SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência Da Educação
Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE
ARTE NA AMÉRICA LATINA E ARTE CONTEMPORÂNEA
DIÁLOGO COM FRIDA KAHLO: reflexões sobre o gosto e valor
estético
Maria Madalena de Jesus Goedert1
Professor: Dr.Kennedy Piau Ferreira2
RESUMO: O trabalho visa entender os conceitos de belo e feio dos alunos do Colégio Estadual Nereu Ramos – Ensino Fundamental e Médio de Manoel Ribas. Neste município predomina a agricultura e no Colégio há uma grande porcentagem de alunos que moram na área rural ou na periferia da cidade. A motivação inicial da proposta trabalhada foi a definição de beleza e feiura que os alunos expressavam quando estudavam os movimentos artísticos. Seus sentimentos e gostos estéticos impulsionaram-nos a estudar o porquê dessas definições. Partindo dessas considerações, desenvolvemos várias propostas de trabalho, passando por diversos movimentos e artistas, focando principalmente as obras de Frida Kahlo. A intenção com o material didático/pedagógico produzido e com este artigo é ampliar a compreensão sobre por que os educandos classificam obras de arte como belas ou feias e simultaneamente contribuir para que os estudantes tenham uma visão crítica de seus gostos estéticos, ampliando as possibilidades de apreciação e possibilitando uma melhor compreensão na leitura de obras de arte.
Palavras-chave: belo/feio, gosto estético, reflexões, apreciação de obras
“Na verdade, não há Beleza mais autêntica do que a sabedoria
que encontramos e amamos em algum indivíduo quando,
prescindindo de seu rosto, que pode ser feio, e sem atender de
fato para sua aparência, buscamos sua beleza interior”
Plotino3
1 Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná ([email protected])
2 Orientador PDE da Universidade Estadual de Londrina-UEL ([email protected])
3Plotino é geralmente considerado o fundador do chamado neoplatonismo. Ele é um dos mais
influentes filósofos da Antiguidade, depois de Platão e Aristóteles. Aos 28 anos, um crescente interesse por filosofia levou-o a Alexandria, onde tornou-se discípulo de Amônio Sacas por 11 anos. Depois disso, Plotino dedicou-se ao estudo da filosofia persa e indiana.
INTRODUÇÃO
O objetivo principal do Artigo é ressaltar a importância do Ensino da Arte nas
Escolas Públicas do Paraná e difundir a história da Arte Latino Americana,
proporcionando reflexões sobre o gosto estético, o belo e o feio. Tais reflexões têm
como foco central a apreciação e análise de obras de Frida Kahlo.4 Assim,
esperamos possibilitar um melhor entendimento da arte moderna e contemporânea.
Entendemos que a arte contemporânea cria uma postura de investigação, pode nos
surpreender com sua pluralidade cultural: escultura, performance, instalações,
fotografia, pintura, etc. Essa diversificação nos faz compreender o quanto o homem
no seu processo de criação busca ser flexível, e ao se manifestar artisticamente,
deixa explícito a concepção de mundo, personalidade e gosto estético.
Com a chegada das novas tecnologias o trabalho artístico tornou-se ainda
mais desafiador, mesmo porque o convívio com a arte, em muitos casos ocorre
somente no ambiente da escola. Nestes casos, cabe ao professor possibilitar aos
estudantes condições de aprendizagem, para que possam entender e apreciar a
arte. Vigotsky (p.328-329), afirma:
[...] arte é a mais importante concentração de todos os processos biológicos e sociais do indivíduo na sociedade, que é um meio de equilibrar o homem com o mundo nos momentos mais críticos e responsáveis da vida [...]
A arte é constantemente inovada para suprir as necessidades estéticas de
uma época. Assim, toda produção, circulação e consumo de uma determinada obra
de arte está inserida num contexto histórico. Acreditamos que sem tal
contextualização, talvez seja difícil para os educandos a compreensão do valor
estético das obras. O belo para muitos se resume em algo que eles possam
entender ou identificar, e a arte moderna a partir do sec. XX assume uma atitude
crítica em relação às convenções artísticas e ao conceito de belo clássico que foi
4Pintora mexicana, nascida em 6 de julho de 1907 em Coyoacan, México, filha do famoso fotógrafo
judeu-alemão Guillermo Kahlo e de Matilde Calderon y Gonzales, mestiça, Frida sempre foi apaixonada pela cultura de seu país e adorava tudo que remetesse às tradições mexicanas. Fato que ela sempre fazia questão de demonstrar em sua maneira de se vestir e em seu trabalho ao incluir elementos da cultura popular.
difundido no mundo pelas academias de arte. Talvez, por isso exista tanta rejeição
pelos alunos quando se deparam com certas obras de arte.
O conceito de beleza varia conforme a maneira de pensar, sentir e entender a
arte em um determinado lugar e em uma determinada época. No entanto, é
necessário levar o estudante a questionar seu próprio conceito de beleza, a partir
das reflexões sobre a vida, a arte e o ser humano. Segundo Vilém Flusser em
Língua e realidade (2007), “a realidade absoluta consiste de substâncias que se
modificam transferindo qualidades de si para outras e que essas transferências são
as situações da realidade”. Logo ser marcado como belo e feio é existir como belo
ou feio no olhar daquele que avalia.
Assim, a definição de uma obra se é feia ou bela ocorre através de um juízo
de valor que a pessoa que percebe atribui à obra. Tal concepção é condicionada
histórica e culturalmente. Devemos apresentar aos educandos a ideia de que, os
conceitos de belo e feio estão muito mais ligados aos parâmetros do popular “gosto”
e “não gosto”, e fazê-lo refletir sobre seu próprio gosto. Destacar também que o
gosto artístico, é condicionado e pode ser modificado. Por isso, a percepção e
análise sempre devem ser apuradas através da história da arte e fazê-los sentir que
a arte faz parte da vida humana e, é fundamental no processo de aprendizagem.
Existem, na contemporaneidade, muitas pessoas marcadas por um
determinado padrão estético. Ser considerada gorda, baixa, Dawn, para muitos, é
feio, enquanto os modelos considerados bonitos, ou belos, são marcados por um
padrão estético (de beleza) arbitrário. Os belos corpos são construções estéticas,
portanto construções sociais.
