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O PORTUGUÊS MOÇAMBICANO: UM OLHAR SOBRE OS
NEOLOGISMOS NA OBRA DE MIA COUTO “TERRA
SONÂMBULA”
Alexandre António Timbane (UNESP)1
RESUMO: A presente pesquisa é uma reflexão sobre neologismos, empréstimos e estrangeirismos no
português escrito em Moçambique, país este que tem características sociolinguísticas bem complexas,
devido a diversidade linguística. A pesquisa tem por objetivo identificar e explicar os neologismos em
texto literário por forma a sugerir um bom tratamento deste aspecto em sala de aula. O corpus da pesquisa
é a obra Terra sonâmbula de Mia Couto. Com o Programa “Léxico-3” identificamos e estudamos a
frequência do léxico e concluiu-se que a maioria de estrangeirismos provêm do inglês e das LB.
Assinalamos que a criatividade lexical se manifesta por meio de neologismos e empréstimos. Há
neologismos que se formaram por justaposição, por aglutinação, por meio de afixos (prefixos e sufixos),
por transformação de nomes em verbos, por meio de diminutivos, por reduplicação entre outras formas.
Em textos literários, a liberdade pareceu-nos mais ampla chegando a identificar formações inesperadas do
tipo “maistravés” e “ninguéns”. Em contato com LB surgem os “moçambicanismos” que são construções
específicas a nível lexical, sintático-semântico tipicamente usados em Moçambique e que caracterizam o
português escrito e falado atualmente, tanto na literatura como nos meios de comunicação.
PALAVRAS-CHAVE: Português de Moçambique. Neologismos. Mia Couto.
ABSTRACT: This research is a reflection on neologisms, borrowings and loanwords in Portuguese
written in Mozambique, a country that has features sociolinguistics complex due to linguistic diversity.
The research aims to identify and explain the neologisms in literary text in order to suggest a good
treatment of this aspect in the classroom. The corpus of research is the work land sleepwalking of Mia
Couto. With the program “Lexicon 3” we identify and study the frequency of the lexicon and we
concluded that most loanwords come from English and BL. We note that the lexical creativity is
manifested through neologisms and borrowings. That there are new words formed by juxtaposition,
agglutination by means of affixes (prefixes and suffixes) for processing names verbs through, among
other ways by reduplication. In literary texts, the freedom it seemed wider reaching identifying
unexpected formations like “maistravés” and “ninguéns”. Contact with BL arise “mozambicanisms”
constructions that are level specific lexical, syntactic-semantic typically used in Mozambique and
featuring the Portuguese written and spoken today, both in literature and in the media.
KEYWORDS: Portuguese of Mozambique. Neologisms. Mia Couto.
Considerações iniciais
O presente trabalho resulta de uma reflexão sobre os fenômenos linguísticos que
ocorrem no português escrito em Moçambique, com particular ênfase na obra de Mia
Couto intitulada Terra sonâmbula. O português em Moçambique convive com mais de
1 Doutor em Linguística e Língua portuguesa. Foi Bolsista do CNPq/MCT-Moçambique.
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vinte línguas bantu (LB), espalhadas pelo país, línguas que influenciam direta ou
indiretamente na variação e mudança linguísticas. Como ponto de partida, questionamos
que tipo de neologismos a obra apresenta e quais processos linguísticos que participam
do processo de formação dessas novas palavras. O trabalho tem como enfoque a
criatividade lexical do português moçambicano, mas tendo como objetivo central,
identificar os neologismos bem como explicar a sua origem e formação. Sabe-se de
antemão que os textos literários entram na sala de aula e explorados
linguístico/gramaticalmente como material de ensino. Os textos de Couto não são
exceção, daí a importância da presente pesquisa.
Há vários trabalhos publicados no Brasil sobre os neologismos no português
brasileiro, mas poucos falam acerca do português falado na África. Ao nosso ver, este
trabalho vem preencher essa lacuna, procurando compreender as variedades desta nossa,
a “Língua Portuguesa” (LP) que tanto no Brasil como em países africanos foi imposta
pelo colonizador. O contexto sociolinguístico em que Moçambique se encontra permite
que haja interferência tanto de palavras vindas de línguas bantu como do inglês.
O trabalho tentará recuperar os contextos sociolinguísticos que envolvem
Moçambique, concretamente a situação linguística, os debates sobre os conceitos de
moçambicanismo e de neologismo antes de apresentar os dados e a sua respectiva
discussão. O trabalho tem como enfoque a criatividade lexical do Português
Moçambicano (PM), mas tendo como objetivo identificar os neologismos, explicar a
sua origem e formação. O contexto sociolinguístico em que Moçambique se encontra
permite que haja interferência tanto de palavras vindas das LB como do inglês.
1. Situação linguística atual de Moçambique
A LP em Moçambique é oficial e convive com LB espalhadas pelo país.
Entretanto não é língua materna da maioria da população possuindo 38,7% (Censo
realizado em 2007) da população escolarizada. A maioria da população (71,4%) vive
nas zonas rurais e utiliza as várias LB na comunicação cotidiana. O português é falado
especialmente por pessoas escolarizadas ou por aquelas que vivem nas cidades. Cumpre
dizer que a LP goza de estatuto político privilegiado quando comparada com as LB. De
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acordo com o parágrafo n.º 1 do artigo 5º da Constituição da República de
Moçambique (revisão de 2004) “Na República de Moçambique, a LP é a língua
oficial”. E no parágrafo n.º 2 do mesmo artigo, acrescenta-se: “O Estado valoriza as
línguas nacionais e promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas
veiculares e na educação dos cidadãos” numa referência às numerosas LB faladas em
Moçambique.
A intenção desse artigo da Constituição não é “politizar”, mas cumpre lembrar
que a valorização das LB passaria, pela oficialização de cada uma delas nas regiões
onde ocorrem. É sabido que a maioria da população não fala português, e dizer que “o
Estado valoriza as línguas nacionais” sem dar o devido espaço (manifestação plena e
completa) seria uma forma de “dizer para o inglês ouvir”. Por isso que as LB
moçambicanas ainda não são ensinadas na escola e tendem a reduzir o número de
falantes principalmente nas zonas urbanas (Timbane; Berlinck, 2012).
Algumas vozes, assumem um “tom político”, ao argumentar que o português
funciona como “língua de união” frente à diversidade linguística do país. Mas também é
preciso mostrar que as línguas locais deveriam ser oficializadas nas regiões onde elas
ocorrem, por uma questão da conservação de valores sociais e culturais, bem como o
respeito à identidade. Apesar disso, o número de falantes da LP tem aumentado nestes
últimos anos devido à massificação da educação2 inclusiva, devido ao aumento dos
meios de comunicação, tais como a rádio, o jornal e a televisão.
Hoje, considera-se a LP como língua nacional devido ao número crescente de
falantes que atinge 89%, segundo Timbane (2012b) e Instituto Nacional de Estatística
(2008). A LP é patrimônio cultural dos moçambicanos. Na qualidade de língua materna
o português é falado por 10.7% dos mais de 20 milhões de habitantes (Instituto
Nacional de Estatística, 2008). Com isso queremos afirmar que Moçambique, tem uma
população majoritariamente “bantófona”, e que cada uma das vinte LB deveria ser
reconhecida como língua oficial pelo menos nas regiões onde ocorrem. Couto (2009),
2 “A taxa de analfabetismo no país diminui de 60,5% em 1997 para 51,9% em 2005” (Instituto Nacional
de Estatística, 2008, p.47).
