educaÇÃo fÍsica no ceebja: desafios e possibilidades · primeiro semestre do ano de 2008, nas...
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EDUCAÇÃO FÍSICA NO CEEBJA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Denise Mary Ribeiro Farah Aliot* RESUMO: O presente estudo caracterizou-se por ser do tipo participativo e teve como objetivo apresentar uma proposta de Ginástica Laboral no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) de União da Vitória Pr. O estudo ficou dividido em três etapas de desenvolvimento que foram: primeira, revisão teórica que fundamentasse a Educação de Jovens e Adultos (EJA), o CEEBJA num contexto geral, e, mais especificamente o de União da Vitória, e a Ginástica Laboral como possibilidade de superar os desafios da disciplina Educação Física. Também foi elaborado nesta primeira etapa um questionário investigativo, para identificar com mais clareza os hábitos de vida do aluno deste CEEBJA. Segunda, aplicação de uma proposta participativa de Ginástica Laboral para todos os alunos durante o primeiro semestre do ano de 2008, nas salas de aula procurando envolver todos os alunos presentes. Terceira continuidade da proposta no segundo semestre do corrente ano, mas em um espaço fora das salas de aula, direcionado a professores e alunos que pudessem e quisessem participar, dentro de um horário pré-determinado. Como resultado geral, concluiu-se que a Ginástica Laboral é perfeitamente viável de ser aplicada no CEEBJA. Após avaliação realizada nesta etapa percebeu-se que a forma como foi desenvolvida a proposta neste terceiro momento obteve mais êxito que a segunda etapa. Para fechar este estudo, sugere-se a continuidade do mesmo, bem como uma nova pesquisa que aponte os resultados da Ginástica Laboral após um determinado período de aplicabilidade.
PALAVRAS-CHAVE: Educação de Jovens e Adultos. Educação Física. Ginástica Laboral
ABSTRACT: This study was characterized by being kind of participatory and aimed to present a proposal for Labor Gymnastics Center in State of Basic Education for Yout and Adults (CEEBJA) of Union of Victoria, Pr. The study was divided into three stages of development which were: first, theoretical review to substantiate the Education of Young People and Adults (EJA), the CEEBJA a general context, and more specifically of the Union of Victoria, Pr and Labor as a possibility for Gymnastics overcome the challenges of discipline Physical Education. He was also drafted in the first stage a questionnaire investigation to identify more clearly the living habits of this student CEEBJA. Second, application of a participatory proposal of Labor Gymnastics for all students during the first half of 2008, in the classroom looking involve all students present. Third, continuity of the proposal in the second half of this year, but in an area outside the classrooms, directed at teachers and students who could and wanted to take part, within a pre-determined timetable. As a result general, concluded that Labor Gymnastics is perfectly feasible to be applied in CEEBJA. After avaluation carried out in this stage realized that the way the proposal was developed in this third time returned more successful that the second stage. To close this study, it is suggested the continuity of it, a new poll say the results of Gymnastics Labor after a certain period of applicability. KEY WORDS: Education of Young People and Adults. Physical Education. Labor Gymnastic.
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* Especialista em Ciência do Movimento Humano, professora de Educação Física PDE 2007 da Rede Estadual de Educação do estado do Paraná, no CEEBJA de União da Vitória, PR.
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1 - INTRODUÇÃO
Trabalhar com educação de jovens e adultos, na disciplina de Educação Física, é
vivenciar situações que necessitam questionamentos, pesquisas e reafirmações
sobre a importância desta disciplina na EJA. De acordo com a Proposta Curricular, é
de direito de o cidadão ter acesso ao universo de informações, vivências e valores
numa perspectiva de construção e usufruto de instrumentos para promover a saúde,
utilizar com criatividade o tempo livre bem como expressar afetos e sentimentos em
diversos contextos de convivência.
A Educação Física na EJA deve se constituir num instrumento de inserção social,
de exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida.
Os alunos da EJA já chegam à escola com uma bagagem cultural e histórica
construída ao longo da vida adquirida em outras instâncias sociais não
necessariamente em salas de aula, mas principalmente no local onde vivem, onde
trabalham e na sociedade em que estão inseridos bem como da realidade que a vida
lhes propõe.
Quando se trata de Educação Física, o que os alunos trazem em sua memória
podem ser em alguns casos representações positivas, ou muitas vezes não tem o
mínimo conhecimento da disciplina, mas constata-se que na maioria das vezes estas
representações são negativas.
Os alunos que em determinado período de sua vida passaram pela escola e
tiveram a imagem de uma Educação Física integradora, diversa, criativa, focalizando
principalmente a pessoa como um todo, independente de suas dificuldades, trás
consigo um conhecimento sobre Educação Física bem positivo. Em contrapartida,
aqueles alunos que nunca tiveram conhecimento algum sobre exercícios corporais e
atividade física e a importância deles na manutenção da saúde ou que ao passarem
pelos bancos escolares por um curto período de sua vida e desta passagem só
restaram lembranças negativas como a exclusão, estipulam um critério sobre a
necessidade do que aprender, que na maioria das vezes a Educação Física acaba
não sendo inserida neste contexto escolar que o aluno da EJA busca neste momento.
É agindo e pensando que as pessoas constroem e modificam o seu conhecimento
conforme a sua necessidade de aprender coisas novas e mudar para melhor. É esta
necessidade a mola que impulsiona para a aquisição de novos conhecimentos, e
quando este conhecimento não interpreta o cuidado corporal de um modo geral como
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necessário, ou que neste momento a necessidade maior é aprender o português e a
matemática para passar no vestibular, ou só concluir os estudos para melhorar a
posição na empresa em que trabalha, a Educação Física deixa de ser importante,
pois além de não trazer os conhecimentos imediatos, ainda podem causar um gasto
de energia desnecessária, piorar o seu problema de coluna já existente e que na sua
visão só lhes trará prejuízos.
Além destes, poderíamos citar as dificuldades do professor de Educação Física
em conciliar os conteúdos incluídos na proposta com os objetivos buscados pelos
alunos que, apresentam neste momento, características imediatistas, sem deixar de
considerar a visão deste professor no primeiro contato ao perceber que estes alunos
necessitam muito mais que uma simples transmissão dos conteúdos presentes na
proposta. Necessitam também de conhecimentos que elevem a sua baixa auto-
estima que acompanham boa parte destes alunos da EJA.
Este diagnóstico feito no CEEBJA de União da Vitória, com aprofundamento na
disciplina Educação Física, mais especificamente nos desafios que esta disciplina
enfrenta, foi buscar possibilidades de superá-los através da implementação de um
projeto de Ginástica Laboral adaptada para a escola, tornando-a constante e presente
na rotina escolar do adulto trabalhador.
2 – DESENVOLVIMENTO
2.1 - DESAFIOS
Viver a vida: um constante e eterno desafio.
O desafio de correr atrás do tempo que freneticamente empurra para frente sem
que muitas vezes se é possível acompanhar.
Desafios de uma rotina de trabalho atrelada a este tempo desenfreado com
jornadas de trabalho cada vez mais longas impostas pelo capitalismo que “roubou” do
homem o seu tempo livre de lazer, levando-o a uma sobrecarga de horas
trabalhadas.
Muitos foram obrigados a escolher entre trabalhar e estudar ou talvez, não tiveram
a opção de escolher, pois o desafio de sobreviver os levou a ingressar muito cedo no
mercado de trabalho, afastando-os da escola num determinado período de suas
vidas.
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Vencer e superar esses desafios são antes de tudo vivenciar novas experiências
que vão além das responsabilidades morais, sociais e familiares da realidade cultural
em que estão inseridos.
É deste contexto “escola e trabalho” que fazem parte os alunos da Educação de
Jovens e Adultos. Homens e mulheres marcados por experiência de infância na qual
não puderam continuar seus estudos pelos mais variados motivos entre eles o
ingresso prematuro no mercado de trabalho, a evasão ou a repetência escolar.
