Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ALUNOS DO CEEBJA/CAMBÈ E A GEADA NEGRA 1975: Memória e História Ambiental
Luís Aparecido Roncon1 Rogério Ivano2
Resumo: O presente artigo é resultado da intervenção pedagógica realizada no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Maria do Carmo Bocati - CEEBJA de Cambé, e teve como púbico alvo os alunos do ensino fundamental II, através do programa de desenvolvimento Educacional – PDE 2013/2014. Esses alunos, em sua maioria, oriunda da zona rural, abandonaram os primeiros anos da antiga escola primária, pois trabalhavam, juntamente com seus familiares, principalmente nas lavouras de café. Em 1975, porém, a grande geada, denominada Geada Negra, desencadeou um significativo êxodo rural. Hoje, porém, sem escolaridade, não se consegue colocação no mercado de trabalho. Assim, esses indivíduos voltaram para os bancos escolares e buscam, no CEEBJA, uma oportunidade de se qualificar. Desse modo, é fundamental rememorar o momento histórico que essas pessoas viveram em sua infância no meio rural e levá-los a refletir como os fenômenos históricos, sejam eles sociais ou naturais, interferem, positiva ou negativamente, na vida das pessoas. O trabalho visa promover o conhecimento das relações entre homem e natureza, possibilitando a compreensão da noção de tempo histórico. Nesta análise serão utilizadas como fonte de pesquisa principalmente as fotografias da época, e como tema Gerador, a Geada Negra de 1975, para uma compreensão mais aprofundada da História Ambiental. Palavras-chave: História Ambiental. Memória. Fotografia. Café. Geada. INTRODUÇÃO
A preocupação, nessa intervenção pedagógica, é levar os alunos do Centro
Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Professora Maria do Carmo
Bocati – Ensino Fundamental Fase II, a perceber que sua formação escolar, na fase
adulta, tem relação direta com o fato de pertencer a um grupo social que teve origem
na área rural. Essa afirmação tem como base um debate realizado por este
professor, em sala de aula, sobre o fato de não terem tido oportunidade de
freqüentar a escola em sua fase de formação normal, ou seja, quando crianças. Os
alunos responderam que o motivo de sua freqüência na escola básica, hoje, foi o
deslocamento de sua família, das áreas rurais em que viviam, para as áreas
urbanas, durante a década de 1970, em busca de uma vida melhor, devido à
1 Graduação em História pela Universidade Estadual de Londrina (1994), Especialização em Gestão Pública, Educação Ambiental e Metodologia de Pesquisa. Professor do Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos – CEEBJA. Cambé-Pr. E-mail: [email protected]. 2 Graduação em História pela Universidade Estadual de Londrina (1993), Mestrado (2000) e Doutorado (2005) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina/UEL. E-mail: [email protected].
ocorrência de uma “geada negra” em 1975, na região norte-paranaense, fator
importante na definição deste êxodo rural.
Tal problema detectado, e como professor de história no sistema de ensino
de educação de Jovens e Adultos, ele levou-me a optar por esse tema de pesquisa:
a memória, a cafeicultura e a Geada Negra de 1975 em Cambé.
Conforme o Projeto Político Pedagógico do Colégio, afirma:
Compreender o perfil do educando da Educação de Jovens e Adultos – EJA requer conhecer a sua história, cultura e costumes, entendendo-o como um sujeito com diferentes experiências de vida e que em algum momento afastou-se da escola devido a fatores sociais, econômicos, políticos e / ou culturais. Entre esses fatores, destacam-se o ingresso prematuro no mundo do trabalho (Projeto Político Pedagógico – CEEBJA, 2012, p. 9).
Diante dessas indagações, trabalhamos em sala de aula com as fontes
históricas no contexto da história local, especialmente o fenômeno Geada Negra de
1975 e a cafeicultura utilizando, principalmente, a fotografia como mecanismo de
rememoração dos alunos.
