edu cacao de filhos

9
IGREJA BATISTA BETEL - DOMINGO DA FAMÍLIA (06/04/2014) TEMA: EDUCAÇÃO DE FILHOS (Aula preparada pelo Pastor Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez) INTRODUÇÃO Educação de filhos é um dos temas mais importantes da realidade familiar. A Bíblia traz algumas recomendações sobre esse tema e hoje nos dedicaremos a elas. Partimos do pressuposto de que os filhos são uma bênção na vida dos pais e vice-versa. Falar sobre educação de filhos deve partir do pressuposto Bíblico de que “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá” (Salmo 127.3). Pensando dessa forma, sigamos em nosso estudo. A CRISE DA EDUCAÇÃO DOS FILHOS NA PÓS-MODERNIDADE A educação muda de tempos em tempos, afinal, a sociedade está em constante mudança sob vários aspectos. Métodos de educação aplicados há alguns anos, que traziam grandes resultados, hoje já não funcionam mais. A educação sempre deve partir da premissa da importância do ser humano e deve ser orientada em termos de sua eficácia em atingir o homem. Educação de filhos não é diferente. Com as mudanças impostas pela pós-modernidade, de modo especial na área da comunicação, educar filhos hoje é um pouco diferente daquilo que fazíamos há alguns anos. Nossos filhos estão diante de realidades que nós, pais, – enquanto filhos – sequer poderíamos imaginar que um dia aconteceriam. As informações chegam a nossos filhos com muita rapidez e a tecnologia criou uma nova maneira, inclusive, de relacionamento, que agora inclui Facebook, Twitter, WhatsApp e outros. O mundo caótico em que nossa família vive traz sérios reflexos sobre a educação de filhos e a própria convivência em família. O Pastor Jaime Kemp nos lembra que liderar uma família hoje é um grande desafio: Liderar uma família em meio ao caos reinante na sociedade e na cultura atuais é como codirigir uma pequena patrulha em território inimigo, ocupado por soldados bem treinados e armados, com o agravante de tratar-se de um campo recheado por minas mortais. (KEMP, Jaime. Pai inteligente influencia o filho adolescente – p. 7) A Bíblia nos declara que “o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1 João 5.19). Sendo assim, precisamos ajudar nossos filhos a vencer essa verdadeira guerra espiritual, e aqui entra a necessidade da educação de filhos de maneira Bíblica e sadia emocionalmente. Nosso papel como pais é educar nossos filhos focados em Jesus e nos princípios Bíblicos. Não basta dar alimento, roupa e educação. Precisamos também pensar no futuro espiritual de nossos filhos. Como dito, o mundo em que nossos filhos vivem é bem diferente do nosso mundo na época em que éramos crianças ou adolescentes. O mundo, até alguns anos atrás, ainda tinha grande influência dos valores cristãos. Hoje, há uma crise de valores, e a sociedade não é mais influenciada tanto pela Palavra de Deus. Alguns estudiosos, inclusive, dizem que vivemos em uma sociedade pós-cristã, ou seja, os valores básicos são bem diferentes daqueles que encontramos na Palavra de Deus. Isso pode ser visto de modo claro nos valores de nossa sociedade. Sobre isso, o pastor Jaime Kemp comenta: O mundo pós-moderno não acredita em absolutos. Tudo é relativizado de acordo com os interesses da comunidade, do indivíduo e do momento

Upload: laercio-rocha

Post on 22-Jan-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Educação de Filhos!

