Paula Casaleiro
Licenciatura de Sociologia
Universidade de Coimbra
2002/2003
Paula Teresa de Abreu Casaleiro
Professor:
Paulo Peixoto
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de:
Fontes de Informação Sociológica
Índice
Introdução.............................................................................1
Desenvolvimento..................................................................3 Onde localizar as fontes...................................................3 Etapas da Pesquisa..........................................................9
Ficha de Leitura..................................................................11
Avaliação de uma página da Web sobre o "divórcio"....14
Conclusão...........................................................................16
Referências bibliográficas.................................................17
Anexos Anexo I Texto da ficha de leitura
Anexo II Página da Web
Divórcio em Portugal
Introdução
O presente trabalho trata o tema do divórcio em Portugal, procurando reunir
algumas das fontes de informação indispensáveis para uma pesquisa ou um estudo
futuro. Segundo Andrée Michel, a sociologia do divórcio desenvolve-se tardiamente
devido à desvalorização ligada no passado à ideia do divórcio (1983: 165:166), daí as
fontes serem relativamente recentes e as de Portugal ainda mais.
Nas últimas décadas assistimos a uma profunda transformação no seio da família.
Portugal, a partir de 1974, acompanha os outros países no movimento global (de
aumento) de ruptura conjugal, mantendo, contudo, algumas específicidades (Torres,
1996: 3).
O divórcio representa o fim de uma promessa, de um projecto, de um ciclo de vida,
por isso mesmo é um tema de tratamento áspero e difícil. Será, no entanto, proveitoso
interrogá-lo, pelo lado da sociologia. A evolução das rupturas conjugais desperta desde
logo algumas questões, tais como: O que provocou a mudança de perspectiva sobre o
casamento, até aí encarado como indissolúvel? Porque é que as pessoas se divorciam
muito mais hoje do que há anos atrás? Para responder a estas questões e a outras será
indispensável recorrer a vários autores, que descrevem momentos fulcrais da história do
divórcio em Portugal e no mundo ocidental, bem como as diversas mudanças ocorridas
no contexto nacional, das quais resultou o aumento do divórcio. No âmbito desta temática
destaca-se ainda, os diferentes tipos de divórcio que podemos identificar, e as
implicações sociais e familiares deste.
Estas são, então, algumas das questões que tenciono abordar, através da
indicação de algumas vias para obter fontes de informação. A exploração de fontes de
natureza sociológica sobre o divórcio é fulcral para uma avaliação e discussão deste em
todas as suas vertentes.
As fontes de informação em que este trabalho se baseia têm um formato variado,
sendo compostas por livros, sites da web, páginas da mesma em formato pdf, e uma
recente reportagem televisiva.
Ao longo da pesquisa não me restringi a Portugal. Por um lado, porque as
transformações ocorridas acompanham um movimento global, tendo características em
Fontes de Informação Sociológica 1
Divórcio em Portugal
comum. Por outro, a investigação em Portugal dentro deste tema é ainda um pouco
reduzida, e as características são relativamente similares. Pesquisei essencialmente em
português e inglês, sendo-me mais fácil a compreensão da informação nestas duas
línguas.
A página da Web, que escolhi para avaliar, aborda o tema da família e do divórcio
de uma forma clara, expondo algumas das temáticas a estes relacionadas de forma clara
e sucinta. Esta destina-se, na minha opinião, a um público alargado, sendo útil quer para
investigadores e estudantes, como para pessoas comuns, que queiram saber mais sobre
estes assuntos.
Fontes de Informação Sociológica 2
Divórcio em Portugal
Desenvolvimento
Assistimos actualmente a uma profunda transformação da família consubstanciada
quer no aumento de rupturas conjugais, quer na descida dos casamentos e da natalidade,
como poderemos observar mais à frente.
A evolução do divórcio é nítida. O que antes era apenas indício de uma
instabilidade familiar, de uma crise do indivíduo e da sociedade, sanção de um delito
contra o outro parceiro, o casal, os filhos, a família e a sociedade, tornou-se corrente e
banalizou-se (Segalen, 1999: 158).