Ser considerado feio, ou estar fora de padrão vigente, é não se adequar ao mundo social, é estar “a parte”. Assim o excesso de peso ou a ausência de um rosto simétrico, de acordo com o modelo apresentado pela mídia, em nossa época produz certo estranhamento estético. (SANTOS, 2007, p. 07)
Sendo assim, o interesse e a busca de homens e mulheres por um corpo
bonito, magro, considerável saudável é uma questão que cotidianamente pode ser
percebidos através dos mais diversos tipos de mídia - revistas, jornais, programas de
televisão, rádio, cinema, Internet, especialmente por ser um tema que está inserido
no cotidiano, nas relações sociais, familiares e profissionais. A busca pela beleza
imaginada é uma constante no desejo humano. Segundo Umberto Eco (2007),
“alguns senhores ricos pediam aos artistas que seus traços fossem suavizados ao
serem pintados em óleo sobre tela, para que sua imagem se tornasse bela”.
Atualmente, somos influenciados desde muito cedo, pelos meios de
comunicação, inclusive em relação aos padrões estéticos de beleza. Somos
induzidos a pertencer a um determinado padrão de beleza. Os educandos também
constroem seus critérios de beleza, principalmente a partir da indústria cultural e
midiática, pois esta é a realidade em que vivem. Para Holfeldt (2007, p. 19) “Os
meios de comunicação embora não sejam capazes de impor o que pensar em
relação a um determinado tema, como desejava a teoria hipodérmica5, são capazes
a médio e longo prazo de influenciar o que pensar e o que falar”.
Sabemos que cada artista é produto e produtor de seu tempo. As questões
filosóficas que envolvem os conceitos de belo e feio, nem sempre estão
incorporados nos planos de aula. Ao longo de suas vidas os estudantes recebem
principalmente da mídia, versões do que é belo e feio e passam a incorporar isso
como verdade. Mesmo porque, o belo (ou a ideia dominante do que seja belo)
sempre se apresenta como mais agradável aos olhos, como o mais valorizado, o
melhor, o mais interessante, enquanto o feio (ou a ideia dominante do que seja feio)
é desprezado, é visto como algo desagradável.
Porém, nas artes, compreendemos as convenções de belo e de feio de
maneira mais complexa, o feio aparece como conceito e também como forma de
expressão do artista para falar de várias dimensões da arte. Em alguns casos aquilo
que é majoritariamente considerado feio é usado tão brilhantemente que é mais belo
que a própria beleza. Os autores Aranha e Martins (2009, p.402-403) afirmam que:
Nos séculos XVII e XVIII os filósofos empiristas Locke e Hume relativizam a beleza, uma vez que ela não é uma qualidade das coisas, mas só o sentimento na mente de quem as completa. Por isso, o julgamento de beleza depende tão somente da presença ou ausência de prazer em nossas mentes. Todos os julgamentos de beleza, portanto, são verdadeiros, e todos os gostos igualmente válidos. Aquilo que depende do gosto e da opinião pessoal não pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: “Gosto não
5Teoria Hipodérmica é um modelo de teoria da comunicação, também conhecido como Teoria da
Bala Mágica. Segundo este modelo, uma mensagem lançada pela mídia é imediatamente aceita e espalhada entre todos os receptores, em igual proporção. Este conceito surgiu com a Escola Norte-Americana, nos anos 30, para explicar a ascensão do nazismo na Alemanha.
se discute”. O belo, portanto, não está mais no objeto, mas nas condições de recepção do sujeito. A questão do feio está implícita na problemática do belo. Por princípio, o feio não pode ser objeto da arte.
Portanto, quando falamos do belo, associamos imediatamente à ideia do feio,
o seu contrário. O que nos faz entender melhor esse comportamento são as
diferenças nos contextos de espaço e tempo das variadas culturas e etnias
existentes pelo mundo afora que tornam difícil uma conceituação para o que é belo
ou feio. Umberto Eco mostra muito bem isso em seu livro História da Feiura, ele
percorre um caminho que leva ao mundo dos valores estéticos, o belo e o feio,
valores esses bastantes variáveis. A última frase da citação também deve ser
problematizada, principalmente a partir da arte moderna o considerado feio passa a
ocupar um espaço no mundo da arte.
Portanto, o que nossos estudantes trazem como noções de belo e feio para
dentro do ambiente escolar, suas noções marcadas pelas experiências acumuladas
do seu meio, pelo que ouvem falar a respeito de determinadas obras ou mesmo,
pelo gosto pessoal que cada um tem em relação ao que vê e vivência, devem ser
consideradas de forma a contribuir na reflexão e concepção do belo e do feio.
Assim sendo, devemos estimular a percepção do educando em relação à
arte. Para Jorge Coli com a arte não se pode aprender “regras” de apreciação (1981,
p.116,). Portanto, é importante contextualizar, mostrando que em relação a arte é
possível mudar o olhar, e o que antes era feio pode ser visto como belo. Para
aprimorarmos a experiência estética, devemos nos apossar de informações,
conhecimentos e experiências vivenciadas. Para Eco (2004), o conceito de belo
sempre esteve ligado a determinadas proporções que mudam com o tempo em cada
sociedade. No entanto, é difícil não associar o belo ao bom e o feio ao ruim.
Conforme Umberto Eco (2010, p. 237),
Sempre acreditei que o bom nada mais é que o Belo em ação, que um é intimamente ligado ao outro e que ambos têm uma nascente comum no bem ordenado da natureza. Dessa ideia segue-se que o gosto se aperfeiçoa com os mesmos meios que a sabedoria, e que uma alma aberta às seduções da virtude deve ser na mesma medida sensível a todos os outros gêneros de Beleza. Adestrarmo-nos tanto para ver quanto ouvir uma visão apurada nada mais é que um sentimento delicado e refinado.
Não podemos negar que o gosto estético e sua apreciação estão enraizados
no contexto social e histórico em que ela acontece, sendo necessário fazer os
estudantes refletirem sobre estes momentos e assim compreender que muitas vezes
os conceitos de belo e feio são construídos a partir de conhecimentos e experiências
limitadas. Eco (2004), “ressalta que a beleza jamais foi algo “absoluto e imutável”,
mas assumiu diversas faces conforme o período histórico”.