TRANSCRIPT

Page 1: Edu Cacao de Filhos

IGREJA BATISTA BETEL - DOMINGO DA FAMÍLIA (06/04/2014) TEMA: EDUCAÇÃO DE FILHOS (Aula preparada pelo Pastor Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez) INTRODUÇÃO Educação de filhos é um dos temas mais importantes da realidade familiar. A Bíblia traz algumas recomendações sobre esse tema e hoje nos dedicaremos a elas. Partimos do pressuposto de que os filhos são uma bênção na vida dos pais e vice-versa. Falar sobre educação de filhos deve partir do pressuposto Bíblico de que “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá” (Salmo 127.3). Pensando dessa forma, sigamos em nosso estudo. A CRISE DA EDUCAÇÃO DOS FILHOS NA PÓS-MODERNIDADE A educação muda de tempos em tempos, afinal, a sociedade está em constante mudança sob vários aspectos. Métodos de educação aplicados há alguns anos, que traziam grandes resultados, hoje já não funcionam mais. A educação sempre deve partir da premissa da importância do ser humano e deve ser orientada em termos de sua eficácia em atingir o homem. Educação de filhos não é diferente. Com as mudanças impostas pela pós-modernidade, de modo especial na área da comunicação, educar filhos hoje é um pouco diferente daquilo que fazíamos há alguns anos. Nossos filhos estão diante de realidades que nós, pais, – enquanto filhos – sequer poderíamos imaginar que um dia aconteceriam. As informações chegam a nossos filhos com muita rapidez e a tecnologia criou uma nova maneira, inclusive, de relacionamento, que agora inclui Facebook, Twitter, WhatsApp e outros. O mundo caótico em que nossa família vive traz sérios reflexos sobre a educação de filhos e a própria convivência em família. O Pastor Jaime Kemp nos lembra que liderar uma família hoje é um grande desafio:

Liderar uma família em meio ao caos reinante na sociedade e na cultura atuais é como codirigir uma pequena patrulha em território inimigo, ocupado por soldados bem treinados e armados, com o agravante de tratar-se de um campo recheado por minas mortais. (KEMP, Jaime. Pai inteligente influencia o filho adolescente – p. 7)

A Bíblia nos declara que “o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1 João 5.19).

Sendo assim, precisamos ajudar nossos filhos a vencer essa verdadeira guerra espiritual, e aqui entra a necessidade da educação de filhos de maneira Bíblica e sadia emocionalmente. Nosso papel como pais é educar nossos filhos focados em Jesus e nos princípios Bíblicos. Não basta dar alimento, roupa e educação. Precisamos também pensar no futuro espiritual de nossos filhos.

Como dito, o mundo em que nossos filhos vivem é bem diferente do nosso mundo na época em que éramos crianças ou adolescentes. O mundo, até alguns anos atrás, ainda tinha grande influência dos valores cristãos. Hoje, há uma crise de valores, e a sociedade não é mais influenciada tanto pela Palavra de Deus. Alguns estudiosos, inclusive, dizem que vivemos em uma sociedade pós-cristã, ou seja, os valores básicos são bem diferentes daqueles que encontramos na Palavra de Deus. Isso pode ser visto de modo claro nos valores de nossa sociedade. Sobre isso, o pastor Jaime Kemp comenta:

O mundo pós-moderno não acredita em absolutos. Tudo é relativizado de acordo com os interesses da comunidade, do indivíduo e do momento

Page 2: Edu Cacao de Filhos

histórico e social. Não há lugar para valores imutáveis. Seria esse o caminho? (KEMP, Jaime. Pai inteligente influencia o filho adolescente – p. 19)

Nossa sociedade está em crise, e muitos pais estão perdidos quanto ao seu papel na educação de seus filhos. Não sabem o que fazer, afinal, não foram preparados para momentos como esses. Mas, se um pai ou uma mãe conhecerem razoavelmente a Palavra de Deus, terão condição de dar uma boa educação a seus filhos. A educação dos filhos começa pela Bíblia e, por isso, a primeira sugestão para os pais cristãos é: conheçam a Bíblia e o que ela diz sobre educação de filhos. Lembrem-se de 2 Timóteo 2.15: “Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade”. I – PRINCIPAIS TEMAS RELACIONADOS AOS ESTILOS DE EDUCAÇÃO DE FILHOS Existem vários temas relacionados à educação de filhos, e todos eles esbarrarão no estilo que os pais adotaram para a educação. Pais são diferentes e têm sua maneira própria de enxergar a educação. Os dois principais temas em relação à educação de filhos são a disciplina e a liderança.

