República Democrática de Timor-LesteMinistério da Educação
11 | TEMAS DE LITERATU
RA E CULTU
RA
Guia do ProfessorTEMAS DELITERATURA ECULTURA11.o ano de escolaridade
Projeto - Reestruturação Curricular do Ensino Secundário Geral em Timor-Leste
Cooperação entre o Ministério da Educação de Timor-Leste, o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Universidade de AveiroFinanciamento do Fundo da Língua Portuguesa
Guia do ProfessorTEMAS DE LITERATURA E CULTURA11.o ano de escolaridade
Os sítios da Internet referidos ao longo deste livro encontram-se ativos à data de publicação. Considerando a existência de alguma volatilidade na Internet, o seu conteúdo e acessibilidade poderão sofrer eventuais alterações.
TítuloTemas de Literatura e Cultura - Guia do Professor
Ano de escolaridade11.o Ano
AutoresAna Margarida RamosAna Paula AlmeidaPaulo Alexandre Pereira Sara Reis da Silva
Coordenadora de disciplinaAna Margarida Ramos
Colaboração das equipas técnicas timorenses da disciplina Este guia foi elaborado com a colaboração de equipas técnicas timorenses da disciplina, sob a supervisão do Ministério da Educação de Timor-Leste.
Ilustração da capaRaquel Gomes
Design e PaginaçãoEsfera Crítica Unipessoal, Lda. Sofia Simões
ISBN978 - 989 - 8547 - 58 - 3
1ª Edição
Conceção e elaboraçãoUniversidade de Aveiro
Coordenação geral do ProjetoIsabel P. MartinsÂngelo Ferreira
Ministério da Educação de Timor-Leste
2013
Este guia de professor é propriedade do Ministério da Educação da República Democrática de Timor-Leste, estando proibida a sua utilização para fins comerciais.
Impressão e AcabamentoSuper Xerox, Unipessoal, Lda.
Tiragem400 exemplares
Índice
3
1 Apresentação do guia
2 Sugestões de operacionalização do programa
3 Orientações metodológicas1 Operacionalização2 Sugestões de recursos didáticos
4 Sugestões de apoio à utilização do manualUnidade Temática 1 - A Crónica: uma escrita de fronteiraUnidade Temática 2 - Contar o eu: literaturas autobiográficas e géneros intimistas Unidade Temática 3 - A poesia lírica em língua portuguesa: vozes e contextos Subunidade Temática 3.1 - A poética de Ruy Cinatti: paisagem timorense com vultos
5 Tipologias Textuais: teoria e análise1 Crónica2 Géneros (auto)biográficos3 Texto lírico
6 Textos e atividades complementares ao manual1 Sobre a crónica2 Sobre os géneros (auto)biográficos3 Sobre o texto lírico3.1 Sobre Ruy Cinatti
7 Textos de apoio1 “Um brevíssimo olhar sobre a literatura de Timor”2 “Literatura: entre a tradição oral e a escrita”3 “Breve visão geral da poesia timorense”
8 Avaliação
9 Referências bibliográficas
6
8
11
15
48
54
80
93
94
Agradecimentos
Os autores do manual agradecem
Aos interlocutores timorenses, o acolhimento do trabalho e as sugestões.
Ao Centro de Língua Portuguesa do Instituto Camões, em Díli, as facilidades concedidas na consulta e reprodução de materiais.
A Raquel Gomes, a ilustração inédita que ilustra a capa deste manual, concebida especialmente para este efeito.
A Márcia Seabra Neves, a tradução do ensaio de Catherine Dumas incluído neste guia.
Ao João Paulo Esparença, a cedência do ensaio sobre literatura timorense.
I. Apresentação
6
O programa de Temas de Literatura e Cultura pretende construir-se com base no desafio da descoberta e do diálogo;
deste modo, propõem-se atividades que mobilizem a investigação, a pesquisa e a reflexão sobre e com textos diversificados,
cruzando-os com as mundividências de professores e de alunos e com o estado do conhecimento pedagógico da atualidade,
promotores da construção individual e interventiva do saber, tendo como indeclinável ponto de partida as preferências e os
gostos do aluno.
O guia do professor acompanha as orientações subjacentes ao programa da disciplina, disponibilizando informação
teórica relevante, sínteses e esquemas, sugestões de atividades alternativas e/ou complementares, propostas de exploração
de documentos de natureza diversificada, material de apoio, bem como tópicos de leitura e cenários de resposta. Estes últimos
servem de apoio ao professor na correção dos exercícios e guiões do manual, mas não podem ser vistos como respostas únicas
e fechadas, soluções exclusivas para as questões formuladas. Privilegia-se o uso de esquemas, simplificando a apresentação
da informação, e de sugestões práticas, tendo em vista a sua utilização em sala de aula. Em muitos casos, o professor poderá
completar a informação apresentada recorrendo à bibliografia específica.
A disciplina de Temas de Literatura e Cultura organiza-se em torno de núcleos temáticos relevantes, selecionados de
acordo com a sua pertinência e adequação ao contexto de Timor-Leste. Apresenta, como objetivos primordiais, o desenvol-
vimento de competências variadas nas áreas da literatura e da cultura, intentando familiarizar os alunos com um património
vasto de textos de distinta proveniência; a ampliação de competências de leitura e de domínio oral e escrito da língua por-
tuguesa; o estabelecimento de relações entre os vários anos curriculares, com vista à consolidação de conhecimentos e de
competências, evitando a sua segmentação em blocos estanques. Para o efeito, o programa da disciplina estabelece rumos
pedagógicos, fornecendo ao professor indicações sobre a forma como organizar e gerir a sua prática letiva, permitindo-lhe,
mesmo assim, ampla liberdade na seleção dos materiais, na sequenciação das unidades e dos temas, e na gestão do dia a dia
da prática letiva. Privilegiam-se momentos de reflexão e de diálogo para suscitar o desenvolvimento de perceções novas, a
participação responsável e relevante dos alunos no processo de construção do saber, a promoção de uma atitude dinâmica,
um tratamento rigoroso e criativo dos conteúdos, procurando corresponder à diversidade das necessidades e motivações dos
alunos, assim como a construção de uma relação significativa entre os discentes e as suas representações do mundo, por meio
da fala e da escrita, o incentivo à autonomia e aos olhares alternativos e, ainda, o compromisso e a corresponsabilização de
alunos e professores.
O Manual do Aluno, com o qual o presente Guia estabelece uma relação próxima, prevê o aprofundamento e alar-
gamento de alguns horizontes teóricos já conhecidos dos alunos e centra-se no estudo de três unidades nucleares, dedicadas
respetivamente ao estudo da crónica, dos géneros autobiográficos e intimistas e da poesia lírica. Nesta última unidade, optou-
-se por dedicar especial atenção à obra de Ruy Cinatti, quer em função do seu estatuto canónico, quer em virtude do lugar
simbólico que inegavelmente detém no espaço literário de Timor-Leste. Assim, em relação ao ano anterior, foi intenção dos
autores garantir uma presença progressivamente mais expressiva do texto literário, num propósito intencional de aprofunda-
mento de estratégias de leitura literária e de compreensão intercultural.
Em termos gerais, o manual, ao qual o presente guia serve de apoio, visa aproximar os alunos de um elenco muito am-
plo de textos de distinta tipologia e de diversa proveniência cultural e geográfica, mas com natural preponderância do contexto
lusófono, nele se encontrando representados designadamente os espaços literários português, brasileiro, angolano e moçam-
bicano. Pretendeu-se, deste modo, proporcionar aos alunos, pela intermediação do texto de cunho documental e/ou literário,
contacto com novas visões do mundo e práticas culturais, permitindo-lhes a ponderação crítica de coincidências e singularidades
por confronto com o seu próprio universo experiencial. Pela sua importância na formação estética e, mais latamente, cívico-
-cultural dos destinatários, concedeu-se assumido destaque à literatura timorense, sobretudo à poesia, esperando-se assim
estimular a sua divulgação junto dos alunos e da comunidade em geral e, em última instância, a sua validação estético-cultural.
Na constituição do elenco de textos, foram tomados em consideração os critérios de atualidade, representativida-
de e consenso crítico, privilegiando áreas temáticas consonantes com os centros de interesse dos alunos e julgadas aptas a
potenciar as suas competências problematizantes e judicativas.
Apresentação | 7
A primeira unidade, dedicada ao estudo da crónica, procura familiarizar os alunos com as convenções de um género
transicional, situado entre a literatura e o jornalismo, e fortemente ancorado na auscultação crítica do quotidiano. Pretendeu-
-se demonstrar o seu polimorfismo e versatilidade, nas suas vertentes jornalística e literária, acentuando o seu parentesco com
outras modalidades literárias (como a poesia lírica ou o conto) e ilustrando as suas inesgotáveis potencialidades comunicativas
e expressivas.
Segue-se o estudo de textos de orientação (auto)biográfica – a biografia, a carta, o diário ou o retrato –, de modo a
neles detetar traços semânticos ou técnico-compositivos invariantes, sem deixar de reconhecer a diversidade de géneros de
expressão intimista, bem como as específicas modalidades de relação do autor com o texto por eles pressuposta. Para além do
estudo das suas características enunciativas, pretende-se que o aluno reconheça, na constelação de géneros integráveis neste
domínio da literatura do eu, um fecundo terreno de criação e autoexpressão.
A terceira unidade é, enfim, consagrada ao estudo do texto lírico. Circunscrevendo-se ao âmbito da produção lírica em
língua portuguesa, a seleção de textos apresentada reporta-se a diferentes universos geográficos e culturais, embora se tenha
optado por conceder intencional protagonismo à poesia de autoria e/ou temática timorense e, dentro desta, à produção lírica
e ensaística de Ruy Cinatti, porque se entendeu que nela se dá a ler uma verdadeira “biografia poética” do povo timorense,
assim revestindo insuperável interesse humano e testemunhal. Ao nome de Ruy Cinatti, acrescentam-se vários outros de au-
tores timorenses já consagrados, como Fernando Sylvan, Xanana Gusmão ou Jorge Lauten, bem como vozes de mais recente
afirmação no campo literário timorense, como é o caso de João Aparício.
Como acontecia já no caso do 10º ano de escolaridade, propõem-se, para cada uma das unidades, atividades va-
riadas, tendentes ao desenvolvimento de competências nas áreas nucleares da oralidade, da leitura e da escrita. Não foram
esquecidas sugestões com vista a uma desejável diversificação de metodologias de ensino, integrando-se, sempre que possível,
atividades de tipo colaborativo, como a realização pontual de trabalhos de projeto, em modalidades várias de execução.
Os guiões que acompanham os textos não pretendem constituir explorações definitivas nem questionários estáticos.
São, antes, roteiros possíveis de leitura que incluem sugestões de atividades e pistas de reflexão que, em nenhuma circuns-
tância, devem inibir a autonomia e criatividade pedagógica ou substituir-se ao professor. A diversificação e o nível variável de
complexidade das tarefas propostas, bem como a inclusão de atividades complementares de aprofundamento, possibilitam
uma seleção em função da sua pertinência e adequação, junto do público específico a que se destinam, sem nunca compro-
meter a desejável liberdade metodológica do docente. Pretende-se, em suma, que as atividades de leitura organizadas a partir
dos textos facultados e dos respetivos guiões de análise propiciem um espaço de diálogo crítico e formativo, participado e
estimulante, supondo sempre o envolvimento colaborativo de professor e alunos.
Neste guia, é possível encontrar textos suplementares e respetivos guiões de leitura, em complemento aos incluídos
no Manual. Permitem ao professor diversificar as atividades propostas, mas também auxiliá-lo, por exemplo, na organização
de instrumentos de avaliação, como os testes formativos e sumativos. Aconselha-se vivamente os professores a consultarem o
Guia do Professor do 10º ano de escolaridade no qual, para além de um glossário de termos literários, é possível encontrar um
conjunto amplo de materiais pedagógicos de apoio ao trabalho em sala de aula.
Uma nota final para esclarecer que os autores do manual optaram, à semelhança dos materiais didáticos do 10º ano,
por adequar todos os textos ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, familiarizando os alunos com a norma que se encon-
tra em vigor, no sistema educativo português, desde o ano letivo de 2011-2012, sem que, no entanto, estes deixem de contactar
com as distintas variedades que a caracterizam e enriquecem. Nessa medida, apesar de, nos textos de autoria brasileira e afri-
cana, terem sido introduzidas as alterações ortográficas prescritas pelo Acordo, mantêm-se, naturalmente, inalteradas todas
as características (lexicais ou sintáticas, por exemplo) da variante respetiva.
II. Sugestões de operacionalização do programa
8
Formulado em articulação lógica com o programa de 10.º ano, na medida em que nele se retomam
parcialmente alguns horizontes teóricos e conteúdos conceptuais já abordados anteriormente, o presente pro-
grama estrutura-se em três macrounidades, centradas em torno da escrita cronística, dos géneros autobiográfi-
cos e intimistas e da poesia lírica, tanto de autoria timorense como sobre Timor-Leste, concedendo-se especial
atenção à poética de Ruy Cinatti, de que constitui uma subunidade.
Concretamente, o programa materializar-se-á na abordagem de textos variados, tanto literários como
não literários, pertencentes a universos linguísticos, literários e culturais diversos, com particular incidência na
área lusófona, designadamente na emergente literatura timorense, procurando-se, assim, contribuir para a sua
validação estética e legitimidade institucional. Deverão ser valorizados autores contemporâneos, estimulando-
-se uma leitura comparatista dos textos selecionados. É importante que os textos sejam escolhidos segundo
critérios de proximidade e afinidade temáticas, privilegiando universos reconhecíveis pelos alunos. Sugerem-se,
pelo seu cariz estruturante e pela representatividade que as carateriza, temáticas como a natureza e a paisagem,
a viagem, a identidade e a História, entre outras possíveis.
Em sintonia com a vocação estético-formativa e com a orientação metodológica subjacentes à disciplina
de Temas de Literatura e Cultura, o programa de 11.º ano, além de visar familiarizar o aluno com o fenómeno
literário (e, mais latamente, estético) e com algumas das suas vertentes/especificidades, valorizando o texto
como construção artística, prescreve a leitura, análise e interpretação de um corpus selecionado como estratégia
complementar de promoção do exercício crítico e da apreciação valorativa, tendo como corolário o alargamento
dos horizontes culturais do aluno.
Com as diferentes modalidades de leitura que o programa propõe, abrem-se possibilidades quer ao nível
da pesquisa seletiva e/ou direcionada, quer quanto às hipóteses de estudo comparativo/contrastivo de uma
variedade de modalidades textuais, permitindo, por exemplo, reconhecer e diferenciar géneros e tipologias,
modos de expressão ou, ainda, similitudes ou dissemelhanças temático-formais. O contacto sistemático e
plurimodal com textos (orais e escritos) deverá, ainda, estimular o exercício da escrita ou da prática da língua
portuguesa, com vista à aquisição/consolidação de um registo adequado, rigoroso e pessoal. Neste âmbito, são
propostos exercícios expressivo-criativos como a redação livre ou dirigida, a reescrita ou reinvenção, entre outros.
A prática da oralidade, desejando-se continuada, recorrente, orientada e planificada, reveste-se, igualmente, de
um caráter plural, integrando exercícios como o debate, o role-play, o depoimento, a exposição, a entrevista,
entre outros. A opção por metodologias diversificadas, especialmente colaborativas e/ou o trabalho de projeto
e/ou de investigação, assentes em trabalhos individuais, de pares, de grupo ou de turma, determinará um
envolvimento dos alunos na programação das atividades a desenvolver no âmbito da disciplina e na progressiva
capacidade de autogestão da sua aprendizagem/conhecimento. Englobando os conteúdos processuais exigidos
pelo Programa de Temas de Literatura e Cultura para o 11º ano, as sequências organizam-se em torno de
competências nucleares, e de acordo com um conjunto de secções que se sucedem, conjugam e complementam:
Sugestões de operacionalização do programa | 9
Oralidade
Objetivos Específicos Atividades de aprendizagem Instrumentos de avaliação1
– Captar as ideias essenciais e as intenções de textos orais de diferentes tipos e níveis de formalização, reconhecendo ideias expressas, estabelecendo relações lógicas e realizando deduções e inferências
– Produzir textos orais de diferentes tipos e de níveis distintos de formalização, realizando operações de planificação, cumprindo as propriedades da textualidade e adequando o discurso à finalidade e à situação de comunicação
– Exprimir oralmente ideias, opiniões, vivências e factos, de forma fluente, estruturada e fundamentada
– Participação em fóruns de leitura, clubes de leitura ou tertúlias
– Realização de debates e confronto de ideias
– Formulação e reflexão de hipóteses interpretativas
– Exposição oral de trabalhos de pesquisa
– Dramatizações
– Observação direta da participação e do empenho dos alunos na sala de aula e na realização dos trabalhos de casa
– Questionários orais e escritos
– Fichas de trabalho variadas
– Apresentações orais
– Trabalhos individuais, em pares e em grupo
– Produções textuais orais
Leitura
Objetivos Específicos Atividades de aprendizagem Instrumentos de avaliação– Utilizar estratégias de leitura diversificada; – Captar o sentido e interpretar textos escritos– Reconhecer, distinguindo as nucleares das acessórias, as ideias expressas– Estabelecer relações lógicas;– Realizar deduções e inferências– Analisar propriedades específicas de diferentes tipologias textuais– Interpretar relações entre a linguagem verbal e códigos não verbais– Manifestar preferências na seleção de leituras e exprimir as suas opiniões e gostos sobre textos lidos– Relacionar diferentes textos por seme-lhança ou contraste (tema/forma)
– Leitura para informação e estudo– Leitura silenciosa (individual)– Leitura em voz alta– Leitura expressiva– Leitura coral (em grupo)– Leitura dramatizada– Leitura orientada– Leitura recreativa– Leitura extensiva versus leitura intensiva– Leitura global versus leitura seletiva– Leitura exploratória versus leitura aprofundada– Declamações / Poetry SlamPerformances– Maratonas de leitura
– Observação direta da participação e do empenho dos alunos na sala de aula e na realização dos trabalhos de casa – Questionários orais e escritos– Fichas de trabalho variadas– Fichas de leitura (ver modelos propostos no guia do professor do 10º ano)– Produções textuais – Trabalhos de pesquisa (individual, em pares, em grupo)
1
1 Ver grelhas de apoio à avaliação incluídas no guia do professor do 10º ano.
10 | Sugestões de operacionalização do programa
Escrita
Objetivos Específicos Atividades de aprendizagem Instrumentos de avaliação
– Produzir textos de várias tipologias, realizando operações de planificação, cumprindo as propriedades da textualidade (continuidade, progressão, coesão e coerência) com finalidades diversas e destinatários diferenciados, respeitando a respetiva matriz discursiva– Exprimir ideias, opiniões, vivências e factos, de forma pertinente, estruturada e fundamentada– Realizar operações de revisão de texto, procedendo às necessárias correções/reformulações
– Redação de pequenos ensaios críti-cos/analíticos
– Reescrita e/ou escrita criativa por motivação temática ou formal, por imitação ou transformação
– Criação conjunta de ficheiros relati-vos a textos e a experiências de leitura
– Elaboração de questionários – de escolha múltipla, de verdadeiro/falso, de análise literária e estilística
– Realização de trabalhos de pesquisa
– Elaboração de antologias – temáti-cas, autorais
– Elaboração de anúncios
Ilustração de poemas, contos ou cenas
– Conversão de textos em guiões de teatro, radiofónicos ou cinematográ-ficos
– Organização de um portefólio
– Divulgação de pesquisas, leituras e escritas em jornais, revistas, blogues…)
– Observação direta da participação e do empenho dos alunos na sala de aula e na realização dos trabalhos de casa – Questionários escritos– Fichas de trabalho variadas– Fichas de leitura – Produções textuais – Trabalhos de pesquisa (individual, em pares, em grupo)– Portefólio (ver indicações para a sua construção no guia do professor do 10º ano)
11
III. Orientações metodológicas
De modo a apoiar o trabalho do professor e, inclusivamente, promovendo uma atitude de autoformação
contínua, aconselha-se fortemente a consulta assídua do Guia do Professor da disciplina de Temas de Literatura
e Cultura do 10º ano, nomeadamente dos seguintes capítulos:
(4) Tratamento de informação e organização do trabalho;
(5) Leitura;
(6) Da expressão/compreensão oral à expressão escrita;
(7) Modos literários e análise textual;
(8) Texto não literário;
(10) Material de apoio ao trabalho do professor e, finalmente,
(11) Glossário.
Em termos de calendarização da lecionação das unidades temáticas prevista, propõe-se a seguinte
organização, ajustável, naturalmente, ao contexto e características das turmas (dificuldades; gostos; progressos, etc.):
1º período 2º período 3º períodoUnidade Temática 1: A Crónica: uma escrita de fronteira
Unidade Temática 2: Contar o eu: literatura autobiográ-fica e géneros intimistas
Unidade Temática 3: A poesia lírica em língua portuguesa: vozes e contextos
Subunidade Temática 3.1: A poética de Ruy Cinatti: paisagem timorense com vultos
Operacionalização A operacionalização do programa de Temas de Literatura e Cultura prevê um ensino centrado no aluno e no desenvolvimento das suas competências, nomeadamente as relacionadas com a compreensão de documentos escritos (textos literários e não literários). O papel do professor deve ser o de um modelo de leitor capaz de orientar o processo de aprendizagem do aluno, tendo em vista a sua progressiva autonomização. Neste sentido, o professor desempenha um papel muito relevante, ajudando o aluno a superar as suas dificuldades (desconhecimento de léxico; falta de referências literárias e/ou históricas, etc.), mas não centrando exclusivamente as atividades na exposição de conteúdos sobre o texto ou sobre o seu contexto de produção.
Pretende-se que o aluno seja capaz de se relacionar comunicativamente com textos que não conhece, descobrindo-lhes os sentidos, interrogando-os e interrogando-se sobre a mensagem que encerram. O processo de descoberta progressiva do universo literário contempla a relação pessoal do leitor com o texto, a criação de hipóteses de interpretação, o preenchimento dos espaços em branco do texto e a formulação de juízos pessoais (sempre devidamente orientados e fundamentados) sobre o que se lê. Ainda que incompletas, as leituras pessoais/individuais dos alunos devem ser incentivadas, assim como deve ser estimulada a leitura de bibliografia secundária, com vista ao enriquecimento das primeiras leituras, sustentando as conclusões feitas. O trabalho de pesquisa e de investigação, individual ou em grupo, deve ser promovido, tendo em vista o desenvolvimento das competências de leitura de textos diversos, a seleção de informação pertinente e o enriquecimento da enciclopédia do leitor, capacitando-o para o processo de leitura, para além de desenvolver hábitos e métodos de estudo.
A aula é ainda um espaço de liberdade e de criatividade, especialmente se tivermos em conta que grande parte dos textos lidos e estudados é de modalidade lírica e pode incentivar atividades de recriação e de reescrita, ou de transposição interartística, por exemplo. A expressão pessoal de gostos e de interesses tem lugar na aula, sobretudo se fundamentada.
12 | Orientações metodológicas
A leitura dos textos pode ser realizada de formas diferentes. A padronização da leitura pela rotina não ajuda à aproximação do leitor ao texto e, por isso, o professor deve propor formas alternativas de ler, tendo em conta a situação, o texto e os objetivos da leitura. Entre as modalidades mais comuns de leitura, todas passíveis de serem usadas na aula, encontram-se as seguintes:
As modalidades de leitura têm que ver com o objetivo principal com que aquela é realizada, ou seja, a
finalidade para que se orienta. De entre as modalidades possíveis de leitura, destaquem-se as seguintes:
A explicitação, junto dos alunos, das várias formas e modalidades de leitura ajuda a diversificar a relação com os textos, encorajando-os a uma aproximação pessoal, construída de forma gradual, ao universo literário. O seu uso alternado pode, ainda, possibilitar a variação de ritmos e de dinâmicas de lecionação, introduzindo novidade na prática letiva e conduzindo, em alguns casos, a experiências gratificantes.
As atividades direta ou indiretamente relacionadas com a leitura foram divididas em três fases:
pré-leitura, leitura e pós-leitura.
A pré-leitura destina-se a ativar conhecimentos prévios que os alunos tenham acerca do assunto ou do próprio texto, tendo em vista a construção de um horizonte de expetativas, decisivo para o estabelecimento de uma relação produtiva do leitor com o texto. Trata-se, no fim de contas, de suscitar a curiosidade e predispor os alunos para a leitura. A pré-leitura pode ser realizada através de várias atividades:
– Estratégias de exploração dos elementos paratextuais
(títulos e subtítulos, elementos visuais, prólogos e prefácios, advertências ao leitor, etc.)
– Guias de antecipação
– Questionários prévios à leitura da obra
– Conversa acerca de livros (“Book Talk”/”Book Bits”)
– Mapas semânticos, mapas de contrastes, etc.
A leitura visa facilitar a compreensão, dirigindo a atenção do aluno para informação relevante, de acordo com os objetivos previstos (por exemplo, identificar o tema; caracterizar personagens, analisar o estilo, etc.). O guião de leitura utilizado, com tópicos relevantes ou perguntas, tem um papel decisivo no processo de leitura, orientando-o e, a pouco e pouco, auxiliando o aluno a que o concretize de forma autónoma. Atividades como os
ouvir ler leitura dramatizadaleitura para informação e estudo leitura orientadaleitura silenciosa (individual) leitura recreativaleitura em voz alta leitura extensiva versus leitura intensivaleitura expressiva leitura global versus leitura seletivaleitura coral (em grupo) leitura exploratória versus leitura aprofundada
Leitura recreativa ou fruitiva (ler por prazer) – leitura de fruição, também ligada ao entretenimento e à distração, decisiva para a criação de hábitos de leitura;
Leitura informativa, funcional ou instrumental (ler para saber) – leitura realizada com um fim específico (aceder a informação, resolver um problema, etc.);
Leitura formativa, analítica e crítica (ler para estudar, analisar, interpretar e refletir) – leitura realizada tendo em vista a interpretação e construção do significado do texto.
Orientações metodológicas | 13
registos de leituras realizadas, por exemplo, permitem a sistematização de técnicas e processos de leitura. Outras técnicas auxiliares (a necessitarem, igualmente, de prática sistemática) do processo de leitura são o recurso ao sublinhado, a tomada de notas e a elaboração de esquemas.
A pós-leitura está associada, geralmente, a atividades de alargamento da interpretação, podendo incluir a produção escrita e a expressão oral. Tem como principais objetivos promover a reflexão, facilitando a elaboração de sínteses (com vista à organização da informação) e a confirmação de expetativas. Pode, inclusivamente, promover a expressão de respostas pessoais dos leitores face ao texto, assim como o estabelecimento de relações de analogia contrastante entre textos. A construção criativa de textos e a elaboração de esquemas ou mapas de síntese são algumas atividades utilizadas, tendo em vista a consolidação de competências de leitura.
A disciplina de Temas de Literatura e Cultura procura, ainda, desenvolver a aprendizagem do Português, proporcionando experiências relevantes e significativas para os alunos, tanto ao nível da escola como da comunidade. A seleção de textos revela-se, neste sentido, crucial para o desenvolvimento das competências já enunciadas. Para além das sugestões contidas no programa, o professor pode e deve encontrar outras propostas de leitura adequadas e atraentes para os seus alunos, tendo em conta os seguintes critérios que devem invariavelmente nortear a seleção:
Procede-se, a título exemplificativo e sem pretensões de exaustividade, a uma enumeração de diferentes textos, literários e não literários, suscetíveis de serem selecionados para abordagem nas aulas de Temas de Literatura e Cultura:
Textos literários e paraliterários
– narrativas literárias em língua portuguesa (de Portugal, dos países de língua oficial portuguesa, traduções da literatura universal)
– literatura popular e tradicional (cancioneiro, romanceiro, contos, mitos, fábulas, lendas)
– narrativas juvenis de diferentes tipos (realistas, de mistério, de aventura, fantásticas, de ficção científica)
– banda-desenhada e/ou narrativas gráficas
– textos dramáticos
– poesia, textos de canções
– crónica
– relatos de viagens
– géneros biográficos (autobiografias, diários, memórias)
Qualidade literária;
Integridade – privilegiar textos completos em detrimento de fragmentos ou de adaptações;
Progressão – partir de textos mais simples e, talvez, mais breves, para textos mais extensos e mais complexos, naturalmente mais exigentes em termos de interpretação;
Diversidade e Representatividade – seleção de textos de diferentes tipologias – incluindo os não literários – e procedentes de diferentes línguas e culturas;
Intertextualidade – seleção de textos e obras que dialoguem entre si, recuperando temas e motivos, através de alusões ou paródias, chamando a atenção para o cariz simultaneamente singular e integrativo dos textos;
Identificação – seleção de obras ou textos significativos, sob diferentes pontos de vista, para os alunos e em função da sua experiência de vida;
Acessibilidade – seleção de textos tendo em conta a sua existência e disponibilidade no contexto educativo específico.
14 | Orientações metodológicas
Textos não literários
– ensaios; discursos
– textos jornalísticos (notícia, reportagem, texto de opinião, crónica, recensão, crítica, entrevista)
– relatos de viagem
– textos de cariz pedagógico ou divulgativo, nomeadamente os de manuais escolares;
– excertos de textos de divulgação científica;
– textos de obras de referência (enciclopédias e dicionários)
– material informativo e publicitário diversificado (folhetos, brochuras, publicidade escrita)
– textos de comunicação de tipo variado (cartas, correio eletrónico, convites, avisos, recados)
– textos destinados à comunicação digital (blogue, fórum, comentários)
– textos usados para compilar informação (índices, ficheiros, catálogos, glossários) ou para a organizar, sintetizar e sistematizar (roteiros, sumários, legendas, notas, esquemas, planos)
Sugestões de recursos didáticos
Apesar da existência de uma inegável limitação ao nível da acessibilidade dos recursos didáticos por parte de professores e de alunos e da grande variedade de contextos escolares e letivos, optou-se por deixar listadas várias sugestões, tendo em vista não só a melhoria previsível da situação atual, como a divulgação de recursos úteis, numa estratégia de sensibilização e formação dos vários agentes educativos. O guia do professor integra recursos adicionais e complementares dos do manual do aluno, podendo ser utilizados na sala de aula, de acordo com os objetivos e organização do professor.
Sugere-se, pois, a utilização dos seguintes materiais/recursos:
Material de uso quotidiano – Caderno diário, quadro, giz, manual, textos policopiados de diferentes origens, fichas de trabalho, informativas e/ou de sistematização das aprendizagens realizadas.
Material técnico de apoio – cassetes de áudio e vídeo; leitor/gravador; cassetes e CD; televisor; retroprojetor; computador em rede; impressora; auscultadores.
Material de recolha e de divulgação de produções dos alunos - portefólio, jornal de turma ou de escola, jornal de parede.
Instrumentos de apoio ao ensino e à aprendizagem – gramáticas, dicionários (de língua, de autores, de símbolos, de mitos, de rimas, do livro, etimológicos, etc.), prontuários, enciclopédias (de arte, de história…) e outras obras de referência e de consulta, como Histórias de Arte ou História da Literatura, ou simples auxiliares de trabalho, em suporte convencional ou digital (ver lista de sítios da internet incluída no final do Guia).
Banco de imagens e documentos audiovisuais - músicas, filmes, imagens (reproduções de ilustrações, pinturas, fotografias, mapas), posters, diapositivos, registos áudio e vídeo de poemas musicados e/ou declamados; de histórias narradas oralmente; de músicas ou excertos; de representações teatrais, livros eletrónicos.
Material autêntico – jornais, revistas (se possível alguns literários), brochuras, folhetos, publicidades.
Biblioteca escolar e/ou sala de leitura e centro de recursos (incluindo, de preferência, as tecnologias de informação e de comunicação) – estes contextos são particularmente importantes para a formação de leitores e a divulgação do escrito, tornando-o próximo do universo de referências e de vivências dos alunos. Funcionam, além disso, como polos disseminadores de atividades pedagógicas e culturais, centros de cultura, pontes com a família e a comunidade.
Comunidade e agentes culturais – salas de exposições, museus, eventos e locais de interesse cultural, associações, feira do livro, salas de espetáculos, livraria, teatro.
15
IV. Sugestões de apoio à utilização do manual (tópicos de leitura e cenários possíveis de resposta)
UNIDADE TEMÁTICA 1: A Crónica: uma escrita de fronteira
Esta unidade temática, centrada na crónica, procura favorecer o contacto com um corpus
textual que se distingue pela sua riqueza, complexidade e originalidade e, muito especialmente,
pelo hibrismo, possibilitando a reflexão sobre a “impositividade”/diluição de fronteiras
genológicas, bem como o questionamento do estatuto deste tipo de produção textual. O contacto
com exemplos significativos, diferenciados e modelares da produção cronística no espaço lusófono
deverá potenciar uma problematização da sua funcionalidade e intencionalidade.
