UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS
SÓCIO-ECONÔMICAS E HUMANAS
MAURO DE ALMEIDA E SILVA
FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO NA ÁREA DO RIO DA
EXTREMA ANÁPOLIS-GO: RELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES NA
COBERTURA VEGETAL ORIGINAL E AÇÃO ANTRÓPICA.
Anápolis
2009
MAURO DE ALMEIDA E SILVA
FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO NA ÁREA DO RIO DA
EXTREMA ANÁPOLIS-GO: RELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES NA
COBERTURA VEGETAL ORIGINAL E AÇÃO ANTRÓPICA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a
Universidade Estadual de Goiás, como requisito
parcial para obtenção de Licenciatura Plena em
Geografia.
Orientador: Prof. Homero Lacerda
Anápolis
2009
2
MAURO DE ALMEIDA E SILVA
FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO NA ÁREA DO RIO
DA EXTREMA ANÁPOLIS-GO: RELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES NA
COBERTURA VEGETAL ORIGINAL E AÇÃO ANTRÓPICA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Estadual de
Goiás, como requisito parcial para obtenção de Licenciatura Plena em Geografia.
Aprovado em: / /
Orientador: _______________________________________________
Prof. Homero Lacerda
Examinador: _______________________________________________
Examinador: _______________________________________________
Coordenador do Curso:
3
Agradeço aos meus pais, irmãos e familiares, aos
professores e funcionários da Universidade
Estadual de Goiás, e em especial ao Dr. Profº.
Homero Lacerda, meu reconhecimento público a
sua seriedade e competência.
Obrigado aqueles que de alguma forma
participaram desta minha caminhada.
4
RESUMO
Palavras Chaves: cerrado, fitofisionomia, paisagem.
O cerrado é um bioma extremamente rico em biodiversidade, mas seriamente
ameaçado antes mesmo de ser completamente conhecido pela ciência. Com base neste
fato, surgiu o interesse em avaliar o estado atual da vegetação na área do rio da extrema,
como também intenção de relacionar ao estudo técnicas de interpretação de imagens de
satélite. Assim, foi realizado este estudo que tem como objetivo cartografar as
fitofisionomias atuais e reconstruir graficamente a fitofisionomia original, além de medir as
respectivas áreas, comparar o tamanho das formações cobertas por cada classificação
formação florestal, formação savanica e área antropisada. A base para o estudo é a
paisagem e propõe-se estudar a paisagem em diferentes épocas, estabelecendo relações
entre as peculiaridades fitofisionômicas do bioma cerrado, com a ocupação humana na área
do Rio da Extrema, Anápolis (GO). Trata-se de um olhar geográfico da paisagem através do
tempo, com especial interesse na fitofisionomia, observada e interpretada a partir da
imagem do satélite Ikonos II pancromática em escala 1/25.000, datada de 2002. O
referencial para classificação de categorias fitofisionômicas foi a proposta por Ribeiro e
Walter, expressa no artigo “Fitofisionomias do Bioma Cerrado”, publicado em 1998. Estes
autores classificam a vegetação do Bioma Cerrado em: formações florestais (mata ciliar,
mata galeria, mata seca e cerradão); formações savânicas (cerrado sentido restrito, parque
cerrado, palmeral e vereda), e formações campestres (campo limpo, campo sujo e campo
rupestre). Admite-se que a elaboração da monografia atendeu ao seu objetivo de
aprendizagem devendo-se ressaltar que o tema permite a integração com as demais
disciplinas referentes a geografia física, fazendo uso da cartografia. Observam-se paisagens
em momentos distintos notando que ela não é estática, compreende-se que a relação entre
fatores físicos e humanos se concretiza de modo complexo na organização da paisagem.
5
ABSTRACT
Keywords: savanna; plant formations; landscape.
This paper deals with savanna-like (cerrado) area in Central Brazil with emphasis in
natural vegetation and human action. From the geomorphogical point of view the savanna-
like area of Central Brazil is a planaltic area. Predominant soils are Fe and Al rich, acidic and
poor but favorable to modern agricultural activities due do plain geomorphology. Climate is
defined by rainy summer and dry winter with 1.500 mm of annual precipitation. This area is
important in hydrological point of view and contains part of main hydrographic basins of the
continent. Vegetation of the area is a patchwork of woodland, typical savanna and grassland.
In a general way woodland occurs in lower parts bordering rivers and creeks. Typical
savanna and grasslands occur in the interfluves. In spite of the significance of the area with
respect to biodiversity, vegetation is being replaced by agricultural and livestock related
cover.
The study area of 15km2 is located in Anapolis urban area and was studied with
respect to primary vegetation and modifications due to occupation. The primary vegetation
was established by graphic reconstruction of 2002 vegetation cover and was composed by
woodlands (45,33%) and typical savanna (54,66%). In 2002 as a result of occupations
woodlands covers only 16,66% and typical savanna to 38,66%. The remaining area
(44,66%) is covered by urban residential, urban industrial and agricultural activities. As a
result of this study it is demonstrated that destruction of original vegetation in under way in
this area as for the entire savanna like domain.
6
LISTA DE FIGURASp.
Figura 1: Localização da área de estudo 9Figura 2: Distribuição geográfica do Bioma Cerrado 14Figura 3 – A Destruição do Cerrado em Goiás 24Figura 4- Significados para a palavra “cerrado” 30Figura 5: Fitofisionomias do Bioma Cerrado 31Figura 6: Critérios de classificação da vegetação 32Figura 7 –Satélite Ikonos 38Figura 8: Imagem Ikonos II da área do Rio da Extrema 44Figura 9: Mapa de uso/cobertura do solo do Rio da Extrema 44Figura 10: Gráfico da cobertura do solo em 2002 46Figura 11: Mapa da cobertura vegetal original 47Figura 12: Gráfico da cobertura vegetal original 48
LISTA DE QUADROSQuadro 1: Fitofisionomias do Bioma Cerrado 32Quadro 2: Características das Formações Florestais 33Quadro 3: Características das Formações Savânicas 35Quadro 4: Características das Formações Campestres 36Quadro 5 – Especificações técnicas do Satélite Ikonos 40
LISTA DE TABELASTabela 1: Vertebrados e plantas que ocorrem no Cerrado 19Tabela 2: Principais usos da terra no Cerrado 22Tabela 3: Áreas protegidas nos principais biomas brasileiros 26Tabela 4 - Formações fitofisionômicas estado atual 45Tabela 5 - Formações Fitofisionômicas originais 47
.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................9
CAPÍTULO I: NOTAS SOBRE A GEOGRAFIA DO CERRADO.................................................................14
1.1 FISIOGRAFIA DO BIOMA CERRADO......................................................................................................14
1.1.1 A Questão do Relevo...........................................................................................................14
1.1.2 A Questão do Solo...............................................................................................................16
1.1.3 A Questão do Clima............................................................................................................17
1.1.4 A Questão da Água..............................................................................................................18
1.1.5 A Biodiversidade.................................................................................................................19
1.1.6 Origem e Evolução do Bioma Cerrado...............................................................................20
1.2 A OCUPAÇÃO DO CERRADO E SUA DEGRADAÇÃO................................................................................22
1.2.1 A Destruição do Cerrado em Goiás....................................................................................25
1.3 ÁREAS E INICIATIVAS PARA A PRESERVAÇÃO........................................................................................27
CAPÍTULO II - AS FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO..............................................................30
2.1 FORMAÇÕES FLORESTAIS...................................................................................................................34
2.1 FORMAÇÕES SAVÂNICAS...................................................................................................................35
2.3 FORMAÇÕES CAMPESTRES.................................................................................................................37
2.4 AÇÃO DO FOGO...............................................................................................................................37
CAPÍTULO III - ALTERAÇÃO NA COBERTURA VEGETAL NA ÁREA DO RIO DA EXTREMA....39
4.1 INTERPRETAÇÃO DE IMAGENS E FOTOS AÉREAS.....................................................................................39
4.1.1 Satélite IKONOS.................................................................................................................39
4.1.2 Método de Interpretação ....................................................................................................42
4.1.3 Mapas Temáticos ................................................................................................................43
4.2 ALTERAÇÕES NA COBERTURA VEGETAL E OCUPAÇÃO ..........................................................................44
4.1.1 Cobertura Vegetal Atual.....................................................................................................44
4.1.2 Cobertura Vegetal Original................................................................................................47
CONCLUSÃO.......................................................................................................................................................50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................53
8
INTRODUÇÃO
O objeto deste trabalho é O Bioma Cerrado, estudado hoje em abordagens
relacionadas à várias ciências e técnicas como, por exemplo, geografia, biologia e
agronomia.
