-
ISSN 1984-3577
So Paulo, v. 7, n. 2, jun. 2014
-
_______________________________________________________________________________________________________
RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-124, jun. 2014
2014 Intertox
Peridico cientfico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado
meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro.
Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida desde que citada a fonte.
As opinies e informaes veiculadas nos artigos so de inteira e exclusiva responsabilidade dos
respectivos autores, no representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.
Sees
Artigo Original; Artigo de Atualizao; Comunicao Breve; Ensaio; Nota de Atualizao e
Reviso; Notas
Idiomas de Publicao
Portugus e Ingls
Contribuies devem ser enviadas para .
Disponvel em: .
Normalizao e Produo Web site
Henry Douglas
Capa
Henry Douglas
Projeto Grfico
Henry Douglas
Rua Turiass, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - So Paulo - SP Brasil Tel.: 55 11 3872-8970
http://www.intertox.com.br / [email protected]
RevInter Revista Intertox de Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do
conhecimento. v. 7, n. 2, (jun. 2014).- So Paulo: Intertox. 2014.
Quadrimestral
ISSN: 1984-3577
1. Cincias Toxicolgicas. 2. Risco Qumico. 3. Sustentabilidade
Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.
Biblioteca InterTox II. Ttulo.
1. Cincias Toxicolgicas. 2. Risco Qumico. 3. Sustentabilidade
Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.
Biblioteca InterTox II. Ttulo.
-
_______________________________________________________________________________________________________
RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-124, jun. 2014
Expediente
Editor(a) Conselho Editorial Cientfico (2011-2013)
Maurea Nicoletti Flynn Alice A. da Matta Chasin
Bibliotecria Doutora em Oceanografia (USP) Doutora em Toxicologia (USP)
Com Especializao Ecologia
Comit Cientfico (2011-2013)
Irene Videira Lima
Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal
Toxicologista do IML-SP por 22 anos.
Marcus E. M. da Matta
Doutor em Cincia pela Faculdade de Medicina
USP. Especialista em Gesto Ambiental (USP).
Engenheiro Ambiental e Turismlogo.
Moyss Chasin
Farmacutico-bioqumico pela UNESP-SP
especializado em Laboratrio de Anlises
Clnicas e Toxicolgicas e de Sade Pblica.
Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe
especial e Diretor no Servio Tcnico de
Toxicologia Forense do Instituto Mdico Legal
da SSP/So Paulo. Diretor executivo da
InterTox desde 1999.
Ricardo Baroud
Farmacutico-Bioqumico Toxiclogo, Editor
Cientfico da PLURAIS Revista
Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA
Revista Baiana de Tecnologia.
Eduardo Athayde
Coordenador no Brasil do WWI - World Watch
Institute
Eustquio Linhares Borges
Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da
Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-
Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.
Fausto Antonio de Azevedo
Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral
do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA,
ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretrio
do Planejamento, Cincia e Tecnologia do
Estado da Bahia.
Isarita Martins
Doutora e Mestre em Toxicologia e Anlises
Toxicolgicas (USP), Ps-doutorado em
Qumica Analtica (UNICAMP), Farmacutica-
Bioqumica Universidade Federal de Alfenas
MG.
Joo S. Furtado
Doutor em Cincias (USP), Ps-doutorado
(Universidade da Carolina do Norte, Chapel
Hill, NC, EUA).
Jos Armando-Jr
Doutor em Cincias (Biologia Vegetal) (USP),
Mestre (UNICAMP), Bilogo (USF).
Sylvio de Queiroz Mattoso
Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do
CEPED-BA.
-
_______________________________________________________________________________________________________
RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-124 jun. 2014
Sumrio TOXICOLOGIA
Aspectos toxicolgicos da Benzidamina 5
Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes 17
Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos auxiliares e substitutivos
experimentao animal 37
ECOTOXICOLOGIA
Avaliao do potencial toxicolgico de hormnios sexuais sintticos utilizando
bioensaios 58
Sewage sludge hazard index based on bioassays: strategic tool for the decision-
making process on sludge agricultural use 76
SUSTENTABILIDADE
Registro de emisso e transferncia de poluentes: estudo de caso do processo de
cromao de linguetas de ao carbono 83
SOCIEDADE
A problematizao como estratgia didtica em aulas sobre uso indevido de
drogas e farmacodependncia 114
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
5
Aspectos toxicolgicos da Benzidamina
Gilberto Santos Cerqueira
Programa de Ps-Graduao em Cincias Farmacuticas da
Universidade Federal do Piau, Teresina
Laboratrio de Anatomia, Campus CSHNB
E-mail: [email protected].
Iana Bantim Felicio Callou
Doutora em Farmacologia, Docente do Curso de Nutrio da
Universidade Federal do Piau. Campus CSHNB
Rafaelly Maria Pinheiro Siqueira
Doutorada em Farmacologia pela Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Cear, Cear.
Mailson Fontes de Carvalho
Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Piau. Campus
CSHNB
Ana Paula Fragoso de Freitas
Doutoranda em Cincias Mdicas pela Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Cear, Cear.
Rivelilson Mendes de Freitas
Programa de Ps-graduao em Cincias Farmacuticas, Ncleo de
Tecnologia Farmacutica, Laboratrio de Pesquisa em Neuroqumica
Experimental, Universidade Federal do Piau.
Saulo Rios Mariz
Centro de Cincias Biolgicas e da Sade. Universidade Federal de
Campina Grande
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
6
RESUMO
O uso indevido de medicamentos tem sido objeto de pesquisa. Entre essas
substncias encontramos a benzidamina, um anti-inflamatrio muito
utilizado como droga de abuso. Assim, o objetivo desse trabalho foi realizar
uma reviso bibliogrfica sobre os aspectos toxicolgicos da benzidamina",
enfocando questes clnicas, tanto no que concerne aos efeitos teraputicos
quanto txicos dessa substncia. Foi realizada uma reviso bibliogrfica
atravs das bases de dados Pubmed, SciELO, Lilacs e Medline,
selecionando-se estudos relevantes para a discusso do tema abordado. Aps
anlise dos artigos selecionados, verificou-se que a benzidamina em altas
doses causa um aumento da produo e da liberao dopaminrgica
cerebral, acelerando a atividade no sistema mesocrtico lmbico que controla
as funes, como memria e emoes, causando efeitos de recompensa, tais
como, alterao da percepo da realidade e consequentemente, alucinaes
visuais. Constata-se a necessidade de elaborao de polticas pblicas para
preveno e combate ao uso de drogas, associada a um maior rigor na
dispensao e comercializao desse medicamento pelas farmcias de
drogarias.
Palavras-chave: Benzidamina. Abuso de drogas. Farmacoepidemiologia.
Toxicologia. Transtornos relacionados ao uso de substncias.
ABSTRACT
The drug abuse has been the object of several research. Among these
substances, the benzydamine is widely used as an anti-inflammatory and as
a drug of abuse. We conducted a literature review about the "toxicological
aspects of benzydamine, focusing on clinical issues, both with regard to
therapeutic effects as toxic aspects. A literature review was conducted
through the databases Pubmed, Scielo, Lilacs and Medline, in which studies
were selected, recent and relevant to the discussion of the subject. After
analysis of the selected articles, it was found that the benzydamine in high
doses causes an increase in production and release of dopamine in the brain,
speeding up the activity in the limbic system that controls the functions,
such as memory and emotions, causing changes in the perception of reality
and consequently visual hallucinations. There is a need to formulate public
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
7
policies for preventing and combating drug use, associating with a higher
accuracy in the dispensing and commercialization of medicine by
pharmacies and drugstore.
Keywords: Benzydamine. Drug abuse. Pharmacoepidemiology. Toxicology.
Substance-related disorders.
INTRODUO
A histria da produo e do uso de drogas faz parte da prpria
histria da humanidade. Nas ltimas dcadas, porm, em funo de sua
elevada frequncia, transformou-se em problema mundial de sade pblica,
despertando o interesse de pesquisadores (TAVARES et. 2004).
O consumo de drogas tornou-se motivo de preocupao constante da
sociedade brasileira. Neste contexto, as pesquisas epidemiolgicas sobre o
uso de substncias psicoativas, so de especial relevncia para elaborao de
polticas pblicas adequadas e efetivas de preveno ao uso indevido dessas
substncias (BUCHER 1992; GUIMARES et al. 2004).
A Benzidamina um anti-inflamatrio no esteroidal utilizado no
tratamento de diversas doenas como processos inflamatrios tumefativos e
dolorosos, faringites, laringites, traquetes gengivites, estomatites
vulvovaginites e cervicites. Esse frmaco atua basicamente inibindo a
sntese das prostaglandinas, sendo esse tambm o mecanismo responsvel
por efeitos indesejveis gastrointestinais e renais. No Brasil, prtica
comum o uso indevido de benzidamina, principalmente entre menores de
rua, como droga de abuso, devido aos seus efeitos alucingenos (CANELAS
et al. 2008; MOTA et al. 2010).
No Brasil, levantamentos sistemticos tm sido realizados com o
objetivo de estudar a prevalncia do uso de lcool e outras drogas
psicoativas lcitas e ilcitas, porm existem na literatura poucos estudos
demonstrando o potencial toxicolgico, inclusive psicoativo, da benzidamina.
