Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Politécnica
PAVIMENTO INTERTRAVADO DE CONCRETO
CONVENCIONAL E PERMEÁVEL
Ana Cristina Rodrigues do Amaral
Rio de Janeiro, 2017
i
PAVIMENTO INTERTRAVADO DE CONCRETO
CONVENCIONAL E PERMEÁVEL
Ana Cristina Rodrigues do Amaral
Projeto de graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título de Engenheira Civil.
Orientadora: Prof. Elaine Garrido Vazquez
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2017
ii
PAVIMENTO INTERTRAVADO DE CONCRETO
CONVENCIONAL E PERMEÁVEL
Ana Cristina Rodrigues do Amaral
Elaine Garrido Vazquez
Projeto de graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título de Engenheira Civil.
Aprovada pela banca:
Elaine Garrido Vazquez, D.Sc. UFRJ/POLI
Pedro de Souza Garrido Neto, M.Sc.
Sandra Oda D.Sc. UFRJ/POLI
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2017
iii
Amaral, Ana Cristina Rodrigues do
Pavimento Intertravado de Concreto Convencional e
Permeável/Ana Cristina Rodrigues do Amaral – Rio de Janeiro:
UFRJ/Escola Politécnica, 2017.
xii, 77 f: II.; 29,7 cm
Orientadora: Elaine Garrido Vazquez
Projeto de Graduação – UFRJ/Poli/Engenharia Civil, 2016.
Referências Bibliográficas: p. 72-77.
1. Introdução. 2. Pavimento Intertravado de Concreto
Convencional e Permeável. 3. Exemplo de Aplicação Prática
para Pavimentos Intertravados. 4. Considerações Finais. 5.
Bibliografia.
I. Vazquez, Elaine Garrido. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.
Título.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus avós que me apoiaram em toda minha trajetória, em especial minha
avó Maria Helena, formada em Engenharia Civil na UFRJ, que muito me inspirou na
escolha da minha carreira e que sempre me serviu de exemplo por ser uma mulher
muito à frente de seu tempo, tendo ela frequentado canteiros de obra com seu pai.
Aos meus pais, pessoas a quem só tenho a agradecer, que se fizeram presentes
em todos os momentos de minha trajetória e tanto me apoiaram na escrita do presente
trabalho.
À minha orientadora Professora Elaine Garrido, que dedicou inúmeras horas
para me guiar nessa pesquisa.
A todos os meus amigos que vivenciaram comigo as mais diversas experiências
de estudar na UFRJ.
v
RESUMO
Com a intensificação do processo de urbanização no Brasil a partir dos anos 1940,
o gerenciamento de água das chuvas tornou-se uma questão problemática nas cidades.
Devido à modificação dos padrões de uso e ocupação do solo, houve um aumento de
área impermeabilizada, tornando espaços que antes possuíam características rurais em
centros urbanos. Como consequência, cresceu a probabilidade de ocorrência de danos à
população como alagamentos, transmissão de doenças e perdas materiais. Nesse
contexto, os projetos de drenagem urbana são concebidos de modo a promover o
escoamento adequado das águas nas cidades, de modo a reduzir, ou até mesmo sanar, os
problemas ocasionados pelo excesso de água em circulação em áreas urbanizadas. Além
dos projetos com sistemas clássicos de macro e microdrenagem, existem técnicas
compensatórias que tanto ajudam a mitigar os problemas decorrentes de uma drenagem
ineficiente quanto surgem também como solução para novos projetos. Dentre elas,
pode-se citar o uso de pavimentos permeáveis. O objetivo do presente trabalho é
apresentar a tecnologia de pavimentos intertravados de concreto convencional e
permeável, em especial o segundo, que é uma das opções de técnica compensatória que
pode ser utilizada dentro do escopo da drenagem urbana sustentável. O método utilizado
será a apresentação teórica do pavimento intertravado de concreto convencional e
permeável e, em seguida, será feito um estudo comparativo entre a abordagem teórica e
um exemplo prático de uma obra na cidade do Rio de Janeiro. Serão apresentadas as
características das peças de concreto, ensaios realizados para verificação de requisitos
normativos das mesmas e o método executivo do pavimento. A principal conclusão do
trabalho foi que a teoria por trás da tecnologia de pavimentos intertravados de concreto
permeável ainda precisa ser difundida no Brasil, visto que erros são cometidos, por
exemplo, por falta de conhecimento de normas por parte do construtor e de empresas
que trabalham com a tecnologia.
Palavras-chave: pavimento intertravado, concreto permeável, técnica
compensatória, peça de concreto.
vi
ABSTRACT
With the growth of the urbanization process in Brazil since the 1940s, rainwater
management became a problematic issue in the cities. Due to the modification of the
land use and occupation patterns, there was an increase of the waterproofed area,
transforming areas with rural characteristics into urban centers. As a consequence, the
probability of damages to the population such as floods, disease transmission and
material losses increased. In this context, urban drainage projects are designed to assure
the adequate flow of water in the cities, so as to reduce or even eliminate the problems
caused by excess water circulating in urbanized areas. In addition to projects that use
classic macro and microdrainage systems, there are compensatory techniques that help
to mitigate the problems of inefficient drainage and also arise as a solution for new
projects. Among them, there is the use of permeable pavements. The main purpose of
the present work is to present the technology of interlocking pavements, especially
those made of permeable concrete, since this is one of the compensatory techniques of
sustainable urban drainage. The methodology used will be the theoretical presentation
of the interlocking pavement, with greater emphasis on the second, and then a
comparative study will be made between the theoretical approach and a practical
example of a construction site in the city of Rio de Janeiro. The paper will approach the
characteristics of the pavers, tests carried out to verify normative requirements with
them and the method of construction of the pavement. The main conclusion of the work
was that the theory behind interlocking permeable concrete pavement technology still
needs to be diffused in Brazil, since mistakes are made, for example, by lack of
knowledge of regulations by the constructor and companies that work with the
technology.
Key words: interlocking pavement, permeable concrete, compensatory techniques,
paver.
vii
Sumário
1 Introdução ................................................................................................................. 1
1.1 Contextualização do Tema ................................................................................. 1
1.2 Objetivo ........................................................................................................... 10
1.3 Justificativa ...................................................................................................... 11
1.4 Metodologia ..................................................................................................... 11
1.5 Descrição dos Capítulos ................................................................................... 11
2 Pavimento Intertravado de Concreto Convencional e Permeável .......................... 13
2.1 Histórico ........................................................................................................... 13
2.2 Características do Pavimento Intertravado de Concreto .................................. 14
2.2.1 Tipos de peças de concreto para piso intertravado ................................... 14
2.2.2 Arranjos e arremates com piso intertravado ............................................. 18
2.2.3 Classificação segundo modelo de infiltração de um pavimento de
intertravado permeável ........................................................................................... 19
2.3 Ensaios para verificação de parâmetros das peças de concreto ....................... 21
2.3.1 Inspeção visual ......................................................................................... 22
2.3.2 Avaliação dimensional ............................................................................. 23
2.3.3 Absorção de água...................................................................................... 23
2.3.4 Resistência à compressão ......................................................................... 24
2.3.5 Resistência à abrasão ................................................................................ 27
2.3.6 Coeficiente de permeabilidade ................................................................. 30
2.4 Procedimento Executivo do Pavimento Intertravado de Concreto Convencional
e Permeável ................................................................................................................. 31
2.4.1 Etapa 0 - Ficha de verificação de serviço ................................................. 32
2.4.2 Etapa 1 - Preparo do subleito .................................................................... 32
2.4.3 Etapa 2 - Instalação das contenções laterais ............................................. 33
2.4.4 Etapa 3 - Execução da camada de sub-base ............................................. 34
2.4.5 Etapa 4 - Execução da camada de base .................................................... 35
viii
2.4.6 Etapa 5 - Execução da camada de assentamento ...................................... 37
2.4.7 Etapa 6 - Assentamento das peças ............................................................ 38
2.4.8 Etapa 7 - Rejuntamento ............................................................................ 39
3 Exemplo de Aplicação Prática para Pavimentos Intertravados .............................. 41
3.1 Caracterização do objeto de estudo.................................................................. 41
3.2 Modelos de peças utilizadas............................................................................. 41
3.2.1 Peça de concreto permeável do tipo Retangular ....................................... 42
3.2.2 Peça de concreto permeável do tipo 16 faces ........................................... 43
3.2.3 Peça de concreto convencional do tipo 16 faces ...................................... 46
3.2.4 Peça de concreto convencional do tipo Raquete ...................................... 48
3.3 Ensaios realizados ............................................................................................ 51
3.3.1 Peça de concreto permeável do tipo Retangular ....................................... 52
3.3.2 Peça de concreto permeável do tipo 16 faces ........................................... 53
3.3.3 Peça de concreto convencional do tipo 16 faces ...................................... 54
3.3.4 Peça de concreto convencional do tipo Raquete ...................................... 54
3.4 Análise final das peças ..................................................................................... 55
3.5 Procedimento Executivo do Pavimento Intertravado ...................................... 56
3.5.1 Etapa 0 - Ficha de verificação de serviço ................................................. 57
3.5.2 Etapa 2 - Instalação das contenções laterais ............................................. 61
3.5.3 Etapa 4 - Execução da camada de base .................................................... 62
3.5.4 Etapa 5 - Execução da camada de assentamento ...................................... 65
3.5.5 Etapa 6 - Assentamento das peças ............................................................ 66
3.5.6 Etapa 7 - Rejuntamento ............................................................................ 67
4 Considerações Finais .............................................................................................. 70
5 Bibliografia ............................................................................................................. 73
ix
Lista de Figuras
Figura 1: Valor Relativo da população por situação de domicílio (presente e residente)
entre 1940-2010 (IBGE, 2010). ........................................................................................ 2
Figura 2: O Ciclo Hidrológico (BRAGA et al.,2005). ..................................................... 3
Figura 3: Alterações Hidrológicas consequentes do crescimento urbano (MATA-LIMA
et al, 2007). ....................................................................................................................... 4
Figura 4: Municípios com problemas de inundações e/ou alagamentos na área urbana e
pontos de estrangulamento no sistema de drenagem – 2008 (IBGE, 2008). .................... 6
Figura 5: Elementos da Microdrenagem (SOUSA, 2011). ............................................... 7
Figura 6: Canal de Macrodrenagem (http://www.ciadanoticia.com.br/, 2017). ............... 8
Figura 7: Telhado verde (http://www.ecocasa.com.br/, 2017). ........................................ 8
Figura 8: Vala de Infiltração (RECESA, 2007). ............................................................... 9
Figura 9: Pavimento intertravado de concreto permeável pré-moldado
(www.oterprem.com.br, 2016). ...................................................................................... 10
Figura 10: Pavimento Intertravado (http://www.pavibloco.com.br/, 2016). .................. 10
Figura 11: Formas Geométricas de Peças de concreto (Adaptado de
http://www.oterprem.com.br/, 2016). ............................................................................. 14
Figura 12: Peças permeáveis de concreto (http://www.oterprem.com.br/, 2016). ......... 15
Figura 13: Arranjos de Peças de concreto (MARTINS, 2012)....................................... 18
Figura 14: Recorte próximo ao meio-fio (SILVA, 2011). .............................................. 19
Figura 15: Recorte próximo à tampa (SILVA, 2011). .................................................... 19
Figura 16: Detalhe do ângulo de inclinação (ABNT, 2013)........................................... 22
Figura 17: Chanfro na peça de concreto (ABNT, 2013). ............................................... 22
Figura 18: Prensa para ensaio de compressão (FIORITI et al, 2010). ........................... 25
Figura 19: Dispositivo do Ensaio de Abrasão (ABNT, 2013). ....................................... 28
Figura 20: Medição da cavidade de abrasão (ABNT, 2013) .......................................... 29
Figura 21: Distribuição de tensões em pavimentos (MANZATO, 2016). ..................... 31
Figura 22: Seção Tipo de Pavimento Permeável Intertravado
(http://www.rhinopisos.com.br, 2017). .......................................................................... 31
Figura 23: Peças com Separadores (MARCHIONI; SILVA, 2011). ............................. 38
Figura 24: Peça de Concreto Permeável Retangular Terracota ...................................... 42
Figura 25: Variedade de cores adotada para pista de caminhada ................................... 42
Figura 26: Assentamento espinha de peixe da peça de concreto permeável retangular . 43
x
Figura 27: Peça de concreto permeável 16 faces ............................................................ 43
Figura 28: Arranjo espinha de peixe das peças de concreto permeável 16 faces ........... 44
Figura 29: Arremate entre vaga e via condominial ........................................................ 45
Figura 30: Acabamento estético entre via condominial e vagas .................................... 45
Figura 31: Via condominial faceando meio-fio .............................................................. 45
Figura 32: Drenos acrescentados na seção transversal ................................................... 46
Figura 33: Peça de concreto convencional 16 faces cinza.............................................. 46
Figura 34: Assentamento trama das peças de concreto convencional 16 faces .............. 47
Figura 35: Arremate das vagas com contenção lateral ................................................... 48
Figura 36: Peça de concreto convencional raquete amarelo........................................... 48
Figura 37: Assentamento linear das peças do tipo raquete ............................................. 49
Figura 38: Preenchimento de arremate com rejunte ....................................................... 50
Figura 39: Calçada com arremates prontos .................................................................... 50
Figura 40: Arremate das peças do tipo raquete em curva............................................... 51
Figura 41: Tampas de visita de esgoto não instaladas .................................................... 58
Figura 42: Tampa de concreto para proteger tubulação subterrânea .............................. 58
Figura 43: Peças mal encaixadas .................................................................................... 60
Figura 44: Compactação da base da contenção lateral ................................................... 61
Figura 45: Assentamento da contenção lateral ............................................................... 61
Figura 46: Rejunte das peças de contenção lateral ......................................................... 62
Figura 47: Espalhamento do material de base ................................................................ 62
Figura 48: Rolo compactador liso e escavadeira ............................................................ 63
Figura 49: Camada de assentamento sendo sarrafeada .................................................. 65
Figura 50: Vara de aço sendo utilizada como guia ......................................................... 66
Figura 51: Distribuição das peças ................................................................................... 66
Figura 52: Assentamento das peças ................................................................................ 67
Figura 53: Serra policorte ............................................................................................... 67
Figura 54: Estacionamento e calçada rejuntados ............................................................ 68
Figura 55: Rolo compactador ......................................................................................... 68
Figura 56: Pista de caminhada pronta............................................................................. 69
xi
Lista de Tabelas
Tabela 1: Crescimento da População Urbana nas Regiões Brasileiras ............................ 2
Tabela 2: Existência de Sistema de Drenagem Urbana nos municípios brasileiros ......... 5
Tabela 3: Indicações de uso por espessura da peça ........................................................ 15
Tabela 4: Valores típicos de Coeficientes de Permeabilidade ........................................ 20
Tabela 5: Classificação de Permeabilidade .................................................................... 21
Tabela 6: Ensaios com peças de concreto ...................................................................... 21
Tabela 7: Resistência mecânica e espessura mínima do revestimento permeável ......... 24
Tabela 8: Coeficiente de Student “t” .............................................................................. 26
Tabela 9: Fator multiplicativo “p” .................................................................................. 27
Tabela 10: Critérios para resistência à abrasão .............................................................. 29
Tabela 11: Quantidade de água para ensaio do coeficiente de permeabilidade ............. 30
Tabela 12: Distribuição Granulométrica recomendada para a sub-base ........................ 34
Tabela 13: Especificação para o material de base e sub-base ........................................ 35
Tabela 14: Distribuição Granulométrica recomendada para a base ............................... 37
Tabela 15: Distribuição Granulométrica recomendada para o material de assentamento
........................................................................................................................................ 38
Tabela 16: Distribuição Granulométrica recomendada para o rejunte ........................... 40
Tabela 17: Ensaios realizados com as peças .................................................................. 52
Tabela 18: Peneiras utilizadas para ensaio de granulometria de base ............................ 63
Tabela 19: Granulometria de referência para base segundo a Construtora “A” ............. 64
Tabela 20: Resultado do ensaio de granulometria para 4 amostras da base ................... 64
Tabela 21: Comparação do valor de referência com a média do ensaio de granulometria
para base ......................................................................................................................... 65
xii
Lista de Quadros
Quadro 1: Abordagens de Drenagem Urbana................................................................... 7
Quadro 2: Normas utilizadas .......................................................................................... 14
Quadro 3: Tipos de peças de concreto ............................................................................ 23
Quadro 4: Etapas do procedimento executivo do pavimento de intertravado de concreto
........................................................................................................................................ 32
Quadro 5: Ensaios para caracterização do subleito ........................................................ 33
Quadro 6: Empresas envolvidas no Estudo de Caso ...................................................... 41
Quadro 7: Itens de Inspeção e Método de Verificação ................................................... 59
1
1 Introdução
1.1 Contextualização do Tema
A partir dos anos 1940, houve uma intensificação do processo de urbanização no
Brasil. Pode-se citar a industrialização brasileira como um dos motivos para o
crescimento urbano.
