UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA
DOUTORADO EM CIÊNCIAS MÉDICAS
ANA PAULA ABREU MARTINS SALES
SÍNDROME METABÓLICA EM ADULTOS NÃO OBESOS E SUA RELAÇÃO
COM MEDIDAS DA CIRCUNFERÊNCIA CERVICAL E TORÁCICA E COM O
ÍNDICE DE ADIPOSIDADE CORPORAL
FORTALEZA
2015
2
ANA PAULA ABREU MARTINS SALES
SÍNDROME METABÓLICA EM ADULTOS NÃO OBESOS E SUA RELAÇÃO COM
MEDIDAS DAS CIRCUNFERÊNCIAS CERVICAL E TORÁCICA E COM O ÍNDICE
DE ADIPOSIDADE CORPORAL
Tese submetida à Coordenação do Curso de
Pós-Graduação em Ciências Médicas, da
Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Doutor em Ciências Médicas
Área de concentração: Ciências Médicas
Orientador: Prof. Dr. Renan Magalhães
Montenegro Jr.
FORTALEZA
2015
3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca de Ciências da Saúde
S155s Sales, Ana Paula Abreu Martins.
Síndrome metabólica em adultos não obesos e sua relação com medidas das circunferências
cervical e torácica e com o índice de adiposidade corporal/ Ana Paula Abreu Martins Sales. –
2015.
98 f. : il.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina. Programa de
Pós-graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, 2015.
Orientação: Prof. Dr. Renan Magalhães Montenegro Jr.
1. Síndrome X Metabólica. 2. Pesos e Medidas Corporais. 3. Adiposidade. 4. Fatores de
Risco. I. Título.
CDD 616.39
4
ANA PAULA ABREU MARTINS SALES
SÍNDROME METABÓLICA EM ADULTOS NÃO OBESOS E SUA RELAÇÃO COM
MEDIDAS DAS CIRCUNFERÊNCIAS CERVICAL E TORÁCICA E COM O ÍNDICE
DE ADIPOSIDADE CORPORAL
Tese submetida à Coordenação do Curso de
Pós-Graduação em Ciências Médicas, da
Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Doutor em Ciências Médicas. Área de
concentração: Clínica Médica.
Aprovada em: 11/05/2015
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Renan Magalhães Montenegro Jr (Orientador)
Universidade Federal do Ceará-UFC
____________________________________________
Profa. Dra. Adriana Rolim Campos Barros
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
____________________________________________
Prof. Dr. José Wellington de Oliveira Lima
Universidade Estadual do Ceará (UECE)
____________________________________________
Prof. Dr. George Dantas de Azevedo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
____________________________________________
Prof. Dr. Lúcio Vilar Rabelo Filho
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
5
Ao meu querido e amado esposo,
Hamarilton Sales, obrigada por seu apoio
incondicional, seu amor e compreensão, seu
cuidado comigo e com a nossa família... e
por ser um constante estimulador do meu
crescimento pessoal e profissional. Essa
vitória é nossa...
Aos meus filhos, Mateus e João Pedro,
amores e razões maiores da minha
existência. Obrigada por tornarem minha
vida completa e meus dias muito mais
doces e felizes.
Aos meus amados pais, José Martins e
Fátima, pilares sólidos da minha trajetória.
A vocês agradeço minha vida e dedico toda
minha formação.
Às minhas irmãs, Rochelle (com os seus
pequenos e amados André e Carolina) e
Kamille Martins (com nosso caçulinha
Luca), obrigada pelo estímulo e pela força,
pela ajuda com as crianças, por se
alegrarem de forma tão intensa com as
minhas conquistas pessoais e
profissionais... elas também são suas.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, força maior que me faz viver. Obrigada por estar sempre comigo, me
iluminando, me reanimando e me enchendo de graças para que eu possa prosseguir minha
caminhada.
Ao meu querido orientador e amigo-irmão, Prof. Dr. Renan Magalhães
Montenegro Jr, obrigada pelo apoio pessoal e profissional, confiança, generosidade e
disponibilidade de ajudar sempre... obrigada por estar ao lado nos momentos angustiantes e
nos momentos felizes...obrigada pela preciosa orientação!
À querida Virgínia Fernandes, amiga e companheira de todos os momentos,
obrigada pelo incentivo fundamental para que eu seguisse adiante neste projeto.
Certamente sem seu apoio e estímulo tudo teria sido diferente.
Ao Prof. Renan Magalhães Montenegro, obrigada por todos os ensinamentos,
pelo exemplo e carinho.
Às queridas amigas e colegas Helane Gurgel e Clarisse Ponte, obrigada por
suas participações ativas neste projeto, pela confiança e amizade.
À minha cunhada, Myrla Patrícia Reis Sales, obrigada pelo apoio de longe
(fisicamente), mas certamente próximo de coração. Muito obrigada também pela ajuda na
tradução do resumo para o inglês.
Ao grupo DASA
e ao LabPasteur
, pelo apoio financeiro, indispensável para
a realização deste projeto.
A todos os voluntários participantes deste estudo, pela disponibilidade e
confiança.
7
"A alegria está na luta, na tentativa, no
sofrimento envolvido. Não na vitória
propriamente dita." (Mahatma Gandhi)
8
RESUMO
A associação da síndrome metabólica (SM) com obesidade, diabetes
mellitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia, patologias relacionadas com
maior risco de doença cardiovascular, já está bem estabelecida. O índice de massa corporal
(IMC) e a medida da circunferência abdominal (CA) são parâmetros antropométricos
importantes na avaliação clínica de rotina, e até no diagnóstico, dessa situação. No entanto,
têm despontado na literatura estudos avaliando indivíduos com peso normal pelo IMC, mas
que apresentam alterações metabólicas comuns em obesos. Poucos (ou nenhum) desses
estudos avaliaram a associação entre SM em indivíduos não obesos e a medida da
circunferência cervical (CC) e da circunferência torácica (CT), como parâmetros
antropométricos de avaliação da distribuição de gordura no segmento corporal superior, e
com o índice de adiposidade corporal (IAC), sugerido como preditor da quantidade de
gordura corporal. Esse estudo teve por objetivo avaliar a prevalência de SM em adultos
com IMC entre 18,5 e 29,9kg/m2
do Nordeste do Brasil; a relação da CC, CT e do IAC
com os componentes da SM nesta população e; a capacidade desses parâmetros
antropométricos identificarem a presença da síndrome. Foram feitas análises de correlação
entre a CC, CT e IAC com os componentes da SM e, posteriormente, regressão linear (sem
ajuste e com ajuste para idade, CA e IMC) entre as variáveis que apresentaram correlação.
Para se avaliar a capacidade dos parâmetros identificarem casos de SM foram realizadas
análises com curva ROC e depois propostos pontos de corte para as mesmas. Foram
avaliados 276 indivíduos (85 homens e 191 mulheres) com média de idade de 34,9 ± 11,2
anos e média de IMC de 24,9 ± 2.8 Kg/m2. A prevalência de SM foi de 28%. Nas análises
de correlação a CC e a CT se correlacionaram com praticamente todos os componentes da
SM, exceto a glicemia, sendo essas correlações mais fortes com a CA. O IAC apresentou
correlações apenas com CA e HDL colesterol. Nos modelos de regressão linear incluindo
todos os 276 indivíduos, a CT foi capaz de predizer mudanças nos níveis de HDL
colesterol nos modelos sem e com ajuste e nos níveis de triglicerídeos apenas no modelo
sem ajuste. Entre os homens, A CT e a CC foram capazes de predizerem mudanças nos
níveis de pressão arterial sistólica nos modelos com e sem ajustes e a CC foi capaz de
predizer mudanças nos níveis de HDL apenas no modelo com ajustes. Entre as mulheres, a
CT foi capaz de predizer mudanças nos níveis de triglicerídeos apenas no modelo sem
ajuste. O IAC não foi avaliado nas análises de regressão linear por não apresentar
correlação com as variáveis dependentes. A CC, CT e o IAC foram capazes de identificar
9
SM, na análise da curva ROC, sendo os melhores resultados com as duas primeiras. Os
pontos de corte da CT de 95,8cm nos homens e 87,3cm nas mulheres foram os que
apresentaram melhor sensibilidade, com especificidade maior que 50%, para o rastreio de
casos de SM; quanto à CC, os pontos de corte de 37,5cm nos homens e 32,8cm nas
mulheres, foram o que apresentaram melhor sensibilidade, com especificidade também
maior que 50%, para o rastreio de casos de SM. Esses achados indicam uma elevada
prevalência de SM em adultos não obesos e sugerem que medidas antropométricas do
segmento corporal superior têm relação com a SM e seus componentes, podendo
identificá-los nesta população. O IAC, por sua vez, esteve mais fracamente relacionado à
SM e seus componentes nesses indivíduos. Tais evidências são de grande importância uma
vez que a utilização de medidas simples poderá ser rotineiramente realizada na avaliação
desses indivíduos e sinalizar aqueles com maior risco de distúrbios metabólicos e
cardiovasculares, propiciando um diagnóstico e intervenção precoces.
Palavras-chave: Síndrome Metabólica, não obeso, circunferência torácica, circunferência
cervical, índice de adiposidade corporal, risco cardiovascular
10
ABSTRACT
The association between metabolic syndrome (MetS) and obesity, type 2 diabetes,
hypertension and dyslipidemia, all of them well-known by their relation with increased risk
of cardiovascular disease, is already well established. Body mass index (BMI) and waist
circumference (WC) are important anthropometric parameters which are used in the
clinical evaluation and even on the diagnosis of this condition. However, literature has
shown that individuals with normal body weight (diagnosed via BMI) can also present
metabolic disorders rather common in obese individuals. Furthermore, very few or none of
these studies have evaluated the relation between MetS and its components in non-obese
individuals by using the cervical circumference (CC) and thoracic circumference (TC),
which are anthropometric parameters that may be used in the evaluation of the fat
distribution on the upper body. In addition, these studies have not used the Body Adiposity
Index (BAI) which has been suggested as predictor of adiposity. The aim of this present
study is to evaluate the prevalence of MetS in adults of Northeast of Brazil with BMI
between 18.5 and 29.9 Kg/m2. Also, this study aims to evaluate the relations among CC,
TC and BAI with the components of MetS in this population, and the ability of these
anthropometric parameters in identify MetS cases. Correlations among CC, TC and BAI
with the components of MetS have been analyzed with correlations tests (Pearson or
Spearman) and linear regression has been used (firstly disregarding age and then adjusting
for age, WC and BMI) only for the variables where the correlation was found. The ability
of the parameters regarding the identification of MetS has been analyzed using ROC curve
and cut-off points have been established. 276 participants (85 males; 191 females; mean
age: 34,9 ± 11,2 years; mean BMI 24,9 ± 2,8 Kg/m²) took part in this study. MetS
prevalence in this group was of 28%. Correlations have been found among CC and TC and
all components of MetS except glycaemia, being these correlations stronger with WC. BAI
has only presented correlation with WC and HDL cholesterol. In the linear regression
models (with and without adjustments as above mentioned) including all 276 participants,
TC has been found to predict changes on the HDL levels. However, TC has only been
found to predict changes on triglyceride levels of the non-adjusted models. TC and CC
have been reported to predict changes on blood pressure among men (with and without
adjustments). In addition, TC has been shown to predict changes on the HDL levels only
on the models with adjustments. Among women, TC has been suggested to predict changes
on the triglycerides level only on the models with adjustments. Linear regression was not
11
used with BAI given that no correlations have been found when comparing it with the
dependent variables before mentioned. When using ROC curve and CC, TC and BAI as
variables, MetS has been identified, being the former two the ones which have presented
the best results. TC values of 95.8 cm and 87.3 cm respectively for men and women have
presented the greater sensitivity for the prediction of MetS, with specificity ≥ 50%.
Regarding the CC measure, values of 37.5 cm and 32.8 cm found in men and women
respectively have been the ones which have presented the greater sensitivity also with
specificity ≥ 50% in the prediction of MetS. These findings have found a high prevalence
of MetS in non-obese adults. Furthermore, these findings have suggested that upper body
anthropometric measurements can be associated to MetS and its components and have
been able to identify MetS in this specific population. On the other hand, the BAI variable
has been found to be less associated to MetS and its components. Such outcomes are of
great importance for the scientific community given that these measurements are simple to
be obtained during clinical evaluation and may identify individuals at higher risk of
developing metabolic disorders and cardiovascular diseases. Moreover, these
measurements can be easily used to help on the diagnosis of this condition and provide
professionals with relevant information for an early diagnosis and intervention.
Keywords: Metabolic Syndrome, Non-obese, Thoracic Circumference, Cervical
Circumference, Body Adiposity Index, Cardiovascular risk.
12
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ACC Acetil CoA carboxilase
ADP Adenosina difosfato
AGL Ácidos graxos livres
AMP Adenosina monofosfato
AMPK Proteína quinase ativada por AMP
ATP Adenosina trifosfato
Baixo
CA Circunferência Abdominal
CB Circunferência Braquial
CC Circunferência Cervical
CETP Proteína transferidora de éster de colesterol
cm Centímetros
CSAM Centro de Saúde Anastácio Magalhães
CQ Circunferência do quadril
CT Circunferência torácica
Curva ROC Curva de características de operação do receptor
DAC Doença arterial coronariana
DCNT Doenças crônicas não-transmissíveis
DCV Doença cardiovascular
DEXA Absorciometria por dupla energia de emissão de raio-x
DM tipo 2 Diabetes Mellitus tipo 2
Elevado
HAS Hipertensão arterial sistêmica
HDL Lipoproteína de alta densidade
HMG-CoA redutase 3-hidroxi-3-metilglutaril CoA redutase
HOMA Homeostasis model assessment
HSD Hidroxiesteróide desidrogenase
IAC Índice de adiposidade corporal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDF International Diabetes Federation
JIS Joint Interim Statement
13
IL Interleucina
IMC Índice de Massa Corporal
IRS-1 Substrato receptor de insulina 1
IRS-2 Substrato receptor de insulina 2
kg Kilograma
LDL Lipoproteínas de baixa densidade
LP-DASA Laboratório Lab Pasteur – Diagnósticos da América SA
m Metro
≥ Maior ou igual
> Maior que
< Menor que
MCP-1 Monocyte chemoattractant protein-1
MONW Metabolically obese normal-weight
MS Ministério da Saúde
NCEP-ATP III National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel
III
NHANES III National Health and Nutrition Examination Survey III
NWO Normal weight obesity
OMS Organização Mundial de Saúde
11βHD1 11β-hidroxiesteróide desidrogenase tipo 1
% Percentual
PA Pressão arterial
PAI-1 Plasminogen activator inhibitor 1
PCR Proteína C reativa
PPAR Peroxisome proliferator-activated receptor
RCQ Relação cintura/quadril
RI Resistência à insulina
SM Síndrome Metabólica
TGO Transaminase glutâmico oxalacética
TGP Transaminase glutâmico pirúvica
TNF-α Fator de necrose tumoral alfa
TTGO Teste de tolerância à glicose oral
VLDL Lipoproteínas de muito baixa densidade
14
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 15
1.1 Síndrome Metabólica 16
1.1.1 Epidemiologia da Síndrome Metabólica 17
1.1.2 Aspectos etiopatogênicos da Síndrome Metabólica 18
1.1.3 Diagnóstico da Síndrome Metabólica 26
1.1.4 Medidas antropométricas de distribuição da adiposidade corporal na Síndrome
Metabólica
28
1.2 Indivíduos com peso normal e metabolicamente obesos 33
1.3 Índice de adiposidade corporal 35
2. JUSTIFICATIVA 36
3. RELEVÂNCIA 37
4. OBJETIVOS 38
4.1 Objetivo geral 38
4.2 Objetivos específicos 38
5. MATERIAL E MÉTODOS 39
5.1 Natureza do estudo 39
5.2 População e amostra do estudo 39
5.2.1 Critérios de inclusão do voluntário 39
5.2.2 Critérios de exclusão do voluntário 40
5.3 Aspectos éticos da pesquisa 40
5.4 Coleta de dados 41
5.4.1 Aspectos sócio demográficos, clínicos e antropométricos 41
5.4.2 Medidas laboratoriais 43
5.4.3 Critério diagnóstico da Síndrome Metabólica 43
5.5 Análise dos dados 44
5.6 Conflito de interesse 45
6. RESULTADOS 46
7. DISCUSSÃO 64
8. CONCLUSÕES 78
REFERÊNCIAS 79
APÊNDICES 91
15
1 INTRODUÇÃO
As transições demográfica, epidemiológica e nutricional ocorridas no século
XX nos países desenvolvidos e em desenvolvimento determinaram mudanças nas causas
de morbimortalidade das populações. No Brasil, observa-se um modelo retardado desta
transição, ainda coexistindo as doenças infectocontagiosas, porém havendo um
predomínio das chamadas doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), com um ônus
crescente e preocupante para a saúde pública (PONTES, 2009).
As doenças cardiovasculares (DCV) são na atualidade as principais causas de
morte em mulheres e homens no Brasil, tendo sido responsáveis em 2011 por cerca de
30% de todas as mortes em indivíduos adultos, seguidas pelas neoplasias e causas externas
(DATASUS, 2012). No Ceará, também em 2011, as doenças do aparelho circulatório
contribuíram com grande magnitude para a mortalidade, ocupando o primeiro lugar como
causa de óbito entre os adultos no nosso estado, seguidas das mortes por causas externas e
neoplasias, respectivamente (DATASUS, 2012).
Por trás desse aumento na morbimortalidade da doença cardiovascular, a
obesidade e a síndrome metabólica (SM) despontam como importantes fatores de risco na
sua etiopatologia (REAVEN, 1988; SEIDELL, 2000).
A prevalência da obesidade tem aumentado em todo o mundo nas últimas
décadas, embora dados mais recentes tenham sugerido um nivelamento nesta tendência
(WITHROW, 2011; FLEGAL, 2012). No Brasil, de 1974 - 2009, as taxas de obesidade
aumentaram mais de quatro vezes entre os homens e mais de duas vezes entre as mulheres,
com aproximadamente 50% da população apresentando sobrepeso e a prevalência de
obesidade sendo de 12,5% nos homens e 16,9% nas mulheres (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define sobrepeso e obesidade como
“um anormal ou excessivo acúmulo de gordura que se apresenta como um risco para a
saúde” (OMS, 2008). Existem vários métodos para avaliação da presença de um excessivo
acúmulo de gordura corporal baseados tanto na antropometria, como na impedância
elétrica corporal e em métodos de imagem. No entanto, em estudos epidemiológicos a
obesidade tem sido classificada principalmente por dados antropométricos os quais
representam indiretamente a composição corporal, muito mais que por estimativa direta
16
pelos métodos de imagem, por serem esses últimos onerosos e complexos o que limita o
uso em larga escala (MONTEIRO, 1998).
O índice de massa corporal (IMC) é umas das formas mais simples de se
avaliar a presença de sobrepeso/obesidade em um indivíduo. É calculado a partir da
divisão do peso corporal (em quilogramas) pela quadrado da estatura (em metros)
(peso/estatura²) e é considerado o parâmetro antropométrico mais útil em base
populacional pois pode ser utilizado em ambos os sexos e qualquer idade da vida adulta
(LYRA, 2003).
De acordo com esse índice, o estado nutricional de um indivíduo pode ser
assim caracterizado: baixo peso - IMC <18,5 kg/m²; peso normal - IMC entre 18,5 e 24,9
kg/m²; sobrepeso - IMC entre 25 e 29,9 kg/m²; obesidade grau I - IMC entre 30 e 34,9
kg/m²; obesidade grau II – IMC entre 35 e 39,9 kg/m²; obesidade grau III ou mórbida –
IMC≥40 kg/m² (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 1998).
Além de ser um índice prático, simples e de valor diagnóstico, o IMC tem
também valor prognóstico. Sabe-se que valores muito baixos (<18,5 kg/m²) ou elevados
(acima de 25 kg/m²) aumentam progressivamente o risco de doenças e morte (ARONNE,
2002; PISCHON, 2008).
No entanto, trata-se de um índice grosseiro pois pode não corresponder ao
mesmo grau de acúmulo de gordura em diferentes indivíduos, tendo o inconveniente de
não distinguir massa magra de massa gorda. Além disso, é incapaz de avaliar a
distribuição do tecido adiposo corporal. Apesar destas ressalvas, continua sendo um índice
importante para avaliação da obesidade, sendo amplamente utilizado na prática clínica e
em pesquisas epidemiológicas, com intuito de se caracterizar o estado nutricional de um
indivíduo.
1.1 Síndrome Metabólica
A síndrome metabólica é “um transtorno complexo, representado por um conjunto
de fatores de risco cardiovascular, usualmente relacionados à deposição central de gordura e à
resistência à insulina” (I DIRETRIZ BRASILEIRA DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
DA SÍNDROME METABÓLICA, 2005). Esta síndrome assume papel importante devido a
sua associação com obesidade, DM tipo 2, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e dislipidemia,
consideradas doenças crônicas não-transmissíveis relacionadas com maior risco de
desenvolvimento de DCV. Recentemente, um debate na literatura tem se levantado sobre a
17
validade e utilidade clínica deste conceito, mas na prática é termo bastante atual e ainda muito
estudado, com importantes interfaces que necessitam de melhor esclarecimento.
