Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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Uma análise do Fórum Eletrônico à luz do conceito bakhtiniano Dialogismo
Cristiano Lessa de Oliveira1 (IFAL)
Aizzi Vanja Mota Melo2 (IFAL) Nathália Alves Agra3 (IFAL)
Resumo: Baseando-nos no referencial teórico de Bakhtin (1997, 2003), bem como em autores que tratam de questões relativas à formação de leitores e produtores de textos enquanto sujeitos ativos (ZOZZOLI, 1998; LOPES-ROSSI, 2005), pretendemos tecer neste trabalho algumas considerações
concernentes ao gênero discursivo Fórum Eletrônico (FE). Entendendo o FE como um espaço para discussões em torno de temas propostos por seus integrantes e como uma ferramenta adequada para um aprofundamento reflexivo dos usuários no contexto específico, propomos uma reflexão acerca desse gênero, observando seus elementos constitutivos e seu caráter não somente colaborativo, mas também hipertextual. No tocante ao caráter colaborativo, entram em cena questões sobre o dialogismo, uma vez que os enunciados dos alunos são construídos a partir da voz do outro, ou seja, os sujeitos envolvidos nessas relações são construídos nas/pelas interações estabelecidas nesse contexto de atuação. Palavras-chave: Fórum Eletrônico, Aprendizagem Colaborativa, Traços hipertextuais. Resumen: Basándonos en un aporte teórico de Bakhtin (1997, 2003) como también en autores que tratan de cuestiones que dicen respecto a la formación de lectores y productores de textos (ZOZZOLI, 1998; LOPES-ROSSI, 2005),
abordamos en este trabajo algunas consideraciones relacionadas al género discursivo Fórum Electrónico (FE). Comprendendo el FE como un espacio para discusiones acerca de temas propuestos por sus particpantes y como una herramienta adecuada para una profundización reflexiva de los usuarios en el contexto específico, proponemos reflexionar acerca del género, observando sus elementos constitutivos y su carácter no sólo colaborativo sino también hipertextual. En este sentido, aparecen las cuestines sobre el dialogismo, ya que los enunciados de los alumnos son construídos apartir de la voz del outro, es decir, los sujetos que se envuelven en estas relaciones son construídos en la y por las interacciones establecidas en el contexto de actuación. Palavras clave: Fórum Electrónico, Aprendizaje Colabotativo, Rasgos hipertextuales.
1 Cristiano Lessa de OLIVEIRA, Prof. Dr. do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). [email protected]
2 Aizzi Vanja Mota MELO. Graduanda em Letras/Português pelo Instituto Federal de Alagoas (IFAL). [email protected]
3 Nathália Alves AGRA. Graduanda em Letras/Português pelo Instituto Federal de Alagoas (IFAL). [email protected]
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Introdução
Com o advento das novas tecnologias da informação e da comunicação
(TICs), a educação brasileira vem passando por significativas mudanças,
principalmente, com a utilização dessas tecnologias como estratégias de ensino na
modalidade de Educação a Distância (EaD). De acordo com Trifanovas (2011, p.
287), “o ensino a distância ganhou popularidade através do correio, rádio,
telefone, televisão, vídeo e, recentemente, do computador via Internet”. Segundo
a autora, houve um aumento do número de alunos de EaD, acentuando cada vez
mais a relação entre tecnologia e educação. Ainda conforme suas palavras, nota-se
uma grande movimentação no âmbito da EaD, com a realização de congressos,
seminários, simpósios, sites, bibliotecas virtuais, softwares pedagógicos e cursos
on-line. É inegável o crescimento dessa nova modalidade de educação, fazendo
surgir novas formas de interações entre professor e alunos, bem como a
necessidade de o docente estar em contínuo processo de aperfeiçoamento, para
“educar na contemporaneidade” (SOUZA e MATOS, 2009, p. 1379).
Esse contexto midiático nos fez refletir sobre algumas questões inerentes ao
processo de ensinar e aprender nesse espaço digital. Como já apontado por alguns
teóricos, vivemos, atualmente, em uma sociedade da informação (LEMOS, 2002),
contexto em que aparecem novas formas de interação bem como novos sentidos
para noções como tempo e espaço. Com a Internet, uma quantidade inimaginável
de informações está disposta para o leitor, acarretando, assim, novas relações
entre leitor- texto. Segundo Magnabosco (2009, p. 91), “a leitura via web, muitas
vezes, apresenta-se mais superficial que a tradicional, que tem como suporte o
livro”. A escrita no ambiente virtual se utiliza de uma linguagem específica para
esse ambiente, apresentando características típicas do texto falado, dadas as
necessidades de velocidade, de aceleração, isto é, os internautas falam por
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escrito4. Isso é muito comum nos bate-papos virtuais, em que as interações
acontecem de forma síncrona, ou seja, com simultaneidade temporal, on-line.
