do partido, quando o voto era apenas para governador e, vereadores quando a
escolha era apenas para o candidato a prefeito. Se houvesse, durante a votação, qualquer
indicação de partidos diferentes o voto era anulado.
Nesta eleição, Franco Montoro se elegeu governador pelo PMDB, partido criado em
1980 por uma grande quantidade de políticos integrantes do MDB (Movimento Democrático
Brasileiro), que catalisou a oposição durante o período militar. A nova legenda continuou
sendo reconhecida pelos eleitores como oposição e principal agente do processo de
redemocratização do país. Por esse motivo e por seu potencial eleitoral, demonstrado ainda
sob a ditadura, o partido teve papel central no processo de democratização do país. Uma de
suas principais conquistas se deu em 1985, quando Tancredo Neves venceu as eleições
indiretas para a Presidência da República, fato que inaugurou a chamada Nova República.
Embora tenha adoecido e falecido antes da posse, o exercício do primeiro mandato nacional
do PMDB coube a José Sarney.
Durante o governo Figueiredo, José Sarney era do PFL, mas, como o
presidente faltou o seu compromisso com ele, no final do governo mudou de
partido, (...). Então ele foi convidado a se inscrever no PMDB. Aceitando a
proposta, foi escolhido para vice-presidente na chapa de Tancredo Neves.1
Um ano mais tarde, em 1986, o PMDB se tornaria o maior partido da América do Sul
ao obter seu melhor saldo eleitoral em função do Plano Cruzado, recurso de Sarney para
conter a inflação e que, num primeiro momento, deu bons resultados. Com isso, o partido
conseguiu eleger grande parte dos governadores no pleito daquele ano. Logo, dava início à
consolidação do processo da redemocratização brasileira. Contudo, em pouco tempo o projeto
eleitoral do PMDB começou a entrar em declive. Uma grave crise econômica evoluiu para o
crescimento de inflação, na época hiperinflação, e a declaração da moratória do país. Com
isso, nomes importantes do partido deixaram a legenda para integrar ou fundar novos partidos.
Entre eles, surgiria, anos depois, o PSDB, principal dissidente do PMDB.
1 CARNEIRO, Maria Cecília Ribas. História da República Brasileira: preâmbulo de uma nova era 1979/1989.
Editora Três, São Paulo, 1999, p. 102.
Em 1986, novas eleições para o governo do Estado de São Paulo tinham como
principais atores no cenário político Orestes Quércia, então candidato pelo PMDB, Antônio
Ermírio de Moraes (PTB), Paulo Maluf (PDS) e Eduardo Suplicy (PT). A eleição ficou
marcada na história do país por ser completamente influenciada pelo Plano Cruzado. O
PMDB, como foi mencionado, dominou o pleito: elegeu 22 governadores dos 23 estados
brasileiro. Apenas o estado de Sergipe elegeu o governador pelo PFL.
1.2 O surgimento do PT: novidade e inovação
Diferentemente de outros partidos, o Partido dos Trabalhadores foi criado de baixo
para cima. Nasceu das bases sociais, ou seja, da profunda relação com os movimentos sociais
e com o novo sindicalismo do ABC e outras cidades do Estado de São Paulo, entre elas
Campinas, Osasco, Santos, além de algumas cidades de outros estados: Rio de Janeiro (RJ),
Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS). O PT foi erigido com um viés socialista
democrático. Sua criação foi efeito da convergência de diferentes forças políticas mobilizadas
por sindicalistas, políticos, intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia da
Libertação, impulsionados por um mesmo ideal, o da fundação de um partido popular.
Em 1978, numa Conferência de Petroleiros em Salvador (BA), o sindicalista Luiz
Inácio Lula da Silva2, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo e Diadema (SMSBCD), e que havia liderado as intensas greves no ABC paulista nos
últimos anos, anunciou perante a imprensa o plano de fundação do partido formado pela
classe trabalhadora. Somente um ano mais tarde a idéia foi oficializada na cidade de Lins (SP)
no IX Congresso dos Metalúrgicos, Eletricitários e Mecânicos do Estado de São Paulo, por
meio de um documento elaborado por um grupo de trabalhadores, nomeado Carta de
Princípios, que firmava o compromisso do partido com as classes menos favorecidas. O
documento, lançado oficialmente nas comemorações do 1º. de Maio de 1979 nas diversas
capitais brasileiras, afirmava o seu comprometimento “com a democracia plena, exercida
diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia nem democracia sem
socialismo”.3 E defendia que “um partido que almeja uma sociedade socialista e democrática
2 É eleito presidente do SMSBCD em 1975. Comandou uma greve de metalúrgicos que paralisou as fabricas em
São Paulo, em 1979. Foi preso pelo DOPS por 31 dias em 1980. Em 1986, é eleito Deputado Federal. 3 Trechos da Carta de Princípios do PT, retirado do site do próprio partido. Disponível em:
<http://www.pt.org.br/portalpt/dados/bancoimg/c091003192854cartadeprincipios.pdf>. Acesso em: 29 de mai.
2011.
tem de ser, ele próprio, democrático nas relações que se estabelecem em seu interior”.4 Desta
forma, a carta assegurava que o PT seria constituído respeitando “o direito das minorias de
expressar seus pontos de vista”.5 Objetivando uma organização política que visasse “elevar o
grau de mobilização, organização e consciência de massas”,6 buscando o seu fortalecimento e
a independência política e ideológica dos mais variados setores populares, especialmente dos
trabalhadores.7 Dessa forma, garantia que:
(...) o PT irá promover amplo debate de suas teses e propostas de forma a
que se integrem nas discussões:
• lideranças populares, mesmo que não pertençam ao partido;
• todos os militantes, trazendo, inclusive, para o interior do debate partidário
proposições de quaisquer setores organizados da sociedade e que se
considerem relevantes com base nos objetivos do PT.8
Justifica-se, portanto, que o PT já em sua fundação possuía uma estrutura diferenciada
de outros partidos, sendo o primeiro partido portador de grandes novidades para o cenário
político do Brasil com a forte atuação dos trabalhadores e a representação das grandes massas.
Como cita Margareth Elizabeth Keck:
(...) o Partido dos Trabalhadores constitui um fato novo entre as instituições
políticas brasileiras por diversas razões: primeira, porque ele se propôs a ser
um partido que expressa o direito dos trabalhadores e dos pobres na esfera
política; segunda, porque procurou ser um partido internamente democrático;
e, por fim, porque queria representar todos os seus membros e
responsabilizar-se perante eles por seus atos. Todos esses conceitos
evoluíram muito desde sua fundação, mas permaneceram elementos centrais
na identidade do partido e são justamente o que faz dele uma inovação.9
Nesse sentido, vale destacar que a criação do PT foi marcada por suas singularidades.
Primeiro, pela sua origem que foi organizada em volta “das mobilizações do ‘novo
sindicalismo’; de parte dos movimentos urbanos [...]; de setores da intelectualidade e da
classe política de oposição envolvidos com o debate da reforma partidária; e de grupos de
4 Idem.
5 Ibidem.
6 Ibidem.
7 Ibidem.
8 Ibidem.
9 KECK , Margareth Elisabeth. PT – a lógica da diferença: o Partido dos Trabalhadores na construção da
democracia brasileira. Ed. Ática, São Paulo, 1991, p. 271.
esquerda”10
– tanto na sua concepção de organização e funcionamento interno como em sua
proposta política, conforme defende Rachel Meneguello:
Sua organização e funcionamento interno são seu segundo destaque.
Escapando dos moldes impostos pelo LOPP [Lei Orgânica dos Partidos
Políticos], o PT introduz na estrutura partidária elementos para uma ligação
mais estreita com suas organizações de base, dando maior ênfase às lutas
sociais e menor importância, comparado aos outros partidos, à luta eleitoral-
parlamentar. Seu perfil é o de uma organização mais complexa, definida pela
formação deu um núcleo profissional e de uma atuação permanente, extra-
eleitoral.11
E, como terceiro destaque aponta a sua proposta política. “Com uma orientação
ideológica definida, traçada basicamente pela demanda de inserção no sistema político
brasileiro dos setores até então marginalizados”, assim o PT dá início a sua inserção trazendo
“novos temas na arena do conflito partidário traduzido nas eleições de 1982”.12
Esse período também foi marcado pelo início das grandes discussões de diversas
forças políticas em torno da ideia de fundar um partido que permitia apenas a entrada de
trabalhadores, o que diminuía as possibilidades de formação de alianças políticas. Em torno
dessas discussões se encontrava o grupo sindicalista, políticos e intelectuais, entre eles Lula,
Almino Afonso13
e Fernando Henrique Cardoso. Ainda que essas conversas tivessem sido
embasadas por objetivos que atingissem o âmbito nacional, existiam variáveis que permitiram
a evolução das propostas petistas no Estado de São Paulo. Contudo, abriram espaço para
novas discussões internas no MDB sobre a criação de outros partidos, o que resultou na
criação do PMDB, e também pelas organizações de grêmios para atender às necessidades
locais de cada demanda política. Nessas conversam também participavam articuladores como
Fernando Henrique Cardoso e José Serra, que uma década depois fundaram o PSDB.
Nas eleições de 1986, Lula é eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo pela
primeira vez, sendo o candidato mais bem votado pela Câmara Federal, e dando início à
concretização de suas aspirações político partidárias.
Em 1988, período pós-redemocratização, o PT dá uma virada no quadro eleitoral da
disputa à prefeitura da cidade de São Paulo, maior colégio eleitoral do País, e elege a primeira
10
MENEGUELLO, Rachel. PT: a formação de um partido (1979-1982). Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1989,
p. 40. 11
Idem. 12
Ibidem. 13
Ex-ministro do Trabalho no governo de João Goulart, cassado pela Ditadura Militar, passou doze anos exilado.
prefeita da capital, Luiza Erundina, nordestina da cidade de Uiraúna (PB). Até às vésperas da
eleição, seu principal adversário, Paulo Salim Maluf (PDS), liderou as pesquisas eleitorais,
chegando a ter mais de 40% da intenção de votos. O crescimento de Maluf era apontado como
resultado do esforço das forças conservadoras que tinham como opção João Leiva (PMDB) e
José Serra (PSDB), e que depositavam confiança maior no ex-governador de São Paulo.
Pesquisa estimulada feita pelo Instituto Datafolha um mês antes das eleições sobre a
expectativa de vitória para prefeito da cidade de São Paulo apontava Maluf como favorito. Ele
estava à frente, com 44,9%; João Leiva (PMDB) em segundo, com 33,0%; e José Serra
(PSDB) em terceiro, com 1,4%, mesma parcela de Luiza Erundina, que aparecia em quarto.
Ou seja, Erundina estava bem distante de conquistar a prefeitura e, na opinião dos eleitores,
não teria chances de vitória.
Contudo, existia uma variável importante: 18,01% dos eleitores não sabiam em quem
votar. Se grande parte dessa parcela decidisse votar em Erundina, mesmo assim a vitória não
estaria garantida, conforme demonstra o gráfico da pesquisa realizada um mês antes do pleito
sobre a expectativa de vitória.
Gráfico 1 – Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha14
14
Datafolha Instituto de Pesquisas. In: Tendências. Opinião pública, vol. VI, no. 2, Campinas, outubro de 2000.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-62762000000200006>. Acesso
em: 28 de mai. 2011.
Apesar do crescimento contínuo de Maluf durante a campanha vir das forças
conservadoras, a pesquisa pós-eleitoral feita pelo Instituto Datafolha apontou Erundina, entre
os principais concorrentes, o candidato que obteve mais vantagem revertida em mudanças
eleitorais das últimas horas e dos últimos dias.
Os dados também mostram que as intenções de voto na então candidata Luiza
Erundina advieram dos eleitores que depositaram mais confiança, ou seja, aqueles que de
alguma forma se identificaram com partidos de esquerda ou ao centro, enquanto Paulo Maluf
teve o apoio de um eleitorado mais flexível. Conclui-se que o eleitorado que votou em
Erundina e em Maluf eram bem diferentes, e essa distinção, nas variadas categorias
comparadas no final das eleições, destaca os contrastes do perfil do eleitorado paulistano.
A eleição foi um marco na história de São Paulo tanto pela virada de última hora, com
o favorecimento de Luiza Erundina, quanto pela surpresa causada nos institutos de pesquisas,
coordenações de campanhas e nos próprios eleitores. Foi também a primeira vez que a capital
do maior Estado do Brasil, cujo eleitorado era considerado politicamente conservador , elegeu
a primeira mulher, além de tudo nordestina e petista.
O gráfico a seguir, de pesquisa do Instituto IBOPE, aponta a surpresa da vitória da
Luiza Erundina:
Gráfico 2 – Pesquisa feita pelo Instituto IBOPE pós-eleição15
15
Disponível em: <Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
62762000000200006>. Acesso em: 28 de mai. 2011.
1.3 Assembléia Nacional Constituinte e o surgimento do PSDB
A edição do Plano Cruzado em abril de 1986 por José Sarney colocou em vigor o
seguro-desemprego, além de medidas de estabilização de uma nova moeda, que viria
substituir o cruzeiro, e que incluía ainda o aumento do salário mínimo e o congelamento dos
preços de todos os produtos e serviços. Porém, já em novembro daquele ano, é anunciado o
aumento de 60% nos preços dos combustíveis, o que dá início à derrocada do Plano Cruzado.
Em 21 de novembro o governo comunica, por intermédio dos ministros Dílson Funaro e João
Sayad,16
da Fazenda e do Planejamento, respectivamente, o Plano Cruzado II. O Brasil se via
num momento em que o aumento dos preços de telefone, energia, cigarro e bebida somava até
120% desde o fim do primeiro Plano Cruzado. A medida se mostrou impopular, pois a
população saiu às ruas em Brasília para se manifestar contrariamente ao Plano Cruzado II.
No meio desse clamor, pouco antes, em 3 setembro de 1986, Sarney criara uma
Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, também conhecida como Comissão
Composta, pois reunia cinquenta membros entre políticos, juristas e intelectuais, presidida
pelo jurista Afonso Arinos, com o objetivo de redigir um anteprojeto de Constituição.
A Assembléia Nacional Constituinte é instalada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
em fevereiro de 1987, tendo no seu comando José Carlos Moreira Alves. No mês seguinte o
PMDB assume a direção do processo constituinte com Ulysses Guimarães17
à frente.
Tinha início o processo de encerramento do ciclo imposto pelos militares, enfim com a
remoção do chamado “entulho autoritário”, legislação editada pelo antigo regime, e com o
restabelecimento dos direitos fundamentais dos brasileiros. A Constituição de 1988 pôs fim à
tortura e às ações armadas contra aqueles que se opusessem ao estado democrático,
qualificando esses atos como crimes inafiançáveis. Dessa maneira, a Constituição conseguiu
instalar a ordem, bloqueando golpes de qualquer espécie. Com a nova ordem constitucional o
direito democrático do cidadão foi restabelecido para que fossem viabilizadas eleições diretas
para a Presidência da República, Governador de Estado e do Distrito Federal, Senador,
Deputado Federal, Estadual e Distrital, Prefeito e Vereador.
Em meio aos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, o PMDB transforma-se
numa frente ampla, com políticos influentes da cena política nacional. Em diversos estados
havia parlamentares que se denominavam como participantes da ala mais progressista do
16
Os Ministros Dilson Funaro (Fazenda) e João Sayad (Planejamento) que implementaram o Plano Cruzado e
Plano Cruzado II. 17
Ulysses Guimarães acumula o cargo com as presidências do PMDB, da Câmara e da Constituinte.
PMDB e que eram a favor do parlamentarismo e do mandato de quatro anos para presidente
da República (a eleição indireta de Sarney previa um mandato de cinco anos). Entre eles
estavam Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Mário Covas, José Serra, Geraldo
Alckmin, de São Paulo; Aécio Neves, de Minas Gerais; Euclides Scalco e José Richa, do
Paraná; Egídio Ferreira Lima e Cristina Tavares, de Pernambuco; Moema Santiago e Ciro
Gomes, do Ceará, entre outros. Essa ala divergia também dos caminhos políticos que o
PMDB estava percorrendo a partir da promulgação da nova Constituição. Essa divisão da
opinião coletiva do partido fez surgir um importante grupo de trabalho que transformou a voz
destoante em dissidência. A partir desse grupo surge o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB). Estudos sobre a origem desse partido revelam que três fatores
fundamentais motivaram a formação do PSDB:
O primeiro seria relativo às distensões internas na bancada parlamentar do
PMDB durante os trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte entre 1987
e 1988, principalmente nas questões sobre sistema de governo –
presidencialismo versus parlamentarismo – e da duração do mandato do
presidente José Sarney – quatro ou cinco anos (Kinzo, 1993). O segundo
fator seria o predomínio do grupo quercista em São Paulo que disputava
posições de poder no interior do PMDB. Orestes Quércia, que controlava a
organização peemedebista, venceu esses políticos influentes, deixando-os
sem espaço de atuação no interior do partido (Melhen, 1998). Já o terceiro
seria a apresentação da candidatura de João Leiva para a prefeitura de São
Paulo, articulada no interior do PMDB paulista a partir de uma aliança entre
políticos conservadores do PFL e o prefeito de São Paulo, Jânio Quadros.18
Aliás, segundo Lamounier, acredita-se que foi a composição dessa candidatura, o
principal fator que motivou a interrupção do relacionamento entre os fundadores do PSDB
com o PMDB.19
Além desses três elementos, Celso Roma, no artigo A institucionalização do
PSDB entre 1988 e 1999, publicado na Revista Brasileira em Ciências Sociais, acredita que
existem outros três agentes causadores da dissidência que ainda não foram estudados com
maior profundidade. Para ele, não foi considerado que o governo de José Sarney limitou o
acesso dos fundadores do PSDB à atuação política. Já o segundo, seria o afastamento destes
políticos do pleito decisório, impossibilitando assim a continuação deles no processo de
18
ROMA, Celso. A institucionalização do PSDB ente 1988 e 1999. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.
XVII, no. 49, São Paulo, junho de 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
69092002000200006&script=sci_arttext>. Acesso em: 06 de jun. 2011. 19
LAMOUNIER, Bolívar. (1989), Partidos e utopias: o Brasil no limiar dos anos 90 apud ROMA, Celso. A
institucionalização do PSDB ente 1988 e 1999. Op. Cit.
escolha da candidatura para a sucessão da Presidência da República. O terceiro elemento seria
a junção desses dois fatores, que, combinados, supriram as necessidades existentes entre a
articulação de políticos e eleitores do Centrão – frente parlamentar que aprovou a maior parte
das emendas discutidas durante a Constituinte –, que estavam aborrecidos com a dificuldade
de relacionamento com o governo nacional e a carência de espaço de poder. A partir daí, tais
fatores propiciaram uma abertura para a base social-democrata se organizar, defendendo o
desenvolvimento do país e uma maior justiça social.
O PSDB começou a ganhar força política em 1989, dando início à conquista de
prefeituras e governos estaduais após o lançamento da candidatura de Mário Covas (SP) para
presidente da República. Este acabou em quarto lugar, sendo superado por Fernando Collor de
Mello (PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que polarizaram a disputa, e por Leonel de
Moura Brizola (PDT). Embora não tenha obtido vitória eleitoral, o partido começa a avançar
no processo político. Um indicativo que o partido estaria disposto a criar bases sociais foi a
decisão pelo apoio político à candidatura de Lula no segundo turno, contra Collor.
A conquista do espaço no poder político se dá em 1994, apenas seis anos após a sua
fundação, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República. Esse
êxito foi possível em razão do apoio das alas de centro-direita, estabelecido através de uma
aliança que tinha como escopo alcançar a cadeira de presidente do Brasil. E, ainda continuou
garantindo conquistas importantes para o partido com a aprovação da reeleição, que até então
não existia no Brasil. Através desse artifício, conseguido por meio de uma Emenda
Constitucional, foi possível assegurar o segundo mandato de Fernando Henrique, garantindo
ao PSDB a continuidade no poder por mais quatro anos. Dessa forma, revela-se certa
incoerência de discurso, pois durante a fundação do partido, anos antes, um dos pontos de
discordância com o PMDB havia sido justamente o prolongamento do mandato para
presidente.
[...] a origem do PSDB pode ser explicada com maior consistência por sua
orientação mais pragmático-eleitoral do que ideológica. Tratou-se da cisão
de um grupo de deputados federais e senadores que acreditavam somente ter
possibilidade de conquistar cargos no governo federal, principalmente a
presidência da República, aproveitando-se do capital político acumulado
pelo e no PMDB, mas por meio de outro partido. Nesse contexto, as
lideranças peessedebistas apresentaram-se, na sua origem, com um discurso
de centro-esquerda, diferenciando-se do governo José Sarney, do qual
estavam excluídos, e da sua base de sustentação formada por parlamentares
de centro-direita, filiados ao PMDB e PFL.20
Nesse sentido, conclui-se que a fundação do PSDB, diferentemente da composição
inicial do PT – que veio de origem de articuladores da massa trabalhadora e dos sindicatos –
nasceu com força peculiar, a do Congresso Nacional, a partir da decisão de parlamentares
(deputados e senadores). Portanto, o partido foi criado de cima para baixo, ou seja, sem
nenhuma base popular, a não ser a eleitoral.
1.4 São Paulo e o quercismo
Orestes Quércia nasceu em Pedregulho, interior de São Paulo, cidade próxima a
Campinas, onde iniciou sua carreira política. Lá, se elegeu vereador em 1962 pelo Partido
Libertador (PL). Quando o bipartidarismo foi instalado pelo regime militar, alinhou-se com o
MDB. Foi deputado estadual por Campinas e, dois anos depois, se elegeu prefeito da cidade.
Em 1974 derrotou Carvalho Pinto (Arena) na disputa para o Senado, vencendo o favoritismo
do candidato governista, que tentava a reeleição.
Nessa eleição, o Estado de São Paulo passou a ter dois senadores oposicionistas. Além
de Montoro, considerado um político com muita expertise e muito respeitado, e que tinha um
número significativo de adesistas, entre eles Samir Achôa e Roberto Cardoso Alves, que
reuniam parlamentares, vereadores e prefeitos de uma tendência mais conservadora, Quércia
era acompanhado pela esquerda e pela Juventude do MDB. Na época era considerado muito
jovem, pois tinha 36 anos quando a idade mínima para ser candidato era de 35 anos. Por isso
acabou cercado pelo grupo jovem do partido.
Sua trajetória alcança novo ponto alto em 1982 quando concorre na primeira eleição a
governador em vinte anos, processo bloqueado pela ditadura. Quércia retorna já no PMDB,
após a volta do pluripartidarismo. Depois de muita resistência, decide ser candidato a vice-
governador na chapa de Franco Montoro, após aliança feita em último momento. Houve um
consenso de que ambos não venceriam sozinhos. A chapa do PMDB se elegeu; porém uma
inconsistência logo surgiu e a imagem de unidade, apresentada durante a campanha, foi se
quebrando com uma maior evidência da dicotomia dentro do partido: “quercistas” e
“montoristas” disputavam espaço e o comando do Diretório Estadual desde o extinto MDB,
contenda que persistiu dentro do PMDB.
20
ROMA, Celso. Op. Cit.
Quércia criou e liderou a Frente Municipalista no Brasil, movimento que conquistou
vitória importante no processo de elaboração da Constituição de 1988, que deu aos
municípios direitos iguais dentro dos estados. Conseguiu também a elevação da participação
dos municípios no bolo da arrecadação tributária nacional, garantindo maior agilidade nas
transferências de recursos entre as duas esferas de poder. Sua capacidade de mobilizar e
representar estabeleceu uma nova maneira de relacionamento entre municípios, Estados e
União. Com essas importantes vitórias conquistou o apoio dos prefeitos do interior do Estado
de São Paulo. Com sua habilidade e experiência ganhou força na política interiorana e passou
a usar seu poder e influência para aprofundar a mobilização para futuras conquistas.
Em São Paulo, Quércia manteve a hegemonia em 1986, quando se elegeu governador
do Estado, substituindo Franco Montoro. Cumpriu seu mandato até o fim, e com bons índices
de aprovação de governo pela população do Estado de São Paulo, conseguiu eleger o seu
sucessor, um desconhecido da população paulista, Luiz Antonio Fleury, ex-secretário de
Segurança Pública do governo Quércia.
O novo governador, porém, se tornou conhecido por deixar de cumprir bem o
mandato, concluindo seu mandato com uma alta dívida pública e com obras inacabadas. Seu
governo foi marcado principalmente pelo massacre de 111 presos durante uma rebelião no
presídio do Carandiru. Com o mau desempenho político, não conseguiu fazer seu sucessor,
abrindo um hiato político que, a partir dali, seria ocupado pelo PSDB, a partir da vitória de
Mário Covas nas eleições de 1994.
1.5 Ascensão do PSDB e do PT
O PSDB consegue se valer da boa reputação de Covas à frente do governo de São
Paulo, afinal ele lutou contra a ditadura, tornou-se presidente do MDB, depois virou líder da
bancada do PMDB no Senado durante a Assembléia Constituinte, e em 1989 foi escolhido
presidente nacional do PSDB. A forma de organização e de funcionamento do PSDB, baseada
na integração e na reunião de duas linhas de estrutura e ação, estabelece estratégias
fundamentais de aliança que propiciam maior eficiência, seja na maneira de conduzir
estrategicamente as eleições, seja no modelo de governar. Porém, um fato que chama muito a
atenção é uma nova mudança de direcionamento de alianças eleitorais: é que as candidaturas
para presidente e para governador aconteciam isoladamente de outros partidos.
Somente a partir da chegada de Fernando Henrique Cardoso à presidência em 1994 é
que são formadas alianças de potência com diversos partidos, mas, principalmente, com os
chamados partidos de direita. O forte apoio de FHC resulta na capacitação de recursos para
atrair um maior número de políticos interessados na coalizão com o PSDB. Com essas
medidas se nota um aumento considerável na bancada do partido, e sua representação política
se torna relevante. No período de 1993 a 1996 a quantidade de políticos eleitos pelo partido
cresceu substancialmente. As bancadas das Câmaras Municipais do país triplicaram e dobrou
o número de prefeitos filiados ao partido e de governadores eleitos em 1994.
Houve um crescimento significativo do PSDB após os dois mandatos de Fernando
Henrique Cardoso à frente da presidência da República. Atualmente, é a principal força de
oposição ao governo do PT:
Existem evidências que confirmam a hipótese de que crescimento eleitoral
do PSDB está associado à consumação de coligações com partidos de
centro-direita. Dada a preferência dos eleitores brasileiros, o partido teria
crescido eleitoralmente ao se adequar à distribuição dos eleitores. O número
de eleitores à direta é maior que à esquerda e estes são mais facilmente
conquistados que os da esquerda. Assim, quando mais à direita estiverem
seus aliados, maior seria o número de votos alcançados pelo partido. Como o
PSDB está localizado no centro de espectro político, seus candidatos
estariam em condições de estabelecer coligações com partidos de diferentes
matizes ideológicos. Sobre uma análise mais detalhada da política de
alianças e o desempenho eleitoral do PSDB (...).21
A prova dessa evolução são as vitórias sucessivas do partido em importantes estados,
com grandes colégios eleitorais. Como o Paraná, em que Beto Richa foi eleito (2004) e
reeleito (2008) prefeito de Curitiba, renunciou ao mandato no início de 2010 para se
candidatar a governador, sendo eleito no primeiro turno. Também em Minas Gerais, com as
vitórias de Eduardo Azeredo (1994) para o governo estadual, o PSDB ficou apenas um
mandato afastado do poder, cedendo a vaga ao PMDB (Itamar Franco). Em seguida voltou
com mais força, elegendo Aécio Neves para governador em 2002, reeleito em 2006, e
conseguindo eleger seu sucessor em 2010, Antonio Augusto Anastasia. E no Rio Grande do
Sul, onde elege uma mulher ao governo, Yeda Rorato Crusius (2006).
Enquanto que, no Estado de São Paulo, sua força se consolidava ainda mais com a
eleição de Mário Covas (1994), reeleito em 1998, sendo substituído, em 2001, pelo então
21
Idem.
vice-governador Geraldo Alckmin, após a sua morte. Alckmin permaneceu no governo com a
vitória nas eleições de 2002, sendo sucedido por José Serra na disputa eleitoral de 2006. Este
vencera no primeiro turno contra Mercadante (PT) – até então nenhum candidato a
governador de São Paulo havia vencido no primeiro turno – tendo renunciado ao cargo de
prefeito por São Paulo, eleito em 2004. Alckmin volta a ser eleito governador em 2010 contra
Mercadante, repetindo o feito de Serra em 2006 de se eleger num só turno. Assim, o PSDB
permanece no poder do Estado de São Paulo por 17 anos, podendo completar 20 anos caso
não aconteça nenhuma surpresa que interrompa o atual governo.
Por sua vez, o Partido dos Trabalhadores, apesar de ter sua primeira conquista eleitoral
em 1982, com a eleição de Gilson Menezes para a Prefeitura de Diadema no Estado de São
Paulo, só veio adquirir força indicativa de crescimento em todo o País, com o êxito na eleição
de Erundina em 1988. Os efeitos desse pleito foram estimulantes para o PT porque o partido
conseguiu eleger 1.007 vereadores e 38 prefeitos em todo o País – em 1982, tinha conquistado
apenas duas prefeituras e 179 vereanças –, entre elas, três de importantes capitais: São Paulo,
Porto Alegre e Vitória. Foi quando conduziu Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo com o
forte apoio de grandes movimentos de massa e de somente uma parte do PT (esquerda
petista), por causa de uma dicotomia interna ocorrida durante as prévias disputadas com
Plínio de Arruda Sampaio. Apesar disso, Erundina fez uma boa gestão. Isso apesar de análises
pessimistas, como a de Joaquim Leonel de Rezende Alvim22
(1991), que em sua dissertação
de mestrado em Ciências Jurídicas pela PUC/RJ afirma que o governo da prefeita, ex-
assistente social e com sólidas raízes políticas nos movimentos sociais, obteve um mau êxito
na experiência de envolver a população na administração pública. Contudo, há visões mais
otimistas que afirmam que as vitórias do PT em 1988 e os governos à frente das prefeituras,
tanto de São Paulo como de Porto Alegre (RS), com Olívio Dutra, foram fatores essenciais
para a inovação na composição de forças no modo de organização da política brasileira. Como
defende Meneguello, essas vitórias indicam “o reconhecimento do partido por amplos setores
sociais como força política e a sua [do PT] consolidação como ator relevante da esfera de
competição pelo poder”.23
E de Paulo Roberto Figueira Leal24
, que defende de maneira
22
ALVIM, Joaquim Leonel de Rezende. O projeto de participação popular da administração municipal de São
Paulo sob a gestão do PT (1989-1990): uma tentativa de mudança na representação política. Dissertação
(Mestrado) em Ciências Jurídicas - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991, p.
147-148. Acesso em: 7 de jul. 2011. 23
MENEGUELLO, Rachel, Op. Cit., p. 197.
consistente que os primeiros sinais de elevação petista se dão em São Paulo, enquanto sua
consolidação se dá no Rio Grande do Sul, com a implementação daquilo que se tornaria a
grande marca de governo: “Capaz de conciliar sucesso administrativo com ampliação de
participação popular: orçamento participativo”.25
A relevância desse marco aponta, sem dúvida, às consecutivas vitórias do PT em Porto
Alegre, com Olívio Dutra (1988), depois elegendo seus sucessores Tarso Fernando Herz
Genro (1992), Raul Pont (1996) e, Tarso novamente em 2000 e, anos mais tarde, elegendo os
ex-prefeitos de Porto Alegre a governador do Estado (Olívio Dutra, em 2002), e Tarso Genro
nas últimas eleições (2010). Desta forma, o PT deixou definitivamente a oposição e o
isolamento, que de certo modo havia se auto-imposto. Ampliando sua proposta, iniciada em
1982, de governo popular, trazia uma novidade, pois desta vez alcançou o objetivo de difundir
e direcionar o anseio de inovação política de uma grande parte da população.
As vitórias de 1989 foram cruciais para a consolidação do PT, pois ele já havia
participado de importantes disputas eleitorais e da elaboração da nova constituição do Brasil
(1987-1988). Progredindo nas urnas desde 1986, o período teve uma importância especial
para o PT, que se mostrou, a partir dos grupos de trabalho partidário – agremiações – mais
coeso quanto ao perfil ideológico, apoiando de maneira mais sólida os temas discutidos.26
Com esse processo, construiu ideologicamente aqueles que seriam eleitos seus representantes,
essenciais ao PT, na Assembléia Nacional Constituinte.
Vencer as eleições municipais, com um número significativo de prefeitos e de
vereadores em 1988 foi crucial para a campanha presidencial do ano seguinte (1989). E,
principalmente, alertou para a inserção do PT de forma mais estruturada e efetiva nos meios
institucionais. Porque até então só se conhecia poucas experiências petistas em gestão, e por
sinal conflituosas, como aconteceu em Diadema em 1982. Nesse sentido o PT se via
incumbido de repensar a elaboração de planos de governos que atendessem às exigências da
lógica democrática.
Lula entrou na disputa das eleições presidenciais de 1989 como favorito, pois tinha o
respaldo da eleição de Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo no ano anterior (1988).
Mesmo perdendo para Collor, o PT sai fortalecido do pleito presidencial. Além do
24
LEAL, Paulo Roberto Figueira. O PT e o dilema da representação política: Os deputados federais são
representantes de quem? Ed. FGV, Rio de Janeiro, 2005, p. 45-46. 25
Idem. 26
MENEGUELLO, Rachel, Op. Cit., p. 201.
aprendizado político ganho com a disputa, Lula e o PT elegem em São Paulo o senador
Eduardo Suplicy, que se reelege nas eleições seguintes, mantendo-se no cargo até os dias
atuais. Suplicy defende a implementação de um programa chamado Renda Básica de
Cidadania, que teria entre os seus princípios básicos a transferência de renda, ou seja, garantir
a todos os cidadãos brasileiros o direito de ter uma renda de maneira igualitária e
incondicional para suprir suas necessidades básicas. A proposta, mais tarde, foi aprovada e
instituída como Renda Mínima.
Nos anos seguintes, quando então a sociedade se mobiliza pelo impeachment de
Collor, mais uma vez o PT sai à frente, organizando sindicatos e estudantes, estes sintetizados
no movimento dos “caras-pintadas”. Lula, como presidente do PT, articula o processo de
impeachment no Congresso, reunindo toda a oposição, movimento que rendeu a abertura do
processo e a consequente renúncia de Collor em 29 de dezembro de 1992.
Em São Paulo, o partido deu continuidade com inovação à sua política com a vitória
de Marta Suplicy à Prefeitura em 2000 – venceu no segundo turno com 58,51% dos votos
válidos, deixando para trás Paulo Maluf, candidato do Partido Progressista Brasileiro (PPB). 27
A vitória e a gestão de Marta Suplicy (2001 a 2004) vêm inegavelmente ao encontro
dessas variáveis que contribuíram para a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições
presidenciais de 2002. Sua gestão também fora marcada pela abertura e pelo impulso das
políticas públicas, abrindo espaço para as políticas de inclusão social, entre elas a
descentralização do poder com a criação das subprefeituras, a proposta de inclusão digital por
meio dos Telecentros, e por ampliar a participação da sociedade civil no governo, com o
Plano Diretor28
, o Programa de Renda Mínima e o Orçamento Participativo (OP).29
O último foi extinto por seu sucessor José Serra (PSDB), em 2005, assim que assumiu
a prefeitura.30
É possível analisar que essa progressão de inclusão social nas experiências das
gestões do PT em Porto Alegre (RS) e nas duas gestões em São Paulo é um processo de
aprendizado, organização e incorporação dessas novas políticas – expandido para grandes
27
Posteriormente mudou o nome para Partido Progressista (PP). 28
O Plano Diretor vigente, em São Paulo, foi aprovado pela Lei nº 13.430, de 13 de setembro de 2002, fixa as
diretrizes gerais da política de desenvolvimento e de expansão urbana, determina a obrigatoriedade de
implementação para os municípios com mais de 20 mil habitantes. 29
O Orçamento Participativo (OP) é um mecanismo alternativo de democracia participativa de tratamento dos
recursos públicos, que permite inserir os cidadãos no poder de decidir ou influenciar sobre os orçamentos
públicos municipais. 30
DIAS, João Marcus Pires. O orçamento participativo na cidade de São Paulo: confrontos e enfrentamentos no
circuito do poder. Dissertação (Mestrado) em Ciências Sociais – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2006, p. 49.
cidades governadas pelo PT como Guarulhos, segunda maior cidade do Estado de São Paulo,
então governada por Elói Pietá, eleito em 2001 e reeleito em 2004, sendo sucedido pelo atual
prefeito Sebastião Almeida (PT), eleito em 2008.
É incontestável que tais políticas do PT, iniciadas em 1988, estabelecem pela primeira
vez um novo cenário:
[...] ao propor um novo formato de governo local, com ênfase nos laços entre
prefeitura, partido e bases sociais, parece configurar-se como o centro de sua
estratégia de consolidação organizacional ampla popular, ocupando o espaço
de um abrangente partido de massas, tal como eram os objetivos iniciais de
seus fundadores.31
Essa consolidação política foi o fator essencial para o sucesso da eleição de 2002, que
elegeu Luiz Inácio Lula da Silva o primeiro presidente sindicalista do Brasil, vindo da classe
menos abastada. Além disso, deu rumos melhores para o desenvolvimento do ambicioso
programa de transformações sociais e políticas do partido. Aliás, sendo um dos grandes
fatores de sucesso do governo Lula, e culminando com o programa para a redução da fome,
antes chamado de Programa Fome Zero, e hoje, com o Bolsa-Família. Com isso, Lula
consegue apoio popular e se reelege em 2006, além de ser um dos responsáveis pela vitória da
sua sucessora Dilma Rousseff em 2010.
Portanto, em linhas gerais, é perceptível a ascensão do PT a partir das eleições
municipais de 1988, de modo que seu crescimento eleitoral se dá principalmente quando ele
assume um novo modelo de política, fundamentalmente aceitando a formação de parcerias, ou
seja, coligações.
Em resumo, vimos neste capítulo que a consolidação dessas duas forças partidárias –
PT e PSDB – concentra a construção do processo democrático pós-ditadura, que se dá nos
últimos trinta anos. O quadro político que ambas desenham engloba tanto a base eleitoral das
classes menos favorecidas quanto o pensamento liberal e republicano das classes médias e
altas. Com isso, as forças conservadoras que deram apoio ao período militar perdem impulso,
sendo substituídas pelo projeto modernizador e pela vontade de renovação por parte do
eleitorado. Mas o que será analisado aqui é a forma como o embate entre essas duas forças se
dá no quadro político atual. E, em especial, no Estado de São Paulo. Antes, porém, vamos
acompanhar a evolução do marketing político no quadro eleitoral brasileiro.
31
Idem, p. 197.
Capítulo 2
A revolução do marketing político e da propaganda eleitoral
Embora possa parecer que o marketing político e eleitoral tenha surgido recentemente
no Brasil, estudos como o de Adolpho Queiroz e Débora Cristina Tavares no artigo A
propaganda política no Brasil republicano32
revelam que, desde o início da Primeira
República já se utilizavam muitas ferramentas estratégicas de ações político-eleitorais, pelo
menos, nas campanhas para Presidente. Um dos mais antigos registros do uso de estratégias
eleitorais no Brasil é de 1894, quando Prudente de Morais,33
que seria eleito o primeiro
presidente civil da República, lançou mão dos meios de comunicação para dificultar as
manobras políticas dos adversários e para se aproximar do povo. Os meios disponíveis na
época eram o jornal e o telégrafo, além de materiais impressos que permitiam um contato
direto com seus possíveis eleitores (cartão de felicitações). Morais elaborou até uma lista para
a distribuição de materiais a seus possíveis eleitores, além de usar um slogan com três
palavras de ordem que davam o mote da sua campanha: “Constituição, Educação e
Estabilidade”. Sua estratégia política foi planejada começando pelo discurso, procurando a
linguagem mais apropriada para os eleitores daquela época.34
Além de Prudente de Morais, os
presidentes que vieram depois, entre eles Campos Salles35
e Getúlio Vargas,36
que também
tiveram o mesmo tipo de preocupação de cuidar de sua imagem pública para conquistar o
interesse e a simpatia do povo. Cada um deu particular importância à opinião pública e
atentou para a comunicação e para a estratégia de suas campanhas de acordo com as
ferramentas que a época lhes permitia.
Vargas imprimiu sua marca na propaganda política não só por promover o controle
dos meios durante o Estado Novo, quando criou o famigerado Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) como tornou o rádio o meio para popularizar sua plataforma política. No
mesmo sentido, durante a Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler e Joseph Goebbels
utilizaram largamente o rádio para persuadir o povo com suas propostas nazistas.
32
QUEIROZ, Adolpho (Org.). No espaço cênico da propaganda política: mídia, comunicação e marketing
político nas campanhas presidenciais brasileiras. Ed. Papel Brasil, Taubaté, 2011, p.312. 33
Primeiro Presidente do Brasil, eleito em 1894, por eleições diretas e pelo voto popular. 34
QUEIROZ, Adolpho (Org.). Op. Cit. 35
Presidente eleito em 1898. 36
Presidente eleito, em 1930, por via indireta, por Assembleia Nacional Constituinte.
Um dos cases mais citados de uso do rádio na comunicação política é a campanha de
Jânio Quadros à presidência da República em 1960. Mesmo permanecendo por um período
curto de tempo no poder – renunciaria após sete meses da posse –, ele usou a comunicação no
rádio para proliferar sua popularidade, recorrendo a estratégias de fixação de sua proposta. A
vassoura foi a marca de sua campanha – utilizada como símbolo de limpeza na política –,
sendo explorada nas diversas mídias, tanto impressa, como eletrônica, tornando-se popular,
principalmente, pela utilização do jingle Varre, varre vassourinha, em ritmo de marchinha
carnavalesca, gênero popular no rádio.37
Vera Chaia constatou por meio da análise do
percurso político de Jânio Quadros de 1941 a 1990 que suas estratégias de autovalorização,
sem sombra de dúvidas, é um modelo de marketing político.38
Enfim, o marketing político, em seu formato moderno, surge em 1952, nos Estados
Unidos, na ocasião em que “pela primeira vez, os republicanos contrataram a agência BBDO
(Batten, Barton, Durstin, e Osborne) para fazer a campanha do general Eisenhower”.39
Acredita-se que, no Brasil, a necessidade de consultoria em marketing político
profissional está aliada à emergência de novos dispositivos de criação e inovação na
comunicação ora utilizados de maneira inexperiente no decorrer da cena política desde 1894
até início dos anos 1980. Segundo Wilson Gomes, a profissionalização das consultorias de
campanhas ou da comunicação política entra em cena “provavelmente” quando
(...) a esfera da política reconhece que os partidos políticos não podem
atender completamente às suas necessidades eleitorais e de administração de
imagem. A rigor, as campanhas, mas também o jogo político regular,
demandam habilitações e serviços técnicos especializados voltados para
comunicação com público que os partidos e os seus filiados não estão em
condições de prover.40
37
NETO, Maugeri. Considerado um dos melhores publicitários de São Paulo na década de 1950, também
compôs o hino da seleção brasileira na Copa de 1958, A taça do mundo é nossa. 38
CHAIA, Vera. A liderança política de Jânio Quadros (1947-1990) apud HECKER, Alexandre. Socialismo
sociável: história da esquerda democrática em São Paulo (1945-1965). Fundação Editora da UNESP, São Paulo,
1998. P. 151. 39
MAAREK. Philippe J. Communication et marketing de I’homme politque. Paris, Lítec, 1992 apud
FIGUEIREDO, Rubens. Marketing político e persuasão eleitoral. Fundação Konrad Adenauer, Rio de Janeiro,
2002, p. 17. 40
FARRELL, D.; KOLODNY, R; MEDVIC, S. “Parties and campaign professionals in a digital age: political
consultants in the United States and their counterparts overseas”, in Harvard International Journal of Press
Politcs, 6 (4), 2001, p. 12 apud GOMES, Wilson. Transformações da política na Era da comunicação de massa.
Paulus, Rio de Janeiro, 2004, p. 72-73.
Como acontece em diversos setores ou áreas quando há inovações tecnológicas, surge
a necessidade de pessoas especializadas para atender tal demanda. O mesmo ocorre no
processo da cultura e da comunicação de massa; cada área demanda uma nova técnica, uma
nova especialização. E na comunicação política não poderia ser diferente. As pessoas
envolvidas nesse sistema – políticos, filiados, simpatizantes ou voluntários do partido – não
têm habilidade para utilizar todas as ferramentas e nem precisam, necessariamente, ser
especialistas para exercerem as funções que os novos meios de comunicação exigem.
“Entende-se por profissional a pessoa que se dedica integralmente à atividade e ao seu
aperfeiçoamento técnico”.41
Ainda sob a concepção de Gomes, os profissionais do marketing político, entre muitas
competências, precisam lidar com:
Organização de equipes, levantamento de dados, pesquisa de opinião,
administração do dia-a-dia da campanha, estratégias, criação e disseminação
de mensagens, escritura de discursos, contato por telefone com eleitores,
coordenação dos voluntários, correspondência, corpo-a-corpo, criação e
manutenção de web sites, produção para a comunicação de massa.42
Do mesmo modo, precisam desenvolver mensagens diferentes para públicos
específicos, ou seja, cuidar para que os conteúdos das mensagens sejam elaborados de
maneira estruturada e adaptados à linguagem e ao local onde essas mensagens circularão.
Além disso, o profissional da comunicação política tem a expertise que os partidos por si só
não têm. Isto é, o preparo para ter o desempenho adequado para pensar a seleção dos meios de
comunicação de massa onde as mensagens e os materiais de campanha devem ser divulgados,
de modo a atingir as mais variadas mídias para que, com isso, consiga superar os adversários
eleitorais.
A primeira empresa a prestar serviço de consultoria política profissional no Brasil foi a
de Ronald A. Kuntz, nas eleições de 1982 – “primeira eleição para cargos majoritários (exceto
presidente da República)”.43
A partir da redemocratização do Brasil as técnicas se tornam
mais especializadas e o serviço de consultoria de marketing político e eleitoral é utilizado de
41
KUNTZ, Ronald A. Manual de campanha eleitoral: marketing político. Global, 7ª edição, São Paulo, 1998, p.
15. 42
Idem, p. 74. 43
BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. E quando o assunto é política, como é que fica?. In: BARBOSA, Ivan
Santo e PEREZ, Clotilde. (Org. ). Hiperpublicidade: Fundamentos e interfaces. Thomson Learning, São Paulo,
2007, v. 1, p. 285.
forma sistemática. Contudo, a atividade profissional começa a evoluir durante a década,
especialmente a partir da campanha das “Diretas Já”, que defendeu a volta das eleições diretas
para presidente da República, suspensas desde o Golpe Militar de 1964. As eleições
presidenciais, entretanto, só seriam retomadas em 1989. Por conta desse lapso de tempo sem
eleições, segundo Ivan Santo Barbosa e Katia Saisi
(...) o setor de propaganda especializada em eleições permaneceu
adormecido. Vivia-se uma ditadura, com apenas dois partidos políticos
legalizados, sendo um – a Arena (Aliança Renovadora Nacional) –
explicitamente favorável e defensor do regime vigente, e outro – o MDB
(Movimento Democrático Brasileiro) – aceito mais para legitimar do que
para exercer efetiva oposição ao sistema.44
A atividade começa a tomar rumos mais elevados em 1989, na arena da disputa entre
Fernando Collor de Mello,45
pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e Luiz Inácio Lula
da Silva (PT). O primeiro, um candidato pouco conhecido pela população brasileira, a não ser
em seu Estado (Alagoas). Com o trabalho profissional do marketing eleitoral, usando de suas
mais variadas ferramentas de comunicação – fator essencial para o desenvolvimento efetivo
de uma campanha –, conseguiu alcançar a preferência dos eleitores, conquistando a simpatia
e, principalmente o voto. O mote de sua campanha era o slogan em que se autodenominava
“caçador de marajás”, designando por marajás os altos funcionários públicos que ganhavam
gordos salários, embora fossem os seus familiares os políticos que instituíram esses marajás
no seu Estado.
Dentro dessa configuração, Figueiredo afirma:
Collor não era bem visto na elite política brasileira, não tinha estrutura
partidária (aliás, criou um partido para ser candidato), a seis meses da data
da eleição era desconhecido em termos nacionais e não tinha uma sólida
carreira política a amparar suas ambições [...]. Não obstante tudo isso, Collor
foi considerado, com razões de sobra, um fenômeno, ganhando a eleição
com uma campanha fulminante.46
44
Idem, p. 284-285. 45
Presidente eleito em 1989 pelo voto direto e afastado 1992, devido ao processo de impugnação de seu mandato
– Impeachment. Tendo renunciado antes que o processo fosse aprovado in
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/FernandoCollor>. Acesso em: 13 de jul. 2011. 46
FIGUEIREDO, Rubens. Marketing político e persuasão eleitoral. Fundação Konrad Adenauer, Rio de Janeiro,
2002, p. 12.
Nesse mesmo sentindo, o candidato Paulo Maluf, candidato à prefeitura de São Paulo
em 1992 também se beneficiou de estratégias de marketing político eleitoral. Com altos
índices de rejeição desde a campanha para o governo do Estado de São Paulo (1986), recorreu
ao profissional de marketing político Duda Mendonça, que aplicou muito bem as ferramentas
de marketing eleitoral, com planejamento e estratégias para angariar votos – mudou até a
armação dos óculos usados pelo candidato para melhorar sua imagem –, conseguindo elegê-
lo.