A idéia da SM tem sido relatada há mais de 90 anos. Em 1923, Kylin, um
médico sueco, descreveu uma associação de distúrbios metabólicos com o agrupamento de
hipertensão arterial, hiperglicemia e gota (KYLIN, 1923 apud ECKEL, 2005). A
associação entre obesidade, hipertensão e aterosclerose com um tipo de diabetes
“insensível à insulina” foi descrita em 1936 por Himsworth (HIMSWORTH, 1936 apud
HANEFELD, 1997). Vague (1956) fez a primeira diferenciação entre a obesidade do tipo
andróide, localizada mais na região superior do corpo, e a obesidade ginecóide, localizada
mais nos membros, relacionando a primeira com aterosclerose prematura e diabetes. A
relação entre as principais manifestações da SM com resistência à insulina (RI) e
hiperinsulinemia e sua associação com a DCV foi proposta por Reaven (1988), o qual a
nomeou de Síndrome X. Kaplan (1989) já chamou de quarteto letal a associação entre
obesidade superior, dislipidemia, hipertensão arterial e intolerância à glicose.
1.1.1 Epidemiologia da Síndrome Metabólica
Estudos realizados em diferentes populações do mundo revelaram elevadas
prevalências de SM dependendo do critério diagnóstico empregado e das características da
população avaliada tais como gênero, idade, etnia e morbidades associadas, variando as
taxas de 8 a 24% em homens e de 7 a 46% em mulheres (CAMERON, 2004; MENDES,
2012). A prevalência de SM na população americana foi estimada em 22 a 24% (FORD,
2002; FORD, 2003). Em outras populações, como a mexicana e a asiática, a prevalência
também é elevada, com as taxas variando de 12,4 a 28,5% entre os homens e de 10,7 a 40,5%
entre as mulheres (AGUILAR-SALINAS, 2004; OH, 2004).
Alguns estudos demonstraram também o aumento da prevalência da SM com a
idade, em ambos os sexos. Dados do Third National Health and Nutrition Examination
Survey (NHANES III), realizado nos Estados Unidos entre 1988 e 1994, mostraram que a
prevalência da SM aumentou de 7% nos participantes com idade entre 20 e 29 anos para 44%
nos participantes entre 60 e 69 anos e 42% entre os participantes acima de 70 anos de idade
(FORD, 2002). No entanto, entre 20 e 50 anos de idade, os homens apresentaram uma
maior prevalência de SM; a partir dos 50 anos, a prevalência tornou-se maior entre as
mulheres (MENDES, 2012).
18
Por sua vez, a prevalência da SM no Brasil com dados representativos da
população ainda é pouca conhecida. Estudo populacional realizado em uma das capitais do
país, com 1663 indivíduos, entre os anos de 1999 e 2000, mostrou uma prevalência de
29,8% na população de 25 a 64 anos de idade, sem diferença entre os sexos (SALAROLI,
2007).
1.1.2 Aspectos etiopatogênicos da Síndrome Metabólica
Fatores genéticos e ambientais estão envolvidos na etiopatogenia da SM. Sabe-
se que todos os componentes deste distúrbio apresentam uma forte influência genética e,
portanto, os polimorfismos genéticos em associação com fatores do meio-ambiente podem
propiciar o desenvolvimento da doença. Vários genes potencialmente envolvidos na
fisiopatologia da SM têm sido estudados, entre os quais, pode-se citar: receptor de
proliferação ativada do peroxissoma-gamma (PPAR-γ), adiponectina, receptores
adrenérgicos, substratos do receptor da insulina (IRS), 11-beta-hidroxiesteróide
desidrogenase tipo-1 (11-β-HSD1), proteína C reativa (PCR) e fator de necrose tumoral-
alfa (TNF- α) (ARAMÃ., 2009).
Além disso, cada vez mais se demonstra que o tecido adiposo produz um
grande número de moléculas sinalizadoras, nomeadas adipocitocinas. Suas funções são
complexas e podem modular o apetite, a sensibilidade à insulina e a inflamação.
1.1.2.1 Obesidade e alterações funcionais do tecido adiposo
Por algum tempo achou-se que o tecido adiposo era um órgão
metabolicamente inerte, puro estocador de energia. Porém, nos últimos anos, o mesmo
passou a ser reconhecido como órgão com múltiplas funções e papel central na gênese da
resistência à insulina (RI). Sabe-se que hormônios como a insulina, o cortisol e as
catecolaminas influenciam o tecido adiposo a secretar substâncias com ação tanto local
quanto sistêmica que participam na regulação de diversos processos como a função
endotelial, a aterogênese, a sensibilidade à insulina e a regulação do balanço energético
(Figura 1). Entre estas substâncias, podemos destacar a leptina, a adiponectina e o fator de
necrose tumoral alfa (TNF-α) que têm papel fundamental na sensibilidade tecidual à
insulina (RIBEIRO-FILHO, 2006).
19
Figura 1: Representação esquemática do tecido adiposo como um órgão endócrino. Abreviaturas: PPAR: receptor de proliferação ativada do peroxissomo; GH: hormônio de crescimento; IGF:
fator de crescimento insulina-símile; AGL: ácidos graxos livres; PAI-1: inibidor do ativador do
plasminogênio tipo 1; IL: interleucina; TNF-α: fator de necrose tumoral-alfa; HSD: hidroxiesteróide
desidrogenase, TG: triglicerídeos. Fonte: RIBEIRO-FILHO et al. (2006).
Sabe-se ainda que o adipócito apresenta características metabólicas diferentes
de acordo com a sua localização, sendo o tecido adiposo intra-abdominal o que tem maior
impacto na deterioração da sensibilidade à insulina (RIBEIRO-FILHO, 2006). Adipócitos
presentes na gordura visceral são metabolicamente mais ativos e têm uma taxa alta de lipólise,
provavelmente devido a diferenças genéticas na expressão de receptores lipolíticos,
contribuindo com uma alta taxa de liberação de ácidos graxos livres (AGL) (BJÖRNTORP,
1997).
A obesidade está claramente associada a níveis circulantes elevados de AGL.
Pacientes com obesidade e resistência à insulina geralmente são resistentes aos efeitos
antilipolíticos da insulina. Como já citado, o acúmulo de gordura visceral possui igual ou
maior importância que a obesidade corporal, pois evidências genéticas mostram uma
associação do excesso de gordura abdominal com a resistência à insulina (MOLLER,
2005). Células adiposas viscerais são mais sensíveis que as células do tecido adiposo
20
subcutâneo aos efeitos lipolíticos das catecolaminas e menos sensíveis aos efeitos
antilipolíticos e de reesterificação de ácidos graxos pela insulina, um fenômeno que pode
aumentar bastante o fluxo de AGL nos indivíduos predispostos a estocar gordura na área
visceral. Além disso, o efluente venoso de gordura visceral dirige-se para a veia porta,
resultando em um grande fluxo de AGL para o fígado (LEWIS, 2002). Este excesso de
AGL tem papel definitivo na gênese da resistência tecidual à ação da insulina, tanto a nível
hepático como periférico (RIBEIRO-FILHO, 2006).
1.1.2.2 A resistência à insulina
1.1.2.2.1 A obesidade como uma causa primária da resistência à insulina e a
intolerância à glicose
A ligação da insulina ao seu receptor induz uma autofosforilação da tirosina,
seguida pelo recrutamento de um grupo de proteínas conhecido como substrato receptor de
insulina 1 e 2 (IRS-1 e IRS-2). As proteínas IRS são fosforiladas pela tirosina e ativam
mecanismos de sinalização e fatores de transcrição que regulam a síntese de proteínas, o
transporte de glicose, a síntese de glicogênio e a sobrevivência celular. Elevações agudas
de ácidos graxos livres podem provocar resistência insulínica periférica em animais e
humanos, reduzindo a utilização de glicose pelo músculo, o que pode ser atribuído à
inibição da fosforilação do IRS-1 e à atividade da quinase 3 fosfatidilinositol associada a
IRS-1 (LEWIS, 2002). Adicionalmente, a ineficiente supressão da liberação de AGL pode
levar à superprodução hepática de glicose através da gliconeogênese (BODEN, 1997). Em um
contexto crônico, a obesidade resulta no acúmulo de triglicerídeos intramiocelular e de
lipídeos ativados na forma de moléculas de acetil coenzima A ligadas aos ácidos graxos da
cadeia longa (OAKES, 1997). Os lipídeos também podem se acumular nas ilhotas
pancreáticas, prejudicando a secreção da insulina, o que pode preceder o desenvolvimento
de diabetes (KRAEGEN, 2001).
A obesidade, particularmente a visceral, também pode contribuir para a
resistência à insulina pelo mecanismo de alteração nos níveis circulantes das proteínas
derivadas dos adipócitos, as adipocitocinas, incluindo a resistina e a adiponectina. A
resistina induz a resistência à insulina e está em níveis elevados, enquanto que a
adiponectina, que é um fator sensibilizador da ação da insulina, apresenta níveis baixos em
pacientes com resistência à insulina (MOLLER, 2005).
21
Existem controvérsias na literatura quanto à importância da glicemia de jejum
na determinação de maior risco cardiovascular. Alguns estudos não conseguiram
confirmar um maior risco com o estado de glicemia de jejum alterada, mas sim com o
estado de intolerância à glicose no teste de tolerância à glicose oral (TTGO)
(TOMINAGA, 1999; DECODE GROUP, 2001; BLAKE, 2004). Por outro lado, uma
meta-análise publicada em 2004, onde os autores revisaram os dados de 38 estudos
prospectivos que incluíram no total 172.934 homens e 44.216 mulheres, cujo desfecho foi
a incidência de DCV ou morte avaliando os níveis de glicose sanguínea em não-diabéticos,
mostrou que tanto os níveis de glicemia pós-sobrecarga de glicose quanto a glicemia de
jejum acima de 100mg/dL representavam um maior risco de DCV nesta população
(LEVITAN, 2004). Por sua vez, já está mais claro e bem estabelecido na literatura haver
um maior risco de evolução do estado de glicemia de jejum alterado e de intolerância à
glicose no TTGO para diabetes (NATHAN, 2007).
1.1.2.2.2 Mecanismos de ligação da obesidade e resistência à insulina com a
dislipidemia
O mecanismo predominante para a síntese hepática acelerada das lipoproteínas
de muito baixa densidade (VLDL) na SM envolve a disponibilidade aumentada de AGL
derivados do tecido adiposo. Uma depuração reduzida de triglicerídeos também pode
contribuir para a dislipidemia em diabéticos por um decréscimo na atividade da
lipoproteína lipase. A relação entre triglicerídeos e colesterol VLDL elevados e baixos
níveis de colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade) é conduzida primariamente pela
ação da proteína transferidora de éster de colesterol (CETP). A CETP medeia a
transferência de excesso de triglicerídeos das VLDL para as partículas de HDL. A
subseqüente ação da lipase hepática pode acelerar a depuração de HDL (GINSBERG,
2000).
A resistência à insulina pode diminuir a concentração de HDL através de
diferentes mecanismos. Sabe-se que a insulina pode estimular diretamente a transcrição da
apolipoproteína A 1, a maior lipoproteína da HDL; além disso, a insulina pode diminuir a
produção de VLDL e aumentar a expressão da lipoproteína lipase. Desta forma, a
resistência à insulina pode aumentar a concentração de lipoproteínas ricas em triglicerídeos
na circulação, o que pode alterar a formação e o remodelamento das partículas de HDL
(ROTHENBACHER, 2005). O HDL colesterol é uma partícula com inúmeras funções
22
anti-oxidantes e anti-inflamatórias (OH, 2007) e é um forte e independente preditor inverso
para DCV (ASSMANN, 1996), sendo que no Framingham Heart Study ele foi mais
potente como fator de risco do que mesmo o LDL-colesterol (GORDON, 1977).
O aumento nos níveis de triglicerídeos também está implicado como uma das
causas da produção das partículas de LDL (lipoproteínas de baixa densidade) pequenas e
densas que são mais facilmente oxidadas e mais aterogênicas. Os triglicerídeos também
aumentam a concentração de partículas ricas em triglicerídeos dos remanescentes de
colesterol, altamente aterogênicas (GINSBERG, 2000).
A associação da hipertrigliceridemia com aumentado risco cardiovascular
ainda é controversa na literatura, sendo provável mas não totalmente estabelecida. Numa
meta-análise publicada em 2007, que incluiu 27 estudos prospectivos com 262.525
participantes, os autores encontraram que o risco relativo de doença coronariana no mais
alto tercil de triglicérides comparado com o mais baixo tercil de triglicérides, diminuiu de
2,0 para 1,5 após ajuste para HDL – colesterol, sugerindo que devido a correlação inversa
entre os níveis de triglicérides e os níveis de HDL-colesterol, o ajustamento para HDL-
colesterol atenuaria a relação entre estes e a DCV (SARWAR, 2007). Um outro aspecto é o
fato dos triglicérides serem avaliados habitualmente no estado de jejum, embora evidências
crescentes venham sugerindo que os níveis pós-prandiais desta lipoproteína possam ter
maior relação com o risco cardiovascular (BANSAL, 2007). Diante desta controvérsia,
existem inclusive autores que sugerem serem os triglicérides apenas marcadores e não
fatores de risco cardiovasculares (SANTOS FILHO, 2002).
1.1.2.2.3 Mecanismos de ligação da obesidade e resistência à insulina com a
hipertensão arterial
Existem alguns mecanismos propostos para a ligação da resistência à insulina
e hiperinsulinemia com o aumento da pressão sanguínea. Os efeitos vasculares diretos
decorrem de deficiente vasodilatação mediada pela insulina (deficiente estímulo de
secreção de óxido nítrico pelas células endoteliais) ou vasoconstrição. Normalmente a
insulina medeia a vasodilatação, contudo, a resistência a este efeito da insulina tem sido
registrada em pacientes obesos e diabéticos (SMITH, 1993). O transporte celular de
cátions também pode estar alterado em associação a resistência à insulina e pode ter um
papel na promoção da vasoconstrição (BLOOMGARDEN, 2004). Adicionalmente, a
hiperinsulinemia estimula a retenção de sódio pelos rins e estimula a atividade do sistema
23
nervoso simpático, favorecendo o surgimento de HAS (SMITH, 1993)
Outros mecanismos descritos para justificar a inter-relação entre obesidade e a
patogênese da hipertensão envolve componentes do sistema renina-angiotensina que estão
presentes também no tecido adiposo. Produtos secretados a partir dos adipócitos, como o
angiotensinogênio, mostraram-se capazes de estimular a secreção mineralocorticóide das
células adrenais, com efeitos predominantes na liberação de aldosterona (EHRHART-
BORNSTEIN, 2003).
A hipertensão arterial sistêmica tem sido reconhecida como um dos principais
fatores de risco para a morbidade e mortalidade precoces causadas por doenças
cardiovasculares, sendo o principal fator de risco associado ao acidente vascular cerebral,
com estudos epidemiológicos indicando que níveis elevados da pressão arterial (PA)
aumentam o risco destas doenças, inclusive em indivíduos com níveis normal-alto da PA
(VASAN, 2001; CHOBANIAN, 2003; WONG, 2003; YUSUF, 2004).
1.1.2.3 Fatores independentes produzidos no fígado, sistema imunológico e sistema
vascular
Atualmente, a atividade inflamatória subclínica tem sido associada à
acentuação da RI relacionada à adiposidade intra-abdominal. Como exposto, o adipócito é
capaz de secretar diversas citocinas, como a interleucina-6 (IL-6) e o TNF-α, que por sua
vez interferem na sinalização intracelular da insulina e na função endotelial (RIBEIRO-
FILHO, 2006). Foi também demonstrada a associação dos níveis de fibrinogênio, inibidor
do ativador do plasminogênio 1 (PAI-1) e da proteína C reativa (PCR) com a RI,
estabelecendo uma relação independente, o que poderia potencialmente explicar a
associação da hiperinsulinemia com a doença cardiovascular (XAVIER, 2007).
A obesidade leva a um estado pró-inflamatório, contribuindo para o
desenvolvimento da resistência à insulina, intolerância à glicose e aterogênese. Como vimos, a
adiposidade em excesso está associada com liberação de adipocitocinas, que contribuem
para aumentar os níveis de proteína C reativa (PCR), um marcador da inflamação. Em um
estudo realizado por Florez et al. (2005), onde se examinou a relação entre os níveis de
PCR, SM e seus componentes individualmente, foram encontrados níveis
significativamente aumentados de PCR em indivíduos com SM, sendo a obesidade
abdominal o componente que mais se associou com seus níveis elevados.
O adipócito secreta ainda substâncias como o monocyte chemoattractant protein-1
24
(MCP-1), que induz a atração de macrófagos. Os macrófagos são importantes na produção de
citocinas que infiltram o estroma do tecido adiposo abdominal, contribuindo para a
exacerbação do processo inflamatório crônico (RIBEIRO FILHO, 2006)
1.1.2.4 Síndrome metabólica e alterações nos glicocorticóides
A possibilidade de associação entre a obesidade visceral e hiperatividade do
eixo hipotálamo-hipófise-adrenal foi sugerida já em 1947 por Vague. Alguns autores
propuseram que a hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal pelo estresse
crônico ocasionaria o acúmulo central de gordura (BJÖRNTORP, 1996; ROSMOND,
1998).
A enzima 11β-hidroxiesteróide desidrogenase tipo 1 (11βHD1) tem um papel
crucial na determinação das concentrações intra-celulares de glicocorticóides por
regenerar o glicocorticóide ativo a partir da cortisona e da 11-dehidrocorticosterona
inativas. Tem sido sugerido que esta enzima possa servir como um amplificador tecido-
específico da ação dos glicocorticóides (SECKL, 2001). Masuzaki et al. (2001) criaram
ratos transgênicos que super-expressavam a 11βHD1 seletivamente no tecido adiposo, em
extensão similar àquela encontrada em tecido adiposo de humanos obesos, e viram que
estes ratos tinham níveis elevados de corticosterona no tecido adiposo e desenvolveram
obesidade visceral, diabetes com pronunciada resistência à insulina e hiperlipidemia,
sugerindo que uma atividade aumentada desta enzima poderia ser uma etiologia molecular
comum da obesidade visceral e da SM. Stewart et al. (2005) também demonstraram que a
11βHD1 seria mais ativa no tecido adiposo visceral. Este por sua vez, já mais sensível ao
cortisol, provocaria alterações similares às encontradas na síndrome de Cushing e também
características da SM, tais como HAS, DM tipo 2 e dislipidemia (BUJALSKA, 1997;
RIBEIRO-FILHO, 2006).
1.1.2.5 Síndrome metabólica e AMPK
A proteína quinase ativada pela adenosina monofosfato (AMPK) foi
inicialmente descrita em 1973, como uma proteína induzida pela AMP que inativa as
enzimas 3-hidroxi-3-metilglutaril CoA redutase (HMG-CoA redutase) e a acetil CoA
carboxilase (ACC). O papel da AMPK no metabolismo celular é a manutenção da
homeostasia energética, sendo um componente-chave no equilíbrio fisiológico da relação
adenosina trifosfato:adenosina difosfato (ATP:ADP), a qual tem fundamental importância para
25
a sobrevivência celular (HARDIE, 2003; CARLING, 2004).
Uma vez ativada, a AMPK exerce efeitos sobre o metabolismo da glicose e
dos lipídeos, a expressão gênica e a síntese protéica, atuando em diversos órgãos como o
fígado, tecido músculo esquelético, coração, pâncreas e tecido adiposo. A principal via de
ativação da AMPK é a redução do conteúdo energético celular, ou seja, o aumento na
relação AMP-ATP, e seu principal efeito é desligar vias metabólicas que consumam ATP
(por exemplo, as vias anabólicas de síntese de ácidos graxos e de colesterol), ao mesmo
tempo em que estimula vias metabólicas que produzam ATP (por exemplo, as vias
catabólicas de oxidação de glicose e ácidos graxos), com o objetivo de manter a
homeostasia dentro da célula (HARDIE, 2003; CARLING, 2004). No fígado, a AMPK atua
diminuindo a síntese de lipídeos e estimulando a oxidação da gordura, além de bloquear a
produção hepática de glicose. Na musculatura esquelética, a AMPK atua principalmente
estimulando a captação de glicose, aumentando a translocação do transportador de glicose tipo
4 (GLUT-4) e aumentando a sensibilidade à insulina. Além disso, a AMPK regula também a
síntese de insulina e sua conseqüente secreção pelas células das ilhotas pancreáticas, além de
aprimorar a sensibilidade de insulina nos tecidos hepático e muscular. Por fim, a AMPK
também atua nas funções hipotalâmicas, modulando a fome e a saciedade
(SANTOMAURO Jr, 2008).
Têm sido demonstradas alterações na atividade da AMPK na obesidade, no
DM tipo 2, na SM e na doença cardiovascular (KOLA, 2008). Evidências crescentes têm
levantado uma forte hipótese de que a desregulação metabólica da obesidade e
eventualmente da SM podem envolver a AMPK e que esta desregulação pode ter um papel
crítico no desenvolvimento de muitas doenças associadas com a SM (CHRIST-CRAIN et
al, 2007). Por fim, Christ-Crain et al. (2008) encontraram alterações na AMPK induzidas
por glicocorticóides, com inibição de sua atividade no tecido adiposo e no coração de ratos
e estimulação de sua atividade no fígado e hipotálamo, sugerindo que estas alterações
poderiam explicar o aumento no apetite, a deposição de lipídeos no tecido hepático e
adiposo visceral, bem como as alterações cardíacas características do excesso de
glicocorticóides, o que também ocorre na SM.
1.1.3 Diagnóstico da Síndrome Metabólica
26
O diagnóstico da SM e, consequentemente, a realização de estudos nesta área
tem sido dificultada pela ausência de consenso mundial quanto aos seus critérios
diagnósticos.