Segundo Jacques Le Goff “(...) a fotografia, revoluciona a memória: multiplica-
a e democratiza-a, dá-lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca atingidas,
permitindo assim guardar a memória do tempo e da evolução cronológica”. (1992, p.
466)
Sem dúvida, para o desenvolvimento desse projeto a imagem e,
especialmente aqui, a fotografia, revela muitos fatores com características
detalhadas, o que faz dela uma fonte histórica, importantíssima.
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A educação no Brasil tem passado por diversos redimensionamentos
políticos, o que tem acarretado inquietações em todos os segmentos da comunidade
educacional. A qualidade do ensino está no centro das preocupações tanto dos
dirigentes como dos que atuam na base. Em nosso país são visíveis os desafios
para dimensionar e enfrentar os problemas fundamentais da educação em geral,
bem como, a universalização da oferta e a melhoria da qualidade de ensino da
educação básica. Insere-se, neste contexto, o intenso movimento no campo
educacional, para o atendimento de jovens e adultos em busca de sua
escolarização.
O trabalho foi realizado com alunos do Centro de Estadual de Educação para
Jovens e Adultos – CEEBJA/Cambé. Desenvolvemos um estudo fundamentado na
linha de pesquisa da História Ambiental e como fontes de pesquisa, principalmente,
as imagens fotográficas da Geada Negra de 1975 e a cafeicultura na cidade de
Cambé e região. Portanto, para responder a esse problema, se faz necessário
entender à relação entre História Ambiental e a Geada Negra em Cambé.
2 A INTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA AMBIENTAL
Os problemas ambientais no Brasil e a nível mundial fizeram com que
historiadores, refletissem com um novo olhar para as questões ambientais. As
interferências ocasionadas pelo homem na natureza refletem diretamente nas
relações sociais e consequentemente na historia. A partir disso, a História Ambiental
começou a ser discutida, principalmente no início da década de 1970, à medida que
os movimentos ambientalistas surgiram.
Para Paulo Henrique Martinez (2005, p. 29):
[...] a história ambiental pode desempenhar um importante papel nesse esforço de decifração do mundo, ao mesmo tempo em que abre aos historiadores mais uma oportunidade de explorar um campo de trabalho em expansão. Daí a importância de sensibilizar pesquisadores, professores e estudantes para esse tema tão presente no cotidiano das pessoas e dos profissionais de História.
Neste contexto, trabalhamos principalmente como com o historiador, José
Augusto Drummond, um dos maiores nomes no estudo da história ambiental.
Drummond (1991, p. 181) elenca cinco características metodológicas e analíticas da
história ambiental, que devem ser consideradas.
A primeira característica mencionada é “que quase todas as análises
focalizam uma região com alguma homogeneidade ou identidade natural”. O autor
cita como exemplos: “um território árido, o vale de um rio, uma ilha, um trecho de
terra da floresta, isso revela um parentesco com a história natural”.
A segunda característica analisada por Drummond (1991, p. 181) “é o dialogo
sistemático com quase todas as ciências naturais - inclusive as aplicadas -
pertinentes ao entendimento dos quadros físicos e ecológicos das regiões
estudadas”.
A terceira característica da História Ambiental trabalhada no texto de
Drummond (1991, p.182) ”é explorar as interações entre o quadro de recursos úteis
e inúteis e os diferentes estilos civilizatórios da sociedade humana”.
A quarta característica (1991, p. 183), refere-se “à importância especial para
os historiadores que valorizam as fontes, que é a grande variedade de fontes
pertinentes aos estudos das relações entre sociedade e o seu ambiente”.
A quinta e última característica citada por Drummond, como metodologia para
se trabalhar a Historia Ambiental refere-se ao trabalho de campo. Drummond (1991,
p. 184) afirma: “frequentemente que os Historiadores Ambientais viajam aos locais
estudados e usam suas observâncias pessoais sobre paisagens naturais, clima,
flora, fauna, ecologia e também sobre as marcas rurais e urbanas que a cultura
humana deixa nessa paisagem”.