Pensar nos gêneros discursivos no campo da cibercultura5, fez-nos refletir
também sobre a utilização dos gêneros digitais (XAVIER e SANTOS, 2005) no
processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, os gêneros discursivos digitais
podem ser tomados como importantes ferramentas educacionais, uma vez que,
além de ser o local onde a língua é usada, os gêneros “refletem as condições
específicas e as finalidades de cada campo não só por seu conteúdo (temático) e
pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos
e gramaticais da língua, mas por sua construção composicional” (BAKHTIN, 2003, p.
261).
Para os interesses do presente texto, abordamos o Fórum Eletrônico (FE)
como um gênero discursivo digital, usado como recurso interativo, objetivando a
aprendizagem colaborativa, nos termos de Driscoll e Vergara (1997), que entendem
a verdadeira aprendizagem colaborativa não somente como trabalho em conjunto,
mas também como cooperação, ou seja, os participantes estão interagindo de
forma a construir conhecimento de forma compartilhada, negociando os sentidos
veiculados no FE.
É nesse observatório de linguagem em uso que aparecem as múltiplas vozes.
O ponto de vista dialógico “fundamenta e também instrui a consideração da
linguagem em ato, que constitui e movimenta a vida social” (MARCHEZAN, 2006, p.
128). O diálogo, na concepção bakhtiniana, orienta os interlocutores a
considerarem os enunciados como “vozes a compreender”, como forças vivas com
as quais devem se relacionar e se aproximar. Nessa concepção, o diálogo é
4 Neste texto, não farei maiores aprofundamentos sobre essas questões por motivos de espaço. Sendo assim, indico a leitura
de Marcuschi (2005), que faz um apanhado sobre os gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. 5 “O próprio termo Cibercultura tem vários sentidos. Mas se pode entender por Cibercultura a forma sociocultural que advém de
uma relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônicas surgidas na década de 70, graças à convergência das telecomunicações com a informática. A cibercultura é um termo utilizado na definição dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual. Estas comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da Internet e outras tecnologias de comunicação, possibilitando assim maior aproximação entre as pessoas de todo o mundo” (WIKIPÉDIA, A enciclopédia livre). Texto acessado em 25 de setembro de 2012.
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entendido como a alternância de enunciados, falados ou escritos por sujeitos que
apresentam diferentes posicionamentos, sendo o diálogo considerado a forma
clássica da comunicação verbal.
Assim, partindo dessas considerações preliminares, apresentamos os
elementos que constituem o gênero discursivo Fórum Eletrônico, bem como seu
caráter colaborativo. Expomos, ainda, alguns posicionamentos sobre os traços
hipertextuais do FE, uma vez que, segundo Komesu (2005), para falar em
hipertexto é necessário abordar suas características intertextuais e
multissemióticas6. Além disso, propomos que seja observada a função dêitica do
hiperlink (KOCH, 2002).
Elementos constitutivos do Fórum Eletrônico e seu caráter colaborativo
Iniciamos esta seção, apontando algumas características do Fórum
Eletrônico, tomando como base o que diz Costa (2008, p. 104-08), ao abordar o FE
como um gênero discursivo. Segundo o autor, o Fórum Eletrônico é uma reedição
do Fórum7, surgindo a partir das novas tecnologias, tendo como característica
principal a liberdade que os usuário têm para expressar “o conteúdo que se quer e
como se quer, de se ter um embate aberto interlocutivo livre”.
Essa característica apontada por Costa (2008) é bem representativa dos
Fóruns Eletrônicos que circulam em portais8 na Internet ou em sites de
relacionamentos. É um espaço democrático em que qualquer usuário pode expor
seu ponto de vista sobre determinado assunto, em geral, um tópico escolhido pelo
6 Komesu (2005) apresenta outros traços do hipertexto, mas para meus interesses e limites do presente texto apresento
apenas esses dois. 7 “Reunião, congresso, conferência que envolve debate de temas problemáticos e polêmicos, específicos de comunidades civil
e institucional. Este gênero de discurso, muito comum nas sociedades contemporâneas, visa, a partir da discussão de ideias e exposição de opiniões diversas sobre um tema, encontrar coletivamente soluções para problemas específicos (...). Trata-se de um tipo de prática social discursiva muito típica de comunidades democráticas, como o são as empresas, as universidades e as academias” (COSTA, 2008, p. 102). 8 Portal é um “site que se propõe ser porta de entrada da Web para as pessoas em geral. Tipicamente, um portal possui um
catálogo de sites e um mecanismo de busca. Um portal pode oferecer grande variedade de serviços, tais como correio eletrônico, fóruns de discussão, dispositivos de busca, informações gerais e temáticas, páginas de comércio livre e muitos outros” (COSTA, 2008, p. 150).
