UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA
RUDI ROCHA DE CASTRO
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE
RIO DE JANEIRO
2004
RUDI ROCHA DE CASTRO
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E PERCEPÇÃO DE DESIGUALDADE
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INSTITUTO DE ECONOMIA – IE/UFRJ
ORIENTADOR: Prof. ANDRÉ URANI
RIO DE JANEIRO
SETEMBRO 2004
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PÁGINA COM ASSINATURAS
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos e todas me que acompanharam ao longo deste trabalho, àqueles reais, de carne e osso, com nome e sobrenome e aos imaginários que nunca nos abandonam. Em relação aos primeiros, agradeço em inicialmente à gentileza e ao apoio de todos os profissionais envolvidos diretamente com a pesquisa do ISSP. Agradeço a Celi Scalon, Adalberto Cardoso, Irene Muller e Janet Harkness. Todo o processo de manipulação dos dados recebeu o suporte da equipe de estatísticos do IETS, em especial da amiga Alinne Veiga. Agradeço muito aos professores que colaboraram com idéias e sugestões, Getulio Borges, Hugo Boff, Valéria Pero, Ronaldo Fiani, Carlos Eduardo Young e Maria Lucia Werneck Viana. Agradeço também aos professores João Sabóia, Ricardo Paes de Barros e ao meu orientador André Urani, que participaram da banca de defesa deste trabalho - sou grato aos valiosos comentários e ao incentivo a posteriores desdobramentos das idéias aqui contidas.
Agradeço aos meus amigos e amigas que influenciaram direta ou indiretamente o desenvolvimento desta dissertação, entre eles, Dimitri Joe, Heloisa Borges, Flavia Alexim, Gabriel Ulyssea, Maria Isabel Andrade, Adriana Fontes, Rafael Garaffa, Thiago Renault e André Wagner. Um agradecimento especial à Paulinha Lobato, minha amiga e companheira inseparável, pelo carinho e dedicação, em todos os momentos de dificuldade e sucesso.
Por fim, agradeço muito a minha família querida, minha mãe, minha irmã e meu paidrasto, pelo amor e apoio incondicionais.
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RESUMO
CASTRO, Rudi Rocha de. Distribuição de Renda e Percepção de Desigualdade. Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004
As diferenças de renda são muito grandes em seu país? Com base nesta pergunta, a presente dissertação discute a percepção que cidadãos comuns têm acerca da desigualdade de renda em seus respectivos países. Supõe-se tal percepção enquanto um método de avaliação da desigualdade e, a partir desta idéia, sugere-se a investigação da hipótese na qual a desigualdade percebida pelos cidadãos comuns é positivamente relacionada à distância ou grau de adequação entre duas categorias referenciais de avaliação – o nível de desigualdade de renda que estes observam a sua volta e o nível de desigualdade de renda que estes consideram ideal ou apropriado existir. Como base empírica de investigação desta hipótese, utiliza-se a pesquisa do ISSP (1999), cujo questionário, implementado em mais de 20 países, versa sobre temas relacionados às opiniões que pessoas comuns têm sobre justiça distributiva e desigualdade social. Ao final do trabalho, uma seção é dedicada exclusivamente ao caso brasileiro e às diferenças de percepção de desigualdade entre os cidadãos localizados ao topo e à base da distribuição de renda neste país.
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ABSTRACT
CASTRO, Rudi Rocha de. Distribuição de Renda e Percepção de Desigualdade. Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004 Are differences in income too large in your country? Based on this question, the purpose of this study is to present a discussion about the feelings and perceptions ordinary people have in relation to the existing income inequality in their own countries. Assuming the inequality perception as a method of subjective inequality evaluation, the key question this study will address is the extent to which this perception is positively related to the distance between two referential categories of evaluation: (i) the degree of income inequality observed by those citizens in their respective countries and (ii) the degree of income inequality they judge would be proper to exist. This hypothesis will be empirically investigated and supported by means of the ISSP (1999) survey, applied in more than 20 countries and based on distributive justice and social inequality matters. In the end of this study, the Brazilian case will be examined in details, particularly by the use of information provided by two groups of respondents, those situated at the top of the income distribution and those located at the bottom.