O processo de industrialização foi acelerado por fatores externos como, por
exemplo, a Crise Norte-Americana de 1929, que proporcionou a queda na demanda
internacional de café – um produto com grande impacto na economia brasileira da
época. Com esse evento, o preço do café começou a cair, desestimulando sua produção,
o que fez com que o governo brasileiro tivesse que investir em outras áreas mais
promissoras.
Outro fator externo que impulsionou a industrialização brasileira foi a 2ª Guerra
Mundial. Após o término da guerra, alguns dos países europeus estavam com as
indústrias arrasadas, sendo necessário importar produtos industrializados de outros
locais. Um dos países beneficiados pelo cenário foi o Brasil. Assim sendo, o Estado teve
que lidar com os interesses tanto da oligarquia rural quanto dos novos industriais
emergentes.
Como consequência do crescimento do número de indústrias no Brasil, as
atividades no campo começaram a ser mais mecanizadas, precisando de menos trabalho
humano braçal. Além disso, as oportunidades nas cidades cresceram muito devido à
mão-de-obra necessária para produção industrial. Ambos os fatos contribuíram para o
aumento da população urbana (DEÁK; SCHIFFER, 2004).
Na figura 1 pode ser observado o crescimento da população urbana com relação
à população rural. Enquanto no ano de 1950 aproximadamente 36% dos brasileiros
residia em área urbana e 64% em área rural, em 2010 a população urbana passa a ser em
torno de 85% e a rural cai para 15% dos brasileiros.
2
Figura 1: Valor Relativo da população por situação de domicílio (presente e residente) entre 1940-2010 (IBGE, 2010).
As quatro metrópoles que mais cresceram no país nas décadas de 70, 80 e 90 do
século XX, encontram-se na região Centro-Oeste: Campo Grande (MS), Cuiabá (MT),
Goiânia (GO) e Brasília (DF). A região foi aquela que apresentou maior incremento
percentual de população no país nesse período. Esse fato gerou impacto positivo para
manter o equilíbrio no processo de urbanização do Brasil, já que historicamente a
concentração populacional é na Região Sudeste (VASCONCELOS, 2006).
Para ilustrar esse fato, a tabela 1 mostra o histórico de crescimento urbano das
regiões do Brasil entre 1950 e 1980, mostrando que a população urbana na região
Centro-Oeste cresceu em torno de 12 vezes em 30 anos, enquanto as outras cresceram
entre 3 e 6 vezes no mesmo período.
Tabela 1: Crescimento da População Urbana nas Regiões Brasileiras
1950 1980 1980/1950 Brasil 18.782.981 82.013.375 4,36 Norte 580.867 3.102.659 5,34 Nordeste 4.744.808 17.959.640 3,78 Sudeste 10.720.734 43.550.664 4,06 Sul 2.312.985 12.153.971 5,25 Centro-Oeste 423.497 5.246.441 12,39
(SANTOS, 2002).
3
Apesar de espalhado pelo país, o aumento populacional em áreas urbanas trouxe
consequências negativas para o Brasil. Com a intensificação da urbanização, há
consequências como, por exemplo, a alteração da cobertura vegetal local. A mesma é
substituída por uma ocupação do solo com superfícies impermeáveis, gerando impacto
no ciclo hidrológico (TUCCI, 1997).
A figura 2 ilustra o Ciclo da Água. Quando chove, parte da chuva é interceptada
pela vegetação – dentre outros – e parte atinge o solo. Para a parcela que atinge o solo,
os três possíveis destinos são infiltrar no mesmo, escoar pela superfície ou ficar retido
em depressões. A proporção entre esses volumes é função de fatores como o tipo de
solo, sua condição e a conformação da bacia.
Figura 2: O Ciclo Hidrológico (BRAGA et al.,2005).
Como dito anteriormente, o processo de urbanização afeta o ciclo hidrológico.
Esse impacto, segundo Tucci (2000), traduz-se em um aumento em 100% no volume de
escoamento superficial para um incremento de 10% na área impermeável. Além disso,
há um aumento de 93,6 a 97,8% desse mesmo volume para um incremento de 10
hab/ha. Ou seja, o crescimento da população e de áreas impermeáveis modifica
substancialmente o escoamento superficial.
Esse efeito é ilustrado na figura 3. Quanto mais área impermeabilizada houver,
maior a percentagem de escoamento superficial e menor a percentagem de água
4
infiltrada. É o que acontece nas áreas urbanas, gerando um excedente de água que
precisa de um encaminhamento: os sistemas de Drenagem Urbana (PINTO et al, 1976).
Figura 3: Alterações Hidrológicas consequentes do crescimento urbano (MATA-LIMA et al, 2007).
Até meados do século XIX, quando as capitais europeias já eram grandes
aglomerados humanos, a prática da drenagem urbana era acessória. Somente na segunda
metade do século começaram a haver mudanças no tratamento do assunto. O motivo
para isso teve início no século XVIII na Itália, quando se percebeu que a mortalidade de
pessoas e animais era influenciada pela presença de zonas alagadiças. Sendo assim,
foram tomadas medidas de saúde pública em alguns países europeus como, por
exemplo, o processo de extinção de banhados e aterramento de fossas receptoras de
esgoto para construção de canalizações enterradas. O intuito era que as redes de esgoto
escoassem o mais rápido possível a água contaminada para o mais longe da onde a
população vivia. Assim, surgiu o conceito sanitarista-higienista. O processo iniciado no
século XVIII intensificou-se na segunda metade do século XIX, após os surtos de cólera
no mundo.
No Brasil, o conceito ganhou força com o Engenheiro Saturnino de Brito, que
argumentou fortemente a favor da mudança do sistema unitário, em que águas pluviais e
esgoto possuem mesmo conduto, para o sistema separador absoluto, em que os condutos
são separados. Essa mudança foi implantada como regra nas cidades brasileiras no
início do século XX, mas somente em 2000 a drenagem urbana foi incluída na Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico (PNSB) (SILVEIRA, 2002).
5
De acordo com o relatório do Ministério do Meio Ambiente (MMA), PNSB de
2008 – última realizada –, é possível ver que mesmo nas regiões em que há sistema de
drenagem, ainda existem diversos problemas no manejo de águas pluviais. A
ineficiência do sistema de drenagem urbana brasileiro pode ser explicada por um
conjunto de fatores incluindo a falta de planejamento urbano, urbanização
descontrolada, sistemas antigos não adaptados à realidade atual e desrespeito às leis de
uso e ocupação do solo (MMA, 2013).
A tabela 2 ilustra a realidade brasileira demonstrando a percentagem de áreas
atendidas pelo serviço de drenagem urbana.
Tabela 2: Existência de Sistema de Drenagem Urbana nos municípios brasileiros
Grandes Regiões
Percentual de municípios com ruas pavimentadas no perímetro urbano, por tipo
de sistema de drenagem (%) Drenagem Superficial
Drenagem Subterrânea
2000 2008 2000 2008 Brasil 80,4 94 85,2 76,4
Norte 95,9 99,5 61,5 46,9 Nordeste 85,9 97,5 65,0 53,2 Sudeste 83,0 94,9 96,0 92,8 Sul 67,2 86,6 99,3 95,1 Centro-Oeste 81,6 91,9 82,2 78,0
(IBGE, 2008).
Mesmo com 94% dos municípios tendo drenagem superficial e 76,4%
subterrânea em 2008, os problemas relativos à má drenagem como inundações e
alagamentos não foram erradicados do país. A figura 4 mapeia algumas regiões com
esses problemas.
6
Figura 4: Municípios com problemas de inundações e/ou alagamentos na área urbana e pontos de estrangulamento no sistema de drenagem – 2008 (IBGE, 2008).
No Brasil, as soluções que são dadas para o gerenciamento das águas urbanas
são baseadas, ainda na maioria das vezes, em projetos calcados na abordagem clássica
da drenagem urbana. Tais projetos podem ser mais eficientes e atingir outros objetivos
com a adoção de técnicas compensatórias que, de acordo com Baptista et al (2015), são
medidas que visam aumentar a capacidade de infiltração e armazenamento de uma área,
com o objetivo de compensar os impactos da urbanização no ciclo hidrológico. O
quadro 1 resume as opções dos sistemas clássicos de drenagem e algumass técnicas
compensatórias.
7
Quadro 1: Abordagens de Drenagem Urbana
Drenagem Urbana
Sistema Clássico
Microdrenagem: meio-fio, boca de lobo, sarjetas, galerias, etc
Macrodrenagem: rede de canais
Técnicas Compensatórias
Telhado verde
Valas de Infiltração
Pavimentos permeáveis
(FONTE: AUTORA, 2016).
O sistema clássico tem foco no rápido escoamento de água e é dividido nos
sistemas de microdrenagem e de macrodrenagem. Já as técnicas compensatórias,
buscam reduzir os efeitos da urbanização sobre o ciclo hidrológico, preservando o
ambiente e aumentando a qualidade de vida local – conceito de Drenagem Urbana
Sustentável (RECESA, 2007).
Conforme ilustrado na figura 5, na microdrenagem a água da chuva é conduzida
pelas ruas e sarjetas até serem captadas em pontos definidos em projeto pelas bocas de
lobo – bocas coletoras. A partir desse ponto, a água segue para galeria principal através
de ramais de ligação. A manutenção se dá por meio de poços de visita localizados
estrategicamente (CREA-MG, 2013).
Figura 5: Elementos da Microdrenagem (SOUSA, 2011).
8
Diferente da microdrenagem, que possui traçado em função da arquitetura das
ruas locais em ambientes urbanos, a macrodrenagem é constituída em grande parte por
uma rede de canais naturais pré-existente à urbanização. A rede possui rios e córregos
que podem sofrer alterações por obras que os modificam ou complementam, como, por
exemplo, canalizações, barragens e diques (www.aquafluxus.com.br, 2016). Um
exemplo de rede de macrodrenagem pode ser visto na figura 6.
Figura 6: Canal de Macrodrenagem (http://www.ciadanoticia.com.br/, 2017).
Com relação às técnicas compensatórias, podem-se citar alguns exemplos como
telhados verdes, valas de infiltração e pavimentos permeáveis.
Telhado verde é uma solução arquitetônica que faz uso de uma camada vegetal
sobre uma cobertura impermeável, auxiliando na gestão de águas pluviais por reduzirem
e retardarem o escoamento superficial, gerado em eventos de chuvas, que é direcionado
à rede de microdrenagem (http://www.ecocasa.com.br/, 2017). Um exemplo de telhado
verde está ilustrado na figura 7.
Figura 7: Telhado verde (http://www.ecocasa.com.br/, 2017).
9
Valas de infiltração, de acordo com Carvalho e Lelis (2000) são estruturas
lineares pouco profundas e vegetadas geralmente utilizadas quando o lençol freático é
superficial ou o manto impermeável é pouco profundo. Elas permitem o armazenamento
temporário de águas pluviais e favorecem sua infiltração no solo. São implantadas ao
longo de rodovias, estacionamentos, parques industriais e áreas verdes de casas,
integrando-se à paisagem enquanto drenam as enxurradas. Na Figura 8 é possível
observar uma vala de infiltração.
Figura 8: Vala de Infiltração (RECESA, 2007).
De acordo Urbonas e Stahre (1993), o pavimento permeável é um dispositivo de
infiltração onde o escoamento superficial é desviado através de uma superfície
permeável para dentro de um reservatório de pedras, por onde infiltra através do solo,
podendo sofrer evaporação ou atingir o lençol freático. Nesse contexto, somente a
composição da camada superior do pavimento intertravado ser formada por peças de
concreto permeável não caracteriza o pavimento como sendo um “pavimento
permeável” e, portanto, para sê-lo, o mesmo deveria apresentar um reservatório
devidamente dimensionado.