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próprio portal. Com relação ao uso da linguagem, Costa (2008, p. 105) afirma que o
Fórum é
um gênero de constituição discursiva híbrida escripto-oral, em que se usam recursos tanto verbais quanto paraverbais. É um gênero escrito, constituído multissemioticamente e com muitas marcas discursivas, sociais, etnográficas e culturais da oralidade. Predomina aí uma linguagem abreviada, sincopada, com logrogramas, topogramas, ícones diversos, com
alongamentos de letras e sinais de pontuação, letras maiúsculas e scripts, usados para expressão de emoções diversas na construção do discurso argumentativo. Também predomina aí uma linguagem coloquial, bem informal (...).
Tais elementos apontados pelo autor não caracterizam, de forma geral, o
Fórum enquanto espaço para o ensino e a aprendizagem. O FE que serviu de corpus
para nossas análises, apesar de ter apresentado algumas marcas da oralidade no
texto escrito, constituiu-se como um importante ambiente para reflexões e
aprofundamentos sobre as diferenças entre língua e linguagem e concepções de
língua e linguagem. Não foi um espaço em que a linguagem tenha sido usada de
forma abreviada, sincopada, ao contrário, os alunos participantes do FE em análise
tiveram cuidado com a linguagem, escrevendo suas ideias ou respondendo às ideias
do outro de maneira bastante argumentativa, tornando-se um espaço propício para
a construção dos sentidos, bem como um local democrático, em que cada um
sentiu-se estimulado e livre para postar os conhecimentos adquiridos. Não houve,
por exemplo, mudança de tópico discursivo, a totalidade das respostas no Fórum
Eletrônico dialogava com a proposta da atividade interativa: refletir sobre as
noções de língua e linguagem.
O Fórum Eletrônico, nesse contexto específico de atuação, é entendido
como um espaço assíncrono de envio de mensagens. Em cursos oferecidos em
ambientes virtuais de aprendizagem colaborativa, para que a reflexão teórica sobre
as questões propostas ganhem sentido, o professor pode usar o FE enquanto um
espaço central para interações, permitindo que os alunos escrevam o que pensam e
se posicionem criticamente com relação à temática do Fórum. Comparando o
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ambiente de sala de aula presencial com o ambiente a distância, o Fórum
Eletrônico pode permitir que os alunos menos participativos tenham a oportunidade
de falar, uma vez que o estudante não tem a presença física dos colegas ou do
próprio professor, fatores, muitas vezes, inibidores de participação para os
discentes mais tímidos.
A participação dos alunos no FE em um ambiente virtual de aprendizagem
deve levar em consideração que a discussão não será efetivada ao acaso, sem que
haja um preparo inicial. É imprescindível que o docente fundamente o FE,
disponibilize leituras adequadas, permita pesquisas coerentes, levando em
consideração também o conhecimento de mundo9 do aluno.
Nesse sentido, o FE estudado disponibilizou alguns textos teóricos da área,
bem como permitiu que os alunos pesquisassem sobre as noções de língua e
linguagem e postassem os textos, garantindo, assim, uma autonomia relativa aos
alunos, já que eles puderam autogerir seus estudos, desenvolvendo a capacidade
de estudo, num primeiro momento, individualizada e, em seguida, compartilhada,
construindo seu conhecimento e se tornando ator e autor de suas práticas
reflexivas.
Ao tratar da aprendizagem colaborativa, Driscoll e Vergara (1997) elencam
alguns elementos que são importantes e direcionam o fazer colaborativo. Segundo
os autores, a aprendizagem colaborativa apresenta: 1) responsabilidade individual:
todos os membros são responsáveis pelo próprio desempenho dentro do grupo; 2)
interdependência positiva: os membros do grupo devem depender uns dos outros
para que os objetivos sejam alcançados; 3) habilidade de colaboração: habilidades
necessárias para que o grupo funcione de forma efetiva, como o trabalho em
equipe, liderança e solução de conflitos; 4) interação: os membros do grupo devem
interagir para desenvolver relações interpessoais e estabelecer estratégias efetivas
de aprendizagem; 5) processo avaliativo: os membros do grupo refletem,
9 Tem relação com os “conhecimentos gerais sobre o mundo – uma espécie de thesaurus mental – bem como a
conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espácio-temporalmente situados, permitindo a produção de sentidos” (KOCH e ELIAS, 2006, p. 42).