Kuntz alerta que há uma diferenciação importante entre marketing político e
marketing eleitoral. Assim, redefine o primeiro como “marketing político-governamental”,
que pode ser colocado em prática somente a partir da consolidação e da ocupação do poder,
seja do Executivo, seja do Legislativo. Ele é desenvolvido por meio da exploração das
características positivas do trabalho e da imagem do candidato, objetivando sempre deixar a
sua “marca” para que ele seja lembrado de maneira positiva nas eleições futuras, com isso
buscando conquistar a confiabilidade e a credibilidade do eleitor. Se assim o fizer, e de
maneira efetiva, diminuirá as vantagens dos concorrentes durante o pleito. Kuntz diz ainda
que, o marketing político-governamental “é frio e calculista e visa produzir seus efeitos que
atendem objetivos a longo prazo, entre eles o maior de todos: vencer as eleições futuras e
levar o grupo dominante a permanecer no poder”.47
Isto é, o marketing político tem
participação direta na construção satisfatória e duradoura da relação entre político e eleitor.
Enquanto que o marketing eleitoral, para ele, “é o marketing da conquista, que reúne a
força e a convicção obstinada da paixão com a astúcia, o planejamento e a estratégia da
guerra, é vibrante e seria afoito se não fossem as pesquisas, dado seu objetivo a curto prazo e
imediatismo”.48
Dentro dessa configuração, Barbosa e Saisi seguem a mesma linha de
raciocínio e sinalizam a relevância dos dois para a atuação política:
Em ambos os casos, trata-se de definição estratégica, em que é preciso estar
de olho nos adversários, acompanhar o posicionamento dos concorrentes,
definir se vale ou não a pena atacá-los e, finalmente, dirigir o discurso para o
público-alvo, de modo a, num primeiro momento, tornar o candidato
conhecido do maior número de eleitores possível e, em seguida, diferenciá-
lo dos demais – obviamente, mostrá-lo como alguém melhor do que os
outros.49
47
KUNTZ, Ronald A. Marketing Político: Manual de Campanha Eleitoral, Editora Global, São Paulo, 2006,
p.19. 48
Idem. 49
BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit. p. 292.
Segundo Celso Toshito Matsuda,50
é inegável que o marketing eleitoral, mesmo
quando o candidato não vença o pleito, contribui na construção da imagem do candidato,
reforçando a sua marca para a eleição seguinte. “(...) o candidato pode até não ganhar num
primeiro momento, mas será lembrado no segundo e o resultado é sempre positivo”.51
Nesse Mesmo sentido Mitsuru Higuchi Yanaze e Matsuda afirmam que “o marketing
eleitoral é uma etapa do marketing político partidário. Consequentemente, um bom
desempenho do marketing partidário fortalece o eleitoral, e vice-versa.”52
Contudo, eles
advertem que há diferença para elaboração do planejamento estratégico entre um e o outro
para alcançar os objetivos, seja produtos políticos oferecidos, mercados-alvo ou
posicionamento buscado.53
Porém, apesar de haver distinções entre ambos, tanto nos objetivos, quanto em
estratégias específicas, eles são interligados e seus efeitos, a longo prazo, asseguram o reforço
na contribuição de resultados satisfatórios para o partido e candidato.
Um fato que não se pode deixar de lado é que todo esse trabalho profissional deve
estar sempre aliado à pesquisa política e eleitoral. Em quaisquer trabalhos nessa área, seja de
marketing político ou de marketing eleitoral, as pesquisas de opinião são primordiais. Acerca
dessa importância, Barbosa e Saisi defendem:
O primeiro passo em toda campanha eleitoral é conhecer tudo sobre o
público-alvo: o que pensa, sente e necessita. As pesquisas podem ajudar a
identificar o que o eleitor pensa do candidato como pessoa e político, o que
acha de seus prováveis adversários, quais são suas preocupações, desejos e
expectativas em relação ao futuro.54
Constituídos nessa perspectiva e integrados no mesmo contexto, Barbosa, Saisi e
Figueiredo partilham da mesma ideia ao afirmarem a importância das pesquisas antes e
durante o processo da campanha eleitoral. Figueiredo assinala o papel da pesquisa na
construção da estratégia de campanha, aliada a outras ferramentas:
50
Prof. Dr. pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 51
MATSUDA, Celso Toshito. In <http://www.jusbrasil.com.br/politica/5063419/celso-matsuda-aponta-erros-e-
acertos-em-uma-campanha>. Acesso em: 13 de jul. 2011. 52
YANAZE, Mitsuru Higuchi. Gestão de Marketing e Comunicação: avanços e aplicações; colaboradores Celso
Toshito Matsuda [et al.], Ed. Saraiva, 2ª ed., São Paulo, 2011, p. 690. 53
Idem. 54
BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit., p. 294.
Interpretando as pesquisas corretamente e aproveitando os erros dos
adversários, Duda Mendonça fez um trabalho excepcional na campanha
presidencial de Lula em 2002. Assim, aliou a boa estratégia a uma política,
inclusive interferindo no discurso do Partido dos Trabalhadores (PT), como
havia feito com Maluf e Pita no passado, coisa que muitos analistas políticos
achavam impossível – inclusive eu e até o presidente Fernando Henrique
Cardoso.55
Nesse mesmo sentido, há metodologias mais complexas e integradas adaptadas ao
marketing político. Um exemplo é a Gestão de Marketing e Comunicação desenvolvida e
ajustada para a realidade brasileira por Mitsuru Higuchi Yanaze e colaboradores,56
que
apresenta uma estrutura para o desenvolvimento eficaz de monitoramento que pode ser
aplicada, além de empresas, em partidos políticos para o bom desenvolvimento do trabalho
dos profissionais de marketing político e marketing eleitoral. Por meio do Sistema de
Informação de Marketing (SIM) –, a estrutura deve ter três objetivos essenciais: a operação
rotineira: “o SIM dever ser capaz de disponibilizar informações para otimizar ou aperfeiçoar
a atividade diária normal da empresa”57
– nesse caso, do partido; a solução de problemas: “o
SIM deve estar sempre em condições de mobilizar tempestivamente, no mais breve período,
informações com as quais enfrentar a ocorrência de imprevistos”;58
alimentar o planejamento:
“o SIM tem de reunir e oferecer o máximo de informações necessárias à elaboração de planos
para a atuação da empresa, tanto para uma ação isolada quanto para a formação de uma nova
estratégia”.59
Salientamos que as pesquisas quantitativas e qualitativas são fundamentais nesse
processo de monitoramento.
A partir dessas metodologias, pode-se considerar que o marketing político e o
marketing eleitoral integrado à pesquisa, à informação e à comunicação têm contribuído para
a construção da imagem pública do candidato e influenciado de forma qualitativa, não
somente para a obtenção de voto, como também para fortalecer a imagem do político e do
partido. E, principalmente, chegar mais próximo de atender as necessidades e expectativas do
eleitorado.
55
FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Marketing político em tempos modernos. Konrad-Adenauer-Stiftung, Rio de
janeiro, 2008, p. 13. 56
Yanaze e equipe. desenvolveram metodologias de Gestão de Marketing e Comunicação baseados em métodos
de autores conceituados como Kotler, Sandhusen e Samara/Barros; porém, com uma visão diferenciada, a de um
comunicador que buscou meios que permitem a aplicação das ferramentas de modo prático e imediato. Elas
podem ser encontradas em YANAZE, Mitsuru Higuchi. Gestão de Marketing e Comunicação: avanços e
aplicações; colaboradores Celso Toshito Matsuda [et al.], Ed. Saraiva, 2ª ed., São Paulo, 2011. 57
Idem, p. 271. 58
Ibidem. 59
Ibidem.
2.1 A propaganda política e a evolução do horário eleitoral gratuito
Assim como o marketing político eleitoral, a propaganda política tem evoluído
largamente nos últimos anos, deixando para trás o amadorismo e se tornando cada vez mais
profissionalizada. As campanhas eleitorais ao longo do tempo deixaram de ser intuitivas, e,
em grande parte essa mudança se deu com a união entre pesquisa política e eleitoral. Nesse
sentido, Figueiredo sinaliza a diferença entre candidato e produto:
A propaganda – de um produto ou candidato – está no fim de um longo
processo de marketing em que a pesquisa tem papel fundamental. Quando o
produto ou candidato está posicionado incorretamente, não há propaganda
que vá funcionar. Isso por que o candidato não é propriamente um produto,
como muitos gostariam que fosse ou pensam que é. Um produto geralmente
é visto por um determinado ângulo; da praticidade, do preço, da magia etc.
Mas um candidato é como se fosse uma esfera, vista por todos pontos, a
começar pelo de sua reputação.60
A propaganda política eleitoral tem o propósito de mostrar o perfil do candidato ao
eleitor. Conforme observa Nelson Jahr Garcia, ela visa maximizar os pontos fortes do
candidato e apresenta, de forma elaborada, os trabalhos realizados em outros momentos, além
dos que fazem parte do seu projeto de governo.61
No entanto, isso não é suficiente para
persuadir e cativar o eleitorado, pois a propaganda é parte importante de um conjunto de
ferramentas e estratégias de comunicação e marketing. Explicam Barbosa e Saisi: “E isso se
dá por meio do somatório de diferentes linguagens: verbal, gestual, sonora e imagética”.62
Nesse mesmo sentido, Mariângela Haswani considera que:
Imagem é o revestimento que se dá a identidade com o objetivo de atingir
um determinado conceito. É a “roupa” com que se veste a identidade do
candidato para apresentá-lo ao eleitorado. É no trabalho de criação e
execução da imagem que se concentram os esforços da propaganda
eleitoral.63
60
FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Op. Cit., p. 12-13. 61
GARCIA, Nelson Jahr. O que é propaganda ideológica. Brasiliense, 10ª edição, São Paulo, 1992, p. 8. 62
BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit., p. 300. 63
HASWANI, Mariângela apud BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. E quando o assunto é política, como é
que fica?. In: BARBOSA, Ivan Santo e PEREZ, Clotilde. (Org. ). Hiperpublicidade: Fundamentos e interfaces.
Thomson Learning, São Paulo, 2007, v. 1, p. 300.
Não obstante, durante o Regime Militar essa construção da imagem foi bloqueada pela
Lei Falcão,64
aprovada em 1976, tendo vigorado até as eleições de 1982.65
Tratava-se de um
recurso que os militares usaram para tentar frear o avanço da oposição cujo desempenho
eleitoral nos anos 1970 superaram aos da situacionista Arena. Conhecida pelo codinome “Lei
da Mordaça”, ela impunha limites severos às campanhas eleitorais e tinha o escopo de tolher
os candidatos de expor suas idéias verbalmente durante a campanha nas emissoras de
televisão e rádio. A lei permitia apenas que aparecesse a foto do candidato em formato 3x4, e
uma locução em off, que informava um breve currículo, a legenda e o número do candidato.
Também era permitido divulgar, se fosse o caso, o local e a hora do comício. Era uma
propaganda eleitoral sem atrativo algum, como era intenção da lei.
Nesse modelo limitado, a propaganda eleitoral ficava à mercê dos padrões impostos
pela lei e, por conseguinte, o marketing político possuía apenas um espaço estreito para ser
colocado em prática. Durante o tempo em que a Lei Falcão esteve em vigor aconteceram as
eleições de 1978 e 1982. Somente em 1984 a propaganda volta à arena com maior abertura
para o marketing político se expandir com a revogação da lei. Contudo, os partidos só
conquistaram o direito de acesso à propaganda eleitoral gratuita através da televisão e do
rádio com a Constituição 1988.66
Conforme explicam Barbosa e Saisi:
Nas eleições de 1996, foram permitidos o uso das gravações externas,
montagem, trucagens, a presença da plateia, convidados, atores e
personalidades, recomendando votos neste ou naquele candidato. A
novidade daquele pleito foi a inclusão de inserções de 30 segundos ao longo
da programação veiculada das 8 horas às 24 horas, todos os dias.67
A partir daí “o horário eleitoral brasileiro, fornecendo espaço de mídia gratuito para
todos os partidos e candidatos, independentemente de seu poder econômico, abre espaço para
os atores políticos”.68
Com isso, oferece-lhes “a possibilidade de apresentar sua própria versão
da campanha e da realidade política”.69
A partir daí os comerciais aumentam
64
A Lei 6.339 ficou conhecida como Lei Falcão em função do nome então ministro da justiça Armando Falcão. 65
BARBOSA, Ivan Santo e SAISI, Katia. Op. Cit., p. 303. 66
Idem, p. 304. 67
Ibidem. 68
FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,
Rubens (org.). Op. Cit,, p.167-168. 69
ALBUQUERQUE, Afonso. A batalha pela Presidência: o horário gratuito de propaganda eleitoral na
campanha 1989. Tese (Doutorado) apresentada à Escola de Comunicação, Rio de Janeiro, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 1996, p. 267 apud FIGUEIREDO, Rubens (org.). Op. Cit., p. 167.
qualitativamente; acredita-se que a inserção de vinhetas de 30 segundos durante os intervalos
comerciais reforçam e apetecem o espectador a assistir a programação eleitoral com maior
duração de tempo.
O marketing político ganha espaço para introduzir ferramentas que permitem
incrementar a propaganda eleitoral de uma maneira mais natural, com o auxilio de recursos de
edição, montagem, música, junção de jingle com imagem, recursos lúdicos e bem humorados
para atrair a atenção do eleitorado e tocar sua emoção, deixando para trás a propaganda
cansativa e entediante imposta pela ditadura.
Resultado disso são os exemplos das últimas campanhas do PT para a prefeitura de
São Paulo e para a presidência da República, a começar pela de Marta de 2000 – naquela
época ainda com o sobrenome Suplicy – aproveitando-se da má avaliação da gestão de Celso
Pitta, quando a maioria da população avaliava a administração como ruim ou péssima
(75,2%), uma parte considerava regular (18,4%) e apenas uma pequena parte da população
avaliava como ótima ou boa (6,4%).70
A partir desse cenário e, aliado às propostas do PT, a
equipe de campanha de Marta construiu propostas de um governo participativo e, sobretudo,
explorando as fraquezas que os dois últimos governos (Maluf e Pitta) haviam deixado, foram
usadas as mais variadas peças impressas e eletrônicas em busca da conquista do maior
número de eleitores. Citam-se as que foram divulgadas por meio do Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral (HGPE), que apostaram numa campanha anticorrupção com o slogan
São Paulo vai dar a volta por cima – dando a ideia para o eleitor que, com a esquerda no
poder a gestão da Marta ia lutar pela transformação, dando prioridade à educação e
trabalhando com transparência e honestidade. Reconstruindo a cidade, recomeçando com a
ajuda do povo, colocaria São Paulo de volta no lugar. O primeiro pronunciamento da
candidata Marta no HGPE reforçava essa ideia:
Eu acredito que é possível encontrar soluções para os problemas de São Paulo,
vamos abrir um canal direto de comunicação com a população. Hoje as pessoas se
sentem completamente abandonadas. Juntos, vamos dar um jeito na nossa cidade. Eu
tenho certeza que fechando as torneiras da corrupção e trabalhando em parceria com
a população, com todos os segmentos da sociedade, nós vamos sim, nós vamos fazer
São Paulo dar a volta por cima.71
70
REIS, Andréia. A dança dos números: o impacto das pesquisas eleitorais nas estratégias de comunicação do
HGPE na eleição de 2000 em São Paulo. Dissertação (Mestrado) em Ciências Sociais e área de concentração
política, apresentada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em março de 2003, orientada por Vera
Chaia. 71
Idem, p. 70.
Para Chaia, Meneguello, Azevedo e Schmitt, na campanha para a prefeitura de São
Paulo de 2000, a candidata Marta Suplicy (PT) defendeu uma proposta baseada na gestão
participativa, na transparência e na ética. Para isso, propôs a divisão da cidade em
subprefeituras, os conselhos de representantes e o orçamento participativo.72
Além disso, a
propaganda eleitoral da Marta trazia o “Programa Operação Estrela” que dava início a uma
ação estruturada contra a violência da cidade atuando diretamente em suas causas. Isso se
dava em dois aspectos de curto prazo e de médio e longo prazo. O primeiro consistia em
melhorar a atuação da Guarda Metropolitana nos locais públicos de maior concentração
populacional, como praças e escolas e, na conservação e no melhoramento da iluminação. O
segundo, com novos projetos para a educação integral, e trazendo a família como agente
fundamental nessa construção. É tanto que as principais propostas de governo de Marta
viabilizavam uma educação mais qualificada com o “Programa Renda Mínima” e “Bolsa-
Trabalho”. Em sua propaganda eleitoral de 20 de setembro de 2000, seu discurso salientava a
importância da proposta educacional: “[...] para o PT, educação é prioridade, e lugar de
criança é na escola”. Posteriormente, em sua gestão (2001-2004), as promessas se
confirmaram com a implementação desses programas e dos Centros Educacionais Unificados
(CEUs).
Na campanha do Lula em 2002, depois de três tentativas consecutivas e malsucedidas
em eleições para a presidência, o marketing político, por meio do HGPE, deu sua contribuição
essencial para uma mudança não somente da imagem de Lula, mas do seu discurso. Do pleito
de 1989 – quando disputou com Collor – até as últimas eleições, Lula passou por uma
perceptível transformação. Naquele primeiro momento, ao contrário de Collor, Lula não tinha
o preparo de especialistas de marketing político como teve a partir das eleições de 2002.
Nesse pleito a estratégia de sua equipe descobriu novos caminhos que apontavam a
solução da melhoria da imagem do Lula, mostrando ele como conciliador, com vestimentas
mais adequadas que transmitiam uma nova imagem, a de um homem elegante. Esse trabalho
foi desenvolvido por uma equipe de profissionais de qualidade. A postura de Lula apresentava
uma novidade, um Lula disposto a dar seguimento à linha econômica do governo de FHC;
72
CHAIA, V.; MENEGUELLO, R.; AZEVEDO, F. e SCHMITT, R. São Paulo: embate partidário, mídia e
comportamento eleitoral. apud VEIGA, Luciana Fernandes; SOUZA, Nelson Rosário e CERVI, Emerson Urizzi.
As estratégias de retórica na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2004: PT, mandatário, versus PSDB,
desafiante. Opinião Pública, Campinas, vol. 13, nº 1, Junho, 2007, p.51-74. In
<http://www.scielo.br/pdf/op/v13n1/v13n1a02.pdf>. Acesso em: 19 de jul. 2011.
manteria também os contratos assumidos com o FMI.73
Além disso, seu discurso revelava um
Lula mais flexível para negociar todos os interesses do país, evidenciando que o partido
contava com grandes especialistas para ajudá-lo a governar o Brasil. Pesquisas qualitativas
apontavam que o eleitorado tinha em Lula a imagem de alguém capaz de viabilizar os temas
sociais e de governar o país com mais força de vontade e entusiasmo.74
Duda Mendonça foi o responsável pela mudança, levando para a campanha de 2002 a
versão de um candidato mais humanizado, tornando-o eleitoralmente viável e desenvolvendo
a figura do Lulinha Paz e Amor, de bem com o eleitorado e sem disposição para confrontos
com seus opositores. Mendonça considera que aquela campanha foi feita com base em um
trabalho emocional, investindo principalmente na televisão. Um dos comerciais que mostra
bem essa ideia é o que foi inserido no final da campanha, quando a equipe detectou que Lula
precisava ampliar sua votação entre as mulheres. O vídeo começa com várias grávidas
andando juntas, vestidas de branco e sorridentes – umas acariciando a barriga, algumas com
criança ao colo – servindo de trilha sonora, o Bolero, de Ravel. Do meio para o final do vídeo
surge ao fundo a voz de Chico Buarque recitando o texto: “Você não pode escolher se seu
filho será menino ou menina, não pode escolher sua altura, nem a cor dos seus olhos, muitos
menos o que ele vai ser quando crescer, mas uma coisa você pode escolher, que tipo de país
você quer pra ele. Se você não muda, o Brasil também não muda”. Ao término dessa
mensagem uma criança, no colo da mãe, levanta a estrela do PT.
Mendonça considera a televisão como “(...) o mais rico e poderoso de todos os meios
de comunicação que conhecemos (...)”,75
pois ela está presente em todos os lugares do país,
desde a classe social mais baixa até a mais alta. Para ele “conhecer a sua linguagem significa,
portanto, ter o domínio da mídia principal (...)”.76
Afirmação que ecoa, de alguma forma, Rick
Ridder,77
que diz ser importante escolher um meio de comunicação e a partir daí dominá-lo.
Na campanha de 2006 seguiu a mesma linha, com inovação, porém com diversas
contribuições, entre elas, a base da política governamental e uma boa avaliação de governo.
73
Fundo Monetário Internacional, organização internacional que visa garantir funcionamento adequado do
sistema financeiro mundial por meio do monitoramento das taxas de câmbio e da balança de pagamentos, através
de assistência técnica e financeira. 74
CARRO, Rodrigo e FELÍCIO, César. Qualitativas norteiam horário eleitoral. apud FIGUEIREDO, Rubens e
COUTINHO, Ciro. A eleição de 2002. Opinião pública, vol. 9, no. 2, Campinas, outubro de 2003. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-62762003000200005&script=sci_arttext>. Acesso em: 21 de
jul. 2011. 75
MENDONÇA, Duda. Casos e Coisas. Globo, São Paulo, 2001, p. 159. 76
Idem. 77
Especialista, norte-americano, em campanhas eleitorais.
Para afastá-lo dos escândalos de acusações de corrupção do primeiro governo a equipe de
marketing eleitoral optou por deixar longe a imagem do candidato do vermelho do PT e usar
cores que lembrasse o trabalho dele pelo país, fortalecendo-o com o verde e o amarelo. Com
isso se aproximou dos eleitores que apoiavam a continuidade de Lula no governo,
especialmente a partir do slogan É Lula de novo com a força do povo que denota a
combinação de uma identidade enraizada pelo PT entre as classes populares e o candidato.
Já na campanha da Dilma Roussef (PT), em 2010, João Santana, que respondeu por
seu marketing eleitoral, trabalhou com a ideia de “continuidade da mudança”, sempre se
apoiando nas ações dos dois governos de Lula. Daí surgiu o slogan Dilma 13, para o Brasil
seguir mudando. Naquele momento ainda pouco conhecida pela população brasileira, a
imagem de Dilma foi associada, desde o primeiro programa de televisão, com a de Lula. A
equipe apostou nessa estratégia durante toda a campanha. Em uma entrevista à Folha de S.
Paulo João Santana diz que sua equipe tinha
(...) a missão de fazer Dilma conhecida e ao mesmo tempo amada; uma
personagem original, independente, de ideias próprias e, ao mesmo tempo,
uma pessoa umbilicalmente ligada a Lula; uma pessoa capaz de continuar o
governo Lula, mas também capaz de inovar.78
Um dos programas que deixa bem claro que as propostas de Dilma seguem com a
continuidade da mudança é o comercial que foi ao ar em agosto de 2010 quando percorre
vários estados do país apontando obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),
iniciadas durante o governo de Lula, quando era Ministra da Casa Civil, afirmando que
continuaria conduzindo as obras que fariam o Brasil seguir crescendo. Era a imagem da
executora de obras, que fazia frente ao discurso da oposição, sempre apoiado nessa mesma
imagem.
No decorrer desse processo de evolução do horário eleitoral gratuito é possível avaliar,
a princípio, que o PT possui uma tendência emocional crescente ao elaborar seus programas
de televisão. Nas eleições da Marta, Lula e Dilma, nota-se que existe uma preocupação em
trazer o eleitor pra junto do partido/candidato (a). Em todos os programas, durante os três
processos eleitorais, é perceptível que os eleitores são superestimados. O discurso utilizado
78
Entrevista de João Santana concedida ao jornal Folha de S. Paulo in < http://m.folha.uol.com.br/poder/826409-
caso-erenice-provocou-2-turno-diz-marqueteiro-de-dilma.html>. Acesso em: 25 de jul. 2011.
pelo PT, em seus programas de TV, segue a mesma linha, inclusive no pleito de 1989, quando
seu slogan Sem medo de ser feliz foi utilizado pela primeira vez, sendo reutilizado nas
campanhas seguintes.
Por sua parte, o apelo do PSDB sempre foi o racional. Desde a campanha de Alckmin
em 2000, quando então era vice-governador do Mário Covas (SP) e disputava a prefeitura de
São Paulo pela primeira vez – seus principais opositores eram a Marta Suplicy, Paulo Maluf,
Luiza Erundina – o programa exibido em 1º. de agosto de 2000 se inicia com uma vinheta em
que o narrador diz em off: “Você vai conhecer agora uma nova opção para São Paulo:
Geraldo Alckmin, o prefeito com a cabeça no lugar”. A imagem a seguir é a de um candidato
apresentado em perfil com um semblante sério e sereno. O narrador começa a traçar sua vida
política desde o início de sua carreira em Pindamonhangaba (SP), apresenta-o como um
político executor obras: “Este é Geraldo Alckmin, um administrador experiente, equilibrado,
que governa para as pessoas e tem a cabeça no lugar”. As fotos ilustram sua experiência em
outros cargos, ao passo que a imagem do executivo gerente é reforçada pela postura do
candidato num escritório lendo ou escrevendo. Em seu pronunciamento apresenta suas
propostas de maneira racional, embora de alguma forma no final da frase tente emprestar um
pouco de emoção, ainda que sutil – quase imperceptível. “E só tem um jeito: não roubar, não
deixar roubar e nem permitir bagunça, dar o exemplo e exigir caráter. Eu quero ser o
prefeito da esperança, que trabalhe junto das pessoas com os olhos voltados para o futuro,
com a cabeça no lugar e, principalmente, com a nossa cidade no coração”.
No pleito de 2002, quando Geraldo Alckmin disputou o governo do Estado de São
Paulo – onde se saiu vitorioso – os programas eleitorais de televisão seguiram o mesmo estilo.
O candidato aparece arregaçando as mangas, passando a mensagem de que “um bom gestor
precisa ser gerente”. A ideia é a de que o serviço público precisa se assemelhar ao setor
privado.
Nas eleições de 2006, quando enfim disputou a presidência – sendo derrotado por Lula
– seus programas eleitorais transmitidos pelo HGPE não são muito diferentes, mostram a
construção de um candidato inteligente dando ar de superioridade em relação ao seu opositor.
O jingle mostra isso de uma forma transparente: “Ele sabe o que faz, ele sabe o caminho para
um país decente”. As imagens que remetem à eficiência administrativa, sempre atreladas ao
candidato, mostram-no coordenando equipes, acompanhando obras de governo ou usando
capacete ao operar máquinas de construção.
Quando José Serra (PSDB) concorreu à Prefeitura de São Paulo em 2004 contra a
candidata da situação Marta Suplicy (PT) – e se elegeu no segundo turno – suas propagandas
eleitorais gratuitas o mostravam como ex-ministro da Saúde do governo de Fernando
Henrique Cardoso, elevando seus pontos positivos. Os programas exploraram o currículo do
candidato com um discurso racional, apontando-o como um administrador competente e
buscando mostrar para os eleitores uma imagem de homem trabalhador como afirmação da
figura pública. Por estar ligado fortemente à saúde, aproveita-se da ocasião para demonstrar
que esta área seria o seu ponto forte, ao contrário de Marta que, apesar de estar no governo,
dizia ser necessário fazer muito ainda pela saúde. Serra tenta se apropriar do discurso social
da Marta dizendo que continuará os programas implementados pela administração do PT,
enfatizando que fará a integração do Bilhete Único – estrela da propaganda de Marta – ao
metrô e ao trem, serviços a cargo da esfera estadual de poder. Nos programas, o candidato tira
proveito ainda das obras do governo do Estado e de aparições do então governador Geraldo
Alckmin. Durante essa campanha, Serra assumiu em cartório o compromisso de não deixar a
prefeitura para se candidatar ao governo do Estado em 2006, promessa que não cumpriu,
dando argumentos até hoje aos seus adversários.
Na campanha de 2006, quando disputou o cargo de governador do Estado – sendo
eleito – seus programas de televisão praticamente repetiam o mesmo discurso: apresentação
de seu currículo como “o melhor ministro da Saúde” e mostrando para o seu eleitorado que
seria “o mais preparado” para governar o Estado. Como na campanha de 2004, Serra aparece
com as mangas dobradas, sentado à mesa como um homem trabalhador e ao mesmo tempo
descontraído, se mostrando firme e sério. Um ator apresenta um texto com a trajetória
profissional do Serra: É... tá todo mundo com o Serra. E não é à toa: o Serra já foi secretário,
deputado, senador, ministro duas vezes, e prefeito de São Paulo. E, além disso, é economista
e professor. Por toda essa bagagem. José Serra é o mais preparado para governar um estado
da importância de São Paulo.
Analisando os pleitos acima do PT e do PSDB é possível verificar que mesmo quando
há um interesse de um partido em tentar se apropriar das ideias do outro partido na realização
do seu marketing político, torna-se evidente que há diferença de práticas políticas e de
propostas, na maior parte das vezes antagônicas, seja nos projetos para a cidade de São Paulo,
para o Estado ou em nível nacional. A distinção é inteligível quando se observa o discurso e
as propostas. De um lado o PSDB com suas propostas conservadoras mesmo em alguns
momentos tentando se apropriar do projeto de esquerda. Do outro lado o PT tentando dar
continuidade aos seus projetos iniciados nos anos anteriores.
Enfim, o apelo emocional do PSDB é quase disfarçado, prevalecendo a imagem do
gerente em detrimento à do político. Enquanto o discurso do PT sempre se apoia no pronome
“nós”, atribuindo-lhe uma “força de transformação”, no discurso do PSDB, o pronome “eu”
ressalta a experiência administrativa do candidato e a sua liderança racional na execução de
uma política instrumental.
2.2 Os programas de debate político
Os programas de debate político na televisão surgem pela primeira vez em 1960, na
disputa pela presidência dos Estados Unidos, com o debate de John Kennedy e Richard
Nixon, sendo que um deles foi fator importante para vitória de Kennedy, fazendo com que,
naquele momento79
se tornasse evidente a importância da imagem do candidato. Especialistas
americanos estavam de acordo com a mesma ideia de que o primeiro encontro, no debate da
TV, mudou a direção da campanha, beneficiando, claro, Kennedy. O primeiro foi treinado por
especialista para debater nas redes de televisão, pois aparecia perante as câmeras um homem
jovem, maquiado, com sorriso largo e confiante; já o segundo, se apresentava abatido e tenso,
não possuía o domínio da imagem diante da TV. O debate foi transmito pelos canais de
televisão e pelo rádio. Para quem acompanhava o debate pelo rádio, admitia que Nixon tinha
se saído melhor. Porém, quem assistia ao debate pela TV defendia que Kennedy era quem
havia vencido o debate.
Enquanto no Brasil a primeira tentativa para a realização de um debate correu no
mesmo ano que na América do Norte. Aqui também os candidatos concorriam à presidência
da República. Jânio Quadros (UDN) contra Marechal Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB). O
primeiro rejeitou a proposta de participar das discussões perante as câmeras e, mesmo assim,
se saiu vitorioso no pleito.
No período do governo militar (1964-1985), o Brasil ficou 25 anos sem eleições
diretas para a presidência. Durante esses anos ocorreram três debates de campanhas eleitorais
transmitidos pela televisão, sendo que o primeiro deles aconteceu no Rio Grande do Sul, em
79
MAAREK. Philippe J. apud FIGUEIREDO, Rubens. Op. Cit., p. 17.
1974, com os candidatos ao senado Nestor Jost (ARENA) e Paulo Brossard (MDB).80
O
segundo e mais conhecido foi em 1982, nas eleições para governador de São Paulo entre
Franco Montoro (PMDB) e Reynaldo de Barros (PDS), no canal 4 (TVS) – atual Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT) – coordenado pelo jornalista Ferreira Neto. Segundo
reportagem do jornal Folha de S. Paulo, de 23 de março de 1982, o apresentador Silvio
Santos e dono da emissora de televisão, mudou as regras do debate de última hora e ficou o
tempo todo no comando para evitar situações desagradáveis que pudessem causar problemas
políticos para o seu canal de televisão.81
Já o terceiro e último debate, na mesma eleição, antes
da vigência da Lei Falcão, ocorreu no mesmo Estado, só que com uma diferença do primeiro
debate em São Paulo: dele participaram todos os candidatos que disputavam o pleito naquele
ano. Coordenado por Joelmir Beting,82
foi transmitido pela Rádio e Rede Bandeirantes de
televisão e publicado na íntegra pela Folha de S. Paulo. O debate foi acompanhado e
publicado pelo mesmo jornal na manhã do dia seguinte. O mediador inicia o pronunciamento:
(...) neste momento, na presença de uma centena de convidados especiais,
um debate eleitoral de importância política e histórica. Pela primeira vez, nas
eleições de 82, ou pela primeira vez nos últimos vinte anos, para não dizer a
primeira vez na história republicana do País, há um debate com os
candidatos ao governo do Estado de São Paulo; com todos os candidatos. 83
Antes de apresentar os cinco participantes dos debates, Joelmir fez mais um
pronunciamento sobre a importância do debate para a política brasileira da época: “Este
Debate Completo não pretende, evidentemente, fazer o vestibular para governador; pretende,
indo além, funcionar como autêntico simpósio de realidade brasileira”.84
Em seguida
apresentou os nomes dos candidatos pela ordem de sorteio: Rogê Ferreira (PDT), Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), Franco Montoro (PMDB), Reynaldo de Barros (PDS) e Jânio Quadros
(PTB). A mesa era composta por quatro jornalistas, dois da Folha, Ruy Lopes e Odon Pereira;
e José Augusto Ribeiro e Salomão Esper pela Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão. O
80
MACHADO, Maria Berenice da Costa. Debates nas campanhas presidenciais: Brasil 1989-2010. Artigo
apresentado no GT de História da Publicidade e Comunicação Institucional, integrante do VIII Encontro
Nacional de História da Mídia, 2011. 81
Acervo digital do jornal Folha de S. Paulo. Regras do debate são mudadas à última hora. Primeiro caderno,
23 de março de 1982, p, 4. In <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 4 de ago. 2011. 82
Jornalista da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão. 83
Idem. Os cinco, no único debate completo. Primeiro caderno, 14 de setembro de 1982, p, 14. In
<http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 4 de ago. de 2011. 84
Ibidem, p. 14.
mediador reforça que o debate terá como base o regulamento da carta magna discutida,
elaborada e aprovada previamente pelas equipes de consultoria política de todos os candidatos
de todos os partidos presentes. O debate era dividido em dois tempos, de uma hora e quarenta
minutos no total de três horas e vinte minutos (cem minutos corridos em cada tempo). No
primeiro, os jornalistas entrevistavam o candidato – cada pergunta teria trinta segundos para
ser formulada e cada resposta teria que ser dada em três minutos e, cada jornalista teria o
tempo de trinta segundos, se quisesse, para uma réplica e ao candidato era dado um minuto
para a segunda resposta. No segundo, os candidatos faziam perguntas entre si, se houvesse
alguma sobra de tempo disponível ao final da segunda parte, esta ficaria disponível para os
jornalistas fazerem mais perguntas aos candidatos até completar o tempo estabelecido pelas
regras. A seguir iremos apresentar a transcrição apenas das perguntas de um jornalista e a
resposta de um candidato. A primeira pergunta e a resposta seguem na íntegra; contudo, as
demais, com exceção da última resposta do candidato, seguem resumidas pela autora
objetivando auxiliar a leitura e também por não caber neste momento a transcrição completa
do debate.
O jornalista Odon pergunta para o candidato Lula: “Lula, três assaltantes
vão numa casa, assaltam-na, violentam as mulheres da casa, estupram uma
criança de oito anos; a polícia os sitia, pode salvar algumas pessoas se
matar os assaltantes. A polícia pode ou não matar os assaltantes? Um
pedido: além do seu discurso, diga “sim” ou “não”. Eu gostaria de dos
candidatos ao governo de São Paulo um “sim” ou “não”, pelo menos uma
vez na resposta. Eu gostaria de ouvir de você, além do discurso, isto: a
polícia pode ou não matar três assaltantes que estupraram uma criança e
podem matar mais algumas pessoas dentro de uma casa que está sendo
assaltada em São Paulo, numa cena rotineira da nossa cidade?”
Lula responde: “Odon, a sua pergunta não é uma pergunta simples de “sim”
ou “não”. Eu acho que tem um fundo social aí no meio, e, tem algumas
coisas para trás que você precisa explicar à opinião pública. Primeiro, acho
que a polícia pode matar alguém em legítima defesa. Como eu acho que
qualquer cidadão tem o direito de, em legítima defesa, safar a sua própria
vida. Entretanto, eu acho que o Estado, enquanto figura jurídica, não pode
simplesmente achar que a matança de um homem de um homem por outro
homem coloca fim a aos crimes bárbaros que existem neste País e nesta
cidade. Temos países onde há pena de morte, em que efetivamente tem
morrido mesmo gente do que aqui no Brasil, que não tem pena de morte e
nem por isso têm diminuído os crimes neste Brasil. Se você pergunta para as
pessoas que foram vítimas... Se eu fosse vítima, eu diria para você: não
precisaria nem a polícia matar eu mesmo matava. Entretanto, o Estado
precisa criar condições, bastante objetivas, para que a ação da polícia
possa evitar que haja estupros. A pessoa que estupra uma criança de oito
anos de idade, na verdade, não é uma pessoa normal, é um louco e precisa,
quem sabe, de um tratamento psiquiátrico; quem sabe precisa ser tratado
antes. E se um hospital, um país ou estado tivesse condições de tratar essas
pessoas, quem sabe não houvesse os estupros que há e tampouco os
assassinatos que há”.85
Odon, insatisfeito com a resposta de Lula, insiste de forma mais incisiva. E Lula
responde reforçando o que havia dito sobre as obrigações do Estado. Porém Odon insiste mais
uma vez e, Lula, em resposta, diz para finalizar: Odon, o que eu queria dizer para você,
primeiro, é que a minha resposta não tem o objetivo de contentar o jornalista, mas o objetivo
de informar a opinião pública. Segundo, dizer para você que não cabe ao governo do Estado,
enquanto governo, ser o mandante de um crime. Cabe a ele, sim, evitar crimes.86
Ao analisar esse debate na íntegra tanto as perguntas quantos as respostas entre
jornalistas e candidatos, e os questionamentos e argumentos entre candidatos, é possível notar
que, naquela eleição, todos os envolvidos no debate se sentiam livres e muito à vontade para
formular suas perguntas ou para responder. Possivelmente, isso se deu em razão de o país
estar há anos sob a censura imposta pela Lei Falcão e pelo Regime Militar.
Os ventos da redemocratização trouxeram rapidamente os programas de debates para
as campanhas eleitorais no Brasil, ganhando força principalmente com as eleições para
presidente de 1989, na disputa entre Collor e Lula. Dos primeiros debates até hoje houve uma
grande mudança. Os debates foram sofrendo um engessamento gradual. Antes existia o
confronto direto de jornalistas e candidatos, o que hoje não há mais – antes eram debates mais
reais, os candidatos respondiam as perguntas de jornalistas. Hoje é um formato criado para
não se discutir ideias, mas apenas apresentar plataformas de governo de forma resumida.
Evita-se o confronto, o candidato se preocupa o tempo todo em não cometer gafes enquanto a
equipe passa minuto a minuto monitorando a reação do eleitor. Importaram-se também
formatos de debates da TV americana, que já haviam definido regras que impedem o
confronto. Além disso, o sistema se torna confortável para as emissoras, que não precisam
tomar tanto cuidado para não expor as suas preferências eleitorais.
85
Ibidem. 86
Ibidem.
2.3 A cobertura da imprensa
A cobertura da grande imprensa brasileira dos processos eleitorais tem ocorrido,
infelizmente, de maneira antidemocrática e parcial, em diversos momentos alterando a
linguagem e a estética do que está sendo apresentando de acordo com seu próprio interesse, o
que Garcia chama de propaganda ideológica.87
Segundo Garcia, as mensagens propagadas são
subliminares de modo a tentar esconder sua origem e os objetivos propostos. Há sempre
interesses de pessoas ou de grupos que, encobertos, manipulam a informação, de modo que
atendem a posições doutrinárias e procuram persuadir quem está do outro lado do processo de
comunicação, ou seja, o receptor. Garcia defende que:
(...) eles conseguem, muitas vezes, controlar todos os meios e formas de
comunicação, manipulando o conteúdo das mensagens deixando passar
algumas informações e censurando outras, de tal forma que só é possível ver
e ouvir aquilo que lhes interessa.88
No Brasil os programas jornalísticos de televisão de sinal aberto de maior audiência
ainda são da TV Globo, entre os quais se destaca o Jornal Nacional. No entanto não se pode
deixar de lado a relevância dos demais jornais de outras emissoras. Pode-se notar que há um
desequilíbrio na cobertura dos noticiários, ou seja, é possível perceber – principalmente em
relação à Rede Globo – que há uma oscilação entre uma neutralidade aparente e, ao mesmo
tempo, um favoritismo explícito.
Analisando a cobertura de algumas campanhas eleitorais é possível verificar que a
interpretação do jornalismo unilateral muitas vezes se torna evidente, como ocorreu
especialmente na cobertura das eleições de 1982 para governador do Estado do Rio de
Janeiro. Na ocasião, durante a primeira eleição direta do país desde 1964, ainda em plena
ditadura, da qual o Jornal Nacional foi praticamente o órgão oficioso, a emissora apoiou
Wellington Moreira Franco, do PDS (antiga Arena), contra Leonel Brizola, do PDT, partido
de esquerda fundado por ele. A emissora considerava o candidato um estorvo ameaçador, caso
se elegesse, em relação aos seus interesses. Acredita-se que o início das diferenças ideológicas
entre a emissora e o político se deu ainda durante a Ditadura Militar, quando Brizola, genro de
João Goulart, presidente deposto, assumiu abertamente uma postura contrária às ideias do
regime. Brizola não abriu mão de suas convicções e bateu de frente com os militares e com a
87
GARCIA, Nelson Jahr. Op. Cit., p. 10-11. 88
Idem.
Globo. A partir daí as divergências entre ele e a empresa foram crescendo e se agravaram com
o escândalo do Proconsult, em 1982.89
Apoiar Moreira Franco com o objetivo de impedir o crescimento da imagem de
Brizola passou a ser fator fundamental para as Organizações Globo. Ela se mobilizou, usando
o seu poder de difusão para tentar manipular seus telespectadores e leitores apresentando
Moreira Franco como o melhor candidato para governar o Rio de Janeiro, tentando convencer
os eleitores de que não existia outro candidato melhor para assumir o cargo. Além disso, a
emissora trabalhou negativamente a imagem do oposicionista Brizola, apontando que ele não
seria o melhor representante para a população do Rio. As mídias impressas e eletrônicas
apresentavam visões antagônicas do processo eleitoral: enquanto o Jornal do Brasil e a Rádio
JB divulgavam a liderança de Brizola, a Rede Globo e seu jornal O Globo apontavam Moreira
Franco na dianteira. Após a Globo colocar em dúvida a lisura da apuração, Brizola acabou
proclamado governador.
No período de restauração democrática, quando José Sarney assume a presidência com
a morte de Tancredo Neves, as Organizações Globo passam a apoiá-lo claramente, pois além
de defender suas posições políticas, se tratava do dono de uma de suas subsidiárias no
Nordeste.
Ainda dentro dessa configuração, a imprensa, principalmente a Globo, deu nova
cobertura tendenciosa a um caso policial que coincidiu com o pleito de 1989, cujo segundo
turno foi disputado por Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva. O sequestro do
empresário Abílio Diniz (então presidente do Grupo Pão de Açúcar) teve seu desfecho às
vésperas do segundo turno, quando os jornais de televisão mostraram os responsáveis pelo
crime vestindo camisetas com a estrela do PT. Além disso, a polícia afirmou ter encontrado
uma grande quantidade de materiais da campanha do Lula de posse dos sequestradores. A
versão foi desmontada tanto pela Polícia Civil quanto a Polícia Federal (PF) no mês seguinte
às eleições, quanto estas já haviam definido Collor como vencedor.90
Nessa mesma eleição a emissora se propôs a realizar um debate com os candidatos.
Segundo estudiosos, o desempenho de Lula foi de boa qualidade; no entanto, o resumo do
89
Suposto esquema de fraude na eleição 1982 ao governo do Rio de Janeiro que transferia os votos de Brizola
para favorecer Moreira Franco. O processo funcionaria na etapa final de contagem dos votos por meio de um
programa instalado nos computadores da empresa Proconsult, contratada pelo TRE do Rio de Janeiro. 90
SOUZA, Diana Paula de. Jornalismo e narrativa: uma análise discursiva da construção de personagens
jornalísticos no sequestro de Abílio Diniz e suas repercussões políticas. Trabalho apresentado ao GP Teorias do
Jornalismo, IX Encontro dos Grupos/Núcleos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 4 a 7 de setembro de 2009.
debate que foi apresentado aos telespectadores da Globo no dia seguinte, véspera da eleição,
possuía duas versões. A primeira, apresentada durante o Jornal Hoje, foi feita de maneira
mais equilibrada e menos tendenciosa, diferentemente da exibida à noite, no Jornal Nacional,
que favorecia Collor de Mello. Esse conjunto de manipulações jornalísticas acabou definindo
a eleição e garantindo a vitória de Collor.
Outro exemplo do comportamento tendencioso da mídia, nesse caso, a impressa, e que
vem ao encontro da ideia de que em diversos momentos a imprensa tem agido de maneira
unilateral, é a cobertura dada pela revista Veja no caso dos dois escândalos cognominados
pela mídia de Mensalões, um dos quais envolvendo o Partido dos Trabalhadores, em 2005, e
outro o Democratas (DEM), em 2009. Uma análise mais próxima das edições resulta no
indicativo de como a publicação tem dedicado espaço e cobertura de forma diferenciada,
conforme seus próprios interesses e os interesses políticos dos seus leitores, em sua maioria
das classes A e B, conforme constatou pesquisa acadêmica de Fábio Jammal Makhoul.91
Indo diretamente para os resumos dos fatos, conforme publicado pela própria Veja em
seu site:
No Brasil, 2005 entrou para a história como o ano em que o vocabulário da
roubalheira nacional ganhou a palavra "mensalão". Um dos períodos em que o
Brasil assistiu à mais alucinante sucessão de escândalos de desvio do dinheiro
público teve início com um vídeo em que Maurício Marinho, chefe de
departamento nos Correios, é flagrado embolsando uma propina de 3.000
reais. Divulgado por VEJA em maio daquele ano, o vídeo levou o então
deputado Roberto Jefferson a denunciar as entranhas do petismo e acabou por
desencadear a maior crise política do governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.92
O que se chamou de “mensalão” foi um possível esquema em que deputados
receberiam uma mesada do governo federal para aprovar projetos de seu interesse. A
organização do esquema – que mais tarde se revelou ser para fazer caixa de campanhas, e
ultrapassou as fronteiras do “petismo” e atingiu o senador Eduardo Azeredo, do PSDB,
igualmente denunciado no Supremo Tribunal Federal (STF) – ficava a cargo de Delúbio
Soares, na época tesoureiro do PT e os pagamentos realizados pelo publicitário Marcos
91
MAKHOUL, Fábio Jammad. A cobertura da revista Veja no primeiro mandato do presidente Lula.
Dissertação (Mestrado) em Ciências Políticas apresentada à Pontifícia Universidade Católica em 12 de maio de
2009, orientado por Vera Chaia. 92
Revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/mensalao-pt-marcos-valerio-delubio-
soares-jose-dirceu-roberto-jefferson.shtml>. Acesso em: 16 de ago. 2011.
Valério, feitos com dinheiro desviado de empresas estatais.93
A crise desencadeada pelas
denúncias de Jefferson chegou a pressionar o presidente Lula, de modo que a oposição e a
própria publicação (Veja) passaram a pedir o seu impedimento. A denúncia da possível
“negociação” foi entregue pelo Ministério Público (MP) ao STF seis meses depois da sua
deflagração, o que incluía 40 nomes de políticos ligados ou não ao PT. Entre os que sofreram
prejuízos políticos e perdas de cargo no governo estão José Dirceu, Antonio Palocci, Silvio
Pereira e José Genoíno. A denúncia foi acolhida em agosto de 2007.
Veja dedicou ampla cobertura da crise política desencadeada pela propina nos
Correios, incluindo 18 capas sobre o tema. Segundo levantamento realizado por Makhoul em
sua dissertação, entre 2005 e 2006 Veja dedicou 49 capas negativas ao presidente Lula, o que
incluiu a cobertura do Mensalão do PT.
A revista não foi nada sutil em sua estratégia, pelo contrário, foi arrogante,
agressiva, preconceituosa. O preconceito, aliás, foi uma das modalizações
discursivas contra o governo mais utilizadas pela publicação, principalmente
na capa. Desde o primeiro ano do mandato, em 2003, a revista procurou
tematizar sobre a ética no PT. O enunciador sempre deixou claro que ela não
passava de discurso para chegar ao poder, mas, assim que os escândalos
começaram, Veja tratou de provar que o PT era pior que os demais partidos
neste quesito. Entre os muitos preconceitos despejados pelo enunciador na
capa está a associação entre o PT e bandidos; de traficantes a assassinos.94
Já o Mensalão do DEM – que, sintomaticamente, não conta com resumo no site de
Veja –, explodiu, de forma inequívoca, com a Operação Caixa de Pandora, da Polícia
Federal, que, com a colaboração de Durval Barbosa, ex-secretário nos governos de José
Roberto Arruda e Joaquim Roriz, do Distrito Federal, revelou um esquema de pagamento de
propinas, fartamente documentado em trinta vídeos feitos pelo próprio Barbosa. No dia 27 de
novembro de 2009 a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em 24
endereços, recolhendo computadores, documentos, e R$ 700 mil em espécie.
