Curso de Fisioterapia
JÚLIA BARBIERI FERREIRA
OS BENEFÍCIOS DA EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN
Rio de Janeiro 2008
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JÚLIA BARBIERI FERREIRA
OS BENEFÍCIOS DA EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN
Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito parcial para obtenção do título de Fisioterapeuta. Orientador: Prof. Alexandre José Lopes do Nascimento.
Rio de Janeiro 2008
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JÚLIA BARBIERI FERREIRA
OS BENEFÍCIOS DA EQUOTERAPIA NO TRATAMENTO DE PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME DE DOWN
Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta.
Aprovada em: ____/____/2008. BANCA EXAMINADORA Prof. ______________________________________________ Universidade Veiga de Almeida - Presidente da Banca Examinadora. Prof. _____________________________________________ Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora. Prof. ____________________________________________ Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora
3
Dedico este trabalho aos meus pais, a toda minha família, ao meu namorado e aos meus amigos.
4
Ao meu querido orientador, Professor Dr. Alexandre José Lopes do Nascimento, pelos conselhos sempre úteis e precisos com que, sabiamente, conduziu este trabalho.
5
“ Eu vi uma criança que não podia andar, sobre um cavalo, cavalgava por prados floridos que não conhecia. Eu vi uma criança, sem força em seus braços, Sobre um cavalo, o conduzia por lugares nunca imaginados. Eu vi uma criança sem enxergar, sobre um cavalo, galopava rindo do meu espanto, com o vento em seu rosto. Eu vi uma criança renascer, tomar em suas mãos as rédeas da vida e, sem pode falar, com seu sorriso dizer “Obrigado Deus, por me mostrar o caminho.”
- John Anthony Davies -
RESUMO
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O objetivo desse trabalho foi verificar a contribuição da equoterapia, enquanto uma forma de intervenção terapêutica, no desenvolvimento de crianças portadoras da síndrome de Down, podendo ser utilizada tanto de forma complementar ou como um tratamento isolado. A equoterapia é um recurso terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, visando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com diversos tipos de deficiência. Esta atividade exige a participação do corpo inteiro e trabalha o praticante de forma global, o que contribui para o desenvolvimento do tônus e força muscular, relaxamento, equilíbrio, coordenação motora, atenção, auto-estima e destaca-se por possibilitar uma maior participação, integração ou acompanhamento mais próximo dos familiares à sessão.
Palavras-chave: Equoterapia; Desenvolvimento; Síndrome de Down.
ABSTRACT
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The aim of this study was to assess the contribution of horseback riding therapy as a form of therapeutic intervention in the development of children suffering from Down syndrome and can be used on both a complement or as an isolated treatment. The horseback riding therapy is a therapeutical and educational resource that uses the horse in an interdisciplinary approach in the health, educational and equestrian areas, aiming the biological and psychosocial development. This activity demands the participation of the entire body and improves the practitioner on global forms, contribuing to development of tonus and muscular strength, relaxation, balance, motor coordination, attention, auto-esteem and stands out because it allows greater participation, integration or monitoring closest relatives of the session.
Key-words: Therapeutic Horseback Riding; Development; Down syndrome.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9 CAPÍTULO I SÍNDROME DE DOWN ................................................................... 10 1.1 Fenótipo ........................................................................................................ 11 1.2 Sobrevida Pré e Pós-natal ........................................................................... 13 1.3 Avaliação do Desenvolvimento Motor ........................................................ 14 1.4 Risco de Recorrência ................................................................................... 16 1.5 Diagnóstico Pré e Pós-natal ........................................................................ 16 1.6 Atuação da Fisioterapia ............................................................................... 17 1.6.1 Meios e Estratégias ..................................................................................... 18 CAPÍTULO II EQUOTERAPIA ............................................................................. 20 2.1 Definição ....................................................................................................... 20 2.2 Histórico ........................................................................................................ 22 2.3 Tipos de Andadura do Cavalo ..................................................................... 24 2.3.1 O Passo ....................................................................................................... 25 2.3.2 O Trote ........................................................................................................ 27 2.3.2 O Galope ..................................................................................................... 28 2.4 Tipo de Cavalo para a Equoterapia ............................................................. 29 2.5 Pista Adequada de Trabalho ....................................................................... 31 2.6 Indicações ..................................................................................................... 32 2.7 Contra-indicações Relativas ........................................................................ 32 2.8 Contra-indicações Absolutas ...................................................................... 33 2.9 A Equipe Interdisciplinar ............................................................................. 33 2.10 Paralelismo entre a Marcha do Homem e a do Cavalo ............................ 34 2.11 Fases da Equoterapia ................................................................................. 35 2.11.1 Primeira Fase (Aproximação) .................................................................... 35 2.11.2 Segunda Fase (Montaria) .......................................................................... 36 2.11.3 Terceira Fase (Separação) ........................................................................ 36 2.12 Programas Básicos da Equoterapia ......................................................... 36 2.12.1 Hipoterapia ................................................................................................ 37 2.12.2 Educação/Reeducação .............................................................................. 37 2.12.3 Pré-Esportivo ............................................................................................. 38 2.12.4 Esportivo .................................................................................................... 38 2.13 Objetivos da Equoterapia .......................................................................... 39 2.14 Sugestões de Atendimento ........................................................................... 40 2.14.1 Déficit de Equilíbrio .................................................................................... 40 2.14.2 Alterações Posturais .................................................................................. 41 2.14.3 Falta de Coordenação Motora ................................................................... 41 2.14.4 Falta de Orientação Têmporo-espacial ...................................................... 42 2.14.5 Hipotonia ................................................................................................... 42 2.14.6 Defensividade Tátil .................................................................................... 43 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 44 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 45
INTRODUÇÃO
9
A criança portadora da síndrome de Down tem como características a
hipotonia, o atraso mental e psicomotor.
Os tratamentos realizados para se obter a reabilitação física e readaptação
social de pessoas com deficiências buscam, cada vez mais, a utilização de métodos
alternativos, como a equoterapia.
Apesar não ser uma prática nova, a equoterapia ainda é uma prática
desconhecida para a maioria das pessoas. É um tratamento complementar à
fisioterapia, e tem como principal objetivo a melhora física, social e psíquica dos
praticantes.
A equoterapia vem proporcionando excelentes resultados no que diz respeito
a aprendizagem, memorização, concentração, cooperação, socialização,
organização do esquema corporal, aquisição das estruturas têmporo-espaciais, além
de estimular o equilíbrio e regular o tônus muscular.
A base científica desta prática é o movimento tridimensional do passo do
cavalo. Para manter o equilíbrio, o praticante é levado a movimentar
sincronizadamente o tronco, os braços, os ombros, a cabeça e todo o resto do
corpo. Ela acontece ao ar livre, em contato com a natureza, sendo, talvez, a única
técnica terapêutica a trabalhar simultaneamente os aspectos físicos, sociais, mentais
e emocionais do paciente.
A prática eqüestre favorece ainda uma sadia sociabilidade, que integra
praticante, cavalo, colegas e profissionais envolvidos. O praticante experimenta
sentimentos de realização, força e prazer. Tal conquista estimula sua autoconfiança
elevando sua auto-estima - pontos fundamentais para o desenvolvimento das
demais habilidades e de seu potencial como indivíduo.
CAPÍTULO I
10
1. SÍNDROME DE DOWN
A Síndrome de Down foi denominada em homenagem ao médico inglês John
Langdon Down, que descreveu as características clínicas em 1866 (MERRIT, 1977).
Mas, somente em 1959, Jerome Lejeune demonstrou que os indivíduos com esta
síndrome apresentavam excesso de um cromossomo, caracterizando assim uma
patologia genética (ALMEIDA, 2008).
Segundo Pueschel, (1995), apud Milani, (2005), John Langon Down haveria
sido influenciado pelo livro de Charles Darwin, “A origem das espécies”, pois ele
entendia a síndrome como um retorno a um tipo racial mais primitivo. Down ainda
citou os termos “mongolismo” e “idiotia mongolóide”, pelo fato ter algo de oriental na
aparência dessas crianças.
