efeito do treinamento de potencia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CINCIAS Departamento de Educao Fsica

Paulo Csar Rigatto

EFEITO DO TREINAMENTO DE POTNCIA MUSCULAR SOBRE O APRIMORAMENTO DO PERFIL METABLICO E DO RENDIMENTO NO RANDORI EM PRATICANTES DE JIU-JITSU

Bauru 2008

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Paulo Csar Rigatto

EFEITO DO TREINAMENTO DE POTNCIA MUSCULAR SOBRE O APRIMORAMENTO DO PERFIL METABLICO E DO RENDIMENTO NO RANDORI EM PRATICANTES DE JIU-JITSU

Monografia encaminhada ao Departamento de Educao Fsica da Faculdade de Cincias da UNESP/ Bauru, como requisito concluso do curso de Educao Fsica. Orientador: Ms. Dalton Mller Pesso Filho

Bauru 2008

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Dedico este trabalho a todos queles que possuem esprito

indomvel, pois para esses o sucesso inevitvel, apenas questo de tempo.

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AGRADECIMENTOS Agradeo ao homem que me demonstrou, por vezes, o significado da frase esprito indomvel, ao homem que mais admiro meu pai. Sou grato aos meus irmos pelo companheirismo e apoio, sem duvida meus nicos e verdadeiros amigos. E as mulheres especiais que mudaram minha percepo de mundo atravs do amor incondicional, minha me, minha filha e minha namorada.

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SUMRIO

SMARIO...................................................................................................................03 NDICE DE FIGURAS................................................................................................05 RESUMO....................................................................................................................06 ABSTRACT................................................................................................................07 INTRODUO...........................................................................................................11 2. REVISO DE LITERATURA..................................................................................14 2.1. Histria do Jiu-jitsu..............................................................................................14 2.1.1 Treinamento de Fora.......................................................................................17 2.1.2. Conceito de Fora Muscular.............................................................................17 2.1.3. Tipos de Contrao Muscular...........................................................................18 2.1.4. Classificao das Manifestaes da Fora......................................................20 2.1.4. Mtodos de Treinamento de Fora..................................................................23 2.1.5. Treinamento de Fora ou Resistido.................................................................26 2.3. Aporte Energtico para Atividade Muscular........................................................29 2.3.1. Obteno Aerbia de Energia..........................................................................30 2.3.2. Obteno Anaerbia de Energia......................................................................31 2.3.3. Metabolismo Energtico Envolvido nas Lutas de Jiu-Jitsu...............................32 2.3.4. Resposta do Lactato ao Treinamento de Fora...............................................34 2.4. Avaliao corporal...............................................................................................35 3. OBJETIVOS...........................................................................................................37 4. MATERIAIS E MTODOS......................................................................................38 4.1. Sujeito..................................................................................................................37 4.2.1. Protocolo de Avaliao.....................................................................................38 4.2.2. Medidas Antropomtricas.................................................................................38 4.2.3. Determinao da Fora Mxima (Teste 1RM).................................................39 4.2.4. Amostra de Sangue (lactato)............................................................................41 4.3. Protocolo Experimental.......................................................................................42 4.3.1. Protocolo de Treinamento................................................................................42 4. Estatstica...............................................................................................................43 5. RESULTADOS.......................................................................................................45 6. DISCUSSO E. CONCLUSO..............................................................................50

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7. REFERNCIAS......................................................................................................53

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NDICE DE FIGURAS

Tabela 1: Seqncia de exerccios correlacionando os grupos musculares ....................................................................................................................................40 Tabela 2: Escala subjetiva de esforo de 6 a 20........................................................42 Tabela 3: Periodizao e prescrio de treinamento.................................................43 Tabela 4: Valores das variveis da composio corporal antes e aps a interveno experimental...............................................................................................................45 Tabela 5: Valores das variveis antropomtricas antes e aps a interveno experimental...............................................................................................................46 Tabela 6: Valores das variveis de fora antes e aps a interveno experimental...............................................................................................................47 Grfico 1: Apresenta a resposta do pico de lactato sanguneo mdio nos grupos antes e aps a interveno experimental...................................................................48 Grfico 2: Mostra os valores da Escala de Borg (1982), onde os atletas aps uma luta indicaram o ndice de fadiga por meio da (PSE).................................................49

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RESUMOO jiu-jitsu exige alta demanda das capacidades fsicas e conta com a participao acentuada do metabolismo anaerbio ltico. Tem sido demonstrado que o treinamento de intensidade alta apresenta efeitos positivos sobre a capacidade de produzir e suportar o lactato sanguneo, retardando a fadiga e queda de desempenho. O objetivo do presente estudo foi averiguar o efeito de 12 semanas de treinamento de potncia muscular com pesos sobre o perfil metablico dos lutadores. A amostra foi composta por 12 praticantes de jiu-jitsu, do sexo masculino, com experincia mdia de 7,22,7anos. Os sujeitos foram divididos em GC (n=5 27,004,30 anos), que manteve suas atividades cotidianas e GT (n=7 - 21,143,08 anos). Foram realizadas avaliaes antropomtricas (circunferncia segmentar e composio corporal) e da fora muscular dinmica mxima pelo teste de 1RM. A partir dos dados de fora, prescreveu-se o treinamento de potncia muscular, consistindo em 60%1RM, repeties mximas em 20s, consecutivamente realizadas aps 30s de pausa at a exausto para constituir os blocos de srie. Uma simulao de luta (Randori) foi realizada antes e aps o treinamento de potncia muscular para anlise da lactacidemia. Os momentos de coleta foram aos 1, 3 e 5, 7 e 9 minutos aps cada simulao para determinao da concentrao pico do lactato (Lacpico). Aps cada simulao uma pontuao para o esforo (PSE) foi solicitada, seguindo a escala de Borg de 6-20. O sangue coletado (25l) foi armazenado em 50l de NaF1% e analisado no Yellow Spring STAT 2300. A comparao entre as simulaes de combate pr e ps perodo experimental foi realizada pelo ANOVA (uma entrada, com Bonferroni como teste post-hoc), testando as diferenas na lactacidemia, composio corporal, antropometria e fora muscular aps o treinamento. Os participantes de GC e GT apresentaram valores de Lacpico no pr (GC: 12,920,79mmol/L; GT: 15,963,15mmol/L) e ps-teste (GC: 13,211,48mmol/L; GT: 20,183,36mmol/L) significativamente diferentes quando GC e GT so comparados no ps-teste e quando GT comprado antes e aps a interveno do treinamento. Isso indica melhoria da capacidade anaerbia com a interveno experimental. No foram encontradas alteraes significativas entre os grupos e intra-grupos nos momentos experimentais quando fora dinmica mxima e as variveis da circunferncia segmentar. Estas alteraes denotam a especificidade do treinamento, que no direcionada ao aumento da fora e nem para alteraes no volume da massa muscular. As variveis percentual de gordura (GC: 22,534,16%; GT: 10,956,03%) e massa de gordura corporal (GC: 21,466,74kg; GT: 9,486,99kg) apresentaram valores no ps-teste com diferenas significativas entre os grupos, o que revela o impacto da elevada demanda metablica deste treinamento sobre a composio corporal. Por fim, as diferenas entre a PSE mostrou-se significativa entre o pr (19,140,90) e ps-tese (18,000,57) apenas para GT, comprovando menor susceptibilidade fadiga e um maior engajamento em atividades exaustivas. Nenhuma varivel analisada se correlacionou com a lactacidemia e a PSE no ps-teste. Conclui-se que o treinamento produziu as alteraes esperadas sobre o desempenho e perfil metablico anaerbio dos lutadores de jiu-jitsu. Palavra-Chave: Treinamento com Pesos, Potncia Muscular, Lactacidemia e JiuJitsu

