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© 2013 Ivan de Lima
Título original em Português: E o pra sempre, sempre acaba?
Dados nacionais de Registro na Biblioteca Nacional
Lima, Ivan de
E o pra sempre, sempre acaba? / Ivan de Lima
Registro BN nº 342346
1. Romance brasileiro Código 869
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou
mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, assim como
traduzida, sem a permissão, por escrito, do autor. Os infratores serão
punidos pela Lei n9.610/98.
“Às vezes as pessoas se arrependem
e pedem perdão. Esse talvez seja o
primeiro e grande passo para uma
reconciliação, mas muitos têm
medo de dá-lo. O perdão é sublime
e quem ama perdoa, não sempre,
pois dessa forma não seria
exceção.”
A Haroldo, Ari, Marcelo
Prilip, Marcelo Cavalcante,
Cristina Dorgan,, Thaís
Santos e Marisa Parise,
minha mãe de coração.
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CAPÍTULO I - O REENCONTRO
— Doutor Diego, há um cliente aqui que quer vê-
lo – avisou a secretária.
— Mas eu não marquei nenhum cliente para hoje.
Pergunte se ele não pode voltar à tarde, pois estou muito
ocupado.
Eduardo foi entrando no escritório e disse:
— Creio, senhor Diego, que este cliente o senhor
não quererá dispensar.
Diego abriu um largo sorriso, levantou-se, pulou
nos braços do seu amado e o beijou longamente.
— Você por aqui! O que houve? – perguntou o
advogado.
— Resolvi atender aos meus instintos, à decisão dos
deuses e a do meu chefe que me promoveu e agora sou
o novo Superintendente de Marketing e Atendimento a
Clientes de todas as filiais da empresa.
— Mesmo? Parabéns! E você veio para alguma
outra reunião? Quanto tempo você vai ficar? Onde vai
ficar? Está sozinho?
— Ei, calma! Você não me convida para sentar?
Assim fica melhor para conversarmos.
— Claro, claro! Desculpe. É que fiquei tão
empolgado por você estar aqui que me esqueci até
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mesmo de convidá-lo para entrar. Entra. Senta – e
fechou a porta.
— Eu também estou muito empolgado. Mas agora
depende de você.
— Como assim?
— É o seguinte: depois da última reunião que
participei na Grécia, fiz um grande estudo para aquela
filial, inclusive com uma simulação de pesquisa de
público e tudo mais. É claro que não fiz sozinho, um
rapaz chamado Adriano me ajudou muito e graças a isso
ele conseguiu uma vaga como Gerente de Marketing de
lá. O Presidente ficou tão satisfeito que me disse que
entraria em contato comigo lá no Brasil assim que
terminasse de examinar todos os documentos que
deixei, tanto os da Matriz, como os da filial grega. Nem
bem cheguei de volta, ele me telefonou informando,
ouça bem, informando que eu acabara de ser promovido
para coordenar os dois setores das três filiais e da
próxima que os acionistas estão prestes a inaugurar em
Miami. Agora eu sou Superintendente de Marketing e
Atendimento a Clientes.
— Tudo bem, mas você não me explicou o que faz
aqui.
— Ah, sim! Como essa é uma função importante,
ele quer que eu me reporte diretamente a ele e por isso
me transferiu para cá.
— Mas você não poderia coordenar de lá mesmo do
Brasil? Não que eu não esteja contente por tê-lo tão
próximo a mim, mas é uma lógica, já que sua família
está lá e sua vida também.
— Eu comentei isso, mas ele quer que discutamos
tudo pessoalmente e não via monitor ou telefone. Além
disso, ele me deu um substancial aumento e, para que
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pudesse deixar os meus pais bem por algum tempo, ele
me demitiu e me recontratou por aqui. Também terei a
oportunidade de visitá-los a cada seis meses, segundo o
acordo que fiz com o Michel, ou mesmo nos feriados
longos.
— Que maravilha. E agora, o que você pensa fazer?
Onde você está hospedado?
— Bem, por enquanto eu estou em um hotel, aqui
mesmo na Gran Via. Mas ele já está providenciando um
apartamento para mim, não muito longe, para que eu
não me atrase ao serviço.
— Que bom, poderemos nos ver todos os dias. E
por falar nisso...
— Sim?
— E nós? – perguntou meio constrangido.
— Durante minha viagem pela Itália, conheci
vários lugares e algumas pessoas. Como sempre fui
sincero com você, devo confessar que “fiquei” com uma
moça chamada Maria, uma boliviana, de Lima. Ficamos
juntos desde Florença a Nápoles.
— Entendo. Então...
— Então nada. Deixe-me acabar de falar.
— Desculpe. Continue – respondeu meio triste e
cabisbaixo.
— Continuando: nós nos conhecemos em Florença,
como já mencionei, e viajamos juntos até Capri,
passando por Veneza, Roma, Assis e outras cidades.
