Edição Especial | Ano XV | Março de 2016
Rua Fernandes de Barros, 685 - Curitiba - PR | 41 3218.9450 | www.crmv-pr.org.br
CLOTILDE GERMINIANI“A tendência atual é considerar inexistentes as diferenças de gênero”
CARMEN GRUMADASA mulher contemporânea como professora universitária
MARIA IRACLÉZIAMulher, zootecnista e empresária: ela nos representa!
MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
IGUALDADE DEGÊNERO É REALIDADE
Capa RevistaEdição EspecialMarço de 2016
EXPEDIENTE
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente Eliel de FreitasVice-presidente Luigi Carrer FilhoSecretária-geral Itamara FariasTesoureiro Felipe Pohl de Souza
EDITORIAL
Jornalista ResponsávelThainá Laureano MizerkowskiMTB-PR Nº 10402/PR
Arte e diagramaçãoDiogo Wosch
Publicação do Conselho Regional de Medicina Veterinária do ParanáRua Fernandes de Barros, 685Alto da Rua XVCEP: 80045-390 - Curitiba - PR
Fone: 41 3218 9450www.crmv-pr.org.brfacebook.com/crmvpr
As matérias e artigos assinados não representam necessariamente a opinião da Diretoria do CRMV-PR
EDITORIALPalavra do Presidente
MÉDICAS VETERINÁRIAS NO MUNDOAs primeiras médicas veterinárias do mundo
MÉDICAS VETERINÁRIAS NO PARANÁVim, vi e venci! Médicas veterinárias conquistam seu espaço
2016Os números atuais no Brasil e no Paraná
ZOOTECNIAA atuação da mulher na zootecnia
ENTREVISTA“A tendência atual é considerar inexistentes as diferenças de gênero”
PROFESSORA UNIVERSITÁRIAA mulher contemporânea como professora universitária - impressões pessoais
ENTREVISTAMulher, zootecnista e empresária: ela nos representa!
DEPOIMENTOSA mulher de hoje pode tudo
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Trazemos esta edição especial da Revis-
ta CRMV-PR não somente como forma de
homenagear as médicas veterinárias e zoo-
tecnistas pelo Dia Internacional da Mulher –
comemorado em 8 de março, mas sim como
um agradecimento por sua dedicação ímpar
na execução das suas atividades sempre pre-
zando pelo bem dos animais e da sociedade.
Buscamos neste material mostrar as barreiras
por elas superadas e comemorar que hoje,
em 2016, a igualdade de gênero na medicina
veterinária e na zootecnia é realidade.
No Paraná, a medicina veterinária teve
em Ingeborg Dorothea sua primeira repre-
sentante. Apesar do preconceito à época,
ela fez história e abriu caminho para as tan-
tas outras que vieram logo em seguida. Entre
elas está a professora aposentada da UFPR
Clotilde Germiniani, hoje a profissional mais
antiga em atividade no Estado. Nesta edição
especial contamos com uma entrevista com
Germiniani, que divide sua experiência de 57
anos de carreira.
O Conselho Regional de Medicina do
Paraná esteve aberto à presença feminina
desde seu início, contando com a médica ve-
terinária Marlene de Almeida como compo-
nente da sua primeira diretoria, em 1969; ela
foi secretária-geral da Autarquia. A primeira
conselheira efetiva foi Vitória Maria Montene-
gro, em 1987.
Hoje as vemos nas mais diversas áreas:
diretoria, conselho, comissões, delegacias re-
gionais, etc. Atualmente temos 26 mulheres,
entre médicas veterinárias e zootecnistas, que
se dedicam às atividades do CRMV-PR de for-
ma voluntária para fortalecer as profissões em
nosso Estado – e inúmeras outras que se colo-
cam à disposição dos profissionais e da socie-
dade sempre que possível, como a professo-
ra Vanete Soccol, que em 2015 encabeçou o
projeto do Manual de Leishmaniose. No qua-
dro funcional administrativo contamos com
44 funcionários, dos quais 24 (54,5%) são mu-
lheres – sendo duas médicas veterinárias.
Com relação ao número de profissionais
em atividade, são mais de quatro mil médi-
cas veterinárias e 200 zootecnistas somente
no Paraná. No Brasil são 45,5 mil veterinárias
e 2,4 mil zootecnistas, números expressivos.
De acordo com o CFMV, as mulheres já são
maioria nas salas aula: dos profissionais que
se registraram nos Conselhos Regionais nos
últimos anos, 60% são mulheres.
Em meus cinco anos como Presidente
do CRMV-PR, contei com o auxílio de diver-
sas colegas de profissão. Gostaria, por fim, de
agradecer a todas pela dedicação à Autarquia
e por representarem nacional e internacional-
mente a Medicina Veterinária e a Zootecnia
com tamanha competência.
Obrigado e boa leitura!
Palavra do Presidente
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EDITORIAL
Médicas veterinárias e zootecnistas que representaram o CRMV-PR nos últimos cinco anos:
Diretoria: Itamara Farias – conselheira efetiva (2011-2014) e secretária-geral (2014-
2017).
Conselho: Leunira Viganó Tesser, Maria Iraclezia de Araújo, Claudia Maria dos Santos
Gebara e Evandra Maria Voltarelli (2011 – 2014); Ana Alix Mendes de Almeida Oliveira e
Maria Fernanda Fedalto (2014 – 2017).
Delegacias regionais: Luciana Regina Riboldi em Cascavel (2011-2014), Marília
Mezler de Oliveira em União da Vitória (2014-2017), Leunira Viganó Tesser em Pato
Branco (2014-2017) e Jaciani Klank em Campo Mourão (2011-2017).
Assessoria técnica: Louise de Lorenzi Tezza (2011 – 2012), Letícia Olbertz (desde
2012) e Luiza Schneider (desde 2013).
Comissões do CRMV-PR (2014-2017):
- Comissão de Educação da Zootecnia – Veronica Oliveira Vianna;
- Comissão do Meio Ambiente – Maria Renata Pereira Leite e Helena Cristina da Silva
de Assis;
- Comissão de Saúde Pública Veterinária – Thaila Francini Corona, Rachel Azambuja
Langaro, Ivana Lucia Belmonte e Ana Paula da Sliva Burak;
- Comissão Estadual de Educação da Medicina Veterinária – Carmen Grumadas;
- Comissão Estadual de Defesa Sanitária e Sanidade Animal – Ellen Elisabeth
Laurindo e Marta Cristina Diniz de Oliveira Freitas;
- Comissão CRMV Jovem – Marcela Thaisa Carlindo Fornasari e Gabrielle Carolina
Nascimento;
- Comissão de Bem Estar Animal – Andreia de Paula Vieira e Flavia de Mello Wolff;
- Comissão de Segurança Alimentar e Nutricional de Produtos de Origem Animal
– Ana Lúcia Menon, Clarice Riekes, Cássima Garcia Laureano dos Santos e Renata
Sotomaior Macedo Quichabeira;
- Comissão de Animais Selvagens – Valéria Natascha Teixeira e Eunice Lislaine
Chrestenzen de Souza.
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Como em qualquer profissão, a mulher
demorou a conquistar seu espaço na medi-
cina veterinária. A sociedade, então rígida e
arraigada em preconceitos, foi resistente à in-
clusão do gênero feminino em diversas áreas,
entre elas as escolas de ensino superior.
Embora a primeira escola de Medicina
Veterinária do mundo tenha surgido em 1761
em Lyon, na França, foram longos 136 anos
para que uma mulher ousasse ocupar lugar
em uma sala repleta de homens que não a
queriam ali. Foi Aleen Cust, uma inglesa, que
teve coragem e foi a primeira mulher a se for-
mar médica veterinária no ano de 1897.
Mas este foi apenas o primeiro passo.
Mesmo tendo concluído seus estudos com
honrarias na área de zootecnia, Cust não ob-
teve liberação do Royal College of Veterinary
Surgeons (RCVS) – órgão regularizador da
medicina veterinária na Inglaterra - para reali-
zar o exame final e assim validar seu diploma.
Ela então buscou uma alternativa e se mudou
para a Irlanda, onde – distante dos olhos do
RCVS – passou a exercer a profissão.
Somente em 1919 o Parlamento Britâ-
nico aprovou o Ato de Desqualificação por
Sexo, que permitia o exercício legal de qual-
quer profissão independente de gênero. Fo-
ram ainda três anos – em 1922 – para que Ale-
en Cust tivesse seu diploma outorgado. Ela
estava, então, com 54 anos.
