Novelas de Faroeste
Volume VI
L P Baçan
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ISBN 978-1-329-81620-6
Lulu Press, Inc. 3101 Hillsborough St, Raleigh, NC 27607
2015
O Velho e Selvagem Oeste No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era
o local mais movimentado e frequentado da
cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e
muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos
e bandidos, pistoleiros e desafiantes,
mulheres bonitas e perigosas. A maior parte
das histórias de faroeste passava por ele.
Dos ambientes mais simples e rudes aos
mais sofisticados, todos, indistintamente
acolhiam moradores e forasteiros, cada um
com sua história, cada um com seu destino.
Famosos pistoleiros criaram fama nesse
local. Outros ali encontraram a morte, na
boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da
pólvora negra era o manto lúgubre que
cobria mais um morto. Um punhado de
serragem era jogado sobre a poça de
sangue. Uma rodada gratuita de uísque
barato era servida e minutos depois
ninguém mais se lembrava do ocorrido.
Afinal, o Oeste era mesmo um lugar
selvagem e as Novelas de Faroeste mostram
isso.
Terra de Homens
Violentos
Buck Taylor cavalgava pela árida
paisagem, num verão quente do fim do
século dezenove, a leste de Denver, na
direção de um povoado chamado Last
Chance.
Era quase uma cidade fantasma, com
poucos habitantes, segundo lhe fora
informado.
Pouca coisa havia ali, exceto uma estação
da diligência, única atividade importante a
justificar a existência da cidade.
Buck não ia a passeio. Estava à procura
de Ben Sommers, seu amigo de infância e
juventude e que não via mais de cinco anos,
desde que Ben viera para o Colorado.
Buck era assistente de xerife em
Cheyenne, apenas esperando a
aposentadoria do seu chefe para assumir o
posto.
Não planejava nenhuma grande aventura
nem tencionava se afastar de Cheyenne, no
Wyoming, mas não pudera resistir ao apelo
da Sra. Sommers, alguns dias atrás.
Ela havia servido seus famosos bolinhos.
O cheiro de café recém-coado invadira a
alegre cozinha, com cortinas floridas na
janela.
— Buck, você e Ben sempre foram muito
amigos — dissera ela, sentando-se diante
dele, à mesa, e servindo-lhe os bolinhos
num prato, onde despejara um pouco de
mel.
— Sim, Sra. Sommers, e sinto muita falta
dele.
— Você é um rapaz, Buck. Pena que Ben
sempre tivesse aquele mesmo espírito de
aventuras do pai a lhe pôr cócegas nos pés.
— Por onde ele anda agora? Tem tido
notícias dele?
— Há uns seis meses, recebi uma carta
dele de Denver. Dizia que estava indo para
um lugar de grande futuro chamado Last
Chance, há umas cento e vinte milhas de lá.
Depois disso, não recebi mais nenhuma
noticia.
— Last Chance? Acho que é só uma
estação de muda da diligência. Não há
muita coisa por lá.
— Ben deve estar à procura de alguma
coisa em sua vida, que jamais encontrará. É
como o pai. Só sossegou depois que juntou
as botas na colina. Só que eu estou muito
velha...
— Ora, Sra. Sommers, eu não diria isso.
Ainda é capaz de quebrar muitos corações
por aí.
Ela riu, olhando-o com ternura e gratidão.
— Você é muito gentil, Buck, mas não
sabe de minha doença.
— Doença? — preocupou-se ele.
— Sim, algo aqui dentro — falou ela,
apontando para o peito, à altura do coração.
— A qualquer momento ele pode falhar e,
antes que isso aconteça, eu gostaria de rever
meu filho. Tenho ainda algum dinheiro
deixado pelo meu marido. É mais do que o
suficiente para eu viver. Eu pagaria sua
viagem até Last Chance para tentar
encontrar o meu Ben.
— Acha mesmo necessário?
— Sim, já escrevi algumas cartas para lá,
aos cuidados do xerife, do homem do
correio, do chefe da estação da diligência e
até do pastor, se havia um lá. Não obtive
resposta.
— Ben pode não tê-las recebido ainda —
respondeu Buck, pensando no transtorno
que seria uma viagem como aquelas.
— Só que não tenho muito tempo para
esperar, meu filho — disse ela, com seus
olhinhos brilhantes se enchendo de
lágrimas, num apelo irrecusável.
Buck a conhecia desde que se lembrava
como gente. A Sra. Sommers muitas vezes
fizera o papel de mãe para ele, que havia
perdido a sua muito cedo.
Não pôde recusar àquele apelo.
Conseguiu umas férias com o xerife e se
preparou para a viagem.
Quanto mais cedo partisse, mais cedo
teria resolvido aquilo e dado à velha
senhora, antes de sua morte, uma última
alegria.
Ben nunca havia se acertado na vida.
Tentava de tudo, mas a sorte não lhe
favorecia.
Buck tentou imaginar o que ele havia ido
buscar em Last Chance, um lugar árido, sem
muitas perspectivas. Um lugar para onde
ninguém, sem sã consciência, iria.
Repentinamente, em algum ponto à
frente, após uma colina ouviram-se tiros.
— Que diabos! — exclamou ele, detendo
seu cavalo.
Os tiros continuaram. Pelo menos dois
rifles e um revólver, pelo som que se ouvia.
Esporeou seu animal, contornando a
colina. À frente, havia algumas rochas mais
altas. Dali, dois homens disparavam contra
um terceiro, escondido num plano mais
baixo.
Perto dali, o cavalo do terceiro homem
estrebuchava, após ter sido atingido.
Eram dois contra um, dando toda a
impressão de ter sido uma emboscada, por
isso Buck resolveu tomar partido do mais
fraco.
Apanhou seu rifle. Atirou rapidamente
algumas vezes na direção dos dois homens,
enquanto galopava.
O terceiro homem, ao ver ajuda
chegando, também tratou de disparar, dando
cobertura a Buck, que pôde se aproximar e
se esconder junto com ele.
Ele amarrou o cavalo num arbusto seco e
foi se posicionar ao lado do terceiro
homem.
— O que está havendo? — indagou
Buck.
— Emboscada... Eles me emboscara... —
disse ele, com dificuldade.
Só então Buck percebeu que ele estava
ferido. Uma mancha vermelha se alastrava
na barriga do seu novo companheiro.
— Eles o atingiram?
— Sim, é sério. Dói como o diabo.
— Quem são eles?
O outro nem teve tempo de responder.
Uma saraivada de balas partiu das rochas
altas, ricocheteando na poeira, cravando-se
na areia atrás deles.
— Bill Huston... É um dos homens lá
encima.
— Como sabe?
— É o único que usa um Calibre
Cinqüenta por estas terras.
— Calibre cinqüenta?
— Sim, arma de matar búfalos... —
ofegou. — Sou Sam Hasting... Procure
minha irmã... Fale sobre mim... — pediu,
com esforço.
O sangue se espalhava com rapidez,
gotejando na areia. Os homens no alto
pararam de atirar.
— Agüente firme! — disse Buck, tirando
seu lenço e pressionando-o sobre o
ferimento.
Sam gemeu. Seus olhos se fechavam
lentamente. Ele olhava o horizonte, como se
visse alguma coisa importante na distância.
— Avise Hellen... Dê isto a ela... —
pediu, num último esforço, estendendo a
mão fechada.
Buck segurou a mão dele. Sam respirou
fundo, depois aquietou-se. Seus dedos se
abriram. Algo pesado passou para a mão de
Buck.
Examinou. Parecia minério de prata.
Guardou-o no bolso e tentou reanimar Sam,
sem sucesso. Estava morto.
— E agora, demônios? — indagou-se,
cobrindo o rosto do falecido com o chapéu.
Nova saraivada de balas o fez se abaixar,
espremendo-se contra a pedra.
— Ei, vocês! — gritou, assim que houve
uma pausa. — Já conseguiram o que
queriam. Sam Hasting está morto!
Houve uma pausa maior no tiroteio. Os
homens lá encima confabulavam.
— Quem é você? — indagou uma voz.
— E o que importa isso?
— Para onde vai?
— Para longe!
Nova pausa, deixando Buck na
expectativa. Não tinha nada com aquilo.
— Está bem, forasteiro! Tem um minuto
para dar o fora daí.
Era uma resposta nada interessante.
Quem poderia garantir que não seria
baleado pelas costas?
— Nada feito! Quem me garante que não
irão me enganar?
— Ninguém, estranho. É sua única
chance. Caia fora e não mexa no cadáver.
Estranhou aquilo. O que desejavam com
o morto, mesmo após pô-lo nesta condição?
Lembrou-se do que Sam lhe entregara.
Retirou do bolso o pedaço de minério.
Talvez fosse aquilo que os dois homens lá
encima procuravam.
Guardou-o no bolso da camisa de Sam.
Rastejou até seu cavalo. Recarregou o rifle
e o engatilhou.
— Está bem, estou indo embora — gritou
e começou a andar, de forma que o animal
ficasse entre ele e os emboscadores.
Foi caminhando, preparado para revidar,
caso eles disparassem contra ele.
Nada ocorreu, no entanto. Quando se viu
em posição segura, saltou para a sela do
cavalo e partiu a galope.
Atrás dele, Bill Huston o acompanhava,
apontando-lhe o seu fuzil de grosso calibre.
— Pena que não seja um rifle para longa
distância — lamentou, desengatilhando-o e
abaixando-o.
— Vamos até lá ver, Bill — falou John
Sutton, deixando seu esconderijo.
Os dois desceram até onde estava o
cadáver de Sam Hasting. John o revistou,
encontrando o pedaço de minério.
— Aqui está, Bill — disse, satisfeito.
— Maldito! Ia nos trair mesmo —
comentou Bill. — Se a noticia chegasse a
Denver, tudo estaria perdido para nós.
— Mas não chegará mais. Pelo menos
não por ele — disse John, chutando o corpo
inerte de Sam. — Vamos enterrá-lo?
— Para quê? Os coiotes e urubus darão
conta dele. Vamos embora. Quero tomar um
bom gole lá na estação da diligência agora
— Bill, apontando o rifle para a cara do
morto e apertando o gatilho.
O estrago foi terrível, deixando o cadáver
totalmente irreconhecível, transformando
sua cara numa máscara retorcida.
— Pronto! Agora ninguém o reconhecerá
— afirmou. John se apressou em aliviar o
morto de todos os seus pertences, bem
como da sela do cavalo.
Satisfeitos com o resultado da caçada, os
dois homens se foram.
No céu, os abutres começavam a circular.
Quando Buck chegou a Last Chance, já
anoitecia. A vila era o que todos haviam
falado a respeito dela.
Um fileira de casas ao lado da estrada,
tendo entre elas um saloon.
Um pouco distante das casas, havia o
posto de trocas da diligência.
Um curral ao lado da construção exibia
belos animais, espécimes fortes e bem
tratados, próprios para serem atrelados à
diligência.
— Posto Hasting! — leu ele.
Pensou no homem que vira morrer na
estrada. Sam Hasting pedira que avisasse
sua irmã.
Possivelmente Buck a encontraria ali.
Cavalgou até a estação de mudas.
Quando entrou, o salão estava vazio.
Havia um balcão, ao lado do qual fora
montada uma bilheteria, possivelmente para
a venda de passagens.
Havia garrafas na prateleira e um cheiro
bom de comida quente. Buck imaginou que
servissem refeições ali.
Entrou. Suas esporas tiniram no assoalho.
Uma jovem surgiu na porta que ligava o bar
com os fundos, onde estava localizada uma
cozinha.
Era loura, de longos cabelos e olhos azuis
muito bonitos. Tinha um rosto jovem, mas
endurecido pela vida e pelo trabalho
incansável.
Ela olhou o forasteiro com interesse.
— Olá! — sorriu ele, afinal. — Precisa
de alguma coisa?
— Está cheirando muito bem, moça, e já
faz muito tempo que não como uma
refeição decente.
— Então chegou na hora. Dentro em
pouco a diligencia chegará e os passageiros
irão comer. Pode se juntar a eles. Vai viajar
também?
— Não... Estou apenas de passagem —
mentiu ele.
— Quer beber alguma coisa enquanto
espera?
— Seria ótimo!
A garota apanhou uma garrafa de uísque
e um copo. Ia servir, mas parou, olhou Buck
por instantes, depois balançou a cabeça num
sinal negativo.
— Não, não vou dar-lhe isto — resolveu
ela, apanhando uma outra garrafa, oculta
sob o balcão.
Serviu, então, uma generosa dose. Buck
bebeu um gole e estalou a língua de
satisfação.
— É do bom mesmo, moça — afirmou
ele, entornando o copo.
Ela sorriu, satisfeita, servindo outra dose.
— Se quiser se lavar, há um banheiro lá
nos fundos. Cobro dez centavos pela toalha
e cinco pelo sabão. A refeição lhe custará
um dólar e a bebida é grátis.
— Certo, me parece justo — falou ele,
retirando algumas moedas e pondo-as no
balcão. — Vai ser bom tirar toda essa
poeira.
Ela o olhou por instantes, sem apanhar as
moedas.
— Terá tudo isso de graça se me ajudar a
preparar os cavalos para a diligência. Meu
irmão deveria fazer isto, mas ainda não
apareceu, o maldito! Vice sonhando com
grandes fortunas e acaba deixando todo o
trabalho duro para mim. Então, o que me
diz?
Ele pensou por instantes.
— Como é seu nome, moça?
— Hellen Hasting, por quê?
— Quero saber o nome de minha patroa.
É justo, não?
— Certo, muito justo! — concordou ela,
estendendo a mão.
Buck a apertou. Ela serviu outra dose. Ele
ficou pensando como faria para contar-lhe a
respeito do irmão.
Ela sumiu no interior da cozinha,
retornando em seguida com a toalha e o
sabão.
— Quer tomar seu banho antes ou depois
de me ajudar?
— Acho que vou tomar banho agora
mesmo, antes que anoiteça de todo.
— Então apresse-se. O banheiro é lá
atrás. Vai gostar — afirmou ela.
Buck seguiu na direção indicada por ela.
Um cano trazia água do morro, abastecendo
uma caixa d’água no alto de uma torre.
Canos desciam na direção do posto,
inclusive um, no banheiro. A água caía
constante, fria e agradável para a
temperatura daquele lugar.
Buck sabia que iria adorar aquele banho.
Enquanto isso, Hellen ultimava os
preparativos para o jantar.
Trouxera os pratos de latão e os talheres
para o balcão. Assim que os passageiros
chegassem, traria os caldeirões de comida
para cima do balcão, onde eles se serviriam.
Conferiu tudo. Só faltava mesmo
preparar os cavalos, mas ainda havia tempo
para isso.
Foi até a porta do posto e olhou na
direção da estrada. Não havia sinal de
poeira que indicasse a aproximação da
diligência.
Não se importou. Estava habituada aos
atrasos. Sua preocupação, naquele
momento, era toda em relação ao irmão.
Depois que se metera com os homens do
saloon, andava muito falador e muito cheio
de planos, prometendo coisas que Hellen
sempre sonhara, mas jamais tivera
oportunidade de ter.
Foi quando viu Bill Huston se
aproximando, juntamente com John Sutton,
dois pilantras de marca maior, que viviam
no saloon e que em algumas ocasiões,
haviam vindo ali conversar com Sam.
Hellen não gostava deles. Era tipos da
pior espécie, que a intimidavam.
Esperou que eles parassem diante do
saloon, mas eles passaram direto, rumando
para o posto.
— Diabos! — praguejou ela, entrando.
— Só me faltavam esses idiotas para
complicar.
Foi para a cozinha, na esperança de que
eles passassem direto.
Minutos depois, no entanto, eles
entraram. Suas esporas batiam sinistramente
no assoalho.
Aproximaram-se do balcão. Bill bateu a
mão espalmada sobre a madeira, fazendo
oscilar a pilha de pratos.
— Chegamos na hora, Bill — disse John.
— Que tal uma janta?
— Quero comer, John, mas outra coisa
— falou Bill, tirando o chapéu e o casaco e
pondo-os sobre o balcão.
Voltou a bater na madeira. Hellen, lá
dentro, respirou fundo e foi atendê-los.
— O que querem? — indagou,
rispidamente.
— Um drinque! — falou Bill, olhando-a
fixamente.
Hellen apanhou a garrafa do pior uísque
que tinha ali.
— Não, desse não — falou ele. — Do
outro.
— Que outro?
— Aquele especial, que Sam nos servia.
Hellen fez uma careta e apanhou a outra
garrafa. Serviu dois copos.
Bill não bebeu. Quando Hellen ia se
retirar, ele a segurou pelo pulso, sempre
olhando-a fixamente.
John, ao lado, se divertia com o olhar de
espanto da garota, que não conseguia
esconder seu pavor.
— Deixe a garrafa — falou Bill.
Hellen o atendeu. Ele a soltou e ela
correu para dentro da cozinha.
Os dois riram divertidos.
Enquanto Bill ficava no balcão,
provocando Hellen, John foi até a janela.
Viu, então, o cavalo de Buck, amarrado ao
lado do salão.
— Bill, venha cá! — chamou.
— Não me amole, John. Estou ocupado.
— É melhor vir aqui — falou John.
Pelo tom de voz do amigo, Bill percebeu
que era importante. Foi até a janela.
— Veja aquele cavalo. Você o conhece?
— indagou.
— Diabos! — praguejou Bill, olhando ao
redor.
Hellen começava a acender as luzes do
salão. Bill foi ao encontro dela.
— De quem é aquele cavalo lá fora? —
indagou, rispidamente.
— Deve ser do forasteiro que acabou de
chegar.
— Quem é ele?
— Não sei, vai me ajudar, enquanto Sam
não aparece.
— Ajudá-la em quê?
— Com os cavalos, por quê? Qual é o
problema?
— Não interessa! Onde está ele?
— Lá nos fundos, por quê?
— Fique aqui! — ordenou ele, sacando
seu Colt.
John fez o mesmo. Os dois deixaram o
salão para contornar a construção e ir até o
banheiro.
Hellen se apressou. Saltou para dentro do
balcão, atravessou a porta e saiu à janela, ao
lado do local onde estava Buck.
— Você, aí dentro, cuidado! — gritou.
Bill e John já haviam dado a volta.
— Cale a boca, maldita! — falou Bill,
chegando à janela e empurrando a garota
para dentro.
John não esperou a ordem de Bill.
Começou a disparar seu revólver contra a
porta.
Bill o imitou. Os dois descarregaram as
armas, perfurando a madeira.
— Acha que foi o bastante? — riu John,
olhando para parceiro.
— Mais do que suficiente. Abra a porta.
Enquanto Bill recarregava a arma, John
foi abrir a porta. Quando o fez, Buck
encostou o revólver em sua testa,
engatilhando-o.
— Bill! — chamou John, com voz
trêmula e acorvadada.
— Diabos! — exclamou Bill, que não
havia terminado de remuniciar a arma.
— Deixe isso aí bem quietinho, moço —
ordenou Buck, sem se distrair.
John foi recuando lentamente, até
emparelhar com Bill, que mantinha a arma
engatilhada na mão.
Havia posto duas balas no tambor, mas
não podia arriscar a sorte contra aquele
forasteiro.
— Por que fizeram isso? — indagou
Buck.
— Acho que cometemos um engano, não
foi, John? Nós o confundimos com um
assaltante de estrada que encontramos na
viagem, quando voltávamos.
— E atiraram primeiro, para perguntar
depois? — insistiu Buck.
Hellen surgira de novo na janela e
acompanhava a cena com interesse.
Sem que os homens viessem, ela tinha
uma espingarda de dois canos na mão,
pronta para disparar.
— Não podíamos facilitar. Ele havia
matado um amigo nosso.
— Quem? — indagou Hellen.
Bill e John se entreolharam, simulando
grande pesar.
— Que diabos, homens! De quem estão
falando? — insistiu a garota.
— Foi seu irmão, Hellen. Nós o
encontramos na estrada, morto. Levaram
tudo que era dele. Foi roubado. Julgamos
que o forasteiro pudesse ser o assassino.
Hellen olhou na direção de Buck, em
dúvida.
— Viu alguma coisa? — indagou ela.
— Sim, vi seu irmão morrer ao meu lado,
enquanto dois homens atiravam nele,
ocultos nas rochas.
— Não viu quem era?
— Não, infelizmente não.
— Pode ter sido ele, Hellen. Está
inventando isso para se livrar — acusou
Bill.
— Há um modo de verificar isso. Basta
olhar na minha sela. Se ele foi roubado
como estão dizendo, as coisas deles podem
estar lá — sugeriu Buck.
— A menos que tenha escondido em
algum ponto por aí — contrariou John.
— Eu permito que me revistem. Vocês
podem fazer o mesmo? — devolveu o rapaz
e os dois homens empalideceram.
— Está duvidando de mim? — falou Bill.
— Ele está nos acusando, Bill — ajuntou
John.
A diligência chegou, com grande alarido.
O cocheiro e o guarda, velhos amigos de
Hellen, entraram, fazendo estardalhaço.
— Mutt e Jud, estes dois estão dizendo
que encontraram Sam morto na estrada. O
forasteiro confirma isso — falou a garota,
mostrando o quanto era forte e calejada pela
dura vida do Oeste.
— Eu digo que podem me revistar e
proponho que se revistem os dois aí —
ponderou Buck.
— O que me dizem? — falou Hellen.
— Não permito que duvidem de mim —
ameaçou Bill.
Naquele momento, atraídos pelos tiros,
um grupo de homens, vindo do saloon,
cercou-os.
— O que está havendo, Bill? — indagou
um deles.
— Um contratempo. Encontramos Sam
Hasting morto na estrada e suspeitamos
deste forasteiro.
Buck continuava apontando a arma para
Bill e John. Percebeu que os homens recém-
chegado tinham as mãos em seus
revólveres. A situação poderia se tornar
complicada. Não podia enfrentar a todos
eles.
— Não há um xerife aqui? — perguntou
Buck.
— Não, nós somos a lei. Formamos o
Grupo dos Vigilantes — disse um dos
homens.
— Vigilantes? — estranhou Buck.
Para que uma cidadezinha de nada como
Last Chance precisava de algo tão poderoso
e drástico como um grupo de linchadores?
— Revistei a sela do rapaz, Norris. Não
há nada lá — disse um dos homens.
— Sorte sua, rapaz. Acho que está limpo.
Vamos voltar. Eu pago as bebidas — disse
Norris, um pistoleiro da pior espécie.
— Espere um pouco — disse Buck. —
Por que não revistam as selas desses dois?
Norris riu, olhando Buck com cinismo.
— Você é um forasteiro aqui e nada sabe
sobre a gente de Last Chance. Bill e John
são dois dos nossos mais conceituados
cidadões e estão acima de qualquer suspeita.
Vamos lá, rapazes. Está tudo terminado —
finalizou Norris.
Ia se afastando, mas parou e se voltou
para Buck.
— Espero que faça uma boa viagem.
Pena que não possa ficar e nos conhecer
melhor — acrescentou e virou as costas.
Bill e John olharam fixamente para Buck,
projetando o tronco para breve, depois se
afastaram.
— Muito bem, pessoal! Vamos comer —
falou o cocheiro.
Buck deu a volta e entrou. Os passageiros
estavam se servindo. Não viu Hellen.
Foi até o balcão. Ela estava na cozinha.
Ele contornou o balcão e foi ter com ela.
— Sam me pediu que a procurasse —
disse ele. — Queria que eu lhe entregasse
algo...
— E o que era? — indagou ela, voltando
para ele os olhos vermelhos e cheios de
lágrimas.
— Um pedaço de minério. Não sei o que
significava.
— Onde está?
— Deixei lá, no bolso dele. Parece que
era isso que os seus matadores procuravam.
— Pobre Sam, sempre cheio de idéias de
riqueza. Morreu sem atingir seu objetivo.
— Conhece Bill Huston? — indagou
Buck.
— Era um dos homens que estavam lá
fora, o que disparou contra você,
juntamente com o outro menos, John
Sutton. Por quê?
— Bill usa um rifle calibre cinqüenta?
— Sim.
— Então foi ele quem matou seu irmão
mesmo.
— Aquele maldito! E se dizia amigo de
meu irmão! — rugiu a garota. — Vou
acertar as contas com ele — ameaçou ela,
apanhando a espingarda.
— Ei, calma! Não faça isso — pediu ele,
segurando-a pelos braços.
— Eu vou matar aqueles bastardos e...
Ele a viu fraquejar e a abraçou. Hellen
apoiou a cabeça no peito dele e chorou
convulsamente.
— Por quê? — indagou ela. — Por que o
matariam?
— Eles o emboscaram. Não sei dizer o
motivo.
Ela se afastou dele, constrangida,
enxugando as lágrimas.
— É melhor ir jantar. Vou cuidar dos
cavalos — falou ela.
— Não, vou ajudá-la também. Depois eu
como — decidiu ele.
— Como conseguiu escapar dos tiros? —
perguntou a garota, enquanto rumavam para
o curral.
— Quando você gritou, eu me deitei. Foi
a única saída. Obrigado pelo aviso. Salvou a
minha vida. Não me esquecerei disso.
— Está mesmo só de passagem?
— Procuro um amigo.
— Aqui?
— Sim. Seu nome é Ben Sommers.
Ouviu falar dele? Sua mãe não tem noticia
dele desde que saiu de Denver, dizendo que
vinha para cá.
— Ben Sommers? Não, nunca ouvi falar.
Tem certeza que ele veio mesmo para cá?
— Pelos menos foi a última noticia que
tivemos dele.
— Estranho! — finalizou ela, apanhando
um laço para recolher os cavalos que seriam
atrelados à diligência.
NO Saloon Bluewater, Bill enfiou a mão
no bolso e retirou o pedaço de minério,
pondo-o sobre a mesa.
— Aqui está a prova de tudo que eu
vinha dizendo — falou ele a Norris.
— Maldito! O que ele pretendia, levando
isto para Denver?
— Na certa mandar fazer uma análise ou
coisa assim. Só que com este grau de
pureza, esta prata chamaria a atenção.
Teríamos uma corrida a Last Chance.
— Fez bem em interceptá-lo, Bill. Vamos
avisar Dingus sobre o assunto. E quanto ao
forasteiro?
— Ele estava com Sam, quando este
morreu.
— Pode ter ouvido alguma coisa?
— Não sei. Ele me parece suspeito. Não
acho que esteja só de passagem.
— Azar dele. Se resolver ficar, os
vigilantes darão um jeito nele.
— E como está a situação na mina?
— Dingus já tem uma carga quase
pronta. Vamos levá-la a Forte Morgan, onde
o comprador irá nos encontrar.
— Por que em Forte Morgan?
— Para que ninguém suspeite onde está a
mina. Se tirarmos uma carga dessas a cada
seis meses, em pouco tempo estaremos
milionários.
— Ótimo! Assim que tiver a minha parte,
vou embora para o Leste.
— E eu vou para a Califórnia — riu
Norris.
Bill entornou uma dose de uísque. Depois
ficou pensando em Hellen.
Com Sam morto, ela estaria sozinha e
acessível. Ninguém iria impedí-lo de tê-la
desta vez.
Norris o observou. conhecia aquela
expressão.
— Está pensando na garota, não?
— Como sabe?
— Sua cara não me engana.
Bill riu.
— Ela será minha agora, Norris.
Ninguém me impedirá de tê-la.
— Cuidado com ela. Ainda tem aquela
espingarda de cano duplo.
— Saberei domá-la. Quando ela
experimentar, garanto que vai adorar e
ficará mansa como uma ovelha.
Os dois riram.
— Quando irá lá?
— Mais tarde... Quando ela for tomar seu
banho, se é que me entende — riu
cinicamente.
— Você anda espionando a garota, não?
— E como não? É a única mulher
passível neste fim do mundo.
— Temos algumas boas garotas no
saloon...
— Mas nenhuma virgem ainda —
segredou Bill, ao ouvido do amigo.
Não longe dali, a diligencia esperava
apenas a saída da lua para prosseguir sua
viagem.
— Não acha perigoso viajar à noite? —
indagou Buck ao cocheiro.
— Viajo por esta estrada há uns dez anos.
Conheço cada buraco e cada curva de
Denver até Atwood, que é o nosso trecho.
Dificilmente chegamos com atraso, porque
aproveito a noite para recuperar o tempo
perdido.
— E os passageiros, não reclamam?
— Estão loucos para chegar logo.
— Conhece bem este local? Por que Last
Chance atraí gente?
— Não sei do que está falando, rapaz —
disse o cocheiro. — Ninguém vem para
Last Chance, só vai embora daqui.
— E aquele pessoal que lota o saloon?
— São pistoleiros, gente que procura um
lugar para fugir da lei. Last chance é um dos
refúgios desse tipo de gente. Por isto estão
aí.
Buck não acreditava naquilo. Por que
Ben Sommers viria para Last Chance,
esperando encontrar ali alguma coisa de
futuro?
A diligência, finalmente, havia partido.
Havia muito trabalho a ser feito ainda.
Hellen, no entanto, se sentou numa
banqueta junto a uma mesa, debruçou a
cabeça sobre o braço e começou a chorar de
novo.
Buck se sentiu apiedado. Durante todo o
tempo ela resistira bravamente, não
transmitindo a ninguém seu sofrimento.
— Posso fazer alguma coisa por você? —
perguntou ele.
— Sim, ajude-me a ir enterrar o corpo de
meu irmão.
— Agora?
— Sim, por que não? Não desejo que os
coiotes o devorem esta noite ou que os
abutres o façam amanhã cedo.
— É uma longa cavalgada.
— Não tenho mais nada a fazer, exceto
limpar esta bagunça. Posso fazê-lo amanhã.
Buck respirou fundo. Estava
tremendamente cansado, mas como negar
um apelo daqueles.
— Tem uma pá por aí? — indagou.
— Sim, lá nos fundos, no quarto ao lado
do banheiro. Vou me trocar e volto já —
disse ela.
Buck foi apanhar a pá e preparar os
cavalos. Hellen surgiu logo depois, vestindo
uma calça comprida justa, camisa e uma
blusa de couro franjada.
— Estou pronta! — disse ela, verificando
a carga de sua espingarda.
— Já preparei os cavalos — avisou ele.
— Então vamos. Acha que pode
encontrar o local?
— Com esta lua será fácil — informou
ele.
Quando se afastaram, alguém os
observava. Era Bill Huston, enciumado,
sem entender onde os dois iam.
Correu apanhar seu cavalo, disposto a
seguí-los. Quando viu a direção que ambos
tomavam, deduziu que iriam enterrar o
corpo de Sam.
— Isto me facilita tudo — comentou ele,
consigo mesmo, esporeando seu cavalo.
Enquanto os dois seguiam pela estrada,
Bill tomou um atalho, o mesmo atalho que,
naquele dia, ele e John haviam tomado para
preparar a emboscada para Sam.
Chegaria pelo menos meia hora antes dos
dois. Com uma noite tão clara, seria fácil
acertar aquele forasteiro intrometido.
Depois disso, teria Hellen todinha para
ele, ali, no meio da pradaria.
Alheios a isso, Hellen e Buck
cavalgavam. A garota havia conseguido
superar sua tristeza, pelo menos
momentaneamente.
— Eu e Sam tivemos de cuidar sozinhos
do posto de trocas da diligencia, depois que
meu pai morreu. Ele, no entanto, acabava
deixando todo o trabalho para mim. Estava
sempre tendo grandes planos, sonhando
alto.
— Acha que foi isso que o matou?
— Por que supõe assim?
— Aquele pedaço de minério parecia tão
importante para ele.
— O que seria para ter tanto valor? Para
custar-lhe a vida?
— Não tenho muita experiência, mas
posso lhe garantir que não era ouro.
— Tem de ser alguma coisa valioso para
estar atraindo para cá esse bando de
malfeitores e pistoleiros. Sei que, há muito
tempo atrás, havia uma mina de prata em
Devil Trail, uma antiga trilha dos índios que
cortava de Last Chance para Yuma. Mas
isso foi há muito tempo.
— Teriam eles redescoberto a mina? —
questionou Buck, concluindo que aquele
seria o tipo de coisa que atrairia seu amigo,
Ben Sommers, a um local como aquele.
— Será?
— Sabe onde fica essa mina?
— Mais ou menos. Não é difícil chegar
lá.
— Você me faz um mapa mais tarde?
— Qual é o seu interesse nisso?
— Meu amigo pode estar lá. Ele era
assim como Sam, sonhador, sempre atrás de
alguma coisa grande, uma oportunidade
única que iria mudar sua vida.
— Por que o procura mesmo?
— A mãe dele está à beira da morte.
Preciso levá-lo até ela, antes que seja tarde.
Ela me pediu isso. Não podia negar-lhe o
último pedido.
— O que faz em Cheyenne, Buck?
— Sou auxiliar do xerife e, se tudo sair
como eu penso, na próxima eleição eu serei
o novo titular.
— Sério?
— Sério. Toda a minha vida eu me
preparei para ser um xerife, pode imaginar
isso?
— Não duvido, Buck! — afirmou ela,
com simpatia.
Voltaram a cavalgar em silencio,
concentrados na estrada. Sozinha com seus
pensamentos, a lembrança do irmão fez
Hellen chorar de novo.
Buck achou melhor que ela desabafasse
tudo que tinha dentro de si. Só assim iria
superar a dor.
Apenas se limitou a cavalgar ao lado
dela, bem próximo, dando-lhe conforto e
segurança.
Algum tempo depois, aproximavam-se do
local da emboscada. Alguns coiotes
passaram correndo, assustados com alguma
coisa.
Buck ficou alerta. Naquele momento, os
animais deveriam estar se banqueteando
com o corpo do infeliz Sam.
Alguma coisa, no entanto, os fizera
correr. Buck diminuiu a marcha, fazendo
com Hellen o imitasse.
— O que foi? — indagou ela.
— Você viu os coiotes?
— Sim, esses malditos!
— Por que eles fugiam?
Só então ela percebeu o que ele tentava
lhe dizer. Os coiotes não se assustariam,
principalmente durante o banquete.
— Há algum caminho pelas colinas, mas
é um tanto perigoso. Só quem conhece bem
o caminho se aventuraria a fazer esse
trajeto. Por quê?
— Porque alguém pode ter nos visto
saindo e... — interrompeu-se ele, saltando
do cavalo sobre Hellen, no exato momento
em que um tiro de alta potência era
disparado.
Buck sentiu a bala passando rente a sua
cabeça, levando-lhe o chapéu e deixando
em seu couro cabeludo um ardume forte.
Um cheiro de pêlos queimados saía de sua
cabeça quando caiu na areia com a garota.
— Como percebeu? — perguntou ela,
enquanto os dois se abrigavam.
— Vi o reflexo do luar no cano da arma,
lá encima, no alto daquela rocha. Ele está ao
lado da árvore seca.
— Diabos! É Bill Huston. Só a arma dele
faz esse barulho — concluiu a garota.
— Veja — apontou ele.
A alguns passos deles, estavam os corpos
de Sam e de seu cavalo.
— Oh, pobre irmão! — choromingou
Hellen.
— Pare com isso, Hellen! Temos de nos
preocupar com aquele atirador lá nas rochas
ou iremos nos juntar brevemente ao seu
irmão.
Os dois cavalos haviam se afastado dali.
Buck estava sem sua Winchester e Hellen
sem a espingarda.
Podia contar apenas com o Colt dele.
Buck rastejou para apanhar seu chapéu.
— Caramba! Quase me partiu os miolos
— observou ele, pondo o dedo no buraco
que a bala fizera na copa de seu chapéu.
— Teve sorte, muita sorte mesmo...
Novo disparo arrancou uma lasca enorme
de pedra, derrubando-a sobre os dois.
— Diabos! Com aquele canhão ele
acabará por nos soterrar aqui — falou Buck,
pensando rapidamente.
Alcançou um galho. Espetou-o no
chapéu.
— Vou tentar dar a volta por trás dele.
Conte até vinte e caminhe três passos
naquela direção, levantando o chapéu. Ele
vai disparar. Você avança de novo. Isso o
manterá ocupado, enquanto eu tento pegá-
lo.
— Acha que dará certo?
— É nossa única chance. Já sei isso antes
e deu certo. Só perdi o chapéu — sorriu ele,
tentando tranquilizá-la.
Verificou a carga do Colt. Respirou
fundo e rastejou para a direita das rochas.
Hellen fez o que ele mandara,
caminhando para a esquerda. O rifle de Bill
Huston disparou de novo e a bala passou
rente ao chapéu.
Hellen aproveitou o momento em que ele
recarregava e correu um pouco mais para a
frente.
Assim que Bill introduziu nova cápsula
na arma, disparou de novo, sem sucesso.
Buck começou a dar a volta. O rifle
calibre cinqüenta não era uma arma
moderna.
Tinha de ser carregada a cada novo
disparo, engatilhada com a alavanca, para
estar pronta para atirar.
Isso dava a Hellen a chance de distrair a
atenção do atirador e a garota o fazia muito
bem.
Buck deslizou por entre as rochas como
uma cobra, com a arma já engatilhada.
Bill não percebera o truque, Buck
conseguiu se posicionar a poucos passos
dele.
Apontou o revolver para a cabeça do
atirador.
— É melhor ficar bem quietinho, Bill
Huston, ou parto sua cabeça com um
balaço.
— Demônios! — praguejou ele. —
Conseguiu me enganar. Caí como um pato.
— É o que você é, Bill Huston. Um pato
— afirmou Buck, caminhando na direção
dele.
Bill não soltara o rifle, que se encontrava
engatilhado. Buck percebera isso,
mantendo-se atento.
— Se não pôr esse rifle com muito
cuidado sobre a pedra, vou espalhar seus
miolos pela pradaria — ameaçou Buck, já
próximo dele.
Bill fez o que Buck esperava. Girou o
corpo, tentando se posicionar para atirar.
Calculara mal a distancia. Buck estava
próximo o bastante para bater-lhe na nuca
com o cano do Colt.
Bill gemeu, soltando o rifle e
cambaleando. Buck não lhe deu tréguas.
Chutou-lhe o estômago.
Quando o pistoleiro se dobrou para
frente, Buck jogou seu joelho contra a cara
dele.
Bill caiu para trás, batendo a cabeça
numa pedra e adormecendo profundamente.
Buck o desarmou. Depois o segurou pelo
colarinho da camisa e o arrastou para baixo.
— Você o pegou? — indagou Hellen,
quando Buck surgiu detrás de uma rocha.
— Sim — falou ele, arrastando o
pistoleiro.
— Maldito! Deixe-me acabar com ele —
pediu a garota, furiosa, avançando contra
Buck e tentando se apoderar do rifle de Bill.
— Calma, Hellen! Talvez ele nos
explique algumas coisas a respeito de Last
Chance — falou Buck, tentando contê-la.
— Não, quero matá-lo — repetiu ela, fora
de si.
Buck soltou o colarinho de Bill e as
armas, agarrando Hellen pelos braços e
chacoalhando-a.
— Não vai matar ninguém, pelo menos
até que Bill nos dê algumas respostas!
— Por favor, Buck — exigiu ela,
tentando se libertar.
Buck não teve outra alternativa.
Esbofeteou-a com força, fazendo-a
imobilizar-se, chocada, olhando-o.
Ela começou a chorar e ele a abraçou.
— Tudo bem agora, Hellen. Tudo bem...
Ela soluçou, a cabeça apoiada no peito
dele.
— Perdoe-me, Buck! — murmurou ela,
voltando à razão.
Naquele momento, ainda atordoado, Bill
viu sua chance. Estendeu a mão para
apanhar o rifle.
— Cuidado, Buck! — gritou Hellen.
Buck se voltou como um raio e sua bota
atingiu a cabeça de Bill, pondo-o para
dormir de novo.
Buck o amarrou, para garantir. Reuniu os
cavalos, apanhou a pá e abriu uma sepultura
para Sam, enquanto Hellen acendia uma
fogueira.
Os coiotes começavam a retornar,
mantendo-se a uma distancia prudente.
Quando Buck terminou, levaram o corpo
do irmão da garota e o enterraram.
— Quer dizer alguma coisa? — indagou
Buck.
— Não, nada. Só espero que ele alcance,
sei lá onde, o sonho que sempre persegue —
falou ela, com tristeza.
Lágrimas escorriam do rosto dela, mas
ela não soluçava mais. Voltaram-se, então,
para Bill, que voltava a si.
— O que vão fazer comigo? — indagou
ele, furioso, debatendo-se.
— Só queremos algumas respostas. Por
que nos emboscou?
— Porque você é um intrometido.
Buck apanhou um punhado de areia e
enfiou-o na boca do bandido.
— Fale direito comigo ou o farei comer
toda areia que encontrar.
Em resposta, Bill começou a rir com
cinismo.
— Não sabe no que está se metendo,
rapaz — ameaçou ele.
— É um cínico mesmo — observou
Hellen. — Está a beira da morte e ainda faz
pose.
— Morte? Quem vai me matar? Você? —
indagou a Hellen.
— Talvez eu — afirmou Buck.
— Burrice! Meus amigos sabem que vim
atrás de vocês. Se eu não voltar, saberão
que foram vocês.
— Você está blefando — comentou
Buck, prestando atenção a um ruído.
Olhou ao seu redor. Uma cascavel
passava ali perto, à caça de algum roedor.
O rapaz foi lá e, com agilidade, apanhou-
a. Trouxe-a para junto de Bill, que se
encolheu, atemorizado.
— Hellen, no meu alforje há um saco de
pano. Traga-o para mim — pediu Buck.
Bill o olhou em dúvida, enquanto a
garota atendia o pedido de Buck.
Assim que ela trouxe o saco de tecido, o
rapaz atirou a cascavel lá dentro, fechando a
boca da armadilha.
Agitou-o e a cascavel vibrava seus guizos
sinistramente.
— O que vai fazer, Buck?
— Os índios tinham um modo de fazer
seus inimigos falarem. Chamavam isso de
Chapéu do Diabo.
— Chapéu do Diabo? — estranhou
Hellen, que nunca havia ouvido falar do
assunto.
— Sim, isso mesmo. Eles pegavam um
saco como este, enchiam de abelhas, ou
formigas vermelhas, aranhas, cobras ou
louva-a-deus. Se a pessoa não confessasse,
eles vestiam o saco na cabeça do infeliz e
amarravam pelo pescoço. Pode imaginar o
sofrimento que isso significava.
— Não vai ter coragem de fazer isso —
duvidou Bill.
— Tem certeza? — desafiou o rapaz,
abrindo a boca do saco e se preparando.
— Espere! — pediu Bill, em dúvida, mas
não querendo se arriscar. — O que quer
saber, afinal?
— Por que Sam foi morto?
— Não sei nada disso...
— O mesmo local, a mesma arma.
Aposto como se esperarmos até o
amanhecer, vamos procurar e encontrar
cápsulas de seu rifle lá no local de onde
você disparou contra nós.
— Maldito! — rosnou Hellen, contendo
sua indignação, mas desejando rasgar a
garganta do infeliz assassino.
— Calma, Hellen. Não temos dúvida que
foi ele. A questão é saber se ele vai facilitar
as coisas ou dificultar?
— Está bem, eu matei Sam.
— E por que fez isso?
— Fui mandado.
— Por quem?
— Dingus.
— Dingus? — estranhou Hellen.
— Você o conhece? — indagou Buck.
— Nunca ouvi falar.
— Está mentindo para nós, seu bastardo
— rugiu Buck, ameaçando vestir o chapéu
do diabo no pistoleiro.
— Não, eu juro que falo a verdade.
— Por que o Dingus mandou matar Sam?
Foi por causa daquele pedaço de minério?
— aventurou Buck.
— Minério? Que minério? Nada sei sobre
minério com Sam.
— E quem falou que o minério estava
com Sam?
— Você disse — afirmou Bill, confuso.
Buck aproximou a cascavel do rosto do
assassino.
— Está bem. Sam ia levando uma
amostra para Denver, para ser analisada...
— Amostra de quê? — quis saber Hellen.
— Não sei...
A cascavel foi levantada para cima da
cabeça dele. Buck se preparou para cumprir
a ameaça.
— Está bem... É minério de prata... Um
veio riquíssimo na velha trilha de Yuma...
— Era atrás disso que meu irmão estava?
— Sim, mas ele não confiava em nós.
Planejava roubar a mina. Ia para Denver
mandar fazer a análise e, possivelmente,
registrar a terra em seu nome.
— Sam não faria isso...
— Você não conhecia mesmo seu irmão
— comentou Bill, com cinismo.
Buck libertou a cascavel. Ele e Hellen se
afastaram para conversar.
— O que vamos fazer com ele? —
indagou ela, demonstrando, pelo seu olhar,
seu desejo de liquidá-lo ali mesmo, fazendo
sua própria justiça.
— Só temos duas alternativas, Hellen.
Matá-lo ou soltá-lo.
— Se soltá-lo ele tentará nos matar de
novo.
— Não nesta noite. Até ele chegar a Last
Chance, estará cansado demais para pensar
em matar alguém.
— Pretende deixá-lo aqui?
— Sim. Uma boa caminhada o fará
refletir.
— Sem botas?
— Sem botas! — concordou ele.
Momentos mais tarde, os dois partiam,
levando as botas e o cavalo de Bill, que
ficou praguejando e ameaçando.
Buck era um homem da lei, jamais
mataria alguém a sangue-frio, embora Bill o
merecesse.
O problema era que estava apenas
adiando o confronto final entre os dois.
Bill não deixaria por menos,
principalmente quando voltasse à cidade e
se juntasse a seus amigos.
Buck concluiu que teria de aproveitar
todo o tempo para dormir o que pudesse.
Calculou que o pistoleiro demoraria umas
duas horas, se tivesse sorte.
Daria a Buck uma vantagem de oito
horas, pelo menos.
— Ainda acho que deveríamos ter
matado aquele maldito e deixado seu corpo
aos coiotes.
— Temo que tenha toda a razão — falou
Buck. — Mas você mataria um homem a
sangue-frio?
Hellen não sabia responder àquela
pergunta.
Buck seguramente teria dormido o dia
todo, se pouco antes do meio-dia uma outra
diligencia não passasse, na direção oposta à
da noite anterior.
Toda a agitação o despertou e ele se
apressou em ir ajudar Hellen.
haviam chegado no romper do dia. Hellen
preparara uma rápida refeição para os dois.
Buck comera bem, depois caíra na cama
mais macia e acolhedora de toda a sua vida,
apagando, simplesmente.
Com admiração, observava Hellen correr
de um lado para outro, atendendo os
passageiros.
Não sabia como ela se agüentava em pé.
Enquanto atrelava os cavalos na diligencia,
o cocheiro foi ter com ele.
— É o novo ajudante? E o Sam, onde
está?
— Sam foi morto ontem.
— Morto? Pobre rapaz! Pobre Hellen!
Como foi?
— Uma emboscada, na estrada de Denver
para cá.
— Emboscada? Diabos! A coisa anda
animada nesta estrada. Vindo para cá,
peguei um passageiro a meio caminho
daqui. Disse que foi assaltado. De fato, o
pobre estava sem cavalo, sem armas e, o
que é pior, sem botas. Estava com os pés
que era só bolhas e sangue. Com certeza vai
ficar um bom tempo sem poder calçar nada
— riu o cocheiro.
Buck, no entanto, não achava nada
daquilo engraçado.
— Onde ele foi? — indagou.
— Para lá, para o saloon.
O rapaz percebeu que cavaleiros
chegavam e entravam, indicando grande
agitação.
Essa agitação tinha um nome: Bill
Huston.
— Pode terminar aqui? — indagou ao
cocheiro.
— Sim, claro!
Sem que Hellen o percebesse, Buck
apanhou o rifle, as armas e as botas de Bill.
Verificou a carga de seu Colt, depois foi
direto para o saloon.
Quando entrou, um silencio de morte
pairou no recinto. Buck estava habituado a
resolver logo seus problemas.
Não gostava de postergar as coisas. Se
Bill e ele tinham contas a ajustar, era bom
que tudo fosse resolvido o mais depressa
possível.
Era a lição que o xerife de Cheyenne
sempre frisava aos seus assistentes.
— Você é muito corajoso mesmo ou
então é o maior idiota que já vi na minha
vida — falou Bill, cujos pés estavam sendo
banhados com água morna e uísque por uma
das garotas do saloon.
Ao ver Buck entrando, ele chutou a
garota e, com dificuldade, se pôs em pé.
Buck se aproximou e jogou as armas e as
botas dele sobre a mesa.
— Aí estão suas coisas. Acho que temos
um assunto a resolver, é bom que seja
resolvido logo. Você já atirou duas vezes
contra mim e eu ainda não saquei contra
você. Se quer fazer isso de novo, aí terei de
reagir — explicou Buck, recuando e
posicionando-se, pronto para sacar.
Bill olhou para seus amigos. O único
disposto a ajudá-lo era John, que piscou-lhe
um olho, enquanto se movia de modo a ficar
atrás de Buck.
Os outros homens simplesmente se
afastaram.
— Norris, vai deixá-lo sacar contra mim?
Eu cumpri ordens — falou Bill, assustando,
de certa forma.
— Cale a boca, Bill. Não sabe o que está
falando.
— Norris, avise Dingus!
— Cale-se, Bill ou eu mesmo faço ao
rapaz o favor de calar sua maldita boca.
Vire-se! Queria a garota para si, não é? Pois
terá de lutar por ela.
— Ele não está aqui por causa da garota...
— tentou argumentar Bill, agora só
procurando ganhar tempo.
John estava num ponto que não podia ser
percebido por Buck. Bill sorriu, então.
Apanhou seu cinturão. Verificou o Colt.
Guardou-o no coldre. Afivelou o cinto e
amarrou o cordão do coldre na perna.
— Não é justo! Mal posso fixar em pé —
falou Bill.
— E, acho que tem razão — concordou
Norris, fazendo um sinal para um dos
homens junto ao balcão.
Antes que Buck percebesse, alguém
arrebentou uma garrafa em sua perna,
cortando-a.
— Maldito! — rugiu o rapaz, olhando a
calça cortada e o sangue escorrendo.
— Agora estamos empatados — falou
Bill, levando a mão à arma.
Atrás de Buck, John fez o mesmo,
sacando seu Colt e engatilhando-o para
disparar.
O ruído alertou o rapaz. Não havia outra
alternativa. Ele se ajoelhou, já com o
revólver na mão.
A dor na perna foi violenta, fazendo-o
hesitar. Bill disparou, errando. John fez o
mesmo, mas a bala apenas perfurou a
camisa de Buck, à altura da cintura.
O rapaz apontara cuidadosamente. O
xerife de Cheyenne sempre recomendava.
Mais valia um tiro bem dado que uma carga
desperdiçada.
Quando apertou o gatilho, a visão foi
coberta pela fumaça, mas ele sentiu o baque
do corpo de Bill no assoalho.
John se aproximara, engatilhando a arma
e, desta vez, não erraria.
O rapaz se atirou para o lado, rolando,
deixando marcas de sangue na madeira suja.
— Pare quieto, seu maldito! — falou
John, confuso.
Calou-se no mesmo momento, quando
uma bala entrou por sua boca e rompeu sua
medula, abrindo um rombo em sua nuca.
Ele desarticou-se todo, como um boneco
de mola, amontoando-se no assoalho,
estrebuchando.
Quando a fumaça dissipou, Bill rastejava
na madeira, tentando alcançar seu rifle.
Ergueu parcialmente o tronco, apoiando-
se na mesa, que tombou sobre ele.
O rifle caiu em suas mãos. Ele
engatilhou, procurando seu alvo.
Viu apenas o cano grosso de um Colt
olhando para ele, décimo de segundo antes
de explodir numa língua de fogo que voou
na direção dele.
Sentiu o impacto em sua testa, depois
tudo se transformou em escuridão.
Seu corpo foi jogado para trás. Seus
miolos ficaram espalhados na parede atrás
dele, escorrendo como manchas
progressivas que buscavam o assoalho.
O cheiro de sangue e pólvora permaneceu
no saloon. A fumaça foi desaparecendo.
Buck se esforçou para pôr-se em pé. O
sangue descia pela sua perna, enchendo sua
bota.
Precisava de um torniquete urgente ou
morreria. Arrancou a toalha de uma mesa.
Rasgou-a com o dente. Amarrou o
ferimento. Viu que os homens no saloon
retiravam, suas armas e apontavam para ele.
Norris, em sua mesa, havia acompanhado
tudo sem pestanejar. Bill era um porra-louca
mesmo, merecia aquele fim. O que não
podiam, no entanto, era deixar o forasteiro
ir embora.
Principalmente depois que Bill havia
confessado o motivo da morte de Sam.
— Atiro no primeiro que tentar me deter
— ameaçou Buck, engatilhando seu Colt.
Em resposta, mais de uma dezena de
armas também foram engatilhadas, num
ruído metálico assustador.
— Compreende que não podemos deixá-
lo ir embora? — falou Norris.
— Só porque matei Bill e seu parceiro?
— Não, pelas coisas que Bill lhe contou
na estrada, quando o pegaram.
— Não me importa nada disso. Estou
aqui à procura de um amigo e nada mais.
Como não o encontrei, pretendo dar o fora o
mais depressa possível. Não tenho motivo
algum para atrapalhar seus negócios...
— Mesmo assim, não podemos correr
risco. Há muito em jogo. Acho que
compreende, não?
— Nesse caso, muita gente vai morrer
aqui e agora, moço — falou Buck,
abaixando-se e apanhando a arma de John.
Tinha duas armas e algumas balas. Sabia
que iria morrer, mas o primeiro a ir com ele
era Norris, já em sua mira.
Norris percebeu isso. Incomodou-o o
olhar negro do cano do Colt. Hesitou.
— Está bem, forasteiro. Se quer matar
alguém, por que não tenta comigo? —
indagou alguém, na porta do saloon.
Buck hesitou por instantes. Depois
reconheceu a voz. Virou-se para encarar
Ben Sommers.
— É Dingus! — falou alguém, em voz
alta.