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periodicamente, e avaliam seu funcionamento, efetuando as mudanças necessárias
para incrementar sua efetividade10.
A partir das reflexões dos autores, é possível apontar que, com a prática da
aprendizagem colaborativa, os estudantes vão adquirindo mais responsabilidade,
transformando-se em autores de sua própria aprendizagem. Claro está que essa
aprendizagem colaborativa também deve estar sob a responsabilidade do professor,
já que, segundo Lévy (1999 apud MAGNABOSCO, 2009, p. 96), o professor da
cibercultura tem que ser
um arquiteto cognitivo e engenheiro do conhecimento; deve ser um profissional que estimule a troca de conhecimentos entre os alunos, que desenvolva estratégias metodológicas que os levem a construir um aprendizado contínuo, de forma autônoma e integrada e os habilitem, ainda, para a utilização crítica das tecnologias.
Essa última característica apontada pelo autor é fundamental num ambiente
de formação de professores. A formação de uma consciência crítica no que diz
respeito ao uso das novas tecnologias deve ser garantida pelo curso, uma vez que
as TICs já transformaram, significativamente, o trabalho pedagógico em todos os
níveis de escolarização. No caso específico deste trabalho, analiso o FE usado no
Curso de Letras/Português, do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), com a disciplina
Fundamentos da Linguística11.
Traços hipertextuais do Fórum Eletrônico
Baseando-nos em um referencial teórico que caracteriza o hipertexto como
“um processo de escritura/leitura eletrônica multilinearizado, multisequencial e
indeterminado” (MARCUSCHI, 1999, p. 1), realizado em um novo espaço digital, o
chamado ciberespaço, procuramos abordar nesta seção alguns traços inerentes ao
10
Tradução livre dos autores. 11
A disciplina é ministrada pelo professor Cristiano Lessa de Oliveira, em seis cidades do Estado de Alagoas: Palmeira dos Índios, Arapiraca, Maceió, Santana do Ipanema, Penedo e Maragogi. Para esta análise, usei o ambiente de Penedo.
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hipertexto, a fim de melhor entender o gênero discursivo digital Fórum Eletrônico,
já que esse gênero apresentou importantes traços hipertextuais, tais como a
intertextualidade e a multissemiose.
Além desses traços, propomos também que se seja observada a função
dêitica dos hiperlinks (KOCH, 2002), dispositivos digitais que permitem ao
hiperleitor navegar na Web, deslocando-se virtualmente por uma infinidade de
novas páginas. Nesse tocante, é bom chamar a atenção para o que Marcuschi (1999)
denominou de stres cognitivo, uma sobrecarga exigida pelo leitor dos hipertextos,
dadas as múltiplas possibilidades de leituras que, muitas vezes, podem não se
relacionar, tornando-se um processo não produtivo.
Com relação ao traço de intertextualidade presente no hipertexto e,
consequentemente, no FE, cabe lembrar, conforme aponta Fiorin (2006, p. 117),
que o termo intertextualidade “foi sendo utilizado de maneira muito frouxa, ao
longo do tempo”12. Para os limites do presente texto, usamos as contribuições de
Koch (1997), que também se fundamenta nos estudos bakhtinianos, e de Koch e
Elias (2006), que trazem um olhar mais didático ao tema.
De acordo com Bakhtin (2003, p. 289, 296, 297), “todo enunciado é um elo
na cadeia da comunicação discursiva”; “todo enunciado concreto é um elo na
cadeia da comunicação discursiva de um determinado campo”; “cada enunciado é
pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado (...)”.
Pode-se depreender, dos referidos trechos bakhtinianos, que todo e qualquer
enunciado – Koch e Elias (2006) vão fazer referência a texto – tem relação dialógica
com outros enunciados, ou seja, são respostas a enunciados anteriores,
relacionando-se de forma a aceitá-los, rejeitá-los, complementá-los, confirmá-los,
num infinito trabalho de tecitura de significados.
Koch e Elias (2006, p. 86), ao apresentarem a concepção de
intertextualidade, apontam que, em sentido amplo, “a intertextualidade se faz
12
O estudioso de Bakhtin realiza um aprofundamento significativo no tocante ao entendimento de intertextualidade na obra bakhtiniana. Para maiores informações, sugiro a leitura de Fiorin (2006).