Esta síndrome é encontrada em cerca de uma a cada oitocentas crianças
nascidas vivas, com uma proporção masculino-feminina de aproximadamente 3:2
(MERRIT,1977).
A síndrome de Down é uma condição genética caracterizada pela presença
de um cromossomo a mais nas células de quem é portador e acarreta um variável
grau de retardo no desenvolvimento motor, físico e mental. Esse cromossomo extra
se acrescenta ao par de número 21, por isso o termo utilizado para sua
denominação é trissomia 21. Porém, outros problemas são detectados nessas
crianças, como a translocação e o mosaicismo (DANIELSKI, 2001).
De acordo com Thompson & Thompson, (1993) apud Milani, (2005), a
trissomia do 21 ocorre em 95% dos casos. Essa possibilidade aumenta com o
avanço da idade materna.
Segundo Gonzalez, (1992), apud Milani, (2005), os riscos de incidência da
síndrome são: gestantes com menos de 25 anos, 1:600; de 25 a 29 anos, 1:350; de
30 a 34 anos, 1:800; de 35 a 39 anos, 1:260; de 40 a 44 anos, 1:100 e de 45 a 49
anos, 1:50.
Nos últimos 30 anos, teorias adicionais foram propostas, como as que
consideram que a exposição aos Raios-X, o uso de algumas drogas, problemas
hormonais ou imunológicos, espermaticidas e infecções virais específicas poderiam
ser a causa da síndrome. Embora esses fatores sejam passíveis de causar
11
problemas cromossômicos, não há evidências de correlação com a síndrome de
Down (PUESCHEL, 1995, apud MILANI, 2005).
1.1 FENÓTIPO
A síndrome de Down apresenta características dismórficas, que variam entre
os pacientes, porém produzem um fenótipo distintivo (THOMPSON; McINNES e
WILLARD, 1993).
Quando visualizada de frente, a criança com esta síndrome costuma ter uma
face arredondada. Lateralmente, a face tende a apresentar um perfil achatado. Pode
existir uma pequena prega cutânea direcionada verticalmente entre o canto interno
do olho e a ponte nasal, denominada de epicanto. Em alguns pacientes, os olhos
podem exibir formações pontilhadas de coloração branca ou branca amarelada, que
circundam a íris, chamadas de manchas de Brushfield (CARAKUSHANSKY, 2001).
Segundo Ferreira (2005), o pescoço é mais alargado e curto com pele
redundante na nuca. A ponte nasal é plana, as orelhas são de implantação baixa e a
boca é aberta, mostrando a língua sulcada e saliente (THOMPSON; McINNES e
WILLARD, 1993).
Problemas visuais e auditivos são comuns nestas crianças. Os déficits visuais
incluem catarata congênita e de início em idade adulta, miopia (50%), hipermetropia
(20%), estrabismo e nistagmo (TECKLIN, 2002).
De acordo com o mesmo autor, muitas crianças com esta síndrome (60 a
80%) têm perda leve a moderada de audição. A otite média é um problema clínico
que ocorre freqüentemente e que pode contribuir para perda auditiva intermitente ou
persistente.
É freqüente existir uma braquicefalia acompanhada de um occipital
relativamente achatado. O perímetro cefálico costuma ser menor que o das crianças
normais da mesma faixa etária e é comum o fechamento tardio das fontanelas
(TECKLIN, 2002).
Aproximadamente 50% dos pacientes com síndrome de Down possuem uma
única linha de flexão nas palmas, chamada de linha simiesca (THOMPSON;
12
McINNES e WILLARD, 1993).
Ainda segundo o mesmo autor, os pés apresentam um grande espaço entre o
primeiro e segundo dedos, com um sulco que se estende proximalmente na face
plantar.
O abdomen pode ser ligeiramente protuberante em decorrência da hipotonia
e o tórax pode tomar um formato anormal em decorrência da cardiopatia congênita
(TECKLIN, 2002).
Essas crianças apresentam graus variados de retardamento mental. Elas
aprendem mais vagarosamente e apresentam dificuldade de raciocínio complexo e
de julgamento (UMPHRED, 2007). Segundo Levitt (2001), o retardo mental é grave.
Aproximadamente 80% dos afetados tem um quociente intelectual (QI) de 25 a 50.
De acordo com Rosemberg (1998), QI é a relação entre idade mental e cronológica,
sendo 100 o QI normal (idade mental = idade cronológica).
Observa-se também uma persistência de vários reflexos primitivos além do
tempo que deveriam normalmente desaparecer. Entre eles estão os reflexos de
preensão palmar e plantar, o reflexo de marcha e o reflexo de Moro (COWIE, 1970,
apud UMPHRED, 1994).
Quanto as alterações musculoesqueléticas, são observados déficits de
crescimento linear, incluindo uma diminuição na velocidade de crescimento em
estatura, ocorrendo principalmente entre os 6 e os 24 meses de idade, redução do
comprimento da perna e 10 a 30% de redução no comprimento dos metacarpos e
falanges (TECKLIN, 2002).
Segundo este mesmo autor, as diferenças musculoesqueléticas mais
significativas, entretanto, são devidas, em grande parte, à hipotonia e à frouxidão
ligamentar características dessa doença. A frouxidão ligamentar resulta em pé
plano, instabilidade patelar, escoliose e instabilidade atlantoaxial. Carakushansky
(2001), afirma que a frouxidão ligamentar constitui uma importante característica
vinculado com instabilidades articulares, podendo ocasionalmente gerar luxações.
A instabilidade atlantoaxial pode predispor a criança a compressão da medula
espinhal. Os sinais e sintomas de compressão raquimedular decorrente de luxação
atlantoaxial são: arreflexia, babinski, reflexos tendinosos profundos vigorosos,
clônus, alterações da marcha, reflexo extensor plantar, cefaléia, tendão do calcâneo
tenso, falta de coordenação, aumento do tônus muscular, limitação do movimento
13
cervical, bexiga neurogênica (incontinência ou retenção), dor no pescoço, espasmos
da musculatura do pescoço, postura em tesoura, alterações sensoriais, torcicolo,
vertigens e fraqueza muscular (UMPHRED, 2007).
Cerca de 40% destas crianças nascem com cardiopatias congênitas; as mais
comuns são defeitos no canal atrioventricular e no septo ventricular. Embora
normalmente reparadas na infância, as cardiopatias não-corrigidas até os 3 anos de
idade estão altamente associadas com os maiores atrasos no desenvolvimento de
habilidades motoras (TECKLIN, 2002).
Malformações gastrintestinais ocorrem em 10 a 18% dos casos, incluindo
fístula traqueoesofágica, estenose hipertrófica de piloro, atresia duodenal, pâncreas
anular, doença de Hirschsprung e ânus imperfurado (FERREIRA, 2005).
Em geral, os indivíduos com a síndrome de Down possuem uma
probabilidade 10 a 30 vezes maior de desenvolver leucemia em comparação com as
demais pessoas. Acredita-se que, de cada 150 crianças com síndrome de Down, 1
irá eventualmente desenvolver leucemia. Esse risco aumentado persiste na idade
adulta (CARAKUSHANSKY, 2001).
Do ponto de vista neuropatológico, pode-se encontrar atrofia cerebral,
particularmente nos lobos frontais e no giro temporal superior. Alterações
neurofibrilares e placas neuríticas, similares às encontradas na doença de
Alzheimer, podem estar presentes nos pacientes com síndrome de Down que
ultrapassam os 40 anos de idade. Algumas deficiências imunológicas, como
aumento de IgM e diminuição de IgG no líquido cefalorraquidiano (LCR), têm sido
detectadas nestes pacientes. Também deficiência de atividade do sistema de células
T têm sido observada (SANVITO, 1997).