Metas de aprendizagem
Os alunos devem ser capazes de:
1. reconhecer o estatuto ambivalente da crónica, relacionando-o com as interseções temáticas e
processuais que nela se verificam entre escrita jornalística e criação literária
2. identificar, no género cronístico, instâncias de hibridismo modal e genológico, designadamente as
resultantes das suas afinidades semântico-compositivas com o poema lírico e o conto
3. caracterizar a relevância e a função desempenhada pela criação cronística na globalidade da obra de
autores consagrados do universo literário lusófono
4. distinguir a crónica jornalística da crónica literária, relativamente ao protagonismo acordado à
circunstância quotidiana ou à sua representação subjetiva, bem como ao investimento estético-verbal na
mensagem
5. enunciar os principais traços caracterizadores da crónica, articulando-os com a sua funcionalidade
pragmático-comunicativa
6. esclarecer, no texto cronístico, a simbiose entre facto e interpretação, reconhecendo a sua ação
conjugada na recriação poetizada do quotidiano
7. deduzir, a partir de recorrências temáticas ou traços enunciativos, a polivalência funcional do género,
apontando intenções preponderantes de natureza lúdica/recreativa, reflexiva/problemática, crítica/satírica ou
lírica/expressiva
16 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Competências Nucleares
Oralidade Leitura Escrita
– Debate orientado em torno das questões tematizadas pelas crónicas selecionadas (atividades coletivas de brainstorming, diálogo entre pares, exposições orais individuais ou em grupo)
...
– Leitura instrumental e seletiva, para deteção de informação macrotextual (skimming) e microtextual (scanning)
– Leitura coral, dramatizada, recitativa, alternada
– Leitura etápica, com antecipação prospetiva de sentido
– Leitura silenciosa individual
– Pesquisa seletiva de informação biobibliográfica relativa aos cronistas/ crónicas em estudo e indagação do destaque concedido ao género na obra global do escritor
– Identificação e explicitação da funcionalidade de elementos paratextuais (em especial, o título da crónica) e sua relação com o meio de difusão (na imprensa periódica ou em livro)
– Análise comparativa/ contrastiva de crónicas selecionadas de autores de língua portuguesa
– Recolha de crónicas na imprensa periódica timorense
– Escrita expressiva-criativa livre e/ou dirigida:
– Redação de crónicas a partir de notícias e faits divers
– Redação de crónicas a partir de contos e poemas
– Redação de crónicas a partir de fotografias e ilustrações
– Reescrita de crónicas com alteração de tom ou intenção pragmática: lírico-confessional, lúdica, satírica, etc.
– Recriação de elementos paratextuais (sugestão de novos títulos, epígrafes, incipit ou explicit)
– Organização de antologias de crónicas (por temáticas, autores, origem linguística, etc.)
– Organização de um dicionário de cronistas da lusofonia
Sugestões de apoio à utilização do manual | 17
Cenários de resposta e tópicos de apoio à correção
Atividade 1
1. 1. “brevidade: no geral, a crónica é um texto curto, de meia coluna de jornal ou de página de revista. […] a brevidade reflete, e a um só tempo determina, as outras marcas da crónica.”2. “herdando a sua precariedade, esse seu lado efémero de quem nasce no começo de uma leitura e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as páginas em papel de embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam num arquivo pessoal.”3. “a veracidade positiva dos acontecimentos cede lugar à veracidade emotiva com que os cronistas divisam o mundo. Não estranha, por isso, que a poesia seja uma das suas fronteiras, limite dos espaços onde se movimenta livremente; e o conto, a fronteira de um território que não lhe pertence.”4. “Fletido ao mesmo tempo para o quotidiano e para as suas ressonâncias”.5. “A subjetividade é a mais relevante de todas. Na crónica, o foco narrativo situa-se na primeira pessoa do singular; mesmo quando o “não-eu” avulta por encerrar um acontecimento de monta, o “eu” está presente de forma direta ou na transmissão do acontecimento segundo sua visão pessoal.”6. “sem ser um exercício de estilo, a crónica monta-se em torno de muito pouco ou de nada, ao menos em relação ao motivo inspirador […] estilo não como mero arranjo sintático, mas como instrumento de certa visão do mundo.”; “O coloquialismo, portanto, deixa de ser a transcrição exata de uma frase ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor […].”7. “A subjetividade da crónica, análoga à do poeta lírico, explica que o diálogo com o leitor seja o seu percurso natural”; “O dialogismo, assim, equilibra o coloquial e o literário […].”
2. Brevidade, efemeridade, volatilidade, presença assídua do quotidiano e do circunstancial, simplicidade estilística.3. Características como a dimensão estético-literária, subjetividade, pessoalidade, tonalidade lírico-emotiva.4. (Rever informações já veiculadas nas respostas anteriores).
Atividade 2
1. 1. facto | 2. quotidiano | 3. pessoal | 4. ideológicas | 5. comunicativa | 6. imprensa | 7. jornal | 8. leitores | 9. pedagógica | 10. acessível
Atividade 3
1. Definição, morfologia/forma, caraterísticas, especificidades da crónica.2. Temática da escrita; utilidade da escrita.3. Acontecimentos políticos; vida (pessoal) dos políticos; quotidiano no estrangeiro (conflitos internacionais, guerras); religião; cultura (música); amizade (gestos de amigos); conhecimento dos Outros; observação das atitudes do animal de estimação (gato). O poeta encara com alguma indiferença e assume uma certa capacidade de relativização da importância...4. Crónica – emotividade, subjetividade, efeito humanizador; motor para a reflexão...
Atividade 4
1. Personagens, conflito-enredo, espaço, discurso direto-diálogo.2. Angústia, ansiedade, nervosismo, “desconforto”... (no caso da figura masculina, Pedro, desespero).3. Desligamento afetivo, separação, afastamento, quebra de fidelidade... – percebidos por Pedro.4. Fuga à realidade, a uma situação aflitiva...5. Resposta livre/pessoal.6.1. Caráter literário; invulgar capacidade recreativa do real; lucidez; frases breves; informalidade; diálogos espontâneos; repetição; memória; expressão vívida de espaços e de figuras humanas...
18 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 5
1. Título – frase repetida pela figura masculina.2. Momentos: 1º parágrafo – introdução; parágrafos seguintes – diálogo/ monólogo; último parágrafo – conclusão.3. Desesperado, nervoso, precipitado, irrefletido...4. Necessidade de distração, comodismo, “dormência” emocional...5.1. Vivência penosa do tempo de insónia; sofrimento da figura feminina.5.2. Metáfora reveladora do excesso discursivo de Francisco, do incómodo que este provoca...5.3. Exagero incontido/ violento/ “avassalador” do discurso de Francisco.
Atividade 6
1. Futebol (a seleção nacional/ portuguesa; o Mundial).2. A equipa de futebol – neste caso, o Benfica – como marca identitária; fidelidade a um clube; ligação umbilical, genesíaca, matricial ao Benfica...3. Alusão ao excesso de jogadores estrangeiros (naturalizados, por exemplo) que jogam na seleção nacional.4. Metáfora, ironia, coloquialismo, humor/cómico, ...
Atividade 7
1.1. “Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto”; “Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos”; “As que escrevi, e imagino quantas, foi sem perceber.”; “não estou contente”...
1.2. Rubem Braga = referência; “argumento de autoridade”...
1.3. “Crónica é um relato?” – caráter narrativo; “É uma conversa?” – tom coloquial e dialogante; “É o resumo de um estado de espírito?” – orientação subjetiva e confessional.
1.4. Espontaneidade, simplicidade, brevidade, “leveza” ou ligeireza...
2.1. Crónica enquanto expressão subjetiva / recriativa de episódios da realidade vivida pelo eu e pelos outros (ligação ao real, ao presente, veracidade...); certa “democratização” da leitura da crónica (texto publicado num meio de comunicação social) vs. leitura literária/de um livro; coloquialismo da crónica vs. “comunicação profunda comigo e com o leitor”...
2.2. Sim, pela manifestação de hesitação/ confusão/ certo desconforto/ incompreensão face à crónica, por exemplo.
2.3. b); d)2.3.1. Resposta livre/pessoal.
Atividade 8
1. c)2. Tom dialógico (dialogismo); periodicidade/regularidade/temporalidade; ligação ao quotidiano, à realidade; simplicidade; temática circunstancial; efemeridade, volatilidade.3.1. Rubem Braga, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade; Fernando Sabino.3.2. Rubem Braga – natureza como temática da crónica (renovação temática); Bandeira e Drummond – renovação de estilo (“ironia fina, alegre e triste”); Sabino – brevidade; rapidez discursiva, surpreendente...3.3. Resposta livre/pessoal. 4. Informalidade, despretensiosismo do género/do estilo; crónica como prática textual de receção alargada; a leitura da crónica como distração e diversão...5.1. Borboleta. 5.2. Cronista – entomologista/entomólogo (pessoa especialista ou versada em insetos): aqueles que “colecionam” crónicas talvez valorizem mais o seu estilo literário (quando se apresenta mais notório), encarando como secundária a sua essência efémera, passageira, volátil, ... 6. Comparação - “Abro esta crónica como uma janela” (exposição desejada e abertura ao real)Enumeração – “E os outros também: no barbeiro, na praia, na própria Câmara Federal, descobrem assunto” (variedade de espaços, de contextos inspiradores, criativos...)Metáfora – “Mas a janela está aberta e o dia balança suas folhas e suas toalhas nesta manhã de Ipanema” (leitura despreocupada, descomprometida, aprazível da crónica...)Ironia – “Dizem que agora a crónica é um género seríssimo” (discordância, negação pessoal desta ideia...)
Sugestões de apoio à utilização do manual | 19
Atividade 9
1.1. Morte enquanto renascimento? A morte decorrente da ação do guardador?1.2. Recurso à fórmula hipercodificada “era uma vez” - introduz as ideias de tempo longínquo, de passado, de indeterminação, de fantasia...1.3.a) Guardador de estradas; “estrada” ser “animado”b) Três primeiros parágrafos; desde “Acontece que...” (4º parágrafo) até “...pequena gotinha.” (8º parágrafo); dois últimos parágrafos.c) Monólogo (modo de expressão); narração e descrição (modos de representação).2.1. Sim, a crónica de Mia Couto pode ser entendida como uma parábola – situação vivida por um ser humano da qual se deduz um ensinamento moral.2.2. Metamorfose – libertação; descolagem da “terra” em direção ao céu (sinónimo de elevação espiritual, de realização pessoal de concretização dos sonhos...).3. Os “puristas da língua” como cultores inflexíveis (talvez sem capacidade para voar, sonhar, reinventar, etc.) – este texto pode ser entendido como uma lição moral, um exemplo...4.1. a) “compridava” – a partir do adjetivo “comprido” inventa forma verbal, colocada no pretérito imperfeito do indicativo;b) “grávido de imenso” – hipérbole (exagero), metáfora; o mundo como espaço fecundo, inabarcável e muito vasto...c) Anarquitetos – anarquia + arquitetos – aglutinação: sugestão de uma certa ordem na desordem;d) Descuidadoso – apropriação de “cuidadoso”, para transmitir. a ideia de negação, em vez de descuidado.4.2.a) Quem apenas conhece um caminho, nunca conhecerá o suficiente do mundo; limitação de conhecimentos;b) Importância do risco, da aventura, do questionamento da certeza e da contestação do adquirido como forma criativa de viver;c) Importância da liberdade de viajar, à descoberta, correndo riscos, improvisando roteiros.4.3.a) Metáfora b) Metáfora c) Personificação, comparação, metáfora d) Metáfora
Atividade 10
1.1. o seu tempo passado (“Sou do tempo”); b) “tempo do meu avô”; c) “jovens de hoje”1.2. “coragem” – dor nos pés; b) dor, desconforto; c) conforto total 2.1. Receio = temo, suspeito2.2. Percorrendo e comparando as vivências de três gerações; ausência e desconhecimento da dor e das dificuldades conduz à falta de humanismo, sobranceria...3.1. Hipónimos: dor de cabeça / enxaquecas, dores de dentes, cólicas menstruais.4.1. “o mais prático dos sóis” (aspirina = sol);4.2. Prático, fácil, portátil e barato, compacto, artificial.5.1. “tentar usá-las a nosso favor”6. A manifestação da dor (física ou psicológica), podendo revelar/indiciar a causa, facilita a escolha de uma terapia ou de uma estratégia de superação.7. Associação de duas realidades, uma concreta (física) e outra abstrata (psicológica).8. Resposta livre/pessoal.
Atividade 11
1. Crónica – relato, orientado pelas ideias de tempo e da sua passagem (nascimento, crescimento), de reflexão sobre a vocação de poeta...2. Dificuldade de expressão poética neutra, tranquila, impassível...; sofrimento causado pelo ato de criação poética...3. O poema foi extraído do Diário, de Miguel Torga. Possui várias marcas da escrita autobiográfica: centralidade do eu, subjetividade, referências a vivências pessoais...
20 | Sugestões de apoio à utilização do manual
UNIDADE TEMÁTICA 2: Contar o eu: literatura autobiográfica e géneros intimistas
Esta unidade temática pretende que os alunos identifiquem marcas de textos de caráter
autobiográfico, em particular do património cultural lusófono, distinguindo a matriz discursiva de
várias tipologias textuais e determinando diversificadas intencionalidades comunicativas e criativas.
Simultaneamente, pretende-se desenvolver a sua capacidade de autoanálise, exprimindo, oralmente
ou por escrito, sentimentos e emoções, e relatando, de forma partilhada, vivências e experiências.
Metas de aprendizagem
Os alunos devem ser capazes de:
1. distinguir diferentes géneros de caráter autobiográfico, de modo a salientar as suas características formalizantes, contextos de produção e receção, intenções e finalidades comunicativas
2. analisar elementos paratextuais, antecipando assuntos, temas e tópicos
3. interpretar a mensagem global de um texto e selecionar informação específica
4. analisar processos linguísticos e retóricos utilizados pelo(s) autor(es) na conversão da vida em escrita
5. apreciar o grau de correção e adequação dos textos ouvidos e/ou lidos
6. inferir e problematizar sentidos, distinguindo as intencionalidades e a visão subjetiva do(s) autor(es)
7. exprimir, de forma fundamentada, oralmente e por escrito, ideias e pontos de vista pessoais
8. estabelecer analogias entre diferentes textos, comparando as ideias e os valores expressos
9. reconhecer o valor simbólico da palavra inserida no seu contexto sociocultural
10. redigir textos de caráter autobiográfico, explorando diversas possibilidades de organização textual,
processos retóricos e registos expressivos
Competências Nucleares
Oralidade Leitura Escrita
Debate
Troca de impressões
Diálogo professor /aluno/aluno
Observação e comentário de imagens
Exposição oral
...
Leitura silenciosa
Leitura expressiva
Interpretação
Ilustração de textos
Análises intertextuais
...
Resposta a questionários diversificados
Redação de textos subordinados a uma temática e/ou tipologia
Esquematização e sistematização das diferentes características textuais (formais e temáticas)
Preenchimento de textos lacunares ResumoComentárioTrabalhos de pesquisaTrabalhos em grupo Recolha de textosLegendagem de imagensExercícios de escrita criativa...Seleção e pesquisa de textos
Sugestões de apoio à utilização do manual | 21
Cenários de resposta e tópicos de apoio à correção
Atividade 1
1.1. O prefixo “auto” é um elemento de origem grega de composição de palavras que exprime a ideia de “por si mesmo”, “próprio”, “independente”. (Do gr. autós, o próprio).1.2. Pesquisa e seleção de textos de cariz intimista como a autobiografia, o autorretrato, o diário, as memórias, as cartas, etc. 1.3. Entre outros aspetos, uma visão autodiegética (narrador protagonista e participante na ação) e posterior aos acontecimentos narrados, com a expressão de sentimentos e emoções pessoais, a subjetividade e o tom confessional e reflexivo, por parte do narrador.2. Uma autobiografia é a narrativa que alguém faz da sua própria vida. São géneros da literatura intimista as memórias, o diário, a carta. Na literatura intimista, o narrador exprime sentimentos e emoções do eu. Na autobiografia e nas memórias, a narração é ulterior (isto é, posterior aos factos relatados). O texto de caráter autobiográfico é um texto cuja realidade é pontuada pela subjetividade do narrador. O diário pode ser um texto literário. Carta e epístola são sinónimos. A carta é um enunciado que também pode ser literário. 2.1. Resposta livre, exemplificando os aspetos assinalados em 1.3.
Atividade 2
1.1. Resposta livre, referindo ideias relacionadas com a necessidade de introspeção e de reflexão. 1.2. Aqui a autora brinca com o conceito, interpretando-o como o local onde os professores registam aspetos da sua vida privada. O caderno diário remete para o universo escolar.1.3. “livro onde, todos os dias, são registadas observações e experiências pessoais”. 2.1. Resposta livre, salientando a ideia de que um diário serve a necessidade de introspeção, de autoconhecimento.2.2. Resposta livre. 3. Características técnico-compositivasa. “sucessão de notas datadas”.b. “O diário resulta de uma escrita reatada diariamente (ou periodicamente)”.c. “fragmentária, portanto, em que o eu se vai constituindo”.d. “A observância de uma ordem cronológica está, pois, implícita no género diarístico, em que o recomeço da escrita acompanha a sucessão dos dias”.Temáticas“… as suas alegrias e desgostos, os resultados do seu trabalho, as suas descobertas, os seus amores e amizades, as suas leituras, as suas experiências, enfim, tudo aquilo que molda uma personalidade e enche de sentido uma vida”.“O diário íntimo é um texto orientado, por definição, para a interioridade: procura introspetiva de um centro, autognose ou simples capitalização de uma vida”.“… no diário assistimos à construção incessantemente recomeçada do puzzle da interioridade”.
Atividade 3
1.1. Neologismo composto por aglutinação (milagre+diário).
1.2. Sequencialização de registos temporalmente identificados de uma escrita quotidiana e fragmentária sobre emoções e experiências vivenciadas.
1.3. Anotar “os factos extraordinários que me sucedem, ou de que sou involuntária testemunha, dia após dia”.
1.4. O autor demonstra curiosidade, encantamento e complacência por Gina e Lara.
1.5. Breves relatos sobre os encantos da vida – a natureza, as pessoas, a poesia, a beleza, a mortalidade.
1.6.
a) Bela e extraordinária.
b) Encantadora e irresistível (feminina).
c) Glorioso.
d) Deslumbrante.
e) Bela mas sombria.
f) Prodigiosa.
2. Resposta livre.
22 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 4
1.1. Exercício oral de troca de impressões e organização de ideias. 2.1. Debate e registo de pontos de vista.2.2. Impotência, fé, esperança. 2.3. Auxílio e solidariedade do povo português. 2.4. Diário de guerra, de memória. 3.1. Libertação e discurso de Xanana Gusmão.3.2. Xanana Gusmão e o povo timorense. 3.3. Líder caloroso, emotivo.3.4. Lamento, esperança e regozijo, expressos através do choro, do canto e da dança. 3.5. Transformação que decorre da sua condição de prisioneiro. 4. A mancha tipográfica do poema sugere o ritmo sincopado do discurso emotivo de Xanana Gusmão e dos seus efeitos sobre a multidão.5. Trata-se do registo periódico de um momento histórico que marca o início da reconstrução de um país, a esperança num futuro livre. 6.1. Trabalho de pesquisa.6.2. e 6.3 Resposta livre.7. Trabalho de pesquisa.8. Pretende-se que a edição seja acessível a todos (leitores timorenses e estrangeiros), tendo em conta aspetos relacionados com a diversidade linguística que resulta da História de Timor-Leste.
Atividade 5
1.1. Luís Cardoso confessa nunca ter redigido um diário porque “Confio sempre na minha memória” e se sente inseguro em relação à sua capacidade para escrevê-lo de acordo com as regras usuais: “Não sei se é assim, com o que escrevi ontem, que deva começar um diário”.1.2. O encontro casual com José Carlos Vasconcelos que lhe pediu que “escreva para a página do diário”. 2.1. Na sua perspetiva, um diário deve ser “interessante de ler, com citações relevantes, ou [que] enumere autores importantes”.2.2. Sim, tendo em conta os aspetos técnico-compositivos e as temáticas abordadas. 3. A título exemplificativo, o relacionamento, o cuidado e as atividades que desenvolve com a filha Clara, bem como as rotinas e hábitos nas suas pesquisas e escrita.3.1. “Começo a manhã em frente ao ecrã. Leio o que escrevo. Leio em voz alta. Clara já se habituou à cadência da minha voz, inclusive ao barulho do teclado”. 4.1. Exemplos: “Um esplendor!”, “um espetáculo de se ver”, …4.2. Exemplos: “Aqui nesta biblioteca de Oeiras fazem-se milagres. As crianças entram tristes e saem felizes. […] Falam, riem, choram, …”; “Gosto das tardes em Oeiras”. 4.3. Exemplos: “Dona Lina tem a delicadeza de um artesão japonês”, “O ciclista é um homem de meia-idade. […] Mostra uma certa compostura”. 4.4. Elogia as fotografias de Hélène Brière e critica uma afirmação de José Saramago, por exemplo.4.5. Exemplo: “Os pedestres preferem a via terrestre. Gostam de correr riscos”.4.6. “Tempo para fazer o primeiro balanço. Os partidos políticos podem aproveitar a campanha eleitoral para o fazer. A começar com um pedido de desculpas ao povo. Como forma de limpar as consciências e começar uma nova década”.4.7. “Aprecia a boa literatura. Feita pelos antigos. […] É o livro que guardo na minha mesinha de cabeceira”.4.8. “Espero acordar todos os dias de olhos bem abertos […] “Aqui em baixo é tudo azul””.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 23
5.1. “A preto e branco”, sem artefactos, puro, selvagem, místico e pobre.5.2. “Creio que a palavra Democrática está fora de prazo”, porque o país continua a evidenciar muitas carências. 5.3. “A começar com um pedido de desculpas ao povo”, pela ineficácia das decisões políticas, esperando um “futuro melhor. Digno dos seus olhares”, neste início de “uma nova década”. 6. São imagens que retratam a realidade, o sofrimento, a pobreza, as dificuldades, sem qualquer tentativa de embelezamento eufemístico. 6.1. Luís Cardoso afirma que a beleza dos olhares das crianças inclui vozes que apelam para a construção de “um futuro melhor. Digno dos seus olhares”.6.2. Trabalho de pesquisa. 6.3. Resposta livre.7. Exercício de escrita criativa.8. Exercício de escrita.
Atividade 6
1. Descrição da vida de alguém (Do gr. bíos, vida + gráphõ, escrever).2. Nasci em Melbourne / onde me formei / ingressei no Programa / Viajei para Timor-Leste / Vivi e trabalhei como professora / que o meu trabalho / me levou / vim a casar / sou diretora / criei em 2001 / a minha primeira visita / apaixonei-me / e decidi juntar-me / até onde me levaria / as minhas atividades me conduziram / serviços secretos obrigou-me / onde regressaria / para me juntar / vim a casar / tenho atualmente. 3.1. O autor e o narrador assumem uma relação de identificação, numa narrativa de primeira pessoa. 3.2. Autodiegese. 4. Descrição da própria vida. 5. Local e data de nascimento; formação académica; atividades profissionais, viagem, paixão e envolvimento na causa timorense, envolvimento amoroso e casamento com Xanana Gusmão. 6. Os momentos descritos obedecem a uma ordenação cronológica. 7. Líder encarcerado, carismático, reverenciado líder independentista.8. Biografia / próprio / narrador / equivalentes / responsabilidade / criação / organização / idêntico / real / comprovada / pacto / leitor.
24 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 7
1. Resposta livre. 2.1.a) O texto A apresenta uma descrição estática; o texto B apresenta uma descrição dinâmica.b) Os dois textos enfatizam a dimensão histórica de Xanana Gusmão que transmite esperança ao seu povo: “Um revolucionário com uma aura pacífica e discurso calmo que a coragem e a circunstância atiraram para o rodopio da história” (texto A) / “mas na sua boca renascem rutilantes / e sobem / […] / iluminando uma terra devastada” (texto B).c) Exemplos: “Há quem considere mais importante defender uma língua, um convívio, um modo de vida simples” (texto A); “Não é de político o seu falar / nem o seu semblante” (texto B).d) “sendo mesmo exposto em lares humildes ao lado de alguns santos” (texto A); “Cristo poderia ter / aquela cara e aquele olhar menino e dorido” (texto B).3.1. A par de outras figuras da história da humanidade, Xanana Gusmão constitui-se como um símbolo de ânimo e coragem.3.2. “Revolucionário, aura pacífica, discurso calmo, vocação de mártir, símbolo e ânimo, banido notável,”3.3. Che Guevara, Mahatma Ghandhi, Nelson Mandela. 3.4. Trabalho de pesquisa. Resposta livre.3.5. A sua dimensão santificada deve-se aos seus sacrifícios pela causa timorense, evocativos de um perfil de “mártir”.3.6. Ironia. Recrimina a atuação do povo português enquanto colonizador. 3.7. Representa todos os timorenses anónimos que sofreram e/ou resistiram às atrocidades cometidas pelos opressores indonésios. 3.8. “Com Xanana, percebemos com mais clareza que nem toda a gente no mundo se rende ao consumismo, nem vive obcecada pelo lucro fácil. Há quem considere mais importante defender uma língua, um convívio, um modo de vida simples”.3.9. O “panfleto visual” de “má qualidade técnica, na desfocagem acidental e banal enquadramento” contrasta com os valores daqueles que lutam, com determinação, pela liberdade, “por causas aparentemente perdidas”.3.10. Xanana Gusmão simboliza “uma multidão de outros rostos igualmente banidos […] não se bate só pela liberdade do seu próprio povo, mas revela o outro lado da humanidade que um pouco por toda a parte tenta encontrar uma dignidade perdida”.4.1. O atual primeiro-ministro timorense revela-se um líder carismático, capaz de mobilizar, pela palavra e pelo semblante, o seu povo para a reconstrução do país, com justiça, democracia e liberdade.4.2. “sofrendo suas palavras / parindo as próprias palavras / lambendo-as mansa e amorosamente / antes de as empurrar para a vida”.4.3. As formas verbais utilizadas sugerem a proteção dos conceitos que as palavras encerram, valorizando a sua dimensão natural, pura e nobre. 5. Amor, justiça, democracia, liberdade.5.1. A expressão transmite a ideia que estas palavras têm sido banalizadas e destituídas do seu significado intrínseco. 5.2. “renascem / e sobem / esplêndidas / iluminando uma terra devastada” onde os homens se preparam para recomeçar. 6. Os adjetivos contêm o valor da esperança, da crença num futuro melhor. 7. “e amanhecem / para um dia novo / nus e pobres / mas de rosto aberto / como o primeiro homem da criação”. 7.1. O momento de reconstrução assemelha-se à descoberta de um novo mundo, como a descoberta do Paraíso, por parte de Adão, “o primeiro homem da criação”. Timor é, agora, o paraíso e tudo é possível. 8. Resposta livre.9. pintura / descritivo / reflexivo / dinamismo / espelho / pintor / cronologicamente / poética / autobiografia / modelo.10. Resposta livre. Exposição oral.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 25
Atividade 8
2. e 3. Resposta livre. 3.1. O autor das telas é Xanana Gusmão. 3.2. A fotografia sugere a contemplação do futuro que se deseja estável e tranquilo. 4. O penteado tradicional timorense de Kirsty que, sendo estrangeira, conhece e acompanha a realidade de Timor-Leste. 5.1. Resposta livre.5.2. Mise en abîme é uma expressão que significa “cair no abismo”, usada pela primeira vez pelo escritor francês André Gide, referindo--se às narrativas que contêm outras narrativas dentro de si. A expressão é extensiva às artes visuais.6.2. Resposta livre (observar que a primeira tela retrata uma paisagem, em tons quentes).6.3. Resposta livre (considerar os contrastes implícitos dia/noite, luz/sombra, exterior/interior)a) A pintura do lado esquerdo representa uma paisagem timorense onde se reverencia a beleza, a pureza e a força da natureza; a pintura da esquerda sugere a noite, o recolhimento, a reflexão e a identidade timorense.b) Tópicos possíveis: Liberdade / Introspeção; Vida / Reflexão. c) As telas indiciam a sensibilidade, a capacidade de observação e a necessidade de expressar sentimentos, nomeadamente o orgulho pela paisagem e pelas tradições timorenses.6.5. Resposta livre.
Atividade 9
1. O remetente é KRXG e o destinatário é Marta B. Neves. 2.1. Entre o emissor e o recetor existe proximidade afetiva, tendo em conta o tratamento carinhoso do termo “querida”, acentuado pela utilização do diminutivo.2.2. “minha filha”, “Beijinhos de muito amor”.3.1. Resposta livre. 4. Introdução (identificação do destinatário e fórmula de saudação); desenvolvimento (agradecimento pela solidariedade, explicação da sua condição de prisioneiro, explicitação do objetivo da sua luta – a paz); conclusão (fórmula de despedida, assinatura, local e data).5. O emissor agradece a solidariedade das crianças portuguesas perante a sua situação de prisioneiro, resultante da sua luta pela causa do povo Maubere.6. É uma carta privada na qual se deteta um registo afetivo e um estilo coloquial, contendo frases curtas e simples; contudo, inclui um cabeçalho que abrange o nome e o “endereço” da destinatária, sendo que o assunto do agradecimento também se enquadra no âmbito das cartas profissionais. 7. Esta carta cumpre as regras quanto à estrutura, embora apresente características de hibridismo e de literariedade. 8. A subjetividade desta carta deriva da personalização de emissário e recetor, bem como do diálogo implícito sobre um assunto de sofrimento. 9. A utilização de letras maiúsculas na palavra “LUTA” insinua um grito por algo que se considera vital.9.1. A conquista da liberdade e da paz. 10. Resposta livre.
Atividade 10
1.1. s.f. (classe gramatical e género gramatical da palavra: substantivo feminino) / pl. (plural).1.2. Resposta livre.1.3. Resposta livre.1.4. “9. escrito narrativo em que se compilam factos presenciados pelo autor ou em que este tomou parte”.
26 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 11
1. O contacto com a natureza e as diferentes brincadeiras ao ar livre, as leituras e as histórias, as diferentes sensações (auditivas, visuais, olfativas, gustativas, táteis), os lugares e a relação com o avô.2. Construção frásica simples e paralelística, tom coloquial. Parecem adequados, tendo em conta que se pretende responder a uma criança para justificar o desejo de escrever, evocando as memórias da sua própria infância. 3. Resposta livre.
Atividade 12
1. Resposta livre.
Atividade 13
1.1. A capa do livro assemelha-se a um sobrescrito, no formato e nos símbolos icónicos. O título sugere esperança e descoberta, nomeadamente pela presença das reticências, e a cor vermelha simboliza o sangue, a vida. 1.2. Resposta livre. 2.1. O livro apresenta a vida da personagem desde a infância até à terceira idade. 3. Resposta livre.
Atividade 14
1. Cumplicidade com o pretendente da tia Rosa; punição por causa dessa cumplicidade; exercício da função de “guardador da virgindade familiar”; descoberta e fascínio pelos livros; chegada do sacerdote e do radiotelegrafista para as festividades da Páscoa; acidente do guarda-fios e sua convalescença; sucesso na comunicação com Díli e celebração da Páscoa. 2. Troca de mensagens secretas entre apaixonados; namoros supervisionados; comunicações por telégrafo; comemoração da Páscoa. 3.
Personagens | Retrato físico | Retrato psicológico
Tia Rosa | Jovem, atraente | Aborrecida, namoradeira
Mãe | ----- | Tradicional, severa
Militar | Voz pausada | Apaixonado
Guarda-Fios | Branco, alto, espadaúdo, com longas barbas | Imprudente, dinâmico, intempestivo, determinado, solene
3.1.a) Inocente, curioso, independente, distraído, guloso. 3.2. A ilustração de Moisés era imponente e fascinante: “Uma altura descomunal, tronco direito como uma rocha, cabeça volumosa, estrelas circundando a testa e nos pés víboras esmagadas. Era um autêntico blindado humano, com ar de bicho espantado como se eu fosse um Herodes pronto a degolar qualquer iluminado que se me fosse apresentado”.3.3. Imponência e força física; a ligação aos répteis (víboras / cobra verde) e às estrelas; a capacidade de comunicar com o longínquo (Deus / Díli).3.4. Sim, considerando o exagero na descrição dos seus traços físicos e o efeito cómico das suas ações.3.5. Resposta livre.4.1. Mordedura de uma cobra verde.4.2. Envenenamento / risco de vida.4.3. Foi tratado por um “sacerdote gentílico que entre hamulak e ministrações de ervas aromáticas e masca” o curou. 5.1. Comparação e metáfora que reforçam o entusiasmo e as habilidades do radiotelegrafista. 6. O namoro secreto resultou em casamento; a mordedura da cobra acabou por não ser fatal; a comunicação com Díli foi bem sucedida.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 27
UNIDADE TEMÁTICA 3: A poesia lírica em língua portuguesa: vozes e contextos
O estudo sistemático do texto lírico, designadamente das suas especificidades modais,
dos códigos retórico-estilísticos que o regulam ou das suas dimensões semântico-pragmáticas,
constitui o objeto desta unidade. Para tanto, prevê-se a leitura e análise de poemas pertencentes
a espaços geográficos e culturais distintos, concedendo-se especial atenção à produção lírica em
língua portuguesa e, muito especialmente, à poética de Ruy Cinatti, colocando em evidência o seu
significado crucial na conformação de uma “biografia poética” do povo timorense.
