Efeitos do Metilglioxal e da Piridoxamina na bioenergética e
no estado redox das mitocôndrias de cérebro de rato
Ricardo Marinho1, Susana Cardoso
2,3, Cristina Carvalho
2,3, Anabel Simões, Emanuel
Candeias3, Raquel M. Seiça
4,5, Cristina M. Sena
4,5, Paula I. Moreira
2,4
1 Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,
2 Centro de Neurociências e Biologia Celular,
Universidade de Coimbra, 3Departamento de Ciências da Vida, Universidade de Coimbra,
4Laboratório
de Fisiologia, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, 5Instituto Biomédico de Investigação
de Luz e de Imagem (IBILI), Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra
Correio Eletrónico: [email protected]
2
Índice
Índice .......................................................................................................................................... 2
Índice de Ilustrações ................................................................................................................... 3
Índice de Tabelas ........................................................................................................................ 3
Índice de Abreviaturas ............................................................................................................... 4
Resumo ....................................................................................................................................... 6
Abstract ...................................................................................................................................... 8
Introdução ................................................................................................................................. 10
Materiais e Métodos ................................................................................................................. 12
Resultados ................................................................................................................................ 19
Discussão .................................................................................................................................. 25
Agradecimentos ........................................................................................................................ 32
Bibliografia ............................................................................................................................... 33
3
Índice de Ilustrações
Figura 1 - Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina na cadeia respiratória. .......................... 21
Figura 2 - Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina no sistema fosforilativo ........................ 22
Figura 3 - Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina no estado oxidativo .............................. 23
Figura 4- Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina nas defesas antioxidantes não enzimáticas
.................................................................................................................................................. 24
Figura 5- Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina nas defesas antioxidantes enzimáticas .. 25
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Caracterização dos grupos experimentais.………………………………………..19
4
Índice de Abreviaturas
– coeficiente de extinção molar
– comprimento de onda
ADP – difosfato de adenosina
Ag – prata
AgCl – cloreto de prata
AGEs – produtos finais de glicação avançada
ALEs – produtos finais de peroxidação lipídica avançada
ATP – trifosfato de adenosina
BSA – albumina de soro bovino
DM – diabetes mellitus
EGTA – ácido Etileno Glicol Tetracético
FELASA – “Federation of European Laboratory Animal Science Associations ”
GPx – glutationa peroxidase
GR – glutationa redutase
GSH – glutationa
GSSG – dissulfeto de glutationa
H2O2 – peróxido de hidrogénio
H3PO4 – ácido fosfórico
HCl- ácido clorídrico
HClO4 – ácido perclórico
HEPES – ácido 2- [4- (2-hidroxietil) 1-piperazinil] -etanosulfónico
HPLC – cromatografia líquida de alta eficiência
ICR – índice de controlo respiratório
KCl – cloreto de potássio
KCN – cianeto de potássio
5
KH2PO4 – fosfato monopotássico
KOH – hidróxido de potássio
Log – logaritmo
MDA – malondialdeído
MG – metilglioxal
MnCl2 – cloreto de manganês
MnSOD – superóxido dismutase dependente de manganês
NADPH – fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina
NaH2PO4 – fosfato monossódico
NaOH – hidróxido de sódio
NBT – nitro-tetrazólio
O2•-
– radical superóxido
OPT – o-ftalaldeído
PM – piridoxamina
ROS – espécies reativas de oxigénio
rpm – rotações por minuto
SEM – erro padrão da média
TBA – ácido tiobarbitúrico
TPP+
– catião lipofílico tetrafenilfosfónio
Tris – tris(hidroximetil)aminometano
U – unidade
UV – radiação ultravioleta
VIS – radiação visível
α – tocoferol – vitamina E
ΔΨm – potencial transmenbranar
6
Resumo
Os produtos finais de glicação avançada (AGEs) são formados a partir da reação não
enzimática entre açúcares redutores e grupos amina de proteínas, lípidos e ácidos nucléicos.
Os AGEs estão implicados na patogénese da diabetes e das complicações e no processo
fisiológico do envelhecimento, sendo o metilglioxal (MG) um dos principais intermediários
dos AGEs. O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da administração crónica de MG e
do tratamento com piridoxamina (PM), um derivado da vitamina B6 com capacidade de inibir
a glicação, na bioenergética e no estado oxidativo das mitocôndrias de cérebro. Para tal, foram
criados 4 grupos de ratos: 1) ratos Wistar controlo; 2) ratos Wistar tratados com MG, por via
oral, durante 10 semanas (50 mg MG/Kg peso corporal/dia nas primeiras 6 semanas e 60 mg
MG/Kg peso corporal/dia nas últimas 4 semanas); 3) ratos tratados com MG (protocolo
anterior) e, posteriormente, tratados com 1g/l PM, por via oral, durante 4 semanas e 4) ratos
Wistar tratados apenas com 1g/l PM, por via oral, durante 4 semanas. Findo os períodos de
tratamento, os animais foram sacrificados e as mitocôndrias de cérebro isoladas. Avaliámos
vários parâmetros mitocondriais: a cadeia respiratória [estados 3 e 4 da respiração, índice de
controlo respiratório (ICR), e razão ADP/O], o sistema fosforilativo [potencial
transmembranar (m), despolarização induzida pelo APD, tempo de repolarização e níveis
de ATP], a atividade da aconitase mitocondrial e das enzimas antioxidantes glutationa
peroxidase (GPx), glutationa redutase (GR) e superóxido dismutase dependente de manganês
(MnSOD), os níveis de peróxido de hidrogénio (H2O2), de malondialdeído (MDA; marcador
de peroxidação lipídica) e de glutationa e vitamina E (-tocoferol) (antioxidantes não
enzimáticos). O tratamento com MG provocou um decréscimo significativo do ICR, da razão
ADP/O e das atividades da aconitase e GR e aumentou os níveis de H2O2. O tratamento com
7
PM não contrariou os efeitos deletérios do MG e, além disso, a PM levou a um decréscimo
significativo do m e do ICR. Por outro lado, a administração da PM a ratos controlo
diminuiu significativamente a atividade da aconitase mitocondrial e os níveis de MDA e
aumentou a razão ADP/O, a despolarização induzida pelo ADP, os níveis de α-tocoferol e as
atividades da GPx e MnSOD. Não foram observadas alterações significativas nos outros
parâmetros analisados. Concluindo, os nossos resultados mostram que níveis elevados de MG
têm efeitos deletérios na função e estado oxidativo das mitocôndrias de cérebro e que a PM
foi incapaz de reverter os efeitos do MG.
