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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL
JOSIÁRIO DE JESUS ALMEIDA
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL:ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL
PAULO SOUTOEM FEIRA DE SANTANA
FEIRA DE SANTANA-BA
2011
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JOSIÁRIO DE JESUS ALMEIDA
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL: ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL
PAULO SOUTOEM FEIRA DE SANTANA
Monografia apresentada à disciplina TEC 174 – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II, como parte dos requisitos necessários para a obtenção de seus créditos.
Orientador:ProfessorGerinaldoCosta Alves
FEIRA DE SANTANA-BA
2011
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JOSIÁRIO DE JESUS ALMEIDA
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO EM HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL: ESTUDO DE CASO NO CONJUNTO HABITACIONAL
PAULO SOUTO EM FEIRA DE SANTANA
Monografia apresentada à disciplina TEC 174 – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO I, como parte dos requisitos necessários para a obtenção de seus créditos.
Banca examinadora
Orientador: __________________________________________________________
Prof.Especialista,Gerinaldo Costa Alves
Membro: __________________________________________________________
ProfªMestre, Eufrosina de Azevedo Cerqueira
Membro: __________________________________________________________
Prof.Mestre, Luís Cláudio Alves Borja
Feira de Santana-BA
15/09/2011
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RESUMO
Os estudos de Avaliação Pós-Ocupação (APO) mostram que as habitações de interesse social no Brasil passam por modificações após certo tempo de ocupação. Estes estudos consistem em coletar informações através do ponto de vista dos moradores, medições físicas, aplicação de questionários, entrevistas, registro fotográfico e observação técnica. O objetivo geral do presente trabalho érealizar uma Avaliação Pós-Ocupação no conjunto habitacional Paulo Ganem Souto, em Feira de Santana. Especificamente, buscou-se analisar determinados aspectos construtivos do loteamento, à luz de critérios mínimos de desempenho técnico, coletar dados a partir do ponto de vista do usuário/morador que possam ajudar em futuros trabalhos do mesmo gênero e deixar sugestões para futuros trabalhos semelhantes. O apoio de bibliografias sobre APO e sobre Habitações de Interesse Social foi um suporte indispensável para a metodologia, que não se resume apenas na coleta de opiniões através de questionários supervisionados. Houve consulta de material técnico/descritivo, visitas técnicas, aplicação de questionário, tabulação dos dadoscoletados e análise dos resultados. Foi constatado que o loteamento é deficiente em muitos aspectos, principalmente a segurança das ruas e áreas comuns e a drenagem das águas pluviais. Em relação à unidade habitacional, os moradores mostram-se insatisfeitos, entre outros aspectos, com o tamanho da cozinha, apesar das áreas de todos os cômodos obedecerem aos limites exigidos pelo código de obras da cidade de Feira de Santana. O quesito abastecimento de água no loteamento atinge uma avaliação mais positiva por parte dos moradores. Outro fator positivo que pôde ser observado foia flexibilidade espacial. Foi facultada ao usuário uma opção de ampliação do espaço físico.
PALAVRAS-CHAVES: Avaliação Pós-Ocupação. Habitação de Interesse Social. Relação ambiente-comportamento.
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ABSTRACT
The studies of Post-Occupancy Evaluation (PDB) show that low-income housing in Brazil undergoes changes after a certain period of occupation. These studies are to collect information through the perspective of residents, physical measurements, questionnaires, interviews, observation and photographic technique. The overall objective of this study is to perform a Post-Occupancy Evaluation in public housing Paulo Ganem Souto, in Feira de Santana. Specifically, we sought to analyze certain aspects of the settlement construction in the light of minimum standards of technical performance, collect data from the standpoint of the user / resident to help with future work of the same gender and leave suggestions for future similar work. The support of bibliographies on PDB and on social housing was an indispensable support for the methodology, which is not just the collection of opinions through questionnaires supervised. There was a consultation of technical / descriptive, technical visits, questionnaires, data tabulation and analysis of results collected. It was noted that the subdivision is deficient in many aspects, especially the safety of streets and common areas and drainage of rainwater. Regarding the housing unit, residents were dissatisfied show, among other things, the size of the kitchen, despite the areas of all rooms comply with the limits required by the code works in the city of Feira de Santana.The item in the subdivision water supply reaches a more positive assessment by the residents. Another positive factor that could be observed was the spatial flexibility. Was provided to the user an option to expand the physical space.
KEY-WORDS:Post-OccupancyEvaluation. Social Housing.Environment-behavior relationship.
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LISTA DE SIGLAS
APO - Avaliação Pós-Ocupação
EHIS – Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social
RCD– Resíduos de Construção e Demolição
FCP – Fundação Casa Popular
BNH – Banco Nacional da Habitação
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo
SFH- Sistema Financeiro da Habitação
BACEN–Banco Central do Brasil
MDU–Ministério do Desenvolvimento Urbano
MHU – Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente
MBES – Ministério da Habitação e do Bem-Estar Social
SEAC - Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária
CEF – Caixa Econômica Federal
IPMF - Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras
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SEPURB - Secretaria de Política Urbana
MPO - Ministério do Planejamento e Orçamento
SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social
PLANHAB – Plano Nacional de Habitação
SNH – Secretaria Nacional da Habitação
PPA – Plano Plurianual
PNH – Plano Nacional de Habitação
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PIB – Produto Interno Bruto
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SEI - Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Exemplo de construções mal planejadas em Feira de Santana...............31
Figura 2 – Exemplo de limitações de construções.....................................................32
Figura 3 – Escada construída erroneamente.............................................................34
Figura 4– Mapa de localização do sistema viário de Feira de Santana.....................54
Figura 5– Localização do Loteamento Paulo Souto...................................................57
Figura 6– Partido urbanístico do Loteamento Paulo Souto........................................59
Figura 7– Planta baixa de casa do loteamento Paulo Souto (Padrão Habitacional tipo 3da Prefeitura Municipal de Feira de Santana)......................................59
Figura 8 – Local destinado à construção da futura praça do loteamento..................60
Figura 9 – Quadra esportiva do loteamento...............................................................60
Figura 10 – Seqüência de casas padronizadas do loteamento Paulo Souto.............61
Figura 11 - Fachadas modificadas de padrão habitacional do loteamento Paulo Souto.........................................................................................................61
Figura 12 – Casa que foi adaptada para funcionar como um bar..............................62
Figura 13 – Sede da associação comunitária do loteamento, completamenteabandonada..........................................................................................62
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Figura 14 – Espaço destinado à construção da futura escola...................................63
Figura 15 – Poças d’água em rua do loteamento, após quatro dias de chuva.........64
Figura 16 – Regiões de abrangência da amostra......................................................66
Figura 17 – Unidades que responderam o questionário............................................66
Figura 18 – Diagrama de Paretto da questão 5.........................................................71
Figura 19 – Diagrama de Paretto da questão 6.........................................................72
Figura 20 – Diagrama de Paretto da questão 8.........................................................73
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Ao Senhor Deus Todo Poderoso, que sempre respondeu às minhas preces. Aos meus pais, que sempre priorizaram a minha educação e nunca me desampararam. Aos meus professores e amigos. Ao meu irmão mais novo, um referencial de inteligência e dedicação aos estudos.
11
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
DEDICATÓRIA
1INTRODUÇÃO..................................................................................................13
1.1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................15
1.2 OBJETIVOS....................................................................................................18
1.2.1 Objetivo Geral..............................................................................................18
1.2.2 Objetivos Específicos...................................................................................18
1.3 HIPÓTESE......................................................................................................19
1.4 METODOLOGIA.............................................................................................19
1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA...................................................................22
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................23
2.1 AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO.....................................................................23
2.1.1 Introdução....................................................................................................23
2.1.2 Valor Agregado............................................................................................25
2.1.3 Conforto Ambiental......................................................................................27
2.1.4 Sustentabilidade Ambiental..........................................................................28
2.1.5 Flexibilidade Espacial...................................................................................30
2.1.6 Segurança....................................................................................................34
2.1.7 Eficiência Energética....................................................................................36
2.2 HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL.......................................................38
2.2.1 Introdução....................................................................................................38
2.2.2 Política Nacional de Habitação....................................................................42
2.2.3 Programas do Governo................................................................................45
2.2.4 Critérios Mínimos de Desempenho para Habitações Térreas de Interesse
Social..........................................................................................................48
3ESTUDO DE CASO...........................................................................................50
12
3.1 MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA............................................................50
3.1.1 Origem.........................................................................................................50
3.1.2 Aspectos Gerais de Feira de Santana.........................................................52
3.1.3 Como Surgiram os Conjuntos Habitacionais em Feira de Santana...........54
3.2 CONJUNTO HABITACIONAL PAULO GANEM SOUTO................................56
3.2.1 Caracterização e Aspectos gerais...............................................................56
3.2.2 Situação Atual do Bairro..............................................................................59
3.2.3 Avaliação técnica do bairro..........................................................................62
3.3 LEVANTAMENTO DA POPULAÇÃO AMOSTRAL.........................................64
4APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................66
5 CONCLUSÕES..................................................................................................73
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................73
5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS..............................................74
REFERÊNCIAS....................................................................................................75
APÊNDICES.........................................................................................................80
ANEXOS...............................................................................................................85
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1 INTRODUÇÃO
Conforme mostram os meios difusores de informação, hoje em dia são muitos
os programas do governo que ajudam aos que não possuem moradia ou que moram
em condições precárias. Com isso, muitas construtoras se aproveitam do forte
incentivo do governo para lucrarem. De acordo com Pereira (s.d.) estas empresas
entram numa corrida desenfreada para construir em quantidade, porém, em
detrimento da qualidade. O resultado é um conjunto de problemas visíveis que
acometem as edificações populares. Os construtores têm um interesse maior pela
diminuição dos custos da construção.
“[...] assim busca-se ganhos nos materiais e processos de construção aliados
a uma justaposição das unidades habitacionais, que resultam numa
monofuncionalidade acrítica do espaço.” (PEREIRA, s.d., p.1).
No entanto, várias casas já foram construídas desta maneira. Se esse
histórico fosse previamente analisado e levado em consideração, talvez, muitos
defeitos ou inconveniências de projeto e construção fossem evitados.Este é um dos
princípiosem que se baseiam os estudos de APO, Avaliação Pós-Ocupação.
De acordo com Conciani e Brandão (2009), a construção civil brasileira está
inovando-se a cada dia. Há uma assimilação dos avanços tecnológicos [mesmo que
a passos lentos] em materiais, sistemas e processos construtivos não apenas pelas
edificações mais complexas, mas também pelas habitações populares. Esses
avanços tecnológicos se desenvolvem visando não apenas a qualidade final do
produto, mas também a melhoria do processo produtivo, ou seja, a satisfação do
construtor.
“Essa evolução no setor, no entanto, nunca pode encobrir o fato de que o
morador, o usuário, constitui o cerne da moradia, com suas necessidades e desejos
particulares.” (CONCIANI; BRANDÃO, 2009, p.185).
APO é um ramo recente de pesquisa no Brasil, embora já seja aplicada nos
países desenvolvidos há mais de duas décadas. Muitos estudos de APO feitos em
várias regiões do Brasil mostram que os projetos de habitações de interesse social
não estão atendendo as verdadeiras necessidades dos seus usuários. Ou seja, os
usuários têm expectativas quanto à sua futura moradia e, ao tomarem posse desta,
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se sentem satisfeitos na euforia de uma novidade, visto que antes estavam em
condições de moradia relativamente inferiores. A princípio, esquecem de suas
expectativas e começam a desfrutar de seu novo lar. Mas, após certo tempo, já
acostumados à novidade, percebem que alguns aspectos de sua moradia causam
incômodos. Após certo tempo em que o ambiente construído é habitado torna-se
possível ao usuário deste perceber quais os pontos positivos e negativos de sua
moradia. (REIS, s.d.)
De acordo comOrnstein (1992), as pesquisas realizadas in loco (como no
caso de APO) são mais complicadas de serem executadas em comparação às
pesquisas de laboratório, pois existem em campo muitas variáveis interagindo
simultaneamente. Com isto, a confiabilidade e precisão dos resultados diminuem,
porém o estudo de APO tem mérito maior no que diz respeito às relações ambiente-
comportamento, visto que as manifestações destas dependem sobremaneira da
interação entre as diversas variáveis naturais do ambiente a ser habitado. Além
disso, os estudos de APO têm sua importância também como estudos de
realimentação de projetos semelhantes. ParaOrnstein (2006), os fatores positivos
encontrados em APO’s devem ser classificados e recomendados para futuros
projetos semelhantes.
O estudo de APO visa levantar informações importantes acerca de um
ambiente construído e habitado que possam servir de base para a elaboração de
projetos similares. Por isso, Ornstein (1992) afirma que a APO é um mecanismo de
realimentação de projetos semelhantes e de controle de qualidade global do
ambiente construído no decorrer de sua vida útil.
Segundo Ferraz (2010), esta ferramenta possibilita que o usuário participe
ativamente do processo de atribuição de valor ao ambiente em que vive. De acordo
com o ponto de vista do morador da edificação é possível identificar pontos positivos
e negativos explorados tanto no projeto quanto na construção.
O ambiente construído gera um tipo de resposta num especialista técnico e
outro tipo de resposta a um usuário leigo, pois o repertório cultural, hábitos, atitudes
e crenças são bastante distintos entre os diferentes elementos que participam do
processo projetual, construtivo e de uso do ambiente.
Segundo Andrade (s.d.), a APO é um mecanismo que permite avaliar, através
do ponto de vista dos usuários e dos especialistas técnicos, aspectos técnico-
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construtivos, funcionais, econômicos, estéticos e comportamentais do ambiente
construído, revelando as relações entre ambiente e comportamento.
O objeto de estudo deste trabalho é um seleto conjunto de habitações de
interesse social na cidade de Feira de Santana, visto que, nesta cidade, faltam
estudos de APO nas habitações executadas para a população cuja renda é inferior a
três salários mínimos. Não existem estudos suficientes que dêem uma idéia do grau
de satisfação dos usuários destas habitações.
1.1 JUSTIFICATIVA
É importante saber se os usuários de habitações de interesse social estão
satisfeitos com o ambiente construído para eles e se o ambiente construído está
cumprindo a sua função de abrigar com dignidade as famílias de baixa renda. E
abrigar com dignidade tem um sentido mais amplo do que simplesmente proteger de
sol, chuva e acidentes. Os principais agentes envolvidos na produção de edificações
se limitam apenas a uma função do produto, que é o abrigo. No entanto, a habitação
hoje em dia não tem apenas a função de abrigar, conforme mostra Rapoport (1984)
apud. Larcher (2005, p.6):
A variedade observada nas formas de construção, num mesmo local ou sociedade, denota uma importante característica humana: transmitir significados e traduzir as aspirações de diferenciação e territorialidade dos habitantes em relação a vizinhos e pessoas de fora de seu grupo.
Portanto, sendo um importante meio de traduzir a identidade do morador, a
habitação deve contemplar a vontade deste morador, permitindo que ele sinta-se
mais “em casa”, ou seja, mais confortável.