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Sumário
Introdução................................................................................................................................ 8
1 Aspectos Metodológicos e Questões Preliminares...................................................... 13
1.1 Introdução ...............................................................................................................................13 1.2 O Survey ISSP (1999).............................................................................................................13 1.3 Padrões de Percepção de Desigualdade ..................................................................................21 1.4 Conclusão ...............................................................................................................................27
2 Avaliando a Desigualdade de Renda: Mensuração Técnica e Percepção ................ 29
2.1 Introdução ...............................................................................................................................29 2.2 Medidas de Desigualdade .......................................................................................................29 2.3 Percepção de Desigualdade ....................................................................................................54 2.4 Conclusão ...............................................................................................................................65
3 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa: Análise Empírica..................... 67
3.1 Introdução ...............................................................................................................................67 3.2 Desigualdade Observada.........................................................................................................68 3.3 Desigualdade Normativa.........................................................................................................77 3.4 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa ..................................................................85 3.5 Conclusão ...............................................................................................................................93
4 Diferenças entre Ricos e Pobres e o Caso Brasileiro.................................................. 95
4.1 Introdução ...............................................................................................................................95 4.2 Percepção de Desigualdade entre Ricos e Pobres...................................................................95 4.3 Brasil: a Desigualdade Aceitável ............................................................................................99 4.4 Conclusão .............................................................................................................................106
Conclusão ............................................................................................................................. 107
Referências Bibliográficas .................................................................................................. 108
Anexos .................................................................................................................................. 112
7
Introdução
As diferenças de renda são muito grandes em seu país? Como os cidadãos comuns
responderiam a esta pergunta? O presente trabalho discutirá um tópico não convencional à teoria
econômica, a avaliação da desigualdade de renda implementada por pessoas leigas, avaliação esta
que associarei ao termo “percepção da desigualdade” e à pergunta que inicia esta dissertação.
Amiel e Cowell (1999, p.1) justificaram o estudo da percepção da desigualdade do
seguinte modo: “...perceptions of inequality affect economic choices and political decisions. A
sensitivity to inequality coupled with comparison for the poor motivates charitable giving by
individuals and states. Notions about inequality appear to inform popular views about that
appropriateness or otherwise of pay awards. And any parent with two or more children needs no
formal analysis to be persuaded of the importance of distributive justice. Fashionable or not,
thinking about inequality plays a part in the judgments and actions of politicians, planners and
ordinary people”.
Como mencionado acima, estudar a percepção da desigualdade é uma maneira de se
compreender um fenômeno estreitamente relacionado às escolhas econômicas e decisões políticas
de uma população. Assim, decifrar como as pessoas avaliam as diferenças de renda em seus
respectivos países pode servir de subsídio a explicações acerca da própria existência destas
diferenças. Tal motivação vale em especial ao caso brasileiro, país desigual por natureza, onde a
compreensão de como seus cidadãos percebem esta desigualdade pode ser uma das formas de se
conhecer o porquê de sua estabilidade inaceitável1.
1 Termo mencionado por Henriques (2000). Ver também Barros, Henriques e Mendonça (2000).
8
Na teoria econômica existem poucas contribuições teóricas e empíricas sobre este tema. A
percepção da desigualdade vem sendo recentemente associada ao teste empírico dos axiomas
distributivos fundamentais implícitos nas medidas de desigualdade2. Existe também uma vasta
literatura econômica sobre assuntos que tangenciam o tema, como a questão da aversão à
desigualdade e da relação entre expectativas de mobilidade futura e tolerância às diferenças de
renda3.
A despeito deste viés teórico e econômico, a pesquisa sobre opiniões de justiça
distributiva e desigualdades sociais elaborada pelo ISSP (1999) vem contribuir para o
entendimento empírico das atitudes e percepções das pessoas em relação ao modo como suas
respectivas sociedades estão ordenadas4. Esta pesquisa motiva uma incursão às possíveis fontes
de explicação para a percepção da desigualdade, apesar da ausência de um arcabouço teórico na
economia que sirva como guia para tanto.
Tendo em vista essas considerações, em uma tentativa de contribuir à compreensão deste
fenômeno a partir de leitura econômica e não sociológica ou política, sugere-se nesta dissertação
investigar a percepção da desigualdade em relação a duas outras dimensões perceptivas
abordadas na pesquisa5: (i) a primeira diz respeito à forma como a sociedade está estruturada, isto
é, a imagem que a população tem da configuração dos estratos sociais e da desigualdade
2 Amiel e Cowell (1999). 3 Refiro-me a literatura econômica que surge com Atkinson (1970) ou Hirshman e Rotchshild (1973), Benabou e Ok (2000). 4 Desenvolvida pelo ISSP (International Social Survey Programme), módulo de 1999, referente a opiniões sobre desigualdade e justiça social. Quase trinta países participaram da pesquisa sobre o tema, dentre eles o Brasil. A pergunta que iniciou esta introdução é um dos itens do questionário. 5 Esta decomposição é sugerida por Scalon (2004).