Desta forma, conhecendo o momento histórico e os reflexos destes na vida do
artista, o aluno pode criar um novo olhar e entender que os conceitos de belo e o
feio são complexos e não devem se reduzir ao “gosto” ou “não gosto”.
É necessário ressaltar a importância da história da arte para que o aluno
compreenda que os aspectos sociais, culturais e históricos refletem no processo
criativo do artista e nas formas de apreciação da obra de arte.
Segundo Coli (1981, p.115), “A fruição da arte não é imediata, espontânea,
um dom, uma graça. Pressupõe um esforço diante da cultura.” Para que isso ocorra,
cabe ao educador instigar no educando o espírito de investigação, a sensibilização e
a autocrítica, incentivando-o a dialogar com seus colegas, pesquisando e, se
necessário, reavaliando suas opiniões. O estudante deve ser estimulado a procurar
verificar as suas diferenças, respeitando sempre a opinião do outro. Ele deve ser
incentivado a debater sobre o tema, percebendo que as diferentes opiniões nos
fazem ver as coisas de outros pontos de vista e isso pode nos levar a repensar
nossas opiniões e alterar nossa conduta de análise crítica em relação à arte.
Para Oliveira (2001), a beleza define-se de um lado como uma questão
construída/exibida por discursos normativos, e de outro por ser uma vivência
pessoal, onde estão presentes e interagindo nossas experiências e escolhas, que
possuímos para manter relações com a cultura que nos rodeia. Coli (1981) diz, “que
quando relacionamos com a arte nada é espontâneo. Quando julgamos um objeto
artístico dizendo “gosto” ou não “gosto”, mesmo que acreditamos manifestar uma
opinião “livre”, estamos na realidade sendo determinados por todos os instrumentos
que possuímos para manter relações com a cultura que nos rodeia”.
Fayga Ostrower(1996) argumenta que:
[...] toda atividade humana está inserida em uma realidade social, cujas carências e cujos recursos materiais e espirituais constituem o contexto de vida para o indivíduo. São esses aspectos, transformados em valores culturais, que solicitam o indivíduo e o motivam para agir.
É importante ressaltar que cada educando traz consigo conceitos adquiridos
em seu convívio, compete a nós educadores, salientar que há situações onde
existem divergências e que nas artes o que parece belo para uns pode não ser belo
para outros e vice-versa. A este respeito Susanne Langer comenta: “[...] A alegria de
experiência estética direta indica a que profundidade da mentalidade humana essa
experiência chega”.
Enfim, os conceitos de belo e feio muitas vezes podem ser limitados,
dependendo do nível de formação familiar e o contexto cultural que o estudante está
inserido. Devemos assumir o compromisso de ampliar seus conhecimentos e
sensibilidades, para que ele como agente receptor perceba a obra, as diferentes
possibilidades de apreciação e análise e as diversas opiniões dos seus colegas.
Neste sentido, antes de encarar um problema, de apresentar um tema, uma obra ou
um movimento artístico é fundamental fazer um profundo estudo para entender e
poder explicar as deferentes e possíveis abordagens.
Devemos tomar o cuidado para não criar ou ampliar preconceitos sobre
determinados gostos. Precisamos aguçar a percepção em nossos alunos,
possibilitando práticas e vivências através de contato com a arte, explicando que
não existe um único juízo estético, através do qual podemos julgar todas as obras de
arte. Não existe o juízo estético, existem juízos estéticos. A definição do que seja
belo e feio não é natural e nem universal.
Ressaltamos que a arte interage com a história geral da humanidade e o meio
em que vive o artista influencia sua criação artística, bem como esse mesmo meio
influencia as formas como as obras são apresentadas e fluídas.
Finalizando esta parte introdutória, gostaríamos de nos referenciar em João-
Francisco Duarte Junior (2009 p. 83-84), que afirma que na experiência estética,
principalmente em relação à arte, o que está em jogo é a qualidade dos sentimentos
despertados no espectador, que não é idêntica a dos sentimentos surgidos na vida
prática.
DESEVOLVIMENTO
Ao iniciar o Projeto, fez-se uma breve apresentação durante a Semana
Pedagógica para a Direção, Equipe Pedagógica, Professores e Funcionários do
Colégio, objetivando passar informações sobre o tema do Projeto e as atividades
que seriam desenvolvidas durante o semestre.
O Projeto e a Unidade Didática foram apresentados também para os alunos,
com o objetivo de esclarecer a eles a forma como seriam desenvolvidas as
atividades contidas na Unidade Didática. Foi exposto para eles também, a
importância de serem participativos e compreensivos. Esta postura teria que ser
ressaltada por ser uma sala com dois alunos surdos e com a Professora intérprete,
para que a partir desse momento soubessem reconhecer a diversidade presente na
sala e a importância da convivência pacífica frente às diferenças, visando assim uma
construção de tolerância e respeito um com o outro para um bom relacionamento e
desenvolvimento das atividades propostas.
O Projeto foi desenvolvido em etapas, sendo um total de sessenta e quatro
horas aula, durante seis meses. Utilizamos materiais e meios diversificados,
oferecendo conteúdos com abordagens que apresentavam soluções para o
problema diagnosticado. Foi desenvolvido dessa forma para que todos se sentissem
bem e pudessem traçar caminhos que os levassem a um bom conhecimento, já que
seria uma experiência nova em relação ao estudo da arte.
Nas atividades práticas foram utilizadas formas de expressão e materiais
diversificados como: desenho, leitura de imagem, colagem, pintura, grafite para que
os alunos ficassem bem à vontade no momento da criação e pudessem desenvolver
mecanismos que provocassem mudanças em relação a seus gostos estéticos.
Ex: 1(1ª Proposta)
Iniciamos as atividades através de um questionário com o objetivo de
provocar algumas reações que levassem os educandos a um estudo com mais
pertinácia sobre a experiência relacionada à beleza.
