MAPEAMENTO DA ACESSIBILIDADE
NAS INSTITUIÇÕES DE LONGA
PERMANÊNCIA PARA IDOSOS DA
CIDADE DE NATAL-RN
Julio Cesar Felix de Alencar Fernandes (UFRN)
Ricardo Jose Matos de Carvalho (UFRN)
Este artigo apresenta um mapeamento dos problemas de acessibilidade
dos idosos moradores das Instituições de Longa Permanência para
Idosos (ILPIs) da cidade de Natal-RN. O objetivo principal deste artigo
é apresentar um diagnóstico global dda acessibilidade, através da
avaliação de conformidade com parâmetros normativos. A população
brasileira vem experimentando um processo de envelhecimento
importante e, com isso, as demandas por hospedagem fora dos lares da
família tendem a aumentar. Ao final são apresentadas medidas
técnicas e administrativas com o intuito de melhorar a acessibilidade
das ILPIs, minimizar os riscos de acidentes e aumentar a autonomia e
a segurança dos idosos.
Palavras-chaves: Acessibilidade, Idosos, ILPI
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
O presente artigo apresenta um mapeamento dos problemas de acessibilidade dos idosos
moradores das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) da cidade de Natal-RN.
ILPI é o termo criado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG),
utilizado para designar asilos, casa de repouso, lar, clínica geriátrica, ancianato e similares
(CREUTZBERG; GONÇALVES; SOBOTKA, 2008).
Esse mapeamento é resultado de uma pesquisa de mestrado em engenharia de produção, ainda
em desenvolvimento, que se encontra na etapa da instrução da demanda e apreciação dos
dados da análise global das ILPIs de Natal-RN, como parte de uma Análise Ergonômica do
Trabalho (GUÉRIN et. al., 2001), adaptada para as atividades dos idosos residentes destas
instituições.
O objetivo principal deste artigo é apresentar um diagnóstico global da acessibilidade dos
idosos nas ILPIs de Natal, através da avaliação de conformidade com parâmetros normativos.
Estes resultados orientarão a segunda etapa da pesquisa, que é, a partir de critérios
ergonômicos e de acessibilidade, escolher uma ILPI e realizar o estudo de caso, que não faz
parte do escopo deste artigo. O estudo de caso prevê a análise das atividades dos idosos na
ILPI escolhida, a elaboração do diagnóstico ergonômico e a apresentação do memorial
descritivo das transformações.
O processo biológico de envelhecimento traz danos ao sistema neurológico, músculo-
esquelético e cardiovascular e repercute progressivamente sobre a acuidade visual, o
equilíbrio e a locomoção, limitando a autonomia e a segurança do idoso. Os espaços ou
ambientes e artefatos, por sua vez, devem ser projetados para maximizar a acessibilidade e
minimizar os efeitos das perdas funcionais progressivas dos idosos devido ao processo de
envelhecimento.
Visando uma melhor eficiência, os projetos das ILPIs devem ser elaborados de forma situada,
levando em conta as características e diversidades dos idosos e a análise das atividades por
eles realizadas. A finalidade é adequar os espaços, instalações, mobiliários, tecnologias e
equipamentos às características, capacidades e limitações dos idosos, no contexto de
realização de suas atividades.
2. Atualidade do tema do envelhecimento
O envelhecimento ocorre em todos os organismos vivos, é um processo natural que funciona
como uma evolução que vai da perda da adaptabilidade, passa pela deficiência funcional e
finalmente chega à morte (JACOB, 2006).
O processo de envelhecimento gera um enfraquecimento geral do corpo, ocasionando a perda
da audição e visão, fragilidade óssea e retardamento da agilidade motora. Isso causa
limitações ao indivíduo, o que pode gerar problemas emocionais que dificultam o convívio
social (MORAES; MELO; PUERARI, 2004).
Esses problemas, tanto de saúde como psicológicos, influenciam na forma de projetação dos
ambientes físicos. Ambientes projetados sem essa preocupação podem resultar em quedas e
consequentemente na dependência das pessoas, principalmente quando se tratar de idosos
(BRASIL, 2005).