... no contexto social brasileiro, nos referimos a homens e mulheres marcados por experiências de infância na qual não puderam permanecer na escola pela necessidade de trabalhar, por concepções que o afastaram da escola como de que „mulher não precisa aprender‟ ou „saber os rudimentos da escrita já é o suficiente‟, ou, ainda pela seletividade construída internamente na rede escolar, que produz ainda hoje, itinerários descontínuos de aprendizagens formais. (MOLL, 2005 p.11)
Traçar o perfil dos alunos que procuram o CEEBJA foi fundamental para a
elaboração desta proposta.
Desta demanda fazem parte jovens, adultos, idosos, uma grande presença de
mulheres, educandos com necessidades educacionais especiais, população do
campo, povos indígenas e alunos em privação de liberdade, cada qual com objetivos,
histórias de vida, costumes e culturas diferentes.
“Esses educandos possuem uma bagagem de conhecimentos adquiridos em
outras instâncias sociais, visto que a escola não é o único espaço de produção e
socialização dos saberes.” (DIRETRIZES CURRICULARES, 2005 p.34)
Entende-se também que quando se fala em desafios eles não são apenas dos
educandos que ali estão em busca do saber formal ou da simples convivência com
outras pessoas. É desafio também para professores que ao receber estes alunos,
tem a responsabilidade de acolhê-los e integrá-los ao sistema educacional,
proporcionando uma “nova educação” pautada no conhecimento socialmente
construído na prática comunitária ao longo da vida, tornando-os sujeitos críticos,
ativos e participativos, em busca de melhoria na sua qualidade de vida.
..., o educando, ao falar e ser ouvido atentamente por seu professor vai se reconhecendo como sabedor, vai descobrindo seus valores ao confrontá-lo com os demais, assim não se entrega como quem nada sabe, mas se coloca como quem reconhece que pode saber mais e de outros modos do que até então aprendeu. (Moll, 2005, p.92)
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Em síntese, conclui-se que o maior desafio desta modalidade de ensino é articular
o processo educativo específico de cada disciplina com a diversidade sócio-cultural
de seus alunos, dando-lhes garantia de um ensino de qualidade, levando-os a
autonomia intelectual, moral e social.
“Pensar a Educação de Jovens e Adultos hoje significa (re) pensar as especificidades dessa modalidade de ensino e os novos desafios que se impõe aos educadores e educandos, uma vez que a produção e a (re)construção do conhecimento constituem-se em uma troca entre esses sujeitos, tendo como referência a realidade na qual ambos estão inseridos.” (DIRETRIZES CURRICULARES ,2005, p.52)
Os desafios que são ensinar na EJA estão presentes em todas as disciplinas,
tornando-se mais evidente na disciplina de Educação Física.
Ao ser incluído na EJA, um dos objetivos da disciplina de Educação Física é
proporcionar ao educando conhecimentos na área de estudo da cultura humana, ou
seja, que estuda e atua sobre o conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao
movimento, descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais que favoreçam o
desenvolvimento de atitudes positivas, construir e usufruir de instrumentos para
promover a saúde, utilizar com criatividade o tempo de lazer, expressar afetos e
sentimentos em diversos contextos de convivência em busca de uma melhoria da
qualidade de vida.
A partir desse entendimento a proposta para a disciplina de Educação física na
EJA deve favorecer o estudo, a integração e a reflexão da cultura corporal de
movimentos.
Nessa perspectiva da reflexão da cultura corporal, a expressão corporal é uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos na escola. A sua ausência impede que o homem e a realidade sejam entendidos dentro de uma visão de totalidade. (SOARES et al. 1992, p.42)
Alunos e alunas da EJA quando retornam aos estudos, não percebem de imediato
a necessidade que os conhecimentos desta disciplina podem lhes proporcionar,
possuem um conceito sobre atividade física a partir das vivências que compõe a
história pessoal de cada um.
É preciso lembrar que os alunos de EJA possuem, na maioria das vezes, opinião formada sobre a Educação Física, baseadas em suas experiências pessoais anteriores. Se estas foram marcadas por sucesso e prazer, o aluno terá, provavelmente, uma visão favorável
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quanto a freqüentar as aulas. Ao contrário,quando o aluno registrou várias situações de insucesso,e de alguma forma se excluiu ou foi excluído, sua opção será pela dispensa das aulas, ou a passividade perante as atividades. Transformar essas opiniões se constitui num enorme desafio para os professores de EJA. A adoção da concepção de um ensino contextualizado pode amenizar o afastamento. (BRASIL.2002, p.203)
Os alunos da EJA são na sua grande maioria imediatistas, ou seja, necessitam
concluir os estudos o mais rápido possível. Conseqüentemente, o cuidado corporal
não é seu principal objetivo, já que após uma jornada de trabalho de no mínimo oito
horas seu corpo já está cansado. Mexer o corpo neste momento será muito mais
estressante.
É parte deste processo elaborar uma proposta na disciplina de Educação Física
pautada em conteúdos que visam levar a este aluno conhecimentos necessários e
benéficos para a melhoria da qualidade de vida, assim sendo aprender a usufruir
destes benefícios e incorporá-los na sua rotina de vida, tornando-se um hábito na
prevenção e manutenção da saúde.
O Desenvolvimento de uma proposta de Educação Física para a Educação de Jovens e Adultos constitui-se, simultaneamente, numa necessidade e num desafio. Trata-se de ajustar a proposta de ensino aos interesses e possibilidades dos alunos de EJA, a partir de abordagens que contemplem a diversidade de objetivos, conteúdos e processos de ensino e aprendizagem que compõe a Educação Física escolar da atualidade. (BRASIL. 2002, p.195)
A participação efetiva do professor de Educação Física na elaboração desta
proposta possibilita um melhor relacionamento e integração entre o saber vivido e os
temas transversais que fazem parte dos conteúdos específicos da disciplina. Outra
característica marcante da EJA é a heterogeneidade de alunos, constituindo-se
também num desafio
A partir da busca realizada para encontrar os desafios acima citados encontrados
no CEEBJA de União da Vitória, mas presentes também em qualquer escola que
oferta esta modalidade de ensino, foi possível identificar o descrédito do aluno adulto
na disciplina Educação Física, como também as próprias dificuldades que a mesma
encontra nesta especificidade de escolaridade.
Refletir sobre esses desafios é procurar meios e possibilidades de amenizá-los e a
partir daí buscar novos caminhos e objetivos para oferecer a esta comunidade escolar
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uma concreticidade entre os seguintes eixos articuladores: TEMPO-TRABALHO-
GINÁSTICA-CORPO, e assim orientá-los para a melhoria da qualidade de vida.
2.2 - POSSIBILIDADES
Quando um desafio se apresenta pensa-se longo de que forma enfrentá-lo e
principalmente de que forma buscar soluções possíveis para o mesmo.
As possibilidades aparecem a partir do momento que os desafios são encarados
como estímulos para mudança de velhos conceitos e costumes adquiridos ao longo
da vida.
Incorporar novos conceitos e formas de pensar é buscar soluções para velhos
problemas.
Aspirar por uma vida melhor e de qualidade, mais condição de saúde e autonomia,
conhecimento e independência, é poder viver com disposição, tranqüilidade e
vontade de superar os desafios que a vida apresenta.
É na busca desta melhor qualidade que o adulto trabalhador chega a escola.
É na possibilidade de superar seus próprios desafios que este aluno, mesmo
cansado após um dia estressante de trabalho, ainda busca ânimo para estudar.
Foi na busca de possibilitar melhorias para este aluno durante o período em que
ele se encontra dentro da escola, que se viabilizou uma proposta de atividade que se
identificasse com o perfil de estudante-trabalhador.
Dentro deste contexto a Ginástica Laboral aparece como uma nova forma de
trabalhar a Educação Física na EJA mais especificamente no CEEBJA a partir de
seus objetivos e benefícios que estão intimamente ligados a esta modalidade de
ensino.
O mundo do capitalismo proporcionou ao homem duas vidas: livre como cidadão,
mas ao mesmo tempo teve seu trabalho expropriado.