De acordo com Andrade e Duarte (1995) apud Moraes (2008, p.106),
“normalmente esta racionalização [das construções] tende a associar padronização
com produtividade não levando em conta asquestões sócio-culturais da população
16
de baixa renda.” Os empreendedores, portanto, desconhecem a percepção dos
usuários de habitações populares com relação ao desempenho destas edificações.
Desta forma, avaliar um projeto tendo como base o valor percebido pelo usuário permite oportunizar aos projetistas parâmetros para se aprimorar o processo de projeto, dirigindo-o às características particulares de um mercado-alvo específico, que neste caso, são habitações de interesse social. (MORAES, 2008, p.106).
“No Brasil, a fase de produção do edifício é razoavelmente bem conhecida,
mas a visão sistêmica do processo se torna incompleta, na medida em que existem,
ainda, poucas pesquisas voltadas para a fase de uso, operação e manutenção...”
(ORNSTEIN, 1992, p. 19)
Existem aspectos do ambiente construído que não são detectados facilmente
por simples análise técnica. Para saber o nível real de funcionalidade de um
determinado ambiente construído é preciso abrir espaço para que as pessoas deste
ambiente esclareçam suas expectativas, seus desapontamentos e alegrias que
tiveram ao longo de um período de convivência no lar.
A análise de inúmeros estudos pós-ocupação acerca de habitações populares
permite constatar que a maioria destas construções não recebe todo o cuidado
necessário durante sua produção para que haja uma longa vida útil.
“Observa-se que nem sempre existe uma preocupação com a qualidade
projetual destas edificações, as quais passam por alterações e reformas nem
sempre garantindo a qualidade de vida e salubridade” (CAMARGO, 2010, p.1).
Após certo período de ocupação é que se verifica esse descaso. Geralmente
o que importa aos construtores é pura e simplesmente redução de custos durante a
execução, ou seja, a curto prazo. A longo prazo, geralmente os construtores não se
preocupam mais com o produto, pois este fica entregue aos cuidados do morador.
Além de que a natureza longeva e relativamente cara do referido produto (habitação)
e a especificidade do cliente (pessoa de baixa renda) geralmente não requer mais
de uma aquisição em pouco tempo para pessoas físicas.
É preciso garantir a qualidade das habitações populares tendo em vista a
relação ambiente-comportamento. Não devem existir apenas critérios técnicos a
serem atendidos nestas habitações. É preciso unir a análise técnica à percepção do
usuário. Como exemplo disso pode-se citar uma das conclusões do trabalho de
17
Ornstein (2006): o planejamento de localização das habitações de interesse social
deve ser de tal forma a aproximar a população de baixa renda dos principais
equipamentos de bem estar social (creches, centros de juventude, saúde, cultura,
esporte, etc.). Esta é uma indicação que deve ser observada quando da seleção de
espaços para a construção de habitações de interesse social, pois basta ver que a
população de baixa renda não tem meios eficientes de transporte para a sua
locomoção.
Os agentes envolvidos no processo de produção de edificações podem e devem se apropriar dos resultados obtidos na APO para modificar a realidade, quando detectarem aspectos negativos, bem como exigirem que os aspectos positivos sejam mantidos e reaplicados em casos semelhantes. (ORNSTEIN, 1992, p. 28)
É possível deduzir que as habitações de classe média estão constantemente
melhorando em qualidade, visto que seus usuários possuem alto poder aquisitivo
eacesso à cultura e educação de qualidade. Isso permite um constante processo de
aperfeiçoamento destas construções.
No entanto, os moradores de habitações populares não têm condição de
fazerem grandes exigências, pois não dispõem de poder aquisitivo suficiente. Na
maioria das vezes são os próprios moradores que atuam como pedreiros,
carpinteiros, profissionais da construção civil, pois assim podem reduzir custos na
construção de sua própria moradia. O resultado é uma habitação popular de
péssima qualidade, casas precárias que fogem ao controle da fiscalização pública.
“[...], ou então porque os trabalhadores autoconstroem [sic] casas precárias
em favelas e loteamentos clandestinos.” (FREITAS, 2004, p.19).
Para a realização deste trabalho foi escolhido O Conjunto Habitacional Paulo
Ganem Souto da cidade de Feira de Santana. O Loteamento Paulo Souto possui
aproximadamente três anos e meio de existência, tempo suficiente que pode dar
mais confiabilidade às respostas de uma avaliação pós-ocupação. Além disso, é um
conjunto habitacional visivelmente precário, o que dá mais sentido ao estudo, pois
abre a possibilidade de intervenções positivas no local.
O loteamento Paulo Souto é um conjunto habitacional relativamente grande
(395 lotes), cujo padrão das casas é uniforme e, em vista disso, não leva em
consideração as diferentes condições de exposição dos moradores à insolação, à
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insegurança, iluminação natural, ventilação, etc. Um estudo de APO feito no local
poderia comprovar se esta padronização seria, de fato, um aspecto negativo para
ocaso específico. Por isso, torna-se imprescindível um estudo destas variáveis sob a
ótica dos usuários, confrontada com uma prévia avaliação técnica.
Existem outros loteamentos em Feira de Santana com o perfil descrito.
Porém, o loteamento Paulo Souto possui alguns diferenciais que justificam a sua
escolha:
Limites bem definidos, em vista do contraste com o ambiente rural em que se
insere (menor densidade populacional em torno dele). Com isso, é possível
ter um controle maior sobre o espaço físico para o planejamento da pesquisa;
Construção realizada em grande parte pelos próprios moradores (regime de
mutirão) e outra parte pela Caixa Econômica Federal (CEF);
Localização em frente a um presídio, o que pode ser a origem da sua
reputação de local perigoso;
Uma das poucas comunidades feirenses que sofreram intervenções diretas
do poder público.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
- Realizar uma Avaliação Pós-Ocupação no conjunto habitacional Paulo
Ganem Souto, em Feira de Santana.
1.2.2 Objetivos Específicos
- Analisar aspectos construtivos do loteamento à luz de critérios mínimos
de desempenho técnico;
19
- Coletar dados que possam servir de base para orientação de futuros
projetos de Habitações de Interesse Social que sejam similares ao do
conjunto estudado;
1.3 HIPÓTESE
A falta da utilização do método da Avaliação Pós-Ocupação, para
retroalimentar os projetos das Habitações de Interesse Social tem feito com que os
usuários realizem modificações, o que caracteriza insatisfação com a sua moradia.
1.4 METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho foram adotados os seguintes passos:
Revisão bibliográfica: o trabalho contou com contribuições de diversos autores.
Livros, artigos, monografias, teses de mestrado e doutorado, todo material
encontrado que pode fornecer informações sobre o tema.
Caracterização inicial do loteamento: a Secretaria de Planejamento e a Secretaria
de Habitação forneceram, mediante carta de apresentação do aluno expedida pelo
colegiado de engenharia civil da UEFS,o material técnico/descritivo que foi utilizado.
Foram cortes, fachadas, planta baixa, hidrossanitária e elétrica, planta de partido
urbanístico e planta de situação do loteamento. Além disso, foi fornecida uma cópia
do decreto nº7. 288, de 11 de abril de 2007, no qual o então prefeito José Ronaldo
aprova o loteamento popular. Este material forneceu dados para uma caracterização
inicial do local, sem foco em nenhum aspecto situacional do conjunto. Como o
loteamento insere-se na cidade de Feira de Santana, foi feita também uma
caracterização deste entorno, mostrando seus aspectos gerais e o histórico de como
20
surgiram as habitações coletivas precárias no município, tudo com base em estudos
já realizados por outros autores.
Visitas técnicas: foram feitas visitas técnicas ao loteamento para averiguação da
situação atual do bairro, buscando comparar a situação real com o material oficial
fornecido pelas secretarias de habitação e planejamento. Desta forma foi possível
definir melhor quais as questões a serem abordadas na avaliação e a maneira de
abordá-las.
Avaliação técnica:Foi feita uma análise do ponto de vista da engenharia sobre os
ambientes comuns e sobre o projeto do padrão das casas.
Elaboraçãodo Questionário: foram consultados e modificados questionários já
existentes para se adequarem às características do local escolhido, originando um
questionário inicial denominado pré-teste (ver apêndice A). Após a aplicação deste
pré-teste com cinco pessoas do bairro, verificou-se que alguns itens não estavam
expostos de forma clara e simples para os moradores, que apresentaram
dificuldades para entendê-los. Esta “falha” do questionário poderia comprometer o
entendimento por parte do usuário e, consequentemente, pôr em risco a fidelidade
das respostas. Logo, foramfeitas alterações na estrutura e linguagem do
questionário até ser obtido um questionário definitivo (ver apêndice B).
Dimensionamento da amostra: Para a aplicação do questionário foi escolhida uma
amostra representativa da população de moradores do conjunto habitacional. A
amostra foi calculada para uma margem de erro de 10%.
Aplicando-se a fórmula para o cálculo da amostra casual simples, para o nível
de confiança de 95%, valor de zα/2 igual a 1,96 (ver Anexo A), p e q iguais a 50% ou
0,5, tem-se a seguinte quantidade para amostra representativa de uma população
finita:
n = 77,4 ou arredondada para n = 78
Onde
N = tamanho da população
n = tamanho da amostra representativa
e = margem de erro
21
p = proporção populacional de indivíduos que pertencem à categoria estudada
q = proporção populacional de indivíduos que não pertencem à categoria
estudada.
Escolha das unidades: A escolha das casas que compõem a amostra não foi
aleatória. A população amostral foiescolhida de forma a melhor caracterizar a
população total do local, de acordo com a metodologia proposta por Ornstein (1992).
Aplicação do questionário definitivo: Alguns moradores voluntariamente
responderama um conjunto de perguntas utilizando uma escala de valores que
variam de ótimo a péssimo, após as perguntas iniciais de caracterização do próprio
habitante e do local. Utilizou-se uma escala de quatro pontos, com as alternativas
“ótimo”, “bom”, “razoável” e “péssimo”, devido à relativa facilidade de compreensão
dos termos. São abordadas no questionário apenas algumas variáveis consideradas
relevantes para o estudo. Dentre os aspectos contemplados no questionário estão
as dimensões mínimas dos cômodos, circulações horizontais, circulações externas,
iluminação artificial, iluminação natural, ruas de acesso, conforto termo-acústico, etc.
Tabulação dos dados e resultados: Após a aplicação do questionário, os dados
obtidos foram organizados em tabelas. Foram contadas a frequência absoluta e
relativa. Também foram feitos cálculos estatísticos visando encontrar as medidas de
tendência central (média, mediana e moda) e o desvio padrão de cada item do
questionário que possuía a escala de quatro valores: ótimo, bom, razoável e
péssimo. Para efetuar o cálculo da média e do desvio padrão foi atribuído a cada
uma destas expressões um valor numérico:
Ótimo = 4; bom = 3; razoável = 2; péssimo = 1.
O aplicativo utilizado foi a planilha do Microsoft Excel.
Análise dos resultados: Após a tabulação dos dados foram tiradas conclusões
sobre os números representativos. A partir destas tabelas também foram elaborados
gráficos de barras.
Não foram contempladas rigorosamente todas as etapas deste tipo de estudo,
devido à falta de tempo e recursos. Não houve aferição de níveis de temperatura e
ruído, entre outras variáveis, por falta de aparelhos específicos e também porque
demandaria um tempo maior de pesquisa de campo para levar em consideração a
influência das mudanças climáticas, das estações do ano.
Pode-se afirmar que foram atingidos os objetivos geral e específicos, com
relativa intensidade, visto que, mesmo com todos os limitantes mencionados, foi
22
possível tirar conclusões a partir de questionários, registros fotográficos, visitas
técnicas, material técnico/descritivo, gráficos e estatística aplicada aos dados
coletados.
1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
CAPÍTULO 1
Este capítulo aborda introdução, justificativa, objetivos geral e específicos, hipótese,
metodologia e a estrutura da monografia.
CAPÍTULO 2
Revisão bibliográfica abordando tópicos referentes aos estudos de Avaliação Pós-
Ocupação e as Habitações de Interesse Social, definindo e resumindo os temas
correlatos.
CAPÍTULO 3
Caracterização da parte física e funcional do local escolhido para o estudo de caso.
CAPÍTULO 4
Neste capítulo, todas as informações coletadas durante o estudo de caso foram
tabuladas e analisadas.
CAPÍTULO 5
Conclusão, que se subdivide em duas partes: Considerações finais e sugestões para
trabalhos futuros.
23
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO)
2.1.1 Introdução
No Brasil as construções ainda são executadas com rusticidade e toda a
técnica que é criada ou aperfeiçoada não é facilmente incorporada aos
procedimentos das empresas construtoras. Segundo Bonin (1988) apud. Silva
(2007, p.32), o ensino de construção civil no Brasil, em muitas escolas, ainda é
ultrapassado, pois transmite práticas construtivas tradicionais.
No entanto, nos dias atuais é possível notar a preocupação maior que as
instituições de ensino têm de valorizar a inovação técnica. Prova disso são as
universidades públicas, cuja existência se apóia no tripé composto por ensino,
pesquisa e extensão.
É indispensávela observância dos resultados de estudos de APO antes da
elaboração de qualquer projeto de edificação. A APO reúne avaliação técnica com o
ponto de vista dos usuários.
De acordo com Cerqueira (2001, p.10)
A área ambiente/comportamento responde a duas perguntas básicas: qual é a relação entre o ambiente sócio-físico e o comportamento humano e como, a partir do conhecimento desta relação, pode-se criar ambientes mais adaptados ao homem e assim melhorar a sua qualidade de vida.
Segundo Ornstein (1992, p. 20), as metas de APO são:
- Promover a ação (ou intervenção) que propicie a melhoria da qualidade de
vida daqueles que usam um dado ambiente;
- Produzir informação na forma de banco de dados e gerar conhecimento
sistematizado sobre o ambiente e as relações ambiente-comportamento.
24
O APO é um dos mecanismos eficientes de realimentação de projetos semelhantes e de controle de qualidade global do ambiente construído no decorrer de sua vida útil. Note que, no caso de um edifício público, qualidade é uma visão mais ampla de desempenho, na medida em que se trata de uma aptidão de um determinado produto em satisfazer, no presente e no futuro, seus usuários, devendo, portanto, ser gerenciada, isto é, controlada. (ORNSTEIN, 1992, p. 20)
No entanto, não é fácil sondar as aspirações destes usuários, conforme
mostram Conciani e Brandão (2009, p.186): “Nem sempre a perspectiva do usuário
é conhecida, apesar da existência de técnicas para obtenção de informações, como
a avaliação pós-ocupação, por exemplo.”
De acordo com Hino e Melhado (1998), a qualidade do projeto é fundamental
para a qualidade final do produto da Construção Civil (a edificação), em termos de
desempenho funcional e também com relação a custos e resultado financeiro.
São muitos os problemas que ocorrem nas habitações após a construção e
posterior ocupação. Problemas que surgem não por falta de empenho em atender as
necessidades dos clientes, mas por falta de observância aos resultados de estudos
de APO, que mostram as verdadeiras necessidades dos clientes. Nestes estudos
são constatados que os clientes muitas vezes fazem alterações no espaço físico do
ambiente construído. Não raramente eles ficam insatisfeitos com o alto custo de
manutenção. Isto se reflete nas instalações elétricas, cujo projeto nem sempre
contempla um baixo consumo de eletricidade; ou nas instalações hidrossanitárias,
que devem priorizar um consumo racional, sem desperdícios ou agressão ao meio
ambiente; ou no conforto termo-acústico, entre outros aspectos relevantes do
ambiente construído.
