duque de caxias japeri nilópolis dos grupos criativos...
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Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR
elatório Final Rio de Janeiro – 2015
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de Meriti
Seropédica
Realização
MAPEAMENTOGRUPOS
CRIATIVOS
FLUMINENSEBAIXADA
dos
da
Relatório FinalRio de Janeiro – 2015
MAPEAMENTOGRUPOS
CRIATIVOS
FLUMINENSEBAIXADA
dos
da
Relatório FinalRio de Janeiro – 2015
Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR
elatório Final Rio de Janeiro – 2015
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de Meriti
Seropédica
Realização
MAPEAMENTOGRUPOS
CRIATIVOS
FLUMINENSEBAIXADA
dos
da
Relatório FinalRio de Janeiro – 2015
Realização
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de Meriti
Seropédica
Rio de Janeiro
Petrópolis
Paty do Alferes
Miguel PereiraEng. Paulo de Frontim
Niterói
São Gonçalo
B A Í A D E G U A N A B A R A
B A Í A D E S E P E T I B A
Maricá
Itaboraí
Cachoeiras de Macacu
Teresópolis
Vassouras
Mendes
Piraí
Barra do Piraí
Rio Claro
Mangaratiba
Apresentação
Projeto Brasil Próximo – Estação Baixada: pontos de partida
Trilhas teóricas e metodológicasNas tramas da Baixada... Identidades e territórios na narrativa de jovens
de ontem e hoje
Conhecendo os grupos criativos Resumo do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense
Uma forma de ouvir os grupos...
Estrutura e funcionamento dos grupos criativos
Acervos e memória: o que lembrar?
Modos de comunicar...
Redes e ação coletiva
Pautas políticas...
Um olhar sobre as políticas destinadas aos jovens da Baixada Fluminense
Sínteses...
Referências bibliográficas
Anexos
08
11
1728
4545
46
54
61
63
72
73
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87
90
92
SUMÁRIO
98
APRESENTAÇÃO
É com alegria que entregamos ao leitor o Mapeamento dos
Grupos Criativos da Baixada Fluminense, resultado de pesquisa com mais de
uma centena de grupos que possuem engajamento na proposição e produção
cultural nos municípios da Baixada, do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de
um amplo levantamento, feito entre maio de 2013 e maio 2014, sobre o perfil
desses grupos (integrados, sobretudo, mas não apenas, por jovens), suas ati-
vidades, histórias, necessidades e demandas. Esse trabalho foi realizado por
operadores culturais da própria região, envolvendo, também, entrevistas com
gestores públicos municipais ligados à cultura, buscando estabelecer possi-
bilidades de diálogo entre a vivência dos grupos e as instituições capazes,
potencialmente, de lhes dar suporte e apoio.
Este Mapeamento integra o Programa Brasil Próximo, uma parceria entre
o Governo Federal do Brasil, com as regiões italianas da Úmbria, Marche,
Toscana, Emilia Romagna e Ligúria. Trata-se de um programa de coopera-
ção internacional que visa aproximar, cada vez mais, ambos os países, sendo
resultado de uma série de importantes atividades que tais regiões têm feito
no Brasil, nos últimos anos. O Programa tem como objetivo principal construir
uma rede de políticas públicas, oportunidades e intervenções para acompa-
nhar os processos internos de desenvolvimento local integrado, solidário e
sustentável. Realizado em diferentes regiões brasileiras, responde a deman-
das e especificidades locais, cabendo a cada uma das cinco regiões italianas a
tarefa de coordenar as atividades nos territórios pactuados, a partir das espe-
cificidades e do acúmulo técnico de cada uma.
A Baixada Fluminense foi escolhida para integrar o Programa Brasil Pró-
ximo, por apresentar o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro, além de ser uma região cuja ambi-
ência política possibilita a experimentação de novas abordagens no setor das
políticas sociais, a partir das necessidades e dos recursos reais do território.
Outro elemento definidor dessa escolha foi o fato de a Baixada abrigar um
expressivo contingente de jovens: são 1,5 milhões, entre 15 e 29 anos de idade,
para uma população total de 4,5 milhões.
Partiu-se, também, da constatação de que, embora a Baixada esteja cons-
truindo uma trajetória de desenvolvimento econômico, as mudanças não foram
suficientes para reverter o quadro de desigualdades presentes. Definiu-se,
assim, como objetivo para o Programa, apoiar processos de democracia par-
ticipativa na região. Isso inclui identificar e estimular articulações de políticas
sociais promotoras de metodologias capazes de promover a participação de
todos os setores que atuam no território, com prioridade para as políticas de
juventude. Como resultado, foi realizado um conjunto de atividades com foco
em políticas públicas sociais participativas, de cultura e protagonismo juvenil.
Esta publicação tem múltiplos objetivos: dar visibilidade às expressões
culturais da Baixada Fluminense, em todas as suas manifestações e forma-
tos criativos e organizativos; fornecer parâmetros para conhecer e analisar
o perfil dos grupos criativos atuantes no território; identificar redes de apoio
e parcerias para a reflexão política sobre a cena cultural juvenil; incentivar e
apoiar a criação e a difusão da cultura na região, por meio do fortalecimento
de espaços de interlocução entre artistas, produtores e organizações compro-
metidas com a cultura da Baixada Fluminense.
A proposta do trabalho procurou destacar e valorizar o caráter articula-
dor da juventude, na Baixada Fluminense. Isso foi significativo, já que, muitas
vezes, tais experiências, que nascem da esfera da cultura popular, são descon-
sideradas ou levadas em conta, por exemplo, pela mídia, apenas quando se
tornam mercadologicamente rentáveis. Assim, traçar um caminho de comu-
nicação colaborativa entre os grupos juvenis da Baixada foi uma forma, na
pesquisa, de se contrapor a percepções infundadas.
Sobre os grupos criativos pesquisados, procuramos responder a diferen-
tes perguntas: Quantos são? Onde estão? Quem são? Que estratégias tecem
para costurar relações culturais para mobilizar a juventude? Que culturas
produzem e consomem?
Esperamos que esta publicação ajude a responder, ou mesmo complexi-
ficar, esses questionamentos, uma vez que a entendemos como “mais um”
instrumento a contribuir para o fortalecimento da autonomia dos grupos cria-
tivos da Baixada Fluminense, na sua luta por direitos. Como observou uma
pesquisadora envolvida no mapeamento: “Quando os jovens estão engajados
na esfera cultural, produzem coisas lindas e participam ativamente da cons-
trução e do crescimento de seu espaço. Vivem intensamente o seu lugar e sua
história”. Com este trabalho, esperamos fortalecer o processo.
Boa leitura!
Coordenação Brasil Próximo
1110
Múltiplos são os sotaques da Baixada Fluminense. Nesse terri-
tório de intensa criação cultural, os “falares” de quase todas as regiões brasi-
leiras podem ser ouvidos no correr da vida de seus moradores. As narrativas,
tecidas nos cruzamentos de uma história de muitos e muitas, misturam espe-
rança, expressão artística, empenho, compromisso e, sobretudo, resistência.
Um vasto cenário – ainda não suficientemente explorado e conhecido
pelo conjunto mais amplo de seus moradores e demais habitantes do estado
do Rio de Janeiro – reúne artistas, grupos e instituições envolvidos em diver-
sos setores culturais, como teatro, dança, música, atividades circenses, foto-
grafia, audiovisual, literatura, turismo cultural, carnaval, culturas populares,
artes plásticas, entre outros.
Opondo-se à asfixia social, econômica, política e cultural que marca a
região, preservam e produzem diferentes expressões culturais e artísticas, em
uma contínua recriação de seus pertencimentos identitários e reinvenção de
dinâmicas organizativas e manutenção de suas atividades. Por meio delas,
imprimem em suas ações os valores, materiais e imateriais, que comparti-
lham, e propõem à região modos diversos e criativos de fundir criatividade,
arte, vida, poesia e cidadania.
A multiplicidade de manifestações culturais traduz-se neste Mapeamento
dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense, investigação realizada como
parte do conjunto de ações projetadas pelo programa Brasil Próximo na
região. Estabelecido com ênfase na criação de proximidades culturais e no
fortalecimento das redes existentes, o projeto teve como objetivo a constru-
ção de espaços de troca com gestores públicos da Baixada Fluminense, grupos
culturais e, sobretudo, jovens produtores culturais, para o aprimoramento da
reflexão sobre a formulação de políticas públicas. O programa busca delinear,
também, estratégias de ação para a região, pautadas no direito à cultura e no
recente reconhecimento do direito dos jovens e da regulação das diretrizes
nacionais das políticas de juventude por meio do Estatuto da Juventude (Lei
Federal n. 12.852/2013).
PROJETO BRASIL PRÓXIMO ESTAÇÃO BAIXADA: PONTOS DE PARTIDA
1312
BRASIL PRÓXIMO é um programa de cooperação internacional que visa aproximar
cada vez mais, no futuro, regiões italianas e brasileiras, e é resultado de uma série de
importantes atividades que as Regiões Umbria, Marche, Toscana, Emilia Romagna e
Ligúria têm feito no Brasil nos últimos anos, com o objetivo de construir, no decorrer
deste processo, uma rede de políticas, oportunidades e intervenções para acompanhar
os processos endógenos de desenvolvimento local integrado, solidário e sustentável.
O interesse da parte brasileira por estas Regiões italianas nasce da vontade de
aprender da sua experiência, baseada no planejamento territorial consensuado, na
diversificação produtiva e nos serviços destinados ao crescimento das PMEs [Pequenas
e Médias Empresas], no cooperativismo e outras formas associativas de produção, no
marketing territorial e na qualificação da oferta de bens e serviços regionais no âmbito
de projetos de qualidade total e de imagem de excelência territorial, na economia e na
cultura, e na valorização econômica dos recursos territoriais, num quadro de desenvol-
vimento sustentável. (Conferir <http://www.brasilproximo.com>)
Com o Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense, buscou-
se coletar informações e classificá-las, para, então, devolvê-las como subsídios
à reflexão e ao debate sobre a produção cultural na região, sobre os modelos
institucionalizados, os agenciamentos produzidos e suas repercussões.
No período de maio de 2013 a maio de 2014, por meio de instrumentos e
práticas metodológicas diversas, foi realizado um amplo levantamento de insti-
tuições, grupos, bem como a coleta de dados e escuta de vários sujeitos envol-
vidos com as atividades culturais e de juventude dos municípios. A equipe do
Brasil Próximo lançou-se, assim, ao desafio de sistematizar múltiplas informa-
ções sobre a cena cultural da Baixada Fluminense, buscando, também, estabe-
lecer as conexões e interfaces com as demandas contemporâneas mais amplas
das juventudes não apenas da Baixada, mas também do Brasil.
Nesses termos, definiram-se Grupos Criativos como aqueles que possuem
envolvimento na proposição e na produção cultural dos municípios da Baixada
Fluminense e que, lançando mão de práticas inovadoras, solidárias e colaborati-
vas, constroem/promovem espetáculos, iniciativas, ações e atividades geradoras
de pertencimentos, identificações, filiações e articulação econômica e política.
O mapeamento considerou 13 municípios como constitutivos da região: Bel-
ford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Niló-
polis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica.
Em busca dos distintos sotaques, expressões e movimentos culturais, a seleção
dos membros da equipe priorizou o convite a estudantes, artistas, gestores e ex-ges-
tores envolvidos com a produção cultural e criativa da Baixada. Com base em suas
indicações, delinearam-se critérios, rediscutiram-se instrumentos, elaboraram-se
objetivos e reorientaram-se metas e prazos, materializados no presente relatório.
Reunir tantas pessoas, com diferentes trajetórias, inserções e interesses,
é acreditar na potência das interseções e dos cruzamentos como um cami-
nho analítico possível que coloca diferentes narrativas em destaque, a ser-
viço da ampliação do entendimento das razões de cada um e dos grupos,
bem como sobre a estrutura dos conflitos e das negociações de significados
construídas ao longo de um processo histórico-social que envolve diversos
atores-sujeitos e temporalidades.
Frente a tantas negociações, muitos códigos, símbolos e significados ali-
nham-se, em disputa, nos espaços culturais, em contendas por visibilidade,
durabilidade, memória, reconhecimento e valorização. A cultura, como ensina
o antropólogo Gilberto Velho (1974), não é uma entidade acabada. Mantém-
se como linguagem permanentemente acionada e modificada por pessoas
que ocupam e desempenham papéis específicos, ao mesmo tempo em que
são possuidoras de experiências existenciais particulares.
Longe de ser homogênea em si mesma, a estrutura na qual se inscreve
representa a ação social dos sujeitos desigualmente situados no processo
social. Esse posicionamento requisitou a criação de uma sequência metodoló-
gica que se afastasse das abordagens e práticas de pesquisa que reafirmam a
objetificação dos sujeitos e a “neutralidade”, adotadas por algumas pesquisas
realizadas em bairros periféricos e/ou favelas ou, mesmo, empreendidas com
o objetivo de quantificar as ações culturais nos municípios.
Buscou-se, também, investir em lógicas mais respeitosas e solidárias,
entendendo as múltiplas identidades, em constante construção, como narrati-
vas em desenvolvimento e como parte e acúmulo da construção coletiva dos
movimentos populares e organizações da sociedade civil.
Em um processo de investigação que articulou memória, subjetividade, perten-
cimentos, reflexão sobre lógicas e sentidos da produção cultural realizada pelos
grupos culturais da Baixada Fluminense, sobretudo aqueles que contam com parti-
cipação ativa de jovens, reúnem-se, aqui, os conhecimentos acumulados na trajetó-
ria da pesquisa e as reflexões em torno dos formatos de ação encontrados.
Empreender um projeto de investigação coletivo pressupõe assumir, como
parte do processo, lacunas, conflitos, contradições, recursos, investimentos,
tempos, interesses e, sobretudo, experiências diferenciadas. A construção e
a apresentação das argumentações e o material extraído deles conformam
trilhas e itinerários percorridos por esse coletivo, em diálogo com o mosaico
de informações levantadas.
Trem sujo da Leopoldina, correndo, correndo... pra dizer:Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome... Piiiii... Estação de Caxias, de novo a dizer, de novo a correr Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome... (Tem gente com fome, de Solano Trindade)
1514
Solano Trindade, poeta que dá nome a uma biblioteca comunitária no
município de Duque de Caxias1, no poema Tem gente com fome, chama aten-
ção para a “linha do trem”, malha viária sobre a qual, no entorno das estações,
organizam-se os municípios, suas culturas e realidades locais. Linha de trem
que amplia caminhos, que faz circular, ter acesso à cidade, que possibilita o
trânsito por diferentes ramais e realidades.
A diversidade de espaços e sujeitos e, sobretudo, das formas pelas quais se
expressam é tão grande quanto a articulação de esforços e estratégias criadas
para a disputa pelo reconhecimento, visibilidade e fortalecimento das expres-
sões culturais já existentes nos municípios. Das muitas conexões, consolida-
das e em andamento, inúmeras expressões artísticas, iniciativas e grupos,
florescem do riquíssimo patrimônio e das múltiplas formas de representar-se
e pertencer à Baixada Fluminense.
Grupos de Folia de Reis, capoeira, grafite, hip hop, circo, cineclubes, produ-
ção audiovisual, samba, forró, carnavalescos, assim como bandas de rock, com-
panhias de teatro, instituições religiosas, centros culturais, pontos de cultura,
entre outros, mobilizados em torno de distintas práticas culturais, oferecem, a
seus moradores – de diferentes idades e condições –, espaços de compartilha-
mento de suas capacidades criativas, acenando, com suas intervenções artísti-
cas e políticas, a possibilidade de transmutar AUSÊNCIA em POTÊNCIA!
Articulados em redes eventuais ou estáveis – em torno das expressões
artísticas e por municípios –, artistas, militantes, trabalhadores e consumido-
res envolvidos na cadeia produtiva dos grupos criativos conjugam o uso de
códigos e estratégias com o apoio em ações e serviços como metodologia
para garantir sua existência e a inserção nas agendas de governo e de suas
pautas políticas. São exemplos disso a realização do Fórum do Trabalho do
Músico na Baixada Fluminense, cuja primeira edição ocorreu em maio de
2014, e o Fórum Independente de Redes de Cultura de Nova Iguaçu, lançado
em julho daquele mesmo ano.
As experiências e informações apresentadas permitem entrever o vigor
com que se organizam, as lógicas e práticas com os quais operam e ressignifi-
cam seus pertencimentos, produzindo, por meio de suas expressões artísticas,
contranarrativas que dialogam com as múltiplas realidades que vivenciam.
Espera-se, com este mapeamento, ampliar a compreensão sobre a rea-
lidade dos grupos criativos da Baixada Fluminense – iniciativas e processos
criativos, sobre os agenciamentos produzidos e os modelos institucionaliza-
dos –, para melhor apreensão sobre as principais necessidades, expectativas,
demandas e interseções entre o campo da cultura e o mundo juvenil.
1 Conferir <http://bibliotecasolanotrindade.blogspot.com.br>.
1716
Para quem toma contato com este relatório, inicialmente, é pre-
ciso apontar algumas dimensões relevantes à compreensão de aspectos cen-
trais do projeto metodológico concebido para a realização do mapeamento.
A perspectiva de apoio à promoção dos processos de democracia parti-
cipativa assumida pelo projeto orientou a elaboração do desenho do mape-
amento, que priorizou uma abordagem intersetorial entre as políticas de
cultura e aquelas voltadas aos jovens, apostando em possíveis enlaces e
transversalidades temáticas.
A equipe do projeto, selecionada pela coordenação técnica, constituiu-se
de jovens e não jovens (mobilizadores e operadores), envolvidos com a pro-
dução cultural da região. Os mobilizadores eram profissionais de cultura com
reconhecida atuação na Baixada, articulados em coletivos, redes e espaços
de incidência em políticas públicas, que realizavam as ações de mobilização
e articulação com os grupos culturais, as instituições e os órgãos governamen-
tais. A equipe de operadores de pesquisa era composta por jovens atuantes
em grupos juvenis de cultura e estudantes de produção cultural, que realiza-
vam as ações de aplicação de formulários em campo, entrevistas, contatos
e produção dos eventos do Projeto Brasil Próximo/Baixada Fluminense - RJ.
Reuniram-se, no mesmo grupo de trabalho, diferentes visões e experiên-
cias – estudantes, artistas, ex-gestores, militantes da cultura, entre outros –,
convidando-os a participar de forma ativa em todo o processo e nas etapas
desenhadas para a realização do mapeamento.
Tal escolha metodológica tomou por base o reconhecimento de que o per-
tencimento à região, a vivência e a prática cotidiana desses agentes culturais
constituem-se em patrimônios culturais e sociais importantes para a recons-
tituição da memória, a identificação das narrativas em disputa, os enquadra-
mentos analíticos e, por fim, a elaboração de projetos sobre e para a região.
Imersos no desenrolar contemporâneo de uma luta discursiva em torno de
suas representações como moradores da Baixada, apostou-se em um processo
de investigação articulador de memórias, subjetividades e pertencimentos.
No período de maio a junho de 2013, foram realizados cinco grupos de
diálogo com a equipe, para a construção do projeto metodológico, delimi-
TRILHAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS
1918
tação dos objetivos, pactuação do cronograma e validação dos instrumen-
tos de pesquisa2. Nesses encontros, questões foram elencadas como parte
do conjunto de preocupações e interesses de pesquisa sobre a produção
cultural da região, as oportunidades e as expectativas de ações e políticas
voltadas aos jovens.
Considerando as várias etapas e os processos criativos desenvolvidos, bus-
cou-se agrupar os destaques elencados pela equipe do Brasil Próximo nos
grupos de diálogo, convertendo-os em pontos de orientação no itinerário de
pesquisa. As questões, bem como os processos de trabalho e o intercâmbio
participativo das experiências de campo, foram, posteriormente, aprofunda-
das em reuniões semanais de orientação, envolvendo a produção de “relató-
rios-síntese”, balanços do andamento da pesquisa, acordos e distribuição de
tarefas e responsabilidades.
A manutenção de encontros regulares entre os membros do grupo de tra-
balho possibilitou que os percursos da investigação fossem definidos, con-
siderando a realidade concreta e coparticipada pelos membros da equipe.
De modo abrangente, considerou-se o conjunto das operações de pesquisa
– elaboração do projeto de investigação, realização e conteúdo dos grupos
de diálogos, participação e observação dos eventos3, revisões no cronograma,
localização de contatos, experimentações – como os objetos visíveis e evolu-
tivos do grupo constituído para o trabalho no projeto Brasil Próximo.
Isso porque, acredita-se, a produção de conhecimentos sobre qualquer
dimensão da realidade social traz, como exigência, a reflexão sobre os inte-
resses e o próprio processo de pesquisa, em confronto com as informações e
os conhecimentos já acumulados do que se quer compreender.
Se, por um lado, essa escolha acrescentou contornos, algumas vezes, frus-
trantes quanto ao próprio processo de pesquisa, por outro, foi o que nos man-
teve em estado de alerta, para que não nos jogássemos à açodada tentação
de aceitar algumas narrativas como óbvias, evitando, ao fim e ao cabo, que as
tomássemos como verdades únicas.
Pesquisar exige deslocar-se, tanto física e cognitivamente, quanto afe-
tivamente. Ainda que se reconheça a distância entre o desejo-direito de
produzir cultura e os limites oferecidos pela realidade encontrada nos
municípios (número insuficiente de equipamentos públicos de cultura e
dificuldades no suporte logístico para a manutenção de suas práticas cul-
turais), o desejo de ver registradas as dificuldades que enfrentam para o
2 Os Instrumentos de Pesquisa (I, II, III e IV) estão disponíveis, para consulta, em: <http://www.desenrolo.net>.
3 A equipe Brasil Próximo realizou três eventos: Desenrolo.com (18 de julho de 2013), Quem te viu, quem te vê? Virada Cultural da Baixada Fluminense (7 de dezembro de 2013) e Seminário Trilhas – Caminhos, Culturas, Políticas Públicas e Protagonismo Juvenil na Baixada Fluminense (25 a 27 de março de 2014).
reconhecimento e a manutenção de suas práticas culturais, bem como as
soluções criativas que encontram para contornarem essa dura realidade,
tornou-se um aspecto a ser, frequentemente, modulado com os membros
da equipe, durante os meses de trabalho.
Esse modo de fazer pesquisa encontra suporte nas práticas da educação
popular, em que significações e comunicações negociadas entre os agentes-
sujeitos tornam possível o surgimento de novos sentidos e conceitos como
explicações de novas realidades. Em um movimento de constante retroali-
mentação, articularam-se os processos de coleta de informações, sistematiza-
ção e avaliação, buscando diversificar as formas de aproximação da realidade
dos grupos culturais da região.
Seguindo essa abordagem, realizou-se um esforço de sistematização dos
processos, reflexões e conceitualizações produzidos pela equipe, reconhe-
cendo, no conceito de experiência, um valor para o trabalho de investigação.