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ABSTRACTEFFECTS OF THE MUSCLE POWER TRAINING ON METABOLIC PROFILE AND RANDORI PERFORMANCE IN JIU-JITSU PRACTITIONERS The Jiu-Jitsu requires high demand of physical abilities and great supply from anaerobic lactic metabolism. It has been demonstrated that training of high intensity shows positive effects on the ability to produce and tolerate blood lactate, fatigue and higher performance levels. The purpose of this study was to investigate the effect of 12 weeks of muscle power weight-training on the metabolic profile of the practitioners. Twelve male subjects were divided into experienced group training (n = 7 - 21,14 3,08 years) and control group (n = 5 - 27.00 3.08 years), maintained their daily activities. Evaluation of anthropometry (circumference and body composition) and the dynamical muscle strength (from 1RM test) was taken. From the data of strength, the training of muscle power was built, consisting of 60% 1RM, maximum repetitions in 20s, consecutively after 30s of pause until exhaustion to form blocks of the series. A simulation of struggle (Randori) was performed before and after training for muscle power lactacidemic analysis. The periods of blood sampling were the 1st, 3rd and 5th, 7th and 9th minute after each simulation to determine the lactate peak concentration (Lacpeak). After each simulation, a score for the effort (PSE) has been requested, following the Borg scale of 6-20. The blood sample (25l) was stored in 50l of NaF1% and analyzed in the Yellow STAT Spring 2300. The comparison between simulations of combat before and after the trial period was performed by ANOVA (one-way, with Bonferroni as post-hoc test), testing the differences in lactacidemia, body composition, anthropometry and muscle strength after training. Participants from GC and GT showed values of the pre (GC: 12,920,79mmol/L; GT: 15,963,15mmol/L) e post-test (GC: 13,211,48mmol/L; GT: 20,183,36mmol/L) were significantly different when GC and GT are compared in the post-test and when GT is bought before and after the intervention of training. This indicates improvement in anaerobic capacity with the experimental intervention. There were no significant changes observed in force and anthropometry between groups and intra-experimental groups. These changes allow to the specificity of training, which is not designed to increase strength and changes in volume of muscle mass. The relative body fat (GC: 22,534,16%; GT: 10,956,03%) and absolute body fat (GC: 21,466,74kg; GT: 9,486,99kg) decreased in the post-test with significant differences between groups, which shows the impact of high metabolic training demand on body composition. Finally, the differences between the PSE was found to be significant between the pre (19,140,90) and post-test (18,000,57)) only for GT, showing lowest susceptibility to fatigue and an increased adherence in exhaustive activities. No variable examined was correlated with the PSE and lactacidemia at post-test. It appears that the training produced the expected changes on performance and on anaerobic metabolic profile of the Jiu-Jitsu practitioners. Keyword: Weight-training with, Muscle power, Lactacidemia and Jiu-Jitsu

1- INTRODUO

O Jiu-Jitsu ou Arte Suave uma modalidade esportiva onde o praticante deve manter um controle fsico direto sobre o adversrio e subjug-lo com sua prpria fora (RATAMESS, 1998; ASSIS et al., 2005). Em uma definio mais completa, podemos dizer que Jiu-Jitsu a arte de ceder inicialmente para obter depois a vitria completa, de modo econmico. As lutas de solo so esportes que exigem alta demanda das capacidades fsicas, possuem caractersticas acclicas, componentes mesomrficos predominantes, esto sujeitos a elevadas cargas de trabalho e contam com a participao acentuada do metabolismo anaerbio ltico (FRANCHINI et al., 1998; DEL VECCHIO et aL., 2007; GARRETT; DONALD, 2003). Os atletas esto expostos a esforos extenuantes durante perodos intermitentes de atividade e repouso, acarretando a mobilizao de grande quantidade de substrato energtico na ausncia ou dficit de oxignio, o que favorece o aumento das concentraes de lactato sanguneo durante as lutas (LIMA et al., 2004; DRIGO et al., 1994; POWERS; HOWLEY, 2000). Para Viru (2001), o lactato o produto final da gliclise e tem seu valor modificado na circulao sangunea medida que a intensidade do exerccio alterada. A resposta do cido ltico atividade fsica, espontnea ou treinamento sistmico, tem sido utilizada para prescrio de intensidade, indicador qualitativo no controle do estresse do treinamento e para monitorar as adaptaes da aptido anaerbia dos indivduos (McARDLE; KATCH; KATCH, 2003; HIGINO; DENADAI, 1998). A acidose induzida pelo esforo pode interferir na capacidade de reao do atleta durante o combate, levando-o reduo no rendimento motor, ou mesmo fadiga muscular pela diminuio do pH (FOX, 1991; PEREIRA, 1999; FITTS, 1994). Desse modo, Astrand e Rodahl (1980) e Wilmore e Costill (2001) relataram que as variveis que determinam o desempenho fsico em atletas de alto rendimento dependem da produo de energia. A capacidade de gerar e suportar elevados nveis de cido ltico durante o exerccio mximo ajusta-se com o treinamento da capacidade anaerbia (SOUZA, 2006).

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Neste sentido, o treinamento de fora com pesos compreende um importante papel nas modificaes morfolgicas, neuro-musculares e fisiolgicas (MATARUNA, 2002; DIAS et al., 2005), pois melhora o condicionamento anaerbio possibilitando as clulas musculares a adaptarem-se a uma maior utilizao de piruvato e menor susceptibilidade produo de lactato, de modo a aprimorar a emprego da energia (DENADAI, 1995). Tambm, o desenvolvimento da potncia muscular um dos principais fatores de sucesso nos desportos (FOX et al., 1991; DANTAS, 1998). Alguns fatores como concentrao de carboidratos, nvel de treinamento e estresse metablico podem contribuir para a necessidade de explorao das diferentes vias de obteno de energia com a interveno do treinamento especfico para cada demanda energtica (MOREIRA, 2003; GARRETT; DONALD, 2003, PLATONOV, 2004). O fato das artes marciais em geral serem divididas por graduao e subdivididas por peso corporal, merece considervel ateno, j que os lutadores ficam impedidos de ter aumentos ponderais considerveis. Pois, desempenho de alto rendimento parece ser melhorado por caractersticas fsicas especficas em termos de tamanho, de composio e de estruturas corporais, como visto nos perfis de atletas de vrios esportes (McARDLE, KATCH; KATCH, 2003). Os exerccios resistidos so conhecidos como os mais eficientes para modificar favoravelmente a composio corporal: aumento da massa muscular e ssea, bem como diminuio da gordura corporal (SANTAREM, 1999). Mas as modificaes na composio corporal pelo treinamento com pesos exigem uma organizao especfica para no favorecer o aumento demasiado do peso corporal com o aumento absoluto da massa magra. Para Weineck (2003) e Platonov (2004), o treinamento de potncia muscular especfico para a finalidade de aumento da capacidade de fora especfica para o esporte, sem alterao do peso corporal, uma vez que aumenta a ativao neural, aperfeioa a capacidade de produo, a habilidade de remoo e a capacidade de sustentar trabalhos intensos por perodos prolongados em acidose, sem diminuir o desempenho, alm de aumentar a tolerncia dor causada pela acidose no msculo. Apesar de a Arte Suave ter conquistado notoriedade no pas e crescente interesse no mundo, so raros os estudos dirigidos pesquisa do tema e a influncia do treinamento de fora sobre suas capacidades fsicas e sistemas

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energticos, forando os profissionais da rea a buscar embasamento terico na literatura de modalidades similares, ou perpetuar falsos paradigmas. Desta forma, o presente trabalho pretende verificar o efeito do treinamento de potncia muscular com pesos sobre o perfil do metabolismo anaerbio e os possveis ajustes decorrentes do treinamento na composio corporal, antropometria e desempenho de praticantes de Jiu-Jitsu.

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2 - REVISO DE LITERATURA

2-1 - .Histria do Jiu-jitsu

Estudar as origens do Jiu-Jitsu significa se aprofundar na histria da ndia e, em especial, na histria do Budismo, j que os historiadores atribuem quele pas o ttulo de O bero das artes marciais, o que ocorreu por volta do ano 500 a.C. ou seja, h mais de 2.500 anos. Siddharta Gautama nasceu no norte da ndia e sua famlia pertencia a uma casta nobre. Mediante a contemplao da condio humana, criou a base da doutrina Budista com a superao da esfera do perceptvel e alcanando um estado superior (Nirvana). Tornou-se, mais tarde, o Buda o Iluminado (ROBBE, 2007; DA SILVA, 2003). O Jiu-Jitsu nasceu da necessidade dos monges budistas em se defender. Os seguidores de Buda eram preparados com amplos conhecimentos tericos e tinham a incumbncia de pregar e propagar a nova mensagem humanidade. Os discpulos realizavam longas caminhadas pelas cidades vizinhas e pelo interior da ndia com o intuito de disseminar a doutrina budista. Consta tambm que eram freqentemente abordados por bandidos das tribos mongis que infestavam toda essa regio. Entretanto, no podiam reagir nem fazer uso de qualquer tipo de arma, pois isso seria considerado um atentado moral da religio (GURGEL, 2003). Diante dessas constantes ameaas e recorrendo aos seus slidos conhecimentos dos pontos vitais do corpo humano e das leis fsicas das quais se destacam os princpios de alavanca, momento de fora, foras mecnicas de toro, trao, compresso, flexo, extenso, equilbrio, inrcia e centro de gravidade os religiosos iniciaram suas pesquisas para a criao de movimentos baseados na observao de animais e de golpes de defesa pessoal alternativos que no necessitassem do uso de armas nem da fora bruta (GURGEL, 2003; DA SILVA, 2003). Essa iniciativa dos monges atendia necessidade de legtima defesa, mantendo-os adaptados aos rgidos dogmas religiosos e ao bitipo de seu povo de