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escritor moçambicano, em seu livro E se Obama fosse africano? e outras
interinvenções, diz o seguinte:
O que advogo é um homem plural, munido de um idioma plural. Ao lado de
uma língua que nos faça ser mundo, deve coexistir uma outra que nos faça
sair do mundo. De um lado, um idioma que nos crie raíz e lugar. Do outro,
um idioma que nos faça ser asa e viagem. Ao lado de uma língua que nos
faça ser humanidade, deve existir uma outra que nos eleve à condição de
divindade (COUTO, 2009, p.26).
Ouve-se frequentemente que Moçambique é um país lusófono e não
“bantófono”. Mais ainda se pode dizer que, muitos cidadãos, principalmente na zona
rural, nunca se identificam com a LP. Os argumentos que sustentam essas afirmações
são os dados estatísticos fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (2008) que
apenas apontam 10.7% da população moçambicana fala o português como língua
materna. Esta percentagem não nos permite afirmar com segurança que a população
moçambicana é lusófona. Sob o ponto de vista político, Moçambique é lusófono, mas
sob o ponto de vista da vida prática e cotidiana, Moçambique possui uma população
“bantófona”. Esta é uma realidade concreta que vai interferir na variação do português
falado em Moçambique e em outros países de língua oficial portuguesa.
Sobre o debate que incide na escolha da língua a utilizar, Dias (2002, p.61)
defende que “as línguas e os dialetos vão ser comparados e avaliados em relação a
língua oficial ou ao dialeto de prestígio eleito pelo Estado, pela elite e pela classe
dominante nesse país.” O prestígio e a superioridade ou a falta de prestígio e a
inferioridade conferidos a uma língua provocam a desigualdade linguística, são
socialmente motivados. É por esta razão que a LP ganha campo sob o ponto de vista
político, mas na prática e junto às populações, pode encontrar-se outra realidade bem
diferente: o domínio das LB. A língua materna mais difundida é o emakuwa (26,3%)
falada na província de Nampula, ao norte do país; em segundo lugar está o xichangana
(11,4%) falado no sul do país, e em terceiro lugar, o élomwé (7,9%), uma língua falada
no norte de Moçambique. É preciso ainda reconhecer a presença marcante da
comunidade asiática radicada em Moçambique desde os tempos da colonização. Essa
comunidade é falante das línguas urdu e de gujarati, para além do árabe utilizado na
religião muçulmana com mais incidência no norte de Moçambique.
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1. 1. Línguas bantu versus ensino da língua portuguesa e o impacto na vida social
Para uma melhor compreensão do fenômeno dos neologismos em Moçambique
é importante perceber como se dá o contato entre a LP versus LB versus Ensino. A LP
passou a ser uma língua moçambicana, na medida em que já tem falantes nativos. A LP
tem causado muitos problemas de aproveitamento escolar desde o início da nova era
(pós-independência) porque a maioria das crianças só pratica a LP na escola, na
interação com o professor e no meio familiar ainda prevalecem as LB. Uma vez que a
maior parte da população usa as LB, seria importante que se avançasse para uma
educação bilíngue em que a LP concorra com uma LB. Ngunga (2002) defende que
É imperioso, pois, que as línguas moçambicanas sejam incluídas no sistema
de educação nacional de Moçambique, quer por razões políticas, quer por
razões pedagógicas, para a maioria das crianças moçambicanas. É injusto que
uma criança não avance na sua carreira escolar só porque lhe é imposta uma
barreira que todos sabem intransponível. O uso na escola de uma língua
desconhecida como veículo de ensino-aprendizagem fomenta timidez no
estudante e desenvolve a arrogância do professor. Não é por acaso que os
alunos das zonas rurais falam menos do que os das zonas urbanas
(NGUNGA, 2002, p.8 ).
Resultado: Alguns deputados na Assembleia da República têm medo de colocar
suas opiniões por causa do fator língua. Já que o “português” falado é difícil, somente
os escolhidos é que tomam a palavra para expressar opiniões em sessões. Quem conhece
Moçambique confirmará esta realidade: há deputados que terminam o mandato sem que
sua voz tenha sido ouvida.
Na perspectiva que o Ngunga acaba de mostrar revela as dificuldades que as
crianças da zona rural enfrentam no sistema educativo, pelo fato de não ser sua língua
materna. É importante que se diga que “a verdadeira manutenção linguística reside em
última instância no reconhecimento do estatuto oficial das línguas bantu e ao mesmo
tempo na implementação de diversos programas bilíngues na sociedade, e em particular
o uso do bilinguismo inicial na educação” (Lopes, 2004, p.52).
Apesar de a escola ser considerada a guardiã da norma culta e do bom-uso
linguístico, não consegue controlar o uso de certas formas gramaticais características no
meio social em que o indivíduo está envolvido. Estamos falando da interferência das LB
no português, fato que resulta numa variedade. Se observarmos com atenção, os livros
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didáticos e paradidáticos perceberemos que se privilegia a literatura moçambicana.
Excertos desses textos literários são ricos em neologismos (da matriz interna e externa)
também explorados gramaticalmente. Por vezes, essa prática passa despercebida e isso
significa que se por um lado incute-se nos alunos que “o modelo certo de falar
português” é a norma-padrão europeia, por outro lado, camufla-se a realidade
sociolinguística da variedade moçambicana, quer dizer, os moçambicanismos, tal como
veremos mais adiante.
É importante sublinhar que a maioria dos alunos do ensino primário em
Moçambique tem o português como língua segunda e os programas de ensino primário3
não orientam como os professores devem proceder no caso de encontrarem
neologismos, estrangeirismos e empréstimos nos textos usados em sala de aulas, cuja
sua maioria são escritos por moçambicanos. Outra questão é a seguinte: que
procedimento a seguir quando um aluno escreve um neologismo visto num dos textos
escritos por escritores moçambicanos? Na correção das redações, o professor deve
colocar certo ou errado? O Programa do Ensino de Português da 12ª classe defende que
Os alunos deverão ser encorajados a ler obras diversas e a fazer comentários
sobre elas e seus autores, a escrever sobre temas variados, a dar opiniões
sobre factos ouvidos ou lidos nos órgãos de comunicação social, a expressar
ideias contrárias ou criticar de forma apropriada, a buscar informações e a
sistematizá-la. Particular destaque deverá ser dado à literatura representativa
de cada uma das línguas e, no caso da língua oficial e das línguas
moçambicanas, o estudo de obras de autores moçambicanos constitui um
pilar para o desenvolvimento do espírito patriótico e exaltação da
moçambicanidade (Ministério da Educação, 2010, p.6).
Num espaço em que ainda há vozes que olham para português europeu como
“modelo correto a ser seguido” (“Um molde de vestido onde todas as mulheres do
3 Em Moçambique o ensino fundamental está organizado da seguinte forma: Ensino Primário do 1º grau
(1ª a 5ª classes); Ensino Primário do 2º grau (6ª e 7ª classes). O ensino médio abrange de 8º ao 12º ano de
escolaridade. Programa de português da 12ª classe determina que “ao longo do 1º e 2º Ciclos, o aluno
deverá ler obras e extractos de autores moçambicanos que marcaram a história da literatura do país, no
período anterior à independência tais como Rui de Noronha, Noémia de Sousa, José Craveirinha, Rui
Knopfli, Marcelino do Santos, Orlando Mendes, Luís Bernardo Honwana, Rui Nogar, Sérgio Vieira,
Armando Guebuza, Albino Magaia entre outros. Serão ainda estudadas obras e textos de autores que se
destacaram no período pós independência, nomeadamente Mia Couto, Ungulani Ba Ka Kossa, Lília
Momplé, Paulina Chiziane, Eduardo White, Suleimane Cassamo, Aníbal Aleluia, Calane da Silva,
Heliodoro Baptista, Sebastião Alba, José C. Patraquim, Leite de Vasconcelos, entre outros (Ministério da
Educação, 2010, p.10).