Em 1998, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs pela primeira vez
critérios para seu diagnóstico, sendo este baseado no achado de DM ou glicemia de jejum
alterada ou intolerância à glicose ou resistência insulínica, em concomitância com, no
mínimo, dois dos seguintes parâmetros: obesidade (avaliada pelo IMC ou pela RCQ),
dislipidemia, hipertensão arterial e microalbuminúria aumentada (ALBERTI, 1998 apud
ECKEL, 2005). Em 1999, o European Group for the Study of Insulin Resistance fez uma
modificação nos critérios diagnósticos propostos pela OMS, sugerindo que o indivíduo
seria portador de síndrome metabólica se tivesse resistência à insulina ou hiperinsulinemia
associada à pelo menos duas das seguintes alterações: obesidade central (avaliada pela
circunferência abdominal), dislipidemia, hipertensão arterial e glicemia de jejum alterada
(BALKAU, 1999). Estas duas definições, por incluírem a necessidade de se avaliar a
presença de intolerância à glicose ou resistência insulínica, se mostraram de pouca
utilidade na prática médica, sendo mais utilizadas em centros de pesquisa.
Subseqüentemente, em 2001, o National Cholesterol Education Program’s
Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) propôs que os critérios diagnósticos da SM
fossem baseados na medida da circunferência abdominal como marcador clínico de
obesidade central e na presença de hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL-colesterol,
hipertensão arterial e glicemia de jejum elevada devendo ter pelo menos três destes
parâmetros alterados para se diagnosticar a síndrome (EXECUTIVE SUMMARY OF
THE THIRD REPORT OF NCEP-ATP III, 2001). Entretanto, esta definição passou a ser
questionada por usar um ponto de corte para circunferência abdominal elevado e não
adequado para populações de determinadas etnias como, por exemplo, a asiática, e
também por utilizar o parâmetro de glicemia de jejum alterada acima do que foi
recomendado pela American Diabetes Association em 2004, a qual propôs a glicemia de
jejum 100mg/dL como alterada.
Na tentativa de formular critérios diagnósticos mais simples, de utilização
universal e fácil uso na prática clínica, em 2005 a International Diabetes Federation (IDF)
propôs uma nova definição para SM cujo foco principal seria a obesidade central. Assim, a
obesidade central ou abdominal, avaliada através da medida da CA, seria pré-requisito
obrigatório para o diagnóstico da SM nesta nova definição, excluindo a necessidade de
27
avaliação do estado de resistência à insulina (Quadro 1). Além disso, o ponto de corte
proposto para a circunferência abdominal passou a ser definido de acordo com a origem
étnica e o sexo do indivíduo (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2006).
Obesidade central* determinada de acordo com origem étnica, sendo para sul-americanos
adotados os seguintes pontos de corte: circunferência abdominal maior ou igual a 90 cm
em homens e maior ou igual a 80 cm em mulheres, associada a dois ou mais dos seguintes
critérios:
Triglicerídeos aumentados
≥ 150mg/dL
Ou estar em tratamento específico para esta anormalidade
HDL colesterol diminuído
< 40mg/dL em homens
< 50mg/dL em mulheres
Ou estar em tratamento específico para esta anormalidade
Pressão arterial aumentada
Pressão arterial sistólica ≥ 130mmHg ou pressão arterial
diastólica ≥ 85mmHg
Ou estar em tratamento específico para esta anormalidade
Glicemia de jejum
plasmática aumentada
Glicemia de jejum plasmática ≥ 100mg/dL
Ou diagnóstico prévio de DM tipo 2
Quadro 1 - Diagnóstico da Síndrome Metabólica pelos critérios da IDF
Adaptado do Consenso de Diagnóstico da Síndrome Metabólica da IDF (2006) Abreviaturas: HDL: lipoproteína de alta densidade * Em indivíduos com IMC > 30kg/m², a obesidade central pode ser assumida sem a necessidade da medida
da circunferência abdominal.
Quanto à medida da CA, ressalta-se que não foram definidos valores de corte
para esta circunferência adequados para o diagnóstico de SM na população brasileira,
caracterizada por grande miscigenação racial. Assim, os pontos de corte escolhidos foram
baseados nos poucos estudos existentes e não nos informam com precisão o risco
cardiovascular. Destaca-se também que tomografia computadorizada e ressonância
28
magnética de abdome, padrões-ouro para caracterizar adiposidade visceral, são métodos
complexos e onerosos, e por isso, impraticáveis em estudos populacionais (VAN DER
KOY, 1993).
Em 2009, uma declaração da Joint Interim Statement (JIS) formada pela Força
Tarefa em Epidemiologia e Prevenção da própria IDF em conjunto com o Instituto
Nacional do Sangue, Pulmão e Coração dos Estados Unidos, a Associação Americana do
Coração, a Federação Mundial do Coração, a Sociedade Internacional de Aterosclerose e a
Associação Internacional para o Estudo da Obesidade, publicada na revista americana
Circulation, sugeriu uma nova proposta de definição para Síndrome Metabólica. Nessa
proposta são utilizados os mesmos componentes (circunferência abdominal, pressão
arterial, glicemia, triglicerídeos e HDL colesterol) com os mesmos pontos de corte da
definição de 2006 da IDF. No entanto, a CA passou a ser um componente com peso igual
ao de qualquer um dos outros quatro descritos no quadro 1, e não pré-requisito. Assim a
existência de três componentes alterados, entre qualquer um dos cinco, fará o diagnóstico
de SM (ALBERTI, 2009). Os pontos de corte para a CA aqui utilizados também foram
baseados na etnia e sexo, sendo os mesmos propostos pela IDF em 2006.
1.1.4 Medidas Antropométricas de Distribuição de Adiposidade Corporal na Síndrome
Metabólica
A antropometria é considerada o método mais simples, universalmente
aplicável, barato e não invasivo de avaliação das proporções, tamanho e composição
corporal. Reflete ambos, estado de saúde e nutrição, sendo capaz de predizer o
desempenho, a saúde e a sobrevida das pessoas. Por estas razões, na área de Ciências da
Saúde, é usada para selecionar indivíduos e populações para intervenções de saúde e
nutrição, bem como para monitorá-las (DE ONIS, 1996).
Parâmetros antropométricos como o IMC e as medidas da CA e da relação
cintura/quadril (RCQ) estão bem validados e têm sido utilizados rotineiramente para a
avaliação da obesidade, tendo sido estabelecidos pontos de corte a partir da sua relação
com riscos de morbidades associadas (REXRODE, 1998; ARONNE, 2002; PISCHON,
2008). Mais recentemente, outros parâmetros como a circunferência cervical e braquial
também têm sido avaliados (BEN-NOUN 2001, 2003, 2004, 2006; DIXON, 2002;
LAAKSO, 2002; NÓBREGA, 2008; PIO-MAGALHÃES, 2008). Em doenças como o
hipercortisolismo e na síndrome de ovários micropolicísticos, ambas associadas à diabetes
29
melittus, SM e risco cardiovascular aumentado, o aspecto fenotípico de aumento de
adiposidade em segmento corporal superior costuma ser característico.
Em relação à medida dos depósitos de gordura nesse segmento corporal os
principais indicadores antropométricos utilizados são a medida da CA e a RCQ; atualmente,
outras medidas vêm sendo estudadas, como a circunferência cervical (CC) e, mais
recentemente, a medida da circunferência torácica (CT) surge como um possível parâmetro
auxiliar nesta avaliação.
1.1.4.1 Circunferência abdominal
A circunferência abdominal (CA) é uma medida antropométrica utilizada na
avaliação da distribuição da gordura corporal muito importante por ser considerada um
fator de risco independente para as complicações da obesidade, pois reflete indiretamente
o conteúdo da gordura visceral (MONTEIRO, 1998). Inúmeras evidências sugerem que a
gordura abdominal (ou visceral) traz um risco maior para a saúde que a gordura periférica,
se correlacionando mais fortemente com um risco cardiovascular aumentado (ARONNE,
2002). Nos Estados Unidos, em um estudo prospectivo realizado com enfermeiras e
iniciado em 1976, um subgrupo de 44.702 mulheres com idade entre 40 e 65 anos foram
acompanhadas de 1986 a 1994, com o objetivo de avaliar a circunferência abdominal
como determinante de risco de doença arterial coronariana (DAC). Foi demonstrado um
risco relativo para DAC de 2,44 entre aquelas que estavam no mais alto quintil de
circunferência abdominal (entre 86,3 e 139,7cm) (REXRODE, 1998). Já na Europa, um
estudo prospectivo realizado com quase 360.000 indivíduos de nove diferentes países,
demonstrou um risco relativo de morte entre homens de 2,05 e entre mulheres de 1,78 no
mais alto quintil da CA (PISCHON, 2008).
A CA é medida com uma fita métrica não extensível paralela ao chão, na
metade da distância entre a última costela e a crista ilíaca ântero-superior, com o indivíduo
na posição de pé e em estado de expiração (MONTEIRO, 1998).
Por algum tempo considerou-se com uma CA aumentada, como um risco
significantemente elevado de doenças cardiovasculares, quando maior ou igual a 88 cm
nas mulheres e maior ou igual a 102 cm nos homens. Em 2006, no consenso publicado
pela IDF, foi sugerido que estes valores fossem relacionados à etnia do indivíduo, com
valores tão baixos quanto maior ou igual a 80 cm nas mulheres e maior ou igual a 90 cm
nos homens de origem asiática, por exemplo. Na América do Sul, incluindo-se o Brasil, a
30
recomendação da IDF foi que se utilizasse os mesmos pontos de corte dos asiáticos, até
que tivéssemos dados mais específicos para a nossa população (IDF, 2006).
1.1.4.2.Relação cintura/quadril (RCQ)
A RCQ é outro método de avaliação da distribuição da gordura corporal que
relaciona o perímetro da cintura, através da medida da CA (em cm), com o perímetro do
quadril, através da medida da circunferência do quadril (CQ) (em cm), determinada ao nível
do maior perímetro da região glútea (ao nível do trocânter maior) (MONTEIRO, 1998). Como
citado, em 1956 Vague fez uma primeira diferenciação entre a obesidade do tipo andróide,
localizada mais na região superior do corpo, e a obesidade ginecóide, localizada
predominantemente na região dos quadris (VAGUE, 1956). Esta diferença na distribuição da
gordura corporal pode ser avaliada pela RCQ.
A RCQ também está associada a aumento do risco cardiovascular. No estudo de
Pischon et al. (2008), o risco relativo de morte entre os homens foi de 1,68 e entre as mulheres
de 1,51 nos indivíduos do mais alto quintil da RCQ.
Os valores de corte para se considerar uma RCQ elevada e, portanto, uma
distribuição de gordura do tipo andróide, ainda não são consenso na literatura mundial. O
ponto de corte mais utilizado para homens é RCQ > 1,00 e para mulheres RCQ > 0,85
(MONTEIRO, 1988). Nos Estados Unidos, são utilizados RCQ > 0,90 em homens e RCQ >
0,85 em mulheres, baseados em um estudo canadense (KEENAN, 1992).
1.1.4.3 Circunferência cervical
De forma ainda experimental, a medida da CC vem sendo realizada como um
possível marcador clínico da obesidade e de sua relação com a circunferência abdominal e
com fatores de risco cardiovascular e, apesar de ainda pouco avaliada, tem sido objeto de
estudo de alguns trabalhos na literatura científica.
Os primeiros estudos a demonstrarem a sua utilização como um índice de
distribuição do tecido adiposo subcutâneo da região superior e sua relação com os fatores
de risco cardiovascular, assim como as relações entre alterações na composição corporal,
incluindo a medida da CC, e alterações nestes fatores, datam de quase duas décadas
(SJÖSTRÖM, 1995; SJÖSTRÖM, 1997 apud BEN-NOUN L, 2001). Nesse mesmo
período, outro estudo demonstrou que a liberação de ácidos graxos livres pela gordura
31
subcutânea da região superior do corpo era maior do que da região inferior, reforçando a
importância de se avaliar os depósitos de gordura subcutânea naquela região (JENSEN,
1997).
Baseado nestas observações, Ben-Noun et al (2001) publicaram um estudo
transversal realizado em 1998 que teve o objetivo de testar um método para identificação
de indivíduos com sobrepeso ou obesidade através da medida da CC. Foram avaliados 979
indivíduos (460 homens e 519 mulheres) sendo realizadas medidas antropométricas de
peso, estatura, cálculo do IMC e medidas da circunferência abdominal, circunferência do
quadril, circunferência cervical (medida com uma fita métrica no meio do pescoço entre a
espinhal cervical média e o ponto médio da região anterior do pescoço) e a RCQ. Foi
encontrado que uma CC maior ou igual a 37 cm para os homens e maior ou igual a 34 cm
para as mulheres foi o melhor ponto de corte para determinar os indivíduos com IMC
maior ou igual a 25,0 kg/m², com uma sensibilidade de 98%, especificidade de 89% e
acurácia de 94% para os homens e uma sensibilidade de 100%, especificidade de 98% e
acurácia de 99% para as mulheres. A CC maior ou igual a 39,5 cm para os homens e maior
ou igual a 36,5cm para as mulheres foi o melhor ponto de corte para determinar os
indivíduos com IMC maior ou igual a 30,0 kg/m², com uma sensibilidade de 93%,
especificidade de 90% e acurácia de 91% para os homens e sensibilidade de 93%,
especificidade de 98% e acurácia de 97% para as mulheres.
Os mesmos autores realizaram ainda outro estudo avaliando a relação entre a CC e
fatores de risco cardiovascular e observaram que a presença de CC aumentada se
correlacionou positivamente com os componentes da SM e provavelmente está associada ao
aumento do risco de DCV (BEN-NOUN, 2003). Em 2006, esse grupo publicou um estudo
longitudinal onde foi encontrado que alterações na CC foram positivamente
correlacionados com alterações em alguns fatores de risco cardiovascular, como colesterol
total, LDL colesterol e triglicerídeos e, conseqüentemente, com alterações no risco de
DCV (BEN-NOUN, 2006).
Durante o 13th
International Congress of Endocrinology, realizado em
novembro de 2008 no Brasil, um grupo de pesquisadores do Nordeste apresentou dois
trabalhos sobre CC. No primeiro, foi estudada a relação entre CC e HAS em 95 indivíduos
portadores de DM tipo 2, sendo encontrada correlação positiva entre essas duas variáveis
no subgrupo das mulheres, o que não ocorreu no subgrupo dos homens (NÓBREGA,
2008). No segundo trabalho, os autores questionaram se a CC poderia substituir a CA na
avaliação antropométrica. Foi realizado um estudo transversal com 361 indivíduos de
32
ambos os sexos, comparando as medidas da CC, CA, pressão arterial e glicemia capilar
ocasional e foi encontrada correlação positiva entre CC e CA tanto nos homens como nas
mulheres e correlação positiva entre CC, glicemia capilar acima de 140mg/dL e HAS no
grupo das mulheres. Concluíram que existe uma relação positiva entre CC e CA e que a
CC poderia substituir a CA como fator de risco para HAS na população estudada. Porém
alertaram para a necessidade de estudos maiores para confirmar estes resultados e para
estabelecer um ponto de corte para CC em homens e mulheres (RAMOS, 2008).
Em 2009, Sales, em sua Dissertação de Mestrado, avaliou 88 indivíduos
adultos em Fortaleza-CE encontrando correlação linear entre a CC e os componentes da
SM, o IMC, a RCQ, circunferência braquial (CB), CT, ácido úrico, transaminase
glutâmico oxalacética (TGO), transaminase glutâmico pirúvica (TGP) e ferritina (dados
ainda não publicados).
1.1.4.4 Circunferência torácica
A medida da circunferência do tórax ainda não possui padronização, podendo
ser realizada logo abaixo das omoplatas, na altura dos mamilos ou ainda na altura axilar.
A medida dessa circunferência tem sido mais estuda em crianças,
relacionando-a com variáveis maternas, condições perinatais, estado nutricional ou fatores
de risco cardiovascular e metabólicos. Geerts et al, em 2007, encontraram que uma maior
CT associou-se com maior pressão arterial diastólica e sistólica em recém-nascidos de
mulheres expostas ao tabaco. Ao nascimento, as crianças eram também mais leves e curtas
e tinham o tórax menor que os filhos de mulheres não expostas.
Poucos são os estudos publicados com adultos. Sabe-se que a gordura
interescapular possui uma forte associação com Diabetes Mellitus, apesar de ser
desconhecida sua atividade metabólica ou suas propriedades indutoras (THAMER, 2010).
A adiposidade, medida pela alta proporção da prega cutânea subescapular em relação à
tricipital, é citada como fator independente, positivamente correlacionado com resistência
à insulina (PEIRIS, 1989). A medida isolada da prega subescapular também esteve
correlacionada com risco de diabetes tipo 2 (CHEI, 2008).
Quanto a medida da CT em si, um estudo realizado com indivíduos ativos
fisicamente e de peso normal, acompanhados longitudinalmente pelo National Runners’
Health Studies, mostrou que a mesma (autoreferida) teve poder de predizer incidência de
hipertensão, colesterol elevado e diabetes, quando não ajustada pelo IMC (WILLIAMS,
33
2007).
Outro estudo analisou o uso de medidas de circunferências para predição de
gordura abdominal e intra-abdominal em mulheres obesas com ovários policísticos. As
CA, CT e CC apresentaram correlação independente com gordura intra-abdominal (DE
OLIVEIRA PENAFORTE, 2012).
Seidell, em 1990, comparou diferentes medidas de circunferência com risco
cardiovascular em mulheres européias na pré-menopausa e constatou, após ajuste pelo
IMC, que a circunferência do peito (medida sobre os mamilos) foi a mais fortemente
associada com parâmetros metabólicos (insulina sérica, pressão diastólica, colesterol total,
triglicerídeos e HDL colesterol- associação negativa).
Em mulheres praticantes de corrida, foi observado que a medida que
aumentam as distâncias percorridas, o IMC e as CT e CA diminuem, enquanto o HDL-
colesterol aumenta (WILLIAMS, 1996). Outro estudo mostrou importante associação
entre o aumento do tórax e aumento dos triglicérides em homens e mulheres
vigorosamente ativos (WILLIAMS, 2004).
Alguns estudos de associação têm analisado também o tamanho do sutiã das
mulheres (WILLIAMS, 1996 e 2008; RAY, 2008). O número desta peça íntima é definido
pela CT abaixo da mama e a copa pela diferença entre a CT e circunferência mais larga do
busto. O cálculo foi descrito por Wright em 2002. Tal como a CT, a variação do tamanho
do sutiã tem sido também associada com aumento de eventos cardiovasculares
(WILLIAMS, 2008; RAY, 2008).
Com relação a associação entre CT e hipertensão arterial, um estudo analisou a
associação entre o aumento do peso e das medidas de circunferências com as chances de
tornar-se hipertenso em sete anos. Ficou constatado que o aumento da circunferência do
tórax possui probabilidade estatisticamente independente para hipertensão. Neste estudo
foram acompanhados 24.550 homens e 10.111 mulheres vigorosamente ativos, e,
geralmente magros, cujo risco de desenvolver hipertensão é baixo (WILLIAMS, 2008).
1.2 Indivíduos com peso normal e metabolicamente obesos
Como vimos, a maior noção sobre SM enfatiza a importância da sua estreita
relação com a obesidade. Contudo, existem indivíduos que não são considerados obesos
pela classificação do IMC, mas apresentam alterações metabólicas constituintes da SM
(MATSUNAGA, 1997; FERREIRA, 2002).
34
Indivíduos de peso normal, mas metabolicamente obesos, foram originalmente
percebidos em um grande estudo populacional publicado em 1971 por Abraham et al. No
início dos anos 80, Ruderman et al., foram os primeiros a propor e definir o termo
“metabolically obese normal-weight (MONW)” ou, no português, indivíduo de peso
normal metabolicamente obeso. Esses indivíduos se caracterizavam por apresentarem peso
e IMC normais porém com qualquer uma dessas situações que poderiam ser melhoradas
com restrição calórica: DM tipo 2, hipertrigliceridemia e HAS (RUDERMAN, 1981;
RUDERMAN, 1998).
Posteriormente, outros autores usaram o termo “normal weight obesity
(NWO)” ou, “obesidade de peso normal” em português, para identificar indivíduos que
tinham peso corporal e IMC normais, mas elevado percentual de gordura corporal
acompanhado de deficiência total de massa magra (DE LORENZO, 2006; MARQUES-
VIDAL, 2008; ROMERO-CORRAL, 2010).
Alguns desses, além de outros autores, publicaram também associação entre
SM e NWO (ST-ONGE, 2004; DE LORENZO, 2006; ROMERO-CORRAL, 2010;
GOMEZ-AMBROSI, 2012). Em 2004, St-Onge et al. publicaram estudo realizado numa
população americana e viram que indivíduos acima de vinte anos com NWO tinham
quatro vezes maior probabilidade de desenvolverem SM do que aqueles com IMC e
gordura corporal normal. Esses autores propuseram que indivíduos que tivessem IMC
normal ou levemente aumentado (de 18,5 até 26,9kg/m2) e que preenchessem os critérios
para SM fossem classificados como MOWN. Em um outro estudo realizado na Suíça, com
mulheres de origem caucasiana e idade entre 35 e 75 anos, aquelas com NWO tinham um
maior risco cardiometabólico e maior prevalência de baixos níveis séricos de HDL-
colesterol, medida elevada da CA, níveis séricos elevados de triglicerídeos e de
hiperglicemia, mas com uma prevalência similar de HAS, quando comparadas à mulheres
magras (MARQUES-VIDAL, 2010).
Na população brasileira, existe um estudo sobre esse tema realizado no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/Universidade de São
Paulo com 1.222 indivíduos jovens provenientes de um coorte de nascidos vivos entre
1978 e 1979. Nesse estudo, os autores encontraram associação de NWO com SM (OR =
6,83) e resistência à insulina (OR = 3,8) (MADEIRA, 2013).