Experiências de adultos e jovens, experiências de moradores, experiências
de quem vê pela primeira vez, experiências recentes e mais antigas, entre o
imediato e o persistente.
O primeiro investimento da equipe dirigiu-se à identificação e à localiza-
ção de artistas e grupos, integrantes das múltiplas redes existentes na região.
Buscou-se, ainda, aprofundar coletivamente o que a equipe nomeava como
“grupo criativo”, categoria reelaborada no decorrer das ações de pesquisa,
com o intuito de subsidiar a delimitação dos critérios iniciais de busca e iden-
tificação dos grupos a serem mapeados na investigação.
Àquele momento, as características desses grupos apresentavam-se, ainda,
bastante difusas. Questões relacionadas à sua visibilidade na região – Quem
são esses grupos? A que manifestações artísticas estão vinculados? Quem são
os sujeitos dessas ações? Que meios de transmissão e difusão de saberes uti-
lizam? – emergiam com frequência, colocando ênfase no desconforto com a
dispersão de informações sobre a produção cultural dos municípios.
Foram consultados cadastros e levantamentos mantidos pelas secreta-
rias de cultura dos municípios, organismos de juventude, sites das prefeitu-
ras, redes sociais e listagens de festivais, a fim de recolher o maior número
possível de informações sobre os grupos. O objetivo foi, também, mapear
a estrutura, os programas, os projetos e as ações voltados à cultura, nos
municípios da Baixada Fluminense, e os atuais investimentos governa-
mentais realizados nesse campo. O instrumento de pesquisa II continha
múltiplas informações e foi recomendado que o contato fosse feito pelos
mobilizadores da equipe, uma vez que, por se tratarem de sujeitos com
maior trânsito na gestão pública, acreditava-se que tivessem mais possibi-
lidades de acessar tais informações.
2120
Registra-se que a primeira etapa do trabalho, no contato direto com
secretarias e órgãos de governo, trouxe relatos que evidenciavam a relação
de pouca transparência em relação ao acesso às informações sobre a dinâ-
mica cultural da região. Em especial, nos depoimentos dos mobilizadores, foi
recorrente o relato sobre as dificuldades em captar informações referentes às
secretarias de cultura municipais. Por conta desses entraves, a tabulação feita
expressa, por vezes, a ausência de algumas informações, verificadas à época
da aplicação do instrumento – em especial as que se referem ao orçamento
de que dispõem os órgãos de cultura.
Tem-se o seguinte quadro em relação aos órgãos municipais de cultura
nos 13 municípios4:
QUADRO 1 – Nome do Órgão Municipal de Cultura(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo 2 15%
Fundação Cultural 1 8%
Secretaria Municipal de Cultura 9 69%
Secretaria Municipal de Ação Cultural 1 8%
Total 13 100%
QUADRO 2 – Tipo de Modalidade Institucional(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)
Secretaria municipal em conjunto com outras políticas setoriais 3 23%
Secretaria municipal exclusiva 10 77%
Total 13 100%
QUADRO 3 – Conselho Municipal de Cultura(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)
Possui conselho municipal de cultura no município 9 69%
Não possui conselho municipal de cultura no município 4 31%
Total 13 100%
4 Tabulação produzida por Jorginete Costa.
QUADRO 4 – O Conselho é Paritário?(CONSIDERANDO APENAS OS MUNICÍPIOS QUE POSSUEM CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA)
Sim 8 89%
Não respondeu 1 11%
Total 9 100%
Pode-se verificar que a maior parte dos municípios possui conselhos de
cultura, grande parte deles com paridade entre seus membros, exercendo fun-
ção consultiva, deliberativa, normativa e fiscalizadora.
Não foi possível, porém, nos aproximar da dinâmica dos conselhos e de
suas reais condições de acompanhamento, colaboração e proposição de
políticas públicas, além do exercício de controle social na execução das
políticas culturais, sem com isso comprometer o cronograma de pesquisa.
O mesmo se dá em relação à compatibilização das secretarias e prefeitu-
ras quanto à normatização prevista na Lei de Acesso à Informação (Lei n.
12.527/2011). Embora a Lei efetive o direito previsto na Constituição de que
todos têm a prerrogativa de receber, dos órgãos públicos, informações de
interesse pessoal e de interesse coletivo, na prática em campo, o acesso
às informações orçamentárias dos órgãos municipais de cultura ocorreu de
forma limitada e dificultosa (ver Quadro 5), por diversos fatores, tais como:
desconhecimento do gestor municipal sobre o total orçamentário de sua
secretaria, orçamento da secretaria revestido em cargos que sofrem cons-
tantes deslocamentos intersetoriais na prefeitura, fontes de recursos vindas
de outras parcerias para a realização de eventos específicos e constantes
mudanças governamentais.
QUADRO 5 – Orçamento(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)
Municípios que responderam 4 31%
Municípios que não responderam 9 69%
Total 13 100%
Em relação à presença de equipamentos culturais, observa-se a distância
entre o real e o ideal quanto à criação de espaços de sociabilidade e lazer
para seus moradores e a juventude. O tema é recorrente na mídia local e na
literatura sobre a região.
2322
QUADRO 6 – Equipamentos Culturais(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)
Bibliotecas (municipais e comunitárias) 34 45%
Museus 3 4%
Teatro ou salas de espetáculos 11 14%
Centros culturais 8 11%
Cinemas 19 25%
Sala de projeção 1 1%
Total 76 100%
QUADRO 7 – Existência de Cadastro de Artistas/Grupos Culturais no Município(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)
Possui cadastro de artistas/grupos culturais 9 69%
Não possui cadastro de artistas/grupos culturais 3 23%
Não respondeu 1 8%
Total 13 100%
As informações obtidas nos órgãos municipais de cultura sobre os grupos foram
somadas às listagens produzidas pela equipe do Brasil Próximo5. Até dezembro de
2013, chegou-se a um quadro com nomes de 331 grupos. Essas informações foram
classificadas por municípios, e os grupos classificados por setores de atividades,
a saber: Teatro, Dança, Musical, Atividades Circenses, Audiovisuais (Cineclube,
Cinema, Vídeo), Literário, Carnavalesco, Manifestação Popular Tradicional, Outros6.
Embora a intenção não fosse o desenvolvimento de uma pesquisa censitária,
diante da constatação da fragilidade de informações atualizadas e consolidadas
sobre as ações dos grupos, houve preocupação em combinar técnicas qualitati-
vas e quantitativas, considerando-as como estratégias complementares ao inven-
tário dos grupos, para uma melhor compreensão de sua realidade na região.
5 A equipe de operadores e mobilizadores realizou um levantamento sobre os grupos culturais existentes na Baixada Fluminense. A coleta de informações incluiu: pesquisa em internet, conhecimento pessoal, redes sociais, redes de contato, notícias em jornais e outros. Tais informações foram reunidas e confrontadas com os dados coletados após a aplicação de questionários com os gestores municipais.
6 Na categoria “Outros”, foram incluídos os centros culturais, as instituições religiosas que desenvolvem atividades que têm a cultura como fim e eixo organizador, os pontos de cultura e os coletivos culturais organizados em articulação com instituições acadêmicas.
Os grupos foram posicionados no Mapa dos Grupos Criativos da Baixada
Fluminense e, em dezembro de 2013, teve início uma nova etapa do trabalho,
com checagem das listagens dos grupos, localização dos mesmos e aplica-
ção dos questionários. Afirmaram-se como interesse central do inventário os
grupos cuja presença de jovens fosse identificada, a princípio, como público
prioritário ou membro, coordenador/gestor do grupo. Embora fossem, ainda,
frágeis os critérios de inclusão dos grupos no mapa, a equipe realizou essa
triagem preliminar, com o objetivo de identificar possíveis incongruências, e
validou, àquele momento, o conjunto das informações coletadas.
Considerou, para isso, alguns estudos acadêmicos e, quando possível, lan-
çou mão de pesquisa nas páginas eletrônicas dos grupos (redes sociais, priori-
tariamente Facebook). Além desses meios, foram fundamentais as generosas
indicações e conversas com representantes de outros grupos e redes, que
confiaram na intenção da pesquisa e colaboraram com a ampliação e a cons-
trução do mapa inicial. Desse modo, combinaram-se, nas diferentes etapas
da pesquisa, diversos recursos técnico-metodológicos, para melhor compre-
ender a realidade dos grupos criativos da Baixada, seus processos e iniciativas
artísticas, bem como seus desdobramentos nos sujeitos e nas culturas juvenis.
Por meio de um dinâmico itinerário, com processos de ida e volta, foi possí-
vel reconhecer e atribuir historicidade às condições de produção desse inven-
tário, às narrativas e opiniões coletadas, aprimorar prismas sobre os múltiplos
conhecimentos produzidos pelo grupo e aprender com os equívocos do per-
curso. Foi uma experiência, igualmente, formadora, pois combinou aspectos
formativos e informativos, na seleção e no manejo de informações cambian-
tes, em permanente transformação, expressão da dinâmica realidade dos gru-
pos localizados.
Vale ressaltar que a equipe de pesquisa do projeto foi composta por estudan-
tes de produção cultural, militantes de cultura, ocupantes de cargos comissiona-
dos das secretárias municipais de cultura e juventude e profissionais da cultura
atuantes na região. Devido à temática da pesquisa estar diretamente ligada ao
cotidiano profissional e afetivo dos integrantes do projeto, sugeriu-se, pois, um
distanciamento e uma isenção afetiva sobre o levantamento das informações.
Diferentes expectativas foram observadas, entre os sujeitos entrevistados,
acerca da realização do mapeamento, a saber: incidência na elaboração de
políticas públicas, fortalecimento e constituição de redes locais, inclusão e
retorno material (financiamento e compra de equipamentos), auxílio na ela-
boração de projetos, entre outras.
Na maior parte dos casos, as sugestões sobre a intencionalidade da inves-
tigação e as formas de divulgação foram acompanhadas de críticas sobre o
retorno de alguns estudos, programas e projetos propostos por instituições e
2524
organismos nacionais e internacionais e sua efetiva utilidade na promoção
de direitos e produção de impactos observáveis nas políticas públicas e nas
condições materiais dos grupos.
Os grupos entrevistados demonstraram diversas expectativas sobre a rea-
lização da pesquisa de mapeamento. Notava-se um posicionamento de espe-
rança no discurso de que o levantamento pudesse de fato contribuir para a
melhoria das políticas públicas de cultura da região. Mas também se observou
um posicionamento de receio e desesperança, principalmente por parte dos
grupos que já haviam participado de outros censos e pesquisas de mesma
temática, que não perceberam melhoria na produção cultural do município e
não tiveram devolução dos diagnósticos das pesquisas e encaminhamentos.
O ceticismo em relação à eficácia dos estudos pode ser mais bem apreen-
dido por meio do relato de uma das operadoras da pesquisa, sobre a recepção
diferenciada observada na aplicação do questionário entre os entrevistados:
“Um fato interessante que observei durante a aplicação dos questionários foi
que a maioria dos entrevistados que se enquadrava na faixa etária conside-
rada juventude duvidava do interesse e da função da pesquisa em obter esses
indicadores dos grupos, pois muitos desses jovens já estavam descrentes,
tendo em vista que alguns já passaram por governos que colheram alguns
dados sobre os artistas e/ou grupos, mas que nunca tiveram qualquer tipo de
retorno ou resultado” (Priscilla Sued, operadora, 2014)7.
Diferentemente dos jovens que manifestaram abertamente seu descon-
tentamento com os tempos dissonantes entre a produção de inventários e
pesquisas e sua materialização na formulação de políticas públicas, entre os
não jovens, a coleta de informações, aparentemente, é apontada como fer-
ramenta imprescindível à construção de políticas públicas, ainda que seus
efeitos sejam lentamente percebidos: “Já os entrevistados acima dessa faixa
etária acharam a iniciativa interessante, inclusive ressaltando a importância
do trabalho para aplicação de políticas na região”, observou a pesquisadora.
Além de grupos de diálogo, visitas às secretarias de cultura e entrevistas
semiestruturadas com gestores dos organismos de juventude, um questioná-
rio foi aplicado com os grupos culturais (Instrumento IV), de modo a reunir
subsídios quantitativos e qualitativos para a compreensão sobre as deman-
das, necessidades e interesses dos grupos e, neles, sobre os jovens da região.
O contato individualizado com os grupos possibilitou a observação de
seus espaços e atividades, o levantamento de informações mais aprofundadas
e a identificação das principais demandas, relatadas no decorrer de conversas
7 Os depoimentos dos integrantes da equipe do projeto apresentados ao longo desta publicação foram retirados das falas nas reuniões semanais de equipe e do relatório final referente às impressões pessoais de cada integrante – operadores e mobilizadores – sobre a situação da cena cultural da Baixada Fluminense.
realizadas em locais sugeridos pelos entrevistados. A cada semana, as impres-
sões e observações da equipe eram discutidas coletivamente e sistematizadas
por meio de relatórios, de onde foram extraídos itens, opiniões e trechos, des-
tacados ao longo do texto.
Os dados apresentados no presente relatório se referem, portanto, aos
115 questionários aplicados com os grupos culturais no período de janeiro a
março de 2014, pelos mobilizadores e operadores da equipe. A aplicação dos
questionários (visitas de campo) teve duração média de 50 a 60 minutos.
TABELA 1 – Distribuição dos Questionários Aplicados, por Município*
MUNICÍPIO
Frequência %Porcentagem
VálidaPorcentagem Acumulada
Res
post
as V
álid
as
Belford Roxo 6 5,2 5,3 5,3
Duque de Caxias 13 11,3 11,4 16,7
Guapimirim 8 7,0 7,0 23,7
Itaguaí 1 ,9 ,9 24,6
Japeri 4 3,5 3,5 28,1
Magé 4 3,5 3,5 31,6
Mesquita 14 12,2 12,3 43,9
Nilópolis 8 7,0 7,0 50,9
Nova Iguaçu 14 12,2 12,3 63,2
Paracambi 2 1,7 1,8 64,9
Queimados 6 5,2 5,3 70,2
São João de Meriti 33 28,7 28,9 99,1
Seropédica 1 ,9 ,9 100,0
Subtotal 114 99,1 100,0
Não responderam
99 1 ,9
Total 115 100,0
* Nesta tabela de distribuição da aplicação dos 115 questionários, é possível perceber que o município com a maior concentração de aplicação de questionários foi São João de Meriti. Vale ressaltar que, de acordo com a pesquisa, esse é o município que também possui maior concentração de grupos criativos mapeados, com cerca de 80 grupos criativos. Conferir a relação dos grupos criativos mapeados e entrevistados, por município e ativi-dades desenvolvidas, nos Anexos I e II deste relatório.
A comunicação com os grupos na ida a campo – para ver, ouvir e observar
– suscitou, na equipe, a iniciativa de registrar histórias e acervos, por meio de
fotos e vídeos curtos, e também de reunir distintos materiais – livros, DVDs,
CDs, entre outros, doados pelos grupos.
2726
Materiais audiovisuais constituem-se em um acervo com infinitas possibilidades de
catalogação e difusão da cena cultural da Baixada Fluminense, por meio de múltiplos
usos, entre eles a utilização das tecnologias digitais para a constituição de museus
digitais e/ou sites de difusão.
As iniciativas, geradoras de maior VISIBIlIDADE das ações desenvolvidas pelos gru-
pos para salvaguarda e comunicação de suas práticas, podem articular-se às redes já
existentes e potencializar experiências em andamento, bem como projetos de ensino,
pesquisa e extensão, construídos em parceria com as instituições de ensino da região.
“Também é incrível o número de grupos que existem. Em todo lugar, tem
alguém com alguma iniciativa que é muito mal divulgada. Coisas que aconte-
cem no meu bairro e só comecei a ter conhecimento através dessa pesquisa”
(Pâmela de Paula, operadora, 2014).
A constatação de que, na Baixada, há muito que se conhecer, ver, apren-
der, produzir, fazer, levou-nos a incluir a realização de dois grupos focais
como parte da estratégia metodológica.
Reconhecendo as diversas temporalidades e formas de apreensão da pro-
dução cultural da região, a realização dos grupos focais8 tomou por base a
noção de que os grupos culturais proporcionam aos que deles participam um
pertencimento social, uma forma peculiar de “sentir-se parte do mundo”, pelo
fato de morar nessa região.
O perfil dos convidados a participar de ambos os grupos focais foi esta-
belecido pela equipe durante as reuniões semanais, segundo os seguintes
critérios, a saber: a participação em grupos e/ou movimentos culturais no
recorte temporal escolhido (décadas de 1980 e 1990 e atualidade), paridade
de gênero e, quando possível, representatividade municipal.
O primeiro, realizado em setembro de 2013, reuniu seis agentes culturais,
sendo duas mulheres e quatro homens, em atuação em grupos culturais nas
décadas de 1980 e 1990. Os participantes tinham entre 45 e 60 anos.
A realização desse grupo considerou os interesses de recuperação da
memória da ação cultural do período, tendo em vista as experiências de qua-
tro dos componentes da equipe que vivenciaram essa década como sujeitos
históricos. Buscou-se, com isso, estabelecer uma linha analítica que propor-
cionasse elementos de retrospecção do papel dos jovens na invenção, discus-
são, promoção e divulgação da arte e cultura na região.
8 A técnica vem sendo utilizada com êxito em algumas pesquisas realizadas com jovens na América Latina e tem auxiliado no aprimoramento da capacidade de escuta de múltiplas vozes e opiniões, que emergem ao se colocarem em contato ideias, valores e percepções sobre um conjunto de questões. Além de dar visibilidade às interações grupais, tem por objetivo a cartografia dos códigos de comunicação, das opiniões e pontos de vistas. Consultar, entre outros: Juventude e Integração Sul-Americana: caracterização de situações-tipo e organizações juvenis (IBASE/Pólis, 2007).
Sua realização e sua inclusão no mapeamento prestam, ainda, uma home-
nagem aos artistas, grupos, coletivos e aos, então, jovens agentes culturais, que,
tanto quanto os de agora, investiram e deram atenção à vontade que sentiam
de se expressar, promover talentos e criar oportunidades para si e seus pares.
O segundo grupo, realizado em abril de 2014, reuniu sete jovens com atua-
ção nos municípios. Com média de idade entre 17 e 22 anos, era composto por
quatro mulheres e três homens.
Diferentemente do outro grupo, esse possuía como finalidade prospectar
necessidades, expectativas, problemas e interesses dos integrantes dos gru-
pos culturais. Como é ser jovem na Baixada? Como é ser jovem e produzir/
consumir cultura? Qual/Quais culturas? Do que precisam?
Não é de hoje que as representações sobre a Baixada Fluminense
reforçam o estigma de lugar violento e de poucas oportunidades para os
jovens. Associados às representações sobre a juventude, em especial negra
e pobre, da Baixada, os estigmas e estereótipos alcançam grandes pro-
porções, atuando como fatores intervenientes à construção de trajetórias
individuais e coletivas.
Entre as muitas Baixadas que convivem entre si, a região pode ser apon-
tada como um lugar ameaçador às garantias de direitos dos jovens. Quatro
cidades – Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu e São João de Meriti – fazem
parte de um preocupante ranking de municípios que detêm a maior taxa de
mortalidade de jovens entre 15 e 29 anos por causas violentas, entre os quais,
em sua maior parte, encontram-se negros do sexo masculino, moradores de
territórios de favela, periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.
Além desses, outros municípios do país apresentam situação semelhante e
estão indicados como prioritários, no Plano Juventude Viva, uma iniciativa do
governo federal que estimula a criação de organismos estaduais e municipais
em 142 municípios brasileiros que apresentam alto grau de risco e vulnerabili-
dade dos jovens a situações de violência física e simbólica. O plano é descrito
como uma oportunidade histórica no enfrentamento à violência, com apoio
à criação de programas e ações voltadas à ampliação de oportunidades de
inclusão social e autonomia, problematizando a banalização da violência e a
necessidade de promoção dos direitos da juventude.
Incentivando a oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de con-
vivência em territórios que concentram altos índices de homicídio, a promoção
de ações de fortalecimento de trajetórias dos jovens e a promoção de mudanças
em seus territórios, o plano “[...] busca promover os valores da igualdade e da não
discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, que
contribuem com os altos índices de mortalidade da juventude negra brasileira
(Guia Juventude Viva, 2014, disponível em: <http://www.juventude.gov.br>)”.
2928
A identificação e a consulta aos organismos de juventude realizadas na
primeira etapa da pesquisa (Instrumento III) revelaram a criação ou a revita-
lização de superintendências e coordenadorias de juventudes, em oito dos
municípios pesquisados, a saber: Belford Roxo, Duque de Caxias (criada em
fevereiro de 2014), Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e
São João de Meriti.
É possível afirmar que os jovens, no século XXI, compartilham uma experi-
ência geracional inédita, do ponto de vista histórico, em uma conjuntura que
reúne aceleração do processo de globalização e incontáveis desigualdades
sociais. Mudanças na dinâmica do mercado de trabalho, com o agravamento
e a dissolução das relações trabalhistas, observadas pela desestruturação
(desemprego), flexibilização (subempregos) e precarização (empregos tem-
porários), bem como a violência urbana (risco) e a disseminação da comuni-
cação virtual atingem um conjunto amplo de jovens.
A percepção do papel indutor do Plano Juventude Viva para a estrutura-
ção dos organismos de juventude nos municípios e a criação de espaços de
participação e núcleos de articulação do plano estimularam-nos a alterar o
projeto metodológico original e incluir a realização de entrevistas semi-estru-
turadas com os gestores de juventude dos municípios.
Nesse contato, interrogaram-se os gestores sobre os principais aspectos
relacionados à juventude de seus municípios, o histórico da criação dos orga-
nismos, as ações diagnósticas em curso e as iniciativas previstas em articula-
ção com o Plano Juventude Viva e a política estadual de juventude9.
Nas tramas da Baixada... Identidades e territórios na narrativa de jovens de ontem e hoje
De acordo com dados compilados pela pesquisadora Aline Rochedo (2014), a
Baixada Fluminense concentra, atualmente, um grande quantitativo de popu-
lação jovem. Um número superior a 1 milhão de habitantes, cerca de um terço
de sua população, possui entre 15 e 29 anos. A distribuição da população por
faixa etária na Baixada Fluminense demonstra uma proporção de jovens e
crianças maior, também, do que a observada no estado e no município do Rio
de Janeiro. A população da Baixada, entre 0 e 19 anos de idade, por exem-
9 As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2014, pela coordenadora da pesquisa, com exceção dos municípios de Duque de Caxias e Queimados. O contato com a coordenadoria de juventude de Duque de Caxias foi realizado em data anterior à posse da nova gestão e uma conversa preliminar com Marlene D’Almeida, subsecretária de Ações Institucionais e Comunicação, ocorreu na prefeitura do município. Quando a equipe foi empossada, o prazo para finalização da pesquisa já havia se esgotado. Na mesma situação, inclui-se o município de Queimados.
plo, representa 38%, sendo que este mesmo grupo etário representa 31,2% na
capital. Essa característica etária observada reforça a necessidade de políti-
cas públicas para a juventude da região.