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presente em todo e qualquer texto, como componente decisivo de suas condições
de produção (...) é condição mesma da existência de textos, já que há sempre um
já-dito, prévio a todo dizer”. A intertextualidade faz parte do processo de leitura-
escritura, constituindo um dos padrões da textualidade. Sendo assim, “todo texto é
um objeto heterogêneo, que revela uma relação radical de seu interior com seu
exterior; e, desse exterior, evidentemente, fazem parte outros textos que lhe dão
origem” (KOCH, 1997, p. 59). Essa característica é parte intrínseca do FE em
análise, por seus participantes, os alunos, dialogarem com outros textos – ou
enunciados, numa visão bakhtiniana – retomando, confirmando ou complementando
os textos postados, num importante elo de construção de sentidos.
Ainda fazendo referência à intertextualidade, para fins analíticos,
retomamos duas maneiras pelas quais a intertextualidade pode se constituir e
constituir textos. De forma sucinta, apresento a intertextualidade explícita e a
intertextualidade implícita (KOCH e ELIAS, 2006, p. 87-92). A primeira diz respeito
ao fato de haver citação da fonte do outro texto, “como acontece nos discursos
relatados, nas citações e referencias; nos resumos, resenhas e traduções; nas
retomadas de textos de parceiro para encadear sobre ele ou questioná-lo na
conversação”. A segunda, a intertextualidade implícita, ao contrário, ocorre
quando não há a citação do outro texto, “cabendo ao interlocutor recuperá-la na
memória para construir o sentido do texto, como nas alusões, na parodia, em
certos tipos de paráfrases e ironias”. Ao analisar o FE à luz dessas considerações,
pudemos observar a presença das duas noções de intertextualidade. Ora os alunos
faziam referência direta a autores referendados da área, como, por exemplo,
Saussure, ora usavam paráfrases para construírem seus textos e responderem ao
FE.
Outro traço hipertextual presente no FE e que retomamos aqui é o caráter
multissemiótico desse gênero discursivo digital. Esse traço se caracteriza pela
possibilidade de serem articuladas, conjuntamente, as linguagens verbal e não
verbal (musical, visual, gestual). Palavras, imagens, sons, figuras, cores, tamanhos
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de letra, ícones, diagramas, hiperlinks, todos esses elementos podem coexistir num
mesmo ambiente, caracterizando, segundo Komesu (2005, p. 101), “o traço que
evoca mais diretamente o vínculo com o suporte material para a realização do
hipertexto”.
Com relação aos hiperlinks dêiticos, Koch (2002, p. 64-5) afirma que eles
têm como “função primeira indicar, sugerir caminhos ao hiperleitor: eles
funcionam como apontadores enunciativos, sendo, portanto, focalizadores de
atenção”. O caráter dos hiperlinks dêiticos é ser, em sua natureza, catafórico,
ejetando o hiperleitor para fora do texto atual, com o objetivo de preencher
expectativas de completude de compreensão. São, na verdade, atalhos ou rotas
que direcionam o leitor para um aprofundamento sobre o tópico em tela. Para que
o usuário utilize os hiperlinks de forma adequada, não correndo o risco de sofrer
um stres cognitivo (MARCUSCHI, 1999), é imprescindível que o leitor não perca de
vista a construção da continuidade de sentido (KOCH, 2002), já que um hiperlink
aponta para outro, que, por sua vez, aponta para outro e assim infinitamente.
A dialogicidade constitutiva do Fórum Eletrônico
Partindo da concepção de língua(gem) como um processo de interação verbal
(BAKHTIN, 1997), em que os sujeitos são construídos histórica e socialmente
na/pela língua(gem), bem como de noções relativas à formação de leitores e
produtores de textos enquanto sujeitos ativos (ZOZZOLI, 1998; LOPES-ROSSI, 2005),
apresentamos um levantamento sobre a dialogicidade presente nos estudos de
Bakhtin, categoria de análise para este texto. Ainda nessa seção, procedemos às
análises do gênero discursivo eletrônico em tela, contextualizando a pesquisa e
apontando a dialogicidade que constitui o FE.
Para Bakhtin (1997, p. 127), a língua é um fato social, existindo no processo
de interação entre os sujeitos, não se constituindo um sistema de formas abstratas,
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mas um “processo de evolução ininterrupto, que se realiza através da interação
verbal social dos locutores”. Uma das ideias da obra bakhtiniana é constituída pelos
estudos acerca da linguagem. O autor considera a língua como de natureza social,
tendo sua existência nas necessidades reais de comunicação.
