O CONCEITO DE LUGAR NO ENSINO DE GEOGRAFIA: DIÁLOGOS
POSSIVEIS
Autor: Neusa Maria Taucheck1
Orientador: Olga Lucia Castreghini de Freitas Firkowski 2
RESUMO
O presente artigo é resultado das atividades realizadas no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE -, no período de 2010 a 2012, ofertado pela Secretária de Educação do Estado do Paraná, como política de Estado. As atividades apresentadas neste artigo referem-se: a) Unidade Didática: Que Lugares são estes? O Ensino De Geografia e a Área Central de Curitiba, b) Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP): Ensino de Geografia e o Conceito de Lugar: Possibilidades Teórico-Metodológicas e c) Grupo de Trabalho em Redes (GTR): O Ensino de Geografia e a Aula de Campo como Atividade Teórico-Metodológica para o Trabalho Pedagógico sobre o Conceito de Lugar. As atividades desenvolvidas tiveram como intenção aprofundar as reflexões sobre o conceito de Lugar como uma possibilidade metodológica. Sendo assim, ao apresentar a trajetória vivenciada no PDE serão destacados os aspectos teórico-metodológicos das ações como a participação dos personagens envolvidos, especificamente os alunos do curso de Formação de Docentes do colégio Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto em Curitiba, bem como os professores de Geografia da Rede Estadual de Educação que participaram do GTR.
Palavras-chave: Geografia; Ensino; Lugar; Aula de Campo
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado das atividades pedagógicas realizadas no
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, no período de 2010 a
2012, ofertado pela Secretária de Educação do Estado do Paraná, como
política de Estado.
1 Mestre em Educação/UFPR, Licenciada em Geografia/UFPR, Escola Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto2 Doutora em Geografia, Professora do Departamento de Geografia/UFPR.
As atividades apresentadas neste artigo referem-se: a) Unidade
Didática: Que Lugares são estes? O Ensino de Geografia e a Área Central de
Curitiba, b) Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP): Ensino de Geografia e o
Conceito de Lugar: Possibilidades Teórico-Metodológicas e c) Grupo de
Trabalho em Redes (GTR): O Ensino de Geografia e a Aula de Campo como
Atividade Teórico-Metodológica para o Trabalho Pedagógico sobre o Conceito
de Lugar.
Sendo assim, ao apresentar a trajetória vivenciada no PDE serão
destacados os aspectos teórico-metodológicos das ações desenvolvidas.
Especificamente o Projeto de Intervenção realizado com os alunos do curso de
Formação de Docentes do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo
Pilotto em Curitiba, e o GTR ofertado aos professores de Geografia da Rede
Estadual de Educação.
O CONCEITO DE LUGAR
O conceito de Lugar apresentado na Unidade Didática: Que Lugares
São Estes? O Ensino de Geografia e a Área Central de Curitiba, teve o papel
de apresentar a fundamentação teórico-metodológica sobre o conceito de
Lugar e ser o material de referência para o posterior Projeto de Intervenção
realizado com os alunos do curso de Formação de Docentes.
O conceito de Lugar foi abordado por meio da concepção Humanística e
Crítica da Geografia. Estudos de autores como Tuan (1983), Milton Santos
(1999), Callai (1999), Vieira (2008), são os balizadores das reflexões teóricas
sobre como a análise da organização espacial requer de nós a apreensão do
Lugar enquanto conceito geográfico.
O exercício da observação do entorno da escola e das praças da área
central pelos alunos, sua reflexão e sistematização contribui para que o ensino
da Geografia esteja relacionado ao nosso cotidiano. Questionar a organização
do Lugar que vivenciamos e como o percebemos está presente nos princípios
que norteiam a alfabetização geográfica, sendo assim, estudar o Lugar é
possibilitar ao aluno que este comece a realizar a leitura do espaço geográfico.
A temática sobre o Lugar foi definida a partir da observação,
levantamento de informações via textos diagnósticos no qual a grande parte
dos alunos de curso de Formação de Docentes apresenta concepções variadas
do ensino de Geografia, e conhecimentos fragmentados da disciplina. Uma
aversão a disciplina ou mesmo uma visão de que a Geografia é menos
importante que outras disciplinas curriculares é constantemente observada nas
falas dos alunos em sala de aula, nas avaliações e nos planos de aula que os
alunos elaboram para suas ações docentes.
Sendo assim, os objetivos das atividades do PDE estavam relacionados
as seguintes questões: a) aprofundar conteúdos teóricos e metodológicos
sobre o papel do ensino de Geografia no Ensino Fundamental da Educação
Básica destacando o conceito de Lugar por meio do estudo do entorno do
Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto, b) apresentar breve
histórico do ensino de Geografia na Educação Básica, c) apresentar subsídios
sobre a relação ensino-aprendizagem da Geografia no Ensino Fundamental.
As pesquisas a respeito do ensino de Geografia nos mostram que esta
área do conhecimento possui uma tradição curricular que pode ser associada
aos diferentes períodos históricos da educação brasileira. Vários aspectos
podem ser identificados sobre a abordagem teórico-metodológica do ensino de
Geografia a partir da sua produção científica e nas esferas das políticas
públicas. Os aspectos relevantes podem ser assim identificados: a) as políticas
públicas de âmbito federal (Parâmetros Curriculares Nacionais e Programa
Nacional do Livro Didático) e as políticas públicas de âmbito estadual (livro
didático público, projeto Folhas, elaboração das Diretrizes Curriculares
Estaduais, Portal Dia-a-Dia Educação, Biblioteca do Professor e Programa de
Desenvolvimento Educacional), b) a produção e divulgação de livros e artigos
relacionados ao ensino de Geografia em diferentes perspectivas para
“legitimar” a chamada Geografia Renovada.
