Modelo de proposta de ação de extensão
Programa*()Projeto(x)Curso** ()Evento ()Prestação de Serviço()
EDUCAÇÃO, COVID-19 E VILA PRINCESA:
práticas de cuidado e de produção de vida
Rafael Christofoletti – coordenação
Marcia Machado de Lima – vice-coordenação
Área Temática:Educação
Campus de Porto Velho, maio, 2020.
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*Inserir no item 10. Modalidade específica as modalidades de ações vinculadas ao Programa
** Inserir informações conforme Anexo I
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Itens obrigatórios
1. Resumo da Proposta
EDUCAÇÃO, COVID-19 E VILA PRINCESA: praticas de cuidado e de produção de vida é um
projeto de extensão proposto pelo grupo de pesquisa DIPSA- Diferença e Processos de Subjetivação na Amazônia
e se apresenta como articulador de ações (de pesquisadores e extensionistas) frente à implicação social e ética da
universidade em colocar-se ao lado dos grupos vulneráveis e produzir, junto da comunidade as condições de
suporte e minimização dos efeitos e alternativas nos processos de educação, trabalho e saúde. Será feita a abertura
para estudantes e docentes voluntários da UNIR para integrar as ações ou propor outras, desde que remotas e
mediadas por meios de comunicação virtuais, que favoreçam atingir as metas, junto aos catadores e catadoras de
recicláveis frente à pandemia do novo coronavírus e membros externos. Os objetivos visam o desenvolvimento de
práticas de cuidado e de produção de vida, com especial implicação na comunidade da Vila Princesa. Por meio de
ações de pesquisadores e parceiros externos de diversos campos como educação, saúde, trabalho e tecnologia para
com os catadores e moradores da Vila Princesa o presente projeto opera uma importante articulação da
Universidade Federal de Rondônia com o “Comitê de Atenção aos Catadores de Porto Velho frente à pandemia
COVID 19 – CACPVH COVID19” constituído junto ao Fórum Estadual Lixo e Cidadania,constituído por diversas
instituições, entidades, grupos e coletivos, em uma série de ações, por sua vez, articuladas no sentido de evitar e
reduzir os danos referentes aos efeitos da pandemia junto aos catadores de materiais recicláveis de Porto Velho.
2. Justificativa
Nos anos de 1990 se constituiu,às margens da BR364 e do lixão de Porto Velho, a comunidade da Vila
Princesa. Hoje a “Vila” conta uma escola pública municipal e de uma unidade básica de saúde, contudo ainda
sofre com a falta de saneamento básico, abastecimento de água potável além das precárias condições de moradia e
trabalho já que a maioria das pessoas se dedicaà catação de materiais recicláveis no lixão.
No Brasil,a categoria dos catadores de materiais recicláveis é marginalizada quando deveriam ser
reconhecidos (mesmo financeiramente) pelos seus serviços ambientais prestados à sociedade via coleta seletiva. A
difícil situação dos catadores de materiais recicláveis tem sido agravada, nos últimos meses, por conta da
pandemia do novo coronavírus.
A declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que o mundo estava vivendo uma pandemia
emmarço de 2020 não impediu a rápida disseminação do novo coronavírus (COVID-19) pelo mundo. Sua
disseminação no Brasil foi, em um primeiro momento, relativamente desacelerada diante da assunção de medidas
de isolamento social. Mas, o relaxamento dessas medidas por estados e municípios levou a um preocupante
aumento do número de casos, internações e óbitos.
Ao que parece, considerando a informações do mês de maio, o estado de Rondônia segue movimento
semelhante com um agravamento importante em seus números. Segundo boletins publicados no site da Secretaria
de Estado da Saúde de Rondônia, o estado possuía no dia 05 de abril de 2020 14 casos confirmados (sendo 10 de
Porto Velho) e um óbito. Quase um mês e meio depois esses números saltaram, para 1962 casos em Rondônia
(1509 de Porto Velho) e 74 óbitos (51 de Porto velho) segundo os dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde
de Rondônia.