Diante do exposto, optaremos por trabalhar principalmente, a quarta e quinta
características metodológica de Drummond, por apresentar argumentos
relacionados ao fenômeno geada negra.
3 FOTOGRAFIAS COMO FONTE HISTÓRICA
O projeto de investigação pedagógica apresentou também, como
metodologia a investigação de registros históricos, por meio principalmente de
imagens fotográficas. Foram analisadas imagens fotográficas, com objetivo de
rememorar a vida cotidiana dos alunos do CEEBJA, principalmente a época do
fenômeno geada negra de 1975.
As fotografias sobre a cafeicultura norte-paranaense e da geada negra
foram elementos importantíssimo no desenvolvimento do projeto de intervenção
pedagógica. E para fazer as interpretações nas imagens fotográficas, procuramos
nos basear no modelo proposto por Boris Kossoy.
O modelo proposto por Boris Kossoy (2001, p.61 a 64) especifica os
seguintes pontos fundamentais em uma análise interpretativa da imagem fotográfica:
“referência visual do documento, reprodução do documento matriz – frente e verso;
procedimento do documento, local onde se encontra (museu, arquivos, biblioteca,
álbum de família); conservação do documento, estado atual de conservação,
condições físicas; identificação dos documentos, nomes, locais, assunto, fotografo;
informações eferentes ao assunto, arrolamento sistematizado dos elementos,
legendas, títulos, dedicatórias; informações referentes ao fotografo, endereço, tipo
de montagem das fotografias, estúdio, mobiliários; e informações referentes a
tecnologia, equipamento utilizado, tipo de câmera, modelo, tipo de papel, formato
das imagens” e outros. E com base nesse roteiro que trabalhamos nas estratégias
de ação do projeto.
O autor ressalta que fotografia deve ser trabalhada como uma fonte, mas, que
para isso, deve ter seu conteúdo decifrado e analisado através de uma metodologia
de trabalho. No caso desse projeto, a principal tarefa foi analisar o contexto de cada
imagem.
Nesse sentido quando Kossoy afirma que:
As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologia adequadas de pesquisa e análise para a decifração de seus conteúdos e, por consequência, da realidade que os originou (KOSSOY, 2001, p. 32).
O autor está se referindo exatamente ao que nos propomos nesse projeto, ou
seja, buscar, nas lembranças e na memória dos alunos, a sua identificação com a
imagem fotográfica da época que eles vivenciaram na zona rural.
Portanto a junção das ferramentas de interpretação das imagens fotográficas
fornecidas por Boris Kossoy e a abordagem ambiental da História feita por José
Augusto Drummond permitirá expor aos alunos a relação de suas histórias e a da
geada, e também como a memória apontada por Le Goff, que se verá a seguir,
pode ser entendida por meio das imagens.
4 MEMÓRIA
A proposta do estudo foi trabalhar a rememoração de fatos históricos
referentes à Geada Negra de 1975 vivenciados pelos alunos. Portanto, ao fazer a
análise, principalmente de imagens fotográficas, considero pertinente, realizar uma
reflexão sobre o conceito de memória coletiva. Como nosso foco em sala de aula foi
trabalhar com grupos de alunos, torna-se essencial a discussão sobre memória.
Assim, as reflexões de Jacques Le Goff e outros autores sobre essa temática são
contribuições fundamentais.
Segundo Le Gof (1992, p. 476) “A memória é um elemento essencial do que
se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das
atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades”. Neste contexto, fica
evidente que a memória coletiva tem como base as lembranças que os indivíduos
rememoram enquanto integrantes de um grupo.
