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MAPEAMENTO GRUPOS CRIATIVOS FLUMINENSE BAIXADA dos da Relatório Final Rio de Janeiro – 2015

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Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR

elatório Final Rio de Janeiro – 2015

Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

Magé

Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de Meriti

Seropédica

Realização

MAPEAMENTOGRUPOS

CRIATIVOS

FLUMINENSEBAIXADA

dos

da

Relatório FinalRio de Janeiro – 2015

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MAPEAMENTOGRUPOS

CRIATIVOS

FLUMINENSEBAIXADA

dos

da

Relatório FinalRio de Janeiro – 2015

Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR

elatório Final Rio de Janeiro – 2015

Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

Magé

Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de Meriti

Seropédica

Realização

MAPEAMENTOGRUPOS

CRIATIVOS

FLUMINENSEBAIXADA

dos

da

Relatório FinalRio de Janeiro – 2015

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Realização

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Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

Magé

Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de Meriti

Seropédica

Rio de Janeiro

Petrópolis

Paty do Alferes

Miguel PereiraEng. Paulo de Frontim

Niterói

São Gonçalo

B A Í A D E G U A N A B A R A

B A Í A D E S E P E T I B A

Maricá

Itaboraí

Cachoeiras de Macacu

Teresópolis

Vassouras

Mendes

Piraí

Barra do Piraí

Rio Claro

Mangaratiba

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Apresentação

Projeto Brasil Próximo – Estação Baixada: pontos de partida

Trilhas teóricas e metodológicasNas tramas da Baixada... Identidades e territórios na narrativa de jovens

de ontem e hoje

Conhecendo os grupos criativos Resumo do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense

Uma forma de ouvir os grupos...

Estrutura e funcionamento dos grupos criativos

Acervos e memória: o que lembrar?

Modos de comunicar...

Redes e ação coletiva

Pautas políticas...

Um olhar sobre as políticas destinadas aos jovens da Baixada Fluminense

Sínteses...

Referências bibliográficas

Anexos

08

11

1728

4545

46

54

61

63

72

73

77

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92

SUMÁRIO

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APRESENTAÇÃO

É com alegria que entregamos ao leitor o Mapeamento dos

Grupos Criativos da Baixada Fluminense, resultado de pesquisa com mais de

uma centena de grupos que possuem engajamento na proposição e produção

cultural nos municípios da Baixada, do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de

um amplo levantamento, feito entre maio de 2013 e maio 2014, sobre o perfil

desses grupos (integrados, sobretudo, mas não apenas, por jovens), suas ati-

vidades, histórias, necessidades e demandas. Esse trabalho foi realizado por

operadores culturais da própria região, envolvendo, também, entrevistas com

gestores públicos municipais ligados à cultura, buscando estabelecer possi-

bilidades de diálogo entre a vivência dos grupos e as instituições capazes,

potencialmente, de lhes dar suporte e apoio.

Este Mapeamento integra o Programa Brasil Próximo, uma parceria entre

o Governo Federal do Brasil, com as regiões italianas da Úmbria, Marche,

Toscana, Emilia Romagna e Ligúria. Trata-se de um programa de coopera-

ção internacional que visa aproximar, cada vez mais, ambos os países, sendo

resultado de uma série de importantes atividades que tais regiões têm feito

no Brasil, nos últimos anos. O Programa tem como objetivo principal construir

uma rede de políticas públicas, oportunidades e intervenções para acompa-

nhar os processos internos de desenvolvimento local integrado, solidário e

sustentável. Realizado em diferentes regiões brasileiras, responde a deman-

das e especificidades locais, cabendo a cada uma das cinco regiões italianas a

tarefa de coordenar as atividades nos territórios pactuados, a partir das espe-

cificidades e do acúmulo técnico de cada uma.

A Baixada Fluminense foi escolhida para integrar o Programa Brasil Pró-

ximo, por apresentar o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da

Região Metropolitana do Rio de Janeiro, além de ser uma região cuja ambi-

ência política possibilita a experimentação de novas abordagens no setor das

políticas sociais, a partir das necessidades e dos recursos reais do território.

Outro elemento definidor dessa escolha foi o fato de a Baixada abrigar um

expressivo contingente de jovens: são 1,5 milhões, entre 15 e 29 anos de idade,

para uma população total de 4,5 milhões.

Partiu-se, também, da constatação de que, embora a Baixada esteja cons-

truindo uma trajetória de desenvolvimento econômico, as mudanças não foram

suficientes para reverter o quadro de desigualdades presentes. Definiu-se,

assim, como objetivo para o Programa, apoiar processos de democracia par-

ticipativa na região. Isso inclui identificar e estimular articulações de políticas

sociais promotoras de metodologias capazes de promover a participação de

todos os setores que atuam no território, com prioridade para as políticas de

juventude. Como resultado, foi realizado um conjunto de atividades com foco

em políticas públicas sociais participativas, de cultura e protagonismo juvenil.

Esta publicação tem múltiplos objetivos: dar visibilidade às expressões

culturais da Baixada Fluminense, em todas as suas manifestações e forma-

tos criativos e organizativos; fornecer parâmetros para conhecer e analisar

o perfil dos grupos criativos atuantes no território; identificar redes de apoio

e parcerias para a reflexão política sobre a cena cultural juvenil; incentivar e

apoiar a criação e a difusão da cultura na região, por meio do fortalecimento

de espaços de interlocução entre artistas, produtores e organizações compro-

metidas com a cultura da Baixada Fluminense.

A proposta do trabalho procurou destacar e valorizar o caráter articula-

dor da juventude, na Baixada Fluminense. Isso foi significativo, já que, muitas

vezes, tais experiências, que nascem da esfera da cultura popular, são descon-

sideradas ou levadas em conta, por exemplo, pela mídia, apenas quando se

tornam mercadologicamente rentáveis. Assim, traçar um caminho de comu-

nicação colaborativa entre os grupos juvenis da Baixada foi uma forma, na

pesquisa, de se contrapor a percepções infundadas.

Sobre os grupos criativos pesquisados, procuramos responder a diferen-

tes perguntas: Quantos são? Onde estão? Quem são? Que estratégias tecem

para costurar relações culturais para mobilizar a juventude? Que culturas

produzem e consomem?

Esperamos que esta publicação ajude a responder, ou mesmo complexi-

ficar, esses questionamentos, uma vez que a entendemos como “mais um”

instrumento a contribuir para o fortalecimento da autonomia dos grupos cria-

tivos da Baixada Fluminense, na sua luta por direitos. Como observou uma

pesquisadora envolvida no mapeamento: “Quando os jovens estão engajados

na esfera cultural, produzem coisas lindas e participam ativamente da cons-

trução e do crescimento de seu espaço. Vivem intensamente o seu lugar e sua

história”. Com este trabalho, esperamos fortalecer o processo.

Boa leitura!

Coordenação Brasil Próximo

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Múltiplos são os sotaques da Baixada Fluminense. Nesse terri-

tório de intensa criação cultural, os “falares” de quase todas as regiões brasi-

leiras podem ser ouvidos no correr da vida de seus moradores. As narrativas,

tecidas nos cruzamentos de uma história de muitos e muitas, misturam espe-

rança, expressão artística, empenho, compromisso e, sobretudo, resistência.

Um vasto cenário – ainda não suficientemente explorado e conhecido

pelo conjunto mais amplo de seus moradores e demais habitantes do estado

do Rio de Janeiro – reúne artistas, grupos e instituições envolvidos em diver-

sos setores culturais, como teatro, dança, música, atividades circenses, foto-

grafia, audiovisual, literatura, turismo cultural, carnaval, culturas populares,

artes plásticas, entre outros.

Opondo-se à asfixia social, econômica, política e cultural que marca a

região, preservam e produzem diferentes expressões culturais e artísticas, em

uma contínua recriação de seus pertencimentos identitários e reinvenção de

dinâmicas organizativas e manutenção de suas atividades. Por meio delas,

imprimem em suas ações os valores, materiais e imateriais, que comparti-

lham, e propõem à região modos diversos e criativos de fundir criatividade,

arte, vida, poesia e cidadania.

A multiplicidade de manifestações culturais traduz-se neste Mapeamento

dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense, investigação realizada como

parte do conjunto de ações projetadas pelo programa Brasil Próximo na

região. Estabelecido com ênfase na criação de proximidades culturais e no

fortalecimento das redes existentes, o projeto teve como objetivo a constru-

ção de espaços de troca com gestores públicos da Baixada Fluminense, grupos

culturais e, sobretudo, jovens produtores culturais, para o aprimoramento da

reflexão sobre a formulação de políticas públicas. O programa busca delinear,

também, estratégias de ação para a região, pautadas no direito à cultura e no

recente reconhecimento do direito dos jovens e da regulação das diretrizes

nacionais das políticas de juventude por meio do Estatuto da Juventude (Lei

Federal n. 12.852/2013).

PROJETO BRASIL PRÓXIMO ESTAÇÃO BAIXADA: PONTOS DE PARTIDA

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BRASIL PRÓXIMO é um programa de cooperação internacional que visa aproximar

cada vez mais, no futuro, regiões italianas e brasileiras, e é resultado de uma série de

importantes atividades que as Regiões Umbria, Marche, Toscana, Emilia Romagna e

Ligúria têm feito no Brasil nos últimos anos, com o objetivo de construir, no decorrer

deste processo, uma rede de políticas, oportunidades e intervenções para acompanhar

os processos endógenos de desenvolvimento local integrado, solidário e sustentável.

O interesse da parte brasileira por estas Regiões italianas nasce da vontade de

aprender da sua experiência, baseada no planejamento territorial consensuado, na

diversificação produtiva e nos serviços destinados ao crescimento das PMEs [Pequenas

e Médias Empresas], no cooperativismo e outras formas associativas de produção, no

marketing territorial e na qualificação da oferta de bens e serviços regionais no âmbito

de projetos de qualidade total e de imagem de excelência territorial, na economia e na

cultura, e na valorização econômica dos recursos territoriais, num quadro de desenvol-

vimento sustentável. (Conferir <http://www.brasilproximo.com>)

Com o Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense, buscou-

se coletar informações e classificá-las, para, então, devolvê-las como subsídios

à reflexão e ao debate sobre a produção cultural na região, sobre os modelos

institucionalizados, os agenciamentos produzidos e suas repercussões.

No período de maio de 2013 a maio de 2014, por meio de instrumentos e

práticas metodológicas diversas, foi realizado um amplo levantamento de insti-

tuições, grupos, bem como a coleta de dados e escuta de vários sujeitos envol-

vidos com as atividades culturais e de juventude dos municípios. A equipe do

Brasil Próximo lançou-se, assim, ao desafio de sistematizar múltiplas informa-

ções sobre a cena cultural da Baixada Fluminense, buscando, também, estabe-

lecer as conexões e interfaces com as demandas contemporâneas mais amplas

das juventudes não apenas da Baixada, mas também do Brasil.

Nesses termos, definiram-se Grupos Criativos como aqueles que possuem

envolvimento na proposição e na produção cultural dos municípios da Baixada

Fluminense e que, lançando mão de práticas inovadoras, solidárias e colaborati-

vas, constroem/promovem espetáculos, iniciativas, ações e atividades geradoras

de pertencimentos, identificações, filiações e articulação econômica e política.

O mapeamento considerou 13 municípios como constitutivos da região: Bel-

ford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Niló-

polis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica.

Em busca dos distintos sotaques, expressões e movimentos culturais, a seleção

dos membros da equipe priorizou o convite a estudantes, artistas, gestores e ex-ges-

tores envolvidos com a produção cultural e criativa da Baixada. Com base em suas

indicações, delinearam-se critérios, rediscutiram-se instrumentos, elaboraram-se

objetivos e reorientaram-se metas e prazos, materializados no presente relatório.

Reunir tantas pessoas, com diferentes trajetórias, inserções e interesses,

é acreditar na potência das interseções e dos cruzamentos como um cami-

nho analítico possível que coloca diferentes narrativas em destaque, a ser-

viço da ampliação do entendimento das razões de cada um e dos grupos,

bem como sobre a estrutura dos conflitos e das negociações de significados

construídas ao longo de um processo histórico-social que envolve diversos

atores-sujeitos e temporalidades.

Frente a tantas negociações, muitos códigos, símbolos e significados ali-

nham-se, em disputa, nos espaços culturais, em contendas por visibilidade,

durabilidade, memória, reconhecimento e valorização. A cultura, como ensina

o antropólogo Gilberto Velho (1974), não é uma entidade acabada. Mantém-

se como linguagem permanentemente acionada e modificada por pessoas

que ocupam e desempenham papéis específicos, ao mesmo tempo em que

são possuidoras de experiências existenciais particulares.

Longe de ser homogênea em si mesma, a estrutura na qual se inscreve

representa a ação social dos sujeitos desigualmente situados no processo

social. Esse posicionamento requisitou a criação de uma sequência metodoló-

gica que se afastasse das abordagens e práticas de pesquisa que reafirmam a

objetificação dos sujeitos e a “neutralidade”, adotadas por algumas pesquisas

realizadas em bairros periféricos e/ou favelas ou, mesmo, empreendidas com

o objetivo de quantificar as ações culturais nos municípios.

Buscou-se, também, investir em lógicas mais respeitosas e solidárias,

entendendo as múltiplas identidades, em constante construção, como narrati-

vas em desenvolvimento e como parte e acúmulo da construção coletiva dos

movimentos populares e organizações da sociedade civil.

Em um processo de investigação que articulou memória, subjetividade, perten-

cimentos, reflexão sobre lógicas e sentidos da produção cultural realizada pelos

grupos culturais da Baixada Fluminense, sobretudo aqueles que contam com parti-

cipação ativa de jovens, reúnem-se, aqui, os conhecimentos acumulados na trajetó-

ria da pesquisa e as reflexões em torno dos formatos de ação encontrados.

Empreender um projeto de investigação coletivo pressupõe assumir, como

parte do processo, lacunas, conflitos, contradições, recursos, investimentos,

tempos, interesses e, sobretudo, experiências diferenciadas. A construção e

a apresentação das argumentações e o material extraído deles conformam

trilhas e itinerários percorridos por esse coletivo, em diálogo com o mosaico

de informações levantadas.

Trem sujo da Leopoldina, correndo, correndo... pra dizer:Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome... Piiiii... Estação de Caxias, de novo a dizer, de novo a correr Tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome... (Tem gente com fome, de Solano Trindade)

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Solano Trindade, poeta que dá nome a uma biblioteca comunitária no

município de Duque de Caxias1, no poema Tem gente com fome, chama aten-

ção para a “linha do trem”, malha viária sobre a qual, no entorno das estações,

organizam-se os municípios, suas culturas e realidades locais. Linha de trem

que amplia caminhos, que faz circular, ter acesso à cidade, que possibilita o

trânsito por diferentes ramais e realidades.

A diversidade de espaços e sujeitos e, sobretudo, das formas pelas quais se

expressam é tão grande quanto a articulação de esforços e estratégias criadas

para a disputa pelo reconhecimento, visibilidade e fortalecimento das expres-

sões culturais já existentes nos municípios. Das muitas conexões, consolida-

das e em andamento, inúmeras expressões artísticas, iniciativas e grupos,

florescem do riquíssimo patrimônio e das múltiplas formas de representar-se

e pertencer à Baixada Fluminense.

Grupos de Folia de Reis, capoeira, grafite, hip hop, circo, cineclubes, produ-

ção audiovisual, samba, forró, carnavalescos, assim como bandas de rock, com-

panhias de teatro, instituições religiosas, centros culturais, pontos de cultura,

entre outros, mobilizados em torno de distintas práticas culturais, oferecem, a

seus moradores – de diferentes idades e condições –, espaços de compartilha-

mento de suas capacidades criativas, acenando, com suas intervenções artísti-

cas e políticas, a possibilidade de transmutar AUSÊNCIA em POTÊNCIA!

Articulados em redes eventuais ou estáveis – em torno das expressões

artísticas e por municípios –, artistas, militantes, trabalhadores e consumido-

res envolvidos na cadeia produtiva dos grupos criativos conjugam o uso de

códigos e estratégias com o apoio em ações e serviços como metodologia

para garantir sua existência e a inserção nas agendas de governo e de suas

pautas políticas. São exemplos disso a realização do Fórum do Trabalho do

Músico na Baixada Fluminense, cuja primeira edição ocorreu em maio de

2014, e o Fórum Independente de Redes de Cultura de Nova Iguaçu, lançado

em julho daquele mesmo ano.

As experiências e informações apresentadas permitem entrever o vigor

com que se organizam, as lógicas e práticas com os quais operam e ressignifi-

cam seus pertencimentos, produzindo, por meio de suas expressões artísticas,

contranarrativas que dialogam com as múltiplas realidades que vivenciam.

Espera-se, com este mapeamento, ampliar a compreensão sobre a rea-

lidade dos grupos criativos da Baixada Fluminense – iniciativas e processos

criativos, sobre os agenciamentos produzidos e os modelos institucionaliza-

dos –, para melhor apreensão sobre as principais necessidades, expectativas,

demandas e interseções entre o campo da cultura e o mundo juvenil.

1 Conferir <http://bibliotecasolanotrindade.blogspot.com.br>.

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Para quem toma contato com este relatório, inicialmente, é pre-

ciso apontar algumas dimensões relevantes à compreensão de aspectos cen-

trais do projeto metodológico concebido para a realização do mapeamento.

A perspectiva de apoio à promoção dos processos de democracia parti-

cipativa assumida pelo projeto orientou a elaboração do desenho do mape-

amento, que priorizou uma abordagem intersetorial entre as políticas de

cultura e aquelas voltadas aos jovens, apostando em possíveis enlaces e

transversalidades temáticas.

A equipe do projeto, selecionada pela coordenação técnica, constituiu-se

de jovens e não jovens (mobilizadores e operadores), envolvidos com a pro-

dução cultural da região. Os mobilizadores eram profissionais de cultura com

reconhecida atuação na Baixada, articulados em coletivos, redes e espaços

de incidência em políticas públicas, que realizavam as ações de mobilização

e articulação com os grupos culturais, as instituições e os órgãos governamen-

tais. A equipe de operadores de pesquisa era composta por jovens atuantes

em grupos juvenis de cultura e estudantes de produção cultural, que realiza-

vam as ações de aplicação de formulários em campo, entrevistas, contatos

e produção dos eventos do Projeto Brasil Próximo/Baixada Fluminense - RJ.

Reuniram-se, no mesmo grupo de trabalho, diferentes visões e experiên-

cias – estudantes, artistas, ex-gestores, militantes da cultura, entre outros –,

convidando-os a participar de forma ativa em todo o processo e nas etapas

desenhadas para a realização do mapeamento.

Tal escolha metodológica tomou por base o reconhecimento de que o per-

tencimento à região, a vivência e a prática cotidiana desses agentes culturais

constituem-se em patrimônios culturais e sociais importantes para a recons-

tituição da memória, a identificação das narrativas em disputa, os enquadra-

mentos analíticos e, por fim, a elaboração de projetos sobre e para a região.

Imersos no desenrolar contemporâneo de uma luta discursiva em torno de

suas representações como moradores da Baixada, apostou-se em um processo

de investigação articulador de memórias, subjetividades e pertencimentos.

No período de maio a junho de 2013, foram realizados cinco grupos de

diálogo com a equipe, para a construção do projeto metodológico, delimi-

TRILHAS TEÓRICAS E METODOLÓGICAS

Page 11: Duque de Caxias Japeri Nilópolis dos GRUPOS CRIATIVOS …pt.arthurwilliamsantos.com/blog/wp-content/uploads/2016/01/... · No período de maio de 2013 a maio de 2014, por meio de

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tação dos objetivos, pactuação do cronograma e validação dos instrumen-

tos de pesquisa2. Nesses encontros, questões foram elencadas como parte

do conjunto de preocupações e interesses de pesquisa sobre a produção

cultural da região, as oportunidades e as expectativas de ações e políticas

voltadas aos jovens.

Considerando as várias etapas e os processos criativos desenvolvidos, bus-

cou-se agrupar os destaques elencados pela equipe do Brasil Próximo nos

grupos de diálogo, convertendo-os em pontos de orientação no itinerário de

pesquisa. As questões, bem como os processos de trabalho e o intercâmbio

participativo das experiências de campo, foram, posteriormente, aprofunda-

das em reuniões semanais de orientação, envolvendo a produção de “relató-

rios-síntese”, balanços do andamento da pesquisa, acordos e distribuição de

tarefas e responsabilidades.

A manutenção de encontros regulares entre os membros do grupo de tra-

balho possibilitou que os percursos da investigação fossem definidos, con-

siderando a realidade concreta e coparticipada pelos membros da equipe.

De modo abrangente, considerou-se o conjunto das operações de pesquisa

– elaboração do projeto de investigação, realização e conteúdo dos grupos

de diálogos, participação e observação dos eventos3, revisões no cronograma,

localização de contatos, experimentações – como os objetos visíveis e evolu-

tivos do grupo constituído para o trabalho no projeto Brasil Próximo.

Isso porque, acredita-se, a produção de conhecimentos sobre qualquer

dimensão da realidade social traz, como exigência, a reflexão sobre os inte-

resses e o próprio processo de pesquisa, em confronto com as informações e

os conhecimentos já acumulados do que se quer compreender.

Se, por um lado, essa escolha acrescentou contornos, algumas vezes, frus-

trantes quanto ao próprio processo de pesquisa, por outro, foi o que nos man-

teve em estado de alerta, para que não nos jogássemos à açodada tentação

de aceitar algumas narrativas como óbvias, evitando, ao fim e ao cabo, que as

tomássemos como verdades únicas.

Pesquisar exige deslocar-se, tanto física e cognitivamente, quanto afe-

tivamente. Ainda que se reconheça a distância entre o desejo-direito de

produzir cultura e os limites oferecidos pela realidade encontrada nos

municípios (número insuficiente de equipamentos públicos de cultura e

dificuldades no suporte logístico para a manutenção de suas práticas cul-

turais), o desejo de ver registradas as dificuldades que enfrentam para o

2 Os Instrumentos de Pesquisa (I, II, III e IV) estão disponíveis, para consulta, em: <http://www.desenrolo.net>.

3 A equipe Brasil Próximo realizou três eventos: Desenrolo.com (18 de julho de 2013), Quem te viu, quem te vê? Virada Cultural da Baixada Fluminense (7 de dezembro de 2013) e Seminário Trilhas – Caminhos, Culturas, Políticas Públicas e Protagonismo Juvenil na Baixada Fluminense (25 a 27 de março de 2014).

reconhecimento e a manutenção de suas práticas culturais, bem como as

soluções criativas que encontram para contornarem essa dura realidade,

tornou-se um aspecto a ser, frequentemente, modulado com os membros

da equipe, durante os meses de trabalho.

Esse modo de fazer pesquisa encontra suporte nas práticas da educação

popular, em que significações e comunicações negociadas entre os agentes-

sujeitos tornam possível o surgimento de novos sentidos e conceitos como

explicações de novas realidades. Em um movimento de constante retroali-

mentação, articularam-se os processos de coleta de informações, sistematiza-

ção e avaliação, buscando diversificar as formas de aproximação da realidade

dos grupos culturais da região.

Seguindo essa abordagem, realizou-se um esforço de sistematização dos

processos, reflexões e conceitualizações produzidos pela equipe, reconhe-

cendo, no conceito de experiência, um valor para o trabalho de investigação.

