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ALLAN MACEDO DE NOVAES
JORNALISMO DE CONTROVÉRSIA Uma análise do tratamento jornalístico dado pela revista Superinteressante às incertezas
científicas
Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo - SP, 2008
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ALLAN MACEDO DE NOVAES
JORNALISMO DE CONTROVÉRSIA Uma análise do tratamento jornalístico dado pela revista Superinteressante às incertezas
científicas
Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Isaac Epstein.
Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo - SP, 2008
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FOLHA DE APROVAÇÃO
A dissertação sob o título “Jornalismo de controvérsia: uma análise do tratamento jornalístico dado pela revista Superinteressante às incertezas científicas”, elaborada por Allan Macedo de Novaes, foi defendida em 14 de abril de 2008, perante a banca examinadora composta por Isaac Epstein (Presidente), Cicilia Peruzzo (Umesp) e Olinda do Carmo Luiz (FMABC).
Assinatura do orientador:
Nome do orientador: Isaac Epstein
Data: São Bernardo do Campo, 13 de junho de 2008.
Visto do Coordenador do Programa de Pós-Graduação:
Área de concentração: Processos Comunicacionais
Linha de Pesquisa: Comunicação Especializada
Projeto Temático: Trânsito da Comunicação Científica Primária (Interpares) para a comunicação secundária (Comunicação Pública da Ciência
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LISTA DE TABELAS E QUADROS
TABELA 1: Sentido dos títulos de capa.....................................................68 TABELA 2: Sentido dos títulos internos....................................................68 TABELA 3: Ausência de delimitações e advertências...............................70 TABELA 4: Ausência de dados básicos sobre a pesquisa..........................71 TABELA 5: Ausência de discussão filosófica sobre a ciência...................72 TABELA 6: Ausência de advertências sobre os limites da área.................73 TABELA 7: Ausência de divergências de estudos anteriores.....................74 TABELA 8: Ausência de informações sobre o estágio da pesquisa...........75 TABELA 9: Ausência de explicações sobre o processo ou procedimentos do estudo......................................................................................................76 TABELA 10: Número de fontes consultadas nas reportagens....................77 TABELA 11: Ausência de confronto entre fontes......................................78 TABELA 12: Peso dado a cientistas de primeira linha, de segunda linha e não-especialistas..........................................................................................78
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................10
Problema de pesquisa............................................................................15 Hipóteses...............................................................................................15 Objetivos...............................................................................................15 Justificativa............................................................................................16 Métodos e técnicas................................................................................17 Desenvolvimento da pesquisa...............................................................18
CAPÍTULO 1 – CIENTIFICISMO E A CRISE DA CIÊNCIA MODERNA.................................................................................................20
1.1. O nascimento da ciência moderna..................................................20 1.2. Positivismo, cientificismo e a superioridade da ciência.................22 1.3. A crise da ciência moderna............................................................24
CAPÍTULO 2 – CIÊNCIA E DISCURSO: CIENTISTAS E JORNALISTAS EM COLISÃO.................................................................35
2.1. Ciência, verdade e discurso............................................................35 2.2. Discurso científico, discurso de divulgação científica e discurso jornalístico.............................................................................................38
CAPÍTULO 3 – OS JORNALISTAS E AS INCERTEZAS E CONTROVÉRSIAS DA CIÊNCIA............................................................43
3.1. Os jornalistas tornam a ciência mais exata e consistente do que realmente é............................................................................................43
3.1.1. Ausência de advertências e delimitações............................44 3.1.2. Matérias de uma única fonte ou ausência do contraditório..................................................................................46 3.1.3. Falta de contexto e ênfase nos resultados mais do que nos processos.......................................................................................49 3.1.4. Busca triunfante..................................................................50
3.2. Os jornalistas fazem a ciência parecer incerta e controversa.........50 3.2.1. Reversões inexplicáveis......................................................51 3.2.2. Mesmo peso para cientistas de primeira linha e segunda linha e mesmo peso a cientistas e não-cientistas...........................51
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CAPÍTULO 4 – SUPERINTERESSANTE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E EDITORIAL................................................................................................53
4.1. Superinteressante: origem multinacional.......................................53 4.2. Primeiras gestões: visão otimista da ciência..................................54 4.3. Últimas gestões: abertura ao religioso e metafísico.......................58
CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS REPORTAGENS DE SUPERINTERESSANTE.............................................................................61
5.1. Roteiro para uma análise de conteúdo............................................62 5.2. Breve descrição das reportagens analisadas...................................65 5.3. Incertezas científicas nos títulos de Superinteressante..................67 5.4. Ausência de advertências e delimitações em Superinteressante....70 5.5. Falta de contexto e ênfase nos resultados mais do que nos processos em Superinteressante............................................................75 5.6. Ausência do contraditório em Superinteressante...........................77 5.7. Mesmo peso para cientistas de primeira linha e segunda linha e mesmo peso para cientistas e não-cientistas em Superinteressante......78
CONCLUSÃO.............................................................................................81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................87
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NOVAES, Allan M. Jornalismo de controvérsia: uma análise do tratamento jornalístico dado pela revista Superinteressante às incertezas científicas. 2008. 137 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo.
RESUMO
Este trabalho é uma discussão sobre o tratamento que a revista Superinteressante concede às incertezas e controvérsias na ciência. Emprega-se uma análise de conteúdo sobre as reportagens de capa da revista no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2007. O objetivo é identificar elementos jornalísticos que permitam analisar que tipo de concepção de ciência predomina nas matérias do periódico: se uma visão cientificista da ciência como verdade absoluta, precisa e segura ou se uma visão da ciência como construção histórica e social.
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RESUMEN
Esta investigación es una discusión sobre el tratamiento dado a las incertidumbres y a las controversias de la ciencia por la revista Superinteressante. La investigación utiliza un análisis del contenido de los informes de la fachada del Superinteressante en el período de del enero de 2004 al diciembre de 2007. El objetivo es identificar los elementos periodísticos que permiten analizar qué tipo de la noción de la ciencia prevalece en los informes del Superinteressante: si prevalece la visión cientificista de la ciencia como absoluta, exacta y cierta o si prevalece una visión de la ciencia como construcción histórica y social.
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ABSTRACT
This research is a discussion about the treatment given to science’s uncertainties and controversies by the magazine Superinteressante. It’s utilize The research utilizes a content analysis of the Superinteressante’s cover reports in the period of January 2004 to December 2007. The objective is identify journalistic elements that permit to analyse wich type of science’s notion prevails in the Superinteressante’s reports: if prevails cientificist vision of science as absolute, accurate and certainty truth or if prevails a vision of science as historical and social construction.
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Introdução
"Ninguém pode orgulhar-se de ter dito a última palavra sobre uma teoria enquanto não a possa explicar em termos simples a qualquer um que encontre na rua.”
Georgonne , matemático (1771-1859)
Quando se trata do universo da divulgação da ciência, a aplicação do ditado do
matemático Georgonne é clara: o conhecimento científico, se não for popularizado, isto
é, disponibilizado à sociedade em linguagem simples e didática, pouco pode mudar o
mundo, a vida, o cotidiano. Uma vez que “os meios de comunicação são o caminho
mais imediato e abrangente de intensificar a divulgação científica perante o público”
(IVANISSEVICH, 2006, p.13 e 14), espera-se que o jornalista de ciência cumpra o
dever de partilhar o saber científico. Sua grande tarefa, portanto, é traduzir, converter e
interpretar o “cientifiquês” dos pesquisadores para o bom e velho português do leitor,
espectador ou ouvinte comum. É dessa forma que o trabalho do jornalista científico ao
permitir que a população tenha acesso a informações de Ciência e Tecnologia (C&T) é
fundamental para o exercício pleno da cidadania (OLIVEIRA, 2005, p.13).
No entanto, como afirma o ditado “traduttore, traditore”, a prática do jornalismo
científico de traduzir, converter e interpretar o conhecimento científico para a
linguagem jornalística e popular enfrenta vários desafios. Jornalistas e acadêmicos
como Fahnestock (2005), França (2005), Gregory e Miller (2000), Luiz (2004),
Stocking (2005) Teixeira (2002) e Tuffani (2005), entre outros, apresentaram estudos
sobre os problemas dessa modalidade de divulgação científica, produzindo e avaliando
críticas e advertências sobre o processo e os resultados da cobertura de ciência pela
imprensa. Uma das principais preocupações em relação à prática do jornalismo
científico concentra-se no tratamento que os jornalistas concedem às incertezas e
controvérsias científicas.
Dentro vários estudos que descrevem e analisam essa problemática, a análise
feita por Stocking (2005) traz um equilibrado panorama de diversas pesquisas sobre a
maneira como a imprensa reporta a certeza e a incerteza na ciência e como ela lida com
as contradições e divergências da comunidade científica.
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Implantes nos seios. Síndrome da Guerra do Golfo. Aquecimento global. Chuva ácida. Todos os dias os jornalistas são bombardeados com releases e pacotes de notícias prontas para a imprensa, provenientes de cientistas, sociedades e periódicos científicos, da indústria, de grupos com interesses específicos, de grupos de proteção ao meio ambiente e de defesa do consumidor, todos eles com intenção de moldar interpretações públicas da ciência. Parte desse material que aparece nas mesas dos jornalistas minimiza as incertezas das afirmações científicas relacionadas às escolhas públicas; outra parte, não. Parte interpreta essas mesmas descobertas como exageros criados em benefício próprio. Há, ainda, uma parte em que se afirma existir praticamente um consenso, senão uma certeza, com relação ao que os cientistas acham que sabem; outra parte se opõe a isso, enfatizando a natureza controversa dessas informações. Como os jornalistas lidam com essa barragem de afirmações e contra-afirmações científicas? (...) Por um lado, os jornalistas são freqüentemente acusados de fazer com que as afirmações científicas pareçam mais consistentes e seguras do que realmente são; por outro, às vezes, os jornalistas são duramente criticados por fazerem a ciência parecer mais incerta e desconcertante do que de fato ela pode ser. (STOCKING, 2005, p.161)
Para Stocking (2005, p.177), a certeza e a incerteza na ciência podem ser
verificadas pela presença ou ausência das expressões com sentido de possibilidade ou
garantia, como “pode” e “sugere”, por exemplo. É possível identificar como o jornalista
lida com a certeza e a incerteza na ciência também por meio de advertências que
especificam os limites do conhecimento em questão ou através de declarações de que o
conhecimento é preliminar e incerto (STOCKING, 2005, p.177). Além disso, a própria
ignorância no sentido de ausência do conhecimento científico, quando destacada ou
minimizada, pode revelar de igual forma a maneira como os jornalistas enxergam as
limitações e incertezas da ciência.
Dessa forma, Stocking identificou oito elementos nas matérias jornalísticas que
permitem analisar o tratamento que os jornalistas concedem ao consenso e as
controvérsias na ciência. Cinco elementos são listados como sendo aqueles com os
quais “os jornalistas são acusados de fazer com que as afirmações científicas pareçam
mais consistentes e seguras do que realmente são” (2005, p.161), a saber, a ausência de
advertências, especificações e delimitações das pesquisas nos textos jornalísticos;
matérias de uma ou de poucas fontes, o que se chama também de ausência do
contraditório; falta de contextualização social e histórica ao reportar as pesquisas;
matérias com ênfase no produto e no resultado das pesquisas mais que com o processo
das mesmas; e a tentativa de considerar a ciência como sendo uma atividade triunfante,
isto é, destinada ao sucesso e a resolução de todos os problemas da humanidade – dos
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mais simples aos mais complexos e caóticos. Além disso, identificou também três
elementos que fazem com que a ciência seja imprecisa e incerta, a saber, reversões
inexplicáveis; mesmo peso dado a cientistas de primeira e segunda linha; e mesmo peso
dado a cientistas e não-cientistas (STOCKING, 2005, p.167-170).
Direta ou indiretamente, todos os elementos presentes nas matérias jornalísticas
sobre ciência descritos acima e identificados como sendo responsáveis por tornar a
pesquisa científica mais certa, precisa e segura – ou o contrário – estão ligadas a
concepção de ciência compartilhadas por cientistas e, principalmente, por jornalistas.
França (2005), Gregory e Miller (2000), Magalhães (2003) e Teixeira (2002) são alguns
dos autores que afirmam que os motivos por trás dos problemas apresentados na
cobertura jornalística sobre as incertezas e controvérsias na ciência encontram-se na
compreensão de que a ciência é o empreendimento mais seguro e confiável da
humanidade e que o saber científico é infalível e absoluto.
O problema da divulgação científica se depara com o despreparo de grande parcela dos jornalistas, não tanto para com os conhecimentos específicos envolvidos, que não são sua obrigação, mas principalmente para com o desconhecimento do que é a natureza da atividade científica. É como se [...] os meios de comunicação resolvessem entronizar como verdades absolutas aquelas que são historicamente transitórias, fazendo dos cientistas a imagem positivista do herói. (MAGALHÃES, 2003, p.10)
O despreparo dos jornalistas ao qual se refere Magalhães é o desconhecimento
da maior parte dos profissionais da imprensa sobre o desenvolvimento das discussões
epistemológicas da Filosofia da Ciência no último século. Apesar de uma sucessão de
pensadores como Jean-François Lyotard, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend, entre
outros, descreverem a ciência como sendo uma construção social influenciada pelo meio
político e socioeconômico na qual está inserida, de acordo com Tuffani (2005, p.50) e
Gregory e Miller (2000, p.107), boa parte da comunidade jornalística está alheia às
reflexões filosóficas sobre a ciência e ainda parece manter a concepção positivista do
saber científico como produtor de verdades absolutas.
O positivismo foi uma corrente filosófica desenvolvida por Augusto Comte
(1798-1856) que buscou intensificar a separação entre o natural e o sobrenatural,
estabelecendo a ciência como o conhecimento mais seguro e preciso entre os saberes
(SIMON, 1986, p. 120). A essa exaltação da ciência chama-se cientificismo, cuja
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concepção consiste na determinação do método científico como sendo o único válido
entre os saberes para se obter a verdade sobre as coisas (ARANHA e MARTINS, 1993,
p. 116). A maneira triunfalista com que a ciência era tratada acabou por gerar uma
espécie de dogmatismo científico – gradativamente, a visão cientificista do mundo
arrogou para si a responsabilidade de formar um novo discurso sobre a natureza, a vida
e o universo.
Para Thuillier (apud EPSTEIN, 2002, p.62), o cientificismo baseia-se em dois
axiomas: na “superioridade teórica”, no qual o conhecimento científico é o único
autêntico, seguro e confiável e na “superioridade prática”, no qual todos os problemas
humanos podem ser resolvidos com base no conhecimento científico. Com o tempo,
Chauí (2005, p.235) afirma que a compreensão cientificista da ciência provocou uma
espécie de “mitologização” ou “divinização” na qual há se fortalece a “crença na ciência
como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando- lhes lugar
que muitos costumavam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades
intemporais, absolutas e inquestionáveis”. Ela também destaca a ocorrência da
“ideologização” da ciência, cuja crença consiste na certeza que o progresso e a evolução
dos conhecimentos científicos um dia “explicarão totalmente a realidade e permitirão
manipulá-la tecnicamente, sem limites para a ação humana” (CHAUÍ, 2005, p.235).
Dessa forma, poder-se-ia definir o cientificismo como uma maneira de se
compreender a ciência que a torna divina, mitológica e ideológica. A ciência portar-se-
ia como 1) divina e mitológica quando admitisse ser o único conhecimento confiável,
seguro, epistemologicamente superior e, por isso, descobridor de verdades eternas,
inquestionáveis e absolutas e 2) ideológica quando afirmasse ser o único conhecimento
capaz de solucionar todos os problemas da humanidade, sejam eles de caráter técnico,
filosófico ou científico, acreditando ter o poder para manipular de maneira ilimitada a
natureza em prol do progresso.
No entanto, com o passar das décadas, a concepção positivista e cientificista da
ciência encontraria dificuldades epistemológicas e mesmo científicas para continuar de
pé. Já no final do século XIX e no início do século XX algumas descobertas no campo
da matemática e da física “golpearam rudemente as concepções clássicas, originando o
que se pode chamar de crise da ciência moderna” (ARANHA e MARTINS, 1993, p.
162). Autores como Bellino (1998), Mondin (1981) e Terrin (1996) relacionam o início
da crise da ciência moderna à chegada da teoria geral da relatividade, a ascensão da
física quântica e a consolidação da teoria da entropia ou segunda lei da termodinâmica
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que, entre outras causas, abalaram as visões de mundo fundamentadas na geometria
euclidiana e na física newtoniana. Além disso, as idéias de Karl Popper (1902-1994),
Thomas Kuhn (1922-1996), Paul Feyerabend (1924-1994) e Jean-François Lyotard
(1925-1998), entre outros, minaram a superioridade teórica e prática da ciência como
compreendida pelo cientificismo, gerando um período no qual houve urgente
“necessidade de reavaliação do conceito de ciência, dos critérios de certeza, da relação
entre ciência e realidade” e até mesmo da “validade dos modelos científicos”
(ARANHA e MARTINS, 1993, p.163).
No entanto, apesar de duramente combatido por pensadores e filósofos da
ciência, a pretensa superioridade epistemológica, a ideologia triunfalista e a
mitologização e divinização da ciência colaboraram para criar o estereótipo da
neutralidade científica. E é no fortalecimento e reprodução desse rótulo da ciência que
se concentram as críticas e advertências à cobertura jornalística de ciência (FRANÇA,
2005; MAGALHÃES, 2003; TEIXEIRA, 2002; TUFFANI, 2005). Essa preocupação
ganha contornos de urgência porque tanto o trabalho do cientista como o do jornalista
estão estreitamente vinculados ao princípio da verdade. De uma forma ou de outra, a
noção que separa o real do imaginário, o correto do errado e o verdadeiro do falso é
considerada como sendo a base que sustenta tanto a prática científica como a
jornalística. A infração do princípio da busca pela verdade por ambas as áreas não
ocorre sem perda de credibilidade, descaracterização da prática profissional e
desvirtuamento ético.
Moreira traça um panorama do estado em que se encontra a prática jornalística
sobre ciência.
De uma maneira geral, o jornalismo científico brasileiro ainda é, em grande parte, calcado em uma visão mistificada da atividade científica, com ênfase nos aspectos espetaculares ou na performance genial de determinados cientistas. A ênfase nas aplicações imediatas da ciência é também generalizada. Raramente são considerados aspectos importantes na construção de uma visão realista sobre a ciência, como as questões de risco e incertezas, ou o funcionamento real da ciência com suas controvérsias e sua profunda inserção no meio cultural e socioeconômico (2002, p.63).
Avaliar como está o jornalismo científico brasileiro no que se refere a
reprodução da compreensão cientificista de ciência, que faz com que o conhecimento
científico seja mais certo e preciso do que de fato é, mostra-se urgente e indispensável.
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Ainda mais quando se leva em conta que uma visão cientificis ta da ciência pode estar
sendo reproduzida na cobertura de temas polêmicos e principiantes na pesquisa
científica – ou seja, temas ainda não consensuais na comunidade científica.
Problema de pesquisa Diante dos desafios apresentados ao jornalismo científico, faz-se necessário,
portanto, verificar se há elementos indicadores da maneira como se aborda
jornalisticamente as incertezas e controvérsias na ciência que permitam identificar se
ocorre reprodução da compreensão cientificista da ciência no veículo jornalístico.
Assim, poderá ser verificado se a abordagem jornalística do periódico fortalece a
imagem de uma ciência portadora de verdades absolutas e incontestáveis em detrimento
de uma visão da ciência como construção social, influenciada pela cultura e pela
sociedade.
Hipóteses A primeira hipótese orientadora dessa pesquisa, portanto, é a de que pode haver,
nas revistas especializadas em ciência, elementos que indicam o predomínio de matérias
que reproduzem uma visão cientificista da ciência, fortalecendo o rótulo do saber
científico como único, preciso, seguro, irrefutável, objetivo, neutro e verdadeiro. A
segunda hipótese orientadora da pesquisa é a de que pode haver pouca exploração ou
informação jornalística dos limites, riscos, controvérsias e incertezas nas matérias sobre
ciência.
Objetivos Para tanto, escolhi a revista Superinteressante para, como objetivo geral,
constatar que tipo de concepção de ciência a revista apresenta em suas reportagens de
capa cujos temas ainda não consensuais na comunidade científica ou cujos estudos
ainda não permitem um posicionamento seguro e preciso dos pesquisadores. Os
objetivos secundários consistem em identificar os elementos que indicam como os
jornalistas lidam com as incertezas científicas – se fazendo a ciência parecer mais
segura e precisa do que é de fato ou se a fazendo parecer mais imprecisa e incerta do
que pode ser – por meio de um formulário de codificação desenvolvido para esta
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pesquisa e que está baseado nos conceitos de cobertura de certezas e incerteza
científicas pela mídia de Stocking (2005). E, por meio da identificação desses
elementos, avaliar qual a compreensão da ciência predomina na revista, se uma ciência
positivista ou se uma ciência realista, conforme as análises de Fourez (1995), França
(2005), Gregory e Miller (2000), Magalhães (2003), Teixeira (2002) e Tuffani (2005).
Justificativa
Avaliar como a imprensa especializada aborda a incerteza e a controvérsia na
ciência é fundamental para discutir a ética e a coerência da atuação profissional do
jornalista, uma vez que ao profissional da imprensa cabe a responsabilidade, muitas
vezes, de ensinar o que é ciência ao grande público. Diante dessa missão pedagógica, é
necessário compreender como os jornalistas vêem a ciência, em que acreditam, o que
defendem, enfim, é importante entender que tipo de compreensão da natureza, da vida e
do universo eles divulgam em sua matérias.
Diante dos perigos que uma tarefa jornalística pode apresentar ao ser realizada
de maneira apaixonada, este presente trabalho busca identificar elementos nas
reportagens de capa da Superinteressante que permitam constatar se ocorre uma
divulgação da ciência aos moldes da compreensão cientificista positivista do saber
científico, o que implica crença numa ciência mitologizada e divinizada, detentora de
todo o saber e das soluções para todos os problemas.
A escolha da Superinteressante se deve a basicamente duas razões. Em
primeiro lugar, é preciso mencionar aqui que dada a natureza do tipo de pesquisa
proposta neste trabalho, faz-se necessário que sejam avaliadas reportagens de veículos
considerados como sendo publicações de jornalismo científico e não de divulgação
científica ou categorias mistas de classificação. Revistas como Ciência Hoje e Scientific
American Brasil, por exemplo, não foram incluídas na seleção dos objetos de pesquisa
por utilizarem-se de uma linguagem mais técnica que popular e por serem dirigidas,
sobretudo, a comunidade acadêmica e não a sociedade em geral, ao contrário da
Superinteressante. Além da linguagem e da restrição de público, tanto a Scientific
American Brasil como a Ciência Hoje são escritos basicamente por pesquisadores e os
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jornalistas trabalham como editores ou colaboradores apenas (CARVALHO1, 1996).
Tais caracterizações, portanto, apontam a Superinteresante como o objeto mais
adequado a pesquisa proposta no presente trabalho.
Em segundo lugar, faz-se necessário justificar a exclusão da revista Galileu,
que também apresenta características de publicação de jornalismo científico. A escolha
solitária da Superinteressante deve-se ao fato da revista demonstrar ser, pelo número de
vendas e pela expansão de produtos ligados a marca Super, a mais expressiva e lida
entre as revistas do gênero no Brasil atualmente.
Dessa forma, ainda assim é possível que a avaliação da cobertura de certezas e
incertezas científicas na Superinteressante represente, com um grau razoável de
confiabilidade, a compreensão da ciência por jornalistas de revistas especializadas na
temática.
Métodos e técnicas Portanto, este trabalho objetiva identificar os elementos que indicam a
concepção de ciência divulgada na revista Superinteressante, no período de quatro anos
– de 2004 a 2007. Compreende-se que o período dos últimos quatro anos de produção
jornalística da revista reflita melhor a atual prática e linha editorial, bem como indica
com certo grau de precisão quais as tendências a serem seguidas pelo fazer jornalístico
do gênero. As reportagens a serem analisadas serão: 1) as de capa, por representarem a
informação que a própria revista considera a mais importante e que, provavelmente,
devido ao destaque, serão as mais lidas; 2) as de temática polêmica, que abordam
assuntos ainda não consensuais ou cujo conhecimento da área ainda não permita um
discurso uniforme da comunidade científica.
Dessa forma, será feita uma análise de conteúdo (BARDIN, 1977 e EPSTEIN,
2002) para identificar quais, com que intensidade e com que freqüência os elementos
das reportagens que caracterizam a ciência como mais segura e precisa do que é
realmente, segundo Stocking (2005), encontram-se nas matérias analisadas. As
características do fazer jornalístico a serem procuradas nas reportagens de capa da
Superinteressante são “ausência de advertências”, “matérias de uma única fonte ou
ausência do contraditório”, “falta de contexto e produto mais que processo” e “busca 1 Carvalho desqualifica apenas a revista Ciência Hoje como não sendo uma publicação de jornalismo científico. No entanto seus critérios podem ser, com poucas e não determinantes adaptações, aplicados também a revista Scientific American Brasil.
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triunfante” (STOCKING, 2005, p. 162-167). Além disso, procurar-se-á, também,
elementos que fazem a ciência parecer mais imprecisa e insegura do que pode ser, a
saber, “reversões inexplicáveis”, “mesmo peso para cientistas de primeira linha e
secundários” e “mesmo peso para cientistas e não-cientistas” (STOCKING, p.167-170).
As unidades de análise a serem nomeadas são (1) capa (2) reportagem. Além do
trabalho de Stocking (2005), base da presente pesquisa, análises quantitativas e a
criação de categorias em Marques de Melo (1972) auxiliaram na criação do formulário
de codificação.
Para uma maior organização na estrutura da dissertação, uma descrição mais
detalhada e sistematizada dos passos seguidos na presente pesquisa a respeito da
definição das análises de registro e da formulação de um sistema de categorização e
quantificação, ver o capítulo 5, intitulado “Análise de conteúdo das reportagens de
Superinteressante”.