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mundo vão caber nesse no vestido sem exceção”)4 parece não ser possível desenvolver
esta ideia. Os moçambicanismos que vamos debater a seguir refletem o português que
está sendo falado/escrito nos dias de hoje por moçambicanos. Os neologismos e os
estrangeirismos refletem a dinâmica das línguas em geral, a nível morfológico, lexical,
fonético, semântico/pragmático e o português não seria exceção. A produtividade
lexical é uma característica normal de todas as línguas vivas e isso não é uma anomalia,
nem erro, mas sim a dinâmica a que nos referimos com muita insistência neste trabalho.
O estudo do léxico em sala é um mito tanto em Moçambique quanto no Brasil. Antunes
(2012) mostra que
a maioria dos livros didácticos, sobretudo os do ensino fundamental, o estudo
do léxico fica reduzido a um capítulo em que são abordados os processos de
formação de palavras, com a especificação de cada um desses processos,
acrescida de exemplos e de exercícios finais de análise de palavras. O destino
que terão as palavras é silenciado. O significado que tem a possibilidade de
se criar novas palavras pouco importa (Antunes, 2012, p.20-21).
Esse é, na verdade, um aspecto pedagógico que caminha para uma educação que
limita a criatividade do aluno bem como da análise de todo tipo de texto. É exatamente
este assunto que faz com que os alunos sejam desmotivados e repetem a classe
constantemente. Isto porque, “para a escola aceitar a variação linguística como um fato
linguístico, precisa mudar toda a sua visão de valores educacionais” (Cagliari, 2009,
p.70). Segundo Cagliari, “aprender português [...], não é só aprender como a língua
funciona, mas também estudar ao máximo os usos linguísticos; e isso não significa só
aprender a ler e escrever, mas inclui ainda a formação para aprender e a usar variedades
linguísticas diferentes, sobretudo o dialeto-padrão” (Cagliari, 2009, p.72). A tentativa de
ensinar um modelo ideal de língua homogênea, quer dizer, “uma norma de contornos
(supostamente) bem definidos, se vincula ao mesmo projeto, mais ou menos explícito
na maioria dos livros didáticos, de promover o ensino transmissivo da gramática
normativa com toda a sua nomeclatura.” (Bagno, 2013, p.117). É simplesmente essa
atitude que incentiva o insucesso escolar tanto no Brasil quanto em Moçambique.
Retomando as discussões, conclui-se que a escola moçambicana enfrenta problemas no
ensino do português provocado pelos contextos sociolinguísticos dos quais a língua está
4 (cf. Bagno, 2009, p.39-43)
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inserida. O uso dos textos literários em sala de aula é uma grande armadilha para os
professores mal formados ou desavisados porque os escritores têm uma liberdade ampla
que em muitas vezes se opõem à norma-padrão. Por outro lado, o texto literário tem um
“caráter revolucionário” (Antunes, 2012, p.123).
2. Debatendo conceito “moçambicanismos”
As línguas mudam com o tempo, com o lugar, com o grupo social, mudam
também de acordo com gênero, com o nível de escolaridade (educação formal), com a
idade, com lugar de residência, etc. Sabemos que a LP falada hoje deriva do latim
vulgar que ao longo do tempo evoluiu dando origem as línguas diferentes: o italiano, o
francês, o romeno entre outras. No que concerne ao sistema lexical de uma língua, vale
retornar algumas ideias essenciais antes de avançar.
o léxico é o conjunto das palavras fundamentais, das palavras ideais duma
língua; o vocabulário é o conjunto dos vocábulos realmente existentes num
determinado lugar e num determinado tempo, tempo e lugar ocupados por
uma comunidade linguística; - o léxico é o geral, o social e o essencial; o
vocabulário é o particular, o individual e o acessório (Vilela, 1995, p.13).
Ao chegar em Moçambique (no século XVI), a LP encontrou um território
complexo do ponto de vista linguístico. Os moçambicanos estavam organizados em
diferentes etnias bem dispersos numa extensão de 801.590 km² e cada uma falando sua
língua. Nesse contexto, o ensino da LP só foi possível devido ação das missões
religiosas católicas e suíças que ensinavam o catecismo em igrejas. Foram portanto,
quatro séculos de dominação colonial que não trouxeram nenhum avanço na
aprendizagem do português, isto porque o sistema colonial não estava interessado em
ensinar aos moçambicanos . Durante todo esse período o contato entre portugueses e
moçambicanos era limitado, pois os moçambicanos conservaram as suas línguas locais
mesmo depois da independência em 1975. O contato entre a LP e as LB é uma das
razões que justificam o aparecimento de unidades lexicais a que designamos por
“moçambicanismos”.
Segundo Dias (2002, p.20) denominam-se moçambicanismos “todas as palavras
(neologismos, estrangeirismos e empréstimos) que são mais tipicamente usadas em
Moçambique e que mostram e particularizam a regionalização léxico-semântica do
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português em Moçambique.” Partindo-se do princípio de que as línguas mudas com o
tempo, é importante lembrar que embora aconteçam em diferentes em diferentes níveis
linguísticos, as mudanças são sempre mais evidentes no nível lexical. Estudos
sociolinguísticos mostram que a gramática é a última a ser afetada pela variação. Os
moçambicanismos, na visão de Vilela (1995) seriam
indícios claros de afirmação de norma própria: na maneira original como
adopta o seu vocabulário de origem bantu ao sistema português divergindo
inclusivamente da norma europeia (lusitana), no modo como simplifica a
morfologia flexional do português, como começa a optar pela ordenação dos
elementos frásicos na sequência discursiva e, sobretudo, como força o léxico
do português a adaptar-se à mentalidade africana, tanto nos semas inerentes
como semas classemáticos: o que implica, por vezes, uma reformulação do
esquema frásico em alguns dos seus modelos proposicionais (Vilela, 1995,
p.68).
Essas características apontadas por Vilela são as que distinguem a fala de um
africano da fala de um português ou de um brasileiro. É que os moçambicanismos têm
características próprias, específicas, que criam uma diferença notável a nível fonético,
semântico, lexical e morfossintático. As línguas naturais constituem configurações que
mudam lentamente, moldadas pelo curso invisível e impessoal que é a vida da língua.
Essas mudanças ocorrem em todos os níveis da língua (semântico, fonético-fonológico,
sintático e lexical, pragmático), pois, com o decorrer do tempo, verificam-se em
diversas línguas certas alterações na percepção de nomes de objetos que podemos
designar de mudanças semânticas. Desses processos de mudança não se exclui a LP,
pois também vem sendo modificada na pronúncia, na gramática e no discurso; vai
incorporando novas formas de expressão; vai construindo uma certa identidade moldada
pelo espaço histórico, plurilinguístico e multicultural onde se encontra inserida.
Timbane (2012a) no artigo os estrangeirismos e os empréstimos no português falado
em Moçambique observou a presença das unidades lexicais: matorritori (cocada),
tchovaxitaduma (carinho de mão grande), matapa (folhas de mandioqueira ou prato
feito a base de folhas de mandioca), matequenha, timbila (xilofone), khanimanbo
(obrigado) e tontonto (cachaça) (Timbane, 2012a, p.292) todas provenientes da língua
xichangana. Estas novas unidades lexicais estão presentes no cotidiano dos
moçambicanos.
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Este fenômeno que pressupõe apropriação, recriação e enriquecimento da LP por
falantes moçambicanos, adaptando-a ao seu contexto sociocultural, segundo Dias
(2002), constitui a moçambicanização da língua. De acordo com esta autora, os
linguistas de Moçambique se dividem segundo duas opiniões distintas:
Opinião 1: Um grupo que defende a oficialização imediata das mudanças em
curso e adopção de uma LP moçambicana nos órgãos oficiais, na escola e nos
meios de comunicação de massa. Este grupo é, muitas vezes, movido por
sentimentos de nacionalismo, lealdade, orgulho e emancipação linguística.