Neste trabalho, procuramos analisar o tema sob a ótica da biogeografia,
ramo da geografia que estuda a distribuição dos seres vivos sobre a face da Terra. A
Biogeografia compreende dois ramos principais, a zoogeografia e a fitogeografia. A
zoogeografia estuda a distribuição dos animais e a fitogeografia trata da distribuição
de vegetais. “A biogeografia estuda as interações a organização e os processos
especiais, dando ênfase aos seres vivos, vegetais e animais que habitam
determinado local: o Biotopo- onde constituem Biocenoses” (TROPPMAIR, 1976, p.
57 ).
O ser humano é figura central na ciência geográfica, o que impõe a
consideração da ação antrópica no meio, ou seja, os fatores sociais, econômicas e
culturais em interação com o ambiente em que ele ocupa. São ações do homem
sobre o ambiente. Quanto acontece a ocupação de determinada área, uma das
primeiras alterações é a retirada ou substituição da vegetação original.
9
Figura 1: Localização da área de estudo. Fonte: Lacerda (2008).
10
Concluindo este tópico será abordado, ainda que de forma resumida e
simplificada, o conceito de paisagem, aproveitando a síntese proposta por Bofete e
Fachini (2008):
Para Tricart (1982, p.18) “Paisagem é uma porção perceptível a um observador onde se inscreve uma combinação de fatores visíveis e invisíveis e interações as quais, num dado momento, não percebemos senão o resultado global”. Para Santos (1986 p. 37), o traço comum da paisagem é a combinação da natureza com objetos sociais e ser o resultado da acumulação das atividades de muitas gerações. Nesse sentido, cada vez que a sociedade passa por mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam que por sua vez, mudam o espaço e a paisagem adaptando-os às novas necessidades da sociedade. Essas alterações na paisagem podem ser parciais, deixando algumas “testemunhas” do passado, como também alterá-la totalmente ou em nada. Segundo Bertrand (2007, p. 223-225) qualquer paisagem é ao mesmo tempo social e natural, subjetiva e objetiva, espacial e temporal, produção material e cultural, real e simbólica. Dada à sua complexidade não devemos estudar itens apenas, mas sim toda a globalidade do fenômeno.
Para a ciência geográfica o termo tem significação específica e refere-se ao
próprio objeto da geografia. Conforme se depreende do texto reproduzido acima,
alguns aspectos são fundamentais no conceito de paisagem: porção perceptível a
um observador; contém uma combinação da natureza com objetos sociais;
modificação acumulativa do espaço, ao longo das gerações; existência de fatores
visíveis e interações das quais vemos apenas o resultado. No sentido científico a
paisagem é a soma de um território e seus elementos físicos, humanos e
fisiológicos, para muitos o principal objeto de estudo da geografia em sua estrutura
função e gênese.
Para o estudo de caso foi selecionada uma área situada na parte sul de
Anápolis, (Figura 1), ao longo do Rio da Extrema. Neste local estão presentes
alguns aspectos relativos ao conceito de paisagem como, por exemplo, alterações
da natureza ocorridas ao longo de gerações e combinação de feições naturais e
culturais.
No que diz respeito à trabalhos anteriores, Barreto Júnior & Angelini (2003)
cartografaram as fitofisionomias na área do Campus da UEG, onde identificaram
Cerrado Ralo, Mata Seca e Mata de Galeria. Silva e Lacerda (2007) propuseram
uma análise da situação da cobertura vegetal da área do entorno do Campus da
11
UEG abordando a situação atual e a original. A presente monografia segue a linha
do trabalho de Silva e Lacerda (2007), porém abrangendo uma área maior e sob o
enfoque geográfico.
Quanto à estrutura da monografia, propõe-se um estudo bibliográfico do
Bioma Cerrado concretizado em dois capítulos. No Capítulo I é abordada a
Geografia dos Cerrados, tema amplo que, forçosamente não pode ser esgotado no
escopo de uma monografia. O Capítulo II é dedicado ao estudo da vegetação do
Bioma Cerrado, com ênfase no texto de Ribeiro e Walter (1998).
O Capítulo III é consagrado ao estudo de caso e a área pesquisada situa-se
na porção sudeste do sítio urbano de Anápolis (Figura 1). Engloba parte da BR-060,
(Anápolis – Brasília) e do Distrito Agro Industrial de Anápolis (DAIA), e o Campus da
UEG. Abrange 15 km2 , ao longo do Rio da Extrema, em altitudes que vão 1.120m a
990m. A identificação e cartografia da cobertura vegetal atual é feita a partir de
interpretação de imagem Ikonos II (Lacerda, 2008). O objetivo é cartografar as
fitofisionomias atuais, reconstruir graficamente a fitofisionomia original, e comparar
as duas situações para avaliar o impacto da ocupação na cobertura vegetal.
Com relação a justificativa acredita-se que a atividade concorre no
entendimento teórico, auxiliando na compreensão da alteração fitofisionômica,
imposta pela ação antrópica.
Quanto a materiais e métodos, a base cartográfica utilizada foi obtida de
Lacerda (2007), foi compilada na escala 1/25.000 e compreende a imagem Ikonos II
e a carta topográfica com eqüidistância das curvas de nível 20 m. A carta topográfica
foi compilada a partir de mapa com escala original de 1/50.000 (ME/SGE, 1974),
com eqüidistância das curvas de nível 20 m, Projeção Universal Transversa De
Mercator, Datum Horizontal Córrego Alegre (MG) e Datum Vertical Imbituba (SC).
O primeiro passo na elaboração da pesquisa foi a pesquisa bibliográfica que
serviu para avançar no conhecimento da produção bibliográfica sobre o Bioma
Cerrado e para definir as categorias de uso e cobertura do solo que seriam utilizadas
no estudo de caso. O segundo passo foi a interpretação da imagem através do
método overlay e a construção gráfica da vegetação original, com os produtos
registrados em mapas temáticos. A partir destes mapas foram medidas as áreas
12
ocupadas pela diferentes fitofisionomias, o que permitiu avaliar o impacto da
ocupação na cobertura vegetal original.
13
CAPÍTULO I: NOTAS SOBRE A GEOGRAFIA DO CERRADO.
Este capítulo contém uma primeira parte que é uma descrição muito
resumida da geografia física do Bioma Cerrado, onde serão abordados a distribuição
espacial, relevo, solos, clima, hidrologia, biodiversidade e origem do bioma. Na
segunda parte do capítulo é abordada a ação antrópica sobre o Bioma, mostrando
sua degradação e as iniciativas para sua preservação.
1.1 Fisiografia do Bioma Cerrado
Os Cerrados assemelham-se às savanas da África, onde a vegetação
guarda aspectos fitofisionômicos similares, também com a presença de duas
estações climáticas bem definidas.
O cerrado ocupa uma grande parte do território brasileiro, aparece em todas
as regiões do Brasil e num grande número de estados, Roraima, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão,
Tocantins, Goiás e Distrito Federal. (Figura 2). A distribuição geográfica do Bioma
Cerrado foi abordada por Ab’Saber (1977, p. 28) que escreveu que esta região tem
“... semelhança do que ocorre com o vasto domínio nas Savanas na África. Aqui,
porem o caráter longitudinal e o grau de interiorização das matas quebrou a
possibilidade de uma distribuição leste-oeste marcada para o domínio dos cerrados”.
1.1.1 A Questão do Relevo
Com relação ao relevo do Bioma Cerrado, Ab’Saber (1977, p. 28) escreveu:
“O domínio dos cerrados é um espaço territorial marcadamente planáltico em sua
área core”. Segundo este autor os planaltos e chapadões centrais do Brasil são
14
predominantemente dominados por vegetações que caracterizam o bioma. Ainda
segundo este autor observa-se que as formações vegetais guardam relação com o
relevo, na medida em que as formações mais exuberantes (matas) ocorrem
geralmente nos fundos de vales, enquanto as formações savânicas estão nas
porções mais elevadas.
As formas do relevo fazem que as áreas mais elevadas onde acontece
normalmente às formações ditas savânicas, percam água para as áreas situadas a
um plano inferior e com isto a abundância da água facilita o processo de
sustentação das formações florestais também chamadas de matas ciliares ou de
galeria.
Figura 2: Distribuição geográfica do Bioma Cerrado. Á esquerda mapa elaborado pelo IBGE com representação dos principais biomas brasileiros, notando-se a grande extensão do Bioma Cerrado; À direita mapa de dominíos morfoclimáticas brasileiros elaborado por Ab’Saber (1977) observando-se a área nuclear (“core”) do domínio do cerrado envolta por faixas de transição.
15
1.1.2 A Questão do Solo
Além dos fatores de relevo e de clima outra peculiaridade é a questão do
solo. Alguns autores afirmam que o pouco crescimento da vegetação se deve a
qualidade do solo que apresentaria pouca presença de nutrientes e uma grande
quantidade de alumínio que torna o solo com características tóxicas. Conforme
Rigonato (2001, p. 08).
