ecologia e gestão de albufeiras
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
CAPÍTULO 3 – ECOLOGIA E GESTÃO DE ALBUFEIRAS♣
1. INTRODUÇÃO
Por limnologia designa-se o estudo das relações funcionais e da produtividade das
comunidades biológicas existentes em águas doces, reguladas pela dinâmica dos factores
do seu ambiente físico, químico e biológico (WETZEL, 1983). A limnologia enquanto área
científica autónoma emergiu no início do século XX, nos lagos temperados da Europa e
América do Norte, à medida que se tornou óbvia a importância das águas doces como
suporte de sistemas ecológicos complexos e específicos e a necessidade de os gerir face às
alterações ecológicas que evidenciavam e que tinham origem em actividades humanas.
Contudo em Portugal, os fundamentos teóricos da limnologia são ainda pouco aplicados.
As águas doces podem dividir-se em dois tipos ecológicos fundamentais, um que
apresenta um fluxo unidireccional temporário ou permanente de água e de materiais
orgânicos ou inorgânicos, suspensos ou dissolvidos (rios, valas e canais), correspondente
às águas lóticas, e um que não apresenta movimentos unidireccionais significativos (lagos,
lagoas e albufeiras), correspondente às águas lênticas. Estes dois grupos apresentam
características ecológicas distintas e a sua gestão ecológica necessita do conhecimento do
seu funcionamento.
Os animais e plantas aquáticos não existem isolados do ambiente abiótico e biótico
que os rodeia, mas num equilíbrio dinâmico com este, que é função de factores
hidráulicos, físicos, químicos e biológicos. Nesse sentido, evitou-se a descrição exaustiva
das formas biológicas ou de conceitos ecológicos generalistas, optando-se por desenvolver
aspectos limnológicos relacionados com aqueles factores, ou seja, o cenário no qual se
inserem as comunidades biológicas e a partir do qual se pode interpretar a sua estrutura
evolução e comportamento, pese embora a forma mais complexa e especializada do texto
resultante. Esta abordagem pareceu mais adequada ao objectivo de proporcionar formação
para a gestão ecológica de albufeiras.
♣ Maria Teresa Ferreira, Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia. Texto extraído e adaptado de Ferreira (2000).
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2. DINÂMICA TÉRMICA E ESTRUTURA VERTICAL DE ÁGUAS LÊNTICAS
O espectro térmico de cada massa de água lêntica e suas variações sazonais
determinam o espectro de tipos biológicos aquáticos aí existentes e respectivo
funcionamento ecológico. Um dos aspectos mais importantes da ecologia lêntica é a
estruturação vertical das suas comunidades biológicas, que é função de processos físicos e
químicos ocorrentes na massa de água.
Em zonas temperadas, a temperatura varia em profundidade sazonalmente
estabelecendo-se uma estratificação vertical. Durante a Primavera, as águas superficiais
das massas de água são aquecidas mais depressa do que se faz a distribuição térmica ao
longo da coluna de água, formando-se três estratos resistentes à mistura (estratificação
estival): uma zona superior mais quente, menos densa e viscosa, uniformemente aquecida,
chamada epilímnio; uma zona inferior mais fria, mais densa e viscosa, relativamente
inalterada, chamada hipolímnio; e uma zona intermédia de forte descontinuidade térmica,
chamada metalímnio, onde a cota a que ocorre a taxa máxima de descida de temperatura se
inclui e que é designado por termoclíneo. Porém, se a profundidade não for suficiente
(inferior a 5 m) ou e/ou existir acentuada turbulência, a estratificação torna-se muito
instável e tende a romper-se frequentemente, como acontece na albufeira do Rio da Mula
(Sintra).
No fim do Verão e no Outono, a descida de temperatura do ar tem como
consequência uma perda de calor pelo massa de água, superior à entrada de radiação solar.
A água da superfície vai sendo misturada por uma combinação de correntes de convexão e
circulação epilimnética induzida pelo vento, verificando-se uma erosão progressiva do
metalímnio, até todo o volume de água estar incluído na circulação outonal, apresentando
toda a coluna de água a mesma temperatura. À medida que o Inverno progride, a
temperatura do ar diminui tal como a temperatura da água à superfície, até atingir valores
próximos do correspondente à densidade máxima desta (4ºC). Forma-se então uma camada
de gelo à superfície, que isola a massa de água dos efeitos do vento, com perda de calor da
camada de água imediatamente adjacente ao gelo, que se torna mais fria, mais densa e
viscosa, do que a zona em profundidade (estratificação invernal). O aumento da
temperatura na Primavera derrete rapidamente o gelo, dando origem a uma circulação
primaveril. Contudo em zonas temperadas quentes, a temperatura das massas de água no
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Inverno não desce abaixo dos 4ºC, pelo que a circulação se mantém todo o Inverno e a
estratificação todo o Verão, um padrão designado por estratificação monomítica quente. É
o que acontece em praticamente todas as albufeiras ibéricas.
A Figura 3.1 ilustra a evolução térmica típica numa albufeira da Península Ibérica,
Aracena, na bacia do Guadalquivir (TOJA, 1984). A estratificação estival começa a
formar-se em Março, permanecendo até Setembro. O epilímnio encontra-se a 29ºC à
superfície no Verão e o hipolímnio a 16ºC. O metalímnio forma-se entre 5 e 10 m e a
circulação de Inverno mantém-se entre Outubro e Fevereiro.
Figura 3.1 – Evolução térmica anual e em profundidade na albufeira de Aracena, Guadalquivir
(extraída de TOJA, 1984).
Em zonas temperadas, os valores de oxigénio dissolvido (DO) estão também
distribuídos de forma heterogénea em profundidade. O DO é necessário para a respiração
da maior parte dos organismos consumidores, como os peixes e os invertebrados, e é
produzido pelos organismos fotossintéticos, que são as algas e as plantas. Componentes
químicos da água, como o DO, o dióxido de carbono e os nutrientes principais – fósforo e
azoto – são ditos de proporcionalidade variável porque, para além de dependerem das
características geológicas e hidrodinâmicas da massa de água, são profundamente
condicionados pela actividade biológica.
O teor em nutrientes especialmente de fósforo, determina a produção primária, ou
seja, a quantidade de material biológico produzido na massa de água através da
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fotossíntese pelas algas e plantas, para um dado período e por volume ou área. Quanto
mais produção primária ocorrer (à superfície, onde há luz), maior é a produção de
oxigénio, mas também maior a quantidade de matéria orgânica que se acumula no fundo e
maior o consumo de oxigénio em profundidade.
Em massas de águas com poucos nutrientes (oligotróficas) e durante a estratificação
estival, a concentração de DO no epilímnio é relativamente baixa, porque a produção
primária é também baixa. Embora este material biológico sedimente e se decomponha em
profundidade, consumindo oxigénio, o hipolímnio mantém níveis elevados de DO, que não
são esgotados.
Em massas de água com elevado teor de nutrientes (eutróficas), a produção primária
no epilímnio é muito elevada, com grande produção de DO. Esta biomassa biológica vai
sedimentar nas camadas profundas hipolimnéticas, onde entra em decomposição esgotando
o DO nelas existente – Fig. 3.2. Por isso, em massas de água eutróficas, os peixes
concentram-se nas zonas superficiais durante o Verão, visto que no hipolímnio não há
oxigénio para respirarem. Quando a circulação de Outono é muito rápida e promove a
desoxigenação de toda a massa de água, pode verificar-se grande mortalidade das
populações piscícolas, como já sucedeu nas albufeiras de Magos e do Divor.
São as formas inorgânicas dissolvidas (e logo biologicamente absorvíveis) dos
principais nutrientes - nitratos e fosfatos - que determinam a biomassa que pode ser
produzida. Contudo, a produtividade da água não se mede pelas suas formas dissolvidas (e
directamente acessíveis às algas) mas pela quantidade total de azoto e fósforo em volume,
ou seja, a soma do que está na água com o que se encontra no corpo dos organismos. Num
massa de água eutrófica, é vulgar encontrar-se muito pouco fosfato no epilímnio, por este
composto está incorporado nas algas – Fig. 3.2 – enquanto no hipolímnio, as suas
concentrações aumentam em conjunto com as do fósforo total, à medida que a biomassa
produzida nas camadas superiores sedimenta e se decompõe. Também as concentrações de
azoto amoniacal aumentam muito em profundidade.
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Figura 3.2 – Distribuição vertical do oxigénio dissolvido (DO), dos nitratos e dos fosfatos em massa de águas oligotróficas (em cima) e eutróficas (em baixo), durante a estratificação
estival (adaptada de WETZEL, 1983).
Uma exaustiva e excelente revisão do processo de estratificação térmica e de
dinâmica dos nutrientes em meio aquático pode ser consultada no clássico livro Limnology
de WETZEL (1983). Este tema pode também ser consultado nos manuais universitários de
FERREIRA (1986) e de CORTES et al. (1991).
3. ORGANISMOS E COMUNIDADES DE ZONAS LÊNTICAS
A luz que penetra na massa de água é atenuada em profundidade e diferentes
comprimentos de onda são diferentemente absorvidos ou reflectidos de acordo com a
composição orgânica e inorgância das substâncias e organismos presentes. A luz solar é
utilizada para a fotossíntese pelas algas que vivem na coluna de água, ou seja, para a
produção de material biológico (biomassa) e o DO assim libertado é utilizado na
respiração dos consumidores e na decomposição dos detritos presentes (restos orgânicos
de todas as dimensões). A certa profundidade, a luz encontra-se tão atenuada e a produção
fotossintética é tão baixa que iguala a respiração (ponto de compensação). Nas zonas mais
profundas, a respiração excede a produção. A massa de água acima do ponto de
compensação designa-se por zona eufótica e a que se situa abaixo, por zona profunda e
ambas determinam a zonagem biológica do sistema lêntico.
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O leito das massas de água lênticas, desde a cota máxima até ao limite em
profundidade da zona eufótica, designa-se por zona litoral – Fig. 3.3. Abaixo do ponto de
compensação, inicia-se a zona sub-litoral. A massa de água propriamente dita é chamada
de zona pelágica ou limnética e expande-se verticalmente através das divisões
eufótica/profunda e epilímnio/hipolímnio.
