educação e espiritualidade: introdução à animagogia
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8/14/2019 Educao e Espiritualidade: introduo Animagogia
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Educao e Espiritualidade:
Introduo animagogia
(terceira edio revista e ampliada)
Adilson Marques
So Carlos/SP
Fevereiro de 2013
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Sumrio
Apresentao
Captulo 1 Como surgiu a Animagogia?
Captulo 2 Metania: libertar-se das verdades criadas pelo ego para a plena manifestao
dos atributos do esprito
Captulo 3 A mediunidade e os demais recursos complementares da Animagogia
Captulo 4 perguntas e respostas: A Animagogia na prtica
Consideraes finais
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Apresentao
Apesar de no ter a pretenso de ser uma obra acadmica, este livro foi escrito a partir
da integrao de dois campos da experincia humana vivenciados por mim nas ltimas duas
dcadas: a cincia e a espiritualidade.
Durante minha vida acadmica - mestrado (1996) e doutorado (2003) - investiguei
temas como a memria; a formao dos apegos e das averses que sentimos pelas pessoas,
objetos ou lugares; o processo de construo da realidade no crebro humano; as diferenas e
similaridades entre o micro e o macro cosmos etc. Esses estudos, porm, ao invs de me levar
ao ceticismo convencional com o transcendente ou ao atesmo que predomina na mente dos
pesquisadores acadmicos, despertou meu interesse pelo estudo da realidade invisvel e
inefvel, ou seja, daquela que, apesar de existir e nos envolver, no capaz de sensibilizar o
nosso crebro e, portanto, transformar-se em realidade para ns. Em suma, o mundo dos
espritos ou dos seres incorpreos libertos do jugo dos cinco sentidos.
Este interesse surgiu a partir de algumas experincias inslitas, vivenciadas a partir de
1999. Para tentar compreend-las, passei a estudar os ensinamentos espiritualistas (que desde
2003 venho chamando de Psicosofias) de alguns mestres da humanidade como Lao Ts,
Krishna, Buda e Jesus.
No gosto de classificar os ensinamentos que eles nos legaram de Psicologia ou de
Filosofia, como acontece rotineiramente. Os ensinamentos que deixaram so universais e
atemporais e se chocam com o que hoje o meio acadmico convencionou chamar de
Psicologia ou de Filosofia. Alm disso, ao afirmar que eles formularam Psicosofias, ou seja,
sabedorias espirituais, manifesto tambm a distncia que existe entre os ensinamentos e aspraticas religiosas de seus discpulos.
Em outras palavras, podemos afirmar que as diferentes seitas taoistas no foram
criadas por Lao Ts, apesar de beberem em seus ensinamentos ou parte deles, todos
presentes no clssico Tao Te Ching. Da mesma forma, as diferentes doutrinas e rituais
hindustas no foram criadas por Krishna, apesar de muitas se basearem em seus
ensinamentos, presentes na Baghavad Gita. J as diferentes seitas budistas, do passado ou do
presente, com seus rituais e representaes diversificados no foram criadas por Sidarta, o
Buda, apesar de todas elas partirem de seus ensinamentos (dharma) para a libertao do Ego
e, consequentemente, da roda das encarnaes (samsara). Por fim, Jesus, o mestre espiritualmais conhecido e venerado no Ocidente, apesar de tambm ter nascido no Oriente, no criou
as religies crists, nem seus inmeros rituais ou doutrinas. Ele apenas exemplificou, em sua
vida humanizada, as trs dimenses do amor incondicional (a benevolncia, a indulgncia e o
perdo), demonstrando como amar de forma desinteressada e universal.
Enfim, em seus ensinamentos, encontramos que possvel passar pelas vicissitudes da
vida humanizada sempre com equanimidade, sem que nossa felicidade (paz de esprito) seja
abalada, independentemente do que aconteceu no passado, acontece no presente ou
acontecer no futuro, no importando se a experincia vivenciada foi agradvel ou
desagradvel, prazerosa ou no. Assim, a compreenso e a vivncia plena destas quatroPsicosofias universais nos ajudam a passar pela existncia humana sem que nada abale nossa
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paz interior. E isso ressuscitar, viver desperto ou iluminado mesmo estando preso a um
corpo denso e realidade ilusria criada a partir dos cinco sentidos.
Em outras palavras, mesmo humanizado, ou seja, mesmo sendo um esprito eterno
passando por experincias humanas, possvel vivenciar o reino de Deus ou o nirvana no
aqui e agora. Ou seja, possvel ser feliz e vivenciar a bem-aventurana que todos os mestresprometeram.
Este parece ser um longo e difcil caminho, mas no . Basta sentirmos em nosso
corao (alma) o poder e a presena da inteligncia suprema, da causa primria de todas as
coisas (que podemos chamar ou no de Deus, Tao, Al, Tup etc.). A felicidade, ao contrrio da
alegria e da euforia, no depende de condies externas. Ela j se encontra dentro de cada
um. Porm, iludidos pela conscincia invertida que o Ego, passamos a busc-la fora de ns
(nas pessoas, nos objetos, nas religies etc.). E o mesmo vale para o Amor. Ao se abrir para
essa realidade inefvel e indizvel, como uma gota no oceano, deixamos de racionalizar sobre o
amor e passamos a viv-lo plenamente, tanto a si como ao prximo. E esse processometanoico acontece sempre que conseguimos integralmente nos sintonizar com nossa
divindade interior (conscincia espiritual).
por isso que o amor pleno ou universal no encontrado no ativismo religioso
desenfreado. A pessoa que busca um contato profundo com o sagrado, jamais o encontrar
nos estmulos exteriores promovidos pelas mais diversas agremiaes religiosas. Inclusive,
podemos constatar que justamente nos momentos que no nos amamos e estamos em
conflito que passamos a buscar no ativismo religioso alguma resposta para nossas angstias
espirituais. Essa corrida para buscar fora de ns o que no encontramos em nosso interior
passou a ser chamada por algumas religies de evoluo espiritual.
Dentro deste contexto, evoluir espiritualmente seria fazer obras materiais, que podem
ser das mais diferentes maneiras: entregar panfletos de porta em porta, dar po com manteiga
para mendigos, dar roupas e brinquedos para crianas carentes, participar de trabalhos
medinicos, praticar yoga ou outra atividade corporal sagrada, deixar de comer carne ou de
fazer sexo etc.
Porm, para se conectar com Deus e com o nosso esprito, com o nosso verdadeiro
Ser, basta vivenciar com amor tudo o que estiver acontecendo neste exato momento de nossa
vida humanizada. Assim, enquanto as religies determinam horrios para praticar caridadeou cuidar do esprito, quem realmente busca sua iluminao, vive para o esprito 24 horas por
dia e sem ativismo exterior nenhum, expandindo o Eu interior atravs do desabrochar do
amor universal, como faz a semente que ir se constituir em frondosa rvore.
E quando estamos em paz, quando nada exterior nos ilude ou abala nossa felicidade,
deixamos de ver inimigos (pois iremos compreender o outro, no importando o que ele falou
ou fez, como mais um esprito humanizado buscando vencer as verdades criadas em seu ego),
deixamos de nos ofender (uma vez que ningum capaz de nos ofender, pois somos ns que
permitimos ou no nos sentir ofendidos ou injustiados), e deixamos de ter a necessidade de
criar idolatria a pessoas (encarnadas ou desencarnadas) e a doutrinas (para nos agarrarirracionalmente). Liberto de todos os condicionamentos exteriores, deixamos de ter apego ou
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averso quilo que existe ou acontece no mundo captado pelos cinco sentidos e transformado
em realidade em nosso crebro. Ao nos desapegar da matria, dos sentimentos, da cultura e
do nosso prprio personagem (ego) conseguimos expressar as foras espirituais que j se
encontram em nosso interior: o verdadeiro amor, a felicidade incondicional e a F.
Toda essa reflexo me fez lembrar uma passagem da vida de Mahatma Gandhi. Certavez, ele foi procurado por dois europeus interessados em evoluir espiritualmente. E para
satisfazer o desejo deles, Gandhi pediu para que iniciassem varrendo o ptio do ashram. Aps
o trmino dessa tarefa, solicitou que descascassem batatas e rachassem lenha. Aps o almoo,
a tarefa foi limpar as privadas com creolina. Os servios no ashram continuavam nos dias
seguintes da mesma maneira at que um deles tomou coragem e foi falar com Gandhi. O
europeu queria saber quando teria incio o trabalho de evoluo espiritual. Ao ser informado
que o trabalho j estava sendo feito, o homem quis saber quando a iniciao deles terminaria.
E Gandhi respondeu, amorosamente: Quando vocs passarem a fazer com boa vontade tudo
o que at agora fizeram com m vontade!.
Esse ensinamento de Gandhi demonstra que no precisamos fazer nada de
excepcional para evoluirmos espiritualmente, basta fazermos nossas atividades cotidianas
com amor e boa vontade; tanto aquelas que nos do prazer como aquelas que no gostamos,
mas somos obrigados a fazer. Por exemplo, se a pessoa vive a experincia de ser professor, ela
estar evoluindo espiritualmente quando preparar e ministrar suas aulas amorosamente, sem
acusar o governo, a direo da escola, os alunos, o salrio etc. por seus sofrimentos. E se a
pessoa vive a experincia de ser mdico, ir evoluir sempre que atender com amor os seus
pacientes. E isso vale para toda e qualquer atividade. Aquele que recolhe amorosamente e
com gratido o lixo das casas ou limpa latrina evolui espiritualmente, porm, aquele que
frequenta missas catlicas ou d passes em centros espritas por obrigao ou com vaidade
no evolui, ou seja, no aumenta sua quantidade de talentos.
E o que estamos chamando de Animagogia apenas um procedimento educativo que
ajude a estimular a metania, ou seja, ajude a despertar o esprito eterno do sono hipnaggico
da encarnao. E este processo no possui relao com nenhuma religio.
Enquanto proposta educativa que visa uma mudana interior e no exterior, a
Animagogia no prescreve nenhum ato exterior, no classifica o mundo em sagrado e profano,
nem os espritos em superiores e inferiores e muito menos as religies como certas e erradas.
Todo o foco da Animagogia voltado para despertar o esprito da iluso criada pelos
atributos do ego e que o impedem de viver feliz, amorosamente e em paz. Por isso, ao invs
de prescrever atos, a Animagogia apenas vai realar que a atitude amorosa que permite que
a nossa alma eterna brilhe, iluminando nossos atos e nos dando a sensao de plenitude e de
bem-aventurana prometida pelos mestres, mesmo quando o mundo exterior nos parea
catico e corrompido.