Contudo, uma melhor compreensão do divórcio na instituição matrimónio, e a sua
evolução, exige um breve historial da instituição, que é indissociável das profundas
alterações ocorridas durante as últimas décadas. O dicionário electrónico "The red feather
dictionary of critical social science" (s.d.), versão resumida, refere-se à decomposição da
família e apresenta diversos factores relativos à evolução do capitalismo que contribuem
para isto. No entanto, a simples enumeração de factores que é disponibilizada não é
suficiente para uma compreensão adequada desta realidade complexa.
ONDE LOCALIZAR AS FONTES
p Livros Científicos
No livro "Sociologia da Família e do Casamento" (Michel, 1983: 165-173), a autora,
que é uma referência na área da sociologia da família, apresenta dados estatísticos sobre
o aumento das taxas de divórcio nos países da Europa Ocidental e de Leste. Aponta
ainda algumas transformações estruturais, legislativas e funcionais que contribuíram para
o aumento do divórcio, salientando e comparando as variações existentes em cada um
dos países.
O livro "Sociologia da Família" (Segalen, 1999: 159-162), apresenta a história do
divórcio em França, dando especial destaque às alterações legislativas aí ocorridas, e a
actividade profissional da mulher. A autora, Martine Segalen realça também a influência
das variáveis socioprofissionais e do capital cultural.
Fontes de Informação Sociológica 3
Divórcio em Portugal
«Entre as classes populares, as pessoas casam-se para seguir a regra, porque
a concubinagem tem demasiados inconvenientes, e divorciam-se pouco, devido ao
custo e ao peso do processo jurídico. Nas classes médias assalariadas, as pessoas
casam-se porque têm um pequeno capital para transmitirem, mas como este é
iminentemente cultural, e não económico, não é obstáculo a um divórcio, mais
frequente porque mais acessível, financeira e culturalmente. Nas classes dominantes,
é igualmente mais raro pois constitui um sério obstáculo à reprodução de um capital
social, cultural ou económico muito mais elevado.» (Segalen, 1999: 161-162).
Neste livro a autora identifica ainda diversos modelos de divórcio, defendendo a
existência de um novo divórcio, caracterizado pela brevidade do matrimónio, e de um
divórcio «clássico» em que existe uma longa duração do matrimónio.
Anália Cardoso Torres, no seu livro "Divórcio em Portugal - ditos e interditos"
(1996), reúne um conjunto de trabalhos de pesquisa sociológica sobre o divórcio, em três
capítulos.
No primeiro capítulo responde a perguntas que já referi, como a do porquê do
aumento do divórcio nas sociedades contemporâneas. Identifica depois um conjunto vasto
de mudanças no plano das estruturas, práticas e valores relacionados com a família, e os
problemas e tensões que estas mudanças ocasionam. Apresenta ainda dados muito
genéricos sobre o divórcio na actualidade, bem como sobre momentos importantes da
sua história em Portugal. Para finalizar, e de modo a desdramatizar o divórcio, identifica
as principais mudanças no contexto nacional dos últimos 30 anos com influência na
evolução do divórcio, como seja a feminização do trabalho e valores de simetria entre
homens e mulheres, os novos modelos de natalidade e de conjugalidade, os novos
valores e práticas de religiosidade.
No segundo capítulo sistematiza as principais perspectivas teóricas, no campo da
sociologia da família, que orientaram a sua pesquisa e identifica brevemente o modelo de
análise adoptado. No terceiro capítulo desenvolve a análise dos tipos de divórcio -
fatalidade, culpa do outro, e desencontro - e narra três histórias de divórcio
particularmente ilustrativas. Este livro é indubitavelmente um contributo essencial na área
da sociologia da família e do casamento, e em especial para um estudo mais
desenvolvido do divórcio em Portugal, por isso lhe dei uma maior atenção.