Segundo Reis (1995, p.3), “O conhecimento das necessidades de alterações
nos leva a uma maior capacidade de produção de projetos habitacionais que
estejam mais de acordo com as reais necessidades de seus usuários.”. Muitos são
os motivos que levam os usuários das Habitações Populares a fazerem alterações
em suas moradias. Estas alterações podem ser positivas ou negativas e podem
também refletir mudanças (padrão de vida dos usuários, mudanças de mentalidade,
mudanças simbólicas, nível educacional, cultural, etc.).
25
Kowaltowski et al. (2004), fez um estudo de APO em conjuntos habitacionais
de iniciativa pública, no qual coletaram opiniões dos usuários do empreendimento e
observaram que:
“Os moradores relacionaram o conceito de qualidade de vida ao sentimento
de segurança, proteção física, infiltrações da água da chuva e conforto ambiental
(térmico, acústico, visual e funcionalidade do espaço físico).” (KOWALTOWSKI et al,
2004, p.2).
Segundo Andrade (s.d.), existe certa dificuldade de adaptação por parte dos
usuários que passam a experimentar a nova moradia, pois estas pessoas ainda são
despreparadas para lidar com um bem comum, no caso, o conjunto habitacional.
2.1.2 Valor agregado
Projetar e construir Empreendimentos Habitacionais de Interesse Social
(EHIS) é uma tarefa que deve levar em consideração o valor desejado pelo
cliente.Segundo Granja et al (2009), falta um procedimento para que o valor
recebido seja próximo ao valor desejado pelo usuário.
O desejo de valor antes do recebimento do produto é elevado, porém a própria concepção dos moradores sobre atributos preferenciais não é contemplada, uma vez que o usuário não participa do processo de projeto e construção desse tipo de produto. Dessa forma, o valor desejado aos olhos do usuário não é a base principal no processo de concepção do empreendimento. (GRANJA et al. 2009, p.89)
Segundo Moraes et al. (2008, p.107),
A preocupação em estabelecer as condições de habitabilidade, agregando valor à implantação de um projeto, leva os empreendedores a buscar elementos metodológicos que auxiliem na escolha de projetos mais eficientes e eficazes quando da execução de uma obra, seja ela de habitação social ou não.
26
Granja et al (2009), em seu estudo de caso que considerou quatro conjuntos
habitacionais na região de Campinas-SP, concluiu que entre os respondentes de
sua pesquisa há uma prioridade no item segurança para agregação de valor,
seguido de convivência com a natureza, gastos operacionais menores e diminuição
de nível de ruído. Clientes pensam concretamente sobre valor na forma de atributos
preferenciais e de desempenho de atributos, juntamente com as consequências de
se avaliar um produto numa situação de uso.
Moraes et al. (2008) sugere um modelo de avaliação de projetos da
construção civil diferente das formas tradicionais, que privilegiam os aspectos
quantitativos em detrimento dos aspectos qualitativos, que se voltariam ao
atendimento dos valores percebidos pelo usuário. O modelo sugerido propicia a
interação do usuário com o processo de avaliação do projeto sob a perspectiva do
valor, gerando ações de melhoria.
Os clientes formam julgamentos de valor ou sentimentos sobre a experiência
concreta de se utilizar o produto, ou seja, a sensação de valor recebido. No
momento da escolha, os clientes podem antecipar o valor recebido, porém apenas
no momento do uso vivenciarão concretamente o valor recebido (WOODRUFF,
1997, apud. GRANJA et. al., 2009).
Para Miron (2008)apud. Granja et al. (2009.), existe uma sutil diferença entre
os conceitos de valor e satisfação. Deste modo, o valor percebido reflete o saldo
entre os benefícios recebidos e os sacrifícios exigidos, enquanto que a satisfação
está ligada ao resultado decorrente da compra e do consumo, que só pode ser
atingido após certo tempo de uso do imóvel. A satisfação é um conceito mais ligado
ao fator psicológico, que se manifestará com o tempo.
Jacobs (2000)apud. Freitas (2004, p.132) afirma que os projetos de
Habitações Populares precisam fazer com que seus moradores neles permaneçam
por livre escolha, interessando-se pela segurança e viabilidade urbana da sua futura
habitação.
Outro fator que valoriza bastante uma habitação é o fator estético, a
aparência da edificação, que é um atrativo para as pessoas.
Reis e Lay (2003) realizaram um estudo de caso em 12 conjuntos
habitacionais da região metropolitana de Porto Alegre e puderam confirmar neste
local como a aparência externa e interna das habitações se constitui num fator de
qualificação e valorização do ambiente.
27
2.1.3 Conforto Ambiental
Em termos de conforto ambiental, Sattler (2007) trás recomendações que
visam garantir a um projeto de edificação boas condições de iluminação natural e
artificial, boas condições acústicas, térmicas e boa ventilação. Neste último quesito o
ideal é garantir que as janelas utilizadas tenham boa estanqueidade ao ar, para
evitar infiltração de ar durante o inverno, com isto evita-se também infiltração de
ruídos. Além disso, o mesmo autorprega a importância de se tirar proveito do
paisagismo para garantir um ambiente mais agradável aos sentidos humanos. Um
exemplo de como isso pode ser feito? O trabalho desenvolvido pelo arquiteto Otávio
Urquiza (2007) citado por Sattler (2007, p.27), uma Ecovila construída na cidade de
Porto Alegre, onde as residências locais foram contempladas com um sistema de
ventilação convectiva natural, no qual o ar circula através de um jardim de plantas
aromáticas antes de ingressar aos recintos internos. Neste caso, o paisagismo pôde
ser usado para dar um estímulo olfativo mais agradável aos usuários do ambiente
construído.
Assis et al (2006), apud Assis et al (s.d.) apontam que os principais problemas
de conforto ambiental da habitação de interesse social são devidos à falta de
desempenho da ventilação interna e à especificação inadequada de materiais. As
concepções arquitetônicas são padronizadas e não estão adaptadas às condições
climáticas locais.
Vianna e Romero (2002) fizeram um estudo de caso no Conjunto Habitacional
Jardim São Luiz I, uma avaliação pós-ocupação. Eles estudaram o conforto
ambiental desta edificação e concluíram, entre outras coisas, que embora o fator
“orientação/implantação dos edifícios” não seja o único a interferir diretamente nas
condições de conforto, ele se apresenta como um dos principais, pois definirá de
imediato a quantidade de radiação incidente em cada uma das fachadas (dada em
W / m2). A insolação nos banheiros é fundamental, do ponto de vista higiênico,
sendo que a ventilação é menos importante, em vista de ser uma área de pouca
permanência diária. Os autores do trabalho identificaram também pouca orientação
favorável para os dormitórios, do ponto de vista térmico, sendo que estes eram
afetados por insolação excessiva nos períodos mais críticos do ano.
28
O uso de coberturas verdes é uma ótima alternativa para se atingir conforto
térmico em regiões de climas quentes. Tais coberturas consistem na substituição do
telhado convencional por superfícies cobertas por solo, devidamente drenadas, e
revestidas com vegetação, cujo conjunto funciona como um excelente isolante
térmico. No entanto, deve-se observar a capacidade estrutural da laje, que suportará
uma carga adicional, e também o tipo de vegetação, que deve ser o mais adequado
para esta aplicação tendo em vista a necessidade de manutenção com a exposição
prolongada ao sol (SATTLER, 2007).
Moraes (1999, p.2) apud. Ferraz (2010) afirma que as sensações de calor do
ser humano não dependem apenas da temperatura do ambiente, mas também da
umidade, do movimento da massa de ar, dos efeitos da radiação das paredes, entre
outros fatores, inclusive idade, sexo, grau de atividade e alimentação.
Outro aspecto de grande importância para o conforto ambiental é a
iluminação natural, que inclusive pode interferir no fator econômico conforme é
citado no trabalho de Cerqueira (2001, p. 40),
A análise econômica da iluminação natural tem dois aspectos: consumo de energia e produtividade. Boa iluminação nos ambientes de trabalho ajuda a aumentar a produtividade, contribuindo também para uma sensação de bem estar. Entretanto, a conservação de energia não deve ser o enfoque principal do projeto de iluminação natural, em exclusão de considerações quanto à percepção visual (conforto visual). Iluminação natural deve ser dirigida às pessoas. Deve respeitar as necessidades de percepção visual. Projetistas precisam entender que condições capacitam as pessoas a ver bem e confortavelmente. Conforto visual possui um caráter multidimensional; não é suficiente a garantiade níveis de iluminação adequados. Ofuscamento (direto ou indireto) deve ser controlado e minimizado; proporção de luminâncias deve ser ajustada.
2.1.4 Sustentabilidade ambiental
Existem muitas definições para “sustentabilidade”. De modo geral,
sustentabilidade é simplesmente “[...] viver dentro da capacidade de suporte do
planeta”. (GIBBERD, 2003 apud. SATTLER, 2007, p.22).
29
A palavra sustentabilidade geralmente está muito associada à preservação
ambiental. Porém, a sustentabilidade não se resume apenas à dimensão ecológica,
existindo também a sua dimensão social (equilíbrio na distribuição de renda,
diminuindo as diferenças sociais), econômica (eficiência econômica em termos
macrossociais), geográfica ou espacial (equilíbrio entre as configurações urbana e
rural) e cultural (valorização das raízes endógenas).
Segundo Edwards (2004) apud. Camargo (2010, p.2) projetar de maneira
sustentável é projetar levando em conta a conservação de recursos naturais e a
biodiversidade da Terra, mas, também significa criar espaços agradáveis, saudáveis,
viáveis economicamente, comprometidos culturalmente, historicamente e sensíveis
às necessidades sociais.
De acordo com Assis et.al.(s.d.), a aplicação de determinados critérios de
sustentabilidade na construção civil requer uma mudança de valores que norteará as
práticas de projeto e construção, levando-se sempre em consideração o meio
ambiente natural e a cultura locais.
Segundo Sattler (2007), são muitas as atitudes que as pessoas podem tomar
no intuito de viver e produzir com sustentabilidade ambiental: para começar, a água
é um recurso natural não renovável e sob todas as suas formas este recurso deve
ser usado racionalmente, bem como os recursos energéticos renováveis. Além
disso, muito mais pode ser feito: reduzir uso de materiais de construção; fazer
reaproveitamento de materiais, reduzindo perdas nas novas construções; selecionar,
entre os materiais disponíveis no mercado aqueles menos impactantes ao homem e
ao ambiente.
Dentro deste objetivo de utilizar materiais menos impactantes ao homem,
Szucs (2006, p.68) sugere uma alternativa construtiva que aumenta a oferta de
habitações econômicas, de qualidade e que não agridem o meio ambiente, o
sistema construtivo em madeira de reflorestamento: “a espelho do que acontece em
outras regiões do mundo, a aplicação no Brasil da madeira reflorestada surge como
alternativa viável e econômica, podendo ser aplicada principalmente nas regiões
produtoras desse material.”
Segundo Molinet al(2006), a indústria da construção civil é o setor que mais
consome recursos naturais e gera muitos resíduos do que qualquer outra atividade.
Como medida alternativa para amenizar os impactos causados pelo setor pode-se
destacar a reciclagem de resíduos de construção e demolição (RCD) para produção
30
de agregados para concreto. A variabilidade na composição do resíduo tem reflexos
no desempenho do concreto. Assim, quando se deseja produzir concreto utilizando
RCDs deve-se, em primeiro lugar, analisar a influência desta variabilidade nas
características do concreto. Conhecendo-se o comportamento resultante desta
variabilidade e tendo o seu controle, o passo seguinte é saber se é viável técnica e
economicamente a substituição de agregado natural por RCDs reciclados.
Visando atingir o equilíbrio entre valor almejado e o valor recebido já foram
feitos vários estudos com materiais alternativos para construção. Estes estudos
podem contemplar o item convivência com a natureza e outros itens detectados em
estudos de APO. Exemplo disso é o que mostra Barboza et al (2008) com o estudo
de avaliação do uso de bambu como material alternativo para a execução de
habitação de interesse social. Há milhares de anos o bambu vem sendo utilizado e é
caracterizado como uma das matérias-primas mais importantes para países em vias
de desenvolvimento, por ser facilmente encontrado, com produção de baixo custo, e
por ser viável a sua utilização em grande quantidade. Nesse aspecto, aplicando-o à
habitação, estaria sendo propiciado o barateamento do sistema pelo uso de
materialalternativo, com facilidade de obtenção, além de trilhar os caminhos da
sustentabilidade.
O grande problema de construir Habitações de Interesse Social utilizando
material alternativo se encontra no grau de aceitação do morador com o novo
material. Os moradores imaginam que o material alternativo é de qualidade inferior,
justamente por não ser utilizado em larga escala e popularizado como material
corrente no mercado (BARBOZA et. al., 2008).
2.1.5 Flexibilidade Espacial
De acordo com Marroquim e Barbirato (2007), as habitações de interesse
social construídas no Brasil são frequentemente modificadas por seus moradores,
entre outros aspectos, por motivos de caráter funcional, simbólico ou econômico.
Modificações estas que quase sempre envolvem ampliações, visto que HIS são
31
edificadas com áreas mínimas para fins de redução de custos. Entretanto,
freqüentemente essas modificações impactam negativamente na funcionalidade e
na habitabilidade dessas moradias. A construção de habitações de interesse social
flexíveis que permitam ampliações e modificações sem diminuir a sua qualidade
espacial original constitui uma alternativa para minimizar esses problemas.
De acordo com Conciani e Brandão (2009), a flexibilidade é um elemento
essencial que não pode deixar de ser contemplado nos projetos e, principalmente,
os de moradias unifamiliares, cuja necessidade de ampliação é uma realidade.
De acordo com o que se tem observado nas construções em Feira de
Santana, a disponibilidade de área não significa necessariamente liberdade total
para construir. São construções mal planejadas, sem o devido acompanhamento
técnico, com projetos deficientes em muitos aspectos, muitas vezes não levando em
consideração a direção de ventos predominantes, insolação. Aspectos como esse,
se não levados em consideração, podem gerar edificações pouco funcionais.São
muitos os exemplos desta falta de cuidados técnicos. Garagens construídas com
meia-parede em locais de predominância de ventos fortes (que geralmente projetam
partículas sólidas em alta velocidade prejudicando a pintura externa dos
automóveis), cômodos de casas com esquadrias inadequadas ou mal posicionadas,
escadas ou rampas com inclinações acima do permitido por norma.
Figura 1 – Exemplo de construções mal planejadas em Feira de Santana. Fonte: www.google.com.br
São muitas alterações realizadas na maioria das vezes pelos próprios
usuários, que prejudicam principalmente o conforto ergonômico.Existem limitações
não apenas legais, mas também de ordem técnica para que uma edificação seja
32
construída com bom aproveitamento das variáveis naturais e racionalização de
processos e materiais (figura 1).