Na França, a primeira mulher a se formar
em medicina veterinária foi uma russa, que fi-
nalizou seu curso no mesmo ano que Cust.
Com o pontapé inicial dado por elas, outras
mulheres seguiram o rumo da medicina ve-
terinária pelo mundo. Nos Estados Unidos
a primeira médica veterinária foi Mignon Ni-
cholson, formada em 1903 pelo McKillis Ve-
terinary College; em 1910 Elinor McGrath se
formou no Chicago Veterinary College e se
tornou a segunda médica veterinária estadu-
nidense da história, além de ter se tornado a
primeira mulher a compor a American Vete-
As primeiras médicas veterinárias do mundo
5
Aleen Cust, 1868-1937.
NO MUNDOFo
to: W
ikip
edia
rinary Medical Association (AVMA). Em sua
homenagem, em 2013 a American Veterinary
Foundation criou a bolsa de estudos “Elinor
McGrath”, destinada a mulheres que desejam
se formar em medicina veterinária.
No Brasil a primeira veterinária foi Nair
Eugênia Lobo, formada em 1929 pela Escola
Superior de Agricultura e Veterinária do Rio
de Janeiro. Já no Canadá demorou um pouco
mais para que alguma mulher se diplomasse
na profissão: somente em 1939 Jean Rumney
se tornou a primeira veterinária do país.
Maioria
Embora a mulher tenha demorado para
se consolidar na profissão, no decorrer dos
anos o cenário mudou e ela passou a ser
maioria nas salas de aula e no mercado de
trabalho. É difícil encontrar dados oficiais que
possam mostrar esta reviravolta, mas alguns
números recentes revelam que a mudança
aconteceu, em geral, nos anos 2000.
No ano de 1975, na França, as mulheres
representavam apenas 5,6% dos médicos ve-
terinários formados. Já em 1997, embora ain-
da minoria, a presença feminina passou para
21,4% do total de profissionais.
Em 1999, 60,8 mil profissionais atuantes
nos Estados Unidos, 43,5% eram mulheres.
Segundo dados da American Veterinary Me-
dical Association (AVMA), em 2007 as médi-
cas veterinárias já eram 48,4% e, em 2009,
pela primeira vez se tornaram maioria: 50,9%.
No relatório mais recente, de 2014, a AVMA
aponta que dos 102,5 mil profissionais atuan-
tes 56% são médicas veterinárias.
6
Dorothy Segal era uma das 55 médicas veterinárias atuantes nos Estados Unidos em 1944.
Foto
: AV
MA
Nair Eugênia Lobo, primeira veterinária no Brasil.
Foto
: Uni
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)
Em 6 de dezembro de 1952 acontece um
fato inédito no Paraná: a turma de formandos
de Medicina Veterinária da UFPR inclui uma
moça. Para a Dra. Ingeborg Dorothea Weid-
ner Marenzi, a primeira médica veterinária pa-
ranaense, um fato emocionante. Para muitos,
um escândalo.
Mesmo os pais de Ingeborg acharam, a
princípio, que formar-se em Medicina Veteri-
nária era uma ideia consideravelmente “estra-
nha” para uma mulher. Mas, influenciado pelo
incentivo de um colega que era professor na
Faculdade de Medicina, Max Weidner passou
a apoiar a decisão da filha, assim como sua
esposa, Joanna Naumann Weidne... afinal, In-
geborg gostava de animais desde pequena.
Desbravadoras
Esse foi o primeiro passo de uma longa
caminhada de transformação social, pionei-
rismo, desbravamento e conquista. Lutando
pelo direito de exercer uma profissão essen-
cialmente masculina em sua origem – como a
maioria das profissões já foi um dia – a mulher
desafiou preconceitos, ocupou os bancos
universitários, entrou no mercado de trabalho
e tornou sua capacidade profissional inques-
tionável. Hoje, ela já faz parte da Medicina Ve-
terinária.
Desde que a Dra. Ingeborg levou a sé-
rio suas preferências pessoais e até os dias de
hoje muita coisa aconteceu. Em 1966, a Me-
dicina Veterinária teve sua primeira Professora
Catedrática paranaense, a Dra. Clotilde Ger-
miniani.
Em 1969, o Conselho Regional de Medi-
cina Veterinária do Paraná teve pela primeira
Vim, vi e venci!
7
Médicas veterinárias conquistam seu espaço
Dra. Ingeborg Marenzi, a pioneira.
Foto
: Car
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tta
*Trechos da matéria “Vim, Vi e Venci!”, originalmente publicada na edição Nº6 da Revista CRMV-PR de 2003. Escrita por Carolina Nunes da Motta.
NO PARANÁ
vez uma mulher na composição de sua direto-
ria, a secretária Dra. Marlene de Almeida. Em
1987, sua primeira conselheira efetiva, Dra. Vi-
tória Maria Montenegro. Em 1992, o Exército
abria as portas para o contingente feminino.
A virada
Em 2001, a porcentagem de mulheres
inscritas no CFMV já era de 49%. De acordo
com a Dra. Vanete Soccol, Chefe de Depar-
tamento de Patologia Básica – Setor de Ci-
ências Biológicas da UFPR, atualmente, mais
de 70% dos alunos matriculados no Curso de
Medicina Veterinária na Universidade Federal
do Paraná, Campus Curitiba, são mulheres.
Coordenadora do Curso de Pós-Graduação
em Microbiologia, Parasitologia e Patologia
da UFPR que inicia este ano, Dra. Vanete Soc-
col afirma que a mudança foi bastante gran-
de: “Na nossa turma de graduação éramos 6
mulheres para 48 homens. Embora eu tenha
feito Medicina Veterinária para auxiliar minha
família (meu pai era criador de bovinos) eu
acabei ficando na Universidade. Acredito que
as veterinárias que foram trabalhar em outras
áreas, e também no interior, devem ter en-
contrado situação muito mais árdua do que
nós que ficamos na Universidade.” De fato,
obter o espaço que hoje lhes pertence não
foi tarefa fácil para as mulheres.
O Caminho das Pedras
Dispensada das aulas de inseminação
artificial devido ao constrangimento do pro-
fessor, a pioneira Dra. Ingeborg Weidner não
escapou das dificuldades mesmo após a gra-
duação. Ao montar sua clínica veterinária de
pequenos animais, que mantém até hoje em
atividade, ela precisou lançar mão de algu-
mas estratégias para driblar o preconceito:
“Sempre achavam que era um homem que
deveria cuidar dos bichos. Então, nós fizemos
assim: como sempre tivemos muitos cachor-
ros, minha irmã pegava um deles, dava uma
volta na quadra e entrava na clínica. Fazia isso
várias vezes, para verem que a clínica tinha
8
Dra. Marlene Almeida recebe homenagem durante jantar em comemoração aos 40 anos do CRMV-PR (2009).
Foto
: Arq
uivo
CRM
V-PR
Na nossa turma de graduação éramos 6 mulheres para 48 homens
movimento, e ajudou bastante.”
Dra. Clotilde de Lourdes Branco Ger-
miniani seguiu os passos do pai, Dr. Mano-
el Lourenço Branco. Além de veterinário do
exército, ele foi o primeiro Professor Catedrá-
tico de Fisiologia dos Animais Domésticos da
então Escola Superior de Agricultura e Vete-
rinária do Paraná, depois integrada à UFPR.
Formada em 1959, Dra. Clotilde tornou-se a
primeira Professora de Medicina Veterinária
do Paraná.
Hoje, ela lembra os costumes que re-
giam a vida feminina há bem pouco tempo
atrás: “Durante séculos as mulheres ficavam
dentro de casa e a melhor opção para uma
jovem era um bom marido - na falta do bom
servia até um mau, o importante era casar. Es-
tudar, ter um emprego, conta bancária, direito
ao voto, foram conquistas difíceis e lentas. No
começo, as mulheres que estudavam eram
professoras ou enfermeiras. As primeiras Mé-
dicas eram Pediatras ou faziam Ginecologia e
Obstetrícia. A mulher estava, de certa forma,
prolongando sua atividade doméstica. Na
Medicina Veterinária, o caminho foi seme-
lhante: as primeiras colegas trabalhavam com
clínica de pequenos animais. Foi preciso um
tempo para conquistar espaços em outras
áreas, como o trabalho com grandes animais,
cirurgia, inspeção e tecnologia de produtos
de origem animal”.