Experiências de adultos e jovens, experiências de moradores, experiências

de quem vê pela primeira vez, experiências recentes e mais antigas, entre o

imediato e o persistente.

O primeiro investimento da equipe dirigiu-se à identificação e à localiza-

ção de artistas e grupos, integrantes das múltiplas redes existentes na região.

Buscou-se, ainda, aprofundar coletivamente o que a equipe nomeava como

“grupo criativo”, categoria reelaborada no decorrer das ações de pesquisa,

com o intuito de subsidiar a delimitação dos critérios iniciais de busca e iden-

tificação dos grupos a serem mapeados na investigação.

Àquele momento, as características desses grupos apresentavam-se, ainda,

bastante difusas. Questões relacionadas à sua visibilidade na região – Quem

são esses grupos? A que manifestações artísticas estão vinculados? Quem são

os sujeitos dessas ações? Que meios de transmissão e difusão de saberes uti-

lizam? – emergiam com frequência, colocando ênfase no desconforto com a

dispersão de informações sobre a produção cultural dos municípios.

Foram consultados cadastros e levantamentos mantidos pelas secreta-

rias de cultura dos municípios, organismos de juventude, sites das prefeitu-

ras, redes sociais e listagens de festivais, a fim de recolher o maior número

possível de informações sobre os grupos. O objetivo foi, também, mapear

a estrutura, os programas, os projetos e as ações voltados à cultura, nos

municípios da Baixada Fluminense, e os atuais investimentos governa-

mentais realizados nesse campo. O instrumento de pesquisa II continha

múltiplas informações e foi recomendado que o contato fosse feito pelos

mobilizadores da equipe, uma vez que, por se tratarem de sujeitos com

maior trânsito na gestão pública, acreditava-se que tivessem mais possibi-

lidades de acessar tais informações.

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2120

Registra-se que a primeira etapa do trabalho, no contato direto com

secretarias e órgãos de governo, trouxe relatos que evidenciavam a relação

de pouca transparência em relação ao acesso às informações sobre a dinâ-

mica cultural da região. Em especial, nos depoimentos dos mobilizadores, foi

recorrente o relato sobre as dificuldades em captar informações referentes às

secretarias de cultura municipais. Por conta desses entraves, a tabulação feita

expressa, por vezes, a ausência de algumas informações, verificadas à época

da aplicação do instrumento – em especial as que se referem ao orçamento

de que dispõem os órgãos de cultura.

Tem-se o seguinte quadro em relação aos órgãos municipais de cultura

nos 13 municípios4:

QUADRO 1 – Nome do Órgão Municipal de Cultura(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)

Secretaria Municipal de Cultura e Turismo 2 15%

Fundação Cultural 1 8%

Secretaria Municipal de Cultura 9 69%

Secretaria Municipal de Ação Cultural 1 8%

Total 13 100%

QUADRO 2 – Tipo de Modalidade Institucional(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)

Secretaria municipal em conjunto com outras políticas setoriais 3 23%

Secretaria municipal exclusiva 10 77%

Total 13 100%

QUADRO 3 – Conselho Municipal de Cultura(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)

Possui conselho municipal de cultura no município 9 69%

Não possui conselho municipal de cultura no município 4 31%

Total 13 100%

4 Tabulação produzida por Jorginete Costa.

QUADRO 4 – O Conselho é Paritário?(CONSIDERANDO APENAS OS MUNICÍPIOS QUE POSSUEM CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA)

Sim 8 89%

Não respondeu 1 11%

Total 9 100%

Pode-se verificar que a maior parte dos municípios possui conselhos de

cultura, grande parte deles com paridade entre seus membros, exercendo fun-

ção consultiva, deliberativa, normativa e fiscalizadora.

Não foi possível, porém, nos aproximar da dinâmica dos conselhos e de

suas reais condições de acompanhamento, colaboração e proposição de

políticas públicas, além do exercício de controle social na execução das

políticas culturais, sem com isso comprometer o cronograma de pesquisa.

O mesmo se dá em relação à compatibilização das secretarias e prefeitu-

ras quanto à normatização prevista na Lei de Acesso à Informação (Lei n.

12.527/2011). Embora a Lei efetive o direito previsto na Constituição de que

todos têm a prerrogativa de receber, dos órgãos públicos, informações de

interesse pessoal e de interesse coletivo, na prática em campo, o acesso

às informações orçamentárias dos órgãos municipais de cultura ocorreu de

forma limitada e dificultosa (ver Quadro 5), por diversos fatores, tais como:

desconhecimento do gestor municipal sobre o total orçamentário de sua

secretaria, orçamento da secretaria revestido em cargos que sofrem cons-

tantes deslocamentos intersetoriais na prefeitura, fontes de recursos vindas

de outras parcerias para a realização de eventos específicos e constantes

mudanças governamentais.

QUADRO 5 – Orçamento(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)

Municípios que responderam 4 31%

Municípios que não responderam 9 69%

Total 13 100%

Em relação à presença de equipamentos culturais, observa-se a distância

entre o real e o ideal quanto à criação de espaços de sociabilidade e lazer

para seus moradores e a juventude. O tema é recorrente na mídia local e na

literatura sobre a região.

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2322

QUADRO 6 – Equipamentos Culturais(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)

Bibliotecas (municipais e comunitárias) 34 45%

Museus 3 4%

Teatro ou salas de espetáculos 11 14%

Centros culturais 8 11%

Cinemas 19 25%

Sala de projeção 1 1%

Total 76 100%

QUADRO 7 – Existência de Cadastro de Artistas/Grupos Culturais no Município(CONSIDERANDO OS 13 MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE)

Possui cadastro de artistas/grupos culturais 9 69%

Não possui cadastro de artistas/grupos culturais 3 23%

Não respondeu 1 8%

Total 13 100%

As informações obtidas nos órgãos municipais de cultura sobre os grupos foram

somadas às listagens produzidas pela equipe do Brasil Próximo5. Até dezembro de

2013, chegou-se a um quadro com nomes de 331 grupos. Essas informações foram

classificadas por municípios, e os grupos classificados por setores de atividades,

a saber: Teatro, Dança, Musical, Atividades Circenses, Audiovisuais (Cineclube,

Cinema, Vídeo), Literário, Carnavalesco, Manifestação Popular Tradicional, Outros6.

Embora a intenção não fosse o desenvolvimento de uma pesquisa censitária,

diante da constatação da fragilidade de informações atualizadas e consolidadas

sobre as ações dos grupos, houve preocupação em combinar técnicas qualitati-

vas e quantitativas, considerando-as como estratégias complementares ao inven-

tário dos grupos, para uma melhor compreensão de sua realidade na região.

5 A equipe de operadores e mobilizadores realizou um levantamento sobre os grupos culturais existentes na Baixada Fluminense. A coleta de informações incluiu: pesquisa em internet, conhecimento pessoal, redes sociais, redes de contato, notícias em jornais e outros. Tais informações foram reunidas e confrontadas com os dados coletados após a aplicação de questionários com os gestores municipais.

6 Na categoria “Outros”, foram incluídos os centros culturais, as instituições religiosas que desenvolvem atividades que têm a cultura como fim e eixo organizador, os pontos de cultura e os coletivos culturais organizados em articulação com instituições acadêmicas.

Os grupos foram posicionados no Mapa dos Grupos Criativos da Baixada

Fluminense e, em dezembro de 2013, teve início uma nova etapa do trabalho,

com checagem das listagens dos grupos, localização dos mesmos e aplica-

ção dos questionários. Afirmaram-se como interesse central do inventário os

grupos cuja presença de jovens fosse identificada, a princípio, como público

prioritário ou membro, coordenador/gestor do grupo. Embora fossem, ainda,

frágeis os critérios de inclusão dos grupos no mapa, a equipe realizou essa

triagem preliminar, com o objetivo de identificar possíveis incongruências, e

validou, àquele momento, o conjunto das informações coletadas.

Considerou, para isso, alguns estudos acadêmicos e, quando possível, lan-

çou mão de pesquisa nas páginas eletrônicas dos grupos (redes sociais, priori-

tariamente Facebook). Além desses meios, foram fundamentais as generosas

indicações e conversas com representantes de outros grupos e redes, que

confiaram na intenção da pesquisa e colaboraram com a ampliação e a cons-

trução do mapa inicial. Desse modo, combinaram-se, nas diferentes etapas

da pesquisa, diversos recursos técnico-metodológicos, para melhor compre-

ender a realidade dos grupos criativos da Baixada, seus processos e iniciativas

artísticas, bem como seus desdobramentos nos sujeitos e nas culturas juvenis.

Por meio de um dinâmico itinerário, com processos de ida e volta, foi possí-

vel reconhecer e atribuir historicidade às condições de produção desse inven-

tário, às narrativas e opiniões coletadas, aprimorar prismas sobre os múltiplos

conhecimentos produzidos pelo grupo e aprender com os equívocos do per-

curso. Foi uma experiência, igualmente, formadora, pois combinou aspectos

formativos e informativos, na seleção e no manejo de informações cambian-

tes, em permanente transformação, expressão da dinâmica realidade dos gru-

pos localizados.

Vale ressaltar que a equipe de pesquisa do projeto foi composta por estudan-

tes de produção cultural, militantes de cultura, ocupantes de cargos comissiona-

dos das secretárias municipais de cultura e juventude e profissionais da cultura

atuantes na região. Devido à temática da pesquisa estar diretamente ligada ao

cotidiano profissional e afetivo dos integrantes do projeto, sugeriu-se, pois, um

distanciamento e uma isenção afetiva sobre o levantamento das informações.

Diferentes expectativas foram observadas, entre os sujeitos entrevistados,

acerca da realização do mapeamento, a saber: incidência na elaboração de

políticas públicas, fortalecimento e constituição de redes locais, inclusão e

retorno material (financiamento e compra de equipamentos), auxílio na ela-

boração de projetos, entre outras.

Na maior parte dos casos, as sugestões sobre a intencionalidade da inves-

tigação e as formas de divulgação foram acompanhadas de críticas sobre o

retorno de alguns estudos, programas e projetos propostos por instituições e

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2524

organismos nacionais e internacionais e sua efetiva utilidade na promoção

de direitos e produção de impactos observáveis nas políticas públicas e nas

condições materiais dos grupos.

Os grupos entrevistados demonstraram diversas expectativas sobre a rea-

lização da pesquisa de mapeamento. Notava-se um posicionamento de espe-

rança no discurso de que o levantamento pudesse de fato contribuir para a

melhoria das políticas públicas de cultura da região. Mas também se observou

um posicionamento de receio e desesperança, principalmente por parte dos

grupos que já haviam participado de outros censos e pesquisas de mesma

temática, que não perceberam melhoria na produção cultural do município e

não tiveram devolução dos diagnósticos das pesquisas e encaminhamentos.

O ceticismo em relação à eficácia dos estudos pode ser mais bem apreen-

dido por meio do relato de uma das operadoras da pesquisa, sobre a recepção

diferenciada observada na aplicação do questionário entre os entrevistados:

“Um fato interessante que observei durante a aplicação dos questionários foi

que a maioria dos entrevistados que se enquadrava na faixa etária conside-

rada juventude duvidava do interesse e da função da pesquisa em obter esses

indicadores dos grupos, pois muitos desses jovens já estavam descrentes,

tendo em vista que alguns já passaram por governos que colheram alguns

dados sobre os artistas e/ou grupos, mas que nunca tiveram qualquer tipo de

retorno ou resultado” (Priscilla Sued, operadora, 2014)7.

Diferentemente dos jovens que manifestaram abertamente seu descon-

tentamento com os tempos dissonantes entre a produção de inventários e

pesquisas e sua materialização na formulação de políticas públicas, entre os

não jovens, a coleta de informações, aparentemente, é apontada como fer-

ramenta imprescindível à construção de políticas públicas, ainda que seus

efeitos sejam lentamente percebidos: “Já os entrevistados acima dessa faixa

etária acharam a iniciativa interessante, inclusive ressaltando a importância

do trabalho para aplicação de políticas na região”, observou a pesquisadora.

Além de grupos de diálogo, visitas às secretarias de cultura e entrevistas

semiestruturadas com gestores dos organismos de juventude, um questioná-

rio foi aplicado com os grupos culturais (Instrumento IV), de modo a reunir

subsídios quantitativos e qualitativos para a compreensão sobre as deman-

das, necessidades e interesses dos grupos e, neles, sobre os jovens da região.

O contato individualizado com os grupos possibilitou a observação de

seus espaços e atividades, o levantamento de informações mais aprofundadas

e a identificação das principais demandas, relatadas no decorrer de conversas

7 Os depoimentos dos integrantes da equipe do projeto apresentados ao longo desta publicação foram retirados das falas nas reuniões semanais de equipe e do relatório final referente às impressões pessoais de cada integrante – operadores e mobilizadores – sobre a situação da cena cultural da Baixada Fluminense.

realizadas em locais sugeridos pelos entrevistados. A cada semana, as impres-

sões e observações da equipe eram discutidas coletivamente e sistematizadas

por meio de relatórios, de onde foram extraídos itens, opiniões e trechos, des-

tacados ao longo do texto.

Os dados apresentados no presente relatório se referem, portanto, aos

115 questionários aplicados com os grupos culturais no período de janeiro a

março de 2014, pelos mobilizadores e operadores da equipe. A aplicação dos

questionários (visitas de campo) teve duração média de 50 a 60 minutos.

TABELA 1 – Distribuição dos Questionários Aplicados, por Município*

MUNICÍPIO

Frequência %Porcentagem

VálidaPorcentagem Acumulada

Res

post

as V

álid

as

Belford Roxo 6 5,2 5,3 5,3

Duque de Caxias 13 11,3 11,4 16,7

Guapimirim 8 7,0 7,0 23,7

Itaguaí 1 ,9 ,9 24,6

Japeri 4 3,5 3,5 28,1

Magé 4 3,5 3,5 31,6

Mesquita 14 12,2 12,3 43,9

Nilópolis 8 7,0 7,0 50,9

Nova Iguaçu 14 12,2 12,3 63,2

Paracambi 2 1,7 1,8 64,9

Queimados 6 5,2 5,3 70,2

São João de Meriti 33 28,7 28,9 99,1

Seropédica 1 ,9 ,9 100,0

Subtotal 114 99,1 100,0  

Não responderam

99 1 ,9    

Total 115 100,0    

* Nesta tabela de distribuição da aplicação dos 115 questionários, é possível perceber que o município com a maior concentração de aplicação de questionários foi São João de Meriti. Vale ressaltar que, de acordo com a pesquisa, esse é o município que também possui maior concentração de grupos criativos mapeados, com cerca de 80 grupos criativos. Conferir a relação dos grupos criativos mapeados e entrevistados, por município e ativi-dades desenvolvidas, nos Anexos I e II deste relatório.

A comunicação com os grupos na ida a campo – para ver, ouvir e observar

– suscitou, na equipe, a iniciativa de registrar histórias e acervos, por meio de

fotos e vídeos curtos, e também de reunir distintos materiais – livros, DVDs,

CDs, entre outros, doados pelos grupos.

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2726

Materiais audiovisuais constituem-se em um acervo com infinitas possibilidades de

catalogação e difusão da cena cultural da Baixada Fluminense, por meio de múltiplos

usos, entre eles a utilização das tecnologias digitais para a constituição de museus

digitais e/ou sites de difusão.

As iniciativas, geradoras de maior VISIBIlIDADE das ações desenvolvidas pelos gru-

pos para salvaguarda e comunicação de suas práticas, podem articular-se às redes já

existentes e potencializar experiências em andamento, bem como projetos de ensino,

pesquisa e extensão, construídos em parceria com as instituições de ensino da região.

“Também é incrível o número de grupos que existem. Em todo lugar, tem

alguém com alguma iniciativa que é muito mal divulgada. Coisas que aconte-

cem no meu bairro e só comecei a ter conhecimento através dessa pesquisa”

(Pâmela de Paula, operadora, 2014).

A constatação de que, na Baixada, há muito que se conhecer, ver, apren-

der, produzir, fazer, levou-nos a incluir a realização de dois grupos focais

como parte da estratégia metodológica.

Reconhecendo as diversas temporalidades e formas de apreensão da pro-

dução cultural da região, a realização dos grupos focais8 tomou por base a

noção de que os grupos culturais proporcionam aos que deles participam um

pertencimento social, uma forma peculiar de “sentir-se parte do mundo”, pelo

fato de morar nessa região.

O perfil dos convidados a participar de ambos os grupos focais foi esta-

belecido pela equipe durante as reuniões semanais, segundo os seguintes

critérios, a saber: a participação em grupos e/ou movimentos culturais no

recorte temporal escolhido (décadas de 1980 e 1990 e atualidade), paridade

de gênero e, quando possível, representatividade municipal.

O primeiro, realizado em setembro de 2013, reuniu seis agentes culturais,

sendo duas mulheres e quatro homens, em atuação em grupos culturais nas

décadas de 1980 e 1990. Os participantes tinham entre 45 e 60 anos.

A realização desse grupo considerou os interesses de recuperação da

memória da ação cultural do período, tendo em vista as experiências de qua-

tro dos componentes da equipe que vivenciaram essa década como sujeitos

históricos. Buscou-se, com isso, estabelecer uma linha analítica que propor-

cionasse elementos de retrospecção do papel dos jovens na invenção, discus-

são, promoção e divulgação da arte e cultura na região.

8 A técnica vem sendo utilizada com êxito em algumas pesquisas realizadas com jovens na América Latina e tem auxiliado no aprimoramento da capacidade de escuta de múltiplas vozes e opiniões, que emergem ao se colocarem em contato ideias, valores e percepções sobre um conjunto de questões. Além de dar visibilidade às interações grupais, tem por objetivo a cartografia dos códigos de comunicação, das opiniões e pontos de vistas. Consultar, entre outros: Juventude e Integração Sul-Americana: caracterização de situações-tipo e organizações juvenis (IBASE/Pólis, 2007).

Sua realização e sua inclusão no mapeamento prestam, ainda, uma home-

nagem aos artistas, grupos, coletivos e aos, então, jovens agentes culturais, que,

tanto quanto os de agora, investiram e deram atenção à vontade que sentiam

de se expressar, promover talentos e criar oportunidades para si e seus pares.

O segundo grupo, realizado em abril de 2014, reuniu sete jovens com atua-

ção nos municípios. Com média de idade entre 17 e 22 anos, era composto por

quatro mulheres e três homens.

Diferentemente do outro grupo, esse possuía como finalidade prospectar

necessidades, expectativas, problemas e interesses dos integrantes dos gru-

pos culturais. Como é ser jovem na Baixada? Como é ser jovem e produzir/

consumir cultura? Qual/Quais culturas? Do que precisam?

Não é de hoje que as representações sobre a Baixada Fluminense

reforçam o estigma de lugar violento e de poucas oportunidades para os

jovens. Associados às representações sobre a juventude, em especial negra

e pobre, da Baixada, os estigmas e estereótipos alcançam grandes pro-

porções, atuando como fatores intervenientes à construção de trajetórias

individuais e coletivas.

Entre as muitas Baixadas que convivem entre si, a região pode ser apon-

tada como um lugar ameaçador às garantias de direitos dos jovens. Quatro

cidades – Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu e São João de Meriti – fazem

parte de um preocupante ranking de municípios que detêm a maior taxa de

mortalidade de jovens entre 15 e 29 anos por causas violentas, entre os quais,

em sua maior parte, encontram-se negros do sexo masculino, moradores de

territórios de favela, periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.

Além desses, outros municípios do país apresentam situação semelhante e

estão indicados como prioritários, no Plano Juventude Viva, uma iniciativa do

governo federal que estimula a criação de organismos estaduais e municipais

em 142 municípios brasileiros que apresentam alto grau de risco e vulnerabili-

dade dos jovens a situações de violência física e simbólica. O plano é descrito

como uma oportunidade histórica no enfrentamento à violência, com apoio

à criação de programas e ações voltadas à ampliação de oportunidades de

inclusão social e autonomia, problematizando a banalização da violência e a

necessidade de promoção dos direitos da juventude.

Incentivando a oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de con-

vivência em territórios que concentram altos índices de homicídio, a promoção

de ações de fortalecimento de trajetórias dos jovens e a promoção de mudanças

em seus territórios, o plano “[...] busca promover os valores da igualdade e da não

discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, que

contribuem com os altos índices de mortalidade da juventude negra brasileira

(Guia Juventude Viva, 2014, disponível em: <http://www.juventude.gov.br>)”.

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A identificação e a consulta aos organismos de juventude realizadas na

primeira etapa da pesquisa (Instrumento III) revelaram a criação ou a revita-

lização de superintendências e coordenadorias de juventudes, em oito dos

municípios pesquisados, a saber: Belford Roxo, Duque de Caxias (criada em

fevereiro de 2014), Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e

São João de Meriti.

É possível afirmar que os jovens, no século XXI, compartilham uma experi-

ência geracional inédita, do ponto de vista histórico, em uma conjuntura que

reúne aceleração do processo de globalização e incontáveis desigualdades

sociais. Mudanças na dinâmica do mercado de trabalho, com o agravamento

e a dissolução das relações trabalhistas, observadas pela desestruturação

(desemprego), flexibilização (subempregos) e precarização (empregos tem-

porários), bem como a violência urbana (risco) e a disseminação da comuni-

cação virtual atingem um conjunto amplo de jovens.

A percepção do papel indutor do Plano Juventude Viva para a estrutura-

ção dos organismos de juventude nos municípios e a criação de espaços de

participação e núcleos de articulação do plano estimularam-nos a alterar o

projeto metodológico original e incluir a realização de entrevistas semi-estru-

turadas com os gestores de juventude dos municípios.

Nesse contato, interrogaram-se os gestores sobre os principais aspectos

relacionados à juventude de seus municípios, o histórico da criação dos orga-

nismos, as ações diagnósticas em curso e as iniciativas previstas em articula-

ção com o Plano Juventude Viva e a política estadual de juventude9.

Nas tramas da Baixada... Identidades e territórios na narrativa de jovens de ontem e hoje

De acordo com dados compilados pela pesquisadora Aline Rochedo (2014), a

Baixada Fluminense concentra, atualmente, um grande quantitativo de popu-

lação jovem. Um número superior a 1 milhão de habitantes, cerca de um terço

de sua população, possui entre 15 e 29 anos. A distribuição da população por

faixa etária na Baixada Fluminense demonstra uma proporção de jovens e

crianças maior, também, do que a observada no estado e no município do Rio

de Janeiro. A população da Baixada, entre 0 e 19 anos de idade, por exem-

9 As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2014, pela coordenadora da pesquisa, com exceção dos municípios de Duque de Caxias e Queimados. O contato com a coordenadoria de juventude de Duque de Caxias foi realizado em data anterior à posse da nova gestão e uma conversa preliminar com Marlene D’Almeida, subsecretária de Ações Institucionais e Comunicação, ocorreu na prefeitura do município. Quando a equipe foi empossada, o prazo para finalização da pesquisa já havia se esgotado. Na mesma situação, inclui-se o município de Queimados.

plo, representa 38%, sendo que este mesmo grupo etário representa 31,2% na

capital. Essa característica etária observada reforça a necessidade de políti-

cas públicas para a juventude da região.