Observamos o cotidiano: Durante 10 horas por dia o homem está dedicado ao seu trabalho, ali entra em contato com a sociedade, os outros homens, o grau de desenvolvimento tecnológico que o seu momento histórico permite; é um transformador do mundo, impõe à natureza os seus desejos. Sua atividade no trabalho é o que o distingue de um animal: ao fazer, faz enquanto homem desenvolve-se, cria, aprende. Ao sair do trabalho, no pouco tempo que lhe resta, ocupa-se em recuperar as energias – comer, dormir, reproduzir, e, se sobrar algum tempo, brincar. Nestas atividades é impossível distinguir um rato de um homem. CODO& SENNE, (2004, p.32)
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Essa vida dupla que o capitalismo impôs ao homem levou-o a ocupar o seu tempo
livre com mais trabalho, levando-o a uma sobrecarga, esquecendo-se das
necessidades de descanso, e, conseqüentemente os prejuízos corporais também
apareceram.
De certa forma foi devido a esta jornada maior de trabalho e os problemas de
saúde por ela provocados é que a Ginástica Laboral surgiu dentro das empresas.
Um programa de Ginástica Laboral no CEEBJA contribui também para motivar a
comunidade escolar através de atividades recreativas, divertidas e de lazer na própria
escola, como também minimizar os fatores estressantes do seu cotidiano, levando os
alunos para a prática de atividades físicas, conscientizando-o a elaborarem e
praticarem uma alimentação saudável buscando assim uma mudança benéfica e
positiva no seu estilo de vida.
2.3 – A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Entende-se Educação de Jovens e Adultos como sendo uma modalidade de
ensino diferenciada e como tal deve ser trabalhada.
A educação básica de jovens e adultos é aquela que possibilita ao educando ler, escrever e compreender a língua nacional, o domínio dos símbolos e operações matemáticas básicas, dos conhecimentos essenciais das ciências sociais e naturais, e o acesso aos meios de produção cultural, entre os quais o lazer, a arte, a comunicação e o esporte. (GADOTTI&ROMÃO 2001, p. 119)
A Educação de Jovens e Adultos conforme as Diretrizes Curriculares do Paraná já
teve início no final do século XIX e início do século XX, mas com o forte objetivo de
atender os interesses da elite por haver a necessidade de aumentar o contingente
eleitoral do período republicano.
A Lei Saraiva de 1882, incorporada posteriormente à Constituição Federal de 1891, em que se inviabilizará o voto do analfabeto, alistando somente os eleitores e candidatos que dominassem as técnicas de leitura e escrita. (DIRETRIZES CURRICULARES DA EJA DO PARANÁ, 2005, p.10).
Mas só apenas em 1942, com a criação do FNEP (Fundo Nacional do Ensino
Primário), é que se passou a considerar a educação de adultos com uma visão de
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instrução básica popular. No início dos anos cinqüenta a educação de adultos passa
a ser entendida diferente do ensino regular. As idéias e experiências de Paulo Freire
passam a fundamentar a educação de adultos com uma pedagogia voltada para a
história da realidade destes adultos.
Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, ao seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos „conhecimentos de experiências feitos‟ com que chegam à escola. (PAULO FREIRE, 2005, p.64)
... se trabalho com jovens e adultos não menos atentos devem estar com relação a que o meu trabalho possa significar como estímulo ou não à ruptura necessária com algo defeituosamente assentado e à espera de superação. Primordialmente, minha posição deve ser a de respeito à pessoa que queira mudar ou que recuse mudar. (PAULO FREIRE,2005, p.70)
No ano de 2000 foram promulgadas pelo governo federal as Diretrizes Nacionais
para a Educação de Jovens e Adultos (DNEJA).
O documento apresenta o capítulo Diretrizes Curriculares Nacionais da EJA, explicitando: as especificidades de tempo e espaço dos jovens e adultos; o tratamento presencial dos conteúdos curriculares; a importância em se distinguir as duas faixas etárias (jovens e adultos) consignadas nesta modalidade de educação; a fundamental formulação de projetos pedagógicos próprios e específicos dos cursos noturnos regulares e os de EJA. (DIRETRIZES CURRICULARES DA EJA DO PARANÁ, 2005, p.19).
Nas décadas de 70 a 90 achava-se que a modalidade EJA teria um curto e breve
período de existência, pois o sonho de não se ter nenhuma criança fora da escola
ainda não foi alcançado até os dias de hoje, A necessidade de entrar no mercado de
trabalho cada vez mais cedo, faz com que jovens e adultos continuem procurando os
CEEBJAs para dar continuidade aos seus estudos e recuperar o tempo perdido.
Vinculado aos CEEBJAs se encontram as Ações Pedagógicas Descentralizadas
(APEDs) que visa garantir o direito a escolarização aos alunos que residem nos
bairros distantes do centro da cidade onde se localiza o CEEBJA sede. Essas APEDs
são compostas também de estudantes trabalhadores que tem a possibilidade de
estudar mais próximo de onde residem. São salas de aula que funcionam tanto em
escolas estaduais como municipais, aonde o professor vai até o aluno, dentro da sua
comunidade, a fim de lhe proporcionar mais comodamente o conhecimento formal.
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A nova proposta para a EJA que entrou em vigor no ano de 2006 aumentou a
carga horária, passando de um para dois anos o tempo de conclusão tanto para o
Ensino Médio como para o Fundamental garantindo ao aluno uma maior aquisição de
conhecimentos.
A EJA não deve ser uma reposição da escolaridade perdida, como normalmente se configuram os cursos acelerados nos moldes do que tem sido o ensino supletivo. Deve, sim, construir uma identidade própria, sem concessões à qualidade de ensino e propiciando uma terminalidade e acesso a certificados equivalentes ao ensino regular. (GADOTTI&ROMÃO, 2001, p.121)
Os alunos e alunas da EJA trazem consigo histórias de vida, experiências vividas
influenciadas por seus traços culturais de origem e por sua vivência social, familiar e
profissional, homens e mulheres que chegam à escola com crenças e valores já
constituídos. Uma variedade de saberes coletivos que interferem significativamente
nas possibilidades de aprender de todos.
2.4 - O CEEBJA DE UNIÃO DA VITÓRIA, PR
Este estabelecimento de ensino tem como uma das finalidades, ofertar a
escolarização a jovens, adultos e idosos, especificamente Ensino Fundamental e
Médio, as pessoas que perderam a oportunidade de concluir seus estudos dentro do
tempo cronológico correto. Esses alunos buscam dar continuidade a seus estudos,
pois a falta que o saber escolar faz em suas vidas prejudica sobremaneira a sua
qualidade de vida. O CEEBJA oferece a esses alunos oportunidades apropriadas,
levando em consideração suas características, interesses, condições de vida e de
trabalho, mediante ações didático-pedagógicas coletivas e/ou individuais. Projeto
Político Pedagógico, 2007)
Os alunos do CEEBJA mostram-se interessados pelos estudos. São pessoas que
não tiveram oportunidade em dar continuidade a escolaridade e nesta fase da vida
necessitam retornar pelos mais variados motivos, ente eles:
Concorrência no mercado de trabalho, aperfeiçoamento pessoal, regularizar a
situação escolar para posteriormente ingressar no ensino superior, acesso ao
conhecimento mais amplo e saberes diversificados dos quais a sua vida cotidiana até
o momento lhe concedeu, idosos que buscam além do convívio com outras pessoas.
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Fundamentado nestes anseios e necessidades é que o CEEBJA necessita de um
modelo pedagógico próprio a fim de proporcionar situações pedagógicas que
satisfaçam as necessidades de aprendizagem de jovens, adultos e idosos.
No CEEBJA sede existe uma demanda bem diversificada de alunos. A economia
básica do município é a extração e transformação da madeira, e uma grande maioria
destes alunos são trabalhadores oriundos destas empresas locais. Vê-se presente
também domésticas, auxiliares de enfermagem, trabalhadores da lavoura,
vendedores, donas de casa, aposentados, alunos com necessidades educacionais
especiais (cadeirante, baixa visão, traumatismo craniano devido a acidente, deficiente
mental), motoristas de uma maneira geral, desempregados, entre outros.
Nas APEDs a realidade dos alunos não é muito diferente da encontrada no centro
da cidade.