Fontes de Informação Sociológica 4
Divórcio em Portugal
Para um historial mais aprofundado do divórcio no século XX podemos consultar o
livro "Divórcio e Separações em Portugal – Análise Social e Demográfica, séc. XX",
(Delgado, 1996). Neste encontramos uma análise da evolução das rupturas conjugais ao
longo do século passado, ilustrados com diverso quadros estatísticos. O livro "Desfazer o
nó: breve história do divórcio" (Phillips, 1996) é também indispensável para o estudo do
divórcio no decorrer da história, alargando o seu estudo a toda a Europa.
p Artigos de revistas científicas
No site do ICS podemos encontrar um artigo do António Barreto (2002), intitulado
"Mudança Social em Portugal, 1960/2000", no qual, como o título indica, o autor sintetiza
algumas das principais mudanças sociais de 1960 a 2000, referindo, como é óbvio, as
alterações ocorridas em Portugal que levaram ao aumento do divórcio.
No site da revista "Sociologia – Problemas e Práticas", podemos consultar os
resumos de dois artigos de Anália Cardoso Torres. No número 2, de Maio de 1987,
encontramos um artigo intitulado "Mulher, divórcio e mudança social – divórcio:
tendências actuais", no qual se identifica e se dá conta do impacto das mudanças sociais,
legislativas, e dos papéis sociais. Através de um estudo de caso sobre mulheres
divorciadas na área urbana de Lisboa. O número 11, de Março de 1992, inclui o artigo
"Fatalidade, culpa, desencontro: forma da ruptura conjugal", o qual sintetiza alguns
resultados de uma investigação sobre o divórcio e os divorciados.
p Dados estatísticos
Podemos encontrar dados estatísticos do aumento das rupturas conjugais no site
do Instituto Nacional de Estatística (INE) e também nas diversas publicações. Assim,
encontramos um texto nas actualidades do site do Instituto Nacional de Estatística
intitulado "Portugueses: menos casamentos e mais divórcios?" (INE, 2002a), incluído
numa acção de informação à Comunicação Social, de 16 de Agosto de 2002, o qual nos
apresenta diversos dados importantes. Este faz uma análise retrospectiva, sumária, da
nupcialidade e da divorcialidade em Portugal, concluindo estarmos perante um
Fontes de Informação Sociológica 5
Divórcio em Portugal
decréscimo da primeira e um aumento do segundo como podemos ver nos gráficos
seguintes.
Gráfico 1
(Fonte: INE, 2002a)
Gráfico 2
(Fonte: INE, 2002a)
Ainda no texto referido, são apresentadas as taxas de nupcialidade e de
divorcialidade por região, e são apontadas algumas curiosidades relativas à evolução das
taxas entre 1992 e 2001. No site do INE (2002b) são também apresentados os resultados
definitivos de 2001 sobre "A Divorcialidade em Portugal", que apresentam dados similares
aos já referidos pelo último (INE, 2002a).
Ainda no site do INE podemos consultar os "Indicadores demográficos - 4º
trimestre de 2002" (2003) que destacam o facto de em 2002, o número de casamentos
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Divórcio em Portugal
dissolvidos por divórcio se situar em cerca de metade do número de casamentos
celebrados.
p Legislação
Em matéria de direito da família podemos consultar o site de uma associação
privada sem fins lucrativos, composta por docentes da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, "Centro de Direito da Família" (2000), o qual nos dá conta da
legislação relativa ao divórcio e não só. Ou ainda o site da Associação Pais para Sempre
(1999). Ambos remetem para o Código Civil Português, lei n.º 47/98 de 10 de Agosto.
Sumariamente a lei portuguesa prevê duas formas de cessação das relações
matrimoniais: a morte de um dos cônjuges e o divórcio. Entende-se por divórcio a
dissolução do casamento decretada pelo tribunal ainda em vida de ambos os cônjuges, a
requerimento de ambos ou de um deles. O artigo 1773º do Código Civil distingue entre
divórcio por mútuo consentimento e divórcio litigioso como duas modalidades possíveis do
divórcio. Enquanto que no divórcio por mútuo consentimento existe uma vontade unânime
em pôr fim às relações matrimoniais concordando o casal na produção dos efeitos dessa
cessação, no divórcio litigioso essa vontade não existe porque os cônjuges ou estão em
litígio ou se verifica uma das causas objectivas do divórcio litigioso.
p Outras fontes...