Exemplos de revestimentos para pavimentos permeáveis são asfalto poroso,
concreto permeável (pré-moldado ou moldado in loco) e blocos de concreto vazado
(ACIOLI, 2005). A figura 9 apresenta um pavimento intertravado de concreto
permeável pré-moldado.
10
Figura 9: Pavimento intertravado de concreto permeável pré-moldado (www.oterprem.com.br, 2016).
Pavimento intertravado é uma tecnologia cuja estrutura consiste em uma camada
de base – podendo ou não ter sub-base – e uma camada de revestimento, que é
composta por peças de concreto pré-moldados travadas entre si por uma contenção
lateral, como, por exemplo, um meio-fio, e colocados sobre uma camada de
assentamento. As juntas entre as peças são preenchidas com rejunte (ABNT, 2011).
Pavimentos intertravados podem fazer uso de peças de concreto convencional ou
permeável. Um exemplo de peças retangulares de concreto convencional pode ser
observado na figura 10.
Figura 10: Pavimento Intertravado (http://www.pavibloco.com.br/, 2016).
1.2 Objetivo
O objetivo do presente trabalho é apresentar a tecnologia de Pavimentos
Intertravados, tanto os compostos por peças de concreto convencional quanto por peças
de concreto permeável; e, adicionalmente, analisar em uma obra de pavimentação, as
11
características das peças de concreto, os ensaios realizados para verificação de
requisitos normativos das mesmas e o método construtivo do pavimento.
1.3 Justificativa
Em meio a um cenário de ineficiência do Sistema de Drenagem Urbana
Convencional existente no Brasil, torna-se necessária uma abordagem do tema com
técnicas compensatórias que atuem diretamente no problema. Além disso, estas novas
tecnologias sustentáveis interferem menos no meio-ambiente, aumentando a qualidade
de vida do homem e sendo menos ofensivas à natureza (TUCCI, 2008).
Um exemplo de técnica compensatória é o uso de pavimentos intertravados de
concreto permeável. No entanto, ainda existem poucas fontes de pesquisa sobre o
assunto. A Associação Brasileira de Cimento Portland vem realizando estudos sobre o
tema desde 2007 (SANTOS, 2011) e foi lançada a primeira norma de pavimentos
permeáveis no Brasil: NBR 16416 em 2015 (ABNT, 2015).
1.4 Metodologia
O trabalho consiste na apresentação teórica do Pavimento Intertravado de
concreto convencional e permeável, com maior ênfase para o segundo. Serão abordadas
as características das peças de concreto, ensaios realizados para verificação de requisitos
normativos das mesmas e o método executivo do pavimento. Em seguida, será feito um
estudo comparativo entre a abordagem teórica e um exemplo prático de uma obra na
cidade do Rio de Janeiro que fez uso de um pavimento intertravado de concreto
convencional e permeável.
1.5 Descrição dos Capítulos
O primeiro capítulo visa introduzir o tema, apresentando o impacto da urbanização
no ciclo hidrológico natural, o crescimento excepcional das cidades brasileiras, os
problemas de gerenciamento das águas correntes nos espações urbanos, além das
soluções tradicionais e sustentáveis que são dadas para o tratamento da drenagem
12
urbana, trazendo as técnicas compensatórias (telhado verde, vala de infiltração e
pavimento permeável) como alternativas com enfoque sustentável na drenagem urbana.
O segundo capítulo aprofunda-se na tecnologia de Pavimento Intertravado,
especialmente de concreto permeável, que pode ser uma técnica compensatória de
Drenagem Urbana. Serão abordadas as características das peças de concreto, os ensaios
realizados com as mesmas e o procedimento executivo do pavimento.
O terceiro capítulo consiste em um exemplo de aplicação prática de um pavimento
intertravado que relaciona a teoria do capítulo 2 com alguns aspectos observados para
esta tecnologia em uma obra no município do Rio de Janeiro. Serão discutidas as
características de projeto, os resultados de ensaios das peças de concreto realizados na
obra e o procedimento executivo empregado.
O quarto capítulo apresenta as considerações finais do trabalho e também sugestões
para estudos futuros, não deixando de ressaltar as limitações da presente pesquisa.
Por fim, encontra-se a bibliografia utilizada para construção do texto.
13
2 Pavimento Intertravado de Concreto Convencional e Permeável
2.1 Histórico
Com o crescimento das cidades e a necessidade de reduzir o escoamento
superficial, aumentando a infiltração da chuva no solo, foram realizadas experiências
com concreto permeável na França na década de 1940. Devido à qualidade do ligante
asfáltico, que era heterogêneo e apresentava pouca trabalhabilidade, o material não se
sustentava por causa do excesso de vazios.
Com a intensificação dos efeitos do aumento populacional das cidades no período
pós-guerra, França, Japão, Suécia e Estados Unidos voltaram a investir em pesquisas de
concreto permeável na década de 1970. Em 1978, por exemplo, o Ministère de
l’Équipement na França iniciou um programa de pesquisas para explorar novas soluções
que diminuíssem as inundações.
Com a tecnologia do concreto permeável seria possível aliviar os sistemas de
drenagem existentes que foram sobrecarregados, reduzir a poluição sonora e aumentar a
segurança e conforto em dias chuvosos devido à diminuição de poças na rua. Sendo
assim, no final da década de 1980 o mesmo passou a ser produzido industrialmente em
alguns países (ACIOLI, 2005).
Os primeiros tipos de pavimentos permeáveis usaram como revestimento concreto
poroso, asfalto poroso e peças intertravadas de concreto permeável. O pavimento
intertravado de concreto permeável foi introduzido na Europa no fim da década de 1980
e na América do Norte desde 1992, enquanto o asfalto e o concreto poroso foram
introduzidos anteriormente, na década de 1970. Nas últimas duas décadas, o pavimento
intertravado permeável tem sido profundamente estudado (ICPI, 2008). Com relação ao
pavimento intertravado de concreto convencional, seu uso também cresceu em grandes
proporções na década de 1980 e a tecnologia ganhou espaço no Brasil em 1990
(WIEBBELLING, 2015).
Pesquisas sobre pavimentos permeáveis vêm sendo coordenadas pela engenheira
civil Mariana Marchioni desde 2007 na Associação Brasileira de Cimento Portland. O
resultado foi a elaboração de um manual de melhores práticas para pavimentos
permeáveis, tendo como modelo o pavimento intertravado (SANTOS, 2011).
14
Em 2015, foi dado mais um passo no Brasil para o sistema construtivo: a criação
da NBR 16416:2015 com título “Pavimentos Permeáveis de Concreto – Requisitos e
Procedimentos”. A norma aborda requisitos mínimos para projeto, especificação,
execução e manutenção do pavimento. Sua criação serve para assegurar a qualidade do
procedimento executivo da tecnologia e, assim, contribuir para disseminação da técnica
no mercado (ABNT, 2015).
As normas relacionadas com pavimentos intertravados e pavimentos permeáveis
que foram utilizadas para realização desse trabalho podem ser vistas no quadro 2.
Quadro 2: Normas utilizadas
Norma Título
NBR 9781:2013 Peças de concreto para pavimentação - Especificação e métodos de ensaio
NBR 15953:2011 Pavimento intertravado com peças de concreto - Execução
NBR 16416:2015 Pavimentos permeáveis de concreto - Requisitos e procedimentos
(ABNT, 2013; ABNT, 2011; ABNT, 2015).
2.2 Características do Pavimento Intertravado de Concreto
2.2.1 Tipos de peças de concreto para piso intertravado
Existem diversas cores e geometrias de peças de concreto oferecidas por
fornecedores. Na figura 11, podem ser vistos modelos de peças de concreto
convencional oferecidos pela Oterprem, uma empresa paulista de pré-moldados de
concreto que possui selo de qualidade fornecido pela Associação Brasileira de Cimento
Portland – ABCP (http://www.oterprem.com.br/, 2016).
Figura 11: Formas Geométricas de Peças de concreto (Adaptado de http://www.oterprem.com.br/, 2016).
15
Existem também peças permeáveis, como, por exemplo, a de concreto
permeável, a com juntas alargadas e a concregrama. A figura 12 apresenta esses
modelos permeáveis.
Figura 12: Peças permeáveis de concreto (http://www.oterprem.com.br/, 2016).
Além da variedade de formas, pode-se citar a variedade de tamanhos encontrada
no mercado. Deve ser dada uma atenção especial à espessura da peça, pois a mesma
deve ser escolhida em função do uso que será dado ao pavimento. Quanto maior a
espessura de uma peça, maior o travamento do piso. Por isso, deve-se limitar a relação
entre comprimento e espessura (FARIA, 2011).
����������
������ 4 Eq. 1
Na tabela 3, é possível verificar que a espessura é função do tipo de tráfego e da
peça que será usada no local. Vale ressaltar que a caracterização do tipo de tráfego
depende no número de solicitações do eixo padrão (80 kN).
Tabela 3: Indicações de uso por espessura da peça
Tráfego Solicitação do eixo padrão (“N”) Peça de concreto Espessura (cm)
Pedestre Não há trafego de veículos c Convencional 6b Permeável 6a
Leve 105 c Convencional 6b
Permeável 8a Médio 5 x 105 c Convencional 8b Pesado 2 x 107 c Convencional 10b
(Adaptado de: a) NBR 16416:2015 e b) http://www.pavibloco.com.br/, 2016 c) CE-18, 2011).
16
Ao comparar-se o piso intertravado de concreto convencional com o de concreto
permeável, encontram-se alguns benefícios. No entanto, é necessário que algumas
precauções sejam tomadas para manter seu nível de desempenho no que diz respeito à
permeabilidade.
Além do benefício de reduzir o escoamento de água e permitir maior infiltração
da mesma em áreas urbanas, reduzindo o impacto no ciclo hidrológico, o concreto
permeável pode aumentar a segurança, reduzir os ruídos nas pistas e manter a área
permeável de um terreno.
Quando comparado ao concreto convencional, o concreto permeável, em
pavimentos, apresenta uma textura superficial mais rugosa por possuir uma quantidade
inferior ou até mesmo nula de agregados miúdos em sua composição. Essa textura
contribui para um aumento da segurança dos usuários da pista. Por ser rugosa, a
superfície possui um coeficiente de atrito mais elevado e, portanto, reduz o risco de
hidroplanagem. Além disso, a água percola no revestimento permeável, o que evita a
formação de poças e contribui para maior segurança em períodos chuvosos ou de gelo
na pista (BATEZINI, 2013).
Outro ponto positivo é a redução de ruídos, resultado da combinação de
diminuição da geração de sons e da absorção do ruído ainda gerado. Por possuir uma
superfície de contato menor com os pneus por causa dos poros, o concreto permeável
permite que o ar preso abaixo do pneu escape pelos vazios do pavimento, gerando
menos ruído que o pavimento asfáltico, por exemplo. Já sua estrutura mais aberta, altera
tempo de chegada e reflexão de ondas sonoras geradas pelo tráfego de veículos (OLEK
et al, 2003).
O uso de pavimentos permeáveis também traz benefícios legais. Algumas
prefeituras exigem que uma parcela do terreno seja livre de pavimentação com intuito
de manter uma percentagem da área permeável e controlar a impermeabilização em
grandes cidades. Esse valor geralmente varia entre 15 a 30% do terreno. O uso do
pavimento permeável permite manter a área útil do terreno e atender a legislação
(MARCHIONI; SILVA, 2011).
17
Apesar de todos os pontos positivos trazidos pelo uso de pavimentos permeáveis,
são necessários alguns pontos de atenção como uma possível redução da taxa de
infiltração ao longo do tempo e a presença de excesso água no pavimento.
Fatores como o tempo, o crescimento de vegetação e a poluição podem
comprometer a permeabilidade do pavimento à medida que reduzem a capacidade de
infiltração da água. A velocidade do processo depende do volume de tráfego e de
características naturais da região, como a proximidade com fontes de sedimento ou
pequenos resíduos.
Para evitar o problema, o ideal é que haja manutenção periódica no piso. Caso
contrário, a taxa de infiltração é reduzida em aproximadamente 50% nos cinco
primeiros anos e 80% nos dez primeiros. O equipamento utilizado para a manutenção
do piso depende do grau de colmatação. Para situações graves, pode ser necessário
aspirar todo material das juntas e preenchê-las com rejunte novamente. Em outros casos,
ajusta-se o equipamento para uma potência reduzida de forma a retirar apenas
impurezas.
Outro empecilho para que a infiltração da água ocorra conforme planejado pode
ser o surgimento de vegetação nas juntas. Nesses casos, é necessário atentar-se para o
uso de produtos que possam contaminar o solo, sendo preferível que a remoção
completa da raiz da planta seja feita manualmente (MARCHIONI; SILVA, 2011).
A presença da água livre – excesso de umidade – nas camadas do subleito, sub-
base e base também pode gerar efeitos danosos ao pavimento, reduzindo a resistência do
material. Essa perda de capacidade de suporte ocorre basicamente por dois motivos. O
primeiro é a redução de atrito entre os grãos lubrificados. A lubrificação faz com que
possam ocorrer deformações plásticas excessivas quando o pavimento for submetido à
ação das cargas de tráfego.
O segundo motivo para perda de suporte das camadas é a expansão das
partículas do solo. Inicialmente há sucção da água para dentro dos vazios do solo e
depois uma adsorção para os grãos. Dessa forma, as partículas se afastam e as camadas
são desestruturadas. Além disso, depois que o teor de umidade retornar à umidade
ótima, o solo torna-se poroso, pois onde antes havia água, passa a ter vazios.
18
Para minimizar os efeitos danosos da água livre, utiliza-se um sistema de
drenagem subsuperficial para remover rapidamente a água infiltrada. Vale ressaltar a
importância do projeto nessa situação, pois as camadas devem ser drenantes e
compatíveis com o volume de água que receberão. Por isso, é importante que haja um
estudo prévio para dimensionamento correto do pavimento (SUZUKI et al, 2013).
2.2.2 Arranjos e arremates com piso intertravado
Na figura 13 estão ilustrados alguns arranjos comuns para pisos intertravados.
Segundo Shackel e Lim (2003), em artigo divulgado no Interlocking Concrete
Pavement Institute (ICPI), arranjos em espinha de peixe tendem a gerar melhor
travamento do que aqueles mais lineares.
Figura 13: Arranjos de Peças de concreto (MARTINS, 2012).