A figura 2 a seguir mostra uma situação onde a flexibilidade espacial é
bastante limitada e mesmo assim algumas pessoas correm até riscos tentando
ultrapassar estas limitações.
Figura 2– Exemplo de limitações de construções. Fonte: www.google.com.br
Segundo Larcher (2005), o conceito de flexibilidade está associado a
diferentes modos de adaptação do espaço arquitetônico, existindo uma flexibilidade
inicial e uma flexibilidade contínua, também chamada de funcional ou permanente. A
primeira é a que possibilita ao cliente fazer adaptações durante a construção. A
segunda caracteriza-se pela possibilidade de serem efetuadas alterações ao longo
do tempo de uso da habitação.
A flexibilidade contínua é fortemente dependente de decisões iniciais, como tecnologia construtiva a ser adotada, mas não é dependente da flexibilidade inicial. Por exemplo, um projeto pode prever uma série variável de produtos arquitetônicos (flexibilidade contínua), mas cada um deles pode não possuir flexibilidade ao longo do período de uso. (BRANDÃO e HEINECK, 1998, apud. LARCHER, 2005, p.66).
Brandão (2003) apud. Ferraz (2010) subdivide a flexibilidade em duas formas:
a permitida e a planejada. A flexibilidade permitida é quando apenas uma opção é
dada ao cliente, seja de layout ou de acabamentos. A flexibilidade planejada é a que
garante mais de uma opção ao cliente na etapa de projeto.
Marroquim e Barbirato(2007)fizeram um estudo de APO em um conjunto
habitacional implantado na cidade de Maceió, Alagoas, com aplicação de
questionários, entrevistas e levantamentos físicos. Apesar da previsão, no projeto
33
original, de algumas possibilidades de flexibilização, estas não foram informadas aos
moradores, que executaram suas modificações para melhor adequarem as suas
unidades frente às exíguas dimensões. Os resultados evidenciaram a ocorrência de
desperdícios dimensionais e funcionais nas modificações das moradias analisadas,
devido primeiramente, à inadequação do projeto original, que impõe alterações já
nos primeiros anos de ocupação para garantir um nível mínimo de habitabilidade, e,
segundo devido à falta de um profissional qualificado para auxílio das reformas e/ ou
ampliações da casa, resultando em modificações ineficientes, dispendiosas e com
graves consequências no conforto ambiental resultante. O trabalho ressalta, enfim, a
importância de se obter um melhor entendimento sobre as reais causas de
modificações feitas pelos usuários, para auxiliar os projetistas na construção de
habitações flexíveis que permitam ampliações e modificações sem diminuir o
conforto ambiental e a qualidade espacial original da habitação. A figura 3 a seguir
mostra o quanto a falta de planejamento na construção pode prejudicar a
funcionalidade de uma edificação.
Figura 3 – Escada construída erroneamente. Fonte: www.google.com.br
34
Portanto, mudar a posição desta janela para a parede paralela ao muro (única
alternativa) significaria mais do que um dispêndio de mão-de-obra, seria uma perda
no conforto da habitação.
De acordo com Meira e Santos (1998) apud. Marroquim e Barbirato(2007), a
padronização dos conjuntos habitacionais não é favorável à flexibilidade espacial.
Esta padronização conduz os usuários a fazerem modificações para tornar suas
habitações mais condizentes com a sua realidade. No entanto, estas modificações
nem sempre são possíveis, pois podem acarretar problemas técnicos, econômicos,
culturais, etc.
2.1.6 Segurança
Para Newman (1972), apud. Kowaltowskiet al(2004, p.6), o índice de
satisfação do indivíduo em relação ao ambiente, depende, entre outras coisas, da
sua sensação de segurança e proteção.
A questão da segurança não se resolve unicamente com a instalação de
barreiras, como muros altos, grades, guaritas, sistemas eletrônicos de controle de
territorialidade, entre outros. É necessário projetar de forma a permitir uma vigilância
constante e natural pelo próprio usuário (GRANJA et al., 2009).
Os acontecimentos cotidianos mostram que o crime está sempre evoluindo,
tentando acompanhar o aumento da segurança. O esforço do homem moderno na
criação de novas tecnologias de monitoramento e segurança para suas edificações
requer dos criminosos ataques cada vez mais bem elaborados. Isso produz
aperfeiçoamento das técnicas de transgressão das leis.
Segundo Freitas (2004, p. 141), calçadas amplas e arborizadas servindo de
áreas de lazer são elementos que valorizam mais uma rua, pois contribuem para a
segurança do lugar, propiciando a circulação de pessoas no local. Ruas mais
movimentadas são mais seguras, pois proporcionam a auto vigilância pelo usuário.
Kowaltowski et al. (2004, p.2) realizou um estudo de caso no Estado de São
Paulo, no qual pôde notar que “a sensação de segurança e proteção não foi
35
relacionada apenas com a presença da polícia ou taxas de criminalidade, mas
também com a iluminação pública e a visibilidade nas ruas e locais públicos.”
Para Coswiget. al.(2010), a segurança condominial prestada por empresas
privadas, nos dias de hoje, está mais associada aos condomínios particulares. No
entanto, a segurança particular de residências é a principal alternativa encontrada
pelo mercado imobiliário para proteger da criminalidade as habitações, sejam elas
populares ou pertencentes a pessoas com maior poder aquisitivo. O modelo de
segurança de maior renda já está sendo levado aos espaços coletivos de menor
renda, o que diminui as diferenças entre as duas realidades, em termos de
segurança habitacional.
Guimarães e Medvedovski (2010) realizaram um estudo de caso no
Residencial Porto, da cidade de Pelotas-RS e identificaram alterações físicas e
comportamentais decorrentes da percepção dos usuários em relação à segurança
do condomínio. Blocos de apartamentos edificados no alinhamento predial geram
insegurança aos moradores, visto que fica facilitada a visualização interna pelos
transeuntes.
“... prédios no alinhamento demandam maiores alturas de peitoris e prédios
com recuos de ajardinamento permitem alturas menores de peitoris.” (GUIMARÃES;
MEDVEDOVSKI, 2010, p.3).
Segundo Coswiget. al.(2010), soluções físico-espaciais simples podem
melhorar muito a segurança dos conjuntos habitacionais. São medidas simples
como o direcionamento da iluminação para as áreas mais vulneráveis, a utilização
constante de aberturas em paredes que têm visibilidade para as áreas de circulação
de pessoas, etc.
Voltando para as figuras 1 e 2, pode-se perceber que, sob a ótica da
segurança, também há um aspecto negativo na garagem construída, que é a
visibilidade proporcionada para as pessoas que transitam do lado de fora da
residência, a qual também não possui muros altos. Essa ostentação dos bens
materiais pode atrair a atenção de criminosos.
36
2.1.7 Eficiência Energética
É importante que uma habitação de interesse social atenda bem ao quesito
eficiência energética. No trabalho de Lambertset. al. (1997) fica claro que, hoje em
dia, a arquitetura moderna perdeu um pouco do brilho que teve no passado.
Modernamente não existe todo o envolvimento necessário dos projetistas com a
adaptação dos ambientes construídos às particularidades de cada ambiente natural
em que se inserem. É preciso tirar mais partido das condições climáticas, de relevo,
entre outras. Ao projetar as habitações existem muitas variáveis a se considerar, as
variáveis climáticas (radiação solar, vento, temperatura e umidade), as humanas
(contraste, ofuscamento, vestimenta, atividade física) e as arquitetônicas (forma,
volume e função). Uma pode interferir na outra, como, por exemplo, a forma de uma
construção pode diminuir ou aumentar a ventilação.
Assis et al (s.d.) afirmam que os loteamentos geralmente são implantados
com base em critérios de viabilidade econômica, sem uma perspectiva de longo
prazo. Lotes com pequena dimensão de testada e grande dimensão em
profundidade são ótimos para o aproveitamento espacial do terreno, mas nem
sempre corresponde à melhor solução para orientação solar e captação dos ventos,
inviabilizando até mesmo a utilização dos sistemas de aquecimento solar.
Segundo Lambertset al. (1997), hoje em dia, para compensar esta falta de
cuidados com as variáveis naturais, satisfazendo os caprichos da vaidade
contemporânea, os projetistas colocam a responsabilidade da eficiência energética
nas mãos das diversas tecnologiasmecânicas e/ou eletrônicas, trazendo, assim,
consumo demasiado de eletricidade. Para se ter uma idéia desta realidade, basta
lembrar do edifício “estufa”, atualmente tão visto nas grandes cidades como símbolo
de poder que, no entanto, em climas tropicais não alia o seu grande conforto
ambiental com uma taxa tolerável de consumo energético, necessitando de um
consumo altíssimode eletricidade. No entanto, o Brasil, do ponto de vista de
recursos, não tem condições de aumentar demasiadamente este consumo e é
preciso criar, logo, alternativas para amenizá-lo.
37
O consumo de energia elétrica no setor residencial foi o que mais cresceu nos últimos anos, sendo que o consumo total de energia no país quase triplicou nos últimos dezoito anos. Neste ritmo, o potencial elétrico instalado no Brasil se tornará insuficiente em breve, tornando inevitável a construção de novas usinas e o consequente impacto ambiental. Também é importante ressaltar que as reservas de combustíveis necessários às usinas termelétricas vão diminuindo com o tempo e que não é possível construir usinas hidrelétricas indefinidamente, pois são limitados os locais que viabilizam sua implantação. Este cenário torna evidente para o mercado futuro de energia elétrica a necessidade de conservação. (LAMBERTS et al., 1997, p. 20).
O brasileiro precisa prestar mais atenção aos seus hábitos e consumir menos
energia elétrica. Tomar banhos curtos, apagar luzes ao sair dos aposentos, não
deixar eletrodomésticos ligados, nem abrir a porta da geladeira sem necessidade
são formas fáceis de economizar energia. A maioria das pessoas não presta
atenção nas etiquetas de eletrodomésticos com informações sobre consumo de
energia elétrica.
De acordo com Tavares (2009) há um crescimento acentuado no consumo de
energia de fontes não renováveis (petróleo, gás natural e carvão) no período
compreendido entre 1965 e 2008 e que até 2030 haverá um aumento de 45% no
consumo de energia mundial.
É necessário ampliar o uso de formas de energia alternativas menos
impactantes ao meio ambiente e que façam uso de recursos naturais mais
abundantes, sendo a energia solar uma alternativa bastante promissora, conforme
afirma Sattler (2007, p.112),
No Brasil usa-se preferencialmente, a energia elétrica para o aquecimento de água, principalmente entre as camadas mais populares. Se empregarmos a energia solar para o aquecimento de água de uso residencial, diminuiremos boa parcela do consumo de energia elétrica nacional. O uso de energia solar para o aquecimento de água é uma alternativa viável: apresenta baixo custo no longo prazo, é não poluente e inesgotável.
Tavares (2009) propõe o emprego de energia solar como alternativa ao
chuveiro elétrico. O uso de chuveiros nas residências ocorre geralmente em
momentos coincidentes, o que aumenta sobremaneira a demanda por energia
elétrica.Substituir nestes aparelhos a energia elétrica de fontes convencionais por
energia proveniente de uma fonte limpa, inesgotável e democrática resolveria o
problema da maior demanda nos horários de pico.
38
Tratando-se de fontes de energia limpa e inesgotável existe também a
energia eólica. Todavia, nem todas as regiões do Brasil possuem potencial de
geração de energia através dos ventos.
2.2 HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL
2.2.1 Introdução
Habitação de Interesse Social é definida como aquela destinada a atender a
população de renda relativamente pequena.O termo vem sendo bastante utilizado,
embora existam outros termos equivalentes, como habitação de baixo custo,
habitação para população de baixa renda e habitação popular. No entanto, há
deficiências em cada uma destas definições e o termo que prevalece é o que melhor
define, até agora, a complexidade do assunto. O termo habitação de baixo custo não
significa necessariamente habitação para pessoas de baixa renda; o termo
habitação para população de baixa renda fixa uma condição específica de
atendimento, que é a renda, e requer que sejam definidos os limites máximos desta
condição; já o termo habitação popular é um termo genérico envolvendotodas as
soluções destinadas aoatendimento de necessidades habitacionais. (ABIKO, 1995,
apud. LARCHER, 2005).
A escassez de recursos públicos e o empobrecimento populacional vêm
tornando cada vez mais complexo o problema do déficit habitacional do país. Nos
tempos atuais, faz-se cada vez mais necessária a busca por novas alternativas no
ramo da construção civil, principalmente quando o interesse está relacionado às
unidades habitacionais de interesse social (BARBOZA, et al., 2008).
No caso destes empreendimentos, onde são empregados grandes montantes
de investimentos, a etapa de projeto possui ainda maior relevância, para garantir a
correta aplicação dos recursos públicos.Mas não basta apenas projetar pensando no
39
fator econômico. São muitas as variáveis que se ligam direta ou indiretamente à
questão da habitação social.
O problema habitacional no Brasil não é recente. Há muito tempo que ele vem
sendo discutido. Em 1985 já havia teorias tentando explicar os mecanismos sociais
que geravam o problema da falta de moradia ou precariedade das habitações, que
assolava grande parte da população de baixa renda do país.Existe uma explicação
aparentemente lógica para o “déficit habitacional” de que a razão da existência de
tantas moradias precárias, com preços elevados e com forte contraste social é
justamente o fato de que a população está crescendo num ritmo muito acelerado. No
entanto, Ribeiro e Pechman (1985, p.8) não consideram convincente esta
argumentação, revelando que
..., a demanda de um determinado bem é apenas a demanda solvável, ou seja, tão somente constituída pelos indivíduos que podem pagar o seu preço. Aqueles que não têm renda suficiente para adquirir uma determinada mercadoria estão excluídos da demanda, não obstante dela necessitam.
Ou seja, existe uma segregação econômica que a lógica MALTHUSIANA
(simples e direta, população crescendo em progressão geométrica enquanto que os
recursos crescem em progressão aritmética, sem acompanhá-la) não levou em
consideração.
Segundo Ribeiro e Pechman (1985, p. 9), a razão para que exista um déficit
habitacional é que grande parte da população urbana brasileira está excluída do
mercado da produção de moradias. As razões para isso são simplesmente má
distribuição de renda e produção capitalista de moradias no Brasil, que impõem um
elevado preço no direito de habitar na cidade.
“O déficit habitacional é decorrente do aumento demográfico explosivo nos
grandes centros e é consequência das políticas habitacionais adotadas no País ao
longo dos últimos sessenta anos [...].” (ANDRADE, s.d., p.5).
A repercussão do problema da habitação de interesse social vai além da
simples construção da mesma. Sua solução está ligada a fatores como a estrutura
de renda das classes sociais mais pobres, dificuldade de acesso aos financiamentos
concedidos pelos programas oficiais e a deficiências na implantação das políticas
habitacionais. As habitações de interesse social podem ser melhores e facilitar de
40
muitas formas o dia-a-dia de seus usuários. Muitas vezes, a demanda não é só por
casas de baixo custo, conforme mostrou Ornstein (2006, p.15),
Os padrões que deveriam impor qualidades, tanto à unidade habitacional quanto ao assentamento em si, por vezes não são atingidos porque a seleção de material de baixo custo tem levado a uma rápida deterioração das obras e à ausência de manutenção da qualidade. Essa análise vale também para a infra-estrutura, que na grande maioria dos casos não é implantada, embora haja leis expressas determinando que a venda de qualquer lote urbano só seja aprovada quando o loteamento já tiver construído a infra-estrutura prevista e aprovada pelo município...