— Sim, é Dingus Latimer e eu afirmo
que ninguém mais vai morrer aqui, pelo
menos no que depender de mim — disse
Ben, confundindo Buck.
Ele encarou o amigo. Ben piscou-lhe um
olho, querendo lhe dizer alguma coisa.
— Esse aí é Buck Taylor, o filho-da-mãe
mais rápido do Wyoming, responsável por
pelo menos vinte mortes — falou Ben, com
seriedade.
— Vinte e dois — corrigiu Buck,
entrando no jogo.
— E digo mais — continuou Ben. — É
meu amigo. Se ele matou Bill, é porque Bill
era um estúpido e merecia. Buck está aqui a
meu pedido. Está limpo, é ideal para ser o
cocheiro da carga. Sabem o que ele faz em
Cheyenne?
— Não! — responderam os homens, em
uníssono.
— Ele é assistente de xerife. Podem
imaginar alguém mais limpo do que ele?
— Por que não nos avisou, Dingus? —
indagou Norris.
— Porque ninguém precisava saber disso.
Quanto mais sigilosa fosse a vinda dele,
mais chances teríamos de sucesso. E chega
de explicações. Bebidas por minha conta —
gritou Ben e todos correram para o balcão.
Ben abriu os braços. Buck sorriu,
balançando a cabeça de um lado para outro.
— Sua mula teimosa! — exclamou, indo
abraçar o amigo.
— Meu nome é Dingus Latimer — falou
Ben, bem baixinho no ouvido do amigo. —
Depois eu lhe explico tudo.
— Está bem, Dingus! Como está você?
— Estou me dando bem, como vê!
— O que houve? Sumiu, não deu noticia!
— Encontrei a chance da minha vida,
Buck. Vou lhe contar. Espere-me naquela
mesa — apontou Ben, indo até o balcão e
apanhando uma garrafa e dois copos.
Foi se sentar diante do amigo. Serviu os
dois copos.
— À nossa! — brindou.
Buck tocou seu copo no dele, depois
beberam. Ben encheu de novo os copos e
beberam outra vez. Repetiram isso umas
quatro ou cinco vezes.
— Continua o mesmo, Buck!
— E você também... Dingus!
— Certo! Que bom vê-lo, Buck. A última
pessoa que esperava encontrar aqui era
você. Como veio parar aqui?
— Sua mãe me pediu para achá-lo.
— Minha mãe? O que houve? — quis
saber o rapaz, preocupado.
— Ela não está bem, ... Dingus! pelo que
sei, é um problema no coração. Ela teme
não voltar a vê-lo antes de... Desculpe-me,
meu amigo. Não queria reencontrá-lo
apenas para lhe dar esta noticia.
Ben abaixou a cabeça, encheu de novo o
copo de uísque e bebeu-o num só gole.
— Pensar que fiz tudo isso por ela e,
agora, corro o risco de nem voltar a vê-la
com vida...
— Em que está metido, afinal?
Ben serviu de novo os copos, olhou para
os lados, depois se inclinou sobre a mesa.
— Buck, nem arriscou lhe contar o que é
para não estragar. Vivi toda a vida pensando
em algo assim e, agora, tudo está sob meu
controle, nas minhas mãos. Quando eu
terminar, terei tudo que sempre sonhei em
toda a minha vida.
Pela maneira como Ben falava, Buck
suspeitou que havia algo de errado com os
planos do amigo.
Ele evitava que os seus companheiros ali
presentes soubessem exatamente de seus
planos.
Buck já ouvira aquele tom de voz antes.
Não gostou daquilo.
Enquanto cavalgava pela trilha de Yuma,
Buck pensava no que Bill havia dito,
quando o capturara, após a emboscada.
O bandido havia afirmado que Dingus
mandara matar Sam. Se isto era verdade,
Ben Sommers mudara muito.
Não era, na verdade, aquele amigo de
infância que tinha sonhos grandiosos, mas
era inofensivo, incapaz de fazer mal a uma
mosca.
Ben parecia determinado a conseguir o
que queria a todo custo. Era essa a
impressão que seu tom de voz transmitia.
Seu olhar, também, tinha um brilho
diferente, intenso, quase insano.
Haviam deixado o saloon, poquêr Ben lhe
dissera que tinha de lhe mostrar algo.
Buck passara rapidamente pelo Posto de
Troca de Hellen e avisado a garota que
precisava sair um pouco.
Ela demonstrara muita preocupação, pois
percebera que ele estava saindo com o
pessoal do saloon.
— Vai ficar bem, Buck? — indagara ela.
— Fique tranqüila! Acabo de encontrar o
amigo que vim procurar. Mais tarde
conversaremos, está bem?
Uns dez cavaleiros galopavam pela trilha.
Buck tentava memorizar todos os detalhes,
pois poderia precisar mais tarde.
Ben deixou que os outros sócios
seguissem na frente para poder conversar
com Buck.
Este, por seu turno, precisava passar a
limpo a acusação feita por Bill.
Quando percebeu que poderiam
conversar sem que os outros os ouvissem,
Ben se voltou para o amigo.
— Buck, não estranhe o que eu disse lá
no saloon. Você veio mesmo a calhar.
— Do que está falando?
— De levar a carroça até Forte Morgan.
— O que há de importante nessa carroça?
— Você verá — afirmou Ben, com um
sorriso enigmático.
— Escute, Ben, Bill me confessou que
você mandou matar Sam, o irmão de
Hellen, lá no posto de trocas da diligencia.
— Tolice! Por que eu faria isso?
— É o que eu gostaria de saber.
— Besteira, Buck. Você sabe que sou
incapaz de fazer mal a uma mosca — sorriu
Ben, com aquele sorriso ingênuo que Buck
conhecia.
Por momentos sondou o olhar do amigo,
tentando se assegurar. havia neles, no
entanto, algo que não agradava Buck.
Só que ele não sabia explicar o que era.
— Estamos quase chegando — apontou
Ben.
Após mais alguns minutos de cavalgada,
chegaram a uma garganta.
Entrando por ela, saíram num vale, onde
se destacava a enorme boca de um túnel,
entrando montanha adentro.
Após deixarem os cavalos diante de uma
cabana, Ben e seu amigo foram inspecionar
o local.
— É o mais rico veio de minério de prata
que já vi, Buck — disse Ben, enquanto
entravam.
Rochas iluminavam o túnel, escorado por
grossas traves de madeira.
No fundo, homens escavavam as paredes,
outros enchiam carrinhos que era
empurrados pelos trilhos para fora.
— Retiramos daqui o minério e o
levamos para a purificação, onde são
fundidos os lingotes. É um trabalho duro,
mas muito compensador — explicou Ben.
— E onde são fundidos os lingotes?
— Lá fora, vamos dar uma olhada.
Deixaram o túnel e foram para um outro
prédio, onde havia uma enorme forja.
Um cadinho estava suspenso no centro
das brasas, que eram alimentadas por uma
enorme fole, movido constantemente por
um homem suado.
— Aqui já estamos no processo final,
quando a prata é derretida para fundir
naqueles lingotes ali — apontou Ben.
Havia uma pequena pilha de lingotes
prateados num canto. Ben apanhou um
deles e o entregou ao amigo.
— Veja, prata cem por cento pura. Já viu
algo assim?
— É fantástico, Ben. E quando já
conseguiram juntar?
— O bastante para encher aquela carroça
— apontou ele.
Havia uma carroça ali perto, com rodas
reforçadas e laterais exibindo rabites de
ferro, mostrando que todo o empenho fora
feito no sentido de toná-la resistente.
— Oito cavalos? — observou Ben.
— Sim, para conseguir puxar a carga
toda. Acha que conseguirá guiá-los?
— Sabe que sim, Ben...
— Não. Dingus, lembra-se?
— Certo. E como descobriu isto tudo?
— Em Denver, num jogo de cartaz. Um
velhote apostou um mapa desta mina. Todos
disseram que a mina estava abandonada,
mas o velhote insistia em afirmar que um
novo túnel, aberto naquele ponto onde
estivemos, atingiria um novo veio de prata.
— E você acreditou, sem sombra de
dúvidas.
— Claro. Sabe que sempre fui um
sonhador e que buscava uma chance como
esta.
— E todos os homens que o acompanham
agora?
— Foram necessários para trabalhar na
mina e para proteção do investimento.
— E qual é a participação deles?
— Eles se julgam sócios da mina...
— Eles se julgam? E o que são, na
realidade? — indagou Buck, desconfiado
daquele tom de voz.
— Esqueça, deixe isto para lá, Buck. O
importante é que nos reencontramos. Você
chegou mesmo na hora. Acho que podemos
fazer as duas coisas. Levar a prata para
Forte Morgan e depois ir visitar minha mãe,
pobrezinha. Espero encontrá-la ainda com
vida.
— Tenho certeza que sim, Dingus —
afirmou Buck, percebendo que o amigo
conseguira, afinal, realizar seu grande
sonho.
Assim que deixaram a forja e rumava
para a cabana, um homem saiu do interior
da mina e foi ao encontro dos dois.
— Dingus, preciso lhe falar — disse e
parecia preocupado com alguma coisa.
— O que foi?
O homem olhou na direção de Buck,
hesitante.
— Está bem! Buck, espere-me na cabana.
Vá tomando um drinque com os rapazes. Eu
vou sem seguida.
Assim que Buck se afastou, Ben
questionou seu interlocutor.
— O que houve, afinal?
— Está chegando no fim daquele veio,
Dingus, e não há chance de se encontrar
outro. Venho fazendo pesquisas desde que
cheguei aqui. tenho certeza disso. Você
levou sorte. O velhote tinha alguma razão,
mas, fora o que já conseguimos tirar, a mina
está mesmo esgotada.
Ben pensou por instantes. Tudo estava
planejado cuidadosamente. Era hora de
tomar as decisões.
— Ok! Acenda o pavio! — ordenou.
— Vai evacuar a mina?
— Não, são sócios a menos para
repartimos, não concorda?
O outro riu significativamente, rumando
para a mina. Ao invés de voltar para a
cabana, no entanto, Ben esperou um pouco,
depois o seguiu.
Ficou na porta da mina, esperando. Seu
capanga havia acendido um pavio com
dinamite e retornava.
Ben foi ao seu encontro no túnel.
— O que houve, Dingus? Mudou de
idéia?
— Sim, acho que um sócio a menos seria
ótimo — falou Ben, sacando sua arma e
batendo com a coronha na testa do homem a
sua frente.
Naquele momento, todos os carrinhos se
encontravam no fim da mina, carregando
minério.
Ben deixou o corpo do técnico ali e
recuou. No momento seguinte, toda a
montanha e a terra estremeceu.
Um rolo de fumaça e poeira saiu pelo
túnel, invadindo o vale.
— Desabamento! — gritou Ben, que
havia sido arremessado na poeira pela força
da explosão.
Os homens deixaram a cabana e correram
acudi-lo.
— Desabamento — repetiu ele, sendo
posto em pé, aparentando estar atordoado.
— Tudo bem com você? — indagou
Buck.
— Sim, acho que sim. Joe veio me avisar
que havia alguma coisa estranha no fundo
da mina, talvez gás. Mandei-o retornar e
apagar as tochas, mas não deu tempo. Eu fui
atrás para tentar ajudar, mas a mina
explodiu.
— Há gente lá dentro?
— Sim, todo o pessoal da escavação.
Vamos tentar desobstruir a entrada.
Podemos encontrar alguém com vida ainda
— falou Ben.
— Acho muito difícil — afirmou Norris.
— Uma explosão dessas acontece no fundo
da mina. De lá até a saída ninguém se salva.
Se não morre pela explosão e pelo
desabamento, morre sufocado pelo gás.
Ben parecia perturbado pelo
acontecimento, mas apenas aparentemente.
— Justo agora que estávamos no auge da
produção. Deve haver pelo menos mais
umas três ou quatro carroças de lingotes
para serem extraídas dali.
— Não importa, Dingus! Vamos esperar
um pouco e abriremos novamente o túnel. O
tesouro lá dentro compensa qualquer
esforço. Enquanto você leva a carga até
Forte Morgam, nós abriremos de novo a
mina. Quando voltar com o dinheiro da
venda, já teremos tudo pronto. Vamos lá,
rapazes! Mãos à obra — falou Norris,
entusiasmado.
Os olhos de Ben brilharam
significativamente. Havia conseguido fazer
com que seus planos funcionassem
perfeitamente.
Cada passo era importante para atingir
seu objetivo final.
Naquela noite, quando retornou da visita
à mina, Buck foi direto para o posto da
diligencia.
Ao vê-lo, Hellen sorriu de alivio.
— Graças a Deus você está bem! —
afirmou ela.
— Ficou preocupada comigo? —
surpreendeu-se agradavelmente o rapaz.
— Sim, claro que sim! — confirmou ela,
olhando-o demoradamente. — O que foi
isso na perna?
— Um probleminha que tive no saloon
hoje.
— Não reparei quando esteve aqui, mas é
bom dar uma olhada. Vamos, sente-se ali —
ordenou ela, apontando uma banqueta.
Buck a obedeceu. Ela apanhou um estojo
no interior da cozinha e voltou em seguida.
Pôs um lampião ali perto, retirou a toalha
que Buck havia amarrado.
Com a tesoura ela cortou-lhe a calça.
— Não se incomode. Depois eu costuro
de novo — falou ela, observando a ferida.
A pele e a carne fora rasgada pelas pontas
afiadas da garrafa, ao quebrar-se.
— Se agüentar, eu costuro o ferimento.
— Faço-o, então — concordou ele.
Hellen foi apanhar uma garrafa de uísque.
Estendeu-a ao rapaz.
— Tome um gole!
Ele obedeceu. Em seguida ela tomou a
garrafa da mão dele e despejou o liquido no
ferimento.
Buck trincou os dentes, mas suportou,
sentindo que o uísque havia amortecido o
local.
Hellen foi buscar água fervendo. Molhou
a linha de costura ali dentro por algum
tempo.
Após ter passado a agulha pela chama do
lampião, limpou-a com uísque.
Começou a costurar. A cada ponto,
despejava um pouco mais de uísque.
— É muito valente, Buck.
— E você é muito delicada, Hellen.
Quase nem sinto dor. — confessou ele.
Ela ergueu para ele os lindos olhos azuis.
O cansaço em seu rosto cedeu lugar a um
sorriso radiante.
— Foi muito gentil, sabia? — confessou
ela.
— Tenho uma porção de coisas para lhe
contar.
— Fale, enquanto termino aqui.
Ele contou a ela tudo que descobrira
sobre a mina.
No dia seguinte, os preparativos foram
feitos com rapidez. Enquanto uma equipe
começava a trabalhar no túnel, outra tratou
de carregar a carroça.
Buck sentia que Ben estava preparando
alguma coisa, mas não conseguia perceber
de que se tratava.
Quando a valiosa carga ficou pronta, eles
acertaram os últimos detalhes.
— Eu irei na frente e acertarei com o
comprador em Forte Morgan. Esperaremos
a chegada de Buck, com a carroça,
receberemos o dinheiro e voltaremos.
— Buck irá sozinho? — estranhou
Norris.
— Não, vamos pôr dois guardas com ele.
Quem são os nosso melhores atiradores? —
indagou Ben.
— Lanos e Chambers são os melhores —
opinaram os homens.
— Então está resolvido. Lance e
Chambers irão na carroça, com Buck. De
acordo?
Todos concordaram, sem distinção.
— Quando espera voltar, Dingus? —
indagou um dos homens.
— Acho que em dez dias estaremos de
volta.
— Ótimo! Vou pegar a minha parte do
dinheiro e levar para minha família em
Denver.
— Não se esqueça de voltar. Há muito
mais ainda na montanha a nossa espera. Ao
trabalho, pessoal! Lanos e Chambers,
preparem-se para partir. Buck, vamos
conversar um pouco — pediu Ben, levando-
o para junto da carroça. — Vai sobrar uma
parte disso para você, meu amigo.
— Tudo bem, Dingus — concordou
Buck. — Só espero que possa ir até
Cheyenne ver sua mãe, antes de retornar.
— Claro. Mandarei uma parte para os
rapazes aqui — concordou Ben. — Aí
poderemos ir até lá ver minha mãe.
Tudo parecia perfeito, mas havia algo no
ar, algo que Buck não conseguia identificar.
Ben estava diferente do que era, mas
tinha se mostrado coerente até então.
A única dúvida era quanto à morte de
Sam. Bill não tinha motivo algum para
mentir.
Deveriam partir em breve, mas Buck
tencionava, de passagem por Last Chance,
rever Hellen e se despedir dela.
Haviam desenvolvido uma forte ligação
os dois. A idéia de partir e deixá-la
incomodava o rapaz.
Queria, de alguma forma, poder conciliar
as coisas, mas não via como.
Ben o envolvera sem que percebesse com
aquela historia de conduzir a carroça.
Os homens se reuniram para acompanhar
a partida da carroça. Ben partiu a galope,
enquanto a pesada carroça seguiria mais
devagar.
Quando chegassem ao Forte Morgan, a
carga já estaria vendida, bastando somente
receber o dinheiro.
Havia ali uma verdadeira fortuna.
Felizmente tudo fora feito em sigilo e
ninguém mais, na região, sabia da prata.
Poderiam viajar tranqüilamente, pois,
sobre os lingotes havia sido colocada uma
carga de madeira, escondendo-os.
— Quando vai voltar? — indagou Hellen,
quando ele passou para se despedir dela.
— Em breve — prometeu ele.
— Foi bom conhecê-lo, Buck.
— Digo o mesmo, Hellen. Pena que foi
naquelas condições.
— Estarei a sua espera.
Abraçaram-se. Um beijo selou a
despedida. A custo o rapaz conseguiu se
separar dela.
Ela ficou na porta, acenando, enquanto
ele chicoteava os cavalos, partindo.
A viagem seria longa. A carga pesada
exigia marcha a passo reduzido. Não
adiantava ter pressa.
Buck conduzia habilmente as quatro
parelhas. Lance se sentava junto dele, no
banco da carroça, enquanto Chambers
cavalgava à frente, examinando tudo com
olhos de lince.
Ambos portavam seus rifles prontos para
abrir fogo, embora fosse pouco provável
que algo acontecesse.
O primeiro dia foi tranqüilo. Pararam à
margem de um riacho para passar a noite.
Lance e Chambers se revezaram na
guarda constante, deixando que Buck
dormisse.
Ao amanhecer, reiniciaram a viagem. A
região era muito árida. O sol ardia
inclemente. Rochas e cactos pontilhavam a
paisagem.
— A umas cinco milhas daqui há uma
garganta, com um riacho logo à frente.
Podemos parar lá para descansar os cavalos
e comer alguma coisa — avisou Lance.
— Ótimo! Parece-me uma boa idéia,
lance — concordou Buck, já mais à vontade
com tudo aquilo.
A impressão inicial de que havia alguma
coisa errada havia passado. A rotina da
viagem acabou por contagiá-lo.
Conversar e observar a paisagem era as
únicas direções possíveis.
Quando se aproximavam da garganta,
Chambers esporeou seu cavalo e se
adiantou, ansioso por água fresca.
— Não vá sujar toda a água — pediu
Lance, enquanto o outro se afastava.
A pesada carroça foi se aproximando. De
repente, um tiro cortou o silencio da
paisagem vazia.
Buck freoou a carroça, intrigado.
— Será algum aviso de Chambers? —
indagou.
— Não sei. Chambers é cuidadoso, não
faria isso. Sinto que há algo errado. Vamos
em frente, mas fique alerta.
Buck chicoteou os cavalos e foram se
aproximando da garganta, onde, pouco
antes Chambers havia entrado.
Nenhum outro sinal se fizera notar. Lance
levava sua Winchester engatilhada e pronta.
Buck puxara para perto de si uma
espingarda de cano duplo, com carga
reforçada.
— Algum sinal dele? — indagou Buck.
— Não. Acho melhor eu ir dar uma
olhada. Espere aqui — pediu Lance,
saltando da carroça.
Foi caminhando, buscando proteção nas
rochas, na direção da garganta.
De repente, vindo de algum ponto no
alto, novo tiro se ouviu e Lance cambaleou,
soltando seu rifle.
Seu peito tingia-se de sangue.
— Fuja, Buck! É uma emboscada! —
gritou ele e novo disparo afundou-lhe o
chapéu na cabeça, jogando seu corpo para
trás.
Buck tentou fazer a carroça contornar,
mas os cavalos se assustaram com os
disparos, debatendo-se inquietamente.
Tentou acalmá-los, mas parou, quando
viu um cavalheiro vindo na direção deles.
Ficou aliviado ao perceber que era Ben.
— Ben, cuidado! Há alguém emboscado
lá no alto daquelas rochas. — avisou-o.
Ben, levantou o rifle para o alto,
tranqüilizando-o. Só então Buck atentou
para o detalhe: o que ele fazia ali?
— Tudo bem? — indagou Ben,
aproximando-se.
— Foi você?
— Sim, tinha de me livrar desses dois
paspalhos.
— Matou-os a sangue-frio, Ben. Logo
você, que se dizia incapaz de fazer mal a
uma mosca...
— Esqueça, Buck. O importante está aí,
nessa carroça. Todo o nosso futuro está
garantido. Terei tudo que sempre quis.
— Mas o que está dizendo? Quer dizer
que tudo não passou de um plano para se
apoderar da prata?
Ben estacou seu animal bem junto à
carroça. Mantinha em sua mão o rifle
engatilhado. Buck não percebera isso.
— Cansei de lutar em vão, Buck. Quando
o velho perdeu o mapa no pôquer, joguei
todas as minhas fichas nessa idéia. Reuni
um bando de perdedores e os trouxe para cá
para escavar a mina. Havia apenas o filão
que está aí, transformado em lingotes, por
isso tive de explodir a mina...
— Você? Meu Deus, Ben! Entende o que
fez! Matou mais de uma dezena de
homens...
— Ralé, Buck! Quem vai sentir a falta
deles? o plano todo foi meu e deu certo,
finalmente. Agora vamos tratar de dar o
fora daqui. Ao invés de irmos direto para
Forte Morgam, vamos nos ocultar por
algum tempo em Brighton. Lá poderemos
negociar a prata, juntar o dinheiro e partir
para uma vida de fartura.
— Não, Ben, você mudou. Não vou
permitir que faça isso. Há gente confiando
em você, esperando pelo dinheiro lá em
Last Chance...
— Estão todos condenados. Aquela mina
não agüentará novo túnel. Vai desabar de
qualquer jeito...
— Então vamos voltar a avisá-los...
— Não, Buck, você não pode fazer isso
comigo!
— É loucura, Ben!
— Loucura ou não, é a chance da minha
vida. Você não vai me impedir de realizar
meu sonho — falou Ben, apontando o rifle
para o amigo.
— Ben, está louco!
— Você é o louco, Buck, recusando uma
chance desta. É uma pena, amigo! Poderia
ser rico comigo, mas prefere morrer pobre.
Buck viu, nos olhos dele, que ele iria
mesmo atirar. Tentou sacar sua arma, mas
Ben foi mais rápido.
Apertou o gatilho do rifle e a bala atingiu
o peito de Buck, jogando-o fora da carroça,
imóvel na poeira.
Ben olhou o corpo caído, deu de ombros
e foi amarrar o cavalo na traseira da carroça.
Partiu logo em seguida.
Um velho meio maluco, que vivia
naquela região caçando serpentes e
procurando ouro encontrou Buck.
A principio o deu como morto. Apanhou
uma picareta e a pá e começou a cavar um
buraco para enterrá-lo.
Interrompeu logo o trabalho ao ouvir o
gemido débil, duvidando, até que, pudesse
ser dele.
— Last Chance... Hellen... — balbuciou
o rapaz, antes de desmaiar de novo.
— Diabos, você tem couro duro mesmo
— falou o velho.
Levou-o até a garganta, junto à água.
Examinou o ferimento. Era muito grave.
Por outros que tinha visto, aquele buraco
significava pouco tempo de vida para o
desconhecido.
— Hellen, em Last Chance... A única que
conhece é a garota da diligencia —
comentou o velho. — Será que você
agüenta a viagem? Mas, de um modo ou de
outro, morrerá mesmo. Além disso, faz
tempo que não vou a Last Chance. Está
certo, rapaz. Você vai para Last Chance —
decidiu-se o velho.
Tratou de providenciar uma padiola e
atrelá a sua mula. Se o rapaz agüentasse os
dois dias de viagem, talvez tivesse uma
chance.
Buck chegou vivo em Last Chance, mas
febril e muito fraco. Havia perdido muito
sangue.
Ao vê-lo, Hellen se desesperou. Alguns
homens que estavam no saloon se
apressaram em cercá-lo.
— O que houve? — indagou Norris.
— Não sei — disse o velho. — Encontrei
esse aí e mais dois mortos. Já tinha
enterrado os outros dois e ia enterrá-lo,
quando ele deu sinal de vida. Nunca vi
alguém com um couro tão duro.
— E a carroça?
— Que carroça? Não vi nenhuma
carroça!
— Diabos! Vamos ver se encontramos
alguma coisa, rapazes! — falou Norris, em
desespero.
Todas as esperanças deles estavam
naquela carroça e na mina, cuja túnel não
conseguiam reabrir.
Não havia como escorar as paredes. A
explosão abrira um grande buraco e
revelava, também, total ausência do minério
de prata.
Era como se todo o tesouro que
imaginavam existir ali tivesse se evaporado.
Buck foi levado para um dos quarto do
Posto de Mudas da diligencia.
Hellen, desesperada, não sabia o que
fazer. Não tinham um médico por ali. Teria
de cuidar dele sozinha.
O velhote lhe ensinou alguns remédios
para afastar a febre e combater a infeção.
— E a bala? — indagou a garota.
— Está aí dentro. Parece que o tiro foi à
queima-roupa e isso foi a sorte dele. O ideal
seria retirar esse chumbo.
— Pode fazer isso, vovô?
— Já tirei muito chumbo de gente por aí,
moça. Só não garanto que ele vai viver.
— Ele vai viver, tenho certeza — falou a
garota, com muita fé. — O que precisa?
— Antes de mais nada, um gole de
uísque para firmar o pulso. Depois quero
água quente, toalhas limpas e sua faca mais
afiada, além de agulha e linha.
Hellen tratou de providenciar logo o que
ele pedia.
Numa bela manhã, a Sra. Sommers
inspecionava o seu jardim, quando uma
elegante carruagem parou diante da casa.
Curiosa, ela ergueu a cabeça para
observar o homem jovem e muito bem
vestido que descia.
Seu coração bateu mais forte. Reconhecia
aquele jeito de olhar e aquele modo de
andar.
Era, sem duvida, seu filho: Ben Sommers
voltava para casa.
— Mamãe! — exclamou ele, ao vê-la.
Ela ficou parada, petrificada, olhando-o.
Nunca o vira tão bonito e tão elegante, com
aquelas roupas caras e aquele chapéu de
almofadinha.
Quase não podia acreditar. Só quando ele
a abraçou foi que ela se convenceu, afinal.
— Ben, meu querido! Você está vivo! —
Graças a Deus! — exclamou ela, beijando-
o.
— Estou mais do que vivo, mamãe. Estou
vivo e rico, muito rico. Você terá tudo que
sempre quis...
— Eu só queria vê-lo, meu filho...
— Então seu desejo está realizado —
disse ele, levando-a para dentro da casa.
Atrás dele veio o condutor da carruagem,
carregando alguns pacotes.
— Ia me esquecendo — disse Ben. —
Seus presentes — apontou ele.
— Oh, filho! Que alegria! Tudo isso é
para mim?
— Sim, mãe. E tudo o mais que desejar.
— Meus desejos estão satisfeitos. Você
está aqui — falou ela, com ternura,
abraçando-o.
Entraram na casa. Os presentes foram
deixados na sala modesta.
— Parece que você adivinhou, querido.
Fiz torta de amora, sua predileta. Vou lhe
servir um pedaço.
— Que delicia! Você adivinhou mesmo.
— E Buck, como está.
— Buck? O que tem Buck?
— Não foi ele que o achou?
— Não, por que me acharia?
— Eu pedi a ele que fosse a Last Chance
atrás de você...
— Last Chance? Faz muito tempo que saí
de lá. Eu estava em Pueblo, negociando
com gado. Tive sorte, mãe. Ganhei muito
dinheiro mesmo...
— Pobre Buck! Perdeu a viagem.
— Deverá estar de volta em breve —
descartou Ben, indo apanhar um pacote para
sua mãe abrir.
Quando ela retornou com a torta e café,
ele a fez abrir o pacote.
Dois meses após ter sido ferido, Buck
conseguiu se levantar pela primeira vez.
Estava ainda muito fraco e os meses na
cama haviam afetado sua musculatura.
Apoiado em Hellen e em Jonas, o velhote
que o salvara e que acabara ficando para
ajudar a garota com as diligencias, ele foi
levado para o alpendre.
Sentou-se ao sol após muito tempo.
— Como se sente? — indagou Hellen,
ajoelhando-se diante dele.
— Um pouco tonto, mas feliz por estar
vivo.
— Você tem mesmo o couro duro. Sim,
senhor, e como é duro — falou Jonas,
deixando-os a sós.
— Salvou minha vida de novo — disse
ele, olhando-a com agradecimento.
Ela debruçou a cabeça, apoiando-a sobre
a coxa do rapaz. Buck acariciou os cabelos
dela.
— Algum sinal de Ben?
— Nenhum, mas vi agitação no saloon
hoje. Parece que os homens estão se
reunindo.
— Por que, será?
— Tenho a impressão que estão indo
embora.
— Embora?
— Last Chance chega, afinal, ao seu fim.
Com a abertura de nova linha entre Denver
e Kansas City, a atual será desativada. Em
trinta dias estarei desempregada.
— O que pretende fazer?
— Ainda não sei. Tenho algum dinheiro,
poderia ir para qualquer ponto da linha e
tentar uma concessão. Mas não posso tocar
isso sozinha.
— Por que não volta para Cheyenne
comigo?
— Fala sério? — indagou ela, levantando
o rosto para ele.
— Nunca falei tão sério.
— Oh, Buck! Pensei que nunca fosse me
convidar — falou ela, abraçando-o com
ternura e beijando-o.
O tropel de cavalos chamou a atenção
deles. Norris e uns dez pistoleiros se
aproximavam.
— Como se sente? — indagou ele a
Buck.
— Melhor! O que está havendo?
— Um mensageiro retornou hoje. Parece
que andaram vendendo muita prata em
Brighton. Segundo ele apurou, era alguém
de Cheyenne. Isso lhe diz alguma coisa?
— Ele foi para lá, então. O que vocês
pretendem fazer?
— Vamos buscar nossa parte.
— Acham mesmo que o encontrarão lá?
— Tentaremos.
— Procurem o xerife Lodge, tenho
certeza que ele irá ajudá-los e...
Norris retirou do bolso interno de sua
capa um pedaço de tecido vermelho.
Abriu-o diante de si. Era um capuz, com
buracos para os olhos.
— Faremos nossa própria lei, Buck.
— Não sejam loucos! A lei é rigorosa em
Cheyenne.
— Não se esqueça que seu amigo agora é
um milionário. Sabe-se lá o que fez na
cidade. Acha que a lei não o protegerá
contra nós? Quem somos, Buck? Um bando
de pistoleiros velhos e sem futuro. Somos
perdedores. A lei não nos protegerá. Esta
lei, sim — afirmou, erguendo o capuz.
Os outros fizeram o mesmo. O grupo
partiu a galope, levantando poeira na
estrada.
— Não vão se dar bem — afirmou Buck.
— Conheço o xerife, trabalhei com ele.
— Não se preocupe com eles, agora.
Você tem um longo trabalho pela frente, se
quiser ficar bom logo. A primeira coisa será
aprender a andar sozinho.
— Pode estar certa que, quando a linha
for desativada, eu estarei pronto para ir
embora com você — afirmou ele, decidido.
A vida da Sra. Sommers se transformara
da água para o vinho. Ben mandara buscar
um médico em Washington, que a tratou e a
curou.
Ben havia subido rapidamente no
contexto social da cidade. Solteiro e
cortejado pelas garotas das famílias
importantes, era convidado para todas as
festas e acontecimentos.
Vestia-se sempre com apuro e elegância e
não fazia questão de ser modesto ao exibir
suas posses.
Comprou um enorme rancho nos
arredores da cidade para criar gado, além de
uma nova casa, onde se alojou com sua
mãe.
O dinheiro que depositara no Banco fazia
dele o maior depositante e o mais
paparicado dos clientes.
Em toda parte da cidade por onde
passasse, era reconhecido e comprimentado.
Como o Xerife Lodge estivesse se
retirando, alguém sugeriu oferecer a Ben o
posto de xerife.
A principio ele recusou. Depois,
pensando em como estava sendo difícil
ocupar seu tempo, acabou achando a idéia
interessante.
Tinha dinheiro e o cargo lhe daria poder.
Não precisaria se arriscar. Bastava contratar
auxiliares, mesmo que tivesse de pagá-los
com seu próprio dinheiro.
Quando sua candidatura foi lançada, ele
tratou de agradar os cidadões de todas as
formas, presenteando todos
indiscriminadamente.
Quando passava pela rua, todos já o
cumprimentavam como o virtual novo
xerife.
— Não sei dizer ao certo o que é, mas
algo nesse rapaz não me agrada —
comentou o xerife.
— Ben Sommers é um deus nesta cidade,
xerife. Não fale besteiras — repreendeu-o o
prefeito. — Depois que ele chegou a esta
cidade, Cheyenne prosperou muito.
— Sim, ele contribuiu para isso. Está no
negócio de gado, comprou um saloon, tem o
armazém, o rancho, o estábulo onde compra
e vende cavalos... É muita coisa para um
homem que ainda quer ser xerife.
— Você está é com inveja, Lodge —
falou o prefeito, deixando-o.
— Tudo bem. O problema é de vocês.
Amanhã é a eleição e, daqui a uma semana,
entrego meu cargo. Não digam que não os
avisei.
— Vá fazer a sua ronda. Vi uns maus
elementos lá no saloon — alertou o prefeito.
— Está bem! É para isso que sou pago
mesmo, não? — resmungou o xerife,
entrando na cadeia para apanhar seu rifle.
Foi até o saloon. Havia uma dezena de
homens ocupando três meses no fundo.
Bebiam uísque.
— Muito cedo para uma bebida forte, não
acham? — indagou o homem da lei.
— É para tirar o pó da estrada, xerife —
respondeu Norris.
— Estão vindo de longe. Seus cavalos
estão empoeirados e cansados.
— Assim estamos nós também.
— Estão de passagem?
— Planejamos ficar o mínimo possível.
— Ótimo! Comportem-se! Se precisarem
de alguma coisa, estarei na cadeia.
Assim que o xerife saiu, Norris olhou
para os homens e fez uma careta de enfado.
Um deles, que havia caído para dar uma
olhada pela cidade, voltava naquele
momento. Foi se sentar à mesa, com Norris.
— Descobri onde é a casa dele — falou.
— É no fim da rua, uma das mais bonitas da
cidade. Está gastando dinheiro como um
pródigo e não poupa gastos.
— Maldito! Fazendo festa com nosso
dinheiro. Mas não importa. Assim que
escurecer, vamos à casa dele buscar o que
nos pertence.
Continuaram bebendo. Assim que
escureceu, o saloon começou a se encher.
Norris e seus homens saíram dali.
Estavam determinados a resgatar a dívida
com Ben Sommers.
Rumaram direto para a nova residência
dele. As luzes estavam acesas. Lampiões de
todos os tipos espalhavam-se pela casa,
iluminando-a profundamente.
— Vamos pelos fundos — ordenou
Norris.
Contornaram a propriedade, entrando
pelo portão de trás. Avançaram até a porta
da cozinha.
Duas criadas preparavam o jantar. Eles
entraram rapidamente, após terem vestido
seus capuzes vermelhos.
As mulheres se assustaram ao ver aquelas
figuras fantasmagóricas.
Eles as dominaram, impedindo que
gritassem.
— Dingus Latimer está em casa? —
indagou Norris.
— O nome dele aqui é Ben Sommers —
corrigiu o homem que havia descoberto a
casa.
— Seja lá como for, diabos! O dono da
casa está?
— Não, o Sr. Sommers ainda não
chegou.
Naquele momento, a Sra. Sommers
entrou. Trazia um lampião acesso na mão.
— Mary, preciso que uma de vocês
venha comigo até o deposito lá fora e... —
interrompeu-se, tomando um susto, ao ver
os homens encapuzados.
O lampião caiu de suas mãos e explodiu
no assoalho. O fogo subiu pelas roupas dela.
A pobre mulher gritou, horrorizada,
debatendo-se em pânico.
— Norris, faça alguma coisa! — gritou
um dos homens.
A mulher entrou casa adentro, gritando
como louca. Norris e os outros ficaram sem
ação.
— Diabos! Vamos dar o fora daqui —
gritou ele.
Fugiram da casa rapidamente, enquanto
os outros criados atendiam a Sra. Sommers,
procurando apagar o fogo em suas roupas.
Quando o conseguiram, era tarde demais.
Ela havia sofrido queimaduras graves, além
de ter respirado entre as chamas, afetando
seriamente o pulmão.
Quando Ben chegou, algum tempo
depois, em desespero, foi para ver o rosto
da mãe, terrivelmente queimado, acalmar-se
após o último suspiro.
Ficou possesso, apanhando suas armas e
chamando as mulheres que haviam sido
atacadas pelos mascarados.
— Quem eram eles? O que queriam?
—Queriam o dono da casa... — disse
uma delas.
— É, mas falaram num tal de Dingus
Latimer — acrescentou Mary.
— Como?
— Sim, isso mesmo. Queriam um tal de
Dingus Latimer...
— Ah, e um deles se chamava Norris.
Quando as roupas da Sra. Sommers
pegaram fogo, alguém gritou esse nome
para o que parecia ser o chefe.
Ben empalideceu, sentindo-se ameaçado.
Aqueles malditos tinham vindo à procura
dele e acabaram causando a morte da pobre
velhinha.
Diversas pessoas foram até a casa, entre
elas o prefeito e o xerife.
— Eu o alertei, Lodge — falou o
prefeito.
— Eu fui ter com eles no saloon, mas
quem poderia suspeitar que eram ladrões?
— desculpou-se o xerife.
— O que estão falando, afinal? — quis
saber Ben.
— Esses homens estavam bebendo no
saloon. O xerife foi falar com eles, mas não
suspeitou de nada.
— Sim, como eu poderia imaginar?
Pareciam viajantes...
— É por isso que esta cidade precisa de
um novo xerife mesmo. Está perdendo o
faro, xerife. Ou talvez a coragem.
Enquanto falava, Ben fez um sinal para
um pistoleiro que estava ali perto. Era um
de seus capangas.
— Reuna os rapazes. Vamos sair atrás
deles agora mesmo — ordenou.
— Não pode tomar a lei em suas mãos,
Sommers — repreendeu-o o xerife.
— Pois já a estou tomando, xerife.
Aqueles homens pagarão pelo que fizeram,
eu juro.
— Vou chamar meus ajudantes e iremos
juntos...
— De modo algum, xerife. É problema
meu e vou resolvê-lo. Não se meta —
ameaçou-o Ben.
O xerife pensou por instantes. Por que se
meter, afinal? Ben seria mesmo o novo
xerife. Que se danassem ele e a cidade.
Ben saiu com mais de duas dezenas de
pistoleiros, indo até os limites da cidade.
— Um bando desses não passa
desapercebido. Quero que perguntem nos
quatros cantos da cidade se alguém viu
alguma coisa. Não iriam longe no escuro,
principalmente porque não conhecem a
região. Vou esperar aqui.
Os homens se dispersaram. Ben pensou
em sua mãe, mas já se embrutecera demais
para chorar por ela.
Lamentava não tê-la por mais tempo e
fazê-la recuperar o tempo perdido.
O importante agora era afastar Norris e os
outros de sua cidade. Se abrissem o bico,
muita coisa poderia se complicar para o
rapaz.
Não demorou muito e os homens
começaram a voltar.
— Viram um bando galopando na
direção de Laramie.
— Não irão muito longe naquela estrada.
Quando atingirem o terreno pedregoso terão
de acampar. Quero que dois de vocês vão na
frente e fiquem atentos a qualquer fogueira.
Se virem isto ou alguma outra coisa que
indique a presença deles, voltem
imediatamente para nos avisar.
Os dois homens partiram rapidamente.
Como conheciam a estrada, não
encontrariam dificuldades para cumprir as
ordens de Ben.
O restante do bando, aguardou um pouco,
depois tomou o mesmo rumo, indo mais
devagar.
A noite estava bem escura, mas a lua logo
surgiria e tudo ficaria mais fácil.
Haviam cavalgado umas quatro ou cinco
milhas, quando encontraram os dois
batedores.
— Você os viu?
— Sim, estão a umas duas milhas daqui.
Fizeram uma grande fogueira. É visível do
alto daquela colina ali na frente.
— Puseram guardas?
— Sim, há homens guardando a volta
toda.
— Não tem importância. Sei como pegá-
los. São uns trouxas. Hartley, venha cá —
chamou ele.
Um dos pistoleiros se apresentou.
— Você é o que melhor sabe se
expressar. Quero que vá até lá, com uma
banheira branca, e diga a Norris que desejo
negociar. Isso fará com que eles abaixem a
guarda. Se prometerem me ouvir, eu irei até
lá para acertarmos tudo. Quando eu fizer
isso, vocês aproveitarão a distração deles
para cercá-los...
— Não acha isso muito arriscado, Sr.
Sommers? — indagou Hartley.
— Fique tranqüilo. Conheço aqueles
homens. Estão ansiosos para negociar
comigo. Quero pegá-los vivos e fazê-los
pagarem pela morte de minha mãe —
sentenciou ele.
— Está bem, Sr. Sommers — concordou
Hartley, esporeando seu cavalo, após ter
improvisado uma bandeira.
Ben esperou pacientemente. Sabia que
Norris e os outros não perderiam a chance
de recuperar seu dinheiro.
Foi realmente o que recebê-lo, Sr.
Sommers. Querem que vá só e desarmado.
— Tudo bem. Vocês desmontem aqui e
caminhem até lá. Irei devagar, para dar
tempo de vocês se posicionarem. Eles estão
ansiosos demais para me verem.
Os homens trataram de cumprir o que ele
ordenara. A lua começava a surgir no céu
lentamente.
Ben cavalgou sem pressa na direção da
luz da fogueira ao longe.
Havia sido uma longa viagem. Os
homens estavam cansadas e aborrecidos
com os resultados daquela visita.
Jamais esperavam que daquilo resultaria
na morte de uma pobre velha, mesmo sendo
ela a mãe de Ben Sommers.
Quanto mais cedo terminasse aquela
aventura, melhor para eles. Queriam apenas
pegar o dinheiro e dar o fora dali.
Ben que ficasse com o que desejasse,
contanto que cada um deles pudesse gozar
um pouco daquela fortuna.
Reuniram-se no centro do acampamento,
ao redor da fogueira. Conversavam entre si,
alguns achando que Ben hão honraria o
compromisso.
Outros achavam que o melhor era matá-
lo, mesmo que isso significasse a perda do
dinheiro.
Quando ele se aproximou, no entanto,
todos ficaram em silencio.
Ben foi até o centro deles e desmontou.
Olhou-os com desprezo. Eram mesmo uns
perdedores.
— Minha mãe está morta, mas não quero
vingança. Só desejo saber por que fizeram
isso, rapazes? — indagou, fingindo
sofrimento.
— Você nos traiu, Dingus... Ou Ben
Sommers, seja lá qual for o seu nome —
começou Norris. — Matou dois amigos
nossos, praticamente aleijou um terceiro e
levou toda a prata...
— Espere aí, Norris. Vocês ficaram com
toda a mina. Deveria haver pelo menos mais
duas cargas como aquela...
— A mina estava podre. Não há mais
minério nem como sustentar o túnel. Ela
está desabando.
— E como eu podia saber disso?
— Não sei, mas alguma coisa me diz que
você sabia.
— Então não sobrou mesmo nada para
vocês?
— Claro que não. Por isso estamos aqui.
— E por que não me procuraram para
conversarmos? Tinham que entrar lá como
um maldito grupo de vigilantes, assustando
minha mãe, levando-a morte? Que diabos,
rapazes! Quem pensam que eu sou?
— Acho bom nem tocarmos no assunto,
Ben. Queremos saber se está disposto a dar
a nossa parte.
— Mas claro que sim... Só que está no
banco. Terão de esperar até amanhã cedo —
falou Ben, observando que seus homens já
estavam a postos.
— Quanto rendeu a carga? — quis saber
Norris.
— Muito dinheiro, rapazes. Dinheiro
demais para uns perdedores como vocês. Se
olharem para os lados, verão meus homens
apontando armas para vocês. Quero que
todos, bem devagar, soltem o cinturões.
— Maldito bastardo! — exclamou
Norris, percebendo que, mais uma vez,
havia sido enganados.
Tinham abrido a guarda, não deixando
ninguém para vigiar o acampamento.
Norris mediu suas chances. Ben estava
desarmado e merecia a morte pelos seus
atos.
— Não vai sair ganhando de novo, Ben
— afirmou ele, levando a mão à arma.
Ele apertou o gatilho. O chapéu de Norris
voou para trás, caindo na fogueira com
parte do cérebro dele.
Ben engatilhou de novo.
— Ainda tenho mais uma bala. Mais
alguém se arrisca?
Os homens praguejaram e começaram a
soltar os cinturões. Os pistoleiros de Ben
Sommers se aproximaram.
— O que vamos fazer com eles — quis
saber Hartley.
— Antes de mais nada, amarre-os! —
ordenou, olhando ao seu redor.
Uma árvore enorme e seca recortava sua
silhueta contra o céu enluarado.
— Acho que vamos ter um julgamento e
uma execução agora — falou ele.
Os amigos de Norris olharam na direção
que ele havia fitado. Perceberam o que ia
acontecer.
— Não vai me linchar, maldito! — disse
um deles, avançando contra Ben.
Um dos pistoleiros passou-lhe uma
rasteira, derrubando-o. Quando tentou se
levantar, a coronha de um rifle bateu em sua
espinha, tirando-lhe o fôlego.
Ben pisou-lhe no pescoço, afundando sua
cara na areia. O homem se debateu,
sufocando-se.
Ele o chutou em seguida, recuando.
— Por favor, Ben, não me mate... Pelos
velhos tempos — falou o homem caído,
com o rosto sangrando, tentando se pôr de
joelhos.
Era uma figura patética implorando
inutilmente pela vida. Ben o olhou com
desprezo.
— Está certo, Joe. Pode ir — falou ele.
Os olhos do homem brilharam,
incrédulos.
— Sério?
— Sim, pegue seu cavalo e caia fora,
antes que eu me arrependa.
O homem tentou se levantar. Saiu
cambaleando. Antes que se aprumasse, Ben
apontou para ele e disparou. A bala do
Derringer atingiu a nuca do pistoleiro que
foi jogado para frente, caindo sobre a
fogueira.
— Mais alguém deseja implorar pelos
velhos tempos? — indagou ele, apanhando
seu cinturão e afivelando-o.
Os homens haviam sido amarrados. Ben
ordenou que eles fossem levados até a
árvore seca.
— Há galhos para todos — falou ele. —
Vamos pendurá-los e vê-los dançando,
rapazes — ordenou.
Cruelmente, sem piedade nenhuma, os
homens foram sendo erguidos um a um pelo
pescoço.
Praguejavam contra Ben, gritavam,
imploravam clemência, mas acabavam
dançando macabramente, como frutos
estranhos naquela árvore fatídica.
Todos eles, inclusive Norris e Joe, foram
pendurados pelo pescoço.
A lua iluminava a cena macabra. Os
homens de Ben festejavam o massacre.
— As bebidas são por minha conta,
rapazes. Vejam o que há de valor com eles e
peguem para vocês. É o prêmio pelo bom
trabalho, além de uma gratificação de cem
dólares que darei a cada um na cidade.
— Viva o Sr. Sommers! — gritou um
deles.
— Sim, o melhor patrão a Oeste de
Kansas City — ajuntou outro.
— Que isto sirva de lição para todos os
pistoleiros da região. Pensarão duas vezes
antes de entrarem na cidade do Xerife Ben
Sommers! — falou um outro.
Ben gostou daquilo. Seria marcante em
seu papel de xerife. Havia perseguido e
enforcado os assassinos de sua mãe.
Seria uma boa historia para ser escrita.
Um escritor do Leste havia chegado na
cidade e estava ansioso para escrever algo a
respeito dele.
Ben havia pago a estadia dele, por isso o
rapaz, agradecido, queria retribuir de
alguma forma.
Aquela seria uma boa maneira de
começar o livro.
Buck passava agora seus dias se
exercitando de todas as formas possíveis.
Havia ficado muito tempo parado. A
musculatura doía a cada movimento, por
menor que fosse.
No inicia, Hellen o levava até o rio e ele
andava e nadava o máximo que podia, até
sentir que seus músculos iam arrebentar.
Hellen elogiava sua força de vontade e
ele encontrava nela o motivo para todo o
sacrifício a que se submetia.
Logo começou a treinar de novo com o
revólver. Era-lhe difícil os movimentos de
engatilhar o Colt e apertar o gatilho
disparando.
Quando conseguiu fazer isso, tentou
disparar mesmo, usando munição.
O revolver simplesmente pulou de sua
mão. Hellen ficou apavorada.
— Deus do céu, Buck! Pare antes que
acabe se matando.
— Tenho de fazê-lo, Hellen. Se não
conseguir sacar nem disparar, jamais
poderei acertar minhas contas com Ben.
— Não pode confiar no xerife, como
aconselhou a Norris?
— Como ele mesmo disse, não sei o que
Ben é naquela cidade agora. Sei que um
homem poderosos e rico tem um outro
tratamento, querida. Não importa quão ruim
ele possa ser.
Ele apanhou de novo o revolver.
Engatilhou-o e apontou para frente.
Disparou.
Conseguiu manter o revolver em sua
mão, mas a bala se perdera no terreno árido
à frente.
A tarefa seguinte era treinar a pontaria,
depois o saque. Ainda faltavam uns cinco
dias para o fechamento do posto. Até lá, ele
precisava estar pronto.
Alguns dias mais tarde, quando a
diligência passou, na manhã de um dia
quente, deixou um passageiro na cidade.
Vestia-se de preto e usava um cinturão
duplo, com Colts cromado e cabos de
madrepérola.
Ben estava no rio exercitando. Hellen e o
velhote haviam atendido os passageiros.
Aquele estranho ficou, após a partida,
diante de um prato de comida e uma garrafa
de uísque, numa das mesas do fundo.
— O que está acontecendo com este
lugar? — indagou ao velho, quando este
começou a limpar o local.
— Last Chance? Está a um passo de se
transforma numa cidade-fantasma. E você?
Por que ficou aqui?
— Tem um cavalo para vender?
— Não sei, terá que falara com a dona.
Ela está lá dentro agora.
— Só estão vocês aqui?
— Agora, só.
— Não há um outro homem? Um que
ficou aleijado?
— Refere-se ao Buck?
— Sim, esse mesmo. Onde está ele?
— Deve estar no riacho agora.
— Pescando, eu imagino.
— Pode-se dizer que sim — riu o velho e
o forasteiro não entendeu.
Mas se deu por satisfeito. Continuou
bebendo seu uísque. Jonas,
despistadamente, foi para o fundo.
— Hellen, não estou gostando daquele
sujeito lá dentro. Perguntou por Buck.
— Eu tive um pressentimento quando ele
desceu. Parece-me um matador, não?
— Sim, da pior espécie.
Ela pensou por instantes. Precisava avisar
Buck, para que não fosse pego de surpresa.
— Vá distraindo-o, Jonas. Vou ao riacho
avisar Buck — disse ela.
Jonas voltou para o salão.
— Quer mais comida? Vai sobrar mesmo
— disse ao forasteiro.
— Não, estou satisfeito.
— Uísque?
— Ainda tenho — respondeu o estranho,
percebendo alguma coisa errada com o
velho.
Ficou alerta. Jonas continuou parado,
olhando-o. O tropel de uma cavalo atraiu a
atenção do forasteiro.
Ele se levantou e foi até a porta. Viu
Hellen se afastando.
— Onde ela está indo?
— Não sei, acho que foi dar uma volta.
— Velho idiota! — murmurou o
pistoleiro, indo até o curral.
Laçou um cavalo e começou a selá-lo.
Jonas apareceu de repente, com uma
espingarda na mão.
— Acho melhor deixar esse cavalo aí
mesmo, moço.
— Só vou pegá-lo emprestado para dar
uma volta...
— Não vai a lugar até Hellen voltar com
Buck.
O pistoleiro não lhe deu atenção.
Continuou selando o animal.
— Estou falando com você, moço —
disse Jonas, disparando para o alto.
Foi seu erro fatal. O pistoleiro se voltou,
enquanto Jonas empurrava a alavanca da
Winchester, ejetando a cápsula deflagrada.
O Colt já estava na mão direita do
pistoleiro, quando Jonas puxou a alavanca,
deixando o rifle pronto para atirar.
Quando levantou a cabeça, viu a língua
de fogo surgindo do cano do revólver a sua
frente.
Depois tudo escureceu, enquanto seu
corpo era arremessado para trás com
violência.
— Idiota! — falou o pistoleiro com
desprezo, retirando a cápsula de seu Colt e
repondo-a.
O cavalo ficou pronto. Ele olhou na
distancia a poeira que o animal de Hellen
deixava para trás.
Tomou aquela direção. Não tinha pressa.
Sabia que iria enfrentar um aleijado.
Quando Ben Sommers o convidara para
aquela missão, dissera que teria de matar
um aleijado.
Era tudo que o novo xerife sabia. Um dos
homens da carroça havia sobrevivido. Podia
ser Buck, lance ou Chambers.
O pistoleiro tinha estes três nomes. Jonas
facilitara tudo, informando que Buck estava
vivo.