No início de abril, preocupado com possíveis efeitos da pandemia do novo coronavírus junto aos catadores
de materiais recicláveis o “Fórum Estadual Lixo e Cidadania de Rondônia” criou o “Comitê de Atenção aos
Catadores de Porto Velho frente à pandemia COVID 19 – CACPVH COVID19”. Constituído por instituições,
entidades, grupos e coletivos o “comitê busca articular ações para evitar, conter, minimizar e/ou reduzir os danos
dos efeitos da pandemia junto a essa categoria de trabalhadores. Dentre as ações desenvolvidas é importante
destacar a campanha de arrecadação de alimentos, de produtos de limpeza e de proteção individual para os
catadores de materiais recicláveis do município de Porto Velho.
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Desde 2019 o grupo de pesquisa DIPSA – Diferença e Processos de Subjetivação na Amazônia vem
desenvolvendo a pesquisa-intervenção “Cartografias do Lixão: catadores, economia solidária e processos de
subjetivação” com catadores e moradores da Vila Princesa, ao lado de outras pesquisas na área de Educação,
Psicologia do Escolar e Saúde do Trabalhador. Com o início da pandemia e a suspensão do calendário acadêmico
da UNIR, as atividades presenciais da pesquisa (de acompanhamento do cotidiano dos coletivos “Catanorte”,
“Associação Comunitária de Moradores da Vila Princesa” e “Associação Unidos Pela Vida”) o contato com os
catadores e moradores passou a ocorrer via telefone eou aplicativos de mensagens instantâneas. Esse contato
cotidiano mostrou-se rico no sentido de além de subsidiar a articulação de ações específicas via “comitê” (já que
estávamos em contato direto com os catadores e moradores da Vila Princesa), possibilitou a criação de campos,
espaços de problematização e de cuidado mesmo que remotamente.
É nesse contexto que se apresenta o projeto de extensão EDUCAÇÃO, COVID-19 E VILA PRINCESA:
praticas de cuidado e de produção de vida. Um projeto que articulado com outras ações do comitê – que é
composto por representantes da Universidade Federal de Rondônia, do Instituto Federal de Rondônia, da Escola de
Ensino Infantil e Fundamental João Afro Vieira, da Unidade Básica de Saúde, do Centro de Referencia de
Assistência Social, da Catanorte,da Associação de Moradores, do Fórum Estadual Lixo e Cidadania, do Instituto
Lixo Zero, dentre outros – que busca desenvolver atividades ligadas à educação, saúde, trabalho e tecnologia
para/com os catadores e moradores da Vila Princesa, principalmente de maneira remota (não presencial).
3. Objetivo
Geral:
1. Desenvolver práticas de cuidado e de produção de vida;
2. Propiciar que os catadores e as catadoras de recicláveis de Porto Velho vinculados às cooperativas
Catanorte (Vila Princesa) e Unidos pela Vida (Zona Leste) articulem-se e constituam um território
educativo de enfrentamento da característica vulnerabilidade e aos efeitos locais à pandemia de
COVID19 (coronavírus-SARS-COV2)
Específicos:
1. Levantar as ações públicas e as dinâmicas sociais, culturais e de trabalho da categoria dos catadores e
catadoras para articulá-las e potencializá-las para o enfrentamento da COVID19
Metas:
(a) mapear em planilha nominal a parcela de catadores e catadores atendida pelo órgão público, o
responsável, contatos e síntese das ações realizadas e previstas junto aos catadores
(b) mapear os grupos de catadores por perfil (cooperados, independentes, etc) em seus bairros de
moradia e locais/percursos de trabalho, relacionando esses dados, no caso específico da Vila
Princesa, com trabalhadores em outras atividades atingindo a totalidade da comunidade
(c) junto com a escola, a UBS, a Associação de Moradores e cooperativas de catadores verificar as
condições atuais de renda e os deslocamentos para definir coletivamente os deslocamentos para
fora do isolamento social considerados imprescindíveis dentro da dinâmica de vida para
manutenção de renda, saúde e educação dentro da pandemia;
(d) por meio de telefonemas e da utilização de aplicativos de mensagens instantâneas e de vídeo-
chamadas mapear acesso aos meios telemáticos presentes nas casas dos catadores;
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(e) criar ferramenta de acompanhamento, documentação da coleta e destinação para as famílias de
insumos;
(f) organizar planejamento estratégico junto com os atores sociais para a minimização dos impactos
da pandemia de COVID19 no coletivo de catadores de Porto Velho, através de espaços de
formação para catadores, moradores e trabalhadores da Vila Princesa.