1.2 SOBREVIDA PRÉ E PÓS-NATAL
Cerca de três quartos dos conceptos com a síndrome de Down perdem-se por
aborto espontâneo no primeiro trimestre, ou, menos freqüentemente, numa época
posterior da gravidez, e muitas crianças nativivas com essa síndrome morrem no
início de vida pós-natal (THOMPSON; McINNES e WILLARD, 1993).
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Os períodos de maior mortalidade são na infância, quando cardiopatias
congênitas, leucemias e doenças respiratórias são os principais fatores
responsáveis. Na vida adulta mais tardia, preponderam a doença de Alzheimer e a
deterioração da função imunológica. A mortalidade por cardiopatia congênita é maior
durante os 2 primeiros anos de vida e somente 40-60% das crianças que tem
cardiopatia congênita chegam aos 10 anos. (FERREIRA, 2005).
De acordo com Thompson; McInnes e Willard, (1993), a senilidade prematura,
associada aos achados neuropatológicos típicos da doença de Alzheimer afeta os
pacientes com Síndrome de Down precocemente em relação a população geral.
Segundo Sanvito, (1997), a maior parte dos pacientes morre nos primórdios
da vida adulta, entretanto alguns pacientes podem atingir a quinta década de vida.
1.3 AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR
Segundo Aguiar et. al, (2008), no processo de desenvolvimento destacam-se
a seqüência, que é a ordem em que as habilidades são adquiridas e o ritmo, que é o
tempo que ela gasta para adquirir cada habilidade.
Segundo os mesmos autores, a seqüência do desenvolvimento na síndrome
de Down é a mesma das crianças normais. O ritmo é próprio e mais lento e deve ser
respeitado.
As crianças variam no seu crescimento e na aquisição de habilidades
motoras, e muitos fatores contribuem para essa diferença, como o peso ao
nascimento, o gênero e o fundo étnico e cultural (SEIFERT;HOFFNUNG, 1991, apud
PRIETO, 2002).
De acordo com HOLLE, (1979), apud Kulcheski, (2008), a seqüência de
desenvolvimento do equilíbrio em ordem cronológica numa criança é: controle
ocular; equilíbrio da cabeça, nas posições sentada e deitada; equilíbrio do corpo
quando sentada; rastejo abdominal; engatinha em 4 membros (mãos e joelhos);
engatinha em 4 membros (mãos e pés); levanta-se e fica de pé com apoio; fica de
pé sem apoio; anda com apoio; anda sem apoio; pula apoiado com as duas mãos;
chuta uma bola sem perder o equilíbrio; pula com pés juntos, sem apoio; corre, pára,
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muda a direção, varia a velocidade.
Se a criança com síndrome de Down não adquirir essas habilidades nas
idades correspondentes, não significa que não possa a vir desenvolver-se mais
tarde, visto que sua maturação pode ser mais lenta (SCHWARTZMAN, 1999, apud
KULCHESKI, 2008).
Abaixo observa-se uma tabela de desenvolvimento motor, fazendo uma
comparação entre crianças portadoras da síndrome de Down e crianças normais.
Fonte: Aguiar et. al, 2008.
1.4 RISCO DE RECORRÊNCIA
16
O risco de recorrência para pais de uma criança com trissomia do 21 ter um
filho subseqüente com essa alteração cromossômica aumenta em relação a outros
casais que não passaram por essa experiência (CARAKUSHANSKY, 2001).
1.5 DIAGNÓSTICO PRÉ E PÓS-NATAL
O diagnóstico pré-natal permite, durante a gravidez, saber se o feto é ou não
acometido pela síndrome de Down (AGUIAR et. al, 2008). Esse diagnóstico tornou-
se possível na década de 1950, quando os pesquisadores aprenderam a cultivar
melhor as células humanas; a análise cromossômica melhorou consideravelmente e
uma maneira de se colher o líquido amniótico foi descoberta (MILANI, 2005).
Segundo Diament; Cypel, (1998), o diagnóstico pré-natal pode ser efetuado
nas seguintes eventualidades:
- Em gestantes acima de 35 anos;
- Em gestantes jovens ou maiores de 30 anos que já tiveram filho com
trissomia do 21, sendo um dos progenitores portador de translocação cromossômica
balanceada;
- Em gestante portadora de translocação cromossômica balanceada;
- Em gestante cujo companheiro seja portador de translocação cromossômica
balanceada;
- Em gestantes sujeitas a abortos espontâneos sucessivos.
São utilizados no diagnóstico da síndrome de Down, três exames: a
amniocentese, a amostra de vilocorial e a triagem de alfa-fetoproteína. A ultra-
sonografia também é um método utilizado para detectar a síndrome através da
medição da grossura da pele na região do pescoço e do comprimento do osso da
perna do feto (MILANI, 2005).
Segundo o (SANTOS, 2006), o diagnóstico pré-natal de anomalias
cromossomiais baseia-se na cariotipagem fetal. Esta técnica laboratorial além de ser
de alto custo, também coloca em risco a vida do feto. Desta forma, este tipo de teste
não é recomendado a todas as gestantes, sendo indicado apenas para aquelas com
17
fatores de risco para anomalias cromossomiais.
O diagnóstico pós-natal pode ser feito em virtude da fácies do bebê, porém
torna-se difícil algumas vezes com base apenas nas características clínicas
(FERREIRA, 2005). Diante da suspeita clínica, deve ser solicitado sempre o estudo
cromossômico – cariótipo (AGUIAR et. al, 2008).
1.6 ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA
O atendimento fisioterapêutico é importante para ajudar a criança que tem
síndrome de Down e que está em crescimento a prevenir o desenvolvimento de
padrões anormais de movimentos compensatórios (UMPHRED, 2007).
De acordo com Kudo et. al, (1997), a fisioterapia visa estimular
desenvolvimento neuropsicomotor destas crianças, tendo como base o
desenvolvimento normal, utilizando, para isso, métodos que propiciarão maior
independência, autoconfiança e ampliação da relação com o meio ambiente. É de
grande importância que este trabalho de estimulação seja realizado junto a bebês,
pois as maiores aquisições neuropsicomotoras ocorrem nos primeiros anos de vida,
sendo estes a base para os períodos que se sucederão.
Segundo o mesmo autor, os objetivos gerais abrangem a criação de
condições para que possa ser explorado o potencial motor da criança, direcionando
a mesma nas sucessivas etapas do desenvolvimento motor e auxiliando-a na
aquisição de padrões essenciais e fundamentais do desenvolvimento. Os objetivos
específicos são a normalização do tônus global; a inibição dos padrões anormais de
movimentos e postura; a indução e facilitação dos movimentos normais; o aumento
do limiar de sensibilidade tátil e cinestésica; o desenvolvimento de reações de
proteção, retificação e equilíbrio (estático e dinâmico); a percepção corporal; a
coordenação dinâmica global e visomotora; a aquisição de um relacionamento sócio-
emocional positivo e o desenvolvimento da atenção, concentração e compreensão.
É importante que o fisioterapeuta observe as necessidades de cada criança e
de cada família, planejando uma intervenção apropriada para cada situação.
Reavaliações periódicas determinam o grau de evolução conseguido, permitindo a
18
reprogramação do plano terapêutico. A falta de estimulação é a grande responsável
pela limitação do desenvolvimento motor observado nestas crianças (PARISI, 2004).
1.6.1 Meios e estratégias
As metas do fisioterapeuta são desenvolver habilidades que obedeçam às
seqüências do desenvolvimento, tais como rolar e fazer a transição para a posição
sentada. É importante também a aplicação de técnicas específicas que ensinem
como segurar e carregar objetos (UMPHRED, 2007).
Numa criança com desenvolvimento normal, primeiro são desenvolvidas as
habilidades motoras grossas, para depois desenvolver as habilidades motoras finas.
Entretanto, na criança com síndrome de Down, a fraqueza muscular, a
hipotonicidade e as doenças cardíacas congênitas impedem essa seqüência Por
isso, muitas vezes, a criança está apta em termos maturacionais a desenvolver a
motricidade fina antes da motricidade grossa (NETO, 1999, apud Kulcheski, 2008).