Deve-se extinguir qualquer tipo de discriminação contra idosos, por isso é importante o
desenvolvimento de políticas públicas e atividades que insiram os idosos na sociedade de
forma participativa e adequada. Os riscos de acidentes, devido à falta de acessibilidade dos
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ambientes e moradias localizadas em áreas inseguras, longe dos membros da família e com
serviço de transporte público precário, podem resultar em depressão e isolamento dos idosos
(MORAES; MELO; PUERARI, 2004; BRASIL, 2005).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), considera-se idoso as pessoas com
mais de 65 anos, nos países desenvolvidos. Porém, nos países em desenvolvimento, como é o
caso do Brasil, considera-se idoso as pessoas com 60 anos ou mais de idade.
Segundo os dados do CENSO 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 8,6% da população brasileira possui mais de 60 anos, correspondendo a
14,5 milhões de pessoas, dos quais 44,9% são homens e 55,1% mulheres. As mulheres vivem
em média oito anos mais que os homens.
Como se pode ver no Gráfico 1, a população brasileira está envelhecendo. Este gráfico
apresenta a proporção de idosos de 60 anos ou mais e de 65 ou mais de idade no Brasil, nos
anos de 1999 a 2009, exceto o ano de 2000.
9,1% 9,1%9,3%
9,6% 9,7%9,9%
10,2%10,5%
11,1%11,3%
6,2% 6,3% 6,4%6,6% 6,7%
6,9%7,1%
7,3%7,7% 7,8%
1999 (1) 2001 (1) 2002 (1) 2003 (1) 2004 2005 2006 2007 2008 2009
60 anos ou mais
65 anos ou mais
Proporção de idosos de 60 anos ou mais e de 65 ou mais de idade no Brasil
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.
Gráfico 1 – Proporção de idosos de 60 anos ou mais e de 65 ou mais de idade no Brasil
Fonte: IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais, 2010
Estima-se que em 2025, 13,8% da população brasileira será composta por idosos, tornando o
Brasil o sexto país com a maior quantidade de idosos do mundo, mais 32 milhões de pessoas
com idade igual ou superior a 60 anos (IBGE, 2010).
O envelhecimento da população brasileira contribui para o crescimento das demandas sociais
e econômicas, repercutindo na necessidade de reorientação das políticas públicas, nos gastos
previdenciários e na organização social e projetual dos espaços e equipamentos urbanos. Um
problema a ser considerado é o fato de que as famílias estão se reduzindo, a moradia do idoso
em família exige disponibilidade dos entes familiares ou custo com cuidadores, a moradia de
forma solitária exige autocuidados específicos e chega a aumentar os riscos de acidentes, de
modo que a procura por ILPIs deverá aumentar ao longo dos próximos anos e a sociedade,
através de instituições públicas, privadas, filantrópicas, etc., deverá estar preparada para
atender esta demanda.
No Brasil, o número de pessoas com restrições de mobilidade e dependência vem crescendo.
Pesquisas indicam que aproximadamente 23% da população brasileira compreendem pessoas
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idosas ou com algum tipo de deficiência, seja ela temporária ou permanente (FREITAG;
ARAGÃO; ALMEIDA, 2007).
Um grave problema causado pelas acessibilidades impedidas (inacessibilidade) e
acessibilidades reduzidas dos espaços utilizados pelos idosos, é a queda. Considerada
problema de saúde pública, as quedas podem levar o idoso ao declínio funcional,
dependência, invalidez e até mesmo a morte (BENDER, 2009 apud SOCCOL; PINTO, 2010).
Quase 35% dos idosos já sofreram alguma queda, que em 12% dos casos gerais tiveram como
resultado fraturas. Levando em consideração apenas as mulheres, essa porcentagem de
fraturas sobe para mais de 40%, esses acidentes estão associados principalmente a “idade
avançada, sedentarismo, autopercepção de saúde considerada ruim e maior número de
medicações referido para uso contínuo” (SILVA, 2010).