Tanto no CEEBJA quanto nas APEDs, o foco principal destes alunos é a de
reparar o tempo perdido e a oportunidade de uma qualificação melhor no mundo do
trabalho.
... são adultos ou jovens adultos, via de regra mais pobres e com vida escolar mais acidentada. Estudantes que aspiram a trabalhar, trabalhadores que precisam estudar, a clientela do ensino médio tende a tornar-se mais heterogênea, tanto etária quanto socioeconomicamente, pela incorporação crescente de jovens adultos originários de grupos sociais, até o presente, sub-representados nessa etapa da escolaridade. (Parecer CNE/CEB nº 15/98, citado no Parecer CNE/CEB 11/2000)
Conhecendo a realidade na qual o CEEBJA de União da Vitória está inserido, é
que se estabeleceu o objetivo deste trabalho que visa apresentar uma proposta de
Ginástica Laboral de cunho pedagógico aos educandos que freqüentam esta
modalidade de ensino.
Para que esta pesquisa ficasse o mais próximo possível dos objetivos propostos e
atendesse com maior exatidão as necessidades dos educandos, foi necessária além
da fundamentação buscada no Plano Político Pedagógico da escola e outras fontes
de pesquisa, a elaboração de um questionário que buscou conhecer melhor os
hábitos e a rotina de vida destes alunos bem como suas expectativas em relação ao
futuro.
2.5 – A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO CEEBJA
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Ao ser incluído na EJA, um dos objetivos da disciplina de Educação Física é
proporcionar ao educando conhecimentos na área de estudo da cultura humana, ou
seja, que estuda e atua sobre o conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao
movimento, descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais que favoreçam o
desenvolvimento de atitudes positivas, construir e usufruir de instrumentos para
promover a saúde, utilizar com criatividade o tempo de lazer, expressar afetos e
sentimentos em diversos contextos de convivência em busca de uma melhoria da
qualidade de vida.
A partir desse entendimento a proposta para a disciplina de Educação física na
EJA deve favorecer o estudo, a integração e a reflexão da cultura corporal de
movimentos.
Nessa perspectiva da reflexão da cultura corporal, a expressão corporal é uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos na escola. A sua ausência impede que o homem e a realidade sejam entendidos dentro de uma visão de totalidade. (COLETIVO DE AUTORES.1992, p.42)
Alunos da EJA quando retornam aos estudos, não percebem de imediato a
necessidade que os conhecimentos da disciplina podem lhes proporcionar, pois já
possuem uma idéia formada sobre atividade física a partir das vivências que compõe
a história pessoal de cada um.
Essas vivências, positivas ou negativas, geralmente norteiam os (pré)-conceitos
por eles elaborados com relação à disciplina
Mas e quando este aluno não teve nenhuma experiência ou conhecimento anterior
a respeito da disciplina de Educação Física, e mesmo assim apresenta certa
resistência em aprendê-la, como fazer para mudar de opinião e aceitar a mesma?
De um modo geral a prática de uma atividade física na vida do ser humano adulto,
é sempre deixada para 2º ou 3º plano, pois se constitui num gasto dispendioso de
energia desnecessário. Seu corpo é meramente um instrumento de trabalho.
Pesquisa tem demonstrado que, para os adultos em processo de escolarização, a palavra corpo, em geral, pode significar à dor, o cansaço, a doença, o reumatismo, o trabalho. Esses sentidos, veiculados em nossa sala de aula, precisam ser discutidos, analisados, refletidos, problematizados. (MOLL, 2005, p.22)
Considerando o que diz a LDBEN nº. 9.394/96 com relação à Educação Física ser
facultativa nos cursos noturnos limita-se os conhecimentos que a disciplina pode
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passar para o jovem e adulto da EJA a um suposto gasto de energia baseada apenas
em parâmetros energéticos e fisiológicos, desconsiderando a possibilidade de
adequar conteúdos e estratégias às características e necessidades dos alunos que
trabalham.
Cabe ao professor de Educação Física levar a estes alunos conhecimentos sobre
postura, trabalho e lazer, exercícios de relaxamento e compensação muscular e
atividade física de um modo geral e os benefícios por ela proporcionados para
desmistificar esta cultura corporal adquirida ao longo dos anos.
Dentro da proposta pedagógica da escola a função do professor de Educação
Física que atua na EJA é potencializar as possibilidades de participação ativa de
pessoas com demandas educacionais específicas, em programas com foco na
atividade física/movimento cultural humano.
Atividade Física, refere-se a totalidade de movimentos executados no contexto do Esporte, da Aptidão Física, da Recreação, da Brincadeira, do Jogo e do Exercício. Num sentido mais restrito é todo o movimento corporal, produzido por músculos esqueléticos, que
provoca um gasto de energia. (BARBANTI, 1994, p.25)
Ter conhecimento através da Educação Física da importância da atividade física
para sua vida, que tem como intuito melhorar a saúde e o bem estar, assim como a
qualidade de vida, fará com que os alunos da EJA passem a aceitar e acreditar mais
na disciplina, distorcer a visão trazida por eles na sua bagagem histórica e cultural.
Os conhecimentos que a disciplina de Educação Física pode proporcionar aos
alunos da EJA devem estar de acordo com o projeto educativo da escola,
considerando e valorizando os interesses dos alunos elaborados ao longo de sua
história pessoal. É necessário que se construa um canal de comunicação entre o
saber do aluno e o saber proposto pela escola. A função do professor de Educação
Física neste contexto é de mediador entre estes saberes, garantindo espaço para que
os alunos tenham voz ativa, que possam caracterizar a aprendizagem segundo suas
necessidades no desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva para seu
cotidiano buscando melhoria da sua saúde e qualidade de vida.
Conceituar qualidade de vida não é tão simples quanto parece, pois este conceito
difere de pessoa para pessoa segundo a sua percepção, porém para a maioria, ter
qualidade de vida está intimamente relacionado às necessidades humanas básicas
que são: alimento, moradia, educação e trabalho.
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Define-se qualidade de vida como sendo “Condição humana que reflete um
conjunto de parâmetros individuais, sócio-culturais e ambientais que caracterizam as
condições em que vive o ser humano”. (NAHAS, 2005, p.05)
Há que se considerar o bem-estar, a felicidade, sonhos, dignidade e cidadania
conforme cita Nahas (2005), para que se atinja um nível considerável de qualidade de
vida.
Alunos da EJA foram castrados de seus sonhos quando em algum momento de
suas vidas lhes foi negado o direito a educação afetando de forma direta a sua
qualidade de vida
Barbanti (1994) comenta que ter qualidade de vida é ter sentimentos e
entusiasmos positivos pela vida sem deixar-se fadigar pelas atividades rotineiras.
É o respeito ao modo que o aluno administra sua vida, trabalhando o dia inteiro e
estudando a noite, sem ter tempo para sua atividade física e de lazer que se elaborou
uma proposta de Ginástica Laboral, incluindo-a na Proposta Pedagógica da escola.
A disciplina Educação Física deve participar da elaboração da Proposta Pedagógica da escola, incluindo os temas transversais por ela escolhidos, ou apresentar propostas da própria disciplina conforme as necessidades dos grupos de alunos. (BRASIL, 2002, p.202).
Mesmo incluindo temas transversais a disciplina não deve perder de vista o seu
foco principal que é o de integrar o aluno na esfera da cultura corporal de movimento.
A heterogeneidade na EJA é marcante e presente, característica própria desta
modalidade de ensino tanto em relação à idade quanto ao tempo de escolarização,
profissão, vivências, nível social, além dos históricos de repetência e exclusão que
são relatados pelos adolescentes.
Mas uma característica em especial chama a atenção, não só na disciplina de
Educação Física, mas em todas as disciplinas, que é a baixa auto-estima com que
estes alunos chegam à escola, descrentes no seu conhecimento adquiridos ao longo
da vida e principalmente se achando incapazes de adquirir novos conhecimentos.