A posição das organizações religiosas, nomeadamente da Igreja Católica, sobre
esta temática adquire relevância por Portugal ser um país maioritariamente católico.
Podemos perceber a opinião desta instituição no artigo do jornal electrónico
BBCBrasil.com (2002). Este dá-nos conta das declarações do papa João Paulo II, a 28 de
Janeiro de 2002, em que este defende que o casamento é indissolúvel, e pede aos
advogados católicos para se recusarem a defender casos de divórcio. No mesmo artigo
são ainda apresentadas as críticas de diversos advogados e políticos às afirmações do
Sumo Pontífice. No site do Congresso Teológico-Pastoral (1997), relativo ao "II Encontro
mundial do Papa com as famílias. A família: dom e compromisso, esperança da
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Divórcio em Portugal
humanidade", podemos verificar a importância que a Igreja Católica confere à família e à
sua estabilidade, condenando o divórcio.
No Diário Digital podemos consultar um artigo intitulado "Divórcios em Portugal
disparam em 2002" (F. Pedro, 2003), baseado em dados do Instituto Nacional de
Estatística, que podemos consultar no site do INE, já referido.
Por fim, no dia 13 de Março de 2003, na RTP1 (2003), foi apresentada no
programa "A Grande Reportagem" uma reportagem intitulada "Relações Quebradas" por
Paula Moura Pinheiro. Nesta são nos apresentados testemunhos de filhos de pais
divorciados, e de pessoas divorciadas, bem como imagens das lutas pró-divórcio no pós
25 de Abril de 1974, entre outros pontos relativos ao divórcio.
Fontes de Informação Sociológica 8
Divórcio em Portugal
ETAPAS DA PESQUISA
Em primeiro lugar, comecei por consultar a base de dados da Biblioteca Geral da
Universidade de Coimbra para encontrar livros científicos relativos ao divórcio.
A biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra possuí
imensa informação sobre o tema divórcio, dispondo de inúmeras monografias e livros
científicos em francês e em português. Destas dei destaque aos livros em português.
Pois, por um lado, não me sinto à vontade com a língua francesa e, por outro lado, a
biblioteca possuía as traduções portuguesas dos originais. As informações que consegui
eram bastante detalhadas, por isso decidi completá-la com uma investigação exaustiva na
Internet, evitando deslocações por exemplo ao INE, ou ao Centro de Estudos Sociais,
neste caso para, por exemplo, consultar artigos de revistas científicas mais antigos
Para as pesquisas na Web utilizei o motor de busca Google, pois parece-me o mais
fácil de utilizar, embora ultimamente se encontre muito ruído se não formos cuidadosos. O
tema do divórcio torna-se complicado de pesquisar pois existem diversos fora de
discussão para pessoas divorciadas, bem como sites de aconselhamento, o que não me
interessava.
Numa primeira pesquisa usei como palavra-chave "divórcio", sem especificar o
tipo de ficheiro, apenas referindo que queria fazer a pesquisa em português, do que
resultou 34,700 registos. Perante estes resultados tive de especificar a minha pesquisa.
Assim, utilizei a pesquisa avançada do Google tendo como palavra-chave "divórcio", a
expressão "em Portugal", apenas em português, e o tipo de ficheiro em formato pdf, e o
resultado obtido foi 320 registos. Embora ainda houvesse muito ruído, decidi não delimitar
mais a minha pesquisa e consultar apenas os links que me pareceram mais importantes.
Para encontrar algumas informações sobre a legislação relativa ao divórcio utilizei
como indicadores de pesquisa "divórcio+legislação+Portugal", foram-me devolvidos
1100 registos, como os primeiros remetiam para a associações credíveis e com a
informação que me interessava, parei por aqui.
Como não podia falar de divórcio sem falar de religião, usei como palavra-chave
"divórcio", e como expressão "opinião da igreja", especificando que queria obter
resultados em português, obtive então 4 registos.
Fontes de Informação Sociológica 9
Divórcio em Portugal
Ainda na pesquisa na Web consultei algumas das páginas aconselhadas quer no
site da cadeira de Fontes de Informação Sociológica, quer no da Faculdade de Economia,
onde encontrei informações relativas ao divórcio em inglês.