Ainda segundo Ornstein (2006, p.16),
O subsídio para produzir uma casa barata, ou lotes semi-urbanizados, não tem sido suficiente para fixar a população e lhe dar oportunidade de desenvolvimento e inserção no mercado de trabalho. Ao contrário, com todo subsídio dado pelos governos, assistiu-se ao longo do tempo ao “passa-se uma casa”, semelhante ao “passa-se um ponto comercial”, com a diferença de que, neste caso, trata-se da troca de local ou tipo de trabalho, e no primeiro, geralmente, de troca de um abrigo por dinheiro, obrigando assim o ex-mutuário a voltar a morar “embaixo da ponte” e de novo engrossar a fila dos sem-teto.
Muitas são as alternativas de diminuição de custos de produção das
habitações que abrigam famílias pobres. Além de medidas que podem ser tomadas
desde a etapa de projeto, as habitações podem ser construídas com racionalização
de uso dos recursos, sem o comprometimento da qualidade do processo ou do
produto acabado.
Conforme mostra Abiko e Coelho (2004), o sistema de ajuda mútua,
denominado mutirão, é uma boa alternativa para a população pobre diminuir os
custos de construção de suas moradias. A razão para esta diminuição de custos
deve-se ao fato de que muitas despesas indiretas que ocorrem no processo
convencional (encargos financeiros e bonificações) não ocorrem no sistema de
mutirão, além de que a compra de materiais de construção, quando feita pela
comunidade, é bastante criteriosa. Os custos totais de construção em regime de
mutirão são aproximadamente 30% inferiores aos do processo convencional.
41
“Por conseguinte, confirma-se a idéia dos defensores desse sistema de
produção de moradias de que o mutirão é uma alternativa eficiente e viável, mesmo
que tenha que ser adaptada ou mesmo descartada em certos casos.” (ABIKO;
COELHO, 2004, p.19).
No Brasil, a ocupação de morros para habitação vem acontecendo em
padrões que variam entre o inadequado e o perigoso. O próprio Estado, em seus
empreendimentos habitacionais de interesse social, passou a ocupar terrenos mais
acidentados, experimentando também sérios problemas nas implantações. Nos
morros, o crescimento desordenado das cidades acumula prejuízos para várias
gerações e torna-se evidente em episódios de desastres e na criação de paisagens
urbanas cada vez mais comprometidas e deterioradas, onde impera a improvisação.
A aquisição da casa própria faz parte do sonho das comunidades de baixa
renda. Mais do que um lugar para morar ou deixar de pagar aluguel, a casa própria é
pré-requisito para cidadania. Infelizmente, o poder público não possui condições de
atender uma demanda crescente que se acumula por anos de políticas que
privilegiam aqueles que possuem condições de comprovação de renda de valores
significativos. Essa ainda é uma grande dificuldade das políticas públicas atuais: a
população mais necessitada não tem acesso às linhas de crédito.
No Brasil, a carência habitacional está concentrada em uma faixa de renda específica. O confronto entre a capacidade de pagamento das famílias e os custos com habitação, o processo de urbanização acelerado, em conjunto com a falta de planejamento adequado que leve em consideração as diversas necessidades e condições econômicas da sociedade fazem com que parcelas consideráveis da população tenham cada vez mais dificuldades de acesso à moradia adequada. (VIRGILIO, 2010, p. 4)
As comunidades devem buscar, através da organização e da união, as
condições para alcançarem não apenas a casa própria, mas a educação, a
profissionalização, a capacitação e o desenvolvimento, a criação de trabalho e
renda. Dessa forma, serão agentes do seu próprio destino e não passivos
receptores de iniciativas externas, que não respondem às suas necessidades
específicas.
Segundo Rodrigues (2009)apud.Virgilio(2010, p. 1), para a maioria dos
brasileiros a casa própria é um bem essencial, somado ao fato de que o valor do
aluguel é bastante oneroso, principalmente para quem pode ficar desempregado.
42
Portanto, a impossibilidade de se obter um imóvel próprio tem levado famílias a
ocuparem assentamentos irregulares, prejudicando até mesmo o meio ambiente.
A construção da moradia é uma grande oportunidade para que o processo de
união e participação se inicie, principalmente, se for feita através do sistema de
construção por mutirão. A comunidade deve assumir o papel de gestora e tomar as
medidas necessárias para que o resultado esteja de acordo com as suas aspirações
e tenha sua marca, sua identidade. Para o melhor funcionamento do programa e
êxito das iniciativas das comunidades, é importante que as pessoas sejam
agrupadas por afinidade: tenham a mesma origem, como um assentamento em
condição de risco, ou potencialidades em comum, como uma habilidade, uma
profissão, ou características familiares e econômicas semelhantes. A atenção a esse
critério contribuiria imensamente na capacidade de comunicação do grupo entre si e
na sua integração como uma comunidade.
Além disso, os valores financiados poderiam cobrir o valor da construção
também de espaços para as atividades de apoio à comunidade como creches,
oficinas de trabalho, centros comunitários e postos de saúde, como também
abranger os equipamentos necessários para a construção dos edifícios, como
betoneiras, pás, martelos, serras e outros.
Atualmente verifica-se que as habitações destinadas à população de baixa
renda, independentemente do agente promotor, dos mecanismos adotados para a
sua produção e das formas de acesso à moradia, continuam necessitando, em
menor ou maior escala, de realizações concretas que levem a melhorias do
desempenho funcional, visando o atendimento às necessidades dos moradores e,
até mesmo, a satisfação destes no contexto da qualidade de vida urbana
(ROMERO; ORNSTEIN, 2003, apud. MARROQUIM; BARBIRATO, 2007).
2.2.2 Política Nacional de Habitação
A primeira política nacional de habitação foi a Fundação da Casa Popular
(FCP), criada pela lei nº 9. 218 de 1º de maio de 1946. No entanto, foi extinta em
43
pouco tempo devido ao pequeno potencial de atender à demanda por unidades
habitacionaisde acordo com o Ministério das Cidades (2004).
Em 1964, início do regime militar, foi criado o BNH, Banco Nacional da
Habitação, logo após o golpe de Estado. Os recursos utilizados pelo BNH
originavam-se do FGTS, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, e do SBPE,
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo. O primeiro é sustentado
compulsoriamente pelas contribuições dos assalariados, enquanto que o segundo é
uma poupança voluntária.O BNH, juntamente com outras instituições privadas e
estatais da esfera federal, formava o SFH, Sistema Financeiro da Habitação. O SFH
tinha a incumbência de atuar na área habitacional sanando os problemas advindos
do acelerado processo de urbanização que ocorreu no Brasil no século XX.
(BONDUKI, s.d.).
Era um modelo centralizado de apoio financeiro à moradia popular, pois as
decisões eram tomadas pelo governo federal. Um dos pontos negativos deste
modelo era o fato de que a concessão do financiamento pelo BNH era feita às
construtoras e não ao usuário final da habitação. O produtor das habitações
interessava-se apenas em atingir custos relativamente baixos, aumentando assim
sua margem de lucro, em detrimento de uma arquitetura mais eficiente. (FREITAS,
2004).
Indiferente à diversidade existente num país de dimensões continentais, o BNH desconsiderou as peculiaridades de cada região, não levando em conta aspectos culturais, ambientais e de contexto urbano, reproduzindo à exaustão modelos padronizados. (BONDUKI, s.d., p.74).
Os construtores podiam se apoderar dos recursos que eram destinados à
habitação e reduziam bastante o custo de modo a aumentarem sua margem de
lucro. Além disso, com o tempo o BNH passou a excluir parcelas significativas da
população de mais baixa renda do atendimento da política nacional de habitação.
Segundo Bonduki (s.d.), o BNH foi criado como uma estratégia dos governos
militares com o intuito de combater idéias comunistas e progressistas no país, pois
criava em cada trabalhador beneficiado com a casa própria um sentimento maior de
direito à propriedade.
Santos apud. Botega (2008) afirmou que o principal ponto fraco do SFH e que
ocasionou na sua extinção não foi o seu desvio de objetivos, mas sim a sua
44
vulnerabilidade às flutuações econômicas que afetassem a inadimplência dos seus
mutuários ou a capacidade de arrecadação do FGTS e do SBPE. No entanto, um
outro agravante acompanhava esta fraqueza dos sistema, que foram os constantes
casos de corrupção verificados ao longo de sua existência.
“[...], havia aqueles que se utilizaram da inadimplência como uma forma de
mascarar práticas de corrupção.” (BOTEGA, 2008, p.10).
E finalmente o BNH foi extinto em 1986, por um decreto sancionado pelo
então presidente na época, José Sarney. A partir de então o órgão, que era tão
centralizador dissolveu-se em vários outros órgãos federais, cada um com uma
função bem definida no SFH, a saber: o BACEN, Banco Central do Brasil (criação de
normas e fiscalização do SBPE), e Caixa Econômica Federal (gestora do FGTS), o
MDU, Ministério do Desenvolvimento Urbano, e Secretaria Especial de ação
comunitária, responsáveis pela política habitacional, entre outros.
O período compreendido entre a extinção do BNH ea criação do Ministério
das Cidades em 2003 caracterizou-se pela falta de uma estratégia nacional bem
definida para enfrentar a questão da habitação, certa instabilidade da política
habitacional, ocorrendo muitas transformações nos órgãos gestores e fiscalizadores
da área, a saber, de acordo com o Ministério das Cidades (2004):
1987 - o MDU é transformado em Ministério da Habitação, Urbanismo
eMeio Ambiente (MHU);
1988 - cria-se o Ministério da Habitação e do Bem-Estar Social
(MBES), em cuja pasta permanece a gestão da política habitacional;
1989 - é extinto o MBES e cria-se a Secretaria Especial de Habitação
e Ação Comunitária (SEAC). As atividades financeiras do Sistema
Financeiro da Habitação (SFH) e a Caixa Econômica Federal (CEF)
passam a ser vinculadas ao Ministério da Fazenda;
1994 - o governo Federal colocou como prioridade a conclusão das
obras iniciadas na gestão anterior e lança os programas Habitar Brasil
e Morar Município, com recursos oriundos do Orçamento Geral da
União e do Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras
(IPMF);
1995 - é realizada uma reforma no setor da política habitacional, com
a extinção do MBES e a criação da Secretaria de Política Urbana
45
(SEPURB) no âmbito do Ministério do Planejamento e Orçamento
(MPO);
2003 – criação do Ministério das Cidades pelo presidente Luís Inácio
Lula da Silva, que passa a ser o órgão responsável pela Política de
Desenvolvimento Urbano e, dentro dela, pela Política Setorial de
Habitação
A partir deste momento a Política de Habitação passa a ter um caráter mais
participativo e democrático.
A Política de Habitação se inscreve dentro da concepção de desenvolvimento urbano integrado, no qual a habitação não se restringe a casa, incorpora o direito à infra-estrutura, saneamento ambiental, mobilidade e transporte coletivo, equipamentos e serviços urbanos e sociais, buscando garantir direito à cidade (Ministério das Cidades, 2004).
Em 2005 o Ministério das Cidades instituiu o Sistema Nacional de Habitação
de Interesse Social (SNHIS) e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social
(FNHIS). O primeiro era responsável pela coordenação de programas e projetos de
habitações populares, o segundo gerenciava os recursos destinados à moradia.
2.2.3 Programas do governo
São muitos os programas do governo para suprir a necessidade de
habitações populares, entre os quais pode-se citar:
Programa Minha Casa Minha Vida–Este programa vai viabilizar crédito para a
construção de um milhão de moradias para famílias com renda de até 10 salários
mínimos. Conta com a colaboração de Estados, Municípios e também com a
iniciativa privada (MORAES, s.d.).
46
[...]. Com isso, criou-se um patamar de recursos inédito, que gera desafios excepcionais para a cadeia produtiva da construção civil, para a capacidade de gestão dos agentes públicos e privados envolvidos com a produção habitacional e para a política urbana e fundiária das cidades brasileiras (CARDOSO; BONDUKI, 2009, p.6).
De acordo com Oliveira (2010) o pacote do programa “Minha Casa Minha
Vida”, lançado em março de 2009, não está respeitando como deveria o déficit
habitacional das famílias que estão na faixa de zero a três salários mínimos. São
400 mil casas que beneficiaram aqueles que estão dentro desta faixa, quando na
verdade deveriam ser 900 mil.
Segundo o site oficial do programa (www.minhacasaminhavida.gov.br), a
construção das moradias, entre casas e apartamentos, será distribuída por região
conforme a tabela I.
Tabela I – Distribuição de moradias por região.
Região Moradias Percentual (%)
Norte 103.018 10,3
Nordeste 343.197 34,3
Centro-oeste 69.786 7,0
Sudeste 363.894 36,4
Sul 120.016 12,0
Total 1.000.000 100,0
Fonte: www.minhacasaminhavida.gov.br.
PlanHab - Plano Nacional de Habitação.Etapa essencial de implantação e
consolidação da Política Nacional de Habitação, foi elaborado pelo Governo Federal,
através da Secretaria Nacional de Habitação (SNH), em agosto de 2007. O objetivo
dessa iniciativa é orientar o planejamento das ações públicase privadas que visam
melhor direcionar os recursos para atender às demandas habitacionais
(FERNANDES; SILVEIRA, s.d.).
“Um dos aspectos centrais desse plano é o processo participativo, o que pode
ser verificado pela realização de seminários regionais, reuniões técnicas, oficinas e
consultas aos conselhos de participação e controle social da área habitacional.”
(FERNANDES; SILVEIRA, s.d., p.9).
47
De acordo com Cardoso e Bonduki (2009) o PlanHab definiu quatro eixos
prioritários: o financeiro; o urbano-fundiário; o institucional; e o da cadeia produtiva
da construção civil.
O PlanHab é parte de um processo de planejamento de longo prazo do
Governo Federal, que pressupõe revisões periódicas e articulação com outros
instrumentos de planejamento e orçamento, como o Plano Plurianual (PPA).
O processo participativo é um dos pilares constitutivos do Plano Nacional de
Habitação. No processo de elaboração são realizados seminários regionais,
reuniões técnicas, oficinas e consultas aos conselhos de participação e controle
social da área habitacional, como forma de formular uma proposta coerente e
pactuada com todos.
PAC - É a sigla para Programa de Aceleração do Crescimento. É um plano do
governo federal que visa promover o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No
que tange ao setor habitacional, o programa trás investimentos em infra-estrutura e
estímulo ao crédito e financiamento (FERNANDES; SILVEIRA, s.d.).
Estimular o crescimento da economia brasileira, através do investimento em
obras de infraestrutura (portos, rodovias, aeroportos, redes de esgoto, geração de
energia, hidrovias, ferrovias, etc.). O PAC foi lançado pelo governo Lula no dia 28 de
janeiro de 2007, prevendo investimentos da ordem de 503,9 bilhões de reais até o
ano de 2010.