A zona litoral apresenta pequena profundidade relativa. O desenvolvimento e
sinuosidade da linha de margem, bem como o declive e a textura dos sedimentos, são
muito variáveis e esta zona é caracterizada por ser heterogénea em termos das suas
características físicas e químicas. A zona profunda apresenta sedimentos mais finos e
maior homogeneidade física e química. As comunidades biológicas encontram-se
estruturadas espacialmente em função desta zonagem.
ZONAGEM FÍSICA ZONAGEM BIOLÓGICA
Figura 3.3 – Zonagem física de massas de água lênticas e inserção espacial das comunidades
biológicas respectivas (adaptada de JEFFRIES e MILLS, 1990).
A zona litoral – Fig. 3.3 – é colonizada em maior ou menor grau pelos macrófitos, ou
conjunto de plantas visíveis a olho nu, que se dispõem em faixas concêntricas entre o
exterior e o interior da massa de água, sucessivamente, árvores ribeirinhas (salgueiros,
choupos, freixos…) e herbáceas associadas, plantas emergentes com a parte inferior
submersa (juncos, tábuas, caniços…) e plantas aquáticas, total ou parcialmente submersas
– Fig. 3.3. A superfície dos macrófitos e de todas as outras superfícies submersas (pedras,
folhas mortas, troncos, barcos…) estão cobertas por uma camada heterogénea de algas
microscópicas aderentes, mais ou menos densa, cujo conjunto se designa por perifiton.
Entre as plantas e sobre elas e sobre e dentro dos sedimentos e superfícies expostas dos
fundos, vive um conjunto heterogéneo de formas de invertebrados, designado por bentos
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(também referidos por macrobentos ou macroinvertebrados). Na zona profunda, não
existem macrófitos nem a diversidade de substratos das zonas litorais. Por isso, a riqueza
do bentos é muito reduzida.
A zona pelágica é habitada por formas variadas de algas microscópicas, cujo
conjunto se designa por fitoplâncton. O termo zooplâncton designa o conjunto heterogéneo
de animais, a maior parte microscópicos, que vivem também em suspensão na coluna de
água e com um poder limitado de locomoção. Os organismos planctónicos são mais densos
que a água e mantêm-se em suspensão um tempo limitado, suficiente para completarem o
seu ciclo de vida, acabando por sedimentar na zona profunda, onde se decompõem.
Finalmente, alguns organismos estão adaptados ao habitat da superfície da água, por
exemplo os insectos conhecidos como alfaiates, sendo esta comunidade designada por
neuston – Fig. 3.3.
Os peixes, devido à sua mobilidade (o conjunto destes organismos com mobilidade
significativa designa-se por nekton), podem ser encontrados em todas as zonas da massa de
água. No entanto, a maior parte das espécies (ou fases do seu ciclo de vida) preferem dada
zona e muitos juvenis são encontrados entre a vegetação litoral, onde procuram abrigo e
alimento. Algumas espécies exploram toda a massa de água.
De uma forma simplista, pode considerar-se existirem duas rotas alimentares, a
litoral e a pelágica – Fig. 3.4. Na zona litoral, os produtores são os macrófitos e o
perifiton, cuja biomassa (viva ou morta) é ingerida sob várias formas e através de vários
mecanismos alimentares, pelos animais do bentos e ambos por peixes detritívoros ou
zoófagos (de fagos, ingestão e zoo, animais). Na zona pelágica, os produtores são as algas
planctónicas, cuja biomassa (viva ou morta) é consumida pelo zooplâncton e por sua vez
este por peixes ou invertebrados zooplanctonófagos. Contudo, alguns peixes podem
consumir directamente os macrófitos ou as algas e pode ainda ocorrer um nível superior de
peixes ictiófagos (de ictio, peixes), como o achigã e o lúcio. De facto, os organismos,
comunidades e teias alimentares instaladas dependem muito da massa de água em causa,
pelo que o presente capítulo se refere especificamente às comunidades de albufeiras
portuguesas.
Nas duas rotas alimentares referidas, existem duas vias alimentares possíveis: a do
pastoreio directo, em que por exemplo as algas são ingeridas directamente por Cladocera
(pulgas de água), ou os macrófitos directamente por Caenidae (moscas de Maio); contudo,
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a maior parte da alimentação é efectuada já sob a forma detrítica (ou seja, biomassa morta
e em fase de degradação), sendo também ingeridos os microorganismos (bactérias e
fungos) associados às superfícies em decomposição – Fig. 3.4.
Fora do sistema
Nutrientes dissolvidos
Radiação solar
Dentro do sistemaFitoplanctontes Plantas aquáticas
Zooplanctontes Bentos
Predadores do Plancton Predadores Bentónicos
Predadores quenadam
Radiação solar
Detritos so
msinagroorci
M
Figura 3.4 – Relações gerais do ciclo alimentar lacustre segundo LINDMAN (1942) e adaptada de
WETZEL (1983), com ilustração dos organismos biológicos envolvidos. As setas mais espessas indicam vias alimentares fundamentais.
4. EUTROFIZAÇÃO EM MEIO LÊNTICO
4.1. Conceitos de base
Muitas definições foram atribuídas ao termo eutrofização entendida aqui como
cultural, para a distinguir do processo de envelhecimento natural das massas de água. O
envelhecimento natural realiza-se à escala geológica e consiste na diminuição progressiva
do volume de água por acumulação de sedimentos orgânicos, aumento da concentração de
nutrientes e da importância das camadas profundas como fonte destes, avanço da
vegetação litoral até ao centro da bacia e incorporação final no meio terrestre. A
eutrofização é um processo que se realiza à escala histórica e é definida como o
enriquecimento nutritivo do meio aquático, causado directa ou indirectamente por
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actividades humanas e provocando o aumento da produtividade biológica e alterações
gerais do metabolismo aquático.
Nas albufeiras, verifica-se também regra geral, após o seu enchimento, uma fase de
pseudo-eutrofia, correspondente à libertação de nutrientes durante a decomposição do
material terrestre submerso, particularmente evidente nas baixas concentrações de DO e
elevadas de azoto amoniacal e de fósforo total nas camadas profundas do hipolímnio,
como se pode constatar presentemente na albufeira do Alto Lindoso. A este
enriquecimento, que depende da maior ou menor desmatação e limpeza realizadas antes do
enchimento e que dura em geral entre 5 e 10 anos, segue-se uma quebra brusca do estado
trófico e um processo de eutrofização, cuja rapidez e evolução depende das características
e uso da bacia hidrográfica e da própria albufeira. Nalguns casos, o estado eutrófico nem
sofre quebra, tal é a rapidez do processo da eutrofização, como foi o caso da Aguieira.
Figura 3.5 – Decomposição (D) da matéria orgânica produzida no epilímnio (E) em massas de água de diferentes profundidades. A mesma biomassa produzida (P) provoca uma diferença no balanço de DO no hipolímnio (H) em massas de água profundas (com decomposição completa
durante a sedimentação) e em massas de água pouco profundas (com decomposição a decorrer nos sedimentos do fundo).
O processo eutrofizacional está profundamente dependente de factores como o
volume e as características morfométricas da massa de água e o seu tempo de retenção.
Profundidades menores resultam em volumes proporcionalmente maiores de epilímnia
(razões elevadas epilímnio/hipolímnio) e, conjuntamente com maiores cargas de
nutrientes, levam a maiores produtividades, sobretudo quando o material geológico da
zona de enchimento da albufeira já propicia grande riqueza natural em nutrientes.
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Contudo, tempos de retenção da água curtos resultam em períodos mais curtos de
absorção, circulação, sedimentação e reutilização de nutrientes, logo, em maior resistência
à eutrofização, como acontece em aproveitamentos a fio-de-água ou com baixa capacidade
de regularização como Belver – Fig. 3.5.
A eutrofização causa a diminuição do valor biológico, patrimonial e estético das
massas de água e provoca a diminuição da sua potabilidade e a sua insalubridade. Em
águas de produtividade, verificam-se grandes modificações nas características das
comunidades biológicas.
4.2. Fitoplâncton
Em águas oligotróficas ocorrem picos pequenos a médios de biomassa ao longo do
ano, de acordo com a evolução térmica anual e com as condições luminosas prevalecentes.
Em águas de produtividade, os máximos estivais de biomassa expandem-se em magnitude
e duração, com variações imprevisíveis, predominam espécies de maiores dimensões e
coloniais (designadas por microplâncton: largura aproximadamente superior a 50 µ), o
número de espécies aumenta, bem como a biomassa (da ordem das centenas de mg/m3), o
biovolume (>10cm3/m3) e a densidade, sendo frequente a ocorrência de blooms, definidos
como crescimentos concentrados de plâncton (107 indivíduos por litro, ou mais),
frequentemente visíveis a olho nu, com grandes turvações da água, de cores azuladas ou
esverdeadas características, formando com frequência espumas e depósitos nas zonas
litorais.
Verifica-se uma tendência para as Cianofíceas (algas azuis, cianobactérias,
fotobactérias) dominarem por períodos cada vez mais longos a biomassa algal. Uma parte
das suas espécies (ou das suas estirpes) excreta produtos tóxicos, que inibem, lesam ou
matam invertebrados e vertebrados, acarretando graves problemas de saúde pública
aquando do uso da água para lazer ou abastecimento
Eventualmente, é atingida uma situação em que a densidade de organismos é tanta
que provoca o seu próprio ensombramento (e paragem subsequente da produção primária),
podendo registar-se o seu colapso e decomposição maciça, acompanhado de
desoxigenação do meio e mortalidade generalizada de peixes. Esvaziamentos abruptos de
albufeiras provocam o mesmo fenómeno ao concentrarem as algas, como ocorreu em Vale
do Gaio, em 1983, e em Maranhão, quando do seu esvaziamento em 1992.
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4.3. Zooplâncton
O zooplâncton é o principal consumidor das algas, bactérias e detritos da zona
pelágica. O aumento da fertilidade da água acarreta o aumento da biomassa e a
produtividade dos filtradores planctónicos. Contudo, em águas eutróficas, o tamanho cada
vez maior das algas produzidas e a toxicidade dos produtos que excretam resultam na
redução da taxa de filtração e no eventual desaparecimento dos “grandes” filtradores (>500
µ), com predominância de “pequenos filtradores”, que se alimentam de pequenos detritos.