Só tinha que ir lá, matá-lo, matar a garota
também para não deixar testemunhas,
depois rumar para Colorado Springs, onde
poderia descansar uns tempos, graças ao
fantástico pagamento que Ben lhe adiantara.
Para um matador como ele, aquela
missão era um passeio, uma das mais fáceis
de sua vida.
Não demorou para chegar ao riacho. Viu
o cavalo que Hellen utilizara e um homem
sentado na beira da água.
Não viu a garota, mas não se incomodou.
Talvez ela tivesse saído só para dar uma
volta mesmo, acabando por levá-lo
involuntariamente onde estava o aleijado.
— Ei, você! — chamou, aproximando-se.
O homem, cabisbaixo, parecia dormir. O
pistoleiro se aproximou ainda mais.
— Pare aí mesmo! — ordenou uma voz
atrás dele, acompanhada do estalido de um
Colt sendo engatilhado. — Levante as
mãos.
O pistoleiro ficou imóvel. A figura
cabisbaixa a sua frente se ergueu. Era
Hellen, com o chapéu de Buck.
— Bom truque, garota, mas isso não vai
ajudá-lo em nada — ironizou ele, virando-
se lentamente, enquanto mantinha as mãos a
meia altura.
— Quem é você? — indagou Buck.
— Meu nome é Dingus Latimer,
conhece? — respondeu o outro, com uma
expressão de zombaria no rosto.
— Ben Sommers o mandou, não?
— Xerife Ben Sommers agora.
— Xerife? Aquele bastardo? Como
conseguiu enganar toda a cidade?
— Dinheiro, muito dinheiro — falou o
pistoleiro, medindo seu oponente.
Buck se mantinha ereto e empunhava a
arma firmemente. Onde estava o aleijado?
— E você, quem é?
— Buck Taylor!
— Então é você mesmo que eu vim matar
— falou o forasteiro. Levando a mão à
arma.
Hellen fechou os olhos. Buck disparou
certeiramente, em pleno peito do pistoleiro,
que já havia conseguido empunhar o seu
Colt.
Por momentos ficou em pé, empunhando
a arma, tentando erguêr-la.
A arma parecia pesar uma tonelada. Seus
olhos incrédulos se fixaram em Buck,
depois no cano fumegante do Colt.
— Vencido por um aleijado... —
murmurou ele, caindo de joelhos.
Segurou o Colt com as duas mãos,
tentando levantá-lo de novo.
— Não faça isso — avisou Buck.
— Tenho... Que... Matá-lo... — insistiu o
outro, esforçando para engatilhar a arma.
Buck resolveu não facilitar. Apertou de
novo o gatilho, mirando a testa do
desconhecido.
Um jato de sangue e miolos atrás do
homem ajoelhado e ele caiu para trás, com
os braços abertos, os olhos arregalados
fitando o céu.
Hellen correu abraçar Buck.
— Tive tanto medo, querido! — disse
ela, trêmula.
— Tudo bem, está acabado. Tivemos
sorte. Era muito rápido mesmo.
— Ben sabe que você está vivo, Buck. Se
ele é o xerife agora, tem um motivo a mais
para não querê-lo por lá.
— Mas ele vai ter que me engolir, eu
prometo. Estou quase bom. Um pouco mais
de prática e estarei em forma. Então iremos,
querida.
— Não poderíamos simplesmente
esquecê-lo e ir para um outro lugar? A
Wells Fargo me convidou para cuidar do
posto em Goodland, no Kansas...
— Enquanto Ben não tiver certeza de
minha morte, continuará mandando
pistoleiros no meu encalço. Não quero ter
de fugir todas as vezes que um deles
aparecer. Acho melhor ir lá e resolver logo
o assunto.
Ela se apertou ainda mais nele, cheia de
medo, mas decidida a acompanhá-lo onde
quer que fosse.
À medida que se aproximavam de
Cheyenne, Buck e Hellen iam tomando
conhecimento da fama de Ben Sommers.
Ele simplesmente se transformara no
homem mais poderoso da cidade, graças ao
seu dinheiro e aos capangas que
trabalhavam para ele, tranvestidos de
auxiliares.
Os pistoleiros e malfeitores se mantinham
longe de lá e isto agradava os cidadões.
Desde que enforcara os homens que
haviam causado a morte de sua mãe, Ben se
transformara num ídolo.
Obviamente, as gordas ofertas em
dinheiro a todos que podiam de alguma
forma prestigiá-lo foram decisivas nisto.
Fora eleito xerife com uma votação
estrondosa. Tomara posse prometendo que
nenhum malfeitor se daria bem em
Cheyenne e vinha cumprindo isso.
Alguns ex-rancheiros, que percorriam a
estrada com suas carroças e pertences,
acusavam-no de ter-se apossado de suas
terras de modo infame.
A ambição dele se tornava incontrolável.
Todos o elogiavam abertamente, mas, às
escondidas, Ben Sommers era um nome que
despertava temor.
Para Buck, essas descrições não se
pareciam em nada com a de seu ex-amigo.
Só que ele sabia da mudança que se
operava nele. Ben havia se transformado
num homem sem caráter, sem alma e sem
escrúpulo de forma alguma.
Era esse o homem que ele teria de
enfrentar. Da mesma forma que tomava
conhecimento dos últimos acontecimentos
sobre a vida de seu ex-amigo, Ben logo
ficou sabendo que Buck estava indo para
Cheyenne.
— Tem certeza? — indagou ele a um
vaqueiro que viera de Denver à procura de
emprego.
— Claro. Estávamos num restaurante em
Loveland e meu amigo que é daqui,
reconheceu Buck. Até conversaram.
— E como ficou sabendo que tenho
negócios a resolver com esse tal de Buck
Taylor?
— Foi seu assistente ali — apontou ele.
— Eu disse que estava vindo de Denver e
ele me perguntou sobre três pessoas: Buck
Taylor, Lance Smith e John Chambers. Eu
me lembrei do Buck e lhe disse o que tinha
visto.
— Fez muito bem, rapaz. Está à procura
de emprego, não?
— Sim, Sr. Sommers!
— Vá ao meu rancho e procure o meu
capataz. Entregue-lhe este papel. Você está
empregado.
O rapaz agradeceu e saiu, deixando Ben
pensativo.
— O matador que mandou para Last
Chance deve ter dado o golpe, patrão —
falou um dos pistoleiros.
— Não, acho que não. Buck não mudou.
Continua esperto como antes. Se estava
aleijado, deve ter sarado. Ou então, Norris
deve ter exagerado.
— Então esse Buck é um osso duro, não?
— Está me parecendo, mas vamos acabar
logo com isso. Reuna meia dúzia dos
melhores atiradores e vá ao encontro desse
sujeito. Quero-o morto de uma vez por
todas.
— Certo, patrão. Seguremos pela estrada
e o pegaremos. Pode começar a esqueçê-lo
— prometeu o pistoleiro.
No entroncamento da estrada que ia de
Cheyenne a Denver onde era cruzada pela
que levava de Forte Collins a Ault, havia
uma parada da diligencia.
Ali Hellen e Buck resolveram fazer uma
pausa na viagem para comer e descansar.
Entraram ambos no salão. Um cheiro de
comida quente e café recém-coado enchia
deliciosamente o recinto.
— Será que podemos ter uma refeição
quente e um quarto para esta noite? —
indagou Buck.
— Claro, vocês têm sorte. A diligencia
não parou para pernoitar aqui hoje. Podem
se sentar ali, que já vou serví-los. Se
quiserem se refrescar, há um cano de águas
lá nos fundos.
— Vou adorar isso — falou Hellen.
— Eu também — concordou Buck.
Foram até lá. O rapaz tirou o chapéu, o
cinturão e a camisa, banhando o tronco.
Em seu peito destacava-se uma enorme
cicatriz. Hellen lavou os cabelos e o rosto,
deixando a água escorrer para dentro de sua
blusa.
Seus seios ficaram colados no tecido.
Buck a olhou com carinho e desejo. Ela
entendeu e sorriu.
Buck vestiu a camisa, pôs o chapéu, mas
não afivelou o cinturão. Levou-o no braço e,
quando se sentaram, ele o apoiou no braço
da cadeira.
Tinha escolhido uma mesa nos fundos,
sem ninguém atrás deles. A janela ficava do
lado e a porta diretamente a sua frente.
Se alguém entrasse ou chegasse, Buck
queria ter certeza de poder ver quem era.
A comida foi servida, juntamente com
uma cerveja gelada. Estavam ambos
famintos e com sede.
Quanto mais próximos chegavam de
Cheyenne, mais cuidadoso Buck se tornava.
Sabia que Ben logo estaria sabendo que
Hellen e ele estavam a caminho.
Se havia mandando um matador, com
certeza mandaria outros. Não queria
facilitar.
Hellen havia percebido isso, no entanto.
— O que o preocupa, querido?
— Estamos próximos de Cheyenne,
Hellen. Até lá são umas quarenta milhas e,
se tudo der certo, amanhã à tarde estaremos
lá. A esta altura, acredito que Ben já saiba
que estamos indo.
— Foi o que imaginei. Toda cautela é
pouca, não?
— Sim, pode estar certa que sim.
Quando foram dormir, puderam escolher
qualquer um dos quartos, já que todos
estavam vazios.
Buck avisou à dona do estabelecimento
que ficaria com o último quarto.
— As chaves estão nas portas, fiquem à
vontade!
Buck apanhou um lampião e subiram. Ao
invés de entrar no último quarto, no entanto,
ele deteve Hellen e apanhou o penúltimo.
— Para quê?
— Nunca se sabe — disse ele,
empurrando a porta e entrando.
Foi verificar a janela. Havia uma sacada
lá fora, que era comum a todos os quartos.
Buck fechou logo a cortina. Hellen estava
cansadíssima. Havia deixado as armas que
trouxera sobre um móvel e se deitara por
um instante.
No momento seguinte, já ressonava.
Buck olhou-a e sorriu. Era melhor assim,
julgou ele.
Verificou seu Colt. Depois completou a
carga de sua Winchester e pôs dois
cartuchos na espingarda de Hellen.
Trancou a porta. Pegou uma jarra de água
que estava ao lado da cama e a pôs do
parapeito da janela, do lado de dentro. Se
alguém tentasse entrar por ali, fatalmente a
derrubaria.
Deitou-se e, cansado como estava, logo
adormeceu, para acordar algum tempo
depois.
Seus ouvidos atentos haviam captado o
barulho de cavalos. Homens conversavam,
enquanto se detinham.
Buck foi à janela, tirando a armadilha que
ali deixara. Um dos homens desmontou e
entrou. Pôde ouvir as esporas dele tinindo lá
embaixo.
Foi para a porta e a entreabriu. As
esporas tiniram apressadamente para fora do
salão inferior para, sem muita demora,
outras tinirem de volta.
Ouviu-as subindo a escada e não teve
dúvidas. Tudo indicava que estavam a sua
procura.
Foi acordar Hellen.
— Calma, querida! Acho que vamos ter
visitas — disse ele, tirando-a da cama.
Sonolenta, ela ficou parada no meio do
quarto. Quando ouviu o rangido no
corredor, pareceu despertar de todo.
Buck lhe estendia a espingarda, que ela
apanhou e engatilhou prontamente.
Recuaram, escondendo-se atrás de um
móvel, no canto oposto da cama.
Ouviram a porta do outro quarto ser
chutada e aberta com violência.
— Demônios, eles não estão aqui! —
gritou alguém.
No momento seguinte, novo pontapé
estourou a porta do quarto deles. Um
homem entrou. Viu a cama desarrumada e
se virou.
Buck disparou seu rifle, atingindo-o na
cabeça, que se rachou como um melão
podre.
— Aqui dentro! — falou alguém no
corredor.
Três homens entraram disparando. Hellen
apertou os gatilhos de sua espingarda e a
tremenda e mortal carga apanhou os
bandidos em plena corrida, jogando seus
corpos sobre a cama, amontoando-se
grotescamente.
Alguém quebrou o vidro da janela. Buck
disparou seu rifle duas vezes seguidas.
Ouviu um grito e o som de um corpo
batendo na madeira, antes de despencar até
a poeira da rua.
Hellen foi se levantar, mas Buck a
deteve. Havia contado sete cavalos na rua.
Apenas cinco homens haviam sido atingidos
até aquele momento.
Logo entendeu o motivo, quando ouviu
as esporas tinindo escada abaixo.
Correu para a janela. Os dois pistoleiros
saltaram sobre seus cavalos e saíram em
disparada na escuridão.
— Acho que Ben ficará sabendo logo
sobre nós — falou ele, indo ajudá-la. —
Você está bem?
— Sim, e você?
— Estou ótimo. Acho que demos um
bom susto neles, mas não estamos salvos.
Ben estará a nossa espera agora.
A dona do estabelecimento subiu
correndo a escada, desesperada. ao vê-lo
com vida, suspirou aliviada.
— Eles me obrigaram... Não pude fazer
nada...
— Tudo bem, não se preocupe — falou
Buck, indo examinar os cadáveres.
Os quatros que estavam mortos ali no
quarto tinham estrelas de ajudantes de
xerife.
— Está vendo isso? — perguntou à dona.
— Sim, por isso não pude fazer nada...
— Crime legalizado. Ben está ficando
sofisticado — comentou o rapaz,
arrancando os distintivos e guardando-os.
Ben ficou possesso quando os dois lhe
contaram do fracasso da missão. O dia
amanhecia em Cheyenne e ele estava em
seu rancho, tomando o café da manhã.
— Seus covardes incompetentes — rugiu
ele, atirando o bule de café quente sobre os
dois.
Os homens gritaram de dor. Ben chutou-
os, derrubando-os. Depois, não satisfeito,
golpeou-os com um chicote que tinha na
parede, sobre os olhares vigilantes de seus
capangas.
— Sumam com estes dois covardes —
ordenou ele. — Pago mil dólares pela
cabeça de Buck Taylor. Vão agora!
Tragam-me a pele dele.
Uma dezena de homens correram apanhar
seus cavalos e partir em busca daquela
recompensa.
Ben apanhou seu cavalo e foi para a
cidade, onde reuniu seus auxiliares.
— Aqueles idiotas que mandei atrás de
Buck Taylor falharam. Ele está vindo para a
cidade. Mandei outro grupo ao encontro
dele, mas quero que vocês fiquem atentos,
para o caso dele aparecer aqui, de algum
modo. Estarei no saloon, em caso de
qualquer necessidade.
Saiu pela rua, respondendo vagamente os
cumprimentos que recebia.
O prefeito teve de correr atrás dele para
poder alcançá-lo.
— Ei, xerife, o que está havendo? Por
que toda essa movimentação?
Ben parou e ia responder qualquer coisa,
mas mudou de idéia. Poderia simplificar as
coisas.
— Bem, prefeito, é que soubemos que
um perigoso malfeitor está vindo para cá. É
um pistoleiro da pior espécie e temo que
cause problemas. Estou pensando
seriamente em mandar evacuar as ruas. O
que acha?
— Excelente idéia, xerife. Pelo menos
nenhum inocente correrá perigo de levar
uma bala perdida. Vou convocar os
voluntários agora mesmo para dar o aviso.
— Ótimo, prefeito! Isso me deixará mais
tranqüilo — finalizou Ben rumando para o
saloon.
Pelo menos estava livre de ter de prestar
contas à população depois. Se de alguma
forma Buck conseguisse chegar, estaria
desimpedido para liquidá-lo de uma vez por
todas.
No saloon, ficou na janela olhando a rua.
Em pouco tempo, os voluntários trataram de
espalhar a noticia.
Carroças e cavaleiros se apressaram na
rua. As lojas fecharam. Mães recolheram as
crianças. Todos foram se abrigar nos locais
mais seguros das casas, longe das temidas
balas perdidas.
Ben sentiu que tinha toda a cidade sob
seu controle. Se Buck insistisse na loucura
de vir atrás dele, Ben estaria à espera dele e
preparado.
Muitos caminhos levavam a Cheyenne e
Buck conhecia todas as trilhas, até aquelas
que ninguém mais utilizava.
Uma delas passava pelo pequeno rancho
do Xerife Lodge, onde Buck esperava
encontrar ajuda.
Encontrou o xerife plantando mudas em
seu pomar. Quando o viu, Lodge acenou e
sorriu.
— Diabos, homem! Pensei que estivesse
morto — comentou, assim que o rapaz se
aproximou.
— Não fiquei muito longe disso, xerife.
Se não fosse este anjo salvador aqui, eu não
viria lhe contar o que se passou.
— Vamos entrar. Desmontem. Tenho
café no fogo e bacon que acabei de
defumar.
— Está se dando bem, xerife! —
comentou Buck, ajudando Hellen a
desmontar.
— Estou em paz comigo mesmo agora,
Buck. Eu e a terra, estabelecendo uma
amizade que será definitiva, se é que me
entende.
— Muito cedo para essa conversa, xerife
— disse Buck. — Quero que conheça
Hellen Hasting, minha noiva e futura
esposa.
— Garota, se você quiser desistir dessa
paspalho aí, tenho uma boa proposta a lhe
fazer — brincou o xerife.
— Vamos ouví-la, então. Quem sabe eu
mude de idéia...
— Sobre meu cadáver — esbravejou
Buck e todos riram.
O xerife preparou uma refeição rápida
para eles e lhes serviu também café.
Enquanto comiam, Buck o pôs a par de
toda a sua aventura, desde que saíra de
Cheyenne, a pedido da Sra. Sommers, até
ser caçado pelos capangas de Ben, quando
vinham.
Em troca, o xerife lhe contou a rápida
ascensão do novo xerife, desde sua chegada
até sua nomeação como xerife.
— Há rumores que anda expulsando
rancheiros que possuem propriedades ao
redor do rancho dele, mas ninguém quer
acreditar nisso. Ben soube comprar toda a
cidade. Todos preferem ignorar isso,
enquanto se mantém sob a proteção dele.
— Tenho certeza que ele está a minha
espera, xerife, mas imagino que seria
loucura ir até lá desafiá-lo, não só pelo
apoio da cidade, mas principalmente pela
proteção de seus inúmeros capangas.
— Buck tem um plano maluco, xerife. Se
conseguisse distrair os capangas, poderia
enfrentar Ben cara a cara.
— Teríamos de criar uma diversão para
eles. Não deve ser algo muito difícil, se eles
estão a sua espera e, com certeza com
medo.
— Medo? — estranhou Hellen.
— Sim, moça. Medo. Para se cercar de
tantos capangas como faz Ben, é porque
teme alguma coisa. E acho que sabemos
qual é o pior pesadelo dele.
— Buck?
— Sim, com certeza. Vamos fazer o
seguinte. Vocês ficam aqui e descansam. Eu
vou à cidade e verifico o que está havendo.
Assim que eu voltar, nós traçaremos um
plano.
— Obrigado, xerife.
— Sabe que não sou mais xerife, não?
— Será, depois que Ben for
desmascarado.
— Não, meu tempo já passou. Deixo essa
tarefa para você, meu amigo. Afinal, eu o
tenho preparado há algum tempo para isso,
lembra-se?
Buck agradeceu a atenção e o carinho do
amigo, que selou seu cavalo e partiu logo
em seguida para a cidade.
Ele e Hellen estavam cansadíssimos.
— Sabe o que eu gostaria de fazer? —
indagou ela.
— Nem imagino, de tantas coisas que
pode estar desejando.
— Gostaria de um banho completo.
Ele sorriu, cheio de malícia.
— Há um lago aqui no rancho, com as
águas mais cristalinas e frescas da região. O
que me diz?
— Só nós dois?
— Só nós dois.
— Vou adorar — respondeu ela,
correspondendo à malícia que havia no
olhar dele.
Buck saiu à procura de toalhas. Depois
tomou Hellen pela mão e a levou ao lago.
Ela merecia aquele descanso e aquela
atenção. Afinal, ninguém podia dizer o que
o inferno reservava para eles em Cheyenne.
Quando Lodge voltou da cidade, Buck o
esperava, fumando no alpendre da casa.
Hellen estava lá dentro, adormecida,
descansando da extenuante viagem.
Lodge foi apanhar um garrafão de uísque
e duas canecas. Sentou-se diante de Buck,
que o esperava com curiosidade.
— O que descobriu?
— Estão a sua espera. Espalharam pela
cidade que um perigo pistoleiro estava
vindo. As ruas estão limpas. Ben está no
saloon, esperando. Seus capangas patrulham
a cidade. Há uma recompensa de mil
dólares pela sua cabeça, Buck.
— Tudo isso?
— Sim, fiquei tentado com a oferta.
— Você está acima disso, Lodge.
— É o que você pensa, mas não sei se
Ben pensaria assim.
— Por que diz isso?
— Porque tive uma idéia interessante.
— Qual?
— Ir até o Ben e dizer que você e Hellen
estão escondidos aqui.
Buck não entendeu, à principio.
— Você não faria isso! — afirmou Buck.
— É como eu disse! Você sabe disso,
mas Ben sabe? Precisamos encontrar uma
distração para afastar os capangas de lá. O
que acha que farão quando souberem disso?
Virão como loucos para cá. Ben ficará
sozinho. Você poderá acertar suas
diferenças com ele e eu ainda serei sua
testemunha.
— É um bom plano, xerife. Gostei dele.
— Eu sabia que gostaria! — falou o ex-
xerife, servindo o uísque para os dois.
Ben jogava paciência no saloon, cercado
por seus pistoleiros. Estava apreensivo.
Passara o dia todo em tensão, esperando a
chegada de Buck.
Os homens que haviam ido ao encontro
dele, pela estrada, retornaram sem sucesso.
Sabia que Buck estava preparando algo.
Apesar de toda a proteção com que contava,
tinha medo.
As ruas vazias da cidade reforçavam
aquele clima de tensão, expectativa e
prenúncio de tragédia.
A noite havia chegado tornando maior
ainda o medo que dominava seu coração.
Foi quando o Xerife Lodge apareceu no
saloon.
— A que devo a honra, xerife? —
indagou Ben, com ironia, interrompendo
seu jogo.
O ex-homem da lei foi se sentar à mesa,
diante dele.
— Soube que está pagando uma
recompensa de mil dólares a quem
encontrar Buck Taylor, é verdade?
— Por que quer saber? — retrucou Ben,
olhando-o com desconfiança.
— Por que talvez eu saiba onde ele está.
Ben não se convenceu, hesitando ainda
em acreditar na sinceridade do homem
diante dele.
— E se for verdade, o que me faz
acreditar que você o trairia? Afinal, pelo
que soube vocês eram muito amigos.
— Eu ganhava pouco como xerife e
agora ganho muito menos ainda com meu
rancho. Tenho algumas dívidas. Mil dólares
resolveriam o meu problema.
— Está bem, se me disser onde encontrá-
lo, eu lhe dou mil dólares.
— Não. Primeiro quero o dinheiro.
Ben sorriu.
— Só que vai esperar aqui até meus
homens voltarem — exigiu ele.
— Tudo bem por mim.
— Desarmado.
— Como queira — concordou Lodge,
pondo o revolver sobre a mesa.
Ben retirou uma maço de notas do bolso
do seu paletó e começou a contá-las.
Os capangas acompanhavam tudo com
interesse.
— Pronto, aí está — finalizou Ben. —
Onde posso encontrar Buck?
— Ele e a garota estão no meu rancho.
Chegaram à tarde. Comeram alguma coisa e
foram dormir. Estão muito cansados. Não
terá dificuldade em prendê-los.
— Prendê-los? — ironizou Ben,
chamando um de seus homens. — Buck
está no rancho do xerife. Vão até lá e o
peguem. Tragam-me a pele dele e da garota.
Mil dólares para vocês dividirem entre si —
ofereceu ele.
O pistoleiro convocou os demais e, pouco
depois, partiam ruidosamente.
Apenas três, armados de rifles, ficaram
protegendo o saloon. Ben voltou a jogar
paciência. Um pesado silêncio caiu no
recinto, quebrado apenas pelo tinir das
esporas dos homens que faziam a guarda.
Lodge ficou atento a sua arma sobre a
mesa. Queria tê-la ao seu alcance, quando
as coisas esquentassem.
Buck entrou pelos fundos. Hellen viera
com ele, mas ficaria esperando por ele do
lado de fora, com sua espingarda.
Armado com o rifle, o rapaz passou pela
cozinha do saloon e saiu atrás do balcão.
O barman, ao vê-lo, se assustou. Buck
fez-lhe um sinal para se calar e entrar.
O homem obedeceu. Tão logo ficou
longe das vistas dos outros no salão, Buck
golpeou-lhe a nuca com a coronha da
Winchester, segurando-o antes que caísse.
Arrastou-o para um canto e foi se
esconder atrás do balcão, de onde sondou o
ambiente.
Havia dois homens junto à porta e uma
na janela. Ben estava numa das mesas do
fundo, juntamente com Lodge.
Buck respirou fundo. Teria de ser muito
rápido. Ergueu-se, gritando:
— Ninguém se mexa!
Os homens se voltaram surpresos. Ben
olhou com ódio para Lodge e, antes que o
ex-homem da lei pudesse fazer algo, o atual
xerife apanhou a arma sobre a mesa e a
apontou para a testa dele.
— É melhor você não se mover, Buck, ou
estouro os miolos do seus amigo aqui. Eu
devia imaginar que tentariam algo assim.
Foi um longo caminho em vão.
— Não se preocupe comigo, Buck. Faça
o que tem que fazer — pediu Lodge.
— Não seja por isso — falou Ben, sem
piedade, apertando o gatilho.
A cabeça de Lodge explodiu como uma
abóbora e seus miolos se espalharam pelo
saloon.
Os pistoleiros engatilharam os rifles.
Buck atingiu o que estava na janela,
jogando-o para fora, no meio de uma chuva
de estilhaço.
Abaixou-se rapidamente e uma chuva de
balas foi arrebentando as garrafas da
prateleira.
O enorme espelho de cristal se espatifou,
jogando cacos sobre eles.
Ele rastejou para umas das pontas do
balcão. Quando os pistoleiros esgotaram as
cargas de suas armas, Buck se ergueu.
Ben estava protegido atrás de uma mesa e
rapidamente disparou o Colt contra Buck,
que revidou, sem êxito.
Os dois pistoleiros recarregavam suas
armas, também ocultos atrás de uma mesa
tombada.
Buck se sentiu preso numa armadilha.
— Valeu a tentativa, Buck. Daqui a
pouco meus homens estarão de volta. Por
que não simplifica tudo se entregando?
Prometo que terá uma morte rápida —
ironizou Ben.
— Você foi longe demais, Ben. Sua
ambição não tem mais medida.
— Ainda podemos ser sócios, amigo...
— Não sou mais seu amigo, Ben. Você
me deixou para morrer, após ter me
baleado.
— Você foi cabeça-dura, jogando fora
uma chance única em toda a sua vida.
— Antes isso que ter a consciência
pesada para sempre.
— Buck, não seja ingênuo. Nada melhor
que champanhe francês e uma bela mulher
para acabar com qualquer peso na
consciência. Eu falo isso por experiência
própria, pode ter certeza — falou Ben,
fazendo sinal para que seus homens
avançassem.
Buck ouviu o tinir das esporas se
aproximando. Pelos pedaços do espelho
ainda fixo na parede ele pôde ver os dois
homens caminhando na sua direção, com
rifles engatilhados.
Sabia que Ben estava no outro extremo
do saloon, deixando o balcão no centro do
fogo cruzado.
Repentinamente, porém, a porta da frente
se abriu e Hellen surgiu, com sua
espingarda.
Apertou os dois gatilhos ao mesmo
tempo. Com um coice violento, a arma
disparou suas cargas mortais, apanhando os
dois pistoleiros pelas costas, desarticulando-
se e jogando-os no assoalho como bonecos
de mola cobertos de sangue.
— Que diabos foi isso? — indagou Ben,
voltando-se na direção da porta e vendo
Hellen, com a arma fumegante na mão.
Apontou a arma para ela. Buck se ergueu
e viu o que iria acontecer.
Disparou sem mirar, instintivamente. A
bala arrancou lascas da madeira, jogando-as
contra o rosto de Ben, que gemeu e
praguejou.
Hellen saiu da mira de Ben, recuando
para fora do saloon.
— Está bem, Hellen? — quis saber Buck.
— Sim, estou bem.
— Que lindo! — zombou Ben. — Casal
que mata unido permanece unido?
— Vá para o inferno, Ben. Acho que
agora você está perdido. Por que não
simplifica tudo se entregando? Garanto que
terá um julgamento justo.
Ben riu, divertido com a oferta.
— Só o que tenho que fazer é ficar aqui e
esperar, Buck. Meus homens logo estarão
de volta.
— E como vai explicar tudo isso à
cidade?
— Quem precisa explicar alguma coisa?
Basta eu distribuir dólares e eles me darão
uma medalha por tê-lo matado, Buck. São
uns idiotas vendidos e perdedores de toda
sorte. Com meu dinheiro e meu poder posso
fazer o que quiser...
— Realmente, xerife — indagou Hellen.
— Sim, garota. Pena que não tivemos
tempo de nos conhecermos melhor quando
estávamos em Last Chance. Eu teria
adorado isso.
— Lamento não poder dizer o mesmo,
xerife. E acho que tem mais gente que não
concorda com você.
— Como assim?
— Está aqui fora comigo o prefeito, o
diretor do Banco e alguns outros amigos
seus, chocados com sua impressão a
respeito deles.
— Está blefando!
— Não, xerife, ela fala sério — disse o
prefeito lá fora, num tom de voz pouco
amistoso.
— Maldito! Você armou tudo, Buck! —
falou Ben, percebendo que a situação
começava a se inverter.
Levantou-se, mantendo-se atento ao que
acontecia atrás do balcão.
Buck o viu em pé, com a arma abaixada.
Levantou-se também, encarando-o. Tinha o
rifle atravessado à frente do peito, pronto
para disparar.
— Você foi muito esperto, Buck, mas
isso não vai mudar nada. Ainda sou o xerife
da cidade e meus auxiliares me ajudarão a
combater qualquer resistência.
— Só que eles não estão aqui para ajudá-
lo agora, Ben.
— Não faz diferença, Buck. Eu sempre
fui mais rápido que você...
— Isso foi há muito tempo atrás, Ben. Eu
andei praticando.
— Não acredito.
— Então tente.
Ben mediu seu oponente. Buck estava
mesmo decidido. Não havia outra forma de
resolver aquilo.
— Adeus, Buck! Vou sentir sua falta —
falou Ben, levantando o Colt.
— Eu também! — respondeu Buck, sem
pestanejar, apontando o rifle e fazendo
fogo.
Ben recuou alguns passos, olhando
incrédulo para a mancha vermelha em seu
estômago.
Buck aproveitou para saltar sobre o
balcão. Ben levantou a arma, apontando-a
de novo na direção do rapaz.
Hellen deu uns passos à frente e disparou
de novo, protegendo seu amor.
A carga dupla cortou Ben ao meio,
jogando seu corpo contra a parede, onde
deixou uma enorme mancha de sangue,
antes de deslizar para o assoalho.
A garota suspirou aliviada e correu ao
encontro de Buck.
Terra Sem Lei
Os lagos ao redor de Tulsa faziam
daquela a melhor região de Oklahoma para
a pecuária. A terra fértil tinha boa irrigação
e umidade suficiente para manter os pastos
sempre verdes, mesmo no verão mais
intenso.
Os ranchos rodeavam a cidade e o grande
negócio era engordar o gado e depois levá-
lo para venda em Kansas City, numa
viagem demorada, mas compensadora.
A cidade crescia com a prosperidade dos
ranchos, já que os vaqueiros, nos dias de
pagamento, invadiam os saloon e cantinas,
cheios de dinheiro para gastar, sedentos por
um gole de uísque e alguns momentos com
uma mulher bonita.
Aquele sábado não era diferente dos
outros, ao entardecer. Eles chegavam em
bandos, amarrando seus cavalos diante das
casas de banhos e barbearias, embelezando-
se, gastando alguns centavos com perfume
barato que os fazia se sentirem mais
atraentes.
Num dos principais saloons de Tulsa, um
vaqueiro havia acertado o preço de alguns
momentos com a mulher mais bonita e
cobiçada da cidade.
Economizara durante um mês para fazer
aquilo valer a pena.
— Negócio fechado, vaqueiro! — disse
ela, com sua voz rouca e sensual, olhando-
os nos olhos.
O vaqueiro estremeceu, aproximando-se,
deslumbrado com o sorriso e o belo olhar de
Sally Brown.
Ele tivera que tomar alguns uísques para
criar coragem, afinal, de realizar aquele
sonho, mas não estava de todo embriagado.
As promessas contidas naquele olhar e
naquele corpo magnifico o faziam ter
certeza de que valera mesmo o sacrifício.
Ela se levantou e estendeu a mão para
ele, num convite irrecusável.
— Venha, vaqueiro! Hoje seus sonhos
vão se tornar realidade — prometeu ela,
num sussurro.
— Eu a seguirei até o inferno, se for
preciso, Sally — gaguejou Joe Smith,
estendendo a mão calejada e prendendo nela
os dedos finos e macios da garota.
— Vamos para o paraíso, querido! Não
falemos em inferno agora — pediu ela,
levando-o consigo.
Os dois subiram as escadas até o
pavimento superior do saloon, onde ficavam
os quartos. O de Sally era o último e o
maior, com uma porta dupla. Aquele
aposento era o orgulho do saloon Little
Cow.
Assim que entraram, Joe soltou o
cinturão, que caiu pesadamente no assoalho.
Sally aproximou-se da cama, coberta com
uma colcha vermelha de cetim. Tirou-a,
descobrindo lençóis alvos como a neve.
O vaqueiro, todo atrapalhado, retirou um
maço de notas do bolso e contou,
depositando-o quase todo sobre a
penteadeira.
— Aqui está, Sally. Faça valer cada nota
dessas, por favor — pediu ele, caminhando
devagar na direção da cama.
— Você terá tudo que deseja, Joe. Está é
sua noite — prometeu, Sally, deitando-se na
cama com provocação.
Seus cabelos longos, negros e sedosos se
espalharam no lençol branco, criando uma
moldura belíssima, que encheu os olhos do
vaqueiro apaixonado.
— Quer que eu o ajude a se despir? —
perguntou ela.
— Sim, claro... Tudo que tiver direito...
— gaguejou ele, aproximando-se mais da
cama.
Naquele momento, com um estrondo, a
porta se abriu e a figura temida do Xerife
W. Bonney avançou alguns passos,
encarando ameaçadoramente o vaqueiro
assustado.
— O que foi que eu fiz, xerife? —
indagou ele, trêmulo.
— Dê o fora, vaqueiro. O negócio não é
com você.
— Não estou fazendo nada contra a lei.
Eu e Sally vamos...
— Vai coisa nenhuma. Sally é minha
garota. Todos na cidade sabem disso.
— Sally é uma garota do saloon e
pertence a quem puder pagar seu preço —
falou o vaqueiro, agora desafiadoramente.
— Está me chamando de mentiroso,
vaqueiro? — perguntou o homem da lei,
ameaçadoramente.
O vaqueiro o encarou, muito embora seu
cinturão, com a arma, estivesse junto aos
pés do homem da lei. Joe franziu a testa e,
de repente, compreendeu o que acontecia.
— Está com ciúme, xerife? Não pode
pagar o preço dela e julga que, com isso,
tem o direito de...
O rapaz não chegou a terminar o que
estava dizendo. O punho de Bonney atingiu
seu queixo violentamente, jogando-o sobre
a cama.
— Você pode ser o diabo que for, xerife,
mas juro como vai me pagar por isso —
esbravejou o vaqueiro, sacando uma faca
oculta em uma das botas.
Ergueu-se num salto, mas parou, imóvel,
diante dos dois revólveres engatilhados que
o xerife havia sacado.
— Não, xerife! — gritou Sally.
— Não se meta! — rugiu ele, apertando
os gatilhos.
O lençol da cama tingiu-se de vermelho,
quando o corpo de Joe rodopiou, com os
braços abertos, e foi cair sobre ele. Tentou
se erguer, mas os disparos haviam sido
mortais. Ficou imóvel, enquanto o sangue
se alastrava sobre o lençol branco.
— Seu animal assassino! — gritou Sally,
após verificar que Joe estava morto.
— Ele tentou me matar, foi legítima
defesa e você testemunhou isso.
— Não pense que me assusta, xerife. Foi
assassinato a sangue-frio.
O xerife engatilhou de novo suas armas e
as apontou para o rosto furioso de Sally.
— Você sabe o quanto a amo, Sally. Vive
me obrigando a fazer loucuras. Um dia eu
faço a loucura maior, compreendeu? —
intimidou ele, olhando-a nos olhos.
— Vá embora daqui! — ordenou ela.
— Não pode me dar ordens, Sally. Como
disse o vaqueiro, você é uma garota de
saloon e...
— Sou, sim, mas não para o seu bico.
Quando você tiver dinheiro para pagar o
meu preço, apareça. Até lá, fique longe de
minha vida e dos meus clientes, ouviu? —
berrou ela, fora de si.
Pessoas começaram a chegar, atraídas
pelos tiros. O xerife desengatilhou as armas
e as devolveu aos coldres. Olhou Sally com
um rancor que mesclava amor e ódio,
depois virou as costas e saiu, passando
arrogantemente pelas pessoas à porta.
Foi para a cadeia. Mandou Bill Cody, seu
auxiliar, ir buscar o cadáver de Joe Smithe e
levá-lo para a funerária. Abriu uma gaveta
da mesa e retirou um copo e uma garrafa de
uísque. Serviu uma dose generosa e bebeu-a
num só gole.
As palavras de Sally ainda feriam seus
ouvidos. Fora humilhado mais uma vez por
ela. Já não suportava mais aquela situação.
Concluiu que era hora de tomar uma
decisão drástica e mudar aquele estado de
coisa.
Tomou mais um gole e foi até a janela.
Ainda havia luz no escritório de Ted
Bacley, um dos maiores compradores de
gado da região.
Pensou por instantes, depois saiu,
atravessou a rua e foi até o escritório.
— Olá, xerife! O que posso fazer por
você? — indagou Ted, sempre
acompanhado por, no mínimo, dois de seus
pistoleiros guarda-costas.
O sucesso de Ted em seu negócio estava
baseado justamente no trabalho de seus
pistoleiros. Todos na cidade sabiam de seus
métodos nada ortodoxos e muitas vezes
drásticos, que lhe permitiam realizar sempre
ótimos negócios, comprando gado da
melhor qualidade por preços vis.
Nada podia ser provado contra ele, no
entanto, pois as testemunhas e os rancheiros
lesados jamais haviam se apresentado para
fazer uma queixa que fosse.
Os poucos que tentaram fazer isso,
morreram a caminho da cidade. Com isso
ele continuava nos negócios, enriquecendo-
se rapidamente.
— Preciso lhe falar — disse o xerife, com
decisão.
— Esperem lá fora, rapazes — ordenou
Ted.
Enquanto eles saíam, o xerife se
acomodou numa das poltronas diante da
mesa de Ted. O comprador de gado serviu
seu melhor uísque para o homem da lei.
— Soube que se meteu num tiroteio há
pouco, xerife — comentou Ted.
— Sim, por causa de Sally novamente.
— Continua apaixonado por ela, não?
— Aquela mulher me enlouquece —
afirmou o xerife, servindo-se de mais
uísque.
— Ela continua lhe dando o fora, não?
— Sim, só porque não posso pagar seu
preço. Só que decidi não ser mais
humilhado por ela!
Ted franziu a testa e reclinou-se em sua
em sua poltrona, esperando que o outro
continuasse.
— Quero ganhar dinheiro! — falou o
xerife.
— Resolveu aceitar minha oferta?
— Sim, desde que eu possa ganhar
mesmo muito dinheiro, o suficiente para
pagar o preço de Sally sempre que eu
quiser.
— Claro, Bonney! você vai ganhar muito
dinheiro, o suficiente para comprar os
carinhos de Sally e, sem sombra de dúvidas,
até mesmo aquele saloon inteiro.
Os olhos do xerife brilharam de cobiça e
paixão.
— Qual é a idéia?
— Tenho agido em pequena escala ainda,
pois as complicações podem ser muitas, se
eu não tiver proteção. O que você, como
xerife e responsável pela lei tem que fazer, é
o seguinte: dê-me cobertura em tudo que eu
fizer.
— Cobertura? Como assim?
— Às vezes tenho que pressionar alguém
para comprar gado a um preço que seja
lucrativo para mim. Tenho sido até certo
ponto delicado nessa questão, mas posso
endurecer o jogo, usando métodos mais
eficazes, se você me ajudar.
— Quanto poderei ganhar nessa jogada?
— Muito, Bonney. Muito mesmo.
— E quanto é isso?
— Poder ter Sally todas as noites.
O xerife pensou, fazendo mentalmente
suas contas.
— Está certo, o que devo fazer?
— Vou lhe dar um exemplo. O Rancho
W tem uma manada de cinco mil cabeças
das melhores reses que já vi. Em Kansas
City conseguirei um preço excelente por
elas. Só preciso convencer All Wood a
vendê-las para mim por um preço razoável.
— Fez-lhe alguma oferta?
— Ele recusou.
— Qual é o plano, então?
— Tirar os vaqueiros dele do caminho.
— Os vaqueiros? Não entendi!
— Sem sua ajuda, All Wood não poderá
levar a manada até Kansas City.
— Entendo. Se é assim, já comecei a
trabalhar, pois matei Joe Smith, do rancho
W.
— Bem lembrado, mas não precisamos
matá-los todos. Um pouco de sutileza
resolverá o problema.
— O que sugere, então?
— Eles receberam o pagamento hoje e
estão festejando, como tantos outros
vaqueiros. Normalmente ficam unidos, em
bandos.
— Como sempre, vão se embebedar e
acabarão presos — lembrou o homem da
lei.
— Sim, só que desta vez precisamos algo
mais do que apenas uma noite na cadeia.
Eles precisam ser presos por um tempo
maior, compreendeu?
— Sim. Acho que posso conseguir isso.
— Excelente! Sem sua equipe, Wood terá
que me vender o gado ao preço que eu
quiser. Lucraremos muito, xerife.
— Você sabe que só estou fazendo isso
por dinheiro, Ted. Por dinheiro e por causa
daquela maldita mulher. Diga-me quanto
ganharei no meu primeiro trabalho?
— Meio dólar por cabeça de gado que eu
comprar.
Os olhos do xerife brilharam de cobiça.
— isso quer dizer dois mil e quinhentos
dólares só na manada do Wood?
— Isso mesmo. E para provar que nossa
sociedade será muito lucrativa, vou lhe
adiantar mil dólares.
O xerife estremeceu. Aquele dinheiro
significava quase um ano de trabalho
honesto. Mal pôde acreditar quando Ted
abriu o seu cofre e retirou dali alguns maços
de notas, pondo-o diante dele.
— Acha que poderá pagar o preço de
Sally com isto? — indagou Ted.
— Sim. Vou poder fazê-la engolir todo
aquele orgulho esta noite mesmo! — disse,
pegando o dinheiro e guardando-o.
— Primeiro lembre-se do trabalho que
tem a fazer.
— Não me esquecerei.
— Então um brinde a nossa sociedade —
propôs Ted, servindo os copos novamente.
Beberam e acertaram mais alguns
detalhes. Depois o xerife saiu para tomar
suas primeiras providências.
Sabia que os vaqueiros do rancho W
estariam no saloon, por causa da morte de
Joe. Convocou seus auxiliares, armaram-se
de espingardas e foram para lá.
Como ele previra, um grupo de vaqueiros
lamentava a morte de Joe Smith, que era
muito amigo de todos da equipe.
Uns quinze vaqueiros do Rancho W
bebiam e choravam pelo parceiro morto,
não deixando também de manifestar sua
revolta pelo ato do xerife.
Assim, quando os homens da lei
entraram, armados daquela forma, todos
esperaram por encrencas, por muita
encrenca.
— Eu precisava mesmo falar com você,
xerife — disse Burt Hawkins, o capataz.
— Estou ouvindo — respondeu o homem
da lei, atento a qualquer movimento.
— Por que matou o Joe?
— Ele tentou me matar com uma faca e...
— Não foi o que Sally nos disse —
cortou-o Hawkins, indignado.
— Não gosto que duvidem de mim...
— Você o matou por puro despeito,
xerife.
— É melhor se calar, Hawkins, ou terei
de tomar uma providencia.
— Então o que está esperando, xerife. Só
que tome cuidado! Eu não estou tão bêbado
quanto o Joe. Não me deixarei matar
desarmado.
Bonney percebeu que o capataz estava
facilitando seu trabalho, só que os vaqueiros
estavam em maior número e todos pareciam
dispostos a vingar o amigo.
— Está ameaçando um homem da lei,
Hawkins?
— Sim, e o estou acusando também.
Naquele momento, para alívio do xerife,
Ted Bacley entrou no saloon, acompanhado
de uma dúzia de pistoleiros armados até os
dentes.
— Precisa de ajuda, Bonney? — indagou
o chefão.
— Sim, parece que o pessoal do Rancho
W está à procura de encrenca.
— Nós lhe daremos toda cobertura de
que precisar.
Ao ouvirem aquilo, os vaqueiros do
Rancho W se intimidaram, pois conheciam
a reputação dos pistoleiros de Bacley.
Hawkins, no entanto, estava mesmo
disposto a vingar o amigo morto.
— Está certo, xerife! — disse,
desafiadoramente. — Só nós dois agora.
— Quando quiser, Hawkins.
— Esperem aí, não quero tiroteios em
meu saloon. Já morreu gente aqui suficiente
para um dia — protestou Sally.
— Cale a boca, depois cuidarei de você
— ameaçou-a ele, olhando-a seriamente.
Sally se aproximou, com audácia no
olhar.
— Quem você pensa que é para...
Bonney não a deixou terminar a frase.
Aplicou-lhe uma sonora e violenta bofetada,
fazendo-a rodopiar e cair sobre uma das
mesas, com a face em fogo e sangue
escorrendo de seus lábios.
— Você só é bom mesmo contra
mulheres e bêbados, xerife — zombou
Hawkins.
— Acabou de assinar sua sentença de
morte, tagarela.
— Pare de falar e saque.
— Você não tem chance alguma. É um
homem morto, Hawkins — falou o xerife,
apertando os dois gatilhos de sua
espingarda.
O corpo do capataz foi jogado como um
fardo para trás, batendo no balcão, onde ele
tentou se agarrar. O sangue escorria de todo
lugar. Algumas garrafas tombaram e o
cheiro de bebida barata juntou-se ao de
sangue e pólvora, numa mistura enjoativa.
Hawkins, agonizante, levantou os olhos
suplicantes e assustados para o homem da
lei.
Bonney sacou seu revólver e disparou
contra a testa dele, jogando sangue e miolos
no espelho atrás do balcão.
— Covarde! — gritou um dos vaqueiros,
tentando sacar sua arma.
— Mate-o, Bull — ordenou Ted a seu
pistoleiro mais próximo.
Uma arma surgiu na mão do pistoleiro
como passe de mágica, disparando
certeiramente.
O vaqueiro esbugalhou os olhos e foi
arremessado para trás, com o Colt na mão e
um buraco no coração.
— Todos quietos agora ou teremos um
massacre aqui — gritou o xerife. —
Obrigado, Ted! — disse ao comprador de
gado.
— O que fazemos com eles, xerife? —
indagou Bill Cody, o assistente-chefe.
— Desarme-os e tranque-os. Serão
julgados assim que o juiz passar por aqui.
— Julgados? De que está falando, xerife?
Temos um trabalho a fazer — protestou um
deles.
— Serão julgados por conspiração,
desacato, tentativa de morte e mais uma
porção de outras coisas que pensarei depois.
— Não fizemos nada...
— Com sorte o juiz lhes dará trinta dias,
mas ele só deverá passar por aqui no final
do verão. Agora chega! leve-os, Bill! A
calma voltou, pessoal. Vamos beber com
tranqüilidade agora.
O saloon se acalmou gradativamente,
enquanto os vaqueiros eram retirados.
— Bom trabalho, xerife! Você entendeu
bem o espirito da coisa — elogiou Ted.
— Quando terei todo o meu dinheiro?
— Calma, não precisa se apressar. Basta
me dizer de quanto precisará e eu cuido
disso. Amanhã, quando eu convencer Wood
a me vender o gado, você terá o resto do
dinheiro. Só que haverá muitos trabalhos
como este. Sally numa mais o repudiará.
— Pode apostar que não — disse ele,
rumando imediatamente na direção de uma
das mesas, onde Sally bebia com um
freguês.
Quando ele parou ao lado da mesa, ela o
olhou com desprezo, esfregando a mão na
face ainda manchada pela bofetada dele.
— Vamos, Sally! — ordenou ele,
rispidamente.
— Para onde?
— Para o seu lugar, lá em cima.
— Você sabe o meu preço!
— Não estou discutindo isso, sua
vagabunda. Venha e mantenha sua boca
fechada — ordenou ele mais uma vez,
puxando-a pelo braço.
— Espere aí, xerife. A dama está comigo
— protestou o homem que a acompanhava.
O xerife o conhecia. Era um jogador que
sempre estava por ali, trapaceando.
— Dama? Não vejo nenhuma dama por
aqui — respondeu-lhe o homem da lei, com
ironia.
— Então é cego, xerife!
O rosto de Bonney se alterou. Por mais
impiedoso que fosse, sempre haveria um
idiota para enfrentá-lo e fazer bonito na
frente de Sally.
— Se quer continuar vivendo e
trapaceando nas cartas, dê o fora, seu idiota!
— Por que não espera a sua vez, xerife.
Estou acertando o preço com a dama.
Aquecerei os lençóis para você — ironizou
o jogador.
— Seu bastardo! — exclamou o xerife,
dando um murro no alto da cabeça do
jogador.
Agilmente o xerife chutou a perna da
cadeira, derrubando o outro no assoalho.
como uma cobra, o braço do jogador se
estendeu, fazendo um Derringer na palma
da mão.
O xerife estava preparado para aquilo.
Pisou no braço do outro, mantendo-o
imobilizado. Sacou uma das armas e
apontou-a para a mão que ainda segurava a
pequena arma.
— Isto é para você jamais trapacear nas
cartas nem sacar uma porcaria dessas contra
mim — vociferou, disparando contra a mão
do jogador, despedaçando-a.
O homem urrou de dor, rolando pelo
assoalho. Bonney segurou Sally pela mão e
a arrastou na direção da escada. Levou-a ao
primeiro quarto que encontrou desocupado.
Jogou-a sobre a cama.
— Você é um animal, Bonney! Um
assassino!
— Continue, gosto quando você me
elogia. Em breve todo esse orgulho estará
domado — afirmou ele.
— Não pense que me terá com suas
ameaças. Não tenho medo de você.
— Isto a convence? — indagou ele,
retirando os maços de notas e atirando-os
sobre ela, na cama.
‘ Sally podia ser um tanto orgulhosa, mas
sua maior virtude era a ambição. Ali tinha
muito dinheiro. Muito dinheiro mesmo.
— Onde conseguiu isto?
— O que lhe interessa saber? Estou aqui
e pretendo pagar o seu preço.
Sally mudou inteiramente de estratégica,
passando a se desmanchar em carinhos.
Bonney se sentiu no paraíso, dominando
definitivamente a mulher que ele amava.
Enquanto isso, no saloon, jogador
lastimava o que havia acontecido com sua
mão, envolta agora em ataduras
improvisadas. Além disso, estava
inconformada com o que o xerife fizera com
a garota.
— Deixe isso, Sonny! — falhou-lhe o
barman. — Acho que você já teve sorte
demais para uma noite.
— Ao diabo com isso! Você viu como
ele humilhou Sally?
— E você pensa que ela se importa com
isso? Faz parte do trabalho dela.
— Só que não vou engolir isto — disse,
mostrando a mão.
— O que pretende fazer?
— Vou pegá-lo de surpresa — disse o
jogador, verificando a carga de seu
Derringer.
Subiu a escada e ficou ao lado da entrada
do corredor. Os outros nada perceberam. Só
mais tarde, quando o xerife saiu com Sally,
foi que Sonny tentou seu jogada mais
desesperada.
— Vou matá-lo, xerife — disse,
apontando a pequena arma.
O xerife disparou apenas uma vez. A bala
atingiu a testa de Sonny, jogando-o lá de
cima, sobre as mesas do saloon. Um
silencio de morte pairou no ar.
— Bebidas por conta da casa! — gritou
Sally, abraçando-se ao xerife.
Todos se convenceram, desta vez
definitivamente, que Sally era agora
propriedade exclusiva do xerife.
Charles Longman entrou no saloon Cow
acompanhado de sua linda filha.
A jovem e bela Laurie atraiu a atenção
dos presentes. Um silencio respeitoso
pairou no recinto.
— Ouçam-me, rapazes! Tenho uma
manada para levar para Kansas City e
pagarei o dobro para aqueles que me
ajudarem — ofereceu Longman.
Aquela oferta revelava todo o seu
desespero. Os vaqueiros ali presentes se
entreolharam. Charles vinha tendo
problemas em conseguir novos vaqueiros,
desde que metade de sua equipe fora morta
num tiroteio com os pistoleiros de Ted
Bacley.
— Não é muito saudável trabalhar para
você, Longman — disse um dos vaqueiros.
— De que tem medo? — desafiou-o
Laurie.
— Não tenho medo de nada, só não sou é
estúpido. O preço não compensa o risco.
— Eu pago o triplo então, se for esse o
caso — ofereceu Longman.
— Ainda é pouco. Minha vida vale muito
mais — respondeu o vaqueiro.
— Por que jogar tanto dinheiro fora,
Longman? — indagou Ted Bacley,
entrando no saloon.
Vira quando Charles entrará lá e fora até
a porta, onde ouvira as ofertas desesperadas
do rancheiro.
Como sempre, vinha escoltado por dois
de seus melhores pistoleiros.
Longman se voltou e o encarou com
desprezo e ódio.
— Você sabe meus motivos, não,
Bacley?