Com a autorização do STF, a PF colocou equipamentos de gravação nas roupas de
Barbosa quando este se reuniu com Arruda para negociar valores para pagamento da base
aliada do governo que aprovaria projetos de seu interesse. A partir daí, as provas se tornaram
irrefutáveis. O impedimento de Arruda foi solicitado pela Ordem dos Advogados do Brasil
93
Idem. 94
Entrevista concedida por Makhoul a Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador. Disponível em:
<http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/pesquisa-da-puc-veja-se-transformou-no-maior-fenomeno-de-
anti-jornalismo.html>. Acesso em: 17 de ago. 2011.
(OAB) no final de novembro de 2009, após os vídeos terem sido amplamente divulgados
pelas emissoras de televisão. O pedido incluiu também o vice-governador Paulo Octávio e
três deputados distritais.
Em 11 de fevereiro de 2010 foi pedida a prisão preventiva de Arruda, sob a acusação
de dificultar a apuração do esquema pela PF. Ao pedir desfiliação do DEM, o partido que o
elegeu, Arruda é acusado pelo Tribunal Superior Eleitoral de infidelidade partidária, e tem seu
mandato cassado. Assume então o seu vice Paulo Octávio, que renuncia em 23 de fevereiro.
Em 25 de julho de 2010, enfim, a Câmara Legislativa do Distrito Federal sugere ao Ministério
Público do DF o indiciamento de 22 pessoas, entre elas Arruda, Octávio e Roriz.
Apesar da grande repercussão causada com a exibição exaustiva dos vídeos em que
políticos e funcionários do DF aparecem recolhendo maços de notas em bolsos, meias e
cuecas, Veja não deu a mesma cobertura dedicada ao Mensalão do PT. Quando a Operação
Caixa de Pandora deflagrou o esquema, Veja estampou, quase uma semana depois, em 2 de
dezembro, a chamada de capa “O poder da Autoajuda”. Havia sim, matéria de cinco páginas
explicando como funcionava o esquema. Mas somente na edição seguinte, de 9 de dezembro,
fez referência ao farto registro em vídeo da corrupção no DF, estampando uma meia cheia de
dinheiro, com a chamada “O Natal dos safados”, sem nominar o partido envolvido no
escândalo. Nas edições seguintes, o tema sumiu das capas.
Havia, entretanto, um dado que parecia justificar o pouco destaque dado pela
publicação ao evento jornalístico: Arruda, até a deflagração do esquema, era o político mais
cotado para ocupar a vaga de candidato à vice-presidência na chapa do então pré-candidato
José Serra. Embora envolvesse esquema similar de pagamento de propinas, de desvendar os
meandros da distribuição do dinheiro e de documentar parte dos atos ilícitos, a pauta não
alcançou as capas de Veja, muito embora, ao contrário do Mensalão do PT, os envolvidos
tivessem perdido os seus mandatos, seja por falta eleitoral, seja por renúncia.
Quanto ao preceito básico do bom jornalismo, que é dar voz aos envolvidos e aos
acusadores para que o leitor faça, daí, o seu juízo, parece ter sido abandonado nas duas
ocasiões. Prevaleceram os interesses da publicação, como aponta Makhoul:
Essa história de imparcialidade da imprensa não existe. Os veículos de
comunicação são empresas e têm seus interesses e preferências políticas. O
jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, sempre foi conservador e nunca
escondeu isso. Assumir uma posição ideológica ou política não é ruim. É até
saudável e democrático, os grandes jornais da Europa e dos Estados Unidos
fazem isso. Pelo menos, o leitor sabe claramente qual é a orientação editorial
da publicação. O problema é quando se abandona o jornalismo para se
transformar num panfleto político-partidário. E foi o que aconteceu com Veja
de 2005 para cá.95
Impossível não incluir nessa discussão o momento de crise por que passa o jornalismo
escrito face o avanço das mídias digitais, especialmente a internet. A perda intensa de leitores
para os blogs e versões online dos jornais – em alguns casos publicações que deixaram de
circular para se restringir aos sites, como o caso recente do Jornal do Brasil – e a
possibilidade imediata de verificação das informações prestadas pelos jornais, se não têm
mudado radicalmente a forma de praticar o jornalismo, tem colocado em confronto as versões
impressas e online. Tanto que a maior parte das denúncias resultantes do processo eleitoral de
2010 teve merecida desmontagem imediata por conta de leitores atentos que buscam a
informação correta e desmontam as versões publicadas por jornais, revistas e até mesmo
veiculadas pela televisão. Dessa forma, é possível analisar que houve duas correntes de
interpretação com coberturas tendenciosas, mas que se posa de imparcial.
Esse cenário, segundo Wilson Gomes, surge ante a emergência da sociedade do
espetáculo, que fez da política uma arte de representações. Para fazer frente a ela e defender
posições políticas veladas, os meios de comunicação recorrem também a representações
próprias. Cabe ao político constituir múltiplos personagens para, no palco dos meios de
comunicação, conseguir construir uma representação positiva para atingir o receptor.
A arte da produção de boas representações consiste, então, em dominar os
recursos pelos quais se estabelecem as estratégias que prevêem e solicitam as
respostas da recepção. Para tanto, a arte deve ser capaz de controlar bem a
elaboração de três ou quatro elementos que, em ordem decrescente de
importância, segundo a perspectiva de Aristóteles, constela-se no quadro
seguinte:
a) a composição do enredo ou a economia da narração ou encenação;
b) a caracterização dos personagens ou a economia da “personalidade” (em
sentido teatral). Primeiro do ponto de vista das características estáveis
psicológico-morais do personagem, depois a partir da expressão
lingüística pela qual se exteriorizam as reflexões e decisões do
personagem e que figuram uma sua identidade;
c) a composição dos meios da representação: a linguagem, o ritmo, a
melodia (quando for o caso) e o cenário.96
95
Idem. 96
GOMES, Wilson. Transformações da política na Era da comunicação de massa. Paulus, Rio de Janeiro, 2004,
p. 296.
Foi o que conseguiu fazer, por exemplo, o então presidente Lula. Ante as denúncias,
manteve sua representação, tornando-se inatingível pela campanha midiática que pedia seu
impedimento. Não só conseguiu se reeleger como elegeu sua sucessora, demonstrando
domínio do chamado theatrum politicum.97
Desta forma, há de se reconhecer que as
ferramentas do marketing político, apesar de serem vistas ainda de maneira preconceituosa,
têm contribuído para um melhor desenvolvimento nas estratégias de ações na construção de
uma imagem sólida do governante e do candidato.
Em resumo, o que se procurou apresentar neste capítulo é a história do surgimento do
Marketing Político e da Propaganda Eleitoral no Brasil e tentar mostrar como eles têm
evoluído nos últimos anos. É possível dizer, em linhas gerais, que sua grande transformação
ocorreu a partir das eleições para a presidência da República de 1989, por ter apresentado
diversas novidades depois de mais de vinte anos sem eleições diretas. Foi a partir desse
cenário que as campanhas eleitorais se desenvolveram efetivamente e de maneira mais
profissional. Ou seja, usando como aliados fundamentais a propaganda política, as pesquisas
de opinião, os programas de debates político – nas cidades que possuem TV aberta. Por fim,
que a cobertura da imprensa e sua maneira como é conduzida pode afetar positiva ou
negativamente no processo de decisão do eleitorado, dependendo de um posicionamento do
candidato para que ele construa sua imagem ante o eleitorado.
No próximo capítulo faremos uma análise das premissas e variáveis para as eleições
de 2010 para tentar entender o caminho percorrido pela campanha de Mercadante para, a
partir daí, iniciar a nossa pesquisa empírica.
97
O teatro da política, o que Gomes define como “A política e arte de compor representações”.
Capítulo 3
Premissas e variáveis para as eleições 2010
3.1 Histórico político de Aloizio Mercadante
Aloizio Mercadante Oliva nasceu em Santos (SP) em 13 de maio de 1954, filho de um
general do Exército e ex-comandante da Escola Superior de Guerra. Casou-se em 1984 com a
socióloga Maria Regina Barros, com quem tem dois filhos: Mariana e Pedro. Formou-se em
Economia pela Universidade de São Paulo (USP), tendo cumprido os programas de Mestrado
em Ciência Econômica e de Doutorado em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). Atuou no movimento estudantil ainda quando secundarista, quando foi
presidente do Centro Acadêmico de Visconde da Cairu e da Associação Atlética da mesma
escola, quando ajudou a organizar protestos contra o assassinato do estudante Alexandre
Vannucchi Leme98
e do jornalista Vladimir Herzog pela Ditadura Militar. Na universidade,
foi presidente do Centro Acadêmico da Faculdade de Economia e Administração da USP em
1975 e participou do Diretório Central dos Estudantes DCE Livre.
É professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e
da Unicamp. Presidiu também a Associação de Professores da PUC/SP de 1979 a 1984; e de
1982 a 1983 foi Vice-Presidente da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior
(ANDES).99
Começou a trabalhar formalmente em 1974, aos vinte anos, como estagiário
pesquisador na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Iniciou sua carreira
política partidária em 1980 no Partido dos Trabalhadores do qual foi um de seus fundadores,
além de assessor econômico. Participou da elaboração dos programas de governo do PT e, em
1982, nas eleições para governo do Estado de São Paulo, coordenou o Programa de Governo e
a campanha eleitoral do PT. No ano seguinte, ajudou a fundar a Central Única dos
Trabalhadores (CUT), durante o 1º. Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, realizado
em São Bernardo do Campo (SP). De 1984 a 1988 foi assessor econômico da entidade.
Participou como coordenador das campanhas presidenciais em 1989, 1994, 1998 e 2002.
Esteve à frente da vice-presidência Nacional do PT de 1991 a 1998. Em 1994 foi candidato à
98
Estudante de Geologia da USP foi torturado até a morte, aos 22 anos, pela ditadura militar, em 1973, por
integrar o movimento estudantil e militar no grupo clandestino Ação Libertadora Nacional (ALN). Em sua
homenagem o DCE Livre da USP traz o seu nome. 99
Currículo Lattes. Disponível em: < http://lattes.cnpq.br/6976756962014956>. Acesso em: 26 de ago. 2011.
Vice-Presidente da República com Luiz Inácio Lula da Silva.100
E em 1996 foi candidato a
Vice-Prefeito de São Paulo na chapa de Luiza Erundina.
Nas eleições de 2006 e 2010, pleiteou o cargo de governador de São Paulo, tendo
recebido, respectivamente, 6.771.582 votos na disputa com José Serra e 8.016.866 votos com
Geraldo Alckmin.101
Sendo que nos dois pleitos a votação foi insuficiente para chegar ao
segundo turno. No entanto, é possível observar que houve uma evolução expressiva na
votação da primeira para a segunda eleição.
Em 1990 se elegeu Deputado Federal (1991-1995), o mais votado do PT, sendo eleito
novamente em 1998 para o mandato de 1999 a 2003, ocasião em que foi o candidato ao cargo
mais bem votado do país, com 241.559 votos.102
Permaneceu até o final dos dois mandatos.
Nesses dois períodos foi membro de diversas comissões da Câmara dos Deputados entre as
mais importantes, no primeiro mandato, à Comissão de Finanças e Tributação e à Comissão
de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Integrou, no Congresso Nacional, a Sub-
Comissão Bancária da CPMI do Collor e a CPMI do Orçamento. Nesse mesmo mandato, em
1991, foi vice-líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados. No segundo mandato foi
presidente da Comissão de Economia, de 1999 a 2000, e da Indústria e Comércio, tendo
participado também da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. E no Congresso
Nacional atuou como membro da Comissão Mista de Combate à Pobreza. Liderou a Bancada
do PT de 2000 a 2001, e foi vice-líder da mesma Bancada de 2001 a 2002.
Em 2002 foi eleito como Senador mais bem votado do país até então, com 10.497.348
votos.103
No período de 2003 a 2011 atuou como membro em várias Comissões, as de maior
destaque foram a Presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (2007 a 2009) e
participação na de Justiça e Cidadania. Além de líder, em 2003, do Governo no Congresso
Nacional e no Senado Federal de 2003 a 2006, foi e Líder da Bancada do PT e do Bloco de
Apoio ao Governo de 2009 a 2010.
Em agosto de 2009 Mercadante se mostrou descontente com a decisão do PT de
arquivar a abertura de investigação contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB), no
Conselho de Ética. Chegou a anunciar publicamente que renunciaria à liderança do partido no
Senado, mas desistiu após conversa com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua
100
Idem. 101
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 102
Idem. 103
Ibidem.
posição política dentro do partido é ligada à mesma corrente que pertence Lula, entre outros
políticos renomados do PT, campo majoritário, a Construindo um Novo Brasil (CNB).104
Já
no primeiro Congresso do PT, o partido tinha dezesseis correntes.105
E esse foi um dos fatores
que trouxe para a arena política um partido como novidade em sua organização, pois essas
correntes propiciavam debates mais valiosos.
Desde 2007 Mercadante tem atuado como Representante do Brasil no Parlamento do
Mercosul, que presidiu entre 2008 e 2009 e atuou como vice-presidente em 2009 e 2010.
Retornou à presidência do órgão em agosto de 2010 onde permanece até hoje. Atualmente é
Ministro da Ciência e Tecnologia no Governo de Dilma Rousseff.106
3.2 Campanha de 2010
A oficialização do nome de Aloizio Mercadante na disputa ao governo de São Paulo
ocorreu em 29 de março de 2010, quando o senador Eduardo Suplicy – que também concorria
internamente – desistiu da candidatura depois de ter sido convencido pela Executiva Estadual
do PT em favor de Mercadante. Mesmo com os resultados de pesquisas indicando que
Suplicy aparecia à frente do outro candidato, o primeiro com 19%, o segundo com 13%, o PT
decidiu que deveria investir mais uma vez em Mercadante que, em 2006, havia vencido as
prévias no partido contra Marta Suplicy, e concorreu à eleição para o governo do Estado
contra o então candidato José Serra (PSDB), que se saiu vitorioso com 57,93% contra 31,68%
dos votos válidos.107
Já o lançamento oficial de sua pré-candidatura, em 2010, ocorreu quase
um mês depois, em 24 de abril, em encontro no Sindicato dos Bancários paulista, no centro de
São Paulo.
Na disputa, além dos candidatos que polarizaram a escolha do eleitor, Mercadante e
Alckmin, concorreram os candidatos Celso Ubirajara Russomanno, pelo Partido Progressista
104
A CNB surgiu em 1983, depois do Manifesto dos 113 – era simbolicamente liderado por Lula, o grupo tinha
como objetivo principal dar um centro político unificador ao partido, defesa pelo PT de massas, de luta e
democrático – em busca da organização de uma grande parte de militantes oriundos de vertentes da esquerda
histórica e que não faziam parte das tendências já existentes no partido. No início de sua criação, a corrente foi
denominada de Articulação-Unidade na Luta. Posteriormente outros grupos foram se agregando, por isso nos
anos 2000 o nome foi mudado para Campo Majoritário, depois de 2005 a corrente passou por uma reorganização
mudando o nome para Construindo um Novo Brasil. 105
SECCO, Lincoln. História do PT 1978-2010. Ateliê Editorial, Cotia – SP, 2011, p. 92-93. 106
Currículo Lattes. Disponível em: < http://lattes.cnpq.br/6976756962014956>. Acesso em: 26 de ago. 2011. 107
Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
(PP);108
Paulo Antonio Skaf, Partido Socialista Brasileiro (PSB);109
Fábio José Feldmann pelo
Partido Verde (PV);110
Luiz Carlos Prates (conhecido como Mancha), Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado (PSTU);111
Anaí Caproni Pinto, Partido da Causa Operária
(PCO);112
Paulo Bufalo, Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)113
e Igor Grabois, Partido
Comunista Brasileiro (PCB).114
O quadro político das eleições de 2010 acenava para uma disputa acirrada entre
Aloizio Mercadante e Geraldo Alckmin devido às variáveis a favor do candidato do PT, pois
o partido contava com um crescimento nunca visto na história do PT e do país, e com a
aprovação recorde de 85% do governo de Lula.115
Acreditava-se que de alguma forma esse
percentual poderia contribuir para atrair votos para Aloizio Mercadante. Outras variáveis que
também apontavam para um páreo acirrado entre PT e PSDB incluíam o fato de o governo do
Estado estar nas mãos do PSDB desde 1995, ou seja, o quarto mandato consecutivo à frente
do governo de São Paulo. Acredita-se que nesse período o trabalho realizado pelas gestões de
Mário Covas, Alckmin e Serra não evoluiu o suficiente nas áreas da Saúde, Transporte
Público, Habitação, Educação e Segurança Pública; a ponto da população sentir que o Estado
não oferece serviços públicos e proteção que cause bem-estar social. Aliás, sobre essas duas
últimas áreas, a Educação foi marcada, no governo de José Serra, pela falta de diálogo entre
governo e professores;116
e a Segurança Pública, no primeiro e no segundo mandatos de
108
Ex-PPB, nasceu da fusão do PPR (Partido Progressista Reformador) com o PP e PRP. Sua base é formada por
políticos do antigo PDS, surgido da antiga ARENA. Seu principal representante no Estado de São Paulo é Paulo
Maluf. 109
Com o final do Estado Novo, formou-se a Esquerda Democrática, abrindo espaço para a fundação do partido,
1947, com base em ideias socialistas que buscam a transformação da sociedade, a melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos brasileiros. Seus principais fundadores: José Lins do Rego, Jader de Carvalho, Sergio Buarque de
Hollanda e Antonio Candido. 110
Criado em 1986, de base ideológica ecológica, suas lutas são em busca de uma sociedade capaz de crescer
com respeito à natureza, com direitos civis, qualidade de vida e forma alternativa de gestão pública. Um dos
principais fundadores é Fernando Gabeira. 111
Fundado em 1994 por dissidentes do PT, sua base é formada por ideias do antigo regime do Leste Europeu.
Defende o fim do capitalismo e busca um sistema que os trabalhadores consigam mais poder e participação
social. 112
Dissidente do PT, seus formadores eram militantes da corrente Causa Operária do PT, que foram expulsos do
partido em 1991 por discordarem das ideias de alianças com outros partidos. Defende um governo operário, luta
pelo socialismo e a independência de classe diante da burguesia. Seu registro oficial se deu em 1997. 113
Criado por dissidentes do PT, em 2004. Luta pelo socialismo como forma de governo, é um partido de
esquerda contrário ao sistema capitalista e ao neoliberalismo. 114
Formado em 1922, é um partido de esquerda baseado nas ideias de Marx e Engels. É contra o sistema
capitalista e o neoliberalismo. 115
Pesquisa realizada pelo Instituto IBOPE de 25-27 setembro de 2010 sobre a aprovação do presidente.
Pergunta: o (a) sr(a). aprova ou desaprova a maneira como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem
administrando o país? 116
Manifestação de professores na USP, em 2010, por melhores condições de trabalho.
Geraldo Alckmin, experimentou a afirmação do poder da facção criminosa Primeiro
Comando da Capital (PCC), desafiando o Estado. Em 2001 a facção comandou uma grande
rebelião em 29 equipamentos prisionais do Estado e que causou a morte de 16 pessoas. Em
2003, ela seria responsável pelo assassinato do juiz-corregedor Antônio José Machado Dias e,
já em 2006, conseguiu paralisar o Estado disseminando o pânico entre a população. O
resultado dessa última iniciativa foram 207 mortos, entre agentes penitenciários, policiais
civis e militares, agentes de segurança, guardas municipais e civis. Nesse período, o governo
do Estado estava sob o comando de Cláudio Lembo (então PFL, hoje DEM), vice-governador
que assumiu em substituição a Geraldo Alckmin, afastado para disputar a presidência da
República nas eleições de 2006.117
Na época dos ataques do PCC, Geraldo Alckmin estava
fora do Brasil e foi procurado pelo programa Dateline, do canal australiano SBS para uma
entrevista. Ele aceitou, mas se recusou a continuar a entrevista quando o assunto foi abordado.
Lembrou ao repórter que o assunto em pauta era de responsabilidade do governador Cláudio
Lembo, seu vice.118
Apesar de tantas variáveis envolvidas em favor de Mercadante, o pleito dava sinais de
que a campanha não seria uma tarefa fácil de conduzir e o PT em São Paulo teria uma missão
bastante árdua. Por exemplo, a militância teria de dividir esforços entre as campanhas
estadual, presidencial e legislativa. Outra questão era que no Estado de São Paulo, maior
colégio eleitoral do País, o PSDB se inseria com mais força, ou seja, detinha o maior número
de cargos, seja no Executivo ou no Legislativo. Enquanto o PSDB tinha em seu poder 216
prefeitos, o PT possuía 64, menos de um terço das prefeituras. Em relação à vereança, o
PSDB somava 1.170 vagas. Já o PT apresentava pouco menos da metade, 520. Até em
relação à quantidade de vice-prefeitos o PT se saía com menor força; enquanto o PSDB tinha
em seu quadro 137, o PT possuía 62. Quando se mensurava os deputados federais o PSDB
tinha em cena 17 e o PT 14. Já os deputados estaduais 21, e o PT 19.119
Dentro dessa configuração, o PSDB detinha 31,8% do total dos prefeitos em relação a
todos os partidos envolvidos, destacando-se em primeiro lugar; e o PT 10,2%, posicionando- 117
STORINO, Fabio Franklin. Um partido, três agendas? Política de Segurança Pública no Estado de São Paulo
(1995-2006). Tese (Doutorado) em Administração Pública e Governo apresentada a Fundação Getúlio Vargas
em 2008, orientado por Fernando Luiz Abrucio. 118
Acervo digital do jornal Folha de S. Paulo. Questão sobre o PCC fez Alckmin parar entrevista a TV
australiana. Primeiro caderno, 12 de outubro de 2006, p, A6. In <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 9 de
set. 2011. 119
Revista IstoÉ Independente. Disponível em:
<http://www.istoe.com.br/reportagens/60731_MERCADANTE+E+ALCKMIN+ENTRAM+NO+JOGO>.
Acesso em: 16 de set. 2011.
se em quarto lugar. O partido que estava mais próximo do PSDB, em segundo lugar, era o
DEM (11,5%), e em terceiro, o PMDB com 11,1% dos prefeitos. O partido que aparecia mais
próximo do PT era o PTB com 9,5%. Os outros partidos apareciam com participação abaixo
dos 5% do total.120
Para demonstrar melhor o cenário apresentado naquele momento, seguem
gráficos que ilustram o que acabamos de citar.
O tamanho dos partidos no Estado de São Paulo
Gráfico 3 - FONTE: revista IstoÉ Independente121
120
Fundação Prefeito Faria Lima – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM).
Perfil dos prefeitos do Estado de São Paulo: 2009 a 2012. Disponível em:
<http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/Perfil/perfil_completo_web_.pdf>. Acesso em: 16 de set. 2011. 121
Disponível em:
<http://www.istoe.com.br/reportagens/60731_MERCADANTE+E+ALCKMIN+ENTRAM+NO+JOGO>.
Acesso em: 16 de set. 2011.
Prefeituras do Estado de São Paulo divididas por partido
Gráfico 4 – FONTE: TSE e Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM)122
Nesse contexto fica evidente que o cenário era a favor de Alckmin. Por outro lado,
havia variáveis favoráveis para o PT, como o seu crescimento em nível nacional, aliado à
popularidade do então presidente Lula, companheiro partidário de Mercadante, e a formação
de alianças com outros partidos para tentar quebrar a hegemonia do PSDB no Estado, que
resultou na Coligação União para mudar, que abarcou os partidos PRB, PDT, PTN, PR,
PSDC, PRTB, PRP, PC do B e PT do B.
A coordenação da campanha de Mercadante acreditou nessas variáveis e desenvolveu
estratégias para pegar os pontos vulneráveis do opositor, conforme relata o vereador Chico
Macena, um dos articuladores da campanha:
A orientação desde o início foi apresentar propostas que tirassem o estado de
São Paulo do imobilismo. Vamos lembrar que no auge do crescimento
econômico do país, todos os estados cresceram, aproveitando as políticas do
governo Lula e São Paulo foi o estado que menos cresceu. Além de
apresentar propostas para educação, saúde e segurança (problemas que São
Paulo não resolveu) e, projeto de desenvolvimento que incorporasse
propostas regionais.123
122
Disponível em: <http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/Perfil/perfil_completo_web_.pdf>. Acesso em: 16 de
set. 2011. 123
MACENA, Chico. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 5 de set. 2011. Todas as referências a esse
nome inseridas nesta monografia referem-se a essa entrevista.
Nesse sentido, o Programa de Governo de Mercadante foi pensado e elaborado com
base nas realizações dos oito anos de Lula na presidência do país. O primeiro item de sua
estrutura evidencia que os projetos de Mercadante, caso eleito, seguiria a linha da gestão do
PT na presidência da República: “(...) estabilidade, crescimento, distribuição de renda,
democracia, liberdade, respeito internacional, liderança na agenda ambiental e elevado grau
de aprovação popular. O exemplo de Lula guiará Mercadante na transformação de São
Paulo”.124
Dentro dessa configuração, o programa mostra que uma das suas principais
estratégias era colar a imagem do candidato ao governo à imagem de Lula. O slogan também
deixa claro essa ideia: O que Lula fez para o Brasil, Mercadante poderá fazer por São Paulo.
O segundo item de sua estrutura revela como parte da estratégia eleitoral aproveitar
como oportunidade os problemas que as últimas gestões do PSDB haviam deixado. No
programa é feita uma citação que generaliza o período político pós-ditadura, incluindo os
mandatos do PMDB (1983-1994) e do PSDB (1995-2010): “Depois de 27 anos de comando
do mesmo grupo político, São Paulo não desenvolveu o seu potencial econômico e os
problemas sociais se agravaram. São Paulo não acompanhou o Brasil que Lula construiu e
está ficando para trás”.
Ao comparar as propostas dos planos de governo dos dois candidatos, percebe-se que
há discrepância entre as propostas de Alckmin e as de Mercadante. O primeiro procura manter
as políticas iniciadas pelo PSDB desde sua primeira gestão, em 1995, ou seja, reforça uma
ideia de continuidade das políticas dos governos anteriores, tratando-as com coesão. Há
apenas um diferencial no item “Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda”125
referente
às desonerações tributárias iniciadas na sua última gestão no governo (2002 e 2006) e que
foram interrompidas por José Serra quando este assumiu o governo em 2007. Alckmin propõe
reduzir os tributos com o objetivo de maximizar a competitividade dos produtos no Estado. Já
na Educação, ele promete valorizar os professores de maneira contínua, ampliar as escolas
que atendem em horário integral e “ampliar os cursos à distância oferecidos pela Universidade
Virtual do Estado de São Paulo (Univesp)”.126
Na área da Saúde, Alckmin promete
aperfeiçoar o Programa de Saúde da Família (PSF) fazendo a integração com os programas
de transferência de renda, e propõe parceria entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e entidades
filantrópicas. Já na Segurança, Alckmin apresenta propostas de ampliação na construção de
124
Bases do Programa de Governo 2010 de Aloizio Mercadante, p. 6. 125
Propostas de eleições 2010 de Geraldo Alckmin, p. 9. 126
Idem, p. 7.
presídios, aumento na quantidade de delegados de polícia e extinção da carceragem nas
delegacias. E no Transporte, continua prometendo a ampliação do metrô, além de propor a
criação de um terceiro terminal no Aeroporto de Guarulhos (em parceria com o Governo
Federal) e “viabilizar o Expresso Aeroporto” expandindo o trem metropolitano para
Guarulhos. E a construção de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na Baixada
Santista.
Enquanto Mercadante apresenta propostas de políticas aliadas com os programas
desenvolvidos pelo governo Lula. A estrutura do programa de governo de Mercadante elege
como prioridades as áreas de Educação, Segurança Pública, Saúde, Transporte Público e
Habitação. Na Educação, Mercadante apresenta uma Nova Política de Educação com
“prioridade absoluta” para a contratação de professores; promete extinguir o sistema de
aprovação automática, propõe a construção de escolas e a criação de cursos noturnos para
adultos, além de articular com a USP, Unesp e Unicamp (universidades estaduais) a criação
da “Universidade do Professor”, incentivando a formação contínua em toda rede estadual. Na
área da Saúde, diferentemente de Alckmin, propõe ampliar a parceria com o governo federal
para os programas já existentes criados pelo governo do PT, entre eles o Programa Saúde da
Família (PSF) e com as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Na Segurança, propõe
implementar com prioridade uma Nova Política de Segurança Pública , “que assegure o
direito à vida e à integridade física dos jovens”.127
O grande passo para isso é reformular os
planos de carreiras, investir em formação continuada para a valorização dos policiais e
agentes penitenciários. Também defende a integração das polícias com o governo federal,
com a Polícia Federal e com o Programa Nacional de Segurança e Cidadania (Pronasci) no
Estado. Apresenta propostas de integração dos órgãos do Sistema de Justiça Criminal e
Segurança, ou seja, entre as forças policiais, o Poder Judiciário, o Ministério Público e as
Guardas Municipais. O programa mostra uma preocupação em ampliar o controle policial dos
presídios apresentando proposta de reconstrução do sistema prisional. No transporte, assim
como nas demais áreas mencionadas, o seu programa de governo apresenta propostas de Nova
Política de Transporte Público. Porém, nessa área as propostas são similares em relação à
ampliação do metrô e à construção da linha de trem em Guarulhos. Em relação aos pedágios,
área que o PT insistiu em atacar o governo do PSDB pelo aumento das praças de cobranças e
127
Bases do Programa de Governo 2010 de Aloizio Mercadante, p. 28.
pelo preço abusivo, Mercadante apresenta proposta de redução das tarifas após reavaliação
dos contratos entre governo e concessionárias das rodovias.
3.3 Divergência das pesquisas
Já no processo de campanha, as primeiras pesquisas para governador foram realizadas
entre 27 a 29 de julho pelo Instituto IBOPE e publicadas no dia 30 de julho. Mostravam
Alckmin na dianteira com 50% de intenção de voto e Mercadante com 14%. O mesmo
Instituto divulgou uma segunda pesquisa um mês depois, realizada entre 24 e 26 de agosto, e
que apontava um crescimento importante nas intenções de voto em Mercadante, que aparecia
com 23%, ou seja, crescimento de 9 pontos percentuais (p.p.) em relação à primeira pesquisa.
Alckmin, com 47%, mantinha de certa forma o mesmo quadro do mês anterior, dentro da
margem de erro.
Novas pesquisas foram realizadas entre 31 de agosto e 2 de setembro, publicadas em 4
de setembro, revelando que Alckmin havia crescido 4 p.p. em relação ao período anterior:
aparecia com 51% enquanto Mercadante tinha 20%, ou seja, o mesmo quadro, levando em
consideração a margem de erro de 2 p.p.. O IBOPE realizou, uma semana depois, outra
pesquisa divulgada no dia 10 de setembro que apontava uma queda de 5 p.p. de Alckmin, que
aparecia com 46%; e Mercadante, com 22%, continuava oscilando dentro da margem de erro.
Na semana seguinte, 17 de setembro, foi divulgado que Mercadante voltava a crescer
gradualmente, 24%, enquanto Alckmin aparecia com 48%, dando sinais de que mantinha a
mesma posição do início da campanha, quando apareceu com 50%.
As pesquisas realizadas uma semana antes da eleição, em 25 de setembro, revelavam
praticamente os mesmo números para Alckmin 48%, enquanto Mercadante se mantinha em
crescimento, com 26%. Um dia antes do dia da eleição, 2 de outubro, nova pesquisa
apresentava novo crescimento para Mercadante (29%), enquanto Alckmin aparecia com 45%,
uma baixa de 5 p.p. em relação à primeira pesquisa. Com isso surgia um novo cenário
eleitoral, que apontava para uma possível disputa no segundo turno, pois Mercadante havia
crescido 15 p.p. desde a primeira pesquisa.128
Ou seja, se considerada a margem de erro, que é
de dois pontos percentuais para mais ou para menos, haveria a possibilidade do candidato do
PSDB ter 49%, o que poderia provocar um segundo turno. Já quando considerados os votos
128
Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE). Disponível em: <www.ibope.com.br>. Acesso
em: 12 de set. 2011.
válidos, Alckmin chegaria a 51% enquanto Mercadante teria 33%. Na reta final da campanha
as pesquisas de diversos institutos apontavam divergências que levantavam dúvidas se haveria
ou não uma disputa no segundo turno.
A incerteza se acentuava principalmente quando se verificava o resultado das
pesquisas de outros institutos, como as do Datafolha, que desde agosto apresentavam
Alckmin à frente, com certa vantagem (54%), e Mercadante com 14% das intenções de voto.
As pesquisas realizadas por este instituto seguiram mostrando o candidato do PSDB sempre
na dianteira, com algumas oscilações em virtude do crescimento do candidato do PT, até a
véspera da eleição, quando apresentava números que definiam a eleição já no primeiro turno,
levando em consideração os votos válidos: Alckmin com 55% contra 28% de Mercadante.129
Quando os resultados de um terceiro Instituto de Pesquisa eram analisados, do Vox
Populi, estes indicavam a possibilidade do pleito ser disputado no segundo turno. Nas
pesquisas feitas em julho Alckmin aparecia com 47%, e Mercadante com 18%. Em agosto
Alckmin aumentou dois pontos percentuais, ou seja, subiu para 49% – dentro da margem de
erro –, e Mercadante também mantinha a margem de erro, com 17%. Já na última pesquisa
realizada antes das eleições, em setembro, Alckmin perdia 9 p.p. em relação ao mês anterior,
enquanto Mercadante (28%) crescia 11 pontos percentuais.130
Em relação aos índices de rejeição dos dois candidatos, pesquisas realizadas no início
da campanha, mais precisamente entre 27 a 29 de julho, pelo IBOPE mostram que o candidato
da oposição iniciou a campanha com uma rejeição de 17%. Enquanto o candidato da situação
apresentava 13%. Já as pesquisas do Datafolha, no mesmo período, revelava uma rejeição
maior para Mercadante 20% e Alckmin com 14%. Ao final da campanha, o IBOPE levantou,
de 21 a 23 de setembro, que Mercadante tinha 19% contra 16% de Alckmin. Em alguns
momentos, durante a campanha, pesquisas realizadas pelo IBOPE (entre 24 e 26 de agosto),
apresentavam que ambos partilhavam de índices de rejeição semelhantes entre o eleitorado:
Mercadante 16% e Alckmin 15%.
No decorrer da campanha, mesmo com o candidato do PSDB se mantendo na
liderança das intenções de voto nas três pesquisas apresentadas, sua vantagem caía à medida
que a do candidato do PT progredia, diminuindo a distância e indicando um cenário mais
129
Datafolha Instituto de Pesquisas. Disponível em: <http://Datafolha.folha.uol.com.br>. Acesso em: 13 de set.
de 2011. 130
Vox Populi. Disponível em: <http://www.voxpopuli.com.br/eleicoes.html>. Acesso em : 13 de set. 2011.
favorável a uma segunda disputa, em novembro. Ou seja, os resultados das pesquisas
mostravam que Mercadante vinha ganhando força na reta final.
Diferentemente do cenário da campanha de 2006 quando o governo do então
presidente Lula (2003-2006) enfrentou uma agenda negativa na mídia devido aos escândalos
“Mensalão” e “Dossiê dos aloprados”, o que não reduziu o seu desempenho eleitoral – as
pesquisas davam 43% de intenção de votos –, a cena política na eleição de 2010 para
Mercadante foi bem mais propícia, como foi mencionado ao longo deste capítulo. Dessa vez o
governo do PT era avaliado positivamente, com mais de 85% de aprovação.
Foi nesse cenário que a campanha foi desenvolvida. A equipe de Mercadante
acreditava que os demais candidatos teriam desempenhos mais eficazes a ponto de interferir
no resultado do primeiro turno, conforme aponta o vereador Chico Macena:
A disputa ficou muito centralizada entre o Mercadante e Alckmin, tivemos
39 % dos votos e o Alckmin pouco mais que 50%, ou seja, foi por muito
pouco que não chegamos ao segundo turno. Acreditávamos que outros
candidatos teriam um desempenho melhor em cima dos votos do Alckmin,
como o Celso Russomanno, que obteve um bom desempenho durante os
debates. Também imaginávamos que Paulo Skaf teria um pouco mais de
votos, mas isso não ocorreu e por menos de 1% não conseguimos ir para o
segundo turno.131
A eleição, enfim, decidida no primeiro turno, registrou o total 11.519.314 de votos
para Alckmin e 8.016.866 para Mercadante, a maior votação do PT em eleições para o
governo do Estado de São Paulo. Tal insucesso foi atribuído pelos articuladores e militantes
do PT, entre outros motivos, ao voto conservador no Estado. Sobre tais afirmações, Secco é
enfático ao apontar que “(...) não existe povo naturalmente conservador”.132
E justifica sua
afirmação baseada nos dados da eleição presidencial, no Estado de São Paulo:
Dilma Rousseff obteve 37,31% dos votos contra 40,66% do adversário no
primeiro turno. Da diferença de cerca de catorze milhões e meio de votos
que ela obteve sobre o segundo colocado, quase nove milhões foram votos
paulistas. No segundo turno a vantagem de Dilma sobre Serra foi cerca de
doze milhões de votos. Em São Paulo ela obteve 10.462.447 milhões de
votos contra 12.308.483 de José Serra.133
131
MACENA, Chico. Questionário respondido para esta pesquisa em 5 de set. 2011.Todas as referências a esse
nome nesta monografia referem-se a essa entrevista. 132
SECCO, Lincoln. Op. Cit. p. 245 133
Idem.
A respeito dessa fundamentação, sabe-se que não existe apenas um, mas diversos
fatores que influenciam a decisão do voto, como: propaganda político-institucional,
propaganda eleitoral, identificação partidária, debates eleitorais, a mídia, etc.134
Nesse sentido,
o consultor de marketing político Justino Pereira, que participou da coordenação da campanha
de Mercadante, aponta, ao ser questionado sobre a hegemonia do PSDB no Estado, que existe
uma tendência conservadora de parte do eleitorado paulista, enquanto o PT cresce em várias
regiões do País:
Aparentemente, por algumas razões, entre elas: um certo viés conservador de
parte do eleitor paulista, em especial nas pequenas cidades; a forma pouco
agressiva/condescendente como a mídia paulista trata o governo do PSDB
paulista desde o mandato Mário Covas, a avalanche publicitária do governo
estadual (praticamente todos os programas noticiosos de TV e rádio tem
publicidade estatal diária), o fato de o PT desde 1982 só ter conseguido
repetir seu candidato a governador em 2006 e 2010 (o que dificultou a
construção da marca), alguns anacronismos na forma do partido fazer
campanha etc.135
Dentro dessa configuração, Pereira defende também que a mídia foi tendenciosa em
favor do PSDB, embora sua interferência venha reduzindo com o passar do tempo sobre a
decisão do voto. Para ele, o eleitor passou a buscar outras fontes de informações além da
mídia tradicional; porém, é inegável que a mídia seleciona critérios em sua pauta, de maneira
intencional ou não, o que acaba causando prejuízo para alguns candidatos em benefício de
outros:
Como em eleições passadas, a mídia tentou direcionar a opinião pública. O
resultado eleitoral mostrou que esse objetivo não foi alcançado, pois cada
vez mais as pessoas formam suas opiniões por outros meios, além da mídia
(conversa com parentes e amigos, vizinhos, colegas de trabalho, internet
etc.).136
Nesses últimos parágrafos entramos, de maneira sutil, nas possíveis causas que
levaram o eleitor a escolher o seu voto. Contudo, o objetivo deste trabalho é analisar as
134
Mais detalhes sobre a decisão do voto, consultar: BORBA, Felipe de Moraes. Razões para escolha eleitoral:
a influência da campanha política na decisão do voto em Lula durante as eleições presidenciais de 2002.
Dissertação (Mestrado) em Ciências Política apresentada ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro (IUPERJ) em 2005, orientado por Marcus Figueiredo. Disponível em:
< http://doxa.iesp.uerj.br/artigos/felipe_borba-dissertacao.pdf>. Acesso em: 19 set. 2011. 135
PEREIRA, Justino. Questionário respondido para esta pesquisa em 5 de jul. 2011. Todas as referências a esse
nome nesta monografia referem-se a essa entrevista. 136
Idem.
hipóteses criadas a partir das variáveis envolvidas na campanha de Aloizio Mercadante e que
não o ajudaram a se aproximar do candidato da situação nas pesquisas de intenção de voto, de
modo a evitar que o pleito fosse decidido no primeiro turno.
Assim, ficam abertas as questões, que serão analisadas no próximo capítulo – por meio
do desempenho do candidato no decorrer da campanha: nos debates, nos programas do
HGPE, na cobertura dos jornais impressos e da análise das justificativas dos envolvidos na
campanha: o que impediu o candidato da oposição de conseguir ao menos levar a disputa ao
segundo turno? Quais oportunidades foram desperdiçadas pela organização da campanha que
justificaram o mal desempenho ante tantas variáveis favoráveis? Por que essas variáveis não
influenciaram o eleitor modal a ponto de fazer valer a proposta oposicionista num Estado que,
apesar da tradição conservadora, revelou disposição para mudar pelo menos na última semana
de campanha, quando Mercadante apresentou crescimento nas intenções de voto mostradas
pelas pesquisas eleitorais?
Capítulo 4
Metodologia e análise dos dados
Para investigar as possíveis causas envolvidas na campanha de Mercadante,
considerando as variáveis, e com o objetivo de tentar entender quais fatores dificultaram ao
PT lograr um bom êxito no resultado eleitoral, faremos uma análise comparativa a partir das
respostas obtidas nas entrevistas realizadas junto aos articuladores e aos militantes envolvidos
na campanha. Além disso, no próximo capítulo (5), será feita uma análise descritiva do
conteúdo do HGPE para tentar identificar os elementos que formaram o conjunto da
linguagem política utilizada nas propagandas eleitoral divulgadas, à noite, nos canais de
televisão. Também será objeto de análise o desempenho dos candidatos Mercadante e
Alckmin nos debates. E, por fim, uma análise da cobertura dos jornais impressos Folha de S.
Paulo e Diário de S. Paulo.
Com a realização do estudo desses elementos, e baseado na fundamentação teórica do
capítulo 2, objetiva-se obter respostas mais precisas sobre a articulação do PT e as estratégias
de comunicação empregadas antes e durante o processo eleitoral, as quais não causaram o
efeito esperado pelo PT.
Procurando entender o universo que envolveu a campanha e, principalmente, as
variáveis aqui expostas, a pesquisa busca extrair os principais fatores que influenciaram na
construção de nossas hipóteses. Para que a investigação atinja seu escopo, foram ponderados
alguns parâmetros na definição da amostra das entrevistas qualitativas.
Primeiro, procurou-se entrevistar as principais pessoas que atuaram na coordenação da
campanha, ou seja, as que fizeram parte das estratégias de comunicação e marketing, com
uma amostragem de três entrevistas. Segundo, buscou-se entrevistar militantes que tenham
atuado antes em outras campanhas do Mercadante e, principalmente, por ser parte
fundamental na história de lutas do PT. Deu-se preferência a representantes da Capital e da
Grande São Paulo, com uma amostragem de quatro entrevistas.
Ao total foram realizadas sete entrevistas, três delas com membros da coordenação da
campanha – uma na Câmara Municipal de São Paulo, no gabinete do entrevistado, e duas
respondidas por e-mail. E quatro com militantes, sendo duas delas realizadas em lanchonetes,
uma na residência do entrevistado e a última na sede da Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), ambiente de trabalho do entrevistado.
Com exceção das duas entrevistas respondidas por e-mail, as demais foram gravadas e,
posteriormente, transcritas. Foram elaborados dois questionários diferentes, cada um com
doze perguntas, um visando extrair os principais pontos da campanha para a equipe de
coordenação, e outro no mesmo sentido, porém com a visão direcionada às perspectivas e
dificuldades dos militantes. Para ambos os questionários elaborados, seguiu-se o roteiro de
temas pré-estabelecidos; porém algumas perguntas foram inseridas naturalmente no decorrer
das entrevistas, com exceção das respostas enviadas por e-mail. As entrevistas, gravadas,
duraram de dez a trinta minutos, apenas uma, a última delas, com Carlos Cordeiro, durou
quarenta minutos. Os entrevistados foram avisados, antes do agendamento, que a entrevista se
destinava a uma pesquisa acadêmica, e que tinha o objetivo de descobrir, entre tantas
variáveis, ou chegar mais próximo, dos motivos que impediram Mercadante de chegar ao
segundo turno da eleição de 2010.
A coleta dos dados aconteceu nos meses de julho, agosto e setembro de 2011, de
acordo com a disponibilidade de agenda de cada entrevistado. Os questionários e a íntegra das
entrevistas estão disponíveis na seção de Apêndices desta pesquisa.
Foram entrevistados os seguintes coordenadores de campanha e militantes (seguem os
nomes acompanhados dos minicurrículos):
José Américo Ascêncio Dias é jornalista e vereador por São Paulo no terceiro mandato. Foi
Coordenador de Comunicação da campanha de Mercadante nas eleições de 2010. Na gestão
de Marta Suplicy foi Secretário de Abastecimento e de Comunicação da Prefeitura de São
Paulo, e Secretário de Comunicação da cidade de Mauá. Entre suas principais atuações no PT
destacam-se a sua participação nas campanhas presidenciais de Lula (1989 e 1998) quando
coordenou os programas de TV e Rádio. Nas eleições de 2006 para o governo de São Paulo
fez parte da equipe de comunicação e estratégia de marketing. Esteve à frente da presidência
do Diretório Municipal (DM) do PT de São Paulo no biênio 2008-2009. (Entrevista concedida
em 18/08/2011 em seu gabinete na Câmara Municipal de São Paulo).
Francisco (Chico) Macena é administrador e vereador por São Paulo, em seu segundo
mandato. Foi integrante, de grande importância, da equipe de coordenação da campanha de
Mercadante de 2010. Para assumir tal responsabilidade abriu mão de sua candidatura a
deputado estadual. Também participou de todas as campanhas de Mercadante. Prestou
assessoria para o candidato no Senado Federal. Durante a gestão de Marta Suplicy na
Prefeitura de São Paulo esteve à frente da presidência da Companhia e Engenharia de Tráfego
(CET). Atualmente é secretário de comunicação do Diretório Municipal do PT. (Respostas
enviadas por e-mail em 05/09/2011).
Justino Pereira Júnior é jornalista e consultor de Marketing Político. Participou da equipe
de comunicação da campanha de Mercadante Governador de 2010. Foi secretário de
Comunicação da Prefeitura de Guarulhos nas duas gestões de Elói Pietá (PT), 2001-2008, e
secretário de Governo da mesma prefeitura – gestão de Sebastião Almeida (PT), em 2010, e
coordenador de Publicidade da Prefeitura de São Paulo na gestão de Marta Suplicy (2001-
2004). Esteve à frente da coordenação de mais de 30 campanhas bem sucedidas, majoritárias
e proporcionais. As de maiores destaques são as campanhas para a prefeitura de Guarulhos:
Elói Pietá, em 1992, 2000, 2004, e em 2008; a de Sebastião Almeida (PT), atual prefeito de
Guarulhos. (Respostas enviadas por e-mail 05/07/2011).
Carlos Cordeiro é economista, funcionário do Itaú Unibanco e dirigente sindical. Atualmente
é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf/CUT) e presidente da UNI Américas Finanças. Participou, como militante, da
campanha de Mercadante, principalmente na zona oeste da Capital. É atuante sindical há mais
de 14 anos e milita no PT desde garoto, em diversas campanhas. (Entrevista realizada na sede
da Contraf/CUT em 13/09/2011).
Paulo Victor de Angeli é publicitário e coordenador do SAMU e da frota da Prefeitura de
Carapicuíba. Participou das duas campanhas de Mercadante ao governo de São Paulo, 2006 e
2010. Trabalhou na secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Marta
Suplicy, como responsável por toda a logística e distribuição de materiais publicitários na
Secretaria da Comunicação. Suas principais atuações no partido foram nas campanhas de Lula
(2002) e Marta (2004 e 2008). (Entrevista realizada numa lanchonete de São Paulo em
14/09/2011).
Geraldo Figueiredo de Almeida é assessor parlamentar da Assembléia Legislativa do Estado
de São Paulo (ALESP). Militou nas duas campanhas de Mercadante para o governo do Estado
(2006 e 2010). Na administração da Marta Suplicy trabalhou na São Paulo Transportes
(SPTrans). Foi chefe de gabinete do Deputado Vicente Cândido. É militante do PT desde
1982. Foi Presidente do Diretório Zonal (DZ) de Pirituba por duas vezes. Participou da
coordenação de diversas campanhas proporcionais e majoritárias, sendo as de maiores
destaques: Luiza Erundina (1989) e Marta Suplicy (2000, 2004 e 2008). Militou em todas as
campanhas de Lula. (Entrevista realizada em sua residência em 11/09/2011).
Luiz dos Santos Pereira Mendonça é advogado e Procurador Chefe da Fundação de
Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) de Guarulhos e Presidente da Comissão de
Direito do Terceiro Setor pela 57º Subseção da OAB-SP. Atuou como militante em diversas
campanhas do PT, inclusive na última de Mercadante, na cidade de Guarulhos. Foi Chefe de
Gabinete do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Guarulhos e trabalhou na
Coordenadoria de Publicidade da Prefeitura de São Paulo. (Entrevista realizada numa
lanchonete de Guarulhos em 12/09/2011).