“Não há vagas” (para mulheres)
Em alguns setores, ser mulher já foi até
mesmo sinônimo de não-admissão: “Infeliz-
mente sofri discriminação em alguns testes
seletivos onde, após aprovada, me informa-
ram que porque eu era mulher não seria favo-
rável à empresa quando chegasse a hora da
licença maternidade”, diz a Dra. Elzira Pierre
Flugel – Presidenta do Núcleo dos Médicos
Veterinários de União da Vitória e funcioná-
ria da Secretaria da Agricultura e do Abaste-
cimento – Defesa Sanitária Animal. Formada
em agosto de 1983 pela UFPR, Dra. Elzira
Pierre Flugel começou sua vida profissional
trabalhando em fazendas de gado de corte.
9
Dra. Clotilde Germiniani, primeira professora de Medicina Veterinária do Paraná.
Foto
: Arq
uivo p
essoal
Amo minha profissão desde o tempo em que eu não sabia que mulher podia exercê-la e fico feliz em ver que o campo de atuação está se ampliando
Ela também conta que, para obter respeito
profissional, teve que fazer muito serviço “de
peão” ou de linha de abatedouro para pro-
var sua capacidade diante de funcionários e
patrões. “Mas, apesar dos pesares, amo mi-
nha profissão desde o tempo em que eu não
sabia que mulher podia exercê-la e fico feliz
em ver que o campo de atuação está se am-
pliando principalmente na área de alimentos”,
comemora.
Em dia com a novidade
Na Zootecnia, o processo não foi diferen-
te. O preconceito foi, aos poucos, cedendo
terreno à competência profissional.
A zootecnista Maria Eloá de Souza Rigo-
lin acredita que hoje em dia o espaço existe:
“A situação da mulher zootecnista vem melho-
rando a cada ano, as mulheres têm mostrado
muita competência e eficiência, conquistan-
do novos mercados que antes – quando me
formei – eram restritos aos homens.”
Nascida na fazenda, Maria Eloá sempre
gostou de trabalhar com bovinos e atuar na
produção de alimentos. Formou-se em 1984
na 10ª turma de Zootecnia da Universidade
Estadual de Maringá.
Hoje, Maria Eloá atua principalmente na
área de nutrição de ruminantes, manejo ali-
mentar e comportamento animal, e vem tra-
balhando há 18 anos com produtores de leite
e de corte, dando consultoria.
Missão cumprida!
Hoje em dia, médicas veterinárias e zoo-
tecnistas que tanto lutaram pelo direito de
aprender e trabalhar têm muito a ensinar.
Merecem admiração e respeito por suas
conquistas e seu trabalho, que representam
uma eterna batalha que é, dia após dia, trava-
da em busca do sucesso e da excelência pro-
fissional. Graças a elas, a novidade de 1952 é
o fato de 2003.
A situação da mulher zootecnista vem melhorando a cada ano, as mulheres têm mostrado muita competência e eficiência, conquistando novos mercados que antes – quando me formei – eram restritos aos homens
10
Maria Eloá ministra palestra sobre sistema silvipastoril aos produtores rurais do município de Cassilândia-MS (2011).
Foto
: Portal A
Tribuna N
ews
11
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO60 266 289
56
1531
550
1139742
1639
526
13741045 846
306
1296
380
4087
5529
283 30641
4335
2128
309
16243
262
2016
Os números atuais no Brasile no Paraná
As médicas veterinárias hoje estão lado
a lado com os homens no mercado de tra-
balho, representando 43% dos mais de 100
mil profissionais atuantes no Brasil. Nas salas
de aula, no entanto, já são maioria; de acordo
com o Conselho Federal de Medicina Vete-
rinária (CFMV), entre 2014 e 2015 as novas
inscrições foram 60% de mulheres.
Em números de janeiro de 2016, o banco
de dados do CFMV aponta 45.568 médicas
veterinárias atuantes. No Paraná, elas repre-
sentam 45% dos 9,2 mil profissionais, núme-
ros que crescem a cada ano.
Embora ainda seja uma profissão nova,
prestes a completar 50 anos no país, a zoo-
tecnia também aponta o crescimento femi-
nino. Logo no início, em 1970, as mulheres
representavam apenas 14% dos profissionais
em atividade. Só no Paraná, elas já são quase
32% em 2016.
Médicas veterinárias por Estado*Fonte Sistema de Cadastro do CFMV - janeiro/2016
12
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
943
246
7662 63 44
236
28
149
108 99
43
131
12
221
143
56 51
14
110
41
12
577
66
Zootecnistas mulheres por Estado*Fonte Sistema de Cadastro do CFMV - janeiro/2016
No Paraná*Fonte Sistema de Cadastro do CFMV - fevereiro/2016
Médicas Veterinárias4149 45%
FEMININOMASCULINO
Zootecnistas mulheres216 32%
FEMININOMASCULINO
13
A atuação da mulher na zootecnia
Neste mês de comemoração do dia da
mulher é importante frisar que a opção pela
profissão de zootecnista independe de gê-
nero, está muito mais relacionada à empatia
com animais, com a vivência no campo, com
experiências vividas durante sua infância e
adolescência e no aproveitamento de opor-
tunidades de trabalho. Hoje não escutamos
mais que Zootecnia é profissão de homem,
pelo menos não como há 20 anos. Neste sen-
tido o Brasil amadureceu.
A competência profissional não está li-
gada ao gênero, a escolha da profissão e as
formas de ingresso nos cursos de Zootecnia
independem do gênero e muito menos dos
movimentos feministas, talvez a inserção par-
ticipativa da mulher zootecnista esteja mais
aliada ao avanço da ciência, que lhe garantiu
tempo e espaço para a vida profissional.
Nos últimos anos, as mulheres têm ocu-
pado grande parte das vagas nos cursos de
Zootecnia, alguns dados indicam valores de
45,4% (ENADE, 2004), hoje esses dados po-
dem estar ainda maiores, pois o nível de es-
colaridade da mulher está aumentando com-
parativamente ao do homem, e nas ciências
agrárias e com o desenvolvimento do agro-
negócio a participação delas não poderia fi-
car de lado.
Com relação à empregabilidade das
mulheres zootecnistas, fica difícil apresentar
dados, mas se continuarem a ingressar no
mercado de trabalho mais mulheres do que
homens zootecnistas a porcentagem de au-
mento de empregabilidade da mulher será
apenas consequência.
São inúmeras as oportunidades de tra-
balho e as áreas de atuação da mulher zoo-
tecnista: ela pode atuar na promoção, elabo-
Foto
: Dio
go
Wo
sch
Ana Alix, zootecnista e conselheira do CRMV-PR.
ZOOTECNIA
14
ração, condução e supervisão de programas
de melhoramento de rebanhos, abrangendo
conhecimentos de genética, biologia mole-
cular e genômica, utilizando da reprodução e
suas biotécnicas para a produção de animais
saudáveis, precoces, resistentes e de elevada
produtividade, adaptados aos diferentes sis-
temas de produção; pode fazer a supervisão
e assessoramento na inscrição de animais
em sociedades de registro genealógico e na
emissão de certificado especial de identifica-
ção e produção; realização, promoção, ela-
boração, condução, supervisão e assessora-
mento de provas e julgamentos zootécnicos;
atuação na área de nutrição e alimentação
animal, utilizando conhecimentos sobre o
funcionamento do organismo animal, suprin-
do suas exigências, com equilíbrio fisiológi-
co; formulação, processamento e controle da
qualidade das rações, suplementos e dietas
para animais; elaboração, orientação, execu-
ção e gestão de projetos agropecuários nas
áreas de criação animal, produção de recur-
sos forrageiros e ambiental; planejamento,
supervisão e execução de pesquisas para ge-
rar orientações e tecnologias voltadas para a
criação e produção, preservação e conserva-
ção de animais; desenvolvimento de ativida-
des de assistência técnica e extensão rural nas
áreas de criação e produção animal, produção
de recursos forrageiros e ambiental; planeja-
mento, implantação e execução de rodeios,
exposições, torneios, provas equestres, lei-
lões, feiras agropecuárias e parques de expo-
sições; planejamento, pesquisa e supervisão
da criação e produção de animais de compa-
nhia, de esporte ou lazer, buscando seu bem-
-estar, equilíbrio nutricional e controle gene-
alógico; avaliação, classificação, tipificação,
certificação e rastreabilidade de produtos e
subprodutos de origem animal, em todos os
seus estágios de produção; planejamento e
execução de projetos de construções de in-
teresse zootécnico; planejamento e assesso-
ramento na implantação e no manejo de pas-
tagens e culturas destinadas à alimentação de
animais, envolvendo o preparo, adubação e
conservação do solo e da água e respectivas
práticas culturais; gestão e administração de
propriedades rurais, estabelecimentos indus-
triais, comerciais e organizações não gover-
namentais ligados à produção, conservação,
preservação, melhoramento e a tecnologias
animais; avaliação e realização de peritagem
em animais, identificando taras e vícios, com
fins administrativos de crédito, seguro e judi-
Zootec, tradicional encontro nacional dos zootecnistas (2013).