A partir da análise do questionário, foi possível analisar o grau de dificuldade
ao responder as questões sugeridas, observamos a falta de argumentação, e as
ideias vagas a respeito das perguntas: “Que conceito você tem sobre o belo e o
feio? Em nossa sociedade existe um padrão de beleza? Qual?”
Mediante as considerações realizadas, elencamos algumas respostas abaixo:
Para o aluno A, o belo estava na organização e o feio era o desorganizado. Já aluno
B, que as formas são belas e a assimetria é feia. Para o aluno C, o belo é algo
realista e o feio é alguma coisa engraçada como pessoas gordas. O aluno D, relatou
que a beleza e feiura existem nas pessoas, nos gostos das pessoas, que cada um
tem um gosto diferente.
Como o objetivo era questionar o conceito que eles possuíam em “relação ao
belo e o feio”, é importante destacar, que foi possível identificar a noção do
conhecimento dos alunos em relação ao tema abordado e mediante tal análise,
constatou-se reações no desenvolvimento prático em relação à arte ao descreverem
sobre o conceito de belo e feio.
Com as respostas obtidas, viu-se o quanto é importante trabalhar a questão
de avaliação estética das obras de arte e sua diversidade, principalmente no que se
refere à arte moderna e contemporânea. Vimos a necessidade de fornecer aos
estudantes subsídios teóricos e vivências práticas que ampliem a experiência
estética em ralação à arte. Neste sentido, a história da arte é importante, pois pode
fornecer condições de entendimento sobre a ideia do que seja arte, bem como, os
parâmetros para se definir a qualidade artística das obras (incluindo as ideias de feio
e belo), as quais foram modificados ao logo do sec. XX e no início do sec. XXI. A
vivência e o conhecimento restrito dos estudantes dificultam uma abordagem mais
ampla e aprofundada, faltando-lhes, portanto informações que lhes propiciem fazer
uma análise mais significativa.
Salientamos então, a necessidade de trabalhar mais os signos da arte, para
que os alunos entendam melhor a sua linguagem. É importante o estudo dos
processos de criação (e não somente daquilo que se percebe na obra pronta), dos
elementos formais (linhas cores, formas, texturas) bem como, entender o contexto
em que a obra é criada. Não é uma tarefa fácil, já que o convívio com a arte em
muitos casos se resume somente à escola. Cabe ao professor criar as condições,
para que os alunos possam entender, e assim, apreciar a arte com outros olhos,
como pessoas críticas e flexíveis, só então, terão melhores condições de mudar o
conceito do que é belo e feio.
Quanto oportunizei a eles a análise de duas imagens: “uma imagem de
pessoa magra e outra obesa”, eles contestaram. Questionaram sobre padrões de
beleza padronizados pela sociedade contemporânea. Uns achando que ser gordo
era feio e ser muito magra também era feio. Discutiram sobre a questão da saúde,
que precisamos nos cuidar para não submeter-nos aos padrões estéticos impostos
pela sociedade vigente. Concluíram por meio de debate que a beleza e a feiura
estão dentro de cada um, o belo e o feio não existe porque o que é feio para um,
pode ser belo para outro.
Esta proposta trata de um assunto pouco abordado na escola. Muitas vezes o
aluno forma e expressa sua opinião a partir do contexto familiar, por influência da
mídia (dos meios de comunicação), os quais reproduzem assim estereótipos e
preconceitos. Nesta experiência foi possível observar que o estudante não tem muito
domínio sobre o assunto, fazendo com que tenhamos que abordá-lo de forma mais
pormenorizada possível, para que ele possa perceber as diferenças, despertando
neles o interesse por uma nova maneira de perceber a arte. Tal atitude é importante,
pois contribui para que o aluno possa perceber que ele também é um agente que
percebe seu momento histórico, social e cultural e pode atuar para expressá-lo e
transformá-lo através de seus trabalhos.
Também foram trabalhadas outras sobras de arte como “Homem nu, visto de
costas, de Lucien Freud e La Danaid 1889, de Auguste Rodim”. Esse momento foi
muito importante para os estudantes aprenderem a olhar a obra de arte e seus
valores estéticos, entenderem os elementos visuais que compõem uma obra e seus
valores históricos.
Mediante a realização das atividades, analisamos os contextos históricos e
artísticos, os quais estão inseridos os processos de produção das obras.
Propusemos que os educandos elaborassem uma análise das obras analisadas.
Eles fizeram a apreciação e discutiram sobre as duas linguagens artísticas (pintura e
escultura) realizadas pelos artistas. Embora as duas obras abordassem o “Nu
Artístico”, os artistas deixam nelas as suas particularidades.
Uma representa a beleza da juventude – com padrões estéticos exigidos pela
sociedade contemporânea, legitimando o desejo pela beleza e juventude, e a
loucura pela perfeição. Padrões impostos pela sociedade de consumo e que
aceitamos (e contribuímos) fazendo com que as pessoas lutem contra os vestígios
da idade.
A outra obra de Lucien Freud apresenta a realidade da vida, que mesmo
sendo opostos aos padrões de beleza de hoje, sendo considerada “feia”. A obra é
sobre a idade que vai se apoderando das pessoas, desiludindo e quebrando seus
sonhos, mas também pode trazer uma libertação dos padrões de beleza
institucionalizados.
Comentamos a busca desesperadora por uma beleza ideal, o medo de
engordar e o preconceito com pessoas obesas. A ideia de um corpo saudável é tão
distorcida que os gordos são vistos como menos dignos, menos capazes, feios,
deselegantes. Por outro lado, falamos da “anorexia”6. Os educandos fizeram uma
pesquisa, relatando que a maioria dos fatores estão ligados aos conceitos da moda
atual, que determina a magreza absoluta como símbolo de beleza e elegância.
Dessa forma, podemos estabelecer a relação da arte com a vida. Fazer os
estudantes pensar, sentir e entender que a produção de uma obra de arte está
ligada ao contexto histórico do artista. Trabalhamos esses temas de modo teórico
(pesquisas e análises escritas e discursivas) e práticas (releitura e produções
próprias).
