Download - Parada Certa - 1ª Edição
Como Chegar?Saiba o quanto a sinalização correta pode ajudar na sua viagem, e o que
está sendo planejado para melhorar esse aspecto na Baixada Santista
Nós fomos!Nesta edição, visitamos o Convento Nossa Senhora da Conceição, em Itanhaém
Acesso restritoHotéis adaptados à portadores
de necessidades especiais ainda são minoria na região
Quer ver mais fotos das matérias desta edição?
paradacerta.webnote.com.brE conheça um pouco mais do turismo do nosso litoral!
Vídeos exclusivos dos nossos repórteres?
paradacerta.webnode.com.brE conheça um pouco mais do turismo da região!
Acesse:
EditorialE
Quem nunca se perdeu? E não falo perdido no sentido filosófico, digo perdido no caminho em direção a
algum local ou cidade, literalmente, sem saber para qual lado seguir. A sinalização em toda a Baixada Santista
é motivo de preocupação para cidades que em épocas de alta temporada chegam a receber mais de dois
milhões de turistas.
Nesta edição, Parada Certa traz uma reportagem especial sobre o projeto de sinalização regional de
caráter turístico, da Agência Metropolitana da Baixada Santista. A intenção da agência é padronizar placas em
todas as cidades. E esse projeto tem prazo de validade: a Copa de 2014. O Brasil irá sediar o mundial, e com isso
receber a visita de turísticas de todas as partes do planeta. Santos, São Vicente e Guarujá já foram apontadas
pelo Ministério do Turismo como cidades indutoras, ou seja, indicadas para a visitação. Mas para conseguir
se adequar a essa demanda ainda falta um longo caminho a percorrer. As placas indicativas e traduzidas em
outros idiomas são apenas o inicio das mudanças preparadas pelas prefeituras em parceria com a Agem.
Esta é a primeira edição da Parada Certa e nossa proposta é mostrar que embora o litoral tenha praias
lindas e bastante procuradas como destino de férias, vale a pena olhar além do mar, areia e sol e conhecer
outros pontos igualmente agradáveis. As nove cidades que formam a Baixada Santista — Santos, São Vicente,
Praia Grande, Guarujá, Cubatão, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Bertioga — reúnem um roteiro histórico e
cultural que proporciona ao turista uma aula ao ar livre, com direito a registrar tudo, seja com fotos, filmagens
ou o que mais a imaginação e tecnologia permitir, sem mencionar muito lazer. Fora isso, bares e restaurantes
que oferecem o melhor da culinária caiçara e uma vida noturna agitada.
Para começar com o pé direito, estreamos a editoria Nós Fomos. A ideia é juntar sempre toda a nossa
equipe e visitar algum ponto do litoral. Assim, você poderá conhecer lugares diferentes e aproveitar todas as
nossas dicas. O Convento Nossa Senhora da Conceição, em Itanhaém, foi o escolhido. O local impressiona com
a sua aura de mistérios e visual que guarda toda história do local. O repórter Ivan De Stefano ficou responsável
por transcrever todas as nossas impressões e ainda produziu uma galeria de fotos com todos os detalhes do
convento. Faça as malas e venha conhecer o litoral além da praia. Que tal?
Quem tem boca vai a Roma?Sem querer menosprezar o ditado popular, mas você não acha
que seria bem mais fácil se tivesse uma placa indicando o caminho?
Arucha Fernandes, editora
Parada Certa é uma publicação dos alunos da Disciplina de Laboratório de Texto, 6° Semestre de Jornalismo, da Universidade Santa Cecília, UNISANTA.
equiPe
Professores Responsáveis:
Márcia Okida e Márcio Calafiori.
Editora-chefe: Arucha Fernandes
Editor Multimídia: Gabriel Martins
Planejamento Visual: Danilo Netto
Diagramação: Ivan De Stefano
rePórteres
Alexandre Alves, Aline Porfírio,
Arucha Fernandes, Carina Seles,
Danilo Netto, Gabriel Martins,
Ivan De Stefano, Leandro Aiello,
Letícia Schumann, Mariana Aquila,
Maurílio Carvalho
DESCANSEM EM PAZ Cemitério Israelita Cubatense é preservado
pelo Patrimônio Histórico da cidade.
POR ONDE SEGUIR?
Projeto de implantação de placas indicativas pretende
ajudar turistas e ainda preparar a Baixada Santista
para a Copa de 2014.
PIT STOP EM PRAIA GRANDE Pista de kart garante passeio animado para toda a família
DE VOLTA PARA O PASSADOPasseio de bonde em Santos revela história da cidade
ÍndiceNA PISTA
Bares e baladas para agitar suas noites no litoralpág. 40
pág. 32
pág. 08 - 14
pág. 76
CONFORTO PARA TODOSSuítes adaptadas para portadores de necessidades especiais ainda não
atende a todos os requisitos necessários na rede hoteleira
‘BORN TO BE WILD’ Rapel: Morro do Maluf no Guarujá é o endereço certo.
UMA FAZENDA NA PRAIAClima de interior e muito ar puro em Mongaguá
TRADICIONALMENTE DELICIOSOSEm São Vicente, doces caseiros conquistam
paladar de moradores e turistas
ANTIGOS MISTÉRIOSO Convento Nossa Senhora da Conceição, em Itanhaém,
desperta curiosidade e oferece uma aula de história ao ar livre
pág. 86
pág. 18
pág. 58 - 70
UMA RUA DE DAR ÁGUA NA BOCAA Rua Doutor Tolentino Filgueiras, em Santos, agrada a todos os gostos
pág. 48
pág. 26
Pit Stop em Praia Grande
Nosso Litoral
Para os que gostam de velocidade
o Kartódromo da cidade é uma boa
opção de passeio. Competições de
kart e também de motocicletas
acontecem durante o ano inteiroTexto: Leandro AielloFotos: Ivan De Stefano
A metros de distância da pista já é possível ouvir o ronco
dos motores. No kartódromo da Praia Grande há ao redor
estacionamento para os praticantes do esporte e também
para os visitantes. Não há tempo certo para a prática, com
chuva ou sol. Basta trocar os pneus de pista seca para os
de pista molhada, que a corrida está garantida. O espaço é
grande, lembra um galpão a céu aberto, porém a pista cheia
de voltas e retas mostra a que o local é destinado.
Em um dia normal de treino ou fora das competições, a
grande e alta arquibancada fica vazia e o ambiente parece
familiar. Ao estacionar o carro do lado de fora, dá para
perceber que o local não se preocupa com a aparência.
Grandes muros fecham o kartódromo e apenas uma entrada
é aberta ao público, que se mistura, entre competidores,
mulheres, crianças, membros do evento. O barulho e a
adrenalina que o local provoca parecem ser os fatores
essenciais para quem corre, pois, caso a pessoa não goste
de som alto, um kartódromo, com certeza, não é um bom
lugar. Os carros aceleram, às vezes um, às vezes dois, às vezes
muitos ao mesmo tempo.
De frente para o portão de entrada dá para ver a pista
e dos lados direito e esquerdo um grande corredor que dá
acesso aos boxes. Ao todo, são 23, e dentro de cada um deles
há um ou mais pilotos se preparando, com suas mulheres,
filhos e até avôs, esperando a entrada do familiar na pista.
Sentados em cadeiras de plástico, os amigos se acomodam
e alguns ficam de pé, encostados na mureta de cimento, que
impede que os demais entrem na pista. O pequeno carro
chega ao corredor dos boxes; ali, é checado desde os pneus
até o motor. Em seguida, entra a toda velocidade, podendo
alcançar cem quilômetros por hora em um dia de chuva ou
120 em dias ensolarados.
É intrigante o fato de a maioria dos motoristas ser de
outras cidades. Um dos pilotos e corredor de moto e Fórmula
Truck, Cajuru, como é chamado pelos amigos, mora em São
Paulo e foi convidado a correr pela equipe do evento. Apesar
de ser uma prática agressiva, pela questão da velocidade, o
esporte é seguro.
O piloto da categoria mirim, Juan Crespi Andreu Neto, de 9
anos, corre de kart há um ano. “Meu pai já corria de kart e eu
gostava”, diz o garoto. Juan, que mora em São Paulo, vai para
a Praia Grande todas as quartas-feiras no período da manhã
para treinar. Aos sábados e domingos, compete. Além da Praia
Grande, ele participa de mais três campeonatos em São Paulo,
mas segundo o pequeno corredor, “a pista da Praia Grande é
onde ele aprende muito e pratica seu esporte favorito”.
Na secretaria do evento, chamada RM Eventos, há algumas
moças que dão orientação ao público. Os interessados se
apresentam na secretaria e perguntam se há kart para correr.
Os treinos são aos sábados e as corridas aos domingos;
O narrador fica encarregado de animar o público, não deixando passar despercebido nenhum lance da corrida
As corridas são realizadas sempre aos domingos. Para se inscrever
basta comparecer a secretaria do evento, lá mesmo no kartódromo
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Os carros podem chegar de 100 a 120
quilômetros por hora. Sempre antes de entrar
na pista, a checagem geral é feita nos boxes
O kartódromo de Praia Grande fica no Complexo Poliesportivo e Cultural Leopoldo Estácio Vanderlinde, ao lado do terminal rodoviário Tude Bastos.
QUER CONHECER?
muitas pessoas treinam, mas não correm, vão apenas para
se divertir. Durante a semana, o kartódromo fica aberto das
13 às 19 horas e faz parte do complexo de lazer da prefeitura,
localizado no Complexo Poliesportivo e Cultural Leopoldo
Estácio Vanderlinde, próximo ao terminal rodoviário da
cidade de Praia Grande. Tambores de latão demarcam alguns
pontos da pista, assim como as tendas protegem o público
da chuva. Há um pequeno bar, onde o público pode consumir
espetinhos e refrigerantes, pois a espera até o término da
corrida pode ser longa. Bebidas alcoólicas não são servidas.
Os irmãos Guilherme e Gustavo Almeida, de 29 e 28 anos,
respectivamente, são praticantes do esporte. Moradores
da cidade de Arujá, no interior de São Paulo, visitam a Praia
Grande para correr e participar do campeonato Copa Litoral.
Eles explicam sobre a vestimenta certa para correr, que são:
macacão, capacete, luvas e sapatilha. Os itens opcionais para
quem está começando e quer mais proteção são: protetor de
pescoço e costelas e a bala clava, instrumento usado na cabeça.
Para quebrar o paradigma de que corrida é coisa para
homens, havia no kartódromo duas meninas, irmãs, que
gostam de correr. Segundo Maria Carolina e Ana Clara, ambas
de 13 anos, “o esporte é seguro e muito gostoso”. O pai,
Cícero Joaquim Neto apoia as filhas na prática do esporte.
“As duas são corajosas, e tiveram medo apenas uma vez no
começo quando deram algumas batidas, mas hoje está tudo
tranqüilo, elas não deixam de participar”, acrescenta o pai.
Além do kart, corridas e campeonatos de moto também são
realizadas no kartódromo, chamadas de Supermoto e Sport 400.
A pista que possui 1.150 metros de extensão no seu percurso
normal e no eixo alternativo, 800 metros no formato oval, são
uma grande atração para quem adora velocidade, mas querem
praticar em um local seguro e apropriado, não colocando a vida
de outras pessoas, correndo pelas ruas da cidade.
Embora seja um esporte agressivo o clima familiar predomina nas
competições. Os irmãos paulistas (da esq p/ dir.) Guilherme e Gustavo
Almeida são presenças garantidas
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De volta ao passado
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Texto e Foto: Maurílio Carvalho
Jessé Pereira da Silva trabalhou de 1959 a 1971 como
motorneiro de bonde. Só parou porque foi impedido por
força maior. O serviço de bonde em Santos foi desativado no
dia 28 de fevereiro do mesmo ano. Quando chegou a Santos,
em meados de 1951, sonhava em se tornar motorneiro.
“Quando completei 22 anos, entrei para a companhia. Fiz um
curso de um mês e comecei a realizar meu sonho”.
Hoje, Jessé revive o que presenciou durante os doze anos
de trabalho, conversando com turistas e curiosos pela história
do bonde, que anda lado a lado com a evolução da cidade
de Santos. Lembra como se fosse ontem o primeiro dia sem
bondes na cidade. “Era um silêncio imenso. Não parecia que
eu estava em Santos.”. Sujeito simpático e de bem com a
vida, conta que várias alegrias da sua vida foram passadas no
bonde. “Sinto falta da comunicação e da cumplicidade que
as pessoas tinham com as outras. Hoje em dia tudo é muito
frio, distante. No passado, os cobradores colocavam as notas
de dinheiro entre os dedos. Hoje em dia não existe mais isso.”