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
8
Dessa forma, estudos dessa natureza, tornam-se uma importante
ferramenta para clnicos conduzirem o tratamento anti-inflamatrio com
essa droga, bem como para se subsidiar a elaborao de polticas pblicas
voltadas para a preveno do uso indiscriminado de substncias
alucingenas.
Baseado nessas premissas, o objetivo desse trabalho foi realizar uma
reviso bibliogrfica sobre os aspectos toxicolgicos da benzidamina.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica, de base descritiva, realizada
no perodo de junho 2013 a abril de 2014 com o levantamento de dados
pesquisados na literatura, com o objetivo de selecionar estudos relevantes e
recentes para a discusso do tema abordado, encontrados em bibliotecas
virtuais e base de dados como SciELO, Lilacs e Google Acadmico, uti-
lizando a combinao dos seguintes descritores: Benzidamina, Alucingenos
e drogas de abuso e suas respectivas tradues nos idiomas ingls e
espanhol. Essa pesquisa no possui nenhum conflito de interesse.
RESULTADOS E DISCUSSO
Aps as pesquisas nas bases de dados, foram encontrados alguns
artigos sobre a benzidamina, conforme listado na tabela 1.
Tabela 1. Distribuio dos artigos
Bases de dados Ano n %
Lilacs 1998-2014 03 18,75
Google acadmico 1998-2014 10 62,5
Scielo 1998-2014 03 18,75
Total 100
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
9
Qumica e Farmacocintica
A benzidamina o 1-benzil-3-(3-dimetilaminopropil)-1-H-indazol,
conforme frmula estrutural apresentada na figura 1. Trata-se de uma base
fraca, ao contrrio dos medicamentos como a aspirina que so cidos ou
metabolizados em cidos. As principais vias de biotransformao descritas
em ratos e seres humanos so: N-oxidao, hidroxilao do anel benzeno ou
grupo benzlico, eliminao do grupo dimetilaminopropil e desmetilao da
funo amino (KPPEL e TENCER 1985). Verificou-se que a N-oxidao da
benzidamina causada por uma monoxigenase de flavina (KAWAJI et al.
1993).
Figura 1. Estrutura qumica da Benzidamina
A benzidamina pouco absorvida atravs da pele e mucosas sendo
rapidamente absorvida atravs do trato gastrointestinal e sua concentrao
plasmtica atinge o pico em 2 horas (QUANE et al. 1998). A meia-vida de
eliminao de aproximadamente 13 horas. A difuso e a solubilidade deste
frmaco esto dependentes do pH do meio, verificando-se a pH 9 uma maior
frao no-ionizada. No entanto, verificou-se um aumento da permeao
deste atravs das membranas com o aumento do pH na faixa de 5 a 7.6, em
que para valores de pH superiores esta relao deixa de se verificar,
possivelmente, devido a uma diminuio da solubilidade (SARVEIYA, 2005).
Aps 24 horas da administrao oral, 39% do cloridrato de benzidamina
excretado via renal tanto na forma inalterado como metabolizada.
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
10
Farmacodinmica
A Benzidamina um anti-inflamatrio no esteroidal utilizado no
tratamento de diversas patologias como dor, estomatites e processos
inflamatrios como vulvovaginites. Um grande contraste com os frmacos
como a aspirina que a benzidamina um fraco inibidor da sntese de
prostaglandinas, mas tem vrias propriedades, que podem contribuir para a
sua atividade antiinflamatria (KATZUNG 2010). Essas propriedades
incluem a inibio da sntese de citoquina inflamatria, fator de necrose
tumoral- (CE50 = 25 mmol/L). A inibio da exploso oxidativa dos
neutrfilos ocorre em algumas condies, em concentraes de 30 a 100
mmol/L, as concentraes que podem ser produzidas no interior de tecidos
orais, aps aplicao local (QUANTE et al. 1998).
Uma outra atividade de benzidamina aquela conhecida como um
estabilizador da membrana, o que demonstrado por vrias aes, incluindo
inibio da liberao de grnulos de neutrfilos em concentraes que
variam de 3 a 30 mol / L e de estabilizao de lisossomas (QUANTE et al.
1998).
Outra atividade da benzidamina a capacidade de promover
estabilizao da membrana, sendo demonstrado por vrias aes como
inibio da liberao de grnulos de neutrfilos em concentraes que
variam de 3 a 30 mol / L e estabilizao de lisossomas (QUANTE et al.
1998).
A Benzidamina um medicamento seguro, bem tolerado e eficaz,
apresentando poucas contraindicaes. Todavia, o uso em dose elevadas
pode causar reaes adversas importantes do ponto de vista clnico
(BALDOCK et al., 1991). A tabela abaixo apresenta os principais valores de
dose letal mediana (DL 50) desse frmaco para algumas espcies animais e
determinadas vias de administrao.
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
11
Tabela 2. Principais valores de DL50 da Benzidamina em Animais.
DL 50 (mg/Kg) Animal Via
740 Ratos Oral
72 Ratos Intraperitoneal
720 Ratos Subcutnea
43.5 Ratos Intravenosa
440 Ratos Oral
110 Camundongos Intraperitoneal
218 Camundongos Subcutnea
33 Camundongos Intravenosa
O uso da benzidamina seguro em doses teraputicas, porm estudos
mostram que a ingesto de 500 mg de cloridrato de benzidamina, leva ao
desenvolvimento de alucinaes e, se tal uso for associado ao lcool, estas
alucinaes so mais intensas, por isso a utilizao da benzidamina em altas
dosagens tem sido muito comum entre os adolescentes e jovens,
principalmente na vida noturna, em busca da alterao de conscincia e de
efeitos subjetivos. Na superdosagem, h o aumento da produo e da
liberao de dopamina no crebro, acelerando a atividade no sistema
mesocorticolmbico, alm de outros efeitos, como lapsos de memria,
taquicardia, irritao gstrica e hemorragia entrica (GUIDE et al. 2006).
Os efeitos visuais so semelhantes aos provocados pelo uso de cido
lisrgico (LSD). Ocorre o aumento da dopamina no crebro, atuando no
aumento de atividade do sistema lmbico. Os efeitos mais relatados so as
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
12
luzes coloridas aps a movimentao dos olhos e o efeito em cmera lenta,
conhecido pelos usurios como efeito Bruce Lee (GUIDE et al. 2006).
O mecanismo de ao para os efeitos alucingenos de benzidamina
desconhecido (OPALEYE et al. 2009). Porm a presena de indazol poderia
explicar as alucinaes porque semelhante ao composto de indole presente
em serotonina. A semelhana estrutural entre a benzidamina e a serotonina
pode ser traduzido em uma ao serotoninrgica, tais como a ativao
agonista dos receptores 5HT2A. Vrios compostos de indole promovem
alucinao com base neste mecanismo, tal como dietilamina de cido
lisrgico (LSD) e DMT (dimethyltriptamine) (SALDANHA et al. 1993;
CALLAWAY et al. 1999).
Ingesto crnica de uma quantidade excessiva de benzidamina pode
levar a nefropatia caracterizada por necrose papilar com descamao da
papila (leso renal) e ainda pela reduo da taxa de filtrao glomerular
(KATZUNG 2010). Isso ocorre devido ao impedimento do efeito
vasodilatador das prostaglandinas causando vasoconstrico renal e reduo
na taxa de filtrao glomerular. Ainda assim a lipoxigenase induz um
aumento da permeabilidade de capilar, podendo contribuir para a
proteinria, por alterar a barreira de filtrao glomerular (MELGAO et al.
2010). A maioria dos pacientes que desenvolvem nefropatia analgsica
consumiram AINES por at 3 anos, entre 2 e 5 mg por dia.
Nos ltimos anos, uso indevido de benzidamina tem sido popular
entre os adolescentes e jovens (OPALEYE et al. 2009). Na intoxicao aguda
com benzidamina os principais efeitos observados so: delrio, alucinaes,
comportamentos anormais, dor de cabea, nistagmo, diplopia, zumbido,
tonturas, viso turva, convulses, discinesia, letargia, perda de conscincia e
coma (DOGAN et al. 2006). Vrios destes sintomas podem ocorrer com
doses teraputicas, a hipotenso e taquicardia so, por vezes presente. O
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
13
vmito um importante sinal precoce de AINE overdose, e dor abdominal,
nuseas e sangramento intestinal tambm so frequentes (VALE 1997).
No Brasil os dados sobre os efeitos adversos destas drogas so
escassos, mas eles incluem: eritema, prurido, fotossensibilidade, urticria,
broncoespasmo e disfuno renal. Gmez-Lpez et al. (1990) mencionam um
caso de intoxicao em uma menina de seis anos que acidentalmente
ingerido 500mg de benzidamina, sofrendo alucinaes visuais e tteis.
Sintomas como granulocitose, pancitopenia e coagulopatia tambm
pode ocorrer em aguda administrao de AINEs por overdose
(MACDOUGAL et al. 1984; VALE 1997; DOGAN et al. 2006).
Em intoxicao acidental com lactente de 1 ms com um colutrio a
base de benzidamina observou-se manifestaes neurolgica caracterizada
por irritabilidade, crises de espasmos, abalos musculares e cianose
(SCHVARTSMAN e SCHVARTSMAN 1986).