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caractersticas fsicas franzinas e com baixa estatura. Esse foi o embrio das tcnicas que deram origem a criao do Jiu-Jitsu (DA SILVA, 2003). Com a expanso do Budismo foram criados milhares de monastrios dentro e fora da ndia. Desta maneira foi levado China, primeiro pas a ter contato com a nova arte e posteriormente terra do Sol Nascente. Na sua migrao da ndia ao longo do continente Asitico, o Jiu-Jitsu foi sendo ramificado, dando origem a vrios estilos de lutas oriundas de suas diversas partes. Assim, nasceram h cerca de mil anos atrs o Sum, o Kemp-Jitsu e o Kemp. Embora o Japo possa ter sido o ltimo pas asitico a adquirir o conhecimento desta forma de defesa sem armas, l que as artes marciais se desenvolveram e se popularizaram de uma maneira incrvel (ROBBE, 2007). No Japo, o Jiu-Jitsu, chamado de Arte das Tcnicas Suaves, ou simplesmente Arte Suave, encontrou as condies culturais para evoluir e aprimorar suas tcnicas, dando origem a mais de 113 estilos diferentes de Jiu-Jitsu. Com o passar dos anos o Jiu-Jitsu se tornou a maior arte marcial japonesa e a maior riqueza do Japo. Na poca em que predominava o feudalismo, os senhores feudais possuam, para sua proteo, samurais, exmios guerreiros que tinham no Jiu-Jitsu sua luta corpo a corpo. Com o Jiu-Jitsu os samurais se tornaram poderosos e invencveis perante os ocidentais, apesar da grande envergadura que possuam e possuem (YAMASHIRO, 1993; GRACIE, 2001). Com o incio da revoluo industrial houve a abertura dos portos japoneses ao Ocidente e, com isso, uma enorme curiosidade em descobrir a cultura do povo oriental e, obviamente, o segredo das tcnicas marciais, j to faladas no ocidente. Neste ponto, surge a preocupao japonesa em preservar sua cultura, assim como o conhecimento de suas armas e tcnicas de guerra (YAMASHIRO, 1993; ROBBE, 2007). O Jiu-Jitsu fragmentado e, ento, comeam a ser exportados o Jud, o Karat, o Aikid, entre outras tcnicas que se desenvolveram e se tornam grandes lutas a partir do Jiu-Jitsu. Ento, as tcnicas secretas de esporte passam a ser preservadas pelo imperador japons, que decretou crime contra a ptria Japonesa ensin-lo fora do Japo (GURGEL, 2003). Com a primeira Grande Guerra os japoneses migram para o ocidente e uma grande parte para o Brasil. Belm do Par foi a cidade escolhida pelo campeo japons Mitsuo Maeda Koma (o lendrio Conde Koma), para viver.

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Coincidentemente, l tambm residiam Gasto Gracie e seus filhos. Homem influente, o patriarca dos Gracie conheceu o conde, lhe ajudando na nova cidade, e logo conquistou sua amizade. Certo dia e como gratido ao amigo, o Conde decidiu ensinar, na condio de segredo, a mais perfeita forma de lutar ao filho mais velho de Gasto, Carlos Gracie. Do alto de sua genialidade, este logo se interessou e, em pouco tempo, dominou com perfeio todas as tcnicas e comeou a ensinar tambm aos irmos (PELIGRO, 2003; ROBBE, 2007; GURGEL, 2003) Carlos Gracie no s aprendeu a tcnica como ensinou aos seus irmos, entre eles, Hlio Gracie, o caula da famlia, que veio a ser o grande gnio nessa arte, desenvolvendo esta a ponto de hoje ser considerado o Brazilian Jiu-Jitsu (GURGEL, 2003; DA SILVA, 2003). Porm, no incio, Hlio tinha restries mdicas que o impediam de praticar esportes devido ao seu fsico fraco. Ele no suportava atividades fsicas muito intensas e desmaiava quando tentava faz-las. Por outro lado, assistia s aulas do irmo e desejava muito fazer aquilo. Um dia seu irmo se atrasou e Hlio se transformou, a partir daquele momento, em professor, pois s de olhar sabia todo o programa das aulas com extrema perfeio. Surgiu, ento, o mais perfeito lutador de todos os tempos (GURGEL, 2003; GRACIE, 2001). Hlio Gracie tem uma histria a parte. O maior fenmeno desse esporte desenvolveu novas tcnicas to eficientes que foram consideradas, simplesmente, perfeitas. O Brazilian Jiu-Jitsu , de fato, resultado do desenvolvimento de uma arte cientfica de luta. considerada a mais perfeita e completa forma de arte marcial, permitindo aos mais fracos se defender e derrotar um adversrio fisicamente mais forte, com o mnimo de esforo.

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2.2 - Treinamento de Fora

2.1.1 - Conceitos de Fora Muscular

O elemento responsvel pela gerao de fora o msculo. A fora muscular uma das capacidades fsicas do ser humano que pode ser testada, avaliada e tambm otimizada (BARBANTI, 2002). De acordo com Platonov (2004), o conceito de fora do ser humano pode ser entendido como a capacidade de superar ou de se opor a uma resistncia por meio da atividade muscular. A fora muscular definida como a quantidade que um msculo, ou grupo muscular, consegue gerar de fora mxima em um padro especfico de movimento em uma determinada velocidade (FLECK; KRAEMER, 1999). Segundo Barbanti (1979), fora muscular a capacidade de um indivduo exercer tenso muscular contra determinada resistncia, alm de envolver fatores mecnicos e fisiolgicos na determinao da mesma. A fora descrita como a capacidade do msculo de produzir tenso ao se ativar, ou seja, ao se contrair no deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina (BADILLO; AYESTARN, 2001). Para Wilmore e Costill (2001), o vigor mximo que um msculo, ou um grupo muscular, pode gerar determinado fora. Assim, a fora muscular a fora mxima ou tenso que pode ser gerada por um msculo ou por um grupo muscular contra uma resistncia (POWERS; HOWLEY, 2000). Os fatores mecnicos do tipo de contrao muscular, do comprimento muscular e da velocidade de contrao afetam a habilidade do msculo para gerar fora, pois a fora criada pelas fibras musculares durante a ao muscular depende da quantidade de pontes cruzadas que se encontra em contato com os filamentos de actina num determinado momento. Quanto mais pontes cruzadas estiverem em contato com os stios ativos de actina, mais potente ser a ao muscular, produzindo mais fora (WILMORE; COSTLL, 2001). Segundo Weineck (2000), a formulao de uma definio precisa de fora, que abranja tanto seus aspectos fsicos quanto tambm os psicolgicos, ao contrrio da definio fsica, traz grande dificuldade, uma vez que as formas de fora e do

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trabalho muscular so excepcionalmente variadas e influenciadas por um grande nmero de fatores. Assim, uma definio do conceito de fora s possvel quando relacionada sua forma de manifestao. Estes so apenas alguns conceitos de fora muscular, no entanto, ns, alunos do curso de Educao Fsica, tendo como base as aulas de Treinamento Desportivo, podemos definir fora muscular como a capacidade do msculo exercer tenso contra uma sobrecarga, onde h a produo e gasto energtico, sem a necessidade da produo de movimento. A gerao de fora e o seu desenvolvimento dependem principalmente de fatores como quantidade de unidades motoras ativadas; tipos das unidades motoras ativadas; tamanho do msculo; comprimento inicial do msculo ao ser ativado; ngulo articular e velocidade da ao muscular (WILMORE; COSTILL, 2001).

2.1.2 - Tipos de Contraes Musculares

As contraes musculares voluntrias so divididas em contraes dinmicas ou isotnicas, e contraes estticas ou isomtricas. Na primeira, h movimentos articuladores durante a contrao e, na segunda, no h produo de movimentos. Existem quatro tipos bsicos de contrao muscular: concntrica, excntrica, isocintica e isomtrica (FLECK; KRAEMER, 2002). Contrao Concntrica Durante a contrao concntrica o msculo se encurta (BADILLO; AYESTARN, 2001). Segundo Fleck e Kraemer (2002), quando uma sobrecarga est sendo vencida e os msculos envolvidos esto se encurtando, temos ento uma contrao concntrica e, devido ao encurtamento do msculo, a palavra contrao define bem este tipo de ao muscular. J Wilmore e Costill (2001), definem que na contrao concntrica os filamentos de actina so aproximados uns dos outros, causando o encurtamento do msculo.

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Contrao Excntrica Na contrao excntrica ocorre alongamento do msculo durante o desenvolvimento da tenso ativa (BADILLO; AYESTARN, 2001). Ainda de acordo com Fleck e Kraemer (2002), na contrao excntrica o peso abaixado de maneira controlada de modo que haja o alongamento dos msculos envolvidos. Neste tipo de contrao os filamentos de actina so tracionados do centro do sarcmero, provocando o alongamento muscular, como no caso do bceps braquial quando abaixado em peso com a extenso do cotovelo (WILMORE; COSTILL, 2001). Contrao Esttica ou Isomtrica J na contrao isomtrica, tem-se desenvolvimento de fora sem causar movimento articular, como no caso de um peso ser seguro imvel ou quando muito pesado para ser levantado (FLECK ; KRAEMER, 2002). Wilmore e Costill (2001) afirmam que neste tipo de ao as pontes cruzadas da miosina so formadas produzindo foras, mas no o suficiente para superar a fora externa de maneira que os filamentos no possam ser movidos. Contrao Isocintica Por fim, na contrao isocintica, a velocidade do msculo, ao encurtar-se, constante e mxima em todos os ngulos articulares durante toda a amplitude de movimento (FOSS, 2000). Segundo Fleck e Kraemer (2002), este tipo de ao muscular realizado em uma constante velocidade angular do membro, onde a resistncia oferecida pelo equipamento no pode ser acelerada, no havendo, portanto, uma carga especfica. Qualquer fora aplicada contra um aparelho isocintico resulta em uma fora de reao igual. A ao muscular isocintica tambm dividida em duas fases (concntrica e excntrica), e alm dos aparelhos especficos para este tipo de ao muscular, esta tambm pode ser desenvolvida em esportes como o remo e atividades dentro d gua.