Foto
: Arq
uivo C
RMV-PR
15
ciais, bem como a elaboração de laudos téc-
nicos e científicos no seu campo de atuação;
direção de instituições de ensino, pesquisa e
extensão na área de criação e produção ani-
mal; regência de disciplinas ligadas à criação
e produção animal no âmbito de graduação,
pós-graduação e em quaisquer níveis de ensi-
no; desenvolvimento de atividades que visem
à preservação e conservação do ambiente;
realização de estudos de impacto ambiental,
por ocasião da implantação de sistemas de
produção de animais, adotando tecnologias
adequadas ao controle, ao aproveitamento e
à reciclagem dos resíduos e dejetos; plane-
jamento, pesquisa, supervisão, criação e pro-
dução dos animais silvestres e exóticos tendo
em vista seu aproveitamento econômico ou
preservação; desenvolvimento de pesquisas
e aplicação de tecnologias que melhorem os
processos de criação, produção, transportes,
manipulação e abate, visando ao bem-estar
animal e ao desenvolvimento de produtos de
origem animal, buscando qualidade, segu-
rança alimentar e economia.
Enfim, incontáveis possibilidades. Prestes
a completar 50 anos no Brasil, a zootecnia é
cada dia mais reconhecida como uma profis-
são moderna e de extrema importância para
o agronegócio do país e, com este reconhe-
cimento, aumentam as vagas no mercado de
trabalho e a necessidade de profissionais ca-
pacitados. Se a mulher estiver preparada para
assumir esse papel importante, o mercado
também estará pronto para recebe-la.
Ana Alix Mendes de Almeida Oliveira
Zootecnista CRMV-PR: 1052-ZP
Conselheira do CRMV-PR/ Gestão 2014-2017
Professora de Equideocultura do Curso de Zootecnia da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de
Marechal Cândido Rondon.
Ana Alix e a Comissão de Educação da Zootecnia promovem o I Seminário de Ensino de Zootecnia da Região Sul (2015).
Foto
: Dio
go
Wo
sch
Prestes a completar 57 anos de gradu-
ação em Medicina Veterinária, Clotilde de
Lourdes Branco Germiniani é, hoje, a médica
veterinária mais antiga em atuação no Paraná.
Seu registro no Conselho Regional de Medi-
cina Veterinária do Paraná data de 30 de de-
zembro de 1969 sob o número 110.
Nascida na cidade de Itaqui-RS em 1938,
Clotilde esteve em contato com a veterinária
desde pequena através de seu pai, Manoel
Lourenço Branco, médico veterinário do exér-
cito brasileiro. O gosto pela profissão foi tanto
que em 1959 se graduou em Medicina Vete-
rinária pela Escola Superior de Agricultura e
Veterinária do Paraná.
De lá para cá soma contribuições com
universidades e sociedades científicas e cul-
turais, participações em congressos, seminá-
rios; além de inúmeros artigos publicados,
das homenagens e muito mais. Todos os fei-
tos e conquistas devidamente dispostos em
um currículo impressionante de mais de 70
páginas.
Uma das mulheres pioneiras da profissão
no Paraná, Clotilde viu a transformação que
a medicina veterinária teve no decorrer dos
anos e se mostrou – como sempre – dispos-
ta a compartilhar o que vivenciou. Confira a
entrevista:
A Medicina Veterinária esteve em sua
vida desde cedo representada pelo seu pai,
Manoel Branco, um dos grandes nomes da
área. Houve incentivo por parte dele para
que seguisse o mesmo caminho ou foi uma
decisão unicamente sua? Por que o interes-
se pela profissão?
O nome completo de meu pai era Ma-
noel Lourenço Branco. Pelo lado paterno
a origem da família era no Paraná antes da
emancipação, portanto, funcionavam como
“A tendência atual é considerar inexistentes as diferenças de gênero”
16
Clotilde Germiniani em inauguração da praça que leva o nome de seu pai, Professor Doutor Manoel Lourenço Branco, no bairro São Braz, em Curitiba (2012).
Foto
: Arq
uivo
Pes
soal
ENTREVISTA
paulistas tradicionais (seriam quatrocentões).
Meu avô perdeu a mãe cedo, não se enten-
dia com a madrasta e acabou indo para o Rio
Grande do Sul. Minha avó era filha de estan-
cieiros em São Borja. Papai foi o filho mais
velho de uma família numerosa (seis filhos).
Meu pai viveu a primeira infância no campo,
tomando banho de rio, andando a cavalo e
acompanhando a lide dos peões. Tinha cerca
de 7 anos quando a família se mudou para o
Rio de Janeiro. No Rio foi aluno do Colégio
Pedro II instituição exemplar com professo-
res de primeira linha. Aprendeu francês com
uma tia - a tia havia acompanhado uma prima
que era pianista e estudou na Europa. Meu
pai queria estudar engenharia, mas o pai dele
acabou insistindo para que se direcionasse
para Medicina. Foi excelente aluno da Facul-
dade na Praia Vermelha. Ainda não havia con-
cluído o curso quando seu pai faleceu. Como
a família ficou com dificuldades econômicas,
acabou interrompendo o curso de Medicina.
Alguns anos mais tarde, depois de muitas
voltas, foi estudar Veterinária na Escola de Ve-
terinária do Exército. Minha mãe era nascida
no Rio em família de origem portuguesa - na
verdade minha avó era nascida em Portugal,
veio para o Rio com 4 anos e tinha naciona-
lidade brasileira. Minha mãe era a mais velha
de cinco irmãos (eles eram duas irmãs e três
irmãos). Minha mãe fez curso de Contabilida-
de e era funcionária concursada da Central
do Brasil.
Ao concluir o Curso de Medicina Vete-
rinária meu pai saiu como oficial Médico Ve-
terinário no posto de Tenente e foi destaca-
do para o Rio Grande do Sul. Meus pais se
casaram no Rio de Janeiro e, recém-casados,
foram de navio para o Rio Grande do Sul. No
Rio Grande, meu pai esteve em diferentes
localidades. Eu nasci em Itaqui em 15 de ja-
neiro de 1938. Saímos do Rio Grande do Sul
em 03 de outubro de 1940, portanto, eu ain-
da não havia completado três anos. De 02 de
novembro de 1940 a 22 de fevereiro de 1943,
meu pai esteve sediado na Coudelaria de Tin-
diquera, no município de Araucária. Posso di-
zer que até os 5 anos praticamente só morei
em coudelarias! Isto pode explicar parte do
interesse pela Veterinária. De 06 de abril de
1943 a 12 de abril de 1945 meu pai esteve
sediado em Natal no Rio Grande do Norte.
Em Natal me alfabetizei, orientada por minha
17
Clotilde Germiniani no colo de seu pai, Manoel Lourenço Branco.
Foto
: Arq
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essoal
mãe, e fui aluna do excelente Jardim da In-
fância Modelo. Tenho excelentes recordações
deste período inclusive frequentei o Clube
Hípico, aprendendo a montar. Finalmente,
em 1945, viemos para Curitiba, onde nos fi-
xamos. Aqui fiz o Grupo Escolar, o Ginásio, o
Curso Científico e o Curso de Veterinária.
Em Curitiba sempre visitava o Serviço
de Veterinária do quartel em que meu pai
estava e gostava de acompanhar meu pai
para observar os procedimentos realizados
com os animais. Houve época em que meu
pai montou uma criação de suínos em uma
granja do Exército e me lembro que acom-
panhei desde a construção das pocilgas - de
excelente padrão - até a instalação das matri-
zes e, mais tarde, o nascimento dos filhotes.
Quando meu pai foi para o Quartel do CPOR
- onde hoje é o shopping Curitiba - seguia to-
das as etapas de manejo e treinamento dos
equinos. No CPOR havia o gabinete do Ve-
terinário e uma sala anexa que era uma far-
mácia inclusive com possibilidade de preparo
de produtos manipulados - aprendi a usar
uma balança de precisão e ajudei a preparar
pomadas, cápsulas e outras formas medica-
mentosas. O número de equinos era grande
e havia uma ampla área de baias, além de um
picadeiro magnífico onde os animais se exer-
citavam e treinavam. Pouco depois de virmos
para Curitiba, meu pai começou a dar aulas
de Fisiologia - sempre que possível eu ia dar
uma olhadinha nas aulas práticas e ficava en-
cantada com as manipulações e o equipa-
mento - bastante precário na época.