Segundo dados do Censo 2010 (IBGE), a Baixada Fluminense apresenta
população em torno de 3.651.771 habitantes, em um espaço aproximado de
44.000 km². Com alta densidade demográfica, esse conjunto corresponde a
23% ou um quarto da população do estado (IBGE, 2010).
Constituídas, em sua origem, como cidades-dormitórios, ainda hoje enfren-
tam desafios quanto à oferta de condições básicas de sobrevivência, lidando
com problemas derivados da distribuição desigual e insuficiente dos serviços
e equipamentos urbanos; falta de acesso a serviços de saúde e educação; cres-
cente demanda por habitações; transporte público insuficiente e caro; degra-
dação do meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais; insegurança
pública, que coloca em risco seus moradores.
Os limites da região não são consensuais. Diferentes classificações são
encontradas para definir a abrangência territorial. Em relação à divisão polí-
tico-administrativa, entre as décadas de 1930 e 1940, a região era composta
pelos municípios de Nova Iguaçu, Itaguaí, Magé, Duque de Caxias, Nilópolis e
São João de Meriti. Posteriormente, na década de 1990, nova configuração é
dada à divisão político-administrativa, como demonstrado na tabela a seguir.
3130
TABELA 2 – Municípios da Baixada Fluminense / Origem e Ano de Instalação
Município Origem Ano de Instalação (1)
Nova Iguaçu Vila de Iguaçu -
Itaguaí Vila de Itaguaí -
Magé Vila da Estrela -
Duque de Caxias Nova Iguaçu 1944
Nilópolis Nova Iguaçu 1947
São João de Meriti Nova Iguaçu 1947
Paracambi Itaguaí 1960
Queimados Nova Iguaçu 1990
Belford Roxo Nova Iguaçu 1993
Guapimirim Magé 1993
Japeri Nova Iguaçu 1993
Seropédica Itaguaí 1997
Mesquita Nova Iguaçu 2001
Fonte: (1) Pesquisa de Informações Básicas Municipais – 2001. IBGE.
Essa complexa trama, inscrita no tempo e no espaço, produz múltiplas
imagens sobre os municípios da Baixada e é resultado do compartilhamento
de percepções, concepções e experiências de mundo. Nesse espaço, encon-
tram-se e constituem-se as diferenças.
Dotada de múltiplas representações, também, no campo social, a região
tem passado, ao longo de décadas, por uma transformação discursiva que se
traduz pelas muitas “Baixadas Fluminenses” narradas por seus moradores e
pela mídia em geral.
A “Baixada” constitui-se em uma categoria ambígua, sendo simultanea-
mente considerada como “celeiro artístico”, terra “rica em cultura”, “faroeste
caboclo”, “terra de ninguém”, lugar de gente “mais carinhosa” e, ao mesmo
tempo, “que não tem nada”, conforme diferentes autores. Muitos enfatizam
a contradição evidente que reside na convivência entre uma rica produção
artística e cultural e uma estrutura sociopolítica extremamente pobre.
Ao se colocarem em perspectiva as taxas de escolaridade da região, a
enorme densidade demográfica, o ínfimo número de aparelhos culturais e a
ausência de políticas culturais, obtém-se um cenário desfavorável para pro-
moção da cidadania, incentivo e fomento às manifestações artísticas e possi-
bilidades de lazer de seus moradores.
Essas informações foram traduzidas em sentimentos e percepções identifica-
dos nos depoimentos dos participantes de ambos os grupos focais, ao relatarem
as experiências juvenis de contato com outros não moradores e as justificativas
associadas ao território para a reorientação de seus projetos de vida.
Quando provocados a falar sobre as experiências no tempo da juven-
tude, seus depoimentos enfatizaram a complexa mistura de sentimentos,
expectativas, desafios e realizações vivenciadas por meio da inserção em
atividades culturais da região.
Em uma área estigmatizada pelos altos índices de violência, especial-
mente entre os jovens, e pela ausência ou ineficiência de serviços e equipa-
mentos públicos, os pontos de vista dos participantes sobre a vida na Baixada
revelaram uma forma de narrar a região que conjuga a valorização da dimen-
são comunitária, da produção e diversidade culturais locais, com a denún-
cia da persistência dos impactos provocados pela experiência de abandono,
rejeição e preconceito, motivados pelo critério do local de moradia.
Inicialmente, os participantes do primeiro grupo focal mostraram-se crí-
ticos à centralidade alcançada pelo tema da juventude nas iniciativas de
mediação ou intervenção social por meio de atividades culturais. Em algumas
falas, foi possível observar a difusão da imagem sobre os jovens atuais, que
os coloca em “compasso de espera”, o que, de certo modo, os aprisiona no
espaço das ausências, do ainda “não ser”.
Tal forma de retratar a juventude revela um modo de percebê-la forjado pelas
representações sociais em torno dessa etapa de vida. Ao generalizar diferenças,
e tratar como homogêneas as especificidades identitárias e territoriais e as expe-
riências dos sujeitos jovens, essa visão opera com um conceito de prontidão que
dialoga bem mais com a chegada ao mundo adulto do que com o mundo juvenil.
Na visão dos participantes adultos, a instalação, nos tempos atuais, de uma
crise em torno das instituições de socialização – “[...] ausência da família na
criação, seja por falta de tempo, seja por não ter uma família completa”; “[...]
família ausente do processo de educação, da escola” – é o que traz ameaças à
construção de trajetórias positivas pelas juventudes locais.
Como contraponto discursivo, um dos participantes relembrou aos demais
a necessidade de reconhecer que há, na região, “[...] uma garotada fazendo
coisas incríveis!”. Colocou-se, ainda, favorável à criação de um espaço de diá-
logo intergeracional, de valorização dos artistas mais velhos e, também, como
forma de reconhecimento dos grupos criativos atuais, na complexa e multifa-
3332
cetada cena cultural da região. E concluiu, acompanhado pelos demais, que
“[...] é preciso aprender com eles [os jovens]”.
Em relação às mudanças observadas, ao longo dos anos, na vida dos
jovens da Baixada, houve proximidade entre as opiniões dos participantes dos
grupos focais. Registraram, de forma uníssona, a desigualdade no acesso às
oportunidades de educação e trabalho determinada pelo local de moradia
em suas trajetórias individuais.
Alguns depoimentos explicitaram, com perversa acidez, situações em que
a percepção da discriminação sofrida – por local de moradia, “por ser da Bai-
xada” – produziu distorções na imagem sobre si e suas potencialidades.
Durante o relato, foi com emoção que a participante compartilhou suas
tentativas de profissionalização como atriz, ainda que, ao racionalizar a expe-
riência, identifique avanços nesse processo:
Eu morava em Queimados, mas sempre fiz teatro lá “pra baixo”. Fiz Martins Pena
(Escola Técnica Estadual de Teatro), fiz CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), fiz várias
participações “lá embaixo”, e lembro que, quando eu queria entrar pra UNIRIO (Uni-
versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) – eu tentei umas sete vezes – e, quando
fazia os testes, eu sempre era barrada, e barrada pela Baixada. Uma vez, passei em
uma improvisação. [...] Eles demonstravam muito bem essa coisa de eu morar na Bai-
xada: “Você não pode estudar aqui porque vai sair tarde, não vai conseguir chegar em
casa!”. Eu já me imaginava nas vezes em que fui fazer teste. E pensei que eu não podia
ser tão burra assim! Fiz até no Martins Pena, depois que tentei sete vezes e não conse-
gui passar na UNIRIO, mas passei no Martins. Eu fiz a mesma coisa e passei. Foi quando
pensei que eu não era tão ruim assim. [...] O que eu acho? Eles viam a Baixada com um
olhar muito provinciano, eles discriminavam abertamente. Hoje nós temos um espaço
maior, conquistamos muitas coisas. Por isso que eu vejo que, lá atrás, quando comecei,
era muito mais difícil, as condições eram mais precárias, tudo era mais difícil pra gente
aqui na Baixada. Hoje, as coisas já caminham de igual para igual.
(Grupo Focal – Agentes Culturais Décadas 1980/1990, 2013)
Como um todo complexo, as relações entre o lugar, a formação socioes-
pacial e os processos históricos tornam-se marca e matriz daquilo que nos
conforma e do que projetamos para as próximas gerações. Construído a partir
do seu uso social, o território possui limites simbólicos comuns, mas também
heterogêneos e diversificados, em razão dos sentidos e significados atribuídos
pelos sujeitos que o constituem e que por ele são constituídos. É isso o que
justifica o desenvolvimento e a coexistência de opiniões variadas e, ao mesmo
tempo, autoexcludentes sobre ele.
Nas últimas décadas, uma disputa de sentidos e narrativas sobre o coti-
diano dos moradores e as representações sobre esse território, além das con-
dições materiais e simbólicas para a criação e manutenção de suas práticas
culturais, tem sido travada por inúmeros indivíduos e instituições, gerando
imagens diferenciadas e, por vezes, contraditórias sobre a região.
Por um lado, tem-se o reforço dos meios de comunicação, que insistem
em explorar a violência, independentemente da ocorrência de casos reais,
como recurso para obtenção de maior público e aumento nas vendagens
de seus produtos.
No percurso histórico da região, a ênfase em personagens como Tenó-
rio Cavalcanti (década de 1960) e a figura do “Mão Branca” (década de
1980) tornam-se exemplos da intensa valorização desse ângulo, relegando
a segundo plano aspectos da vida nas cidades, tais como: rede de sanea-
mento, condições de habitação, rede de saúde, rede de ensino, mobilidade
urbana, entre outros. Ausentes da discussão pública encontram-se, tam-
bém, os assuntos da vida política (projetos de lei, ações do poder munici-
pal, campanhas, programas e iniciativas voltadas aos moradores), da vida
cultural e social dos municípios.
De outro lado, em meados dos anos 1980, com os ventos de democratiza-
ção do país, a abertura política e o importante crescimento dos movimentos
sociais com a multiplicação de associações de moradores e o surgimento de
federações na região, criaram-se variadas instituições culturais (casas e cen-
tros) cujos objetivos concentravam-se em “resgatar a cultura local” e partici-
par da construção da cidadania para seus moradores. Faziam isso por meio
da realização de projetos, ações em rede, apoios firmados com instituições
locais, entre outros veículos de promoção/divulgação.
Esses grupos viam a cultura como estratégia imprescindível para propor
transformações e oportunidades locais, além de se preocupar com a geração
de imagens positivas para a região. Buscavam, com isso, ressignificar o que
seria a “cultura da Baixada”, valorizando a diversidade de práticas culturais da
região, os hábitos de seus moradores, suas relações de vizinhança, os modos e
arranjos para ocupação de espaços da rua.
A memória da experiência de participação, nesse período, e as experi-
ências que vivenciaram em seu tempo de juventude fizeram com que os
integrantes desse grupo enumerassem suas referências e relatassem seus iti-
nerários de envolvimento com a produção cultural da região. Os participantes
ressaltaram os desafios e as dificuldades que enfrentaram no início das suas
atividades no campo da cultura, relacionando-as às interdições derivadas
pelo pertencimento e identidade territorial.
Para eles, fatores de ordem objetiva, tais como a ausência de transporte,
principalmente à noite, de recursos financeiros, instabilidade na implemen-
tação de políticas públicas de cultura à época, combinaram-se a outros, de
ordem subjetiva, tais como preconceitos territoriais, o momento político do
3534
país com o final da ditadura civil-militar e a reabertura política, para a confor-
mação de trajetórias vinculadas com a cultura da região.
Nas décadas de 1980 e 1990, as aprendizagens do fazer cotidiano forjaram
produtores culturais e combinaram-se às motivações individuais e coletivas
dos que àquela época viam, no surgimento de projetos e ações patrocinadas,
a oportunidade de construírem projetos de profissionalização. “Eu fui tocar
em São João de Meriti no Projeto Quatro em Ponto. Então, era a minha von-
tade de querer mostrar quem eu era, o que eu fazia. [...] No meu caso, comecei
a me profissionalizar com 17, quase 18 anos. Comecei a tocar na noite, minha
filha tinha acabado de nascer e eu tinha que arrumar uma grana extra pra
levar pra casa”, relatou um participante do grupo.
As exigências de conciliação do mundo do trabalho e da vida familiar conjuga-
ram-se, em alguns casos, às necessidades de assumir um posicionamento político,
de resistência à conjuntura instituída. Conforme disse um participante da pesquisa
“A gente não tinha dinheiro, resistia e muita gente se aproveitava do que a gente
fazia. Vários festivais de música em Queimados”; de criação de oportunidades de
encontro e intercâmbio de experiências: “Na minha casa as pessoas chegavam, dei-
tavam na cama e ali a gente ensaiava, fazia os trabalhos, tomava kisuco e pão com
mortadela. Outras pessoas vinham, faziam pesquisas e por ali ficavam”.
O dia a dia nos municípios e a construção de redes e iniciativas no campo da
cultura, na região, foram lembrados, por um dos participantes do primeiro grupo,
como evidências de um tempo em que “[...] as pessoas faziam apresentações nas
praças. [...] de lá pra cá, veio a criação da biblioteca [em São João de Meriti], com
um intercâmbio com outros municípios na Baixada”. Na experiência de outro par-
ticipante: “A gente fazia cultura antigamente e a gente colava cartaz, a gente
era ator, eu cheguei a montar um espetáculo. [...] Eu venho desse teatro protesto,
dessa música protesto de Gonzaguinha, de Taiguara, dessa musicalidade que a
Baixada tem, dessa identidade com a MPB, o advento do Teatro do SESC”.
Associados a outros grupos com forte tradição na luta contra a ditadura
um fluxo de referências aproxima o município do Rio de Janeiro (Centro) e os
municípios da Baixada: “[...] fomos influenciados por uma pós-ditadura em que
a gente sentia vontade de se colocar e falar. Por grupos como Asdrúbal trouxe
o Trombone, como o Dia a Dia, do João Siqueira, com o Almir Haddad, que
chegou no Rio de Janeiro com o grupo Tá na Rua”.
Outros, ao rememorarem essa fase da vida, demonstraram possuir uma per-
cepção menos saudosa. Nos relatos, misturam-se alegrias, frustrações e reversos
entre as expectativas construídas e a realidade plenamente vivida: “[...] a ativi-
dade cultural nasceu como uma efervescência da necessidade de me comunicar.
Acabei me aproximando dos grupos culturais naquele momento, depois ficou
complicado. [...] Isso me deu uma cansada, hoje estou afastado”, disse um deles.
O rompimento de fronteiras e a invenção de soluções persistentes para
operar mudanças em suas trajetórias trouxeram-lhes como recurso o manejo
de diferentes linguagens e atividades, conformando-se, para alguns, em pis-
tas utilizadas na construção de suas carreiras profissionais. Em comum, entre
eles, a cultura como processo interativo de construção social e articulador de
atividades (práticas culturais) e significados (interpretações).
Por meio de um processo sistemático e multidimensional, esses códigos
e símbolos foram sendo (re)atualizados em novos sentidos, organizadores
das formas como conduziram suas trajetórias e como perceberam e ajusta-
ram o seu “estar no mundo”.
Esse é um ponto que guarda proximidade com os depoimentos coletados
com os jovens envolvidos, hoje, com iniciativas culturais na região. Ao men-
cionarem suas experiências no território, situando-as em uma incômoda con-
tinuidade histórica que interliga o passado e o presente, colocaram no vértice
das discussões – e apreensões! – os temas da acessibilidade, da circulação
pela cidade (região) e da desigualdade de oportunidades para construírem
suas expectativas de profissionalização, entre outros.
Na opinião de alguns, ser hoje um jovem morador da Baixada Fluminense é
enfrentar obstáculos que dificultam a maneira como vivem a etapa da juventude,
diz uma das participantes: “É estar longe das melhores escolas onde quer se profis-
sionalizar. O trabalho é mais suado!”. Para outro, “a dificuldade está na distância e
no preconceito por morar na Baixada. Fazer algo na Baixada é mais difícil!”, disse.
Chamaram atenção, sobretudo, para a incipiente oferta de oportunida-
des de profissionalização para o trabalho com atividades culturais, o que os
impulsiona a buscar, fora da região, essas possibilidades educacionais.
Ainda que alguns jovens assumam uma narrativa que permite perceber
a escolha política de autorrepresentação e demonstre acúmulo na refle-
xão sobre os efeitos das representações negativas associadas à região
– “Temos mais preconceito conosco do que eles mesmos (as pessoas do
Centro)” –, inserir-se, por meio de seus grupos e participações individuais,
nessa disputa sobre imagens e sentidos é, também, encarnar em seus coti-
dianos os impedimentos reais à fruição, à produção e ao consumo cultural
verificados em toda a região.
A oposição Centro-Baixada, ainda presente, impacta a circulação dos
jovens pela região metropolitana do estado e suas experiências individuais
e profissionais. A ausência de repertório e informação sobre a riqueza e as
variadas formas de expressão artística e cultural da região, na visão de uma
das jovens da equipe, definiu um modelo de reação frente às críticas que
reforçavam o lugar do “Nós/Centro” e “Outro/Baixada”.
3736
Dizem que a cultura que é feita na Baixada não é uma cultura profissional, talvez
constatada pela carência de espaços e visibilidade. Ouvi isso algumas vezes quando
iniciei a minha carreira de produtora no Centro do Rio e na Zona Sul e, como não
conhecia a cultura do meu próprio território, só me restava silenciar e não confrontar.
(Sílvia Machado, operadora, 2014)
A transformação e a divulgação de imagens sobre a região, múltiplas e
fluidas, construídas, em grande parte, pela imprensa e a gradativa mudança
na construção dos imaginários sobre a Baixada são produto do empenho des-
ses diferentes agentes, de ontem e hoje. Tal esforço resultou em uma “posi-
tivação” do olhar sobre a Baixada, por meio do estímulo à criação de uma
identidade local formulada em termos antagônicos aos estigmas e imagens
negativas atribuídas pelas pessoas “de fora” da região.
No decorrer do primeiro grupo focal com os adultos, a cultura política con-
solidada ao longo de décadas foi, também, apontada como um dos principais
problemas e desafios a serem superados. Na opinião de um dos participantes,
“A Baixada sempre foi tratada como curral eleitoral. As pessoas vinham aqui,
sem vínculo algum com a região, e olhavam o estado só como a capital”.
As opiniões emitidas no grupo coincidem com o que antropólogos, como
Sandra Regina Costa (2006), afirmam ser parte de um ethos baixadense, ainda
em transformação, marcado por concepções e práticas ilegais para a resolu-
ção de problemas, pelo personalismo nas relações, pelo apadrinhamento e
expressões de clientelismo.
Os participantes do grupo localizam, na origem dos municípios, como
cidades-dormitórios, e na proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, alguns
dos fatores causadores da “falta de estrutura em todos os sentidos, não só de
patrimônio, mas também de equipamentos públicos”.
No contato com os jovens, transmitem estratégias de sobrevivência e
desvio de obstáculos, produtos da experiência de quem há muito vem par-
ticipando do “jogo”. Nesse contexto, a produção criativa/cultural da região é
identificada como forma e meio de resistência cultural e política.
Essa coisa de que pra você estudar e, se você está na Baixada, você não consegue,
ainda existe. Eu tenho uma aluna que faz balé e eu disse: “Vai fazer a prova da Escola
Estadual de Dança!”. Mas, quando ela deu o endereço da Baixada, ela não passou. Ela
era a melhor aluna. Eu disse pra ela colocar o endereço da tia que mora em Copa-
cabana. Porque ela já ficou achando que não era tão boa. Eu disse: “Você vai dar o
endereço da tia que mora lá, e você vai passar!”. Mas isso ainda persiste. E eles tomam
isso fingindo que são dores. [...] Ainda somos um curral eleitoral. Mas estamos deixando
eles pra lá. (Grupo Focal – Agentes Culturais Décadas 1980/1990, 2013)
A atuação de variados agentes, produtores e gestores culturais deu ori-
gem à “redes de redes”, que, embora inconstantes, investem na construção
de outra identidade e outra narrativa sobre o território, afastando-se de ima-
gens negativas e estigmatizadas muitas vezes prevalecentes no senso comum
quanto à Baixada. Mesmo que vistas como pequenas, as mudanças são perce-
bidas como expressões do resultado do trabalho de perseverança e incidên-
cia política desses anônimos agentes culturais. Na experiência de uma das
participantes: “Eu mesmo já devo ter criado mais de sete centros culturais e
não tive condições de bancá-los. Uma época funciona legal, depois acaba. O
pessoal dispersa e a gente começa tudo de novo”.
A percepção de que a produção e o consumo cultural nesses territórios
tornaram-se instrumento de construção e empoderamento de inúmeros
jovens deu-lhes incentivo para continuar ultrapassando as dificuldades e
ampliando fronteiras.
Por meio de um trabalho estratégico e persistente de mudança de men-
talidades, de consolidação de espaços e de ampliação de repertórios, iden-
tificam que “[...] mudou alguma coisa... Pouquíssimo, mas mudou. O nosso
espaço pequeno de teatro é uma mudança. A gente não precisou ir para o
Rio para fazer teatro. Essa questão de que tudo a gente precisava ir para o
Rio mudou. A gente tá criando e conseguindo criar plateia. [...] a gente está
fazendo alguma coisa”.
A descontinuidade das ações públicas e o desinvestimento em áreas como
a cultura e a educação aproximam as gestões do tempo passado e do tempo
presente, fazendo com que se comparem as formas de fazer política e se
enxerguem poucas modificações entre um período e outro. Os participantes
partilham da opinião de que “[...] existem, hoje, mais facilidades que naquela
época não existiam. A internet, a globalização. As relações se estreitaram
mais. Mas ainda permanece essa leitura do governo atual muito parecido com
os anos 1980, de tratar aqui como curral eleitoral”.
A força desses agentes culturais, então jovens, seja como beneficiários
das políticas e iniciativas ou propositores e produtores de novas ações, e o
compromisso institucional para fomento à cultura da região são apontados
como componentes imprescindíveis para a compreensão do cenário cultural
na região e para a reflexão sobre uma agenda política no campo da cultura.
3938
Vejamos o que diz um dos mobilizadores:
Vamos entender que a região é homogênea nas características de organização
política, processos emancipatórios e desenvolvimento econômico, já que em volta
das estações ferroviárias surgiram e cresceram as cidades, mas, também, é necessário
entender que as tradições e costumes propiciaram condições favoráveis a distintos
aspectos culturais e artísticos. Na década de 1990, o SESC São João de Meriti realizava
o Festival de Esquetes da Baixada. Essa ação motivava o surgimento de grupos de tea-
tro, já que era oferecido palco profissional a grupos amadores e iniciantes. Também,
na década de 1990, surgiu o Cidade Negra, que despontava e reconhecia que vinha
de Belford Roxo. Assim sendo, Belford Roxo, Nilópolis e Mesquita desenvolveram, por
osmose, uma cultura musical de festivais de bandas com tendências ao rock, reggae e
hip hop. (Marcos Paulo, mobilizador, 2014)
Nos tempos atuais, com “um ideia-projeto na cabeça”, além do desejo de
se encontrar e produzir cultura, os grupos mantêm a tradição de investimen-
tos para valorização e articulação colaborativa na realização de eventos que
atraiam visibilidade ao cenário cultural da região. Como exemplos dessas
iniciativas, tem-se a mostra teatral Baixada em Cena, em Nova Iguaçu, que
envolveu, na edição de 2012, segundo seus organizadores, 100 artistas e mobi-
lizou um público de mais de dois mil espectadores/as10.