Segundo Souza et al., 2008 os principais efeitos da intoxicao com a
benzidamina encontrados em usurios foram insnia, distrbios
gastrointestinais, dores no estmago, alucinaes visuais do tipo os
raiozinhos. A superdosagem, alm das alucinaes, produz sensao de
perseguio, medo, e em outros, tristeza e abatimento.
Em um caso de intoxicao humana na Turquia foram encontrados
apenas alucinaes e sonolncia, porm a overdose de benzidamina pode
causar granulocitose, pancitopenia e coagulopatia. O tratamento dessa
overdose foi terapia de suporte de rotina, lavagem gstrica, administrao
de carvo ativado, alcalinizao urinria e diurese forada para aumentar a
eliminao de benzidamina (LO e CHAN 1983). Devido s suas
caractersticas, hemodilise improvvel para melhorar a eliminao, mas
pode ser necessrio se a insuficincia renal oligrica se desenvolve (DOGAN
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
14
et al. 2006). No h antdoto especfico conhecido de benzidamina. A Tabela
2 resume os principais efeitos sobre os sistemas orgnicos.
Tabela 3. Resumo das principais manifestaes clnicas induzida pela
benzidamina em seres humanos
Sistemas Manifestaes Clnicas
Sistema
nervoso
Alucinaes, sonolncia, insnia,
alucinaes visuais do tipo os raiozinhos,
como lapsos de memria, delrio,
comportamentos anormais, dor de cabea,
nistagmo, diplopia, zumbido, tonturas,
viso turva, convulses, discinesia,
letargia, perda de conscincia e coma
Sistema
digestrio
Distrbios gastrointestinais, dores no
estmago, vmitos, taquicardia, irritao
gstrica e hemorragia entrica
Sistema
urinrio
Necrose papilar, Insuficincia renal,
anria, hiponatremia, diminuio da taxa
de filtrao glomerular
Sistema
cardiovascular
Taquicardia, hipotenso
Sistema
hematopoitico
Granulocitose, pancitopenia e
coagulopatia
Segundo Saldanha et al. (1993), em todos os casos de intoxicaes com benzidamina
houve alucinaes, que regrediram espontaneamente aps quatro e 17 horas, sem
sequelas, apenas com suporte citado acima.
Consideraes Finais
O uso da benzidamina como droga recreacional um problema de
sade pblica no Brasil e isso agravado pela falta de poltica de controle
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
15
desse medicamento. O uso dessa substncia est associado a reaes
adversas graves no sistema nervoso, urinrio e trato gastrointestinal. A
elaborao de polticas pblicas de combate ao consumo indiscriminado
desse medicamento torna-se uma ferramenta de vital importncia para
diminuir seu uso irracional.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
BALDOCK GA, BRODIE RR, CHASSEAUD LF, TAYLOR T, WAHNSLEY LM.
Pharmacokinetics of benzydamine after intravenous, oral, and topical doses to
human subjects. Biopharm Drug Dispos. 1991;12:481-92.
BORGES BS. Avaliao da Eficcia do tratamento coadjuvante com cloridarto de
benzidamina em vulvovaginites. J. Bras. Ginecologia. V.97 (1987)10; 565-56
BUCHER R. Drogas e drogadio no Brasil. Porto Alegre: Artes Mdicas; 1992.
CALLAWAY JC, MCKENNA DJ, GROB CS, BRITO GS, RAYMON LP,
POLAND RE, ANDRADE EN, ANDRADE EO, MASH DC.
Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans. J
Ethnopharmacol. 1999. 65(3):243-56.
CERVO AL, BERVIAN PA. Metodologia cientfica. So Paulo: Makron Books, 1996.
DOAN M, CAHIDE Y, HSEYIN , AHMET SG. A case of benzydamine HCL
intoxication. Eastern Journal of Medicine: 11: 26-28, 2006.
GMEZ-LPEZ L, HERNNDEZ-RODRGUEZ J, POU J, NOGU S Overdose
aguda devido benzidamina Hum Exp Toxicol 1990; 18 (7) :471-3.
GONZALEZ JB, TARLOFF J. Expression and activities of several drug-
metabolizing enzymes in LLC-PK1 cells Toxicology in Vitro. Volume 18,
Issue 6, December 2004, Pages 887894
GUIDE et al. Otimizao de mtodos para identificao sistemtica de cloridrato de
benzidamina em drgeas e ps utilizando colorimetria, espectrofotometria e
cromatografia em camada delgada. Anais da 58 Reunio Anual da SBPC -
Florianpolis, sc - julho/2006.
GUIMARAES et al. Consumo de drogas psicoativas por adolescentes escolares de
Assis, SP. Rev. Sade Pblica, So Paulo, v. 38, n. 1, Fev. 2004.
KATZUNG BG. Farmacologia, basica e clnica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010.
-
Reviso
CERQUEIRA, Gilberto Santos; CALLOU, Iana Bantim Felicio;SIQUEIRA, Rafaelly Maria
Pinheiro;DE CARVALHO, Mailson Fontes;DE FREITAS, Ana Paula Fragoso;DE FREITAS,
Rivelilson Mendes;MARIZ, Saulo Rios. Aspectos toxicolgicos da Benzidamina. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 05-16, jun. 2014.
16
KAWAJI K, OHARA E, TAKABATAKE. An assay of flavin-containing
monooxygenase activity with benzydamineN-oxidation. Anal. Biochem. 214 (1993),
pp. 409412.
LO GC, CHAN JY. Piroxicam poisoning. Br Med J (Clin Res Ed) 1983; 287: 798.
MELGAO SSC, SARAIVA MIS et al. Nefrotoxicidade dos anti-inflamatrios no
esteroidais. Medicina (Ribeiro Preto) 2010;43(4): 382-90
MOTA DM et al. Uso abusivo de benzidamina no Brasil: uma abordagem em
farmacovigilncia. Cinc. Sade coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, maio 2010.
OPALEYE, ES et al. Recreational use of benzydamine as a hallucinogen among
street youth in Brazil. Rev. Bras. Psiquiatr. So Paulo, v. 31, n. 3, set. 2009.
QUANE PA, GRAHAM GG, ZIEGLER JB. Pharmacology of benzydamine.
Inflammopharmacology, 1998. 6(2): p. 95-107.
SALDANHA VB, PLEIN FA, JORNADA LK. O uso no mdico de
benzidamina: relato de caso J Bras Psiquiatr 1993; 42 (9) :503-5.
SCHVARTSMAN C, SCHVARTSMAN S. Intoxicao por benzidamina
conseqente ingesto de colutrio antiinflamatrio. Pediatria 8 (2):107-9,
jun. 1986.
SANTOS IE. Textos selecionados de mtodos e tcnicas de pesquisa cientfica. 3
eds. Rio de Janeiro: Impetus, 2002. 296 p.
SARVEIYA V, TEMPLETON JF, BENSON HA. Effect of lipophilic counter-ions on
membrane diffusion of benzydamine. Eur J Pharm Sci, 2005. 26(1): p. 39-46.
SOUZA JR de, MARINHO CLC, GUILAM MCR. Consumo de medicamentos e
internet: anlise crtica de uma comunidade virtual. Rev. Assoc. Med. Bras. So
Paulo, v. 54, n. 3, jun. 2008.
TAVARES BF, BERIA JU, LIMA MS de. Fatores associados ao uso de drogas entre
adolescentes escolares. Rev. Sade Pblica, So Paulo, v. 38, n. 6, Dec. 2004
VALE JA. Position statement: gastric lavage. American Academy of Clinical
Toxicology; European Association of Poisons Centres and Clinical Toxicologists. J
Toxicol Clin Toxicol 1997; 35: 711-719.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
17
Plantas Txicas: Conhecimento de
populares para preveno de acidentes
Las Raquel Rodrigues Silva
Licenciada em Cincias Biolgicas, Universidade Federal do Piau.
Campus CSHNB.
Maria Carolina de Abreu
Doutora em Botnica, Professora Adjunto II, Curso de Cincias
Biolgicas, Universidade Federal do Piau - Campus Senador Helvdio
Nunes de Barros.
E-mail: [email protected].
Paulo Michel Pinheiro Ferreira
Doutor em Farmacologia, Programa de Ps-graduao em Cincias
Farmacuticas, Departamento de Biofsica e Fisiologia, Centro de
Cincias da Sade, Universidade Federal do Piau.
Ana Carolina Landim Pacheco
Doutora em Biotecnologia, Professora Adjunto II, Curso de Cincias
Biolgicas, Universidade Federal do Piau, Campus Senador Helvdio
Nunes de Barros.
Iana Bantin Felcio Calou
Doutora em Farmacologia, Professora Adjunto I, Curso de Nutrio,
Universidade Federal do Piau, Campus Senador Helvdio Nunes de
Barros.