1. Abordagens à disciplina

Há uma grande discussão sobre disciplina, principalmente diante do posicionamento de alguns psicólogos que, inclusive, são contrários à disciplina. Por outro lado, há pais que fazem da disciplina uma ferramenta para descontar suas frustrações pessoais sobre os filhos. Analisemos as principais abordagens à disciplina.

a. Pais permissivos X Pais restritivos

Diante da disciplina, os pais se dividem em permissivos e restritivos. Os permissivos

praticamente respondem “sim” a todos os pedidos feitos por seus filhos, praticamente não impõem limites aos filhos e, de certo modo, acabam sendo coniventes até com os erros praticados pelos filhos.

Temos um exemplo bíblico bem conhecido de pais permissivos. O sacerdote Eli permitiu que seus filhos cometessem atos terríveis. Essa narrativa pode ser encontrada em 1 Samuel 2. Deus ficou muitíssimo aborrecido com o fato de Eli não se pronunciar e nem corrigir seus filhos. Em certo momento, Deus declara: “Por que você honra seus filhos mais do que a mim, deixando-os engordar com as melhores partes de todas as ofertas feitas por Israel, o meu povo?” (1 Samuel 2.29b). Um pouco mais a frente, Deus diz a Samuel qual foi o grande erro de Eli: “Pois eu lhe disse que julgaria sua família para sempre, por causa do pecado dos seus filhos, do qual ele tinha consciência; seus filhos se fizeram desprezíveis, e ele não os puniu” (1 Samuel 3.13). Mesmo tendo consciência do erro de seus filhos, Eli não os “puniu”. Os pais permissivos correm o mesmo risco. E, diante de Deus, terão que responder por qual motivo, mesmo conscientes dos erros de seus filhos, simplesmente se calaram ou fingiram não ter conhecimento do que acontecia.

Os pais restritivos usam quase que permanentemente a palavra “não” e fazem da restrição a atitudes, horários e locais sua ferramenta principal de educação.

Se a permissividade é um erro, e quando os pais só vivem repreendendo seus filhos? Em alguns momentos, essas repreensões acabam sendo até limitadores do crescimento e amadurecimento. A questão do excesso aqui pode ser entendida nas repreensões sem sentido, no exagero que não pode ser explicado de modo coerente. A restrição exagerada gera irritação, tristeza e até ira. Em Efésios 6.4a, lemos: “Pais, não irritem seus filhos”. O papel do

Page 3: Edu Cacao de Filhos

pai é estabelecer limites razoáveis, de acordo com o bom senso e, principalmente, com a Palavra de Deus. Proibir tudo ou permitir tudo não é o caminho correto.

Os autores George e Lauren Smith declararam logo no prefácio de sua obra:

Nós nos esforçamos para orientar nossos filhos, mas a impressão que temos é que sempre chamamos demais a atenção deles por alguma coisa. Às vezes nos perguntamos se estamos desenvolvendo ou destruindo a autoconfiança deles. (SMITH, George e Lauren. Wat is Wrong? (O que está errado?))

Encontrar o equilíbrio é um verdadeiro desafio. Grande desafio é encontrar o equilíbrio

entre a restrição e a permissão. Para isso, fica o conselho Bíblico de Tiago 1.5: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida”. Pedir sabedoria a Deus parece ser a única ferramenta de que dispomos para educar nossos filhos com equilíbrio.

b. Disciplina X Punição

O tema punição é muitíssimo difícil de ser estudado. Até porque há uma confusão entre as palavras disciplina e punição. A punição física é defendida por muitos cristãos com base em versículos como Provérbios 13.24 – “O que retém a vara aborrece a seu filho”. O importante aqui é considerar que a vara era usada na cultura pastoral dos tempos do Antigo Testamento. A vara era um instrumento para guiar a ovelha ignorante, não um meio de machucá-la. Tanto é que o final do mesmo verso diz: “mas o que o ama, cedo, o disciplina”. A punição, pura e simples, nem sempre é um instrumento disciplinar. Por vezes, se torna apenas uma maneira de castigo pelo erro que não conduz a criança a uma compreensão da gravidade do ato cometido.