Outro exemplo das estratégias de resistência desses coletivos é o Fes-
tival Roque Pense!11, realizado em Mesquita, que, em sua segunda edição
(2013), organizou programação com debates, oficinas, jam session femi-
nina de skate, grafite e 12 shows de bandas da região e de outros estados,
cujo critério para seleção era a presença de, ao menos, uma mulher na
formação dos grupos.
Iniciativas como essas e tantas outras – Mate com Angu, Cia Teatral Quei-
mados em Cena – reafirmam que permanecem difíceis as condições de pro-
dução na região, que, ainda, não conta com um mercado estruturado que
incentive o consumo cultural pelos moradores.
As “pedras” em que se transformam esses obstáculos respondem não
só pelo término de muitos grupos, mas também pela ocupação de espa-
ços de renovação, de quem dribla “com ginga” os movimentos do caminho
e, criativamente, investe na ocupação coletiva de espaços e expressões,
transformando referências e narrativas sobre os cenários de intervenção,
que são inúmeros.
10 Conferir <http://www.baixadaencena5.blogspot.com.br>.
11 Conferir <http://roquepense.com.br/festival-roque-pense-a-2o-edicao-do-festival-de-cultura-antissexista>.
Ensaios do grupo de dança GW Performance, na praça da Telemar, em Mesquita; o
trabalho árduo de inscrição em múltiplos editais do grupo de artes cênicas Cochicho
na Coxia; aulas grátis de capoeira com o instrutor Zé Colmeia, da ABADÁ Capoeira
Mesquita, com jovens em condições de risco; o mutirão da comunidade da Chatuba
para que sua escola desfile; as inúmeras tentativas de mostrar o trabalho da banda
Layout 80 em eventos da cidade etc. São exemplos de como a grande maioria dos
grupos de cultura, apesar do grande descrédito dado à arte, transforma situações pro-
blemáticas em expressão cotidiana. (Allan L. Alves, operador, 2014)
Utilizando como linguagem a arte e a criatividade, os jovens do tempo
presente propõem formas alternativas de comunicar o cotidiano e transfor-
mar a percepção de que ruas e praças não são, apenas, lugares de violência
e desordem, mas sim locais de promoção de sociabilidades juvenis na cidade.
Disse um deles: “A gente faz apresentação pelas ruas e praças. A gente tem
essa dinâmica de grupo aberto, essa coisa de ir agregando valores e criar uma
corrente de cultura no município. A pessoa passar na Praça e falar: ‘Caraca,
tem teatro aqui!’. A rua dá sempre essa visibilidade”.
Pode-se pensar que o aumento de espaços de convivência, representados
pela criação de universidades, centros culturais, praças, clubes e outros, favorece
a ampliação da visibilidade que esperam alcançar em seus municípios e fortalece
as possibilidades de inéditos encontros e conexões, assumindo um papel indutor
para a criação e/ou fortalecimento de redes de juventude na região.
A consulta aos sites oficiais revelou acentuada assimetria entre as informa-
ções divulgadas oficialmente pelos órgãos de cultura dos municípios e as ati-
vidades divulgadas pelos grupos nas redes sociais. O tratamento e o destaque
dados às criações e manifestações culturais restringem-se, em grande parte,
à divulgação da programação dos equipamentos culturais, quando existem, e
à divulgação das festas tradicionais e comemorações oficiais dos municípios.
Aparentemente, considerando-se as matérias divulgadas nos endereços
eletrônicos, poucas incluem artistas e grupos locais nas programações, cola-
borando diretamente para espaços de consumo e geração de rendas locais.
No contato direto com os grupos, observou-se que as expectativas de reco-
nhecimento local, em geral, não são atendidas, restando-lhes a sensação de
serem segregados dos grandes eventos de seus municípios.
Nesse contato direto, a ausência de reconhecimento do trabalho, cuja
percepção comum é a de que “não é levado a sério” como profissional, os
impulsiona para obtenção de visibilidade em contextos de maior projeção,
como salientou um dos operadores: “[...] a maioria dos grupos se diz muito
segregada dos eventos de sua cidade e que seu trabalho não é visto como
um trabalho, mas sim como uma espécie de ‘distração’. Em alguns casos, o
4140
reconhecimento vem de outros estados, países, criando um caminho inverso
de divulgação deste artista em sua localidade” (Allan L. Alves, operador, 2014).
Com a proximidade de tantos grupos e expressões culturais, o pro-
cesso de pesquisa revelou-se um período de descobertas e reconexão com o
próprio território, para alguns dos membros da equipe Brasil Próximo. Ficou
clara a necessidade de diversificação de opções de lazer e sociabilidade, entre
os jovens, e a demanda por iniciativas que aproximem agentes e representan-
tes culturais nos municípios, “[...] visando criar um espaço efetivo de diálogo
entre autoridades e agentes culturais”.
O contato direto com os coordenadores e representantes dos grupos pes-
quisados apresentou e fortaleceu pontos de reflexões sobre o ciclo das políti-
cas públicas e a realização de pesquisas e diagnósticos sobre as fragilidades
no fluxo de diálogo entre o poder público e os grupos e sobre as oportunida-
des disponíveis na região.
Na opinião de uma das operadoras, o Fórum Permanente de Gestores
Públicos da Baixada, formado por gestores municipais de cultura dos 13
municípios da Baixada Fluminense para o fortalecimento da cultura local, “[...]
poderia manter reuniões periódicas com os agentes culturais, e que dessas
reuniões fossem produzidos os documentos que seriam de fato validados.
Acredito que, dessa maneira, as propostas alcançariam a tod@s. Porque ges-
tor falando para gestor não mudou muita coisa até agora!”.
Também na opinião dos jovens participantes do segundo grupo focal,
“[...] a cena cultural da Baixada possui um perfil variado, complexo e com um
grave complicador de sua evolução: a política local”.
Tal como os adultos, relacionam as desigualdades na oferta e no acesso
a serviços e oportunidades no campo da cultura ao instável cenário político
da região. Para uma das jovens operadoras, “Muitos são os fatores compli-
cadores para desenvolvimento das ações culturais da Baixada, mas acredito
que a política local seja o de maior gravidade. Muitos municípios estão sendo
prejudicados diretamente por sua gestão pública de cultura e de juventude
municipal. Esses cargos são ocupados por representantes que não possuem
pouco, ou nenhum, conhecimento dos interesses e necessidades de seus habi-
tantes e dos grupos criativos de seu município, na maioria das vezes as ações
são motivadas unicamente pelo seu próprio interesse e de seu partido”.
Essa observação é contrabalançada pela análise de outra jovem sobre o
tempo presente: “Estamos vivendo um momento de constituição do Sistema
Municipal de Cultura nos municípios. É um momento importante, pois cida-
des que não possuem seus órgãos especiais de políticas para cultura, por
exemplo, para se adequar e receber repasse de verba, terão de criar suas
secretarias de cultura e desvincular-se às que são juntas, como acontece em
muitas cidades ainda, onde a cultura está vinculada a educação, esporte e
lazer, turismo etc., o que acaba deixando a cultura sem orçamento para apli-
cação em projetos. Entre muitos outros benefícios que acredito que o SMC
irá trazer, também destaco o Fundo Municipal de Cultura, onde a sociedade
poderá inscrever projetos culturais para serem realizados na cidade, que
será uma ferramenta essencial para o incentivo à criação e à produção cul-
tural. Também a ampliação da participação popular através dos fóruns de
cultura e dos conselhos municipais de políticas culturais, um grande ganho
para a sociedade civil, que agora tem o poder de propor e deliberar demo-
craticamente, tendo um diálogo direto com o poder público e podendo
cobrar mais fielmente” (Priscilla Sued, operadora, 2014).
Até o momento de finalização deste relatório, mantém-se o alinhamento
partidário entre o governo federal, estadual e as prefeituras municipais da
região, sendo nove delas governadas por partidos da base governamental.
4342
Cabe registrar que, até o primeiro semestre de 2014, a aliança PMDB-PT no
governo do estado passava por renegociações. Em fevereiro de 2014, entre-
tanto, outro cenário se estabeleceu com o rompimento e a transição do PT, de
situação para oposição.
A polarização entre o atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB)12
e o senador Lindbergh Farias (PT)13, candidatos ao governo do estado do
Rio de Janeiro, trouxe ao cenário eleitoral da região imprevisíveis conse-
quências, tendo em vista o período de articulações e construção de apoios
políticos e início da campanha.
Fica evidente que a oscilação nas orientações e projetos de governo, tanto
no âmbito estadual como municipal, produz impactos profundos nos processos
de formulação de discursos e ações vinculadas a uma política cultural mais con-
sistente, direcionada à valorização da diversidade na produção e no consumo
cultural, com iniciativas para a democratização da distribuição dos recursos,
incremento ao apoio à cultura e incentivo aos grupos e artistas locais.
Na opinião dos jovens operadores, “[...] os grupos reconhecem que o que
falta são políticas públicas que visem à valorização e fortaleçam a cultura
local”. Desejam, ainda, que as experiências bem-sucedidas sejam replicadas
em diversos ambientes –presenciais e digitais – criados com uma perspectiva
de acolhimento da multiplicidade de contextos, identidades, universos simbó-
licos, interesses e discursos.
Foi nessa perspectiva que aconteceu o evento Virada Cultural. Envolvida
com essa produção, uma das operadoras relatou que “[...] os grupos aceitaram
fazer suas apresentações mesmo sem ter cachê e com a mesma qualidade que
fariam se fosse oferecido um valor pela apresentação. A única coisa que que-
riam era espaço na própria Baixada onde pudessem mostrar seu trabalho e
revitalizar uma área tão boa quanto à da praça Santos Dumont [Nova Iguaçu]”.
Desse encontro, surgem novas propostas para que outras áreas públicas fos-
sem utilizadas com o mesmo propósito em seus municípios. Concluiu, ainda,
que a falta de oportunidade é tão grande que o aparecimento de uma inicia-
tiva como essa deixa todos bastante animados. Segundo ela, “Eles têm tanto a
dizer, tanto a fazer, a mostrar… Só falta quem os ouça!”.
12 Aliados do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) – Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB); Democratas (DEM); Partido Popular Socialista (PPS); Partido Democrático Trabalhista (PDT); Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); Partido Social Democrático (PSD); Partido Progressista (PP); Partido Trabalhista Nacional (PTN); Partido Ecológico Nacional (PEN); Partido Social Liberal (PSL); Partido da Mobilização Nacional (PMN); Partido Trabalhista Cristão (PTC); Partido Republicano Progressista (PRP); Partido Social Democrata Cristão (PSDC); Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB); Partido da Solidariedade (SDD); Partido Humanista da Solidariedade (PHS); Partido Social Cristão (PSC).
13 Aliados do Partido dos Trabalhadores (PT) – Partido Socialista Brasileiro (PSB); Partido Comunista do Brasil (PCdoB); Partido Verde (PV).
Quem te viu? Quem te vê? – Virada Cultural da Baixada Fluminense – evento
conceituado e produzido pelos integrantes do Brasil Próximo, realizado nos dias 7 e 8
de dezembro de 2013, com o objetivo de promover um manifesto para revitalização e
ocupação criativa dos espaços púbicos da Baixada Fluminense. Contou com 24 inter-
venções culturais, na praça Santos Dumont, centro de Nova Iguaçu, antes abandonada
e ocupada por moradores em situação de rua e usuários de drogas.
4544
Resumo do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense
Objetivo
Ampliar a compreensão sobre a realidade dos grupos criativos da Baixada Fluminense – iniciativas e processos criativos, agenciamentos produzidos e modelos institucionalizados – para apreensão das necessidades, expectativas, demandas e interseções entre o campo da cultura e o mundo juvenil.
MunicípiosBelford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica
Universo Grupos Culturais listados no Mapeamento (ver Anexos)
Plano Amostral 161 grupos criativos
Nº de Entrevistas (Questionários Aplicados)
115 grupos criativos
Grupos FocaisAgentes Culturais das Décadas de 1980 e 1990 (6 participantes)Jovens Agentes Culturais (atual – 7 participantes)
Entrevistas com Gestores Públicos de Juventude
6
A quem denominamos GRUPOS CRIATIVOS?
Aqueles que possuem envolvimento na proposição e na produção cultural dos
municípios da Baixada Fluminense e que, lançando mão de práticas inovado-
ras, solidárias e colaborativas, constroem/promovem espetáculos, iniciativas,
ações e atividades geradoras de pertencimentos, identificações, filiações e
articulação econômica e política.
Reúnem-se com regularidade (presencial e/ou virtualmente), inventando
formas de lidar com a realidade, de modo a torná-la mais interessante, diver-
tida, tolerável, manipulável e compreensível.
CONHECENDO OS GRUPOS CRIATIVOS
4746
De modo ativo, utilizam elementos midiáticos e tecnológicos para divulga-
ção de suas atividades, produções, posicionamentos e propostas para a trans-
formação da vida pública, para o democratização do acesso ao debate e os
modos de participação social.
Uma forma de ouvir os grupos...
Considerando os objetivos do mapeamento, para a coleta de dados sobre os
grupos criativos, recorreu-se à técnica estatística de Amostragem Estratifi-
cada Proporcional, delimitando, como população da pesquisa, os grupos lista-
dos na ampla coleta de grupos e referências feitas pela equipe Brasil Próximo,
de maio a outubro de 2013.
A técnica de estratificação requisita que a amostra tenha algumas característi-
cas conhecidas da população, nesse caso, os municípios da Baixada Fluminense e o
tipo de atividades que desenvolvem. Com os estratos da população identificados e
separados, dentro de cada grupo, utilizou-se uma Amostragem Aleatória Simples14,
para a seleção dos grupos a serem entrevistados nos estratos encontrados.
Inicialmente, foi considerada a porcentagem de cada modalidade de ati-
vidade por município e, posteriormente, uma amostragem aleatória simples,
resultando em uma amostra estatisticamente significativa.
O questionário foi construído com o objetivo de dimensionar os diferentes
momentos e etapas do processo criativo dos grupos, adotando como orienta-
ção uma noção abrangente e sistemática da cultura e das políticas culturais.
Nele, incluíram-se questões sobre os modos e espaços de execução de suas
atividades; a infraestrutura para a realização de suas atividades; os formatos
organizativos e escalas de institucionalização; as estratégias de captação de
fomento e divulgação, de modo a reunir subsídios para a construção de um
panorama mais amplo sobre a produção cultural da região.
Os dados apresentados referem-se aos 115 questionários aplicados pela equipe
Brasil Próximo, de janeiro a março de 2014. No gráfico a seguir, apresenta-se a dis-
tribuição quantitativa dos grupos mapeados (indicados pelas barras de cor azul),
e o quantitativo de questionários aplicados por município da Baixada Fluminense.
O plano amostral previa a aplicação de 161 questionários. Na efetivação do tra-
balho de campo, observaram-se inconsistências nos contatos dos grupos, em espe-
cial, nos municípios de Itaguaí, Japeri, Magé, Nova Iguaçu, Paracambi e Seropédica.
14 A obtenção da Amostra Aleatória Simples deu-se por sorteio dos grupos (elementos da população). Com a seleção dessa técnica, buscou-se garantir que qualquer elemento da população, ou seja, qualquer um dos grupos, tivesse a mesma chance de fazer parte da amostra, assegurando, com isso, a imparcialidade e a representatividade da expressão selecionada.
Na visitação, constatou-se que alguns grupos inicialmente listados encerra-
ram ou estavam, temporariamente, em recesso de suas atividades. Outra dinâ-
mica observada foi a de constituição e organização de grupos para projetos
pontuais, de duração determinada, tais como festivais, mostras e encontros.
As mudanças e instabilidades eleitorais advindas das disputas políti-
cas da região foram, igualmente, apontadas como produtoras de impactos
diretos no desmantelamento das secretarias, acervos e continuidade de
iniciativas e projetos.
GRÁFICO 1 – Distribuição Comparativa entre os Grupos Mapeados e os localizados para Aplicação do Questionário, por Município*
8
31
26
8
15
20
36
15
49
5
17
80
13
6
13
8
1
4
4
14
8
14
2
6
33
1
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de Meriti
Seropédica
■ Grupos mapeados ■ Grupos entrevistados* Conferir a relação dos grupos mapeados e entrevistados, nos Anexos I e II deste relatório.
4948
Vale destacar que o município com a maior concentração de aplicação de
questionários foi São João de Meriti, que já no registro preliminar apresentava
a maior concentração de grupos criativos mapeados (cerca de 80 grupos cria-
tivos). Nos demais municípios, por diferentes razões, observou-se um cenário
de maior dispersão de informações sobre os grupos.
Como relatado pelos mobilizadores, à época da consulta, alguns organis-
mos de cultura passavam por momentos de reestruturação política; outros
não possuíam diagnósticos atualizados sobre a presença dos grupos nos
municípios e, em alguns casos, não se tinha conhecimento das redes ou pes-
soas de referência, em atuação nos municípios.
Tendo em vista a lógica de organização em rede – colaborativa, com plu-
ralização de pontos de vista e em contínua redefinição –, há que se refletir
sobre os investimentos realizados para a melhoria dos fluxos de interlocução
entre os vários atores envolvidos com a produção cultural nos municípios e
o aperfeiçoamento de um modelo participativo que promova a aceitação e
convivência de diferentes realidades e expressões do presente, por princípio,
diversas e contemporâneas.
Observo muitas vezes que o problema está na falta de diálogo entre as esferas
da sociedade, nesse caso entre o poder público e a sociedade civil. Por exemplo, os
jovens, especialmente, estão cada vez mais descrentes quanto à efetividade das ações
governamentais e duvidosos quanto à política em geral. Fazendo um breve aprofun-
damento sobre o problema que enfrentamos, nosso sistema educacional não estimula
o pensamento crítico, só para começar, então como exigir do jovem que ele tome
posicionamento ou que consiga defender seus interesses, diante de um poder que
determina diretrizes e que interfere diretamente no modo de vida dessa juventude?
(Priscilla Sued, operadora, 2014)
A maior parte dos grupos entrevistados situou sua origem no limiar dos
anos 2000. Produto dos processos de redemocratização e reconstrução de
uma identidade ligada à região que intenciona a valorização das qualidades
positivas da região, em relação aos formatos institucionais, tem-se que 53,5%
dos grupos consultados (equivalente a 61 grupos) disseram ser formalizados e
os demais, 46,5% (equivalente a 53 grupos), não formalizados.
GRÁFICO 2 – Formatos Institucionais
46,09%
53,04%
0,87%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Não formalizado Formalizado Não responderam
Grupos formalizados: grupos artísticos e reconhecidos como tal, com ou sem cará-
ter comercial, com formatos organizativos próprios e juridicamente constituídos (com
inscrição do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), fornecido pelo Ministério da
Fazenda – pessoa jurídica).
Grupos não formalizados: grupos artísticos e reconhecidos como tal, com ou sem
caráter comercial, com formatos organizativos próprios, sem, no entanto, configura-
rem-se como pessoa jurídica (sem inscrição do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
(CNPJ), fornecido pelo Ministério da Fazenda – pessoa física).
Os grupos possuem, em média, 35/40 integrantes regulares. Destes, 50,43%
encontram-se no intervalo de 25 a 45 anos. Observa-se que 30,43% dos grupos
possuem integrantes entre 30 e 45 anos e 20% dos grupos possuem membros
com idade entre 25 a 29 anos.
Nenhum grupo consultado situou a média de idade de seus integrantes na faixa
entre os 15 e 17 anos. Acredita-se que essa ausência tenha relação com a dispersão
de idades, tanto no interior dos grupos quanto no público alcançado por eles.
Durante as reuniões de trabalho, tal cenário foi objeto de comentários e regis-
tros por parte dos operadores: “Outro fato observado é que as ações são abertas
a todas as faixas etárias, sem nenhuma restrição de sexo ou idade e sem nenhuma
ação específica e direcionada a um grupo” (Sílvia Machado, operadora, 2014).
5150
GRÁFICO 3 – Faixa Etária Média dos Membros dos Grupos
0,87%
3,48%
10,43%
20,00%
30,43%
15,65%
19,13%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
01 a 09 anos
10 a 14 anos
18 a 24 anos
25 a 29 anos
30 a 45 anos
Acima de 45 anos
Diversas faixas etárias
Destaca-se a declaração de 47,83% dos entrevistados, localizando o ensino
médio como o nível de ensino mais frequente entre seus integrantes, ainda que o
arco etário prevalecente entre os membros do grupo situe-se entre os 25 e 45 anos.
Poucos são os que entre os seus membros alcançaram o ensino superior, e um
número menor ainda os que possuem membros com cursos de pós-graduação.
GRÁFICO 4 – Escolaridade Média dos Membros dos Grupos
5,22%
6,96%
6,09%
47,83%
13,04%
16,52%
0,87%
0,87%
2,61%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
Ensino Fundamental (incompleto)
Ensino Fundamental (completo)
Ensino Médio (incompleto)
Ensino Médio (completo)
Graduação (incompleta)
Graduação (completa)
Pós-Graduação (incompleta)
Pós-Graduação (completa)
Não responderam
A análise bivariada, considerando faixa etária e formato institucio-
nal dos grupos, revela que, entre os grupos formalizados, predominam
membros entre 25 a 29 anos (26,4%), enquanto que, entre os grupos não
formalizados, prevalece a idade média compreendida entre 30 e 45 anos
(39,3%). Contudo, comparando a escolaridade dos membros do grupo e
o formato institucional dos mesmos, percebe-se que não há variações
significativas quanto ao nível de escolaridade de seus membros – ensino
médio –, alcançando 46,2%, entre os grupos não formalizados, e 51,7%,
entre os grupos formalizados.
A relação cultura e educação, sob o ponto de vista da escolarização dos
membros dos grupos, permite a reflexão sobre a situação das redes de ensino
da região e as oportunidades educacionais acessíveis aos jovens.
Dos 13 municípios, apenas dois (Mesquita e Nilópolis) estão localizados
acima da média nacional, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal15. Os demais municípios alcançaram classificação inferior,
o que evidencia as lacunas sobre as quais nos falam os participantes do mape-
amento, tanto no que tange ao estímulo e incentivo às suas capacidades cog-
nitivas e relacionais, como no acesso às oportunidades disponíveis, para que
possam realizar suas escolhas para a vida.