35
1.3 Índice de adiposidade corporal (IAC)
O Índice de Adiposidade Corporal (IAC) foi proposto por Bergman et al. em
2011 como um melhor preditor de gordura corporal. Ele é determinado através da equação
(IAC =((circunferência do quadril) / (altura)1,5
)) – 18)) e o resultado obtido expressa o
percentual de gordura corporal (%GC). A fórmula foi proposta a partir dos dados de um
estudo realizado com 1.733 descendentes mexicanos naturalizados americanos, sendo
posteriormente validada em outro estudo com americanos-africanos, ambos utilizando
absorciometria por Dual-energy X-ray Aptiometry (DXA) como parâmetro de referência
(BERGMAN, 2011). Essa proporção foi baseada nas correlações do percentual de gordura
corporal (calculado pela DXA) com a circunferência do quadril e a altura na população
estudada. O poder de 1,5 foi escolhido por maximizar a correlação com o percentual de
gordura corporal (r = 0,79) e 18 foi o intercepto estimado de um modelo de regressão que
predisse o percentual de gordura corporal a partir da proporção (circunferência do quadril /
altura1,5
). Foi concluído pelos autores que este índice forneceria uma estimativa direta do
percentual de gordura corporal entre homens e mulheres sem necessidade de posterior
ajustamento, sendo um preditor útil de obesidade e, possivelmente mais simples, por não
incluir o peso na sua análise.
Estudos analisando a associação entre IAC e síndrome metabólica e seus
componentes são pouco descritos na literatura. Em dois estudos encontrados, as maiores
correlações foram descritas com CA, IMC, relação cintura-quadril (RCQ) e relação
cintura-estatura (RCE). No entanto, IAC apresentou menor capacidade discriminatória do
que o IMC no diagnóstico da síndrome metabólica pelos critérios IDF e ATP III
(BENNASAR-VENY, 2013; FREEDMAN, 2013).
Entre mulheres mexicanas, o IAC esteve fracamente associado com
triglicerídeos, glicemia de jejum, pressão arterial sistólica e inversamente com HDL-C
(LICHTASH, 2013). Entre chineses de ambos os sexos, IAC foi inferior em predizer
presença de hipertensão, dislipidemia e SM quando comparado ao IMC e a CC (ZHANG,
2013).
Embora Bergman et al., em 2011, tenham apresentado o IAC como bom
preditor de adiposidade entre caucasianos de ambos os gêneros e sugerido sua praticidade
em relação a outros procedimentos mais complexos, há ponderações na literatura quanto a
limitações do índice em predizer risco metabólico e cardiovascular (BERGMAN, 2011;
LICHTASH, 2013).
36
2 JUSTIFICATIVA
Sabendo-se que a obesidade e a SM são patologias de alta prevalência e fatores
de risco importantes para doenças cardiovasculares, as quais estão entre as principais
causas de morbi-mortalidade da atualidade, e também sabendo-se que indivíduos de peso
normal podem apresentar excessivo percentual de gordura corporal e SM, é importante
avaliar a prevalência da síndrome em indivíduos não obesos, além de se estudar métodos
de avaliação simples e de fácil execução, tanto na prática clínica como em pesquisa, para a
detecção precoce dos indivíduos de risco.
Existem vários métodos clínicos de avaliação da obesidade, sendo mais
utilizados na prática o IMC e a medida da circunferência abdominal, esta última refletindo
obesidade central. Estudos recentes têm sugerido que uma distribuição de gordura no
segmento superior (região cervical e tórax), além da adiposidade abdominal, pode ter
relação com aumento do risco cardiovascular. Têm sido também propostos índices
antropométricos alternativos ao IMC na avaliação da quantidade e distribuição de gordura
corporal. Entretanto, são escassos os dados sobre o tema em indivíduos com peso normal
ou sobrepeso, em especial na população nordestina brasileira, cujas características étnicas,
culturais e alimentares podem trazer especificidades quanto a utilização desses parâmetros.
37
3 RELEVÂNCIA
A presente pesquisa se propôs a avaliar a prevalência de SM e seus
componentes em indivíduos não obesos, além da associação entre índices antropométricos
utilizados para avaliar a distribuição de gordura corporal no segmento superior (medidas
das circunferências cervical, torácica e abdominal) e avaliar a quantidade de gordura
corporal (índice de adiposidade corporal), com os parâmetros metabólicos constituintes da
SM e com a presença ou não desta. O intuito dessas avaliações foi identificar, no nosso
meio, o que a literatura mundial chama de normal weight obesity, ou seja, indivíduos de
peso normal (ou mesmo não obesos) pelo IMC mas com perfil metabólico de obesos e a
utilidade dos índices antropométricos acima citados na avaliação experimental, e até
clínica de rotina, desta situação. Assim sendo existiria a possibilidade de se identificar
precocemente indivíduos de maior risco metabólico e cardiovascular, o que poderá
favorecer o uso de estratégias de prevenção e intervenção com medidas como dieta e
exercícios físicos, por exemplo, visando diminuir esse risco. Desta forma, estratégias que
melhorem a prevenção, o diagnóstico e permitam uma intervenção precoce em situações
que possam estar relacionadas futuramente a patologias de alta morbimortalidade, se
revestem de importante relevância clínica e em saúde pública.
38
4 OBJETIVOS
4.1 Geral
Avaliar a prevalência de SM e seus constituintes em indivíduos não obesos.
4.2 Específicos
Caracterizar as medidas de CC, CT, CA e IAC em população de indivíduos não
obesos
Avaliar a prevalência de indivíduos com peso normal e com sobrepeso nesta
população
Avaliar o número de constituintes da SM alterados nesta população
Avaliar a prevalência de alteração dos constituintes da SM nesta população
Comparar a prevalência de SM em indivíduos não obesos por diferentes
critérios
Analisar a correlação entre as medidas da CC, CT e IAC e os elementos
constituintes da síndrome metabólica em indivíduos não obesos
Analisar a capacidade das medidas de CC, CT e IAC identificarem casos de
SM em adultos não obesos
Estabelecer, se possível, pontos de corte para estes parâmetros antropométricos,
por gênero, que rastreiem situação de risco para SM em adultos não obesos
39
5 MATERIAL E MÉTODOS
5.1 Natureza e local do estudo
Este estudo transversal, analítico, de natureza quantitativa foi realizado na
cidade de Fortaleza-CE.
5.2 População e amostra do estudo
A população foi constituída de participantes de ambos os sexos que se
julgavam saudáveis, no período de março de 2009 a janeiro de 2010.
Esses indivíduos foram recrutados voluntariamente em diferentes unidades de
coleta de sangue de um laboratório de análises clínicas da cidade (Laboratório Lab
Pasteur® – Diagnósticos da América®) e também em unidades de saúde da rede pública
municipal ou estadual (Centro de Saúde Anastácio Magalhães, Hospital Distrital Maria
Barroso de Oliveira, Hospital São José, Instituto do Câncer do Ceará), após convite para
participarem de um estudo para avaliar os níveis séricos de referência do hormônio
tireoestimulante (TSH) em adultos eutireoidianos. Foram recrutados 625 participantes,
sendo que 276 foram elegíveis para análise dos dados.
5.2.1 Critérios de inclusão do participante
Os seguintes critérios foram observados para que o participante pudesse ser
incluído do estudo:
Homens ou mulheres não-grávidas, com idade entre 18 e 60 anos, que se julgavam
saudáveis;
Indivíduo com IMC entre 18,5 e 29,9 kg/m²;
O participante ou seu representante legal, se fosse o caso, deveria ser capaz de
compreender a natureza e o objetivo do estudo e ter a intenção de cooperar com o
pesquisador, agindo de acordo com os requerimentos de todo o estudo, o que veio a ser
confirmado mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
40
5.2.2 Critérios de exclusão do participante
Qualquer um dos seguintes critérios, obtidos a partir de uma resposta positiva
no questionário sócio demográfico e clínico (APÊNDICE B), exame físico ou exames
laboratoriais, excluiu o participante do estudo:
Mulheres grávidas ou amamentando.
Portadores de doença renal, hepática, insuficiência cardíaca congestiva,
hipotireoidismo descompensado ou outras doenças de acometimento sistêmico agudas ou
crônicas que pudessem interferir com os resultados do estudo.
Portadores de bócio ou nódulos tireoidianos palpáveis.
Portadores de deficiência física que pudessem interferir com os resultados do
estudo.
Indivíduos em programa de restrição alimentar calórica.
Indivíduos em uso de terapia farmacológica antiobesidade.
Indivíduos em uso de glicocorticóides, hormônio do crescimento, esteróides
sexuais ou outras drogas anabolizantes.
Indivíduos em uso de antidepressivos ou drogas psicoativas.
Indivíduos que tivessem realizado previamente lipoaspiração ou lipoescultura.
Histórico de ingestão alcoólica em quantidade e freqüência mal caracterizadas, ou
consumo de etanol maior ou igual a 20g/dia nas mulheres e 30g/dia nos homens. A
ingestão alcoólica foi quantificada com a utilização da seguinte fórmula: [consumo de
etanol (g/dia) = concentração de álcool na bebida (%) x volume ingerido ao dia (ml) x
0,8/100] (CARVALHEIRA, 2006).
Uso de drogas ilícitas.
Participantes restritos a cadeiras de rodas.
Qualquer outra condição que na opinião do investigador pudesse interferir nos
resultados do estudo.
5.3 Aspectos éticos da pesquisa
Os princípios éticos foram seguidos em todas as fases do estudo, em
consonância com o que preconizava a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
vigente na época da coleta de dados. Os participantes do estudo foram orientados sobre o
41
anonimato, natureza, objetivos e benefícios da pesquisa. Além disso, assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A) para o estudo, após uma explanação
verbal e escrita.
O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisas da Escola Cearense de Oncologia, sob número de processo 022/2009.
5.4 Coleta de dados
Como já dito, após a assinatura do TCLE, 625 indivíduos responderam ao
questionário sócio demográfico e clínico e foram submetidos ao exame físico e à medida
de seus dados antropométricos. Destes, 276 foram elegíveis para este estudo. Os motivos
para exclusão de 349 indivíduos foram: oitenta e uma pessoas apresentavam IMC maior
ou igual a 30 kg/m2; seis apresentavam IMC menor que 18,5kg/m
2; 132 não retornaram
para avaliação laboratorial; oito tinham idade menor que 18 e maior que 60 anos; uso de
antidepressivos, drogas psicoativas e glicocorticóides - nove pessoas; hipotireoidismo
descompensado - nove pessoas; uso de drogas antiobesidade – seis pessoas; gravidez -
quatro mulheres; alcoolismo – uma pessoa; bócio ou nódulos tireoidianos palpáveis –
cinquenta e quatro pessoas; sequela de acidente vascular cerebral – uma pessoa;
insuficiência cardíaca congestiva – uma pessoa; escoliose – uma pessoa; outras causas –
trinta e sete pessoas.
Em um segundo momento foi realizada no laboratório do Centro de Saúde
Anastácio Magalhães/PMF (CSAM) ou em unidades de coleta do Laboratório Lab
Pasteur® – Diagnósticos da América® (LP – DASA®), coleta de sangue para a realização
dos exames laboratoriais com jejum de 12 horas.
5.4.1 Aspectos Sócio Demográficos, Clínicos e Antropométricos
Os dados de interesse para o estudo como sexo, idade, medidas do peso,
estatura, IMC, circunferência abdominal, circunferência do quadril, circunferência
cervical, circunferência torácica, índice de adiposidade corporal, pressão arterial, níveis de
glicemia de jejum, triglicerídeos e HDL colesterol foram registrados no formulário de
relato de caso (APÊNDICE B).
A medida da PA foi realizada pelo método auscultatório, usando um
42
esfigmomanômetro aneróide previamente calibrado, com o indivíduo na posição sentada e
o braço levemente flexionado na altura do coração. Inicialmente a PA foi aferida em
ambos os braços e, ocorrendo diferença entre o braço esquerdo e o direito maior que
10mmHg, o braço com maior nível de pressão foi utilizado como referência.
Subsequentemente, outras duas medidas foram realizadas no braço de referência, com dois
minutos de intervalo entre elas. A PA foi determinada pela média das duas últimas
medidas. Foram consideradas alteradas, de acordo com os critérios propostos pela IDF em
2006, a medida da pressão arterial sistólica maior ou igual a 130 mmHg e/ou pressão
arterial diastólica maior ou igual a 85 mmHg.
As medidas antropométricas foram realizadas em ortostase, por três
examinadores previamente treinados e os parâmetros avaliados foram:
1) Peso em jejum, após micção, com roupas leves e sem calçados, em balanças
divididas a cada 0,1kg;
2) Estatura sem calçados em estadiômetro calibrado a cada 0,1cm;
3) IMC – calculado a partir do peso e estatura, sendo considerado não obesos
indivíduos com IMC entre 18,5 e 29,9kg/m² (peso normal - IMC entre 18,5 e 24,9kg/m²;
sobrepeso - IMC entre 25 e 29,9kg/m²) (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 1998);
4) Circunferência abdominal, medida no ponto médio entre a última costela e a
espinha ilíaca anterior, com fita métrica dividida a cada 0,1cm, numa posição paralela ao
chão. Foi considerada CA alterada quando nos homens maior ou igual a 90cm e nas
mulheres maior ou igual a 80cm;
5) Circunferência do quadril (CQ), medida na região de maior perímetro da região
glútea (ao nível do trocânter maior), com fita métrica calibrada a cada 0,1cm, numa
posição paralela ao chão;
6) Circunferência cervical, medida ao nível da margem superior da cartilagem
tireóide;
7) Circunferência torácica, medida com uma fita métrica calibrada a cada 0,1cm, na
altura da axila (em mulheres acima da glândula mamária);
8) Índice de adiposidade corporal - determinado através da equação (IAC
=((circunferência do quadril) / (altura)1,5
)) – 18)) (BERGMAN, 2011). Foram
categorizadas com risco de doenças associadas a obesidade as mulheres que apresentaram
percentual de gordura corporal avaliado pelo IAC maior ou igual a 32% e os homens pelo
IAC maior ou igual a 25% (LOHMAN, 1992).
43
5.4.2 Medidas laboratoriais
As medidas laboratoriais de glicemia de jejum, triglicerídeos e HDL colesterol
foram realizadas para se avaliar os componentes da SM.
5.4.2.1 Processamento e armazenamento inicial das amostras
Todas as amostras de sangue devidamente identificadas foram colhidas em
jejum de 12 horas no laboratório do CSAM ou nas unidades de coleta do LP-DASA® e
depois centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos para a separação do soro ou plasma. Após
acondicionamento do soro/plasma em alíquotas, as amostras foram armazenadas (-20 ºC)
até a realização das análises. A análise laboratorial foi realizada no LP-DASA®.
5.4.2.1.1 Métodos laboratoriais
As determinações sanguíneas de HDL-colesterol foram realizadas pelo método
enzimático colorimétrico (aparelho HITACHI 917
–Roche). A dosagem de triglicerídeos
foi realizada pelo método GPO-PAP (aparelho HITACHI 917
–Roche). A dosagem de
glicose foi realizada pelo método PAP colorimétrico (aparelho HITACHI 917
–Roche).
Foram consideradas alteradas, de acordo com os critérios propostos pela IDF
(2006), as medidas séricas de glicemia de jejum maior ou igual a 100mg/dL; triglicerídeos
maior ou igual a 150mg/dL e; HDL colesterol menor que 40mg/dL nos homens e menor
que 50mg/dL nas mulheres, estando o indivíduo sem uso de medicação específica para
correção dessas alterações.
5.4.3 Critério diagnóstico de Síndrome Metabólica
A presença de SM foi determinada de acordo com os critérios estabelecidos
pela JIS em 2009 (ALBERTI, 2009), pela qual o indivíduo é classificado como portador
de SM quando apresenta pelo menos três anormalidades entre as seguintes: CA elevada,
níveis séricos elevados de glicemia de jejum, níveis séricos elevados de triglicerídeos,
níveis séricos baixos de HDL colesterol e elevada pressão arterial. Utilizou-se também a
proposta da IDF para diagnóstico de SM (IDF, 2006), com o intuito de comparar a
44
prevalência da síndrome pelos critérios de 2009 e pelos critérios da IDF e a concordância
do diagnóstico entre esses dois critérios nos indivíduos avaliados.
5.5 Análise dos dados
Os dados foram analisados estatisticamente tomando por base as variáveis de
interesse para o estudo, organizados em gráficos e tabelas.
Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para verificar a normalidade das
variáveis quantitativas. Realizou-se uma análise estatística descritiva, quando foram
calculadas as médias os desvios padrão para distribuição normal dos dados das variáveis
numéricas ou a frequência (em percentual) das variáveis categóricas. As diferenças entre
as médias das variáveis contínuas que tinham distribuição normal foram analisadas pelo
teste t de Student e entre as variáveis que não apresentavam distribuição normal pelo teste
não-paramétrico de Mann-Whitney. As diferenças estatísticas entre as proporções das
variáveis categóricas foram calculadas pelo teste do qui-quadrado, pelo teste exato de
Fisher ou de máximo verossimilhança.
Os coeficientes de correlações de Pearson ou de Spearman, dependendo se a
variável apresentava distribuição normal ou não, foram utilizados para analisar as relações
entre as variáveis antropométricas CC, CT, CA e IAC com cada uma das variáveis de
interesse para o estudo (antropométricas e componentes da SM).
Regressão linear simples, sem ajuste e com ajustes para IMC, CA e idade, foi
realizada entre CC, CT e o IAC com as variáveis componentes da SM. As variáveis que
não apresentaram distribuição normal sofreram transformação logarítmica para que
pudessem entrar nesta análise. Desta forma, foi realizada transformação logarítmica das
variáveis PA sistólica, PA diastólica, circunferência cervical, triglicérides e glicemia de
jejum. No entanto, mesmo após a transformação logarítmica, as variáveis logPAS,
logPAD e logglicemia não apresentaram distribuição normal nem no grupo todo e nem nos
subgrupos por gênero e por faixa de IMC, não entrando nas equações de regressão. Além
disso, a variável logCC não apresentou distribuição normal no grupo de 276 indivíduos e
no subgrupo das mulheres, também não entrando nestas análises. Também não entraram
nas regressões as variáveis que não tiveram correlação linear com CC, CT e IAC.
Análise de curva ROC (Receiver Operating Characteristic) foi realizada para
se verificar a capacidade da CC, CT e IAC em identificar os casos de SM. Os resultados
foram considerados significativos quando a área sob a curva foi maior que 0,5 e p-value ≤
45
5%. Para se identificar pontos de corte da CC, CT e IAC para os homens e para as
mulheres, que identificassem SM, dois critérios foram considerados: um que garantia um
equilíbrio entre sensibilidade e especificidade, objetivando rastrear casos e não-casos, e
outro focado no rastreio de casos, considerando a elevada prevalência de SM, favorecendo
desta forma maior sensibilidade do que especificidade. Na análise da decisão dos pontos
de cortes foi utilizado também o índice de Youden, que maximiza a classificação correta
dos casos, bem como a valorização da sensibilidade para fins de triagem.
Para todas as análises inferenciais, foi considerado estatisticamente
significante valor de p<0,05. Os dados foram processados no software Statistical Package
for the Social Sciences
(SPSS), versão 21.0 para Windows
.
5.6. Conflitos de interesse
O financiamento dos kits laboratoriais utilizados nesta pesquisa foi
proporcionado pela Roche Diagnóstico em parceria com a empresa Diagnósticos da
América®. Não houve nenhum incentivo financeiro direto para os pesquisadores. Não
existiram conflitos de interesse envolvidos nesse estudo.
46
6 RESULTADOS:
Entre os 276 participantes avaliados, oitenta e cinco (30,8%) eram do sexo
masculino e cento e noventa e um (69,2%) eram do sexo feminino. A média da idade dos
indivíduos avaliados foi de 34,9 anos (± 11,14). No sexo masculino, a média da idade foi
de 33,74 anos (±10,0) e no feminino foi de 35,5 anos (±11,6), sem diferença estatística (p
= 0,2).
As características antropométricas e os valores dos componentes da SM dos
indivíduos avaliados e nos subgrupos por gênero estão descritas na Tabela 1. A média de
IMC no grupo todo e no gênero feminino estava na faixa de peso normal, no seu limite
superior; no gênero masculino, a média do IMC encontrava-se na faixa de sobrepeso, sem
diferença estatística entre os grupos. Como esperado, as circunferências abdominal,
cervical, torácica e a relação cintura/quadril foram maiores nos homens; já o IAC foi
maior entre as mulheres. A circunferência do quadril foi praticamente a mesma entre os
dois gêneros. As médias das medidas das pressões sistólica e diastólica e da medida
laboratorial de triglicerídeos foram maiores entre os homens; já as mulheres tiveram média
de HDL-colesterol maior. Com relação a medida laboratorial da glicemia de jejum não
houve diferença entre os sexos.
Ainda em relação ao IMC, os indivíduos foram divididos em dois subgrupos:
peso normal (IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2) e sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9 kg/m
2). Foi
visto que 137/276 indivíduos (49,6%) apresentavam peso normal e 139/276 indivíduos
(50,4%) apresentavam-se com sobrepeso, sem diferença estatística entre os dois subgrupos
(p = 0,95). Quando se avaliou essa distribuição por gênero, o resultado foi bem semelhante
ao encontrado no grupo todo: nos homens, 41/85 (48,2%) tinham peso normal e 44/85
(51,8%) estavam na faixa do sobrepeso, sem diferença estatística (p = 0,7); nas mulheres,
96/191 (50,3%) apresentavam peso normal e 95/191 (49,7%) apresentavam-se com
sobrepeso, também sem diferença estatística (p = 0,7).