Neste contexto, temos que lidar com a baixa auto-estima e os sentimentos de incapacidade de aprender com que os alunos chegam a EJA, trazendo as suas vivências para a sala de aula e trabalhando a resignação que estas experiências podem adquirir neste espaço. (MOLL, 2005, p.35)
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A disciplina Educação Física pode através da sua forma dinâmica de trabalho que
envolve diversão e lazer, desenvolver atividades que possibilitem crescimento e
superação de obstáculos. Este crescimento proporciona autoconfiança e
conseqüentemente melhora da autoestima.
2.6 – GINÁSTICA LABORAL NO CEEBJA
De acordo com as Diretrizes Curriculares (2006), a Ginástica como parte dos
conteúdos estruturantes, deve dar condições ao aluno de reconhecer as
possibilidades do seu corpo, sem, contudo ficar presa a parâmetros obrigatórios de
movimento e apologias de culto ao corpo.
A sua aplicação nas mais variadas formas oferece uma gama de possibilidades de
atender os alunos, tanto no ensino regular como na educação de jovens e adultos.
Para a EJA, uma destas formas que vem de encontro com as necessidades
específicas do aluno adulto trabalhador é apresentada na Ginástica Laboral.
As origens da Ginástica Laboral remontam ao início do século passado, mais
precisamente no ano de 1925, fundamentado teoricamente no livro “Ginástica de
Pausa” que foi editado na Polônia.
No Brasil no período de 1900 a 1910 funcionários de uma fábrica têxtil já se
reuniam em um campo de futebol para a prática de atividades físicas.
A crescente preocupação com os afastamentos do trabalho provocados por
doenças ocasionadas dentro das empresas e na intenção da melhoria da qualidade
de vida dos funcionários, só fez crescer e aprofundar os estudos nessa área.
Em 1989 ficou a cargo do Ministério da Saúde implantar a prática de atividades
físicas no ambiente de trabalho como meio de prevenir as doenças crônico-
degenerativas. Em curto prazo os benefícios já foram sentidos.
A Ginástica Laboral pode ser conceituada com um conjunto de práticas físicas, elaboradas a partir da atividade profissional exercida durante o expediente, que visa compensar as estruturas mais utilizadas no trabalho e ativar as que não são requeridas, relaxando-as e tonificando-as. (LIMA 2005, p.07)
A Ginástica Laboral passa a ser um importante instrumento de promoção da
saúde. Visa promover o bem-estar da pessoa com a finalidade de prevenir doenças
ocupacionais, conscientizando-a sobre seu corpo, respeitando-o, estimulando-o como
15
também o alertando sobre os males do sedentarismo e do estresse. Esta consciência
corporal só trará melhorias na qualidade de vida desta pessoa.
Esta pausa para os exercícios também proporciona melhorias no relacionamento e
integração das pessoas que se encontram diariamente no mesmo ambiente de
trabalho proporcionando maior interação e disposição para o trabalho, contribuindo
assim para o bem-estar físico, biológico e mental das pessoas que ali convivem,
beneficiando-os ativamente.
Vários são os benefícios da Ginástica Laboral conforme cita LIMA (2005), entre
eles: melhora a flexibilidade e a mobilidade articular; previne contra o cansaço
muscular; age como sociabilizadora; aumenta a disposição para o trabalho; promove
também o autoconhecimento, entre outros.
Todos esses benefícios serão alcançados sem que ocorra alguma alteração na
rotina diária de trabalho ou queda na produção. Na busca de pesquisas com a
Ginástica Laboral dentro da escola, encontra-se um trabalho feito por professores
doutores IOURE KALININE e DARI FRANCISCO GÖLLER que investigaram a
efetividade da Ginástica Laboral para a saúde psíquica dos alunos na escola do
ensino fundamental.
Neste estudo concluiu-se que houve um aumento significativo da produtividade de
trabalho mental nos alunos do ensino fundamental principalmente nos alunos
menores (5ª série). Independente deste estudo o objetivo maior quando se fala de
inclusão da Ginástica Laboral na EJA é proporcionar aos alunos durante o período de
aula, atividades de alongamento e relaxamento, para que possam “ouvir” e “sentir” as
necessidades do seu corpo e assim descobrir a importância da atividade física e
incorporá-la no seu dia-a-dia. Se eles não têm esse tempo durante a semana e se o
local de trabalho não oferece esta atividade, é dentro da escola que irão usufruir
deste benefício.
É hora, se já é tarde, de perseguir de maneira conseqüente, consciente, um corpo saudável. É hora, e já é tarde, de buscar o prazer, sem medo e a qualquer custo. É hora e a vez da integração biológica e espiritual do homem. Por isso e só por isso, é urgente destruir o inimigo ali onde ele está. Se o trabalho roubou a sensualidade, é o trabalho que deve devolvê-la; se a política impôs a opressão, é ela que deve conduzir à liberdade; se a alienação inventou o espelho, é a militância organizada que pode quebrá-lo.Vamos de uma vez por todas buscar o encontro do homem consigo mesmo, ou seja, fundi-lo com o outro, com o mundo, com a história, e vamos todos juntos em busca da felicidade. (CODO&SENNE, 2004, p.85)
16
A Ginástica Laboral é uma atividade simples, suave e tranqüila composta
principalmente por exercícios de alongamento, sem sobrecarga e fadiga.
Um dos objetivos principais da GL é a criação de um espaço onde as pessoas possam, por livre e espontânea vontade, exercer várias atividades e exercícios que, muito mais que um condicionamento mecanicista, estimule o autoconhecimento, a ampliação da consciência, melhoria da autoestima e, conseqüentemente, proporcionem um melhor relacionamento consigo, com os outros e com o meio. (FIGUEIREDO&MONT‟ALVÃO, 2005, P.70):
Com base no que citam esses autores, mais uma vez pode-se concluir que a
Ginástica Laboral atende as necessidades dos alunos da EJA.
2.7 – CONHECENDO MELHOR A COMUNIDADE DO CEEBJA
Para melhor conhecer hábitos, costumes, e rotina diária da comunidade escolar
em que a proposta seria implementada, fez-se necessário a aplicação de um
questionário de reconhecimento. Os resultados obtidos foram analisados e
registrados, sendo fundamentais para o bom direcionamento do trabalho.
2.7.1 - Características Demográficas dos Grupos
Sexo
Analisando os dois grupos entrevistados, CEEBJA Pólo e APEDs, obteve-se no
CEEBJA Pólo 45 mulheres e 36 homens, enquanto que nas APEDs, 45 mulheres e
24 homens. O maior número de mulheres nos dois grupos pesquisados evidencia o
que Moll (2005) comenta sobre algumas concepções que fundamentam esta maioria
feminina tais como de que a mulher necessita saber apenas os rudimentos da escrita
e leitura ou ainda de que “mulher não precisa aprender”. Quando contam suas
histórias de vida, percebe-se também que muitas deixaram a escola para ajudar os
pais no trabalho, ou ainda, ficar em casa para cuidar dos irmãos menores ou também
dos próprios filhos, pois geralmente se casam muito cedo.
Idade
Na questão idade o CEEBJA Pólo apresenta na sua maioria alunos na faixa etária
dos 18 aos 28 anos, enquanto que nas APEDs concentra-se a faixa etária dos 29 aos
38 anos. Esta análise mostra que os alunos que moram na área central do município,
retornam um pouco mais cedo para conclusão dos estudos. As APEDs concentram
17
na sua grande maioria alunos de bairros distantes, com maiores dificuldades de
trabalho e também financeiras, conseqüentemente mais tempo longe da escola.
Tempo fora da escola
A maioria dos alunos do CEEBJA Pólo ficou longe da escola por um período
variável entre 1 e 9 anos. Já nas APEDs, a maior concentração de tempo de
abandono escolar está na faixa dos10 aos 19 anos. Estes dados só confirmam a
questão anterior.
Baseado no que mostram as DIRETRIZES CURRICULARES (2005), uma
característica marcante do jovem-adulto aluno da EJA, é o ingresso prematuro no
mundo do trabalho, a evasão ou a repetência, estando também no auge da
produtividade, ou seja, trabalhando e ajudando no sustento da casa, quando em
alguns casos responsáveis por todo este sustento.
O corpo para o adulto é simplesmente um instrumento de trabalho.