9
existente; (ii) a segunda refere-se a concepções de justiça social, uma dimensão normativa que
serve de referência basal ao julgamento das pessoas sobre o grau de desigualdade apropriado ou
que deveria existir na sociedade.
Como guia desta investigação, parte-se de uma interpretação desta percepção enquanto
um método de avaliação individual e subjetivo da desigualdade de renda existente em
determinada população6. Assim, por ser um método de avaliação, segue receita metodológica que
implica na estimação do grau de adequação ou distância entre duas categorias referenciais, uma
positiva e outra normativa - o grau de desigualdade de renda visualmente percebido pelas pessoas
(grau este que chamarei de desigualdade observada, no sentido de ser visualmente perceptível) e
o grau da desigualdade de renda considerado por estas como o apropriado (a desigualdade
normativa ou apropriada).
Posto isso, com a intenção de isolar e examinar um aspecto do complexo problema da
desigualdade e sua percepção, propõe-se nesta dissertação o desenvolvimento conceitual e a
investigação empírica da hipótese na qual esta percepção é relacionada à comparação de duas
categorias referenciais e à estimação subjetiva da distância ou do grau de inadequação entre
ambas - o nível de sua intensidade varia positivamente em relação à diferença entre a
desigualdade que as pessoas observam e aquela considerada como a ideal. Por suposição, esta
interpretação estará circunscrita conceitualmente à repartição da renda enquanto espaço de
percepção ou avaliação7.
6 Supõe-se, portanto, que por trás da resposta à pergunta “as diferenças de renda são muito grandes em seu país?” existe um processo de avaliação subjetivo. 7 Assim, leia-se a desigualdade normativa como o grau de desigualdade existente na repartição da renda que as pessoas consideram apropriado existir em seus países e; a desigualdade observada como o grau de desigualdade
10
A idéia que fundamenta a construção desta hipótese surge a partir da leitura de
contribuições da teoria econômica sobre medidas de desigualdade. Em última instância, estas
medidas podem ser interpretadas como estimadores de uma distância ou grau de inadequação
entre dois tipos de referências: a distribuição objetiva de renda e uma referência basal – em geral,
a distribuição de renda igualitária; Uma estimativa para o índice de Gini em um determinado
país, por exemplo, consiste no dobro da área entre a curva de Lorenz associada à repartição de
renda vigente neste país e a linha de perfeita igualdade; a medida de Atkinson (1970) ou de Van
Praag (1978) podem ser interpretadas de modo semelhante, incluindo, todavia, considerações
sobre a maximização do bem-estar social. Assim, partindo de uma analogia a estas idéias, supõe-
se que a correspondência e a verificação do grau de inadequação entre as duas categorias
referenciais faz parte da natureza de um processo de avaliação da desigualdade de renda, seja ele
técnico e sofisticado ou leigo e subjetivo.
Em relação à dimensão empírica, tendo em vista a pesquisa e a base de dados do ISSP
(1999), três questões serão cruzadas e relacionadas entre si. A primeira, a avaliação leiga da
desigualdade será representada pelo item do questionário já mencionado no início desta
introdução: “as diferenças de renda são muito grandes em seu país?”. A segunda refere-se à
desigualdade observada e será associada empiricamente a uma questão da pesquisa onde os
entrevistados escolhiam, dentre alguns diagramas representativos do ordenamento social, aquele
que mais se pareceria à estrutura social vigente em seu país; pode-se supor que os diagramas são
ordenados em termos de desigualdade. A terceira, relacionada à desigualdade normativa, refere-
existente na repartição da renda que as pessoas observam em seus países. A desigualdade percebida (ou avaliada subjetivamente) seria então relacionada a uma diferença entre a desigualdade observada e aquela normativa.
11
se aos mesmos diagramas, mas pergunta aos entrevistados qual daquelas estruturas deveria estar
em vigor na sociedade em que vivem.
Os resultados empíricos serão examinados intrapaíses, embora algumas interpretações
possam servir à compreensão das diferenças de percepção da desigualdade inter países. Para o
exame da relação entre as desigualdades percebida, observada e normativa, levarei em conta
tabulações e cruzamentos dos itens do questionário que servirão de base à investigação empírica
da hipótese.
Posto isso, segue a estrutura desta dissertação. No primeiro capítulo, descrevo a pesquisa
do ISSP (1999) e apresento as diferenças entre os padrões de percepção de desigualdade
existentes entre os entrevistados dos países considerados na análise. No capítulo 2, desenvolvo
conceitualmente a hipótese deste trabalho. No capítulo 3, examino a validade empírica desta
hipótese. O capítulo 4 é complementar ao corpo central do trabalho e discutirá as diferenças de
percepção de desigualdade entre as pessoas localizadas ao topo e à base da distribuição de renda
em países selecionados. Na última seção deste capítulo, analiso o caso brasileiro. Uma seção de
considerações finais encerra esta dissertação.