— Teimosia sua. Se me vendesse o
gado...
— No seu preço, nunca!
— Seus prejuízos serão maiores.
— Arriscarei.
— Preferimos conduzir o rebanho
sozinhos do que vendê-lo a você, Ted
Bacley — disse Laurie.
O comprador de gado olhou a garota com
provocação, admirando-a.
— Por que desprezar um bom negócio?
— Por que sabemos que esse bom
negócio apenas será lucrativo para você.
— Mas acontece que...
— Seus argumentos não nos interessam
— cortou-o ela. — Já basta o que seus
pistoleiros nos causaram.
— Está me acusando de alguma coisa —
devolveu ela, olhando-o da mesma forma.
— Se está tão certa de que eu os estou
prejudicando, por que não comunica a lei?
— Porque o xerife é um vendido e todos
sabem que você o está pagando — afirmou
ela, com desprezo.
— Alguém falou em mim? — indagou o
Xerife Bonney, surgindo no alto da escada.
Ao seu lado vinha Sally, linda como
nunca, enroscada nele como se ele fosse
propriedade dela.
— Parece que a garota aqui tem uma
acusação a fazer, xerife — falou Bacley,
com ironia.
— Tenho mesmo — falou ela, resoluta.
— Laurie, por favor! — pediu-lhe o pai,
assustado com o que poderia acontecer.
— Não, pai! Acho que é hora de alguém
dar um basta em tudo que está acontecendo
por aqui...
— E o que está acontecendo, Laurie? —
indagou ele, começando a descer a
escadaria.
— Sabe muito bem do que estou falando,
xerife. Há muito Ted Bacley e seus
pistoleiros vêm pressionando os rancheiros
daqui e os obrigando a vender o gado a
preços irrisórios...
— É a lei da oferta e procura. Há muito
gado aqui e poucos compradores —
zombou Bacley.
— E até agora nenhum rancheiro
apresentou uma queixa contra isso —
lembrou Bonney.
— Porque são covardes ou foram
assustados demais para fazer alguma coisa
contra.
— É uma acusação muito pesada, garota.
— Pois eu a sustento, xerife, porque é
verdade. Não sei como pôde se sujeitar a
isso.
— Do que está falando? — intimou ele,
próximo dela.
Laurie manteve seus olhos fixos nos dele.
— Acho que sabe o que eu estou falando,
xerife. Basta olhar ao redor para perceber
— frisou a garota, olhando para Sally e
depois para o xerife.
— Explique-se melhor — ordenou ele,
lívido e tenso.
— É um vendido, xerife. Esta é a
verdade! — afirmou ela, corajosamente.
O xerife estremeceu. Os músculos de seu
rosto se contraíram, traindo sua irritação.
— Olhe aqui, Laurie! Se tem alguma
coisa para provar o que disse, vá falando.
Caso contrário, esquecerei que você é
mulher e a farei calar a boca da maneira
mais rude possível. Depois a mando prender
por ofensa e desacato.
— Pois faça isso, xerife. Mostrará que
grande homem você é, capaz de bater e
prender mulheres, deixando que pistoleiros
assassinos circulem livremente pela cidade.
— Quer um bom conselho? Pois vá para
casa cuidar da cozinha, onde é seu lugar,
garota insolente!
-- Está bem, Laurie! Já basta — disse-lhe
Charlies, tentando controlá-la.
Conhecia a filha, sabia do que ela era
capaz.
— Não, pai — protestou ela. — Isso não
está certo. Você tem medo, assim como os
outros rancheiros. Não vê que esses
vaqueiros são uns covardes, fazendo o jogo
de Ted Bacley? Jamais encontraremos ajuda
aqui — desabafou ela.
— É inútil argumentar, filha.
— Covardes! Vocês são todos uns
covardes — gritou ela, furiosa.
— Pois vou lhe mostrar quem é covarde
— disse um dos pistoleiros de Bacley,
erguendo a mão para esbofeteá-la.
Laurie trazia um pequeno chicote na mão.
Vibrou-o certeiramente, deixando um
vergão no rosto do pistoleiro, que rugiu de
dor e surpresa.
— Maldita cadela! — gruiu ele, levando
a mão na direção do revólver.
Antes de mais nada, olhou na direção de
Bacley, que fez um sinal para que ele nada
fizesse.
— Vamos lá, valentão! Saque sua arma.
Estou desarmada. Mostre sua coragem —
zombou Laurie.
— Retire o que disse, miserável!
— Confirmo tudo que disse. Vocês são
covardes mesmo.
— Cale-se ou...
— Ou você me meterá uma bala, não é?
que homem valente é você! Aposto como
está morrendo de medo de enfrentar uma
mulher desarmada.
— Vou lhe mostrar o que merece —
disse o pistoleiro.
— Basta, Bull — ordenou Bacley e o
capanga ficou imóvel, tremendo de ódio.
— Eu não tenho o rabo preso com
ninguém e vou fazê-la engolir suas palavras,
moça — disse um vaqueiro, avançando para
Laurie.
— Pare! — ordenou o xerife, apontando-
lhe um a arma.
O vaqueiro estacou indignado, trêmulo de
cólera, olhando a garota nos olhos.
— Você não perde por esperar —
ameaçou ele, saindo apressadamente.
— Pronto, Laurie! Já arrumou encrencas
demais para um só dia. Por que não dá o
fora daqui enquanto pode? — intimou o
xerife.
— Vamos, querida, é inútil ficarmos aqui
— disse-lhe o pai.
Ela olhou mais uma vez os presentes.
Seus lindos olhos destilavam cólera.
Ela se deixou, então, levar pelo pai. Lá
fora, ela o olhou quase com piedade.
— Pai, vai se deixar roubar dessa
maneira?
— Não vejo outra alternativa.
— Lute! Está no seu direito.
— Olhe para mim, filha. Seja realista.
Estou velho demais para usar uma arma.
Quer que me deixe matar inutilmente?
— Oh, não, pai! Perdoe-me! — soluçou
ela, abraçando-o emocionadamente,
percebendo que estava sendo dura demais
para com ele.
— Muito bem, mocinha! Temos uma
conversa para terminar — disse o vaqueiro
que Laurie havia ofendido no saloon.
— Deixe-nos em paz e dê o fora —
sugeriu ela.
— Perdeu o veneno da língua, agora que
não tem o xerife para protegê-la?
— Não preciso de um covarde para me
defender de um outro covarde.
— Vou fazê-la engolir essa língua ferina
— disse o vaqueiro, aproximando-se com
um chicote na mão.
— Se pensa que permitirei que faça isso
com minha filha... — ia dizendo Charles
Longman, mas suas palavras foram
interrompidas por um grito de dor.
O vaqueiro fizera estalar o chicote em
pleno rosto do rancheiro, abrindo-lhe um
talho, por onde o sangue começou a
escorrer.
— Maldito bastardo! — rugiu a garota,
vendo o pai cobrir o rosto cortado com as
mãos, tentando estacar o sangue.
— Vai precisar disso, garota — disse
alguém, jogando um chicote aos pés de
Laurie.
Ela se abaixou e o apanhou,
desenrolando-o.
— Ora, ora, vamos ter um duelo
interessante — comentou Ted Bacley,
saindo do saloon em companhia do xerife e
de seus pistoleiros.
— Por favor, alguém ajude minha filha!
— pediu Charles Longman, em desespero.
— Espero que sua filha saiba manejar o
chicote longo tão bem quanto o curto,
Longman. Uma boa lição a fará mais
educada com a língua no futuro —
respondeu o xerife.
Laurie e o vaqueiro mediam distância,
atirando o chicote à frente e o recolhendo
em seguida. O vaqueiro estava bêbado e
muito confiante. Laurie era astuta quanto
faladora.
O vaqueiro se distraiu, respondendo a um
gracejo feito por um de seus amigos. A
garota vibrou o chicote, atingindo-o nas
costas.
Antes que ele se refizesse, nova chicotada
o acertou no peito. Uma terceira atingiu-o
no ombro e, com rapidez, ele enrolou a
ponta no chicote no braço, puxando com
força.
Laurie se viu desequilibrada, caindo de
joelhos na poeira da rua. O chicote foi
arrancado de sua mão. Ela ficou a mercê da
raiva do vaqueiro.
— Vou lhe dar uma lição que jamais
esquecerá, sua potranca chucra. Vou domá-
la como se doma uma égua selvagem —
ameaçou ele, brandindo o chicote.
Neste momento, um cavaleiro avançou,
pondo seu cavalo entre os dois.
— Saia daí, forasteiro — ordenou o
vaqueiro, furioso e aborrecido.
— Está falando comigo?
— Sim, sua besta!
O forasteiro se fez de desentendido.
Olhou a garota caída de um lado e o
vaqueiro do outro, brandindo o chicote.,
— Você não pretende surrar a garota,
pretende?
— É o que vou fazer e, se você não sair
da frente logo, vai entrar na dança também.
O cavaleiro olhou para o rosto assustado
de Laurie e depois para a expressão raivosa
do vaqueiro.
— Olhe, parceiro, não vai ser uma boa
idéia! — comentou desmontando sem
pressa.
— Eu lhe dei uma chance, estranho.
Agora vou fazê-lo se arrepender de sua
ignorância — rugiu o vaqueiro, cujo nome
era Jab Wellington.
O forasteiro bem se abalou. Continuou
olhando Jab com um riso irônico e
desafiador nos lábios.
O vaqueiro começou a fazer algumas
firulas com o chicote, estalando-o. O
forasteiro, inesperadamente, adiantou-se
com rapidez e segurou o braço do vaqueiro,
tomando-lhe o chicote.
— Seu intrometido! Vai ver com quem
está se metendo — vociferou Jab,
desferindo um murro na direção do rosto do
seu agressor.
Este apenas se afastou para o lado e o
vaqueiro, desequilibrou-se, quase foi ao
chão.
— Ei, Jab! Não consegue se manter em
pé? — zombou alguém.
— Dá uma lição nele, Jab! — gritou
outro.
— Sim, quebra ele — emendou um
terceiro.
Jab parou por instantes para medir seu
oponente, um homem alto, de ombros
fortes, pele curtida e olhar frio.
O vaqueiro, porém, tinha bons músculos
e sabia brigar. Avançou decididamente,
tentando golpear o desconhecido.
Desta vez, o desconhecido além de se
esquivar de novo com extrema facilidade,
golpeou secamente a testa de Jab com um
potente murro.
O vaqueiro cambaleou para trás, indo se
apoiar na trave de amarrar cavalos. O
desconhecido avançou alguns passos e
golpeou o estômago dele com força,
fazendo-o tossir e se ajoelhar na poeira.
O forasteiro ia dar o golpe de
misericórdia, um chute na cabeça do
vaqueiro, mas parou, ao ver os olhos
esgazeados do outro, que tossia e vomitava,
após aquela pancada tão forte na barriga.
O forasteiro foi ajudar Laurie a se
levantar. Naquele momento, um murmúrio
percorreu a multidão, alertando-o. Ele se
voltou.
— Vai me pagar, estranho. Minha
paciência já se esgotou — ameaçou Jab, a
mão baixando na direção de coronha do
Colt.
— Não faça isso, seu idiota! — alertou o
forasteiro.
— Ninguém me diz o que fazer nem me
humilhar sem levar o troco.
— Estou lhe dando o conselho que
salvará sua vida, vaqueiro. Aproveite-o.
— Não aceito o seu conselho. Saque sua
arma, maldito!
-- Está bem, mas não diga lá no inferno
ao demônio que eu não o avisei antes. Você
é um homem morto — afirmou o
desconhecido, com convicção e frieza.
Jab sentiu seu corpo estremecer, diante da
segurança com que o forasteiro havia
pronunciado aquelas palavras.
— Quem pensa que é? — indagou, com a
confiança abalada.
— Sou seu carrasco. Fuja de mim e ficará
vivo — disse o estranho, virando as costas
para apanhar as rédeas de seu cavalo.
Jab olhou ao redor. Todos esperavam que
ele sacasse. Se não o fizesse, passaria por
covarde. Além disso, o outro estava de
costas, facilitando tudo.
— Saque! — gritou, levando a mão na
direção de sua arma.
Os que assistiam interessados àquela cena
mal puderam acreditar no que viram. O
forasteiro deu um passo para o lado, girando
o corpo. Tudo em fração de segundo.
Quando ficou de frente para Jab, que
ainda sacava sua arma, o forasteiro já
disparava seu Colt.
O corpo de Jab estremeceu, sendo jogado
de volta sobre a trave, onde ficou
grotescamente dependurado.
Laurie se aproximou, olhando-o com
admiração.
— Obrigado, forasteiro. Salvou minha
vida.
— Meu nome é Billy Roger, senhorita —
disse ele, tocando a aba do chapéu com o
polegar.
— Meu nome é Laurie Longman. Procura
trabalho, Billy?
— Talvez.
— Há um lugar em nosso rancho, se
estiver disposto — disse o pai da garota,
aproximando-se. — Sou Charles Longman.
— Obrigado pela oferta, Longman. Estou
acabando de chegar. Quero tirar a poeira do
couro e da garganta, comer um bom bife e
depois descansar. Depois verei o que quero
fazer.
— Quando se decidir, procure-nos no
Rancho Longman — falou Laurie, olhando-
o com visível interesse.
— Pode estar certa que o farei — sorriu
ele, apanhando as rédeas de seu cavalo e
indo amarrá-la na trave onde pendia o corpo
imóvel de Jab.
O xerife examinava o cadáver, admirando
com a precisão do tiro que o atingira.
Billy nem ligou para ele. Entrou no
saloon. Ao redor, todos comentavam e
olhavam com espanto aquela figura alta,
coberta de poeira.
Chegou ao balcão e pediu uma cerveja
gelada. O xerife havia entrado atrás dele e
tocou-o no ombro.
— Como é seu nome, estranho?
— Billy Roger, xerife.
— O que fez em Tulsa?
— Procuro trabalho.
— Que tipo de trabalho?
— Qualquer um.
O xerife mediu-o dos pés à cabeça. Billy
vestia uma capa longa, de viajante. Não
parecia um vaqueiro, com aquelas botas de
couro fino.
— Não gosto de encrenqueiros em minha
cidade — disse o homem da lei.
— Nisso nós dois estamos de acordo,
xerife. Eu também detesto encrenqueiros.
Não importa de que tipo ele seja.
— Vá com calma — recomendou. —
Estarei de olho em você, Billy Roger —
disse, afastando-se na direção da saída.
À porta do saloon ele se encontrou com
Ted Bacley.
— E então, quem é ele? — indagou
Bacley, interessado.
Vira como o estranho agora. Parecia ser
um homem da confiança, decidido e
valente. O tipo de gente que ele gostava de
ter sob suas ordens.
— Com certeza é um pistoleiro à procura
de trabalho.
— Deve ser mesmo.
— Vou a maneira como ele sacou a
arma? Há muito tempo não vejo alguém tão
hábil assim.
— Ele pode ser útil em nosso esquema,
xerife.
— Por que não fez faz uma proposta?
— Sim, acho que farei isso, xerife —
decidiu-se Bacley, indo se juntar ao
forasteiro, no balcão.
Seus dois pistoleiros se postaram atrás
dele, de olho no recém-chegado.
— Vi como usou sua arma, estranho.
— O nome é Billy Roger — explicou ele,
sem olhar para o outro.
Havia bebido metade do copo de cerveja
e estava mais preocupado agora em
terminar a outra metade.
— Não deve falar assim com o Sr. Bacley
— advertiu um dos capangas, pondo a mão
no ombro de Billy.
Este voltou a cabeça e olhou para o
pistoleiro. Seu olhar era frio e ameaçador.
— Se não tirar essa mão daí, vai perdê-la
— avisou.
O pistoleiro, intimidado, retirou a mão
rapidamente. Billy terminou a cerveja
tranqüilamente.
— Procura trabalho?
— Talvez.
— Que tipo?
— O que tem a oferecer? Todos os
trabalhos são iguais. O que realmente
importa é quanto se pode ganhar com ele —
ponderou o recém-chegado.
— Essa é minha filosofia também. Acho
que poderemos nos dar muito bem, Billy.
Você pode começar ignorando a proposta
que recebeu dos Longman.
Billy voltou a cabeça e encarou Ted
Bacley.
— Ninguém me diz o que fazer — falou,
com coragem e frieza, olhando o outro nos
olhos. — Por isso detesto ter patrão.
— Cuidado como fala — advertiu de
novo o pistoleiro.
— Por que tem que se meter na conversa
dos outros, seu bocudo? — rugiu Billy,
perdendo a paciência e vibrando uma
violenta bofetada no rosto do pistoleiro, que
se chamava Amos Gantry.
— Sossegue, Amos! — ordenou Bacley,
quando o pistoleiro tentou sacar a arma.
Amos olhou com ódio para Billy. Depois,
pouco a pouco foi relaxando os músculos
retesados.
— Tudo bem, Billy. Eu entendo o que
quer dizer, mas podemos conversar, não? —
indagou Bacley.
— Sem a presença dos abutres aí —
exigiu ele, olhando para os dois pistoleiros.
Bacley riu. Estava dando um desconto
porque o novato na cidade não sabia ainda
como as coisas funcionavam em Tulsa.
— Quero que entenda uma coisa, Billy!
Eu dou as ordens nesta cidade, quer você
queira ou não. Foi assim e sempre será —
falou Bacley, num tom levemente
ameaçador.
— Você pode dar ordens a seus lacaios,
menos a mim — respondeu Billy, com
tranqüilidade, encarando o outro.
— É muito arrogante, Billy. Talvez o
clima aqui não lhe faça bem — alertou o
comprado de gado.
Billy sorriu. Virou-lhe as costas e foi para
a outra ponta do balcão, dando a entender
que aquela conversa o aborrecia. Apesar de
tudo, Bacley admirou-lhe a coragem.
Um homem que agia daquela merecia
respeito.
— Quer que a gente dê uma lição nele,
chefe? — indagou Amos, olhando Billy
com ódio.
— Acalme-se, Amos. Gosto do estilo
dele. É um homem que pode me ser útil,
desde que perca toda aquela arrogância.
— A gente amansa ele sem muita
violência.
Ted pensou por instantes, concluindo que
não custava tentar. Se Billy não cedesse,
pior para ele.
— Está bem, Amos, ele é todo seu.
Amos fez um sinal de cabeça para Bill,
seu parceiro, e ambos caminharam até onde
estava Billy, ficando um de cada lado dele.
Billy continuou imperturbável,
saboreando uma dose de uísque que o
barman lhe servira.
— Que uísque está tomando? — quis
saber Amos.
— O melhor — respondeu Billy, sem
levantar a cabeça.
— Enganaram você. Não devia beber
essa porcaria — falou o pistoleiro,
apanhando o copo e jogando seu conteúdo
nos pés de Billy.
Depois se voltou para o barman e
ordenou:
— Abner, quero que dê uma dose do
uísque especial para nosso amigo aqui.
À distancia, Ted Bacley acompanhava
tudo com ar divertido no rosto.
O barman, ao receber a ordem, olhou
para Amos, que piscou um dos olhos. O
barman riu, então, apanhando uma garrafa
na prateleira.
— Este é o nosso uísque especial —
disse, servindo uma dose.
— Garanto que ficará melhor com uma
pitada disso — falou Amos, apanhando um
vidro de molho de pimenta e despejando um
pouco no copo.
Depois apanhou um cigarro, acendeu-o,
deu algumas tragadas e depois o apagou no
copo.
— Agora beba! — ordenou Amos,
secamente.
Billy sorriu. Os presentes haviam
percebido o que estava acontecendo e
acompanhavam atentamente o desenrolar
dos acontecimentos.
— Você ouviu o que ele disse. Beba! —
insistiu Bull, apoiando o amigo.
— Acho que estão fazendo um pequena
confusão — falou Billy, endireitando o
corpo.
— Explique-se! — ordenou Amos.
— De onde venho não se bebe esse tipo
de coisa. Dá-se aos porcos. Por isso está aí,
para vocês, amigos, amigos suínos — falou,
com, frieza, encarando Amos.
O pistoleiro estremeceu de cólera,
enquanto empalidecia diante de tanta
arrogância e pouco caso.
— Beba! Já disse! — insistiu Amos.
— Vê se me esquece — falou Billy,
pondo a mão aberta na cara do pistoleiro e
empurrando-o com força para trás.
Amos foi se estatelar sobre uma das
mesas, enquanto Bull apanhava uma garrafa
sobre o balcão e tentava golpear Billy.
Um murro bem aplicado o fez imobilizar-
se e recuar alguns passos em seguida,
balançando a cabeça, atordoado.
— Vai se arrepender disso — rugiu
Amos, avançando como um touro bravo.
Billy esquivou-se habilmente, afastando-
se para o lado e aproveitando o impulso de
Amos para empurrá-lo de cabeça contra o
balcão.
— Cuidado! — gritou uma voz feminina.
Billy se abaixou instintivamente, após
ver, pelo espelho, Bull sacando a arma.
A bala assobiou sobre sua cabeça e foi
arrebentar o espelho do saloon. Billy sacou
sua arma com incrível rapidez, disparando
duas vezes.
Bull cambaleou, depois tombou para trás
no assoalho, com o peito coberto de sangue.
— Obrigado, senhorita! -- disse Billy,
aproximando-se da garota que havia salvado
sua vida.
— Meu nome é Billy Roger. E o seu?
— Sally Brown.
— Não vá embora! Tenho um assunto
para terminar — falou o rapaz, percebendo
que Amos se levantava.
Foi até ele e o desarmou. Depois o
segurou pelo pescoço e o imobilizou diante
do copo sobre o balcão.
— Agora beba seu drinque especial,
bastardo — ordenou.
— Eu não... — ia dizer Amos, mas Billy
o fez se calar com uma joelhada nos rins.
— Beba ou eu o farei engolir com o copo
e tudo!
A mão tremula de Amos estendeu para o
copo. Quando ia segurá-lo, uma bala o
arrebentou.
Billy empurrou Amos para o lado,
enquanto girava o corpo e sacava sua arma.
Ao ver a estrela do xerife, seu dedo se
deteve no gatilho.
— Cuidado, rapaz! Poderia ter morrido
— falou Billy ao auxiliar do xerife que
empunhava um Colt.
— O que está havendo aqui? — indagou
o representante da lei.
— Apenas uma ligeira discussão —
informou Sally, adiantando-se. — Amos e
Bull provocaram o forasteiro. Frank tentou
matá-lo pelas costas, mas o forasteiro foi
mais rápido.
— O xerife não vai gostar nada disso —
comentou Cody.
— Eu me entendo com o xerife, Cody.
Está tudo resolvido — disse ela,
despedindo-o.
Cody pediu ajuda a alguns vaqueiros para
levarem o corpo de Bull para a funerária.
Amos se aproximou de Billy, trêmulo de
ódio e encarando-o com provocação.
— Assinou sua sentença de morte,
estranho. De agora em diante, olhe bem em
todas as direções antes de dar um passo.
— Sei me cuidar e o aviso serve para
você também — devolveu-lhe Billy, sem se
intimidar.
— Ele tem razão, Billy Roger. Se eu
fosse você, daria o fora da cidade. O ar aqui
não lhe será saudável — falou Ted Bacley,
encarando Billy.
— Eu decidirei isso. Não sou covarde a
ponto de me assustar com latidos de cães
viralatas.
Ted ficou lívido. Seu desejo era meter
logo uma bala na testa daquele forasteiro,
mas não sabia até onde iam suas chances.
Vira Billy em ação. Era rápido mesmo.
— Não perde por esperar — disse
Bacley, saindo.
Amos o seguiu, jurando vingança. Billy
se voltou para a garota ao seu lado,
examinando-a melhor. Era uma mulher
muito bonita e provocante.
— Obrigado mais uma vez — disse ele,
devorando-a com os olhos.
Sally sentiu o desejo naquele olhar e isso
a envaideceu muito.
— É um homem valente, Billy, mas
acaba de comprometer sua estada em Tulsa.
Venha tomar um uísque por minha conta,
depois dê o fora da cidade.
— Não seria mais cavalheiresco eu lhe
pagar uma bebida?
— Não se preocupe, eu sou a dona, se
ainda não percebeu.
Billy inclinou respeitosamente a cabeça,
tocando a aba do chapéu com o Polegar.
Sally sorriu. Não podia esconder sua
admiração por aquele homem forte e
valente.
Beberam e conversaram durante algum
tempo. O pianista se dispôs a tocar alguma
coisa.
— Ei, vamos dançar! — convidou Billy.
Sally olhou para as outras pessoas no
saloon. Billy era muito valente, mas estava
arrumando inimigos com uma rapidez
impressionante. Não podia empurrá-lo na
direção do mais perigoso deles, o Xerife
Bonney.
— Há muita coisa nesta cidade que você
ainda não sabe, Billy — lamentou ela.
— Não pode aceitar meu convite? Por
quê?
— Pode ser fatal para você.
— Isso me parece um defeito desta
cidade, Sally —a firmou ele, tomando-a nos
braços e levando-a para um canto, onde não
havia mesas.
Começaram a dançar. Os presentes
ficaram abobalhados com a audácia daquele
homem. Até o pianista, surpreso,
interrompera a música.
— Por que parou, pianista? — indagou-
lhe Billy.
O homem olhou para Sally, sem saber o
que fazer.
— Dançarei com você se me prometer
que dará o fora logo em seguida — pediu
ela.
— Agora que a conheci, tenho um
motivo a mais para ficar.
— Não quero que você morra.
— Não morrerei.
Sally hesitou por instantes, fascinada por
aquele olhar. Fez um sinal para o pianista,
que voltou a tocar. Um dos homens que
estava junto à porta saiu correndo e foi
avisar o xerife.
— Agora chega! — disse Sally, livrando-
se dos braços de Billy, com muito esforço,
após dançarem por algum tempo.
— Como quiser, Sally — falou ele,
retendo uma das mãos dela para beijá-la
numa reverência.
Naquele momento, tudo silenciou no
saloon. Apenas os passos do xerife no
assoalho soaram, como um prenúncio de
morte.
Ele estacou, incrédulo com o que via.
Suas mãos penderam na direção das armas.
Seu rosto estava tenso e furioso.
— A gente se vê — disse Billy a Sally,
que recuava na direção da escada.
Quando se voltou, encontrou o olhar duro
do xerife. Ignorou-o e caminhou na direção
da porta.
O xerife o deixou passar, depois suas
mãos se firmaram nas coronhas de seus
Colts.
— Não foi nada, querido — disse Sally,
abraçando-o e impedindo-o de sacar.
— Eu disse que mataria quem a tocasse.
— Ele não sabia. Eu o alertei.
— Por que aceitou dançar com ele? —
indagou, possesso.
— Só assim ele iria embora...
O xerife a olhou com frieza e crueldade.
— Venha, vamos ter uma conversa.
Aprenderá a não me desobedecer mais,
Sally — disse ele, segurando-a pelo braço e
a obrigando a subir as escadas na direção do
quarto dela.
Lá fora, Billy levava seu cavalo até um
estábulo, onde o deixou aos cuidados de um
rapaz.
Apanhou seu alforje e foi procurar um
hotel. Queria um banho, fazer a barba e pôr
roupas limpas. Quando assinava seu nome
no livro de registros, uma voz o intimou:
— Fique com as mãos sobre o livro.
Billy reconheceu imediatamente aquela
voz. Tratava-se de Cody, o auxiliar do
xerife.
— O que há desta vez, rapaz?
— O xerife quer vê-lo.
— Diga-lhe que vou tomar um banho e...
Calou-se, quando Billy apontou-lhe a
espingarda, engatilhando-a.
— Não se trata de um convite.
— De que se trata, então?
— De uma intimação.
— Quer dizer que estou preso?
— Não. O xerife quer apenas que você
saiba de alguns detalhes sobre esta cidade,
caso pretenda ficar por algum tempo.
— Quem disse que ficarei aqui?
— Se vai partir, melhor ainda. Amanhã
de manhã, quando o sol nascer, esteja longe
daqui. É para o seu bem.
— Obrigado pela preocupação —
agradeceu Billy, com ironia.
Billy deu de ombros e virou-lhe as costas.
Pagou o hoteleiro e apanhou a chave. Foi
para o quarto que lhe fora destinado.
Cody voltou à cadeia, onde narrou ao
xerife sua conversa com Billy, deixando-o
satisfeito por saber que o forasteiro iria
embora no dia seguinte, embora sentisse
uma vontade enorme de mandar surrá-lo por
dançar com Sally.
— Está bem, Cody, mas fique de olho
nele. Se ela estiver na cidade amanhã cedo,
traga-o para mim. E avise-me se ele se
aproximar do saloon novamente.
No hotel, Billy tomou um banho,
barbeou-se, depois se deitou para descansar
um pouco. Havia sido uma longa e estafante
viagem, por isso adormeceu pesadamente.
Já era noite, quando acordou. Vestiu-se,
passou pelo restaurante e comeu um bife
suculento. Saiu para a rua. Toda a animação
parecia estar concentrada no saloon Little
Cow. Foi para lá.
Assim que o viu, Cody correu avisar o
xerife.
— Que tal uma partida de pôquer? —
indagou um dos homens sentados na mesa.
— Não sou muito bom nesse jogo —
respondeu Billy.
— Sente-se aí, vamos apenas nos divertir
um pouco — falou outro, empurrando uma
cadeira com o pé.
Billy se sentou, preparando-se para jogar.
Enquanto isso, na cadeia, o xerife
examinava suas armas, antes de ir para lá.
Na porta cruzou com Ted Bacley.
— Onde vai com tanta pressa?
— Aquele bastardo voltou ao saloon.
— O que pretende fazer a respeito?
— Mantê-lo longe de Sally.
— Espere um pouco, não precisa se
comprometer. Deixe que mando meus
rapazes cuidarem disso.
— Quero para mim o prazer de matá-lo
— exigiu o xerife, demonstrando o quanto
Sally significava para ele.
Seu ciúme era doentio e beirava a
loucura.
— Vamos com calma, Bonney —
acalmou-o Ted. — Temos um negócio
muito rendoso aqui. Estamos ganhando
muito dinheiro com ele. Por isso não posso
permitir que seu ciúme estrague tudo. Meus
rapazes cuidarão dele, está bem?
— Quero assistir a isso — decidiu-se o
xerife.
Foram para o saloon. À porta observaram
e viram Billy jogando cartas.
— Estamos com sorte — disse Ted. Ele
está jogando cartas com meus pistoleiros.
— Dê instrução a eles para que matem o
bastardo.
— Espere, xerife! Eu tenho motivos para
desejar dar uma lição nele, pela humilhação
de hoje à tarde. Mesmo assim, tenho de
reconhecer que é o tipo certo de homem
para nos ajudar em nossos negócios.
— Está maluco que acha que pode
contratá-lo.
— E por que não? Pretendo apenas
amansá-lo um pouco.
— Como fará isso?
— Pensei em algo. Ordenarei aos meus
homens que o deixem liso. Sem dinheiro,
ele será obrigado a trabalhar para mim. O
que acha?
— Está bem, mas faça-o entender logo no
inicio que Sally é minha ou ele não viverá
muito para lhe prestar serviços, Ted.
— Deixe comigo. Eu cuidarei de tudo.
Ted mandou chamar um dos homens que
estavam à mesa. Deu-he instruções para
que, junto com os outros, trapaceassem,
tomando todo o dinheiro de Billy.
Foram para o balcão e esperaram para ver
o resultado. Billy continuou jogando, mas
não era nenhum inexperiente.
— Não faça isso de novo — disse ele,
sem alterar a voz, ao homem que dava as
cartas.
— O que está insinuando? — indagou
Peter Alson, o pistoleiro.
— Vamos anular esta rodada. Dê cartas
novamente — ordenou Billy, jogando suas
cartas sobre a mesa.
Os três pistoleiros com quem jogava se
entreolharam, surpresos.
— Espere aí! Ninguém vai me acusar de
trapaça impunemente — falou Peter.
— Eu não o acusei de nada. Você se
denunciou.
Sally estava na escada e observava o que
acontecia. Percebeu que os homens, todos
pistoleiros de Bacley, preparavam uma
armadilha para Billy.
Caminhou até a mesa, sem perceber que
o xerife assistia a tudo. Ao vê-la, Billy
sorriu.
— Está mais linda do que hoje à tarde —
elogiou ele.
— Por favor, vá embora deste saloon.
Não sabe em que encrenca está se metendo.
Já causou problemas demais por um dia —
pediu a garota.
— Por que todos me desejam fora daqui?
— indagou ele, examinando-a melhor.
Viu, então, as marcas no rosto,
disfarçadas com maquiagem. Levantou-se e
afastou os cabelos que caíam diante do rosto
dela.
— Quem fez isso? — indagou ele, os
olhos brilhando do mais puro ódio.
— Por favor! você não entende mesmo,
não? Vá embora, será melhor para todos
nós.
— Quem foi o bastardo covarde que fez
isso, Sally? — indagou ele de novo.
— Você ouviu bem o que a moça disse
— falou Peter, levantando-se da mesa,
juntamente com seus amigos.
Billy encarou os três pistoleiros, que
haviam recebido os sinais de Ted Bacley
para que matassem o rapaz, já que seria
impossível conter o xerife.
— Desculpe-me, Sally, mas parece que
alguém sempre aparece, quando estou
conversando com você — disse ele,
voltando-se ameaçadoramente para o trio
que o encarava.
O clima, no saloon, tornou-se novamente
muito tenso.
— Você disse alguma coisa, amigo? —
indagou Billy, encarando Peter.
— Não sou seu amigo — falou Peter,
com arrogância.
— Se não é meu amigo, então é meu
inimigo —a firmou Billy. — E vou lhe
dizer algo mais. Para mim chega. Esta
cidade fede e é por causa de gente como
você.
— vai engolir suas palavras agora mesmo
— prometeu Peter.
Billy empurrou Sally delicadamente para
o lado, tirando-a da linha de tiro. Depois
ficou na defensiva, aguardando um
movimento da parte dos três.
Seu olhar frio e aguçado percorreu um a
um os rosto de seus oponentes. A morte
estava estampada em cada um deles.
— Agora! — gritou Peter, levando a mão
à coronha do revólver.
Um tiro arrebentou sua cabeça como se
fosse uma abóbora podre espatifando-se. O
homem a sua direita curvou-se, enquanto
recuava, com as mãos pressionando o
estômago. O terceiro pistoleiro rodopiou,
abrindo os braços num balé macabro, até
chocar-se com uma das mesas e cair sobre
ela, rolando para o assoalho, numa poça de
sangue.
— É mais rápido que o próprio xerife —
comentou alguém, enquanto a fumaça se
dissipava.
— Não vai demorar para sabermos isso
— ajuntou outro.
— Esse forasteiro vai se dar mal se
continuar cortejando Sally dessa forma...
Billy, de costas para o balcão, não
percebia Ted tentando controlar o xerife a
todo custo.
— Fuja, Billy! Por favor! — pediu Sally.
Ele acariciou suavemente o rosto dela.
— É algo que a põe em risco?
— Sim, por favor! Outra hora eu lhe
explico isso.
— Certo, isso me dá a chance de vê-la de
novo — disse ele, tocando o chapéu com o
polegar e saindo.
Ted havia conseguido levar o xerife para
a sala dos fundos, lutando para impedir que
ele cometesse alguma besteira, já que
desejava a morte de Billy a todo custo.
— Vou deixá-lo fazer isso, Bonney, mas
não na frente de todo mundo.
— Todos vão zombar de mim, depois do
que aconteceu.
— Ninguém será louco o bastante para rir
de você, xerife. Não se preocupe quanto a
isso. Se quer vingança, mande seus
auxiliares atrás dele. Levem-no para a
cadeia, onde você poderá dar-lhe a lição
merecida.
— Está bem, Ted. No fundo você está
com a razão, só que perco a cabeça
quando...
— Eu sei, não precisa me explicar.
Vamos sair daqui agora, com calma,
entendeu?
Ted e o xerife atravessaram o saloon e
foram para a rua, onde se encontraram com
Billy Cody.
— Você viu para onde foi o forasteiro?
— indagou-lhe o xerife.
— Sim, eu estava de olho nele. Ele foi
para o hotel.
— Ótimo! — murmurou o xerife, cheio
de satisfação. — Leve Boots consigo e
conduza aquele bastardo até a cadeia. Tenho
algo a acertar com ele.
— E se ele se recusar?
— Não sejam educados com ele. Quero-o
na cadeia, vivo e lúcido para entender tudo
que vou fazer com ele.
Billy estava em seu quarto, quando
bateram na porta.
— Entre! — ordenou ele.
Cody e Boots entraram, apontando suas
espingardas para ele.
— Levante-se, você está preso! —
informou Cody.
— Qual é a acusação? — quis saber
Billy, sem se mexer.
— Isso importa?
— Bem, acho que não — concordou
Billy, levantando-se.
Ergueu os braços, aproximando-se dos
dois. Boots inclinou-se para desarmá-lo,
enquanto Cody pressionava o cano da
espingarda contra seu peito.
— Durma bem, rapazes — falou ele,
golpeando o queixo de Cody com um
certeiro murro e atingindo o rosto de Boots
com uma joelhada.
Os dois auxiliares do xerife foram a
nocaute. Ele saiu rapidamente, trancando a
porta pelo lado de fora.
Foi até o estábulo, onde apanhou seu
cavalo. Antes de partir, indagou ao rapaz
que trabalhava ali!
— Onde fica o Rancho Longman?
— Siga a estrada, saindo da cidade. Em
meia hora chegará a uma encruzilhada.
Tome o caminho da direita e logo verá a
casa e tudo o mais.
Billy agradeceu-o e o gratificou.
Cavalgou na direção indicada por ele. Após
pouco mais de meia hora de cavalgada,
avistou o Rancho Longman.
Havia luzes acesas na casa principal.
— Fico contente que tenha se decidido a
aceitar o emprego — falou charles
Longman, satisfeito.
— Concluí que precisava, de ajuda.
— Sim, e você é o tipo de ajuda que
precisamos.
— Pensei que precisasse apenas de
vaqueiros, Sr. Longman.
— Precisamos de homens de coragem, e
que saibam usar uma arma — interrompeu-
os Laurie, surgindo na sala.
— Então farei o que for preciso para
ajudá-los. Gostaria que me dessem todos os
detalhes do que está acontecendo aqui.
— Tenho café quente e bolinhos lá dentro
— ofereceu Laurie.
— Foi a proposta mais generosa que já
me fizeram hoje — sorriu ele, aceitando.
Pouco depois, conversavam, enquanto
tomavam café com bolinhos, Laurie o pôs a
par de tudo que estava acontecendo.
— Então Ted Bacley tem comprado
todos os rebanhos por aqui? — indagou ele,
ao final da narrativa.
— Sim. Seus métodos para convencer os
rancheiros e seus concorrentes também
foram eficazes.
— E o que o xerife tem feito a respeito?
— Nada. Ted Bacley conseguiu
amedrontar todo mundo. Ninguém até agora
apresentou uma queixa contra ele.
— E mesmo que o fizessem, estou certo
que o Xerife Bonney não tomaria nenhuma
providencia — completou Charles
Longman.
— Sim, ninguém duvida hoje que o
xerife e Bacley trabalhem em conjunto, com
o xerife lhe dando toda a cobertura.
— É isso mesmo — continuou Charles.
— O xerife passa a maior parte do tempo
com aquela garota, no saloon.
— Refere-se a Sally?
— Sim, você a conheceu?
— Claro. E só agora começo a entender
certas coisas.
— Como assim? — quis saber a garota.
— Não vem ao caso — descartou ele.
Não queria discutir aquelas marcas no
rosto de Sally nem o medo que ela
transparecia no olhar.
— Há um capataz no rancho? — indagou
Billy.
— Não, desde que o último foi morto
pelos pistoleiros de Bacley.
— E a equipe de vaqueiros?
— Desfalcada. Além disso, não creio que
poderei segurar os rapazes por mais tempo.
Eles estão assustados e sem confiança.
— Tudo bem, Sr. Longman. Verei o que
posso fazer por eles.
— Aceita o emprego, então?
— Sim, como seu capataz.
— Fico contente com isso — afirmou
Laurie, sorridente. — Sabe os perigos que
correrá, não?
— Pediu alguém decidido e corajoso, não
foi? Eu preencho os requisitos.
— Pretende falar com os vaqueiros?
— Sim, mas amanhã, pela manhã.
— Eu o levo até o alojamento para
indicar suas acomodações — prontificou-se
Longman.
— Está bem, Sr. Longman.
— Pode me chamar de Charles.
Billy despediu-se de Laurie, que ficou à
porta observando-o se afastar na companhia
de Longman.
Os vaqueiros já dormiam. Billy escolheu
uma das camas.
— A propósito, Charles: quantas reses
possui?
— Três mil e quinhentos, mais ou menos.
— Pois esteja certa de que elas serão
todas vendidas no mercado em Kansas City.
— Deus o ouça, meu filho! — murmurou
o velho, retirando-se.
Naquela noite, ainda, um outro forasteiro
chegou à cidade de Tulsa.
Prendeu seu cavalo diante do saloon e
entrou. Amos Gantry bebia e desabafava a
humilhação que passara nas mãos de Billy.
— O que vai tomar, forasteiro? —
indagou o barman.
— Uísque.
O barman serviu o copo e ia se afastar
com a garrafa. O forasteiro segurou-o pelo
braço, fazendo um sinal para que ele
deixasse a garrafa sobre o balcão.
— Vai lhe custar um dólar.
— Aqui está — disse o estranho,
depositando duas moedas sobre o balcão.
Amos precisava, de alguma maneira,
desabafar e vingar o que havia sofrido
naquele dia. Quando viu a garrafa sobre o
balcão, apanhou-a e serviu seu próprio
copo.
— Não faça isso de novo — ordenou o
estranho.
— Cale sua boca ou eu a encho de
chumbo — rosnou Amos.
— Você está bêbado como um gambá,
parceiro. Por que não leva seu fedor para
longe daqui?
— Não me amole! Não estou mais
recebendo ordens de ninguém. Hoje estou
com sede, sede de uísque e de sangue,
entendeu? Por isso Fique quieto e me deixe
beber.
— Tudo bem para mim, desde que você
beba seu próprio uísque.
— Cale-se, já disse! — berrou Amos,
fora de si.
O saloon ficou em silencio. O forasteiro
levantou calmamente a aba do chapéu e
encarou Amos.
— Eu o mato se levantar de novo a voz
para mim — murmurou para o pistoleiro.
A principio Amos ficou surpreso e
assustado. Depois começou a rir. Alguns de
seus amigos foram se juntar a ele.
— Estão com sede, amigos? Por que não
se servem? — indagou ele, apontando a
garrafa sobre o balcão.
— Boa idéia, Amos — disse um deles,
mais animado, estendendo o braço para
apanhar a garrafa.
Antes que a tocasse, no entanto, o
forasteiro sacou sua faca e pregou a mão do
abusado no tampo do balcão. O pistoleiro
urrou de dor e recuou alguns passos, quando
a faca foi arrancada.
— Agora chega! — falou Amos, tentando
sacar sua arma.
O estranho desferiu um golpe curto e
seco com o cabo da faca, batendo-o na testa
do pistoleiro. Um filete de sangue correu,
enquanto o pistoleiro desabava.
— Está bem, rapazes. Levem Amos
daqui — ordenou Ted Bacley, que havia
acompanhado tudo de uma das mesas ali
perto.
O forasteiro voltou-se para o balcão e
continuou bebendo silenciosamente.
Ted Bacley sondou aquele homem.
Conhecia o tipo. Era um pistoleiro, só que
muito rápido e com muito sangue-frio.
— vi o que fez, forasteiro — disse,
aproximando-se. — Poderia ter matado
aqueles dois facilmente. Por que não o fez?
— Porque eu não lucraria nada com isso.
— Está à procura de trabalho? —
perguntou Ted, interessado.
— Hoje, não.
Ted riu da resposta.
— Quando?
— Amanhã, talvez. Depende...
— Depende de quê?
— Do tempo que vou levar para gastar o
dinheiro que ainda tenho.
— Sabe lidar com uma arma?
O forasteiro sacou sua arma e disparou
contra uma das velas que iluminavam as
laterais do saloon, apagando-a. A bala ficou
cravada na madeira, à altura do pavio.
— Isto responde sua pergunta?
— Estou convencido. Acho que podemos
entrar num acordo. Preciso de um homem
decidido e bom no gatilho.
— Quanto paga?
— Quanto quer ganhar?
— Qual será o trabalho?
— Obedecer-me cegamente e agir sem
perguntas.
— Mil dólares por mês.
— Está maluco! Esse é o preço de cinco
de meus pistoleiros.
— Pois traga cinco deles aqui e verá
como valho por todos eles. Se quer
quantidade e não qualidade, falou com a
pessoa errada.
Naquele momento, o xerife entrou no
saloon, atraído pelo disparo. Estava fazendo
sua última ronda, antes de recolher-se.
— Algum problema, Ted?
— Está tudo bem, xerife.
— E o tiro que ouvi? Veio daqui do
saloon, não?
— Foi apenas uma demonstração.
O xerife percebeu a presença do
forasteiro, medindo-o dos pés à cabeça.
— Quem é ele?
— Vai trabalhar para mim — informou
Ted.
— Como é seu nome, estranho? —
perguntou-lhe o xerife.
— Mark Douglas, xerife.
Por momentos ainda o homem da lei
manteve seu olhar cravado nos olhos de
Mark.
— Ok! Se vai trabalhar para Ted Bacley,
está tudo bem.
— Estávamos apenas acertando a questão
do preço.
— Eu aceito sua proposta, Mark. De
agora em diante chefiará meus homens e me
ajudará nos negócios.
— Que tipo de negócios?
— Você saberá com o tempo. Terá
apenas que obedecer e não fazer perguntas,
lembra-se?
— Como quiser, Bacley. Começarei a
trabalhar amanhã. Hoje à noite pretendo me
divertir um pouco. Vejo muitas garotas
bonitas por aqui.
— Só que uma coisa precisa ficar bem
clara logo de inicio — apressou-se em dizer
o xerife.
— E o que é?
— Pode escolher qualquer uma das
garotas aqui presentes, menos aquela que
está na mesa, jogando cartas.
— Algum problema com ela?
— Sim, já tem dono!
— Entendo — percebeu Mark, pelo tom
de voz do xerife, quem era esse dono.
— Foi bom você ter vindo, xerife. Tenho
alguns detalhes a conversar com você —
falou Ted.
— Certo, vamos ao meu gabinete, na
cadeia, então.
Os dois homens deixaram o saloon. Mark
ficou bebendo durante algum tempo,
sempre de olho na mesa, onde aquela linda
mulher jogava cartas.
Chamou o barman.
— Qual é o seu nome, bom homem?
— Abner, senhor.
— Muito, Abner! Qual é o nome daquela
linda senhorita que joga cartas com aqueles
marmanjos?
— Sally Brown, mas aceite um conselho:
não se meta com ela.
— Sim, obrigado! Você é o segundo a me
dar o mesmo conselho. Sabe até que horas
ela jogará cartas?
— Sally nunca passa da meia noite
jogando.
— Tem certeza?
— Trabalho aqui há cinco anos.,
— Qual é o quarto dela?
— Está procurando encrenca da grossa,
forasteiro.
— Seja camarada, Abner. Qual é o quarto
dela? — insistiu Mark, pondo algumas
moedas sobre o balcão.
— Quarto número dez.
— Há uma banheira lá?
— Sim, por quê?
— Mande subir água quente, Abner.
Quero tomar um bom banho — pediu Mark.
— Sabe no que está se metendo?
— Acho que sim.
— Então não diga que não o avisei —
disse Abner, indo providenciar o que lhe
fora ordenado.
Mark ficou bebendo e olhando
insistentemente para Sally. Esta percebeu os
olhares do desconhecido, sentindo-se
atraída por ele. Era um tipo diferente, mais
atrevido do que Billy, o forasteiro que a
encantara naquele dia.
Estava cansada de sofre nas mãos do
xerife. No inicio fora divertido, mas, com o
tempo, ele se tornara possessivo e
arrogante. Tinha dinheiro e achava que
podia ser o dono dela. Isso exasperava a
garota, acostumada a ser dona de seu nariz.
O xerife a estava sufocando com todo
aquele ciúme doentio.
Mais tarde, quando o jogo terminou,
Sally já ia subir para o seu quarto, quando
Cody veio-lhe trazer um recado do xerife.
— Ele avisa que não poderá vir hoje.
Um suspiro aliviado demonstrou a
satisfação da garota, que procurava, com o
olhar, aquele forasteiro. Só que não o via
mais no saloon. — Obrigada, Cody! Tome
um gole por minha conta — disse ela.
Depois subiu para o seu quarto. Quando
abriu a porta, percebeu o forasteiro deitado
em sua cama, com os lençóis puxados até o
queixo.
— O que faz aqui? — indagou ela,
assustada.
Aquele atrevimento poderia custar a vida
dos dois.
— Esperando você.
— Como é seu nome?
— Mark Douglas, Sally. Quanto ao
conselho que pretende me dar, esqueça-o.
Venha se deitar comigo — convidou ele,
carinhosamente.
Na cadeia, o xerife e Ted Bacley bebiam
e conversavam naquele fim de noite.
— E depois de agredir Cody e Boots, ele
fugiu. Vasculharam a cidade e os arredores,
mas não encontraram sinal dele — dizia o
homem da lei.
— Na certa deu o fora da cidade. Com
essa você não precisa mais se preocupar.
— Maldito! Gostaria de tê-lo pela frente.
Iria matá-lo como a um cão.
— Da próxima vez, eu prometo que não
vou mais tentar detê-lo desde que você não
perca a cabeça e faça as coisas de modo a
não comprometê-lo.
— Eu saberei como agir. Não se
preocupe.
— Ótimo, é bom ouvir isso. No momento
estou mais interessado nas três mil e
quinhentas cabeças de gado do Rancho
Longman.
— Parece que esse vai ser mais difícil do
que os outros. O velho é duro na queda.
— É só uma questão de tempo e
Longman cederá. No momento ele está mais
preocupado do que nós em relação ao
assunto. Seu gado está no ponto para ser
vendido. Todo e qualquer atraso significará
prejuízos. Além disso, sua equipe de
vaqueiros está desfalcada.
— Deseja que eu faça mais alguma coisa
quanto a isso?
— Sim, seria bom se prendesse mais
alguns deles.
— Está ficando difícil inventar
acusações. Eles estão evitando ao máximo
qualquer tipo de encrenca. Em breve
deixarão de vir para a cidade.
— Você é bom nisso, Bonney. Pense em
algo.
— Não é tão fácil quanto parece.
— E se eu disse que ao invés de
cinqüenta centavos por cabeça de gado você
terá um dólar? Pense, portanto, em termos
dos três mil e quinhentos dólares que irá
lucrar com o negócio desta vez.
— Está certo, você sabe como fazer a
gente trabalhar — riu o xerife, com os olhos
brilhando de cobiça.
— Veja se consegue fazer alguma coisa
amanhã cedo. Muitos deles vêm assistir ao
culto e, depois, passam pelo saloon para o
trago de domingo. Farei com que meus
homens os provoquem.
— Está certo. Três mil e quinhentos
dólares podem fazer um homem acordar
mais cedo no domingo — afirmou o xerife,
concordando com o plano.
Na manhã seguinte, porém, quando os
vaqueiros no Rancho Longman se
preparavam para ir à cidade, Charles os
convocou para uma reunião, diante da casa
principal.
— Este é Billy Roger, pessoal. De agora
em diante ele é o nosso novo capataz.
— Está bem, Sr. Longman, mas não
poderíamos deixar esta reunião para outra
hora? — perguntou um dos vaqueiros.
— Por que a pressa, vaqueiro? — quis
saber Billy.
— Já estamos atrasados para o culto...
— Lamento informar, mas não haverá
culto.
— Como não? Fazemos isso desde que...
— Estou dizendo que agora acabou —
frisou Billy, autoritariamente.
— Um momento, Roger, — falou um
vaqueiro. — Se vai ser nosso capataz, tudo
bem, é decisão do Sr. Longman. Só não
precisamos aceitar ordens durante o nosso
dia de folga...
— De agora em diante não haverá mais
dia de folga, até que tenhamos resolvido a
situação. Lembrem-se do que tem
acontecido com seus amigos, mortos pelos
capangas de Ted Bacley.
— Não vamos aceitar isso. Este dia é
sagrado para nós — protestou outro deles.
— Vocês serão pagas em dobro por este
dia trabalhado. Pensem na sobrevivência do
rancho. O gado precisa ser vendido o mais
depressa possível.
— Não será este domingo que resolverá o
problema — ajuntou outro vaqueiro.
Estavam todos inconformados com a
perda do dia de folga.
— Está bem, rapazes! Estamos perdendo
tempo com discussões inúteis — falou
Billy. — Temos um problema sério neste
rancho e pretendo resolvê-lo com ou sem a
ajuda de vocês. Quem está comigo levante a
mão.
— O que vai exigir de nós? — quis saber
um dos vaqueiros.
— Que obedeçam ordens, mais nada.
Ninguém volta à cidade, até que o gado seja
vendido. Vamos começar a levar a manada
hoje mesmo.
— E como espera levar toda a manada
até Kansas City?
— Não precisamos levar toda a manada
até Kansas City — explicou ele.
— Como não?
— Podemos levar parte do gado até
Wichita e embarcá-lo pela ferrovia. Chegará
antes que qualquer outra manada a Kansas
City e obterá um preço que compensará o
custo, já que não precisaremos contratar
novos vaqueiros.
— Mas teremos que fazer duas viagens
seguidas até Wichita — protestou um
vaqueiro.
— É o trabalho de vocês, alguém tem
alguma reclamação?
— Não me sujeitarei a isso.
— Recebeu seu pagamento ontem. Pode
dar o fora se quiser.
— Pois é justamente é o que farei. Além
do mais, não anda muito saudável trabalhar
neste rancho ultimamente — resmungou o
cowboy.