Em geral, ouvimos a defesa do uso da ‘vara’ como sendo a metodologia correta para a disciplina. Como já lembramos que entra aqui uma questão cultural, visto que a vara era o instrumento do pastor dirigir a ovelha, vamos analisar outros versos bíblicos:

“A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela”.

(Provérbios 22.15) “Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá. Castigue-a,

você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura”. (Provérbios 23.13-14)

“A vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe”. (Provérbios 29.15)

A primeira coisa que devemos analisar nesses versos é que a vara está associada à

criança. Nos parece que punição física está dentro de um contexto cronológico. Castigar fisicamente um adolescente ou jovem já tem uma conotação bem diferente e pode gerar um efeito contrário ao que se espera com a punição física.

Outro detalhe importante dos versos é que a vara está associada à disciplina. A palavra hebraica utilizada nesses casos é “muwcar” cuja ideia é a de “corrigir a rota” (segundo o comentarista Larry Richards). A vara é apenas um instrumento para um fim. Por si só a vara não produz educação. Ela precisa vir acompanhada de um processo em que a “rota será corrigida”. Para alguém corrigir a rota, são necessárias duas coisas: a) Conscientização de que está no caminho errado e b) Ter o novo caminho aonde se quer chegar. A vara pode, no máximo, chamar a atenção para o erro, mas não consegue nem esclarecer qual é o erro. Assim sendo, ao punir fisicamente, é necessário mostrar claramente o motivo pelo qual a criança está sendo castigada. Ela deve entender o que fez de errado. E, logo em seguida, deve ouvir

Page 4: Edu Cacao de Filhos

claramente do pai e da mãe qual é a atitude certa e que corrigirá o erro. Crianças não entendem as verdades de maneira subjetiva. Elas precisam ser esclarecidas.

Outro detalhe, e talvez o mais importante, seria entender o que é a vara. O texto estaria falando de uma ‘vara’ literal, ou seja, um galho? A palavra hebraica sugere tanto um ‘galho’ como um ‘cetro ou bordão’ que, sem dúvida, eram sinais de autoridade. Sendo o contexto pastoril levado em consideração, precisamos entender que a ovelha, ao ver a vara, já sabia que ela representava um instrumento de direção mais do que de castigo. Com a vara, o pastor dirigia o rebanho, puxava uma ovelha que estava prestes a cair ou a empurrava, afastando-a de um perigo iminente. A vara, portanto, tinha um formato peculiar que garantia ao pastor fazer o uso específico de dirigir a ovelha.

Não há qualquer garantia de que a vara literal seja o instrumento ideal para a correção de uma criança. O Novo Testamento simplesmente omite esse uso para a disciplina. Os termos utilizados no Novo Testamento não mencionam a punição física, mas falam apenas em ensinar ou criar. Desta forma, mais uma vez, entra em cena a necessidade de sabedoria, caso seja escolhida uma forma específica de punição física. Uma palmada ou chinelada talvez satisfaçam plenamente o contexto de Provérbios. Mas é importante relembrar: esse castigo não pode ultrapassar os limites do respeito, da preservação da vida, da saúde, segurança e outros quesitos que impedem qualquer flagelo, açoite ou espancamento. Um cristão não usará esses instrumentos que poderão não apenas machucar o corpo, mas trazer traumas emocionais gravíssimos.

O texto abaixo, de autoria do Pastor Israel Belo de Azevedo, nos lembra com carinho o sentido mais claro da disciplina:

“Castigar com vara não é bater com raiva, não é descontar a frustração, não é sucumbir ao desespero. Castigar com vara não é dominar pelo medo, alimentado pelo grito ou pela violência física. Castigar com vara é disciplinar, amorosamente, propondo valores, carinhosamente impondo limites. Castigar com vara é repreender com o olhar e aprovar com o sorriso, quando forem os casos. Castigar com vara é restringir horários (para brincar ou passear, de acesso ao computador ou ao videogame). Castigar com vara é diminuir ou cortar a mesada ou reter o presente. Castigar com vara é mostrar-se triste no tempo do desperdício ou do desrespeito. Bom seria que o bom senso não precisasse de lei. Bom seria que carinho não precisasse de decreto. Bom seria que não precisasse haver punição para quem machuque seu filho. Bom seria que ninguém só soubesse educar por meio de tapas, beliscões e chineladas. Bom seria que todos os pais educassem seus filhos, assentando-se com eles, andando com eles, contando histórias para eles dormirem, passeando com eles”. (Extraído – Israel Belo de Azevedo)