Gilberto Santos Cerqueira
Ps-doutor em Morfologia, Programa de Ps-Graduao em Cincias
Farmacuticas da Universidade Federal do Piau. Professora Adjunto I,
Laboratrio de Anatomia Universidade Federal do Piau- Campus
Senador Helvdio Nunes de Barros.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
18
RESUMO
No Brasil as intoxicaes com plantas txicas constituem um
problema de sade pblica, sendo a principal causa o problema de
identificao dessas espcies vegetais. Nem sempre a populao tem
conhecimento sobre o potencial txico de uma espcie vegetal, desse modo,
objetivou-se avaliar o conhecimento da populao do municpio de Francisco
Santos - PI sobre plantas txicas. Foram aplicados 101 formulrios de forma
aleatria entre os moradores do municpio, os quais foram anteriormente
esclarecidos sobre o teor da pesquisa. Constatou-se que o conhecimento
sobre plantas txicas emprico, o que no garante uma veracidade das
informaes que a populao possui. H um dficit de conhecimento sobre o
assunto, evidenciado quando observados os dados sobre o tratamento no
caso de acidentes. Pequena parcela dos entrevistados j recebeu algum tipo
de educao para a preveno de acidentes com plantas txicas. Constatasse
a necessidade de implementar estratgias educativas capazes de
proporcionar populao informaes sobre a toxicidade de determinadas
plantas, modificando hbitos errneos e prevenindo acidentes.
Palavras chave: Intoxicaes. Plantas venenosas. Toxicidade.
ABSTRACT
In Brazil, intoxications by toxic plants are a public health
problem, and difficulty in the identification of these species is the main
cause of the problem. Hardly ever people know about the toxic potential of
plant species, so the objective of this study was evaluate the popular
knowledge in Francisco Santos - PI about toxic plants. 101 forms were
randomly applied to the residents of the town, which were previously
informed about the content of the research. It was verified that knowledge
about toxic plants is usually empirical, which does not guarantee accuracy
of people information. There is a knowledge deficit about the subject,
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
19
demonstrated when observed data about treatment in case of accidental
consumption. Many interviewers have received some kind of information
about prevention of accidents by toxic plants. It was established the need to
implement educational strategies capable of providing to the population
information about the toxicity of some plants, changing bad habits and
preventing intoxication.
Keyword: Intoxication. Poisonous plants. Toxicity.
INTRODUO
Plantas txicas so todos os vegetais que introduzidos no
organismo dos homens ou dos animais domsticos so capazes de causar
danos sade ou at provocar a morte do animal ou atingir a vitalidade
desses seres (ROSSETTI e CORSI 2009). As plantas txicas causam perigo
para a sade dos animais, e no ser humano muitas vezes causam efeitos
indesejveis quando usadas na forma de chs, infuses e outras formas de
consumo, e da vem a necessidade de esclarecer os nveis de toxicidade das
mesmas (VASCONCELOS et al. 2009).
A toxidez das plantas no constante e pode ser afetada por
diversos fatores (CHEEK 1998; TOKARNIA et al. 2000). Algumas plantas
apresentam toxidez apenas em certas condies de administrao ou em
certas pocas do ano. H tambm uma grande variao no contedo do
princpio txico nas diferentes partes das plantas, geralmente a
concentrao maior nas sementes, no entanto a grande maioria das
intoxicaes ocorre por meio da ingesto de folhas. Muitas vezes dependendo
do estado de armazenamento a toxidez da planta pode ser perdida devido ao
processo de secagem das folhas (PUPO 1984; CHEEKE 1998; TOKARNIA et
al. 2000; BARBOSA et al. 2007).
As plantas txicas possuem substncias que por suas
propriedades naturais, fsicas e qumicas, alteram o conjunto funcional em
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
20
vista de sua incompatibilidade vital, conduzindo o organismo vivo a reaes
biolgicas adversas (ALBUQUERQUE 1980).
As plantas txicas podem ser encontradas em todos os ambientes,
seja, como ornamentais no interior das residncias ou nos jardins e praas.
comum a ocorrncia de plantas txicas nas zonas rurais, no conhecidas
pelas populaes locais, favorecendo a ocorrncia das intoxicaes
(VASCONCELOS 1998). No Brasil, a cada dez casos de intoxicao por
plantas, seis ocorrem em crianas menores de nove anos, devido presena
de plantas toxicas em ambientes pblicos, inclusive escolas. As intoxicaes
entre os adultos tambm so frequentes, sendo causadas, principalmente,
pelo uso inadequado de plantas medicinais, plantas alucingenas e abortivas
(VASCONCELOS et al. 2009).
O desconhecimento por parte da populao sobre efeitos
secundrios e toxicidade de espcies utilizadas habitualmente pode levar a
consequncias srias (OLIVEIRA E GONALVES 2006). Assim, este estudo
teve como objetivo principal avaliar o conhecimento da populao do
municpio de Francisco Santos no serto piauiense sobre plantas txicas
baseadas na lista de plantas txicas do Sistema Nacional de Informaes
ToxicoFarmacolgicas (SINITOX), e desse modo proporcionar uma discusso
sobre o potencial de toxicidade para algumas espcies vegetais, identificando
os tipos de plantas txicas existentes no municpio, registrando acidentes e
ao mesmo tempo educando a populao para a preveno de intoxicaes.
METODOLOGIA
O municpio de Francisco Santos apresenta rea de 491,862 Km2, foi
fundado em 24 de dezembro de 1960, esta situadono entorno do municpio de
Picos, regio dos chamados Baixes Agrcolas Piauienses, a uma altitude de
270 metros com clima semimido e quente. Segundo o IBGE (2010) possui
uma populao estimada em 8.592 habitantes e a economia do municpio
assenta-se, principalmente, na cajucultura e em atividades comerciais.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
21
A coleta de dados foi realizada a partir das informaes obtidas
atravs da aplicao de formulrios, constando de informaes sobre o perfil
scio econmico e sondagem sobre o conhecimento de plantas venenosas,
uma amostra (101 sujeitos) aleatria da populao do municpio de
Francisco Santos PI. Foram aplicados 101 formulrios em residncias
escolhidas de forma aleatria. Durante a aplicao dos formulrios,
compostos por 14 questes mistas abordando o perfil da amostra e o
conhecimento sobre plantas txicas, os participantes foram apresentados a
um lbum contendo fotos de 15 plantas reconhecidamente txicas retiradas
do sitio eletrnico do SINITOX. As imagens foram mostradas no momento
em que se indagava sobre a 13 e 14 questes, as quais solicitavam o
contato visual para reconhecimento das espcies txicas a fim de averiguar
se os participantes conheciam as plantas cujas imagens eram apresentadas
e se faziam cultivo de tais espcies.
No processo de coleta de dados foram levadas em considerao as
exigncias contidas na Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade,
que regulamenta a pesquisa com seres humanos (BRASIL, 1996). Para tanto
os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
onde o mesmo apresenta proposta do estudo, assegurando aos participantes
o anonimato, a privacidade e o direito de desistir em qualquer etapa da
pesquisa. Esse estudo no possui nenhum conflito de interesse.
Todos os formulrios foram analisados luz da literatura
pertinente, e os dados compilados e os grficos construdos por meio do
programa Excel 2010.
RESULTADOS E DISCUSSO
Uma amostra da populao do municpio de Francisco Santos foi
entrevistada com o objetivo de avaliar o conhecimento sobre plantas txicas.
Foram realizadas 101 entrevistas tendo como base um formulrio com 14
questes pr-definidas. Os entrevistados foram 43 homens e 58 mulheres.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
22
Nossos estudos corroboram com os estudos de Oliveira e Gonalves (2006),
que avaliando o conhecimento sobre plantas de 360 mineiros de Belo
Horizonte, observou-se a prevalncia do sexo feminino que parece estar mais
voltado utilizao de plantas medicinais em chs e remdios, e por isso as
mulheres so conhecedoras daquelas que tem poder curativo ou que so
txicas, sabendo diferenci-las e nome-las.
A amostra foi composta por pessoas de diferentes graus de
escolaridade, desde no alfabetizados (11) a possuidores de ps-graduao
(3). A escolaridade predominante foi a de Ensino fundamental incompleto
(41) seguido de Graduao Incompleto (16). Percebe-se uma maioria de
sujeitos com ensino fundamental incompleto, o que se traduz em baixa
escolaridade. relevante tambm o nmero de analfabetos, que chega a
representar 10,9% dos participantes. O saber investigado nesse estudo pode
ser originrio do meio popular, ou adquirido de outras fontes. Desse modo,
ter baixa escolaridade no significa que o indivduo no conhece sobre o
potencial txico de determinadas plantas, pois tal saber pode ter sido a ele
repassado de forma oral pelos familiares e na comunidade. Nossos estudos
corroboram com estudos realizados na cidade de Pelotas, RS onde os
pesquisadores observaram baixa escolaridade dos entrevistados onde 63%,
possuam apenas o ensino fundamental incompleto (CEOLIN et al. 2011).
A faixa etria que prevaleceu neste estudo foi entre 18 e 30 anos
(35) correspondendo a 34,6%, seguido da faixa entre 31 a 55 anos (32)
equivalendo a 31,7% da amostra. As demais faixas etrias consideradas 56 a
60 anos (13), 61 75 anos (16) e 76 90 anos (5) perfizeram 33,7% restante
da amostra.
A terceira idade, considerada pela OMS (Organizao Mundial de
Sade) como qualquer pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
anos (BRASIL 2003), ocupou apenas 20,8% desta pesquisa com 21
participantes. Essa faixa etria dotada de maior conhecimento sobre os
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
23
recursos naturais, por terem sentido ao longo da vida a necessidade de
recorrer s plantas como fonte de medicamento e para evitar aquelas que
so txicas para o homem ou para os animais. Em um municpio pequeno
como o de Francisco Santos, apenas com 53 anos de emancipao poltica, a
medicina demorou a se fixar na cidade e durante muitos anos a teraputica
natural foi a nica realizada pelos habitantes do lugar, a partir da
transmisso de saberes e tcnicas pelos descendentes. Desse modo, os idosos
passaram a dominar o conhecimento sobre as plantas e sua utilidade
benfica ou malfica para o homem e para os animais.