Opinião 2: Outro grupo que afirma não existir uma LP moçambicana e que
há apenas uma variedade moçambicana em formação, pois não existem dados
suficientes que permitem padronização de uma variedade moçambicana da
LP. Tais estudiosos defendem que as diferenças linguísticas, sincronicamente
observáveis, não constituem verdadeiras mudanças linguísticas, pois estão
sujeitas a muita variação e flutuação (Dias, 2009, p.390).
Se o português falado atualmente não foi o mesmo falado nos séculos passados
em Portugal, por que o português de Moçambique deveria permanecer estático,
imutável e sólido? Concordamos plenamente com a primeira opinião, pois as mudanças
nunca avisam nem alertam aos seus falantes. É o que Naro (2004, p.43) designa por “O
dinamismo das línguas”. O autor defende que “as mudanças se processam de forma
gradual em várias dimensões, de forma silenciosa, atacando a parte lexical, passando
pelo fonético, morfossintático, até ao semântico.” Para o autor, “a mudança linguística
não é absolutamente mecânica regular a curto prazo”. Os estudiosos partidários da
segunda opinião talvez não tenham atentado para as mudanças a que nos referimos: as
variáveis sociais (idade, sexo, nível de escolaridade, grupo social) e as sim podem
provocar mudanças na língua.
Quanto aos argumentos que sustentam a primeira opinião, cumpre ponderar que
ainda são insuficientes não se especifica, por exemplo, que quantidade de dados seriam
necessários para se considerar uma variação/mudança. Pesquisas de Dias (2002, 2009,
1991) mostraram claramente a existência de variações. Moçambique alcançou
independência política em 1975, mas a independência linguística ainda não foi
declarada5. Em 2002, a linguista Hildizina Norberto Dias, publicou o primeiro
5 Este argumento se baseia no fato de que as pessoas ainda pensam que só quem nasceu e cresceu em
Portugal é que fala melhor a língua portuguesa. Bagno (2013, p.61) afirma que “a norma-padrão não faz
parte do espectro contínuo de variedades linguísticas reais, efetivamente faladas numa comunidade” e por
isso não existem falantes do padrão em nenhuma parte do mundo.
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Minidicionário da Moçambicanismos, que vem comprovar mais uma vez a mudança
lexical do português falado em Moçambique. Esta obra contém 1500 verbetes ricos em
neologismos e empréstimos. A elaboração do dicionário, segundo Dias (2002), foi
motivada pelo fato de “a língua portuguesa em Moçambique ter vindo a sofrer uma série
de mudanças a todos níveis, por influencia de vários fatores, destacando-se o contato
com as línguas bantu e os fatores socioeconômicos e políticos inerentes à actual
conjuntura moçambicana” (Dias, 2002, p.12).
Este dicionário contém cerca de 1540 verbetes organizados alfabeticamente de A
à Z, cuja macroestrutura traz nomes que designam animais, plantas, rituais, ações,
sabores, trajes, instrumentos e acontecimentos. A obra compila moçambicanismos,
dando continuidade, segundo a autora, ao trabalho realizado anteriormente por outros
estudiosos. Trata-se de moçambicanismos do registro oral da língua, recolhidos em
contextos de comunicação familiar ou popular, em três cidades do país: Maputo,
Quelimane e Pemba. Ainda segundo Dias (2002, p.18), o seu principal objetivo é
“mostrar algumas palavras e significados novos usualmente utilizados por alguns
moçambicanos e que não aparecem nos dicionários portugueses”. No entanto, conforme
a autora realça, não é sua intenção impor uma norma linguística nem sequer padronizar
a língua portuguesa falada em Moçambique.
O Minidicionário de Moçambicanismos apresenta estrangeirismos, empréstimos
e neologismos com as respectivas transcrições fonéticas e com informações
etimológicas das unidades lexicais coligidas. No que diz respeito à estrutura do
dicionário, a autora dedica 36 páginas situando o leitor: faz pequenas explanações sobre
as motivações, e objetivos do dicionário, faz referência à metodologia de recolha de
dados usada, apresenta uma breve reflexão sobre a ortografia, transcrição fonética e
outros aspectos julgados importantes. Há que se realçar a importância do Dicionário
eletrônico de moçambicanismos que nos ajuda a compreender melhor essa questão.
Trata-se de um dicionário em construção, mas que já configura primeiro passo
importante na construção de um português moçambicano. Já há muita literatura sobre
moçambicanismos. Timbane (2009) dando exemplos dos moçambicanismos mais
frequentes no português oral de Maputo aponta que “as palavras afinar (apertar pessoas
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no machimbombo ou autocarro), guevar (fazer comprar para revender), bala-bala
(andar sem parar), minhar (segregar), txovar (empurrar), são exemplos típicos do nosso
português” (Timbane, 2009, p.26-36) que precisam ser reconhecidas porque mostram as
especificidades da variedade moçambicana. O reconhecimento e o estudo da língua em
seu contexto real defende a teoria de que “não existe um padrão predeterminado,
compacto, homogêneo e perfeito [...]” (Bagno, 2013, p.118). É neste âmbito que Bagno
propõe uma reeducação sociolinguística na qual os professores mostrarão aos seus
alunos a complexidade da dinâmica social sob ponto de vista linguístico ilustrando que
eles “sabem português e que a escola vai ajudar a desenvolver ainda mais esse saber”
(Bagno, 2013, p.177). Passemos ao conceito de neologismo.
3. Debatendo conceito de neologismos
Freitas, Ramilo e Arim (2005, p.51) definem neologismos como sendo “palavras
novas da língua, isto é, as palavras que entraram há pouco tempo ou que ainda estão
num processo de integração no léxico da língua.” Sabe-se que o termo neologismo é
composto pelos elementos neo (novo) e do grego logos (palavra), do latim significa
“palavra nova” (Alves,1994; Carvalho, 2009). Segundo Vilela (1995, p.23) define
neologismos como “algo de novo que entra na língua.” Há neologismos semânticos
implicam a mudança total, um acrescentamento de significado ao de uma forma
existente.
Concordamos com a forma como Freitas, Ramilo e Arim (2005) e Vilela (1995)
definiram os conceitos, mas a definição de Alves (2003) nos parece mais completa na
medida em que apresenta limites. Alves define “neologismo” como uma “unidade
lexical é neológica se foi criada em um período recente; ou se não está registrada nos
dicionários de língua; ou se é percebida como nova pelos falantes; ou, ainda, se
apresenta instabilidade em aspetos morfológicos, gráficos ou fonéticos” (Alves, 2003, p.
262).
É com base nesse conceito que vamos desenvolver este trabalho, serão
analisadas unidades lexicais que ainda não estão registradas no Dicionário Houaiss da
língua português (2009). As outras definições não especificam como identificar os
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neologismos. E acreditamos que este critério é um argumento válido. Não se procuram
neologismos em espaços vagos, mas sim em um lugar preciso: no dicionário. A
ausência de itens em uma obra lexicográfica passa a ser desse ponto de vista, um dado
bastante significativo. Os neologismos são “palavras criadas para designar novas
situações, conceitos, factos, objectos, etc, sendo que um neologismo só é sentido como
tal durante algum tempo, pois passados anos ou séculos deixam de ter sentido como tal,
porque a realidade que ele designa também já não é nova.” (Revista E-Ciência, 2006,
p.1).