— Dê o fora, rapaz, e mantenha seu bico
fechado. Não gosto de covardes falastrões.
O vaqueiro que caminhava resmungando
na direção do estábulo parou e se voltou
para encarar Billy.
— Não gostei do que disse, capataz —
disse ele, agressivo e irônico.
— Não tive a menor intenção de agradá-
lo, rapaz. Além do mais, se a verdade o
incomoda, o que pretende fazer a respeito?
— devolveu-lhe Billy, sem se alterar.
A mão do vaqueiro desceu na direção de
sua arma. Antes que seus dedos tocassem a
coronha, no entanto, Billy já lhe apontava
seu Colt engatilhado.
— Não quero desperdiçar uma bala em
seu couro inútil, vaqueiro. Caia fora logo
antes que eu perca a minha paciência e
mude de idéia.
O vaqueiro analisou suas chances e
percebeu que o melhor a fazer era apanhar
seu cavalo e dar o fora.
Billy olhou na direção dos vaqueiros que
haviam permanecido.
— Se mais alguém desejar partir,
aproveite a carona com ele. Aqueles que
ficarem não se arrependerão.
— Está bem, Billy. Você dá as ordens,
nós obedecemos — falou um dos vaqueiro.
— Sim, nós aceitamos sua oferta —
ajuntou outro e todos manifestaram sua
aprovação.
— Ótimo! Vamos separar metade do
rebanho e levá-la hoje mesmo para Wichita.
Com um pouco de sorte, em dez dias
teremos levado todo o gado para lá. A
ferrovia fará o resto.
— Pode garantir esses prazos, Billy? —
quis saber Longman. — Se o fizer, partirei
para Kansas City para negociar o preço.
— Pois pode fazê-lo, Charles. Eu
cuidarei de tudo. O gado estará em menos
de quinze dias.
— Vou acreditar em você. Cuide de tudo
por mim, especialmente de Laurie. Ela é
mais importante que qualquer coisa que eu
tenha.
— Não precisa se preocupar comigo,
papai. Eu sei me cuidar — falou a garota,
que escutara o que seu pai havia dito.
— É um trabalho que farei com todo
prazer — frisou Billy, sorrindo para ela.
O vaqueiro que havia deixado o rancho,
expulso por Billy, foi direto para a cidade.
Em seu íntimo, pensava num modo de se
vingar do capataz pela humilhação a que
fora submetido.
Assim que chegou, foi direto ao saloon.
Amos Gantry já estava lá e, assim que o viu,
aproximou-se, disposto a provocá-lo.
— Deixe-me em paz, Amos! Não quero
encrenca com você. Acabo de ser despedido
do Rancho Longman.
— Não trabalha mais para o velho?
— Não — respondeu o vaqueiro,
demonstrando todo o seu estado de espirito.
— O que houve por lá?
O vaqueiro, que se chamava Allan
Martin, bebeu um gole de seu uísque, antes
de responder.
— Algo que, com certeza, vai interessar
ao seu patrão.
— Como assim?
— Sei que ele está interessado no que se
passa no Rancho Longman. Antes de vir
embora, fiquei por perto para ouvir alguma
coisa. Seu patrão adoraria saber o que sei.
— O que sabe, por exemplo?
— Direi pessoalmente a ele, desde que
valha a pena.
Amos pensou por instantes.
— Se for algo realmente importante, será
recompensado, dou-lhe a minha palavra. Se
for conversa fiada, pagará caro por tomar o
tempo do Sr. Bacley.
— Deixe que ele decida isso. Onde posso
achá-lo?
— Eu o levo até ele.
Amos conduziu o vaqueiro até o
escritório.
— O que tem a dizer, vaqueiro? —
indagou Ted, curioso.
— Antes eu preciso saber o que lucrarei
com isso.
— Eu lhe direi quanto, depois que ouvir
sua historia. Se for interessante, não menos
de cinqüenta dólares.
— Combinado! Acho que gostará de
saber que Charles Longman está indo para
Kansas negociar seu gado. Seu novo
capataz teve a idéia de dividir a manda em
duas partes, levando-a até Wichita, onde
será embarcada na ferrovia.
— Engenhoso! — comentou Ted,
interessado.
Ao invés de conduzir a manda rumo
noroeste, até Kansas City, seguindo a trilha
normal, pretendiam fazer o contrário,
rumando para nordeste, até Wichita. A
viagem pela ferrovia compensaria em muito
o tempo aparentemente perdido, fazendo o
gado chegar ao mercado em Kansas City a
tempo de pegar bom preço.
— Quem é esse novo capataz? —
perguntou ao vaqueiro.
— Temos aí mais uma informação, Sr.
Bacley.
— Certo, pago cem dólares pelas duas.
— Adiantados?
— Claro — confirmou Bacley, separando
algumas notas de sua carteira e entregando-
as para Allan, que as emboleou com
satisfação.
— O nome dele é Billy Roger, é um
forasteiro que ninguém sabe de onde veio.
— Billy Roger?
— Sim, parece entender do riscado.
— E entendo mesmo. Devo reconhecer
que ele inovou o transporte de gado. Está
bem, vaqueiro. Já deu seu recado e já
recebeu seu pagamento. Pode ir agora.
Allan retornou as abas de seu chapéu com
as mãos nervosas.
— Talvez possa fazer algo mais por mim,
Sr. Bacley.
— Como assim?
— Fui despedido do rancho e estou
desempregado. Pensei que...
Enquanto ele falava, os olhos de Ted
brilharam, com a idéia que se formava em
sua mente.
— Acho que tenho um trabalho para
você, rapaz. Vai poder ganhar em dobro.
Vai voltar e pedir seu emprego de volta no
Rancho Longman.
— Como? Não posso fazer isso...
— Pois volte para lá e diga que se
arrependeu ou coisa assim.
— Para quê?
— Para me manter informado de tudo
que se passa lá. Se o novo capataz pretende
levar o gado até Wichita, preciso saber que
trilha ele vai usar.
— Entendo — afirmou o vaqueiro. —
Poderei descobrir isso. Como passarei a
informação?
— Mandarei meus homens rondarem o
rancho. Assim que você tiver a informação,
procure-os. Além disso, quero saber tudo a
respeito desse tal Billy Roger.
— E quanto ganharei com isso?
— Além do seu salário no rancho, eu lhe
pagarei mais duzentos dólares.
— Pode estar certo que farei um bom
trabalho, Sr. Bacley —a firmou eles,
despedindo-se.
Assim que ele saiu, Ted disse a Amos.
— Cuide para que ele seja bem
recompensado após nos fornecer a
informação que precisamos, Amos.
— Quer que eu...
— Sim, exatamente.
— Deixe comigo, chefe.
— E veja se consegue localizar aquele
forasteiro que chegou ontem à noite.
— O que quer com ele, patrão? —
indagou Amos, passando a mão pelo galo
em sua testa, resultado do golpe que Mark
lhe desferira na noite anterior.
— Agora ele chefiará vocês.
Os olhos do pistoleiro fuzilaram, mas ele
não contestou a decisão do seu patrão.
— Sabe onde posso achá-lo?
— Possivelmente no saloon, dormindo
com alguma das garotas.
Amos saiu à procura de Mark.
Estremeceu, ao vê-lo saindo do saloon
naquele momento. Aproximou-se dele,
medindo-o dos pés à cabeça.
— Vejo que está melhor — falou Mark.
— O patrão quer vê-lo — avisou Amos,
sem muita conversa.
— Onde está ele?
— Ali, no escritório. Eu o levarei até lá.
Atravessaram a rua juntos. Antes que
entrassem, porém, Amos deteve Mark,
segurando-o pelo braço.
— Vai nos chefiar, estranho, por decisão
do patrão, mas não pense que esqueci o que
houve ontem. Eu estava bêbado, por isso
você levou vantagem.
— Claro que sim, mas se vai manter esse
ressentimento, acho melhor resolvermos as
coisas de uma vez por todas. Não vou
trabalhar com alguém que, a qualquer
momento, pode me balear pelas costas —
falou Mark, acariciando a coronha de seu
Colt.
— Quando tiver de acontecer, será a meu
modo.
— Pelo que conheço de você, devo estar
mesmo preparado. Você me parece do tipo
que só tem coragem de atirar pelas costas.
— Já está avisado — finalizou Amos,
levando a mão na direção do trinco da porta
e abrindo-a.
Antes que entrasse, porém, Mark o
segurou pelo colarinho, puxando-o para
trás.
— Fique para trás, onde é seu lugar. Não
se esqueça que eu mando em você. E se
tentar alguma coisa, vai estar morto antes de
terminar de pensar no que vai fazer.
— É o que veremos — ruminou Amos,
rubro de cólera.
Amos se apresentaram diante de Ted.
— Muito bem, Mark. Quero ver você
fazer jus ao salário que pediu.
— Quais são as ordens?
— Um grupo de vaqueiros vai tentar
levar uma manada até Wichita. Quero que
os impeça. Conhece bem a região?
— Não, sou novo aqui.
— Amos lhe dará todas as informações
que precisar.
— Como quer que eu faça?
— Você tem duas armas, use-as.
— Quais são as minhas garantias?
— Como assim?
— Quando uso as minhas armas, quero
ter certeza de que não terei a lei nos meus
calcanhares depois.
— Não se preocupe quanto a isso. Você
está garantido.,
— Está com medo da lei, Mark? —
ironizou Amos.
— Se abrir de novo a boca, fecho-a com
um murro.
— Acalme-se, rapazes. Sem discussão.
Acha que pode dar conta do trabalho? —
indagou Ted a Mark.
— Sim, deixe comigo.
— Espere no saloon. Amos irá avisá-lo
quando chegar a hora da ação.
Mark deixou o escritório e saiu para a
rua. O culto havia terminado. Ele ficou
observando as pessoas que voltavam da
igreja. Alguns homens entraram no saloon.
Resolveu ir também.
Alguns homens estavam ansiosos para
jogar pôquer. Ele aceitou fazer parte de uma
das mesas. Pouco mais tarde, Sally desceu e
foi se encostar no balcão.
Ao vê-la, Mark deixou o jogo e foi até
ela.
— É mais bonita ainda de manhã — disse
ele, num sorriso que a deixou encantada.
— Não o vi sair esta manhã, Mark —
observou ela, em voz baixa.
Seu tom era meloso e apaixonado. Mark
a fizera sentir de novo e sensação de ser
mulher em toda a sua plenitude, brindando-
a com carinhos e gentilezas a que não
estava acostumada.
— Não quis acordá-la.
— Poderia tê-lo feito. Adoraria tomar
café com você.
— Ainda está em tempo.
— Volte para o seu jogo. Não quero
chamar a atenção de ninguém.
— Eu pouco me importo com isso.
— É bom que o que aconteceu fique
apenas entre nós, seu atrevido!
— Fique tranqüila! Não pretendo contar a
nossa história para o jornal da cidade, se é
isso que a preocupa — brincou ele.
— É bom que não o faça mesmo —
respondeu ela.
Naquele momento, o Xerife Bonney
entrou no saloon. Ao ver Sally conversando
com Mark, caminhou na direção deles.
— Eu lhe dei um aviso ontem, Mark —
falou o xerife, cego de ciúme.
— E eu o ouvi, xerife.
— Então caia fora!
— Não precisa ser tão rude, xerife —
intercedeu Sally.
— Cale a boca, sua vagabunda! —
ordenou ele.
— Vamos com calma, xerife. Afinal de
contas, estamos todos no mesmo barco —
disse Mark, com firmeza.
— Entenda uma coisa, Mark. Não sei
quem você é nem me interessa saber. Quero
que saiba, no entanto, que não costume
repetir meus avisos.
— Tudo bem, xerife — concordou Mark,
percebendo a tensão e a angustia no rosto de
Sally.
Afastou-se, então, voltando à mesa de
jogo, onde se concentrou, até que Amos
veio ter com ele.
— O recreio acabou. Temos um trabalho
a fazer — falou o pistoleiro.
— Vejo que é ruim de ouvido, amos.
Você apenas me avisa, nada mais,
entendeu? — criticou-o, com severidade.
— Está bem, chefe — falou Amos, com
deboche. — Já temos todos os detalhes.
Mark deixou o jogo e saíram juntos do
saloon. Quando montavam, Mark indagou:
— Quantos homens temos?
— Doze.
— Que trilha usarão para levar o gado?
— Eu o levarei até lá.
— Como soube dos detalhes dessa
viagem?
— Por que tantas perguntas? Não basta
apenas saber onde deve agir?
— Está certo, vamos em frente, antes que
eu perca a cabeça com você, sua mula —
falou Mark.
Pouco depois cavalgavam na direção do
Rancho Longman.
O rebanho havia sido dividido e os
preparativos haviam sido feitos para uma
viagem não muito longa mas nem por isso
menos penosa.
Laurie foi se despedir dos vaqueiros e de
Billy, quando estava tudo pronto.
— Tome cuidado, Billy — recomendou
ela, não escondendo sua preocupação.
— Tudo bem, Laurie! Cuide-se você
também. Prometi ao seu pai que tomaria
conta de você.
— Todos temos um trabalho a fazer
agora, Billy. Eu farei a minha parte.
— Jamais conheci uma mulher tão
corajosa como você — falou ele, com
admiração.
— Obrigada! — agradeceu ela, sorrindo
envaidecidamente. — Acha que os rapazes
agüentarão o ritmo?
— Saberei conduzi-los.
— Realizar duas viagens como esta em
dez dias não será um sacrifício enorme para
todos?
— Estamos levando cavalos de sobra,
para a volta. Quando ao gado, se perderem
algum peso, vão recuperá-lo no pátio da
ferrovia, enquanto esperam o transporte
para kansas City.
— Como sabe de tudo isso? Quero dizer,
haverá comida mesmo para o gado?
— Passeio por Wichita, quando vinha
para cá. Estavam inaugurando este novo
serviço. Até que comece a ser usado vai
demorar algum tempo, pois nem todos
sabem disso ainda. Estamos com sorte.
Seremos os primeiros a iniciar essa
modalidade.
— Foi bom para nós você ter aparecido,
Billy. É nosso anjo salvador.
— Você exagera, Laurie. A propósito, o
que achou da volta de Allan Martin? Você
está aqui há mais tempo, conhece-o melhor,
não?
— Allan nunca nos deu trabalho antes.
— Ele lhe pareceu sinceramente
arrependido?
Ela estranhou a pergunta. Não
compreendia as suspeitas de Billy.
— Sim, e por que não? Suspeita de algo?
— Não sei ainda, Laurie, mas é uma
espécie de sexto sentido, compreende?
— O que pode ser?
— É o que estou tentando compreender.
Sua historia não me convenceu. Ele parecia
muito ansioso para voltar, mas não senti um
pingo de arrependimento nele.
— Pensando bem, não o vi mais depois
que ele voltou.
— Tem razão — concordou Billy.
Como que respondendo a suas
indagações, naquele momento um vaqueiro
foi ter com os dois. Pareciam muito
assustado.
— O que houve, Mike? — indagou Billy.
— Acabo de encontrar Allan Martin lá na
trilha. Ele está morto. Foi esfaqueado.
— Allan? Morto? Não estou entendendo
isso — comentou Billy, intrigado. —
Verificou se alguma coisa foi roubada?
— Não, mas o cavalo estava lá, as armas
e tudo o mais. Não acho que o mataram
para roubar. Além do mais, alguém que
fosse assaltar uma outra pessoa não usaria
uma faca. Há pegadas no local. Outros
cavaleiros estiveram lá. Allan teria de
conhecê-los, senão fugiria ou sacaria sua
arma. Só que ele morreu com o Colt no
coldre.
— Estranho mesmo! E isso nos leva a
uma outra pergunta: o que Allan fazia lá?
— questionou Billy. — Não me lembro de
tê-lo mandado fazer qualquer coisa na
trilha.
— Sim, é verdade. Allan deveria estar na
turma que separou o gado.
— Não estou gostando disso, Mike.
Reuna o pessoal, por favor. Precisamos
conversar.
Enquanto o vaqueiro ia cumprir a ordem,
Laurie olhou Billy com apreensão.
— O que acha que está havendo, Billy?
— Não sei ainda, mas está me parecendo
que Allan só retornou aqui para espionar.
— Ted Bacley?
— Quem mais poderia ter interesse em
saber o que estamos fazendo? Allan deve ter
ido à cidade e dado com a língua nos
dentes.
— Se isso aconteceu, é sinal que Bacley
já sabe de todos os nosso planos. Se for
assim, não nos deixará levar o gado, Billy.
Possivelmente estará preparando uma
emboscada para vocês.
— Isso é preocupante. Tenho de fazer
alguma coisa a respeito ou todo o plano
poderá ir por água abaixo.
Algum tempo depois, os vaqueiros
estavam reunidos diante da casa. Billy lhe
contou da morte de Allan e de suas
suspeitas quanto a uma emboscada.
— Se formos atacados, levando a
manada, poderemos perder toda ela num
estouro — alertou um dos vaqueiros.
— Sem contar que poderemos todos
morrer — lembrou Billy. — Tínhamos
definido a trilha a seguir. Allan pode ter
passado esta informação para seus
assassinos.
— Poderemos ir por uma outra trilha? —
indagou um dos vaqueiros.
— É nisso que estou pensando. Quem
conhece melhor a região toda?
Alguns vaqueiros levantaram suas mãos.
Billy pensou por instantes.
— Se houvesse um bando de pistoleiros a
nossa espera na trilha que pretendíamos
seguir, que rota alternativa poderíamos
utilizar, sem perder muito tempo e passando
longe deles?
Os vaqueiros começaram a confabular.
Billy deixou que eles mesmos encontrassem
a solução.
Algumas horas mais tarde, Mark e os
pistoleiros de Ted Bacley já estavam
impacientes, esperando inutilmente pela
passagem da manada, conforme Allan havia
informado.
Amos era o mais inquieto de todos, pois
fora ele quem matara Allan após obter a
informação.
Deixou seu posto no alto de uma rocha e
foi direto para junto de Mark, que o olhava
interrogativamente.
— Muito bem, Amos! Onde esta o
maldito gado? — indagou ao pistoleiro,
com rispidez.
— Tem que estar a caminho.
— Já esperamos muito. Mais algumas
horas e irá escurecer. Tem certeza que
entendeu bem a informação?
— Não sou nenhum idiota, se é que quer
saber — respondeu Amos, irritado
realmente.
— Ninguém conduz gado no escuro. Se
não partiram até agora, só partirão amanhã.
Não compensaria deixar o rancho para
caminhar apenas algumas horas.
— E o que quer que eu faça?
Mark estava furioso com as constantes
respostas idiotas de seu comandado.
Percebia que logo perderia a paciência com
ele e o despacharia desta para melhor.
— Por que não vai verificar, ao invés de
ficar aí com essa cara de palhaço que caiu
do cavalo? — recomendou Mark.
— Por que eu tenho de fazer tudo aqui?
— Porque não aprendeu ainda a fazer as
coisas certas. É burro como uma pedra.
— Não venha me criticando agora —
protestou Amos, incapaz de conter sua
irritação.
— Sossegue, imbecil. Palavras não
matam. Vá até o rancho e veja o que está
acontecendo, antes que anoiteça.
— Há outros que podem fazer este
serviço.
— Eu mandei você, seu idiota! Não me
faça repetir — repreendeu-o Mark
Amos ficou tenso, olhando para seus
companheiros sem saber que atitude adotar.
Sua ira contra Mark aumentava a cada
minuto. Em breve explodiria.
— Está certo, mas isso não vai ficar
assim.
— Cale a boca! Pare de rosnar como um
cão viralata e faça o que estou lhe
ordenando — gritou Mark.
Amos estremeceu, a mão parando a meio
caminho da arma.
— Eu não faria isso se fosse você —
recomendou Mark, olhando noutra direção.
Amos ainda hesitou por alguns instantes,
depois relaxou o corpo gradativamente.
Olhou com ódio para Mark, depois foi
apanhar seu cavalo.
Mark riu alto e zombeteiramente, o que
fez Amos esporear seu cavalo e se afastar a
galope.
Algum tempo depois ele retornou,
furioso.
— Fomos enganados. Aquele maldito
Allan Martin mentiu para nós — foi falando
ele, enquanto desmontava.
— O que descobriu? — indagou Mark.
— Não há nenhum sinal dos vaqueiros no
rancho. Além disso, há marcas indicando
que uma manada saiu dali.
— E o que concluiu disso, espertinho? —
insistiu Mark, com ironia.
— Na certa tomaram outra trilha, por
entre os lagos.
— Diabos, homem! Diabos! —
murmurou Mark, indo apanhar seu cavalo.
Amos estranhou aquela atitude.
— Onde vai? — indagou a Mark.
— Vamos todos voltar à cidade.
— Voltar? Está maluco! Podemos ir atrás
deles. A pista esta fresca e não será difícil...
— Com alguém como você ajudando,
acho que não conseguiríamos nem seguir a
pista de uma manada inteira, seu idiota. E se
o conseguíssemos, de nada nos adiantaria
isso.
— Por quê? O gado não pode caminhar
tão rápido. Terão de para, quando anoitecer.
Nós podemos cavalgar à noite e alcançá-los.
— Amos, caia morto! — zombou Mark,
montado.
— O que faremos, Mark? — indagou um
dos pistoleiros.
— Vocês ouviram as ordens. Vamos
voltar à cidade. Acho que o Sr. Bacley
saberá o que fazer. Não temos mais nada a
fazer por aqui.
O grupo montou e, momentos depois,
cavalgavam na direção da cidade.
Ao saber do ocorrido, Ted Bacley ficou
possesso.
— Eu queria ir atrás deles mesmo assim,
mas Mark achou que... — ia dizendo Amos.
— Cale a boca, Amos! Não demonstre
tão abertamente a sua burrice. Ninguém
pediu sua opinião. — cortou-o Mark. —
Seguí-los seria suicídio. Na certa
encontraram o corpo de Allan, o sujeito que
você matou. Suspeitaram, por isso mudaram
de rumo. Estariam em alerta o tempo todo.
Acabaríamos sendo apanhados por eles.
— Diabos! Você tem razão, Mark! —
concordou Ted Bacley. — Se Charles
Longman tiver sucesso nessa empreitada, a
noticia vai se espalhar e eu não conseguirei
pressionar mais nenhum dos rancheiros.
Isso quer dizer que nosso negócio aqui
estará acabado — lamentou o comprador de
gado.
— E qual é exatamente esse negócio,
Bacley? — indagou Mark. — talvez eu
possa ajudar mais, se souber de todos os
detalhes da operação.
— Está bem, acho que você deveria
mesmo saber de tudo. Afinal, é o único aqui
que parece pensar um pouco mais que a
média. O resto só sabe pensar com o dedo
do gatilho — falou Bacley, passando a
contar a Mark todo os detalhes de seus
negócios ali em Tulsa.
No final, Ted indagou a Mark se havia
algo que podia ser feito para melhorar os
negócios. Antes que o rapaz respondesse,
porém chegou o xerife.
Ted, então, contou-lhe o que havia
acontecido, indagando:
— O que acha que poderíamos fazer
neste caso, xerife? Se Longman tiver
sucesso, estaremos acabados.
— Bom uma situação como esta merece
uma ação drástica. Por que não
aproveitamos a ausência dos vaqueiros e
atacamos o rancho?
— Com que finalidade?
— Longman merece uma lição, bem
como aquela sua filha tagarela — falou o
xerife, pensando nos três mil e quinhentos
dólares que perdia com aquele fracasso. —
Você pode mandar alguns pistoleiros ao
rancho para raptarem a garota.
— Raptar Laurie Longman? Não sei,
Bonney. Não é nosso ramo. Acho isso
exagerado demais.
— Digamos que ela será nossa hóspede,
então. Com ela em nosso poder, será mais
fácil negociar com charles Longman, não
concorda?
— Vai ser difícil. Charles Longman já
esta viajando para kansas City, onde vai
negociar seu gado.
— Então use-o como exemplo para os
outros. Mande estourar o resto do gado. Os
outros pensarão duas vezes, antes de tentar
transportar o gado através de Wichita.
— São quase duas mil cabeças do melhor
gado da região — lamentou Bacley.
— A perda será compensada de outra
forma. O importante é preservar o nosso
negócio. Quando Longman conseguir reunir
de novo seu gado, o outono já terá chegado,
inviabilizando o transporte. Os mercados
estarão abarrotados, ninguém comprará o
gado dele. Você poderá tê-lo por uma
pechincha e soltá-los durante o inverno.
Dará um enorme lucro quando chegar a
primavera, só com as crias.
Ted Bacley pensou por instantes, havia
lógica na sugestão do xerife.
— E quem garante que ele não soltará o
gado durante o inverno?
— Longman não terá vaqueiros e
precisará de algum dinheiro para saldar suas
dividas. Com a metade do rebanho não
conseguirá pagar tudo. O transporte por
ferrovia de apenas metade vai inviabilizar
todo o plano dele.
— É uma boa idéia, xerife.
— E vai ser um trabalho fácil —
continuou o homem da lei. — Não há
defesas no Rancho Longman, com os
vaqueiros em viagem.
— Tem toda razão, Bonney. Pode cuidar
disso para nós, Mark? — indagou Ted ao
rapaz.
— Acho que este é um trabalho que o
próprio Amos poderia fazer, juntamente
com o resto do pessoal. Atacar um rancho
indefeso, assustar uma garota e espantar seu
gado é uma ofensa a minha inteligência.
Bacley não ficou surpreso com aquela
resposta. Havia percebido que Mark
demonstrara qualidade para realizar tarefas
complicadas e difíceis.
— Acho que sou obrigado a concordar
com você, Mark. Amos e o resto do pessoal
cuidará disso — decidiu Bacley.
Amos olhou Mark com ódio novamente,
depois se retirou para cumprir a ordem.
Ted serviu uísque e todos beberam e
conversaram animadamente durante algum
tempo.
Pouco mais tarde, Mark deixou o
escritório e foi para o saloon, onde se
encontrou com Sally.
Esta, ao vê-lo, temeu que algum dos
pistoleiros presentes a denunciasse ao
xerife, por isso rumou para seu quarto.
Mark a seguiu tranqüilamente. As
ameaças do xerife em nada o assustavam.
Aquela mulher era digna de qualquer
sacrifício, por mais perigoso que fosse.
Amos e seu grupo de pistoleiros
cavalgavam na direção do Rancho
Longman. Após ter sido humilhado de
novo, o dia todo, por Mark, o pistoleiro
estava ansioso para realizar aquela tarefa
com perfeição e redimir-se diante dos olhos
do patrão.
— Muito bem, pessoal! Vamos fazer um
trabalho perfeito desta vez, como
costumava ser antes — falou ele aos
amigos, quando chegaram próximo do
rancho.
— Qual é o plano, amos? — indagou um
deles.
— Dez de vocês vão cuidar do gado.
Façam bastante barulho para que ele estoure
e se espalhe. Não importa se caírem nos
lagos e morrerem. Morgan chefiará vocês.
O restante vem comigo para a sede do
rancho.
Amos e mais três homens cavalgaram
para a frente da casa principal do rancho.
Assim que chegaram, amos desmontou,
ordenando:
— Quero aquela garota para mim. Hoje
eu vou domar aquela cadela vagabunda!
O restantes dos homens, que havia
seguido na direção dos pastos, sacou suas
armas para começar o barulho.
Naquele momento, inesperadamente,
surgindo de um grupo de árvores, os
vaqueiros do rancho, liderados por Billy
Roger, caíram sobre os pistoleiros.
O tiroteio foi violento e furioso, mas os
pistoleiros, pegos de surpresa, foram feridos
ou mortos.
— Ótimo trabalho, rapazes — elogiou
Billy. — Vejam se há alguns deles com vida
ainda.
— Billy, olhe lá, na casa. Há cavalos
diante dela. Acho que alguns deles pararam
lá e, com certeza, vão molestar Laurie —
apontou um dos vaqueiros.
— Maldição! Cuidem de tudo aqui! —
ordenou ele, esporeando seu cavalo.
Em poucos instantes chegava à casa,
onde foi recebido a bala pelos três homens
que haviam ficado de guarda.
As balas zuniram ao seu redor. Billy
pensou em Laurie e na promessa que fizera
ao pai dela, enquanto se atirava do cavalo,
procurando abrigo atrás do estábulo.
— Vamos atrás dele — convidou um dos
pistoleiros, sem saber ainda com quem
estavam lidando.
Rumaram para o estábulo, julgando que
tivesse atingido o cavaleiro. Billy estava por
demais preocupado com Laurie para ser
sutil. Decidiu enfrentá-los aberta e
rapidamente.
Amos, dentro da casa, fora alertado pelos
tiros, enquanto tentava atacar Laurie.
— Que diabos está havendo agora? —
indagou ele, interrompendo seu assédio à
garota, que se defendia, mantendo-se à
distancia, com auxílio de uma faca de caça.
— Por que não fica e descobre, seu
bastardo? — desafiou ela, corajosamente.
Amos correu à janela. Viu, vindo dos
pastos, um grupou de cavaleiros e percebeu
que não eram seus amigos pistoleiros, pois
alguns corpos vinham atravessados nas
selas.
— Eu ainda me vingarei — disse ele,
saindo pela janela e correndo apanhar seu
cavalo.
Nem percebeu seus três amigos, que
procuravam por Billy, oculto no estábulo.
— Quem saiu a cavalo? — indagou um
deles.
— Foi o amos — respondeu o outro, após
verificar.
— Diabos! Para onde ele está indo?
— Para a cidade.
— E a garota?
— Como vou saber?
— Tem coisa errada por aqui —
comentou um deles. — Vamos tratar de dar
o fora.
— Não vão a parte alguma — disse uma
voz raivosa.
Os três desviaram os olhos. Billy os
encarava, com as armas ainda nos seus
coldres.
— Se querem se manter vivos, rendam-se
— recomendou ele.
— Terá de vencer nós três — desafiou
um deles.
— Isto não será problema — falou o
rapaz, sacando suas armas.
Um dos pistoleiros teve o chapéu e o
crânio perfurado. O segundo recebeu um
balaço entre os olhos. O último teve seu
coração varado certeiramente.
Toda a preocupação de Billy estava
centrada em Laurie. ele verificou
rapidamente se os três pistoleiros estavam
mortos, depois correu para a casa.
Entrou cautelosamente. Tudo estava em
silencio. Ele temeu pela vida de Laurie. Por
sua cabeça passavam mil e uma coisas que
pudessem ter acontecido com ela.
— Laurie! — gritou ele, com as armas
em punho.
— Estou aqui, Billy! — respondeu ela.
— Onde?
— Em meu quarto.
— Tudo bem? — indagou ele, enquanto
caminhava para lá, sempre com cautela.
Não sabia o que poderia vir pela frente.
— Sim, está tudo bem — respondeu ela,
mas isso não o convencia.
Alguém poderia estar intimando-a, com
uma arma apontada para sua cabeça.
Seria a mais traiçoeira das emboscadas,
por isso ele tomou todo o cuidado. Sempre
com as armas engatilhadas, ele subiu as
escadas para o andar superior.
— Laurie! — chamou ele, de novo.
— Estou aqui, já disse, Billy —
respondeu ela, irritada com a insistência
dele.
Pela voz Billy localizou a porta.
Aproximando-se sorrateiramente. Com um
pontapé ele arrebentou o trinco. Seus corpo
voou para o interior do quarto.
— Billy! — gritou ela, protegendo o
corpo com uma peça de roupa.
Ela estava acabando de trocar de blusa
que Amos havia rasgado na luta com ela.
— Desculpe-me! Eu pensei que... — ia
dizendo ele, todo embaraçado, estendido no
assoalho.
— Eu disse que estava tudo bem. Agora
temos um trinco para ser consertado,
percebeu?
— Eu cuido disso... Mais tarde. É que...
Não tem importância. eu a espero lá
embaixo — completou ele, guardando as
armas e saindo.
Pouco depois ela foi se juntar a ele, no
lado de fora da casa.
— Reconheceu os homens? — indagou
ele.
— Sim, eram homens de Ted Bacley. O
que me atacou era Amos Gantry, você o
conhece.
— Fiquei preocupado. Pensei que algo
pudesse ter lhe acontecido. Não saberia
como explicar isso ao seu pai — confessou
ele.
— Felizmente nada aconteceu. E lá nos
pastos?
— Conseguimos pegá-los todos. A
sugestão dos vaqueiros estava correta. Eles
imaginaram que Ted Bacley poderia
aproveitar-se do fato do rancho ter ficado
desprotegido para tentar alguma coisa.
— Só que, com isso, perdemos um dia
precioso — lembrou a garota.
— Sei disso. Além do mais, temos alguns
feridos. Nossa situação começa a ficar mais
delicada. Prometi ao seu pai que o gado
estaria em Kansas a tempo.
— Não podemos nos esquecer que o
prejuízo poderia ter sido maior, se eles
conseguissem roubar ou espantar o nosso
gado. Pelo menos ele está totalmente a
salvo até agora.
Os vaqueiros chegavam, trazendo os
mortos e feridos. Laurie e Billy foram
verificar.
— Ainda há alguns pistoleiros com vida,
Billy. O que faremos com eles? — indagou
um dos vaqueiros.
— Enforquem-nos — sentenciou Billy.
— Como? — espantou-se Laurie.
— Isso mesmo, Laurei. Somo a lei agora.
O que mais podemos fazer?
— Mas é tão chocante!
— Não esqueça dos propósitos que os
trouxeram aqui. Eles vieram matar e
destruir. Não tiveram a chance que
esperavam, mas devem pagar por isso e
pelos outros crimes que já cometeram em
Tulsa, contra outros vaqueiros e rancheiros.
— Acho que tem razão, Billy —
percebeu a garota.
— Além disso, não podemos levá-los à
cidade e confiá-los ao xerife. Em dois
tempos eles estariam soltos e ainda viriam
em nosso encalço.
Os vaqueiros obedeceram as ordens de
Billy. Momentos mais tarde, meia dúzia de
pistoleiros morriam dependurados pelos
pescoço.
Seus corpos ficaram balançando nos
galhos de uma grande árvore perto do
estábulo.
— Prendam seus corpos nos cavalos —
ordenou Billy. — Espantem-nos na direção
da cidade. Quero ver a cara do xerife e de
Ted Bacley quando virem os cadáveres.
Após cumprirem as ordens, os vaqueiros
foram se reunir com Laurie e Billy.
— Quantos feridos nós temos? —
indagou ele.
— Quatro estão impossibilitados de
cavalgar — informou um vaqueiro chamado
Gaynor.
— Isso atrapalha todos os nosso planos.
Vamos precisar reforçar a equipe de
qualquer maneira. Alguém tem alguma
sugestão?
— Bem, Billy, o único pessoal disponível
que eu conheço na cidade são aqueles
mexicanos que ficam na cantina, na saída da
cidade. Formam um bando de desocupados
que sobrevive de pequenos roubos entre
eles mesmos. Às vezes fazem algum
trabalho, depois se embebedam até gastar
todo o dinheiro recebido.
— Mexicanos, não? Acho que os vi,
diante da cantina, bebendo.
— Isso mesmo. São eles. Não gostam
muito de trabalho, mas quando bem
motivados, são ótimos.
— E eles não temem Ted Bacley e seus
pistoleiros?
— Não, são numerosos demais para
serem molestados. Não causam problema ao
Bacley, por isso ele os tolera. O xerife
também os deixa em paz. Não teria lugar na
cadeia para prender todos eles. No fundo,
são inofensivos mesmo.
— E por que ninguém pensou nesta idéia
antes? — quis saber Billy.
— Papai não confia neles. Podem muito
bem dar o grande golpe, levando o gado
para o México — explicou Laurie.
— Seriam capazes disso, Gaynor?
— Difícil dizer, Billy. É um bando
imprevisível e só fica por aqui porque não
tem dinheiro para retornar.
— Quem os lidera?
— Jesus Hernandez, El Gato, um
fanfarrão metido a caudilho e general.
Billy pensou por instantes. Não tinha
outra alternativa, senão tentar contratá-los.
O prazo estava correndo. Aquele gado
precisava estar em Kansas City a tempo, ou
charles Longman perderia os negócios
contratados.
— É a nossa única chance. Não podemos
ficar parados. Vamos ter que arriscar —
decidiu ele.
— Qual é o seu plano, Billy? — indagou
Laurie, percebendo que ele pensava em algo
arrojado.
— Levar toda a manda de uma só vez
para Wichita, com o auxílio dos mexicanos.
— Haverá vagões para transportar todo
esse gado? — quis saber Gaynor.
— Problema da ferrovia. Eles não
venderiam um serviço se não pudessem
realizá-lo.
— Quando vai falar com os mexicanos?
— Agora mesmo. Não podemos perder
mais tempo. Amanhã cedo teremos que
partir.
Billy foi apanhar seu cavalo, decidido a ir
até a cidade e conversar com os mexicanos.
— Billy, espere! — pediu Laurie,
demonstrando sua preocupação na
expressão carregada de seu lindo rosto. —
Você não pode ir à cidade o xerife vai
prendê-lo, se Bacley não o pegar antes e
mandar matá-lo pelo que fez aos capangas
dele.
— Estou certo que não.
— Como pode ter tanta certeza? Pelo
menos leve os vaqueiros com você.
— Eles precisam ficar para agrupar o
restante do gado e preparar a partida.
— Então vou com você. Não o deixarei ir
sozinho até lá e esta resolvido — falou ela,
com convicção.
Billy ainda pensou em argumentar, mas
desistiu em seguida. Conhecia o gênio dela.
Vira-a na cidade, enfrentando um vaqueiro
com um chicote. Seria inútil tentar demovê-
la.
Muitos depois os dois partiam rumo à
cidade.
Amos Gantry tentava explicar o fracasso,
no escritório de Ted, que ficou possesso e
mandou chamar o xerife e Mark para ajudá-
lo a resolver aquele novo problema.
— Este imbecil falhou de novo — falou
Barcley, assim que se reuniram.
— Ninguém esperava aquilo. Fomos
emboscados. Eles não tinham partido —
explicou amos novamente.
— Isso não justifica seu fracasso, idiota.
Você levava um grupo de bons pistoleiros.
Era só fazer a coisa certa e nada disso teria
acontecido.
— Não adianta argumentar com essa
besta, Bacley. Amos nunca primou pela
inteligência mesmo — ironizou Mark,
procurando ofender ainda mais o pistoleiro.
— Chega! Já me ofendeu demais. Já me
humilhou demais, seu bastardo! — gritou
Amos, tentando sacar.
Duas armas surgiram nas mãos de Mark.
Amos ficou olhando para os Colts
engatilhados. Ofegava, de tanta fúria. Mais
uma vez Mark zombara dele.
— Eu devia fazer um favor ao Sr. Bacley
e matá-lo, Amos. Você é um inútil mesmo
— comentou Mark.
— Parem com isso, rapazes! Já temos
muitos problemas para ficarmos criando
outros. Nada de brigas entre nós —
ponderou o xerife.
— Bonney tem razão, rapazes.
Precisamos reorganizar e agir para valer
contra esse tal de Billy. É ele quem está
causando toda essa confusão.
— Por que o xerife simplesmente não o
prende, como fez com outros vaqueiros do
rancho? — sugeriu Amos, só que num tom
de zombaria.
— Acha que isso será fácil? Você já teve
uma amostra do modo como ele age. Quer
tentar de novo?
— É seu dever, não o meu — replicou
Amos.
— Acho que sei quem irá cuidar desse
Billy por nós — afirmou Ted Bacley,
seguro de si, interrompendo a nova
discussão que surgia.
— Quem? — quis saber o xerife.
— Mark é o homem indicado para isso! -
- explicou Ted.
-- Sim isso mesmo ele vive dizendo que é
o tal. Chegou a hora de parar de falar e
começar a agir — provocou-o Amos,
satisfeito por ter uma chance de ir à forra.
— É o que deseja que eu faça, Bacley?
— indagou Mark, sem se importar com o
comentário de Amos.
— Sim, Mark. Mate aquele bastardo.
Faça-o sofrer bastante antes de morrer.
— Atacar o rancho já se mostrou uma
temeridade — ponderou Mark. — O
negócio é encontrar uma forma de atrair
Billy até a cidade.
— Aquele Billy é esperto como uma
raposa — comentou o xerife. — Não vejo
como conseguiria isso.
— Vou pensar em algo.
— Sim, pense em algo, Mark, depois
mate o miserável. Enquanto isso, quero que
aquele rancho seja vigiado constantemente.
Eles devem estar preparando alguma coisa.
Na certa vão levar o gado de alguma forma.
Naquele momento, gritos horrorizados
vieram da rua, causando uma comoção nas
pessoas que passavam.
Os homens no escritório correram para
fora para ver de que se tratava. Eram os
cavalos com os pistoleiros mortos,
grotescamente amarrados nas selas.
— Maldito! Quero aquele homem morto,
Mark! Morto! E isso não pode demorar
muito!
Um grupo de mexicanos, numa taberna
nas imediações da cidade, bebia vinho e
fazia arruaça, brigando entre si.
O taberneiro não se incomodava com
aquilo. Afinal, os homens de El Gato já
eram velhos conhecidos. Apesar de toda
bagunça, sempre pagavam pelos prejuízos.
— Muito bem, hombres! — gritou Jesus
Hernandez. — Vamos esquentar um pouco.
— Sim, queremos música para dançar e
vinho para nos aquecer o estômago —
gritou um de seus comandados. — El Gato
pagará a conta.
— Cale a sua maldita boca, Pablito! você
pensa que meu dinheiro nasce em cactos?
— Só você tem dinheiro aqui, El Gato.
Tudo que fazemos fica com você.
— Porque sou o protetor e devo cuidar de
tudo por vocês.
— Então dê-nos vinho!
— Está certo. Vinho para eles também,
Miguel — ordenou ele, alisando os bigodes
após entornar a jarra que tinha nas mãos.
Billy e Laurie entraram naquele
momento. A presença dos dois provocou
um silencio mortal na taberna, onde
raramente os gringos entravam.
Jesus Hernandez observou Laurie com
interesse. Gostava de mulheres bonitas e ali
estava uma delas. Aproximou-se,
observando-a com atrevimento.
— Quero falar com Jesus Hernandez —
disse Billy.
— Está diante dele. O que quer?
— Preciso de homens experientes para
levar uma boiada até Wichita.
— Paga bem?
— Sim, o pagamento é bom e haverá um
extra se a manada não se atrasar.
— Por que não procurou os gringos para
ajudá-lo? — indagou o mexicano,
desconfiado da oferta.
— Não vim em busca de conselhos nem
para responder perguntas. Vim à procura de
homens valentes e dispostos — replicou o
capataz.
— Tem a língua muito afiada e ligeira,
gringo.
— Não tenho tempo a perder. Quem se
habita?
— Primeiro queremos saber para que
vamos trabalhar.
— Para o Rancho Longman.
— Isso é mau, muito mau. Aquela boiada
já está nos planos do Sr. Bacley.
— Não sabia que você devia satisfação
ao Bacley. Se é assim, desisto de contratá-
los. Esperava encontrar aqui homens de
verdade e não crianças submissas e
assustadas.
Jesus Hernandez cuspiu no chão
raivosamente, depois bateu no peito.
— Nenhum gringo chama El Gato de
medroso — berrou ele.
— Todos ficaram em silencio,
observando a cena. Apenas o taberneiro
deixou o local sorrateiramente.
— Você grita muito bem, El Gato, o
bastante para assustar galinhas — falou
Billy, voltando-lhe as costas.
O mexicano urrou humilhado e atacou
como um touro. Billy empurrou Laurie para
o lado e desviou-se no momento certo. O
valentão foi se chocar contra a parede.
— Ei, Jesus! Que liso é o gringo, não? —
zombou um dos mexicanos.
El Gato apanhou uma garrafa na mesa
mais próxima e arremessou-a contra a
cabeça do outro.
— Muito bem, gringo! Vamos ver se é
tão bom nos punhos quanto é nas palavras
— desafiou o mexicano.
— Vamos fazer uma aposta, então.
— Que aposta?
— Se você me vencer, dou-lhe cem
dólares. Se eu vencer, você e seus homens
me ajudarão a levar aquela manada.
O mexicano ficou em silencio por
instantes, olhando com admiração o gringo
atrevido diante dele. Depois rompeu numa
gargalhada que contagiou os outros
presentes.
Billy apenas os observava, sorrindo
divertido.
— Ouviram isso, hombres? Ele pensa que
pode me vencer.
— Você ainda não não respondeu se
aceita ou não a minha aposta — cobrou
Billy.
— Billy, é loucura o que pretende fazer.
Não precisa se arriscar assim. Pensaremos
num outro modo de levar o gado —
advertiu Laurie.
— Está tudo sob controle —
tranqüilizou-a ele. — Segure meu cinturão.
— Está feita a aposta. Se você me vencer,
eu e meus homens trabalharemos para você.
— Então já estão contratados — afirmou
Billy, preparando-se para lutar.
— Só que há mais uma coisa que gostaria
de deixar bem clara — foi dizendo El Gato,
enquanto se aproximava, tentando distrair a
atenção de seu oponente.
Inesperadamente, jogou-se contra Billy,
derrubando-o. Os dois rolaram pelo
assoalho por algum tempo, derrubando
mesas e cadeiras, até que Billy golpeou o
estômago de Jesus Hernandez, livrando-se
dele.
Ergueu-se desafiadoramente.
— Levante-se, homem, ou prefere
rastejar como uma cobra? — ironizou Billy,
deixando o outro realmente furioso.
— Vou lhe arrancar os dentes e a pele —
vociferou o mexicano, avançando
resolutamente.
Um murro bem aplicado fez o sangue
esguichar de seu nariz, manchando o
assoalho.
Um outro, no alto de sua cabeça, o fez
cambalear, revirando os olhos. Billy
segurou-o pelos ombros e empurrou-o para
baixo, fazendo-o flexionar o tronco,
enquanto lançava o joelho ao encontro do
rosto do outro.
El Gato foi jogado para trás, até bater as
costas no balcão, onde tentou se agarrar,
com a língua de fora e os olhos esgazeados.
Billy não lhe deu trégua. Seu punho
golpeou novamente o estômago dele, depois
o queixo, fazendo-o cair pesadamente no
assoalho.
Todos fizeram silencio respeitoso.
— Fique onde está, Billy — ordenou uma
voz autoritária na porta da taberna.
Billy se voltou rapidamente. O xerife lhe
apontava uma arma.
— Finalmente eu o peguei. Vai se
arrepender de tudo que fez até agora.
— É, reconheço que você me pegou,
xerife. Está armado e eu sem meu cinturão.
— Não pense que vou lhe dar alguma
chance — falou o homem da lei,
engatilhando a arma e apontando-a para a
cabeça do rapaz.
— Antes de apertar o gatilho, gostaria de
visse algo, xerife — disse Billy.
— Sem chance, Billy. Não caiu nesse
truque.
— Nada tem a temer, xerife. Vai me
agradecer por avisá-lo. Está aqui, no bolso
de minha camisa.
O xerife hesitou por instantes. Todos os
olhares estavam centrados nele.
— Está bem, apanhe, mas bem devagar.
Um movimento em falso e arrebento sua
cabeça.
Billy enfiou a mão no bolso da camisa e
retirou uma carteira de couro, com o selo
dos Estados Unidos na frente, em metal.
— Que diabos é isso? — quis saber o
xerife.
— Veja por si mesmo — replicou Billy,
atirando-a na direção dele.
A carteira caiu aberta no assoalho. Uma
estrela de delegado federal reluziu.
— Você é um maldito delegado federal?
— Sim, e recebemos denúncia do que
estava acontecendo aqui. Fui mandado para
investigar.
— Não pense que isso me assusta. É um
motivo a mais para matá-lo agora.
— Há muitas testemunhas aqui.
— Quem acreditará num bando de
bêbados desordeiros? Será fácil fazer o
povo acreditar que o mexicano o matou.
— E como convencerá os mexicanos?
— Uma garrafas de vinho barato
comprarão o silencio deles. É o que valem
— disse o homem da lei, com desprezo.
— Não acredite inteiramente nisso, xerife
— afirmou Jesus Hernandez, levantando-se
e apanhando suas armas.
— Deixe de ser idiota, mexicano!
Mais de uma dezena de armas foram
engatilhadas e apontadas para o xerife.
— Solte seu canhão ou vai virar peneira,
xerife — ameaçou El Gato.
Encurralado e sem alternativa, o xerife
foi obrigado a fazer o que lhe era ordenado.
Billy se aproximou dele e o golpeou no
queixo violentamente, pondo-o para dormir.
— Eu pago minhas apostas, gringo.
Vamos trabalhar para você agora — decidiu
o chefe dos mexicanos.
Foram todos apanhar seus cavalos.
Enquanto montavam, Laurie indagou a
Billy.
— Por que não nos disse antes que era
um delegado federal?
— Precisava agir em segredo, até
descobrir quem era quem por aqui. Espero
que me entenda.
— Sim, eu entendo, Billy. E só tenho a
agradecer pelo que está fazendo por nós.
Assim que se recuperou da pancada, o
xerife se levantou e correu para fora da
taberna, mas já era tarde demais para
qualquer reação.
Billy e o bando de mexicanos já haviam
tomado uma boa dianteira.
Imediatamente, então, o xerife correu
para o escritório de Ted Bacley, onde
contou que tinha descoberto.
— Entendo o que isto significa, Ted?
Temos um delegado federal em nossa cola.
Acho melhor darmos o fora o mais depressa
possível. Não há como lutar contra essa
raça. Você nunca sabe o que eles estão
tramando — falou o xerife, ao final de seu
relato, apavorado.
Bacley caminhou pensativo pelo seu
escritório. O xerife tinha razão quanto a ter
um delegado federal ali.
— Sou obrigado a concordar com você,
Bonney. Já ganhamos um bom dinheiro
para uma temporada. Acho que devemos
parar por uns tempos, até as coisas
esfriarem.
— Vamos ter que fugir?
— Não, não precisamos fugir. Ele pode
ser um delegado federal, mas acha que
deixaria você livre se tivesse provas para
condená-lo?
— Sob esse aspecto, você está coberto de
razão. Ele apenas me socou e me deixou lá.
— Então estamos sossegados. Vamos
encerrar os negócios por este ano, após
cuidarmos da manada do Rancho Longman.
— Está maluco! Acabou de me dar razão
e agora pretende fazer uma besteira dessas?
— E por que não? Será o último exemplo
para os rancheiros. Tudo ficou mais fácil
para nós. Poderemos até nos livrar
impunemente daquele delegado.
O xerife olhou-o sem querer acreditar em
tamanha ousadia. Talvez fosse isso que
fizesse de Ted Bacley um homem tão rico e
tão poderoso.
— O que tem em mente? — quis saber.
— Os mexicanos levarão a culpa de tudo.
Reuniremos todo o nosso pessoal e
atacaremos a manada. Vamos matar todo
mundo e levar o gado para o México.
Assim, para todos os efeitos, os mexicanos
foram os autores do roubo e,
consequentemente, da morte do delegado.
— É, pode dar certo!
— Vá chamar Amos e Mark. Eles devem
estar no saloon. Vou precisar de todos os
meus homens.
O xerife deixou o escritório e rumou para
o saloon. Quando entrou, viu Amos
encostado no balcão.
— O patrão quer vê-lo. Sabe onde está
Mark?
— Quer mesmo saber? — retrucou
Amos, com ironia.
Aquela era a chance que ele vinha
esperando havia muito tempo para se vingar
de Mark.
— Deixe de perguntas idiotas e vá
procurá-lo. É ordem de Bacley.
— Por que não vai você mesmo, xerife?
O homem da lei olhou ao seu redor,
vendo todos os olhares centrados nele.
Alguns riam zombeteiramente, olhando para
cima, para o corredor no alto das escadas.
— Onde está ele? — indagou o xerife,
quase erguendo Amos pelos colarinhos.
— Lá em cima — apontou amos, rindo.
O xerife percorreu o saloon de novo com
o olhar. Não viu Sally. Percebeu o
significado daqueles olhares. Seu sangue
ferveu nas veias. Ele subiu a escada aos
saltos.
Todos no saloon se agruparam para ver
melhor a cena. o xerife foi até a porta do
quarto de Sally e arrebentou a porta com um
violento pontapé.
Sobre a cama, Mark e Sally trocavam
beijos apaixonados.
— Seu bastardo maldito! — rugiu
Bonney, sacando suas armas.
— Vai atirar num homem desarmado,
xerife? ouvi dizer que sempre foi muito
valente — ainda zombou Mark.
O xerife hesitou, olhando para Sally, que
parecia desafiá-lo como sempre.
— Está bem, seu maldito! Apanhe suas
armas. Vou lhe dar a última chance de sua
vida.
Mark ainda beijou mais uma vez a
trêmula Sally, depois apanhou seu cinturão,
afivelando-o nos quadris.
Caminhou para a porta. O xerife recuou
até o fim do corredor, próximo da escada.
— Vou matá-lo e depois arrancar a pele
daquela vagabunda — rugiu ele.
— Você está tremendo, xerife? É medo
ou despeito por eu haver roubado sua
garota? — zombou Mark.
— Ninguém jamais me desrespeitou e
ficou vivo para contar. Prepare-se para
morrer.
— Por que não fecha sua boca fedorenta
e saca logo essas suas armas, xerife?
Foi a gota d’água. Com uma rapidez
impressionante, o Xerife Bonney sacou suas
armas, engatilhando-as para atirar.
Por uma fração de segundo antes, as
armas de Mark dispararam primeiro.
O corpo do xerife rodopiou, batendo
contra a parede. Ele ficou imóvel, olhando o
sangue que se alastrava em seu peito. Os
braços pendiam imóveis ao longo do corpo,
ainda empunhando os Colts engatilhados.
— Seu bastardo! — gemeu o homem da
lei, tentando levantar as armas.
Elas pareciam pesar demais para suas
forças. Seu sangue começou a gotejar no
assoalho.