Segundo dados do Censo 2010 (IBGE), a Baixada Fluminense apresenta

população em torno de 3.651.771 habitantes, em um espaço aproximado de

44.000 km². Com alta densidade demográfica, esse conjunto corresponde a

23% ou um quarto da população do estado (IBGE, 2010).

Constituídas, em sua origem, como cidades-dormitórios, ainda hoje enfren-

tam desafios quanto à oferta de condições básicas de sobrevivência, lidando

com problemas derivados da distribuição desigual e insuficiente dos serviços

e equipamentos urbanos; falta de acesso a serviços de saúde e educação; cres-

cente demanda por habitações; transporte público insuficiente e caro; degra-

dação do meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais; insegurança

pública, que coloca em risco seus moradores.

Os limites da região não são consensuais. Diferentes classificações são

encontradas para definir a abrangência territorial. Em relação à divisão polí-

tico-administrativa, entre as décadas de 1930 e 1940, a região era composta

pelos municípios de Nova Iguaçu, Itaguaí, Magé, Duque de Caxias, Nilópolis e

São João de Meriti. Posteriormente, na década de 1990, nova configuração é

dada à divisão político-administrativa, como demonstrado na tabela a seguir.

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3130

TABELA 2 – Municípios da Baixada Fluminense / Origem e Ano de Instalação

Município Origem Ano de Instalação (1)

Nova Iguaçu Vila de Iguaçu -

Itaguaí Vila de Itaguaí -

Magé Vila da Estrela -

Duque de Caxias Nova Iguaçu 1944

Nilópolis Nova Iguaçu 1947

São João de Meriti Nova Iguaçu 1947

Paracambi Itaguaí 1960

Queimados Nova Iguaçu 1990

Belford Roxo Nova Iguaçu 1993

Guapimirim Magé 1993

Japeri Nova Iguaçu 1993

Seropédica Itaguaí 1997

Mesquita Nova Iguaçu 2001

Fonte: (1) Pesquisa de Informações Básicas Municipais – 2001. IBGE.

Essa complexa trama, inscrita no tempo e no espaço, produz múltiplas

imagens sobre os municípios da Baixada e é resultado do compartilhamento

de percepções, concepções e experiências de mundo. Nesse espaço, encon-

tram-se e constituem-se as diferenças.

Dotada de múltiplas representações, também, no campo social, a região

tem passado, ao longo de décadas, por uma transformação discursiva que se

traduz pelas muitas “Baixadas Fluminenses” narradas por seus moradores e

pela mídia em geral.

A “Baixada” constitui-se em uma categoria ambígua, sendo simultanea-

mente considerada como “celeiro artístico”, terra “rica em cultura”, “faroeste

caboclo”, “terra de ninguém”, lugar de gente “mais carinhosa” e, ao mesmo

tempo, “que não tem nada”, conforme diferentes autores. Muitos enfatizam

a contradição evidente que reside na convivência entre uma rica produção

artística e cultural e uma estrutura sociopolítica extremamente pobre.

Ao se colocarem em perspectiva as taxas de escolaridade da região, a

enorme densidade demográfica, o ínfimo número de aparelhos culturais e a

ausência de políticas culturais, obtém-se um cenário desfavorável para pro-

moção da cidadania, incentivo e fomento às manifestações artísticas e possi-

bilidades de lazer de seus moradores.

Essas informações foram traduzidas em sentimentos e percepções identifica-

dos nos depoimentos dos participantes de ambos os grupos focais, ao relatarem

as experiências juvenis de contato com outros não moradores e as justificativas

associadas ao território para a reorientação de seus projetos de vida.

Quando provocados a falar sobre as experiências no tempo da juven-

tude, seus depoimentos enfatizaram a complexa mistura de sentimentos,

expectativas, desafios e realizações vivenciadas por meio da inserção em

atividades culturais da região.

Em uma área estigmatizada pelos altos índices de violência, especial-

mente entre os jovens, e pela ausência ou ineficiência de serviços e equipa-

mentos públicos, os pontos de vista dos participantes sobre a vida na Baixada

revelaram uma forma de narrar a região que conjuga a valorização da dimen-

são comunitária, da produção e diversidade culturais locais, com a denún-

cia da persistência dos impactos provocados pela experiência de abandono,

rejeição e preconceito, motivados pelo critério do local de moradia.

Inicialmente, os participantes do primeiro grupo focal mostraram-se crí-

ticos à centralidade alcançada pelo tema da juventude nas iniciativas de

mediação ou intervenção social por meio de atividades culturais. Em algumas

falas, foi possível observar a difusão da imagem sobre os jovens atuais, que

os coloca em “compasso de espera”, o que, de certo modo, os aprisiona no

espaço das ausências, do ainda “não ser”.

Tal forma de retratar a juventude revela um modo de percebê-la forjado pelas

representações sociais em torno dessa etapa de vida. Ao generalizar diferenças,

e tratar como homogêneas as especificidades identitárias e territoriais e as expe-

riências dos sujeitos jovens, essa visão opera com um conceito de prontidão que

dialoga bem mais com a chegada ao mundo adulto do que com o mundo juvenil.

Na visão dos participantes adultos, a instalação, nos tempos atuais, de uma

crise em torno das instituições de socialização – “[...] ausência da família na

criação, seja por falta de tempo, seja por não ter uma família completa”; “[...]

família ausente do processo de educação, da escola” – é o que traz ameaças à

construção de trajetórias positivas pelas juventudes locais.

Como contraponto discursivo, um dos participantes relembrou aos demais

a necessidade de reconhecer que há, na região, “[...] uma garotada fazendo

coisas incríveis!”. Colocou-se, ainda, favorável à criação de um espaço de diá-

logo intergeracional, de valorização dos artistas mais velhos e, também, como

forma de reconhecimento dos grupos criativos atuais, na complexa e multifa-

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3332

cetada cena cultural da região. E concluiu, acompanhado pelos demais, que

“[...] é preciso aprender com eles [os jovens]”.

Em relação às mudanças observadas, ao longo dos anos, na vida dos

jovens da Baixada, houve proximidade entre as opiniões dos participantes dos

grupos focais. Registraram, de forma uníssona, a desigualdade no acesso às

oportunidades de educação e trabalho determinada pelo local de moradia

em suas trajetórias individuais.

Alguns depoimentos explicitaram, com perversa acidez, situações em que

a percepção da discriminação sofrida – por local de moradia, “por ser da Bai-

xada” – produziu distorções na imagem sobre si e suas potencialidades.

Durante o relato, foi com emoção que a participante compartilhou suas

tentativas de profissionalização como atriz, ainda que, ao racionalizar a expe-

riência, identifique avanços nesse processo:

Eu morava em Queimados, mas sempre fiz teatro lá “pra baixo”. Fiz Martins Pena

(Escola Técnica Estadual de Teatro), fiz CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), fiz várias

participações “lá embaixo”, e lembro que, quando eu queria entrar pra UNIRIO (Uni-

versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) – eu tentei umas sete vezes – e, quando

fazia os testes, eu sempre era barrada, e barrada pela Baixada. Uma vez, passei em

uma improvisação. [...] Eles demonstravam muito bem essa coisa de eu morar na Bai-

xada: “Você não pode estudar aqui porque vai sair tarde, não vai conseguir chegar em

casa!”. Eu já me imaginava nas vezes em que fui fazer teste. E pensei que eu não podia

ser tão burra assim! Fiz até no Martins Pena, depois que tentei sete vezes e não conse-

gui passar na UNIRIO, mas passei no Martins. Eu fiz a mesma coisa e passei. Foi quando

pensei que eu não era tão ruim assim. [...] O que eu acho? Eles viam a Baixada com um

olhar muito provinciano, eles discriminavam abertamente. Hoje nós temos um espaço

maior, conquistamos muitas coisas. Por isso que eu vejo que, lá atrás, quando comecei,

era muito mais difícil, as condições eram mais precárias, tudo era mais difícil pra gente

aqui na Baixada. Hoje, as coisas já caminham de igual para igual.

(Grupo Focal – Agentes Culturais Décadas 1980/1990, 2013)

Como um todo complexo, as relações entre o lugar, a formação socioes-

pacial e os processos históricos tornam-se marca e matriz daquilo que nos

conforma e do que projetamos para as próximas gerações. Construído a partir

do seu uso social, o território possui limites simbólicos comuns, mas também

heterogêneos e diversificados, em razão dos sentidos e significados atribuídos

pelos sujeitos que o constituem e que por ele são constituídos. É isso o que

justifica o desenvolvimento e a coexistência de opiniões variadas e, ao mesmo

tempo, autoexcludentes sobre ele.

Nas últimas décadas, uma disputa de sentidos e narrativas sobre o coti-

diano dos moradores e as representações sobre esse território, além das con-

dições materiais e simbólicas para a criação e manutenção de suas práticas

culturais, tem sido travada por inúmeros indivíduos e instituições, gerando

imagens diferenciadas e, por vezes, contraditórias sobre a região.

Por um lado, tem-se o reforço dos meios de comunicação, que insistem

em explorar a violência, independentemente da ocorrência de casos reais,

como recurso para obtenção de maior público e aumento nas vendagens

de seus produtos.

No percurso histórico da região, a ênfase em personagens como Tenó-

rio Cavalcanti (década de 1960) e a figura do “Mão Branca” (década de

1980) tornam-se exemplos da intensa valorização desse ângulo, relegando

a segundo plano aspectos da vida nas cidades, tais como: rede de sanea-

mento, condições de habitação, rede de saúde, rede de ensino, mobilidade

urbana, entre outros. Ausentes da discussão pública encontram-se, tam-

bém, os assuntos da vida política (projetos de lei, ações do poder munici-

pal, campanhas, programas e iniciativas voltadas aos moradores), da vida

cultural e social dos municípios.

De outro lado, em meados dos anos 1980, com os ventos de democratiza-

ção do país, a abertura política e o importante crescimento dos movimentos

sociais com a multiplicação de associações de moradores e o surgimento de

federações na região, criaram-se variadas instituições culturais (casas e cen-

tros) cujos objetivos concentravam-se em “resgatar a cultura local” e partici-

par da construção da cidadania para seus moradores. Faziam isso por meio

da realização de projetos, ações em rede, apoios firmados com instituições

locais, entre outros veículos de promoção/divulgação.

Esses grupos viam a cultura como estratégia imprescindível para propor

transformações e oportunidades locais, além de se preocupar com a geração

de imagens positivas para a região. Buscavam, com isso, ressignificar o que

seria a “cultura da Baixada”, valorizando a diversidade de práticas culturais da

região, os hábitos de seus moradores, suas relações de vizinhança, os modos e

arranjos para ocupação de espaços da rua.

A memória da experiência de participação, nesse período, e as experi-

ências que vivenciaram em seu tempo de juventude fizeram com que os

integrantes desse grupo enumerassem suas referências e relatassem seus iti-

nerários de envolvimento com a produção cultural da região. Os participantes

ressaltaram os desafios e as dificuldades que enfrentaram no início das suas

atividades no campo da cultura, relacionando-as às interdições derivadas

pelo pertencimento e identidade territorial.

Para eles, fatores de ordem objetiva, tais como a ausência de transporte,

principalmente à noite, de recursos financeiros, instabilidade na implemen-

tação de políticas públicas de cultura à época, combinaram-se a outros, de

ordem subjetiva, tais como preconceitos territoriais, o momento político do

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país com o final da ditadura civil-militar e a reabertura política, para a confor-

mação de trajetórias vinculadas com a cultura da região.

Nas décadas de 1980 e 1990, as aprendizagens do fazer cotidiano forjaram

produtores culturais e combinaram-se às motivações individuais e coletivas

dos que àquela época viam, no surgimento de projetos e ações patrocinadas,

a oportunidade de construírem projetos de profissionalização. “Eu fui tocar

em São João de Meriti no Projeto Quatro em Ponto. Então, era a minha von-

tade de querer mostrar quem eu era, o que eu fazia. [...] No meu caso, comecei

a me profissionalizar com 17, quase 18 anos. Comecei a tocar na noite, minha

filha tinha acabado de nascer e eu tinha que arrumar uma grana extra pra

levar pra casa”, relatou um participante do grupo.

As exigências de conciliação do mundo do trabalho e da vida familiar conjuga-

ram-se, em alguns casos, às necessidades de assumir um posicionamento político,

de resistência à conjuntura instituída. Conforme disse um participante da pesquisa

“A gente não tinha dinheiro, resistia e muita gente se aproveitava do que a gente

fazia. Vários festivais de música em Queimados”; de criação de oportunidades de

encontro e intercâmbio de experiências: “Na minha casa as pessoas chegavam, dei-

tavam na cama e ali a gente ensaiava, fazia os trabalhos, tomava kisuco e pão com

mortadela. Outras pessoas vinham, faziam pesquisas e por ali ficavam”.

O dia a dia nos municípios e a construção de redes e iniciativas no campo da

cultura, na região, foram lembrados, por um dos participantes do primeiro grupo,

como evidências de um tempo em que “[...] as pessoas faziam apresentações nas

praças. [...] de lá pra cá, veio a criação da biblioteca [em São João de Meriti], com

um intercâmbio com outros municípios na Baixada”. Na experiência de outro par-

ticipante: “A gente fazia cultura antigamente e a gente colava cartaz, a gente

era ator, eu cheguei a montar um espetáculo. [...] Eu venho desse teatro protesto,

dessa música protesto de Gonzaguinha, de Taiguara, dessa musicalidade que a

Baixada tem, dessa identidade com a MPB, o advento do Teatro do SESC”.

Associados a outros grupos com forte tradição na luta contra a ditadura

um fluxo de referências aproxima o município do Rio de Janeiro (Centro) e os

municípios da Baixada: “[...] fomos influenciados por uma pós-ditadura em que

a gente sentia vontade de se colocar e falar. Por grupos como Asdrúbal trouxe

o Trombone, como o Dia a Dia, do João Siqueira, com o Almir Haddad, que

chegou no Rio de Janeiro com o grupo Tá na Rua”.

Outros, ao rememorarem essa fase da vida, demonstraram possuir uma per-

cepção menos saudosa. Nos relatos, misturam-se alegrias, frustrações e reversos

entre as expectativas construídas e a realidade plenamente vivida: “[...] a ativi-

dade cultural nasceu como uma efervescência da necessidade de me comunicar.

Acabei me aproximando dos grupos culturais naquele momento, depois ficou

complicado. [...] Isso me deu uma cansada, hoje estou afastado”, disse um deles.

O rompimento de fronteiras e a invenção de soluções persistentes para

operar mudanças em suas trajetórias trouxeram-lhes como recurso o manejo

de diferentes linguagens e atividades, conformando-se, para alguns, em pis-

tas utilizadas na construção de suas carreiras profissionais. Em comum, entre

eles, a cultura como processo interativo de construção social e articulador de

atividades (práticas culturais) e significados (interpretações).

Por meio de um processo sistemático e multidimensional, esses códigos

e símbolos foram sendo (re)atualizados em novos sentidos, organizadores

das formas como conduziram suas trajetórias e como perceberam e ajusta-

ram o seu “estar no mundo”.

Esse é um ponto que guarda proximidade com os depoimentos coletados

com os jovens envolvidos, hoje, com iniciativas culturais na região. Ao men-

cionarem suas experiências no território, situando-as em uma incômoda con-

tinuidade histórica que interliga o passado e o presente, colocaram no vértice

das discussões – e apreensões! – os temas da acessibilidade, da circulação

pela cidade (região) e da desigualdade de oportunidades para construírem

suas expectativas de profissionalização, entre outros.

Na opinião de alguns, ser hoje um jovem morador da Baixada Fluminense é

enfrentar obstáculos que dificultam a maneira como vivem a etapa da juventude,

diz uma das participantes: “É estar longe das melhores escolas onde quer se profis-

sionalizar. O trabalho é mais suado!”. Para outro, “a dificuldade está na distância e

no preconceito por morar na Baixada. Fazer algo na Baixada é mais difícil!”, disse.

Chamaram atenção, sobretudo, para a incipiente oferta de oportunida-

des de profissionalização para o trabalho com atividades culturais, o que os

impulsiona a buscar, fora da região, essas possibilidades educacionais.

Ainda que alguns jovens assumam uma narrativa que permite perceber

a escolha política de autorrepresentação e demonstre acúmulo na refle-

xão sobre os efeitos das representações negativas associadas à região

– “Temos mais preconceito conosco do que eles mesmos (as pessoas do

Centro)” –, inserir-se, por meio de seus grupos e participações individuais,

nessa disputa sobre imagens e sentidos é, também, encarnar em seus coti-

dianos os impedimentos reais à fruição, à produção e ao consumo cultural

verificados em toda a região.

A oposição Centro-Baixada, ainda presente, impacta a circulação dos

jovens pela região metropolitana do estado e suas experiências individuais

e profissionais. A ausência de repertório e informação sobre a riqueza e as

variadas formas de expressão artística e cultural da região, na visão de uma

das jovens da equipe, definiu um modelo de reação frente às críticas que

reforçavam o lugar do “Nós/Centro” e “Outro/Baixada”.

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Dizem que a cultura que é feita na Baixada não é uma cultura profissional, talvez

constatada pela carência de espaços e visibilidade. Ouvi isso algumas vezes quando

iniciei a minha carreira de produtora no Centro do Rio e na Zona Sul e, como não

conhecia a cultura do meu próprio território, só me restava silenciar e não confrontar.

(Sílvia Machado, operadora, 2014)

A transformação e a divulgação de imagens sobre a região, múltiplas e

fluidas, construídas, em grande parte, pela imprensa e a gradativa mudança

na construção dos imaginários sobre a Baixada são produto do empenho des-

ses diferentes agentes, de ontem e hoje. Tal esforço resultou em uma “posi-

tivação” do olhar sobre a Baixada, por meio do estímulo à criação de uma

identidade local formulada em termos antagônicos aos estigmas e imagens

negativas atribuídas pelas pessoas “de fora” da região.

No decorrer do primeiro grupo focal com os adultos, a cultura política con-

solidada ao longo de décadas foi, também, apontada como um dos principais

problemas e desafios a serem superados. Na opinião de um dos participantes,

“A Baixada sempre foi tratada como curral eleitoral. As pessoas vinham aqui,

sem vínculo algum com a região, e olhavam o estado só como a capital”.

As opiniões emitidas no grupo coincidem com o que antropólogos, como

Sandra Regina Costa (2006), afirmam ser parte de um ethos baixadense, ainda

em transformação, marcado por concepções e práticas ilegais para a resolu-

ção de problemas, pelo personalismo nas relações, pelo apadrinhamento e

expressões de clientelismo.

Os participantes do grupo localizam, na origem dos municípios, como

cidades-dormitórios, e na proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, alguns

dos fatores causadores da “falta de estrutura em todos os sentidos, não só de

patrimônio, mas também de equipamentos públicos”.

No contato com os jovens, transmitem estratégias de sobrevivência e

desvio de obstáculos, produtos da experiência de quem há muito vem par-

ticipando do “jogo”. Nesse contexto, a produção criativa/cultural da região é

identificada como forma e meio de resistência cultural e política.

Essa coisa de que pra você estudar e, se você está na Baixada, você não consegue,

ainda existe. Eu tenho uma aluna que faz balé e eu disse: “Vai fazer a prova da Escola

Estadual de Dança!”. Mas, quando ela deu o endereço da Baixada, ela não passou. Ela

era a melhor aluna. Eu disse pra ela colocar o endereço da tia que mora em Copa-

cabana. Porque ela já ficou achando que não era tão boa. Eu disse: “Você vai dar o

endereço da tia que mora lá, e você vai passar!”. Mas isso ainda persiste. E eles tomam

isso fingindo que são dores. [...] Ainda somos um curral eleitoral. Mas estamos deixando

eles pra lá. (Grupo Focal – Agentes Culturais Décadas 1980/1990, 2013)

A atuação de variados agentes, produtores e gestores culturais deu ori-

gem à “redes de redes”, que, embora inconstantes, investem na construção

de outra identidade e outra narrativa sobre o território, afastando-se de ima-

gens negativas e estigmatizadas muitas vezes prevalecentes no senso comum

quanto à Baixada. Mesmo que vistas como pequenas, as mudanças são perce-

bidas como expressões do resultado do trabalho de perseverança e incidên-

cia política desses anônimos agentes culturais. Na experiência de uma das

participantes: “Eu mesmo já devo ter criado mais de sete centros culturais e

não tive condições de bancá-los. Uma época funciona legal, depois acaba. O

pessoal dispersa e a gente começa tudo de novo”.

A percepção de que a produção e o consumo cultural nesses territórios

tornaram-se instrumento de construção e empoderamento de inúmeros

jovens deu-lhes incentivo para continuar ultrapassando as dificuldades e

ampliando fronteiras.

Por meio de um trabalho estratégico e persistente de mudança de men-

talidades, de consolidação de espaços e de ampliação de repertórios, iden-

tificam que “[...] mudou alguma coisa... Pouquíssimo, mas mudou. O nosso

espaço pequeno de teatro é uma mudança. A gente não precisou ir para o

Rio para fazer teatro. Essa questão de que tudo a gente precisava ir para o

Rio mudou. A gente tá criando e conseguindo criar plateia. [...] a gente está

fazendo alguma coisa”.

A descontinuidade das ações públicas e o desinvestimento em áreas como

a cultura e a educação aproximam as gestões do tempo passado e do tempo

presente, fazendo com que se comparem as formas de fazer política e se

enxerguem poucas modificações entre um período e outro. Os participantes

partilham da opinião de que “[...] existem, hoje, mais facilidades que naquela

época não existiam. A internet, a globalização. As relações se estreitaram

mais. Mas ainda permanece essa leitura do governo atual muito parecido com

os anos 1980, de tratar aqui como curral eleitoral”.

A força desses agentes culturais, então jovens, seja como beneficiários

das políticas e iniciativas ou propositores e produtores de novas ações, e o

compromisso institucional para fomento à cultura da região são apontados

como componentes imprescindíveis para a compreensão do cenário cultural

na região e para a reflexão sobre uma agenda política no campo da cultura.

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Vejamos o que diz um dos mobilizadores:

Vamos entender que a região é homogênea nas características de organização

política, processos emancipatórios e desenvolvimento econômico, já que em volta

das estações ferroviárias surgiram e cresceram as cidades, mas, também, é necessário

entender que as tradições e costumes propiciaram condições favoráveis a distintos

aspectos culturais e artísticos. Na década de 1990, o SESC São João de Meriti realizava

o Festival de Esquetes da Baixada. Essa ação motivava o surgimento de grupos de tea-

tro, já que era oferecido palco profissional a grupos amadores e iniciantes. Também,

na década de 1990, surgiu o Cidade Negra, que despontava e reconhecia que vinha

de Belford Roxo. Assim sendo, Belford Roxo, Nilópolis e Mesquita desenvolveram, por

osmose, uma cultura musical de festivais de bandas com tendências ao rock, reggae e

hip hop. (Marcos Paulo, mobilizador, 2014)

Nos tempos atuais, com “um ideia-projeto na cabeça”, além do desejo de

se encontrar e produzir cultura, os grupos mantêm a tradição de investimen-

tos para valorização e articulação colaborativa na realização de eventos que

atraiam visibilidade ao cenário cultural da região. Como exemplos dessas

iniciativas, tem-se a mostra teatral Baixada em Cena, em Nova Iguaçu, que

envolveu, na edição de 2012, segundo seus organizadores, 100 artistas e mobi-

lizou um público de mais de dois mil espectadores/as10.