A fisioterapia também será direcionada para a aquisição de habilidades
preparatórias para a marcha, e habilidades avançadas de marcha. As habilidades
preparatórias para a marcha incluem atividades de transição para a posição
ajoelhada, para a posição de pé e de agachado para de pé. As habilidades
avançadas da marcha incluem atividades em escada, andar sobre superfícies
irregulares e terrenos diferentes, correr, pular e chutar bola. O fisioterapeuta deve
ajudar durante a marcha, dando suporte na altura da pelve de modo a forçar uma
rotação mais medial e o deslocamento para a frente do peso do corpo sobre os pés
para evitar o travamento do joelho em extensão (UMPHRED, 2007).
É importante frisar que não é possível a transposição de etapas, ou seja,
pular de uma fase para outra, já que não é possível haver um aprendizado correto
de movimento sem ter tido uma série de experiências anteriores. É necessário,
então, respeitar a evolução gradativa do desenvolvimento motor da criança,
utilizando para isso técnicas especiais como o método Bobath (Kudo et. al, 1999).
Segundo a mesma autora, o método Bobath é um dos mais adequados, por
estar de acordo com o obejtivo de todo o trabalho realizado com os bebês, já que
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vem possibilitando o desenvolvimento da integração motora em níveis superiores,
aproveitando maior plasticidade cerebral. Paralelamente a isso, devem ser incluídas
uma série de outros procedimento que complementarão a estimulação. Isto se deve
ao fato de que há diferenças individuais devem ser levadas em consideração, não
sendo utilizado somente um método para todas as crianças, e sim a adaptação
deles para cada uma.
Para facilitar o trabalho, são utilizados alguns materiais específicos, tais como
bola de Bobath, visando a estimulação das reações de proteção, equilíbrio e
normalização do tônus; “jump-up”, visando a normalização do tônus e a
propriocepção; rolo de Bobath, visando a estimulação das reações de proteção e
controle de cabeça; escada, visando a coordenação e o equilíbrio, entre outros.
Como a hipotonia é um dos sinais mais marcantes da síndrome de Down, devemos
trabalhar utilizando, por exemplo, a co-contração, realizada com o intuito de se obter
uma resposta muscular (KUDO et. al, 1999).
As crianças e adolescentes com esta síndrome são menos ativos e passam
mais tempo dentro de casa. Assim, por causa da inatividade, muitos tendem ao
sobrepeso. É importante enfatizar programas de exercício e condicionamento físico
durante esse período (UMPHRED, 2007).
Na fase adulta, quando é realizado um programa sistemático apropriado de
treinamento aeróbico, os adultos mostram melhora da capacidade ventilatória.
Preocupações com o equilíbrio e quedas tornam importantes o aprendizado de
estratégias de segurança, assim como a manutenção do condicionamento físico
(UMPHRED, 2007).
CAPÍTULO II
20
2. EQUOTERAPIA
2.1 DEFINIÇÃO
Para a Associação Nacional de Equoterapia (2005), citada por Silva (2006), a
equoterapia é um método terapêutico educacional que utiliza o cavalo dentro de uma
abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o
desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiências e/ou com
necessidades especiais. A equoterapia é um dos poucos recursos que possibilitam
uma maior participação, integração ou acompanhamento mais próximo por parte dos
pais durante a sessão.
Segundo Cirillo, (1999) apud Silva, (2004), “Equoterapia é um tratamento de
reeducação motora e mental, através da prática de atividades eqüestres e técnicas
de equitação”.
Segundo Gavarini, (1995), apud Silva, (2004), a equoterapia pode ser uma
terapia principal ou complementar, dependendo de sua patologia. O tratamento
equoterápico pode proporcionar uma reabilitação global, uma vez que o indivíduo
tem acesso a uma ajuda psicológica e psicossomática.
De acordo com Medeiros & Dias, (2003), a equoterapia deve ser desenvolvida
como um tratamento de suporte, sem substituir o convencional, sendo elegível
somente uma vez por semana.
Para Wickert (1999), equoterapia é o processo de reabilitação de pessoas
portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais, que utiliza o cavalo
como meio para, por meio e com o acompanhamento de uma equipe de
profissionais especializados, trazer aos portadores de deficiência a melhora possível
tanto física quanto psíquica.
Segundo Cirillo et al., (2000), apud Ribeiro, (2006), este recurso foi
denominado Equoterapia pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-
BRASIL), em 1999, por três motivos:
a) Homenagear o Latim, vernáculo do qual deriva o português – adotando o
radical Equo derivado de Equus;
21
b) Homenagear Hipócrates que utilizava a palavra “Therapeia” para
denominar aparte da medicina que trata da aplicação do conhecimento técnico-
científico no campo da reabilitação. Por esta razão adotou-se a palavra terapia e;
c) Por estarem adotando uma palavra ainda não existente no dicionário
nacional, poderiam adotar princípios e normas fundamentais para esta técnica no
Brasil.
Segundo Santos (2001), cavalgar se constitui num prazeroso processo de
aplicação dos melhores exercícios de coordenação que se conhece, além de
proporcionar a sensação de independência, aumento da autoconfiança, do
autocontrole e da auto-estima. As atividades com os cavalos aumentam os períodos
de atenção, possibilitando maior concentração e melhor disciplina. Nos distúrbios da
fala e comunicação auxiliam na articulação de sons, fluência verbal e linguagem.
Segundo Ande (2005), apud Padilha, (2006), a equoterapia é uma
metodologia terapêutica complementar totalmente diferente e particular, pois envolve
situações únicas. A primeira particularidade está no fato da utilização do cavalo, um
ser vivo com características próprias, como mediador terapêutico; e a segunda, está
no fato de ser realizada em um ambiente aberto. Essas duas particularidades
somadas à relação entre o paciente-cavalo-ambiente e a equipe terapêutica
oferecem um leque de propostas de reabilitação mais amplas que os processos
tradicionais.
Segundo Lermontov (2005), “O cavalo, além de sua função cinesioterápica,
produz importante participação no aspecto psíquico, uma vez que o indivíduo usa o
animal para desenvolver e modificar atitudes e comportamentos”.
Além disso, a equoterapia pode ajudar no desenvolvimento das sinergias
funcionais. O movimento do cavalo cria uma base dinâmica de suporte, fazendo com
que o praticante em tratamento adquira padrões de movimentos coordenados de
controle de postura para manter seu centro de gravidade sobre essa base
(LERMONTOV, 2005).
Segundo Wickert (1999), a grande vantagem da utilização do cavalo é que o
praticante é incapaz de gerar os movimentos por si só. O cavalo gera os
movimentos e os transmite ao cavaleiro, desencadeando o seu mecanismo de
resposta. Apesar dos movimentos se processarem de maneira rápida, não impedem
o seu entendimento pelo cérebro humano.
22
2.2 HISTÓRICO
A prática eqüestre com fins terapêuticos vem de longa data. Encontramos
suas primeiras referências em Hipócrates (58-377 a. C.) prescrevendo a equitação
como tratamento da insônia (SILVA, 2004).
Já em 124 a. C., Asclepíades de Prussia (médico grego) indicou a equitação
para tratar a epilepsia e vários tipos de paralisia. Indicava os movimentos do cavalo
a pacientes caquéticos, epiléticos, paralíticos, apopléticos, letárgicos, frenéticos e
também para os acometidos de febre terçã.
Em 130-199 d.C., Galeno, consolidador e divulgador dos conhecimentos da
medicina ocidental como médico particular do Imperador Marco Aurélio, recomendou
a prática da equitação como forma de fazer com que ele imperasse com mais
rapidez, visto que era um pouco lento nas suas decisões (LERMONTOV, 2005).