47
Tabela 1 - Dados antropométricos e valores dos componentes da SM em 276 adultos não
obesos, separados por gênero, Fortaleza-CE, 2010
Total homens mulheres
Variável média dp média dp média dp p
(n = 276) (n = 85) (n = 188)
Peso (kg) 63,9 (±9,7) 71,4 (±10,7) 60,7 (±7,0) <0,0001
Estatura (cm) 161,2 (±9,4) 171,7 (±6,7) 156,54 (±6,0) <0,0001
Circunferência
abdominal (cm) 86,9 (±8,3) 89,6 (±7,9) 85,7 (±8,1) <0,0001
Circunferência
quadril (cm) 98,7 (±6,1) 98,8 (±5,8) 98,6 (±6,2) NS
RCQ 0,88 (±0,06) 0,905 (±0,06) 0,86 (±0,06) < 0,0001
Circunferência
cervical (cm) 34,4 (±2,9) 37,9 (±2,0) 32,9 (±1,8) <0,0001
Circunferência
torácica (cm) 90,1 (±6,7) 95,8 (±6,2) 87,5 (±5,2) <0,0001
IMC (kg/m²) 24,9 (±2,8) 25,1 (±2,8) 24,9 (±2,8) NS
IAC 30,4 (±4,5) 25,9 (±2,9) 32,4 (±3,6) <0,0001
PA sistólica (mmHg) 120,4 (14,3) 125,8 (±14,8) 118,0 (±13,4) <0,0001
PA diastólica (mmHg) 79,6 (8,5) 81,8 (±8,3) 78,6 (±8,4) 0,004
HDL-colesterol (mg/dL) 50,0 (±13,1) 43,2 (±11,3) 53,1 (±12,7) <0,0001
Triglicérides (mg/dL) 114,0 (±61,9) 129,7 (±77,2) 107 (±52,4) 0,005
Glicemia jejum (mg/dL) 91,9 (±12,6) 92,7 (±10,7) 91,6 (±13,4) NS
DP – desvio padrão; HDL – lipoproteína de alta densidade; IAC – índice de adiposidade corporal; IMC –
índice de massa corporal; NS – não significante (p > 0,05); PA – pressão arterial; RCQ – relação
cintura/quadril
No gráfico 1 está apresentado o percentual de alterações nos componentes
constituintes da SM nos 276 indivíduos. Observa-se que a CA foi a alteração mais
frequente, seguida da alteração no HDL colesterol, pressão arterial, glicemia de jejum e
triglicerídeos. Na Tabela 2 estão descritas os percentuais destas alterações por gênero.
Chamou atenção ainda o grande percentual de mulheres com CA alterada, bem maior que
dos homens. Por sua vez, a pressão arterial foi o único componente que os homens
48
apresentaram mais alteração comparado às mulheres. Quanto aos outros componentes não
houve diferença de prevalência entre os sexos.
Gráfico 1: Percentual de alteração nos constituintes da Síndrome Metabólica em 276
indivíduos não obesos, Fortaleza-CE, 2010
Tabela 2 - Percentual de alteração nos componentes da SM em 276 adultos não obesos,
por gênero, Fortaleza-CE, 2010
Variável Homens Mulheres
(n = 85) (n = 191)
P
Circunferência abdominal 54,1% 77,5% <0,0001
HDL colesterol 43,5% 42,9% NS
Pressão arterial 24,7% 14,6% 0,04
Glicemia de jejum 23,5% 18,8% NS
Triglicerídeos 23,5% 16,75% NS
NS – não significativo (p > 0,05)
Avaliando-se o percentual destas alterações nos subgrupos com peso normal e
com sobrepeso observa-se, como esperado, que todos eles foram maiores entre os
indivíduos que estavam com sobrepeso, apesar de não haver diferença estatísticas nos
elementos HDL colesterol e glicemia de jejum (tabela 3). No entanto o elevado percentual
de CA alterada no subgrupo com peso normal também foi um achado importante.
n = 276
70%
43%
26% 20% 19%
49
Tabela 3 - Percentual de alteração nos componentes da SM nos subgrupos de peso normal
e sobrepeso, Fortaleza-CE, 2010
Variável Peso normal Sobrepeso
(n = 137) (n = 139)
p
Circunferência abdominal 47% 93% <0,0001
HDL colesterol 39% 47% NS
Pressão arterial 11,7% 23,7% 0,009
Glicemia de jejum 16,8% 23,7% NS
Triglicerídeos 10,2% 27% <0,0001
NS – não significativo (p > 0,05)
Com relação à avaliação do número de componentes da SM alterados por
indivíduo, observou-se que 247/276 (89,5%) dos voluntários apresentavam pelo menos um
componente alterado e 161/276 (58,3%) apresentavam pelo menos dois. O diagnóstico de
SM, a partir de pelo menos três componentes alterados, foi realizado em 28% dos
indivíduos (76/276) (Gráfico 2). Já a prevalência de SM utilizando os critérios da IDF foi
de 27% (75/276). Em comparação com o diagnóstico feito pelos critérios da JIS de 2009,
somente um indivíduo não teria esse diagnóstico, o que ocorreu em um indivíduo do
subgrupo de peso normal. Em 75 indivíduos o diagnóstico de SM foi concordante nos dois
critérios (índice de concordância de kappa = 0,991, p < 0,0001).
Gráfico 2 – Distribuição da população de 276 indivíduos não obesos quanto ao número de
componentes da SM alterados, Fortaleza-CE, 2010.
SM – 28% (76/276)
10,5%
31,2% 30,8%
18,8%
6,9%
1,8%
50
Quando realizada a estratificação da população por faixa etária foi visto que a
prevalência de SM foi crescente quanto maior a idade do indivíduo (gráfico 3). Quanto às
alterações dos componentes da SM por faixa etária, foi vista elevada prevalência de
alteração da CA já em faixa etária mais jovem e aumento da mesma com o aumento da
idade. Alteração no HDL colesterol foi bem prevalente em faixa etária mais jovem, mas
permaneceu sem diferença estatísticas nas faixas etárias mais elevadas. Entre os demais
componentes, a pressão arterial não apresentou aumento de prevalência com o aumento da
idade com significância estatística; glicemia de jejum e triglicerídeos apresentaram
aumento da prevalência de alterações com o aumento da faixa etária (tabela 4).
Gráfico 3 – Prevalência de SM, por faixa etária, em 276 indivíduos não obeso, Fortaleza-
CE, 2010
n = 276
13,9%
23,4%
47,3%
p – 0,09
p – 0,001
51
Tabela 4: Percentual de alteração nos componentes da SM, por faixa etária, em 276
indivíduos não obesos, Fortaleza-CE, 2010
Variável 18 a 29 anos
(n = 108)
30 a 39 anos
(n = 77)
≥ 40 anos
(n = 91) p
Circunferência
abdominal
51,8% 74% 89% 0,002*
0,01#
HDL colesterol 48% 36% 42,8% NS*
NS#
Pressão arterial 12,9% 14,3% 26,4% NS*
NS#
Glicemia de jejum 9,2% 18,1% 35,1% NS*
0,01#
Triglicerídeos 9,3% 20,7% 28,5% 0,03*
NS#
NS - não significativo (p > 0,05); * p do teste de qui-quadrado entre a primeira e a segunda faixa
etária; # p do teste de qui-quadrado entre a segunda e a terceita faixa etária
Retornando a estratificação da população quanto ao IMC, foi também avaliado
o percentual de indivíduos no subgrupo de peso normal e no subgrupo com sobrepeso que
apresentava alterações em um ou mais componentes da SM. No subgrupo com IMC
normal, 20% (28/137) dos indivíduos não apresentava nenhuma alteração dos
componentes da SM, enquanto que 42% (57/137) indivíduos tinha duas ou mais
alterações. A prevalência de SM nesse subgrupo foi de 14,6% (20/137) (gráfico 4).
Gráfico 4: percentual do número de componentes da SM alterados em 137 indivíduos com
IMC normal, Fortaleza-CE, 2010.
20,4%
4,4%
10,2%
27%
38%
n = 137
52
No subgrupo com IMC na faixa de sobrepeso, somente um indivíduo não
apresentava alteração em nenhum componente da SM. Mais de 99% dos indivíduos
(138/139) apresentavam pelo menos um componente alterado e 74,8% (104/139)
apresentavam dois componentes. A prevalência de SM nesse subgrupo foi de 40,3%
(56/139) (gráfico 5).
Gráfico 5: percentual do número de componentes da SM alterados em 139 indivíduos com
IMC na faixa de sobrepeso, Fortaleza-CE, 2010.
Entre os indivíduos que apresentavam IMC normal, 41/137 (30%) eram do
sexo masculino e 96/137 (70%) eram do sexo feminino. A média de idade nesse subgrupo
foi de 33,3 anos (± 11,4); nos homens foi de 32,9 (±11,7) anos e nas mulheres de 33,5
(±11,3) anos (p=0,8). As médias dos parâmetros antropométricos e componentes da SM
neste subgrupo estão apresentadas na tabela 5, separadas também por gênero. Observa-se
que não houve diferença na média do IMC, da medida da circunferência do quadril e dos
valores de triglicerídeos e glicemia entre os gêneros. No entanto, apesar de apresentarem
peso normal, as mulheres tinham a média da medida da CA em um nível já alterado, porém
menor que os homens. Além disso, apresentavam IAC maior que os homens, com
diferença estatística. As médias das medidas da CC, CT, PA sistólica e PA diastólica foram
maiores nos homens, também com diferença estatística. A média HDL-colesterol, por sua
vez, foi mais elevada nas mulheres.
34,5%
24,5% 27,3%
%%%
9,4%
3,6% 0,7%
%
n = 139
53
No subgrupo com IMC na faixa de sobrepeso, 44/139 (31,7%) eram do sexo
masculino e 95/139 (68%) eram do sexo feminino. A média de idade foi de 36,6 (± 10,7)
anos, sendo nos homens de 34,5 (±8,3) anos e nas mulheres de 37,6 (±11,6) anos, sem
diferença entre eles (p=0,08). As médias dos parâmetros antropométricos e dos
componentes da SM desse subgrupo estão apresentados na tabela 6, separados por gênero.
Este subgrupo também não apresentou diferença na média do IMC, da medida da CQ, da
PA diastólica e da glicemia de jejum. As médias do IAC e dos valores de HDL colesterol
foram mais elevadas entre as mulheres, com diferença estatística. Já as médias das medidas
da CA, CC, CT, PA sistólica e triglicerídeos foram mais elevadas nos homens, também
com diferença estatística.
Tabela 5 - Valores dos parâmetros antropométricos e componentes da Síndrome
Metabólica em indivíduos com peso normal, separados por gênero, Fortaleza-CE, 2010
Total homens mulheres
Variável média dp média dp média dp p
(n = 137) (n = 41) (n = 96)
IMC (kg/m²) 22,5 (±1,7) 22,6 (±1,7) 22,5 (±1,8) NS
CA (cm) 82 (±7,4) 84,4 (±7,1) 80,9 (±7,3) 0,01
CQ (cm) 95,3 (±5,8) 95,4 (±5,4) 95,2 (±6,0) NS
CC (cm) 33,5 (±2,5) 36,6 (±1,4) 32,2 (±1,6) <0,0001
CT (cm) 86,6 (±5,8) 92,0 (±5,4) 84,3 (±4,2) <0,0001
IAC 28,5 (±3,9) 24,5 (±2,6) 30,2 (±3,0) <0,0001
PA sistólica (mmHg) 117,7 (15,0) 123,9 (±14,8) 115,0 (±14,4) 0,002
PA diastólica (mmHg) 77,7 (8,3) 80,7 (±7,0) 76,4 (±8,5) 0,002
HDL-colesterol (mg/dL) 51,4 (±13,5) 45,4 (±12,3) 54,0 (±13,2) <0,0001
Triglicerídeos (mg/dL) 99,8 (±52,3) 107,6 (±69,2) 96,4 (±43,1) NS
Glicemia jejum (mg/dL) 91,3 (±11,4) 92,7 (±10,1) 90,6 (±11,8) NS
DP – desvio padrão ; NS – não significante (p > 0,05); IMC – índice de massa corporal; IAC – índice de
adiposidade corporal; CA – circunferência abdominal; CQ – circunferência quadril; CC – circunferência
cervical; CT – circunferência torácica; PA – pressão arterial; HDL – lipoproteína de alta densidade.
54
Tabela 6 - Valores dos parâmetros antropométricos e componentes da Síndrome
Metabólica em indivíduos com IMC na faixa de sobrepeso, separados por gênero,
Fortaleza-CE, 2010
Total homens mulheres
Variável média dp média dp média dp p
(n = 139) (n = 44) (n = 95)
IMC (kg/m²) 27,3 (±1,4) 27,3 (±1,5) 27,3 (±1,3) NS
CA (cm) 91,7 (±5,9) 94,5 (±5,3) 90,5 (±5,7) < 0,0001
CQ (cm) 102,0 (±4,2) 102,0 (±4,1) 102,0 (±4,3) NS
CC (cm) 35,3 (±3,1) 39,0 (±1,7) 33,5 (±1,7) <0,0001
CT (cm) 93,5 (±5,8) 99,3 (±4,6) 90,8 (±4,0) <0,0001
IAC (%) 32,4 (±4,3) 27,3 (±2,4) 34,7 (±2,7) <0,0001
PA sistólica (mmHg) 123,0 (13,0) 127,4 (±14,8) 121,0 (±11,6) 0,01
PA diastólica (mmHg) 81,5 (8,2) 82,8 (±9,3) 80,9 (±7,6) NS
HDL-colesterol (mg/dL) 48,6 (±12,5) 41,1 (±9,9) 52,1 (±12,0) <0,0001
Triglicérides (mg/dL) 128,0 (±67,5) 150,2 (±79,3) 117,6 (±58,7) 0,02
Glicemia jejum (mg/dL) 92,6 (±13,7) 92,7 (±11,4) 92,5 (±14,7) NS
DP – desvio padrão ; NS – não significante (p > 0,05); IMC – índice de massa corporal; IAC – índice de
adiposidade corporal; CA – circunferência abdominal; CQ – circunferência quadril; CC – circunferência
cervical; CT – circunferência torácica; PA – pressão arterial; HDL – lipoproteína de alta densidade; RCQ –
relação cintura/quadril.
As tabelas 7 a 9 apresentam os resultados das análises de correlações lineares
entre CC, CT e IAC com IMC e os componentes da SM em 276 indivíduos não obesos e
nos subgrupos por gênero e por faixa de IMC (IMC normal e IMC na faixa de sobrepeso).
A CC apresentou correlação linear positiva com IMC, CA, PA sistólica e PA
diastólica entre os 276 indivíduos e nos dois gêneros; correlação positiva com
triglicerídeos somente no grupo todo e nas mulheres e correlação negativa com HDL
colesterol no grupo todo e nos homens, todos com significância estatística. Não houve
correlação da CC com o componente glicemia de jejum.
Quanto às análises nos subgrupos por faixa de IMC, observou-se naqueles com
IMC normal que a CC apresentou correlação linear positiva com IMC, CA, PA sistólica e
PA diastólica e correlação negativa com HDL colesterol, com significância estatística. Nos
55
indivíduos com sobrepeso, a CC apresentou correlação linear positiva com CA, PA
sistólica, PA diastólica e triglicerídeos e correlação negativa com HDL colesterol, também
com significância estatística. Não houve correlação da CC com glicemia de jejum em
nenhum desses dois subgrupos (tabela 7).
Tabela 7 - Correlações da circunferência cervical com IMC e componentes da SM
em 276 indivíduos não obesos, separados por gênero e por faixa de IMC (peso normal e
sobrepeso)
Variáveis n = 276 homens
n = 85
mulheres
n = 191
peso
normal
n = 137
sobrepeso
n = 139
IMC
r 0,349** 0,673** 0,452** 0,257** 0,147
p <0,0001 <0,0001 <0,0001 0,002 0,08
CA
r 0,482** 0,562** 0,484** 0,380** 0,440**
p <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001
PA sistólica
r 0,323** 0,283** 0,224** 0,337** 0,289**
p <0,0001 0,009 0,002 <0,0001 0,001
PA
diastólica
r 0,273** 0,219* 0,217** 0,263** 0,180*
p <0,0001 0,04 0,003 0,002 0,03
HDL-
colesterol
r -0,361** -0,213* -0,125 -0,258** -0,431**
p <0,0001 0,05 0,08 0,002 <0,0001
Triglicérides
r 0,233** 0,151 0,174* 0,068 0,247**
p <0,0001 0,16 0,02 0,43 0,003
Glicemia de
jejum
r 0,06 0,02 -0,001 0,103 -0,03
p 0,3 0,8 0,9 0,23 0,7
** Correlação significante no p até 0,01; *Correlação significante no p até 0,05; IMC – índice de massa
corporal; CA – circunferência abdominal; PA – pressão arterial; HDL – lipoproteína de alta densidade.
No Na avaliação das medidas CA, CTO, CC e IAC com os vários parâmetros antropométricos e metabólicos já citados
A CT também apresentou correlação linear positiva com IMC, CA, PA
sistólica e PA diastólica no grupo todo e nos dois gêneros e correlação linear positiva com
triglicerídeos no grupo todo e nas mulheres, com significância estatística. Além disso
apresentou correlação positiva com glicemia de jejum nas mulheres e correlação negativa
com HDL colesterol somente no grupo todo.
56
Nos subgrupos por faixa de IMC, a CT apresentou correlação linear positiva
com IMC, CA, PA sistólica, PA diastólica e glicemia de jejum e correlação negativa com
HDL colesterol naqueles com peso normal, com significância estatística. Não houve
correlação da CT com triglicerídeos neste subgrupo. Já naqueles com sobrepeso, foi vista
correlação linear positiva da CT com IMC, CA, PA sistólica, PA diastólica e triglicerídeos
e correlação negativa com HDL colesterol, com significância estatística. Não houve
correlação da CT com glicemia de jejum entre aqueles com sobrepeso (tabela 8).
Tabela 8 - Correlações da circunferência torácica com IMC e componentes da SM em 276
indivíduos não obesos, separados por gênero e por faixa de IMC (peso normal e
sobrepeso)
Variáveis n = 276 homens
n = 85
mulheres
n = 191
peso
normal
n = 137
sobrepeso
n = 139
IMC
r 0,619** 0,762** 0,723** 0,475** 0,326**
p <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001
CA
r 0,695** 0,643** 0,750** 0,616** 0,516**
p <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001
PA sistólica
r 0,374** 0,263* 0,349** 0,426** 0,276**
p <0,0001 0,015 <0,0001 <0,0001 0,001
PA
diastólica
r 0,319** 0,236* 0,286** 0,294** 0,181*
p <0,0001 0,03 <0,0001 <0,0001 0,03
HDL-
colesterol
r -0,300** -0,16 -0,12 -0,225** -0,353**
p <0,0001 0,14 0,1 0,008 <0,0001
Triglicérides
r 0,275** 0,159 0,27** 0,126 0,239**
p <0,0001 0,146 <0,0001 0,142 0,005
Glicemia de
jejum
r 0,118 -0,07 0,18* 0,229** -0,15
p 0,051 0,5 0,013 0,007 0,86
** Correlação significante no p até 0,01; *Correlação significante no p até 0,05; IMC – índice de massa
corporal; CA – circunferência abdominal; PA – pressão arterial; HDL – lipoproteína de alta densidade.
Já nas análises de correlação do IAC, foi vista correlação positiva deste com o
IMC e a CA no grupo todo e nos dois gêneros, com significância estatística. Com os
demais parâmetros, as correlações com significância estatística foram isoladas, sendo
57
positivas com PA sistólica e PA diastólica nas mulheres, com HDL colesterol no grupo
todo, com triglicerídeos nas mulheres e com glicemia de jejum nos homens.
Nos subgrupos por faixa de IMC, as correlações com o IAC também foram
mais fracas ou até ausentes. Nos indivíduos com peso normal pelo IMC, o IAC apresentou
correlação linear positiva apenas com IMC, CA e glicemia de jejum e correlação negativa
com HDL colesterol, com significância estatística. Já nos indivíduos com sobrepeso, o
IAC apresentou correlação linear positiva com IMC e HDL colesterol e correlação
negativa com CA, PA sistólica e triglicerídeos, com significância estatística (tabela 9).
Tabela 9 - Correlações do índice de adiposidade corporal com IMC e componentes da SM
em 276 participantes não obesos, separados por gênero e por faixa de IMC (peso normal e
sobrepeso)
Variáveis n = 276 homens
n = 85
mulheres
n = 191
peso
normal
n = 137
sobrepeso
n = 139
IMC
r 0,529** 0,655** 0,746** 0,383** 0,313**
p <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001
CA
r 0,257** 0,561** 0,541** 0,206* -0,215*
p <0,0001 <0,0001 <0,0001 0,016 0,011
PA sistólica
r -0,028 0,11 0,219** -0,017 -0,231**
p 0,6 0,3 0,002 0,8 0,007
PA
diastólica
r 0,043 0,06 0,263** -0,035 -0,087
p 0,5 0,55 <0,0001 0,68 0,309
HDL-
colesterol
r 0,154* -0,18 -0,08 -0,225** 0,285**
p 0,011 0,09 0,2 0,008 0,001
Triglicérides
r 0,06 0,121 0,16* 0,126 -0,198*
p 0,3 0,27 0,026 0,14 0,02
Glicemia de
jejum
r 0,03 0,23* 0,09 0,229** 0,01
p 0,5 0,03 0,17 0,007 0,9
** Correlação significante no p até 0,01; *Correlação significante no p até 0,05; IMC – índice de massa
corporal; CA – circunferência abdominal; PA – pressão arterial; HDL – lipoproteína de alta densidade.