Palavras-chave: Diabetes; mitocôndrias de cérebro; metilglioxal, stress oxidativo,
piridoxamina
8
Abstract
Advanced glycation end products (AGEs) are originated by a non-enzymatic reaction
between reducing sugars and amino groups of proteins, lipids and nucleic acids. AGEs are
involved in aging, age-related diseases and diabetes-associated complications, methylglyoxal
(MG) being an important precursor in AGEs formation. This study was intended to
investigate the effects of chronic administration of MG and treatment with pyridoxamine
(PM), a powerful glycation inhibitor that belongs to vitamin B6 family, on brain
mitochondrial bioenergetics and oxidative status. For that purpose, 4 groups of rats were
created: 1) a group of control Wistar rats; 2) a group of Wistar rats orally treated with MG
during 10 weeks (first 6 weeks with 50 mg MG/Kg body weight/day and the last 4 weeks with
60 mg MG/Kg body weight/day); 3) a group of Wistar rats treated with MG (same protocol as
before) and then orally treated with 1g/l of PM during 4 weeks and 4) Wistar rats treated only
with 1g/l of PM during 4 weeks. After the treatment periods, the animals were sacrificed and
the brain mitochondrial fractions were obtained. We evaluated several mitochondrial
parameters: the respiratory chain [states 3 and 4 of respiration, respiratory control ratio
(RCR), and ADP/O index], the phosphorylation system, [transmembrane potential (∆Ψm),
ADP-induced depolarization, repolarization lag phase and ATP levels], the activity of
mitochondrial aconitase and antioxidant enzymes glutathione peroxidase (GPx), glutathione
reductase (GR) and manganese superoxide dismutase (MnSOD), the levels of hydrogen
peroxide (H2O2), malondialdehyde (MDA), and glutathione and vitamin E (-tocoferol) (non-
enzymatic antioxidants). MG treatment induced a statistical significant decrease in RCR,
ADP/O index and activity of aconitase and GR and an increase in H2O2 levels. The
administration of PM to MG-treated rats did not counteract those effects and, additionally,
9
promoted a significant decrease in m and RCR. Furthermore, its administration to the
control group caused a significant decrease in the activity of aconitase, in MDA levels and
significantly increased ADP/O index, α-tocopherol levels and the activity of both GPx and
MnSOD. No statistically significant changes were observed in the other parameters analysed.
In conclusion, our results show that chronic exposure to MG had deleterious effects in the
function and oxidative status of brain mitochondria, and that PM was unable to reverse the
effects of MG.
Keywords: Diabetes, brain mitochondria, methylglyoxal, oxidative stress, pyridoxamine
10
Introdução
A diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica, crónica e heterogénea,
caracterizada por hiperglicemia, resultante do défice na secreção de insulina pelo pâncreas,
resistência à ação da insulina ou ambos, podendo este défice ser herdado ou adquirido. A DM
está associada a um aumento da morbilidade e da mortalidade dos doentes por estar na origem
de várias complicações: 1) a nível vascular, podendo ser microvasculares, como a retinopatia
e nefropatia diabéticas1 e isquémia das extremidades, ou macrovasculares, que estão
associados à aterosclerose, podendo levar ao enfarte do miocárdio e a acidentes vasculares
cerebrais2; 2) a nível do sistema nervoso periférico, podendo levar à neuropatia diabética; bem
como a nível central, aumentando o risco para o desenvolvimento de demências,
nomeadamente das demências vascular e de Alzheimer3.
A DM caracteriza-se por anomalias da função mitocondrial em vários órgãos,
nomeadamente no cérebro4. As mitocôndrias são organelos extremamente importantes para os
neurónios uma vez que produzem a maior parte da energia necessária ao normal
funcionamento destas células5. Contudo, associada a esta produção de energia, há também a
produção de espécies reativas de oxigénio (ROS – reactive oxygen species) cujo excesso, em
condições fisiológicas, é neutralizado pelas defesas antioxidantes das células. No entanto,
perturbações a nível mitocondrial podem levar a falência energética, stress oxidativo e
ativação de vias de morte celular6. As complicações da DM resultam das condições adversas
provocadas pela hiperglicemia e potenciam fenómenos de stress oxidativo, cuja ocorrência se
poderá dever à ativação de 4 vias: a via dos polióis, a via da proteína cinase C, a via das
hexosaminas e a via dos produtos finais de glicação avançada (AGEs – advanced glycation
end products) 6.
11
Os AGEs são compostos heterogéneos e complexos que interagem com várias
biomoléculas incluindo constituintes sanguíneos, enzimas e moléculas biologicamente ativas.
Endogenamente, os AGEs são formados pelo processo de glicação onde açúcares reduzidos
reagem não enzimaticamente com grupos amina livres presentes em proteínas, lípidos e
ácidos nucléicos formando as bases de Schiff que, por sua vez, levam à formação de produtos
de Amadori e posteriormente aos AGEs7. Os precursores dos AGEs, o glioxal e o metilglioxal
(MG), encontram-se em níveis aumentados no plasma e em vários tecidos em doentes
diabéticos. Estudos prévios também mostraram que o MG ativa a morte celular por apoptose
em neurónios do hipocampo, via recetor Fas e via mitocondrial8, e que o declínio cognitivo
está positivamente correlacionado com os níveis elevados de MG no plasma9. Além disso,
estudos mostram níveis elevados de MG e glioxal no líquido cefalorraquidiano de indivíduos
com doença de Alzheimer bem como níveis elevados das enzimas glioxalase 1 e 2, que têm
um papel chave na destoxificação destes produtos10
.
Existem vários agentes que têm a capacidade de impedir a formação dos AGEs,
destacando-se de entre eles a piridoxamina (PM), uma das três formas naturais que derivam
da vitamina B6, e um intermediário crítico nas reações de transaminação efetuadas por
enzimas dependentes de vitamina B611
. Estudos in vitro e in vivo mostraram que a PM inibe a
produção do radical superóxido (O2•-), reduz a peroxidação lipídica e a glicação e aumenta a
atividade da (Na+-K
+)-ATPase em hemácias expostas a níveis elevados de glicose
12,
diminuindo substancialmente os níveis séricos de compostos carbonilo reativos, tais como o
glioxal e o MG13
. Outros estudos mostraram que indivíduos diabéticos apresentam uma
deficiência em PM14
, e que suplementos de vitamina B6 são benéficos na prevenção da
neuropatia15
e da retinopatia diabéticas16
.
Face a estes dados, os objetivos deste estudo foram: 1) avaliar o efeito do MG na
bioenergética e no status oxidativo de mitocôndrias isoladas de cérebros de ratos Wistar e; 2)
12
avaliar o potencial efeito protetor da PM a nível das mitocôndria de cérebro. Desta forma,
analisámos vários parâmetros: a cadeia respiratória (estados 3 e 4 da respiração, índice de
controlo respiratório (ICR) e razão ADP/O); o sistema fosforilativo [potencial
transmembranar (ΔΨm), despolarização induzida pelo ADP, tempo de repolarização e níveis
de ATP]; níveis de peróxido de hidrogénio (H2O2), -tocoferol (vitamina E), glutationas e
malondialdeído (MDA) e atividade das enzimas aconitase mitocondrial, glutationa redutase
(GR), glutationa peroxidade (GPx) e superóxido dismutase dependente de manganês
(MnSOD).