O cálculo do IDHM Educação dos municípios revela pouca variação em
relação à media nacional. Sete municípios da Baixada apresentam índices um
pouco mais altos, sem destaque entre eles. É, sobretudo, no fluxo escolar da
população jovem que se observa o gargalo enfrentado para conclusão e con-
tinuidade de sua escolarização.
Quando comparadas as faixas de idade entre os que concluíram o ensino
fundamental, observa-se certo equilíbrio e, em alguns casos, aumento do per-
centual, em alguns municípios, na faixa de 18 anos ou mais. Entretanto, ao
observar-se o percentual de concluintes do ensino médio na faixa de 18 a 20
anos, identifica-se um declínio considerável em todos os municípios, em rela-
ção ao percentual de concluintes do ensino fundamental.
15 O IDHM brasileiro mantém as três dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda. Com adequação metodológica ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais, “[...] O IDHM – incluindo seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda – conta um pouco da história dos municípios. Já o IDHM Educação é uma composição de indicadores de escolaridade da população adulta – medida pelo percentual de pessoas de 18 anos ou mais de idade, com o ensino fundamental completo – e de fluxo escolar da população jovem – medido pela média aritmética do percentual de crianças de 5 a 6 anos frequentando a escola, do percentual de jovens de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental, do percentual de jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo e do percentual de jovens de 18 a 20 anos com ensino médio completo”. A metodologia utilizada para o cálculo encontra-se detalhada e disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/o_atlas_/>.
5352
TABELA 3 – IDHM/IDHM Educação/Fluxo Escolar da População Jovem por Municípios da Baixada Fluminense (2010)
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD Brasil, IPEA e Fundação João Pinheiro, 2013.Obs.: Em amarelo, índices que estão acima da média nacional.
A situação educacional dos muncípios da região mantém-se aquém da
desejável. Pode-se inferir que, apesar dos avanços produzidos pela expansão
de campis de universidades e institutos federais16 na região, pelo incremento
nos investimentos públicos e privados e pela adoção de ações afirmativas para
a democratização do acesso ao ensino superior, na última década, a fronteira
da “chegada à universidade” mantém-se acessível a um grupo ainda restrito.
16 Criados pela Lei Federal n. 11.892/2008, que regulamentou a transformação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFET Química de Nilópolis-RJ), seguida da integração do Colégio Agrícola Nilo Peçanha (Pinheiral), antes vinculado à Universidade Federal Fluminense.
IDHMIDHM
Educação
% de 15 a 17 anos com
Fundamental Completo
% de 18 anos ou mais com ensino
Fundamental Completo
% de 18 a 20 anos
com Médio Completo
Brasil 0,727 0,637 57,24 54,92 41,01
Belford Roxo (RJ) 0,684 0,598 47,96 54,90 32,06
Duque de Caxias (RJ) 0,711 0,624 51,33 58,41 38,30
Guapimirim (RJ) 0,698 0,604 48,01 52,05 38,70
Itaguaí (RJ) 0,715 0,638 50,68 57,53 40,31
Japeri (RJ) 0,659 0,555 42,43 47,18 32,38
Magé (RJ) 0,709 0,626 54,01 54,52 37,81
Mesquita (RJ) 0,737 0,678 53,16 66,24 42,87
Nilópolis (RJ) 0,753 0,716 58,20 71,47 49,76
Nova Iguaçu (RJ) 0,713 0,641 53,25 60,37 38,81
Paracambi (RJ) 0,720 0,666 63,98 59,69 43,93
Queimados (RJ) 0,680 0,589 46,51 53,57 33,41
São João de Meriti (RJ) 0,719 0,646 52,59 61,42 40,87
Seropédica (RJ) 0,713 0,648 50,05 57,19 48,95
TABELA 4 – Escolaridade Média dos Membros dos Grupos
Frequência %Porcentagem
VálidaPorcentagem Acumulada
Respostas Válidas
Ensino Fundamental (incompleto) 6 5,2 5,4 5,4
Ensino Fundamental (completo) 8 7,0 7,1 12,5
Ensino Médio (incompleto) 7 6,1 6,3 18,8
Ensino Médio (completo) 55 47,8 49,1 67,9
Graduação (incompleta) 15 13,0 13,4 81,3
Graduação (completa) 19 16,5 17,0 98,2
Pós-Graduação (incompleta) 1 ,9 ,9 99,1
Pós-Graduação (completa) 1 ,9 ,9 100,0
Subtotal 112 97,4 100,0
Nãoresponderam
99 3 2,6
Total 115 100,0
5554
Estrutura e funcionamento dos grupos criativos
A relevância de um local próprio para o desenvolvimento das atividades
dos grupos vincula-se às expectativas de consolidação de um espaço-sede
em que os membros e seu público possam construir referência; um espaço
em que mantenham algum grau de autonomia na realização de alterações
e modificações de infraestrutura, de acordo com suas necessidades; um
espaço-memória onde se encontrem inscritas a identidade do grupo e de
seus membros, sua trajetória, processos organizativos e os acervos acumu-
lados no decorrer do percurso.
Constatou-se que as atividades desenvolvidas pelos grupos ocorrem em
espaços fixos, cujos formatos são negociados em distintos arranjos. Como
local preferencial para organização e manutenção do grupo, 33,3% (equiva-
lente a 38 grupos) indicam possuir sede própria e outros 27,19% (equivalente
a 31 grupos) organizam-se em espaços cedidos e/ou emprestados por insti-
tuições diversas – igrejas, escolas e outros parceiros. 26,32% % (equivalente
a 30 grupos) declararam praticar suas atividades na casa de algum de seus
integrantes e 24,56% (ou 28 grupos) em espaços alugados. Em menor número,
espaços públicos ou privados são utilizados.
Praças, ruas, instituições comerciais (bares, padaria, açougue etc.) e ocupa-
ções embaixo de viadutos foram citados como locais de desenvolvimento de
suas atividades/eventos.
GRÁFICO 5 – Espaços de Desenvolvimento das Atividades dos Grupos
33,33%
24,56%
27,19%26,32%
12,28%13,16%
7,02%
0,88%2,63%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
Em sedeprópria
Em sedealugada
Na praça Na rua Em bares Ocupação OutrosEm espaço cedido/
emprestado em outra
instituição (igrejas,
escolas, outros parceiros)
Na casa de algum integrante do grupo
No caso dos grupos que declararam possuir sede própria, os imóveis
foram adquiridos por meio de duas modalidades, a saber: compra do imóvel
por um de seus integrantes ou pelo próprio grupo, em 13% (equivalente a
15 grupos) dos casos ou herança de algum familiar dos membros do grupo
(9,6% ou 11 grupos).
Há, também, entre os grupos, em torno de 10,43% (equivalente a 12 grupos),
aqueles que declararam diferenciadas modalidades de parcerias envolvendo
cessão de espaços por instituições públicas e privadas, compartilhamento e
divisão de despesas e equipamentos, entre outros formatos colaborativos.
GRÁFICO 6 – Formatos e Arranjos para Aquisição das Sedes
65,22%
13,04%9,57% 10,43%
0,87% 0,87%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Não possui sedeprópria
Por meio decompra do imóvel
Por meio de herançafamiliar de um dosmembros do grupo
Por meio de cessão deinstituição pública,religiosa ou privada
Outros Não responderam
Um novo conjunto de questões inventariou a percepção que os entrevista-
dos possuíam sobre as condições materiais básicas (infraestrutura, material de
consumo, recursos didáticos) para o desenvolvimento de suas atividades regu-
lares, agrupando-as em quatro “pontos de observação”: 1 - Estrutura do imóvel;
2 - Instalações elétricas; 3 - Abastecimento de água; 4 - Esgoto sanitário.
Embora passível de questionamentos quanto à precisão/exatidão das
respostas, a inclusão desses pontos na pesquisa vincula-se ao princípio éti-
co-metodológico de que, para a compreensão sobre qualquer realidade con-
creta, além da reunião de fatos e dados, torna-se imprescindível a apreensão
das percepções, opiniões e pontos de vista daqueles que são sujeitos, organi-
zadores e usuários dos espaços.
5756
A seleção desses itens considerou as condições mínimas e indispensáveis
ao funcionamento das iniciativas propostas pelos grupos. É com base na com-
preensão dessa realidade que o projeto Brasil Próximo espera colaborar na
construção de metas e planos de ação para a melhoria da qualidade dos ser-
viços oferecidos/consumidos pelos grupos.
Com relação à infraestrutura foram classificadas pelas categorias BOM =
Em bom estado de conservação; REGULAR = Necessita de pequena reforma;
RUIM = Necessita de grande reforma; INEXISTENTE = Não existe no espaço,
de modo geral, sobressaiu-se a percepção do bom estado de conservação
da estrutura do imóvel onde 54,8% (equivalente a 63 grupos) realizam suas
atividades. Contudo, faz-se importante salientar a porcentagem significativa
(15,9%, equivalente a 11 grupos) daqueles que apontaram como “inexistente”
ou “ruim” a percepção que tinham desse item.
Essa, por sinal, foi uma tendência observada nos demais pontos de obser-
vação: Instalações elétricas (BOM – 58,3%; REGULAR – 29,6%); Abastecimento
de água do imóvel (BOM – 55,7%; INEXISTENTE/RUIM – 19,5%); Estado de con-
servação do esgoto sanitário (BOM – 71,3%; REGULAR – 27,4%).
GRÁFICO 7 – Percepção sobre o Estado de Conservação dos Itens/Equipamentos (sedes)
6,09%3,48%
7,83% 4,35%
9,57%6,96%
11,30%
3,48%
27,83%29,57%
23,48%19,13%
54,78%
58,26%
55,65%
71,30%
1,74% 1,74% 1,74% 1,74%0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Estrutura do imóvel Instalações elétricas Abastecimento de água Esgoto sanitário
■ Inexistente ■ Ruim ■ Regular ■ Bom ■ Não responderam
Em alguns casos, essa percepção mostrou-se oposta à percepção dos
mobilizadores e operadores. Buscando apreender a multidimensionalidade
das narrativas ouvidas, uma das jovens registrou suas impressões: “Acrescento,
também, a grande dificuldade dos grupos de avaliar as condições de sua pró-
pria sede, talvez por vergonha, receio de que algum representante político
tome conhecimento ou, até mesmo, por não perceber que de tanto olhar e
conviver com aquela necessidade acabam aceitando ou deixando de ver”.
As atividades organizativas e artísticas dos grupos desenvolvem-se em
variados ambientes (dependências), elencados a seguir. Alguns deles (banhei-
ros, pátio, cozinha, jardim) sugerem mais diretamente a utilização de casas
residenciais adaptadas para as atividades dos grupos. Outros (pátio, salas de
aula, escritório administrativo, salas de reuniões, almoxarifado) permitem
entrever a estrutura organizacional criada para o funcionamento dos grupos.
Alguns dos ambientes relacionados pelos entrevistados (sala de exposi-
ção, sala de projeções audiovisuais, sala para oficinas, camarim, entre outros)
tornam possível compreender a natureza das ações, atividades e projetos exe-
cutados pelos grupos.
Com menor frequência, listados no campo “Outros” (12,28%), foram rela-
cionados ambientes, como: campo de futebol, galpão, rua, salão de eventos,
quadra de esportes e espaços multiuso.
5958
GRÁFICO 8 – Ambientes/Dependências para a Realização das Atividades dos Grupos
52,63%
56,14%
47,37%
21,93%
28,95%
19,30%
27,19%
20,18%
4,39%
49,12%
17,54%
40,35%
29,82%
10,53%
3,51%
3,51%
28,07%
80,70%
10,53%
37,72%
19,30%
9,65%
6,14%
21,05%
12,28%
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Jardim ou espaço externo
Cozinha
Escritório (Coord./Adm.)
Sala de exposições
Sala de projeções audiovisuais
Laboratório de informática
Biblioteca e/ou sala de leitura
Estruturas de mobilidade e acessibilidade
Nenhum dos ambientes/dependências relacionadas
Pátio
Refeitório
Sala de reuniões
Sala equipadas para oficinas
Estúdio de gravação
Laboratório de fotografia
Lona
Almoxarifado
Banheiros
Alojamento
Salas de aula
Auditório
Ilha de edição
Teatro/Arena
Palco/Tablado
Outros
Cruzando-se as variáveis “espaço onde se desenvolvem as atividades”
e “tipo institucional”, observa-se que, entre os grupos não formalizados, o
espaço mais comum de execução das atividades é a casa de algum integrante
do grupo (43,4%, equivalente a 23 grupos), enquanto que, entre os grupos for-
malizados, há predominância na utilização da sede pelos grupos (42,6% ou
26 grupos). Nos distintos ambientes, alocam-se os materiais e equipamentos
conquistados e/ou adquiridos como investimentos pelo grupo, como demons-
tram os gráficos seguintes.
GRÁFICO 9 – Equipamentos que os Grupos Possuem e/ou Compartilham
67,57%
51,35%
29,73%
28,83%
43,24%
66,67%
57,66%
62,16%
30,63%
51,35%
73,87%
27,03%
31,53%
37,84%
14,41%
10,81%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Computador (desktop – de aplicação e multimídia)
Laptop
Projetor de filmes /Data Show
Telão
TV
Instrumentos musicais
Impressora, scanner
Câmera fotográfica digital
Equipamentos de iluminação
DVD
Equipamento de som
Carteiras de sala de aula
Filmadora Mini-DV
Quadro negro/branco
Lonas, tendas e equipamentos circenses
Outros
6160
GRÁFICO 10 – Serviços Disponíveis nos Espaços
69,81%
20,75%
23,58%
64,15%
20,75%
50,00%
74,53%
19,81%
4,72%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Telefone (fixo)
Fornecimento de alimentação
Estacionamento
Internet (banda larga)
TV por assinatura
Atendimento ao público
Limpeza e manutenção
Segurança privada
Outros
Os serviços e equipamentos, em alguns casos, são utilizados por meio da
modalidade de parceria e compõem um cardápio de possibilidades (capitais)
pelas quais os grupos são reconhecidos e inserem-se nas redes das quais partici-
pam. Possivelmente, é por meio da mobilização desses serviços, equipamentos e
interconexões colaborativas originadas entre eles que os grupos vêm chamando
atenção para o cotidiano da Baixada e construindo redes que transbordam sua
atuação cultural para o desejo de coparticipação da vida política da região.
Ocupando espaços significativos, a criação cultural da Baixada forja um
novo discurso – e uma nova prática – que conjuga ruptura e potência, dispu-
tando com os produtos de mais forte apelo midiático na mobilização e na
sedução de novos públicos.
Ao serem consultados sobre a existência de ambientes, equipamentos e/ou
serviços a serem oferecidos ou aprimorados, 73,91% dos grupos disseram neces-
sitar de outros itens para o desenvolvimento de suas atividades onde as reali-
zam atualmente. Foram recorrentes os depoimentos que sinalizaram o roubo
de equipamentos obtidos por meio de editais e prêmios, associando a perda do
patrimônio do grupo às necessidades para a continuidade de suas ações.
A depender da natureza das atividades que desempenham, uma variedade
de equipamentos e recursos específicos a cada expressão cultural e artística –
espaços adaptados para a dança com barras, estúdios de gravação, aquisição
de instrumentos musicais, aquisição de figurinos, entre outros – foram listados
como prioritários para a oferta de atividades e produções com maior quali-
dade técnica e alcance comunitário.
Acervos e memória: o que lembrar?
O interesse na recuperação da memória de iniciativas e ações culturais ocor-
ridas na região capturou a atenção da equipe de pesquisa para os acervos
reunidos pelos grupos, em especial para os usos que fazem deles e as inten-
cionalidades presentes na sua organização (histórico-documentais, artísticos,
fonográficos, bibliográficos, entre outros).
Para a qualificação da noção de acervos, operou-se com o conceito de
coleções, articulado à ideia de patrimônios, que se constitui por meio da sele-
ção de elementos de memória expressos pelo visível (material, tangível, obje-
tos visíveis ao olhar terreno) e pelo invisível (imaterial, simbólico, intangível).
De acordo com tal abordagem, esses elementos estão inscritos em qua-
dros sociais mais amplos e complexos, assumindo, ao mesmo tempo, o lugar
de resultantes e indutores da produção de formatos próprios de coleciona-
mento e patrimonialização.
Observa-se que os grupos consultados no mapeamento possuem a percep-
ção de que seus ativos culturais constituem-se em patrimônios para si e para a
região. Entre eles, um número expressivo (71,3% ou 82 grupos) declarou pos-
suir algum tipo de acervo, em contraste com 27, 8% (equivalente a 32 grupos)
que disseram não possuir acervo.
As coleções são formadas, com maior frequência, por materiais que tra-
tam sobre a trajetória de atividades do grupo (Portfólio, 86,59%). A ordem das
temáticas dos demais acervos segue a seguinte lógica, a saber: 50% (equiva-
lente a 41 grupos) possuem acervos sobre expressões culturais e artísticas;
39,02% (32 grupos) sobre temas gerais; 30,49% (25 grupos), sobre referências
culturais da região ou do município.
Levando-se em consideração a existência de acervo e o formato institu-
cional dos grupos, há presença ligeiramente maior de acervos entre grupos
formalizados (73,8%) do que nos grupos não formalizados (69,8%).
GRÁFICO 11 – Temáticas dos Acervos
86,59%
50,00%
30,49%
39,02%
4,88%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Sobre a trajetória de atividade do grupo
Sobre as expressões culturais eartísticas, de modo geral
Sobre as referências culturais ehistóricas da região/município
Sobre temas de interesses variados
Outros
6362
Distintos materiais – livros, filmes, figurinos, cenários, revistas, mídias digi-
tais, entre outros – compõem as coleções organizadas pelos grupos. Algumas
foram reunidas por meio de doação dos membros da equipe, participações
em projetos e ações sociais, intercâmbios culturais, editais, parcerias e aquisi-
ções definidas pelos interesses e necessidades dos grupos.
Embora disponível para a consulta comunitária ou visitação local, por 59,76%
(49 grupos) dos que responderam possuir algum tipo de acervo, apenas 29,27%
(equivalente a 24 grupos) o colocam disponível para empréstimo à comunidade.
Destaca-se a grande presença de diferentes mídias digitais (CDs, DVDs,
registros audiovisuais etc.) como parte dos acervos. Dos grupos que declara-
ram possuir algum acervo, 87,06% (74 grupos) indicaram tais mídias como os
mais frequentes meios de registro em suas coleções.
GRÁFICO 12 – Tipos de Materiais Presentes na Composição dos Acervos
45,88%
62,35%
56,47%
43,53%
87,06%
55,29%
34,12%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Livros
DVDs
Roupas, cenários etc.
Revistas, periódicos, gibis etc.
Mídias digitais (arquivos de áudio,imagens digitais divulgadas na web)
CDs
Outros
O tratamento dado ao patrimônio imaterial na região constitui um ponto
de atenção e destaque para agenda governamental. Grupos de Folias de
Reis17, capoeira, centros culturais de difusão e valorização da cultura de
matriz africana, terreiros de candomblé e museus de cultura africana, com
acervo constituído por totens, tecelagem, cerâmica, serralheria, máscaras etc.,
organizam-se, na região, como lugares de memória, como forma de recriação
da história dos acontecimentos da diáspora africana no Brasil.
17 Alguns com início em 1872, como o caso do grupo Reisado Flor do Oriente, foram inventariados na pesquisa Jongos, calangos e folias: memória e música negra em comunidades rurais do Rio de Janeiro e compõem o Acervo UFF Petrobras Cultural de Memória e Música Negra do LABHOI/UFF.
Esses grupos, em especial, manifestam compromisso com a realização de
iniciativas e projetos dedicados à conscientização sobre as relações étnico
-raciais no contexto brasileiro e de promoção da igualdade racial. Direcio-
nam suas iniciativas em consonância com os pressupostos da Lei Federal n.
10.639/03, posteriormente, substituída pela Lei n. 11.645/04, que trata da obri-
gatoriedade do ensino da história da África e da contribuição dos afro-brasi-
leiros na formação social do país, em todos os níveis de ensino.
Modos de comunicar...
A mídia, em suas variadas versões e formatos, ganhou lugar de ambiente vital
na trajetória de nossas sociedades. Nele, sonhamos e agimos coletivamente, em
processos constantes de (re)construção de nossas realidades, no rebatimento
de sentidos e representações. Em dinâmicas complexas, nas quais a lógica do
hipertexto, da valorização da interatividade dos usos, das novas formas de
circulação e agenciamento de informações e símbolos, ocorrem os processos
socializadores e reguladores dos nossos modos de “estar no mundo”.
As mudanças no cotidiano dos grupos, com a multiplicidade de funções que
exercem e a maior presença de novas tecnologias de comunicação, produzem
impactos sobre as ações sociopolíticas e seus formatos organizativos.
A maior parte dos grupos (43,48% ou 50 grupos) reserva um ou dois encon-
tros semanais para a realização de reuniões de organização das equipes.
Entre os demais, em menor número, 13,04% (equivalente a 15 grupos) decla-
raram encontrar-se mais de três vezes na semana; 17,39% (20 grupos), quinze-
nalmente; 23,48%, (27 grupos), mensalmente.
Não foram observadas diferenças entre a frequência de reuniões e o for-
mato institucional dos grupos, mantendo-se um ou dois encontros semanais
como a dinâmica mais comum entre os grupos entrevistados.
6564
GRÁFICO 13 – Frequência de Reuniões de Organização dos Grupos
43,48%
17,39%
13,04%
23,48%
1,74% 0,87%0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Uma ou duas vezes por
semana
Três a cincovezes porsemana
Quinzenal Mensal Outras Não responderam
Esses encontros são, em sua maioria, exclusivamente, presenciais – 64,35%.
Outros grupos – 33,91% – adotam uma modalidade mista de organização que
conjuga encontros presenciais com articulação virtual. Não se registraram
grupos que mantenham articulação puramente virtual.
Os formatos organizativos parecem estar relacionados à natureza de ativi-
dades realizadas, com mais frequência, pelos grupos consultados. Percebe-se
que as atividades mais comuns aos grupos são: produção de eventos (69,30%),
oficinas (63,16%), aulas (60,53%), espetáculos (55,26%) e festivais (52,63%).
É importante destacar que, de maneira geral, os grupos relataram desen-
volver mais de uma ação ou atividade. Essa sobreposição tem justificativa nas
estratégias de sobrevivência encontradas por eles para manutenção de suas
práticas e realização de carreiras profissionais.
No contato com os grupos, fica evidente que o desejo de conciliação de
projetos individuais e coletivos é motivo de grande preocupação para seus
membros. Dos entrevistados, 80% (92 grupos) disseram não haver geração de
renda nas atividades e iniciativas desempenhadas por seus membros. Ape-
nas 19,13% (equivalente a 22 grupos) realizam atividades das quais extraem
alguma remuneração financeira.