Page 5: Edu Cacao de Filhos

2. Tipos de liderança

Ao falarmos na educação de filhos, esbarramos em um tema nem sempre lembrado e que faz parte intrinsecamente desse tema: a liderança. A educação dos filhos é um processo de liderança em que os pais conduzem, inspiram, mostram a prática, desafiam, dão suporte e dispõem de tempo e atenção, tendo como objetivo a formação moral, espiritual, física e emocional de seus filhos.

John Maxwell declarou que há uma “crise de liderança no mundo, começando pelos nossos lares. Há uma carência de bons exemplos a serem seguidos” (MAXWELL, John. Today Matters. Página 33). Essa é uma triste verdade. Muitos pais que castigam, brigam e exigem posturas de maturidade em seus filhos nunca foram líderes para eles. Não são os melhores exemplos a serem seguidos. Todo o processo de educação esbarrará na liderança, por isso, é bom que os pais – e de modo ainda mais incisivo o pai – entendam o seu papel como tal.

É possível exercer a liderança na educação de filhos pelo menos de duas formas: a liderança instrumental e a liderança socioemocional.

a. Liderança instrumental

A liderança instrumental tem como grande objetivo “Inculcar crenças, valores e

atitudes, e envolve ensinar às crianças o que elas devem saber e como devem se comportar para serem bem vistas na família” (BALSWICK, Jack e Judith. A Família: uma perspectiva cristã para a família contemporânea – p. 96). Esse tipo de liderança aponta para conteúdo e ação. Os filhos precisam de uma liderança que tenha atitudes firmes e um conteúdo digno de ser seguido dado sua eficácia e coerência.

Os pais que são líderes entendem que devem ensinar os filhos. Devem conversar sobre os grandes temas da vida e também mostrar-lhes a verdade da Palavra de Deus. Entendendo isso, é inadmissível que um pai ou uma mãe sejam omissos ou façam descaso diante do erro de um filho ou da carência de um conselho em uma eventual tomada de decisão.

O povo de Israel utilizava de modo claro a liderança instrumental. Veja o que diz Deuteronômio 6.6-9:

E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.

Lendo esse texto, percebemos que Deus desafiou os pais a serem líderes de seus filhos; e pelo exemplo, convivência e ensino, passar a eles as verdades da vida e principalmente da Palavra de Deus.

b. Liderança socioemocional

O mesmo texto acima serve para entender a liderança socioemocional. Ela se caracteriza como sendo a “natureza emocional do relacionamento entre pais e filhos. Enfoca os laços afetivos entre pais e filhos” (BALSWICK, Jack e Judith. A Família: uma perspectiva cristã para a família contemporânea – p. 96). Para andar junto ou estar perto, é necessário desenvolver afetividade. É preciso demonstrar amor e dar segurança emocional aos filhos.

A segurança emocional é vista quando os pais são carinhosos, conversam, expressam o amor verbalmente e em atitudes. Mas a segurança também depende de manifestações indiretas de amor, como: preocupação com horários, companhias, locais, desenvolvimento escolar, saúde, sustento etc.