A criação de neologismos segue regras específicas da língua de chegada. É o que
Carvalho (2006, p.192-195) designa por neologismo formal para “as palavras que ainda
não constam no verbete dos dicionários” e neologismos conceptuais seriam aquelas que
trazem novo significante semântico. O exemplo mais próximo no português de
Moçambique é a palavra chapa que significa tanto como remendo que se coloca na
roupa; veículo automóvel para transporte semicoletivo de passageiros (cf. Dias, 2002,
p.82). Carvalho defende ainda que o
processo de formação dos neologismos é gradual. Historicamente toda
palavra foi, um dia, nova, isto é, a partir de certo momento é que passou a
fazer parte de uma comunidade. O reconhecimento do estado de uma língua
implica no reconhecimento intuitivo do caráter de novidade de certas
palavras. Algumas pertencem à fala, mas ainda não à língua, porque têm
condição provisória (Carvalho, 2006, p.193).
Segundo Capucho (2008, p.278) as novas palavras aparecem em contexto de
mundialização, é o caso de “antieuropeísta, desburocratização, desaceleração,
desmultiplicação, Eurotúnel, descapitalização; de novas tecnologias: cibercafé,
ciberespaço, telejornalismo, videoporteiro, videoconferência, videoclube.” Esta é a
dinâmica que as línguas têm quando são usadas. Barbosa esclarece o seguinte:
Os neologismos carregam consigo os valores socio-culturais. Do ponto de
vista diacrônico, o percurso do neologismo, [..], já indica que um
neologismo, criado em determinada etapa da língua, se não desaparece, se
desneologiza, ou seja, integra-se a uma norma, torna-se lexia memorizada na
competência de um grupo de falantes, efetiva, disponível para a atualização;
por vezes, integra-se à norma geral, do conjunto dos sujeitos falantes-
ouvintes do idioma (Barbosa, 2001, p.38-39).
Em outras palavras, a mudança linguística é fenômeno permanente que responde
às necessidades da comunidade dos falantes, sejam elas de ordem social ou técnica.
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Contudo, “é sempre lenta e gradual; a realidade, a criação de novos objetos sempre
precederá a criação dos itens lexicais que os denominarão. O importante é que essa
dinâmica não contrarie a norma e o sistema da língua.” (Carvalho, 2001, p.66).
Concordo com a perspectiva da existência da LP e de suas variantes em
Moçambique, do Brasil, de Angola, de São Tomé e Príncipe, de Cabo Verde, de Timor
Leste e de Portugal. Embora sejamos falantes de português e tenhamos noções de
linguística encontramos dificuldades na comunicação com brasileiros ao chegar ao
Brasil em 2010. As palavras camisola, bermuda, blusa, apelido, biquíni, bicha, sussa,
abacaxi, goleiro, checar, estartar, xerocar, entre muitas outras unidades lexicais próprias
da variante brasileira causaram-me estranheza e constrangimento na interação com
brasileiros.
A dificuldade de comunicação e de compreensão prova que essas unidades
apresentam significados diferentes daqueles que eu conhecia na variante falada em
Moçambique. O estrangeirismo show no Brasil significa espetáculo teatral ou
cinematográfico em que há música, dança coreografia e, geralmente, está montado em
torno de um cantor ou animador, funciona como um substantivo, mas em Moçambique
significa bom, ótimo, espetacular, maravilhoso, ou seja, funciona como um adjetivo. O
conhecimento da LP não basta, a comunicação pressupõe o conhecimento dos contextos
socioculturais nos quais essas unidades lexicais são usadas, pois o valor semântico pode
diferir de povo para povo. A presença de neologismos sustenta a tese de que a língua
deve ser entendida como “um sistema complexo, dinâmico e adaptativo” (Viotti, 2013,
p.149). Segundo a autora, a mudança linguística “é constante e perene. Não há
instancias de uso de língua em que mudanças não se verificam. A comunicação não é
uma troca de mensagens empacotadas pelo falante num momento e desempacotadas por
seu interlocutor num momento subsequente” (Viotti, 2013, p.157). Feitas as
considerações inicias a cerca dos conceitos básicos e os devidos debates passaremos a
tratar do aspecto metodológico subjacente à pesquisa.
4. Metodologia e apresentação dos resultados
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O estudo de textos literários para o estudo da variação vem sendo pesquisado há
muito tempo. Martinet explique que “basta, para um francês, percorrer la chanson de
Roland ou sem subir mais alto, ler Rabelais ou Montaigne em texto original para se
convencer de que as línguas mudam ao longo do tempo” (Martinet, 1967, p.172,
tradução nossa). A literatura é um rico material para o estudo da língua, a escolha do
texto de Mia Couto. A literatura está sempre presente nas aulas de português nas escolas
moçambicanas e em todas as províncias. O Ministério da Educação elabora manuais e
coloca textos originais e adaptados para que os alunos tenham acesso à literatura desde
as classes iniciais. As obras literárias originais não chegam nas mãos dos alunos porque
são caros e a pobreza é extrema para a maioria da população. Por isso que Moçambique
ocupa o 185º (o 3º de baixo para cima) no ranking mundial do desenvolvimento
humano, segundo Malik (2013).
Com isso pretendemos dizer que o único texto literário que chega nas mãos do
aluno moçambicano (principalmente na zonas rurais) é o texto adaptado ou colocado na
íntegra nos livros escolares elaborados pelo Ministério da Educação de Moçambique.
Sendo assim, para a constituição do corpus utilizamos o livro original do romance
Terra sonâmbula de Mia Couto com intuito de observar a criação lexical presente na
sua obra.
Após a identificação de unidades lexicais, seguiu-se a fase de codificação e
organização por forma a obter dados através do Programa Léxico-3. Objetivo era de
extrair a frequência desse léxico, mas com especial atenção a frequência de
neologismos, empréstimos e estrangeirismos. O princípio para identificação de
neologismos foi com base no corpus de exclusão metodologia sugerida por Carvalho e
Silva (2001, p.111-116). O Dicionário integral da língua portuguesa (2008) e o
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009) foram utilizados como referência
de exclusão. A sustentação teórica dessa metodologia encontra-se em Rio-Torto (2007,
p.25) que defende o seguinte: “por via de regra, para apurar se uma palavra pode ou não
ser marcada como neológica, torna-se por universo de exclusão um conjunto de fontes,
mais amplo possível, de um dado momento epocal.”
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Sendo assim, a escolha do Dicionário integral da língua portuguesa (2008) se
justifica pelo fato de que é o recomendado pelo Ministério da educação de Moçambique
e circula com mais frequência nas escolas. O segundo, quer dizer, Dicionário Houaiss
da língua português (2009), se justifica pelo fato de que é referência na variedade do
português brasileiro e é, sem dúvidas o mais recente e completo. Da pesquisa obtivemos
os seguintes resultados:
4.1. A obra Terra sonâmbula de Mia Couto
A obra Terra sonâmbula teve por motivação os conflitos desestabilizadores da
chamada “guerra de desestabilização” ou “guerra pela democracia” vivenciados pela
sociedade de Moçambique dois anos após a proclamação da independência do país
1975, e que chegaram ao fim apenas em outubro de 1992. Couto vale-se da palavra
para, “comunicar-se diretamente com a alma profunda de uma terra conturbada à qual
foi negado o direito ao sono - a terra sonâmbula- mas não ao sonho e à arte, as vias
mágicas por excelência de resgate da vida humana”. Em 204 páginas, Couto (2010)
mostra ao leitor a capacidade de “brincar” ou de fazer “brincriações” com as palavras,
criando neologismos de todo tipo. Vejamos, então primeiramente os neologismos
formais e os estrangeirismo/empréstimos provenientes da língua xichangana.