A plenitude espiritual nos permite conviver e agir com equanimidade em todas as
situaes e no precisamos nos isolar de pessoas ou lugares que so classificados como
impuros ou negativos. Como a Flor de Ltus que no se contamina com a impureza dolodo, podemos ser como Gandhi que foi ao encontro dos parias da ndia, morando e
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convivendo com eles, enquanto a cultura dominante daquele pas era de isolamento e
excluso. Ou como Jesus que almoava com as prostitutas e com os bandidos, sem
discriminao ou ojeriza. Assim, como eles, podemos vivenciar o reino de Deus no cotidiano,
sentir no corao o nirvana dos budistas ou a bem-aventurana prometida por Jesus.
Estamos caminhando para um novo momento da histria em que o desabrochar doHomo spiritualis inexorvel, favorecendo a criao de uma nova mentalidade capaz de
integrar a cincia e a espiritualidade. E o que caracteriza o Homo spiritualis sua busca pelo
(re)envolvimento humano. Tanto (des)envolvimento na modernidade fragmentou o mundo e
quase no percebemos a interconexo entre a sociedade e a natureza, o corpo e a alma, entre
outras polaridades que insistimos em transformar em dicotomias.
E foi dentro deste contexto ps-moderno ou de (re)envolvimento que nasceu e vem
amadurecendo a Animagogia, uma proposta de educao transreligiosa e universalista que
estamos colocando em prtica desde 2003 na ONG Crculo de So Francisco, na cidade de So
Carlos/SP, com poucos recursos, mas com muito amor, otimismo e perseverana. E sempreenfatizando que a metania um processo pessoal e intransfervel e que no feito de atos
exteriores, mas de atitudes interiores. Claro que isso no nenhuma novidade, pois j
afirmava Paulo de Tarso h quase dois mil anos atrs:
Se eu falar as lnguas dos homens e dos anjos, e no tiver amor, serei como o bronze que soa
ou como o cmbalo que retine. Se tiver o dom da profecia e souber todos os mistrios e todas as
cincias; e se tiver f a ponto de remover montanhas e no tiver amor, nada sou. Se distribuir
todos os meus bens em sustento dos pobres e se entregar meu corpo para ser queimado vivo,se no tiver amor, nada me aproveita. O amor longnime, benigno. O amor no invejoso
(ciumento), no se vangloria, no se envaidece, no poria inconvenientemente, no busca os
prprios interesses, no se irrita, no suspeita mal, no se regozija com a injustia, mas com a
verdade: tudo suporta, tudo cr, tudo espera, tudo sofre (1 Cor. 13:1-7).
Nas pginas seguintes vamos apresentar a origem da Animagogia, o seu desenrolar ao
longo destes 10 anos de histria, e compreender seus pressupostos e objetivos enquanto uma
educao espiritual sem finalidade doutrinria ou proselitismo, mas que transita,
evidentemente, pelos ensinamentos (Psicosofias) de vrios mestres.
Talvez esta terceira edio do livro ainda no seja a definitiva. Mas sinto que, pela
primeira vez, consegui passar para o papel o que tentamos colocar em prtica na ONG Crculo
de So Francisco. E a grande motivao para esta reviso foi o sucesso do II Encontro de
Animagogia do Nordeste, que aconteceu na cidade de Natal/RN, entre os dias 3 e 10 de
fevereiro de 2013, quando fui convidado pelo Grupo Espiritualista Auta de Luz, em parceria
com outras organizaes, para expor os assuntos tratados neste livro em cinco palestras, e o
convite para ser entrevistado no dia 21 do mesmo ms por um pesquisador de Piracicaba,
expondo melhor a Animagogia. A entrevista, na ntegra, se encontra no youtube, no canal
Jeffeson Viscardi.
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Foram tantos os questionamentos nestes dois eventos que fiquei entusiasmo e com
vontade de revisar totalmente o livro, tornando-o menos acadmico e, ao mesmo tempo, mais
esclarecedor. Mesmo assim, acredito que ainda h falhas. Por isso, toda crtica, sugesto ou
dvidas sero sempre bem-vindas.
So Carlos, 24 de fevereiro de 2013
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Reiki e me ofereci para ensinar a TVI gratuitamente para outros reikianos. Ele me impediu de
fazer isso, afirmando que somente mestres de Reiki poderiam criar novas tcnicas e ensinar.
Como eu no tinha ainda esse ttulo no poderia passar adiante a tcnica que eu havia intudo,
mas ele me convidou para ser iniciado como mestre de Reiki (curso que na poca ele
cobrava cinco mil reais). Depois de tanto pensar, aceitei fazer o curso pagando o valor em dez
parcelas.
Porm, outro fato inslito aconteceu na vspera do curso, em meados de 2001. Eu
estava na Encantos da Lua quando dois jovens apareceram. Na poca eles tinham um pouco
mais de 20 anos de idade. L, eles disseram que gostariam de conhecer o espao e as
atividades. Mostrei todas as dependncias da casa com os locais onde se tinha aula de Hatha-
Yoga e Tai Chi Chuan, a sala de Reiki, a de Massagem, o quintal onde vivncias de Danas
Circulares e jogos cooperativos aconteciam etc.
Eles tambm me pediram para conhecer o Reiki e fomos at a sala para uma sesso.
Como tnhamos duas macas, ambos foram atendidos simultaneamente e, logo em seguida, umdeles contou que era mdium kardecista e que foram at l porque um esprito gostaria de
falar comigo. Segundo eles, foi o suposto esprito quem tinha passado o meu nome e o
endereo do centro.
Inicialmente no acreditei na histria, mas achei-a interessante. Perguntei sobre o que
precisava fazer para conversar com o esprito e o mdium, serenamente, afirmou: eu vou
incorporar o Dr. Felipe e vocs podero conversar.
Em poucos minutos, o mdium entrou em transe e o Dr. Felipe, com um sotaque
alemo, comeou a falar comigo. Disse que j me conhecia de outras encarnaes e passouvrias informaes que na hora eu no entendi. Por exemplo, ele disse que eu havia sido
exilado de Capela e que trabalhvamos na equipe do Dr. Bezerra de Menezes. Eu no tinha
nenhuma ideia do que ele estava falando, mas fui surpreendido quando ele disse que, se eu
quisesse, no precisaria fazer o curso para me tornar mestre de Reiki, pois ele poderia me
ensinar tudo o que era necessrio para energizar as pessoas. Tambm fez referncia a tcnica
que eu tinha criado, dizendo que ele tinha me intudo.
Essa informao me desconcertou, pois ningum sabia que eu pretendia fazer o curso
para ser mestre de Reiki e os dois mdiuns no conheciam a histria da TVI. E, mais que
depressa, aceitei o convite daquele ser incorpreo. Antes de se despedir, o esprito pediu paraeu combinar com o mdium encontros semanais de aproximadamente duas horas para
comearmos os estudos.
Assim, durante um ano e meio, aproximadamente, fizemos reunies semanais onde
conversvamos sobre diferentes terapias naturais, integrativas e complementares. No vou
me alongar neste assunto, pois esta histria j foi descrita em outros livros. O importante
agora salientar que este esprito me convidou tambm para assistir as reunies de
doutrinao que o mdium organizava semanalmente e me perguntou se eu poderia
escrever um livro a respeito. Achei a ideia genial e tambm participei das reunies de
doutrinao durante alguns anos.
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As duas experincias aconteceram paralelamente e ajudaram a fundamentar,
respectivamente, a Espiritologia e a Animagogia. E esta ltima que passo a descrever a partir
agora.
Depois de anotar tudo o que acontecia na sala e refletir muito, j tendo lido alguns
livros espiritistas sobre o tema, me senti preparado para escrever o livro. Porm, antes decomear, perguntei ao esprito se eu precisaria fazer apologia ao espiritismo, como faziam os
livros que eu tinha lido, ou se eu poderia escrever do meu jeito, de forma neutra e sem
preocupao religiosa. E o esprito me motivou falando: Voc filsofo, no esprita. Por
isso, vai escrever como filsofo, do seu jeito.
Isso me tranquilizou muito e me senti a vontade para reinterpretar a experincia.
importante salientar que neste momento da minha existncia eu j no me questionava mais
se existiam ou no espritos. Para mim eles se tornaram reais e passei a aceitar a reencarnao
e a existncia de Deus como fatos naturais. Porm, alguma coisa na doutrina esprita no me
agradava e eu continuava sentido mais afeio pelas doutrinas orientalistas. O conceito deego, presente nelas, era de fundamental importncia para mim e a chave para explicar os
fenmenos que eu presenciava nas reunies de doutrinao.
Assim, ao contrrio do espiritismo que no distingue o esprito eterno do ego
(conscincia humanizada necessria para cada nova encarnao), passei a interpretar que o
problema de muitos espritos que se transformavam em obsessores ou que ficavam vagando e
sofrendo dentro de suas casas era o fato deles no terem se desligado ainda do ego. Eles
estavam desencarnados, mas ainda pensavam como seres humanos e no como espritos
eternos.
E assim nascia a primeira conceituao de Animagogia. Eu havia criticado o uso do
termo doutrinao e tinha classificado aquela experincia com o nome de Animagogia, uma
vez que estvamos diante de um processo de educao espiritual de seres incorpreos ainda
iludidos pelo ego vivenciado na ltima encarnao.
E, na Animagogia, a relao entre os espritos passou a ser pensada de forma
horizontal e no mais vertical, como aparece na definio proposta por Kardec, classificando
os espritos em superiores e em inferiores. Na minha tica, todos os espritos so iluminados,
porm, nem todos conseguem manifestar sua luz interior devido a iluso criada pelo ego.
E essa concepo terica foi ficando mais precisa e evidente quando comeamos um
profcuo debate com um preto-velho chamado pai Joaquim de Aruanda e com a insero das
tcnicas apomtricas nos atendimentos de Animagogia.
Pai Joaquim de Aruanda nos apresentou uma metfora que foi muito elucidativa e
corroborava com nossa opinio. Ele dizia que todos os espritos eram como lmpadas de 100
watts, pois todos foram criados iguais por Deus. Porm, da mesma forma que o excesso de
sujeira envolta de uma lmpada faz com que diminua o seu brilho; no caso do esprito, a
sujeira que o impediria de brilhar seria o ego. Essa metfora veio na hora certa e estava de
acordo com o que procurvamos fazer em nosso trabalho de Animagogia: despertar o esprito
eterno para poder reluzir intensa e plenamente.