Como resultado, a biomassa algal produzida pelo sistema não é consumida e acumula-se
nos fundos enriquecendo ainda mais a massa de água – Fig. 3.6.
A largada de “grandes” crustáceos filtradores na Primavera, antes da expansão da
biomassa das algas, seguida no Verão da largada de peixes zooplanctonófagos é muito
utilizada nalguns países, como a Holanda, para manter controlada a eutrofização. Em
Marrocos, vem sendo usada também com sucesso em albufeiras a carpa chinesa
Hypophtalmichthys molitrix, grande filtradora de plâncton, como método de controlo da
eutrofização.
CA
CA
EE
S S
BB
R
R
Figura 3.6 – Circulação da matéria orgânica em massas de água de diferente estado trófico. Na
oligotrófica (esquerda) as cargas nutritivas afluentes (CA) pequenas, sustêm uma biomassa proporcional (B), que parcialmente é recirculada (R) nas cadeias alimentares, sai da massa
de água (E) ou sedimenta (S). Na massa de água eutrófica (direita), a maior parte da biomassa sedimenta (adaptada de REYNOLDS, 1984).
4.4. Macrófitos e perifiton
Ao contrário das algas, não se verifica uma relação directa entre a quantidade de
nutrientes entrados na massa de água e os macrófitos submersos. De facto, a distribuição e
abundância dos macrófitos submersos lênticos são ditadas pelas condições de penetração
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da luz na água e pela textura e conteúdo nutritivo dos sedimentos, uma vez que a maior
parte destas plantas são enraizadas.
À medida que a fertilidade aumenta, verifica-se um aumento da cobertura perifítica,
nomeadamente de algas filamentosas (“limos”). A crescente produtividade perifítica e
planctónica levam a uma diminuição acentuada da penetração da luz (turvação biogénica)
e os macrófitos submersos praticamente desaparecem em águas eutróficas. A acumulação
dos restos dos macrófitos submersos e a sedimentação orgânica, resultantes da eutrofia da
água, favorecem os macrófitos emergentes litorais, que se vão expandindo nas zonas
menos profundas (caso das albufeiras de Monte Novo e Divor).
4.5. Macroinvertebrados e peixes
Em zonas de baixa produtividade e com a zona litoral bem desenvolvida encontra-se
um grupo heterogéneo de macroinvertebrados, incluindo herbívoros especializados nos
macrófitos e perifiton, filtradores, colectores e detritívoros, que se alimentam dos materiais
orgânicos suspensos ou sedimentados, e carnívoros. Com o desaparecimento dos
macrófitos submersos, o espessamento dos sedimentos finos orgânicos e o estabelecimento
de condições anaeróbias junto ao fundo, sobrevivem apenas algumas espécies de peixes
detritívoros especializados - anelídeos oligoquetas e dípteros quironomídeos.
Em massas de água de águas temperadas, à medida que aumenta a fertilidade, a
fauna piscícola original, dominada por salmonídeos (trutas em geral), coregonídeos e
cotídeos, é substituída progressivamente por populações dominadas por centrarquídeos e
ciprinídeos (carpas em geral), com um grande aumento da biomassa e produtividade.
5. ZONAGEM ECOLÓGICA E FACTORES AMBIENTAIS DETERMINANTES
5.1. Albufeiras versus lagos
Portugal apresenta um número reduzido de massas de água doce naturais, nas quais
se incluem algumas lagoas de montanha (Serras da Estrela e do Gerês) e pequenos
charcos, alagados e lagoas temporários, como o paúis do Boquilobo e de Arzila, ou as
lagoas de Santa Margarida em Tancos. Os ecossistemas aquáticos portugueses
historicamente dominantes são os fluviais. Contudo, devido à irregularidade da
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precipitação, cedo se criaram massas de água lênticas (albufeiras) para acumulação e uso
da água, existindo presentemente mais de uma centena de grandes albufeiras e milhares de
pequenos represamentos (açudes e pequenas represas), construídos sobretudo a partir de
meados deste século. Esta situação é comum a uma grande parte das zonas temperadas
quentes, nomeadamente todo o Sul dos EUA, bacia do Mediterrâneo, África do Sul e
Austrália.
Porque o desenvolvimento da ciência limnológica se processou sobretudo em lagos
temperados e as albufeiras são ecossistemas relativamente novos e artificiais, durante
muito tempo estas foram consideradas como um tipo especial e ligeiramente diferente de
lagos (tipo 73, segundo HUTCHINSON, 1957) ou sistematicamente ignorados pela
comunidade científica limnológica, que prefere em geral estudar processos e ecossistemas
mais naturais. Só recentemente se reconheceu a especificidade do funcionamento
ecológico de albufeiras (que são essencialmente sistemas lóticos híbridos, caracterizados
por maiores tempos de retenção hidráulica do que os rios) e bem assim a importância que o
conhecimento do seu funcionamento ecológico apresenta para a sua gestão (Quadro 3.1).
Factores geológicos, climatológicos e geográficos implicam diferentes respostas
limnológicas de lagos e albufeiras. Por exemplo, quase todas as albufeiras da Península
Ibérica apresentam uma estratificação monomítica quente, com uma duração alargada do
período de estratificação, geralmente de Maio a Outubro. Em geral, os sistemas fluviais
onde se localizam grande parte das albufeiras existentes (entre 45º a 35º de latitude:
KENNEDY e WALKER, 1990) apresentam concentrações elevadas de sólidos dissolvidos
e de sólidos suspensos, com importantes implicações na penetração da luz e transparência
da água, no teor de nutrientes disponíveis e na produtividade. A medida de transparência
de Secchi (distância a que um disco mergulhado na água, de 18 cm de diâmetro e com dois
quadrantes pretos e dois brancos, deixa de ser visível) é correntemente utilizada para
avaliar o estado trófico de lagos, porque está correlacionada com a concentração de
fitoplâncton na coluna de água. Em albufeiras este valor tem que ser avaliado com
prudência devido às suas flutuações intra-anuais e a causas inorgânicas, alheias à turvação
biogénica do sistema, o que acontece por exemplo na albufeira do Arade.
Ao contrário de uma grande parte dos lagos naturais, que estão situados em zonas
perto das cabeceiras e têm uma área de drenagem mais ou menos circular, as albufeiras
estão muitas vezes situadas no curso médio ou final dos rios e tem áreas de drenagem
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alongadas, que acompanham os seus afluentes principais, recebendo a maior parte do
escoamento de materiais afluentes através destes (água, nutrientes e sedimentos) e não por
escoamento directo da bacia hidrográfica adjacente. Assim, verificam-se gradientes
longitudinais de concentrações de materiais ao longo da albufeira e em cascatas de
albufeiras. Por exemplo, WALKER (1981) expressou o grau trófico através do índice de
CARLSON (1977), utilizando a transparência de secchi e biomassa algal em quatro
albufeiras em cascata no rio White (U.S.A.), verificando uma diminuição e a estabilização
e concordância dos valores do índice, apenas na última albufeira.
Devido a factores geográficos e relativos ao seu uso, as albufeiras tendem a receber
proporcionalmente uma maior carga de fósforo do que os lagos, verificando-se uma
entrada descontínua de materiais, através dos sucessivos rios afluentes e sua dispersão
igualmente descontínua na massa de água, como se pode constatar por vezes através de
concentrações visíveis de algas em certas partes da albufeiras. A morfometria das
albufeiras e seus factores hidrodinâmicos (nomeadamente uma tendência para menores
tempos de retenção hidráulicos, por vezes de dias a semanas) conduzem ao
desenvolvimento de gradientes espaciais (verticais e horizontais) e temporais nas
concentrações do fósforo e indicadores biológicos relacionados, com importantes
implicações na estruturação das comunidades.
Quadro 3.1 – Comparação de características de rios, albufeiras e lagos (THORNTON et al., 1990). CARACTERÍSTICAS RIOS ALBUFEIRAS LAGOS
Morfologia da bacia Alongada, direccionada
Intermédia Circular/ ovóide em forma de taça
Movimento da água Rápido, unidireccional Intermédio Lento, não direccionado Retenção da água Baixa Intermédia Elevada
Estratificação térmica Não há Irregular Estável Composição iónica Muito variável e
relativamente imprevisível
Relativamente imprevisível
Relativamente previsível
Turbidez Elevada Variável Baixa Principal fonte de
nutrientes e de matéria orgânica
Alóctone, advecção, entrada contínua
Ambas Autóctone, recirculada in situ
Principal perda de nutrientes
Advecção Advecção e sedimentação
Sedimentação
Entrada de materiais e de
sólidos suspensos
Grande Intermédia Pequena
Estrutura espacial dominante
Longitudinal Longitudinal e vertical
Vertical
91
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
5.2. Padrões longitudinais de zonagem em albufeiras
Os padrões longitudinais que ocorrem em albufeiras resultam no estabelecimento de
três zonas que apresentam características físicas, químicas e biológicas diferentes, e são
designadas por zonas fluvial, de transição e lacustre – Fig. 3.7.
UN
IDA
DE
S R
ELAT
IVAS
Figura 3.7 – Zonagem longitudinal de factores ambientais relacionados com a penetração da luz e acessibilidade de nutrientes, que condicionam a produção de algas e o estado trófico de uma
albufeira (adaptada de KIMMEL et al., 1990).
92
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
a) Zona fluvial
A zona fluvial é relativamente estreita e bem misturada, com alguma velocidade da
corrente e ainda com transporte de materiais orgânicos e inorgânicos. A maior parte da
matéria orgânica particulada grosseira aí existente (também designada por coarse
particulate organic matter, CPOM: folhas, troncos, pedaços vegetais e animais
distinguíveis a olho nu) foi transportada pelo rio e deposita-se nesta zona em conjunto com
organismos lóticos em suspensão ou arrastados. Estes materiais constituem uma fonte
alimentar importante para os macroinvertebrados bentónicos (detritívoros e colectores de
material orgânico em geral e carnívoros), que podem ser abundantes, uma vez que a
estratificação térmica é aqui incipiente e não há condições para a formação de anerobiose
nas camadas inferiores da água. Devido a esta abundância alimentar em invertebrados e
detritos, as populações piscícolas exploram intensamente esta zona, quer oriundas da
albufeira, quer dos afluentes, verificando-se aqui um máximo da riqueza e diversidade
piscícolas.