Em 1569, Mecurialis (médico), em sua obra “De arte gymnastica”, menciona
uma observação feita por Galeno, de que a equitação ocupa uma posição de
destaque entre os exercícios e ginásticas, pois exercita não só o corpo, mas também
os sentidos. O autor, descrevendo os diferentes tipos de andamentos, comentava
que a equitação aumentava o “calor natural” e remediava a “escassez de excreções”
(UZUN, 2005).
Início do séc, XIV Cesare Bórgia afirmava que aquele que deseja conservar
uma boa forma física deveria cavalgar (FREIRE, 1999).
Uzun (2005) relata que, em 1676, Thomas Syndehan (capitão da cavalaria
durante a guerra civil), em “Observationes Medical” aconselhava a equitação como
sendo um tratamento ideal até para a tuberculose, cólicas biliares e flatulências;
chegava a emprestar seus cavalos para pacientes sem recursos. Em 1681 indicava
a equitação em seu livro “Tratado sobre a gota”.
Em 1719, Friedish Hoffman, em sua obra “Instruções aprofundadas de como
uma pessoa pode manter a saúde e livrar-se de graves doenças através da prática
racional de exercícios físicos”, dedica um capítulo à equitação e a seus grandes
benefícios, definindo o passo como sendo a andadura mais salutar (FREIRE, 1999).
23
Entre os anos de 1654-1734, Francisco Fuller, no tratado De Medical
Gymnastica, publicado em 1704, descreve a equitação como um método adequado
no tratamento da hipocondria (UZUN, 2005).
Em 1734, Charles S. Castel criou uma cadeira vibratória, que denominou
tremoussoir, para a cura da espasticidade (SANTOS, 2005). Segundo Uzun (2005),
essa cadeira produzia movimentos similares aos do cavalo.
Entre os anos de 1697-1758, Samuel Theodor Quelmaz de Lipsia (Alemanha)
desenvolveu também uma máquina eqüestre, demonstrando como o problema do
movimento e dos exercícios físicos eram vistos pelos médicos da época. Essa
máquina era uma espécie de guindaste que imitava os efeitos induzidos pelo
movimento do cavalo. Em sua obra “A saúde através de equitação”, oferece, pela
primeira vez, uma referência ao movimento tridimensional do dorso do cavalo
(FREIRE, 1999).
Segundo Uzun (2005), Giuseppe Benvenutti (médico das termas dos Banhos
de Luccana Itália), entre os anos de 1707-1782, dedicou seu livro a Sigismundo
Chigi, príncipe de Farneta, desejando “restabelecimento da saúde com esta prática”
e em Reflexões acerca dos efeitos do movimento a cavalo escreve que a equitação
mantém o corpo são e promove diferentes funções orgânicas, numa ativa função
terapêutica.
Em 1782, Joseph C. Tissot, em sua obra Ginástica Médica e cirúrgica
descreveu, pela primeira vez, as contra-indicações da prática excessiva de
equitação. Ele ilustra os diferentes efeitos dos vários andamentos, entre eles, o
passo, considerando-o como o mais eficiente sob o ponto de vista terapêutico
(UZUN, 2005). Para Tissot, existem 3 formas de movimento: ativa, passiva e ativo-
passiva, que é típica da equitação (FREIRE, 1999).
O sueco Zander, fisiatra e mecanoterapeuta, em 1890, foi o primeiro a
assegurar que as vibrações transmitidas ao cérebro com 180 oscilações por
minutos, estimulam o sistema nervoso simpático, sem associar ao cavalo. Em 1984,
o médico e professor Dr. Detlvev Rieder, da Alemanha, aferiu essas vibrações ao
dorso do cavalo ao passo e verificou que corresponder exatamente aos valores
descritos por Zander (HORNE; CIRRILLO, 2005 apud SILVA, 2006).
Na Inglaterra, em 1901, ocorreu a primeira aplicação de Equoterapia em um
contexto hospitalar, no Hospital Ortopédico de Oswentry e entre os anos de 1952 e
24
1956, Liz Hartel, portadora de poliomielite, conquistou medalha de prata na
modalidade adestramento nas Olimpíadas (UZUN, 2005).
Na França, a reeducação eqüestre nasceu em 1965, como mencionam De
Lubersac e Lalleri na introdução do seu manual intitulado “A reeducação através da
equitação”. Lá onde o amor pelos cavalos é muito difundido, rapidamento achou-se
que seu uso era uma possibilidade para o deficiente recuperar e valorizar as suas
próprias potencialidades (SANTOS, 2005). De acordo com Uzun (2005), em 1965, a
equoterapia se torna, então, matéria didática na França.
No ano de 1971, Elly Kogler e Gabriele B. Walter (fisioterapeutas) – chegam
ao Brasil as primeiras experiências em equoterapia (UZUN, 2005).
Conforme relata Uzun (2005), em 1989, foi criada a Fundação da Associação
Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL).
No Brasil, a equoterapia teve início em 1983 com a criação da Escola de
Equitação Objetivo, uma união do centro de Equitação Pbjetivo com a Hípica de
Brasília, cujo objetivo inicial era oferecer novos caminhos na educação de crianças e
jovens, um recurso a mais para o processo de aprendizagem (SILVA, 2004).
No ano de 1997, ocorreu a oficialização da equoterapia como método
científico pelo Conselho Federal de Medicina, por meio do parecer número 06/97 de
abril de 1997 (UZUN, 2005).
2.3 TIPOS DE ANDADURAS DO CAVALO
De acordo com Horne e Cirillo, (2006), apud Campos, (2007), a primeira
manifestação de um ser humano que está a cavalo é o ajuste tônico. Embora
aparente imobilidade quando está parado, o cavalo nunca está totalmente imóvel. As
flexões da coluna, a troca de apoio das patas, o abaixar e o alongar do pescoço, o
deslocamento da cabeça ao olhar para os lados e todos os demais movimentos do
animal exigem do cavaleiro um ajuste no seu comportamento muscular, movimento
automático de adaptação. Além disso, todos os cavalos executam movimentos para
se locomover, denominados andaduras.
25
Nas andaduras do cavalo devemos considerar os membros em apoio, os
membros em elevação e os tempos de suspensão. Os membros em apoio são os
que repousam no solo, em elevação em caso contrário e a suspensão é quando
nenhum membro estiver em apoio (UZUN, 2005).
O cavalo, ao se deslocar, exige do praticante ajustes tônicos para adaptar seu
equilíbrio a cada movimento. Cada passo do cavalo produz de 1 (um) a 1,25 (um e
vinte e cinco) movimentos por segundo. Em 30 minutos de trabalho, o praticante
executa de 1.800 (um mil e oitocentos) a 2.250 (dois mil e duzentos e cinqüenta)
ajustes tônicos (CIRILLO, 2008).
Segundo Lermontov (2005), o cavalo possui três andaduras naturais que são
o passo, o trote e o galope. Outros tipos de andaduras e movimentos que o cavalo
pode executar são ensinados pela pessoa que o adestra e por isso não são
considerados naturais (FREIRE, 1999).
2.3.1 O Passo
O passo é mais indicado para a equoterapia devido a sua regularidade
(LERMONTOV, 2005). É uma andadura simétrica, rolada ou marchada, basculante,
a quatro tempos (UZUN, 2005).
Segundo Uzun (2005), é simétrica, porque as variações da coluna vertebral
em relação ao eixo longitudinal do cavalo são simétricas; é rolada, porque não
existe tempo de suspensão, ou seja, sempre existem membros em apoio; é
basculante em conseqüência dos movimentos do pescoço do cavalo; e é a quatro
tempos, porque ouvem-se quatro batidas distintas entre o elevar até o pousar de um
determinado membro.
De acordo com Cirillo, (2008), para a adaptação do cavaleiro ao ritmo do
passo do cavalo é necessário que ocorram a contração e a descontração
simultâneas dos músculos agonistas e antagonistas.
O passo é a andadura mais lenta, resultando em menores e mais duradouras
reações sobre o praticante, permitindo uma melhor observação e análise por parte
da equipe que o acompanha (WICKERT, 1999).
26
Ao iniciar o passo, um dos membros anteriores, em geral, se eleva primeiro.