Por iniciativa de empresários e da prefeitura, no dia 23 de
setembro de 2000, a prefeitura inaugurou uma linha turística
no Centro Histórico, com o bonde escocês de prefixo 32.
Motorneiro e cobrador vestem uniforme de época bege,
gravata preta e o quepe, dando mais autenticidade ao passeio.
O guia explica o que significa cada monumento ou marco
que existe no percurso e a importância para a história da
cidade e do País. Panteão dos Andradas, Igreja do Carmo,
Alfândega e Prefeitura de Santos fazem parte do itinerário
do passeio.
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O centenário de circulação dos bondes elétricos em
Santos foi comemorado em 2009. No dia 28 de abril do último
ano, o percurso foi triplicado, aumentando a abrangência de
pontos turísticos do Centro.
A estudante de fisioterapia Nathália Vieira comentou a
importância do bonde para a cidade. “Acho muito bom o
bonde ter voltado a funcionar, pois nós temos a oportunidade
de conhecer mais a cidade”. Para o auxiliar de escritório
Alex Vinícius de Moura, o passeio de bonde é ótimo para
as pessoas que visitam Santos entender um pouco da
importância da cidade no Brasil. “Elas começam a entender
que em Santos foi onde a evolução econômica brasileira
começou, muito pelo fato da demanda do nosso porto e
a Bolsa do Café”. Deslumbrando o passado e entender um
pouco da sua história. A dona de casa Silvana da Costa
adorou o passeio. “Interessante nós sabermos como que era
a cidade antigamente, que só conseguimos entender o que
nos rodeia olhando para o passado.”.
Santos e sua vizinha, São Vicente, eram cortadas por
linhas de bonde, que transportavam milhares de passageiros
todos os dias. Sem perder a alegria de contar o que sabe
sobre sua história, seu Jessé, que faz parte do Projeto Vovô
Sabe Tudo, da Prefeitura de Santos, que conta com mais três
senhores que participaram da história do bonde santista,
continuará com o sorriso largo toda vez que lhe perguntarem
sobre um pedacinho da sua vida.
Panteão dos Andradas — É o mausoléu de José Boni-
fácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, e de
seus irmãos Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e
Silva, Patrício Manuel e Martim Francisco Ribeiro de Andrada.
Igreja do Carmo — Teve sua construção iniciada em
1760 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
tístico Nacional, trata de um conjunto arquitetônico colonial
de Santos, composto por duas igrejas entrepostas A Igreja
Nossa Senhora do Carmo possui altar em estilo rococó folhe-
ado a ouro e altares laterais esculpidos em jacarandá. Abriga
obras de Benedicto Calixto.
Alfândega — Nos padrões do ecletismo, com linguagem
clássica austera já com influência art-deco, seu prédio, reves-
tido de granito no térreo e massa raspada nos outros quatro
pavimentos, conta com mais de 90 janelas. A Alfândega con-
trola todas as cargas que entram e saem do Porto de Santos.
Casa do Trem — Considerada o prédio público mais an-
tigo de Santos, a Casa do Trem Bélico tem esse nome devido
ao sentido popular da palavra “trem”, significando “diversos
materiais”. Nela esteve sediada a corporação militar Tiro de
Guerra nº 11, criada em 25 de janeiro de 1908.
Outeiro de Santa Catarina — O local é conhecido por
que nele se erguem os vestígios da primitiva capela de Santa
Catarina de Alexandria, erguida por iniciativa de Luiz de Góes
e sua esposa, Catarina de Aguillar, e que constituiu o núcleo
inicial da vila de Santos no século XVI.
Prédio do Jornal A Tribuna — É o maior jornal em circu-
lação na Baixada Santista e faz parte do Sistema A Tribuna de
Comunicação, que conta com a TV Tribuna.
Igreja do Rosário — Em diferentes fases de sua história,
a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi inclusive matriz de
Santos, tendo dado nome ao Largo do Rosário (atual Praça
Rui Barbosa, onde está situada) e à Rua do Rosário (atual Rua
João Pessoa, que começa junto a essa igreja).
Monte Serrat — Também conhecido como Morro de São
Jerônimo é um monte na cidade de Santos. O monte têm um
sistema funicular (chamado de bondinho do Monte Serrat)
que faz ligação entre o monte e o centro da cidade. A igreja,
construída no alto do monte, remonta a 1603, e foi erguida
a pedido de Dom Francisco de Sousa, governador-geral do
Brasil de 1599 a 1605 e abriga a Padroeira da cidade, Nossa
Senhora do Monte Serrat.
Catedral — A antiga matriz de Santos, antecessora da
atual catedral, foi demolida em 1907 por estar em avançado
estado de ruína. Em 1909 começou a construção da nova
matriz segundo o projeto do engenheiro alemão Maximilian
Emil Hehl, professor da Escola Politécnica de São Paulo. Hehl
projetou uma igreja em estilo neogótico, em voga na época.
Passando por mais de 40 pontos importantes do Centro de Santos, o bonde é uma das
maiores atrações turísticas da cidade. Abaixo alguns locais que estão no trajeto do bonde:
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O bonde de Santos funciona de terça a domingo, também nos feriados, das 11 horas às 17 horas. Maiores de 60 anos, estudantes (com documento de identificação escolar) e grupos de entidades assistenciais (devidamente certificadas) têm 50% de desconto na tarifa. Partida da Praça Mauá - Centro
QUER CONHECER?
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Conforto para todos
Na Baixada Santista, cinco hotéis
oferecem suítes adaptadas a
portadores de necessidades especiais.
Mas, nenhum deles possui acesso
total a todos os tipos de deficiências
Hotéis e Pousadas
Texto e fotos: Carina Seles
Em meio ao trânsito agitado, com semáforos mais velozes
que o piscar de olhos, calçadas esburacadas, pessoas esbarrando
umas nas outras, enfim uma rampa. No bairro do Gonzaga.
Seguindo por seus corrimões dourados, que me serão úteis em
algumas situações, logo um rapaz é direcionado a auxiliar-me
em direção ao balcão alto. Fico com a cabeça abaixo da linha de
visão do recepcionista, que dá o cartão-chave do quarto para o
funcionário que me acompanha pelo elevador.
A caixa de transporte é confortável e espaçosa, permitindo
a cadeira de rodas, mais quatro pessoas com folga. O corredor,
ora espaçoso ora estreito, permite que eu chegue ao quarto
com alguma dificuldade. A porta é aberta com o cartão. No
local, há a sensação de poucos móveis, mas não é isso. Os
espaços vazios são grandes para comportar o equipamento.
Vou ao banheiro e consigo entrar no box. Me agarro nos
corrimões verticais de apoio para tentar sair da cadeira e
sentar no assento destinado para tomar banho. Um pouco
difícil de sentar, a dica é ter força nos braços.
Para lavar as mãos, mesmo com a pia mais baixa, é
necessário muito esforço para a água bater nas mãos. Pelo
menos as toalhas estão localizadas abaixo da pia. Consigo
secá-las facilmente. No quarto, deito na cama com dificuldade.
Não possuo nenhuma deficiência, e mesmo assim, encontrei
obstáculos nos quartos destinados a pessoas que necessitam
de um atendimento personalizado e confortável. Imagine
todo esse percurso realizado por uma pessoa realmente com
necessidade física. Ou visual.
Segundo o último levantamento do IBGE, em 2000, Santos
possuía 417 mil habitantes. Destes, 50 mil possuíam algum
tipo de necessidade especial. O líder do ranking na época foi a
deficiência visual, incluindo a baixa visão. Na Baixada Santista,
há apenas cinco hotéis adaptados. Nenhum destes possui
acesso total a todas as deficiências. O caso mais inusitado e
surpreendente é o acesso a portadores de deficiência visual
com cão-guia. Dos cinco hotéis adaptados, três se negaram
a receber uma pessoa em porte de um cão-guia. A exceção
ficou por conta do Mendes Plaza Hotel, em Santos, e do Casa
Grande Hotel, no Guarujá .
Segundo ligações realizadas para o setor de atendimento
do hotel em Guarujá no mês de setembro, não há problema em
hospedar uma pessoa com cão-guia. Porém, segundo o gerente
Herman Montoya, é interessante verificar a época de reserva. “O
resort é um local de conforto de lazer. Caso haja muitos eventos
de empresas, pode gerar desconforto por parte da pessoa
portadora de necessidade. É interessante analisar bem os fatos”,
afirmou. O local possui duas suítes adaptadas.
De acordo com as leis 11.126/05 e 5.904/06, Artigo 1º: “É
assegurado à pessoa portadora de deficiência visual usuária
de cão-guia o direito de ingressar e permanecer com o animal
nos veículos e nos estabelecimentos públicos e privados de
uso coletivo”. A multa de acordo com Artigo 6o, no caso de
impedir ou dificultar o ingresso e a permanência do usuário
com o cão-guia nos locais definidos no ou de condicionar
tal acesso à separação da dupla gira em torno de R$ 1 mil,
podendo chegar até R$ 30 mil.
Segundo Edson Moura, presidente da Associação
Bengala Leve, não existe adaptação real. “Normalmente, há a
dificuldade de identificação do quarto, além do problema do
cão-guia. Mas isso é lei!” Moura citou o caso publicado no site
(http://www.oncb.org.br/oncb-news-n%C2%BA-2.html) da
Organização Nacional de Cegos do Brasil. Ali se lê que Alberto
Clovis Pereira não conseguiu realizar reserva em um hotel no
estado do Paraná por ser usuário de cão-guia.
De acordo com o site, “na primeira, quando disse ser
usuário de cão guia e pessoa cega, recebeu a informação
de que o hotel já estava lotado para os dias do evento. Na
segunda tentativa, sem se identificar como cego, Pereira
conseguiu com facilidade a sua reserva para os quatro dias”.
Edson Moura conta que ficou cego após levar um soco no
olho esquerdo, em 2006. Tendo obstruído áreas importantes
do órgão, como o cristalino, acabou ficando cego também do
olho direito devido a medicamentos e problemas de saúde.
Seu cotidiano foi modificado inteiramente. “Vivo agora um
novo mundo, com muito mais dificuldades”, diz.
A adaptação dos afazeres dentro de casa foi mais fácil do
que na rua. Até hoje Moura corre um constante risco de sofrer
um acidente, mesmo na calçada. No momento da entrevista,
ele estava com um arranhão a partir do olho direito até o
cabelo. “Passei rente a um muro que tinha, infelizmente, um
palito de churrasco que pegou nesta parte do rosto. Quase
fico cego de novo”.
Ele conta que há dois principais perigos urbanos. As
árvores baixas, em grande quantidade na cidade e as calçadas
esburacadas. “Brinco que elas estão em braile”, diz Moura,
que também é engenheiro na área de elétrica, aponta para
que políticas sejam tomadas em benefício aos portadores de
deficiência.
Em relação aos hotéis, o engenheiro diz que a falta
de treinamento dos funcionários faz com que seja muito
complicado a estadia de uma pessoa com deficiência. No caso
dele, a dificuldade fica em conhecer e identificar espaços e
corredores.
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Segundo último levantamento do
IBGE, em 2000, Santos registrava
cinqüenta mil habitantes com
algum tipo de deficiência
O interior das suítes adaptadas do Mendes Plaza Hotel possui banheiros com maior espaço para locomoção de cadeiras de rodas, instalação de barras de segurança nos boxes, além da diminuição na altura dos móveis
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O desafio dos hotéis e pousadas de Santos é melhor o atendimento para
portadores de todos os tipos de deficiência, sem restrições
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:: Casa Grande Hotel (Avenida Miguel Estéfano, 1.001, Enseada). O valor da diária em período de baixa temporada gira em torno de R$ 507, com o adicional de 10%. Telefone: (13) 3389-4000.:: Mendes Plaza Hotel, torre Panorama (Rua Euclides da Cunha, 15) e Plaza (Rua Floriano Peixoto, 42). A estadia gira em torno de R$ 236 a R$ 324, a diária para uma pessoa. Informações (13) 3208-6400 ou www.mendeshoteis.com.br.:: Hotel Parque Balneário (Avenida Ana Costa, 555). Telefone: (13) 3285-6900.:: Hotel Praiano (Avenida Barão de Penedo, 39, José Menino) possui uma suíte adaptada, assim como o Carina Flat Hotel (Rua Ministro João Mendes, 271, Aparecida). Telefones: (13) 3237-4033 e 3236-3838, respectivamente.