4.1 Análise de conteúdo e comparação das justificativas dos entrevistados
Foram incluídos nos questionários alguns temas específicos definidos pela
pesquisadora de modo a integrar as variáveis definidas nos capítulos anteriores. A análise
desses temas passa a ser feita a seguir.
4.2 Estratégia de campanha
Segundo o vereador José Américo, coordenador de comunicação, a campanha fez um
diagnóstico profundo para estudar do ponto de vista social e econômico o Estado de São
Paulo baseado em pesquisas desenvolvidas por órgãos estaduais, municipais e federais, como
IBGE etc. Posteriormente foi feito um diagnóstico político por meio de dados fornecidos
pelos Diretórios Municipais e Regionais, para conhecer melhor o perfil político dos líderes e
moradores de cada região. Foram feitas também pesquisas diagnósticas para analisar o
“espectro político ideológico do Estado” e pesquisas qualitativas (focus group) para auxiliar
na obtenção de um melhor diagnóstico. Nessa perspectiva, José Américo, diz que a estratégia
da campanha se baseou em dois eixos:
O primeiro eixo era que o Mercadante tinha que ser o candidato que tinha
uma relação muito grande com o governo Lula – a história pessoal dele
contribuía para isso. O próprio PT geralmente associado ao presidente Lula,
mas a gente sempre soube que isso não era suficiente para ganhar uma
eleição. [Segundo], nós tínhamos também que fazer a disputa regional e o
Mercadante se apresentar como alternativa regional.137
Nesse mesmo sentido, Chico Macena afirma que “a orientação desde o início foi
apresentar propostas que tirassem o Estado de São Paulo do imobilismo”. Tanto Américo
como Macena confirmam as mesmas estratégias e partilham que a orientação inicial para a
campanha permaneceu a mesma em todo o processo da campanha: “associação com o
governo Lula” e “projeto de desenvolvimento que incorporasse propostas regionais”. Américo
defende que em alguns momentos a campanha precisou mudar as táticas, “fazer alguns
ajustes”, porém as estratégias permaneceram as mesmas, em nenhum momento o fundamento
da campanha foi alterado.
Além desses dois eixos principais Américo apresenta um terceiro eixo, o “eixo
crítico”, ou seja, “procurar fazer uma crítica consistente ao governo de Alckmin e o governo
do PSDB no Estado”. Do mesmo modo, Macena defende que: “a única coisa que mudou foi
que em determinado momento resolvemos responder aos ataques pessoais da campanha de
Geraldo Alckmin”. Ou seja, uma de suas principais estratégias da campanha era colar à
imagem do Mercadante à de Lula. Privilegiando-se da influência de Lula e de seu governo;
apresentar projetos que favorecessem desenvolvimentos regionais; e fazer uma crítica
consistente ao governo do PSDB no Estado. Em relação ao último item se pode observar que
existe um apelo explícito presente no programa de governo, elaborado com base na
comparação do governo Alckmin. Aliás, poucas vezes dá para perceber uma proposta original
que não seja apoiada na comparação.
A orientação inicial da campanha para a militância, segundo Paulo Victor de Angeli
Filho, “era descaracterizar o governo Serra, porque o Alckmin perante o eleitorado, ele é
colado ao Serra”.138
O militante Luiz dos Santos Pereira Mendonça recebeu a orientação para
que se empenhasse muito na campanha de Mercadante, especialmente porque a sua área de
atuação foi a cidade de Guarulhos, em cuja prefeitura o PT exerce seu terceiro mandato
137
AMÉRICO, José. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 18 de ago. 2011. Todas as referências a
esse nome inseridas neste capítulo referem-se a essa entrevista. 138
ANGELI, Paulo Victor de. Entrevista concedida para esta monografia em 14 de set. 2011. Todas as
referências a esse nome neste capítulo referem-se a essa entrevista.
consecutivo.139
Já o terceiro entrevistado, Geraldo Figueiredo de Almeida, ao ser questionado
sobre o mesmo tema, revela que a campanha já iniciara com alguns gargalos que dificultariam
o desempenho de parte da militância e de grandes líderes em defender o nome de Mercadante:
Nesse momento tivemos uma situação muito difícil que foi a consequência
das prévias na Capital para o governo do Estado em 2006. Mercadante
ganhou as prévias no Estado, mas a Marta ganhou na Capital. Eu acho que
isso dificultou muito as últimas campanhas na Capital e no Estado, gerou a
divisão do partido, nas prévias teve a derrota da Marta, que não contribuiu
muito com a campanha do Mercadante, e isso, as prévias, gera muita divisão
dentro do partido e a militância acaba não assumindo de fato a campanha
total. O ideal é todo mundo unido num objetivo.140
Analisando esse recorte é possível extrair alguns elementos que chamam a atenção, e
que não estavam previstos nas hipóteses consideradas no início deste trabalho. A partir daí
passou-se a procurar referências para tentar apurar até que ponto as disputas entre as correntes
internas do PT pode afetar o envolvimento, não somente dos militantes, mas principalmente
das grandes lideranças, em uma campanha. Descobriu-se que já no primeiro Congresso do
Partido dos Trabalhadores havia dezesseis tendências internas.141
Foi então necessário
questionar se elementos como diferença de pensamento, de algumas ideias, de diversas
tendências poderiam, em algum momento, ficar acima do objetivo principal do partido, o
projeto do PT.
Nesse sentindo, Almeida afirma que essa divisão interna, desde as eleições de 2006
para o governo do Estado, implicou no comprometimento de alguns grupos na hora de
defender Mercadante. Diz ainda que é contrário às prévias no partido porque “prejudica muito
o PT”. Segundo ele, as “prévias deixam muita divisão, muitos rancores. Acho que o PT tem
que ter o consenso de uma candidatura (...)”. Quando isso não acontece provoca resultados
como uma dicotomia de apoio tanto de militantes quanto de grandes líderes. Ainda dentro
dessa configuração, o militante Carlos Cordeiro, analisa que:
Nesse problema das tendências e dos grupos eu acho que são legítimos, mas
eu acho que pra você fazer parte de uma tendência, pra fazer parte de um
grupo, e pra se contrapor a outro, acho que você tem que ter muito claro o
139
MENDONÇA, Luiz. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 12 de set. 2011. Todas as referências a
esse nome inseridas neste capítulo referem-se a essa entrevista. 140
ALMEIDA, Geraldo Figueiredo de. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 11 de set. 2011. Todas as
referências a esse nome inseridas neste capítulo referem-se a essa entrevista. 141
SECCO, Lincoln. História do PT 1978-2010. Op. Cit.
que você pensa, qual é a diferença entre um grupo e outro. Diferenças
ideológicas, de concepção, acho que é natural, é salutar e é bom que a gente
tenha diferenças, dentro do nosso partido inclusive. Elas têm que ser
pequenas porque as diferenças têm que ser com os outros partidos.142
Cordeiro, a princípio, vê as tendências como fator positivo para gerar discussões
dentro do partido, e acredita que, apesar do PT apresentar diversas correntes internas, isso não
significa que as visões sejam muito diferentes, ou seja, os grupos podem discordar em alguns
pontos, mas permanece a mesma visão ideológica. Ele acredita que, quando existe uma
separação, por exemplo, “grupo da Marta e grupo do Mercadante”, é arriscado tentar
identificar. “Qual a diferença entre Marta e o Mercadante? Ideologicamente, o que um
defende que o outro não defende?”. Para ele, é “(...) um equívoco quando o partido tem que se
dividir em grupos e grupos relacionados a pessoas, [a impressão] é que estão muito mais
ligados a projetos pessoais deste grupo, o que leva a uma ausência de projeto para a cidade e
para o Estado”. Com isso os mais prejudicados são o próprio partido e a população. Nesse
sentido, ele acredita que quando os grupos insistem na disputa interna
[...] infelizmente para esse grupo A se consolidar ele precisa enfraquecer o
grupo B e a maneira às vezes como é feito isso é tão violenta que, depois,
quando um dos dois precisa ceder, um não vai conseguir apoiar o outro.
Quando o individual supera o coletivo, ele tem um problema muito grande
na frente pra você juntar. Isso eu vejo no movimento sindical. São mais de
cem sindicatos que tem na nossa confederação e lá também se divide em
grupos de pessoas e a gente vai tentando diminuir a fervura, a maneira como
vão sendo feitos os embates porque lá na frente a gente precisa juntar.
Será que esse comportamento aconteceu fortemente nas campanhas de 2006 para cá,
nos pleitos da cidade de São Paulo e do Estado? Será que Mercadante, por causa da disputa
com a corrente a que pertence Marta, deixou de ter o apoio essencial para ir para o segundo
turno na campanha de 2010? Talvez essa questão que envolve as correntes dentro do PT seja
assunto para ser investigado em uma nova pesquisa. No entanto, um dos militantes
entrevistados é enfático em apontar que:
Ele [Mercadante] não teve apoio na Grande São Paulo, de muito pouco
candidato proporcional. Acho que os maiores puxadores de voto no
legislativo infelizmente não eram do grupo dele. Infelizmente o PT é isso.
142
CORDEIRO, Carlos. Entrevista concedida para esta pesquisadora em 13 de set. 2011. Todas as referências a
esse nome inseridas nesta monografia referem-se a essa entrevista.
Ele é democrático e existem vários setores do partido. E esses setores não
estavam com Mercadante.
O mesmo Angeli analisa que grande parte dos candidatos aos cargos legislativos não
contribuíram no que era necessário para a campanha de Mercadante. E que não conseguiram
transferir votos “em virtude do afastamento do candidato com esses proporcionais”. Segundo
ele, a campanha de Mercadante fez uma opção errônea quando decidiu buscar maior apoio,
principalmente, no interior de São Paulo. “Sendo que a grande força do PT é na Grande São
Paulo”. Angeli considera que a campanha não deu importância para isso. E cita o exemplo de
um candidato da Grande São Paulo, para o qual prestou serviço, que divulgou muito pouco a
campanha do candidato petista.
Questões que envolvem Mercadante com resquícios de problemas mal resolvidos e
que causam gargalos em campanhas não é um fato novo. Cloves Luiz Pereira Oliveira, em sua
tese de doutorado apresentada e defendida no Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de
Janeiro (IUPERJ),143
relata um caso ocorrido na campanha de 1996 à prefeitura, que provoca
uma reflexão acerca dessa questão, quando Mercadante fazia parte da chapa de Luiza
Erundina como vice-prefeito:144
Curiosamente uma das primeiras vozes a se levantar contra a estratégia da
campanha foi o candidato a vice-prefeito da chapa de Erundina, o
economista Aloizio Mercadante. Segundo Loducca, às criticas de
Mercadante ao conceito da campanha seria resultado do ressentimento desse
político por ter sido vencido por Erundina nas eleições internas do partido
para a escolha do candidato à sucessão à prefeitura.145
Segundo o pesquisador, as críticas de Mercadante, apoiadas por uma ala do PT,
insistiam que a postura ideal para a campanha seria bater na administração de Maluf para
atingir a imagem de Pitta. Tal fundamentação acabou derrubando o mote da campanha que
durou somente quinze dias. Como resultado dessa mudança de estratégia, perdeu-se todo o
conceito de marketing político eleitoral adotado para a campanha, criando a necessidade de
143
OLIVEIRA, Cloves Luiz Pereira. A inevitável visibilidade da cor: estudo comparativo das campanhas de
Benedita da Silva e Celso Pitta, às prefeituras do Rio de Janeiro e São Paulo, nas eleições de 1992 e 1996. Tese
(Doutorado) em Ciências Humanas e área de concentração Política apresentada ao Instituto Universitário de
Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ), orientado por Marcus Figueiredo. Ano de obtenção: 2007. Acesso em: 30
de set. 2011. 144
Mercadante entrou na chapa como vice de Luiza Erundina depois de uma disputa acirrada dentro do PT entre
ambos por meio das prévias, até então a intenção era que ele fosse o candidato. 145
Idem.
repensar em uma nova marca. No decorrer desse processo, que chamou a atenção
principalmente da imprensa, o coordenador da campanha, Celso Loducca, afirmou: “Ele deu
uma facada em Erundina me utilizando como punhal”. A ideia abalizada por Mercadante deu
outro rumo à campanha, totalmente antagônico, que seguiu de forma agressiva. Ou seja, do
“light” para o agressivo. O resultado foi a vitória de Celso Pitta.
4.3 Imagem do candidato
Embora Mercadante ao longo de sua vida tenha participado de diversas campanhas,
construído uma carreira política bem sucedida e de grande relevância dentro do partido, é
perceptível que o trabalho desenvolvido pelos profissionais de Marketing Político para
garantir uma boa imagem do candidato ainda não atingiu seu ponto almejado. Mesmo tendo
profissionais qualificados no seu comando, o Marketing Político provou mais uma vez que a
construção de uma boa imagem não depende só, e exclusivamente, de uma boa equipe que
saiba utilizar suas ferramentas, mas principalmente do candidato. E, não somente nas eleições,
como também em seus mandatos.
Os quatro militantes entrevistados apontam que ainda há problemas na imagem de
Mercadante que precisam ser trabalhados. Mendonça afirma: “A figura do Mercadante não é
uma figura simpática, a visão que eu tenho é que o marketing precisa trabalhar para que ele
seja uma pessoa mais sorridente”. Dentro do mesmo contexto, Cordeiro declara: “Acho que
Mercadante é muito irritado. Isso estou dizendo por que presenciei, não é que ouvi dizer. As
pessoas falam isso também”. Cita como referência uma situação ocorrida durante o
lançamento de um comitê sindical, no centro de São Paulo, em que a qualidade do som estava
muito ruim. “Ele conseguiu ser muito mais antipático da maneira como ele falava que o som
não funcionava”. Cordeiro defende que é até justo o candidato mostrar o que sente, porém
num processo eleitoral, “ele deve tomar muito cuidado com sua imagem, muito cuidado com
aquilo que fala, muito cuidado com aquilo que está transparecendo”. Ele ainda sugere que
Mercadante poderia “dialogar com aquela militância que estava ali para fazer a campanha
dele, pra colocar a campanha na rua”. Ou seja, naquele momento ele deveria incentivar, isto é,
estimular a militância, “jogar pra cima”. “Ele não têm paciência, ele não tem sensibilidade
para entender a figura que representa no momento que é candidato”, afirma o militante. Para
ele, Mercadante, muitas vezes, torna-se antipático por não ter autocontrole sobre sua postura,
principalmente na hora em que ele precisa ser “mais cuidadoso com o que falar e com sua
imagem”.
Nesse mesmo sentido, Angeli considera que:
[...] infelizmente, o nosso candidato ao governo não consegue emplacar, o
carisma dele é complicado. Parecido com o dos tucanos. Se você colocasse o
Alckmin como candidato do PT ele não iria a lugar nenhum. Se você colocar
o Mercadante como candidato do PSDB, ele seria governador do Estado.
Além de partilhar das mesmas convicções que Mendonça e Cordeiro, Angeli crê que
ambos os candidatos têm imagem parecida. No entanto, o que pesou mais nessa eleição foi a
força do PSDB. Contudo, Mendonça defende: “Se você olhar pro Alckmin, ele está sempre
sorrindo, sempre contente, mesmo que o momento não leve para isso. Acho que essa postura
ajudou muito na imagem do candidato”. Tratando do mesmo tema, Almeida acredita que
entre os principais problemas de imagem que a campanha enfrentou, foram “as acusações do
dossiê de 2006 [que] ainda prejudica a imagem do Mercadante. Eu acho que essa questão o
PT novamente não soube administrar”.
Ao analisar as posições dos três militantes – Cordeiro, Mendonça e Angeli – sobre a
imagem de Mercadante, à luz das considerações dos autores aqui apresentados, nota-se que,
na construção das reflexões e argumentos, eles são unânimes em afirmar que faltava coerência
entre a imagem apresentada do candidato como um homem de carreira consolidada e a
dificuldade de controlar certas atitudes em público.
Em relação ao pensamento do militante Almeida, sobre a mesma abordagem, pode-se
entender que a exposição negativa da imagem do candidato ocorrida em 2006 afetou,
inegavelmente, a campanha naquele momento. No entanto, há poucos indícios de que ela
tenha tido tanta visibilidade na arena política de 2010. Contudo, mesmo tendo o processo do
“Dossiê dos aloprados” sido arquivado pelo Supremo Tribunal Federal, há de se convir que
ele ainda é um fantasma a assombrar a imagem do candidato.
4.4 Diferenças entre os eleitores de Mercadante e Alckmin
Foi perguntado aos entrevistados que diferença eles vêem entre os eleitores de
Mercadante e os de Alckmin e quais os critérios que eles consideram na avaliação dos
candidatos: experiência no Executivo, propostas e partido. Nesse primeiro momento será
tratada a primeira questão.
Para Américo, existem três fatores que contribuem para diferenciar o público de um e
do outro. Primeiro, Alckmin recebeu o apoio da mídia, que, na sua opinião, “tem sido muito
tolerante” com o candidato. Segundo, Alckmin “conseguia passar a ideia de um homem
bonzinho, que tinha experiência administrativa”. Terceiro, “o diálogo” que ele tem com a
“classe média conservadora”. Ele acredita que os dois primeiros, pesaram em favor de
Alckmin, ao passo que o terceiro fator foi o que pesou fortemente, embora tenha consciência
de que essa classe de eleitores “não é suficiente para ganhar a eleição”. E justifica sua defesa:
[...] ela tem ainda peso muito grande na formação da opinião pública no
interior do Estado. Nas cidades pequenas e médias. Ela tem muito peso na
formação da opinião pública e nessa medida nós podemos dizer que esse
setor social foi fechado pelo Alckmin. Não quis saber se funciona o metrô,
não quis saber se a segurança piorou, isso pouco importa, se piorou ponho
uma grade na frente da minha casa, mas eu quero o Alckmin por causa da
inspiração conservadora do Alckmin.
Américo analisa que além da “classe média conservadora” existe também “outros
setores da chamada classe média emergente” – “aquele cidadão que agora chegou à classe
média, ele tem comportamento contraditório, às vezes ele é proletário, às vezes ele é pequeno
burguês” – que é mais próxima do PT. Ele reconhece que a campanha poderia ter avançado
sobre esses setores, mas não conseguiu avançar: “Nós começamos a recuperar esse terreno,
mas não recuperamos o suficiente. Faltava também de nossa parte (...) propostas consistentes
para esse setor. Esse setor você não conquista com Bolsa-família”.
Segundo Américo, a campanha de Mercadante conseguiu se aproximar de parte desses
setores na Capital. O principal indicador disso foi o resultado das eleições, com diferença de
apenas cinco pontos entre Alckmin e Mercadante. Ele acredita que a Educação, com o
Programa Universidade para Todos (ProUni), foi um dos pontos que contribuiu para que o
PT tenha avançado na cidade de São Paulo. Porém, “(...) no interior, precisava de alguma
coisa mais complexa, um programa mais completo”.
Do mesmo modo, o militante Angeli defende essa ideia focalizando que existe
[...] a cultura reacionária do Estado... No Estado em si, não na Grande São
Paulo. Porque na Grande São Paulo você consegue cinturões. A maioria das
cidades da Grande São Paulo são governadas pelo PT. Mas no interior do
Estado, infelizmente, existe ainda uma grande rejeição ao partido e isso
inviabiliza uma eleição de qualquer candidato do PT.
Na mesma linha, Mendonça acredita que São Paulo: “É um Estado muito voltado para
a direita. Sempre teve um relacionamento estreito com a direita”.
Macena quando fala do voto na Capital, acredita que, dividindo “regionalmente” os
eleitores dos dois candidatos, os que votaram em Mercadante e em outros candidatos do PT
foram os das “(...) regiões mais carentes de serviços públicos”. E aponta que: “Algumas
regiões da classe média, como Vila Prudente, a votação ficou mais equilibrada”.
Nesse mesmo caminho segue a linha de pensamento do militante Almeida. Para ele,
“(...) o eleitor faz uma avaliação precisa, principalmente no nome que tem uma referência
popular, tem uma garantia, se de fato o eleitor conseguir sentir que tem uma proposta de
inserção popular, que tem uma inserção forte que vá ao encontro de suas vontades, ele vota
nesse candidato”. E defende que “(...) Mercadante consegue garantir essa colocação com o
eleitor. Acho que o eleitor do Alckmin tem outro ponto de vista”. Porém ele não aponta quais
são as referências que o eleitor usa como base para estabelecer sua decisão de votar no
candidato do PSDB.
Já o militante Cordeiro acredita que a visão que o eleitorado tem sobre Mercadante e
Alckmin e o que diferencia um do outro provém da “(...) imagem que a imprensa passa de
cada um deles. E que a gente sabe que não é verdadeira”. E cita como exemplo a avaliação
dada a ambos pelo senso comum afirmando que “Alckmin é um bom moço, tem [a] expressão
de bom moço. E aquilo que falam do Mercadante aparece como alguém arrogante”. Ele
afirma que quando há problemas de pequenas ou grandes proporções que envolvem as gestões
de políticos do PSDB, a imprensa não dá tanta visibilidade. Quando dá, não vincula a imagem
dos gestores “tucanos”. E, com administrações do PT ocorre o contrário. Cordeiro acredita
que o poder que a imprensa tem está passando por um processo de mudança, contudo analisa
que “ela ainda é muito forte, não só na formação da opinião”, como também em rotular a
imagem, seja dos políticos, seja dos partidos. Ele conclui que a maneira como a mídia expõe
políticos/candidatos, não chega a ser determinante na formação da imagem dos
políticos/candidatos ora apresentados para os eleitores, mas que é um fator importante na
formação de opinião de quem está do outro lado.
Sua linha de raciocínio não deixa de fazer sentido – aliás, sua reflexão vem ao
encontro do que foi construído na fundamentação teórica desta pesquisa. Dentro desse
contexto, Pereira vai mais fundo em sua análise:
Parte do eleitorado tem um voto “ideológico”, baseado nos valores mais
permanentes seus, dos candidatos e partidos. E parte tem um voto mais
“pragmático”, baseado nos seus interesses do momento. Claro que o perfil
do candidato também conta muito. Mas o fator predominante de decisão do
voto muda a cada eleição (ora é a ética, ora é a experiência, ora é a
novidade...).
Em relação à segunda questão apresentada sobre os critérios de avaliação do
candidato, Américo afirma que “o eleitor dá importância para o currículo do candidato, mas
assim como pré-condição. Essa importância para o currículo é mais preconceituosa do que
real”. Para isso ele faz uma comparação do currículo dos dois candidatos: Alckmin é formado
em Medicina, porém pouco exerceu essa função. Enquanto Mercadante é formado em
Economia e exerceu por muito mais tempo a sua profissão. Aliás, de maneira bem sucedida,
inclusive ministrou disciplinas pertinentes à área de seu conhecimento em universidades
conceituadas e até hoje desenvolve pesquisas acadêmicas. Porém, no Poder Executivo ainda
não tem experiência, mas no Legislativo tem uma história reconhecida. Já Alckmin possui um
acúmulo de experiência no Executivo, para isso abandonou sua profissão de formação.
Américo defende que “do ponto de vista profissional, não tem nem comparação”.
Mercadante supera o Alckmin. E explica que o candidato do PSDB não tem uma carreira
profissional, e sim uma carreira política. Ele acredita que a comparação do currículo quando
enfoca somente a experiência política, revela um lado preconceituoso, porque para “[o]
currículo político eles dão importância”. Nesse sentido, ele acredita que esse aspecto “não é o
grande fator de definição de voto”. E apresenta como importantes fatores a imagem que o
político representa; da esperança em relação a futuro; da segurança que o candidato consegue
transmitir. Para ele, “esses são fatores de ordem subjetiva que têm mais peso”.
Ele afirma ainda que no Estado de São Paulo “a questão ideológica é muito marcante”.
E que as campanhas do PT precisam considerar essa questão. Procurar novos meios de
trabalhar para que evite estimular certos preconceitos no eleitor que, na sua opinião, é “muito
sujeito à pregação ideológica”. “Esse Estado tem uma ideologia muito definida”.
Macena considera que o partido e as propostas são critérios ponderáveis. Salienta que
a Capital e o Estado de São Paulo possuem características distintas por região. Por isso,
acredita que é “arriscado generalizar as características dos eleitores”; porém, acrescenta que
“uma das características do eleitor paulista, que é difícil de negar, é que ele é conservador e
precisa ser estimulado a pensar os motivos de seu voto para que ele possa mudá-lo com
segurança de que está fazendo uma escolha melhor”.
Cordeiro considera que a experiência é um fator importante, contudo observa “que o
eleitor [até] vê como importante a questão da experiência”, porém, não tem certeza se o
eleitorado possui “mecanismos para avaliar”.
Nas respostas apresentadas sobre as duas questões, é interessante notar que dos sete
entrevistados a maioria aponta para a existência do voto conservador no Estado de São Paulo,
e que a mídia favoreceu o candidato do PSDB.
Ao analisar a questão do “eleitor conservador” é difícil não pensar que, de um certo
modo, a campanha faz uma projeção do que deveria ser de sua responsabilidade para o
eleitorado paulista. Sabe-se que o senso comum avalia o Rio Grande do Sul tão conservador
quanto São Paulo, muitas vezes até separatista e preconceituoso. No entanto, este Estado
elegeu como seus governadores candidatos do PT em 2002 (Olívio Dutra) e em 2010 (Tarso
Genro). Sem citar sua capital, Porto Alegre, que elegeu candidatos do PT para a prefeitura por
quatro mandatos consecutivos (1988, 1992, 1996 e 2000), conforme explicamos no Capítulo
1 desta pesquisa sobre a ascensão do PT. Outras questões que nos permite refletir sobre esses
apontamentos é que até mesmo no Estado de São Paulo, o PT elegeu prefeitos em cidades
como Ribeirão Preto (1992 e 2000), região que cresceu em função da cultura cafeeira
comanda pela elite rural paulista. Campinas, considerada a capital do quercismo, elegeu como
prefeito, Jacó Bittar (PT), em 1988, inclusive quando Quércia era governador do Estado; e
posteriormente elegeu Toninho do PT (2000). Em Santos elegeu Telma de Souza (1998). Sem
citarmos outras cidades que o PT conquistou na Grande São Paulo, além da Capital.
Levando em consideração outro fator para tentar entender “o eleitor conservador”, o
Estado de São Paulo, diferentemente de outros Estados considerados conservadores, elege
políticos de meia idade, como foi o caso do próprio Alckmin (que tinha menos de 50 anos
quando assumiu o governo pela primeira vez) e de Quércia (49 anos ao assumir em 1987), o
que pode ser um sinal de pouco conservadorismo do eleitor paulista.
4.5 Hegemonia do PSDB no Estado de São Paulo
O viés conservador do eleitor também é o argumento da coordenação da campanha
para explicar o porquê de o PSDB manter a hegemonia política no Estado há tanto tempo. O
método argumentativo de Américo consiste em atribuir ao Estado de São Paulo “um viés
conservador”. “Ele tem uma mídia muito conservadora, conservadora e partidária”. Justifica
que existe uma concentração de setores relevantes da burguesia paulista e da burguesia
brasileira nesse Estado. Contudo, admite a necessidade de o PT refletir de um modo mais
consistente a sua atuação objetivando buscar políticas alternativas para, a partir daí, dialogar
com esses setores. Dentro dessa reflexão, ele acredita que o PT não pode simplesmente
explicar sua posição, mas procurar novas formas de como trabalhar essa questão para quebrar
a hegemonia:
É o Estado mais conservador? É verdade. É o Estado que tem a mídia mais
conservadora do Brasil? Sim. É o Estado que tem a mídia mais tucana? É
verdade. Isso tudo explica, mas não justifica as nossas derrotas. Isso também
vem de falhas e limitações nossas, da incapacidade de ter um discurso mais
convidativo, mais sedutor pra setores médios da população. Acho que isso
vai ficando possível agora, porque a classe média conservadora está
perdendo espaço, está ficando menor do ponto de vista proporcional. Quem
está aumentando e crescendo é a classe média emergente, que nós temos
mais chance com ela.
Dentro dessa mesma linha, Macena aponta que:
O PSDB tem a máquina do Estado, apesar do acomodamento em relação às
políticas públicas. O Estado de São Paulo é muito conservador e o PT não
rompeu alguns desgastes, e terceiro São Paulo, ao contrário dos outros
Estados, não percebeu com o mesmo impacto as políticas de inclusão do
governo Lula, de desenvolvimento, que diminuiu as desigualdades
econômicas e regionais.
Examinando atentamente tanto o reconhecimento de Américo quanto a afirmação de
Macena, confirmamos uma das hipóteses iniciais desta pesquisa: a falta de projeto do partido
direcionado para o Estado de São Paulo. A impressão é que os poucos projetos desenvolvidos
foram pensados e elaborados apenas às vésperas das eleições, e que não houve uma
preocupação fora do contexto pré-campanha e campanha eleitoral.
Pereira compartilha em parte da mesma ideia, contudo vai além, e indica três
elementos importantes. Primeiro, a reciprocidade entre governo estadual e mídia paulista:
“(...) a avalanche publicitária do governo estadual”, ocorre “praticamente [em] todos os
programas noticiosos de TV e rádio tem publicidade estatal DIÁRIA”.146
Segundo, a decisão
do PT, desde 1982, de ter optado somente nas duas últimas eleições, 2006 e 2010, por apostar
146
Palavra marcada em caixa alta pelo próprio entrevistado, que encaminhou suas respostas por e-mail.
no mesmo candidato para governador. Terceiro e último, “alguns anacronismos na forma do
partido fazer campanha”. O derradeiro elemento condiz com uma hipótese que ganha força a
partir da análise das entrevistas: que o partido reconheça a necessidade de ter do seu lado
profissionais de marketing político para que eles possam entrar em cena – full time –, e não
apenas nas campanhas eleitorais. Sobretudo se o PT tem como objetivo tirar o PSDB do
comando do governo estadual.
Novamente, como no tema Estratégia de campanha, a leitura que a militância faz é
diferente: atribui a vantagem eleitoral do PSDB a problemas internos do PT que, se fossem
resolvidos, garantiria um partido mais forte, capaz de vencer os pleitos para o governo do
Estado. Almeida insiste em apontar a divisão do partido:
O PT não consegue quebrar essa hegemonia no Estado de São Paulo porque
primeiramente o PT de São Paulo não pode se dividir, tem que somar, tem
que refletir, tem que organizar. Acho que as tendências do partido em São
Paulo estão dividindo muito o PT, e com isso não consegue achar um eixo
que de fato consiga navegar para uma vitória aqui em São Paulo [Estado].
Tem convicção de que no momento em que o PT encontrar o eixo para trabalhar
melhor esse gargalo, o partido alcançará a vitória: “se nós [o partido] nos organizarmos” –
cita como exemplo as vitórias do PT na Capital –, “nós temos condições totais de ganhar as
eleições” tanto na Capital, quanto no Estado.
A visão de Angeli é que o estigma de “comunista” ainda acompanha o PT,
principalmente no interior de São Paulo:
O PT ainda cheira a comunismo, parece... É brincadeira falar isso, mas é
verdade... Hoje as pessoas no Interior, eu sinto isso, sou do interior de São
Paulo, eu sei, eu tenho na pele isso e você é taxado de comunista. É aquela
coisa de achar que... E já passou, né? Só que, infelizmente, é reacionário
mesmo e pra mudar essa visão, não sei, é difícil.
Cordeiro é enfático ao afirmar a falta de projeto do PT para o Estado enquanto
oposição. E menciona como exemplo um debate organizado pelos estudantes, em São Paulo,
sobre o aumento da tarifa de ônibus. Ele faz uma critica a sua própria Central Sindical, a
CUT:
Eu não vi a CUT organizando esse movimento que eu acho importante, a
gente sabe que na CUT 95% dos seus filiados são petistas. Eu não vi o
Partido dos Trabalhadores discutindo essa questão do aumento da tarifa de
ônibus, nessas lutas populares, nesses clamores populares, você vê hoje em
São Paulo o serviço de transporte é péssimo, tanto do município quanto do
governo do Estado, a saúde é péssima e nós não vemos uma atuação
institucional do partido discutindo esses problemas que a cidade tem. E o
partido aparece onde? No momento da eleição.
Seguindo com um certo rigor argumentativo, vê o PT dos dias atuais como “um
partido que está muito preocupado em ser governo federal e pouco preocupado em ser
oposição onde ele não é governo”. E defende que é fundamental “quando você é governo
você tem projeto, se você é oposição você também tem projeto. E aqui no Estado de São
Paulo eu vejo uma ausência gigantesca de projeto do partido”. Ele reconhece que, “nós [o
partido] não tivemos a capacidade de fazermos uma reflexão e entender a conjuntura e
rediscutir o nosso papel”.
4.6 Desempenho da militância entre majoritários e proporcionais e os gargalos com os
candidatos proporcionais
Do ponto de vista da coordenação da campanha, existe consenso entre dois
entrevistados ao afirmarem que os militantes conseguiram dividir seus esforços entre os
candidatos majoritários e os candidatos proporcionais. Segundo Américo, “o PT geralmente é
o partido que melhor articula essas duas coisas”. No mesmo sentido, Macena afirma que, “a
militância se empenhou tanto na campanha majoritária como na proporcional”. Dentro desse
contexto, ele levanta uma questão interessante: “Agora, vamos lembrar que definimos nosso
candidato ao governo tardiamente”. Até que ponto isso interfere no desempenho da campanha
para o governo estadual? Será que a preocupação de Macena em algum momento será
considerada pelo partido?
Apesar dos dois articuladores acreditarem que houve um equilíbrio de esforços por
parte dos militantes, o terceiro, Pereira, diz que “os militantes, de maneira geral, focam seu
apoio primeiramente nos deputados a quem são ligados, com quem se identificam. E as
campanhas dos deputados ajudam a reforçar as campanhas majoritárias”. Ele acredita que
“poucas pessoas fazem campanha apenas para os candidatos majoritários”. Essa ideia dá
abertura para considerar que não há igualdade de esforços, pois estão concentrados
primeiramente no candidato proporcional; entretanto acaba levando, de certo modo, à
candidatura do majoritário. Isso, quando há um ambiente propício para tal empenho. O que
não foi o caso da campanha em estudo. Há passagens, no início deste capítulo, que leva a
acreditar que não houve apoio “equilibrado”. O depoimento do militante Angeli revela que
Mercadante não teve apoio total dos proporcionais, o que consequentemente refletiu no
desempenho da militância.
Outro militante, Cordeiro, oferece bases que novamente não se harmonizam com o
pensamento dos dois primeiros coordenadores da campanha quando afirma que os candidatos
ao Legislativo não contribuíram satisfatoriamente para a campanha de Mercadante. Sua
defesa parte das justificativas apresentadas por quem está do outro lado, e sente a ausência de
debates da parte do PT. Segundo ele, o partido não discute o trabalho em conjunto, não tem
estratégias articuladas em torno dessas candidaturas. No seu entender, o modelo utilizado
atrapalha porque são muitos cargos para se eleger. Não resta “(...) dúvidas de que os
parlamentares, os candidatos a deputado contribuíram muito pouco”. Finaliza afirmando que
“eles [candidatos ao Legislativo] ficam mais preocupados com sua eleição do que com esse
projeto mais amplo”. Na mesma tendência, vem a fundamentação de Almeida: “Alguns
candidatos só se preocuparam com a sua campanha e o Mercadante ficou aí esperando uma
articulação maior de votos (...)”. Enfim, enxerga essa campanha como uma experiência muito
grande para o partido fazer uma reflexão.
4.7 Capacitação e qualificação da equipe envolvida na campanha
Procurando identificar as dificuldades da militância em defender seus candidatos
durante a campanha de Mercadante, foi perguntado se ela observa uma evolução na sua
preparação para realizar um trabalho mais eficaz, com investimento em formação,
treinamentos motivacionais e desenvolvimento efetivo de pessoal, como é feito em empresas
modelos por meio do departamento de Recursos Humanos.
De acordo com as respostas obtidas, os militantes consideram que não conseguem ver
uma evolução. Um deles até cita que, pelo contrário, houve uma involução. Para Angeli, não
houve uma evolução nas campanhas envolvendo a preparação da militância. De maneira
saudosista, ele diz que “infelizmente isso se perdeu”. “(...) dificilmente as pessoas atuam de
corpo e alma como antigamente”. E dá como exemplo a campanha para presidente de 1989,
disputa entre Lula e Collor:
(...) eu na época era bancário, o Collor com aquela estrutura toda, com
banners gigantes, outdoors pra todo lado e a gente pregava uma foto do Lula
no papelão, colava num pedaço de pau e saia pra rua! Quer dizer, isso era
militância. E você não recebia um real por isso. Hoje não, infelizmente
acabou. Acredito que o militante tem que confiar no candidato. Com o Lula,
por exemplo, os candidatos faziam questão de colocar o Lula no folheto
deles. Por quê? O carisma do cara, não tem jeito. E ele é a alma do PT. Se
nós conseguíssemos outras lideranças como o Lula, com certeza. Mas hoje
eu não vejo alguém que vai pra rua defender um candidato de corpo e alma.
O militante Mendonça acredita que o que atrapalha ainda mais, além da falta de
preparo da militância, e que acaba influenciando na ausência de comprometimento, são as
correntes. É interessante notar que, outra vez, esse setor liga o sinal de alerta sobre a divisão
do partido:
Não temos unidade total sobre nossos candidatos. Acho que o fato, às vezes,
de algumas correntes só entrarem depois na campanha acabam atrapalhando
a desenvoltura da imagem do nosso candidato, que foi o caso de Mercadante
na última eleição. Acho que faltou sim, faltou um pouco mais de empenho.
Para Almeida, “poderia ser trabalhado melhor diante de cada diretório de cada cidade,
deveria envolver mais a militância, seus próprios diretórios, seus próprios presidentes de
diretórios. Acho que o PT falhou um pouco nessa organização”. Ele aponta essa questão como
uma “certa culpa do partido”. Avalia que o PT poderia envolver melhor os Diretórios
Municipais e Zonais no treinamento da militância:
No PT falta a questão da formação, do treinamento, mas acho que ainda é o
partido que mais traz a discussão partidária. Há reuniões do diretório, tem
encontros, tem várias atividades que acho que em todos os partidos não
acontece isso. Vejo que no PT ainda continua sendo o partido que mais
mobiliza, mas acho que, de fato, o PT precisa trazer mais uma valorização da
estância pra região (...).
O militante Almeida acredita que o PT dos anos 1980 tinha uma preocupação maior
com o desenvolvimento e a valorização da militância. Para ele, naquela época “a militância do
partido era maior que o PT (...). O PT não estava no poder, mas tinha o PT no poder de várias
ações.” Nesse ponto de vista, ele define a importância que existia entre o partido e a
militância. Comparando aquele tempo com os dias atuais – com o crescimento do partido em
diversas regiões e, principalmente em nível nacional –, Almeida acredita que, a medida que o
PT se tornou poder, isso tem dificultado e afastado muito a relação do partido com a
militância.
Já Cordeiro faz uma análise crítica envolvendo um “mea culpa”, tanto dele enquanto
filiado, que atua mais como militante, em virtude de sua atividade como dirigente sindical lhe
tomar grande parte de seu tempo, quanto ao partido, que ele observa que “não tem um projeto
[unificado] de ocupação de espaço”, seja no Transporte, na Saúde ou na Educação. Em seu
rigor argumentativo ele defende que o espaço não é conquistado apenas na eleição, e sim o
tempo todo. “Então quando chega o momento da eleição, cada um vai cuidar da sua vida, o
deputado da dele, o candidato a governador da dele, o candidato a senador da dele e não tem
projeto”. Quanto ao processo de formação de filiados e militantes, ele sente
(...) uma ausência completa de formação, mas ela está dentro dessa ausência
maior, que é gritante, uma ausência de um planejamento estratégico, que
você não faz nos seis meses da campanha, se faz desde já. Acho que a gente
aprende muito com escola de samba. Na hora que termina um carnaval se
começa a preparar o outro. E o partido, infelizmente, termina uma eleição e
ele fica dormindo, fica hibernando, próximo da eleição ele acorda e sai
correndo de novo pra ver como sobrevive pra poder hibernar por mais um
período.
Ele reconhece que não só o partido, mas a militância também é responsável por não
arriscar interferir mais nas decisões do partido: “nós não temos formação, nós não temos visão
estratégica, nós não temos planejamento, acho que essa é a combinação imperfeita, por isso
acho que nós estamos nessa situação. Culpa da militância e culpa do partido”.
A mesma questão foi feita aos envolvidos na coordenação da campanha. Américo
afirma que o PT é o partido que mais se preocupa em desenvolver práticas para a formação e
o envolvimento dos filiados. E continua sua defesa: “Não acredito que tenha uma empresa
com mais motivação do que o PT”. Não podemos deixar de concordar, em parte,
principalmente porque vimos em nosso cenário, no Capítulo 1, a história do surgimento do PT
e a sua consolidação. E é justamente este um dos motivos que fez surgir a necessidade de
inserir essa questão na pesquisa para tentar entender o que vem acontecendo no
relacionamento do PT com a sua militância. Ele justifica que “o PT ainda tem uma militância
voluntária grande”, e que “faz treinamento, faz preparação”. No entanto, em relação às
pessoas que estão diretamente ligadas as campanhas, ele reconhece que:
(...) nós precisaríamos ter um preparo melhor não só do ponto de vista
motivacional, mas do ponto de vista técnico, organizativo, trabalhar com as
pesquisas, como falar com as pessoas, como abordar, como convencer, como
seduzir as pessoas, como não agredir. O militante petista, às vezes, o mais
fiel, eles vêm da periferia e às vezes é um pouco agressivo para falar com as
pessoas.
E acaba concordando que o partido precisa amadurecer nesse quesito, mesmo
defendendo que ele venha fazendo um trabalho neste sentido ao longo de sua história. Porém,
acredita que o trabalho desenvolvido pelo PT “ainda está muito aquém do necessário. (...)
tanto do ponto de vista motivacional quando do de técnica de marketing para abordar e
convencer as pessoas”.
Segundo Américo, “isso vem um pouco da cultura do improviso que tem na política
brasileira; você tem uma cultura de amadorismo, de improviso que vige na maioria dos
partidos brasileiros (...)”. Ele nota que somente hoje é que as agremiações políticas estão
começando a aceitar a ideia de que as campanhas devam ser organizadas de maneira mais
profissional. E acredita que, de certa forma, “eles também tinham preconceitos, achando que
se fosse profissional demais é como se estivessem traindo a política”.
Entretanto, recentemente passaram a ter consciência de que tal pensamento não
corresponde ao que o marketing político propõe. Porém, afirma que, até então, a visão das
agremiações políticas em relação às campanhas políticas era de que “o bom é aquilo que é
improvisado, que é espontâneo, que é amador”.
Na mesma perspectiva segue o ponto de vista de Macena, que pontua os trabalhos que
estão sendo realizados pelo PT :
Durante a campanha e no período pré-eleitoral, o partido realiza caravanas,
que têm como objetivo unificar o discurso dos militantes, prepará-los e
motivá-los a defender e divulgar o projeto e os ideais do partido durante as
eleições. Esses eventos costumam ocorrer aos finais de semana, e em cada
diretório zonal ou em cada região. A ideia é realizar eventos que consigam
alcançar com facilidade o militante do PT. Mas o partido sabe que muitas
questões podem e devem ser melhoradas com sugestões e métodos diferentes
de preparação para a campanha.
Entretanto, Pereira reconhece que ainda não tem base necessária para adentrar na
questão treinamento para o partido à moda das empresas. Porém, considera “que o PT precisa
reciclar sua forma de fazer campanha porta-a-porta, que deu muito certo no passado, mas que
hoje parece estar esgotada”.
É curioso observar que, tanto a coordenação quanto a militância sentem a necessidade
de o PT se renovar, seja no seu processo de fazer campanha, seja na aproximação e no
comprometimento da militância com a instância maior, que é o partido. Tanto com novos
métodos de treinamento para estimular a motivação de seus filiados e militantes, quanto na
inserção mais ampla do marketing político. A militância vai além, está em consenso que essa
renovação do PT seja feita até mesmo na sua na forma de pensar projetos para o Estado, e
examina atentamente que há ausência de projetos do partido enquanto oposição.
4.8 Reta final e o que faltou para chegar ao segundo turno
A coordenação não aponta um ponto central que impediu um processo cumulativo de
forças no segundo turno e partilha do pensamento de que faltou muito pouco. Américo
acredita que “qualquer coisa” pode explicar o fato de o PT ter chegado muito próximo de
decidir com o PSDB num novo turno. No entanto, ele aponta que a queda da Dilma nos
últimos quarenta dias de campanha acabou influenciando o crescimento de Mercadante.
Porque a campanha do petista “estava muito associada à Dilma. E na reta final colamos mais”.
Pereira defende que, do mesmo modo que existiam diversas variáveis a favor de
Mercadante, “também havia muitas variáveis contrárias”. Já para Macena, a coordenação
acreditava que outros candidatos teriam um melhor desempenho e isso provocaria uma nova
disputa entre o PT e o PSDB.
Mais uma vez, diferentemente da coordenação, a militância aponta diversos gargalos.
Os militantes só concordam em um ponto com a articulação: que faltou muito pouco para
Mercadante disputar outro turno. Para Mendonça o gargalo central veio da base aliada:
(...) o maior problema ainda em relação ao Aloizio Mercadante é a gente
discutir um pouco mais, ter uma base aliada mais contundente, forçando essa
base aliada a trabalhar em nome de Mercadante. Não adianta nada você ter
um candidato aliado, que pode fazer uma divulgação, mas você não ver um
ato dessa base aliada pra eleger Mercadante. Acredito que o grande
problema foi esse.
Seguindo um caminho próximo ao da visão de Mendonça, Almeida bateu no mesmo
ponto; acredita que o problema principal que implicou uma disputa entre Mercadante e
Alckmin foi a falta de
(...) consenso do partido diante de uma candidatura, faltou uma visão de que
a prévia prejudica o partido, prejudica a campanha, tem divisão da
militância, tem rancores, muitos militantes acabam não fazendo a campanha,
acho que isso dificultou muito a campanha de Mercadante. Não só nessa
campanha, mas em todas as campanhas do PT, se tiver prévia, nós não
vamos chegar a lugar nenhum, porque vai estar dividido.
Já Angeli acredita que o carisma de Lula, contribuiu muito para o crescimento de
Mercadante na reta final. Ele levanta uma questão interessante ao exemplificar com um caso
local. Parte da constatação de que nessa campanha o PT não investiu na cidade de
Carapicuíba. Contudo, aponta que o resultado das eleições para o candidato ao governo do
Estado do PT na cidade foi expressiva, aproximadamente 49% dos votos para Mercadante e
37% para Alckmin. Analisa:
Se investiu em Carapicuíba? Não. Entendeu? Ah, tá, 49% a 37%, tudo bem,
mas porque Carapicuíba deu 49 a 37? Isso que é o grande segredo.
Funcionou? Como que o pessoal local conseguiu colar o Mercadante na
imagem do prefeito? Não sei em outras cidades, acho que não funcionou. O
prefeito, no caso, é muito importante. Se ele é do partido do candidato, ele
tem que agregar voto. Acho que lá é um exemplo muito interessante pra se
pesquisar. Se você consegue transferir 49% dos votos pro seu candidato a
administração está sendo bem avaliada (...).
Isso mostra não apenas a boa avaliação da gestão do PT pela população, mas
principalmente o empenho do prefeito com seu Diretório Municipal, mesmo não tendo total
apoio da articulação central da campanha.
Cordeiro partilha da mesma ideia de que a presença de Lula foi extremamente
importante para a elevação progressiva de Mercadante. Porém aponta outros fatores que
contribuíram como: o HGPE e os debates. Mas quando questionado sobre o que faltou para
uma disputa no segundo turno, insiste que:
(...) faltou planejamento estratégico. Campanha você faz antes, durante, não
depois, mas no final. Não vi um planejamento estratégico em cada etapa
desse processo de conquistar votos. Acho que nós estamos com
planejamentos muito ruins. Se tivesse planejado melhor, dividido melhor os
recursos, as estruturas, as pessoas... Acho que cada uma dessas etapas eram
previsíveis.
Afirma que o fato de a imprensa não apoiar o PT, esconder o Alckmin, não falar dos
problemas do governo do PSDB, já era esperado. Para ele não houve nenhuma novidade, da
parte da campanha do Alckmin, que pudesse surpreender a campanha do Mercadante. Todas
essas situações eram previsíveis. E defende que: “Num planejamento você tem isso. Você
sabe que a sua chance, quanto mais você está ocupando espaço, vai tendo que trabalhar mais.
Acho que foi falta de planejamento”.
Além dos temas analisados, não se pode deixar de lado uma questão de extrema
importância num processo de campanha apontada por dois militantes: a distribuição de
materiais. Cordeiro afirma que a militância sentiu a falta de materiais de divulgação de
Mercadante e, mesmo quando se propunham a buscar, encontravam dificuldade em obtê-los:
Quantas vezes a gente tentou ir atrás do diretório, nos espaços buscar
materiais e não tinha. Especialmente dos majoritários. Porque os
proporcionais têm as suas estruturas de arrecadação, de rodar material, de
confecção de material, então a hora que a gente muitas vezes precisava de
material dos majoritários pra fazer a gente não tinha ou era material já
repetido, não vi muita estrutura, planejamento disso. Infelizmente, como já
falamos, as pessoas estão mais preocupadas com os seus mandatos de
parlamentar do que nas eleições dos majoritários.
Angeli percebeu que a distribuição de materiais estava muito desorganizada e
dificultava fazer uma logística em um curto espaço de tempo para distribuí-los na cidade onde
o militante atua:
Eu senti isso, a divulgação de material foi muito ruim, se mandavam muita
coisa e, em cima da hora, você tinha dois dias pra desenvolver, um dia pra
divulgar o comício na cidade toda, mandava um milhão de folhetos e era
impossível distribuir. A campanha dele errou muito aí.
