edição especial - bons vizinhos

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p. 10/11 Há muitos anos que não havia tanta produção de teatro no concelho de Torres Novas. Aproveitando e promovendo essa realidade, o Teatro Virgínia criou o festival Bons Vizinhos para as três peças em produção, apresentando-as de seguida, nos dias 27, 28 e 29 de Março, em Meia Via (Teatro Maria Noémia), Riachos (Casa do Povo) e Torres Novas (Teatro Virgínia). Mereceram uma série de reportagens do jornal O RIACHENSE, após visitas aos bastidores e entrevistas, publicadas em três edições seguidas e agora aqui compiladas. ESPECIAL MOSTRA DE TEATRO BONS VIZINHOS

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A compilação das três reportagens ao trabalho do Teatro Meia Via, Teatro de Riachos e Teatro Virgína, publicadas no jornal O Riachense em Fevereiro e Março.

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p. 10/11

Há muitos anos que não havia tanta produção de teatro no concelho de Torres Novas.

Aproveitando e promovendo essa realidade, o Teatro Virgínia criou o festival Bons Vizinhos para as três peças em produção, apresentando-as de seguida, nos dias 27, 28 e 29 de Março, em Meia Via (Teatro Maria Noémia), Riachos (Casa do Povo) e Torres Novas (Teatro Virgínia).

Mereceram uma série de reportagens do jornal O RIACHENSE, após visitas aos bastidores e entrevistas, publicadas em três edições seguidas e agora aqui compiladas.

ESPECIAL

MOSTRA DE TEATRO BONS VIZINHOS

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19 de Fevereiro de 2014

O objectivo do festival “Bons Vizinhos” é fomentar as relações entre os grupos de teatro locais, disse o director do Teatro Virgínia, Tiago Guedes. Ora, não foi preciso esperar muito tempo: na sua primeira edição (27 de Março, Teatro Meia Via; 28, Teatro de Riachos e 29, Grupo de Teatro do Virgínia), a oportunidade para o intercâmbio concretizou-se. Tratando-se de três peças diferentes, encenadas e apresentadas em locais diferentes, e sendo o Teatro Meia Via (TMV) o único com trabalho consolidado e tradição no concelho de Torres Novas, o grupo de Riachos e o do Virgínia foram lá buscar actores para dar uma ajuda no arranque dos seus grupos. António Paixão, do TMV, está nas três peças.

Tirando os projectos recentes do Panos e do Teatro de Riachos, desde os tempos do GRUTAR, do teatro da Lamarosa e uma ou outra experiência esporádica, o TMV é a expressão do teatro feito no concelho nos últimos 15 anos, pela sua permanente actividade.

Os membros do TMV consideram o aparecimento de novos grupos salutar, não há cá concorrência:

“é preciso é chamar mais pessoas a participar e as pessoas gostarem do que andam cá a fazer” diz Elsa Vieira. “Às vezes há pessoas que nunca pisaram o palco e depois surpreendem-nos, acabam por fazer coisas que não estamos à espera. Por estarmos a trabalhar há mais tempo até podemos fazer melhor… ou pior! É subjectivo, isto não é nenhum concurso”, diz Ricardo Teixeira, que acha que organizações como esta são ideais para que o teatro “se desenvolva a passos largos por cá e haja cada vez mais peças”.

Ricardo Teixeira é o encenador de Assembleia de Mulheres, que é o regresso do grupo ao autor clás-sico Aristófanes, 12 anos depois de Lisístrata ou a greve do sexo, a segunda peça do grupo, encenada pelo fundador Carlos Aurélio e apresentado em diversas localidades. E é o regresso também à comédia e às mulheres como personagens principais, juntando o útil ao agra-dável do encenador que desejava estrear-se precisamente com uma peça que, além de cumprir estes dois itens, tivesse uma temática actual. Elsa Vieira, uma das mais antigas

componentes do grupo, tirou a peça da gaveta e deu-a ao colega. É uma espécie de uma continuação da Lisístrata - uma característica do Aristófanes é a continuidade existente entre as obras.

Enquanto na anterior elas queriam acabar com a guerra, em Assembleia de Mulheres elas vão tomar o poder, para mudar o regime instalado. Há subtexto? Pois claro, o objectivo é esse. A Lisístrata foi feita em plena crise do 11 de Setembro, quando a guerra que ameaçava envolver todo o Ocidente estava todos os dias nas notícias. Agora vemos Assembleia de Mulheres e estão lá bem identificados os políticos que temos: “há personagens que bastava trocar os nomes”, diz Elsa Vieira.

É notável a solidez do grupo do Teatro Meia Via, que mantém um núcleo duro desde o início. Em todas as peças, contudo, há estreantes: Dulce Correia, José Carlos Batista, Elisabete Maurício e João Domingos são os novos actores para a nova peça.