O suposto homem da lei ergueu os olhos
para seu oponente, como que suplicando
pela própria vida.
Mark não lhe deu chance. Apertou o
gatilho mais uma vez. O corpo do xerife foi
jogado contra a amurada, no alto da escada,
despencando sobre uma das mesas, com um
baque seco e macabro.
Ficou estendido ali, braços abertos, olhos
arregalados, completamente imóvel.
Sally saiu correndo do quarto e foi
abraçar Mark com força. A garota tremia de
medo.
— Está tudo terminado agora, boneca.
Ele não vai mais ameaçá-la nem incomodá-
la.
— Ei, conquistador! — chamou Amos,
zombeteiro, mas respeitoso. — O patrão
espera por nós.
Mark o olhou com desprezo, depois
beijou Sally longamente, tranqüilizando-a.
Depois foi atender o chamado de Ted
Bacley.
Naquela noite, ao rancho, Billy parecia
nervoso. Laurie notou isso, indagando:
— Espera barulho, Billy?
— Sim, Laurie, com toda certeza.
— Acha que eles atacarão de novo?
— Penso que sim. Estarão jogando tudo
ou nada. Além disso, agora sabem que sou
um delegado federal e isso deve ser
incomodo para eles.
— O que pretende fazer?
— Há algum lugar onde possa ficar em
segurança por esta noite?
— Não vou a parte alguma. Este é meu
rancho e vou ficar aqui. Se alguém vai lutar
por ele, quero estar junto.
— Eu vou me sentir mais tranqüilo
sabendo que você estará segura. Por favor!
preciso dessa tranqüilidade. Tenho um
trabalho a fazer, mas não posso admitir que
você corra nenhum risco. Faça isso por mim
— pediu ele, de um modo todo especial que
a convenceu.
Laurie suspirou, olhando-o nos olhos.
— Está bem, Billy. Posso ficar no rancho
vizinho. São amigos nosso.
— Então prepare-se para ir. Mandarei
alguns homens com você.
Após cuidar desse detalhe que ele
considerava o mais importante em todos os
seus planos, ele convocou os vaqueiros
restantes, bem como os mexicanos.
— Estou certo que teremos barulho esta
noite —a visou.
— Estamos aqui para o que for preciso,
Billy. O que quer que façamos? — indagou
Jesus Hernandez.
— Vamos nos agrupar lá nas pastagens,
protegendo o gado.
— Todo mundo?
— Todo mundo. E vamos acender uma
bela e enorme fogueira e fazer um
churrasco.
— Mas é o mesmo que convidá-los
para... — ia dizendo o líder dos mexicanos,
mas interrompeu-se, olhando Billy com
olhos brilhantes e matreiros.
— É essa a idéia, Jesus.
— Vai preparar uma armadilha.
— Exatamente.
Billy deu as ordens. A noite avançou. Os
homens protegiam o gado, mas após
comerem todos dormiam aparentemente.
Apenas Billy e alguns homens montavam
guarda.
Não se afastavam do ponto iluminado
pela fogueira, porém. A idéia era que
fossem vistos.
Não demorou muito e ruídos sutis na
noite denunciaram a aproximação de um
grupo de homens. Billy fez sinal às
sentinelas para que seguissem o plano.
Repentinamente, duas dezenas de
homens, armados de rifles, cercavam os
vaqueiros. Mark Douglas os liderava.
— Todos quietos. Quem der um pio vai
ter indigestão esta noite — falou Mark.
— Vamos matar todos eles
imediatamente — propôs Amos.
— Cale a boca, idiota! Quando vai
aprender que eu dou as ordens aqui?
Billy avançou na direção de Mark,
olhando-o nos olhos. Os dois homens
ficaram frente a frente.
— Olá, Mark!
— Como vão as coisas, Billy?
— Levando.
— Parece que vamos ter uma boa festa
esta noite, não concorda comigo?
— Já jantou? Temos churrasco.
Amos acompanhava aquele diálogo sem
entender nada do que estava se passando.
— Vocês se conhecem? — indagou,
aturdido.
— Somos colegas de profissão.
— Quer dizer que... — ia dizendo Amos.
— Sim, somos delegados federais —
explicou Mark, apontando suas armas para
ele.
— Malditos! — berrou Amos, tentando
sacar.
As balas de Mark o acertaram na cabeça,
jogando-o sobre a fogueira, levantando uma
nuvem de fagulhas.
A uma ordem de Billy, os vaqueiros que
pareciam dormir jogaram as cobertas para o
lado.
Estavam todos de armas nas mãos,
preparados para o tiroteio que se seguiria.
A fuzilaria foi terrível, enchendo o céu de
fumaça e cheiro de morte. Billy e Mark
disparavam suas armas com uma precisão
surpreendente.
Em pouco tempo os pistoleiros de
Bacley, pegos de surpresa, foram
dizimados.
Quando tudo se acalmou, Billy ordenou.
— Banner, leve alguns homens e
tranqüilize o gado. Os outros verifiquem se
há alguns deles ainda com vida.
Billy mandou aplicar de novo a lei mais
antiga do Oeste. Os pistoleiros ainda com
vida foram pendurados nas árvores mais
próximas.
— Foi um bom trabalho, Billy —
comentou Mark, quando as coisas se
acalmaram.
— Sim, mas eu temi que você não
estivesse junto com os pistoleiros de
Bacley. Já pensou no que teria acontecido?
tudo o que planejei teria ido para água
abaixo.
— Para dizer a verdade, quase que isso
aconteceu. O xerife me surpreendeu com a
garota dele.
— Sally Brown? você é maluco.
— Ela mesmo. Andou me contando tudo
sobre as negociatas de Bacley e do xerife.
— Ela está disposta a testemunhar?
— Sim, sabe de muita coisa sobre os
dois.
— Ótimo! Isso liquida o assunto. O que
fez com o xerife?
— Não tive escolha. Eu o matei.
— Um a menos para ser julgado. Só
sobrou Bacley, que foi o mentor de tudo que
aconteceu.
— Deve haver uma meia dúzia de
pistoleiros com ele ainda.
— Só que ele deve estar confiante,
imaginando que vocês liquidaram com o
Rancho Longman, não?
— Seguramente.
— Vamos cuidar dele, então.
Após dar instruções aos vaqueiros que
ficavam, Billy e Mark rumaram para a
cidade.
— Quer dizer que conquistou Sally, então
— indagou Billy.
— Sim. Até recebi uma proposta de me
tornar sócio dela no saloon.
— Duvido.
— Vou experimentar, por algum tempo,
até que surja uma nova missão. para ser
sincero, estou ficando velho para correr de
um lado para outro resolvendo broncas. E
você? Ouvi dizer que Laurie Longman é
uma bela mulher.
— Sim, sem sombra de dúvidas. Talvez
eu o imite, Mark, e acabe me tornando um
rancheiro.
— Rancheiro? pagarei para ver isso.
— E por que não? Se você pode ser dono
de saloon, por que eu não posso ser
rancheiro?
— Por que não mesmo? — concordou
Mark, rindo e esporeando sua montaria.
Na cidade, Ted Bacley a alguns
pistoleiros estavam no saloon, bebendo e
conversando animadamente. Ted estava
certo de que sairia por cima, por isso estava
sendo generoso.
As garotas todas do saloon estava à
distancia dele e de seus homens. Tudo
indicava uma grande festa para aquela noite.
Para ele, encerrava-se a temporada de
negócios e começava a de lazer. Havia
ganhado dinheiro demais para um só
homem gastar.
Inesperadamente, porém, quando menos
se esperava, a porta vaivém do saloon foi
aberta e dois homens resolutos entraram,
pisando firme, fazendo as esporas tinirem
no assoalho.
Rindo de satisfação, Ted se voltou para
olhar quem era.
— Mas o que significa isso? — indagou,
num fio de voz, deixando cair o copo de
bebida que segurava.
— Caiam fora, garotas! — ordenou
Mark.
As moças do saloon correram para a
escada. Os pistoleiros de Bacley ficaram
tensos, à espera do momento de sacar.
— Cadê Amos e os outros? — indagou
Ted.
— Estão todos mortos — explicou Mark.
— O que faz com esse delegado ao seu
lado?
— Estamos aqui para prendê-lo por
roubo, assassinato, formação de quadrilha e
mais uma dúzia de acusações, Ted Bacley.
Ele é Billy Roger, delegado Federal, assim
como eu.
O comprador de gado empalideceu.
— Fui traído miseravelmente! —
exclamou.
— Você pediu isso, quando deu inicio a
suas negociatas desonestas, Bacley. Tem
duas opções. Ou se entrega por bem e será
julgado ou nos dá um bom motivo para
matá-lo aqui mesmo.
Bacley analisou suas possibilidades.
— Somos sete contra os dois. Vai ter de
me levar à força.
— Melhor para nós. Evitaremos as
despesas e os transtornos de um julgamento.
— Estão blefando!
— Então por que não arriscam suas
chances?
Ted Bacley olhou para seus pistoleiros.
Naquele momento, porém, os auxiliares do
xerife chegavam silenciosamente.
Postaram-se atrás de Billy e Mark, sem
que estes percebessem. Ao vê-los, Bacley
exultou de satisfação.
— Foi um erro terem vindo aqui — disse,
recuperando a confiança Billy.
— Não há mais chance para você,
Bacley. Está perdido! — avisou Billy.
— Pelo contrario. Vocês estão mortos e
eu irei reiniciar meu negocio em algum
ponto do país, não importa onde. Sempre
haverá espaço para gente esperta como eu.
No alto da escada, alertada pelas garotas,
Sally viu os auxiliares prontos para disparar.
Correu até seu quarto, de onde retornou
com uma espingarda de cano duplo que o
xerife deixará lá um dia.
Enquanto avançava pelo corredor, ela
engatilhou a arma, após se certificar de que
estava carregada.
Apoiou-a na amurada, no alto da escada,
apontando-a na direção dos auxiliares do
xerife.
Sabia o que uma arma daquelas podia
fazer, mas tinha de atirar com segurança,
senão correria o risco de atingir Billy e
Mark. Conhecia armas o suficiente, porém,
para um tiro seguro, se fosse preciso.
Ted Bacley estava confiante e fez um
sinal a seus homens e aos auxiliares do
xerife. Billy e Mark se prepararam para o
duelo.
— Os três da esquerda são meus — disse
Billy.
— Os da direita ficam para mim. E Ted?
— Quem tiver chance, dispara nele
primeiro, Ok?
— Certo, parceiro.
Os dois, no entanto, suspeitaram que
havia alguma coisa errada, Pois Bacley
estava confiante demais.
— Estão mortos! — sentenciou o
comprador de gado. — Fogo neles!
O barulho ensurdecedor de um disparo
duplo de espingarda de grosso calibre se
antecipou aos tiros de revolveres.
Os auxiliares do xerife foram varridos
contra a parede pelas devastadoras
descargas de chumbo.
Billy e Mark sacaram suas armas com
impressionante agilidade abatendo logo dois
dos pistoleiros.
Os outros sacaram e atiraram contra eles,
forçando-os a buscarem proteção atrás de
uma mesa.
— Mil dólares perla cabeça de cada um
— gritou Ted Bacley, tentando subir as
escadas.
Agarrou o braço de uma das garotas e
puxou-a diante de si, usando-a como
escudo.
Billy e Mark se entreolharam.
— Olho direito para mim — disse Mark.
— O esquerdo é meu — falou Billy.
Os dois dispararam ao mesmo tempo. O
corpo de Ted desabou na escada e foi
escorregando para baixo, enquanto a garota,
apavorada, buscava proteção no alto da
escada.
Quando viram aquilo, os pistoleiros
perderam a motivação para a luta.
— Vamos fazer um acordo, delegado —
gritou um deles. — Deixem-nos ir e
entregaremos as armas.
— É um pouco tarde para isso. Não
fazemos acordos com ratos — respondeu
Billy.
Os pistoleiros restantes tentaram, então,
um ato desesperado, pretendendo fugir
pelos fundos do saloon.
As armas impiedosas de Mark e Billy
puseram fim às pretensões deles.
Quando a fumaça se dissipou, os dois se
levantaram. Olharam os auxiliares do xerife
jogados contra a parede.
— Você tinha visto aqueles?
— Não. Devemos a vida a Sally.
— Agradeça-a por mim. Preciso rever
alguém agora.
— Vá logo, rancheiro. Aparece mais
tarde para um drinque — disse Mark,
enquanto Billy deixava o saloon.
Ele caminhou até o pé da escada. No alto
dela, radiante, Sally sorria para ele.
Trilha de Sangue
Quando um homem tinha a cabeça a
prêmio por muito tempo, acostumava-se a
reconhecer os sinais de perigo. A maneira
como um viajante se aproximava, como
conduzia o cavalo, com a rédea na esquerda
e a direita caída sobre o coldre, o rifle solto
no coldre da sela, os joelhos firmados
contra o arreio, esperando o momento de
esporear e surpreender, tudo isso ficava
gravado na memória.
O olhar que sondava rapidamente o
ambiente, observando a colocação das
armas e das defesas, o tipo de cavalo, o
arreio leve, para galope ou mais pesado,
para viagens longas, nada escapava ao
homem cuja vida dependia desses mínimos
detalhes.
Buck Johnson era um velho pistoleiro
procurado em mais da metade dos
territórios do Oeste. Mas estava ficando
velho e só queria voltar para casa, no
Missouri, pendurar as armas e viver
sossegado com o filho e a nora que, em
breve, iriam presenteá-lo com um neto.
De toda aquela vida de aventureiro, de
todas as mortes, nada restara ao pistoleiro
além do cansaço e da sensação de
inutilidade. Era disso que ele queria se ver
livre definitivamente e seu filho prometera
ajudá-lo.
Noutros tempos isso seria mais difícil.
Agora, porém, poderia até sonhar em viver
em paz. Billy Johnson era o xerife de
Lamar, ao sul de Kansas City. Morava na
cidade, mas tinha um pequeno rancho onde
Buck ficaria hospedado.
Ninguém conhecia Billy. Ninguém sabia
que Buck tinha um filho. Ninguém iria
procurá-lo ali, tão perto de Kansas City,
onde tudo começara vinte e cinco anos
antes.
Vinha do Arkansas e ainda faltavam
umas trinta milhas para chegar ao seu
destino. Parou junto a um riacho, onde
pretendia passar a noite.
Soltou o cavalo para pastar, acendeu a
fogueira e preparou alguma coisa para
comer. Havia cavalgado muito naquele dia e
o corpo doía terrivelmente.
Queria comer alguma coisa logo e
descansar.
Tinha terminado de jantar e preparava um
pouco de café, quando os dois estranhos
chegaram. Um deles era alto e magro. O
outro era baixo.
Ambos portavam armas em coldres muito
baixos, próprios de pistoleiros. Seus cavalos
tinham arreios leves, embora eles levassem
alforjes e cobertores.
Eram homens que viajavam muito e em
velocidade. Era o tipo de gente que Buck
não apreciava.
— Noite! — disse o mais alto, sem
desmontar, sondando o terreno. —
Estivemos cavalgando todo o dia. Podemos
aproveitar a sua fogueira?
— Sim, como não — respondeu ele. —
Estava mesmo me sentindo muito só por
aqui. Desmontem, estou fazendo um pouco
de café. Se quiserem comer, tenho comida,
mas terão que preparar — disse ele,
percebendo que o magro mantinha o rifle ao
alcance da mão e que a presilha de couro
que prendia a arma estava solta.
— Não se incomode com isso.
Aceitaremos seu café, com prazer. Só
vamos descansar um pouco e depois seguir
viagem. Meu nome é Samuel Corey e meu
parceiro se chama Slim Patterson.
— Sou Buck Sommer — mentiu o velho
o pistoleiro, mantendo-os sob suas vistas,
evitando falar seu verdadeiro nome.
Os dois olharam-se por instantes.
Desmontaram, retirando de seus alforjes
canecas de folha.
Buck terminou o café e serviu-os. Depois
apanhou uma caneca para ele e foi se
encostar no arreio, onde estendera o
cobertor de lã de carneiro.
Seu cinturão estava junto à sela. Nele se
sobressaía um moderno Colt Peacemaker,
de seis tiros, com uma fileira de cartuchos
novos inseridos nas pregas de couro do
cinto.
— É uma arma especial essa que tem aí
— observou Samuel, olhando para o
pistoleiro.
— Sim, é um Colt... A arma preferida do
Delegado Wyat Earp. Comprei-a em Dodge
City há alguns meses.
— Conheceu o Delegado?
— Sim, é um homem justo...
— Só que não muito correto, pelo que
entendi... Está se metendo numa briga feia,
pelo que ouvi dizer...
— Ele se sairá bem. Seus irmãos estão
com ele. Além disso, Doc Hollyday está
com eles.
— Doc? Aquele maluco já deveria estar
morto com aquela tuberculose...
Enquanto conversavam, Buck apenas se
certificava de que aqueles homens viajavam
rápido mesmo. Estavam com as últimas
notícias na ponta da língua.
— Para onde estão indo? — indagou o
café e começando a enrolar um cigarro.
— Para longe... Vamos voltar para Sioux
City, no Iowa — respondeu Samuel.
— Estão aqui a negócios, então...
— Sim. Pretendemos concluí-lo hoje à
noite e voltar o mais depressa possível...
Enquanto Samuel falava, Slim rodeava o
velho pistoleiro, postando-se de modo a
deixá-lo entre dois fogos. Os anos naquela
vida haviam aguçado a percepção de
Johnson.
Sua experiência alertou-o e ele ficou de
sobreaviso, pronto para agir, se fosse
necessário. A arma estava livre no coldre.
Bastaria puxá-la e a teria na mão.
— Como podem tratar de algum negócio
nessa escuridão? — indagou ele.
— Não vamos longe e a lua cheia deve
sair logo...
— Não há nada por perto daqui, moço.
Além disso, estamos na lua minguante.
Samuel jogou para trás a aba de seu
paletó, descobrindo o Smith & Wesson.
Slim fez o mesmo. Buck continuou como
estava, memorizando a posição dos dois.
Slim continuou se movendo. Buck começou
a se levantar lentamente.
Sua arma estava ao lado, encostada à
sela.
— Procuravam por mim, não? —
indagou, com os músculos prontos para a
explosão.
— Na verdade, nós o seguimos desde que
passou por Little Rock, há duas semanas.
Estamos em sua pista há três meses.
— Eu sabia disso... O que querem
comigo?
— Você tem sua cara e seu nome em
cartazes de todos os Estados a Oeste de
Kansas City, Buck Johnson.
— E vieram arriscar suas chances?
— Está velho e acabado agora — disse
Slim.
— Acha mesmo isso, filho? Durante os
últimos vinte e cinco anos não tenho feito
outra coisa a não ser sacar minha arma.
Nem sempre matei gente inocente. Matei
alguns bastardos que mereciam morrer. E
nunca gostei de gente como vocês. Deixam-
me com vontade de matar...
Os dois pistoleiros se olharam.
— Está ficando velho, Johnson. Há
tempos que não saca contra alguém, pelo
que sabemos. É só um velho, agora. Além
disso, sua arma esta aí, ao lado da sela. Terá
de se abaixar para apanhá-la. Acho que vou
lhe dar esta chance, velho.
— E quem precisa de uma chance?
— Lamento, velho, não é nada pessoal.
Para nós é apenas trabalho — disse Samuel.
Buck olhou-os mais uma vez, depois
abaixou-se para apanhar sua arma. Quando
fez isso, Samuel sacou sua arma com
incrível rapidez, disparando.
Buck já havia se abaixado e a bala a ele
endereçada foi atravessar o peito de Slim,
atirando-o contra umas pedras.
— Maldito filho da mãe! — berrou
Samuel, mas seus olhos se esbugalharam e
sua voz lhe morreu na garganta, quando a
bala disparada por Johnson atingiu-lhe a
cara, deformando-a.
Ele rodopiou e caiu sobre a fogueira.
Slim, ferido no peito, pôs-se de joelhos,
segurando sua arma com as duas mãos e
tentando levantá-la para disparar contra o
velho pistoleiro.
O velho ouviu o estalido do gatilho e
jogou-se para o lado, disparando contra a
testa de Slim.
O chapéu do pistoleiro ficou grudado na
rocha atrás dele, depois começou a deslizar
para baixo, deixando uma trilha de restos de
sangue e miolos na pedra. Buck se voltou na
direção do outro homem, mas não precisou
atirar de novo.
Um silêncio mortal pairou no
acampamento. Buck começou a trocar os
cartuchos usados de sua arma, olhando os
dois homens imóveis, iluminados pelas
chamas.
De repente, um tiro de Winchester ecoou
na noite. A bala assobiou a polegadas da
cabeça dele.
Percebeu que havia um terceiro homem
ou, talvez, até mais. Estava ou estavam
ocultos em algum ponto próximo dali.
Uma bala assobiou a sua frente, bateu
numa pedra e ricocheteou tetricamente,
como um grito de agonia perdendo-se na
escuridão. Atirou-se para trás de uma rocha,
tentando localizar seu agressor. Novas balas
arrancavam lascas de pedra, sem que ele
pudesse revidar.
Mudou de posição para olhar melhor.
Localizou de onde vinham os tiros pelos
disparos. Mirou naquele ponto e fez fogo
algumas vezes. Ouviu um grito.
— Peguei-o! — exclamou ele, com
satisfação, respirando aliviado.
Percebeu que poderia correr e ir abrigar-
se atrás de um tronco e, dali, aproximar-se
mais do atirador. Quando se levantou para
correr, ouviu nitidamente o galope de um
cavalo afastando-se rapidamente.
Billy Johnson sempre tivera o sono leve,
mas não ouviu o barulho dos cavalos
descendo a rua. Nada ouviu depois, quando
os homens deixaram os cavalos e
avançaram, com as esporas tinindo
abafadamente na poeira.
Billy apenas acordou quando ouviu o
gatilho estalando e o cano frio da arma
tocando seu ouvido. Alguém acendeu um
lampião.
— Não faça um gesto, xerife, ou morre
aqui mesmo — disse o homem a seu lado.
— Levante-se bem devagar.
Billy foi levado para a sala, onde Delle,
sua esposa, já se encontrava sob a mira das
armas de mais três homens.
— Pensei que fosse mais difícil —
comentou um deles, olhando para Delle
com desejo.
— Quem são vocês? O que querem aqui?
— indagou Billy.
— Estamos aqui a trabalhado, xerife —
respondeu um deles. — Somos pistoleiros e
fomos pagos para matar você, seu pai...
— Meu pai? De quem estão falando? —
surpreendeu-se Billy, já que aquele era um
segredo que poucas pessoas conheciam.
Os homens riram zombeteiramente.
— Não nos engana, xerife. Sabemos que
seu pai é um homem perigoso e está vindo
para cá.
— Meu marido fala a verdade — afirmou
Delle.
— Ninguém a chamou na conversa, dona.
Mulheres não foram feitas para se meter na
conversa dos homens — disse um
pistoleiro, estendendo a mão.
Com um gesto rápido e inesperado,
rasgou a camisola que ela vestia,
desnudando seus seios.
— Bastardo! — rugiu Billy, socando-o
no estômago.
A resposta foi imediata. O pistoleiro
sacou sua arma e, a queima-roupa, disparou
contra Billy.
— Maldito! — urrou o rapaz, ferido na
barriga, tentando partir para cima do
pistoleiro, mas foi contido por dois outros.
Alguém golpeou sua nuca e ele caiu de
joelhos.
— Malditos sejam vocês e toda a sua
escória — gemeu, caído de joelhos.
— Por que não cala a boca e morre,
xerife? — falou o pistoleiro que ele socara
no estômago.
Billy tentou se erguer, mas o outro
levantou a bota, atingindo-o com um
pontapé na cabeça e jogando-o para trás.
— Ergam-no. Quero que ele veja isso
antes de morrer.
Billy foi posto em pé e mantido imóvel,
enquanto o pistoleiro continuava rasgando
as roupas de Delle.
Em desespero, ela o arranhou no rosto.
Ele a socou com força, desmaiando-a.
Ela foi posta sobre a mesa, então, já nua.
— Eu serei o primeiro, rapazes — disse o
pistoleiro. — Vocês disputam na moeda
quem serão os próximos.
Billy foi amarrado numa cadeira,
enquanto os homens disputavam sua
mulher. Delle resistiu. Não estava
desacordada de todo. Girou o corpo e caiu
da mesa. Correu abraçar Billy.
Um dos pistoleiros socou-a de novo,
jogando-a no assoalho. Ali, sob as vistas do
xerife, que se debatia como um animal
aprisionado, Delle foi brutalizada por eles.
Billy se sentiu à beira da loucura, incapaz
de fazer alguma coisa para ajudar a esposa.
Estava alucinado, quando os pistoleiros
terminaram seu cruel trabalho.
— Agora vamos terminar o serviço —
falou um deles.
Delle jazia no assoalho, imóvel, como se
estivesse morta.
— Deixe-me acabar com ele — pediu
alguém, sacando sua faca.
— Sim, mas não precisa ter pressa. Esse
aí não vai mais para lugar nenhum. Não nos
dará trabalho. Essa bala em seu couro já
decretou a morte dele.
— Como quiser, — disse o outro,
cravando inesperadamente sua faca na coxa
direita de Billy, que gemeu e ficou vendo o
sangue brotar e ensopar sua calça.
— É isso mesmo, Villas. Mate-o bem
devagar.
O mexicano retirou a faca da coxa do
homem da lei e, com um sorriso sádico no
rosto, espetou-a na outra coxa, depois
apoiou as duas mãos no cabo para fazê-la
entrar lentamente.
— Agora solte-o — ordenou Bill. —
Quero que ele rasteje.
Os pistoleiros fizeram o que ele mandava.
Billy tentou caminhar na direção do corpo
da esposa, mas acabou caindo de joelhos. O
sangue continuava jorrando de suas coxas
feridas.
— Vamos deixá-lo aí. É um homem
morto — decidiram eles, deixando a casa
um a um.
Só que, antes sair, cada um chutou-lhe as
costelas e a cabeça. Um silêncio mortal
pairou na casa. Billy tentou gritar, mas não
conseguia articular nenhuma palavra.
Arrastou-se um pouco mais, até que seus
dedos tocassem os dedos crispados de sua
esposa.
Não resistiu mais. Desmaiou.
Quando Billy acordou, estava em sua
cama. Tudo parecia ter sido um pesadelo, se
não fosse a dor dos ferimentos ainda. Ao se
lembrar do que acontecera, começou a
chorar.
Estava arrasado. Seu primeiro
pensamento foi para a esposa. A porta se
abriu. Um homem surgiu, apoiando-se no
batente.
— Quem é você? — indagou Billy.
— Sou Buck, seu pai.
O rapaz ficou em silêncio, olhando
aquele rosto marcado pelo sol e pelo tempo.
Havia algo de sombrio e bondoso ao mesmo
tempo no rosto de Buck, numa mescla que
Billy não conseguiu entender.
— Onde está Delle?
— Nós a enterramos ontem. A cidade
deu-lhe um enterro digo.
Billy engoliu seco, lutando contra as
lágrimas que teimavam em escorrer de seus
olhos. Seu pai continuava parado no mesmo
lugar.
Era um homem alto, com um chapéu de
abas largas. Usava um cinturão do tipo
saque rápido, onde luzia um Colt
novíssimo, com coronha branca de
madrepérola.
— O que houve?
— Pensei que se o lembrasse...
O rapaz apenas chorou de novo. Algo lhe
doía intimamente, mas ele não conseguia se
lembrar o que era.
— Como eu estou?
— Agora está melhor, mas perdeu muito
sangue e levou algumas pancadas feias.
Tem duas ou três costelas fraturadas. O
nariz está partido, por isso cuidado se ele
coçar. Dois cortes nas coxas... Acho que é
tudo.
— Como eles souberam? — indagou
Billy.
— Como assim?
— Estavam atrás de você?
Buck não demonstrou surpresa. Ficou
parado, olhando para o rosto do filho.
— Fique bom logo. Eu cuidarei de tudo
por aqui...
— Não devia estar andando pela cidade.
Alguém pode reconhecê-lo.
— Pouco importa isso agora, filho. Acho
que o nosso sossego acabou. Além disso,
não sou procurado no Missouri... ainda!
— Como eles souberam? — insistiu em
indagar Billy.
— Não tenho a menor idéia. Tentaram
me pegar na estrada também. Matei dois
deles. O terceiro fugiu. Eram caçadores de
recompensa, mas não parecia do tipo que
sai por aí, caçando qualquer um. Estavam
atrás de mim apenas.
— Encontrou a pista desse que fugiu?
— Não. Ela se misturou às outras
pegadas na trilha que leva para Kansas City.
— Kansas City? Não foi lá que tudo
começou?
— Sim, foi lá. Há vinte e cinco anos
atrás.
— Por que fugiu?
— Eu matei o pai da mulher que eu
amava, Billy. Eu matei seu avô.
— Minha mãe disse que você a protegia.
Era legítima defesa...
— Seria, se ele não fosse o xerife de
Kansas City e seus ajudantes não fossem
seus filhos, seus tios, Billy.
— Por que não ficou e os enfrentou?
— Eu já havia matado o pai dela... Não
podia ficar e matar também seus irmãos...
— Mamãe morreu cedo... Eu tinha pouco
mais de dez anos... Senti muito a falta
dela...
— E eu sinto a falta dela até hoje, Billy.
Outra hora continuamos essa história.
Agora descanse. Logo a vizinha virá lhe
trazer uma canja. Fique bom logo, filho! —
falou ele, saindo.
Parou no alpendre da casa e começou a
enrolar um cigarro. Lamentava que aquilo
tivesse acontecido com seu filho, por culpa
dele. Sua volta já começava a provocar
mortes.
Por onde passava, era sempre a mesma
coisa. As pessoas começavam a morrer.
Acendeu o cigarro, lembrando-se do dia
em que tudo começara. Ele era apenas um
jovem cowboy em Kansas City, mas tivera
o azar de se apaixonar pela filha do xerife.
O homem da lei e seus dois filhos não
queriam que Buck se aproximasse da
garota. Até o dia em que os pagaram juntos.
O xerife fora severo com os dois, mas
perdeu a razão quando soube que ela estava
grávida. Agrediu-a. Buck teve de detê-lo.
Foi esmurrado. Ele tentou novamente. O
xerife sacou a arma. Lutaram e a arma
disparou.
Foi a desgraça para ele. Uma desgraça
que se transformou na maldição de sua vida,
fazendo-o ser caçado como um animal,
quando apenas tentara defender a mulher
que amava.
Quando pensava que tudo poderia ser
esquecido, aquele passado maldito
retornava, com nova tragédia.
Respirou fundo, olhando o céu. Retirou
um cartaz do bolso. Era algo que o estava
intrigando. Tirara-o de um dos alforjes dos
homens que havia matado.
Era um aviso para um grande Torneio de
Pôquer que iria acontecer no Belle Star, o
barco mais famoso do Rio Mississipi, em
breve.
Desejou saber o que ele fazia no alforje
daquele homem. Precisava pensar naquilo,
mas algo na rua chamou-lhe a atenção. Um
homem, vestindo uma capa de viagem,
oscilando na sela, parou diante da casa do
médico.
Um pressentimento passou pela cabeça
do velho pistoleiro.
Buck Johnson esperou que o homem
entrasse no consultório, depois atravessou a
rua e foi examinar o cavalo que ele deixara
amarrado ali.
Usava o mesmo tipo de sela daqueles
usados pelos homens que haviam tentado
matá-lo no caminho. O cavalo não estava
cansado, dando a entender que não havia
galopado, apesar de seu cavaleiro estar
ferido.
Havia marcas de sangue na sela. O
homem que o montava deveria estar com
um ferimento bem feio. Um ferimento feito
com um rifle, por exemplo.
Hesitou por instantes, após ter olhado
pela janela. Além do homem ferido, havia
algumas mulheres lá dentro. Buck preferiu
agir com cautela.
Retornou para o alpendre da casa de Billy
para poder acompanhar à distância.
— Sr. Johnson, Billy deseja vê-lo —
avisou-o a vizinha, que viera preparar
alguma comida para eles.
— Está bem — concordou Buck.
Aquele homem ferido não poderia ir
muito longe mesmo. Foi ter com Billy,
então.
— O que pretende fazer, pai? — indagou
o rapaz.
— Vou atrás deles.
— Até Kansas City?
— Talvez sim, talvez não.
— Como assim?
— Quando tentaram me matar, no
caminho para cá, atirei num homem e o feri.
Talvez ele esteja lá no médico agora.
Poderá me dar as respostas que procuro.
— Se vai atrás deles, quero ir com você
— disse o rapaz, agitado.
Buck percebeu alguns sinais que não o
agradavam. Seu filho estava febril e o
curativo que tinha na barriga estava
manchado de sangue.
O médico fizera um bom trabalho, mas
Billy recebera um balaço de quarenta e
cinco na barriga. Era o pior lugar para um
homem ser ferido.
Sem contar que perdera muito sangue
com aqueles dois ferimentos na perna.
— Claro, Billy. Eu nem pensaria em
começar nada sem contar com a sua ajuda,
filho — respondeu ele.
— Obrigado, pai! Isso me deixa mais
aliviado — falou o rapaz, com os olhos
vermelhos e o rosto descorado.
Aquietou-se, fechando os olhos. Buck
olhou para a vizinha, que acompanhara tudo
da porta.
A mulher havia perdido o marido e dois
filhos baleados em tiroteios. Sabia a
gravidade daquele tipo de ferimento, por
isso, balançou a cabeça de um lado para
outro, com o rosto revelando toda sua dor e
sua pena.
Buck engoliu seco e saiu para o alpendre.
A mulher o seguiu.
— Não podemos lhe dar comida, Sr.
Buck.
— Sim, eu sei, mas com comida ou sem
comida, ele... — interrompeu-se ele,
mordendo os lábios.
A mulher entendeu o que ele queria dizer.
— O que devo fazer? — questionou ela.
— Por favor... Se ele vai ter que morrer,
que não morra com fome, pelo menos... —
decidiu-se o velho pistoleiro, com o coração
amargo e um gosto de vingança ardendo em
sua boca.
Voltou seu olhar na direção do
consultório do médico. Sentou-se numa
cadeira de balanço e ficou ali, olhando
naquela direção como se não tivesse mais
nada na vida para fazer.
Todos aqueles anos sendo caçado lhe
deram aquela aparente tranqüilidade. A
tranqüilidade de um homem que sabia que a
morte o espreitava a todos os momentos.
Ficar imóvel e em silêncio, interpretando
as coisas ao seu redor, fora algo que ele
aprendera, após todos aqueles anos.
Viu quando o homem saiu, finalmente,
do consultório, apanhou a rédea do cavalo e
caminhou, apoiado na sela, na direção do
hotel.
Buck atravessou a rua e foi até o médico.
— Como está Billy? — quis saber o
doutor.
— Mal...
— Aquele tipo de ferimento... —
comentou o médico.
— O homem que saiu daqui ainda há
pouco, qual era o problema dele?
— Por que pergunta?
— Atirei num homem, no caminho para
cá. Só o feri, mas era noite e não pude
seguí-lo.
— Acha que tem alguma coisa a ver com
o que aconteceu a Billy e sua mulher?
— Pode ser.
O médico apanhou algo sobre uma
mesinha e mostrou-o a Buck.
— Este era o problema dele — informou,
mostrando uma bala de rifle. — Pegou-o no
peito, no lado direito, mas sem atingir nada
vital. Apenas perdeu um pouco de sangue.
Acha mesmo que pode ter alguma coisa a
ver com o que aconteceu ao Billy?
— É o que pretendo descobrir — disse
Buck, agradecendo e saindo.
Caminhou na direção do hotel. Havia
pouco movimento nas ruas naquele horário.
Diante do hotel só havia um cavalo
amarrado, o do homem ferido.
Aproximou-se cuidadosamente da porta.
Antes de entrar, sondou o interior.
Apenas um rapaz conversava com outro
no balcão da portaria. Buck entrou e se
dirigiu calmamente até lá.
— O que vai ser, forasteiro? — indagou o
rapaz do outro lado do balcão.
— Procuro o dono daquele cavalo lá fora.
Acabou de entrar aqui.
— Depende de quem quer saber —
respondeu o rapaz, medindo o pistoleiro,
com um ar superior.
— Eu quero saber — falou ele.
— E quem é você?
— Meus amigos me chamam de Buck.
Meus inimigos costumavam me chamar de
Johnson — afirmou ele, exibindo seu Colt
Peacemaker com coronha de madrepérola.
— Buck Johnson? É o parente do xerife,
não?
— Sim, você ouviu bem, rapaz. Cadê o
homem que entrou aqui ainda há pouco?
— Quarto dez, no fim do corredor, à
direita. Ele parecia ferido...
Johnson retirou o Colt do coldre,
verificando sua carga. Guardou-o em
seguida. Caminhou na direção da escada.
— Espere um pouco, homem! O que
pretende fazer?
— Uma visita — respondeu Johnson,
sem se deter.
Johnson subiu cautelosamente a escada
até o corredor, no alto. Caminhou, então, até
o fim, parando diante de uma das portas.
Não sabia o que encontraria pela frente,
mas sabia como enfrentar uma situação
como aquelas. Não era diferente de muitas
que enfrentara antes.
Sacou a arma, engatilhando-a. Em
seguida, meteu o pé na porta, bem na
fechadura. Com um estrondo, a porta se
abriu até o fim, batendo na parede ao lado.
Na cama, o homem com o tronco
desnudo se assustou ao ver o outro entrar
com a arma apontada para ele.
— O que está havendo aqui? — indagou,
assustado, enquanto olhava para o coldre de
seu cinturão, que pendia ao lado de sua
cabeça, preso na cabeceira da cama. —
Quem é você? O que pensa que está
fazendo aqui? — quis ele saber,
recuperando o controle de si.
Johnson aproximou-se, apanhou o
cinturão do outro e jogou-o na direção da
porta. Olhou o ferimento no peito do
homem na cama diante dele.
— Onde conseguiu esse ferimento? —
indagou.
— Não da sua conta — respondeu o
outro, examinando-o atentamente.
Havia medo em seu olhar, como se ele
reconhecesse o homem que tinha a sua
frente.
— Detesto gente teimosa — falou Buck,
aproximando-se ameaçadoramente.
— Por que quer saber? — insistiu o
ferido.
Johnson inclinou-se sobre ele como se
fosse dizer-lhe alguma coisa. Ao invés
disso, a coronha de seu Colt atingiu o local
ferido do outro, que urrou de dor.
O sangue começou a escorrer pelo o peito
dele, enquanto encolhia-se contra a
cabeceira.
— Foi numa briga...
— Há umas trinta milhas daqui? —
completou Buck. — Onde deixei os
cadáveres de dois de seus amigos
estendidos?
O pavor no rosto do outro indicava que
Buck estava certo.
— Espere aí... Eu não tive culpa... Fomos
contratados para fazer o serviço...
— Quem os contratou?
— Não sei dizer... Recebemos um
envelope, com um cartaz que mostrava
você, um bilhete e mil dólares... Teríamos
outros mil, quando você morresse...
— Maldito! Eu devia matá-lo por isso...
— Por favor... Não me mate!
Buck pensou por instantes.
— Onde está esse bilhete?
— No alforje de minha sela...
— Vou lá ver isso. Espere-me aqui...
Posso ter ainda mais algumas perguntas
para você — ordenou Buck, saindo e
trancando a porta.
Por precaução ele levou o cinturão do
outro, deixando-o com o rapaz da portaria.
Foi examinar o cavalo lá fora. Não havia
nenhum envelope nem bilhete, mas ele
encontrou um outro cartaz, falando do
torneio de pôquer que iria acontecer no Rio
Mississipi.
Voltou para o hotel, agora disposto a
fazer aquele homem falar. Subiu
rapidamente a escada.
Correu até a porta, ao perceber que estava
aberta. Nenhum sinal do ferido lá dentro.
O rapaz da portaria surgiu no fim do
corredor.
— Por onde ele pode ter saído? — gritou-
lhe Johnson.
— Pela porta dos fundos — respondeu o
rapaz, apontando-a.
— Diabos! — praguejou Buck, olhando
na direção da porta apontada pelo rapaz.
Estava aberta. Correu até lá. Uma escada
conduzia ao beco, ao lado do hotel.
Johnson desceu rapidamente por ali.
Quando chegou à rua, não viu sinal do
cavalo do homem ferido.
— Maldição! — praguejou ele.
Dois garotos estavam brincando ali perto.
Chamou-os.
— Viram um homem sair daquele beco e
vir aqui para a rua?
— Sim, ele desceu, pegou um cavalo
malhado que estava ali, na frente do hotel e
fugiu a galope.
— Para onde ele foi?
— Para lá — apontou o garoto.
— O que tem naquela direção?
— Ele fugiu na direção de Springfield —
acudiu o outro garoto.
Buck jogou uma moeda para os dois
meninos e foi rapidamente até o estábulo,
onde deixara seu cavalo.
Selou-se e montou-o rapidamente.
Aquele homem ferida levava uma
pequena vantagem, mas Johnson sabia que
o alcançaria. Seu cavalo estava descansado
e o do outro, não.
Ao tentar escapar, com certeza o fugitivo
forçaria seu animal até a exaustão.
Depois teria de parar para descansá-lo ou
correria o risco de perdê-lo.
Mesmo assim, sabia que o alcançaria
logo. Aquele homem estava ferido e fraco.
Só torcia para encontrá-lo com vida ainda.
Após algum tempo de cavalgada,
Johnson viu um cavalo sem cavaleiro logo à
frente.
Preocupou-se, porque poderia tratar-se de
uma emboscada. Diminuiu a marcha e
apanhou sua Winchester.
Viu um corpo caído no meio de uns
arbustos. Era o homem a quem perseguia.
— Água... Água, por favor! — pediu ele.
Johnson se aproximou e desmontou. O
outro estava incrivelmente pálido e fraco
pela perda de sangue.
Pensou em dar-lhe água, mas desistiu.
Aquele homem estava morrendo e, acima de
tudo, não merecia nenhuma consideração.
Era um maldito caçador de recompensas.
Abaixou-se junto dele.
— Quem os mandou me matar? —
indagou.
— Água... Água... — repetia o ferido.
Johnson percebeu que o ele estava com
febre e que, possivelmente, logo começaria
a delirar.
— Maldição! — praguejou, percebendo a
ironia de tudo aquilo.
Tinha de fazer de tudo para que aquele
bastardo não morresse, antes de lhe contar o
que sabia.
Arrastou-o para a sombra de uma árvore.
Deu-lhe água. Apertou o curativo,
impedindo que sangrasse.
Sabia, porém, que aquele era um homem
morto. Buck não iria deixar barato a
tragédia que aquele homem e seus amigos
haviam trazido para ele, quando pretendia
apenas paz e sossego.
— Muito bem, seu maldito! — falou-lhe
Johnson. — Quem os mandou?
Ele abriu os olhos sem brilho, encarando-
o e reconhecendo-o. Começou a rir.
— Eu menti para você... — murmurou
ele.
— Quem foi, maldição? — indagou
Johnson, sacando a arma e enfiando a ponta
do cano na boca do rapaz.
O ferido encolheu uma perna. Sua mão
tateou a bota, encontrando o cabo da faca.
Puxou-a.
Encarou Johnson e começou a rir,
enquanto encostava a faca nas costelas do
pistoleiro.
— Maldito! — berrou Johnson,
apertando o gatilho e quase decepando o
pescoço do outro com o tiro.
Ele ficou ali, o corpo estremecendo, os
olhos esbugalhados e um arremedo de riso
borbulhando em sua boca estourada.
Johnson levantou-se e caminhou de um
lado para outro, desesperado.
Aquela havia sido sua única esperança,
sua única pista. Precisava saber quem estava
por trás de todos aqueles homens.
Revistou os bolsos do falecido, tentando
achar alguma pista, alguma indicação que
denunciasse o mandante daqueles homens.
Encontrou perto de trezentos dólares nos
bolsos dele, juntamente com um recibo de
inscrição ao torneio de pôquer, em nome de
Ben Carson.
Todas as pistas que tinham pareciam
apontar para aquele torneio, no Rio
Mississipi, embora as respostas só
pudessem estar em Kansas City.
Foi até o cavalo do morto e retirou os
arreios, soltando-o. Apanhou o alforje, que
se abrira. Retirou tudo lá de dentro.
Descobriu um papel. Abriu-o e leu-o.
Um vinco de preocupação desenhou-se
em sua testa.
— Maldição! — murmurou ele.
Era um recibo do Telégrafo de Lamar.
Aquilo não o agradou, mas preocupou-o.
Não se preocupou em enterrar o cadáver
de Ben Carson. Os abutres e os coiotes
fariam bom proveito daquele covarde.
Retornou imediatamente à cidade e foi
direto para o telégrafo.
— Sou Buck Johnson, pai do xerife.
Estou investigando o ataque a ele e a sua
casa. Pode me dizer que tipo de mensagem
este homem mandou?
Solícito, o empregado apanhou um papel
sobre a mesa, entregando-o a Buck.
— Não conte a ninguém que fiz isso, mas
se for para ajudar a pegar os bastardos que
fizeram aquilo, eu não me importo de
perder meu emprego.
Buck agradeceu e apanhou o papel.
Estava endereçado a um tal de John
Lubock, em Kansas City.
— Ele está em Lamar. Falhamos.
Assinado, Ben Carson — leu o pistoleiro,
em voz alta.
— Conhece esse tal de John Lubock? —
indagou o rapaz.
— Não, nunca ouvi falar nele. Sabe quem
é?
— Lubock é dono de um saloon em
Kansas City. É um sujeito desprezível, pelo
que sei, chefe de uma quadrilha de
caçadores de recompensas que...
— Caçadores de recompensas? —
interrompeu-o Buck.
— Sim, gente desprezível em todos os
sentidos, não?
— Da pior espécie — confirmou Buck,
que não gostava particularmente desse tipo
de gente.
— Cuidado ao se envolver com eles —
alertou o rapaz.
Agradeceu o rapaz e foi para a casa de
Billy. O médico estava lá, chamado pela
vizinha.
— Eu sinto muito — disse, quando Buck
entrou no quarto.
Billy estava ainda mais pálido. Seus
olhos avermelhados e sem brilho se
agitaram, ao ver o pai entrar.
— Pai... Vai ter que esperar um pouco,
até eu melhorar, mas prometo que ficarei
bom logo... Então iremos atrás daqueles
bastardos... Quero pegá-los um por um... os
quatro miseráveis...
— Não se preocupe, filho. Apenas fique
bom, depois cavalgaremos juntos... Eu e
você...Vamos pegá-los... Com certeza —
falou Buck, lutando contra as lágrimas que
teimavam em brotar de seus olhos.
— Nós vamos vingar Delle, pai. Aqueles
assassinos pagarão por isso — falou o
rapaz, estendendo a mão na direção dele.
Buck segurou com firmeza a mão de seu
filho. Sentiu a força do desespero e da
morte naquele aperto de mão forte, que
durou alguns instantes, depois foi se
afrouxando, enquanto o rapaz dava seu
último suspiro.
O pistoleiro, então, chorou
silenciosamente, deixando as lágrimas
rolarem pelo seu rosto vincado pelo tempo e
pelo sol.
Buck enterrou o filho ao lado do túmulo
da esposa. Fechou a casa, levando todos os
pertences para o pequeno rancho, nas
proximidades de Lamar.
Ainda não havia decidido por onde
começar, mas sabia que não precisaria ir
atrás de ninguém, pelo menos por enquanto.
Aquele telegrama, passado pelo homem
que ele havia matado, com certeza iria atrair
novamente os assassinos para ele.
No rancho ele deixou a mudança
empilhada no celeiro e foi se sentar na
varanda da pequena casa, olhando na
direção da trilha que avançava desde a
estrada até ali.
Algumas cabeças de gado pastavam
preguiçosamente no pasto que circundava a
casa. A tarde avançava lentamente.
Enquanto fumava, tentou se lembrar de
alguém chamado John Lubock, mas não
havia ninguém assim em seu passado.
Imaginou, então, que poderia ser algum
dos irmãos da mãe de seu filho, buscando
uma vingança tardia, mas não tinha muito
sentido.
Como eles ficaram sabendo de sua vinda?
Apenas Billy e, com certeza, sua esposa, a
pobre Delle, sabiam disso.
Não havia como justificar a emboscada
nem o ataque à casa.
Logo iria entardecer. Buck inspecionou a
casa, então. Havia uma boa cama num dos
quartos. Ele havia trazido um pouco de
comida, por isso foi acender o fogão.
Concluíra que o melhor a fazer era
esperar seus perseguidores ali mesmo, no
rancho. Assim não punha em risco vidas
inocentes na cidade, pegas no meio de um
tiroteio.
Já vira e até participara de cenas assim.
Infelizmente não havia como controlar as
balas perdidas. Elas fatalmente faziam
vítimas.
Estava na cozinha, cortando toucinho
para fritar, quando ouviu o ranger de uma
tábua.
Não se alterou, pois sabia exatamente o
que fazer. Já enfrentara situações como
aquela diversas vezes, em todos aqueles
anos de fugitivo.
Quando inspecionara a casa, procurara
justamente essas tábuas que rangiam,
memorizando-as. Por isso sabia exatamente
onde estava a pessoa que acabara de chegar.
Apenas estranhou que fosse um só.
Talvez um outro caçador de
recompensas, seguindo sua trilha até ali.
— Fique aí mesmo, moço — disse a voz
masculina atrás dele.
Buck apenas inverteu a faca em sua mão,
segurando-a pela ponta.
— Deixe o cinturão cair — ordenou a
voz.
Buck soltou a fivela com a mão esquerda,
enquanto mantinha a faca em sua direita. O
cinturão com o Colt caiu pesadamente no
assoalho.
— Agora vire-se... Bem devagar! —
mandou o outro.
Buck começou a se mover devagar, até
perceber o vulto que segurava uma
Winchester, parado na porta do quarto.
Com certeza seu atacante havia entrado
pela janela do quarto. Isso agora pouco
importava. Com um movimento rápido
demais para ser detido, ele arremessou a
faca, que se enterrou no ombro do rapaz.
Ele gemeu e recuou, sem conseguir
sustentar o rifle em suas mãos. Buck
avançou na direção dele, tomou-lhe a arma
e golpeou-o na testa, jogando-o para trás.
— Maldição! — resmungou ele,
contendo sua raiva.
Detestava caçadores de recompensa.
Toda a sua vida lhe parecia ter tido um em
seus calcanhares, fazendo-o acordar no
meio da noite suado, obrigando-o a se
sentar com as costas contra a parede ou
cavalgar pelos piores terrenos, para não
deixar pistas.
Mesmo assim, como verdadeiras pragas
ou abutres famintos, eles conseguiam
seguir-lhe a trilha.
Ficou olhando para o rapaz caído. Não
parecia um caçador de recompensas, pois
não usava um cinturão. Pelas roupas que
vestia, parecia mais um rancheiro.
O sangue escorria de seu ombro. Buck
rasgou-lhe a camisa para observar o
ferimento. Aparentemente não atingira
nenhum nervo ou órgão vital.
Olhou na direção do fogão. O ferro de
mexer a lenha estava em brasa, com a ponta
no meio do fogo.
Foi lá e apanhou-o. Segurou com firmeza
a faca e puxou-a. O sangue surgiu mais
abundante. O velho pistoleiro encostou a
ponta em brasa no ferimento.
O rapaz gemeu, abrindo os olhos e
sentindo o cheiro de carne queimada,
desmaiando de novo.
Em sua testa um galo enorme se formara.
Buck não o moveu, até ter certeza que a
ferida havia parado de sangrar. Só então o
levou para o quarto, acomodando-o na
cama.
Foi buscar uma toalha molhada e pô-la na
testa do rapaz. Depois saiu da cabana, à
procura do cavalo que o outro montava,
localizando-o afastado da casa.
Trouxe-o consigo, tirando-lhe o alforje.
Foi abrí-lo sobre a mesa. Havia cartuchos
de munição para o rifle, uma muda de
roupas, um pouco de comida e uma carta
endereçada a um tal de Kyle Davidson, em
Maryville, no extremo norte do Missouri.
Abriu-a. Alguém informava que Frank
Davidson havia sido morto em um tiroteio
em Last Chance, no Colorado, quando
comprava mantimentos no armazém local.
Um caçador de recompensas havia
tentado prender um pistoleiro chamado
Buck Johnson. No tiroteio, uma bala
perdida atingira Frank, matando-o.
— Maldição! — exclamou Buck.
Ter caçadores perseguindo-o era algo a
que estava habituado. Ter alguém
procurando-o para uma vingança, era pior.
Gente com esse objetivo eram as piores.
Em outros tempos, Buck saberia exatamente
o que fazer, como já o havia feito antes.
Simplesmente mataria aquele rapaz e
deixaria seu corpo para os abutres.
Agora, no entanto, tinha muito em que
pensar. Toda a sua vida havia sido
desperdiçada por uma loucura. A mulher
que ele amara estava morta. Seu filho e sua
nora também. Nada lhe restara de toda a sua
vida.
Foi até o quarto. O rapaz continuava
adormecido. A ferida não sangrava. Ele foi
apanhar algo em seu alforje. Era uma
pomada que o próprio Doc Hollyday lhe
dera, excelente para cicatrizar feridas.
Espalhou um pouco sobre o ferimento,
depois enfaixou-o cuidadosamente.
Pelo visto o rapaz dormiria um bom
tempo ainda. Cobriu-o e foi para a cozinha
preparar o jantar.
John Lubock olhou o telegrama estendido
na sua escrivaninha, depois para os quatro
homens diante dele. Estava contrariado e
isso se refletia em seu semblante.
Era um homem de gostos refinados.
Vestia-se bem, com um terno bem talhado e
um colete bordado com fios de ouro. Um
cinturão estava afivelado em sua cintura.
Colts de canos curtos e cabos de ébano
reluziam no couro negro.