Em suma, pode-se concluir que, além dos acertos, ocorreram diversos erros na
campanha. Um deles foi a equipe de comunicação e de estratégia de marketing arriscar
demais apostando no crescimento de outros candidatos para que, a partir daí, o seu candidato
ganhasse força. É como assistir a um jogo de futebol, torcer para o time ganhar, porém,
quando acontece uma falta ou um pênalti, você não pode interferir para mudar o rumo do
jogo. Essa expectativa é aceitável somente para o eleitor, que define seu voto e permanece na
torcida para que seu candidato evolua e vença.
A ausência de formação e treinamento de filiados e militantes inviabiliza um
comprometimento maior entre o Partido e sua militância. Além disso, deixa passar a
oportunidade de colocar na linha de frente da campanha pessoas mais preparadas para
defender o candidato de maneira eficaz. A visão de que o eleitor paulista tem um voto
conservador implica culpar o próprio eleitor, além de atestar a dificuldade do partido para
desenvolver uma estratégia para persuadi-lo. Nesse sentido, de que vale o marketing político?
No entanto, esses fatores não estão sendo apontados como o deslize crucial. O que se
percebe é que dois elementos se destacam como forças inviabilizadoras do bom desempenho
do candidato. Primeiro, as correntes internas do PT, que interferiram intensamente no apoio a
Mercadante. Quando há necessidade de disputa interna a partir de prévias eleitorais, o apoio
de quem perdeu é incerto para quem ganhou a disputa. São questões humanas que ainda são
difíceis de serem trabalhadas – não aceitar que sua própria derrota momentânea, de alguma
forma possa soar como vitória para o partido: o saber perder para aprender ganhar. E,
segundo, a falta de um projeto eleitoral mais estruturado para tentar quebrar a hegemonia do
PSDB.
Capítulo 5
Campanha na TV e a cobertura da imprensa
5.1 Análise do HGPE e dos programas de debate
Para viabilizar a análise dos programas eleitorais seguiremos o mesmo modelo
metodológico utilizado nas entrevistas, ou seja, faremos uma análise de conteúdo dos
programas veiculados pela campanha de Mercadante na televisão. Optamos por desenvolver a
análise com três amostras de programas veiculados no período noturno, sendo o primeiro
programa da campanha, na sequência, a propaganda veiculada no meio da campanha,
exatamente em 8 de setembro, e o último programa, exibido à véspera do dia da eleição.
A escolha por utilizar em nossa análise apenas as propaganda eleitorais noturnas,
justifica-se por três motivos. Primeiro, porque verificamos que os partidos lançam seus
programas no horário noturno (20h), ficando reservada aos programas da tarde (13h) a reprise
das propagandas da noite anterior. Segundo, essa escolha é feita por profissionais de
comunicação e marketing com base em estudos que revelam que o horário noturno é
considerado nobre, pois permite alcançar um número maior de espectadores. E terceiro, tendo
esses aspectos sido considerados por diversos pesquisadores do HGPE como importantes,
seguiremos a mesma linha metodológica.
Nossa análise de conteúdo do discurso das estratégias no HGPE será realizada com
base na metodologia desenvolvida por Figueiredo e sua equipe, então pesquisadores do
IUPERJ. Contudo, fizemos algumas pequenas adaptações para tentar adequar às amostras
aqui selecionadas.
O método desenvolvido pelos pesquisadores do Rio de Janeiro para realizar estudos de
estratégias de comunicação de campanhas eleitorais147
consiste na categorização, de maneira
exaustiva, dos elementos semânticos que envolvem a propaganda política, seja em textos, seja
em peças de comunicação, “como comerciais, noticiários e outros”. O “objetivo é desvendar a
estrutura semântica do discurso e, com base nessa estrutura, inferir uma metalinguagem que
represente a estratégia discursiva do ator sob observação”.148
Ou seja, categorizando os
elementos semânticos, simbólicos, performáticos e tecnológicos nas propagandas políticas, o
147
Em 1996, Figueiredo [et al]. desenvolveram um novo método de análise de conteúdo propaganda política que
pudessem fazer comparações com pesquisas realizadas em outros países, principalmente no Estados Unidos. 148
FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,
Rubens (org.). Op. Cit,, p.157-159.
estudo pode observar de forma mais eficaz as estratégias de comunicação das campanhas,
seus formatos, suas técnicas de produção, a maneira como foram elaborados os discursos,
seus apelos, como também os objetivos das mensagens, as características pessoais, enfim, o
clima geral dos comerciais e os temas levantados.149
Segundo Figueiredo, o método propicia uma inferência mais segura para “identificar
as estratégias” do candidato, “aumentar nossa capacidade de previsão e explicar o processo
eleitoral”.150
Contudo, pelo exíguo espaço de tempo para desenvolver esta pesquisa, a opção
foi escolher programas que pudessem identificar as estratégias de comunicação escolhidas
pela campanha.
Não faremos o modelo de comparação com as propagandas eleitorais dos demais
candidatos que concorreram no mesmo pleito, como também entre Mercadante e Alckmin.
Ateremo-nos a analisar apenas o nosso objeto, a campanha de Mercadante, ou seja, sua
estratégia de marketing para persuadir o eleitor.
Acerca da comparação entre os dois principais candidatos (oposição e situação), ela
será feita mais adiante no processo de análise dos programas de debates e, somente entre os
dois principais candidatos. Como na proposta de análise dos programas eleitorais,
analisaremos também apenas três programas de debates, estes selecionados por emissoras: TV
Bandeirantes, TV Record e Rede Globo.
As propagandas eleitorais usadas em nossa análise estão disponíveis na internet e
foram transcritos na íntegra, podendo ser encontrados nos anexos desta pesquisa. Já os
programas de debates estarão disponíveis apenas nos endereços eletrônicos para acesso na
internet.
A seguir as análises de conteúdo das propagandas eleitorais de Mercadante veiculadas
na televisão:
5.1.1 Propaganda eleitoral veiculada em 18 de agosto151
O primeiro programa eleitoral de Mercadante, com duração de quatro minutos e
dezessete segundos, foi ao ar com a visível estratégia de colar a imagem do candidato à de
Lula. A propaganda tem início com a apresentação, pela locução em off, de um breve
149
Idem 150
Ibidem. 151
Vídeo postado no site Youtube [18 de ago. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13). Disponível em:
< http://www.youtube.com/watch?v=Y1IDCSVlagI&feature=related>. Acesso em: 24 de set. 2011.
currículo político do candidato, reforçando a experiência adquirida nos últimos oito anos no
Senado, unindo sempre as conquistas realizadas por Lula a Mercadante. Depois da narração
em off, Lula é o primeiro a se pronunciar e faz a introdução ao discurso com o depoimento
sobre a estreita relação entre os dois. Em seguida, Mercadante também faz o seu
pronunciamento, confirmando a amizade e as parcerias que fizeram no decorrer de suas
carreiras políticas. Lula fala de sua admiração pelo candidato: O que eu mais gosto no
Mercadante é que ele é um cara que batalha pelas coisas que acredita. Sabe dialogar, sabe
ouvir, estuda os problemas e o mais importante: aponta soluções.
A propaganda é desenvolvida, o tempo todo, estabelecendo um diálogo entre ambos:
ora, o orador dominante é Lula, ora Mercadante. Porém, eles aparecem em cenários
diferentes. A imagem de Mercadante é apresentada em local ao ar livre, enquanto Lula
aparece em um escritório. Os efeitos técnicos e o enquadramento de ambos são bem
dinâmicos, dando a impressão de que estão num bate-papo, o que sugere uma forte ligação
emocional entre Lula e o candidato.
Mercadante enfatiza sua importância no Senado para as realizações políticas do
Governo Lula. E este reforça que Mercadante está preparado para governar São Paulo e pede
para o eleitor depositar no candidato a mesma confiança que depositou nele. Ambos
estabelecem um diálogo mostrando, de início, que uma das estratégias principais era vincular
a imagem de um ao outro, ou seja, colar o candidato no Lula. Também é feita uma crítica ao
governo do PSDB: São Paulo, esse estado grandioso, fantástico, infelizmente não teve, nos
últimos anos, governantes capazes de acompanhar o ritmo do Brasil. Fizeram muito pouco
metrô, os jovens passam de ano sem aprender, não existe uma política de desenvolvimento
para o interior. Os pedágios são cada vez mais abusivos.
Ao final da propaganda, enquanto os atores cantam o jingle “O Lula já mostrou que
vale a pena mudar. Só depende de você, é só confiar! Mercadante governador”, são
mostradas cenas do candidato em uma caminhada e apertando a mão de uma eleitora,
denotando uma linguagem de proximidade com o povo.
5.1.2 Propaganda eleitoral veiculada em 8 de setembro152
O segundo programa escolhido para analisar foi ao ar com a duração de quatro
minutos e dezenove segundos. A propaganda inicia de forma similar à do primeiro programa,
mesmo estando a campanha em sua metade, com a introdução feita pelo locutor em off, desta
vez mostra que sua presença no Senado trouxe verbas para obras e programas de saúde em
São Paulo. Novamente, faz críticas à gestão do PSDB, só que dessa vez inicia sua crítica
direcionando-a ao governo Fernando Henrique. E pede oportunidade ao eleitor para
experimentar um jeito novo de governar com ideias novas, sangue novo, agilidade e vontade
de fazer. E Lula endossa sua proposta de inovação para o governo de São Paulo. Propõe ao
eleitor que dê oportunidade a Mercadante para que ele possa implantar no Estado de São
Paulo o que o Governo Lula implantou no Brasil, ou seja, o jeito de governar do PT. Mais
uma vez a propaganda buscou colar o prestígio de Lula à imagem de Mercadante.
Mercadante critica, fortemente, os problemas enfrentados na Saúde pública do Estado
e reforça sua defesa com depoimentos de três eleitores (na rua) explorando o formato “o povo
fala”. Eles expõem as dificuldades de marcar um exame ou uma consulta. Mercadante, em
sintonia com os eleitores, aparece em um estúdio com enquadramento revelando suas
expressões faciais, dando a entender de forma sutil uma proximidade emocional entre ele e o
eleitor.
Nesse programa a estratégia principal é a área da Saúde, e apresenta a criação do
ProUni da Saúde, mostrando uma proposta estruturada de como vai fazer para implementar,
comparando ao ProUni – Universidades, como medida preventiva. E como proposta de longo
prazo, fala da construção de mais 30 Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) e oito
hospitais. Porém, nesse programa, ele não pontua em que região vai começar.
Para trazer o eleitor para a realidade sobre o tamanho e a importância de São Paulo,
compara o Estado a países que têm territórios equivalentes ou são menores. E pela terceira
vez faz críticas aos últimos governantes do Estado: Você sabe, quando a gente foge da
responsabilidade nunca resolve as dificuldades. Eu quero mudar essa atitude. O que
incomodar São Paulo e os paulistas será um problema meu. Para finalizar sua fala ele faz um
apelo emocional aos eleitores: Me dê uma chance.
152
Vídeo postado no site Youtube [09 de set. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13). Disponível em:
< http://www.youtube.com/watch?v=T9F-xOta0Ig>. Acesso em: 24 de set. 2011.
Entre as várias participações e depoimentos apresentados durante a propaganda foram
reprisadas imagens de um comício realizado em Guarulhos, em que aparecem, além do
prefeito da cidade, Sebastião Almeida, Lula, Marta, Netinho e outras personalidades públicas
demonstrando apoio ao candidato e assegurando que nesse ponto a campanha estava nas ruas
e empolgando a cidade.
O programa é finalizado convidando os eleitores para participarem do próximo
comício que seria realizado em Ribeirão Preto com a presença de Lula e Dilma. Aparece,
rapidamente, a imagem dos três, Lula, Dilma e Mercadante com as mãos elevadas.
5.1.3 Propaganda eleitoral veiculada em 29 de setembro153
O último programa HGPE de Mercadante foi ao ar com duração de quatro minutos e
dezenove segundos. O locutor em off faz a abertura do programa acusando Alckmin de ter
fugido do debate direto com Mercadante na Rede Globo. Enquanto o locutor fala, são
apresentadas, rapidamente, as manchetes/chamadas de três jornais sobre a cobertura da
campanha, informando que Alckmin se esquivou dos confrontos com Mercadante. O locutor
finaliza afirmando que está na hora de São Paulo mudar com Mercadante. Um governador
com coragem, atitude e novas ideias. Como nosso Estado merece.
Mercadante introduz seu discurso com um agradecimento ao eleitor pela atenção e
carinho demonstrados no decorrer da campanha. Em seguida, diz que o Brasil vai tão bem,
que a economia de São Paulo é tão vibrante, que se o governador do Estado não fizer nada,
tem gente que pode achar que está tudo bem. Mas um Estado como São Paulo não pode ser
governado por alguém que fica sentado no palácio dos Bandeirantes, esperando quatro anos
para fazer, de novo, as promessas que não cumpriu antes. Até porque pode parecer que está
tudo bem (...). Ele começa a fazer críticas ao governo do PSDB e chama a atenção da
população mais carente para as dificuldades na hora de utilizar os serviços públicos:
Educação, Saúde, Segurança e Trânsito.
Em seguida, entra o quadro “o povo fala”, com depoimentos: o primeiro, de uma
estudante, transmite uma mensagem evidenciando a união dos dois candidatos: Dilma e
Mercadante. Com isso, ele cola a imagem em Dilma. O segundo, de um estudante ensinando a
153 Vídeo postado no site Youtube [29 de set. 2010] pela equipe da campanha: mercadante13. Disponível em: <
http://www.youtube.com/watch?v=IA4RULvFlVE>. Acesso em: 24 de set. 2011.
votar no número do partido (13) e nos dois candidatos: governo e presidência. O locutor em
off apresenta, assim como nas duas propagandas analisadas, um breve currículo do candidato.
Mercadante entra falando dos valores familiares e, na sequência, faz críticas ao PSDB com
argumentação estruturada. Nesse momento, é possível observar um apelo emocional e que o
candidato usa uma retórica de sedução: O que é mais importante na sua vida são seus filhos,
não é verdade? Eu sou pai e sei que o futuro dos nossos filhos é o que mais nos preocupa, por
isso eu falo tanto de educação, porque eu não me conformo que no Estado mais rico do
Brasil só tenha direito a ensino de qualidade quem pode pagar. É interessante notar que da
forma como essa estratégia de comunicação e marketing é empregada, a mensagem acaba
ficando dúbia: se é o Estado mais rico, seria coerente que quem possa pagar tenha o melhor
ensino; ou, então, ele deveria destacar que apesar de rico, essa riqueza não é bem distribuída
e, por isso, só quem tem dinheiro pode ter ensino de qualidade? Mesmo assim, esse discurso
que confunde oposição (no Estado) e continuidade (da candidata a presidente, na qual ele
cola) é transmitido no sentido de humanizar seu perfil, entendido como objetivo e pragmático.
Também usa uma comunicação persuasiva para convencer o eleitor: Mas pode acreditar, eu
quero ser o governador para enfrentar e vencer esse desafio. Termina seu discurso fazendo
um apelo emocional: Por isso, no domingo que vem, quando você estiver frente à urna
eletrônica, vote no futuro de seu filho. E eu vou devolver a você o prazer de saber que todo o
sacrifício que você faz pelos seus filhos vai valer a pena porque ele vai ter preparo pra ser
alguém na vida.
Como os estudantes no quadro “o povo fala”, o locutor em off ensina a votar no
número “13”. E, como no segundo programa analisado, convida o eleitor a participar de um
comício no dia seguinte em São Bernardo do Campo com a presença do então Presidente
Lula.
Enquanto uma multidão canta o jingle: Lula, guerreiro do povo brasileiro, Lula,
guerreiro do povo brasileiro, o programa é finalizado com imagens do comício de
encerramento ocorrido em São Paulo, onde aparecem Lula, Dilma, Marta e Netinho e outras
autoridades políticas, e Lula (no comício) reforçando o pedido do voto em Mercadante.
5.2 Análise do HGPE por tema
5.2.1 Estratégia de campanha
No primeiro programa é possível identificar que a campanha de Mercadante usa a
mesma semântica empregada no programa eleitoral da candidata a presidente, em que Lula
apresenta Dilma ao eleitor: só que ela era desconhecida e Mercadante já havia sido candidato
ao governo em 2006 e ao Senado em 2002, tendo sido eleito até então o senador mais bem
votado do Estado de São Paulo. Ou seja, o eleitor já o conhecia. Observamos que a estratégia
principal era colar em Lula, usando, inclusive, as “marcas” do governo Lula, como, por
exemplo, o ProUni. É interessante notar que em diversos momentos dos programas as cenas
utilizadas são muito similares às da propaganda de Dilma.
5.2.2 Ausência de discurso de oposição
O discurso de oposição não foi colocado desde o início da campanha. Como pode ser
visto no primeiro programa, a referência ao governo do PSDB é quase incidental, ficando a
maior parte do tempo na apresentação do candidato por Lula, como se Mercadante fosse um
desconhecido do eleitor paulista. Certamente o oponente Alckmin tinha uma maior exposição,
pois já havia sido governador, mas talvez se o candidato petista se ocupasse inicialmente em
apontar os desgastes do opositor, talvez sua posição ficasse mais clara para o eleitor.
Figueiredo e equipe avaliam que “visando convencer os eleitores, todos constroem um
mundo atual possível, igual ou pouco diferente do mundo atual real, e com base nele projetam
um novo e bom futuro possível”. Ele apresenta uma estrutura de argumentação com duas
vertentes: “o mundo atual está ruim, mas ficará bom ou o mundo atual está bom e ficará ainda
melhor”. Para ele, “a primeira vertente é típica da argumentação da oposição e a segunda da
situação”.154
A opção por colar na candidata à presidência e por usar o então presidente Lula como
referência colocou Mercadante num impasse em seu discurso de campanha: ao mesmo tempo
em que se apoia no discurso da continuidade, que é a tônica de Dilma, em São Paulo ele
precisa ser oposição, pois o Estado vivia há 16 anos sob o comando do PSDB. Ao oscilar
entre um e outro, sua posição não é clara. Ao mesmo tempo em que critica o governo do
PSDB apontando falhas e atacando frontalmente, ao se apoiar no discurso do PT, acaba
154
FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,
Rubens (org.). Op. Cit,, p. 152.
deixando margem de dúvida ao eleitor. Um exemplo disso é o trecho do discurso de
encerramento da campanha: o Brasil vai tão bem, que a economia de São Paulo é tão
vibrante, que se o governador do Estado não fizer nada, tem gente que pode achar que está
tudo bem. Ou, o trecho de discurso usado no programa do meio da campanha: Mas um Estado
como São Paulo não pode ser governado por alguém que fica sentado no Palácio dos
Bandeirantes, esperando quatro anos para fazer, de novo, as promessas que não cumpriu
antes. Até porque pode parecer que está tudo bem... Ante tal retórica, possivelmente o eleitor
não consegue distinguir o bom do ruim e a tendência é acreditar que tudo vai bem.
Ressaltamos que a estratégia de colar num político ou num candidato que tem uma boa
avaliação não é errônea, pelo contrário, ajuda, e muito. Porém, ao optar por essa estratégia ela
não pode ser de forma desmedida, desmerecendo outros pontos centrais que deveriam ser
destacados no planejamento da estratégia de campanha.
5.2.3 Crítica e apelo emocional
Em diversos momentos, durante os três programas, o candidato buscou se solidarizar e
se identificar com os problemas do eleitor paulista, pontuando as áreas consideradas mais
críticas pela campanha: Educação, Saúde, Segurança e Trânsito. Na forma como o candidato
se dirigiu ao público é possível perceber que há o uso de apelos emocionais, tentando
persuadi-lo e provocar determinados sentimentos no eleitor, seja nos momentos de crítica ou
de apelos.
A tônica das propagandas muitas vezes foi emocional, exemplo disso é a aposta no
discurso final de ressaltar a segurança do “futuro do filho”. No entanto, infelizmente, não é
possível avaliar se a mensagem atingiu o eleitor de maneira eficaz pelo fato desta pesquisa se
propor a estudar apenas um lado dos dois envolvidos na campanha (candidato e eleitor).
Enfim, nossa proposta se ateve a analisar apenas o lado do candidato.
5.3 Análise dos debates
5.3.1 Programa de debate: TV Bandeirantes
O primeiro debate entre os candidatos ao governo do Estado foi realizado ao vivo na
TV Bandeirantes,155
em 12 de agosto, às 22h, seis dias antes do início da propaganda eleitoral
gratuita, sob a mediação do jornalista Bóris Casoy. Neste debate, além de Alckmin e
Mercadante, estiveram presentes os candidatos Celso Russomanno, Paulo Skaf, Paulo Bufalo
e Fabio Feldmann. Contudo, como mencionado anteriormente, iremos analisar apenas o
desempenho de Mercadante e Alckmin. Para isso serão pontuados nos quadros a seguir –
criados por esta pesquisadora com a finalidade de facilitar a análise dos dados –, os temas e as
posições de cada candidato (ataque, defesa, programa de governo e provocação).
Tabela 1 – Programa de debate realizado pela TV Bandeirantes dividido por tema156
POSIÇÃO MERCADANTE ALCKMIN
BLOCO 1
Ataque 16 anos do PSDB: economia, transporte,
saúde, segurança e educação ineficazes.
------------------------------------
Defesa
------------------------------------
Crescimento do Estado nos últimos anos
“desde a época de Mário Covas” na economia,
saúde e educação.
BLOCO 2
Ataque Economia: aumento da carga tributária; abuso
dos pedágios; perda de indústrias para outros
estados; privatização. Com governo do PSDB
o Estado vem perdendo eficiência e
competitividade.
Educação: falta de investimento na educação
superior, aprovação automática, metade dos
professores da rede pública sem concurso e
sem carreira, o sistema de ensino de São Paulo
não avalia e nem prepara para o futuro.
Segurança: O PCC tomou conta dos presídios
em São Paulo
Educação: “o senador é ótimo para criticar,
mas eu não conheço nada que ele tenha feito
por São Paulo”; o Brasil inteiro investe 25%
em educação, aqui em São Paulo investimos
30%; o PT na prefeitura reduziu o dinheiro
para educação.
Defesa Orgulho de ser líder na bancada do Governo
Lula;
O país cresce com investimento do Governo
Lula.
Transporte: defesa as acusações de abusos
pedágios.
Educação: valorizar o professor com
capacitação e reforço escolar para os alunos;
redução da evasão escolar; avanço com a
construção das ETECs e FATECs; levou a
155
O debate teve a iniciativa pelo Grupo Bandeirantes. Além de ser transmitido pela TV Bandeirantes, outros
equipamentos do grupo também fez a transmissão ao vivo: BandNews TV, Rádio BandNews FM e Rádio
Bandeirantes AM e no portal www.eband.com.br. 156
Youtube. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=uejKUFyEG7A&feature=relmfu>. Acesso em:
30 de out. 2011.
USP para a Zona Leste.
Saúde: Salário do Médico (ganha R$ 600 por
plantão de 12h).
Programa Economia: investir no desenvolvimento do
interior do Estado, dar incentivo fiscal.
Educação: parceria as universidades e instituto
tecnológicos, parceria com o governo federal,
valorização dos professores, tecnologia nas
escolas.
Segurança: valorizar a polícia com o aumento
de salário, humanizar a relação com a polícia,
investir na inteligência policial, batalhão de
proteção escolar para vigiar a segurança dos
alunos.
Meio Ambiente: redução do CO2;
Transporte: expansão do metrô.
BLOCO 3
Ataque Segurança: o ex-governador Alckmin permitiu
que crime organizado (PCC) tomasse conta
dos presídios.
Educação: aprovação automática.
Saúde: governo federal se nega a pagar,
através do SUS, tratamento para os
dependentes químicos, o PT não investiu na
saúde no Estado.
Programa Saúde: política de segurança de combate ao
crack, clínicas para tratar dos usuários de
drogas.
Educação: qualidade na educação como
prevenção dos problemas com drogas, escola
acolhedora e preparada para as novas
tecnologias do século XXI; incentivo aos
professores.
Segurança: trabalho integrado com o sistema
penitenciário, polícia civil, militar e federal
para erradicação do crack.
Segurança: policiamento nas portas das
escolas.
Saúde: programa junto com as prefeituras para
redução da obesidade; rede de prevenção e
tratamento do câncer;
Trânsito: dependentes químicos e saúde
mental.
BLOCO 4
Ataque Economia: privatização do Banespa que era
instrumento fundamental para o
desenvolvimento do Estado para agricultura,
pequena e media empresa; O PSDB é incapaz
de fazer autocrítica e de reconhecer os graves
erros que cometeu.
Esvaziamento do interior pela falta de
alternativa de emprego para a juventude;
O PSDB tem visão privatizante e neoliberal;
O governo federal mandou investimento para
a COPA e o PSDB fica em cima do muro para
começar as obras;
O PSDB promete o VLT em Santos há mais
dez anos e não faz;
O PSDB sucateou e abandonou as ferrovias
porque não tem pedágio;
O PSDB é contra o Trem Bala que vai ligar
Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro;
O PSDB privatizou um terço da Petrobras por
R$ 5 bilhões;
No governo de FHC só tinha recessão e
desemprego.
Sugere que há uma aliança entre o PT e o
malufismo;
Transporte: em 8 anos não foi construído um
trilho do Ferroanel do PT;
Critica ao Governo Lula: caos nos Aeroporto
de Cumbica e o Viracopos; Porto de Santos
fica quarenta dias para embarcar açúcar.
Defesa Transporte: a ferrovia Norte Sul tem 400 km,
Transnordestina 100 km prontos e gerou 10
Economia: Privatização do Banespa no
governo do Mário Covas;
mil empregos (governo federal);
Recuperou 1.000 km de ferrovias no Brasil;
O governo federal vai recuperar as ferrovias e
construir;
A Petrobrás com o governo Lula vale mais de
200 bilhões por ter descoberto o Pré-Sal;
Transporte: obras do metrô, rodoanel,
Imigrantes;
Investimento: Hospitais, AMEs, Etec, Fatec,
Segurança Pública. Alega falta de
conhecimento do candidato do PT sobre banco
de fomento;
Economia: interior em crescimento com a
chegada de fábricas automotivas;
O metrô da linha 4 vai ficar pronto em um
ano;
O governo vai apoiar a COPA, mas sem
colocar dinheiro público em estádio.
Programa Economia: Agência de desenvolvimento,
como o BNDS para o Brasil, para fomentar,
estimular e impulsionar o Estado;
Transporte: Modernização do porto de Santos
para acolher os passageiros turistas.
------------------------------------
BLOCO 5
Ataque Contradiz as realizações listadas por Alckmin.
Ataca a Segurança Pública, Saúde, Educação.
“Não fizeram mesmo após 16 anos de
governo”. Percorreu Estado com Lula,
ajudando Lula e Dilma a governar.
------------------------------------
Programa
Propõe que vai governar, e não fazer ataques
pessoais. E que vai fazer parcerias com o
governo federal.
“Casamento” entre e a formação profissional e
a necessidade do mercado de trabalho;
Educação: avanço na educação com ETECs,
FATECs, na Universidade Pública;
Saúde: AMEs, Hospitais, leitos públicos;
Segurança: reduzir os índices de homicídios.
O primeiro pronunciamento de Mercadante no debate, diferentemente do início da
propaganda eleitoral, começou com ataques aos 16 anos de governo do PSDB nas áreas da
Economia, Transporte, Segurança, Saúde e, principalmente, Educação. Aliás, a Educação foi
o ponto central desse primeiro momento de sua fala: Se vocês me derem a chance de governar
São Paulo, eu quero ser o governador da Educação. Considero que nós podemos ter um
ensino de qualidade, e quero ser avaliado pela qualidade do ensino que nós vamos implantar,
se os alunos evoluírem positivamente eu devo ser aprovado, e aqueles que governaram e não
foram capazes de melhorar a educação, humildemente, sinceramente, eu acho que deveriam
perder as eleições. É curioso observar que, diferentemente, da sua propaganda eleitoral,
Mercadante inicia o debate sem colar em Lula. Em momento nenhum de sua apresentação do
primeiro bloco, ele menciona o nome de Lula ou dos programas realizados por seu governo.
Já o candidato da situação, no início de sua fala, cola à imagem de Mário Covas e
defende que o Estado de São Paulo avançou muito desde a época do saudoso governador
Mário Covas; o Estado recuperou sua capacidade de investimento (...). No primeiro
momento do debate Alckmin não cita o nome de seu aliado, José Serra, então candidato à
Presidência, e nem das realizações dele quando à frente do governo de São Paulo; sequer
afirma que continuará com os projetos iniciados por ele. Diz que vai dar continuidade aos
projetos desenvolvidos pelo seu próprio governo. Somente no segundo bloco Alckmin cita
rapidamente o nome de Serra quando estimulado pela pergunta do candidato Fabio Feldmann.
Os candidatos Alckmin e Mercadante tiveram um confronto direto no segundo bloco,
quando os candidatos podiam escolher a quem fazer a pergunta; e no quarto bloco, quando as
perguntas eram feitas por jornalistas. Logo no início desse bloco, o jornalista José Paulo de
Andrade fez pergunta a Alckmin sobre a privatização do Banespa e a compra da Nossa Caixa
Nosso Banco pelo Banco do Brasil, pedindo o comentário de Mercadante. Da mesma
maneira, o jornalista Joelmir Beting perguntou para Mercadante sobre o Transporte no Porto
de Santos e sobre o Pré-Sal, com comentário de Alckmin.
A estratégia de Mercadante consistiu em atacar o governo do PSDB em todos os
blocos, nas cinco áreas: Economia, Transporte, Saúde, Segurança e Educação. Os ataques
foram mais agressivos no quarto bloco, quando os temas já estavam bem desenvolvidos, e
quando teve a oportunidade de interagir de maneira mais direta com o candidato da situação.
Em alguns momentos defendeu o governo Lula dos ataques de Alckmin.
Somente no último bloco foi possível perceber de forma mais nítida que Mercadante
colou em Lula ao mencionar o apoio a Dilma, mostrando uma união entre os candidatos ao
governo e à Presidência. Ele se despediu agradecendo ao público e aos candidatos presentes,
ressaltando que o eleitor teve uma boa oportunidade para comparar as propostas, de modo a
ter várias questões para refletir: Você, sinceramente, acha que a Segurança Pública está boa
em São Paulo? Você está tranquilo com seus filhos quando eles saem para uma festa ou vão
para a escola? Você acha que a Saúde pública vai bem, as filas, as dificuldades de
atendimento que a gente vê por toda parte na porta dos hospitais? Você acha que a Educação
em São Paulo pode continuar como está, com essa aprovação automática, com os salários
que são pagos aos funcionários, aos professores, aos policiais? Eu acho que você pensa
como eu: que não pode continuar assim.
Já Alckmin, na maior parte do tempo se defendeu não só de Mercadante, como
também dos outros candidatos. No segundo bloco ficou visivelmente irritado quando
Mercadante leu um relatório, do então governador José Serra, ao Tribunal de Contas relatando
a precariedade do sistema de ensino deixado pelo seu antecessor, o próprio Alckmin.
Responde à pergunta também atacando: O senador é ótimo para criticar, mas eu não conheço
nada que ele tenha feito por São Paulo. No terceiro bloco, Alckmin avança em seus ataques
ao Governo Lula, principalmente, na área da Saúde. No começo do quarto bloco antes de
responder à pergunta do jornalista Joelmir Beting, sugere que havia uma aliança entre o PT e
o malufismo. Nesse bloco ele intensifica os ataques ao Governo Lula, dessa vez na área de
Transporte. Apenas nas considerações finais cita o nome de Serra espontaneamente,
possivelmente, porque o candidato estava entre os convidados, na plateia, assistindo ao
debate.
5.3.2 Programa de debate: TV Record
O segundo programa de debate a ser analisado ocorreu quase quarenta dias depois do
primeiro, em 20 de setembro, na TV Record,157
coordenado pela jornalista Luciana Liviero.
Como no debate realizado pelo Grupo Bandeirantes, o da Record também foi transmitido ao
vivo. Participaram os mesmos candidatos do debate anterior e, diferentemente do primeiro,
este teve somente quatro blocos.
Tabela 2 – Programa de debate realizado pela TV Record dividido por tema158
POSIÇÃO MERCADANTE ALCKMIN
BLOCO 1
Ataque Transporte: abuso nos pedágios;
Saúde: enfrentar as filas na Saúde;
Economia: privatização e venda dos Bancos
Governo FHC;
Segurança: controle dos presídios pelo PCC;
maior rebelião da história do Estado;
Saúde:
Falta de investimento e financiamento em
agricultura;
Falta em São Paulo um governo com mais
sensibilidade social.
Currículo do Mercadante
Defesa Economia: defendeu as realizações do
governo Lula, o Brasil é um dos países que
mais cresceram e aponta dados para justificar.
Antecipou ao eleitor que ele ouviria ataques
dos candidatos;
Educação: defendeu a Educação dando dados
positivos do governo do PSDB; São Paulo
investe 30% na Educação;
Economia: São Paulo cresce mais que o Brasil
desde 2004.
Programa Educação: ser o governador da Educação;
Economia: Investimento no interior do Estado;
Educação: Investir na Educação Infantil,
escola em tempo integral; capacitação e
157
A retransmissão ocorreu também pela Rádio Record, portal www.R7.com e cobertura da RecordNews. 158
Notícias R7. Disponível em: <http://noticias.r7.com/eleicoes-2010/noticias/veja-a-cobertura-completa-dos-
debates-entre-os-candidatos-aos-governos-20100921.html>. Acesso em: 2 de nov. 2011.
resgatar a dignidade da polícia civil.
Trabalho: Gerar emprego e renda
Redução das tarifas do pedágio para a
indústria voltar para o interior;
Segurança: Separar os presos por grau de
periculosidade (introduzir trabalho e educação
nos níveis de menor periculosidade) e
monitoramento eletrônico.
aumento do salário dos professores; expansão
do ensino técnico e tecnológico;
Trabalho: Via rápida para o emprego com
cursos rápido;
Meio Ambiente: desenvolvimento sustentável;
preservação do meio ambiente;
Transporte: terminar o Rodoanel;
Economia: redução de impostos.
BLOCO 2
Ataque Segurança: Permitiu que o PCC comandasse o
crime dos presídios; aumento de assalto, roubo
e furto.
Transporte: Abuso nos pedágios;
Educação: aprovação automática;
----------------------------------------------
Defesa Defesa aos ataques de Alckmin no horário
eleitoral;
Acusa os outros candidatos de fazer acusação
orquestrada contra ele;
Segurança: dos ataques dos outros candidatos;
Contra argumenta sua defesa com realizações
na segurança pública;
Cola em Mário Covas: “a ética eu aprendi
com Mário Covas”.
Provocação Ele está nervoso com o meu crescimento nas
pesquisas, ele não acompanha o governo Lula.
--------------------------------------------
BLOCO 3
Ataque Educação: ao sistema de ensino;
Cola em Lula e ataca a Educação em SP.
--------------------------------------------
Defesa
-----------------------------------------
Saúde: defesa do SUS, AMEs, hospital
Mandaqui;
Meio ambiente: implementação do rodízio.
Programa Educação: Ensino Fundamental, Creche.
Prioridade de governo: Saúde; investimento
no Instituto do Câncer;
Transporte público de alta capacidade: metrô.
BLOCO 4
Ataque Educação, Saúde, Segurança. Progressão continuada foi criada pela gestão
do PT (Erundina);
Transporte: comparação das estradas no país
com as de São Paulo.
São Paulo tem que continuar crescendo para o
Brasil não parar de crescer.
Defesa
-------------------------------------------
Educação: da aprovação automática, como
progressão continuada.
Provocação Ele esperava Alckmin debater mais uma vez e
ele não fez;
É fácil colocar um ator para criticar, mas é
mais verdadeiro sustentar o que disse.
-----------------------------------------------
Alckmin dá inicio ao debate atacando o currículo de Mercadante de forma indireta:
São Paulo quer um governo à altura desse Estado, que não pense pequeno, que tenha
liderança, que tenha experiência. E, antecipa-se na defesa aos possíveis ataques dos
candidatos: Certamente vocês vão ouvir aqui críticas descabidas, dados errados.
Diferentemente do primeiro programa, Mercadante inicia o debate no mesmo sentido
da propaganda eleitoral, ou seja, colando no Governo Lula e propondo trazer para São Paulo
as experiências boas que Lula trouxe para o Brasil. No entanto, num certo momento ele
confunde o eleitor ao dizer: Vou manter o que está bom, mas trazer o melhor do governo Lula
pra gente mudar mais rápido São Paulo. O discurso deixa abertura para o eleitor imaginar se
o candidato é da situação ou da oposição.
A estratégia do ataque ao governo do PSDB permaneceu durante todo o programa. No
primeiro bloco ele investiu fortemente, em especial na área da Segurança; em diversos
momentos citou os problemas ocorridos durante a gestão de Alckmin, entre eles os ataques do
PCC, dizendo que São Paulo foi vítima de uma facção criminosa; e a falta de combate ao
tráfico de drogas.
É inegável que houve mudança de estratégia tanto de Mercadante, quanto de Alckmin.
A do candidato do PT em relação ao primeiro debate foi a de colar em Lula, mas
intensificando ainda mais os seus ataques ao governo do Estado. No decorrer do programa
Mercadante aproveitou e se defendeu da acusação de Alckmin sobre sua falta de experiência,
e citou alguns projetos sobre Segurança Pública que desenvolveu quando estava no
Legislativo. No final, ele provoca Alckmin dizendo que esperava que o candidato debatesse
diretamente com ele mais uma vez, o que não ocorreu.
Alckmin evitou o confronto direto com Mercadante, esquivando-se, atacando menos
do que no debate da Bandeirantes, e colou diversas vezes em Mário Covas. Sua estratégia
consistiu em aproveitar a maior parte do debate para se defender e apresentar propostas.
Contudo, no final fez seu agradecimento se defendendo das acusações da “aprovação
automática” e voltou a atacar, transferindo para o PT a responsabilidade pela “progressão
continuada”, dizendo que foi criada no governo de Luiza Erundina quando era prefeita de São
Paulo pelo PT. Ele inverte o slogan da campanha do PT e diz que: São Paulo tem que
continuar crescendo para o Brasil não parar de crescer.
5.3.3 Programa de debate: Rede Globo
O último debate dos candidatos ao governo do Estado de São Paulo aconteceu na Rede
Globo no dia 28 de setembro de 2010, quatro dias antes das eleições, sob a coordenação do
jornalista Chico Pinheiro. O programa contou com a presença dos seis candidatos que
participaram dos outros dois debates analisados e teve cinco blocos. Trouxe novos ataques
dos opositores a Alckmin, que se encontrava na dianteira das pesquisas de intenção de voto,
que também apontavam uma subida gradual de Mercadante. O debate foi marcado por uma
falha no áudio que chegou a interromper o quarto bloco para que fosse corrigida. Talvez por
este motivo a Globo praticamente erradicou os vídeos da internet, o que impossibilitou uma
análise completa, como a feita com os debates anteriores. O que se conseguiu foi avaliar o
desempenho de Alckmin em todos os cinco blocos, de modo que a participação de
Mercadante, objeto desta pesquisa, não pôde ser acessada na íntegra, apenas parte do primeiro
bloco. As análises aqui presentes foram baseadas na repercussão publicada pelos jornais no
dia seguinte ao debate, pontuando os ataques do candidato petista, além da cobertua minuto a
minuto feita pelos sites.
Tabela 3 – Programa de debate realizado pela TV Globo dividido por tema159
POSIÇÃO MERCADANTE ALCKMIN
BLOCO 1
Ataque Desenvolvimento econômico: 16 anos do
PSDB, abuso dos pedágios no interior,
privatização do Banespa e a venda da Nossa
Caixa, aumento dos impostos; falta de
incentivo para manter os investimentos em
São Paulo o que levou a perda de muitas
empresas;
Funcionalismo público recebe um salário
“indecente”;
Educação: aprovação automática;
Transporte: aumento do número de pedágios
ao longo dos 16 anos do governo do PSDB.
-------------------------------------------
Defesa Cita projetos realizados em benefício do
Estado;
Funcionalismo público: No meu governo não
teve greve, especialmente na área do
magistério.
Programa Emprego: cita números do governo federal e
diz que irá fazer por São Paulo o que Lula fez
pelo Brasil;
Transporte: recuperar ferrovias e recuperar o
financiamento público para as áreas mais
abandonadas do interior.
Valorizar o funcionalismo público de São
Paulo, projeto habitacional para os
funcionários públicos, capacitação permanente
continuada, aumento acima da inflação,
inclusive para aposentados e pensionistas;
Habitação: continuidade ao programa de
Serra, Rede Dignidade, para idosos.
BLOCO 2
Ataque “O candidato Alckmin teve duas
oportunidades para perguntar pra mim, mas
ele não pergunta. Fica falando de mim na
159
Disponível em: Acervo digital do jornal Folha de S. Paulo. Alvo, Alckmin se esquiva de confrontos. Caderno
especial, 29 de setembro de 2010, p, 10. In <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 4 de nov. 2011.
Disponível também nos sites: <http://www.youtube.com/watch?v=vybe3m8OhHE&feature=related>,
<http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/09/debate-da-tv-globo-reune-seis-candidatos-ao-
governo-de-sp.html> e <http://eleicoes.uol.com.br/2010/sao-paulo/ultimas-noticias/2010/09/29/mercadante-
chama-alckmin-para-debate-no-2-turno-tucano-evita-petista.jhtm>. Acesso em: 4 de nov. 2011.
propaganda, mas na hora de discutir olho no
olho ele foge”.
“Eu não consigo aceitar que no Estado mais
rico desse País saiam da escola como essas
crianças estão saindo”
-------------------------------------------
Defesa
------------------------------------------
São poucos os municípios do Estado que tem
problemas do destino final do lixo, São Paulo
preserva o meio ambiente, o lençol freático, a
água, gera emprego através da coleta seletiva.
Agricultura paulista: O Estado tem avançado
com crédito agrícola e investimento nas
estradas vicinais
Programa Educação: os recursos precisam ser investido
em educação.
--------------------------------------------
BLOCO 3
Ataque Educação: inconformismo por essa área estar
abaixo do potencial do “Estado mais rico da
Federação”; aprovação automática;
Falta de política para o saneamento básico.
Respeito é bom e não faltar à verdade.
Defesa Reconhece os avanços sociais do PT, mas
acredita que essas conquistas podem ir além
do que já foi feito. “O Bolsa Família veio para
preparar o pobre para ter as mesmas
possibilidades”. É o primeiro passo. “A porta
de saída é a Educação. É a única oportunidade
para o filho do trabalhador sair da pobreza”.
Desenvolvimento do interior: Aponta números
sobre a economia do interior de SP: o interior
de São Paulo tem economia do tamanho de
países latinos americanos; a cidade que mais
se desenvolve no Brasil é Araraquara; São
Paulo é o estado que tem os menores impostos
do Brasil;
Franca é a cidade que mais gera emprego no
país;
SP cresce acima do PIB brasileiro.
Programa
---------------------------------------------
Com o crédito da agência de Fomentos; via
rápida para empregos, cursos rápidos para os
trabalhadores;
Provocação Alckmin teve a terceira oportunidade para
perguntar para mim, e não fez”; no “segundo
turno ele não vai ter como fugir do debate”.
---------------------------------------------
BLOCO 4
Ataque
---------------------------------------------
O PT que quer fazer o controle sobre a
imprensa, restringir o direito de imprensa,
agora quer restringir sobre o meu direito de
perguntar.
Defesa Defende a candidatura Dilma: ninguém nunca
viu seu nome envolvido com atos secretos.
Mudança de ideia em relação a Sarney:
desistiu de renunciar por defender o projeto do
presidente Lula.
Educação: Desmente os ataques a essa área e
defende a Progessão Continuada, dizendo que
os países mais desenvolvidos adotam o
sistema.
Programa Precisamos de concurso para novos
professores, tem de ter avaliação do aluno e
ensino profissionalizante no ensino médio.
Educação: “Eu vou investir no professor”
Provocação “Eu primeiro queria dizer que o Alckmin mais
uma vez deixou de fazer a pergunta pra mim.
E fez a crítica ao PT, mais uma vez pelas
costas”.
---------------------------------------------
BLOCO 5
Ataque
--------------------------------------------
São Paulo tem um dos menores índices de
homicídios, é 10 por 100 mil habitantes, Brasil
é 26; aqui a polícia trabalhou.
Defesa “O povo brasileiro demorou muito tempo para São Paulo cresce acima do Brasil, lidera o
perder o medo e confiar no Lula. E quando
mudou, o País mudou pra melhor”.
desenvolvimento do Brasil;
Desenvolvimento do interior com empresas
automobilísticas e aponta números de fábricas;
São Paulo foi o primeiro Estado do hemisfério
Sul a aprovar uma lei moderna de mudanças
climáticas, redução de 20% do gás de efeito
estufa;
São Paulo tem o menor índice de homicídios.
Programa
Transporte: “acredita na redução dos
pedágios, na melhoria da Saúde e mudança da
Educação para melhor”;
Trazer a experiência do governo Lula para São
Paulo
Compromisso com Meio ambiente empenho
no Código Florestal;
São Paulo cresce acima do Brasil;
Defende que o desenvolvimento econômico
pode ser contabilizado com o Meio Ambiente.
Alckmin, desde o início do programa, tentou se manter na defensiva ante os ataques
feitos por todos os demais candidatos, aproveitando as oportunidades para se concentrar no
discurso de apresentação de propostas. Assim, evitou confrontos diretos com seu principal
opositor, Mercadante. Contudo, a estratégia de seguir o debate sem atacar foi se desfazendo
no quarto bloco, logo depois da pane do áudio, momento em que faria uma pergunta para
outro candidato e aproveitou para atacar o partido do Mercadante: O PT, que quer fazer o
controle sobre a imprensa, restringir o direito de imprensa, agora quer restringir sobre o
meu direito de perguntar. Como no segundo programa, insistiu em defender que São Paulo é
um Estado que ajuda o Brasil, afirmando que o Estado cresce acima do PIB brasileiro.
Em resposta às provocações de Mercadante, de ter fugido do confronto, Alckmin usou
uma frase atribuindo-a a um aliado de Mercadante, José Eduardo Dutra: Quem está em
primeiro não pergunta para quem está em segundo. Contudo, esta frase foi dita após o
término do debate, quando os candidatos deram entrevista coletiva sobre o debate.
Enquanto Mercadante atacava a “oligarquia tucana” e tentava colar em Lula, contou
com o apoio de quase todos os candidatos nos ataques. Além de provocar Alckmin em
diversos momentos sobre sua estratégia de recuar a evitar ataques diretos a ele, Mercadante
encontrou formas de atacá-lo durante a elaboração de suas perguntas ou respostas para outros
candidatos: Quero registrar que Alckmin teve a quarta oportunidade de perguntar para mim,
e não perguntou. E fez o ataque ao PT pelas costas, quando deveria fazer para mim.
Nesse debate Mercadante colou fortemente em Lula. Em muitos momentos citou os
projetos realizados pelo governo, propondo trazer a mesma política de governo para São
Paulo. Apontou deficiências em diversas áreas do governo do PSDB: desenvolvimento
econômico, funcionalismo público, pedágio, despoluição do Tietê, etc. Porém, a área que
mais criticou foi a Educação. E apresentou propostas, reagindo ao discurso da situação.
A análise dos três debates torna possível perceber que a campanha de Mercadante foi
mudando sua estratégia, de modo a aproveitar as lacunas e trazer à discussão os temas
evitados pelo concorrente: pedágios, Segurança, Saúde, Educação. E se manteve criticando
fortemente o governo do PSDB. Porém, se aproveitou mais dos programas e projetos do
governo Lula, defendendo o nome de Dilma.
Alckmin, por sua vez, mesmo sendo questionado em todos os debates pelos demais
candidatos, também mudou sua estratégia, diminuindo a quantidade de ataques a Mercadante
e ao governo do PT. Porém, as poucas vezes em que atacou, foi bem agressivo em suas
críticas. Em alguns momentos parecia tentar fazer uma aliança com outro candidato
(Feldman), quando sentia que havia alguma afinidade entre os dois, para tentar equilibrar os
ataques da maioria dos candidatos. Contudo, essas tentativas malograram. Nos últimos dois
programas ele evitou ao máximo confrontar diretamente o seu principal adversário na disputa,
Mercadante. Preferiu fazer uso da imagem do falecido Mário Covas, a colar no então
candidato a presidente do seu partido, Serra. Aliás, Alckmin pareceu agir como se não tivesse
existido o governo Serra, usando como exemplos a gestão do seu guru político, Mário Covas.
A postura de Mercadante era condizente com sua condição de candidato da oposição,
ou seja, agressivo na medida apropriada. Mostrava segurança e propriedade sobre os assuntos
levantados. Aparentava tranquilidade e era assertivo na maneira de fazer perguntas ou para
responder. A forma como se dirigia às câmeras era apropriada para atrair positivamente a
atenção do eleitor, ou seja, falava diretamente com o telespectador. Contudo, não conseguia
disfarçar sua dificuldade em sorrir ou demonstrar uma empatia mais profunda, o que é uma
falha grave para a imagem de um candidato.