No seu currículo há peças produ-zidas por encenadores contratados e trabalhos propostos por convites externos. Elsa Vieira já faz teatro

há mais de 20 anos, mas diz: “sei que sei muito pouco, nós temos a vantagem de ir variando os ence-nadores, é sempre uma mais-valia, fica sempre qualquer coisa de cada um”. As iniciativas próprias, contudo, são em maior número. Várias peças foram encenadas por alguém de dentro, Carlos Aurélio e Elsa Vieira são os que têm mais experiência nesse campo.

Desta vez calhou ao Ricardo ser o encenador. À sua propos-ta, a direcção encabeçada neste mandato por Liliana Domingos respondeu que haver mais um da casa a encenar, é óptimo. Vários actores já desempenharam essa função, prova de que há iniciativa dentro do grupo, sem complicações e com confiança. Enfim, “a gente sabe aquilo que pode saber, aquilo que vê, aquilo que gosta, vamos todos dando umas achegas, as nossas opiniões, estamos cá todos”. É um trabalho partilhado, afinal são já muitos anos de experiência a trabalhar juntos, e “a coisa está a correr bem. É mais uma mais-valia para o grupo”, avalia Ricardo, que aos 33 anos já leva mais de 15 no TMV. Quando começou, ainda

o grupo actuava sob a égide da Filarmónica e “já havia teatro na Meia Via com fartura”. Começou na Filarmónica em 1984, o TMV foi autonomizado em 2001, é residente no Teatro Maria Noémia desde 2006 e já apresentou 15 peças.

Não há nada de obrigação no trabalho do TMV. As coisas surgem no seio do grupo, em conversas, em ambiente familiar e, natural-mente, faz-se uma peça por ano, às vezes duas. Foi o que aconteceu mais uma vez.

O TMV é uma colectividade que vive da proximidade com os seus sócios e amigos, e isso reflecte-se nos ensaios. Como em todas as associações, exige sacrifício, pois é difícil conciliar a vida profissional e familiar, mas há “um bichinho que fica quando acaba uma peça”. Não é só pelo espectáculo que os actores mantêm a chama viva. “Gosto mais dos ensaios, de vir para aqui durante a semana, do que ir para o palco no dia do espectá-culo”, diz Elsa, corroborada pela Patrícia. Há um efeito terapêutico na experiência do teatro, confessa Elisabete, é uma arte que cumpre um bem muito grande para a so-

Teatro Meia Via volta a dar o poder às mulheres

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Nem só de mulheres é feita a nova peça do TMV. António Paixão (à esquerda) entra nas três peças do Bons Vizinhos

Teatro Meia Via volta a dar o poder às mulheres

Ricardo Teixeira (à direita) estreia-se na encenação com Assembleia de Mulheres.

ciedade, diz o Paixão. Aumenta-se a cultura, diz o Carlos, e “fica-se mais desinibido”, acrescenta o Fábio. “Com o teatro conseguimos sempre ir mais além naquilo que sabemos que conseguimos fazer”, conclui o Ricardo.

No TMV vive-se do colectivo, mas o trabalho já vive por si. Os actores dizem aperceber-se que há cada vez mais público nas suas apresentações, muitas pessoas que, após ver um espectáculo, aparecem nos seguintes. É porque se aperce-bem da qualidade dos projectos, escolhidos sempre a dedo, de bons e consagrados autores.

Voltando à conversa do festival Bons Vizinhos, a opinião é unâni-me: é bom que se desenvolva nos espaços de cada grupo, porque isso faz com que o público circule mais do que se fosse tudo focado no Virgínia. Além disso, até está a fomentar um grupo de teatro novo (Virgínia) e porque oferece os workshops, tão necessários ao desenvolvimento dos grupos. Se bem que a oficina de dramaturgia ficou aquém das expectativas: no TMV estavam todos à espera de uma coisa mais prática e objectiva.

Já a de iluminação valeu a pena. Falta a de cenografia, que se realiza na Meia Via.

Mas a presença do teatro mu-nicipal é também uma bênção para esta gente que tem amor à expressão dramática. Vários actores do TMV participam sempre nas oficinas de teatro e dança que são dirigidas à população (como aconteceu com o Patrick Lander, a Alda Bizarro, a Susana Gaspar, a Madalena Vitorino e noutros trabalhos com a comunidade). Cresce sempre “aquele gosto de aprender mais para subir ao palco com um pouco mais de confiança”.

O Virgínia deveria fomentar mais actividades de formação, assim se fabrica a ligação com a comunidade, diz Ricardo Teixeira. Mas apela: os workshops não podem ser só uma tarde, é muito pouco. E as pessoas estão disponíveis para trabalho mais intensivo. Para a Assembleia de Mulheres, contaram com a aju-da complementar de oficinas de dramaturgia e formação de actores, com a Helena Flor. E conclui o Ri-cardo: “não é por sermos amadores que não podemos trabalhar como profissionais”.