O acesso às pesquisas e informações sobre os aspectos teórico-
metodológicos do ensino de Geografia é ofertado ao professor via algumas
políticas públicas que resgatam a necessidade deste profissional buscar um
constante aprofundamento da sua prática pedagógica. Cabe aqui destacar que
a presente pesquisa, além de aprofundar os aspectos políticos e teóricos do
ensino de Geografia visa trazer, no seu interior, reflexões sobre as condições
reais de acesso e aplicabilidade destas políticas e conhecimentos teórico-
metodológicos.
O ensino de Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental
avançou nas últimas décadas por meio da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96
que entrou em vigor no lugar da Reforma/lei 5692/71 que instituiu a disciplina
de Estudos Sociais. Neste período gerou-se nas escolas uma visão
reducionista desta disciplina, dando a ela um caráter moralizante da prática.
Eram oferecidas atividades de socialização que pouco contribuíam para a
formação de um aluno crítico.
Atualmente o ensino de Geografia nos diferentes níveis de ensino está
associado a uma disciplina que oportunize ao aluno uma leitura crítica da
realidade. Segundo Callai:
O estudo da geografia insere-se neste âmbito, na perspectiva de dar conta de como fazer a leitura do mundo, incorporando o estudo do território como fundamental para que possa entender as relações que ocorrem entre os homens, estruturadas em um determinado tempo e espaço. (CALLAI,1999, p.75).
Ensinar Geografia passa a ser um compromisso com um conhecimento
que vai além da memorização de nomes de fenômenos geográficos, um
conhecimento que torne o aluno um observador da paisagem que com o
exercício da observação busque, ao longo da sua formação, o entendimento da
organização do espaço.
Nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, ao tratar do ensino de
Lugar, afirma-se que
[...] adota-se o conceito de lugar, desenvolvido pela vertente crítica da Geografia, porque por um lado é o espaço onde o particular, o histórico, o cultural e a identidade permanecem presentes relevando especificidades, subjetividades e racionalidades (DCE, 2008, p. 65).
Desta forma estudar o conceito de Lugar possibilita ao aluno criar uma
relação próxima e significativa sobre os conteúdos ensinados na Geografia.
Na proposta teórico-metodológica do ensino de Geografia contido nas
Diretrizes Curriculares para a Educação Municipal de Curitiba, há indicativos de
se trabalhar com o conceito de Lugar no Ensino Fundamental como forma de
construir a noção de espaço geográfico por meio do espaço vivido.
A sistematização da noção de espaço acontece em três níveis de compreensão: do vivido, do percebido e do concebido simultaneamente. Para iniciar o trabalho com o espaço vivido, utilizam-se referências locais, tais como a escola, a rua da escola, o entorno da escola, o bairro, sempre estabelecendo e ampliando relações com o geral, aqui entendido como outros espaços. (...).São instrumentais básicos do saber geográfico os conteúdos/conceitos: localização, orientação, distribuição e representação dos fenômenos socionaturais, paisagem, lugar, região, limite, território, nação e fronteira, além da alfabetização cartográfica, que instrumentaliza o estudante para ser, em primeira instância, mapeador ativo (alguém que constrói seus mapas) e, a partir daí, leitor de mapas oficiais. (DCC, 2006, p.116)
Sendo assim, o trabalho pedagógico com o conceito de Lugar na
disciplina de Metodologia do Ensino de Geografia é um dos conteúdos
fundamentais para a formação dos profissionais que atuam no âmbito do
ensino fundamental.
ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA E O PAPEL DO CONCEITO DE
LUGAR NA CONSTRUÇÃO DO “OLHAR GEOGRÁFICO”
O conceito de Lugar tem um papel relevante no ensino de Geografia,
pois tem como premissa questões relacionadas à identidade e ao
pertencimento das pessoas aos diferentes locais que ocupam e que vivenciam
ao longo de sua vida. Ensinar este conceito passa pela constatação de que o
aluno no ensino fundamental tem por característica a curiosidade sobre os
lugares que freqüenta e que, na maioria das vezes, os adultos negam as
informações que contribuem na sua formação. Sendo assim, o ensino de
Geografia pode contribuir de forma significativa na formação do conceito de
Lugar. Para Hassler:
estudar o lugar em geografia significa compreender o lugar em que se vive além das condições humanas e naturais, buscando sua identidade com o lugar. É muito importante analisar os vínculos afetivos que ligam a determinados lugares, pois para a criança aquele é o único lugar conhecido, é onde ela se sente segura, ela é agente, ela sabe se localizar sabe dialogar sobre ele, pois ela o conhece é o seu lugar é o mundo em que ela vivee atua. (HASSLER, 2009, p.161)
Mas ao estudar o Lugar é preciso entendê-lo na sua dimensão escalar,
na relação entre o local, o regional, o nacional e o global. O lugar manifesta a
sua relação com o global, afinal, não estamos isolados na complexa dinâmica
da sociedade. As interdependências das ações são reflexos de uma sociedade
globalizada.