Couto nasceu na cidade de Beira (interior de Moçambique) e talvez pela
convivência com pessoas do sul do país acabou assimilando mais estrangeirismos do
xichangana ao invés da língua ndau falada na província de Sofala (cidade da Beira). Da
recolha feita identificamos 223 neologismos. Neste trabalho procuramos indicar o
capítulo (cap.) e a página (p.) onde encontramos a unidade lexical. Vejamos (no Quadro
1) a distribuição de uso dessas unidades em capítulos:
Capítulo I II III IV V VI VII VIII IX X XI Total
Quantidade de
neologismos
25 18 15 14 6 25 15 37 38 25 5 223
Quadro 1: Distribuição de neologismos em capítulos do livro
Uma das características mais marcantes dos neologismos presentes nesta obra é
a formação lexical por composição. Segundo Cunha e Cintra (2008, p.119), no processo
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de composição, podem-se criar palavras com elementos simplesmente justapostos,
conservando cada qual a sua integridade. Vejamos os exemplos:
Neologismos
Localização na obra
Neologismos
Localização na obra
filho-dentro
madeira-e-zinco
arco-iriscando
mau-olhado
marido-defunto
viúvo-solteiro
bem-disposto
mal-fragado
lusco-focaram
vira-revira
casinha-natal
guerra-fantasma
exército-fantasma
meia-fechada
cap. 1, p.22
cap.1, p.29
cap. 2, p.37
cap. 2, p.40
cap. 2, p.45
cap. 2, p.45
cap. 2, p.46
cap.3, p.57
cap.4, p.64
cap.4, p.79
cap. 6, p.105
cap. 6, p.111
cap. 6, p.111
cap. 6, p.112
pisca-piscando
formigas-cadáver
olho-zarolho
camarada-chefe
chora- minguante
logo-logo
zuca-zaruca
nua-vem
nua-vai
nuvem-macho
recém-recente
longas-lengas
camarada-em-chefe
pau-mandado
cap. 8, p.144
cap.8, p.146
cap.8, p.146
cap.8, p.146
cap.8, p.149
cap.8, p.149
cap.9, p.153
cap.9, p.153
cap.9, p.153
cap.9, p.153
cap.9, p.154
cap.9, p.159
cap.9, p.165
cap.9, p.171
Quadro 2: Formação de compostos por justaposição
Estas unidades são novas na variante de Moçambique, pelo menos não constam
da nomenclatura no dicionário consultado, e sua composição está intimamente ligada ao
estilo do autor e à beleza do texto. A Quadro 2 é apenas uma amostra das muitas outras
unidades que podem ser flagradas ao longo do romance. Mas as palavras podem se
“unir e pode-se perder a ideia da composição, caso em que se subordinam a um único
acento tônico e sofrem perda de sua integridade silábica.” (Cunha; Cintra, 2008, p.119).
Nesse caso, Couto cria várias novas palavras a partir da aglutinação de pelo menos duas
outras. No processo de aglutinação, diferentemente do que ocorre na composição por
justaposição, perde-se a noção das unidades tomadas isoladamente. As palavras da
tabela 3 são alguns exemplos desse tipo de formação.
Em “Terra sonâmbula” de Couto observa-se a transformação de verbos a partir
de adjetivos. Na sua “arte neologística”, Couto transforma adjetivos em verbos, algo
que a gramática da LP não aceitaria, não fosse a prerrogativa que ele tem de ser
inovador na literatura. Os exemplos são: pequenava (cap.4, p.78), sozinhar-me (cap.1,
p. 28) e azarava (cap.2, p.43) formas derivadas dos adjetivos pequeno, sozinho e azar
respectivamente.
Outro processo de formação de palavras que merece ser observada é derivação.
Nesse caso temos a criação por meio de afixos: prefixos e sufixos. Vejamos no Quadro
3, alguns exemplos de neologismos construídos por meio de afixos.
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Quadro 3: Formação de neologismos por afixação
No Quadro 3, observa-se que em vários capítulos da obra, Couto cria
neologismos usando prefixos: des-, im-, in-, dis-, a- e os sufixos –mente, -dade entre
outros. Há situações em que aparece sufixos e prefixos simultaneamente, como é o caso
da terceira coluna do Quadro 3.
Uma outra forma de criação neológica recorrente a obra de Couto é a
transformação de nomes (sobretudo substantivos comuns) em verbos. Vejamos alguns
exemplos na tabela:
Transformação de nomes em verbos Diminutivo Localização Diminutivo Localização Diminutivo Localização
cabritoteava cap. 3, p.61 infanciando cap.9, p.158 varadeando cap.9, p.158
desvizinham-se cap. 4, p.68 nenecar cap.1, p.19 machambar cap.1, p.17
ameijoaram cap. 4, p.76 praiava cap.1, p.20 faquinhado cap.9, p.154
historiava cap.7, p.131 mulatar cap.1, p.25 arco-iriscando cap.2, p.37
luzinhou cap.8, p.144 raivando cap.1, p.26
Quadro 4: Formação de verbos a partir de nomes
No processo de transformação de nomes todos os verbos se enquadram na
primeira conjugação. Todos os exemplos apresentados na Quadro 4, mostram a
integração dos verbos na primeira conjugação. Aliás, a língua portuguesa obriga que
todas as palavras, concretamente os verbos provenientes de outras línguas sejam
integrados na primeira conjugação e terminados em –ar. A criação de verbos a partir de
adjetivos e nomes ocorre de forme recorrente ao longo do romance Terra sonâmbula.
Faz parte do estilo literário usado por Couto na sua “brincriação”.
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O professor de português que trabalha com estes textos em sala de aula precisa
explicar mostrando aos alunos a criatividade lexical que é uma marca recorrente em
textos de Mia Couto. Com certeza, os alunos não encontrarão essas palavras no
dicionário por serem novas. Assim, é necessário que o aluno saiba o conceito
neologismo para que não fique frustrado ao consultar um dicionário.
4.2. Empréstimos vindos de inglês
A palavra biznés (cap. 6, p.113) é recente no português de Moçambique e
chegou ao país com o advento da globalização e dos negócios. Tem origem na língua
inglesa (biznés do inglês bussines). Segundo o Dicionário de Moçambicanismos provém
da forma biznar (forma verbal da primeira conjugação) que significa vender.
Provavelmente, não se trata de um moçambicanismo em sentido estrito, Em
Moçambique, parece prevalecer o uso transitivo, no sentido de “vender”, e não o uso
intransitivo significando “fazer negócios”. É importante assinalar que a escrita ainda
varia. A insegurança ortográfica pode ser flagrada em alguns documentos escritos, onde
se grafa ora business ora bizness, ou ainda bizne.
A unidade lexical maningue foi criada por jovens para dizer “muito” ou seja, o
neologismo funciona como um advérbio. Segundo o Dicionário de Moçambicanismos,
maningue é um dos moçambicanismos mais famosos, se não mesmo o mais famoso. O
dicionário Porto Editora e o dicionário Priberam online registram ambos a palavra. A
palavra maningue é comum a várias línguas locais, como assinalam Lopes, Sitoe e
Nhamuende apud Lindegaard (s.d.), em Moçambicanismos, dando o exemplo de
manyingui na língua tsonga. Mas sei que a palavra é também usada em ndau, por
exemplo. Segundo estes autores, as palavras de línguas bantas de que deriva o maningue
do português moçambicano vêm, por sua vez, do inglês many, “muito”. Todos os
dicionários consideram maningue um advérbio, e o dicionário Porto Editora considera
também que a palavra pode ser um pronome. Presumo que esta classificação de
“pronome” corresponda à minha ingênua classificação de “adjectivo” (igual, aliás, à que
propõem Lopes, Sitoe e Nhamuende, em Moçambicanismos) em frases como “estava lá
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maningue malta” ou “estavam lá maningues pessoas” (Lopes, Sitoe e Nhamuende apud
Lindegaard, s.d.).