Os solos favoráveis para o cerrado são das classes de latossolo vermelho escuro, latossolo vermelho amarelo e latossolo roxo. Apesar das boas características físicas, são solos fortes a moderadamente ácidos ‘Ph entre 4,5 e 5,5’, com carência generalizada dos nutrientes essenciais, principalmente fósforo e nitrogênio. Este déficit de nutrientes do solo manifesta-se de forma heterogênea.
Talvez o cerrado tenha se mantido intocado por um período de tempo maior,
já que acreditava-se que o seu solo era fraco imprestável para agricultura, usando-
se inicialmente apenas as áreas de formações florestais para exploração.
Até nos dias atuais, existem várias teorias que tentam classificar o solo,
sendo que alguns afirmam que os fatores limitantes para o uso do solo em
agricultura seja a falta de nutrientes e uma outra corrente afirma que a presença de
íons, tóxicos as plantas de alumínio.
Apesar de diferentes, as duas teorias não se contrapõem, pelo contrário, se consideradas de forma genérica, levam a um mesmo fator limitante e a que é solo; seja por ele ser oligotrófico, seja por ele ser aluminotóxico. O importante é que isso deixa claro que a vegetação do cerrado em nada se caracteriza pela escassez de água, como se poderia se creditar a caatinga brasileira ((FELIPPE e SOUZA, 2008, p. 6)
16
Deixando assim de lado a teoria de xeromorfismo que relaciona a presença
formações savanicas a falta de água nos períodos de estiagem.
Os solos do Bioma cerrado são profundos, porosos, permeáveis, bem drenados e, por isto profundamente lixiviados, em sua textura predomina, em geral, a fração de areia, vindo em seguida a argila, e por último o silte. Eles são, portanto predominantemente arenosos, areno-argilosos ou eventualmente, argilo-arenosos. Sua capacidade de retenção de água é relativamente baixa. (COUTINHO, 2001, p.81).
Em algumas partes o solo pode se apresentar ferruginoso, quando isto
acontece as bancadas lateríticas dificultam a infiltração da água e das raízes,
produzindo formas mais pobres e mais abertas de cerrado. Segundo (COUTINHO,
2001, p. 82), estas características de solo permite-nos classificá-lo como um pedo-
peinobioma, do Zonobioma II de Heinrich Walter.
1.1.3 A Questão do Clima
Baseado em Ribeiro e Walter (1998, p. 89) “O cerrado caracteriza-se pela
presença de invernos secos e verões chuvosos” e conforme Chistofoletti (1966, p.
15) o clima do bioma caracteriza-se por “... chuvas abundantes no entorno do final
de outubro até março e uma outra estação seca pelo meio do ano”.
Este clima é definido como Aw de Koeppen (tropical chuvoso), apresenta
médias anuais da ordem de 1500 mm, com variações que vão desde 750 a 2.000
mm (ADAMALI, et al, 1987, apud RIBEIRO e WALTER, 1998).
Quanto às temperaturas, elas variam entre as mínimas de 18 graus
centígrados no inverno a até 40 graus centígrados no verão. Devido a extensão
longitudinal do Bioma, existem variações significativas conforme a localização da
área considerada.
17
1.1.4 A Questão da Água
Com relação à hidrologia o papel do Bioma Cerrado é fundamental e por
esta razão tem sido denominado de “berço das águas”. Felipe e Souza (2008, p. 04)
afirmam que:
Hidrologicamente, o cerrado se mostra como reservatório hídrico da
América do Sul, em termos populares é a caixa d’água do sub continente.
Berço das nascentes de importantes afluentes, sub afluentes e tributários
das maiores bacias da América, é frágil mantedor desses sistemas
hidrológicos.
Como podemos notar a água é de certa forma abundante, guardando em
seus subterrâneos, grandes aquíferos que se apresentam como mantenedores da
Bacia Araguaia – Tocantins, do São Francisco e de parte do suprimento hídrico da
Bacia do Amazonas e do Paraná:
O cerrado abriga três grandes aqüíferos em suas terras: Guarani (Botucatu
– considerado a maior do mundo) Urucuia e Bambui. Esses aqüíferos é que
são responsáveis pela alimentação das nascentes dos rios que correm a
partir do Cerrado (FELIPE e SOUZA, 2008, p. 5).
O Bioma cerrado apresenta-se como tributário de várias bacias hidrográficas
que drenam o território brasileiro e juntamente com o aqüífero freático são
responsáveis pelo abastecimento das nascentes e mananciais hídricos das
nascentes hídricas dos referidos sistemas.
Entre as principais intervenções relativas a sistema hídrico podemos
enumerar construção de represas, de poços artesianos, pivôs centrais usados em
18
irrigação, o desmatamento para plantação de grãos e criação de gado, sem contar a
impermeabilização do solo causado no processo de urbanização.
A utilização intensiva dos cursos d’água superficiais e das águas
subterrâneas, acompanhada da retirada da vegetação pode provocar sérias
alterações no ciclo hidrológico, como redução na infiltração que abastece os lençóis
freáticos. Desta forma, uma grande preocupação é que a exploração inadequada
destes potenciais hídricos provoque a desperenização de importantes rios do Bioma
Cerrado. Além disto, as alterações no escoamento, que ocorrem com a retirada da
cobertura vegetal, pode provocar erosões e consequentemente assoreamento de
cursos e corpos de água.
As bacias hidrográficas que recebem contribuição dos rios do bioma cerrado
são: a bacia amazônica em sua calha sul, que recebe diversos rios tributários com
nascentes no Mato Grosso; a do São Francisco com as nascentes dos tributários em
Minas Gerais, além de que o próprio rio que dá nome a bacia tem sua nascente no
bioma Cerrado; e a bacia do Prata que recebe afluentes com nascentes em Goiás,
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul em áreas enquadrados no Bioma Cerrado. Além
destas a bacia Araguaia – Tocantins, que em sua porção sul está totalmente
associada ao domínio morfo-climático do bioma cerrado.
1.1.5 A Biodiversidade
O Cerrado é um bioma importante quando se trata da conservação da
biodiversidade mundial. O cultivo e as pastagens nos últimos 35 anos destruíram
mais da metade dos seus 2 milhões de Km2 originais. Entre todas as savanas o
cerrado é o que possui a mais rica flora (mais de 7.000 espécies) em grande parte
endêmicas, além de uma grande riqueza em espécies de aves, peixes, répteis,
anfíbios e insetos, também em menor quantidade de mamíferos. (Tabela 1).
Quando observamos a Tabela 1, notamos a importância da conservação do
Bioma Cerrado, pois a quantidade de vida animal e vegetal é substancial em relação
19
a Biodiversidade Brasileira, várias espécies endêmicas. Com destaque para o
quantitativo de plantas.
Tabela 1: Número de espécies de vertebrados e plantas que ocorrem no Cerrado, porcentagem de endemismos do bioma e proporção da riqueza de espécies do bioma em relação à riqueza de espécies no Brasil. NÚMERO DE ESPÉCIES
% ENDEMISMO DO CERRADO
% ESPÉCIES EM RELAÇÃO AO BRASIL
% ESPÉCIES EM RELAÇÃO AO BRASIL
Plantas 7.000 44 12Mamíferos 199 9,5 37Aves 837 3.4 49Répteis 180 17 50Anfíbios 150 28 20Peixes 1.200 ? 40Fontes: Fonseca et al. (1996); Fundação Pro-Natureza et al. (1999); Aguiar (2000); Colli et al. (2002); Marinho-Filho et al. (2002); Oliveira & Marquis (2002); Aguir et al. (2004) apud (Klink; Machado, 2005).
1.1.6 Origem e Evolução do Bioma Cerrado
Com relação à origem e evolução da vegetação do Bioma Cerrado Felipe e
Souza (2008, p. 03) escrevem:
Pode-se considerar que o Cerrado já atingiu o seu clímax evolutivo, já alcançou seu máximo da especialização, representado por suas plantas facilmente associadas ao bioma por suas características. Assim a perda da sua biodiversidade é irreversível uma área do cerrado degradada não tem mais potencial de recuperação que tem uma área da Floresta Amazônica, por exemplo, isto porque enquanto o primeiro já passou por sua fase de formação e clímax, estando hoje em sua fase de decadência; a segunda ainda esta em fase de formação (3000 anos), com as características físicas necessárias para a sua reconstituição existente, o que não é mais o caso do Cerrado. Ou seja, em um espaço curto de tempo (pensando o tempo geológico) este bioma deixaria de existir mesmo sem a interferência humana, o que ação antrópica fez foi acelerar o processo.