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2.1.3 - Classificao das Manifestaes da Fora

A fora, nas suas formas de manifestao, pode ser dividida em trs diferentes tipos, de acordo com a forma de observao: sob o aspecto da parcela de musculatura envolvida, podemos diferenciar fora geral de local (msculos isolados ou grupos musculares); sob o aspecto de especificidade da modalidade esportiva, fora geral de especial; e, sob o aspecto do tipo de trabalho do msculo e fora dinmica e esttica, ou os aspectos das principais formas de exigncias motoras envolvidas (WEINECK, 2003). Fora Absoluta Pode ser definida como a fora mxima voluntria mais a reserva do sistema neuromuscular. Essa fora involuntria e mobilizada apenas em situaes psicolgicas extremas (perigo de vida) (WEINECK, 2003; BADILLO; AYESTARN, 2001; PLATONOV, 2004). Fora Mxima Abrange a capacidade mxima de produo de fora do sistema neuromuscular pelo desportista durante uma contrao muscular voluntria, e est intimamente relacionada com o desempenho das diversas formas de lutas (PLATONOV, 2004; WEINECK, 2003). Fora Mxima Isomtrica ou Esttica a contrao voluntria mxima contra uma resistncia invencvel, sem movimento, e influenciada pelo ngulo no qual se executa a contrao (BADILLO; AYESTARN, 2001). Fora Excntrica Mxima

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manifestada quando se ope capacidade mxima de contrao muscular diante de uma resistncia deslocada em sentido oposto ao desejado pelo sujeito (BADILLO; AYESTARN, 2001). Fora Dinmica Mxima a fora mxima que o sistema neuromuscular pode desenvolver com um nico movimento articular. Pode-se, ainda, considerar a fora excntrica mxima que se manifesta quando a capacidade mxima de contrao muscular se ope a uma resistncia deslocada em sentido oposto ao desejado. Portanto, depende da velocidade e da resistncia que produz a extenso da musculatura envolvida (BADILLO; AYESTARN, 2001). Fora Dinmica Mxima Relativa a fora mxima expressa diante de resistncias inferiores que

correspondem fora dinmica mxima. Equivale ao valor mximo de fora que pode ser aplicado com cada porcentagem dessa fora ou da isomtrica mxima (BADILLO; AYESTARN, 2001). Fora Rpida A fora rpida pode ser definida como a capacidade do sistema neuromuscular de movimentar o corpo ou parte dele (braos, pernas) ou ainda objetos com uma velocidade mxima (WEINECK, 2003). Fora Explosiva a capacidade de o sistema neuromuscular mobilizar o potencial funcional com finalidade de alcanar altos nveis de fora no menor tempo possvel. Tambm conhecida como fora-velocidade, considerada fator preponderante para o desempenho excelente nos desportos como nas lutas de boxe, de projeo e no solo (PLATONOV, 2004).

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A fora explosiva uma relao entre fora expressa e o tempo necessrio para tal. Portanto, a fora explosiva mxima pode ser definida como a melhor relao aplicada e o tempo empregado na manifestao da fora mxima contra qualquer resistncia. Essa fora expressa pela zona de maior ascendncia de uma curva fora tempo (F-t) (BADILLO; AYESTARN, 2001). A potncia muscular um tipo de fora que pode ser explicada pela capacidade de exercer o mximo de energia num ato explosivo. a aplicao funcional da fora e da velocidade. (WILMORE; COSTILL, 2001). Fora de Resistncia Pode ser definida como a capacidade do sistema neuromuscular sustentar altos nveis de fora por longos intervalos (GUEDES, 1997, PLATONOV, 2004). A fora de resistncia se divide em fora de resistncia geral e fora de resistncia local. Na fora de resistncia geral h a mobilizao de mais de 1/6 a 1/7 da musculatura esqueltica total do corpo para a realizao do exerccio. Na fora de resistncia local h a utilizao de menos de 1/6 a 1/7 da musculatura total do corpo para realizar a ao (WEINECK, 2003). A fora de resistncia tambm pode ser denominada de endurance muscular (FLECK; KRAEMER, 2002), ou resistncia muscular localizada (RML) (BARBANTI, 1993). A resistncia de fora apresenta a capacidade de resistncia fadiga da musculatura em desempenhos de fora de longa durao ou em aes musculares repetidas (WEINECK, 2000; WILMORE; COSTILL, 2001). A fora-resistente figura entre as qualidades que determinam o resultado na maioria dos desportos cclicos (PLATONOV, 204). Importante ressaltar que todos os tipos de fora mencionados no se manifestam no desporto de forma isolada, mas sim em completa interao, que determinada pelo carter especfico da modalidade desportiva, pela disciplina, pelo conjunto tcnico e ttico do desportista e tambm pelo nvel de desenvolvimento das demais qualidades motoras.

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2.1.4 - Mtodos de Treinamento de Fora

A fora muscular uma capacidade fsica que pode ser treinada utilizando diferentes tipos de mtodos, como treinamento com cargas ou treinamento com pesos, que so elaborados e estruturados a partir dos objetivos e metas a serem alcanados, e ainda considerando fatores como: nmero de sries e repeties, velocidade do movimento, tempo de descanso, carga utilizada, fonte de energia, etc. Mtodo Isomtrico Este mtodo baseado em contraes isomtricas. Fleck e Kraemer (2002) definem este tipo de treinamento como Treinamento de Carga Esttica, sem que haja mudana no comprimento muscular durante a ao. O treinamento isomtrico realizado normalmente contra um objeto imvel, ou barras e aparelhos contendo cargas superiores carga mxima para o indivduo. As aes musculares neste treinamento podem ser realizadas em diferentes angulaes articulares, variando tambm a durao e a quantidade das contraes. Embora o exerccio isomtrico aumente a fora, os exerccios isotnicos e isocinticos so preferencialmente empregados nos treinamentos, pois o exerccio isomtrico no aumenta a fora em toda a amplitude do movimento, somente em determinado ngulo articular mantido durante o treinamento (POWERS; HOWLEY, 2000). As vantagens de utilizar um treinamento esttico consistem em: treinamento de fcil execuo; altas taxas de aumento de fora; treinamento econmico em relao ao tempo, ou seja, alta efetividade do treinamento; possibilidade de influenciar de forma local e objetiva um grupo muscular escolhido, com o necessrio ngulo articular; e pode tambm ser melhorada a capacidade para executar fora rpida e explosiva. No entanto, esse tipo de treinamento tambm possui diversas desvantagens, tais como: influncia negativa sobre a elasticidade muscular; soltura e capacidade de distenso, como conseqncia da tenso muscular mxima; monotonia do treinamento; e provoca um rpido aumento da seco transversa, mas no uma capilarizao do msculo (WEINECK, 2000).

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Mtodo Concntrico Esse mtodo se baseia na execuo de aes motoras em que a nfase ocorre na fase concntrica (positiva) do trabalho. Ao mesmo tempo, a capacidade de produo de fora do ser humano varia substancialmente nas diferentes fases do movimento devido s diferenas nas alavancas de aplicao (PLATONOV, 2004). Existem dois tipos de treinamento concntrico, o de resistncia invarivel e o de resistncia varivel. O treinamento de resistncia invarivel assim definido pela resistncia constante que os aparelhos e pesos livres oferecem ao indivduo durante a execuo do movimento. A fora exercida por um msculo nesse tipo de treinamento no constante, e varia de acordo com a vantagem mecnica da articulao envolvida no movimento e com o comprimento do msculo a cada ponto determinado no movimento. J o treinamento de resistncia varivel realizado em equipamentos que, atravs de um brao, de uma engrenagem ou de um arranjo de polias, tm o objetivo de alterar a resistncia do movimento para acompanhar os aumentos e diminuies de fora durante toda amplitude de movimento. Assim, durante toda a amplitude de movimento, o msculo realizaria quase o mximo de fora, resultando em maiores ganhos de fora (FLECK; KRAEMER, 1999). Treinamento Dinmico de Resistncia Invarivel (TDRI) Este, talvez seja o tipo de treinamento de fora mais praticado, principalmente pelo fato dos equipamentos existentes em academias serem propcios a este tipo de treinamento, onde a resistncia ou carga utilizada pr-determinada e mantida constantemente durante a execuo do exerccio. No TDRI, a fora exercida muitas vezes no constante devido s possveis vantagens mecnicas da articulao envolvida, e ao comprimento do msculo em cada fase do movimento. Portanto, no se deve considerar o TDRI como treinamento isotnico. Isso porque, apesar de no haver variaes na sobrecarga, possvel que haja na tenso muscular exercida (FLECK; KRAEMER, 2002).