Acho que este resumo explica porque
fui estudar Veterinária: fiquei interessada pelo
trabalho que via meu pai fazer. Não houve
pressão da família, houve um interesse que se
desenvolveu naturalmente.
A Sra. se formou em 1959 pela então Es-
cola Superior de Agricultura e Veterinária
do Paraná. No seu período de graduação
havia representatividade feminina em sala
de aula – colegas de turma, professoras?
Entrei na Veterinária em 1956 - o Curso
era de quatro anos. A Escola já havia formado
duas Veterinárias e houve uma (filha de um
Veterinário do Ministério da Agricultura) que
iniciou o Curso aqui e, por motivo do retor-
no do pai para Pernambuco, foi concluir seu
Curso em Recife. Casou-se com um Veteriná-
rio, foi Professora da Universidade em Recife
e é membro da Academia Pernambucana
de Medicina Veterinária. Comigo entraram
mais duas colegas: uma trancou a matrícula
e tomou outro rumo e a outra se transferiu,
no final do 1º ano, para o Curso de Veteriná-
ria da Universidade Rural do Rio de Janeiro,
no Km 47 da via Dutra, no Rio de Janeiro. Na
18
Ninguém quer saber de heroísmo, uma profissional tem que ser competente e cumprir seus compromissos
Agronomia já havia mulheres formadas mas,
no período em que eu estava estudando,
não existiam moças estudando Agronomia.
Acho que, quando eu estava iniciando o ter-
ceiro ano do curso, entrou uma nova aluna,
nossa colega Marlene Almeida, filha de um
funcionário da Escola - ela concluiu o Curso e
se dedicou à Anatomia tendo sido excelente
Professora. Mais tarde, fez o Curso de Medi-
cina e foi Professora de Cirurgia Pediátrica na
própria UFPR. A Doutora Marlene participou
intensamente das atividades da Sociedade
Paranaense de Medicina Veterinária e da cria-
ção e instalação do Conselho Regional de
Medicina Veterinária.
Embora Curitiba fosse uma cidade pe-
quena, em alguns aspectos pode ser conside-
rada pioneira. Nossa Universidade foi criada
em 1912 e, em 1914, começou a funcionar a
primeira turma do Curso de Medicina. Nesta
turma havia uma moça chamada Maria Falce,
mais tarde, casada com um colega, passou a
assinar Maria Falce de Macedo. Inteligente e
aplicada a jovem entrou na faculdade aos 17
anos e com 22 anos já estava recebendo o
título de Doutora em Medicina após defesa
de tese. Trabalhou arduamente e, em 1929,
aos 32 anos, após concurso de provas e títu-
los, assumiu a cátedra de Química Médica do
Curso de Medicina (mais tarde Bioquímica)
da Faculdade de Medicina. Dra. Maria Falce
foi a 1ª mulher a ocupar uma cátedra em um
Curso Superior no Brasil.
Portanto, na década de 50 não era novi-
dade as mulheres frequentarem Cursos Uni-
versitários no Paraná. Havia grande número
de médicas, dentistas, farmacêuticas e até en-
genheiras químicas bem como profissionais
de outros ramos da engenharia.
No início havia uma certa timidez e a
mulheres faziam principalmente Clínica de
Pequenos. Aos poucos as colegas foram che-
gando a outras áreas e mesmo aos cuidados
com animais de grande porte. O que houve
na Veterinária pode ser comparado ao que
aconteceu na Medicina Humana: as primeiras
médicas faziam Pediatria ou então Ginecolo-
gia e Obstetrícia e, raramente, faziam proce-
dimentos cirúrgicos. Com o passar do tempo,
foram assumindo outras áreas.
Prestes a completar 57 anos de gradua-
ção, a Sra. é a médica veterinária mais an-
tiga em atividade no Paraná. Como a Sra.
descreve a evolução da participação da
mulher na Medicina Veterinária ao longo
destes anos?
Em parte já respondi na pergunta ante-
rior: as mulheres veterinárias estão em todas
19
Estas atividades não dependem de gênero, dependem de competência, de dedicação e de empenho para realizar um trabalho bem feito
as áreas e não existem restrições ao seu tra-
balho. A Medicina Veterinária acompanhou a
evolução da sociedade. A mulher, antes de-
dicada ao lar, em tempo integral, passou a
exercer atividades profissionais importantes e
aprendeu a equilibrar suas responsabilidades
de esposa e mãe com as tarefas e encargos
do exercício profissional. É importante que as
profissionais aprendam a realizar suas tarefas
sem muita teatralidade querendo fazer o pa-
pel de heroínas: ninguém quer saber de he-
roísmo, uma profissional tem que ser compe-
tente e cumprir seus compromissos. Fui a 1ª
mulher catedrática de um Curso de Medicina
Veterinária e fui a mais jovem catedrática da
Universidade Federal do Paraná - estava com
28 anos quando fiz o concurso de cátedra.
Já era Doutora e Livre Docente. Entre 1968 e
1969 passei um ano e meio na França fazen-
do Pós- Doutorado.
Sendo acadêmica titular fundadora da
Academia Paranaense de Medicina Vete-
rinária (ACAPAMEVE) e membro da Aca-
demia Brasileira de Medicina Veterinária,
como avalia a importância da mulher em
entidades representativas?
Na realidade, faço parte de numerosas
entidades culturais. Vou fazer um resumo de
minhas ligações com estas entidades cultu-
rais:
- Membro Titular do Centro de Letras do
Paraná desde 17 de dezembro de 1991 (Curi-
tiba – Paraná).
- Acadêmica Titular Fundadora da Aca-
demia Paranaense de Medicina Veterinária -
Desde 26 de abril de 1999 (Curitiba – Paraná).
- Membro do Instituto Histórico e Geo-
gráfico do Paraná - Desde 12 de dezembro
de 2000 (Curitiba – Paraná).
- Eleita Sócia Correspondente do Institu-
to Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte - Em 16 de março de 2001 (Natal - Rio
Grande do Norte).
- Eleita Membro Correspondente da Aca-
demia de Ciências, Letras e Artes de Lyon -
Em 12 de junho de 2001 (Lyon – França).
- Acadêmica Titular da Academia Brasi-
leira de Medicina Veterinária - Desde 28 de
março de 2003 (Rio de Janeiro - Estado do
Rio de Janeiro).
- Sócia Correspondente Nacional do Ins-
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Professora Clotilde em discurso durante a cerimônia de posse da Acapameve.
Foto
: Arq
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essoal
tituto Histórico e Geográfico de São Paulo -
Desde 25 de janeiro de 2004 (São Paulo - Es-
tado de São Paulo).
- Membro Correspondente da Academia
Pernambucana de Medicina - Desde 12 de
novembro de 2004 (Recife – Pernambuco).
- Sócia Correspondente do Instituto His-
tórico e Geográfico Paraibano - Desde 07 de
setembro de 2005 (João Pessoa – Paraíba).
Os critérios para entrada em uma Aca-
demia envolvem competência, uma atuação
destacada na área a que está ligada a Aca-
demia, uma contribuição para a divulgação
da importância de conhecimentos da área,
atividade de pesquisa incluindo preservação
e aprofundamento dos conhecimentos de
História da profissão ou do desenvolvimento
da área considerada e das entidades com ela
relacionadas. Estas atividades não dependem
de gênero, dependem de competência, de
dedicação e de empenho para realizar um
trabalho bem feito.
No âmbito acadêmico as mulheres têm
conquistado seu espaço, tanto como estu-
dantes quanto como docentes. A Sra. como
professora titular aposentada da UFPR ob-
servou este avanço dentro das Universida-
des?
Esta evolução seguiu em paralelo com
a evolução da sociedade: as mulheres foram
ocupando cada vez mais espaço e hoje, mui-
tas vezes, o número de mulheres em deter-
minados setores ultrapassa o número de ho-
mens.
A tendência atual é para considerar ine-
xistentes as diferenças de gênero. Os desta-
ques seriam pelas diferenças individuais, in-
dependentes de gênero.
Os profissionais de medicina veterinária
em geral têm se direcionado à clínica de
pequenos animais, em especial as mulhe-
res. O que falta para que elas possam ga-
nhar espaço em outras áreas, como no cam-
po ou nas indústrias?
Já comentamos que, das Clínicas de Pe-
quenos, as Veterinárias evoluíram para outras
áreas. Para que cheguem ao campo ou às
indústrias falta, apenas, alguém que se inte-
resse por estas áreas e inicie suas atividades
- se houver sucesso, logo surgirão novas pro-
postas e assim vão se ampliando as áreas de
atuação.