2. Articular parcerias nas áreas de educação, saúde, assistência social, arte, comunicação e trabalho de
maneira a potencializar as ações de órgãos, instituições, grupos de pesquisadores e extensionistas
voluntários que visem o desenvolvimento de práticas de cuidado, de proteção e produção de vida no
enfrentamento da COVID19.
Metas:
(g) mapear em planilha nominal a parcela de catadores e catadores atendida por órgãos públicos ou
ONGs, seus responsáveis, contatos e síntese das ações realizadas e previstas junto aos catadores;
(h) fazer um levantamento de órgãos públicos, ONGs e outras entidades que atuam no combate
social à COVID 19 e seus efeitos, incluindo-se sobre, saúde mental, violência doméstica e uso de
drogas, para favorecer ações junto aos catadores e suas famílias;
(i) levantar e produzir aproximação com empresas potenciais doadoras de insumos;
(j) envolver e organizar planejamento estratégico junto com os atores sociais para a minimização
dos impactos da pandemia de COVID19 que ainda não atuam junto ao coletivo de catadores de
Porto Velho para que os abranjam em suas ações.
3. Constituir espaços de problematização, de produção de cuidado e de produção de si em contexto
pandêmico dada as especificidades da comunidade.
Metas:
(k) promover duas campanhas de sensibilização para públicos específicos utilizando pelo menos
dois meios de comunicação ao mesmo tempo para veicular a mesma informação;
(l) desenvolver atividades educativas para crianças da escola João afro vieira;
(m) produzir material educativo sobre o novo coronavírus gráfico a ser distribuído na comunidade;
(n)- produzir podcasts educativos sobre o novo coronavírus a serem veiculados no alto falante da
comunidade, em carro de som e em grupos de aplicativos de mensagens instantâneas;
(o) produzir acervo com pelo menos cinco materiais novos por semana para divulgação sobre a
COVID19 e a pandemia com potencial para chegar às famílias destacando a importância do
engajamento e da construção coletiva no combate aos efeitos da pandemia;
(p) realizar oficinas de vídeos sobre o novo coronavírus com adolescentes da comunidade para
produção e veiculação de vídeos educativos pela e para a própria comunidade;
(q) realizar pelo menos duas rodas de conversa virtuais com jovens e adolescentes acerca do
conceito e da situação de pandemia e sobre o COVID19, sobre os efeitos do isolamento social,
sobre o cancelamento das aulas presenciais nas escolas, as expectativas sobre o ENEM, sobre o
cuidado com os mais velhos, sobre obtenção de renda e sobre o que os jovens e adolescentes estão
fazendo para o combate à pandemia;
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(r) realizar oficinas de artesanato e de geração de renda;
(s) por meio de telefonemas e da utilização de aplicativos de mensagens instantâneas e de vídeo-
chamadas, criar espaços de problematização, produção de cuidado e práticas de produção de vida.
4. Fundamentação Teórica
[...], 12 anos, volta da escola por volta do meio dia. Assim que chega em casa ele almoça
e já começa a se preparar. Calça galochas plásticas e veste calça, um casaco antigo e luvas grossas.
Então o jovem, que sonha em se alistar no Exército e ser soldado, caminha alguns minutos por
ruas de terra até chegar ao trabalho: o lixão da Vila Princesa. Lá, em meio um enxame de moscas e
abutres, e sob calor escaldante e a umidade amazônica, ele fica até as 17h revirando sacos de lixo
em busca de garrafas PET, cobre, alumínio, e outros materiais valiosos no mercado da reciclagem.
“Já achei até um revólver 38”, afirma. (NEWSRONDONIA, 2018)
A reportagem “Vila Princesa, a favela onde 400 famílias vivem do lixo: em comunidade de Porto Velho,
adultos e crianças tiram seu sustento do lixão” veiculada no site Newsrondônia traz de maneira nua e crua um
pouco da realidade da Vila Princesa há cerca de dois anos. Ao fim daquele ano de 2018 o Ministério Público do
Trabalho entrou com um Termo de Ajustamento de Conduta à prefeitura o que culminou no fechamento do lixão
de Porto Velho por alguns meses. A iniciativa que visava impedir o trabalho infantil acabou deixando a
comunidade em uma situação extremamente difícil já que a grande maioria das pessoas são dependentes da
catação no lixão.