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Treinamento Dinmico de Resistncia Varivel (TDRV) Este um tipo de treinamento menos praticado em relao aos outros tipos de TF, pois necessita de aparelhos especficos que possibilitem a sua realizao. No TDRV a resistncia oferecida pelo aparelho varia de acordo com a curva de fora do exerccio. Entretanto, este ainda um tipo de treinamento muito discutido entre os autores e pesquisadores em funo das dvidas quanto eficincia dos equipamentos (FLECK; KRAEMER, 2002). Este mtodo utiliza equipamentos bastante complexos e caros, cujas particularidades de construo permitem modificar a magnitude da resistncia nos diferentes ngulos articulares da amplitude de movimento. Isso importante no somente porque existem diferentes nveis de produo de fora, mas tambm devido s divergncias individuais na dinmica da fora (PLATONOV, 2004). Mtodo Excntrico O treinamento de fora excntrico enfatiza a fase excntrica do movimento. Nesse tipo de movimento, o msculo consegue resistir fora em aproximadamente 30% a mais do que na fase concntrica. Isso pode levar ao msculo maior ganho de fora, devido a um maior estmulo de treinamento (WILMORE; COSTILL, 2001). Este mtodo no especfico para a grande maioria das modalidades desportistas, j que o trabalho muscular concntrico no est presente, e produz maiores cansaos e acmulo de produtos relacionados decomposio nos msculos do que o trabalho isotnico (PLATONOV, 2004). Mtodo Isocintico Fundamenta-se em um trabalho com aes motoras nas quais os msculos superam uma resistncia em uma velocidade constante de movimento trabalhando com tenso quase mxima apesar da mudana na correo (nos diferentes ngulos articulares) entre as alavancas ou entre os diferentes momentos da rotao (PLATONOV, 2004). O treinamento com o mtodo isocintico necessita da utilizao de equipamentos de musculao especiais que permitam ao desportista executar

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movimentos em ampla gama de velocidades e produzir esforos mximos, ou prximos a esse, praticamente em todas as fases do movimento. Isso oferece a possibilidade de trabalhar com uma carga tima durante toda a amplitude do movimento, o que impossvel conseguir com os equipamentos e com as cargas habituais (PLATONOV, 2004). Mtodo Pliomtrico ou Pliometria Sua teoria baseada na utilizao do reflexo de estiramento para facilitar o recrutamento de unidades motoras adicionais, alm de adicionar uma carga aos componentes elsticos e contrteis do msculo (WILMORE; COSTILL, 2001). No exerccio pliomtrico, realiza-se rpida e sequencialmente aes excntricas, depois isomtricas e, em seguida, uma ao concntrica formando o ciclo de alongamentos e encurtamentos. Exerccios de saltos e pular cordas so exemplos de exerccios que evoluem ciclos de alongamento e encurtamento. Este tipo de treinamento tem importante contribuio na capacidade de gerar potncia mxima em um movimento, porm no gera grandes mudanas na composio corporal e pode no aumentar a fora em todos os grupos musculares envolvidos no exerccio (FLECK; KRAEMER, 2002).

2.1.5 - Treinamento de Fora ou Resistido

A fora uma capacidade que pode ser treinada e consequentemente aumentada. O treinamento com pesos se tornou uma das formas mais conhecidas de exerccio, ganhando notoriedade pelos benefcios incutidos na prtica regular, tanto para aprimorar o treinamento fsico de atletas, como para melhorar as aptides fsicas de adultos no atletas, idosos e crianas (FLECK; KRAEMER, 2002; ACSM, 2002). O Treinamento Resistido submete o sistema neuromuscular aplicao de uma sobrecarga progressiva usando contraes musculares prximas mxima, contra uma alta resistncia e com o objetivo de aumentar a habilidade em realizar

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contraes mximas ou aumentar o tamanho das fibras musculares (POTER et al., 1995). As primeiras pesquisas envolvendo o treinamento resistido comearam aps a Segunda Guerra Mundial, quando alguns estudiosos demonstraram a importncia do treinamento progressivo contra a resistncia no aumento da fora e hipertrofia muscular na reabilitao de militares. O objetivo de um programa de treinamento resistido aumentar a quantidade mxima de fora que pode ser gerada por determinado grupo muscular (POWERS; HOWLEY, 2000). Esse tipo de treinamento tem demonstrado ser o mtodo mais efetivo na melhoria da fora msculo esqueltico, sendo atualmente recomendado e utilizado na manuteno da sade e da aptido fsica por vrias organizaes (ACSM, 2002). De acordo com Fleck e Kraemer (2004), a eficcia de um programa de treinamento com pesos depende de vrios fatores, incluindo freqncia, volume (sries e repeties), intensidade de treinamento, tipo de treinamento (pesos livres vs. aparelhos de resistncia varivel, exerccios dinmicos vs. exerccios isomtricos, contrao concntrica vs. contrao excntrica). Os exerccios resistidos so aplicados de acordo com o componente especfico a ser atingido. Nessa conformidade so criados determinados protocolos ou programas com a preocupao de planejar e planificar a sua aplicao, enfatizando os resultados desejados. Para a prescrio dos programas so observados os objetivos, as limitaes fisiolgicas e articulares e o quadro inicial que se encontra o aluno, proporcionando-lhe um treinamento seguro e eficiente, diminuindo as chances de ocorrerem possveis leses, estagnao ou desmotivao, e potencializando ao mximo os resultados esperados pelo praticante (BOMPA, 2000). Para tanto o treinamento envolve uma seqncia organizada de exerccios que estimulam os aumentos ou adaptaes anatmicas e fisiolgicas. Dependendo da qualidade e durao de cada sesso, as melhoras induzidas pelo treinamento so desenvolvidas e conservadas e, conseqentemente, aumentam a tolerncia ao exerccio. Geralmente, o aumento desta tolerncia resulta em aumento de desempenho (ROBERGS; ROBERTS, 2002; FLECK; KRAEMER, 2002). O resultado mais esperado do treinamento de fora um aumento na capacidade funcional do msculo em gerar fora, um aumento que surge de vrias alteraes na morfologia e na fisiologia causado pelo estresse do exerccio (GUYTON; HALL, 2002).

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O treinamento de fora bem elaborado capaz de produzir diversos benefcios, tais como aumento da fora, aumento do tamanho dos msculos, melhor desempenho esportivo, aumento da massa magra e diminuio dos nveis de gordura (FLECK; KRAEMER, 2002; BARBANTI, 2002). Os efeitos fisiolgicos desencadeados na musculatura esqueltica durante perodos de treinamento de fortalecimento incluem os fatores neurais, o aumento muscular, a hipertrofia e hiperplasia. Tornou-se evidente que parte do ganho de fora que ocorre com o treinamento, especialmente no incio de um programa, se deve s adaptaes neurais, e no hipertrofia. As adaptaes neurais relacionadas ao treinamento de fora incluem um recrutamento aumentado das unidades motoras e sincronizao de descarga das unidades motoras (POWERS; HOWLEY, 2003). Embora a hipertrofia seja verdadeira tanto para o homem quanto para mulher, o fenmeno muito menos pronunciado na mulher. Isso porque a hipertrofia regulada principalmente pelo hormnio testosterona, cujos nveis so cerca de 10 vezes mais altos no sangue de homens do que no sangue das mulheres. E ainda outros fatores podem ser considerados como, por exemplo, menor quantidade de massa corporal, e maior reserva de gordura corporal (POLLOCOK; WILMORE, 1993). A hipertrofia muscular pode ser demonstrada de duas formas: hipertrofia muscular miofibrilar (aumento de actina e miosina alargando a fibra muscular), que geralmente acompanhado de ganhos de fora; e hipertrofia muscular sarcoplasmtica (aumento do sarcoplasma substncia semi-fludica e interfibrilar e de protenas no contrteis colgeno), que no acompanha ganhos de fora (ZATSIORSKY, 1999). Evidencia-se tambm, que o exerccio pode induzir hiperplasia, que significa um aumento no nmero de fibras musculares. O mecanismo para a hiperplasia pode ser resultado de uma ruptura da fibra muscular, ou ativao das clulas satlites; esta ativao pode ser causada por exerccio de forte resistncia, uso excessivo, ou pelo alongamento prolongado induzido pelo uso de pesos (WILMORE; COSTILL, 2001). Atualmente, nos esportes de alto nvel, o treinamento de potncia vem recebendo ateno igual ou maior em relao aos treinamentos tticos e tcnicos, pois o vigor e a fora fsica tm sido um fator determinante na conquista de bons resultados, tanto nas modalidades coletivas como nas individuais.