O acmulo de conhecimentos empricos sobre a ao dos vegetais
vem sendo transmitido desde as antigas civilizaes at os dias atuais, e a
utilizao de plantas medicinais tornou-se uma prtica generalizada na
medicina popular. O conhecimento sobre plantas medicinais representa
muitas vezes o nico recurso teraputico de muitas comunidades e grupos
tnicos (ALVES et al. 2007).
As novas geraes por nascerem junto s tecnologias e descobertas
cientficas, parecem crer menos na potencialidade das plantas naturais, seja
como medicamento seja nas suas propriedades txicas.
A renda mensal referida pelos participantes da pesquisa foi
averiguada observando as classes: abaixo de um salrio mnimo (42), um
salrio mnimo (44), dois a trs salrios mnimos (14) e acima de trs
salrios mnimos (1). Prevaleceu neste estudo a renda mdia de um salrio
mnimo. O fato de a maioria dos participantes estarem na idade adulta ou
velhice pode justificar a renda mdia mensal em torno de um salrio
mnimo, que seria o recebido pelos aposentados e pensionistas, e a base
salarial para empregos informais no municpio. Por ser uma cidade
pequena, seu custo de vida tambm baixo, o que permite aos seus
habitantes viver satisfatoriamente com tal renda.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
24
Estudo de Arnous, Santos e Beinner (2005) tambm encontrou
baixa renda em 72% dos 500 participantes de uma pesquisa com o objetivo
de verificar o conhecimento e uso de plantas medicinais entre habitantes de
Datas MG.
Quanto a ocorrncia de intoxicaes causadas por espcies de
plantas, a menor parcela dos entrevistados (36) j havia sofrido algum tipo
de intoxicao ou conheciam algum que j sofreu intoxicao por alguma
espcie de planta. Dentre estes, que afirmaram j ter sofrido ou conhecer
algum que j sofreu intoxicao por plantas, questionou-se ainda como se
deu o tratamento para o evento de intoxicao. O tratamento domstico das
intoxicaes foi a forma citada por 31 dos entrevistados enquanto apenas 5
relataram ter procurado ajuda mdica.
Esse dado revela que da mesma maneira que as pessoas utilizam-
se de plantas sem saber ao certo suas propriedades txicas, baseadas
somente na crena popular transmitida ao longo das geraes, realizam o
tratamento para os eventos de intoxicao tambm de modo caseiro, com
frmulas igualmente provenientes do conhecimento popular.
O fato de em apenas 5 casos, dos 36 em que ocorreram
intoxicaes, ter havido a procura por atendimento mdico deve estar
relacionado a gravidade do quadro. Pode-se inferir que essa ao deu-se pela
gravidade da reao txica, que exacerbada no pode ser tratada em casa.
A fim de saber mais sobre a intoxicao ocorrida, os mesmo foram
questionados sobre como se deu o contato com a planta txica. Os achados
revelam que na maioria dos casos foi de modo acidental (34) enquanto
apenas dois participantes apontaram a tentativa de uso medicinal da planta
como causa para a intoxicao.
Pesquisa similar realizada por Vasconcelos, Vieira e Vieira (2009)
encontrou resultado semelhante, onde a maioria dos entrevistados vtimas
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
25
ou conhecedores de casos de intoxicao por plantas txicas informaram que
o contato ou ingesto foi acidental, e o segundo motivo mais citado foi a
tentativa de obter uso medicinal da planta. Do mesmo modo que nesta
pesquisa, a maioria dos participantes que tiveram algum contato tambm
revelou que o tratamento ocorreu em casa.
Dentre os acidentes ocorridos, verificou-se qual parte da planta
havia desencadeado o evento. Prevaleceu o uso das folhas do vegetal como
parte utilizada para a fabricao de chs ou banho que desencadearam o
quadro de intoxicao (Figura 01).
Figura 01. rgos das plantas que provocaram intoxicao, mencionados pelos habitantes
do municpio de Francisco Santos PI, 2013.
Corroborando com esta pesquisa, Maioli-Azevedo e Fonseca-Kruel
(2007) em estudo sobre as plantas medicinais e/ou ritualsticas vendidas em
feiras livres no Rio de Janeiro RJ, onde entrevistaram 54 erveiros, no que
se refere parte utilizada da planta para uso medicinal ou ritual
evidenciou-se um amplo uso das folhas na preparao dos remdios (58%),
seguido pelo uso da flor (16,1%), a planta toda foi utilizada em 10,7% dos
casos, e em porcentagem menores caule (5,3%), frutos (4,3%), casca (3,2%) e
razes (2,1%). Nosso estudo tambm corrobora com os estudos de Freitas e
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
26
colaboradores (2009), que constataram que as folhas foram parte da planta
mais utilizada na preparao dos remdios caseiros 77%.
Santos, Amorozo e Ming (2008) tambm relataram ser a folha a
parte vegetal mais utilizada com finalidade medicinal em todas as
categorias de doenas e tipos de leso, e apenas nos casos de leso a segunda
parte mais utilizada nesses casos foram as cascas. O mesmo foi relatado por
Vasconcelos, Vieira e Vieira (2009), onde a parte da planta que provocou a
intoxicao foi na maioria dos casos as folhas.
Indagou-se os participantes sobre se j haviam recebido algum
tipo de informao ou orientao a respeito das plantas txicas. Dentre os
101 entrevistados, 54 afirmaram que sim. Torna-se urgente o incremento de
estudos interdisciplinares para difuso destes conhecimentos,
principalmente no sentido de informar e alertar sobre os possveis males
causados por determinadas plantas ou grupos vegetais populao
(MAIOLI-AZEVEDO E FONSECA-KRUEL 2007).
Investigou-se tambm qual a fonte para obteno de conhecimento
sobre plantas txicas utilizadas pelos participantes do estudo (Figura 02).
Dentre os meios citados, destacou-se a prpria comunidade (28) como o local
primordial de informaes. Desse modo confirma-se o j expresso em dados
anteriores que o saber dos entrevistados proveniente do meio popular, e
desse modo pode ser passvel de erros, o que compromete e influi
diretamente na sade da populao. A escola foi citada por 17 participantes,
parte da populao que deve ser a jovem que ainda frequenta a escola e nela
obtm informaes a este respeito.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
27
Figura 02. Local de obteno de informaes sobre plantas txicas, mencionados pelos
habitantes do municpio de Francisco Santos PI, 2013.
Observou-se que o conhecimento que os participantes apresentam
sobre as plantas txicas proveniente do meio popular, onde as informaes
so disseminadas pela comunidade a partir de seus descendentes ou por
meio de relatos de experincias pessoais com tais plantas. Desse modo, nem
tudo o que sabe tem comprovao cientfica, e precisa ser mais bem estudado
a fim de informar a populao corretamente sobre os riscos aos quais esto
expostos ao ter contato com tais espcies.
Vasconcelos, Vieira e Vieira (2009), perguntaram entre os
participantes de seu estudo se j haviam recebido algum tipo de informao
sobre plantas txicas, e o resultado revelou que a maioria dos entrevistados
(44,4%) afirmou que no. Como local para obteno de conhecimento
prevaleceu o ambiente residencial, seguido pela escola, na comunidade ou
com vizinhos e uma minoria afirmou ter sido informados em virtude da
formao profissional.
No Brasil existem espcies vegetais conhecidas pelas suas
propriedades medicinais e outras pela sua toxicidade. O desconhecimento
das espcies vegetais txicas apontado pelos especialistas como o principal
fator para ocorrncia desses acidentes. Acredita-se que a melhor forma de
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
28
prevenir o conhecimento e a divulgao das espcies txicas, assim como a
sua preveno em programas educativos junto populao, contribuindo
para a diminuio dos acidentes envolvendo plantas txicas ou suspeitas de
toxidez (VASCONCELOS, VIEIRA E VIEIRA, 2009).
Santos, Amorozo e Ming (2008), pesquisando o conhecimento
popular sobre plantas medicinais entre os habitantes de uma comunidade
rural do estado de So Paulo, revelaram que todos os colaboradores
afirmaram ter adquirido seu conhecimento sobre plantas com membros da
famlia, geralmente as avs e mes que eram parteiras e benzedeiras ou
profissional tradicional como curandeiros, raizeiros, benzedeiras e parteiras
que ali viviam.
Em relao ao conhecimento sobre plantas que se no preparadas
podem causar reao txica, 54 dos participantes afirmaram ser
conhecedores de tais espcies. Os entrevistados foram capazes de descrever
o uso de algumas plantas que puderam identificar no lbum. Os principais
foram: sobre a Taioba braba (Colocasiaantiquorum Schott), seis afirmaram
no saber sua utilidade; sobre a Mamona (Ricinuscommunis L.), 35
reconheceram-na como txica, e 14 destes responderam que ela serve para
extrao de leo, trs para fazer sabo e um que serve para sugar carnego.