Metas de aprendizagem
Os alunos devem ser capazes de:
1. contactar com a obra poética de autores integráveis no património cultural de expressão portuguesa
2. caracterizar a especificidade modal do texto lírico
3. reconhecer a dimensão estética, lúdica e interventiva da palavra lírica
4. apreender criticamente a dimensão plurissignificativa da mensagem poética
5. identificar e ponderar o valor expressivo de diversos recursos retórico-estilísticos, relacionando-os com as isotopias patentes no texto
6. descodificar sentidos implícitos, reconhecendo nesse processo de decifração um exercício indispensável de reconstrução do sentido poético
7. explorar as propriedades expressivas da língua na escrita criativa de poemas
8. exprimir e partilhar ideias, sentimentos e emoções estimulados pela leitura e análise de textos poéticos
9. declamar poemas
10. estabelecer relações intra e intertextuais com base nos textos estudados
11. valorizar as dimensões simbólica, histórica e sociocultural da poesia
Competências Nucleares
Oralidade Leitura Escrita
Debate orientado, diálogo entre pares e exposições orais sobre os temas abordadosTroca de impressõesComentário oral sobre textos lidosDebate e comentário de aspetos simbólicos e de mensagens implícitasExposição comentada de ilustrações Declamações Organização de um sarau de poesia
Pesquisa seletiva de informação biobibliográfica relativa ao autor/texto em estudoAnálise de paratextos e formulação de hipóteses interpretativasLeitura silenciosaLeitura expressivaLeitura dramatizada e/ou coralAnálise formal e interpretação temática de poemasAnálise contrastiva de temas e tópicos Problematização da perspetiva subjetiva do autor
Pesquisa de informação biobibliográfica sobre os poetas estudadosConstrução de uma base de dados de autores Ilustração de poemasResumoComentárioReescrita de textosEscrita criativaElaboração de textos poéticos Organização de antologias e coletâneas de poesiaConcurso literárioDivulgação dos textos produzidos
28 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Cenários de resposta e tópicos de apoio à correção
Atividade 1
1. Liberdade + disciplina (silábica).2. A poesia encarada como liberdade individual; a poesia estruturada e orientada pela “norma” silábica ou pelo “regime” das palavras; a poesia como inspiração divina, restando ao poeta apenas a sua execução “dirigida”.3. Liberdade = impulso criativo.4. Estrutura externa: dístico + quadra + quadra; ab // cdec // efgh (versos soltos; rima interpolada; versos heterométricos (variedade de sílabas métricas: tetrassílabos, pentassílabos, hexassílabos... )5. Resposta pessoal/livre.
Atividade 2
1.1. Ingredientes: cansaço (“poeta cansado”); sonho e natureza (“nuvem de sonho e flor”); “tristeza”; beleza ou brilho (“tom dourado”); dor e medo (“veia sangrando de pavor”); figura/beleza feminina (“luz de um corpo de mulher”); morte (“pitada da morte”); amor – sinceridade, verdade, sensibilidade.2.1. Metáfora (e enumeração) – aproximação de realidades, a partir da referência enumerativa.3. Resposta pessoal/livre.4. Resposta pessoal/livre .
Atividade 3
1. A escrita ou o trabalho com as palavras e frases.2. “importar o sol” = ter o poder de criar ou fazer existir apenas realidades positivas; “exportar as nuvens” = ter o poder de conseguir abolir realidades negativas, perturbadoras...3.1. Metáfora.3.2. Aproximação da ação criativa do escultor sobre a pedra (disforme, dura, agreste...) à ação criativa do poeta, que procura simultaneamente, a partir do seu gesto e do seu uso das palavras, fixar/dar conta do presente, revelar o “outro lado” das coisas menos belas/dolorosas (“dureza da noite”)... 3.3. “fere”, “suspende”, “fixa” 4. a – b; b – c ; c – d ; d – a5.1. Metáfora = aproximação entre dois conceitos ou duas realidades que partilham, entre si, uma mesma característica. 5.2. Alegoria = expressão de uma ideia abstrata através da sua materialização/personificação.6. Metáfora = “Podia ser um trabalhador por conta própria, / um desses que preenche cadernos de folha azul com números / de deve e haver. De facto, o que deve são palavras; / e o que tem é esse vazio de frases […].”; alegoria = “[…] a sua / prática confunde-se com a de um escultor do movimento. Fere, / com a pedra do instante, o que se passa a caminho da eternidade; / suspende o gesto que sonha o céu; e fixa, na dureza da noite, o bater das asas, o azul, a sábia interrupção da morte.”7. Desejo de criação de aproximações de sentidos ou significados entre as palavras e as realidades, parecendo haver a necessidade de “adquirir” (metáforas importadas); em excesso, torna-se necessário dispensar “comparações” de realidades abstratas com termos concretos (exportar alegorias).
[No caso concreto dos exemplos apresentados em 6., através da metáfora, transfere-se o significado próprio dos vocábulos “dever” e “haver”, do domínio do “trabalho por conta própria”, para o universo da poesia, pelo facto de se poder perceber uma certa semelhança existente entre as duas áreas de sentido. “Transforma-se”, assim, o sentido literal em sentido figurado ou conotativo. No caso da alegoria, estabelece-se uma espécie de paralelismo metafórico, fazendo-se corresponder uma realidade (a da escultura e do escultor) e uma outra (a da poesia e do trabalho do poeta).]
Sugestões de apoio à utilização do manual | 29
Atividade 4
1.1. Especial capacidade de entendimento do eu e dos outros; liberdade expressiva; emotividade; realismo na expressão; sinceridade; recuperação e recriação do real; dedicação a uma causa e necessidade de a expressar afetivamente...2. Dedicação e/ou entrega total/“incondicional”; capacidade de inovação na expressão poética das emoções e dos afetos (“falámos de emoções que, que não sendo novas, o homem que as escreve transforma em poesia”); poesia como expressão do eu, escrita inovadora que desafia/estimula a interpretação e a descoberta da verdadeira índole/essência do sujeito lírico (e é um exercício enorme este que aqui temos de “olhos lavados” a cada página, a cada imagem com que nos confronta o espelho literário deste escritor.”)
Atividade 5
1.1. Dor, sofrimento, morte, luta, memória, tradição, liberdade, destino trágico. 1.2. Declamação sentida, emotiva, dramática...1.3. Resposta pessoal (conceder atenção ao cenário natural, importância da terra inspiradora, fidelidade a esta, etc.).2.1. Sugestão da obsessão do sujeito poético, criação de um efeito de eco/de refrão...2.2. Povo timorense: capacidade de sofrimento, de resistência à dor, de luta dedicada por uma causa, fidelidade à pátria/terra-mãe, “repositório” de memórias, ...2.3. Ocupações/domínio/jugo internacional; massacre(s)... 2.4. Apelo à resistência, à esperança, à crença num futuro melhor, na liberdade, na possibilidade de regeneração...2.5. Anáfora + paralelismo – paralelismo anafórico – enfatiza, por um lado, a ideia de dilaceração humana e de sofrimento (dor, carne, sangue) e, por outro lado, a de concretização e dedicação (vida, alma); a reiteração/repetição poderá sugerir a obstinação e resistência que caracterizam a atitude timorense... 2.6. Resposta livre/pessoal (mencionar as ideias de destruição e reconstrução possível, desilusão e esperança...).
Atividade 6
1. À resistência e à luta.1.1. No contexto da ocupação de Timor-Leste, seja pelo colonialismo português, seja pela ocupação indonésia.2. Alusões aos territórios árabes ocupados por Israel.2.1. Trata-se, à semelhança de Timor-Leste, de áreas ocupadas por um “invasor”, que continuam a resistir a essa ocupação e a lutar pela sua independência e autonomia.2.2. Trata-se de terra santa, sagrada, um pouco à semelhança da terra timorense.3.1. Morde; Fere; vento te bata; saqueará.4. A recompensa é a libertação, mas também a certeza de estar a combater por um motivo justo e válido. O sujeito poético destaca a importância desta “missão” através do uso de maiúsculas em “Libertação do Povo”, verso que encerra o poema.5. Reforçam a necessidade de insistir e persistir na luta, funcionando como apelos e exortações à sua continuidade. A ideia de resistência, apesar de todas as dificuldades, é sublinhada através da repetição.6. Atendendo ao texto, significa a ideia de enfrentar as dificuldades e oferecer o rosto (e não o dorso, símbolo de virar costas e de desistência) à luta, ao agressor e ao ocupante.7.1. O cidadão timorense comum, porque a resistência é um trabalho de todos.
30 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 7
1. Discurso em primeira pessoa; impressões pessoais e subjetivas; indicações toponímicas; alusões de cariz pessoal, dificilmente reconhecíveis por um leitor comum, externo aos acontecimentos; indicações temporais, exprimindo a passagem do tempo, mas ancorando o registo a um momento específico...2. O sujeito encontra-se em Lisboa e pensa em Timor. “Que faço eu neste quarto de madeiras húmidas neste país distante? As pálpebras apertam-se como duas lâminas e impedem-me o sono. Lá longe, no país de Timor...” (entre outras possibilidades)3. Entre outras, a seguinte: “Abro a porta para a terra estrangeira e o frio de janeiro corta-me a pele. Fecho a porta como se enterrasse o meu coração no cume do Ramelau.”3.1. Dor, desespero, saudade... O sujeito poético sofre pelo afastamento da sua terra, mas também pelo significado desse afastamento, ligado à sua invasão e ocupação. A perda de Elisa, assassinada, é mais um sinal do sofrimento vivido.4.1. Elisa, Suarto, o próprio sujeito poético, soldados estrangeiros ocupantes e invasores, timorenses resistentes. 4.2. Saudades de Elisa e de Timor; desprezo por Suarto, assim como desejos de vingança; confiança nos conterrâneos e certeza da derrota dos invasores. 5. Simboliza a ligação umbilical do sujeito poético à sua terra. O monte Ramelau é o símbolo da própria nação e do seu cariz sagrado e inviolável.6. O sujeito poético hesita entre os dois sentimentos, uma vez que, por um lado, parece estar seguro da derrota dos invasores, mas também tem consciência do preço elevado que está a ser pago em sangue e vidas timorenses, como a morte de Elisa ou o desaparecimento da criança timorense ilustram.
Atividade 8
1. Antes – pureza; os odores sagrados e purificadores do incenso e sândalo; o sinal de respeito pelos pés nus nas pedras do templo. Depois – a recusa da situação original, uma vez que o espaço foi profanado pela presença dos invasores.2. Resposta livre. Por um lado, parece não ter esperança, como a repetição da expressão “não mais” sugere; por outro, há indícios, como o uso do “enquanto”, de que o sujeito poético tem esperança numa alteração do atual estado de coisas.3.1. Trata-se de uma sugestão de antiguidade original e primitiva que evoca a pureza sagrada das origens e do princípio. Depois da invasão, essa pureza é destruída e o caos instala-se, perturbando a harmonia.4. São os invasores. A ação de comerem na casa do sujeito poético sugere a invasão de um espaço privado e pessoal, subitamente perturbado e violado pela presença de estranhos que não respeitam a terra onde se encontram.
Atividade 9
1. A ode celebra a figura de Nicolau Lobato e é escrita para assinalar o significado de que se reveste para o sujeito poético a sua morte.2. Tristeza e revolta, quase desespero.3. O sujeito poético escolhe elementos, como os peixes e as borboletas, que voluntariamente se sacrificaram, matando-se, como forma de exprimir a dor pela perda sofrida.4. Para além da irregularidade estrófica e métrica, a própria disposição gráfica, muito irregular na ocupação da página, reforça a ideia de desespero e de sofrimento que é central no poema.5. Enaltecer a figura de um resistente desaparecido significa apresentá-lo como exemplo e modelo a seguir, continuando a sua obra e seguindo os seus passos rumo à liberdade e à autonomia. 6. Resposta pessoal.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 31
Atividade 10
1. Reuniões familiares, com os avós, à lareira, ouvindo histórias. Conota esse tempo com a inocência, mas também com a pobreza e algum sofrimento de que, apesar de tudo, parece ter saudades.2. A trepadeira assegurava a ligação entre a terra e o céu, o profano e o sagrado, simbolizando a ascensão. É também através da trepadeira que o homem pode ser alvo da proteção divina.3. “reverdeceu” – simboliza o renascimento da esperança; “reluz uma luminária” – simboliza a luz divina e protetora; “anunciando a liberdade” – esperança de liberdade e de autonomia. O apelo ao fim do choro está também associado à esperança de que o sofrimento está a terminar.4. Na última estrofe, uma vez que se diz que a liberdade que espera é a de Deus e não a dos homens. Só Deus, no entender do sujeito poético, se mantém presente, não esquecendo os filhos e o seu sofrimento e preparando-se para os recompensar.5. A da necessidade de manter a esperança e a fé em Deus como forma de resistir às dificuldades e ao sofrimento.6. Resposta pessoal.
Atividade 11
1. O poema canta a liberdade e o desejo de a viver intensamente em Timor, no momento em que o seu autor está preso e longe da sua pátria. Este poema foi escrito em Cipinang, durante o cativeiro de Xanana Gusmão.2. Trata-se de formas de expressar o desejo de liberdade, sublinhando, de forma emotiva e emocionada, a sua importância.3. O uso do pretérito imperfeito do conjuntivo, “se eu pudesse”, exprime bem a impossibilidade de experimentar as sensações e as emoções descritas em cada estrofe. Todas elas apontam para diferentes vivências e realidades timorenses, evocando o território onde o sujeito poético deseja estar com todas as suas forças.4. O poema realiza uma espécie de viagem pelas diferentes paisagens timorenses, funcionando como um roteiro que parece tentar registar todos os elementos do território, seguindo os vários momentos do dia (manhãs; tardes; entardecer e noite): planícies; praias; nascentes... Trata-se de espaços descritos de forma expressamente eufórica, conotados com a emoção e a saudade, mas também com o desejo de regresso.5. “acordar tiritando fustigado pela ventania”; “ver […] um perturbado nascer do sol”; “cavalgar”; “sentir o cheiro”; “sentir o cansaço”; “ouvir contar as canseiras”; “caminhar pela areia”; “tocar a imensidão do mar”; “falar para a lua”. Em comum, as referências apresentam a valorização dos elementos da natureza, dos espaços abertos e amplos e da relação de sintonia entre o sujeito poético e a sua terra.6. e 7. Resposta pessoal.
Atividade 12
1. Tem que ver com a libertação das mulheres e a sua tomada de consciência dos seus direitos.2.1. Antes – cansaço; canga, silêncio; indignidade; horizonte encurtado; panelas e roupa para lavar. Depois – erguer o “surik”; caminhar com firmeza e segurança.2.2. Depois de anos (ou gerações?) de subjugação, as mulheres tomam o seu destino nas mãos e agem de forma autónoma.3. O caminhar firme representa a segurança e a autonomia feminina. O facto de esta atitude se seguir ao ato de empunhar a espada parece constituir um desafio das tradições, uma sinal claro de mudança da condição feminina.4., 5. e 6. Resposta pessoal.
Atividade 13
1. Ao facto de partilharem a combatividade, o espírito de luta, sacrifício e resistência.2. O apelo à perseverança, à resistência e à luta até à vitória e à libertação. Não haverá concessões nem desistência porque o combate só termina com a vitória. Não é sequer equacionada outra possibilidade ou alternativa, tal é o empenhamento timorense.3. Reforçam a rejeição de qualquer alternativa, seja ela qual for e venha ela onde vier, à libertação total e absoluta dos timorenses.4. Trata-se de um grito de exaltação, uma chamada à resistência e à luta através da invocação do país, essa força que une os homens. Dar vivas a Timor-Leste independente num momento de ocupação é, por si só, um ato de resistência.5. Resposta pessoal.
32 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 14
2.1. Timor-Leste. Resposta pessoal, podendo incluir referências ao facto de se tratar de parte de uma ilha, multiétnica, multilingue, onde confluem muitas histórias, muitas tradições, culturalmente muito rica e variada...2.2. Diversidade física dos habitantes de Timor, oriundos de muitos países diferentes, falando muitas línguas também diferentes; transformações profundas; introdução de novidades; mudança de comportamentos e de hábitos...2.3. Espelha e reforça o espanto, a surpresa e a perplexidade do sujeito poético face ao mundo que o rodeia e que ele tem dificuldade em compreender, tal a quantidade e qualidade das mudanças ocorridas a um ritmo vertiginoso.2.4. Significa “mistura”, no sentido em que é uma espécie de meio-termo entre duas coisas, neste caso etnias, por exemplo.a) A afirmação “eu nasci na ilha” reforça esse sentimento de pertença.3. O valor retórico das questões é reforçado pela constatação de que o sujeito poético vai, ao longo do poema, enumerando as mudanças ocorridas e respondendo à sua própria pergunta. Neste sentido, mais do que uma pergunta, ela constitui uma afirmação – e um aviso aos leitores – sobre a ocorrência de mudanças que, de alguma forma, poderão alterar a realidade envolvente e a própria identidade.4. Sublinha o apelo à reflexão permanente e continuada, ao olhar crítico e atento sobre a realidade.5. Resposta pessoal.6. No poema anterior, são traços caracterizadores a resistência e a teimosia. Neste poema, a abertura ao outro, a tolerância e a aceitação da diferença.7. e 8. Resposta pessoal.
Atividade 15
1. Na revisitação, com pormenor e visualismo, de um conjunto de ações violentas e agressoras cometidas pelos invasores indonésios durante a ocupação.2. A primeira parte estende-se até à estrofe composta pela conjunção copulativa “e”, dando conta das agressões e crimes perpetrados pelos indonésios. A segunda dá conta das consequências dessas ações, uma vez que persistem na memória das crianças sobreviventes que, uma vez crescidas, tomam o seu lugar na resistência e na luta, perpetuando, através do combate, a memória dos mortos.3. Assassínios, violações, agressões físicas, torturas, humilhações. Pelos indonésios contra os timorenses, de forma indiscriminada.4. Exprime, de alguma forma, a ideia de que a morte, por ação do punhal, acaba por libertar a mulher de mais sofrimento, poupando-a. Contudo, o seu corpo, já morto, nem tem tempo para tomar consciência dessa realidade.5. Adjetivação – “Cena cruel”; “angústia esgotada”; “selvático escárnio”. 6. Provocam sofrimento que se manifesta através do choro e das lágrimas e revolta no pai, que acaba assassinado também.7. Apelo claro à resistência e à luta, até como forma de perpetuar a memória das vítimas inocentes da violência dos invasores. Exprime, além disso, a confiança do sujeito poético na continuação da luta até à vitória final.8. Exprimem os silêncios, o indizível, a incapacidade do sujeito poético de, confrontado com ele, traduzir o horror em palavras.9. Resposta pessoal. Relembrar que a notícia redigida terá de responder às questões: Quem? O quê? Onde? Quando?, ser objetiva, clara e sucinta e ter um título apelativo.10. Resposta pessoal.
Atividade 16
1. 3 estrofes: um terceto; uma oitava e um dístico.2. O poema celebra a paz e exprime o desejo do sujeito poético de que ela ocorra. Ao mesmo tempo, alude à atribuição do Prémio Nobel da Paz a D. Ximenes Belo e a Ramos Horta.3. Associando-a à “casa sagrada” e à “natureza pura”, uma espécie de santuário que visita com respeito e reverência.4. As serras timorenses mencionadas são locais sagrados, onde se recolhem as almas dos timorenses mortos. Matebian foi ainda um importante centro de resistência durante a ocupação. A mais alta serra da Noruega simboliza uma espécie de irmandade entre diferentes locais distantes uns dos outros, e também o reconhecimento e a atenção internacional (e a solidariedade) perante a causa timorense.5. Renascimento e prosperidade, segurança e tranquilidade.6. Personificação, no sentido em que a própria natureza parece solidária com a condição timorense.6.1. Transição entre a noite e o dia, momento marcado por alguma indefinição e incerteza, mas também pela ideia de esperança, uma vez que se abrem novas possibilidades6.2. Os invasores calam-se perante o apoio internacional.7.1. Resposta pessoal.8. Resposta pessoal.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 33
Atividade 17
1.1. Indicam que a situação vivida é marcada pela fome, o que justifica o pedido de arroz, e pela falta de alegria.1.2. O arroz simboliza a comida e o saciar da fome, enquanto a guitarra representa a música e também a festa. De algum modo, estes dois pedidos simultâneos estão associados à paz, pela ligação à abundância, mas também à felicidade e à tranquilidade.2. O rouxinol, pelo seu canto, é uma espécie de metáfora do próprio poeta. A beleza do seu canto ininterrupto e o seu pequeno porte permitem a sua associação à condição humilde e frágil, mas resistente, do poeta.3. Resposta pessoal.
Atividade 18
1. A transformação das vozes e do ruído em silêncio.2. O silêncio, depois da passagem dos soldados, significa o desaparecimento das crianças e, possivelmente, a sua morte.3. Resposta pessoal.4. Simboliza o desejo de liberdade.5. Ao associar o guerrilheiro à “seiva”, o sujeito poético sublinha a sua força natural, mas também a sua ligação umbilical à Natureza (que o protege).6. O soldado, no primeiro poema, é o invasor, agressor e destruidor da terra e do povo. O guerrilheiro, no segundo poema, é o protetor do povo, o resistente e o combatente tenaz pela liberdade.7. A identificação dos locais e datas de escrita; a alusão explícita aos crimes cometidos pelos invasores; a exaltação da ação dos guerrilheiros e da justiça da sua missão...8. São datas relevantes, no sentido em que remetem explicitamente para os anos iniciais da ocupação indonésia que ocorreu em 1975.
Atividade 19
1. Ainda que no poema sejam investidos de mais valor simbólico do que referencial, são ambos espaços de liberdade e de fruição.2. As praias e o mar são amplos, iluminados e coloridos.3. Adjetivação. O verde simboliza a esperança e a sua associação ao mar quase sugere que ela é ilimitada no imaginário infantil.4. Mais uma vez, o não regresso aos locais da infância tem mais valor simbólico do que referencial e significa a perda da esperança, bem como da inocência e da liberdade. Em termos mais concretos, pode significar a morte ou o exílio.
Atividade 20
1.1. a. – D.; b. – C.; c. – A.; d. – B.2. Surpresa, espanto, mas também, implicitamente, solidariedade.2.1. O desespero total pode resultar dos longos anos de sofrimento provocados pela ocupação indonésia, pelos massacres, pela violência, fome e desagregação das famílias que daí resultaram, retirando às crianças toda a esperança no futuro.3. Reforça a surpresa e o inesperado do pedido final. Quando parecia impossível, dada a enumeração de condições difíceis da infância, que surgisse um pedido mais desesperado, o sujeito poético conclui com o último verso.4. e 5. Resposta pessoal.
Atividade 21
1. É a infância dos meninos-soldados.2. A repetição visa sublinhar a aparente normalidade ou banalização das cenas descritas, nomeadamente das crianças-soldados a lutar e a morrer, de modo a que, depois, a estrofe final possa funcionar como um grito e despertar as consciências, permitindo deduzir a condenação da exploração infantil.3.1. Admiração e questionamento. 3.2. Apelo à consciencialização e à ação (pelo menos, à condenação deste tipo de práticas), abandono de atitudes passivas e alheadas face aos horrores. 4. ABAB / ABAB / AB – Rima cruzada5. Duas quadras e um dístico.6. Resposta pessoal.
34 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 22
1.1. Quadras.1.2. ABBA / CDDC / EFFE / GHHG / IJJI / KLLK / MNNM – Rima interpolada e emparelhada.1.3. Versos de 9 sílabas métricas (eneassílabos).2.1. O uso dos travessões a introduzir a fala da personagem.2.2. O menino de Timor e o Menino Jesus.2.2.1. “Menino sou, mas sofro já tanto” – de alguma forma, há uma identificação entre a criança timorense e o Menino Jesus pelo sofrimento que ambos têm de suportar, nomeadamente as dores do seu povo.3. Falta de companhia de outros meninos para brincar; solidão; silêncio e tristeza; pobreza; saudades das brincadeiras do passado; fome; medo...4. Passado – jogos e brincadeiras; gente na aldeia e na várzea; alegria, abundância e trabalho. Presente – solidão; sofrimento; abandono; destruição; tristeza; medo; fome; violência e agressões. A realidade passada, marcada pela alegria e a ingenuidade infantis, deu lugar ao sofrimento.5. As exclamações e as reticências reforçam a manifestação da dor, da tristeza e do sofrimento da criança perante as mudanças ocorridas e as difíceis condições de vida existentes.6. Pedido de alegria e o fim da tristeza e da maldade que o rodeia.7. Resposta pessoal.8.1. Resposta pessoal.9. Resposta pessoal.10.1. e 10.2. Resposta pessoal.
Atividade 23
1. Abandonado; rejeitado; magoado; perdido; angustiado; inocente; triste; mal-amado; esfomeado; usado; massacrado.2. Secas; poeirentas.3. São imagens disfóricas (negativas) aquelas de que o sujeito poético se serve para caracterizar menino e cidade, colocando-os em sintonia, numa relação de interdependência ou de causa e consequência.4. A aridez das ruas e as lágrimas do menino são sinais de sofrimento, de abandono e de tristeza.5. Metáfora – trata-se de criar uma imagem forte e expressiva do sofrimento, associando as lágrimas ao sangue. Também existe uma dimensão hiperbólica que resulta do recurso ao verbo “jorrar”, reforçando a abundância do choro e, consequentemente, do sofrimento que se encontra na sua origem.6. Resposta pessoal. Deve incluir, entre outras possibilidades, referências à crítica social, mas também ao elogio de Timor e dos timorenses, à valorização das suas qualidades...6.1. Resposta pessoal.7.1. Resposta pessoal. Deve fazer referência à experiência como jornalista, o que a torna especialmente atenta à realidade, sobretudo a mais dura, que procura denunciar, bem como ao universo das artes plásticas, o que empresta vigor expressivo, em termos de cores e formas, à sua poesia.7.2. Resposta pessoal.8. Resposta pessoal.
Atividade 24
1. 7 estrofes. Nona, quadra, terceto, dístico, monóstico, terceto, monóstico.2. Ao pai. Pretende estabelecer uma comparação entre a criança que foi e o adulto que é.3. Exprimem a constatação do sujeito poético de que, não sendo já uma criança, mantém-se fiel àquilo que foi na infância; daí a presença do adjetivo “verdadeiro”.4. Antes – fugir a gritar pelas ravinas; montar búfalos; subir a coqueiros; esconder-se atrás de bananeiras. Agora – pensar; escrever; fazer versos; abrir os braços ao mundo.5. Enumeração sequencial de várias atividades que, de alguma forma, estão ligadas entre si ou, pelo menos, pertencem à mesma esfera de atuação: pensar, escrever, fazer poesia e conhecer o mundo.6. O crescimento do país é simbolizado pela afirmação do sujeito poético, principalmente em relação às atividades intelectuais que desenvolve. O abandono das brincadeiras do passado configura também um amadurecimento e o desenvolvimento de uma consciência menos egocêntrica.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 35
Atividade 25
1. Emissor – Terceiro Mundo. Destinatário – Mundo Desenvolvido; Países Colonizadores.2. O sujeito poético, encarnando o Terceiro Mundo, faz um levantamento de todos os crimes contra ele cometidos pelos países colonizadores e, no final, perdoa esses crimes, preparando-se para enfrentar o futuro sem ressentimentos.3. Publicado em 1972, em edição plurilingue, o texto Mensagem do Terceiro Mundo tinha sido redigido um ano antes, por ocasião da comemoração do Ano Internacional contra o Racismo. Nele, o sujeito poético toma a voz do mundo colonizado e explorado, denunciando toda as injustiças contra ele cometidas.4.1. Exploração económica, dos recursos naturais e da mão de obra; intolerância religiosa; censura ideológica;4.2. Tortura; exploração/roubo; escravatura; controlo ideológico; analfabetismo;4.3. Intolerância cultural; desrespeito pelas tradições e rituais ancestrais. 5. O perdão resulta da confissão e da consciência de que os dois mundos têm de enfrentar a sua História e aprender com ela, evitando repetir os erros do passado.6. Significa o Conhecimento e o próprio Desenvolvimento em geral.7. É um tom conciliatório e exprime o desejo de participação no progresso e no desenvolvimento do Terceiro Mundo, a consciência da necessidade de comunhão e de entendimento entre as diferentes regiões do mundo.8. e 9. Resposta pessoal.
Atividade 26
1.1. Haicai ou haiku é uma forma poética de origem japonesa que valoriza a concisão e a objetividade, muitas vezes acompanhada por uma pintura, designada haiga. A sua construção obedece a quatro regras:- consiste em 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas;- contém alguma referência à natureza;- refere-se a um acontecimento singular, único;- privilegia o instantâneo do momento.2.1. In Memoriam – Recuperação da memória dos que morreram sem verem a realização dos sonhos pelos quais lutaram; Poema Horrível – Censura; História para as crianças portuguesas – apelo à ação e à solidariedade das crianças portuguesas com o desejo de independência de Timor-Leste.2.2. Resposta pessoal.3.1.1. a) Apelos públicos e partilhados, nas ruas, à paz, ao amor e à luta contra a violência e a morte. b) Dominam as cores fortes, de grande impacto visual e simbolismo reforçado, como o vermelho e o negro. c) Uso de letras maiúsculas, linhas fortes e direitas; d) Expressão do desejo de paz e da necessidade imperiosa de mudança. A caveira a arder pode ter vários significados, nomeadamente do fim da morte. e) Slogans claros, diretos, objetivos, sem margem para dúvidas quanto à intenção dos autores.3.1.2. Marcar uma posição pública; transmitir um desejo coletivo e não apenas pessoal.3.1.3. Resposta pessoal.4.1. Dão conta dos sentimentos, emoções e estados de espírito da população, especialmente dos mais jovens. Espelham a rebeldia, mas também dão voz a ansiedades que, de outra forma, não conseguem ser audíveis.4.2. São mensagens anónimas, não censuradas ou alvo de qualquer controlo, o que permite total liberdade e proteção aos seus autores.4.3. Resposta pessoal.5.1. e 5.2. Resposta pessoal.6. Resposta pessoal.
36 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 27
1. Referência ao salvamento do crocodilo que estava a morrer na areia, ao sol, e à folha de palmeira como sinal da aliança que, a partir daí, se estabeleceu entre os timorenses e os crocodilos.2. Explica a ligação umbilical entre os timorenses e a sua ilha com a forma de crocodilo. Essa união ancestral é antiga e inquebrantável, um laço que permanecerá para sempre, o que invalida qualquer tentativa de separar o sujeito poético da sua terra.3. Trata-se de uma referência à ocupação do território por parte de elementos estranhos. De alguma forma, prevê-se que não possa ter qualquer sucesso, já que os invasores não conhecem a aliança e o segredo que une os locais à terra e ao crocodilo, prevendo-se a sua derrota.3.1. Refere-se à ocupação indonésia e, em termos mais globais, a todas as tentativas vãs de subjugação do território a forças externas, por mais poderosas e determinadas que possam ser.4. São simbólicas das muitas e recorrentes tentativas para acabar com a resistência timorense, quebrando os laços afetivos que unem o povo ao seu país.4.1. Devido à aliança existente, o sujeito poético está protegido pela natureza e pelo crocodilo, tornando-se invulnerável à ação dos estrangeiros invasores.5. Alusões sucessivas à derrota dos que queriam separar o sujeito poético da sua ilha; o poema configura, também ele, uma história de resistência e de luta.
Atividade 28
1. A oposição consiste no facto de o jornal ser, em teoria, um meio de comunicação e de informação muito importante, mas, sob a censura, não cumprir esse papel e não fornecer ao sujeito poético as informações que ele espera e a liberdade de que necessita.2. Trata-se de uma chamada de atenção para o tema da censura e para o facto de as informações contidas no jornal não terem correspondência direta com a realidade. O sujeito poético conhece exatamente as razões da incapacidade de leitura, mas leva o leitor a pensar sobre a realidade e as funções da imprensa.3. Trata-se de alusões à liberdade feitas em momento de ditadura (em Portugal). O jornal devia funcionar como meio de informação e de formação, mas, uma vez controlado e censurado, não pode cumprir a sua missão. Libertar significa, aqui, conhecer a verdade.4. Não. Soletrar aqui significa não conseguir ler, no sentido de ter acesso pleno à verdadeira informação. Sendo incompleta, é uma leitura soletrada.