As margens tendem a ser mais suaves nesta zona, pelo que podem ocorrer
macrófitos. Contudo, devido à turbulência hidráulica, a turvação é maior e a penetração da
luz é pequena, a zona eufótica estreita e, em consequência, a produção primária
planctónica é limitada.
b) Zona de transição
A zona de transição é mais larga e profunda, com velocidade da corrente quase
indetectável e maior tempo de retenção da água. É caracterizada pela sedimentação de
materiais inorgânicos de pequena dimensão e de matéria orgânica particulada fina
(também designada por fine particulate organic matter, FPOM: pequenos restos
irreconhecíveis e de pequena dimensão) e pela mineralização intensa destes materiais
orgânicos, de tal forma que o hipolímnio, nesta zona, com pequeno volume em relação ao
epilímnio, rapidamente se deplecciona de oxigénio. A parte anóxica da massa de água
(sem oxigénio dissolvido) forma-se frequentemente nesta zona no início do Verão e
expande-
-se, em seguida, pelo resto do hipolímnio, podendo atingir todo este (dependendo do
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
volume, frequência e localização da extracção da água imposta pelo regime de uso da
albufeira).
Com o aumento dos nutrientes assim libertados e da penetração da luz nas camadas
superficiais, aumenta a produtividade primária, de tal forma que se dá a transição entre
uma zona dominada pela produção alóctone (exterior à albufeira e produzida no rio e
bacia hidrográfica: plantas terrestres, plantas fluviais e perifiton) para a dominância de
produção autóctone (produzida no sistema aquático: fitoplâncton). No entanto, a zona de
transição é muito instável, dependendo muito das flutuações do nível de água da albufeira
(resultantes da exploração desta e dos caudais afluentes). Flutuações frequentes incentivam
a mineralização dos materiais orgânicos depositados no fundo e a sua libertação na coluna
de água, tornando estes nutrientes acessíveis ao plâncton e aumentam a produção primária,
de tal forma que esta zona apresenta geralmente os maiores níveis de fertilidade de toda a
albufeira.
c) Zona lacustre
A zona lacustre ocorre, onde existe maior profundidade, maior tempo de retenção da
água e menores concentrações de substâncias e nutrientes dissolvidos. Apresenta
sedimentação de partículas inorgânicas (colóides e argilas), mas sobretudo de partículas
orgânicas (plâncton, vivo ou morto), uma vez que a penetração da luz é suficiente para
promover a produção primária autóctone e as cadeias alimentares a ela associadas. Dado
que existem condições para uma boa penetração da luz, a produção primária é determinada
pelos níveis de nutrientes disponíveis, que são em geral mais baixos do que nas duas zonas
anteriores, Predominam nesta zona as cadeias alimentares planctónicas, constituídas por
uma base alimentar de microalgas e microdetritos, de que se alimentam os microanimais
do zooplâncton (protozoários, rotíferos, crustáceos e alguns quironomídeos).
Verifica-se uma estratificação mais ou menos estável da coluna de água durante o
Verão, com um termoclíneo estimado, em geral, entre 8 e 12 m. A estabilidade deste
depende da profundidade da albufeira e do volume, frequência e profundidade da
extracção da água. Nas camadas inferiores do hipolímnio, os sedimentos finos acumulados
e a anoxia hipolimnética frequentemente estabelecida resultam numa fauna macro-
bentónica drasticamente reduzida, dominada por poucas espécies, tolerantes a baixas
94
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
concentrações de oxigénio (quironomídeos e anelídeos). Poucas espécies de peixes
existentes em águas portuguesas tem a capacidade de explorar estes fundos (carpa, tenca,
barbo, pimpão) ou os alimentos da coluna de água (logo sável, boga).
d) Síntese
As zonas ecológicas existentes em albufeiras (transversais: litoral, pelágica e
profunda; e longitudinais: fluvial, transição e lacustre), não são entidades invariáveis e
discretas, mas resultam do efeito combinado de gradientes ecológicos que se sobrepõem
no espaço e no tempo, de acordo com a morfometria da albufeira, com as flutuações do seu
volume (ano hidrológico, tipo de albufeira e regime de exploração) e com as cargas
nutritivas e orgânicas afluentes a partir da bacia hidrográfica. De facto, a extraordinária
dinâmica destes três factores explica porque cada albufeira apresenta uma individualidade
acentuada e provavelmente deveria ter uma gestão ecológica específica.
Em síntese, podem ser sistematizados em dois grupos os factores que condicionam a
ecologia de albufeiras, a dinâmica da sua zonagem e a estrutura e equilíbrio ecológico das
suas comunidades biológicas:
- Factores de base: área e geologia da bacia hidrográfica; número, tipo e
desenvolvimento dos rios afluentes; morfometria e área da albufeira;
desenvolvimento da linha de margem, declive marginal e estruturas submersas
naturais existentes na zona litoral, como árvores e rochas.
- Factores antrópicos: fontes pontuais e difusas de nutrientes e materiais orgânicos
(onde entram, quais e de que tipo); uso da albufeira (hidroeléctrico, hidroagrícola,
abastecimento ou misto) e respectivas flutuações do nível da água (periodicidade
e magnitude); intervenções na massa de água por actividades de lazer ou outras
(como estruturas submersas, aquaculturas embarcações e praias).
6. BIOLOGIA E ECOLOGIA DE ALBUFEIRAS
6.1. Zona litoral
A zona litoral de albufeiras é em geral inestruturada, mais ou menos declivosa e
lexiviada, com muito pouca vegetação marginal e sem abrigos. Este padrão de estrutura
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
litoral, que se pode observar em muitas albufeiras de uso hidroeléctrico, instaladas em
áreas geologicamente antigas, como Alto Lindoso, Castelo de Bode e Cabril, é comum à
maior parte destas massas de água. No entanto, quando existe um nível trófico suficiente
(mesotrofia, ou estado trófico intermédio), boa transparência e flutuações pouco
acentuadas do nível da água, mesmo este tipo de margens pode apresentar aglomerados de
plantas submersas até 4 a 5 m de profundidade, como acontece em Fratel.
As albufeiras de uso agrícola já apresentam características mais variáveis
dependendo do tipo de rocha-mãe e solos em que estão instaladas, das flutuações do nível
da água impostas pelo seu regime de uso, do declive da margem, da produtividade da
albufeira e da transparência da água. Albufeiras como as de Monte Novo e Divor,
eutróficas e com declive de margem suave, instaladas em solos ricos em nutrientes,
apresentam abundantes faixas marginais de macrófitos emergentes, que desempenham um
papel fundamental na abundância de invertebrados, bem como na protecção e alimento de
juvenis de peixes. Contudo, quando albufeiras deste tipo se tornam extremamente
eutróficas, como é o caso de Magos, a transparência é muito limitada pelo
desenvolvimento do fitoplâncton, acumulam-se nos fundos grande quantidade de materiais
orgânicos finos em decomposição, a anaerobiose instala-se em toda a zona de transição e
hipolímnio e as condições ambientais degradam-se, resultando em frequentes mortalidades
gerais de peixes.
Outras albufeiras, como Santa Clara e Azibo possuem margens declivosas,
inestruturadas e sem plantas emergentes. Contudo, as suas características morfométricas,
mesotrofia e boa transparência permitem vastas zonas de macrófitos submersos em zonas
marginais e pouco profundas (menos de 5 m), com populações densas de invertebrados e
abrigos e alimento para juvenis de peixes, para peixes presas (gambúsia, perca-sol…) e
para os seus predadores (lúcio, achigã…). Estas duas albufeiras são casos particulares
porque o uso agrícola da sua bacia hidrográfica ficou aquém do previsto, pelo que
apresentam flutuações de nível mais modestas, sendo reputadas como das albufeiras mais
interessantes do País para a pesca desportiva.
96
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
6.2. Zona pelágica
A zona pelágica é dominada pelas comunidades planctónicas, fito e zooplâncton. As
flutuações do nível da água e a eutrofização implicam frequentemente a diminuição da
área litoral e da área profunda não anóxica em que uma parte das espécies baseia a sua
vida, reduzindo frequentemente a albufeira a um único habitat, o pelágico superficial, que
é pouco acessível aos peixes em termos de alimento. As espécies nativas não têm
estruturas morfológicas filtradoras especiais, com a excepção das populações de sáveis de
Castelo de Bode e são pouco eficazes na exploração alimentar dos microinvertebrados da
zona pelágica, à excepção da perca-sol e talvez da boga. Quando a água se encontra
eutrofizada, o desenvolvimento de macro-clorofícias de difícil ingestão e de cianofícias
tóxicas, faz diminuir drasticamente os níveis de zooplâncton, sobretudo as formas de
maiores dimensões.
O estudo do plâncton de albufeiras ibéricas teve início no final dos anos sessenta,
com o fitoplâncton da albufeira de Sau em Espanha, mas ganhou ímpeto especial com a
amostragem de 100 albufeiras espanholas (MARGALEF et al., 1976) e doze anos mais
tarde, com nova amostragem das mesmas albufeiras (RIERA et al. 1992). Em Portugal,
rastreios com escala relativa aproximada foram realizados para cerca de duas dezenas de
albufeiras da bacia do Tejo e a sul desta, nos anos setenta (OLIVEIRA, 1984;
MONTEIRO, 1984) e para idêntico número de albufeiras da bacia do Douro e a norte
desta (BRANCO et al., 1992; GUIMARÃES e TELES, 1993). Os padrões biológicos que
se descrevem de seguida são extraídos dos resultados destes trabalhos.
Três factores chave explicaram a distribuição e variabilidade das comunidades de
fito e zooplâncton das albufeiras (por importância decrescente): a mineralização e
alcalinidade da água; o estado trófico da água e os sólidos dissolvidos totais; e a
estabilidade da coluna de água e seu tempo hidráulico de retenção. Conhecem-se mais de
700 espécies de fitoplâncton em albufeiras ibéricas e a sua riqueza pode ser considerável
por amostra (nos casos extremos, mais de 60 espécies). No entanto, as espécies mais
frequentes são em menor número e uma parte substancial destes é cosmopolita. Embora o
fósforo total seja o parâmetro com melhor correlação com a concentração epilimnética
estival da biomassa algal (expressa em clorofila a), explicou apenas 39% (p<0,001, n=73)
da variabilidade biológica encontrada, ou seja, o seu poder preditivo foi baixo (RIERA et
al., 1992).