Nas análises de regressão linear, observou-se que a CT foi capaz de predizer
mudanças nos níveis de HDL colesterol no modelo não ajustado em 8,7% dos indivíduos
não obesos e no modelo ajustado para idade, CA e IMC em 9% destes. Em relação aos
58
níveis de triglicerídeos, a CT foi capaz de predizer mudanças no modelo não ajustado em
7,8% dos indivíduos, mas no modelo ajustado não teve poder de predizê-las (tabela 10).
Tabela 10 – Modelo de regressão linear da circunferência torácica com HDL colesterol
e logaritmo de triglicérides em 276 indivíduos não obesos, sem ajuste e com ajuste para
idade, CA e IMC
Modelo não ajustado Modelo ajustadoa
276 INDIVÍDUOS NÃO OBESOS
HDL colesterol
CT
Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
-0,583 -0,804;-0,363 0,087* -0,54 -0,861;-0,223
0,09*
Triglicérides¹
CT Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
0,009 0,005;0,012 0,078* 0,004 -0,001;0,009 0,17
a modelo ajustado para idade, CA e IMC; ¹ variável logarítmica; CT - circunferência torácica; * p <
0,05
Na tabela 11 estão os modelos nos subgrupos por gênero. No subgrupo dos
homens, observou-se que o aumento da CC foi capaz de explicar 7% da variação de
aumento da PA sistólica no modelo não ajustado e 19% no modelo ajustado para idade,
CA e IMC; já aumento desta circunferência foi capaz de explicar 5,7% de variação de
diminuição do HDL colesterol apenas no modelo ajustado. A CT foi analisada apenas com
a PA sistólica e aumento na sua medida foi capaz de explicar 5,8% da variação de
aumento da PA no modelo não ajustado e 19% das vezes no modelo ajustado.
Nas mulheres, somente CT e logaritmo de triglicerídeos entraram na análise de
regressão linear, sendo que aumento da CT foi capaz de explicar 6,8% da variação de
aumento dos triglicerídeos apenas no modelo sem ajuste.
59
Tabela 11 – Modelo de regressão linear da CC com PA sistólica e HDL colesterol e CT
com PA sistólica no subgrupo dos homens e CT com log triglicérides no subgrupo das
mulheres, sem ajuste e com ajuste para idade, CA e IMC
Modelo não ajustado Modelo ajustadoa
HOMENS (n = 85)
PA sistólica
CC
Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
2,11 0,55;3,68 0,07* 3,05 1,04; 5,07
0,19*
HDL colesterol
CC Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
-1,21 -2,43; 0,01 0,03 -0,23 -1,89;-0,119 0,057*
PA sistólica
CT Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
0,63 0,12;1,14 0,058* 1,08 0,33;1,84 0,19*
MULHERES (n = 191)
Triglicerídeos1
CT Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
0,01 0,005;0,016 0,068* 0,004 -0,004;0,13 0,152
1 variável logarítmica; a
modelo ajustado para idade, CA e IMC; CC – circunferência cervical;
CT - circunferência torácica; * p < 0,05
Na tabela 12 vê-se que no subgrupo de peso normal a CT, no modelo não
ajustado, foi capaz de predizer alteração nos níveis de HDL colesterol em 4% dos
indivíduos; no modelo ajustado para idade, CA e IMC não houve significância estatística.
Já a CC, nos modelos não ajustado e ajustado, foi capaz de predizer em 6% dos indivíduos
alteração nos níveis de HDL colesterol. No subgrupo com sobrepeso a CT, no modelo não
ajustado, foi capaz de predizer em 11,9% das vezes alteração no HDL colesterol e, no
modelo ajustado, em 12% das vezes. Nos modelos de regressão linear da medida da CT
com os níveis de triglicerídeos no último subgrupo, viu-se apenas no modelo não ajustado
que a CT foi capaz de predizer em 5,6% das vezes aumento do HDL; no modelo ajustado
essa regressão não teve significância estatística.
60
Tabela 12 - Modelo de regressão linear das CT e CC com HDL colesterol no subgrupo
de peso normal e CT com HDL colesterol e triglicérides no subgrupo com sobrepeso,
sem ajuste e com ajuste para idade, CA e IMC
Modelo não ajustado Modelo ajustadoa
PESO NORMAL (n = 137)
HDL colesterol
CT
Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
-0,52 -0,913;-0,138 0,04* -0,405 -0,913; 0,103
0.043
HDL colesterol
CC Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
-1,36 -2,236;-0,496 0,06* -1,08 -2,049;-0,119 0,06*
SOBREPESO (n = 139)
HDL colesterol
CT Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
-0,76 -1,102;-0,421 0,119* -0,65 -1,058;-0,24 0,12*
Triglicérides1
CT Beta 95%CI R² Beta 95%CI R²
0,009 0,003;0,015 0,056* 0,007 0,000;0,14 0,126
1 variável logarítmica; a
modelo ajustado para idade, CA e IMC; CC – circunferência cervical;
CT - circunferência torácica; * p < 0,05
Por fim, foram realizadas análises de curva ROC das CA, CT, CC e IAC para
se avaliar a capacidade de cada um desses parâmetros identificar SM nos 276 indivíduos e
nos subgrupos por gênero. As análises com a CA foram realizadas para servirem de
parâmetro nas análises das outras circunferências e do IAC. Nos 276 indivíduos não obesos
foi visto que a CT, depois da CA, foi quem apresentou melhor capacidade discriminatória
para os casos de SM (gráfico 4). Entre os homens, a CC e o IAC foram melhores do que a
CT e, nas mulheres, a CT foi a melhor, todas depois da CA (gráficos 5 e 6).
61
Gráfico 4: curva ROC da CA, CT, CC e IAC como variáveis identificadoras de SM em 276
indivíduos não obesos, Fortaleza-CE, 2010
Gráfico 5: curva ROC da CA, CT, CC e IAC como variáveis identificadoras de SM em
homens não obesos, Fortaleza-CE, 2010.
Área sob a curva:
1) CA = 0,764 (95% de IC 0,706;
0,822, p < 0,0001);
2) CT = 0,662 (95% de IC 0,594;
0,731, p = 0,004);
3) CC = 0,611 (95% de IC 0,539;
0,683, p = <0,0001);
4) IAC = 0,598 (95% de IC 0,526;
0,670, p = 0,01).
n = 276
Área sob a curva:
1) CA = 0,854 (95% de IC 0,771;
0,937, p < 0,0001);
2) CT = 0,672 (95% de IC 0,548;
0,797, p = 0,01);
3) CC = 0,714 (95% de IC 0,599;
0,830, p = 0,002);
4) IAC = 0,691 (95% de IC 0,567; 0,
814, p = 0,006).
n = 85
62
Gráfico 6: curva ROC da CA, CT, CC e IAC como variáveis identificadoras de SM em
mulheres não obesas, Fortaleza-CE, 2010.
Diante desses resultados foram realizadas análises para se avaliar os pontos de
corte da CC e da CT para rastreio de casos de SM nos homens e nas mulheres.
Em relação a CT, o ponto de corte de 97 cm nos homens mostrou um equilíbrio
para o rastreio de casos e não-casos de SM, ao apresentar uma sensibilidade de 64% e uma
especificidade de 63,3%. No entanto o ponto de corte de 95,8 cm, um pouco inferior a esse
primeiro, aumentou a sensibilidade para 76%, com uma especificidade de 51,7%, ou seja,
melhorou a sensibilidade e manteve a especificidade ainda acima de 50%, além de
apresentar melhor índice de Youden (0,227).
Nas mulheres, o ponto de corte da CT de 87,8 cm apresentou uma sensibilidade
de 62,7% e uma especificidade de 60,7%, mostrando um bom equilíbrio para o rastreio de
casos e não-casos de SM. Mas o ponto de corte de 87,3 cm melhorou um pouco mais a
sensibilidade, que foi para 68,6%, ficando a especificidade em 54,3% e índice de Youden
(0,229). Importante salientar que os pontos de corte definidos para os homens e para as
mulheres foram praticamente iguais a média dos valores dessa circunferência nos
indivíduos avaliados. Nos homens foi exatamente o mesmo e nas mulheres apenas 0,2 cm
abaixo da média.
Quanto à CC, o ponto de corte de 38 cm nos homens mostrou um equilíbrio
para o rastreio de casos e não-casos de SM ao apresentar uma sensibilidade de 68%,
especificidade de 63,3% e índice de Youden (0,313). No entanto o ponto de corte de 37,5
cm, um pouco inferior a esse primeiro, aumentou a sensibilidade para 80% com uma
Área sob a curva:
1) CA = 0,733 (95% de IC 0,662;
0,805, p < 0,0001);
2) CT = 0,692 (95% de IC 0,612;
0,772, p < 0,0001);
3) CC = 0,643 (95% de IC 0,560;
0,727, p = 0,002);
4) IAC = 0,637 (95% de IC 0,556;
0,718, p = 0,004).
n = 191
63
especificidade de 58,3%, melhorando assim a sensibilidade e mantendo a especificidade
ainda acima de 50%, além de apresentar melhor índice de Youden (0,383) que o primeiro.
Já nas mulheres, o ponto de corte de 32,8 cm da CC apresentou uma
sensibilidade de 66,7% e uma especificidade de 55,0%, ou seja, um bom equilíbrio para o
rastreio de casos e não-casos de SM, com a sensibilidade maior que a especificidade, mas a
última ainda acima de 50% e com o melhor índice de Youden (0,229) para essa situação.
Nos homens esse ponto de corte foi 0,4 cm menor que a média encontrada neste gênero e
nas mulheres apenas 0,1 cm abaixo da média.
64
6 DISCUSSÃO:
A prevalência de SM em indivíduos com peso normal ainda tem sido pouco
avaliada. Até onde se sabe, este estudo foi o primeiro a mostrar, no Nordeste do Brasil,
uma elevada prevalência de alteração nos componentes da SM, bem como elevada
prevalência da própria síndrome, numa população de adultos não obesos. Foi também o
primeiro estudo a mostrar, no nosso meio, que medidas antropométricas de distribuição de
gordura superior (circunferência cervical e circunferência torácica) apresentaram
correlação com a CA e com os outros componentes da SM, além de serem úteis para
identificar indivíduos não obesos portadores desta síndrome.
6.1. Considerações gerais sobre a análise descritiva da população do estudo
A população avaliada foi formada na sua maioria por mulheres. Em relação a
essa diferença de gênero dois pontos podem ser considerados: 1) dados de 2009 do IBGE
mostravam uma razão de sexo, na região metropolitana de Fortaleza, de cem mulheres
para cada 88,2 homens, ou seja, na época da coleta de dados predominava o gênero
feminino na população geral do local do estudo (IBGE, 2009); 2) alguns autores defendem
que o gênero feminino tem uma maior preocupação com aspectos relacionados à sua
saúde, sendo mais participantes em atividades voltadas ao conhecimento da situação da
mesma (MARCUS, 1982; VERBRUGGE, 1987; VERBRUGGE, 1989; TRAVASSOS,
2002). Vale ressaltar que a população do estudo se considerava saudável e aceitou
participar de um estudo onde iriam ser avaliados os níveis do hormônio tireoestimulante
para normatização de valores de referência, mas também iriam ser avaliados parâmetros
antropométricos e metabólicos. Isso mostra que, de certa forma, havia um interesse dos
participantes em conhecer aspectos de sua saúde e possivelmente explique a
predominância do gênero feminino.
A avaliação das medidas antropométricas mostrou resultados interessantes. A
média do IMC estava na faixa de peso normal, no seu limite superior, sendo que nos
homens esse valor já estava na faixa de sobrepeso. Ao se analisar a medida da CA, apesar
das mulheres se encontrarem com média de IMC na faixa normal, a média da CA estava
acima do limite a partir do qual se considera alterada pela IDF, para o gênero feminino;
entre os homens, a média da CA estava bem próxima ao limite considerado alterado nesse
gênero (IDF, 2006). Essa primeira análise já sugere que a população estudada era formada
65
por indivíduos não obesos, mas provavelmente com características metabólicas de
indivíduos obesos, refletida por uma elevada CA.
Outros parâmetros antropométricos analisados revelaram diferença nas médias
da CC e CT, sendo maior nos homens; já a média do IAC foi maior nas mulheres.
Também como esperado, os homens apresentarem média da RCQ maior que as mulheres,
apesar de nestas a RCQ estar num nível considerado alterado (MONTEIRO, 1988;
KEENAN, 1992). Assim sendo, o padrão de distribuição da gordura corporal avaliada pela
antropometria (CA e RCQ) sugeriu, mesmo nas mulheres, uma distribuição maior no
segmento corporal superior, ou do tipo andróide (VAGUE, 1956). A avaliação de outras
medidas desse segmento corporal, como a CC e a CT, despontaram então como
alternativas importantes.
Ainda com relação a antropometria, foi visto que o IAC nas mulheres foi
maior que nos homens, num grupo de indivíduos que não teve diferença quanto ao IMC.
Como já citado, o IAC é um índice antropométrico que foi sugerido ser preditor do
percentual de gordura corporal (BERGMAN, 2011). É conhecido que a composição
corporal varia de acordo com o gênero e estudos têm demonstrado que as mulheres
apresentam maior valor de percentual de gordura corporal em todos os grupos de idade,
para um mesmo IMC, do que os homens (GALLAGHER, 2000; CHUMLEA, 2002;
ROMERO-CORRAL, 2008). Desta forma, aceitando que o IAC reflita quantidade de
gordura corporal, seu maior valor no gênero feminino tem o amparo desses dados da
literatura. No entanto, deve-se ter cautela com essa conclusão pelo fato do mesmo ainda
não ter sido validado na população brasileira.
A avaliação da prevalência de alteração nos constituintes da SM mostrou que,
apesar de tratar-se de uma população de indivíduos não obesos, com metade inclusive
caracterizada como peso normal pelo IMC, houve uma elevada prevalência de alterações
nos componentes constituintes da SM, com somente 10,5% dos avaliados não tendo
nenhum dos elementos alterados e 58,3% tendo pelo menos dois deles alterados. A CA
aumentada foi o elemento que apresentou maior prevalência de alteração, mesmo no
subgrupo de peso normal, sendo novamente esse achado muito importante do ponto de
vista do indivíduo não obeso pelo IMC, mas com excesso de gordura, especialmente no
segmento corporal superior.
Níveis de HDL-colesterol diminuídos foi a segunda alteração mais frequente.
Estudos têm demonstrado que, no nosso meio, essa alteração tem uma prevalência
aumentada sendo esses resultados concordantes com dados não publicados de dois estudos
66
realizados no estado do Ceará. O primeiro, uma amostra populacional de indivíduos
adultos na faixa etária de 20 a 40 anos, da cidade de Barbalha-CE, encontrou níveis baixos
de HDL-colesterol em 55,1% dos participantes (LISBOA, 2006). O segundo, um estudo
sobre prevalência de alterações metabólicas em indivíduos HIV+ realizado na cidade de
Fortaleza, mostrou que em 144 indivíduos infectados pelo HIV a prevalência de HDL
colesterol baixo foi de 70,3% e em 95 controles saudáveis foi de 46,1% (PONTE, 2010).
Na literatura, uma revisão de Singh et al, publicada no JAMA em 2007, mostrou que na
população geral a prevalência de HDL colesterol baixo variou de 16 a 18% nos homens, e
de 3 a 6 % nas mulheres, valores bem abaixo dos encontrados nesse estudo. Não se sabe o
porque deste achado, mas possivelmente fatores ambientais, especialmente alimentares,
possam justificá-lo.
Em relação à alteração nos níveis da pressão arterial, a prevalência encontrada
também pode ser considerada elevada. Um artigo de revisão mostrou que a prevalência de
HAS entre adultos brasileiros foi em torno de 20% (PASSOS, 2006). Ressalta-se, no
entanto, que os valores alterados da pressão arterial sistólica e diastólica são inferiores aos
valores considerados no diagnóstico de hipertensão arterial, que são maior ou igual a 140
mmHg para PA sistólica e/ou 90 mmHg para PA diastólica (VI DIRETRIZES
BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010).
Quanto a alteração nos níveis de triglicerídeos, a prevalência encontrada pode
ser considerada baixa diante dos achados da literatura. No Brasil, não existem dados atuais
sobre a prevalência da hipertrigliceridemia. Dados do estudo NHANES III mostraram que
31% da população norte-americana era portadora de níveis de triglicerídeos acima de 150
mg/dL (FORD, 2002). Já em relação a alteração nos níveis de glicemia de jejum, os
resultados encontrados também chamaram atenção, apesar dos dados de prevalência desta
alteração na literatura serem bastante escassos, praticamente só sendo encontrados estudos
de prevalência para glicemia alterada no teste de tolerância à glicose oral.
A prevalência de SM de 28% encontrada nesses indivíduos foi considerada
elevada. Além disso, o aumento da prevalência da SM na estratificação por faixa etária
também foi bem considerável. Estudos publicados têm apresentado uma prevalência de
SM em indivíduos não obesos variando de 10,6% a 30,6%, em diferentes gêneros e etnias
(BRADSHAW, 2013; OGBU, 2011; ST-ONGE, 2004). No entanto, esses autores
utilizaram os critérios do NCEP-ATP III para o diagnóstico da SM, os quais têm como
pré-requisitos valores de CA e glicemia de jejum diferentes dos critérios utilizados. Em
um estudo brasileiro com adultos jovens não obesos na faixa etária de 23 a 25 anos, a
67
prevalência de SM utilizando os mesmos critérios utilizados neste trabalho foi de 3,1%
nos homens e 0,9% nas mulheres, muito abaixo da prevalência aqui encontrada, porém as
faixas etárias eram bem diferentes (MADEIRA, 2013). No estudo brasileiro de Vidigal et
al (2015), realizado em uma população de 226 profissionais de saúde com idade entre 20 e
59 anos, onde 91% estava na faixa de peso normal ou sobrepeso pelo IMC, a prevalência
de SM utilizando-se também os critérios diagnósticos da JIS (2009) foi de 4,5%, muito
abaixo da prevalência deste estudo. Ainda no estudo de Vidigal et al., quando se
estratificou a população por faixa etária, a prevalência de SM na faixa de 20 a 29 anos foi
de 1,3%, de 30 a 39 anos foi de 5,6% e acima de 40 anos de 26,3%, também abaixo do que
aqui foi encontrado. Na literatura mundial, dados do NHANES III mostraram que a
prevalência da SM aumentou de 7% nos participantes com idade entre 20 e 29 anos para 44%
nos participantes entre 60 e 69 anos e 42% entre os participantes acima de 70 anos de idade
(FORD, 2002).
A partir desses dados, verificou-se que a população do estudo apresentou uma
proporção considerável de indivíduos com risco metabólico elevado, se não portadores de
SM, em pelo menos 58% deles numa situação de pré-SM (no mínimo dois fatores
alterados) (YIN, 2013). E mais, com a prevalência de 15% da SM no subgrupo de peso
normal, o conceito de indivíduos de peso normal mas metabolicamente obesos, do inglês
“metabolically obese normal weight”, ganhou ainda mais evidência nesta população.
Embora a obesidade seja definida como um excesso de gordura corporal a qual
é avaliada na prática pelo IMC, sabe-se que o mesmo não diferencia massa magra de
massa gorda e sua acurácia é limitada em diagnosticar indivíduos com excesso de gordura
corporal que estejam com esse índice dentro de um valor normal (ROMERO-CORRAL,
2008; DE LORENZO, 2013). Além disso, a distribuição do tecido adiposo, mais até do
que sua quantidade, parece ser importante em determinar o desenvolvimento da SM
(EGGER, 1992; BJÖRNTORP, 1997; MATSUNAGA, 1997; FERREIRA, 2002). Existem
evidências de que a distribuição de gordura em outras regiões do segmento corporal
superior, além da região abdominal, pode contribuir para os riscos metabólicos associados
com o excesso de gordura corporal (VEGA, 2006).
6.2. Aspectos relacionados às variáveis antropométricas independentes
6.2.1 Circunferência cervical e circunferência torácica:
68
Como visto, este estudo realizado numa população de indivíduos não obesos
mostrou correlações positivas entre a circunferência cervical e a circunferência torácica
com parâmetros antropométricos classicamente associados a aumento de risco
cardiovascular (IMC, CA) e correlações destas circunferências com a maioria dos
componentes da SM (com exceção da glicemia que só apresentou correlação com a CT
especificamente no subgrupo das mulheres e de indivíduos de peso normal). Nas análises
de regressão linear com os componentes da SM que puderam entrar nas equações (no caso,
triglicerídeos e HDL colesterol), foi visto que o aumento daquelas circunferências poderia
explicar alterações na medida destes componentes.
Chamou especial atenção que a CT tenha apresentado melhores resultados que
a CC. Ressalta-se que a inclusão apenas de não obesos no estudo foi uma condição
inicialmente definida para tentar se retirar a influência da obesidade como determinante do
aumento das medidas das circunferências e dos índices antropométricos e também de
alteração na pressão arterial e nos parâmetros metabólicos. Ainda assim, como já citado,
encontrou-se na análise descritiva que essa população apresentava aumento de medida da
CA, refletindo que esses indivíduos tinham um acúmulo de gordura nessa região.
Possivelmente pelo fato de anatomicamente a região torácica ser mais próxima da região
abdominal que a cervical, esse fato justifique que os resultados tenham sido melhores com
a CT.