Se é o Anterior Direito (AD) que inicia o passo, o membro seguinte a se elevar será
o Posterior Esquerdo (PE), depois o Anterior Esquerdo (AE) e, finalmente, Posterior
Direito (PD). Os membros pousam na mesma ordem de elevação e o passo
completo à direita termina com o pousar do PD e um passo completo à esquerda
pelo pousar de PE, desde que o cavalo tenha partido parado, conforme a Figura 1
(LERMONTOV, 2005). Esta seqüência é sempre a mesma, não sofre mudanças sem
que haja alguma interferência externa, seja por parte do cavaleiro ou de alguma
outra influência (MEDEIROS; DIAS, 2002).
Fonte: Ribeiro, 2006.
Segundo Wickert (1999), analisando a diposição dos membros do cavalo em
relação ao solo, denomina-se base lateral quando o apoio estiver sobre os dois
membros do mesmo lado do animal. Quando o apoio estiver sobre um membro de
cada lado, denomina-se base diagonal, sendo sempre um anterior de um lado com
27
um posterior do outro lado, e quando for sobre os três membros, é chamada de base
tripodal (WICKERT, 1999).
O trote e o galope são andaduras saltadas, ou seja, entre um lance e outro, o
cavalo executa um salto, existe um tempo de suspensão, em que ele não toca seus
membros no solo (LERMONTOV, 2005). Em conseqüência, seu esforço é maior, e
seus movimentos mais rápidos e bruscos exigem do cavaleiro mais força para poder
acompanhar os movimentos do animal. Por isso estas andaduras só podem ser
usadas em pacientes na fase pré-esportiva, por apresentarem boas condições
motoras (MEDEIROS; DIAS, 2002).
2.3.2 O Trote
Segundo Lermontov (2005), essa é a forma de deambulação do cavalo um
pouco mais rápida que o passo.
O trote é uma andadura simétrica, saltada, fixada a dois tempos, na qual os
membros de cada bípede diagonal se elevam e pousam simultaneamente, com um
tempo de suspensão entre o pousar de cada bípede diagonal, conforme a Figura 2
(UZUN, 2005).
Fonte: Ribeiro, 2006.
28
Segundo a autora, é simétrica, porque os movimentos da coluna vertebral
em relação ao eixo longitudinal do cavalo são simétricos; é fixada, porque os
movimentos do pescoço são quase imperceptíveis (são bastante limitados); e é a
dois tempos, porque entre o elevar de um bípede diagonal até o seu retorno ao solo
(inclusive) ouvem-se duas batidas.
2.3.3 O Galope
O galope é uma andadura assimétrica, diagonal saltada, muito basculada e a
três tempos, seguidos por um de interrupção, conforme a Figura 3 (LERMONTOV,
2005).
Fonte: Ribeiro, 2006.
29
É assimétrica, porque os movimentos da coluna vertebral em relação ao eixo
do cavalo não são simétricos; é saltada, porque existe um tempo de suspensão; é
muito basculada, em razão dos amplos movimentos do pescoço; e é a três tempos
porque entre o elevar de um membro ou membros associados, até seu retorno ao
solo ouvem-se três batidas (UZUN, 2005).
Segundo Lermontov (2005), sobre o plano vertical, o cavalo faz um gesto de
abaixamento do pescoço e sobre o plano horizontal as ondulações vertebrais são
assimétricas.
2.4 TIPO DE CAVALO PARA A EQUOTERAPIA
Não existe uma raça própria para trabalhar na equoterapia. Contudo, deve-se
levar em consideração algumas características básicas para escolher o cavalo ideal
(LERMONTOV, 2005). Ele deve ter os três andamentos regulares: passo, trote e
galope. Deve ser equilibrado o centro de gravidade abaixo do garrote (UZUN, 2005).
O cavalo sendo equilibrado faz o praticante ficar mais próximo do centro de
gravidade do cavalo e seu corpo fique como se estivesse em pé, com ombros e
calcâneos em linha reta (UZUN, 2005).
Segundo Lermontov (2005), o cavalo deverá ser treinado para ser montado
tanto pelo lado direito, quanto pelo lado esquerdo. Deve, também, ser treinado para
o uso de brinquedos e objetos, de modo que não se assuste com eles.
Ainda segundo a autora, não há diferença entre égua e cavalo, mas caso seja
um cavalo, deverá ser castrado e caso seja uma égua é necessário um alerta quanto
ao período crítico do cio, para não dificultar sua agilidade e a montaria pelo
indivíduo, fazendo com que ele fique com as pernas muito abertas sobre o animal,
dificultando, assim, o tratamento. O animal deverá ter uma massa corporal
necessária para carregar duas pessoas (LERMONTOV, 2005).
A prática demonstra que os cavalos mais adequados para a equoterapia são
aqueles de estatura baixa. A altura do cavalos deverá ser, no máximo, de um metro
e meio, medindo-se do chão a cernelha do animal, a fim de não cansar o auxiliar
lateral que acompanha o praticante, conforme a Figura 4 (UZUN, 2005).
30
Fonte: Crotti, 2007.
Para Uzun (2005), é de grande importância que o cavalo tenha uma boa
índole, seja manso e dócil. Os cavalos adultos são mais confiáveis, uma vez que já
completaram seu desenvolvimento neurológico e psíquico (UZUN, 2005).
A baia, seu local de abrigo, deve ser aberta, coberta e com cocho para
forragem, para que assim ele possa sair e voltar à vontade, prevenindo o possível
estresse que baias trancadas provocam (Adário, 2005).
2.5 PISTA ADEQUADA PARA O TRABALHO
Segundo Uzun (2005), o local deve ser seguro e tranqüilo, de fácil acesso aos
praticantes.
Por ser um trabalho ao ar livre, num ambiente onde o praticante está
intimamente ligado à natureza, e ainda, montado num animal que é superior em
porte e altura, podendo comandá-lo, são estimuladas as percepções do olfato e da
audição (COELHO, 2005).
31
Segundo o mesmo autor, o solo não pode ser nem de asfalto, nem de
pedregulho. A pista deve ter, no máximo, dez centímetros de areia e deve estar mais
compactada do que fofa, devendo ser totalmente plana.
Segundo Cirillo, (2008), a segurança física do praticante dever ser uma
preocupação constante de toda a equipe, principalmente em relação:
- ao comportamento e atitudes habituais do cavalo e às circunstâncias que
podem vir a modificá-los, como por exemplo uma bola arremessada ou um tecido
esvoaçando, nas proximidades do animal;
- ao equipamento de montaria, particularmente correias, presilhas, estribos,
selas e manta;
- à vestimenta do cavaleiro, principalmente nos itens que podem trazer
desconforto ou riscos de outras naturezas;
- ao local das sessões onde possam ocorrer ruídos anormais que venham
assustar os animais.
2.6 INDICAÇÕES
Segundo Medeiros & Dias (2002), apud Padilha (2005), algumas indicações
na área de reabilitação são:
- Paralisia cerebral;
- Déficit sensoriais;
- Síndromes neurológicas (Down, West, Rett, Soto e outras);
- Acidente vascular cerebral;
- Traumatismo cranioencefálico;
- Seqüelas de processos inflamatórios do sistema nervoso central (meningo-
encefalite e encefalite);
- Lesão raquimedular.
2.7 CONTRA-INDICAÇÕES RELATIVAS
32
Segundo Teixeira (2001); Medeiros & Dias (2002), apud Padilha (2005), as
contra indicações relativas são:
- Alergia ao pêlo do cavalo;
- Epilepsia (controle medicamentoso das crises convulsivas assegurado);
- Síndrome de Down (verificação da instabilidade atlanto-axial);
- Espinha Bífida;
- Hemofilia;
- Hiperlordose, na qual mesmo com uso de coxins de adaptação não se
consegue o alinhamento pélvico;
- Hipertensão quando esta não for controlada;
- Subluxação de quadril;
- Medo excessivo;
- Atividade reflexa intensa, dificultando o posicionamento correto sobre o
animal.