97
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Foram encontradas cerca de centena e meia de espécies de zooplâncton. Os
protozoários são muito pouco conhecidos. Os rotíferos apresentam biomassas em geral
baixas e taxocenoses (associação de espécies) pouco consistentes embora possam ser
bastante resilientes (ou seja, as espécies são pouco resistentes, mas recuperam
rapidamente), por exemplo, no Maranhão, a comunidade de rotíferos manteve-se
semelhante antes e depois do esvaziamento (CRISPIM e BOAVIDA, 1995). Também os
crustáceos apresentam apenas uma trintena de espécies. As espécies dominantes são pouco
especializadas, associadas a ambientes com taxas de crescimento e de desaparecimento
rápidas.
6.3. Zona profunda
As características ecológicas das zonas profundas de albufeiras dependem do tipo de
material geológico da zona da albufeira, da textura e abundância relativa dos materiais do
fundo e da eutrofização da massa de água, que determinam a oxigenação da zona profunda
e condicionam o tipo de materiais aí sedimentados. O macrobentos de albufeiras apresenta
pouca complexidade e densidade baixa, sendo constituído por um conjunto de menos de
uma centena de organismos conhecidos, de taxonomia complicada, em especial bivalves,
anelídeos oligoquetas e dípteros quironomídeos. Contudo, a zona profunda possui em geral
apenas alguns oligoquetas e quironomídeos, desde que as condições de oxigenação o
permitam. As espécies de macrofauna encontradas na zona profunda são poucas, muito
resistentes e até ao momento não foi possível demonstrar qualquer relação estatisticamente
significativa entre elas e os indicadores do estado trófico da água.
Não existem estudos de macrobentos de albufeiras em Portugal. Contudo, o estudo
do macrobentos da zona profunda de mais de 130 albufeiras espanholas (PRAT et al.,
1992), permitiu detectar os seguintes factores chave da sua distribuição: factores
geográficos relacionados com a temperatura elevada das águas ibéricas e o tempo de
colonização das massas de água recém-criadas pelas espécies existentes em termos
regionais; a desoxigenação hipolimnética e sobretudo a duração do período de anoxia
anual; e a textura dos sedimentos da zona profunda (por exemplo, sedimentos mais
grosseiros e aeróbios são encontrados em zonas menos profundas ou em albufeiras
98
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
oligotróficas, verificando-se uma diminuição da riqueza e biomassa em quironomídeos
destas, para zonas mais profundas ou de águas mais eutróficas).
A acumulação de materiais orgânicos particulados no fundo de albufeiras profundas
(em geral oligotróficas e inseridas em áreas florestadas) promove a presença de formas
móveis como o quironomídeo Procladius, enquanto albufeiras mais eutróficas e menos
profundas podem apresentar populações mais abundantes de fitófagos (que ingerem
fitoplâncton) como Chironomus e Stictochironomus. A eutrofização afecta assim também,
indirectamente, a disponibilidade alimentar para a ictiofauna com alimentação detritíca e
bentónica, capaz de explorar a zona profunda, como a carpa, a tenca, o pimpão e
eventualmente o barbo. Um aumento da produção de biomassa devido à eutrofização,
aumenta a via alimentar detrítica e favorece o aumento do alimento (macrobentos) nos
fundos e nomeadamente da zona de transição, contudo, uma aumento excessivo da
eutrofização rapidamente reduz (pelo menos sazonalmente) a área potencial de
alimentação nos fundos e as presas de macrobentos aí existentes, devido ao
desenvolvimento de hipolímnia anóxicos.
6.4. Fauna piscícola
A fauna piscícola destaca-se pela sua importância económica e pela sua mobilidade,
cruzando todas as zonas das albufeiras. Em contraste com a diversidade ictiofaunística que
se verifica nas regiões temperadas a norte, a Península Ibérica possui um número
relativamente pequeno de espécies lóticas indígenas (ou seja, geograficamente originárias
da Península Ibérica).
A ictiofauna de rios inclui: espécies indígenas sedentárias (escalo, bordalo,
verdemã…); espécies indígenas potamódromas (de potamos, rio), que realizam migrações
reprodutoras anuais, do rio principal para os afluentes (truta de rio, barbo, boga…);
espécies exóticas sedentárias (achigã, gambúsia, góbio, perca-sol, lúcio…) e espécies
migradoras diádromas, que realizam migrações anuais em direcção ao mar ou ao rio, para
se reproduzirem (enguia, truta marisca, sável, savelha, lampreia…) ou para se alimentarem
(taínhas, peixe-rei, solha…).
Em contraste com as variações hidrológicas extremas, mas sazonalmente síncronas,
de um rio mediterrâneo, uma albufeira apresenta variações ambientais erráticas e
99
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
ininteriorizáveis biologicamente, num ambiente frequentemente de má qualidade. Em
consequência só as espécies indígenas com ciclo de vida de elevado oportunismo, hábitos
omnívoros ou detritívoros e migrações reprodutoras para os afluentes têm possibilidade de
se estabelecer e manter nas albufeiras.
A criação de uma albufeira resulta na criação de novos habitats e na diminuição ou
desaparecimento dos efectivos de muitas espécies lóticas, dado não encontrarem condições
favoráveis na massa de água “alienígena” formada, com habitats muito diferentes dos
existentes num rio mediterrâneo: o fluxo unidireccional lótico é parado, o tempo de
retenção da água e solutos aumenta, são drasticamente reduzidos a área e tipo de habitats
marginais, diminui em termos gerais a densidade de macrobentos e de pequenos detritos de
alimentares e dá-se o aparecimento de uma zona pelágica. Foram encontradas 19 espécies
piscícolas em albufeiras portuguesas, podendo distinguir-se os seguintes grupos:
- Espécies indígenas cujo ciclo de vida lótico original se mantém (boga e barbo),
realizando migrações reprodutoras para fora da albufeira, isto é, utilizando os
afluentes para as desovas e para o crescimento dos juvenis, sendo a albufeira
utilizada pelas classes de idade adultas.
- Espécies cujo ciclo de vida se realiza totalmente nestas massa de água (desova e
desenvolvimento posterior), essencialmente espécies exóticas incluindo a carpa, o
pimpão, a perca-sol, o achigã, o lúcio e gambúsia. Uma parte destas espécies
prefere as zonas litorais ou menos profundas das albufeiras (achigã, gambúsia,
lúcio, perca-sol…), sobretudo se existir uma linha de margem bem desenvolvida
com abrigos, reentrâncias e plantas emergentes. Estas espécies realizam as
posturas nestas zonas marginais, com ou sem vegetação e são muito afectadas
pelas flutuações do nível de água. Outras espécies exóticas são fossadoras e
detritívoras e exploram a zona profunda (carpa, pimpão, tenca…) existindo
evidência de que utilizam a zona fluvial ou mesmo os afluentes, para as posturas.
De facto, as albufeiras apresentam escassez de condições adequadas à reprodução
da maior parte destas espécies, ou seja, zonas de pouca profundidade e estáveis,
com leitos de plantas submersas.
- Espécies diádromas retidas nas albufeiras pela sua construção durante as suas
migrações alimentares ou reprodutoras e que aí permaneceram, conseguindo
completar o seu ciclo de vida apenas em água doce. É o caso dos sáveis das
100
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
albufeiras do Castelo do Bode e da Aguieira e dos peixes-rei da albufeira de
Fratel.
As populações presentes em albufeiras, sobretudo do Centro e do Sul, encontram-se
frequentemente envelhecidas e apresentam baixo crescimento, devido à inospicidade dos
habitats existentes, à baixa qualidade da água e às relações intra-específicas que se geram.
A cadeia trófica é naturalmente pouco diversificada, devido à redução drástica de habitats
e à escassez de verdadeiras zonas litorais bem estruturadas e com populações abundantes
de macroionvertebrados. Esta escassez de alimento é acentuada pelas oscilações do nível
das águas, que erodem as margens e impedem o estabelecimento de vegetação marginal
estável. A produção do sistema é assim canalizada para vias de alimentação detríticas e
bentónicas exploradas por algumas espécies indígenas ou exóticas (barbos, bogas, carpas,
pimpões). As posições alimentares de filtradores, zoófagos e ictiófagos são potencialmente
pouco exploradas pelas espécies indígenas (e.g. truta, sável, enguia), sendo antes ocupadas
por espécies exóticas como a perca-sol, o achigã e o lúcio.
Podem considerar-se as associações piscícolas das albufeiras como astáticas e com
baixo grau de persistência temporal, embora as espécies e a sua proporção relativa possam
permanecer semelhantes. As perturbações constantes relacionadas com o uso das
albufeiras produzem associações aleatórias de espécies e por isso é difícil aplicar índices
de qualidade piscícola a albufeiras ou obter uma classificação determinística destas com
base nas suas populações.
No entanto, GODINHO e FERREIRA (1996) utilizaram com êxito um índice de
proporcionalidade de tamanhos para avaliar o estado de equilíbrio estrutural das
populações de albufeiras do Centro e do Sul do País. Mais recentemente, foi realizado um
ensaio de tipologia piscícola para albufeiras portuguesas com base em 28 massas de água,
tendo sido encontrados quatro tipos-base de comunidades piscícolas em albufeiras, em
função da posição geográfica e altimétrica, do volume e do estado trófico (GODINHO et
al., 1998).
101
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
7. GESTÃO ECOLÓGICA DE ALBUFEIRAS
7.1. Introdução
As albufeiras são sistemas artificiais de características habitacionais pouco
diversificadas, com comunidades biológicas pouco complexas e resilientes, sujeitas a um
stress ambiental elevado que é imposto pela exploração da albufeira. Este stress encontra-
se consubstanciado nas seguintes aspectos:
- flutuações de nível incluindo esvaziamentos decorrentes do regime de utilização da
água e das afluências;
- actividades de uso da albufeira e da sua bacia hidrográfica com consequências na
carga orgânica e nutritiva afluente ao ecossistema.