12
1 Aspectos Metodológicos e Questões Preliminares
1.1 Introdução
Apresento neste capítulo dois tópicos relevantes ao desenvolvimento do trabalho. O
primeiro deles relaciona-se à descrição dos principais aspectos metodológicos da base de dados
do ISSP (1999), que será utilizada para a análise empírica da hipótese levantada pela introdução
anterior.
Em uma terceira seção, apresento empiricamente os distintos padrões de percepção de
desigualdade de renda encontrados entre os países participantes da pesquisa do ISSP (1999). Não
obstante, discuto a fraca correspondência entre a desigualdade objetiva de renda (medida pelo
índice de Gini) e um indicador de percepção de desigualdade calculado para cada país da
pesquisa. Uma seção de comentários finais encerra este capítulo.
1.2 O Survey ISSP (1999)
Esta seção tem como objetivo apresentar a pesquisa do ISSP (International Social Survey
Programme, 1999) sobre percepções de desigualdade, tendo em vista os países participantes, a
padronização metodológica, a tradução do questionário, o trabalho de campo e a amostragem.
13
Disto isto, apresento o ISSP a partir da seguinte descrição8: “The ISSP is a continuing
annual programme of cross-national collaboration on surveys covering important topics for
social science research. It brings together pre-existing social science projects and coordinates
research goals, thereby adding a cross-national, cross-cultural perspective to the individual
national studies. Thirty-nine countries are members of the ISSP”.
Este programa existe desde o início dos anos 1980’s e já implementou aproximadamente
vinte pesquisas referentes a temas sociais, dentre elas, três relacionadas a opiniões sobre
desigualdade social – em 1987, 1992 e 1999. Na tabela abaixo, encontra-se a relação de pesquisas
já elaboradas pelo programa.
Tabela 1.2.1 – Relação de Pesquisas do ISSP
Ano Tema de Pesquisa Ano Tema de Pesquisa
1985 O Papel do Governo I 1994 Família e Gênero II1986 Redes Social I 1995 Identidade Nacional I1987 Desigualdade Social I 1996 O Papel do Governo III1988 Família e Gênero I 1997 Trabalho II1989 Trabalho I 1998 Religião II1990 O Papel do Governo II 1999 Desigualdade Social III1991 Religião I 2000 Meio Ambiente II1992 Desigualdade Social II 2001 Relações Sociais1993 Meio Ambiente I 2002 Família e Gênero III
2003 Identidade Nacional IIFonte: www.issp.org
São 39 países membros do ISSP, embora nem todos participem de todos os módulos. Os
temas e os questionários são avaliados e testados em um conjunto pequeno de países antes da
rodada principal. Os questionários são geralmente elaborados em inglês e traduzidos para o
idioma do país participante. Existe um grande esforço de padronização metodológica e unificação
14
8 www.issp.org.
das bases de dados originais de cada país. A junção dessas bases em um banco de dados
unificado é de responsabilidade da Universidade de Colônia (Zentralarchiv für Empirische
Sozialforschung, ZA), que recebe colaborações de centros de pesquisas de outros países
participantes. Esta instituição é responsável também pelo zelo às regras metodológicas básicas.
A pesquisa ISSP (1999)
As pesquisas sobre desigualdade social foram elaboradas em 1987, 1992 e 1999. Neste
último ano, o Brasil participou através do IUPERJ (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro), que hoje coordena a pesquisa no Brasil9. Juntamente com o Brasil, outros 26 países
participaram da pesquisa ISSP (1999).
O questionário de 1999 contém perguntas sobre percepções individuais de desigualdade e
de posição social, opiniões sobre justiça distributiva, percepções de mobilidade social passada e
futura, questões relacionadas a crescimento e distribuição de renda, relação entre educação e
remuneração, preferências políticas e religiosas, percepções do ordenamento social e de
remunerações de distintas categorias profissionais; enfim, um número grande de questões
relacionadas à justiça distributiva e desigualdades sociais10.
Aspectos Metodológicos
9 Agradeço a Maria Celi Scalon, coordenadora do ISSP no Brasil, por facultar acesso aos dados utilizados nesta dissertação. 10 Os itens utilizados nesta dissertação serão descritos na próxima seção e ao longo dos próximos capítulos.