Materiais e Métodos
Reagentes- O MG (2-oxopropanal) e a PM foram obtidos da Sigma (St. Louis, MO, EUA).
Todos os reagentes usados neste trabalho eram do maior grau de pureza disponível
comercialmente.
Tratamentos dos animais - Ratos Wistar machos foram mantidos no Biotério da Faculdade
de Medicina da Universidade de Coimbra, em condições de luz (ciclo de 12 h dia/noite) e
humidade controladas e com acesso livre a água e ração. Os ratos, com 12 semanas de idade,
foram tratados, por via oral, com MG durante 10 semanas; nas primeiras 6 semanas, cada
animal ingeriu 50 mg MG/kg peso corporal/dia e nas restantes 4 semanas 60 mg de MG/kg
peso corporal/dia. Após o tratamento com MG, os animais foram divididos em 2 grupos: 1) os
animais foram tratados, por via oral, com 1g/l de PM durante 4 semanas; 2) animais não
tratados com PM. Além destes 2 grupos de animais, também foram feitos estudos em ratos
Wistar controlo e ratos Wistar expostos a 1g/l de PM durante 4 semanas. Os animais foram
sacrificados com 26 semanas de idade. A manipulação e o sacrifício dos animais seguiram os
13
procedimentos aprovados pela “Federation of European Laboratory Animal Science
Associations (FELASA)”.
Determinação da glicemia - Os níveis de glicose foram avaliados no sangue da veia da
cauda usando um glicómetro comercial (Glucometer-Elite, Bayer, Portugal).
Isolamento das mitocôndrias de cérebro – As mitocôndrias foram isoladas dos cérebros dos
ratos usando o método de Moreira et al.17,18
, com algumas modificações. Resumidamente, o
rato foi decapitado e todo o cérebro, exceto o cerebelo, foi rapidamente removido, lavado e
homogeneizado, a 4°C, em 10 ml de meio de isolamento (225 mM manitol, 75 mM sacarose,
5 mM HEPES [ácido 2- [4- (2-hidroxietil) 1-piperazinil] –etanosulfónico], 1 mM EGTA
[ácido etileno glicol tetracético], 1 mg/ml BSA [albumina de soro bovino], pH 7.4) contendo
5 mg de protease bacteriana tipo VIII (Subtilisina). Adicionou-se meio de isolamento aos
homogeneizados de cada cérebro, até atingir os 30 ml, e foram centrifugados a 2500 rpm
(Centrífuga Sorvall RC-5B Refrigerated Superspeed) durante 5 min. O “pellet” (sedimento),
incluindo os sinaptossomas, foi ressuspendido em 10 ml de meio de isolamento contendo
0.02% de digitonina e centrifugado a 10000 rpm durante 10 min. Após a centrifugação, o
“pellet” castanho contendo as mitocôndrias (sem a camada de sinaptossomas) foi
ressuspendido em 10 ml do meio de isolamento e centrifugado a 10000 rpm durante 5 min. O
novo “pellet” foi ressuspendido em 10 ml de meio de lavagem (225 mM manitol, 75 mM
sacarose, 5 mM HEPES, pH 7.4) e centrifugado a 10000 rpm durante 5 min. O “pellet”
mitocondrial final foi ressuspendido em 150 µl de meio de lavagem e a concentração da
fração mitocondrial foi determinada através do método de Biureto, calibrado com BSA19
.
Avaliação da cadeia respiratória mitocondrial - O consumo de oxigénio pelas mitocôndrias
foi registado com um elétrodo de oxigénio do tipo Clark20
, ligado a um registador, numa
câmara fechada com agitação magnética e temperatura constantes. As reações decorreram a
14
30 °C, em 1 ml do meio de reação (100 mM sacarose, 100 mM KCl, 2 mM KH2PO4, 5 mM
HEPES e 10 µM EGTA, pH 7.4) com 0.8 mg de proteína. O estado 3 da respiração (consumo
de oxigénio na presença de substrato e ADP) foi iniciado com a adição de ADP (75 nmol/mg
proteína). Os estados 3 e 4 (consumo de oxigénio depois da fosforilação do ADP) da
respiração, o índice de controlo respiratório (ICR = estado 3 / estado 4) e a razão ADP/O (um
indicador da capacidade das mitocôndrias em manter o consumo de oxigénio acoplado à
fosforilação do ADP durante o estado 3 da respiração) foram determinados de acordo com
Chance e Williams21
.
Avaliação do potencial da membrana mitocondrial (ΔΨm) – O ΔΨm foi monitorizado
através da distribuição transmembranar do catião lipofílico tetrafenilfosfónio (TPP+) com um
elétrodo seletivo para TPP+ preparado de acordo com Kamo et al.
22. Um elétrodo saturado de
Ag/AgCl (Tacussel, model MI 402) foi usado como elétrodo de referência. A entrada do TPP+
na mitocôndria foi avaliada pelo decréscimo da concentração de TPP+ no meio de reação. A
diferença de potencial entre o elétrodo seletivo e o de referência foi medida com um
eletrómetro e registada continuamente (Linear 1200 recorder). A resposta da voltagem do
elétrodo para log [TPP+] foi linear com um desvio de 59±1, estando de acordo com a equação
de Nernst. As reações ocorreram numa câmara fechada com agitação magnética contendo 1
ml de meio de reação (100 mM de sacarose, 100 mM KCl, 2 mM KH2PO4, 10 µM EGTA, 5
mM HEPES, pH7.4) com 3 µM de TPP+. Esta concentração de TPP
+ foi escolhida de forma a
atingir uma elevada sensibilidade nas medições e evitar possíveis efeitos tóxicos nas
mitocôndrias 23
. O ΔΨm foi estimado usando a seguinte equação: ΔΨm (mV) = 59 log(v/V) -
59 log(10ΔE/59-1) 22,24
onde v, V, e ΔE representam o volume da mitocôndria, o volume do
meio de incubação e a deflexão do potencial do elétrodo em relação à linha de base,
respetivamente. Esta equação foi derivada assumindo que a distribuição do TPP+ entre as
mitocôndrias e o meio de reação segue a equação de Nernst, e que a lei de conservação de
15
massa é aplicável. Assumiu-se que o volume da matriz mitocondrial era de 1.1 µl/mg proteína
e não foram feitas correções para a contribuição da ligação passiva do TPP+ às membranas
mitocondriais, uma vez que o objetivo desta experiência era mostrar diferenças relativas no
potencial e não valores absolutos. Desta forma, antecipamos um ligeiro aumento nos valores
de ΔΨm. Contudo, este aumento só é significativo no caso de o valor de ΔΨm ser inferior a
90 mV, portanto, distante das nossas medições. As mitocôndrias (0.8 mg/ml) foram
energizadas com 5 mM succinato (substrato do complexo II da cadeia respiratória) na
presença de 2 M rotenona (inibidor do complexo I da cadeia respiratória). Após a
estabilização da distribuição do TPP+, (aproximadamente 1 min de registo), as flutuações de
ΔΨm foram registadas.