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2.3 - Aporte Energtico para Atividade Muscular

Em repouso, a energia que o corpo necessita deriva tanto da degradao dos carboidratos quanto da degradao das gorduras, com uma participao maior do ltimo substrato em atividade leves a moderadas. As protenas usualmente fornecem pouca energia para funo celular. Durante o esforo muscular leve a moderado, uma maior quantidade de carboidratos utilizada, com menor dependncia das gorduras. No exerccio mximo de curta durao, o ATP gerado quase que exclusivamente a partir dos carboidratos (WILMORE; COSTILL, 2001). A energia presente nos alimentos no transferida diretamente s clulas para a realizao de trabalho biolgico. Em vez disso, essa energia dos nutrientes liberada atravs da oxidao recolhida e conduzida como uma forma acessvel de energia qumica atravs do composto qumico rico em energia denominado ATP (MCARDLE, KATCH; KATCH, 1998). Para o trabalho muscular a molcula de miosina precisa de energia qumica em forma de ATP (WEINECK, 2000; MCARDLE, KATCH; KATCH, 1998; POWERS; HOWLEY, 2000). O corpo humano precisa receber um suprimento contnuo de energia qumica para poder realizar suas mltiplas e complexas funes. De nosso interesse, a fonte imediata de energia para o trabalho mecnico da contrao muscular o composto de fosfato de alta energia, adenosina trifosfato (ATP). Embora no seja a nica molcula transportadora de energia da clula, ela a mais importante. Outros portadores de energia no podem ser diretamente utilizados, uma vez que a atividade da enzima ATPase est especificamente dirigida ao desdobramento de ATP em ADP e Pi (WEINECK, 2000; McARDLE; KATCH; KATCH, 2002). As contribuies relativas dos vrios meios de transferncia de energia diferem acentuadamente na dependncia da intensidade e durao do exerccio e da aptido do participante. (MCARDLE, KATCH; KATCH, 2002). Uma vez que o provimento oxidativo intracelular de ATP esteja limitado, a fibra muscular se utiliza de vrias formas da ressntese de ATP, sendo distinguidas duas formas de obteno de energia: anaerbia ou anoxidativa, sendo esta subdividida em altica e ltica; e aerbia ou oxidativa.

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Na resistncia anaerbia a formao de ATP ocorre por meio da degradao da creatina fosfato e/ou pela degradao da glicose ou do glicognio num processo denominado gliclise, sendo que o fornecimento de energia dispensa o oxignio. No caso da resistncia aerbia, a energia consumida pelo msculo deriva da oxidao dos substratos (hidratos de carbono, gorduras e protenas) (WEINECK, 2000; POWERS; HOWLEY, 2002).

2.3.1 - Obteno Aerbia de Energia

Quando uma carga dura mais de um minuto, a obteno aerbia de energia assume um progressivo papel dominante. Ao contrrio do que acontece na obteno anaerbia de energia, aqui podem ser utilizados, alm da glicose, tambm gorduras e protenas. A intensidade do trabalho muscular e a velocidade de contrao da fibra se modificam conforme o abastecimento energtico. Assim, a velocidade de contrao mais alta com os fosfatos, ricos em energia, e mais baixa na queima aerbia dos cidos graxos (WEINECK, 2000). A produo aerbia de ATP ocorre no interior das mitocndrias e envolve a interao de duas vias metablicas cooperativas: o ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de eltrons (POWERS; HOWLEY, 2000). A funo primria do ciclo de Krebs o trmino da oxidao (remoo de hidrognio) dos carboidratos, das gorduras ou protenas com a utilizao de NAD ou FAD como transportadores de hidrognio (energia) (POWERS; HOWLEY, 2000). A importncia da remoo que os hidrognios (em virtude dos eltrons que eles possuem) contm a energia potencial das molculas dos alimentos. Essa energia pode ser utilizada na cadeia de transporte de eltrons a fim de combinar a ADP + Pi para ressintetizar ATP. O oxignio no participa das reaes do ciclo de Krebs, mas o receptor final de hidrognio no fim da cadeia de transporte de eltrons. O processo da produo aerbia de ATP denominado fosforilao oxidativa (POWERS; HOWLEY, 2000; MCARDLE, KATCH; KATCH, 2003). A produo aerbia de ATP possvel graas a um mecanismo que usa a energia potencial disponvel nos transportadores de hidrognios reduzidos, como a NADH e a FADH, para refosforilar a ADP em ATP. Os transportadores de hidrognio

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reduzidos no reagem diretamente com o oxignio. Ao contrrio, os eltrons removidos dos tomos de hidrognio so passados por uma srie de transportadores de eltrons conhecidos como citrocromos. Durante essa passagem de eltrons pela cadeia de citocromo, liberada energia suficiente para refosforilar a ADP e formar ATP em trs locais diferentes (POWERS; HOWLEY, 2000). Em resumo, a fosforilao oxidativa, ou produo aerbia de ATP, ocorre nas mitocndrias como resultado de uma interao complexa entre o ciclo de Krebs e a cadeia de transporte de eltrons. O principal papel do ciclo de Krebs completar a oxidao de substratos e formar NADH e FADH para entrar na cadeia de transporte de eltrons. O resultado final da cadeia de transporte de eltrons a formao de ATP e gua. A gua formada pelo oxignio aceptor de eltrons. Portanto, a razo pela qual respiramos oxignio a sua utilizao como aceptor final de eltrons do metabolismo aerbio (POWERS; HOWLEY, 2000).

2.3.2 Obteno Anaerbia de Energia

No incio de qualquer treinamento esportivo de maior intensidade, onde a necessidade de energia no pode ser suficiente satisfeita de forma aerbia, o msculo obrigado a obter a energia necessria, em parte, atravs de processos anaerbios. Isso ocorre porque h uma demora na absoro respiratria de oxignio, provavelmente causada por uma reposta relativamente lenta do sistema circulatrio para comear a trabalhar (WEINECK, 2000). Essa capacidade de transferncia rpida de energia aprimorada pelo treinamento fsico que enfatiza as exploses rpidas de produo de potncia pela musculatura que participa da atividade (MCARDLE, KATCH; KATCH, 2003). A quantidade de ATP na clula muscular suficiente para dois ou trs segundos de contrao mxima. Os produtos formados nesta reao, ADP e fosfato inorgnico (Pi), estimulam a respirao at cem vezes, provocando uma alta ativao dos sistemas funcionais responsveis pelo metabolismo no msculo. Para novo trabalho muscular, o ATP novamente abastecido com velocidade extremamente alta, atravs da reserva de fosfato creatina. Esta ressntese imediata possibilita um tempo de trabalho total atravs dos fosfatos ricos em energia (ATP e

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CP), por no mximo vinte segundos. Para o trabalho muscular de at sete segundos de durao, ocorre a formao de energia anaerbia e altica, ou seja, sem produzir cidos lticos (lactato). A fase lctica envolve a gliclise e ocorre no sarcoplasma. O mximo da gliclise anaerbia est por volta de quarenta e cinco segundos. Nela, s se pode recorrer glicose e ao glicognio como fornecedores de energia. O lactato resulta da gliclise anaerbia sobre carga muscular intensa e age tanto no metabolismo local quanto geral. Este causa uma acidose extrema que tem como conseqncia a diminuio do metabolismo glicoltico pela inibio das enzimas (MCARDLE, KATCH e KATCH, 2003; FOSS; KETEYIAN, 2000; DENADAI, 1995). De certa maneira, a formao do cido lctico poupa tempo, pois torna possvel a formao rpida de ATP pela fosforilao ao nvel do substrato, mesmo quando o fornecimento de oxignio insuficiente e/ou quando as demandas energticas ultrapassam a capacidade do msculo para a ressntese aerbia do ATP (WEINECK, 2000). O sistema da gliclise anaerbia tem a capacidade de formar molculas de ATP numa velocidade bem maior que a do mecanismo oxidativo das mitocndrias. Assim, quando surge a necessidade de grandes quantidades de ATP por perodos curtos a moderados de contrao muscular, esse mecanismo de gliclise anaerbia pode ser utilizado como rpida fonte de suprimento de energia. No to rpido quanto o sistema da fosfocreatina, mas atinge cerca da metade da sua velocidade.