QUER CONHECER?
O PrOblema
Segundo Luciano Marques, coordenador de Defesa de
Políticas para Pessoas com Deficiência, o problema da falta de
acessibilidade, tanto em infraestrutura quanto em atendimento
correto, se dá pela falta de consciência empresarial. “O próprio
poder público não cumpre”. Marques, que é cadeirante por
causa de uma poliomielite, diz que Santos está se preparando
para recebê-los, mas está em um processo inicial: “A cidade
tem um potencial turístico muito grande. É um erro os
empresários acharem que nós, deficientes, não temos acesso
ao capital, que não temos poder de consumo”.
Marques diz ainda que a falta de conscientização direciona
erroneamente as pessoas imaginarem que acessibilidade é
apenas acesso à cadeira de rodas. “Não é apenas isso. O hotel
deve pensar em capacitar seus funcionários em aprender libras,
por exemplo, pois como se comunicar com um deficiente
auditivo, caso ele não saiba fazer leitura labial? Como acordá-
lo se ele não escuta? No caso do deficiente visual, ele poderá
entrar com o cão-guia? Como ler os panfletos de pontos
turísticos? Essas perguntas ainda não foram feitas”, diz.
O mesmo afirma o turismólogo e funcionário público
Marcos Neves da Silva, autor do trabalho de conclusão de curso
“Valorização da Pessoa com Deficiência no Turismo de Praia
Grande”, em 2009. Silva, que teve um dos braços amputados
em um acidente, ressalta que adaptações no tratamento e
hospedagem devem ser realizadas com urgência, visto que as
mudanças estão ocorrendo na legislação.
lOCais
No Mendes Plaza Hotel, nas torres Panorama e Plaza, no
Gonzaga, há no total 244 apartamentos. Quatorze deles são
adaptados, ou seja, 5,7% das unidades. Isso é mais do que
o recomendado pelo Decreto Lei 5296/04, de 5%. Segundo
a assessoria do hotel, a torre Panorama possui apartamentos
adaptados do primeiro ao quinto andar.
Já a torre Plaza possui apartamentos adaptados do primeiro
ao nono andar. A largura das portas dos apartamentos e dos
banheiros foi ampliada, agora a área total dos apartamentos
varia de 31,4 a 34,55 metros quadrados, o que permite acesso,
manobra e espaço de transferência de cadeiras de rodas.
Frente à cama estilo queen size (com estrado de madeira
diretamente no chão e colchões altos), há uma escrivaninha
na altura de uma cadeira de rodas, permitindo o encaixe do
equipamento.
No banheiro, há barras de segurança nas paredes, além
de acento dobrável no box, que permite que o hóspede tome
banho sentado. O chuveiro possui torneira mais baixa e sua
abertura é feita empurrando-a. Em todo o apartamento, a luz
se acende e apaga sozinha, após 30 segundos do ambiente
ficar com ausência de movimento.
O hotel, considerado cinco estrelas, fica em cima de um
shopping center. O acesso aos dois lugares se dá por meio de
elevador adaptado, para a torre Plaza e para uma das entradas
do shopping, e rampa de acesso para a torre Panorama, para a
outra entrada do centro de compras e na garagem.
Segundo a administração do hotel, a iniciativa faz parte
da nova política de gestão, em processo de implantação.
Essa ação posicionaria o Mendes Plaza como um dos hotéis
com maior índice de apartamentos adaptados em relação
ao total de unidades habitacionais da hotelaria nacional. O
Hotel Parque Balneário, também no Gonzaga, possui duas
unidades adaptadas. A estadia para duas pessoas, incluindo
vaga no estacionamento, fica em torno de R$411, com 2% de
acréscimo. Outros hotéis na Cidade que abrigam apartamentos
adaptados são o Hotel Praiano com uma suíte, e o Carina Flat
Hotel, porém não há acessibilidade com cão-guia.
PrOjetOs
Segundo Marques, a prefeitura realizou a 5ª Conferência
da cidade no ano passado, onde foi apresentado projetos
a longo prazo na área de acessibilidade. Uma das
contrapropostas apresentadas pelas próprias pessoas com
necessidades especiais foi a sonorização de 30 semáforos
nas vias consideradas perigosas, nas principais avenidas da
cidade, além de um letreiro acoplado ao sinal, permitindo que
o motorista fique atento quanto a travessia de uma pessoa
com necessidade especial. Segundo a prefeitura, os projetos
estão em fase de aprovação. “É importante os hotéis ficarem
atentos a grandes eventos que virão nos próximos anos, como
a Copa em 2014”, diz o coordenador do Condefi.
A cama estilo queen size possui estrado de madeira diretamente no chão e colchões altos
25
‘Born to be wild’ O turismo de aventura tem sido uma das
grandes apostas do mercado nacional.
No Guarujá, a prática de rapel e escalada
tem endereço certo, o Morro do Maluf
Aventura
Texto: Danilo Netto
Fotos: Frank Silva
Adrenalina, aventura, diversão e superação de
obstáculos. Tudo isso de fácil acesso e em companhia de
uma das mais belas paisagens do litoral paulista, o Morro
da Campina, mais conhecido como Morro do Maluf, no
Guarujá. Local onde as pessoas se reúnem para praticar
rapel e escalada, esportes que requerem boa forma física,
paciência e concentração. Quando o dia termina o morro
vira ponto de encontro entre os jovens.
O rapel e a escalada exigem que cada passo seja
planejado e calculado para que se atinja o objetivo indicado
de forma mais segura.
Mesmo ficando durante horas escalando e suando a
camisa, muitos utilizam a prática para se liberar do estresse
cotidiano, para ter contato com a natureza. “No final, todos
sentem prazer, uma das sensações mais maravilhosas
do mundo”, diz o montanhista Frank Silva, que pratica o
esporte há 20 anos.
Para quem quer iniciar nessas modalidades, algumas
agências organizam aulas e também passeios turísticos. No
próprio Guarujá, o custo para o curso de rapel na agência
Nau Brasilis custa 150 reais, com equipamento completo e
acompanhamento de instrutores. Já o de escalada é feito
em dois finais de semana e custa 290 reais.
O fácil acesso ao Morro do Maluf é uma das razões que
atrai curiosos e turistas. A entrada se dá pela Praia da Enseada,
com a opção de subida de carro (média de dois minutos para
chegar ao pico) e a pé (média de dez minutos).
Do seu topo, a mais de 65 metros de altura, é possível ver
toda a orla da Praia da Enseada e do outro lado a vista de toda
a cidade do Guarujá. “Temos o mar em contato direto com
o mundo urbano, então junta a natureza com o moderno”,
descreve Frank Silva.
Localizado a seis quilômetros da cidade de Santos, a
primeira vista o que chama a atenção é o visual do morro
que divide as belas praias de Pitangueiras e Enseada. “A
vantagem de fazer esses esportes aqui se resume à beleza
cênica, vista de frente para o mar, dificilmente encontrada em
outro local”, conta o biólogo Mauro Vidal, professor das duas
modalidades no Morro do Maluf.
Os 84 mil metros quadrados de área verde em meio à
Serra de Santo Amaro apresentam uma vegetação rasteira
de capim ou grama e rochas rupestres — vegetação que
cresce em rochas. A vegetação original da Mata Atlântica foi
eliminada devido às construções de edifícios.
O visual é um dos principais motivos para a prática de esportes no Morro do Maluf, que corta as praias de Pitangueiras e Enseada
Para segurança, além dos equipamentos adequados, o ideal é ir sempre acompanhado para evitar acidentes
28
Mesmo com a chegada da urbanização é um ótimo espaço para fazer trilhas com amigos e aproveitar a vista que o lugar oferece.
Segurança é a palavra-chave quando o assunto é esporte radical, e para essas modalidades não é diferente. Para a prática
do rapel é necessário cadeirinha, mosquetões e cordas, capacete e luvas de proteção para as mãos. Já na escalada é preciso
todos esses equipamentos mais sapatilha adequada. “A questão básica, além dos equipamentos, seria de nunca rapelar ou
escalar sozinho para evitar riscos de acidentes”, alerta o biólogo Vidal. Quando se usa todos os equipamentos certificados e
conferidos, se torna um esporte totalmente seguro, tanto que Frank Silva rapela com seu filho que tem apenas três meses.
Outras vantagens do morro são o tipo de formação rochosa, que
não machuca as mãos, a localização e o fato de não haver vias de
grau muito elevado para a prática das modalidades.
Um local ideal parar quem está começando e também para
aquela galera fanática por praia. O Morro do Maluf no
Guarujá pode ser uma boa opção de bate e volta para
quem mora em São Paulo. “A fase de descida fica
de frente para a praia da Enseada.
Dessa forma, na parte da manhã,
favorece a visibilidade dos
obstáculos”, diz Vidal.
A vegetação rasteira e o tipo formação
rochosa tornam o local procurado
para a pratica de rapel e escalada
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Distante 90 quilômetros de São Paulo, o acesso se faz pelo sistema Anchieta/Imigrantes, descendo a Serra do Mar em direção ao litoral Sul de São Paulo. Já na parte baixa da Serra, pega-se a via Piaçaguera, ficando sempre atento às placas Enseada/Guarujá. Chegando à praia da Enseada, siga em direção ao Morro que fica entre a praia da Enseada e Pitangueiras.
QUER CONHECER?
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A Limite Radical Rappel Jump SP
é uma das equipes que
comparecem com freqüência
31
Por onde seguir?
Especial
Em tempos de Google Maps
parece que ficou mais simples
achar a localização exata de
lugares e cidades. Mas não se
engane, a sinalização errada,
ou falta dela, pode transformar
um agradável passeio em uma
frustração. Para evitar essa
situação, a Agem desenvolveu
o projeto Sinaltur que visa
instalação de placas indicativas
em toda a Baixada Santista
Texto e fotos: Alexandre Alves
desa
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bras
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m.b
r
Imagine-se na pele de um turista estrangeiro durante o
período da Copa do Mundo de 2014 em uma das cidades do
litoral paulista, sendo que você nunca visitou a região antes e
não sabe falar português. A partir desse exemplo citado pelo
secretário de Turismo de São Vicente, Brito Coelho, podemos
ter uma noção da importância que um dos projetos da Agência
Metropolitana da Baixada Santista terá daqui a quatro anos.
Trata-se do plano de sinalização regional de caráter turístico,
o Sinaltur, que tem por objetivo padronizar placas em todas as
cidades da Baixada Santista, de maneira que o turista que está
de carro possa se localizar e que facilite a sua locomoção para
diversos pontos turísticos. Além disso, serve também para que o
motorista que venha ao litoral, esteja ele em Bertioga ou Peruíbe,
saiba que está dentro de uma única região metropolitana.
Segundo pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo, que
avaliou diversas categorias relacionadas à infraestrutura dos
municípios para receber turistas para a próxima Copa do Mundo,
exceto capitais, Guarujá, Santos e São Vicente ficaram acima da
média nacional e receberam o título de cidades indutoras, ou
seja, aquelas que deverão ser indicadas para quem for visitar
o País. Entretanto, uma das críticas que o estudo fez à região
foi, justamente, a sinalização turística. “Esse é um dos itens que
devem ser resolvidos para que a Baixada Santista possa receber
melhor os turistas em 2014”, diz Coelho.
Para a arquiteta da Agem, Tamara Gakya, a padronização das
placas de sinalização em toda a Baixada facilitará ao turista que
esteja em um dos municípios da região metropolitana chegar
em pontos turísticos de outras cidades também. Ela explica que
quem estiver em Cubatão — passagem obrigatória para quem
sai da Capital do Estado para o litoral — poderá saber como
se faz para chegar a um local em Praia Grande ou Guarujá, por
exemplo.
Ela explica que o símbolo da Região Metropolitana
da Baixada Santista (RMBS) e o tamanho padronizado do
pictograma são características que ajudarão a diferenciar as
placas do Sinaltur: “A linguagem será trilíngue (espanhol, inglês
e português). Elas terão uma película que reflete as luzes dos
carros. Portanto, vão ter mais visibilidade e mais resistência,
também. Afinal de contas, não adianta ter informações corretas,
mas estas serem de difícil visualização. Então, temos um
tamanho certo, distância, altura... tudo padronizado”.