A interação verbal é fundamental nos estudos bakhtinianos, já que constitui
o ponto de vista interativo da linguagem, sendo compreendida a partir da natureza
sócio-histórica. “A interação verbal constitui a realidade fundamental da língua”
(BAKHTIN, 1997, p. 123). Sua realização se dá por meio da enunciação, entendida
como produto da interação entre sujeitos socialmente organizados. O diálogo
constitui uma das formas mais importantes da interação verbal, podendo ser
caracterizado não somente como comunicação em voz alta, de pessoas face a face,
mas também como toda e qualquer forma de comunicação verbal.
A enunciação é o palco onde se realiza o uso da linguagem, processo que
envolve não somente a presença física de seus integrantes, mas também o tempo
histórico e o espaço social de interação. É por meio desse processo de enunciação
que os sujeitos dialogam, trocando experiências e se constituindo seres humanos,
numa relação viva, social com o outro. Nessa perspectiva, poder-se-ia entender o
fenômeno da interação verbal como sendo o meio de construção do indivíduo,
numa relação dialógica, através da qual “os sujeitos envolvidos se constituem como
tal, para si e para o outro, diante de si e diante do outro” (FERNANDES, 2002, p.
146).
Com relação à formação de sujeitos leitores e produtores de texto, vale
ressaltar as contribuições de Lopes-Rossi (2005, p. 80), que aponta para o fato de
que o trabalho com os gêneros discursivos proporciona o “desenvolvimento da
autonomia do aluno no processo de leitura e produção textual” (grifo meu). É
importante entender que Bakhtin (2003), ao traçar questões sobre os gêneros do
discurso, afirma que o uso da língua só se concretiza em formas de enunciados,
sejam eles orais ou escritos, sendo o enunciado a unidade real concreta da
comunicação discursiva.
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Tratando dos gêneros discursivos na obra bakhtiniana, Kuhn e Flores (2008, p.
72) comentam que eles devem ser discutidos “à luz de uma concepção de enunciado
entendido como condição de possibilidade de utilização da língua”. Essa noção de
gênero vai implicar, conforme apontam os autores, na consideração do enunciado
como unidade da comunicação verbal. Os gêneros do discurso também apresentam
uma dinamicidade, apontada por Bakhtin (2003, p. 262) ao proferir que “a riqueza e a
diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as
possibilidades da multiforme atividade humana”. Se pensarmos em termos de leitura e
de produção de texto, essa concepção dinâmica de gênero discursivo pode favorecer
um trabalho que amplie as possibilidades de atuação dos alunos.
Zozzoli (1998, p. 208-10), ao traçar considerações sobre a leitura e a
produção vistas como um processo, toma o texto não como um simples instrumento
para que sejam transmitidos e avaliados os conteúdos. Ela parte do pressuposto de
que as atividades devem ser com o texto ou a partir dele, incluindo, dessa forma,
interações que envolvam todos os atores da cena de sala de aula, ou seja,
professor e alunos num contínuo processo interacional. As atividades, nesse ponto
de vista, privilegiam a reflexão, podendo abarcar os contextos mais imediatos,
como o escolar, e os mais amplos, representados pelo espaço fora da escola; são
exercícios que devem envolver as diferentes habilidades, em vários registros,
permitindo “vivenciar a língua de forma que ela não se apresente ao aluno como
objeto pronto a ser explorado de forma fragmentada; em outras palavras, não seja
considerada como ‘língua morta’”.
A relação dialógica, portanto, estabelece relações de sentidos entre
enunciados na comunicação verbal, isto é, “dois enunciados quaisquer, se
justapostos no plano do sentido (...) entabularão uma relação dialógica” (FIORIN,
2006, p. 169). Nesse sentido, Bakhtin (2003, p. 275) explica que todo enunciado
“(...) tem um princípio absoluto e um fim absoluto”. O autor quer dizer que, antes
do início do enunciado de um locutor, ele tem os enunciados dos outros e, logo
após seu término, o locutor terá os enunciados responsivos de outros locutores.
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Assim, o “falante termina o seu enunciado para passar a palavra ao outro ou dar
lugar à sua compreensão ativamente responsiva”. Essa característica dialógica é
presente no FE em análise. As vozes dos alunos estão ecoando através das vozes
dos outros, estejam esses outros efetivamente inscritos no FE ou não, já que houve
a presença intertextual de outros sujeitos por intermédio da citação.