O capital utilizado no PAC é originário das seguintes fontes principais:
recursos da União (orçamento do governo federal), capitais de investimentos de
empresas estatais (exemplo: Petrobrás) e investimentos privados com estímulos de
investimentos públicos e parcerias.
Ao lançar o PAC, o governo federal anunciou uma série de medidas cujo
principal objetivo é favorecer a implementação dos projetos. Entre estas medidas,
podemos citar a desoneração tributária para alguns setores, medidas na área
ambiental para dinamizar o marco regulatório, estimulo ao financiamento e crédito,
medidas de longo prazo na área fiscal.
Em fevereiro de 2009, o governo federal anunciou um aporte de 142 bilhões
de reais para as obras do PAC. Estes recursos extras visam gerar mais empregos
no país, diminuindo o impacto da crise mundial na economia brasileira.
48
2.2.4 Critérios mínimos de desempenho para habitações térreas de interesse
social
A avaliação de desempenho consiste em prever o comportamento potencial
do sistema construtivo ao longo de seu uso, tomando-se duas vertentes: as
exigências dos usuários e as condições de exposição da habitação. Essas duas
premissas se traduzem, neste trabalho, em seis exigências dos usuários:
desempenho estrutural, estanqueidade à água, segurança ao fogo, conforto térmico,
conforto acústico e durabilidade.
Segundo Berto (s.d.), do ponto de vista de segurança ao fogo, a existência de
muitas aberturas nas casas pode ser um aspecto positivo, visto que um eventual
incêndio pode ser controlado pela pouca ventilação. A taxa de combustão é
proporcional ao suprimento de ar através das aberturas para o exterior.Para as rotas
de fuga, no caso de um incêndio, todos os cômodos da residência devem possuir
duas saídas, sendo uma delas uma janela que não precisa de ferramenta para ser
aberta por dentro.
O desempenho estrutural deve ser de tal forma a evitar tanto a ruptura de
peças de sustentação (o que leva ao colapso geral da edificação) como também
evitar o desconforto visual e a sensação de insegurança ou de risco iminente pelo
usuário da habitação.
O desempenho estrutural do edifício habitacional deve ser avaliado tanto do ponto de vista de segurança, ou seja, do estado limite último, como do ponto de vista de utilização, considerando-se a deformação dos elementos, fissuração e demais falhas que possam comprometer outras exigências, tais como estanqueidade à água e durabilidade. (FILHO, s.d., p.8).
Os requisitos e critérios de desempenho referentes ao conforto acústico são
descritos nas normas do IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de modo a prever
duas situações da habitação: conjunto fachada/cobertura de dormitório ou sala de
estar e parede comum a casas geminadas ou conjunto de parede comum e forro
passante em casas geminadas. No primeiro caso o isolamento sonoro mínimo é de
30dB(30 decibéis) e no segundo caso é de 45dB (45 decibéis), de acordo com
Baring, s.d.
49
A análise sobre o desempenho térmico é feita considerando a resposta global
da edificação e não somente o comportamento térmico de elementos de vedação
isoladamente.
Para Akutsuet. al. (s.d.), no Brasil há duas formas de avaliar o conforto
térmico, que é por meio de softwares de simulação de comportamento térmico ou
por meio direto, as medições. No processo de avaliação, inicialmente é feita uma
caracterização das exigências humanas, que leva em consideração a norma
ISO7730.
“Essa norma estabelece que as condições ambientais internas de um recinto
devem ser tais que pelo menos 80% dos seus ocupantes expressem satisfação em
relação ao ambiente térmico”. (AKUTSU et. al., s.d., p.36).
Posteriormente parte-se à caracterização das condições climáticas,
caracterização da edificação e de sua ocupação e caracterização do comportamento
térmico da edificação.
A estanqueidade à água é um item importante, pois a água é um forte
agravante dos problemas que atingem uma edificação. A umidade pode propiciar o
desenvolvimento de fungos e a consequente manifestação de doenças bronco-
pulmonares aos usuários de uma habitação. Além disso, a umidade pode
desencadear muitos processos degenerativos, tais como fissuras, desagregações,
lixiviação, corrosão de metais, apodrecimento de madeiras, etc.
De acordo com Thomaz e Cavani, s.d., o critério de estanqueidade à água
para as fundações é único: as fundações da habitação não devem permitir a
passagem de umidade do solo para a superestrutura, ou seja, para as paredes, piso,
etc.Já os critérios para as fachadas dependem de fatores como a existência de
beirais acima ou abaixo de 50cm, condições de exposição, região do Brasil onde se
localiza a edificação, entre outros.
As normas de desempenho diferem das normas prescritivas, mas não
competem com elas. Enquanto as normas prescritivas ocupam-se de produtos com
funções específicas e exatamente definidas, as normas de desempenho enfocam a
construção como um todo.
50
3 ESTUDO DE CASO
3.1 MUNICÍPIO DE FEIRA DE SANTANA
3.1.1 Origem
Existem vários registros sobre a origem do município, sendo que não há uma
informação totalmente precisa. Sabe-se apenas que o município de Feira deSantana
teve sua origem num contexto ligadoà criação de gado, por volta do século XVI.
Alguns estudiosos que tentam explicar o seu surgimento afirmam que tudo começou
coma doação da sesmaria de Tocós, por Tomé de Souza, primeiro governador do
Brasil, aAntonio Guedes de Brito, português criador de gado.
Para Galvão apud. Carmo (2009, p. 107), houve concessões de terras pelo
governo-geral a João Peixoto Viegas e sua família em 1619, que se estabeleceram
na casa de São José das Itapororocas originando o que se chama hoje de distrito de
Maria Quitéria.
De acordo com Almeida (2002, p.254), “A população da Região de Feira já
existia desde o alvorecer do século XVII – 1619, 1634 e 1665 – quando o
desbravador João Peixoto Viegas adquiriu as terras das Itapororocas, Jacuípe e
Água Fria.”
Segundo Carmo (2009, p. 105),
..., a visão mais disseminada por vários historiadores considera que o município de Feira de Santana surgiu na fazenda pertencente ao casal Domingos Barbosa Araújo e Ana Brandão, localizada a três léguas de São José das Itapororocas, após ser erguida uma capela em louvor a São Domingos e Santana, que era freqüentada pela população local, por vaqueiros, tropeiros e viajantes, dentre outros, em pouso ou passagem com destino à vila de Cachoeira e à capital da Província.
51
Segundo fontes historiográficas, com a expansão do plantio de cana-de-
açúcarno Recôncavo baiano, a produção pecuária passou a se instalar no interior da
província, mais próxima dos suprimentos (boas pastagens, fontes d’água, etc.).As
manadas aumentavam e com isso a exploração pecuária no interior do Estado da
Bahia. As comitivas que conduziam o gado objetivavam chegarà chamada “Feira do
Capuame”, que foi um evento criado por Francisco Dias D’Ávila, que recebera terras
de Tomé de Souza e tornou-se um dos maiores criadores de gado da região. No
entanto, as terras do Capuame detinham as condições ideais para a produção de
cana-de-açúcar e a exploração deste produto era a principal fonte de renda da
Colônia, sendo a feira por este motivo redirecionada para outras regiões, ao final do
século XVIII. Uma destas feiras ocorreu onde hoje se assenta a atual cidade de
Feira de Santana, que foi uma das mais importantes feiras do gado do Brasil.
Segundo Poppinoapud. Carmo (2009, p.109), há três razões para este fato:
localização com melhor acesso ao Recôncavo, às pastagens do Mundo Novo, à
Jacobina e ao médio São Francisco; Feira de Santana era um povoado rodeado de
excelentes pastagens naturais, além de possuir suprimento de água suficiente para
grandes rebanhos.
Assim, com o crescente afluxo de pessoas, caravanas de tropeiros, “vaqueiros encourados” e aumento do prestígio político e religioso de São José das Itapororocas, instalaram-se pequenas feiras livres e de gado nas cercanias de quatro fazendas, uma delas, a fazenda Santana Dos Olhos d’Água, situada no eixo onde atualmente localiza-se a cidade de Feira de Santana (CARMO, 2009, p.112).
A fazenda era denominada assim por estar localizada numa região onde
havia muitas nascentes d’água. Era propriedade da família Brandão, onde, no século
XVIII, foi erguida uma capela, em torno da qual se concentraram vários casebres,
feiras livres que dinamizavam o comércio e vários caminhos de boiadas passavam
pela localidade.
“O sítio, em redor da capela, tornou-se um ponto de convergência e repouso
para transeuntes, tropeiros e boiadeiros que ali pernoitavam e no outro dia, bem
cedinho, rumavam em direção aos portos da Cachoeira e Santo Amaro.” (ALMEIDA,
2002, p.253).
Com tudo isso, a localidade passou a ser um povoado, que cresceu tornando-
se uma vila separando-se do município de Cachoeira. Mais tarde, já no século XIX,
52
pela Assembléia Provincial eleva-se à condição de Curato, depois é reconhecida
legalmente como Comarca e “Cidade Comercial de Sant’Anna”. Finalmente, em
1938, passa a se chamar Feira de Santana.
Na década de 30, o gado e o comércio ainda eram as principais atividades da
cidade. “No limiar da década de 30 a Feira Livre e o Campo do Gado eram os dois
símbolos maiores da Cidade. Também em torno dos dois giravam os braços da
economia e do lazer” (LAJEDINHO, 2004, p.17). A Feira Livre e o Campo do Gado
se localizavam relativamente próximas, o que causava certos problemas, como a
fuga de bois para o centro da cidade causando alvoroço nas feiras livres.
Quando um boi corria em direção a uma ponta-de-rua ou ao mato, sempre perseguido por vaqueiros profissionais e diletantes, tudo se transformava em brincadeira, diversão. Mas quando um boi tomava a direção do centro da cidade, certamente ia parar no meio da Feira Livre, porque o caminho natural era a Avenida senhor dos Passos. [...] Além dos prejuízos financeiros, havia a tragédia oriunda do pânico do povo que se atropelava, deixando um saldo de feridos e algumas vezes mortos. (LAJEDINHO, 2004, p.19)
3.1.2 Aspectos gerais da cidade de Feira de Santana
Segundo Carmo (2009, p.130), Feira de Santana reúne 17 municípios,
incluindo a própria cidade, com uma população estimada em 542.476 habitantes ao
final de 2010, segundo fontes do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
e SEI. É atualmente denominada “Portal do Sertão” depois de ter recebido vários
cognomes como “Porta Áurea da Bahia” por Pedro Calmon, “Cidade Patriótica”, por
Maria Quitéria, entre outros.
De acordo com Conserva e Gama (2002), o município de Feira de Santana
localiza-se na fronteira do recôncavo baiano com o tabuleiro semi-árido da região
Nordeste, ocupando uma área de 1.338,1 km2. As coordenadas geográficas da
cidade são 12º15’24” de latitude sul e 38º 57’ 53” de longitude oeste, com uma
altitude de 234 metros e fuso horário de três horas a menos em relação ao
meridiano de Greenwich.
53
Feira de Santana é uma cidade de porte médio não metropolitana, limita-se
com os municípios de Candeal, Santa Bárbara e Tanquinho, ao norte, Antonio
Cardoso e São Gonçalo dos Campos, ao sul, Conceição do Jacuípe, Coração de
Maria e Santanópolis, ao leste, Anguera, Ipecaetá e Serra Preta ao oeste. O
município atualmente é constituído, além da sede, por 8 distritos: Bomfim de Feira,
Governador João Durval Carneiro, Humildes, Jaguara, Jaíba, Maria Quitéria,
Matinha, Tiquaruçu. (CARMO, 2009).
A principal atividade econômica da cidade é o comércio. Conforme ilustra a
Figura 4 a cidade é passagem obrigatória para quem transita entre o Norte,
Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, o que proporciona ao município o título de maior
entroncamento rodoviário do norte e nordeste do Brasil. Isso é possível graças à
existência de três rodovias estaduais e três rodovias federais que passam pelo
território da cidade, as BRs 101, 116 e 324.
Figura 4 - Mapa de localização do sistema viário de Feira de Santana. Fonte: Carmo, 2009.
... portanto, se configurando como um importante entroncamento entre a capital Salvador e as demais cidades do interior do Estado. Neste sentido, pode-se inferir que este foi um dos diversos fatores que contribuíram para o processo de crescimento e urbanização desta determinada cidade (PAIXÂO et. al., 2008)
54
De acordo com Conserva e Gama (2002), Feira de Santana possui uma bacia
hidrográfica formada pelos rios Pojuca, Subaé, Jacuípe e seus afluentes. A cidade
possui cerca de 60 lagoas, sendo que as mais conhecidas na cidade são Lagoa do
Subaé, Lagoa da Mangabeira, Lagoa do Prato Raso, Lagoa da Pindoba, Lagoa da
Tabua, Lagoa Grande e Lagoa Salgada.
O clima semi-árido da região proporciona em algumas épocas longas
estiagens, um grande problema para a população, visto que a política
governamental nunca demonstrou interesse em solucionar devidamente o problema,
mas sim em se aproveitar da situação, conforme mostra Carmo (2009, p.143),
Calamidade pública decorrente da seca do Nordeste sempre foi uma constante, e a solução para este problema secular não ocorrerá com as intervenções paliativas implementadas pelos poderes públicos. Tempo passando, e o povo que habitava esta região constantemente a reivindicar favores, submetendo-se ao atendimento assistencialista de programas formulados com um objetivo de gerar um modelo de dependência em relação às políticas públicas governamentais.
De acordo com dados do IBGE, nos últimos 10 anos houve um grande
avanço nas construções e financiamentos de imóveis em Feira de Santana, que está
expandindo bastante sua área urbana. Basta ver que muitos condomínios estão
sendo construídos na periferia. É uma expansão física no sentido do centro para a
periferia.
Segundo Ferraz (2010, p. 57) “O motivo desse avanço foi a estabilidade
econômica do país, a redução das taxas de juros e o incentivo ao setor imobiliário
por parte do Governo Federal e de bancos privados, através de financiamentos.”
3.1.3 Como surgiram os Conjuntos Habitacionais de Feira de Santana
A população urbana de Feira de Santana aumentou consideravelmente entre
as décadas de 60 e 70, devido ao grande fluxo migratório ocorrido neste período. A
cidade não possuía estrutura suficiente para abrigar tantas pessoas, resultando
então no surgimento de assentamentos precários (Carmo, 2009, p.158).
55
As políticas habitacionais praticadas durante o regime militar não foram
suficientes para sanarem o problema habitacional no país.
[...], ocorreu um intenso processo de urbanização informal e selvagem, onde a grande maioria da população, sem qualquer apoio governamental, não teve alternativa senão auto-empreender, em etapas, a casa própria em assentamentos urbanos precários, como loteamentosclandestinos e irregulares [...]. (BONDUKI, s.d., p. 74)
Para Santo apud. Carmo (2009, p.168), “Feira de Santana não disponibilizava
de um instrumento de planejamento urbano. Por tal razão, a cidade crescia de forma
espontânea, sem observância às Leis e Normas que regulam o uso e ocupação do
solo.”