Além das que serão feitas para o trânsito, haverá placas
terrestres em frente aos pontos turísticos com informações mais
específicas sobre cada local.
As placas existentes na cidade de Santos e em toda a Baixada Santista pouco informam sobre o local e o caminho a ser seguido
As placas Interativas fazem parte do novo projeto da Agem para facilitar a localização dos pontos turísticos,
além de passar informações imediatas do local a ser visitado
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Um diferencial das placas
em Santos é a tradução
para outro idioma, o inglês
Praia Grande284
Itanhaém174
Mongaguá136
Peruíbe151
Quantidade de placas de sinalizações turísticas a serem implantadas na Baixada Santista
36
Bertioga94
Cubatão59
Santos111
São Vicente139
Guarujá168
Apesar de o Sinaltur procurar manter um padrão entre as cidades da região e favorecer municípios de menor porte que não possuem
condições suficientes para tocar um projeto equivalente, Santos, município mais bem estruturado da região, possui um tipo de
sinalização turística própria. “As placas marrons que vemos na Cidade não são nossas, é um projeto da CET com a Prefeitura.
Eles sabiam que a Agem estava executando um projeto, mas não quiseram esperar e fizeram um padrão deles que é diferente do Sinaltur.
Uma pena porque perde as características”, lamenta a arquiteta.Para dar início ao projeto, a Agem disponibilizou uma verba estadual
de R$ 100 mil para cada um dos nove municípios da Baixada Santista, mas segundo a própria Agência Metropolitana, a verba não será
suficiente para a instalação de todas as placas previstas nos relatórios. Tamara diz que cada cidade tem seu ranking de prioridade das
sinalizações mais importantes que deverão ser instaladas logo, portanto mais urgentes, e que isso não significa que mais dinheiro não possa ser
investido depois para a conclusão. Entretanto, nada impede que as prefeituras busquem recursos de
outras fontes de renda: “O combinado é que metade do investimento seja da Agem e outra de responsabilidade do município, seja com
recurso próprio ou federal, de forma que seja melhor para eles".
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Conheça algumas das placas que estão sendo planejadas pela Agem
Placa de Identificação do Atrativo Turístico
Placa indicativa
Placa Interpretativa
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São Vicente, por exemplo, é um dos municípios que
recebem verba do Ministério do Turismo para tocar o projeto.
O secretário Brito Coelho diz que o valor será liberado pela
Caixa Econômica Federal conforme a instalação das placas.
“Os técnicos do banco analisam o que será feito, e assim,
liberam o dinheiro”.
A parte preliminar do projeto teve seu relatório final
divulgado em dezembro de 2005, e nele foram decididas
questões de padronização dos modelos das placas, as rotas
e como seria a sinalização. Já a parte executiva, concluída em
outubro de 2008, teve um perfil mais detalhado com questões
sobre abreviações dos nomes dos locais, tamanho das placas
e conteúdo mais aprofundado a respeito de cada município.
Entretanto, segundo a arquiteta da Agem, como nesse período
houve mudança de poder em parte das cidades da região, o
projeto levou mais tempo do que se esperava. Por causa disso,
Tamara explica que a agência ainda não tem informações de
placas do Sinaltur instaladas na região.
O papel de cada município nisso tudo é de solicitar a
verba que têm direito, realizar uma licitação pública para a
contratação de uma empresa para executar o trabalho e cuidar
da manutenção. Por outro lado, além de fazer o projeto e
levantar recursos, a Agem deverá fiscalizar o trabalho feito pelas
prefeituras com o dinheiro estadual e verificar se a sinalização
feita nos nove municípios da região metropolitana seguem o
padrão estabelecido pelo Sinaltur. Para Brito Coelho, o projeto
é um passo que região dá para corrigir uma série de falhas que
a região precisa. “Temos que sair da cara de região de veraneio
para nos tornarmos uma região turística, que recebe visitantes
o ano inteiro e não em razão da praia e do sol, esse é nosso
objetivo”.
Welma Barbosa, também de Maceió, diz que a sinalização de Santos facilita para o turista.
“Acredito que quem vem para cá não tem dificuldades em conhecer a Cidade”
Para Francisco Justino, de Maceió, a sinalização de Santos é boa, mas a de São Vicente e Praia Grande... “Aqui em Santos, por enquanto, não tenho problema, mas em São Vicente e Praia Grande, a sinalização não ajuda. Para nós, que somos de fora, fica difícil chegar em alguns pontos turísticos”
O turista de Manaus, Célio Paiva, aprova a sinalização
turística de Santos. “Por
enquanto não estou tendo dificuldades
para conhecer a Cidade. Estou há
dois dias aqui”.
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Na PistaVocê precisa aproveitar todos os dias da sua viagem... e as noites também!A região oferece bares e baladas para todos os gostos
Vida Noturna
Texto e fotos: Mariana Aquila
x
seven disCO É a casa mais nova. Foi aberta neste ano (2010) e já é uma referência na
música eletrônica e black music. Famosa pelas festas temáticas, pelo luxo e pelo
teto equipado com cerca de 1000 leds (luzes), todos os eventos e fotos podem ser
conferidos através do site www.sevendisco.com.br.
A recepção é inspirada e decorada como uma recepção de hotel e os frequentadores
são recebidos por garotas, chamadas de “cartoletes”. Todas elas possuem uma
cartola verde, símbolo da Seven. Se você não exita em gastar, também pode ter uma
cartola. Quem gastar 1000 reais de consumação em uma noite, ganha uma cartola
personalizada, além de uma garrafa de champanhe.
Possui três bares, que são famosos pela caipirinha de saquê de maracujá e de
abacaxi, banheiro para deficientes e camarotes. A casa abre as sextas e sábados (não
necessariamente os dois dias em todos os finais de semana) e os preços são sempre
os mesmos. Mandando o nome para a lista até às 20 horas (seven@sevendisco.
com.br), mulher: 40 reais e homem: 80 reais. Telefone: (13) 3222-4222 e também é
proibida a entrada de menores de idade. Fica na Avenida Senador Feijó, 557, Santos.
Foto: http://blog.malanconi.com.br
australianO bar Para os que gostam de um bar frequentado por gente jovem, animada e ao som da
surf music. Todo decorado com traços australianos, o cardápio é composto de lanches
e porções quentes e frias. A mais famosa é a de batata com cheddar e bacon, eleita
uma das melhores de Santos. A porção pequena custa 12 reais (recomendada para duas
pessoas) e a grande, 24 reais.
Além dos comes, os bebes também são variados: sucos, refrigerantes, drinques e
cervejas, estas de todos os lugares do mundo, como a Guinnes, fabricada em Dublin
(Irlanda). Equipado com televisão de plasma. Na tela, clipes musicais e cenas de surfe
profissional. Tudo para entrar no clima.
A entrada é gratuita e cartão de crédito não é aceito, apenas o de débito. O bar fica
na esquina da Avenida Siqueira Campos (Canal 4), com a Avenida Bartolomeu de Gusmão
(praia), em Santos. Telefone: (13) 3345-6318. Abre a partir das 17 horas, de terça a domingo.
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Hamburgueria santista Pão quentinho, recheado com uma carne suculenta. Isso lembra o quê?
Hamburguer, claro! Para quem gosta a dica é conhecer a casa. O cardápio apresenta
diversas opções de molhos, saladas, complementos e tipos de carne (frango, calabresa,
filé mignon e picanha, mais avestruz e cordeiro). Você pode montar o seu próprio
lanche, ou então, optar pelos números prontos, que variam entre 13 e 25 reais por
pessoa. Os lanches recebem o nome dos canais de Santos. Por exemplo, o Canal 6:
hambúrguer de picanha, cheddar e cebola picadinha no molho shoyu. As bebidas vão
do refrigerante aos sucos e passam pelos milkshakes.
O local é todo decorado com fotos antigas da cidade. Possui três ambientes, abre todos
os dias e aceita todos os tipos de cartões. (comanda por mesa). Avenida Azevedo Sodré, 83.
Abre a partir das 19 horas (fecha após a saída do último cliente). Telefone (13) 3221-9464.
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Foto: http://3.bp.blogspot.com
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givClub Inaugurada em 2007, fica em uma das principais avenidas da Santos, a Ana Costa, 24.
Conhecida por trazer DJ's mundialmente famosos, como o inglês Chris Lake e o canadense
Deadmau5, a casa valoriza a música eletrônica. Equipada com três bares, o cardápio de
drinques é grande. O mais famoso é a caipirinha de saquê de morango, que custa 16 reais.
A pista de dança é agitada por uma iluminação 3D e possui camarotes.
O telefone de contato é: 3222-3940 e o site: www.givclub.com.br. Lá você pode conferir
a agenda de convidados do mês, além das fotos tiradas pela fotógrafa da casa.
Abre à 1 da manhã, só funciona aos sábados e é proibida a entrada de menores de
18 anos (o RG original ou a CNH precisa ser apresentado na porta). Os preços variam.
Mandando nome para a lista ([email protected]) até as 20 horas o valor é todo
revertido para consumação. Quando o DJ é nacional, mulher paga 30 reais e homem, 70.
Quando o DJ é internacional, mulher paga 40 reais e homem, 80.
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x
luCky sCOPe Eclética se falando de estilo musical. Valoriza o pop, rock, pagode, samba e o
eletrônico. Criada há 13 anos, pode-se dizer que é a maior casa. Tem três ambientes
(abertos e cobertos), cinco bares, 22 camarotes, chapelaria, seis banheiros.
Vários grupos musicais se apresentam, como o Grupo Feitiço, que já é fixo da casa
e toca pagode. O estilo techno também aparece em um dos ambientes, sempre aos
sábados. Um dos ambientes da casa é o Clube do Whisky, local mais reservado.
A faixa etária é a partir dos 25 anos. Já eleita como a melhor casa do Brasil pela
revista Veja. O preço mínimo da entrada é de 15 reais, apresentando carteira de
estudante.
O endereço é Praça Walter Bellian, 89, no bairro Guaiúba, Guarujá. Informações e
reservas pelo telefone (13) 3354-2984/3354-3002 ou pelo site www.luckyscope.com.br.
46
santOs CHOPP Eleita como a melhor choperia do estado de São Paulo pela Real Academia do Chopp.
O público-alvo são os adultos que apreciam o chope da Brahma bem gelado, claro
ou escuro. Para acompanhar, porções de seis pastéis de carne, queijo ou calabresa. As
bruschettas também são famosas: tomate com parmesão, mussarela de búfala, berinjela
e mistas. Custam a partir de 16 reais. Em dias de jogo de futebol, o bar é uma boa opção.
Os telões fazem sucesso e a casa lota de torcedores, santistas, na maioria das vezes.
Estacionamento sinalizado com a placa do local, entrada e banheiro para deficientes.
Possui 210 lugares e aceita todas as formas de pagamento, menos cheque. É possível
fazer reservas de mesas pelo telefone 3224-9134 e conferir todo o cardápio, fotos,
vídeos e a localização pelo site www.santoschopp.com.br. Abre às 17 horas de domingo
a sexta e sábados e feriados, a partir das 16 horas. Rua Azevedo Sodré, 76, Vila Rica.
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Uma Rua de dar água na boca
Sua próxima viagem pode incluir um
roteiro gastronômico indicado para todos
os gostos. A Rua Doutor Tolentino Filgueiras,
em Santos, oferece restaurantes com
especiarias de todas as partes do mundo
Bom apetite
Texto: Letícia SchumannFotos: Ivan De Stefano
A Rua Doutor Tolentino Filgueiras vem se tornado
referência no quesito gastronomia em Santos. Com ótima
localização, belos restaurantes e uma variedade de estilos
culinários fica difícil não se interessar por ela em sua visita
ao litoral.
Localizada em um dos bairros nobres da cidade, o
Gonzaga, esse eixo gastronômico se encontra entre a
Avenida Ana Costa e o Canal 3. É um trecho que estimula
sensações. É impossível não se encantar com o visual
proporcionado pela decoração das casas. Além disso, o
trânsito facilita o passeio, com estrutura de estacionamento
e segurança.
Guardadas as devidas proporções, ao percorrer esse
trecho da Tolentino é como se fôssemos transportados
para as ruas famosas dos restaurantes de Nova Iorque ou
então para a Rua 13 de Maio, no Bixiga, em São Paulo.
Classificada por muitos frequentadores como “a cara da
riqueza”, a rua enche os olhos de quem passa por lá devido
ao glamour natural que se encontra estampado em cada
detalhe que foi propositalmente planejado para chamar a
atenção até dos mais desatentos.