Outro exemplo das estratégias de resistência desses coletivos é o Fes-

tival Roque Pense!11, realizado em Mesquita, que, em sua segunda edição

(2013), organizou programação com debates, oficinas, jam session femi-

nina de skate, grafite e 12 shows de bandas da região e de outros estados,

cujo critério para seleção era a presença de, ao menos, uma mulher na

formação dos grupos.

Iniciativas como essas e tantas outras – Mate com Angu, Cia Teatral Quei-

mados em Cena – reafirmam que permanecem difíceis as condições de pro-

dução na região, que, ainda, não conta com um mercado estruturado que

incentive o consumo cultural pelos moradores.

As “pedras” em que se transformam esses obstáculos respondem não

só pelo término de muitos grupos, mas também pela ocupação de espa-

ços de renovação, de quem dribla “com ginga” os movimentos do caminho

e, criativamente, investe na ocupação coletiva de espaços e expressões,

transformando referências e narrativas sobre os cenários de intervenção,

que são inúmeros.

10 Conferir <http://www.baixadaencena5.blogspot.com.br>.

11 Conferir <http://roquepense.com.br/festival-roque-pense-a-2o-edicao-do-festival-de-cultura-antissexista>.

Ensaios do grupo de dança GW Performance, na praça da Telemar, em Mesquita; o

trabalho árduo de inscrição em múltiplos editais do grupo de artes cênicas Cochicho

na Coxia; aulas grátis de capoeira com o instrutor Zé Colmeia, da ABADÁ Capoeira

Mesquita, com jovens em condições de risco; o mutirão da comunidade da Chatuba

para que sua escola desfile; as inúmeras tentativas de mostrar o trabalho da banda

Layout 80 em eventos da cidade etc. São exemplos de como a grande maioria dos

grupos de cultura, apesar do grande descrédito dado à arte, transforma situações pro-

blemáticas em expressão cotidiana. (Allan L. Alves, operador, 2014)

Utilizando como linguagem a arte e a criatividade, os jovens do tempo

presente propõem formas alternativas de comunicar o cotidiano e transfor-

mar a percepção de que ruas e praças não são, apenas, lugares de violência

e desordem, mas sim locais de promoção de sociabilidades juvenis na cidade.

Disse um deles: “A gente faz apresentação pelas ruas e praças. A gente tem

essa dinâmica de grupo aberto, essa coisa de ir agregando valores e criar uma

corrente de cultura no município. A pessoa passar na Praça e falar: ‘Caraca,

tem teatro aqui!’. A rua dá sempre essa visibilidade”.

Pode-se pensar que o aumento de espaços de convivência, representados

pela criação de universidades, centros culturais, praças, clubes e outros, favorece

a ampliação da visibilidade que esperam alcançar em seus municípios e fortalece

as possibilidades de inéditos encontros e conexões, assumindo um papel indutor

para a criação e/ou fortalecimento de redes de juventude na região.

A consulta aos sites oficiais revelou acentuada assimetria entre as informa-

ções divulgadas oficialmente pelos órgãos de cultura dos municípios e as ati-

vidades divulgadas pelos grupos nas redes sociais. O tratamento e o destaque

dados às criações e manifestações culturais restringem-se, em grande parte,

à divulgação da programação dos equipamentos culturais, quando existem, e

à divulgação das festas tradicionais e comemorações oficiais dos municípios.

Aparentemente, considerando-se as matérias divulgadas nos endereços

eletrônicos, poucas incluem artistas e grupos locais nas programações, cola-

borando diretamente para espaços de consumo e geração de rendas locais.

No contato direto com os grupos, observou-se que as expectativas de reco-

nhecimento local, em geral, não são atendidas, restando-lhes a sensação de

serem segregados dos grandes eventos de seus municípios.

Nesse contato direto, a ausência de reconhecimento do trabalho, cuja

percepção comum é a de que “não é levado a sério” como profissional, os

impulsiona para obtenção de visibilidade em contextos de maior projeção,

como salientou um dos operadores: “[...] a maioria dos grupos se diz muito

segregada dos eventos de sua cidade e que seu trabalho não é visto como

um trabalho, mas sim como uma espécie de ‘distração’. Em alguns casos, o

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reconhecimento vem de outros estados, países, criando um caminho inverso

de divulgação deste artista em sua localidade” (Allan L. Alves, operador, 2014).

Com a proximidade de tantos grupos e expressões culturais, o pro-

cesso de pesquisa revelou-se um período de descobertas e reconexão com o

próprio território, para alguns dos membros da equipe Brasil Próximo. Ficou

clara a necessidade de diversificação de opções de lazer e sociabilidade, entre

os jovens, e a demanda por iniciativas que aproximem agentes e representan-

tes culturais nos municípios, “[...] visando criar um espaço efetivo de diálogo

entre autoridades e agentes culturais”.

O contato direto com os coordenadores e representantes dos grupos pes-

quisados apresentou e fortaleceu pontos de reflexões sobre o ciclo das políti-

cas públicas e a realização de pesquisas e diagnósticos sobre as fragilidades

no fluxo de diálogo entre o poder público e os grupos e sobre as oportunida-

des disponíveis na região.

Na opinião de uma das operadoras, o Fórum Permanente de Gestores

Públicos da Baixada, formado por gestores municipais de cultura dos 13

municípios da Baixada Fluminense para o fortalecimento da cultura local, “[...]

poderia manter reuniões periódicas com os agentes culturais, e que dessas

reuniões fossem produzidos os documentos que seriam de fato validados.

Acredito que, dessa maneira, as propostas alcançariam a tod@s. Porque ges-

tor falando para gestor não mudou muita coisa até agora!”.

Também na opinião dos jovens participantes do segundo grupo focal,

“[...] a cena cultural da Baixada possui um perfil variado, complexo e com um

grave complicador de sua evolução: a política local”.

Tal como os adultos, relacionam as desigualdades na oferta e no acesso

a serviços e oportunidades no campo da cultura ao instável cenário político

da região. Para uma das jovens operadoras, “Muitos são os fatores compli-

cadores para desenvolvimento das ações culturais da Baixada, mas acredito

que a política local seja o de maior gravidade. Muitos municípios estão sendo

prejudicados diretamente por sua gestão pública de cultura e de juventude

municipal. Esses cargos são ocupados por representantes que não possuem

pouco, ou nenhum, conhecimento dos interesses e necessidades de seus habi-

tantes e dos grupos criativos de seu município, na maioria das vezes as ações

são motivadas unicamente pelo seu próprio interesse e de seu partido”.

Essa observação é contrabalançada pela análise de outra jovem sobre o

tempo presente: “Estamos vivendo um momento de constituição do Sistema

Municipal de Cultura nos municípios. É um momento importante, pois cida-

des que não possuem seus órgãos especiais de políticas para cultura, por

exemplo, para se adequar e receber repasse de verba, terão de criar suas

secretarias de cultura e desvincular-se às que são juntas, como acontece em

muitas cidades ainda, onde a cultura está vinculada a educação, esporte e

lazer, turismo etc., o que acaba deixando a cultura sem orçamento para apli-

cação em projetos. Entre muitos outros benefícios que acredito que o SMC

irá trazer, também destaco o Fundo Municipal de Cultura, onde a sociedade

poderá inscrever projetos culturais para serem realizados na cidade, que

será uma ferramenta essencial para o incentivo à criação e à produção cul-

tural. Também a ampliação da participação popular através dos fóruns de

cultura e dos conselhos municipais de políticas culturais, um grande ganho

para a sociedade civil, que agora tem o poder de propor e deliberar demo-

craticamente, tendo um diálogo direto com o poder público e podendo

cobrar mais fielmente” (Priscilla Sued, operadora, 2014).

Até o momento de finalização deste relatório, mantém-se o alinhamento

partidário entre o governo federal, estadual e as prefeituras municipais da

região, sendo nove delas governadas por partidos da base governamental.

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Cabe registrar que, até o primeiro semestre de 2014, a aliança PMDB-PT no

governo do estado passava por renegociações. Em fevereiro de 2014, entre-

tanto, outro cenário se estabeleceu com o rompimento e a transição do PT, de

situação para oposição.

A polarização entre o atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB)12

e o senador Lindbergh Farias (PT)13, candidatos ao governo do estado do

Rio de Janeiro, trouxe ao cenário eleitoral da região imprevisíveis conse-

quências, tendo em vista o período de articulações e construção de apoios

políticos e início da campanha.

Fica evidente que a oscilação nas orientações e projetos de governo, tanto

no âmbito estadual como municipal, produz impactos profundos nos processos

de formulação de discursos e ações vinculadas a uma política cultural mais con-

sistente, direcionada à valorização da diversidade na produção e no consumo

cultural, com iniciativas para a democratização da distribuição dos recursos,

incremento ao apoio à cultura e incentivo aos grupos e artistas locais.

Na opinião dos jovens operadores, “[...] os grupos reconhecem que o que

falta são políticas públicas que visem à valorização e fortaleçam a cultura

local”. Desejam, ainda, que as experiências bem-sucedidas sejam replicadas

em diversos ambientes –presenciais e digitais – criados com uma perspectiva

de acolhimento da multiplicidade de contextos, identidades, universos simbó-

licos, interesses e discursos.

Foi nessa perspectiva que aconteceu o evento Virada Cultural. Envolvida

com essa produção, uma das operadoras relatou que “[...] os grupos aceitaram

fazer suas apresentações mesmo sem ter cachê e com a mesma qualidade que

fariam se fosse oferecido um valor pela apresentação. A única coisa que que-

riam era espaço na própria Baixada onde pudessem mostrar seu trabalho e

revitalizar uma área tão boa quanto à da praça Santos Dumont [Nova Iguaçu]”.

Desse encontro, surgem novas propostas para que outras áreas públicas fos-

sem utilizadas com o mesmo propósito em seus municípios. Concluiu, ainda,

que a falta de oportunidade é tão grande que o aparecimento de uma inicia-

tiva como essa deixa todos bastante animados. Segundo ela, “Eles têm tanto a

dizer, tanto a fazer, a mostrar… Só falta quem os ouça!”.

12 Aliados do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) – Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB); Democratas (DEM); Partido Popular Socialista (PPS); Partido Democrático Trabalhista (PDT); Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); Partido Social Democrático (PSD); Partido Progressista (PP); Partido Trabalhista Nacional (PTN); Partido Ecológico Nacional (PEN); Partido Social Liberal (PSL); Partido da Mobilização Nacional (PMN); Partido Trabalhista Cristão (PTC); Partido Republicano Progressista (PRP); Partido Social Democrata Cristão (PSDC); Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB); Partido da Solidariedade (SDD); Partido Humanista da Solidariedade (PHS); Partido Social Cristão (PSC).

13 Aliados do Partido dos Trabalhadores (PT) – Partido Socialista Brasileiro (PSB); Partido Comunista do Brasil (PCdoB); Partido Verde (PV).

  Quem te viu? Quem te vê? – Virada Cultural da Baixada Fluminense – evento

conceituado e produzido pelos integrantes do Brasil Próximo, realizado nos dias 7 e 8

de dezembro de 2013, com o objetivo de promover um manifesto para revitalização e

ocupação criativa dos espaços púbicos da Baixada Fluminense. Contou com 24 inter-

venções culturais, na praça Santos Dumont, centro de Nova Iguaçu, antes abandonada

e ocupada por moradores em situação de rua e usuários de drogas.

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4544

Resumo do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense

Objetivo

Ampliar a compreensão sobre a realidade dos grupos criativos da Baixada Fluminense – iniciativas e processos criativos, agenciamentos produzidos e modelos institucionalizados – para apreensão das necessidades, expectativas, demandas e interseções entre o campo da cultura e o mundo juvenil.

MunicípiosBelford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica

Universo Grupos Culturais listados no Mapeamento (ver Anexos)

Plano Amostral 161 grupos criativos

Nº de Entrevistas (Questionários Aplicados)

115 grupos criativos

Grupos FocaisAgentes Culturais das Décadas de 1980 e 1990 (6 participantes)Jovens Agentes Culturais (atual – 7 participantes)

Entrevistas com Gestores Públicos de Juventude

6

A quem denominamos GRUPOS CRIATIVOS?

Aqueles que possuem envolvimento na proposição e na produção cultural dos

municípios da Baixada Fluminense e que, lançando mão de práticas inovado-

ras, solidárias e colaborativas, constroem/promovem espetáculos, iniciativas,

ações e atividades geradoras de pertencimentos, identificações, filiações e

articulação econômica e política.

Reúnem-se com regularidade (presencial e/ou virtualmente), inventando

formas de lidar com a realidade, de modo a torná-la mais interessante, diver-

tida, tolerável, manipulável e compreensível.

CONHECENDO OS GRUPOS CRIATIVOS

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4746

De modo ativo, utilizam elementos midiáticos e tecnológicos para divulga-

ção de suas atividades, produções, posicionamentos e propostas para a trans-

formação da vida pública, para o democratização do acesso ao debate e os

modos de participação social.

Uma forma de ouvir os grupos...

Considerando os objetivos do mapeamento, para a coleta de dados sobre os

grupos criativos, recorreu-se à técnica estatística de Amostragem Estratifi-

cada Proporcional, delimitando, como população da pesquisa, os grupos lista-

dos na ampla coleta de grupos e referências feitas pela equipe Brasil Próximo,

de maio a outubro de 2013.

A técnica de estratificação requisita que a amostra tenha algumas característi-

cas conhecidas da população, nesse caso, os municípios da Baixada Fluminense e o

tipo de atividades que desenvolvem. Com os estratos da população identificados e

separados, dentro de cada grupo, utilizou-se uma Amostragem Aleatória Simples14,

para a seleção dos grupos a serem entrevistados nos estratos encontrados.

Inicialmente, foi considerada a porcentagem de cada modalidade de ati-

vidade por município e, posteriormente, uma amostragem aleatória simples,

resultando em uma amostra estatisticamente significativa.

O questionário foi construído com o objetivo de dimensionar os diferentes

momentos e etapas do processo criativo dos grupos, adotando como orienta-

ção uma noção abrangente e sistemática da cultura e das políticas culturais.

Nele, incluíram-se questões sobre os modos e espaços de execução de suas

atividades; a infraestrutura para a realização de suas atividades; os formatos

organizativos e escalas de institucionalização; as estratégias de captação de

fomento e divulgação, de modo a reunir subsídios para a construção de um

panorama mais amplo sobre a produção cultural da região.

Os dados apresentados referem-se aos 115 questionários aplicados pela equipe

Brasil Próximo, de janeiro a março de 2014. No gráfico a seguir, apresenta-se a dis-

tribuição quantitativa dos grupos mapeados (indicados pelas barras de cor azul),

e o quantitativo de questionários aplicados por município da Baixada Fluminense.

O plano amostral previa a aplicação de 161 questionários. Na efetivação do tra-

balho de campo, observaram-se inconsistências nos contatos dos grupos, em espe-

cial, nos municípios de Itaguaí, Japeri, Magé, Nova Iguaçu, Paracambi e Seropédica.

14 A obtenção da Amostra Aleatória Simples deu-se por sorteio dos grupos (elementos da população). Com a seleção dessa técnica, buscou-se garantir que qualquer elemento da população, ou seja, qualquer um dos grupos, tivesse a mesma chance de fazer parte da amostra, assegurando, com isso, a imparcialidade e a representatividade da expressão selecionada.

Na visitação, constatou-se que alguns grupos inicialmente listados encerra-

ram ou estavam, temporariamente, em recesso de suas atividades. Outra dinâ-

mica observada foi a de constituição e organização de grupos para projetos

pontuais, de duração determinada, tais como festivais, mostras e encontros.

As mudanças e instabilidades eleitorais advindas das disputas políti-

cas da região foram, igualmente, apontadas como produtoras de impactos

diretos no desmantelamento das secretarias, acervos e continuidade de

iniciativas e projetos.

GRÁFICO 1 – Distribuição Comparativa entre os Grupos Mapeados e os localizados para Aplicação do Questionário, por Município*

8

31

26

8

15

20

36

15

49

5

17

80

13

6

13

8

1

4

4

14

8

14

2

6

33

1

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

Magé

Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de Meriti

Seropédica

■ Grupos mapeados ■ Grupos entrevistados* Conferir a relação dos grupos mapeados e entrevistados, nos Anexos I e II deste relatório.

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4948

Vale destacar que o município com a maior concentração de aplicação de

questionários foi São João de Meriti, que já no registro preliminar apresentava

a maior concentração de grupos criativos mapeados (cerca de 80 grupos cria-

tivos). Nos demais municípios, por diferentes razões, observou-se um cenário

de maior dispersão de informações sobre os grupos.

Como relatado pelos mobilizadores, à época da consulta, alguns organis-

mos de cultura passavam por momentos de reestruturação política; outros

não possuíam diagnósticos atualizados sobre a presença dos grupos nos

municípios e, em alguns casos, não se tinha conhecimento das redes ou pes-

soas de referência, em atuação nos municípios.

Tendo em vista a lógica de organização em rede – colaborativa, com plu-

ralização de pontos de vista e em contínua redefinição –, há que se refletir

sobre os investimentos realizados para a melhoria dos fluxos de interlocução

entre os vários atores envolvidos com a produção cultural nos municípios e

o aperfeiçoamento de um modelo participativo que promova a aceitação e

convivência de diferentes realidades e expressões do presente, por princípio,

diversas e contemporâneas.

Observo muitas vezes que o problema está na falta de diálogo entre as esferas

da sociedade, nesse caso entre o poder público e a sociedade civil. Por exemplo, os

jovens, especialmente, estão cada vez mais descrentes quanto à efetividade das ações

governamentais e duvidosos quanto à política em geral. Fazendo um breve aprofun-

damento sobre o problema que enfrentamos, nosso sistema educacional não estimula

o pensamento crítico, só para começar, então como exigir do jovem que ele tome

posicionamento ou que consiga defender seus interesses, diante de um poder que

determina diretrizes e que interfere diretamente no modo de vida dessa juventude?

(Priscilla Sued, operadora, 2014)

A maior parte dos grupos entrevistados situou sua origem no limiar dos

anos 2000. Produto dos processos de redemocratização e reconstrução de

uma identidade ligada à região que intenciona a valorização das qualidades

positivas da região, em relação aos formatos institucionais, tem-se que 53,5%

dos grupos consultados (equivalente a 61 grupos) disseram ser formalizados e

os demais, 46,5% (equivalente a 53 grupos), não formalizados.

GRÁFICO 2 – Formatos Institucionais

46,09%

53,04%

0,87%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Não formalizado Formalizado Não responderam

Grupos formalizados: grupos artísticos e reconhecidos como tal, com ou sem cará-

ter comercial, com formatos organizativos próprios e juridicamente constituídos (com

inscrição do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), fornecido pelo Ministério da

Fazenda – pessoa jurídica).

Grupos não formalizados: grupos artísticos e reconhecidos como tal, com ou sem

caráter comercial, com formatos organizativos próprios, sem, no entanto, configura-

rem-se como pessoa jurídica (sem inscrição do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

(CNPJ), fornecido pelo Ministério da Fazenda – pessoa física).

Os grupos possuem, em média, 35/40 integrantes regulares. Destes, 50,43%

encontram-se no intervalo de 25 a 45 anos. Observa-se que 30,43% dos grupos

possuem integrantes entre 30 e 45 anos e 20% dos grupos possuem membros

com idade entre 25 a 29 anos.

Nenhum grupo consultado situou a média de idade de seus integrantes na faixa

entre os 15 e 17 anos. Acredita-se que essa ausência tenha relação com a dispersão

de idades, tanto no interior dos grupos quanto no público alcançado por eles.

Durante as reuniões de trabalho, tal cenário foi objeto de comentários e regis-

tros por parte dos operadores: “Outro fato observado é que as ações são abertas

a todas as faixas etárias, sem nenhuma restrição de sexo ou idade e sem nenhuma

ação específica e direcionada a um grupo” (Sílvia Machado, operadora, 2014).

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5150

GRÁFICO 3 – Faixa Etária Média dos Membros dos Grupos

0,87%

3,48%

10,43%

20,00%

30,43%

15,65%

19,13%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

01 a 09 anos

10 a 14 anos

18 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 45 anos

Acima de 45 anos

Diversas faixas etárias

Destaca-se a declaração de 47,83% dos entrevistados, localizando o ensino

médio como o nível de ensino mais frequente entre seus integrantes, ainda que o

arco etário prevalecente entre os membros do grupo situe-se entre os 25 e 45 anos.

Poucos são os que entre os seus membros alcançaram o ensino superior, e um

número menor ainda os que possuem membros com cursos de pós-graduação.

GRÁFICO 4 – Escolaridade Média dos Membros dos Grupos

5,22%

6,96%

6,09%

47,83%

13,04%

16,52%

0,87%

0,87%

2,61%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

Ensino Fundamental (incompleto)

Ensino Fundamental (completo)

Ensino Médio (incompleto)

Ensino Médio (completo)

Graduação (incompleta)

Graduação (completa)

Pós-Graduação (incompleta)

Pós-Graduação (completa)

Não responderam

A análise bivariada, considerando faixa etária e formato institucio-

nal dos grupos, revela que, entre os grupos formalizados, predominam

membros entre 25 a 29 anos (26,4%), enquanto que, entre os grupos não

formalizados, prevalece a idade média compreendida entre 30 e 45 anos

(39,3%). Contudo, comparando a escolaridade dos membros do grupo e

o formato institucional dos mesmos, percebe-se que não há variações

significativas quanto ao nível de escolaridade de seus membros – ensino

médio –, alcançando 46,2%, entre os grupos não formalizados, e 51,7%,

entre os grupos formalizados.

A relação cultura e educação, sob o ponto de vista da escolarização dos

membros dos grupos, permite a reflexão sobre a situação das redes de ensino

da região e as oportunidades educacionais acessíveis aos jovens.

Dos 13 municípios, apenas dois (Mesquita e Nilópolis) estão localizados

acima da média nacional, no que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal15. Os demais municípios alcançaram classificação inferior,

o que evidencia as lacunas sobre as quais nos falam os participantes do mape-

amento, tanto no que tange ao estímulo e incentivo às suas capacidades cog-

nitivas e relacionais, como no acesso às oportunidades disponíveis, para que

possam realizar suas escolhas para a vida.

O cálculo do IDHM Educação dos municípios revela pouca variação em

relação à media nacional. Sete municípios da Baixada apresentam índices um

pouco mais altos, sem destaque entre eles. É, sobretudo, no fluxo escolar da

população jovem que se observa o gargalo enfrentado para conclusão e con-

tinuidade de sua escolarização.

Quando comparadas as faixas de idade entre os que concluíram o ensino

fundamental, observa-se certo equilíbrio e, em alguns casos, aumento do per-

centual, em alguns municípios, na faixa de 18 anos ou mais. Entretanto, ao

observar-se o percentual de concluintes do ensino médio na faixa de 18 a 20

anos, identifica-se um declínio considerável em todos os municípios, em rela-

ção ao percentual de concluintes do ensino fundamental.