GRÁFICO 14 – Ações/Atividades Desenvolvidas pelos Grupos
63,16%
60,53%
52,63%
55,26%
32,46%
32,46%
37,72%
69,30%
25,44%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Oficinas
Aulas
Festivais
Espetáculos
Exposições
Saraus
Exibição de filmes
Produção de eventos
Outras
Dessas atividades, grande parte gera recursos para a manutenção das
ações e iniciativas desenvolvidas, como é o caso para 53,04% ou 61 dos grupos
entrevistados. Entretanto, 46,09% (equivalente a 53 grupos) declararam não
haver retorno financeiro nas atividades/produções artísticas.
Entre os grupos formalizados, as principais atividades concentram-se na
produção de eventos (77%), na dinamização de oficinas (77%) e na oferta de
aulas (70,5%). Entre os grupos não formalizados, predominam a produção de
eventos (60,4%) e a realização de espetáculos (56,6%).
TABELA 5 – Ações/Atividades Desenvolvidas pelos Grupos
Respostas Porcentagem de RespostasNº %
Ações e Atividades Desenvolvidas pelos Grupos
Oficinas 72 14,7% 63,2%
Aulas 69 14,1% 60,5%
Festivais 60 12,3% 52,6%
Espetáculos 63 12,9% 55,3%
Exposições 37 7,6% 32,5%
Saraus 37 7,6% 32,5%
Exibição de filmes 43 8,8% 37,7%
Produção de eventos 79 16,2% 69,3%
Outras 29 5,9% 25,4%
Total 489 100,0% 428,9%
6766
Dos entrevistados, 61,74% (71 grupos) declararam não receber nenhum
tipo de financiamento/auxílio para realização das atividades. Os grupos
revelaram mobilizar diferentes estratégias para garantir sustentabilidade e
continuidade de seus projetos.
A maior parte deles (58,77% ou o equivalente a 67 grupos) mantém-se por
meio de apoios pontuais e doações. Ações comunitárias entre seus membros
– bingos, rifas, e, possivelmente, em tempos futuros a modalidade de crowd-
funding –, cachês recebidos, editais no campo da cultura, nos âmbitos federal,
estadual e municipal e da iniciativa privada, e, por fim, premiações, aluguel de
espaços, entre outras modalidades.
A rede estabelecida entre os grupos da região parece garantir, com mais
eficácia, a manutenção das atividades dos grupos, como salientou um dos
operadores: “Por tantas dificuldades, os grupos fazem parcerias múltiplas
que possibilitam sua continuidade e o incentivo necessário para a continui-
dade dos trabalhos. Muitos trocam informações para a profissionalização em
questão; fazem apresentações em conjunto; dividem o aluguel de espaços;
realizam espetáculos próprios; trocam experiências de conhecimento. Dessa
maneira, reafirmam o compromisso próprio em desenvolver sua arte e lutar
por seu espaço em sua região” (Alan Alves, operador, 2014).
GRÁFICO 15 – Estratégias de Sustentabilidade e Manutenção das Atividades
25,4%
15,8%
9,6%
24,6%
14,9%
58,8%
36,0%
25,4%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
Editais no campo da cultura(âmbitos federal, estadual e municipal)
Editais no campo da cultura(Iniciativa privada)
Aluguel do espaço do grupopara outras atividades
Por meio do recebimento de cachês
Premiação
Por meio de doações (apoios)
Por meio de ações comunitárias entreseus membros (bingos, rifas etc.)
Outras
Somente 36,52% disseram receber ou já ter recebido algum tipo de finan-
ciamento permanente. As instituições públicas – federal, estadual e municipal
– comparecem com a maior parte dos recursos destinados ao financiamento
e à manutenção das ações e iniciativas promovidas pelos grupos.
Outros financiadores participam da dinâmica de produção e manuten-
ção de suas práticas colaborando com a sustentação de seus ciclos criativos,
com menos intensidade.
GRÁFICO 16 – Tipo de Instituição Financiadora dos Grupos
22,73%
18,18%
6,82%
11,36%
13,64%
25,00%
43,18%
13,64%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
Instituição Pública Federal
Ponto de Cultura ou similar
Terceiro Setor
Instituição Pública Estadual
Instituição Religiosa
Instituição Privada
Instituição Pública Municipal
Outras
Registra-se como um ponto de análise e implementação de iniciativas
a baixa participação em editais públicos de seleção de projetos e/ou prê-
mios, nos últimos 24 meses. Percebe-se que a maioria dos grupos submeteu
poucos projetos – a maior parte apresentou nenhum ou apenas um projeto
–, sendo, no conjunto, uma média de 2,64 projetos/grupo. Entre os grupos
formalizados, 3,97 projetos foram apresentados, em contraste com 1,19 pro-
jetos apresentados por grupos não formalizados. Por meio dos gráficos a
seguir, é possível visualizar a distribuição quantitativa dos projetos apre-
sentados. Cabe observar, porém, que as candidaturas submetidas tiveram
pouco êxito nos resultados finais de seleção.
6968
GRÁFICO 17 – Submissão de Candidaturas para Editais de Seleção de “Projetos/Prêmios”
Freq
uênc
ia
00
10
20
30
40
50
60
10 20 30
Mean = 2,64Std. Dev. = 4,55N = 111
GRÁFICO 18 – Projetos Aprovados em Editais de Seleção/Prêmios
Freq
uênc
ia
00
20
40
60
80
2 4 6
Mean = ,77Std. Dev. = 1,307N = 111
Realizando o mesmo recorte – quantidade de candidaturas aprovadas nos
editais de seleção de projetos e/ou prêmios, nos últimos 24 meses, e o formato
institucional do grupo (formalizado e não formalizado) –, observam-se valo-
res diferenciados entre o máximo de projetos aprovados por grupos não for-
malizados (quatro) e um maior número entre os grupos formalizados (cinco).
A média dos valores é, igualmente, distinta: 1,22 projetos aprovados entre os
grupos formalizados e um número médio incipiente de projetos aprovados
entre os grupos não formalizados (0,26).
O acesso e o êxito nos processos seletivos dos editais vinculam-se ao
domínio da “linguagem dos projetos” e ao acúmulo de repertório específico.
No contato com os operadores, os grupos revelaram não possuir pleno “[...]
conhecimento do que são editais de cultura e, mesmo os que conhecem, em
muitas ocasiões, não conseguem ganhar o edital, pois não conseguem com-
preender a documentação necessária para inscrição e, em alguns casos, não
conseguem escrever um projeto que se encaixe no edital”.
Embora, numericamente, a seleção em editais constitua um problema
para ambas as modalidades consultadas, a impressão comum ao grupo de
trabalho é a de que “[...] alguns grupos têm um nível de profissionalismo muito
grande e pouco sofrem com essas questões de edital. Por outro lado, grupos
menores e considerados mais ‘amadores’ se veem na necessidade de conta-
rem com alguém especializado para escrever o projeto que concorrerá ao
edital” (Carolina Mendonça, operadora, 2014).
A inconstância nas linhas de apoio e na captação de recursos para a aqui-
sição de sedes, a percepção da cultura como meio para a compreensão e a
transformação da realidade em que se inserem e os interesses de visibilidade
e ampliação de redes expressos pelos grupos – “uma vontade de fazer de
outra forma” – parecem agir como vetores de indução para a criação de opor-
tunidades, encontros, ocupação de espaços e equipamentos públicos e outros,
pelos grupos culturais, sejam de base predominantemente juvenil ou não.
Os grupos estimaram alcançar, em média, em torno de duas mil pessoas
em suas atividades regulares. A estimativa, porém, está influenciada pelo
número máximo declarado por um dos grupos entrevistados (15 mil bene-
ficiados). Embora o número seja um indicativo do alcance das atividades, é
preciso ressalvar que não se podem comparar atividades tão distintas como
uma festa promovida por uma agremiação carnavalesca e a apresentação de
mímica em praça pública, por exemplo. Tendo em vista a natureza diferen-
ciada das ações realizadas e a multiplicidade de grupos mapeados, há que
se reunirem esforços e investimentos municipais para a elaboração de indi-
cadores que considerem a diversidade de grupos, a pluralidade de gostos,
expressões, necessidades e demandas da população da região; colaborem
7170
para a mensuração do alcance das atividades aos beneficiados e do impacto
das ações dos grupos no cotidiano dos moradores e estabeleçam critérios por
eixo, mais qualitativos, para a elaboração de linhas de apoio e fomento com
base na pluralidade democrática.
A articulação com escolas, universidades, ONGs, centros culturais, pon-
tos de cultura, entre outros atores sociais e instituições púbicas e privadas,
pode ser geradora de novos conhecimentos e, principalmente, favorecer o
desenvolvimento de propostas que visam à ampliação dos diversos fomen-
tos, apoios, patrocínios e financiamentos, para a realização das atividades
desempenhas pelos grupos. A articulação em rede com empresas privadas
e indústrias estabelecidas no território, visando ao conhecimento e ao reco-
nhecimento da produção cultural local, pode contribuir potencialmente com
os meios de patrocínios de projetos mediante a Lei Federal de Incentivo à
Cultura (Lei n. 8.313, de 23 de dezembro de 1991).
GRÁFICO 19 – Número Médio de Pessoas Beneficiadas pelas Atividades dos Grupos
Freq
uênc
ia
Mean = 2603,96Std. Dev. = 15266,02N = 1100
0
20
40
60
80
100
120
50.000 100.000 150.000 200.000
Não é possível precisar a faixa etária prevalecente entre os beneficiados
pelas ações dos grupos. Constata-se o alcance intergeracional das iniciativas
dos grupos. Entre os grupos entrevistados, 46,09% (equivalente a 53 grupos)
apontaram a imprecisão de uma faixa específica entre seus beneficiados.
Não se constatam variações significativas ao considerar a faixa etária dos
beneficiários e os formatos institucionais dos grupos. Confirma-se, entre eles,
o atendimento a diversas faixas etárias, representando 39,6%, entre os grupos
não formalizados, e 50,8%, entre os grupos formalizados.
Essa informação sugere que os grupos mapeados, apesar de contar com
jovens entre seus membros, não possuem ações especialmente desenhadas
para mobilizar e angariar a presença prioritária da juventude nos municípios.
Seus esforços concentram-se em proporcionar modos de expressão artística
para os diversos segmentos populacionais.
GRÁFICO 20 – Faixa Etária Média dos/as Beneficiados/as nas Atividades dos Grupos
0,87%
8,70%
8,70%
11,30%
10,43%
8,70%
5,22%
46,09%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%
01 a 09 anos
10 a 14 anos
15 a 17 anos
18 a 24 anos
25 a 29 anos
30 a 45 anos
Acima de 45 anos
Diversas faixas etárias
Constata-se que a principal ferramenta utilizada para a mobilização
de antigos e novos participantes e a difusão de seus trabalhos são as redes
sociais (83,33%). Com grande destaque, na sequência, listam-se a rede de con-
tatos pessoais (67,54%) e as parcerias de divulgação com as escolas da região
(34,21%), para tornar visíveis suas ações e iniciativas na região. Outras respos-
tas – carro de som, faixas, apresentações, eventos – também foram listadas e
agrupadas na categoria “Outros”.
7372
GRÁFICO 21 – Estratégias para Mobilização dos Participantes
33,33%
6,14%
83,33%
14,04%
12,28%
34,21%
67,54%
13,16%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%
Mídia impressa
Mídia televisiva
Redes sociais (Facebook, Twiter etc.)
Mala direta
Rádio local
Divulgação em escolas
Contatos pessoais
Outras
Redes e ação coletiva
Investindo em processos colaborativos e solidários, 80% dos grupos relata-
ram a existência de intercâmbio e/ou parceria com outros grupos. Os víncu-
los de parceria mais mencionados estão na esfera artística, com 89,13% das
respostas; seguidos por colaborações e intercâmbios na prestação de servi-
ços, 36,96%; na reserva de vagas preferenciais em cursos e seminários, 20,65%
(equivalente a 19 grupos); e, em menor número, estão elencadas as parcerias
de natureza administrativo-burocrática, 15,22% (14 grupos).
Embora concentrados em tocar suas próprias produções e projetos coletivos,
não sem grandes dificuldades como vimos até aqui, constata-se a forte presença
de uma rede de suporte que promove, sempre que solicitada, a mobilização e/ou
participação de outros grupos em 60% das atividades dos grupos entrevistados.
O mesmo ocorre com a comunidade à qual os grupos estão vinculados.
Em suas opiniões, sempre que solicitada, para 43,9% (50 grupos), e de maneira
frequente, para 22,6% (26 grupos) deles, é possível contar com a mobilização
e participação da comunidade local nas iniciativas propostas no território.
Entretanto, 38 grupos (33,04%) não contam com a comunidade local em suas
decisões e/ou atividades cotidianas.
A precariedade com que os grupos desenvolvem suas ações e a visão que
possuem da ausência de apoio do poder público foram temas recorrentes
durantes as visitas de campo.
Entre os grupos entrevistados, expressões de resistência e organização cole-
tiva evidenciaram um compromisso com a dignidade humana dos moradores
da região. No depoimento de uma das operadoras: “[...] muitos grupos demons-
traram muita indignação por não receberem nenhuma ajuda por parte da polí-
tica local, e deixaram claro que nunca deixaram de exercer as suas atividades
por esse motivo. Boa parte faz isso por atitude voluntária [...] as ações deixam de
fazer parte da cultura laboral para dar lugar ao afeto e o ato de ajudar o outro
ou dar sentido à vida de outras pessoas” (Sílvia Machado, operadora, 2014).
Entretanto, não se deve essencializar a atuação dos grupos nem de seus
integrantes, inscrevendo-os, exclusivamente, na clave do altruísmo voluntário
ou do engajamento e militância política. Dessa forma, incorreríamos no erro
de naturalizar a incipiente atuação estatal no dever de prover condições de
acesso e consumo da produção cultural dos municípios, e não reconhecerí-
amos as criativas e possíveis formas em uso, pelos grupos, para lidar com a
instabilidade cotidiana de suas existências.
Por fim, na percepção de Marcos Paulo, mobilizador, “[...] existem algu-
mas dezenas de instituições bem estruturadas que usam a arte como ferra-
menta de mobilização ou como produto. Essas istituições disputam editais,
contratam por carteira assinada e são as mais representativas nas esferas
governamentais. Outro grupo, um pouco maior, disputa espaços para buscar a
autossustentação, ora contratando, ora apelando para o voluntariado”.
Pautas políticas...
GRÁFICO 22 – Principais Dificuldades para Manutenção/Execução das Ações/Produções
0,88%
90,27%
69,91%
22,12%
11,50%
43,36%
10,62%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Não possui dificuldades
Financeiras
De infraestrutura
De equipe
Segurança
Mobilidade
Outras
7574
Um último conjunto de questões inventariou as percepções sobre as prin-
cipais dificuldades observadas pelos grupos para manutenção de suas ações
e continuidade de suas produções coletivas.
Listada como prioritária, a situação FINANCEIRA dos grupos foi apontada
por 90,27% (equivalente a 102 grupos) como principal preocupação, seguida
por questões relacionadas à infraestrutura (69,91% ou 79 grupos) e mobili-
dade (43,36% ou 49 grupos).
Constata-se, na análise bivariada, que a mesma ordem de questões foi
elencada com relativa proximidade entre os grupos formalizados e não forma-
lizados. As dificuldades financeiras atingem 84,9% (equivalente a 45 grupos),
entre os grupos não formalizados, e 95% (57 grupos), entre os formalizados.
Questões relativas à INFRAESTRUTURA foram registradas como prioritá-
rias por 75,5% (equivalente a 40 grupos) dos grupos entrevistados, entre os
não formalizados, e 65% (39 grupos), entre os grupos formalizados, listando-
se, entre elas, um conjunto de demandas, a saber: melhoria nas instalações,
ampliação dos espaços, climatização dos ambientes, aquisição de instrumen-
tos e equipamentos eletrônicos de qualidade profissional, adequação dos
espaços no caso de grupos de dança e música, inclusão digital, entre outras.
Em relação à MOBIlIDADE, a temática foi associada às possibilidades de
deslocamento dos membros dos grupos e participantes nas atividades regula-
res e para apresentações nos diversos eventos aos quais são convidados.
Constata-se que, em geral, no interior dos grupos, em relação às práticas
sustentáveis, os integrantes acumulam funções, como produção, criação, arti-
culação, escrita de editais, entre outras, de modo a viabilizar seus projetos e
gerar mecanismos de sustentabilidade aos grupos. Para sobrevivência indivi-
dual, acumulam funções e atividades paralelas que, grande parte das vezes,
mantêm relação com suas atividades artísticas; ministram oficinas em escolas,
por meio de programas como Mais Educação – Ministério da Educação18; par-
ticipam, de modo direto ou indireto, em eventos patrocinados por empresas
ou eventos particulares, entre outras ocupações e oportunidades disponíveis.
Diante dessa complexa realidade, o apoio para contratação e manutenção
de funcionários, a qualificação das equipes e a oferta de maiores benefícios
profissionais para seus membros foram itens apontados pelos grupos como
fundamentais para a continuidade e permanência de suas ações e a diminui-
ção da rotatividade entre seus membros.
É corrente a opinião sobre a presença de um forte protagonismo juvenil
18 Instituído pela Portaria Interministerial n. 17/2007 e pelo Decreto n. 7.083/ 2010, o programa integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Trata-se de uma ação intersetorial entre as políticas públicas educacionais e sociais, promotora da ampliação da jornada escolar, da organização curricular da Educação Integral, com o propósito de incidir na diminuição das desigualdades educacionais e na valorização da diversidade cultural brasileira.
nessas atividades, na linha do “faça você mesmo”, o que, por vezes, vai adqui-
rindo nuances de projetos de carreiras profissionais e, por fim, conformam
escolhas conscientes e investimentos educacionais para inserção e domínio
da linguagem do campo da cultura – ingresso em cursos de graduação em
produção cultural, artes cênicas, entre outros; especialização em elaboração
de projetos e legislação cultural; intercâmbios artísticos etc.
Esses investimentos educacionais, embora operacionais e que visam a ati-
vidades práticas, não estão descolados da reflexão política sobre a ausên-
cia de equipamentos culturais e linhas de fomento à cultura por governos e
empresas locais. Perceber-se como agente político em ações de resistência
e criação de oportunidades parece ser a estratégia encontrada pelos grupos
para incidir no debate sobre o direito e a cidadania cultural.
Do ponto de vista das políticas culturais, sem exceção, os relatos chamam
atenção para: a falta de investimentos públicos e privados nas atividades
culturais da região; as dificuldades advindas da ausência de sede própria; a
realização e manutenção de suas atividades; a falta de reconhecimento e
valorização de suas trajetórias e atividades.
Embora reconheçam o aumento das oportunidades geradas nas últimas
décadas, convocam o governo estadual e municipal a dar continuidade às ini-
ciativas e políticas em curso. Propostas para a criação de um canal de comu-
nicação entre os grupos, para que possam trocar informações, destacaram-se
nos depoimentos coletados.
7776
A constatação da criação e revitalização de organismos de juventude
nos municípios da Baixada Fluminense, no período mais recente (2009/2013),
precipitou a inclusão dos encontros e das entrevistas com os, então, gestores
de políticas, programas e projetos para a juventude dos municípios.
A identificação e a consulta aos organismos de juventude realizadas na
primeira etapa da pesquisa revelaram a criação ou a revitalização de supe-
rintendências e coordenadorias de juventudes em oito dos municípios pesqui-
sados, a saber: Belford Roxo, Duque de Caxias (criada em fevereiro de 2014),
Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti.
Ainda que não fosse o foco principal da pesquisa, a recente implemen-
tação do Plano Juventude Viva é uma estratégia governamental para o
enfrentamento à mortalidade de jovens, em especial dos negros (pretos
e pardos, de acordo com a classificação do IBGE), que tem a presença de
quatro municípios da região – Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu e São
João de Meriti – na listagem de municípios prioritários, na primeira fase de
implementação do plano.
A iniciativa estimula a criação de organismos estaduais e municipais em
142 municípios brasileiros que apresentam alto grau de risco e vulnerabili-
dade dos jovens a situações de violência física e simbólica. É descrita como
uma oportunidade histórica no enfrentamento à violência, com apoio à cria-
ção de programas e ações voltadas à ampliação de oportunidades de inclusão
social e autonomia, problematizando a banalização da violência e a necessi-
dade de promoção dos direitos da juventude.
Conforme citado no capítulo “Trilhas teóricas e metodológicas” deste rela-
tório, o plano incentiva: oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de
convivência em áreas que concentram altos índices de homicídio, fortalecimento
de trajetórias dos jovens e mudanças em seus territórios, buscando “[...] promover
os valores da igualdade e da não discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao
preconceito geracional, que contribuem com os altos índices de mortalidade da
juventude negra brasileira”.
Interrogaram-se os gestores sobre os principais aspectos relacionados à
juventude de seus municípios, o histórico da criação dos organismos, as ações
UM OLHAR SOBRE AS POLÍTICAS DESTINADAS AOS JOVENS DA
BAIXADA FLUMINENSE
7978
diagnósticas em curso e as iniciativas previstas em articulação com o Plano
Juventude Viva e a política estadual de juventude19.
A fim de contextualizar a situação juvenil negra, recorreram-se a estudos fei-
tos por diferentes pesquisadores (ver Referências Bibliográficas), com interesses
variados, que informam sobre uma progressiva diferenciação na trajetória de
vida – escolar, profissional, social, financeira etc., – entre os grupos étnico-raciais
no país, com acentuada desvantagem para as populações negra e indígena.
Em se tratando do público focal do Plano Juventude Viva, uma vasta
literatura tem realizado críticas sobre a qualidade dos distintos espaços
de socialização disponíveis às crianças e aos jovens negros. Os efeitos das
agências de socialização, em especial a escola, na construção de projetos
futuros por parte de crianças e jovens negros, em todos os níveis de escola-
rização, são ratificados pelos relatos produzidos por esses jovens sobre suas
experiências escolares.
A memória do período, as expectativas criadas e os resultados alcançados
evidenciam que, para esse grupo, a experiência de fracasso é mais presente
do que as expectativas de sucesso e progressão.
Suas trajetórias são mediadas pela experiência do trabalho, em geral, com
inicio na infância e maior incidência entre os meninos negros. Embora não
seja a única, a entrada no mercado de trabalho, a partir dos 14 anos, produz
efeitos diretos, sendo apontada nas intercorrências do processo de escolari-
zação dos jovens. Após os 18 anos, já com dificuldades em conciliar as exigên-
cias da vida escolar, da vida familiar e do mundo do trabalho, são frequentes
o abandono da escola e, em alguns casos, a ruptura com o processo educativo,
por vezes, retomado tempos depois.
Quanto às áreas da saúde e da segurança pública, os dados do Ministério da
Saúde20 informam sobre o crescimento da taxa de homicídios entre os grupos, com
maiores índices entre os jovens negros. Os dados evidenciam que a violência tem
como alvos principais os jovens negros do sexo masculino, com baixa escolaridade.