Segundo Paixão et al.(2008), não havia políticas públicas que pudessem
gerar oportunidades de trabalho, o que acarretou grandes movimentações internas e
externas de migrantes para a cidade. No campo, as propriedades rurais não tinham
mais suporte para crescerem e se expandirem. O resultado foi a expansão de forma
desordenada da cidade.
Uma parte destes migrantes desfazia-se de seus bens e vinham para Feira de Santana, contribuindo também com a pressão urbana os deslocamentos de populações dentro do próprio município, ou seja, dos distritos e povoados em direção a sede por falta de opções de trabalho e porque a qualidade da terra, seu preço e estrutura fundiária não permitiam a expansão dos minifúndios e da produção rural. (PAIXÃO et al., 2008)
A industrialização atraía muita gente para o centro da cidade. A cidade estava
crescendo muito horizontalmente. Com o tempo o centro urbano não tinha como
acomodar toda a população de migrantes e a solução para os que tinham menos
recursos era estabelecer moradia em áreas anexas, fazendo uma transição
gradativa entre as áreas puramente rurais e o perímetro urbano, ou seja, um
processo de conurbação. A população passou a se instalar na periferia, em locais
sem infraestrutura, insalubres e de proteção ambiental, sem observar as leis ou
normas de uso e ocupação do solo.
56
[...] a maior parte dos loteamentos irregulares foi criada pelo Plano Municipal de Habitação Popular (Planolar), com o objetivo de promover a ocupação de áreas públicas do município. Ação que foi implementada sem a adoção de um ordenamento e de infraestrutura básica nas áreas ocupadas. (CARMO, 2009, p.171).
Segundo Carmo (2009), o governo municipal de Feira de Santana, através do
Planolar, entre os anos de 1977 e 1982, construiu 600 unidades, que foram
distribuídas em sete núcleos habitacionais populares: França, Caribe, Campo Limpo,
Gabriela, Aviário, Jardim Icó, e Jardim Sucupira. Mas a construção de moradias pelo
Planolar em Feira de Santana não parou por aí. Muitos outros loteamentos foram
construídos no período de 1988 a 1992, como o Tomba, Jussara, Aviário, Alto do
Papagaio, Gabriela, Queimadinha, Rocinha, Novo Horizonte, Santo Antonio dos
Prazeres, Rua Nova, etc.
3.2 CONJUNTO HABITACIONAL PAULO GANEMSOUTO
3.2.1 Caracterização e Aspectos gerais
Por meio do decreto nº 7.288, de 11 de abril de 2007, o então prefeito José
Ronaldo de Carvalho aprovou o Loteamento Popular e Conjunto Residencial Paulo
Ganem Solto, situado no bairro Aviário, de propriedade da Prefeitura Municipal de
Feira de Santana. Conforme mostra a figura 5, localiza-se em frente ao Presídio
Regional da cidade, limitando-se com a RuaOlney Alberto São Paulo, também
denominada Estrada do Aviário.
57
Figura 5 - Localização do loteamento Paulo Souto. Fonte: Secretaria de Planejamento de Feira de Santana.
O loteamento possui uma área de 77.972,22m2, sendo 43.234,99m2dos lotes
residenciais distribuídos nas quadras A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, L, e M. Para o
sistema viário (ruas e passeios) fora destinada uma área de 24.519,49m2, para a
quadra esportiva foram destinados 1.128,07m2, para a implantação de uma futura
escola foi destinada uma área de 2.226,74m2, para a implantação de uma praça foi
destinada uma área de 6.207,77m2, para a construção de um centro comunitário,
533,87m2 e foi destinada uma área de 121,29m2 para a área verde.
O conjunto habitacional Paulo Solto possui 12 quadras, com áreas e
quantidades de lotes conforme descrição na tabela abaixo.
58
Tabela II - Resumo das quadras.
Quadra Área (m2) Quantidade de lotes
A 4495,73 40
B 2513,67 19
C 3674,07 34
D 2460,24 23
E 3530,39 32
F 4367,33 40
G 4970,48 47
H 5121,67 48
I 5192,46 48
J 5270,85 50
L 780,06 7
M 706,01 7
Total 43082,96 395
Fonte: Secretaria de Planejamento de Feira de Santana.
A disposição das quadras, praça e outras áreas do loteamento encontra-se
descrita na figura 6.
Figura 6 - Partido urbanístico do loteamento Paulo Ganem Souto. Fonte: Secretaria de Planejamento de Feira de Santana.
59
Cada casa é composta basicamente de quatro cômodos, sendo uma sala de
9,21m2, uma cozinha de 4,26m2, uma circulação de 2,14m2, um banheiro de 2,04m2
e um quarto de 8,23m2, totalizando 25,88m2. Possui também uma pequena área de
serviço externa, conforme mostra a figura 7.
Figura 7 - Planta baixa de casa do loteamento Paulo Souto (Padrão Habitacional tipo 3daPrefeitura Municipal de Feira de Santana).
Fonte: Secretaria de Planejamento de Feira de Santana.
3.2.2 Situação Atual do Bairro
Foi feita uma primeira visita ao loteamento Paulo Souto, com o objetivo de
conhecer o local, buscando informações gerais. As informações procuradas
inicialmente eram basicamente as seguintes: aparência geral do loteamento,
existência de comércio, aparênciadas fachadas, existência deruas pavimentadas,
tipo de acesso (restrito ou aberto), condições das ruas de acesso, do abastecimento
de água e coleta de lixo e esgoto, etc. Não havia ainda material descritivo em
mãos.Por isso, não foi possível neste primeiro momento conhecer todos os limites e
ruas principais do loteamento. Até onde pôde ser visto, foi possível constatar
60
apenasalgumas informações importantes. Os mecanismos principais de bem estar
social do loteamento são a praça pública e a quadra esportiva (figuras 8 e 9).
Figura8 – Local destinado à construção da futura praça do loteamento.
Figura 9 – Quadra esportiva do loteamento.
Era possível perceber grande variação de aparência de fachadas, mas
existiam também casas cujo padrão se repetia, caracterizando a existência de uma
tipologia de projeto e possibilitando concluir que houve modificações nas
demaisfachadas (figura 10).
61
Figura 10 – Seqüência de casas padronizadas do loteamento Paulo Souto.
Foi feita uma segunda visita de observação técnica no dia 21 de outubro de
2010, agora com material descritivo (planta de localização, partido urbanístico,
planta baixa, planta elétrica, etc.) à disposição, fornecido pela Secretaria de
Habitação e Secretaria de Planejamento. Com isso, foi possível constatar inúmeras
modificações no padrão das casas: mudança no revestimento de algumas fachadas
(como colocação de pastilhas cerâmicas ou pinturas diferentes da original), levante
de muro, construção de garagem, adequação de fachada frontal para comércio,
ampliação lateral, entre outras, como mostra a figura 11.
Figura 11 - Fachadas modificadas de padrão habitacional do loteamento Paulo Souto.
Pode-se observar também que existem casas que foram adaptadas como
pontos comerciais. São mercadinhos, armarinhos, bares e pequenas lojas (figura
12).
62
Figura 12 – Casa que foi adaptada para funcionar como um bar.
Foi constatado que a associação de moradores do bairro não funcionava mais
e o local destinado a sua sede estava completamente abandonado, sem portas e
janelas, nem mobília. (figura 13).
Figura 13 – Sede da associação comunitária do loteamento, completamente abandonada.
Outro ambiente público que merece destaque é a quadra esportiva, que,
segundo os próprios moradores do bairro, é o ponto de encontro de marginais e o
cenário de brigas violentas e até assassinatos (figura 9).
O espaço destinado à construção da futura escola é um terreno baldio,
completamente inalterado, onde as pessoas jogam o lixo proveniente de suas casas
(figura 14).
63
Figura 14 – Espaço destinado à construção da futura escola.
3.2.3 Avaliação Técnica
O padrão das casas evidencia uma grande preocupação construtiva com a
racionalização de materiais e processos, mas não com o conforto pós-uso. O bloco
utilizado para o levante de alvenaria é o de concreto, que dispensa os revestimentos
de chapisco e reboco. Esta opção trás grande economia de argamassa de
assentamento e demanda menos tempo da produção, principalmente quando se
constrói em larga escala.
Do ponto de vista estrutural, o material utilizado foi uma ótima escolha,
embora não haja grandes riscos quando se trata de habitações térreas de pequenos
vãos. Do ponto de vista das áreas, todos os cômodos estão de acordo com os
critérios mínimos legais previstos no código de obras da cidade.
Para o quesito estanqueidade à água estava previsto no planejamento da
obra a impermeabilização do contrapiso. No entanto, segundo entrevistas informais
com pessoas que participaram da construção, não houve impermeabilização das
casas construídas em regime de mutirão.
O contraste entre as unidades habitacionais é notável, sendo que algumas
casas passaram por tantas alterações que fugiram totalmente do padrão original. A
maioria delas sofreu ampliações, o que já estava previsto no projeto. Nota-se, então,
64
que o projeto contemplou a flexibilidade espacial. No entanto, algumas unidades
que foram ampliadas se aproximaram muito das unidades vizinhas, o que pode
gerar problemas quanto ao conforto acústico e a privacidade dos moradores.
O terreno destinado à praça ainda está aquém das expectativas para um
ambiente de lazer: não há iluminação, paisagismo, urbanismo ou assentos para as
pessoas. A praça não é pavimentada, é apenas um terreno grande, com bancos e
traves de futebol improvisados de madeira (figura 8).
As ruas não são pavimentadas, nem possuem mecanismos de drenagem das
águas pluviais, portanto quando chove formam-se várias poças d’água, que ficam
acumuladas por vários dias após as chuvas. (figura 15)
Figura 15 – Poças d’água em rua do loteamento, após quatro dias de chuva.
A localização do loteamento dificulta o acesso dos moradores aos
mecanismos de bem estar social. Nas entrevistas informais realizadas com os
moradores, pôde-se constatar que não há creches, escolas, nem postos de saúde
dentro dos limites do conjunto Paulo Souto. As crianças precisam de se deslocar a
pé para as escolas nos bairros vizinhos, pois não há uma linha de transporte
escolarpúblico.
O trajeto dos ônibus coletivos não contempla o interior do loteamento,
limitando-se ao seu contorno, o que força muitos usuários deste transporte a se
deslocarem muito para chegarem aos pontos de ônibus.
65
3.3 LEVANTAMENTO DA POPULAÇÃO AMOSTRAL
A amostra deve ser a mais representativa possível, deve refletir a totalidade
da população. Para isso existe um número mínimo de unidades escolhidas e uma
estratégia de escolha destas unidades, de modo a caracterizar os elementos da
amostra. 78 casas que fazem parte da amostra, segundo os cálculos estatísticos já
realizados. Analisando-se o mapa da figura 3, no loteamento as fachadas frontais
das habitações estão, em geral, orientadas segundo três direções: norte-sul, leste-
oeste e nordeste-sudoeste. Esta orientação geográfica diversificada pode causar
diferenciação na captação de luz natural e na ventilação, conforme já visto no item
conforto ambiental da revisão bibliográfica. Portanto, um dos aspectos que foi
considerado para a escolha da amostra foi a orientação geográfica das casas.Para
evitar conclusões tendenciosas foram contempladas de forma igual casas que se
encontravam em todas as situações de orientação geográfica expostas.
Além da orientação geográfica, outro fator importante a se considerar é a
existência de casas muito modificadas e casas que sofreram poucas alterações,
conservando em grande parte o padrão original. Esta dualidade deve ser levada em
consideração, pois pode refletir o ponto de vista do usuário a respeito de sua
moradia. No entanto, a realização de modificações em sua moradia pode significar
também uma melhoria das condições financeiras do morador. Procurou-se, então,
distribuir equitativamente a amostra, sendo metade dela composta por habitações
que sofreram muitas modificações e a outra metade composta por unidades menos
modificadas.
Não se pode ignorar o fato de que a proximidade ou não com as áreas
comuns pode resultar em avaliações diferentes acerca de um mesmo item. Por isso,
a amostra deve contemplar casas mais afastadas e casas mais próximas do centro
do bairro, que é onde se localizam as áreas destinadas à futura escola, quadra
poliesportiva, centro comunitário e praça.
Para a amostra também deve ser levado em consideração o fato de que uma
grande parte do conjunto habitacional foi construída em regime de mutirão e a outra
parte (quadras I, J e parte da quadra F) foi gerenciada pelaCaixa Econômica Federal
(CEF).
66
Com base nos critérios expostos, foram adotadas regiões de abrangência da
amostra, conforme mostra a figura 16.
Figura 16 – Regiões de abrangência da amostra.
Dentro destas regiões de abrangência foram escolhidas, no momento da
aplicação do questionário, as casas que fazem parte da amostra. Algumas pessoas
se recusavam a preencher o questionário, além de algumas casas se encontrarem
permanentemente fechadas.
Deve-se a este motivo a falta de regularidade/equitatividade na distribuição
física das unidades amostrais, conforme pode ser visto no mapa da figura 17.
Figura 17 – Unidades que responderam o questionário.
67
4 APRESENTAÇÃOE ANÁLISE DOS RESULTADOS
O questionário preenchido pelos moradores tinha que ser o mais claro
possível, visto que o nível de escolaridade esperado do público alvo, em sua
maioria, era baixo ou muito baixo, fato confirmado anteriormente nas visitas
técnicas. No dia10 de abril de 2011 foi aplicado um questionário pré-teste em cinco
casas com o objetivo de avaliar a estrutura do questionário, sua viabilidade e a
necessidade de adequações. Foi constatado que alguns itens do questionário não
estavam bem claros para algumas pessoas. Portanto, o questionário sofreu
modificações para ficar mais claro e atender melhor ao seu objetivo de captar a
opinião real dos respondentes acerca do loteamento onde moram. Algumas pessoas
estavam em seus afazeres domésticos e, por isso, não podiam demorar muito tempo
participando da pesquisa. Daí surge outra necessidade do questionário que foi
contemplada, a praticidade: o questionário é relativamente pequeno, possuindo
apenas duas páginas em uma folha de papel A4. Além disso, é fácil de ser
preenchido, pois dispensa escrita de qualquer palavra ou texto, requerendo do
respondente apenas a marcação de uma letra “X” na opção desejada. Durante o
pré-teste observou-se também que as pessoas não sabiam o significado de algumas
palavras, embora pareçam tão simples para estudantes da área de engenharia. Por
exemplo, a expressão “umidade e bolor” ainda precisava ser explicada para algumas
pessoas, que não sabiam o que significava. Por isso, a expressão “problemas de
umidade e bolor”, que apareceria no último item da questão oito, foi substituída pela
expressão “problemas nas paredes e nos móveis por causa daágua”; “luz natural” foi
substituída por “luz de dia”, “lazer” por “diversão”. O terceiro item da questão 7
(“creche”) foi retirado do questionário, pois não se aplica ao loteamento estudado
(ver apêndices A e B).
Nos dias 07 e 08 de maio e 08 e 11 de junho foi aplicado o questionário
definitivo, com todas as suas alterações. Foramescolhidas 78 habitações,
obedecendo às regiões de abrangência propostas no planejamento, conforme
mostram os mapas das figuras 13 e 14.