Mas ela não podia continuar conosco depois de
Nápoles, pois devia ir para a Alemanha, onde vive sua
mãe. Aprendi muito com ela, mesmo sendo uma mulher
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diferente de todas que conheci. Apesar disso, foi muito
interessante a experiência, não nego.
— É... você esquece rápido mesmo!
— Continuando: de Nápoles voltamos a Roma e de
lá eu viajei para a Grécia sozinho, pois meus amigos
foram para Portugal. Eles me encontraram depois.
Quando cheguei no aeroporto havia alguém me
esperando. Era o Adriano, esse que mencionei. Mas nós
não tivemos nada, já vou logo dizendo.
— Eu não disse nada!
— Mas pensou “que cretino!”
— Não pensei isso não.
— O Adriano é uma pessoa maravilhosa! Um
administrador de empresas que trabalhava como
motorista. Aprendi muito com ele, que tem mais ou
menos a nossa idade, possui uma percepção incrível e
uma inteligência fantástica. Graças a ele descobri algo
grandioso em minha vida.
— Pela quantidade de elogios e exaltação, deve ter
sido algo grandioso mesmo. O que foi, posso saber?
— Claro que pode, já que você é uma das pessoas
mais interessadas.
— Como assim?
— O Adriano me fez perceber que o que sinto por
você é algo chamado amor e que estou disposto a tentar
um relacionamento mais sério, isto é, se você ainda me
quiser depois do que contei.
— Querer?! Eu?! – respondeu Diego entusiasmado.
– Claro que quero! É o que me fez continuar até aqui e
o que me faria continuar por mais muito tempo. O que
sinto por você é verdadeiro e sincero. Nunca conheci
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alguém como você e quero muito estar ao seu lado, para
sempre, até ficarmos velhinhos e um fazer companhia
ao outro.
— Então eu pensei que você poderia vir morar
comigo.
— Mo... Morar com você?! – gaguejou.
— Sim. Eu sei que é cedo, mas nós podemos tentar.
— Mas nós precisamos nos conhecer melhor.
Ficamos tão pouco tempo juntos. E se não der certo?
— Se não der certo, pelo menos nós tentamos.
— Você tem razão. Mas... e a mamãe?
— É verdade. Infelizmente nós não podemos levá-
la conosco, pelo menos nesse primeiro momento. Mas
nós podemos conversar com ela e ela poderá nos visitar
sempre, afinal vamos morar bem perto daqui. Dona
Marisa é uma pessoa maravilhosa e sei que ela não se
oporá a isso.
— É fato. Mas...
— Bom, se você não concorda com minha
proposta? Podemos ver outras possibilidades.
— Antes de darmos um passo tão importante, é
melhor pensarmos um pouco, analisarmos a situação,
para que não venhamos a nos arrepender depois.
Casamento é algo sério, não é brincadeira que se possa
dizer hoje eu quero e amanhã eu não quero mais. Já
disse que o amo muito, mas não sei se estou preparado
para assumir um compromisso desses. Isso é sério,
Eduardo!
— Eu sei – respondeu menos empolgado. – Eu
fiquei eufórico pela possibilidade. Mas eu sei que isso
não é coisa que se resolva assim de uma hora para outra.
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Vamos refletir um pouco mais sobre o assunto. Você
tem razão. Então para amenizar minha euforia, podemos
sair para comer alguma coisa? Estou faminto!
— Claro, vamos lá!
E os dois se beijaram mais uma vez. Diego deixou
um recado com a secretária e saíram juntos.
Mas o leitor deve estar se perguntando: “O que está
acontecendo?” É claro que devo situá-lo na história,
caso não tenha lido a primeira parte dela. Embora nosso
personagem já tenha dito um pouco, resta complementar
a informação. Eduardo era gerente em uma filial
brasileira de uma empresa multinacional. Vivia em uma
rotina, quebrada uma manhã em que deu carona a um
velhinho. Ao chegar à empresa recebeu a missão de
representá-la em três reuniões que aconteceriam em
Madri e Grécia. Teve várias experiências de encontro
com alguns deuses como Cronos, Atena, Apolo e o
herói Perseu, cuja história foi-lhe revelada através de
sonhos. Nosso protagonista teve alguns dias de férias e,
em companhia de três amigos Thiago, Célia e Ronaldo
conheceram os principais pontos turísticos de Madri,
algumas cidades da Itália como Florença, Veneza e
Roma e da Grécia também.
Em sua viagem por Madri, conheceu Diego, um
jovem e promissor advogado. Diego caiu de amores por
Eduardo, mas este, que nunca havia tido experiência
com outro homem, ficou confuso com o que estava
acontecendo. Ajudado por alguns deuses, entre eles
Hermes, chegou à conclusão de que gostava de Diego.
Mas teve que seguir sua viagem e deixou o seu amor
chorando por ele. Fim da viagem, retornou ao Brasil e à
sua vida, distanciando-se ainda mais do advogado.