Um mapeamento da acessibilidade nas ILPIs da cidade Natal-RN terá grande importância
para os idosos e para os gestores das instituições. Isso possibilitará a identificação dos
principais problemas de acessibilidade das ILPIs enfrentados pelos idosos residentes,
facilitando a visualização desses problemas pelos gestores e permitindo-os atender de maneira
eficiente, através de reformas e projetos de interiores, a norma de acessibilidade (ABNT,
2004).
3. Acessibilidade e Design Universal
A acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a
utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano
e elementos (ABNT, 2004).
Segundo Vera H. M. Bins Ely (2004), “acessibilidade espacial pode ser definida como a
possibilidade tanto de acesso a um lugar quanto de uso de seus equipamentos de maneira
independente. Para tanto, é necessário: ter informação sobre as atividades e os locais onde
estas ocorrem; poder deslocar-se com conforto e segurança; utilizar os equipamentos e
ambientes sem que seja preciso ter conhecimento prévio de sua utilização”.
Buscando a inclusão de pessoas na sociedade sem discriminação, a acessibilidade tem
envolvimento além dos aspectos físicos. Ela envolve também aspectos políticos, sociais e
culturais (DISCHINGER, 2005 apud BINS ELY & OLIVEIRA, 2005).
O design universal é um princípio do design que está orientado para atender e satisfazer todas
as pessoas para que o projeto se destina. O Manual de Orientações sobre Turismo e
Acessibilidade criado pelo Ministério do Turismo, define Desenho Universal como uma
concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender simultaneamente todas as
pessoas, com diferentes características antropométricas e sensoriais, de forma autônoma,
segura e confortável, constituindo-se nos elementos ou soluções que compõem a
acessibilidade (BRASIL/MTur, 2006).
Portanto, o design universal é um recurso técnico que pode ser utilizado para projetar espaços,
ou ambientes, equipamentos, ferramentas, etc. acessíveis a todas as pessoas usuárias
possíveis.
4. Metodologia
A etapa da pesquisa em curso se refere à fase da análise global e instrução da demanda
prevista no método da Análise Ergonômica do Trabalho (GUÉRIN et. al., 2001; VIDAL,
2008; WISNER, 1987). Inicialmente foram realizadas revisões bibliográficas e documentais
sobre o tema e consultas a instituições municipais e estaduais que tratam dos idosos no estado
do Rio Grande do Norte e no município de Natal, tais como a Promotoria do Idoso e
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Deficiente Físico do Ministério Público Estadual, o Conselho Estadual do Idoso, a Secretaria
Municipal do Trabalho e Assistência Social (SEMTAS).
Foi realizado um Mapeamento da Acessibilidade dos Idosos Residentes das Instituições de
Longa Permanência para Idosos (ILPIs) da cidade de Natal-RN. Tratou-se de um
levantamento total das 14 ILPIs da cidade (Natal-RN), que identificou e classificou as ILPIs
por tipo, localizou cada uma por região da cidade, descreveu e analisou a infra-estrutura, as
instalações, os ambientes e os equipamentos.
Em seguida, foi desenvolvido e aplicado um instrumento para verificar e avaliar a
acessibilidade e as características globais e físicas das ILPIs e bio-psico-sociais dos idosos, a
partir da NBR 9050 (ABNT, 2004), do Regulamento técnico para o funcionamento das
instituições residenciais sob sistema participativo e de longa permanência para idosos
(ANVISA, 2004) e do documento que aborda os Padrões mínimos de financiamento de
serviços e programas de atenção à pessoa idosa (BRASIL/MPAS, s/d). Concomitantemente,
foram realizados registros fotográficos e filmagens relativas aos aspectos abordados no
instrumento supracitado.
Esse mapeamento possibilitou a formulação de um diagnóstico global dessas instituições,
relacionando os principais aspectos do ambiente construído e os problemas de acessibilidade,
segurança e conforto da população idosa residente.
Este diagnóstico global, juntamente com os critérios de ergonomia (VIDAL, 2008), ajudará na
escolha da ILPI onde será realizado um estudo de acessibilidade mais focado, ou seja, o
estudo de caso desta pesquisa, que não faz parte do escopo deste artigo.