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Em uma viso evolucionista, como a kardequiana, poderamos pensar que o esprito
seria criado como uma lmpada de 1 Watt e, aps passar por vrias vicissitudes, em diferentes
encarnaes, vai, gradativamente, evoluindo, se tornando uma lmpada de 2, 5, 10... at
atingir a marca de 100 Watts quando se tornaria um esprito puro. Na perspectiva da
Animagogia, semelhante a que nos foi apresentada por pai Joaquim de Aruanda, a pureza est
na essncia do esprito e ela se manifesta tirando o excesso de sujeira agregada a ela, o
chamado ego.
Coincidncia ou no, as reunies com o Dr. Felipe para estudar o Reiki e as que
estavam me ajudando a fundamentar a proposta da Animagogia terminaram no final de 2002.
Neste mesmo perodo eu estava terminando a minha pesquisa de doutorado, defendida em
maio de 2003, na USP. O problema que eu sabia que em breve ficaria sem a bolsa de estudos
e como a Encantos da Luz s funcionava graas a ela, tivemos que fechar o Centro , encerrando
todas as atividades.
No lugar dela, criamos, em maro de 2003, em minha residncia, uma organizaomais modesta chamada ONG Crculo de So Francisco Instituto de Animagogia. Ao contrrio
da anterior, que tinha muitas atividades, o foco desta organizao centrou-se no atendimento
com o Reiki (para os encarnados) e o de Animagogia (para os desencarnados).
At meados de 2005, o termo Animagogia foi utilizado apenas para se referir a este
trabalho de auxlio aos espritos iludidos pelo ego. Porm, numa certa ocasio, me veio
mente a seguinte ideia: por que no praticar tambm a Animagogia com os encarnados? Por
que esperar o esprito desencarnar e ser trazido para uma reunio medinica para ser
esclarecido? Por que no tentar demonstrar para os encarnados este fato, poupando-lhe do
sofrimento no futuro?
E assim o termo Animagogia se ampliou, passando a caracterizar tambm um
programa transreligioso de Educao Espiritual para encarnados, fundamentado na Psicosofia
de vrios mestres e que utiliza vrios recursos (reiki, yoga, tai-chi, danas circulares,
apometria, hipnose, dilogo com espritos, constelao familiar etc.). Nenhuma atividade
teraputica ou espiritualista considerada no-doutrinria em um trabalho de Animagogia.
Mas toda e qualquer tcnica teraputica precisa ser utilizada como meio para o processo
metanoico e no como um fim em si mesmo.
Se no tivermos essa clareza, apenas criamos uma nova dependncia, um novo apego.E esse risco sempre existe, pois uma das artimanhas do ego para iludir o esprito ao invs de
libert-lo.
No prximo captulo apresentaremos o conceito de ego utilizado na Animagogia e
tambm quais so os atributos do esprito para melhor compreenso da proposta educativa
aqui apresentada.
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Captulo 2 Metania: libertar-se das verdades criadas pelo ego para a plena
manifestao dos atributos do esprito
O objetivo central da Animagogia auxiliar no desabrochar do processo metanoicoque, em outras palavras, consiste em libertar-se das verdades criadas pelo ego (conscincia
humanizada) para que os atributos do esprito possam se expressar plenamente em nossa vida
cotidiana. Mas, para isso, precisamos compreender o conceito de ego na proposta da
Animagogia e no confundi-lo com o de outros enfoques, por exemplo, o da Psicanlise.
Primeiramente, temos que partir do pressuposto que somos espritos eternos
passando por mais uma experincia humanizada. E, ao contrrio do que algumas doutrinas
religiosas afirmam, encarnar no apenas ligar o esprito a um corpo fsico, mas, sobretudo,
a uma conscincia humanizada.
Em outras palavras, no enfoque da Animagogia, o esprito no tem sexo, raa,
nacionalidade, gnero etc. Porm, antes de encarnar, ele escolhe um gnero de provas. Em
funo dessa escolha ele vai encarnar em um determinado pas, em uma determinada raa,
em um determinado grupo tnico-cultural, com um determinado sexo e assim por diante. E o
ego a conscincia humanizada que far com que o esprito acredite que homem ou mulher;
negro, branco, amarelo ou vermelho; brasileiro, africano, europeu ou asitico... e sofra com as
vicissitudes vivenciadas por esta personagem, deixando que seus atributos (vontade,
pensamento, capacidade de amar, de ser feliz e ter f) fiquem ofuscados e, ao perder sua paz
interior, passa a alternar euforia e desespero diante das vicissitudes da vida humanizada.
Quem tem alguma noo da doutrina esprita, assim como dos ensinamentos
presentes na Baghavad Gita e nos sutras de Buda vai perceber que o pargrafo acima rene
aspectos de todas essas Psicosofias. Porm, um espiritista, um budista e um hindusta podem
no concordar com o enfoque apresentado acimajustamente por fazer essa mistura
doutrinria. O pressuposto que antes de encarnar um gnero de provas escolhido
voluntariamente pelo esprito um dos ensinamentos da doutrina esprita. Esta afirma ainda
que, aps a encarnao, o livre-arbtrio do esprito passa a ser moral e no material.
Muitos espiritistas, porm, escrevem que apesar de existir essa escolha e at mesmo
um planejamento reencarnatrio, o esprito aps a encarnao pode optar em mudar
totalmente o rumo de sua vida, no seguindo o planejamento que foi escolhido por ele.
Porm, para o esprito pai Joaquim de Aruanda isto no pode acontecer, pois afetaria o livre-
arbtrio dos demais espritos encarnados e que tambm escolheram suas provas antes de
encarnar. Pai Joaquim de Aruanda enftico em defender que, aps a encarnao, nosso livre-
arbtrio seria apenas moral, no sentido de escolher o sentimento com o qual passaramos por
determinadas situaes, previamente escritas.
Essa questo no discutida pela Animagogia. Ou seja, no importa se o esprito pode
mudar o que planejou no mundo espiritual ou se os fatos vo acontecer em funo das
escolhas feitas anteriormente. Para a Animagogia o importante como agir e reagir diante das
vicissitudes da vida. Assim, como ensina Krishna para Arjuna na Baghavad Gita, o importante
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vivenciar nossa encarnao com equanimidade, no alterando euforia ou desespero diante das
vicissitudes positivas ou negativas da existncia humana.
Por isso, independentemente dos fatos j estarem escritos ou acontecerem por acaso
ou pela imprudncia de algum, o importante a atitude que vamos manifestar diante deles. E
a melhor atitude manter sempre o foco da ateno no presente, no aqui e agora, deixandode remoer o passado e no se pr-ocupando com o futuro.
E quais seriam os atributos do ego, ou seja, da conscincia humanizada, capazes de
tirar a paz do esprito durante sua encarnao? Mas para falar de seus atributos, precisamos
saber, primeiramente, o que o ego. Utilizando os recursos contemporneos, podemos dizer
que o ego como um programa de computador capaz de criar a realidade imaginria a qual o
esprito ser ligado. O ser humano passa a ser o avatardo esprito que, como se entrasse em
um transe hipntico, perde sua conscincia real e passa a agir e a pensar como um ser
humano, imaginando que um corpo fsico que pensa, tem sensaes e emoes, alm de ter
uma nacionalidade, uma raa, um gnero, um time de futebol etc. apegando-se ou tendoaverso s coisas que acontecem neste mundo fictcio chamado de maya pelos hindus.
Em suma, o ego no faz parte do esprito e nem uma coisa do mal. Mas podemos
dizer que ele uma coisa diablica, no sentido grego deste termo: algo que separa. Em suma,
o ego como um programa de computador criado para participarmos de um jogo chamado
encarnao. Somos ligados a esse programa que nos separa do Todo com um nico objetivo:
provarmos para ns mesmos (esprito) e para mais ningum que podemos ser mais fortes que
ele. Ou seja, que somos capazes de no nos iludir com as verdades provisrias que ele cria e,
frequentemente, relacionadas com poder, sexo e dinheiro.
Encarnar para o esprito como viver dentro de uma Matrix(mas, ao contrrio do
filme, o mundo real ou espiritual muito melhor que este) ou participar de um programa
como o Big Brother, onde tudo o que fazemos, pensamos e sentimos est sendo visto por
milhes de espectadores que se divertem e devem dizer: quem eles pensam que esto
enganando?.
Sendo a encarnao um jogo, ele tem regras. E ela muito simples: libertar-se das
verdades que o ego cria, e que estimulam o orgulho, a vaidade e o egosmo, para agir neste
cenrio virtual com os atributos do esprito, entre eles, o amor, a felicidade e a f. E para
alcanar esse objetivo so necessrias vrias encarnaes. Segundo o esprito Pai Joaquim deAruanda, a mdia de tempo para se vencer esse jogo de 7 mil anos. Ou seja, neste perodo
passamos por muitas encarnaes, experimentando as vicissitudes de existir ligado a um corpo
de homem ou de mulher, em raas e culturas diferentes, mas sempre em busca do mesmo
objetivo: no acreditar nestas verdades ilusrias e passar por todas as vicissitudes da
experincia humana com equanimidade, no emanando outra energia que no seja a do amor
universal.
Uma das melhores metforas para entender essa relao entre o esprito e o ego a
vida do artista. Este, ao longo de sua carreira, interpreta vrios papeis. Por exemplo, o mesmo
ator pode, em uma novela, representar o papel de irmo mais velho de outro ator e, numaoutra, ser o pai daquele outro. Em uma novela ele pode se casar com uma determinada atriz
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que, em outra novela, representou o papel de sua irm mais velha. Em suma, as relaes
familiares tambm so criaes do ego. O esprito antes de encarnar tambm escolhe com
quem vai se relacionar, definindo quais espritos vo futuramente viver o papel de filhos. Em
outras palavras, os espritos em geral formam uma grande famlia onde todos so irmos.
Porm, a cada encarnao vamos representar papeis diferentes, como um ator de novela.
Em suma, vamos partir do pressuposto que o esprito uma fora no material e,
portanto, sem sexo, gnero, nacionalidade etc. Quando representamos Deus, algo inefvel,
com estes atributos, estamos apenas projetando nosso ego para algo que inconcebvel pela
mente humana.
Depois desta tentativa de compreender que o ego a conscincia humanizada do
esprito, que age enquanto a conscincia real se encontra adormecida, podemos falar de seus
atributos e, para isso, vamos nos basear nos ensinamentos budistas. Os cinco atributos do ego
seriam os seguintes:
As formas materiais, as percepes, as sensaes (incluindo as emoes), as formaes
mentais e a memria.