Em consequência, podem considerar-se as seguintes três áreas estratégicas a
desenvolver na gestão ecológica de albufeiras (BOCHECHAS et al., 1998):
- Controlo da poluição e de fontes poluidoras. Controlo da eutrofização e poluição
da massa de água (desvio, tratamento ou controlo das fontes pontuais e difusas de
substâncias nutritivas e poluentes), biomanipulação e intervenções directas de
regressão trófica (utilização de carpas filtradoras, arejamento e dragagens
hipolimnéticas, plantio de zonas tampão marginais de coberto vegetal…) e
ordenamento do uso das margens (definição e delimitação da área e localização
de pesqueiros, de praias e de zonas de lazer.
- Conciliação das flutuações de nível da água resultantes do uso da albufeira com
as comunidades biológicas existentes. Controlo e gestão das flutuações do nível
da água, por forma à conciliação do seu uso (abastecimento, hidroeléctrico,
hidroagrícola ou outros), com o ciclo de vida e manutenção das populações
piscícolas existentes nas albufeiras, nomeadamente aumentando o nível da água
na pré-desova e evitando grandes flutuações na época de desova e de
recrutamento de juvenis. E ainda planeamento e gestão dos esvaziamentos
necessários por forma a mitigar os seus efeitos ecológicos.
- Gestão piscícola. Gestão das populações piscícolas por forma a manter um
equilíbrio desejado entre as espécies (ou entre as diferentes idades ou classes de
dimensão das espécies) por intervenção directa sobre estas (povoamento,
repovoamento ou captura) ou sobre o meio aquático (introdução de abrigos,
102
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
construção de ilhas e mouchões, afeiçoamento de praias de desova…), ou ainda
outras acções, tais como fiscalização e medidas legislativas de protecção e
fomento aquícola (FERREIRA e BOCHECHAS, 1999). A gestão piscícola de
albufeiras será desenvolvida em capítulo próprio.
7.2. Controlo da eutrofização e regressão trófica
A recuperação de lagos eutrofizados é uma área científica relativamente nova que só
nos anos setenta se implantou, à medida que a gravidade e extensão das situações de
eutrofização eram evidentes um pouco por toda a zona norte temperada. Há cerca de 15 a
20 técnicas diferentes que podem ser utilizadas para melhorar ou manter o estado trófico
de uma massa de água lêntica, podendo ser classificadas em formas de controlo externo e
interno. Ambas se encontram dedicadas quase em exclusivo ao controlo do fósforo,
porque a resposta do azoto é em geral menos conhecida, menos evidente e menos
previsível (WELCH, 1992).
Como formas de controlo externo, têm-se: desvio de fontes poluidoras pontuais,
tratamento secundário e terciário de efluentes e retenção, desvio ou tratamento de águas de
drenagem. As formas de controlo interno incluem: inactivação do fósforo, diluição das
águas enriquecidas, dragagem de sedimentos, circulação artificial da coluna de água,
arejamento hipolimnético, extracção de água hipolimnética, adição de azoto,
biomanipulação (por introdução de espécies planctívoras, ou seja, comedoras de plâncton),
colheita mecânica ou biológica de plantas (por peixes herbívoros) e impermeabilização dos
fundos.
As acções conducentes à manutenção ou recuperação do estado trófico podem ser
sistematizadas da seguinte forma: diagnóstico, controlo externo e controlo interno, das
fontes de fósforo, controlo da biomassa vegetal e biomanipulação.
7.2.1. Diagnóstico
Verificados os sintomas de eutrofização, tais como concentrações elevadas de
fósforo, diminuição da transparência da água, determinada composição e biomassa de
algas e presença de espumas e aglomerados biológicos nas margens, é necessário definir a
situação de referência inicial, antes de ser iniciado um programa de recuperação. Esta
103
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
situação de referência permite o estabelecimento de um quadro diagnosticante
suficientemente pormenorizado para delinear o tipo e forma de intervenção (ou decidir,
pelo contrário, que ainda não é altura de intervir) e também avaliar a eficácia e o custo-
benefício das medidas de controlo que venham a ser tomadas. Entre os elementos mais
importantes que devem ser recolhidos para este diagnóstico, incluem-se:
- localização, volume, carga nutritiva e periodicidade (por impulsos, contínuas, por
arrastamento de chuvas) das fontes pontuais de nutrientes que entram na
albufeira; e avaliação da carga (ou pelo menos da susceptibilidade) de entrada
proveniente de fontes difusas de nutrientes que entram na albufeira (por
escoamento, drenagem ou mais raramente a partir do nível freático);
- caracterização do regime de variação do volume armazenado na albufeira, ou seja,
o balanço das entradas e saídas de água e tempos de retenção hidráulica;
- análise das características da massa de água e diagnóstico pormenorizado do seu
estado trófico, incluindo: concentrações de nutrientes, perfis de temperatura, DO,
pH e condutividade ao longo da coluna de água, transparência de Secchi,
biomassa clorofilina, composição e abundância quantitativa do fitoplâncton, num
número de estações de amostragem representativo da heterogeneidade da
albufeira, com recolhas de periodicidade, no mínimo, mensal por um período de
um ano.
Este diagnóstico fino é necessário porque a resposta biológica à eutrofização varia ao
longo do ano em função de variáveis ambientais como o volume da água armazenada, a
temperatura e a insolação, e registam-se frequentemente manifestações de eutrofização
temporalmente isoladas, por exemplo, ao diminuir acentuada e rapidamente o volume da
água armazenada. Por vezes este diagnóstico pormenorizado já está realizado quando se
verifica a decisão de recuperação da massa de água. Frequentemente este diagnóstico
pormenorizado é utilizado no desenvolvimento e calibração de modelos preditivos da
evolução da eutrofização. Alguns modelos interessantes, estáticos ou dinâmicos, podem
ser consultados em COOKE et al. (1986, capítulos 6 e 7), JORGENSEN e
VOLLENWEIDER (1988, capítulos 5 e 6), RYDING e RAST (1989, capítulos 6 e 7) e
WELCH (1992, p.158 e seguintes).
Em situações expeditas, a biomassa clorofilina (expressa em clorofila a) é calculada
a partir das concentrações de fósforo estimadas com base em vários modelos de regressão
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
já existentes (por exemplo, em AHLGREN et al., 1988). Contudo equações preditivas
baseadas em dados reais da massa de água são em geral preferíveis. Modelos mais
elaborados podem exigir mais dados de recolha do que os mencionados acima e predizer
outras tantas variáveis.
Em Portugal, alguns casos de estudo incluíram um diagnóstico pormenorizado e
abordaram a previsão da eutrofização em albufeiras, com base nos dados recolhidos. Por
exemplo, o modelo WQRRS desenvolvido pelo US Army Corps of Engineers, foi aplicado
à albufeira do Cabril (RODRIGUES, 1992) e utilizado para predizer a eutrofização da
futura albufeira do Alqueva perante diferentes regimes hidrológicos ou de uso da água
(RODRIGUES et al., 1995).
7.2.2. Controlo externo das fontes de fósforo
O desvio ou o tratamento de efluentes têm sido as técnicas mais utilizadas no
controlo da eutrofização. O tratamento de efluentes deve incluir a retirada dos nutrientes e
nomeadamente do fósforo, o que frequentemente é realizado por via química na estação de
tratamento (normalmente precipitando com sulfato de alumínio, carbonato de cálcio ou
cloreto de ferro, o fósforo e matéria orgânica da água residual tratada) embora daí resulte,
em geral, largo volume de lamas mais ou menos tóxicas. Uma alternativa ecologicamente
mais interessante consiste em conduzir esta água tratada, mas muito rica e mineralizada,
para bacias de recepção (lagoas) onde é realizada a retirada de nutrientes por incorporação
biológica (são utilizados no crescimento de algas e plantas, por sua vez consumidas por
invertebrados e peixes, sendo esta biomassa periodicamente removida e rentabilizada).
Outra alternativa muito utilizada em pequenos lagos europeus é a abertura de valas
paralelas à margem para onde a água tratada acede, sendo os nutrientes absorvidos por
plantas aquáticas e estas utilizadas por fauna selvagem, normalmente patos.
A recuperação da massa de água após desvio e tratamento dos efluentes pode não ser
evidente ou completa, uma vez que as fontes nutritivas internas de fósforo existentes nos
sedimentos podem ser suficientes para manter o estado trófico existente (o fósforo é
libertado dos sedimentos em condições anaeróbias, que ocorrem durante parte do ano). Os
lagos mais pequenos e com quociente epilímnio/hipolímnio elevado são os mais difíceis de
recuperar desta forma. Na maior parte dos casos, ocorre de facto alguma recuperação após
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
desvio de efluentes, dependendo a magnitude desta também de outros factores, como o
tempo de retenção da massa de água.
A Fig. 3.8 ilustra dois casos clássicos de resposta ao tratamento terciário e desvio de
efluentes. O lago Washington tem uma profundidade grande (37 m profundidade média),
um tempo de retenção baixo (0.4 anos), um hipolímnio ainda parcialmente oxigenado e
uma história relativamente recente de eutrofização, tendo apresentado recuperação
evidente em três anos, enquanto o lago Sammamish, a 12 km do anterior, com menor
profundidade (12 m profundidade média), um tempo semelhante de retenção (0.55 anos) e
hipolímnio completamente anóxico não recuperou de uma forma tão evidente ao fim de 20
anos.
Figura 3.8– Recuperação dos lagos Washington (esquerda) e Sammamish (direita) após desvio e
tratamento de fontes pontuais externas de nutrientes (extraída de EDMONDSON, 1978 e de WELCH et al., 1986).
As fontes difusas de nutrientes são por vezes muito importantes, sobretudo em bacias
muito agricultadas. A remoção destes nutrientes é bem mais difícil e, de uma forma geral,
é realizada pela passagem desta água de escoamento em pequenas bacias de retenção e
zonas semi-artificiais de arrelvados ou de alagados, interpostos entre as zonas de máximo
escoamento e a massa de água, sendo a água enriquecida aí retida por um período variável.
Quanto maior a retenção, maior o efeito de absorção de nutrientes e sua incorporação na
biomassa vegetal. A implementação de algumas práticas agrícolas e de uso da bacia
hidrográfica é também uma ajuda no controlo de eutrofização, como a criação de socalcos
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
em curvas de nível, a criação de terraços, o reflorestamento de declives íngremes, a
manutenção de uma faixa de vegetação marginal ou a sementeira de corredores de
macrófitos.