Determinação dos níveis dos nucleótidos de adenina – No final de cada medição de ΔΨm,
250 l de cada amostra foram centrifugados a 14000 rpm (Centrifugadora de Eppendorf
5415C) durante 2 minutos com 250 l de 0.3 M de HClO4. Os sobrenadantes foram
neutralizados com 10 M KOH em 5M Tris (tris(hidroximetil)aminometano) e novamente
centrifugados a 14000 rpm durante 2 minutos. Nestes sobrenadantes foram quantificados os
nucleótidos de adenina usando cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Foi usado o
sistema Beckman-System Gold, modelo 126 de bombas binárias e modelo 166 de detetores de
UV controlados por um computador. Foi utilizada a coluna Lichrospher 100 RP-18 (5l) da
Merck e as leituras foram feitas com =254 nm. Foi feita uma eluição isocrática com 100 mM
de tampão fosfato (KH2PO4; pH 6.5) e 1.2% metanol e com um fluxo de 1ml/min. O tempo
necessário para cada análise foi de 5 minutos. Os nucleótidos de adenina foram identificados
pelo seu comportamento cromatográfico (tempo de retenção, espectro de absorção e
correlação com padrões)
16
Determinação dos níveis de malondialdeído (MDA) - Os níveis de MDA foram
determinados por HPLC25
. A cromatografia líquida foi feita num aparelho HPLC da Gilson
com uma coluna de fase reversa (RP18 Spherisorb, S5 OD2). As amostras foram eluídas a
partir da coluna com fluxo = 1ml/min e a leitura foi feita a =532 nm. A concentração de
MDA nas amostras foi calculada recorrendo a uma curva padrão preparada com o complexo
MDA-ácido tiobarbitúrico (TBA) e expressa em mmol/mg de proteína.
Determinação da atividade da aconitase - A atividade da aconitase foi determinada de
acordo com Krebs e Holzach26
. Resumidamente, a fração mitocondrial (200 μg) foi diluída
em 0.6 ml de tampão contendo 50 mM Tris-HCl e 0.6 mM MnCl2 (pH 7.4) e sonicada durante
10 segundos. A atividade da enzima foi avaliada num espectrofotômetro (Jasco V560 UV/VIS
Spectrophotometer) a =240 nm, a 25ºC, na presença de 20 mM isocitrato. A atividade da
enzima foi calculada usando um coeficiente de extinção molar ()=3.6 mM-1
cm-1
e expressa
em U/mg proteína/min. Definiu-se como uma unidade (U) a quantidade de enzima necessária
para produzir 1μM de cis-aconitato por minuto.
Avaliação dos níveis de peróxido de hidrogénio (H2O2) - Os níveis de H2O2 foram
avaliados por fluorimetria, seguindo o método descrito por Barja27
. Resumidamente, 0.2 mg
de mitocôndrias foram incubadas a 37ºC com 10 mM de succinato em 1.5 ml de tampão
fosfato, pH 7.4, contendo 0.1 mM EGTA, 5 mM KH2PO4, 3 mM MgCl2, 145 mM KCl, 30
mM Hepes, 0.1 mM ácido homovanílico e 6 U/ml peroxidase de rábano. Após 15 minutos, a
reação foi terminada com 0.5 ml de solução “stop” fria (0.1 M glicina, 25 mM EDTA-NaOH,
pH 12). As leituras foram feitas a um de excitação = 312 nm e de emissão =420 nm. Os
níveis de H2O2 foram calculados usando uma curva padrão de H2O2 e expressos em pmol/mg
proteína/15min.
17
Determinação dos níveis de glutationa (GSH) e de dissulfeto de glutationa (GSSG) – Os
níveis de GSH e GSSG foram determinados por fluorescência depois da reação do
sobrenadante contendo H3PO4/NaH2PO4-EDTA ou H3PO4/NaOH, respetivamente, da solução
homogeneizada e desproteinizada com o-ftalaldeído (OPT), pH 8.0, de acordo com Hissin e
Hilf28
. Resumidamente, as mitocôndrias de cérebro (0.5 mg) foram ressuspendidas em 1.5 ml
de tampão fosfato (100 mM NaH2PO4, 5 mM EDTA, pH 8.0) e 500 l H3PO4 4.5% e
rapidamente centrifugadas a 50000 rpm (Ultracentrífuga Beckman, TL-100) durante 30
minutos. Para a determinação da GSH, 100 l de sobrenadante foram adicionados a 1.8 ml de
tampão fosfato e 100 l de OPT. Após a mistura cuidadosa dos componentes e incubação a
temperatura ambiente durante 15 minutos, a solução foi transferida para uma cuvete de
quartzo e a fluorescência foi avaliada a de emissão = 420 nm e de excitação = 350 nm.
Relativamente ao GSSG, 250 l de sobrenadante foram adicionados a 100 l de N-
etilmaleimida e incubados a temperatura ambiente durante 30 minutos. Depois da incubação,
140 l da solução foram adicionados a 1.76 ml de tampão NaOH (100 mM) e 100 l de OPT.
Após mistura e nova incubação a temperatura ambiente durante 15 minutos, a solução foi
transferida para uma cuvete de quartzo e a fluorescência foi avaliada a de emissão = 420
nm e de excitação = 350 nm. Os níveis de GSH e GSSG foram determinados a partir de
comparações com curvas padrão para GSH e GSSG.
Avaliação dos níveis de vitamina E- Os níveis de vitamina E (α – tocoferol) das
mitocôndrias foram avaliados por HPLC, como previamente descrito por Vatassery e
Younoszai 29
. Resumidamente, 0.5 mg de mitocôndrias foram adicionadas a 1.5 ml de dodecil
sulfato de sódio (SDS) (10 mM) e 2 ml de etanol. Posteriormente, foram adicionados 2 ml de
hexano e 50 l de KCl (3M), e a mistura foi agitada durante cerca de 3 minutos. O extrato foi
centrifugado a 2000 rpm (Centrífuga refrigerada Sorvall RT6000) e 1 ml da fase superior,
18
contendo n-hexano (camada de n-hexano), foi recuperado e desidratado sob uma corrente de
N2 e mantida a -80ºC. Posteriormente, o extrato foi diluído em n-hexano, e o conteúdo de α–
tocoferol foi avaliado com o recurso a HPLC de fase reversa. Uma coluna de Spherisorb
S10w (4.6 x 200 nm) foi eluída com n-hexano modificado com 0.9% de metanol, a um fluxo
de 1.5 ml/min. A leitura foi feita com um detetor UV a 287 nm. Os níveis de vitamina E
foram expressos em mmol/mg proteína.