Com a emergência da pandemia a situação da comunidade volta a gerar preocupação em razão das
possibilidades de disseminação do vírus haja vista a possibilidade de contaminação no lixão e as próprias
características da comunidade: precárias condições de moradia (casas pequenas com muitas pessoas), de trabalho
(falta de equipamentos de proteção individual), das condições de saneamento básico e de disponibilidade de água.
Estudos recentes de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia chamam a atenção para a
evolução, os efeitos e perspectivas da pandemia em Porto Velho e no estado de Rondônia.
Rodriguez e Escobar (2020), por exemplo, tem apresentado importantes estudos de modelagem matemática
sobre as expectativas do comportamento da pandemia no estado de Rondônia indicando que o relaxamento das
medidas de isolamento social e o baixo acesso aos exames diagnósticos no estado podem levar a situações
semelhantes - de explosão de casos e óbitos - às do estado do Amazonas e do município de Manaus (AM).
Dados sobre mortes por doenças respiratórias em Rondônia em 2019-2020 e sobre a demanda futura de
leitos para infectados por coronavírus no estado analisados por Moret (2000) também evidenciam a necessidade de
atenção em relação aos efeitos da pandemia no estado.
Como já mencionado, preocupados com os efeitos da pandemia junto aos catadores de materiais
recicláveis, na primeira semana de abril de 2020, por iniciativa do “Fórum Estadual Lixo e Cidadania de
Rondônia”, um grupo de instituições, entidades, grupos e coletivos criaram o “Comitê de Atenção aos Catadores de
Porto Velho frente à pandemia COVID 19 – CACPVH COVID19”. Seu objetivo: articular ações para evitar,
conter, minimizar e/ou reduzir os danos dos efeitos da pandemia do novo coronavírus junto aos catadores de
materiais recicláveis de Porto Velho.
Dada a complexidade da situação da comunidade da Vila Princesa foram convidados também para
participar do “comitê” a Escola Municipal João Afro, a Unidade Básica de Saúde e o CRAS D. Cotinha. Foram
realizadas ações sociais de arrecadação de alimentos, de produtos de limpeza e máscaras para famílias da
comunidade, contudo a demanda por uma ação mais ligada à educação, saúde, se faz premente.
Foucault (em seus últimos livros, cursos e entrevistas) avança teoricamente para além da questão do poder
(disciplinar e biopoder) tão presente nas problemáticas desenvolvidas em seus trabalhos na década de 1970. Sua
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última “fase” teórica nos auxilia a pensar questões dos campos da ética e de deslocamentos de seu conceito de
cuidado de si para pensar questões do campo da educação, da formação humana e dos processos de subjetivação na
contemporaneidade.
Gallo (2003) é um dos autores que tem realizado movimentos e deslocamentos teóricos de conceitos da
Filosofia da diferença e de Foucault para pensar questões da educação. Seu conceito de educação menor, por
exemplo, advém do deslocamento do conceito de literatura menor presente em “Kafka: por uma literatura menor”
de Deleuze e Guattari (2014). Enquanto a educação maior estaria voltada para as grandes políticas e legislações da
área, a educação menor se voltaria ao cotidiano, ao micropolítico, ao campo da sensibilidade, afetivo e teria como
foco a construção autônoma de subjetividade: educação como prática de liberdade e reinvenção de si.
A partir desse deslocamento inicial Gallo, em um segundo momento, problematiza as relações entre
educação menor, cuidado de si e do outro. Diz ele “o exercício do cuidado do outro, pela educação, pode redundar
num cuidado de si, como um reflexo” (Gallo, 2006, p. 186)
É nesse contexto que propomos, no presente trabalho, a construção de espaços de comum com moradores
da Vila Princesa. Acredita-se que mesmo remotamente e, nesse contexto pandêmico, seja possível compor espaços
de comum e construir junto com catadores, moradores e trabalhadores da comunidade da Vila Princesa práticas de
produção de cuidado e de vida quem envolvam os campos da educação, saúde, arte, trabalho e tecnologia.
