MARCO HISTÓRICO-ECLESIAL DOS LEIGOS E LEIGAS
• Vamos celebrar 50 anos de encerramento do Vaticano II.
• Também é oportuno celebrar os 25 anos da Christifideles Laici, que
entende o significado positivo dos leigos como Povo de Deus: sujeitos
ativos na Igreja e no mundo.
• Devemos acrescentar também o Documento 62 que completa 15 anos e
oferece à Igreja discernimentos e orientações sobre o laicato na chave
da teologia e da organização dos ministérios.
O MUNDO NA IGREJA E A IGREJA NO MUNDO
• O mundo mostra hoje os frutos dessa época. Tudo está
planetariamente conectado e somos todos cada vez mais iguais. O
indivíduo é o centro de todas as relações e fechado em si mesmo.
• A Igreja está inserida nessa realidade como sinal de salvação no
mundo e servidora da humanidade. O leigo nem sempre acolhe seu
significado teológico e prático. A dicotomia Igreja-mundo persiste.
• O Vaticano II ofereceu orientações para superar essa dicotomia. O
aggiornamento possibilitou uma nova compreensão da relação Igreja
mundo. O leigo é sujeito eclesial que realiza o tríplice múnus de
Cristo. Promover a interação dessas realidades constitui o desafio.
POVO DE DEUS EM MISSÃO: DIÁLOGO E SERVIÇO
• A leitura da realidade, a partir da fé, é um legado do Concílio. A Igreja
permanece sempre atual, não obstante as mudanças históricas.
• A missão se faz no diálogo com as realidades em que a Igreja está inserida.
É uma postura que exige conversão dos cristãos em cada tempo e
realidade. Ser discípulo é estar em saída de si mesmo na busca do outro,
• Todos são chamados a vivenciar esse encontro e comunicá-lo por gestos e
palavras. Jesus envia a todos pela força do Espírito.
• Como Igreja, o laicato está em saída para a missão. O leigo em saída é a
Igreja referenciada pelo Reino e direcionada para o mundo;
O CRISTÃO LEIGO NUMA IGREJA “EM SAÍDA”
• O sujeito eclesial se define pela consciência de ser, pela experiência
de autonomia e corresponsabilidade na comunidade de fé e pela
ação na Igreja e no mundo. A condição de sujeito eclesial se opõe ao
individualismo e aos comunitarismos.
• Os leigos vivem inseridos na construção da vida social. A busca do
mundo novo é o horizonte onde a comunhão com Deus nos atrai.
• A Igreja vive um clima de renovação. O Papa convoca os leigos
para a consciência de sua pertença eclesial e de sua missão. A
Igreja ainda não vive essa realidade pelo clericalismo e pela falta
de consciência do próprio laicato.
PERSPECTIVA DO DOCUMENTO: CRISTÃO LEIGO COMO SUJEITO
ECLESIAL
• O presente documento pretende animar leigos e
leigas a se compreenderem e atuarem como sujeitos
eclesiais nas diversas realidades em que se
encontram inseridos. Dá especial ênfase a uma
necessária superação do clericalismo, do
individualismo e do comunitarismo.
A INSERÇÃO E O DISCERNIMENTO DOS CRISTÃOS NO MUNDO
• O mundo é o lugar da ação do cristão. A negação dessa realidade
constitui alienação e fuga da condição de discípulos
missionários. O ser humano é mundo. Nosso vínculo ao Deus
encarnado, se faz com tudo o que somos no mundo e com o mundo.
• Entender o mundo exige o olhar da fé e da razão. Devemos saber
ler o que é favor ou contra o projeto de Deus. A Igreja deve
perscrutar os sinais dos tempos para responder às interrogações .
• O cristão é chamado a viver como sujeito no mundo de forma
consciente, autônoma e ativa. A Igreja é carisma que vem do
Espírito e se concretiza na organização de sujeitos e funções.
O MUNDO GLOBALIZADO
• Vivemos no mundo definitivamente globalizado. Trata-se
de um sistema estruturado a partir de algumas bases
fundamentais:
• As tecnologias
• A organização financeira
• O sistema social
• A cidade
• A cultura urbana
• A sociedade da informação
CONSEQUÊNCIAS SOCIOCULTURAIS DO MUNDO GLOBALIZADO
• O comportamento uniformizador, autoritário e, em muitos casos,
sectário configura comunidades isoladas que podem ser mais
adequadamente definidas como comunitarismo.
• A re-institucionalização constitui uma via de afirmação de padrões e
valores como garantia de segurança.
• Essas tendências podem conviver e, até mesmo se fazer presentes
simultaneamente – e contraditoriamente – em indivíduos e grupos.
• A pluralidade é outra característica do mundo atual e se torna uma
realidade cada vez mais vivenciada em todas as esferas das relações
humanas e presente nos valores, nas convicções e práticas.