Descrito por alguns como um bioma de rara beleza e grande interesse
científico, podemos citar aqui Chistofoletti (1966, p. 8):
20
A zona bioclimática do cerrado, possui notáveis peculiaridades fisiográficas,
que compõe uma das paisagens mais interessantes. Embora só se conheça
os traços gerais do quadro natural a sua importância é obvia para a própria
explicação do estabelecimento e manutenção dessa paisagem fitogeografia.
Acerca do Bioma Cerrado Christofoletti (1966, p. 23) escreveu:
1. “O cerrado é uma vegetação primária, original, constituindo
um verdadeiro clímax”
2. “São as condições climáticas que mais contribuíram para o
seu estabelecimento, em quanto as condições edáficas trazem variações
em detalhes e na estrutura e são responsáveis pela sua manutenção”.
3. “O cerrado está intimamente ligado a uma forma de relevo
que são superfícies aplainadas predominantemente no planalto central”.
4. “O cerrado é uma vegetação bem antiga, possivelmente pré-
quartenária, antecede a época de instalação da floresta”.
5. “As condições climáticas atuais ainda são suficientes para a
manutenção do cerrado, mas não para a sua propagação e assim sendo,
o cerrado estabeleceu-se as custas de um clima mais severo que o atual,
sob o aspecto pluviométrico”.
6. “O cerrado tende a perder água para a floresta. O principal
mecanismo desta conquista é justamente o reentalhamento das
superfícies planálticas pelos cursos fluviais, propiciando uma maior
movimentação do relevo, criando assim condições para a instalação da
floresta”.
7. “Mas a ação antrópica, alterando e transformando a natureza
tem propiciado, em muitas áreas limítrofes, uma expansão do cerrado em
detrimento da floresta, o que contrasta a tendência natural do mecanismo
competitivo destas duas formações florestais”.
21
Assim considerando as enumerações de Christofoletti, 1996, p.2
entendemos que se o cerrado já atingiu seu clímax evolutivo é portanto uma
vegetação incapaz de se recuperar da devastação imposta pelo homem, devastação
esta mais acentuada nos últimos 35 anos.
Compreendemos que as influências climáticas foram fundamentais para que
durante mudanças no paleoclima ativassem adaptações evolutivas, proporcionando
características próprias aos ecossistemas.
Considerando que o Cerrado formação savânica que antecede a instalação
da floresta, isto nos induz a acreditar que sem a ação humana a floresta tenderia a
avançar sobre as áreas de formação savânica.
O clima atual possui condições para a manutenção do Bioma Cerrado sem o
aumento da área ocupada, mudanças climáticas, quando acontecem naturalmente,
levam um grande intervalo de tempo (geológico) para que se possa notar diferenças
nas ações influenciadas pelo mesmo.
Observa-se que a intervenção do homem quando faz uso ou exploração do
referido bioma interfere na competição vivida, naturalmente entre os diferentes tipos
de formação.
A partir das considerações propostas por Cristofoletti, admitimos que o
cerrado Lato sensu já chegou ao seu climax evolutivo, um nível de especialização
máximo, e segundo (FELIPPE e SOUZA, 2008, p. 3) assim, a perda de sua
biodiversidade é irreversível, uma área do cerrado degradada não tem mais
potencial de recuperação que tem uma área de floresta amazônica, por exemplo...
Isto nos leva a acreditar que a extinção do bioma Cerrado seria algo natural
e com o passar do tempo (geológico) ele deixaria de existir mesmo sem as
interferências do homem no meio, ele apenas acelera o processo.
1.2 A Ocupação do Cerrado e Sua Degradação
22
O cerrado é ocupado desde 11.000 anos antes de Cristo, sem que com isto
seus ocupantes conseguissem mudar significativamente aspectos em sua estrutura
original, somente nos últimos 50 anos o fator ocupação humana mostrou
agressividade assustadora ao meio do Bioma Cerrado.
Considerando que qualquer alteração significativa no meio ambiente, em um
ou mais de seus componentes, provocados por ação humana podem ser
considerados como impacto ambiental. O Bioma Cerrado é um dos mais
transformados e ameaçados na atualidade.
A facilidade encontrada na ocupação é grande, vários fatores facilitam a
degradação, a vegetação esparsa é fácil de ser retirada, o solo em boas condições
para mecanização (relevo plano), a fartura d’água. Junte-se à isto a proximidade das
jazidas de calcário, utilizado na correção de acidez do solo. Estes fatores tem papel
relevante na destruição do Bioma Cerrado.
O desmatamento do cerrado é proporcionalmente maior que o da Amazônia,
sendo que aqui as ações de conservação são muito inferiores e apenas 2,2% da
área do cerrado se encontra sob proteção legal. (Tabela 2).
Tabela 2: Principais usos da terra no Cerrado (dados anteriores a 2004). Fonte: Machado et al, 2004, apud Klink & Machado, 2005USO DA TERRA Área (ha) % ÁREA CENTRAL DO BIOMAÁreas nativas b 70.581.162 44,53Pastagens plantadas 65.874.145 41,56Agricultura 17.984.719 11,35Florestas plantadas 116.760 0,07Áreas urbanas 3.006.830 1,90Outros 930.304 0,59Total 158.493.921Fonte: Machado et al, 2004, apud Klink & Machado, 2005. a Categoria classificadas de acordo com o tipo de cobertura do solo (Machado et al, 2004 a)b Estimativas sem aferição em campo e incluindo áreas nativas em qualquer estado de conservação.
Ressalta-se que as áreas antropisadas quando somadas acabam por ocupar
uma área maior que áreas consideradas nativas pelo autor da Tabela 2.
23
Os fatores econômicos, a mentalidade desenvolvimentista e o descaso
ecológico levaram a um quadro irreversível no que diz respeito à sobrevivência do
bioma.
A degradação do solo, a destruição de ecossistemas nativos e a invasão de
espécies exóticas são fatores que maior risco impõe a biodiversidade. Neste ponto,
cabe ressaltar a formação de pastagens com gramíneas exóticas ou florestas de
eucalipto alterando o funcionamento do ecossistema.
Além dos processos erosivos acelerados pela agricultura. Há também o uso
extensivo de fertilizantes e calcário os quais poluem rios e córregos.
Os principais vilões são em primeiro lugar a soja, que ocupa grandes
espaços destinados a monocultura, inserida nas redes produtivas mundiais,
transformando as antigas fazendas de produção de subsistência. Destaca-se
também a pecuária extensiva, praticada em modernas empresas (Tabela 2):
O crescimento da bovinocultura na região foi substancial passando de 16,6
milhoes de cabeças em 1970 para 38 milhoes em 1985 (representando
cerca de 1/3 do rebanho nacional) a uma taxa média anual de 3,6%, este
crescimento foi acompanhado por um avanço espetacular das pastagens
plantadas que passaram de 8,7 milhões de hectares em 1970 para 31
milhões em 1985 (BARBOZA et al. 2004).
Além da supressão da cobertura vegetal original, o grande problema das
pastagens plantadas é que o solo depois de modificado pela ação humana costuma
apresentar processos erosivos. Quanto às areas agrícolas podem ocasionar ou
agravar processos erosivos, desertificação e desperenização de riachos e ribeirões.
Como resultado, tem-se que a formação conhecida como cerradão
praticamente já não existe, as demais fito-fisionomias também se encontram
ameaçadas e, a persistir o ritmo da devastação, só sobrará em áreas impróprias
para a mecanização e em unidades de preservação.
24
1.2.1 A Destruição do Cerrado em Goiás
Na análise dos mapas de uso e cobertura do solo do estado de Goiás em
1960 e 2000 (IBGE, 2004) mostra que em 1960, uma boa parte do estado
permanecia com sua vegetação original, tendo como áreas antrópicas aquela de
solos férteis situadas próximo a Goiânia e uma mancha no setor sudeste do estado
(Figura 3). No ano de 2000, constatamos que a vegetação original foi em grande
parte suprimida pela ação humana e as áreas com vegetação original estão em
manchas isoladas, com uma região maior na parte nordeste do estado, englobando
a Chapadas dos Veadeiros.
Figura 3 – A Destruição do Cerrado em Goiás. Fonte: IBGE (2004).
25
Vários programas do governo levaram a ocupação do cerrado goiano
baseando-se no modelo da fronteira agrícola. Em 1930 já se falava em marcha para
o oeste no discurso do governo Vargas, que visava a ocupação do interior do país.
Este propósito foi intensificado com o plano de metas de Juscelino Kubistchek cujo
fato marcante foi a interiorização da capital federal em 1960, com a criação de
Brasília, na área central do Bioma Cerrado.
Na década de 1970 os vários planos nacionais de desenvolvimento (P.N.D.),
alguns com metas específicas, colocavam o Bioma Cerrado como a nova fronteira
agrícola. Hoje só existe cerca da metade de sua cobertura vegetal original
preservada, pois a outra metade foi convertida em usos agropecuários notadamente
no centro-sul da área do Bioma, onde está localizado o Estado de Goiás.