Para Hassler, (2009, p.162) os PCNs contribuem para o ensino da
Paisagem e do Lugar, pois trazem em suas reflexões teórico-metodológicas
questões sobre a importância pedagógica de se trabalhar na Educação Básica
com estes conceitos tendo como referência:
[...] a paisagem mais próxima da escola, o bairro ou até a própria cidade, uma área a ser visitada a uma certa distância, ou uma imagem de paisagem, seja ela por foto ou outra forma representação qualquer, tem-se a base concreta para a realização da prática escolar.
Entretanto, ao ensinar o conceito de Lugar tem-se claro que este é
resultado de estudos que tratam de ressignificá-lo, tornando assim um
instrumento a mais de análise da complexidade espacial. Na história da ciência
geográfica duas concepções de Lugar são claramente abordadas. Estas
concepções fazem parte do debate epistemológico da Geografia Humanística e
da Geografia Crítica (Renovada). Importante destacar que são debates
historicamente tratados de forma antagônica. Procurando assim mostrar que a
transposição da didática de saberes de uma ciência exige o conhecimento
sobre como estes saberes podem dialogar sem que os mesmos se diluam em
práticas pedagógicas conflitantes no âmbito epistemológico. Pensar o conceito
de Lugar para a Geografia Humanística e para a Geografia Crítica, segundo
Viera (2008, p.13) nos remete a compreensão de que este conceito se difere,
porém dois aspectos aproximam o debate
O primeiro deles é que na abordagem do lugar é preciso ultrapassar a simples noção de localização geográfica e o segundo se refere à necessidade de conceber o lugar como um espaço que tem a ver com a cultura e com a existência de quem habita.
A discussão inicial sobre a Geografia Humanística, a Geografia Crítica e
o tratamento teórico-metodológico que cada uma dá ao conceito de Lugar,
remete a escolha de autores como Tuan e Milton Santos, por serem estes
identificados em pesquisas como dois expoentes destas concepções.
O conceito de Lugar é comumente relacionado a uma porção do espaço
terrestre em que as pessoas localizam os fenômenos geográficos. Para Tuan
(1983, p.65), o espaço é qualquer porção da superfície terrestre que é amplo,
desconhecido, temido e rejeitado. O Lugar recortado afetivamente emerge da
experiência e é um “mundo ordenado e com significado”.
Os geógrafos humanistas afirmam que o Lugar é aquilo que está
diretamente relacionado com as emoções pessoais, podendo ser a casa, a rua,
o bairro, a cidade ou a nação. Está assim intimamente associado à identidade.
Para a maioria das pessoas o lugar é o local das experiências cotidianas. Para
Tuan (1983, 61), o lugar é fechado, intimo, humanizado. Sendo assim, o
caráter de subjetividade está presente no conceito de Lugar tratado por Tuan.
O Lugar está diretamente relacionado com a existência das pessoas, aos seus
valores, o que torna este conceito algo importante na perspectiva humanista,
afinal, a construção do real, é também permeada de histórias pessoais e de
vivências.
O Lugar para os humanistas, portanto, pode ser estudado sobre duas
abordagens, como localização e como um artefato único. Artefato único para
Tuan refere-se ao fato de que o Lugar é estudado como aquele que engloba as
experiências e as aspirações do ser humano. É a partir desta abordagem que o
Lugar passa a ter uma possibilidade concreta de ser trabalhado no Ensino
Fundamental, permitindo ao aluno o exercício do pensamento geográfico tendo
como referência a reflexão sobre o seu espaço de vivência.
Para a chamada Geografia Crítica o Lugar está relacionado a uma
análise complexa da organização espacial, na qual este conceito deve ser
pensado dentro de uma perspectiva de escalas geográficas, ou seja, no fato de
que há inter-relações entre as diversas esferas da sociedade. O Lugar pensado
isoladamente gera uma visão reducionista da organização espacial. O conceito
de Lugar remete ao entendimento da relação entre o local e o global e
possibilita que a análise espacial ocorra de forma mais complexa, na qual as
interações entre os objetos presente no espaço possam ser ressignificados e
compreendidos. Santos ao tratar do Lugar afirma que
Cada lugar é a sua maneira, o mundo. (...) Mas também, cada lugar, irrecusavelmente imerso numa comunhão com o mundo, torna-se exponencialmente diferente dos demais. A maior globalidade corresponde uma maior individualidade. (...) A história concreta do nosso tempo repõe a questão do lugar numa posição central, conforme, aliás, assinalado por diversos geógrafos. (...) Impõe-se, ao mesmo tempo, a necessidade de, revisitando o lugar no mundo atual, encontrar os seus novos significados. Uma possibilidade é dada através do cotidiano. (...) Esta categoria da existência presta-se a um tratamento geográfico do mundo vivido que leve em conta as variáveis de que nos estamos ocupando neste livro: os objetos, as ações, a técnica, o tempo. (SANTOS,1999, p.252)
Sendo assim, Milton Santos chama a atenção para o fato de que ao
pensarmos o conceito de Lugar devemos fazê-lo em uma lógica de um mundo
globalizado. Em uma sociedade que cada vez mais se caracteriza pela
existência do meio técnico-científico-informacional em que o Lugar e a sua
identidade possuem uma dinâmica que extrapola a visão dualista da análise do
espaço. O Lugar e sua relação com o global. Esta complexa relação se dá de
forma dialética e não de forma mecânica.