UMA IGREJA “EM SAÍDA”
• A Igreja é chamada a ser sacramento do amor e da
salvação de Deus, peregrina na história, como povo de
Deus.
• A Igreja deve estar voltada às alegrias e esperanças,
tristezas e angústias da humanidade.
• Portanto, a Igreja não é um clube de eleitos nem uma
alfândega controladora da graça de Deus. Há, no núcleo
da noção de Igreja, uma abertura radical que se estende
a todos os povos da terra.
UMA IGREJA “EM SAÍDA”• Somente assumindo uma atitude de abertura das portas é possível fazer
o movimento de saída em direção a todos. Cristo é o centro e a Igreja
está a seu serviço. O modelo que se impõe é ser uma Igreja em saída, em
direção a todas as periferias.
• A Igreja em saída é uma Igreja de discípulos missionários, onde a
comunidade missionária entra na vida diária de quem necessita,
encurta as distâncias, abaixa-se e assume a vida humana, tocando na
carne sofredora de Cristo no povo.
• Como sair da própria comodidade e empreender uma novidade
evangélica e expansiva? É a pergunta que cada comunidade, cada
clérigo, cada cristão leigo e leiga poderia se fazer.
ALGUNS DISCERNIMENTOS NECESSÁRIOS
• A Igreja é chamada a ser:
• Escola de vivência cristã
• Organização comunitária
• Comunidade inserida
• Grupo de seguidores
• Povo de Deus
• Comunidade que se abre
• A Igreja caminha para frente com lucidez e esperança, paciência e
caridade, coragem e humildade. A Igreja da escuta, do diálogo e do
encontro se insere no mundo como quem ensina e aprende, diz sim e não,
sobretudo como quem serve.
• A Igreja em saída é uma Igreja de portas abertas.
O CRISTÃO COMO SUJEITO• A noção de sujeito remete à noção de criatura, distinta do Criador,
chamada a dialogar com Ele e eticamente responsável pelo destino
de si e da história;
• Isso exige o equilíbrio entre o eu e o outro. Cada cristão é um
portador de qualidades vivenciadas na vida comum e cresce na
medida em que assume essa condição social.
• O leigo é o cristão maduro na fé, que se dispôs a seguir Jesus com
todas as consequências dessa escolha superando o infantilismo
eclesial.
• O sujeito cristão se realiza como pessoa na comunidade cristã. A
pessoa é uma unidade de consciência e de relação, cujo modelo é a
própria pessoa de Jesus Cristo.
SABOREAR A AMIZADE E A MENSAGEM DE JESUS
• O encontro com Jesus leva a uma espiritualidade integral que
contempla a conversão pessoal, o discipulado, a experiência
comunitária, a formação bíblico-telógica e o compromisso missionário.
• O amor que se mostra na imagem comunitária da Trindade e
desdobra-se na missão histórico-salvífica de Deus, da qual a Igreja
participa como sacramento. A missão da Igreja é motivada pela
reintegração da humanidade em uma vida plena de amor.
• Em virtude do batismo, todos os cristãos são chamados a viver e a
transmitir a comunhão com a Trindade.
• Deus uno e trino é a fonte e o modelo da vivência comunitária.
AS TENDÊNCIAS ECLESIAIS
• gnosticismo, uma fé fechada no subjetivismo, onde a pessoa fica
enclausurada na imanência de sua própria razão ou sentimentos;
• neo-pelagianismo auto-referencial e prometeico de quem, no fundo, só
confia nas suas próprias forças.
• O clericalismo é a versão religiosa da afirmação do princípio da
autoridade exercida pela instituição como o meio de organização de
toda a vida social.
• comunitarismo que afirma a obediência à norma como regra de
comportamento.
O SACERDÓCIO COMUM E A MISSÃO SOLIDÁRIA DOS CRISTÃOS
• O sacerdócio comum foi retomado no Concílio: Este Povo messiânico
tem por cabeça Cristo. É sua condição deste a dignidade e a liberdade
dos filhos de Deus, em cujos corações o Espírito habita. A sua lei é o
novo mandamento e tem por fim o Reino de Deus. Por isso é que este
Povo é para todo o gênero humano germe de unidade, de esperança e
de salvação. Estabelecido por Cristo como comunhão de vida, é
também por Ele como instrumento de redenção e enviado a toda a
parte.
• A Igreja é o povo enviado ao mundo em missão para construir o Reino
de Deus. O ministério ordenado deve ser serviço ao sacerdócio comum.
Todos os cristãos participam do sacerdócio de Cristo, são chamados a
entregar suas vidas a um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus.