Por fim, consultei a versão on-line da revista Sociologia Problemas e Práticas, onde
encontrei dois artigos da Anália Cardoso Torres.
Deixei, então, as pesquisas na Web e consultei as actas do último congresso de
sociologia, contudo, este não tinha nenhum artigo relativo ao divórcio, ou que pudesse ser
relevante para esta temática.
Entretanto, já quando estava a redigir este trabalho, decorreu no dia 13 de Março
de 2003, na RTP1 (2003), no programa "A Grande Reportagem" uma reportagem
intitulada "Relações Quebradas", que fez uma caracterização sumária da evolução do
divórcio no contexto social e histórico de Portugal, extremamente interessante.
Fontes de Informação Sociológica 10
Divórcio em Portugal
Ficha de Leitura
Anália Cardoso Torres, socióloga, é docente no Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa e investigadora no Centro de Investigação e Estudos de
Sociologia.
No capitulo do livro "Divórcio em Portugal: ditos e interditos" (Torres, 1996: 56-68),
a autora sistematiza as principais perspectivas teóricas e estudos empíricos no campo da
sociologia da família relativas ao divórcio, que contribuíram mais decisivamente para a
elaboração do modelo de análise utilizado no livro em questão. Neste a autora destaca as
teorias e pesquisas empíricas apresentadas e desenvolvidas por autores como L.
Roussel, J. Kellerhals, A. Desrosières e N. Lefauchen, W. Goode, G. Becker, Kitson,
Sussman, Price e Mckenry.
De início começa por nos apresentar o modelo matrimonial de L. Roussel, que
considera o casamento e o divórcio elementos desta mesma realidade. Assim, a teoria
desenvolvida por L. Roussel e completada por Kellerhals relaciona as diferentes formas
de viver o divórcio com modelos, tipos, ou formas de conjugalidade a que elas se
poderiam referir. Tendo em conta as condições sociais e as formas específicas de
interacção das relações familiares. Assim, a cada modelo matrimonial está associado um
tipo especifico de divórcio:
«Ao casamento tradicional, fundado na instituição e cuja finalidade é a sobrevivência
dos individuos, corresponde habitualmente a ausência do divórcio, ou a sua excepcionalidade.
Ao casamento-aliança, fundado na instituição como quadro de solidariedade afectiva, está
associado o divórcio-sanção(...). Ao casamentp-fusão, que reduz a instituição a uma mera
formalidade cómoda e que assenta fundamentalmente na solidariedade afectiva imensa,
corresponde o divórcio-falha (...). E, finalmente, ao casamento-associação, que é apenas um
contrato privado cuja finalidade é a de maximizar as gratificações de cada parceiro, está
associado o divórcio também como simples problema privado.» (Torres, 1996: 56)
Em segundo lugar, dá-nos conta das propostas de Nadine Lefaucheur e de Alain
Desrosières que tentam perceber, por um lado as lógicas internas à família que explicam
a maior frequência da ruptura conjugal nas classes médias assalariadas. Por outro lado,
Fontes de Informação Sociológica 11
Divórcio em Portugal
os autores referidos explicam os efeitos difusores que estendem estes comportamentos a
outros grupos e classes sociais, quer pela influência dos sectores intermédios, quer pela
própria mudança legal, que produz efeitos de reestruturação cognitiva quanto a normas e
valores antes considerados condenáveis. No caso concreto de Portugal, tais efeitos
poderiam ser significativos dado o contexto histórico especifico de renovação legislativa
no pós-25 de Abril.
Num terceiro momento a autora remete-nos para as propostas teóricas e análises
empíricas que apontam a idade, o sexo e a actividade profissional feminina como
variáveis importantes na classificação das formas de relação e de ruptura. A idade poderá
remeter para transformações mais globais, através dos diferentes contextos de
socialização, para além da esfera individual. O sexo é-nos apresentado nestes estudos
empíricos como uma variável discriminante de atitudes e práticas face ao divórcio. E por
fim, a actividade profissional feminina interfere na configuração das formas ou modelos de
conjugalidade e nos tipos de divórcio.