2.3.3 Metabolismo Energtico Envolvido nas Lutas de Jiu-Jitsu

De acordo com Garret e Donald (2003), o Wrestling tem sido considerado um esporte intermedirio quanto demanda de ambos os sistemas energticos, o aerbio e o anaerbio. O sistema fisiolgico prioritrio exigido difcil de ser determinado, pois um confronto pode terminar rapidamente (10 segundos) ou demorar (quase 10 minutos), como a disputa entre atletas da categoria adulta e de graduao de faixas pretas de Jiu-Jitsu. Com relao natureza da demanda metablica de tal atividade, nos momentos de mxima exigncia podem ser desenvolvidos custa do metabolismo

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anaerbio (sistema ATP-CP e glicoltico), com pequena contribuio do sistema aerbio durante os treinos e combate de Jud (DRIGO et al. 1994). Alguns estudos mostram que o alto nvel de lactato encontrado nos indivduos, com parmetros sanguneos entre 9 a 14 mmol/L quatro minutos aps uma luta sugere que o carboidrato, provindo do glicognio muscular, ou da glicose sangunea, seja um importante substrato atuante (FRANCHINI et al., 1998; DEL VECCHIO et al., 2007; GARRETT; DONALD, 2003). A capacidade aerbia limitada do msculo esqueltico dos atletas de Wrestling, como sugerida pela atividade da succinato-desidrogenase em atletas de nvel internacional, pode exigir grande contribuio do metabolismo anaerbio e tolerncia ao acmulo de lactato durante as lutas (GARRETT; DONALD, 2003). Na literatura especfica, existe certo consenso quanto ao seguinte fato: o jud possui atividades motoras mantidas, principalmente, pela capacidade anaerbia ltica, devido ao trabalho de alta intensidade, com pausas muito curtas (FRANCHINI et al., 1998; DEL VECCHIO et al., 2007). As concentraes de lactato sanguneo so indicadores sistmicos da atividade glicoltica durante as lutas de Wrestling, Jud e/ou Jiu-Jitsu (atividades de alta intensidade), sendo esses valores modificados em relao ao repouso. Esse aumento evidente de quase 10 vezes os nveis de lactato sanguneo e um pH sangneo alterado abaixo de 7, demonstram um quadro de acidose orgnica. Neste estado, tanto o metabolismo energtico como os processos contrteis so afetados em conseqncia da diminuio enzimtica (MCARDLE, KATCH; KATCH, 2003; GARRETT; DONALD, 2003). A idia de que o sucesso de um lutador possa estar em funo de uma maior tolerncia ao acmulo de lactato sustentada pela observao de que os atletas mais bem-sucedidos e que atingiram marcas significativas em um time olmpico, apresentaram maior resistncia dinmica durante um teste experimental (GARRETT; DONALD, 2003, PLATONOV, 2004). A contribuio da capacidade de tamponamento da acidez que influencia a fadiga uma rea em que os profissionais devem se focar, pois o acmulo de ons de hidrognio a partir da produo de lactato configura um fator fisiolgico limitante significativo em esforos sustentados ou repetidos de alta intensidade, como aqueles realizados durante confrontos de lutas de solo.

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Tais evidncias mostram a citada no-linearidade dos eventos bioqumicos inerentes obteno de energia, j que todas as vias foram evidentemente utilizadas para sustentar o esforo decorrente do combate de jud (VERKHOSHANSKI, 2001). O presente estudo levar em conta tais observaes, para atestar se possvel analisar a melhora na capacidade anaerbia, atravs do protocolo desenvolvido, ao observar as concentraes pico de lactato sanguneo durante o processo de recuperao passiva dos lutadores de Jiu-Jitsu.

2.3.4 Resposta do Lactato ao Treinamento de Fora

Para os profissionais e pesquisadores do exerccio fsico, a mensurao de alguns parmetros do metabolismo anaerbio necessria para a melhor compreenso, prescrio e monitoramento do exerccio nas diferentes populaes. Um dos procedimentos simples e freqentemente utilizado para mensurar a contribuio da glicogenlise anaerbia na produo de energia durante o exerccio a anlise da concentrao do lactato no sangue capilarizado (HIGINO; DENADAI, 1998). Desta forma, o lactato um indicador qualitativo do grau de estresse do metabolismo anaerbio aps o exerccio, entretanto no mensura precisamente a gerao de energia glicoltica (WELSMAN, 1995). O lactato o produto final da gliclise e tem seu valor modificado na circulao sangunea medida que a intensidade do exerccio alterada. Quando a intensidade baixa ou moderada, a freqncia de formao do piruvato est em equilbrio com sua oxidao, se a intensidade do exerccio elevada, a formao do piruvato ultrapassa sua oxidao, aumentando a quantidade de piruvato transformado em lactato. Nestas condies de exerccio, a quantidade de lactato oxidado no compatvel com sua produo, aumentando a concentrao no sangue (VIRU; VIRU, 2001; WELTMAN, 1995). O treinamento de resistncia de fora eficiente para aumentar a capacidade do msculo em produzir, utilizar, remover e suportar o acmulo de lactato, pois a atividade muscular tem impacto positivo no seu transporte atravs da membrana,

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principalmente em treinamento com alto volume e intensidade (PLATONOV, 2004; WEINECK, 2000). A capacidade de gerar um alto nvel de cido ltico no exerccio mximo aumenta com um treinamento anaerbio especfico, sendo reduzido subseqentemente com o destreinamento. Atletas bem treinados demonstraram que, aps realizarem um exerccio mximo de curta durao, o nvel sangneo de lactato de 20 a 30% mais alto que nos indivduos destreinados sob circunstncias semelhantes. A capacidade de tamponamento do msculo esqueltico um importante fator na regulao do pH. Montgomery (1990) relata que atletas treinados anaerobicamente tm maiores reservas corporais de bicarbonato do que maratonistas e sujeitos no treinados. O sistema de tamponamento pelo bicarbonato um importante meio de defesa sobre os aumentos intracelulares de ons hidrognio.

2.4 - Composio Corporal

A avaliao da composio corporal (CC) um aspecto importante na avaliao da sade, da aptido fsica e do estado nutricional. Normalmente, a composio corporal pode ser considerada sob um sistema de dois componentes: componente de gordura e componente isento de gordura. Este ltimo se refere parte do peso corporal aps a gordura ser removida, sendo formado pelo tecido muscular, pela pele, pelos rgos internos e pelos tecidos no gordurosos (GUEDES; GUEDES, 1998). A influncia dos componentes da massa livre de gordura (MLG) e da gordura complexa, tendo efeitos positivos e negativos que variam de acordo com o tipo de tarefa a ser desempenhada. Em geral, a adiposidade corporal influencia negativamente, tanto mecnica como metabolicamente, na maioria das tarefas fsicas que requerem o deslocamento do peso corporal (GARRETT; DONALD, 2003).

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Medidas antropomtricas so procedimentos duplamente indiretos de estimativa da CC e que apresentam resultados aceitveis considerando determinados cuidados (HEYWARD; STOLARCZYK, 1996). Para Fleck e Kraemer (1999), as mudanas na CC podem ocorrer aps treinamento resistido com durao de 6-24 semanas devido aos vrios programas de treinamentos. Estas alteraes se referem hipertrofia muscular que o aumento do tamanho das fibras e a diminuio do percentual de gordura corporal decorrentes do estmulo causado pelo treinamento, pois, teoricamente, uma grande massa muscular tende a melhorar o rendimento em atividades de fora e potncia. O desempenho de alto rendimento parece ser melhorado por caractersticas fsicas especficas em termos de tamanho, de composio e de estruturas corporais, como visto nos perfis de atletas de vrios esportes (McARDLE, KATCH; KATCH, 2003). Os esportes de lutas so habitualmente divididas em categorias por: idade, graduao e peso, visando reduzir o risco de leses entre os participantes e aprimorar os combates. Os exerccios resistidos so conhecidos como os mais eficientes para modificar favoravelmente a composio corporal. Portanto, contribuem, como j citado, para o aumento da massa muscular e ssea, bem como para diminuio da gordura corporal (SANTAREM, 1999). Este contexto nos leva a crer que a incorporao do treinamento resistido em programas de condicionamento fsico pode estar relacionada aos melhores resultados dos componentes da composio corporal dependendo da forma de manipulao, do volume e da intensidade.

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3 - OBJETIVO

3.1 - Objetivo Geral

Analisar as alteraes sobre o perfil metablico de praticantes de Jiu-Jitsu aps doze semanas de treinamento de potncia muscular com exerccios resistidos.

3.2 - Objetivos EspecficosDeterminar o efeito de doze semanas de treinamento de resistncia de potncia com pesos sobre o aprimoramento do perfil metablico de praticantes de Jiu-Jitsu. Verificar as alteraes na composio corporal dos lutadores submetidos a um perodo de treinamento de potncia muscular com pesos. Observar o efeito do treinamento com pesos sobre a produo de lactato e a percepo subjetiva do esforo.

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4 - MATERIAIS E MTODOS

4.1 - Sujeitos

A casustica desse estudo foi composta de 23 lutadores de jiu-jitsu, do sexo masculino, maiores de 18 anos. Como critrio de incluso dos voluntrios foi exigido o mnimo de 5 anos de experincia, performance de nvel estadual, graduao acima da faixa roxa e que estejam treinando e participando de competies regularmente, a pelo menos dois anos. Aps uma prvia explicao do projeto os participantes tiveram de ler e assinar um termo de livre consentimento e esclarecimento. O protocolo de avaliao e o protocolo experimental foram realizados em academias particulares nas cidades de Botucatu e Bauru, interior de So Paulo. Os atletas foram divididos aleatoriamente em dois grupos distintos: Grupo Treinamento (GT) com 14 homens (24,07 4,9 anos) e Grupo Controle (GC) com 9 homens (26,6 4,3 anos), os quais mantiveram suas atividades rotineiras durante todo o perodo do experimento. Os atletas tinham uma experincia mdia de treinamento em Jiu-Jitsu de 7,2 2,7 anos e uma estatura em torno de 1,77 0,08m.