Ao definir a paginação do piso e seu arranjo, algumas peças entram em contato
com superfícies que não possuem a mesma forma que elas. Nessas situações, é
necessário que as peças sejam arrematadas. Alguns recortes podem ser vistos nas
figuras 14 e 15 que ilustram um arremate próximo ao meio-fio e a uma tampa,
respectivamente. Ainda na figura 14, pode ser observada a serra policorte para fazer os
cortes.
19
Figura 14: Recorte próximo ao meio-fio (SILVA, 2011).
Figura 15: Recorte próximo à tampa (SILVA, 2011).
2.2.3 Classificação segundo modelo de infiltração de um pavimento de
intertravado permeável
Pavimentos intertravados de concreto permeável podem ser classificados segundo
seu modelo de infiltração, podendo ser de infiltração total, infiltração parcial ou sem
infiltração.
Segundo a NBR 16416 (2015), área permeável é uma superfície que contribui
para rápida percolação da água e reduz o escoamento superficial. Ainda de acordo com
essa norma, rápida percolação é aquela cujo coeficiente de permeabilidade é superior a
10−3 m/s.
Quanto mais baixo o coeficiente de permeabilidade do solo, menos permeável ele
é. Nesses casos, pode ser necessária a utilização de tubos de drenagem para auxiliar o
sistema. Dessa forma, evita-se que a água permaneça muito tempo no pavimento e gere
perda de suporte no mesmo (MARCHIONI; SILVA, 2011).
Em um pavimento com infiltração total, a infiltração é o único meio de saída da
água do pavimento. Sendo assim, a camada reservatório (base do pavimento) deve ser
20
dimensionada de acordo com a chuva de projeto para acomodar o volume de água
escoado na camada menos o volume infiltrado. Dessa forma, para toda chuva igual ou
inferior à de projeto, há um controle da descarga de pico (ACIOLI, 2005). Vale ressaltar
que esse tipo de solução não é adequada para pavimentos com subleito que tenha baixa
permeabilidade ou quando o lençol freático for alto (GONÇALVES; OLIVEIRA,
2014).
Já um sistema com infiltração parcial, é aplicado em uma situação intermediária
para condições médias de lençol freático ou permeabilidade do solo. Nesse caso, a água
entra na estrutura, mas a taxa de infiltração não é adequada para encaminhar
completamente a chuva em questão. Logo, parte da água vai para o subleito, mas parte é
escoada para o sistema de drenagem convencional (ABNT, 2015).
Por fim, em um pavimento sem infiltração, a água precipitada fica
temporariamente armazenada na estrutura do pavimento e, então, é encaminhada para o
sistema de drenagem convencional. Ou seja, a água não infiltra no subleito (ABNT,
2015).
Na tabela 4 estão alguns valores típicos do coeficiente de permeabilidade:
Tabela 4: Valores típicos de Coeficientes de Permeabilidade
Solo Coeficiente de Permeabilidade
Argilas < 10-8 m/s
Siltes 10-6 a 10-8 m/s
Areias argilosas 10-7 m/s
Areias finas 10-5 m/s
Areias medias 10-4 m/s
Areias grossas 10-3 m/s
(MARCHIONI; SILVA, 2011).
Esses solos podem ser classificados com permeabilidade baixa, alta ou muito
alta de acordo com a tabela 5. Por exemplo, a areia grossa possui alta permeabilidade
enquanto a areia fina e a argilosa possuem baixa permeabilidade.
21
Tabela 5: Classificação de Permeabilidade
Valores típicos de coeficiente de permeabilidade para solos
Permeabilidade k (m/s)
Pavimentos permeáveis
Muito alta > 10-3
Alta 10-3 a 10-5
Baixa 10-5 a 10-7
Pavimentos impermeáveis
Muito baixa
10-7 a 10-9
Baixíssima < 10-9
(ABNT, 2015).
2.3 Ensaios para verificação de parâmetros das peças de concreto
As peças de concreto convencional e permeável possuem alguns requisitos
similares, como, por exemplo, avaliação dimensional, inspeção visual e resistência à
compressão. Os ensaios realizados para verificar esses requisitos são expostos na tabela
6 especificando os tipos de intertravados que precisam de cada ensaio. Vale ressaltar
que todos os ensaios estão descritos nas normas NBR 16416:2015 para pavimentos
permeáveis e NBR 9781:2013 para peças de concreto convencionais. Os ensaios
comuns aos dois estão descritos na NBR 9781:2013.
Tabela 6: Ensaios com peças de concreto
Ensaios Peça de concreto
Convencional Permeável
Inspeção visual X X
Avaliação dimensional X X
Absorção de água X
Resistência à compressão X X
Resistência à abrasão (facultativo)
X
Coeficiente de permeabilidade X
(Adaptado de NBR 16416:2015 e NBR 9781:2013).
22
2.3.1 Inspeção visual
O intuito da inspeção visual é a identificação de peças defeituosas que possam
vir a prejudicar o assentamento das peças, o desempenho estrutural ou a estética do
pavimento.
Segundo a NBR 9781:2013, as peças devem apresentar aspecto homogêneo, ter
arestas regulares e ângulo de inclinação reto medido com esquadro – ilustrado na figura
16.
Figura 16: Detalhe do ângulo de inclinação (ABNT, 2013).
Além disso, as peças devem estar livres de rebarbas, defeitos, ou descamação e
possuir o espaçador de juntas (incorporado à peça). Caso tenha sido especificado no
projeto, verifica-se também a presença de chanfros que, conforme apresentado na figura
17, devem possuir de 3 a 6 mm.
Figura 17: Chanfro na peça de concreto (ABNT, 2013).
É importante ressaltar que pequenas variações na coloração das peças são
admitidas, mas deve-se seguir o padrão de cor acordado previamente entre o Fornecedor
“D” e o cliente (ABNT, 2013).
23
2.3.2 Avaliação dimensional
A avaliação dimensional é realizada com base no anexo “D” da NBR
9781:2013. A conferência é feita através de um paquímetro com precisão de 0,1 mm,
tomando-se as medidas reais de comprimento, largura e espessura das peças de
concreto. Antes da realização do ensaio, medidas nominais devem ter sido fornecidas
pelo fabricante (ABNT, 2013).
O quadro 3 apresenta os pontos onde as medidas são tomadas de acordo com o
tipo de peça de concreto em questão para que se possa fazer a avaliação dimensional.
Quadro 3: Tipos de peças de concreto
Tipo I
Formato próximo ao retangular com relação comprimento/largura igual a dois. Podem ser assentadas em espinha de peixe ou fileiras
Tipo II
Formato único que só pode ser assentado em fileiras
Tipo III
Formato geométrico característico como trapézio, hexágono e triedros com peso maior que 4 kg
Tipo IV
Peças com tamanhos diferentes ou uma só peça com junta falsa
(Adaptado de ABNT, 2013).
2.3.3 Absorção de água
A absorção da água é obtida pela fórmula a seguir.
� = �������
× 100 Eq. 2
Onde:
� é absorção de água (%)
�� é a massa do corpo de prova seco (g)
�� é a massa do corpo de prova saturado (g)
24
Antes de iniciar o ensaio, descrito no anexo “B” da NBR 9781:2013, as
partículas soltas e o pó são removidos dos corpos de provas utilizando-se uma escova.
As peças são, então, imersas por 24 horas em água à temperatura de (23± 5º C). Em
seguida, os corpos de prova são drenados sobre uma tela metálica por um minuto e a
água superficial visível é removida com pano úmido. Pesam-se individualmente as
peças saturadas com superfície seca e anotam-se os valores encontrados. O
procedimento é repetido a cada duas horas até que não haja diferença de massa maior
que 0,5% entre duas pesagens sucessivas. Assim, é obtido o valor de “��”.
Após o processo de saturação, é iniciada a secagem. As peças saturadas são
levadas à estufa com temperatura (110± 5ºC) por 24 horas. Após esse tempo, os corpos
de prova são pesados. O processo repete-se a cada duas horas até que não haja diferença
de massa maior que 0,5% entre duas pesagens sucessivas. Assim, é obtido o valor de
“��” e calculado o valor de “�”.
O valor médio de “�” obtido para a amostra das peças deve ser igual ou inferior
a 6%. Nenhum valor individual pode ser superior a 7%. No resultado do ensaio de
absorção deve constar a identificação do lote dos corpos de prova, a idade do lote no
início do ensaio, os valores individuais de absorção e o valor médio obtido (ABNT,
2013).
2.3.4 Resistência à compressão
Segundo a NBR 16416:2015, conforme pode ser visto na tabela 7, o valor
mínimo de resistência à compressão para peças de concreto é 35 MPa. Caso o concreto
seja permeável, então o valor mínimo é 20 MPa.
Tabela 7: Resistência mecânica e espessura mínima do revestimento permeável
Tipo de revestimento
Tipo de solicitação
Espessura mínima (mm)
Resistência à compressão
(MPa)
Método de ensaio
Peça de concreto (juntas alargadas ou áreas vazadas)
Tráfego de pedestres
60,0 ≥ 35,0
ABNT NBR 9781
Tráfego leve 80,0
Peça de concreto permeável
Tráfego de pedestres
60,0 ≥ 20,0
Tráfego leve 80,0
(ABNT, 2015).
25
Vale ressaltar que, de acordo com a NBR 9781:2013, no caso de tráfego de
veículos especiais e solicitações capazes de produzir elevados efeitos de abrasão, o
valor mínimo de resistência à compressão é de 50 MPa.
Para viabilizar o ensaio de compressão, a medida real da largura deve ser
superior a 97 mm na área da peça destinada ao teste. Nos pontos em que a largura for
inferior a 100 mm, deve ser possível inscrever um círculo de 85 mm de diâmetro em
uma área plana isenta de rebaixos e juntas falsas.
Para o comprimento, a medida nominal máxima é de 250 mm, enquanto que
para a espessura há um valor mínimo de 60 mm. O índice de forma, comprimento
dividido pela espessura, deve ser menor ou igual a 4 em locais com tráfego de veículos
ou áreas de armazenamento. As tolerâncias dimensionais são de 3 mm para as três
medidas.
O procedimento para realização do ensaio está descrito no anexo “A” da NBR
9781:2013. A máquina adequada para o teste deve atender à ABNT NBR NM ISO
7500-1:2016. A figura 18 ilustra um modelo de prensa utilizada para o ensaio.
Figura 18: Prensa para ensaio de compressão (FIORITI et al, 2010).
Para iniciar o ensaio de resistência à compressão, é necessário que as amostras
estejam saturadas por no mínimo 24 horas em água à (23± 5ºC) e que as superfícies de
carregamento sejam retificadas. Assim, as peças são colocadas sobre as placas
auxiliares da máquina de ensaio com a face superior em contato com a placa superior e
de forma que o eixo vertical das placas e da peça – região de largura mínima 97 mm –
coincidam. Em caso de peças com largura superior a 140 mm, é necessário que a mesma
seja cortada com serra de disco para que o valor não seja ultrapassado.
26
O carregamento é, então, feito continuamente com velocidade de 550 kPa/s
variando aproximadamente 200 kPa/s até que haja a ruptura completa da peça. A
resistência à compressão será obtida pela fórmula que segue.
���,� = �� − ! × " Eq. 3
Sendo,
" = #∑ (&'�&'()²��� Eq. 4
Onde:
���,� é a resistência característica estimada à compressão, expressa em MPa
�� é a resistência média das peças, expressa em MPa
! é o coeficiente de Student, dado em função do tamanho da amostragem
��� é a resistência individual das peças, expressa em MPa
" é o desvio padrão da amostra, expressa em MPa
+ é o número de amostras utilizado
O valor do coeficiente de Student “t” é definido através da tabela 8, sendo“+” o número de amostras utilizadas.
Tabela 8: Coeficiente de Student “t”
N t 6 0,920 7 0,906 8 0,896 9 0,889
10 0,883 12 0,876 14 0,870 16 0,866 18 0,863 20 0,861 22 0,859 24 0,858 26 0,856 28 0,855 30 0,854 32 0,842
(ABNT, 2013).
27
Para obter ��, em MPa, divide-se o valor da carga de ruptura expressa em N pela
área do carregamento em mm² e multiplica-se o resultado por um fator “,”, que,
conforme exposto na tabela 9, é função da espessura da peça
Tabela 9: Fator multiplicativo “p”
Espessura nominal da peça (mm) p
60 0,95 80 1
100 1,05
(ABNT, 2013).
No relatório de resultado do ensaio devem constar as seguintes informações:
identificação do lote, idade do lote no início do ensaio, medidas nominais das peças
informada pelo fabricante, medidas reais com aproximação de 0,1 mm, índice de forma
das peças, tipo da peça, área de carregamento em mm², cargas de rupturas individuais
em N, resistências individuais em MPa e resistência característica estimada à
compressão (���,�) em MPa.
2.3.5 Resistência à abrasão
O ensaio para verificação da resistência à abrasão – desgaste causado em
superfície – é facultativo, sendo especificado em projeto quando necessário e realizado
de acordo com o anexo “C” da NBR 9781:2013. O teste é importante em casos de
tráfego intenso com veículos pesados, onde o processo de abrasão é acentuado.
O dispositivo utilizado para realizar o ensaio de abrasão é ilustrado na figura 19.
O mesmo é constituído por um disco rotativo de aço com diâmetro 200 mm e espessura
70 mm, um suporte para o corpo de prova, um funil para alimentação de material
abrasivo, uma caixa de armazenamento do material abrasivo utilizado e um contrapeso.
28
Figura 19: Dispositivo do Ensaio de Abrasão (ABNT, 2013).
Após verificar que o equipamento está calibrado e lavar os corpos de prova, o
ensaio pode ser iniciado posicionando-se o corpo de prova centralizado em relação ao
centro do disco rotativo.
O reservatório de material abrasivo é, então, abastecido de modo que o fluxo de
(100± 0,05) g seja constante a cada (100± 5) rotações do disco. A válvula de controle
para o material abrasivo é aberta e o motor simultaneamente ligado e configurado em 75
revoluções em (60± 3) s. O fluxo do material deve ser uniforme durante o ensaio de
modo que coincida com a finalização das 75 revoluções.
Após as etapas descritas, o corpo de prova é retirado do equipamento e a cavidade
resultante é medida com um paquímetro de precisão 0,1 mm. Vale ressaltar que o ensaio
só é realizado em um ponto por corpo de prova.
Para realizar a medida, a peça é colocada embaixo de uma lente de aumento,
preferencialmente iluminada. Uma linha AB é desenhada no centro da cavidade
perpendicular ao seu eixo. Como demonstrado na figura 20, os limites longitudinais L1
e L2 também são desenhados. Posiciona-se, então, o parquímetro em A e B até os
29
limites longitudinais e registra-se essa medida. Com o intuito de calibração, repete-se a
medida em C e D, obtendo-se três leituras.