5. Resultados do mapeamento da acessibilidade das ILPIs de Natal-RN
Foram identificadas 14 ILPIs na cidade de Natal-RN, das quais oito são instituições privadas,
seis são filantrópicas e não há nenhuma instituição pública. Os resultados do mapeamento
dizem respeito a 50% (sete) das 14 ILPIs identificadas na cidade de Natal-RN.
Das seis instituições filantrópicas, o mapeamento foi realizado de forma completa em cinco e,
de forma incompleta em apenas uma, havendo assim a necessidade de um retorno, com o
intuito de se obter os dados ainda ausentes. Por este motivo os dados desta ILPI não fazem
parte dos resultados apresentados no item 6.4.
Das oito ILPIs particulares, apenas uma instituição fez parte da pesquisa até o momento da
redação deste artigo. Alguns dados desta ILPI estão incompletos, pois não houve autorização
da direção para o levantamento total, mediante registros fotográficos, vídeos,
dimensionamentos e visitas em todos os ambientes internos.
5.1 População de idosos residentes nas ILPIs de Natal-RN
Identificamos em loco um total de 327 idosos residentes nas IPILs de Natal pesquisadas. Este
número real de idosos residentes nas ILPIs de Natal deve ser maior, considerando o universo
das 14 ILPIs. Conforme se observa na Tabela 1, o número de idosos residentes em cada
instituição pesquisada varia de 12 a 135. Pelo que se constatou, em loco, esta variação está
relacionada com a quantidade de leitos disponíveis por ILPI ou com o seu porte. Constatou-se
também que duas instituições atendem apenas idosos do sexo feminino.
Instituição Número de idosos Masculino Feminino
ILPI - 01 20 4 16
ILPI - 02 135 53 82
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6
ILPI - 03 37 15 22
ILPI - 04 40 0 40
ILPI - 05 40 15 25
ILPI - 06 12 0 12
ILPI - 07 43 18 25
TOTAL 327 105 222
Fonte: GREPE | UFRN
Tabela 1 – Número de idosos das ILPIs da cidade de Natal-RN
5.2 Enfermidades mais comuns entre os idosos das ILPIs de Natal-RN
Em todas as sete instituições pesquisadas havia a presença de idosos com diagnóstico de
hipertensão e de diabetes, dentre as enfermidades mais comuns, conforme as respostas dadas
pelos seus representantes. Houve o diagnóstico confirmado de idosos com Alzheimer em
cinco instituições e houve a suspeita desta doença nas outras duas.
5.3 Critérios de localização impostos pela ANVISA
Segundo a ANVISA, as ILPIs “devem estar localizadas dentro da malha urbana, com
facilidade de acesso por transporte coletivo e, preferencialmente, próxima à rede de saúde,
comércio e demais serviços da vida da cidade (posto médico, hospitais, supermercado,
farmácia, padaria, centros culturais, cinemas, etc.)” (2004). Apenas duas das sete instituições
pesquisadas atenderam a todas essas exigências. A Tabela 2 apresenta a porcentagem das
ILPIs que atendem a cada um dos critérios. Esses dados foram obtidos através de mapas
digitais e de perguntas feitas aos interlocutores em cada ILPI.
Critério ILPIs que atenderam ao critério
Dentro da malha Urbana 100,00%
Acesso ao transporte coletivo 100,00%
Próximo à rede de saúde 85,71%
Próximo ao comércio 100,00%
Próximo a hospitais 42,86%
Próximo a supermercado 100,00%
Próximo a farmácia 100,00%
Próximo a padaria 100,00%
Próximo a centros culturais 42,86%
Próximo a cinema 42,86%
Fonte: GREPE | UFRN
Tabela 2 – Porcentagem das ILPIs de Natal-RN que atendem aos critérios de localização da ANVISA
5.4 Acessibilidade nas ILPIs de Natal-RN
Este tópico apresenta os resultados sobre acessibilidade das ILPIs de Natal, referentes aos
dados obtidos a partir da lista de checagem presente no instrumento elaborado e citado no
item sobre a metodologia. Este instrumento prevê a verificação de itens de acessibilidade,
alguns dos quais destacados por aspas ao longo do texto.