As concentrações de nutrientes na água podem também ser diminuídas por
introdução de volumes de água com menores concentrações destes em geral com um
aumento associado do fluxo da água para fora do lago. Esta técnica depende da existência
de volumes adequados de água com baixo teor em nutrientes e dos custos envolvidos na
operação. Tem sido utilizada com sucesso em Espanha, junto aos Pirinéus, sendo a água
introduzida oriunda de uma albufeira oligotrófica a montante e o transporte efectuado por
gravidade. Uma outra técnica consiste simplesmente em diminuir o tempo de retenção da
massa de água e aumentar o fluxo de passagem da água, embora tal exija grandes
quantidades de água disponível e apresente fracos resultados se a própria água adicionada
estiver eutrofizada.
7.2.3. Controlo interno do fósforo
As cinco técnicas mais utilizadas neste controlo são a inactivação do fósforo, a
técnica “riplox”, o arejamento hipolimnético, a extracção de água hipolimnética e as
dragagens. O sulfato de alumínio, quando adicionado à água, normalmente em conjunto
com argila bentonítica, forma flocos que precipitam sobre os fundos anóxicos. Estes flocos
cobrem os sedimentos evitando a libertação de fósforo. Contudo, os resíduos que
permanecem na massa de água são bastante tóxicos.
A técnica “riplox” reduz o fósforo solúvel intersticial dos sedimentos por oxidação
da matéria orgânica. Esta oxidação é obtida pela desnitrificação resultante da adição de
Ca(NO3)2 em condições alcalinas, sendo adicionado ferro quando este está presente em
níveis baixos ou se os níveis de enxofre são elevados. O objectivo é manter o ferro sob a
forma oxidada de compostos férricos, por forma a que o fósforo se mantenha complexado
nestes (COOKE et al., 1986). Embora bastante eficazes, tratam-se de métodos
ecologicamente pouco interessantes, sobretudo o primeiro, visto que alteram profunda e
bruscamente a química do ecossistema.
O arejamento hipolimnético é uma técnica bastante praticada em lagos relativamente
profundos embora em geral com resultados pouco permanentes e muito localizados
(WELCH, 1992). A libertação de fósforo dos sedimentos pára enquanto se processa o
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
arejamento, mas recomeça de imediato após o tratamento. Os arejadores apresentam um
raio de acção limitado. Na albufeira do Vilar esta técnica vem sendo utilizada para
melhorar a qualidade da água na zona junto à captação, com bons resultados. A extracção
de água hipolimnética apresentou grande sucesso em vários casos, não só diminuindo o
fósforo total hipolimnético como também estando correlacionada a diminuição do fósforo
epilimnético com a magnitude da extracção da água hipolimnética para fora do lago.
Contudo, este método não é eficaz quando a carga externa de nutrientes é elevada e se
mantém. A água extraída não deve ser lançada no rio a jusante, sendo normalmente
utilizada para irrigação.
A dragagem, embora de custos elevados, é um dos métodos mais eficazes para
promover a regressão trófica, ao extrair as camadas superficiais dos sedimento ricas em
fósforo, normalmente até 1m de espessura. Um dos exemplos mais conhecidos e bem
sucedidos é o do lago Trummen, mas outros exemplos de massas de água apresentaram
melhorias evidentes, nomeadamente portugueses como a albufeira da Lagoa Azul (Sintra),
dragada nos anos oitenta.
7.2.4. Controlo da biomassa e biomanipulação
O desenvolvimento de enormes quantidades de biomassa vegetal é o principal efeito
gerado pelo processo eutrofizacional, estando várias técnicas de regressão trófica
relacionadas com o seu controlo. Uma das técnicas mais utilizadas é o arejamento da
massa de água por forma a induzir uma circulação geral da coluna de água, cujo objectivo
geral é rearejar o hipolímnio por meio do oxigénio dissolvido (DO) acumulado no
epilímnio e levar à precipitação (pelo menos parcial) do fósforo nos sedimentos. O
processo é acompanhado de profundas alterações na comunidade das algas, nomeadamente
diminuição das cianofíceas e dominância das algas verdes. Os resultados desta técnica
dependem muito das condições gerais da massa de água (por exemplo, do volume do
epilímnio aeróbio em relação ao do hipolímnio desoxigenado) e parecem ser
particularmente bons em situações de eutrofia inicial, quando o sistema ainda não atingiu
anoxia hipolimnética total. É difícil de aplicar a grandes volumes de água.
Nos final dos anos setenta, foi bastante utilizado o controlo químico da biomassa
algal, nomeadamente por algicidas como o sulfato de cobre. Dados os danos ambientais
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
consequentes, nomeadamente a permanência nos sedimentos e os efeitos toxicológicos do
cobre, este processo está praticamente abandonado. Nos últimos anos, vem sendo utilizada
com grande sucesso a acção de substâncias quimioalelopáticas (ou seja, inibidoras do
crescimento) libertadas durante o processo de decomposição da celulose, que se encontra
em abundância por exemplo nas gramíneas. A técnica mais corrente consiste em pôr a
flutuar a distâncias regulares fardos de feno de aveia (ou de outra espécie deste tipo), cuja
acção inibidora do crescimento das algas se processa ao longo de meses (BARRETT et al.,
1995). O processo é completamente inócuo em termos ambientais.
O controlo da biomassa de plantas tem sido efectuado por meios mecânicos, com
máquinas anfíbias adequadas (como é praticado actualmente no paul do Boquilobo), por
meios químicos (sendo muito utilizados herbicidas dirigidos a dada espécie e de fraca
toxicidade, como o glifosato para o caniço e o diquato-alginato para plantas totalmente
submersas) e pela forma directa do pastoreio. A carpa herbívora Ctenopharyngodon idella
triplóide é usada extensivamente nos E.U.A. para controlar crescimentos de macrófitos em
situações de eutrofização, embora sobretudo em lagos, visto que as plantas aquáticas são
em geral pouco abundantes em albufeiras. A carpa filtradora de plâncton
Hypophtalmichthys molitrix tem sido usada com grande sucesso em lagos do Centro da
Europa e em albufeiras do Norte de África. Estas técnicas implicam uma boa capacidade
de fornecimento das espécies utilizadas para implantar as cargas piscícolas necessárias,
nomeadamente a disponibilidade de stocks de idade adequada.
O controlo da biomassa pode também ser efectuado por biomanipulação das cadeias
alimentares, o processo ecologicamente mais recomendável, mas que exige um profundo
conhecimento do funcionamento ecológico do sistema e grande esforço humano e
financeiro. Consiste na libertação, no início da Primavera, de microcrustáceos de maiores
dimensões (em geral pulgas de água) consumidores de algas, seguida da largada de peixes
consumidores de zooplâncton, no final da Primavera, e colheita por redes destes últimos
no Verão; ou, em alternativa, reforço das populações de peixes ictiófagos para absorver a
biomassa criada. Por exemplo, nos E.U.A tem sido muito utilizada a seguinte sequência:
- redução dos peixes existentes por recurso a venenos naturais;
- introdução de populações de peixes consumidores de zooplâncton;
- reforço das populações de peixes ictiófagos;
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
- arejamento do hipolímnio para fornecer refúgio às populações de zooplâncton que
sobreviveram.
A Holanda é o país europeu que mais aplica o processo da biomanipulação em
acções de regressão trófica, sobretudo em pequenos lagos; trata-se de uma técnica em
rápida expansão em zonas temperadas.
7.3. Flutuações do nível da água e comunidades biológicas
As flutuações de nível da albufeira resultantes dos usos da água tem uma forte acção
erosiva sobre a zona litoral, aumentam a turvação da água e a produtividade biológica e
impedem o estabelecimento da vegetação marginal e dos invertebrados a ela associados. A
magnitude das alterações ecológicas na zona litoral, bem como a proporção volumétrica
relativa da zona fluvial e da zona de transição, dependem da morfometria da albufeira e da
frequência, época, duração e velocidade das flutuações. As zonas litorais podem, assim,
ser muito diferentes em diversidade e abundância de organismos. Margens bem
estruturadas, ricas em árvores, arbustos e vegetação submersa, com densas populações de
invertebrados aquáticos e estruturadas numa zona fluvial bem oxigenada, podem
rapidamente transformar-se em desertos biológicos, se a descida do nível da água for
acentuada e atingir o hipolímnio anóxico da zona de transição.
A redução do nível da água da albufeira é particularmente lesiva para as populações
piscícolas na época de Primavera-Verão. Primeiro, porque determina a perda de habitats
marginais, a diminuição da área alimentar favorável (com vegetação litoral e alimento
associado) e disponível (integrada no epilímnio aeróbio); segundo, porque apresenta
elevado risco de destruição das posturas das espécies sedentárias, algumas delas de
elevado valor piscatório, como o achigã, para as quais a diminuição do nível da água
afecta o recrutamento anual.
A diminuição do nível da água também pode dificultar a saída das espécies
potamódromas, como o barbo e a boga, da albufeira para os afluentes, onde se realiza a
desova (a partir de Abril ou Maio, de acordo com a temperatura) e o seu regresso após
reprodução. A diminuição do nível da água concentra presas e predadores das zonas fluvial
e de transição, aumenta o crescimento dos predadores e diminui as populações das presas
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
conduzindo, após vários anos, a um desequilíbrio populacional (albufeira de Magos:
GODINHO e FERREIRA, 1994).
Pelo contrário, um aumento do nível da água submerge a vegetação terrestre das
orlas das albufeiras e favorece as espécies generalistas, que comem insectos aquáticos e
terrestres e os detritos vegetais e animais que aí se acumulam. Se for realizado pouco antes
da época de postura e alagar zonas de pouca profundidade, o aumento do nível da água é
particularmente benéfico para as populações que realizam posturas na albufeira (achigã,
perca-sol, gambúsia, carpa), para o que são determinantes a forma e desenvolvimento da
linha de margem: margens pouco declivosas e muito recortadas são particularmente
favoráveis a um bom desenvolvimento biológico e equilíbrio das populações piscícolas.
Um aumento da área submersa de 12 a 20% antes das posturas (em geral durante Abril) é
considerado muito eficaz no incremento da biomassa piscícola e praticado rotineiramente
em muitas albufeiras norte-americanas para efeitos de gestão piscatória (FERREIRA et al.,
1998). O Quadro 4.4 sumariza as acções de gestão ecológica mais importantes a
desenvolver para a conciliação das flutuações de nível de água resultantes do uso das
albufeiras com as populações piscícolas aí existentes.