Atividade 29
1.1. Remetem as três para a falta de liberdade, para o condicionamento, isolamento e a opressão ao nível das ações mais vitais, como o voo, a corrente ou a floresta.1.2. A primeira parte, correspondendo ao terceto, parece descrever um estado de coisas opressivo e perturbador, enquanto a segunda parte, correspondendo ao verso final, espelha a sugestão de resistência e de continuidade da luta, independentemente das condições duras e difíceis anteriormente descritas.1.3. Apelo à continuidade da resistência, apesar de todas as dificuldades.1.4. A exclamação reforça a emoção do apelo realizado, uma vez que não há sinais de desistência ou de recuo.1.5. O título esclarece bem o alcance do poema, situando-o no âmbito da exortação ao combate.2.1. As casas tradicionais e a figura do homem timorensea) Vestido com trajes tradicionais e equipado com vários objetos de valor simbólico. b) Encontra-se em posição de luta, preparado para a ação, empunhando a catana.2.3. A valorização de um conjunto de elementos tradicionais, ligados à identidade cultural e nacional que é importante preservar, nomeadamente os trajes tradicionais, o empunhar da catana, o belak ao peito, o lenço atado na cabeça, sobre o qual poderia ser colocado o kaibauk, mas também a própria arquitetura tradicional, incluindo a uma lulik, a casa sagrada.2.4. A posição do homem e a sua expressão facial e postura física, desafiando o invasor de frente e preparado para defender, sozinho se for preciso, a sua aldeia (indiretamente a família, a cultura, o país, a identidade...)2.5. A postura do homem e o facto de estar a empunhar a catana pode sugerir a ideia de luta.2.6. Resposta pessoal.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 37
Atividade 30
2. Elogio da mulher amada e da sua companhia com recurso a metáforas que a aproximam do universo natural.3. Há uma sobreposição de sensações e os elementos naturais, nomeadamente os frutos que servem de termo de comparação. No primeiro poema, acentua-se o paralelismo entre a cor da pele da maçã e da mulher, assim como a semelhança em relação ao sabor. No segundo, a companhia da mulher transforma a floresta num jardim. No terceiro, o sabor dos lábios é o mesmo das cerejas (imaginadas).4. e 5. Resposta pessoal.
Atividade 31
1. A conjunção adversativa “mas” estabelece a transformação. O motivo da mesma é apresentado no último verso “Chegavas”.2. Quietude, calma, ausência de movimento. Passividade, inação, calor em excesso.3. Ocorre movimento, o calor abranda por ação da brisa e os pássaros regressam ao céu.4. A chegada da mulher amada parece pacificar o sujeito poético e o próprio cenário que o rodeia, tornando-o mais aprazível ou, pelo menos, mais fácil de suportar. A natureza parece, por isso, espelhar os sentimentos e as emoções do sujeito poético que se vê refletido na paisagem.5. e 6. Resposta pessoal.
Atividade 32
1. A expressividade resulta do sentimento de comunhão profunda que o sujeito poético exprime em relação ao mundo natural que o rodeia, fazendo parte dele, confundindo-se com ele.2. O poema é composto por três estrofes: uma quintilha, seguida de uma sextilha e novamente de uma quintilha.3. É uma composição metricamente irregular, atendendo à acentuada variação entre o número de sílabas por verso.4.1. Sente-se uma flor que anseia por água.4.2. Pede chuva porque ela significa energia e, neste caso, a energia da palavra que possibilita a própria criação poética. Em última instância, pede inspiração.5. e 5.1. Resposta pessoal.6.1. A temática do diálogo com a terra e com os elementos naturais está presente, assim como a constatação da escassez, nomeadamente na alusão à flor que seca por falta de água. De qualquer modo, e apesar da realidade mais agreste, verifica-se uma simbiose entre o sujeito poético e a paisagem com a qual comunga e se mistura de forma fácil e imediata.6.2. No sentido de natural, selvagem e intocado, mas também duro e difícil, atendendo às condições de vida e à própria paisagem que sofre enormes mutações ao longo do ano.7.1. “paraíso agreste” remete para a geografia física de Timor e para a sua paisagem, enquanto “terra prometida” tem que ver com a libertação e a independência do país depois de décadas de luta e de sofrimento.7.2. A expressão “terra prometida” tem fortes conotações simbólicas e religiosas, nomeadamente as relacionadas com a diáspora do povo judeu. A sua utilização no contexto da conquista timorense é, através do uso dos parênteses, uma aproximação com a realidade judaica, nomeadamente se pensarmos em termos de cativeiro e êxodo que assemelham as duas histórias.8. Antes – milícias tresloucadas; refugiados confusos; incerteza. Depois – liberdade; lágrimas de alegria.9. alegria; noite clara; fogo de artifício.10. O espaço antecede a identificação de Timor-Leste como a Terra Prometida, conclusão última do poema, estabelecendo uma relação circular com o seu início.11.1. Alívio, contentamento, alegria, satisfação. Trata-se de uma espécie de final feliz que encerra uma história longa e trágica. Pelo sofrimento existente, parece ter havido momentos em que a dúvida sobre esta conclusão existiu, razão que duplica a felicidade agora sentida, mesmo se festejada com muitas lágrimas.12. Resposta pessoal.
38 | Sugestões de apoio à utilização do manual
SUBUNIDADE TEMÁTICA 3.1: A poética de Ruy Cinatti: paisagem timorense com vultos
Esta unidade visa familiarizar os alunos com as principais linhas temático-estilísticas da
poética de Ruy Cinatti, demonstrando o papel crucial que nela desempenha a realidade histórico-
cultural de Timor-Leste e propondo a sua leitura como reconstrução lírica da trajetória vital do
poeta. Nesse sentido, a análise literária do elenco de textos poéticos selecionados será, sempre
que possível, amparada pela reflexão autobiográfica/memorialística, assim como pelo ensaio de
cunho antropológico que o autor cultivou com assiduidade. Para além do aprofundamento das
competências de leitura literária, estimulando a capacidade de inferência de sentidos implícitos e
de apreciação judicativa, pretende-se que os alunos reconheçam o lugar ímpar da obra de Cinatti na
literatura de temática timorense, salientando a sua singularidade documental e estética.
Metas de aprendizagem
Os alunos devem ser capazes de:
1. inscrever a poética de Ruy Cinatti na ordem estético-literária do moderno lirismo em língua portuguesa,
facultando exemplos da intervenção do autor no campo literário nacional
2. reconhecer que o nomadismo e o apelo diaspórico, que definem a circunstância biográfica e a condição
existencial do poeta, conformam igualmente o seu universo lírico
3. relacionar os textos poéticos analisados com as propriedades semântico-expressivas subjacentes
ao modo lírico, neles detetando tanto a convocação da realidade (designadamente a timorense) como a sua
reconversão imaginativa
4. identificar os temas e motivos nucleares do universo poético de Ruy Cinatti, justificando-os em função
de coordenadas autobiográficas, histórico-contextuais e estético-literárias
5. fundamentar a dupla dimensão da poesia do autor como monumento e documento, nela destacando
a sua intenção autoexpressiva e vocação testemunhal
6. inventariar e justificar a funcionalidade estética dos traços retórico-estilísticos que singularizam a
dicção lírica do autor
7. promover a capacidade de seleção e mobilização estratégica de instrumentos crítico-teóricos
adequados à leitura literária metódica de textos poéticos
Sugestões de apoio à utilização do manual | 39
Competências Nucleares
Oralidade Leitura Escrita
Participação oral individual;
Discussão oral (em pares, em grupo)
Exposição (livre ou planificada, com ou sem recurso a guião)
Observação e debate sugerido pelas fotografias que, em algumas coletâneas do autor, acompanham os textos poéticos
Atividades de pré-leitura: comentário de títulos; antecipação do sentido textual e formulação de expectativas de leitura
Leitura silenciosa, expressiva/ dramatizada, coral e alternada
Leitura global/seletiva/ funcional
Leitura analítica/ interpretativa/ crítica
Leitura literária metódica de textos líricos selecionados, de modo a salientar a integração forma/função, esclarecer implicaturas e sentidos implícitos, dilucidar a plurissignificação e ambiguidade do signo poético, etc.
Leitura comparativa/contrastiva de poemas selecionados a partir da sua ordenação em ciclos temáticos
Leitura extensiva complementar de apreciações críticas selecionadas sobre a obra de Ruy Cinatti (Jorge de Sena, Ruy Belo, Joaquim Manuel Magalhães, etc.)
Leitura recreativa.
Tomada de notas e organização de apontamentos para registo/retenção de informação
Elaboração de sínteses/resumos de textos informativos/ expositivos
Pesquisa bibliográfica sobre as afinidades geracionais e os contactos do autor com o meio literário: amizades e troca epistolar com outros escritores, recolha de poemas que dedicou e que outros lhe dedicaram, informação sobre distinções literárias recebidas, síntese da receção crítica da sua obra, etc.
Redação de resenhas e textos de apreciação crítica
Produção de textos expressivos e criativos (produção de poemas-glosa a partir de textos do autor)
Organização de guiões escritos de exposições orais
Elaboração de esquemas e diagramas para apresentação gráfica de informação textual (elaboração de um mapa ilustrativo das viagens de Ruy Cinatti)
Atividades de correção recíproca de produções escritas
Organização de um dossiê biobibiográfico sobre Ruy Cinatti
Criação de textos poéticos a partir de ilustrações e fotografias
Organização de uma antologia poética de Ruy Cinatti, em função dos ciclos temáticos identificados.
40 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Cenários de resposta e tópicos de apoio à correção
Atividade 1
1. RUY CINATTIORIGEM FAMILIARsangue italiano e chinês por ascendência materna; parentes com vocação para as artes e seduzidos pelo mar; ascendentes paternos portugueses, oriundos de Trás-os-Montes e do Algarve, mas deslocados na Estremadura, dados à terra e aos toiros, tendo alguns enveredado pelo Direito e pela Medicina.LEITURASDurante a infância, manifesta predileção por livros de aventuras: Júlio Verne, Camilo Castelo Branco, Marryat, Stevenson, Mayne-Reid e Dickens (David Copperfield).Já adulto, lê compulsivamente literatura inglesa, francesa, alemã e russa, tendo ficado particularmente impressionado com a leitura de Le Grand Meaulnes, de Alain Fournier. Depois de conhecer o génio insuperável de Tolstoi e Dostoievsky, desinteressa-se da ficção narrativa, embora continue a ser leitor ávido de poesia. FORMAÇÃO ACADÉMICAColégio interno e liceu em Lisboa; Faculdade de Ciências onde frequenta o curso preparatório para a Escola Naval; Instituto Superior de Agronomia, onde se licencia em Engenharia Agronómica e Silvicultura (1936-1943).VIAGENSVisita, em 1935, as então províncias portuguesas da África ocidental (Madeira, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola).Em 1938, vista Inglaterra e frequenta, em Oxford, um curso de férias.Em 1943, vista Espanha.Em 1946, parte para Timor.Em 1947, na sequência da sua participação numa conferência, vista a Austrália e a Tasmânia.Visitou ainda Java, Bali e Singapura.ESTREIA LITERÁRIAEstreia-se em 1940, com a obra poética Nós não somos deste mundo. ORIENTAÇÃO RELIGIOSACatólico, apostólico, romano. Professa uma religião livre e pessoal, de ordem mais estética do que dogmática. POSICIONAMENTO POLÍTICODiz-se monárquico, mas simpatiza com a causa socialista.PREFERÊNCIAS MUSICAIS E DESPORTIVASPrefere Mozart, Bach, Beethoven, mas aprecia outros géneros da música não erudita: Duke Ellington, o flamenco e o folclore.Quanto a desportos, prefere a equitação, a vela, o pedestrianiamo e o alpinismo.2. A trajetória biográfica de Cinatti permite compreender a importância que, no seu universo poético, assumem alguns temas: o mar e o apelo da viagem (veja-se a influência dos parentes maternos, bem como a sua permanente itinerância), o gosto pela aventura e a curiosidade intercultural (já indiciados pelas suas leituras juvenis), a comunhão com a natureza e a consciência ecológica (estimuladas pela sua formação académica em silvicultura), a interrogação espiritual e a problemática religiosa (consonantes com a sua fé confessa), a preocupação humanista e a denúncia das desigualdades e injustiças (em relação estreita com a sua visão socializante e personalizada da política).3. O aluno deverá assinalar no mapa a trajetória percorrida por Cinatti no decurso das suas inúmeras viagens.4. Os epítetos revelam a hospitalidade, simpatia e curiosidade do povo timorense relativamente a um forasteiro que adotaram afetuosamente, mas cuja atividade não abarcavam na totalidade. Ambos os epítetos são inegavelmente positivos, associando Cinatti às flores (que o engenheiro silvicultor, por formação, catalogava) e à chuva ansiosamente esperada pelos timorenses depois de uma estiagem prolongada.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 41
Atividade 2
1.1. “fuga”, “evasão”, “transe de partida”, “grande e importante viagem”, “jornada maravilhosa”.1.2. O título do livro de estreia de Cinatti, onde ressoam as célebres palavras de Cristo perante Pilatos (Jo 18, 36) – “ O meu reino não é deste mundo” –, é interpretado por Guilherme de Castilho como um reconhecimento de que o poeta desde sempre aspirou a uma outra dimensão para além da estritamente terrena, a que apenas conseguiu aceder através da sua “importante viagem” pelos “reinos da Poesia”. 2. Cinatti era reconhecido como mestre e guru pela aliança conseguida entre vida e poesia e pelo ascendente intelectual e espiritual sobre os poetas mais jovens que dele ansiosamente esperavam a revelação do “verdadeiro caminho da vida”.3. O arauto era o oficial régio que, na Idade Média, servia de mensageiro e diplomata, transportando mensagens ou apregoando declarações. Por extensão semântica, o termo aplica-se modernamente ao indivíduo que defende uma ideia ou uma causa, dela se tornando seu porta-voz. Quando Sophia qualifica Cinatti como “arauto de todas as modernidades”, acentua a sua influência pioneira no campo literário português, concretizada num novo entendimento da função e da forma da poesia e na defesa da emancipação do poeta relativamente a escolas ou estéticas literárias, vetores que, regra geral, se associam à emergência da modernidade literária. 4. As palavras de Jorge de Sena acentuam a dimensão universal (“valor ecuménico”) da mensagem humanista inscrita na poesia de Ruy Cinatti. Tanto os seus testemunhos autobiográficos e memorialísticos, como a sua obra poética tornam inequívoco o seu compromisso com o Homem e com a defesa da sua dignidade essencial. Os temas nucleares da sua poesia, como a viagem ou a terra e as gentes timorenses, atestam o seu interesse pelo humano e o exercício da poesia ao serviço da harmonia do mundo.
Atividade 3
1.1. A acumulação das notações sensoriais destina-se a sublinhar o crescente deslumbramento do sujeito poético em face de uma paisagem cuja beleza tenta subjetivamente reconstituir pelo recurso à multiplicação de informantes descritivos. 1.2. Os elementos paisagísticos destacados referem-se, sobretudo, ao contexto insular e ao enquadramento marítimo (“mar”, “barcos”, “ondulações”, “ilhas”, “vagas”, “velas”), mas contemplam também a flora (“pinhais”, “flores”, “arcada de árvores”, “coroas vegetais”) e a fauna (“pássaros”, “gaivotas”) timorenses. 1.3. A visão da ilha e o deslumbramento em face da paisagem são colocados em correspondência metafórica com o amanhecer que deverá aqui ser entendido sobretudo como o despertar individual do sujeito lírico que, confrontado com uma beleza que até então desconhecia, se sente ressurgir para uma nova dimensão da existência.2.1. Em virtude da sua formação como engenheiro agrónomo e silvicultor, Cinatti colaborou na reconstrução do território timorense, destruído na sequência da invasão japonesa, designadamente dos setores relacionados com a agricultura e a proteção da natureza.2.2. Cinatti procedeu ao mais exaustivo levantamento fito-geográfico de Timor até hoje realizado, subscreveu diversos manifestos em defesa da dignidade do povo timorense e da conservação do território, elaborou um “Plano de Fomento Agrário para Timor”, com vista ao desenvolvimento agrícola sustentável de Timor-Leste, opôs-se ao abate dos gondões e camenassas de Díli e dirigiu filmes documentais e de divulgação etnológica sobre Timor, com vista à divulgação do seu património cultural. 3. A utopia de Cinatti nunca chegou, com efeito, a concretizar-se, sobretudo por razões de ordem política. Durante a ditadura, as guerras em curso nas colónias africanas monopolizavam a atenção do regime. A negligência do poder político em relação à situação de Timor-Leste persistiu após a revolução democrática de 74 e, no ano seguinte, a invasão indonésia veio inviabilizar qualquer esperança de Cinatti poder assistir à emergência da idealizada “cultura nova, nascida da permuta entre um património luso e as culturas locais”.
42 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 4
1. Contrariamente aos poetas que recriam, como mero exercício literário, geografias reais ou inventadas, Timor-Leste é, no caso de Cinatti, uma paisagem genuinamente experienciada e, por isso, investida de uma inegável verdade autobiográfica, não se resumindo a uma mitologia literária. Longe de assumir o papel de fotógrafo impassível da realidade timorense, Cinatti solidariza-se com a sua terra e as suas gentes, abraçando as suas causas, distinguindo-se, por essa via, das vozes “cínicas” ou “literatas” de outros poetas. Por isso, a sua obra, para além de literária, representa o humaníssimo testemunho de uma experiência de vida.2. Com efeito, a distância geográfica de Timor em relação ao centro metropolitano do império, aliada à mistificação estrategicamente alimentada pela propaganda do Estado Novo, justificam a ignorância dos portugueses em relação ao território, imaginando-o quer como prolongamento da “pequena casa lusitana”, quer como destino exótico e misterioso. As expressões do texto que documentam este imaginário fantasiosamente ambivalente são: “Aprendia-se pormenorizadamente na escola que tinha 18 992 km2 de quê? De sonhos. Pois as povoações tinham o nome das terras portuguesas. As que ficavam junto do mar chamavam-se Nazaré ou Sagres. As do interior Ourique, Gouveia, Luso, Vila Viçosa, Anadia, Portel ou Mindelo. E no entanto estas terras, vistas naquele mapa comprido como o focinho de um crocodilo, cheiravam a café e sândalo. Imaginávamos arvoredos espessos, mulheres sensuais descendo daquelas casas esguias de madeira assentes em estacas”; “A maior parte do conhecimento da ilha chagava-nos pelas revistas dos missionários combonianos ou salesianos, ostentando fotografias de padres com enormes barbas tão brancas como as suas batinas, rodeados de gentios seminus ao lado de um cruzeiro ou defronte de uma ermida caiada”.3. A distorção pela distância e a ignorância objetiva detetáveis na relação dos portugueses com Timor-Leste, durante o período de vigência do colonialismo português, foram, no passado recente e sobretudo durante o período de resistência contra a ocupação indonésia e subsequente independência, substituídos pela adesão empática e solidária à causa timorense. 4. A descrição emocionada da beleza da paisagem timorense que Cinatti apresenta a Ruben A. traduz, com efeito, uma funda cumplicidade entre o poeta e o universo natural, expressa na atenção ao pormenor, na ênfase hiperbolizante, no entendimento da natureza como bálsamo e como refúgio, no recurso aos registos pessoal e figurativo.
Atividade 5
1.1. O texto alude ao primeiro contacto de Ruy Cinatti com Timor-Leste, na sequência da viagem por si realizada ao território em 1946 (“Metropolitano, recém-chegado, eu era virgem e tonto frente a incríveis maravilhas”), bem como à que, anos mais tarde, em 1951, aí o levará de novo, para ser 2º funcionário “ordenador da terra”, exercendo as funções de chefe do Serviço de Agricultura do Governo de Timor.1.2. O título reenvia justamente para o momento inaugurante daquela que viria a ser a longa e fecunda relação do poeta com o território e as gentes de Timor-Leste.1.3. A profunda comunhão entre o poeta e a terra e gentes timorenses desenvolve-se, de modo gradual, ao longo do tempo. A um primeiro momento de êxtase e deslumbramento em face da paisagem, segue-se o efetivo conhecimento da terra e dos seus habitantes. Da contemplação admirativa, o poeta passa à ação e, por fim, à adesão afetiva: “A admiração desenvolvera o conhecimento e este era já ato de amor”. De figurantes humanos exóticos, mas incaracterísticos, os ilhéus convertem-se em homens singulares, mas, ao mesmo tempo, semelhantes e irmãos.1.4. Violência, discriminação e autoritarismo, racismo, arrogância e desinteresse intercultural. Todas estas atitudes podem constituir entraves ao diálogo entre culturas, uma vez que quem as adota tende a ignorar, instrumentalizar ou violentar o outro, privando-o da sua subjetividade e negando-lhe a possibilidade de ser diferente.1.5. O preconceito etnocêntrico insiste na valorização de uma cultura – neste caso, a ocidental – em detrimento de outras, adotando-a como sistema de referência e modelo de leitura do mundo. Ao reconhecer que o timorense era, afinal, um homem como ele, Cinatti recusa essa visão redutora e discriminatória do outro exótico (porque não europeu ou ocidental), reivindicando uma humanidade essencial, independente da nacionalidade ou da raça.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 43
Atividade 6
1. O autor contesta o carácter supostamente primitivo e o infantilismo cultural veiculados pela estereotipada visão colonial do povo timorense, contrapondo-lhe a afetuosa hospitalidade, lealdade, autonomia e maturidade crítica que, na sua ótica, constituem os seus traços de caráter distintivos.2. “O Timorense é um ser adulto, pensante, com uma personalidade social definida e responsável. […] O facto de um povo ser primitivo (!) em relação a nós, e pobre em meios materiais, não demonstra nem infantilidade na ordem social, nem falta de riqueza psicológica”; “Por muito espessa que seja a cortina das diferenças culturais, dos costumes e das ideias criadas naquela banda do mundo, ele tem as mesmas necessidades e interesses, os mesmos problemas e anseios que o seu semelhante do Minho ou do Algarve”.3. O autor recusa a distribuição assimétrica de poder e a exploração do homem pelo homem que norteiam a relação colonial, contrariando o preconceito da inferioridade civilizacional do povo colonizado. Ao reivindicar uma fundamental igualdade entre os homens, Cinatti mina os fundamentos da ordem colonial, em função da qual se acreditava ser tarefa dos povos culturalmente mais avançados civilizar os que se encontravam em estádios mais “primitivos” de civilização. Refiram-se, a título exemplificativo, as seguintes passagens: “O interesse que ele nos deve merecer como personalidade humana, o desejo de o tratar com justiça e de o elevar culturalmente são meras indicações de bom senso que estão longe de ser reconhecidas”; “Se considerarmos o Timorense como entidade a quem relacionamos a existência, verificaremos não haver razões científicas que possam assumir qualquer espécie de inferioridade que difira essencialmente da que os Romanos vieram encontrar entre os povos da Península, os Lusitanos bisonhos e os Iberos exaltados”.4. A teoria portuguesa da assimilação, que visava a neutralização das diferenças entre as culturas indígenas dos povos autóctones e a cultura colonizadora europeia, baseava-se no reconhecimento do estatuto de cidadão aos colonos que demonstrassem ter abandonado os seus hábitos e práticas culturais de origem e adotado como sua a cultura exógena do colonizador. A política assimilacionista demonstra exemplarmente como o projeto imperial é incompatível com o reconhecimento da diferença e necessita de erradicá-la para se afirmar. 5. Os cerimoniais guerreiros, o artesanato (tecelagem), as danças, a arquitetura tradicional timorense (a casa sagrada: uma lulik)6. O TIMORENSE MEU AMIGODADOS TEXTUAIS– relação com a natureza e participação no seu ciclo vital“Sabe que terá que romper a terra, como a semente, e que a sua vida está submetida a ritos de passagem tal qual a planta que lhe serve de exemplo vivo”; “Tempo de crescimento obscuro, iluminado por fulgurantes conquistas: o primeiro amor, o primeiro joelho no peito do adversário, o primeiro balbuciar de uma voz que se afirma na magna assembleia dos valores comunitários – a divisão do trabalho e a participação ativa na sequência rítmica da Natureza e da Cultura”.– recurso à explicação mítica“A par do ciclo ecológico […] surge-nos, insólito, o sistema de crenças, o mundo do mito dador de vida anímica, o programador de atividades profanas e sagradas que decorrem unicamente do espírito. Outra espiral inicia-se no céu e se desenrola envolvendo os ermos mais recônditos da terra.” – culto da ancestralidade e relação com os antepassados“Obedece às normas impostas pelos antepassados, pela palavra dos velhos e pela contemplação das cerimónias rituais. A memória dilui-se, mas “faço o que fizeram os meus avós”; “O timorense meu amigo conhece também os seus antepassados, os sítios distantes de onde vieram, a linhagem a que pertence […]”– centralidade do rito e da religião“A divindade suprema, bipartida como a noite e o dia, atuante como a mão direita e a esquerda, e localizada por exigência cosmogónica no mundo superior e no mundo inferior e na subdivisão que lhe consigna o sétimo e o primeiro andar em cada um destes mundos, é apreendida através da energia radiante que se reflete no Sol e na Lua, aspetos positivo e negativo da divindade ou, igualmente, no ser misericordioso e invisível a quem se levantam os braços e na grande serpente enrolada que, das profundezas do universo, castiga os infratores das regras estabelecidas pelos antepassados! O sistema de crenças esquematiza-se, afinal, numa cruz. O coração do homem bate perplexo no ponto der interseção dos braços dessa cruz e, figurativamente, no tronco antropomórfico que encima o altar e que, de longe, se confunde com uma cruz! E que entre os timorenses cristãos é, de facto, a cruz!”
– imaginação cosmogónica“Compreende que o Universo se divida em três mundos sobrepostos e que um eixo vertical, representado pela árvore sagrada geralmente situada no centro da aldeia ou na confluência de duas ribeiras, estabeleça comunicação entre esses três mundos habitados pelos espíritos celestes, por ele próprio e pelos espíritos da terra. E que é através desses espíritos ou seres em que ele mesmo se inclui que a justiça imanente e transcendente se manifesta, inexorável”.
44 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 7
1. A circunstância autobiográfica que constitui o ponto de partida da evocação lírica desenvolvida no texto é o desaparecimento da mãe de Ruy Cinatti, quando o poeta era uma criança de apenas dois anos. Aludindo a este texto, refere Peter Stilwell, que a mãe deixou no filho “as ténues recordações de uma beleza e tranquilidade obsidiantes que este recolheu nas páginas introdutórias do seu primeiro livro de poesia, Nós não somos deste mundo (1941)”. 2. Embora o sujeito admita que as “sombras” desvanecem inevitavelmente a imagem que conserva da mãe, manifesta a convicção de que “nada o tempo destrói através das recordações”, oscilando, assim, entre a consciência da fugacidade de tudo e a tentativa de eternizar o que passou pela memória, contrariando o fluxo imparável do tempo: “Será sempre assim a imagem dela, ainda que, por vezes e inconscientemente, sombras passem a desvanecê-la; sombras que exprimem a sua passagem pelo Tempo que eu crio para ela, à semelhança do tempo que passa por nós.”; “Nada o tempo destrói através das recordações, as mudanças delicadas da sua alma e do seu corpo”.3. O jardim evocado pelo poeta é um espaço simbólico, explicitamente identificado com a infância, pelo que regressar a esse espaço transfigurado pelo tempo equivale a recuperar, ainda que por momentos, esse paraíso perdido. 4. Por isso, o espaço que o sujeito reconhece ser “tão pequeno e mal arranjado” ou que os outros consideram ser um “bocado de terra com meia dúzia de árvores” converte-se, no presente, num microcosmos edénico onde, de novo, podem ser franqueadas as portas da infância. Assim se compreende a deslumbrada confissão do poeta adulto – “Tudo no jardim chamava por mim: as rosas de todo o ano, as sebes de pitosporos, a relva espigada dos canteiros… até aquele passarito que me acordava. E eu, a tudo queria e amava.” –, bem como a consciência que revela de que a passagem do tempo imprime às pessoas e lugares novos matizes: “Quando deparamos com um lugar muito conhecido e de que muito gostamos, não o vemos apenas; mais do que isso, as sensações dos primeiros tempos do nosso conhecimento acodem também, embora bem diferentes das que eu hoje sinto”. 5. A frase, que recupera o título da coletânea poética em que o texto se encontra integrado, acentua o facto de, embora habitando o presente, o poeta ter permanecido, na companhia da mãe saudosa, também imobilizado nesse nostálgico tempo-espaço da infância perdida. Encontra-se, pois, exilado neste mundo que reconhece não ser o seu, mas no qual lhe coube (sobre)viver. 6. A natureza lírica do texto manifesta-se no recurso sistemático a um discurso pessoal, de orientação subjetiva e confessional, assim como na presença ocasional do registo figurativo, indiciando uma evidente intencionalidade estética. Sugerem-se, entre múltiplos exemplos ilustrativos, os seguintes:– “E enquanto olho para ela e me sinto pouco a pouco trespassar de não sei que ternura tão cheia de amor, vou pensando nela e em tudo o que a rodeia e me pertence”.– “A vós eu admiro mas é para o outro jardim que vai o meu amor, para aquele jardim que se desenrola no meu espírito com uma perfeita clareza, para aquelas pessoas já mortas, para aquela mulher que me chamava seu filho e no colo da qual eu descansava a cabeça depois de uma correria desvairada pelo meio dos pinhais… “Meu filho!... meu filho!...”.– “Guarda-o como se fosse teu, e banha-me de lágrimas para que eu possa, um dia, estar a teu lado, para sempre”.
Atividade 8
1.1. A ideia reiterada de ação a concretizar encontra-se expressa na repetição anafórica da oração adverbial temporal iniciada por “Quando eu partir…”, no emprego insistente de formas verbais no futuro do indicativo e do conjuntivo (“partir”, “pertencer-me-ei”, “serei”, “ficará”, “virá”) e no recurso à conjugação perifrástica (“Hão de ter”, “hão de abençoar”, “hei de habitar”).1.2. Só a concretização da viagem ambicionada permitirá a reconquista da plenitude e a autorrealização, como se deduz dos passos seguintes: “A alma e o corpo unidos/ Num último e derradeiro esforço de criação”; “como se um outro ser nascesse”; “então pertencer--me-ei”; “o gosto dos horizontes sonhados da adolescência”; “serei o senhor da minha própria liberdade”; “Hei de habitar no coração de certos que me amaram; //Ali hei de ser eu como eles próprios me sonharam”.1.3. A metáfora da crisálida exprime a dualidade de morte e regeneração, em torno da qual se encontra articulado o poema: à semelhança da borboleta que irrompe da crisálida, a viagem fará emergir do casulo estéril, em que se encontra aprisionado, o eu pleno e íntegro do sujeito poético. 1.4. A viagem surge, no texto, associada à deslocação marítima, numa convocação implícita do imaginário insular, tão frequente no universo poético de Cinatti. O termo da viagem consiste, plausivelmente, em aportar a uma ilha idealizada que não podemos deixar de associar a Timor-Leste.1.5. Todo o texto desenvolve uma celebração eufórica da viagem e constrói um retrato do poeta como nómada. Pode afirmar-se que toda a poética de Cinatti é atravessada por esta inquietude fundamental expressa nos motivos reiterados do trânsito e da deriva (geográfica e espiritual). Assim, a poesia de Cinatti pode, na realidade, ser lida como o cântico do poeta-nómada em escala de partida.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 45
Atividade 9
1. A inevitabilidade inscrita no título refere-se ao apelo irresistível do mar e ao irrecusável convite à viagem.2. A repetição anafórica da expressão “O apelo do mar” cumpre uma função enfática e de intensificação emocional, frisando o sortilégio irresistível que o mar exerce sobre o sujeito poético.3. Alguns signos (v.g. búzio, ondas) convocam a isotopia do mar por associação metonímica. Tanto o rumor do búzio, como o movimento encantatório das ondas sugerem, por outro lado, a atração inelutável que o mar exerce sobre o sujeito lírico. A “janela”, via de acesso a outra dimensão e espaço liminar, condensa figurativamente o projeto de escapismo e evasão propiciados pela viagem marítima. Corroborando a mesma linha de sentido, as estrelas que cintilam no horizonte metaforizam, à semelhança do mar, essa dimensão de utopia sonhada e de perseguição de um ideal.
Atividade 10
1.1. “Suave”, “doce”, “lânguida”, “aberta [como flor]” (são de aceitar outros adjetivos que, embora não constituam modificadores de “ilha”, contribuam para a sua caracterização: “virginal”, “incandescente”, “líquida”, etc.). Os adjetivos têm um alcance personificante e concorrem para delinear uma imagem da ilha como locus amoenus, isto é, um espaço em que a beleza natural é reminiscente da perfeição edénica. Por outro lado, erotizam explicitamente a paisagem, através da associação da ilha a atributos femininos. 1.2. Comparação. Acentua a beleza generosa e acolhedora da ilha. 1.3.
Palavra/Expressão Sensações
verdura incandescente visual e tátil
líquida tátil
ritmo sonora
melodias infinitas das ondas sonora
1.4. A contemplação da ilha faz detonar no sujeito poético a memória da sua adolescência, por ter sido nessa etapa da sua vida que, plausivelmente, primeiro a terá avistado, o que, aliás, parece autorizar o paralelo com a experiência autobiográfica de Cinatti.1.5. A ilha é “túmulo” por nela ter sido depositada uma já longínqua adolescência, embora nele não repousem os restos mortais do sujeito lírico de outrora. A ilha-túmulo guarda, pelo contrário, o que no poeta perdura ainda hoje como memória incólume: a “alegria total”, o sabor pleno”, o “prazer eterno”.