— Eu não entendo vocês. Se começaram
o trabalho, por que não esperaram pelo
homem e terminaram com tudo?
— Pensamos que Ben e os outros já
haviam feito o serviço, pois o velho não
apareceu — disse um deles.
— Demônios! — praguejou, batendo
com o punho fechado sobre o tampo de
madeira. — Desde quanto vocês são pagos
para pensar? Eu só lhes pedi que
cumprissem ordens. Apenas isso, diabos!
— Foi um mal entendido, Lubock.
Podemos voltar lá e...
— Podemos? Vocês vão voltar lá e
encerar esse caso, entendido? Parto amanhã
cedo para pegar o Belle Star em Saint
Louis. Quero conhecer o local, antes do
torneio de pôquer. Vocês vão, fazem o
trabalho, depois informem os resultados,
mandando um telegrama para Memphis,
entendido?
— Sim, pode ficar tranqüilo. Nós
faremos o trabalho completo desta vez, nem
que tenhamos que seguí-lo até o inferno...
— É problema de vocês. Duvido que ele
vá ficar lá esperando.
— Teremos uma pista de partida para
seguir — comentou um dos pistoleiros.
— Certo. Agora saiam da minha frente
— ordenou Lubock, com irritação.
Os quatro homens se apressaram em
deixar o escritório. Lubock foi até um cofre
num canto e abriu-o. Havia dinheiro novo,
preso com fitas do Banco do Missouri
ainda. Contou-os, enquanto pensava no
torneio.
Aquele era um jogo que ele queria e iria
vencer. A cada cinco anos, o Belle Star
promovia aquele torneio, reunindo
jogadores de pôquer de todo o país e do
exterior também.
O último campeão fora Lorde Cartridge,
um inglês frio como o gelo e duro como
uma rocha. As lendas que se contavam a
respeito dele tornavam-no imbatível.
Lubock não via a hora de enfrentá-lo.
A inscrição para o torneio era cara.
Custava cinco mil dólares, mas dava ao
ganhador um prêmio de cem mil.
Não havia segundo lugar nem prêmios de
consolação. Apenas o melhor era premiado.
Guardou o dinheiro no bolso interno do
paletó. Saiu para o saloon que, àquela hora,
começa a se encher com os vaqueiros que
vinham tirar o pó da garganta.
Cumprimentou alguns dos fregueses
costumeiros.
— Vai mesmo disputar o torneio, John?
— indagou o ferreiro, que toda tarde, depois
e fechar seu local de trabalho, ia tomar um
uísque e conversar com as garotas.
— Sim, estou mais preparado do que
nunca.
— Dizem que o Lorde vai estar lá de
novo — falou o barbeiro, sentado à mesma
mesa.
— Não vejo a hora de enfrentá-lo.
— Eu o vi jogar uma vez, em Little Rock,
no Arkansas...
Quem falava agora era o dono do
armazém, um indivíduo muito astuto e
sagaz.
— Realmente, Sr. Batlefield?
— Sim e fiquei observando bem.
— Conseguiu descobrir o ele faz quando
blefa? — indagou Lubock, rindo.
— Ele leva o charuto à boca e fecha o
olho direito... Faz assim — disse o homem,
levando o cigarro aos lábios.
No momento em que tragou, a fumaça
escapou de sua boca e subiu pelo seu rosto.
Ele fechou o olho direito e abriu ainda mais
o esquerdo.
Lubock olhou-o com interesse. Peter
Batlefield era um homem observador, todos
sabia disso. Mas como ninguém ainda havia
descoberto o ponto fraco do Lorde?
O dono do saloon olhou ao seu redor. Viu
Mary Singleshot numa das mesas de jogo.
Fez um sinal para que ela fosse ter com ele.
Agradeceu às pessoas na mesa e foi
esperar por Mary no pé da escada que
levava ao pavimento superior do saloon,
onde estavam os quartos.
— Pronto para a viagem, John?
— Sim, Mary. E você?
— Minha bagagem já está toda pronta.
Não vejo a hora de partirmos.
— Vamos nos divertir muito — disse ele,
subindo a mão pelo braço dela, resvalando
em seu seio e indo acariciar seu rosto.
Ela sorriu e dobrou a cabeça contra a mão
dele, esfregando o rosto nela.
— Já jogou alguma vez com o Lorde?
— Não, mas já joguei contra quem jogou
contra ele.
— Sabe se ele tem algum tique quando
blefa?
— O Lorde? É imperturbável como uma
rocha.
— Ele fuma?
— Sim, um maldito charuto atrás do
outro, quando está jogando.
— Acha que conseguiremos jogar
algumas partidas com ele antes do torneio,
só para sentir seu estilo?
— É o que ele mais gosta de fazer.
— Ótimo! Volte ao seu jogo. Eu vou
terminar minha mala. Depois nos
encontramos. Amanhã quero sair bem cedo.
Temos mais de duzentas milhas para
percorrer, querida.
— Estarei em sua companhia. Nada me
agradará mais. Além disso, vamos viajar de
trem, querido — afirmou ela, pondo-se nas
pontas dos pés para beijar-lhe a boca.
Depois de jantar, Buck foi se sentar na
varanda da casa. Tudo estava escuro e em
silêncio ao seu redor. Apenas grilos
cricrilavam nas redondezas.
Preparou um cigarro e acendeu-o.
Pensava nos homens que viriam a sua
procura. De Kansas City a Lamar a
distância era de umas cem milhas, ou dois
dias de viagem.
Sabia que eram homens que se moviam
rapidamente. Assim, a partir daquela noite,
a qualquer momento eles poderiam aparecer
por ali.
Com certeza procurariam por ele na
cidade. Saberiam que ele estava no rancho.
Apareceriam na calada da noite, como
haviam feito com Billy.
Eram uma raça de coiotes.
Buck sabia que teria de estar atento, de
procurar ficar acordado à noite e dormir
durante o dia.
Era um velho hábito que ele usava com
freqüência, quando tinha que fugir. Achou
que chegando em Lamar jamais iria precisar
disso. Jamais se enganara tanto em toda a
sua vida.
De qualquer foram, estaria preparado
para aqueles homens. Assim como Ben, eles
dariam as respostas que ele queria, por isso
não podia matar todos eles.
Tinha de capturar pelo menos um dele e
fazê-lo falar. Tinha que entender tudo
aquilo, antes de ir em busca de vingança.
Ouviu um barulho na sala, depois o ruído
da alavanca de uma Winchester sendo
acionada.
Estranhou, mas pelos passos incertos
deduziu que fosse o rapaz que ele ferira, por
isso não se alterou.
A porta se abriu. Kyle surgiu diante dele,
empunhando o rifle.
— Vou matá-lo, maldito! — disse o
rapaz.
— Não vai matar ninguém. Por que não
solta esse rifle e volta para a cama? Esse
ferimento em seu ombro ainda vai lhe dar
trabalho. Com certeza vai infeccionar e
teremos de fazer uma nova cauterização,
depois de fazê-lo vazar. Quando mais forte
estiver para isso, melhor.
O rapaz hesitou, olhando para o ombro
enfaixado. Parecia confuso.
— Por que está dizendo isso?
— Porque não quero que morra por causa
disso. Foi estúpido chegando daquela
forma. Eu poderia tê-lo morto de verdade,
sabia?
— Você matou meu pai...
— Foi uma bala perdida.
— Como sabe disso?
— Li a carta em seu alforje.
— Você estava lá...
— Eu e um caçador de recompensas
chamado Deathkiss. Pelo que li na carta,
deduzo que seu pai estava no armazém. Eu
havia acabado de sair do armazém, onde
fora comprar munição. Desci a rua.
Deathkiss saiu do Saloon Double Bar. Ao
me ver, atirou, depois foi se esconder atrás
de um bebedouro. Eu respondi ao fogo.
Trocamos tiros. Se alguém acertou seu pai
foi ele.
— Está mentindo... — afirmou o rapaz,
atordoado.
— E por que eu mentiria? Teria sido mais
fácil para mim levá-lo para o meio do pasto
e deixá-lo lá para sangrar como um porco.
Assim estaria livre de você.
— Eu... Eu não... — balbuciou Kyle.
— Além disso, não mataria ninguém com
um rifle sem balas. Eu retirei todas.
O rapaz deixou cair a arma e recuou,
apoiando-se na parede. Buck jogou fora o
cigarro que fumava e foi ampará-lo.
— Eu falei que não devia ter saído da
cama — afirmou ele, ajudando o rapaz a
voltar para o quarto.
Acomodou-o, depois cobriu-o.
— Isso não muda nada, Johnson.
— O que não muda? — indagou o velho
pistoleiro.
— Vim aqui para matá-lo e vou fazer
isso.
— Ótimo! Mas fique bom antes. E depois
trate de dar o fora daqui bem depressa.
— Por que devo fazer isso?
— Porque isto aqui vai virar um inferno,
quando eles voltarem...
O rapaz calou-se, olhando-o de modo
diferente agora. Soubera na cidade o que
havia acontecido.
Não sabia se devia sentir ou não sentir
piedade daquele homem que perdera o filho
e a nora.
Para ele, Buck era alguém que sempre
vivera pelas armas. Devia estar acostumado
com matanças.
— Fala dos homens que mataram seu
filho e sua nora? — indagou ele.
— Sim.
— Como sabe que eles vão voltar?
— Porque eles queriam a mim. Estão a
caminho. Sinto em meus ossos. Portanto,
não esteja aqui quando eles chegarem.
— Talvez eu faça um favor para eles e o
mate primeiro — falou o rapaz, incisivo.
Buck olhou-o nos olhos. Sabia
reconhecer um assassino pelo olhar. Kyle
não era um deles.
Mesmo assim, o velho pistoleiro sacou
seu Colt, girou-o na mão e segurou-o pelo
cano.
Estendeu-o para o rapaz.
— Se quer fazer isso, faça-o agora —
falou, com a arma ao alcance da mão de
Kyle.
Este o olhou com surpresa nos olhos.
— Vamos, pegue — insistiu Buck.
O rapaz segurou o Colt. Seu polegar
apoiou-se no cão do gatilho, pronto para
puxá-lo para trás.
Buck continuava olhando-o nos olhos.
Kyle fazia ao mesmo. De repente, a arma
em sua mão parecia não ter mais sentido.
— Estava de costas mesmo para o
armazém? — indagou, timidamente.
— Sim, estava. Naquele tiroteio eu
disparei três balas. Uma acertou a coxa de
Deathkiss. A segunda pegou em sua barriga.
A terceira rachou sua cabeça.
— E ele?
— Disparou as cargas de duas pistolas
Scolfield, de seis tiros cada uma.
— Não acertou nenhuma?
Buck hesitou por instantes, depois soltou
os botões da camisa e abriu-a.
Havia diversas cicatrizes em sua pele.
— Ele me acertou duas vezes. Uma aqui
— disse, mostrando uma cicatriz ao lado do
mamilo esquerdo. — E outra aqui —
continuou, mostrando o lado direito da
barriga. Nas duas as balas vararam meu
couro e não acertaram nada mortal.
— Teve sorte — afirmou o rapaz e o Colt
em sua mão agora repousava sobre a cama.
Buck fechou a camisa.
— Trate de dormir — disse ao rapaz,
indo abaixar a chama do lampião.
Quando ia sair, Kyle chamou-o.
— Johnson!
— Sim?
— Sua arma — falou o rapaz, segurando-
a pelo cano e estendendo-a para o pistoleiro.
Conforme Buck havia previsto, no dia
seguinte Kyle amanheceu febril. Ao
examinar o ferimento, o pistoleiro notou os
sinais visíveis de uma infecção.
— Não vou morrer, vou? — indagou o
rapaz, tremendo.
— Vou ter que ir à cidade buscar o
médico para ver isso. Está pior do que eu
pensava.
— Não! Você não vai me deixar aqui
sozinho.
— Preciso...
— Aqueles homens podem voltar...
— E você pode morrer com essa
infecção. O médico vai ter que abrir isso e
limpar. Não posso fazer nada...
— Vi seu peito... Vi suas cicatrizes.
Como as curava?
— É diferente, Kyle. Era comigo...
— Você pode cuidar de mim... Sei que
pode. Não vá. Se eles vierem, não poderei
me defender. Talvez eles me matem...
O pistoleiro pensou por instantes, depois
examinou novamente o ferimento. Estava
feio, mas não mais do que todos os que
haviam acontecido com ele.
Foi até a cozinha e apanhou uma garrafa
de uísque.
— Beba um pouco disso — ordenou ele.
Kyle o obedeceu sem pestanejar,
tomando alguns goles. Buck molhou um
pano e aplicou-o sobre o ferimento. O rosto
do rapaz crispou-se de dor e ele tomou a
garrafa da mão do pistoleiro, tomando mais
um gole.
Buck deixou que ele bebesse mais um
pouco, depois derramou uísque sobre o
pano.
Kyle nem fez careta dessa vez.
— Vou passar mais um pouco desta
pomada. Vai ajudar — disse.
O rapaz ficou quieto, enquanto ele
terminava o curativo e o enfaixava.
— Você se parece um pouco com meu
pai — falou Kyle, com a voz embargada.
— Eu não me pareço com ninguém,
garoto.
— Verdade. Olhando-o assim, de perto...
— Não! — afirmou Buck, saindo.
Voltou algum tempo depois, com a
Winchester de Kyle.
— Fique com ela sob o cobertor. Está
carregada e com uma bala na câmara.
Bastará puxar o gatilho e...
— Eu sei como funciona uma
Winchester, Johnson...
— Me chame de Buck. Fico parecendo
seu parente com esse Johnson...
Kyle riu, apanhando o rifle e pondo-o sob
o cobertor.
— Quando acha que eles chegarão? —
indagou.
— Talvez já estejam por aí, esperando a
chegada da noite...
— Acha que não atacarão durante o dia?
— Acho que sim. São covardes. Foi
assim que pegaram meu filho, na calada da
noite. Como é seu sono, Kyle?
— Tenho o sono pesado, Buck. Minha
mãe dizia que, quando eu dormia, nem um
estouro de boiada me acordava.
— Isso é mau... — comentou o pistoleiro.
— Acho que vou ter que fazer alguma coisa
a respeito — continuou, olhando ao seu
redor.
— Por que não faz um varal de latas? —
sugeriu Kyle.
— E como funciona isso?
— Prenda um arame liso ao redor da casa
e pendure latas nele. Quando alguém
esbarrar...
— Saberá que nós sabemos que eles estão
vindo. Perderemos o efeito surpresa...
— Como assim?
— Tenho de pensar em algo que me
alerte aqui dentro, mas não os deixe saber
que eu estou esperando por eles.
— E como fará isso?
— Acho que já sei — falou Buck,
olhando uma caixa de costura sobre um
móvel do quarto.
Foi até lá e abriu-a. Retirou um novelo de
linha grossa.
— Isto vai servir — disse, deixando o
quarto.
Kyle ficou curioso, tentando entender o
que ele estava fazendo. Buck cravou quatro
estacas ao redor da casa, passando a linha
por elas, à meia altura.
Depois voltou para casa, após ter
prendido uma ponta do carretel naquela
linha que ficara esticada lá fora.
Pela porta do quarto aberta Kyle o viu
trazer uma lata grande, de mantimentos,
pondo-a ao lado de um catre que Buck
havia armado para dormir.
— O que é isso? — indagou o rapaz.
— Vou prender a linha neste sino —
explicou Buck, mostrando um sino de
prender ao pescoço do gado.— O sino
ficará dentro da lata e a lata ficará ao meu
lado. Quando alguém arrebentar a linha lá
fora, o sino cairá aqui dentro e me acordará.
— Tem certeza disso?
— Tenho. Meu sono é leve — garantiu
Buck.
O velho pistoleiro passou o resto do dia
sentado no alpendre, olhando a trilha.
ã medida em que a noite se aproximava,
ele se preocupava. Era terrível ficar
esperando pela chegada da morte.
Kyle estava febril, mas Buck considerava
aquilo normal, comparando-se ao que
enfrentara, nas diversas vezes em que fora
ferido.
O rapaz era jovem e saudável e poderia
resistir, só que era algo incerto. Buck já vira
gente morrer por ferimentos menores do
que aquele.
O melhor a fazer era ir buscar o médico,
só que não poderia fazê-lo naquela noite. Os
homens que o caçavam poderiam aparecer.
Fazendo os cálculos, se não fosse naquela
noite, seria na noite seguinte.
Se a febre aumentasse, no entanto, seria
apenas um estorvo para ele, quando
chegassem os caçadores de recompensa.
— Kyle, se você não melhorar até
amanhã, vou levá-lo para a cidade. Há uma
carroça lá no celeiro. Se eu for devagar,
acho que você resistirá.
— Não quero ir, Buck. Estou bem, pode
apostar...
— Não, Kyle, não vou apostar nisso —
decidiu Buck.
O saloon do Hotel De Soto, da
Companhia de Navegação Mississipi-
Missouri, en Saint Louis, estava repleto. Os
jogadores haviam começado a chegar havia
uma semana.
Vinham de toda parte, com a esperança
de ganhar os cem mil dólares, desde os
novatos até os mais experientes, como o
último campeão, Lorde Cartdrige.
— É aquele — apontou Mary, quando ela
e Lubock entraram no saloon.
Os olhos do jogador se dirigiram para a
direção apontada pela garota.
Um homem, trajando-se formal e
impecavelmente, jogava cartas com outros
cinco.
John Lubock se aproximou e se juntou às
pessoas que observavam o jogo. Prestou
atenção nas reações daquele inglês que
fumava muito, acendendo um charuto atrás
do outro.
Podia observar as cartas dele e perceber
quando blefava. Assim que isso ocorreu, ele
ficou atento, tentando ver se ocorreria
aquilo que Batlefield lhe havia dito no
saloon, dias antes.
O Lorde levou o charuto à boca e baforou
imperturbavelmente. Não moveu um
músculo, olhando fixamente para o jogador
a sua direita, que deveria cobrir a aposta ou
correr.
— Você ganhou — desistiu o outro,
jogando as cartas na mesa.
O Lorde juntou as suas ao baralho e
recolheu as apostas sobre a mesa.
— Percebeu alguma coisa quando ele
blefou? — indagou John a Mary, algum
tempo mais tarde, quando foram para o bar.
— Não. Ele é muito firme, percebeu?
— Mas tem que ter um ponto franco.
Todos têm — assegurou John.
— Você tem?
— Com certeza.
— E qual é o seu ponto fraco? —
indagou ela, interessada.
Ele riu.
— Jamais contarei. Você ganharia todo o
meu dinheiro e ficaria com o saloon.
— E eu, tenho um ponto fraco?
— Sim, quando você blefa, você coça a
orelha esquerda.
— Eu faço isso? — surpreendeu-se ela.
— Sim. Pode olhar todos os jogadores
aqui. Cada um deles tem a sua marca
registrada. É isso que pretendo descobrir
nos próximos dias, até a partida do Belle
Star e o começo do torneio.
— E o Lorde é o mais difícil de todos...
Por isso estava interessado nele.
— Com certeza ela será o ganhador de
novo. Observei o jogo dele. É realmente
muito bom e tem sorte. Quando não sai com
cartas, sabe blefar muito bem. Num jogo
valendo cem mil dólares, isso é decisivo.
— Vai continuar observando-o?
— Sim, e jogarei contra ele também.
Deixarei que ele me julgue um candidato
inofensivo, enquanto tento descobrir seu
ponto fraco.
— Vai jogar contra ele?
— Sim, e preciso que você me ajude,
anotando as mãos que ele ganhar blefando.
— Se me pegarem fazendo isso...
— Seja discreta. Isso vai me ajudar. Se
eu ganhar esse torneio, você terá a sua
parte.
— Isso é muito bom, querido. Mas se vai
jogar contra ele, vai perder dinheiro com
certeza. Está tão bem assim de grana?
— Sim, recebi metade do dinheiro para
resolver aquele negócio de que lhe falei.
— E está tudo resolvido?
— Quase. Só falta um pequeno detalhe e
meus homens foram para Lamar, acertar
isso.
— Quem está pagando vinte mil para
isso?
— Segredo. Não posso lhe contar.
— Deve ser alguém muito rico mesmo
para pagar tão alto pela solução de um
negócio que talvez pudesse resolver
pessoalmente.
— Deixe isso para lá. Vamos jogar um
pouco — disse ele, retirando algumas notas
do bolso. — Vá comprar fichas para nós.
Tenho que começar a estudar meus
adversários — completou ele.
Naquela noite, Buck resolveu trazer uma
caixa de documentos que estava no celeiro e
que viera coma mudança.
Depositou-a sobre a mesa. Kyle dormia.
A febre continuava estável. O ferimento não
infeccionara, conforme ele imaginara a
princípio. A pomada que Doc lhe dera era
mesmo muito boa.
Começou a examinar aqueles
documentos. Nada havia de importante,
além da escritura da casa na cidade e do
rancho.
Buck concluiu que tudo aquilo era dele
agora, com a morte de Billy e da esposa.
Pensou sobre isso. Não sabia se queria
ficar ali. Se iria se habituar, depois de tanto
tempo fugindo.
Encontrou uma carta endereçada a Delle.
Abriu-a. Era de um advogado em Kansas
City, informando sobre uma herança. Era
algo com que ela não mais se preocuparia.
Deixou tudo aquilo de lado e foi apanhar
um café. Abaixou a chama do lampião e
caminhou até a janela. Ficou olhando lá
para fora. Não haveria lua. A escuridão era
total.
Era uma ótima noite para um ataque.
Estava inquieto. Apanhou sua espingarda e
levou-a, juntamente com material de
limpeza, para a mesa.
Desmontou-a. Começou a limpar os
canos, esfregando uma vareta com um
abrasivo numa bucha da ponta.
Para verificar o trabalho, ele examinava,
pondo os canos contra a luz do lampião.
De repente, percebeu algo. Os grilos
estavam silenciosos lá fora. Começou a
montar rapidamente a espingarda, olhando a
todo momento para a lata onde estava o
sino.
Quando a espingarda ficou pronta,
carregou-a e enfiou uma porção de
cartuchos no bolso, depois abaixou ainda
mais a chama do lampião.
Foi até o quarto onde Kyle dormia. O
rapaz nem se mexia, profundamente
adormecido.
Caminhou, então, até a janela. Havia uma
fresta, por onde podia espreitar lá fora.
Nada via nem ouvia. Os grilos continuavam
em silêncio.
Do outro lado do pátio, atrás do celeiro,
quatro homens se esgueiraram na escuridão,
observando a casa.
— O que me diz, Villas? — indagou um
deles ao mexicano.
— Ele está lá. Deve estar indo dormir,
pois abaixou a chama do lampião, Bill.
— Vamos esperar, então.
— Por que não vamos logo e acabamos
com isso? Poderemos voltar ao saloon e
festejar. Vi algumas belas garotas lá —
sugeriu um terceiro, demonstrando
impaciência.
— Calma, Ted, vamos fazer isso direito.
Não vai demorar muito mesmo. É apenas
um velho. Logo estará dormindo
profundamente e não nos causará
problemas.
— Acho que vocês todos estão ficando
malucos. Estamos falando de Buck Johnson,
pessoal. O homem que se tornou uma lenda
e já matou mais gente sozinho do que nós
quatro juntos. Por que Ben e os outros não
apareceram?
— Sei lá, Bull, na certa estão de porre em
algum muquifo por aí e...
— Ben e os outros estão mortos, pode
apostar nisso.
— Ben passou um telegrama informando
que haviam falhado, lembra-se?
— E depois sumiu — acrescentou Bull.
— Está certo, Bull pode ter razão e não
convém facilitar. Vamos esperar aquele
homem dormir, depois iremos até ele.
— Pois então vou aproveitar e dormir um
pouco. Avisem-me quando chegar a hora da
ação — falou Ted, acomodando-se com as
costas contra a parede do celeiro.
Os outros três continuavam olhando a
casa, esperando ver algum movimento.
Lá dentro, Buck estava imóvel na janela,
atento, esperando. Os grilos haviam voltado
a fazer barulho, mas apenas os que estavam,
nos lados da casa.
No pátio e no celeiro, eles estavam
calados. Se havia algum perigo a caminho,
viria de lá.
Tanto podia ser uma raposa caçando ratos
como poderiam ser ratos caçadores de
homens.
Com a espingarda apoiada nos braços,
Buck não se movia. A tensão estampava-se
em seu rosto, mas ele não movia um
músculo.
Seu olhar já conseguia perceber os
contornos do celeiro, a carroça parada
diante dele e as estacas, onde havia
prendido a linha.
No quarto, repentinamente, Kyle gemeu e
resmungou.
— Diabos! — praguejou o velho
pistoleiro, olhando na direção da porta que
deixara aberta.
O lampião clareava o corpo do rapaz e
ele se agitava na cama. Buck deduziu que
era a febre.
Se fosse até lá, qualquer movimentação
poderia alertar quem estava lá fora.
Esperou, torcendo para que o rapaz se
acalmasse, mas ele ficou cada vez mais
agitado.
— Buck! — chamou ele.
O pistoleiro não teve outra alternativa,
senão esgueirar até lá, com a espingarda nas
mãos.
Ao vê-la e ao perceber a maneira como o
outro se movera pela casa, Kyle entendeu o
que estava acontecendo.
— Eles chegaram?
— Imagino que sim. O que você tem?
— Sede... Muita sede...
— Fique aqui. Vou buscar água. Como
está a febre? — indagou, pondo a mão na
testa do rapaz.
— Acho que está na mesma.
— Pelo menos não piorou. E o ferimento,
ainda dói?
— Não, parou. Sério — respondeu Kyle,
retirando a Winchester de sob o cobertor.
Buck cautelosamente foi buscar água
para o rapaz. Quando retornou, ele estava
tentando se levantar.
— Demônios, garoto! Onde pensa que
vai? — repreendeu-o o pistoleiro.
— Não vou estar nesta cama quando eles
chegarem.
— Posso estar enganado... Pode não ser
eles...
— Um homem como você não se engana
nessas coisas, Buck. Posso sentir a tensão
em sua voz. O sino caiu?
— Não, ainda não. Acho que estão
esperando. Devem ter visto a luz, quando
chegaram. Abaixei a chama há algum
tempo. Devem estar esperando que eu
durma. Não vão se arriscar.
— O que vamos fazer?
— Acho que o melhor a fazer é você ficar
aqui no quarto, vigiando essa janela. Se
alguém forçá-la e abrí-la, atire.
— E você?
— Vou ficar na sala. Posso vigiar as
janelas e as portas.
Kyle foi se acomodar num canto do
quarto, com a Winchester nos braços.
Buck levou-lhe um cobertor, depois foi
para a janela, onde estava antes.
Ficou olhando lá fora, acostumando sua
visão com a escuridão novamente.
Após algum tempo, ficou visível a
movimentação nos fundos do celeiro. Podia
ver os homens. Estavam tão tranqüilos que
um deles acendera um cigarro.
— Kyle, está me ouvindo? — indagou.
— Sim, o que foi?
— Estão atrás do celeiro.
— Quantos são?
— Três... talvez quatro.
— Quando atacarão?
— Quando se sentirem seguros.
— Não seria mais fácil ir pegá-los?
— Não com essa escuridão. Se tivesse
lua, até poderia dar certo. E não vou
acender as tochas só por isso.
O rapaz apareceu na porta do quarto.
— Por onde acha que atacarão?
— Possivelmente entrarão pela frente.
Não têm o que temer.
— Vão ter uma surpresa...
— Prepare-se! — alertou-o Buck,
engatilhando sua espingarda.
— Estão vindo?
— Sim — afirmou o pistoleiro, tirando a
tranca da janela.
— Vai atirar neles antes de entrarem?
— Não, preciso pegar pelo menos um
deles vivo. Fique aí e fique quieto. Se eles
entrarem pela porta da frente, ficarão entre
dois fogos.
Kyle ficou de olho na porta. Buck
acompanhou o avanço dos quatro homens lá
fora.
Viu-os aproximando-se das estacas. A
linha foi arrebentada. O sino caiu dentro da
lata, sobressaltando Kyle, que
inadvertidamente disparou seu rifle.
— Maldição! — praguejou Buck, vendo
os homens lá fora estacarem, surpresos.
Abriu a janela e apontou rapidamente a
espingarda para as pernas deles.
Apertou um, depois outro gatilho. O
chumbo grosso varreu as pernas dos
pistoleiros, jogando-os no chão.
Apenas Villas conseguiu correr na
direção do celeiro. Os outros três ficaram
caídos, disparando suas armas na direção da
casa.
— Você os pegou? — quis saber Kyle.
— Atirei nas pernas deles. Três estão
caídos diante da casa. Um outro correu para
o celeiro.
— E agora?
— Vou acender as tochas. Vá até a outra
janela e me dê cobertura. Eles pararam de
atirar.
Kyle o atendeu. Buck esgueirou-se até a
porta.
— Vai funcionar?
— Espero que sim — respondeu Buck.
Naquela tarde ele amontoara no pátio
algumas pilhas de lenha, gravetos e capim
seco, depois esparramara pólvora por cima.
Fizera um rastilho que vinha terminar na
porta da casa. Bastaria acender e esperar
que a pólvora fizesse o resto. Com aquela
luz, poderia ver melhor os homens lá fora.
Abriu ligeiramente a porta. Os homens lá
fora gemiam e rastejavam na direção do
celeiro.
Buck riscou um fósforo e encostou no
rastilho, depois fechou de novo a porta.
Uma saraivada de balas bateu
sinistramente contra a madeira maciça da
porta.
Lá fora o rastilho principal se dividiu em
quatro outros, que chegaram às pilhas de
lenha, incendiando-a.
Os três pistoleiros caídos estavam entre
elas e a casa, sendo um alvo perfeito para
Buck e Kyle.
Villas, no celeiro, porém, além das
fogueiras, tinha também uma ótima visão da
casa e podia dar cobertura a seus amigos.
Buck examinou a situação e percebeu que
estavam num impasse. Os três homens
caídos haviam esgotado a munição de suas
armas e gritavam pelo auxílio de Villas, que
estava no celeiro.
Ao tentar abrir uma fresta da porta, uma
bala passou a milímetros de sua cabeça.
— Diabos! Ele pode nos ver lá do celeiro,
mas não podemos vê-lo.
— Ele está na parte de cima do celeiro,
eu vi o brilho do disparo — falou Kyle.
— Não vamos poder fazer nada.
— Pelo menos aqueles três ali não vão
nos dar trabalho.
Lá fora, no entanto, Villas gritava para
seus amigos.
— Rastejem para cá, rapazes! Eu lhes
dou cobertura.
— Se vocês se moverem, serão mortos —
respondeu Buck, voltando-se para Kyle. —
Abra sua janela — ordenou, fazendo o
mesmo depois do seu lado. — Eles não
sabem que somos dois aqui. Quando eu
apontar a espingarda do lado de cá, mire
perto daqueles homens e atire.
Buck pôs a espingarda para fora da
janela. Villas disparou seu rifle lá do
celeiro. Buck se abaixou e fez um sinal.
Imediatamente Kyle atirou perto dos
homens que se arrastavam na poeira.
— Posso matar cada um de vocês —
gritou Buck.
— Ajude-nos, Villas! — gritou Ted, em
desespero.
— Fiquem calmos, rapazes! Vou dar um
jeito.
— Ei, Buck! Eles não sabem mesmo que
somos dois aqui. Por que eu não fico aqui
atraindo a atenção do atirador no celeiro e
você sai pelos fundos da casa, dá a volta e
vai pegá-lo?
Buck pensou por instantes.
— Sim, acho que pode dar certo. Fique
com a espingarda e os cartuchos. Dispare de
vez em quando, mas mude de janela
sempre, para confundí-lo. Acha que vai
ficar bem?
— Só vou ficar depois que você o pegar,
é claro — brincou o rapaz, mas estava
suando frio, tremendo de febre ainda.
Buck verificou seu Colt, depois foi para
os fundos da casa. Abriu a porta e olhou lá
fora com cuidado.
As fogueiras jogavam claridade até ali.
Não havia ninguém. Ele correu até a
privada. Dali avançou rente à cerca do
curral, até a pocilga.
Quem estivesse no celeiro não o veria ali.
Ele avançou até uma plantação de milho.
Dali pode chegar até os fundos do celeiro,
sem ser visto.
Kyle disparava a espingarda de instante a
instante. O homem no alto do celeiro
respondia.
Buck contornou e entrou pela porta da
frente rapidamente, sem ser visto. Ouviu
barulho lá no alto.
O mexicano gritava para seus amigos
rastejarem, afirmando que lhes daria
cobertura.
Buck foi até a escada e subiu lenta e
silenciosamente. Pôde ver um homem com
sombrero na abertura por onde içavam o
feno.
Sacou seu revólver e foi se aproximando.
Quando engatilhou a arma, o mexicano
imobilizou-se, pressentindo o perigo.
Buck percebeu que ele havia detectado
sua presença.
— Não se mexa! — ordenou.
O mexicano se voltou com rapidez,
apontando o rifle. Buck disparou. A bala
acertou a coronha da arma, partindo-a e
tirando-a das mãos do atirador.
— Vete al infierno! — berrou o
pistoleiro, avançando contra Buck.
No último momento ele viu na mão do
outro uma faca.
— Maldição! — praguejou, desfiando o
corpo.
Mesmo assim, a lâmina afiada riscou sua
barriga e cortou o tecido de sua camisa com
extrema facilidade.
— Não sei como fez isso, gringo, mas vai
se arrepender de ter vindo aqui — falou o
mexicano, brandindo a faca.
— É um idiota, homem — afirmou Buck,
sacando seu Colt e apontando-o para a
cabeça dele.
Villas hesitou. Olhou para o piso do
celeiro, lá embaixo. Buck pressentiu o que
ele ia fazer.
Antes que pudesse evitá-lo, porém, Villas
saltou lá do alto, caindo sobre alguns sacos
de milho.
— Diabos! — berrou Buck, procurando
ver para onde ele ia, mas o mexicano
simplesmente sumira, após a queda.
Percebeu que teria que descer para caçá-
lo, mas era quase certo que ele estaria lá
embaixo a sua espera.
Na abertura a sua frente havia uma viga
do telhado que se prolongava pra fora. Na
ponta estava uma roldana. Uma corda
pendia ali.
Pensou por instantes, depois guardou sua
arma. Foi até lá. A corda descia até o chão.
Testou-a. Começou a descer.
Quando chegou ao chão, foi até a porta.
Villas estava oculto próximo da escada,
esperando-o com um revólver na mão.
Buck não hesitou. Apontou seu Colt e
disparou. O mexicano urrou de dor, quando
a bala atravessou seu braço.
O velho pistoleiro foi ao encontro dele,
então. Villas sacou a faca, brandindo-a com
a mão esquerda. Seus olhos estavam
arregalados, como os de um demente.
— Não me pegará vivo, gringo! — rugiu
ele.
— Ao diabo com você, idiota! Para que
eu preciso de você? — respondeu Buck,
erguendo de novo a arma.
Villas era jovem e ágil. Mesmo ferido,
atirou-se ao chão e rolou na direção de
Buck.
A faca rebrilhava em sua mão, enquanto
ele avançava de maneira fulminante.
Buck estava velho, mas seus reflexos de
defesa ainda eram perfeitos. Ele chutou no
momento certo, atingindo a cabeça do
mexicano, que rolou, gemendo de dor.
Antes que Villas entendesse o que tinha
acontecido, Buck agarrou-o pelo colarinho e
levantou-o.
Jogou-o contra um pilar de madeira, onde
ele bateu as costas com força e gemeu de
novo.
Buck não teve piedade. Agarrou-o
novamente e jogou-o na direção da parede,
ao lado da porta.
Villas bateu de frente e o sangue que
espirrou de seu nariz manchou a madeira.
— Ficou louco, gringo? — berrou ele,
atordoado.
— Sim, sempre fico louco quando atiram
em mim, maldito covarde — respondeu
Buck, segurando Villas pelo pescoço e
jogando-o para fora do celeiro.
O mexicano foi se esparramar na poeira,
junto de seus amigos.
— Está tudo bem, Kyle! — gritou o
velho ao rapaz na casa.
— Maldito! Eram dois! — percebeu Bill.
Buck desarmou todos eles, depois
examinou os feridos. Bill, Ted e Bull
tinham suas pernas crivadas de chumbo.
Kyle se aproximou.
— O que vamos fazer com eles agora? —
indagou.
— Enforcá-los.
— Enforcá-los? — surpreendeu-se Kyle.
— Sim, pendurá-los pelo pescoço
naquela árvore ali na frente. Tem quatro
bons galhos nelas. Vá até o celeiro e traga
codas, Kyle.
— Espere aí, Buck! Não pode enforcá-los
— falou o rapaz.
— Sim, ouça o que o rapaz está dizendo
— ajuntou Ted, com uma expressão de dor
e pavor no rosto.
— E por que não? Só vamos poupar
trabalho à justiça. Posso lhe garantir que
foram estes homens os que mataram meu
filho e minha nora...
— Não foi nossa culpa — berrou Ted. —
Recebemos ordens para isso..
— Cale-se, Ted! — ordenou Bill.
Buck se voltou para Kyle e piscou um
olho.
— Eu não falei? Tenho o direito de fazer
isso. Vá pegar a corda Kyle.
— Está bem, Buck. Se você acha que
deve pendurar esses bastardos pelo pescoço
e fazê-los espernear até botar um palmo de
língua para fora, problema seu. Só que eu
não vou ajudá-lo a descer esses homens
depois. A sujeira que um homem que morre
enforcado faz nas calças é coisa que eu não
ajudarei a limpar... — comentou o rapaz,
enquanto ia até o celeiro.
— Vamos, levantem-se e caminhem na
direção daquela árvore!
— Espere! Não pode nos matar.
Merecemos um julgamento — lembrou
Ted.
— Aqui vocês não merecem nada. A
menos que possa me contar alguma coisa
que não sei...
— Eu conto — falou Ted.
— E o que tem para me contar?
— Eu lhe dou o nome do homem que nos
mandou aqui...
— Fala de John Lubock?
— Sim, como sabe?
— Sei mais do que vocês imaginam,
rapazes.
— Só que não sabe onde achá-lo — falou
Villas, cuspindo sangue.
— Sim, ele não está em Kansas City.
— E onde ele estaria, então? — indagou
Buck.
— Solte-me e eu lhe contarei —
choromingou Ted.
Kyle voltou com as cordas. Vinha
trançando nós de força. ã medida que
terminava, ia pondo nos pescoços dos
pistoleiros.
— Espere! Posso lhe contar onde ele está
— insistiu Ted.
Buck se lembrou de algo, então. Lubock
era dono de um saloon. Possivelmente
gostava de jogar.
— Eu sei onde encontrá-lo — afirmou.
— No torneio de pôquer.
Os homens ficaram em silêncio. Kyle pôs
a corda no pescoço de Villas. O mexicano
fez o sinal da cruz e começou a rezar
baixinho.
Os outros se desesperaram. Ted começou
a chorar e a suplicar. Buck ficou olhando
pra eles e pensando que eles haviam matado
seu filho e sua nora impiedosamente.
Tinha todo o direito de matá-los. Olhou
para Kyle, que esperava sua decisão.
— Amarre-os, Kyle. Vamos levá-los para
a cidade amanhã. Aliás, você vai levá-los
com a carroça.
— E você?
— Vou para Springfield, pegar o trem
para Saint Louis. Vou ao encontro de John
Lubock. Tenho algumas perguntas a fazer
para ele.
— Quero ir junto — disse o rapaz.
— Por quê? — surpreendeu-se o velho
pistoleiro.
— Vai precisar de ajuda.
— Há um quarto de século cuido de
minha vida sozinho, rapaz. Não vai ser
agora que precisarei de ajuda...
— Precisou hoje. Se eu não estivesse
aqui, você não teria conseguido sair dessa.
Buck olhou-o sem saber o que decidir. O
rapaz estava ferido e febril. Que ajuda
poderia lhe dar?
— Vamos amarrá-los primeiro e depois
conversaremos — decidiu o pistoleiro.
Amarraram os quatro homens e os
levaram para o interior da cabana. Buck
improvisou curativos para todos eles,
embora a retirada dos chumbos só pudesse
ser feita pelo médico, na cidade.
Nenhum deles, no entanto, corria risco de
vida. Quando terminaram, Buck foi
esquentar o café. Kyle foi ter com ele junto
ao fogão.
— E então? — quis saber o rapaz.
— Você está doente e ferido. Não poderá
viajar.
— Só vamos cavalgar até Springfield,
depois iremos de trem. Verei o médico
amanhã. Ele fará um curativo, se for o caso.
— Façamos o seguinte, então — sugeriu
Buck. — Amanhã vamos todos para a
cidade. O médico vai examiná-lo e se
liberá-lo para viajar, eu o deixo vir comigo.
— Então pode estar certo que viajaremos
juntos. Estarei melhor amanhã, você vai ver.
Onde está aquela pomada? Quero trocar
meu curativo.
A noite avançava movimentada no saloon
do Hotel De Soto. As mesas de jogo
estavam agitadas. Algumas grandes paradas
já haviam sido saudadas pelos que
assistiam.
Garotas com bandejas, uísque e comida
circulavam por entre as mesas. Guardas-
costas vigiavam atentamente. Todos aqueles
homens que estavam ali valiam, no mínimo,
cinco mil dólares cada um.
Na mesa, jogando contra o Lorde, John
prestava atenção a qualquer mudança, a
qualquer alteração nos momentos em que
seu adversário apostava.
O inglês, no entanto, em nada modificava
sua fisionomia nem se alterava. Era uma
rocha realmente, conforme Mary o havia
descrito.
Numa das mãos, alguém apostou alto.
John desistiu de continuar e aproveitou para
ir ao banheiro. Quando retornou, as apostas
haviam subido ainda mais.
Um dos jogadores apostara quinhentos
dólares. O inglês repicara os quinhentos,
pondo mais quinhentos. Buck examinou as
cartas dele. O maldito tinha apenas um par
de dez.
Estava blefando contra um jogador que
tinha cartas para superá-lo com folga.
Buck deu a volta e se sentou de novo à
mesa, olhando a reação do inglês.
— Está blefando! — falou o jogador,
encarando o Lorde.
— É do jogo — respondeu, levando o
charuto à boca.
— Seus quinhentos e mais mil — apostou
o jogador.
O Lorde baforou o charuto e
inconscientemente fechou o olho direito
quando fez isso.
John percebeu. O inglês voltou a pôr o
charuto no cinzeiro. Separou mil dólares em
ficha e empurrou para o centro da mesa.
— Seus mil dólares — disse ele,
enquanto contava outro tanto de fichas.
As pessoas ao redor se surpreenderam e
ficaram maravilhadas. Nenhuma, porém,
estava mais satisfeita por estar ali do que o
próprio Lubock.
— E mais dois mil — acrescentou o
Lorde, empurrando as fichas para o centro
da mesa.
Ficou olhando para o seu oponente com
uma expressão absolutamente
imperturbável.
— Diabos! — praguejou o outro, olhando
aquela mesa altíssima.
Tinha um bom jogo, mas não o suficiente
para enfrentar uma aposta como aquela.
Ao redor, a multidão acompanhava em
silêncio e com expectativa. O jogador abria
e fechava as cartas em suas mãos, olhando-
as, olhando as fichas na mesa e olhando os
olhos inexpressivos do Lorde.
— Maldição! Não vou apostar conta
você, Lorde — disse, desistindo.
Jogou as cartas sobre a mesa. O Lorde
pôs suas cartas sobre o baralho e começou a
juntar as cartas. John olhou para Mary, que
lhe piscou um olho. Ela também havia
percebido aquela ponto fraco do Lorde.
Debruçou-se sobre John, como se fosse
beijá-lo no pescoço.
— Viu? — indagou ela.
— Sim. E vou tirar a prova.
— Como?
— Observe — falou ele, beijando-a.
Nova mão foi iniciada. Cinco cartas
foram distribuídas para cada jogador. John
examinou as suas. Tinha um par de setes e
três cartas desparceiradas.
Quando chegou sua vez, trocou três
cartas. Juntou-as sobre a mesa e foi abrindo
uma por uma.
Seu coração bateu mais rápido. Iria
arriscar de qualquer maneira, mas tinha uma
quadra de setes nas mãos, o que era um jogo
que justificava uma aposta alta.
As apostas iniciais foram baixas. Ele, no
entanto, não deixou barato.
— Vamos começar a separar os homens
dos meninos — disse ele, empurrando
quinhentos dólares na mesa.
Seu olhar se concentrou no inglês que,
inicialmente, estavam imperturbável.
— Não, de novo não! — afirmou o
jogador que havia perdido na mão anterior,
jogando as cartas sobre a mesa.
Os outros jogadores foram desistindo, até
que chegou o momento do Lorde falar.
Todos esperaram com atenção. Os que
estavam atrás dele esperavam uma nova
jogada de arrojo e coragem. O jogador tinha
apenas dois pares, um de seis e outro de
noves.
Ele fixou o olhar em John Lubock,
medindo-o. Numa aposta como aquela, no
mínimo era preciso uma trinca de cartas
altas para apostar.
O Lorde não resistiu, porém, ao desejo de
impressionar.
Empurrou quinhentos dólares em fichas
para o centro da mesa, junto das outras.
— Seus quinhentos — disse ele. — E
mais mil — falou, empurrando as fichas
sobre a mesa, depois apanhando seu
charuto.
John acompanhou o gesto com atenção.
O inglês baforou. A fumaça subiu pelo seu
rosto. Ele fechou o olho direito.
Mary olhou para seu namorado. John
hesitou, apenas para criar suspense. Sabia
que poderia apostar com segurança.
— Está bem — afirmou. — Pago mil
para ver suas cartas — falou John e o inglês
empalideceu.
Esperava que John repicasse a aposta
para impressioná-lo com uma parada mais
alta.
Ficou olhando direto nos olhos de seu
oponente, enquanto abria suas cartas na
mesa. Naquela noite, era a primeira vez que
perdia.
— Não é um cavalheiro — falou o Lorde.
— E por que deveria?
— Ninguém corre assim tão fácil.
Poderia ter ganho mais.
— Ou poderia ter que correr de uma
aposta maior. Isto foi sorte de principiante,
Lorde. Se eu cobrisse sua aposta, com
certeza você cobriria a minha e eu teria de
fugir. Quem se arriscaria a enfrentar um
blefe do grande Lorde Cartdrige?
O inglês ficou sério por instantes, depois
começou a rir. Parecia lisonjeado, mas não
gostara nada do que lera nos olhos daquele
adversário.
O auxiliar de Billy Johnson havia
assumido o posto de xerife, até que um
novo fosse eleito. Buck parou a carroça
diante da cadeia e ordenou aos homens que
descessem.
Mal havia amanhecido o dia. O dono do
armazém varria a calçada diante de sua loja.
O ferreiro começava a acender sua forja.
Algumas donas-de-casa caminhavam na
direção da carroça que trazia verduras e
vegetais frescos toda manhã.
Aquela carga humana sendo descarregada
diante da cadeia chamou logo a atenção de
todos, que reconheceram logo o pai do
xerife assassinado.
— Quem são eles, Sr. Johnson? —
indagou alguém.
— Ladr·es, creio eu. Eu os peguei lá no
rancho...
Eskridge, o xerife provisório, surgiu à
porta, com cara sonolenta.
— O que está acontecendo aqui?
— Ajude-me a levar estes homens para
dentro. Mande alguém chamar o médico —
pediu-lhe Buck.
— Mas quem diabos são eles?
— Depois eu lhe digo, imbecil — falou
Buck, entredentes.
Eskridge percebeu logo quem eram
aqueles homens.
— Deus do céu, homem! Não os que
mataram... — ia dizendo.
— Sim, são eles e se não quer ter um
linchamento nas mãos, é melhor se calar.
— Ei, esses homens passaram aqui ontem
à tarde, perguntando de senhor, Sr. Johnson
— lembrou-se o barman do saloon, que
passava a caminho do trabalho e parou para
ver o que estava acontecendo.
— São assassinos! — gritou alguém.
— São os assassinos do xerife e de sua
esposa — ajuntou outro e a multidão ficou
em silêncio, olhando para os homens que
desciam da carroça, para Buck e para o
xerife.
— Maldição! — praguejou Buck,
empurrando os pistoleiros para dentro das
cadeia. — Tranque-os logo e se prepare
para o pior! — alertou.
— E aquele? — indagou Eskridge,
apontando pra Kyle.
— Esse é meu amigo, ajudou-me a
enfrentar esses bastardos.
Lá fora meia dúzia de pessoas havia se
espalhado em todas as direções. As demais
permaneceram diante da cadeia, olhando
para a porta e para a janela absolutamente
imóveis.
O xerife provisório notou isso e teve
medo.
— O que vai acontecer agora? —
indagou. — Não estou gostando nada das
caras daquelas gente lá fora.
Buck e Kyle foram até a janela olhar.
— Já vi isso acontecer antes — falou
Buck.
— O que vai acontecer? — quis saber
Kyle.
— O diabo! A questão é saber se vamos
lutar para preservar as vidas daqueles
assassinos lá dentro.
— Por que diz isso? — indagou o xerife.
— Porque vamos ter um linchamento
aqui e não vai demorar.
O rapaz olhou assustado para o velho
pistoleiro.
— Linchamento?
— Sim, isso mesmo. O que pretende
fazer a respeito, filho?
O rapaz pensou por instantes, depois
olhou para e estrela espetada em seu peito.
— Quando me pediram para ficar aqui
como xerife provisório, ninguém me falou
nada sobre linchamentos — disse ele,
retirando a estrela e pondo-a sobre a
escrivaninha. — Fique aqui se quiser,
senhor. Eu vou dar o fora agora mesmo —
afirmou, saindo.
A multidão continuava em silêncio.
— Ei, gringo! Você tem que nos tirar
dessa. Você nos trouxe aqui, agora tem que
dar um jeito de nos livrar.
— Eu não quero ser linchado —
choromingou Ted.
— Ora, cale a boca, seu maricas! —
ordenou-lhe Bull, irritado.
— O que vamos fazer, Buck? — quis
saber Kyle.
— Acho que vamos ao médico antes de
mais nada — decidiu Buck.
— E eles?
— Eles são problema da cidade agora —
sentenciou o pistoleiro, segurando o braço
do rapaz e empurrando-o para fora.
As pessoas chegavam e ficavam ali,
diante da cadeia. Buck e Kyle passaram por
elas.
— O que vai acontecer agora?
— Espere e verá — falou Buck.
Homens e mulheres foram chegando e se
aglomerando, até que alguém surgiu com
um laço, na ponta do qual já havia feito um
nó de forca.
Imediatamente outros laços como aquele
foram chegando.
— Foram eles que mataram Billy e Delle
— gritou alguém.
Um grupo de homens se destacou e
entrou na cadeia.
— Não merecem piedade! — falou uma
mulher.
Lá dentro da cadeia os prisioneiros
gritavam em desespero. Sons de pancadas e
gemidos se juntaram aos gritos.
Pouco depois, o primeiro deles, coberto
de sangue, era jogado da porta da cadeia
para o meio da rua. Pedras e pedaços de pau
caíram sobre seu corpo.
Ele tentou rastejar, mas era socado e
esmurrado. Seus amigos, um a um, foram se
juntar a eles, para serem atacados pela
multidão.
Os homens com os laços agiram
prontamente, impedindo que eles fossem
massacrados. Puseram o nó de forca em
seus pescoços, depois os arrastaram pela
rua, na direção da praça, onde havia uma
enorme árvore.
Alguém já levara uma carroça para lá.
Ted e seus amigos clamavam por piedade,
mas seus pedidos eram calados por murros e
pancadas.
Kyle acompanhava tudo aquilo
absolutamente chocado, percebendo que a
multidão parecia hipnotizada com o que
fazia.
Buck, por seu turno, já vira linchamentos
demais para se impressionar.
Os bandoleiros, cobertos de sangue,
foram postos de pé encima da carroça. Os
laços foram esticados. A multidão pedia a
morte deles. Pedras foram jogadas contra
seus corpos. Villas rezava. Ted chorava.
Bill olhava tudo como se não fosse com ele
que estivesse acontecendo aquele pesadelo.
Bull sorria como um idiota.
Chicotearam o cavalo. A carroça
avançou. O grito de pavor na garganta dos
pistoleiros foi calado, quando a corda
apertou suas gargantas.
Eles espernearam, dançando
macabramente, com os olhos arregalados, o
rosto se avermelhando e a boca se abrindo.
Suas línguas surgiram, à medida em que
o laço mais e mais os sufocava.
A multidão urrava, ainda atirando pedras.
Quando eles foram se imobilizando um a
um, a ira do povo começou a se desfazer.
Por algum tempo eles ficaram observando
os corpos imóveis oscilando na ponta da
corda.
Depois, aos poucos, foram virando as
costas e saindo, em silêncio, cada um para o
seu afazer ou o seu trabalho, como se nada
tivesse acontecido.
Ficaram apenas os cadáveres balançando
na árvore para indicar que aquele havia sido
um começo de dia anormal em Lamar.
— E agora? — indagou Kyle.
— O que aconteceu correrá o país e os
bandoleiros passarão ao largo de Lamar por
um bom tempo. É uma justiça cruel, mas
funciona, Kyle. Agora vamos ver esse
ferimento — decidiu Buck.
— Já tinha visto alguma coisa assim
antes? — indagou o rapaz, enquanto
caminhavam para a casa do médico.
— Muitos...
— Já tentaram linchá-lo?
— Sim, uma vez.
— Onde?
— Em Kansas City, no lado de lá do rio.
— O que fez?
— Matei um xerife... O pai da mulher
que eu amava. Mas não gosto de falar nisso.
Aconteceu há muito tempo.
— Por isso foi procurado?
— Sim.
— Por que voltou para cá, se estamos tão
perto de Kansas City.
— Porque meu filho me convidou para
vir morar com ele.
— Não é procurado aqui?