Desenvolvimento da pesquisa A dissertação está dividida em cinco capítulos. O primeiro capítulo, intitulado
“Cientificismo e a crise da ciência moderna”, apresenta um resgate da evolução das
discussões filosóficas sobre ciência nos últimos séculos, enfatizando o confronto entre a
visão epistêmica positivista da ciência e a visão epistêmica gerada pela chamada crise
da ciência moderna. A proposta deste capítulo, ao apresentar uma análise crítica do
cientificismo e seus postulados, torna-se indispensável para entender a maneira como os
jornalistas abordam as incertezas na ciência dado que o desconhecimento histórico e
filosófico da ciência por parte da imprensa gera muitos problemas éticos e ideológicos
na cobertura jornalística.
Para se compreender o tratamento que a imprensa concede as incertezas e
controvérsias na ciência, é preciso também estabelecer definições e conceitos sobre as
diferenças que existem entre cientistas e jornalistas: suas aspirações, motivações, rotina,
linguagens e audiências. Assim, o segundo capítulo, “Ciência e discurso: jornalistas e
cientistas em colisão”, busca compreender melhor as condições conceituais e teóricas
resultantes do conflito de culturas e discursos entre a classe jornalística e comunidade
científica para melhor fundamentar a análise da revista Superinteressante.
O terceiro capítulo, “Os jornalista e as incertezas e controvérsias da ciência”,
apresenta uma descrição da análise de Stocking (2005) sobre a maneira como a
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imprensa reporta o consenso e a incerteza na ciência e como ela lida com as
contradições e divergências da comunidade científica. Stocking identifica cinco
elementos em comum que demonstram que os jornalistas tornam a ciência mais exata
do que ela é e três elementos que demonstram que a imprensa torna a ciência mais
incerta e imprecisa. Neste capítulo, portanto, todos esses elementos são devidamente
descritos e analisados.
O capítulo quatro, “Superinteressante: trajetória histórica e editorial”, faz um
resgate da história da revista concentrando-se nas transformações editoriais e suas
relação com uma visão cientificista da ciência.
O capítulo cinco, “Análise de conteúdo das reportagens da Superinteressante”,
avalia a intensidade e freqüência da presença – ou ausência – dos elementos de Stocking
na amostra de reportagens de capa da Superinteressante com o objetivo de identificar o
tratamento jornalístico dado às incertezas e controvérsias na ciência. Discute-se também
se uma visão cientificista da ciência é reforçada na prática jornalística da revista.
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Capítulo I Cientificismo e a crise da ciência moderna
(...) o profissional de imprensa que busca ter uma atitude crítica, não apenas com suas fontes mas com relação ao próprio conhecimento, não pode ser indiferente ao fato de que não existe consenso sobre os fundamentos e os limites da ciência – e desde antes do início daquilo que hoje chamamos de ciência moderna. E isso traz implicações diretas para um dos principais preceitos éticos do jornalismo, que é o dever de jamais frustrar a manifestação de opiniões divergentes e o livre debate de idéias. (TUFFANI, 2005, p.67)
A ignorância ou pouco conhecimento sobre a evolução do pensamento científico
nos últimos séculos é, para muitos jornalistas especializados em ciência como Tuffani,
causadora de diversas distorções no tratamento dado às incertezas e controvérsias
científicas. O desconhecimento do que é a natureza científica por parte dos jornalistas
representa, para Magalhães (2003, p.10) a entronização de pesquisas transitórias como
verdades absolutas e de cientistas e especialistas como a legítima “imagem do herói
positivista”. Diante dessa realidade, Geraque considera que o jornalismo científico tem
que aprender muito com as desconstruções e críticas filosóficas para poder realizar seu
trabalho de maneira eficiente e coerente (2005, p.81).
O despreparo dos jornalistas em relação a não conhecer e compreender o
desenvolvimento histórico das discussões epistemológicas no último século tem gerado
uma série de problemas éticos e ideológicos a serem analisados nesta presente pesquisa.
Para tanto, é necessário resgatar a evolução das discussões filosóficas sobre ciência nos
últimos séculos, em especial o confronto entre a visão epistêmica positivista da ciência e
a visão epistêmica gerada pela chamada crise da ciência moderna. E é exatamente essa a
proposta deste capítulo.
1.1. O nascimento da ciência moderna
A ciência moderna surge da necessidade do ser humano em compreender os
fenômenos da natureza com critérios além daqueles antes estabelecidos pela teologia
judaico-cristã medieval e pelo pensamento aristotélico. Enquanto a ciência na Idade
Média servia-se da crença no sobrenatural e na revelação bíblica como critérios de
verdade, a ciência moderna nasce com base em rigorosos métodos de observação e
experimentação para explicar a realidade (ARANHA e MARTINS, 1993, p. 144 e 148).
21
Com a chegada da Idade Moderna, a procura por explicações não-religiosas
para definir a verdade sobre a vida e o mundo tornou-se não somente a mola propulsora
da sociedade, mas a essência do pensamento coletivo. Chauí (2005, p. 220), Cotrim
(1999, p. 39), Grenz (1997, p. 94) e Oliva (2003, p. 17) demonstram que a Renascença
lançou os fundamentos da mentalidade moderna. Os pensadores renascentistas, entre
eles o filósofo e cientista inglês Francis Bacon (1561-1626), estabeleceram a base da
“moderna empresa científica”, ao reacenderem o estudo técnico e “o interesse pelas
obras do mundo à sua volta” (GRENZ, 1997, p. 94) em detrimento da excessiva
“preocupação com a vida após a morte” e a prevalência exagerada do “interesse pelas
discussões religiosas”, comum à sociedade da época (ARANHA e MARTINS, 1993, p.
144).
Com o Renascimento, o pensamento científico passou a ser baseado no
racionalismo e na mentalidade crítica diante da realidade, a qual só a razão seria capaz
de perscrutar. O saber contemplativo, por sua vez, dá lugar a um saber ativo, já que o
conhecimento não parte apenas de noções e princípios teológico-filosóficos, como
pensavam os cientistas medievais, “mas da própria realidade observada e submetida a
experimentações” (ARANHA e MARTINS, 1993, p. 148).
A grande reviravolta da era moderna diz respeito a como a natureza passou a ser percebida. Enquanto na época medieval era considerada sagrada, na moderna passa a ser vista como objeto a ser dissecado, explicado e, quando possível e desejável, modificado com base nos interesses maiores da humanidade. Da sacralização da natureza se passa à atitude que visa ter sobre ela controle instrumental proporcionado pelo saber com vocação praxiológica. A partir do Novum organum de Francis Bacon, conhecimento autêntico é o que, fundando-se na observação, vai propiciar poder sobre os fenômenos estudados. (OLIVA, 2003, p.17)
Apesar de lançar os fundamentos da mentalidade científica moderna, a
Renascença não foi responsável pela consolidação da razão como critério absoluto de
verdade. Grenz (1997, p. 97) afirma que a Renascença solapou a autoridade da Igreja,
mas coube ao Iluminismo entronizar a autoridade da razão.
O Iluminismo foi marcado pela crença no poder da razão para produzir a
liberdade e a felicidade humanas, substituindo a cosmovisão teológica medieval pelo
racionalismo como árbitro da verdade e da compreensão da realidade. Assim, o mundo
físico-natural seria mais bem compreendido pelos dados da experiência dos cincos
22
sentidos do que pelas autoridades externas à razão. Para Lyon, a mentalidade medieval,
que entendia a realidade e a natureza sob o conceito da “Providência”2, foi substituída.
Com a ascensão da razão, uma “variante secular da Providência” ganhou espaço: “a
idéia de Progresso” (1999, p. 14).
Mesmo com a derrocada da revelação e da providência, com o Iluminismo,
portanto, a busca da verdade voltou a ser possível e universal, uma vez que “a verdade
antes imposta pela religião passa a ser dada justamente pela laicização, isto é, a ausência
de qualquer divindade condutora nesse processo” (TUFFANI, 2005, p.57). No entanto,
a ausência do divino para se descobrir a verdade ainda não representara negação da
existência de Deus (TUFFANI, 2005, p.57). A confiança na razão humana ainda não
havia proposto romper em definitivo com a religiosidade e o sobrenatural - filósofos
como René Descartes (1596-1650), entre outros, por exemplo, desenvolveram uma
concepção filosófico-religiosa da realidade segundo uma ótica mecanicista3, que ainda
admitia a necessidade do divino para compreender a realidade e a natureza
(QUINTANILLA, 1996, p.217).
1.2. Positivismo, cientificismo e a superioridade da ciência
Foi, no entanto, com o positivismo de Augusto Comte (1798-1856) que a
ciência intensificou a separação entre o natural e o sobrenatural, o que se consolidou
mediante pensadores e teorias posteriores. Comte acreditava que o positivismo não era
somente mais uma corrente filosófica, mas uma cosmovisão que “acompanha, promove
e estrutura o último estágio que a humanidade teria atingido, fundado e condicionado
pela ciência” e que, por isso, rejeita em absoluto a metafísica (SIMON, 1986, p.120). O
resultado foi uma espécie de divinização da ciência, bem representada pela tentativa de
Comte de criar a religião da humanidade (KLIMKE e COLOMER, 1961, p.651).
A preocupação de Comte com a reforma moral e intelectual da humanidade, objetivando a reorganização de toda a sociedade, realiza-se plenamente na nova religião criada por ele, a religião da Humanidade como Grande Ser que consiste em ordenar cada natureza
2 “A Providência é o cuidado que Deus tem com o mundo depois de sua criação, supervisionando o processo da história de modo que esta avance numa linha em direção a um objetivo específico” (LYON, 1998, p.14). 3 O mecanicismo compara a natureza e o homem a uma máquina, “um conjunto de mecanismos cujas leis precisam ser descobertas” (ARANHA e MARTINS, 1993, p.152). “As explicações são baseadas em um esquema mecânico cujo modelo preferido é o relógio” (ARANHA e MARTINS, 1993, p.152). Deus, portanto, seria “o ser supremo que desenha a máquina do universo” (QUINTANILLA, 1996, p.217).
23
individual e religar todas as individualidades. Fortemente influenciado pelo modelo do catolicismo romano (...) formula um novo calendário, cujos meses recebem nomes de grandes figuras da história do pensamento, como Moisés, Descartes, etc. Tal como o católico, o calendário positivista tem também os seus dias santos, nos quais se deveriam comemorar obras de Dante, Shakespeare, Adam Smith, etc. (KLIMKE e COLOMER, 1961, p.128)
A exaltação da ciência gerou o cientificismo, um dos legados mais duradouros
da história da ciência e cuja concepção consiste na determinação do método científico
como sendo o único válido entre os métodos para se obter a verdade sobre as coisas
(ARANHA e MARTINS, 1993, p.116). O fortalecimento da compreensão cientificista
da ciência preconizou uma espécie de rejeição ao sobrenatural e ao religioso de modo
que o discurso de verdade construído pela visão filosófico-religiosa medieval foi
relegado ao status de relato fictício e infantil da realidade. No entanto, o triunfalismo
com que a ciência era tratada acabou por gerar uma espécie de dogmatismo científico –
gradativamente, a visão cientificista do mundo arrogou para si a responsabilidade de
formar um novo discurso sobre a natureza, a vida e o universo.
Todo o mundo das causas ontológicas era abandonado às simples ficções e a nova ciência bastava para dar a explicação total do mundo mediante apenas as propriedade mecânicas das coisas e suas leis matemáticas. Diante desses postulados, o chamado positivismo clássico se convertia em um dogmatismo científico denominado cientificismo, com o qual a ciência é proclamada única fonte de saber e a filosofia é reduzida a mera síntese unificadora das ciências particulares. (URDANOZ, 1984, p. 17, tradução própria )
Para Thuillier (apud EPSTEIN, 2002, p.62), o cientificismo baseia-se em dois
axiomas: o da “superioridade teórica”, no qual o conhecimento científico é o único
autêntico, seguro e confiável e no da “superioridade prática”, no qual todos os
problemas humanos podem ser resolvidos com base no conhecimento científico.
O pensamento de superioridade, exclusividade e auto-suficiência do
cientificismo também é criticado por Chauí (2005, p.235). A superioridade teórica
mencionada por Thuillier encontra eco no conceito de “mitologia da ciência” de Chauí –
para ela, a mitologia da ciência é a “crença na ciência como se fosse magia e poderio
ilimitado sobre as coisas e os homens, dando- lhes lugar que muitos costumavam dar às
religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e
inquestionáveis”. Por sua vez, o conceito de superioridade prática de Thuillier encontra
24
respaldo na definição de “ideologia da ciência” de Chauí: a “crença no progresso e na
evolução dos conhecimentos científicos que, um dia, explicarão totalmente a realidade e
permitirão manipulá- la tecnicamente, sem limites para a ação humana” (CHAUÍ, 2005,
p.235). Segundo Chauí, a ideologia e mitologia cientificistas são identificadas pela
maneira com que o cientificismo encara a ciência – a mesma é enxergada sempre pelo
prisma dos resultados (geralmente apresentados como fantásticos e espetaculares) e não
pelo viés do processo de produção do conhecimento (CHAUÍ, 2005, p.235).
Dessa forma, poder-se-ia definir o cientificismo como uma maneira de se
compreender a ciência que a torna divina, mitológica e ideológica. A ciência portar-se-
ia como 1) divina e mitológica quando admitisse ser o único conhecimento confiável,
seguro, epistemologicamente superior e, por isso, descobridor de verdades eternas,
inquestionáveis e absolutas e 2) ideológica quando afirmasse ser o único conhecimento
capaz de solucionar todos os problemas da humanidade, sejam eles de caráter técnico,
filosófico ou científico, acreditando ter o poder para manipular de maneira ilimitada a
natureza em prol do progresso.
A ênfase nos resultados e não no processo, a superioridade epistemológica, a
ideologia triunfalista e a mitologização e divinização da ciência colaboram para criar o
estereótipo da neutralidade científica, isto é, a ciência como único conhecimento a
possuir métodos que permitem uma busca isenta e imparcial da verdade (CHAUÍ, 2005,
p.235).
1.3. A crise da ciência moderna
Contudo, tanto o conceito de superioridade teórica como o de superioridade
prática encontrariam dificuldades epistemológicas e científicas para continuar de pé. Já
no final do século XIX e no início do século XX algumas descobertas no campo da
matemática e da física “golpearam rudemente as concepções clássicas, originando o que
se pode chamar de crise da ciência moderna” (ARANHA e MARTINS, 1993, p.162).
Autores como Bellino (1998), Mondin (1981) e Terrin (1996) relacionam o início da
crise da ciência moderna à chegada da teoria geral da relatividade, a ascensão da física
quântica e a consolidação da teoria da entropia ou segunda lei da termodinâmica, entre
outras causas. Para eles, essas teorias cumpriram um importante papel na mudança de
mentalidade dos cientistas e mesmo da própria noção de ciência, que agora se deparava
com a descoberta de um universo imprevisível e imensurável. A crença no caráter
absoluto e imutável do conhecimento científico estava assentada até então sob as visões
25
de mundo da geometria euclidiana e da física newtoniana. A primeira viu seus
postulados serem superados por modelos criados pelo matemático russo Lobatchevski,
em 1826, e pelo matemático alemão Riemann, em 1854.
Os novos modelos não anulavam a geometria euclidiana, mas faziam desmoronar o critério de evidência em que os postulados euclidianos pareciam repousar. Como conseqüência, seria preciso repensar a “verdade” na matemática, que dependia do sistema de axiomas inicialmente colocados e a partir do qual poderiam ser construídas geometrias igualmente coerente e rigorosas. (ARANHA e MARTINS, 1993, p.162)
A física não-newtoniana foi a segunda a apresentar limitações quando
confrontada com novos modelos da física. As descobertas no campo da termodinâmica
e do eletromagnetismo no final do século XIX abriram portas para o desenvolvimento
de uma física inteiramente nova, capaz de mudar até mesmo a concepção do tempo, do
espaço e da já estabelecida gravitação universal (HAWKING e MLODINOW, 2005,
p.34). Um dos principais responsáveis por essas mudanças foi Albert Einstein (1879-
1955).
Do mesmo modo que a relatividade espacial revelara as limitações da mecânica newtoniana na descrição de movimentos com velocidades comparáveis à velocidade da luz, a nova teoria da gravitação desenvolvida por Einstein revelou as limitações da teoria da gravitação newtoniana [...]. Ao invés do espaço e tempo absolutos da física newtoniana, ambos indiferentes à presença da matéria, na relatividade geral o espaço-tempo se torna plástico, deformável [...]. (GLEISER, 2006, p.304 e 305)
A transição de um universo simples, ordeiro, previsível e de referenciais
universalmente absolutos de Newton para o cosmos complexo, caótico, imprevisível e
de referenciais universais absolutamente relativos de Einstein foi um grande golpe
contra a pretensão cientificista de infalibilidade. Diante desse novo quadro, no qual “o
mundo complexo dos novos físicos é totalmente diferente do universo simples, estático
e objetivo de Galileu e Newton” (GRENZ, 1997, p.87), é a entropia que estabelece a
idéia de que “o mundo é dirigido pelo acaso e pela desordem interna” (TERRIN, 1996,
p.58) era a crise da certeza produzindo a certeza do acaso (BELLINO, 1998, p.578).
A aparição desse “irracionalismo” na ciência representou um forte ataque a
concepção cientificista do mundo, conforme Aranha e Martins (1993, p.162). E segundo
26
Mondin (2005, p.262), já no fim do século XIX, a concepção radical da ciência
positivista de Augusto Comte exigiu “uma pesquisa mais atenta e aprofundada das
características e funções do saber científico” de modo que dessas situações e
necessidades surgiu uma área de pesquisa e estudos denominada filosofia da ciência ou
epistemologia.
Para Araújo (2003, p.13), cabe ao filósofo da ciência “pensar sobre que tipo de
conhecimento é o conhecimento científico, seu alcance e validade”. Além disso, o
filósofo deve ter como objeto de análise e reflexão os métodos que são empregados
pelos cientistas em suas explicações sobre a realidade, “visando distinguir seus
procedimentos específicos e avaliar seu alcance, evidenciando as conseqüências
filosóficas de sua adoção, bem como dos princípios filosóficos que sustentam sua
metodologia” (ARAÚJO, 2003, p.13).
As interrogações às quais a epistemologia se propõe a responder são: Que é conhecimento científico? Em outras palavras, em que consiste propriamente o trabalho do cientista? Que coisa faz ele como cientista? Interpreta, descreve, explica, prevê? O que ele diz são somente conjeturas ou são asserções (gerais ou singulares) que refletem fielmente traços (gerais ou singulares) dos ‘fatos’? Qual é o status lógico das leis para a ciência? São elas resultado de processos indutivos (e que significa indução, para a ciência?) ou conjeturas da fantasia científica, que deverão ser submetidas a uma terrível luta (provas empíricas) pela existência? Mais: em que sentido se fala de causalidade (e de causas) nas ciências empíricas? Quando é que podemos dizer que uma teoria é ‘melhor’ do que outra? E que se deve entender quando dizemos que as ciências empíricas são objetivas? Qual é o papel da experiência na pesquisa científica? São interrogações estas que brotam da pergunta inicial: que é conhecimento científico? (ANTISERI apud MONDIN, 2005, p.262 e 263).
Para Araújo (2003, p.13), o objetivo do filósofo de ciência, portanto não é
avaliar a pesquisa científica em si ou seu resultado, mas “as atitudes e os pressupostos
filosóficos que estão por detrás da adoção do(s) método(s) científico(s)”.
Dessa forma, segundo Aranha e Martins (1993, p.163) e Bellino (1998, p.570),
além das descobertas na matemática e na física, a sucessão de pensadores e filósofos da
ciência, entre eles, Thomas Kuhn, Paul Feyerabend e Jean-Fraçois Lyotard, foi
fundamental para o desenvolvimento da crise da ciência moderna, momento no qual
surgiu a “necessidade de reavaliação do conceito de ciência, dos critérios de certeza, da
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relação entre ciência e realidade” e até mesmo da “validade dos modelos científicos”
(ARANHA e MARTINS, 1993, p.163).
Uma das conseqüências epistemológicas da crise da certeza foi o
enfraquecimento da idéia de evolução, progresso e continuidade da ciência moderna. A
compreensão de que a ciência evolui e progride continuamente é um legado deixado
pela visão positivista triunfalista do desenvolvimento histórico da ciência. De acordo
com essa visão, o tempo seria “uma sucessão contínua de instantes, momentos, fases,
períodos, épocas, que iriam se somando uns aos outros, acumulando-se de tal modo que
o que acontece depois é o resultado do que aconteceu antes” (CHAUÍ, 2005, p.222).
Supunha-se, portanto, que as mudanças científicas representavam a crença na
superioridade da ciência do presente em relação à ciência do passado e da ciência do
futuro em relação a do presente, fortalecendo a idéia de evolução e progresso do
conhecimento científico.
No entanto, uma das grandes contribuições da Filosofia da Ciência foi
exatamente fazer uma releitura da história da ciência, redefinindo-a não mais como
mera acumulação de fatos dados e teorias (ARAÚJO, 2003, p.32).
O que a Filosofia das ciências compreendeu foi que as elaborações científicas e os ideais de cientificidade são diferentes e descontínuos. Quando, por exemplo, comparamos a geometria clássica ou geometria euclidiana (que opera com o espaço plano) e a geometria contemporânea ou topológica (que opera com o espaço tridimensional), vemos que não se trata de duas etapas sucessivas da mesma ciência geométrica, e sim de duas geometrias diferentes, com princípios, conceitos, objetos, demonstrações completamente diferentes. Não houve evolução e progresso de uma para outra, pois são duas geometrias diversas e não geometrias sucessivas. Quando comparamos as físicas de Aristóteles, Galileu-Newton e Einstein, não estamos diante de uma mesma física, que teria evoluído ou progredido, mas diante de três físicas diferentes. Em cada uma delas, a idéia de natureza é diferente; em cada uma delas, os métodos empregados são diferentes; em cada uma delas o que se deseja conhecer é diferente. [...] Verificou-se, portanto, uma descontinuidade e uma diferença temporal entre as teorias científicas como conseqüência não de uma forma mais evoluída, mais progressiva ou melhor de fazer ciência, mas como resultado de diferentes maneiras de conhecer e construir os objetos científicos, de elaborar os métodos e inventar tecnologias. (CHAUÍ, 2005, p.223)
Quem redefiniu a história da ciência sob a perspectiva da descontinuidade dos
eventos científicos foi Thomas Kuhn (1922-1966), em sua obra The structure of
scientific revolutions, publicada em 1962. Kuhn procurou “explicar as grandes
28
transformações por que tem passado o conhecimento científico” (OLIVA, 1994, p.70)
por meio da análise de rupturas ou cortes epistemológicos na história da evolução da
ciência (EPSTEIN, 1987, p.13). Kuhn definiu o saber científico como sendo produzido
dentro de um determinado paradigma. O paradigma é um conjunto de teorias, fatos e
noções científicas aceitas na prática científica real, “modelos dos quais nascem as
tradições coerentes e específicas da pesquisa científica” (ARAÚJO, 2003, p.33). Para
Kuhn, a acumulação de descobertas científicas ocorre apenas na ciência normal, período
que representa a ciência no dia-a-dia do cientista, que nada tem de excepcional. É
durante a ciência normal que as pesquisas representam uma continuidade sucessiva,
uma vez que estão orientadas e reforçadas pelo paradigma vigente (FREIRE-MAIA,
2000, p.103 e 104). No entanto, durante a prática da ciência normal, surgem anomalias
não previstas pelos pesquisadores e que fazem o paradigma vigente não ser suficiente
para resolver a série de anomalias e críticas acumuladas (ARANHA e MARTINS, 1993,
p.163). Com a deterioração do paradigma vigente, há a produção de uma ciência
extraordinária (e não mais ciência normal), isto é, pesquisas fora das previsões do
paradigma anterior e que resultam na emergência de um novo paradigma – a isto se
chama revolução científica (FREIRE-MAIA, 2000, p.105). Com o tempo, o novo
paradigma se estabiliza e há o retorno da prática da ciência normal.
A crença de que a história da ciência não estava ligada ao acúmulo e
sobreposição de descobertas científicas mais do que com substituições de paradigmas
por meio de processos mutantes e contraditórios no pensamento científico enfraqueceu a
concepção moderna cientificista ao instituir um discurso questionador quanto a
infalibilidade da ciência e do pensamento científico como entendido até então.
Além disso, ao afirmar que pesquisas e descobertas científicas são orientadas
por uma visão de mundo, Kuhn admitia que todas as operações e medições dos
cientistas são determinadas por um paradigma (2000, p.164). Sob a perspectiva do
domínio do paradigma sobre a pesquisa científica, a ciência passa a não ser considerada
mais a simples prática da verdade, mas “aquilo que um grupo estabelecido entende e
partilha como a melhor maneira de resolver e elucidar temas de investigação científica”
(HOCHMAN, 1994, p.202).
O historiador da ciência que examinar as pesquisas do passado a partir da perspectiva da historiografia contemporânea pode se sentir tentado a proclamar que, quando mudam os paradigmas, muda com eles o próprio mundo. Guiados por um novo paradigma, os cientistas adotam
29
novos instrumentos e orientam seu olhar em novas direções. E o que é ainda mais importante: durante as revoluções, os cientistas vêem coisas novas e diferentes quando, empregando instrumentos familiares, olham para os mesmos pontos já examinados anteriormente. É como se a comunidade profissional tivesse sido subitamente transportada para um novo planeta, onde objetos familiares são vistos sob uma luz diferente e a eles se apregam objetos desconhecidos. Certamente não ocorre nada semelhante: não há transplante geográfico; fora do laboratório os afazeres cotidianos em geral continuam como antes. Não obstante, as mudanças de paradigma realmente levam os cientistas a ver o mundo definido por seus compromissos de pesquisa de uma maneira diferente. Na medida em que seu único acesso a esse mundo dá-se através do que vêem e fazem, poderemos ser tentados a dizer que, após uma revolução, os cientistas reagem a um mundo diferente (KUHN, 2000, p.147 e 148).
As implicações das idéias de Kuhn resultaram em forte crítica à imagem de
neutralidade e objetividade da ciência. Outro pensador a endossar críticas a uma postura
de infalibilidade e superioridade da ciência é Paul Feyerabend (1924-1994). Feyerabend
desenvolveu o que se chamou de anarquismo epistemológico, em uma tentativa de
combater a mitologização e a divinização da ciência. Para ele, a ciência não é fruto da
obediência de especialistas às regras fixas e universais do método científico e tampouco
é isenta da influência de ideologias, visões de mundo e mesmo interesses. Araújo (2003,
p.210 e 211), comentando a obra de Feyerabend, afirma que as condições físicas e
históricas movem e influenciam a ciência tanto quanto ou mais do que a outras áreas do
saber e que, por isso mesmo, o conhecimento científico não deve se sobrepor a outras
metodologias. Feyerabend desenvolveu agudas críticas a soberania da ciência ao, além
de contestar a pretensão absolutista da ciência (REGNER, 1994, p.121), sugerir a
inclusão dos mitos, dos dogmas religiosos e outras formas de ver o mundo na busca
pelo conhecimento.