No caso do primeiro atributo, as formas materiais, Buda afirmava que a matria
impermanente e sem substancialidade. Dentro dessa mesma perspectiva, tanto a Baghavad
Gita como O Livro dos Espritos afirmam que a matria no obstculo aos espritos. O fogo
no os queimaria e a gua no os molharia, afirmam. Alm disso, segundo O Livro dos
Espritos, h matria em estado sutil que no capaz de sensibilizar os nossos sentidos.
Curiosamente, toda essa viso classificada como idealista e duramente criticada no sculo XIX
e inicio do sculo XX pelo positivismo e outras correntes materialistas, vem sendo revalorizadacom as pesquisas da Fsica Quntica, que desconstruiu a matria e chegou ao vazio.
E se aceitarmos que as formas materiais so ilusrias ou so formadas por um nico
elemento chamado pelos espiritistas de fluido csmico universal ou pela energia escalar,
segundo Tesla, por que percebemos e nos relacionamos com uma infinidade de formas? A
resposta presente em O Livro dos Espritos a seguinte: em funo dos rgos de percepo.
Ou seja, em funo do segundo atributo do ego, segundo Buda. Em outras palavras, os rgos
sensoriais, juntamente com o crebro, criam as percepes das formas materiais com as quais
convivemos atravs do nossoAvatar. O mundo material s existe dentro do crebro, como
uma projeo. Em suma, as formas materiais compem um mundo ilusrio, o maya dasfilosofias hindustas.
A prpria neurocincia j afirma que os olhos no enxergam nada, apenas captam luz.
E a luz captada pelos olhos sensibiliza a retina e se transforma em pulsos eltricos que so
levados at determinadas reas do crebro e se transformam em imagens. Logo, em nenhum
momento estamos nos relacionando diretamente com o objeto real, mas com uma imagem
dele projetada dentro do nosso crebro. Isso explicaria como fcil mudar a percepo de
algum atravs, por exemplo, da hipnose.
Porm, se no fossem as percepes, seja atravs da viso, do olfato, do paladar, do
tato e da audio, no chegaramos at o terceiro atributo do ego que so as sensaes. Sem
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as percepes no teramos sensaes de prazer ou desprazer e no iramos construir apegos
ou averses. Sem as sensaes seria muito fcil manter a equanimidade diante das vicissitudes
da existncia humana e no teramos como construir o chamado mundo de provas e
expiaes e este jogo no teria graa nenhuma.
Porm, iludidos pelas percepes, vamos alternar sensaes e emoes por algo queno real, mas uma construo mental ou, como prefiro dizer, imaginria. O mundo material
o mundo virtual do esprito.
E como salientamos, das sensaes vo nascer as averses e os apegos que, como
veremos adiante, so de quatro tipos, segundo Buda, e que nos mantm presos ou imantados
ao ego, inclusive depois de desencarnados, como se pode constatar em boa parte da literatura
espiritista e tambm nos atendimentos de Animagogia, quando se depara com espritos
viciados em droga, cigarro, sexo, dinheiro, poder etc.
E nesta busca desenfreada para sentir prazer ou fugir do desprezer, o ego tambm oresponsvel por criar as formaes mentais que vo nos azucrinar diuturnamente. Alguns
afirmam que temos por dia cerca de 60 mil pensamentos. Na verdade, boa parte deles so
formaes mentais criadas pelo ego, por esse programinha de computador em funo das
percepes e das sensaes produzidas em nosso crebro.
Para fins didticos, estamos restringindo a palavra pensamento para quando falarmos
dos atributos do esprito, uma vez que possvel usar esse atributo para calar a mente, ou
seja, as formaes mentais criadas pelo ego.
Vou exemplificar essa distino com uma propaganda de um produto de limpeza que
gosto muito. Uma mulher est em paz quando aparece a neura e comea a cobrar a limpeza
da casa. A mulher no perde sua paz interior e manda a neura embora. E esta desaparece
irritada por no conseguir realizar seu intento, ou seja, tirar a paz interior daquela mulher.
Essa uma analogia perfeita da relao entre as formaes mentais do ego e o
pensamento (conscincia) como um dos atributos principais do esprito. O ego vai acusar o
outro de nos ofender; vai julgar a tudo e todos; vai condenar e buscar culpados para o nosso
sofrimento, entre tantas outras programaes egocntricas que esto embutidas nele. Mas o
esprito, consciente do funcionamento do ego, pode calar essas formaes mentais, usando
para isso outro atributo: a vontade. E uma das prticas mais adequadas para calar as
formaes mentais do ego a meditao.
Por fim, o ltimo atributo do ego justamente a memria. Ela uma das maiores
causas de sofrimento segundo Buda. E justamente por no nos deixar viver no presente, no
aqui e agora. Ela sempre vai nos fazer ficar remoendo coisas do passado.
Porm, importante ressaltar que o ego no um mal que deve ser destrudo. Ele tem
que ser utilizado com um instrumento para a libertao do esprito. Como afirma Krishna, na
Baghavad Gita, o ego um mau patro, mas um timo servidor. atravs do ego que
vencemos o jogo, dominando-o.
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Para melhor entender essa questo, e antes de abordar os atributos do esprito,
apresentarei outra analogia. Vamos comparar a encarnao com os jogos de videogame. Vou
usar como exemplo um que me divertiu muito na dcada de 1980, o Prince of Persia. Neste
jogo, o objetivo era passar por 12 etapas em apenas uma hora. Quando oAvatarmorria, o
jogador voltava ao incio da etapa em que se encontrava. Somente precisava reiniciar o jogo
desde o inicio se o tempo (uma hora de durao) acabasse.
Nunca conheci ningum que conseguiu passar da primeira etapa em uma hora de jogo
em sua primeira tentativa. Porm, com alguma experincia adquirida aps algumas partidas, a
primeira etapa era facilmente superada e o jogador comeava a se deparar com os novos
obstculos e desafios das etapas seguintes.
Quando precisava reiniciar a partida, a primeira etapa era facilmente superada. Os
desafios que antes pareciam impossveis de serem ultrapassados, agora no mais causavam
desesperos. Alm disso, uma etapa que antes se levava uma hora para cumprir, agora em
menos de cinco minutos estava terminada.
Enfim, depois de muitas tentativas, depois de muitos reincios, finalmente o jogador
consegue vencer, consegue completar todas as doze etapas. E o mais importante disso tudo: o
nico adversrio dele foi ele mesmo. O jogador, ao trmino da partida, venceu a si mesmo.
Alguns conseguem passar pelas doze etapas depois de cem partidas, outros precisam
de mais ou de menos. Porm, durante todo esse tempo, sabamos que se tratava de um jogo.
Ou seja, sabamos que estvamos manipulando o nossoAvatar(personagem) e que ele no
era ns, apenas uma representao. E mesmo sabendo disso, ns sofremos, nos revoltamos e
nos desesperamos quando ele morre ou no consegue realizar uma determinada tarefa.
Facilmente podemos perder o controle emocional ao longo de uma partida, ficando
desesperados ou eufricos diante de determinadas jogadas, mesmo sabendo que no somos o
Avatare que ele quem mata ou morre durante o jogo. Enfim, a mesma coisa que acontece,
em outra escala, com as encarnaes do esprito.
Como j foi salientado, a Animagogia parte de um pressuposto espiritista que afirma o
seguinte: antes de encarnar o esprito eterno escolhe um gnero de provas. Enfim, podemos
dizer que ele, na dimenso espiritual, ou no mundo real est preparando o seu prximoAvatar
(homem, mulher, branco, preto, brasileiro, africano etc.) para ingressar novamente no jogo
chamado mundo de provas e expiaes. OAvatarconstrudo vai depender das vicissitudes
que o esprito precisa vivenciar na Terra para provar a si mesmo e a mais ningum que
aprendeu uma determinada lio.
Ao longo das diversas encarnaes vai se adequando a regra do jogo e as primeiras
etapas vo sendo superadas com mais facilidade do que antes. Nas primeiras tentativas
comete mais erros do que acertos, ou seja, age mais com o ego do que com sua conscincia
espiritual. Porm, gradativamente, determinadas vicissitudes j no so motivos para tanto
sofrimento ou sofreguido como antes e j consegue manter a equanimidade diante delas.
E se estiver certo o esprito pai Joaquim de Aruanda, os espritos levam cerca de setemil anos, em mdia, para vencer este jogo chamado de mundo de provas e expiaes. Ou
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seja, so necessrias muitas encarnaes, muitosAvatares criados para aprender todos os
macetes, ou seja, como usar as regras do jogo a favor e no contra.
E, como no videogame, ningum castigado quando no vence a partida. O que
acontece a necessidade uma preparao melhor para errar menos na encarnao seguinte.
assim com o jogador de videogame e tambm com o esprito. Ento no existe carma? Sim,existe, mas o carma no significa castigo, mas a oportunidade de reviver determinadas
situaes at aprender qual a atitude correta que se deve ter diante delas.
E, se pensarmos bem, s h duas atitudes: deixar o ego tomar a iniciativa como se ele
fosse o patro ou, com a conscincia espiritual desperta, us-lo como um timo servidor.
Uma parbola oriental demonstra de forma clara essa relao. Uma carruagem segue
por uma determinada via com o cocheiro dormindo. Os cavalos instintivamente vo
conduzindo a carruagem e fazendo muitos estragos pelo caminho. Porm, numa determinada
hora, o cocheiro desperta e assume a conduo da carruagem, conduzindo-a em segurana ato seu destino final. Podemos dizer que, enquanto o esprito est adormecido, quem conduz
nossa vida humanizada o ego, a conscincia humanizada. E ela est programada para
escolher o caminho errado, ou melhor, o caminho largo. Mas quando o esprito desperta, ele
passa a assumir o controle de seuAvatar, no deixando que as vicissitudes da vida lhe tire a
paz interior, conseguindo, assim, passar pela porta estreita.
Podemos dizer que vencer a vida humanizada consiste em deixar que os atributos do
esprito animem a vida do nossoAvatar, a personagem que representamos. Quando este
processo metanoico se completa, nada do que acontecer a ele vai abalar nossa paz interior.
como se o esprito sasse da caverna de Plato, no mais se confundindo com sua prpriasombra.
Em um famoso Upanishad encontramos um ensinamento similar que mais ou menos
assim: como dois pssaros em um galho de rvore o ego e o esprito coabitam. O primeiro
quem se alimenta dos frutos doces e amargos da rvore da vida. O segundo apenas contempla
a tudo isso sem perder sua paz interior.
Em outras palavras, o ego que passa pelas vicissitudes da vida humanizada. Se o
esprito acreditar nas formas materiais, nas percepes, nas sensaes, nas formaes mentais
e na memria vai alternar momentos de euforia e de desespero. Mas, quando consegue se
colocar como um mero observador, ser capaz de manifestar plenamente, em todas as
situaes, os seus atributos e manter sua paz interior.