— Não, o crime aconteceu do outro lado
da fronteira estadual, no Kansas. Por isso
não sou procurado no Missouri.
— Acha que virá mais gente atrás de
você?
— Não, não aqui em Lamar. Não depois
do que aconteceu com aqueles quatro.
Kyle voltou a cabeça para olhar. Os
cadáveres estavam imóveis, dependurados
na árvore, como estranhos e macabros
adornos.
Alguém abriu uma janela e afastou as
cortinas. O sol entrou generosamente no
saloon esfumaçado, fazendo os homens
cobrirem os olhos.
— Ei, feche isso! — gritou alguém.
— Não, deixe que abra. Vamos arejar isto
aqui — pediu outro.
— Só então os homens consultaram seus
relógios, depois esfregaram os olhos
vermelhos e cansados.
— Bem, senhores, acho que por hoje
chega. Continuaremos à noite — sentenciou
o Lorde, como se todos ali dentro esperasse
apenas a sua decisão.
Estavam todos cansados. Começaram a
reunir suas fichas. Os que haviam perdido
saíram lamentado. Os que ganharam
deixavam fichas de gorjeta para as garotas e
para os carteadores.
Lorde Cartridge olhou com respeito para
o homem a sua frente. Havia blefado três
vezes naquela noite e nas três vezes fora
apanhado por ele.
John Lubock estava exultante. Tinha
certeza que poderia vencer o Lorde. Provara
isso naquela noite.
— É um adversário de respeito, John —
elogiou ele.
— Tive sorte, apenas isso — falou o
outro, com falsa modéstia.
— Tudo será diferente no torneio.
— Tenho certeza disso — afirmou John.
O Lorde ainda o olhou por instantes,
fixando seu olhar no dele. Definitivamente
havia algo no olhar de Lubock que não o
agradava.
Lubock era esperto, esperto demais,
talvez. Assim que o Lorde se afastou, John
abraçou Mary, erguendo-a no ar.
— Eu o peguei, Mary. Você viu como eu
o peguei?
— Sim, foi maravilhoso, John. Como fez
aquilo?
— O ponto fraco. Peguei o ponto fraco
dele. Quando blefa, ele sinaliza e eu o
peguei assim
— De que forma?
— Ele leva o charuto à boca, solta uma
baforada e fecha o olho direito. Faz isso de
forma muito rápida, como se a fumaça
tivesse entrado em seu olho e ardesse. É
quase imperceptível, mas eu percebi.
Levou suas fichas no caixa para serem
trocadas. Conferiu o resultado, contando o
dinheiro em seguida. No total havia ganho
quatro mil e quinhentos dólares, todos nas
paradas altas que jogara contra blefes do
Lorde.
Apanhou uma champanhe no bar e foi
para o quarto com Mary. Assim que fechou
a porta, começou a rir de satisfação, de
forma quase histérica.
— Está bem, eu concordo que foi uma
bela jogada, mas precisa ficar assim? —
comentou Mary.
— Eu o venci, Mary. Sabe o que isso
significa? Que posso ganhar esse maldito
torneio — falou ele, saltando na cama e
espalhando os maços de dinheiro ao seu
redor.
— O torneio é outra coisa, John. Ele não
vai blefar assim...
— Pelo contrário. É quando mais blefará.
O Lorde tem algo que os outros não têm.
Ele não se importa se vai perder ou não. É
isso que faz a diferença. Quando ele blefa,
não lhe passa pela cabeça que vai perder,
por isso continua apostando, cada vez mais
alto.
Mary abriu o champanhe e saltou para a
cama, junto dele. Abraçaram-se. Ela tomou
um gole direto no gargalo, depois beijou-o,
servindo-lhe a bebida na taça de seus lábios.
John se sentia o homem mais feliz da
face da terra. Ganhar aquele torneio era
tudo que desejava. Não apenas pelo prêmio,
que o livraria de se meter com bêbados e
caçadores de recompensa para o resto da
vida, mas pelo reconhecimento.
Seria convidado para todos os torneios e
jogos importantes que aconteciam no país.
Seria uma vida movimentada e interessante,
longe de tudo que já fizera na vida.
Enquanto eles comemoravam, próximos
dali, o Lorde conversava com dois
estivadores.
— Ele está no quarto vinte e sete, com
uma mulher. Quero que ele apanhe um
pouco, mas não o machuquem seriamente.
Está com dinheiro. Roubem tudo que ele
tem, entendido?
— E o que fazemos com o dinheiro?
Entregamos a você? — indagou um dos
homens.
— Não, é tudo de vocês.
— E ele tem muito? — insistiu o
estivador.
— Acredito que sim... No mínimo uns
dez mil.
Os olhos dos homens brilharam de
cobiça.
— E o pessoal do hotel?
— Não vai interferir. Dêem-me cinco
minutos para acertar isso, depois podem
entrar — finalizou o inglês.
Ele voltou para o hotel e os dois o
seguiram à distância. Viram quando ele
entrou e foi até a portaria. Conversou com o
rapaz que atendia. Deu-lhe algum dinheiro,
depois se afastou.
Os dois entraram em seguida, passaram
pela portaria e subiram a escadaria de
mármore, até o segundo pavimento.
Caminharam pelo corredor, até o quarto
escolhido. Um deles tocou a maçaneta e
torceu-a. A porta não estava trancada. Ele
empurrou a porta e os dois entraram ao
mesmo tempo, fechando a porta atrás de si.
Na cama, Lubock começara a despir
Mary.
— Que diabos vocês... — ia dizendo,
saltando da cama.
Um dos homens já estava junto dele,
brandindo um porrete. Bateu com força no
baço do jogador, que gemeu e sentiu suas
pernas fraquejarem.
Antes que pudesse se endireitar de novo,
o porrete atingiu-o no ombro, logo abaixo
do pescoço.
O choque paralisou seu braço e o fez cair
de cara no assoalho. Mary ia gritar, mas a
pesada mão do outro estivador atingiu-a no
queixo, jogando-a para trás, desmaiada.
Seu corpo ficou caído numa posição
reveladora. O estivador lambeu os lábios,
olhando as coxas e o ventre da mulher.
— Deixe disso, seu imbecil! — falou o
outro, chamando-lhe a atenção. — Segure
este infeliz aqui.
Lubock fora pego de surpresa, mas não
era um homem fácil de ser vencido. Mesmo
atordoado, ele jogou a bota contra o joelho
do homem que batera em Mary.
— Maldição! — gemeu o homem,
cambaleando.
O outro reagiu imediatamente, voltando a
golpeá-lo, desta vez no alto da cabeça, com
o porrete.
John rolou no assoalho e sua mão buscou
a faca que sempre trazia oculta na bota.
O homem de quem ele chutara o joelho
veio para cima dele, disposto a chutar-lhe a
cabeça. John moveu a faca no ar e cortou o
tecido da calça do outro.
— Ele me cortou... Você acreditar nisso?
Ele me cortou — disse o homem, olhando
para a perna.
Um filete de sangue escorreu dela e ficou
gotejando no assoalho. John aproveitou para
se levantar, mas o homem com o porrete se
apressou em golpeá-lo nos rins, duas ou três
vezes, fazendo o jogador cair de joelhos,
sem fôlego.
O homem com a perna cortada vingou-se,
chutando seu rosto e jogando-o desacordado
para trás. Ainda assim ele se aproximou e
continuou chutando a barriga e as costelas
de Lubock.
— Pare! Não devemos matá-lo —
deteve-o o outro. — Olhe o dinheiro, é todo
nosso. Vamos pegá-lo.
— Sim, mas deve haver mais por aí.
Enquanto um deles reunia o dinheiro
sobre a cama, o outro revistava gavetas,
malas, colchão, tudo, até encontrar o
envelope no fundo falso de uma valise.
— Mas... É muito dinheiro... —
murmurou, examinando o conteúdo.
— Vamos dar o fora daqui. É dia e não
quero ser visto. Amarre um pano nessa
perna. Está perdendo muito sangue...
— E o que importa isso, quando nós
temos todo este dinheiro? — respondeu o
outro, saltitando alegremente.
— Não quero que isso chame a atenção
de ninguém — falou o outro, cortando um
pedaço do lençol e jogando-o para o outro.
O ferido enfaixou a perna ferida, depois
os dois saíram do aposento e deixaram
calmamente o hotel.
Pela porta entreaberta de seu quarto, o
Lorde observava. Assim que os homens
saíram, ele caminhou até o quarto de
Lubock.
A porta estava aberta. A mulher estava
desmaiada na cama e Lubock estava caído
no assoalho. O Lorde sorriu com satisfação.
— Vamos ver como vai entrar no torneio
sem dinheiro, meu amigo — murmurou,
puxando a porta e fechando-a.
Voltou para o seu quarto. Mary se agitou
na cama logo em seguida, sentando-se e
tentando se lembrar do que havia
acontecido.
Viu as marcas de sangue no chão, depois
o corpo de John caído.
— Oh, meu Deus! — exclamou ela,
correndo até ele.
Examinou-o. Estava desacordado, mas
não estava ferido, com exceção de um galo
no alto da cabeça.
— Por que fizeram isso? — indagou ele,
repousando a cabeça dele em seu colo.
Olhou ao seu redor, ainda aturdida.
— O dinheiro! — murmurou, num fio de
voz, olhando a cama.
John havia espalhado o dinheiro ali. Ela
se voltou para o armário. A valise estava
aberta. O fundo falso fora arrancado. O
envelope com todo o dinheiro de Lubock
havia desaparecido.
— Oh, não, maldição! — praguejou ela,
agitando o corpo de seu namorado para
acordá-lo. — John, acorde! Fomos
roubados!
Deixou-o ali e foi apanhar uma toalha.
Molhou-a com água e pôs na fronte dele.
John gemeu e tentou se mexer.
— Oh, Deus! Como dói! — exclamou.
— John, o dinheiro... O dinheiro... —
repetia Mary, afobada e aturdida.
— Que dinheiro? O que houve?
Ele girou a cabeça e olhou a cama.
Depois olhou o armário. Viu a valise.
Arrastou-se ela, examinando-a
ensandecidamente.
— O dinheiro... Todo o meu dinheiro...
Como vou pagar a conta do hotel... Como
vou jogar... Eu o tinha nas mãos... Eu o ia
vencer... — ficou murmurando
pateticamente.
Mary se arrastou até ele, abraçando-se.
— Por que eles fizeram isso?
— Eu não sei... Preciso pensar... Tenho
de conseguir mais dinheiro...
— Vamos procurar o xerife...
— Está louca! Jamais encontraremos
esses homens de novo... Malditos! Não
quero ser detido aqui... Quando o Belle Star
chegar, eu terei de partir com ele... Eu tenho
de jogar... Eu tenho de ganhar dele...
— Como vai fazer isso sem dinheiro?
Ele pensou por instantes.
— Eu sei onde arrumar mais dinheiro.
— Onde?
— Não se preocupe. Vou conseguí-lo, é o
bastante. Fique aqui e tranque a porta.
— Onde vai?
— Eu não demoro. Depois eu conto... —
falou ele, apanhando seu paletó e saindo.
John Lubock sentia dores pelo corpo
todo, mas dentro dele ardia uma firme
determinação. Sonhara em participar
daquele torneio por muito tempo.
Além do mais, havia conseguido
descobrir o ponto fraco do jogador
campeão. Tinha tudo nas mãos para ganhar
aqueles cem mil dólares.
Deixou o hotel e foi até o telégrafo.
Mandou que expedissem uma mensagem
para Kansas City. Quando não encontrou
nos bolsos dinheiro para pagá-la.
— Espero uma resposta urgente. Poderia
mandá-la para o Hotel De Soto? —
indagou.
— Sim, claro — concordou o
encarregado.
John agradeceu e saiu, sentindo-se mais
aliviado. Mesmo assim, quando começou a
pensar no que lhe haviam roubado, ficou
furioso consigo mesmo por ter sido tão
estúpido.
Enquanto caminhava lentamente de volta
para o hotel, pensava naqueles homens que
o haviam atacado. Tinham toda a aparência
de gente que trabalhava ali, no cais do
porto.
Pensou em sair à procura deles. Seria
uma alternativa para o seu problema, mas
hesitou quanto a isso.
— O que conseguiu? — indagou Mary,
com uma mancha roxa no queixo, onde
aplicava um pano com gelo.
— Precisamos esperar agora — disse ele,
caindo na cama.
Estava exausto e dolorido.
— Durma um pouco — falou ela, com
carinho.
— Está bem. Acho mesmo que preciso
dormir. Quando eu acordar, tudo isso já
estará resolvido... Tenho certeza... —
murmurou ele, adormecendo quase que
imediatamente.
Mary deitou-se ao lado dele, abraçando-
se a ele. Adormeceu em seguida.
Os dois foram acordados no meio da
tarde por um mensageiro do hotel que,
cansado de bater na porta, enfiou um
envelope por debaixo dela.
John se levantou ainda sonolento. As
dores no corpo pareciam mais fortes agora.
Apanhou o envelope. Era a resposta à
mensagem que mandara. Mary também
acordara e fora ter com ele.
— Ele não vai me pagar o restante... Diz
que Villas e os outros foram linchados em
Lamar e que... Buck Johnson está vindo
atrás de mim... — leu ele, atônito.
— Não vai conseguir o dinheiro? —
indagou Mary.
— Aqueles bastardos falharam de novo...
E ainda me entregaram para aquele maldito
pistoleiro... Oh, Deus! Eu preciso mesmo
ganhar esse torneio para não ter que
conviver mais com essa raça de
incompetentes... — falou ele, raivoso,
amassando o papel e jogando-o para longe.
Caminhou de um lado para outro.
— O que vamos fazer, John? — indagou
a garota.
— Deixe-me pensar... Deixe-me pensar...
Isso não pode ficar assim. Não esperei tanto
tempo em vão...
Enquanto falava, ele foi até o seu
cinturão, que estava enroscado nos pés da
cama.
Apanhou-o. Afivelou-o na cintura. Viu
sua faca no assoalho. Colocou-a na bainha
da bota.
Verificou a munição dos Colts que trazia
nos coldres de couro negro. Estavam
municiados.
— O que vai fazer, John? — indagou a
garota.
— Vou buscar meu dinheiro.
— Onde?
— Vou descobrir.
— Vou com você.
— Não, fique aqui e tranque a porta. Eu
volto com o meu dinheiro — afirmou ele,
saindo.
Foi até a portaria.
— Diga-me uma coisa — pediu ele ao
rapaz. — Se eu tivesse que procurar dois
estivadores cheios da grana, onde iria?
O rapaz estremeceu. Sabia quem eram os
estivadores e quem os havia mandado. O
Lorde havia pago muito bem para que ele
deixasse os dois entrar.
— Depende, senhor — respondeu.
— Depende do quê?
— Depende de quem sejam esses
estivadores.
John olhou-o nos olhos. O rapaz estava
pálido e começara a suar. Era mais do que
significativo.
— E como eu faço para lhe descrever
esses homens?
O rapaz fez um sinal com os dedos da
mão, simbolizando dinheiro.
— Dinheiro? — indagou John.
— Sim...
— Acontece que eles levaram todo o meu
dinheiro...
— Eu sinto muito, senhor.
— Só tenho mesmo estes revólveres
agora — falou John, afastando as abas do
paletó para mostrar o magnífico cinturão de
couro negro e os reluzentes Colts com cabos
de madrepérola.
Os olhos do rapaz brilharam de cobiça.
Só que John sacou um deles e, agarrando o
rapaz pelos colarinhos, trouxe-o para cima
do balcão e encostou a arma em seu
pescoço.
— Agora estou entendendo tudo — falou,
decidido. — Você estava aqui quando eles
entraram...
— Eu não sei de nada...
John soltou-o, pois seu gesto chamara a
atenção de algumas pessoas. Ele sorriu e
recompôs as roupas do rapaz, que tremia,
agora mais pálido e suando mais.
— Pois bem, quem são eles? Responda-
me ou vou esperar você sair daqui. Vou
seguí-lo até sua casa e matar toda a sua
família na sua frente. Depois vou arrancar o
seu couro, como aprendi a fazer com os
índios apaches, no Novo México.
— Por favor, senhor! Não faça isso. Eles
são Fred Merluze e Tony Grove. Vai
encontrá-los no saloon de Winona Truman,
no cais.
John soltou-o, empurrando-o para trás.
— Se eu não encontrá-los, voltarei para
conversarmos — ameaçou, saindo.
Kyle cochilava no banco, embalado pelo
balanço do trem. Na janela, Buck olhava a
paisagem passar ao lado, com o pensamento
distante.
Haviam passado pela estação de
Waynesville, havia meia hora. Em breve
chegariam à metade do caminho.
Kyle acordou sobressaltado, esperneando
e agitando os braços.
— Ei, calma! — disse-lhe Buck. —
Andou tendo um pesadelo?
O rapaz olhou aturdido ao seu redor,
depois olhou para fora, localizando-se,
afinal.
— Sonhei que estavam tentando me
linchar — explicou.
— É normal, depois do que passamos.
Como foi a sensação?
— Meu Deus, que coisa impressionante.
Nunca tive tanto medo assim em minha vida
— contou o rapaz.
Diante deles, dois homens que viajavam
juntos começaram a rir. Buck havia
reparado que todo o tempo os dois o
observavam disfarçadamente, só que não
davam a impressão de serem caçadores de
recompensa. Isso não era sinônimo de
tranqüilidade, porque Buck já vira até um
padre caçando recompensas.
— Do que estão rindo? — indagou Kyle,
esquentado.
— Acalme-se, filho! Só achamos graça
da maneira como você acordou — falou um
dos homens e sua voz tinha um tom
levemente ameaçador e superior.
— Danem-se — resmungou Kyle,
percebendo a ameaça naquele tom de voz.
Aquietou-se, puxando o chapéu para
cima dos olhos. Buck, pelo contrário, olhou
alternadamente para os dois homens.
Vestiam ternos sob a capa de viagem. Os
cinturões eram colocados retos nos quadris,
com o coldre alto e a ponta virada para a
frente.
Conhecia aquele tipo de coldre. Eram os
chamados Slim Jim, coldres despojados de
qualquer enfeito e montados para dar
velocidade no saque da arma.
Pessoas normais não os usariam.
— Algum problema? — indagou um
deles, incomodado agora com a insistência
com que Buck os olhava.
— Não, nenhum — respondeu,
examinando as armas que eles usavam.
Eram Colts Peacemaker, de cano menor
que o comum. Eram as armas preferidas dos
xerifes naquela época, porque o cano menor
facilitava o saque.
Não restava a menor dúvida. Aqueles
dois homens eram pistoleiros, matadores de
homens e, com certeza, caçadores de
recompensa também.
— Você é Buck Johnson, não é? —
perguntaram-lhe.
— Eu não sei. Sou?
— Eu digo que é.
— É a sua palavra.
— Você vale dois mil e quinhentos
dólares, somando-se os prêmios oferecidos
por sua cabeça em todo o Oeste —
comentou o homem, sondando-o.
.— Se eu fosse Buck Johnson — afirmou
o velho pistoleiro, puxando o chapéu sobre
os olhos e cruzando os braços.
Kyle, ao lado, ouvira a conversa.
— Vamos demorar para chegar? —
indagou o rapaz.
— Só chegaremos perto da meia-noite.
— Como vai achar o indivíduo? Só sabe
o nome dele?
— As pessoas usam seus nomes para se
registrarem nos hotéis, sabia?
Os dois homens no banco da frente se
levantaram. Caminharam pelo corredor até
o vagão restaurante. Sentaram-se numa das
mesas e pediram uísque.
— Acha que é ele?
— É ele. Eu o vi enfrentar um homem em
Sioux City...
— Quando foi isso?
— Há uns dois anos. Ele não mudou
nada. A mesma barba, inclusive, só que
mais branca.
— O que faremos?
— Ele vale dois mil e quinhentos.
Podemos matá-lo e reclamar as
recompensas. O chefe do trem nos dará uma
declaração da morte dele.
— Mas só nós podemos identificá-lo...
— Não, aquele rapaz que viaja com ele
poderá confirmar isso também.
— Certo. Como faremos isso, então?
— Simples. Vamos voltar lá e, quando
nos sentarmos, sacamos e atiramos contra
ele.
— Está bom para mim — concordou o
outro.
Os dois pagaram pela bebida e se
levantaram, saindo. Quando passavam do
vagão-restaurante para o de passageiros,
Buck os esperava, encostado na porta do
vagão.
Os dois homens se olharam.
— Acho que ele quer facilitar as coisas
para nós — disse um deles, jogando a capa
e a aba do paletó para trás.
Buck examinou aqueles coldres. Ficavam
mais altos do que os normais e, segundo
diziam, permitiam que o sujeito sacasse
mais rápido.
Tinha curiosidade a respeito desses novos
coldres, feitos por artesãos em Laredo e no
Texas.
Doc Hollyday e o Xerife Earp usavam
um deles, só que escondidos sob o braço.
— Acho que não temos mais dúvidas —
disse um dos pistoleiros. — Você é mesmo
Buck Johnson.
— Sim, sou eu mesmo. O que pretendem
fazer a respeito?
— Como eu disse, você vale dois mil e
quinhentos...
— Se me pegarem.
— É o que tentaremos fazer, moço.
Naquele momento, a porta do vagão de
passageiros se abriu e Kyle surgiu.
— Ei, Buck! Fiquei preocupado, você
sumiu e... — interrompeu-se ele, quando
viu os três homens em posição de saque. —
Diabos, acho que cheguei na hora errada!
— acrescentou, recuando.
Por uma fração de segundos os dois
pistoleiros se distraíram com Kyle.
Buck levou a mão ao seu Colt. Os dois
homens perceberam e fizeram o mesmo.
Um deles chegou a ser mais rápido ainda
que ele, sacando primeiro o revólver. Na
hora de atirar, no entanto, demorou-se para
engatilhá-lo e quando disparou o fez
apressadamente, errando.
Buck não perdeu tempo com isso. Sua
mão esquerda bateu com força no cão da
arma, enquanto o indicador da mão direita
mantinha o gatilho apertado.
O cão foi para trás e retornou livre para
fazer explodir a bala que estava na câmara.
O impacto fez um dos pistoleiros recuar,
enquanto uma mancha de sangue surgia no
meio de seu peito, onde o elegante colete
deixava aparecer sua camisa branca
impecável.
— Maldito! — berrou o outro,
disparando.
Buck havia caído de joelhos no momento
exato. A bala roçou seu chapéu, enquanto
ele disparava de novo, de baixo para cima,
mirando a barriga do ouro.
A bala o atingiu no umbigo e subiu,
fazendo-o erguer-se do chão e cair para trás
pesadamente, sobre o outro que se erguia.
— Ele me pegou... — gemeu o homem,
sem sentir dor em seu corpo, mas incapaz
de respirar.
A bala furara seu estômago e subira para
um de seus pulmões, traspassando-o. Antes
de sair, atingiu uma costela, partindo-a e
espetando para fora suas lascas.
Os tiros atraíram a atenção dos guardas
da composição, que chegaram em seguida,
apontando suas espingardas.
— São caçadores de recompensa.
Quiseram me pegar e eu os matei —
explicou Buck.
Um dos guardas apanhou as armas dos
homens e examinou-as.
— Ambas foram disparadas — informou.
— Eu vi tudo — falou Kyle. — Estava
indo para o restaurante. Esses dois cercaram
o moço aí, depois sacaram suas armas.
Aquele caído debaixo do outro atirou
primeiro, mas errou. Levou um tiro no peito
em seguida. O outro atirou e se o homem ali
não se abaixasse, teria levado um tiro na
barriga. Ele disparou de volta e deu nisso aí.
Os guardas se entreolharam.
— É, parece que tudo aconteceu assim
mesmo. Vamos fazer uma declaração. Os
dois assinarão. Quando pararmos na
próxima estação, deixaremos os feridos com
o xerife. Não vemos motivos para detê-lo,
senhor.
Buck agradeceu, depois olhou para Kyle.
Se o rapaz não tivesse vindo com ele,
estaria perdido naquele momento.
John Lubock era um jogador de pôquer
por excelência e, por isso, um homem frio e
calculista.
Quando viu os dois cercados de garotas
num canto do saloon, conteve seu desejo de
sacar as armas e matá-los um por um.
Manteve-se oculto entre os outros
freqüentadores, até que uma garota se
interessou por ele.
— Podemos ir para um dos quartos lá nos
fundos — disse ela.
John sondou o ambiente, olhou na
direção dos dois homens que se divertia
com o dinheiro dele, depois sorriu para a
garota.
— E por que não?
— Cobro cinco dólares adiantados —
disse ela, tomando-o pela mão e levando-o.
— Que tal ganhar cinqüenta?
— Cinqüenta? Que diabos terei de fazer
para ganhar isso? — surpreendeu-se ela,
examinando-o.
— Eu lhe digo lá dentro.
Foi com ela até o quarto. Havia uma
cama, uma penteadeira com um espelho
manchado, uma bacia com uma jarra de
água e uma toalha encardida.
Ela começou a tirar a roupa.
— Espere, não é isso que quero de você.
— Não? — surpreendeu-se ela.
— Não, de forma alguma...
— E como vou ganhar cinqüenta dólares?
— Conhece Fred Merluze e Tony Grove?
— Aqueles dois que tiraram a sorte
grande?
— Eu fui a sorte grande deles...
— Perdeu dinheiro para eles?
— Não, eles roubaram meu dinheiro.
A garota olhou para os olhos de John,
depois para o cinturão com duas armas que
ele usava. Começou a recuar na direção da
porta.
— Espere aí, moço... — murmurou ela.
— Fique calma, garota. Só quero que
você atraia os dois até aqui.
Ela estava com a mão no trinco da porta.
— Cem dólares... Eu lhe pago cem
dólares... — aumentou ele.
A garota hesitou. Para ganhar cem
dólares teria que se deitar com pelo menos
vinte homens em seguida.
— Só tenho que trazê-los aqui?
— Sim, só isso.
— O que vai fazer com eles?
— Devolver-lhes as pancadas que me
deram.
— Pague-me cento e cinqüenta e eu faço
isso.
— Serei mais generoso ainda. Traga-os
aqui e lhe darei duzentos.
Os olhos dela brilharam de cobiça. Ela
sorriu.
— Qual deles devo trazer primeiro?
— Qualquer um deles.
— Está bem. Então prepare-se! — disse
ela, saindo.
Assim que ela fechou a porta, os olhos
dele pousaram numa barra de ferro que era
usada para trancar a porta, encaixando-se
em passadores de ferro.
Estava encostada na parede, ao lado da
porta. Foi até lá e apanhou-a. Ficou
esperando ali mesmo.
Fred Merluze não demorou para aparecer.
Vinha excitado, pois a garota lhe dissera
que uma grata surpresa o esperava ali.
Assim que entrou, olhou ao seu redor,
sem ver nada. Avançou um passo. John
empurrou a porta, fechando-a. Quando Fred
se voltou, surpreso, a barra de ferro o
atingiu no joelho, com um estalo sinistro.
Ele gemeu, caindo pesadamente.
Levantou os olhos surpresos para o homem
que se aproximou dele.
— Minha perna... Você quebrou a minha
perna — gemeu o estivador.
— Azar o seu — respondeu John,
golpeando-o no alto da cabeça, fazendo o
osso estalar.
Fred revirou os olhos e ficou imóvel.
John revistou-o rapidamente, encontrando o
envelope com todo o seu dinheiro no bolso
dele.
— Graças a Deus! — murmurou,
guardando-o.
Pensou no dinheiro que ganhara jogando
contra o Lorde. Deveria estar com o outro.
Tratou, então, de levar Fred para a cama.
A cabeça dele estava rachada e um filete de
sangue foi marcando o assoalho, enquanto
John o arrastava.
Acomodou-o e cobriu. A garota bateu na
porta, depois entreabriu-a.
— Pode trazer o outro — ordenou John.
Ela saiu. Ele foi se postar de novo atrás
da porta.
— Que diabos de surpresa é essa que...
— foi dizendo Tony Grove, enquanto
entrava.
Primeiro viu Fred na cama. Depois viu as
marcas de sangue. John empurrou a porta.
Tony se voltou, levando a mão ao porrete
que trazia preso no cinto.
A barra de ferro o pegou no braço, na
altura do cotovelo e o osso se partiu,
aflorando à pele.
Tony ficou olhando aquela grotesca
aparição. O sangue gotejou no assoalho.
— Por que fez isso? — indagou Tony,
levantando os olhos surpresos para John.
— Mexeu com o jogador errado — falou
John, levantando a barra de ferro acima da
cabeça.
— Não foi nada pessoal... Foi ele que nos
mandou...
John deteve o movimento.
— Ele? Quem?
— O jogador inglês...
— Lorde Cartdrige? Por quê?
— Apenas nos mandou surrá-lo e tomar-
lhe o dinheiro...
John entendeu, então, o que aquilo
significava. Abalara o campeão. Isso
reforçava suas chances. Tinha certeza que
poderia vencê-lo, não havia mais dúvida.
Se o Lorde ficara tão preocupado a ponto
de tentar impedir que John participasse do
torneio, era sinal que aqueles cem mil
dólares e a glória estavam cada vez mais
perto de suas mãos.
— Olhe... Aqui está seu dinheiro... Só
gastamos uns trocados com bebidas... —
falou Tony, retirando o maço de notas do
bolso e estendendo.
John sorriu, apanhou o dinheiro e
guardou-o.
— Posso ir? — indagou o estivador.
— Sim, claro, meu amigo. Faço questão
que vá logo... para o inferno! — completou,
golpeando a cabeça do outro, que estalou e
ele caiu para trás.
Uma poça de sangue começou a se
formar. John jogou a barra de ferro sobre o
corpo do homem caído.
Pensou por instantes. Pegou algumas
notas de um e de cinco dólares, jogando-as
sobre os dois corpos e no assoalho.
Depois saiu. A garota o esperava do lado
de fora.
— E daí, fiz direitinho?
— Sim, direitinho. Aqui estão seus
duzentos dólares e mais cem se fizer algo
para mim.
— O quê? — quis ela saber.
— Diga que os dois brigaram por causa
de dinheiro e se mataram.
Ela arregalou os olhos.
— Você os matou?
— Sim, eu os matei. Vai fazer isso?
Ela o mediu de alto a baixo.
— Acho que uma mentira dessas vale
muito mais do que cem dólares... Que tal
quinhentos?
— Razoável — concordou ele, dando-lhe
o dinheiro.
Passava um pouco da meia-noite quanto a
composição da Pacific Railroad chegou à
sofisticada estação de Saint Louis, um
importante entroncamento ferroviário na
época.
Kyle ficou deslumbrado com toda aquela
agitação.
— De onde vem toda essa gente
estranha? — indagou ele, observando as
pessoas que passavam, vestindo os mais
diferentes trajes.
— São imigrantes, estão indo para o
Oeste, principalmente para a Califórnia, o
novo paraíso.
— Eu adoraria ir para a Califórnia —
comentou o rapaz.
— Ilusão!
— Por quê?
— Porque as coisas estão onde você quer
que elas estejam.
— Acho que não é tão fácil assim, Buck.
— É sim, garoto. Pode acreditar —
afirmou o pistoleiro, enquanto passavam
por entre a multidão.
— O que vamos fazer agora?
— Vamos tentar achar John Lubock.
— Como? Esta cidade parece ser
enorme...
Havia um guichê, onde um homem
sonolento dava informações. John foi até lá.
— Onde se hospedam os jogadores que
vão participar do torneio de pôquer? —
indagou-lhe Buck.
— No Hotel De Soto.
— E onde fica?
— Saia da estação. Verá uma avenida a
sua frente. Desça por ela. Vai ver o De
Soto.
Buck agradeceu, apanhou seu alforje e
jogou-o no ombro.
— Estamos a caminho — disse a Kyle.
— O que vai fazer quando encontrá-lo,
Buck?
— Quero interrogá-lo primeiro.
— Por quê?
— Porque ele não tinha interesse nenhum
na minha morte nem na morte de Billy.
— E como sabe disso?
— O negócio de Lubock é um saloon e
um bando de caçadores de recompensa que
trabalham para ele. Na certa alguém pagou
a ele para me matar.
— E você quer descobrir quem foi?
— Sim, isso mesmo.
— Vai matá-lo depois?
Buck parou e olhou para o rapaz. Os
lampiões a gás na avenida jogavam uma
claridade pálida no rosto dele.
— Não sei, Kyle. Estou ficando enojado
de tanta matança, sabia? Acho que é preciso
começar a confiar na lei e na justiça...
— Isso vindo de um pistoleiro soa
estranho — comentou o rapaz.
— Os tempos mudaram, Kyle. Os
homens também mudam, sabia?
— Acho que tem razão, Buck — falou o
rapaz.
Logo avistaram o Hotel De Soto, que
regurgitava àquela hora. Gente chegava a
todo momento para se hospedar. Eram os
que participariam do torneio ou pessoas que
vinham para ver os grandes jogadores se
enfrentando no saloon, numa prévia do que
seria aquele magnífico torneio.
— É aqui? — surpreendeu-se Kyle.
— Sim, enorme, não?
— Vão nos deixar entrar assim? —
indagou ele, olhando suas roupas e as
roupas das pessoas que desciam das
carruagens, usando seus melhores trajes de
noite.
— Você tem o que paga para ter, Kyle.
Vamos lá — convidou-o Buck.
Foram até a portaria.
— Olá, vieram para o torneio? —
indagou o rapaz no balcão.
— De certa forma sim.
— Têm reservas?
— Como?
— Não reservou um quarto com
antecedência?
— Não, estamos chegando agora e...
— Então, infelizmente, não temos mais
quartos. Tudo isso aqui está uma loucura,
com a proximidade do torneio. Acho que
encontrarão onde ficar no cais. Há alguns
bons hotéis por lá, podem ter certeza.
— Sim, claro... É que ficamos de
encontrar um amigo aqui... Pode ver se ele
já chegou? Seu nome é John Lubock.
— Lubock? John Lubock de Kansas
City?
— Sim, esse mesmo.
— Ele está hospedado. Passou agora
mesmo para ir até o saloon jogar. Ontem ele
venceu o Lorde. Sabem o que é isso?
Buck e Kyle se entreolharam.
— Lorde Cartdrige, o campeão do torneio
passado. John Lubock o venceu ontem,
acabou com a arrogância do inglês.
Possivelmente se encontrem de novo esta
noite. Se quiserem ficar e observar, não há
problemas. O saloon é por aquela porta ali
— apontou ele.
— Pode guardar isso pra nós? — indagou
Buck, pondo seu alforje sobre o balcão.
Kyle fez o mesmo.
— Sim, claro — afirmou o rapaz, pondo-
os do lado de dentro do balcão.
Os dois caminharam para o saloon,
misturando-se aos outros freqüentadores
que se apressavam para assistirem aos jogos
daquela noite.
Instantes depois, Mary Singleshot
passava por ali para ir ao encontro de John.
— Ei, senhorita! — chamou-a o rapaz.
Ela foi até ele, intrigada.
— Dois amigos do Sr. Lubock acabaram
de chegar. Eu os mandei para o saloon.
— Amigos de John? Quem eram eles?
— Um velho e um rapaz. Deixaram os
alforjes aqui e...
Mary empalideceu, lembrando-se do
telegrama que John havia recebido. Correu
para o saloon.
John estava jogando numa das mesas. Ela
olhou ao seu redor, mas não viu um velho
nem um rapaz. Aproximou-se da mesa,
inclinando-se no ouvido dele.
— Avisaram-me na portaria agora. Um
velho e um garoto chegaram aqui a sua
procura.
— Um velho e um garoto? — estranhou
ele.
— Aquele problema que seus homens
foram resolver e não conseguiram...
John empalideceu, olhando ao seu redor,
procurando algum rosto ameaçador.
— O que vamos fazer?
— Fale com o segurança ali na entrada.
Mande-o se informar com a portaria e peça
para localizarem esses dois. Dê-lhes isto —
falou, passando um punhado de notas pra
ela.
O Lorde entrou no saloon e avançou por
entre as mesas. Seu sorriso revelava toda a
sua satisfação com o mundo. Estava seguro
de sua posição de melhor jogador daquele
torneio.
O único empecilho que tinha pela frente
havia sido removido eficientemente.
Ao se aproximar da mesa ocupada por
John, este foi se levantando para encarar o
outro com um sorriso cínico nos lábios.
Ao vê-lo, o Lorde empalideceu.
— Olá, Lorde. Quer uma revanche?
O inglês olhou para a mesa. A quantidade
de fichas na frente de John indicava que ele
não tinha problema nenhum com dinheiro.
Ficou sem entender.
Um dos jogadores se levantou.
— Sente-se aqui, Lorde. Vencer esse
sujeito ali é impossível. Com você na mesa,
não tenho a menor chance.
O inglês agradeceu e se sentou.
— A propósito — disse John, com calma,
olhando o outro nos olhos. — Dois amigos
seus lhe mandaram lembranças.
— Amigos meus? — surpreendeu-se o
jogador.
— Sim, Fred Merluze e Tony Grove. Não
puderam vir.
— Não conheço ninguém com esse nome
— disfarçou o inglês.
— É uma pena. Falaram muito bem de
você. Só pediram desculpas por não
poderem estar aqui hoje à noite. Estão
ambos com uma dor de cabeça terrível... Se
é que me entende — riu John, percebendo
que suas palavras haviam desestruturado
totalmente seu adversário no jogo.
— Eu... Eu não estou muito disposto
hoje... Acho que não vou jogar, cavalheiros.
Desculpem-me — falou o inglês,
levantando-se e saindo.
John ficou rindo. As pessoas olhavam e
não entendiam, mas percebiam que o
pôquer tinha um novo rei.
— Vamos ao jogo, senhores! —
convidou-os John, apanhando um baralho
novo e abrindo-o.
Havia recuperado sua tranqüilidade, após
aquela bravata. O que lhe restava de
preocupação começava a se dissipar, na
medida em que via Mary, dois seguranças
do saloon e o rapaz da portaria examinando
os presentes.
A cadeira continuava vazia diante dele.
Um homem sentou-se. Vestia-se como um
cowboy, com um chapéu gasto e desbotado,
a aba caída na frente, jogando sombras em
seus olhos.
Uma barba onde pontilhavam fios
brancos o fez se lembrar do que Mary havia
dito. Ele olhou desesperadamente,
procurando por ela. Um rapazola postou-se
atrás do velho.
— Vai jogar? — indagou.
— Sim — afirmou Buck.
— Precisamos ver a cor do seu dinheiro,
então — riu forçadamente John.
Buck retirou um maço de notas, pondo-o
sobre a mesa. Não era muito, mas era o
bastante para iniciar no jogo.
— Por que não se apresenta, cavalheiro?
— indagou John.
— Por que você não me apresenta? —
retrucou Buck, olhando-o sempre nos olhos,
fazendo o jogador estremecer.
— Senhores, este é... Buck Johnson, um
pistoleiro com a cabeça a prêmio em meia
dúzia de Estados do Oeste, responsável por
mais de duas dúzias de mortes ao longo de
uma carreira de vinte e cinco anos.
— Exato. E este, senhores, é John
Lubock, líder de uma quadrilha de
caçadores de recompensa e assassinos de
aluguel, que não hesita em mandar matar
uma família inteira para garantir o seu
dinheiro de sangue — acusou-o Buck, em
voz alta.
John começou a dar cartas. Um silêncio
mortal pairou no saloon. Todas as outras
mesas pararam. As atenções se
concentraram naquele estranho jogo.
Os jogadores na mesa desistiram e se
levantaram. Ostensivamente John abriu seu
paletó, exibindo o cinturão negro. Buck
desabotoou a capa de viagem e deixou a
mostra seu Peacemaker de seis tiros.
— Cartas? — indagou John.
— Não! — afirmou Buck, sem olhar as
cartas que o outro lhe dera.
— Está jogando o jogo errado, pistoleiro
— falou o jogador.
— Engano seu. Este é o meu jogo —
respondeu Buck, com frieza.
John examinou suas cartas. Tinha um par
de noves. Podia melhorar. Arriscou trocar
três cartas. Recebeu mais um par de cincos.
Tinha dois pares. Não deixava de ser um
bom jogo.
— Você aposta — falou John.
Buck empurrou todo o seu dinheiro para
o centro da mesa.
— Aposto tudo isto.
— Quanto tem aí? — riu John, sem
disfarçar seu nervosismo.
Alguém se debruçou sobre a mesa,
contou o direito e endireitou-se
rapidamente.
— Cento e vinte e cinco dólares —
informou.
— Está bem, pistoleiro. Seus cento e
vinte e cinco — falou John, jogando as
fichas sobre a mesa. — Mais cinco mil —
finalizou, empurrando o resto.
Por instantes Buck ficou atônito, sem
entender o que estava acontecendo. John
iria ganhar aquela mão, simplesmente
porque Buck não tinha mais dinheiro para
cobrir a aposta.
— Seus cinco mil e mais dez mil! —
falou o Lorde, depositando uma caixa de
fichas no centro da mesa.
John estremeceu, olhando atônito para o
inglês.
— Está maluco! Ele nem viu as cartas
dele — falou John, aturdido.
— Ele não é obrigado. Não há regra
nesse jogo quanto a isso.
— Você é tão louco quanto ele... Não
pode ter nada... Ninguém teria nada numa
jogada assim... É absurdo! — protestou.
Mary, os seguranças e o porteiro
encostaram-se na mesa, mas ficaram sem
saber o que fazer diante do que se passava.
— É pegar ou largar, homem — falou
Buck, olhando John nos olhos.
O jogador olhou para o inglês, para o
rapazola atrás do velho e para Buck. Olhou
as fichas sobre a mesa, Mary, as pessoas ao
redor. O silêncio era total ali dentro.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou o
envelope. Contou as notas, enquanto
pensava. Era um risco muito grande, mas o
idiota não vira as cartas.
Teria que sair com um jogo feito, no
mínimo dois pares maiores ou uma trinca
para ganhar dele.
— Não, John! — falou Mary.
Ele ainda hesitou por instantes, mas o
sorriso cínico e provocador do inglês era um
convite. Se ganhasse aquela mão, seria
imbatível.
— Seus dez mil! — falou, jogando o
dinheiro na mesa. — Eu pago para ver —
afirmou, abrindo suas cartas sobre o pano
verde.
Os dois pares ficaram esperando o jogo
de Buck. O pistoleiro, sempre olhando para
John, abriu a primeira carta.
Era um cinco de paus. Depois um cinco
de Ouros, um de espadas, um quatro e um
rei.
— Trinca de cinco ganha! — falou o
inglês, começando a rir com satisfação. —
O lucro é seu, senhor — acrescentou,
retirando as fichas que pusera no jogo.
— Você ganhou tudo isso, Buck? —
exclamou Kyle, surpreso.
John se levantou de repente, jogando a
cadeira pra trás. Suas intenções eram claras.
As pessoas se afastaram em duas alas,
fugindo da linha de tiro.
Buck continuou sentado, olhando o
homem diante dele.
— É um assassino, Buck Johnson.
Buck começou a recolher o dinheiro da
mesa.
— Deixe isso aí mesmo. Para onde vai
não precisará dele — afirmou.
— E para onde vou?
— Para o inferno! — decretou John, mas
parou, quando a porta do saloon se abriu
com força e um homem entrou desarmado.
Trazia uma bandagem manchada de
sangue envolvendo sua cabeça e uma tala
imobilizando seu braço.
Todos os olhares se voltaram para ele.
— Você matou meu amigo — falou
aproximando-se.
John recuou. Tony Grove enfiou a mão
no bolso da calça. O jogador se apavorou.
Pensou que ele sacaria uma arma.
Sacou sua arma e disparou, atingindo o
peito de Tony, que caiu para trás. Sua mão
apertava com força o velho cachimbo.
— Ele ia atirar em mim — balbuciou
John, com a arma na mão.
— Com um cachimbo? — indagou o
segurança, mostrando o objeto que Tony
estava tirando do bolso.
O xerife destacou-se da multidão. John
olhou para o Lorde, depois para Buck.
— Malditos! — falou, apontando para o
inglês.
O tampo da mesa se levantou. Lascas de
madeira vararam o pano verde, quando o
tiro disparado por Buck atravessou a mesa e
pegou o ombro do jogador, jogando-o para
trás.
Lorde Cartdrige, pálido, olhou para Buck
e esboçou um sorriso de agradecimento.
— Agora estamos quites, amigo! — falou
Buck, ensaiando um sorriso também.
Buck havia retornado de Saint Louis e
passado pelo rancho. O gado se virava na
medida do possível.
— Acho que vou contratar um vaqueiro,
antes de ir para Kansas City, resolver esse
negócio.
— Por que não vamos juntos, Buck?
Quando voltarmos, eu serei seu vaqueiro.
— Não poderei pagar muito no
princípio...
— Não seja pão-duro, Buck. Eu sei que
você tem dinheiro.
— Vou depositá-lo no Banco. Na hora
certa compraremos mais gado e talvez até
aumentemos o rancho...
— Reparou que está pondo as palavras no
plural?
— Certo, sócio! Foi proposital —
afirmou Buck e Kyle sorriu de satisfação.
Foram se preparar para a viagem. Buck
foi pegar a caixa de documentos. Separou a
carta que viera endereçada a Delle.
— O que é isso? — quis saber Kyle.
— Veja! — falou o velho pistoleiro,
mostrando o nome do remetente da carta.
— O bastardo! — disse o rapaz, cheio de
ódio.
A viagem para Kansas foi rápida. Os dois
levaram cavalos extras e enquanto havia luz
eles cavalgavam, comendo na própria sela.
Entardecia, quando chegaram a Kansas
City, afinal.
— Como vai resolver isso, Buck? — quis
saber Kyle.
— Tenho duas formas, garoto. Uma seria
a minha maneira. Outra seria da forma
correta.
— Como assim?
— Vai aprender — afirmou o pistoleiro.
Algum tempo mais tarde estavam no
escritório de um importante advogado de
Kansas City.
— Eu estou de saída, cavalheiros. Não
poderíamos deixar para resolver isso
amanhã? — indagou o Dr. James Morton,
abrindo a porta do seu gabinete.
Sua secretária já havia saído e ele estava
pronto para ir embora também.
— Viemos de longe para resolver isso —
falou Buck. — Se pudermos acertar isso
hoje, amanhã cedo já estaremos voltando.
O advogado olhava para ele fixamente,
com certa inquietação. Reconhecia aquele
rosto.
— Está bem — concordou, voltando para
sua escrivaninha.
Abriu uma das gavetas. Um Colt reluzia
ali dentro. Buck e Kyle entraram, deixando
a porta aberta.
— O que posso fazer pelos senhores? —
indagou o causídico, inquieto.
— É sobre isto — falou Buck,
estendendo a carta endereçada a Delle, sua
nora.
O advogado empalideceu e começou a
suar. Suas mãos tremeram quando abriu o
envelope.
— Delle não tem mais nenhum parente
— afirmou Buck. — Acho que isso me
torna o único parente dela vivo ainda.
O advogado gaguejou.
— Não é bem assim... Vamos ter que
identificá-lo... Você...
— Por quê? — indagou Buck.
O advogado olhou-o nos olhos. Pelo
olhar do pistoleiro, percebeu que não
adiantaria negar nem fazer jogos.
— É uma fortuna muito grande... Estive
em Lamar e conversei com sua nora, após
ter remetido a carta e após descobrir que ela
não tinha mais nenhum parente. Ela me
contou que você estava voltando para morar
com eles. Eram três pessoas que me
separavam do maior golpe que um
advogado poderia dar. Só tinha que me
livrar de vocês, depois manipular os papéis
e ficar com tudo. Como descobriu?
— Falei com John Lubock. Está preso
por assassinato em Saint Louis. Deverá ser
enforcado em breve. Possivelmente o
mesmo que acontecerá com você.
Confessou por escrito que você o contratou
para matar minha família. Todo o tempo
pensei que estivessem atrás de mim por
vingança. Jamais suspeitei que tudo fosse
por essa maldita herança...
— Eu sabia que todos pensariam assim...
Eu tinha de fazê-lo — falou o advogado,
apanhando a arma.
Engatilhou-a e apontou-a para a cabeça
de Buck. O velho pistoleiro nem piscou.
— Está tudo perdido — falou ele.
— Não! Você é um pistoleiro. Tenho
uma cópia do seu cartaz de procurado. Direi
que tentou me assaltar e eu tive que matá-
lo...
— Vai matar o rapaz também?
— Sim, um a mais não custará nada. Já
fui o responsável pela morte de seu filho e
de sua nora, Buck Johnson, e não me
importarei em sê-lo da sua e de seus
amigos.
— O xerife já está de posse da confissão
de Lubock.
— Está blefando?
— Não, James, ele não está — falou o
xerife, surgindo pela porta aberta. — Eu
ouvi tudo que disse. Está perdido.
A mão do advogado tremeu, empunhando
a arma. Ele se distraiu, olhando o xerife.
Buck sacou sua arma e apontou para ele.
— Tem duas chances: entregar-se ou
morrer.
Kyle acompanhou a cena com interesse.
O homem atrás das escrivaninha olhou para
as armas apontadas para ele. Lentamente
baixou a sua para a mesa.
— Teria dado certo... Teria... —
balbuciou, enquanto o xerife se aproximava.
— Podia ter-se vingado — observou o
xerife, falando com Buck.
— Acabou-se o tempo da matança —
falou o pistoleiro, guardando seu Colt.
L P Baçan O Mago das Letras
1975: escreveu e publicou seu primeiro
livro de bolso, a novela Uma Tese
para o Amor, pela Editora Cedibra,
Rio de Janeiro, passando, daí, a
escrever mensalmente novelas por
encomenda para essa e outras
editoras.
1985: teve 11 letras incluídas no LP
Saudação ao Mato Grosso, da dupla
Estudante & Caminhoneiro.
1986: teve 6 letras incluídas no LP
Oração de Um Caminhoneiro, da
mesma dupla.
1991: participou da Coletânea do I
Concurso Nacional de Literatura da
FENAE, com um conto premiado
em 1º. lugar.
1994: participou da Antologia Os Poetas,
do V Concurso Helena Kolody de
Poesia, Governo do Paraná, Curitiba
– PR.
1995: traduziu a obra El Contuberneo
Judeo-Maçónico-Comunista, de José
Antonio Ferrer Benimelli, em 2
volumes intitulados Maçonaria &
Satanismo, para a Editora "A
Trolha".
1996: publicou a novela rural Sassarico,
sobre o fim do ciclo do café, início
da rotação de culturas (soja e trigo)
e surgimento dos bóias-frias e editou
os livros Vida Minha, de Emília
Ramos de Oliveira (biografia) e
Círculo Vicioso, de Arlene Cirino de
Oliveira.
1997: participou da coletânea Poema,
Poesia... Maçom, Maçonaria,
organizada por Mário Cardoso para
a Editora Arte Real.
1998: publicou o livro de poemas
Alchimia.
1999: publicou o livro Redação Passo a
Passo e editou o livro URAÍ - Nossa
Terra, Nossa Gente, 2 volumes, de
Emília Ramos de Oliveira.
2000: teve 2 letras incluídas no CD
Nosso Negócio É Cantar, da dupla
Márcio Rogério & Luciano e 3 letras
no CD Mais, do cantor Cícero de
Souza. Publicou, neste ano de 2000,
Brincando nos Caminhos do Senhor,
revista infantil cristã, Editora e
Gráfica Cotação da Construção,
Londrina – PR.
2001: editou e prefaciou o livro
Templários, de Lori Andrei Perez
Baçan.
2002: foi o autor da letra do hino da Loja
Maçônica Londrina, em parceria
com o músico Wilmar Cirino.
2004: organizou, editou e participou do
livro I Antologia do Portal "Cá
Estamos Nós".
2006: organizou, editou e participou do
livro II Antologia do Portal "Cá
Estamos Nós".
2007: publicou os livros A Sabedoria dos
Salmos, A Sociedade Secreta dos
Templários e O Livro Secreto da
Maçonaria, pela Universo dos
Livros Editora Ltda.
2010: publicou os livros Manual da
Futura Mamãe, Quem Disse Que
Cozinha Não è Lugar de Homem e
Receitas Naturais pela editora
Universo dos Livros. Editou o livro
de contos Solidariedade, do autor
baiano João Justiniano da Fonseca.
Produziu, dirigiu e apresentou uma
série de 7 (sete) programas
radiofônicos Vila das Artes, na
Rádio Boa Nova FM, de Pérola, PR,
sobre literatura atual.
2012: traduziu, editou e publicou o livro
A Origem do Satanismo na
Maçonaria, de Arthur Edward
Waite.
2013: traduziu, editou e publicou em
formato eletrônico os livros Carmila,
de J Sheridan LeFanu, e Teoria da
Esgrima a Cavalo, de Alex Muller,
Anjos, o Caminho de Volta, Os Olhos
do Carrasco, Novelas de Terror
(Volumes I e II) Novelas Policiais
(Volumes I a 7) e Novelas de Faroeste
(Volumes I a IX) pela Lulu Press, Inc.
e Editora Saraiva.
1975 até 2015: hoje escreveu mais de 700
livros, publicados em sua maioria
em formato de bolso, sobre os mais
diferentes assuntos, como:
romances, erotismo, palavras
cruzadas, charadas, passatempos,
literatura infantil, passatempos
infantis, horóscopos, esoterismo,
simpatias populares, rezas, orações,
intenções, anjos, fadas, gnomos,
elementais, amuletos, talismãs,
estresse, manuais práticos, religião e
outros livros de bolso com os mais
diversos temas e letras para músicas.
Já editou em formato eletrônico
mais de 1000 títulos, entre
publicações individuais e antologias,
de autores de Língua Portuguesa e
Espanhola.
Publicou ao longo dos últimos 40 anos
poemas e contos em jornais de
circulação regional. Ultimamente,
Tem traduzido e editado livros
eletrônicos e empenhado em editar
todos seus títulos em formato
eletrônico para serem
disponibilizados a seus leitores.
www.acasadomagodasletras.net