4.2 - Protocolo de Avaliao

4.2.1 - Medidas Antropomtricas O peso foi aferido por meio de uma balana eletrnica de plataforma, da marca Filizola, com preciso de 0,1 kg. A estatura foi obtida em um estadimetro com preciso de 0,1 cm. Todos os indivduos foram medidos e pesados descalos, vestindo apenas uma sunga. O ndice de massa corporal (IMC) foi determinado pelo

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quociente peso corporal/estatura2, sendo o peso corporal expresso em quilogramas (kg) e a estatura em metros (m). Os seguintes permetros corporais foram coletados, brao relaxado (CBr), antebrao (CAn), abdmen (CAb), peitoral (CPt) e ombro (COm), todos foram mensurados com uma fita mtrica metlica Mitutoyo, com preciso de 0,1 cm. Foram avaliadas 9 dobras cutneas do lado direito do indivduo, realizando trs medidas em cada ponto, com registro do valor mediano nos seguintes locais anatmicos: peitoral (DPt), axilar mdia (DAm), trceps (DTr), bceps (DBc), subescapular (DSe), abdominal (DAb), supra-ilaca (DSi), coxa (DCx) e panturrilha (DPm). As medidas foram aferidas por um nico avaliador com um plicmetro cientfico da marca Mitutoyo. A gordura corporal relativa (%G) foi calculada pela frmula de Siri (1961), a partir da estimativa da densidade corporal determinada pelas equaes propostas por Jackson e Pollock (1978) para atletas entre 18 e 29 anos. A massa magra (MM) foi calculada subtraindo o valor da massa de gordura (MG) da massa corporal total. Equao de Jackson e Pollock (1978): Dc (g/cm3) = 1, 112 0, 00043499 (7DOC) + 0, 00000055 (7DOC)2 0, 00028826 (idade) Frmula de Siri (1961): %GC = [(4, 95/DC) 4, 50] x 100 Todas as medidas antropomtricas foram padronizadas conforme Rocha (2004) e os parmetros avaliados foram utilizados para caracterizar e delimitar os grupos.

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4.2.2 - Determinao da Fora Mxima (Teste 1RM)

A fora dinmica mxima dos membros superiores foi determinada por meio de um teste de 1RM, onde foi utilizado o protocolo de Fleck e Kraemer (2002) modificado, os atletas realizaram um aquecimento especifico antes do teste, constitudo por um breve alongamento e trs sries, sendo a primeira srie com 15 repeties com 60% de 1RM, respeitando a percepo subjetiva de esforo; a segunda com 10 a 8 repeties com 70% de 1RM; e na terceira srie foram realizadas de 5 a 3 repeties com 80% de 1RM (Fleck & Kraemer, 1997), com 60 segundos de intervalo entre cada srie. Aps o aquecimento, os participantes foram submetidos a um intervalo de recuperao de 180 segundos, antes de iniciarem as tentativas. Os participantes realizaram trs tentativas com cargas crescentes, onde deveriam realizar duas repeties em cada srie, com intervalos de 180 segundos entre cada srie e quando necessrio uma quarta tentativa, respeitando uma pausa de 300 segundos. No caso de falha ocasionada por carga acima de sua 1RM, o participante foi submetido a uma pausa de 300 segundos antes da prxima tentativa. A carga inicial e os incrementos eram estimados atravs da percepo de esforo do sujeito (PSE). Foram testados os seguintes msculos: peitoral, dorsal, ombro, bceps e trceps, respeitando um intervalo de recuperao de 10 minutos entre cada grupo muscular avaliado. A seqncia dos exerccios (aparelhos) correspondente a cada grupo muscular encontra-se descrito na tabela 1Tabela 1: Seqncia de exerccios correlacionando os grupos musculares. Seqncia de aparelhos Supino Reto Puxada Posterior Desenvolvimento Frontal Rosca Direta Trceps Francs Bilateral (BW) Grupos musculares Peitoral Dorsal Deltide Bceps Braquial Trceps Braquial

Aps esse procedimento, a fora dinmica mxima foi determinada como sendo a carga mxima nas quais os atletas realizaram um movimento completo em

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duas tentativas, devendo atingir a falha neuromuscular na segunda tentativa. Vale ressaltar que a forma e a tcnica de execuo de cada exerccio foram padronizadas e continuamente monitoradas na tentativa de garantir a eficincia do teste. Os parmetros avaliados foram utilizados para prescrio individualizada de treinamento.

4.2.3 - Amostra de Sangue (lactato) O parmetro bioqumico utilizado para determinar a exausto foi o lactato sangneo. As coletas foram realizadas por procedimentos padronizados (DENADAI, 1995) e o material de coleta foi preparado previamente. Os capilares foram demarcados utilizando pipetao de 25 micron-litros (u/L) de heparina, o valor relativo ao volume foi marcado nos capilares com uma caneta retro-projetor. Os eppendorffs foram devidamente lavados com gua deionizada e com a pipeta foi depositado 50 u/L de Flureto de Sdio a 1% em seu interior. Os recipientes prontos foram acondicionados no congelador. Aps a assepsia local foi realizada uma pequena inciso no lbulo da orelha com lancetas descartveis, onde 25L ou 0,025ml de sangue capilarizado era coletado utilizando-se capilares de vidro heparinizados e calibrados, para possibilitar a mensurao da concentrao do lactato sanguneo. Foram colhidas amostras Presforo e posteriormente a execuo de uma luta de solo com durao de 7 minutos, no 1, 3, 5, 7 e 9 minuto da recuperao passiva, o intuito foi determinar o.pico de lactato (Lacpico) correspondente aos momentos coletados. Aps cada coleta, o sangue foi imediatamente armazenado em microtubos do tipo Eppendorff de 1,5ml, contendo 50l de soluo de fluoreto de sdio 1%. Em seguida, os tubos foram numerados e armazenados em recipiente trmico, contendo gelo, e levados para o laboratrio para a determinao das concentraes de lactato sangneo, atravs do analisador de lactato. Aps a luta o atleta informava a intensidade do esforo percebido atravs da Escala de Borg (1982) na tabela 2 abaixo:

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Tabela.2: Escala subjetiva de esforo de 6 a 20.

Pontuao 678 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Classificao Muito, muito leve. Muito leve Moderadamente leve Um pouco pesado Pesado Muito pesado Muito, muito pesado.

4.2.4 - Protocolo de Treinamento Durante 12 semanas os voluntrios treinaram duas vezes por semana, a mesma seqncia de exerccios, onde foram trabalhados os seguintes msculos dos membros superiores: peitoral, dorsal, ombro, bceps braquial e trceps braquial. Foi institudo um intervalo mnimo de 48 horas e mximo de 72 horas entre um estmulo e outro. O treinamento solicitou a execuo de sesses de exerccios com pesos prescritos em 2 blocos de sries, com repeties mximas por tempo definido e com cargas fixas (60% de 1RM), respeitando-se intervalos de recuperao parciais. Com intervalo mnimo de passagem entre os blocos de 300 segundos, a periodizao e prescrio do treino encontram-se descrito na tabela 3. Os sujeitos deviam realizar o mximo de repeties em 20 segundos, com velocidade mxima de execuo e intervalo de recuperao parcial entre as repeties equivalente a 30 segundos. A execuo prosseguia at a atingir a fadiga metablica, falha neural, queda acentuada de repeties maior que 30% em relao a primeira srie, controle ou diminuio acentuada da velocidade de execuo do movimento. Havia uma pausa de recuperao entre os grupos musculares de 180 segundos e os atletas foram monitorados e incentivados durante todo o procedimento. Aps o perodo de treinamento foi realizada a reavaliao dos parmetros supracitados.

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Tabela 3: Periodizao e prescrio de treinamentoSEMANA % 1 RM REPs SRIES PAUSA BLOCOS EXERCCIO FREQNCIA

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% mx em 20s 60% 60% 60% 60% mx em 20 s mx em 20 s mx em 20 s mx em 20 s

at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto at a exausto

30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s 30 s

2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

As informaes referentes s quantidades de sries e repeties da primeira e ltima sesso de treino foram anotadas para verificar a evoluo dos participantes no decorrer do experimento, os dados foram colhidos por um Palm Top HP (modelo Hx2410).

4.3 - Anlise Estatstica

O tratamento estatstico dos dados foi realizado por meio da anlise descritiva de todas as variveis, em que os valores foram expressos na mdia desvio padro. A comparao entre os dois grupos experimentais foi feita pela anlise ANOVA one-way para observao das diferenas entre os perodos Pr e Ps dentro de cada um dos grupos e tambm entre os diferentes grupos, em seguida foi

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aplicado um testes post-hoc de Bonferroni, para localizao das possveis diferenas quando encontradas. O nvel de significncia adotado em neste estudo foi de 5% (p