A chamada modernização da agricultura, transformou Goiás e Bioma
Cerrado como um todo, num foco de expansão da fronteira agrícola, voltada a
produção de Commodities agrícolas, sobretudo a soja, além de algodão, milho, cana
de açúcar e carne. A cana outro Commodities, mas com o valor agregado maior que
os outros aparece expandindo esta fronteira, como já o fez com o Cerrado Paulista.
Hoje, pouco pode-se dizer dos passivos ambientais decorrentes deste modo
de ocupação. Os estudos que mapeiam os estragos apontam para soluções como o
estudo e definição de áreas prioritárias para conservação, criação de corredores
ecológicos, o sistema de plantio direto, o prolegal, a integração, lavoura, pecuária,
os programas de revitalização das bacias do Rio Araguaia, e mais particularmente
pois estão mais perto da nossa realidade, as ações direcionadas ao Ribeirão João
Leite e ao Rio Meia Ponte.
Desta forma, faz-se necessário a implantação de técnicas de
desenvolvimento sustentável e manejo ecológico para que as áreas destinadas a
preservação sejam asseguradas. No tópico seguinte serão abordadas as iniciativas
referentes à preservação do bioma
26
1.3 Áreas e Iniciativas para a Preservação
No que diz respeito as áreas protegidas, a Tabela 3 mostra que o Cerrado
tem menos de 3% de unidades de proteção integral e as unidades de uso
sustentável são irrisórias. Coube ao Bioma Cerrado e a Floresta Amazônica abrigar
a maior parte das áreas indígenas.
Tabela 3: Cobertura de áreas protegidas nos principais biomas brasileiros – unidades de conservação de proteção integral, de uso sustentável e terras indígenas. (dados anteriores a 2004).
BIOMA ÁREA (Km2) UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL a, b
UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL a, b
TERRAS INDÍGENAS a
Cerrado 2.116.000 2.2 1.9 4.1Floresta Amazônica
4.239.000 5.7 7.7 17.7
Mata Atlântica 1.076.000 1.9 0.11 0.15Pantanal 142.500 1.1 0 2.4Caatinga 736.800 0.8 0.11 0.15Brasil 8.534.000 3.5 3.4 8.8Fonte: Machado et al, 2004, apud Klink & Machado, 2005.a Valores apresentados em percentagens da área original do bioma (Cavalcanti & Joly, 2002; Arruda, 2003; Rylands et al, 2005).b Unidades de conservação estaduais e federais combinadas.
As imensas transformações ocorridas nas paisagens cerrado e a ameaça à
muitas de suas espécies tanto de fauna como de flora, tem provocado o surgimento
de ações no sentido da conservação tanto por parte do governo como de ONGs. A
necessidade da criação de novas unidades de conservação e manutenção daquelas
já existentes se torna urgentes, pois os processos de extinção se tornaram
eminentes.
27
Hoje estudos atualizados demonstram que estas áreas de preservação não
podem ser núcleos isolados, pois as populações da fauna e da flora em seus
processos de reprodução irão se deparar com barreiras que impossibilitam o
desenrolar natural da vida, levando a extinção de inúmeras espécies.
Vê-se, então, a necessidade de criação de áreas de preservação, mas
também a manutenção da comunicabilidade entre elas a melhor forma de
fazer-se isso, acredita-se hoje, é a implementação de corredores ecológicos
interligando essas áreas. (FELIPPE e SOUZA, 2008, p. 24).
Desta forma, cria-se assim condições de trânsito genético entre populações
de reservas diferentes, na tentativa de preservação da biodiversidade. Já existem
iniciativas para estabelecimento dos corredores “emas – taquari” e “urucui –
mirados”.
As principais regiões de áreas contínuas com paisagens do cerrado são:
complexo do Jalapão no Tocantins; a região da Chapada dos Veadeiro em Goiás; e
o Parque Nacional, grande Sertão Veredas, em Minas Gerais.
É impossível deter a expansão da agricultura e o uso de tecnologias na
geração de benefícios sócio-econômicos na região, mas é necessário que se faça
um intenso debate, “desenvolvimento versus conservação” para que se estabeleça
programas de disseminação de práticas para conservação de solos, como acontece
com a prática do plantio direto.
A única saída seria a mudança na mentalidade com propostas para a
adoção de medidas urgentes para a conservação do ambiente, esforços para
criação de áreas protegidas e ampliação e consolidação da rede existente e
estabelecimento dos corredores ecológicos.
28
Também junto a estes, programas de educação da população envolvida,
capacitando agricultores e pecuaristas com técnicas de manejo sustentável,
promovendo assim bem estar social com geração de renda para os moradores e a
conservação dos elementos naturais, que são essenciais para preservação Bioma
Cerrado.
29
CAPÍTULO II - AS FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO
A Vegetação do Bioma Cerrado apresenta fisionomias variadas, a vegetação
varia de acordo com o meio, dependendo das condições de hídricas, do clima, da
localização latitudinal apresentando desde campos, buritizais, palmeirais, formações
florestais fazendo com que o Bioma Cerrado seja um mosaico de paisagens
extremamente diferenciadas. Segundo Christofoletti (1966, p. 15):
As fisionomias apresentam-se com grandes variações quanto as suas
estruturas possuindo conjuntos florísticos com características extremamente
diferenciadas. O cerrado é uma cobertura vegetal fitofisionomicamente bem
individualizado, caracterizada por apresentar uma visão panorâmica
semelhante a uma floresta baixa, recobrindo as extensas superfícies
aplainadas entremeadas por florestas de galerias e por cerradões que
ocupam os vales e as áreas mais deprimidas.
Estas variações na vegetação dependem das características físicas locais e
segundo Ribeiro e Walter (1998; p.99) “Essas formações seriam influenciadas por
variações locais, em parâmetros como hidrografia, topografia, profundidade do
lençol freático, fertilidade e profundidade do solo”. A presença de água muito
influência nas estruturas florísticas presentes, proporcionado por exemplo,
formações florestais como, matas ciliares e de galeria e também os buritizais. Nas
áreas de maiores distancias dos mananciais hídricos superficiais apresenta-se
formações do tipo: campos, palmeirais, cerrados e cerradões (Felipe; Souza, 2008).
Considerando esta grande diversidade de formas de vegetação, foi de
grande importância para esta monografia o trabalho de Ribeiro e Walter (1998),
onde é proposta uma sistematização das fitofisionomias do Bioma Cerrado.
Segundo Ribeiro e Walter (1998, p.99) “Cerrado é uma palavra de origem espanhola
que significa fechado. Este termo busca traduzir a característica geral da vegetação
arbustiva herbácea densa, que ocorre nas formações savanicas”. Estes autores
admitem três significados para a palavra cerrado, ilustradas nas Figuras 4 e 5 e
abordadas a seguir.
30
Figura 4- Representação gráfica dos três significados para a palavra “cerrado”: 1. Bioma; 2. Associações Florísticas com fitofisionomias entre cerradão e campo (cerrado sentido amplo); 3. Formações Savânicas (cerrado sentido restrito). Fonte: Ribeiro e Walter, 1998.
No sentido mais abrangente a palavra “cerrado” é utilizada para designar o
bioma e neste caso é sempre escrito com inicial maiúscula “Bioma Cerrado”. No
sentido amplo o termo serve para designar tipos de vegetação definidas pela
composição florística e fitofisionomias, englobando cerradão, cerrado (s.s.) e
campos. Neste caso utiliza-se as expressões “cerrado sentido amplo” ou “cerrado
latu sensu“ ou ainda “cerrado (l.s.)”. Finalmente, no seu significado mais restrito, a
palavra cerrado é utilizada designar as formação savânicas do bioma e aqui utiliza-
se a expressão “cerrado sentido restrito” ou “cerrado strictu sensu” ou ainda “cerrado
(s.s.)”.
O conceito de fitofisionomia, refere-se a aparência de uma vegetação,
independente de sua composição taxonômica, ou seja à estruturação do
ecossistema, em termos de estratos vegetativos. “Aspecto da vegetação dum lugar,
flora típica de uma região” (HOLANDA, 1988, p 258.).
Segundo Ribeiro e Walter (1998, p. 100), o tipo de vegetação envolve desde
o ambiente forma, flora e até a fisionomia, a estrutura e a forma de crescimento e
mudanças estacionais são analisadas nos aspectos fisionômicos (Figura 6).