2.8 CONTRA-INDICAÇÕES ABSOLUTAS
Segundo Teixeira (2001); Medeiros & Dias (2002), apud Padilha (2005), as
contra indicações absolutas são:
- Fraturas não consolidadas;
- Estados de compressão de raízes nervosas;
- Escolioses progressivas com ângulos acima de 40º;
- Instabilidade atlanto-axial, presente principalmente na síndrome de Down;
- Terapia anticoagulante;
- Trombose com risco de embolia;
- Hemofilia;
- Convulsões não controladas;
- Luxação do quadril;
- Cardiopatia grave;
- Osteoporose e osteogênese imperfeita.
33
2.9 A EQUIPE INTERDISCIPLINAR
De acordo com Silva, (2004), o trabalho de uma equipe interdisciplinar na
equoterapia é primordial, pois esta avalia cada caso, estabelece metas e o melhor
caminho para alcançá-las. “A equipe deverá ser composta no mínimo por um
adestrador de cavalo, um psicólogo e um fisioterapeuta. Observa-se, contudo que há
necessidade de que outros profissionais como terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo
e assistente social façam parte desta equipe”.
Por outro lado, é sabido que a família é um ponto muito importante para a
melhora do paciente tanto na parte física quando psicológica. O trabalho de
profissionais junto à família faz com que o tratamento se desenvolva mais
rapidamente, porque desta forma se está trabalhando os pacientes de maneira
global (ANDE-BRASIL, 1996 apud SILVA, 2004).
Segundo Mylena, (2003), a equoterapia é aplicada por uma equipe técnica
multiprofissional e interdisciplinar composta por fisioterapeuta, instrutor de equitação,
auxiliar-guia, auxiliar-lateral e veterinário, podendo incluir ainda psicólogo,
fonoaudiólogo, pedagogo e professor de educação física.
2.10 PARALELISMO ENTRE A MARCHA DO HOMEM E A DO CAVALO
De acordo com (SANTOS, 2005), o deambular do cavalo é o mais próximo do
caminhar humano, tendo somente 5% de diferença. O movimento rítmico e
tridimensional do cavalo, ao caminhar, se desloca para frente, para trás, para os
lados, para cima e para baixo, podendo ser comparado com a ação da pelve
humana ao andar, conforme ilustra a Figura 5.
34
Fonte: Crotti, 2007.
Segundo Silva, (2004), quando em andadura ao passo, a marcha do cavalo
se assemelha a do ser humano tanto em deslocamentos relacionados à distância e
graus de inclinação, quanto em termos de fases executadas durante a marcha.
O cavalo quando se desloca, exige do cavaleiro ajustes tônicos para adaptar
seu equilíbrio a cada movimento. Cada passo do cavalo produz de 1 (um) a 1,25
(um e vinte e cinco) movimentos por segundo. Em 30 minutos de trabalho, podemos
dizer que o cavaleiro executa de 1.800 (um mil e oitocentos) a 2.250 (dois mil e
duzentos e cinqüenta) ajustes tônicos (CIRILLO, 2008).
O homem e o cavalo ao caminharem realizam movimentos de forma que seus
corpos estarão ao mesmo tempo avançando, inclinando lateralmente e por fim
verticalmente subindo e descendo, é o chamado movimento tridimensional
(QUEIROZ).
O cavalo realiza um ciclo de movimentos análogo ao do homem, mas a
transferência do movimento tridimensional do cavalo só vai ocorrer se em boa parte
da terapia o centro de gravidade do praticante coincidir com o do animal. No homem,
seu centro de gravidade está ao nível da vértebra L2 e no cavalo está a mais ou
menos 20 cm depois do garrote (SILVA).
35
2.11 FASES DA EQUOTERAPIA
2.11.1 Primeira fase (aproximação)
Inicialmente são propostas atividades em que o praticante participe
ativamente, criando assim o enlace afetivo, diminuindo gradativamente a distância.
Essas atividades incluem desde o alimentar com uma cenoura até a limpeza e
encilhagem (MEDEIROS; DIAS, 2002).
2.11.2 Segunda fase (montaria)
Segundo Medeiros & Dias, (2002), representa a fase central da sessão , em
que o paciente irá realizar as atividades propostas sobre o dorso do animal.
2.11.3 Terceira fase (separação)
Significa o término da atividade sobre o dorso do cavalo, em que são
propostas atividades conclusivas no solo que compreendem: desencilhar, dar banho,
por exemplo. Essa estruturação favorece a organização temporal de início, meio e
fim da sessão, podendo durar de 30 a 45 minutos (MEDEIROS; DIAS, 2002).
A sessão de Equoterapia deve constar do momento de aproximação; do
momento dos exercícios de aquecimento, equilíbrio, montaria, mudanças de
velocidade ou manutenção rítmica, alternância de andaduras e jogos (GARRIGUE,
1999); e do momento de separação, o qual consta de atividades de relaxamento
associadas a exercícios respiratórios com o intuito de facilitar o desligamento do
36
praticante após cada sessão (PACCHIELE, 1999; GONZALEZ, 2003, apud
RIBEIRO, 2006).
2.12 PROGRAMAS BÁSICOS DA EQUOTERAPIA
Os programas básicos da equoterapia foram criados por Deutsches
Kuratorium (1986) e, desde então, vem sendo aplicados em várias partes do mundo
(UZUN, 2005).
A equoterapia é aplicada por intermédio de programas específicos
organizados de acordo com as necessidades e pontencialidades do praticante, da
finalidade do programa e dos objetivos a serem alcançados. Segundo Potter, Evans
e Nolt, (1994), apud Kague (2004), esses programas são a hipoterapia, a
educação/reeducação, o pré-esportivo e o esportivo.
2.12.1 Hipoterapia
Segundo Lermontov (2005), essa fase é caracterizada pelo fato de o
praticante não ter condições físicas e/ou mentais para se manter sozinho sobre o
cavalo. É necessário um auxiliar-guia para conduzir o cavalo e um terapeuta
montado juntamente com o praticante ou acompanhando-o a pé ao seu lado, dando-
lhe apoio ao montar (LERMONTOV, 2005).
Para a autora, nessa fase o programa é essencialmente da área de
reabilitação, voltada para as pessoas portadoras de deficiência física e/ou mental. O
cavalo atua, principalmente, como um agente cinesioterapêutico (UZUN, 2005).
2.12.2 Educação/reeducação
37
Nesse programa o praticante já apresenta condições de se manter sozinho
sobre o cavalo, e já consegue interagir com o animal. (LERMONTOV, 2005).
Segundo a autora, por esse motivo, depende menos do auxiliar-guia e o terapeuta
não monta mais junto, somente o acompanha lateralmente.
O cavalo continua propiciando benefícios pelo seu movimento tridimensional e
multidirecional e o praticante passa a interagir com mais intensidade (UZUN, 2005).
Para a autora, nesse programa, o cavalo atua como instrumento pedagógico e
psicológico.
Os exercícios realizados nesse momento são tanto na área reabilitativa como na
área educativa (LERMONTOV, 2005).
2.12.3 Pré-esportivo
Aqui o praticante tem boas condições para atuar e conduzir o cavalo sozinho,
podendo participar de exercícios específicos de hipismo (LERMONTOV, 2005).
Para Uzun (2005), esse programa terá maior ênfase para as áreas de
educação e social, mas também pode ser um programa reabilitativo ou educativo.
Segundo Cirillo, (2008), a ação do profissional de equitação é mais intensa,
porém continuam necessárias as orientações dos profissionais das áreas de saúde e
educação. O cavalo atua como agente se inserção e reinserção social (UZUN,
2005).
2.12.4 Esportivo
Segundo Cirillo, (2008), o praticante deve ter boas condições para estar a
cavalo, já sendo possível sua participação em competições hípicas. A ação do
profissional de equitação é mais intensa, porém ainda há necessidade da orientação
dos profissionais das áreas de saúde e educação.