5.4.1 Acesso externo
Este item trata do acesso externo das instituições de Natal-RN, onde, de acordo com a
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ANVISA (2004), este acesso deve ser previsto de duas ou mais portas, sendo uma exclusiva
para serviço.
Pouco mais de 33% das instituições pesquisadas tinham mais de um acesso externo, sendo um
deles exclusivo para serviço.
Outras ILPIs que fizeram parte do estudo possuíam mais de um acesso externo, porém, não
havia a distinção entre os acessos, podendo qualquer um desses ser utilizado como acesso de
serviço (entrega de materiais e alimentos, saída de lixo hospitalar e comum, etc.).
5.4.2 Pisos externos e internos
Todas as ILPIs visitadas possuem pisos de fácil limpeza e conservação. Porém, metade dessas
instituições não atendeu os critérios que pediam pisos antiderrapantes e regulares. Mesmo a
ANVISA (BRASIL, 2004) exigindo que os pisos de ILPIs sejam de fácil limpeza e
conservação, antiderrapantes e uniformes, a figura a seguir (Figura 1) apresenta uma das
instituições pesquisadas, onde foi possível observar um piso irregular, quebrado e com
remendos.
Figura 1 – Piso irregular em uma ILPI da cidade de Natal-RN
Faixa tátil é uma tecnologia assistiva, instalada no piso, voltada aos deficientes visuais e as
pessoas de baixa visão, por estes que esta faixa deve ser de cor contrastante com o piso
original do ambiente (cor clara sobre escura ou vice-versa). Nenhuma ILPI estudada possui
pisos dotados de faixa tátil em todos os ambientes necessários.
5.4.3 Circulações internas
Apenas 40% das ILPIs pesquisadas apresentaram circulações principais com largura mínima
de 1,50m. Já as circulações secundárias, que estabelece como largura mínima 0,80 m teve um
percentual de aprovação bem mais elevado, 80%.
A Figura 2 mostra uma circulação principal com largura inferior a 1,50m, com a presença de
barreiras (cadeiras) que dificultam ainda mais a acessibilidade. Além disso, apesar da
existência do corrimão, este não atende as exigências da NBR 9050, onde afirma que os
corrimões devem ser construídos com materiais rígidos, ser fixados ou justapostos à parede ou
piso, oferecer condições seguras de utilização, ser instalados em ambos os lados, ter largura
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entre 3,0 cm e 4,5 cm, sem arestas vivas, ser deixado um espaço livre de no mínimo 4,0 cm
entre a parede e o corrimão, permitindo uma boa empunhadura e deslizamento, sendo
preferencialmente de seção circular e com acabamento recurvado nas extremidades.
Figura 2 – Circulação principal em desacordo com a norma em uma ILPI da cidade de Natal-RN
Consideradas barreiras arquitetônicas, quinas vivas e tapetes promovem inacessibilidade e
causam acidentes, como quedas e ferimentos graves. Apenas uma instituição não possui
quinas vivas nas suas circulações e em 40% delas há presença de tapetes mal instalados.
Nenhuma ILPI pesquisada apresentou rampas e/ou escadas de acordo com o que a NBR 9050
(ABNT, 2004) exige.
5.4.4 Portas dos quartos dos residentes
A maioria (60%) das portas dos quartos destinados aos idosos residentes apresentou vão
inferior a 0,80 m, padrão diferente da norma que exige no mínimo um vão de 0,80m. Em
nenhuma delas foi vista a “luz de vigília permanente na guarnição superior”. Porém, todas as
portas possuíam cor contrastante com a cor da parede.
O vão mínimo de 6 cm junto ao vão do lado da abertura da porta, exigido pelo Regulamento
Técnico da ANVISA (ANVISA, 2004), para facilitar o alcance da maçaneta pelos idosos
residentes e reduzir a possibilidade de acidentes destes com a porta, estavam em
conformidade em 60% dos casos.