A Ginástica Laboral neste contexto está em consonância com as necessidades
básicas destes alunos.
Relação Peso x Altura
O cálculo usado para obter esta relação foi o IMC (Índice de Massa Corporal), que
conforme comenta NAHAS (2005) é uma maneira simples e prática de se determinar
se a massa corporal de uma pessoa está dentro do recomendável para sua saúde,
trata-se apenas de uma estimativa razoável da composição corporal.
Os dois grupos pesquisados obtiveram uma maior concentração de alunos com o
IMC dentro dos padrões tido como “Faixa Recomendável” segundo a Organização
Mundial da Saúde, que fica entre 18,5 – 24,9.
Não desconsiderar que o número de alunos com sobrepeso em ambos os grupos
é significativo: 29 no Pólo e 27 nas APEDs. NAHAS (2005) enfatiza que o excesso de
gordura corporal antes de ser um problema estético é um problema de saúde pública
e precisa se visto como tal.
Ginástica Laboral x Exercícios Físicos
Para que os alunos entendessem o que é Ginástica Laboral, antes de
responderem o questionário, foi dada uma pequena explicação sobre o que é esta
forma de ginástica e seus benefícios para o adulto trabalhador como também qual
seria o objetivo deste tipo de ginástica dentro da escola. Dos 81 alunos entrevistados
no CEEBJA Pólo, 64 responderam não conhecer sobre este tipo de ginástica,
enquanto que nas APEDs dos 70 entrevistados, 60 não tinham conhecimento da
mesma.
18
Como comenta FIGUEIREDO & MONT‟ALVÃO (2005), todo profissional que se
propõe a desenvolver um trabalho na promoção da saúde, deve levar em
consideração o contexto cultural e social que envolve este determinado grupo bem
como compreender mais sobre o corpo do trabalhador que será o objeto de sua
intervenção. Para tanto este questionário foi primordial no conhecimento do nosso
aluno.
Prática de Atividade Física
Com relação à prática de atividade física, foi adicionado o resultado da questão do
número de vezes que pratica atividade física bem como a importância que a atividade
física tem para eles. Em ambos os grupos a prática de atividade física é constante.
Dos 81 entrevistados no CEEBJA Pólo, 56 praticam atividade física, enquanto que
nas APEDs este número é ainda maior, dos 70 entrevistados 50 possuem esta prática
e o que é mais interessante, praticam atividade física todos os dias. Mas após diálogo
com várias turmas que responderam o questionário, a conclusão chegada é a de que
estes alunos de ambos os grupos consideram como sendo atividade física a forma e
o meio de que se utilizam para ir ao trabalho, ou seja, a pé ou de bicicleta,
conseqüentemente praticam ciclismo ou caminhada como eles próprios definiram.
Considerando a definição de BARBANTI (1994) que diz ser atividade física todo e
qualquer movimento corporal, produzido por músculos esqueléticos, provocando um
gasto de energia superior aos níveis de repouso, os alunos estão corretos em afirmar
que praticam atividade física, e, portanto, um programa de Ginástica Laboral dentro
da escola só vem complementar a atividade física diária.
Outro dado relevante englobado a esta questão é a importância dada à prática de
atividades físicas, na sua grande maioria definiram como sendo uma prática “muito
importante”. Para LIMA (2005) a prática de atividade física por meio da Ginástica
Laboral é o caminho para que o trabalhador se exercite, descarregando parte de suas
tensões e que também possa descobrir que com o movimento sentir-se-ão muito
melhor fisicamente. Mais um motivo pelo qual a prática da Ginástica Laboral atenda
os anseios de ambos os grupos.
Perspectivas na Vida
Houve uma boa surpresa no resultado obtido nesta questão. Na realização da
fundamentação teórica deste trabalho, a maioria dos autores pesquisados, mostram
alunos da EJA desacreditados em seu potencial, sem muitas esperanças futuras e
descrentes em seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida.
19
As respostas obtidas revelam alunos de ambos os grupos, com “boa impressão
sobre o presente e o futuro”. No CEEBJA Pólo 43 dos alunos entrevistados optaram
por esta alternativa, enquanto que nas APEDs a preferência foi de 45 do total de
entrevistados.
A conclusão obtida é a de que após algum tempo de retorno aos estudos,
percebem que são capazes de superar suas dificuldades, conseguem aprender
coisas novas, a se relacionar, bem como utilizar os recursos disponíveis na
construção da sua felicidade. A contribuição que a Ginástica Laboral dá neste
aspecto investigado é a promoção da sociabilização e motivação.
Hábitos alimentares x regularidade das refeições
Hábitos alimentares com disciplina e regularidade nas refeições são dois itens
diretamente relacionados para que se tenha boa qualidade de vida de qualquer ser
humano. Entendem-se carboidratos como sendo combustível preferido do organismo.
Fornecem a energia necessária às atividades diárias. Os açúcares são carboidratos
simples, pobres como alimento e favorecem o ganho de peso. O amido presente nas
massas, pães em geral, arroz, frutas e legumes, fornece a maior parte da energia
necessária para a manutenção do organismo e para as atividades diárias, afirma
NAHAS (2005).
No CEEBJA Pólo, os alunos afirmaram consumir “altas quantidades de
carboidratos e baixa quantidade de açúcares”, mais precisamente 30 optaram por
esta alternativa, enquanto que 29 alunos afirmaram consumir “quantidade de
açúcares e carboidratos moderados.” Talvez faltou esclarecer melhor o que são os
carboidratos, mas esta questão só vem confirmar o índice de sobrepeso comentado
no início do questionário que só não foi maior devido ao uso da bicicleta e caminhada
para o serviço. Nas APEDs, 33 alunos optaram pela primeira alternativa, ou seja,
altas quantidades de carboidratos e baixa quantidade de açúcares, e 20 alunos
consomem quantidades moderadas de ambos.
Com relação à regularidade das refeições, no CEEBJA Pólo 60 dos 81 alunos
entrevistados afirmaram que costumam fazer as 3 principais refeições diariamente.
Nas APEDs os resultados obtidos foram próximos do Pólo. 53 dos 70 entrevistados
também conseguem fazer as 3 refeições diárias. Este é um bom caminho na
aquisição de hábitos saudáveis de vida.
Fumo
O resultado obtido com esta questão provocou uma agradável surpresa. O dado
levou a acreditar que o consumo do cigarro caiu bastante entre o jovem adulto
20
trabalhador que freqüenta a EJA. A conscientização sobre os malefícios do cigarro se
faz presente na rotina diária dos alunos. No CEEBJA Pólo 55 dos alunos
entrevistados não têm o hábito de fumar, enquanto que nas APEDs este número é de
54 de um total de 70 entrevistados.
Consumo de Água x Saladas e Vegetais x Frituras x Frutas
Devido aos resultados obtidos nestas últimas questões referentes ao consumo
dos alimentos acima citados, percebe-se que se pode qualificar de razoável a bom os
hábitos alimentares desta comunidade entrevistada. A maioria costuma beber mais
água do que os outros sugeridos: suco, refrigerante, café e outros, apesar do café
aparecer em quantidade considerável nos dois grupos entrevistados.
As saladas e vegetais crus estão presentes diariamente nas refeições de 36
alunos do total de entrevistados no CEEBJA, não atingindo 50%, mas uma boa parte
do restante, mais precisamente 25 destes alunos consomem vegetais de 3 a 5 vezes
por semana, este item é considerável para uma boa alimentação. Nas APEDs, 39 dos
alunos entrevistados consomem vegetais diariamente, e para um grupo de 16 alunos
o consumo se limita em 2 vezes na semana.
O consumo de frituras tanto no CEEBJA como nas APEDs aparece no prato dos
alunos na sua grande maioria 2 vezes na semana. Trata-se de uma forma rápida e
fácil de preparar um alimento. No CEEBJA somando o consumo todos os dias com o
consumo de 3 a 5 vezes por semana, obtem-se um dado alarmante, 34 pessoas
consumindo muita gordura, que provoca sérios danos a saúde.
NAHAS (2005) faz um comentário a respeito da gordura, que mesmo
desempenhando funções importantes no organismo, quando consumida em excesso
pode causar sérios distúrbios.