Traçando as características metodológicas que orientaram o trabalho,
apontamos os estudos qualitativos como metodologia que norteou as interpretações
realizadas, uma vez que houve um interesse em interpretar a situação em estudo
sob o olhar dos próprios participantes (MOREIRA, 2002). O corpus é originário da
disciplina Fundamentos da Linguística, do Curso de Licenciatura em Letras-
Português, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Alagoas
(IFAL), na modalidade EaD. Essa disciplina tem carga horária de 60 horas e dois
encontros presenciais, um no início e outro no término da disciplina. É importante
dizer que se utiliza a plataforma Moodle13 para o desenvolvimento das atividades.
Abaixo, aparece o layout inicial da plataforma:
Figura 1
Fonte: http://moodle.ead.cefet-al.br/
13
MOODLE é o acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environmen", um software livre, de apoio à aprendizagem, executado num ambiente virtual. A expressão designa ainda o Learning Management System (Sistema de gestão da aprendizagem) em trabalho colaborativo baseado nesse programa, acessível através da Internet ou de rede local. Em linguagem coloquial, em língua inglesa o verbo to moodle descreve o processo de navegar despretensiosamente por algo, enquanto fazem-se outras coisas ao mesmo tempo. Utilizado principalmente num contexto de e-learning ou b-learning, o programa permite a criação de cursos on-line, páginas de disciplinas, grupos de trabalho e comunidades de aprendizagem, estando disponível em 75 línguas diferentes. Conta com 25.000 websites registados, em 175 países (WIKIPEDIA, A Enciclopédia Livre, acessado em 07 de outubro de 2012).
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A plataforma Moodle permite que sejam realizadas várias atividades para que a
disciplina aconteça como, por exemplo: Chats, Fóruns, Glossários, Wikis, Questionários,
Flash Vídeo, dentre outras. Para este trabalho, escolhemos o Fórum Eletrônico para
discutir a importância dessa ferramenta no contexto de EaD. O FE teve como tema
Diferenças entre Língua e Linguagem e Concepções de Língua e Linguagem, tópico
imprescindível na formação de futuros professores de língua materna.
Para iniciar as discussões sobre a temática detro do Fórum, foi sugerida a
leitura de três textos: Linguística, de Angélica Furtado da Cunha, Marcos Antonio
Costa e Mário Eduardo Martelotta, retirado do livro Manual de Linguística,
organizado por Mário Eduardo Martelotta; Linguagem, língua, linguística, de
Margarida Petter, retirado do livro Introdução à Linguística 1: objetos teóricos,
organiazdo por José Luiz Fiorin; e um texto de autoria minha, intitulado
Concepções de linguagem e tipos de gramática.
Esse posicionamento já revela uma preocupação com relação à formação
acadêmica dos alunos, uma vez que eles iriam participar do FE após a leitura prévia
de textos específicos de estudiosos autorizados pela área, além também de
poderem fazer suas pesquisas na Internet.
O FE começa com a seguinte recomendação, realizada pelo professor14:
Figura 2
Fonte: ambiente da disciplina Fundamentos da Linguística http://moodle.ead.cefet-al.br/mod/forum/view.php?id=50821
14
Transcrevemos a seguir, sempre que necessário, os textos que não estiverem legíveis nas imagens: “Caros alunos, Antes de começarmos os estudos sistemáticos sobre teoria linguística, faz-se necessária uma incursão preliminar sobre questões básicas acerca da linguagem. Para tanto, pesquisem (na internet, em livros, revistas etc.) sobre as diferenças entre língua e linguagem e sobre as concepções de língua/linguagem existentes, expondo seus comentários neste fórum. Lembrem-se de que um dos pontos de avaliação do curso é a efetiva participação nos foruns de discussão”.
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A fala de abertura do professor já aponta para a necessidade de participação
dos alunos no referido FE, uma vez que esse é o espaço para o diálogo, a interação
e a colaboração entre todos. Percebemos que o FE foi um momento de
efervescência teórica; os alunos participaram de forma a garantir um contínuo
processo de geração de sentidos, postando seus comentários, suas pesquisas, suas
dúvidas e, sobretudo, respeitando as falas dos outros. Como será visto a seguir,
houve troca de saberes ou, como já apontado por Driscoll e Vergara (1997), houve
aprendizagem colaborativa, razão da existência do Fórum Eletrônico em um curso
na modalidade EaD.
Observando a habilidade de colaboração e a interação (DRISCOLL e VERGARA,
1997), os alunos conseguem colocar em funcionamento o FE, trabalhando em equipe,
bem como estabelecem relações interpessoais, interagindo de forma positiva, como é
possível analisar a partir da seguinte sequencia de diálogo. Para resguardar a
identificação dos alunos, suprimimos seus nomes e suas fotos. Às vezes, os alunos
também se citam uns aos outros; nessas situações também retiro os nomes citados,
não acarretando problemas de entendimento do diálogo.