O SACERDÓCIO COMUM E A MISSÃO SOLIDÁRIA DOS CRISTÃOS
• Os batizados são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo
para que ofereçam-se a si mesmos como hóstias vivas, santas, agradáveis a
Deus, deem testemunho de Cristo e àqueles que lhe pedirem deem razão da
esperança da vida eterna que neles habita.
• O sacrifício único de Cristo é incompreensível sem a ressurreição. Cruz
ressurreição revelam a lógica profunda da existência que não é sacrifício,
mas amor.
• A cruz de Jesus foi consequência do seu amor pelos outros, pelos desprezados.
A vida do cristão é sacerdotal, encarnado na autodoação salvífica de Jesus.
• O sacerdócio ministerial está a do desenvolvimento da graça batismal de
todos os cristãos.
A IGREJA NA SOCIEDADE• O significado da relação Igreja e mundo vem do Reino, que diz respeito ao
plano de Deus para a criação e tem sua realização no próprio Deus. A
Igreja é sinal visível do Reino. O mundo carrega sinais do Reino. A busca do
Reino é missão de todos.
• A Igreja é chamada a ser promotora do Reino. Dessa convicção ela se nutre
e nessa direção se organiza. A Igreja centrada em si anuncia a si mesma,
entende seus ministérios como poder e de fecha-se em relação ao mundo.
• O mundo é caracterizado por um pluralismo onde todos são chamados a
dar testemunho da fé e reconhecer a liberdade do outro para expressar suas
convicções religiosas. O leigo exerce também um ministério do diálogo e da
reconciliação.
A AÇÃO DOS CRISTÃOS LEIGOS: “SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO E FERMENTO NA MASSA”
• As imagens evangélicas do sal, da luz e do fermento são aplicadas
aos leigos. Falam da novidade e originalidade de uma inserção e
de uma participação destinadas à difusão do Evangelho que salva.
• O ser laical da Igreja se expressa ao impregnar e penetrar as
realidades temporais com o espírito cristão e ao testemunhar
Cristo em todas as circunstâncias, no interior da comunidade
humana. Os leigos deverão levedar a totalidade e integridade das
estruturas de convivência humana, inculturando a fé, sendo
animadores e promotores do diálogo social como contribuição
para a paz
A AÇÃO DOS CRISTÃOS LEIGOS: “SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO E FERMENTO NA MASSA”
• A cada tempo histórico, surgem campos prioritários da ação dos leigos e
leigas. Na América Latina e no Brasil vários documentos aprofundaram
a presença dos leigos e leigas nesses campos conforme nossa realidade.
• Portanto, é função própria do cristão leigo ser Igreja na sociedade civil e
nos espaços públicos.
• A Pastoral Familiar é espaço privilegiado para conscientizar sobre a
vocação matrimonial e suas exigências. Há leigos que optam pela vida
consagrada.
• Com tudo isto, surge um desafio: a formação dos leigos e a evangelização
das categorias profissionais e intelectuais.
CRITÉRIOS GERAIS• O Papa Francisco sugere alguns critérios:
• A ação evangelizadora inclui sempre a Igreja, a sociedade e cada
sujeito individual como força renovadora e razão de ser da ação de
todo Povo de Deus
• A ação é sempre discernimento das realidades concretas
• A ação é preferível à estabilidade e à estagnação
• A ação tem um foco concreto: a opção pelos pobres
• O diálogo com o mundo social, cultural, religioso e ecumênico deve
promover a cultura do encontro e a inclusão do outro na vivência da
fraternidade
• A ação deve considerar a primazia do humano.
CRITÉRIOS ESPECÍFICOS• O Papa enumera também quatro princípios específicos para a construção de um
povo de paz, justiça e fraternidade:
• 1º. O tempo é superior ao espaço. Trata-se de privilegiar as ações que geram
novos dinamismos e comprometem pessoas e grupos que os desenvolverão até
frutificar em acontecimentos;
• 2º. A unidade prevalece sobre os conflitos. A unidade é um princípio superior
que norteia a ação e gera caminhos de superação e de comunhão maior, capaz
de agregar diferenças;
• 3º. A realidade é mais importante que as ideias. A realidade é o lugar da
encarnação da Palavra de Deus no decorrer da história de ontem e de hoje;
• 4º. O todo é superior à parte. O global e o local estão, mais do que nunca, em
tensão em nossos dias.
PRINCÍPIOS E DIREÇÕES
• São princípios da formação: a relação Igreja-mundo-Reino, a dimensão
comunitária, a opção pelos pobres, respeito às questões de gênero, a
relação teoria e prática, a inculturação, a pedagogia libertadora e
participativa, a progressividade e avaliação. A formação deve ser:
• integral
• fundamentada na Palavra de Deus
• missionária e inculturada
• articuladora
• prática
• específica
• permanente e atualizada
• planejada