Podemos conferir no verbete do Dicionário de moçambicanismos que as origens
do advérbio maningue são controversas. Na nossa posição, essa construção francesa?
Na qualidade de falante nativo vai ao encontro da ideia de que maningue tenha sido
originada na língua inglesa, concretamente entre falantes jovens. Há muitas
composições de músicos moçambicanos que fazem alusão ao verbete maningue, por
vezes acompanhado do adjetivo naice que vem do nice, do inglês (maningue
naice/muito bem).
4.3. Casos de reduplicação vindos da língua xichangana
Quando defendemos a existência de “moçambicanismos” pode parecer que
defendemos “ideias patrióticas” e não linguísticas. Na verdade, os fenômenos
linguísticos que ocorrem no português moçambicano refletem o contato com as LB que
são as línguas maternas da maioria dos moçambicanos. Em muitos casos, as crianças
têm o primeiro contato com o português apenas aos seis anos, quando entram na 1ª
classe do Ensino Fundamental. Nessa idade, já está solidificada a base de sua língua
materna que é uma LB. Dificilmente essa criança poderá pensar sem que recorra de
alguma forma à sua língua materna. Vejamos o caso da reduplicação, fenômeno
linguístico próprio do xichangana, língua falada no sul de Moçambique, a mais
marcante no texto de Mia Couto.
Para Ngunga (2004, p.181) a reduplicação “é um processo de repetição de uma
parte ou de todo o tema que pode ocorrer em todas as categorias e posições
morfológicas.” A reduplicação pode ser total ou parcial e serve para exprimir interação,
frequência, tempo, força, tamanho ou forma. Nas línguas xichangana (S53), cicopi
(S61), ekoti (P35), emakhuwana (P31), echuwabo (P34), cinyungwe (N43), cinsena
(N44), por exemplo são mais frequentes. Neste trabalho, apresentaremos exemplos de
reduplicação total na língua xichangana que é um processo morfológico em que o
reduplicante e a base são idênticos (a nível segmental). Na escrita sempre aparece o
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hífen. Os exemplos a seguir foram extraídos de Ngunga (2004, p.181-191) e de Langa
(2001, p.22-30):
ku famba-famba “andar repetidamente” (ku famba “andar”)
ku kwela-kwela “subir repetidamente” (ku kwela “subir”)
ku tlanga-tlanga “brincar repetidamente” (ku tlanga “brincar”)
ku koma-koma “pegar repetidamente” (ku koma “pegar”)
ku hundza-hundza “passar repetidamente” (ku hundza “passar”)
ku baba-baba “persuadir repetidamente” (ku baba “persuadir”
Essa repetição do verbo também existe no português brasileiro e europeu, só que
o significado é diferente podendo variar de país para país. As formas anda-anda, sobe-
sobe, brinca-brinca, passa-passa e persuada-persuada não são usuais. Mas pega-
pega aparece no Brasil tanto com o significado de conflito, briga ou como o nome de
uma “brincadeira de crianças”, já em Moçambique significa acariciar, namorar ou
mesmo trabalhar, vindo do xichangana koma-koma. No português do Brasil, também é
muito usual o substantivo “corre-corre”, forma derivada do verbo “correr” com o
significado de “correria”, “agitação”, “muita pressa”, e ainda “pula-pula”, brinquedo
infantil, semelhante a uma cama elástica, substantivo derivado do verbo “pular”.
Sociolinguisticamente falando, não haveria outra justificação para o surgimento desta
reduplicação no português moçambicano, tendo em conta os contextos socioculturais
em que o português está inserido. Outra sustentação baseada em Cunha e Cintra (2008,
p.89-131), fala sobre “classe, estrutura e formação de palavras”, mas em nenhum
momento explica a formação de palavras por meio de reduplicação. Em nosso corpus,
nem todas as unidades não são formadas a partir de verbos. Considerem-se as formas:
pisco-piscando (cap. 8, p.144); advérbios: logo-logo (cap. 8, p.149); muito-muito (cap.
10, p.190) e quase-quase (cap.9, p.164). Esse fenômeno que não acontece com as LB,
também afeta os crioulos de base portuguesa na Guiné Bissau, em São Tomé e Príncipe
e em Cabo Verde. Considerem-se os exemplos abaixo. Foram extraídos de Couto e
Mello (2009, p.73-74) no artigo intitulado Os compostos no crioulo português da
Guiné Bissau:
baja ‘dançar’: baja-baja ‘dançar sem parar’
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ianda ‘andar’: ianda-ianda “andar por todos os lados”
fura ‘furar’: fura-fura “penetrar em todos os lados”
Concluindo, as reduplicações no PM se justificam pelo decalque das LB para a
LP, fenômeno este que se mostra nos textos de Mia Couto. É importante sublinhar que
existem reduplicações no português brasileiro, mas as motivações são diferentes com as
dos moçambicanos.
4.4. A pluralização de nomes (substantivos) bantu
Para melhor entendermos, quais as transformações gramaticais ocorrem nos
empréstimos vindos das línguas bantu temos que falar de classes. É porque as LB estão
organizadas em classes. O xichangana, por exemplo tem 12 classes :
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
mu (classe 1) va (classe 2) xi (classe 7) svi (classe 8)
mu (classe 3) mi (classe 4) yi (N) (classe 9) ti (N) (classe 10
ri (classe 5) ma (classe 6) ji (classe 21) ma (classe 6)
Quadro 5: Marcação de classes na língua xichangana, segundo Sitoe (1996, p.310).
A utilização de classes nominais na LB é uma característica normal e recorrente.
Por isso que este grupo de línguas africanas foram classificadas desta forma. Ao
observarmos o Quadro 5, os prefixos nominais já indicam a flexão em número. Vejamos
a seguir alguns exemplos extraídos do corpus:
xipocos (cap.4, p.83) = fantasma matsangas (cap.3, p.49)= bandido
babalazes (cap.6, p.110)=ressaca naparamas (cap.3, p.49)= rebeldes
machongos (cap.6, p.121)=tirano xicuembos (cap.2, p.44)= deuses
Tendo em conta as regras da gramática do xichangana, o plural das unidades
lexicais xipoco, babalaze, xicuembo seria svipoco, mababalaze, svicuembo
respectivamente. No entanto, notamos nesse conjunto, o uso das regras da LP (o uso do
grafema -s) para marcar o plural. A construção da LP mais simples, parece servir de
modelo. É por isso que as palavras da LB ficaram aportuguesadas com o acréscimo do -
s final. Entendemos que houve duas regras de pluralização de duas línguas: -s do
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português e ma- da língua xichangana. Exemplo: matrangas, isto porque o singular
seria tsanga em LB.
4.5. Variação semântica e transformações de português para xichangana e depois
para português
a) A palavra xicalamidade (cap.3, p.57)
Num primeiro momento, a palavra calamidade pertence ao repertório lexical da
LP foi assimilada pelos falantes e passou a fazer parte do léxico do xichangana sob
forma de xicalamidade, cujo plural é svicalamidade. Num segundo momento, as
unidades assimiladas pela LB voltaram a ser incorporadas ao português moçambicano
como xicalamidades com “s” final. No contexto moçambicano, xicalamidade ou
calamidade significa “roupa usada importada” (Dias, 2002, p.74). A palavra
“calamidade” perdeu o valor semântico de origem e ganhou outro significado em
Moçambique, resultado de contextos sócio-históricos do país.
b) A palavra satanhoca (cap.4, p.67) provém de satanás, forma da LP que passou
para a língua xichangana como “satanhoco”, ou “sàthanyokò” de sàthana “diabo”+
nhòka (cobra) forma usada tanto no xichangana como no português de Moçambique
para insultar o interlocutor (Sitoe, 1996, p.207). Ao longo dos tempos evoluiu para
musathànhyokò como moçambicanismo (cf. Lindegaard, s.d.). Conforme se pode notar
nesse exemplo, a padronização da ortografia dos moçambicanismos ainda não é
consenso.
c) O verbo “bichar”.