Quantificação da atividade da glutationa redutase (GR) – Para quantificar a atividade da
GR, 0.1 mg de cada amostra foram incubadas, durante 1 minuto, com 0.2 mM de tampão
fosfato (contendo 0.2 M K2HPO4 e 2 mM EDTA, pH 7.0) e 2 mM NADPH. A leitura foi feita
com =340 nm e iniciada com a adição de 20 nM de GSSG, a 30º C, numa câmara de
agitação magnética, durante 4 minutos, e comparada com um “branco” preparado sem GSSG,
usando um espectrofotómetro Jasco V560 UV/VIS30
. A atividade da GR foi determinada
usando um =6220 M-1
cm-1
e expressa em mmol/min/mg proteína.
Quantificação da atividade da glutationa peroxidase (GPx) – A atividade da GPx foi
determinada por espectrofotometria, de acordo com Flohé 31
. Resumidamente, a atividade da
GPx foi medida após uma incubação de 5 minutos, no escuro, de 0.1 mg de cada amostra com
0.5 mM de tampão fosfato (0.25 M KH2PO4, 0.25 M K2HPO4 and 0.5 mM EDTA, pH 7.0),
0.5 mM EDTA, 1 mM GSH e 2.4 U/ml GR. A leitura iniciou-se após a adição de 0.2 mM
NADPH e 1.2 mM hidroperóxido de terc-butilo, a 30º C, numa câmara com agitação
magnética, durante 5 minutos, num espectrofotómetro Jasco V560 UV/VIS. A atividade da
GPx foi determinada usando um = 6220 M-1
cm-1
e expressa em mmol/min/mg proteína
Quantificação da atividade da superóxido dismutase dependente de manganês (MnSOD)
– A atividade da MnSOD foi quantificada por espectrofotometria usando um =550nm, de
19
acordo com Flohé e Günzler32
. A amostra (0.1 mg) foi incubada com 0.07 mM de
hipoxantina, 0.025 Triton X-100, 0.1 mM azul de nitro-tetrazólio (NBT) e 1.33 mM KCN, a
reação foi iniciada com a adição de 0.025 U/ml de xantina oxidase. A leitura decorreu durante
3 minutos, a 25ºC, numa câmara com agitação magnética. As medições foram efetuadas num
espectrofotómetro Jasco V560 UV/VIS, contra um “branco” preparado na ausência de
hipoxantina. A atividade da MnSOD foi calculada usando uma curva padrão, preparada com
diferentes concentrações de SOD.
Análise estatística - Os resultados são apresentados como média ± erro padrão da média
(SEM) do número de experiências indicado. A significância estatística foi determinada
usando o teste ANOVA de uma via, seguido do teste post hoc Tukey-Kramer, para
comparações múltiplas. Um valor p <0.05 é considerado estatisticamente significativo.
Resultados
Caracterização dos animais
Os tratamentos com MG e/ou PM não provocaram alterações significativas no peso corporal,
peso do cérebro e na glicemia em jejum (Tabela 1).
Tabela 1 - Caracterização dos grupos experimentais.
Os dados representam a média ± SEM de 7-12 animais/grupo experimental. PM –
piridoxamina; MG – metilglioxal
Controlo PM MG MG+PM
Peso Corporal (g) 429.6 ± 17.2 484.3 ± 21.7 431.2 ± 17.8 432.6 ± 11.9
Peso do Cérebro (g) 2.0 ± 0.03 2.05 ± 0.02 2.00 ± 0.03 1.99 ± 0.03
Glicemia em Jejum
(mg/dl) 63.3 ± 1.0 67.1 ± 2.4 62.9 ± 1.5 64.3 ± 2.0
20
Efeitos do MG e/ou da PM na cadeia respiratória e no sistema fosforilativo das
mitocôndrias do cérebro
A cadeia respiratória mitocondrial bombeia protões através da membrana interna da
mitocôndria para o espaço intermembranar. O acoplamento da transferência de eletrões,
através dos complexos mitocondriais, com o bombeamento de protões para o espaço
intermembranar gera uma força motriz, que é uma combinação de um gradiente elétrico
(∆Ψm) e um gradiente químico (∆pH). O ∆Ψm é essencial para a fosforilação oxidativa, cujo
resultado é a fosforilação do ADP via ATP sintetase.
A Fig. 1 mostra que a administração do MG causou um decréscimo significativo do ICR,
sendo este efeito potenciado pela PM (Fig. 1C). A PM, per se, causou um aumento
significativo na razão ADP/O quando comparados com o grupo controlo (Fig. 1D). Não
foram observadas alterações significativas nos estados 3 e 4 da respiração (Figs. 1A e 1B).
Relativamente aos parâmetros do sistema fosforilativo, apenas a PM provocou um aumento
significativo na despolarização induzida pelo ADP, quando comparado com os animais
controlo (Fig. 2B).
21
Contr
olo PM
MG
MG+P
M
0
30
60
90
Esta
do
3
(nA
tgO
/min
/mg)
Contr
olo PM
MG
MG+P
M
0
10
20
30
Esta
do
4
(nA
tgO
/min
/mg)
Contr
olo PM
MG
MG+P
M
0
1
2
3
4
****
ICR
Contr
olo PM
MG
MG+P
M
0
1
2
3
4
*
AD
P/O
(nm
olA
DP
/nA
tgO
/min
/mg)
A B
C D
Figura 1 - Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina na cadeia respiratória: estado 3 (A) e
estado 4 (B) da respiração, índice de controlo respiratório (ICR) (C) e razão ADP/O (D).
Significância estatística: ***
p <0.001; *p <0.05 quando comparado com os ratos Wistar
controlo. Os dados representam a média ± SEM de 4-6 animais. PM - piridoxamina; MG -
metilglioxal
22
Contr
olo PMM
G
MG+P
M0
50
100
150
200
250
*
m
(-m
V)
Contr
olo PMM
G
MG+P
M0
5
10
15
20
25
*
Desp
ola
rização
in
du
zid
a p
elo
AD
P
(-m
V)
Contr
olo PMM
G
MG+P
M0
1
2
3
4
Tem
po
de R
ep
ola
rização
(min
)
A B
C D
Contr
olo PMM
G
MG+P
M0
50
100
150
200
250
AT
P(n
mol/m
g p
rote
in)
Figura 2 - Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina no sistema fosforilativo: potencial
transmembranar (∆Ψm) (A), depolarização induzida pelo ADP (B), tempo de repolarização
(C) e níveis de ATP (D). Significância estatística: *p <0.05 quando comparado com grupo
controlo. Os dados representam a média ± SEM de 4-6 animais. PM - Piridoxamina; MG -
Metilglioxal
Efeitos da MG e/ou da PM no estado oxidativo das mitocôndrias de cérebro
Dados da literatura mostram que o efeito citotóxico do MG é mediado pelas ROS culminando
na morte celular por apoptose, fenómenos que estão na base de eventos neurodegenerativos33
.