Atividade 11
2. A extrema depuração formal do poema implica uma mais exigente participação do leitor, uma vez que é amplo o espaço deixado ao implícito e ao não-dito. Neste caso, em particular, o leitor terá que, numa leitura que reconstrua ativamente o sentido do texto, estabelecer uma relação plausível entre a “Ilha” anunciada pelo título e o dístico que dela propõe uma definição não denotativa ou referencial, mas antes poética e subjetiva.3. Resposta livre. Lembra-se que o haicai se caracteriza pela sua extrema concisão e é tradicionalmente composto por três versos, sendo o primeiro e o terceiro constituídos por cinco sílabas e o segundo por sete.
Atividade 12
1. A “memória antiga” patente no título reporta-se à reminiscência da visão da ilha pelo poeta. Essa visão tem lugar num “outrora” adolescente que aparece no poema conotado euforicamente (“exaltar-me como outrora”, “o fogo que me aquecia”).2.1. A dissolução do deslumbramento adolescente e a deceção adulta encontram-se presentes nas seguintes expressões: “arrefeceu o fogo que me aquecia”, “Túmulo escolhi”, “sem ancoradoiro à vista inquieta”, “de morte lenta numa ilha, atónito”.2.2. comoção (“olhos marejados”), saudade, espanto (“atónito”). 3. Resposta livre. A síntese efetuada deve acentuar tanto a figuração da ilha como locus amoenus, como os seus múltiplos valores subjetivos para o sujeito poético: espaço de aventura/evasão; metáfora da infância/adolescência; paraíso privado melancolicamente rememorado; antídoto para a deceção presente; terreno de encontro humano e aprendizagem intercultural.
46 | Sugestões de apoio à utilização do manual
Atividade 13
1.1. O texto evidencia uma estrutura bipartida, explicitamente sinalizada pela adversativa presente na última estrofe: “Mas a bruta,…”, que introduz o contraponto entre a Díli-jardim, onde as camenassas se encontravam ainda intactas, e a fúria destrutiva da ação humana que converte a cidade “num deserto de casas sem memória”.
1.2. A repetição anafórica intensifica a beleza frágil e vulnerável das camenassas de Díli, insinuando que ela foi já aniquilada (“eram”). A adversativa marca uma expressa rutura semântica, interrompendo a evocação do idílio natural e introduzindo a ação degradadora do homem.
1.3.1. A alcateia designa os homens que destruíram as árvores.
1.3.2. “Alcateia” é um nome coletivo que designa um grupo de lobos ou de animais selvagens. No poema, o termo animaliza os perpetradores do crime ecológico do abate das árvores, acentuando a sua fúria irracional e selvagem e descaracterizando-os a ponto de os converter num coletivo anónimo. A múltipla adjetivação (“bruta”, “imbecil”, “canhestra”, “mentecapta”) redobra a intensidade desqualificante do termo, insistindo na crueldade gratuita e na irracionalidade das ações praticadas.
1.3.3. “arrancou árvores”, “desviou ribeiras”.
1.3.4. Trata-se, no caso particular das camenassas de Díli, de árvores ancestrais e que, portanto, constituem um verdadeiro arquivo vivo da comunidade. Aniquilar a paisagem natural não é, assim, substancialmente diferente de destruir o património construído, uma vez que ambos constituem irrecuperáveis repositórios da memória.
Atividade 14
1.1. À oposição poeticamente construída entre o sujeito poético e o “pobre timorense esquálido” corresponde a relação assimétrica colonizador (eu)/colonizado (outro), uma vez que se acentua a posição de privilégio (“deus ocioso”) que o poeta-observador detém e a subserviência dos timorenses que tacitamente lhe reconhecem o direito de dominação.1.2. Mágoa, remorso, má consciência, desconforto. 1.3. Os timorenses aceitam a sua condição subalterna como se ela fosse um imperativo indiscutível ou um destino inexorável: “Tantos e tantos outros,/ Timorenses esquálidos,/ Olham-me como se dever fosse/ abrir covas,/ plantar repasto/de milho, arroz e carne […]”. 1.4. O sujeito poético parece aqui apropriar-se ironicamente do discurso imperial e da visão preconceituosa do colonizador que tendia a depreciar as terras e gentes colonizadas.1.5. Confessando-se irmanado com o povo timorense e encontrando-se comprometido com o seu sofrimento, o poeta afina a sua sensibilidade pelo “timbre limpo das almas/ dos timorenses esquálidos”. É este mesmo posicionamento solidário que se encontra patente em vários dos textos extraídos de Um Cancioneiro para Timor anteriormente analisados.1.6. Em face da inércia acomodada e da aceitação passiva de um destino injusto, o sujeito poético anseia pela insurreição do povo timorense, uma vez que só ela permitirá a reposição da justiça histórica, pondo termo às iniquidades coloniais. A morte do poeta às mãos dos timorenses simboliza, por metonímia, o fim da ordem colonial.
Atividade 15
1. O poema revisita a trajetória histórica de Timor-Leste, reportando-se a três fases do seu processo político: a colonização portuguesa, a ocupação indonésia e a independência. 2.1. As alternativas são a subordinação colonial (portuguesa ou indonésia) ou a autonomia. O sujeito poético parece ser favorável à perspetiva da independência, sob condição de serem coletivamente construídos os alicerces dessa nação a reinventar. 2.2. Trata-se de um repto histórico lançado ao povo timorense, instigando-o à autodeterminação, uma posição que, aliás, se deve ler à luz da veemente condenação das injustiças coloniais patente no poema anterior. Cinatti parece, de certo modo, ter profetizado a inescapável vocação de Timor-Leste para a liberdade.
Atividade 16
1. A dedicatória, que alude à ausência de Cinatti em Timor e explica a génese do poema, relaciona-se explicitamente com o título que convoca o tema nuclear da partida do poeta e amigo. Essa ausência é reiterada, com variações sinonímicas, ao longo de todo o poema.2.1. “partiu”, “deixou-nos”, “não ficou”, “ausência”, “ele não ficou”, “ele se perca”.2.2. O poeta que partiu “deixou-nos a esperança”, isto é, a promessa da liberdade e o testemunho da poesia, subsistindo ambos numa “cidade em ruínas”. Num país sitiado (pela ditadura), o ofício do poeta, mesmo quando ausente, é ser arauto da utopia e da liberdade.2.3. A partida do poeta deveu-se, provavelmente, ao contexto repressivo da ditadura salazarista que então se vivia em Portugal, que cerceava a criatividade e era abertamente hostil à liberdade de expressão.3. A referência ao nome proibido deve compreender-se à luz da censura salazarista, uma vez que, ao converter-se em porta-voz da liberdade da criação e em agente de denúncia, o poeta propõe uma revolução pela palavra e instiga à subversão. O seu nome deve, pois, ser “proibido” por todos os regimes que temem a livre expressão.
Sugestões de apoio à utilização do manual | 47
Atividade 17
1.1. “fragilíssimo” e “distante”. Os adjetivos remetem, respetivamente, para a vulnerabilidade de Timor-Leste sob ocupação indonésia e para o imaginário exótico da longínqua “terra do sol nascente”.1.2. Os versos encontram-se entre aspas porque reproduzem palavras que Ruy Cinatti usou para descrever Timor perante o “pasmo atento das crianças” que o escutavam.1.3. Ruy Cinatti acabara de regressar de Timor e relatava, perante extasiados ouvintes infantis, as aventuras passadas em território timorense.1.4. Como consequência do seu passado colonial, Portugal teria em relação a Timor-Leste, segundo a autora, uma responsabilidade histórica acrescida que, contudo, não cumpriu inteiramente. Em virtude desse remorso nunca apaziguado, Timor é um “dever que não foi cumprido e que por isso dói”.2. Esta sequência sintetiza a violência da ocupação militar indonésia, bem como a afirmação da resistência timorense e a “valentia do povo e da guerrilha”.3. Estabelece-se uma analogia entre o muro de Berlim, construído durante a Guerra Fria para separar a República Democrática Alemã da Alemanha Oriental, e o “muro de silêncio” que cercava Timor-Leste, isto é, a indiferença generalizada da comunidade internacional relativamente à sua situação política. 4.1. As imagens mencionadas no poema são as do violento massacre de Santa Cruz que deram visibilidade mediática às atrocidades perpetradas pelos militares do governo indonésio, pondo termo à insensibilidade da comunidade internacional perante a situação política timorense.4.2. Os termos “surdos” é aplicável a todos aqueles que, por desatenção ou deliberada perversidade, insistiam em ignorar a dramática situação timorense.
Atividade 18
1. Para além de se encontrar em consonância com o propósito de homenagem que subjaz ao poema, o emprego da maiúscula sugere que Cinatti – o Poeta entre os poetas – representa a personificação da própria Poesia.2. Compostos para homenagear Cinatti no dia seu aniversário, os dois poemas tematizam a passagem do tempo e a sua relação com o testemunho poético.3. Os poemas confrontam a efemeridade do poeta, lembrando a sua qualidade de homem mortal (“Não passam, Poeta, os anos sobre ti,/ embora sejas mais mortal que os mais”; “[…] passam sobre ti/ como por sobre os seres que perecem”) com a permanência da sua palavra e a perenidade do seu testemunho: “Os anos passam; mas, desta passagem,/ a permanente essência em nós se cumpre,/ que para testemunho só nascemos”.4. Apelo à viagem: “no tempo, viverás longe daqui,/ no espaço, apenas deixarás sinais”; preocupação humanista e compromisso com a História: “antes que os homens nasçam teus iguais”; “para testemunho só nascemos”.5. O poeta afirmara, no poema composto em 1944, “Não passam, Poeta, os anos sobre ti”; no poema escrito oito anos depois, recupera, corrigindo-a, esta asserção, concedendo que os anos “passam sobre ti/ como por sobre os seres que perecem” e ressalvado que, apesar da sua condição humana e necessariamente mortal, o poeta soube viver “no intervalo entre os instantes” de nascimento e morte. 6. A referência ao “anoitecer” constitui uma alusão metafórica à morte física do poeta à qual, contudo, se sucederá um recomeço. Esta ressurreição espiritual, anunciada pelo verso colhido em Cinatti, admite uma leitura em clave cristã, perfeitamente congruente com o paradigma de espiritualidade dominante na sua poética.7.1. O plural associa num mesmo ofício os dois poetas: Sena (que homenageia) e Cinatti (que é homenageado).7.2. A conceção do poeta como testemunho pressupõe a sua participação atenta no mundo e no tempo que lhe coube viver e de que se assume como intérprete, investindo-o, assim, de uma responsabilidade histórica indeclinável – a de testemunhar o mundo para ajudar a transformá-lo no sentido da verdade e da justiça.
Atividade 19
1. A dor é “sempre esquecida” como resultado da desatenção ou da negligência de quem a ela assiste sem intervir para remediá-la; é lembrada, porque dela subsistem memórias dilacerantes que constantemente a tornam, hoje e sempre, presente. 2.1. A primeira sequência é de tonalidade disfórica e nela predominam o desalento e a desesperança decorrentes do sofrimento coletivo (“um ramo de lágrimas”, “os que amaram sofrem,/ choram, feridos/ na medula”). A segunda estrofe consiste numa antecipação eufórica da esperança e da alegria recuperada.2.2. A alternância cromática encontra-se, no texto, investida de uma função simbólica. Para além da sugestão dolorista do negro (“luto”), o vermelho, embora compareça em ligação disfórica ao sangue derramado, é também a cor da “espiga da alegria” e, portanto, simultaneamente símbolo de morte e regeneração.2.3. As imagens, evocadas respetivamente na primeira e segunda estrofes, imprimem ao texto coerência metafórica, uma vez que, embora semanticamente opostas – condensando a bipolaridade dor/esperança que estrutura o poema – recorrem ambas a analogias inspiradas no domínio da botânica (ramo de lágrimas/espiga da alegria).
V. Tipologias textuais: teoria e análise
48
CRÓNICAI.
Distanciada do registo historiográfico que tradicionalmente a consagrou, a crónica inclui-se hoje de preferência
entre os géneros periodísticos, redefinindo por seu turno o estatuto literário que ambiguamente lhe tem sido atribuído.
De facto, o registo de eventos na ordem do tempo, função que a crónica desempenhou, juntamente com as relações,
cartas e relatos de viagem, deixou de ter sentido com o desenvolvimento da historiografia moderna. Em contrapartida,
o impacto crescente da imprensa periódica a partir do século XIX reservaria à crónica uma fortuna considerável, confi-
gurando-se então como um género radicalmente diferente. Tendo conhecido um notável florescimento até às primeiras
décadas do séc. XX, a crónica dita literária pode considerar-se hoje um género em relativo declínio, dadas as característi-
cas da imprensa atual, que tende a privilegiar a dimensão informativa e imediatista própria da comunicação de massas.
A filiação literária da crónica prende-se, em primeiro lugar, com a ambiguidade do seu estatuto, oscilando entre
o registo literário e o jornalístico, cujos campos a proliferação e gradual importância do jornal em grande medida veio
perverter. À recíproca contaminação do discurso e dos processos retóricos que desde então se observa não é alheio, por
outro lado, o facto de o cronista ser muitas vezes autor consagrado no domínio da literatura nobre, como o foram na sua
maioria os nomes mais conhecidos do jornalismo oitocentista em Portugal e no Brasil.
Não menos problemática se apresenta a definição dentro dos géneros paraliterários ou mesmo periodísticos:
se é certo que a funcionalidade estética é secundária e que a crónica em geral obedece a uma intenção ideológica e
persuasiva, não raro crítica e satírica, como distingui-la do ensaio breve, do panfleto satírico, ou do moderno editorial?
Tal aproximação, sem dúvida pertinente, implicaria por seu turno que fossem relegados para o domínio do discurso infor-
mativo os textos que sob as designações de crónica mundana, crónica do estrangeiro, crónica teatral, etc., mais recorrem
(ou recorriam) à utilização do termo. Na verdade, é a rubrica folhetim que normalmente acolhe, nos periódicos do séc.
XIX, os textos efetivamente considerados como crónicas, assegurando um espaço de entretenimento polivalente, onde
o texto de índole informativa alterna com pequenas narrativas ou mesmo com novelas e romances à suivre.
Refratária à sistematicidade, a crónica fixara contudo nesta época alguns traços específicos do seu discurso: a
coloquialidade amena, o humor, o comentário impressionista sobre temas da atualidade. Esses mesmos contornos lhe
reconhece Eça de Queirós, nas páginas d’O Distrito de Évora: “A crónica é como que a conversa íntima, indolente, deslei-
xada, do jornal com os que o leem: conta mil coisas, sem sistema, sem nexo; espalha-se livremente pela natureza, pela
vida, pela literatura, pela cidade”; mas é ainda Eça quem, num outro artigo do mesmo periódico, assinala o poder insi-
dioso desta aparentemente inócua secção: “A crónica é para o jornalismo o que a caricatura é para a pintura: fere, rindo,
espedaça, dando gargalhadas [...]; procede pelo escárnio e pelo ridículo; e o ridículo em política é de boa, é de excelente
guerra”.
Ora, é justamente esta versatilidade enunciativa, temática e estilística que constitui motivo de atração, permi-
tindo ao escritor a livre expressão reflexiva, analítica, argumentativa (ou ainda, se bem que cada vez menos, didática),
sem os constrangimentos dos géneros ficcionais. Permite, por outro lado, o comentário pessoalizado em relação ao real
quotidiano, ao evento político ou cultural, ao fait divers, e é por isso datada, vinculada a um espaço-tempo determina-
dos, e sujeita à efemeridade. Trata-se, em suma, de exercitar o juízo (segundo a fórmula de Montaigne) sem pretender
esgotar um assunto nem assumir forma literária. Assim, a atitude do escritor é muitas vezes, como nota M. Alzira Seixo,
de má consciência, sendo a sua incursão jornalística justificada posteriormente “pela categoria do interessante, ou pelo
álibi do complemento-documento em relação à obra literária, ou de testemunho do escritor em relação ao seu tempo”. Maria Helena Santana, “Crónica”. In Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa
Tipologias textuais: teoria e análise | 49
II.
[…] Queremos com isto dizer que as crónicas são textos que vivem das situações provenientes do
meio que os rodeia e que, em geral, manifestam uma implicação social muito forte. No entanto, nem todas as
crónicas assumem estes contornos. Sabemos que o termo “crónica” é vago e aponta para diversos tipos de texto
jornalístico, cuja qualidade e objetivos podem ser bastante variáveis. Confundem-se nesta designação artigos
de opinião, artigos políticos ou desportivos (Santana 1995). Mas a crónica pode também acolher textos que
se distinguem pelo seu valor literário, pelo seu interesse cultural e documental e é por isso que, muitas vezes,
estes sobrevivem à efemeridade da folha de jornal. Esta literatura ao “rés-do-chão” (Cândido 1992) abrigava,
na sua origem, artigos de crítica literária ou mesmo de disputas artísticas, para mais tarde dar lugar ao roman-
feuilleton, composto por vários capítulos que vão surgindo periodicamente nos jornais, constituindo muitas
vezes o sustento de grandes romancistas e assumindo a forma da chamada prosa “alimentar”, a que António
Lobo Antunes ainda se refere na atualidade, em referência à sua atividade de cronista.
Porém, a crónica que conhecemos hoje não vive do mecanismo sequencial do romance-folhetim. As
crónicas podem apenas ser consideradas como textos sequenciais na medida em que aparecem com certa
regularidade nos jornais, tornando-se a crónica num texto “crónico”, isto é, passa a ser conteúdo permanente
do jornal. Nas palavras de Sant’Anna, o próprio “cronista é crônico, ligado ao tempo, deve estar encharcado,
doente de seu tempo e ao mesmo tempo pairar acima dele” (Romano de Sant’Anna 1988). Apesar da sua
“condição crónica”, estes textos independentes e de caráter fragmentário concentram-se, muitas vezes, num
motivo ou tema precisos, inspirados pela atualidade, para levar a cabo uma reflexão individual do autor que
pode, frequentemente, assumir contornos pedagógicos ou de teor político e de crítica social. Portanto, ao
romance-folhetim, cuja dimensão lúdica e mundana foi caracterizada por Eça de Queirós como “conversa íntima
e indolente, desleixada […] [que se espalha] livremente pela natureza pela vida, pela literatura, pela cidade”,
associa-se o valor ideológico que já em 1871 havia sido reivindicado pel’As Farpas, publicadas em conjunto com
Ramalho Ortigão (Santana 2003:12). [...]
Outro fator importante relativamente ao estatuto da crónica é a sua deslocação do universo jornalístico
para o universo literário. Um ponto essencial desta mudança é a publicação da crónica em livro, frequentemente
sob a forma de antologias organizadas pelo próprio autor ou por editores. Por isso, os elementos paratextuais
que rodeiam a sua publicação, mais do que enquadrar a crónica num novo contexto e num novo suporte, são
fundamentais para a análise, compreensão e até sobrevivência e instituição do género no seio do sistema literário.
Esses elementos são, por exemplo, o número de edições, a importância destes textos no conjunto da obra do
autor e a sua contribuição para a sua consagração, bem como o lugar de destaque que lhes é atribuído em
encontros académicos ou em programas de ensino da literatura (Simon 2004: 57). Tais aspetos são fundamentais
na legitimação do género no Brasil, onde a crónica assume uma posição de destaque que não existe em outros
países, com a exceção do universo latino-americano. Mas se Simon apresenta o caso de Drummond de Andrade,
Rubem Braga e Martha Medeiros como paradigmáticos desta nova condição de leitura que é atribuída à crónica,
no caso português a situação parece-nos menos clara.
Com efeito, se no Brasil, a crónica é aceite no âmbito literário como um género considerado fundador da
literatura brasileira e bastante trabalhado pela crítica, em Portugal a sua classificação é mais complexa. Embora
as suas origens derivem de um cruzamento entre jornalismo e literatura, apesar de ter sido cultivada no passado
50 | Tipologias textuais: teoria e análise
por figuras de relevo literário, como Eça de Queirós ou Almeida Garrett, e ainda que no presente ela continue a
ser uma forma prezada por grandes nomes da literatura, entre os quais podemos destacar, além da nossa autora
[Maria Judite de Carvalho], José Saramago, António Lobo Antunes, José Cardoso Pires, a integração da crónica
no cânone literário não é pacífica. O trabalho crítico sobre o género da crónica é esparso e pouco sistematizado,
em parte por ser um género limítrofe e aglutinador de várias formas discursivas, muitas vezes relegada para o
domínio da paraliteratura (Reis 2005). Para além do mais, os trabalhos críticos sobre a crónica estão muitas vezes
marcados por uma visão nacional: a sua importância, bem como as suas características e funções, alteram-se,
sendo as diferentes tradições de escrita que concorrem para a sua universal caracterização enquanto género
híbrido e marginal: a crónica é um género heterogéneo que, tanto a nível formal como a nível discursivo, pode
assumir vários contornos e derivar de diferentes suportes.
Ana Filipa Prata, Crónicas urbanas de Carlos Drummond de Andrade, Maria Judite de Carvalho e Jacques Réda
GÉNEROS (AUTO)BIOGRÁFICOSA. BIOGRAFIA
BIOGRAFIA – Como o termo indica e uma vasta tradição cultural tem evidenciado, a biografia constitui
a representação, muitas vezes em forma de relato, da vida de uma determinada personalidade, no desenrolar
da sua existência, no seu crescimento e maturidade, nos eventos que lhe deram peculiaridade e mesmo nos
incidentes que conduziram ao desaparecimento dessa personalidade. Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, Dicionário de Narratologia
B. AUTOBIOGRAFIA
AUTOBIOGRAFIA – Como o termo indica, a autobiografia é “a biografia de uma pessoa feita por ela
própria” (Starobinski, 1970: 257) ou, em termos mais elaborados, uma “narrativa retrospetiva em prosa que uma
pessoa real faz da sua própria existência, quando coloca a tónica na sua vida individual, em particular na história
da sua personalidade” (Lejeune, 1975: 14). Implicadas nestas definições encontram-se características dominantes
da autobiografia em sentido restrito: a centralidade do sujeito da enunciação colocado na relação de identidade
com o sujeito do enunciado e com o autor empírico do relato; o pacto referencial, que institui a representação
de um percurso biográfico factualmente verificável; a acentuação da experiência vivencial detida por esse
narrador que, perfilhando uma situação expressa ou camufladamente autodiegética, projeta essa experiência
na dinâmica da narrativa; o teor quase sempre exemplar dos acontecimentos relatados, concebidos pelo autor
como experiências merecedoras de atenção.Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, Dicionário de Narratologia
C. DIÁRIO
O diário é um registo escrito que alguém elabora, baseando-se no dia a dia. Usualmente, o diário integra
o relato de factos de caráter pessoal que, na sua essência, se querem esconder de outros, embora muitos
escritores, por exemplo, acabem pela publicação da sua escrita diarística.
Tipologias textuais: teoria e análise | 51
Escrito na primeira pessoa, adota, por vezes, a forma de uma carta dirigida a um(a) amigo(a), real ou
imaginário(a). O autor do diário escreve, em primeiro lugar, a data, o local onde está, e, até, em certos casos, a
hora. De seguida, regista os factos que ocorreram nesse dia, as suas reações, sentimentos ou emoções. Todos os
diários apresentam um “eu” que se narra, se analisa, se lamenta, se regozija, etc.
D. A CARTA OU/E O DISCURSO EPISTOLAR
Na literatura, o recurso a epístolas para construir um único discurso, como um romance, por exemplo,
Cartas a Sandra (1996), de Vergílio Ferreira, permite estabelecer o modo epistolar. Outra forma de expressão é
a simples coleção de cartas pessoais de escritores de interesse nacional. É comum reunir-se em livro tais textos,
sob o título Correspondência, e editados com prefácios, notas e comentários textuais. Estas coletâneas, que se
multiplicaram a partir do triunfo da crítica literária, realista, naturalista e impressionista do século XIX, têm um
valor documental importante para o estudo dos autores que se corresponderam. Estão neste caso, entre muitos
exemplos, as cartas de Eça de Queirós a Oliveira Martins, de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro ou de
Jorge de Sena a António Sérgio. O objetivo era (e é ainda) o de revelar o indivíduo que se esconde por detrás da
máscara do autor literário. O epistolário biográfico torna-se assim um meio privilegiado de especulação sobre a
época e os costumes dos escritores.
Podemos distinguir diversos aspetos numa carta. Trata-se de 1) um ato de comunicação bidirecional, 2)
um ato de escrita pragmática, 3) um ato de comunicação escrita diferida no tempo, 4) um ato de comunicação
escrita produzida entre espaços distintos, 5) um ato de comunicação escrita direcionada e interpelativa, exigindo
uma resposta do destinatário para completar o seu ciclo de sentido. O recurso à carta é hoje, curiosamente, mais
literário do que social. Até ao aparecimento da imprensa escrita regular, a carta desempenhou o mesmo papel
que hoje tem por exemplo um noticiário. Era a carta que informava um destinatário privilegiado sobre os factos
que ocorriam no mundo.
[…] Para o modo epistolar puramente ficcional, pode não importar o destino de uma carta, porque o que
importa é apenas o pretexto ou o exercício da escrita em si mesma, como bem se observa num romance epistolar
pós-moderno como Novas Cartas Portuguesas (1998, 1ª ed., 1972), de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e
Maria Velho da Costa: “Pois que toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível
ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou procuramos. E já foi dito que não interessa tanto o objeto,
apenas pretexto, mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas pretexto, mas
antes o seu exercício.” (p.11). Este revolucionário livro epistolar é um pastiche criativo de uma famosa coletânea
do século XVII, Lettres portugaises (1669), que se atribui a Soror Mariana Alcoforado, embora escrito por
Guilleragues talvez a partir de cartas verdadeiras enviadas pela freira portuguesa ao cavaleiro de Chamilly, oficial
francês em missão em Portugal. Estas cartas de amor são um marco na literatura europeia, fixando um certo
modo de escrita que ficou então conhecido por escrita “a la Portugaise”, isto é, texto essencialmente notado pelo
domínio das paixões sobre a razão e por uma certa irracionalidade do discurso. […]
No final do século XX, a epistolografia parece ser inconsequente quando está a desaparecer cada vez
mais a prática da escrita de uma carta tradicional, face ao pragmatismo do fax, do telefax, do e-mail, da vídeo-
conferência, do chat, etc. Um romance epistolar curioso como O Defunto Elegante (1996), de Luísa Costa Gomes
52 | Tipologias textuais: teoria e análise
e Abel Barros Baptista, que se constrói como uma troca ficcional de faxes e cartas entre dois emissores-recetores,
abre precisamente com um mal de fim de século: a ansiedade das telecomunicações, que se sobrepõe à
ansiedade da comunicação manuscrita: “Querida X.: Se falámos há pouco pelo telefone, vejo mal que razões tão
“ponderosas” possam existir para que te escreva. A insistência com que tens alimentado esta correspondência
deixa-me perplexo, e estou à espera, aliás, do momento em que confirmarei que não passa de mais um capricho,
um desses traços do teu whimisical behaviour, como dizes, e a que me foste habituando de ano para ano. A
distância ou a separação, creio eu, são fatores irrisórios, pelo menos no mundo atual, moderno ou pós-moderno,
como queiras, em que se comunica tele e tudo é móvel […]. Confesso, ou protesto mais uma vez, que escrever
cartas me chateia, ou melhor, já que escrevo, me entedia: é assim uma espécie de logografia, em que se vai
dizendo ou escrevendo seja o que for, porque o mais importante é haver carta, a carta em si mesma e por si
mesma, diga ela o que disser. Aliás, se calhar, até acabas por ter razão: talvez se justifique escrever cartas quando
não precisamos delas para falar com o outro ou com os outros.” (p.9).
Carlos Ceia, E-Dicionário de Termos Literários
TEXTO LÍRICO O poema lírico, com efeito, não representa dominantemente o mundo exterior e objetivo, nem a
interação do homem e deste mesmo mundo […]. A poesia lírica não se enraíza no anseio ou na necessidade
de descrever o real empírico, físico e social, circunstante ao eu lírico, nem no desejo de representar sujeitos
independentes deste mesmo eu ou de contar uma ação em que se oponham o mundo e o homem ou os homens
entre si. Enraíza-se, em contrapartida, na revelação e no aprofundamento do eu lírico […], tendendo sempre esta
revelação a identificar-se com a revelação do homem e do ser. […]
O mundo exterior, as coisas, os seres, a sociedade e os eventos históricos não constituem um domínio
alheio ao poeta lírico, nem este pode ser figurado como um introvertido total, miticamente insulado numa
integral pureza subjetiva […].
[…] o texto lírico não comporta descrições semântica e funcionalmente semelhantes às de um texto
narrativo, pois a ocorrência de tais descrições equivaleria a representar o mundo exterior ao eu lírico como
objetividade esteticamente significativa relativamente à modelização da ação humana.
[…] o fluir da temporalidade, em que se inserem as personagens e os acontecimentos dos textos narrativos
e dramáticos, é alheio ao universo lírico: o poeta como que se imobiliza, enquanto instância do discurso, sobre
uma ideia, uma emoção, uma sensação, etc., não se ocupando do circunstancialismo genético, do encadeamento
causal ou cronológico desses estados da subjetividade. Não significa quanto acabamos de afirmar que o tempo
como problema do homem – o tempo como problema metafísico e existencial, como fator de mudança, erosão
e aniquilamento dos seres e das coisas – esteja ausente do universo semântico dos textos integráveis no modo
lírico. […]
No texto lírico, todavia, não existe a temporalidade que é necessariamente inerente à ação representada
no texto narrativo e no texto dramático […]. No texto lírico não existe uma história para contar, nem o poema
lírico desperta no leitor o desejo de saber como vai “acabar” esse mesmo poema. […]. Aguiar e Silva, Teoria da Literatura
Tipologias textuais: teoria e análise | 53
Carlos Reis, em O Conhecimento da Literatura, destaca as seguintes propriedades do texto
do modo lírico:
1. os textos líricos concretizam um processo de interiorização, centrada num sujeito poético
eminentemente egocêntrico;
2. os textos líricos representam uma atitude marcadamente subjetiva, com consequências no
plano técnico-compositivo;
3. do ponto de vista semântico e técnico-compositivo, os textos líricos regem-se pelo princípio
da motivação.
Glória Bastos, em Literatura para a Infância e a Juventude, sintetiza as questões levantadas
em torno da especificidade do texto poético em três núcleos:
1. a poesia como linguagem motivada: ambiguidade e pluralidade do discurso poético;
2. a poesia como linguagem redundante: a intensificação emocional; a repetição poética;
3. a poesia como linguagem de estranheza: a transformação do real.
VI. Textos e atividades complementares ao manual
54
O conjunto de textos e respetivos guiões de leitura que se seguem foram desenvolvidos
no sentido de ajudarem o professor no processo de seleção de atividades complementares
das já propostas no Manual do Aluno. Poderão, por exemplo, ser utilizados na elaboração de
instrumentos de avaliação, formativa ou sumativa, em atividades específicas para alunos com
dificuldades, em atividades de enriquecimento curricular e extracurricular, como aulas de apoio,
para realização em trabalho de casa ou em trabalho de grupo. Procuram também colmatar a
dificuldade sentida pelos professores na obtenção de materiais didáticos, em particular textos
literários relacionados diretamente com os temas em estudo.
1. SOBRE A CRÓNICA
Atividade 1
Chamo-lhe crónicas porque não sei o nome disto
Ricardo Pinto, cronista da Rádio Universitária, pôs-me outro dia, aos microfones (um sítio perigosíssimo!),
uma questão de todo em todo improvável: “O que é isso de crónicas?”. Fiquei em pânico, como um trapezista
que tivesse falhado o salto, sem resposta a que me agarrar; e devo ter esbracejado desesperadamente antes de
me ter estatelado em qualquer definição de almanaque. Na Rádio trabalha-se sem rede; o meu por assim dizer,
dado muito a perguntas e pouco a respostas, conforma-se, coitado dele, mais com a escrita, onde se podem
facilmente fazer passar as grandes ignorâncias por uma questão de estilo.
E ainda mal estava refeito da provação já tinha que me safar de outra situação dramática: “E para que
servem as crónicas?” (Eu que andava a pensar numa entrevista à secretária de Estado da Cultura com perguntas
más como: “O que é a cultura?”...).
O caso deu-me para pensar (naturalmente sob a forma de crónica) acerca de definições, que é coisa com
que nunca me entendi. […]
Há muitos anos, já não me lembro porquê (de facto é uma pergunta insolente), perguntei aos imensos
três anos de minha filha: “Para que serve a barriga?”. E ela: “Para coçar a barriga!”. Era indesmentível. Mas
quis ver onde ia dar aquilo: “E as unhas, para que servem?”. Evidentemente: “Para coçar a barriga!”. “Então –
lógica de pai tem consequências terríveis – as unhas e a barriga servem para a mesma coisa?”. “Servem!”. E eu
a teimar: “Para quê?”, Lógica de filha: “Para coçar a barriga!”. As coisas (a barriga, as unhas, as crónicas) servem
para usos que escapam a grandes reflexões e o que são furta-se quase sempre àquilo que se sabe delas.