Dos participantes, 24 reconheceram o Pinho roxo (Jatrophacurcas L.) e
atriburam-lhe usos como para fazer xarope para a garganta, para fazer
rezas, afinar o sangue e para dor de cabea. A Saia branca
[Daturasuaveolens (Humboldt &Bonpland) Bercht. &Presl.] foi reconhecida
por trs entrevistados, porm no souberam descrever sua utilidade. A
mandioca (ManihotesculentaCrantz) foi reconhecida por 35 que referiram
servir para a fabricao de goma e farinha. O Tinhoro (Caladium bicolor
Schott.) foi reconhecida por 22, onde oito responderam que serve para
ornamentao. O Comigo-ningum-pode (Dieffenbachiaseguine (L.) Schott)
foi descrito como til na ornamentao e para afastar mal olhado. O Avels
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
29
(Euphorbiatirucalli L.) foi referido por dois participantes como til para
tirar verruga.
J as plantas Urtiga (Fleuryaaestuans L.), Aroeira
(Lithraeabrasiliens March.), Espirradeira (Neriumoleander L.), Coroa de
Cristo (Euphorbiamilii (L.) Des Moulins) e Bico de papagaio
(Euphorbiapulcherrima Wild. exKlotzch) foram reconhecidas
respectivamente por 12, cinco, nove, trs e dois participantes, porm no
foirelacionada a nenhuma utilidade.
Para verificar qual a atitude tomada pelos participantes frente
ocorrncia de uma intoxicao por plantas, eles foram questionados sobre
qual a primeira providncia tomariam. Os achados revelam que 91,09% dos
participantes afirmaram que procurariam um mdico, caso ocorresse um
evento do tipo. Ainda foram citadas na mesma proporo (2,97%) como
atitudes imediatas em caso de intoxicao por plantas, a ingesto de leite,
ingesto de gua e desconhecimento de que atitude tomar caso ocorresse tal
evento.
Esse resultado pe em discusso a diferena entre a atitude
referida e a atitude que realmente teriam os participantes em uma
intoxicao por plantas, uma vez que quando questionados sobre o que fez
ao se deparar com o evento a procura de assistncia mdica foi o menos
referido, com maioria relevante afirmando ter tratado em casa o quadro
txico.
Para Vasconcelos, Vieira e Vieira (2009) h substncias txicas
que s fazem efeito cumulativamente, mas a maioria entra em ao ao
primeiro contato. Em qualquer caso, mais seguro comunicar o mdico ou
veterinrio, quando se tratam de crianas ou animais. As plantas
consideradas txicas podem causar reaes diversas, desde alergias na pele
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
30
e mucosas, at distrbios cardiovasculares, respiratrios, metablicos,
gastrintestinais, neurolgicos e em alguns casos o bito.
A Figura 03 traz a resposta dos participantes a respeito do
conhecimento das plantas mostradas em um lbum retirada do site do
SINITOX contendo algumas espcies vegetais, objetivando recorrer
memria fotogrfica dos mesmos como modo de verificar o real conhecimento
sobre tais plantas. V-se que a grande maioria dos entrevistados afirmou
conhecer pelo menos uma das plantas apresentadas, e apenas oito (7,9%)
deles no reconheceram nenhuma delas.
Figura 03. Reconhecimento das espcies, apresentadas em lbum fotogrfico contendo
espcies reconhecidamente txicas registradas no SINITOX, pelos habitantes do municpio
de Francisco Santos PI, 2013.
Estudo de Oliveira e Gonalves (2006) para avaliar o nvel de
conhecimento sobre plantas medicinais e fitoterpicos e potencial de
toxicidade por usurios de Belo Horizonte MG, mostrou que dos 360
participantes 88% conheciam ou j havia ouvido falar sobre as plantas
abordadas.
Vasconcelos, Vieira e Vieira (2009) ao realizarem um
levantamento demonstraram que a maioria das pessoas entrevistadas
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
31
desconhece as plantas txicas apresentadas, o que indica a necessidade de se
realizar trabalhos educativos e preventivos junto populao, haja vista que
a intoxicao por plantas acontece geralmente por desconhecimento do
potencial txico das espcies.
No que se refere ao cultivo de espcies vegetais pelos
participantes em suas residncias, 33 afirmaram cultivar alguma das
plantas mostradas no lbum em seus quintais ou jardins e 68 afirmaram
no realizar tal prtica. Aos que afirmaram cultivar plantas, as mais citadas
dentre aquelas que apareciam no lbum de pesquisa (representadas na
figura 04) foram a mandioca (12), o Tinhoro (10) e o Comigo-ningum-pode
(08).
Figura4. Espcies de plantas txicas cultivadas em suas residncias pelos habitantes do
municpio de Francisco-Santos PI, 2013.
Utilizando a mesma tcnica que neste estudo, de mostrar atravs
de ilustraes algumas espcies de plantas para reconhecimento pelos
entrevistados, Vasconcelos, Vieira e Vieira (2009), identificaram que 38%
deles no reconheceram nenhuma das espcies apresentadas, enquanto que
62% as reconheceram na seguinte frequncia: 38% Comigo-ningum-pode,
13% Mamona e 11% distribudos entre Copo-de-leite), Alamanda e Pinho-
roxo.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
32
Ritter et al. (2002) encontraram em estudo para verificar o uso de
plantas medicinais pelos habitantes de Ip RS que das 105 espcies
identificadas e agrupadas que foram citadas pelos 252 entrevistados, 11
espcies podem ser classificadas como responsveis por efeitos colaterais
e/ou efeitos txicos, evidenciando a necessidade de maior envolvimento dos
profissionais de sade neste aspecto da sade da populao, a fim de
implementar um processo educativo continuado. Alm disso os populares
tambm fazem uso de plantas que ainda no foram alvo de investigao
cientfica, o que aumenta a ocorrncia de intoxicaes.
Arnous, Santos e Beinner (2005) encontraram em pesquisa que
78,5% dos 500 participantes tm o hbito de cultivar plantas medicinais em
seus quintais ou jardins.
CONSIDERAES FINAIS
Constatou-se que a populao estudada possui um baixo
conhecimento para identificao de plantas txicas. A lacuna de
conhecimentos sobre plantas txicas se fez mais evidente quando observados
os dados sobre o tratamento no caso de acidentes, onde a maioria dos
participantes no recorreu ajuda mdica tratando apenas em casa, sem
uma melhor investigao dos efeitos do vegetal no organismo humano. Este
dado foi incoerente com a atitude tomada frente aos casos de intoxicao
referida pelos sujeitos, que seria recorrer a ajuda mdica. Os acidentes
ocorreram em sua maioria com as folhas das plantas txicas, que a parte
mais abundante, acessvel e fcil de manipular.
Um dado relevante a informao de que apenas pequena parte
dos participantes j recebeu algum tipo de educao sobre a preveno de
acidentes com plantas txicas, o que refora a necessidade de intensificar
estratgias educativas capazes de modificar hbitos errneos da populao
em relao ao uso caseiro de plantas em que se desconhecem os reais nveis
de toxicidade. Outra informao que alerta o fato de que esse
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
33
conhecimento popular difundido na comunidade, a partir de vivncias
prprias, o que traz o risco de que as informaes repassadas estejam
incorretas.
Grande maioria dos participantes reconheceu as plantas
mostradas no lbum de pesquisa, porm nem todas eram por eles
consideradas como txicas as que revelam um dficit de conhecimento sobre
o assunto. O cultivo de plantas txicas em quintais e ao redor das
residncias expe crianas a acidentes, aumentando as estatsticas que
mostram que nessa faixa etria que ocorrem a maioria das intoxicaes.
Portanto, verifica-se a necessidade urgente de educar os
muncipes da cidade de Francisco Santos PI sobre o perigo de manipular
plantas txicas, bem como sobre a preveno de acidentes, sobretudo entre
as crianas, modificando hbitos como o de cultivar vegetais txicos em casa
com a finalidade ornamental. Tais aes de educao popular podem ser
veiculadas na mdia, realizadas em postos de sade, grupos de convivncia e
demais locais com aglomerados de pessoas, a fim de que ao educar um
indivduo este seja um transmissor de informaes verdicas e
fundamentadas sobre a toxicidade de determinadas plantas.
AGRADECIMENTOS
Agradeo ao Dr. Helson Freitas da Silveira do Laboratrio de
Anatomia e Disseco Humana da Universidade Federal do Cear pela
reviso do abstract.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALVES, R. R. N.; SILVA, A. A. G.; SOUTO, W. M. S.; BARBOZA, R. R. D.
Utilizao e comrcio de plantas medicinais em Campina Grande, PB,
Brasil. Rev. Eletrnica de Farmcia. v. 4, n. 2, p. 175-198, 2007.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
34
ARNOUS, A. H; SANTOS A. S; BEINNER, R. P. C. Plantas medicinais de
uso caseiro - conhecimento popular e interesse por cultivo comunitrio.
Revista Espao para a Sade, v.6, n.2, p.1-6, 2005.
BARBOSA, R.R.; RIBEIRO FILHO, M. R.; SILVA, I.P.; SOTO-BLANCO, B.
Plantas txicas de interesse pecurio: importncia e formas de estudo. Acta
Veterinria Braslica, v.1, 2007.
BARG, D. G. Plantas Txicas. [Dissertao de Mestrado]. Ps-Graduao
em Engenharia Biomdica: Faculdade de Cincias da Sade de So Paulo.
So Paulo: Instituto Brasileiro de Estudos Homeopticos, 2004.