Tendo em conta estes dados, avaliámos o estado oxidativo das mitocôndrias dos nossos
grupos experimentais. Para tal, começámos por determinar a atividade da aconitase, uma
enzima mitocondrial que funciona como um sensor de ROS e espécies reativas de nitrogénio
nas células, uma vez que a sua atividade é afetada pelos níveis destas espécies reativas.
23
Curiosamente, um decréscimo significativo na atividade desta enzima foi encontrado em
todos os grupos experimentais, quando comparado com o grupo de animais controlo (Fig.
3A). No entanto, o decréscimo mais acentuado foi observado no grupo de animais tratados
apenas com PM. Por outro lado, ratos tratados com MG mostraram um ligeiro aumento nos
níveis de MDA, um indicador de dano oxidativo dos lípidos (Fig. 3B). Além disso, a PM
diminuiu significativamente os níveis de MDA nos animais expostos ao MG (Fig. 3B). No
entanto, a PM não conseguiu reverter o aumento da produção de H2O2 em ratos tratados com
MG (Fig. 3C).
Contr
olo PM
MG
MG+P
M0
50
100
150
200
***
* *
Acti
vid
ad
e d
a A
co
nit
ase
(U/m
g/m
in)
Contr
olo PM
MG
MG+P
M0.000
0.005
0.010
0.015
++
*MD
A
(nm
ol/m
g p
rote
ina)
Contr
olo PM
MG
MG+P
M0
25000
50000
**
Pro
du
ção
de H
2O
2
(pm
ol/m
g)
A B C
Figura 3 - Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina no estado oxidativo das mitocôndrias de
cérebro: atividade da aconitase (A), níveis de MDA (B) e produção de H2O2 (C).
Significância estatística: ***
p <0.001; *p <0.05 quando comparado com ratos Wistar controlo;
++p <0.01 quando comparado com ratos tratados com MG. Os dados representam a média ±
SEM de 5-6 animais. PM - piridoxamina; MG metilglioxal
Efeitos do MG e/ou da PM nas defesas antioxidantes das mitocôndrias de cérebro
Para avaliar o possível efeito deletério do MG a nível das defesas antioxidantes das
mitocôndrias de cérebro, começámos por analisar os níveis das defesas antioxidantes não
enzimáticas (glutationa e α-tocoferol) e a atividade das enzimas antioxidantes (GPx, GR e
MnSOD). A Fig. 5 mostra que a razão GSH/GSSG não é significativamente afetada pela
administração de MG e/ou PM (Fig. 4A), enquanto que os níveis de α-tocoferol foram
significativamente aumentados no grupo de animais tratados apenas com PM, e ligeiramente
24
aumentados nos grupos de animais tratados com MG, quer tenham sido tratados ou não com
PM (Fig. 4B).
Relativamente às enzimas antioxidantes, foi observada uma diminuição da atividade da GR
em mitocôndrias de ratos tratados com MG e PM, em comparação com grupos controlo (Fig.
5A). Além disso, observou-se um ligeiro aumento da atividade de GR no grupo de ratos
sujeitos a MG e tratados com PM, quando comparado com ratos expostos a MG (Fig. 5A).
Relativamente à enzima GPx, observou-se um aumento significativo da sua atividade no
grupo de animais tratados com PM e um ligeiro decréscimo da atividade nos animais sujeitos
ao tratamento com MG, a qual permaneceu inalterada após o tratamento com PM (Fig. 5B).
Nos animais tratados com PM também se observou um aumento significativo da atividade da
MnSOD (Fig. 5C).
Contr
olo PM
MG
MG+P
M
0
1
2
3
4
5
GS
H/G
SS
G
A B
Contr
olo PM
MG
MG+P
M
0.000
0.001
0.003
0.006
0.009
***
-t
oco
fero
l(n
mol/ m
g p
rote
ina)
Figura 4- Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina nas defesas antioxidantes não
enzimáticas: GSH/GSSG (A) e níveis de α-tocopherol (B). Significância estatística: ***
p
<0.001 quando comparado com ratos controlo. Os dados representam a média ± SEM de 5-8
animais. PM - piridoxamina; MG - metilglioxal
25
Contr
olo PM
MG
MG+P
M0
10
20
30
40
**
A
GR
(nm
ol/m
in/m
gpro
tein
a)
Contr
olo PM
MG
PM
+MG
0
10
20
30 ***C
Mn
SO
D
(U/m
g p
rote
ina)
Contr
olo PM
MG
MG+P
M0
10
20
30
40 *B
GP
x(n
mol/m
in/m
gpro
tein
a)
Figura 5- Efeitos do metilglioxal e da piridoxamina nas defesas antioxidantes enzimáticas:
atividade da glutationa redutase (GR) (A), da glutationa peroxidase (GPx) (B) e da superóxido
dismutase dependente de manganês (MnSOD) (C). Significância estatística: ***
p <0.001; **
p
<0.01; *p <0.05 quando comparado com ratos controlo. Os dados representam a média ± SEM
de 5-8 animais. PM - piridoxamina; MG - metilglioxal
Discussão
A hiperglicemia leva a modificações químicas de biomoléculas que culminam na
formação dos AGEs, os quais têm um papel preponderante na patogénese da diabetes,
aterosclerose e doenças neurodegenerativas, assim como no próprio processo do
envelhecimento34
. De facto, vários fármacos usados no tratamento da diabetes tipo 2 têm
propriedades que reduzem/impedem a formação dos AGEs. Entre os fármacos mais
conhecidos encontram-se a metformina35
, os antagonistas dos recetores da angiotensina II e os
inibidores da enzima de conversão da angiotensina36
, cujo efeito anti-AGEs tem mostrado
efeitos positivos no tratamento da nefropatia diabética. A PM também já se encontra em
ensaios clínicos de fase III para determinar a sua eficácia contra a nefropatia diabética.
Neste estudo, e de modo a simular a formação contínua dos AGEs que ocorre na
diabetes, usámos um protocolo experimental discutido previamente por Sena e
colaboradores37
, onde a administração crónica de MG, por via oral, numa dose progressiva
(50 mg MG/Kg de peso corporal nas primeiras 6 semanas e 60 mg MG/Kg de peso corporal
nas 4 semanas seguintes), mimetiza a alegada produção contínua de MG no organismo;
26
evitando picos elevados de MG no plasma que estão associados a outras formas de
administração como as injeções subcutânea ou intraperitoneal37
.