Para exemplificar essa afirmação, recorremos a uma citação de Maurice
Halbwachs:
Nesse sentido, a constituição da memória de um indivíduo é uma combinação das memórias dos diferentes grupos dos quais ele participa e sofre influência, seja na família, na escola, em um grupo de amigos ou no ambiente de trabalho. O indivíduo participa então de dois tipos de memória (individual e coletiva) e isso se dá na medida em que o funcionamento da memória individual não é possível sem esses instrumentos que não as palavras e as ideias, que o individuo não inventou, mas que toma emprestado de seu ambiente (HALBWACHS, 2006, p. 72).
Este projeto de intervenção escola buscou exatamente utilizar fontes
iconográficas, sobretudo a fotografia, como documentos históricos, em um estudo no
âmbito da História Ambiental. Nesse sentido ao levar as fotografias sobre a geada
para a sala de aula e desenvolver um trabalho a respeito dessas imagens,
procuramos mostrar que a fotografia é uma fonte histórica importantíssima para
rememoração dos alunos, as lembranças sobre a geada Negra de 1975.
5 GEADA NEGRA DE 1975 NO NORTE DO PARANÁ E A HISTÓRIA AMBIENTAL
A Geada Negra ocorre, de acordo com o BOLETIM IAPAR:
O ar está muito seco e a planta morre antes que ocorram formação e congelamento do orvalho. Nas condições brasileiras, normalmente se conhece como geada negra os danos de ventos frios que desidratam os tecidos expostos. Por isso também se chama a geada negra de geada de vento.
No Paraná, o maior exemplo foi a geada negra de 1975, que praticamente
dizimou todos os cafezais do estado. Um fenômeno dantes nunca visto, que
produziu consequências drásticas não só para a agricultura, mas também nas
esferas sociais, econômicas, ambientais, urbanas, entre outras.
O fenômeno natural da Geada Negra, em 1975, no norte de Paraná,
contribuiu para o êxodo de um grande contingente de famílias de cafeicultores para
as zonas periféricas das cidades. Este fenômeno atingiu, significativamente, a
cidade de Cambé, município grande produtor de café.
Segundo Rodrigues e Pelegrini (2012, p. 4):
No amanhecer de 18 de julho de 1975, uma das frente-frias mais intensas do século XX reduziu a zero a área cultivada com café no Estado do Paraná. Nos três dias da geada, as temperaturas mantiveram-se muito frias a noite e relativamente quentes durante o dia, além de um vento seco e constante. A sua relevância é tão importante, que ela pode ser considerada como um daqueles raros momentos em que um único fato é capaz de desencadear mudanças históricas. A imagem que se observava nos dias que se sucederam era dramática: plantações, pastagens, pomares totalmente “torrados”, aparentando uma cor escurecida pela requeima.
Conforme os autores Rodrigues e Pelegrini (2012), foram dizimados, no
Paraná, 850 milhões de pés de café, o que se transformou no maior golpe
econômico que atingiu a população como um todo, tanto proprietários como
trabalhadores.
A Revista Cafeicultura (2010), em um de seus artigos, afirma que a Geada
Negra foi um fenômeno que erradicou a cafeicultura no Estado do Paraná.
O Norte do Estado amanheceu, literalmente, coberto por uma mancha negra.
Diferente da geada normal, que, em alguns anos, atingia somente algumas áreas e
permitia que os pés de café rebrotassem, a Geada Negra foi destruidora e congelou
o pé de café das folhas até a raiz, sem chance de recuperação. A partir de então, o
Paraná nunca mais foi o mesmo.
As conseqüências da Geada Negra, na região cafeicultora do Paraná, foram
muito abrangentes, pois geraram transtornos econômicos, sociais, culturais, além de
ambientais. Conforme Rodrigues e Pelegrini (2012), a consequência imediata foi o
êxodo rural: uma legião de famílias rumou em direção aos centros urbanos, em
busca de trabalho, instalando-se nas periferias das cidades. A maioria aceitava
qualquer trabalho, pois não tinha nenhuma qualificação para serviços urbanos,
entretanto, muitos nada conseguiram, pois a tragédia agrícola afetou, com grande
monta, a vida urbana também. Para os autores:
[...] essa geada gerou uma “categoria” de trabalhadores que cresceu sob os efeitos do declínio do café. Os “sem rumos”, a “multidão sem café” foram parar nas periferias das grandes e pequenas cidades. As grandes fazendas da região que abrigavam mais de 500 trabalhadores se viram abandonadas, hospedando o silêncio e a paulatina mecanização da agricultura (RODRIGUES; PELEGRINI, 2012, p. 5).