A ciência não é sacrossanta. As restrições que impõe (e são muitas essas restrições, embora não seja fácil relacioná-las) não são necessárias para que venhamos a alcançar gerais, coerentes e frutíferas concepções do mundo. Há mitos, há dogmas de teologia, há metafísica e há muitas outras maneiras de elaborar uma cosmovisão. (FEYERABEND, 1977, p.279)
Ao desmentir a auto-suficiência epistemológica do método científico,
Feyerabend foi além: por possuir uma ideologia ou cosmovisão própria, a ciência não
deveria ter prerrogativas maiores do que as concedidas a outras formas de ver o mundo.
Isto é, em um Estado democrático, onde os cidadãos têm o direito de escolher sua
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própria visão de mundo, não pode haver uma imposição governamental da ciência como
ideologia dominante em detrimento de outras ideologias (REGNER, 1994, p.123). Ao
comparar a ciência com outras formas do saber, Feyerabend critica o Estado
democrático por infringir a liberdade de credo ao impor, por meio da educação pública,
a crença na ciência. Esse raciocínio gerou uma das declarações mais contundentes
contra a legitimidade e superioridade da ciência.
[...] a ciência aproxima-se do mito, muito mais do que uma filosofia científica se inclinaria a admitir. A ciência é uma das muitas formas de pensamento desenvolvidas pelo homem e não necessariamente a melhor. Chama a atenção, é ruidosa e impudente, mas só inerentemente superior aos olhos daqueles que já se hajam decidido favoravelmente a certa ideologia ou que já a tenham aceito, sem sequer examinar suas conveniências e limitações. Como a aceitação e a rejeição de ideologias deve caber ao indivíduo, segue-se que a separação entre o Estado e a Igreja deve ser complementada por uma separação entre o Estado e a ciência, a mais recente, mais agressiva e mais dogmática instituição religiosa. (FEYERABEND, 1977, p.447)
Mesmo após uma profunda revisão de declarações impactantes em uma edição
posterior da obra Against method, originalmente publicada em 1975, Feyerabend
manteve a essência das críticas à empresa científica. Suas idéias lançaram ainda mais
luz sobre a problemática do mito da neutralidade, objetividade e superioridade da
ciência ao criticar- lhe não só os métodos, mas principalmente sua postura mitológica e
ideológica. Comentando Feyerabend, Araújo (2003, p.211) reflete que “chegamos ao
ponto em que a ciência tornou-se um mito para a nossa época: diz-se que ela produz alta
tecnologia, que é responsável por verdadeiros ‘milagres’ e que seu método é
inquestionavelmente “objetivo e neutro”’. Seguindo essa lógica, a ciência, portanto,
seria o único dos saberes a salvo das ideologias na produção do conhecimento. Para
Araújo (2003, p.213), “a ciência se converte em ideologia enquanto o cientificismo
prevalecer e enquanto a verdade científica for considerada a medida de todos os
saberes”.
Após Kuhn e Feyerabend, outro filósofo que merece destaque no
desenvolvimento da chamada crise da ciência é o francês Jean-François Lyotard (1925-
1998). Lyotard procurava compreender as transformações na maneira como o saber (em
especial o saber científico) é produzido e legitimado na era contemporânea por meio da
análise do fenômeno conhecido como pós-modernismo. Embora não haja consenso
entre os estudiosos da pós-modernidade para identificar quem primeiro designou o
31
termo, uma das hipóteses aceitas é a de que ele tenha aparecido por volta da década de
1930 (GRENZ, 1997, p.34), sendo o primeiro uso do termo mais freqüentemente
atribuído a Arnold Tonybee em sua obra Estudos de história. “Tonybee estava
convencido de que havia iniciado uma nova época, embora, tudo indica, tivesse mudado
de opinião quanto a ser a Primeira Guerra Mundial ou já a década de 1870 como seu
marco inicial” e acreditava que a transição da era moderna para a pós-moderna “se deu
quando a civilização ocidental desviou-se para a irracionalidade e para o relativismo”,
cedendo lugar para “as culturas não-ocidentais e para uma nova cultura mundial
pluralista” (GRENZ, 1997, p. 35).
No entanto, embora tenha surgido na década de 1930, o pós-modernismo como
fenômeno cultural só ganhou força “três ou quatro décadas mais tarde”, cativando na
década de 1960 “artistas, arquitetos e pensadores que buscavam propor alternativas
radicais à cultura moderna predominante” e penetrando “a cultura tradicional” na
década de 1970 (GRENZ, 1997, p.36). A consolidação da noção do pós-moderno,
todavia, foi atribuída a Jean-François Lyotard, por sua obra La condition postmodern,
em 1979. Após expandir-se por meio de acadêmicos e universidades, já na década de
1980 “a atitude pós-moderna invadiu a cultura ‘pop’ e até mesmo o mundo cotidiano da
sociedade como um todo” – “as idéias pós-modernas tornaram-se não apenas aceitáveis
como populares” (GRENZ, 1997, p.36 e 37).
Uma vez que a mentalidade moderna fundamentava-se na razão e na ciência
para explicar a realidade, o pós-modernismo pode ser definido como uma rejeição da
mentalidade moderna e da concepção positivista da ciência, isto é, “o pós-modernismo
se relaciona com o colapso do modernismo” (LEMERT, 2000, p.43). Enquanto na
modernidade, fundamentada essencialmente na razão, acreditava-se compreender a
realidade sem a “dependência pré-moderna dos mitos e histórias que explicavam o
mundo” (GRENZ, 1997, p.75), na perspectiva pós-moderna todos os mitos e histórias
dominantes perdem seu apelo legitimador. Os pensadores pós-modernos entendem que
a História pode ser encarada como uma constante troca de metanarrativas.
O que torna nossa condição “pós-moderna” não se restringe somente ao fato de que as pessoas não se agarram mais aos mitos da modernidade. A perspectiva pós-moderna implica o fim do apelo a qualquer mito legitimador dominante, seja ele qual for. As principais narrativas predominantes não somente perderam sua credibilidade, como também a idéia de uma narrativa grandiosa já não desfruta de crédito algum. Tornamos-nos não apenas cientes de uma pluralidade
32
de histórias legitimadoras de conflitos, como entramos igualmente na era da morte da metanarrativa. Na era pós-moderna, todas as coisas são “deslegitimadas”. Consequentemente, a perspectiva histórica pós-moderna requer uma investida contra tudo o que reivindica para si a universalidade – ela requer na verdade, uma “guerra contra a totalidade” (GRENZ, 1997, p.76).
É sob essa perspectiva que Lyotard define o pós-modernismo como “a
incredulidade em relação aos metarrelatos” (1998, p.16). Para ele, a ciência e outras
formas de conhecimento dependem da legitimidade dada pela cultura que as mantém. A
modernidade, por exemplo, seria a cultura que acredita em certas metanarrativas, ou
seja, histórias amplamente partilhadas – sobre o valor e a verdade da ciência, por
exemplo (LEMERT, 2000, p.61). Tais histórias ou metanarrativas constituem um
projeto totalizante da realidade que buscaria unificar o mundo diante de uma única idéia
grandiosa. Ao definir o conhecimento científico com um desses discursos unificadores,
Lyotard (2004, p.3) define a ciência como apenas mais uma metanarrativa dentre tantas
outras, tais como a igualdade comunista, a redenção cristã, o progresso iluminista e o
racismo nazista, entre outros. E uma vez que na pós-modernidade todas as
metanarrativas “já não são consideradas completamente legítimas” e “não são
universalmente tidas como críveis por completo” (LEMERT, 2000, p.61), a ciência
deixa de ser encarada como um conhecimento superior, único e soberano.
As idéias de Lyotard, assim como as de Feyerabend, relativizaram a validade e
legitimidade da ciência, igualando-a a outros saberes e formas de conhecimento, além
de revelarem a fragilidade do rótulo de infalibilidade científica diante da revelação e das
críticas aos bastidores da produção do conhecimento científico. Juntamente com Kuhn,
as críticas a superioridade teórica e prática da ciência abriram uma larga avenida para
ataques posteriores a visão cientificista da ciência. A contribuição dos três pensadores e
de muitos outros abriram portas para novas orientações na epistemologia
contemporânea que não aquelas centradas nos postulados e mitos do cientificismo
(ARANHA e MARTINS, 1993, p.162).
No entanto, conceitos dessa nova visão epistêmica foram amplamente usados
por defensores de teorias pseudocientíficas ou anticientíficas, o que gerou certo mal-
estar na comunidade científica. Por anticiência entende-se um sistema de pensamento
que nega e coloca em questão alguns atributos da ciência, bem como sua própria
validade, enquanto por pseudociência entende-se um sistema que busca se revestir de
33
atributos científicos para parecer ciência (EPSTEIN, 2002, p.61). Para Epstein, a relação
entre ciência e anticiência é de antagonismo – já a relação entre ciência e pseudociência
é a do verdadeiro para o falso que, por sua vez, busca ser verdadeiro (EPSTEIN, 2002,
p.61).
Fritoj Capra é um dos mais icônicos defensores de uma ciência de ênfase no
metafísico. Em seu livro O Tao da física, Capra propõe que as descobertas científicas,
em especial a teoria da relatividade de Einstein, promoveram uma nova visão das leis
que regem o universo: a relatividade das variáveis tempo e espaço se assemelha com a
que acontece nas concepções místicas do yin e yang do taoísmo. Nesse encontro da
ciência física com a experiência mística, a metodologia científica entra em falência,
pondo em crise também o pensamento filosófico que embasa a metodologia científica.
Terrin (1996, p.62) explica que Capra é um dos principais expoentes da
“misticalização” da ciência ao crer no dever que a ciência pós-moderna possui de
“adotar ‘cânones’ místicos em sua interpretação do mundo” e na missão da física atual
de aproximar-se do misticismo se quiser “compreender a realidade”.
O resultado desse tipo de pensamento, desenvolvido por Capra e outros
pensadores com viés pseudocientífico, é a intrusão de conhecimentos e práticas místicas
e religiosas no saber e práticas científicos. Terrin (1996, p. 32 e 33) acredita que a Nova
Era, e toda sua carga de esoterismo e misticismo, aproveitou-se da crise da visão
positivista e mecanicista da ciência para propor um novo diálogo entre o mundo físico e
espiritual. O que os pseudocientistas pregam, atualmente, é a união entre o método
científico analítico e o “método holístico, totalizante, ‘místico’” – o que implica o
nascimento de uma “epistemologia da Nova Era” (TERRIN, 1996, p. 32 e 33).
De fato, o crescimento das terapias e medicinas alternativas, astrologia, tarô,
quiromancia, poder de cristais, yoga, meditação, bebidas e alimentos místico-
medicinais, entre outras práticas de origem mística, atestam para uma inserção
espiritualista na visão e práxis científica. A pseudociência, portanto, pode ser
caracterizada por uma manifestação científica da pós-modernidade – a face mística da
ciência no século XXI. É a parte da ciência que se entrega ao irracional, ao metafísico,
mas não quer abandonar a roupagem científica e racional. Coelho amplia essa idéia com
um tom de protesto.
Sou dos que com mais impaciência assistem a um processo crescente de irracionalismo, de proliferação de seitas, de superstições alternativas. Anjos, duendes, reencarnação, horóscopo, terapias de
34
cristais e de vidas passadas, o mercado está aberto para todo o tipo de charlatanices e para a clássica atitude irracionalista do “por que não acreditar?”. Crise da razão, certamente: acredita-se que com amuletos e cristais se podem curar doenças, numa contrafação manipulatória da ciência. Mais pseudociência do que religião e misticismo (1996, p. 346-347).
E talvez esteja aí uma boa razão para que não haja a devida reprodução e
repercussão de idéias e conceitos desenvolvidos por filósofos da ciência na prática do
jornalismo científico. Embora as idéias de Kuhn, Feyerebend e Lyotard tenham sido
utilizadas para fins de fortalecimento da visão pseudocientífica e anticientífica de
muitos pensadores e de terem sido combatidas e criticadas de maneira bastante coerente
na obra Impostures intellectuelles, de Alan Sokal e Jean Bricmont, publicada em 1997,
ainda assim jornalistas como Tuffani acreditam que
longe de serem refutadas, as teses de diversos pensadores favoráveis à estreita relação entre ciência e poder permanecem de pé, da mesma forma que a crença, por parte de muitos pesquisadores, na racionalidade da evolução das teorias. Por mais persistentes e plausíveis que ainda sejam as objeções a essas teses relativistas, principalmente por parte de muitos pesquisadores, não se pode ser indiferente aos argumentos de que existem regras do jogo acima do método científico e da própria idéia de racionalidade. (TUFFANI, 2005, p.65)
35
Capítulo II Ciência e discurso:
jornalistas e cientistas em colisão
Para se compreender o tratamento que a imprensa concede as incertezas e
controvérsias na ciência, é preciso antes estabelecer definições e conceitos sobre as
diferenças que existem entre os universos dos cientistas e dos jornalistas: suas
aspirações, motivações, rotina, linguagens e audiências. Uma vez que a proposta do
presente trabalho consiste na análise de elementos textuais de um discurso jornalístico –
as reportagens de capa Superinteressante –, este capítulo busca compreender melhor as
condições conceituais e teóricas advindas do conflito de culturas e discursos entre a
classe jornalística e comunidade científica para melhor fundamentar a análise do objeto.
2.1. Ciência, verdade e discurso
Ao colaborar para o enfraquecimento das pretensões cientificistas nas últimas
décadas, o relativismo epistêmico resultante das idéias de Kuhn, Feyerabend, Lyotard e
outros tem sido importante para o desenvolvimento de uma concepção mais realista e
menos idealista da ciência. Gerard Fourez, em sua obra La construction des sciences,
propõe, como afirma o título, uma reconstrução da ciência a partir de uma compreensão
mais humana e social. Para ele, a ciência pode ser encarada de duas maneiras básicas:
por meio de uma perspectiva idealista ou histórica. Enquanto na primeira a ciência é
descobridora e produtora de “verdades eternas” a respeito do mundo e do universo, na
segunda a ciência é vista como uma “construção histórica” condicionada por uma
época, ideologia e projetos específicos, “feita pelos e para os humanos” e que, por esse
motivo, é incapaz de descobrir uma “verdade global e eterna”, mas apenas uma verdade
restrita ao momento histórico (FOUREZ, 1995, p.252).
No entanto, Fourez afirma que a relatividade das descobertas e da produção
científica não é um entrave para a crença na ciência. Para ele, entregar-se a uma crença
na ciência absoluta e eterna é uma espécie de tentativa de responder à inquietude
causada pela dificuldade de aceitar uma história relativa ou de “acreditar que o absoluto
pode se revelar no relativo histórico” (FOUREZ, 1995, p.261).
36
Muitos dizem, com efeito, que “se não se acredita que a ciência nos dê uma verdade eterna, então em que se pode acreditar?”. A resposta de que é possível confiar no relativo e de que não é necessário pretender que alguma coisa seja absoluta para considerá-la importante nem sempre satisfaz aqueles que não descansam enquanto não tiverem encontrado um “ídolo”, evitando o passo, de certo modo “místico”, da confiança no histórico relativo. (FOUREZ, 1995, p.262)
A dificuldade em não atribuir à ciência o caráter de detentora da verdade
também é criticada por Freire-Maia – ele afirma que “a verdade científica só é ‘verdade’
dentro das coordenadas em que foi construída” e que só ali “ela tem certa
definitividade” (2000, p.171). Para ele, a crença de que uma teoria, quando altamente
corroborada por cientistas, transforma-se em fato ao longo do tempo não é tolerável em
epistemologia e é fruto da insistência de uma visão idealista da ciência (FREIRE-
MAIA, 2000, p.124). Para ele, a verdade científica é algo que não pode permanecer
estático, terminado e definitivo – ela só é definitiva “no provisório das coordenadas em
que foi gerada” (FREIRE-MAIA, 2000, p.171) – e deve sempre estar aberta à mudança.
Para Araújo, uma vez que a ciência não é vista mais como um mero acúmulo
de idéias eternas e absolutas, “cabe à sociedade modificar aquilo que a ideologia
técnico-cientificista vem demandando da ciência: um discurso objetivo e neutro” (2003,
p.226). Antes de modificar o discurso cientificista e ideológico da ciência, contudo, é
preciso identificá- lo. Na verdade, para Fourez essa é uma das grandes conquistas da
ciência : a capacidade que o discurso científico possui de colocar em evidência os pontos
de vista e as origens do discurso ideológico (1995, p.180 e 181). Os discursos
ideológicos são definidos como discursos “que se dão a conhecer uma representação
adequada do mundo, mas que possuem mais um caráter de legitimação do que um
caráter unicamente descritivo”, ou seja, um discurso é ideológico se ele “veicula uma
representação do mundo que tem por resultado motivar as pessoas, legitimar certas
práticas e mascarar uma parte dos pontos de vista e critérios utilizados” (FOUREZ,
1995, p.179). Dito de outro modo, o discurso é ideológico quando tiver como efeito
“mais o reforço da coesão de um grupo do que uma descrição do mundo” (FOUREZ,
1995, p.179).
Assim, as proposições “as mulheres são seres frágeis”, “o homem é mais inteligente do que o macaco” ou “os países desenvolvidos exploram o Terceiro Mundo” são proposições ideológicas na medida em que o que é visado principalmente por elas é uma certa legitimação. Ao dizer que o homem é mais inteligente que o macaco,
37
está se referindo de maneira geral a um conceito de inteligência mal definido. [...] Pode-se assim, por meio de uma ruptura epistemológica, definir de maneira operacional o que se entende por “inteligente”. Pode-se estabelecer, por exemplo, uma bateria de testes da qual dir-se-á que mede a inteligência. Torna-se possível então medir se, nesse âmbito específico, o homem é mais inteligente do que o macaco. Existe, porém, uma distância entre o conceito global de inteligência que funcionava de maneira ideológica para legitimar uma certa relação entre o homem e o macaco e o conceito de inteligência definido de maneira precisa e pontual graças a uma bateria de testes. O segundo é apenas uma tradução parcial do primeiro. Só se refere a testes locais e não pode jamais fornecer uma proposição mais geral. (FOUREZ, 1995, p.180 e 181)
É por isso que Fourez denomina a ciência como “um dos métodos mais
poderosos para criticar as proposições ideológicas”, já que “se estas não podem jamais
ser provadas ou falseadas em sua globalidade”, pode-se “decidir efetuar testes que
podem colocar em evidência os limites de certos discursos ideológicos” (1995, p.183).
Para ele, no decorrer dos últimos séculos, graças à ciência e seus testes e metodologias,
os abusos de saber presentes em muitos discursos éticos foram revelados (FOUREZ,
1995, p.183). No entanto, sendo ela mesma parte de uma evolução histórica e social, é
incapaz de apresentar uma verdade global e universal em substituição aos discursos
ideológicos que tanto criticara. Por esse motivo, é preciso ter em mente que a ciência
também emite seus discursos ideológicos, de legitimação – “de qualquer modo, não se
escapa ao discurso ideológico” (FOUREZ, 1995, p.187).
Diante da produção dos discursos ideológicos, Fourez afirma, porém, que é
necessário distinguir dois tipos de véus ideológicos: “um, que se poderia qualificar
como normal, de inevitável e, portanto, aceitável” e “outro que mereceria ser sempre
desmascarado” (1995, p.187). O primeiro é designado como “discurso ideológico do
primeiro grau” e traz representações da realidade das quais se pode encontrar os
vestígios ou sinais facilmente, o que ocorre sempre que um discurso científico delimita
bem seus termos e conceitos e expõe as condições da prática científica. O segundo tipo
é designado como “discurso ideológico do segundo grau” e traz representações da
realidade sem vestígios ou sinais ou os apresenta com dificuldade, o que ocorre quando
os traços históricos e sociais desses discursos desaparecem e se pretende que o conceito
ou noção utilizado sejam objetivos e eternos.
Para Fourez, assim como os discursos ideológicos de primeiro grau são
considerados em geral normais e aceitáveis em nossa sociedade, os discursos
ideológicos de segundo grau são vistos como pouco aceitáveis do ponto de vista ético e
38
profundamente manipuladores ao apresentar como “naturais opções que são
particulares” (1995, p.187).
Desse modo, quando alguém diz: “A Igreja Católica é contra o aborto” ou “Pode-se morrer de overdose”, os elementos ideológicos presentes nessas proposições não parecem mito manipulatórios. Porém, caso se diga: “É preciso fazer sacrifícios para se sair da crise” ou que “O roubo é um mal”, essas proposições, talvez inocentes à primeira vista, ocultam os critérios que podem validá-las, de maneira que as qualificarei como proposições ideológicas do segundo grau. Elas são ideológicas no sentido pejorativo do termo. (FOUREZ, 1995, p.188)
Seguindo esse raciocínio, quando a ciência se apresenta como eterna, “quando
pretende poder dar respostas ‘objetivas e neutras’ aos problemas que nós nos
colocamos”, Fourez a considera como ideológica de segundo grau; mas quando a
ciência se apresenta como uma “tecnologia intelectual relativa e historicamente
determinada”, ele a considera de primeiro grau (1995, p.188).
O caráter ideológico do discurso científico é inevitável porque, de uma maneira
ou de outra, a ciência só é útil quando atinge o cotidiano e, portanto, mascara a distância
entre a representação global da realidade e o conceito particular que o traduz. Isto é, o
discurso da ciência é sempre ideológico de primeiro grau (1995, p.189). No entanto, ele
deixa de operar como um discurso crítico e é considerado de segundo grau quando a
tradução da representação geral da realidade para um conceito particular é feita sem as
devidas contextualizações históricas, lingüísticas e metodológicas.
2.2. Discurso científico, discurso de divulgação científica e discurso jornalístico
sobre ciência
Contudo, a categorização em primeiro ou segundo graus de Fourez não abarca
um segundo tipo de discurso que também traduz representações gerais da realidade para
conceitos científicos particulares: o discurso de divulgação científica. A tradução do
discurso científico para o da divulgação científica também apresenta peculiaridades e
sérios desafios éticos e ideológicos.
Epstein (2002, p.98) afirma que quando a comunicação da ciência ocorre entre
os próprios cientistas (interpares) denomina-se comunicação primária ou disseminação,
mas quando ocorre entre os cientistas e o público leigo chama-se comunicação
secundária ou divulgação – também chamado de popularização ou vulgarização da
ciência. Em consonância com a definição de Epstein, Zamboni (2001, p.60) afirma que
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o que faz o discurso de divulgação científica não pertencer ao campo do discurso
científico é exatamente a mudança do “pólo de recepção”. O destinatário da divulgação
científica é outro que não o do discurso científico – “não mais um par do enunciador”,
“mas um receptor representado como leigo em assuntos de ciência ou, ao menos, leigo
naquele determinado assunto sujeito à divulgação” (ZAMBONI, 2001, p.60).
Outro aspecto que diferencia a comunicação primária (discurso científico) da
secundária (discurso de divulgação científica) é a presença de figuras retóricas nas
mensagens da comunicação secundária. Isso se deve ao fato da comunicação entre os
pares primar por um público conhecedor prévio do assunto e, portanto, cativo. O que
não ocorre com o público da comunicação secundária.
O receptor da comunicação secundária, ao contrário [do público da comunicação primária] não é cativo. Pode a qualquer momento se esquivar à mensagem sem sofrer qualquer sanção. Esta não catividade da audiência da comunicação científica secundária é uma das razões que faz com que ela se diferencie da comunicação primária com respeito a diversos fatores, inclusive a proporção relativa de figuras de linguagem. (EPSTEIN, 2000, p.98)
Além disso, outro desafio a ser vencido pela comunicação secundária é a
tradução de um código específico do discurso científico para a linguagem natural e
popular do leigo – tarefa, muitas vezes, complexa e até mesmo impossível de ser feita
com exatidão e precisão requeridas pelo rigor da comunidade científica (EPSTEIN,
2000, p.99).
Não é de se estranhar, portanto, que o divulgador seja criticado tanto pelo cientista como pelo público leigo. Fica, portanto, entre dois fogos. De um lado, deve adquirir seu material elaborado em uma linguagem específica; de outro, deve esperar interessar o leitor e, se possível, entusiasmá-lo pelos resultados de seu trabalho. Dos dois lados está sujeito a uma severa crítica. (EPSTEIN, 2000, p.99)
O universo da divulgação científica é amplo e diverso. Cabem nele desde
cientistas que escrevem livros de ciência para a população em geral a especialistas que
promovem feiras e exposições de ciência. Abarca desde o curador de um museu de
ciências até o autor de desenho animado infantil que versa sobre as leis da física. Vai de
um roteirista de histórias em quadrinhos de ficção científica até um jornalista que
prepara uma reportagem sobre energia nuclear em um grande jornal. De museus e
40
exposições, passando por livros e gibis até chegar à grande imprensa. Sob essa
perspectiva, seria injusto exigir de tão diversos meios de divulgação a unicidade e
rigorosidade da linguagem científica da comunicação primária.
Não cabe, portanto, demandar dos discursos vulgarizadores os mesmos imperativos aos quais responde o discurso da ciência. Produzido em circunstâncias outras, dirigido a um outro público e desempenhando funções num outro sistema produtivo, a divulgação obedece aos ditames de uma nova inserção social e econômica, na qual se torna um bem em disputa por mercado. Ela deve, portanto, nessa nova ordem, adquirir potencialidade de mercadoria vendável, atrair consumidores e gerar lucros para as empresas de comunicação. (ZAMBONI, 2001, p.142)
De tantos meios, é na divulgação científica feita pela imprensa, isto é, no
jornalismo científico ou no jornalismo de ciência, que se encontram as maiores
dificuldades da transposição da informação cient ífica para a sociedade. Isso ocorre
porque além de estar submetida à lógica da comunicação secundária, a divulgação
científica na imprensa, chamada de jornalismo científico, também está assentada sob os
ditames da lógica e cultura jornalísticas, diferentes não só da cultura científica, mas
também da lógica comunicacional dos outros meios de divulgação. Epstein explica de
maneira introdutória tais diferenças.