Nela se encontra restaurantes especializados em
culinária japonesa, chinesa, mexicana, italiana, carnes,
hamburguês e doces. Possui também em suas imediações
padarias, choperias, pelo menos uma churrascaria e bares
dos mais diversos estilos. Quem frequenta esse trecho da
Tolentino Filgueiras não sabe que tudo começou ao acaso,
e a rua que é atualmente promessa da gastronomia santista
não passava de uma rua residencial pacata e tranquila.
Sócio-proprietário da Cantina De Lucca, Servando
Rodriguez foi quem deu o pontapé inicial. Era preciso
achar um local onde pudesse montar o empreendimento.
Foi na Tolentino que ele achou a casa onde instalou o
primeiro restaurante da rua, montado há oito anos e que
hoje é uma das referências em culinária italiana na cidade.
Rodriguez se sente orgulhoso por ter descoberto uma
rua que hoje é tão importante para a cultura gastronômica
de Santos. “Acho que daqui a alguns anos só existirão
centros de culinária aqui nesse trecho”. Ele diz que o
sucesso e a aceitação do público pelo local foi imediato
e que quando percebeu já havia diversas casas no local.
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tOlentinO's:: De quinta a domingo, das 19 horas à meia-noite. :: Sexta e sábado, das 19 horas à 1 da manhã.:: (13) 32844319
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Outro empresário que apostou na rua Tolentino
Filgueiras é Gustavo Moreira, dono do restaurante Japonês
Yow. Há três anos, ele decidiu montar o negócio e procurou
referências que pudessem satisfazer as suas necessidades
e que atraíssem cada vez mais clientes.
Encontrou então o ponto onde se localiza hoje um
dos mais refinados restaurantes japoneses da região.
“Quando montei o restaurante aqui eu já esperava que o
comércio de restaurantes e bares na rua iria crescer. Achei
interessante fazer parte disso”, comemora.
O local continua em ascensão. É o que garante a
corretora de imóveis, Ana Claudia Silva: “Encontrar casas
para aluguel na Rua Tolentino Filgueiras não é fácil e
quando se encontra os imóveis são de altíssimo custo. É
preciso ter calma para pesquisar bastante e conseguir um
bom lugar”.
O proprietário do restaurante argentino Parrilla San
Pablo, Adilson Durante Filho, deu sorte. Dono de três casas
com o mesmo nome em São Paulo, ele decidiu descer a
serra e se instalar em Santos em março. Foram meses de
espera até achar o local que julgou adequado para abrigar
a estrutura aos moldes do seu restaurante.
Após realizar pesquisas de púbico e de local, não teve
dúvidas ao escolher um imóvel na “rua da gastronomia”,
como ele mesmo define: “A casa adequava o modelo
proposto e o ponto era excelente. Não me arrependi, e o
meu lucro é cada vez maior".
O restaurante tem dado super certo”, garante. O maitrê
Elieser Campos concorda e acrescenta. “Com seis meses
de casa já conquistamos um público fiel e de alto nível”. O
restaurante fica numa das casas mais lindas da rua.
Freqüentadora dos restaurantes da região, Roberta
da Silva Augusto, de 27 anos, diz: “Aqui na Tolentino o
ambiente é agradável, as pessoas são bonitas e e a
comida é de ótima qualidade”. A rua oferece um clima de
aconchego, sendo quase que impossível passar por ela,
entre os bares, e não dar uma parada para conferir alguns
dos diferentes tipos de culinária espalhados pelo lugar.
O casal Dulce e Celso Almeida frequentam a rua desde
a instalação do primeiro restaurante. “Eu não imaginava
esse crescimento gastronômico aqui na rua. Mas acho
isso ótimo. É sempre bom aumentar o leque de opções
quando se trata de restaurantes de bom gosto”, diz Dulce.
“Nossa família é muito grande, então cada vez que vem
um sobrinho, um irmão, um primo nos visitar, trazemos
eles para a Tolentino”, conta Almeida.
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Família
Uma fazendana praia
Natureza, terra batida e muitas atrações para
o fim de semana. Tudo isso pode ser encontrado
na estrada da Água Branca, em Mongaguá.
Uma cidade no litoral sul de São Paulo,
mas que guarda um jeitinho
interiorano em sua essênciaTexto e fotos: Aline Porfírio
Família Ogawa da esquerda para a direita: Carolina, Marcelo (filho), Ayumi (filha), Marcelo e Luciana (esposa)
Uma estrada de terra cercada de vegetação típica da
mata atlântica é que mostra o caminho aos visitantes. Depois
dos pontos tradicionais da cidade, como a segunda maior
plataforma de pesca da América Latina e o Poço das Antas,
conhecido pela concentração de cachoeiras e lagos naturais,
Mongaguá esconde uma imensa área que proporciona lazer
e tranquilidade. É a chamada Estrada da Fazenda, ou da Água
Branca. Ali é possível encontrar uma realidade totalmente
inversa do litoral. Cavalos, charretes, plantações e nascentes
se misturam e dão ao local um clima de interior, onde se
esquece, nem que por um instante, que estamos na praia.
Até a década de 1980, nada era explorado turisticamente
ali. O cenário, quase virgem, funcionava como área de
produção para as maiores plantações de banana do litoral
paulista. Com isso, a fazenda proporcionava emprego a 800
trabalhadores, realidade muito diferente dos dias atuais,
onde a maioria são propriedades particulares, pesqueiros ou
pequenos comércios. Fazendas como a Piraquara, Barigui,
Água Branca e Quatinga — mesmo nome de um dos principais
córregos do local — plantavam e exportavam banana por
meio de troleys, as decalviles pequenas, conhecidas como
locomotivas francesas.
Os anos passaram e as plantações foram terminando
suavemente sua produção. Mas a área continuou com as
suas belezas naturais e desenvolvendo projetos para que
os turistas futuramente compartilhassem disso. E deu certo.
Em meio a esse cenário, o que poucos sabem é que existem
diversas opções para passeios, seja familiar ou com amigos.
Somente na Estrada da Fazenda existem cinco pesqueiros,
com diferentes espécies de peixes, pratos e dicas para passar
o fim de semana. Marcelo Toshio Ogawa, de 40 anos, é dono
de dois desses pesqueiros, o Tô na Boa I e II.
Formado em biologia pela Unesp, ele é apaixonado
pelo que faz. Possui um estabelecimento que funciona
como pesque e pague e outro para a pesca esportiva, em
que o praticante fisga o peixe, mas o solta de volta. Como
um bom oriental, Ogawa entende de peixe. Por exemplo,
quem passar pelo Tô na Boa pode fisgar espécies como
tambaqui, tambacu, pacu, patinga, tilápia, tilápia saint petter,
carpa capim, carpa húngara, carpa cabeçuda, piraputanga,
dourado, jundiá e catfish. Ele trocou a vida agitada e ao
mesmo tempo compensadora que teve durante 13 anos no
Japão pela calmaria da zona rural mongaguaense.
“Desfrutar a natureza é a maior qualidade de vida que
podemos ter. Isso compensa qualquer emprego”, diz. Ogawa
vê em cada detalhe de sua propriedade a razão por escolher
61
esse estilo de vida. É em momentos cotidianos como a
companhia da garça Vanessa, que passa pelo local todos os
dias, e na surpresa dos clientes ao verem Xuxa, uma carpa
húngara de oito quilos que adora aparecer aos visitantes,
que ele investiu na psicultura e abandonou de vez o ritmo
pesado e exaustivo de trabalhar mais de 14 horas por dia.
Com o pesqueiro, ajuda a somar os 50.929 metros quadrados
de espelho d’água que podem ser encontrados no bairro.
O estilo de vida interiorano é comum no local. O
município de Mongaguá possui 104 Unidades Produtivas
Agropecuárias, sendo a maioria localizada na microbacia
hidrográfica da Água Branca e em suas redondezas. Grande
parte são propriedades pequenas, 102 possuem área inferior
a 50 hectares e somente duas têm área superior a 500. Na
área rural da cidade é possível encontrar avicultura para
produção de ovos, plantio de banana, mandioca e inúmeros
pomares domésticos, características que estão distantes das
famílias urbanas.
É essa qualidade de vida que Ogawa preserva. A mulher e
os filhos dele também trabalham no pesqueiro e gostam do
clima rural. “Meus filhos, Ayumi, de 11 anos, e Marcelo, de 17,
não trocam aqui por nada. Já recebi propostas para ir morar
no centro da cidade e recusei por causa deles”. Os visitantes
do local também concordam com Ogawa, o Tô na Boa recebe
1.400 famílias por semana.
O local possui cinco hectares e meio de área, três
nascentes e cinco poços para pesca com média de uma
tonelada e meia de peixe por recipiente. O visitante pode
desfrutar, além do peixe que acabou de fisgar, pratos da casa,
como a famosa panqueca de tilápia, o corinho de peixe, e
até mesmo saborear a tradicional comida japonesa, feita pelo
próprio Ogawa.
Quem quiser, também pode usufruir das churrasqueiras
do pesqueiro. Só não é permitida a entrada de bebidas
alcoólicas. As bebidas são vendidas no local.
Marcelo Ogawa diz que recebe visitantes de várias cidades,
mas muitos são de São Paulo. Caso de Higino Chagas Neto,
de 42 anos, e que há seis repete a mesma coisa: pelo menos
uma vez por mês sai cedinho da capital e vem com a esposa e
os filhos passar um dia na beira do lago. “Já é tradição, tenho
que vir relaxar um pouco, eliminar o estresse”, diz. No dia
em que visitei a fazenda, ele não estava com muita sorte na
pescaria. Garantiu, porém, que continuaria insistindo. Chagas
estava impressionado com os relatos dos outros pescadores
que atiçam o orgulho de qualquer praticante. Pode parecer
história de pescador, mas não é. Segundo Marcelo Ogawa,
o maior peixe já pescado no Tô na Boa foi um tambaqui de
17 quilos. Atualmente, o desafio dos pescadores de fim de
semana é fisgar o maior peixe do local, uma carpa cabeçuda
que pesa 22 quilos.
Além dos fins de semanas tradicionais, o pesqueiro
realiza eventos como o Torneiro Anual de Pesca Esportiva,
que está prestes a entrar para o calendário oficial de eventos
da Prefeitura de Mongaguá.
Sempre realizado no mês de maio, a competição reúne
praticantes de várias localidades. Ao fazer a inscrição, eles
recebem uma camiseta do evento e o direito de disputar
os troféus de maior peixe e maior quantidade. “E para os
pés frios tem ainda a premiação por menor peixe”, explica
o organizador. Na última edição, o torneio recebeu 518
inscrições.
À frente do pesqueiro desde 2005, Ogawa também é
presidente do Conselho Municipal do Desenvolvimento Rural
e representante dos Aquicultores do Estado de São Paulo.
Ele e os moradores da área lutam por melhorias no local,
que até pouco tempo era de difícil acesso. “Recentemente,
conseguimos fechar convênio com o programa Melhor
Caminho, da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de
São Paulo, o que já garantiu uma estrada bem melhor”.
A 300 metros do pesqueiro Tô na Boa é possível
encontrar uma verdadeira vila country, com atrativos típicos
para agradar qualquer cowboy e até mesmo os sertanejos
brasileiros. É a Cachaçaria Fazenda, localizada também na
Estrada da Água Branca. Noêmia Santos Almeida, de 48 anos,
é a proprietária do local. Animada e vestida com chapéu de
peão e botas de couro, típicos de uma boa admiradora dessa
cultura, ela é clara quando se refere ao estabelecimento:
“Sempre faltou um ponto diferenciado em Mongaguá. Aqui
pode vir todo mundo, só não vale dizer que não gosta desse
clima”.
Ela explica que a ideia surgiu pela carência de opções
na cidade, que não oferece casas do tipo. “O litoral é muito
mais que a orla da praia. Essa área merece maior atenção,
temos que mostrar tudo o que o município oferece, trabalhar
todos os atrativos para agradar a todo mundo”. Moradora de
Santos, há 15 anos ela e o marido, Wilson Gonçalves Azevedo,
possuem sítio na área rural de Mongaguá, mas só há um
ano resolveram inovar, montando a cachaçaria. “No início,
seria só um ponto de venda de bebidas artesanais, mas foi
crescendo rápido, ganhando adeptos e se transformou nesse
tipo de vila”, diz Noêmia.