Figura 20: Medição da cavidade de abrasão (ABNT, 2013)
O valor da abrasão será a dimensão obtida corrigida por um fator de calibração,
que é obtido pela diferença aritmética entre 17,0 mm e o valor encontrado na última
calibração do aparelho. O fator de calibração deve ser somado ao valor de abrasão
previamente encontrado.
No relatório de ensaio devem constar informações similares a outros ensaios:
identificação do lote, idade do lote no início do ensaio, valores individuais da cavidade e
valor médio da cavidade, ambos em mm.
O procedimento descrito na NBR 9781:2013 deve respeitar os critérios
estabelecidos na tabela 10.
Tabela 10: Critérios para resistência à abrasão
Solicitação Cavidade máxima
(mm) Tráfego de pedestres, veículos leves e veículos
comerciais de linha ≤ 23
Tráfego de veículos especiais e solicitações capazes de produzir efeitos de abrasão acentuados
≤ 20
(ABNT, 2013).
30
2.3.6 Coeficiente de permeabilidade
O requisito do coeficiente de permeabilidade deve ser verificado somente para
peças de concreto permeável. Por esse motivo, o passo a passo para sua realização pode
ser encontrado no Anexo “A” da NBR 16416:2015.
Segundo a NBR 16416:2015, o pavimento permeável deve apresentar um
coeficiente superior a 10-3 m/s quando recém-construído, independentemente do
revestimento adotado. Quando realizado em laboratório, o resultado serve apenas para
uma aprovação preliminar do material. Para a aprovação final do pavimento permeável,
é necessário que o procedimento seja realizado em campo.
Antes de iniciar o ensaio, o piso deve ser limpo, sendo retirados quaisquer
materiais que não estejam aderidos ao pavimento. Em seguida, o anel de infiltração é
posicionado na área em que o procedimento será realizado e vedado com massa de
calafetar para que não ocorram vazamentos.
O ensaio deve ser iniciado em até dois minutos da pré-molhagem. Vale ressaltar
que existe mais de um método para pré-molhagem, como, por exemplo, a saturação do
corpo de prova. Despeja-se, então, água no anel com uma velocidade capaz de manter o
nível da água entre as marcações do anel (10 mm e 15 mm). Simultaneamente, um
cronômetro com exatidão de 0,1 s deve ser acionado quando a água atingir a superfície e
parado quando não houver mais água livre na superfície do mesmo.
A quantidade de água utilizada para realização do ensaio é função do tempo de
pré-molhagem, conforme pode ser visto na tabela 11.
Tabela 11: Quantidade de água para ensaio do coeficiente de permeabilidade
Tempo de pré-molhagem (s)
Massa de água para o ensaio (kg)
≤ 30 18,00 ± 0,05 > 30 3,60 ± 0,05
(ABNT, 2015).
31
2.4 Procedimento Executivo do Pavimento Intertravado de Concreto
Convencional e Permeável
Dependendo de como distribuem suas tensões, os pavimentos podem ser
caracterizados como rígidos ou flexíveis. Enquanto pavimentos rígidos transmitem as
cargas para o subleito de forma distribuída, o flexível possui um campo de tensões
concentradas. Há, ainda, alguns autores que consideram a existência de um terceiro tipo
de pavimento com características intermediárias, o semi-rígido (MOURA, 2011).
Os dois principais tipos de pavimentos estão ilustrados na figura 21. Por seu modo
de transmissão de tensões ao solo, há uma tendência mundial de considerar um
pavimento intertravado como flexível (MANZATO, 2016).
Figura 21: Distribuição de tensões em pavimentos (MANZATO, 2016).
As camadas constituintes do pavimento intertravado permeável com infiltração
total estão detalhadas na figura 22. Vale ressaltar que as camadas constituintes do
pavimento intertravado de concreto permeável são similares ao convencional, com
exceção da peça em si e das especificações das camadas.
Figura 22: Seção Tipo de Pavimento Permeável Intertravado (http://www.rhinopisos.com.br, 2017).
32
A caracterização das camadas e elementos constituintes do pavimento
intertravado de concreto permeável será feita à medida que as fases do procedimento
executivo forem detalhadas. O quadro 4 apresenta as etapas envolvidas na execução do
pavimento.
Quadro 4: Etapas do procedimento executivo do pavimento de intertravado de concreto
Etapa Explicação Etapa 0 Ficha de Verificação de Serviço
Etapa 1 Preparo do subleito
Etapa 2 Instalação das contenções laterais
Etapa 3 Execução da camada de sub-base
Etapa 4 Execução da camada de base
Etapa 5 Execução da camada de assentamento
Etapa 6 Assentamento das peças
Etapa 7 Rejuntamento
2.4.1 Etapa 0 - Ficha de verificação de serviço
A ficha de verificação de serviço (FVS) é um documento utilizado com
propósito de ajudar a assegurar a qualidade dos serviços executados. O preenchimento
da FVS auxilia na avaliação das condições de início dos serviços, os itens que devem
ser verificados durante a execução e os critérios de aceitação de entrega. Os modelos da
ficha variam de acordo com o serviço e a empresa, mas costumam conter as condições
para início da atividade, itens de atendimento ao projeto, critérios para aceitação do
serviço e espaço para preenchimento da avaliação (NAKAMURA, 2013).
2.4.2 Etapa 1 - Preparo do subleito
Subleito é a camada de fundação do terreno destinada a receber o pavimento
industrial. Com intuito de conhecer as características granulométricas, tipologia e
resistência do solo do subleito, são realizados testes na fase preliminar de projeto
(LEVY, 2009). Conhecer o material de subleito é o ponto inicial dos projetos de
pavimento. Alguns dos ensaios estão explicitados no quadro 5.
33
Quadro 5: Ensaios para caracterização do subleito
Ensaio Norma Propósito
Limite de Liquidez (LL) e Limite de Plasticidade (LP)
NBR 6459:2016 e NBR 7180:2016
Conhecer os limites de umidade que fazem o comportamento do solo ser líquido, plástico ou semi-sólido.
Análise Granulométrica
NBR 7181:2016 Determinação das partículas que constituem o solo de forma estatística
Índice de Suporte Califórnia (CBR)
NBR 9895:2016 Conhecer a expansão do solo quando este estiver saturado e sua perda de resistência com a saturação
(NEVES et al, 2005 e UFBA, 2010).
Com o subleito conhecido, elabora-se um projeto para o pavimento intertravado
e inicia-se sua execução. O primeiro passo é o preparo do subleito para receber o
pavimento industrial. Com isso é realizada a limpeza do terreno, deixando o local livre
de plantas, raízes ou outro tipo de matéria orgânica. Em seguida é feito o serviço de
terraplenagem, que pode ser feito com solo do local ou de empréstimo. O mesmo deve
atingir um CBR maior que 2% e uma expansão volumétrica menor ou igual a 2%. Após
a deposição do solo, o mesmo é compactado.
É necessário verificar a cota final do terreno e seu caimento para que estejam de
acordo com o projeto (SILVA, 2012). Na fase da execução também são realizados
ensaios para controle tecnológico, de forma a verificar as especificações dadas em
projeto: ensaio de compactação, densidade in situ e umidade in situ (LEVY, 2009).
Em casos onde o subleito possui baixa capacidade de suporte, pode ser
necessário criar uma camada denominada reforço do subleito. O intuito é de reduzir
espessuras elevadas da sub-base. O reforço deve ser feito sobre o subleito compactado e
regularizado (DNIT 138, 2010).
2.4.3 Etapa 2 - Instalação das contenções laterais
Contenções laterais tem o propósito de confinar o piso intertravado e dar
estabilidade ao sistema. Além disso, devem ser constituídas de estruturas rígidas e
seguir as cotas e níveis de alinhamento (ABNT, 2011).
34
O confinamento das peças é fundamental para o bom funcionamento do
conjunto. Na elaboração do projeto de intertravados, três tipos de travamento devem ser
garantidos: vertical, horizontal e rotacional.
O primeiro é obtido através de esforços de cisalhamento que são absorvidos pelo
rejunte de areia entre das peças e as camadas inferiores do pavimento. Já o segundo está
relacionado com formato e assentamento das peças, que distribuem os esforços
cisalhantes horizontais oriundos do tráfego local. Por fim, o confinamento rotacional é
atingido pela espessura e tipo de areia utilizada para rejunte (SHACKEL; LIM, 2003).
Para a instalação da contenção, primeiro deve-se fazer um estaqueamento com linhas
distendidas entre as marcações com intuito de manter o alinhamento e nível
determinados pelo projeto. Em seguida, é feita a escavação para que seja possível
regularizar e executar a base de brita como apoio da contenção. A contenção é, então,
assentada. Por fim, é feito o rejuntamento entre as peças (DNIT 020/2006).
2.4.4 Etapa 3 - Execução da camada de sub-base
A sub-base é utilizada em casos que não seja aconselhável construir a base
diretamente sobre o subleito por razões técnico-econômicas (MANZATO, 2016). Seu
procedimento executivo e ensaios realizados são similares ao da base e serão explicados
no próximo item. Na tabela 12 pode ser vista a distribuição granulométrica indicada
pela NBR 16416:2015 para sub-base.
Tabela 12: Distribuição Granulométrica recomendada para a sub-base
Granulometria da sub-base Peneira com abertura de
malha Porcentagem retida, em
massa % 75 mm 0 63 mm 0 a 10 50 mm 30 a 65
37,5 mm 85 a 100 25 mm 90 a 100 19 mm 95 a 100
12,5 mm - 4,75 mm - 2,36 mm -
(ABNT, 2015).
35
Além da granulometria, são feitos alguns testes para avaliar a qualidade do
material de sub-base, como pode ser visto na tabela 13. Vale ressaltar que os mesmos
testes são feitos para a base e que o ensaio de abrasão “Los Angeles” mede a resistência
ao desgaste superficial dos grãos de agregado quando submetido ao atrito, ou seja, sua
capacidade de não quebrar quando manuseado.
Tabela 13: Especificação para o material de base e sub-base
Propriedade Método Especificação
Abrasão "Los Angeles" ABNT NBR NM 51 < 40 %
Índice de Vazios ABNT NBR NM 45 ≥ 32 %
Índice de suporte califórnia (CBR) ABNT NBR 9895 ≥ 80 %
Material passante na peneira com abertura de malha de 0,075 mm
ABNT NBR NM 46 ≤ 2 %
(ABNT, 2015).
2.4.5 Etapa 4 - Execução da camada de base
A base é a camada mais importante estruturalmente, pois recebe e distribui os
esforços que surgem com o tráfego. Geralmente é de 2 a 20 vezes mais espessa que o
revestimento.
No caso de pavimentos permeáveis, além da função de transmissão das
solicitações, a base funciona como um reservatório, armazenando provisoriamente a
água da chuva até que a mesma infiltre no solo ou se encaminhe para uma rede de
drenagem lateral (ACIOLI, 2005).
As espessuras da base e sub-base são definidas em projeto e são função da
precipitação da região e das características do solo, que permitirá calcular o suporte de
carga e a permeabilidade do mesmo. A cada 100 mm, no entanto, é ideal que o material
seja compactado (SILVA, 2012). A sequência executiva consiste na mistura,
espalhamento e correção da umidade do material da base antes que a compactação seja
iniciada (DNIT 141/2010).
Compactação consiste em uma técnica de adensamento do solo, reduzindo seus
espaços vazios e aumentando sua capacidade de suporte. Por esse motivo, se não for
bem executada, todas as camadas acima estarão comprometidas, podendo ocorrer
36
futuras deformações/afundamentos. Mesmo assim, o acompanhamento e fiscalização
dessa etapa costuma ser menor do que das restantes por ser considerada uma etapa
simples, quando, na verdade, requer muita atenção.
Além da má compactação por insuficiência de passadas, pode haver o fenômeno
da supercompactação, que ocorre quando há um número elevado de passadas com rolo
compactador, fazendo com que o solo comece a desagregar. Com isso, surgem trincas e
fissuras que tem o efeito contrário ao da compactação. Outro problema é o da
velocidade inadequada de uso do equipamento. Considerando o uso de um rolo
vibratório, se o mesmo passar muito devagar, os impactos da vibração do cilindro
podem se sobrepor. Por outro lado, se as passadas forem muito rápidas, os impactos não
agem de forma contínua no solo, deixando vazios para trás.
Há ainda a questão da quantidade de umidade no solo na hora da compactação.
Se houver água em excesso, sua presença nos vazios exerce uma força contrária à da
compactação. Já se houver pouca umidade, o atrito entre as partículas do solo é que
dificulta o processo. Desse modo, deve haver um estudo para descobrir a umidade ótima
de compactação daquele solo.
A escolha do rolo compactador também interfere na qualidade do serviço e varia
de acordo com o tipo de solo do local, que pode ser coesivo ou granular (não-coesivo).
O primeiro ocorre quando 35% de seu material passa na peneira 200 (#200) – abertura
de 0,074mm. Exemplos de solos coesivos são a argila e o silte. Já solos granulares são
aqueles em que menos de 35% do material passa nessa peneira, como, por exemplo, é o
caso da areia e da brita.
Uma diferença prática entre os dois tipos de solo é que o coesivo retém água,
enquanto o não-coesivo apresenta drenagem livre. Outro ponto é que, para o primeiro, o
ideal é o uso de um rolo pé-de-carneiro para aumentar a área de contato com o solo e
favorecer a quebra da coesão das micropartículas, ajudando na evaporação da água
retida no solo. Se o solo estiver muito úmido, a compactação não terá efeito, pois o
mesmo se deformará e voltará ao volume original. Já para solos granulares, pode-se usar
um rolo liso.
Por esses fatores, o planejamento da execução da compactação, principalmente
da base, torna-se de grande importância, sendo assim necessário estudar o tipo de solo,
37
escolher um rolo compactador de modelo mais adequado, escolher o cilindro correto e
realizar testes experimentais para definir o número ideal de passadas (ASFALTO DE
QUALIDADE, 2013).
Além dos cuidados com o processo da compactação em si, existem
especificações granulométricas para o material da base, como pode ser visto na tabela
14, baseada na NBR 16416:2015.