5. Métodos e procedimentos
A proposição da extensão é centralizada no enfrentamento dos efeitos da COVID19 e no universo de
catadores e catadoras de recicláveis de Porto Velho. A perspectiva metodológica, em razão das diferenças entre os
locais nos quais as famílias moram e, em maior ou menor medida, se organizam, colocou a opção pela constituição
de territórios que chamaremos aqui, espaços educativos. Helena Singer discute os territórios educativos, o que nos
ajuda a pensar o formato e o sentido das ações a serem agenciadas nos espaços que este projeto de extensão vai
criar junto aos catadores e catadoras. Singer propõe ver esses espaços a partir de “arranjos territoriais” (SINGER,
2013). No caso do contexto de pandemia em Porto Velho, quando um projeto de extensão precisa ir a campo de
modo a preservar os seus membros em isolamento social – o que por si é uma atitude que faz parte do
enfrentamento proposto – verificar e agenciar, criativamente, as forças que dialogam com o público-alvo neste
momento e articulá-las em um coletivo será a opção mais sensata, não menos desafiadora. De todo modo, a
primeira etapa será o mapeamento do público alvo e a produção de diagnóstico a fim de orientar os procedimentos
para o alcance das metas elencadas.
Singer conta que “no Brasil, nas últimas décadas, - referindo-se ao final do século XX - tem se
desenvolvido, ainda de forma fragmentária, experiências de arranjos territoriais de políticas, escolas, famílias e
comunidades para garantir o desenvolvimento integral de crianças e jovens.” (SINGER, 2013). Mesmo se tratando
do contexto da terceira década do século XXI, no caso dos locais nos quais este projeto de extensão se aproximará
dos catadores e catadoras, ainda temos base de dados fragmentárias e díspares entre si, considerando-se os dados
dos órgãos públicos municipais.
Desse modo, para um projeto que precisa atender a urgência do contexto pandêmico, serão priorizados os
diagnósticos dos grupos de trabalhadores e de famílias pertencentes aos itinerários da Zona Leste e a comunidade
Vila Princesa. Todos habitam em comunidades periféricas, mas distintas entre si. Os catadores da Zona Leste
abrangidos pelo projeto são membros da Cooperativa Unidos pela Vida, que funcionará como um articulador
importante tendo em vista a dispersão de cada trabalhador e trabalhadora por uma extensão que envolve 18 bairros
periféricos (SEMAGRIF, 2019). Estima-se que o projeto de extensão se aproximará inicialmente de cerca de 40
famílias que constituem inúmeros itinerários de trabalho diário tanto dentro como para além dos bairros
compreendidos na região.
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Figura 1: Destaque Zona Leste – Fonte: Plano Diretor de Porto Velho, 2019 Obs: o destaque feito pelos autores
O trabalho dos catadores e catadoras da Zona Leste também é executado no Lixão Municipal, localizado às
margens da BR 364, Km 13, sentido Acre, em Porto Velho. Nesta outra região da cidade, diametralmente oposta,
encontra-se a comunidade Vila Princesa que, neste projeto, será abrangida e priorizada em razão de manter, dentre
as 430 famílias estimadas entre os moradores (LIMA, FLORESTA, 2020) pelo menos 300 atuando
(CHRISTOFOLETTI, 2020), na cadeia produtiva da reciclagem, organizados em cooperativas ou de modo
independente. Relevante assinalar que a configuração da Vila Princesa é diametralmente diferente àquela do grupo
de catadores e catadoras da Zona Leste. Ambas são periféricas, mas a Vila Princesa trata-se de uma comunidade
com contornos definidos e internamente entretecida com o trabalho de reciclagem, seja diretamente no Lixão,
quanto na recepção dos materiais ou no pequeno comércio e oficinas de serviços locais que atendem essa
população.
Desse modo, para atender aos objetivos e aos motivadores, do ponto de vista da metodologia do projeto de
extensão, há de se considerar que cada integrante do grupo de trabalhadores da reciclagem desloca-se por toda a
extensão urbana de Porto Velho em vários itinerários e em contato direto com uma infinidade de materiais
descartados como lixo, em ambiente desprovido de coleta seletiva, sem que se tenha no momento, dados sobre
esses deslocamentos. Essas características nos fazem supor, mais do que isto, sustentar que cada um deles está
exposto a volumes de material contaminado por coronavírus e exponencialmente expostos, gerando as chances de
ampliação das suas condições de vulnerabilidade social.
Figura 2: Destaque Vila Princesa – Fonte: Site da Prefeitura de Porto VelhoObservação: o destaque foi feito pelos
autores
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Nessa perspectiva, a metodologia é apoiada na discussão de Singer, constituída em programas de
constituição de territórios educativos, na perspectiva da educação integral.