A casa oferece 260 rótulos de cachaças diferenciadas,
62
Com um ambiente temático, a
Cachaçaria é a novidade da área rural
como por exemplo a Pequi e a Bananinha, as preferidas dos
clientes. Já que são as preferidas, por que não experimentar?
O gosto é bem típico da cachaça nacional. Ardido no começo,
doce no final. Sabor denso, aroma forte e muito agradável,
desde que bebido moderadamente. Afinal, é uma receita
feita artesanalmente da qual o produto sai quase bruto,
que se torna muito agressivo ao paladar de quem não está
acostumado. Todas as bebidas informam o teor alcoólico,
que geralmente é superior às bebidas industrializadas mais
populares. Os produtos vêm de regiões conhecidas pela
confecção das melhores cachaças brasileiras, como Minas
Gerais, Embu das Artes e Campos do Jordão. Noêmia explica
que o local funciona como armazenamento dessas bebidas,
deixando-as curtir em tonéis com frutas, o que torna o
produto artesanal e com sabor diferenciado.
A comerciante também faz parte da Associação Rural de
Mongaguá. Assim como o dono do pesqueiro To na Boa, ela
busca mais investimentos e melhorias para o bairro. “Aqui
recebemos turistas de várias cidades, mas poucos são de
Mongaguá. Precisamos prestigiar mais o que temos aqui por
perto”, ressalta.
Além das bebidas, os visitantes também podem apreciar
o bom cardápio de fazenda, servido aos fins de semana, com
opções como picanha, carne seca, mandioca. Uma vez por
mês, a casa também realiza eventos grandes e tipicamente
caipiras, como o Boi no Rolete, que aconteceu no dia 22 de
agosto. Na festa, o público compra o convite no valor de
R$ 30,00 e tem direito ao bufê completo com arroz, feijão,
saladas e a carne, muito bem temperada e assada à moda
antiga. O próximo almoço do tipo será o Porco no Rolete, em
24 de outubro.
Quem participou, aprova. É o caso de uma família com
14 pessoas, que trocou um domingo de agitação em Santos
pelo sossego de um dia na Fazenda. “É muito bom esquecer
um pouco da praia e vir para o mato. É um ótimo lugar para
passear com a família e aproveitar a natureza”, relata Denise
Carvalho, uma das participantes da festa. A ideia de levar os
amigos e a família para passear na área rural de Mongaguá
foi de Edson Esteves.
Ele acha que o local deve ser mais bem explorado, por
causa da boa qualidade do serviço. “Falta um pouquinho de
sinalização para se chegar aqui, mas e só isso também. De
resto, é tudo muito bem organizado e divertido”. Segundo a
Prefeitura de Mongaguá, existe um projeto entre o município
e a Agência Metropolitana da Baixada Santista que prevê a
liberação de uma verba para a sinalização turística.
64
Família e amigos de Edson aprovam o local e prometem
voltar mais vezes
Toda a decoração externa e interna do local foi
criada pelos próprios donos, que demoraram
menos de um ano para concluí-la
Nôemia Almeida teve a ideia de montar o estabelecimento devido a carência de opções do tipo na Cidade
66
Quadros dos Beatles se misturam com um tapete de
vaca, minixícaras estampadas com o rosto de Elvis Presley
e leiteiras de alumínio, comuns nas cidades do interior.
Decorada minuciosamente com peças de barro pintadas
a mão, barris de madeira maciça, utensílios antigos como
moedores de carne e máquinas de escrever, a cachaçaria
proporciona ao visitante um clima aconchegante, caseiro
e ao mesmo tempo diferenciado.
A proprietária diz que levou menos de um ano para
terminar toda a arrumação, feita inteiramente por ela.
“Gostei de pensar em cada detalhe, adoro esse lugar.
Agora estamos abrindo um simulador de alambique nos
fundo da casa, para mostrar como é feito uma cachaça”.
A Estrada da Fazenda é um local cercado de espécies
típicas da Mata Atlântica, como bromélias, begônias,
orquídeas e palmitos-jussara – que estão ameaçados
de extinção e muitas vezes são cultivados ilegalmente
em várias regiões da Baixada Santista e Vale do Ribeira.
Árvores como a embaú, palmeira e os ipês- roxos, amarelos
e brancos também compõem a paisagem em sintonia com
os rios Aguapeú e Mineiro, e os córregos da Água Branca,
Formiga e Quatinga.
O acesso é realizado pela Rodovia Padre Manoel da
Nóbrega, altura do Km 312 no bairro Agenor de Campos. O
visitante deve seguir pela Avenida Nossa Senhora de Fátima
até a Estrada Fazenda Barigui, que acessa o local, um pedaço
do interior no litoral. Perto do mar, só que longe dos olhos
da população.
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68
:: Pesqueiro Tô na Boa IEstrada da Fazenda, 175 – Agenor de Campos – Mongaguá – SPFuncionamento – De quarta à segunda-feira, das 7 às 17 horas. Entrada gratuita.:: Pesqueiro Tô na Boa II (Pesca esportiva)Estrada da Servidão, s/nº - Agenor de Campos – Mongaguá – SPFuncionamento – Todos dias, exceto quarta-feira, das 7 às 17 horas. Entrada R$ 20,00.:: Cachaçaria FazendaEstrada da Fazenda, 981 – Agenor de Campos – Mongaguá – SPApresentações musicais todos os fins de semana (sábado a noite e domingo a tarde). Couvert artístico. R$ 4,00.Funcionamento – De terça a quinta, das 11 às 17 horas; sexta e sábado, a partir das 11 horas e domingo, feriados, das 11 às 18 horas.
QUER CONHECER?
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Tradicionalmente deliciosos
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Bem perto da Ponte Pênsil, na verdade ao lado, há um
ponto turístico que guarda muito da cultura gastronômica
e histórica de São Vicente.
Fundada em abril de 1921, a Casa das Bananadas é o
comércio mais antigo da cidade, hoje com 89 anos de idade.
Tem como principais características o clima caseiro e o forte
laço com a tradição da família Blumer.Antes mesmo de ali
entrar, o visitante se vê imerso nesse ambiente.
A portinha de madeira, bem ao estilo fazenda, dá a
impressão de que você não mais está ao lado de um local
onde carros não param de passar, buzinando e soltando
fumaça a todo instante.
Ao descer as escadas que dão acesso a casa, o barulho
se dissipa. É claro que o cheiro do doce de banana dá uma boa
ajuda para que se esqueça de qualquer outro sentido, a não ser o
olfato, que fica ainda mais aguçado.
A casa é simples, não se parece em nada com as mega
lojas especializadas em doces que vemos costumeiramente
pelas cidades. Ao entrar é possível depararmos com uma
vista que quase faz o cliente se esquecer dos doces — o mar
da Baía de São Vicente cortado pelo silêncio e a tranquilidade
aparente da Ponte Pênsil e a cidade de Praia Grande ao fundo.
As paredes da Casa das Bananadas são revestidas de
quadros e mais quadros dos mais variados assuntos. Um em
particular mostra de novo o porquê este se difere dos demais
comércios — e não é o quadro de melhor doceira da Baixada
Santista eleita pela Veja ou as inúmeras notícias publicadas
sobre a casa.
Texto e fotos: Gabriel Martins
71
Nem mesmo os quadros das pessoas ilustres que já
passaram por lá, mas sim os quadros relacionados à família,
como, por exemplo, o que mostra as cinco gerações dos
Blumer, o que ressalta a tradição de se fazer bananada
passada desde a primeira e agora quinta geração.
A atual proprietária Osnilde Blumer conta que, bem nova,
começou a trabalhar no local. Na verdade nem ela mesma
lembra quando exatamente foi: “Eu ajudava minha mãe (Júlia
Blumer) desde pequena a fazer tudo, agora eu não sei mais
viver sem isso”.
A bananada, como não poderia deixar de ser, é feita na
cozinha da própria casa, um tacho de ferro, um forno e um
armário são os únicos instrumentos para se fazer o doce.
De forma totalmente artesanal, dona Osnilde prepara seus
doces sempre às segundas-feiras, com a ajuda de sua amiga
de infância e companheira de histórias, Adulcimara Maria
Pereira ou apenas Dulci, como é conhecida. Dulci sabe tanto
sobre a história da casa quanto qualquer um que tenha
o sobrenome Blumer. Afinal, são 52 anos de amizade e
convivência na doceria.
Desde criança as duas viveram a infância vendo a
confecção dos doces. Dulce até então só passava por lá para
encontrar a amiga ou para brincar na casa. Mas depois da
morte do marido de Osnilde, ela passou a viver na doceria.
Acostumada a substituí-la no comando das bananadas
quando esta precisa viajar, Dulci conta: “A minha história se
confunde com este lugar, não me imagino fazendo outra
coisa, se não ajudando a minha amiga”.
A história do comércio mais antigo de São Vicente pode
está perto de acabar. Isso porque dona Osnilde já não vê
mais a vontade dos filhos e netos em manter o local: “Cada
um deles tem seus próprios desejos e sonhos, não posso
obrigá-los a seguir essa profissão, pois ela é muito difícil.
São quase 90 anos usando a mesma receita, não usamos
produtos químicos. É o mesmo jeito de fazer a bananada e
o mesmo lugar. Hoje em dia não é qualquer um que quer
isso, é difícil até de conseguir uma empregada, quem quer
quebrar um coco ou mexer em uma tacha?”.
Osnilde, porém, revela um sonho — ver a sua casa de
bananadas chegar aos durar cem anos. “É o meu único desejo,
mas eu irei levar até quando aquentar”. Por fim ela conta como
é feito o doce de banana: “Descasque e moe as bananas; leve-
as ao fogo em um tacho grande; adicione açúcar e mexa por
quatro horas. Agora, o doce estará pronto quando sair da
panela. Em seguida, coloque em formas individuais e deixe-as
paradas por dois dias, depois desenforme-as”.
72
O comércio quase centenário reúne a tradição da família Blumer e doces caseiros. A atual proprietária Osnilde Blumer prepara
a famosa bananada todas às segundas-feiras, sempre de maneira artesanal
A Casa das Bananadas fica na Avenida Newton Prado, 49, Morro dos Barbosas, em São Vicente. Para chegar ao local, saindo do Emissário Submarino, em Santos, siga em direção à Avenida Presidente Wilson e, daí, siga até a Rua Newton Prado; vire à direita na Avenida Padre Manoel da Nóbrega e, depois, à direita novamente na Avenida Presidente Wilson; continue em direção à Avenida Antônio Emmerick, vire à esquerda na Rua Martim Afonso e à esquerda de novo. Na Rua do Colégio Vire à direita na Avenida Presidente Getúlio Vargas. O local fica logo após a Ponte Pênsil, no lado esquerdo.
QUER CONHECER?
74
dO iníCiO até HOjeA casa começou com Maria Blumer, quando ela veio de São Paulo
com o marido, Henrique. Sabendo da construção da Ponte Pênsil, viu
aí uma oportunidade de conseguir vender doces em um lugar que teria
trânsito intenso e, consequentemente, atrairia muito movimento. O
fato de ela vender banana se deve ao hábito que Maria trouxe de São
Paulo. No começo, ela vendia apenas pequenas porções de bananadas,
mas em abril de 1921 a casa começou a funcionar como um doceria. O
lugar ainda passou pelas mãos de Júlia, mãe da atual dona, Osnilde.
Ao longo dos anos, a casa foi crescendo. Muitos dos clientes que
compram são clientes de longa data, geralmente se tornaram amigos
dos donos e levam os filhos que crescem comendo a bananada e
trazem os netos. Essa corrente remete muito ao começo do texto e o
que representa essa casa: a força da família por meio de uma tradição.
75
Descansemem paz
Chegou o tempo de fazer as pazes com a história. Em agosto, desse
ano o Cemitério Israelita Cubatense foi tombado pelo Patrimônio
Histórico do município.
Religião
Texto e fotos: Arucha Fernandes
“El malê rachamim”. Essa oração judaica significa algo
como descanse em paz. É perfeita para começar a contar
essa história. Muros altos e um portão com dois cadeados.
É assim que o Cemitério Israelita Cubatense guarda a
memória de mulheres que cruzaram o mar carregando
consigo a esperança de uma vida melhor.
Aqui encontraram um mundo completamente
diferente e distante da realidade prometida. O tráfico
de mulheres judias vindas do leste Europeu destinadas à
prostituição, as chamadas polacas, é um tema que ainda
suscita polêmica. O que se sabe dessas mulheres ainda
é pouco para conhecer a sua origem por completo, mas
aos poucos sua presença na região da Baixada Santista vai
sendo revelada e reconhecida.