15 O IDHM brasileiro mantém as três dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda. Com adequação metodológica ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais, “[...] O IDHM – incluindo seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda – conta um pouco da história dos municípios. Já o IDHM Educação é uma composição de indicadores de escolaridade da população adulta – medida pelo percentual de pessoas de 18 anos ou mais de idade, com o ensino fundamental completo – e de fluxo escolar da população jovem – medido pela média aritmética do percentual de crianças de 5 a 6 anos frequentando a escola, do percentual de jovens de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do ensino fundamental, do percentual de jovens de 15 a 17 anos com ensino fundamental completo e do percentual de jovens de 18 a 20 anos com ensino médio completo”. A metodologia utilizada para o cálculo encontra-se detalhada e disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/o_atlas_/>.

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5352

TABELA 3 – IDHM/IDHM Educação/Fluxo Escolar da População Jovem por Municípios da Baixada Fluminense (2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. PNUD Brasil, IPEA e Fundação João Pinheiro, 2013.Obs.: Em amarelo, índices que estão acima da média nacional.

A situação educacional dos muncípios da região mantém-se aquém da

desejável. Pode-se inferir que, apesar dos avanços produzidos pela expansão

de campis de universidades e institutos federais16 na região, pelo incremento

nos investimentos públicos e privados e pela adoção de ações afirmativas para

a democratização do acesso ao ensino superior, na última década, a fronteira

da “chegada à universidade” mantém-se acessível a um grupo ainda restrito.

16 Criados pela Lei Federal n. 11.892/2008, que regulamentou a transformação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFET Química de Nilópolis-RJ), seguida da integração do Colégio Agrícola Nilo Peçanha (Pinheiral), antes vinculado à Universidade Federal Fluminense. 

IDHMIDHM

Educação

% de 15 a 17 anos com

Fundamental Completo

% de 18 anos ou mais com ensino

Fundamental Completo

% de 18 a 20 anos

com Médio Completo

Brasil 0,727 0,637 57,24 54,92 41,01

Belford Roxo (RJ) 0,684 0,598 47,96 54,90 32,06

Duque de Caxias (RJ) 0,711 0,624 51,33 58,41 38,30

Guapimirim (RJ) 0,698 0,604 48,01 52,05 38,70

Itaguaí (RJ) 0,715 0,638 50,68 57,53 40,31

Japeri (RJ) 0,659 0,555 42,43 47,18 32,38

Magé (RJ) 0,709 0,626 54,01 54,52 37,81

Mesquita (RJ) 0,737 0,678 53,16 66,24 42,87

Nilópolis (RJ) 0,753 0,716 58,20 71,47 49,76

Nova Iguaçu (RJ) 0,713 0,641 53,25 60,37 38,81

Paracambi (RJ) 0,720 0,666 63,98 59,69 43,93

Queimados (RJ) 0,680 0,589 46,51 53,57 33,41

São João de Meriti (RJ) 0,719 0,646 52,59 61,42 40,87

Seropédica (RJ) 0,713 0,648 50,05 57,19 48,95

TABELA 4 – Escolaridade Média dos Membros dos Grupos

Frequência %Porcentagem

VálidaPorcentagem Acumulada

Respostas Válidas

Ensino Fundamental (incompleto) 6 5,2 5,4 5,4

Ensino Fundamental (completo) 8 7,0 7,1 12,5

Ensino Médio (incompleto) 7 6,1 6,3 18,8

Ensino Médio (completo) 55 47,8 49,1 67,9

Graduação (incompleta) 15 13,0 13,4 81,3

Graduação (completa) 19 16,5 17,0 98,2

Pós-Graduação (incompleta) 1 ,9 ,9 99,1

Pós-Graduação (completa) 1 ,9 ,9 100,0

Subtotal 112 97,4 100,0  

Nãoresponderam

99 3 2,6    

Total 115 100,0    

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5554

Estrutura e funcionamento dos grupos criativos

A relevância de um local próprio para o desenvolvimento das atividades

dos grupos vincula-se às expectativas de consolidação de um espaço-sede

em que os membros e seu público possam construir referência; um espaço

em que mantenham algum grau de autonomia na realização de alterações

e modificações de infraestrutura, de acordo com suas necessidades; um

espaço-memória onde se encontrem inscritas a identidade do grupo e de

seus membros, sua trajetória, processos organizativos e os acervos acumu-

lados no decorrer do percurso.

Constatou-se que as atividades desenvolvidas pelos grupos ocorrem em

espaços fixos, cujos formatos são negociados em distintos arranjos. Como

local preferencial para organização e manutenção do grupo, 33,3% (equiva-

lente a 38 grupos) indicam possuir sede própria e outros 27,19% (equivalente

a 31 grupos) organizam-se em espaços cedidos e/ou emprestados por insti-

tuições diversas – igrejas, escolas e outros parceiros. 26,32% % (equivalente

a 30 grupos) declararam praticar suas atividades na casa de algum de seus

integrantes e 24,56% (ou 28 grupos) em espaços alugados. Em menor número,

espaços públicos ou privados são utilizados.

Praças, ruas, instituições comerciais (bares, padaria, açougue etc.) e ocupa-

ções embaixo de viadutos foram citados como locais de desenvolvimento de

suas atividades/eventos.

GRÁFICO 5 – Espaços de Desenvolvimento das Atividades dos Grupos

33,33%

24,56%

27,19%26,32%

12,28%13,16%

7,02%

0,88%2,63%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Em sedeprópria

Em sedealugada

Na praça Na rua Em bares Ocupação OutrosEm espaço cedido/

emprestado em outra

instituição (igrejas,

escolas, outros parceiros)

Na casa de algum integrante do grupo

No caso dos grupos que declararam possuir sede própria, os imóveis

foram adquiridos por meio de duas modalidades, a saber: compra do imóvel

por um de seus integrantes ou pelo próprio grupo, em 13% (equivalente a

15 grupos) dos casos ou herança de algum familiar dos membros do grupo

(9,6% ou 11 grupos).

Há, também, entre os grupos, em torno de 10,43% (equivalente a 12 grupos),

aqueles que declararam diferenciadas modalidades de parcerias envolvendo

cessão de espaços por instituições públicas e privadas, compartilhamento e

divisão de despesas e equipamentos, entre outros formatos colaborativos.

GRÁFICO 6 – Formatos e Arranjos para Aquisição das Sedes

65,22%

13,04%9,57% 10,43%

0,87% 0,87%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Não possui sedeprópria

Por meio decompra do imóvel

Por meio de herançafamiliar de um dosmembros do grupo

Por meio de cessão deinstituição pública,religiosa ou privada

Outros Não responderam

Um novo conjunto de questões inventariou a percepção que os entrevista-

dos possuíam sobre as condições materiais básicas (infraestrutura, material de

consumo, recursos didáticos) para o desenvolvimento de suas atividades regu-

lares, agrupando-as em quatro “pontos de observação”: 1 - Estrutura do imóvel;

2 - Instalações elétricas; 3 - Abastecimento de água; 4 - Esgoto sanitário.

Embora passível de questionamentos quanto à precisão/exatidão das

respostas, a inclusão desses pontos na pesquisa vincula-se ao princípio éti-

co-metodológico de que, para a compreensão sobre qualquer realidade con-

creta, além da reunião de fatos e dados, torna-se imprescindível a apreensão

das percepções, opiniões e pontos de vista daqueles que são sujeitos, organi-

zadores e usuários dos espaços.

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5756

A seleção desses itens considerou as condições mínimas e indispensáveis

ao funcionamento das iniciativas propostas pelos grupos. É com base na com-

preensão dessa realidade que o projeto Brasil Próximo espera colaborar na

construção de metas e planos de ação para a melhoria da qualidade dos ser-

viços oferecidos/consumidos pelos grupos.

Com relação à infraestrutura foram classificadas pelas categorias BOM =

Em bom estado de conservação; REGULAR = Necessita de pequena reforma;

RUIM = Necessita de grande reforma; INEXISTENTE = Não existe no espaço,

de modo geral, sobressaiu-se a percepção do bom estado de conservação

da estrutura do imóvel onde 54,8% (equivalente a 63 grupos) realizam suas

atividades. Contudo, faz-se importante salientar a porcentagem significativa

(15,9%, equivalente a 11 grupos) daqueles que apontaram como “inexistente”

ou “ruim” a percepção que tinham desse item.

Essa, por sinal, foi uma tendência observada nos demais pontos de obser-

vação: Instalações elétricas (BOM – 58,3%; REGULAR – 29,6%); Abastecimento

de água do imóvel (BOM – 55,7%; INEXISTENTE/RUIM – 19,5%); Estado de con-

servação do esgoto sanitário (BOM – 71,3%; REGULAR – 27,4%).

GRÁFICO 7 – Percepção sobre o Estado de Conservação dos Itens/Equipamentos (sedes)

6,09%3,48%

7,83% 4,35%

9,57%6,96%

11,30%

3,48%

27,83%29,57%

23,48%19,13%

54,78%

58,26%

55,65%

71,30%

1,74% 1,74% 1,74% 1,74%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Estrutura do imóvel Instalações elétricas Abastecimento de água Esgoto sanitário

■ Inexistente ■ Ruim ■ Regular ■ Bom ■ Não responderam

Em alguns casos, essa percepção mostrou-se oposta à percepção dos

mobilizadores e operadores. Buscando apreender a multidimensionalidade

das narrativas ouvidas, uma das jovens registrou suas impressões: “Acrescento,

também, a grande dificuldade dos grupos de avaliar as condições de sua pró-

pria sede, talvez por vergonha, receio de que algum representante político

tome conhecimento ou, até mesmo, por não perceber que de tanto olhar e

conviver com aquela necessidade acabam aceitando ou deixando de ver”.

As atividades organizativas e artísticas dos grupos desenvolvem-se em

variados ambientes (dependências), elencados a seguir. Alguns deles (banhei-

ros, pátio, cozinha, jardim) sugerem mais diretamente a utilização de casas

residenciais adaptadas para as atividades dos grupos. Outros (pátio, salas de

aula, escritório administrativo, salas de reuniões, almoxarifado) permitem

entrever a estrutura organizacional criada para o funcionamento dos grupos.

Alguns dos ambientes relacionados pelos entrevistados (sala de exposi-

ção, sala de projeções audiovisuais, sala para oficinas, camarim, entre outros)

tornam possível compreender a natureza das ações, atividades e projetos exe-

cutados pelos grupos.

Com menor frequência, listados no campo “Outros” (12,28%), foram rela-

cionados ambientes, como: campo de futebol, galpão, rua, salão de eventos,

quadra de esportes e espaços multiuso.

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5958

GRÁFICO 8 – Ambientes/Dependências para a Realização das Atividades dos Grupos

52,63%

56,14%

47,37%

21,93%

28,95%

19,30%

27,19%

20,18%

4,39%

49,12%

17,54%

40,35%

29,82%

10,53%

3,51%

3,51%

28,07%

80,70%

10,53%

37,72%

19,30%

9,65%

6,14%

21,05%

12,28%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Jardim ou espaço externo

Cozinha

Escritório (Coord./Adm.)

Sala de exposições

Sala de projeções audiovisuais

Laboratório de informática

Biblioteca e/ou sala de leitura

Estruturas de mobilidade e acessibilidade

Nenhum dos ambientes/dependências relacionadas

Pátio

Refeitório

Sala de reuniões

Sala equipadas para oficinas

Estúdio de gravação

Laboratório de fotografia

Lona

Almoxarifado

Banheiros

Alojamento

Salas de aula

Auditório

Ilha de edição

Teatro/Arena

Palco/Tablado

Outros

Cruzando-se as variáveis “espaço onde se desenvolvem as atividades”

e “tipo institucional”, observa-se que, entre os grupos não formalizados, o

espaço mais comum de execução das atividades é a casa de algum integrante

do grupo (43,4%, equivalente a 23 grupos), enquanto que, entre os grupos for-

malizados, há predominância na utilização da sede pelos grupos (42,6% ou

26 grupos). Nos distintos ambientes, alocam-se os materiais e equipamentos

conquistados e/ou adquiridos como investimentos pelo grupo, como demons-

tram os gráficos seguintes.

GRÁFICO 9 – Equipamentos que os Grupos Possuem e/ou Compartilham

67,57%

51,35%

29,73%

28,83%

43,24%

66,67%

57,66%

62,16%

30,63%

51,35%

73,87%

27,03%

31,53%

37,84%

14,41%

10,81%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Computador (desktop – de aplicação e multimídia)

Laptop

Projetor de filmes /Data Show

Telão

TV

Instrumentos musicais

Impressora, scanner

Câmera fotográfica digital

Equipamentos de iluminação

DVD

Equipamento de som

Carteiras de sala de aula

Filmadora Mini-DV

Quadro negro/branco

Lonas, tendas e equipamentos circenses

Outros

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6160

GRÁFICO 10 – Serviços Disponíveis nos Espaços

69,81%

20,75%

23,58%

64,15%

20,75%

50,00%

74,53%

19,81%

4,72%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Telefone (fixo)

Fornecimento de alimentação

Estacionamento

Internet (banda larga)

TV por assinatura

Atendimento ao público

Limpeza e manutenção

Segurança privada

Outros

Os serviços e equipamentos, em alguns casos, são utilizados por meio da

modalidade de parceria e compõem um cardápio de possibilidades (capitais)

pelas quais os grupos são reconhecidos e inserem-se nas redes das quais partici-

pam. Possivelmente, é por meio da mobilização desses serviços, equipamentos e

interconexões colaborativas originadas entre eles que os grupos vêm chamando

atenção para o cotidiano da Baixada e construindo redes que transbordam sua

atuação cultural para o desejo de coparticipação da vida política da região.

Ocupando espaços significativos, a criação cultural da Baixada forja um

novo discurso – e uma nova prática – que conjuga ruptura e potência, dispu-

tando com os produtos de mais forte apelo midiático na mobilização e na

sedução de novos públicos.

Ao serem consultados sobre a existência de ambientes, equipamentos e/ou

serviços a serem oferecidos ou aprimorados, 73,91% dos grupos disseram neces-

sitar de outros itens para o desenvolvimento de suas atividades onde as reali-

zam atualmente. Foram recorrentes os depoimentos que sinalizaram o roubo

de equipamentos obtidos por meio de editais e prêmios, associando a perda do

patrimônio do grupo às necessidades para a continuidade de suas ações.

A depender da natureza das atividades que desempenham, uma variedade

de equipamentos e recursos específicos a cada expressão cultural e artística –

espaços adaptados para a dança com barras, estúdios de gravação, aquisição

de instrumentos musicais, aquisição de figurinos, entre outros – foram listados

como prioritários para a oferta de atividades e produções com maior quali-

dade técnica e alcance comunitário.

Acervos e memória: o que lembrar?

O interesse na recuperação da memória de iniciativas e ações culturais ocor-

ridas na região capturou a atenção da equipe de pesquisa para os acervos

reunidos pelos grupos, em especial para os usos que fazem deles e as inten-

cionalidades presentes na sua organização (histórico-documentais, artísticos,

fonográficos, bibliográficos, entre outros).

Para a qualificação da noção de acervos, operou-se com o conceito de

coleções, articulado à ideia de patrimônios, que se constitui por meio da sele-

ção de elementos de memória expressos pelo visível (material, tangível, obje-

tos visíveis ao olhar terreno) e pelo invisível (imaterial, simbólico, intangível).

De acordo com tal abordagem, esses elementos estão inscritos em qua-

dros sociais mais amplos e complexos, assumindo, ao mesmo tempo, o lugar

de resultantes e indutores da produção de formatos próprios de coleciona-

mento e patrimonialização.

Observa-se que os grupos consultados no mapeamento possuem a percep-

ção de que seus ativos culturais constituem-se em patrimônios para si e para a

região. Entre eles, um número expressivo (71,3% ou 82 grupos) declarou pos-

suir algum tipo de acervo, em contraste com 27, 8% (equivalente a 32 grupos)

que disseram não possuir acervo.

As coleções são formadas, com maior frequência, por materiais que tra-

tam sobre a trajetória de atividades do grupo (Portfólio, 86,59%). A ordem das

temáticas dos demais acervos segue a seguinte lógica, a saber: 50% (equiva-

lente a 41 grupos) possuem acervos sobre expressões culturais e artísticas;

39,02% (32 grupos) sobre temas gerais; 30,49% (25 grupos), sobre referências

culturais da região ou do município.

Levando-se em consideração a existência de acervo e o formato institu-

cional dos grupos, há presença ligeiramente maior de acervos entre grupos

formalizados (73,8%) do que nos grupos não formalizados (69,8%).

GRÁFICO 11 – Temáticas dos Acervos

86,59%

50,00%

30,49%

39,02%

4,88%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Sobre a trajetória de atividade do grupo

Sobre as expressões culturais eartísticas, de modo geral

Sobre as referências culturais ehistóricas da região/município

Sobre temas de interesses variados

Outros

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6362

Distintos materiais – livros, filmes, figurinos, cenários, revistas, mídias digi-

tais, entre outros – compõem as coleções organizadas pelos grupos. Algumas

foram reunidas por meio de doação dos membros da equipe, participações

em projetos e ações sociais, intercâmbios culturais, editais, parcerias e aquisi-

ções definidas pelos interesses e necessidades dos grupos.

Embora disponível para a consulta comunitária ou visitação local, por 59,76%

(49 grupos) dos que responderam possuir algum tipo de acervo, apenas 29,27%

(equivalente a 24 grupos) o colocam disponível para empréstimo à comunidade.

Destaca-se a grande presença de diferentes mídias digitais (CDs, DVDs,

registros audiovisuais etc.) como parte dos acervos. Dos grupos que declara-

ram possuir algum acervo, 87,06% (74 grupos) indicaram tais mídias como os

mais frequentes meios de registro em suas coleções.

GRÁFICO 12 – Tipos de Materiais Presentes na Composição dos Acervos

45,88%

62,35%

56,47%

43,53%

87,06%

55,29%

34,12%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Livros

DVDs

Roupas, cenários etc.

Revistas, periódicos, gibis etc.

Mídias digitais (arquivos de áudio,imagens digitais divulgadas na web)

CDs

Outros

O tratamento dado ao patrimônio imaterial na região constitui um ponto

de atenção e destaque para agenda governamental. Grupos de Folias de

Reis17, capoeira, centros culturais de difusão e valorização da cultura de

matriz africana, terreiros de candomblé e museus de cultura africana, com

acervo constituído por totens, tecelagem, cerâmica, serralheria, máscaras etc.,

organizam-se, na região, como lugares de memória, como forma de recriação

da história dos acontecimentos da diáspora africana no Brasil.

17 Alguns com início em 1872, como o caso do grupo Reisado Flor do Oriente, foram inventariados na pesquisa Jongos, calangos e folias: memória e música negra em comunidades rurais do Rio de Janeiro e compõem o Acervo UFF Petrobras Cultural de Memória e Música Negra do LABHOI/UFF.

Esses grupos, em especial, manifestam compromisso com a realização de

iniciativas e projetos dedicados à conscientização sobre as relações étnico

-raciais no contexto brasileiro e de promoção da igualdade racial. Direcio-

nam suas iniciativas em consonância com os pressupostos da Lei Federal n.

10.639/03, posteriormente, substituída pela Lei n. 11.645/04, que trata da obri-

gatoriedade do ensino da história da África e da contribuição dos afro-brasi-

leiros na formação social do país, em todos os níveis de ensino.

Modos de comunicar...

A mídia, em suas variadas versões e formatos, ganhou lugar de ambiente vital

na trajetória de nossas sociedades. Nele, sonhamos e agimos coletivamente, em

processos constantes de (re)construção de nossas realidades, no rebatimento

de sentidos e representações. Em dinâmicas complexas, nas quais a lógica do

hipertexto, da valorização da interatividade dos usos, das novas formas de

circulação e agenciamento de informações e símbolos, ocorrem os processos

socializadores e reguladores dos nossos modos de “estar no mundo”.

As mudanças no cotidiano dos grupos, com a multiplicidade de funções que

exercem e a maior presença de novas tecnologias de comunicação, produzem

impactos sobre as ações sociopolíticas e seus formatos organizativos.

A maior parte dos grupos (43,48% ou 50 grupos) reserva um ou dois encon-

tros semanais para a realização de reuniões de organização das equipes.

Entre os demais, em menor número, 13,04% (equivalente a 15 grupos) decla-

raram encontrar-se mais de três vezes na semana; 17,39% (20 grupos), quinze-

nalmente; 23,48%, (27 grupos), mensalmente.

Não foram observadas diferenças entre a frequência de reuniões e o for-

mato institucional dos grupos, mantendo-se um ou dois encontros semanais

como a dinâmica mais comum entre os grupos entrevistados.

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6564

GRÁFICO 13 – Frequência de Reuniões de Organização dos Grupos

43,48%

17,39%

13,04%

23,48%

1,74% 0,87%0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Uma ou duas vezes por

semana

Três a cincovezes porsemana

Quinzenal Mensal Outras Não responderam

Esses encontros são, em sua maioria, exclusivamente, presenciais – 64,35%.

Outros grupos – 33,91% – adotam uma modalidade mista de organização que

conjuga encontros presenciais com articulação virtual. Não se registraram

grupos que mantenham articulação puramente virtual.

Os formatos organizativos parecem estar relacionados à natureza de ativi-

dades realizadas, com mais frequência, pelos grupos consultados. Percebe-se

que as atividades mais comuns aos grupos são: produção de eventos (69,30%),

oficinas (63,16%), aulas (60,53%), espetáculos (55,26%) e festivais (52,63%).

É importante destacar que, de maneira geral, os grupos relataram desen-

volver mais de uma ação ou atividade. Essa sobreposição tem justificativa nas

estratégias de sobrevivência encontradas por eles para manutenção de suas

práticas e realização de carreiras profissionais.

No contato com os grupos, fica evidente que o desejo de conciliação de

projetos individuais e coletivos é motivo de grande preocupação para seus

membros. Dos entrevistados, 80% (92 grupos) disseram não haver geração de

renda nas atividades e iniciativas desempenhadas por seus membros. Ape-

nas 19,13% (equivalente a 22 grupos) realizam atividades das quais extraem

alguma remuneração financeira.

GRÁFICO 14 – Ações/Atividades Desenvolvidas pelos Grupos

63,16%

60,53%

52,63%

55,26%

32,46%

32,46%

37,72%

69,30%

25,44%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%

Oficinas

Aulas

Festivais

Espetáculos

Exposições

Saraus

Exibição de filmes

Produção de eventos

Outras

Dessas atividades, grande parte gera recursos para a manutenção das

ações e iniciativas desenvolvidas, como é o caso para 53,04% ou 61 dos grupos

entrevistados. Entretanto, 46,09% (equivalente a 53 grupos) declararam não

haver retorno financeiro nas atividades/produções artísticas.

Entre os grupos formalizados, as principais atividades concentram-se na

produção de eventos (77%), na dinamização de oficinas (77%) e na oferta de

aulas (70,5%). Entre os grupos não formalizados, predominam a produção de

eventos (60,4%) e a realização de espetáculos (56,6%).