68
A primeira parte do questionário, que são as questões 1, 2 e 3, consiste numa
caracterização do usuário da habitação e das pessoas que moram com ele. Os
resultados obtidos estão apresentados na tabela III.
Tabela III – Caracterização dos respondentes – freqüências absoluta e relativa.
QUESTÃO 1 Fabs Frel
gênero
homem 19 24,36%
mulher 59 75,64%
idade
15 a 25 anos 15 19,23%
26 a 45 anos 50 64,10%
46 a 55 anos 11 14,10%
56 anos ou mais 2 2,56%
tempo de moradia
0 a 3 meses 2 2,56%
4 a 6 meses 16 20,51%
7 a 9 meses 1 1,28%
10 meses ou mais 59 75,64%
escolaridade
1ª a 4ª série 21 26,92%
5ª a 8ª série 35 44,87%
1ª a 3ª ensino médio 21 26,92%
nível superior 1 1,28%
QUESTÃO 2 Fabs Frel
número de pessoas
1 a 3 35 44,87%
4 a 5 29 37,18%
6 a 7 11 14,10%
8 ou mais 3 3,85%
moradia anterior
casa 34 43,59%
outro loteamento 3 3,85%
aluguel 41 52,56%
outros 0 0,00%
transporte usado
moto 2 2,56%
ônibus 63 80,77%
carro 2 2,56%
bicicleta 10 12,82%
outros 1 1,28%
69
QUESTÃO 3 Fabs Frel
registrado com CT 29 37,18%
autônomo 29 37,18%
sem renda 26 33,33%
aposentado 9 11,54%
Como se pode ver, a maioria dos respondentes que foram encontrados em
casa eram mulheres. Esta maioria tem idade entre 26 e 45 anos, reside há mais de
10 meses no local, tem um nível de escolaridade entre a quinta e oitava série do
ensino fundamental. O transporte coletivo é o mais utilizado pela população do
bairro,seguido da bicicleta. As pessoas do bairro, em sua maioria moravam antes de
aluguel.
A segunda parte do questionário, que são as questões 4, 5, 6 e 7, procura
caracterizar o conjunto como um todo e captar a opinião do respondente sobre
alguns itens relevantes.
Tabela IV – opinião dos respondentes sobre a existência de alguns serviços importantes no bairro
QUESTÃO 4 Fabs Frel
posto de saúde 0 0,00%
creche 0 0,00%
quadra de esportes 43 55,13%
escola 0 0,00%
comércio em geral 24 30,77%
praça 9 11,54%
De acordo com a tabela IV, percebe-se um fato curioso, que é a existência ou
não do comércio, segundo a opinião dos moradores. Foi constatado nas visitas ao
local que existem mercadinhos, oficinas, pequenos armarinhos e bares. No entanto,
metade da amostra ignora este comércio local, talvez pelo fato de ser muito pequeno
e não atender todas as suas necessidades, ou por terem uma concepção diferente
de comércio. O mesmo acontece com a praça, sendo que a maioria não considera
que existe uma praça no bairro, enquanto que uma pequena parte da amostra
entende de imediato que a expressão “praça” está se referindo ao ambiente central
do loteamento, mesmo que este não seja pavimentado, nem possua bancos,
brinquedos para as crianças ou paisagismo.
70
Nos quadros1 e 2 pôde-se verificar a opinião dos moradores acerca do
loteamento como um todo e também da própria moradia, onde eles avaliam diversos
itens da habitação segundo seus próprios critérios, assinalando os valores ótimo,
bom, razoável e péssimo.Conforme já foi dito antes, na descrição da metodologia, foi
adotado para cada uma destas palavras um correspondente valor numérico para
facilitar os cálculos estatísticos das medidas de tendência central e desvio-padrão.
Quadro 1 – Opinião dos moradores sobre o bairro.
O quadro 1 mostra uma avaliação dos moradores a respeito de vários itens
referentes às condições de vivência do loteamento. Para a questão 5 a opinião dos
moradores em geral fica entre péssimo e regular, como mostram os valores das
médias. Apenas o item abastecimento de água tem uma avaliação mais positiva,
podendo ser considerado como bom (figura 18).
71
Figura 18 – Diagrama de Paretto da questão 5
Na questão 6 o único item que se aproximou de um valor mais aceitável foi a
privacidade. A segurança nas ruas é um aspecto notadamente péssimo, conforme
sugere a média e confirmam a mediana e a moda, com um desvio padrão
relativamente baixo, o que dá mais ênfase à conclusão sobre este item. Já o item
segurança em casa não pode ser considerado razoável, pois o desvio padrão é
muito alto, apesar de todas as medidas de tendência central apontarem para este
valor. Isso talvez seja devido ao fato de ser muito relativa esta segurança. Algumas
casas possuem muro e grades, enquanto que outras não. Além disso, segundo
conversas com os moradores existem áreas mais propícias à violência dentro do
loteamento, como é o caso da quadra poliesportiva. Isso faz com que alguns
moradores fiquem mais assustados e outros, por estarem mais distantes, não se
sentem afetados por este problema. Os resultados deste item do questionário
podem ser visualizados também pelo diagrama de Paretto da figura 19.
72
Figura 19 – Diagrama de Paretto da questão 6.
O transporte mais utilizado pelos moradores é o coletivo e, no entanto, este
não atende de forma satisfatória a necessidade de deslocamento dos moradores,
que só dispõem de dois ônibus.
Quadro 2 – Opinião dos moradores sobre as suas casas.
O quadro 2 mostra que os moradores estão satisfeitos com a iluminação
natural da sala e do quarto e insatisfeitos com o tamanho da cozinha. Os aspectos
relacionados ao projeto arquitetônico, como as dimensões dos cômodos, estão de
acordo com os limites mínimos propostos pelo código de obras de Feira de Santana.
No quadro 2 pode-se notar que as médias aumentam, o que pode sugerir que
os moradores estão mais satisfeitos com sua moradia do que com as áreas comuns.
73
Isso mostra que são as condições de contorno que pesam mais quando se fala de
qualidade de vida em moradia e não as condições específicas de cada habitação,
que podem ser manipuladas mais facilmente pelos usuários. Neste contexto, o
abastecimento de água foi o único item que teve uma avaliação notadamente
positiva pelos moradores.
Já quanto aos problemas de umidade e bolor nos móveis e paredes não se
pode afirmar muita coisa, pois os valores não convergiram e o desvio-padrão foi
superior ao de todos os outros itens.Embora o material utilizado para a construção
das casas seja o bloco de concreto, que é menos higrófilo que o cerâmico, algumas
casas apresentavam problemas visíveis devido à infiltração de água nas paredes.
No entanto, conforme entrevista realizada anteriormente ao estudo de caso com
pessoas que presenciaram a construção do loteamento, não foi executado nenhum
meio de impermeabilização da infraestrutura das casas.Talvez por estas razões, a
avaliação deste item tornou-se a menos precisa. A figura 20 mostra o resumo deste
quadro.
Figura 20 – Diagrama de Paretto da questão 8.
74
5 CONCLUSÕES
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados obtidos, pode-se admitir que a hipótese lançada
foi contemplada. O usuário/morador mostrou insatisfação com muitos aspectos de
sua moradia, a qual não foi planejada com base em estudos de APO.O projeto da
unidade habitacional do conjunto Paulo Souto seria concebido de forma diferente se
fossem observados resultados de estudos prévios em locais semelhantes.
A análise dos resultados obtidos mostrou que a praça e a quadra de esportes
são os ambientes mais insatisfatórios do conjunto habitacional, principalmente no
que tange à segurança. A saúde e a educação no bairro também tiveram avaliações
negativas. Isso se deve ao fato de não existirem escolas e postos de saúde dentro
do loteamento, o que força as pessoas a se deslocarem para os bairros vizinhos à
procura destes serviços. Os moradores mostram-se indignados com esta situação e
isso mostra que a prefeitura pecou bastante quando deu prioridade à construção da
quadra de esportes, deixando em segundo plano os serviços de primeira
necessidade.
As áreas dos cômodos estão de acordo com as exigências do código de
obras da cidade. No entanto, os moradores mostram-se insatisfeitos com o tamanho
da cozinha. Este fato sugere a necessidade de revisão dos padrões legalmente
adotados pelos poderes públicos para o atendimento das necessidades
habitacionais da população de baixa renda.
Pode-se notar na tabela V um forte indício da preocupação dos moradores
com a segurança, a construção de muros. O item “trocou lâmpadas” é o que possui
maior porcentagem, mas já era esperado visto que a maioria dos participantes da
pesquisa mora há mais de um ano no local pesquisado.
75
Tabela V – alterações feitas pelos moradores em suas casas
QUESTÃO 9 Fabs Frel
construiu o muro 46 58,97%
aumentou a sala 9 11,54%
aumentou o banheiro 13 16,67%
trocou portas 28 35,90%
trocou janelas 31 39,74%
trocou lâmpadas 71 91,03%
mudou posição porta entrada
15 19,23%
construiu mais quartos 28 35,90%
outros 26 33,33%
5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
A aplicação das técnicas de APO no loteamento Paulo Souto permitiu a
identificação de novos enfoques a serem abordados em trabalhos futuros. Desta
forma sugerem-se os seguintes tópicos:
Estudar outros conjuntos habitacionais para verificar se a proximidade
ou não com as áreas comuns pode influenciar a avaliação acerca de
um mesmo item;
Desenvolver parâmetros para intervenção de melhorias na estrutura
física de loteamentos populares;
Verificar possíveis diferenças de desempenho pós-ocupação entre um
loteamento popular que foi construído em regime de mutirão e um
loteamento cuja construção foi gerida por uma organização;
76
REFERÊNCIAS
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Questionário Pré-teste
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO – LOTEAMENTO PAULO SOUTO
QUADRA______ CASA NÚMERO______ DATA: ____/____/________
1 Marque com um “X” a alternativa que está de acordo com você
Gênero
Homem __ mulher __
Idade
De 15 a 25 anos__ de 26 a 45anos __ de 46 a 55anos __ 56 anos ou mais __
Tempo de moradia no conjunto
De 0 a 3 meses__ de 4 a 6 meses __ de 7 a 9 meses __ 10 meses ou mais__
Escolaridade
1ª a 4ª série __5ª a 8ª série __ 1ª a 3ª série do ensino médio __ Superior __
2 Marque com um “X” a alternativa que está de acordo com você e os moradores de sua casa
Número de pessoas
1 a 3 moradores __4 a 5 moradores __ 6 a7 moradores ___ 8 ou mais moradores __
Moradia anterior
Casa __ Outro loteamento__ Aluguel __ Outros __
Transporte principal
Moto __Ônibus __ Carro __ Bicicleta __Outros __
3 Em relação à fonte de renda, existe(m) pessoa(s) na sua casa
Registrado(s) com carteira de trabalho __ autônomo __sem renda __ aposentado__
4 Assinale se existem áreas destinadas à prestação dos serviços abaixo
Posto saúde __ Creche __ Quadra de esportes __ Escola __ Comércio __ Praça__
5 Como você avalia os seguintes serviços prestados no bairro
Saúde
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
82
Educação
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Lazer
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Comércio em geral
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Transporte
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Rua de acesso ao conj.
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Abastecimento de água
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
6 Qual a sua opinião sobre as questões abaixo?
Iluminação da praça à noite
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Segurança nas áreas comuns
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Segurança em casa
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Privacidade
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
7 Como você avalia os seguintes ambientes?
Praça com bancos
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Quadra de esportes
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Creche
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo __
8 Sobre a sua casa, como você avalia cada um dos seguintes itens abaixo?
Tamanho do dormitório
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Tamanho da cozinha
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Tamanho da sala
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Tamanho da área de serviço
83
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Temperatura (Inverno)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Temperatura (Verão)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Luz natural (quarto)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Luz natural (sala)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Luz natural (cozinha)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (banheiro)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (cozinha)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (quarto)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (sala)
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Problemas de umidade e bolor
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
9 Assinale se você já realizou alguma modificação na sua casa
Sim ___ Não ___
10 Se você marcou SIM na questão 9 marque qual ou quais as modificações
___ Construiu o muro ___ Trocou portas ___ Outros
___ Aumentou a sala ___ Trocou janelas ___ Construiu mais quartos
___ Aumentou o banheiro ___ Trocou lâmpadas ___ Mudou a posição da porta de entrada
84
APÊNDICE B – Questionário Definitivo
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO – LOTEAMENTO PAULO SOUTO
QUADRA______ RUA______ CASA NÚMERO______ DATA: ____/____/________
1-Marque com um “X” a alternativa que está de acordo com você
Gênero
Homem ___ mulher ___
Qual a sua idade?
De 15 a 25 anos ___ de 26 a 45anos ___ de 46 a 55anos ___ 56 anos ou mais ___
Há quanto tempo você mora neste conjunto?
De 0 a 3 meses ___ de 4 a 6 meses ___ de 7 a 9 meses ___ 10 meses ou mais ___
Qual a sua escolaridade?
1ª a 4ª série ___ 5ª a 8ª série ___ 1ª a 3ª série do ensino médio ___ Superior ___
2-Marque com um “X” a alternativa que está de acordo com você e os moradores de sua casa
Número de pessoas que moram com você
1 a 3 moradores ___4 a 5 moradores ___ 6 a 7 moradores ___ 8 ou mais moradores ___
Onde vocês moravam antes
Casa ___ Outro loteamento ___ Aluguel ___ Outros ___
Transporte mais usado por vocês
Moto ___ Ônibus ___ Carro ___ Bicicleta ___ Outros ___
3-Em relação à fonte de renda, existe(m) pessoa(s) na sua casa na seguinte situação
Registrado(s) com carteira de trabalho ___ autônomo ___ sem renda ___ aposentado ___
4-Assinale se existem, no bairro, áreas destinadas à prestação dos serviços abaixo
Posto de saúde ___ Creche ___ Quadra de esportes ___ Escola ___ Comércio ___ Praça___
5-Como você avalia os seguintes serviços prestados no bairro
Saúde Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Educação Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Diversão Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Comércio em geral Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Transporte Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Rua de entrada do conj. Ótimo ___ Bom ___Razoável ___ Péssimo ___
85
Abastecimento de água Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
6-Qual a sua opinião sobre as questões abaixo?
Iluminação da praça à noite
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Segurança na praça e nas ruas do bairro
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Segurança em casa
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Privacidade
Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
7-Como você avalia os seguintes ambientes?
Praça Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Quadra de esportes Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
8-Sobre a sua casa, como você avalia cada um dos seguintes itens abaixo?
Tamanho do dormitório Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Tamanho da cozinha Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Tamanho da sala Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Tamanho da área de serviço Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Temperatura (Inverno) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Temperatura (Verão) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Luz de dia (quarto) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Luz de dia (sala) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Luz de dia (cozinha) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (banheiro) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (cozinha) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (quarto) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
Ventilação (sala) Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo __
Problemas nas paredes
e nos móveis
por causa da água Ótimo ___ Bom ___ Razoável ___ Péssimo ___
9-Se você já realizou alguma modificação na sua casa, marque qual ou quais as modificações
___ Construiu o muro ___ Trocou portas ___ Mudou a posição da porta de entrada