E quais so os atributos do esprito?
Vamos considerar em cinco os principais atributos do esprito: a vontade, o
pensamento, a capacidade de amar, a de ser felicidade e ter f.
Ao longo deste captulo j falamos resumidamente de dois: a vontade e o pensamento.
Mas vamos aprofundar nossa reflexo. Em primeiro lugar, a vontade um atributo do esprito
e ela se manifesta, basicamente, de duas formas: do desnimo (literalmente, sem alma) ou doentusiasmo (que em grego significa ter Deus dentro de si). Assim, se durante a encarnao,
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nossoAvatarpassar por vicissitudes negativas e o esprito no estiver esclarecido o suficiente
para reagir com equanimidade, sua tendncia a de ficar desanimado e isso refletir na vida
do ser humano, pois a energia no descer do esprito para a matria. As foras vo se
acabando e a tendncia a entrar em um estado de depresso grande.
Em suma, a depresso uma doena da alma que, se no tratada, pode afetar o corpofsico. Algumas drogas podem causar certa euforia, mas no atacam a raiz do problema. Mas,
quando a energia espiritual flui plenamente para o ser humanizado, este se torna
entusiasmado. Ele, literalmente, vivencia sua existncia com Deus dentro de si. Essa vontade
no se confunde com os desejos, que esto relacionadas com as formaes mentais criadas
pelo ego. A vontade, enquanto um atributo do esprito, trs fora, motiva, levanta o astral do
nosso personagem diante de toda e qualquer vicissitude.
E o pensamento, que j salientamos tem o poder para bloquear toda formao mental
negativa criada pelo ego, um poderoso instrumento para produzir energias positivas e atrair
para nossa existncia fatos positivos ou negativos. O poder do pensamento positivo umarealidade. Por isso se pode dizer que somos o que pensamos. O esprito se encontra onde est
o pensamento.
Para que o leitor possa compreender melhor o alcance de nosso pensamento vou
ensinar aqui uma tcnica que transmitimos no curso de Terapia Vibracional Integrativa (TVI).
Em primeiro lugar, procure um lugar confortvel para olhar para o azul do cu. Mas nunca olhe
diretamente para o sol. Mantenha um olhar relaxado e contemplativo at voc comear a ver
pequenos glbulos prateados no cu que ficam piscando como se fossem eltrons. Assim que
os enxergar, mantendo os olhos abertos, faa mentalmente uma prece e observe o que
acontece com eles.
A orao, a meditao e outras prticas mentais favorecem a atrao destes pequenos
glbulos de vitalidade que so emanados pelo Sol e que podemos absorver com a fora do
pensamento positivo.
Vamos agora abordar os outros trs principais atributos do esprito. Um deles a
capacidade de amar. Porm, amor no apego. O que estamos chamando de amor tem
algumas caractersticas que o identificam: desinteressado, incondicional e universal. Todas as
demais formas de amar no passam de apegos dos quais precisamos aprender a nos libertar.
E este amor j est dentro do esprito. O que acontece durante a encarnao que o
ego impede essa energia amorosa de se expressar de forma plena. Porm, conforme nos
libertamos das verdades que o ego nos transmite, nossa capacidade de amar vai se expandido.
O amor como a energia que est dentro do ncleo de um tomo. Ela est l esperando o
momento de fluir pelo ambiente. Quanto mais o ego vai se enfraquecendo, mas a energia
amorosa se manifesta. E como o poder de uma bomba atmica do bem, o amor de um capaz
de inutilizar o dio de milhes, j havia intudo Mahatma Gandhi. O amor uma energia
espiritual enquanto o dio e outros sentimentos negativos s se expressam pela ausncia do
amor.
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E o ego programado para dificultar essa expresso amorosa do esprito. No cotidiano
somos sempre bombardeados por informaes onde vamos encontrar de um lado uma vtima
e do outro um algoz. O ego programado para sentirmos d da vitima e raiva do algoz. E isso
que o nossoAvatarfar se o esprito no estiver desperto. Sentir pena e raiva no so
expresso de amor, mas de egosmo. Porm, o esprito, conforme vai conseguindo se libertar
das verdades do ego, passa a vibrar amor para a vtima e para o algoz com a mesma
intensidade. E, na maioria das vezes, quem mais precisa de vibraes amorosas o algoz, mas
o ego nos impede de ver isso.
E nem vamos entrar no mrito da lei de causa e efeito, na qual, frequentemente,
constatamos que a vtima de hoje foi o algoz de ontem e que o algoz de hoje ser a vtima de
amanh, no como castigo, como j abordamos, mas como processo de aprendizagem
espiritual.
O mesmo princpio vale tambm para a felicidade. O esprito j foi criado feliz. A
felicidade sua condio natural. Porm, preso ao ego, passa a buscar a felicidade onde elano se encontra: fora de si mesmo. Iludido pelos atributos do ego, o esprito passa a
condicionar sua felicidade de acordo com as vicissitudes da vida, ficando eufrico ou alegre
com as situaes prazerosas e agradveis ou desesperado e triste com as desagradveis e
desprazerosas. A felicidade do esprito incondicional.
Quanto mais o esprito se desliga dos atributos do ego, menos sua felicidade ser
condicionada ao que acontece ao seuAvatar.
Por fim, podemos dizer que a F plena um atributo do esprito. Este sabe que nada
acontece em sua vida humanizada que no tenha uma finalidade, que no lhe permiteaprender alguma coisa, nem que seja a ter pacincia nas situaes desagradveis e a ter
humildade naquelas em que beneficiado.
Deixamos a F por ultimo porque ela retroalimenta os demais atributos, mantendo
acesa a vontade, o pensamento positivo, a capacidade de amar e ser feliz. Quando ela
adormece no esprito, deixa de fluir energeticamente para o ser humanizado e o nosso pobre
Avatar se enfraquece, podendo at perecer sem essa energia divina que desce at ele.
Vimos at aqui os cinco atributos do ego e os cinco atributos do esprito, mas como
fazer para se libertar dos primeiros para que os do esprito se manifestem plenamente em
nossa vida humanizada?
Essa resposta a Animagogia tambm vai buscar nos ensinamentos de Buda.
Libertando-se dos apegos e das averses. E so quatro elos que nos prendem ao ego: o apego
ou a averso s formas materiais, o apego ou a averso aos sentimentos, o apego ou a averso
cultura e, por fim, o apego ou a averso ao nosso prprio personagem, o nosso Avatar criado
para mais uma encarnao.
E em nossa experincia com a prtica da Animagogia com os seres incorpreos, em
reunies medinicas organizadas para auxili-los, ficou evidente que muitos dos sofrimentos
aps a morte seriam evitados se no fossem os apegos e as averses s formas materiais. Comfrequncia se depara com espritos presos casa onde morou, aos objetos que ainda pensa ser
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o proprietrio etc. Mas tambm tem os sofrimentos causados pelos apegos sentimentais, ou
seja, s pessoas que deixou na Terra, esquecendo que todos so espritos eternos. Um caso
que gosto de narrar foi de um atendimento em que um esprito que viveu na Terra como
policial militar desencarnou em um conflito com bandidos e ficou em sua casa querendo cuidar
dos filhos. Porm, sua energia de sofrimento emanada pelo ambiente da casa estava causando
transtorno famlia.
Na reunio de Animagogia em que foi trazido, o esprito comentava que sabia que no
estava mais encarnado, mas que no tinha chegado sua hora de partir. Ele ainda precisava
cuidar dos filhos pequenos, afirmava.
Com uma das tcnicas da Apometria o ajudamos a se lembrar de quando escolheu seu
gnero de provas e, em poucos segundos, ele pediu perdo a Deus e disse que os espritos que
encarnaram para viver como seus filhos precisavam passar pela prova da orfandade ainda na
infncia. Ou seja, ele recuperou a conscincia espiritual e compreendeu que seus filhos, na
verdade, eram espritos eternos e que tambm tinham suas provas para viver na Terra.
Ao recuperar sua conscincia espiritual libertou-se do apego sentimental e tambm do
ego que o fazia pensar como ser humano, ou seja, como homem, policial militar, pai de duas
crianas etc.
Este tema daria um livro, mas acredito que a explanao acima suficiente para
esclarecer a diferena entre o ego e o esprito, distinguindo os atributos de cada um.
No captulo seguinte, vamos abordar a questo da mediunidade na Animagogia e
como toda e qualquer prtica teraputica ou espiritualista pode vir a ser utilizada como
recurso complementar na promoo da metania proposta neste livro.
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Captulo 3 A mediunidade e os demais recursos complementares da Animagogia
Neste captulo vamos abordar, primeiramente, com a mediunidade tratada nos
trabalhos de Animagogia. A mediunidade uma expresso que se popularizou com oespiritismo para se referir a um fenmeno conhecido e praticado desde a antiguidade, com
registro em todas as culturas: a comunicao com os espritos dos mortos.
Esta prtica foi proibida por Moiss, no Antigo Testamento, numa clara demonstrao
que o fenmeno existe, ou seja, que aqueles que j se desvincularam do corpo fsico podem
atravs de um sensitivo transmitir informaes, ajudar ou ser ajudados, conforme o caso.
Como j foi salientado, a Animagogia foi pensada, inicialmente, como um recurso para
ajudar seres incorpreos ainda presos ao ego. Com o tempo, passou tambm a ser utilizada
para ajudar os chamados encarnados.
Em ambos os casos, a prtica medinica utilizada: no primeiro, so trazidos os
espritos que ainda se encontram iludidos pelo ego e, por isso, perseguem seus algozes, sofrem
por causa de algum dos apegos j estudados anteriormente etc. E, no segundo, so os espritos
esclarecidos que se manifestam para transmitir uma palavra de consolo, de estimulo ou at
mesmo dar um puxo de orelha naquele que vai ouvi-los.
Normalmente, este trabalho de consulta feito por pretos-velhos e, em alguns
casos, por caboclos ou crianas. Estas entidades espirituais so conhecidas como
entidades da umbanda. Mas tambm costumam se apresentar nos atendimentos
Apomtricos, um dos principais recursos da Animagogia, tanto para ajudar encarnados comodesencarnados.
E como interpretamos esse fato?