As considerações dos autores com base em suas pesquisas mostram a
quanto a geada interfere na vida do morador da área rural. Desse modo, os reflexos
da Geada Negra de 1975, ainda estão presentes em várias gerações de
paranaenses, pois estes, ao longo da vida, vivem as consequências dos impactos do
evento desde essa época. A busca pelo ensino no CEEBJA é uma delas.
6 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA CEEBJA DE CAMBÉ
A implementação do projeto no CEEBJA, teve como objetivo produzir um
material de fácil interpretação para os alunos e buscar através das fontes históricas,
principalmente as imagens fotográficas da Geada Negra de 1975 e a cafeicultura, a
rememoração da sua vida cotidiana na cultura do café.
O projeto teve com base o desenvolvimento da produção didático-
pedagógica, que foi elaborada e executada através de quatro atividades ou ações: a
primeira compreendeu um levantamento teórico e bibliográfico sobre a cultura do
café no Paraná/Brasil e a Geada Negra de 1975, com base em livros editados,
anúncios de jornais, revistas, sites da internet, entre outros, e a elaboração de
planos de aulas expositivas por meio do programa multimídia Power Point sobre o
tema em questão; a segunda compreendeu um trabalho com os alunos, em sala de
aula, a partir de imagens fotográficas sobre a cultura do café e a geada de 1975; a
terceira compreendeu um roteiro de visitas, aqui denominado “Mini rota do café em
Cambé”, momento em que o professor e os alunos realizaram visitas a plantações
de café na região; a quarta e última atividade compreendeu a elaborarão de
cartazes com imagens fotográficas, ilustrações, sobre a cultura do café e a Geada
Negra de 1975, elaborados pelos alunos. Estes trabalhos foram expostos na escola
e a exposição aberta à comunidade escolar.
6.1 DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES COM OS ALUNOS NO CEEBJA DE
CAMBÉ
O desenvolvimento das atividades foi norteado pela proposta de produção
didático-pedagógica apresentada pelo Professor PDE no CEEBJA de Cambé
“Professora Maria do Carmo Bocati”, e executado com a participação dos alunos e
comunidade escolar.
A primeira atividade foi realizada pelo professor, que ministrou as aulas
utilizando como recursos multimídia audiovisuais o programa Power Point. Nos
slides foram contemplados os principais tópicos sobre a cultura do café no
Paraná/Brasil e sobre a Geada de 1975, como demonstram os planos de aulas:
� Plano de aula 1 - A Chegada do Café no Brasil
Figura 1 – Galho com frutos de café
Fonte: Do Autor, 2013.
Objetivos da atividade:
• Verificar o nível de conhecimento dos alunos sobre a cultura do café;
• Demonstrar a importância do café na economia do país e o papel
histórico da cultura cafeeira brasileira.
Metodologia: Aulas expositivas pelo professor, através do recurso multimídia
Power Point, e discussões em sala de aula sobre o tema, após a explanação.
Referências básicas para o Plano de aula 1:
LAPA, José Roberto do Amaral. A Economia Cafeeira. 2. edição. São Paulo: Brasiliense, 1986. POZZOBON, Irineu. A Epopeia do Café no Paraná. Londrina: Grafmark, 2006, 224p.
O resultado foi altamente satisfatório, observei que a maioria dos alunos
apresentavam um bom conhecimento sobre o tema cafeicultura, ao contrário sobre o
tema geada negra de 1975, que a maioria desconhecia. Mas, com o
desenvolvimento da aula, as lembranças foram aflorando sobre a cultura do café,
pois a maioria dos alunos é oriunda da zona rural e muitos rememoraram os
momentos vivenciados, principalmente nas falas dos pais e avós sobre a época em
que viviam nos sítios e fazendas de café.
