6 Todos os direitos reservados conforme Lei dos Direitos Autorais.
Obra registrada no Escritório de Direitos Autorais da Fundação
Biblioteca Nacional. EDA.
CAPA: Flavia Pozzobon
Revisão: Carmem Teresa do Nascimento Elias
9
PREFÁCIO
“ Vício e Ausência” visa unir vivências. A partir de
histórias comuns, retrata, sem subterfúgios, a
identidade de muitos adolescentes durante esse
período da vida. Além disso, visa refletir e demonstrar
questões muito presentes no cotidiano de jovens diante
de dúvidas frequentes em relação ao futuro, tais que
podem levar até ao nascimento de um sentimento de
rebeldia entre eles. Rodrigo Silva Medeiros, o
protagonista da nossa história, assim como todos os
outros jovens, vai se encontrar em situações delicadas,
nas quais ele, sozinho, terá que escolher e fazer
decisões que podem mudar seu futuro. É possível
perceber que os conflitos aqui retratados, que possuem
uma aparência de fatos simbólicos ou distante da
realidade dos jovens, estão mais perto do que parecem
no cotidiano e na vida desses indivíduos que vão, na
adolescência, formular suas identidades únicas e
exclusivas e entrarão, enfim, na sociedade adulta.
Esses conflitos, que envolvem namoro, família, lar,
sexo, brigas, amigos, drogas, violência, entre outros,
se desenvolvem na vida de quase todo adolescente. E
estar pronto a lidar com essas situações faz toda a
diferença entre se tornar adulto ou se perder numa ‘
terra de nunca’.
10
A história foi escrita pela autora Beatriz Elias Ribeiro
aos treze anos, quando ainda cursava segundo
segmento do Ensino Fundamental no Colégio Pedro II.
Sua inspiração partiu justamente de observações de
vidas e de debates em sala de aula.
Espera-se que essa obra contribua para que outros
jovens tenham também a oportunidade de refletir e
discutir criticamente acerca das muitas possibilidades e
dificuldades por que podem passar, cientes de que para
cada escolha há sempre consequências para as quais a
melhor opção é estar ciente.
Carmem Teresa do Nascimento Elias
11
PREÂMBULO
Quem é Rodrigo Silva Medeiros?
Rodrigo pegou o ônibus 457 na Central e
ainda pegaria um outro ônibus para chegar em casa.
Ele estava voltando de mais um dia de escola, mas,
diferente dos outros dias, esse era especial. Era 17 de
julho de 2011. Era o dia do décimo-quinto aniversário
de Rodrigo Silva Medeiros e, quando ele chegasse à
casa, seus pais e seus parentes mais próximos o
estariam esperando com bolo e presentes para a
comemoração. Ele morava no Catumbi, próximo ao
Sambódromo e, para ir à escola todos os dias, ele
andava mais de setecentos metros até o ponto de
ônibus mais próximo e ainda pegava dois demorados
ônibus. Sua casa, de um andar e dois míseros quartos,
precisava de uma boa reforma. Porém, toda a renda
que entrava para a família, graças ao trabalho de sua
mãe, Luciana Costa Souza, uma doméstica honesta,
acabava sendo usada pelo pai, Rodolfo Carvalho
Medeiros, desempregado, para comprar drogas ou se
embebedar.
12
O pai de Rodrigo, Rodolfo, era um viciado em
drogas já havia mais de meia década, e surtos ou crises
eram comuns em casa. A mãe, sem estudos ou ajuda,
não sabia o que fazer em relação ao marido: escolheu
não se separar para preservar o filho único, Rodrigo,
que podia levar sérias consequências psicológicas ou
até mesmo se envolver com drogas também, se
descobrisse a realidade do pai. Além disso, ela deixava
em segredo o vício do pai, algo difícil, mas possível,
pois, na maioria das vezes, o pai só chegava à casa
tarde, enquanto Rodrigo dormia. Quando o pai ficava
sumido por mais de dois dias, Rodrigo era encaminhado
pela mãe para a casa da tia, irmã de Luciana, para não
se encontrar com o pai em estado caótico. Na cabeça
de Rodrigo, o pai saía para trabalhar, prestava serviços
como segurança noturno e, por isso passava dias fora
e, quando a mãe encaminhava Rodrigo para a casa da
tia, era consequência do medo dela de ficar sozinha
com o filho em casa num bairro perigoso. Apesar de
todas as crises e brigas entre a mãe e o pai, Rodrigo
ainda não sabia que isso se devia às drogas, pois
achava essa realidade distante, irreal em sua vida.