Apesar do IMC dos alunos estar dentro do ideal, deve-se levar em consideração o
índice de sobrepeso também presente no grupo de entrevistados.
As frutas também são bem vindas no cardápio dos entrevistados. Na sua grande
maioria, tanto no CEEBJA com nas APEDs o consumo da mesma é superior a 3
vezes por semana.
Para melhor esclarecer todos sobre hábitos saudáveis diários na busca da
melhoria da qualidade de vida, tanto a Ginástica Laboral como a própria disciplina
Educação Física possuem subsídios e argumentos suficientes. É através de ambas
que se pode conscientizar o aluno adulto da real importância da prática e da teoria
que elas proporcionam, e quem sabe assim distorcer a visão pré-concebida e
21
historicamente adquirida em outros tempos que freqüentaram a escola, ou ainda dar
mais valor ao seu próprio corpo.
2.8 – APLICANDO A GINÁSTICA LABORAL NO CEEBJA
A implementação da Proposta de Ginástica Laboral para os alunos do CEEBJA
teve início em fevereiro de 2008 com a apresentação da mesma a direção, equipe
pedagógica e professores.
Todos foram favoráveis com sua aplicabilidade, pois conhecem a realidade dos
alunos, bem como a importância deste trabalho para suas vidas. Foi dada uma
explanação pela professora idealizadora da proposta sobre o que é Ginástica Laboral
e os benefícios que ela proporciona. Os professores acreditaram, colaboraram e se
envolveram numa abordagem coletiva para que a proposta desse certo.
Para que este projeto alcançasse os objetivos propostos, a implementação
obedeceu alguns passos necessários a sua execução, a seguir:
1º PASSO:
Como a idéia inicial da pesquisa foram os desafios da Educação Física na EJA, mais
precisamente no CEEBJA de União da Vitória, fez-se necessário num primeiro
momento esclarecer o que é a Ginástica Laboral para que a comunidade escolar a
ser beneficiada, conhecesse e assim aceitasse melhor a atividade proposta.
Esta divulgação teve início com a elaboração de um painel montado no corredor
de acesso as salas de aula e de grande circulação de alunos e professores. Neste
painel foi explicado a Ginástica Laboral de uma forma bem ampla: história, aplicação,
benefícios e objetivos. O painel foi montado neste local pelo simples fato de ser este
espaço destinado a informações importantes relativas ao cotidiano da escola,
conseqüentemente os alunos já estão habituados a ler o que ali está exposto.
Paralelo a este trabalho, seguiu-se a explicação nas salas de aula. Com o
consentimento dos professores, a professora usava um tempo de suas aulas
explicando sobre a importância dos exercícios na melhoria da qualidade de vida,
como também de que forma seriam aplicados estes exercícios, em qualquer
momento da aula, independente da disciplina que estava sendo ministrada.
De início percebeu-se que a aceitação foi muito boa.
Nas turmas que estavam tendo a disciplina Educação Física foi possível
esclarecer de forma mais ampla sobre a Ginástica Laboral, por se tratar de um tema
diretamente ligado aos conteúdos propostos pela disciplina.
22
Como a proposta inicial era atender também as APED‟s, a mesma foi apresentada
primeiramente aos professores que se encontram semanalmente às sextas feiras no
momento de hora atividade coletiva. A aprovação foi unânime.
Levar a proposta até as APED‟s desde o início já foi um pouco complicado, pois
todos são distantes entre si e também distante do CEEBJA sede e a professora
idealizadora da proposta dispunha de pouco tempo disponível para atender todos. Foi
possível ir apenas uma vez a alguns destes APED‟s. Com isto ficou limitado à
implementação da mesma apenas no CEEBJA sede.
2º PASSO:
Neste segundo momento elaborou-se um questionário investigativo para
diagnosticar a rotina diária dos alunos do CEEBJA e das APED‟s. Neste questionário
procurou-se informações com relação ao trabalho, alimentação, hábitos saudáveis de
vida e perspectivas em relação ao futuro.
Os dados obtidos foram apresentados neste artigo.
Em todas as etapas de aplicação desta proposta citadas anteriormente, a
professora aproveitava o momento para fazer com os alunos uma sessão de
Ginástica Laboral para ver a aceitação da mesma.
Quando se fala em movimento, exposição do corpo em grupos através de alguma
forma de exercício tem-se ciência de que nem todos concordam ou gostam de
participar, principalmente adulto. Por isso foi importantíssimo estes primeiros contatos
dos alunos com a Ginástica Laboral para que se pudesse avaliar e reorganizar a
forma de aplicação da proposta.
Idealiza-se de início através de uma visão fundamentada teoricamente, concretiza-
se através de uma visão fundamentada também com a prática.
Neste período de implementação, mais ou menos 4 a 5 meses após o início, já era
possível uma análise crítica da mesma podendo assim apontar os pontos positivos e
negativos:
Positivos:
- Aprovação da proposta pelo corpo docente da escola;
- Importância das atividades que fazem parte de um programa de Ginástica
Laboral para alunos adultos trabalhadores;
- Aceitação da proposta pela grande maioria dos alunos;
- Participação efetiva também dos professores durante as sessões.
- Viabilização e continuidade da mesma.
Negativos:
23
- O ponto negativo mais significativo e visível foi a recusa de alguns alunos em
participar dos exercícios propostos na Ginástica Laboral.
Não se pode ser inocente o suficiente para saber e acreditar que nem sempre se
agrada a todos.
- Dificuldades em atender as APED‟s pela localização nos bairros distantes do
CEEBJA centro. Para que a proposta tenha os efeitos benéficos que a Ginástica
Laboral propõe, é necessário um trabalho contínuo, e esta continuidade não foi
possível nas APED‟s.
- Limitação da proposta apenas no CEEBJA.
O início do projeto foi marcado com uma grande aula na quadra esportiva da
escola, convidando alunos, professores e funcionários. Após este “aulão” e também o
que já vinha ocorrendo nas sessões em sala de aula, foi possível fazer um primeiro
diagnóstico da aceitação da proposta na escola.
A partir desta aula a professora repensou a forma de dar continuidade na
aplicação da proposta. Após as férias de julho foi dado um novo formato para as
aulas de Ginástica Laboral.
3º Momento
Este período foi marcado pela mudança no que se idealizou no início do projeto.
Após analisar os pontos positivos, mas principalmente considerar os pontos
negativos, e também, conversar com professores, direção e equipe pedagógica,
optou-se em aplicar as sessões de forma diferente.
Primeiramente concentrar a sessão de Ginástica Laboral apenas no CEEBJA.
Não ficou descartada a aplicação nas APEDs, apenas concluiu-se que é necessário o
envolvimento de mais professores de Educação Física.
No CEEBJA as aulas de Ginástica Laboral agora têm dia, hora e local agendados
para acontecer.
A escola dispõe de um espaço maior que uma sala de aula normal, e é neste
espaço que as sessões acontecem de forma recreativa.
Envolvido com a proposta tem também um professor de Educação Física e dois
estagiários de uma das faculdades locais.
Nesta etapa da proposta, o professor passa nas salas de aula nos dias agendados
convidando alunos e professores que “querem” participar da atividade.
A sessão é realizada duas vezes na semana com duração de 10 minutos, com
possibilidades de passar para três vezes na semana.
24
Já se formou um grupo constante e presente nestas aulas. Alguns destes alunos
já comentam os benefícios que conseguem perceber para o seu corpo, comentários
como:
- Meu joanete não está mais doendo.
Ou:
- Não sinto mais a minha bursite doer. Ou ainda:
- As aulas deixam a gente mais disposta, porque são divertidas e gostosas.
Este grupo que participa constantemente é bem diversificado. Jovens rapazes e
moças, senhoras de meia idade, também alguns mais idosos e professores, todos
gostando muito do que estão fazendo. Como diria Carlos Drummond de Andrade: “A
vida necessita de pausas.” São essas pausas durante as aulas que recarregam as
energias para dar continuidade as próximas atividades.
Percebe-se que nesta forma de atendimento e aplicação é possível atingir os
objetivos propostos no início do trabalho.