Nos trabalhos de Animagogia, utilizamos como pressuposto que estas entidades
espirituais utilizam posturas simblicas, ou seja, no haveria no mundo real (o mundo
espiritual) pretos-velho, caboclos ou crianas. Porm, o esprito usaria essa postura para
se permanecer no anonimato e, ao mesmo tempo, utilizar a fora arquetpica que estas
posturas apresentam:
Crianas Representam a pureza, a felicidade, a alegria diante da vida, no importa a
vicissitude vivenciada;
Caboclos (ou ndios) Representam a coragem, a fora necessria para enfrentar as
vicissitudes da existncia humana;
Pretos-velhos Representam a sabedoria de vida, a experincia para no se deixar ofender ou
perder a paz interior no importando o que aconteceu, acontece ou acontecer durante nossa
vida humanizada.
E esta viso arquetpica foi evidenciada por uma viagem de um amigo ao Japo. Eleque mdium de Umbanda h vrios anos foi trabalhar naquele pas e l morou por sete anos.
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Em uma ocasio, ele afirma que seu mentor espiritual lhe apareceu e pediu para fazer uma
gira de umbanda.
Durante o trabalho ele conta que se manifestaram Monges budistas e samurais, ao
invs dos j conhecidos pretos-velhos e ndios. Quando ele me contou o fato eu disse a ele:
mas voc percebe como a essncia ou o arqutipo est mantido? O monge budista tambm uma postura simblica que manifesta o arqutipo do velho sbio, assim como o samurai
representa a fora e a coragem, como no caso do ndio brasileiro.
Provavelmente, o fato ocorreu porque no faz sentido a imagem simblica de um
preto-velho no Japo. Esta forma simblica est associada diretamente a presena do negro
no Brasil, ela faz referencia escravido. Da mesma forma, a presena de um ndio no trabalho
realizado por ele seria uma imagem fora do lugar. Assim, para aquelas pessoas que se
reuniram com ele nesta gira, a manifestao de um esprito com a forma simblica de um
monge budista e de um samurai estava mais de acordo com a cultura local. Enfim, se mantinha
os arqutipos da umbanda, mas utilizando uma simbologia diferente.
Com base nesta experincia e outras que presenciamos, defendemos a hiptese que o
esprito pode tomar a postura que desejar ou que for a ele imbuda em seu trabalho de
consolo ou esclarecimento espiritual, quando se manifesta atravs de um mdium. Enfim, a
postura sempre simblica. Em outras palavras, no existiria no mundo espiritual algum
chamado Pai Joo de Angola, por exemplo, mas para realizar o seu trabalho espiritual, um
esprito toma uma postura simblica de preto-velho.
Este fato explicaria, por exemplo, a existncia de tantos espritos que se identificam
como Bezerra de Menezes em vrios centros, sejam espiritistas ou de umbanda, e tambm nosatendimentos de apometria. Assim, de acordo com a afinidade com o seu respectivo mdium,
um esprito usaria a forma simblica de Bezerra de Menezes e transmitiria a informao a ele
incumbida. Podemos fazer uma analogia com as franquias. A postura simblica uma franquia
espiritual que obedece a determinadas regras.
Por isso, para encerramos essa reflexo sobre como se pensa a mediunidade em um
atendimento de Animagogia, no faz sentido acreditar que exista um esprito chamado Bezerra
de Menezes no mundo espiritual. Existe sim um esprito que durante uma encarnao viveu
ligado ao personagem Bezerra de Menezes e, hoje em dia, em funo do trabalho que realizou
e pela fama adquirida, pode ter montado um agrupamento de espritos que vo se manifestarusando a aparncia de Bezerra de Menezes e transmitir informaes semelhantes. Eles no
tm autonomia para desrespeitar a franquia.
E outro fato que evidencia esta tese foi uma reunio em que um esprito que se
manifestava como exu, nas limpezas energticas mais pesadas, ao incorporar no mdium disse
que atrasou porque estava trabalhando naquela igreja onde me chamam de esprito santo.
Ou seja, na umbanda ele usava a postura de exu, mas em uma igreja evanglica se manifestava
em algum sensitivo como sendo o esprito santo.
Enfim, nos trabalhos de Animagogia a mediunidade um dos principais recursos
complementares. Ela pode ser usada nos atendimentos aos desencarnados, nas reunies
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apomtricas, e tambm com os encarnados, atravs de reunies de consulta, nas quais h a
possibilidade de conversar com estas entidades espirituais.
E esta relao com a mediunidade no vincula a Animagogia nem com a doutrina
esprita e nem com a Umbanda, as duas principais religies medianmicas existentes hoje em
dia. A mediunidade compreendida como um fenmeno humano independente da religio.
Graas a essa independncia, no existe na Animagogia nenhuma prtica que seja no-
doutrinria. Por exemplo, quando comeamos nosso trabalho no incio da dcada passada
ramos criticados por fazer reunies medinicas no mesmo ambiente em que tnhamos aulas
de Yoga. Vrias pessoas criticavam esse fato afirmando que Yoga e Mediunidade tinham
energias incompatveis. Porm, ao mesmo tempo, os espritos que se manifestavam
estimulavam os mdiuns a praticar Yoga, dizendo que isso traria a eles mais harmonia e
equilbrio durante o trabalho medinico.
Assim, qualquer prtica teraputica ou espiritualista pode ser utilizada,compreendendo, obviamente, que ela um recurso complementar. O objetivo sempre a
libertao das verdades criadas pelo ego.
Outro aspecto importante a ser considerado que, em um trabalho de Animagogia,
tais prticas so ofertadas gratuitamente por voluntrios. E, por isso mesmo, as atividades
ofertadas como recursos complementares no processo animaggico vo variar de acordo com
as habilidades de cada voluntrio.
Em So Carlos, na ONG Crculo de So Francisco, criamos uma terapia com o auxilio da
espiritologia (a histria oral com os espritos) chamada Terapia Vibracional Integrativa (TVI),
que so tcnicas de meditao curativas. Ao todo so doze tcnicas meditativas.
Alm da TVI, costumamos usar como recursos complementares o Reiki, o Yoga, a
Fitoterapia, os Florais, as Danas Circulares, o Tai-Chi/Chi Kung, a Massagem (shiatsu, do-in
etc.), a Apometria, a Constelao Familiar e o Dilogo com os espritos. Porm, entre um ano e
outro as atividades podem mudar, dependendo de quem vem a ser voluntrio na ONG e suas
habilidades.
Independentemente das atividades ofertadas, elas so recursos para ajudar na ecloso
da chamada emergncia espiritual e, consequentemente, iniciar o processo metanoico. por
isso que sempre enfatizamos que elas so instrumentos para a Animagogia. Em outrocontexto, elas podem ter outros significados.
Alm disso, cada pessoa vai se adequar a uma ou outra tcnica. Por isso no existe a
melhor ou a pior tcnica. Tudo vai depender sempre da afinidade daquele que vivencia seu
processo metanico com uma das tcnicas ali disponveis.
O importante salientar que, quando vivenciamos alguma experincia que nos toca
profundamente e compreendemos que somos espritos eternos vivenciando experincias
humanas, nosso foco existencial passa a ser a chamada iluminao espiritual, ou seja,
libertar-se cada vez mais profundamente das verdades criadas pelo ego.
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Quando isso ocorre, fatos e coisas que antes nos preocupavam, perdem valor. Perdoar
quem nos fez algo desagradvel fica muito mais fcil e descobrimos que somos os
responsveis por nos sentir ofendidos e no o que o outro fez ou falou.
Essa mudana de atitude se processa de dentro para fora. Por isso, nem sempre as
religies propiciam a ecloso de um processo metanoico. Este fato poderia ser diferente se asreligies, sobretudo, no Ocidente, deixassem de valorizar tanto os atos, a ao, as chamadas
obras para valorizar a inteno com que os atos foram vividos.
Por exemplo, quando se valoriza a obra, evolui quem d po com manteiga para
mendigos, cobertores ou brinquedos para crianas, fazem a mediao com os espritos de
luz ou sofredores etc. Porm, todos estes atos so meritrios e ajudam na evoluo ou na
salvao do esprito, se forem vivenciados com amor.
Vamos tornar mais clara nossa argumentao. Supondo a existncia de uma jovem de
aproximadamente 24 anos de idade que trabalha como balconista em uma loja e que, por sersensitiva, atua em um centro esprita intermediando o contato com os espritos sofredores,
uma vez por semana, no perodo da noite e, nos finais de semana, participa, com um grupo de
jovens, da preparao e distribuio de sopa para moradores de rua.
A partir do ponto de vista tradicional, ou seja, que pensa a evoluo do esprito
relacionada aos atos materiais, o tempo que essa jovem passa na loja onde trabalha perdido.
Enquanto ela est na loja, est deixando de evoluir espiritualmente. Porm, o tempo que ela
usa para servir como intermediria para conversar com os espritos e para dar sopa para os
mendigos seria computado positivamente em sua economia espiritual.
Mas para a Animagogia o processo bem diferente. Como o despertar do esprito no
se relaciona com os atos, mas com a forma como os mesmos so vivenciados, deixa de existir
tempo para a caridade e tempo para as atividades profanas. Podemos aproveitar cada
segundo de nossa vida humanizada para nos iluminar, bastando, para isso, amar o que
estivermos fazendo.
Em outras palavras, no importa se estamos diante de uma obrigao escolar, familiar,
profissional ou se estamos fazendo algo com prazer, como estar em uma festa com os amigos,
namorando ou fazendo caridade com o nosso grupo religioso. Assim, no exemplo acima, a
jovem de 24 anos deixar a luz de sua alma brilhar intensamente se amar o trabalho que
realiza como balconista, atendendo com amor e benevolncia os clientes e fornecedores, alm
de servir com amor e benevolncia os seus patres.
Se o amor for a atitude com a qual vivencia o seu cotidiano profissional, ganhou vrios
talentos que jamais se perdero. E se ela tambm vivenciar com amor o trabalho que realiza
no centro esprita, servindo como intermediria dos espritos e dando sopas para mendigos,
mais sua tnica nupcial ficar limpa.
Porm, vamos supor que esta jovem seja ambiciosa e no se encontre contente ou
satisfeita com o trabalho de balconista, desejando ter outra profisso mais rentvel e, por
causa desse desejo, trata com desdm os clientes, sente dio dos patres e fornecedores etc.
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Caso ela tenha essa atitude, no ganhou nenhum pontinho sequer em sua
contabilidade divina, pois perdeu a oportunidade de amar as pessoas e as situaes que o
universo colocou diante dela, naquele instante, mesmo sendo uma atividade profana e no
religiosa.
E, felizmente, nem tudo estar perdido para ela, caso faa com amor seu trabalhomedinico e a sopa dos mendigos. Ou seja, se nos momentos em que se encontra no centro
esprita consegue temperar sua relao com as demais pessoas (encarnadas ou no) com
amor, aumenta sua quantidade de talentos. Com essa atitude consegue abrir mais brechas
no ego e permite que sua luz interna brilhe com mais intensidade em sua vida humanizada.