5.4 Análise da cobertura dos jornais impressos
Para desenvolver a análise de conteúdo da cobertura da mídia impressa foram
escolhidos os jornais Folha de S. Paulo e Diário de S. Paulo, edições veiculadas no período
de 12 de agosto a 7 de outubro de 2010. A opção por esses dois jornais se justifica pelo fato
de serem reconhecidos por seu posicionamento político, principalmente dentro do Estado, sua
capacidade de alcance informacional, periodicidade diária e, por sua capacidade de atingir as
diversas classes sociais. O primeiro tem sua linha editorial direcionada ao público da classe
média e média alta (A e B), com circulação diária nacional média de 294.498.160
O segundo
tem a maioria dos seus leitores nas classes B e C (82%)161
e sua circulação local média é de
41.222 exemplares diários.162
A decisão de não optarmos pelo jornal O Estado de S. Paulo,
principal concorrente da Folha de S. Paulo, foi especialmente pela identificação de
semelhanças do comportamento editorial como estratégia na construção de sua linguagem
para atingir o seu público-alvo. O que não é o caso dos dois jornais escolhidos.
A coleta do material da Folha de S. Paulo foi feita a partir do acervo digitalizado
disponível na internet; já a do Diário de S. Paulo foi feita com material impresso. O objetivo
foi identificar a abordagem dada na cobertura da campanha de Aloizio Mercadante para
governador do Estado, de acordo com o segmento social aos quais se destinam. Optou-se por
não verificar as variações e diferentes orientações políticas apresentadas pelos veículos de
comunicação por não haver tempo hábil para tal análise.
Para tentar extrair o significado das notícias foram feitos recortes do material
jornalístico, a fim de contornar as dificuldades de avaliação do significado da notícia,
informação ou opinião.
A seguir a análise dos jornais, sendo que os recortes estão disponíveis, na íntegra, nos
anexos desta pesquisa.
5.4.1 Folha de S. Paulo
A Folha de S. Paulo opta por não dar uma cobertura mais intensa às campanhas
estaduais, reservando grande parte do espaço dedicado às eleições ao pleito presidencial.
Mesmo o caderno dedicado ao tema, sempre acaba sendo ocupado com as questões
envolvendo os candidatos Dilma Rousseff e José Serra. Com exceção da cobertura dos
debates e dos resultados das pesquisas de intenção de voto, que recebe espaço maior, as
contendas entre as duas campanhas passam sem registro. Aliás, em geral essas são apenas
usadas em comentários de seções dedicadas à política, geralmente assinadas por jornalistas.
Por exemplo, Painel, assinada por Renata Lo Prete. Assim, entre agosto e início de outubro,
período de campanha, o jornal publicou as seguintes notas:
12/08 – Poder
160
Associação Nacional de Jornais. Disponível em: <http://www.anj.org.br/>. Acesso em: 5 de nov. 2011. 161
Marplan – abr/09 a mar/10 – Gde. São Paulo in Apresentação do novo Diário de S. Paulo. 162
Idem.
FÍGADO: Mercadante (PT), candidato ao governo de SP, ganhou ontem um
presente inusitado: ervas medicinais indicadas para melhorar o
funcionamento do fígado. ‘Sabe como é... em campanha, a gente come muito
pastel’.
13/08 – Painel
Na plateia Serra riu satisfeito quando Alckmin disse que Mercadante, como
senador, nunca fez nada por São Paulo. Já Marta Suplicy queria pedir direito
de resposta quando o tucano afirmou que ela, à frente da prefeitura da
capital, reduziu o investimento em educação.
11/09 – Painel
Tiroteio – “Como o Fura-Fila do Pitta, o trem-bala de Dilma e Mercadante
está na plataforma dos marqueteiros, sem nenhum compromisso com as
necessidades da população.” Deputado Estadual, Bruno Covas (PSDB).
12/9 – Painel
Colateral – Alguns petistas avaliam que o “Receitagate”, embora até agora
improdutivo do ponto de vista eleitoral para José Serra (PSDB) pode ter
contribuído para conter o crescimento de Aloízio Mercadante em São Paulo.
Ele, que desde o início do horário eleitoral gratuito havia escalado oito
pontos, recuou um no novo DataFolha, e está com 23%.
13/9 – Notas (Debate DILMA x SERRA)
Mercadante faltou... – Durante o intervalo do segundo bloco do programa,
os telões do estúdio passaram a propaganda do PSDB que acusa Aloizio
Mercadante, candidato ao governo do Estado de São Paulo, de faltar a
votações no Senado. “Eu vou pedir direito de resposta!”, brincou ele,
sentado na plateia.
13/9 – Painel
Pulverizado – O ato de apoio a Aloizio Mercadante que o PT havia marcado
para hoje no Anhembi foi substituído por um “dia de mobilização” em todo
o Estado.
20/9 – Mônica Bérgamo
Deputados do PT de SP têm pregado, discretamente, o segundo voto ao
Senado em Aloysio Nunes Ferreira – e não em Netinho (PC do B), que faz
chapa com Marta Suplicy. Um deles, pedindo sigilo, afirmou à coluna que,
mesmo sendo adversário, o tucano daria “mais qualidade” ao debate no
parlamento. Já o grupo mais ligado a Aluísio Mercadante (PT) trabalha para
que Netinho tenha mais votos que Marta.
23/9 – Painel
Linha vermelha – Aloízio Mercadante faz suspense sobre a utilização de
imagens da pane no metrô em sua propaganda na TV. No Twitter reprova os
investimentos em manutenção.
Em geral, essas colunas consideram a confiança do leitor nos jornalistas que a
assinam, o que lhes dá certa liberdade editorial. Por exemplo, de mencionar uma informação
sem precisar citar a fonte. Ou de usar informação negativa em tom de brincadeira, como se
apenas estivesse exercitando seu bom humor. Em outros casos, como no Painel, de citar a
opinião de um correligionário de um dos candidatos sem a necessidade de dar o mesmo
espaço ao outro para equilibrar. Com isso, e usando os exemplos acima listados, é possível ter
o seguinte subtexto em relação a Mercadante: mal humorado (fígado); contribui com o
opositor de Dilma dando-lhe argumentos em relação à sua atuação no Senado; tem uma
plataforma de governo que não será cumprida; conta com dissidência dentro da campanha;
não leva a sério as acusações do seu opositor; e vive uma profunda cisão dentro da campanha,
a ponto dos próprios colegas de partido fazerem campanha para o candidato ao Senado do
outro partido.
A abordagem usada no noticiário geral não é muito diferente. No dia 16/8, início da
campanha, a chamada do caderno Poder indica: “Campanha em São Paulo repetirá ‘todos
contra Alckmin’: adversários vão criticar governo do Estado, dirigido há 16 anos pelo
PSDB”. A abordagem parte da constatação da dianteira do candidato do PSDB nas pesquisas
e lembra ao leitor/eleitor que o partido já governa o Estado há mais de uma década e meia. No
mesmo caderno, ao tratar das estratégias de marketing, usa de chamada no mínimo duvidosa
em termos de seriedade: “‘Baianidade’ e estratégia fazem o marketing petista”, chamada que
poderia até reafirmar algum preconceito regional. Dois dias depois, ao analisar um debate on-
line promovido pelo próprio jornal, conclui: “Alckmin é o único a lucrar num debate sem
vencedor – tucano não ficou acuado diante da tabelinha Mercadante-Russomanno”.
Novamente coloca o candidato tucano na posição de defesa (“todos contra ele”) e dando-lhe
vantagem competitiva. Um mês depois, em setembro, as chamadas passam a focar uma
possível divisão interna do PT: “Nova propaganda do PT-SP é alvo de críticas internas:
candidatos a deputado, antes excluídos do espaço, ironizaram programa” (10/09); e “Marta
cobra mais apoio de Mercadante” (15/09). Por fim, às vésperas das eleições, o jornal retoma a
abordagem da defesa do tucano: “Alvo, Alckmin se esquiva de confrontos” (29/09),
acompanhado da linha fina: “Líder, tucano não faz as questões a Mercadante, que o acusa de
‘fugir’ do debate”. Interessante como o recurso das aspas na palavra “fugir” esvazia a
acusação de Mercadante, assumindo um tom de crítica. Dois dias antes do pleito, o avanço na
reta final do candidato petista é minimizado: “Mercadante sobe entre menos escolarizados”
(1/10), seguida da linha fina: “Em pesquisa Datafolha divulgada ontem, petista reduziu
diferença para Alckmin de 28 para 22 pontos percentuais”.
Apesar de não publicar reportagens tendenciosas, a habilidade na abordagem é que dá
um tom crítico à campanha petista, inclusive tocando no seu ponto mais sensível: a divisão
interna.
5.4.2 Diário de S. Paulo
O jornal Diário de S. Paulo, por sua vez, tem uma cobertura bastante regionalizada e
estreou no noticiário eleitoral em 2010, pois passou por uma reestruturação um ano antes,
quando foi adquirido da família Marinho pelo grupo J. Hawilla. Nitidamente a posição do
jornal pendeu para os candidatos do PSDB, tanto na cobertura da campanha para presidente
de José Serra quanto da campanha para governador de Geraldo Alckmin. No primeiro caso,
chegou-se a publicar uma reportagem de capa destacando o polvo Paul, que na época da Copa
do Mundo teria o dom de profetizar quem venceria os jogos, só que, perguntado pela
publicação quem seria o próximo presidente da República este teria “escolhido” Serra. Na
mesma linha, destaca, logo após a divulgação dos resultados do primeiro turno (7 de outubro)
e confirmado o segundo turno para a presidência: “Nos presídios, Dilma e Mercadante são
‘eleitos’ no primeiro turno”. A linha fina que segue à chamada aponta: “Candidatos do PT à
Presidência e ao governo vencem com facilidade entre detentos. No Senado, Marta e Netinho
são os preferidos”; e, para reforçar, o destaque da matéria diz: “Administradores dos presídios
paulistas há 16 anos, os tucanos têm alta rejeição entre aqueles que cumprem pena.” Para
fechar a reportagem, que revela a votação de 1.865 presos, sendo que 779 votaram em
Mercadante e 256 em Alckmin, é ouvido um “psicólogo e professor da USP”, Chico Oliveira,
que afirma: “A maioria que está ali é do último estrato da população e vai na onda do governo
Lula”.
Na cobertura da campanha para o governo de São Paulo, vários desses recursos
também foram usados. A cobertura começa em 19 de agosto, descrevendo o primeiro dia de
horário eleitoral gratuito, com a chamada: “Alckmin lista obras e Lula elogia petista”, seguido
do destaque: “Mercadante recebe ajuda na TV do presidente já na estreia da propaganda
política de governador, enquanto o tucano promete ‘pisar no acelerador’”. A fragilização do
candidato petista é ressaltada logo de saída. Num determinado trecho da reportagem, a tônica
é para um candidato que já parte para a agressão antes de se apresentar: “Correndo risco de
perder já no primeiro turno, Mercadante nem sequer fez as apresentações triviais de sua
carreira. Partiu logo para o discurso da mudança total e atacou tudo: saúde, educação,
segurança, pedágios.”
Mas a tônica maior é sempre na presença do então presidente Lula em São Paulo para
“ajudar” o candidato petista. Em 31 de agosto, publica a chamada: “Para segurar Alckmin,
Lula desembarca em SP”. Alguns trechos da matéria: “A ordem de Lula é levar a disputa no
estado para o segundo turno de qualquer jeito. Para isso, ele próprio e Dilma devem
intensificar as agendas em São Paulo ao lado do candidato petista Aloizio Mercadante.” (...)
“Lula já deu vários pitacos na campanha de Mercadante, inclusive pedindo para o candidato
sorrir mais e humanizar os programas do horário eleitoral.” Na mesma edição e na sequência
da matéria mencionada, há a seguinte nota (com os mesmos destaques dados pelo jornal):
Mercadante é punido – O TRE tirou mais 80 segundos do programa de
Mercadante no rádio e 26 segundos da TV. É a quinta vez que o candidato
do PT ao governo do estado é punido pelo tribunal. Os juízes entenderam
que Mercadante invadiu o tempo de propaganda dos candidatos a deputado.
Ele ainda pode recorrer ao TSE.
Ou seja, é reforçada a fragilidade que carece de apoio de Lula e um caráter de
agressividade eleitoral que não escapa à vigilância do Judiciário. No dia 21 de agosto, fora do
noticiário eleitoral, o jornal destaca a inauguração de uma nova estação do metrô na cidade de
São Paulo: “Próxima estação: Vila Prudente”. Diz o destaque da matéria: “No começo, a nova
estação funcionará das 9h30 até 15h, de segunda a sexta-feira. Prolongamento da Linha Verde
irá desafogar movimento de passageiros na Sé”. Comandada pelo PSDB, o governo aparece
como protagonista de uma ação cujo efeito deverá ser imediato: melhorar a vida do cidadão.
Num quadro anexo à matéria aparece: “Trens novos com tecnologia de ponta. 20 km é a
extensão total de vagões novos enfileirados”. Apesar dos vagões terem sidos fabricados pela
Alstom, empresa de origem francesa cuja negociação com o governo do Estado de São Paulo
foi alvo de denúncias na imprensa internacional, seu nome não é mencionado. Além disso, os
vagões enfileirados consideram o total de 107 unidades, embora até aquele momento somente
54 haviam sido entregues, sendo 35 ao metrô e 19 à CPTM. Enfim, a reportagem tende a
favorecer quem entrega a obra, ou seja, o governo a cargo do PSDB, o que provoca efeito
colateral positivo na campanha do partido.
A partir de 13 de setembro o jornal passa a pautar suas matérias na possibilidade de
não haver segundo turno em São Paulo. Baseia-se em pesquisa própria de intenção de voto
(Diário/Ipespe), que desde 27 de agosto dá metade dos votos a Alckmin. Faz reportagem
sobre as “vantagens” financeiras de não ter o segundo turno, estas apontadas por Giovani
Marangoni, professor de marketing político da ESPM. A última pesquisa do jornal, publicada
em 24 de setembro, merece a chamada: “Alckmin já está 25 pontos à frente”, com a linha
fina:“Candidato do PSDB subiu para 49% das intenções de voto e pode ganhar disputa já no
primeiro turno. Aloizio Mercadante (PT) caiu para 24% e Celso Russomanno (PP) para 7% da
preferência do eleitor”. É interessante notar que a pesquisa vai na direção contrária das
apresentadas pelos demais institutos que acompanham a corrida eleitoral no Estado e que
apontavam uma subida de Mercadante na reta final.
Enfim, a reportagem publicada no dia da eleição, com a intenção declarada de auxiliar
o eleitor na sua escolha, aponta as características de cada candidato sob o título “Quem é
ele?”:
Alckmin – Candidato ignora provocação de adversário e o apelido de ‘picolé
de chuchu’ para voltar ao Palácio dos Bandeirantes. Vitória interrompe
ostracismo político gerado no embate, em 2006, com José Serra pela
candidatura à presidência.
Por que voto nele: Lars Grael.
Mercadante – De presidente de centro acadêmico a líder do PT no Senado,
Mercadante seguiu uma trilha que lhe dá de novo a chance de buscar seu
primeiro cargo executivo.
Por que voto nele: Mário Sergio Cortella
A apresentação de Alckmin já o dá como vencedor do pleito, além de mostrá-lo como
uma pessoa que está acima das provocações. Tem a seu lado uma figura popular, o esportista
Grael, desafortunadamente vitimado por um acidente, o que causou comoção popular. Já
Mercadante tem como destaque a sua carreira política, evidentemente reduzida e sem atuação
no Executivo. O apoio que tem é de um filósofo, desconhecido da população, o que poderia
dar a entender que se trata de um apoio somente da elite.
Por fim, confirmada a vitória de Alckmin ainda no primeiro turno, o Diário de S.
Paulo publica, no dia 4 de outubro, reportagem de página dupla nomeada “Obstáculos no
ninho tucano”, sobre os desafios do novo governador, que, segundo a linha fina, “terá que
aplicar soluções eficientes para problemas como meio ambiente, habitação, saúde e
segurança”. Ou seja, todos os temas “proibidos” durante a campanha e que serviram de
argumento ao discurso de Mercadante surgem deliberadamente na última reportagem, com a
vaga já assegurada ao candidato do PSDB.
Considerações finais
Foi identificado na análise das entrevistas que, entre os diversos fatores que
impediram o confronto de forças num segundo turno, o que pesou fortemente para que
Mercadante não conseguisse alcançar uma votação mais expressiva foram as orientações
políticas do próprio partido – com suas variadas tendências internas, que foram criadas para
tornar as discussões mais democráticas e como forma de enriquecer o debate interno. O PT
ainda não conseguiu a unidade necessária para evitar as prévias, tanto nas eleições para a
Capital quanto para o Estado de São Paulo. É perceptível que essa construção tem causado
muitos conflitos em diversos momentos da história do PT. E, principalmente, em se tratando
da arena política das eleições de 2010, na disputa de Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes.
Podemos considerar que esses gargalos estão mais ligados diretamente à disputa entre
Mercadante – da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) – e Marta – da Novo Rumo, que
ocorre desde as prévias de 2006, nas quais ambos mediram forças pela candidatura ao
governo de São Paulo. Mercadante não recebeu o apoio integral não apenas de sua
companheira partidária, como também de grandes líderes do partido.
Em segundo lugar, a falta de um projeto estruturado para o Estado, e não somente
durantes as campanhas eleitorais, considerando as prefeituras ocupadas pelo PT, os diretórios
municipais e zonais, e a formação de alianças com outros partidos, principalmente com os que
tiveram maior número de prefeitos eleitos em 2008. É difícil imaginar, no cenário da
campanha de 2010, que o PT conseguisse ganhar as eleições no Estado sem uma forte aliança
com o PMDB. Como também – a própria articulação da campanha assume – faltou um
projeto para a classe média emergente, a que o Governo Lula tanto impulsionou, mas ainda
não criou nenhuma proposta concreta para ganhar o voto do segmento no Estado, muito
menos procurou maneiras para atrair essa classe.
Terceiro, pesou a decisão de não levar em consideração os possíveis aliados potenciais
que já possuem força consolidada na Capital e Grande São Paulo, deixando Mercadante de
fazer alianças com esses candidatos ao Legislativo e, optando por buscar maior apoio no
Interior, sem que este tivesse condições suficientes para transferir-lhes votos naquele
momento. A estratégia mais prudente seria optar por equilibrar as alianças da capital e do
Interior. É possível perceber que todas essas ações estão inegavelmente interligadas aos
gargalos com as tendências.
Percebemos também que há um forte entrave em relação à forma do candidato se
expressar perante o público. Essa questão foi reforçada nos quatro eixos da pesquisa, desde a
análise dos entrevistados, da propaganda eleitoral, dos programas de debates e da cobertura
dos jornais. Todos apontam que o candidato não conseguiu construir um discurso de
oposição, trocando-o por uma posição de confronto. Além disso, ficou clara a sua dificuldade
em trabalhar uma imagem positiva, uma empatia mais profunda, apesar de Mercadante ter
uma boa desenvoltura discursiva tanto no HGPE quanto nos debates, mostrando segurança e
conhecimento do que falava. No entanto, são questões que o candidato ainda deixa muito a
desejar. Nesse sentido, Gomes define que na dramaturgia política os espectadores/eleitores
têm plena consciência de o que estão assistindo se trata de uma representação do ator político
e não do próprio candidato. Contudo, para assegurar que o espetáculo tenha mais
credibilidade, a representação não pode ser feita de maneira despropositada ou irreal demais,
pois do mesmo modo que num espetáculo dramático, o público consegue identificar os maus
atores.163
Em relação ao envolvimento e ao desempenho da militância com o candidato
majoritário, constatamos que o partido poderia ter se empenhado melhor; apesar do PT ter
uma militância muito ativa, um partido político, assim como instituições particulares, públicas
ou do terceiro setor, deve ter em sua estrutura um setor de treinamento atento às necessidades
de auxílio requeridas por seus membros. Ou seja, um setor com habilidades e competência
para inserir novas ferramentas para ajudar sua equipe a adquirir eficiência no trabalho. Além
de contribuir para um melhor desempenho de sua função, o treinamento contribui para a
formação, aperfeiçoamento profissional e autossatisfação do treinando. O modelo adotado
para empresas pode ser aplicado em partidos políticos, consideradas as devidas proporções.
Nesse caso, especialmente ao PT.
Não propomos apenas que sua aplicação seja feita em período de campanha ou de pré-
campanha, recomenda-se que sua aplicação deva ser contínua, e em níveis variados de
integração e coerência com o marketing político, uma vez que ambos buscam maximizar e
preparar o indivíduo em sua totalidade – não somente militante e candidato, mas todos os
envolvidos no processo eleitoral – para o desenvolvimento efetivo de uma campanha. Além
disso, a atuação política, vinculada ao exercício da cidadania, é a principal escola para o
aprimoramento do marketing político.
163
GOMES, Wilson. Op. Cit., p.388-390.
Foi verificado que nas propagandas eleitorais do candidato, do início até o final,
apontava como principal estratégia colar em Lula. É incontável o número de vezes que a
imagem do então presidente foi utilizada. Aliás, Lula aparece nos programas praticamente o
mesmo tempo que o próprio candidato. As “marcas” das realizações do Governo Lula foram
exploradas em todos os programas. Nas três amostras do HGPE se constatou que existiu uma
grande ausência de discurso de oposição, muitas vezes deixando brechas para causar dúvidas
no eleitor. Porém, essa hipótese não pode ser comprovada, pois não se sabe de que forma o
eleitorado entendeu esse formato de discurso, pois o estudo se ateve a analisar apenas um lado
dos envolvidos num pleito eleitoral, o da campanha. Porém, segundo os estudos
desenvolvidos por Figueiredo e sua equipe do IUPERJ, é possível detectar duas vertentes para
o discurso argumentativo: o da oposição é que “o mundo atual está ruim, mas ficará bom”; o
da situação é que “o mundo atual está bom e ficará ainda melhor”.164
A crítica esteve presente
no HGPE, porém ela foi melhor desenvolvida nos programas de debates. Aliás, esses recortes
de bom desempenho nos debates foram introduzidos em algumas propagandas eleitorais,
inclusive, nas inserções dos spots.
Os três debates deixam evidente que houve mudança de estratégia nas participações do
candidato nas três emissoras, confirmando as justificativas de um dos eixos da pesquisa
empírica. E mostrou uma melhora significante no decorrer de suas participações nesses
programas. O destaque conferido ao uso das estratégias de marketing político contribuiu para
reforçar sua atuação nos programas.
A análise da cobertura jornalística confirma o que parte dos entrevistados acusou em
relação ao candidato Mercadante: é uma abordagem partidária e definida a favor do PSDB,
mas não assumida. A estratégia é minar o candidato petista com pequenas acusações,
moldando sua personalidade e atacando pontos da campanha, inclusive aqueles aqui
assinalados como críticos, como a cisão entre tendências internas do partido. Muitos desses
pontos usados pela cobertura também podem ser trabalhados pelo marketing político. Aliás, a
crítica da imprensa só atinge o candidato em pontos que ainda precisam ser trabalhados pelo
marketing político. Afinal, não foi usado nenhum argumento contra que não fosse detectado
no restante da pesquisa empírica. Em geral a crítica direta à imprensa não tem se demonstrado
uma estratégia eficiente, pois o contra-argumento sempre implica em “controle da imprensa”,
164
FIGUEIREDO, Marcus; ALDÉ, Alessandra; DIAS, Heloisa e JORGE, Vladimyr L. apud FIGUEIREDO,
Rubens (org.). Op. Cit,, p. 152.
“censura à liberdade de expressão”, etc. Por isso as ferramentas de marketing político devem
trabalhar o discurso e a imagem, para que se sobressaiam às críticas.
Propostas e sugestões
Com base na análise dos quatro eixos desta pesquisa, consideramos que se mostra
evidente a necessidade de um planejamento estratégico de marketing político e de
comunicação integrada para um funcionamento mais eficaz na próxima campanha eleitoral
(2014). Deve ser colocado em prática imediatamente, começando pela elaboração das
estratégias para eleger os prefeitos pelo PT na campanha de 2012. Isso levando em conta o
quadro dos prefeitos eleitos no Estado pelo partido (2008-2012), presente no cenário da
eleição de 2010, conforme gráfico abaixo:
Gráfico 5 – Prefeituras conquistadas por partidos nas eleições 2008 no Estado de São Paulo165
165
Fundação Prefeito Faria Lima – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM). Perfil
dos prefeitos do Estado de São Paulo: 2009 a 2012. Disponível em:
<http://www.cepam.sp.gov.br/arquivos/Perfil/perfil_completo_web_.pdf>. Acesso em: 16 de set. 2011.
O grande desafio será a manutenção das prefeituras conquistadas pelo PT e o
desenvolvimento de projetos estruturados para vencer o pleito em novas cidades. Buscar atrair
partidos para a formação de alianças políticas, avaliar a construção de alianças eleitorais com
partidos que tenham maior número de prefeituras no Estado, sempre respeitando os princípios
que constituem a identidade partidária. Não esquecer que uma aliança com o PMDB é
fundamental para conseguir chegar ao governo do Estado, especialmente porque a liderança
estadual está nas mãos do vice-presidente da República, Michel Temer.
É necessário criar propostas regionais estruturadas já nas próximas campanhas de
2012 para as prefeituras, principalmente no Interior, o que não significa menosprezar a
Grande São Paulo e a Capital. Pelo contrário, a região metropolitana é o carro-chefe de uma
campanha ao governo.
Da mesma forma, é expressamente necessário repensar uma maneira de evitar as
prévias, costurando acordos internos para que não se promovam mais cisões internas, o que já
parece ser a estratégia adotada pelo ex-presidente Lula, por exemplo, que articula um nome de
consenso para concorrer à prefeitura de São Paulo em 2012. Quando houver a necessidade de
disputa interna, será necessário trabalhar para que as prévias durem o menor tempo possível
para que não haja desgaste entre militantes e articuladores na hora de apoiar qualquer
candidatura. No Brasil, a prévia é uma eleição antes da eleição: convoca-se uma convenção
em que os militantes se confrontam. Ou seja, é um formato que estimula a divisão e não
promove o consenso.
É preciso aproximar o candidato majoritário dos candidatos proporcionais – que já
estão no poder, e que pretendem se manter nele – e dos novos candidatos que almejam
alcançá-lo, para que esses tenham segurança e vontade de defendê-lo, do mesmo modo
quando pedem votos para sua própria campanha.
Em relação à militância e aos filiados, é importante realizar treinamentos de maneira
efetiva e não somente nas pré-campanhas ou campanhas eleitorais. Além de motivar, valorizar
o trabalho desses parceiros fundamentais, pois assim o partido terá do seu lado pessoas
capazes de defender a ideologia partidária, seus candidatos, e, principalmente, o interesse da
população, baseados em argumentos persuasivos com maior capacidade de conquistar o voto.
Se for o caso de investir no mesmo candidato das eleições de 2006 e 2010, repensar as
alternativas de fortalecer ainda mais seus pontos positivos e buscar disfarçar os pontos fracos
com o auxilio de profissionais de marketing político a fim de reforçar sua marca.
Além disso, é preciso criar estratégias para a campanha na Web. Apesar desta pesquisa
não ter em sua estrutura estudo sobre o uso da internet nas eleições, convém investir
fortemente nesse novo meio e “dominar” essa ferramenta.
Enfim, há a necessidade imediata de criar um grupo permanente de estudo eleitoral e
estudo de governo dentro do Partido dos Trabalhadores por meio de um programa de Sistema
de Informação de Marketing (SIM) para monitorar/acompanhar os trabalhos que estão sendo
desenvolvidos pelos diretórios e prefeituras já conquistadas pelo partido, para ter bases
confiáveis para desenvolver suas estratégias não somente de campanha, mas para governos.
Para isso, é necessário recrutar especialistas em gestão de marketing, ou seja, uma boa equipe
de marketing político. Estudos mostram que esse tipo de monitoramento demanda muito
trabalho, porém seus resultados são cofiáveis no momento de identificar os problemas
principais que precisam ser trabalhados por meio de novos projetos de estratégias.
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completa-dos-debates-entre-os-candidatos-aos-governos-20100921.html>.
Vídeo postado no site Youtube [9 de set. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13).
Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=T9F-xOta0Ig>.
Vídeo postado no site Youtube [17 de ago. 2010] pela Band.
Vídeo postado no site Youtube [18 de ago. 2010] pela equipe de Mercadante (mercadante13).
Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=Y1IDCSVlagI&feature=related>.
Vídeo postado no site Youtube [29 de set. 2010] pela equipe da campanha: mercadante13.
Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=IA4RULvFlVE>.
Entrevistas:
AMÉRICO, José. Entrevista [18 de ago. 2011] concedida a Elaides Basilio Andrelino.
MACENA, Chico. Questionário [5 de set. 2011] respondido por e-mail para esta monografia.
PEREIRA, Justino. Questionário [5 de jul. 2011] respondido por e-mail para esta monografia.
CORDEIRO, Carlos. Entrevista [13 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio Andrelino.
ANGELI, Paulo Victor de. Entrevista [14 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio
Andrelino.
ALMEIDA, Geraldo Figueiredo de. Entrevista [11 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio
Andrelino.
MENDONÇA, Luiz. Entrevista [12 de set. 2011] concedida a Elaides Basilio Andrelino.
Capa:
Diagramação de Nilton Sousa Lopes.
Foto de Sérgio Neves/AE: Disponível em:
<http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/2010/08/12/debate-de-candidatos-ao-governo-de-
sp-nesta-quinta-feira-tera-todos-contra-alckmin-acompanhe/>. Acesso em: 12 de Nov. 2011.
APÊNDICES
Entrevistas com coordenadores da campanha e militantes
Coordenadores
Vereador José Américo
1- Há quanto tempo participa da articulação das campanhas do PT? E das
campanhas de Aloizio Mercadante?
Em primeiro lugar eu queria dizer que eu trabalho nas campanhas do Mercadante, em
particular, eu tive uma ajuda na área de comunicação, já quando ele foi candidato ao governo
do Estado em 2006. Embora não fosse coordenador de comunicação, eu ajudei principalmente
na parte de televisão. E estratégia de marketing. Isso em 2006. E em 2010 aí eu fui o
responsável por toda a parte de comunicação, em particular na parte de TV e rádio e pela
criação mais geral da campanha. No PT eu participei de várias outras campanhas, uma delas
foi a de 89, do Lula, eu também fui o coordenador de rádio e televisão, contra o Collor. Em 98
contra o Fernando Henrique eu também fui o coordenador de rádio e TV e depois me afastei
disso e só voltei pra campanha do Mercadante em 2006 e depois em 2010.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que ajustes formam feitos no decorrer da campanha?
Nós primeiro fizemos um grande diagnóstico do Estado de São Paulo do ponto de vista
econômico e social, coletando dados tanto dos órgãos de pesquisa do governo do Estado, de
órgãos da prefeitura, das principais prefeituras, de órgãos federais, IBGE, etc. Um diagnóstico
desse tipo. Depois nós fizemos um diagnóstico político, a partir de informações prestadas por
nossos diretórios. Quem é quem em cada região, do ponto de vista político, e fizemos um
diagnóstico de pesquisa. Pra você estudar o espectro político ideológico do Estado. Aí você
tem uma bibliografia que não é muito vasta, mas de qualquer formar nós tivemos muitas
pesquisas nessa área. E fizemos também um conjunto de pesquisas qualitativas, que os
americanos chamam de focus group, essas pesquisas qualitativas também permitiram que nós
fizéssemos um grande diagnóstico. A estratégia básica a partir desse diagnóstico foi a
seguinte: a campanha tinha que ter dois eixos. O primeiro eixo era que o Mercadante tinha
que ser o candidato que tinha uma relação muito grande com o governo Lula. A história
pessoal dele contribuía pra isso. O próprio PT geralmente associado ao presidente Lula, mas a
gente sempre soube que isso não era suficiente para ganhar uma eleição. Nós tínhamos
também que fazer a disputa regional e o Mercadante se apresentar como alternativa regional.
O eleitor paulista é um eleitor que costuma separar, ele separa. Uma coisa é presidência, outra
coisa é o governo do Estado, outra coisa é o município. Então fizemos uma estratégia que
tinha essas duas... a campanha do Mercadante foi até o fim, ela trabalhou com essas duas,
esses dois eixos. Associação com o governo do presidente Lula, ser aquilo que o presidente
Lula está sendo para o Brasil no Estado de São Paulo, de um lado, e de outro, de alguém que
irá governar, ganhando a eleição em nome de um partido forte, de uma coligação forte, e que
tem a capacidade de apresentar uma alternativa consistente de governo para o Estado de São
Paulo, nas áreas que nós julgávamos as mais críticas, e que também foram as áreas que a
gente mais bateu, onde o eleitorado sempre viu com mais vulnerabilidade no governo do
PSDB, que era a educação, nós batemos muito na questão da progressão continuada, a criança
passar sem saber, etc.; na questão da segurança pública, que é uma calamidade, toda a gestão
Alckmin foi uma gestão, todos os seis anos do governo Alckmin antes dele se candidatar em
2010 foi o período onde o crime organizado mais cresceu no Estado de São Paulo. O PCC
existia antes do Alckmin, mas com o Alckmin cresceu bastante porque a estratégia do
Alckmin de combate ao crime organizado é uma estratégia política, que procura esconder
aquilo que existia. Então o crime organizado cresceu muito no governo Alckmin. E o terceiro
eixo crítico – nós tanto apresentávamos a proposta como fazíamos a crítica – era a área de
transporte. O Alckmin é o governador que menos construiu metrô no Estado de São Paulo. A
média de construção de metrô do Alckmin é de 800 metros por ano. Ninguém construiu
menos que ele. De modo que nós trabalhamos essas questões, tanto a área de educação, de
transporte e de segurança pública, eram as áreas que nós mais apresentamos propostas, e
também as áreas que nós mais criticamos. Os debates, os programas, grande parte das nossas
críticas, elas eram, podemos dizer, variações sobre esses três temas. Poucas vezes nós saímos
desses três temas. Mas a estratégia principal sempre foi: governo Lula, colar no governo Lula,
mas procurar fazer uma crítica consistente ao governo do Alckmin, aos governos que o
Alckmin e que o PSDB teve, e procurar se apresentar como alternativa aos governos do
PSDB, com propostas consistentes nessas três áreas que para nós eram as áreas mais críticas.
A população, pelas nossas pesquisas, se mostravam mais interessadas e mais vulneráveis,
mais suscetíveis. Nós tivemos, ao longo do processo, tivemos que fazer alguns ajustes, mas
em nenhum momento nós alteramos o fundamento da nossa campanha. Os ajustes foram que
nós precisamos trabalhar um pouco a informalidade do Mercadante, procurando mostram o
lado dele de professor, o lado de amigo, o lado de companheiro, trabalhar um pouco aspectos
afetivos, emocionais, procuramos atacar alguns temas que se apresentavam com mais força
naquela época a partir das pesquisas, mas de qualquer forma, a estratégia geral nós nunca
mudamos. Nós mudamos as táticas, mas a estratégia nós nunca mudamos. Tem um problema
no Estado de São Paulo para o PT, que é muito grave, que é o seguinte: o PSDB é o partido da
mídia, é o partido da classe média conservadora do Estado de São Paulo, mas é também o
partido da mídia. Você tem uma identidade ideológica muito grande entre 80% das rádios, dos
jornais, de jornais do interior, da grande imprensa, com a articulação do PSDB e a
participação do PT é muito pequena. Qualquer tipo de problema nosso é amplificado, mesmo
na campanha isso existe. Nós não podemos esquecer que na campanha o noticiário de rádio e
TV é controlado, mas a mídia impressa não é controlada. Então, as nossas coisas sempre
tinham mais efeito, tinham mais repercussão. As deles não. Isso você tem que multiplicar
pelas rádios do interior, pelos jornais do interior, a grande maioria ou faz isso de forma direta,
pela identidade ideológica com a articulação do PSDB, ou faz isso porque segue a Folha de S.
Paulo, segue a TV Globo, etc. A TV Globo, entre todos os órgãos de comunicação, foi a mais
imparcial. Todos os outros... e a Record num certo sentido. Meio eletrônico, televisão, é
submetido a um controle muito grande nas campanhas eleitorais. O problema é que a mídia
impressa não é. Então eles têm uma mídia a favor. Uma classe média conservadora que tem
uma vinculação ideológica com o PSDB e que tem peso político institucional no Estado de
São Paulo. O Estado de São Paulo, diferentemente dos outros Estados é o Estado do
progresso. O cidadão é pobre, de repente ele vira classe média e ele acha que ele vai crescer,
que ele vai ficar rico. Então, ele tem um pouco de receio, assim, que um partido que fale em
bolsa-família, que defende os sem-terra, esse medo da radicalização do PT assusta um pouco
essa classe média conservadora. Certamente isso teve influência negativa na campanha e
impediu que a gente tivesse qualquer sucesso, por exemplo, ir para o segundo turno. De
qualquer forma, eu acho que as condições de São Paulo são muito boas, os episódios Erenice
e os episódios, aquela coisa do aborto, etc., num certo sentido puxaram também a gente pra
baixo. A Dilma, na nossa pesquisa diária, chama-se tracking, ela em 50% das opções, ela
estava muito na frente do Serra, tinha feito água a campanha do Serra, mesmo no Estado de
São Paulo. O Mercadante estava subindo aos poucos. A tendência dele era equalizar. O PT é
sempre assim. É muito difícil o candidato a presidente ter 35 e o candidato a governador ter
10. Isso não existe. A tendência é chegar perto, como chegou. Na hora da chegada, aqui no
Mercadante chegava muito perto do ponto de vista eleitoral. Mas a coisa da Erenice teve peso
negativo, a coisa do aborto também, a reação conservadora contra a candidatura da presidente
Dilma, ela puxou a campanha da Dilma pra baixo e consequentemente a campanha do PT pra
baixo e isso levou o Mercadante pra baixo. Eu mesmo conversava muito com ele e entre nós,
com o Augusto [Fonseca], que era o nosso coordenador de publicidade, o nosso marqueteiro,
e a gente falava: não tem jeito, é uma coisa que puxa a gente pra baixo. O nosso destino está
muito amarrado à Dilma, ao sucesso dela. Não adianta a gente querer se descolar. Nossa
vocação é colar nela. A gente pode se descolar sim, não só pra se apresentar como autônomo,
nós não somos apenas uma extensão dela, nós temos cara própria, personalidade própria. Mas
isso o Mercadante mostrou. De qualquer forma, esse descolamento é muito parcial, muito
pequeno. A gente sabia que, embora pudesse fazer isso, até um limite, mas, digamos assim, se
ela caísse a gente caia e se ela se mantivesse na posição de 40, 50 dias atrás, antes daquela
guerra santa que foi feita contra nós, guerra diabólica, não guerra santa, se tivesse prevalecido
aquilo, certamente teria segundo turno em São Paulo. A queda da Dilma é que tava, como eu
digo pra você... tem tracking aqui em que ela tava, dois meses antes ela chegou a estar vinte
pontos na frente do Serra. Quinze, vinte pontos. O Mercadante vinha subindo aos poucos.
Mas a gente sabia que, no fundo, ia equalizar. Ia chegar junto com ela. Mas o que aconteceu?
O Serra vinha se aproximando dela, o Serra acabou ganhando dela no Estado, e nós perdemos
pro Geraldo Alckmin. Então é isso.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você
acredita que o eleitor considera que critérios na avaliação do candidato:
experiência no executivo, propostas, partido?
O Alckmin, até por conta do apoio que ele sempre recebeu da mídia, eu chegava a dizer que é
quase um inimputável. Ele fez 800 metros de metrô, mas isso jornal nenhum escreve. Ele é o
governador que permitiu o nascimento do PCC, mas ninguém fala disso. Quando tem crime
organizado em São Paulo ele é considerado geração espontânea. Não construiu o metrô
porque tinha uma rocha na frente. Coisas assim. A mídia foi evidentemente muito tolerante
com ele. E ele conseguia passar a ideia de um homem bonzinho, que tinha experiência
administrativa. Isso certamente pesou em favor dele. Mas pesou também o diálogo que ele
tinha com essa classe média conservadora, que ela não é suficiente para ganhar a eleição. Mas
ela tem ainda peso muito grande na formação da opinião pública no interior do Estado. Nas
cidades pequenas e médias. Ela tem muito peso na formação da opinião pública e nessa
medida nós podemos dizer que esse setor social foi fechado pelo Alckmin. Não quis saber se
funciona o metrô, não quis saber se a segurança piorou, isso pouco importa, se piorou ponho
uma grade na frente da minha casa, mas eu quero o Alckmin por causa da inspiração
conservadora do Alckmin. Nós vimos casos em que se via esses setores da classe média que
ficava irritada com ele por causa da segurança, por causa do transporte, do pedágio, mas
houve identificação ideológica. É como, digamos assim, você pode ver que a classe
trabalhadora organizada tem uma identificação ideológica com o Lula. Podem estar irritados
com o PT, mas acabam votando. O caso dessa classe média conservadora é isso. Agora, de
qualquer forma, eu quero te dizer isso: se é verdade que a classe média conservadora foi esse
cordão ideológico em favor do Alckmin, essa grande massa que ajudou a formar a opinião
pública, a maioria pelo Alckmin, é verdade também que você tem outros setores da chamada
classe média emergente que nós poderíamos ter avançado sobre esses setores e não
conseguimos avançar. Então essa classe média emergente, aquele cidadão que agora chegou à
classe média, ele tem comportamento contraditório, às vezes ele é proletário às vezes ele é
pequeno burguês, esse setor é muito próximo da gente. A gente considera uma parte, mas não
ganhamos o suficiente para irmos ao segundo turno. Aqui na cidade de São Paulo esse setor é
distribuído geograficamente. A classe média conservadora mora em Pinheiros, Moema, Lapa,
Vila Mariana. A classe média emergente mora onde? No centro de Itaquera, no centro de
Guaianazes, mora também perto de Santo Amaro, mora na Vila Matilde. Essa gente está
muito próxima da gente. Nós começamos a recuperar esse terreno, mas não recuperamos o
suficiente. Faltava também de nossa parte, faltou, propostas consistentes para esse setor. Esse
setor você não conquista com bolsa-família. O Aloizio conseguiu conquistar uma parte aqui
na cidade de São Paulo, se eleição tivesse sido aqui teria tido segundo turno, ele perdeu aqui
pro Alckmin por cinco pontos, diferença muito pouca. Aqui na capital nós fomos bem
sucedidos até. Em cima da questão do ProUni, da educação. Ele conseguiu dialogar com esses
setores. Mas no interior, precisava de alguma coisa mais complexa, um programa mais
completo.
O eleitor dá importância para o currículo do candidato, mas assim como pré-condição. Essa
importância pro currículo é mais preconceituosa do que real. Por exemplo, o Alckmin é
médico. Um médico que praticamente nunca exerceu a medicina. Do ponto de vista
profissional, o Mercadante é muito melhor que o Alckmin. Ele é um economista bem
sucedido. E o Alckmin não é um médico bem sucedido. O Alckmin é político profissional.
Mas um é médico, o outro economista, então você tendo essa pré-condição, tudo bem. Se
você não tem formação, se não tem nível universitário, eu vou ficar falando mal de você. Por
isso que eu digo que a comparação é preconceituosa, porque a hora que você vai comprar o
Alckmin com o Mercadante, do ponto de vista profissional não tem nem comparação. O
Alckmin não tem uma carreira profissional, uma carreira de político. O currículo político eles
dão importância. Mas não é o grande fator de definição de voto. O grande fator de definição
do voto são coisas assim de imagens, da imagem que o político representa, da esperança, do
futuro que ele consegue transmitir e da segurança que ele consegue transmitir. Esses são
fatores de ordem subjetiva que têm mais peso. São Paulo eu acho que é um Estado onde a
questão ideológica é muito marcante. As nossas campanhas têm que levar muito em
consideração isso. Tentar trabalhar o eleitor pra não estimular certos preconceitos, pra não
amedrontar o eleitor em relação a certas coisas. É um eleitor, na minha opinião, muito sujeito
a pregação ideológica. Você me perguntaria: mas o eleitor em geral não é assim? Não, não é.
O eleitor carioca, por exemplo, é um eleitor mais livre desse tipo de coisa. É um eleitor que
faz opções. Parece que ele tem mais capacidade de ousar. Pode pegar a história política do
Rio de Janeiro e é assim. Os eleitores do Nordeste, daquelas periferias do Recife, Fortaleza,
aqueles setores radicalizados, eles querem mais é ousar, coisa nova. O eleitor paulista e
paulistano não é bem assim. Esse Estado tem uma ideologia muito definida. Para esse Estado
as pessoas vinham para ganhar dinheiro e ficar rico. E o paulista, mesmo o paulista pobre,
quando ele sai aqui, ele se sente rico, ele é tratado como tal. Então tem um aspecto de caráter
ideológico no Estado de São Paulo que é muito marcante. Isso é extensivo para o Paraná,
Santa Catarina, essa região Sul do Brasil é meio assim. Rio de Janeiro não é assim. BH não é
assim. E os Estados do Nordeste muito menos.
4- A que atribui a consolidação do adversário na dianteira das pesquisas de intenção
de voto? Que estratégia foi adotada que permitiu o crescimento de Mercadante
nas últimas semanas de campanha?
O Geraldo Alckmin manteve uma estratégia de... Como ele tinha um recall alto, era bem
lembrado pelas pessoas, era associado a ele uma série de valores que as pessoas davam
importância, como segurança, competência, o bom moço, o cara legal, o Geraldinho, etc., toda
a campanha dele procurava lembrar esses valores. E nós, para crescer, o que nós fizemos para
crescer? Nós acentuamos os valores do Mercadante, começávamos a fazer coisas sobre a
biografia política do Mercadante, a associação dele como Lula, e uma crítica muito dura ao
Geraldo Alckmin. Mas o que mais pegou foi o negócio do pedágio e da progressão
continuada. Isso pegou. E a segurança pública também. Uma parte da população não é trouxa.
Uma parte da população nunca se deixou levar. Tem sensibilidade para a questão da
segurança pública, para esses problemas que ele criou e que não conseguiu combater. Nós
colamos muito na campanha presidencial, fizemos as críticas aos pontos errados dele e
colamos tanto na Dilma quanto no Lula. O canal pra chegar na Dilma era o Lula. Tinham
muitas peças com Mercadante e Lula, pra fazer a colagem, pra não escapar. O eleitor que
fosse pra Dilma, trazido pelo Lula não escapasse como realmente, na prática, escapou
realmente muito pouca gente.
5- Por que Mercadante não conseguiu se beneficiar desde o início da campanha da
popularidade do Presidente Lula, de modo a aparecer como favorito nas
pesquisas?
Isso é normal porque a transferência de voto do presidente Lula é uma coisa sempre limitada.
A do presidente Lula foi uma das maiores que teve. Pra Dilma. E pro Mercadante também. A
transferência de voto no Estado de São Paulo pra Dilma e pro Mercadante foi bem alta. O
Lula tinha aqui uma intenção de voto... Ele transferiu na faixa de uns 30%. Mas que isso é
muito difícil. Outra coisa é que no Estado de São Paulo é um Estado onde a popularidade do
Lula não era das maiores. Uma coisa é a popularidade dele e outra coisa é achar que se a
pessoa gosta do Lula então vai votar no candidato dele. Ele tem, sei lá, 60% de aprovação. E
40% só que acompanhava. Então, em geral é assim. Poucos políticos na história do Brasil
conseguiram transferir tanto quanto o Lula. Para a Dilma e inclusive para o Mercadante.
6- Por que o PSDB mantém a hegemonia do eleitorado paulista quando o PT cresce
em todas as regiões do país?
As características do Estado. Acho que, principalmente, eu já tinha falado, o Estado tem um
viés conservador, tem uma mídia muito conservadora, conservadora e partidária, setores
importantes da burguesia paulista, da burguesia brasileira estão aqui, mas também eu acho
que o PT deveria fazer uma reflexão mais consistente pra buscar políticas alternativas. Quer
dizer, ele tem que dialogar com esses setores. Não pode simplesmente explicar. É o Estado
mais conservador? É verdade. É o Estado que tem a mídia mais conservadora do Brasil? Sim.
É o Estado que tem a mídia mais tucana? É verdade. Isso tudo explica, mas não justifica as
nossas derrotas. Isso também vem de falhas e limitações nossas, da incapacidade de ter um
discurso mais convidativo, mais sedutor pra setores médios da população. Acho que isso vai
ficando possível agora, porque a classe média conservadora está perdendo espaço, está
ficando menor do ponto de vista proporcional. Quem está aumentando e crescendo é a classe
média emergente, que nós temos mais chance com ela.
7- Na sua opinião o candidato teve um desempenho satisfatório nos programas de
debates? Houve estratégias diferenciadas para a sua participação nos debates das
emissoras? Nas pesquisas e avaliações feitas pela equipe de marketing político
durante os debates, o que se avaliou em relação ao desempenho do candidato? O
quanto esses debates influem na decisão do eleitor comum, uma vez que são
exibidos tarde da noite?
Em geral a nossa estratégia foi sempre à mesma, até porque os programas se diferenciavam
pouco do ponto de vista da sua organização. Nós achamos, mas em geral, no nosso tracking, o
Mercadante levou a melhor em praticamente todos os debates. Mas o que acontece? O debate
hoje a vitória é sempre por pontos. Não tem mais vitória por nocaute. Acabou. Você não
ganha mais eleição através do debate. O Mercadante, em vários debates ele ganhou e empatou
com o Alckmin. Mas, e daí? Você não tem vitória por nocaute. O debate virou um espaço
institucional para as pessoas se informarem sobre os candidatos, mas não é onde você ganha
eleição. Os tracking que nós fizemos e as pesquisas quantitativas durante o debate ele aparecia
bem. Os candidatos vão preparados para os debates, que são tão engessados, as regras são
engessadas porque ninguém confia na mídia. Ninguém confia em jornalista, nenhum
candidato confia. Você acaba criando regras em acordo, que tornam os debates muito
engessados. O que você ganha do debate em termos de simpatia do candidato é muito pouco.