O pesquisador comunica os resultados de sua pesquisa para seus pares. O jornalista científico ou, mais genericamente, o divulgador da ciência comunica a ciência para o público leigo. Essas duas comunicações da ciência são coisas diferentes. O cientista pesquisador e também o professor, especializado em determinado setor ou disciplina, comunicam para seus pares ou alunos em códigos e linguagens específicos que demandam um tempo considerável de aprendizado e são ignorados, em geral, pelo público leigo. Além disto, sua audiência é cativa no sentido de que os colegas ou alunos são naturalmente motivados para aprender a comunicação do colega ou do professor. Já o divulgador se dirige ao público leigo, desconhecedor das linguagens especializadas e que necessita ser seduzido para se interessar pela ciência. (EPSTEIN, 2002, p.9)
Como descreveu Epstein, o discurso jornalístico sobre ciência é bem diferente
do discurso científico no que se refere ao processo de formulação do mesmo, da
linguagem utilizada e da audiência a ser alcançada. Isso ocorre porque cientistas e
jornalistas vivem em mundos completamente diferentes. O primeiro produz trabalhos
dirigidos a um público restrito, pequeno e altamente especializado, seguindo normas e
41
regras rigorosamente submetidas ao método científico. O segundo dirige-se a um
público amplo, muito grande e pouco versado sobre ciência, seguindo a lógica
jornalística e de mercado. O primeiro trabalha lentamente, sob a perspectiva de evitar
todo e qualquer erro antes de publicar os resultados de suas pesquisas. O segundo
trabalha sob a velocidade do fechamento da edição, cuja missão é contar o máximo de
informação no mínimo espaço de tempo possível. O primeiro normalmente encontra
amplos espaços para publicação, nas quais se permitem textos acadêmicos, longos e
com vasta linguagem técnica enquanto o segundo esbarra em espaços cada vez mais
restritos e a exigência de textos cada vez mais curtos e simples (OLIVEIRA, 2005,
p.43).
Em pesquisa realizada por Hans Peters e descrita no artigo “A interação entre
jornalistas e especialistas científicos: cooperação e conflito entre duas culturas
profissionais” (2005), várias são as diferenças entre as duas culturas profissionais.
Jornalistas e cientistas discordam, por exemplo, da própria função de suas profissões e
dos papéis que devem desempenhar na sociedade. Enquanto os jornalistas acreditam que
a mídia deve refletir mais criticidade na cobertura de ciência, os cientistas esperam ter
suas pesquisas relatadas o mais fielmente possível (PETERS, 2005, p.158). Outra
diferença importante tem que ver com o fato de jornalistas, em busca do inusitado, não
temerem especulações e informações precoces ao contrário do cientista, que foge da
especulação e evita a avaliação prematura (PETERS, 2005, p.160).
Essas diferenças são causadas, em muitas ocasiões, devido à visão que as duas
classes têm uma da outra – os jornalistas, por exemplo, consideram os especialistas
como fontes passivas de informação, a serem usados apenas para desempenhar as
funções da mídia (PETERS, 2005, p.160). Por outro lado, há a mentalidade por parte
dos especialistas que os “meios de comunicação de massa deveriam operar de modo
semelhante aos periódicos acadêmicos” (PETERS, 2005, p.159) e que as normas usadas
nos textos acadêmicos são também normas para o jornalismo, como explica Peters:
As expectativas dos cientistas em relação ao conteúdo e ao estilo da distribuição da mídia são obviamente influenciadas por suas normas acadêmicas de publicação. Essas normas, no entanto, freqüentemente contradizem a tarefa profissional crucial do jornalista de atrair a atenção do público. (2005, p.160).
Apesar das diferenças, ambos profissionais relacionam-se sob uma ótica de
sobrevivência e dependência mútua. O jornalista precisa do cientista por questões
42
óbvias: sem o pesquisador não há informação e sem informação não há notícia. Já o
cientista necessita do jornalista porque “os meios de comunicação são o caminho mais
imediato e abrangente de intensificar a divulgação científica para o público”
(IVANISSEVICH, 2005, p.13), além de que a popularização dos trabalhos dos
cientistas pode gerar status, reconhecimento e até mesmo financiamento de pesquisas
(FALCÃO, 2005, p.98, 102 e 103). Na verdade, o trabalho que o jornalista realiza acaba
tornando-se ainda mais importante para a própria construção da ciência, uma vez que a
sobrevivência e o consenso na pesquisa científica giram em torno da freqüência de
citações e referências nas publicações.
Se o jornalismo científico dá visibilidade a determinadas pesquisas e não a outras, e com isso potencializa as citações ulteriores, ele também participa da construção coletiva do conhecimento científico. Os artigos divulgados pela mídia entram em pauta e passam a fazer parte do debate, seja para sua refutação ou reafirmação, eles ganham o status de existência no diálogo da ciência, lembrando que um artigo citado é como um artigo inexistente, pois não repercute no debate que promove a construção de consensos. (LUIZ, 2004, p.24)
No entanto, a popularização da ciência realizada pelo jornalismo científico não
se presta apenas a trazer benefícios à comunidade científica, mas também procura
auxiliar a sociedade. Em um primeiro momento, o jornalismo de ciência é necessário
para que ocorra a partilha do saber científico. Historicamente afastado do saber
científico à medida que a ciência se desenvolvia e se especializava, a população
tornava-se cada vez mais marginalizada não só do avanço do conhecimento científico
como também do processo democrático decisório das políticas públicas de ciência e
tecnologia (ZAMBONI, 2001, p.49). Na verdade, o trabalho do jornalista científico ao
permitir que a população tenha acesso a informações de ciência e tecnologia é
fundamental para o exercício pleno da cidadania (OLIVEIRA, 2005, p.13). Em um
segundo momento, o jornalismo científico desempenha um papel educativo ao formar a
opinião pública sobre assuntos de ciência e tecnologia ou mesmo ajudar a alfabetizar
cientificamente a sociedade (ZAMBONI, 2001, p.49).
43
Capítulo III Os jornalistas e as incertezas e
controvérsias na ciência
Diante da responsabilidade e importância do jornalismo científico para o
avanço da ciência e o desenvolvimento social, diversos jornalistas e acadêmicos têm se
debruçado sobre os problemas e desafios enfrentados por essa modalidade de
divulgação científica. Sob essa perspectiva, autores como Fahnestock (2005), França
(2005), Gregory e Miller (2000), Luiz (2004), Stocking (2005) Teixeira (2002) e
Tuffani (2005), entre outros, analisam as diferentes críticas e advertências recebidas
pela tradução, conversão e interpretação do cientifiquês pela imprensa.
Dentre os autores citados, é na análise de Stocking, todavia, que se encontra a
mais completa avaliação sobre a problemática. Seu artigo “Como os jornalistas lidam
com as incertezas científicas” (2005) traz um equilibrado panorama de diversos estudos
sobre a maneira como a imprensa reporta o consenso e a incerteza na ciência e como ela
lida com as contradições e divergências da comunidade científica. Ela divide as análises
em dois tipos: aquelas nas quais “os jornalistas são acusados de fazer com que as
afirmações científicas pareçam mais consistentes e seguras do que realmente são” e nas
quais “os jornalistas são duramente criticados por fazerem a ciência parecer mais incerta
e desconcertante do que de fato ela pode ser” (STOCKING, 2005, p.161).
Na análise de diversas pesquisas, Stocking encontrou cinco elementos em
comum que demonstram que os jornalistas tornam a ciência mais exata do que ela é e
três elementos que demonstram que a imprensa torna a ciência mais incerta e imprecisa.
Faz-se necessário neste capítulo, portanto, identificar todos esses elementos.
3.1. Os jornalistas tornam a ciência mais exata e consistente do que realmente é
No grupo de pesquisas que demonstra que os jornalistas tinham a ciência por
mais exata do que ela de fato é, os cinco elementos encontrados nas notícias e
reportagens analisadas são: ausência de advertências, matérias de uma única fonte ou
ausência do contraditório, falta de contexto, produto mais que processo e busca
triunfante (STOCKING, 2005, p.162-167), dos quais dois deles serão apresentados
juntos na descrição abaixo (falta de contexto e produto mais que processo).
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3.1.1. Ausência de advertências e delimitações
Boa parte das pesquisas descritas por Stocking revelou que, nas matérias
analisadas, “as notícias de ciência contêm menos advertências sobre as delimitações da
pesquisa científica e em que circunstâncias esta é válida, se comparadas com os relatos
provenientes da própria pesquisa científica, descritos nas reportagens” (2005 p.163).
Por exemplo, uma observação feita de forma cuidadosa na literatura científica, a partir de um estudo sobre a relação entre gênero e aptidão matemática, tornou-se uma conclusão definitiva na literatura dedicada a públicos amplos. Na revista Science, os autores do estudo escreveram: “Damos preferência à hipótese de que a diferença entre os sexos no sucesso e na atitude em relação à matemática, que pode, por sua vez, estar relacionada a uma aptidão masculina matemática maior para tarefas especiais”. Na Newsweek , essa afirmativa transformou-se em: “A conclusão dos autores: ‘As diferenças entre o sexos no sucesso e na atitude em relação à matemática resultam de uma aptidão masculina superior para a matemática’”. (STOCKING, 2005, p.163)
A ausência de delimitações é chamada por Teixeira de reportar a parte pelo
todo. Para ela, essa prática é caracterizada como sendo sensacionalista.
As conclusões de artigos científicos, matéria -prima da maior parte da produção jornalística sobre ciência, aplicam-se estritamente no âmbito daquelas condições estabelecidas. Afirmar a parte pelo todo, sem mencionar que a parte não é o todo: eis a maneira pela qual a ciência “traduzida” pelos jornalistas faz-se sensacionalista. [...] A afirmação, assim, transforma a polegada de conhecimento obtida em princípio de validade geral. Comete imprecisão e exagera – faz sensacionalismo (2002, p.140).
Gregory e Miller também descrevem a tendência dos jornalistas de ciência de,
ao reportar pesquisas, transformar palavras que tinham sentido de possibilidade ou
dúvida em palavras de sentido de certeza ou garantia.
Para serem concisos, jornalistas precisam remover as qualificações na lingagem científica – “isso é muito bom, mas apenas sob estas condições” torna-se “isso é muito bom”. Isso é exagerar – e os exageros têm um grande apelo epidítico. E também faz a informação parecer mais segura do que os cientistas pensam que ela é de fato (2000, p.116).
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O apelo epidítico a qual se referem Gregory e Miller é uma referência ao
trabalho de Fahnestock, resumido no artigo “Adaptação da ciência: a vida retórica de
fatos científicos” (2005). Fahnestock utiliza-se da divisão tripartite de Aristóteles sobre
os tipos de oratória para aplicá- los aos discursos jornalísticos sobre ciência.
Comentando Aristóteles, Fahnestock distingue três tipos básicos de discursos
persuasivos, que variavam conforme a audiência, o objetivo, a situação e o tempo: o
judiciário, o deliberativo e o epidítico (2005, p.79). O discurso judiciário é o dos
tribunais onde se discute a natureza e a causa dos eventos passados; o discurso
deliberativo tem lugar nas assembléias legislativas e diz respeito ao debate sobre
tomadas de decisão futuras; e o discurso epidítico refere-se ao presente, avaliando se
alguma coisa merece elogio ou censura, que tem como “objetivo final a solidificação
dos valores de sua audiência” (FAHNESTOCK, 2005, p.79 e 80).
Para Fahnestock, os artigos científicos são essencialmente judiciários porque
dizem respeito, em sua maior parte, “ao estabelecimento da validade das observações
que eles relatam” (2005, p.80). No entanto, essa mesma classificação já não vale para as
adaptações jornalísticas de artigos científicos.
As adaptações de artigos científicos, por outro lado, não são essencialmente judiciárias. Junto com a mudança significativa na situação retórica vem uma mudança no gênero, e em vez de simplesmente relatar fatos para uma audiência diferente, as adaptações científicas são esmagadoramente epidíticas; seu objetivo principal é celebrar, não validar. Além do mais, devem geralmente ser explícitas em suas afirmações a respeito do valor das descobertas científica sobre as quais discorrem. Não podem confiar que a audiência irá reconhecer a significância da informação. Desse modo, o trabalho da retórica epidítica no jornalismo científico exige o ajuste da nova informação aos valores já adquiridos pela audiência. (FAHNESTOCK, 2005, p.80)
O resultado dessa mudança de gênero e de retórica nas adaptações jornalísticas
dos discursos científicos é justamente o primeiro elemento descrito por Stocking:
omissão de delimitação e qualificação nos textos de divulgação da ciência.
Nos limites de espaço de uma nota curta em uma revista de popularização da ciência, não há lugar para as qualificações que uma audiência com maior entendimento demandaria, qualificações que mostram o cuidado do autor com as críticas e refutações que uma audiência especialista levantaria contra as suas inferências. Para proteger-se dessas refutações, o autor-cientista usou evasivas em seu relato. Mas como o adaptador não teme essa desafio, ele tem muito
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mais certeza [sobre o problema apresentado na pesquisa] [..]. Quando as qualificações são omitidas, o resultado é uma certeza maior para as assertivas que permanecem. Essas omissões, mais uma vez, servem ao objetivo epidítico do adaptador, já que apenas a certeza pode ser objeto de panegírico. O público ficará interessado nesses assuntos apenas se eles forem significativos, e simplesmente não há meios de se dirigir ao público tendo a significância das descobertas tão cuidadosamente escondida que sua realidade pareça inquestionável. (FAHNESTOCK, 2005, p.86)
Como conseqüência das omissões metodológicas, o leitor assimila, por meio
das matérias jornalísticas, uma visão da ciência mais consistente, certa e precisa do que
de fato o cientista-autor da pesquisa quis demonstrar. Esse afastamento do viés de
falibilidade da ciência envolve o leitor em um mundo de certezas e conquistas
científicas que reforça uma imagem cientificista do conhecimento científico, em
detrimento de uma compreensão mais próxima da realidade das limitações e restrições
da pesquisa científica.
3.1.2. Matérias de uma única fonte ou ausência do contraditório
O segundo elemento identificado por Stocking e também por um bom número
de jornalistas e intelectuais, entre eles, França (2005), Gregory e Miller (2000), Luiz
(2004), Teixeira (2002) e Tuffani (2005), é a tendência de se consultar apenas uma fonte
ou um número pequeno delas, definida como ausência do contraditório. Para França
(2005, p.31 e 32), uma das premissas do jornalismo é a “noção de que não existe
informação neutra, objetiva e isenta de interesses” e, portanto, faz parte da atividade
jornalística “apontar as condições em que se deu a notícia para que o leitor tire suas
conclusões”. Isto é, o jornalista tem o dever de apresentar ao leitor os vários lados ou
ângulos de uma questão, utilizando-se de fontes e declarações diversas, e muitas vezes
controversas, para informar com a maior isenção possível, sem a pretensão de dar ao
leitor uma informação dogmática, com caráter de palavra final. Em consonância com
França, Teixeira (2002, p.133) afirma que o jornalismo se assenta sobre um
mandamento: “não te fiarás em uma só fonte para escrever tuas matérias”. Para ela, o
jornalismo é uma atividade que busca encontrar a verdade por meio de uma síntese
confiável de versões da realidade. Essas versões são obtidas pelo repórter pela consulta
a várias fontes. Assim, a sociedade aceita a síntese de versões que o repórter traz ao
público “porque pressupomos que ele, antes de pronunciá- la, buscou ativamente o
contraditório” (TEIXEIRA, 2002, p.134).
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No entanto, esse princípio do jornalismo, tão comum e necessário na prática
jornalística, não encontra suporte na cobertura de C&T.
Enquanto repórteres de política e economia freqüentemente vão além dos releases oficiais para comprovar a veracidade das notícias, os colegas de ciência se contentam com a informação autorizada, os papers (relatórios científicos), as entrevistas e as revistas especializadas. [...] Em grande parte das notícias de ciência, não existe o contraditório. Ao se divulgar um trabalho científico sem citar outras conclusões ou visões sobre o mesmo assunto, dá-se a impressão ao leitor de que aquele constitui uma verdade absoluta. O papel do jornalista acaba não sendo muito diferente daquele que seria de um assessor de imprensa do pesquisador que deu a entrevista. (FRANÇA, 2005, p.41 e 42).
A busca da verdade por meio do contraditório, da comparação de versões, da
procura por variadas fontes e declarações, prática comum e indispensável à lógica
jornalística, parece não se repetir no jornalismo científico.
Não há contraditório na cobertura de ciência. Dispensamos o jornalismo sobre ciência de cumprir o mandamento que interdita a matéria feita a partir de uma única fonte porque entendemos que não há versões da verdade quando se trata de ciência. (...) Não havendo versões, nem contraditório, o que se reserva então ao jornalista que cobre ciência? A tarefa de “traduzir” com competência a fidelidade, de tal forma a ser compreendida pelo público leigo, um específico conteúdo científico. Tal conteúdo contém uma verdade que a fonte revelará ao jornalista. Não cabe a ele, nesse peculiar recanto do território do jornalismo, duvidar desse “conteúdo”; cabe-lhe, tão-somente, recolher o logos e “traduzi-lo” em versão simplificada. (TEIXEIRA, 2002, p. 134).
Por que apenas dentre as tantas especializações da cobertura jornalística, entre
elas a econômica, política, esportiva, cultural, policial, apenas a de ciência foge do
princípio do contraditório e das comparações de versões, tão necessária para a busca da
imparcialidade e isenção jornalística? O motivo por trás da ausência do contraditório
está na concepção de ciência que a sociedade e, por conseguinte, o jornalista, alimenta.
Compartilhamos e cult ivamos, ao longo da modernidade, a crença de que a verdade da ciência não comporta versões, dado ser a ciência justamente o método mais perfeito desenvolvido pelo homem para a apreensão da verdade sobre tudo no mundo passível de ser tomado
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como objeto desse método. Não há contraditório na cobertura de ciência porque não há contraditório possível para a ciência, a não ser aquele que a própria ciência engendrará ao longo do tempo com a continuidade da aplicação de seu método. (TEIXEIRA, 2002, p. 134)
Luiz reforça a falta da comparação de versões na prática do jornalismo
científico e critica a crença em uma “sabedoria indubitável” na ciência:
O primeiro postulado para o “bom jornalismo” é não basear a elaboração da notícia em uma única fonte. É preciso trabalhar com distintas versões, e a partir delas construir uma última versão, que é a do próprio jornalista, deixando claro quem diz o quê. A prática de confrontar versões, expressa como a busca do contraditório, não existe na cobertura científica, porque em ciência se acredita não haver versões contrárias, mas uma “sabedoria indubitável”, reverenciada diante do cientista-fonte (2004, p.16).
Tal compreensão da ciência cria uma áurea de infalibilidade a todo
representante da mesma, fazendo com que as fontes consultadas por jornalistas, a saber,
os cientistas, PhDs e outros especialistas, sejam recebidos com uma certa atitude de
reverência e submissão (GREGORY e MILLER, 2000, p.107). Na prática, a apuração
jornalística feita dessa maneira se traduz como propaganda e não como cobertura
jornalística de ciência, o que não deveria ocorrer, pois o jornalismo sobre ciência é,
antes de tudo, jornalismo – lógica confirmada por Gregory e Miller: “science journalism
is primarly journalism” (2000, p.117).
Na cobertura de economia, por exemplo, em que conhecimentos específicos são vistos como requisito profissional, os jornalistas não se constrangem em duvidar de versões e buscar, com seu trabalho, estabelecer uma outra versão, que é útil e confiável por apresentar pontos de vista contraditórios. Mas no que tange ao jornalismo científico, a posição que os homens dão à ciência – orgulho da civilização ocidental, tida como a mais bem acabada, bem-sucedida e promissora obra da razão humana – impõe uma menoridade ao jornalista e a todos que, perante ela, chamam-se “leigos”. É pressuposto que, por meio da ciência, a humanidade conquistou para si o poder de engenheirar o mundo, de dominá-lo e colocá-lo ao seu serviço, para extrair dele sua sobrevivência. Nem jornalistas, nem cientistas, nem o chamado público em geral desejam ver esse poder – que acalanta, ampara e consola – em xeque. De maneira que está posto o debate, ao jornalista cobrindo ciência cabe tornar-se um divulgador dessa verdade. Segue a conseqüência de que o bom jornalismo
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científico é, também, propaganda da Idéia da ciência. (TEIXEIRA, 2002, p. 134 e 135)
Sob a influência da concepção cientificista do mundo, a prática do jornalismo
científico contemporâneo sofre do mal da ausência do contraditório, o que representa
uma grave infração dos princípios éticos fundamentais da profissão. Curiosamente, as
dinâmicas e consistentes discussões sobre a concepção da ciência debatidas nas últimas
décadas por pensadores e filósofos da ciência parecem ainda não fazer parte do
repertório intelectual dos jornalistas e pouco têm feito para mudar a visão positivista da
ciência para o público em geral.
3.1.3. Falta de contexto e ênfase nos resultados mais do que nos processos
Mais dois elementos identificados nas pesquisas analisadas por Stocking
referem-se ao fato de que reportagens sobre temas de ciências tendem a negligenciar o
contexto histórico, “deixando de indicar, por exemplo, se aquele é o início de um estudo
ou se é um desdobramento de uma pesquisa anterior” (2005, p.165). Christofoletti
(2001) acredita que essa falta de contextualização da imprensa provoca confusão
informativa, isto é, o público não consegue estabelecer prioridades na assimilação das
informações, contrapor teses e muito menos comparar pesquisas anteriores cuja
temática é a mesma.
A outra tendência identificada é a de que os jornalistas estão “mais interessados
nos resultados (produtos) cuidadosamente elaborados que os cientistas criam do que nos
processos confusos, interpretativos e muitas vezes sociais pelos qua is são produzidos”
(STOCKING, 2005, p.166). Para França, reportagens que falam pouco da vida no
laboratório e nas incertezas e controvérsias das pesquisas científicas provoca má-
informação, fortalecendo o mito cientificista de que a ciência é neutra e cumulativa e
não o resultado de decisões políticas e econômicas historicamente orientadas (2005,
p.44).
Segundo Stocking, as notícias orientadas para o produto funcionam para
fortalecer e “mistificar as afirmativas dos cientistas” (2005, p.166). Gregory e Miller
chegam a conclusões semelhantes ao afirmar que a ênfase no produto em relação ao
processo faz com que a ciência pareça mais precisa e certa do que realmente é.
Para ser relevante e significativa, a cobertura jornalística freqüentemente enfatiza preferencialmente o potencial dos tratamentos
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e os efeitos dos resultados científicos ao processo pelo qual eles são desenvolvidos. Enfatizar tratamentos novamente torna a informação mais segura – já que os resultados possuem algum uso no mundo real, então eles devem estar certos; e os resultados fazem sentido para nós, porque os conectamos a um problema do mundo real – um problema que pode provocar uma resposta emocional. Jornalistas, que podem ser não-especialistas em ciência e não possuir interesse em sê-lo, podem ser dar ao luxo de especular – e de qualquer maneira o jornal logo será jogado fora e esquecido. (2000, p.116)
3.1.4. Busca triunfante
O último elemento identificado por Stocking é a busca triunfante da ciência –
os jornalistas estão apresentando a pesquisa científica como uma busca cujo resultado
futuro está assegurado. Para muitos jornalistas, “em uma época na qual um crescente
número de críticos argumenta que boa parte das incertezas, simplesmente em virtude da
complexidade dos sistemas sociais, bio lógicos e físicos, pode ser irredutível e, na
verdade, pode não ser passível de ser solucionada”, “as incertezas na mídia são
apresentadas como se pudessem ser minimizadas e resolvidas” (STOCKING, 2005,
p.167).
Ivanissevich (2005) e Romanini (2005) também criticam a postura da mídia ao
afirmar que as maravilhas da tecnologia e as promessas mirabolantes de muitas
pesquisas científicas tendem a fazer com que a população tenha uma imagem
predominantemente positiva e triunfalista da ciência, o que gera uma certeza perigosa
com relação aos reais poderes da ciência para solucionar os complexos problemas da
humanidade.
Identificar quais e com que freqüência os cinco elementos que demonstram que
os jornalistas tomam a ciência por mais exata do que ela de fato é, conforme o
panorama de Stocking (2005), é imprescindível para avaliar as condições atuais e
tendências da prática do jornalismo científico nas revistas especializadas em ciência.
3.2. Os jornalistas fazem a ciência parecer incerta e controversa
No grupo de pesquisas que demonstra que os jornalistas tinham a ciência por
incerta, imprecisa e controversa, os três elementos encontrados nas notícias e
reportagens analisadas são: reversões inexplicáveis, mesmo peso dado a cientistas de
primeira e segunda linha e mesmo peso para cientistas e não-cientistas (STOCKING,
2005, p.167-170).
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3.2.1. Reversões inexplicáveis
Para Stocking, resultados ou conclusões diferentes sobre uma mesma temática,
ambas divulgadas com tom de certeza e precisão pode, algumas vezes, sugerir
contradição e incerteza.
Pode-se esperar que a própria certeza presente em relatos pessoais de ciência, quando seguida por uma série rápida de declarações igualmente dotadas de certeza, mas contraditórias, venha a exagerar, por vezes, as incertezas. Por exemplo, um estudo hoje aparentemente exato sobre o valor nutricional da manteiga parece contradizer o estudo de ontem sobre seus perigos nutricionais. (2005, p.167)
3.2.2. Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e mesmo peso a
cientistas e não-cientistas
É comum na prática jornalística que os repórteres busquem fontes oficiais ou
reconhecidas por seus pares para coletar informações. No entanto, no jornalismo
científico, segundo Stocking, em algumas áreas polêmicas da ciência, há casos de
jornalistas que “colocam cientista contra cientista, com pouca ou nenhuma discussão
sobre as razões das controvérsias, muitas vezes sem mencionar o grau relativo de
aceitação científica dos diferentes pontos de vista” (2005, p.169).