Neste momento ela vai conseguir juntar mais tesouros que a traa no ri e os ladres
no roubam. Mas como ela conseguiu isso? Por intermediar o contato com os espritos? Por
fazer e distribuir sopa? Claro que no. Ela conseguiu juntar tesouros eternos por ter amado o
que fez, por ter colocado o sal da terra (amor) na experincia vivenciada naquele momento
de sua humanizao.
Em outras palavras, foi por causa do amor e no dos atos praticados que ela melhorou
sua situao espiritual.
E se ela vivenciasse sua experincia profissional sem amor e fosse ao centro por
obrigao? muito comum encontrar pessoas que colocam o seu potencial para intermediar
os espritos para evitar sofrimento, seja fsico, mental ou emocional, mas no gostam do que
fazem.
No caso da nossa jovem hipottica, se ela no gosta do que faz, seja em sua rotina
diria ou no centro, indo apenas por obrigao e, alm disso, faz e distribui sopa com rancor,
pois, em sua mente, os prprios mendigos so os culpados pela situao em que esto e faz
esse trabalho caritativo porque o dono do centro mandou e por no ter outra coisa melhor
para fazer naquele horrio, o que acontece com ela?
Neste caso, todo o tempo e toda a experincia seriam perdidos. O esprito eterno no
conseguiu temperar a vida doAvatarcomo deveria, mesmo usando sua mediunidade
gratuitamente e tendo participado da ao caritativa do centro, entregando sopa para
mendigos nos finais de semana.
A mediunidade pode ser oferecida de graa, mas se ela feita sem Graa, nenhumvalor espiritual agrega ao mdium. Outros exemplos, sem criticar ou condenar o trabalho feito
por diferentes agrupamentos religiosos poderiam ser aqui citados.
Mas importante realar que tambm uma artimanha do ego nos fazer acreditar
que a obra mais importante que o amor colocado nela. Nesse aspecto, a Animagogia est
mais prxima das filosofias orientalistas que no relacionam a iluminao espiritual com os
atos materiais, mas com a maneira de vivenciar cada experincia humana.
Nos ensinamentos de Krishna, por exemplo, a inteno que vai criar o carma, uma
Lei csmica que regula o Universo. Porm, ele no acontece com base em atos materiais, masde acordo com a qualidade da energia emanada sentimentalmente na realizao de um
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determinado ato material. Neste sentido, estaramos a cada segundo colhendo o que
semeamos e, ao mesmo tempo, plantando novas sementes. Da a importncia de estarmos
atento aos sentimentos que emanamos no Presente, no aqui e agora, para que possamos criar
um Futuro diferente.
Um pensamento famoso atribudo a Buda afirma o seguinte: se voc quer saber o seupassado, analise o seu Presente. E se quiser saber como ser o seu futuro, analise tambm o
seu Presente.
Dentro dessa perspectiva, os atos materiais so a ponta de um imenso Iceberg. A base
dele, oculta, formada pelas intenes, por nossas atitudes diante das vicissitudes da vida.
So elas que vo determinar as aes materiais que vamos presenciar em nossa vida
humanizada.
Por exemplo, imaginemos uma partida de futebol e, em um determinado lance, um
zagueiro levanta o p para acertar a bola e no repara que o atacante do time adversrioabaixou demais a cabea. Em questo de segundos, o zagueiro acerta um chute na boca do
adversrio e este quebra trs dentes no lance.
O jogo fica parado por alguns minutos para o jogador ser atendido. O agressor se
desculpa e a vtima aceita, pois tem conscincia que no houve inteno alguma de acert-
lo. O juiz marca apenas falta e o jogo se reinicia tranquilamente. Porm, passam alguns
minutos e dois outros jogadores comeam a se estranhar em campo. Um deles, muito tenso e
com raiva do adversrio planeja acertar um pontap em seu desafeto com o objetivo de tir-lo
de campo. Este, na iminncia do lance, pressente o que vai acontecer e consegue saltar por
cima das pernas do agressor. Apesar de evitar o choque, no sendo atingido pela chuteira doadversrio, o juiz percebe que o agressor estava mal intencionado e o expulsa de campo,
mesmo no tendo acertado o adversrio.
Nesse caso hipottico, temos duas pessoas interpretando o papel de agressor. O
primeiro, apesar de arrancar trs dentes do adversrio com um chute, no agiu com a inteno
de prejudicar o adversrio. Por sua vez, o segundo, apesar de no acertar o adversrio,
pretendia agredi-lo. Ou seja, agiu com a inteno de prejudicar o outro e, o juiz, percebendo a
atitude do agressor, expulsou-o de campo.
A lei do carma (tambm chamada de Lei de causa e efeito, de atrao, de afinidades
etc.) funciona de forma anloga. Se ela fosse baseada em atos materiais ou fosse do tipo olho
por olho, dente por dente, o primeiro teria que, necessariamente, perder trs dentes pelo
que causou no adversrio, mesmo no tendo a inteno; enquanto isso, o segundo no
mereceria ser expulso, uma vez que no acertou o adversrio, apesar do dio que irradiou no
momento da ao.
O carma criado em funo da energia emanada pelo esprito para o Universo, uma
vez que, esta energia ter que retornar at ele, nesta ou em outra encarnao, j que a vida do
esprito nica (uma s), apesar de ser processada por inmeras existncias ou ciclos de
nascimentos e mortes.
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E sbio aquele que aprendeu que para receber amor precisa, necessariamente, doar
amor. dando que se recebe, afirma a orao de So Francisco. Esta Lei da fsica espiritual est
presente nos ensinamentos de muitos mestres, explicitada das mais diferentes formas. E
aquele que vive em harmonia com ela no ter do que reclamar, pois est criando para si um
destino menos turbulento. Mas somente com os erros que vamos aprendendo que toda
energia emitida para o Universo voltar para ns mesmos, com a mesma intensidade.
Quando eu publiquei o meu primeiro livro, Educao aps a morte: princpios de
animagogia com seres incorpreos, em 2003, eu perguntei ao Dr.Felipe em uma reunio
medinica se ele tinha gostado do livro. Ele me respondeu que o livro ajudaria muitas pessoas,
mas para mim ele no teria nenhum valor. Eu no entendi e pedi mais esclarecimentos. E ele
me respondeu: voc escreveu com orgulho. Naquele momento, infelizmente, fiz a opo
errada. No ganhei nenhum talento em minha economia espiritual com aquela ao, mas
compreendi como se processava a lei do carma. Se no h amor no ato, no h aprendizado.
Depois de tanto errar, aprendemos que somente o AMOR salva, somente o AMOR nosfaz passar pela porta estreita e que Deus AMOR.
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Captulo 4 perguntas e respostas: A Animagogia na prtica
Depois de refletir e propor conceitos nos captulos anteriores, chegou a hora de
apresentar um pouco do trabalho prtico da Animagogia. Neste captulo selecionei algumasdas questes que chegaram at ns nestes 10 anos de prtica animaggica. So
questionamentos de pessoas que esto vivenciando seu processo metanoico e se colocam
diante de certos problemas. Alm do dilogo, ferramenta principal da Animagogia, alguns
recursos complementares podem ser indicados para a pessoa.
Aqui, neste livro, vamos compartilhar parte destes processos metanoicos to
singulares, com o objetivo de refletir sobre as diferentes formas de sofrimento ou dvidas que
permeiam a mente humana, mesmo sabendo que ningum capaz de percorrer o caminho
que pertence ao outro.
As respostas abaixo demonstram a viso proposta pela Animagogia para algumas
questes. Ela no se confunde com a Psicanlise e nem com as doutrinas religiosas. Por isso,
outras respostas so possveis.
O importante o leitor ter isso em mente e ver se esta concepo faz sentido em sua
vida. Se no fizer, apenas ignore. No se esquea que a Animagogia no doutrina e no faz
proselitismo religioso. Sua preocupao eminentemente educativa.
01 Como reagir diante de uma pessoa que manifesta outra opo religiosa?
Esta questo mais comum do que se imagina e est na raiz da intolerncia religiosa.
normal a pessoa sentir raiva ou se sentir ofendida quando encontra algum que manifesta
preferncia por outra religio. Porm, a orientao que se deve dar neste caso, em um
atendimento de Animagogia, o doar a verdade para o outro. Buda ensinava h cerca de 2500
anos que o apego a cultura tambm causa de sofrimento. E a religio cultura. Aquele que
se apega a uma religio vai sofrer quando encontrar pela frente algum que frequenta outra
religio, que tem uma crena diferente. E o que significa doar a verdade? aceitar o outro
como ele , com suas verdades. no ver erro na escolha do outro.
Normalmente, ns queremos impor a nossa verdade, mesmo quando o outro no est
interessado nela. Assim, doar a verdade ao evanglico, por exemplo, nem ver erro no que ele
est falando. Se eu me calar, mas achar que tudo o que ele diz bobagem, mesmo assim estou
julgando e deixando de amar o semelhante. Agora, se ele pedir minha opinio, a sim eu
poderei discordar, j que ele me permitiu opinar. Enquanto ele estiver passando a viso dele,
tentando me doutrinar, devo apenas ouvir e aceitar amorosamente o fato, mesmo que
discorde do que ele diz. Mas no vou ver erro no que ele est fazendo. Devo aceitar que ele
apenas transmite uma verdade relativa diferente da minha. Isso doar a verdade ao outro.
Alis, tem uma passagem tima em um dos livros do esprito Luiz Srgio, em que ele
pede perdo por fazer muitas perguntas ao seu instrutor espiritual. E este responde que se ele
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perguntou, foi porque teve permisso superior para fazer aquilo. Ou seja, fazendo uma
analogia, se o evanglico vai de casa em casa, s 8 horas da manh, em um domingo, para falar
mal do catolicismo ou contra o espiritismo, porque ele teve permisso de Deus, a causa
primria de todas as coisas. Em outras palavras, Deus to bondoso que usou aquela pessoa,
adepta de outra religio, para exercitarmos a indulgncia, a tolerncia, o respeito pelo outro e
pel direito de expresso.
Assim, ao invs de se revoltar, devemos agradecer a oportunidade que nos foi dada
para colocar em prtica o amor universal. Em suma, nada daquilo que acontece sobre a Terra
est errado. Somos todos espritos eternos vivenciando uma experincia humanizada e nada
mais.
Lao-Ts ensinava a no-lutar e a no-agir, ou seja, s fazer ao outro aquilo que
gostaramos que fizessem conosco. Mas se algum no faz isso, este deve ser amado assim
mesmo. Ns que precisamos exercitar a benevolncia, a indulgncia e o perdo e no impor
nossas verdades aos outros.