As audiências em geral são baixas, são exibidos tarde da noite e acabam ficando muito chatos.
8- Como avalia os programas do horário eleitoral gratuito do candidato? Houve
apoio suficiente dos candidatos do partido? Estes conseguiram transferir votos a
Mercadante?
Eu acho que o programa de televisão dele foi bom e ajudou ele crescer, ajudou a fazer a
vinculação com a Dilma, com o Lula, ajudou a mostrar ele como uma pessoa capaz, ter
propostas específicas para São Paulo, acho que o programa foi determinante pra que ele tenha
crescido na reta final. Na verdade, os candidatos a deputado tiveram uma campanha muito
próxima do Mercadante, não teve nenhum problema de fragmentação, de alguém que fez
campanha pra outros candidatos, foi uma campanha muito unificada. E os candidatos a
deputado federal, estadual, ajudaram a capilarizar a campanha. Agora, o determinante foi a
campanha do Mercadante. Acho que dependeu menos das campanhas dos deputados e mais
da própria campanha dele na televisão.
9- A cobertura de imprensa da campanha foi tendenciosa para o adversário? Os
escândalos gerados durante a campanha (quebra de sigilo, Erenice Guerra, etc.)
afetaram o desempenho do candidato? Isso influiu na decisão do eleitor?
Na televisão não foi. Foi razoável a cobertura. No rádio, um pouco tendenciosa, nas áreas
interioranas principalmente. E na mídia impressa, aí claramente tendenciosa. Esses escândalos
não explicam 30, 40% dos votos. Mas aquilo que eu estava dizendo. A Dilma tinha tudo pra
ganhar do Serra no Estado de São Paulo. Erenice mais a questão do aborto foi responsável por
ela ter perdido uns 10, 15% no Estado de São Paulo. Tirou da gente também isso. Nós não
fomos pro segundo turno por 40 mil votos. Qualquer coisa explica o nosso insucesso no
Estado de São Paulo. Se o Mercadante vai para o segundo turno a realidade era outra. Nós não
fomos por 40 mil votos. A Dilma perdeu nos últimos 50 dias alguma coisa em torno dos 10,
15% dos votos. Nós atribuímos à Erenice e ao aborto e também às pauladas que você vai
levando na reta final. De qualquer forma, esse conjunto de coisas, sendo essas duas as mais
importantes, esse conjunto de críticas e reta final explicam essa queda. Ela tinha lá 45, 47% e
caiu para a faixa dos 30. Isso puxou o Mercadante também, deu um teto menor para o
Mercadante.
10- Levando em consideração quantidade de deputados estaduais, federais e até
mesmo uma senadora, eleitos pelo PT no Estado de São Paulo (2010), até que
ponto os militantes conseguem dividir seus esforços entre eles, candidatos
(proporcionais) e os candidatos aos cargos majoritários?
Acho que dividem bem. O candidato a governador foi bem, não foi pro segundo turno, mas
chegou perto, e nós fizemos as maiores bancadas, Na Assembleia Legislativa foi o PT que fez
a maiores bancadas. Na Federal também, nós fizemos as maiores bancadas individualmente
falando. Acho que se dividiu muito bem. O PT geralmente é o partido que melhor articula
essas duas coisas.
11- Além dos trabalhos que o partido faz para a formação dos filiados e militantes,
por que não é feito um treinamento e um desenvolvimento efetivo de pessoal,
como ocorre nas grandes empresas, para eles se prepararem melhor para
defender o partido e, consequentemente, os candidatos durante as eleições e os
mandatos?
É o partido que mais faz isso. Acho que o PT já conseguiu fazer um pouco isso. Não acredito
que tenha empresa com mais motivação do que o PT. O PT ainda tem uma militância
voluntária grande, o PT faz treinamento, faz preparação. Agora, realmente as pessoas que
fazem campanha, nós temos discutido muito isso, nós precisaríamos ter um preparo melhor
não só do ponto de vista motivacional, mas do ponto de vista técnico, organizativo, trabalhar
com as pesquisas, como falar com as pessoas, como abordar, como convencer, como seduzir
as pessoas, como não agredir. O militante petista, às vezes, o mais fiel, eles vêm da periferia e
às vezes é um pouco agressivo para falar com as pessoas. Eu concordo. Apesar do PT fazer
isso, tem feito isso ao longo da sua história, eu acho que ele ainda está muito aquém do
necessário. Quer dizer, tanto do ponto de vista motivacional quando do de técnica de
marketing pra abordar e convencer as pessoas. Você não pode só pensar em marketing quando
vai na televisão. Tem que ver que o PT é um partido que sempre teve muita gente na rua e
essas pessoas que estão na rua são a cara do partido. Portanto essas pessoas têm que ser muito
bem treinadas. Acho que isso vem um pouco da cultura do improviso que tem na política
brasileira, você tem uma cultura de amadorismo, de improviso que vige na maioria dos
partidos brasileiros, no PT, no PSDB. Eu tenho amigos nos outros partidos e todos eles falam
isso. Hoje é que se está pensando que campanhas políticas devam ser coisas organizadas de
forma mais profissional. Mesmo nos partidos com viés ideológico maior, que sempre se
organizaram melhor. Mas até certo ponto. A partir de certo ponto, eles também tinham
preconceito, achando que se fosse profissional demais é como se estivessem traindo a política.
Quando a gente sabe que isso não é verdade. Hoje existe uma mentalidade que é necessário
uma organização mais profissional. Mas essa mentalidade é muito recente. Há quinze, vinte
anos atrás não existia não. Existia claramente o culto do improviso. Eu ouvi isso de gente do
PSDB, do partido do Maluf, do PMDB. Não, o cara fala, aqui também, a cultura do
improviso. Parece que o bom é aquilo que é improvisado, que é espontâneo, que é amador.
12- Enfim, por que com tantas variáveis a favor do candidato, este não conseguiu ir
ao segundo turno?
Eu acho que foi a queda da Dilma nos últimos quarenta dias. Se não tivesse havido esse
problema a gente teria ido para o segundo turno. Até porque, repito, a nossa não ida para o
segundo turno pode ser explicada por qualquer coisa. Foi tão pequena a diferença. Acho que a
nossa campanha foi, ela teve os limites que ela tinha. Ela estava muito associada à Dilma. E
na reta final colamos mais. Aí tinha as vantagens e desvantagens. A campanha presidencial no
Brasil é muito forte, é muito difícil você descolar de um partido como o PT. Nem era o caso.
Mas eu acho que a Dilma caiu aí, 10, 15% na reta final e a gente caiu. Se não tivesse
acontecido isso, com certeza, tínhamos ido para o segundo turno.
Vereador Chico Macena
1- Há quanto tempo participa da articulação das campanhas do PT? E das
campanhas de Aloizio Mercadante?
Fiz parte da criação do partido, então posso dizer que participei de todas as campanhas que
houveram do partido em São Paulo, desde o surgimento do PT. Participei de todas
campanhas do Mercadante.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que ajustes foram feitos no decorrer da campanha?
A orientação desde o início foi apresentar propostas que tirassem o estado de São Paulo do
imobilismo. Vamos lembrar que no auge do crescimento econômico do país, todos os estados
cresceram, aproveitando as políticas do governo Lula e São Paulo foi o estado que menos
cresceu. Além de apresentar propostas para educação, saúde e segurança (problemas que São
Paulo não resolveu) e, projeto de desenvolvimento que incorporasse propostas regionais. A
única coisa que mudou foi que em determinado momento resolvemos responder aos ataques
pessoais da campanha do Geraldo Alckmin.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você
acredita que o eleitor considera que critérios na avaliação do candidato:
experiência no executivo, propostas, partido?
Ao pegar o exemplo dos eleitores do Mercadante e do Alckmin divididos regionalmente na
cidade de São Paulo, as regiões mais carentes de serviços públicos foram as que mais votaram
no Mercadante e nos candidatos do PT, Cidade Tiradentes, Guaianases, Capela do Socorro.
Algumas regiões de classe média, como Vila Prudente, a votação ficou mais equilibrada. A
eleição para governador é delicada, pois o foco da mídia e conseqüentemente dos eleitores
está mais voltada para os candidatos ao governo federal.
Quanto aos critérios dos eleitores para escolha do candidato - Sim, o partido e as propostas
são critérios levados em consideração. A cidade e o estado de São Paulo tem características
distintas por região é arriscado generalizar as características dos eleitores, mas uma das
características do eleitor paulista que é difícil negar é que ele é conservador e precisa ser
estimulado a pensar os motivos de seu voto para que ele possa mudá-lo com segurança de que
está fazendo um escolha melhor.
4- A que atribui a consolidação do adversário na dianteira das pesquisas de intenção
de voto? Que estratégia foi adotada que permitiu o crescimento de Mercadante
nas últimas semanas de campanha?
Foram realizadas pesquisas qualitativas durante a veiculação das propagandas eleitorais, que
possibilitaram a equipe de campanha avaliar se as mensagens que queríamos passar para a
população durante a campanha atingia a população, a ponto dela mudar sua intenção de voto.
Percebemos que muitos dos eleitores do Alckmin votavam nele simplesmente porque não
refletiram nos problemas enfrentados pela população que são relacionados a medidas tomadas
pelo governo do estado como segurança e educação e que esses problemas podem ser
solucionados com um outro candidato no poder. As pesquisas nos ajudaram a atualizar nossas
estratégias de campanha principalmente na televisão, que é o meio mais utilizado para obter
informações sobre políticas pela maioria da população.
5- Por que Mercadante não conseguiu se beneficiar desde o início da campanha da
popularidade do Presidente Lula, de modo a aparecer como favorito nas
pesquisas?
Um dos critérios é a falta de atenção da população sobre as eleições ao governo do estado,
que é colaborada com a cobertura em menor grau da mídia, outro é que as pessoas quase não
relacionam os problemas vivenciados por ela a medidas adotadas pelo governo do estado.
6- Por que o PSDB mantém a hegemonia do eleitorado paulista quando o PT cresce
em todas as regiões do país?
O PSDB tem a máquina do estado, apesar do acomodamento em relação as políticas públicas.
O Estado de São Paulo é muito conservador e o PT não rompeu alguns desgastes, e terceiro
São Paulo, ao contrário dos outros estados, não percebeu com o mesmo impacto as políticas
de inclusão do governo Lula, de desenvolvimento, que diminuiu as desigualdades econômicas
e regionais.
7- Na sua opinião o candidato teve um desempenho satisfatório nos programas de
debates? Houve estratégias diferenciadas para a sua participação nos debates das
emissoras? Nas pesquisas e avaliações feitas pela equipe de marketing político
durante os debates, o que se avaliou em relação ao desempenho do candidato? O
quanto esses debates influem na decisão do eleitor comum, uma vez que são
exibidos tarde da noite?
Sim, o desempenho do Mercadante no debate foi bom, após o debate, não me lembro em
quais canais, era feito uma pesquisa com as pessoas que estavam assistindo para saber a
avaliação delas sobre o debate, e em todas avaliações o resultado foi positivo para o
Mercadante. Claro que em alguns debates os resultados foram melhores. Sim houve
estratégias diferentes de preparação para os debates, não tanto pelo o que o candidato iria
falar, pois o Mercadante estava muito preparado e ciente dos problemas que o estado enfrenta,
mas as estratégias foram mais referente a forma de falar e a imposição da voz e do corpo
diante das Câmeras. Pode-se dizer que a maioria dos eleitores não assiste o debate, mas são
atingidos direta e indiretamente pelos comentários no ônibus, metrô, lugares públicos em
geral e por comentários na Internet.
8- Como avalia os programas do horário eleitoral gratuito do candidato? Houve
apoio suficiente dos candidatos do partido? Estes conseguiram transferir votos a
Mercadante?
Sim, houve apoio dos outros candidatos e acredito que eles conseguiram transferir votos
para o Mercadante. O horário eleitoral gratuito foi um meio de haver está transmissão. A
forma utilizada para fazer o programa eleitoral gratuito como já dito na questão anterior,
se adaptava conforme o resultado das analises que eram feitas com as pesquisas
qualitativas, ocorridas durante os horários eleitorais.
9- A cobertura de imprensa da campanha foi tendenciosa para o adversário? Os
escândalos gerados durante a campanha (quebra de sigilo, Erenice Guerra, etc.)
afetaram o desempenho do candidato? Isso influiu na decisão do eleitor?
A grande imprensa tem um papel importante para sociedade, a maior parte das informações
que ajudam a formar a opinião da população chegam através dela, mas sabemos que assim
como às pessoas ela tem um posicionamento e sua preferência. O jornal O Estado de S. Paulo
admitiu em seu editorial que o seu candidato a presidência era o Serra, conseqüentemente
também seria o Alckmin para governador. Achei o posicionamento do jornal adequado, pois
os outros grandes veículos também demonstraram ter a mesma opinião, mas admitiram. È
difícil não reparar que a revista, mais vendida do Brasil, tenha veiculado, também neste
período, matérias tendenciosas e que afetam direta e indiretamente a opinião da população na
hora de votar.
10- Levando em consideração quantidade de deputados estaduais, federais e até
mesmo uma senadora, eleitos pelo PT no Estado de São Paulo (2010), até que
ponto os militantes conseguem dividir seus esforços entre eles, candidatos
(proporcionais) e os candidatos aos cargos majoritários?
A militância se empenhou tanto na campanha majoritária como na proporcional. Agora vamos
lembrar que definimos nosso candidato ao governo tardiamente e a polarização da disputa
nacional prevaleceu, tivemos pouco espaço na mídia da disputa estadual e das propostas.
Tudo isso pesou no resultado da disputa majoritária.
11- Além dos trabalhos que o partido faz para a formação dos filiados e militantes,
por que não é feito um treinamento e um desenvolvimento efetivo de pessoal,
como ocorre nas grandes empresas, para eles se prepararem melhor para
defender o partido e, consequentemente, os candidatos durante as eleições e os
mandatos?
Durante a campanha e no período pré-eleitoral, o partido realiza Caravanas, que têm como
objetivo unificar o discurso dos militantes, prepará-los e motivá-los a defender e divulgar o
projeto e os ideais do partido durante as eleições. Esses eventos costumam ocorrer aos finais
de semana, e em cada diretório zonal ou em cada região. A ideia é realizar eventos que
consigam alcançar com facilidade o militante do PT. Mas o partido sabe que muitas questões
podem e devem ser melhoradas com sugestões e métodos diferentes de preparação para a
campanha.
12- Enfim, por que com tantas variáveis a favor do candidato, este não conseguiu ir
ao segundo turno?
A disputa ficou muito centralizada entre o Mercadante e Alckmin, tivemos 39 % dos votos e o
Alckmin pouco mais que 50 %, ou seja, foi por muito pouco que não chegamos ao segundo
turno. Acreditávamos que outros candidatos teriam um desempenho melhor encima dos votos
do Alckmin como o Celso Russomano, que obteve um bom desempenho durante os debates,
também imaginávamos que Paulo Skaf teria um pouco mais de votos, mas isso não ocorreu e
por menos de 1% não conseguimos ir para o segundo turno.
Justino Pereira Junior
1- Há quanto tempo participa da articulação das campanhas do PT? E das campanhas
de Aloizio Mercadante?
Desde 1988. Participei da disputa do Mercadante nas prévias contra a senadora Marta Suplicy, em
2006, e participei do grupo de Comunicação da campanha para governador em 2010.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que ajustes foram feitos no decorrer da campanha? A campanha lutou para viabilizar a presença do
candidato no segundo turno, o que não foi conseguido por muito pouco.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você acredita
que o eleitor considera que critérios na avaliação do candidato: experiência no
executivo, propostas, partido?
Parte do eleitorado tem um voto “ideológico”, baseado nos valores mais permanentes seus, dos
candidatos e partidos. E parte tem um voto mais “pragmático”, baseado nos seus interesses do
momento. Claro que o perfil do candidato também conta muito. Mas o fator predominante de
decisão do voto muda a cada eleição (ora é a ética, ora é a experiência, ora é a novidade...).
4- A que atribui a consolidação do adversário na dianteira das pesquisas de intenção de
voto? Que estratégia foi adotada que permitiu o crescimento de Mercadante nas últimas
semanas de campanha?
O adversário havia sido governador e candidato a prefeito da Capital. Contou também com o
suporte da máquina estadual e com uma boa-vontade da mídia tradicional. O avanço de
Mercadante se deveu e m parte à identificação do candidato com o PT e Lula, em parte aos
atributos do próprio candidato petista e em parte aos problemas na gestão tucana que a campanha
de TV conseguiu mostrar bem, como os pedágios caros e a aprovação automática na educação na
rede estadual.
5- Por que Mercadante não conseguiu se beneficiar desde o início da campanha da
popularidade do Presidente Lula, de modo a aparecer como favorito nas pesquisas?
Porque isso não é automático. As pessoas separam os diversos níveis de governo e o fato de
gostar do presidente de um partido, não significa automaticamente projetar esse apoio para todos
os candidatos do mesmo partido.
6- Por que o PSDB mantém a hegemonia do eleitorado paulista quando o PT cresce em
todas as regiões do país?
Aparentemente, por algumas razões, entre elas: um certo viés conservador de parte do eleitor
paulista, em especial nas pequenas cidades; a forma pouco agressiva / condescendente como a
mídia paulista trata o governo do PSDB paulista desde o mandato Mário Covas, a avalanche
publicitária do governo estadual (praticamente todos os programas noticiosos de TV e rádio tem
publicidade estatal DIÁRIA), o fato de o PT desde 1982 só ter conseguido repetir seu candidato a
governador em 2006 e 2010 (o que dificultou a construção de marca), alguns anacronismos na
forma do partido fazer campanha etc.
7- Na sua opinião o candidato teve um desempenho satisfatório nos programas de
debates? Houve estratégias diferenciadas para a sua participação nos debates das
emissoras?
Nas pesquisas e avaliações feitas pela equipe de marketing político durante os debates, o que se
avaliou em relação ao desempenho do candidato? O quanto esses debates influem na decisão do
eleitor comum, uma vez que são exibidos tarde da noite? O candidato teve boa participação nos
debates, embora esse não seja um fator decisivo na definição do voto. Em geral, a menos que
ocorra um desastre, os debates só servem para reafirmar opiniões que os eleitores já tem sobre os
candidatos.
8- Como avalia os programas do horário eleitoral gratuito do candidato? Houve apoio
suficiente dos candidatos do partido? Estes conseguiram transferir votos a Mercadante?
O programa de TV foi bom, feito de acordo com as circunstâncias. Os candidatos a deputado
deram todo o apoio que podiam dar.
9- A cobertura de imprensa da campanha foi tendenciosa para o adversário? Os
escândalos gerados durante a campanha (quebra de sigilo, Erenice Guerra, etc.)
afetaram o desempenho do candidato? Isso influiu na decisão do eleitor?
Como em eleições passadas, a mídia tentou direcionar a opinião pública. O resultado eleitoral
mostrou que esse objetivo não foi alcançado, pois cada vez mais as pessoas formam suas opiniões
por outros meio s, além da mídia (conversa com parentes e amigos, vizinhos, colegas de trabalho,
internet etc.).
10- Levando em consideração quantidade de deputados estaduais, federais e até mesmo
uma senadora, eleitos pelo PT no Estado de São Paulo (2010), até que ponto os
militantes conseguem dividir seus esforços entre eles, candidatos (proporcionais) e os
candidatos aos cargos majoritários?
Os militantes, de maneira geral, focam seu apoio primeiramente nos deputados a quem são
ligados, com quem se identificam. E as campanhas dos deputados ajudam a reforçar as
campanhas majoritárias. Poucas pessoas fazem campanha apenas para os candidatos majoritários.
11- Além dos trabalhos que o partido faz para a formação dos filiados e militantes, por
que não é feito um treinamento e um desenvolvimento efetivos de pessoal, como ocorre
nas grandes empresas, para eles se prepararem melhor para defender o partido e,
consequentemente, os candidatos durante as eleições e os mandatos?
Não saberia responder a essa pergunta. De qualquer forma, considero que o PT precisa reciclar
sua forma de fazer campanha porta-a-porta, que deu muito certo no passado, mas que hoje parece
estar esgotada.
12- Enfim, por que com tantas variáveis a favor do candidato, este não conseguiu ir ao
segundo turno?
Porque também havia muitas variantes contrárias. Mas faltou muito pouco e esse é um processo
cumulativo de forças.
Militantes
Entrevista com Carlos Cordeiro
1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio
Mercadante?
Bom, no PT, desde a Luiza Erudina. Que ano foi? Aliás, antes, desde o Plínio, eu era garoto, o
Plínio de Arruda Sampaio em casa, o Hélio Bicudo, por conta do envolvimento da Igreja.
Então, desde garoto eu participo das campanhas do PT. OP Mercadante, por estar dentro do
PT, todas elas eu acabei participando.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?
Olha, vou falar como militante, porque sou dirigente sindical, eu fiz uma opção de não estar
dentro da estrutura do partido. Mas sempre que têm esses processos eleitorais, a gente acaba
disponibilizando um tempo para fazer essas campanhas. Eu acho que, primeiro, não só na
campanha do Mercadante pra majoritário, mas para os demais, e vendo um pouco como nós
nos organizamos no bairro, o pessoal da Igreja, a gente sempre teve mais dificuldade, muito
grande de fazer campanhas para os majoritários. Porque no meu entendimento eu acho muito
bom a gente ter vereadores, deputados estaduais, deputados, federais e senadores, mas,
infelizmente normalmente a militância está muito vinculada ao mandato do parlamentar.
Então boa parte hoje dos militantes, e está cada vez mais vinculado aos mandatos dos
parlamentares, já que temos bastante parlamentares hoje também, atrás, quando comecei não
tinha tanto, então, o que eu vi nessa história toda não só de militância, não só nas campanhas
de Mercadante mas nas demais é que os militantes estão muito envolvidos com os gabinetes,
com os mandatos parlamentares e muito pouco envolvidos com esse projeto geral, no caso,
por exemplo, a eleição pra governador. O nosso grupo, no bairro, que a gente forma pra
discutir esse processo, nós, inclusive, cada um tem o seu candidato, a gente, no caso
deputados ou vereadores, a gente chama todos eles pra conversar com o grupo. Mas a gente
sempre faz a campanha para o majoritário. Então por isso fazer o tal do pedágio nas principais
avenidas do bairro, nós convidávamos todos os outros apoiadores de outras candidaturas, mas
eles nunca iam, porque estavam sempre preocupados em fazer a campanha para os seus
deputados, seus vereadores. Então o nosso grupo ficava sempre sozinho fazendo bandeirada,
pregando display, entregando panfletos, porque nós não éramos vinculados a uma candidatura
de parlamentar, candidatura de vereador ou deputado. Então nós éramos sempre preocupados
com essa questão do majoritário. A nossa divisão, a divisão do grupo, estou te dizendo, o
grupo lá de onde a gente participa, da Igreja, é essa. Não só na campanha do Mercadante, mas
nas anteriores, infelizmente com militância não tem participação direta nas campanhas dos
majoritários.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você
acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:
experiência no executivo, propostas, partido?
Eu acho que a grande diferença que os eleitores enxergam no Mercadante e no Alckmin,
como agente fala aqui no Estado de São Paulo, é a imagem que a imprensa passa de cada um
deles. E que a gente sabe que ela não é verdadeira. Tanto que a gente escuta muito dizer que o
Alckmin é um bom moço, tem essa expressão do bom moço. E aquilo que falam do
Mercadante aparece como alguém arrogante. Mas isso, no meu entendimento, é construído
por essa mídia paulista, que tem lado, que trabalha o tempo todo com isso, todos os
programas envolvendo o governo do Estado, do PSDB, a imprensa paulista primeiro não
mostra os problemas e os poucos que tem ele não vincula à imagem dos governadores
tucanos, por exemplo. Quando a gente vê, quando tem governos petistas e quando tem um
tipo de problema na cidade, a imprensa coloca diretamente o problema relacionado à pessoa
que está no comando. A gente vê que essa prática inexiste quando você tem governos tucanos.
Quando você tem problemas no metrô, quando você tem greve de ônibus, quando você tem
problemas de saúde,quando você tem problemas de enchente, a mídia, e aí você vê a pior
delas que é a Veja, quando teve a enchente aqui em São Paulo, falou que isso era um
problema do aquecimento global, que estava chovendo muito. Em governos petistas não, fala
que é incompetência da prefeita, assim que a imprensa paulista sempre faz. Eu acho que isso
ta mudando, está mudando um pouco esse espaço que a imprensa tem, mas eu acho que ela
ainda é muito forte não só na formação da opinião, mas em carimbar as pessoas e esses
políticos que nós temos, tanto do PT quanto do PSDB e de outros partidos. Eu acho que a
diferença entre dois para o eleitor, infelizmente é essa exposição de mídia. Eu acho que eles
não têm claro quem é o Mercadante, eles não têm claro quem é o Alckmin. Quam foi o
Mercadante ou quem foi o Alckmin. Com a história do Mercadante e com a história do
Alckmin, até porque o Mercadante é menos conhecido do que o Alckmin. Por uma questão
lógica, ele aparece muito pouco na imprensa, a gente pode fazer um paralelo entre a CUT e a
Força Sindical. Eu não tenho dúvida da história da CUT, não tenho dúvida com o
compromisso que o companheiro Artur Henrique tem, mas a mídia coloca a toda hora o tal do
Paulinho da Força, assim é que ele se apresenta, ele é parlamentar, a mídia tem um interesse
nisso, então, hoje, por exemplo, apesar de representar menos trabalhadores, a Força Sindical,
o Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pra população ele é muito mais conhecido do que o
Artur Henrique, que representa muito mais trabalhadores. Acho que essa exposição na mídia,
que ela é trabalhada, ela é pra mim muitas vezes, eu não diria determinante, mas
extremamente importante pra esse conhecimento dos candidatos. Os eleitores... Experiência
eu acho que pesa. Só não sei se eles têm mecanismos pra avaliar. Eu acho que o eleitor vê
como importante a questão da experiência. Ele não tem critérios pra ver essa experiência. A
informação que ele recebe pra analisar de onde vem? Vem da imprensa. Se a imprensa não
mostrar o currículo daquela pessoa, o que ela foi, o que ela fez, se é a principal fonte de
informação que o eleitor tem, ele vai se basear nessa informação que ele está recebendo. Se
você for avaliar as gestões petistas que nós temos em todo o país, são avaliações positivas se
comparadas com outras gestões, mas como nem toda a população usa aqueles serviços, você
pega, por exemplo, em qualquer parte do país, o serviço público de saúde. Nós bancários, por
exemplo, não utilizamos serviço público de saúde, nós temos convênio médico, garantido na
nossa convenção coletiva assim como muitos trabalhadores. Eu não utilizo. Então como é que
eu vou avaliar esse serviço? Então eu vou nos lugares em que as nossas gestões vão melhor
nesse quesito, e ela não aparece porque nós, inclusive, não temos como avaliar. E aí qual é a
avaliação? Não só de quem usa, mas aquela que é publicada pela mídia. Em muitos momentos
as nossas gestões estão muito melhores se comparadas com a deles, nós temos muito mais
experiência se comparada com a deles, mas eu acho quer nós temos dois problemas. Um é que
à imprensa, como estou dizendo, ela não é imparcial. E seguindo porque nós erramos demais.
Porque nós não temos um veículo de comunicação, nós não temos instrumentos de
comunicação que possam ser eficientes pra dialogar com tudo aquilo que a gente faz. Dou um
exemplo de Araçatuba. O governo federal, nas enchentes que tiveram no começo do ano, pra
cada um real que o Alckmin colocava, o governo federal colocava 99. E a imprensa de lá, e o
partido de lá não teve a capacidade de mostra isso. Para aquela população quem ajudou, quem
esteve presente, o Alckmin foi lá três vezes, não teve ninguém do governo federal presente e
isso mostra que o partido tem um problema seríssimo de comunicação. Ele não consegue se
comunicar com eleitores daquilo que ele realmente está fazendo. Esse caso de Araçatuba é um
caso que eu pude acompanhar, foi um caso gritante, que o governo do Estado não fez
absolutamente nada, não colocou quase nenhum recurso, mas esteve lá, tirando fotografia,
estando com a imprensa do local e a população está extremamente contente com o Alckmin, e
não viu que a maior parte dos recursos quer colocou foi o governo federal e... O prefeito de lá
é petista. A gente reclama muito e com razão, dessa imparcialidade, a maneira como essa
imprensa trabalha, dizendo que as pessoas não são experientes, vai criando esses conceitos,
essas características, só que eu acho que isso muitas vezes esconde a nossa incapacidade de
termos uma comunicação eficiente junto aos eleitores.
4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das
pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante
não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da
campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?
Bom, primeiro porque o Alckmin é muito mais conhecido do que o Mercadante. A imprensa
trabalha isso. Então você vê pouca informação. Aliás, o PSDB trabalhou muito isso na
campanha pro Senado depois dizendo o que o Suplicy fez pro seu Estado. Senador parece
muito pouco. Aliás, a própria Assembléia Legislativa aqui de São Paulo aparece muito pouco.
Senador de São Paulo aparece muito pouco, ele não tem visibilidade. Apesar de ter o apoio do
Lula, do Lula andar com ele e dizer sobre a importância, em vários momentos ter o Lula ao
lado dele, você também... com todos os problemas que tem aqui no Estado de São Paulo, uma
eleição para deputado estadual, eleição pra deputado federal, eleição pra senador, e você ter
eleição pra governador e pra presidente da República, você tem que dividir muitos holofotes.
E a gente sabe do conservadorismo do Estado de São Paulo, sabe o quanto essa comunicação
aqui é importante, é fundamental. Até então também o Lula não ganhava nada aqui, perdia
tudo. Nesse último mandato ele foi importante. E acho que esse fato do Lula estar apoiando
não foi explorado o suficiente, nem por nós nem pela própria imprensa que não teve
logicamente vontade estratégica de fazer isso. Acredito que um dos fatores que ajuda
muito o Mercadante não ocupar o espaço que, inclusive, é merecido, pelo político que é, pelo
militante que é, e o compromisso que tem com o partido, ele sempre disputou esses cargos
nessas eleições que têm cinco candidatos diferentes que você tem que votar. Talvez se pensar
num outro debate pra prefeito, o espaço que ele vai ter talvez seja maior do que sendo
senador, sendo governador, sendo deputado, são muitos outros fatores. Eu acho que não ter se
beneficiado tanto quanto deveria pelo apoio do Lula, acho que é uma conversão de fatores,
essa mídia paulistana, esse conservadorismo paulistano, esse monte de cargos pra eleger, acho
que é um conjunto de fatores.
Eu acho que o Mercadante é muito irritado. Isso estou dizendo porque presenciei, não é que
ouvi dizer. As pessoas falam isso também. Fomos num lançamento de um comitê sindical na
rua da Consolação em que estava ele, estava a Marta, estava o Netinho, e realmente o espaço
era muito pequeno, mas era ali o comitê de sindicalistas, estava um calor muito forte, não
tinha ar condicionado, tinha um monte de gente na rua, o que é inclusive positivo, foi um
monte de gente. Só que chegou lá. Por exemplo, o som não estava funcionando. Aliás, estava
péssimo, horrível. Nesse momento, se com os militantes ele é assim, e em outros lugares eu
acho que ele também repete isso, ele não tem a paciência, ele não têm paciência, ele não tem
sensibilidade para entender a figura que ele representa no momento que ele é candidato. Ele
transparece demais a irritação dele e nem sempre, não que não seja justo você mostrar o que
você está sentindo, mas num processo eleitoral, ele deve tomar muito cuidado com a sua
imagem, muito cuidado com aquilo que você fala, muito cuidado com aquilo que você está
transparecendo. Embora com todo justiça, porque o som não estava funcionando, mas ele
conseguiu ser muito mais antipático da maneira como ele falava que o som não funcionava do
que dialogar com aquela militância que estava ali pra fazer a campanha dele, pra colocar a
campanha na rua, no momento que ele tinha que jogar pra cima. Apesar da dificuldade com o
som, apesar de tudo isso, nós estamos aqui, vamos pra frente, vamos ganhar, precisamos do
apoio de vocês, muitas vezes ele se torna antipático porque eu acho que ele não tem esse
autocontrole de, na hora que ele é candidato ele ser um pouco mais cuidadoso com o que fala
e com a sua imagem.
5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, porque a militância não
consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?
Eu acho que o PT mudou muito. Desde que o presidente Lula ganhou pela primeira vez, nós
tínhamos uma cultura de militância. Uma cultura de muito mais entrega, de transformar o
país, de conquistar pela campanha de filiação, nós tínhamos princípios muitos rígidos, a gente
sempre bateu no peito dizendo que era um partido ético, um partido transformador, um
partido lutador, e desde que o Lula assumiu, eu acho que nós não tivemos a capacidade de
fazermos uma reflexão e entender a conjuntura e rediscutir o nosso papel. Com o debate da
própria direita, a questão de mensalão, agora essa questão de corrupção, o partido, ao tomar
espaço no poder, no meu entendimento ficou muito mais claro, as disputas internas do partido
pra disputa de espaço dentro da máquina, outras disputas inclusive que são legítimas, mas
acho que infelizmente hoje, olhando os diretórios, olhando as entidades co-irmãs... Por
exemplo, nós tivemos um debate agora puxado pelos estudantes em São Paulo, que era a
questão do aumento da tarifa de ônibus. Primeiro até fazer uma crítica à central de que eu
participo. Eu não vi a CUT organizando esse movimento que eu acho importante, a gente sabe
que na CUT 95% dos seus filiados são petistas, eu não vi o Partidos dos Trabalhadores
discutindo essa questão do aumento da tarifa de ônibus, nessas lutas populares, nesses
clamores populares, você vê hoje em São Paulo o serviço de transporte é péssimo, tanto do
município quanto do governo do Estado, a saúde é péssima e nós não vemos uma atuação
institucional do partido discutindo esses problemas que a cidade tem. E o partido aparece
onde? No momento da eleição. O que o partido está discutindo sobre os problemas que
estamos enfrentando? Inclusive o problema do Rodoanel. É um absurdo a maneira como está
sendo feita, vai levar muito problema para a periferia, não estou nem falando da questão
ambiental, mas o monte de famílias que estão ali estão largadas, estão soltas, e eu vejo o
partido, nesse sentido, impotente. Um partido que está muito preocupado em ser governo
federal e pouco preocupado em ser oposição onde ele não é governo. Eu acho que quando
você é governo você tem projeto, se você é oposição você também tem projeto. E aqui no
Estado de São Paulo eu vejo uma ausência gigantesca de projeto do partido.
Tendências internas
Acho que isso é um problema da esquerda, não do Brasil, mas do mundo inteiro. Conheço
pouco lá fora, conheço muito aqui. Nesse problema das tendências e dos grupos eu acho que
são legítimos, mas eu acho que pra você fazer parte de uma tendência, pra fazer parte de um
grupo, e pra se contrapor a outro, acho que você tem que ter muito claro o que você pensa,
qual é a diferença entre um grupo e outro. Diferenças ideológicas, de concepção, acho que é
natural, é salutar e é bom que a gente tenha diferenças, dentro do nosso partido inclusive. Elas
têm que ser pequenas porque as diferenças têm que ser com os outros partidos. Eu não vejo
problema. Agora, me parece que de 17 tendências, não acho que nós temos 17 visões
ideológicas diferentes. Como, por exemplo, se eu perguntar qual a diferença entre a Marta e o
Mercadante, ideologicamente, o que um defende que o outro não defende? E a gente fala: o
grupo da Marta e o grupo do Mercadante. Acho que isso mostra um equívoco que o partido
tem de se dividir em grupos e grupos relacionados a pessoas, e que estão muito mais ligados a
projetos pessoais deste grupo, o que leva a uma ausência de projeto pra cidade. Infelizmente o
partido hoje está muito focado nos grupos, com diferença ideológica nenhuma, inclusive de
práticas, são muito parecidas e porque tem que optar entre Mercadante e entre a Marta? Os
grupos onde eu frequento, especialmente o grupo de militância da Igreja católica, do PT e do
movimento sindical, isso vai muito pelos cargos que os dois ocuparam e como eles se
relacionaram ao longo desses anos com esses apoiadores. E a gente vê que tem bastante
diferenças mas não são visões determinantes. Esse grupo pensa essa coisa, essa liderança
pensa essa coisa e não concorda com o outro. Existe muito a disputa entre grupos,
infelizmente para esse grupo A se consolidar ele precisa enfraquecer o grupo B e a maneira às
vezes como é feito isso é tão violenta que, depois, quando um dos dois precisa ceder, um não
vai conseguir apoiar o outro. Quando o individual supera o coletivo, ele tem um problema
muito grande na frente pra você juntar. Isso eu vejo no movimento sindical. São mais de cem
sindicatos que tem na nossa confederação e lá também se divide em grupos de pessoas e a
gente vai tentando diminuir a fervura, a maneira como vão sendo feitos os embates porque lá
na frente a gente precisa juntar. A disputa individual é tão grande que um dos dois, um dos
três, um dos quatro, um só vai ficar e os outros vão ter que apoiar, fica tão ruim a disputa
como foi feita, que depois você continua com o famoso “fogo amigo”. Por quê? Porque essas
disputas são feitas num patamar em que não deveriam ser feitas no meu entendimento.
6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua
participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?
Eu acho que já influenciou mais. Mas acredito que influencia muito porque quando você não
tem espaço democrático para dialogar nos meios de comunicação, eu acho que os programas
eleitorais e os debates, que você tem os marqueteiros, eles estão ali por trás, num debate fica
muito mais fácil você fazer pergunta, de você responder, de você naturalmente mostrar quem
você é e quem é o outro. Então, esses debates são importantes e eu não tenho dúvida, os
debates ajudaram muito essa melhora na visão do Mercadante, não só essa visão de quem é o
Mercadante, mas nessa disputa dele com o Alckmin, de quem é o Alckmin, que essa imprensa
também sempre escondeu. Não tenho dúvida de que os debates, nessa última disputa entre
Mercadante e Alckmin, não tenho dúvida de que o Mercadante se saiu muito bem.
7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência
determinante na escolha do eleitor?
Olha, propaganda eleitoral eu confesso que tenho visto muito pouco. Não acompanhei as
propagandas eleitorais, agora eu acredito que elas ajudam muito. Acho que todo o espaço que
você pode dialogar diretamente com o eleitor sem passar pelo crivo de nenhuma censura, de
nenhum corte, acho que é importante. Eu não vou conseguir avaliar para você se a propaganda
eleitoral foi adequada ou não, porque eu vi muito pouco a propaganda eleitoral.
8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a
candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o
candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?
Atrapalha muito e interfere muito. Porque a imprensa tem lado. Eu acho o seguinte, inclusive
a ausência de falar atrapalha muito. Acho que têm uma influência fundamental na ausência de
falar, no debate do estado do que de qualquer outra forma. O PSDB está aí há quase vinte
anos, isso em nenhum momento foi explorado por essa imprensa, ao ponto daquele absurdo
de ter a enchente e o Alckmin falar: olha isso não se resolve do dia pra noite. Quer dizer, você
imagina se fosse o oposto, se o PT estivesse aí há vinte anos e um governante do PT dissesse
isso... Se uma bolinha de papel que foi na cabeça do Serra a Rede Globo fez aquele escarcéu
todo, ainda bem que nós temos essas redes sociais, inclusive até outro canais concorrentes da
Globo que mostraram o contrário, mas acho que isso ilustra muito bem o papel que a mídia
tem nas campanhas, ou seja, ela tem lado. Na questão do Mercadante tanto a ausência de
informações, o Mercadante viajava o interior do Estado, cinco vezes na mesma cidade e a
imprensa não deu nem um destaque. O Alckmin ia uma vez e era uma festa, só se falava disso
o tempo todo. Então, eu não tenho dúvida que essa questão da mídia tem uma influência
muito grande não só no desempenho do Mercadante, mas de qualquer candidatura petista aqui
no Estado. Porque aqui eles têm um lado muito claro e trabalham muito pra isso.
9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para
o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram
transferir votos para o candidato?
Absolutamente não. O partido não debate isso, não discute, não tem como estratégia
articulado dessas candidaturas, acho que o modelo também atrapalha muito, são muitos
cargos que você tem que eleger, é muito espaço que você tem pra dividir, mas eu não tenho
dúvidas que os parlamentares, os candidatos a deputado contribuíram muito pouco. Eles estão
muito preocupados, e dá para entender, não isso justifique, mas dá pra entender também que
eles querem o espaço deles. Se reclama muito, por exemplo, que na campanha do partido eles
quase não aparecem, são poucos os que aparecem. Eles ficam muito mais preocupados com a
sua eleição do que com esse projeto mais amplo. Acho que o partido não debate isso e acho
que vai ter muita dificuldade de alterar. Acho que eles ajudam e contribuem muito pouco.
10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a
mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e
discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para
diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou
proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços
com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de
Mercadante?
Pra responder isso eu tenho que fazer um “mea culpa” antes. Eu sou filiado ao partido, fiz
uma opção, uma questão de tempo e de família, como estou no movimento sindical, não tenho
muitas condições de atuar dentro do partido. Apesar de ser filiado, vivo ser simplesmente um
militante. Ao fazer a crítica dos diretórios regionais, da direção estadual e da direção nacional
do partido, eu acho que isso não existe. No que pese a minha ausência, já que eu sou filiado
ao partido e deveria estar contribuindo e mudando dentro do meu diretório, acho que isso é a
autocrítica que eu faço, senão também não adianta a gente sempre querer culpar a direção do
partido, quem está à frente, porque eu acho que o partido é muito maior do que a sua direção,
a sua militância é muito maior. Mas fazendo essa “mea culpa”, como eu disse a você, o
partido não tem um projeto de ocupação de espaço. Você não ocupa só o espaço no momento
da eleição. Estou voltando atrás o que eu falei aqui e que eu acho importante: você não tem
uma disputa de espaço em transporte, não tem uma disputa de espaço em saúde, não tem uma
política de espaço na educação. Então quando chega no momento da eleição, cada um vai
cuidar da sua vida, o deputado da dele, o candidato a governador da dele, o candidato a
senador da dele e não tem projeto. Tem um pouco do governo federal, que preparou uns
documentos pra falar dos números do governo federal, e que distribuía, mas eu acho não só do
Mercadante, mas de qualquer campanha para prefeito que a gente faça, não só não tem
materiais pra você estar se formando e dialogando com a população, como também não há...
Ninguém nunca me chamou, não, vamos fazer uma reunião pra fazer uma preparação, um
planejamento estratégico, pra ser reproduzido nos diretórios regionais, nos núcleos, não sei,
nem núcleos têm mais, nos espaços, nos grupos que são constituídos pra esses processos
eleitorais. É uma ausência completa de formação, mas ela está dentro dessa ausência maior,
que é gritante, uma ausência de um planejamento estratégico, que você não faz nos seis meses
da campanha, se faz desde já. Acho que a gente aprende muito com escola de samba. Na hora
que termina um carnaval se começa a preparar o outro. E o partido, infelizmente, termina uma
eleição e ele fica dormindo, fica hibernando, próximo da eleição ele acorda e sai correndo de
novo pra ver como sobrevive pra poder hibernar por mais um período.
Nos anos 80 não havia isso?
É o que te falei lá no início da conversa. A militância tem uma característica até a eleição do
Lula. A partir da eleição do Lula ela muda essa característica. Não tem nada a ver hoje a
militância que nós temos com aquela militância que tinha. Lá trás tínhamos aquele sonho que
era conquistar, que achávamos importante, que todos os problemas seriam resolvidos, a gente
achava então que o salário mínimo, a hora que a gente ganhasse, de uma hora pra outra
resolvia, a gente achava que a questão da saúde de uma hora pra outra resolvia, e nós sabemos
que não é assim. Hoje eu vejo uma preocupação gritante, por exemplo, e que eu acho
estratégica, aliás, três: a reforma política, eu estava vendo o Emir Sader falar outro dia,
quantos parlamentares tem ligados aos trabalhadores rurais? Deputados federais, são quatro.
Ele falou assim: quantos parlamentares têm ligados ao agronegócio? Deputados federais:
quarenta. Muito internamente aqui com os sindicatos da federação, se a gente quiser ter um
outro país, que hoje é a sétima economia do mundo, tá indo pra quinta, país mais rico do
mundo, mas também ainda está entre os dez piores na distribuição de renda, nós vamos ter
que ocupar o nosso espaço na sociedade. E discutir, por exemplo, a reforma política. O que a
gente entende por essa reforma política? Quem é a referência dos trabalhadores pra uma
reforma política? Se perguntar hoje para os trabalhadores o que eles pensam, eles não sabem.
Essa é a demonstração clara que nós não estamos fazendo o nosso papel. Nem o partido nem
o movimento social. Aí você também pega a reforma tributária, que é que Estado você vai ter,
de quem você vai arrecadar, como é que isso vai ser distribuído. Quem é a referência dos
trabalhadores hoje de uma reforma tributária? São os empresários com o “impostômetro” aqui
na rua Boa Vista, dizendo que se paga muito. Então os empresários que não pagam, como boa
parte dos empresários não pagam, os ricos não pagam, quem paga são os pobres, aqui o
imposto é sobre o consumo e não sobre renda, mas nós não ocupamos o nosso espaço na
sociedade. Nós estamos esperando quem? O presidente do partido, a executiva do partido
fazer isso? Acho que não. Outro que não posso deixar de falar, puxar a sardinha aqui pro
nosso lado, é a reforma do sistema financeiro. Vai ser desenvolvido a partir de um sistema
financeiro que não disputa crédito, a partir do direcionamento do crédito. Acho que essas três
reformas são importantes pra gente mudar. Lá atrás, antes do Lula ganhar, nós não tínhamos
isso, a gente queria chegar ao poder. Então a militância tinha toda a sua conjuntura naquele
momento político, social, econômico, voltada pra ganhar e pra chegar ao poder. Nós
chegamos, mas não levamos o Congresso com a gente, mas estamos governando, estamos
transformando. Agora é um outro papel que a gente tem que ocupar, e esse papel realmente é
transformar essas estruturas e, infelizmente, como você falou, nós não temos formação, nós
não temos visão estratégica, nós não temos planejamento, acho que essa é a combinação
imperfeita, por isso acho que nós estamos nessa situação. Culpa da militância e culpa do
partido.
Muitas vezes a gente sente falta de materiais. Quantas vezes a gente tentou ir atrás do
diretório, nos espaços buscar materiais e não tinha. Especialmente dos majoritários. Porque os
proporcionais têm as suas estruturas de arrecadação, de rodar material, de confecção de
material, então a hora que a gente muitas vezes precisava de material dos majoritários pra
fazer a gente não tinha ou era material já repetido, não vi muita estrutura, planejamento disso.
Infelizmente, como já falamos, as pessoas estão mais preocupadas com os seus mandatos de
parlamentar do que nas eleições dos majoritários.
11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a
preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última
campanha para governador?
Não vejo. Vejo uma involução, inclusive.
12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um
crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar
lá?
A figura do Mercadante, quando ele tem espaço pra mostrar quem ele é, acho que isso foi
fundamental. Tanto nos programas eleitorais, apesar de eu não ter visto, mas é um espaço que
ele se mostra, quanto nos debates que só ocorreram no final da campanha. E o próprio apoio
que o Lula deu. Essa conjunção de fatores, do horário eleitoral, e lembrando também que
apesar do Lula ser de São Paulo, o Lula virou eleições em vários lugares, rodava o tempo
inteiro, não ficou muito tempo aqui, senadores, quantos foram derrotados que eram ligados ao
DEM, ao PSDB, por conta dessas andanças do Lula, então acho que essa pouca presença do
Lula em São Paulo, se ela fosse uma presença maior, poderia ter ajudado mais. Mas acho que
o pouco que o Lula ficou aqui e esse espaço nos debates e nos programas eleitorais, onde o
Mercadante aparece e o Lula também, por ser notícia, ela faz com que o Mercadante apareça
mais ao lado dele. Acho que esses fatores é que fizeram com que o Mercadante crescesse na
reta final. E o que faltou... Acho que faltou um planejamento estratégico. Campanha você faz
antes, durante, não depois, mas no final. Não vi um planejamento estratégico em cada etapa
desse processo de conquistar votos. Acho que nós estamos com planejamentos muito ruins. Se
tivesse planejado melhor, dividido melhor os recursos, as estruturas, as pessoas... Acho que
cada uma dessas etapas eram previsíveis. Todas elas. Não teve novidade nenhuma. A
imprensa não dar apoio, esconder o Alckmin, não falar dos problemas, tudo isso era
previsível. Num planejamento você tem isso. Você sabe que a sua chance, quanto mais você
está ocupando espaço, vai tendo que trabalhar mais. Acho que foi falta de planejamento.
E o caso Erenice, influenciou na campanha?
São Paulo não. Isso estava muito ligado ao debate presidencial, se ia ou não ter o segundo
turno. Acho que foi fundamental, inclusive, para que tivesse segundo turno. Isso teve uma
influência direta, a estratégia que a direita tinha era de levar a eleição para o segundo turno.
Eles conseguiram e o caso da Erenice foi fundamental. Pra esse processo presidencial. Mas
para o processo aqui de São Paulo influenciou muito pouco.
Entrevista com Paulo Victor de Angeli Filho
1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio
Mercadante?
Do Mercadante participei das duas últimas, 2006 e 2010, para governador.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?