Elencamos uma seleção de obras de diversos artistas que os alunos
consideravam belas ou feias de acordo com o gosto estético de cada um. Dessa
maneira apreciamos obras que num primeiro momento eram consideradas feias pela
maioria dos alunos, conversamos, discutimos seu significado histórico, o impacto da
apreciação. Depois, finalmente chegamos a uma conclusão que para a arte, a
beleza pode residir naquilo que ela significa para mim e como me relaciono com ela.
Após essa representação, listamos em duas colunas obras consideradas feias e
belas e expusemos em um mural no pátio da escola.
Ex: 2 (2ª Proposta)
Um momento de reflexão: analisamos uma foto de Frida e uma foto da
atualidade. Elas possuíam características aproximadas, proporcionando aos
estudantes a comparação entre as duas fotos.
Considerando que vivemos num mundo de imagens e que estamos
permanentemente lendo, decodificando e interpretando imagens, realizamos uma
exposição com fotos antigas e atuais trazidas pelos alunos e as expusemos em
cartaz, organizadas em duas colunas.
Nas fotos antigas, era comum, as pessoas usarem chapéus nos dias
festivos, as casas da época eram de madeira, com chão batido, os móveis bem
diferentes da atualidade, as pessoas andavam descalças, as mulheres usavam
6Um transtorno alimentar caracterizado pela limitação por ingestão de alimentos, devido a obsessão
de magreza e o medo mórbido de ganhar peso.
lenços na cabeça. Houve vários questionamentos, quando se observou nas
paisagens muita vegetação que hoje, foram substituídas pelas grandes plantações
de trigos, soja, milho e feijão, cereais comuns na região. Focaram ideias
argumentativas sobre o desmatamento, sob um olhar crítico, perceberam em certo
momento “que isso é feio”, o homem destruiu a natureza!
As fotos atuais foram fotografadas em festividades, festas de aniversários,
comunidades, casamentos, batizados. Todos bem vestidos, com expressão de
felicidade, pareciam mais felizes que nas fotos antigas. Após a análise, responderam
um questionário com a seguinte questão: “Em nossa sociedade existe um padrão de
beleza?” Se a resposta for afirmativa, qual? Foram quase que unânimes, no sim. Na
“perfeição”, tudo que é perfeito é belo. A importância de fazer essa análise fica
evidente quando percebemos as mudanças estéticas ocorridas com o tempo.
A sugestão de trazer as fotos da família e analisar vestuário, cortes de cabelo,
maquiagens e outros elementos, é uma forma diferente de instigá-los. Eles se
desarmam e começam a pensar de forma mais simples que o belo e o feio se
alterna de tempo em tempos, que é mutável de acordo com a vivência na sociedade.
Ex 3: (3ª proposta)
Para refletirmos sobre os padrões estéticos, condicionados pelos contextos
de diferentes épocas da história da humanidade, realizamos uma análise da obra “A
Primavera” de Sandro Botticelli. Os alunos ficaram encantados com a beleza da
Vênus centralizada na obra, representando a fertilidade da natureza com seios
caídos, um cupido de olhos vendados atirando a flecha do amor, à esquerda estão
às três graças e logo após o deus mensageiro, mercúrio, afastando as nuvens, o véu
que representa o ocultamento da verdade, tudo harmoniosamente representado no
meio de um bosque de laranjeiras, numa relação do homem com a natureza.
Assim, observamos que a partir do momento que as atividades foram sendo
desenvolvidas, os gostos, mudaram, pois o entendimento dos alunos foi
aperfeiçoado e puderam perceber que cada artista pintava de maneira diferente,
com um significado específico.
Quando estudamos e comparamos imagens de vários períodos artísticos,
passamos a entender com mais facilidade de que maneira os critérios para
classificar o belo e o feio se apresentam. A troca de experiência e o diálogo ampliam
também as informações e os entendimentos sobre o belo e o feio no meio em que
eles estão inseridos. Consequentemente os leva a praticar novas formas de
reflexão, permitindo resgatar parte importante do que foi estudado nos anos
anteriores e principalmente ampliando o entendimento da arte e do seu mundo.
O respeito e considerações pelo repertório estético dos estudantes, neste
momento deve-se ser considerado, pois ninguém é um recipiente vazio, as suas
experiências e múltiplas vivências produzem um repertório pessoal. A escola tem
como tarefa “realizar uma leitura do mundo” (Paulo Freire), e neste sentido, é
importante articular o conhecimento prévio com o estudo dos diversos gêneros,
estilos e movimentos artísticos, para que o estudante ultrapasse o senso comum.
Dando continuidade a essa atividade, realizamos uma pesquisa sobre
fotografia, retratos e autorretrato. Estudamos o histórico da fotografia das primeiras
imagens fotográficas no Brasil, a evolução da tecnologia da fotografia, das máquinas
fotográficas até a atualidade (digitais).
Desenvolvemos também um estudo sobre caricaturas, que enfatiza e exagera
as características de uma pessoa de uma forma humorística, acentuando gestos,
vícios e hábitos particulares de cada um.
Para finalizar organizamos duplas, cada aluno fez a caricatura do colega que
estava na sua frente. Ao término das atividades, montamos uma exposição na sala
de aula, expondo os trabalhos de todos.
O objetivo desta ação pedagógica foi justamente oferecer a possibilidade de
reflexão sobre a forma como os padrões de beleza foram construídos ao longo do
tempo e como foram e são interpretados hoje, pela sociedade e, após uma melhor
compreensão iniciamos um estudo mais aprofundado sobre a vida e obra de Frida
Kahlo.
Ex: 4 (4ª Proposta)
Iniciamos com a exposição de fragmentos do filme Frida, este foi momento de
preocupação, porque todos queriam assistir ao filme, entramos em contato com a
Direção e Equipe Pedagógica, fizemos uma reunião, analisamos algumas cenas e
decidimos que não passaríamos o filme na íntegra por apresentar cenas
inadequadas para a idade deles.
Após uma longa conversa, combinamos que eles assistiriam ao filme inteiro,
mediante autorização dos pais, a maioria dos alunos concordou e puderam levar o
filme para assistir em casa. Todos queriam saber mais sobre a vida de Frida Kahlo.