Em uma perspectiva crítica de análise do espaço, é preciso entender
que cada Lugar é ao mesmo tempo objeto de uma dada razão global e de uma
razão local convivendo dialeticamente. O Lugar é, e representa o mundo, ele
não é algo isolado e sim carregado de relações, reflexos de uma organização
social maior. Porém, a especificidade de cada Lugar é algo a ser destacado. As
diferentes manifestações culturais, por exemplo, podem e devem ser
representativas de um processo histórico no qual o elemento de uma cultura
local esteja presente nestas manifestações.
Para Veira (2008) a princípio há dois pontos que aproximam a vertente
Humanística e Crítica do pensamento sobre o Lugar: a) é preciso ultrapassar a
simples noção de localização geográfica e b) é necessário conceber o lugar
como espaço que tem a ver com a cultura e com a existência de quem o
habita.
O conceito de Lugar tratado desta forma epistemológica exige, portanto,
uma nova maneira de desenvolver o seu ensino. Esta nova maneira deve ter
como elementos norteadores o entendimento de que o Lugar remete, para
além de sua localização, ao conhecimento de cultura, de identidade, de
paisagens, de objetos e da temporalidade que permeiam a organização do
espaço.
AULA DE CAMPO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA GEOGRAFIA
Para ensinar e aprender os conceitos geográficos e, nesse caso
específico o conceito de Lugar, a atividade pedagógica denominada aula de
campo possibilita aos professores momentos significativos de aprendizagem.
Sendo assim, realizar atividades pedagógicas que oportunizem ao aluno da
Educação Básica experienciar o “olhar geográfico” é um dos papéis do
professor de Geografia. A aula de campo é, dentre outras atividades
pedagógicas, uma das mais relevantes no processo ensino-aprendizagem
desta área do conhecimento. Na literatura especializada sobre o ensino de
Geografia é abordado de forma enfática a importância do trabalho “in loco”
como forma de problematizar, vivenciar e sistematizar os conceitos estudados
em sala de aula.
Ensinar conceitos geográficos nos remete, portanto, à reflexão sobre
como nossos alunos apreendem o real. Nesta esfera do debate cabe aos
educadores de uma forma geral pensar sobre a aprendizagem em especial
sobre o homem e o conhecimento no âmbito epistemológico.
Sendo assim, destaca-se que a construção de conceitos é algo
complexo e possui uma gama de explicações a partir de diferentes abordagens
epistemológicas. Nesta Unidade Didática as bases teóricas da aprendizagem
estão atreladas a educação progressista e de maneira geral a abordagem
sócio-histórica.3
A Aula de Campo dentro de uma abordagem sócio-histórica traz
questões relacionadas: a) a necessidade do envolvimento direto do aluno com
o objeto de estudo, b) ao seu conhecimento prévio sobre o que será estudado,
c) ao aprofundamento do conhecimento científico produzido sobre os conceitos
geográficos em questão, e d) a revisão de conceitos pré-estabelecidos gerando
assim movimento. A busca de novas situações de aprendizagem faz com que o
aluno e o professor percebam que a construção do conhecimento é dinâmica.
O conceito geográfico dado como algo pronto acaba pouco favorecendo na
aprendizagem e tornando a escola um espaço pouco atrativo. Sobre a aula de
campo cabe destacar questões levantadas por Fantin e Tauscheck:
Contudo, não podemos reduzir o raciocínio geográfico à pura observação e descrição da paisagem, mas sim pensar criticamente a realidade na qual estamos inseridos. A análise dessa realidade exige do professor-pesquisador uma observação de descrição qualitativa e, em algumas situações, uma análise quantitativa. (...) A questão é: Como metodologicamente é viável operacionalizar esse encaminhamento tão eficaz no ensino e pesquisa em Geografia? Como evitar os mais diferentes argumentos para a sua não
3 Expressão relacionada a teoria da aprendizagem presente nas obras de Vigotski.
realização no cotidiano escolar? (FANTIN e TAUSCHECK, 2005,p.379)
Uma proposta interessante de aprendizagem relacionada com a aula de
campo é o denominado “Guia de Percurso Urbano”4 e foi realizada por Adriana
Gelpi e Neiva Otero Schäffer. Esta proposta de trabalho no ensino de
Geografia tem como principal característica ser uma espécie de folder que irá
auxiliar o turista ou o morador com informações sobre determinados lugares,
trazendo mapas, fotos e dados sobre trajetos selecionados da malha urbana e
seus equipamentos técnicos. Para o professor interessa perceber que este
material pode se tornar um recurso pedagógico para os diferentes níveis de
ensino por meio de sua exploração via aula de campo e leitura cartográfica.