31
5A 5B
5C 5D
5E 5FFigura 5: Fitofisionomias do Bioma Cerrado: 5A – Cerrado (s.s.) ralo, também denominado de campo cerrado, com seus dois estratos, arbóreo-arbustivo e herbáceo-graminoso (IBGE, 1970); 5B – Distribuição espacial das fitofisionomias, com Formações Florestais ao longo das drenagens e Formações Savânicas e Campestres nos interflúvios (IBGE, 1970); 5C – Mata seca ao fundo e campo antrópico em primeiro plano, Novo Crixas, foto de Homero Lacerda; 5D – Mata seca, Niquelândia, foto de Homero Lacerda; 5E – Cerrado Ralo, Corumbá (GO), foto de Homero Lacerda; 5F – Campo Limpo, Corumbá, foto de Homero Lacerda.
32
Figura 6: Esquema ilustrando os critérios de classificação da vegetação, segundo Ribeiro e Walter (1998).
Tendo em vista a diversidade da vegetação do Bioma Cerrado e as
diferentes abordagens utilizadas pelos autores que estudam o assunto decidiu-se
utilizar neste trabalho a classificação fitofisionômica de Ribeiro e Walter (1998),
apresentada esquematicamente no Quadro 1.
Quadro 1: Fitofisionomias do Bioma Cerrado segundo Ribeiro e Walter (1998).Mata Ciliar
Formações Mata de GaleriaFlorestais Mata Seca
CerradãoCerrado Denso
Cerrado Cerrado TípicoSentido Restrito Cerrado Ralo
Fitofisionomias Cerrado Rupestredo Bioma Formações GuerobalCerrado Savânicas Palmeiral Babaçual
MacaubalBuritizal
Parque de CerradoVeredaCampo Sujo
Formações Campo RupestreCampestres Campo Limpo
Fonte: Ribeiro e Walter (1998).
33
Estes autores classificam a vegetação do Bioma dividindo-a em três classes
maiores: Formações Florestais, Formações Savânicas e Formações Campestres
(Quadro 4). Esta classificação é apresentada a seguir, de forma resumida.
2.1 Formações Florestais
Embasado em Ribeiro e Walter (1998) as formações florestais podem ser
classificadas em: aquelas com ligações com cursos de água, mata ciliar e mata de
galeria (Figura 5B) e aquelas sem relações com as drenagens, mata seca (Figura
5C e 5D) e cerradão. Essas formações florestais, que fazem parte do Bioma
Cerrado, às vezes são classificadas como intrusões da Floresta Amazônica, situada
a noroeste, ou da Mata Atlântica, situada a sudeste. As características destas
fitofisionomias estão resumidas no Quadro 2.
Quadro 2: Características das Formações Florestais do Bioma Cerrado.
Mata Ciliar Mata de Galeria Mata Seca CerradãoAssociação Com Cursos D’água
Rios Médio/ Grande Porte
Pequeno Porte Sem Associação com curso d’água.
Sem associação com curso d’água.
Fitofisionomias Associadas
Mata seca-cerradão “transição nem sempre evidente”
Formações savânicas e campestres (mata seca, mata ciliar e cerradão).
Mata ciliar, mata galeria.
Mata ciliar, mata galeria.
Mudanças Estacionais
Caducifólia (diferenciação com mata galeria).Variação do dossel
Perenefolia Caducifólia: diferentes graus, sempre verde, semideciduais e deciduais.
Caducifólia
Estrutura
Altura 20 a 25m (cobertura arbórea variável de acordo com estação de 50% a 90%).
Altura varia de 20 e 30m.Superposição de copas, formando dossel.Cobertura arbórea 70 a 95%
Altura entre 15 e 25m, cobertura de 70 a 95%.
Altura média de 8 a 15m, cobertura de 50% a 90% dossel contínua.
ObservaçõesDificilmente a largura ultrapassa 100m
Galeria Latossolo rolo e vermelho
Vegetação, xeromórfica.
Fonte: Ribeiro e Walter (1998).
34
2.1 Formações Savânicas
As fitofisionomias mais características do bioma são as savânicas, onde está
incluido o cerrado (s.s.). As características das formações savânicas estão
resumidas no Quadro 6, representadas nas Figuras 5A e 5E e segundo Ribeiro e
Walter (1998, p. 114,117,122,124):
Cerrado no sentido restrito, presença de arvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares, e retorcidas com evidencias de queimadas.O Cerrado denso predominantemente arbóreo, o cerrado típico, também arbóreo, mas com menor área de dossel e o cerrado ralo com apenas de cinco a dez por cento de cobertura arbórea.Cerrado rupestre, embora possua estrutura semelhante ao cerrado ralo, o substrato é um critério de fácil diferenciação, por comporta pouco solo entre os afloramentos de rocha.Parque de cerrado, com suas formações arbustivas agrupadas em pequenas elevações, conhecidas como murunduns.
As peculiaridades das formações savânicas, principalmente a presença de
uma biomassa maior na partes das raízes do que na parte superior levam alguns
autores como Barbosa (1966 apud FELIPE; SOUZA, 2008, 5.) a afirmar que: “...é
importante lembrar que esta é uma floresta de cabeça para baixo”. Este fato se deve
as adaptações das plantas que desenvolvem raízes profundas em busca de água.
As formações savânicas incluem os palmeirais, fisionomias onde ocorre um
único tipo de palmeira e que na proposta de Ribeiro e Walter (1998) são
caracterizados como subtipos de acordo com a espécie dominante em: babaçual,
gueirobal, macaubal e buritizal (Quadro 3). Podem ocorrer em solos bem drenados,
como também na falta destes. Além destes, Ribeiro e Walter (1998) incluem nas
formações savânicas as veredas que se diferenciam dos buritizais pela formação de
dossel.
35
Quadro 3: Características das Formações Savânicas do Bioma CerradoCerrado Sentido Restrito Parque de
CerradoPalmeiral Vereda
Características Presença de extratos arbóreos e arbustivo-herbáceo definidos com as árvores distribuídas aleatoriamente em diferentes densidade.
Presença de árvores agrupadas em pequenas elevações, conhecidas como murunduns ou monchões, altura média de 3 a 6m de cobertura arbórea de 5 a 20%
Pode ocorrer em áreas bem de mal drenadas, há a presença marcante de determinada espécie de Palmeira, outras espécies dicotilidôneas não tem destaque.
Presença de uma única espécie de Palmeira, o buriti além de ser circundado por um extrato arbustivo herbáceo característico.
Subdivisões
Cerrado Denso Cerrado Típico
Guerobal
É um subtipo de vegetação arbórea com cobertura de 50% a 70% e altura média de 5 a 8m, ocorre principalmente nos latossolos roxo, vermelho escuro e nos cambissolos.
Subtipo de vegetação predominante arbórea – arbustivo com abertura de 20% a 50% e altura média de 3 a 6m.
Solos bem drenadosBabaçualSolos bem drenados sem dossel (macauba), altura média de 8 a 15mm, cobertura de 30% a 60%.
Cerrado Ralo Cerrado Rupestre
Macauba
Subtipo de vegetação, arbóreo-arbustiva com cobertura de 5% a 20% altura média de 2 a 3m, representa a forma mais baixa e menos densa do cerrado.
Subtipo de vegetação arbóreo-areristiva que ocorre em ambientes rupestres, cobertura arbórea de 5% a 20%, altura média de 2 a 4 m, afloramento de rocha.
Solos bem drenados sem dossel.
BuritizalSolos mal drenados coberto de 60 a 80%, altura média 8 a 15m, foram dossel.
Fonte: Ribeiro e Walter (1998).
36
2.3 Formações Campestres
As formações campestres ocorrem em situações em que não se apresenta
arvores, mas predominantemente ervas e arbustos (Figura 5F). São chamadas de
campos, que também podem ser divididas conforme suas características próprias
(Quadro 4).
De acordo com particularidades topográficas ou edaficas, o campo sujo e o campo limpo pode apresentar três sub tipos cada. São elas: Campos sujos secos, campos sujos úmidos e campos sujos com murunduns, campo limpo seco, campo limpo úmido e campo limpo com murundus.(RIBEIRO; WALTER, 1998, p. 131).
Quadro 4: Características das Formações Campestres do Bioma CerradoCampo Sujo Campo Rupestre Campo Limpo
Características Campo com algumas formações vegetais de médio e pequeno porte.
Substrato composto com afloramento rochoso.
Presença insignificante de arbustos e sub-arbustos.
Solos Solos rasos como os litólicos, cambissolos, ou plintossolos pétricos, solos profundos e de baixa fertilidade.
Solos litólicos, ou seja solos ácidos, pobres em nutrientes a disponibilidade de água é restrita.
Solos litólicos, litossolos, cambissolos ou plintassolos pétricas ocorre em áreas contínuas, aos rios e inundadas periodicamente.
Vegetação Poáceas e cipreáceas Herbáceo, linhosa orquidáceo, canela de ema.
Gramíneas e orquídeas
Tipos (Subdivisões) Seco, úmidos ou com murundus.