Page 6: Edu Cacao de Filhos

Pais permissivos demais, indiferentes, que abrem mão de suas responsabilidades, deixando os filhos na insegurança de seu amor, nunca serão bons líderes socioemocionais. A segurança dos filhos depende muito de atitudes claras de um pai ou mãe que de maneira firme, mas amorosa, os conduzem com base em sentimentos genuínos de amor e preocupação. A demonstração em atitudes e a verbalização de sentimentos são importantes e se completam. Filhos precisam ver e ouvir. É na coerência desses dois elementos que eles se sentirão seguros emocionalmente e construirão, no futuro, uma família estável e equilibrada. II – O MODELO DE PATERNIDADE APRENDIDO COM JESUS Myron Chartier, pesquisador cristão, desenvolveu um modelo de paternidade com base no exemplo de Deus para conosco. Em seu artigo, “Parenting: A Theological Model” (Journal of Psychology and Theology. V. 6 – Páginas 54-61 – 1978), ele tenta mostrar, na prática, como os pais podem ter como maior exemplo de educação de filhos o modelo deixado pelo próprio Deus através da Palavra. Vejamos esse modelo de modo contextualizado. 1 – DEUS SE IMPORTA COM SEUS FILHOS. PAIS DEVEM IMPORTAR-SE COM SEUS FILHOS (Lucas 15.11-32; 1 Pedro 5.7) Filhos precisam de segurança. Precisam ver nos pais um interesse genuíno por eles. Deus se apresenta na Bíblia como um pai amoroso e que se importa com seus filhos. Isso é provado pelo modo como Ele cuida de seus filhos. O texto mais relevante para vermos isso é 1 Pedro 5.7: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.” Nós não temos dúvida de que Deus cuida de nós. Porém, muitas vezes, os filhos têm dúvidas acerca do cuidado que seus pais têm para com eles. Pais precisam se importar com seus filhos. Não apenas com o que comem e bebem, como se vestem e onde estudam. Devem ir além disso. Devem se importar com a vida social e emocional de seus filhos. Nunca houve tantos casos de depressão e estresse entre crianças e adolescentes como em nossa época. Muitos filhos estão enfrentando uma série de dificuldades e seus pais simplesmente não têm percebido ou reparado. Pais devem cuidar de seus filhos de forma que eles não tenham ansiedade acerca da provisão e do sustento de seus pais. Filhos se sentem seguros quando seus pais fazem perguntas, demonstram preocupação e interagem em amor. Na história do filho pródigo, narrada em Lucas 15.11-32, vemos que, apesar de sua ganância e estultícia, o filho pródigo continuava a confiar no cuidado do pai, e isso o animou a voltar para casa. Lá chegando, o que encontrou foi exatamente aquilo que, por certo, o despertou a voltar: a provisão e o amor genuíno de quem se preocupa e se importa. 2 – DEUS SOCORRE OS SEUS FILHOS. PAIS DEVEM SOCORRER SEUS FILHOS EM SITUAÇÕES DE RISCO A Bíblia mostra que Deus é um pai que atende o clamor de seus filhos quando pedem por socorro. De todos os exemplos bíblicos, um mostra isso de maneira surpreendente. Veja a narrativa de Êxodo 2.23-25:

Muito tempo depois, morreu o rei do Egito. Os israelitas gemiam e clamavam debaixo da escravidão; e o seu clamor subiu até Deus. Ouviu Deus o lamento deles e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaque e Jacó. Deus olhou para os israelitas e viu a situação deles.

Page 7: Edu Cacao de Filhos

O texto diz claramente que o povo ‘gemia’ e ‘clamava’. O povo estava pedindo socorro a Deus. E Ele “ouviu” e “olhou” para o seu povo. Deus viu a situação do seu povo e o socorreu. Muitos pais dizem que os filhos precisam lutar para ter suas próprias conquistas bem como sofrer para aprender uma série de lições na vida. Concordo com isso. Mas discordo da omissão de pais que são preguiçosos e por isso não socorrem seus filhos. Uma coisa é incentivar seu filho a ser um lutador. Outra coisa é abandoná-lo quando ele está clamando por socorro, ainda que em silêncio. O clamor de um filho se dá diante de situações que fogem totalmente ao seu controle. Pais devem estar atentos, vendo e ouvindo, analisando comportamentos e oferecendo ajuda, em alguns casos até material, para que seus filhos saiam de situações que podem destruí-los. 3 – DEUS ABENÇOA SEUS FILHOS. PAIS DEVEM SER BÊNÇÃO NA VIDA DE SEUS FILHOS Para muitos pais o sustento material é o bastante. Aliás, há pais que de fato oferecem o que de melhor existe em termos materiais para os filhos. E, tendo dado o suporte material, acham que fizeram o melhor que podiam. Não é bem assim.