A educacao integ ral propoe a integracao dos diversos espacos e agentes de um territorio para
garantir o desenvolvimento dos individuos em todas as suas dimensoes . Compreende-se que para
tão complexa tarefa , é necessária à integração de diversos atores locais e m torno de um projeto
comum, um projeto que possa transformar localidades em bairros que se educam. (SINGER, 2013,
p.1).
Integral, aqui, se refere a várias dimensões, como o que é o caso desse projeto: educação, saúde, arte,
trabalho. A extensão será realizada a partir do agenciamento de outros atores que estão, neste momento, atuando no
“Comitê de Atenção aos Catadores de Porto Velho frente à pandemia COVID 19 – CACPVH COVID19” e da
ampliação da solicitação aos órgãos públicos, escolas, grupos populares, ONGs e outros de terceiro setor, grupos de
pesquisa acadêmicos da Universidade Federal de Rondônia, do Instituto Federal de Rondônia, que possam somar
esforços aos já em curso, para atuar junto ao público-alvo. O respectivo espaço educativo será mediado por
dispositivos de comunicação à distância e trabalho remoto. Serão utilizados como recursos: lives, podcasts,
mensagens por aplicativos, construção de material pedagógico e campanhas de conscientização de maneira a
atender aos cuidados preconizados pela Organização Mundial da Saúde.
A metodologia será, então, compor o espaço educativo como uma espécie de fórum interdisciplinar, como
uma rede sociopedagógica (SINGER, 2013), envolvendo escolas, setores de saúde e assistência, que possa respeitar
os saberes dos grupos de catadores e catadoras, suas demandas sociais e econômicas, mas discutir e ampliar sua
compreensão sobre a letalidade da COVID19, e seus efeitos. O espaço educativo fomentará ações e alternativas
adequadas em conjunto com o público-alvo, para apoiar, produzir espaços de cuidado e de produção contribuindo
para o pensar acerca da pandemia, de sua exposição e nível de vulnerabilidade.
Desenvolver o espaço educativo significa acolher os itinerários dos catadores e catadoras da Zona Leste e a
dinâmica da comunidade Vila Princesa, para fomentar, no desenvolvimento de ações o atendimento ao objetivo do
projeto de extensão, potencializando os saberes dos seus integrantes, com dados sobre o novo contexto histórico
planetário que vivemos:
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Nestes contextos da “vida vivida” , multiplicam- se as situacoes em que a escuta , a leitura e a
produção de textos orais , escritos e visuais se relacionam de forma significativa com a
análiselinguística, envolvendo tarefas que articulam as diferentes pratica s: ler para conhecer , ler
para escrever, escrever para ler, decorar para representar ou recitar, escrever para nao esquecer, ler
em voz alta para outros escutarem, falar para analisar. Como resultado, tem-se producao de videos,
exposiçoes, edição d e livros , murais, jornais, boletins informativos , páginas virtuais , circulares,
manifestos, campanhas que se espalham por bairros a medida em que estes se tornam educativos .
(SINGER, 2013,p3).
Importante reiterar que todo o trabalho que se desdobrará desse projeto de extensão será realizado através
de trabalho remoto por parte de docentes e de discentes da Universidade Federal de Rondônia, em articulação com
os profissionais da educação e da saúde que mantém contato direto com o campo. O período de atividades será de
15 semanas.
Ação 1 : Educacao, escuta e cuidado de si: orientacao e prevencao
Coordenação: Rafael Christofoletti - DIPSA
Integrantes: Marcia Machado de Lima - DIPSA
Descrição:
Discentes e docentes da Universidade entrarão em contato remotamente (telefone, aplicativos de mensagens
instantâneas e vídeo-chamadas) com as famílias da comunidade com o objetivo de criar campos de comum tendo
como pano de fundo o contexto pandêmico, sobretudo, na Vila Princesa. Ou seja, objetiva-se criar espaços de
problematizações acerca da pandemia e práticas de cuidado. Discentes da UNIR farão contato remoto com
moradores e serão supervisionados semanalmente por professores da UNIR. Importante destacar a importância
dessa ação no sentido de mapear demandas da comunidade (sociais e de saúde) além de subsidiar outras ações do
projeto (novas ou já existentes).