“Elas primeiro se alarmam, depois fazem uma roda, bichanando.” (p.187)
Nesta frase, bichanando vem do verbo “bichar” que significa “fazer fila” no
português brasileiro. Em Moçambique fala-se “vou bichar” ou “vou fazer bicha” para se
referir ao fazer fila. É claro que existe a palavra “fila”, mas a palavra usada no contexto
moçambicano é “bicha” exatamente como na variante de Portugal.
d) O substantivo “quinhenta”
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“Quem estiver contra mim não vai cheirar quinhenta.” (p.128)
No português falado em Moçambique a unidade lexical “quinhentas” refere-se a
“dinheiro”. Quando entrou na nova moeda (o Metical) que veio substituir a moeda
colonial (o escudo) surgiram notas (cédulas) e moedas (em centavos). A moeda de 50
centavos de meticais ficou conhecido por “quinhentas”. Ao longo do tempo quinhenta
passou a ser usada para designar “dinheiro”. Se alguém disser: “Não tenho nem um
quinhentas!” estará dizendo que “não tem dinheiro algum”. Quinhenta é substantivo,
feminino segundo Dias (2002, p.206). Mia Couto também usa essa unidade do léxico
moçambicano em sua obra para se referir a “dinheiro”.
Os neologismos sangues (cap.8, p.146), maistravez (cap.1, p.33) e ninguéns
(cap.6, p.121) marcaram, ao nosso ver, o ponto mais alto da criatividade linguística de
Couto, pois em nenhum momento pensa que seria possível fazer o plural de sangue e
ninguém resultando em sangues e ninguéns. Não imaginávamos podia juntar
mais+travez. Reparemos que não conheço travez com “z” mas sim com través com
“s”. Mas Couto foi mais longe ao nosso ver, de tal forma que não entendemos o que ele
quis dizer com o neologismo maistravez no contexto da frase. Na verdade, os escritores
têm essa liberdade de criar, de manipular a língua, criações que podem permanecer por
muito tempo outras desaparecem ou ficam no texto. Essa liberdade dos escritores é
pouco tolerada na comunicação cotidiana, isto porque a língua oral é bem diferente com
a escrita.
Considerações finais
É importante sublinhar que os alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior
nas escolas moçambicanas são incentivados a ler, ou melhor, a valorizar a literatura
moçambicana em primeiro lugar. E cumpre-nos igualmente reconhecer que os
estrangeirismos, os empréstimos e os neologismos são frequentes tanto na mídia
imprensa como na literatura moçambicana. Entretanto, os textos jornalísticos, bem
como os textos literários de Mia Couto, são lidos (explorados gramaticalmente) em sala
de aula e os professores não toleram o uso de neologismos e estrangeirismos. A
realidade do ensino /aprendizagem da LP é por demais contraditória em Moçambique.
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Em nenhum momento acabemos as nossas forças procurando conservar e proteger
português Europeu, visto que os empréstimos e os estrangeirismos são fenômenos
naturais e a evolução das línguas é um movimento inexorável. Várias leis foram e
continuam sendo criadas na tentativa de preservar o português de Moçambique dessa
“invasão” de palavras estrangeiras, mas trata-se de força inelutável. As línguas são
dinâmicas quando são usadas. O contato cada vez mais premente entre povos línguas
propicia a expansão cada vez mais. As palavras surgem no contexto de uso. Algumas
ficam outras desaparecem com o tempo. Somente a necessidade do uso definirá quais as
palavras novas serão dicionarizadas. No caso do ensino em Moçambique, as crianças
que têm acesso à literatura moçambicana na escola serão os futuros usuários da língua e
inevitavelmente desses neologismos. Os estrangeirismos usados no dia a dia não apenas
deveriam ser reconhecidos na escola, como deveriam servir de tema para reflexão e
análise como testemunho da mudança linguística.
Concluímos que no romance de Couto, há predominância de estrangeirismos
vindos das línguas bantu já que nas cartas de opinião do leitor, para além do bantu
temos a presença do inglês e latim. Nessas cartas não há neologismos bem elaborados
como no romance. Couto “brinca” com as palavras, cria palavras novas por meio de
afixos, por justaposições e aglutinações. Tudo indica que a formação dos neologismos
em Couto foi bem pensada, intencionalmente elaborada com objetivo de impressionar o
público. Nas cartas, não há essa preocupação e parece-nos que os que o leitor escreve tal
como fala. No caso do léxico de Couto, improvável que ele se comunique no cotidiano
usando repertório lexical semelhante.
Observando o Comparando os dois corpora notamos que nos empréstimos
vindos do xichangana seguiu-se a mesma regra de formação do plural das palavras em
LP ao invés da regra da língua de origem, a LB. Em Mia Couto temos xipalapala-
xipalapalas, xicuemebo-xicuembos. O estrangeirismo xipefo “lamparina” (do
xichangana) foi encontrado nos dois corpora com grafias diferentes. Vimos que a
instabilidade ortográfica é problema grave nas LB, embora estas estejam padronizadas
desde 1999, ainda há dificuldade e insegurança na escrita.
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Sendo as criações lexicais não só estão presentes na literatura, mas também na
comunicação cotidiana, como mostram Dias (1991, 2009), Timbane (2012a,b) e Lopes
(2004). Acredito que neste artigo perceberam marcas do português moçambicano que
aparece de forma natural na nossa fala. O português moçambicano existe da mesma
forma que o português angolano, brasileiro existem na fala/escrita de angolanos e
brasileiros respectivamente.
O importante a ser retido nesta pesquisa é que já que os textos literários entram
na sala de aula através de manuais escolares é necessário que os professores estejam
preparados psico-pedagogicamente. Em Mia Couto notou a formação de novas palavras
por meio de afixos (dentro da matriz interna) bem como os estrangeirismos (matriz
externa). Os estrangeirismos, na sua maioria, provêm das diversas línguas bantu faladas
em Moçambique. O autor do texto tem contato com essas línguas e as suas personagens
obviamente recebem interferências destas. É importante referir que o cenário principal
do romance Terra sonâmbula é Moçambique e logo, as características
sociolinguísticas dos personagens refletem essa realidade.
Sabendo que as crianças são o futuro, ao aprender alguns neologismos em
textos, alguns ficarão na memória outras ainda serão esquecidas. As que permanecem
podem servir de reforço lexical para a variedade do português moçambicano. As
palavras xicandarinha (chaleira), xiconhoca (traidor da pátria) apareceram com mais
ênfase na literatura moçambicana, concretamente em texto de José Craveirinha.
Terminamos esta pesquisa rematando que o estudo da variedade moçambicana é um
desafio para todos os professores e linguistas porque ainda não existe dicionário nem
gramática. É importante Moçambique caminhar de forma determinada para a descrição
da sua variedade, divulgando pesquisas para que o preconceito diminua com relação à
variedade de Moçambique. O português de Moçambique faz parte da vida dos
moçambicanos. Pode-se sentir isso nos meios de comunicação, na sala de aula e na
literatura (tal como tentamos mostrar nesta pesquisa). O ensino em Moçambique ainda
continua refém do “padrão-europeu” de tal forma a que os índices de reprovações
continuam elevados fato que resulta no abandono escolar, principalmente nas zonas
rurais onde o português é segunda ou terceira língua.
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