Há muito engano a respeito da palavra criar. Para muitos homens criar um filho significa sustentá-lo financeiramente até que ele consiga emprego e passe a pagar por suas próprias despesas. Criar é, para eles, basicamente dar comida, sustento, educação e emprego para os filhos. (LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e sua família – p. 147)

O engano a respeito de criar os filhos é que nós, cristãos, às vezes nos esquecemos

que os pais são responsáveis espiritualmente pela educação dos filhos. Além do suporte material, os pais cristãos devem dar suporte espiritual aos filhos. O povo de Israel cria firmemente no cuidado e na bênção de Deus na família. Em Salmo 115.12, vemos isso claramente: “O Senhor se lembrou de nós; ele nos abençoará; abençoará a casa de Israel; abençoará a casa de Arão”. A expectativa da bênção de Deus nada mais era do que a espera pela manifestação de cuidado da parte do Senhor para com o seu povo. Essa mesma expectativa pode fazer parte da família quando os pais assumem o papel de serem bênção na vida dos filhos, assumindo seu papel de responsabilidade espiritual, instruindo-os nos caminhos de Deus, cultuando a Deus e incentivando-os a fazê-lo, e tudo mais que se refira ao cuidado espiritual. O mandamento espiritual descrito em Gênesis 12.2 – “e tu serás uma bênção” – deve acontecer dentro de nossos lares também. Existem pais que são uma bênção para uma série de pessoas, menos para seus filhos. Isso sem falar nos pais que são uma bênção apenas dentro da igreja, mas em casa são na verdade uma influência negativa na vida espiritual da família. Faça um propósito: ser uma bênção para seus filhos. 4 – DEUS RESPEITA SEUS FILHOS. PAIS DEVEM RESPEITAR SEUS FILHOS Apesar de seu poder e glória, Deus respeita seus filhos dando-lhes o livre arbítrio. Ele utiliza o amor para ganhar o respeito e admiração de seus filhos. Seu amor é tão grande, e demonstrado de maneira tão genuína, que somos constrangidos por esse amor: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram” (2 Coríntios 5.14). A falta de respeito destrói o relacionamento entre pais e filhos. O contexto de Efésios 6.4 é exatamente esse: “Pais, não irritem seus filhos”. Em cada fase da vida, o respeito deve ser considerado. Uma criança não tem condições de ser respeitada nas mesmas condições que um jovem, por exemplo. Pais sábios devem considerar a idade e até a capacidade dos filhos

Page 8: Edu Cacao de Filhos

para que, então, lhes deem o respeito necessário para que eles se sintam felizes, animados e, principalmente, encorajados a seguirem firmes em maturidade. 5 – DEUS CONHECE SEUS FILHOS. PAIS DEVEM CONHECER SEUS FILHOS

Muitos pais não conhecem seus filhos. Não entendem seus gostos, preferências, estilo ou ideias. Defendem-se dizendo que são de outra época e se sentem seguros com esse argumento. Deus nos conhece perfeitamente. Não apenas por nos ter criado. Mas também por ter enviado seu filho Jesus em forma de homem. Jesus veio ao mundo em forma de gente (João 1.14) e desta forma a trindade passou a conhecer toda a dimensão do que significa ser gente.

Em Filipenses 2.5-8 Jesus declara que assumiu a forma de homem-servo, abrindo mão de seus direitos divinais e gloriosos. Como seria bom se os pais fizessem o mesmo, abrissem mão de seus direitos conferidos pela paternidade, ou mesmo idade, e tentassem compreender mais seus filhos, buscando meios práticos de interagir, seja conhecendo os gostos deles como também brincando com eles, passeando, assistindo algo junto, praticando algum esporte, ou simplesmente estando perto, observando e até ensinando algo.