Tabela 14: Distribuição Granulométrica recomendada para a base
Granulometria da base Peneira com
abertura de malha Porcentagem retida,
em massa % 75 mm - 63 mm - 50 mm -
37,5 mm 0 25 mm 0 a 5 19 mm 0 a 35
12,5 mm 40 a 75 4,75 mm 90 a 100 2,36 mm 95 a 100
(ABNT, 2015).
2.4.6 Etapa 5 - Execução da camada de assentamento
A camada de assentamento é aquela sobre a qual as peças de concreto serão
colocadas. Constituída de areia média, semelhante à utilizada para concreto, a mesma
deve estar limpa e com umidade ideal (nem seca, nem saturada).
A definição da espessura de areia é importante para o pavimento. Se a camada
for espessa, há deformação. Se for fina, as peças quebram. Além disso, a altura da
camada deve ser constante, não sendo utilizada para correções de irregularidades na
base.
Colocada sobre a base compactada, a areia é sarrafeada com uma régua
niveladora atingindo uma altura de aproximadamente 5 cm, para que, depois de
compactada, forme uma camada de 3 a 4 cm conforme especificado em projeto. Para
liberar o assentamento das peças, é necessário verificar a planicidade da areia de forma
a evitar um piso com calombos, buracos ou ondulado (MARCHIONI; SILVA, 2011).
38
A granulometria recomendada pela NBR 16416:2015 para o material de
assentamento pode ser visto na tabela 15.
Tabela 15: Distribuição Granulométrica recomendada para o material de assentamento
Granulometria do material de assentamento Peneira com abertura de malha Porcentagem retida, em massa %
12,5 mm 0 9,5 mm 0 a 15
4,75 mm 70 a 90 2,36 mm 90 a 100 1,16 mm 95 a 100
(ABNT, 2015).
2.4.7 Etapa 6 - Assentamento das peças
Para iniciar o assentamento do revestimento em si, deve-se fazer a marcação da
primeira fiada. É a partir dela que é feito o alinhamento do resto das peças. Nesse
momento, é importante verificar qual será o arranjo do piso.
Um bom indicador de acabamento é o alinhamento das peças. O serviço deve ser
constantemente verificado por meio de linhas. Alavancas podem ser usadas para
correções antes do rejunte e compactação das peças. Para facilitar o trabalho, as peças
têm separadores com medida certa nas juntas, como pode ser visto na figura 23.
Figura 23: Peças com Separadores (MARCHIONI; SILVA, 2011).
Após assentar as peças alinhadas e com espaçamento correto, são feitos os
acabamentos com recorte das peças onde for necessário.
39
2.4.8 Etapa 7 - Rejuntamento
A camada de rejunte é normalmente constituída de areia ou pó de pedra. Ela
deve ser espalhada sobre as peças já assentados de forma a preencher suas juntas, que
têm em torno de 3 mm. Dessa forma, somada à contenção lateral, a camada de rejunte
garante o intertravamento e o funcionamento mecânico das peças em conjunto (T&A,
2004).
Antes do rejuntamento, há uma compactação inicial das peças. Essa etapa serve
para nivelar a superfície da camada de revestimento das peças e fazer com que haja um
preenchimento parcial das juntas de baixo para cima com o material da camada de
assentamento. Dessa forma, há o início de um estágio de travamento.
A compactação deve ser executada até 1,5 m de onde a frente de serviço parar. A
placa vibratória deve dar pelo menos duas passadas em cada trecho, sobrepondo uma
camada de 20 cm entre cada passada para evitar degraus. Para locais de difícil acesso
como as bordas dos pavimentos podem ser usados equipamentos de menor porte
(MARCHIONI; SILVA, 2011). O nivelamento das peças deve ser tal que não haja
diferença de mais de 10 mm conferidos com uma régua metálica de 3 m (ABNT, 2011).
Após essa etapa inicial, retiram-se as peças danificadas com auxílio de, por
exemplo, colher de pedreiro, e, então, inicia-se o rejuntamento. As etapas de rejunte e
compactação podem ser alternadas até que as juntas estejam preenchidas até 5 mm do
topo do pavimento. Com as juntas seladas, pode-se executar a compactação final –
semelhante à inicial – e a varrição do piso. Por fim, depois da limpeza, o tráfego local é
liberado (MARCHIONI; SILVA, 2011).
A função do rejuntamento é criar uma área de atrito, em que as partículas de
maior granulometria reduzem as chances de haver um deslocamento lateral e as de
menor amortecem o impacto para que os grãos maiores não quebrem. Além disso, o
rejunte preenche as variações de tamanho das peças e evita o contato direto entre duas
peças, o que poderia ocasionar fissuras e desgaste na superfície (THE BRICK
INDUSTRY ASSOCIATION, 2007).
Para o caso do pavimento intertravado convencional, as juntas podem também
desempenhar a função auxiliar de drenagem por serem permeáveis. Para isso, a
distribuição granulométrica do rejunte deve possibilitar atingir um coeficiente de
40
permeabilidade dos agregados na ordem de 3,5.10�/ m/s. Para o pavimento de
concreto permeável, o potencial também existe, mas não é a única forma de drenagem.
Vale ressaltar que o material de rejunte não é sempre o mesmo e sua escolha
varia de acordo com a espessura da junta entre as peças. Quanto mais espessa a junta,
menor é o intertravamento gerado por ela (MARCHIONI; SILVA, 2011).
A granulometria típica do material de rejunte pode ser vista na tabela 16.
Tabela 16: Distribuição Granulométrica recomendada para o rejunte
Granulometria do material de rejunte Peneira com
abertura de malha Porcentagem retida,
em massa % 12,5 mm 0 9,5 mm 0 a 15
4,75 mm 70 a 90 2,36 mm 90 a 100 1,16 mm 95 a 100
(ABNT, 2015).
41
3 Exemplo de Aplicação Prática para Pavimentos Intertravados
3.1 Caracterização do objeto de estudo
Esse estudo apresenta uma aplicação de pavimentos intertravados de concreto
convencional e permeável por meio de visitas a uma obra na cidade do Rio de Janeiro.
A construção residencial possui um terreno com 35.668 m² sendo aproximadamente
80% de área comum. O condomínio adotou a tecnologia de intertravado convencional e
permeável nas vias e calçadas internas.
Por meio de visitas e acompanhamento da obra, foi possível verificar os modelos de
intertravado que foram utilizados, a espessura e material adotados para base além de ter
acesso a ensaios realizados na base e nas peças de concreto.
Foi acordado entre a autora e a construtora que o nome das empresas envolvidas
seria confidencial. Para facilitar o entendimento do leitor, serão adotados codinomes
para as partes envolvidas, como pode ser visto no quadro 6.
Quadro 6: Empresas envolvidas no Estudo de Caso
Construtora “A” Construtora responsável pela obra
Empreiteira “B” Empreiteira responsável pela execução da pavimentação interna
Empresa “C” Empresa responsável pelos testes realizados na base e nas peças
Fornecedor “D” Fornecedor das peças
3.2 Modelos de peças utilizadas
A Construtora “A” utilizou a tecnologia de pavimento intertravado em 5 áreas
dentro do condomínio: calçada, pista de caminhada, via interna, vias condominiais e
estacionamento. As características das peças, do arranjo adotado e da estrutura do
pavimento foram variadas e serão estudadas separadamente. Nesse exemplo, serão
apresentados quatro tipos de peças de concreto, sendo duas permeáveis e duas
convencionais.
42
3.2.1 Peça de concreto permeável do tipo Retangular
Para pista de caminhada foi adotado a peça de concreto permeável do tipo
retangular, variando as cores em trechos de cor terracota e cinza como pode ser visto
nas figuras 24 e 25.
Figura 24: Peça de Concreto Permeável Retangular Terracota
Figura 25: Variedade de cores adotada para pista de caminhada
As dimensões nominais dadas pelo Fornecedor “D”, segundo relatório de ensaio
da Empresa “C”, são 200 x 100 x 60 mm. A partir desses valores, utilizando a equação
1, calcula-se o índice de forma.
Í+123414567�8 = 36�,72�4+!64",4""978 = 200
60 = 3,3 4(6<)
Com relação à espessura, segundo a tabela 3, a mesma é adequada. O tráfego
esperado para pista de caminhada é apenas de pedestres. Assim, a espessura de 60 mm é
suficiente.
Na figura 26 pode ser visto que o assentamento adotado pela Construtora “A”
para o piso intertravado de concreto permeável retangular terracota foi de espinha de
43
peixe. No momento da foto, os arremates ainda não tinham sido feitos e o piso ainda
não havia sido rejuntado.
Figura 26: Assentamento espinha de peixe da peça de concreto permeável retangular
Abaixo do piso intertravado, há uma camada de pó de pedra de
aproximadamente 4 cm para assentamento das peças. Entre a camada de assentamento e
o subleito há somente 10 cm de bica corrida, que funcionam como base da pista de
caminhada.
3.2.2 Peça de concreto permeável do tipo 16 faces
A peça escolhida para as vias condominial foi a de concreto permeável de 16
faces de cores terracota, amarelo e cinza, como pode ser visto na figura 27.
Figura 27: Peça de concreto permeável 16 faces
As dimensões nominais dadas pelo Fornecedor “D”, segundo relatório de ensaio
da Empresa “C”, são 220 x 110 x 60 mm. A partir desses valores, calcula-se o índice de
forma.
44
Í+123414567�8 =36�,72�4+!6
4",4""978=
220
60= 3,6 ≤ 4(6<)
Como a via condominial não espera tráfego de caminhões, apenas de carros de
passeio, seu tráfego pode ser considerado como leve. Sendo assim, o valor esperado
para espessura da peça, de acordo com a tabela 3, é de 80 mm. No entanto, a peça
utilizada possui uma espessura de 60 mm. Logo, a construção encontra-se em não
conformidade com a NBR 16416:2015.
O arranjo adotado para a via condominial foi de espinha de peixe conforme pode
ser visto na figura 28.
Figura 28: Arranjo espinha de peixe das peças de concreto permeável 16 faces
Em contato com a via condominial, estão as vagas. A peça utilizada para o
estacionamento também foi do tipo 16 faces, mas a Construtora “A” optou por colocar
uma linha de peças de concreto permeável cinza entre a via e as vagas para separá-los
visualmente, como pode ser visto na figura 29, e proporcionar um melhor acabamento
estético como pode ser visto na figura 30.
45
Figura 29: Arremate entre vaga e via condominial
Figura 30: Acabamento estético entre via condominial e vagas
Do outro lado, não houve necessidade de arremates, pois as peças facearam o
meio-fio, como pode ser visto na figura 31.
Figura 31: Via condominial faceando meio-fio
Para base da via condominial, foi adotada uma espessura de 20 cm de bica
corrida. Abaixo da bica corrida foi instalada uma camada de 10 cm de pó de pedra,
46
funcionando como filtro. Sobre a base manteve-se a camada de assentamento de 4 cm
de pó de pedra. Além disso, foram colocadas três linhas de drenos na seção transversal,
conforme exemplificado na figura 32, espaçadas de 1,5 m com diâmetro 15 cm e
profundidade 50 cm.
Figura 32: Drenos acrescentados na seção transversal
3.2.3 Peça de concreto convencional do tipo 16 faces
A peça de concreto convencional de 16 faces foi adotada tanto para via interna
como para o estacionamento. Como a construção da via interna, onde é esperado tráfego
moderado, ainda não havia sido iniciada no momento das visitas à obra, a mesma não
será analisada.
Para as vagas, a peça adotada pela Construtora “A” foi a convencional de 16 faces
cinza, como pode ser visto na figura 33.
Figura 33: Peça de concreto convencional 16 faces cinza
As dimensões nominais dadas pelo Fornecedor “D”, segundo relatório de ensaio
da Empresa “C”, são 220 x 110 x 80 mm.
47
Com relação ao índice de forma, o valor é igual ao da peça utilizado via
condominial. A única diferença entre os dois é que um é maciço e o outro é feito de
concreto permeável.
Í+123414567�8 =36�,72�4+!6
4",4""978=
220
80= 2,8 ≤ 4(6<)
Vale ressaltar que estacionamentos são considerados locais de tráfego médio
(FARIA, 2011) e, por isso, de acordo com a tabela 3, é indicado que a espessura da peça
adotada seja de 80 mm. Sendo assim, a escolha está de acordo o valor recomendado.
O arranjo adotado para o estacionamento foi do tipo trama, como pode ser visto
na figura 34.
Figura 34: Assentamento trama das peças de concreto convencional 16 faces
Na obra em questão, a maioria das vagas se encontra na parte lateral da via
condominial. Desse modo, a quantidade de arremates foi reduzida, pois, como explicado
no item 3.2.1, foi apenas colocado uma peça retangular para separar os dois pisos.
Como pode ser visto na figura 35, do lado das vagas em que há o meio-fio da
calçada, as peças não necessitam de arremates, sendo somente encostadas na contenção
lateral e posteriormente preenchidas com rejunte.
48
Figura 35: Arremate das vagas com contenção lateral
Com relação às camadas do pavimento, há uma camada de pó de pedra de
aproximadamente 4 cm apenas para assentamento das peças, seguida de 20 cm de bica
corrida na base que são colocados sobre o subleito.
3.2.4 Peça de concreto convencional do tipo Raquete
Para a calçada foi adotado a peça de concreto convencional do tipo raquete
amarelo ilustrado na figura 36.
Figura 36: Peça de concreto convencional raquete amarelo
49
As dimensões nominais dadas pelo Fornecedor “D”, segundo relatório de ensaio
da Empresa “C”, são de 190 x 110 x 60 mm. Com esses valores é possível verificar a
adequação da peça no que diz respeito ao índice de forma e escolha da espessura quanto
ao tipo de tráfego.
Í+123414567�8 =����������
������=
�>?
@?= 3,2 ≤ 4(6<)
Conforme apresentado na tabela 3, a espessura de 60 mm é indicada para tráfego
de pedestres quando a peça é de concreto permeável. No caso de calçada, o tráfego
esperado é somente de pedestres. Sendo assim, a espessura de 60 mm para a peça de
concreto convencional raquete amarelo é adequada.
O arranjo adotado para a calçada pela Construtora “A” foi linear, como pode ser
visto na figura 37. Pode ser verificada a existência de arremates nas áreas 1 e 2 que
ainda não tinham sido feitos junto às contenções laterais.
Figura 37: Assentamento linear das peças do tipo raquete
Inicialmente foi cogitado apenas preencher com rejunte a área 2, pois o arremate
seria muito pequeno e era esperado que coubesse uma peça inteira na área 1. A ideia é
ilustrada na figura 38.