� Plano de aula 2 - O Café no Paraná
Figura 2 – Cafeeiros
Fonte: Do Autor, 2013.
Objetivos:
• Aprofundar o conhecimento do aluno sobre a cultura do café no
Paraná;
• Ressaltar a importância do café no desenvolvimento do Norte do
Paraná.
• Metodologia: Aulas expositivas pelo professor, através do recurso
multimídia
• Power Point.
Referências básicas para Plano de aula 2:
LAPA, José Roberto do Amaral. A Economia Cafeeira. 2. edição. São Paulo: Brasiliense, 1986. POZZOBON, Irineu. A Epopeia do Café no Paraná. Londrina: Grafmark, 2006, 224p.
Na segunda aula sobre cafeicultura paranaense, os resultados foram
aparecendo, os alunos fizeram entrevistas com os familiares, e o tema foi
amplamente discutido em sala de aula. Vários assuntos importantes foram surgindo,
por exemplo, nas entrevistas com os pais e avós, os alunos relataram que com o
advento da Geada Negra, milhares de famílias vieram para cidade à procura de
emprego e novas perspectivas de vida.
� Plano de aula 3: Ícones do Café no Norte do Paraná
Figura 3 – Teatro Ouro Verde Londrina
Fonte: Guia Gazeta do Povo.
Objetivos:
• Entender a importância da cultura do café nas representações da
sociedade do Norte do Paraná;
• Identificar as representações oriundas do café no cotidiano dos
paranaenses.
Metodologia: Aulas expositivas pelo professor, através do recurso multimídia
Power Point.
Referências básicas para Plano de aula 3:
NETO, J. M. A. O Eldorado: representações da política em Londrina ( 1930-1975). Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, 1998. POZZOBON, Irineu. A Epopeia do Café no Paraná. Londrina: Grafmark, 2006, 224p.
A curiosidade dos alunos nessa aula foi algo impressionante. No momento da
apresentação dos slides, mostrando as imagens, os ícones da cafeicultura
paranaense, despertou a atenção em todos sobre a importância do café na vida
cotidiana das pessoas. Aula extremamente produtiva, com participação maciça dos
alunos.
� Plano de aula 4: A Geada Negra de 1975
Figura 4 – Apresentação Power Point da aula
Fonte: Do Autor, 2014.
Figura 5 – Geada Negra
Fonte: Do Autor, 2013.
Objetivos:
• Entender a Geada Negra como um fenômeno natural marcante na vida
dos paranaenses.
• Identificar as mudanças ambientais, econômicas e sociais em todos os
setores da sociedade paranaense, após 1975.
Metodologia: Aulas expositivas pelo professor, através do recurso multimídia
Power Point.
Referências básicas para o Plano de aula 4:
IACOMINI, Franco; GALINDO, Rogério Waldrigues. A herança da geada negra. 17 Jul. 2005. Disponível em: <www.paginarural.com.br/noticias/20498/a-heranca-da-geada-negra>. Acesso em: 03 Jun. 2013.
Na quarta aula, observamos que a maioria dos alunos menores de dezoito
anos não se lembrava do fenômeno Geada Negra de 1975. Alguns comentaram que
os país e avós trabalharam na cultura do café na região de Londrina e Cambé, mas
que nunca falaram sobre esse fenômeno. Mas, com os conteúdos das aulas
anteriores e o trabalho com textos e imagens, o tema aflorou e as discussões
tornaram-se muito atrativas. Outro fator importante observado: nos alunos maiores
de dezoitos a rememoração é instantânea, e à lembrança vem à tona, com muita
intensidade.