Para a autora desta proposta o “Guia de Percurso Urbano” é um recurso
a mais para compreender a cidade como um fenômeno sociocultural e
imagético. No artigo citado, as autoras apresentam as seguintes atividades a
serem desenvolvidas: a) observação sistemática orientada da paisagem, b)
descrição de informações, c) desenvolvimento da capacidade intelectual para
selecionar, ordenar e organizar informações, d) registro das informações de
forma criativa (croquis, maquetes, desenho, produção de textos, fotografias,
figuras, etc), e) oportunizar busca de fontes que expliquem as formas e funções
da paisagem (do trecho selecionado), f) problematização dos fenômenos
observados por parte do grupo/aluno, g) identificação das transformações que
ocorreram no trajeto percorrido – aproximações com a história, h) localização e
reflexão sobre significados de monumentos, prédios singulares – papel
histórico e enquanto patrimônio da comunidade.
O “Guia de Percurso de Urbano” é uma atividade pedagógica que
possibilita tanto os aspectos cognitivos quanto afetivos da aprendizagem ao ter
como referência a observação direta da paisagem, a pesquisa e o
envolvimento e entrosamento dos alunos e professores na sua efetivação.
4 SCHÄFFER N. O.,GELPI A. . Guia de percurso urbano. (In) Geografia em sala de aula. Reflexões práticas. Porto Alegre : UFRGS/AGB, 1999.
Esta atividade tem como princípio balizador, a definição de “elementos
integradores” que sobressaem no lugar a ser observado e pesquisado. No caso
de nossa Unidade Didática, o estudo do entorno do colégio por meio das
praças centrais é considerado o elemento integrador. Sendo assim, nas
orientações do “Guia de Percurso Urbano” destaca-se os seguintes objetivos:
a) identificar as funções urbanas presentes no trajeto, em destaque o fato que
nosso entorno é a área central de Curitiba e suas praças centenárias, b)
exercitar o manejo cartográfico do lugar (área central), os fluxos e fixos da
paisagem, seus objetos/elementos culturais e naturais, c) desenvolver a
capacidade crítica de observar, refletir e sistematizar as informações obtidas.
Ao pensar todo trabalho da aula de campo, é importante ao professor
estabelecer algumas ações que garantam a qualidade e a segurança dos
resultados. De forma geral a Aula de Campo tem três momentos bem definidos:
1) A PREPARAÇÃO, na qual é necessário estabelecer qual o objetivo da
atividade (relação com conceitos e conteúdos geográficos), obter informações
sobre o lugar a ser conhecido, possíveis agendamentos em locais que
possuem horário e atividades pré-estabelecidas, portanto, uma logística que
passa por situações como: autorização dos pais, da direção da escola, atenção
a caso de alunos menores de idades, orçamento para o deslocamento, etc.,
2) A ATIVIDADE “IN LOCO”, na qual deve ser previsto os horários, a
postura dos alunos em lugares públicos e privados, a observação orientada,
possíveis entrevistas, autorização para fotografar e realizar anotações, e,
3) A SISTEMATIZAÇÃO das informações observadas e registradas como
forma de organizá-las por meio de relatórios, exposições fotográficas,
seminários, no qual os alunos e o professor poderão socializar com a
comunidade escolar os resultados da Aula de Campo realizada.
A Aula de Campo muitas vezes é vista como uma atividade que exige
um grande esforço dos professores, e nem sempre é bem aceita pela direção
da escola e da equipe pedagógica e mesmo dos pais, pelo fato de expor os
alunos a situações que possam fugir de um controle vigente na escola; de ter,
em alguns casos, um custo financeiro, para a escola ou para o aluno; ou ainda
de ocasionar a necessidade de um novo arranjo na prática escolar cotidiana.
Desta forma, a solução adequada para estas situações é o debate pedagógico
e a garantia de que a Aula de Campo componha o Projeto Político e
Pedagógico da Escola. A partir do momento que esta atividade for valorizada
de fato como uma das várias atividades pedagógicas a serem oportunizadas
pela escola, o professor de Geografia e das demais áreas do conhecimento,
passam a ter condições de pleitear a sua realização.
De modo geral, a realização da Aula de Campo é um dos momentos
pedagógicos no qual os alunos apresentam um grande envolvimento, reflexões
e sínteses significativas na construção do conhecimento geográfico.
PROJETO DE INTERVENÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA SOBRE O CONCEITO
DE LUGAR E A AULA DE CAMPO.
O Projeto de Intervenção ocorreu por meio da realização do curso: Que
Lugares São Estes? O Ensino de Geografia e a Área Central de Curitiba,
realizado no Instituto de Educação do Paraná.
Sendo assim, neste curso a minha prática pedagógica como professora
da disciplina de Metodologia do Ensino de Geografia foi repensada e
aprofundada, além de oportunizar aos alunos do curso de Formação de
Docentes, situações de ensino aprendizagem que contribuam na sua formação
inicial como educadores da Educação Básica.
O recorte teórico metodológico do ensino de Geografia trabalhado no
curso foi o conceito de Lugar nas suas perspectivas humanística e crítica na
construção da noção de espaço.
Os objetivos do curso foram:
Oportunizar aos alunos do curso de formação o aprofundamento
sobre o ensino do conceito de Lugar no ensino fundamental;
Vivenciar experiências pedagógicas sobre a aula de campo no
ensino de geografia na área central de Curitiba;
Experienciar situações de aprendizagem sobre o conceito de
Lugar a partir da observação direta das paradas escolhidas
(praças centrais e seu entorno);
Explorar os Lugares e registrar por meio de desenhos e
fotografias as percepções e conhecimentos adquiridos.