Oportunizei a eles uma pesquisa no Laboratório de Informática em que
puderam pesquisar a vida e obra da artista, inclusive nos seus aspectos mais
íntimos, como suas dores e sua paixão por Diego Rivera.
Enfim, como sua vida influenciou em sua concepção artística, pois os alunos
devem saber que por trás de cada obra existe um ser humano que sofre, ama e se
alegra.
Mediante a pesquisa descobriram que a pintura de Frida tem muito de dor, de
solidão, da necessidade de fazer a vida seguir em frente. Segundo (BOTREL, 1992,
p. 27),
Só nos deparamos com nós mesmos enquanto sujeito, na medida em que somos mutilados daquilo que nos completariam (no imaginário, no simbólico ou no real). É através dessa falta, que nos produzimos como sujeito.
Frida ficou conhecida por pintar grande quantidade de autorretratos, que
muitas vezes traziam mensagens profundas sobre sua vida pessoal e seus
sofrimentos. A obra “Sem Esperança” demonstra o seu desafio diante da vida, pois
cada elemento obscuro revela a clareza de denúncias embasadas e oriundas da
mente de uma mulher, não de uma simples mulher, mas de diversas Fridas.
Falamos da presença feminina na arte Moderna e na Sociedade
Contemporânea e que as obras de Frida foram apresentadas como algo
revolucionário em relação à arte na América Latina. Angústias de sua vida, e as
relações com sua poética também foram abordadas, bem como seu engajamento
diante da condição da mulher latino americana e a moral vigente na sociedade
mexicana.
Realizamos uma pesquisa sobre a representação da mulher em vários
períodos da história da arte, da pré-história à arte da atualidade. Realizamos a
leitura de trechos do livro História da Feiura de Umberto Eco onde ele relata: “a
respeito da representação da mulher, um tema bastante caro à arte é a sua
libidinosa feiura. A sua misoginia7 ganha largo espaço e o desprezo pela fealdade
feminina refletem a ideia de que em sua desgostosa aparência habita uma malícia
nefasta e sedutora. A velhice é uma forma que serve para evidenciar as horripilantes
formas que uma mulher pode assumir. Em oposição ao culto da beleza da
juventude, a mulher envelhecida e enrugada além de simbolizar a decadência moral,
expressa a maldade que carrega no seu interior deprimente”. (Umberto Eco, História
da Feiura,).
Comentamos também sobre o papel da mulher na sociedade atual, os pontos
positivos e negativos que ela assumiu com a sua busca por sua independência. O
assunto se estendeu, ultrapassando a quantidade de aulas previstas.
Observamos juntos, detalhes das obras de Frida e como estas se relacionam
com sua vida, forma de viver, suas angústias, seus amores (principalmente o amor
incondicional por Diego Rivera), abortos, acidente, vivência familiar. Foi ressaltado
que todos nós temos nossas angústias e medos e que cada ser manifesta de
maneira diferente seus sentimentos. Ela, por exemplo, expressou sua vida em arte e
justificou isso em uma frase “Eu pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque
sou o assunto que conheço melhor”. Frida Kahlo (2007).
Frida passou por momentos difíceis em sua vida, sofreu um acidente, o qual a
levou a passar por várias cirurgias e usar por muito tempo coletes ortopédicos.
Aprofundamos também o estudo das obras “A Coluna Partida”, “O Acidente”,
“Viva La Vida” e “O abraço do amor do Universo” todos relacionados com sua vida.
Mostrar algumas características dessas obras fez com que os alunos
associassem-nas com o movimento surrealista. Para os educandos antes as obras
eram feias, mediante o conhecimento prévio. Após uma análise mais profunda de
sua vida, perceberam que Frida pinta a si mesma, achando interessante e afirmando
que realmente o belo e o feio dependem do momento histórico.
7Misoginia (do grego, miso ódio, gine feminino) é a aversão a tudo que é ligado ao feminino e às
mulheres. Algumas teóricas feministas pensam que a sociedade patriarcal é constituída nesse
movimento de expurgar o que é feminino, e de excluir as mulheres, torná-las alheias, abjetas.
A misoginia é por vezes confundida com o machismo e com o androcentrismo, mas enquanto que a primeira se baseia no ódio, o segundo fundamenta-se numa crença na inferioridade da mulher e o último na desconsideração das experiências feministas em favor do ponto de vista masculino.
Ex:5 (5ªproposta)
Como o objetivo era sensibilizar cada vez mais os alunos por meio da leitura
de imagem, estudamos a obra “Sem Esperança” de Frida. Nesta obra observamos o
quanto o ser humano é frágil diante da vida. A lua e o sol expressos pela dor, de
passar dia e noite numa cama com um colete ortopédico, o enorme funil que serve
para alimentar a pintora transbordando alimentos, cenário deprimente. Paisagem ao
fundo seca, sem vida, a lua símbolo implacável de dor, o sol que representa Diego
Rivera em sua vida. Frida Kahlo acrescentou a seguinte explicação por trás do
quadro: “Não me resta a mínima esperança... tudo se movimenta de acordo com o
que a barriga contém.” (KETTENMANN, 2007, p. 70).
Em seguida ao som de uma música erudita do século XIX, fizemos a leitura
do soneto 18 de William Shakespeare e dividimos o soneto. Cada aluno ficou com
uma estrofe, para decorar e recitar na aula seguinte. Momento gratificante, pois
recitaram teatralizando, sem perceber que todos estavam representando.
Foi possível nessa aula explorar a postura discursiva. Distribui aos alunos
palavras em negrito contida no soneto como: amor, verão, belo, chão, tempo, sol,
frieza, dia, eterna e triste. Diante dessas palavras, pedi para que todos escrevessem
um soneto, onde falariam de seus problemas, anseios, amores, angústias e
sofrimentos.
Depois de relatar seus sentimentos, notamos o quanto somos sensíveis
diante da vida. Neste momento foi possível observar e entender que diante da vida
somos todos iguais na forma de amar e de sofrer.
Após terem produzido o soneto, os alunos criaram um desenho relacionado
com o que escreveram. Organizamos um local na escola e expusemos soneto e
obras.
Ex:6 (6ª proposta)
Na sequência das atividades, apresentei aos alunos o movimento Surrealista.