6.2 DESENVOLVENDO A ATIVIDADE 2: AS NARRATIVAS DOS ALUNOS COM
AS IMAGENS FOTOGRÁFICA DA CULTURA DO CAFÉ E A GEADA NEGRA DE
1975
A segunda atividade desenvolvida na implementação do projeto na escola, foi
trabalhar as narrativas dos alunos do CEEBJA sobre as Imagens fotográficas da
cultura do café e da Geada Negra de 1975. Essa atividade didático-pedagógica teve
como base metodológica a investigação de registros históricos, principalmente, de
imagens fotográficas e outras fontes a respeito da década de 1970.
Foram analisadas várias imagens fotográficas com objetivo de estimular a
rememoração, por parte dos alunos do CEEBJA, da infância vivida em meio à
cultura do café e a lembrança do fenômeno da geada de 1975. Nesse sentido, é
importante ressaltar a contribuição fundamental das imagens para esse trabalho.
Para o desenvolvimento dessa atividade, além das aulas ministradas na
atividade 1, foram realizados trabalhos preliminares com os alunos, levantamentos
bibliográficos sobre o tema, leituras e debates com vários textos e reportagens de
jornais de 1975.
O desenvolvimento das atividades: Primeiramente em sala de aula, o
professor proferiu uma aula sobre o fenômeno Geada Negra de 1975 e a cultura do
café, em seguida, os alunos escolheram algumas imagens fotográficas, sobre a
cultura do café e da geada e, finalmente, munidos, das fotos, os alunos
desenvolveram narrativas interpretativas. Os resultados foram excelentes, os alunos
conseguiram através das imagens identificar as principais características e
especificidades do fenômeno Geada Negra de 1975, como exemplo, esse relato de
um aluno:
Figura 6 – Relato de um aluno sobre a Geada Negra
Fonte: CEEBJA, 2014.
Essa atividade teve como objetivo principal proporcionar uma reflexão sobre a
relação homem/meio natural, e através do contato com imagens, que os alunos
rememorassem o fenômeno Geada Negra no Paraná. Num segundo momento, que
relacionassem o fenômeno da geada e erradicação da lavoura de café, com as
transformações sociais, econômicas, ambientais da época.
6.3 DESENVOLVENDO A ATIVIDADE 3: “MINI-ROTA DO CAFÉ EM CAMBÉ-PR”
Essa ação foi desenvolvida com uma visita em um viveiro de produção de
mudas de café e em duas propriedades rurais, onde hoje ainda existem o cultivo
de café.
Para a realização dessa atividade elaboramos uma programação das visitas,
chamadas “Mini-Rota do Café em Cambé-Pr”, entregue antecipadamente aos
alunos:
• Dia: 19/07/2014 - Horário: 08:30 hs – saída em frente ao Colégio
CEEBJA;
• 09:00 hs: visita no viveiro de mudas de café do Sr. Andreaza, Avenida
Brasil, perto do Supermercado Super Golf;
• 10h00 hs: visita a chácara Santa Rosa, perto da Estação de
Tratamento de Esgoto SANEPAR, nascente do Córrego dos
Caçadores- Plantação de Café;
• 11:00 hs: visita ao Sítio São João, estrada da Prata Km5, perto do
aterro sanitário de Cambé.
• 12:00 hs: encerramento com café da manhã no sítio São João.
A primeira visita aconteceu em um viveiro de produção de mudas de café,
localizado na Avenida Brasil, em Cambé. Nessa visita foram analisados vários
fatores, desde a semeadura das sementes até a formação das mudas. As mudas
depois de formadas, são comercializadas e transportadas para plantio nas
propriedades agrícolas da região.
Figura 7 – Visita dos alunos no viveiro de produção de mudas de café
Fonte: Do Autor, 2014.
O objeto dessa visita foi mostrar o início da formação dos pés de café,
desconhecidos pelos alunos: uma visita interessante, e chamou muito a atenção de
todos.