21
Professora Clotilde no III Simpósio de Ciências Médicas e Biológicas, 1996. Da esquerda para a direita, Viviane Milczewski, Clotilde L. B. Germiniani, Cristina Sotomaior, Ivan Barros Filho e Anderson Farias.
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: Arq
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essoal
É muito gratificante contribuir no ensino
de uma profissão! Durante os anos dedicados
à educação de Medicina Veterinária observei
muitas mudanças no perfil dos estudantes, na
sociedade brasileira em relação à importância
dos animais e cuidados a eles dispensados
e nas questões relacionadas à bioética e ao
bem-estar dos animais. Houve amadureci-
mento da consciência ecológica em grande
parte da população mundial e um aumento
da intenção de que a Saúde seja um bem co-
mum a todos.
Diante de tantas transformações, o que
o que ainda não mudou foi o brilho no olhar
do estudante envolvido intensamente no pro-
cesso ensino-aprendizagem. É nossa maior
recompensa! Creio que um dos maiores de-
safios da mulher professora universitária seja
tirar o jovem da imobilidade e colocá-lo em
movimento. É muito fácil ser um expectador
no curso, mas adquirir habilidades técnicas
exige vontade e esforço. Junto com o co-
A mulher contemporânea como professora universitária – impressões pessoais
Professora Carmen Grumadas e a acadêmica Franciely Flâmia Inácio, na XXX Semana Acadêmica de Medicina Veterinária da UEL, 2013.
Foto
: Dio
go
Wo
sch-2013
22
PROFESSORA UNIVERSITÁRIA
nhecimento e destreza deve ser adquirida a
consciência pelos seus atos bem como suas
responsabilidades para com a sociedade. É
natural que a inquietude e curiosidade per-
tencentes à juventude manifestem-se tam-
bém durante as aulas e outras atividades
didáticas. Isso tem um enorme potencial cria-
tivo e transformador! Saber explorar essas ca-
racterísticas do estudante é uma importante
meta a ser atingida.
Como alterações curriculares acontecem
lentamente e os cursos são limitados por
leis, regulamentações, horários, avaliações
e etapas que se sucedem, a professora uni-
versitária em geral ministra uma parte de um
curso fragmentado em disciplinas. A ela cabe
perceber que os ingressantes são jovens e já
nasceram em um mundo com enorme aces-
so à informação e facilidade de comunicação
imediata. Isso tende a gerar alguns conflitos
de gerações. Um grande desafio é utilizar
metodologias de ensino reconhecidas e al-
gumas novidades tecnológicas para tornar a
disciplina a mais dinâmica e interativa que o
projeto pedagógico do curso permitir.
Faz parte do trabalho da docente univer-
sitária alertar que o término do curso é ape-
nas o início de uma vida profissional de possi-
bilidades quase infinitas, em um mundo que
está em constante transformação. Ela deve ser
capaz de contribuir para enviar para o mundo
do trabalho indivíduos criativos, que saibam
trabalhar em equipe pelo bem comum, por
“uma só Saúde”, pelo País e pelo Planeta. Que
respeitem as pessoas, sejam autoconfiantes,
entusiasmados, que estudem as ciências
agrárias, biológicas, políticas, sociais, huma-
nas e exatas, conforme seus interesses. Que
saibam se relacionar bem com profissionais
de outras áreas de conhecimento, somando
os saberes e talentos, cada um contribuindo
com a parte que lhe cabe para que cada pro-
fissão se fortaleça, para que cada tarefa assu-
mida seja realizada com alegria, dedicação e
de maneira exemplar. Que exercitem o gosto
pela pesquisa, extensão e a busca de realiza-
ção pessoal.
Espero sinceramente que todos os que
são ou um dia foram estudantes do curso
que nunca percam a emoção que se sente
ao auxiliar o nascimento de um filhote nem a
alegria de curar um animal, realizar um diag-
nóstico no laboratório, de certificar alimentos
de origem animal, de orientar pessoas a se re-
lacionarem de modo saudável com seus ani-
mais, contribuindo para melhoria da qualida-
Carmen Grumadas recepciona calouros do Curso de Medicina Veterinária da UEL, 2013.
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: Arq
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RMV-PR-2013
23
de de vida dos mesmos. Espero que sempre
reconheçam seu valor por atuarem na saúde
pública, na prevenção de doenças, na produ-
ção animal e no combate às zoonoses. Que
tenham muitas oportunidades de trabalho e
que recebam recompensa financeira digna,
à altura de sua competência, suficiente para
manter a si e à família com conforto. Que mes-
mo diante das adversidades da vida, sejam
resilientes e otimistas. Que se, por alguma ra-
zão, decidirem não exercer a profissão, ainda
assim sintam carinho por ela e mantenham na
memória as boas lembranças dos tempos de
estudante. Que não se esqueçam dos conhe-
cimentos e das habilidades adquiridas duran-
te sua formação e conservem as atitudes ade-
quadas, com cordialidade, sem precipitação,
com sabedoria. Que cada egresso, tendo
conquistado a luz do conhecimento médico
veterinário, tenha a competência necessária
para usá-la de forma ética, técnica, precisa,
por mais que dificuldades possam surgir du-
rante a caminhada profissional. Que não se
deixem corromper, que compartilhem essa
luz com os colegas que virão e que a mesma
possa ser fortalecida e aqueça e ilumine cada
espaço no qual for necessária. Que a luz do
conhecimento brilhe muito, sempre e ilumine
todos os lugares por onde passar.
Médica Veterinária Carmen GrumadasDocente do Curso de Medicina Veterinária da UEL – PRPresidente da CEEMV/CRMV-PR
24
Professora Carmen apresenta o Campus e descreve as atividades do curso aos calouros de Medicina Veterinária da Univesidade Estadual de Londrina, 2013.
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: Arq
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RMV-PR-2013
25
Mulher, zootecnista e empresária:ela nos representa!
Carregar a responsabilidade de ser a pri-
meira mulher a presidir uma sociedade rural
no Brasil não deve ter sido fácil, mas a zootec-
nista Maria Iraclézia superou as adversidades
e se fez notar como empresária de sucesso.
Ela não só foi a primeira do país – em 2008,
como foi reeleita no mandato seguinte (2010-
2012) e no atual.
Sendo o agronegócio responsável por
23% do PIB nacional e o Paraná um dos maio-
res produtores do setor, Maria Iraclézia cum-
pre o importante papel de representar o mu-
nicípio de Maringá e o Estado nesta atividade.
Profissional atuante há 15 anos, ela divi-
de sua experiência no mercado de trabalho e
destaca a importância de as mulheres desen-
volverem habilidades de gestão e liderança
para alçarem voos ainda mais altos em suas
carreiras. Confira:
A participação da mulher no mercado
de trabalho tem crescido nos últimos anos.
Na zootecnia, no entanto, o crescimento é
um pouco menor que em outras áreas. Atu-
almente as mulheres representam 30% dos
oito mil zootecnistas atuantes no Brasil. A
Sra. acredita que isto se deve ao fato de a
zootecnia ser uma profissão relativamente
nova ou existe algum outro fator?
A profissão foi regulamentada no Brasil
no final dos anos 60, então todo processo
ENTREVISTA
A zootecnista Maria Iraclézia foi a primeira mulher a presidir uma sociedade rural no Brasil.
Foto
: Socied
ade Rural d
e Maring
á
evolutivo pelo qual nossa sociedade passou
de lá para cá atingiu também a profissão.
Ainda que considerada por muitos uma pro-
fissão nova e cuja atuação em sua maioria é
exercida por homens, o número de mulheres
que buscam a profissão de zootecnia tem
crescido consideravelmente.
De acordo com estudo realizado pelo
Fórum Econômico Mundial em 2015, a de-
sigualdade entre os sexos com relação à
participação econômica e oportunidades
ainda é de 60%. A Sra. vê essa desigualda-
de no meio do agronegócio?
Por se tratar de uma desigualdade histó-
rica, é natural que ela também atinja o agro-
negócio. Porém, considero que essa desigual-
dade vem sendo revertida através dos anos.
Já avançamos muito, mas ainda há um cami-
nho a ser percorrido. O nosso papel enquan-
to mulheres é assumirmos o compromisso de
demonstrar sempre capacidade de transfor-
mação por meio de qualificação e atualização
profissional, capacidade de gestão, e então
sermos agentes dessa transformação.