50
Figura 38: Preenchimento de arremate com rejunte
No entanto, na área 1 não cabia uma peça inteira. Sendo assim, seria necessário
fazer uso da policorte. Por isso, a decisão tomada foi aproveitar para a área 2 a sobra da
peça que seria cortado na área 1.
Com uso da policorte, a peça do tipo raquete foi, então, cortada de forma a evitar
desperdícios, sendo cada parte cortada aproveitada junto a uma contenção lateral, como
pode ser visto na figura 39. Vale ressaltar que a calçada ainda não estava pronta, pois
faltava o rejunte.
Figura 39: Calçada com arremates prontos
51
A figura 40 apresenta um trecho da calçada que possui curvas. Por esse motivo,
os arremates não são regulares como os da figura 39. A Empreiteira “B” posicionou as
peças inteiras sobre o local onde serão assentadas após cortadas. As peças são, então,
marcadas para serem cortadas com a policorte e assentadas.
Figura 40: Arremate das peças do tipo raquete em curva
A estrutura do pavimento permeável na calçada é similar ao da pista de
caminhada, possuindo 4 cm de camada de assentamento abaixo das peças de concreto,
seguidos de 10 cm de bica corrida e do subleito.
3.3 Ensaios realizados
Com intuito de verificar as propriedades das peças do Fornecedor “D”, a
Construtora “A” enviou para Empresa “C” uma amostra de cada tipo de peça: concreto
permeável retangular, permeável 16 faces, convencional 16 faces e convencional
raquete. Os ensaios realizados podem ser vistos na tabela 17. É possível verificar que a
mesma não está de acordo com a tabela 6, que mostra os ensaios que deveriam ter sido
analisados. Por exemplo, o ensaio de absorção foi feito para peças de concreto
permeável, enquanto o de permeabilidade que deveria ter sido feito, não foi.
52
Tabela 17: Ensaios realizados com as peças
Ensaios Intertravado
Convencional Permeável
Inspeção visual X X
Avaliação dimensional X X
Absorção de água X X
Resistência à compressão X X
Resistência à abrasão (facultativo)
Coeficiente de permeabilidade
Vale ressaltar que não foi identificado nenhum problema para os lotes de entrega
das peças com relação à inspeção visual. Por esse motivo, a mesma não será discutida.
3.3.1 Peça de concreto permeável do tipo Retangular
Para a análise dimensional, verifica-se que a tipologia da peça é enquadrada
como Tipo I e a largura, o comprimento e a espessura estão dentro do limite de 3 mm de
tolerância.
Com relação ao ensaio de resistência à compressão, segundo o relatório, que é
baseado na NBR 9781:2013, o resultado deveria ser superior a 35 MPa. No entanto, a
peça é permeável e deveria ter sido usado como base o valor de resistência à
compressão especificado pela NBR 16416:2015. Segundo a mesma, para uma peça de
concreto permeável, o valor deve ser superior a 20 MPa. Com intuito de validar essa
informação, a autora entrou em contato com a Empresa “C”. A mesma confirmou ter
cometido um equívoco e se comprometeu a enviar uma nova avaliação dos resultados.
Ainda assim, a peça só obteve 16,5 MPa de resistência, não atingindo os valores
especificados.
Desse modo, seria ideal solicitar um novo ensaio para confirmar esse valor e,
caso o mesmo também esteja abaixo do especificado, a Construtora “A” pode entrar em
contato com o Fornecedor “D” para solicitar a troca do lote.
53
Apesar de não ser necessário, o ensaio de absorção foi realizado na peça de
concreto permeável. Já o ensaio do coeficiente de permeabilidade, que deveria ter sido
realizado, não foi.
3.3.2 Peça de concreto permeável do tipo 16 faces
A avaliação dimensional identificou a peça de 16 faces como sendo do Tipo I.
Foi verificado que a largura e a espessura estão dentro do limite de 3 mm de tolerância.
No entanto, o comprimento se mostrou 25 mm fora do valor nominal que consta no
relatório da Empresa “C”. Para melhor entender o fato, a autora entrou em contato com
Fornecedor “D” e solicitou as dimensões nominais da peça. Segundo o Fornecedor “D”,
o comprimento nominal é de 245 mm, e não de 220 mm como apresentado pelo
relatório.
Sendo assim, houve um engano por parte da Empresa “C” ao preencher o campo
de comprimento nominal, ou um equívoco por parte do Fornecedor “D” na
documentação de especificação do material quando o mesmo chegou à obra. Para se
certificar de que a peça tinha de fato aproximadamente 245 mm e não 220 mm, a autora
mediu a peça e certificou-se que o valor correto era o de 245 mm. Sendo assim, a
mesma está aprovada nesse quesito.
Considerando o comprimento de 245 mm, pode-se recalcular o índice de forma.
É verificado que o valor passa do limite do recomendado.
Í+123414567�8 =36�,72�4+!6
4",4""978=
245
60= 4,1 > 4(74,76B816)
Com relação ao ensaio de resistência à compressão, houve o mesmo problema
que ocorreu com a peça de concreto permeável retangular. Como o relatório é baseado
na NBR 9781:2013, o valor de referência para resistência era de um mínimo de 35 MPa.
No entanto, como a peça é permeável, a NBR 16416:2015 deveria ter sido utilizada,
sendo o valor mínimo para resistência à compressão de 20 MPa. Nesse caso, como o
resultado de resistência à compressão foi 31,4 MPa, a peça está aprovada por norma
com relação a esse requisito.
54
Assim como para a peça permeável retangular, o ensaio de absorção foi
realizado na peça permeável do tipo 16 faces, enquanto o ensaio do coeficiente de
permeabilidade não foi.
3.3.3 Peça de concreto convencional do tipo 16 faces
A avaliação dimensional da peça de concreto convencional do tipo 16 faces foi
similar à do permeável do tipo 16 faces. Conforme verificado no item anterior, a peça
enquadra-se como do Tipo I. Foi verificado que a largura e a espessura estão dentro do
limite de 3 mm de tolerância. No entanto, o problema com a determinação do
comprimento se repetiu, chegando-se à mesma conclusão.
Considerando o comprimento de 245 mm, recalculou-se o índice de forma, que
permaneceu dentro do limite.
Í+123414567�8 =36�,72�4+!6
4",4""978=
245
80= 3,1 ≤ 4(6<)
No que diz respeito ao ensaio de resistência à compressão, o resultado foi de
47,8 MPa, ou seja, acima dos 35 MPa considerados mínimos pela NBR 9781:2013.
O limite indicado para absorção na NBR 9781:2013 para as peças
individualmente é de 7% e para média das mesmas de 6%. Já no relatório da Empresa
“C”, apesar de estar especificado que os critérios são de acordo com a NBR 9781:2013,
o limite apontado para os valores individuais é de 8%. Como o valor de média foi 2% e
o maior individual 1,6%, levando-se qualquer um dos valores em consideração, a
amostra está aprovada.
3.3.4 Peça de concreto convencional do tipo Raquete
A avaliação dimensional da peça de concreto convencional do tipo raquete
encontrou o mesmo problema que o do tipo 16 faces no que diz respeito ao
comprimento nominal. A peça enquadra-se como do Tipo IV. Foi verificado que apenas
a espessura estava dentro do limite de 3 mm de tolerância.
Considerando que dos três formatos encaminhados para teste, apenas o
retangular não havia apresentado discrepâncias na análise dimensional, a autora
55
suspeitou que não fosse apenas uma confusão do funcionário que elaborou os relatórios.
Sendo assim, tentou-se encontrar nas peças, os valores nominais que constavam no
relatório. A conclusão foi de que o funcionário que preencheu os valores nominais, não
utilizou os critérios de medição da NBR 9781:2013 ao fornecer as medidas das peças,
fazendo uso de medidas em sentidos aleatórios.
Considerando o comprimento de 217 mm ao invés de 190 mm, recalculou-se o
índice de forma, que permaneceu dentro do limite.
Í+123414567�8 =36�,72�4+!6
4",4""978=
217
60= 3,6 ≤ 4(6<)
Com relação ao ensaio de resistência à compressão, o resultado foi de 46,8 MPa,
ou seja, acima dos 35 MPa considerados mínimos pela NBR 9781:2013.
Para o ensaio de absorção, o relatório apresentou os mesmos valores de
referência que para a peça de concreto convencional do tipo 16 faces, ou seja, ao invés
de 7%, o limite indicado para as peças individualmente foi de 8%. Mesmo assim, como
o valor de média foi 3% e o maior individual 3,4%, levando-se qualquer um dos valores
em consideração, a amostra está aprovada.
3.4 Análise final das peças
O intuito do presente item é avaliar as informações apresentadas nos itens 3.2 e
3.3.
A peça de concreto permeável do tipo retangular utilizado na pista de caminhada
não atingiu os 20 MPa mínimos especificados pela NBR 9781:2013 para resistência à
compressão. No entanto, o assentamento em espinha de peixe pode contribuir para o
desempenho do pavimento no que diz respeito à distribuição dos esforços horizontais.
Esse fato pode ajudar a mitigar o déficit do valor obtido para resistência à compressão.
Com relação à peça de concreto permeável do tipo 16 faces, podem-se citar três
problemas decorrentes de seu emprego. O primeiro diz respeito ao resultado do ensaio
de resistência à compressão. A peça atingiu o mínimo recomendado pela NBR
16416:2015, mas, para considerar a escolha como adequada, seria necessário comparar
o valor obtido com a resistência determinada em projeto, 35 MPa. No entanto, o projeto
56
original considera que a peça adotada é de concreto convencional, o que, pela NBR
9781:2013, faria com que o valor mínimo aceitável para a peça fosse 35 MPa. Como
essa não foi a escolha adotada para a construção e não houve revisão de projeto até o
momento em que as visitas ocorreram, não foi possível fazer a comparação do valor real
obtido com o projeto.
O segundo problema está relacionado à espessura da peça, que foi de 6 cm
enquanto deveria ter sido de 8 cm. Uma justificativa plausível pode ser a não
atualização do projeto. Como originalmente a via condominial faria uso da peça de
concreto convencional, a espessura de 6 cm seria adequada.
Vale ressaltar também que o índice de forma calculado no item 3.3.2 encontra-se
limítrofe, o que prejudica o desempenho do piso. O uso do arranjo espinha de peixe
pode auxiliar na mitigação dos problemas citados, mas seria necessário realizar um
estudo para verificar a viabilidade de manter a execução com peça de concreto
permeável do tipo 16 faces de 6 cm para a via.
No que diz respeito às peças de concreto convencional, tanto o do tipo 16 faces
quanto o raquete apresentam desempenhos adequados quanto à resistência à
compressão, absorção, índice de forma e espessura.
Analisando o corte transversal dos pavimentos empregados, verifica-se uma
situação particular para a via condominial. Abaixo da camada de base existe uma
camada de pó de pedra, denominada pela Construtora A como sub-base. No entanto,
como apresentado no item 2.4.4, a sub-base possui granulometria maior que da base.
Nesse caso, a “sub-base” de pó de pedra possui granulometria mais fina que a base de
bica corrida, o que leva a uma conclusão de que a camada de pó de pedra não tem a
função de sub-base. Segundo a autora, uma possível função para a camada de pó de
pedra é de material filtrante, mas não foi possível obter essa informação da Construtora
“A”.
3.5 Procedimento Executivo do Pavimento Intertravado
A autora teve acesso ao documento da Construtora “A” que contém o
procedimento executivo para instalação de piso intertravado. Antes de iniciar a análise
57
do procedimento como observado nas visitas, serão comentadas algumas seções do
documento como a documentação utilizada para elaboração do mesmo, condições
inicias de serviço e itens de inspeção da execução.
A documentação utilizada como referência para elaboração do documento de
procedimento executivo da Construtora “A” inclui o levantamento topográfico da
região, o projeto de pavimentação do local e a NBR 15953:2011 – Pavimento
Intertravado com peças de concreto.
Ao analisar o projeto de pavimentação, apresentado no item 3.1, verifica-se que
foram utilizados não só peças de concreto convencional como também permeável. Por
esse motivo, além da NBR 15953:2011, a NBR 16416:2015, que trata de pavimentos
permeáveis de concreto, também deveria ter sido utilizada. A não utilização da segunda
norma acarretou em erros como, por exemplo, esperar que uma peça de concreto
permeável tivesse no mínimo 35 MPa, enquanto o mínimo dele pela NBR 16416:2015 é
20 MPa.
3.5.1 Etapa 0 - Ficha de verificação de serviço
A Ficha de Verificação de Pisos Intertravados adotada pela Construtora “A”
contém as condições de início para o serviço, os itens que precisam ser verificados,
assim como o método de verificação a ser empregado.
Como condições iniciais, a Construtora “A” relacionou as seguintes atividades:
o término das instalações enterradas inclusive caixas de passagem, o projeto de
drenagem e coletores previamente executados, a área compactada e com nível correto,
trabalhadores com devidos EPI`s e Ficha de Verificação de Serviço (FVS) devidamente
aberta.
A figura 41 ilustra uma situação em que o serviço teve início antes das
instalações serem de fato concluídas. A tampa das caixas não havia sido instalada,
deixando as instalações expostas. A consequência é um atraso no serviço, pois a
concretagem ao redor da tampa não é feita e as peças ficam com a lateral livre, não
sendo travados. Dessa forma, o piso não pode ser compactado e nem rejuntado.
58
Figura 41: Tampas de visita de esgoto não instaladas
A figura 42 ilustra uma situação similar. A tampa, dessa vez de concreto, não era
uma visita, apenas cobria instalações subterrâneas. Como a peça estava quebrada,
precisava ser trocada para o serviço de preparo de sub-base e base prosseguir. No
entanto, em um primeiro momento, ela foi apenas retirada e não substituída. Assim, a
execução da sub-base e base atrasou.
Figura 42: Tampa de concreto para proteger tubulação subterrânea
A Construtora “A” tem como rotina o preenchimento de Fichas de Verificação
de Serviços. O intuito é que haja um acompanhamento de perto de cada serviço para
garantir a qualidade do mesmo.
Os itens de inspeção e o método de verificação de cada um estão listados no
quadro 7. Uma verificação visual significa que basta a pessoa que está conferindo o
59
serviço olhar e julgar se o mesmo está ou não conforme. Já em uma verificação por
projeto, existem especificações a serem seguidas.