A segunda visita aconteceu em uma pequena plantação de café de uma
propriedade localizada próxima às margens da nascente do córrego Caçador em
Cambé. Nessa propriedade foram observados fatores importantíssimos: várias
espécies de café, sistemas de secagem, armazenamento, equipamentos utilizados
na produção de café, entre outros. Nessa propriedade, prevalece o sistema de
economia familiar.
Figura 8 – Visita a plantação de café
Fonte: Do Autor, 2014.
A terceira visita aconteceu em uma propriedade localizada na estrada da
Prata, km 05 em Cambé, que possui uma lavoura, onde prevalece o sistema
tradicional de plantio de café. Foram observados vários pontos importantes, nessa
visita: o sistema tradicional de cultivo de café; a forma de plantio; o espaçamento
entre os pés, os equipamentos utilizado na colheita, entre outros.
Visita altamente produtivas, em que os alunos tiveram a oportunidade de
conhecer propriedades com sistemas diferentes de plantio de café, detalhes do
sistema de produção. Muitos alunos disseram que nunca tinham visto uma tuia, um
rastelo, uma peneira de café. A tuia é o local no sítio onde é armazenado café,
depois de seco, o rastelo é utilizado para juntar os grãos de café da colheita e a
peneira para separar as impurezas do café.
O objetivo foi totalmente atingido nessa ação, os alunos relembraram seu
passado na agricultura e rememoraram alguns momentos de sua vivência em meio
à cultura do café.
Após a realização dessas visitas, em grupos os alunos elaboram relatórios
descritivos, que foram apresentados em sala de aula. Os alunos, também
registraram, nestas visitas, imagens fotográficas, que foram utilizadas na exposição
em forma de painéis no colégio CEEBJA para toda comunidade escolar. Esta
exposição constituiu a quarta atividade.
6.4 DESENVOLVENDO A ATIVIDADE 4: EXPOSIÇÃO DE CARTAZES SOBRE A
GEADA NEGRA DE 1975 E A CAFEICULTURA
A quarta atividade foi desenvolvida nas dependências do CEEBJA através de
uma exposição, com os cartazes confeccionados pelos alunos, foram usados as
fotos da cultura do café e da Geada Negra de 1975. Além dos cartazes com as
fotos, foram utilizados trechos de anotações realizadas na terceira atividade e
ilustrações oriundas do imaginário, ou seja, das memórias dos alunos sobre esse
assunto.
Figura 9 – Cartazes confeccionados pelos alunos
Fonte: Do Autor, 2014.
O objetivo dessa atividade foi trabalhar o tema homem/natureza em ações
pedagógicas na escola como prática política permanente, para despertar, no aluno
do CEEBJA, um olhar voltado para as questões ambientais.
Após a realização de todas essas atividades com os alunos, fizemos uma
proposta a direção e equipe pedagógica do CEEBJA/Cambé para os próximo anos,
a inserção no projeto político-pedagógico da escola no conteúdo da disciplina de
história do ensino fundamental II e Médio um tópico para trabalhar a história
ambiental.
Nessa proposta deverá contemplar a relação homem/natureza, trabalhar
principalmente com os alunos, as modificações climáticas ocasionadas por ações
antrópicas e fenômenos naturais registrados na região norte-paranaense, como: as
geadas, a seca, a urbanização e o processo de urbanização ocasionado pelo êxodo
rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de intervenção didático-pedagógico na escola, desenvolvidos com
os alunos do Ensino Fundamental II, do CEEBJA de Cambé, teve como objetivo
principal a valorização do cotidiano dos alunos, com o intuito de rememorar, através
de fontes documentais (principalmente as imagens fotográficas), o momento
histórico da cultura do café e a Geada Negra de 1975 no Norte do Paraná, e as
implicações sociais, econômicas, ambientais em suas vidas. O contato com as
fontes históricas os levou a perceber que eles alunos, são sujeitos da história, fazem
parte da construção do conhecimento histórico e que os fenômenos, sejam eles
sociais ou naturais, interferem na vida cotidiana das pessoas.
REFERÊNCIAS
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