Nesta atividade consideraram as obras maravilhosas. O surreal os impressionou.
Citamos a psicanálise de Freud, e os sentimentos que conduziam as pessoas dessa
época.
Para reafirmar que cada artista está inserido em seu contexto histórico,
propus a eles uma pesquisa sobre Salvador Dali, onde poderiam buscar maiores
informações e principalmente aprofundar os conhecimentos.
Após a pesquisa, analisamos várias obras, observamos sua capacidade na
forma de representar: batatas com ramificações e pés, pinguins com crucifixo no
peito imponente e bem trajado. Tudo isso Dali expressa em uma só frase “como
posso querer que meus amigos entendem as coisas loucas que passam pela minha
cabeça se eu mesmo, não entendo?” – “a única diferença entre eu e um louco é que
não sou louco” (STRICKLAND, 2004, p.151). Através dessa citação pudemos
observar a lógica interna do humano, muitas vezes oculta. Isso também ficou claro
quando solicitei aos alunos que através de um desenho retratassem um sentimento,
sentimento esse, que somente eles saberiam qual. Momento surpresa!
Uma Aluna desenhou um carro voando, pessoas andando no espaço e uma
porta na terra. Perguntei o que significava? Ela disse: “sofri um acidente onde
minhas amigas morreram e eu fui para o hospital em coma, lá senti muito medo de
não voltar para casa”. Revelou-se sentimentos que jamais imaginei que poderiam
passar por suas cabeças. Nesse momento, pude observar o olhar distante e
pensativo dos alunos quando eu apresentava a proposta e instigava a produção.
À medida que as atividades se desenvolveram, o que para eles se
apresentava como loucura ou feiura se transformava em prazer, em desejo de fazer
de forma mais perfeita possível. A proposta de trabalho serviu para reforçar a teoria
de Freud, principalmente as que postulavam as raízes infantis da neurose, a lógica
interna dos sintomas mais ostensivos e os inexplicáveis e as pressões poderosas,
muitas vezes ocultas dos sentimentos ambivalentes. (GAY, 2005, p. 252).
Pesquisamos e selecionamos diversas obras de artistas que pertenceram ao
manifesto surrealista. Fizemos uma sondagem através da apresentação dessas
obras. Os alunos também conheceram outros artistas, despertando a curiosidade
sobre o tema.
Fizemos uma articulação com a disciplina da Língua Portuguesa, partindo do
conhecimento sobre o manifesto surrealismo e seus diversos pintores, o professor
propôs a elaboração de um texto referenciado no surrealismo, em forma de poema.
Os alunos ficaram livres para escolherem o tema, as rimas e o número de linhas.
A partir da elaboração do texto, concretizamos uma produção. Ressaltamos a
importância de se preocupar em fazer um trabalho surreal, fictício. Foi muito
importante nessa atividade os estudantes já terem conhecimento de outras obras
surrealistas.
Ex:7 (7ª proposta)
Através da interdisciplinaridade com a disciplina de Geografia trabalhamos a
parte geográfica do México, as principais características mexicanas, atividades
econômicas, língua falada, divisão do país. Isso fortaleceu muito nosso trabalho.
Quanto a abordagem dos temas, considero que somos beneficiados, pois a
disciplina de arte nos permite circular em diversas áreas do conhecimento, assim
como desenvolver trabalhos que podem ser tanto práticos quanto teóricos e interagir
com outras disciplinas fortalece muito o trabalho formativo, intelectual e sociocultural
dos alunos.
Foi importante estudar os Incas, Maias e Astecas. Os educandos produziram
um relatório, onde cada um colocou seu entendimento. Sobre o assunto foi
relevante, pois tornou-se evidente a necessidade de conhecermos melhor os artistas
latinos americanos e sua cultura, perceber as contribuições que eles podem trazer
na formação e construção de uma sociedade melhor.
Quando a contextualização não é praticada em sala de aula, o entendimento
fica fragmentado. Portanto a interação da cultura e artista, enriquece o trabalho
formativo do educando, entendendo que a Arte é mais uma parte de um todo e não
desconexa dele.
Ex: 8 (8ª proposta)
Cada proposta de atividade foi um desafio, poucos conhecem a vida de Frida
e Diego Rivera. Ela que levava uma vida desregrada, chamando a atenção de
maneira especial pela atitude perante a vida, a política e contrariando os costumes
de família. Seu caso de amor conturbado com Diego Rivera. Estas emoções se
transfiguravam em obras sempre crescentes e complexas, de uma riqueza de
detalhes e cores fortes, trazendo para o apreciador uma leitura perturbadora,
demonstrando a necessidade de uma leitura adequada dos sinais e símbolos
presentes em grandes números em seus desenhos e pintura.
Diego, o grande amor de sua vida, teve vários romances com outras mulheres
ao longo de seu casamento. Uma relação conturbada. “Porque é que lhe chamo
Meu Diego? Ele nunca foi nem nunca será meu. Ele pertence a si próprio”, escreveu
em seu diário (2007, p.76). Esse amor incondicional pelo marido não só dominava
seus pensamentos, como mostra o autorretrato “Diego no Meu Pensamento”, como
ambos formavam um só. Diego está retratado em quase todas as obras de Frida
Kahlo, como se fosse uma parte dela e que não podia viver sem essa parte.
À medida que desenvolvíamos as atividades avançando com os estudos,
observávamos que os gostos estavam mais flexibilizados. Foi possível então, voltar
às questões anteriores. Questionando-os: hoje, como vocês analisam a temática
proposta sobre o belo e o feio? Seus pensamentos mudaram? Abriram-se novos
horizontes?
O aluno A, diz que: “desde quando a professora nos avisou que teríamos um
Projeto na nossa sala, me interessei por ele. Quando começamos a desenvolver as
atividades adorei, porque hoje eu sei a diferença do belo e do feio e que para
entender isso depende do contexto histórico, e isso está bem exposto nas obras da
pintora mexicana Frida Kahlo, na qual fiquei maravilhado com sua história de vida e
suas pinturas. Aprendi que todas as emoções, alegrias, anseios estão em suas
obras. Hoje minha ideia mudou completamente, pois antes para mim o belo e o feio
estavam relacionados a um objeto qualquer, e que as obras de Frida eram
estranhas, feias. Agora descobri o porquê daqueles traços nas pinturas. Eu
agradeço muito à professora por nos ter proporcionado esse trabalho, pois eu
aprendi muito com ele e comecei a admirar e entender outras obras de vários
pintores, então aqui está meu muito obrigado”!