Para que servirão então as crónicas? E o que é isto de crónicas? Se me perguntam (como não me lembrei
de Santo Agostinho na Rádio Universitária?) não sei o que é, se não me perguntam sei.
Há dias, no Campo de 24 de agosto, um jovem pediu-me um emprego. Conhecia-me disto, das crónicas
e, lá na sua, pensou que as crónicas podiam muito bem servir para arranjar emprego. Também recebo cartas
de leitores: tal assunto dava – sugerem os leitores – uma boa crónica; e, aqui ao lado, os amigos têm também
Textos e atividades complementares ao manual | 55
inúmeras ideias sobre crónicas. Eu tenho cada vez menos. Vou falando da chuva e do bom tempo, da memória,
das minhas circunstâncias e das minhas perplexidades, dos trabalhos (sobretudo dos trabalhos forçados!) e dos
dias, de coisas grandes e de coisas pequenas, como quem está sentado ociosamente à mesa do café rodeado de
amigos, mudando instavelmente de estilo – às vezes a ironia, às vezes a ternura, às vezes a revolta – como quem
muda de sítio. E é natural que, de vez em quando, me pergunte também se não estarei a gastar o meu tempo e
o meu latim.
Na verdade não quero que isto – não sei o quê – sirva para nada em especial (acho que consegui dizer uma
coisa do género na problemática entrevista da Rádio). Nem que não sirva. As palavras falam sozinhas. As crónicas
fazem-se a si próprias, o cronista é o menos. E se lhes chamo crónicas é porque não sei que nome dar a isto.
O crocodilo responde às questões práticas da alimentação que no dia a dia se lhe vão pondo sacudindo
os interlocutores para a água e discutindo o assunto aí, no seu ambiente. O meu ambiente é este, diante da
máquina de escrever, sem microfones. Quem pode, por isso, estranhar que tenha trazido para aqui uma questão
tão sem importância como esta? Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 23/04/1988
1. Por que motivo terá Manuel António Pina ficado aflito com a pergunta que lhe foi dirigida
por Ricardo Pinto?
2. Quais os temas que Manuel António Pina admite abordar com mais frequência nas suas
crónicas?
3. Como caracterizarias a receção de que os textos de Manuel António Pina são objeto junto
dos seus leitores? Justifica, recorrendo a exemplos textuais.
4. Descreve, em poucas palavras, a perspetiva do autor acerca da escrita/publicação de
crónicas.
5. Imagina que és um dos leitores assíduos das crónicas de Manuel António Pina e dirige-lhe
uma carta na qual partilhes com ele uma das tuas preocupações sociais ou pessoais. Sugere-
-lhe, por exemplo, que estas venham a ser possíveis temáticas de uma ou várias das suas
crónicas.
56 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 2
Apresentação sob a forma de crónica
Provavelmente está tudo dito. Mesmo o sentimento da ociosidade e da inutilidade das palavras é uma
sensação infinitamente cansada. E, no entanto, temos que dizer tudo de novo todos os dias, de juntar os pedaços
dispersos do mundo e, com eles, descobrir para nós um lugar do nosso tamanho ou, ao menos, uma forma de
sentido para aquilo a que chamamos a nossa vida. E, para isso, tudo o que temos são palavras. O que sabemos:
palavras; o que sonhamos: palavras; o que sentimos: palavras; e a nossa própria boca que fala é, também ela, só
uma frágil e insegura palavra.
O cronista é filho de Cronos, o tempo que passa, e a crónica vive o mesmo redundante destino do jornal
que, como os velhos tipógrafos diziam, no dia seguinte serve apenas para embrulhar peixe (e que outro destino
tem tudo senão o esquecimento?).
Está então o cronista diante do mundo e de si próprio. E só pode repetir (na melhor das hipóteses por
outras palavras, donde o título genérico destas crónicas) aquilo que cada homem imemorialmente repete: o
amor e a morte, o medo e a esperança, a alegria e a deceção.
Acontece assim nos sonhos. Temos medo e sonhamos com a esfinge. A verdade, porém, não é a esfinge,
a verdade é o medo; a esfinge é só a imprecisa forma do nosso medo. Também a crónica aqui falará, a partir de
hoje, de gente, de factos, de acontecimentos, mas o que dirá é outra coisa. E essa coisa é que é verdadeira.Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 01/09/2005
1. Qual a propriedade inerente à crónica salientada indiretamente por Manuel António Pina?
2. Quais as temáticas nucleares que o autor se propõe valorizar nas suas crónicas? O que
poderá sugerir essa escolha relativamente à sua personalidade?
3. Faz uma pesquisa na internet e procura saber mais sobre o escritor Manuel António Pina.
Constrói, depois, uma síntese cronológica da sua vida e da sua obra.
Textos e atividades complementares ao manual | 57
Atividade 3
Depois de teres lido e analisado todos os textos apresentados, resolve, agora, os seguintes
exercícios de aferição/consolidação de conhecimentos. Caso consideres necessário, procede a
uma pesquisa e a um estudo mais aprofundado acerca do tipo de texto particular que é a crónica,
recorrendo a Dicionários de Termos Literários, a manuais, à internet/webgrafia, etc.
Distingue as afirmações verdadeiras (V) das falsas (F):
1. A crónica literária ou jornalística é quase sempre uma narração breve, produzida obrigatoriamente
para ser publicada em livro. ___
2. A crónica jornalística, situando-se sempre num mesmo espaço do jornal em que é publicada, possui
um objetivo utilitário: prender a atenção dos leitores, alimentando-se, ao longo dos dias ou das semanas, de
uma familiaridade/intimidade entre o escritor e aqueles que o leem. ___
3. O cronista inspira-se apenas nos acontecimentos diários. ___
4. Alguns consideram que a crónica evidencia uma natureza híbrida decorrente da conjugação de um
registo diarístico, memorial, ensaístico, epistolográfico, etc. ___
5. Geralmente, a crónica é um texto curto, sempre narrado na terceira pessoa. ___
6. Num estilo próprio, e apresentando uma perspetiva totalmente pessoal, o cronista transmite ao leitor
a sua visão de mundo. ___
7. Muitas vezes, encontra-se subjacente à crónica uma intenção crítica ou satírica. ___
58 | Textos e atividades complementares ao manual
2. SOBRE OS GÉNEROS (AUTO)BIOGRÁFICOS
Atividade 1
1. Considera o excerto informativo que se segue e o texto assinado por Ruy Cinatti:
As memórias, o diário, o retrato ou a crónica constituem, frequentemente, formas discursivas que
fixam vivências, imaginando-as em interpretações que cruzam momentos, desdobram a realidade e valorizam
múltiplos registos narrativos.
As memórias surgem como um registo que permite ao seu autor recuperar e juntar pedaços que relatam
acontecimentos dignos de lembrança. Denomina-se “memória” exatamente por permitir a representação de
evocações que a capacidade mnemónica apreendeu e fixou, conservando-as em latência.
Ao contrário do diário, a memória ocupa-se dos registos do passado e procura transmitir imagens sensoriais mas
afastadas no tempo e, muitas vezes, do espaço concreto ou ambiente em que se produziram.
Influenciada pela afetividade e pela vontade, identifica-se, frequentemente, com a consciência do “eu”
e apresenta-se datada por um tempo interior. Identificando vivências e experiências passadas, criando pontes
entre tempos, espaços, factos e pessoas, favorece a construção de novos sentidos para o presente da vida
humana. Torna-se, assim, uma obra histórica que, situada no presente da memória, recorre ao passado para
olhar o futuro.
À Memória de Minha Mãe2
Ruy Cinatti
Este era o meu jardim de infância, já muito misterioso e que só eu conhecia. Para os outros seria um
bocado de terra com meia dúzia de árvores, uns canteiros esboroando-se aos poucos, um tanque de água suja e
um muro de sobre o qual se avistava uma lonjura de planície sem fim e uma montanha distante que no inverno
se cobria de neve. Mas ninguém, decerto, poderia adivinhar a minha vida naquele jardim os sítios escusos onde
me escondia, os troncos velhos onde marcava sinais e o chão fofo de folhagem onde me deitava planeando
viagens ao fim do mundo; aonde vinha recolher-me em momentos de imperioso isolamento, jurando ser melhor
e prometendo a mim mesmo transformar o mundo e fazê-lo regressar ao ideal que eu sonhava.
Agora, vê-lo de novo à luz de uma clara manhã, com uma brisa suave desviando as folhagens dos raios
de sol, depois de não sei quanto tempo de ausência, era um regressar de recordações e de ternuras que me fazia
ficar ali, encostado à porta, aspirando o cheiro da seiva que das plantas descia à terra e se evolava em fluido no
ar, e me faziam meditar numa época imensamente querida que eu via fugir e da qual nunca poderia separar-me.
Tudo no jardim chamava por mim: as rosas de todo o ano, as sebes de pitosporos, a relva espigada dos canteiros
até aquele passarito que me acordava. E eu, a tudo queria e amava.
2 Este texto encontra-se igualmente trabalhado no Manual do Aluno. Aqui são sugeridas outras atividades de leitura com vista a exemplificar explorações diferentes de um mesmo texto literário.
Textos e atividades complementares ao manual | 59
Penso que sempre há de ser assim. Quando deparamos com um lugar muito conhecido e de que muito
gostamos, não o vemos apenas; mais do que isso, as sensações dos primeiros tempos do nosso conhecimento
acodem também, embora bem diferentes das que eu hoje sinto. Não é este homem que eu vejo com um carro
de mão a transbordar de estrume, e sim o velho Francisco, que havia de encontrar sempre umas férias no seu
trabalho para ir dar uma limpeza ao jardim. Vós mesmos, rosas e árvores e canteiros relvados São os outros,
os outros, os que me interessam. A vós eu admiro mas é para o outro jardim que vai o meu amor, para aquele
jardim que se desenrola no meu espírito com uma perfeita clareza, para aquelas pessoas já mortas, para aquela
mulher que me chamava seu filho e no colo da qual eu descansava a cabeça depois de uma correria desvairada
pelo caminho dos pinhais “Meu filho!... meu filho!...”. Tempos que se foram e a que eu peço alento e coragem
para avançar na vida Ruy Cinatti, Nós não somos deste Mundo
1. Tratando-se de um texto pertencente ao género das memórias, mostra como nele se
confirma a presença das características sublinhadas no texto informativo anterior.
2. Identifica o período da vida evocado pelo autor.
3. Situa cronologicamente:
3.1. O tempo da escrita/discurso;
3.2. O tempo da história/acontecimentos relatados.
4. Comprova que a sinestesia que acompanha a evocação do jardim permite a reconstrução
sensorial de momentos de felicidade e de afeto.
5. “A vós eu admiro mas é para o outro jardim que vai o meu amor”. Explica o sentido da
frase transcrita.
5.1. Pesquisa o valor simbólico de “jardim” e justifica o anseio sentido pelo autor por aquele
“outro jardim”.
6. Colocando a hipótese de um eventual regresso a um lugar que marcou a tua infância,
escreve a tua “memória”, respeitando algumas das marcas de enunciação que caracterizam
a linguagem/expressão deste género intimista:
- predominância das formas verbais na 1ª pessoa;
- recurso aos pronomes pessoais e aos determinantes possessivos referentes ao sujeito;
- subjetividade e predomínio da conotação no discurso;
- uso de nomes abstratos, adjetivos expressivos e frases de tipo exclamativo e interrogativo;
- recurso frequente aos verbos “ser” e “estar”;
- referências espaciais.
60 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 2
1. Lê atentamente o texto que se segue que reproduz um verbete sobre o género da biografia:
“Relato da vida de uma pessoa de certa notoriedade que descreve o desenvolvimento e os sucessos
da sua existência com fins divulgativos, exemplares ou reveladores. Pode seguir um critério __________,
descrevendo fielmente o acontecer da vida da pessoa biografada, ou incluir traços __________, empregando
estratégias ficcionais. […] A palavra biografia apareceu apenas no século XVII. John Dryden utilizou-a em 1683
[…]. Foi nos séculos XVII e XVIII que começou a configurar-se a biografia moderna, desprendendo-se da ligação
da personagem à __________ do seu tempo e da __________, para se aprofundarem aspetos psicológicos,
ideológicos ou políticos do __________. Nesta linha, pode citar-se A Vida de Jesus (1863), de Ernest Renan, obra
na qual o autor procurou interpretar os Evangelhos como documentos e tratar o caráter e a vida de Jesus Cristo
a partir de um ponto de vista humano.
Em termos narratológicos, a biografia pode apresentar-se tanto como ensaio analítico interpretativo,
como um relato que recorre a estratégias __________ (biografia novelada). No primeiro caso, caracteriza-se
pelo respeito à __________ do discurso. A relação entre o sujeito de __________ – o biógrafo – e o sujeito do
enunciado – o biografado – é de __________, visto que o biógrafo se coloca numa situação de exterioridade
relativamente ao protagonista do relato, traço que a diferencia da autobiografia. Neste sentido, o __________
pode ser homodiegético, testemunha direta da existência do biografado, ou __________, distanciado da mesma.
A biografia novelada concebe-se como __________ e emprega os recursos típicos da __________, como o
tratamento do tempo e do espaço, ou a caracterização da personagem. Relaciona-se, deste modo, com a novela
de educação e com a novela histórica.” Diccionario de termos literários (equipo glifo), p. 223 e ss. (trad. nossa).
2. Completa, em seguida, as suas lacunas com as palavras incluídas no seguinte quadro:
História Analógico parcialidade novelescos biografado ficcionais temporalidade enunciação alteridade narrador heterodiegético ficção narrativa
3. Procede, agora, à leitura do seguinte poema de Miguel Torga:
Biografia
Sonho, mas não parece.
Nem quero eu que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Textos e atividades complementares ao manual | 61
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta. Miguel Torga, Orfeu Rebelde
3.1. Qual a relação semântica que se estabelece entre o título e o conteúdo do poema? Como
poderá justificar-se o uso do vocábulo “biografia” num texto poético como o apresentado?
3.2. Determina o tema e o assunto do texto. Justifica a tua resposta, recorrendo a excertos
do poema.
3.3. Procura saber mais sobre a vida e a obra de Miguel Torga.
Distingue as afirmações verdadeiras (V) das falsas (F).
Miguel Torga
a) Nasceu em Lisboa em 1907.
b) Com treze anos, emigrou para o Brasil onde trabalhou e estudou.
c) Licenciou-se em Medicina na Faculdade de Medicina do Porto.
d) É autor de uma obra vastíssima e reconhecida nacional e internacionalmente.
e) A sua escrita engloba poesia, teatro, ficção narrativa, o “Diário” (16 vols.) e literatura de viagens e de
circunstância.
f) Faleceu em 1995.
3.4. Elabora uma nota biobibliográfica do autor, procurando ilustrá-la com alguns segmentos
textuais retirados da sua obra e/ou com imagens relacionadas com as vivências do escritor.
62 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 3
Lê, com atenção, o seguinte excerto do Diário de Sebastião da Gama:
janeiro, 12
“O que eu quero principalmente é que vivam felizes.”
Não lhes disse talvez estas palavras, mas foi isto o que eu quis dizer. No sumário,
pus assim: “Conversa amena com os rapazes”. E pedi, mais que tudo, uma coisa que
eu costumo pedir aos meus alunos: lealdade. Lealdade para comigo e lealdade de
cada um para cada outro. Lealdade que não se limita a não enganar o professor ou
o companheiro: lealdade ativa, que nos leva, por exemplo, a contar abertamente os
nossos pontos fracos ou a rir só quando temos vontade (e então rir mesmo, porque
não é lealdade deixar então de rir) ou a não ajudar falsamente o companheiro.
“Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não
sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já me esqueci. Estou aqui para ensinar umas
e aprender outras. Ensinar, não: falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde
quer que nos encontremos.”
Não acabei sem lhes fazer notar que “a aula é nossa”. Que a todos cabe o direito de falar, desde que fale
um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela. Sebastião da Gama, Diário.
1. Identifica e explicita o núcleo temático da página do diário que acabaste de ler.
2. Caracteriza a relação que se antevê entre o sujeito de enunciação e a personagem
coletiva aludida no texto.
3.
3.1. Transcreve do texto expressões nas quais se observe o recurso às seguintes estratégias
discursivas:
Repetição | Polissíndeto | Metáfora
3.2. Procura explicar a expressividade de cada uma delas.
4. Durante o teu percurso escolar, conheceste certamente professores com quem
estabeleceste importantes relações de afeto e apreço intelectual. A partir da evocação de
um desses professores e/ou de uma situação marcante vivida em contexto escolar, imagina
e redige uma página de um diário.
Textos e atividades complementares ao manual | 63
Atividade 4
Páginas de Diário (agosto de 1975)
Dia 10
Praia da Areia Branca. Céu azul, águas verdes, limosas, apertadas entre montanhas. Ataúro fica-nos
sempre à vista e logo atrás o dorso de Alor, como se realmente o mapa não mentisse, como se as ilhas fossem
poldras de rio e pudéssemos ir, pé aqui – Timor, Alor, Pantar, Lomblen, Flores, Sumbawa – pé ali – Lumbok, Bali,
Java, Samatra – até à península de Malaca!
Estrelas-do-mar roxas, azuis, às pintas, peixes transparentes, cobras de água que se metem entre as
pedras. Búzios, corais vermelhos, beijinhos amarelos, roxos, castanhos, irisados como cerâmica preciosa, restos
de conchas, brancas, duma brancura de cal recente, marfinadas, gastas e comidas pelo lamber manso da maré.
Sob o dossel das sombras, ralas, do palavão que refrescam a praia, sem a bainha de largas espumas,
espraia-se um mar de águas mornas, manselinhamente, um mar mulher. Praia da Areia Branca. Raiene Mutim.
Fim da tarde em Bidau-Stª Ana, onde está, às portas de Díli, o acampamento dos pescadores de Ataúro.
Vieram vender conchas, cascas de tartaruga, pescar. Depois do negócio feito regressarão à ilha, onde ficaram
as mulheres cujas mãos nos deixaram maravilhados. Que requinte em tudo! Haverá leque mais belo do que um
abano hexagonal de Ataúro? E as armadilhas para o peixe? Parecem gaiolas delicadas. Mas o mais belo são os
barcos: estreitos, em jeito de gomo ou talhada de fruto, são enquadrados por uma jangada oca que lhes dá asas
e que juntamente com a vela de esteira os torna aves maravilhosas, prestes a levantar-se num voo planado e
rasante. Os materiais são apenas dois: a madeira para as embarcações, remos, âncoras, óculos para mergulhar,
espingardas para a pesca submarina, cabos de faca; para as velas, cestos, sacos, panais de abrigo, armadilhas é
a palmeira delicadamente entrançada.
Há fogos de jantar: coze o milho com o feijão. Um rapaz vai colher do lado de lá da estrada umas folhas
de papaias que serão a hortaliça daquele caldo sem adubo.
Porcos pretos foçam a areia, à procura de restos, entre as cascas de coco e as espinhas de peixe.
É um acampamento de homens e rapazes. Só há uma mulher velha, desdentada, que está a medir milho.
Não sabe falar português e assim sorri apenas, num sorriso delicado, contido, que não deixa transbordar a linha
dos lábios. Tem o cabelo grisalho solto na brisa da tarde e os seus ganchos de tartaruga, em forma de estrela, de
cruz, de lua, delicadamente espetados numa cana de bambu parecem teclas dum exótico instrumento musical.Luísa Dacosta, Uma Rosa para Timor
O diário caracteriza-se, entre outros aspetos, pela forma como o autor regista, seguindo a
ordem cronológica, as suas impressões pessoais.
1. Identifica algumas das marcas do diário presentes neste excerto.
2. Localiza espacial e temporalmente o relato.
64 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 5
Em 1995, por ocasião da morte de Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner (1919-2004) dirige
a seguinte carta a Clara Rocha, filha do autor de Orfeu Rebelde:
Lisboa, Fev. 95
Querida Clara:
Do coração a acompanho no seu grande desgosto
com muita tristeza e muita saudade. De longe, à minha
maneira, tenho partilhado o seu luto.
Todos estes dias tenho estado consigo porque
incessantemente tem passado em minha frente um rio de
memórias.
Desde aquele dia dos meus anos em que logo de
manhã recebi, mandado por um amigo, o 1º volume do
Diário e li o primeiro poema:
“Deixem passar quem vai na sua estrada”.
Logo nesse momento reconheci a voz única,
inconfundível e quando tempos depois conheci o seu Pai
verifiquei que essa era a sua própria voz. Porque ele era
um com os poemas que escrevia.
Por isso agora revejo os gestos, as atitudes, a
maneira de falar. Havia nele o aprumo e a nobreza de um
homem ligado às suas raízes – e simultaneamente um
poeta para quem o estar e o viver também eram uma
poética.
Querida Clara sei quanto se sofre nestes
momentos em que a ausência começa. Não podemos
entender nada – só podemos confiar.
Mas a Clara tem a grande consolação de saber que
o seu Pai é alguém que se disse a si próprio, que ele vive
na obra que escreveu e que essa obra é a sua identidade,
o seu mundo, a sua voz, o seu amor pelas coisas. Que
continuam a estar connosco e com as gerações futuras.
Querida Clara acredite que de longe me sinto
perto de si, com muita tristeza e muita saudade.
Um beijo
Sophia
1. Recorrendo a expressões do texto, explica
o estado de espírito do emissor.
2. O que significa a afirmação “Porque ele
era um com os poemas que escrevia”?
3. Como interpretas a afirmação: “o seu pai é
alguém que se disse a si próprio”?
4. Recorrendo a excertos, explicita a imagem
que Sophia deixa transparecer de Miguel
Torga.
5. Como caracterizarias o relacionamento
da autora da carta e do escritor
desaparecido?
6. Atendendo, por exemplo, às fórmulas
de saudação e de despedida, que tipo de
relação se percebe existir entre o remetente
e o destinatário desta carta?
7. Comenta o texto seguinte, a partir dos
textos lidos anteriormente:
Um diário. Uma carta. Ou simplesmente as
memórias. Nós lemo-las com um prazer diferente
de uma obra de arte ou mesmo da arte que está
nelas. Não é bem o de saber o que aconteceu,
mas o de estarmos nós acontecendo nisso que
aconteceu. Ou seja, de prolongarmos a nossa vida
até lá. Vergílio Ferreira, Escrever
Textos e atividades complementares ao manual | 65
Atividade 6
Atenta, agora, no texto que se segue:
CARTA A SOPHIA
OU O QUINTO POEMA DO PORTUGUÊS ERRANTE
Querida Sophia: como os índios do seu poema
Também eu procurei o país sem mal.
Em dez anos de exílio o imaginei
como os índios utópicos também eu queria
um outro Portugal sem Portugal.
Mas quando regressei eu não o vi
como eles me perdi e nunca achei
o país sem mal.
Talvez a própria vida seja isto
passar montanha e mar sem se dar conta
de que o único sentido é procurar.
Como os índios do seu poema eu não desisto
sou um português errante a caminhar
em busca do país que não se encontra. Manuel Alegre, Livro do Português Errante
1. Identifica, no poema apresentado, marcas próprias
do discurso epistolar.
2. Procede ao levantamento dos traços de
autocaracterização do sujeito poético. O que
deduzes relativamente às suas vivências e/ou à sua
visão do mundo? Justifica a tua resposta.
3. Explicita as principais linhas temáticas do texto.
4. Como definirias o tipo de relacionamento entre o
emissor e o recetor? Justifica.Manuel Alegre (pintura de Carlos Botelho)
66 | Textos e atividades complementares ao manual
3. SOBRE O TEXTO LÍRICO
Atividade 1
O registo em vídeo do Massacre de Santa Cruz, ocorrido a 12 de novembro de 1991,
teve um impacto imediato, chamando a atenção de muitos povos e nações para a difícil
realidade timorense da altura. Os três poemas de João Aparício que se seguem foram
escritos ainda sob o efeito direto desses acontecimentos traumáticos. Lê com atenção os
textos e identifica os sentimentos que neles são evocados a propósito do massacre.
A – PÁTRIA AMADA
Díli, 12 de novembro de 1991
Em Díli, pelas ruas da cidade,
Dos jovens tanta união e tanta força!
Não tremem perante o olhar da ABRI,
Gritando palavras de ordem:
“Viva Timor Leste!
Viva Cristo Rei!
Viva Vaticano!
Viva Portugal!
Viva Xanana!
Viva a independência!
Viva a juventude de Timor Leste!”
Mar de sangue banha os seus corpos.
A Pátria desditosa chora indignada
E os jovens debaixo d’armas,
Em uníssono confiantes proclamam:
“Por Ti morremos, ó Pátria amada!”João Aparício, À Janela de Timor
Textos e atividades complementares ao manual | 67
B – TIMOR – PEDRA DE TOQUE SP Ermera (Timor), 14 de novembro
Timor,
Pátria da ha’u inan e dos aswa’in,
Está a escrever a sua História
Com letras de sangue e lágrimas;
Está a construir o Seu futuro
Com os cadáveres dos Seus filhos.
Timor,
Pátria dos firacos e do caladis,
Abalou a nusantara
Com o seu castelo e misteriosa arma;
Mobilizou a consciência planetária
Com a heroicidade das Suas gentes.
Timor,
Pátria de Xanana e dos jovens de Santa Cruz,
Continuará a bater os portões do mundo
Com a Sua mão cansada e ensanguentada;
Continuará a gritar para Portugal
Com a Sua voz de irmão de séculos.
Timor,
Pátria dos loricos e dos liurais,
É a pedra de toque para o mundo;
É a página viva e derradeira
Das gestas portuguesas dos descobrimentos…
Que Ela seja escrita e termine
Com letras de oiro e do lia na’in,
Com Timor Leste livre e independente.João Aparício, À Janela de Timor
C – HERÓIS DO DIA 12
Cemitério de Santa Cruz, Díli,
20 de novembro de 1991, entre as 12.00 e as 12.07
Por vós, ó heróis, eu choro,
Sem vos ver
Neste solo que adoro
Sem o ter…João Aparício, À Janela de Timor
68 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 2
Lâminas nos pés
O meu galo tem crista vermelha
ágil com lâminas relampejantes
nos pés
Acorda-me a cantar na madrugada
na região amada de Los Palos
Com lâminas relampejantes nos pés
dirijo-me ao centro
da batalha
Jorge Lauten, Enterrem meu coração no Ramelau
1. Este poema é dominado por uma certa exaltação do sujeito poético. A que se deve esse
sentimento de euforia?
2. Que relação poderá existir entre a luta de galos e o contexto timorense que conduziu à
escrita deste poema? Justifica.
3. A luta de galos tem um significado muito importante na cultura tradicional timorense.
Realiza um trabalho de pesquisa onde procures informações sobre esta prática, as suas
regras e o seu significado.
4. Elabora uma ilustração para este poema ou procura uma fotografia que o pudesse
ilustrar.
Textos e atividades complementares ao manual | 69
Atividade 3
Exílio
O búfalo com chifres de prata
poisa no nenúfar
no nenúfar do exílio
búfalo ou borboletaJorge Lauten, Enterrem meu coração no Ramelau
1. Relaciona o título do poema com o seu conteúdo. Que ideias te parecem mais relevantes?
2. A escrita de Jorge Lauten é particularmente simbólica. Identifica alguns dos símbolos
aqui presentes e esclarece o seu significado à luz da cultura timorense, em particular da
tradicional.
3. Escreve um poema com o mesmo título deste texto de Jorge Lauten. Que ideias podes
associar ao conceito de “exílio”?
4. Procura, junto de familiares, amigos ou conhecidos, averiguar mais sobre experiências
de exílio ou de diáspora de timorenses durante a ocupação. Se for possível, realiza algumas
entrevistas, de modo a poderes ficar com uma ideia mais concreta dos sentimentos destas
pessoas que saíram da sua Pátria para protegerem as suas vidas.
70 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 4
Menino de Timor3
Menino de Timor, estás triste?!... Porquê?!... – Não tenho com quem brincar! Nem com quem!... Já nem posso falar!... A minha terra correste e viste
Como só há silêncio e tristeza!... Assim é na palhota que habito!... Já nem oiço na várzea um só grito!... Só vejo gente que chora e reza!...
Que saudade que eu tenho dos jogos Da minha aldeia agora deserta!... O “la’o-rai”, que a memória esperta, Co’ as pocinhas na terra, ora a fogos
Mil sujeita!... O “caleic” também era jogo apreciado da pequenada: “Hana-caleic”!... de tudo já nada Resta agora!... Só vejo essa fera
De garra adunca e dente aguçado A rugir tão feroz que ninguém A doma já, pois tem medo não tem De um povo à fome, sem horta ou gado!...
Menino sou, mas sofro já tanto Como se fora de muita idade E co’a alma cheia só de maldade!... Jesus, tem pena deste meu pranto!...
Jesus Menino, dá-me alegria!... Se na minha terra é tudo tão triste!... Gente tão má neste mundo existe?!... Coisas assim tão ruins?!... Não sabia!...
Jorge Barros Duarte, in Sophia de Mello Breyner Andresen (org.). Primeiro Livro de Poesia
3 Este texto encontra-se igualmente trabalhado no Manual do Aluno. Aqui são sugeridas outras atividades de leitura com vista a exemplificar explorações diferentes de um mesmo texto literário.
Textos e atividades complementares ao manual | 71
1. O poema assume uma forma dialogada. Quem são os intervenientes na “conversa”?
2. Como entendes a opção do autor de dar “voz” a uma criança timorense?
3. Que ideias centrais caracterizam o testemunho desta criança?
4. A quem se dirige o menino de Timor? E que lhe pede?
5. Este texto, de uma simplicidade quase infantil, denuncia uma realidade particularmente
difícil. Como é apresentada e caracterizada?
6. A criança parece privada da sua infância, incluindo dos seus direitos mais básicos e
fundamentais. Faz o levantamento das queixas do menino.
7. A religiosidade do autor também perpassa este poema. Identifica marcas da sua presença
e explica o seu significado.
8. Procura outros poemas deste autor onde sejam denunciadas as condições de vida em
Timor-Leste e constrói um pequeno álbum poético. Se for possível, ilustra e procura divulgar
os textos na escola e na comunidade.
9. A questão dos direitos da criança assume, desde 1959, data em que a Assembleia das
Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos da Criança, uma particular relevância.
Realiza uma pesquisa sobre esta Declaração e expõe os resultados do trabalho na escola em
local visível. Se for possível, relaciona esses direitos com o poema estudado.
Atividade 5
Observa com atenção estes dois qua-
dros de Xanana Gusmão inspirados
em paisagens timorenses. Elabora
um texto poético onde recries as
emoções que a paisagem desperta
em ti, procurando combinar elemen-
tos de descrição objetiva com outros
de cariz mais subjetivo. Não te es-
queças de escolher um nome suges-
tivo para o teu texto. Em alternativa,
podes também redigir uma pequena
crónica ou um texto de caráter autobiográfico, como uma página de um diário, por exemplo.
72 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 6
Autor paradigmático da literatura timorense, sobretudo no domínio da poesia, Fernando
Sylvan é o pseudónimo de Abílio Leopoldo Motta-Ferreira (Díli, 26 de agosto de 1917 – Cascais, 25
de dezembro de 1993). A sua obra, apesar de relativamente abundante e variada, encontrava-se
dispersa, nomeadamente em diferentes coletâneas, e pouco acessível aos leitores e investigadores.
Com a edição de A Voz Fagueira de Oan Tímor (1993), pela Colibri, é possível ter uma visão mais
completa da sua produção. Os organizadores, em nota final ao volume, afirmam:
A razão principal deste agrupamento de poesias de Fernando Sylvan, por nós denominado A Voz Fagueira
de Oan Tímor, é tornar acessível ao público a obra poética que se sabe existir, mas que poucos desfrutaram, fosse
por raridade das edições, difusão restrita, circunstâncias várias.
Fernando Sylvan é bastante conhecido e merece apreço:
– já pelo seu trajeto cívico, iniciado há longos anos, desde quando em Portugal era difícil ou perigoso
expressar opiniões abertamente;
– já pelo denodo com que desenvolve uma importante atividade de animador cultural à frente da
Sociedade da Língua Portuguesa, ligando pessoas de diferentes e apartados lugares, dedicadas ou curiosas pelas
coisas do idioma luso. Ademais, contribuindo com o seu jeito de atuação para preservar a Sociedade da Língua
Portuguesa como um espaço cultural aberto, onde indivíduos muito diversos em ciência, estar, pensar ou ser,
podem encontrar-se e tomar a palavra;
– já pela assunção clara da sua origem insular e o seu altear de voz junto ao povo resistente de Timor-Leste;
– já pelo que escreve.