Ocorre também na cobertura jornalística atribuição de mesmo peso e
autoridade a cientistas e não-cientistas. Stocking cita casos como, por exemplo, de
jornalistas que dão maior peso a leigos e cidadão comuns que testemunhavam serem
vítimas de problemas ou doenças devido ao uso de determinadas substâncias em
detrimento do testemunho de cientistas e especialistas que não conseguiam encontrar a
relação danosa em questão (STOCKING, 2005, p.169 e 170). Ou casos de mulheres que
receberam muito mais atenção por parte da mídia por reclamarem de sintomas difusos
após o implante de silicone nos seios do que os cientistas que não encontraram ligação
entre os sintomas das mulheres e seus implantes (STOCKING, 2005, p.169 e 170).
Esses dois elementos que fazem a ciência parecer incerta e inexa ta podem ser
considerados como sendo resultados da práxis jornalística de sempre ouvir os dois lados
e buscar o equilíbrio entre as declarações das partes, objetivando o máximo de
neutralidade possível. Curiosamente, as tensões entre o cumprimento ou não desse
princípio jornalístico acarretam em desvirtuações na divulgação da ciência. A ausência
do contraditório pode implicar o fortalecimento de uma falsa imagem de infalibilidade e
divinização da ciência enquanto a presença do contraditório pode enfraquecer a imagem
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de uma ciência coerente, dando a falsa idéia de imprecisão e inexatidão quando não é o
caso ou mesmo dando peso igual a cientistas e leigos em áreas polêmicas.
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Capítulo IV
Superinteressante: trajetória histórica e editorial
Nesse capítulo será abordada a história da revista Superinteressante e sua
trajetória editorial através de suas seis gestões (Almyr Gajardoni, Eugênio Bucci, André
Singer, Adriano Silva, Dênis Russo Burguierman e Sergio Gwercman, atual editor-
chefe da revista). A análise histórica da revista irá se concentrar nas transformações
editoriais pelas quais a revista passou e a concepção de ciência divulgada pela revista. A
história da Superinteressante será relatada segundo informações coletadas da própria
revista, no CD-ROM 15 anos de Super e das pesquisas de Carvalho (1996), Muto
(1999) e Novaes (2004), entre outros.
4.1. Superinteressante: origem multinacional
A revista Superinteressante foi uma segunda tentativa da Editora Abril no
ramo das revistas especializadas. Em 1981, a Abril publicou a Ciência Ilustrada, que
depois de três anos foi retirada do mercado. Sua tiragem mensal foi considerada um
fracasso para a editora: apenas 40 mil exemplares. Ainda assim, Carlos Civita
conseguiu convencer Roberto Civita a investir em uma nova revista especializada em
C&T. Além desse ramo atrair muitos leitores na Europa, Carlos Civita tinha um
contrato com a revista espanhola Muy Interessante para a publicação da sua edição
colombiana (CARVALHO, 1996, p.33 e 34). Depois de muito diálogo, Roberto Civita
resolveu arriscar com uma edição brasileira. O ano de lançamento da Super foi 1987.
O projeto da Superinteressante pertence a uma estrutura multinacional: o grupo
Gruner + Jar (G+J). O editorial da edição de novembro de 1995 da revista relata as
origens do periódico:
Essa família começou na Alemanha, em 1978, quando o grupo G+J lançou a revista PM (Peter Moosleitners Interessantes Magazine). Depois, vieram a Ça M’Interesse, da França, a Muy Interesante, da Espanha, as Muy Interesante do México, Colômbia, Venezuela, Argentina e Chile, a Focus inglesa e a Focus italiana. A SUPER foi lançada no Brasil em 1987, sob a licença da G+J.
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Apesar da estrutura multinacional e dos direitos da edição da Colômbia, a
Editora Abril apostou em uma revista produzida no Brasil. Ela acompanhava o modelo
espanhol, mas as matérias eram todas pautadas e editadas pela redação da Super
(CARVALHO, 1996, p.34). Em fase embrionária, o perfil editorial da revista, definido
por Victor Civita na carta ao leitor de outubro de 1987, sugeria que a Super seria uma
revista de cultura geral.
É um novo desafio editorial que enfrentamos certos de que, com ele, damos mais uma contribuição à divulgação do conhecimento (...). Não por acaso ela se chama SUPERINTERESSANTE, pois oferecerá aos leitores uma visão ampla do que se fez, do que se faz e - por que não? – do que se fará em termos de pesquisa e realização científica e tecnológica. Sua pauta de assuntos não terá limites, cobrindo, por exemplo, da Física à Pré-História, da Astronomia à Ecologia, da Informática à Psicologia ou à Religião. De forma clara, direta, acessível ao mais leigo dos leitores, SUPERINTERESSANTE mostrará o conhecimento científico não como um tesouro a que só alguns privilegiados têm acesso, por sua cultura, mas como algo que passa pelo cotidiano de todos nós, influenciando e modificando até mesmo os momentos mais simples de nossa vida.
4.2. Primeiras gestões: visão otimista da ciência
Almyr Gajardoni foi primeiro redator-chefe da revista. Ele ocupava a mesma
função na revista Claudia quando foi chamado a liderar a nova equipe da
Superinteressante. Ele buscava fugir da tendência das outras revistas de língua
hispânica do grupo G+J, que copiavam na íntegra o conteúdo da revista espanhola. A
Muy Interessante espanhola e, por conseguinte, suas filhas latino-americanas, tratavam
sobre curiosidades e eventos fantásticos – não estavam necessariamente comprometidas
com o conteúdo científico. O intuito de Gajardoni era que a revista fosse reconhecida
pela comunidade científica e não corresse o risco de ser rejeitada por cientistas e
acadêmicos da área (CARVALHO, 1996, p.35 e 36).
Contudo, embora enfatizassem a cientificidade do perfil editorial e negassem o
jornalismo de curiosidade da modelo espanhola, a Super tinha como “cerne do projeto”
proporcionar aos leitores “cultura geral” (CARVALHO, 1996, p.43). As justificativas
para aprimorar a cultura geral do brasileiro consistiam na incapacidade do trabalho e da
escola fornecerem conhecimento geral aprofundado. Contraditoriamente, o público da
Super, diante das expectativas científicas da revista, já deveria possuir uma mínima
bagagem cultural a ser ampliada pelo periódico (CARVALHO, 1996, p.44). Enquanto
rejeitava o jornalismo de curiosidades da Muy Interesante, a Super estava sendo
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planejada para atingir um público de perscrutadores, isto é, “pessoas curiosas por
natureza com sede de saber coisas diferentes” ou pessoas com “pouca/média cultura
geral e preocupadas com isto” (CARVALHO, 1996, p.44).
O planejamento mercadológico da revista previa o objetivo de publicar aquilo
que fosse “interessante e curioso”, pertencente a “qualquer campo do conhecimento,
ciência ou arte, antiguidade ou grandes temas atuais, grandes catástrofes ou maravilhas
da natureza, doenças ou grandes descobertas, arqueologia e meteorologia, física e
tecnologia, religião e sociologia, alimentação e esportes” (CARVALHO, 1996, p.48).
Dessa forma, Carvalho (1996, p.44-48) sugere que o pioneirismo da revista e a
incerteza da aceitação do público provocaram uma indefinição editorial, com sutis
contradições: a mescla de cientificismo com o jornalismo de curiosidades. Essa brecha
poderia dar às curiosidades status de pseudociência. Contudo, durante a gestão de
Gajardoni, a revista posicionou-se em favor da ciência na “Carta ao leitor” de dezembro
de 1989, escrita por Luiz Weis, rejeitando qualquer vertente que escapasse às definições
da ciência convencional.
Tratados já foram escritos para explicar por que tanta gente, mesmo gente que usa antibióticos e anda de avião, se deixa enredar por aquilo que vem sendo chamado, apropriadamente, pseudociência. Nada disso, portanto, é novidade – mas o episódio do enfrentamento de um praticante de pseudociência com um trem em marcha oferece oportunidade de esclarecer por que SUPERINTERESSANTE manifesta tão escasso entusiasmo pelos “aspectos ocultos da realidade fora do alcance da ciência convencional”, como dizem aqueles leitores que desejariam da revista maiores atenções para com misticismos em geral. SUPERINTERESSANTE não tem assuntos proibidos nem preconceitos de espécie alguma. Tem com o leitor, isto sim, o compromisso básico de procurar e divulgar informações sobre todo e qualquer tema ligado à ciência e à cultura, segundo os padrões do melhor jornalismo, e de registrar os mais aceitos critérios da atividade científica e ainda por cima avalizadas pelas fontes mais confiáveis. Ao abordar um assunto de interesse, seja ele a moda da astrologia ou a prática do curandeirismo, tratadas em edições passadas, seja a moda dos dinossauros ou a pesquisa sobre o cérebro humano e a inteligência, ambas nesta edição, a atitude é rigorosamente a mesma. O respeito ao direito de qualquer um achar o que bem entender em relação a qualquer assunto não nos afasta do respeito maior à razão, como critério último de verdade. Em nome disto, quando tiver de falar de gente que pretende parar trens com a mente, ou de qualquer outra manifestação de irracionalidade, SUPERINTERESSANTE não deixará de dizer que acha tudo isso uma rematada besteira.
56
Além disso, um dos grandes resultados da gestão de Gajardoni foi atrair o
público-jovem. De fato, foi com ele que a busca pelo público jovem, e até a conquista
do mesmo, aconteceram. Pesquisas ao final de sua gestão confirmam essa idéia.
Segundo pesquisa da Marplan em 1994, o maior segmento de leitores da Super
encontrava-se entre as pessoas de 20 a 29 anos, seguidas pela parcela de 15 a 19 anos
(CARVALHO, 1996, p. 83). Uma pesquisa realizada pela Standard Ogilvy & Mather no
final de 1994 reve lou que a Super estava entre as dez revistas mais lidas pelos
adolescentes e jovens – 11 a 19 anos (CARVALHO, 1996, p. 83).
A gestão de Gajardoni pode ser caracterizada, portanto, por uma postura
otimista em relação à ciência, com pouca abertura para pseudociência, a religião e o
misticismo. Apesar das contradições do planejamento editorial e da proposta inicial de
cultura geral, editoriais da Super de Gajardoni possuem traços de triunfo da razão e do
cientificismo – uma visão positivista da ciência (NOVAES, 2004, p.32).
Em 1994, tem-se início a gestão de Eugênio Bucci que foi marcada, entre
outras coisas, por duas mudanças estruturais no perfil editorial da revista: a ênfase
jornalística no conteúdo e o novo planejamento gráfico. A primeira dessas mudanças de
Bucci pretendia mergulhar a revista no ambiente jornalístico de uma vez por todas,
investindo em aspectos mais jornalísticos como qualidade do texto e opinião do leitor.
Com a entrada de Bucci em junho de 1994, a revista passou a evitar a terminologia
científica e a ser mais coloquial. A “obsessão pela clareza do texto” e a proibição de
mostrar textos às fontes imprimiram na Super um caráter fortemente jornalístico
(MUTO, 1999, p. 45). Em entrevista a Muto, Bucci afirma:
A revista era um sucesso, estava bem, mas faltava ainda alguns degraus de jornalismo. Até a reforma, a revista era designada no projeto como uma revista de divulgação científica. A partir desse momento, ela passou a ser denominada como uma revista de jornalismo científico. Durante minha estadia [sic] na Super, procurei levar até o fim o que era jornalismo (1999, p. 44).
A segunda reforma mais substancial da revista com a chegada de Bucci foi a
gráfica. Em sua gestão, uma equipe gráfica foi contratada e o resultado foi aumento do
corpo do texto, a mudança e estilização dos logos das seções. A “Carta ao Leitor” de
abril de 1997 traz informações que definem essa preocupação de Bucci com o design e a
aparência da revista e mesmo com a linguagem mais coloquial e acessível:
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E qual é o coração da SUPER? É a sua própria razão de ser: explicar a ciência, seus mistérios, de que modo ela influencia o nosso mundo e, ao mesmo tempo, transmitir a você a tremenda aventura que existe dentro da ciência. Por isso, além de ser exclusiva e acessível, esta revista não tem medo de se empolgar. Revelar a ciência com clareza e emoção - eis o coração da SUPER. Portanto, o objetivo das mudanças gráficas (...) é aprimorar a linguagem que já se tornou marca registrada na SUPER: texto e imagem combinados para deixar tudo mais fácil de entender e mais vibrante.
Mas a modificação que mais se destaca é a introdução intensificada dos
infográficos. A infografia já era usada na época de Gajardoni4, mas foi com Bucci e o
infografista Luiz Iria que a Super consolidou o uso dessa técnica: em 1996, registra-se
um aperfeiçoamento e sofisticação na técnica de infografia (MÓDOLO e GOUVEIA
JÚNIOR, 2007, p.14).
Carvalho sugere que a preferência pelo desenho e da infografia em vez da
imagem comum mostra uma preocupação “em superar o comum e a diferenciar-se dos
outros produtos” (1996, p. 76) foi uma estratégia para atrair o público jovem que já se
mostrara como o maior filão de leitores da revista. A reforma de Bucci parecia visar
manter o público-jovem como principal cliente da revista, aumentando os atrativos para
essa parcela da população por meio da ênfase visual impressa.
Todas essas mudanças jornalísticas e gráficas visando o leitor criou um perfil
favorável para atender a demanda pelas temáticas relacionadas a humanidades. Bucci
não prossegue com a linha positivista da ciência convencional acompanhando mais de
perto a proposta original da revista voltada para a cultura geral.
Em 1998 teve início a gestão de André Singer, que manteve os propósitos da
revista definidas por Gajardoni e aprimoradas por Bucci. O intuito de mostrar as mais
recentes descobertas científicas e tecnológicas continuou e a busca por notícias que
despertassem a curiosidade também. Nessa gestão, a Super confirma a consolidação do
jovem como público- leitor das gestões anteriores. Um dos jornalistas da Super na
época, Ricardo-Arnt, afirma: que “o grande trunfo da Superinteressante foi ter atingido
um grande público” por tratar os assuntos “de maneira clara, por fazer da ciência um
espetáculo, uma aventura” (MUTO, 1999, p. 47). Para ele, a revista “mantém o jovem
leitor sintonizado; ela escreve aquilo que o jovem gosta” (MUTO, 1999, p.47).
4 Na Carta ao Leitor de maio de 1994, há informações sobre o curso oferecido pela Editora Abril a alguns funcionários, entre eles o chefe-de-arte Paulo Primati e a editora de arte Fátima Cardoso. O curso foi realizado pelo redator-chefe do jornal El Mundo, Mario Tascón e pelo diretor de infografia do El Correo, Tomás Ondarra.
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Em relação ao projeto original na gestão Gajardoni, houve uma mudança nos
campos de conhecimento que eram pautados pela revista. Alguns foram reorganizados
enquanto outros foram excluídos. No projeto de Singer, as ciências sociais perderam
destaque. O segmento “misticismo” e “atualidades”, que constavam no projeto original
se diluíram em outras áreas (MUTO, 1999, p.48). Para Arnt, alguns temas não entrariam
na revista, como “militarismo, ciências esotéricas ou misticismo” (MUTO, 1999, p.48).
Ele afirma que “para a Super só interessa aquilo que está consagrado como ciência,
embora a gente tente ser mais elástico. Se temas religiosos aparecem na revista, é
sempre sob o ponto de vista científico” (MUTO, 1999, p.48).
Com essa declaração de Arnt, Muto, embora com receio, afirmava que a linha
mística ou religiosa seguiria a tendência de aparecer cada vez menos na revista.
Ao dar uma olhada nos números da Superinteressante, percebemos que, com o passar do tempo, assuntos relacionados a esse segmento tendem a aparecer menos na revista, o que indicaria uma nova postura. Não posso afirmar tal hipótese com toda a certeza, uma vez que não foi feita – e não era objetivo desse trabalho – uma análise das matérias da Superinteressante em sua evolução. O que é importante notar é que a revista leva em consideração a fé do leitor e que esta parecia receber maior destaque nas matérias da Superinteressante. Atualmente, a questão religiosa, ainda que não mereça grande destaque, é levada em consideração pela revista. (MUTO, 1999, p.49).
Muto afirma que uma das características da revista é a postura “iluminista” e
“progressista” com que ela trata a ciência, evitando assuntos delicados ou negativos da
ciência (1999, p.97). Essa sua conclusão está provavelmente relacionada a sua crença de
que há uma diminuição do misticismo e da religiosidade nas pautas da revista – o que o
trabalho posterior de Novaes (2004) demonstraria como sendo o contrário.
A gestão de Singer, portanto, representa uma breve recaída da Super: o retorno
do predomínio das ciências convencionais e o combate às pseudociências e temas
religiosos e místicos.
4.3. Últimas gestões: abertura ao religioso e ao metafísico
A gestão de Adriano Silva, iniciada em 2000, e sua sucessão por Denis Russo
Burgierman, em 2004, e Sergio Gwercman, em 2007, de fato, corresponde a
consolidação da Superinteressante como uma das revistas mais lidas do país. Em sua
gestão acumulam-se prêmios e menções honrosas e são quebrados recordes de
59
vendagem – foi com Silva que a revista superou a marca de 100 mil exemplares
vendidos, feito nunca dantes atingido. Foi no período em que ele está à frente da revista
que a marca Super ganha força; lançamentos de mais seis revistas, cujo maior destaque
é Mundo Estranho, coleções de livros Para saber mais, DVDs, CD-ROMs, entre outras
coisas.
Portanto, a gestão Silva e sucessores pode ser marcada pela expansão
publicitária da revista e pelo sucesso de vendagem. É nesse período que o uso de
infográficos se consolida ao ponto de conceder a Super o título de melhor revista do
mundo no uso de infografia, concedido pela Universidade Navarra, na Espanha.
Além disso, a abordagem sobre a ciência muda em definitivo. Se Bucci já dava
sinais de abertura às humanidades com a linguagem mais acessível e o uso de
infográficos, é com Silva que temas como comportamento, religião a até cultura pop
não somente ganham força como também mostram predominância sobre as temáticas da
ciência convencional. A “Carta ao leitor” de julho de 2002 redefine a ciência segundo a
Super.
Uma das grandes discussões que envolvem a SUPER desde a sua criação é o escopo do termo “ciência”. (...) Muitas pessoas tendem a imaginar que a ciência se circunscreve às ciências exatas. E a achar que as ciências humanas e sociais não merecem muito respeito. Em decorrência disso, há sempre uma expectativa de ver na SUPER apenas matérias calcadas na matemática e na biologia, na objetividade e nos números, nos laboratórios e na visão cartesiana de mundo. Sempre que publicamos matérias sobre áreas mais subjetivas do saber humano, amparadas na cultura e no comportamento, há a impressão de que não estamos falando de ciência. Para nós, essa distinção não faz sentido. Para a SUPER, tudo isso é ciência. História, filosofia, semiótica e psicologia, por exemplo, são objetos de estudo tão instigantes e merecedores de atenção quanto a física ou a química, a alta tecnologia ou a astronomia. Em suma: os pensamentos e os sentimentos nos interessam tanto quanto os neurônios e as células. A aventura humana, contraditória e espetacular, nos encanta tanto quanto os átomos e as moléculas. E isso não torna a SUPER menos científica. Muito ao contrário.
Em consonância com o que afirma a “Carta ao Leitor”, a pesquisa de Novaes
(2004) confirma a mudança temática da revista. Novaes realizou uma análise
freqüencial temática das capas da revista e constatou a queda de reportagens cuja
temática pertencia às ciências naturais e o aumento das ciências humanas, às
pseudociências e das temáticas religiosas e místicas. Para ele, a revista assumiu uma
60
postura cientificista e otimista em relação à ciência até 2000, mudando após esse
período.
A análise freqüencial das capas da Superinteressante em suas quatro gestões revelou uma crescente queda da presença de temas voltados para as ciências naturais – há uma diferença muito grande na ênfase dada no início da revista para a Super atual. As ciências humanas, que representavam apenas 21% dos temas de capas contra 79% de temas de ciências naturais no início da revista, crescem até ocupar uma porcentagem (75%) equivalente a anteriormente ocupada pelas ciências naturais no início da revista. [...] A predominância das ciências do homem sobre as ciências da natureza nas capas da revista representa um enfraquecimento do conceito positivista e cientificista da ciência, assimilando uma ênfase mais humanístico-social do conceito científico [...] (NOVAES, 2004, p.49)
Logo, a gestão de Silva e sucessores pode ser definida como o período em que
a revista firmou-se no mercado editorial como uma marca não apenas voltada para a
divulgação da ciência e tecnologia, mas também exploradora da religiosidade, da
cultura pop e várias outras vertentes que se encaixam no termo “cultura geral”, usado na
proposta original. O período após 2000 marca a supremacia das humanidades sobre as
ciências naturais e a ênfase na religião, misticismo e cultura pop, afastando-se de uma
postura editorial positivista e cientificista. No entanto, há de se verificar, nas análises
das reportagens, se esse enfraquecimento da visão positivista da ciência é algo referente
apenas a escolha de matérias ou se ele também se encontra no tratamento das certezas e
incertezas científicas conforme colocadas por Stocking (2005).
61
Capítulo V
Análise de conteúdo das reportagens de
Superinteressante
Diante de tantos temas emergentes, controversos e polêmicos na ciência,
Stoking projetou duas possibilidades sobre a maneira como os jorna listas estariam
lidando com essa “barragem de afirmações e contra-afirmações científicas” (2005,
p.61), como visto no capítulo 3. A primeira delas é a de que os jornalistas estariam
tornando a ciência mais exata do que ela é e a segunda opção seria a de que os
jornalistas estariam fazendo a ciência parecer incerta e desconcertante.
Ainda segundo Stocking (2005), alguns elementos, ora presentes na construção
discursiva, ora na prática jornalísticas, seriam indicadores razoavelmente seguros se
uma compreensão cientificista da ciência se fortalece ou se a imagem da mesma se
banaliza. Os elementos que reforçariam o caráter de infalibilidade e inerrância da
ciência por meio da mídia seriam: ausência de advertências e delimitações, ou a
tendência em não explicitar procedimentos usados, local, tipo de experimentação,
circunstâncias em que as pesquisas são válidas, entre outras coisas; a ausência do
contraditório, ou seja, a tendência de consultar um número pequeno de fontes para a
realização da matéria, o que ocasiona a produção contestável de consenso e verdade por
intermédio de um ou poucos interlocutores, contrariando a ética jornalística; a falta de
contexto, ou a tendência a negligenciar o contexto histórico da notícia, deixando de
noticiar, por exemplo, se uma pesquisa está em seu começo ou se é um desdobramento
de estudos anteriores, o que também fortaleceria a imagem da ciência como um edifício
seguro e linear; a ênfase em noticiar os resultados das pesquisas mais do que processos
e procedimentos que levaram às descobertas, o que implica fortalecimento do caráter
triunfalista da empreitada científica; ou a tendência de busca triunfante, na qual se
apresentam informações com sentido de conquista assegurada, descoberta garantida e
melhoria certa.
No entanto, três elementos presentes nas produções jornalísticas mostrariam
uma tendência contrária: a de banalização da ciência e enfraquecimento da imagem de
precisão e eficácia da empresa científica. Tais evidências seriam: a apresentação não
62
pouco freqüente de inúmeros estudos e resultados contraditórios; o peso dado a
cientistas de segunda linha ou especialistas considerados à margem da comunidade
científica; o peso dado a não-especialistas ou cidadãos comuns.
Diante disso, a proposta da presente pesquisa é avaliar a intensidade e
freqüência da presença – ou ausência – de cada um desses elementos nas reportagens de
capa escolhidas como objetos de pesquisa. Para tanto, a técnica escolhida para se obter
essas respostas é a análise de conteúdo.
5.1. Roteiro para uma análise de conteúdo
A análise de conteúdo, segundo Fonseca Júnior (2005, p.286), é basicamente
uma análise de mensagens como a análise semiológica e a análise do discurso, sendo
que as principais diferenças entre essas modalidades são que “apenas a análise do
conteúdo cumpre com os requisitos de sistematicidade e confiabilidade”.
Para Epstein (2002, p.15), o fato da análise de conteúdo ser uma técnica cuja
característica é a sistematicidade “implica que a seleção deste conteúdo é feita de
acordo com regras coerentes e explícitas, do mesmo modo que sua avaliação”. Ainda
segundo Epstein (2002, p.15), a análise de conteúdo deve seguir uma espécie de esboço
contendo os seguintes passos: 1) formular uma hipótese ou questão para a pesquisa; 2)
definir a população em questão; 3) selecionar uma amostra adequada da população; 4)
selecionar e definir as unidades de análise; 5) construir as categorias do conteúdo a ser
analisado; 6) estabelecer um sistema de quantificação; 7) treinar os codificadores e
conduzir um estudo piloto; 8) codificar o conteúdo de acordo com as definições
estabelecidas; 9) analisar os dados coletados; 10) verificar a validade e 11) estabelecer
conclusões e pesquisar indicações.
Dessa forma, serão descritos os passos seguidos no presente trabalho conforme
o esboço de Epstein, assim como os resultados e inferências da aplicação da pesquisa.
A hipótese ou questão norteadora da pesquisa, conforme visto na introdução do
trabalho é a de que pode haver, nas revistas especializadas em ciência, mais
especificamente em Superinteresante, elementos que indiquem o predomínio de
matérias que reproduzam uma visão cientificista da ciência, fortalecendo o rótulo do
saber científico como único, preciso e verdadeiro. A segunda hipótese orientadora da
pesquisa é a de que pode haver pouca exploração ou informação jornalística dos limites,
riscos, controvérsias e incertezas nas matérias sobre ciência.
63
Logo, a população a ser estudada são as edições da revista Superinteressante
nos últimos quatro anos – de 2004 a 2007. Compreende-se que o período dos últimos
quatro anos de produção jornalística da revista reflita melhor a atual prática e linha
editorial, bem como indique com certo grau de precisão quais as tendências a serem
seguidas pelo fazer jornalístico do gênero. As reportagens a serem analisadas serão as
de capa, por representarem a informação que a própria revista considera a mais
importante e que, provavelmente, devido ao destaque, serão as mais lidas.