38
Neste programa, a ênfase é no desenvolvimento de saltos, que é usado para
melhorar a percepção e habilidade motora (POTTER; EVANS E NOLT, 1994, apud
KAGUE, 2004).
Este programa visa não só a inserção social, mas também o prazer pelo
esporte/competição, melhoria da qualidade de vida, o bem estar e a auto-afirmação.
Abrem-se caminhos em termos de competição podendo inclusive participar de
competições hípicas nas modalidades: Hipismo Adaptado, Paraolimpíadas e
Olimpíadas Especiais (CIRILLO, 2008).
2.13 OBJETIVOS DA EQUOTERAPIA
De acordo com Santos, (2008), os objetivos da equoterapia são:
- melhora do equilíbrio e da postura;
- desenvolve a coordenação de movimentos entre tronco, membros e visão,
assim como a dissociação de cintura pélvica e escapular;
- estimula a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pelo
uso do cavalo;
- promove a organização e a consciência corporal;
- desenvolve a modulação tônica e estimula a força muscular;
- transferência de peso e indução a uma marcha melhor;
- oferece sensações de ritmo;
- aumenta a auto-estima, facilitando a integração social;
- desenvolve a coordenação motora fina;
- estimula o bom funcionamento dos órgãos internos;
- ajuda a superar fobias, como a de altura e a de animais;
- melhora a memória, a concentração e a seqüência de ações;
- motiva o aprendizado, encorajando o uso da linguagem;
39
- aumenta a capacidade de independência e de decisão em situações
diversas.
As sessões costumam ser indicadas de uma a duas vezes por semana,
conforme solicitação médica e avaliação da equipe, com duração média de trinta
minutos (UZUN, 2005).
Segundo Adário, (2005), quanto à freqüência, uma vez por semana é
considerado o ideal, podendo ser a cada quinze dias para alguns. É importante que
não haja perda do que foi aprendido e que não promova fadiga no praticante.
2.14 SUGESTÕES DE ATENDIMENTO
Garrigue, (1999), apud Adário, (2005), com respeito ao projeto terapêutico,
observa que este deve ser individualizado, tanto na preparação quanto na avaliação,
sendo necessária a definição das indicações exatas para cada um e que, no caso de
se ter como meta a melhora do relacionamento, alguns pontos têm que ser
observados, como:
- observação do relacionamento e sua duração;
- a autoconfiança e a superação da ansiedade;
- autocontrole e a firmeza, em decorrência da disciplina adquirida no
manuseio da montaria;
- a memorização de conhecimento adquirido;
- relaxamento ou a descontração.
Quanto aos progressos, serão observados ou em um destes pontos ou em
mais de um, ou mesmo em todos.
De todo tratamento se espera um resultado e por isso é necessário que exista
um método de avaliação, que englobe procedimentos antes, durante e depois do
processo, tanto em partes como no todo.
40
2.14.1 Déficit de equilíbrio
A equoterapia proporciona ao paciente melhora do equilíbrio, pela estimulação
constante que o movimento tridimensional do cavalo realiza sobre os sistemas
vestibular, cerebelar e reticular do paciente. (MEDEIROS; DIAS, 2002).
Pode-se iniciar o programa com trajetos fixos a serem percorridos em linha
reta e em área plana, utilizando-se de estribos e/ou apoio, para a elevação dos
membros superiores, para a passagem por trajetos sinuosos e por terrenos
acidentados, percorrer aclives e declives moderados e acentuados, entre outros
(SANTOS, 2005).
Para a autora, os trajetos sinuosos devem iniciar com mudanças de direção
bem amplas, para que o praticante tenha tempo suficiente para acomodação e
adaptação do equilíbrio adquirido na próxima curva.
Segundo Severo, (2008), o cavalo deve ser conduzido ora com passos largos,
ora com passos curtos e com alterações de velocidade, proporcionando assim,
necessidades de controle de equilíbrio na direção anterior e posterior do cavaleiro.
De acordo com Santos, (2005), o objetivo inicial pode ser o de o praticante
conseguir adquirir o controle cervical pelo movimento do cavalo; a partir daí, evoluir
para o controle de tronco.
2.14.2 Alterações posturais
No tratamento das alterações posturais, pode-se ter como objetivo oferecer
situações de ortostatismo de tronco, para se buscar a estimulação mais correta do
equilíbrio, a conscientização e a correção postural ou o melhor funcionamento
visceral. Pode-se, ainda, adotar posturas em decúbitos, com objetivo de se estimular
a integração sensorial e o relaxamento, enfatizando a conscientização da ventilação
pulmonar (SANTOS, 2005).
41
2.14.3 Falta de coordenação motora
De acordo com Santos, (2005), além de todos os movimentos de ajustes
posturais, de alternância de movimentos com os braços e de dissociações de
cinturas, que são exigidos para que se permaneça montado e que devem acontecer
em seqüência, já estimulando toda a coordenação motora grossa, ainda se pode
estimular o praticante de outras maneiras, como tocando no animal, pegando com
uma mão alguns pêlos com movimentos de pinça, passando pra outra mão e os
assoprando, arremessando e recebendo objetos enquanto se está montado, com ou
sem movimento do cavalo; estimulando sua motricidade mais fina, trabalhando com
rédeas; apanhando flores ou objetos ou até mesmo escovando o cavalo.
2.14.4 Falta de orientação têmporo-espacial
Com o praticante montado, pode-se passar com o cavalo desenhando trajetos
com formas conhecidas pelo praticante, como círculos, quadrados, e passar em
trajetos sinuosos, desviar de árvores, ir para a direita e para a esquerda, atingir tal
ponto localizado adiante e retornar ao ponto de partida. A lateralidade deve ser
trabalhada com os próprios segmentos do corpo do praticante ou com objetos,
passando-os de um lado para o outro, aproveitar a presença de outros cavalos por
perto, de plantas, sons, luz do sol ou de lâmpadas, a sombra que fica em baixo, ou
fazer deslocamentos beirando cercas (SANTOS, 2005).
2.14.5 Hipotonia
42
Pode-se iniciar com atividades em decúbito ventral, com o praticante olhando
para trás do cavalo e sendo solicitado a elevar-se gradualmente, a partir da cabeça,
até adquirir o controle do tronco confiável e sem compensações (SANTOS, 2005).
Sengundo o autor, o programa de tratamento deve incluir atividades com
trabalho ativo contra a ação da gravidade, havendo casos nos quais o praticante já
pode ser capaz de conseguir manter seu tronco em ortostatismo. É preferível que o
trabalho seja executado em superfície instável, de modo controlado e orientado pelo
fisioterapeuta, dentro do que pode ser bem assimilado pelo praticante.
2.14.6 Defensividade tátil
Pode-se estimular o toque no pêlo, nos segmentos e nas crinas do cavalo.
O trabalho pode ser iniciado com posturas que estimulam a região ventral do
praticante, obedecendo suas etapas do desenvolvimento neuro-motor iniciando com
as mãos, plantas dos pés, passando para decúbito ventral. Tudo feito com calma e
por etapas que o praticante tolere ao longo das sessões de equoterapia (CIRILLO,
2001, apud KAGUE, 2004).
43
CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho pode-se perceber que as crianças portadoras da
síndrome de Down possuem muitas deficiências motoras, como o atraso no
desenvolvimento motor e neurológico, déficit de equilíbrio e hipotonia muscular.
Através de uma pesquisa bibliográfica, conclui-se que a equoterapia, através
da utilização do cavalo, proporciona movimentos tridimensionais que fazem com que
a criança realize ajustes posturais para poder se manter sobre ele, melhorando
assim o equilíbrio, a força muscular, a noção de espaço, o tônus muscular, a auto-
confiança, a coordenação motora e também ajuda na interação social.
Vale ressaltar que uma dificuldade encontrada na execução e conclusão
deste trabalho foi a escassez de referências bibliográficas que melhor fundamentem
o assunto.
44
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