Contudo, a obra de Fernando Sylvan – criador literário – é, no seu conjunto, menos lida/interpretada/
usufruída/reconhecida, apesar do seu valor e recorte próprios, de alguns textos haverem sido largamente
difundidos, existirem traduções em diversas línguas (inglês, francês, italiano, sueco, japonês...), grupos culturais
leste-timorenses desfraldarem os seus versos de Oan Tímor (“filho de Timor” em tétum) na reivindicação de
chão e de identidade e de liberdade.
A Voz Fagueira de Oan Tímor manifesta a viva voz de um poeta profundamente empenhado em cantar
uma certa universalidade que transborda muito para além do idioma luso. […]
Estamos convictos de que esta compilação, ora publicada, aproximará leitores dos mais diversos
quadrantes de um Timor-Leste cultural ignoto. Oxalá este horizonte de expetativa se cumpra.
Cremos que no dia em que a história da cultura leste-timorense se escreva, Fernando Sylvan terá nela,
certamente, um lugar de relevo. Artur Marcos e Jorge Marrão
Textos e atividades complementares ao manual | 73
dia do trabalho maio de 72
ECONOMIA ANTIGA
Cacau
Chá
Café
Açúcar
Algodão
Borracha
Tabaco
Ouro do colonizador
Sepulturas de escravos sem uma flor.Fernando Sylvan, A Voz Fagueira de Oan Tímor
1. Explica, por palavras tuas, o título do poema.
2. O texto configura uma crítica severa a um modelo político e económico que, no caso
de Timor-Leste, também vigorou durante parte significativa da sua história. Identifica-o e
explica, de acordo com o texto, quais as críticas de que é alvo.
3. A enumeração das matérias-primas evoca simultaneamente riqueza e morte. Como
explicas esta oposição?
4. Explica, por palavras tuas, o sentido do último verso do poema.
5. Realiza uma breve pesquisa sobre as matérias-primas timorenses e, inspirando-te numa
delas, procura criar um poema onde a associes à identidade do teu país.
74 | Textos e atividades complementares ao manual
Atividade 7
98
Não sei qual a rota do navio.
Sei que partiu.
Sozinho à chuva ao vento ao sol ao frio
fico no cais.
Não acredito que não voltes mais.Fernando Sylvan, Mulher ou o livro do teu nome
1. O poema exprime a dor da partida da mulher amada, mas também uma certa incredulidade face a este facto. Para além do último verso, que outras referências ilustram esse sentimento?
2. O desconhecimento do destino da mulher atenua ou aumenta a dor do sujeito poético? Justifica.
3. Identifica o recurso expressivo presente no verso “sozinho à chuva ao vento ao sol ao frio”.
4. Imagina um título adequado para este breve poema e justifica a tua escolha.
Atividade 8
101
Moras no meu corpo.
Ainda que dês outra morada.Fernando Sylvan, Mulher ou o livro do teu nome
1. Em apenas dois versos, o sujeito poético consegue sintetizar todo um conjunto de sentimentos complexos. Quais te parecem mais relevantes neste texto?
2. Explica a metáfora expressa no primeiro verso.
3. Inventa um título para o poema e justifica a tua opção.
4. Este é o poema que encerra o volume “Mulher ou o livro do teu nome” (1982). Relaciona o texto com o título da antologia e procurar explicar o significado de que se reveste por ser o último.
Textos e atividades complementares ao manual | 75
Atividade 9
Na década de 90, influenciados pelas notícias que iam chegando de Timor, os portugueses
uniram-se num movimento de solidariedade sem precedentes. Músicos e poetas
manifestaram artisticamente as suas preocupações e deram voz ao desejo de liberdade e de
autodeterminação dos timorenses. Este poema, transformado em canção, ecoou durante
muito tempo nas rádios e nas manifestações espontâneas que se realizaram na altura:
Timor
Andam lá sem descansar,
Nas montanhas a lutar
Iluminam todo o mar
De Timor
Nas montanhas sem dormir
Uma luz a resistir
Arde sem se apagar
Em Timor
Andorinha de asa negra
Se o teu voo lá passar
Faz chegar um grande abraço,
Dá saudades a Timor
Eles não podem escrever,
Porque vão a combater
Vão de manhã defender
A Timor
As crianças a chorar,
Não as posso consolar
Que eu nunca cheguei a ver
A Timor
Andorinha de asa negra
Vem ouvir o meu cantar
Ai que dor rasga o meu peito
Sem notícias de Timor
Nunca mais hei de voltar
Já não posso lá voltar
À idade de lembrar
A Timor
Estão lá a descansar
Nas montanhas a lutar
Iluminam todo o mar
De Timor
Andorinha de asa negra
Vem ouvir o meu cantar
Ai que dor rasga o meu peito
Sem notícias de Timor
Andorinha de asa negra
Se o teu voo lá passar
Faz chegar um grande abraço,
Dá saudades a Timor
76 | Textos e atividades complementares ao manual
1. O sujeito poético parece endereçar uma mensagem a Timor. Identifica o mensageiro e procura
explicar as razões da sua escolha.
2. Qual o estado de espírito que domina o sujeito poético? O que origina esses sentimentos?
3. Que mensagem é enviada? Qual o seu significado? Exemplifica com expressões retiradas do texto.
4. Na ligação seguinte, podes ver e ouvir o grupo Resistência a interpretar ao vivo a música que
dedicou a Timor, na década de 90 do século XX: http://www.youtube.com/watch?v=Ez8RXD22Bx4&f
eature=related
Atividade 10
Lê o seguinte poema da autoria do poeta português Manuel Alegre:
Timor em casa
Para Francisco Alegre Duarte, meu filho
Nos dias da Unamet tu chamavas
ouviam-se tiros ao telefone e eu sabia
que de nada valiam as palavras.
Não eras só tu que estavas desarmado
éramos nós aqui no peso de cada dia
cercados de milícias por todo o lado
dentro da Unamet e dentro da casa sem ti
o cerco estava em Díli e estava
aqui
e a resistência era a tua mãe que não chorava
o teu irmão sem armas mas soldado
a tua irmã que perguntava perguntava.
Confesso que por vezes me arrepiava
o poema de Pessoa e a fria aragem
do Menino de sua Mãe mas eu sabia
de manhã ao telefone repetirias a mensagem
“Não podemos abandonar outra vez Timor”.
Serenamente sem retórica não havia
na tua voz qualquer alarde ou sombra de temor
apenas a discreta difícil coragem
de quem estava a fazer o que devia.
Manuel Alegre, Livro do Português Errante
1. Identifica o momento histórico que serve de pretexto à escrita deste poema.
Que elementos te ajudam nessa identificação?
2. Escrito num contexto particular muito específico, este poema exprime, simultaneamente,
a preocupação de um pai em relação ao filho, mas também a de um português em relação a
Timor-Leste. Explica, apoiando-te em expressões do texto, esta dupla dimensão expressa
no poema.
3. Como interpretas a referência ao poema de Fernando Pessoa, Menino de Sua Mãe?
Textos e atividades complementares ao manual | 77
4. A que acontecimento se refere o sujeito poético no verso “Não podemos abandonar
outra vez Timor”?
5. Pesquisa, por exemplo no sítio do Museu da Resistência Timorense (http://amrtimor.
org/), notícias sobre a forma como a comunicação social portuguesa noticiou os dias a
seguir ao Referendo e relaciona-as com o conteúdo do poema lido.
3.1 Sobre Ruy Cinatti
A própria poesia e a criação poética são alvo de tratamento na obra de Ruy Cinatti. As atividades que se seguem propõem uma aproximação a este tema e podem ser objeto de trabalho com os alunos:
Atividade 1
ética poética
A mão
estende-se à mão,
recria
a criação.
O poema
segue o destino
da natureza.
Sereno afirma-se
interjeição,
aperto de mão.
O poema
Imprime
convívio. Ruy Cinatti, archeologia ad usum animae
78 | Textos e atividades complementares ao manual
1. Como, desde logo, o título permite deduzir, o poema propõe uma reflexão sobre a
desejável aliança entre ética e estética na criação poética.
1.1. Explicita a relação entre a metáfora da mão (“A mão /estende-se à mão”; “aperto de
mão”) e a defesa de uma poesia solidária.
1.2. De entre as afirmações a seguir apresentadas, escolhe aquela(s) que te parece(m) mais
adequadamente sintetizar a conceção de poesia expressa no texto:
a) A poesia deve firmar um compromisso com a experiência dos homens.
b) A poesia deve distanciar-se do mundo, propondo um universo alternativo, alheado das
dores dos homens.
c) O poema deve ser transitivo e comunicante, cumprindo-lhe interpelar todos os homens.
d) O poema deve procurar dirigir-se a uma elite e não ter a pretensão de chegar a todos os
homens.
2. Como salienta Maria João Borges (“Cinatti: a poesia como investidura”, Revista Ler), “Ética
e estética são indissociáveis; vida e poesia têm a exigência de compromisso a assumir, o
que se torna patente nas causas diversas que Cinatti elegeu e foram tema da sua obra”.
Comenta estas palavras, discutindo a sua pertinência para o caso do poema “ética poética”.
Textos e atividades complementares ao manual | 79
Atividade 2
arte poética
A poesia faz-se com palavras.
Palavras: língua – dizem
os neocaledónios –,
do kamo – fábula,
língua pendente
nos dentes.
Com a poesia diz-se sim a tudo.
Palavra-língua
que desobriga: urgente
alma experimentada.
A poesia faz-se com palavras
de língua viva – digo,
seja! – palavras
quentes.
Ai dos que mastigam só palavras
sem estarem presentes! Ruy Cinatti, archeologia ad usum animae
1. A expressão arte poética designa, regra geral, um tratado que prescreve regras de
composição literária. Explica em que medida a orientação normativa indiciada pelo título é
confirmada pelo desenvolvimento do poema.
2. O sujeito poético reitera a convicção de que a poesia se faz com “palavras de língua viva”
e “palavras quentes”. Considerando que Cinatti defende uma poesia comprometida com o
real e com o humano, sugere algumas palavras que assim pudessem ser classificadas.
3. Os dois versos finais (“Ai dos que mastigam só palavras / Sem estarem presentes”!) funcio-
nam como uma síntese da arte poética exposta ao longo do texto. Esclarece o seu sentido.
VII. Textos de apoio
80
1. UM BREVÍSSIMO OLHAR SOBRE A LITERATURA DE TIMOR, de João Paulo T. Esperança
Antes de mais, um esclarecimento se impõe. Porquê literatura “de Timor” e não “timorense”? É que
não pretendo limitar-me aqui aos autores nacionais, mas sim incluir também um pouco daquilo que há para ler
de naturais de outras paragens que tenham tomado Timor como tema literário. Não me irei debruçar sobre as
recolhas de literatura oral e tradicional, tema que guardarei para outra oportunidade. Não quero, no entanto,
deixar de chamar a atenção para o facto de que muito poucas das que foram até hoje publicadas são realmente
merecedoras deste rótulo. Uma recolha feita com critérios científicos tem como um dos seus princípios-base o
reconhecimento da existência de múltiplas versões do mesmo “texto”, as quais devem ser registadas da forma
mais fiel possível ao que foi realmente enunciado pelos informantes. O registo na língua original é condição
absolutamente essencial. Só depois se pode partir para uma análise minimamente credível. Uma das obras
que se aproximam deste método é Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, publicada em 1961 pelo Padre
Artur Basílio de Sá (1), apesar de o texto em tétum térique das lendas ter sido depurado e fixado pelos mestres-
escola Paulo Quintão e Marçal Andrade. Também merecedora de destaque é a compilação (sem aparato crítico)
The Book of the Story Teller (2), dado à estampa na Austrália em 1995, na qual apenas o título e algumas notas
introdutórias estão em inglês, mantendo-se nos textos em tétum as expressões e repetições características da
performance oral do contador de histórias. A grande maioria das restantes coletâneas da arte verbal dos timorenses
é afinal uma reformulação mais ou menos literária, inspirada na tradição, mas recriada numa outra língua.
Antes da chegada dos portugueses a Timor, no início do século XVI, já outros povos visitavam estas costas
para fazer comércio de sândalo, essencialmente chineses, malaios e javaneses. Dado que os povos de Timor não
conheciam a escrita, foram estes estrangeiros os primeiros a deixar breves apontamentos sobre a ilha e os seus
habitantes. Foram os portugueses, porém, que começaram a estabelecer-se permanentemente, principalmente
através de missionários católicos, séculos antes da efetiva ocupação colonial do território. Gradualmente viriam
a aparecer monografias, memórias, dicionários e livros de orações em línguas locais, da autoria de religiosos,
militares, administradores, viajantes e deportados. Um dos mais conhecidos é A Ilha Verde e Vermelha de Timor,
de Alberto Osório de Castro, primeiro publicado na revista Seara Nova, em junho de 1928 e junho de 1929, e
depois, em livro, pela Agência Geral das Colónias, em 1943. Recentemente foi reeditado pela Cotovia (3). Trata-
se de um peculiar livro de viagens, escrito em prosa poética, cheio de informações exaustivas sobre a ilha, a
sua natureza e as suas gentes. Um pequeno volume de Paulo Braga, A Ilha dos Homens Nus (4), é digno de nota
pela forma como o autor faz a descrição do Ataúro visto (recriado?) pelos seus olhos idealistas: uma sociedade
tradicional libertária, sem exploração do homem pelo homem, onde impera o amor livre. A época do colonialismo
fez surgir também um tipo de ficção a que chamamos hoje “literatura colonial”, que na definição clássica de
Pires Laranjeira é aquela que é “escrita e publicada, na maioria esmagadora, por portugueses de torna-viagem,
numa perspetiva de exotismo, evasionismo, preconceito racial e reiteração colonial e colonialista, em que a
visão de mundo, o foco narrativo e as personagens principais eram de brancos, colonos ou viajantes, e, quando
integravam os negros, eram estes avaliados superficialmente, de modo exógeno, folclórico e etnocêntrico, sem
profundidade cultural, psicológica, sentimental e intelectual” (5). Em Timor, um bom representante deste género
é Caiúru, de Grácio Ribeiro (6). Novela de pendor autobiográfico, conta-nos as aventuras e desventuras de um
jovem comunista deportado por atividades políticas contra o regime fascista em Portugal, que aqui vive um idílio
Textos de apoio | 81
amoroso com uma nona de nome Caiúru. Apesar de mostrar alguma simpatia com os condenados a trabalhos
forçados e com os revoltosos de Manufahi, e de se orgulhar de, ao contrário dos camaradas, não espancar os
criados, a sua situação privilegiada de branco fala mais alto do que as suas inclinações políticas, e ei-lo a tomar
atitudes de senhor todo poderoso dos destinos do seu semelhante autóctone.
O livro constitui um interessante documento sociológico, que nos mostra aspetos da realidade da época,
nomeadamente como se processava a compra de uma nona – que lhe custou mais barata do que o cavalo
que também adquiriu. As nonas são assunto recorrente da literatura escrita por metropolitanos, talvez por
constituírem um dos lados da sociedade local com que mais de perto interagiam, representando assim as moças
para os seus companheiros expatriados um papel de janela para o mundo timorense. Grácio Ribeiro retoma o
tema da vida dos deportados políticos num romance publicado posteriormente (7).
Já integrado na corrente da literatura pós-colonial, e fortemente crítico dos males do colonialismo,
destaco Corpo Colonial (8), “um romance profundamente feminino, que nos conta o percurso de Alitia, mulher
de um alferes miliciano colocado em Timor, colónia distante e esquecida onde a guerra colonial não chegou
e o tédio é o principal inimigo dos militares. Pode dizer-se que é um livro de leitura difícil, onde o desenrolar
da narrativa é constantemente interrompido por longos monólogos filosóficos ou diálogos inverosímeis sobre
questões existenciais, mas que nos oferece um interessante painel sobre a vivência das mulheres dos militares
colocados naquela ilha entre a Ásia e a Oceânia e sobre a própria condição de ser mulher. É também um
romance de desencanto, de traições e de vidas incompletas.” (9). O enredo anda em torno da aproximação
entre a protagonista e Manucodiata, a jovem prostituta timorense que o seu marido frequenta, e dá conta de
uma realidade nova nas relações entre os metropolitanos e algumas mulheres locais: “Antigamente, os brancos
barlaqueavam as nonas. Depois da vinda da tropa contentam-se em dar dinheiro para abaixar o sarão” (Ruas,
1981: 16). Um livro de sinal completamente oposto ao da literatura colonial é Uma deusa no “inferno” de Timor,
de Francisco A. Gomes (10). Este livro pertence ao que poderíamos chamar uma “literatura de remorso”, cheio de
referências depreciativas a tudo o que seja português e de personagens timorenses (principalmente mulheres)
revolucionárias cheias de seguidores, completamente anacrónicas, fantasistas e desenquadradas do que era
a realidade histórica e social local nas épocas em se situa a ação. Retomando uma vez mais o velho tema,
temos A nona do Pinto Brás (Novela Timorense) (11). Trata-se de uma pequena novela, ambientada nos anos que
precedem o fim da administração colonial portuguesa, cujo autor demonstra um conhecimento mais profundo
da cultura e história timorenses, ainda que na narrativa praticamente só nos seja dado a conhecer o ponto de
vista dos magalas sobre o que vai acontecendo – quase nada ficamos a saber afinal sobre Joaquina Mêtan, a sua
maneira de ver o mundo, as suas reais emoções e relações sociais, para lá da sua existência enquanto nona de
um malai. O livro é assinado por Filipe Ferreira, mas o estilo da escrita leva-me a formular a hipótese de que este
seja o nome literário escolhido pelo grande historiador de Timor e da presença portuguesa na Ásia, Luís Filipe F.
R. Thomaz.
Saltemos de seguida para o mundo da poesia, agora da pena de autores timorenses. Destes o mais
representativo será talvez Fernando Sylvan, pseudónimo literário de Abílio Leopoldo Motta-Ferreira. Tendo sido
levado para Portugal ainda criança, jamais perdeu a identificação afetiva com a sua terra natal, motivo constante
da sua poesia, a par com temas mais universais como a celebração do amor e da mulher amada. Intelectual
empenhado, ocupou durante bastantes anos o cargo de Presidente da Sociedade da Língua Portuguesa. O
82 | Textos de apoio
essencial da sua obra poética está reunido no livro A Voz Fagueira de Oan Tímor (12). Faleceu no dia de Natal de
1993. Eis um pequeno texto, publicado então por Luís Cardoso (“Takas”) no Kaibauk – Boletim de Informação
Timorense (13):
“Fernando Sylvan ou
O Silêncio das Palavras
Depois
(mas só depois)
os galos lutarão sem lâminas.
Este é o poema dedicado a Xanana Gusmão. Fernando Sylvan era um poeta para quem as palavras e só
as necessárias deviam ser ditas. Pois o silêncio não é o vazio das palavras. Mas, no dia 25 de dezembro, quando
todos procuravam as mais variadas palavras para saudarem o Nascimento do Menino, Fernando Sylvan calou-
se. E o seu pequeno corpo curvou-se sob o peso do silêncio que, desta vez, tinha o peso de todas as palavras.
Do exílio, desde os tempos de menino e depois de décadas de ausência da ilha querida, fizeram com que ele
próprio construísse com palavras ilhas que salpicavam o oceano do seu silêncio e tormento. Estudou o idioma
português e usou a sua escrita como “ai-suak” para escavar até ao fundo das palavras onde procurava o que unia
todas as línguas, entre as quais, a da sua infância.
Finalmente, no dia de todos os nascimentos, Fernando Sylvan deixou-se cair nos braços da mãe de todas
as línguas: o silêncio ou a palavra muda.”
Sylvan é um dos poetas timores incluídos na coletânea Enterrem meu coração no Ramelau (14), publicada
em Luanda pela União de Escritores Angolanos (UEA), ao lado de José Alexandre Gusmão, Jorge Lautén, e outros
menos dotados literariamente, que o tempo se encarregou de fazer esquecer. Dois casos na poesia timorense são
representativos da literatura profundamente alinhada ideologicamente, Borja da Costa (incluído na coletânea da
UEA), na esquerda revolucionária, e Jorge Barros Duarte (15), na direita reacionária. O já citado José Alexandre
Gusmão, mais conhecido por Xanana, atualmente Presidente da República, publicou em 1998 Mar Meu – Poemas
e pinturas (16), escrito na prisão. Diz-nos o escritor moçambicano Mia Couto no prefácio: “E naquelas páginas
confirmei: pela mão de um homem se escreve Timor. Um livro de Xanana Gusmão não poderia ser apenas um
livro. Por via da sua letra se supõe falar todo um povo, uma nação. Há ali não apenas poesia mas uma epopeia
de um povo, um heroísmo que queremos partilhar, uma utopia que queremos que seja nossa.” Esta primeira
edição é bilingue, com tradução para inglês de Kirsty Sword e Ana Luísa Amaral; mais tarde surgiria uma nova
edição, também bilingue, com apoio do Instituto Camões, traduzida para tétum por Luís Costa. João Aparício é
outro nome a reter, com dois livros de poemas publicados pela Caminho, À janela de Timor (17) e Uma casa e
duas vacas. Um outro, sob o pseudónimo Kay Shaly Rakmabean, foi publicado pela Real Associação de Braga,
com o título Versos do Oprimido (18). Abe Barreto, que na sequência do massacre de Santa Cruz, aproveitou
Textos de apoio | 83
a presença no Canadá num programa de intercâmbio de estudantes universitários para pedir asilo político, e
que veio a distinguir-se como cantor de intervenção ao lado do ativista canadiano Aloz MacDonald, publicou
na Holanda, em 1995, Menari Mengelilingui Planet Bumi (Dançando à volta do planeta Terra), poesia em língua
indonésia, e em 1996, na Austrália, Come with me singing in a choir. Há outros jovens autores timorenses que
se têm expressado poeticamente, alguns com livros já publicados, outros com colaboração dispersa por jornais
e boletins diversos. Cito dois: Crisódio Araújo e Celso Oliveira. Um poeta que, ainda que português, se salienta
pela sua identificação e proximidade espiritual com Timor e os timorenses, além da qualidade literária dos seus
escritos, é Ruy Cinatti. Poeta, agrónomo, antropólogo, botânico, a sua obra é vasta e conhecida, incluindo os
títulos Nós não Somos Deste Mundo (1941), Poemas Escolhidos (1951), O Livro do Nómada Meu Amigo (1966),
Sete Septetos (1967), Borda d’Alma (1970), Uma Sequência Timorense (1970), Cravo Singular (1974), Timor – Amor
(1974), O A Fazer, Faz-se (1976), Poemas (1981), Manhã Imensa (1982), e Um Cancioneiro para Timor (1996).
São escassos os escritores timorenses a dedicarem-se ao romance. Ponte Pedrinha, pseudónimo literário
de Henrique Borges, é autor de Andanças de um Timorense, publicado em 1998 pelas Edições Colibri (19). O
poeta moçambicano José Craveirinha escreve no prefácio: “Mágoa imensa tão belo canto ter produzido este
frágil texto. Frágil e modesto mas incontestavelmente sincero. Sincero e Grande!”. Episódio crucial na estrutura
da narrativa é o desrespeito, por parte do jovem casal Kotená e Kêti-Kia, de uma antiga tradição dos ataúros,
segundo a qual a noiva na noite de núpcias devia partilhar o leito não do seu marido mas de um tio deste. O
mesmo costume é referido pelo Padre Jorge Barros Duarte: “Decorridos dois ou três dias sobre a fase preliminar,
a mãe do noivo vai buscar a noiva a casa dos pais desta e leva-a para casa do noivo. É nesta fase que o irmão
mais novo do pai do noivo roi tada (“experimenta” intimamente, i.e. desflora) a noiva.” (20) Numa posição de
relevo, temos finalmente Luís Cardoso, o mais genial dos autores timorenses, com três romances publicados,
além de colaboração dispersa por vários jornais e revistas. Crónica de uma travessia – A época do ai-dik-funam
(21) é um relato autobiográfico que acompanha a história recente de Timor e uma série de travessias quer físicas
quer interiores na vida do narrador e do seu pai, tudo a acontecer num universo mágico que em Timor impregna
também a História, ou a perceção que as pessoas têm da História. Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo (22) entra
mais fundo nesse mundo do fantástico, e vai à procura de mitos fundamentais do imaginário coletivo timorense,
como os que rodeiam a revolta de Manufahi. A última morte do Coronel Santiago (23) maneja habilmente
as técnicas narrativas enquanto vai contando as aventuras de figuras que incluem um escritor alter ego do
autor, apaixonado pela personagem feminina principal do último romance deste. O maravilhoso e o fantástico
do sobrenatural timorense fundem-se com a ironia típica de Luís Cardoso e com referências abundantes aos
ambientes, obras e referências de uma certa intelectualidade de esquerda europeia e moderna.
Saindo novamente da esfera da produção nativa, dois livros mais merecem ser aqui mencionados, dentro
do que podemos denominar de “literatura de denúncia”. Saksi Mata (24) (Testemunha Ocular) é um conjunto
de contos ambientados no Timor da época da repressão indonésia, escritos por Seno Gumira Ajidarma, um dos
autores mais significativos da geração mais recente da literatura indonésia. Os contos foram sendo publicados
em jornais daquele país, depois de Ajidarma ter sido demitido das funções que exercia na revista Jakarta Jakarta
por ter noticiado o massacre de 12 de novembro de 91. Uma pequena editora, a Bentang Budaya, fez sair a
primeira edição em livro em 1994. A obra vai ser brevemente publicada em tétum pela Timor Aid, com tradução
de Triana Oliveira. Estou a traduzi-la também para português, mas ainda sem editor à vista. Um outro volume
84 | Textos de apoio
digno de atenção é A redundância da coragem (25) de Timothy Mo, publicado originalmente em inglês em 1991.
O autor, filho de mãe inglesa e pai cantonês, consegue descrever admiravelmente a sociedade timorense dos
últimos tempos da administração portuguesa, os primeiros anos da guerra no mato, e a vida dos que depois
se renderam ou foram capturados, tudo isto pela boca sarcástica do narrador Adoph Ng, um chinês timorense,
homossexual e homem do mundo algo deslocado na sua terra natal, já que o pai o tinha mandado fazer os
estudos universitários em Toronto, no Canadá.
A literatura escrita por timorenses tem sido, com poucas exceções, fundamentalmente em língua
portuguesa, veículo de afirmação de resistência, identidade e nacionalidade. Creio que a geração atual, que se
vai libertando da pressão cultural dos anos passados a decorar o Pancasila em indonésio, não tardará a fazer
nascer também uma literatura pujante de vida e de novidade em tétum. Vamos lendo e vendo...
Notas:(1) Sá, Artur Basílio de (ed. crítico) – Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, vol. 1, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar / Centro de Estudos Políticos e Sociais, 1961.
(2) Pereira, Ágio [compilador] – Timor: The book of the story-Teller. Cabramatta (Austrália), Timorese Australian Council, 1995.
(3) Castro, Alberto Osório de – A ilha verde e vermelha de Timor. Lisboa, Livros Cotovia, 1996.
(4) Braga, Paulo – A ilha dos homens nus. Lisboa, Editorial Cosmos, 1936.
(5) Laranjeira, Pires – Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa. Lisboa, Universidade Aberta, 1995, p. 26.
(6) Ribeiro, Grácio – Caiúru. Lisboa, coleção “Amanhã”, 1939.
(7) Ribeiro, Grácio – Deportados. s. l., edição do autor (?), 1972.
(8) Ruas, Joana – Corpo colonial. Coimbra, Centelha, 1981.
(9) Esperança, J. P. – Uma leitura lilás de Corpo colonial de Joana Ruas, in: “Revista Lilás”, Amadora (29), Dez. 2000, p. 15-29.
(10) Gomes, Francisco A. – Uma deusa no “inferno” de Timor. Braga, Ed. Do autor, 1980.
(11) Ferreira, Filipe – A nona do Pinto Brás (Novela Timorense). Lisboa, ERL – Editora de Revistas e Livros, 1992.
(12) Sylvan, Fernando – A voz fagueira de Oan Timor. Lisboa, Colibri, 1993.
(13) “Takas”, Luís – Fernando Sylvan ou o Silêncio das Palavras.”Kaibauk – Boletim de Informação Timorense”, Linda-a-Velha, 1(7), Jan-Fev 1994, p. 14.
(14) União dos Escritores Angolanos – Enterrem meu coração no Ramelau – Poesia de Timor-Leste. Luanda, 1982.
(15) Duarte, Jorge Barros – Jeremíada. Odivelas, Pentaedro, 1988.
(16) Gusmão, Xanana – Mar Meu – Poemas e Pinturas / My Sea of Timor – Poems and Paintings. Porto, Granito, 1998. Gusmão, Xanana – Mar Meu – Poemas e Pinturas / Tasi Há’un – Dadolin no Taturik. Porto, Granito / Instituto Camões, 2003.
(17) Aparício, João – À janela de Timor. Lisboa, Caminho, 1999.
(18) Rakmabean, Kay Shaly – Versos do Oprimido. Braga, Real Associação de Braga, 1995.
(19) Pedrinha, Ponte – Andanças de um timorense. Lisboa, Colibri, 1998.
(20) Duarte. Jorge Barros – Timor – Ritos e Mitos Ataúros. Lisboa, ICALP, 1984, p. 49.
(21) Cardoso, Luís – Crónica de uma Travessia – A época do ai-dik-funam. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997.
(22) Cardoso, Luís – Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001.
(23) Cardoso, Luís – A última morte do Coronel Santiago. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2003.
(24) Ajidarma, Seno Gumira – Saksi Mata, cetakan kemmpat. Yogyakarta, Yayasan Bentang Budaya, 2002.
(25) Mo, Thimothy – A redundância da coragem. Lisboa, Puma Editora, 1992.
Mealibra – Revista de Cultura, Viana do Castelo (Portugal): Centro Cultural do Alto Minho, série 3, 16, verão 2005, pp. 131-134,
http://www.timorcrocodilovoador.com.br/culturasociedade-joaopaulo03.html (28-12-2008)
Textos de apoio | 85
2. LITERATURA: ENTRE A TRADIÇÃO ORAL E A ESCRITA
Os timorenses têm formas de expressão próprias: umas antigas, transmitidas oralmente de
acordo com a tradição étnica, outras reveladas pela escrita. Proceder ao inventário de escritores
e textos timorenses é uma tarefa que não se apresenta fácil, pois as publicações são díspares,
geográfica e linguisticamente. Além disso, existem possivelmente inúmeros “textos na gaveta” e só
agora, com condições mais favoráveis no território, se vai tornando possível tomar consciência da
verdadeira dimensão da literatura timorense e assistir à sua emergência e consolidação.
Escritores
Entre os escritores leste-timorenses encontramos Fernando Sylvan, poeta, dramaturgo e ensaísta que foi
presidente da Sociedade de Língua Portuguesa, Francisco Borja da Costa, morto durante a invasão indonésia em
1975 e Xanana Gusmão, o líder carismático da resistência timorense que, em 1993, por ocasião do LX Congresso
do Pen Club International, em Santiago de Compostela, foi considerado, pela comissão do clube de apoio aos
escritores perseguidos, um dos casos a serem seguidos.
Jorge Lauten, José Ramos-Horta, o conhecido diplomata timorense e atual presidente da república,
Jorge Barros Duarte, sacerdote timorense, oriundo de Same, que se evidenciou como escritor político, poeta
e antropólogo, Ponte Pedrinha, romancista timorense oriundo de Same e, finalmente, Luís Cardoso, com dois
livros publicados, o primeiro dos quais Crónica de uma Travessia traduzido em várias línguas, são outros nomes
de vulto na literatura timorense.
Em termos de nomes femininos, referimos dois que integraram a diáspora australiana: Maria Alice
Branco, que compôs poemas e peças de teatro para a rádio e para os palcos em três línguas (tétum, português e
inglês), e Filomena de Almeida, bióloga, cujos textos são essencialmente de índole política.
Mas outros timorenses na diáspora, talvez menos conhecidos, escreveram histórias, ou traduziram-nas
para português e inglês, numa tentativa de divulgar a cultura timorense. Entre estes, encontramos Cristina Lopes,
uma timorense nascida em Hali-Talas, que escreveu belíssimos poemas, usualmente repetidos entre as mulheres
da sua aldeia, além de alguns contos tradicionais, e Paulo Quintão da Costa, oriundo de Samoro, professor em
Timor-Leste, que, profundamente envolvido na cultura oral timorense durante longos anos, foi o responsável
pelo fornecimento de imenso material tanto a editores australianos, como portugueses, passando para a escrita
lendas da tradição oral timorense. António e Teresa Oliveira, Luís da Costa, Armindo da Costa Tilman, Marçal
de Andrade, Albina da Costa, Apolinário Guterres, Francisco Fernandes, Luís Cardoso de Noronha e Kay Shaly
Rakmabean são apenas alguns nomes entre muitos. Os seus contributos têm um valor enorme, tanto ao nível
científico como patriótico, uma vez que é através da escrita de um povo que se poderá iniciar a descoberta do
seu pensamento, da sua psicologia e da sua vontade coletiva, dos seus anseios, enfim, do “ser timorense”.