Ação 2 – “Xo, Corona! Campanha de Conscientizaçao da criançada da Vila Princesa sobre a Pandemia de
Covid19”
Coordenação: Marcia Machado de Lima - DIPSA
Integrantes: Cleiton das Neves – EMEIEF João Afro Vieira
Descrição:
Considerando a baixa adesao ao isolamento social em Porto Velho , constatável quando observa -se o movimento
ainda presente nas ruas, como nos dados estatisticos que revelam curva ascendente de casos confirmados , torna-se
relevante implementacoes de acoes educativas que ampliem o nivel de compreensao sobre o que significa a
pandemia de Covid 19. A Vila Princesa reflete a realidade local de modo agravado pelo grau de vulnerabilidade
social que marca a comunidade em sua totalidade , devido a precariedade das residencias (PLANO DIRETOR ,
2018), a exposição aos altos índices de contaminação ao longo da atividade laboral primordialmente exercida pelos
moradores, qual seja, como catadores de reciclaveis atuando no Lixao Municipal , a ausência de coleta seletiva . O
alto nivel de exposicao e agravado pela crenca de que estando isolados a 12 km da area urbana , a doenca não
alcançaria a população estimad a de 1400 pessoas, concepção percebida em conversas com os moradores . Neste
contexto comunitario, a Universidade Federal de Rondonia , a EMEIEF Joao Afro Vieira que atende a comunidade
pretendem criar um movimento que mobilize a populacao da Vila Princesa a dedicar mais atencao aos riscos a vida
e a encontrar formas alternativas e mais solidarias para lidar com o trabalho , com o deslocamento dentro e fora da
comunidade, com o cuidado de si e com o outro a fim de minimizar os impactos da pandemia de COVID 19. O
aspecto central da acao será a execução de campanha de conscientizacao que comece pelas criancas . Serão
convidadas a levar para dentro de suas casas imagens e objetos que provoquem a pensar o que significa a pandemia
coronavírus, seus perigos e as mudanças culturais que serão exigidas de todos. A pretensao e que a identificacao de
quais mudancas serão necessárias passem a fazer parte das conversas dentro de casa , favorecendo o isolamento
social – até o momento a única med ida para combater o coronavirus segundo a Organizacao Mundial de Saude . A
metodologia respeitara o isolamento social , o que instiga a , criativamente, crianças e os educadores, quem sabe os
familiares, a encontrar ou reinventar formas de dialogo. O procedimento sera a confeccao dedicada para as criancas
de atividades simples e autoinstrutivas impressas, áudio com contação de histórias e outras atividades para convidá-
las a dialogar sobre a necessidade de preservar a vida de todos na Vila Princesa, calcada na compreensao de que ha
responsabilidade pelo coletivo e que os atos delas e dos seus impactarao o planeta . A acao provocara processos
educativos pensados em parceria universidade-escola.
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Ação3: Impacta
Coordenação: Janne Cavalcante Monteiro – Departamento de Medicina - e Gabriel Ramos Kurudez - Time
Enactus Unir Porto Velho.
Integrantes: Aline Akiyama Rossetto, Alessandra Gonçalves Baaklini, Amanda Almeida Aguiar, Amanda Castro
Reis, Ana Carolina Berno Gomes, Anderson Fernandes Silva, Bárbara Cavalheiro Amaral, Gerson Manoel
Marinho de Souza e Mateus Gutierrez Martins.
Descrição:
Sensibilizar e produzir intervencoes junto a comunidade e moradores da Vila Princesa em relacao ao novo
coronavírus. Dentre as acoes destaque para: criação de podcasts sobre o COVID-19 para serem veiculados em alto
falante e carro de som da comunidade; criação de cartilha de fácil entendimento sobre o novo coronavírus assim
com um molde para que a propria população consiga fazer suas máscaras caseiras de proteção ; demais acoes
construídas a partir das demandas apresentadas pela população e o “Comitê de Atenção aos Catadores de Materiais
Recicláveis de Porto Velho frente a pandemia COVID-19”.