Figura 3
Fonte: ambiente da disciplina Fundamentos da Linguística http://moodle.ead.cefet-al.br/mod/forum/view.php?id=50821
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A imagem apresentada constitui o diálogo entre quatro alunos. É possível
interpretar essa interação, partindo das considerações da aprendizagem
colaborativa, uma vez que a aluna inicia sua contribuição abordando os termos
linguagem e língua e, na sequência, aparece a fala do aluno corroborando a fala
inicial e trazendo seu entendimento com relação ao conceito de língua e
linguagem. Nas próximas duas falas, há a retomada da aluna que iniciou o tópico,
posicionando-se de forma muito positiva, já que nesse contexto os participantes
devem depender uns dos outros para garantir os objetivos de aprendizagem
(DRISCOLL e VERBARA, 1997). O momento em análise é finalizado com a fala da
tutora a distância, que dá um feedback positivo às contribuições da aluna,
inclusive, usando um emoticon, complementando os sentidos de suas palavras. Esse
uso representa o caráter multissemiótico (KOMESU, 2005) do FE, uma vez que a
usuária articulou, em conjunto, palavras e imagens, para construir os sentidos de
sua mensagem.
Sendo todo enunciado vivo uma resposta a enunciados anteriores e
posteriores, essa sequência, que é um recorte de um processo interacional maior,
apresenta os alunos em constante processo de interação, ou seja, seus enunciados
foram elaborados em função de um outro ou de vários outros enunciados.
Com relação aos traços intertextuais presentes no FE, os alunos fizeram uso
de citações, conforme é possível observar na imagem a seguir, em que aparece
Saussure como fonte da resposta:
Figura 4
Fonte: ambiente da disciplina Fundamentos da Linguística http://moodle.ead.cefet-al.br/mod/forum/view.php?id=50821
O teórico presente na contribuição da aluna aparece em várias respostas
dentro do FE; isso se justifica por ser Saussure considerado um dos principais
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autores dentro dos estudos linguísticos e um dos linguistas estudados durante os
encontros presenciais.
Os hiperlinks também estão presentes no FE em análise. Com a função de
apontar outras leituras, portanto, hiperlinks dêiticos (KOCH, 2002), os estudantes
indicaram importantes textos que complementaram o tópico em tela. Na imagem a
seguir, aparece um hiperlink que leva o hiperleitor ao site de uma revista
eletrônica da área:
Figura 5
Fonte: ambiente da disciplina Fundamentos da Linguística http://moodle.ead.cefet-al.br/mod/forum/view.php?id=50821
Considerações finais
De acordo com o que foi discutido neste artigo, é inegável a contribuição das
TICs no processo de ensino-aprendizagem. No contexto em questão, o Fórum
Eletrônico se constituiu peça fundamental para que a discussão acontecesse, já que
o curso é ofertado na modalidade de Educação a Distância. As análises que aqui
foram realizadas, mesmo que de forma sucinta, dadas as condições de espaço no
texto, apontaram para o fato de que quando se trabalha numa perspectiva do fazer
colaborativo, característica muito importante na EaD, os alunos podem ter a
oportunidade de desenvolver sua autonomia, sendo capazes de construir em
conjunto os conhecimentos necessários para sua formação.
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O Fórum Eletrônico também apresentou traços hipertextuais como a
intertextualidade e a multissemiose. O primeiro caso se deu quando a aluna fez
menção a Saussure e o segundo quando a tutora a distância usa o emoticon para
informar que apreciou a resposta da aluna. Os hiperlinks constituíram o FE
enquanto gênero discursivo digital, permitindo que o hiperleitor navegasse por
outras páginas relacionadas ao tema. Além disso, o FE se apresentou como
importante recurso para construção colaborativa dos conhecimentos, auxiliando na
troca de experiências entre os participantes, permitindo que os alunos dialogassem
(BAKHTIN, 2003) sobre as noções de língua e linguagem.
Finalizamos o artigo, apontando para a significativa importância dos Fóruns
Eletrônicos na modalidade de Educação a Distância, pois, através de seu uso, os
estudantes poderão se aprofundar no tema, refletindo sobre as suas respostas e as
respostas dos outros, num contínuo processo interativo. Os resultados aqui obtidos,
longe de se tornarem generalizações sobre o tema das TICs na educação a
distância, pretendem se somar a outros, fomentando importantes debates sobre a
construção de modelos metodológicos consistentes e específicos para o ensino a
distância.
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