Verificou-se que algumas portas eram fechadas por cadeados ou não tinha nenhum
mecanismo de fechamento, mesmo assim, 80% das portas dos quartos dos residentes
apresentavam travamento simples, sem uso de trancas ou chaves.
5.4.5 Janelas dos quartos dos residentes
Uma das ILPIs pesquisadas não tinha janelas nos quartos dos residentes, apenas entradas de
ar, por meio de combogós (Figura 3). Mesmo assim, o ambiente era ventilado e bem
iluminado durante o dia.
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Figura 3 – Presença de combogó em quarto de uma ILPI da cidade de Natal-RN
Metade das instituições apresentou peitoril de um metro nas janelas dos quartos dos idosos.
Este mesmo índice foi alcançado quando se verificou a presença de um sistema que impeça o
acesso de pessoas através dos vãos das janelas.
Assim como as portas, todas as janelas checadas possuíam cor contrastante em relação à
parede.
5.4.6 Ambientes de uso coletivo
Apesar de algumas instituições apresentarem corrimão junto às paredes em alguns ambientes
de uso coletivo, nenhuma ILPI estudada atendeu este item de forma devida.
A Figura 4 mostra um ambiente de uso coletivo de uma das instituições pesquisadas onde há
corrimão apenas em parte deste ambiente, mesmo a norma exigindo a presença do corrimão
em toda a extensão da parede.
Figura 4 – Ausência de corrimão em um ambiente de uso coletivo de uma ILPI da cidade de Natal-RN
5.4.7 Dormitórios dos residentes
Os itens “luz de vigília na cabeceira da cama”, “distância fronteiriça mínima de 1,50 m entre
uma cama e outra” (em uma ILPI não havia cama fronteiriça), “distância mínima de 0,50 m
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entre uma cama e a parede” e “corrimão junto às paredes” não foram atendidos em nenhuma
das ILPIs da cidade de Natal-RN pesquisadas até o momento. Já o item “distância paralela
mínima de 1,00 m entre duas camas” foi atendido em 40% dos casos.
A figura seguinte (Figura 5) apresenta um quarto de uma ILPI com camas encostadas à parede
e distância fronteiriça e lateral à outra cama inferior a exigida.
Figura 5 – Quarto de uma ILPI da cidade de Natal-RN
Apenas uma instituição apresentou camas na altura adequada (entre 0,46 e 0,51m) e alarme na
cabeceira da cama.
5.4.8 Cozinha e demais áreas de apoio
A “lixeira externa à edificação para armazenamento de resíduos até o momento da coleta” foi
o único tópico relacionado à cozinha e demais áreas de apoio atendido por todas as ILPIs de
Natal.
Por outro lado, nenhuma delas apresentou “luz de vigília”, “iluminação intensa e eficaz”,
“corrimão junto às paredes” e “detectores de escape de gás com alarme”. Este último item,
todas as pessoas consultadas pelo pesquisador para se obter a resposta, precisaram de uma
breve explicação para compreender o que seria. Apenas uma instituição apresentou uma
cozinha com espaço de circulação entre mobiliário e paredes inferior a 0,90 m.
A figura abaixo (Figura 6) apresenta uma área de apoio a cozinha de uma ILPI da cidade de
Natal-RN, neste caso um refeitório. Este fotografia foi registrada no início do horário do
lanche da tarde das idosas (esta instituição atende exclusivamente pessoas do sexo feminino).
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Figura 6 – Refeitório de uma ILPI da cidade de Natal-RN
5.4.9 Banheiros dos residentes
Apesar da campainha de alarme ser um item de extrema importância para o socorro de idosos
e de pessoas com mobilidade reduzida em caso de acidentes nos banheiros, nenhuma das
ILPIs possui esta tecnologia.
Itens como “luz de vigília sobre a porta, externa e internamente”, “iluminação intensa e
eficaz” e “vãos livres de 0,20 m na parte inferior das portas dos compartimentos internos dos
sanitários coletivos” não foram atendidos por nenhuma das instituições pesquisadas.