Quadro 7: Itens de Inspeção e Método de Verificação
Item de Inspeção Método de Verificação Estabilidade e confinamento da
guia e do meio-fio Visual
Altura e nivelamento da camada de areia
Projeto
Paginação das peças Projeto
Alinhamento das peças Visual
Compactação Visual
Encaixe das peças Visual
Terminalidade Visual
A autora considera o primeiro item de extrema importância. A tecnologia de
intertravado depende da contenção lateral. Se a mesma não for adequada, as peças do
piso podem soltar e perder sua função.
Com relação à altura e nivelamento de camada de areia, sua importância é
descrita no item 2.4.6 do capítulo 2. A mesma deve ser verificada para evitar a quebra
das peças e deformação da base. No entanto, conforme visto no quadro 7, essa é a única
camada verificada nos itens de inspeção. O motivo é que o método executivo descrito
no documento da Construtora “A” só contempla o serviço de intertravado a partir da
camada de assentamento. Mesmo assim, a autora acredita que deveria ser obrigatória a
verificação de todas as camadas do pavimento, garantindo seu funcionamento. Uma
camada de base mais fina que o recomendado em projeto, pode, por exemplo, fazer com
que o pavimento não resista às cargas para as quais foi projetado.
Como visto anteriormente, os arremates da calçada foram definidos durante sua
instalação. A justificativa é que, apesar dos arranjos serem definidos em projeto, a
paginação das peças não foi. Sendo assim, não é possível verificar o item de inspeção de
paginação das peças de acordo com projeto. O que aconteceu na prática foi que trechos
60
eram executados e posteriormente validados para que fossem repetidos no restante da
obra.
De acordo com a Construtora “A”, o método de verificação empregado para
conferência do alinhamento das peças é visual. No entanto, como explicado no item
2.3.5 do capítulo 2, segundo Mariana Marchioni e Cláudio Silva (2011) , ambos da
ABCP, o mesmo deve ser verificado com uso de linhas.
Com relação à compactação das peças, o objetivo é fazer com que haja um
travamento inicial dos mesmos e nivela-los. De acordo com o item 2.3.7 do capítulo 2, a
verificação do nível deve ser feito por meio de uma barra metálica de 3 m e a tolerância
é de 10 mm.
O item de encaixe das peças também é importante para o funcionamento do
pavimento. Como pode ser visto na figura 43, algumas peças encontravam-se mal
encaixadas, prejudicando o travamento do piso. Por isso, foi necessário retirar as peças e
assentá-las novamente.
Figura 43: Peças mal encaixadas
Por fim, o item de terminalidade engloba quaisquer anomalias ainda existentes
no piso mesmo após as outras verificações como, por exemplo, peças quebradas, áreas
sem rejuntamento ou até mesmo inacabadas por quaisquer motivos.
O método executivo aplicado na obra será comentado a seguir. Não foi possível
obter dados sobre o subleito e nenhum dos modelos de pavimento explicados utilizou
61
sub-base. Por esse motivo, as etapas 1 e 3 do procedimento executivo não serão
apresentadas e analisadas.
3.5.2 Etapa 2 - Instalação das contenções laterais
Como visto no item 2.4.3, a primeira etapa para instalação das contenções
laterais deve ser o estaqueamento para definição de cota e alinhamento. Em seguida, o
material de base da contenção é espalhado e compactado como visto na figura 44.
Figura 44: Compactação da base da contenção lateral
Com a base pronta, a contenção lateral é assentada de acordo com alinhamento
marcado, como ilustrado na figura 45.
Figura 45: Assentamento da contenção lateral
62
Por fim, como demonstrado na figura 46, as peças são rejuntadas, e segue-se
para as etapas seguintes.
Figura 46: Rejunte das peças de contenção lateral
3.5.3 Etapa 4 - Execução da camada de base
Com os meio-fios instalados, o material de base – bica corrida – é espalhado
com auxílio de pás. No caso da figura 47, a base é da calçada. Sendo assim, a
compactação que segue o espalhamento do material foi realizada por meio de uma placa
compactadora similar à utilizada para instalação do meio-fio. A altura da camada é
verificada medindo-se a distância dela para o topo do meio-fio, já nivelado.
Figura 47: Espalhamento do material de base
63
Com relação à base da via condominial e das vagas, foram utilizadas duas
máquina para sua execução, conforme ilustrado na figura 48. O rolo compactador liso à
esquerda foi utilizado para compactação, enquanto a escavadeira à direita foi utilizada
para espalhamento do material de base.
Figura 48: Rolo compactador liso e escavadeira
Segundo a NBR 16416:2015, o ensaio de granulometria deveria ter sido
realizado com um jogo de peneiras diferente do que foi realizado pela Empresa “C”. A
razão pela qual o jogo de peneiras diferente foi utilizado, é que a Construtora “A”
baseou-se na norma DNIT 141/2010-ES. Sendo assim, não é possível comparar o
resultado com a NBR 16416:2015. A tabela 18 mostra as peneiras utilizadas.
Tabela 18: Peneiras utilizadas para ensaio de granulometria de base
Peneiras DNIT 141/2010-ES NBR 16416:2015 75 mm X 63 mm X 50 mm X X
37,5 mm X 25 mm X X 19 mm X
12,5 mm X 9,5 mm X
4,75 mm X X 2,36 mm X 2,00 mm X
0,425 mm X 0,075 mm X
(ABNT, 2015 e DNIT 141/2010-ES).
64
A granulometria usada como referência para base pela Construtora “A” pode ser
vista na tabela 19.
Tabela 19: Granulometria de referência para base segundo a Construtora “A”
Peneiras % Passando
2`` 100
1`` 75 a 90
3/8`` 40 a 75
nº 4 30 a 60
nº 10 20 a 45
nº 40 15 a 30
nº 200 5 a 15
A autora conseguiu acesso a quatro resultados do ensaio de granulometria
realizados na base do pavimento, conforme visto na tabela 20.
Tabela 20: Resultado do ensaio de granulometria para 4 amostras da base
Granulometria % Passando
Peneiras Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4
2`` 100 100 100 100
1`` 90,9 100 100 87,3
3/8`` 62,8 54,7 71,2 68,5
nº 4 53,4 37,4 45,3 43,2
nº 10 41,4 23,7 28,5 28,8
nº 40 19,1 11,1 10,6 13,2
nº 200 5,9 3,7 3,6 5,9
Para verificar se o resultado está de acordo com o especificado pela Construtora
“A”, foi feita a média dos resultados das quatro amostras para que fossem comparadas
ao valor de referência, como pode ser visto na tabela 21.
65
Tabela 21: Comparação do valor de referência com a média do ensaio de granulometria para base
Granulometria % Passando Peneiras Real Esperado
2`` 100 100 1`` 94,55 75 a 90
3/8`` 64,3 40 a 75 nº 4 44,825 30 a 60
nº 10 30,6 20 a 45 nº 40 13,5 15 a 30
nº 200 4,775 5 a 15
Observa-se que a peneira de 1``, nº 40 e nº 200 estão fora do valor de referência.
3.5.4 Etapa 5 - Execução da camada de assentamento
A camada de assentamento é realizada após a base compactada. Na figura 49
pode ser visto à esquerda a pista de caminhada, ainda sendo executada, e à direita a via
condominial, já compactada e liberada para assentamento das peças. Entre elas será
colocado um jardim.
Figura 49: Camada de assentamento sendo sarrafeada
Na pista de caminhada o pó de pedra foi espalhado e está sendo sarrafeado com
um pedaço de madeira, enquanto o aconselhado é um sarrafo metálico. A Empreiteira
“B” fez uso de varas de aço como guias, medindo sempre a distância das varas,
localizadas no pó de pedra, para a linha estendida acima da camada. A figura 50 é uma
66
aproximação da figura 49 e permite visualizar melhor a barra de aço exercendo sua
função.
Figura 50: Vara de aço sendo utilizada como guia
O instrumento de compactação utilizado para pista de caminhada e calçada foi a
placa vibratória, também utilizada para preparo da base da contenção lateral. Já para as
vagas e via condominial, foi utilizado um rolo compactador liso.
No que diz respeito à granulometria do pó de pedra, a autora não teve acesso aos
resultados do ensaio.
3.5.5 Etapa 6 - Assentamento das peças
Uma vez executada a camada de assentamento, inicia-se a colocação das peças.
Para tal, o material é levado em pallets do armazém para o local de aplicação, como
pode ser visto na figura 51.
Figura 51: Distribuição das peças
Uma vez posicionado, o material é distribuído em pilhas próximas ao local em
que será assentado. Nesse momento, o encarregado da Empreiteira “B” confere os
67
projetos em sua posse e orienta sua equipe para distribuição das peças, como ilustrado
na figura 52.
Figura 52: Assentamento das peças
Os arremates são a última etapa do assentamento das peças. Os cortes são
realizados com a serra policorte, como pode ser visto na figura 53.
Figura 53: Serra policorte
3.5.6 Etapa 7 - Rejuntamento
A figura 54 ilustra um trecho do estacionamento e da calçada com material de
rejunte espalhado, mas compactação ainda não realizada. É possível verificar que o
pavimento da calçada ainda não está nivelado com a contenção lateral. Segundo o
encarregado da Empreiteira “B”, o piso desce aproximadamente 2 cm após a
compactação, e, então, fica nivelado com a contenção no caso da calçada.
68
Figura 54: Estacionamento e calçada rejuntados
Para compactar o piso da via condominial após o rejuntamento, utiliza-se um
rolo compactador de menor porte com relação ao usado para compactar a base. A
máquina está ilustrada na figura 55.
Figura 55: Rolo compactador
Por fim, o piso é varrido e liberado para tráfego. A figura 56 ilustra a pista de
caminhada pronta.
69
Figura 56: Pista de caminhada pronta
Conforme dito no item 3.2.4, não foi possível ter acesso ao ensaio de
granulometria do pó de pedra. Vale ainda ressaltar que a Construtora “A” não estabelece
um valor de referência para o mesmo.
70
4 Considerações Finais
O foco do presente trabalho foi estudar a aplicação do pavimento intertravado, que
com sua camada superior sendo de peças de concreto permeável, pode ser uma
tecnologia a ser adotada em drenagem urbana sustentável. Desse modo, buscou-se
apresentar a tecnologia do pavimento intertravado, envolvendo seus diversos tipos de
revestimento, ensaios realizados com as peças de concreto e o procedimento executivo
do serviço.
Foi possível verificar as dimensões, índices de forma, espessura, arranjos de
assentamento e arremates para todos os modelos de peças de concreto encontrados na
obra estudada de um condomínio localizado na cidade do Rio de Janeiro. A autora
analisou os dados fornecidos pela Construtora “A”, acompanhou a obra em
determinados períodos e entrou em contato com a Empreiteira “B”, a Empresa “C” e o
Fornecedor “D” para tirar dúvidas e tornar o trabalho mais completo e qualificado.
Com relação aos ensaios das peças, foram expostos no item 2.3 os ensaios de
inspeção visual, a avaliação dimensional, a absorção de água, a resistência à
compressão, a resistência à abrasão e o coeficiente de permeabilidade. No entanto, nem
todos puderam ser explorados na prática.
Sobre o procedimento executivo, a autora considera que as visitas foram
fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa. Foi possível ver diversas patologias
e particularidades que surgem no momento em que o serviço está sendo executado,
como a definição da paginação da calçada, e tirar dúvidas com o encarregado da
Empreiteira “B”.
Mesmo assim, foram encontradas algumas dificuldades durante o estudo, pois a
autora dependeu de informações cedidas pela Construtora “A”, responsável pela obra
com a qual foram realizadas as visitas com intuito de verificar a teoria apresentada sobre
pavimentos intertravados.
Um exemplo de limitação do trabalho foi a análise da camada de subleito no
procedimento executivo. O mesmo já se encontrava preparado para receber a base,
então, sua execução não pôde ser acompanhada. Além disso, não foi possível obter
acesso à realização dos ensaios do subleito.
71
Outro ponto inconclusivo foi a designação da função da camada de pó de pedra
adotada para a via condominial. A autora acredita que a mesma seja uma camada
filtrante, mas a informação não foi confirmada com a Construtora “A”. Ainda com
relação à seção transversal do pavimento adotado, não foi possível analisar nenhuma
camada de sub-base, visto que a mesma não foi empregada na obra em questão.
Além disso, por terem sido tratadas como peças de concreto convencional, as peças
de concreto permeável não foram submetidas ao ensaio de permeabilidade, não sendo
possível fazer sua análise. Outro ensaio que não foi analisado foi o ensaio de resistência
à abrasão, que é facultativo.
A conclusão da autora foi de que parte das construtoras e empresas prestadoras de
serviço relacionadas à tecnologia do pavimento intertravado de concreto permeável não
possuem conhecimento suficiente com relação à sua teoria. A consequência é a
confusão entre os tipos de peças, que acabam sendo tratadas como iguais às peças de
concreto convencional, quando, na verdade, precisam de tratamentos diferentes. O
conhecimento da NBR 16416:2015, por exemplo, teria contribuído para que os ensaios
realizados com as peças fossem os adequados. Além disso, o projeto poderia ter sido
feito levando-se em consideração a diferença entre as peças de concreto convencional e
permeável.
Vale ressaltar que durante a elaboração do presente trabalho, a autora entrou em
contato e elaborou um relatório para Construtora “A” mostrando a diferença entre a
NBR 16416:2015 e a NBR 9781:2013.
É possível que as falhas de projeto e execução estudadas no capítulo 3 também
ocorram em outras obras. Para melhorar a eficácia do sistema e testar seu real
desempenho, a autora acredita que seja necessário analisar uma obra que tenha de fato
seguido os critérios da NBR 16416:2015.
Vale ainda ressaltar que existem outros tipos de pavimentos permeáveis além do
estudado, que foi aquele com revestimento de peças de concreto permeável. Como
sugestão para trabalhos futuros, a autora sugere que seja analisada a peça de concreto de
juntas alargadas, pois acredita que a mesma seja uma solução para alguns dos problemas
encontrados e discutidos no item 3.4. A autora crê que a peça de juntas alargadas reúne
características positivas das peças de concreto convencional e permeável, pois ao
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mesmo tempo em que é resistente, permite a infiltração da água. O valor de resistência
esperado para a mesma é similar ao da peça de concreto convencional, como pode ser
visto na tabela 7. Outra sugestão é que seja dada continuidade ao presente trabalho com
maior foco para quantificar os efeitos da adoção dessa tecnologia no que diz respeito à
drenagem urbana.
73
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