A síntese apresentada pela autora é de uma importância extrema, considerando,
por um lado, que no campo das ciências sociais, o tema do divórcio tem sido objecto de
diversas análises, teorias e tentativas de explicação. E, por outro lado, também o aumento
do divórcio e a crescente visibilidade do fenómeno se traduzem na multiplicação de
estudos de perspectivas variadas. Desta forma, a autora reúne e apresenta, de forma
sucinta, as teorias e análises mais relevantes, facilitando futuros trabalhos relativos a este
tema.
Na verdade, qualquer uma das teorias ou estudos empíricos apontados por si só
seriam manifestamente insuficientes e redutores, como explicações para os diferentes
fenómenos subjacentes ao aumento do divórcio. Portanto, a análise da realidade
complexa que é o divórcio exige a complementaridade das diferentes teorias e estudos,
sendo de louvar o esforço da autora neste sentido.
Por outro lado, cada processo de divórcio tem contornos particulares e múltiplas
leituras. Desta forma, sob a uniformidade das tendências médias e das tipologias,
"esconde-se" uma diversidade que nem sempre encaixa nestas.
O texto de suporte desta ficha de leitura apresenta, contudo, algumas falhas,
nomeadamente, porque não estabelece a ligação com a realidade portuguesa. As teorias
e análises sintetizadas são muito importantes como auxilio a uma explicação da realidade
Fontes de Informação Sociológica 12
Divórcio em Portugal
portuguesa, mas é fundamental o confronto destes com os dados existentes para
Portugal.
Não podemos também deixar de reparar que as teorias apresentadas ao
enumerarem todo um conjunto de possíveis causas para o aumento do divórcio, omitem
as transformações políticas, sociais, e de mentalidade, entre outras, que se operaram em
todas as sociedades, onde este fenómeno sucede, com as especificidades lógicas. Sendo
estas transformações incontornáveis para a explicação do fenómeno.
Fontes de Informação Sociológica 13
Divórcio em Portugal
Avaliação de uma página Web sobre o "divórcio"
Esta foi a página da Web que seleccionei para ser analisada e criticada.
http://www.trinity.edu/~mkearl/family.html A página intitulada Marriage & Family Processes aborda o divórcio, inserindo-o nas
temáticas mais gerais do casamento e da família. Para além de apresentar diversas
definições de família e referir-se à sua evolução histórica, remete-nos para diversas
páginas e livros, com informação relevante sobre assuntos relacionados. Naturalmente,
tem uma ligação para uma página sobre o divórcio, onde nos são fornecidos alguns dados
estatísticos sobre a evolução das taxas de divórcio nos Estados Unidos da América. Para
além disto, aponta alguns motivos para o aumento das rupturas conjugais, e fornece-nos
ainda alguma informação sobre o impacto do divórcio, nomeadamente, nas crianças, nos
avós, entre outros. Dedica também algum espaço à chamada "indústria do divórcio", ou
seja, refere-se a uma série de profissionais, como os advogados, que se especializaram
na área.
Em relação ao seu autor, esta não disponibiliza qualquer tipo de informação,
sabemos apenas que se chama Michael Novak, o que poderia tornar a página pouco
credível. Contudo, esta é aconselhada pela página da editora norte-americana Allyn &
Bacon, que disponibiliza ligações para sítios de sociologia classificados por temas, e o
seu autor remete-nos para diversos sites credíveis e utiliza fontes conceituadas. Desta
forma, parece-me que a credibilidade da fonte é inquestionável.
Um ponto negativo é que não podemos contactar com o autor da página, já que
não existe nenhuma hiperligação para o seu e-mail, nem referência a qualquer outro meio
pelo qual o pudéssemos contactar.
A página escolhida é de origem norte-americana, e usa como idioma o inglês. A
informação contida restringe-se aos EUA, contudo os links remetem-nos para páginas
com dados relativos a todo o mundo.
Embora a data do site não nos seja disponibilizada, o que é um ponto negativo
desta, este deve ser relativamente recente já que nos apresenta dados de 2000.