Outro achado importante e que se soma aos acima referidos foi o fato de
ambas as circunferências terem sido capazes de identificar indivíduos portadores de SM
nas análises da curva ROC. Com isso foi possível serem propostos pontos de corte de cada
uma delas, por gênero, para rastreio da síndrome. Lembrando que para a CC, o ponto de
corte proposto foi de 37,5 cm nos homens e de 32,8 cm nas mulheres; para a CT, foi de
95,8 cm nos homens e de 87,3 cm nas mulheres. Especialmente para a CT, esse foi o
primeiro estudo a apresentar tal proposta. Além disso, os valores propostos eram bem
próximos, se não iguais, aos valores encontrados das médias destas circunferências nos
dois gêneros. Todos esses resultados sugerem que essas circunferências podem ser úteis na
avaliação antropométrica de indivíduos não obesos, mas com características metabólicas
de obesos.
Na literatura a maioria dos estudos encontrados mostra relações entre CC e os
componentes da SM. Poucos foram os estudos encontrados com a CT. Menos ainda (e
nenhum estudo brasileiro) incluíam somente indivíduos não obesos nas suas análises.
69
Ben-Noun et al., foram os primeiros a publicar uma série de estudos
transversais mostrando as relações da CC com IMC (BEN-NOUN, 2001) e com os
componentes da SM (BEN-NOUN, 2001; BEN-NOUN, 2003; BEN-NOUN, 2006), além
de um estudo longitudinal mostrando que alterações na CC se associaram com alterações
na CA, pressão arterial, níveis de triglicerídeos e glicemia plasmática (BEN-NOUN,
2004). No primeiro estudo desse grupo, onde foram avaliados 979 indivíduos adultos,
incluindo obesos, além das correlações encontradas entre a CC com IMC e CA, os autores
sugeriram também pontos de corte da CC para identificação de sobrepeso (maior ou igual
a 37 cm nos homens e maior ou igual a 34 cm nas mulheres) e de obesidade (maior ou
igual a 39,5 cm nos homens e maior ou igual a 36,5 cm nas mulheres), mas nenhuma
proposta de pontos de corte para identificação de SM foi sugerida (BEN-NOUN, 2001).
Em 2010, uma publicação de um estudo realizado com 3.307 indivíduos cuja
média de IMC era 27,8 kg/m² (incluindo também obesos na amostra), acompanhados no
Framingham Heart Study, mostrou que a CC foi associada com fatores de risco
cardiovascular mesmo após ajuste para tecido adiposo visceral e IMC, sugerindo ser o
tecido adiposo subcutâneo da região corporal superior um depósito gorduroso único e
patogênico que conferiria risco cardiovascular adicional além da gordura central (PREIS,
2010). Já o Estudo Brasileiro de Síndrome Metabólica (BRAMS), avaliou a CC como uma
ferramenta para identificar tanto a síndrome como a presença de RI em 1.053 adultos, com
idade entre 18 e 60 anos e IMC entre 18,5 e 40kg/m2, encontrando associação positiva
entre a CC e os elementos da SM, a RI avaliada pelo homeostasis model assessment
(HOMA-IR) e pelo clamp hiperinsulinêmico euglicêmico (em 10% da amostra) e a
gordura visceral avaliada por ultrassonografia, com o estabelecimento de pontos de corte
para predição de SM (critérios da IDF) e RI (STABE, 2013). Os pontos de corte sugeridos
por Stabe et al. para predizer SM, acima de 39,6 cm nos homens e acima de 36,1 cm nas
mulheres, foram superiores àqueles sugeridos aqui neste estudo. No entanto, além de
terem sido incluídos obesos nas análises daqueles autores, foram utilizados, para o
diagnóstico de SM, os pontos de corte da CA propostos pela IDF para europeus (homens
maior ou igual a 94 cm e mulheres maior ou igual a 80 cm) e o local em que foi medida a
CC, na base do pescoço logo abaixo da cartilagem cricotireóide, foi diferente do local de
medida do presente estudo (na margem superior da glândula tireóide).
Em relação a CT, como já dito, o estudo de sua associação com outros
parâmetros antropométricos e com a SM e seus componentes tem sido muito pouco
explorado na literatura. A maioria dos estudos têm sido realizados em crianças e recém-
70
nascidos, relacionando esta circunferência ao peso e estado nutricional ao nascimento,
condições perinatais e tabagismo materno (GEERTS, 2007; MULLANY, 2007; GOTO,
2015).
Nos poucos estudos publicados em adultos não existe uma padronização da
medida da CT. Em alguns ela foi auto referida pela medida do busto (SEIDELL, 1990;
FREEDMAN, 2009) e em outros avaliou-se até o tamanho do sutiã (WILLIAMS, 1996;
RAY, 2008; WILLIAMS, 2008). Além disso, a população dos estudos também foi muito
variada, com um estudo avaliando cadáveres humanos (JONATHAN, 2013), outros
avaliando indivíduos de peso normal fisicamente ativos (WILLIAMS, 1996; WILLIAMS,
2004; WILLIAMS, 2007) e em outro mulheres obesas (OLIVEIRA, 2012). Mas mesmo
com toda essa diversidade, os dados apresentados suportam os achados aqui encontrados.
Em 1989, Freedman et al. publicaram dados de 43.595 mulheres, que foram
avaliadas com o objetivo de se verificar a relação das medidas da CA, CC, circunferência
do busto, circunferência do quadril, circunferência do pulso e circunferência do tornozelo
(todas auto referidas) com diabetes mellitus. Foi encontrado que, independente do grau de
excesso de peso, a CA, CC, circunferência do busto e relação cintura-quadril foram
consistentemente relacionadas a diabetes mellitus (FREEDMAN, 1989). Da mesma forma,
Seidell et al. Compararam diferentes medidas de circunferência com risco cardiovascular
em mulheres européias na pré-menopausa e constataram, após ajuste pelo IMC, que a
circunferência do busto (medida sobre os mamilos) foi a mais fortemente associada com
parâmetros metabólicos (insulina sérica, pressão diastólica, colesterol total, triglicerídeos e
HDL colesterol- associação negativa) (SEIDELL, 1990).
No estudo realizado com vinte e três cadáveres de caucasianos de peso normal
(nove homens e catorze mulheres), com média de idade acima de 74 anos, foi sugerido que
as medidas da circunferência torácica e circunferência do quadril poderiam ser mais
aplicáveis em saúde pública do que somente a CA, pois nas mulheres, especificamente,
essas medidas poderiam predizer a gordura total, intra-abdominal e subcutânea
(JONATHAN, 2013).
Já em mulheres praticantes de corrida foi observado que, à medida que
aumentavam as distâncias percorridas, o IMC, a CT e a CA diminuíam, enquanto o HDL-
colesterol aumentava (WILLIAMS, 1996). Numa segunda publicação do mesmo grupo, a
avaliação de mais de 40.000 participantes acompanhados por um período de sete anos,
provenientes do National Runners’ Health Studies, mostrou importante associação entre o
aumento do tórax e aumento dos triglicérides em homens e mulheres vigorosamente ativos
71
(WILLIAMS, 2004). Em outra publicação, foi observado que a CT teve poder de predizer
incidência de hipertensão arterial, colesterol elevado e diabetes, quando não ajustada pelo
IMC (WILLIAMS, 2007). E numa última publicação desse grupo, onde foram
acompanhados 24.550 homens e 10.111 mulheres fisicamente ativos e não obesos, foi
analisada a associação entre o aumento do peso e das medidas de circunferências com as
chances de tornar-se hipertenso em sete anos e foi constatado que o aumento da
circunferência do tórax possui probabilidade estatisticamente independente para
hipertensão (WILLIAMS, 2008). Em todas essas publicações a medida da CT foi auto
referida.
Um outro estudo, esse realizado no Brasil, com trinta mulheres obesas
portadoras de ovários micropolicísticos, analisou a medida de circunferências corporais
para predizer gordura abdominal e intra-abdominal e encontrou que as CA, CC e CT
apresentaram correlação independente com gordura abdominal total (OLIVEIRA, 2012).
Quanto aos estudos que analisaram o tamanho do sutiã das mulheres, foi visto
que a variação do tamanho dessa peça íntima tem sido também associada com aumento de
eventos cardiovasculares (WILLIAMS, 1996; RAY, 2008; WILLIAMS, 2008).
Interessante relatar que o número do tamanho do sutiã é definido pela CT abaixo da mama
e a copa pela diferença entre a CT e circunferência mais larga do busto, tendo este cálculo
sido descrito por Wright (2002).
Nenhum estudo associando a medida da CT com glicemia, HOMA-IR e
insulina foi encontrado. No entanto, gordura corporal superior avaliada por ressonância
magnética nuclear no dorso e no tórax foi fortemente associada com RI em 926 indivíduos
HIV + e 258 controles (GRUNFELD, 2007). Além disso, foi demonstrado que a gordura
interescapular, avaliada ao nível cervical e não torácico, possui uma forte associação com
DM tipo 2, apesar de ser desconhecida sua atividade metabólica ou suas propriedades
indutoras (THAMER, 2010). No entanto, a adiposidade medida pela alta proporção da
prega cutânea subescapular em relação à tricipital foi citada como fator independente,
positivamente correlacionado com resistência à insulina (PEIRIS, 1989). A medida isolada
da prega subescapular também esteve correlacionada com risco de DM tipo 2 (CHEI,
2008).
Os achados acima discutidos, das relações da CC e CT com os parâmetros
antropométricos e metabólicos analisados, levantam assim uma questão crucial: que
hipótese fisiopatológica poderia ser feita para justificar as medidas das CC e CT como
marcadores de distribuição da gordura superior e aumentado risco CV? Como já citado, a
72
importância da obesidade abdominal, avaliada pela CA, para um maior risco de
desenvolvimento de DCV é fato estabelecido (ARONNE, 2002). Há algum tempo, porém,
alguns autores vêm discutindo que a liberação de ácidos graxos livres pela gordura
subcutânea da região superior do corpo parece ser maior do que da região inferior,
reforçando a importância de também se avaliar os depósitos de gordura subcutânea naquela
região, pois os mesmos poderiam estar associados a um maior risco de DCV (JENSEN,
1997). Devido as concentrações de ácidos graxos livres serem diretamente associados com
RI, produção de VLDL pelo fígado e disfunção endotelial, a gordura subcutânea do
segmento corporal superior pode ter importante impacto cardiovascular e metabólico
(KISSEBAH, 1976; FERRANINI, 1983; YANG, 2010).
Além disso, dados publicados sugerem que um aumento na atividade da
enzima 11βHD1 no tecido adiposo poderia ser uma etiologia molecular comum entre a
obesidade central e a SM (BUJALSKA, 1997; SECKL, 2001; RIBEIRO-FILHO, 2006).
Esta enzima tem um papel importante na determinação das concentrações intracelulares de
glicocorticóides por regenerar o glicocorticóide ativo a partir da cortisona e da 11-
dehidrocorticosterona inativas. Tem sido sugerido que esta enzima possa servir como um
amplificador tecido-específico da ação dos glicocorticóides (SECKL, 2001). Estes achados
levantam uma hipótese de que a atividade aumentada desta enzima poderia explicar a
distribuição de gordura mais ampla no segmento superior e não apenas abdominal,
justificando o fenótipo frequentemente encontrado em indivíduos com SM caracterizado
por uma distribuição de gordura semelhante a encontrada na síndrome de Cushing, ou seja,
obesidade truncal, associada aos achados de alterações na glicemia, lipídeos e na pressão
arterial.
Por fim, em uma recente revisão publicada na revista Nature sobre a biologia
do tecido adiposo nos segmentos corporais superior e inferior, foi discutido que diferentes
vias metabólicas regulam o metabolismo lipídico do tecido subcutâneo da região
abdominal e da região gluteofemoral (KARPE, 2014). E que o depósito de adiposidade
abdominal, mesmo o tecido adiposo subcutâneo, é caracterizado por rápida captação de
gordura derivada predominantemente da dieta e de um elevado turnover de lipídeos que
são facilmente estimulados por ativação de receptores adrenérgicos. Novos dados
discutidos na mesma revisão também sugerem que diferenças profundas entre os tecidos
adiposos da região corporal superior e inferior podem ser controlados por genes de
desenvolvimento sítio específicos tais como HOXA6, HOXA5, HOXA3, IRX2 e TBX5 no
tecido adiposo subcutâneo da região abdominal, e HOTAIR, SHOX2 e HOXC11 no tecido
73
adiposo da região gluteofemoral, os quais estão sob controle epigenético. Pode ser
postulado que o recrutamento de novas células a partir de progenitores dos adipócitos
geraria adipócitos adicionais num processo controlado por um programa epigenético sítio-
específico ou pela expressão de genes do desenvolvimento, como os citados, os quais
também controlam as características funcionais dessas células. Adicionalmente, a
celularidade do tecido adiposo é influenciada por níveis hormonais como os esteróides
sexuais e até glicocorticóides, como já citado acima. Ressalta-se que toda a discussão dessa
revisão foi com o tecido subcutâneo da região abdominal como região corporal superior. É
possível que a mesma possa ser extrapolada para o tecido subcutâneo do tórax e da região
cervical, mas essa hipótese permanece em aberto na literatura.
Existem algumas vantagens da medida da CC e da CT em relação a CA.
Primeiro quanto a CC, a mesma tem a grande vantagem de sua simplicidade, facilidade de
execução e possível pouca variabilidade na aferição intra e entre examinadores, uma vez
padronizado o ponto exato da mesma. Tem também o conveniente de não sofrer influência
do tempo de alimentação (pré ou pós-prandial) e de ser menos influenciada por
procedimentos cirúrgicos e presença de deformidades na parede, órgãos e cavidade
abdominal (p. ex. hérnias, presença de ascite, abdome pendular, flacidez importante da
pele, lipoaspiração) (STABE, 2013). Por último, comparada com a CA e CT, tem a
vantagem de ser mais prática de se avaliar no inverno e em serviços de saúde mais lotados,
onde a aferição tenha que ser realizada na presença de outras pessoas, pois não necessita a
retirada das roupas. No entanto, requer cautela na sua medida em indivíduos que tenham
bócio ou grandes nódulos tireoidianos.
Já a medida da CT, tal como a medida da CC, tem a vantagem de não ser
influenciada pelo tempo da alimentação, ter maior estabilidade da localização da medida e
ser menos influenciada por procedimentos cirúrgicos e pela presença de deformidades,
como o que ocorre na parede, órgãos e cavidade abdominal (p. ex. hérnias, presença de
ascite, abdome pendular, flacidez importante da pele, lipoaspiração) (STABE, 2013). Sua
desvantagem é a maior exposição do indivíduo em termos de manipulação das roupas e a
ausência de pontos de corte para o rastreamento de risco à saúde. Além disso, assim como
a CA, tem a desvantagem de não ser padronizado um local fixo para a medida. A CT pode
ser medida imediatamente abaixo da escápula, na altura do mamilo ou na altura da região
axilar. A CA pode ser medida no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca, no
ponto da maior circunferência abdominal ou diretamente acima da crista ilíaca.
74
6.2.2 Índice de adiposidade corporal:
Em relação ao IAC, as análises realizadas mostraram que as melhores
correlações ocorreram com IMC, especialmente no gênero feminino. Esse resultado,
associado ao achado da maior média de IAC nesse gênero, reforça a explicação do índice
como preditor de quantidade de gordura corporal, pois como já discutido, as mulheres
apresentam maior valor de percentual de gordura corporal que os homens, para um mesmo
IMC (GALLAGHER et al., 2000; CHUMLEA, 2002; ROMERO-CORRAL et al., 2008).
As correlações com a CA foram, de um modo geral, mais fracas que as encontradas com
CC e CT. Com os demais componentes da SM, as correlações tiveram menor força ainda
ou até nem existiram. Por falta de correlações ou pela variável dependente não apresentar
distribuição normal, não foram realizados modelos de regressão linear do IAC com os
componentes da SM, e também por conta dos fracos resultados, optou-se por não se
realizar análises de pontos de corte que identificassem casos de SM com esse índice.
A associação entre IAC e síndrome metabólica e seus componentes é pouco
descrita na literatura. Tal como aqui observado, em dois estudos com amostras robustas,
foi encontrada correlação positiva fraca do IAC com os componentes triglicerídeos,
glicemia, pressão arterial sistólica e diastólica e negativa com HDL-C (BENNASAR-
VENY et al., 2013; FREEDMAN et al., 2013). No entanto, IAC apresentou menor
capacidade discriminatória do que o IMC no diagnóstico da síndrome metabólica pelos
critérios IDF e ATP III nesses estudos.
Em um estudo realizado com 698 americanos de origem mexicana, com média
de IMC de 28 Kg/m2, o IAC esteve fracamente associado com triglicerídeos, glicemia de
jejum, pressão arterial sistólica e inversamente com HDL-C (LICHTASH et al., 2013).
Entre chineses de ambos os sexos, IAC foi inferior em predizer presença de hipertensão,
dislipidemia e SM quando comparado ao IMC e a CC (ZHANG et al., 2014).
Embora Bergman et al, em 2011, tenham apresentado o IAC como bom
preditor de adiposidade entre caucasianos de ambos os gêneros e sugerido sua praticidade
em relação a outros procedimentos mais complexos, há ponderações na literatura quanto a
limitações do índice em predizer risco metabólico e cardiovascular (BENNASAR-VENY,
2013; LICHTASH, 2013).
O IAC também não superou a limitação do IMC quanto à avaliação da
distribuição da gordura corporal. Em uma carta ao editor publicada na revista Obesity em
2012, Lima et al. levantaram uma discussão se o IAC, além de predizer adiposidade,
75
poderia reconhecer indivíduos de risco para SM. E se indivíduos com o mesmo IAC
poderiam apresentar diferenças quanto à distribuição de gordura e quanto ao risco
cardiovascular. Os autores apresentaram um resumo de um estudo onde foram avaliados
vários índices antropométricos, incluindo IAC, em indivíduos com glicemia normal,
glicemia de jejum alterada, glicemia alterada no teste de tolerância à glicose oral e
diabéticos e encontraram que o IAC foi quem apresentou correlação mais fraca com
glicemia de jejum, pressão arterial sistólica e diastólica (LIMA, 2012).
Um outro estudo realizado com mulheres obesas pós menopausa para avaliar a
capacidade do IAC, comparado ao percentual de gordura calculado por DEXA, de detectar
alterações no percentual de gordura corporal antes e após intervenção de perda de peso, e
avaliar também a relação do IAC com fatores de risco cardiometabólicos, mostrou
similaridade na estimativa de variações no percentual de gordura após perda de peso entre
os dois métodos, contudo a predição de fatores de risco cardiovascular foi diferente quando
intercambiados em modelos de regressão (ELISHA, 2013).
Por fim, num estudo de Godoy-Matos et al. (2012), realizado com treze
mulheres com lipodistrofia parcial familiar e treze voluntárias saudáveis pareadas para
idade e IMC, o IAC apresentou melhor correlação com o percentual de adiposidade total e
de massa gorda medida por DEXA do que o IMC, além de melhor correlação com níveis
de leptina também ao se comparar com IMC.
Retornando aos resultados desse estudo, apesar do IAC não ter se apresentado
como um bom parâmetro para avaliar SM e seus componentes, quando comparado aos
achados com a CC e a CT, tal fato não é de todo desapontador e sem explicação. Como o
IAC não analisa a distribuição da gordura corporal, mas sim se propõe a avaliar o
percentual de adiposidade corporal, o mesmo não considera o papel da gordura na região
corporal superior no aumento do risco cardiovascular. E nesse contexto, alguns resultados
apontam que a circunferência da cintura ou índices que a consideram, tais como relação
cintura-estatura e relação cintura-quadril, são melhores preditores (BENNASAR-VENY,
2013; ZHANG, 2013).
Outra possível explicação é que, como visto em alguns estudos, a correlação
entre adiposidade e IAC também foi perdida em análises estratificadas por sexo,
possivelmente em decorrência da correlação entre altura e percentual de gordura estar
permeada de fatores de confusão quando se compara homens e mulheres (FREEDMAN,
2013; LICHTACH, 2013; ZHANG, 2013). Em geral, as mulheres são menores que os
homens e possuem mais gordura corporal. Desse modo, análises brutas (não estratificadas
76
por sexo) provavelmente encontrarão que gordura corporal está inversamente relacionada
com a altura (FREEDMAN, 2013).
Desta forma, são necessários mais estudos, com maior tamanho de amostra e,
preferencialmente, do tipo longitudinal, para que adequadamente se possa inferir
causalidade ou não entre o IAC e o risco de desenvolvimento de SM.
6.2.3 Considerações finais e limitações do estudo:
Esse estudo transversal, realizado com 276 indivíduos não obesos, mostrou-se
importante pelos seguintes aspectos:
1) Foi encontrada elevada prevalência de alterações nos componentes individuais da
SM, principalmente a CA. Esse achado chamou atenção por se tratar de uma
população onde todos eram não obesos e, de fato, praticamente metade se
apresentava com peso normal pelo IMC mas, ainda assim, com acúmulo de gordura
na região abdominal;
2) Prevalência de SM em 28% dos indivíduos, com 58% apresentando pelo menos
dois constituintes da síndrome alterados. Desta forma, o conceito de indivíduos de
peso normal, mas metabolicamente obesos, ganhou forte evidência nessa
população;
3) Correlações encontradas entre os dois parâmetros antropométricos avaliados como
indicadores de distribuição de gordura corporal no segmento superior, a CC e a CT,
com o IMC e com os componentes da SM;
4) Capacidade da CC e CT identificarem indivíduos com a SM;
5) Especialmente quanto aos achados da CT, por existirem poucos dados na literatura
avaliando a relação desta medida com SM. A maioria dos estudos encontrados foi
em populações bem específicas e com metodologia que incluía uma medida auto
referida. Não foram encontrados estudos com indivíduos representativos da
população geral. Também não foi encontrado nenhum estudo brasileiro;
6) Quanto a CC, por praticamente também não existir na literatura estudo avaliando
sua relação com a SM e seus constituintes em indivíduos não obesos;
7) Até o momento, foi o primeiro estudo a propor pontos de corte da CC e da CT para
a predição de SM em não obesos;
8) E quanto ao IAC, apesar dos dados não terem apresentado boa consistência na sua
relação com a SM e seus constituintes, por também não ter sido encontrado estudos
77
na literatura avaliando sua aplicabilidade, ou não, na avaliação metabólica de
indivíduos não obesos.