A amostra da população selecionada consiste em 12 edições, representando um
ano construído. As edições escolhidas para análise obedecem a dois critérios. Em
primeiro lugar, a fim de garantir maior representatividade da amostra, foram
selecionadas três edições por ano – três edições em 2004, três em 2005, três em 2006 e
três em 2007, totalizando 12 edições. Em segundo lugar, foram selecionadas as edições
cuja temática da reportagem de capa fosse polêmica e que despertasse extrema
curiosidade do público pelo caráter de indefinição e incerteza científica, isto é, que
caracterizassem uma área emergente ou controversa da ciência (DUNWOODY, 1999,
p.66-70). Dessa forma, as edições escolhidas foram: janeiro de 2004 (“Medicina
alternativa”), abril de 2004 (“Quem matou Jesus?”), agosto de 2004 (“Medicina
Ayurvédica”), novembro de 2005 (“Quando a vida começa?”); dezembro de 2005
(“Q uando a vida termina?”), dezembro5 de 2005 (“Deus existe?”), março de 2006 (“A
chave dos sonhos”); maio de 2006 (“O novo Judas), agosto de 2006 (“Os superpoderes
do cérebro”) março de 2007 (“Espíritos”), agosto de 2007 (“Pensamento positivo”),
dezembro de 2007 (“A última chance de salvar a Terra”).
Para se identificar quais, com que intensidade e com que freqüência os
elementos das reportagens que caracterizam a ciência como mais segura e precisa do
que é realmente, segundo Stocking (2005), encontram-se nas matérias analisadas, as
características do fazer jornalístico a serem procuradas nas reportagens de capa da
Superinteressante são: “ausência de advertências”, “matérias de uma única fonte ou
ausência do contraditório”, “falta de contexto e produto mais que processo” e “busca
triunfante” (STOCKING, 2005, p. 162-167). Além disso, procurar-se-á, também,
elementos que fazem a ciência parecer mais imprecisa e insegura do que pode ser, a
saber, “mesmo peso para cientistas de primeira linha e secundários” e “mesmo peso
5 Nos últimos anos, a revista Superinteressante tem lançado duas edições no mês de dezembro. Dessa forma, duas edições do mês de dezembro de 2005 foram escolhidas para análise. A edição cujo título é “Deus existe?” é de 7 de dezembro de 2005 e a edição “Quando a vida termina?” é de 16 de dezembro do mesmo ano.
64
para cientistas e não-cientistas” (STOCKING, 2005, p.167-170). Desta forma, as
unidades de análise ou de registro6 a serem nomeadas são (1) capa (2) reportagem.
Além do trabalho de Stocking (2005), base da presente pesquisa, análises
quantitativas e a criação de categorias em Marques de Melo (1972) auxiliaram na
criação de um sistema de quantificação na forma de um formulário de codificação, que
está dividido em três partes:
(1) Informações gerais: nas quais se procura registrar dados como título da
capa e título do interior da revista, número da edição, número de páginas da reportagem,
entre outras informações.
(2) Análise da capa: na qual se busca registrar os indicadores semânticos que
atribuem sentido ao título e subtítulo na capa das revistas. Para essa análise, foram
utilizados os conceitos de analogia por idéias afins de Sargentim (s/d), no qual, por
meio de verbos, advérbios e adjetivos, entre outros termos e locuções, pode-se
apreender o significado e o sentido da frase ou sentença. Dessa forma, os títulos e
subtítulos podem ser classificados dentro das categorias “Garantia ou Possibilidade”,
“Precisão ou Imprecisão” e “Domínio de conhecimento” ou Ignorância”. Dessa forma, é
possível aferir o tipo de concepção de ciência e de conhecimento científico que os
indicadores semânticos apontam.
(3) Análise da reportagem : na qual, primeiramente, são registrados os
indicadores semânticos que atribuem sentido ao título e subtítulo no interior das
revistas, dado que a titulação na capa e no interior da revista apresentam diferenças.
Além disso, busca-se registrar dados a respeito dos elementos “ausência de
advertências”, “matérias de uma única fonte ou ausência do contraditório”, “falta de
contexto e produto mais que processo”, “busca triunfante”, “mesmo peso para cientistas
de primeira linha e secundários” e “mesmo peso para cientistas e não-cientistas” e que
indicam a tendência dos jornalistas em minimizarem ou exagerarem a cobertura sobre as
incertezas científicas, conforme Stocking (2005, p. 162-167). A única exceção à lista
apresentada por Stocking é o elemento “reversões inexplicáveis”. Sua ausência no
formulário de codificação justifica-se por que sua constatação exige um
acompanhamento meticuloso de pesquisas sucessivas do mesmo tema e em vários
veículos, o que foge do propósito deste trabalho que, por sua vez, busca analisar um
veículo somente – a revista Superinteressante.
6 Segundo BARDIN, as unidades de registro são elementos textuais ou do material a ser analisado que permitem que se criem categorias, que se constatem a freqüência e outras aferições (1977, p.177).
65
Vale ressaltar que na maioria das perguntas em questão no formulário, há
espaço para relatar os trechos ou termos indicadores, isto é, quais os termos ou trechos
da reportagem ou do título da mesma justificam uma resposta “sim”, “não”, “de forma
detalhada e aprofundada”, e assim por diante, de modo que o leitor poderá percorrer o
mesmo caminho trilhado na leitura das reportagens e conseqüente preenchimento do
formulário.
Assim, no formulário de codificação (Ver Anexo 1) constata-se a ausência ou
presença de advertências, delimitações e contextualizações sobre pesquisas apresentadas
nas reportagens, depois se afere a quantidade e o tipo de fontes utilizadas para a
confecção da matéria e depois se avalia o viés e a ênfase da reportagem.
Com o formulário de codificação (ver Anexo 1), espera-se elencar elementos
que permitam a identificação da concepção de ciência divulgada nas revistas analisadas.
5.2. Breve descrição das reportagens analisadas
Das matérias escolhidas para se analisar o tipo de tratamento dado pelas
reportagens de capa da Superinteressante, de 2004 a 2007, às incertezas e certezas na
ciência, duas falam sobre medicina alternativa, três tratam de religião, duas abordam
assuntos da bioética, duas referem-se a descobertas da neurociência, uma disserta sobre
a auto-ajuda e uma fala sobre aquecimento global.
Todos os temas escolhidos representam assuntos polêmicos e que, em primeira
instância, não representam um consenso na comunidade científica – ao contrário, são
temas que provocam divergências entre especialistas e despertam curiosidade no
cidadão comum. A seguir são apresentados descrições sobre as reportagens analisadas, a
fim de definir temática central, objetivos e proposta das matérias.
A primeira matéria analisada, publicada em janeiro de 2004, intitula-se
“Medicina alternativa – o que existe de bom e confiável fora do conhecimento médico e
tradicional? (Leia esta reportagem antes de usar)” e tem como objetivo discutir a
validade ou não de tratamentos alternativos à medicina tradicional. Para tanto, a
reportagem se concentra em apresentar pesquisas e declarações de cientistas e
especialistas que de alguma forma consigam responder às perguntas: “Terapias
alternativas funcionam?” e “qual a opinião da ciência sobre elas?”.
A segunda reportagem, cujo título é “Quem matou Jesus?”, foi publicada em
abril de 2004 e aproveita-se da polêmica em torno do filme Paixão de Cristo, dirigido
por Mel Gibson, para discutir as razões e os culpados por trás da morte de Jesus.
66
Diversos historiadores comentam o contexto cultural, político e religioso da época
neotestamentária e discutem a validade da compreensão conservadora do cristianismo
tradicional. Neste capítulo são feitas as interpretações dos dados coletados por meio do
formulário de codificação.
“Medicina Ayurvédica – Por que tanta gente está tratando a saúde com essa
doutrina indiana de 5000 anos? Que conhecimento é esse? Dá pra confiar?” é a terceira
reportagem escolhida, datada de agosto de 2004. A matéria parte de uma discussão
sobre a dicotomia entre a compreensão ocidental e oriental dos fenômenos naturais e do
corpo humano para discutir a validade das práticas médicas indianas segundo a lógica
médica ocidental.
Quarta reportagem selecionada, “Quando a vida começa?”, publicada em
novembro de 2005, seria republicada meses depois em um encadernado com outras duas
edições, formando o que se chamou de trilogia “O sentido da vida”. Na reportagem, a
polêmica do aborto e das células-tronco é desenvolvida tendo como ponto-de-partida a
imprecisão e indefinição a respeito da vida: quando ela começa e quais as implicações
éticas de determinar ou não um período em que surge um ser humano.
A quinta reportagem, “Deus existe? Será que a ciência tem a resposta?”, de 7
de dezembro de 2005, segunda matéria da trilogia, diz respeito a um dos maiores
enigmas da idade moderna: a existência de Deus. É contrastado, portanto, a visão teísta
de mundo com a compreensão evolucionista da realidade.
A sexta reportagem, “Quando a vida termina?”, de 16 de dezembro de 2005,
encerra a trilogia “O sentido da vida” e busca discutir a validade da eutanásia e dos
métodos tradicionais para se identificar o fim da vida diante de novas descobertas da
medicina e diante da ética moderna.
“A chave dos sonhos – Toda a noite sua mente viaja para um mundo fantástico.
Por que isso acontece? O que a ciência sabe sobre os sonhos? E o que eles dizem sobre
nós?”, publicada em março de 2006, é a sétima reportagem selecionada e que procura,
ao descrever as últimas descobertas da neurociência e a tradição da psicanálise,
apresentar respostas para as dúvidas mais freqüentes sobre os sonhos, suas razões e
mesmo possíveis interpretações dos mesmos.
Também dentro da temática neurociência, “Os superpoderes do cérebro –
Neste exato momento, uma enorme revolução científica está mudando tudo o que se
sabe sobre o cérebro. Entenda como isso vai afetar sua vida”, de agosto de 2006,
pretende demonstrar que as últimas descobertas sobre o funcionamento do cérebro
67
podem causar uma revolução científica na área, fazendo-nos rever as capacidades e
limites do órgão.
Nona reportagem escolhida, de maio de 2006, “O novo Judas – Uma
descoberta arqueológica contradiz a Bíblia e diz que Judas foi o apóstolo preferido de
Cristo. Afinal, qual a verdadeira história do maior vilão do cristianismo?” apresenta
declarações e relatos de especialistas sobre a descoberta do evangelho de Judas,
documento considerado apócrifo pela Igreja Católica e que oferece uma nova versão
sobre a história da traição de Jesus.
“Espíritos – Para a ciência, eles não existem e pronto. Mas, então, por que tanta
gente afirma receber visitas dos mortos? Será que a resposta está apenas no cérebro?” é
o título da décima reportagem, de março de 2007, que traz relatos de pessoas que
afirmam ter experiências sobrenaturais. A partir dessas descrições, a reportagem busca
relacionar o contato com espíritos a fenômenos explicados pela neurociência.
Décima primeira reportagem selecionada, “O segredo do pensamento positivo
– Fala-se muita bobagem sobre as vantagens de pensar positivo. Mas uma coisa é certa:
funciona. E a ciência pode explicar como”, de agosto de 2007, movida pelo sucesso de
livros motivacionais de sucesso, busca separar o que é senso comum do que as
descobertas científicas afirmam sobre a eficácia e poder do pensamento positivo.
Última matéria escolhida, “A última chance de salvar a Terra – O planeta ainda
tem solução. Mas não aquela em que você (e a maior parte dos ambientalistas)
acredita”, de 15 de dezembro de 2007, aborda a problemática do aquecimento global
sob a perspectiva da sustentabilidade tecnológica.
5.3. Incertezas científicas nos títulos de Superinteressante
Por meio de elementos textuais, isto é, indicadores semânticos, como verbos,
advérbios ou adjetivos que sugerem possibilidade ou garantia, certeza ou dúvida
(STOCKING, 2005; SARGENTIM, s/d), foram identificados o tipo de concepção de
ciência que predomina nos títulos jornalísticos.
Curiosamente, a titulação de capa da revista Superinteressante não apresenta
uma postura uniforme no tratamento dado às incertezas científicas. Algumas diferenças
merecem destaque.
A primeira diferença que se observou é o predomínio, no geral, dos indicadores
semânticos que fortalecem a idéia de uma ciência não tão precisa, exata e segura,
conforme as tabelas 1 e 2. Os números que evidenciam essas conclusões e que se
68
encontram na tabela abaixo são: nos títulos de capa, 76% deles apresentam o sentido de
“possibilidade/dúvida” em contraste com 16% que têm sentido de “garantia/certeza”.
Esse predomínio está em relativa consonância com os títulos internos, nos quais 50%
deles apresentam sentido de “possibilidade/dúvida” contra 42% cujo sentido
predominante é “garantia/certeza”.
TABELA 1: sentido dos títulos de capa TABELA 2: sentido dos títulos internos
Garantia/certeza 16%
Possibilidade/dúvida 76%
Indefinido 8%
Garantia/certeza 42%
Possibilidade/dúvida 50%
Indefinido 8%
Tais dados indicam que, no geral, os títulos apresentam uma concepção mais
realista e menos triunfalista da ciência, o que aponta para uma construção textual da
revista na qual a ciência é um saber que pode não deter com precisão o domínio de
algumas áreas do conhecimento e que corre o risco de não obter sempre respostas ou
resultados positivos para todos os problemas em questão. No entanto, a predominância
de indicadores semânticos que trazem uma conotação de incerteza ao processo de
pesquisa e descobertas da ciência pode também ser analisada sob o prisma do exagero
ou supervalorização das limitações do saber científico, o que pode implicar certo
descrédito ou perda de credibilidade à ciência.
Outra diferença que merece destaque é a disparidade entre os sentidos de
alguns títulos da capa da revista dos títulos internos das mesmas. Curiosamente,
algumas edições nas quais há a ocorrência do sentido de “possibilidade/dúvida” na capa,
há a presença do sentido de “garantia/certeza” na titulação interna. Na edição de agosto
de 2006, por exemplo, cujo título de capa é “Os superpoderes do cérebro – Neste exato
momento, uma enorme revolução científica está mudando tudo o que se sabe sobre o
cérebro. Entenda como isso vai afetar sua vida”, fica evidente a tentativa da construção
textual de assegurar que o conhecimento científico do tema, no caso, a a revolução a
neurociência, é incerto, mutante e ainda imprevisível – o que caracteriza o sentido não
só de incerteza, mas de falta de domínio preciso do conhecimento em questão.
No entanto, quando se observa como o título da mesma reportagem foi
construído nas páginas internas, constata-se o sentido contrário: no título interno “A
revolução do cérebro – A máquina mais complexa do Universo está na sua cabeça.
Agora que começamos a entender como ela funciona, descobrimos capacidades que
70
nem imaginávamos. Saiba quais são esses superpoderes – e o que fazer para adquiri- los.
A pergunta “Será?” demonstra domínio do novo conhecimento e capacidade de
descrever as mudanças trazidas pelas descobertas com precisão e garantia, o que entra
em conflito com a insegurança demonstrada na capa.
Diante dessas constatações, infere-se que há, na Superinteressante, a tendência
de, ao buscar atrair o leitor para a manchete, utilizar-se do sentido de dúvida, ignorância
e possibilidade no saber científico em temas polêmicos a fim de despertar a curiosidade.
No entanto, em algumas edições, o sentido da titulação interna difere do sentido da
capa, numa tentativa de atribuir maior certeza à capacidade da ciência de resolver
problemas e solucionar controvérsias. Na verdade, essa estratégia de inversão dos
sentidos, privilegiando a idéia de dúvida e controvérsia na capa e enfatizando,
contraditoriamente, mais segurança, precisão e consenso na titulação interna, acontece
também na concepção da própria reportagem. Isto é, o sentido e a concepção de ciência
indicada nas manchetes de capa diferem com muita freqüência da concepção de ciência
que se apreende da leitura da reportagem propriamente dita, como se verá mais à frente.
5.4. A ausência de advertências e delimitações em Superinteressante
A presença ou ausência de advertências e delimitações nas pesquisas ou
estudos apresentados pôde ser constatada por meio de cinco perguntas. A primeira
constatação feita após a pesquisa é a de que as reportagens analisadas apresentam
poucos dados que explicam quais as delimitações do estudo em questão, quais as
circunstâncias nas quais ele é válido ou em que situações ele não se aplica. De fato,
100% das reportagens analisadas não descrevem as delimitações metodológicas e
técnicas da pesquisa e cient ífica em questão, conforme tabela 3, logo abaixo.
TABELA 3: Ausência de delimitações e advertências
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira apropriada 0 0%
Sim, de maneira rápida e
geral
0 0%
71
Não 12 100%
Além disso, percebeu-se que quase metade das reportagens não apresentou
informação alguma sobre a pesquisa citada ou o estudo em questão, conforme a tabela
4. Um exemplo disso é a reportagem sobre a medicina ayurvédica, na edição de agosto
de 2004. Tomando como propósito discutir a validade ou não dessa medicina oriental, a
reportagem utiliza-se de uma afirmação genérica, sem nenhuma referência
esclarecedora para defender a idéia de que não há como validar ou invalidar a eficácia
da medicina indiana. “Claro que é possível testar em laboratório tratamentos específicos
do ayurveda, e compará- los com equivalentes ocidentais. Mas as diferenças entre as
visões de mundo são tão grandes que bem poucos estudos sérios foram realizados até
hoje e os que foram trouxeram resultados que nos deixam longe de uma conclusão”, é o
que diz a reportagem na página 59. Embora faça a afirmação de que nenhum estudo
trouxe resultados que permitem um posicionamento sobre a questão, nenhum deles é
mencionado. A pergunta que fica é: quais são esses estudos que trazem resultados
distantes de uma conclusão? A reportagem, portanto, pretende que uma generalização
seja aceita sem menção a alguma pesquisa que sirva de exemplo a afirmação feita.
TABELA 4: Ausência de dados básicos sobre as pesquisas
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou
colocações de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local,
cientistas responsáveis, etc)?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim 5 42%
Não 7 58%
Sob essa perspectiva, a Superinteressante não demonstra preocupação em
delimitar a pesquisa e descrever os limites de validade – mas apenas utilizar-se de
menções simples da mesma a fim de compor a linha argumentativa da reportagem. Essa
ausência de advertências e delimitações conforme Stocking (2005, p.164) pode divinizar
a capacidade do saber científico e torná- lo mais certo e seguro do que de fato é. É como
se o conhecimento científico e a pesquisa científica não necessitassem dar satisfações
72
metodológicas ao público, reforçando a idéia de saber absoluto e inerrante. Além disso,
essa ausência de delimitações também atribui ao estudo em questão um alcance maior
do que realmente possui.
Ressalta-se também que 56% das reportagens não apresentam (ou não
apresentam apropriadamente) discussões filosóficas ou trechos que avaliam, questionam
ou analisam as limitações e a natureza da ciência, o que concede à ciência uma imagem
de evolução consensual e não-divergente. De fato, essa estatística aponta para o
desconhecimento ou a não concordância com a compreensão da história da ciência
como resultante de revoluções ou rupturas científicas, conforme Kuhn (2005).
TABELA 5: Ausência de discussão filosófica sobre a ciência
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira apropriada 5 42%
Sim, de maneira rápida e
geral
2 16%
Não 5 42%
É necessário ressaltar que, das reportagens que apresentam alguma discussão
filosófica ou refletem sobre a natureza do conhecimento científico, seja essa reflexão
apropriada ou superficial, dois terços delas pertencem à temática religião e medicina
alternativa. Tal estatística pode representar a tendência da revista em utilizar-se de
argumentos e conceitos da filosofia da ciência para descrever e contextualizar práticas
pseudocientíficas. Assim na reportagem “Medicina alternativa”, de janeiro de 2004, a
revista discute o surgimento da ciência e da medicina moderna, relacionando o
Iluminismo à quebra de uma compreensão holística medieval. Essa ruptura daria origem
à medicina ocidental como conhecemos. A reportagem “Medicina Ayurvédica”, de
agosto de 2004, também explora a história e a filosofia da ciência ao discutir o conceito
de verdade e erro na sociedade ocidental contemporânea e a crença na ciência como
autoridade máxima da razão para contextualizar a introdução da reflexão sobre a
validade da medicina oriental.
73
A presença insuficiente de discussões apropriadas da epistemologia da ciência
na abordagem jornalística de temas polêmicos aponta para uma confirmação da análise
de Magalhães (2003, p.10): para ele, os meios de comunicação são responsáveis por
entronizar descobertas e resultados historicamente transitórios como verdades absolutas
e universais simplesmente porque não explicam ao leitor a natureza do conhecimento
científico.
De fato, a ausência ou presença inexpressiva de discussões sobre história e
filosofia da ciência, o despreparo em relação à apresentação da natureza e dos limites do
conhecimento científico, representados pela não delimitação das técnicas e
metodologias usadas nas pesquisas e empregadas para se obter descobertas, colaboram
para reforçar o viés cientificista da ciência transmitido pelas reportagens.
Essa tendência de tornar a ciência mais precisa, exata e consensual do que é de
fato, entretanto, não permanece nas outras questões pesquisadas. Embora a
Superinteressante, nas edições analisadas, tenha ignorado a descrição técnica e
metodológica e abordado de maneira insuficiente às questões filosóficas e
epistemológicas do conhecimento científico, a revista preocupa-se em advertir os
leitores sobre o nível de maturidade ou o estágio de desenvolvimento no qual as
pesquisas descritas se encontram.
Levando-se em conta que todas as reportagens escolhidas para análise neste
presente trabalho representam polêmicas na ciência e apresentam vários pontos de
divergência na comunidade científica, o fato de 66% das matérias analisadas
apresentarem advertências explicitando os limites do conhecimento disponível na área
aponta, de certa forma, que a revista, quando necessário, não esconde a informação de
que o conhecimento disponível do assunto é incerto, impreciso ou ainda principiante,
segundo a tabela 6.
TABELA 6: Ausência de advertências sobre os limites do conhecimento da área
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento
disponível na área (se ele é preliminar ou incerto)?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira apropriada 8 66%
Sim, de maneira rápida e 0 0%
74
geral
Não 4 34%
Exemplo disso é a reportagem sobre os sonhos, pub licada na edição de março
de 2006. Apesar de ter como objetivo descrever a função do sonho ou o porquê dele
ocorrer, a reportagem deixa claro que o conhecimento na área ainda é incerto. “Apesar
de termos tanta familiaridade com os sonhos, poucos fenômenos são tão intrigantes
quanto eles. Seus mistérios atormentam o homem desde sempre – e ainda não há
nenhuma resposta 100% convincente para esses enigmas”, é o trecho da página 54.
Ademais, metade das matérias analisadas deixa o leitor informado quando há
estudos que divergem ou contrariam o tema em questão, o que permite a compreensão
de que a revista se divide ao retratar a natureza da construção do conhecimento
científico (ver tabela 7, logo abaixo).
TABELA 7: Ausência de divergências de estudos anteriores
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o
estudo ou o tema em questão?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira apropriada 6 50%
Sim, de maneira rápida e
geral
0 0%
Não 6 50%
Um exemplo de como a polêmica da divergência por meio de estudos
anteriores é utilizada na revista encontra-se na reportagem da edição de 15 de dezembro
de 2007 sobre o aquecimento global. Nessa matéria, por exemplo, a revista busca fugir
das teorias vigentes sobre o aquecimento global ao exibir uma perspectiva diferente
daquelas desenvolvidas e divulgadas na imprensa. “E será que, mesmo se não
mudarmos os hábitos dramaticamente, o planeta tem salvação? Sim, até tem. É o que
você vai descobrir a partir de agora. A tese vem de Ted Norhaus e Michael
Schellenberger, chamados de pós-ambientalistas americanos. Os dois sacudiram o
75
mundo dos ecologistas em outubro passado com o livro Break Trough: From the Death
of Environment to the Politics os Possibility (“Break Trough: Da Morte do
Ambientalismo para a Política da Possibilidade”, sem edição em português). [...] A nova
receita para salvar o mundo, dizem Nordhaus e Schellenberger, é investir com vontade
em novas tecnologias” (p.51).
Dessa forma, pode-se avaliar que quando se refere à apresentação ao leitor das
delimitações técnicas e de procedimento da ciência ou quando o assunto é a descrição
das limitações do saber científico na área e a maneira como ele vem sendo construído e
consolidado, no geral, a Superinteressante tende a não priorizar o acesso do leitor a
informações dessa natureza. Com exceção de informações sobre o estágio em que se
encontram as pesquisas em questão, se é uma área do saber principiante ou de séculos
de tradição, por exemplo, todas as outras informações que permitem ao público um
conhecimento mais real de como funciona de fato o processo da busca pelo
conhecimento científico ou quais as metodologias empregadas e suas conseqüentes
limitações e restrições são negadas aos leitores. Essa postura pode indicar, de fato, a
falta de necessidade da revista em esclarecer como se chega à conclusão científica e a
intenção de enfatizar apenas aonde se chega. É o que se verá no tópico a seguir.
5.5. Falta de contexto e ênfase nos resultados mais do que nos processos em
Superinteressante
Verifica-se, nas matérias analisadas, razoável contextualização da pesquisa ou
do estudo norteador da matéria. Isto é, em 66% das reportagens analisadas percebe-se a
descrição simples se o estudo é um desdobramento de pesquisas anteriores ou se está
inserido dentro de um projeto de pesquisa (ver tabela 8, logo abaixo).
TABELA 8: Ausência de informações sobre o estágio da pesquisa
Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou
se são desdobramentos de estudos anteriores?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim 8 66%
Não 4 34%
76
Informar qual é a relação do estudo com a história do tema em questão e
descrever a relação do estudo com um conjunto da pesquisa – quando é o caso – torna-
se importante para não haver uma má interpretação do resultado do estudo: seja a falsa
compreensão de novidade ou originalidade, seja o equívoco produzido pelo
entendimento do estudo separado de pesquisas que a ele estão ligadas. Percebe-se,
portanto que, neste sentido, apesar da despreocupação da revista quanto à necessidade
de se informar e advertir os leitores das delimitações das pesquisas, como visto no
tópico anterior, a Superinteressante busca localizar o leitor na história do conhecimento
do tema em questão.
Contudo, mesmo diante da postura de contextualizar historicamente a temática
abordada, as reportagens analisadas de Superinteressante tendem a não oferecer ao
leitor a possibilidade de tomar conhecimento do processo ou dos procedimentos da
pesquisa, isto é, a oportunidade de conhecer como o conhecimento foi gerado e quais as
técnicas e métodos usados para se chegar as conclusões divulgadas. Cerca de 60% das
matérias analisadas enfatizava mais o resultado do que o processo da pesquisa. E das
matérias que apresentavam ao leitor como se deu a obtenção dos resultados, apenas 16%
o fizeram de maneira apropriada, sem superficialidade.