A ideia inicial era descaracterizar o governo Serra, porque o Alckmin, perante o eleitorado,
ele é colado ao Serra. Isso não acontece na verdade, eles são muito rachados. Mas até então, a
cultura do eleitorado paulista ainda é isso, que o PSDB é um só, ele não têm racha e você
desconstruindo o governo Serra você atingiria o Alckmin, provavelmente. Só que,
infelizmente, o nosso candidato ao governo não consegue emplacar, o carisma dele é
complicado. Parecido com o dos tucanos. Se você colocasse o Alckmin como candidato do
PT ele não iria a lugar nenhum. Se você colocar o Mercadante como candidato do PSDB, ele
seria governador do Estado.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você
acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:
experiência no executivo, propostas, partido?
Como eu disse, a cultura reacionária do Estado... No Estado em si, não na Grande São Paulo.
Porque na Grande São Paulo você consegue cinturões. A maioria das cidades da Grande São
Paulo são governadas pelo PT. Mas no interior do Interior do Estado, infelizmente, existe
ainda uma grande rejeição ao partido e isso inviabiliza uma eleição de qualquer candidato do
PT.
4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das
pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante
não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da
campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?
O timing da campanha... Ele não se aproximou dos candidatos proporcionais, acho que a
divulgação do material vinha muito pelos proporcionais e ele não tinha o apoio na Grande São
Paulo desses candidatos. É onde estaria a grande chance dele, colar nos candidatos da Grande
São Paulo. Ele priorizou o interior de São Paulo, achando que ele conseguiria em alguns
rincões do Estado parcerias, mas foram insuficientes, isso ficou mostrado. E os proporcionais,
como força do partido, ficaram renegados, acredito eu. Eu senti isso, a divulgação de material
foi muito ruim, se mandavam muita coisa e, em cima da hora, você tinha dois dias pra
desenvolver, um dia pra divulgar o comício na cidade toda, mandava um milhão de folhetos e
era impossível distribuir. A campanha dele errou muito aí.
5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, porque a militância não
consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?
A cultura do interior de São Paulo é muito complicada, o PT ainda cheira a comunismo,
parece até brincadeira falar isso, mas é verdade... Hoje as pessoas no Interior, eu sinto isso,
sou do interior de São Paulo, eu sei, eu tenho na pele isso e você é taxado de comunista. É
aquela coisa de achar que... já passou, né? Só que, infelizmente, é reacionário mesmo e pra
mudar essa visão, não sei, é difícil.
6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua
participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?
Não, porque as regras dos debates travam muito, não tem como você desenvolver. Sempre
tem os minoritários, no caso, que vão travar o debate. Você não pode fazer perguntas diretas,
dificilmente, uma ou duas e isso fica impossível. Na verdade não é um debate. Você tem... é
um discurso de cada candidato.
7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência
determinante na escolha do eleitor?
É uma ferramenta importante, mas se você não conseguir emplacar sua campanha, se você
não conseguir fazer com que seu candidato tenha uma... sei lá... consiga agregar valores e
situações, não vejo muito não. Porque ele pode ter as melhores ideias possíveis, se ele chegar
aí e pegar um pedaço de papel e ficar seguindo o roteiro, se ele não passar confiança, é
impossível.
8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a
candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o
candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?
A imprensa nunca vai ser a favor do PT. Isso é um ponto. Só que o governo Lula provou... O
Lula provou que, com o carisma dele, ele conseguiu mudar um pouco isso. Um pouco não, ele
mudou muito. Ele revolucionou essa história da imprensa, ele conseguiu meio que mudar a
visão de algumas pessoas, foi o que viabilizou a eleição dele. Com certeza.
9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para
o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram
transferir votos para o candidato?
Não conseguiram em virtude do afastamento do candidato com esses proporcionais, com os
candidatos ao legislativo. Ele fez uma opção que acho que foi errada de ir para o Interior de
São Paulo. Sendo que a grande força do PT é na Grande São Paulo. E ele não deu... Eu
trabalhei para um candidato particularmente que divulgou muito pouco a campanha dele.
10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a
mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e
discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para
diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou
proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços
com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de
Mercadante?
Ele não teve apoio na Grande São Paulo, de muito pouco candidato proporcional. Acho que os
maiores puxadores de voto no legislativo, infelizmente, não eram do grupo dele. Infelizmente
o PT é isso. Ele é democrático e existem vários setores do partido. E esses setores não
estavam com Mercadante.
11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a
preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última
campanha para governador?
Não, infelizmente isso se perdeu. A campanha toda é profissionalizada, dificilmente as
pessoas atuam de corpo e alma como antigamente. Na campanha do Collor e do Lula, eu na
época era bancário, o Collor com aquela estrutura toda, com banners gigantes, outdoors pra
todo lado e a gente pregava uma foto do Lula no papelão, colava num pedaço de pau e saia
pra rua! Quer dizer, isso era militância. E você não recebia um real por isso. Hoje não,
infelizmente acabou. Acredito que o militante tem que confiar no candidato. Com o Lula, por
exemplo, os candidatos faziam questão de colocar o Lula no folheto deles. Por quê? O
carisma do cara, não tem jeito. E ele é a alma do PT. Se nós conseguíssemos outras lideranças
como o Lula, com certeza. Mas hoje eu não vejo alguém que vai pra rua defender um
candidato de corpo e alma.
12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um
crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar
lá?
A candidatura do Serra deu uma fraquejada no final muito forte e isso deu pra dar uma colada.
O Lula, claro, tinha muito... o carisma dele puxou, o que deu pra ele fazer pelo Mercadante no
Estado, na Grande São Paulo, ele conseguiu. Carapicuíba, por exemplo, foi 49 a 37, 49
Mercadante e 37 Alckmin. Se investiu em Carapicuíba? Não. Entendeu? Ah, tá, 49% a 37%,
tudo bem, mas porque Carapicuíba deu 49 a 37? Isso que é o grande segredo. Funcionou?
Como que o pessoal local conseguiu colar o Mercadante na imagem do prefeito? Não sei em
outras cidades, acho que não funcionou. O prefeito, no caso, é muito importante. Se ele é do
partido do candidato, ele tem que agregar voto. Acho que lá é um exemplo muito interessante
pra se pesquisar. Se você consegue transferir 49% dos votos pro seu candidato a
administração está sendo bem avaliada. E isso foi muito importante.
Entrevista com Geraldo Figueiredo de Almeida
1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio
Mercadante?
Participo das campanhas do PT desde 82, quando eu participava já da Pastoral da Juventude
na Igreja católica, naquele momento já participava de algumas campanhas do PT sem ser
militante, sem ser filiado. Das campanhas do Aloizio Mercadante participo em torno de oito
anos, desde quando ele saiu pela primeira vez candidato ao governo do Estado, já participei da
organização da própria campanha dele.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?
Nesse momento tivemos uma situação muito difícil que foi a conseqüência das prévias na
Capital de São Paulo para o governo do Estado em 2006. Mercadante ganhou as prévias no
Estado, mas a Marta ganhou na Capital. Eu acho que isso dificultou muito as últimas
campanhas na Capital e no Estado, gerou a divisão do partido, nas prévias teve a derrota de
Marta, que não contribuiu muito com a campanha do Mercadante e isso, as prévias, gera
muita divisão dentro do partido e a militância acaba não assumindo de fato a campanha total.
O ideal é todo mundo unido num objetivo.
Você acha que essa divisão interna prejudica a preparação dos militantes para defender
o seu candidato?
Prejudica totalmente, sou totalmente contra as prévias dentro do partido, e isso, já houve
vários motivos dentro do partido, que na prévia deixa muita divisão, muitos rancores. Acho
que no PT tem que ter consenso de uma candidatura, e isso, eu acho que demonstrou muito na
gestão da campanha do Mercadante.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você
acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:
experiência no executivo, propostas, partido?
Acho que o eleitor faz uma avaliação precisa, principalmente no nome que tem uma
referência popular, tem uma garantia, se de fato o eleitor conseguir sentir que tem uma
proposta de inserção popular, que tem uma inserção forte que vá ao encontro de suas vontades
ele vota nesse candidato. O Mercadante consegue garantir essa colocação com o eleitor. Acho
que o eleitor do Alckmin tem outro ponto de vista.
Acho que a gestão das campanhas do PT tem toda uma situação totalmente diferenciada do
PSDB. O PT tem uma organização, principalmente na campanha, que todo mundo se
organiza, vai para os bairros, discute o programa do partido, discute o programa do PT, de
campanha, e isso colabora muito para uma vitória. Na questão da organização partidária e o
governamental o PT se consolida muito bem preparado pra se organizar. No Alckmin, acho
que simplesmente é campanha só. Não tem uma certa organização após a campanha, eles tem
todo um trajeto totalmente diferente do nosso, que não consolida a questão popular de fato.
4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das
pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante
não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da
campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?
Eu acho que o candidato Alckmin, do PSDB, sempre esteve na frente porque de fato tem uma
estrutura na capital de São Paulo e também no Estado de São Paulo, o governo do Estado, tem
uma estrutura muito forte relacionada à questão da mídia, tem o poder do PSDB na capital,
acho que demonstra, tantos anos de governo no Estado de São Paulo, e isso reflete também
um pouco na capital, toda uma articulação de todos os setores públicos e, de fato, a própria
campanha deles. Acho que primeiramente o PT aqui em São Paulo tem que parar de fazer
disputa interna e acho que o PT em São Paulo tem que sair unido em toda a campanha. A
partir das prévias, e acho que isso devido parte do partido, ter rancores, ter sentimentos ruins.
Isso atrapalha de fato a unidade para contrapor de fato a força do PSDB aqui na capital. Com
isso o PSBD acaba, de fato, ganhando todo o espaço. As acusações do dossiê dos aloprados
[de 2006], ainda prejudicam a imagem do Mercadante. Eu acho que essa questão o PT
novamente não soube administrar.
5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, por que a militância não
consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?
O PT não consegue quebrar essa hegemonia no Estado de São Paulo porque primeiramente o
PT de São Paulo não pode se dividir tem que somar, tem que refletir, tem que organizar. Acho
que as tendências do partido em São Paulo estão dividindo muito o PT e, com isso não
consegue achar um eixo que de fato consiga navegar pra uma vitória aqui em São Paulo. Eu
tenho certeza absoluta que o PT, se conseguir achar esse eixo no Estado de São Paulo. Acho
que já demonstramos isso na capital. Se nós conseguirmos nos organizar pra isso, nós temos
condições totais de ganhar as eleições na capital e no Estado de São Paulo.
6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua
participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?
Sim, acho que influencia bastante. O nosso candidato precisa, primeiramente, ser um
candidato que tenha referência popular, ter uma boa imagem, não digo que precisa ser bem
conhecido. Mas acho que dentro de uma aliança, dentro do próprio Estado, dentro da própria
capital isso facilita muito pro candidato, porque não adianta ter simplesmente nome, precisa
ter aliança, precisa ter a discussão da composição de governo, se houver essa possibilidade,
dentro da capital e do Estado, acho que isso facilita muito pela vitória do partido.
7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência
determinante na escolha do eleitor?
Acho que o PT tem um programa muito bom. Eu não desprezo o programa do Partido dos
Trabalhadores. Acho que o PT hoje tem referência ainda no Estado, tem referência na capital,
tem uma criatividade muito grande dentro do partido, tem inserção nos movimentos
populares, a maioria das pessoas acha ainda que o PT se distanciou muito dos movimentos
populares, eu acho que não. Tem referência ainda muito dos movimentos populares, acho que
a referência, se souber usar isso, se souber trabalhar bastante a questão da participação da
militância dentro dos movimentos, acho que ainda o os programas do PT fica muito forte.
Acho que o Lula demonstrou isso bastante, acho que no Estado de São Paulo e na capital não
souberam trabalhar muito bem essa questão. Acho que o Lula, a nível nacional trabalhou
muito bem isso, mostrou inserção na periferia, na relação com os movimentos, na relação com
as comunidades, e isso no Nordeste, em vários locais, acho que o PT tem que aprender um
pouco com o Lula, de como trabalhar essas questões.
8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a
candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o
candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?
Acho que o PT não tem que se preocupar tanto com isso. Acho que o PT está falhando
bastante de se preocupar com os jornais, de se preocupar com o adversário, acho que o PT tem
muita inserção, tem muito trabalho dentro das comunidades, acho que o PT tinha que
demonstrar mais isso, sem se preocupar com os adversários. Tem uma demanda dentro do PT
muito forte ainda hoje que o próprio adversário não tem. Acho que o PT tem que
simplesmente operar isso, demonstrar esse trabalho com as comunidades, do que se preocupar
com adversário. Acho que o PT está se preocupando muito com o adversário, se preocupando
muito com técnicas, acho que o PT tem que demonstrar mais o trabalho que ele está fazendo.
9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para
o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram
transferir votos para o candidato?
Acho que conseguiram transferir votos para o Mercadante, mas o que eu acho mais é que
faltou uma aliança maior dentro de uma postura no Estado de São Paulo, que eu acho hoje que
dá pra fazer. Naquele momento faltou um articulador principal. Acho que não dá pra ganhar o
Estado de São Paulo sem o PSB, sem o PMDB, sabe, setores de outros partidos e hoje eu acho
que merece uma reflexão maior dentro dessa articulação. Acredito que alguns candidatos só
se preocuparam com a sua campanha e o Mercadante ficou aí esperando uma articulação
maior de votos dos seus próprios candidatos. Acho que é uma experiência muito grande pro
partido, tem que fazer uma reflexão.
10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a
mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e
discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para
diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou
proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços
com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de
Mercadante?
Cada um que está levando a sua candidatura a deputado estadual, deputado federal, está de
fato levando a candidatura do Mercadante, tem um esforço de todos os candidatos pra isso, eu
não vejo nenhum problema de levar a candidatura do Mercadante. Porque eu acho que de fato
é essa candidatura que puxa toda a questão das candidaturas estadual e federal.
11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a
preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última
campanha para governador?
Acho que não, acho que poderia ser trabalhado melhor diante de cada diretório, de cada
cidade, deveria envolver mais a militância, seus próprios diretórios, seus próprios presidentes
de diretórios. Acho que o PT falhou um pouco nessa organização. Ficou muito numa certa
culpa do partido e não trouxe um pouco pra referência melhor que poderia envolver melhor os
diretórios, que poderia envolver as regionais, os diretórios municipais. No PT falta a questão
da formação, do treinamento, mas acho que ainda é o partido que mais traz a discussão
partidária. Há reuniões do diretório, tem encontros, tem várias atividades que acho que em
todos os partidos não acontece isso. Vejo que no PT ainda continua sendo o partido que mais
mobiliza, mas acho que, de fato, o PT precisa trazer mais uma valorização da estância pra
região. O PT precisa valorizar mais as regiões, os próprios diretórios zonais, municipais, e os
encontros. Porque acho que não valoriza muito. Acho que o PT naquela época (anos 80) tinha
uma preocupação maior, porque acho que a militância do partido era maior que o PT. Naquele
momento tinha o movimento de solidariedade da América Latina, Nicarágua, El Salvador,
outros países, a militância do PT rodava ruas, regiões, às vezes sem interferência da direção
do partido, tinha uma militância mais aguerrida, tinha uma militância mais... Acredito que
pelo auge da situação, naquele momento, acho que chamava a atenção da militância pra isso.
Hoje tem uma diferença muito grande, eu acho que o PT não consegue ter uma direção
relacionada à questão dos militantes. Acho que o PT hoje mudou, daquela época. Naquela
época o PT não estava no poder, mas tinha o PT no poder de várias ações. Isso era
superimportante. Hoje o PT tem poder nacional, em vários municípios, em vários Estados, e o
PT hoje desenvolveu de uma forma como partido que se tornou o poder e isso dificulta muito
a própria relação com a militância. Se tornou uma coisa muito fácil, militar, trabalhar dentro
do partido. Então isso diferencia muito daquele militante que não tinha nem dinheiro, às vezes
pagava o partido pra militar. Hoje não. Hoje uma campanha tem uma certa grana, tem um
certo dinheiro pra trabalhar. Então isso mudou muito. Tirou aquela coisa muito bonita que de
fato existia dentro do PT.
12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um
crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar
lá?
Faltou de fato, logo no início, faltou o consenso do partido diante de uma candidatura, faltou
uma visão de que a prévia prejudica o partido, prejudica a campanha, tem divisão da
militância, tem rancores, muitos militantes acabam não fazendo a campanha, acho que isso
dificultou muito a campanha de Mercadante. Não só nessa campanha, mas em todas as
campanhas do PT, se tiver prévia, nós não vamos chegar a lugar nenhum, porque vai estar
dividido.
Luiz dos Santos Pereira Mendonça
1- Há quanto tempo participa das campanhas do PT? E das campanhas de Aloizio
Mercadante?
No PT desde 1994. E em todas do Aloizio. Todas em que o Aloizio teve a gente participou.
2- Qual foi a orientação inicial para a campanha ao governo de São Paulo em 2010?
Que dificuldades a militância encontrou no decorrer da campanha?
Na verdade a orientação era que nós nos empenhássemos muito na campanha do Mercadante.
E as dificuldades que a gente teve foi a organização dos militantes e filiados, que hoje são
muitos. Só em Guarulhos são 15 mil filiados. Pra organizar todo esse povo não foi fácil. Essa
foi a maior dificuldade.
3- Que diferença vê entre os eleitores de Mercadante e os de Alckmin? Você
acredita que o eleitor considera quais critérios na avaliação do candidato:
experiência no executivo, propostas, partido?
O Alckmin posa de bom moço, era mais fácil. Como foi vice do Covas, assumiu o Estado que
o Covas deixou... Acabou alinhando e foi... Um chuchu, um verdadeiro chuchu. Mas aí agora
melhorou muito, nessa última campanha dele, ele mostrou a cara, acho que foi o diferencial
pra fazer ele se manter. Mas acho que na próxima a gente leva, com certeza. Avalio que em
São Paulo há um diferencial. É um Estado muito mais voltado para a direita. Sempre teve um
relacionamento estreito com a direita. Isso acaba sendo vicioso em relação ao embate da
esquerda. Mas agora, depois do Lula, está muito mais fácil. Agora, como disse, na próxima
eleição a gente leva. A experiência administrativa também pesa bastante. E isso o Alckmin
adquiriu como vice do Mário Covas.
4- Por que você acha que o candidato adversário se consolidou na dianteira das
pesquisas de intenção de voto desde o início? Por que você acha que Mercadante
não conseguiu se beneficiar do apoio de Lula e de Dilma desde o início da
campanha? Que problemas de imagem o candidato enfrentou nesta campanha?
Bom, o fato da gente ter uma eleição pra governador e pra presidente, isso acaba dividindo
muito o trabalho de campanha direcionado para o Mercadante. Acho que uma das grandes
dificuldades... Porque o Lula não podia simplesmente sair em defesa dele, nós tínhamos aí
muitos Estados precisando do apoio do Lula. Eu acho que a figura do Mercadante não é uma
figura simpática, a visão que eu tenho é que o marketing precisa trabalhar para que ele seja
uma pessoa mais sorridente. Se você olhar pro Alckmin, ele está sempre sorrindo, sempre
contente, mesmo que o momento não leve para isso. Acho que essa postura ajudou muito na
imagem do candidato.
5- Com o PT crescendo em diversas regiões do país, porque a militância não
consegue quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?
São Paulo é um estado totalmente capitalista. Tanto é que ninguém imaginaria que o Kassab
um dia fosse prefeito. Ele foi prefeito e reeleito. A cidade de São Paulo, o Estado é industrial.
Acho que isso ajuda muito. Os empresários entram na campanha do PSDB. Acho que isso é o
nosso grande problema. A classe trabalhadora ainda não conseguiu fomentar uma organização
pra quebrar isso.
6- A militância sentiu alguma melhora no desempenho do candidato após a sua
participação nos debates? Isso, aliás, influencia na escolha do eleitor?
Com certeza, acho que é fundamental. No debate que ele consegue avaliar realmente, mesmo
aquele que não tenha uma experiência administrativa, se ele vai ter capacidade de governar o
Estado. Mas acho que não alterou muito a imagem dele. Acho que faltou o PT trabalhar muito
mais a imagem do Mercadante dentro dos debates.
7- E os programas do horário eleitoral gratuito do candidato, exercem influência
determinante na escolha do eleitor?
Sim, também. Influenciou muito. Tanto que a campanha que a gente teve do governo federal
ajudou. Mas acho que nós não acertamos o marketing para desenvolver a campanha do
Mercadante.
8- Você acha que a cobertura da imprensa dessa campanha atrapalhou a
candidatura do PT ao governo? Aliás, o que os jornais e a televisão dizem sobre o
candidato Mercadante interfere na escolha do eleitor?
Acho que a nossa imprensa é totalmente direitista. Ela não se preocupa em ser imparcial. Isso
acaba atrapalhando muito, acontecendo muito. Nós tivemos dificuldade com o Mercadante
para desenvolver. Ela acabou mostrando que ele era ruim e não mostrou as propostas que ele
tinha e eram ótimas. Uma excelente proposta para São Paulo.
9- Você acha que os candidatos do partido aos cargos legislativos contribuíram para
o que era necessário para a campanha de Mercadante? Eles conseguiram
transferir votos para o candidato?
O que eu posso falar é sobre Guarulhos. Guarulhos, a nossa candidata Janete, a federal, e o
Alencar, deputado estadual, desenvolvemos um trabalho excelente em prol de Mercadante.
10- Uma campanha, quando vai para as ruas, tem como principal preocupação a
mobilização adequada dos seus militantes, oferecendo para isso material e
discurso de campanha. No entanto esses militantes têm de dividir esforços para
diversos candidatos, sejam eles majoritários (presidente, governador) ou
proporcionais (deputados e senadores). Isso atrapalha na hora de dividir esforços
com aqueles que precisam mais de corpo a corpo, como foi o caso de
Mercadante?
Acho que aqui em Guarulhos faltou o Mercadante ser mais conhecido. O fato da gente
trabalhar o nome dele na campanha, mesmo tendo uma expressiva votação pra senador,
quando é um cargo pro executivo, acho que a campanha tem que ser diferente. Diferente do
cargo legislativo. Você acaba trabalhando com alguns pontos que você pode elevar o seu
índice de aprovação. Isso é mais difícil. Você tem que ter propostas mais contundentes. Acho
que faltou isso na divulgação, na campanha do Mercadante em todo o Estado, não só em
Guarulhos.
11- Você, como militante, observa uma evolução nas campanhas que envolve a
preparação da militância para um trabalho mais eficaz? Isso aconteceu na última
campanha para governador?
Acredito que o grande problema do PT e nós temos que encarar isso, são as correntes. Não
temos unidade total sobre nossos candidatos. Acho que o fato, às vezes, de algumas correntes
só entrarem depois na campanha, acabam atrapalhando a desenvoltura da imagem do nosso
candidato, que foi o caso do Mercadante na última eleição. Acho que faltou sim, faltou um
pouco mais de empenho. Todo muito entrou, na reta final. Nós temos que fazer isso no
mínimo três meses antes.
12- Enfim, o que funcionou nesta campanha que favoreceu o candidato a ter um
crescimento acentuado na reta final da campanha? O que faltou para ele chegar
lá?
Faltou muito pouco pra gente eleger o nosso candidato Mercadante. Mas eu acredito que o
maior problema ainda em relação ao Aluízio Mercadante é a gente discutir um pouco mais, ter
uma base aliada mais contundente, forçando essa base aliada a trabalhar em nome de
Mercadante. Não adianta nada você ter um candidato aliado, que pode fazer uma divulgação,
mas você não ver um ato dessa base aliada pra eleger Mercadante. Acredito que o grande
problema foi esse. Faltou uma reação imediata contra, por exemplo, as grandes mentiras que a
Internet jogou aí na... Enlameou, na verdade, o nome de Mercadante. Hoje o Brasil tem um
público muito voltado pra essa Internet. Você joga uma mensagem na internet, mesmo ela
sendo inverídica, mentirosa, tudo, a gente conseguir reverter isso... No caso de Mercadante
grande mentiras foram ditas e a gente não teve tempo hábil pra poder reverter isso. Em cima
disso, na próxima eleição, nós queremos criar um setorial jurídico. Acho que o Brasil peca
nesse momento por não ter uma legislação específica pra internet. Hoje é muito fácil você ir
lá, difamar alguém pela internet, até você reverter isso a pessoa já sofreu os danos. O que
faltou pra nós foi exatamente isso. Essa ferramenta da internet, ela nos prejudicou muito. Nós
não conseguimos inverter isso, acho que o PT tem que pensar nessa estratégia, como
combater esse tipo de injúrias que acontecem. Acho que a internet mais do que nos
prejudicou. E por culpa dos marqueteiros. São mentiras jogadas no ar... A legislação brasileira
tem que pensar nisso nas próximas eleições.
ANEXOS
Propagandas eleitorais
Programa veiculado em 18 de agosto de 2010
Locutor em off: Quando o Brasil elegeu o Lula em 2002, São Paulo elegeu Mercadante, o
senador mais votado da história do Brasil, com mais de 10 milhões de votos. Nesses últimos
oito anos, ele foi o líder do Governo Lula no senado e decisivo, para que a gente conquistasse
avanços importantes que mudaram a cara do Brasil e fizeram o brasileiro um povo mais feliz.
Mercadante foi uma peça chave na hora de negociar a aprovação de projetos importantes para
o país. E, como poucos, ele conhece os problemas de São Paulo, e o mais importante: está
preparado, maduro e tem experiência para resolvê-los com garra e agilidade.
Lula: O Mercadante é, sem dúvida, uma das pessoas mais preparadas desse país. Eu me
lembro que em 2002, eu convidei ele para ser ministro e ele disse: “Presidente, você vai
precisar muito mais de mim lá no Senado”. E graças a ele, a gente conseguiu um bocado de
vitórias. Porque para governar, pra fazer as coisas, a gente teve que travar muitas baralhas
políticas.
Mercadante: A minha história com o Lula tem mais de 30 anos. E eu me orgulho muito de
ser seu amigo, de ter partilhado com ele esse sonho de construção de um novo país. E de ter
chegado até aqui, lado a lado com ele.
Lula: O que eu mais gosto no Mercadante é que ele é um cara que batalha pelas coisas que
acredita. Sabe dialogar, sabe ouvir, estuda os problemas e o mais importante: aponta soluções.
Mercadante: Não foi fácil, não. Nós lutamos muito. Primeiro para fazer as propostas, depois
negociar, aprovar no Congresso. O novo salário mínimo. Depois o ProUni que beneficiou
mais de 760 mil estudantes. Nós tivemos o Luz para Todos, o Bolsa Família, são mais de 12
milhões de famílias beneficiadas. Foi tudo muito emocionante, mas muita luta. Inclusive na
crise, quando nós fizemos o Minha Casa Minha Vida pra dar alternativa de moradia pra muita
gente que nunca teve essa chance. Por tudo isso, valeu a pena lutar.
Lula: Pedi a ele para ser o meu candidato ao governo de São Paulo, porque eu sei que ele tem
o perfil que São Paulo precisa para voltar a crescer no ritmo que o Brasil está crescendo hoje.
Mercadante: E ter liderado o Governo Lula ao longo desses oito anos no Senado foi uma
experiência muito marcante na minha vida.
Lula: Mercadante amadureceu muito na liderança do governo, ficou ainda mais preparado.
Ele aprendeu que a gente só consegue atingir os nossos objetivos, se tiver paciência e
perseverança.
Mercadante: Eu sinto um orgulho enorme de ter ajudado a construir esse Brasil onde os
brasileiros são mais felizes. Com mais de 13 milhões de novos empregos com carteira de
trabalho assinada, 23 milhões de pessoas que saíram da pobreza e 30 milhões de brasileiros
que estão chegando na classe média. Um país com crescimento, estabilidade econômica,
respeito lá fora e a dívida externa resolvida.
Lula: Eu gostaria muito que você depositasse no Mercadante a mesma confiança que
depositou em mim. Estou cada vez mais convencido de que assim como mudamos o Brasil
para melhor, o Mercadante vai conseguir fazer o mesmo em São Paulo.
Mercadante: São Paulo, esse estado grandioso, fantástico, infelizmente não teve, nos últimos
anos, governantes capazes de acompanhar o ritmo do Brasil. Fizeram muito pouco metrô, os
jovens passam de ano sem aprender, não existe uma política de desenvolvimento para o
interior. Os pedágios são cada vez mais abusivos. Eu queria o seu apoio, pra ser governador,
pra começar a reverter isso e pra que você possa crescer junto com São Paulo. Assim como o
Lula foi bom para o Brasil, pode acreditar, vamos fazer um governo muito bom pra São
Paulo.
Lula: Eu confio que o Mercadante vai ser um governador que o povo de São Paulo vai se
orgulhar muito.
Jingle: Lula já mostrou que vale a pena mudar. Só depende de você é só confiar! Mercadante
governador.
Programa veiculado em 8 de setembro de 2010
Locutor em off: Começa agora o programa de Mercadante, o governador que vai trabalhar
dia e noite para melhorar a qualidade da saúde em todo o estado de São Paulo. Líder do
governo Lula no Senado, Mercadante sempre teve acesso direto ao presidente e aos ministros.
Por causa disso, foi o senador que mais trouxe verbas para obras e programas de saúde em
São Paulo, recursos para construção e reforma de hospitais, centros de saúde, de
especialidades médicas, pronto atendimento, unidades do SAMU, equipes de Saúde da
Família, Farmácia Popular e obras de saneamento básico. Se Mercadante fez tudo isso pela
saúde como senador, imagine o que ele pode fazer, daqui pra frente, como governador.
Mercadante: Por muito tempo o Brasil só fez esperar. Esperou por emprego, esperou por
crédito, por uma casa própria, esperou pra ver um filho na faculdade, esperou pra melhorar de
vida. Mas, do governo Lula pra cá, o Brasil deixou de esperar e começou a andar, a sair do
marasmo. É isso que eu estou propondo a você, eu vou governar com ânimo, ideias novas,
sangue novo, agilidade e vontade de fazer. E São Paulo tem como deixar de esperar e fazer
com que as coisas aconteçam de uma forma melhor. E melhor pra todos.
Lula (num comício na cidade de Guarulhos): Era muito importante que a gente fizesse uma
experiência para que São Paulo possa experimentar o jeito de governar que nós implantamos
no Brasil.
Mercadante: Da mesma maneira que eu proponho dar um salto de qualidade na educação,
com mais investimentos, compromisso, ousadia e firmeza eu vou me dedicar dia e noite para
melhorar a qualidade da saúde em todo o estado de São Paulo.
Depoimentos de eleitores (na rua):
Rosa Barbosa: E a saúde você fica um ano para conseguir um exame.
Cleonice dos Santos: Às vezes as pessoas precisam de médico e demora seis, sete meses pra
uma consulta.
Misael Moco: Exames para três, quatro meses.
Mercadante: Você que está aí em casa e que não pode pagar um plano de saúde sabe disso.
Melhor que ninguém você sabe disso porque vive o problema na pele.
Locutor em off: Mercadante vai criar o ProUni da Saúde.
Mercadante: Do mesmo jeito que o Governo Lula comprou mais 700 mil vagas nas
universidades particulares por um custo muito baixo e fez o ProUni, nós vamos fazer o
ProUni da Saúde no estado de São Paulo. O Governo do Estado vai comprar os horários
vagos das clínicas e laboratórios particulares para atender quem está na fila para fazer um
exame ou uma consulta. Isto é uma solução de emergência que vai começar a acontecer nos
primeiros dias do meu governo. Ao mesmo tempo vou cobrar da minha equipe soluções
definitivas, que são a construção de mais 30 AMEs e oito hospitais regionais: a contratação de
médicos especialistas e a compra e o conserto de aparelhos de exames.
Lula: E em São Paulo, trabalhando junto como Governo Federal, a gente vai crescer mais, a
gente vai fazer muito mais, e a gente vai melhorar cada vez mais a vida do povo trabalhador.
Mercadante: A economia do estado de São Paulo é três vezes maior que a do Chile, o dobro
da Venezuela, maior que as economias da Colômbia e da própria Argentina, por isso é que
digo: que o estado de São Paulo precisa ser governado como um país. Não dá mais pra pensar
pequeno, não pode ser administrado como uma simples prefeitura. O governador de São Paulo
tem a obrigação de encarar os desafios e procurar resolvê-los e nós vamos fazer isso. Acabar
com a aprovação automática e com o drama da espera por exames e consultas na rede estadual
de saúde. São Paulo é forte e rico e tem como fazer isso. Nos últimos 16 anos, o PSDB
procurou transferir os próprios erros para os prefeitos ou para o Governo Federal. Você sabe,
quando a gente foge da responsabilidade nunca resolve as dificuldades. Eu quero mudar essa
atitude. O que incomodar São Paulo e os paulistas será um problema meu. Me dê uma chance.
Locutor em off. E nesta quinta-feira, a partir das 7h da noite, em Ribeirão Preto, tem Lula,
Dilma e Mercadante num grande comício, na Esplanada do Teatro Pedro II. Venha, participe!
Música: Agora é a nossa vez de vencer!
Programa veiculado em 29 de setembro de 2010
Áudio
Locutor em off:
No debate da Globo, Alckmin teve quatro oportunidade de perguntar pra Mercadante e, de
novo, fugiu. Como fez nos outros debates. Não dá para governar São Paulo, sem atitude,
fugindo dos problemas. Está na hora de São Paulo mudar com Mercadante. Um governador
com coragem, atitude e novas ideias. Como nosso Estado merece.
Mercadante: Hoje é último dia do nosso horário eleitoral e eu queria aqui antes de mais nada,
agradecer você pela sua atenção e pelo carinho ao longo de toda essa campanha. Eu costumo
dizer que o Brasil vai tão bem, que a economia de São Paulo é tão vibrante, que se o
governador do Estado não fizer nada, tem gente que pode achar que está tudo bem. Mas um
Estado como São Paulo não pode ser governado por alguém que fica sentado no palácio dos
Bandeirantes, esperando quatro anos para fazer, de novo, as promessas que não cumpriu
antes. Até porque pode parecer que está tudo bem, mas depois de 16 anos de PSDB não pode
estar bem se seu filho passa de ano sem aprender por causa dessa aprovação automática. Não
pode estar bem, se você e sua família esperam até um ano por uma consulta ou um exame.
Não pode estar bem se na porta da escola tem traficante e não tem segurança. Não pode estar
bem se as pessoas pagam um pedágio abusivo ou passam até seis horas no trânsito pra ir e pra
voltar do trabalho.
Depoimentos de eleitores (na rua):
Ana Letícia Barbosa: Para o Brasil seguir mudando com a Dilma, São Paulo precisa estar na
mesma sintonia e só vai estar com Mercadante.
Antonio Henrique: 13 duas vezes: 13 para presidente, 13 para governador.
Locutor em off: Quando o Brasil elegeu Lula em 2002, São Paulo elegeu Mercadante, o
senador mais votado da história do Brasil, com 10,5 milhões de votos. Líder do governo,
Mercadante foi uma peça chave na hora de negociar a aprovação de projetos importantes para
o país. Ele conhece como poucos os problemas de São Paulo e o mais importante está
preparado, maduro e tem experiência para resolvê-los com garra e agilidade.
Mercadante: O que é mais importante na sua vida, são seus filhos, não é verdade? Eu sou pai
e sei que o futuro dos nossos filhos é o que mais nos preocupa, por isso eu falo tanto de
educação, porque eu não me conformo que no Estado mais rico do Brasil só tenha direito a
ensino de qualidade quem pode pagar. Isso não está certo, quem não pode pagar uma escola
particular tem que ter direitos iguais porque paga seus impostos. Com essa aprovação
automática que está aí, os alunos saem da escola sem aprender direito. É o seu filho que não
vai ter oportunidade no mercado de trabalho. É ele que não vai poder sonhar com um futuro
melhor. Eu quero mudar isso. Eu quero que o seu filho tenha a mesma oportunidade dos filhos
de quem pode pagar uma escola particular. Vai ser do dia para a noite? Não. Vai dar trabalho?
Muito. Mas pode acreditar, eu quero ser o governador para enfrentar e vencer esse desafio.
Por isso, no domingo que vem, quando você estiver frente à urna eletrônica, vote no futuro de
seu filho. E eu vou devolver a você o prazer de saber que todo o sacrifício que você faz pelos
seus filhos vai valer a pena porque ele vai ter preparo pra ser alguém na vida.
Locutor em off:
Para mudar com segurança vote 13 e confirme. Mercadante Governador! Amanhã a partir das
seis da tarde, tem comício em São Bernardo. Com Mercadante e o Presidente Lula. Venha,
você não pode perder.
Multidão cantando: “Lula, guerreiro do povo brasileiro. Lula, guerreiro do povo
brasileiro”.
Lula: Nós precisamos, no dia 13 de outubro, eleger Aloizio Mercadante, governador do
Estado de São Paulo.
Cobertura da Imprensa
Folha de S. Paulo
Cobertura: 12 de agosto a 4 outubro
12/08 – Poder
FÍGADO: Mercadante (PT), candidato ao governo de SP, ganhou ontem um presente
inusitado: ervas medicinais indicadas para melhorar o funcionamento do fígado. ‘Sabe como
é... em campanha, a gente come muito pastel’.
13/08 – Painel
Na plateia Serra riu satisfeito quando Alckmin disse que Mercadante, como senador, nunca
fez nada por São Paulo. Já Marta Suplicy queria pedir direito de resposta quando o tucano
afirmou que ela, à frente da prefeitura da capital, reduziu o investimento em educação.
14/08
Pesquisa de intenção de voto – Data Folha
Alckmin 54%
Mercadante 16%
Pesquisa prevê cinco Estados sem 2ª etapa: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e
Pernambuco.
15/08 – Primeiro caderno
A Folha e o UOL, o maior jornal e maior portal de notícias do país, promovem nessa semana
dois debates eleitorais inéditos, ambos transmitidos em áudio e vídeo, ao vivo, pela internet,
nos dias 17 e 18 de agosto. O primeiro debate, dia 17, terá a participações dos candidatos mais
bem colocados na disputa pelo governo do Estado de São Paulo: Geraldo Alckmin (PSDB),
Aloizio Mercadante (PT) e Celso Russomanno (PP) (...).
16/08 – Poder
Campanha em São Paulo repetirá ‘todos contra Alckmin’: adversários vão criticar governo do
Estado, dirigido há 16 anos pelo PSDB.
Augusto Fonseca e Marcelo Simões:
‘Baianidade’ e estratégia fazem o marketing petista.
Sócio de Gonzalez, marqueteiro volta ao primeiro plano.
Opinião A2
Editoriais
Fernando de Barros e Silva
Vários analistas têm destacado que as eleições deste ano tendem a ser marcadas pela
continuidade, a começar pelo favoritismo de Dilma Rousseff (...). Em São Paulo, Geraldo
Alckmin ampliou ainda mais sua distância oceânica sobre Aloizio Mercadante (54% a 16%)...
17/08 – Primeiro caderno
Folha e UOL fazem primeiro debate de São Paulo hoje.
Alckmin, Mercadante e Russomanno participam do primeiro debate on-line entre candidatos
ao governo paulista.
18/08 – Capa
Polarização marca debate on-line sobre governo SP
O internauta (...) pergunta a Alckmin se colocaria filhos em escola pública.
Poder A10
No debate, candidatos distorcem dados: Alckmin infla salários policiais, e Mercadante atribui
ao governo do estado responsabilidade que é da CBF.
Análise:
Alckmin é o único a lucrar num debate sem vencedor – tucano não ficou acuado diante da
tabelinha Mercadante-Russomanno.
19/08 – Primeiro caderno p. 6
Campanha estadual na TV
Mercadante não citou o nome de Dilma, mas Lula apareceu por 20 segundos, pedindo ao
eleitor que depositasse no candidato a confiança que depositou nele.
10/09
Nova propaganda do PT-SP é alvo de críticas internas: candidatos a deputado, antes
excluídos do espaço, ironizaram programa.
11/09 – Painel
Tiroteio
“Como o Fura-Fila do Pitta, o trem-bala de Dilma e Mercadante está na plataforma dos
marqueteiros, sem nenhum compromisso com as necessidades da população. (Deputado
Estadual, Bruno Covas (PSDB).
12/9 – Painel
Colateral – Alguns petistas avaliam que o “Receitagate”, embora até agora improdutivo do
ponto de vista eleitoral para José Serra (PSDB) pode ter contribuído para conter o crescimento
de Aloízio Mercadante em São Paulo. Ele, que desde o início do horário eleitoral gratuito
havia escalado oito pontos, recuou um no novo DataFolha, e está com 23%.
13/9 – Notas (Debate DILMA x SERRA)
Mercadante faltou... – Durante o intervalo do segundo bloco do programa, os telões do
estúdio passaram a propagando do PSDB que acusa Aloizio Mercadante, candidato ao
governo do Estado de São Paulo, de faltar a votações no Senado. “Eu vou pedir direito de
resposta!”, brincou ele, sentado na plateia.
13/9 – Painel
Pulverizado – O ato de apoio a Aloizio Mercadante que o PT havia marcado para hoje no
Anhembi foi substituído por um “dia de mobilização” em todo o Estado.
14/9
PT aposta em vídeo de Lula para alavancar Mercadante (Presidente gravou diálogo com
candidato petista para programa eleitoral).
15/9
Marta cobra mais apoio de Mercadante.
16/9
Suspeitos no caso do dossiê de aloprados vão ser denunciados hoje (Origem do dinheiro ainda
não é conhecida).
(...) Lacerda, que trabalhava na campanha do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), então
candidato a governado e também neste ano, não foi preso. Hoje é fazendeiro no sul da Bahia,
como revelou a Folha em abril.
16/9
Mercadante cola em Lula e critica candidatura de Tiririca.
17/9
Alckmin evita duelo com Mercadante em debate.
20/9 – Mônica Bérgamo
Deputados do PT de SP Têm pregado, discretamente, o segundo voto ao Senado em Aloysio
Nunes Ferreira – e não em Netinho (PC do B), que faz chapa com Marta Suplicy. Um deles,
pedindo sigilo, afirmou à coluna que, mesmo sendo adversário, o tucano daria “mais
qualidade” ao debate no parlamento. Já o grupo mais ligado a Aluísio Mercadante (PT)
trabalha para que Netinho tenha mais votos que Marta.
21/9
PT-SP vai focar em eleitor de Dilma que escolhe Alckmin (Partido usará tempo na TV para
ligar Mercadante à candidata à Presidência).
23/9 – Painel
Linha vermelha – Aloízio Mercadante faz suspense sobre a utilização de imagens da pane no
metrô em sua propaganda na TV. No Twitter reprova os investimentos em manutenção.
28/9
Campanha na TV – Em programa conjunto, Netinho (PC do B) e Marta Suplicy (PT)
simulam briga por votos. Lula intercede e lembra que o eleitor deve escolher dois senadores.
A dupla (que só aparecia junta em comícios) também bateu ponto no programa de
Mercadante.
28/9 – Eleições
A coluna de Elio Gaspari de 26/9 traz uma informação incorreta a respeito da proposta do
candidato Aloízio Mercadante na área de transporte ferroviário.
Em nenhum momento Mercadante se comprometeu a levar o trem-bala a cidades do interior
paulista. A proposta é aproveitar a obra do governo federal para revitalizar a sucateada malha
ferroviária do Estado. A ideia é criar ramais de trens rápidos, de até 200 km/h, interligando ao
trem-bala as cidades de Sorocaba, Ribeirão Preto e Bauru.
José Américo, coordenador de comunicação da campanha Mercadante Governador (São
Paulo, SP).
29/9
Alvo, Alckmin se esquiva de confrontos (Líder, tucano não faz as questões a Mercadante, que
o acusa de “fugir” do debate).
30/9
Cai diferença entre Alckmin e Mercadante (Vantagem do tucano cai 6 pontos, mas ele ainda
venceria no primeiro turno, segundo Datafolha).
1/10
Mercadante sobe entre menos escolarizados (Em pesquisa Datafolha divulgada ontem, petista
reduziu diferença para Alckmin de 28 para 22 pontos percentuais).
2/10
Chuva atrapalha fim da campanha em São Paulo (Aluizio Mercadante mantém agenda de rua
apesar do mau tempo e se declara confiante em segundo turno).
4/10
Alckmin vence em São Paulo no 1º. Turno por margem estreita
50,6% dos votos válidos contra 49,4% dos outros, sendo Mercadante com 35%.
Diário de S. Paulo
Cobertura: 19 de agosto à 7 de outubro
19/8
Alckmin lista obras e Lula elogia petista – Mercadante recebe ajuda na TV do presidente já
na estreia da propaganda política de governador, enquanto o tucano promete ‘pisar no
acelerador’.
Trecho: “Correndo risco de perder já no primeiro turno, Mercadante nem sequer fez as
apresentações triviais de sua carreira. Partiu logo para o discurso da mudança total e atacou
tudo: saúde, educação, segurança, pedágios.”
21/8
Próxima estação: Vila Prudente – No começo, a nova estação funcionará das 9h30 até 15h,
de segunda a sexta-feira. Prolongamento da Linha Verde irá desafogar movimento de
passageiros na Sé.
Destaques: “Trens novos com tecnologia de ponta. 20 km é a extensão total de vagões novos
enfileirados”.
27/8
Alckmin lidera disputa com 49% e Mercadante sobe três pontos – Pesquisa Diário/Ipespe:
tucano seria eleito governador no 1º. Turno; diferença entre Serra e Dilma cai de 11 para 2
pontos em SP.
31/8
Para segurar Alckmin, Lula desembarca em SP
Trecho: “A ordem de Lula é levar a disputa no estado para o segundo turno de qualquer jeito.
Para isso, ele próprio e Dilma devem intensificar as agendas em São Paulo ao lado do
candidato petista Aloizio Mercadante.” “Lula já deu vários pitacos na campanha de
Mercadante, inclusive pedindo para o candidato sorrir mais e humanizar os programas do
horário eleitoral.”
Nota: Mercadante é punido – O TRE tirou mais 80 segundos do programa de Mercadante
no rádio e 26 segundos da TV. É a quinta vez que o candidato do PT ao governo do estado
é punido pelo tribunal. Os juízes entenderam que Mercadante invadiu o tempo de
propaganda dos candidatos a deputado. Ele ainda pode recorrer ao TSE.
8/9
Líderes nas pesquisas ganham mais dinheiro – Candidatos com maiores percentuais de
votos também recebem mais doações para financiar campanha. Dilma arrecada mais do que
adversários somados e Marta Suplicy tem doações de candidato majoritário.
Mercadante – 10,2 milhões / 1,3 milhão gastos com serviços terceirizados e 580 mil com
publicidade (placas, faixas, etc.).
Alckmin – 6 milhões / 3,2 milhões com serviços terceirizados e 1,2 milhão com material
impresso.
13/9
São Paulo pode ficar sem 2º. Turno – Pela primeira vez desde a redemocratização há
chances das eleições presidenciais e para o governo do estado acabarem no dia 3 de outubro e
eleitores da capital só votarem uma vez.
13/9
Entrevista com Giovani Marangoni, professor de marketing político da ESPM
Decisão na 1ª. Votação reduz custos financeiro e político.
16/9
Disputa ao governo tem debate morno – Líder nas pesquisas, Geraldo Alckmin é alvo
principal dos adversários, mas foge das grandes polêmicas e evita bater boca com Aloizio
Mercadante.
24/9
Alckmin já está 25 pontos à frente – Candidato do PSDB subiu para 49% das intenções de
voto e pode ganhar disputa já no primeiro turno. Aloizio Mercadante (PT) caiu para 24% e
Celso Russomanno (PP) para 7% da preferência do eleitor.
“Aloizio Mercadante parece estacionado em torno de 24% das intenções de voto”, Jairo
Pimentel Júnior, consultor de pesquisa.
28/9
Nota: Mercadante terá que tirar Alckmin da TV
O juiz auxiliar Luís Francisco Aguilar Cortez determinou a imediata suspensão da propaganda
eleitoral do candidato a governador do PT, Aloizio Mercadante, com imagens do tucano
Geraldo Alckmin. Nas peças, Alckmin aparecia fazendo promessas na campanha de 2002 e
um locutor rebatia dizendo que o ex-governador não cumpriu quando esteve no poder.
29/9
Alckmin vira alvo em debate de TV – Tentando ir ao 2º. Turno, Mercadante repete
dobradinha com Russomanno para atacar governos do PSDB e acusa tucano de fugir do
confronto direto.
3/10 (dia da eleição)
Quem é ele?
Alckmin – Candidato ignora provocação de adversário e o apelido de ‘picolé de chuchu’ para
voltar ao Palácio dos Bandeirantes. Vitória interrompe ostracismo político gerado no embate,
em 2006, com José Serra pela candidatura à presidência.
Por que voto nele: Lars Grael.
Mercadante – De presidente de centro acadêmico a líder do PT no Senado, Mercadante
seguiu uma trilha que lhe dá de novo a chance de buscar seu primeiro cargo executivo
Por que voto nele: Mário Sergio Cortella.
4/10
Análise do governo que Alckmin assume:
Obstáculos no ninho tucano – Novo governador terá que aplicar soluções eficientes para
problemas como meio ambiente, habitação, saúde e segurança.
7/10
Nos presídios, Dilma e Mercadante são ‘eleitos’ no primeiro turno – Candidatos do PT à
Presidência e ao governo vencem com facilidade entre detentos. No Senado, Marta e Netinho
são os preferidos (matéria de Fernando Zanelato).
1865 presos: 779 votaram em Mercadante (65,46%) e Alckmin com 256.
“Administradores dos presídios paulistas há 16 anos, os tucanos têm alta rejeição entre
aqueles que cumprem pena.”
Análise do psicólogo e professor da USP, Chico Oliveira: “A maioria que está ali é do
último estrato da população e vai na onda do governo Lula”, diz.