Ricardo Teixeira é o encenador de Assembleia de Mulheres, o regresso do Teatro Meia Via às obras do autor clássico Aristófanes, 12 anos depois de Lisístrata ou a greve do sexo, a segunda peça do grupo. E é também o regresso à comédia e às mulheres enquanto agentes políticos decisivos.O encenador quis estrear-se com uma peça que, além de cumprir estes dois critérios, remetesse para uma temática actual. O subtexto da peça é por demais evidente, diz Elsa Vieira.

Não é só pelo espectáculo que os actores do TMV mantêm a chama viva. “Gosto mais dos ensaios, de vir para aqui durante a semana, do que ir para o palco no dia do espectáculo”, diz uma das actrizes. Outra confessa que, para si, há na experiência do teatro um efeito terapêutico.

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A peça Antígonas vai trazer identidade ao Teatro de Riachos. São os próprios membros do elenco que acreditam nisso, na perspectiva do seu crescimento enquanto actores

Como transformar uma peça trágica numa peça poética, por um pequeno grupo de teatro

Teatro de Riachos, teatro de formação

Em 2001, Joaquim Alberto lembrava neste jornal a história do teatro em Riachos. Disse então que a actividade dependeu sempre da existência de um ensaiador totalmente dedicado e nomeou o monsenhor Paulo Marques e a professora Maria do Rosário nos anos 1920 e 30, o António Tomé e o Joaquim Dias na década de 40, o Neca na de 50, o Guilherme Nuno entre 1950 e 1960, o Masofi nos anos 80 e 90 e, claro, o Alfredo Chora durante toda a vida. O reaparecimento do teatro em Ria-chos dependeria do aparecimento de uma pessoa assim.

Há três anos, Hugo Gama teve a coragem de arrancar com as oficinas de iniciação ao teatro na Casa do Povo. Um dos objectivos, a médio prazo, era a constituição de um novo grupo. O conheci-mento académico e a experiência profissional diziam-lhe: a formação é essencial. A apresentação do primeiro espectáculo, Povoação Vende-se, encenada por Masofi com alunos das oficinas do Gama, foi feita na Bênção do Gado de

2012, e hoje, enquanto se prepara a segunda peça da vida do novo Teatro de Riachos, é o elenco que diz: a formação é essencial.

“Claro que há uma experiência que as pessoas ganham, de pisar o palco ao longo de muitos anos. Quem não tem essa experiência precisa de uma experiência formativa, que lhes permita entender a linguagem e a ter a disponibilidade para o teatro”, diz Gama, que estabeleceu o seu objectivo: “comprometo-me a fazer a formação de boas equipas de trabalho, que depois entrego nas mãos dos encenadores”. Porquê? Porque “a minha vocação é mesmo levar o teatro às pessoas, conseguir que o teatro volte a ser uma arte popular, uma arte verdadeiramente acessível, não perdendo a qualidade. E as oficinas são a porta de entrada”, para esse teatro. Em Maio, arrancam as próximas oficinas.

Antígonas foi proposta ousada mas adequada

Joana Direito ficou com a per-sonagem principal, a Antígona, na peça a apresentar com encenação da Célia Barroca. Uma jovem sem experiência, que entrou nas oficinas

há três anos e – vimos um ensaio, é seguro – já abraça um papelão daqueles com relativa facilidade e segurança. Todos os actores mais experientes do grupo ( José Rito, Carlos Petisca, António Paixão, João Vieira e Hugo Gama) o confirmam. Dos doze do elenco há ainda o António Duque, a Célia Correia, a Fátima Antunes, a Liliana Simões e a Luísa Nunes com pequenos papéis já feitos, e a Margarida Lopes e a Joana Direito, estreantes absolutas. Seis são riachen-ses, seis vêm de terras à volta e todos passaram pelas oficinas.

“Quando dizemos que estamos a fazer a Antígona, a reacção é sempre a mesma: eia pá, isso é tremendo!”, revela o actor José Rito a um mês da estreia. Sim, é uma grande tragédia grega o segundo projecto do Teatro de Riachos, para apresentar já no dia 28 de Março, no âmbito do festival Bons Vizinhos. Mas não é preciso o público ficar já a tremelicar por causa da eventual densidade da peça. Primeiro porque, apesar de trágica, a peça é muito “bonita e poética”, nas palavras de Célia Barroca. Se-gundo, porque esta Antígona não é a de Sófocles, é Antígonas, baseada na Antígona de Jean Anouilh, uma

peça contemporânea com a qual o Teatro de Riachos está a dar um passo de gigante na sua consolidação como grupo. O José Rito diz que é quase “um conto de fadas, embora na essência esteja lá a tragédia. Mas fala-se em carros conduzidos a alta velocidade, em fumar os primeiros cigarros, sentar numa secretária. O Anouilh deu-lhe uma forma mais poética, mais romântica e menos dramática”. Terceiro, porque tem actores muito bons e porque “quem quer ir ao teatro, quer ir mesmo ao teatro”, proclama o actor João Vieira, enaltecendo a qualidade do projecto. Ou porque, como diz Rito, o mais experiente actor riachense, “a nossa assistência gosta dos dois extremos: ou a comédia de partir o coco a rir ou o drama de fazer chorar a pedra da calçada. Aquela peça ali no meio, às vezes não entende”.