BRASIL. Ministrio da Sade. Conselho Nacional de Sade. Comisso
Nacional de tica em Pesquisa. Normas para pesquisa envolvendo
seres humanos: (Res. CNS 196/96 e outros) Braslia, DF, 1996. Acesso em:
19/09/2008.
BRASIL. Ministrio da Sade. Estatuto do Idoso. 1. ed., 2. reimpr.
Braslia: Ministrio da Sade, 2003.
CEOLIN, Teila et al. Plantas medicinais: transmisso do conhecimento nas
famlias de agricultores de base ecolgica no Sul do RS. Rev. esc. enferm.
USP, So Paulo, v. 45, n. 1, mar. 2011.
CINTRA, P.; MALASPINA, O.; BUENO, O. C. Plantas txicas para abelhas:
Artigo de Reviso. Arq. Inst. Biol., So Paulo, v.72, n.4, p.547-551, Out.
/Dez. 2005.
CHEEKE, P.R. Natural toxicants in feeds, Forages, and Poisonous
Plants.2 Ed. Danville: IntertatePublisshers, 1998.
CORREA, F. R.; MEDEIROS, R. M. T. Intoxicaes por plantas em
ruminantes no Brasil e no Uruguai: importncia econmica, controle e riscos
para a sade pblica. Pesq. Vet. Bras.21(1):00-00, jan. /mar. 2001.
COSTA, R.L.D.; MARINI, A.; TANAKA, D.; BERNDT, A.; ANDRADE E
F.M.E. Um caso de intoxicao de bovinos por Enterolobium
contortisiliquum (timboril) no Brasil. Archivos de Zootecnia. V. 58, n.
222, p. 313-316, 2009.
FRANA, I. S. X.; SOUZA, J. A.; BAPTISTA, R. S.; BRITTO, V. R. S.
Medicina popular: benefcios e malefcios das plantas medicinais. Rev.
Bras. Enferm, v. 61, n. 2, p. 201-8, 2008.
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
35
FREITAS, APF; LUCENA, CT; MORAIS, AT; CERQUEIRA, GS;
OLIVEIRA, TL; DINIZ, MFF. Levantamento de plantas medicinais
utilizadas no serto paraibano: um estudo transversal. Conceitos Volume
8, Nmero 16, 15-20 pginas, 2011
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. So Paulo: Atlas,
2010.
JUNIOR, V. F. V.; PINTO, A. C.; MACIEL, M. A. Plantas medicinais: cura
segura? Revista Qumica Nova. v. 28, n. 3, So Paulo, 2005.
MAIOLI-AZEVEDO, V.; FONSECA-KRUEL, V. S. Plantas medicinais e
ritualsticas vendidas em feiras livres no Municpio do Rio de Janeiro, RJ,
Brasil: estudo de caso nas zonas Norte e Sul. Acta bot. bras., v. 21, n. 2, p.
263-275, 2007.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia
cientfica. - 5. ed. - So Paulo: Atlas 2003.
MATOS, F. J. A.; LORENZIN, H.; SANTOS, L. F. L.; MATOS, M. E. O.;
SILVA, M. G. V.; SOUSA, M. P. Plantas txicas Estudo de
Fitotoxicologia Qumica de Plantas Brasileiras. So Paulo: Plantarum,
2011.
OLIVEIRA, F. Q.; GONALVES, L. A. Conhecimento sobre plantas
medicinais e fitoterpicos e potencial de toxicidade por usurios de Belo
Horizonte, Minas Gerais. Revista Eletrnica de Farmcia, v. 3, n. 2, p.
36-41, 2006.
RITTER, M. R.; SOBIERAJSKI, G. R.; SCHENKEL, E. P.; MENTZ, L. A.
Plantas usadas como medicinais no municpio de Ip, RS, Brasil. Rev. Bras.
De Farmacognosia, v. 12, n. 2, p. 51 62, 2002.
RIET-CORREA, F.; MENDEZ, M.C.; SCHILD, A.L. Intoxicaes por
plantas e micotoxicoses em animais domsticos. Montevideo.
Editorial Hemisfrio Sul, 1993.
ROSSETTI, A. C. P. A.; CORSI, M. PLANTAS TXICAS DE
INTERESSE PECURIO REVISO BIBLIOGRFICA 01 disponvel
em www.projetocapim.com.br.Projeto CAPIM Pesquisa e Extenso;
Departamento de Zootecnia; ESALQ-USP.Abril de 2009
-
artigo original
SILVA, Las Raquel Rodrigues;ABREU, Maria Carolina de;FERREIRA, Paulo Michel
Pinheiro;PACHECO, Ana Carolina Landim;CALOU, Iana Bantin Felcio;CERQUEIRA,
Gilberto Santos. Plantas Txicas: Conhecimento de populares para preveno de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36,
jun. 2014.
36
SANTOS, J. F. L.; AMOROZO, M. C. M.; MING, L. C. Uso popular de
plantas medicinais na comunidade rural da Vargem Grande, Municpio de
Natividade da Serra, SP. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.10, n.3, p.67-
81, 2008.
TOKARNIA, C.H.; DBEREINER, J.; PEIXOTO, P.V. Plantas Txicas do
Brasil. Editora Helianthus. Rio de Janeiro. 2000.
TOKARNIA, C.H.; DBEREINER, J. Intoxicao por
Palicoureamarcgravii (Rubiaceae) em bovinos no Brasil. Pesquisa
Veterinria Brasileira. V.6, n.3, p. 73-92, 1986.
VASCONCELOS, J. ; VIEIRA, J. G. de P.; VIEIRA, E. P. de P. Plantas
Txicas: Conhecer para Prevenir. Revista Cientfica da UFPA, v. 7, n 01,
2009.
-
Ensaio
VICTAL, Julia Costa;VALRIO, Laura Brisighelo;OSHIRO, Mariana Cardoso;BAPTISTA,
Stephanie Costa;PINHEIRO, Fabriciano. Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos
auxiliares e substitutivos experimentao animal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 36-57, jun. 2014.
37
Mtodos alternativos in vitro e in silico:
mtodos auxiliares e substitutivos
experimentao animal
Julia Costa Victal
Farmacutica Bioqumica graduada pelas Faculdades Oswaldo Cruz.
Cursando especializao em Assuntos Regulatrios em Cosmticos e
Medicamentos na Faculdades Oswaldo Cruz. Analista de Assuntos
Regulatrios no Sindusfarma.
Laura Brisighelo Valrio
Farmacutica Bioqumica graduada pelas Faculdades Oswaldo Cruz.
Analista da avaliao do risco humano na Syngenta.
Mariana Cardoso Oshiro
Farmacutica Bioqumica graduada pelas Faculdades Oswaldo Cruz.
Analista de Registro da Vigna Brasil Consultoria em Assuntos
Estratgicos e Regulatrios Ltda.
Stephanie Costa Baptista
Farmacutica Bioqumica graduada pelas Faculdades Oswaldo Cruz.
Analista de informaes mdicas na Boehringer Ingelheim do Brasil.
Fabriciano Pinheiro
Biomdico, IB-UNESP/Botucatu. Mestre em Toxicologia e Anlises
Toxicolgicas, FCF-USP/SP. Coordenador e professor do curso de ps-
graduao em Cincias Toxicolgicas das Faculdades Oswaldo Cruz/SP.
Coordenador da Comisso de Estudos Informaes sobre Segurana,
Sade e Meio Ambiente relacionados a Produtos Qumicos (CE-
10:101.05) do Comit Brasileiro de Qumica (ABNT/ CB-10). Diretor
tcnico da Intertox.
-
Ensaio
VICTAL, Julia Costa;VALRIO, Laura Brisighelo;OSHIRO, Mariana Cardoso;BAPTISTA,
Stephanie Costa;PINHEIRO, Fabriciano. Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos
auxiliares e substitutivos experimentao animal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 36-57, jun. 2014.
38
RESUMO
H uma grande quantidade de substncias qumicas presentes no
mercado mundial, como por exemplo, nos setores de agroqumicos e
cosmticos, e devido a necessidade da comprovao de segurana humana e
ambiental, inmeros animais so utilizados em experimentao. Nas
ltimas dcadas, esta prtica vem sendo alvo de muitas crticas por vrios
segmentos da sociedade que questionam o sofrimento dos animais. Na busca
de uma abordagem que reduza, refina e substitua o uso dos animais, surgem
metodologias alternativas embasadas na poltica dos 3Rs. Assim, neste
trabalho, renem-se anlises e discusses para emprego de testes in vitro e
modelos in silico como metodologia alternativa para testes in vivo,
considerando o bem estar animal, e a presena dessas novas metodologias
no cenrio regulatrio nacional e internacional. A partir do exposto observa-
se que os mtodos alternativos podem se comportar como ferramentas
complementares aos testes in vivo, bem como ser um substitutivo
experimentao animal.
Palavras-chave: Bem estar animal. Mtodos alternativos. Programa 3Rs.
Experimentao animal. Toxicologia. Sistema de Teste Integrado.