O encaminhamento didático realizado teve como objetivos mobilizar para
o conhecimento a partir da concepção/visão de ensino de Geografia, criando
situações de aprendizagem que possibilitassem aos alunos o debate crítico
sobre o conceito de Lugar a partir do entorno do IEPPEP.
A atividade de caráter diagnóstico realizada com os alunos teve como
objetivo discutir e aprender mais sobre um conceito de Lugar e o seu
conhecimento prévio e específico sobre o entorno do Instituto de Educação do
Paraná Professor Erasmo Pilotto.
O principal conteúdo abordado no curso foi: A Aula de Campo e seu
papel pedagógico no ensino de Geografia, tendo como recorte geográfico o
entorno do IEPPEP, cujo objetivo foi oportunizar, de forma crítica, o exercício
teórico e prático referente à Aula de Campo. Esta atividade de ensino é uma
abordagem pedagógica significativa no ensino de Geografia em particular no
ensino do conceito de Lugar.
O recorte espacial da Aula de Campo teve como referência a percepção
e análise geográfica do trajeto entre as praças Rui Barbosa, Osório, Zacarias e
Tiradentes, além do Largo da Ordem. Desse modo, o roteiro foi assim definido,
enfatizando o objetivo de observar e registrar os elementos fixos e fluxos da
paisagem: 1ª: saída do IEP sentido Praça Rui Barbosa via R. Vol. da Pátria; 2ª:
parada na Praça Rui Barbosa; 3ª: caminho para a Praça Osório via R. Senador
Alencar; 4ª: parada na Praça Osório; 5ª: caminho para a Praça Zacarias via R.
XV; 6ª: parada na Praça Zacarias; 7ª: caminho para a Praça Carlos Gomes via
R. Muricy; 8ª: Praça Carlos Gomes; 9ª: caminho para a Praça Tiradentes via R.
Monsenhor Celso; 10ª: Praça Tiradentes; 11º Largo da Ordem/exposição
fotográficas de Curitiba no Memorial.
O retorno da Aula de Campo teve como momento de avaliação o relato
das alunas sobre o que foi observado e registrado por meio de anotações e
fotografias apresentadas. Apesar do Lugar em questão ser o entorno do
colégio onde estudam, as alunas manifestaram que no seu cotidiano não
possuem um olhar mais atento aos elementos da paisagem. Conhecer e
observar a função histórica e sócio-espacial das praças e da arquitetura de
patrimônios públicos como o Paço da Liberdade, despertou nas alunas uma
maior preocupação com o exercício do olhar geográfico e sua transposição
para o ensino de Geografia nos anos iniciais.
Sendo assim a realização da Aula de Campo oportunizou aos alunos
vivenciar o conceito de Lugar por meio da observação direta das
transformações do espaço geográfico.
DIÁLOGOS COM OS PROFESSORES CURSISTAS: GRUPO DE
TRABALHO EM REDES
O GTR: O Ensino de Geografia e a Aula de Campo como Atividade
Teórico-Metodológica para o Trabalho Pedagógico sobre o Conceito de Lugar,
constituiu-se como um espaço de diálogo entre professores de geografia da
rede estadual de ensino e possibilitou discussões sobre o conceito de Lugar,
especificamente sobre a importância teórico-metodológica da aula de campo
no ensino de Geografia.
Sendo assim, trataremos de apresentar alguns fragmentos deste diálogo
como forma de aprofundar o conceito de Lugar e a prática pedagógica do
professor de Geografia.
Ao longo das três temáticas desenvolvidas, os dez professores
participantes que concluíram o curso, contribuíram de forma expressiva.
Na temática 1 o objetivo da atividade era que os professores refletissem,
e escrevessem sobre o tema proposto no Projeto de Intervenção Pedagógica a
partir da relação entre o ensino de Geografia e o conceito de Lugar.
Continuando este primeiro diálogo, na temática 2, os professores
deveriam aprofundar a seguinte questão: “O conceito de Lugar pode ser
abordado por meio de diferentes perspectivas teórico-metodológicas no ensino
de Geografia? Como você trabalha este conceito? Qual(ais) autor(res) você
conhece que trata(m) deste conceito fundamental para o conhecimento
geográfico? Justifique sua resposta”.
Na temática 3 os professores deveriam, socializar as observações
relacionadas a Produção Didática. O recorte geográfico da Produção Didática
deveria ser comparado com a realidade da escola e da cidade do professor. O
objetivo era descrever a realidade geográfica para dialogar sobre os potenciais
pedagógicos para a realização de uma Aula de Campo.
Destacam-se as contribuições de alguns professores-cursistas que de
forma mais propositiva trouxeram reflexões teórico-metodológicas. Como a
temática do curso estava relacionada com o trabalho epistemológico e
pedagógico da prática do professor, despertou interesse. Sendo assim, os
enunciados dos fóruns e diários possibilitaram que os participantes
estabelecessem relações com o cotidiano escolar.
A primeira temática teve como enunciado propor uma relação entre o
ensino de Geografia e o conceito de Lugar, sobre a opção teórico-metodológica
do professor. Portanto, o professor deveria trazer a sua experiência pedagógica
vivenciada na sua prática cotidiana e os autores que fundamentam esta sua
prática tornando o seu texto argumentativo.