O aluno B descreve assim sua aprendizagem: aprendi que o belo e o feio
estão relacionados ao contexto histórico de cada pintor. De certa forma posso dizer
que não existe o feio para quem sabe entender as mensagens que as obras
transmitem. O feio se transforma em belo, pois ao olharmos algumas obras, sem
termos um conhecimento prévio da mesma, titulamos de feia, mas quando fazemos
um estudo mais aprofundado em que contexto estão inseridas, temos uma visão
diferente. “O belo e o feio estão no conhecimento e na visão de cada um”.
Para o aluno C, o feio, às vezes, pode ser mais belo do que pensamos.
Quando não sabemos o significado de uma obra, ela é para nós simplesmente uma
obra, mas quando passamos a conhecer mais profundamente a sua história, ela se
torna a mais bela de todas. Por que certamente todas elas têm um significado, por
menor e sem graça que seja. Todas têm a sua própria história o seu momento na
vida do artista, querendo ou não essas obras fazem parte da vida de quem as
produzem, conta momentos belos e terríveis.
Portanto pra mim o belo e o feio têm suas diferenças e semelhanças, mas
são muitos parecidos de história. “Uma obra sem uma história seria apenas um
quadro e nada mais.”
Já para o aluno D: “antes do projeto da professora, eu observava as pinturas
de pessoas gordas, magras, pinturas abstratas e pinturas da pintora Frida Kahlo eu
achava muito feias, mas depois do desenvolvimento do projeto, passei a entender e
achar bonito. As pinturas de Frida Kahlo mostra sua vida cheia de sofrimento.
Entendo, hoje, que antes de fazer qualquer julgamento, devemos estudar a vida do
artista e o contexto histórico em que o artista e pintura estão inseridos, dessa forma
veremos que todas são belas e que o feio pode ser falta de conhecimento”.
Após as considerações dos alunos percebemos o quanto é importante ter
uma postura crítica em relação ao gosto estético, que é formado na relação entre o
objeto/obra e o sujeito que o percebe.
É preciso entender que a compreensão da arte é condicionada pela maneira
com que se vê, se sente e se expressa. Entender é vivenciar o próprio processo
criativo, que é o passo importante para entender a arte. A arte é um fenômeno de
um contínuo renovar, que nunca se esvazia, ao contrário, cada dia se renova pela
mão do artista, pelo olhar do público, pelo sentimento mútuo entre a comunicação do
artista, ou seja, sentimento, obra e público.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho propôs uma reflexão sobre o valor estético das obras de
arte, e principalmente uma reflexão sobre as ideias de belo e feio e também buscou,
promover a ampliação do repertório dos estudantes em relação a vida e obras de
Frida Kalho.
Através do planejamento e execução da proposta de trabalho, os alunos
puderam observar que a beleza e a feiura não são naturais e nem universais, que
essas noções são construídas socialmente e estão em cada um, nas suas vidas.
Entenderam também que a vida nem sempre é bela, que temos os momentos
difíceis na vida. A aplicação desse projeto proporcionou aos alunos maiores
condições de reflexão e participação no contexto em que estão inseridos.
Vários instrumentos de ensino foram utilizados no processo de aprendizagem,
a participação do professor de arte foi essencial na elaboração e apresentação das
atividades, possibilitando uma nova visão de mundo, um novo olhar e novas
concepções de belo e feio, pois interagir com seu meio é responder ao mundo
exterior de maneira crítica, reflexiva e participativa.
Esperamos que os estudantes sejam respeitados quando fizerem um
julgamento em relação ao belo e ao feio e que esse posicionamento frente à vida
torne as coisas muito mais fáceis, criando situações de tolerância e respeito mútuo.
Nossos discentes precisam vivenciar novas situações a fim de
disseminar isso em suas famílias e no meio em que vivem. A sensibilidade e a
compreensão se desenvolverão quando os indivíduos tiverem consciência de suas
condições, questionando assim a arte massificada. Eles ampliarão seus horizontes
de julgamentos e serão capazes de escolher novos livros, novos filmes e de produzir
arte. Saber que o belo e o feio variam na história da humanidade ajuda-os a se
entender no mundo, contribui para que saibam quem são e como podem julgar o
que vêm e o que ouvem.
Acreditamos que a forma mais inteligente para ampliar o gosto estético do
aluno é estender, ao máximo, seu banco de experiência e a troca de informações
sobre o que sentem e como julgam, e nisso a pesquisa foi fundamental.
Os alunos tiveram contato com uma artista modernista, o que os ajudou a
compreender a melhor ideia de belo e feio. Isso amplia a visão da arte, vista muitas
vezes apenas em sala de aula. As obras de Frida Kahlo podem ser entendidas no
limite entre o feio repleto de significados e o belo emocionante de uma artista que
pintava com seu próprio sangue.
Muitos não conheciam o trabalho desta artista. Suas pinturas chamam a
atenção de maneira especial pela atitude dela perante a vida, a política e seus
questionamentos sobre os costumes de família, seu caso de amor com Diego
Rivera, vendo que também ela passava pelas grandes perturbações do amor pelo
qual passa todo ser humano. Estas emoções transfiguravam em suas obras
impactantes.
Os resultados deste trabalho foram satisfatórios, o Projeto deu suporte para
que despertassem nos estudantes o interesse em fazer algo interessante, criativo.
Criaram-se possibilidades de desenvolver aspectos cognitivos, perceptivos e
expressivos nas linguagens visuais, por meio da fruição, apreciação, produção e
reflexão. Apesar de grande parte do processo ter sido coletivo, cada estudante foi
respeitado individualmente, pois cada indivíduo tem o seu olhar, a sua concepção
estética, suas preferências artísticas, mesmo que tudo isso esteja em constante
processo de mutação.
REFERÊNCIAS
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