Ninguém é obrigado a participar das aulas, o convite é feito a todos, participa
quem quer.
O horário também procura atender quem quer participar. As sessões acontecem
as quartas e quintas, 10 minutos antes de bater o sinal para o recreio. Este tempo
foi autorizado pelos professores e não atrapalha o aproveitamento dos conteúdos
propostos por eles.
Estipulou-se estes dois dias, pois assim atendem-se alunos diferentes, pois nesta
modalidade de ensino nem todos os alunos tem aulas todos os dias.
Com relação ao horário, é possível atender os que chegaram para assistir as aulas
do primeiro horário, ou então atender os que estão chegando para o segundo horário,
bem como beneficiar os que ali permanecem durante todo o período normal de aula.
Desta turma que já se tornou assídua nas sessões, têm-se pedidos tais como:
- Será que não daria para fazer todos os dias?
- Será que não daria para ser um pouco mais longa que os 10 minutos propostos
inicialmente?
Com esta análise geral, o objetivo inicial da proposta que era beneficiar todos os
alunos com a prática da Ginástica Laboral mudou para: “AGRADAR E BENEFICIAR
TODOS QUE QUEIRAM PARTICIPAR DE UM PROGRAMA DE GINÁSTICA
LABORAL TRAZIDO PARA DENTRO DA ESCOLA.” (grifo meu)
25
Algo imposto, mesmo que necessário para uma melhor qualidade de vida, nem
sempre é bem vindo, principalmente quando se tratam de alunos adultos
trabalhadores com conceitos e opiniões formadas.
A aula não é feita apenas de alongamentos. Utiliza-se sempre a música, dos mais
variados gêneros musicais, tornando-se assim mais alegre. Exploram-se movimentos
básicos de ritmo e coordenação motora.
As músicas nacionais e bem populares são as preferidas, pois assim pode-se
acompanhar dançando e cantando, com alegria por estarem ali naquele momento.
A proposta já esta sendo requisitada para ter continuidade no próximo ano.
Uma proposta de Ginástica Laboral na escola vai além do proposto nas empresas.
Trabalha-se ali com pessoas com realidades e necessidades de vida bem diferentes,
mas todos com algo em comum: QUALIDADE DE VIDA.
Esta proposta visa também elevar a autoestima do aluno adulto trabalhador, que
só agora teve a oportunidade de retornar aos estudos.
É se fazendo o que gosta e não o que se é obrigado a fazer que as realizações
acontecem levando a melhoria da qualidade de vida.
4º Momento:
Analisar, reorganizar e viabilizar a continuidade deste trabalho para o ano
seguinte, sempre com o objetivo de proporcionar melhorias na qualidade de vida dos
alunos da EJA.
2.9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na busca de fornecer aos alunos do CEEBJA de União da Vitória, PR através da
Educação Física atividades agradáveis, bem como conhecimentos e subsídios para a
melhoria da qualidade de vida, para desmistificar o descrédito na disciplina, a
aplicação da proposta levou as seguintes conclusões:
O ingresso muito cedo no mercado de trabalho influenciou em alguns pontos
relacionados diretamente com os conhecimentos específicos da Educação Física.
1 - Abandonar os estudos no tempo cronológico correto tirou deste aluno a
possibilidade de adquirir conhecimentos sobre a importância da atividade física para o
corpo humano. Conteúdos voltados para a área da cultura humana na disciplina
Educação Física e que são abordados também em outras disciplinas.
26
COLETIVO DE AUTORES (1992) confirma quando aborda a necessidade da
reflexão sobre a cultura corporal, afirmando ser este conhecimento “patrimônio da
humanidade”, devido à extensão de sua importância.
2 - Levou o aluno da EJA a adquirir um conceito de corpo como mero instrumento
de trabalho, deixando de lado seus momentos de lazer. Transformou-o em uma
máquina humana como afirma CODO&SENNE (2004) o homem é um “transformador
do mundo.”
A Ginástica Laboral na EJA dentro do conteúdo estruturante “Ginástica” entra
neste contexto como uma opção de respeito a este corpo tão desconsiderado em
suas necessidades, desvencilhada de parâmetros obrigatórios e apologias de culto ao
corpo conforme se observa nas DIRETRIZES CURRICULARES (2006).
Adaptar a Ginástica Laboral para a EJA de maneira recreativa, vem de encontro com
as necessidades do aluno trabalhador, portanto os seus benefícios citados por LIMA
(2005), só fazem colaborar para a melhoria da sua qualidade de vida.
3 - Outro agravante para o descrédito na disciplina esta ligado diretamente ao
sedentarismo e a comodidade que o ser humano adulto já adquiriu ao longo da vida.
Qualquer atividade relacionada ao movimento corporal, automaticamente é
relacionado a um suposto gasto de energia desnecessário, conseqüentemente
levando ao cansaço, a dor como afirma MOLL (2005).
A partir da relação estabelecida entre as contribuições dos autores e
pesquisadores citados com o que nos apresenta a prática diária do aluno da EJA, e
analisando como foi a aceitação dos alunos a respeito da Ginástica Laboral adaptada
para a escola, pode-se concluir que não existe “fórmula milagrosa” convincente que
faça o aluno adulto incorporar uma rotina diária de atividades físicas na sua vida.
A Ginástica Laboral no CEEBJA foi fundamental e muito importante para os alunos
que já possuem por si só uma preocupação com a saúde, independente de praticar
ou não alguma atividade física fora do âmbito escolar. Esses alunos sentiram os
benefícios por ela proporcionados durante todo o ano em que a proposta foi aplicada
conforme depoimentos citados.
FIGUEIREDO&MONT‟ALVÃO (2005) confirmam este fato ao comentarem a
respeito dos objetivos da Ginástica Laboral, dizendo ser uma prática de livre e
espontânea vontade.
Para estes alunos a disciplina Educação Física tem real valor e importância como
qualquer outra da grade curricular.
27
Para o aluno adulto trabalhador que não conhece e também não quer conhecer os
benefícios que a prática de uma atividade física, por menor que seja, pode lhe propor
e, além de tudo é adepto do sedentarismo e do comodismo, bem como já formou uma
opinião bem clara sobre o que quer para sua vida, por melhor que seja um programa
de Ginástica Laboral, não será possível convencê-lo da importância da mesma na
sua qualidade de vida.
Portanto, pode-se perceber que não é a disciplina Educação Física que está
desacreditada, mas sim o comodismo e a falta de vontade de executar qualquer
movimento, que acompanha o ser humano adulto em várias esferas e não só na EJA,
é o grande responsável pelos desafios encontrados no CEEBJA.
O ser humano adulto que já possui conhecimentos e atitudes, que compreende as
relações da atividade física com a saúde e qualidade de vida, procura sempre estar
envolvido com as práticas corporais propostas na escola, assim sendo, incorporá-los
de forma que se torne um hábito, provocando mudanças de atitude consigo próprio e
com seus familiares.
É compromisso e responsabilidade da EJA oferecer uma educação formal de
qualidade aos alunos que buscam nesta forma de ensino a conclusão de seus
estudos. Compromisso assumido em todas as disciplinas, inclusive a Educação
Física que procura além de fornecer os conhecimentos propostos nas Diretrizes
Curriculares, transferir estes conhecimentos de forma agradável, prazerosa,
recreativa e divertida.
A intenção é a de que a proposta de Ginástica Laboral adaptada para a EJA no
CEEBJA de União da Vitória tenha continuidade, nos moldes que vem acontecendo,
pois são muitos os alunos que encontraram nesta forma de se exercitar motivos
suficientes para continuar praticando essas atividades.
Diante desta perspectiva fica evidente que o mais importante nesta proposta
aplicada ao longo deste ano, foi agradar e beneficiar os alunos que se engajaram a
ela, usufruindo de maneira saudável os benefícios que a mesma proporcionou,
superando os desafios encontrados e estando preparados para encarar novos
desafios que a vida sempre está oferecendo.
28
3 - REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Disponível em: http://www.mepeldigitus.com/abnt.html acesso em: 27/11/2008.
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