TABELA 9: Ausência de explicações sobre o processo ou procedimentos do estudo
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira apropriada 2 16%
Sim, de maneira rápida e
geral
3 26%
Não 7 58%
Tais estatísticas evidenciam a postura da revista em enfatizar sempre o
resultado do estudo ou as conseqüências e implicações do mesmo em detrimento de
uma explicação sobre como as conclusões são obtidas – o que reforça a idéia de que a
população em geral não precisaria, não se interessaria ou, quem sabe não conseguiria
assimilar informações tidas como técnicas. A ausência de informações dessa natureza
77
não só reforça esse rótulo de incapacidade ou desinteresse do leitor comum em conhecer
o processo por meio do qual se faz ciência, mas também fortalece a imagem da ciência
como sendo um conhecimento inacessível que, além de misterioso para o cidadão
comum, é um saber que traz em si a certeza do êxito e do sucesso e, portanto, não
necessitaria de verificação dos leigos.
Essa confiança na ciência que a revista transmite, fortalece o conceito de
mitologização e divinização da ciência de Chauí (2005). Tal qual oráculos sagrados, a
produção do conhecimento científico deve manter-se inacessível à população, mas, a
despeito da falta de transparência, deve ser digna da total confiança do adorador ou
adepto.
5.6. Ausência do contraditório em Superinteressante
Embora a ausência do contraditório tenha sido uma das críticas à imprensa
especializada em ciência mais citadas por parte de diversos autores como França (2005),
Gregory e Miller (2000), Teixeira (2002), entre outros, essa tendência não se reproduz
nas matérias analisadas em Superinteressante. Em todas as matérias analisadas,
nenhuma delas entrevistou menos que oito fontes. De fato, 54% delas apresentaram de
oito a dez fontes e 46% mais de dez fontes, conforme consta na tabela 10.
TABELA 10: Número de fontes consultadas nas reportagens
Quantas fontes foram citadas na matéria?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 0 0%
6 a 10 7 54%
Mais de 10 6 46%
Contudo, a ausência do contraditório, embora não se reflita por meio do
número de fontes usadas, evidencia-se pelo teor ou discurso das mesmas. Metade das
reportagens analisadas não apresentava confronto de argumentos ou de declarações. E
quando havia debate, o mesmo ocorria de maneira acirrada ou clara em apenas 34% das
reportagens (ver tabela 11). Apesar da quantidade de fontes ser satisfatória,
contraditoriamente, não ocorria pluralidade de idéias. Vê-se, portanto, que a unicidade
78
no discurso jornalístico nas matérias está representada não pela quantidade, mas pelo
consenso entre as fontes entrevistadas.
TABELA 11: Ausência de confronto entre fontes
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações
das fontes?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, por meio de debate
acirrado
4 34%
Sim, por meio de debate
moderado
2 16%
Não 6 50%
5.7. Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientista e não-
cientistas
No entanto, até o momento foram analisados elementos que, quando
identificados, permitem inferir que a ciência tem sido apresentada como mais exata e
precisa do que é realmente, mas é necessário também analisar elementos que apontam
para o contrário: a ciência sendo divulgada como incerta e imprecisa quando não é.
Uma das evidências disso é a comparação entre o peso e espaço dado a cientistas
renomados e cientistas à margem da comunidade científica ou a cientistas e não-
cientistas.
Seguindo essa linha, observa-se que de todas as matérias analisadas, quase
metade das reportagens deram o mesmo ou maior espaço a cientistas que se encontram à
margem da comunidade científica ou a não-cientistas do que a cientistas de primeira
linha (ver tabela 12).
TABELA 12: Peso dado a cientistas de primeira linha, de segunda linha e não-
especialistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
RESPOSTA QUANTIDADE DE PORCENTAGEM
79
REPORTAGENS APROXIMADA
1 a 5 5 42%
6 a 10 6 50%
Mais de 10 0 0%
Nenhum 1 8%
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 10 82%
6 a 10 1 8%
Mais de 10 0 0%
Nenhum 1 8%
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 3 26%
6 a 10 0 0%
Mais de 10 0 0%
Nenhum 9 74%
Um exemplo de reportagem na qual foi dado peso ou espaço igual para
cientistas de primeira linha e cientistas à margem da comunidade científica encontra-se
na edição de novembro de 2005, que busca responder a pergunta “Quando a vida
começa?”. Nessa matéria, foram entrevistados quatro pesquisadores de instituições ou
centros de renome, mas foram consultados três especialistas à margem da ciência
tradicional, como teólogos e filósofos, cujas opiniões colidiam com as da comunidade
científica como apresentadas na reportagem. Dessa forma, era dado peso praticamente
igual a fontes consideradas como sendo menos críveis à luz da ciência, o que reforça a
imagem de que o saber científico não seria tão seguro quanto aparenta ser. Para
Stocking (2005, p.168), ainda que a matéria esclarecesse que algumas das fontes
representavam a opinião da minoria – o que não é o caso da reportagem em questão – o
80
foco e o espaço dado a eles sugere que a ciência, nessa área do saber ou nesse tema, é
muito mais questionável do que se julgava que ela fosse.
Contudo, se dar peso igual a especialistas de respeitabilidade e notoriedade
diferentes seria um fator jornalístico responsável por fortalecer uma de imagem de
imprecisão na ciência, ainda mais responsável uma reportagem seria se apresentasse
majoritariamente fontes de segunda linha ou de não-especialistas. É o que acontece, por
exemplo, na reportagem sobre medicina ayurvédica. Nenhum cientista de primeira linha
foi consultado para a reportagem: entrevistaram-se apenas quatro especialistas em
medicina indiana e uma divulgadora das práticas medicinais orientais sem nenhuma
formação médica.
81
Conclusão
Dentre os diversos problemas na conversão e interpretação das descobertas da
ciência para a população em geral, um que merece destaque é a maneira como a
imprensa reporta a certeza e a incerteza na ciência e como ela lida com as contradições e
divergências da comunidade científica. E o tratamento dado pela imprensa às incertezas
da ciência nem sempre produz uma imagem positiva da empresa científica – pelo menos
na perspectiva da comunidade de cientistas e pesquisadores.
O problema da divulgação científica se depara com o despreparo de grande parcela dos jornalistas, não tanto para com os conhecimentos específicos envolvidos, que não são sua obrigação, mas principalmente para com o desconhecimento do que é a natureza da atividade científica. É como se [...] os meios de comunicação resolvessem entronizar como verdades absolutas aquelas que são historicamente transitórias, fazendo dos cientistas a imagem positivista do herói. (MAGALHÃES, 2003, p.10)
De fato, a cobertura jornalística, especialmente quando envolve temas
controversos, pode implicar, deliberadamente ou não, divinização ou imprecisão
exagerada da ciência. Por meio do tratamento jornalístico, a ciência pode ser entendida
– e divulgada – como um saber único, superior e detentor de toda verdade ou pode ser
vista – e popularizada – como mais um saber entre os saberes, um conhecimento
limitado, um tanto quanto impreciso e inexato.
Para Stocking (2005, p.177), a certeza e a incerteza na ciência podem ser
verificadas pela presença ou ausência de diversos elementos indicadores, que vão desde
elementos textuais até marcas do modus operandi jornalístico. Palavras com sentido de
possibilidade ou garantia, como “pode” e “sugere”, por exemplo, é uma das maneiras de
identificar que tipo de ciência está sendo disseminada quando se trata de algum tema
controverso da ciência. É possível também identificar como o jornalista lida com a
certeza e a incerteza na ciência por meio de advertências que especificam os limites do
conhecimento em questão ou através de declarações de que o conhecimento é preliminar
e incerto. Além disso, a própria ignorância no sentido de ausência do conhecimento
científico, quando destacada ou minimizada, ou até mesmo a quantidade e a identidade
82
das fontes consultadas pode revelar de igual forma a maneira como os jornalistas
enxergam as limitações e incertezas da ciência.
Dessa forma, Stocking (2005) identificou elementos nas matérias jornalísticas
que permitem analisar o tratamento que os jornalistas concedem ao consenso e as
controvérsias na ciência. Cinco elementos são listados como sendo aqueles com os
quais “os jornalistas são acusados de fazer com que as afirmações científicas pareçam
mais consistentes e seguras do que realmente são” (STOCKING, 2005, p.161), a saber,
a ausência de advertências, especificações e delimitações das pesquisas nos textos
jornalísticos; matérias de uma ou de poucas fontes, o que se chama também de ausência
do contraditório; falta de contextualização social e histórica ao reportar as pesquisas;
matérias com ênfase no produto e no resultado das pesquisas mais que com o processo
das mesmas; e a tentativa de considerar a ciência como sendo uma atividade triunfante,
isto é, destinada ao sucesso e a resolução de todos os problemas da humanidade – dos
mais simples aos mais complexos e caóticos. Além disso, identificou também três
elementos que fazem com que a ciência seja imprecisa e incerta, a saber, reversões
inexplicáveis; mesmo peso dado a cientistas de primeira e segunda linha; e mesmo peso
dado a cientistas e não-cientistas (STOCKING, 2005, p.167-170).
Direta ou indiretamente, todos os elementos presentes nas matérias jornalísticas
sobre ciência descritos acima e identificados como sendo responsáveis por tornar a
pesquisa científica mais certa, precisa e segura – ou o contrário – estão ligadas a
concepção de ciência compartilhadas por cientistas e, principalmente, por jornalistas.
França (2005), Gregory e Miller (2000), Magalhães (2003) e Teixeira (2002) são alguns
dos autores que afirmam que os motivos por trás dos problemas apresentados na
cobertura jornalística sobre as incertezas e controvérsias na ciência encontram-se na
compreensão de que a ciência é o empreendimento mais seguro e confiável da
humanidade e que o saber científico é infalível e absoluto.
O despreparo dos jornalistas ao qual se refere Magalhães na página anterior é o
desconhecimento da maior parte dos profissionais da imprensa sobre o desenvolvimento
das discussões epistemológicas da Filosofia da Ciência no último século. Apesar de uma
sucessão de pensadores como Jean-François Lyotard, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend,
entre outros, descreverem a ciência como sendo uma construção social influenciada pelo
meio político e socioeconômico na qual está inserida, de acordo com Tuffani (2005,
p.50) e Gregory e Miller (2000, p.107), boa parte da comunidade jornalística está alheia
83
às reflexões filosóficas sobre a ciência e ainda parece manter a concepção positivista do
saber científico como produtor de verdades absolutas.
Avaliar como está o jornalismo científico brasileiro no que se refere a
reprodução da compreensão cientificista de ciência, que faz com que a ciência seja mais
certa e precisa do que de fato é, mostra-se urgente e indispensável. Diante dessa
problemática, propôs-se verificar se há elementos indicadores da maneira como se
aborda jornalisticamente as incertezas e controvérsias na ciência e que permitam
identificar se ocorre reprodução de uma compreensão cientificista que fortalece a
imagem de uma ciência portadora de verdades absolutas e incontestáveis em detrimento
de uma visão da ciência como construção social, influenciada pela cultura e pela
sociedade.
Este trabalho, que objetivou identificar os elementos que pudessem indicam a
concepção de ciência divulgada nas reportagens da revista Superinteressante no período
de quatro anos – de 2004 a 2007 – não encontrou respostas definitivas ou absolutas.
Contudo, os elementos analisados permitiram a identificação, de maneira geral, de como
o periódico se porta diante de temas controversos e das incertezas do saber científico.
Na pesquisa, a primeira diferença observada é o predomínio, no geral, do
sentido de imprecisão e inexatidão no saber científico por meio dos títulos da revista.
Sob essa perspectiva, a manchete de capa, o carro-chefe da revista, tem a tendência de
enfatizar a dúvida na ciência para atrair leitores. De fato, o predomínio do sentido de
dúvida e imprecisão na capa não se repete com a mesma força nos títulos das matérias
internas, o que reforça a idéia de exagerar ou enfatizar os limites da empreitada
científica como atrativo para, então, ser apresentada de maneira mais ponderada nos
títulos internos. Estudos posteriores poderiam avaliar a real implicação e validade de se
comprometer a concepção da ciência.
Contudo, a ênfase na imprecisão da ciência através da capa não se reflete na
análise dos elementos textuais e jornalísticos da reportagem. Um dos dados mais
contundentes da pesquisa reve lou que 100% das reportagens analisadas não descrevem
as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa em questão e muito menos as
circunstâncias em que ela é válida. Não há espaço na Superinteressante para
desmistificar a crença na ciência como um conhecimento seguro e infalível e apresentar
a construção do saber científico em sua verdadeira forma: por meio de amostras, seleção
de cobaias, resultados com limitação de alcance, entre outros fatores.
84
A mitologização e divinização da ciência se fortalecem também com aquilo
que Magalhães (2003) afirma ser o grande calcanhar de Aquiles dos jornalistas: o
desconhecimento da natureza e das limitações do saber científico. Mais da metade das
reportagens não trazem nenhuma reflexão filosófica sobre a ciência, tratando-a como
um conhecimento certo e seguro, alheio e imune às idéias e ideologias do seu tempo.
As reportagens analisadas de Superinteressante, por exemplo, também não
oferecem ao leitor a possibilidade de tomar conhecimento do processo ou dos
procedimentos da pesquisa, isto é, a oportunidade de conhecer como o conhecimento foi
gerado e quais as técnicas e métodos usados para se chegar as conclusões divulgadas.
Cerca de 60% das matérias analisadas enfatizava mais o resultado do que o processo da
pesquisa. E das matérias que apresentavam ao leitor como se deu a obtenção dos
resultados, apenas 16% o fizeram de maneira apropriada, sem superficialidade. Tais
dados reforçam a idéia da ciência como um conjunto doutrinário de verdades
atemporais, absolutas e inquestionáveis, sem relação com o tempo e o ambiente no qual
está inserida.
Além disso, embora a pesquisa tenha constatado que a ausência do
contraditório, uma das principais preocupações de França (2005), Gregory e Miller
(2000), Luiz (2004), Teixeira (2002) e Tuffani (2005), não ocorra nas reportagens
analisadas, é preciso dizer que essa tendência aparece na uniformidade do discurso das
fontes entrevistadas. Metade das reportagens analisadas não apresentava confronto de
argumentos ou de declarações. E quando há debate, o mesmo ocorre de maneira
acirrada ou clara em apenas 34% das reportagens (ver tabela 11). Vê-se que, embora
haja uma grande quantidade de fontes consultadas, as construções textuais das
reportagens resultam em uma unicidade no discurso jornalístico, fortemente
representada pelo consenso entre as fontes entrevistadas.
Apesar dos estudos das capas da Superinteressante de Novaes (2004) e Muto
(1999) apontarem para a supremacia das humanidades sobre as ciências naturais nas
capas da revista nos últimos anos, o que representaria um possível enfraquecimento da
concepção cientificista, os dados obtidos nesta pesquisa indicam que as reportagens
analisadas, no geral, apresentam uma ciência próxima à idealizada no cientificismo:
única, absoluta, inerrante, imutável, precisa e triunfante. Desse modo, a revista tende a
esquivar-se de apresentar um discurso transparente sobre os riscos, as incertezas e os
limites do conhecimento científico.
85
Com os resultados do presente trabalho, não há como fugir da necessidade de
se avaliar como a amostra em Superinteressante, a maior revista de jornalismo
científico do país, pode trazer questionamentos e reflexões pertinentes e extensivos a
prática em jornalismo de ciência no Brasil.
Diante dos dados constatados do presente trabalho, alguns pontos merecerem
ser destacados:
(1) A dificuldade em determinar adequadamente as delimitações dos estudos
em questão, os processos ou procedimentos das pesquisas citadas e,
especialmente, a pequena ocorrência de discussões sobre a natureza do
conhecimento científico, revelam a necessidade de maior preparo dos
jornalistas de ciência no que se refere à história do conhecimento e da
prática científica e à epistemologia da ciência. Como afirma Tuffani (2005,
p.67), os jornalistas não podem ser indiferentes em relação ao fato de que
há limites e restrições aos resultados da pesquisa científica e que ignorar
essa realidade ao apresentar informações sobre a ciência para a sociedade
implica transgredir “um dos principais preceitos éticos do jornalismo”, que
é “o dever de jamais frustrar a manifestação de opiniões divergentes e o
livre debate de idéias”.
(2) Embora a mídia tenha finalidade didática, entre outras funções, é necessário
rever a postura de utilizar os meios de comunicação como ferramentas de
consolidar exageradamente a imagem da ciência como conhecimento
confiável para se proteger do notável crescimento da exposição pública da
pseudociência. Talvez assumir a postura de transparência seja uma das
atitudes mais coerentes a serem tomadas pela empresa científica. Se a
sociedade contemporânea tem dificuldade de confiar na ciência como um
sistema de verdades absolutas e princípios irrefutáveis devido à explosão de
temas polêmicos e do aumento de exposição de temas controversos na
ciência, “o único caminho para recuperar a confiança na ciência parece ser
o reconhecimento de que ela falha” (IVANISSEVICH, 2005, p.27).
(3) É preciso rever a atitude de aproveitar-se inadvertidamente de um tema
controverso na ciência para atrair leitores. Se por um lado, o uso de
recursos estilísticos e textuais e a exploração da polêmica atraem leitores
que de outra forma não seriam alcançados, por outro lado, a
espetacularização do jornalismo científico em torno da ênfase na dúvida e
86
na incerteza pode dar a falsa idéia e a equivocada impressão de que a
ciência é mais frágil, inexata e imprecisa do que de fato é, o que colaboraria
para a descrença da população na empresa científica ou até mesmo a
equivalência do saber científico a outros saberes sem o mesmo rigor de
metodologia e aferição. Se a proteção em torno da ciência pode torná- la um
dogma ideológico e social, o que descaracterizaria a essência do saber
científico, igualmente perigoso poderia ser a ênfase nas limitações e
fraquezas da ciência diante do boom das práticas e crenças
pseudocientíficas.
Diante de tantos desafios e reavaliações epistemológicas as quais a ciência se
submete constantemente, cabe ao jornalismo científico disponibilizar a população
condições de acompanhar e avaliar as diferentes vozes do processo de transformação do
conhecimento. A transparência nessa trajetória não apenas favorece o cumprimento do
papel do jornalista de fidelidade à informação e ao confronto de idéias, como também
permite à comunidade científica inteirar a população dos avanços e desafios da ciência.
Contudo, cabe tanto a jornalistas como cientistas acreditar que, no tratamento
jornalístico dado às incertezas científicas, a transparência e o equilíbrio – e não o
triunfalismo ou a polêmica – têm o potencial de tornar-se um marco seguro na tarefa de
se divulgar a ciência.
87
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88
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90
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91
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92
Anexo 1
Modelo de formulário de codificação
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista:
Mês e ano: Número da edição:
Título da capa:
Título interno da reportagem:
Número de páginas da revista: Número de páginas da reportagem:
Tema da reportagem de capa:
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es):
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es):
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es):
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
93
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es):
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”:
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es):
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es):
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( ) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”:
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es):
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”:
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
______
94
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
_______
Quem são:
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
_______
Quem são:
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
________
Quem são:
95
Anexo 2
Registro das reportagens analisadas
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Janeiro de 2004 Número da edição: 196
Título da capa: Medicina alternativa – o que existe de bom e confiável fora do
conhecimento médico tradicional? (Leia esta reportagem antes de usar)
Título interno da reportagem: Medicina alternativa – As terapias são cada vez mais
populares. Mas, afinal, qual a diferença entre elas? Elas funcionam ou não?
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 9
Tema da reportagem de capa: Medicina alternativa
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “o que existe de bom e confiável”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Q ual a diferença entre elas? Elas funcionam ou não?”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( X ) Sim ( ) Não
96
Trecho(s) indicador(es): “Testes bem conduzidos provaram para além das dúvidas que
as agulhas são eficazes para tratar vários males” (p.55)
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: -------
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Só há oito estudos que comparam a ação da Arnica Montana
(um dos princípios ativos homeopáticos mais largamente utilizados) com placebo (...)”
(p.54).
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “A partir do século 17, quando as idéias do filósofo René
Descartes começaram a influenciar a ciência, os tratamentos médicos passaram a ver o
corpo humano com uma máquina em que cada parte tinha uma função específica e
independente (...)” (p.52)
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( X ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
97
Trecho(s) indicador(es): “No estudo, cinco pacientes foram operados propriamente e
cinco receberam aplicações de agulhas em lugares aleatórios.” (p.60)
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___10___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___4____
Quem são:
Clóvis Constantino, presidente do Conselho Regional de Medicina de SP
Edzard Ernst, da Escola Médica Pensínsula, na Inglaterra
Stephen Jay Gould, paleontólogo e escritor de ciência
Romke Bron, cientista renomado sem identificação na reportagem
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___8____
Quem são:
Xian Ping, reitor da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa
Paulo Eiró Gonçalves, autor de livro sobre medicina alternativa
Steven Bratman, domo de clínica e autor de livros contra medicina alternativa
Jack Raso, autor de livro sobre medicina alternativa
Autor e co-autor de livro sobre medicina alternativa sem nomes mencionados
José Felippe Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina Complementar
Herbert Benson, autor de livro sobre medicina alternativa
98
Bruce Moseley, cirurgião ortopedista norte-americano
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são: ----------
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Abril de 2004 Número da edição: 199
Título da capa: Quem matou Jesus? A história diz que foram os romanos. A teologia
diz que fomos todos nós (ou Ele sozinho). Mas só os judeus foram condenados. Por
quê?
Título interno da reportagem: Quem matou Jesus? Um assassinato cometido há 2 mil
ano ainda hoje provoca polêmica. Saiba quem são os acusados e por que ele gerou um
banho de sangue que durou milênios.
Número de páginas da revista: 90 Número de páginas da reportagem: 09
Tema da reportagem de capa: Religião
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): Por quê?
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Saiba quem são (...)”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
99
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: -------
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “Quando vemos a forma como essa morte foi
interpretada ao longo da história, conseguimos entender não só por que a comunidade
judaica se preocupa tanto com o assunto, como também por que todos devemos ter uma
explicação para ele” (p.43).
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
100
Trecho(s) indicador(es): -------
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___10___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___4____
Quem são:
Gabrielle Cornelli, historiador da Umesp
André Chevitarese, historiador da UFRJ
Edgar Leite, historiador da Uerj
Dominic Crossan, historiador da Universidade DePaul, em Boston, nos EUA
Pedro Paulo Funari, historiador da Unicamp
Norma Mendes, historiadora da UFRJ
Gerald Messadié, historiador e autor de obra sobre anti-semitismo
Paul Johnson, historiador e autor de livro sobre cristianismo
Francisco Carlos Teixeira, historiador da UFRJ
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___1____
Quem são:
João Oneres, presidente da comissão para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
101
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são: ----------
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Agosto de 2004 Número da edição: 203
Título da capa: Medicina Ayurvédica – Por que tanta gente está tratando a saúde com
essa doutrina indiana de 5000 anos? Que conhecimento é esse? Dá pra confiar?
Título interno da reportagem: Ayurveda – A medicina indiana, uma das mais antigas
do mundo, prega que boa saúde é resultado direto de viver em harmonia com o
Universo. Entenda de onde vem essa idéia, como ela nasceu e como ela chegou aos
nossos dias.
Número de páginas da revista: Número de páginas da reportagem: 07
Tema da reportagem de capa: Medicina alternativa
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Dá pra confiar?”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Entenda de onde vem essa idéia, como ela nasceu e como ela
chegou aos nossos dias.”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
102
etc)?
( X ) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “(...) bem poucos estudos sérios foram realizados até hoje e os
que foram trouxeram resultados que nos deixam longe de uma conclusão...” (p.59)
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: -------
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “(...) num amplo relatório sobre terapias médicas alternativas
lançadas em 2000, concluiu que a medicina tradicional indiana, como a chinesa, é um
sistema tão complexo e fechado que dificilmente pode ser comprovado ou
desmentido”(p.59).
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( X ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Para a nossa sociedade, a ciência é a autoridade máxima,
que separa o que é verdade do que não é – sua sanção é essencial para qualquer
teoria” (p.59).
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
103
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___8___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___Nenhum____
Quem são: -------
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___4____
Quem são:
Antônio César Deveza, tradutor de obra clássica ayurvédica
Aderson Moreira da Rocha, presidente da Associação Brasileira de Ayurveda
Bokulla Reddy, doutor em medicina ayurveda
Thomas Wheller, professor de medicina alternativa na Universidade Louisville, EUA
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____1____
Quem são:
Márcia de Luca, divulgadora da medicina ayurvédica
104
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Novembro de 2005 Número da edição: 219
Título da capa: Quando a vida começa? Se começa na fecundação, várias pesquisas
com células-tronco têm de ser proibidas já. Se começa com a atividade cerebral, 60%
dos abortos devem ser legalizados. A SUPER traz 15 respostas da ciência, da religião e
das leis. Escolha a sua.
Título interno da reportagem: O primeiro instante – Aborto é assassinato? Pesquisar
células-tronco é brincar com pequenos seres humanos? Manipular embriões é crime?
Polêmicas como esse só se resolverão ao determinarmos quando, de fato, começa a vida
humana.
Número de páginas da revista: 106 Número de páginas da reportagem: 09
Tema da reportagem de capa: Bioética
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “A SUPER traz 15 respostas da ciência, da religião e das leis.
Escolha a sua.”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Polêmicas como esse só se resolverão ao determinarmos
quando, de fato, começa a vida humana.”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( X) Não
105
Trecho(s) indicador(es):
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: “Além dessa visão conhecida como ‘genética, há pelo menos
outras 4 grandes correntes científicas que apontam uma linha divisória para o início da
vida” (p.60)
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Essa é uma discussão cheia de contradições e respostas
diferentes. Um debate em que a medicina fica mais perto de ser ciência humana do que
biológica e em que frequentemente se encontram cientistas usando argumentos
religiosos e religiosos se valendo de argumentos científicos”(p.58)
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “As idéias do filósofo grego repercutiram durante século.