Fontes de Informação Sociológica 14
Divórcio em Portugal
O objectivo do site, na minha opinião, é o de informar de uma maneira geral sobre
a evolução da família e das temáticas com ela relacionadas, designadamente o divórcio.
A página relativa ao divórcio pode ser útil tanto para investigadores e estudantes
interessados no tema, como para pessoas divorciadas ou não, que queiram obter
informação adicional sobre o tema, relativamente à legislação, e apoio a divorciados.
Quanto à apresentação, as cores utilizadas são agradáveis, servindo-se do
contraste do fundo azul escuro com as letras brancas para facilitar a consulta. A página
erra por ter poucas imagens o que torna o texto um pouco pesado, contudo, parece-me
que o autor quis vincar a seriedade da informação. Os gráficos, por sua vez, são bastante
ilustrativos, e são apresentados em cores que tal como as letras facilitam a consulta.
Um dos pontos fortes do site é o facto de serem referidas todas as fontes
utilizadas, chegando mesmo a ter hiperligações a fontes consultadas. Outro ponto forte
são os links existentes que são extremamente úteis e de fácil acesso. Porém, como a
página tem muitos hiperligações isto poderá tornar-se confuso e dificultar o acesso à
informação.
Por fim, no que diz respeito à redacção da informação, o facto de ser em inglês
poderia dificultar a consulta, caso utilizasse uma linguagem de um nível de inglês
avançado. Não obstante, esta pareceu-me de fácil compreensão e acessível. Na minha
opinião, o documento é de fácil navegação e as páginas carregam rapidamente. A
informação é gratuita.
Fontes de Informação Sociológica 15
Divórcio em Portugal
Conclusão
O tema do divórcio é, como já havia dito, um tema complexo, e ainda pouco
estudado seriamente em Portugal. Contudo, a pouco e pouco este tema é cada vez mais
estudado.
Os principais obstáculos na minha investigação estão relacionados com a pesquisa
bibliográfica e na internet. O facto do divórcio se inserir numa temática muito vasta como
é a da sociologia da família, dificultou um pouco a pesquisa bibliográfica, na medida em
que existiam muitos livros interessantes relacionados e tive de fazer uma selecção
cuidadosa. Por sua vez, a pesquisa na internet foi um pouco complicada. Todas as
equações de pesquisa que utilizei devolviam-me ou "silêncio" ou "ruído", e por isso, tive
de especificar cada vez mais, e recorrer também aos links aconselhados na página da
cadeira.
Em relação à estruturação do trabalho, tive dúvidas sobretudo na organização do
estado das artes, já que havia diversos tipos de fonte sobre um mesmo tema, e outras
que diziam respeito a diferentes temáticas.
A elaboração deste trabalho foi bastante frutuosa para futuros trabalhos, porque me
apercebi de determinados erros que não se devem cometer, e aprendi a estruturar e a
organizar um trabalho. Permitiu-me também conhecer diversas fontes importantes para
trabalhos futuros.
Fontes de Informação Sociológica 16
Divórcio em Portugal
Referências Bibliográficas
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<http://www.abacon.com/sociology/soclinks/family.html>.
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<http://www.geocities.com/paisefilhos/lei47_98.html>.
Barreto, António (2002), "Mudança social em Portugal: 1960 a 2002". Página
consultada em 8 de Março de 2003,
<http://www.ics.ul.pt/publicacoes/workingpapers/wp2002/WP6-2002.pdf>.
BBCBrasil.com (2002), "Papa pede que advogados boicotem divórcio", 28 de
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<www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/020128_papadi1.shtml>.
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Fontes de Informação Sociológica 17
Divórcio em Portugal
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Novak, Michael (s.d.), "Marriage & Family Processes". Página consultada a 8 de
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Phillips, Roderick (1996), Desfazer o nó: breve história do divórcio. Lisboa:
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RTP1 (2003), "Relações quebradas". Emissão na RTP1 de 13 de Março de 2003,
apresentada por Paula Moura Pinheiro.
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Anexos Anexo I Texto da ficha de leitura
Anexo II Página da Web
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