As principais limitações encontradas foram relacionadas à seleção e tamanho
da amostra. Quanto à seleção, por ter sido realizada por conveniência, sendo os dados
analisados provenientes de indivíduos avaliados num projeto para normatização de níveis
de TSH na população adulta de Fortaleza. E quanto ao tamanho da amostra, apesar do
número razoável de indivíduos, por ser considerado pequeno para um estudo de base
populacional. Outra limitação foi a grande proporção de mulheres. Por fim, por ser um
estudo transversal, relação de causalidade não pode ser inferida entre a medida dos
parâmetros antropométricos aqui avaliados e o desfecho de SM.
Em resumo, os dados apresentados sugerem que medidas antropométricas de
distribuição de gordura superior, em especial a CC e CT, podem ser métodos diagnósticos
úteis para a avaliação clínica de indivíduos adultos não obesos quanto ao risco metabólico
e de DCV.
Uma vez confirmada em outros estudos estratégias como estas, que se baseiam
em medidas simples, as mesmas poderão complementar ou substituir técnicas atualmente
utilizadas na prática clínica e em ambientes de pesquisas.
Por fim, a existência de poucos, senão nenhum estudo dessas medidas
antropométricas em indivíduos não obesos no Brasil e, mais especificamente, na região
Nordeste, torna-o digno de nota. Sabendo-se das suas particularidades étnicas e
ambientais, esses achados reforçam a importância da temática abordada e dos resultados
encontrados. Estudos posteriores, especialmente com base populacional melhor definida,
provavelmente consolidarão e reforçarão os achados encontrados.
78
9. CONCLUSÕES
Este estudo demonstrou, em uma população do Nordeste do Brasil composta
por indivíduos não obesos, uma elevada prevalência de indivíduos com perfil metabólico
da SM, achado mais comum em indivíduos obesos, e a existência de correlação entre as
medidas antropométricas utilizadas na avaliação de distribuição de gordura superior, CC e
CT, com outros parâmetros antropométricos habitualmente utilizados na avaliação da
obesidade como a CA e o IMC. Além disso, as circunferências avaliadas foram capazes de
identificar a presença de SM e predizer alterações em alguns de seus componentes.
Os resultados encontrados corroboram achados anteriores de que as
circunferências corporais são boas preditoras de excesso de peso e distribuição da gordura
corporal, com destaque para o potencial uso da circunferência torácica, que juntamente
com a CC, representam uma boa opção para uso na avaliação metabólica e de risco
cardiovascular.
Em relação ao IAC, esse pareceu estar fracamente associado à SM e seus
componentes em adultos não obesos, não se apresentando como um bom parâmetro na
avaliação de risco metabólico desse indivíduos.
A evidência de que alterações em outros índices antropométricos que não
somente o IMC e a CA, em indivíduos de peso normal ou não obesos, possa estar
associado à presença da SM e seus componentes tem grande importância, pois a utilização
de medidas simples poderá ser rotineiramente realizada na avaliação desses indivíduos e
sinalizar aqueles com maior risco de distúrbios metabólicos e cardiovasculares,
propiciando um diagnóstico e intervenção precoces.
79
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91
APÊNDICE A – TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
A glândula tireóide é responsável pela produção de importantes hormônios que
permitem o bom funcionamento do organismo. É de grande interesse a avaliação clínica desta
glândula. Hoje em dia o TSH, é o hormônio mais adequado para esta avaliação. No entanto,
quando realizamos um exame de laboratório, em geral, analisamos se o resultado está normal
ou não através da sua comparação com um valor de referência adotado pelo laboratório que
realizou o exame. É muito importante que este valor de referência represente a população local,
onde o teste está sendo realizado. No entanto, a maioria dos laboratórios não tem estudos com
a população local e utilizam valores de referência das bulas dos kits laboratoriais.
Com o intuito de conhecermos como seria o valor de referência do TSH de uma
amostra de nossa população de Fortaleza, projetamos esta pesquisa clínica, onde nos propomos
a avaliar indivíduos saudáveis. Nesse estudo, além da tireóide avaliaremos outros parâmetros
de saúde como as medidas antropométricas, a pressão arterial, o colesterol, os triglicerídeos e a
glicemia. Sempre lembrando que apenas as pessoas que não tenham doença conhecida podem
participar. Esta informações estão sendo fornecidas para que você conheça o estudo que
realizaremos e possa decidir sobre sua participação, de forma voluntária.
O objetivo deste estudo é determinar o valor de referência do TSH e avaliar
possíveis relações de fatores como o colesterol, glicemia e insulina com este exame, em
indivíduos saudáveis, do ponto de vista da tireóide, da cidade de Fortaleza. O principal
investigador é a Dra. Maria Helane Costa Gurgel, portadora do CRM 9061-CE, que pode ser
encontrada na Av. Dom Luís, 1233, Aldeota, Fortaleza-CE, telefone (85) 99967510.
Participarão deste estudo indivíduos saudáveis com idade entre 18 e 60 anos, de
ambos os sexos. Para a realização deste estudo, precisamos que você responda a um
questionário contendo algumas informações sobre a sua saúde e seus hábitos. Você será
submetido a um exame clínico realizado por médico, sendo que este é indolor e não causa
desconforto a você. Também colheremos 10 mL de sangue por punção de veia periférica do
antebraço, para a realização dos exames: TSH, T4 livre, Anti-Tg, Anti-TPO, Colesterol total,
LDL, HDL, triglicerídeos, glicemia, insulina e beta-HCG para as mulheres. Você também
realizará uma ultrassonografia da tireóide, um exame para ver o tamanho e a consistência da
sua tireóide, que é totalmente indolor. Para a coleta do exame laboratorial você precisa estar 12
horas em jejum. Este estudo traz como risco a você, apenas as possíveis complicações
92
referentes à punção venosa, como hematomas. A retirada de 10 mL de sangue em indivíduos
adultos é segura, não causando efeitos adversos. A coleta será realizada com material
descartável, através de procedimentos adequados de coleta. Em caso de dano pessoal,
diretamente causado pelos procedimentos do estudo, o médico responsável orientará como
você deve proceder para o tratamento. Você receberá os resultados de seus exames. Caso haja
alguma alteração nestes resultados, o médico do estudo também o orientará como você deve
proceder para o acompanhamento e tratamento.
Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso ao profissional responsável pelo
estudo para o esclarecimento de qualquer dúvida.
Para a sua participação neste estudo, precisaremos de sua autorização por
escrito. A sua autorização é voluntária, podendo livremente, a qualquer momento, retirar o seu
consentimento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou qualquer prejuízo.
As informações obtidas serão analisadas em conjunto com as de outros
voluntários e sua identificação não será divulgada. Caso você queira, você poderá ter acesso
aos resultados. do estudo após o seu término. Os dados de identificação dos participantes
ficarão armazenados em papel ou de forma digital, sendo mantidos em sigilo.
Não há despesas pessoais para o participante, em qualquer fase do estudo.
Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer
despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.
Você deve ler estas informações e se tiver qualquer dúvida, peça
esclarecimentos para decidir se concorda ou não em participar deste estudo.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Por livre iniciativa, autorizo que o procedimento seja realizado de acordo como
foi exposto no presente termo, excetuando-se os procedimentos necessários para tentar
solucionar as situações imprevisíveis, emergenciais, as quais deverão ser conduzidas e
resolvidas de acordo com a concretude singular de cada evento.
Esta autorização é dada à Dra. Helane Gurgel, bem como aos seus assistentes
e/ou outros profissionais por ela designados. Declaro que tive a oportunidade de esclarecer
todas as minhas dúvidas relativas aos procedimentos, após ter lido e compreendido todas as
informações deste documento, antes de sua assinatura. Ficaram claros para mim quais são os
objetivos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus riscos, as garantias de
confidencialidade e esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que a minha
participação é isenta de despesas.
93
Consinto, portanto, à Helane Gurgel e aos profissionais por ela designados, a realizar os
procedimentos e permito que utilize o seu julgamento técnico para que sejam alcançados os
melhores resultados através dos recursos conhecidos na Medicina, contribuindo para a
melhoria da saúde da população.
Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu
consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo
ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.
Não assinar antes de ter lido atentamente, compreendido e aceito.
De pleno acordo,
_____________________________________ Fortaleza, ____/____/____
Assinatura do voluntário
_____________________________________ Fortaleza, ____/____/____
Assinatura da testemunha
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido
deste paciente ou representante legal para a participação neste estudo.
_____________________________________ Fortaleza, ____/____/____
Assinatura do responsável pelo estudo
94
APÊNDICE B – Questionário sócio-demográfico e clínico
Nº DO VOLUNTÁRIO_______ PREENCHIDO EM:____/___/_____
NOME:______________________________________________________________
1. SEXO: 1- M ( ) 2 - F ( )
NASC: _____/____/_____
2. IDADE____
3. ESTADO CIVIL: 1- SOLTEIRO ( ) 2 - CASADO ( ) 3 - DIVORCIADO ( )
4. VIÚVO ( )
4. PROFISSÃO: ________________________
ENDEREÇO:________________________________________________________
FONE: ________________________________
5. PROCEDÊNCIA:_______________________
ANTECEDENTES PESSOAIS Idade do diagnóstico
6. DIABETES MELLITUS: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
7. HAS: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
8. DISLIPIDEMIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
9. ATEROSCLEROSE (angina/IAM, AVC, DV Periférica):
1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
10. QUAL? 1. Angina/IAM ( ) 2. AVC ( ) 3. DV periférica ( )
9. Nenhuma ( )
11.SOP: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
12. LIPODISTROFIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
13. NASH / ESTEATOSE: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
14. TIREOIDEOPATIAS: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
15. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Bócio ( ) 3. Nódulo ( )
4. Hipotireoidismo ( ) 5. Hipertireoidismo ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
16. NEOPLASIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
17. QUAL? _________________________________________
18. CARDIOPATIA: 1. Sim ( )2. Não ( ) _______
19. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. ICC ( ) 3. Arritmia ( )
4. Valvulopatia ( ) 5. Coronariopatia ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
20. NEFROPATIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
21. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Insuf. Renal ( )3. Glomerulopatia (
) 4. Tubulopatia ( ) 5. Litíase ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
22. HEPATOPATIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
23. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Hepat. viral ( )
3. Hepat. medicamentosa ( ) 4. Hepat. alcoólica ( )
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE MEDICINA
95
5. Cirrose ( ) 6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
24. DEPRESSÃO: 1. Sim ( )2. Não ( )
25. OBESIDADE: 1. Sim ( ) 2. Não ( )
26. OUTRAS:________________________________________
ANTECEDENTES FAMILIARES: Idade do diagnóstico
27. DIABETES MELLITUS: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
28. HAS: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
29. DISLIPIDEMIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
30. ATEROSCLEROSE (angina/IAM, AVC, DV Periférica):
1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
31. QUAL? 1. Angina/IAM ( ) 2. AVC ( ) 3. DV periférica ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
32. SÍNDROME DE OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP):
1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
33. LIPODISTROFIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
34. NASH / ESTEATOSE: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
35. TIREOIDEOPATIAS: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
36. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Bócio ( ) 3. Nódulo ( )
4. Hipotireoidismo ( ) 5. Hipertireoidismo ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
37. NEOPLASIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
38. QUAL? ________________________________________________
39. CARDIOPATIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
40. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. ICC ( ) 3. Arritmia ( )
4. Valvulopatia ( ) 5. Coronariopatia ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
41. NEFROPATIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
42. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Insuf. Renal ( )
3. Glomerulopatia ( ) 4. Tubulopatia ( )
5. Litíase ( ) 6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
43. HEPATOPATIA: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
44. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Hepat. viral ( )
3. Hepat. medicamentosa ( ) 4. Hepat. alcoólica ( )
6. Outras ( ) 9. Nenhuma ( )
45. FENÓTIPO SEMELHANTE: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
46. OBESIDADE: 1. Sim ( ) 2. Não ( ) _______
47. OUTRAS:________________________
HÁBITOS:
48. ETILISMO: 1. Sim ( ) 2. Não ( )
49. PERÍODO___________ anos
50. QUANTIDADE ___________dias/semana
51. TIPO DE BEBIDA: 1. Cerveja ( ) 2. Cachaça ( ) 3. Uísque ( )
4. Vinho ( ) 5. Vodca ( ) 6. Outras ( )
8. + de uma ( ) 9. Nenhuma ( )
52. QUANTIDADE ___________doses/dia
53. TABAGISMO: 1. Sim ( ) 2. Não ( )
96
54. PERÍODO___________ anos
55. TIPO: 1. Cigarro industrial ( ) 2. Cigarro de palha ( )
3. Cachimbo ( ) 4. Charuto ( )
6. Outros ( ) 9. Nenhum ( )
56. QUANTIDADE ________/dia
MEDICAÇÕES EM USO ATUAL
57. ADO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?________________________
58. INSULINA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
59. ANTIHIPERTENSIVOS. 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
60. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. IECA ( ) 3. Diurético ( )
4. β-bloqueador ( ) 5. Antagonista canal de cálcio ( )
7. BRA ( ) 8. α-bloqueador ( )
6. Outros ( ) 9. Nenhum ( ) 10. Associação ( )
61. ESTATINAS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
62. FIBRATOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
63. ACO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
64. CORTICÓIDES 1. SIM ( ) 2.NÃO( )
QUAL?________________________
65. REPOSIÇÃO HORMONAL: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
66. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Hormônio tireoideano ( )
3. Estrógenos ( ) 4. Progestágeno ( )
5. GH ( ) 6. Outros ( )
7. Anabolizante ( ) 9. Nenhum ( )
67. MEDICAMENTOS ANTI-OBESIDADE:
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
68. ANTI-DEPRESSIVOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
69. PSICOATIVOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
70. ANTI-RETROVIRAIS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
71. OUTROS: _________________________
MEDICAÇÕES EM USO PRÉVIO FREQUENTE (TIPO, QUANTIDADE E ATÉ
QUANDO)
72. ADO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?________________________
73. INSULINA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
74. ANTIHIPERTENSIVOS. 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
75. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. IECA ( ) 3. Diurético ( )
4. β-bloqueador ( ) 5. Antagonista canal de cálcio ( )
7. BRA ( ) 8. α-bloqueador ( )
6. Outros ( ) 9. Nenhum ( ) 10. Associação (
)
76. ATÉ QUANDO? __________anos
77. ESTATINAS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
78. ATÉ QUANDO? __________anos
97
79. FIBRATOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
80. ATÉ QUANDO? __________anos
81. ACO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
82. ATÉ QUANDO? __________anos
83. CORTICÓIDES 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
84. ATÉ QUANDO? __________anos
85. REPOSIÇÃO HORMONAL: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
86. QUAL? 1. Não sabe ( ) 2. Hormônio tireoideano ( )
3. Estrógenos ( ) 4. Progestágeno ( )
5. GH ( ) 6. Outros ( )
7. Anabolizante ( ) 9. Nenhum ( )
87. ATÉ QUANDO? __________anos
88. MEDICAMENTOS ANTI-OBESIDADE:
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
89. ATÉ QUANDO? __________anos
90. ANTI-DEPRESSIVOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
91. ATÉ QUANDO? __________anos
92. PSICOATIVOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
93. ATÉ QUANDO? __________anos
94. ANTI-RETROVIRAIS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL?_____________________________________________
95. ATÉ QUANDO? __________anos
96. OUTROS: _______________________________________________
97. USO DE DROGAS ILÍCITAS:
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
QUAL(IS)?________________________________________________
98. ATÉ QUANDO? __________anos
99. VOCÊ JÁ REALIZOU LIPOASPIRAÇÃO OU LIPOESCULTURA?
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
HISTÓRIA FISIOLÓGICA:
100. MENARCA:_______anos ou 9. Não se aplica ( )
101. MENOPAUSA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( ) 9. Não se aplica ( )
102. GESTAÇÃO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( ) 9. Não se aplica ( )
103. NÚMERO DE PARTOS:________ ou 9. Não se aplica ( )
104. NÚMERO DE ABORTOS:_______ ou 9. Não se aplica ( )
105. AMAMENTANDO? 1. SIM ( ) 2. NÃO ( ) 9. Não se aplica ( )
106. CICLOS MENSTRUAIS REGULARES:
1. SIM ( ) 2. NÃO ( ) 9. Não se aplica ( )
108. RONCOS NOTURNOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
109. APNÉIA PRESENCIADA PELO (A) COMPANHEIRO (A):
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
110. SUFOCAMENTO NOTURNO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
111. DESPERTARES FREQÜENTES: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
112. INSÔNIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
113. NICTÚRIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
98
114. ENURESE: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
115. SUDORESE NOTURNA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
116. IMPOTÊNCIA SEXUAL: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
117. FADIGA DIURNA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
118. ALTERAÇÃO DE MEMÓRIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
119. CEFALÉIA MATINAL: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
120. IRRITABILIDADE: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
SINTOMAS
121. POLIDIPSIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
122. POLIÚRIA 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
123. POLIFAGIA 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
124. AUMENTO DE PESO 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
125. PERDA DE PESO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
126. ACANTOSE NIGRICANS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
127. ACNE: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
128. AUMENTO DE PÊLOS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
129. HIPERTROFIA MUSCULAR: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
130. ESTRIAS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
131. CÂIMBRAS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
132. CANSAÇO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
133. FRAQUEZA MUSCULAR: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
134. DIARRÉIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
135. CONSTIPAÇÃO: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
136. AUMENTO DA REGIÃO CERVICAL: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
137. EDEMA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
138. AMENORRÉIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
9. NÃO SE APLICA ( )
EXAME FÍSICO:
139. PESO:______kg
140. ESTATURA:_____cm
141. PA SISTÓLICA:_______mmHg
142. PA DIASTÓLICA:______mmHg
143. FC: _____bpm
144. CIRC. ABDOMINAL:_____cm
145. CIRC. QUADRIL:_____cm
146. CIRC. CERVICAL SUPERIOR:_____cm
147. CIRC. CERVICAL MÉDIA:_____cm
148. CIRC. CERVICAL INFERIOR:_____cm
149. LADO DOMINANTE: 1. DIREITO ( ) 2. ESQUERDO ( )
150. CIRC. BRAQUIAL DIREITA: _____cm
151. CIRC. BRAQUIAL ESQUERDA:_____cm
152. CIRC. TORÁCICA:_____cm
153. CIRC. DA COXA DIREITA:_____cm
154. CIRC. DA COXA ESQUERDA:_____cm
155. IMC:_____kg/m²
156. RELAÇÃO C/Q:_____
99
SINAIS:
157. PLETORA FACIAL: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
158. ACANTOSE NIGRICANS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
159. ACNE: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
160. ESTRIAS AVERMELHADAS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
161. ENTRADAS ANDROGÊNICAS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
162. GIBA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
163. FOSSAS SUPRA-CLAVICULARES PREENCHIDAS:
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
164. HIRSUTISMO – ESCALA DE FERRIMAN:__________
165. DISTRIBUIÇÃO ADIPOSA CENTRÍPETA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
166. HIPOTROFIA MUSCULAR: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
167. HIPERTROFIA MUSCULAR: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
168. LIPODISTROFIA: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
169. BÓCIO OU NÓDULO TIREOIDEANO PALPÁVEL:
1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
170. OUTROS: 1. SIM ( ) 2. NÃO ( )
171. QUAIS?______________________
EXAMES LABORATORIAIS:
172. ÁCIDO ÚRICO:_______ VR:________
173. ALBUMINA:________ VR:________
174. CÁLCIO: _______ VR:________
175. FOSF. ALCALINA: ______ VR:________
176. GAMA-GT:_______ VR:________
177. TGO:______ VR:________
178. TGP:______ VR:________
179. POTÁSSIO:______ VR:________
180. SÓDIO:_____ VR:________
181. PCR US:______ VR:________
182. TAP: _______ VR:________
183. HEMOGLOBINA:_______ VR:________
184. HEMATÓCRITO:________ VR:________
185. LEUCOGRAMA:________ VR:________
186. LINFÓCITOS:________% VR:________
187. NEUTRÓFILOS:_______% VR:________
188. EOSINÓFILOS:_______% VR:________
189. PLAQUETAS:_______ VR:________
190. FERRITINA:_______ VR:________
191. MICROALBUMINÚRIA 24H:_____VR:________
192. VOLUME DE URINA 24H:_______ VR:________
193. UFC:_______ VR:________
194. COLESTEROL TOTAL:_______ VR:________
195. LDL- COLESTEROL:_______ VR:________
196. HDL- COLESTEROL:_______ VR:________
197. TRIGLICERÍDEOS:_______ VR:________
198. TSH:______ VR:________
199. GLICEMIA JEJUM:______ VR:________
200. GLICEMIA 0’ (TTGO):_______ VR:________
201. GLICEMIA +120’ (TTGO):______ VR:________
100
202 INSULINA 0’ (TTGO):_______ VR:________
203. INSULINA +120’:_______ VR:________
204. HOMA:_______ VR:________
205. ΒHCG::_______ VR:________
206. ANDROSTENEDIONA:______ VR:________
207. DHEA-S:_______ VR:________
208. LH:_____ VR:________
209. FSH:______ VR:________
210. ESTRADIOL:_______ VR:________
211. TESTOSTERONA:______ VR:________