Durante as reuniões cativou a confiança do
presidente da empresa, senhor Michel Labate e graças a
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interferência dos deuses, dos seus vastos conhecimentos
naquilo que fazia, e fazia bem, o presidente decidiu por
promovê-lo, o que o trouxe de volta ao local onde tudo
começou. Agora vamos ver como isso continua. Será
que eles viverão felizes para sempre, ou na vida real é
diferente? O para sempre acaba? São dois homens.
Homem amando homem. Seria diferente se nossa
história falasse de Eduardo e Maria? Vamos ver.
Naquela manhã tudo parecia lindo. Ainda fazia frio,
pois estavam ainda no Inverno. Mas para aqueles dois a
chama do amor estava mais acesa que nunca e os
aquecia de corpo, alma e coração. Entretanto aquela
comemoração tinha que esperar um pouco mais, pois
ambos deveriam retornar ao trabalho. Eduardo
precisava voltar para o escritório para terminar a
arrumação de sua sala e começar a se apresentar como
novo funcionário da Matriz e com o único cargo de
Superintendente. Diego tinha um cliente marcado para
dali a poucos minutos e não queria deixá-lo esperando.
Combinaram de se encontrar às cinco horas para irem
juntos à casa de dona Marisa, cumprimentá-la. Depois
iriam comemorar em uma danceteria e, mais tarde, no
hotel, já que em Madri não existem motéis.
Eduardo foi recebido pelo próprio presidente que
havia marcado uma reunião para apresentá-lo
oficialmente, embora a maioria dos diretores e gerentes
já o conhecessem.
— Então, senhor Eduardo, tudo está bem? A sala
está de acordo com sua nova posição? Precisa de algo?
— Sim, senhor Michel. Está tudo de acordo. Só me
faltam alguns detalhes pessoais como umas plantas e
precisamos conversar sobre alguém para me auxiliar.
— Quanto à pessoa para auxiliá-lo, estou
designando o senhor Fábio Garcia, que o secretariará. É
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um profissional muito competente e que lhe será de
grande ajuda, além de não se desviar da função, como o
faria uma senhorita. Digo isso, pois o senhor é uma
pessoa muito apresentável e não gostaria de nenhum
processo por assédio sexual.
— “Aí é que o senhor se engana, senhor Michel.
Assim é que fica mais preocupante, principalmente se o
secretário também for ‘muito apresentável’ como o
senhor me chamou” – pensou Eduardo.
— Algum problema? – perguntou o senhor Labate,
ao notar o distanciamento do funcionário.
— Não senhor. O senhor tem razão. Um homem
será melhor, principalmente se é tão competente como
o senhor me diz, será muito bem-vindo, pois vou
precisar de pessoas ativas trabalhando comigo, a fim de
elevarmos os níveis de satisfação de nossos clientes o
mais breve possível.
— Tenho certeza que sim, senhor Eduardo. Ah!
aqui está o senhor Garcia. Esse é o novo
Superintendente da empresa e o senhor se reportará a
ele, dando-lhe todo o suporte de que ele necessitar.
— Muito bem, senhor Labate – e estendeu a mão
para o seu novo chefe – Muito prazer. Pode me chamar
de Fábio e farei todo o possível para não decepcioná-lo.
A partir desse momento só me reportarei ao senhor e ao
senhor Labate, conforme já conversamos.
— Muito prazer também, Fábio. Pode me chamar
de Eduardo apenas. Desculpe-me, senhor Michel, mas
eu não sou muito receptivo quanto a esses protocolos
quando se referem a mim.
— Como queira. Agora que já estão apresentados,
comecem a trabalhar e peça aquelas coisas de que me
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falou ao senhor Garcia. Tenho que ir. Um bom trabalho
e mais uma vez seja bem-vindo, senhor Eduardo.
— Muito obrigado, senhor Michel. Agora também
temos o que acertar com relação ao trabalho. Vamos lá,
Fábio?
— Pois, não.
— Primeiro quero que você providencie umas
plantas aqui para minha sala e umas para a antessala,
onde ficará sua mesa. Quero muito verde por aqui. Não
precisam ser flores, pois elas perecem logo. Mas verde,
muito verde.
— De que tipo de plantas você gosta? Avencas,
samambaias, jiboias, fícus...
— Gosto de todas essas, principalmente porque são
resistentes. Mas deixo a seu critério de bom gosto.
— Combinado. Prometo que não se arrependerá.
— Tenho certeza disso.
E continuaram ajustando os afazeres enquanto
Eduardo olhava para aquele rapaz de uns vinte e três
anos, mais ou menos da sua altura, loiro, cabelos com
franja sobre a testa, um corpo forte e muito simpático.
Estava sempre com o semblante leve e esboçando
sorriso. Percebeu que aquele era o sexto de sua lista.
Ah! Caro leitor, caso não tenha lido os antecedentes
dessa história, nosso protagonista ficou incumbido pelo
deus Hermes de encontrar quinze descendentes de
Perseu. Como vimos, Fábio seria o sexto deles.
O secretário providenciou as plantas que o chefe
havia pedido. A entrega foi rápida, em menos de uma
hora já haviam chegado ao escritório. Algumas foram
devolvidas, pois não estavam de acordo com as