Assim como o tempo de chorar acaba, o de perdoar
começa. Aos poucos os tabus que envolvem as polacas
são quebrados e as pazes com a história passada é
devidamente alcançada. Em Cubatão, um campo sagrado
registra a marca dessas mulheres, que a partir do dia 25 de
agosto desse ano, para sempre será preservada, por força
do Decreto Municipal 9.588, que torna o Cemitério Israelita
de Cubatense definitivamente tombado pelo Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Cubatão.
Até a assinatura final da prefeita Márcia Rosa, o
processo de tombamento levou cerca de seis meses para
ser concluído e contou com o apoio da Chevra Kadisha —
Associação Cemitério Israelita de São Paulo.
A entidade, a partir de 1996, iniciou todo o processo
de revitalização necessária, uma vez que se encontrava em
total abandono. “Tombamento não é só um ato simbólico
é uma forma de preservação. Isso significa que qualquer
intervenção na planta do cemitério precisa ser autorizada
pelo Conselho”, diz o presidente do Condepac, Welington
Ribeiro Borges.
Segundo Borges, as sepulturas datam de 1923 a 1966.
Ao todo, são 75 campas entre 57 mulheres e 18 homens.
Das mulheres, seis permanecem sem identificação. Os
homens enterrados estão relacionados às polacas de
algum modo, sejam como maridos ou parentes. Apenas
um estudo mais aprofundado poderia ajudar a revelar mais
sobre a origem dessas pessoas, embora o tombamento
seja um grande passo nessa direção: “O reconhecimento é
uma forma de homenagem, resgatando assim, um pouco
da dignidade perdida”.
Atualmente, para entrar no cemitério é preciso pedir
autorização aos guardas do local. Logo na entrada a estrela
de Davi no meio do portão sinaliza a religião, e a diferença
dos cemitérios cristãos é logo observada pela divisão dos
túmulos: um lado só homens e do outro, mulheres. O
silêncio só é quebrado pelo barulho das folhas secas no
chão ao serem pisadas.
As frases de homenagens escritas nas campas, que
mesclam o português com o hebraico, variam de maridos
amorosos, como: “A. F. Minha mamita morreste foste com
Deus mas viveraes eternamente no coração de teu querido
mamito” [sic], ou amigas saudosas: “Aqui jaz R. F. falecida
em 8 de abril de 1924 lembrança da sua última amiga”
[sic] e também da associação fundada por elas mesmas. As
meias palavras do vigia deixam escapar que o lugar recebe
poucos visitantes, que preferem continuar no anonimato.
Mas nem mesmo a grama aparada, o chão limpo, as
flores coloridas e a agradável sobra das arvores conseguem
esconder a solidão do local. As raras visitas são o indicio claro
de que o passado foi totalmente esquecido. Quanto ao futuro
as perspectivas são boas, afinal, a preservação do lugar e a
descoberta de novas histórias estão apenas começando.
O Presidente do Condepac, Welington Ribeiro Borges, explica a importância do tombamento e preservação do cemitério
78
O tombamento do Cemitério Israelita significa a
preservação definitiva da memória das polacas
Um corredor faz a divisão dos túmulos, segundo a tradição judaica, um lado só os homens e do outro, mulheres
80
81
x 82
x
As homenagens juntam os idiomas, hebraico e
português, mas no fim todas as preces desejam
que as polacas recebam o merecido descanso
83
O Cemitério Israelita Cubatense fica dentro do espaço do Cemitério Municipal, na Rua José Vicente, s/nº - Centro.
QUER CONHECER?
visitas Um projeto está sendo desenvolvido para colocar o
cemitério israelita definitivamente no roteiro histórico de
Cubatão.
Para tanto, é necessário abertura de outro acesso à área,
placas indicativas, e outras reformas. Com o objetivo de
preservar o lugar as visitas serão monitoradas e realizadas
por meio de agendamento prévio.
“É fundamental construir a identidade cultural do povo
cubatense”, diz Welington Ribeiro Borges. O fato de sua
população ser formada por pessoas de várias partes do
País, que migraram para a região, principalmente, quando
ocorreu um boom industrial na década de 1950, atrapalha no
conhecimento do passado histórico.
Para Borges, essa questão tem quer ser tratada também
de forma regional. Afinal, toda a Baixada Santista é
constituída por diversos monumentos e lugares históricos.
Uma vez que bem conservados podem constituir um roteiro
histórico não só de uma cidade em particular, mas de todo
o litoral.
O historiador Roney Cytrynowicz explica que só existem
dois cemitérios israelitas associados a essa história no País: o
de Cubatão e um no Rio de Janeiro.
Existiu outro em São Paulo cujos túmulos se encontram
hoje no Cemitério Israelita do Butantã. “É compreensível
que a comunidade judaica, que já enfrentou muitos
preconceitos, tenha preferido se distanciar ao máximo deste
tema, que despertou não poucas acusações à comunidade
no passado”, diz.
Ainda segundo o historiador, essas mulheres hoje fazem
parte de um capítulo da história da imigração reconhecida
pela comunidade judaica.
E a Chevra Kadisha cuida com muito zelo deste
cemitério, conservado e restaurado. “É uma memória que
pede muito respeito, pela história de mulheres que foram
excluídas socialmente e souberam se organizar e lutar por
seus direitos, incluindo o de serem enterradas segundo a
sua tradição religiosa”.
Em São Paulo, como em várias cidades, a começar
por Buenos Aires, visitar cemitérios faz parte dos roteiros
turísticos e culturais, pelo aspecto histórico, pelas esculturas
(arte funerária) e pela visita a túmulos de personalidades.
Exemplo disso é o Cemitério da Consolação um dos mais
visitados.
Nesta direção, a Associação Cemitério Israelita de São
Paulo acabou de promover uma primeira visita guiada ao
Cemitério Israelita da Vila Mariana, o cemitério judaico
mais antigo da cidade, de 1920. A próxima visita será dia
17 de outubro.
quem sãO As chamadas polacas eram imigrantes judias que
viveram, principalmente, em São Paulo, Rio de Janeiro,
Buenos Aires e Nova York. Essas mulheres vinham da Europa
Oriental (Polônia, Romênia, Áustria, Hungria), em especial de
pequenas aldeias rurais, fugindo das crises econômicas e do
anti-semitismo que assolavam o continente em meados do
século 19.
Quando chegavam à América — a maioria com promessas
de casamento — eram entregues a cáftens e transformadas
em prostitutas. Muitos desses homens até mesmo se casavam
com as polacas.
Com os sonhos destruídos e sem apoio da família,
essas mulheres criavam associações de ajuda mútua, com
serviços sociais e médicos. Além disso, esses grupos também
construíram seus próprios cemitérios, realizando todo o
processo de sepultamentos.
Isso porque, embora vivessem de forma contrária às
tradições e ao que na época era considerado como “bons
costumes”, sendo assim repudiadas pela comunidade judaica
mais conservadora, as polacas faziam questão de manter a
religiosidade.
E como eram consideradas impuras não tinham o
direito de serem enterradas como outros judeus. Elas eram
colocadas junto aos muros dos cemitérios judaicos da época,
o que significa uma desonra destinada somente a prostitutas
e suicidas.
Em Santos, as mulheres fundaram a Sociedade
Beneficente e Religiosa Israelita em 1930, e por meio
dessa sociedade conseguiram adquirir um terreno onde
estabeleceram o Cemitério Israelita de Cubatão. O espaço
fica dentro do Cemitério Municipal, na região onde hoje está
a Refinaria Presidente Bernardes. Nos anos 1950, o cemitério
foi transferido para o local onde está hoje.
São conhecidas outras quatro sociedades de ajuda mútua
fundadas por homens e mulheres judeus envolvidos com a
prostituição, além da de Santos: a Associação Beneficente
Funerária e Religiosa Israelita, fundada no Rio de Janeiro em
1906; a Sociedade Feminina Religiosa e Beneficente Israelita
(SFRBI), fundada em São Paulo em 1924; a Sociedade de
Ajuda Mútua Zwi Migdal, fundada em Buenos Aires em
1906; e a The New York Independent Benevolent Association,
fundada em 1896, na ilha de Manhattan.
85
Antigos mistériosO Convento Nossa Senhora da Conceição,
localizado em Itanhaém no alto do morro
Itaguaçu é um dos mais significativos
patrimônios culturais da cidade. Por essa
razão foi o lugar escolhido pela nossa equipe
para estrear esta editoria. Então, aventure-se
também a desvendar esses segredos
Nós Fomos
Texto e fotos: Ivan De Stefano
Sabe aquela sensação de que você está sendo observado?
Em nossa primeira reportagem para esta editoria, nós da
equipe da Parada Certa visitamos o histórico Convento
Nossa Senhora da Conceição, em Itanhaém. Se você gosta
de ambientes misteriosos, este é o lugar certo!
Domingo de sol, muito sol, 12h30. Saímos em dois carros
do bairro Boqueirão, em Santos, em direção à cidade de
Itanhaém. Na equipe, os repórteres Leandro Aiello, Mariana
Aquila, Aline Porfírio, Letícia Schumann e Carina Seles, o
editor multimídia Gabriel Martins, o editor de planejamento
visual Danilo Neto, a editora-chefe Arucha Fernandes e eu,
o editor gráfico. Todos estávamos animados com a viagem,
apesar das caras de ressaca do dia anterior.
Para chegar, nada de muito mistério. Basta seguir pela
Avenida Expresso, até chegar a Itanhaém. Fique atento à
placa “Jardim Guassu – Retorno”. É por ela que você irá
seguir assim que chegar à cidade.
O Convento está localizado no alto do Morro do
Itaguaçu, no Centro Histórico, em frente à Praça Carlos
Botelho. No Centro, é possível admirar as mesmas
características arquitetônicas da época do Brasil Colonial,
além de oferecer algumas opções gastronômicas. Dica:
almoce antes de visitar o convento, pois as sugestões para
“forrar o estômago” são poucas, limitando-se a alguns
“botecos” e lanchonetes próximas.
Após uma hora de viagem, chegamos. Estacionamos os
carros a uma quadra do Convento, em uma ruazinha típica
de cidade de interior, estreita, com paralelepípedos. Não
há estacionamentos. Porém, sem pânico, pois a rua parece
tranquila e longe dos temidos assaltos que nos assustam e
nos fazem gastar com seguros de carro, casa, vida, alma e o
que mais estiver disponível. Vale lembrar que de segunda a
sábado esses estacionamentos precisam de cartão, exceto
aos domingos.
O Convento pode ser visto por diversos pontos do
Centro Histórico por estar localizado bem no alto do morro.
Construído em 1532, era uma pequena capela de barro,
tendo sua padroeira tida como milagrosa e venerada; só
em 1654 a fundação foi confirmada por Alvará em 23 de
fevereiro.
Com a marca inicial (o cruzeiro) na entrada, em frente
a grande ladeira que dá acesso à Fundação, é uma das
primeiras igrejas construídas no Brasil, ainda aberta à
visitação.
Logo no início da ladeira, a placa convida: “Visite e se
encante”. Encante-se, respire, pegue fôlego e siga ladeira
acima, afinal este é o único ponto de acesso ao local. “Essa
subida não acaba nunca, mal comecei a subir e já cansei”,
dizia a repórter Aline Porfírio. Mas acredite, subir a ladeira é
ainda menos cansativo do que há tempos atrás.
Até 1752, chegava-se ao Convento de Itanhaém por uma
penosa escada com 83 degraus. Só depois dessa época que se
iniciou a atual ladeira e foi colocado o cruzeiro. Esta construção
foi realizada por Frei Antonio de São Tomaz, conforme dizem os
poucos pontos de informação existentes na Fundação.
Ao subirmos a ladeira, toda feita de pedras e alguns
pedaços de madeira, com postes de luz antigos por toda
sua extensão, uma queda. Uma visitante que descia a ladeira
junto com sua filha de mãos dadas caiu. Dica: vá com um
tênis apropriado, sem solado liso. Dessa forma se evita o
vexame que a visitante passou ao cair e arrancar risadas de
quem estava próximo a ela.
Um pouco antes de chegar ao alto do morro é possível
subir nas pedras que ficam do lado esquerdo da ladeira e ver
uma das mais belas vistas do local. “Que lugar lindo”. Tem até
vista para o mar”, dizia a garotinha loira junto ao pai, na beira
das pedras. Ao chegar ao alto, deparamos com um enorme
gramado e o Convento, branco, com suas rachaduras devido ao
desgaste do tempo, um pequeno crucifixo no topo, três janelas
frontais e três portas azuis, uma à esquerda, outra no centro que
dá acesso direito à Igreja e a porta à direita, por onde entram
os visitantes.