Quadro 3.2 – Objectivos e principais acções de gestão ecológica relacionadas com as flutuações do
nível da água em albufeiras. OBJECTIVO ACÇÕES DE GESTÃO ECOLÓGICA
Manutenção
de populações
piscícolas equilibradas
- Evitar diminuições ou flutuações demasiado bruscas do nível da água.
- Garantir durante a época de desova um período com flutuações mínimas par
recrutamento anual de juvenis se efectue.
- Assegurar que as flutuações de nível não impeçam a continuidade hídrica das rotas
migratórias de barbos e de bogas, na ida e na volta.
- Evitar ou controlar a eutrofização do sistema.
Promoção
das populações
piscícolas existentes
- Determinação das principais vias migratórias nos afluentes junto à
albufeira e afeiçoamento de leitos fluviais aí existentes, para promoção de desovas.
- Contrução de margens compostas (até 3 degraus) em áreas seleccionadas da albufeira
e sementeira de vegetação marginal resistente a fases de emersão (como tamargueira ou
graminhão).
- Colocação de abrigos de materiais naturais para promoção da diversidade
habitacional marginal (como pedras grandes oriundas da região, pilhas de troncos ou
mesmo caixotes de madeira).
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
7.4. Esvaziamento de albufeiras
7.4.1. Condução do esvaziamento na albufeira
Apesar da construção de barragens na Península Ibérica ser uma prática antiga, a
grande maioria destas estruturas foi construída a partir dos anos cinquenta, assistindo-se
presentemente à necessidade do seu esvaziamento por motivos vários, tal acarretando
importantes consequências ecológicas.
Pelas razões que se explicaram antes neste capítulo, o domínio ictiológico de grande
parte das albufeiras portuguesas é exercido pelos ciprinídeos nativos (escalo, boga, barbo)
ou exóticos (carpa e pimpão) e pelos centrarquídeos exóticos perca-sol e achigã,
essencialmente espécies ubíquas e tolerantes, com os seus ciclos de vida bem adaptados a
este ambiente instável e pouco estruturado. O valor conservacionista destas comunidades é
baixo embora se trate de um importante recurso haliêutico, com um elevado valor
económico e desportivo.
Frequentemente, as beneficiações e limpezas de albufeiras processam-se em
situações de eutrofização da massa de água. Numa situação de eutrofia avançada, a
biomassa de peixes é em geral dominada pelas espécies detritívoras que se alimentam dos
sedimentos orgânicos dos fundos, essencialmente a carpa, que pode atingir nestes casos
grandes dimensões (podendo o peso individual exceder 10 kg). A turvação biótica
crescente, a abundância de algas libertadoras de substâncias tóxicas e a diminuição das
áreas aeróbias disponíveis para a alimentação e realização do seu ciclo de vida (entre
outras causas) resultam no quase desaparecimento da boga, barbo e achigã, com
desenvolvimento das populações de perca-sol caracterizadas por abundantes indivíduos
com idades avançadas, mas de pequenas dimensões (de crescimento bloqueado). As
populações de carpas são, de resto, reconhecidamente responsáveis pelo acelerar do
processo eutrofizacional, ao predarem os crustáceos filtradores de algas e ao fossarem nos
fundos, levantando os sedimentos e libertando o fósforo neles retido. No final de um
processo eutrofizacional deste tipo, que se verifica, por exemplo, nas albufeiras de Magos,
Roxo e Montargil, o valor piscícola da massa de água decresce muito.
Face a este quadro ecológico de desequilíbrio e baixa biodiversidade, que ocorria
por exemplo na albufeira de Vale do Gaio na altura do esvaziamento (GODINHO, 1994), a
conservação das populações existentes não faz sentido, sendo desequilibradas e
112
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
constituídas por duas espécies exóticas, nem tão pouco o seu transporte para albufeiras
vizinhas (como aconteceu em 1981, em Pego do Altar), onde de resto já existem e
dominam a comunidade. Também não faz sentido manter as populações vivas durante o
período do esvaziamento, reintroduzindo-as na nova massa de água e fomentando a
continuidade de más condições biológicas.
Em albufeiras menos eutrofizadas encontra-se uma maior diversidade piscícola,
incluindo espécies nativas (barbo, boga, truta). É possível nestes casos, pescar pelo menos
parte destas populações e transportá-las para outras massas de água. Contudo, salvo raras
excepções (por exemplo, os sáveis de Castelo do Bode e da Aguieira), estas espécies não
apresentam um estatuto conservacionista de ameaçadas ou em perigo, tratando-se, pelo
contrário, das espécies mais generalistas e ubíquas que antes existiam no rio. A dimensão
das suas populações é, em geral, reduzida e, portanto, de difícil pesca dirigida. A sua
colocação noutras albufeiras não melhoraria necessariamente a situação das populações aí
existentes, que dependem muito mais da gestão ecológica destas massas de água.
Assim, de uma forma geral, recomendar-se-iam os seguintes passos precedendo o
esvaziamento de uma albufeira ibérica:
- caracterização expedita das populações piscícolas existentes por redes passivas,
pesca eléctrica e ecosondagem;
- tomada de opção sobre se e quais as espécies a transladar;
- pesca dirigida às espécies a transladar (caso as haja) e transporte destas para uma
albufeira seleccionada e com características apropriadas;
- abertura de um período de pesca livre de pescadores desportivos e profissionais
para aproveitamento económico piscatório da massa de água;
- pesca por todos os meios possíveis, do maior numero de indivíduos, por
confinamento em dados locais durante o esvaziamento, ou recolha no próprio
local de descarga;
- rentabilização económica do pescado, por exemplo, para consumo humano e no
processo de fabrico de farinha de peixe;
- enterramento da biomassa piscícola que não for possível rentabilizar fora da área
de influência da albufeira, por forma a não enriquecer os sedimentos;
- implementação de um programa de repovoamento, fomento e promoção aquícola
da massa de água após o reenchimento.
113
ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
7.4.2. Impacte do esvaziamento a jusante e sua mitigação
Os impactes ecológicos do esvaziamento de uma albufeira centram-se, de facto, não
na massa de água em si, mas no sistema fluvial a jusante.
Existem poucos estudos documentados sobre os efeitos ecológicos de esvaziamentos
na Europa mediterrânica, sendo os exemplos mais interessante o de Pareloup, no Sul da
França, e o de Berasona, junto aos Pirinéus espanhóis. O esvaziamento é, em geral,
realizado pela descarga de fundo e a água efluente, deriva do lipolímnio, apresenta
características quimicamente agressivas, sendo fria, anóxica, com um pH muito baixo,
elevado teor de sólidos suspensos (verdadeiramente lama, no caso de Berasona) e elevados
teores de elementos e compostos tóxicos acumulados nos sedimentos, nomeadamente
amónia e compostos de ferro, enxofre e manganês. Esta água é escoada ao longo do curso
de água, submergindo a vegetação herbácea e colmatando as superfícies, alterando e
destruindo os habitats e as populações bentónicas, de invertebrados e perifiton.
Relativamente aos peixes, colmata as brânquias, perturba as deslocações normais no rio,
impede o desenvolvimento das posturas e ovos nas áreas colmatadas, elimina os ovos e
alevins (fase larvar, em que a morfologia do corpo adulto ainda não está completamente
definida) e diminui a disponibilidade alimentar do sistema, afectando o crescimento e a
condição das populações em geral.
Não foram ainda estabelecidas técnicas correntes que permitam mitigar as alterações
ecológicas de esvaziamentos, pelo menos em zonas mediterrânicas. As consequências
descritas acima foram documentadas em Berasona. Contudo, este cenário catastrófico pode
ser bastante atenuado:
- se o esvaziamento se processar em massas de água de eutrofização menos avançada
e com menos espessura de sedimentos finos e anóxicos;
- se o esvaziamento for realizado a partir de uma descarga de meio fundo ou pelo
menos acima dos sedimentos do fundo;
- se o regime de descargas for planeado de modo a ser realizado de forma
progressiva.
Nalguns casos, nos E.U.A., têm sido conduzidas as descargas para séries paralelas de
leitos artificiais e bacias de recepção, onde as características da água se tornam mais
favoráveis, nomeadamente grande parte da carga sólida transportada sedimenta, a água
aquece, aumenta o pH e parte das substâncias tóxicas é precipitada no leito. Nalgumas
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
situações de declives acentuados no vale a jusante, foi possível incorporar zonas de
socalcos no percurso da água, afeiçoadas por materiais naturais, como troncos de árvore,
por forma a promover o arejamento e oxidação das formas reduzidas de compostos,
sobretudo amónia. Após passagem nestas zonas de recepção preparadas para o efeito, a
água é reconduzida ao sistema fluvial.
Mesmo considerando estas medidas mitigadoras, é de esperar alguma influência
negativa nas populações a jusante. A Fig. 3.9 ilustra a variação das populações piscícolas
antes e depois do esvaziamento de Pareloup, França, detectadas em cinco estações de
amostragem a jusante. Verifica-se que algumas espécies da albufeira invadem os troços a
jusante e a densidade populacional aumenta, embora a densidade de algumas espécies
diminua, quase sempre de salmonídeos (trutas), quando existem no rio a jusante da
barragem.
Todas as espécies
Truta comum Truta comum Figura 3.9 – Riqueza em espécies, biomassa piscícola (kg ha -1) e densidade de trutas
Salmo trutta (número indivíduos em 100m de rio) antes e depois do esvaziamento de
Pareloup em cinco locais fluviais a jusante (extraída de DAUBA, 1994).
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ESTUDO ESTRATÉGICO PARA A GESTÃO DAS PESCAS CONTINENTAIS PAMAF MEDIDA 4 – IED, ACÇÃO 4.4: ESTUDOS ESTRATÉGICOS
Todo o processo de esvaziamento deveria ser acompanhado por um conjunto de
medidas e acções de acompanhamento e mitigação, delineadas caso a caso e de acordo
com a situação ecológica e piscícola da albufeira em causa, incluindo o estabelecimento de
comunidades piscícolas ecologicamente adequadas após o reenchimento, bem como a
monitorização do sistema fluvial a jusante e intervenção neste, quando necessário.
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