As barras de apoio são fundamentais nos banheiros para ajudar no apoio das pessoas com
mobilidade reduzida e também para auxiliar a transferência do cadeirante para a bacia
sanitária. Apenas os banheiros de uma instituição estavam com as barras de acordo com o que
exige a NBR 9050 exige, contrastantes em relação a parede fixada, com as mediadas corretas
e instaladas de forma adequada. Muitos banheiros das ILPIs pesquisadas possuíam barras de
apoio, no entanto, fora do padrão.
A figura (Figura 7) mostra um banheiro com vários problemas relacionados à acessibilidade,
barras de apoio em discordância com a exigida, ausência dessas barras, área de transferência
reduzida, área do banho com barreiras físicas (objetos) impedindo o alcance das barras e
diminuindo o espaço. Além disso, há problemas de higiene, a NR-24 (BRASIL/MTE, 1993)
afirma que os ambientes onde se encontram as instalações sanitárias devem ser submetidos a
higienização permanente, sendo limpos e desprovidos de odores durante toda a jornada de
trabalho
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Figura 7 – Banheiro de uma ILPI da cidade de Natal-RN com problemas de acessibilidade e higiene
A área de transferência para bacia sanitária deve ser igual ou superior a 0,80 x 1,20 m e a área
de manobra (externa ao banheiro) deve ser igual ou superior a 1,50 x 1,20 m. Em 40% das
ocorrências vistas, estas medidas estavam em desconforme com a NBR 9050 (ABNT, 2004).
Quando há a presença de boxe para vaso sanitário ou chuveiro nos banheiros, a norma
(ABNT, 2004) exige que este tenha largura mínima de 0,80 m. Duas das ILPIs pesquisadas
não possuem boxes em seus banheiros. Levando-se em conta apenas as instituições que
possuem boxe, pouco mais de 65% atenderam a exigência supracitada. E em nenhuma
instituição foi observado algum tipo de fechamento (cortina plástica, porta de acrílico ou
vidro) do boxe do chuveiro, atendendo assim o que determina a ANVISA e o MPAS
(Ministério da Previdência e Assistência Social) (ANVISA, 2004; BRASIL/MPAS, s/d).
Todas as ILPIs pesquisadas possuíam ao menos um vaso sanitário para cada seis usuários e
banheiros sem revestimentos que produzam brilhos e reflexos. No entanto, em uma das
instituições havia a presença de desnível em forma de degrau nos chuveiros
6. Considerações finais
Os principais problemas encontrados nas ILPIs que fizeram parte da pesquisa estiveram
relacionados a corredores estreitos ou com barreiras físicas, ausência de corrimão nas paredes
de ambientes de uso coletivo, portas, janelas e circulação inadequada nos dormitórios, e
banheiros em desacordo com a norma de acessibilidade NBR 9050 (ABNT, 2004).
Observou-se que todas as ILPIs pesquisadas necessitam de intervenções ergonômicas, que
poderão ser feitas através:
a) Da elaboração de projetos de interiores ou relayouts com finalidades de realização de
reformas dos ambientes físicos das ILPIs (quartos, refeitório, cozinha, áreas de
convivência, etc.);
b) Da introdução de tecnologias assistivas, ou seja, equipamentos ou sistemas que auxiliem o
ser humano na realização de suas atividades cotidianas. Cita-se como exemplo: corrimão,
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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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pisos antiderrapantes, faixas táteis, alarmes nas cabeceiras das camas, campainha de
alarme nos banheiros, entre outros.
c) Do treinamento de pessoal (funcionários gerais, profissionais de saúde e cuidadores),
qualificando-os com o intuito de melhorar o atendimento, a assistência e os cuidados aos
idosos residentes;
d) De colocação de sinalização atendendo a norma de acessibilidade (ABNT, 2004).
Estas intervenções têm a finalidade de, através da melhoria da acesibilidade dos idosos
residentes, facilitar a realização das suas atividades, ampliando, com isso, sua a autonomia e
melhorando sua segurança, sejam eles deficientes (motores, visuais, auditivos e mentais) ou
não.
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