Foi uma proposta ousada que deixou Gama muito contente. “Quando a Célia me falou na Antígona, eu pensei logo: é isto! Tínhamos de dar um passo em frente em relação à Povoação, que é boa, mas relati-vamente simples. Para mim, o mais interessante de tudo era ver o desafio que esta peça traria para todos nós

enquanto actores. Imaginei logo o Rito a fazer de Creonte”. Para José Rito representar é como andar de bicicleta, nem 20 anos afastado do palco fizeram dele um actor inseguro. Assim que se reformou, renasceu o bichinho e procurou logo o Masofi para ver onde andava o teatro cá na terra. Logo no seu regresso, durante os ensaios da Povoação Vende-se, o Gama decidiu logo que o Rito a seguir tinha de fazer um grande papel. “Para mim [o Creonte, rei de Tebas, o tio que manda matar a sobrinha Antígona] é o papel da vida dele. Ele, com tanta bagagem e qualidades, tem que se preencher com um papel à altura”.

Há poucos pontos de ligação deste segundo projecto do Teatro de Riachos à peça inaugural, tiran-do o elenco. “A comparação entre a Povoação e a Antígonas vai ser inevitavelmente feita e o público vai perceber que apostámos numa coisa a sério. Éramos putos e agora estamos a entrar numa adolescência já fortes. O próximo encenador vai apanhar um grupo mais consistente”, diz João Vieira, “a Antígona vai trazer uma identidade ao Teatro de Riachos, uma identidade muito

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forte. Quem se sentar a assistir a esta peça, vai perceber: isto é um grupo de teatro»”.

Há o risco de dar um passo maior que a perna? Há, mas a verdade é que o peso do texto esbateu-se perante os benefícios da continuidade do processo de formação. Além disso, “por haver esse risco é que nós aqui andamos, senão não valia a pena”, diz o Petisca, que tem um enorme currículo nas artes cénicas, com responsabilidades no Grupo Dra-mático da Chamusca, e que viu nas formações do Gama a possibilidade de aprofundar algumas das práticas que já tinha.

“É a primeira vez que trabalho com uma encenadora licenciada. Preciso destes momentos, ando feliz. Com ela a dizer-me a técnica, a direccionar-me para o conhecimento teórico da arte. É difícil os amadores terem acesso a estes conhecimentos. É isto que os actores às vezes procuram, trabalhar com profissionais”. E assim passamos à Célia Barroca.

Trabalhar com quem sabe é outra coisa

As experiências do Gama e da Célia Barroca conjugam-se em Antígonas. Tanto um como o outro não têm apenas o traquejo do pal-co, são estudiosos e têm uma forte vertente didáctica na sua orientação. “É excelente, realmente consegue preparar a pessoa para, antes de ser actor, perceber o que é o palco, o que é estar direito, andar… eu era demasiado teatral no andar. Foi uma carga de trabalhos ir à neutralidade. E a pessoa conseguir brincar com estes sentimentos através dos jogos que o Hugo faz na formação, é excelente. Se não fosse a formação, duvido que a Joana conseguisse fazer este papel”, avalia o Petisca, habituado à expressividade aumentada do teatro de comédia e espantado pela perfor-mance que está a conseguir através da contenção dos gestos: “é um prazer trabalhar com a Célia, que tem mesmo o conhecimento do teatro. Quando andas sempre no mesmo sítio, se não experimentas coisas novas achas que estás sempre bem”.

O João Vieira gosta da forma como a Célia trabalha: “É um processo muito liberal, que nos deixa des-cobrir as coisas”. É que o gosto por uma peça densa como esta vem com o processo de construção e com a explicação de aspectos menos visíveis da história, e “a Célia tem muito essa preocupação. De percebermos o que é que ela vê. Agora vejo que é uma peça riquíssima”.

No início ninguém gostou de ler a Antígona. A Luísa Nunes ficou receosa quanto à escolha de uma coisa tão pesada, “num momento

de crise, em que toda a gente anda apreensiva com tudo”, uma peça destas podia não cair bem no público de uma terra pequena.

O Rito enaltece o trabalho pré-vio de estudo da peça, em que, em conjunto, o grupo “interpretou frase por frase, fala por fala... Cada um de nós via isto de uma maneira diferente, tivemos de contextualizar as personagens na história, o que se passou antes com o Creonte e com a Antígona, com os irmãos, entre eles”. O António Paixão diz que com esse trabalho que a Célia fez “houve uma aceitação da peça e ela deixou de ser aquele papão, estamos dentro dela, com mais gosto e mais paixão.”