O Paraná é um dos grandes responsáveis
pelo crescimento do agronegócio brasileiro
e Maringá é uma cidade que contribui bas-
tante para este cenário. Como é fazer parte
de uma área de tamanha importância para
o Estado e o país?
É muito gratificante, ao mesmo tempo
é um grande desafio, pois requer dedicação,
empenho, dinamismo e competência. Bus-
camos diariamente, no desenvolvimento de
nossas ações, contribuir para o desenvolvi-
mento e fortalecimento do setor que parti-
cipou na economia nacional em 2015 com
uma fatia de 23% do Produto Interno Bruto
(PIB) nacional.
Como é para a Sra. representar as mulhe-
res e a classe zootecnista como Presidente
da Sociedade Rural de Maringá?
Sinto-me lisonjeada por ter sido a pri-
meira mulher a presidir uma sociedade rural
no Brasil. Naquele momento era tudo muito
novo e desafiante, porém ao longo de minha
trajetória como presidente da SRM fui con-
quistando respeito e desenvolvendo habi-
lidades que além de me fortalecer também
motivaram outras mulheres a buscar desafios
semelhantes.
Que conselho a Sra. daria às mulheres
que buscam alcançar posições de liderança
dentro da medicina veterinária e da zootec-
nia?
Além da formação específica, buscar ca-
pacitação multidisciplinar para agregar valor
na atuação profissional. Além disso, aconse-
lho a respeitar os preceitos éticos, ser humil-
de, saber trabalhar em equipe, se manter atu-
alizada e desenvolver habilidades de gestão
e liderança.
26
27
A mulher de hoje pode tudo
A mulher dos dias de hoje pode tudo –
seja ela médica veterinária ou zootecnista, se
tiver dedicação e comprometimento poderá
atuar em qualquer área da sua profissão. Não
importa se é no campo ou na cidade, com
pequenos ou grandes animais, na vigilância
sanitária ou na saúde pública.
Mas nada mais justo do que ouvir delas
como se sentem. Por isso, trouxemos o depoi-
mento de profissionais de destaque na medi-
cina veterinária e na zootecnia para comparti-
lharem suas experiências e opiniões.
Sempre soube que seria veterinária quando crescesse e tive a sor-
te de nascer em uma família que me estimulou a sair de uma cidade
pequena e fazer faculdade e pós-graduações em uma cidade grande,
realizando meu sonho. Talvez por eu ter nascido no interior, percebi que
nem todas as minhas amigas tiveram esse estímulo.
Vivemos em um país em que, segundo o Núcleo de Direito e Gê-
nero da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (São Paulo), 45%
da força de trabalho é feminina. Entre elas, apenas 7,9% estão em car-
gos de diretoria e apenas 7,7% estão em cargos de administração de empresas. Esses números
estão estagnados há uma década.
Roupinhas de crianças com as frases “inteligente como o papai” para os meninos e “bonita
como a mamãe” para as meninas sempre me trouxeram um certo desconforto. Nossa situação
já melhorou muito, mas acredito que ainda há muito o que conquistarmos como mulheres. Da
mesma maneira, muitos homens precisam evoluir no sentido de reconhecer nossas competên-
cias e nossos valores.
Como veterinária e fiscal e com apenas 29 anos, não tenho muito o que me queixar pois
nunca sofri nenhum tipo de preconceito ou desrespeito graves por ser mulher, mas conheço
mulheres fiscais que já passaram por situações difíceis. Precisamos deixar nossos medos de
lado e continuar conquistando nosso espaço no mundo!
Letícia Olbertz
Médica veterinária – Assessora técnica e fiscal do CRMV-PR
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DEPOIMENTOS
28
Sempre fui fascinada por nutrição e por animais e a Zootecnia foi
o curso que melhor me possibilitou aliar essas duas paixões. Posterior-
mente descobri que também amava ensinar. Hoje, todos os desafios
diários (que não são poucos) são superados pela maravilhosa sensação
de não se imaginar fazendo outra coisa na vida. Enquanto tivermos essa
sensação e trabalharmos corretamente, não sobrará tempo, nem sequer
energia, para nos preocuparmos com alguma forma de preconceito que
ainda possa afligir a mulher zootecnista.
Ananda Portella Félix
Zootecnista - Professora de Nutrição Animal da UFPR
Ser veterinária... minha escolha pela profissão foi muito influenciada
pelo local onde passei minha infância - no oeste do Paraná, minha casa
sempre com muitos e diferentes bichos de estimação e por meu pai, en-
genheiro agrônomo que na verdade queria ter cursado veterinária pelo
seu amor na criação de animais.
Fiz meu curso na UFPR nos anos de 1983 a 1986, com o objetivo ini-
cial de voltar para o interior e trabalhar na fazenda com meu pai. Porém
conheci meu esposo, também veterinário, e em 1988 fiz concurso para
trabalhar na Saúde Pública do Estado do Paraná.
Atuação do médico veterinário em saúde pública... matéria pincelada durante todo o cur-
so, da qual tive conhecimento da sua importância quando comecei a trabalhar na vigilância
sanitária de alimentos. Atuar em saúde pública nos remete às questões de prevenção e pro-
moção do bem-estar da sociedade como um todo, atuando na vigilância sanitária, epidemio-
lógica e ambiental. Como na prevenção e controle das zoonoses, das doenças transmitidas
pelos alimentos com o controle e fiscalização das boas práticas de fabricação em toda cadeia
de produção, investigação epidemiológica de surtos, nas análises laboratoriais dos alimentos
e água, no cuidado com o meio ambiente, enfim são muitas as ações que o veterinário pode
estar inserido e deve atuar. Porém, faz-se necessário que os cursos de Medicina Veterinária
introduzam em suas grades a formação do médico veterinário na área de saúde pública, área
ampla, de relevante importância e com muitas oportunidades de atuação.
Karina Ruaro de Paula
Médica veterinária – Chefe da Divisão de Vigilância Sanitária de Alimentos do Estado do Paraná
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29
Sempre me identifiquei com o cuidado e atenção aos animais,
como gostava da área, escolhi seguir a profissão de médica veterinária.
Durante a faculdade optei pela área de Diagnóstico por Imagem
em pequenos animais, na qual me especializei. Com isso recebi o convi-
te da Faculdade Integrada Vale do Iguaçu – UNIGUAÇU para participar
do grupo de docentes do Curso de Medicina Veterinária como profes-
sora de Diagnóstico por Imagem.
Foi uma experiência nova que exige muito estudo e dedicação, mas
transmitir conhecimento visando formar bons profissionais, futuros colegas, é muito motivador.
Representar o CRMV é uma satisfação e responsabilidade muito grande a qual motiva a
valorização da classe e a união dos profissionais para melhor qualificação e desempenho dos
médicos veterinários.
Marilia Metzler
Médica veterinária – Professora de Diagnóstico por Imagem da UNIGUAÇU
Tenho o privilégio de trabalhar com uma profissão que adoro e que
me realiza em todos os aspectos possíveis. Além de médica veterinária,
também sou professora – não poderia ser melhor. Acho que esta felici-
dade na verdade pouco tem a ver com o fato de eu ser mulher. Gostaria
que todas as pessoas pudessem almejar e ter a oportunidade de con-
quistar tal situação.
É verdade que estamos presenciando um aumento expressivo da
participação feminina na medicina veterinária; é também verdade que
ainda falta muito para termos um cenário igualitário em termos de gênero. Por exemplo, dos
27 CRMVs existentes em nosso país, apenas quatro são presididos por mulheres. Ou seja, a
proporção de gênero de médicos veterinários que exercem cargos de liderança não reflete a
proporção de gênero existente no universo profissional.
Também há estudos mostrando tendências mais fortemente relacionadas a mulheres,
como por exemplo compaixão, ou mais correlacionadas a homens, como por exemplo em-
preendedorismo. Importante lembrar que este conhecimento não nos permite prever o perfil
individual de ninguém, conheço homens extremamente compassivos e mulheres extrema-
mente empreendedoras. Mas nos oferece sim uma visão válida do que pode ocorrer quanto
ao desenvolvimento de nossa profissão, que será resultante da somatória das atitudes de todos
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os profissionais e que, então, pode ser estimada pelas tendências mencionadas. No que me
é mais caro, o aumento da inserção da mulher pode significar um futuro mais digno para os
animais tocados por nossas decisões de classe. Ainda, o equilíbrio de gêneros enriquecerá
a medicina veterinária: precisamos de homens e mulheres, de compaixão, de dedicação, de
ética, de racionalidade, de esforço de cada um de nós - antes de tudo, seres humanos. Por oca-
sião do Dia da Mulher, gostaria de agradecer as homenagens e me confraternizar com todos
os colegas médicos veterinários pelo elo que nos une – uma profissão maravilhosa.