Seco, úmido ou com murunduns.
Fonte: Ribeiro e Walter (1998).
2.4 Ação do Fogo
Acreditando ainda numa relação de grande importância entre a formação
das fitofisionomias do bioma em especial da vegetação cerrado com o fogo como
característica marcante resolvemos encerrar este capítulo com um tópico para
descrever esta relação. Segundo Coutinho (2002, p. 75):
O acumulo anual de biomassa seca, de palha acaba criando condições tão favoráveis à queima que qualquer descuido com o uso do fogo, ou a queda
37
de raios no inicio ou final da estação chuvosa, acaba por produzir incêndios devastadores para o ecossistema.
Esta relação tanto pode ter influencia antrópica, como também pode ser
natural, como “fogo louco”, incêndio que acontece naturalmente, como no caso dos
raios que, atingindo as árvores e palha secas ocasionam as queimadas naturais.
Segundo Coutinho (2002, p. 86) “Outro efeito do fogo, de grande importância
ecológica para o cerrado, é a aceleração da remineralização da biomassa e a
transferência de nutrientes minerais”.
Já o fogo relacionado à ação antrópica é usado principalmente como forma
de limpeza de pastos e são altamente prejudiciais na conservação da fauna e da
flora, existindo assim uma relação entre o fogo e o cerrado.
Nossa tentativa neste trabalho é a de compreender como as fitofisionomias
se relacionam com o processo de ocupação e vice-versa, como veremos no próximo
capítulo.
38
CAPÍTULO III - ALTERAÇÃO NA COBERTURA VEGETAL NA ÁREA
DO RIO DA EXTREMA
Este capítulo é dedicado ao estudo de caso da área do Rio da Extrema, na
região sudeste de Anápolis (Figura 1). A interpretação de imagens orbitais e a
cartografia temática foram fundamentais neste estudo e, desta forma, o capítulo
contém uma primeira parte com algumas considerações sobre estes temas. Na
segunda parte são apresentados os resultados do estudo de caso.
4.1 Interpretação de Imagens e Fotos aéreas
4.1.1 Satélite IKONOS
A imagem utilizada foi produzida pelo satélite Ikonos II, lançado dia 24 de
setembro de 1999, e que está operacional desde janeiro de 2000 (Figura 7). Ele é
operado pela Space Imaging que detém os direitos de comercialização.
Figura 7 –Satélite Ikonos. Fonte: UFRJ (2009).
39
Neste capítulo trataremos do assunto referente a foto interpretação, técnica
que através de imagens de satélite ou fotos aéreas, consegue-se diagnosticar
elementos presentes no solo.
O Satélite Ikonos permite obter imagens de alta resolução (Quadro 5) e o
que era utilizado para fins militares está agora disponível para aplicações civis. A
Figura 8 serve para ilustrar as características do Ikonos II. Com 1m de resolução no
modo pam e psm ele oferece a mais fina resolução espacial possível. Entre as
imagens orbitais atualmente disponíveis, ele permite discriminar objetos de 1m2 de
área ou maior.
A imagem produzida pelo satélite nada mais é do que um arquivo digital,
com dados captados por um sensor, de uma determinada área. Cada imagem é
formada por uma série grande de números inteiros, que representam as áreas
geográficas fotografadas através dos sensores do satélite em data e local
determinados. Esses dados registrados em cada pixel são, portanto, a latitude, a
longitude e nível cinza.
Nas imagens digitais ou de satélite, quanto maior o intervalo de possíveis
valores dos tons cinza no pixel, maior será a resolução radiométrica, e quanto maior
o número de elementos ou pontos por unidade de área do terreno, maior a sua
resolução espacial. Há também a resolução temporal relativa ao intervalo de tempo
para o satélite sobrevoar o mesmo ponto entre duas “passadas”.
40
Quadro 5 – Especificações técnicas do Satélite Ikonos
Fonte: UFRJ (2009).
Estas imagens com alta resolução do Satélite Ikonos II tem inúmeras
aplicações como:
- Gis (redes, telecomunicações, planejamento, meio ambiente).
- Elaboração de mapas urbanos.
- Mapas de arruamentos e cadastro.
- Cadastro rural e urbano.
41
- Apoio em GPS
- Uso e ocupação do solo
- Meio ambiente em escalas grandes
- Arquitetura/ urbanismo / paisagismo.
- Fundiário
- Engenharia
- Agricultura
- Florestal
- Turismo
- Perícias ambientais.
4.1.2 Método de Interpretação
A interpretação da imagem do Rio da Extrema foi feita através do sistema
“overlay”, quando se coloca papel transparente sobre a imagem e nele se desenha a
interpretação. Foi utilizada imagem colorida, impressa em escala 1/25.000 (Figura 8)
de cuja interpretação resultou um mapa temática do uso da terra com ênfase nas
fito-fisionomias (Figura 9).
Os critério para interpretação de fotos aéreas e imagens são abordados por
LOCH (1984) e compreendem principalmente cor, textura, forma e distribuição
espacial. Segundo o autor citado a interpretação segue os passos enumerados a
seguir.
1º Passo: definição da foto interpretação – ato de identificar tipos de
formações vegetais, quando não podemos caracterizar o objeto diretamente na
42
imagem precisamos apoiar em dados conhecidos, para extrair ou deduzir o que
representa.
2º Passo: escala da imagem: conforme a escala que temos a nossa
disposição podemos analisar os macro-elementos, dos quais podemos tirar depois,
alguns detalhes por indução.
3º Passo: fator humano na interpretação, a acuidade visual, a capacidade do
interprete (bom senso, experiência, imaginação e perícia).
4º Passo: nível técnico: direto identificação direta na imagem.
5º Passo: associativo dedução de informações não identificáveis
diretamente na foto.
A interpretação da imagem Ikonos (Figura 8) permitiu elaborar o mapa
temático de uso e cobertura da terra (Figura 9) e a importância da cartografia neste
trabalho justifica algumas considerações sobre mapas temáticos.
4.1.3 Mapas Temáticos
Mapas segundo RAIZ (1996, p. 8), são desenhos seletivos, convencionados
e generalizados de alguma região ou área, comumente da superfície terrestre, como
se vista de cima e numa escala muito reduzida. Na verdade são representações do
mundo real.
Os mapas temáticas podem mostrar diversas feições naturais (drenagens,
relevo), culturais (limites político administrativos) e do meio ambiente (tipo de
vegetação, áreas degradadas). Os mapas de vegetação:
“...indicam os principais tipos de vegetação assinalando a forma, remanescente que correspondem à vegetação, o que permanece preservada ou pouco alterada, e os antropismos, ou seja, as áreas afetadas pelas atividades humanas” (IBGE, 2009).
43
Para a pesquisa foram utilizados 2 mapas temáticos principais: o primeiro
retrata as fitofisionomias remanescentes (Figura 9) e outro que é a reconstituição
gráfica da distribuição original das fitofisionomias (Figura 10). A partir da análise
deste mapas pode-se abordar a questão principal deste estudo de caso, examinar o
efeito da ocupação sobre a cobertura vegetal original, assunto tratado no próximo
tópico.
4.2 Alterações na Cobertura Vegetal e Ocupação
Neste tópico serão abordadas as alterações da cobertura vegetal em função
da ocupação, iniciando com a situação atual (Figura 9) ou seja, os remanescentes
da cobertura vegetal original.
4.1.1 Cobertura Vegetal Atual
Como vegetação savânica considera-se o cerrado no sentido restrito,
formação vegetal em menor índice de ocupação que as áreas florestais pois pode
ser aproveitado para pasto, mas mesmo assim por estar em área urbana já se
encontra em processo de ocupação.
Paralelamente, na escala parcial estas formações seriam
influenciadas por variações locais em parâmetros como hidrografia,
topografia, profundidade do lençol freático e fertilidade e
profundidade do solo. (WALTER, RIBEIRO, p. 96).
Observando-se o mapa da Figura 9 pode-se ver que os remanescentes de
Formações Savânicas, representadas pelo cerrado (s.s.), ocorrem por toda a área
mas as manchas mariores estão na metade sul da região. Os remanescentes de
Formações Savânicas têm formas irregulares e dimensões variáveis entre 1 e 2 km
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na sua maior dimensão. Estão localizadas em maiores altitudes, nos interflúvios,
enquanto que as formações florestais se localizam em regiões mais baixas.
Figura 8: Imagem Ikonos II da área do Rio da Extrema. Fonte: Atividade para a disciplina
Impactos Ambientais em Áreas de Cerrado (Lacerda, 2007).
Figura 9: Mapa de uso e cobertura do solo da área do Rio da Extrema. 2007. Fonte:
Elaborado pelo autor a partir da interpretação da imagem de satélite.