Destacam-se algumas das análises dos textos como forma de
apresentar um recorte dos diálogos estabelecidos, sendo assim nem todas as
contribuições forma transcritas.
O professor 15 trouxe em seu texto uma preocupação em fundamentar
sua prática a partir de uma perspectiva crítica do ensino de geografia.
Resgatou a característica do Projeto de trazer autores com Milton Santos e
Tuan, que para muitos são antagônicos e afirmou que é preciso ter o cuidado
de não perder de vista suas raízes epistemológicas e principalmente as reais
possibilidades destes diálogos contribuírem no cotidiano escolar. As opções
epistemológicas (diferentes autores e suas produções) feitas pelos professores
são de caráter político, afinal, além das teorias os autores contribuem por meio
de suas ações e posicionamentos políticos para que possam rever
constantemente sua constituição enquanto professores/educadores da escola
pública.
O professor 2 destaca a importância do uso da expressão Geografia
Escolar. Ao contextualizar o papel do ensino da Geografia como
ciência/disciplina escolar afirma que para entendermos a atual configuração
espacial da nossa sociedade e especificamente o conceito de Lugar alguns
autores contribuem de modo significativo. Na contribuição do professor
percebe-se um aspecto importante sobre o papel do professor, qual seja a
busca constante da objetividade teórica e metodológica da prática escolar.
No texto do professor 3 há contribuições e reflexões interessantes,
destacando-se a afirmação segundo a qual “o nosso lugar não é uma realidade
sozinha ou isolada” e quando associa o ensino do conceito de Lugar a
conceitos como identidade e pertencimento. Nesse sentido, também o
professor 5 relaciona o conceito de Lugar ao de identidade e de pertencimento.
O professor 4 também traz em suas analise a relação entre o conceito
de Lugar ao de pertencimento e identidade, destacando que “muito além de um
espaço físico, de uma paisagem repleta de elementos e de referências
5 Os professores serão identificados por números e suas contribuições apresentadas de modo resumido.
peculiares passíveis de descrições objetivas e racionalizadas, o lugar, na visão
humanística, constitui-se como uma paisagem cultural, campo da
materialização das experiências vividas que ligam o homem ao mundo e às
pessoas, e que despertam os sentimentos de identidade e de pertencimento no
indivíduo.
Neste primeiro diálogo está ainda a contribuição do professor 6 que
destaca aspectos relevantes sobre o trabalho teórico-metodológico do ensino
do conceito de Lugar, a relação dialética entre o local-global e a não redução
do conceito de Lugar à mera localização.
A segunda temática teve como enunciado a preocupação em
estabelecer relações entre a realidade geográfica do professor, do Lugar em
que este trabalha e os potenciais pedagógico para a realização de uma Aula de
Campo.
De uma forma geral os professores cursistas vêem a Aula de Campo
como uma possibilidade de contextualizar o conceito de Lugar com os alunos.
Segundo o professor 1: “Para haver a junção conteúdo escolar e
cotidiano dos alunos, é necessário pensar na Geografia da vida cotidiana,
estabelecer relações entre os conceitos cotidianos dos alunos e os trabalhos
produzidos pela ciência geográfica. Mas, para que essa aproximação seja feita
pelos professores no dia-a-dia da sala de aula, é preciso, antes de tudo, que
eles próprios consigam ver esse papel da Geografia para o cotidiano”.
Pode-se perceber na resposta do professor 1 a preocupação em
transformar o ensino de Geografia em algo significativo para o aluno por meio
dos conceitos cotidianos.
Em sua contribuição o professor 6 afirma “Como é bom trabalhar com o
nosso aluno nas aulas práticas. Trabalho em Marechal Cândido Rondon, no
momento estou na direção auxiliar no Estado, mas continuo lecionando na rede
particular, e esse ano trabalhei com meus alunos em um frigorífico de aves
desde o estudo da temática indústria, a divisão do trabalho, as fontes de
energia e o tratamento da água gasto por dia que é de 3 milhões de litros.
Outra aula de campo com outra turma foi a análise dos Biodigestores
construído em cooperativa de agricultores com a parceria da Itaipu e da
prefeitura municipal, observando todas as formas de utilização dessa fonte
alternativa que reduz custos para os agricultores e contribui na conservação do
meio ambiente”.
Na fala do professor 6 nota-se que a Aula de Campo faz parte da sua
prática pedagógica a partir dos conteúdos a serem ensinados.
Para o professor 7: “A nossa realidade local é bastante interessante para
não se dizer pitoresca. Moramos em um dos municípios que tiveram parte de
seu território alagado no momento da construção da Hidrelétrica de Itaipu, e
parte dessa história sempre é resgatada nos trabalhos de geografia, quando
nos referimos as mudanças de paisagens, como os mesmos lugares podem
assumir funções diferentes no decorrer da história, pois a cidade teria iniciado
onde hoje é o porto Britânia, local em que recebe pessoas do Paraguai, que
vêm fazer compras ou ir ao médico, e por causa do alagamento teve que se
desenvolver em torno da rodovia. Como nosso município é pequeno, a praça
central ainda é um ponto de encontros entre mães e crianças que brincam no
parquinho, de idosos que fazem sua caminhada e exercícios na academia ao
ar livre, podemos dizer que a identidade da praça continua sendo a mesma,
mesmo que sua paisagem tenha mudado muito nos últimos anos. Esses dois
elementos já foram utilizados como trabalhos de campo com alunos do 6º ano,
e eles conseguiram assimilar muito bem a diferenciação entre paisagens e
lugares”.