A convergência entre cor/raça, idade e território constitui fator predomi-
nante para a ocorrência desses índices, impondo, ao governo e à sociedade,
uma agenda de enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, para
a redução da vulnerabilidade da juventude negra.
Na Tabela 6, a seguir, tem-se o quadro evolutivo do número de homicídios,
19 As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2014, pela coordenadora da pesquisa, em todos os municípios que dispunham de coordenações ou órgãos da juventude, com exceção de Duque de Caxias e Queimados. O contato com a coordenadoria de juventude de Duque de Caxias foi realizado em data anterior à posse da nova gestão e uma conversa preliminar com Marlene D’Almeida, subsecretária de Ações Institucionais e Comunicação, ocorreu na prefeitura do município. Quando a equipe foi empossada, o prazo para finalização da pesquisa já havia se esgotado. Na mesma situação, inclui-se o município de Queimados.
20 Fonte: MS/SVS/DASIS – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Dados preliminares de 2010.
nos municípios da Baixada Fluminense, quatro deles com taxas alarmantes,
de acordo com o Mapa da Violência21, de Jacobo Waiselfisz. O autor chama
atenção para o que denomina de “novos padrões da mortalidade juvenil”, que
deixam de assinalar, como causas principais, as epidemias e doenças infecto-
contagiosas, registradas em décadas atrás, para dar lugar às “causas externas”
– em especial, acidentes de trânsito e homicídios.
O estudo aponta como fatores que incidem na produção e reprodução da vio-
lência homicida, no nível do município, a presença pouco eficaz do poder público,
as disputas territoriais de quadrilhas, milícias, tráfico, comércio e varejo de dro-
gas, a produção ilegal de entorpecentes e o enraizamento da cultura da violência.
TABELA 6 – Tabela CJ. Número e taxas (por 100 mil) de homicídio, segundo raça/cor nos municípios de 50 mil habitantes. População Jovem. Brasil. 2008/2012
(Ordenado por taxas negras)
21 Fonte: <http://www.mapadaviolencia.org.br>.
Município UF
Número de Homicídios Popul. 2012 Taxas 2012
Branca Total Negra TotalBranca Negra Branca Negra
2010 2011 2012 2010 2011 2012
Belford Roxo RJ 18 26 16 78 68 70 36.385 84.671 44,0 82,7
Duque de Caxias RJ 65 58 43 239 220 187 74.046 146.178 58,1 127,9
Guapimirim RJ 1 0 2 3 7 4 5118 8.786 39,1 45,5
Itaguaí RJ 4 5 7 26 18 26 10.673 18.264 65,6 142,4
Japeri RJ 4 6 1 25 12 21 6.625 20.171 15,1 104,1
Magé RJ 9 11 7 29 27 22 19.699 38.218 35,5 57,6
Mesquita RJ 3 4 10 21 9 18 13.975 27.241 71,6 66,1
Nilópolis RJ 8 5 2 24 26 11 15.534 22.177 12,9 49,6
Nova Iguaçu RJ 54 56 53 179 129 157 69.289 132.451 76,5 118,5
Paracambi RJ 0 0 1 2 1 1 5.530 6.715 ** **
Queimados RJ 5 4 3 25 11 16 11.720 24.214 25,6 66,1
São João de Meriti RJ 23 13 9 66 54 62 37.758 75.608 23,8 82,0
Seropédica RJ 2 2 3 5 2 8 8.367 12.905 35,9 62,0
8180
Esse breve panorama reafirma um quadro social para a juventude negra
que oscila da exclusão ao extermínio. Os dados confirmam a persistência de
uma situação desfavorável para a população juvenil negra, em todos os cam-
pos da vida em sociedade.
A perenidade da situação de risco e vulnerabilidade vivenciada pelos jovens
negros, ao longo do século XX e XXI, alia-se à lentidão na promoção de igual-
dade entre os grupos étnico-raciais no contexto brasileiro. O acesso diferencial
às oportunidades sociais (qualificação educacional, competitividade no mer-
cado de trabalho, bens e atividades culturais, tecnológicas, informativas) vai,
com isso, perpetuando seus efeitos sobre o acesso a redes, grupos e associações,
produzindo um escopo reduzido de oportunidades e experiências aos jovens.
A resposta que a sociedade dará aos jovens que experimentam a etapa da
juventude, manejando esse conjunto de desafios, vincula-se ao projeto cole-
tivo de sociedade que se compromete a dotar de perspectivas positivas as
novas gerações, sem distinção, assim como permitir-lhes o desenvolvimento
de talentos e potencialidades.
As pessoas que compunham as equipes das coordenadorias e superin-
tendências contatadas nos municípios possuíam entre 19 e 30 anos. Apenas
um deles possuía idade superior a 40 anos. Há prevalência de homens nos
cargos de gestão. Ressalta-se que poucas foram as mulheres apresentadas
como parte das equipes dos organismos durante as visitas. Não se solicitou
que declarassem seu pertencimento étnico-racial.
Moradores dos municípios, os entrevistados revelaram possuir distintas
percepções sobre as principais demandas dos jovens dos municípios e da
própria região. Observaram como necessidades prioritárias a inserção no
mercado de trabalho, a orientação profissional e a participação na vida polí-
tica do município.
Seus mandatos tiveram início a partir do pleito eleitoral de 2012/2013, e a
estrutura dos organismos é bastante distinta entre os municípios. Ainda assim,
possuem, em comum, a necessidade de ampliação de espaços e equipamentos
(sala adequada, mobiliário, computadores, impressoras), de pessoas para integrar
as equipes e da alteração do estatuto de coordenadoria para o de secretaria.
Se, em Mesquita e Belford Roxo, há funcionários divididos em gerências e
setores22, com funcionamento em sala específica, equipada e atendimento de
segunda a sábado (meio expediente), em outros municípios, por outro lado,
como em Nilópolis e Japeri, o gestor conta apenas com mais um ou dois funcio-
22 Gerência de Comunicação Social (identidade visual, divulgação em redes sociais e relacionamento com a juventude); de Políticas Educacionais (atuação nas escolas estaduais e municipais com enfoque na participação e protagonismo juvenil), de Cultura (com ações especificas direcionadas aos jovens da Chatuba, bairro em que, em setembro de 2012, seis jovens foram assassinados por terem sido confundidos com traficantes por uma facção rival), de Projetos e Assessoria Técnica (responsável pelo acompanhamento de programas e pelos processos de inserção profissional e qualificação profissional).
nários, responsáveis pelas diferentes funções – realização de palestras, divulga-
ção, contratação, produção de eventos, organização de grêmios municipais etc.
Como principais gargalos vivenciados pelos jovens, nos municípios, os
depoimentos identificam o acesso ao primeiro emprego, a entrada no mer-
cado de trabalho e a qualificação profissional como principais demandas da
juventude da região. Participação também foi uma demanda apontada por
um dos entrevistados.
A percepção que possuem sobre as condições de vida dos jovens da Bai-
xada aproxima-se das opiniões coletadas nos grupos focais realizados com
jovens e não jovens.
Um dos entrevistados posicionou-se a respeito do que é ser um jovem da
região e dos desafios encontrados por eles: “[...] ser um jovem da Baixada é
você “matar dois leões” todos os dias, porque, eu não gosto de falar isso, assim...
Aqui... são poucos equipamentos culturais, é educação, é cultura, então! Você
vai em um shopping no Leblon tem não sei quantos cinemas, quantos teatros
[...] eu acho que falta isso, essa parte cultural. Falta emprego, falta cursos, ape-
sar de ter instituições aqui. Falta opção pro jovem da Baixada Fluminense”.
A trajetória política dos gestores é bastante semelhante. Oriundos dos
movimentos estudantis e sociais da região, lideranças de grupos de juventudes
de partidos políticos possuem experiência com a gestão pública, participaram
de programas como Parlamento Juvenil e grêmios estudantis e revelam inves-
timento escolar e conhecimento da dinâmica política da região.
Foram recorrentes as críticas em torno da criação de uma concepção de “apa-
relhamento” das superintendências de juventude, colocadas a serviço de man-
datos e blocos partidários entre alguns dos gestores entrevistados. Atribuem a
esse “modo de fazer política” à estagnação das Políticas Públicas de Juventude
(PPJs) em seus municípios. Segundo um deles, “[...] quando você vira a discussão
de políticas de juventude, atendendo às demandas e orientações de determinado
partido ou segmento, necessariamente, você não vai ampliar essa ação”.
Os processos de transição entre um governo e outro se mostraram bas-
tante instáveis. A maior parte dos entrevistados revelou não possuir registros
de ações desenvolvidas nem de problemas quanto à destinação de orçamento
específico, pelas gestões anteriores.
Os entrevistados relataram que a ausência de orçamento específico para a
realização das atividades impõe o exercício de articulação política, de compreen-
são de onde estão alocados os recursos para, como disse um deles, “[...] desbravar
a máquina, tentando entortar ela antes que ela entorte a gente!”, brincou.
Outro entrevistado avaliou que, talvez, em sua opinião, “[...] essa é a grande
dificuldade de todos os órgãos de juventude, do estado e do Brasil. [...] Nós não
temos dotação orçamentária, temos a manutenção do órgão, o pagamento
8382
dos nossos salários. O que a gente faz é, desculpe a expressão, é sair com ‘o
pires na mão’, buscando quem tem para fazer acontecer”.
Os organismos de juventude estão sob o guarda-chuva de secretarias
que possam transversalizar a temática da juventude em várias outras ações.
Seguindo uma orientação nacional, dessa forma, reúnem outros grupos, tais
como: mulheres, igualdade racial, LGBTs, consumidores, pessoas com defici-
ência, entre outras parcelas da sociedade.
Quando perguntados sobre o recorte geracional, no diálogo com essas
identidades – jovens mulheres, jovens negros, jovens com necessidades espe-
ciais etc. –, os entrevistados foram convidados a falar sobre tais iniciativas. As
coordenadorias, via de regra, promovem oficinas, palestras, cursos em parce-
ria com ONGs e escolas da região.
Na opinião de um deles, as ONGs que estão nas comunidades no Rio de
Janeiro deveriam voltar suas ações para a Baixada. Outro distinguiu as ações
mais “comuns” – como prevenção sexual, DSTs e gravidez na adolescência,
denominando-as como iniciativas tipo “feijão com arroz”, um serviço básico
–, das ações voltadas para ampliação do “protagonismo dos jovens”. Em sua
visão, “[...] nem todos têm o debate da integração governamental, e como é bom
ter essa interlocução. [...], por exemplo, o debate que procuramos fazer é um
debate político, de protagonismo e empoderamento dessas jovens mulheres”.
O Festival Roque Pense foi uma das iniciativas citadas no campo da cultura
que, intencionalmente, promove ações interseccionais e discute a questão de
uma educação não sexista, na cultura alternativa da Baixada Fluminense,
associada ao recorte geracional. O Festival foi o primeiro Circuito Rock de
bandas com mulheres, realizado na Baixada Fluminense. Dirigido por um
coletivo de produtoras culturais, com shows ao vivo, campeonato feminino de
skate, Girls in Ação, debates, oficinas e artes visuais, além de diversas ativida-
des promotoras de uma cultura antissexista. Sua primeira edição aconteceu
na Praça do Skate de Nova Iguaçu, de 21 a 24 de junho de 2012, e a segunda
edição, em outubro de 2013, no Paço Municipal de Mesquita, conforme infor-
mações disponíveis na internet23.
Outra manifestação citada como articuladora do pertencimento geracio-
nal e étnico-racial foi a Semana do Hip Hop, também realizada em Mesquita,
que detém o título de ter sido a segunda cidade a decretar esse evento, por
meio de legislação municipal.
Pela lei, a semana deve ter início, obrigatoriamente, no dia 21 de março,
que é o Dia de Combate à Discriminação Racial, o que posiciona como par-
ceira prioritária a Comissão de Proteção a Igualdade Racial (COMPIR) do
23 Conferir <facebook.com/RoquePense> e <http://www.roquepense.com.br>.
município. Segundo um dos entrevistados, a promoção do debate em 2014
teria como temática privilegiada a questão dos autos de resistência e a polí-
tica pública de segurança, tendo em vista o compromisso assumido com o
Plano Juventude Viva. E esclareceu: “[...] a gente quer debater esse tema, a
gente quer usar o hip-hop para chegar na juventude com uma linguagem mais
‘ouvível’, buscando essa integração o tempo todo!”.
No caso de Belford Roxo, um processo de adesão voluntária foi enca-
minhado à Secretaria Nacional de Juventude, por ter ficado de fora da lis-
tagem dos municípios prioritários para inclusão no plano. A inserção no
plano, a criação de um Conselho de Juventude e Igualdade, busca atender
às designações nacionais. Japeri, também, aguarda a tramitação e criação
do Conselho de Juventude e vem atuando na realização de palestras sobre
a mortalidade de jovens nas escolas.
Atividades realizadas nas escolas, para jovens de 15 a 29 anos, em torno da
discussão sobe as “Novas Famílias” também foram citadas como exemplos de
ações construídas em articulação com outras secretarias, nesse caso, com a Supe-
rintendência de Diversidade Sexual de Nilópolis, para a prevenção do bullying.
A chave da diversidade também é acionada, facilitando a sensibilização e
o trânsito da temática dos jovens nas demais secretarias e ações governamen-
tais. Mapeamentos sobre o número de jovens com deficiência, nos municípios,
os fluxos e números de acesso dos jovens aos serviços e programas oferecidos
pelo estado e município (como o Vale Social, por exemplo) e outros direitos já
garantidos por lei para esses segmentos populacionais.
8584
Embora afirmem trabalhar com todas as secretarias e reconheçam as
questões que aproximam os jovens e a violência presente em seus municí-
pios, o diálogo com as secretarias de segurança dos municípios dá-se, apenas,
na solicitação de apoio aos eventos promovidos pelas coordenadorias, com
intuito de resguardar a segurança dos jovens.
Os organismos de juventude aliam-se à rede de proteção básica, mediando
a aproximação entre as demais coordenadorias e os jovens e pautando temá-
ticas pertinentes. São eles que alinham os programas disponibilizados pelo
Governo Federal ProJovem Urbano, Pronatec e o Caminho Melhor Jovem,
desenvolvidos pelos estados.
No caso de Mesquita, adotou-se o seguinte formato, conforme depoimento
de um gestor: “[...] aqui executamos assim: temos na Secretaria de Trabalho
um programa chamado BEM – Banco de Empregos Mesquitense. Fizemos essa
interface. Quando um jovem é atingido pelo programa do governo federal,
ele faz o curso de qualificação profissional, termina seu ensino médio... Qual
é a missão da coordenadoria de juventude? Encaminhar esse jovem para o
mercado de trabalho, o que não é o papel do ProJovem Urbano”.
Entre os programas desenvolvidos, estão: o Programa Nacional de Acesso
ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec, no momento da pesquisa de campo
com previsão de início em 2014) na Associação de Bairro da Chatuba e na
Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC), e o programa ProJovem Ado-
lescente (atual Atitude Jovem), destinado a jovens de 15 a 18 anos, desen-
volvido em alguns Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) – com
aulas de canto, iniciação musical, dança etc., com um viés de ocupação do
tempo livre dos jovens.
Em relação ao acesso e à ocupação de vagas nos projetos e programas
disponibilizados pelo Governo Federal, destacou-se que há necessidade de
investimentos na divulgação dos programas e na confecção de materiais e
ações de mobilização dos jovens, nas diferentes localidades nos municípios.
Como ações estratégicas dos organismos de juventude, encontram-se a busca
e o estabelecimento de parcerias que promovam o primeiro emprego e a qua-
lificação profissional.
Entre os organismos de juventude, a institucionalização de canais de diálogo
para os jovens nos municípios é tarefa a ser feita, conforme se depreende das
entrevistas realizadas. Em consonância com as orientações da Secretaria Nacio-
nal de Juventude, os municípios estão em tempos diferenciados no processo de
promoção de conferências e da constituição de conselhos de juventudes.
A proposta do Juventude em Ação, em Mesquita, é levar o conjunto de
pacotes de programas e projetos, por meio de parcerias internas – Pronatec
e ProJovem. Segundo seus idealizadores, “[...] nossa ideia é estar levando essa
jornada para os quatro cantos da cidade, especialmente as regiões mais peri-
féricas, como, por exemplo, o Campo do Perim, a Vila Norma, áreas em que o
confronto é direto. [...] é ali que a gente tem que fazer essa disputa!”.
Outro exemplo citado foi a ação Comunidade Melhor, em Belford Roxo,
em conjunto com a Superintendência de Assuntos Religiosos, de Juventude e
de Igualdade Racial, assim definida para um dos entrevistados: “[...] ela nasceu
dessa interação. Surgiu dessa necessidade nossa de agir dentro do território.
Porque não adianta a gente querer ocupar um equipamento público, como esse
aqui, e esperar que os jovens venham até nós. Eu entendi o seguinte, que não dá
para fazer isso. Tem que ir até as pessoas. [...] a intenção é modificar o território
com a transversalização de políticas. A gente trabalha com parcerias”.
Relacionada como êxito pela coordenadoria, destaca-se, ainda, a
EcoNilópolis (agosto de 2012), ação integrada com a Secretaria de Meio
Ambiente visando à conscientização dos jovens para a conservação pública
e a preservação ambiental.
Na opinião de um entrevistado, a atividade “[...] foi legal pra caramba!
Nós pegamos os jovens da rede pública estadual, municipal e particular. Nós
fizemos uma grande gincana [...], pegamos várias escolas, montamos um pro-
grama das tarefas que eles teriam que fazer e colocamos lá – garrafa PET, tan-
tos pontos, latinha – e tudo que se arrecadou, que foi mais de três toneladas,
antes foi preparado com os alunos. Eles estavam preparados”.
A experiência como gestores públicos parece apontar novas necessidades
para a realização de iniciativas que atinjam os jovens de modo mais amplo.
Para isso, dados e demais diagnósticos sobre a situação da juventude, na
opinião dos gestores, precisam ser sistematizados. Um deles destacou como
importante a realização de um Censo da Juventude da Baixada Fluminense,
que indicasse o que pensam, quantos são, o que querem.
Outra percepção diz respeito à testagem de novos formatos de ativida-
des elaboradas e produzidas por jovens. Reconhecem, em alguns momentos,
haver resistência quanto aos modelos inovadores na construção das iniciati-
vas destinadas aos jovens em seus municípios.
Ao mesmo tempo, sublinham a necessidade de construir ações pontuais e,
gradativamente, institucionalizar projetos e políticas, mantendo regularidade
na execução, tendo em vista os altos números de mortalidade e situações de
vulnerabilidade entre os jovens, especialmente entre os negros.
Sobretudo, parecem compartilhar a noção de que o foco das iniciativas deve
englobar a promoção de serviços e oportunidades que contemplem e estabele-
çam canais de diálogo entre os distintos grupos de jovens – evangélicos, cató-
licos, hip hop, rock, negros, mulheres, skatistas, LGBTs etc. –, para apreensão da
vivência cotidiana da pluralidade de vozes, gostos, estilos e demandas.
8786
Ainda que inscritas em um complexo sistema de símbolos e conhe-
cimentos, as experiências vivenciadas nos criativos espaços de intervenção
social proporcionam aos que delas participam a oportunidade de ressignificar
pertencimentos, trajetórias e projetos para si e suas coletividades.
Garantias de estrutura mínima para a produção de suas atividades são
objeto da reivindicação de inúmeros sujeitos ao longo dessas décadas de
intensa produção cultural na Baixada Fluminense, bem como ações e iniciati-
vas que promovam maior visibilidade para a cultura da região, promotoras de
reelaborações identitárias pelos jovens.
Identifica-se, na articulação entre o projeto Brasil Próximo e o Fórum de
Gestores de Cultura da Baixada, a potencialidade de construção de um canal
de comunicação ampliado para a sistematização de um conjunto cada vez
mais diversificado de informações sobre o cenário cultural do município, de
modo a materializá-las em políticas públicas para a região. Políticas que dia-
loguem com a realidade, necessidades e interesses dos cidadãos.
Principais Eixos Temáticos levantados na pesquisa para metas e planos de ação:
• Positivação Territorial: ações que valorizem o território e alterem a quali-
dade de vida dos moradores, com oferta de serviços, lazer e oportunidades cultu-
rais, por meio da multiplicação dos equipamentos culturais; incentivo à produção
cultural dos grupos criativos; maior divulgação das ações para o público interno
e externo à região; implementação de ações e políticas culturais que levem em
consideração a variedade de demandas e necessidades da população; criação de
circuitos de memória com as múltiplas narrativas presentes na região;
• Políticas Intersetoriais: ações intersetoriais que adotem perspectiva
interseccional, compreendendo os jovens em seus aspectos multidimensio-
nais. Iniciativas que estimulem percepções, valorizem, fomentem e criem as
possibilidades e despertem o interesse pela cultura produzida no território;
incentivo a programas governamentais de estímulo à ampliação do horário
escolar e oferta de atividades culturais;
SÍNTESES...
8988
• Comunicação, Participação e Integração com as Políticas de Juventude:
promoção de ações que aproximem os jovens dos órgãos de cultura e de
juventude municipais; incentivo à realização de conferências e constituição
de fóruns e conselhos de juventude, para conhecimento dos projetos disponí-
veis e participação ativa na proposição de políticas aos jovens da região;
• Continuidade e Sustentabilidade dos Grupos: iniciativas e projetos que
viabilizem a profissionalização, formação, reciclagem ou aperfeiçoamento
dos membros dos grupos, em especial os jovens, para que consolidem suas
atuações, garantam continuidade e possam especializar-se com planos de
atuação profissional de retorno aos próprios grupos; criação de novos meca-
nismos de divulgação que garantam a visibilidade das atividades culturais
desenvolvidas pelos grupos criativos; políticas públicas de fomento e finan-
ciamento permanente de cultura que visem à promoção das produções cultu-
rais da região; criação de equipamentos culturais que atendam às demandas
populacionais dos municípios; criação de conselhos municipais de cultura.
O projeto do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense foi
realizado com o objetivo de contribuir para a construção de políticas públicas
de cultura na Baixada Fluminense. A participação dos jovens na reflexão e
na formulação de metas e planos de ação que expressem seus interesses é
fundamental nesse sentido. Para que essas e muitas outras trocas aconteçam,
o projeto deixa como legado a criação de uma Plataforma Colaborativa, inti-
tulada Desenrolo – A Revista de Cultura e Juventude da Baixada Fluminense,
mídia de articulação e comunicação contínua entre grupos criativos, gestores
públicos e demais interessados, com ênfase na cultura e juventude.
O site Revista Desenrolo, composto por matérias que expõem as atividades
culturais e conteúdos que convidam os leitores a conhecer o universo da juven-
tude em questão, é altamente identitário. Essa revista online objetiva divulgar
os grupos criativos e estimular, em um processo contínuo, o protagonismo juve-
nil no cenário cultural da Baixada, ação que os impulsiona a fortalecer as redes
socioculturais de sua localidade e dar novos sentidos à sua realidade.