Porque é que os actores estão agora

muito à vontade com uma peça que era difícil há um ano e meio? A Célia explica: “eles não sentem esse peso porque a peça tem cenas muito bonitas, muito poéticas”.

O público tem o direito de ver teatro a sério. Para Fátima Antunes, a Antígona, hoje, acaba por ser uma reflexão também ao nível da “crise de valores por que passamos. Nesta peça morre-se por defender um valor, a família, e isto deixa-nos a pensar”.

Por fim, o Gama, que apesar de já ter sido actor profissional, considera que tem em Antígonas o seu maior desafio: “nunca tive um papel desta densidade. Ser orientado pela Célia, enche-nos realmente as medidas. Este é um nível de interpretação

mais interior, mais profundo: choras por dentro, tens aquela sensação que, para o actor, é deliciosa. O truque da tragédia é este: estar a chorar e por dentro estar felicíssimo por estarmos a conseguir chorar”.

O talento está em toda a parteApesar da experiência de actriz e

professora, Célia Barroca encena uma peça pela primeira vez. Diz que tem a sorte de ter um grupo de eleição, que a recebeu muito bem, e que “o talento está em toda a parte”. Agradecida pela disponibilidade que os actores lhe deram ao longo de ano e meio, diz que “o teatro é um sacerdócio. As pessoas estão felizes por estar juntas e isso é meio caminho andado para se

fazer um bom trabalho. E há muita qualidade neste grupo: corporal, vocal, de expressão, espero que o público veja isso”.

A intensidade dos papéis é mes-mo o principal factor para o salto qualitativo do grupo. A definição do papel de Antígona teve duas contrariedades ao longo do proces-so. A actriz inicialmente escolhida desistiu por causa da exigência que ele implicava. A Célia aproveitou então a contrariedade para retratar a duplicidade da personagem com duas actrizes a fazerem o papel, ambas estreantes e muito prometedoras, saídas das oficinas de formação. No entanto, já em Janeiro deste ano, por razões pessoais, a Margarida desistiu. E ficou a Joana Direito, “que é mesmo uma Antígona”, “não havia actriz melhor para o papel”, “uma grande surpresa”, dizem vários elementos do grupo. O actor mais velho (Rito, 65 anos) contracena com a actriz mais nova ( Joana, 16) nas cenas centrais.

Da Joana, não conseguimos arrancar grande coisa. Diz apenas que está a gostar muito mas que a avaliação, só no fim. Insistimos. “A peça? Fiquei assim um bocadinho a pensar: isto é forte! Mas à medida que fomos avançando, fiquei com-pletamente rendida”.

O talento está em toda a parte, e em Riachos também, está visto. “Não tenho palavras para dizer o quanto admiro este grupo. Vêm de fora, com sacrifício, e para o ano até podem ser mais. Gostava que isto servisse de exemplo aos riachenses, que pensam que a gente vem para aqui só passar o tempo, e dizer-lhes que isto é uma casa aberta, uma casa de arte e onde se aprende”, diz o Rito, ao elogiar os seis actores que vêm de Entroncamento, Alcanena, Malhou e Chamusca para ensaiar em Riachos.

António Duque, um riachense que mora há 30 anos em Malhou e agora é o presidente da Junta, veio a uma oficina com o Gama porque foi nesta casa que aprendeu a gostar de teatro. “Eu vinha para aqui e via o Rito, o Masofi, o Joaquim Men-des, a Célia e outras pessoas, e isso marcou-me, eu tinha 15/16 anos e eles abriram-me os olhos para o teatro”. Já participou em vários projectos de expressão dramática mas lembra-se do espanto inicial: “naquela altura eu via o teatro e pensava sobre o Rito: como é que aquele indivíduo, que em casa e na rua é uma coisa completamente diferente, e vem para aqui e é isto? Foi um despertar. E venho agradecer isso e apelar ao pessoal do Riacho para vir aqui mais. Eu tenho aqui muitos amigos e se vier aqui meia dúzia de amigos meus ver a peça, já fico contente”.