Ação 4 - Campanha de solidariedade aos catadores de materiais reciclaveis de Porto Velho
Coordenação: Toni Industrial – membro externo – Cooperativa CATANORTE
Integrantes: Walterlina Brasil – diretora NCH, Rafael Christofoletti - DIPSA
Essa ação busca estabelecer articulações entre a UNIR e, a Campanha de Solidariedade junto aos catadores de
materiais recicláveis de Porto Velho. Envolve ações de planejamento, comunicação, organização e
encaminhamentos de recolhimento de produtos alimentícios, de higiene e proteção individual junto ao Comitê de
Atenção aos Catadores de Materiais Recicláveis de Porto Velho.
Ação 5- Artesanato, educacao ambiental e geracao de renda
Coordenação: Samira Alvim– membro externo a UNIR – Instituto Lixo Zero
Integrantes: Rafael Christofoletti - DIPSA
Descrição: por meio de um cronograma de ações remotas de vídeo-chamadas, as Lives serão realizadas oficinas de
artesanato com materiais reciclaveis , afim de contribuir e propiciar alternativas de renda e aprendizado sobre
comercialização online via, como também a construção de site.
Ação 6 - Educação, COVID-19 e produção de vídeos
Coordenação: Ilma Fausto – Mestranda MEPE e professora do IFRO
Integrantes: Rafael Christofoletti – DIPSA e LABMidia
Descrição:
Desenvolvimento de oficinas remotas de produção e edição de imagens com adolescentes da comunidade da Vila
Princesa. Posteriormente serão produzidos vídeos educativos sobre o novocoronavírus com adolescentes para
serem veiculados na própria comunidade. Busca-se além do ensino técnico propriamente dito a produção de
espaços de vida e de emancipação desses sujeitos.
Ação 7 – Seminário “Educação, COVID-19 e Vila Princesa
Coordenação: Rafael Christofoletti – DIPSA e Marcia Machado de Lima - DIPSA
Integrantes: Janne Cavalcante Monteiro – Departamento de Medicina -; Gabriel Ramos Kurudez - Time Enactus
Unir Porto Velho; Cleiton das Neves – EMEIEF João Afro Vieira; Toni Industrial – membro externo – Cooperativa
CATANORTE; Walterlina Brasil – diretora NCH; Samira Alvim– membro externo a UNIR – Instituto Lixo Zero;
Ilma Fausto – Mestranda MEPE e professora do IFRO
Além das ações descritas vale destacar que ocorrerão, no decorrer das 15 semanas 5 reuniões entre todos os
integrantes ações para troca de experiências, construção, avaliação e articulação das diferentes ações do projeto.
Segue abaixo Cronograma do projeto:
Etapa 1 – Planejamento, Mapeamento e Articulação (19 de maio a 31 de maio)
a) Lançamento da Chamada de docentes e discentes para participação no projeto;
b) Mapeamento de catadores, moradores e trabalhadores da Vila Princesa, para a produção do diagnóstico;
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c) Organização de equipes de trabalho
d) Apresentação do projeto para as equipes de trabalho e divisão de tarefas
e) Articulação entre equipes do projeto, Comitê e instituições públicas (UBS,EMEIEF, CRAS);
Etapa 2 – Início das ações (01 de junho a 23 de agosto)
a) Realização da ação 1;
b) Realização da ação 2;
c) Realização da ação 3;
d) Realização da ação 4;
e) Realização da ação 5;
f) Realização da ação 6;
Etapa 3 – Finalização (24 de agosto a 05 de setembro)
a) Realização da ação7;
b) Devolutiva das ações;
c) Elaboração de relatório final;
d) Avaliação final do projeto.
Referências Bibliográficas:
CHRISTOFOLETTI, R. Cartografias do lixão: a construção de espaços de comum e práticas coletivas.
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Felicidade. Universidade de São Paulo.São Paulo, setembro de 2013.
6. Público Alvo Catadores de materiais recicláveis de Porto Velho, moradores e demais trabalhadores da Vila
Princesa.
7. Resultados e/ou produtos esperados Em primeiro lugar busca-se realizar um amplo levantamento de dados e diagnóstico sobre
as condições de vida nas periferias de Porto Velho em contexto de pandemia. Além disso, espera-se com
o projeto minimizar os efeitos da pandemia para catadores, moradores, trabalhadores e comunidade da
Vila Princesa e produzir práticas de cuidado e de produção de vida. Ou seja, contribuir para a
emancipação dos sujeitos no contexto e da constituição de subjetividades autônomas em contexto de
pandemia.
8. Recursos financeiros, humanos e físicos e equipamentos disponíveis