O conceito de Lugar e a Aula de Campo estão presentes na narrativa do
professor 7 de forma objetiva, há uma real intenção no trabalho com a
realidade do aluno a partir do conhecimento de como se constituiu o espaço
vivido pelos alunos.
Na terceira temática o professor cursista, ao ler o planejamento do curso
realizado com os alunos do Curso de Formação de Docente, deveria elaborar
questionamentos e sugestões.
Para o professor 2: “Ao ler o planejamento fica evidente a importância de
conhecermos o espaço em que vivemos e é fundamental esse tipo de atividade
pedagógica no sentido de desenvolver os conceitos chaves da geografia (lugar
e espaço geográfico) para um melhor entendimento do espaço vivido pelos
nossos alunos. Em relação a aula de campo que consta no planejamento é
uma prática de fundamental relevância para a compreensão e leitura do espaço
geográfico, principalmente, pela possibilidade de estreitamento que estabelece
entre teoria e prática, e possibilita novos olhares sobre o espaço cotidiano”.
O professor 2 destaca a importância da Aula de Campo como uma
possibilidade do espaço vivido ser melhor compreendido pois traz, na sua
essência, a relação teoria e prática.
Segundo o professor 8: “Para que nossa prática pedagógica se efetive é
necessário o aprofundamento teórico dos conceitos trabalhados diariamente
em sala de aula. O projeto de ação remete para um conceito importante dentro
de nosso universo como professores, geógrafos e principalmente seres que
fazem parte de uma sociedade hoje chamada de ‘globalizada’.
Dentro da Geografia Crítica, o conceito de lugar está fundamentado no
entendimento de como as nossas ações pedagógicas interferem diretamente
na construção do conhecimento pelo aluno, oportunizado a ele a construir
dentro do seu universo local, uma compreensão do global.
As saídas de campo são oportunidades únicas na dinâmica de um professor de
Geografia. Como não poderia deixar de ser, o projeto remete para a sua
importância e, especialmente, na forma de como tal atividade deverá ser
elaborada e executada, tomando como referência o lugar como conceito primo
para a atividade. O projeto deixou claras as etapas (começo – meio – fim),
orientando sobre a necessidade de se preparar o ambiente escolar para a
visita, com todos os seus objetivos. Tais objetivos são alcançados diante do
planejamento minucioso e se completam ao dar a continuidade necessária
quando do retorno a escola, dentro de uma avaliação informal, mas carregada
de objetividade”.
O professor 8 traz em suas reflexões questões relevantes sobre o ensino
do conceito de Lugar a partir do entendimento deste em uma sociedade
globalizada. A importância da Aula de Campo esta relacionada com um
momento pedagógico no qual os alunos apresentam envolvimento, reflexões e
sínteses significativas na construção do conhecimento geográfico em
específico sobre o conceito de Lugar.
A contribuição do professor 3 destaca-se, pois este afirma que: “Através
do Plano de Curso realizado com os (as) alunos (as) do curso de Formação de
Docentes, percebemos a relevância do tema Lugar que se faz nesse trabalho
para o conhecimento dos alunos na descrição do espaço, da forma mais
simples da vida cotidiana. A metodologia utilizada no Plano em questão -
Atividade sobre a Planta do Centro de Curitiba – utilizando os materiais citados
como: Planta baixa do entorno. Usando os materiais e recursos, por mais
simples que pareçam, lápis de cor, régua (muitas deles não sabem usar a
régua), papel vegetal etc. Fornece ao aluno pequenas habilidades, mas de
muita importância. O fato de aluno conseguir definir um título para um
determinado trabalho ou para uma planta demonstra certas experiências já
adquiridas ou desenvolvem certa criatividade, os símbolos e legendas. Tudo
isso, faz o aluno a criar, refletir, pensar, imaginar e construir levando-o a
aprender e conhecer melhor o seu espaço, suas dificuldades e necessidades
locais.”
Para esse professor, o trabalho com o conceito de Lugar também esta
relacionado ao uso de atividades cartográficas como forma do aluno apreender
habilidades de forma significativa.
A realização do GTR foi um momento de trocas que contribuíram como
forma de estabelecer diálogos com professores de Geografia que tratam do
conceito de Lugar, de Aula de Campo no seu cotidiano escolar e sua relação
com a proposta de trabalho apresentado no PDE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do PDE oportunizou situações de pesquisas sobre o
conceito de Lugar e a aplicação da Aula de Campo como uma possibilidade
teórico-metodológica significativa na prática pedagógica. Apesar das
dificuldades muitas vezes apresentadas pelos professores na realização da
Aula de Campo, esta abordagem faz com que o ensino de Geografia seja algo
relevante para o aluno a partir do momento que o exercício do olhar geográfico
esteja na sua prática cotidiana.
A aplicação do Projeto de Intervenção, de forma especial os debates
sobre o conceito de Lugar, a Aula de Campo e o ensino de Geografia
representaram para as alunas do curso de Formação de Docente a
possibilidade de rever seus conhecimentos geográficos e sua transposição na
prática pedagógica.
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