Como transformar uma peça trágica numa peça poética, por um pequeno grupo de teatro

Em Antígonas, o José Rito tem o papel da sua vida, diz Hugo Gama. Nos papéis centrais da peça, o actor mais experiente do elenco contracena com Joana Direito, a actriz mais nova, uma revelação

A forma de trabalhar da encenadora Célia Barroca transformou a visão que todos tinham da peça

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O Físico: a desconstrução e o convencional numa peça que criou muitas expectativasBONS VIZINHOS

Comecemos pela contextua-lização histórica. Não se sabe se a peça O Auto do Físico, escrita em 1587 por Jerónimo Ribeiro, nascido em Torres Novas, alguma vez foi encenada antes daquela vez em 1973 quando Lúcio Vieira a trabalhou com o Grupo de Teatro Experimental do Centro de Juventude. Há quase 41 anos era tudo gente com idades entre os 14 e os 18 anos e o espectáculo alcançou um acentuado êxito no palco do velho Cine-Teatro Virgínia, ressoando até aos nossos dias. Vai daí, em 2013, o actual presidente da Câmara sugeriu ao actual director do Virgínia uma reposição, ideia que serviu que nem uma luva na visão mais virada para a criação artística e interacção com a comunidade que Tiago Guedes inaugurou.

Com a peça impregnada no ima-ginário de muita gente em Torres Novas, remontar o espectáculo de Lúcio Vieira era possível, diz o programador, mas actualizá-lo era melhor. Optou-se então por dar-lhe uma terceira vida, inserida no contexto de apoio aos grupos de teatro amador que tinham vindo a manifestar uma necessidade de formação. O objectivo era criar uma coisa nova, tentar fazer algo que exiba “o percurso da peça” e que, como artisticamente “se volta a fazer a mesma coisa, mas de uma maneira diferente”. Convocou-se então um grupo de criativos para ajudar a formar um novo grupo de actores.

Na antevisão do espectáculo final, Tiago Guedes diz que “a proposta inicial está lá, mas revisitada” e confessa-se muito surpreendido com o resultado.

Uma “compilação de contributos”

“Co-criação” foi talvez a expressão mais repetida na entrevista à equipa e ao elenco de O Físico. “Compilação de contributos” foi outra.

Éramos para fazer uma entrevista aos criadores do espectáculo, que já sabíamos ter sido montado de origem e não remontado a partir da encenação nos anos 70. Verificámos afinal que os criadores também es-tavam no palco; cada um dos onze actores fez a base do seu texto, deu propostas, mandou larachas, umas aproveitadas outras não, cada um construiu a sua personagem.

Hugo Gama (encenação), João Luz (texto), Marta Tomé (movimento e posturas) e Carlos Gameiro (música e voz), são quatro pessoas que, “no limite, fazem a moderação do pro-cesso criativo. Não se pode falar em condução, é mais uma moderação”, exorta João Luz, oito meses depois

do começo dos trabalhos e a quinze dias da apresentação ao público. Mesmo entre estes quatro riachenses de idades aproximadas, que se co-nhecem há muitos anos mas nunca tinham trabalhado juntos, não há uma divisão rígida de tarefas. Quer dizer, há divisão de tarefas mas não há sectarismos nem melindres: cada um intervém onde quer, não há autoridades. Um trabalho de grupo a que Hugo Gama chama de “con-taminação de ideias” e que abrange os actores. “Boa comunicação, um respeito muito grande e uma grande liberdade nas nossas opções” são os ingredientes encontrados. “E uma grande confiança entre todos” acrescenta a actriz Célia Correia.

Esta maneira de trabalhar acon-teceu de uma forma natural, dizem. Talvez o facto de Hugo Gama, o único profissional do teatro e da encenação, e aquele que era para ter sido o encenador principal, ter estado ausente nas primeiras semanas em que se trabalhou no esqueleto do espectáculo, tenha levado os outros três, vindos do cinema (Luz), da dança (Tomé) e da música (Gameiro) a assumirem uma postura de abertura total para com uma verdadeira criação de grupo. E já antes (tudo começou com um workshop/audição, em Junho, cujo objectivo era criar um grupo de teatro torrejano em que compareceram mais de 30 curiosos) tinha Gama iniciado os seus métodos livres e os seus exercícios de improvisação

para dar o mote ao que se seguia.Mas também porque não havia

modos prévios de funcionamento. “Há um entusiasmo natural por nos estarmos a conhecer através do processo criativo. No fundo, é um pretexto para nos juntarmos e criarmos algo em comum”, diz Gama.

Daí que o que vamos ver em palco não é uma peça de teatro conven-cional. Porque o próprio processo criativo foi tudo menos normal, “o resultado final é uma reflexão sobre o trabalho que se fez ao longo destes meses todos”, diz Carlos Gameiro, que não na encenação uma peça escrita no tempo de Gil Vicente, antes “uma coisa completamente nova que já não é a peça do Jerónimo, se calhar a única coisa que herdou dessa peça foi o nome. É muito mais isso do que um objectivo que se teve desde o início. [Vamos] recriar em cima do palco todo o processo, desde arranjar pessoas para fazer o Auto do Físico”.