TABELA 5 – Ações/Atividades Desenvolvidas pelos Grupos

Respostas Porcentagem de RespostasNº %

Ações e Atividades Desenvolvidas pelos Grupos

Oficinas 72 14,7% 63,2%

Aulas 69 14,1% 60,5%

Festivais 60 12,3% 52,6%

Espetáculos 63 12,9% 55,3%

Exposições 37 7,6% 32,5%

Saraus 37 7,6% 32,5%

Exibição de filmes 43 8,8% 37,7%

Produção de eventos 79 16,2% 69,3%

Outras 29 5,9% 25,4%

Total 489 100,0% 428,9%

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6766

Dos entrevistados, 61,74% (71 grupos) declararam não receber nenhum

tipo de financiamento/auxílio para realização das atividades. Os grupos

revelaram mobilizar diferentes estratégias para garantir sustentabilidade e

continuidade de seus projetos.

A maior parte deles (58,77% ou o equivalente a 67 grupos) mantém-se por

meio de apoios pontuais e doações. Ações comunitárias entre seus membros

– bingos, rifas, e, possivelmente, em tempos futuros a modalidade de crowd-

funding –, cachês recebidos, editais no campo da cultura, nos âmbitos federal,

estadual e municipal e da iniciativa privada, e, por fim, premiações, aluguel de

espaços, entre outras modalidades.

A rede estabelecida entre os grupos da região parece garantir, com mais

eficácia, a manutenção das atividades dos grupos, como salientou um dos

operadores: “Por tantas dificuldades, os grupos fazem parcerias múltiplas

que possibilitam sua continuidade e o incentivo necessário para a continui-

dade dos trabalhos. Muitos trocam informações para a profissionalização em

questão; fazem apresentações em conjunto; dividem o aluguel de espaços;

realizam espetáculos próprios; trocam experiências de conhecimento. Dessa

maneira, reafirmam o compromisso próprio em desenvolver sua arte e lutar

por seu espaço em sua região” (Alan Alves, operador, 2014).

GRÁFICO 15 – Estratégias de Sustentabilidade e Manutenção das Atividades

25,4%

15,8%

9,6%

24,6%

14,9%

58,8%

36,0%

25,4%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Editais no campo da cultura(âmbitos federal, estadual e municipal)

Editais no campo da cultura(Iniciativa privada)

Aluguel do espaço do grupopara outras atividades

Por meio do recebimento de cachês

Premiação

Por meio de doações (apoios)

Por meio de ações comunitárias entreseus membros (bingos, rifas etc.)

Outras

Somente 36,52% disseram receber ou já ter recebido algum tipo de finan-

ciamento permanente. As instituições públicas – federal, estadual e municipal

– comparecem com a maior parte dos recursos destinados ao financiamento

e à manutenção das ações e iniciativas promovidas pelos grupos.

Outros financiadores participam da dinâmica de produção e manuten-

ção de suas práticas colaborando com a sustentação de seus ciclos criativos,

com menos intensidade.

GRÁFICO 16 – Tipo de Instituição Financiadora dos Grupos

22,73%

18,18%

6,82%

11,36%

13,64%

25,00%

43,18%

13,64%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

Instituição Pública Federal

Ponto de Cultura ou similar

Terceiro Setor

Instituição Pública Estadual

Instituição Religiosa

Instituição Privada

Instituição Pública Municipal

Outras

Registra-se como um ponto de análise e implementação de iniciativas

a baixa participação em editais públicos de seleção de projetos e/ou prê-

mios, nos últimos 24 meses. Percebe-se que a maioria dos grupos submeteu

poucos projetos – a maior parte apresentou nenhum ou apenas um projeto

–, sendo, no conjunto, uma média de 2,64 projetos/grupo. Entre os grupos

formalizados, 3,97 projetos foram apresentados, em contraste com 1,19 pro-

jetos apresentados por grupos não formalizados. Por meio dos gráficos a

seguir, é possível visualizar a distribuição quantitativa dos projetos apre-

sentados. Cabe observar, porém, que as candidaturas submetidas tiveram

pouco êxito nos resultados finais de seleção.

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6968

GRÁFICO 17 – Submissão de Candidaturas para Editais de Seleção de “Projetos/Prêmios”

Freq

uênc

ia

00

10

20

30

40

50

60

10 20 30

Mean = 2,64Std. Dev. = 4,55N = 111

GRÁFICO 18 – Projetos Aprovados em Editais de Seleção/Prêmios

Freq

uênc

ia

00

20

40

60

80

2 4 6

Mean = ,77Std. Dev. = 1,307N = 111

Realizando o mesmo recorte – quantidade de candidaturas aprovadas nos

editais de seleção de projetos e/ou prêmios, nos últimos 24 meses, e o formato

institucional do grupo (formalizado e não formalizado) –, observam-se valo-

res diferenciados entre o máximo de projetos aprovados por grupos não for-

malizados (quatro) e um maior número entre os grupos formalizados (cinco).

A média dos valores é, igualmente, distinta: 1,22 projetos aprovados entre os

grupos formalizados e um número médio incipiente de projetos aprovados

entre os grupos não formalizados (0,26).

O acesso e o êxito nos processos seletivos dos editais vinculam-se ao

domínio da “linguagem dos projetos” e ao acúmulo de repertório específico.

No contato com os operadores, os grupos revelaram não possuir pleno “[...]

conhecimento do que são editais de cultura e, mesmo os que conhecem, em

muitas ocasiões, não conseguem ganhar o edital, pois não conseguem com-

preender a documentação necessária para inscrição e, em alguns casos, não

conseguem escrever um projeto que se encaixe no edital”.

Embora, numericamente, a seleção em editais constitua um problema

para ambas as modalidades consultadas, a impressão comum ao grupo de

trabalho é a de que “[...] alguns grupos têm um nível de profissionalismo muito

grande e pouco sofrem com essas questões de edital. Por outro lado, grupos

menores e considerados mais ‘amadores’ se veem na necessidade de conta-

rem com alguém especializado para escrever o projeto que concorrerá ao

edital” (Carolina Mendonça, operadora, 2014).

A inconstância nas linhas de apoio e na captação de recursos para a aqui-

sição de sedes, a percepção da cultura como meio para a compreensão e a

transformação da realidade em que se inserem e os interesses de visibilidade

e ampliação de redes expressos pelos grupos – “uma vontade de fazer de

outra forma” – parecem agir como vetores de indução para a criação de opor-

tunidades, encontros, ocupação de espaços e equipamentos públicos e outros,

pelos grupos culturais, sejam de base predominantemente juvenil ou não.

Os grupos estimaram alcançar, em média, em torno de duas mil pessoas

em suas atividades regulares. A estimativa, porém, está influenciada pelo

número máximo declarado por um dos grupos entrevistados (15 mil bene-

ficiados). Embora o número seja um indicativo do alcance das atividades, é

preciso ressalvar que não se podem comparar atividades tão distintas como

uma festa promovida por uma agremiação carnavalesca e a apresentação de

mímica em praça pública, por exemplo. Tendo em vista a natureza diferen-

ciada das ações realizadas e a multiplicidade de grupos mapeados, há que

se reunirem esforços e investimentos municipais para a elaboração de indi-

cadores que considerem a diversidade de grupos, a pluralidade de gostos,

expressões, necessidades e demandas da população da região; colaborem

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7170

para a mensuração do alcance das atividades aos beneficiados e do impacto

das ações dos grupos no cotidiano dos moradores e estabeleçam critérios por

eixo, mais qualitativos, para a elaboração de linhas de apoio e fomento com

base na pluralidade democrática.

A articulação com escolas, universidades, ONGs, centros culturais, pon-

tos de cultura, entre outros atores sociais e instituições púbicas e privadas,

pode ser geradora de novos conhecimentos e, principalmente, favorecer o

desenvolvimento de propostas que visam à ampliação dos diversos fomen-

tos, apoios, patrocínios e financiamentos, para a realização das atividades

desempenhas pelos grupos. A articulação em rede com empresas privadas

e indústrias estabelecidas no território, visando ao conhecimento e ao reco-

nhecimento da produção cultural local, pode contribuir potencialmente com

os meios de patrocínios de projetos mediante a Lei Federal de Incentivo à

Cultura (Lei n. 8.313, de 23 de dezembro de 1991).

GRÁFICO 19 – Número Médio de Pessoas Beneficiadas pelas Atividades dos Grupos

Freq

uênc

ia

Mean = 2603,96Std. Dev. = 15266,02N = 1100

0

20

40

60

80

100

120

50.000 100.000 150.000 200.000

Não é possível precisar a faixa etária prevalecente entre os beneficiados

pelas ações dos grupos. Constata-se o alcance intergeracional das iniciativas

dos grupos. Entre os grupos entrevistados, 46,09% (equivalente a 53 grupos)

apontaram a imprecisão de uma faixa específica entre seus beneficiados.

Não se constatam variações significativas ao considerar a faixa etária dos

beneficiários e os formatos institucionais dos grupos. Confirma-se, entre eles,

o atendimento a diversas faixas etárias, representando 39,6%, entre os grupos

não formalizados, e 50,8%, entre os grupos formalizados.

Essa informação sugere que os grupos mapeados, apesar de contar com

jovens entre seus membros, não possuem ações especialmente desenhadas

para mobilizar e angariar a presença prioritária da juventude nos municípios.

Seus esforços concentram-se em proporcionar modos de expressão artística

para os diversos segmentos populacionais.

GRÁFICO 20 – Faixa Etária Média dos/as Beneficiados/as nas Atividades dos Grupos

0,87%

8,70%

8,70%

11,30%

10,43%

8,70%

5,22%

46,09%

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%

01 a 09 anos

10 a 14 anos

15 a 17 anos

18 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 45 anos

Acima de 45 anos

Diversas faixas etárias

Constata-se que a principal ferramenta utilizada para a mobilização

de antigos e novos participantes e a difusão de seus trabalhos são as redes

sociais (83,33%). Com grande destaque, na sequência, listam-se a rede de con-

tatos pessoais (67,54%) e as parcerias de divulgação com as escolas da região

(34,21%), para tornar visíveis suas ações e iniciativas na região. Outras respos-

tas – carro de som, faixas, apresentações, eventos – também foram listadas e

agrupadas na categoria “Outros”.

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7372

GRÁFICO 21 – Estratégias para Mobilização dos Participantes

33,33%

6,14%

83,33%

14,04%

12,28%

34,21%

67,54%

13,16%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

Mídia impressa

Mídia televisiva

Redes sociais (Facebook, Twiter etc.)

Mala direta

Rádio local

Divulgação em escolas

Contatos pessoais

Outras

Redes e ação coletiva

Investindo em processos colaborativos e solidários, 80% dos grupos relata-

ram a existência de intercâmbio e/ou parceria com outros grupos. Os víncu-

los de parceria mais mencionados estão na esfera artística, com 89,13% das

respostas; seguidos por colaborações e intercâmbios na prestação de servi-

ços, 36,96%; na reserva de vagas preferenciais em cursos e seminários, 20,65%

(equivalente a 19 grupos); e, em menor número, estão elencadas as parcerias

de natureza administrativo-burocrática, 15,22% (14 grupos).

Embora concentrados em tocar suas próprias produções e projetos coletivos,

não sem grandes dificuldades como vimos até aqui, constata-se a forte presença

de uma rede de suporte que promove, sempre que solicitada, a mobilização e/ou

participação de outros grupos em 60% das atividades dos grupos entrevistados.

O mesmo ocorre com a comunidade à qual os grupos estão vinculados.

Em suas opiniões, sempre que solicitada, para 43,9% (50 grupos), e de maneira

frequente, para 22,6% (26 grupos) deles, é possível contar com a mobilização

e participação da comunidade local nas iniciativas propostas no território.

Entretanto, 38 grupos (33,04%) não contam com a comunidade local em suas

decisões e/ou atividades cotidianas.

A precariedade com que os grupos desenvolvem suas ações e a visão que

possuem da ausência de apoio do poder público foram temas recorrentes

durantes as visitas de campo.

Entre os grupos entrevistados, expressões de resistência e organização cole-

tiva evidenciaram um compromisso com a dignidade humana dos moradores

da região. No depoimento de uma das operadoras: “[...] muitos grupos demons-

traram muita indignação por não receberem nenhuma ajuda por parte da polí-

tica local, e deixaram claro que nunca deixaram de exercer as suas atividades

por esse motivo. Boa parte faz isso por atitude voluntária [...] as ações deixam de

fazer parte da cultura laboral para dar lugar ao afeto e o ato de ajudar o outro

ou dar sentido à vida de outras pessoas” (Sílvia Machado, operadora, 2014).

Entretanto, não se deve essencializar a atuação dos grupos nem de seus

integrantes, inscrevendo-os, exclusivamente, na clave do altruísmo voluntário

ou do engajamento e militância política. Dessa forma, incorreríamos no erro

de naturalizar a incipiente atuação estatal no dever de prover condições de

acesso e consumo da produção cultural dos municípios, e não reconhecerí-

amos as criativas e possíveis formas em uso, pelos grupos, para lidar com a

instabilidade cotidiana de suas existências.

Por fim, na percepção de Marcos Paulo, mobilizador, “[...] existem algu-

mas dezenas de instituições bem estruturadas que usam a arte como ferra-

menta de mobilização ou como produto. Essas istituições disputam editais,

contratam por carteira assinada e são as mais representativas nas esferas

governamentais. Outro grupo, um pouco maior, disputa espaços para buscar a

autossustentação, ora contratando, ora apelando para o voluntariado”.

Pautas políticas...

GRÁFICO 22 – Principais Dificuldades para Manutenção/Execução das Ações/Produções

0,88%

90,27%

69,91%

22,12%

11,50%

43,36%

10,62%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Não possui dificuldades

Financeiras

De infraestrutura

De equipe

Segurança

Mobilidade

Outras

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7574

Um último conjunto de questões inventariou as percepções sobre as prin-

cipais dificuldades observadas pelos grupos para manutenção de suas ações

e continuidade de suas produções coletivas.

Listada como prioritária, a situação FINANCEIRA dos grupos foi apontada

por 90,27% (equivalente a 102 grupos) como principal preocupação, seguida

por questões relacionadas à infraestrutura (69,91% ou 79 grupos) e mobili-

dade (43,36% ou 49 grupos).

Constata-se, na análise bivariada, que a mesma ordem de questões foi

elencada com relativa proximidade entre os grupos formalizados e não forma-

lizados. As dificuldades financeiras atingem 84,9% (equivalente a 45 grupos),

entre os grupos não formalizados, e 95% (57 grupos), entre os formalizados.

Questões relativas à INFRAESTRUTURA foram registradas como prioritá-

rias por 75,5% (equivalente a 40 grupos) dos grupos entrevistados, entre os

não formalizados, e 65% (39 grupos), entre os grupos formalizados, listando-

se, entre elas, um conjunto de demandas, a saber: melhoria nas instalações,

ampliação dos espaços, climatização dos ambientes, aquisição de instrumen-

tos e equipamentos eletrônicos de qualidade profissional, adequação dos

espaços no caso de grupos de dança e música, inclusão digital, entre outras.

Em relação à MOBIlIDADE, a temática foi associada às possibilidades de

deslocamento dos membros dos grupos e participantes nas atividades regula-

res e para apresentações nos diversos eventos aos quais são convidados.

Constata-se que, em geral, no interior dos grupos, em relação às práticas

sustentáveis, os integrantes acumulam funções, como produção, criação, arti-

culação, escrita de editais, entre outras, de modo a viabilizar seus projetos e

gerar mecanismos de sustentabilidade aos grupos. Para sobrevivência indivi-

dual, acumulam funções e atividades paralelas que, grande parte das vezes,

mantêm relação com suas atividades artísticas; ministram oficinas em escolas,

por meio de programas como Mais Educação – Ministério da Educação18; par-

ticipam, de modo direto ou indireto, em eventos patrocinados por empresas

ou eventos particulares, entre outras ocupações e oportunidades disponíveis.

Diante dessa complexa realidade, o apoio para contratação e manutenção

de funcionários, a qualificação das equipes e a oferta de maiores benefícios

profissionais para seus membros foram itens apontados pelos grupos como

fundamentais para a continuidade e permanência de suas ações e a diminui-

ção da rotatividade entre seus membros.

É corrente a opinião sobre a presença de um forte protagonismo juvenil

18 Instituído pela Portaria Interministerial n. 17/2007 e pelo Decreto n. 7.083/ 2010, o programa integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Trata-se de uma ação intersetorial entre as políticas públicas educacionais e sociais, promotora da ampliação da jornada escolar, da organização curricular da Educação Integral, com o propósito de incidir na diminuição das desigualdades educacionais e na valorização da diversidade cultural brasileira.

nessas atividades, na linha do “faça você mesmo”, o que, por vezes, vai adqui-

rindo nuances de projetos de carreiras profissionais e, por fim, conformam

escolhas conscientes e investimentos educacionais para inserção e domínio

da linguagem do campo da cultura – ingresso em cursos de graduação em

produção cultural, artes cênicas, entre outros; especialização em elaboração

de projetos e legislação cultural; intercâmbios artísticos etc.

Esses investimentos educacionais, embora operacionais e que visam a ati-

vidades práticas, não estão descolados da reflexão política sobre a ausên-

cia de equipamentos culturais e linhas de fomento à cultura por governos e

empresas locais. Perceber-se como agente político em ações de resistência

e criação de oportunidades parece ser a estratégia encontrada pelos grupos

para incidir no debate sobre o direito e a cidadania cultural.

Do ponto de vista das políticas culturais, sem exceção, os relatos chamam

atenção para: a falta de investimentos públicos e privados nas atividades

culturais da região; as dificuldades advindas da ausência de sede própria; a

realização e manutenção de suas atividades; a falta de reconhecimento e

valorização de suas trajetórias e atividades.

Embora reconheçam o aumento das oportunidades geradas nas últimas

décadas, convocam o governo estadual e municipal a dar continuidade às ini-

ciativas e políticas em curso. Propostas para a criação de um canal de comu-

nicação entre os grupos, para que possam trocar informações, destacaram-se

nos depoimentos coletados.

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A constatação da criação e revitalização de organismos de juventude

nos municípios da Baixada Fluminense, no período mais recente (2009/2013),

precipitou a inclusão dos encontros e das entrevistas com os, então, gestores

de políticas, programas e projetos para a juventude dos municípios.

A identificação e a consulta aos organismos de juventude realizadas na

primeira etapa da pesquisa revelaram a criação ou a revitalização de supe-

rintendências e coordenadorias de juventudes em oito dos municípios pesqui-

sados, a saber: Belford Roxo, Duque de Caxias (criada em fevereiro de 2014),

Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti.

Ainda que não fosse o foco principal da pesquisa, a recente implemen-

tação do Plano Juventude Viva é uma estratégia governamental para o

enfrentamento à mortalidade de jovens, em especial dos negros (pretos

e pardos, de acordo com a classificação do IBGE), que tem a presença de

quatro municípios da região – Duque de Caxias, Magé, Nova Iguaçu e São

João de Meriti – na listagem de municípios prioritários, na primeira fase de

implementação do plano.

A iniciativa estimula a criação de organismos estaduais e municipais em

142 municípios brasileiros que apresentam alto grau de risco e vulnerabili-

dade dos jovens a situações de violência física e simbólica. É descrita como

uma oportunidade histórica no enfrentamento à violência, com apoio à cria-

ção de programas e ações voltadas à ampliação de oportunidades de inclusão

social e autonomia, problematizando a banalização da violência e a necessi-

dade de promoção dos direitos da juventude.

Conforme citado no capítulo “Trilhas teóricas e metodológicas” deste rela-

tório, o plano incentiva: oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de

convivência em áreas que concentram altos índices de homicídio, fortalecimento

de trajetórias dos jovens e mudanças em seus territórios, buscando “[...] promover

os valores da igualdade e da não discriminação, o enfrentamento ao racismo e ao

preconceito geracional, que contribuem com os altos índices de mortalidade da

juventude negra brasileira”.

Interrogaram-se os gestores sobre os principais aspectos relacionados à

juventude de seus municípios, o histórico da criação dos organismos, as ações

UM OLHAR SOBRE AS POLÍTICAS DESTINADAS AOS JOVENS DA

BAIXADA FLUMINENSE

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diagnósticas em curso e as iniciativas previstas em articulação com o Plano

Juventude Viva e a política estadual de juventude19.

A fim de contextualizar a situação juvenil negra, recorreram-se a estudos fei-

tos por diferentes pesquisadores (ver Referências Bibliográficas), com interesses

variados, que informam sobre uma progressiva diferenciação na trajetória de

vida – escolar, profissional, social, financeira etc., – entre os grupos étnico-raciais

no país, com acentuada desvantagem para as populações negra e indígena.

Em se tratando do público focal do Plano Juventude Viva, uma vasta

literatura tem realizado críticas sobre a qualidade dos distintos espaços

de socialização disponíveis às crianças e aos jovens negros. Os efeitos das

agências de socialização, em especial a escola, na construção de projetos

futuros por parte de crianças e jovens negros, em todos os níveis de escola-

rização, são ratificados pelos relatos produzidos por esses jovens sobre suas

experiências escolares.

A memória do período, as expectativas criadas e os resultados alcançados

evidenciam que, para esse grupo, a experiência de fracasso é mais presente

do que as expectativas de sucesso e progressão.

Suas trajetórias são mediadas pela experiência do trabalho, em geral, com

inicio na infância e maior incidência entre os meninos negros. Embora não

seja a única, a entrada no mercado de trabalho, a partir dos 14 anos, produz

efeitos diretos, sendo apontada nas intercorrências do processo de escolari-

zação dos jovens. Após os 18 anos, já com dificuldades em conciliar as exigên-

cias da vida escolar, da vida familiar e do mundo do trabalho, são frequentes

o abandono da escola e, em alguns casos, a ruptura com o processo educativo,

por vezes, retomado tempos depois.

Quanto às áreas da saúde e da segurança pública, os dados do Ministério da

Saúde20 informam sobre o crescimento da taxa de homicídios entre os grupos, com

maiores índices entre os jovens negros. Os dados evidenciam que a violência tem

como alvos principais os jovens negros do sexo masculino, com baixa escolaridade.

A convergência entre cor/raça, idade e território constitui fator predomi-

nante para a ocorrência desses índices, impondo, ao governo e à sociedade,

uma agenda de enfrentamento ao racismo e ao preconceito geracional, para

a redução da vulnerabilidade da juventude negra.

Na Tabela 6, a seguir, tem-se o quadro evolutivo do número de homicídios,

19 As entrevistas foram realizadas em fevereiro de 2014, pela coordenadora da pesquisa, em todos os municípios que dispunham de coordenações ou órgãos da juventude, com exceção de Duque de Caxias e Queimados. O contato com a coordenadoria de juventude de Duque de Caxias foi realizado em data anterior à posse da nova gestão e uma conversa preliminar com Marlene D’Almeida, subsecretária de Ações Institucionais e Comunicação, ocorreu na prefeitura do município. Quando a equipe foi empossada, o prazo para finalização da pesquisa já havia se esgotado. Na mesma situação, inclui-se o município de Queimados.

20 Fonte: MS/SVS/DASIS – Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Dados preliminares de 2010.

nos municípios da Baixada Fluminense, quatro deles com taxas alarmantes,

de acordo com o Mapa da Violência21, de Jacobo Waiselfisz. O autor chama

atenção para o que denomina de “novos padrões da mortalidade juvenil”, que

deixam de assinalar, como causas principais, as epidemias e doenças infecto-

contagiosas, registradas em décadas atrás, para dar lugar às “causas externas”

– em especial, acidentes de trânsito e homicídios.