Página inicial do site www.desenrolo.net
9190
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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92
grupo soul em rua
andrade e a torre
banda Karamujos
banda tesouro do céu
charanga do caneco
cineclube donana
coletivo pó de poesia
bordados de preta (artesanato)
centro cultural donana
mofaia música e cultura (coletivo de produção cultural)
bios crew
grupo Elementos
grupo Enigma (equipe de estudos)
grupo mx
Hip Hop urbanos bf
mundo Jovem por uma cultura de paz
mof – meeting of favela
pevirguladez
teatro municipal armando mello (tEmam)
cineclube mate com angu
macaco chinês
biblioteca comunitária solano trindade
capa comics – Quadrinhos
bloco do china
bloco império do gramacho
bloco simpatia do Jardim primavera
g.r.b.c. Esperança de nova campina
g.r.b.c. unidos da laureano
g.r.b.c. flor de primavera
g.r.b.c. unidos de parada angélica
folia de reis – Estrela do oriente de santa cruz da serra
folia de reis Estrela dalva do oriente
folia de reis Estrela guia do oriente do gramacho
reisado flor do oriente – federação de reisado do Estado do rio de Janeiro (frerja)
capEm – centro aplicado de pesquisa em Educação multi-étnica
casa brasil imbariê – centro cultural
casa do caminho
centro cultural casa de pedra
festival rock pense
Jovens com uma missão – ong
lira de ouro
mof (meeting of favela) grafites – Evento
ponto de cultura Estações da cultura
terreiro de ideias
ponto de cultura guapimirim em foco
grêmio recreativo musical guapiense
associação cultural nascente pequena
ponto de cultura guapimirim em foco
flutuarte
associação cultural onda verde – tv Escola
acadêmicos do bananal
acadêmicos do beira rio
acadêmicos do limoeiro
caneca de ouro
catedráticos de citrolândia
coração da Quinta
g.r.b.c. mocidade alegre de citrolândia
g.r.b.c. unidos da reta
gaviões da iconha
mensageiros da paz
piranhas do barril
piranhas do pssiu
unidos da barreira
unidos da vila olímpia
associação de folia de reis Estrela do oriente de guapimirim
associação cultural nascente pequena
associação guipiense de integração renovadora
ponto de cultura guapimirim em foco
tecnoarte – instituto cultural tecnologia e arte
i.b. itaguaí b-boys rafael
instituto de dança de itaguaí
assembleia de deus chaperó-coral
Escola de música chiquinha gonzaga rua
grupo teatral mgt
turma em cena adriano
abada capoeira cristiano
casa África – instituto global da sociedade africana no brasil
Ela – Escola livre de artes
casa África – instituto global da sociedade africana no brasil
grupo folclórico Quadrilha raio de luar
instituto beneficente cidadão feliz
plantando o futuro
projeto garoto cidadão – fundação csn
Duque De CaxiasBelforD roxo Guapimirim itaGuaí
Quem são os Grupos Criativos da Baixada Fluminense?
centro cultural Eng. pedreira – cia. de dança
cia. sonho e magia
banda mohaulle
projeto curumim (orfanato musical)
grupo de teatro do bonfim (Eng. pedreira)
grupo sócio cultural código
grupo código – cineclube
centro cultural (Eng. pedreira)
g.r.b.c. tradição de Japeri
centro cultural Eng. pedreira – capoeira
antonio marcos (artista plástico)
centro de cultura luís Eduardo maron de magalhães
mestre irani fernades (capoeira)
renascer andino (grupo popular de tradição boliviano)
m.c. studios: a2 em performance
dna2 cia. de dança
dJ andrezinho
grêmio musical mageense
butantã
capop
comendador
g.r.E.s. flor de magé
guia de pacobaíba
parque imperador
união da guarani
união do canal
unidos da barbuda
unidos do mundo novo
vila nova
ponto de cultura Zé mussum de cultura popular
gW cia. de performance
Espaço de dança bfv
força in dance
projeto artístico força em dança
projeto libertare
the face
rádio amadores
misternaka
banda alex Kid
banda dias Úteis
banda layout 80
Encontro de b-boy – Evento
grupo bocas & boas
rock no bf
setor bf – Hip Hop
viaduto do rock
grupo cultural cochicho na coxia
namarra produções
basílio / basílio – o retorno
canal rebobina
alam – academia de letras e artes de mesquita
ong mundo novo – projeto brincando de ler
g.r.b.c. barreirense de mesquita
g.r.b.c. Homem tapete da vila Emil
g.r.E.s. chatuba de mesquita
abadá capoeira (núcleo mesquita)
folia de reis sempre viva do oriente
folia de reis sete Estrelas do rosário de maria
rock no bf – Evento
artes plásticas noeli rocha
Encontro de b-boy – Evento
ong mundo novo – coletivo coca-cola
viaduto do rock – Evento
oficina de dança popular pitty rocha
orquestra superpopular
monsenhor
comunidade Evangélica de nilópolis
Entre aspas
raízes que tocam
samba rap
universo paralelo
coletivo peneira
cia. Ágape de artes
cia. os Encenadores teatrais
coletivo casa2fundos
grupo surgiu na Hora
cineclube toca da coruja
cineclube ankito
instituto sos reviver (teatro, arte circense, artes visuais)
usina de criação os apalhaxonados (diversas linguagens de produção cultural e economia criativa)
Espaço paralelo
Japeri NilópolismaGé mesquita
teatroDança musical atividadeCircense
audiovisual(cineclube, cinema, vídeo)
literário Carnavalescomanifestaçãopopulartradicional
outros(eventos/coletivos/produtoras culturais/ongs/centros culturais/espaços culturais)
Grupos entrevistados
setores
rElação dos grupos criativos mapEados E EntrEvistados (municÍpios x sEtorEs)
* fotos do evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/brasil próximo.
Anexos ANEXO I - Relação dos Grupos Criativos Mapeados e Entrevistados (Municípios x Setores)
94
academia de dança luciana bessa
Escola de dança de nova iguaçu
grupo novos passos
grupo ruart
laboratório cultural
maracatu baque da mata
associação cultural bel’art rio
associação dos amigos da Escola de música de comendador soares
bala solta
cfm – Escola de música 2669-1089
curso de música tokai
Entre aspas
genômades
pirão discos
associação fábrica de atores e material artístico – f.a.m.a.
casa do menor são miguel arcanjo
centro de integração social amigos de nova Era
cEta – centro Experimental de teatro e artes
cia. Encena movimentos Enraizados
grupo de teatro aplEm – associação de pastores e líderes Evangélicos mundiais
grupo rEnac – renascer artes cênicas
casa do menor são miguel arcanjo
cEta – centro Experimental de teatro e artes
av. brasil instituto de criatividade social
cineclube buraco do getúlio
cineclube digital
comcausa – comunicando
Eduqvida – programa de Educação e Qualidade de vida
Escola livre de cinema de nova iguaçu
laboratório cítrico
comunidade assistencial chico mendes
movimento baixada literária
g.r.E.s. arrastão de miguel couto
g.r.E.s. Esperança do amanhã
g.r.E.s. imperial de nova iguaçu romildo
g.r.E.s. império da uva
g.r.E.s. império de cabuçu
g.r.E.s. leão de nova iguaçu
g.r.E.s. lndependente de nova américa
g.r.E.s. tupi
centro de integração social inzo ia nzambi (ciZin) – afoxé maxambomba
associação abadá capoeira de nova lguaçu
centro de integração arte capoeira (ciac)
cordel com a corda toda
federação capoeira rio das cobras
grupo iguassuano de acessibilidade (gia)
instituto de desenvolvimento cultural (indEc)
instituto de pesquisa afro cultural odé gbomi
centro de integração social amigos de nova Era
Espaço cultural casa de anyê
aamEm.com – associação dos amigos da Escola de música comunitária de comendador soares
casa da cidadania – pronasci – secretaria Estadual de assistência social
conexão modelos
Emaús fraternidade e solidariedade
Encontrarte – festival de teatro
laboratório cítrico – núcleo de artes e atividades
movimento Enraizados
projeto cultural canto do curió
origami amassado
cia. faces produções
cia. faces produções
boomerangs moto clube
art show
as impecáveis / as prepotentes
Espaço de dança roseli ramos
associação de bandas e fanfarras do Estado do rio de Janeiro (aabafErJ)
batidas & rimas
coral ccaa
fire music
fita crepe
rádio novos rumos
companhia teatral Queimados Encena
grupo teatral atitude
grupo teatral florescer a.f.
associação circo social baixada
Espaço cultural Queimados Encena
Espaço cultural Queimados Encena
associação desportiva e cultural brasileira de capoeiragem
Eterno Enigma
tarântulas moto clube
paraCamBi queimaDosNova iGuaçu
Quem são os Grupos Criativos da Baixada Fluminense?
cia. de dança ney andrade
cia. Zouk meriti
duda break
grupo arte carioca
grupo de dança orlandokids – Escola municipal orlando francisco
grupo folclórico de danças caipiras chega mais
grupo Kids company
grupo two c
Kairós
mb dance
meriti urbano
a bússola
amc da baixada fluminense – associação do movimento de compositores
coral Emcanto
coral nossa senhora aparecida
coral nossa senhora da glória
coral nova aliança
coro arte cânora
coro madrigal nova Harmonia
coro municipal de são João de meriti
Escola municipal de música de são João de meriti
gente Estranha no Jardim
grupo autonomia – batalha de rimas
impulso coletivo
Jackballa’s
mundana
orquestra e coral municipal de são João de meriti
Quebrando protocolo
rota Espiral
tempos de vinil
cia. cenáculo teatral – teatro cristão
cia. cerne
cia. de Jovens griôt’s da baixada
cia. teatral arte objetiva
cia. tudo vira cena
grupo caras e bocas
grupo de teatro amor e arte
legionários da arte
oficina de teatro vanda moraes
circo Escola benjamin de oliveira – projeto tEpir
cinema de guerrilha
coletivo grito do silêncio
academia de letras e artes de são João de meriti
biblioteca nossa casa
g.r.b.c. cirrose do vilar
alegria do botânico
bloco alegria do vilar
bloco chega mais
bloco da abelhinha
bloco da associação carnavalesca meritiense
bloco das piranhas
bloco de Embalo À sombra da amendoeira
bloco de Embalo raiz da vila são José
bloco do mestiço
bloco dos xavantes
bloco sindicato do boi
g.r.b.c. acEmpa
g.r.b.c. alegria da Índia
g.r.b.c. boca de sabão
g.r.b.c. independente da praça da bandeira
g.r.b.c. inocentes do guarany
g.r.b.c. morro de fome, mas não trabalho
g.r.b.c. turma do serrote
g.r.b.c. vem que vem
g.r.E.s. matriz de são João de meriti
os bebum da clemente
Escola de capoeira manduca da praia
feira de artesanato
folia de reis Estrela do oriente deus é nosso guia
fundação capoeira
grupo folclórico gonzagão do pavilhão
instituto Zumbi vive
ilê omulú e oxum – ong
casa da cultura
centro cultural nossa casa
instituto amarelo – ong
Jardim dos Estranhos – Evento
madrigal nova Harmonia – ong
nossa galeria de artes
ong assistencial mão amiga lutando pela vida
projeto brincando com o abelhinha
projeto Kbeçativa
cia. municipal de dança
grupo freedom dance
mc badu
paralelo trio
banda marcial municipal de seropédica – famusE
orquestra sinfônica opus
teatro gustavo dutra br
cine casulo
feira de artesanato
Quadrilha folclórica flor do lírio
almoço com arte e cultura no Erva doce
cac – centro de arte e cultura da ufrrJ
centro de memória da ufrrJ
seropéDiCasão João De meriti
teatroDança musical atividadeCircense
audiovisual(cineclube, cinema, vídeo)
literário Carnavalescomanifestaçãopopulartradicional
outros(eventos/coletivos/produtoras culturais/ongs/centros culturais/espaços culturais)
Grupos entrevistados
setores
* fotos do evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/brasil próximo.
rElação dos grupos criativos mapEados E EntrEvistados (municÍpios x sEtorEs)
9796
Belford RoxoAndrade e a Torre - MusicalBanda Tesouro do Céu - MusicalCentro Cultural Donana - Centro CulturalCharanga do Caneco - MusicalColetivo Pó de Poesia - LiterárioMofaia Música e Cultura (Coletivo de Produção Cultural) -
Produção Cultural
Duque de CaxiasBiblioteca Comunitária Solano Trindade - Literário Bios Crew - DançaCasa Brasil Imbarié - Centro CulturalG.R.B.C. Esperança de Nova Campina - CarnavalescoG.R.B.C. Unidos da laureano - CarnavalescoG.R.B.C. Unidos de Parada Angélica - CarnavalescoGrupo Enigma (equipe de estudos) - DançaHip Hop Urbanos BF - DançaJovens com uma Missão - ONGMacaco Chinês - CineclubeMundo Jovem por uma Cultura de Paz - Dança Pevirguladez - MusicalReisado Flor do Oriente – Federação de Reisado do Estado do
Rio de Janeiro (Frerja) - Manifestação Popular TradicionalTeatro Municipal Armando Mello - Teatro
MesquitaAbadá Capoeira (Núcleo Mesquita) - CapoeiraArtes Plásticas Noeli Rocha - Artes Visuais Banda Dias Úteis - MusicalBanda layout 80 - MusicalBasílio / Basílio – O Retorno - AudiovisualCanal Rebobina - AudiovisualFolia de Reis Sete Estrelas do Rosário de Maria - Manifestação
Popular TradicionalG.R.E.S. Chatuba de Mesquita - CarnavalescoGrupo Cultural Cochicho na Coxia - TeatroGW Cia. de Performance - DançaONG Mundo Novo – Projeto Brincando de ler - LiterárioRock no BF - MusicalSetor BF – Hip Hop - MusicalViaduto do Rock - Musical
Nilópolis Cia. Ágape de Artes - TeatroCineclube Ankito - AudiovisualEntre Aspas - MusicalGrupo Surgiu na Hora - TeatroInstituto SOS Reviver - ONGOficina de Dança Popular Pitty Rocha - Dança Samba Rap - MusicalUniverso Paralelo - Musical
Nova IguaçuAcademia de Dança luciana Bessa - Dança Associação Abadá Capoeira de Nova lguaçu - Manifestação
Popular Tradicional Centro de Integração Social Inzo Ia Nzambi (CIZIN) – Afoxé
Maxambomba - ONG COMCAUSA – Comunicando - Audiovisual Escola de Dança de Nova Iguaçu - DançaEscola livre de Cinema de Nova Iguaçu - AudiovisualG.R.E.S. Império do Cabuçu - CarnavalescoG.R.E.S. leão de Nova Iguaçu - CarnavalescoGrupo de Teatro APlEM – Associação de Pastores e líderes
Evangélicos Mundiais - TeatroGrupo RENAC – Renascer Artes Cênicas - Teatrolaboratório Cultural - DançaMaracatu Baque da Mata - DançaMovimento Enraizados - ONGPirão Discos - Musical
Paracambi Cia. Faces Produções - TeatroOrigami Amassado - Musical
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de MeritiSeropédica
ANEXO II - Relação dos Grupos Criativos Entrevistados nos Municípios
GuapimirimAssociação Cultural Nascente Pequena - Centro CulturalAssociação Cultural Onda Verde – TV Escola - Audiovisual Associação de Folia de Reis Estrela do Oriente de Guapimirim -
Manifestação Popular TradicionalFlutuarte - Atividade CircenseG.R.B.C. Mocidade Alegre de Citrolândia - CarnavalescoG.R.B.C. Unidos da Reta - CarnavalescoGrêmio Recreativo Musical Guapiense - MusicalTecnoArte – Instituto Cultural Tecnologia e Arte - ONG
Itaguaí Casa África – Instituto Global da Sociedade Africana no Brasil - ONG
Japeri Centro de Cultura luís Eduardo Maron de Magalhães - Centro CulturalGrupo de Teatro do Bonfim (Eng. Pedreira) - TeatroGrupo Sócio Cultural Código - TeatroProjeto Curumim (orfanato musical) - Musical
MagéG.R.E.S. Flor de Magé - CarnavalescoGrêmio Musical Mageense - MusicalM.C. Studios: A2 em Performance - Dança Ponto de Cultura Zé Mussum de Cultura Popular - Centro Cultural
QueimadosAs Impecáveis / As Prepotentes - Dança Associação Circo Social Baixada - Atividade CircenseAssociação Desportiva e Cultural Brasileira de Capoeiragem -
Manifestação Popular TradicionalCompanhia Teatral Queimados Encena - TeatroFire Music - MusicalRádio Novos Rumos - Musical
São João de MeritiAcademia de letras e Artes de São João de Meriti - LiterárioAMC da Baixada Fluminense – Associação do Movimento de
Compositores - Musical Bloco das Piranhas - CarnavalescoBloco de Embalo À Sombra da Amendoeira - Carnavalesco Bloco de Embalo Raiz da Vila São José - CarnavalescoBloco do Mestiço - CarnavalescoCentro Cultural Nossa Casa - ONGCia. Cerne - TeatroCia. de Dança Ney Andrade - DançaCia. Tudo Vira Cena - TeatroCia. Zouk Meriti - DançaCinema de Guerrilha - Audiovisual Escola Municipal de Música de São João de Meriti - Musical Folia de Reis Estrela do Oriente Deus é nosso Guia -
Manifestação Popular TradicionalFundação Capoeira - Manifestação Popular TradicionalG.R.B.C. Boca de Sabão - CarnavalescoG.R.B.C. Independente da Praça da Bandeira - CarnavalescoG.R.B.C. Inocentes do Guarany - Carnavalesco G.R.B.C. Morro de Fome, Mas Não Trabalho - CarnavalescoG.R.E.S. Matriz de São João de Meriti - Carnavalesco Gente Estranha no Jardim - MusicalGrupo de Dança Orlandokids – Escola Municipal Orlando
Francisco - Dança Grupo Folclórico de Danças Caipiras Chega Mais - DançaGrupo Two C - DançaIlê Omulú e Oxum - ONG Instituto Amarelo - ONGInstituto Zumbi Vive - Manifestação Popular TradicionalMadrigal Nova Harmonia - ONGOficina de Teatro Vanda Moraes - TeatroONG Assistencial Mão Amiga lutando pela Vida - ONG Orquestra e Coral Municipal de São João de Meriti - Musical Projeto Brincando com o Abelhinha - ONGRota Espiral - Musical
SeropédicaCAC – Centro de Arte e Cultura da UFRRJ - Centro Cultural
9998
Municípios Setores
Dança Musical Teatro Atividade CircenseAudiovisual
(cineclube, cinema, vídeo)
literário CarnavalescoManifestação
Popular TradicionalOutros
Total por Município Mapeado
Total por Município Entrevistado
BElFORD ROXO 1 4 1 1 1 2 10 6
DUQUE DE CAXIAS 6 2 1 2 2 7 4 10 34 14
GUAPIMIRIM 1 1 2 1 1 14 1 4 25 8
ITAGUAÍ 2 2 2 2 6 14 1
JAPERI 2 2 2 1 1 1 1 4 14 4
MAGÉ 1 2 11 1 15 4
MESQUITA 6 10 1 3 2 3 3 5 33 14
NIlÓPOlIS 1 7 5 2 3 18 8
NOVA IGUAÇU 6 8 7 2 7 2 8 8 9 57 14
PARACAMBI 1 1 1 1 1 5 2
QUEIMADOS 3 6 3 1 1 1 1 2 18 6
SÃO JOÃO DE MERITI
11 19 9 1 1 3 22 6 10 82 33
SEROPÉDICA 2 4 1 1 2 3 13 1
TOTAl POR SETOR 43 68 34 5 21 12 66 29 60Total Geral -
MapeadoTotal Geral - Entrevistado
338 115
GRUPOS ENTREVISTADOS - Setores
17 24 2 8 4 18 10 19 115
ANEXO III - Quantitativo dos Grupos Mapeados e Entrevistados por Municípios e Setores
Fotos: Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo
Fotos: Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo
Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR
elatório Final Rio de Janeiro – 2015
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de Meriti
Seropédica
Realização
MAPEAMENTOGRUPOS
CRIATIVOS
FLUMINENSEBAIXADA
dos
da
Relatório FinalRio de Janeiro – 2015
Créditos Institucionais - Equipe Mapeamento
Equipe de Coordenação Brasil Próximo Cesar Marques - Coordenador Se Essa Rua Fosse Minha (SER) Itamar Silva - Coordenador Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) Vittorio Chimienti - Coordenador Comitê Internacional para o Desenvolvimento dos Povos / Comitato Internazionale per lo Sviluppo dei Popoli (CISP-Brasil)
Coordenadora Técnica – Mapeamento e Elaboração do Relatório Mônica Sacramento
Consultor para Tratamento dos Dados – Análise e Tabulação dos Dados André Luiz Regis de Oliveira
Mobilizadores e Pesquisadores Ivan Machado e Lino Rocca (integraram a equipe até dezembro de 2013), Leandro Oliveira de Santanna e Marcos Paulo da Silva
Secretária e Pesquisadora Jorginete Costa da Silva
Operadores e Pesquisadores Alan Lima Alves, Carolina Bittencourt Mendonça, Janaína Oliveira (ReFem), Jeniffer Ferreira de Lemos Silva, Letícia Aparecida de Morais Inácio, Pâmela de Paula da Silva, Priscilla da Silveira Campos de Oliveira, Sílvia Cristina Machado Oliveira e Sueny Santos Nogueira
Ficha Técnica Publicação
Coordenação Editorial Isabel Cristina Alencar de Azevedo, Cesar Marques e Itamar Silva
Produção Editorial Isabel Cristina Alencar de Azevedo, Simone Martins, Sílvia Cristina Machado Oliveira, Aline Rochedo e Delmar Cavalcante
Projeto Gráfico e Diagramação Disarme Grafico - Bruno Ventura e Daniel Ventura
Preparação de Originais e Textos Aline Rochedo, Silvia Cristina Machado e Rogério Jordão
Revisão Simone Martins
Fotos Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo: Danilo Sérgio (p. 63, 66, 67 e 75) e Felipe Reis Baixada Fluminense: Igor Freitas (p. 2, 6, 15, 83 e 91)
Sites Coordenação Brasil Próximo
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) www.ibase.br
Se Essa Rua Fosse Minha (SER) www.seessarua.org.br
Comitê Internacional para o Desenvolvimento dos Povos / Comitato Internazionale per lo Sviluppo dei Popoli (CISP) www.developmentofpeoples.org
Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR
elatório Final Rio de Janeiro – 2015
Belford Roxo
Duque de Caxias
Guapimirim
Itaguaí
Japeri
Magé
Mesquita
Nilópolis
Nova Iguaçu
Paracambi
Queimados
São João de Meriti
Seropédica
Realização
MAPEAMENTOGRUPOS
CRIATIVOS
FLUMINENSEBAIXADA
dos
da
Relatório FinalRio de Janeiro – 2015