Não foi nada combinado, confir-ma Marta Tomé; “tínhamos o texto original, pegámos nos actos, nas cenas e personagens, fomos fazendo propostas de exercícios”. Tal como acontece na dança, em vez de se seguir um texto que já estava escrito atira-se a essência das coisas para o ar e, depois da respiração, expira-se uma coisa diferente. “Começámos a fazer umas entrevistas e começaram a surgir determinadas características naqueles personagens. Depois criaram--se uns exercícios de improvisação

através de um texto que a Cláudia redigiu. As personagens já eram outras que não as originais, tal como o texto. Foi muito experimentalista porque começou com experiências, não se chegou lá e atribuiu as per-sonagens”, diz. “Acordar as criaturas do Jerónimo Ribeiro, acordá-las do sono criogénico. Imagina que elas estagnaram naquela altura, num sono secular e nós estamos a trazê-las ao de cima”, diz o João Luz sobre a actualização da peça.

Mas o enredo de Jerónimo Ribeiro mantém-se. Tal como o original, o actual continua cómico, jocoso, gro-tesco, não porque assim se quis, mas porque “não se fugiu a esse registo”.

A Cláudia Lopes, uma das ac-trizes, com talento para a escrita e que acabou por ficar com um papel singular, fez a tradução do texto, a actualização da linguagem. Depois dessa redução, o João Luz fez a “dupla filtragem, sempre no sentido de o concentrar nos núcleos dramáticos mais importantes”. Há muitos contributos dos textos que cada um escreveu, o que levou a “uma certa subversão do texto do Jerónimo, sem perder a sua intenção original”. A publicidade à peça, feita nas redes sociais, não é enganosa: “A partir d(o) texto de Jerónimo Ribeiro”. “É uma compilação de contributos”, diz João Luz, talvez por isso vemos um pedestal para cada actor em cima do palco. O Gama reforça a ideia da contaminação de ideias: ”a partir das propostas

que a Marta faz, eu acabo por ter algumas ideias, o João, a partir das minhas, tem outras ideias, e assim sucessivamente. É um processo de contaminação mútua, não há uma metodologia definida, há é uma procura de uma forma de fazer”.

“O método é experimental, mas dizer que é uma peça experimental é um bocado abusivo. Se calhar as interpretações que vão estar em palco já as vimos noutras peças, ainda que doutras formas”. Ainda segundo o realizador de cinema que nunca tinha feito teatro antes, “não se pode dizer que seja uma peça original, ex-perimental ou vanguardista. Porque tem elementos de várias abordagens teatrais; tem elementos convencionais e tem elementos de desconstrução. No fundo é um puzzle”, conclui.

“O texto partiu da cena para o papel e não o oposto. O texto do Jerónimo Ribeiro foi embutido na estrutura dramatúrgica, foi a última coisa a aparecer”, diz João Luz. A construção das personagens foi filmada para os actores fazerem a sua auto-análise e perceberem qual era o caminho que queriam seguir. “Houve um efeito de acumulação. As propostas dos actores foram sendo arrumadas, polidas” diz.

Não é um trabalho fácil, diz a Marta, “é preciso uma grande dose de generosidade da parte das pessoas, se eles não estiverem com vontade, o trabalho não segue. É pedir-lhes muito, isto é tudo gente de trabalho”.

João Luz observa que “esta meto-

O que se vai ver em palco é a recriação de todo o processo de construção das personagens, para o qual todos contribuíram, encenadores e actores

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O Físico: a desconstrução e o convencional numa peça que criou muitas expectativasdologia põe em causa a necessidade de [os actores] se sentirem seguros daquilo que estão a fazer, quase que afasta isso”. O risco de co-criar com actores estreantes era muito mas o trabalho foi conseguido “porque houve confiança e uma entrega muito grande. O ponto em que se deu uma base muito sólida para essa segurança foi atingido há muito pouco tempo. Dois terços do trabalho foi para chegar a essa base”.

Carvalho, actor, confessa que surgiram muitas interrogações com o passar dos meses: “já nos conhecíamos todos, já aqui andávamos há muito tempo, e interrogávamo-nos: ‘quando é que nós começamos a ensaiar a estreia? O texto, quando aparece?’”. Normalmente o guião é entregue logo no início, aqui apareceu só há dois meses. Mas o Gameiro diz que “não se pode dissociar o trabalho anterior. No trabalho anterior já ia um bocadinho das personagens”.

Para Andresa Olímpio, Anisa Almeida, Cecília Lopes, Cláudia Lopes, Daniel Teixeira, Luísa Pereira, Marco Neves e Miguel Viegas é a primeira vez que vão estar em palco. António Paixão é muito experiente, Célia Correia começou em 2012 no Teatro de Riachos e Carvalho da Silva aproveitou este desafio para regressar a uma actividade que conhece bem.

Para todos a metodologia de O Físico é uma experiência nova.