O estudo aponta como fatores que incidem na produção e reprodução da vio-

lência homicida, no nível do município, a presença pouco eficaz do poder público,

as disputas territoriais de quadrilhas, milícias, tráfico, comércio e varejo de dro-

gas, a produção ilegal de entorpecentes e o enraizamento da cultura da violência.

TABELA 6 – Tabela CJ. Número e taxas (por 100 mil) de homicídio, segundo raça/cor nos municípios de 50 mil habitantes. População Jovem. Brasil. 2008/2012

(Ordenado por taxas negras)

21 Fonte: <http://www.mapadaviolencia.org.br>.

Município UF

Número de Homicídios Popul. 2012 Taxas 2012

Branca Total Negra TotalBranca Negra Branca Negra

2010 2011 2012 2010 2011 2012

Belford Roxo RJ 18 26 16 78 68 70 36.385 84.671 44,0 82,7

Duque de Caxias RJ 65 58 43 239 220 187 74.046 146.178 58,1 127,9

Guapimirim RJ 1 0 2 3 7 4 5118 8.786 39,1 45,5

Itaguaí RJ 4 5 7 26 18 26 10.673 18.264 65,6 142,4

Japeri RJ 4 6 1 25 12 21 6.625 20.171 15,1 104,1

Magé RJ 9 11 7 29 27 22 19.699 38.218 35,5 57,6

Mesquita RJ 3 4 10 21 9 18 13.975 27.241 71,6 66,1

Nilópolis RJ 8 5 2 24 26 11 15.534 22.177 12,9 49,6

Nova Iguaçu RJ 54 56 53 179 129 157 69.289 132.451 76,5 118,5

Paracambi RJ 0 0 1 2 1 1 5.530 6.715 ** **

Queimados RJ 5 4 3 25 11 16 11.720 24.214 25,6 66,1

São João de Meriti RJ 23 13 9 66 54 62 37.758 75.608 23,8 82,0

Seropédica RJ 2 2 3 5 2 8 8.367 12.905 35,9 62,0

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Esse breve panorama reafirma um quadro social para a juventude negra

que oscila da exclusão ao extermínio. Os dados confirmam a persistência de

uma situação desfavorável para a população juvenil negra, em todos os cam-

pos da vida em sociedade.

A perenidade da situação de risco e vulnerabilidade vivenciada pelos jovens

negros, ao longo do século XX e XXI, alia-se à lentidão na promoção de igual-

dade entre os grupos étnico-raciais no contexto brasileiro. O acesso diferencial

às oportunidades sociais (qualificação educacional, competitividade no mer-

cado de trabalho, bens e atividades culturais, tecnológicas, informativas) vai,

com isso, perpetuando seus efeitos sobre o acesso a redes, grupos e associações,

produzindo um escopo reduzido de oportunidades e experiências aos jovens.

A resposta que a sociedade dará aos jovens que experimentam a etapa da

juventude, manejando esse conjunto de desafios, vincula-se ao projeto cole-

tivo de sociedade que se compromete a dotar de perspectivas positivas as

novas gerações, sem distinção, assim como permitir-lhes o desenvolvimento

de talentos e potencialidades.

As pessoas que compunham as equipes das coordenadorias e superin-

tendências contatadas nos municípios possuíam entre 19 e 30 anos. Apenas

um deles possuía idade superior a 40 anos. Há prevalência de homens nos

cargos de gestão. Ressalta-se que poucas foram as mulheres apresentadas

como parte das equipes dos organismos durante as visitas. Não se solicitou

que declarassem seu pertencimento étnico-racial.

Moradores dos municípios, os entrevistados revelaram possuir distintas

percepções sobre as principais demandas dos jovens dos municípios e da

própria região. Observaram como necessidades prioritárias a inserção no

mercado de trabalho, a orientação profissional e a participação na vida polí-

tica do município.

Seus mandatos tiveram início a partir do pleito eleitoral de 2012/2013, e a

estrutura dos organismos é bastante distinta entre os municípios. Ainda assim,

possuem, em comum, a necessidade de ampliação de espaços e equipamentos

(sala adequada, mobiliário, computadores, impressoras), de pessoas para integrar

as equipes e da alteração do estatuto de coordenadoria para o de secretaria.

Se, em Mesquita e Belford Roxo, há funcionários divididos em gerências e

setores22, com funcionamento em sala específica, equipada e atendimento de

segunda a sábado (meio expediente), em outros municípios, por outro lado,

como em Nilópolis e Japeri, o gestor conta apenas com mais um ou dois funcio-

22 Gerência de Comunicação Social (identidade visual, divulgação em redes sociais e relacionamento com a juventude); de Políticas Educacionais (atuação nas escolas estaduais e municipais com enfoque na participação e protagonismo juvenil), de Cultura (com ações especificas direcionadas aos jovens da Chatuba, bairro em que, em setembro de 2012, seis jovens foram assassinados por terem sido confundidos com traficantes por uma facção rival), de Projetos e Assessoria Técnica (responsável pelo acompanhamento de programas e pelos processos de inserção profissional e qualificação profissional).

nários, responsáveis pelas diferentes funções – realização de palestras, divulga-

ção, contratação, produção de eventos, organização de grêmios municipais etc.

Como principais gargalos vivenciados pelos jovens, nos municípios, os

depoimentos identificam o acesso ao primeiro emprego, a entrada no mer-

cado de trabalho e a qualificação profissional como principais demandas da

juventude da região. Participação também foi uma demanda apontada por

um dos entrevistados.

A percepção que possuem sobre as condições de vida dos jovens da Bai-

xada aproxima-se das opiniões coletadas nos grupos focais realizados com

jovens e não jovens.

Um dos entrevistados posicionou-se a respeito do que é ser um jovem da

região e dos desafios encontrados por eles: “[...] ser um jovem da Baixada é

você “matar dois leões” todos os dias, porque, eu não gosto de falar isso, assim...

Aqui... são poucos equipamentos culturais, é educação, é cultura, então! Você

vai em um shopping no Leblon tem não sei quantos cinemas, quantos teatros

[...] eu acho que falta isso, essa parte cultural. Falta emprego, falta cursos, ape-

sar de ter instituições aqui. Falta opção pro jovem da Baixada Fluminense”.

A trajetória política dos gestores é bastante semelhante. Oriundos dos

movimentos estudantis e sociais da região, lideranças de grupos de juventudes

de partidos políticos possuem experiência com a gestão pública, participaram

de programas como Parlamento Juvenil e grêmios estudantis e revelam inves-

timento escolar e conhecimento da dinâmica política da região.

Foram recorrentes as críticas em torno da criação de uma concepção de “apa-

relhamento” das superintendências de juventude, colocadas a serviço de man-

datos e blocos partidários entre alguns dos gestores entrevistados. Atribuem a

esse “modo de fazer política” à estagnação das Políticas Públicas de Juventude

(PPJs) em seus municípios. Segundo um deles, “[...] quando você vira a discussão

de políticas de juventude, atendendo às demandas e orientações de determinado

partido ou segmento, necessariamente, você não vai ampliar essa ação”.

Os processos de transição entre um governo e outro se mostraram bas-

tante instáveis. A maior parte dos entrevistados revelou não possuir registros

de ações desenvolvidas nem de problemas quanto à destinação de orçamento

específico, pelas gestões anteriores.

Os entrevistados relataram que a ausência de orçamento específico para a

realização das atividades impõe o exercício de articulação política, de compreen-

são de onde estão alocados os recursos para, como disse um deles, “[...] desbravar

a máquina, tentando entortar ela antes que ela entorte a gente!”, brincou.

Outro entrevistado avaliou que, talvez, em sua opinião, “[...] essa é a grande

dificuldade de todos os órgãos de juventude, do estado e do Brasil. [...] Nós não

temos dotação orçamentária, temos a manutenção do órgão, o pagamento

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dos nossos salários. O que a gente faz é, desculpe a expressão, é sair com ‘o

pires na mão’, buscando quem tem para fazer acontecer”.

Os organismos de juventude estão sob o guarda-chuva de secretarias

que possam transversalizar a temática da juventude em várias outras ações.

Seguindo uma orientação nacional, dessa forma, reúnem outros grupos, tais

como: mulheres, igualdade racial, LGBTs, consumidores, pessoas com defici-

ência, entre outras parcelas da sociedade.

Quando perguntados sobre o recorte geracional, no diálogo com essas

identidades – jovens mulheres, jovens negros, jovens com necessidades espe-

ciais etc. –, os entrevistados foram convidados a falar sobre tais iniciativas. As

coordenadorias, via de regra, promovem oficinas, palestras, cursos em parce-

ria com ONGs e escolas da região.

Na opinião de um deles, as ONGs que estão nas comunidades no Rio de

Janeiro deveriam voltar suas ações para a Baixada. Outro distinguiu as ações

mais “comuns” – como prevenção sexual, DSTs e gravidez na adolescência,

denominando-as como iniciativas tipo “feijão com arroz”, um serviço básico

–, das ações voltadas para ampliação do “protagonismo dos jovens”. Em sua

visão, “[...] nem todos têm o debate da integração governamental, e como é bom

ter essa interlocução. [...], por exemplo, o debate que procuramos fazer é um

debate político, de protagonismo e empoderamento dessas jovens mulheres”.

O Festival Roque Pense foi uma das iniciativas citadas no campo da cultura

que, intencionalmente, promove ações interseccionais e discute a questão de

uma educação não sexista, na cultura alternativa da Baixada Fluminense,

associada ao recorte geracional. O Festival foi o primeiro Circuito Rock de

bandas com mulheres, realizado na Baixada Fluminense. Dirigido por um

coletivo de produtoras culturais, com shows ao vivo, campeonato feminino de

skate, Girls in Ação, debates, oficinas e artes visuais, além de diversas ativida-

des promotoras de uma cultura antissexista. Sua primeira edição aconteceu

na Praça do Skate de Nova Iguaçu, de 21 a 24 de junho de 2012, e a segunda

edição, em outubro de 2013, no Paço Municipal de Mesquita, conforme infor-

mações disponíveis na internet23.

Outra manifestação citada como articuladora do pertencimento geracio-

nal e étnico-racial foi a Semana do Hip Hop, também realizada em Mesquita,

que detém o título de ter sido a segunda cidade a decretar esse evento, por

meio de legislação municipal.

Pela lei, a semana deve ter início, obrigatoriamente, no dia 21 de março,

que é o Dia de Combate à Discriminação Racial, o que posiciona como par-

ceira prioritária a Comissão de Proteção a Igualdade Racial  (COMPIR) do

23 Conferir <facebook.com/RoquePense> e <http://www.roquepense.com.br>.

município. Segundo um dos entrevistados, a promoção do debate em 2014

teria como temática privilegiada a questão dos autos de resistência e a polí-

tica pública de segurança, tendo em vista o compromisso assumido com o

Plano Juventude Viva. E esclareceu: “[...] a gente quer debater esse tema, a

gente quer usar o hip-hop para chegar na juventude com uma linguagem mais

‘ouvível’, buscando essa integração o tempo todo!”.

No caso de Belford Roxo, um processo de adesão voluntária foi enca-

minhado à Secretaria Nacional de Juventude, por ter ficado de fora da lis-

tagem dos municípios prioritários para inclusão no plano. A inserção no

plano, a criação de um Conselho de Juventude e Igualdade, busca atender

às designações nacionais. Japeri, também, aguarda a tramitação e criação

do Conselho de Juventude e vem atuando na realização de palestras sobre

a mortalidade de jovens nas escolas.

Atividades realizadas nas escolas, para jovens de 15 a 29 anos, em torno da

discussão sobe as “Novas Famílias” também foram citadas como exemplos de

ações construídas em articulação com outras secretarias, nesse caso, com a Supe-

rintendência de Diversidade Sexual de Nilópolis, para a prevenção do bullying.

A chave da diversidade também é acionada, facilitando a sensibilização e

o trânsito da temática dos jovens nas demais secretarias e ações governamen-

tais. Mapeamentos sobre o número de jovens com deficiência, nos municípios,

os fluxos e números de acesso dos jovens aos serviços e programas oferecidos

pelo estado e município (como o Vale Social, por exemplo) e outros direitos já

garantidos por lei para esses segmentos populacionais.

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Embora afirmem trabalhar com todas as secretarias e reconheçam as

questões que aproximam os jovens e a violência presente em seus municí-

pios, o diálogo com as secretarias de segurança dos municípios dá-se, apenas,

na solicitação de apoio aos eventos promovidos pelas coordenadorias, com

intuito de resguardar a segurança dos jovens.

Os organismos de juventude aliam-se à rede de proteção básica, mediando

a aproximação entre as demais coordenadorias e os jovens e pautando temá-

ticas pertinentes. São eles que alinham os programas disponibilizados pelo

Governo Federal ProJovem Urbano, Pronatec e o Caminho Melhor Jovem,

desenvolvidos pelos estados.

No caso de Mesquita, adotou-se o seguinte formato, conforme depoimento

de um gestor: “[...] aqui executamos assim: temos na Secretaria de Trabalho

um programa chamado BEM – Banco de Empregos Mesquitense. Fizemos essa

interface. Quando um jovem é atingido pelo programa do governo federal,

ele faz o curso de qualificação profissional, termina seu ensino médio... Qual

é a missão da coordenadoria de juventude? Encaminhar esse jovem para o

mercado de trabalho, o que não é o papel do ProJovem Urbano”.

Entre os programas desenvolvidos, estão: o Programa Nacional de Acesso

ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec, no momento da pesquisa de campo

com previsão de início em 2014) na Associação de Bairro da Chatuba e na

Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC), e o programa ProJovem Ado-

lescente (atual Atitude Jovem), destinado a jovens de 15 a 18 anos, desen-

volvido em alguns Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) – com

aulas de canto, iniciação musical, dança etc., com um viés de ocupação do

tempo livre dos jovens.

Em relação ao acesso e à ocupação de vagas nos projetos e programas

disponibilizados pelo Governo Federal, destacou-se que há necessidade de

investimentos na divulgação dos programas e na confecção de materiais e

ações de mobilização dos jovens, nas diferentes localidades nos municípios.

Como ações estratégicas dos organismos de juventude, encontram-se a busca

e o estabelecimento de parcerias que promovam o primeiro emprego e a qua-

lificação profissional.

Entre os organismos de juventude, a institucionalização de canais de diálogo

para os jovens nos municípios é tarefa a ser feita, conforme se depreende das

entrevistas realizadas. Em consonância com as orientações da Secretaria Nacio-

nal de Juventude, os municípios estão em tempos diferenciados no processo de

promoção de conferências e da constituição de conselhos de juventudes.

A proposta do Juventude em Ação, em Mesquita, é levar o conjunto de

pacotes de programas e projetos, por meio de parcerias internas – Pronatec

e ProJovem. Segundo seus idealizadores, “[...] nossa ideia é estar levando essa

jornada para os quatro cantos da cidade, especialmente as regiões mais peri-

féricas, como, por exemplo, o Campo do Perim, a Vila Norma, áreas em que o

confronto é direto. [...] é ali que a gente tem que fazer essa disputa!”.

Outro exemplo citado foi a ação Comunidade Melhor, em Belford Roxo,

em conjunto com a Superintendência de Assuntos Religiosos, de Juventude e

de Igualdade Racial, assim definida para um dos entrevistados: “[...] ela nasceu

dessa interação. Surgiu dessa necessidade nossa de agir dentro do território.

Porque não adianta a gente querer ocupar um equipamento público, como esse

aqui, e esperar que os jovens venham até nós. Eu entendi o seguinte, que não dá

para fazer isso. Tem que ir até as pessoas. [...] a intenção é modificar o território

com a transversalização de políticas. A gente trabalha com parcerias”.

Relacionada como êxito pela coordenadoria, destaca-se, ainda, a

EcoNilópolis (agosto de 2012), ação integrada com a Secretaria de Meio

Ambiente visando à conscientização dos jovens para a conservação pública

e a preservação ambiental.

Na opinião de um entrevistado, a atividade “[...] foi legal pra caramba!

Nós pegamos os jovens da rede pública estadual, municipal e particular. Nós

fizemos uma grande gincana [...], pegamos várias escolas, montamos um pro-

grama das tarefas que eles teriam que fazer e colocamos lá – garrafa PET, tan-

tos pontos, latinha – e tudo que se arrecadou, que foi mais de três toneladas,

antes foi preparado com os alunos. Eles estavam preparados”.

A experiência como gestores públicos parece apontar novas necessidades

para a realização de iniciativas que atinjam os jovens de modo mais amplo.

Para isso, dados e demais diagnósticos sobre a situação da juventude, na

opinião dos gestores, precisam ser sistematizados. Um deles destacou como

importante a realização de um Censo da Juventude da Baixada Fluminense,

que indicasse o que pensam, quantos são, o que querem.

Outra percepção diz respeito à testagem de novos formatos de ativida-

des elaboradas e produzidas por jovens. Reconhecem, em alguns momentos,

haver resistência quanto aos modelos inovadores na construção das iniciati-

vas destinadas aos jovens em seus municípios.

Ao mesmo tempo, sublinham a necessidade de construir ações pontuais e,

gradativamente, institucionalizar projetos e políticas, mantendo regularidade

na execução, tendo em vista os altos números de mortalidade e situações de

vulnerabilidade entre os jovens, especialmente entre os negros.

Sobretudo, parecem compartilhar a noção de que o foco das iniciativas deve

englobar a promoção de serviços e oportunidades que contemplem e estabele-

çam canais de diálogo entre os distintos grupos de jovens – evangélicos, cató-

licos, hip hop, rock, negros, mulheres, skatistas, LGBTs etc. –, para apreensão da

vivência cotidiana da pluralidade de vozes, gostos, estilos e demandas.

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8786

Ainda que inscritas em um complexo sistema de símbolos e conhe-

cimentos, as experiências vivenciadas nos criativos espaços de intervenção

social proporcionam aos que delas participam a oportunidade de ressignificar

pertencimentos, trajetórias e projetos para si e suas coletividades.

Garantias de estrutura mínima para a produção de suas atividades são

objeto da reivindicação de inúmeros sujeitos ao longo dessas décadas de

intensa produção cultural na Baixada Fluminense, bem como ações e iniciati-

vas que promovam maior visibilidade para a cultura da região, promotoras de

reelaborações identitárias pelos jovens.

Identifica-se, na articulação entre o projeto Brasil Próximo e o Fórum de

Gestores de Cultura da Baixada, a potencialidade de construção de um canal

de comunicação ampliado para a sistematização de um conjunto cada vez

mais diversificado de informações sobre o cenário cultural do município, de

modo a materializá-las em políticas públicas para a região. Políticas que dia-

loguem com a realidade, necessidades e interesses dos cidadãos.

Principais Eixos Temáticos levantados na pesquisa para metas e planos de ação:

• Positivação Territorial: ações que valorizem o território e alterem a quali-

dade de vida dos moradores, com oferta de serviços, lazer e oportunidades cultu-

rais, por meio da multiplicação dos equipamentos culturais; incentivo à produção

cultural dos grupos criativos; maior divulgação das ações para o público interno

e externo à região; implementação de ações e políticas culturais que levem em

consideração a variedade de demandas e necessidades da população; criação de

circuitos de memória com as múltiplas narrativas presentes na região;

• Políticas Intersetoriais: ações intersetoriais que adotem perspectiva

interseccional, compreendendo os jovens em seus aspectos multidimensio-

nais. Iniciativas que estimulem percepções, valorizem, fomentem e criem as

possibilidades e despertem o interesse pela cultura produzida no território;

incentivo a programas governamentais de estímulo à ampliação do horário

escolar e oferta de atividades culturais;

SÍNTESES...

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8988

• Comunicação, Participação e Integração com as Políticas de Juventude:

promoção de ações que aproximem os jovens dos órgãos de cultura e de

juventude municipais; incentivo à realização de conferências e constituição

de fóruns e conselhos de juventude, para conhecimento dos projetos disponí-

veis e participação ativa na proposição de políticas aos jovens da região;

• Continuidade e Sustentabilidade dos Grupos: iniciativas e projetos que

viabilizem a profissionalização, formação, reciclagem ou aperfeiçoamento

dos membros dos grupos, em especial os jovens, para que consolidem suas

atuações, garantam continuidade e possam especializar-se com planos de

atuação profissional de retorno aos próprios grupos; criação de novos meca-

nismos de divulgação que garantam a visibilidade das atividades culturais

desenvolvidas pelos grupos criativos; políticas públicas de fomento e finan-

ciamento permanente de cultura que visem à promoção das produções cultu-

rais da região; criação de equipamentos culturais que atendam às demandas

populacionais dos municípios; criação de conselhos municipais de cultura.

O projeto do Mapeamento dos Grupos Criativos da Baixada Fluminense foi

realizado com o objetivo de contribuir para a construção de políticas públicas

de cultura na Baixada Fluminense. A participação dos jovens na reflexão e

na formulação de metas e planos de ação que expressem seus interesses é

fundamental nesse sentido. Para que essas e muitas outras trocas aconteçam,

o projeto deixa como legado a criação de uma Plataforma Colaborativa, inti-

tulada Desenrolo – A Revista de Cultura e Juventude da Baixada Fluminense,

mídia de articulação e comunicação contínua entre grupos criativos, gestores

públicos e demais interessados, com ênfase na cultura e juventude.

O site Revista Desenrolo, composto por matérias que expõem as atividades

culturais e conteúdos que convidam os leitores a conhecer o universo da juven-

tude em questão, é altamente identitário. Essa revista online objetiva divulgar

os grupos criativos e estimular, em um processo contínuo, o protagonismo juve-

nil no cenário cultural da Baixada, ação que os impulsiona a fortalecer as redes

socioculturais de sua localidade e dar novos sentidos à sua realidade.

Página inicial do site www.desenrolo.net

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9190

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: Edi-tora UFRJ, 2005.

CHARTIER, R. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, L. (Org.). A nova história cultural. Trad. Jefferson Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

CHRISTIAN, Barbara. A disputa de teorias. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 1. 2002.

COSTA, Sandra Regina. Universo popular sonoro: um estudo da carreira de músico nas camadas populares. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAS. (Tese de Doutorado), 2006.

ENNE, Ana Lucia Silva. A redescoberta da Baixada Fluminense: reflexões sobre as cons-truções narrativas midiáticas e as concepções acerca de um território físico e simbó-lico. PragMATIZES Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura, v. 4, p. 1-15, 2013.

______. Imprensa e Baixada Fluminense: múltiplas representações. Ciberlegenda (UFF), n. 14, 2004.

MARTINHO, Cássio. Uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organi-zação. Brasília: WWF-Brasil, 2003. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.

ROCHEDO, Aline. “Criatividade, Desafios e Conquistas”: o protagonismo cultural e a comunicação como possibilidades para jovens moradores da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. UDESC, 2014.

SABOURIN, E. Desenvolvimento territorial e abordagem territorial – conceitos, estraté-gias e atores. In: SABOURIN, E.; TEIXEIRA, O. A. (Eds.). Planejamento e desenvolvimento dos territórios rurais – conceitos, controvérsias, experiências. Brasília: Embrapa Infor-mação Tecnológica, 2002.

SANSONE, Livio (Org.). A política do intangível: museus e patrimônios em nova pers-pectiva. Salvador: Edufba, 2012. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/7017>.

VELHO, Gilberto (Org.). Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.