Dos resultados obtidos, podemos inferir que níveis elevados de MG afetam a função
das mitocôndrias do cérebro e levam a um desequilíbrio do estado oxidativo destes organelos.
No entanto, a administração de PM em ratos tratados com MG não foi capaz de reverter os
efeitos deletérios do MG.
As mitocôndrias são organelos centrais nas células eucarióticas uma vez que, além de
serem responsáveis por utilizar cerca de 95% do oxigénio inspirado para gerar a maior parte
do ATP celular, controlam diversos mecanismos celulares, incluindo a modulação de vias
redox e dos níveis de cálcio intracelular e a morte celular38
. In vitro, o MG afeta a função das
mitocôndrias de rim levando a uma diminuição do ICR, de uma forma dependente da sua
concentração39
. Da mesma forma, células de neuroblastoma SH-SY5Y expostas a MG
mostraram uma diminuição do potencial membranar mitocondrial e dos níveis de ATP
intracelular40
. Neste estudo, a administração de MG provocou um decréscimo significativo do
ICR nas mitocôndrias de cérebro mas, ao contrário do que seria de esperar, o efeito não foi
revertido pelo tratamento com PM (Fig. 1C). Além disso, a PM provocou um decréscimo
significativo no ∆Ψm das mitocôndrias isoladas de ratos tratados com MG (Fig. 2A). As
alterações no ∆Ψm potenciam a disfunção mitocondrial e ativam vias de morte celular41
.
Diretamente relacionado com a redução na produção de energia por parte da mitocôndria, o
stress oxidativo causado por uma produção mitocondrial excessiva de ROS desempenha um
papel importante nas complicações da diabetes, do envelhecimento e das doenças
neurodegenerativas42
. No cérebro, as ROS podem estar envolvidas em numerosas funções
celulares e, dependendo dos seus níveis, tanto podem estar envolvidos na morte como na
sobrevivência das células. A literatura mostra que níveis elevados de MG têm efeitos
deletérios em culturas de neurónios corticais33
e hipocampais43
através de um mecanismo que
27
envolve stress oxidativo e produção de ROS, nomeadamente H2O233
. O O2•- e H2O2 são dois
produtos tóxicos da respiração e metabolismo da glicose que podem causar várias lesões nas
células. Neste estudo, a administração de MG também levou a um aumento significativo da
produção de H2O2 (Fig. 3C), que não foi revertido pela PM (Fig. 3C). A avaliação do estado
oxidativo das nossas preparações mitocondriais foi também efetuada através da análise da
atividade da aconitase mitocondrial, um importante sensor de stress oxidativo. A exposição
prolongada das mitocôndrias a oxidantes leva a uma dissociação do “cluster” [4Fe-4S] 2+
, que
existe no centro ativo da enzima, e à consequente libertação de Fe2+
, carbonilação e inativação
da enzima, estabelecendo-se assim uma ligação direta entre o stress oxidativo e a inativação
da aconitase mitocondrial44,45
. No nosso estudo, o tratamento com MG levou a um decréscimo
significativo da atividade da aconitase das mitocôndrias de cérebro e, mais uma vez, a PM
não conseguiu reverter esse efeito (Fig. 3A). Curiosamente, a administração da PM per se
provocou uma diminuição significativa da atividade da aconitase (Fig. 3A). De acordo com a
literatura, o mecanismo de ação da PM inclui a inibição da formação dos AGEs através do
bloqueio da degradação oxidativa de produtos de Amadori, que resultam da reação de
Maillard, a redução de produtos tóxicos derivados da degradação de glicose e de lípidos e a
neutralização das ROS11
. Contudo, estudos prévios também mostram que a ingestão excessiva
de vitamina B6 durante grandes períodos de tempo pode ter efeitos deletérios no córtex
cerebral, provocando um aumento do número de mitocôndrias danificadas, grânulos e
vacúolos de lipofuscina, assim como uma diminuição da densidade sináptica46
. Todavia, esta
questão é controversa, com estudos demonstrando que ratos sujeitos a uma dieta deficiente em
vitamina B6 apresentam perda da integridade dendrítica e edema axonal no córtex cerebral 47
.
Em humanos, doses elevadas de um derivado da vitamina B6 (piridoxina) provocaram
alterações nos testes de retenção visual e na capacidade de trabalho48
. Por fim, noutros
28
estudos, não foi encontrado nenhum benefício da toma de vitamina B6 no que se refere a
melhorias de humor ou funções cognitivas em idosos49
.
O cérebro contém grandes quantidades de ferro e cobre que, na presença de H2O2,
podem catalisar a formação dos radicais hidroxilo, espécies altamente reativas que podem
causar graves lesões oxidativas50
. O MDA, um dicarbonilo insaturado reativo, é um dos mais
importantes intermediários na peroxidação lipídica, tendo a capacidade de interagir com
várias macromoléculas tais como proteínas estruturais e ácidos nucleicos51
. Em condições
fisiológicas, a PM inibe a formação de produtos finais de peroxidação lipídica avançada
(ALEs – “advanced lipoxidation end product”) através da destoxificação direta do MDA52
. De
facto, no nosso estudo, observámos um perfil semelhante nos ratos controlo tratados com PM
quando comparado com o grupo controlo (Fig. 3B). Por outro lado, a administração do MG
causou um aumento não significativo nos níveis de MDA (Fig. 3B), sendo este efeito
revertido pelo tratamento com a PM (Fig. 3B), confirmando a capacidade da PM de inibir a
formação de ALEs.
A exposição a radicais livres levou os organismos a desenvolverem um conjunto de
mecanismos de defesa entre os quais se encontram as defesas antioxidantes50
. Os nossos
dados mostram que não há alterações significativas na razão GSH/GSSG entre ratos tratados
com MG e o grupo controlo (Fig. 4A), apesar de haver um decréscimo significativo na
atividade da GR (Fig. 5A), a enzima responsável pela regeneração da GSH. Por outro lado,
um decréscimo ligeiro na razão GSH/GSSG foi encontrado no grupo de ratos tratado com MG
e PM, quando comparado com o grupo de animais tratados apenas com MG (Fig. 4A). Da
mesma forma, um estudo prévio mostrou que a diminuição dos níveis de GSH nos eritrócitos
de ratos diabéticos era ligeiramente potenciada pelo tratamento com PM53
. Os autores
justificam o resultado com o fato da PM aumentar a atividade da glioxalase I em situações de
hiperglicemia, levando a um consumo elevado de GSH. Mostrou-se que a formação
29
intracelular de AGEs envolve um processo dependente de ROS e que a inibição de processos
oxidativos previne a formação intracelular dos mesmos54
. A reserva mitocondrial de GSH é o
principal antioxidante deste organelo e é considerada vital para a sobrevivência das células55
,
tendo um papel importante na remoção de radicais livres e na reciclagem de outros
antioxidantes como o α-tocoferol50
. O α-tocoferol é um importante antioxidante fisiológico
que protege as células do stress oxidativo, nomeadamente da peroxidação lipídica. No nosso
estudo, os animais controlo tratados com PM mostraram níveis significativamente
aumentados de α-tocoferol nas mitocôndrias (Fig. 4B), o que está de acordo com os níveis
baixos de MDA observados nestes animais (Fig. 3B).