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Ribeiro e Walter (1998) consideram como formações florestais mata ciliar,
mata galeria, mata seca e cerradão. Na área de estudo aparece em manchas onde
predomina mata galeria, e que restaram do processo antrópico que ocupou áreas
que deveriam ser preservadas .
As Formações Florestais ocorrem em manchas espalhadas por toda a área,
acompanhando as drenagens, na forma de remanescentes de matas galerias. As
formas são muito irregulares, geralmente são alongadas com larguras da ordem de
100 a 200m e comprimento quilométrico.
A área antrópica compreende área urbana residencial, área urbana industrial
e áreas de agricultura. O mapa da Figura 8 mostra claramente que a ocupação
resultou na supressão da vegetação original e fragmentação dos habitats,
certamente trazendo conseqüência negativas para a fauna e a flora.
As áreas das diferentes categorias de cobertura do solo foram medidas e os
resultados tabulados (Tabela 4) e apresentados na forma de gráficos (Figura 10).
Nos processo de medição e interpretação constamos que a área na época da
imagem Ikonos (2002) existiam 2,5 km2 de formação florestal remanescente
perfazendo 16,66% da área total. Já as formações savânicas remanescentes
perfaziam 5,8 km2 ou 38,66% da área pesquisada. A área antrópica mediu 6,7 km2
ou 44,66% do total.
Tabela 4 - Formações fitofisionômicas estado atual.
Categoria de Cobertura da Terra Área (Km2) Porcentagem (%)Formações florestaisFormações savânicasÁrea antrópica
2,55,86,7
16,6638,6644,66
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do mapa de uso e cobertura do solo em 2002.
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Figura 10: Representação gráfica da cobertura do solo em 2002. Fonte: Elaborado pelo autor a partir do mapa de uso e cobertura do solo em 2002.
A partir do mapa temático da Figura 11 foi feita a reconstituição gráfica da
cobertura vegetal original, assunto do próximo tópico.
4.1.2 Cobertura Vegetal Original
Os critérios para construir o mapa da vegetação original são os
remanescentes mapeados e o conhecimento das associações entre fitofisionomias e
outros elementos da paisagem, conforme relatados por Ribeiro e Walter (1998).
“As formações florestais do Cerrado englobam os tipos de vegetação com
predominância de espécies arbóreas e formação de dossel. A mata ciliar e
a mata de galeria são fisionomias associadas a curva de água, que podem
ocorrer em terrenos semi drenados, ou mal drenados (Ribeiro e Walter
1998, p. 104).
Assim, ligando-se os remanescentes de formações florestais e seguindo as
linhas de drenagem foi possivel construir o documento cartográfico da Figura 11 que
representaria a cobertura vegetal original.
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Figura 11: Reconstituição gráfica da cobertura vegetal original. Fonte: Elaborado pelo autor a partir do mapa de uso e cobertura do solo em 2002.
Trabalhando com este mapa (Tabela 5, Figura 12) chegamos a identificação
de 6,8 km2 de formação florestal original ou seja 45,33% do total e a 8,2 km2 de
formação savanica, perfazendo 54,66%.
Tabela 5 - Formações Fitofisionômicas originais.
Formações Área (Km2) Porcentagem (%)Formações florestaisFormações savânicas
6,88,2
45,3354,66
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do mapa cobertura vegetal original.
Na comparação da reconstituição das formações originais com a obtida na
imagem de satélite Ikonos. Notamos que as formações florestais sofreram uma
maior devastação em relação às formações savânicas. Este estudo de caso ilustra,
de forma concreta, a devastação que vem sofrendo o Bioma Cerrado.
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Figura 12: Representação gráfica da cobertura vegetal original. Fonte: Elaborado pelo autor a partir do mapa cobertura vegetal original.
As fitofisionomias variadas dos ecossistemas presentes no Bioma Cerrado
encontram-se seriamente ameaçados pela atuação antrópica, muito já se perdeu
antes mesmo que fosse conhecido, catalogado ou pesquisado sobre as suas
potencialidades.
A destruição incontrolável produzida no Bioma Cerrado, infligiu impactos
sobre solo e água que vem despertando interesses de pesquisadores em
descortinar os fatores ligados a erosão, assoreamento, contaminação, perda ou
diminuição de vazão de mananciais e de funções ecossistêmicas dos recursos
naturais principalmente nos ciclos do carbono, do nitrogênio e da água.
Na área de pesquisa a ocupação antrópica quase que destruiu a
fitofisionomia original, restando apenas algumas manchas de formações arbóreas e
substituindo quase todo o cerrado por pastos, plantações e moradias.
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CONCLUSÃO
Os Cerrados assemelham-se às savanas da África, e ocupam uma grande
parte do território brasileiro, nos estados de, Roraima, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás e
Distrito Federal.
O domínio dos cerrados é um espaço territorial marcadamente planáltico em
sua área-nucleo e os chapadões centrais do Brasil são predominantemente
dominados por vegetações que caracterizam o bioma. Os solos mais freqüentes na
área do cerrado são das classes de latossolo vermelho escuro, latossolo vermelho
amarelo e latossolo roxo. Apesar das boas características físicas, são solos fortes a
moderadamente ácidos, com carência generalizada dos nutrientes essenciais,
principalmente fósforo e nitrogênio. O clima é definido como Aw de Koeppen, com
invernos secos e verões chuvosos e precipitações médias anuais da ordem de 1500
mm. Com relação à hidrologia o papel do Bioma Cerrado é fundamental e por esta
razão tem sido denominado de “berço das águas”, devido ao fato de conter as altas
bacias de importantes rios do Brasil, como é o caso do São Francisco, Tocantins e
Rio da Prata. É também um bioma importante quando se trata da conservação da
biodiversidade mundial, dado o grande número de espécies endêmicas
O desmatamento do cerrado é proporcionalmente maior que o da Amazônia,
e a porção protegida em parques nacionais tem área inferior a 2,2% da superfície
total ocupada pelo bioma.
A Vegetação do Bioma Cerrado apresenta fisionomias variadas, a vegetação
varia de acordo com o meio, dependendo das condições de hídricas, do clima, da
localização latitudinal apresentando desde campos, buritizais, palmeirais, formações
florestais. Isto faz com que o Bioma Cerrado seja um mosaico de paisagens
extremamente diferenciadas. A vegetação deste bioma pode ser classificada em três
classes maiores: Formações Florestais, Formações Savânicas e Formações
Campestres.
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Na área escolhida para o estudo de caso, definiu-se que a cobertura vegetal
original era de Formações Florestais (45,33%) e Formações Savânicas (54,66%).
Trata-se de uma área urbana/periurbana, onde a ocupação se materializa em área
urbana residencial, área urbana industrial, lavouras e pastagens. Esta ocupação
resultou em perda significativa da cobertura vegetal original e, em 2002, tinha-se a
área antrópica perfazendo 44,66% do total. Os remanescentes de vegetação original
eram assim distribuídos: 16,66% de Formações Florestais e 38,66% de Formações
Savânicas. Além da supressão da vegetação, os remanescentes ocorrem em
manchas que podem estar isoladas, dificultando e mesmo impedindo a
sobrevivência das espécies da fauna e flora locais.
Muitos tratam de inventariar, registrar, mapear os fenômenos que envolvem
a ocupação das áreas naturais, mas é necessária uma avaliação criteriosa no
sentido de compreender que uma gestão correta tem que funcionar com as
prerrogativas de alguém, que virá depois de nós.
Um novo aprofundamento se faz necessário, onde se acrescentem ações
multi-escolares que contemplem em sistemas hierarquizados a geo-diversidade
conectada a economia, sociedade e justiça social.
Pode ser um sonho ou uma utopia, mas precisamos desenvolver um novo
modelo que tenha pauta para descarbonização da matriz energética contemporânea,
valorização de produtos com ecoeficiência, que considerem em sua produção o bem
estar do trabalhador envolvido e de sua comunidade, projetos modernos com um
mínimo de desperdício, baseado em critérios inteligentes e racionais com o homem
e com a natureza.
Infelizmente o que vemos são os velhos procedimentos, várias ações que
enquanto priorizadas por razões ditas sociais econômicas, instalam muitas
pequenas usinas hidroelétricas em nossos rios e até usinas de cana em áreas
prioritárias para a conservação.
Vários pesquisadores de renome internacional evidenciam o Bioma Cerrado
como uma área prioritária para a conservação, pois é uma área considerada hotspot
(ponto-quente), ou seja, sua biodiversidade sofre dia a dia perdas irreversíveis.
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Não podemos ver interesses imediatistas destruírem um patrimônio da
humanidade, e já estamos cansados de esperar que as autoridades reconheçam a
sua importância, se não houver um consenso onde prevaleça a ética alinhada a uma
mudança radical, onde se concilie sociedade e natureza ambas correm sério risco
de extinção.
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