WERNECK, J. De ialodês e feministas – reflexões sobre a ação política das mulheres negras na América Latina e Caribe. Nouvelles Questions Feministes – Revue Internatio-nale Francophone. 24(2), 2005.

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grupo soul em rua

andrade e a torre

banda Karamujos

banda tesouro do céu

charanga do caneco

cineclube donana

coletivo pó de poesia

bordados de preta (artesanato)

centro cultural donana

mofaia música e cultura (coletivo de produção cultural)

bios crew

grupo Elementos

grupo Enigma (equipe de estudos)

grupo mx

Hip Hop urbanos bf

mundo Jovem por uma cultura de paz

mof – meeting of favela

pevirguladez

teatro municipal armando mello (tEmam)

cineclube mate com angu

macaco chinês

biblioteca comunitária solano trindade

capa comics – Quadrinhos

bloco do china

bloco império do gramacho

bloco simpatia do Jardim primavera

g.r.b.c. Esperança de nova campina

g.r.b.c. unidos da laureano

g.r.b.c. flor de primavera

g.r.b.c. unidos de parada angélica

folia de reis – Estrela do oriente de santa cruz da serra

folia de reis Estrela dalva do oriente

folia de reis Estrela guia do oriente do gramacho

reisado flor do oriente – federação de reisado do Estado do rio de Janeiro (frerja)

capEm – centro aplicado de pesquisa em Educação multi-étnica

casa brasil imbariê – centro cultural

casa do caminho

centro cultural casa de pedra

festival rock pense

Jovens com uma missão – ong

lira de ouro

mof (meeting of favela) grafites – Evento

ponto de cultura Estações da cultura

terreiro de ideias

ponto de cultura guapimirim em foco

grêmio recreativo musical guapiense

associação cultural nascente pequena

ponto de cultura guapimirim em foco

flutuarte

associação cultural onda verde – tv Escola

acadêmicos do bananal

acadêmicos do beira rio

acadêmicos do limoeiro

caneca de ouro

catedráticos de citrolândia

coração da Quinta

g.r.b.c. mocidade alegre de citrolândia

g.r.b.c. unidos da reta

gaviões da iconha

mensageiros da paz

piranhas do barril

piranhas do pssiu

unidos da barreira

unidos da vila olímpia

associação de folia de reis Estrela do oriente de guapimirim

associação cultural nascente pequena

associação guipiense de integração renovadora

ponto de cultura guapimirim em foco

tecnoarte – instituto cultural tecnologia e arte

i.b. itaguaí b-boys rafael

instituto de dança de itaguaí

assembleia de deus chaperó-coral

Escola de música chiquinha gonzaga rua

grupo teatral mgt

turma em cena adriano

abada capoeira cristiano

casa África – instituto global da sociedade africana no brasil

Ela – Escola livre de artes

casa África – instituto global da sociedade africana no brasil

grupo folclórico Quadrilha raio de luar

instituto beneficente cidadão feliz

plantando o futuro

projeto garoto cidadão – fundação csn

Duque De CaxiasBelforD roxo Guapimirim itaGuaí

Quem são os Grupos Criativos da Baixada Fluminense?

centro cultural Eng. pedreira – cia. de dança

cia. sonho e magia

banda mohaulle

projeto curumim (orfanato musical)

grupo de teatro do bonfim (Eng. pedreira)

grupo sócio cultural código

grupo código – cineclube

centro cultural (Eng. pedreira)

g.r.b.c. tradição de Japeri

centro cultural Eng. pedreira – capoeira

antonio marcos (artista plástico)

centro de cultura luís Eduardo maron de magalhães

mestre irani fernades (capoeira)

renascer andino (grupo popular de tradição boliviano)

m.c. studios: a2 em performance

dna2 cia. de dança

dJ andrezinho

grêmio musical mageense

butantã

capop

comendador

g.r.E.s. flor de magé

guia de pacobaíba

parque imperador

união da guarani

união do canal

unidos da barbuda

unidos do mundo novo

vila nova

ponto de cultura Zé mussum de cultura popular

gW cia. de performance

Espaço de dança bfv

força in dance

projeto artístico força em dança

projeto libertare

the face

rádio amadores

misternaka

banda alex Kid

banda dias Úteis

banda layout 80

Encontro de b-boy – Evento

grupo bocas & boas

rock no bf

setor bf – Hip Hop

viaduto do rock

grupo cultural cochicho na coxia

namarra produções

basílio / basílio – o retorno

canal rebobina

alam – academia de letras e artes de mesquita

ong mundo novo – projeto brincando de ler

g.r.b.c. barreirense de mesquita

g.r.b.c. Homem tapete da vila Emil

g.r.E.s. chatuba de mesquita

abadá capoeira (núcleo mesquita)

folia de reis sempre viva do oriente

folia de reis sete Estrelas do rosário de maria

rock no bf – Evento

artes plásticas noeli rocha

Encontro de b-boy – Evento

ong mundo novo – coletivo coca-cola

viaduto do rock – Evento

oficina de dança popular pitty rocha

orquestra superpopular

monsenhor

comunidade Evangélica de nilópolis

Entre aspas

raízes que tocam

samba rap

universo paralelo

coletivo peneira

cia. Ágape de artes

cia. os Encenadores teatrais

coletivo casa2fundos

grupo surgiu na Hora

cineclube toca da coruja

cineclube ankito

instituto sos reviver (teatro, arte circense, artes visuais)

usina de criação os apalhaxonados (diversas linguagens de produção cultural e economia criativa)

Espaço paralelo

Japeri NilópolismaGé mesquita

teatroDança musical atividadeCircense

audiovisual(cineclube, cinema, vídeo)

literário Carnavalescomanifestaçãopopulartradicional

outros(eventos/coletivos/produtoras culturais/ongs/centros culturais/espaços culturais)

Grupos entrevistados

setores

rElação dos grupos criativos mapEados E EntrEvistados (municÍpios x sEtorEs)

* fotos do evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/brasil próximo.

Anexos ANEXO I - Relação dos Grupos Criativos Mapeados e Entrevistados (Municípios x Setores)

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academia de dança luciana bessa

Escola de dança de nova iguaçu

grupo novos passos

grupo ruart

laboratório cultural

maracatu baque da mata

associação cultural bel’art rio

associação dos amigos da Escola de música de comendador soares

bala solta

cfm – Escola de música 2669-1089

curso de música tokai

Entre aspas

genômades

pirão discos

associação fábrica de atores e material artístico – f.a.m.a.

casa do menor são miguel arcanjo

centro de integração social amigos de nova Era

cEta – centro Experimental de teatro e artes

cia. Encena movimentos Enraizados

grupo de teatro aplEm – associação de pastores e líderes Evangélicos mundiais

grupo rEnac – renascer artes cênicas

casa do menor são miguel arcanjo

cEta – centro Experimental de teatro e artes

av. brasil instituto de criatividade social

cineclube buraco do getúlio

cineclube digital

comcausa – comunicando

Eduqvida – programa de Educação e Qualidade de vida

Escola livre de cinema de nova iguaçu

laboratório cítrico

comunidade assistencial chico mendes

movimento baixada literária

g.r.E.s. arrastão de miguel couto

g.r.E.s. Esperança do amanhã

g.r.E.s. imperial de nova iguaçu romildo

g.r.E.s. império da uva

g.r.E.s. império de cabuçu

g.r.E.s. leão de nova iguaçu

g.r.E.s. lndependente de nova américa

g.r.E.s. tupi

centro de integração social inzo ia nzambi (ciZin) – afoxé maxambomba

associação abadá capoeira de nova lguaçu

centro de integração arte capoeira (ciac)

cordel com a corda toda

federação capoeira rio das cobras

grupo iguassuano de acessibilidade (gia)

instituto de desenvolvimento cultural (indEc)

instituto de pesquisa afro cultural odé gbomi

centro de integração social amigos de nova Era

Espaço cultural casa de anyê

aamEm.com – associação dos amigos da Escola de música comunitária de comendador soares

casa da cidadania – pronasci – secretaria Estadual de assistência social

conexão modelos

Emaús fraternidade e solidariedade

Encontrarte – festival de teatro

laboratório cítrico – núcleo de artes e atividades

movimento Enraizados

projeto cultural canto do curió

origami amassado

cia. faces produções

cia. faces produções

boomerangs moto clube

art show

as impecáveis / as prepotentes

Espaço de dança roseli ramos

associação de bandas e fanfarras do Estado do rio de Janeiro (aabafErJ)

batidas & rimas

coral ccaa

fire music

fita crepe

rádio novos rumos

companhia teatral Queimados Encena

grupo teatral atitude

grupo teatral florescer a.f.

associação circo social baixada

Espaço cultural Queimados Encena

Espaço cultural Queimados Encena

associação desportiva e cultural brasileira de capoeiragem

Eterno Enigma

tarântulas moto clube

paraCamBi queimaDosNova iGuaçu

Quem são os Grupos Criativos da Baixada Fluminense?

cia. de dança ney andrade

cia. Zouk meriti

duda break

grupo arte carioca

grupo de dança orlandokids – Escola municipal orlando francisco

grupo folclórico de danças caipiras chega mais

grupo Kids company

grupo two c

Kairós

mb dance

meriti urbano

a bússola

amc da baixada fluminense – associação do movimento de compositores

coral Emcanto

coral nossa senhora aparecida

coral nossa senhora da glória

coral nova aliança

coro arte cânora

coro madrigal nova Harmonia

coro municipal de são João de meriti

Escola municipal de música de são João de meriti

gente Estranha no Jardim

grupo autonomia – batalha de rimas

impulso coletivo

Jackballa’s

mundana

orquestra e coral municipal de são João de meriti

Quebrando protocolo

rota Espiral

tempos de vinil

cia. cenáculo teatral – teatro cristão

cia. cerne

cia. de Jovens griôt’s da baixada

cia. teatral arte objetiva

cia. tudo vira cena

grupo caras e bocas

grupo de teatro amor e arte

legionários da arte

oficina de teatro vanda moraes

circo Escola benjamin de oliveira – projeto tEpir

cinema de guerrilha

coletivo grito do silêncio

academia de letras e artes de são João de meriti

biblioteca nossa casa

g.r.b.c. cirrose do vilar

alegria do botânico

bloco alegria do vilar

bloco chega mais

bloco da abelhinha

bloco da associação carnavalesca meritiense

bloco das piranhas

bloco de Embalo À sombra da amendoeira

bloco de Embalo raiz da vila são José

bloco do mestiço

bloco dos xavantes

bloco sindicato do boi

g.r.b.c. acEmpa

g.r.b.c. alegria da Índia

g.r.b.c. boca de sabão

g.r.b.c. independente da praça da bandeira

g.r.b.c. inocentes do guarany

g.r.b.c. morro de fome, mas não trabalho

g.r.b.c. turma do serrote

g.r.b.c. vem que vem

g.r.E.s. matriz de são João de meriti

os bebum da clemente

Escola de capoeira manduca da praia

feira de artesanato

folia de reis Estrela do oriente deus é nosso guia

fundação capoeira

grupo folclórico gonzagão do pavilhão

instituto Zumbi vive

ilê omulú e oxum – ong

casa da cultura

centro cultural nossa casa

instituto amarelo – ong

Jardim dos Estranhos – Evento

madrigal nova Harmonia – ong

nossa galeria de artes

ong assistencial mão amiga lutando pela vida

projeto brincando com o abelhinha

projeto Kbeçativa

cia. municipal de dança

grupo freedom dance

mc badu

paralelo trio

banda marcial municipal de seropédica – famusE

orquestra sinfônica opus

teatro gustavo dutra br

cine casulo

feira de artesanato

Quadrilha folclórica flor do lírio

almoço com arte e cultura no Erva doce

cac – centro de arte e cultura da ufrrJ

centro de memória da ufrrJ

seropéDiCasão João De meriti

teatroDança musical atividadeCircense

audiovisual(cineclube, cinema, vídeo)

literário Carnavalescomanifestaçãopopulartradicional

outros(eventos/coletivos/produtoras culturais/ongs/centros culturais/espaços culturais)

Grupos entrevistados

setores

* fotos do evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/brasil próximo.

rElação dos grupos criativos mapEados E EntrEvistados (municÍpios x sEtorEs)

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9796

Belford RoxoAndrade e a Torre - MusicalBanda Tesouro do Céu - MusicalCentro Cultural Donana - Centro CulturalCharanga do Caneco - MusicalColetivo Pó de Poesia - LiterárioMofaia Música e Cultura (Coletivo de Produção Cultural) -

Produção Cultural

Duque de CaxiasBiblioteca Comunitária Solano Trindade - Literário Bios Crew - DançaCasa Brasil Imbarié - Centro CulturalG.R.B.C. Esperança de Nova Campina - CarnavalescoG.R.B.C. Unidos da laureano - CarnavalescoG.R.B.C. Unidos de Parada Angélica - CarnavalescoGrupo Enigma (equipe de estudos) - DançaHip Hop Urbanos BF - DançaJovens com uma Missão - ONGMacaco Chinês - CineclubeMundo Jovem por uma Cultura de Paz - Dança Pevirguladez - MusicalReisado Flor do Oriente – Federação de Reisado do Estado do

Rio de Janeiro (Frerja) - Manifestação Popular TradicionalTeatro Municipal Armando Mello - Teatro

MesquitaAbadá Capoeira (Núcleo Mesquita) - CapoeiraArtes Plásticas Noeli Rocha - Artes Visuais Banda Dias Úteis - MusicalBanda layout 80 - MusicalBasílio / Basílio – O Retorno - AudiovisualCanal Rebobina - AudiovisualFolia de Reis Sete Estrelas do Rosário de Maria - Manifestação

Popular TradicionalG.R.E.S. Chatuba de Mesquita - CarnavalescoGrupo Cultural Cochicho na Coxia - TeatroGW Cia. de Performance - DançaONG Mundo Novo – Projeto Brincando de ler - LiterárioRock no BF - MusicalSetor BF – Hip Hop - MusicalViaduto do Rock - Musical

Nilópolis Cia. Ágape de Artes - TeatroCineclube Ankito - AudiovisualEntre Aspas - MusicalGrupo Surgiu na Hora - TeatroInstituto SOS Reviver - ONGOficina de Dança Popular Pitty Rocha - Dança Samba Rap - MusicalUniverso Paralelo - Musical

Nova IguaçuAcademia de Dança luciana Bessa - Dança Associação Abadá Capoeira de Nova lguaçu - Manifestação

Popular Tradicional Centro de Integração Social Inzo Ia Nzambi (CIZIN) – Afoxé

Maxambomba - ONG COMCAUSA – Comunicando - Audiovisual Escola de Dança de Nova Iguaçu - DançaEscola livre de Cinema de Nova Iguaçu - AudiovisualG.R.E.S. Império do Cabuçu - CarnavalescoG.R.E.S. leão de Nova Iguaçu - CarnavalescoGrupo de Teatro APlEM – Associação de Pastores e líderes

Evangélicos Mundiais - TeatroGrupo RENAC – Renascer Artes Cênicas - Teatrolaboratório Cultural - DançaMaracatu Baque da Mata - DançaMovimento Enraizados - ONGPirão Discos - Musical

Paracambi Cia. Faces Produções - TeatroOrigami Amassado - Musical

Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

Magé

Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de MeritiSeropédica

ANEXO II - Relação dos Grupos Criativos Entrevistados nos Municípios

GuapimirimAssociação Cultural Nascente Pequena - Centro CulturalAssociação Cultural Onda Verde – TV Escola - Audiovisual Associação de Folia de Reis Estrela do Oriente de Guapimirim -

Manifestação Popular TradicionalFlutuarte - Atividade CircenseG.R.B.C. Mocidade Alegre de Citrolândia - CarnavalescoG.R.B.C. Unidos da Reta - CarnavalescoGrêmio Recreativo Musical Guapiense - MusicalTecnoArte – Instituto Cultural Tecnologia e Arte - ONG

Itaguaí Casa África – Instituto Global da Sociedade Africana no Brasil - ONG

Japeri Centro de Cultura luís Eduardo Maron de Magalhães - Centro CulturalGrupo de Teatro do Bonfim (Eng. Pedreira) - TeatroGrupo Sócio Cultural Código - TeatroProjeto Curumim (orfanato musical) - Musical

MagéG.R.E.S. Flor de Magé - CarnavalescoGrêmio Musical Mageense - MusicalM.C. Studios: A2 em Performance - Dança Ponto de Cultura Zé Mussum de Cultura Popular - Centro Cultural

QueimadosAs Impecáveis / As Prepotentes - Dança Associação Circo Social Baixada - Atividade CircenseAssociação Desportiva e Cultural Brasileira de Capoeiragem -

Manifestação Popular TradicionalCompanhia Teatral Queimados Encena - TeatroFire Music - MusicalRádio Novos Rumos - Musical

São João de MeritiAcademia de letras e Artes de São João de Meriti - LiterárioAMC da Baixada Fluminense – Associação do Movimento de

Compositores - Musical Bloco das Piranhas - CarnavalescoBloco de Embalo À Sombra da Amendoeira - Carnavalesco Bloco de Embalo Raiz da Vila São José - CarnavalescoBloco do Mestiço - CarnavalescoCentro Cultural Nossa Casa - ONGCia. Cerne - TeatroCia. de Dança Ney Andrade - DançaCia. Tudo Vira Cena - TeatroCia. Zouk Meriti - DançaCinema de Guerrilha - Audiovisual Escola Municipal de Música de São João de Meriti - Musical Folia de Reis Estrela do Oriente Deus é nosso Guia -

Manifestação Popular TradicionalFundação Capoeira - Manifestação Popular TradicionalG.R.B.C. Boca de Sabão - CarnavalescoG.R.B.C. Independente da Praça da Bandeira - CarnavalescoG.R.B.C. Inocentes do Guarany - Carnavalesco G.R.B.C. Morro de Fome, Mas Não Trabalho - CarnavalescoG.R.E.S. Matriz de São João de Meriti - Carnavalesco Gente Estranha no Jardim - MusicalGrupo de Dança Orlandokids – Escola Municipal Orlando

Francisco - Dança Grupo Folclórico de Danças Caipiras Chega Mais - DançaGrupo Two C - DançaIlê Omulú e Oxum - ONG Instituto Amarelo - ONGInstituto Zumbi Vive - Manifestação Popular TradicionalMadrigal Nova Harmonia - ONGOficina de Teatro Vanda Moraes - TeatroONG Assistencial Mão Amiga lutando pela Vida - ONG Orquestra e Coral Municipal de São João de Meriti - Musical Projeto Brincando com o Abelhinha - ONGRota Espiral - Musical

SeropédicaCAC – Centro de Arte e Cultura da UFRRJ - Centro Cultural

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9998

Municípios Setores

Dança Musical Teatro Atividade CircenseAudiovisual

(cineclube, cinema, vídeo)

literário CarnavalescoManifestação

Popular TradicionalOutros

Total por Município Mapeado

Total por Município Entrevistado

BElFORD ROXO 1 4 1 1 1 2 10 6

DUQUE DE CAXIAS 6 2 1 2 2 7 4 10 34 14

GUAPIMIRIM 1 1 2 1 1 14 1 4 25 8

ITAGUAÍ 2 2 2 2 6 14 1

JAPERI 2 2 2 1 1 1 1 4 14 4

MAGÉ 1 2 11 1 15 4

MESQUITA 6 10 1 3 2 3 3 5 33 14

NIlÓPOlIS 1 7 5 2 3 18 8

NOVA IGUAÇU 6 8 7 2 7 2 8 8 9 57 14

PARACAMBI 1 1 1 1 1 5 2

QUEIMADOS 3 6 3 1 1 1 1 2 18 6

SÃO JOÃO DE MERITI

11 19 9 1 1 3 22 6 10 82 33

SEROPÉDICA 2 4 1 1 2 3 13 1

TOTAl POR SETOR 43 68 34 5 21 12 66 29 60Total Geral -

MapeadoTotal Geral - Entrevistado

338 115

GRUPOS ENTREVISTADOS - Setores

17 24 2 8 4 18 10 19 115

ANEXO III - Quantitativo dos Grupos Mapeados e Entrevistados por Municípios e Setores

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Fotos: Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo

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Fotos: Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo

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Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR

elatório Final Rio de Janeiro – 2015

Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

Magé

Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de Meriti

Seropédica

Realização

MAPEAMENTOGRUPOS

CRIATIVOS

FLUMINENSEBAIXADA

dos

da

Relatório FinalRio de Janeiro – 2015

Créditos Institucionais - Equipe Mapeamento

Equipe de Coordenação Brasil Próximo Cesar Marques - Coordenador Se Essa Rua Fosse Minha (SER) Itamar Silva - Coordenador Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) Vittorio Chimienti - Coordenador Comitê Internacional para o Desenvolvimento dos Povos / Comitato Internazionale per lo Sviluppo dei Popoli (CISP-Brasil)

Coordenadora Técnica – Mapeamento e Elaboração do Relatório Mônica Sacramento

Consultor para Tratamento dos Dados – Análise e Tabulação dos Dados André Luiz Regis de Oliveira

Mobilizadores e Pesquisadores Ivan Machado e Lino Rocca (integraram a equipe até dezembro de 2013), Leandro Oliveira de Santanna e Marcos Paulo da Silva

Secretária e Pesquisadora Jorginete Costa da Silva

Operadores e Pesquisadores Alan Lima Alves, Carolina Bittencourt Mendonça, Janaína Oliveira (ReFem), Jeniffer Ferreira de Lemos Silva, Letícia Aparecida de Morais Inácio, Pâmela de Paula da Silva, Priscilla da Silveira Campos de Oliveira, Sílvia Cristina Machado Oliveira e Sueny Santos Nogueira

Ficha Técnica Publicação

Coordenação Editorial Isabel Cristina Alencar de Azevedo, Cesar Marques e Itamar Silva

Produção Editorial Isabel Cristina Alencar de Azevedo, Simone Martins, Sílvia Cristina Machado Oliveira, Aline Rochedo e Delmar Cavalcante

Projeto Gráfico e Diagramação Disarme Grafico - Bruno Ventura e Daniel Ventura

Preparação de Originais e Textos Aline Rochedo, Silvia Cristina Machado e Rogério Jordão

Revisão Simone Martins

Fotos Evento Virada Cultural da Baixada Fluminense/Brasil Próximo: Danilo Sérgio (p. 63, 66, 67 e 75) e Felipe Reis Baixada Fluminense: Igor Freitas (p. 2, 6, 15, 83 e 91)

Sites Coordenação Brasil Próximo

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) www.ibase.br

Se Essa Rua Fosse Minha (SER) www.seessarua.org.br

Comitê Internacional para o Desenvolvimento dos Povos / Comitato Internazionale per lo Sviluppo dei Popoli (CISP) www.developmentofpeoples.org

Page 55: Duque de Caxias Japeri Nilópolis dos GRUPOS CRIATIVOS …pt.arthurwilliamsantos.com/blog/wp-content/uploads/2016/01/... · No período de maio de 2013 a maio de 2014, por meio de

Mapeamento dos Grupos Criativossda Baixada FluminenseR

elatório Final Rio de Janeiro – 2015

Belford Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim

Itaguaí

Japeri

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Mesquita

Nilópolis

Nova Iguaçu

Paracambi

Queimados

São João de Meriti

Seropédica

Realização

MAPEAMENTOGRUPOS

CRIATIVOS

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da

Relatório FinalRio de Janeiro – 2015