A dismutação do O2•-
promovido pela MnSOD leva à formação de H2O2, que por sua
vez é decomposto pela enzima GPx, na matriz mitocondrial, usando como substrato a GSH e
obtendo como produtos finais GSSG e H2O. A catalase é outra enzima capaz de converter o
H2O2 em H2O e O2. Tal como observado por DiLoreto e colaboradores8, nas nossas
preparações mitocôndrias a atividade da GPx está ligeiramente diminuída no grupo de
animais tratados com MG (Fig. 7B), enquanto a MnSOD se mantém inalterada (Fig. 7C). O
tratamento com PM não alterou os perfis observados nos ratos tratados com MG, mas
aumentou significativamente a atividade da GPx (Fig. 5B) e da MnSOD (Fig. 5C) nos ratos
controlo. Quando a produção de ROS é prolongada, as reservas endógenas de antioxidantes
são incapazes de neutralizar o excesso de espécies reativas, levando ao dano celular. Deste
modo, os nossos dados mostram que a PM foi incapaz de reverter os efeitos oxidativos do
MG. No entanto, em condições fisiológicas, a PM exerce alguns efeitos positivos nas
mitocôndrias de cérebro visto que foi capaz de reduzir os níveis de MDA (Fig. 3B) aumentar
a atividade das enzimas GPx (Fig. 5B) e MnSOD (Fig. 5C) e aumentar os níveis de α-
tocoferol (Fig. 4B). Por outro lado, face a um insulto oxidativo, neste caso a administração de
MG, a PM não é capaz de reverter as alterações que ocorrem nas mitocôndrias de cérebro. No
30
entanto, estudos prévios mostraram a eficácia da PM contra os efeitos deletérios do MG e a
sua administração mostrou ter capacidade de atenuar a nefropatia e neuropatia em vários
modelos animais de diabetes56–58
. Outros estudos sugerem que a neurotoxicidade induzida
pelo MG pode ser ultrapassada com o co-tratamento com aminoguanidina, enquanto o mesmo
já não ocorre com o pré-tratamento33
. A utilização deste fármaco surgiu devido aos seus
efeitos benéficos como supressor da formação dos AGEs contudo, estudos clínicos posteriores
mostraram que a aminoguanidina tem efeitos adversos graves relacionados com o sequestro
de pirodoxal, um derivado da vitamina B659
, sendo que uma possível associação com a PM
poderia potenciar os efeitos benéficos e contrariar os efeitos adversos. Do mesmo modo, o
composto OPB-9195 ((+/-)-2-isopropylidenehydrazono-4-oxo-thiazolidin-5-ylacetanilide)
também com forte potencial na prevenção da formação dos AGEs foi descontinuado por
provocar a depleção da vitamina B659
. Seguindo esta linha de raciocínio, os derivados da
vitamina B6 parecem ter um papel central na prevenção da formação dos AGEs e suas
complicações. Muellenbach e colaboradores60
, mostraram que a co-administração de PM e
ácido α-lipóico, durante 6 ou 22 semanas, a ratos Zucker obesos melhorou significativamente
o perfil metabólico dos animais, quando comparado com os efeitos de cada um dos compostos
isoladamente. Também se mostrou que o antioxidante N-acetilcisteína é ineficaz quando
administrado 1h após a exposição de células PC12 indiferenciadas ao MG, levando os autores
a sugerir a existência de uma breve janela de ação contra o desequilíbrio redox provocado
pelo MG61
. De realçar que no nosso protocolo experimental, o tratamento com a PM foi
iniciado após 10 semanas do exposição ao MG, e se de facto existir uma janela terapêutica
estreita, os resultados poderiam ter sido diferentes, no cérebro, se a PM tivesse sido
administrada numa fase mais precoce. De facto, ao tentarmos aprofundar o mecanismo de
ação da PM, encontramos na literatura que este composto interage diretamente com o MG
formando um dímero MG-PM que impede a interação do MG com outras proteínas,
31
impedindo os seus efeitos deletérios 53
. Posto isto, e sabendo que o MG é bastante reativo,
suspeitamos que após 10 semanas de exposição ao MG, a PM já não teve capacidade para
reverter os danos causados pelo composto.
Em suma, os nossos resultados mostram que níveis altos de MG levam a uma
disfunção e um desequilíbrio redox das mitocôndrias do cérebro. Além disso, nas nossas
condições experimentais, a PM não foi capaz de reverter os efeitos nocivos provocados pelo
MG a nível cerebral. De realçar que não se pode excluír a possível existência de efeitos
específicos da PM em cada tecido assim como a influência do protocolo experimental
utilizado37
.
32
Agradecimentos
- À Professora Doutora Paula Moreira, minha orientadora, pela competência científica e
acompanhamento do trabalho, pela disponibilidade, amizade e generosidade reveladas ao
longo destes anos, assim como pelas críticas, correções, sugestões relevantes feitas durante a
orientação.
- À Professora Doutora Cristina Sena, minha co-orientadora, pela competência científica e
orientação dada, bem como pela disponibilidade então demonstrada.
- À Susana Cardoso, pela competência científica, pela atenção, amizade, apoio e
principalmente paciência disponibilizada quer no laboratório quer na elaboração posterior da
tese, mostrando ser uma valiosa ajuda para a realização do mesmo.
- À Cristina Carvalho, Anabel Simões e Emanuel Candeias pela simpatia, disponibilidade e
ajuda prestada.
- À Professora Doutora Raquel Seiça, responsável pelo Laboratório de Fisiologia da FMUC, e
às pessoas que trabalham na área de Fisiologia pela ajuda que deram no tratamento e
caracterização dos animais.
- Ao Dr. Paulo Maia e Ana Rita Batista que amavelmente se disponibilizaram para rever a
tese.
- E por fim quero agradecer à minha família pela paciência e compreensão sempre
demonstrados e de uma forma muito particular, aos meus pais, que de uma forma carinhosa e
amiga, sempre me estimularam ao longo destes anos e me incentivaram a percorrer este
caminho, que me traz grande satisfação pessoal e que sem eles nunca teria chegado a este
ponto.
33
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