Muito do que se tem escrito não pode deixar de refletir a situação política que o país viveu durante o último
quarto do século vinte. Em muitos textos está patente o sofrimento dos que ficaram na ilha e a angústia dos que
integram a diáspora. Enterrem meu coração no Ramelau é uma entre as muitas obras que espelham esta situação.
86 | Textos de apoio
Enterrem meu coração no Ramelau
A literatura timorense não pode deixar de ser um reflexo da situação política do território, ao mesmo
tempo que uma afirmação da sua identidade. A um estado com pulso-de-ferro que lhe chama Timor Timur ou
Tim Tim, os Leste Timorenses respondem com um Timor Timorense. A União dos Escritores Angolanos editou,
em 1982, Enterrem meu coração no Ramelau, que compila alguns poemas de autoria timorense, fragmentos da
tradição oral, ciosamente guardada e passada de geração em geração pelos Lia-Nain (Senhores da Palavra), assim
como alguns textos de autores modernos. No total, reúne trabalhos de sete autores, como os que mostramos
em baixo:
Corrigenda
Nenhum povo é grande por ter apenas fastos a contar,
Mas pelas liberdades que souber viver
E pelo amor que tiver para dar.Fernando Sylvan, Enterrem meu coração no Ramelau
Lâminas nos pés
O meu galo tem crista vermelha
ágil com lâminas relampejantes
nos pés
Acorda-me a cantar na madrugada
na região amada de Los Palos
Com lâminas relampejantes nos pés
dirijo-me ao centro
da batalhaJorge Lauten, Enterrem meu coração no Ramelau
Identidade Timorense, http://www.cerit.org/gentes_cult_liter.html (28-12-2008)
Textos de apoio | 87
3. BREVE VISÃO GERAL DA POESIA TIMORENSE, de Catherine Dumas A poesia escrita pelos timorenses é escassamente divulgada junto do nosso público. Se, em 1998, Xanana
Gusmão se revelou como poeta e pintor com a publicação bilingue em português-inglês de Mar Meu, coletânea
de poemas escritos na prisão2 (esta coletânea foi recentemente reeditada em CD bilingue Português/Inglês,
acrescentada de um CD Português/Francês3), outros poetas não beneficiaram da mesma difusão. Fernando
Sylvan foi o único a ser promovido pelos circuitos editoriais consagrados, mas, infelizmente, o seu livro já não se
encontra disponível nas livrarias. O objetivo deste artigo é enfatizar as obras que existem e que se encontram
publicadas em coletâneas individuais ou em publicações coletivas. Além de Xanana Gusmão, que considero um
caso particular, dada a sua notoriedade de homem político, encontrei outros três autores com obras publicadas
em volume: Kay Shaly Rakmabean com Versos do Oprimido4; Fernando Sylvan com A Voz Fagueira de Oan Tímor.
Poesia5; Jorge Barros Duarte com Timor-Um Grito e Timor-Jeremíadas6. Existem ainda três publicações coletivas
que reúnem ou incluem poemas timorenses escritos por resistentes: Floriram Cravos Vermelhos7, Enterrem meu
Coração no Ramelau, Poesia de Timor Leste8 e Timor Leste9.
Esta poesia publicada em português, ao adotar a língua, adota também, em certa medida, a tradição
lírica do ex-colonizador, o que não a impede de veicular, ao mesmo tempo, uma cultura timorense ancestral
e de utilizar esporadicamente a língua tétum. Além do mais, a poesia timorense, como todas as literaturas
dos diferentes países de língua portuguesa, enriquece o Português com as suas próprias inflexões. É por isso
impossível explicar a poesia timorense sem uma indagação das suas raízes na tradição oral. Alguns antropólogos
encarregaram-se de transcrever certos poemas. Ruy Cinatti, o mais inspirado de entre eles, ao criar uma obra
poética própria em total simbiose com esta tradição oral, deu conta destas formas poéticas rituais e tradicionais
de Timor. A primeira parte do Intróito a Um Cancioneiro para Timor10 é-lhes consagrada. O poeta distingue toda
uma tipologia de poemas. O Kanakuk é um canto festivo versificado, por vezes dançado: “Marcadas pela canção,
pelo ritmo percutor dos instrumentos quando estes figuram, ou pela diversidade de passos e de gestos, as
poesias ajustam-se à voz dos solistas e do coro que lhe responde, ou alternam, improvisadas umas, lembradas
para o efeito as demais, nas vozes dos homens e da mulheres” (p. 45). Ruy Cinatti também evoca a declamação
dos dadoulik, cantos fúnebres que evocam os antepassados e lhes pedem aconselhamento para a construção
da casa. O poeta aproxima a forma paralelística e a organização em dísticos e em quadras destes poemas das
canções de amor e de amigo pertencentes à lírica portuguesa medieval. O seguinte poema, traduzido do tétum
por Ruy Cinatti, pode efetivamente evocar esse tipo de eco:
2 Xanana Gusmão, Mar Meu/My sea of Timor. Porto: Granito, Editores e Livreiros, Lda, 1998. 3 Xanana Gusmão, Mar Meu. Timor Loro Sae. Homenagem a um país livre. Organização Instituto Camões Conceição Ana-Luísa Amaral, Catherine Dumas, Mariana Saragoça4 Kay Shaly Rakmabean, Versos do Oprimido. Braga: Real Associação de Braga, 1995.5 Fernando Sylvan, A Voz Fagueira de Oan Tímor. Poesia. Lisboa: Edições Colibri, dezembro de 1993.6 Jorge Barros, Duarte. Timor-Jeremíadas. Odivelas: Edição do Autor, 1988.7 Floriram Cravos Vermelhos. Antologia poética de expressão portuguesa em África e Ásia (por Xosé Lois Garcia). A Corunha: Espiral Maior, 1993.8 Enterrem meu Coração no Ramelau. Poesia de Timor Leste. Cadernos da União. União dos Escritores angolanos. 1982.9 Timor Leste. Fronte Revolucionária de Timor Leste (FRETILIN). Edição do Instituto Nacional do Livro e do Disco. 1981.10 Ruy Cinatti, Um Cancioneiro para Timor. Lisboa: Editorial Presença. 1996.
88 | Textos de apoio
Estes poemas são por vezes sátiras exacerbadas que recorrem ao jogo das sonoridades, em particular às
onomatopeias, de forma violenta. Podem também remeter para a tradição bíblica e para a epopeia homérica,
pelos ritos sacrificiais que os envolvem.
Em abril de 1963, Ruy Cinatti publicava, na revista Colóquio-Letras, um poema que o poeta timorense
tinha ele próprio traduzido da sua língua materna, o mambae. Transcrevo-o aqui pelo seu valor poético e pelo
valor simbólico que adquire esta publicação numa reconhecida revista literária portuguesa.
Fuan moso ôna
Lalehan makrôma
Hau mesak iha né
iha nabél?
Ó kela maluha
Loron ida ita nain rua
Mesa mesak deit
Iha tasi dibun
Lua já nasceu
O céu iluminou-se.
Eu aqui sozinho.
Tu, onde estás?
Não te esqueças, não,
De nós nesse dia.
De nós dois sozinhos
Na boca do mar...
Minha Mãe Morreu Antes de ir para a tropa minha mãe era viva.
Agora já não vive a minha mãe.
Minha mãe morreu.
Quando acabou a tropa, cheguei à varanda da minha casa
E meu coração bateu.
Ouvi vozes dentro de casa
Mas nenhuma delas é de minha mãe.
Corro, chamo. Ninguém responde.
Chamo minha mãe. Ninguém responde.
Minha mãe morreu.
Minha mãe me deu de mamar.
Minha mãe me embalou.
Agora já sou grande,
Mas estou sozinho.
Minha mãe morreu.
O filho chora ao colo da mãe.
– Porque chorava eu assim?
– O menino chora de fome.
Minha mãe antes de engolir
Via sempre se o menino chorava,
Porque quando o menino chorava,
Tirava da sua boca.
Dava a mim.
Agora minha mãe morreu.
Ninguém antes de engolir,
Vê se eu choro.
Agora, eu já sou grande,
Mas estou sozinho.
Minha mãe, minha mãe! Ninguém responde.
Minha mãe morreu.
João Barreto, timorense mambae11
11 João Barreto, “Minha Mãe Morreu”, in Colóquio (abril, 1963). Reproduzido por Ruy Cinatti na p. 70 da introdução a Um Cancioneiro para Timor, op. cit.
Textos de apoio | 89
Reencontramos neste poema as características da poesia tradicional timorense assinaladas por Rui Cinatti, encontrando-se organização estrófica, paralelismo e repetição habilmente combinados numa prática poética de alto nível. Um acentuado pudor e o manuseamento da alusão conferem a este poema uma dimensão plurissémica.
A poesia que se desenvolveu no seio da resistência ao invasor indonésio abriu, por vezes, caminho a uma produção de valor. É sabido, pelos testemunhos de resistentes e pelo próprio Xanana Gusmão, que a poesia era uma prática quotidiana, veículo da palavra e da ideologia da FRETILIN, mas também dos sentimentos de desespero, de angústia, de amor, de esperança do guerrilheiro retirado nas montanhas. Esta poesia, que se proclama pertencer ao “povo maubere”, é escrita quer em português quer em tétum, sendo frequentemente anónima, tal como este poema datado de 1978:
FRETILIN é um galo
Um galo veterano de luta
Não é preciso lâmina alguma
Pois é galo veterano12
Note-se que as formas tradicionais da poesia timorense também aqui estão bem presentes: quadra, paralelismo e repetição.
O nome de José Alexandre Gusmão (Xanana Gusmão) aparece desde muito cedo nas coletâneas coletivas acima citadas, muitas vezes acompanhado por outro nome, o de Borja da Costa. Este poeta escreve nas duas línguas, tétum e português, cultivando também as formas antigas da poesia maubere, associadas a uma profusão metafórica em torno da simbologia dos elementos naturais. O seu poema mais conhecido, musicado por Abílio Araújo, tornou-se o Hino da Revolução Maubere. Trata-se de “Foho Ramelau” (Monte Ramelau). Noutro poema, o
autor estabelece uma aliança entre lirismo bucólico e poesia de combate:
Um Minuto de Silêncio Calai
Montes
Vales e fontes
Regatos e ribeiros
Pedras dos caminhos
E ervas do chão,
Calai
Calai
Pássaros do ar
E ondas do mar
Ventos que sopram
Nas praias que sobram
De terras de ninguém, Calai
Calai
Calai-vos e calemo-nos
POR UM MINUTO
É tempo de silêncio
No silêncio do tempo
Ao tempo de vida
Dos que perderam a vida
PELA PÁTRIA
PELA NAÇÃO
PELO POVO
PELA NOSSA LIBERTAÇÃO
Calai - UM MINUTO DE SILÊNCIO
12 citado na introdução a Enterrem meu Coração no Ramelau. Poesia de Timor-Leste.
90 | Textos de apoio
Os nomes de Kautay Sarmento e de Oky Amaral também aparecem frequentemente nas publicações
coletivas.
Kay Shaly Rakmabeam é um resistente da jovem geração. A sua poesia, clandestina, foi reunida em
Portugal sob o título Versos do Oprimido. O poeta entrou muito jovem para a Resistência. Os poemas publicados
foram escritos entre 1986 e 1992. No primeiro volume, anuncia uma obra importante que se deverá alongar
por dez volumes. Não tenho conhecimento de publicações ulteriores em Portugal. Esta poesia é marcada pela
reivindicação de um catolicismo identitário e pelo trauma do suplício causado por uma ocupação brutal, tal como
testemunha este poema de 1982:
As Mães e Donzelas do Universo Mães e donzelas do universo,
quero comunicar-vos por verso,
o suplício mais obsceno e mais atroz,
que os sanguinolentos Indonésios
desencadearam contra minha mãe
e minha irmã Timor.
Despiram-te à vista da multidão!
Ali, de modo infame,
foste violada.
E com fogo de “gudang garam”,
queimando tuas “carnes sagradas”:
a mama e o órgão sexual,
mormente o clítoris e vagina
cruelmente incendiados,
tornando-os “cozidos” e desfeitos!...
Depois, agarrando na baioneta,
transpassam-te a vagina, logo escorrendo sangue;
cortam-te as tetas e o clítoris “cozido”,
metendo-os, à força, em tua boca inocente,
obrigando-te a comer tua própria carne!
Torturaram assim minha mãe
e minha irmã Timor...
Ato feito,
doidamente, a soldadesca grita:
“Rasain kamu, kamu, yang ingin
memilih kemerdekaa!”
(Aprende de vez, tu, que queres
votar pela independência).
Oh! Se ao menos as mães e donzelas
do mundo inteiro sentissem tua dor,
ouvissem teus gritos,
ó minha mãe,
minha irmã Timor!...
Bem menos cruel é o registo adotado por Jorge Barros Duarte. Eclesiástico antropólogo, evoca nos seus
poemas tradições e paisagens de Timor, ornamentando as formas líricas ocidentais com termos tétum. Destaca
também a religião católica como uma forma de luta do povo maubere. Assim, em Jeremíada, conclui o poema
“Grão de arroz e grão de milho” com a seguinte estrofe:
Textos de apoio | 91
Para tanto não contes co’ a ONU,
Mas com Deus, Que os destinos comanda
E porá, sem mercê, tudo a nu:
Todo um jogo que a um povo desmanda!
Fernando Sylvan, que reside há muito tempo em Portugal, começou a publicar a sua poesia ao lado
dos poetas da resistência timorense e lutou depois também pela democracia em Portugal. O seu longo poema
intitulado “Mensagem do Terceiro Mundo” celebra, em 1972, o Ano Internacional Contra o Racismo. Tempo
Teimoso, escrito em 1972 e publicado em 1974, reúne poemas clandestinos em homenagem à resistência. A
escrita de Tempo Teimoso prolongou-se durante um ano inteiro, no quarto de uma casa arruinada: “não sei bem
se ela tinha paredes ou não, um chão ou não, um telhado ou não. Mas sei que, no interior deste quarto, sentia-se
uma enorme falta de ar, um frio intenso e a angústia do homem que se projetava no seu inacabamento”.
“A casa era Portugal e o quarto era o espaço insuficiente onde tudo se encontra confinado ao isolamento”13.
Posteriormente, em 1982, F. Sylvan publica um livro de lírica amorosa, MULHER ou o livro do teu nome.
O livro A Voz Fagueira de Oan Tímor recolhe todos os seus poemas em 1993. A vontade de inscrever a sua poesia
e a identidade do seu país na comunidade humana percorre toda a sua obra. Em 1965, a obra 7 Poemas de Timor
abre com o seguinte poema:
Navio
Tata-Mailau
É o pico-avô da minha Ilha.
Subi muitas vezes aos seus três mil metros.
E foi no seu alto
Que meu sonho-menino construiu um navio.
Antes,
Ninguém tinha compreendido
Que a ilha
Não é terra isolada pelo mar.
13 Prefácio de Tempo Teimoso. In A Voz Figueira de Oan Timor. Poesia. Op. Cit., p. 31.
92 | Textos de apoio
A sua poesia de combate exprime a cosmogonia tão cara à tradição da poesia timorense:
Luta
Pássaro sem espaço
Rio sem leito
Árvore sem floresta
Mas dou sinais de mim!
(janeiro 1972)
A poesia amorosa é caracterizada por uma extrema concisão:
25
Água limpa.
Copo de cristal.
Qual é que está por fora?
De nós os dois
qual é?
A transparência da língua, confrontada com o perigo da rutura do vínculo afetivo, tinge-se de angústia
existencial. Esta poesia, ancorada na dor do exílio, aspira ao espaço sem limites.Dumas, Catherine. “Bref aperçu de la poésie timoraise”, Latitudes 8, Mai 2000, pp. 21-24 (Tradução de Márcia Seabra Neves)
93
VIII. Avaliação
A avaliação desempenha um papel importante no processo de ensino/aprendizagem, não se limitando à classificação final dos alunos e à sua seriação. A avaliação fornece informações aos professores e aos alunos sobre o trabalho desenvolvido e as aprendizagens realizadas. A avaliação, de caráter contínuo, deverá ter em conta as diferentes competências desenvolvidas ao nível da expressão oral e escrita e da compreensão oral e escrita. Definida em conjunto com os alunos, pode incluir diferentes atividades, para além dos habituais testes e fichas, devendo incidir sobre trabalhos (individuais, de pares ou em grupo) realizados ao longo do ano, incluindo apresentações orais e produções textuais, questionários orais e escritos, fichas de leitura, trabalhos de pesquisa, portefólios, …
Deverá ser criado espaço para a autoavaliação, realizada pelo aluno, suscitando a sua reflexão pessoal e fundamentada sobre as aprendizagens realizadas e o percurso para as desenvolver.
Neste sentido, a avaliação pode assumir diferentes formas, de acordo com os objetivos pretendidos:
Avaliação diagnóstica para aferição de competências, realizada logo no início do ano (ou em momentos relevantes do processo), e incidindo sobre diferentes conteúdos e contemplando tarefas diversas, incluindo a produção oral e escrita;
Avaliação formativa como exercício de validação das aprendizagens efetuadas e colmatação das eventuais dificuldades manifestadas, incluindo modalidades de autoavaliação;
Avaliação sumativa, através de produções e exposições orais, com atribuição de classificação quantitativa e qualitativa que ilustre o nível de desempenho do aluno. Para além dos registos escritos, a avaliação fundamenta-se na observação direta da prestação do aluno, tendo em conta aspetos como a progressão, o empenho e o cumprimento das normas acordadas (testes escritos, questionários, fichas de leitura, trabalhos, portefólios…).
Critérios de avaliação
Expressão oral Expressão escrita LeituraAspeto (postura; contacto visual, expressividade corporal e facial)
Voz (dicção, intensidade, ritmo)
Conteúdo (organização, qualidade, adequação)
Organização do texto em períodos e parágrafos, exprimindo apropriadamente os nexos temporais e lógicos
Redação com correção ortográfica, morfológica e sintática
Utilização de vocabulário apropriado, preciso e variado
Aplicação correta das regras básicas de pontuação e de acentuação
Originalidade e criatividade
Dicção
Intensidade
Ritmo
Expressividade
Instrumentos e atividades para avaliação
Expressão e compreensão oral
Exposição oral de trabalhos de pesquisa
Escrita
Participação em fóruns de leitura, clubes de leitura ou tertúlias
Realização de debates e confronto de ideias
Formulação e reflexão de hipóteses interpretativas
Dramatizações
Leitura
Declamações
Performances
Poetry Slam
Maratonas de leitura
Redação de pequenos ensaios críticos/analíticosReescrita e/ou escrita criativa por motivação temática ou formal, por imitação ou transformaçãoCriação conjunta de ficheiros relativos a textos e a experiências de leiturasElaboração de questionários – de escolha múltipla, de verdadeiro/falso, de análise literária e estilísticaRealização de trabalhos de pesquisaElaboração de antologias – temáticas, autorais, de géneros…Elaboração de anúnciosIlustração de poemas, contos ou cenasConversão de textos em guiões de teatro, radiofónicos ou cinematográficosOrganização de um portefólioDivulgação de pesquisas, leituras e escritas em jornais, revistas, blogues…
IX. Referências bibliográficas
94
Textos literáriosAAVV (1982). Enterrem meu Coração no Ramelau. Poesia de Timor Leste. Luanda: União dos Escritores Angolanos.AAVV (2009). (Con)Textos. Díli: Centro de Língua Portuguesa / Instituto Camões em Díli.APARÍCIO, João (1999). À janela de Timor. Lisboa: Caminho.APARÍCIO, João (2000). Uma Casa e Duas Vacas. Lisboa: Caminho.CINATTI, Ruy (1958). O Livro do Nómada Meu Amigo. Lisboa: Guimarães & Ca (desenhos de Hansi Stael).CINATTI, Ruy (1960). Nós não somos deste mundo. 2ª ed. Lisboa: Ática.CINATTI, Ruy (1974). Timor – Amor. Lisboa: Ed. Autor.CINATTI, Ruy (1979). Lembranças para São Tomé e Príncipe, 1972. Évora: Instituto Universitário.CINATTI, Ruy (1994). Corpo – Alma. Lisboa: Presença.CINATTI, Ruy (1996). Um Cancioneiro para Timor. Lisboa: Presença.CINATTI, Ruy (2007). Paisagens timorenses com vultos. Lisboa: Relógio d’Água.DUARTE, Jorge Barros (1988). Timor-Jeremíadas. Odivelas: Edição de Autor.GUSMÃO, Xanana (1998). Mar Meu. Poemas e Pinturas/ My Sea of Timor. Poems and Paintings. Porto: Granito/Instituto Camões.LOPES, Teresa Rita (2002). A Nova Descoberta de Timor. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.METAN, Afonso Busa (1999). Em Português Vos Amamos – Poemas e Lendas. Bruxelas: SOS Timor.PARKINSON, Chris (2010). Peace of Wall. Street Art from East Timor. Victoria: Affirm Press.RAKMABEAN, Kay Shaly (1995). Versos do Oprimido. Braga: Real Associação de Braga.SYLVAN, Fernando (1974). Tempo Teimoso. Lisboa: s/ n.SYLVAN, Fernando (1975). “Mensagem do Terceiro Mundo”, in 7 Poemas de Timor. 2ª ed. Lisboa: Raiz Editora.SYLVAN, Fernando (1975). 7 Poemas de Timor. 2ª ed. Lisboa: Raiz Editora.SYLVAN, Fernando (1979). Meninas e Meninos. Lisboa: Livraria Ler.SYLVAN, Fernando (1982). MULHER ou o livro do teu nome. Lisboa: Livraria Ler.SYLVAN, Fernando (1993). A Voz Fagueira de Oan Tímor. Lisboa : Edições Colibri.
SYLVAN, Fernando (2000). “Fernando Sylvan: o timorense que não viu a patria libertada”, Boca do Inferno 5, Maio de 2000.
Obras de ReferênciaAAVV (1997-2000). História e antologia da literatura portuguesa. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. AGUIAR E SILVA, V. M. (1990). Teoria e metodologia literárias. Lisboa: Universidade Aberta. AGUIAR E SILVA, V. M. (1994). Teoria da Literatura (8.ª edição). Coimbra: Almedina. CEIA, Carlos (dir.). E-Dicionário de Termos Literários, http://www.edtl.com.pt/CHEVALIER, J. E GHEERBRANT, A. (1994). Dicionário dos Símbolos. Lisboa: Editora Teorema.COELHO, Jacinto Prado (1978). Dicionário da Literatura, 5 volumes, Porto: FigueirinhasECO, Umberto. (1983). Leitura do texto literário. Lector in fabula. Lisboa: Ed. Presença. FARIA, M. I. & Pericão, M. G. (1988). Dicionário do livro. Lisboa: Guimarães Editores.FIGUEIREDO, Olívia e FIGUEIREDO, Eunice (2003). Dicionário Prático para o Estudo do Português – Da Língua aos Discursos. Porto: ASA.MACHADO, A. M. (org. e dir.) (1996). Dicionário de literatura portuguesa. Lisboa: Presença. MATOS, Maria Vitalina Leal de (2001). Introdução aos Estudos Literários. Lisboa – São Paulo: Editorial VerboMOISÉS, Massaud (1971). A Criação Literária. Prosa – II. São Paulo: Melhoramentos.MOISÉS, Massaud (1985). Dicionário dos termos literários. São Paulo: CultrixREIS, Carlos (1992). Técnicas de Análise Textual. Introdução à Leitura Crítica do Texto Literário. 3ª ed., Coimbra: Almedina.REIS, Carlos (2008). O Conhecimento da Literatura. Introdução aos Estudos Literários. 4ª reimp., Coimbra: Almedina.REIS, Carlos e Ana Cristina M. LOPES (2007). Dicionário de Narratologia. 7.ª ed., Coimbra: Almedina.SCHOLES, R. (1991). Protocolos de leitura. Lisboa: Edições 70. SENA, Jorge de (1982-1988). Estudos de Literatura Portuguesa. 2 volumes. Lisboa: Edições 70.
SHAW, Harry (1982). Dicionário de termos literários. Lisboa: D. Quixote.
Bibliografia específica para os conteúdos lecionadosGOMES, José António (org.) (2009). Literatura de Timor-Leste em Língua Portuguesa – Aspetos literários, histórico-culturais e relações com Portugal. Porto: Escola Superior de Educação (documento policopiado).Revista Camões, nº 14 (Julho-Setembro 2001), “Timor Lororosa’e”. [acessível na Biblioteca Digital Camões em http://cvc.instituto-camoes.pt/
Referências bibliográficas | 95
conhecer/biblioteca-digital-camoes].ROCHA, Clara Crabbé (1992). Máscaras de Narciso - Estudos sobre a Literatura Autobiográfica em Portugal. Coimbra: Almedina.SÁ, Jorge de (1999). A Crônica. São Paulo: Ática.STILWELL, Peter (1995). A Condição Humana em Ruy Cinatti. Lisboa: Presença.
Bibliografia sobre Didática da leitura e da literaturaAMOR, Emília (1993). Didática do Português. Lisboa: Texto Editora.ANTÃO, J. A. S. (1997). Elogio da leitura. Porto: Edições Asa. BARBEIRO, Luís Filipe e PEREIRA, Luísa Álvares. (2007). O Ensino da Escrita: A Dimensão Textual. Lisboa: Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (colab. de Conceição Aleixo e Mariana Oliveira Pinto).CEIA, Carlos (2003). Normas para apresentação de trabalhos científicos. Lisboa: Editorial Presença. (4ª ed.).COUTINHO, Maria Antónia (2003). Texto(s) e Competência Textual. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.DIONÍSIO, Maria de Lurdes da Trindade (2000). A construção escolar de comunidades de leitores. Leituras do Manual de Português. Coimbra: Almedina.DUARTE, Inês e MORÃO, Paula (2006). Ensino do Português para o Século XXI. Lisboa: FLUP- Edições Colibri.DUARTE, Isabel Margarida (org.) (2001). Gavetas de Leitura. Estratégias e materiais para uma pedagogia da leitura. Porto: Asa.FIGUEIREDO, Maria Jorge Vilar e BELO, Maria Teresa (1993). Comentar um texto literário. Lisboa: Editorial Presença.FIGUEIREDO, Olívia (2004). Didática do Português Língua Materna – Dos Programas de ensino às Teorias e das Teorias às Práticas. Porto: ASA.
FONSECA, Fernanda Irene (org.) (1994). Pedagogia da escrita. Perspetivas. Porto: Porto Editora.GARCÍA SOBRINO, Javier (coord.) (1994). A Aventura de Ler. Porto: Porto EditoraGIASSON, Jocelyne (2007). A Compreensão da Leitura. Porto: Asa.GOMES, José António (1996). Da Nascente à Voz. Contributos para uma Pedagogia da Leitura. Lisboa: Caminho.JOLIBERT, Josette (1998). Formar Crianças Leitoras. Porto: Asa.LAMAS, Estela Pinto Ribeiro (coord.) (2000). Dicionário de Metalinguagens da Didáctica. Porto: Porto Editora.MELLO, Cristina (1998). O Ensino da Literatura e a Problemática dos Géneros Literários. Coimbra: Almedina.MELLO, Cristina et alii (org.) (2003). Didática das Línguas e Literaturas em Portugal: Contextos de Emergência, Condições de Existência e Modos de Desenvolvimento. Coimbra: SPDLL/Pé de Página Editores.MORAIS, José (1997). A Arte de Ler. Psicologia Cognitiva da Leitura. Lisboa: Cosmos.NIZA, Sérgio (coord) (1998). Criar o Gosto pela Escrita. Lisboa: Ministério da Educação/Dep. de Educação Básica.PEREIRA, Luísa Álvares (2008). Escrever com as Crianças: Como Fazer Bons Leitores e Escritores. Porto: Porto Editora.POSLANIEC, Christian (2006). Incentivar o prazer de ler. Atividades de leitura para jovens. Porto: Asa.ROCHETA, M. I. & NEVES, M. B. (org.) (1999). Ensino da literatura, reflexões e propostas a contracorrente. Lisboa: Edições Cosmos. SIM-SIM, Inês (2007). O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos. Lisboa: Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (colab. de Cristina Duarte e Manuela Micaelo).SIM-SIM, Inês (coord.) (2006). Ler e Ensinar a Ler. Porto: Asa.SOARES, Maria Almira (2003). Como motivar para a leitura. Lisboa: PresençaVILAS-BOAS, António José (2001). Ensinar e Aprender a Escrever – por uma Prática Diferente. Porto: Edições Asa.
VILAS-BOAS, António José (2005). Oficinas de Leitura Recreativa – Criar e Manter Comunidades de Leitores na Escola. Porto: Edições ASA
Gramáticas de referênciaBECHARA, Evanildo (1999). Moderna Gramática Portuguesa, 37ª ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna.CINTRA, Luís Filipe L. e Celso CUNHA (1984). Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: Sá da Costa. MATEUS, Maria Helena Mira et al (2003). Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho.
VILELA, Mário (1999). Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra: Almedina.
ProgramasCOELHO, Maria da Conceição (coord.), SERÔDIO, Maria Cristina e CAMPOS, Maria Joana (2001). Programa de Literatura Portuguesa 10.º e 11.º ou 11.º e 12.º anos do Curso Científico-Humanístico de Línguas e Literaturas, Lisboa: Ministério da Educação [acessível em http://florcistina.no.sapo.pt/literatura_portuguesa_10_11_homol.pdf] REIS, Carlos (coord.) et al. (2008). Programas de Português do Ensino Básico, Lisboa: Ministério da Educação [acessível em http://www.oei.es/pdf2/programa_portugues_ensino_basico.pdf]
Programa de Português do Pré-Secundário (2010). Ministério da Educação de Timor-Leste
96 | Referências bibliográficas
Sítios na InternetPor serem objeto de atualização mais ou menos constante (mas também por ser possível o seu encerramento ou mudança de endereço), a lista de endereços disponibilizada terá que ir sendo periodicamente revista, corrigida e enriquecida. Contemplaram-se sítios oficiais, de natureza distinta, com vista à diversificação das informações obtidas e das fontes usadas.
http://lusofonia.com.sapo.pt/ (Plataforma de apoio ao estudo da Língua Portuguesa no Mundo)http://purl.pt/index/geral/PT/index.html (Biblioteca Nacional Digital – Portugal)http://rcbp.dglb.pt/pt/Paginas/default.aspx (Rede de Conhecimento das Bibliotecas Públicas)http://sitio.dgidc.min-edu.pt/linguaportuguesa/Paginas/PNEP.aspx (Programa Nacional de Ensino do Português)http://theka.ativamente.eu/ (Projeto Gulbenkian de Formação de Professores para o Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares) http://timordonorteasul.blogspot.com/ (Blogue do escritor timorense Abé Barreto Soares)http://umalulik.blogspot.com/ (Blogue sobre Timor e cultura timorense)http://www.ait.pt/ (Associação de Informação Terminológica)http://www.app.pt/ (Associação de Professores de Português)http://www.bn.pt (Biblioteca Nacional de Portugal)http://www.casadaleitura.org (Casa da Leitura)http://www.cerit.org/gentes_cult_liter.html (Identidade Timorense)http://www.ciberduvidas.sapo.pt (Ciberdúvidas da Língua Portuguesa)http://www.citi.pt/cultura/index (temas da literatura e da cultura port.)http://www.clube-de-leituras.net (Clube de Leituras)http://www.cplp.org/ (sítio oficial da CPLP)http://www.dgidc.min-edu.pt/recursos_multimedia/recursos_cd.asp (Recursos multimédia)http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/gramatica/index.html (Fóruns e materiais didáticos)http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/GramaTICa/index.html (GramáTICª.pt)http://www.dglb.pt (Direção Geral do Livro e das Bibliotecas)http://www.ecrits-vains.com/atelier/atelier.htm (Oficina de escrita)http://www.edtl.com.pt/ (Dicionário de Termos Literários)http://www.estacaodaluz.org.br/ (Museu da Língua Portuguesa)http://www.historiadodia.pt/pt/index.aspx (História do dia)http://www.instituto-camoes.pt/cvc/aprender-portugues.html (Instituto Camões – Centro Virtual)http://www.leitura.gulbenkian.pt/ (Fundação Gulbenkian – Leitur@)http://www.linguateca.pt/assoc.html (Linguateca)http://www.nonio.uminho.pt/netescrita/ (Projeto Netescrit@)http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt (Plano Nacional de Leitura)http://www.porbase.org (Porbase)http://www.portaldalinguaportuguesa.org/ (Portal da Língua Portuguesa – Iltec)http://www.portugal-linha.pt/literatura/ (página de literatura lusófona)http://www.rbe.min-edu.pt/ (Rede de Bibliotecas Escolares portuguesas)http://www.reading.org/ (Associação Internacional de Leitura)
http://www.vidaslusofonas.pt (página com biografias de escritores, organizadas segundo uma tábua cronológica)
Ver, ainda, sites de autores e sobre autores
Cooperação entre o Ministério da Educação de Timor-Leste, o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Universidade de Aveiro
11 | TEMAS DE LITERATU
RA E CULTU
RA