Estavam por trás de alguns conceitos que nortearam a ciência na Roma antiga, onde a
interrupção da gravidez era considerada legal e moralmente aceitável”(p.58)
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “Mais tarde, por volta de 1870, os
pesquisadores comprovaram que aqueles espermatozóides corriam até o óvulo, o
fecundavam e, 9 meses depois, você sabe. Foi uma descoberta revolucionária (...). Hoje
sabemos que não existe um momento único em que acontece a fecundação”(p.60)
106
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___07___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( X) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Walter Brandmuller, presidente do Comitê para Ciência
Histórica do Vaticano, chamou o texto de ‘produto de fantasia religiosa’”. (...) “A
Igreja nunc Avaí aceitar a versão que absolve Judas da traição (...)” (p.60)
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___4___
Quem são:
José Roberto Gondim, professor de Bioética da UFRGS
Dalton Luiz de Paula, professor da USP e coordenador do projeto Ciências da Vida da
PUC-SP
Roland Schram, presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro
Mayana Zatz, pesquisadora do Instituto de Biociências da USP
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___3___
Quem são:
107
Rafael Cifuentes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
João Batistiolle, teólogo da PUC-SP
Peter Singer, filósofo da Universidade Princeton, nos EUA
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são:
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: 7 de dezembro de 2005 Número da edição: 220
Título da capa: Deus existe? Será que a ciência tem a resposta?
Título interno da reportagem: Procura-se Deus – Em pleno século 21, a humanidade
continua tentando conciliar fé e razão. Mas será que algum dia a ciência terá condições
de provar que foi mesmo Deus (ou alguma outra entidade superior) quem criou o
Universo e determinou os rumos da evolução?
Número de páginas da revista: 106 Número de páginas da reportagem: 10
Tema da reportagem de capa: Religião
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Será que a ciência tem a resposta?”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Mas será que algum dia a ciência terá condições (...)”
108
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( X ) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Além disso, várias outras pesquisas comprovam que ter fé,
independentemente de acreditar em um ou mais deuses, faz bem para o corpo e a mente
(...)”(p.65)
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: “Se, como já foi dito no início do texto, há muitos cientistas
que não vêem motivos para buscar as impressões digitais de Deus na história do
universo, outros tantos acreditam que as teses de Darwin têm falhas (...)” (p.62)
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “A ciência ainda não conseguiu explicar se Deus criou o nosso
cérebro com essa habilidade ou se foi a evolução que fez esse portal para Deus”(p.65)
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Essa visão baseia-se, entre outras coisas, na obra do filósofo
Karl Popper, que morreu em 1994. Segundo Popper, a ciência só pode tratar de temas
que resistam ao que ele chamou de ‘critério de falseabilidade’”(p.59)
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
109
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “Entender alguns laços que unem ciência e
religião e mostrar como essa relação vem mudando ao longo dos tempos é o tema desta
reportagem”(p.60)
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___14___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( X) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “O debate entre Dawkins e Morris, como já foi dito, não é
novo, longe disso. De um lado, é óbvio que sempre haverá bilhões de pessoas que
acreditam em Deus. Ao mesmo tempo, dificilmente vamos viver para comprovar Sua
existência (ou inexistência)” (p.60)
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___8___
Quem são:
Oswaldo Giacoia Júnior, profesor de história da filosofia moderna e contemporânea da
Unicamp
Richard Dawkins, zoólogo e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra
Marcelo Gleiser, astrofísico
Vera Volferini, professora de genética e evolução da Unicamp
110
Marcelo Menossi, professor de genética molecular da Unicamp
Jane Goodal, zoóloga
Edward Wilson, pioneiro da sociobiologia
Andrew Newberg e Eugene Daquil, pesquisadores e autores de livro sobre a
neurociência e a espiritualidade
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___1___
Quem são:
Michael Behe, bioquímico e defensor da teoria do design inteligente
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são:
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: 16 de dezembro de 2005 Número da edição: 221
Título da capa: Quando a vida termina? Estamos tirando órgãos de pessoas vivas?
Obrigando doentes terminais a sofrer inutilmente? A medicina está tornando cada dia
mais difícil separar os vivos dos mortos. Conheça essa polêmica – um dia, sua vida
pode depender dela.
Título interno da reportagem: Uma nova morte – Ela era a única certeza que tínhamos
na vida. Agora, os avanços da ciência estão criando dúvidas que nunca tivemos antes e
revolucionando o jeito como encaramos a morte.
Número de páginas da revista: 90 Número de páginas da reportagem: 10
Tema da reportagem de capa: Bioética
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
111
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “A medicina está tornando cada dia mais difícil separar os
vivos dos mortos.”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “(...) os avanços da ciência estão criando dúvidas que nunca
tivemos antes e revolucionando o jeito como encaramos a morte.”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( X ) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Além disso, várias outras pesquisas comprovam que ter fé,
independentemente de acreditar em um ou mais deuses, faz bem para o corpo e a mente
(...)”(p.65)
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: “Se, como já foi dito no início do texto, há muitos cientistas
que não vêem motivos para buscar as impressões digitais de Deus na história do
universo, outros tantos acreditam que as teses de Darwin têm falhas (...)” (p.62)
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “A ciência ainda não conseguiu explicar se Deus criou o nosso
112
cérebro com essa habilidade ou se foi a evolução que fez esse portal para Deus”(p.65)
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Essa visão baseia-se, entre outras coisas, na obra do filósofo
Karl Popper, que morreu em 1994. Segundo Popper, a ciência só pode tratar de temas
que resistam ao que ele chamou de ‘critério de falseabilidade’”(p.59)
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “Entender alguns laços que unem ciência e
religião e mostrar como essa relação vem mudando ao longo dos tempos é o tema desta
reportagem”(p.60)
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___14___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( X) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “O debate entre Dawkins e Morris, como já foi dito, não é
novo, longe disso. De um lado, é óbvio que sempre haverá bilhões de pessoas que
acreditam em Deus. Ao mesmo tempo, dificilmente vamos viver para comprovar Sua
113
existência (ou inexistência)” (p.60)
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___8___
Quem são:
Oswaldo Giacoia Júnior, professor de história da filosofia moderna e contemporânea da
Unicamp
Richard Dawkins, zoólogo e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra
Marcelo Gleiser, astrofísico
Vera Volferini, professora de genética e evolução da Unicamp
Marcelo Menossi, professor de genética molecular da Unicamp
Jane Goodal, zoóloga
Edward Wilson, pioneiro da sociobiologia
Andrew Newberg e Eugene Daquil, pesquisadores e autores de livro sobre a
neurociência e a espiritualidade
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___1___
Quem são:
Michael Behe, bioquímico e defensor da teoria do design inteligente
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são:
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Março de 2006 Número da edição: 224
Título da capa: A chave dos sonhos – Toda a noite sua mente viaja para um mundo
114
fantástico. Por que isso acontece? O que a ciência sabe sobre os sonhos? E o que eles
dizem sobre nós?
Título interno da reportagem: Os sonhos decifrados – Por que sonhamos? Para que
serve o sonho? Ninguém até hoje matou a charada. Para desvendar um dos maiores
mistérios da mente, neurologia e psicanálise agora caminham juntas.
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 10
Tema da reportagem de capa: Neurociência
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “O que a ciência sabe sobre os sonhos?”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Ninguém até hoje matou a charada. Para desvendar (...)”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: “Para surpresa da comunidade científica, todos tinham a
115
ponte cerebral intacta e continuavam tendo sono REM, o que jogou por terra a relação
obrigatória entre as experiências oníricas e os movimentos oculares rápidos” (p.58)
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Seus mistérios atormentam o homem desde sempre – e ainda
não há nenhuma resposta 100% convincente para esses enigmas”(p.54)
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( X) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “A psicanálise não tem o objetivo de desvendar os mecanismos
fisiológicos do cérebro. Isso é função da neurociência. Mas os fenômenos que emergem
desses processos físicos são objeto da investigação psicanalítica”(p.61)
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “Os avanços científicos mais recentes são
mais promissores, graças ao desenvolvimento das neurociências já foram desvendados
alguns mecanismos cerebrais e funções da experiência onírica”(p.60)
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): “Para chegar a essa conclusão, eles usavam um método
parecido com aquele usado por Mary Calkins no século 19: acordavam seus pacientes
durante a fase REM e pediam que eles relatassem se e com o que haviam sonhado”
(p.58)
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
116
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___12___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( X) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “A psicanálise parte de premissas injustificadas e
equivocadas, como a de que os sonhos refletem desejos reprimidos. Não há nenhuma
evidência real de que isso esteja correto” (p.60)
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___10___
Quem são:
Malena Contrera, especialista em mitologia e professora as Universidade Paulista
Ângela do Valle, neurologista da USP
Marion Gallbach, psicóloga da Sociedade Brasileira de Psicologia
Robert Stickgold, psiquiatra da Universidade de Harvard, nos EUA
Mark Solms, psiquiatra da Universidade da Cida de do Cabo, na África do Sul
Antti Revonsuo, da Universidade de Turku, na Finlândia
Sérgio Tufik, diretor do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo
Jerome Siegel, psiquiatra da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA
Rubens Reimão, neurologista da USP
Sidarta Ribeiro, da Universidade Duke, nos EUA
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___1___
Quem são:
Júlio Peres, psicólogo e doutorando
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
117
Quem são: -------
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Agosto de 2006 Número da edição: 229
Título da capa: Os superpoderes do cérebro – Neste exato momento, uma enorme
revolução científica está mudando tudo o que se sabe sobre o cérebro. Entenda como
isso vai afetar sua vida.
Título interno da reportagem: A revolução do cérebro – A máquina mais complexa
do Universo está na sua cabeça. Agora que começamos a entender como ela funciona,
descobrimos capacidades que nem imaginávamos. Saiba quais são esses superpoderes –
e o que fazer para adquiri- los.
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 10
Tema da reportagem de capa: Neurociência
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “(...) uma enorme revolução científica está mudando tudo o que
se sabe sobre o cérebro.”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Saiba quais são esses superpoderes – e o que fazer para
adquiri- los.”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
118
etc)?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: “Daí em diante, segundo o que se acreditava até há pouco
tempo, ele poderia aprender coisas novas, mas não ganharia novos neurônios. Só nos
restava cuidar bem dos que já temos. Tudo isso mudou em 1998 (...)” (p.55)
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “O resultado é uma revolução como nenhuma outra, capaz de
mudar não só a maneira como entendemos o cérebro, mas também a imagem que
fazemos do mundo, da realidade e de quem somos. Siga adiante e entenda o que está
acontecendo”(p.54)
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “Não é de espantar que os cientistas tenham
demorado a perceber isso. Até 3 décadas atrás, tudo o que se podia fazer para estudar
o cérebro humano era abrir a cabeça e olhar dentro”(p.52)
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
119
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( X) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “É uma técnica que permite estimular, inibir e modelar
circuitos específicos do cérebro. Trata-se de um ímã fortíssimo – tão forte quando o de
um aparelho de ressonância magnética – focado em partes específicas do córtex e
aplicado em flashes de apenas 0,2 milésimos de segundo” (p.59)
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___09___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( X) Não
Trecho(s) indicador(es):
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___10___
Quem são:
Ivan Izquierdo, neurocientista da PUC-RS
Lea Grinberg, coordenadora do banco de cérebros da USP
Edson Amaro, radiologista e membro do projeto internacional Mapeamento do Cérebro
Humano
Alysson Muotri, do Instituto Salk, nos EUA
Cícero Coimbra, neurologista da Universidade Federal de São Paulo
Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, nos EUA
Marco Iacoboni, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA
Vilayanur Ramachandran, neurologista da Universidade da Califórnia em San Diego,
nos EUA
120
Marco Antonio Marcolin, do psiquiatra do Hospital das Clínicas e pioneiro de técnica
neurológica
Walter Paulus, neurofisiologista e pesquisador alemão
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___Nenhum___
Quem são: -------
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são: -------
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Maio de 2006 Número da edição: 226
Título da capa: O novo Judas – Uma descoberta arqueológica contradiz a Bíblia e diz
que Judas foi o apóstolo preferido de Cristo. Afinal, qual a verdadeira história do maior
vilão do cristianismo?
Título interno da reportagem: O evangelho segundo Judas – Por dois milênios, Judas
foi apontado como o maior traidor de Jesus. Agora, documentos sugerem que ele pode
ter sido o mais fiel de seus seguidores.
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 11
Tema da reportagem de capa: Religião
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Afinal, qual a verdadeira história do maior vilão do
cristianismo?”
121
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( X) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “ (...) documentos sugerem (...)”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es):
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es)”: -------
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( X ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Para os pesquisadores, este é o ponto de partida para
dúvidas que nunca foram respondidas”(p.56)
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
122
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “A epopéia ainda não terminou: falta
restaurar e traduzir os outros 3 livros”(p.60)
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “as páginas estavam em péssimo estado, rasgadas e fora de
ordem. O quebra-cabeça envolvia colocar fragmentos entre peças de vidro, escanear as
imagens e remontá-las no computador” (p.60)
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___11___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( X) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Walter Brandmuller, presidente do Comitê para Ciência
Histórica do Vaticano, chamou o texto de ‘produto de fantasia religiosa’”. (...) “A
Igreja nunc Avaí aceitar a versão que absolve Judas da traição (...)” (p.60)
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___9___
Quem são:
Elaine Pagels, professora de religião na Universidade Princenton, EUA
Stephen Emmels, professor de estudos coptas da Universidade de Munster, Alemanha
Gabriele Corneli, doutor em ciências da religião da UMESP
João de Araújo, historiador da religião
André Chevitarese, professor de História antiga da UFRJ
Bart Ehrman, professor do departamento de Estudos Religiosos da Universidade da
123
Carolina do Norte, EUA
Craig Evans, pesquisador no Acadia Divinity College, Canadá
Marvin Meyer, pesquisador na Universidade Chapman, EUA
Jacir Freitas, professor do Instituto São Tomás de Aquino, em Belo Horizonte
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___2___
Quem são:
Walter Brandmuller, presidente do Comitê para Ciência Histórica do Vaticano
Bento 16, papa
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são:
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Março de 2007 Número da edição: 237
Título da capa: Espíritos – Para a ciência, eles não existem e pronto. Mas, então, por
que tanta gente afirma receber visitas dos mortos? Será que a resposta está apenas no
cérebro?
Título interno da reportagem: Eles vêem os espíritos – Para a ciência, ver e ouvir
fantasmas não tem nada de sobrenatural: tudo é criado pelo cérebro. Agora os cientistas
tentam explicar por que tanta gente, em diferentes épocas e civilizações, afirma ver
espíritos.
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 10
Tema da reportagem de capa: Sobrenatural
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
124
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( X) Indefinido
Termo(s) indicador(es): -------
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( ) Garantia ( ) Possibilidade ( X) Indefinido
Termo(s) indicador(es): -------
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es):
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es)”: -------
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Falta de contexto
125
Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “A tese é reforçada por uma experiência
similar realizada em 2002”(p.61)
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( X) Sim, de mane ira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Em setembro passado, o médico Olaf Blake, da Escola
politécnica de Lussane, na Suíça, criou em laboratório aquela sensação desagradável
de ter uma presença parada às costas. A cobaia foi uma mulher de 22 anos, com
epilepsia, que se submetia a uma cirurgia para retirar a lesão que provocava as crises”
(p.60)
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___10___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___5___
Quem são:
Alexander Almeida, psiquiatra e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora
Elza Yacubian, neurologista e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo
Wellington Zangari, pesquisador do laboratório de Psicologia Social da Religião na
126
USP
Katia Lin, neurologista e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo
Olaf Blanke, pesquisador da Escola Politécnica de Lussane, na Suíça
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___1___
Quem são:
Alexandre da Fonseca, físico espírita da USP
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____5____
Quem são:
Maurício Casagrande, administrador e médium
Regina Braga, secretária-executiva e médium
Sílvia Puglia, presidente da Federação Espírita de São Paulo
Margareth Pummer, advogada e médium
Emerson Ogata, cabeleireiro e médium
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: Agosto de 2007 Número da edição: 242
Título da capa: O segredo do pensamento positivo – Fala-se muita bobagem sobre as
vantagens de pensar positivo. Mas uma coisa é certa: funciona. E a ciência pode
explicar como.
Título interno da reportagem: Pensamento positivo – Muito se fala que a mente move
montanhas. Você seria um ímã e atrairia tudo o que desejasse. A boa fortuna estaria ao
alcance das suas mãos (ou melhor, da sua cabeça). Será? Uma atitude otimista faz um
bem danado, sim. Mas ninguém consegue ficar rico só com a força do pensamento.
Saiba como isso funciona.
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 09
Tema da reportagem de capa: Auto-ajuda
2. ANÁLISE DA CAPA
127
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida () Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Mas uma coisa é certa: funciona. E a ciência pode explicar
como”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Saiba como isso funciona.”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “(...) faltam trabalhos acadêmicos reconhecidos para
comprovar que essas teorias realmente funcionam” (p.58)
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es)”: -------
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
128
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( X) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Os pesquisadores avaliaram o estado de saúde de 670
homens na faixa dos 60 anos de idade. Também aplicaram testes de personalidade para
identificar quem eram os otimistas e os pessimistas.” (p.60)
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( ) Sim ( X) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: ------
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___16___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( ) Debate moderado ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___10___
Quem são:
Roque Magno, neurofisiólogo e pesquisador da UnB
Ernesto Kamp, pesquisador do Instituto de Física da Unicamp
Adílson José da Silva, pesquisador do Instituto de Física da USP
129
Martin Cammarota, pesquisador do Centro de Memória da PUC-RS
Régis Cavini, especialista em psiconeuroendocrinologia
Valquíria Rossi, pesquisadora da Umesp
Susan Andrews, psicóloga
Eva Strum, psicoterapeuta
Silas Guerreiro, antropólogo e professor da PUC-SP
Dulce Critelli, filósofa e professora da PUC-SP
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___2____
Quem são:
Deepak Chopra, médico e autor de livro de auto-ajuda
Susan Anne Taylor, psicóloga e autora de livro de auto-ajuda
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____5____
Quem são:
Rhonda Bryne, autora de livro de auto-ajuda
Norman Peade, autor de livro de auto-ajuda
Esther Hocks, autora de livro de auto-ajuda
Michael Losier, autor de livro de auto-ajuda
Bernardinho, treinador de vôlei e palestrante de auto-ajuda
FORMULÁRIO DE CODIFICAÇÃO
1. INFORMAÇÕES GERAIS
Revista: Superinteressante
Mês e ano: 15 de dezembro de 2007 Número da edição: 247
Título da capa: A última chance de salvar a Terra – O planeta ainda tem solução. Mas
não aquela em que você (e a maior parte dos ambientalistas) acredita.
Título interno da reportagem: Tecnologia – a pílula que salva: separar lixo,
economizar água, deixar o carro em casa. Tudo isso ajuda. Mas o que vai salvar mesmo
130
o planeta do aquecimento tem nome: tecnologia.
Número de páginas da revista: 98 Número de páginas da reportagem: 09
Tema da reportagem de capa: Aquecimento global
2. ANÁLISE DA CAPA
Indicadores semânticos
A manchete e/ou título da capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “O planeta ainda tem solução”
3. ANÁLISE DA REPORTAGEM
Indicadores semânticos
O título interno da reportagem de capa traz o sentido predominante de:
( X) Garantia/certeza ( ) Possibilidade/dúvida ( ) Indefinido
Termo(s) indicador(es): “Mas o que vai salvar mesmo o planeta do aquecimento tem
nome: tecnologia”
Ausência de advertências e delimitações
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou colocações
de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local, cientistas responsáveis,
etc)?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológicas e técnicas da pesquisa e
prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é válida?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o estudo
ou o tema em questão?
( X) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( ) Não
Trecho(s) indicador(es)”: “E será que, mesmo se não mudarmos os hábitos
dramaticamente, o planeta tem salvação? Sim, até tem. É o que você vai descobrir a
partir de agora. A tese vem de Ted Norhaus e Michael Schellenberger, chamados de
pós-ambientalistas americanos. Os dois sacudiram o mundo dos ecologistas em outubro
131
passado com o livro (...). A nova receita para salvar o mundo (...) é investir com
vontade em novas tecnologias” (p.51).
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento disponível
na área (se ele é preliminar ou incerto)?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos que
questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do método
científico?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Falta de contexto Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início ou se
são desdobramentos de estudos anteriores?
( ) Sim ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: -------
Ênfase nos resultados mais do que nos processos e busca triunfante
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos do
estudo em questão?
( ) Sim, de maneira apropriada ( ) Sim, de maneira rápida e geral ( X ) Não
Trecho(s) indicador(es): -------
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo uma
busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
( X) Sim ( ) Não
Trecho(s) indicador(es) em caso de “sim”: “A nova receita para salvar o mundo, dizem
Nordhaus e Schellenberger, ;e investir com vontade em novas tecnologias” (p.51)
Ausência do contraditório
Quantas fontes foram citadas na matéria?
___8___
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das declarações das
fontes?
( ) Debate acirrado ( X) Debate moderado ( ) Não
Trecho(s) indicador(es): “Já Paul Watson, ativista ambiental há quase 40 anos e
132
fundados do Sea Shepard, movimento contra a pesca predatória nos oceanos, discorda
que os ecologistas estejam nos dias de hoje usando estratégias ultrapassadas na missão
de salvar o planeta” (p.56)
Mesmo peso para cientistas de primeira e segunda linha e para cientistas e não-
cientistas
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram entrevistados?
___4____
Quem são:
Ted Nordhaus e Michael Schellenberger, autores da obra que fundamenta a proposta da
matéria
Lee Lynd, pesquisador da Universidade de Darmouth, EUA
Robert Cialdini, pesquisador da Universidade Estadual do Arizona, EUA
Peter Kereiva e Michelle Marvier, pesquisadores da Universidade de Califórnia, EUA
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à margem da
comunidade cientifica foram entrevistados?
___3____
Quem são:
Ira Flatow, autor de obra sobre tecnologia e desenvolvimento sustentável
Adam Werbach, consultor organização ambientalista
Carl Pope, diretor de organização ambientalista
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
____Nenhum____
Quem são: -------
Anexo 3
133
Somatório e porcentagem dos formulários de
codificação
RELAÇÃO E QUANTIDADE DE TEMAS DAS EDIÇÕES ESCOLHIDAS
TEMAS QUANTIDADE Medicina alternativa 2 Religião 3 Bioética 2 Neurociência 2 Sobrenatural 1 Auto-ajuda 1 Aquecimento global 1 TOTAL 12 EDIÇÕES
RELAÇÃO E PORCENTAGEM DOS SENTIDOS DOS TÍTULOS DE CAPA
INDICADORES SEMÂNTICOS
DE SENTIDO
QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Garantia/certeza 2 16%
Possibilidade/dúvida 9 76%
Indefinido 1 8%
RELAÇÃO E PORCENTAGEM DOS SENTIDOS DOS TÍTULOS INTERNOS
INDICADORES SEMÂNTICOS
DE SENTIDO
QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Garantia/certeza 5 42%
Possibilidade/dúvida 6 50%
Indefinido 1 8%
QUESTÕES REFERENTES À AUSÊNCIA DE ADVERTÊNCIAS E
DELIMITAÇÕES
134
São feitas referências a pesquisas ou estudos a partir de generalizações ou
colocações de senso comum, sem nenhum dado básico esclarecedor (local,
cientistas responsáveis, etc)?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim 5 42%
Não 7 58%
No geral, a matéria descreve as delimitações metodológi cas e técnicas da
pesquisa e prática científica em questão e/ou as circunstâncias em que ela é
válida?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira
apropriada
0 0%
Sim, de maneira rápida e
geral
0 0%
Não 12 100%
No geral, a matéria apresenta algum estudo anterior que diverge ou contraria o
estudo ou o tema em questão?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira
apropriada
6 50%
Sim, de maneira rápida e
geral
0 0%
Não 6 50%
A matéria apresenta advertências especificando os limites do conhecimento
disponível na área (se ele é preliminar ou incerto)?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
135
Sim, de maneira
apropriada
8 66%
Sim, de maneira rápida e
geral
0 0%
Não 4 34%
A matéria apresenta certa discussão filosófica sobre a ciência, ou seja, trechos
que questionam, avaliam e/ou analisam as limitações, validade e natureza do
método científico?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira
apropriada
5 42%
Sim, de maneira rápida e
geral
2 16%
Não 5 42%
QUESTÃO REFERENTE À FALTA DE CONTEXTO
Em geral, a matéria descreve se o estudo ou tema em questão estão em seu início
ou se são desdobramentos de estudos anteriores?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim 8 66%
Não 4 34%
QUESTÕES REFERENTES À ÊNFASE NOS RESULTADOS MAIS DO QUE
NOS PROCESSOS E BUSCA TRIUNFANTE
Em geral, a matéria apresenta explicações sobre o processo ou os procedimentos
do estudo em questão?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim, de maneira 2 16%
136
apropriada
Sim, de maneira rápida e
geral
3 26%
Não 7 58%
Em geral, quando o estudo em questão é apresentado, ele é descrito como sendo
uma busca certa, segura e/ou garantida de progresso, cura ou melhoria?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Sim 1 8%
Não 11 92%
QUESTÕES REFERENTES À AUSÊNCIA DO CONTRADITÓRIO
Quantas fontes foram citadas na matéria?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 0 0%
6 a 10 7 54%
Mais de 10 6 46%
Existe confronto de argumentos e/ou idéias na matéria por meio das
declarações das fontes?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
Debate acirrado 4 34%
Debate moderado 2 16%
Não 6 50%
QUESTÕES REFERENTES AO MESMO PESO PARA CIENTISTAS DE
PRIMEIRA E SEGUNDA LINHA E PARA CIENTISTAS E NÃO-CIENTISTAS
Quantos cientistas de primeira linha ou especialistas renomados foram
entrevistados?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 5 42%
137
6 a 10 6 50%
Mais de 10 0 0%
Nenhum 1 8%
Quantos cientistas ou especialistas de segunda linha, minoritários ou à
margem da comunidade cientifica foram entrevistados?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 10 82%
6 a 10 1 9%
Mais de 10 0 0%
Nenhum 1 9%
Quantos não-cientistas e não-especialistas foram entrevistados?
RESPOSTA QUANTIDADE DE
REPORTAGENS
PORCENTAGEM
APROXIMADA
1 a 5 3 26%
6 a 10 0 0%
Mais de 10 0 0%
Nenhum 9 74%
PERGUNTAS QUANTIDADE DE REPORTAGENS
Quantas matérias os cientistas de
primeira linha foram maioria?
7
Quantas matérias os cientistas de
segunda linha foram maioria?
2
Quantas matérias os não-cientistas
foram maioria?
Nenhum
Quantas matérias os cientistas de
primeira receberam o mesmo peso dos
cientistas de segunda linha e os não-
cientistas?
3