Carla Forte Maiolino Molento
Médica veterinária - Professora de Comportamento e Bem-estar Animal da UFPR
Tenho 20 anos de formada, quando entrei no curso de Medicina
Veterinária na UFPR éramos quase metade dos alunos do sexo femi-
nino, na época a discriminação já era menor. Escolhi a veterinária dois
anos antes do vestibular, porque sempre gostei da área biológica e não
conseguia encontrar outra área que me fascinasse tanto quanto a área
biológica. Naquela época tinha um cachorro que estava doente e pedi
para meu irmão, na época estudante de biologia, que trouxesse algum
livro para pesquisar a doença do meu cão. Li e reli o livro, comprei o
remédio e fui tratar o animal, para minha sorte ele ficou bom, como se só isso bastasse... rsrs.
Pesquisei o currículo do curso, me perguntei se gostava de fato de animais e então decidi pelo
curso. Desde pequena tive animais e o meu amor por eles veio da convivência com o meu pai
que me ensinou a respeitá-los. Ele sempre fala quando vê um animal abandonado: “Se não
puder criar, cuidar, dar amor e respeitar os bichos, se for para abandonar melhor não ter”.
Quando me formei comecei trabalhando com clínica de pequenos, depois com extensão
rural e clínica de grandes, educação ambiental e com saúde pública. Meu maior tempo como
profissional é na área de Saúde Pública mais especificamente em Vigilância Sanitária, uma área
que realmente amo de paixão, gosto tanto que meus olhos ficam marejados quando falo so-
bre o assunto. Nesta área já orientei sobre saneamento ambiental, criação animal, inspeção
em comércio de alimentos, inspeção em indústria de alimentos, escolas, instituições de longa
permanência, etc.
No início da carreira tive vários desafios, mas o que sempre estava presente é que eu
precisava provar que como mulher e veterinária eu era capaz, que tinha competência para o
trabalho, então fazia e ainda faço muitos cursos, sempre na obrigação de provar que a gente
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pode mais, sabe mais e que eu tenho o meu espaço conquistado. As pessoas olhavam, uma
menina, pequena, delicada, inexperiente, o que será que ela sabe? Será que sabe trabalhar?
Será que dá para confiar?
Então se você me perguntar se foi fácil a profissão, posso dizer que não, que tive que lutar
muito para chegar aonde estou, que todo dia é um desafio, e que talvez até hoje ainda tenha-
mos que provar que somos competentes e que também podemos trabalhar em qualquer área
da veterinária, e que ser mulher não altera em nada a nossa profissão. Venho de uma família
onde a maioria das mulheres eram professoras do ensino fundamental, quando optei por não
seguir a “carreira da família” todos já olhavam torto, talvez pensavam “O que ela quer da vida?”.
Aí começou meu primeiro desafio, enfrentar a família e mostrar que eu podia, então fui a pri-
meira a seguir outra profissão, de um certo modo abri portas para as mulheres da família que
vinham depois.
Lembro que na faculdade um professor olhou e pediu para eu conter uma ovelha, e lá fui
eu.
Na área de Vigilância Sanitária fiz várias inspeções em vários tipos de locais, já acompanhei
a polícia em operações de Ação Integrada de Fiscalização Urbana (AIFU) em bares no período
noturno, outras vezes acompanhamos a Polícia Ambiental, NUCRISA, DELCOM e outros. Cada
trabalho em conjunto foi uma nova experiência e muito gratificante.
Hoje quando recebo alunos da UFPR no município onde trabalho, em sua maioria são
mulheres. Sempre tento incentivar a buscarem várias áreas da medicina veterinária, não focar
só na clínica de pequenos, mas conhecer e lutar por outros ramos, tais como: a tecnologia de
alimentos, o meio ambiente, inspeções, piscicultura, criações animais, etc. não deixando a me-
dicina veterinária perder espaço.
No meu trabalho quando entra um colega novo peço para eles me procurarem, princi-
palmente se forem mulheres, tento ajudar a direcionar suas ações, tento apoiar seus trabalhos,
pois sempre lembro que quando comecei não tinha muito para quem recorrer.
Ao longo dessa carreira tive grandes amigas e grandes profissionais médicas veterinárias
que foram minha inspiração: Marcia Oliveira Lopes, Ivana S. Mikilita, Rose Sêga (in memoriam).
Elisa Maria Jussen Borges
Médica veterinária da Prefeitura de Colombo
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Sou Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento há quase 9 anos. Fui aprovada no concurso
de 2007, poucos dias após ter me graduado em Medicina Veterinária
pela UFPR, então a falta de experiência profissional atrapalhou no início.
Atualmente trabalho no Serviço de Saúde Animal (SSA), gerenciando
o Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH)
e o Programa Nacional de Vigilância e Prevenção da Encefalopatia Es-
pongiforme Bovina (PNEEB). O Serviço da Saúde Animal do MAPA é
responsável pela coordenação estadual dos programas de controle,
prevenção, vigilância e erradicação de doenças de interesse para o
agronegócio brasileiro, como a Febre Aftosa, Peste Suína Clássica, Influenza Aviária, Mormo,
Encefalopatia Espongiforme Bovina, Raiva dos Herbívoros, Brucelose e Tuberculose, entre ou-
tras. Além disso, o controle da liberação de exportação e importação de animais vivos e subpro-
dutos é realizada pelos fiscais do SSA. Sobre a presença das mulheres na fiscalização federal
agropecuária: hoje, os cargos de chefia da Divisão de Defesa Agropecuária, do Serviço de
Inspeção de Produtos de Origem Animal e do Serviço de Saúde Animal na Superintendência
Federal de Agricultura no Paraná são ocupados por mulheres, médicas veterinárias. Na coorde-
nação central do departamento de Saúde Animal, em Brasília, a Coordenação Geral de Com-
bate a Doenças, a Coordenação da Raiva dos Herbívoros, de Trânsito e Quarentena Animal, a
Divisão de Sanidade Suína, de Epidemiologia e de Tuberculose e Brucelose são chefiadas por
mulheres, médicas veterinárias. Nos últimos dois concursos para a carreira de Fiscal Federal
Agropecuário, mais da metade dos aprovados para o cargo de Médico Veterinário são mulhe-
res (52% em 2007 e 53% em 2014).
Ellen Laurindo
Médica veterinária – Fiscal Federal Agropecuário do MAPA
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A oferta de alimentos de origem animal aptos ao consumo, aten-
dendo as condições higiênico-sanitárias e tecnológicas, é o resultado
final da atuação dos Fiscais Federais Agropecuários do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em todo o território bra-
sileiro e as ações de inspeção e fiscalização do MAPA desenvolvidas no
nosso país têm como fundamento principal a garantia da qualidade e
a da segurança dos produtos de origem animal produzidos. Sou Fis-
cal Federal Agropecuário desde 2007 e venho desenvolvendo minhas
atividades no Serviço de Inspeção Federal (SIF) há nove anos, atuando
na fiscalização em indústrias de produtos de origem animal. Como Fis-
cal Federal Agropecuário, realizo a coordenação de mais de 150 colaboradores em ações de
inspeção, verificação de programas de autocontrole implantados pelas empresas produtoras
e Certificação Sanitária de produtos para trânsito e exportação. Além da atuação no Serviço
de Inspeção Federal, integro a Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal (CTBEA)
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que tem como principais atribuições a
divulgação e a proposição de boas práticas de manejo, o alinhamento da legislação brasileira
com os avanços científicos e os critérios estabelecidos pelos acordos internacionais dos quais
o Brasil é signatário, bem como preparar e estimular o setor agropecuário brasileiro para o
atendimento às novas exigências de bem-estar animal. Hoje uma grande fatia das gestões no
âmbito da fiscalização vem sendo ocupada por mulheres. Como exemplo nas áreas em que
trabalho, podemos citar a chefia do Serviço de Inspeção dos Produtos de Origem Animal da
Superintendência Federal de Agricultura no Paraná e as chefias da Divisão de Inspeção de
Carne de Aves e Ovos e da Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal em Brasília/
DF. Nos últimos anos, as mulheres vêm tendo participação expressiva nas ações de inspeção,
defesa e fiscalização sanitária, mantendo a responsabilidade no compromisso com a saúde
dos animais e de toda a população brasileira.
Nicolle Fridlund Plugge
Médica veterinária - Fiscal Federal Agropecuário
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