Em uma sociedade tão avançada em tecnologia, alguns pais terão que se esforçar para iniciar aprendizados em informática para usarem as mesmas ferramentas tecnológicas dos filhos. E isso, com certeza, valerá a pena. Quanto mais conhecimento dos filhos, mais oportunidades de interação e mais condição de ser conhecido também. 6 – DEUS PERDOA SEUS FILHOS. PAIS DEVEM PERDOAR SEUS FILHOS

A única alternativa para a convivência é o perdão. Sem ele, não é possível conviver, interagir e partilhar a vida. A Bíblia diz que nós fomos perdoados pelo Pai (Mateus 26.28; João 3.16, 17; Efésios 1.7). Na parábola do filho pródigo, o perdão do pai é tão magnífico que uma nova história acontece. Infelizmente, muitos pais não perdoam seus filhos. Diante de um erro, o filho sente temor extremo, verdadeira insegurança emocional e, em alguns casos, prefere esconder a verdade a declará-la, pedindo ajuda e contando com o perdão dos pais.

Filhos que não são perdoados, em geral, não perdoam e aí uma cadeia de amargura é criada. Deixe claro aos seus filhos que eles sempre contarão com seu perdão. Isso os incentivará a perdoarem também, a amarem com uma qualidade excepcional, afinal, uma pessoa perdoada terá a maior prova de amor que alguém pode receber. 7 – DEUS DISCIPLINA SEUS FILHOS. PAIS DEVEM DISCIPLINAR SEUS FILHOS Vencida a discussão sobre castigo, é bom lembrar que a disciplina, que aponta para a correção de rotas e atitudes, é um valor que aprendemos com o próprio Deus. A palavra disciplina tem sua raiz na palavra ‘discípulo’. Disciplinar é, em outras palavras, ‘discipular’ – ou seja, mostrar o caminho certo a partir do próprio exemplo. Temos vários textos que mostram a importância de disciplinar apontando o caminho correto e o que Deus diz em sua Palavra. Alguns desses textos merecem destaque: - Provérbios 3.11, 12 – “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem”. A disciplina amorosa, sábia, que mostra o melhor caminho, essa é aceita com alegria. Pais que se interessam espiritualmente por seus filhos os disciplinam, nem sempre com castigos, mas sim com um discipulado baseado na Bíblia.

Page 9: Edu Cacao de Filhos

- Apocalipse 3.19 – “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se”. Deus repreende a quem ama. E por sermos amados por Ele, somos repreendidos. Parte da repreensão é a própria disciplina, que mostra onde está o erro, mas também onde está o acerto. Filhos diligentes e sábios se arrependem. E aqui está um dos objetivos da disciplina: promover o arrependimento. Devemos ensinar nossos filhos sobre a importância do arrependimento. Mostrar que vale a pena reconhecer os erros pessoais e assumir suas consequências, retornando aos caminhos do Senhor.

QUE LEGADO OS PAIS DEIXARÃO AOS FILHOS? Os filhos de hoje serão os pais de amanhã. Que tipo de pais eles serão? Que educação darão a seus filhos? Essas respostas dependem do tipo de legado que estamos deixando como pais. Estamos construindo o futuro das famílias que virão a partir de nossas famílias. E esse poderá ser um futuro abençoado se deixarmos um exemplo de conduta e de educação familiar que gere neles o desejo de terem uma família que agrade ao Senhor. Jaime Kemp escreveu sobre o legado:

Não basta sermos fiéis nos momentos a sós com Deus. Para que os filhos assimilem a importância de andar com o Senhor a cada instante, eles precisam observar-nos obedecendo-Lhe sempre. Se o pai espera que seus filhos obedeçam às autoridades, regras e leis da sociedade, ele precisa servir de exemplo para eles; você deve ser o primeiro a segui-las. (KEMP, Jaime. Pai inteligente influencia o filho adolescente – p. 219)

Cada pai e mãe, em sua fidelidade, deixam um exemplo claro a ser seguido. Não basta ensinar sobre: é preciso viver o que ensinamos. Pai, assuma seu compromisso em ser usado por Deus na educação cristã de seus filhos. Seja um exemplo de vida e de fidelidade a Deus. Ame seus filhos com um amor verbal e de atitudes. E aprenda com o próprio Deus o que é ser um pai de verdade.

Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez Pastor Titular da Igreja Batista Betel