“É do ano 1632, PRECISAMOS CONSERVÁ-LO!!! Seria
muito pedir-lhe 1,00?”, intimida o cartãozinho entregue pela
recepcionista. O custo da visita é de R$ 1,50, exceto para
menores de 8 anos, que entram de graça. Não é permitida a
entrada para quem estiver vestindo shorts, saia, decote, sem
camisa, trajes de banho ou como diz a placa, “shorts reduzido”.
As visitas podem ser feitas de segunda a domingo, das 9 às 11
horas e das 13 às 18 horas.
O dinheiro das vendas serve para a manutenção da Fundação,
assim como todo o artesanato que é vendido na pequena
lojinha logo no primeiro piso do Convento, oferecendo desde
garrafas de mel a crucifixos de diferentes modelos, enfeites de
porcelana, panos de prato, santos de madeira, suportes para
bíblias, cruzes de crochê e até livros de “Anchieta e Itanhaém”
de José Carlos Só, que nos contam um pouco da história da
Cidade. Os preços na lojinha vão de R$ 2,00 a R$ 50,00. Mas
não se preocupe, a lojinha não exibe cartão ou cartaz intimando
o visitante a comprar. Aliás, nem atendente tem. Para comprar
é preciso chamar a recepcionista, uma das únicas funcionárias
que fica à vista no local.
Logo no primeiro andar há um painel, escrito à mão,
que conta a história do Convento. Aproveite, pois este é um
dos poucos pontos de informação. A recepcionista pouco
diz, respondendo às perguntas de forma curta e, às vezes,
desconversa. Aparenta ser por medo de revelar certas histórias,
mas prefiro acreditar que seja por falta de informação sobre o
ambiente, para que a visita fique menos assustadora. A essa
altura, a equipe da revista já estava espalhada por todos os
cantos do Convento.
Dica: seja curioso! Ir só para olhar não será um passeio
bacana. Pergunte, observe, sinta. Os funcionários pouco falam
do lugar, por isso é preciso tentar desvendar por si próprio e ter
paciência para analisar detalhes e imaginar cenas. “Vale a pena
pagar e dar uma olhada em tudo”, dizia a senhora de vestido
florido, com seus cabelos grisalhos, que ia em direção ao palco
fazer uma oração à Santa.
No primeiro piso, há uma escada que sobe e outra que
desce, três portas do lado esquerdo, uma lojinha, placas com
citações religiosas, cadeiras antigas de madeira espalhadas
pelo salão e uma porta em frente, na mesma direção da
porta de entrada, que nos leva para um imenso jardim. “Dá
mais para uma floresta”, brinca Mariana Aquila.
As duas primeiras portas laterais dão acesso à imensa
Igreja. Bancos compridos de madeira, pequenos quadros
tortamente pendurados, chão de cerâmica, azulejos antigos
nas paredes do arco do grande palco e tapetes vermelhos
chamam a atenção das pessoas que tentam desvendar o
que cada parte significa. “Será que azulejo se chama azulejo
porque antigamente todos eram feitos da cor azul?”,
perguntava Leandro para mim que, de início achei ser uma
pergunta um tanto quanto inútil, mas, ao mesmo tempo,
intrigante. “É, talvez seja isso”, foi o que consegui responder.
No palco, três grandes santos chamam a atenção. Dois
deles, sem nome, um do lado esquerdo e o outro do lado
direito, dentro de uma estrutura em madeira embutida
na parede, dão abertura à enorme santa mais ao fundo
do altar: Nossa Senhora da Conceição, vestida com seu
manto azul marinho e um bebê ao colo. Ao lado dela,
mais duas esculturas religiosas: Santo Benedito e o “Bom
Jesus”, sentado com suas mãos sobre os joelhos. Tudo
muito desgastado devido ao tempo. “Só esse forte cheiro
de lugar fechado que incomoda”, dizia Letícia Schumman,
que já aparentava um início de rinite, doença que atrapalha
os narizes mais sensíveis à poeira.
88
Um dos poucos painéis com informações sobre a história do local. Além das placas de
advertências, espalhadas por todo o lugar
A vista de boa parte da cidade
pode ser apreciada ainda na
subida pela ladeira de pedras
Em estantes são conservados
livros de visitas que datam a
partir de 1960
90
O único quarto liberado para a visitação revela móveis simples, apenas com duas camas e um lugar reservado para orações
O caminho repleto de moedas presas no chão de cimento levam ao pelourinho,
remontado no local em 1971
91
Na igreja, localizada no
interior do Convento, são
realizadas missas todos
os terceiros sábados do
mês, a partir das 9 horas
Há controvérsias em relação à Santa que deu nome
ao Convento. Primeiramente, dizem ser feita por Gonçalo
Fernandes, que após ter sido preso inocentemente,
entalhou a imagem da Virgem na prisão. Após ser libertado,
atribuiu sua libertação a um milagre de Nossa Senhora da
Conceição, a qual foi trazida à Capela por João Gonçalves.
Também se acredita que a santa veio de Portugal, junto
com Nossa Senhora do Amparo que iria para a cidade de
São Vicente. No desembarque, trocaram-se as imagens.
Mas, em Itanhaém, a escultura foi recebida com o título de
Nossa Senhora da Conceição, já que era o nome da imagem
por qual esperavam (Memórias da Senhora da Conceição,
fl. 2; Livro do Tombo – Itanhaém, fl. 3). Sendo prisioneira ou
não, trocada ou não, ela estava lá. Em destaque no imenso
altar, entre sombras e santos empoeirados.
“Aqui tem uma carga de energia muito forte. Muita
gente já deve ter passado por aqui pra agradecer e pedir, até
chorar”, dizia Letícia, que estava sentada na pequena escada
no palco que dava acesso à Santa, ainda incomodada com o
forte cheiro. Mesmo para os menos religiosos, era perceptível
a sensação de que muitos milagres e até mesmo tristezas
já havia passado por ali. Era como se uma energia pesada
nos tomasse conta e alertasse: “Chega de fotos. É hora de se
deixar sentir”. E por alguns instantes deixei a câmera de lado.
Não por minha vontade, mas por estar incomodado, como
se pedissem para que eu parasse com o festival de flashes
disparados em segundos por todos os lados.
Na terceira porta do salão no primeiro piso, uma sala
com quatro santos de barro: São Francisco, Santa Clara,
Santa Isabel e São Domingos. Todos protegidos dentro de
quatro grandes caixas de madeira com vidros frontais, em
cima de uma cômoda com quatro enormes gavetas.
Retomado o fôlego, era hora de voltar para dentro do
convento e “xeretar” o que faltava, afinal, diferentemente
do resto da equipe, eu e Leandro Aiello ainda não havíamos
subido nem descido as duas escadas do salão principal.
Ao subí-las, mais coisas que pediam para serem
desvendadas. Logo de início, um enorme quadro
sustentado por dois troncos e um índio de madeira ao lado.
“Srs. Visitantes, pede-se a gentileza de não mexer no índio.
Obrigada.”, leu Arucha Fernandes, segundos antes de Aline
Porfírio quase se “afogar” num abraço à escultura.
No pequeno salão do segundo andar, uma estante
embutida na parede com livros antigos. “Aqui temos livros
de visita desde 1960”, disse a recepcionista com muito
custo, entre uma conversa e outra.
O chão, de madeira antiga e desgastada, rangia a cada
passo e entregava os curiosos que tentavam espiar pela
fechadura da porta “Espaço Reservado”, no fundo do salão.
Ao lado da misteriosa porta, um pequeno quarto com duas
camas — “Caro turista, é proibido remover o lençol” —, um
pequeno oratório e uma janela. Ao espiá-la, se debruçando
para fora com a ajuda de Leandro Aiello, que me segurava
para não cair, era possível ver do lado esquerdo outras tantas
janelas. “Talvez sejam mais quartos daquela sala misteriosa”,
referia-se Leandro sobre a porta “Espaço Reservado” que
ele havia espiado minutos antes entre um buraquinho e
outro, existentes na parede de madeira.
Enquanto nos intrigávamos com os dizeres “Favor
não puxar a corda do sino”, próximos às cadeiras antigas
no meio do salão, uma mulher apressada sai da porta
“Espaço Reservado”, desce as escadas correndo e chama
desesperadamente a recepcionista. “Vem aqui, rapidinho”,
diz a senhora de manto branco. A curiosidade então fora
cessada. Dentro da sala misteriosa, uma janela verde logo
ao fim do corredor, com portas laterais à direita e várias
cadeiras enfileiradas no canto. Sim, eram quartos. Depois
de cessada a curiosidade, era hora do último andar.
Ao descer as escadas, dois diferentes caminhos. Um
à esquerda, que dava a mais um espaço entre a natureza
e enormes paredes de pedra. “Parece aquela novela que
a Jade encontra com o namorado árabe, né mamãe?”,
dizia a garotinha de cabelos curtos e olhos cor de mel.
Diferentemente do clima de paz entre a natureza que
os fundos do Convento oferecia, este espaço me deu
novamente uma sensação de tensão, ainda mais pesada que
os demais ambientes. Por decorrência desse desconforto,
saí logo dali.
O segundo caminho, em frente às escadas, com moedas
cimentadas no chão, nos levavam a um tronco com uma
corrente e uma placa: “Pelourinho que esteve na Praça da
Cidade de Itanhaém, em 1561, encontrado neste local aos
pedaços, e em 1971 aqui remontado”. “Será que aqui as
pessoas eram castigadas, pai?”, disse a mesma garotinha,
ainda curiosa tanto quanto eu. Mas deixei a curiosidade
de lado e fui ao encontro da minha equipe, antes que se
irritassem com a demora ocasionada pelo meu vício de tirar
fotos.
Fomos embora por volta das 16h30, por último, uma
foto em frente à Fundação para registrar o momento “Nós
fomos” aos leitores. Mas repito: ao visitar o Convento Nossa
Senhora da Conceição vá com disposição e curiosidade.
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Saí de lá com a sensação de matéria cumprida. Mas, por
outra lado, azar o meu de não ter pego o contato daquela
esperta garotinha de olhos cor de mel. Ela certamente criou
toda uma história para as suas curiosas perguntas, coisa
que as crianças carregam de sobra e nós adultos temos a
mania de nos desfazer por culpa da maturidade.
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O Convento Nossa Senhora da Conceição fica no Morro do Itaguaçu - Centro Histórico próximo a Praça Carlos Botelho. O horário de funcionamento é de terça a domingo das 8h às 11h e das 13h às 17h. A entrada custa R$ 1,50 revertido para a manutenção do Patrimônio. Missa todo 3º sábado do mês, às 9 horas. Para mais informações: (13) 3427-7891.
QUER CONHECER?
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Minha viagem inesquecível foi uma que fiz para o Litoral
Norte, em janeiro de 2010. Fui e voltei no mesmo dia, um
domingo de tempo encoberto, céu acinzentado, mas nem
isso me desanimou. Estava na companhia da Sheila, minha
namorada e de um casal de amigos.
Fomos pela rodovia Rio-Santos (SP-055). Não conhecia
o caminho. Pegamos um mapa e fomos nos aventurar.
Assim que vimos a primeira entrada para a Barra do Una,
entramos. Aí começou a aventura. Ruas de terra, pontes de
madeira, passando por rios. A vista era bela, mas o caminho
dava arrepios!
Paramos e apreciamos o lugar onde a água do rio se
encontra com a água do mar. Seguimos o caminho para
volta à rodovia, mas o carro não subiu! (1.0, sofreu com as
íngremes ladeiras). Todos tiveram de descer para o veículo
ter força.
E foi assim durante todo o percurso. Nas subidas, um
sofrimento. Mas nas paradas, alívio e uma sensação muito
boa. Almoçamos em Boiçucanga um peixe maravilhoso.
Seguimos até Maresias e suas águas revoltas. Pena que tudo
teve que ser em apenas um dia. O Litoral Norte é maravilhoso.
As praias, os rios, a natureza... Tudo quase que intocável! Um
passeio que recomendo (e que vale a pena repetir).
Sua viagem
Barra do Una Litoral Norte - SP
Conte sua viagem pra gente! [email protected]
Texto e fotos: Douglas Luan ( jornalista)