ABSTRACT
There are a lot of chemical substances present in the world market in
areas such as agrochemicals and cosmetics, and because the need for human
and environmental safety assessment, many animals are used in
experiments. In recent decades, this practice has been the target of much
criticism by various segments of society, questioning the suffering of
animals. In search of an approach to reduce, refine and replace the use of
animals, alternative methodologies arise based in the 3Rs program. In this
work, reviews and discussions for the employment of in vitro tests and in
silico models as an alternative methodology to in vivo tests are gathered
considering animal welfare and the presence of these new methodologies in
the national and international regulatory scenario. From the foregoing, it
can be seen that the alternative methods may behave as complementary
tools for in vivo testing, as well as being a substitute for animal
experimentation.
Keyword: Animal welfare. Alternative methods. 3Rs Program. Animal
experimentation. Toxicology. Integrated Testing Strategies.
-
Ensaio
VICTAL, Julia Costa;VALRIO, Laura Brisighelo;OSHIRO, Mariana Cardoso;BAPTISTA,
Stephanie Costa;PINHEIRO, Fabriciano. Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos
auxiliares e substitutivos experimentao animal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 36-57, jun. 2014.
39
INTRODUO
A utilizao de animais para a compreenso de processos biolgicos
comeou na antiguidade, provavelmente com os estudos de Hipcrates (450
a.C.), que relacionavam o aspecto de rgos humanos doentes com os de
animais. Desde ento, experimentos em animais comearam a ser
amplamente realizados a fim de produzir conhecimento cientfico til aos
seres humanos. A utilizao de animais em experimentao realizada por
inmeros motivos, dentre estes, para avaliar a toxicidade de produtos
qumicos de uso final, como cosmticos e agrotxicos.
A avaliao da toxicidade de uma substncia tem como objetivo
predizer os efeitos nocivos que esta poder desencadear quando em contato
com humanos pelas diferentes vias de exposio (oral, drmica, inalatria,
dentre outras). Para cumprir este propsito, o modelo animal, em
mamferos, o mais utilizado nos estudos toxicolgicos e, requerido nos
processos investigativos, desde o desenvolvimento de produtos at seu
registro e comercializao (CAZARIN et al. 2004). Entretanto, nas ltimas
dcadas, essa prtica vem sendo alvo de muitas crticas por diversos
segmentos da sociedade, os quais questionam o sofrimento destes animais,
exigindo da comunidade cientfica e das autoridades, testes alternativos
experimentao animal.
Atualmente, alguns mtodos alternativos experimentao animal
esto disponveis para avaliao da toxicidade. Nos Estados Unidos, por
exemplo, o NTP Interagency Center for the Evaluation of alternative
Toxicological Methods (NICEATM) juntamente com Interagency
Coordinating Committee on the Validation of Alternative Methods
(ICCVAM) disponibilizam em seu website uma relao de mtodos
alternativos validados e j adotados por agncias internacionalmente
reconhecidas, como a Organisation for Economic Co-operation and
Development (OECD). Neste artigo, renem-se informaes a respeito de
metodologias alternativas in vitro e in silico, alm de anlise e discusso do
emprego dessas novas tcnicas dentro do panorama regulatrio da indstria
cosmtica e agroqumica.
O USO DE ANIMAIS NA REA CIENTFICA
A experimentao animal tem servido, ao longo de muitos anos, como
um meio de se determinar a eficcia e a segurana de diversas substncias e
-
Ensaio
VICTAL, Julia Costa;VALRIO, Laura Brisighelo;OSHIRO, Mariana Cardoso;BAPTISTA,
Stephanie Costa;PINHEIRO, Fabriciano. Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos
auxiliares e substitutivos experimentao animal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 36-57, jun. 2014.
40
produtos, em inmeras reas. A princpio, qualquer animal pode servir
experimentao, porm tem-se procurado utilizar um modelo que apresente
melhor resposta a um determinado estmulo, seja por sua maior
sensibilidade, facilidade de manejo e evidenciao do efeito ou por sua
similaridade anatmica, fisiolgica ou metablica com o homem (ANVISA
2012).
Entretanto, o uso de animais em experimentos tem sido razo de
muitas discusses em funo da alta quantidade utilizada e do sofrimento
causado aos animais. H uma tendncia mundial para reavaliar a utilizao
de animais nos experimentos, concretizada a partir de um programa
denominado de 3Rs (Reduction, Refinement, Replacement), que objetiva,
diminuir o nmero de animais utilizados, minimizar a dor e o desconforto e
buscar alternativas para a substituio dos testes in vivo (CAZARIN et al.
2004).
O PROGRAMA 3Rs
O conceito dos 3Rs surgiu em 1954, em um projeto da Federao das
Universidades para o bem estar animal (The Universities Federation for
Animal Welfare). Em 1959, Willian Russell e Rex Burch publicaram o livro
Princpios das Tcnicas Experimentais Humanizadas (The Principles of
Humane Experimental Technique), no qual afirmaram que a boa pesquisa
em animais deve respeitar os princpios dos 3Rs. O programa dos 3Rs
assim denominado em funo das iniciais em ingls, Reduction (reduo),
Refinement (refinamento) e Replacement (substituio) e tem como objetivo
assegurar uma pesquisa racional e minimizar o uso de animais e o seu
sofrimento, sem comprometer a qualidade do trabalho cientfico que est
sendo executado, visualizando, futuramente, a total substituio de animais
por modelos experimentais alternativos (ANVISA 2012; RUSSEL 1992)
A reduo a diminuio do nmero de animais utilizados em um
nico teste para avaliao de um determinado desfecho. Isso se torna
possvel quando algumas aes so adotadas, como: i) desenvolvimento de
novos protocolos com a utilizao de menor nmero de animais por
experimento; ii) evitar a no replicao dos estudos conduzidos in vivo e a
conduo de estudos utilizando modelos animais que tm demonstrado
irrelevncia na extrapolao dos efeitos para a espcie humana; iii)
desenvolvimento de metodologias ex vivo e in vitro, com o intuito de utiliz-
las como triagem (screening) para a identificao do efeito de relevncia e
para posterior investigao; iv) aperfeioamento da qualidade tcnica dos
-
Ensaio
VICTAL, Julia Costa;VALRIO, Laura Brisighelo;OSHIRO, Mariana Cardoso;BAPTISTA,
Stephanie Costa;PINHEIRO, Fabriciano. Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos
auxiliares e substitutivos experimentao animal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 36-57, jun. 2014.
41
ensaios; e v) a obteno do maior nmero possvel de informaes relevantes
em um pequeno nmero de animais (RUSSEL 1992; BALLS 1994;
CAZARIN et al. 2004).
No refinamento, o principal objetivo a melhora na conduo dos
estudos no sentido de minimizar a dor e sofrimento dos animais, como por
exemplo, o uso de anestsicos ou analgsicos (quando estes no interferirem
nos experimentos) ou na manuteno dos animais em grupos, quando o
desenho experimental no exige isolamento.
J a substituio significa deixar de usar os animais, substituindo
os estudos in vivo por outras metodologias (RUSSEL 1992; BALLS 1994;
CAZARIN et al. 2004).
METODOLOGIAS ALTERNATIVAS IN VITRO
O uso de mtodos alternativos apresenta diversas vantagens, que vo
desde a no utilizao de animais, quando se trata de mtodos de
substituio, at a reduo de custos, j que no se faz necessria a
existncia de infraestrutura de biotrios para criao e manuteno dos
animais. Adicionalmente os mtodos in vitro apresentam como benefcio o
fato de serem menos sujeitos a interferentes externos, j que os animais
sofrem influncia de presena de rudos, alteraes de metabolismo em
funo de alguma modificao de temperatura, ciclo de luz, umidade etc. Da
mesma forma, o espao requerido para um teste in vitro muito menor do
que necessrio para o estabelecimento de um biotrio. Isso facilita de forma
significativa a difuso e implantao desses mtodos (PRESGRAVE et al.
2010).
A seguir, so apresentados alguns mtodos alternativos realizados in
vitro que possuem metodologia mundialmente reconhecida para a avaliao
de endpoints toxicolgicos para: irritao/corroso drmica,
irritao/corroso ocular, mtodo alternativo para avaliao de
citotoxicidade ocular e sensibilizao.
Irritao/corroso drmica
Alguns mtodos in vitro so recomendados para substituir os ensaios
em pele de coelhos, minimizando a dor e o sofrimento dos animais. Porm, a
maioria dos ensaios atualmente propostos consegue identificar apenas as
substncias corrosivas e diferenci-las das no corrosivas, no medindo o
-
Ensaio
VICTAL, Julia Costa;VALRIO, Laura Brisighelo;OSHIRO, Mariana Cardoso;BAPTISTA,
Stephanie Costa;PINHEIRO, Fabriciano. Mtodos alternativos in vitro e in silico: mtodos
auxiliares e substitutivos experimentao animal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 36-57, jun. 2014.
42
potencial de causar irritao drmica, como no teste clssico in vivo
(CORRA et al. 2009).
Neste contexto, at o presente momento h quatro protocolos de testes
in vitro com modelos de pele humana e/ou animal, adotados
internacionalmente pela OECD (430, 431, 432 e 435) e validados pela
Interagency Coordinating Committee on the Validation of Alternative
Methods (ICCVAM) para avaliar corroso drmica. Embora no substitua na
sua totalidade o teste in vivo para avaliar este endpoint toxicolgico, o
ICCVAM recomenda que os quatro mtodos devam ser utilizados como parte
de uma anlise de peso da evidncia em um sistema de teste integrado para
irritao/corroso drmica (NATIONAL TOXICOLOGY PROGRAM 2012b).
OECD