Apesar do fato de que bairro onde ele morava era
perigoso com a realidade das drogas, ele se imaginava
longe disso, pois acreditava que sua família, inclusive
seu pai, eram dignos e honestos e não se misturavam
com esses problemas. Infelizmente, ele não sabia quais
13
eram as causas das drogas nos organismos e nem que
seu pai era um exemplo fatídico disso.
Luciana já havia pensado em internar o marido
duas ou três vezes, porém, frente ao caótico serviço
público de saúde e o medo de o filho descobrir a
verdade, optou em aturá-lo. Além disso, quando o
marido se drogava, várias vezes, aparecia em casa
atormentado e agressivo para com a mãe, chegando ao
cume de até mesmo bater nela duas ou três vezes.
Luciana pretendia esperar o filho fazer dezesseis anos
para lhe contar toda a verdade e, então, poder se
separar.
Ao chegar à casa naquele dia de aniversário,
entretanto, Rodrigo encontrou apenas a mãe, Luciana,
esperando por ele. Havia apenas uma fatia de bolo e, a
mãe estava chorando. Perguntou, rapidamente, o que
havia acontecido e ela, para não lhe contar a verdade,
disse que estava chorando de alegria pelo filho ter
completado os quinze anos. Cantou parabéns junto
com ele e explicou-lhe que fariam uma comemoração
maior depois. Explicou-lhe também que o pai havia
saído para um trabalho que apareceu de última hora e
que não podia rejeitar. Na realidade, o pai havia se
drogado de manhã, levando consigo o dinheiro do bolo
de aniversário. Rodrigo compreendeu a situação tal
qual a mãe havia lhe contado e passou o resto do dia
com a namorada, Jacqueline Alvarenga, de 14 anos.
14
Jacqueline era uma garota jovem, de apenas 14
anos, moradora de Botafogo, com uma renda familiar
mais estável: a mãe era gerente de laticínios de um
supermercado e o pai era bancário. Nenhum deles
possuía problemas psicológicos ou vícios e, a escola
onde Jacqueline estudava era considerada bem melhor
que a de Rodrigo. Enfim, a família de Jacque não era
rica, porém, era de classe média, mais alta. Os dois se
encontraram pela primeira vez num shopping e, por
coincidência também, pela segunda vez, na praia. De
lá se tornaram amigos até namorarem. Porém, Rodrigo
se sentia envergonhado perante a renda familiar baixa
do pai e da mãe e jamais havia contado a Jacque que
era pobre. Os pais de Jacque aprovavam o namoro com
Rodrigo, pois, assim como ela, pensavam que Rodrigo
vinha de classe média, assim como eles. Apenas
estranhavam o fato de que nunca haviam visitado a
casa dele ou conhecido os pais. O namoro dos dois era
estável, se viam várias vezes por semana e conheciam
bem um ao outro. Além disso, confiavam plenamente
no outro e faziam várias atividades juntos.
Esse mundo de verdades ocultas virará conflitos
intermináveis nos próximos meses para Rodrigo e as
pessoas que ele mais ama mostrarão faces até então
desconhecidas suficientes para virar a vida de Rodrigo
de cabeça para baixo. O que Rodrigo não sabe é que,
infelizmente, ele vai se encontrar em uma situação
aparentemente sem saída, tendo em vistas os fatos.
15
Um conflito enorme despertará na cabeça do
adolescente, pois até então, ele tinha uma visão
idealizada. Na cabeça de Rodrigo, ele vai ficar em
dúvida em relação a toda a sua identidade, sua vida,
seus valores: ele acreditará que toda sua visa foi uma
farsa, uma grande mentira, se revoltará, e começará a
usar drogas assim como o pai. Com o desenvolvimento
da história, mais conflitos serão mostrados e explicados
detalhadamente, para levar ao leitor a fazer uma
reflexão sobre a vida daquele personagem, e até
refletir sobre sua própria vida.