Porm, preciso deixar claro que o respeito em relao ao outro e no
intolerncia. Muitas vezes sou questionado se devemos ser tolerantes com a intolerncia. E eu
digo que no. Devemos respeitar a pessoa que intolerante, mas combater a intolerncia, que
uma atitude de desrespeito ao outro, a liberdade de escolha da outra pessoa.
02 Como fica a questo dos direitos humanos diante do carma?
Esta uma tima questo. Mas, em primeiro lugar, devemos entender que o objetivoda encarnao o aprendizado. Logo, o que se chama de carma no castigo por erros do
passado ou qualquer coisa similar, e sim uma nova oportunidade de aprendizado. Se no
aprendemos como lidar com certas situaes, somos colocados novamente diante delas em
uma nova encarnao.
Ento, podemos dizer que tudo surge na hora certa e tem a repercusso que precisa
ter. Logo, isso vale tambm para os direitos humanos. Assim, se em 1948 foi escrita a
Declarao Universal dos Direitos Humanos e, em seguida, a Declarao Universal dos Direitos
dos Animais, dos Povos Indgenas etc. porque elas so necessrias para o momento atual em
que vivemos. E no poderia ser diferente, no Brasil, com o Estatuto da Criana e doAdolescente, o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha, entre tantas outras leis que visam
garantir os direitos sociais, polticos, culturais de cada agrupamento humano at que o
respeito seja algo natural e no mais imposto de fora para dentro.
Isso explicaria o motivo de existir tantas crianas, mulheres, negros, ndios, idosos e
tantos outros grupos humanos sendo desrespeitados?
De certa forma sim. Pois, com baseado nas experincias com a regresso de memria,
comum encontrar uma pessoa passando pelas mesmas situaes que imputou ao outro no
passado. Isso aconteceu tambm comigo. Durante muito tempo tive dio do meu pai,considerando-o autoritrio e violento, e ficava com raiva quando lembrava que ele desejava
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que minha me cometesse aborto. Mas, depois que eu j o havia perdoado, descobri que no
sculo XVII eu vivi como um bispo da igreja catlica que engravidou vrias freiras e, em
seguida, tentava faz-las abortar. Alm disso, se tratou de um bispo muito autoritrio e
violento. Enfim, eu tive o pai que mereci nesta encarnao. Ele foi o instrumento necessrio
para eu aprender que no se deve ser violento e autoritrio com o outro.
Com muita frequncia, s aprendemos uma lio quando sofremos na pele aquilo que
fizemos o outro passar. Mas preciso sempre ter em mente que o esprito no o ser
humanizado. O esprito no criana e nem envelhece, por exemplo. Ao compreender que as
formas humanizadas existem para a aprendizagem espiritual, fica mais fcil perdoar o nosso
algoz e, ainda por cima, tentar ajud-lo a se libertar do ego.
Eu gosto muito de uma frase do Chico Xavier que mais ou menos assim: o bom
samaritano o que ajuda o que necessita, no critica o que no ajuda e ainda estende a mo
para o agressor.
E essa ideia que devemos buscar colocar em prtica na questo do carma e dos
direitos humanos. Assim, se por acaso um esprito passando pelas vicissitudes da terceira
idade agredido, ou seja, no tem os seus direitos respeitados, devemos ajud-lo no que
estiver ao nosso alcance, no criticar aquele que no quer ajudar e ainda estender a mo ao
agressor no sentido de tentar faz-lo mudar de comportamento ou de atitudes diante das
pessoas idosas.
Pode ser que, em alguns casos, se faa necessria a priso. Porm, mesmo assim, a
punio quele que no respeita os direitos humanos pode ser feito com paz no corao e no
com mgoa, rancor e outros sentimentos que s vo acarretar em doenas para quem guardaestas energias em sua alma. preciso lembrar sempre que at o algoz um esprito eterno
que escolheu seu gnero de vida e est aprendendo a libertar-se do ego.
Alm disso, amar os amigos fcil; O difcil amar os inimigos. Assim, ao invs de
egocentricamente nos sentirmos vtimas de um sistema perverso, sem lembrar que, no
passado, tambmj fomos algozes e estamos apenas vivenciando o outro lado da moeda,
podemos escolhemos outra atitude, mais adequada para aquela situao, conciliando a
questo dos direitos humanos com a sabedoria espiritual. Por exemplo, no estatuto do idoso,
encontramos que a omisso tambm crime e que temos que denunciar quando algum idoso
vitima de maus tratos.
Diante dessa situao, eu posso fazer a denuncia, cumprindo minha obrigao de
cidado, mas sem dio do algoz. Eu posso denunciar que um idoso est sendo agredido pela
famlia, por exemplo, mas no emanar nenhum sentimento negativo pelo agressor. Ou, o que
seria ainda melhor: vibrando energia amorosa sobre ele, atravs de uma prece, por exemplo.
Temos que ter sempre em mente que somente atravs do amor que nos libertamos
do samsara (a roda das encarnaes) e, obviamente, do carma.
E para a pessoa que foi a vtima podemos tentar ajud-la a compreender que, muitas
vezes, s construmos um valor espiritual positivo quando sentimos na pele aquilo que jfizemos com os outros e no queremos que faam conosco. No devemos, obviamente, falar
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para ela, voc passou por isso porque mereceu, est sendo castigada pelos seus erros do
passado.
Ao contrrio, devemos estimul-la a aprender a perdoar e ao mesmo tempo
compreender como determinados atos so dolorosos e no devemos fazer aquilo com
ningum. Quando ocorre o aprendizado espiritual, ele se transforma em um talento que vaiacompanhar o esprito por todas as suas prximas encarnaes. Em outras palavras, nesta
etapa do videogame, nossoAvatarno vai mais sucumbir e vamos sempre ter em mente que,
neste mundo ilusrio em que nos encontramos provisoriamente, melhor morrer que matar;
perdoar que ser perdoado; ser criticado que criticar...
03 preciso mesmo cuidar dos animais, da natureza e do meio ambiente j que tudo
iluso?
Essa dvida muito comum quando comeamos a entender que os nossas
percepes, sensaes etc. so criaes da Matrixonde estamos encarnados. Na realidade,
nada est acontecendo no mundo exterior, mas dentro da nossa mente. Porm, como estamos
aqui para aprendizado, o nosso trabalho de Animagogia compartilha o pensamento de
Mahatma Gandhi que afirma o seguinte: o valor de uma sociedade se mede pela forma com
que trata os animais. Estes tambm so espritos em um processo de iluminao.
Assim, podemos agir como So Francisco de Assis que cuidava dos animais feridos que
encontrava em seu caminho, mas no julgava ou condenava quem os agredia. Ou seja,
podemos ser contra a crueldade com os animais, mas respeitar quem os agride ou destri a
natureza, dando sempre a outra face. Neste caso, dar a outra face seria ao invs de punir ou
castigar essa pessoa, buscar traz-la para o nosso lado, demonstrando que viver em
harmonia com a natureza propicia muito mais sade, paz e equilbrio. Alm disso,
importante salientar que a forma como cuidamos do mundo exterior (que , de fato, iluso ou
maya), reflete, essencialmente, como o nosso interior. O mundo exterior no passa de um
espelho de nossa alma.
Mas importante, tambm, diferenciar a vontade e o amor pela natureza, assim como
pelos animais e pelas plantas do apego egico que muitos manifestam por seus pets, se
desesperando quando morrem ou transformando-os em fonte de renda, em objeto para ser
exibido etc. Nesse caso, o egosmo e no o amor que fala mais alto.
preciso ter uma conscincia realmente ecolgica e buscar se (re)envolver com a
natureza. O problema que vemos muito marketing, muito interesse egico tambm nesta
rea. rentvel para vrias empresas e atra muitos consumidores dizer que apoia atividades
ecolgicas quando, no fundo, o interesse apenas o de fazer marketing social.
No enfoque da Animagogia, a natureza tambm obra de Deus e segue uma ordem
que escapa do nosso controle. E os animais, neste contexto, tambm so seres espirituais que
passam por aprendizados diferentes dos nossos, mas tambm vivem inmeras encarnaes.
Neste processo, de tempos em tempos, determinados corpos fsicos deixam de fazer sentido eentram em extino. Pode at ser que a alma do nosso gatinho de estimao j esteve ligada
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ao corpo de um feroz dinossauro, milhes de anos atrs. Da mesma forma, pode ser que
muitos dos corpos que hoje existem no se faam mais necessrios daqui a alguns anos e
tambm se extinguiro, com ou sem a ajuda humana. Mas como sempre os mestres ressaltam,
Deus utiliza a inteno de cada um para realizar os seus desgnios, por isso, utilizar os atributos
do esprito e se harmonizar com a natureza o melhor que podemos fazer neste mundo
ilusrio em que nos encontramos provisoriamente.
O Evangelho de Tom, em uma de suas primeiras logias, afirma que no h nada
oculto que no seja revelado. Isso significa tambm que a forma como tratamos o mundo
exterior reflete a forma com que tratamos nossa alma. O respeito que temos pelos animais, o
amor que demonstramos por eles, ilustra nosso grau de vivncia do amor universal. E quando
tratamos os animais como mercadoria, como um objeto a ser explorado, estamos
demonstrando tambm o nosso egosmo. A nossa conscincia espiritual se reflete na forma
como interagimos com o outro, com a natureza, com os animais.
No vou dizer que a pessoa que consegue no se alimentar de carne seja um espritopuro, ela ainda pode ter muitos elementos do ego para se libertar (vaidade, orgulho etc.),
mas j superou a gula, por exemplo. J no vive para comer, mas come para viver. E sabe que
no precisa matar um animal para ter uma alimentao saudvel. Mas tambm no deve
julgar ou condenar quem come. A natureza, inclusive, a humana, no d saltos. Nesse sentido,
tambm no mbito da inteno que precisamos nos manifestar. preciso ter motivao e
entusiasmo para preservar a natureza e interagir de forma saudvel com ela, mesmo quando
tudo parea perdido.
H uma histria na qual um pssaro pega no bico um pouco de gua e tenta apagar um
incndio na mata. Outros animais vendo aquilo comeam a rir e falam que ele nunca vaiconseguir. Mas ele responde: no faz mal, estou fazendo a minha parte.
Em suma, a natureza tambm existe para que possamos vencer a ns mesmos. E em
que sentido? Deixando de lado o egosmo e nos abrindo ao amor universal. Ou seja, deixando
de agir motivados pelos atributos do ego para vivenciar nossa existncia humanizada com os
atributos do esprito desper