Carvalho dinamizou o grupo O Grito na Lamarosa, que acabou há dez anos, mas nunca fez nada assim, “completamente diferente do que estava habituado a fazer”. O Físico “é a nossa criação com o impulso deles [Luz, Gama, Tomé e Gameiro]”, resume. “É interessante ver o trabalho destas quatro pessoas, ver como eles se interligam tão bem, sem se conhecerem, é tele-patia talvez…”, refere ao confessar que só no momento da entrevista se apercebeu que é a primeira vez que eles estão a trabalhar juntos. “É um corpo com quatro cabeças e oito olhos”, diz o Gama.

Sobre o futuro desta experiência, há apenas o entusiasmo patente, tanto nos criadores e no elenco como na direcção do Virgínia. Companhias de teatro municipais residentes já não existem em lado nenhum, diz Guedes. Por isso, vai continuar a haver um grupo de Teatro do Vir-gínia, talvez à imagem do projecto juvenil Panos (que, por conceito, de ano para ano muda de compo-nentes), numa versão para actores adultos, assumindo-se como mais um projecto com a comunidade. Mas, seja no seio do Virgínia ou de forma independente mas com o seu

imprescindível apoio, o grupo que fez O Físico (e quem sabe a meto-dologia dos quatro magníficos que o individualizou) é para continuar.

Destruir as expectativasEsta abordagem contemporânea à

peça poderá criar algumas tensões no público, tal como qualquer projecto artístico arrojado. Da versão do Lúcio Vieira havia o texto, o registo fotográfico e as recordações das pes-soas. As expectativas “vão embater no resultado final”. Surpresas pela positiva e reacções negativas, ambas vão existir, de certeza. Alguns dos intervenientes actuais acham que, no extremo, até pode haver pessoas a abandonar a sala. Talvez algumas pessoas que pensam que as peças devem ser apresentadas exactamente como foram concebidas, ou alguns ultra-ortodoxos ou “puristas do teatro”.

Por outro lado, afastam qualquer sombra de falta de confiança; se a peça está tão gira, tão cómica, tão diferente, e se estão a gostar tanto (no ensaio a que assistimos, havia gargalhadas constantes) como podem os outros não gostar?

Enfim, “sabendo que essas reacções vão existir, os receios não existem”, é o próprio Tiago Guedes que o diz, lembrando que, em vez de remontar o espectáculo juntamente com o

Lúcio Vieira, optou-se por algo novo. A Marta Tomé diz que houve

preocupação com o público, mas apenas no que respeita à qualidade apresentada e ao rigor do trabalho. “Vai ser muito interessante ouvir as reacções dos intervenientes anteriores, actores e encenador, se bem que é sempre muito compli-cado”, diz a bailarina e coreógrafa, habituada às muitas formas de revisitação que a dança usa.

Já João Luz é directo ao falar sobre as expectativas: “esta peça é um teste ao preconceito que possa existir”, “porque há referências, há um texto conhecido”, “até admito que nós tivemos em conta o destruir esses preconceitos”.

A recuperação dos agentes artísticos locais

Desde que, há meia dúzia de anos, começou o projecto de tornar o Teatro Virgínia uma âncora da programação cultural na região, ainda não tinha havido tanto desenvolvimento de projectos com a comunidade e com os artistas locais. “Numa óptica de trabalho residente ao longo do ano, aqui no palco, de trazer as pessoas para aqui, ainda não tinha aconte-cido”, diz João Luz satisfeito com o momento actual. “É a recuperação de tempo perdido” diz sobre o trabalho

artístico efectivamente produzido no concelho com a tutela pública. “O projecto dos Bons Vizinhos vem reabilitar a ideia de trabalhar na comunidade com o seu palco principal, o Virgínia”.

A Marta Tomé diz que “estes equipamentos só fazem sentido se funcionarem em prol da comunidade. Quem deve usufruir deles são primei-ramente as pessoas de Torres Novas, [pois] nós todos contribuímos para isto, o teatro tem apoios camarários para funcionar. Não pode ser só para dar espectáculos às pessoas da terra. Deve servir para os grupos amadores e colectividades, bem como para os artistas profissionais locais. Este serviço à comunidade deve ser fomentado”, conclui.

A interligação da escala local com a nacional é outro factor valorizado pelos artistas locais, “que agora atingiram uma certa maturidade e estão prontos para mostrar trabalho”, diz. O Bons Vizinhos juntou os três grupos de teatro em oficinas temáti-cas com profissionais, considerando João Luz que o trabalho com figuras dessa escala traz conhecimento e experiência. “Recupera-se os agentes artísticos locais e recupera-se público, porque se nós trabalharmos com as pessoas de cá, as pessoas de cá vêm ao teatro”.

Estas não são as criaturas de Jerónimo Ribeiro. O texto e os personagens são novosOs actores são quase todos estreantes (em cima). Marta Tomé e Hugo Gama (em baixo)

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Reportagens publicadas nas edições 739, 740 e 741 em Fevereiro e Março de 2014Textos e fotografias de André Lopes

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