15
Apresento, na seqüência, informações sobre algumas das principais considerações
metodológicas da pesquisa ISSP (1999)11. A tabela a seguir descreve os dados gerais de cada país
participante – tamanho da amostra e ano da elaboração da pesquisa12.
Tabela 1.2.2 – Dados Gerais da pesquisa ISSP (1999)
Países Participantes Tamanho da Amostra
Ano do Trabalho de Campo
Áustria 1606 2000Australia 1672 1999/2000Bulgária 1102 1999Canada 984 1999/2000Chile 1503 2000Rep. Tcheca 1834 1999Alemanha Ocidental 921 1999Espanha 1211 2000França 1889 1999Reino Unido 804 1999Hungria 1208 1999Israel 1208 1999/2000Japão 1325 1999Letônia 1100 1999Noruega 1268 1999Nova Zelândia 1108 1999Portugal 1144 1999Polônia 1135 1999Filipinas 1200 1999Russia 1705 1999Suécia 1150 1999Eslovênia 1006 1999Estados Unidos 1272 2000Eslováquia 1082 ndIrlanda do Norte 809 ndBrasil 2000 2001
Fonte: ISSP Study Monitoring 1999 (2003)Nota: nd - não disponível
Dados Gerais
Como mencionado, são 27 países incluídos nesta pesquisa, sendo que o Chipre não foi
incorporado nesta apresentação. O tamanho das amostras é limitado; em geral, aproximadamente
11 A referência está no documento ISSP Study Monitoring 1999 (ISSP, 2003). 12 Ao longo desta dissertação, não estarei considerando no conjunto de países da pesquisa o Chipre, que seria o vigésimo sétimo participante.
16
entre 1000 e 2000 observações. Na tabela abaixo se encontram algumas perguntas questões
relativas à padronização metodológica do questionário ISSP (1999).
Tabela 1.2.3 – Questões Metodológicas sobre o Questionário da Pesquisa ISSP (1999)
Por Especialistas
Pela Equipe de Pesquisa
Outros Não Sim Não Sim Não
Áustria nd nd nd nd x xAustralia x - xBulgária x x xCanada x x xChile x x x xRep. Tcheca x xAlemanha Ocidental x x x x xEspanha x xFrança x x xReino Unido x x xHungria x x xIsrael x x xJapão x x xLetônia x x xNoruega x x xNova Zelândia x - xPortugal x x xPolônia x x xFilipinas x x xRussia x x xSuécia x x xEslovênia x x xEstados Unidos x xEslováquia nd nd nd nd nd nd nd ndIrlanda do Norte nd nd nd nd nd nd nd nd
Fonte: ISSP Study Monitoring 1999 (2003)Nota: nd - não disponível
O Questionário
Países Participantes
TraduçãoO questionário foi
testado previamente?
As Perguntas seguiram a mesma ordem prescrita
originalmente pelo ISSP?
Existem outras considerações metodológicas em relação ao questionário não apresentadas
aqui, como problemas de tradução (Alemanha, Austrália, Japão e Eslovênia apontaram este tipo
de problema) e a adequação do questionário quando aplicado em meio a outra pesquisa de campo
(muitos países aproveitaram pesquisas maiores para a aplicação do questionário). A seguir,
apresento algumas considerações metodológicas sobre amostragem.
17
Tabela 1.2.4 – Questões Metodológicas sobre a Amostragem da Pesquisa ISSP (1999)
Conhecida e igual
Conhecida, mas não igual
Áustria Não 18 Não x Endereço Kish Grid
Australia Sim 18 Não x Individual -
Bulgária Sim 18 Não x Endereço Kish Grid
Canada Sim 18 Não x Individual Aniversário
Chile Não 18 Não x Outros Kish Grid
Rep. Tcheca Sim 18 Não x Endereço Aniversário
Alemanha Ocidental Sim 18 Não x Individual -
Espanha Sim 18 Não x Outros Kish Grid
França Não 18 Não x Endereço Aniversário
Reino Unido Sim 18 Não x Endereço Kish Grid
Hungria Sim 18 Não x Individual -
Israel Não 18 Não x Outros Kish Grid
Japão Sim 16 Não x Individual -
Letônia Sim 18 85 x Endereço Aniversário
Noruega Sim 18 79 x Individual -
Nova Zelândia Sim 18 Não x Individual -
Portugal Sim 18 Não x Individual Aniversário
Polônia Não 18 Não x Endereço Aniversário
Filipinas Sim 18 Não x Outros Kish Grid
Russia Não 16 Não x Endereço Kish Grid
Suécia Sim 18 80 x Individual -
Eslovênia Não 18 Não x Individual -
Estados Unidos Não 18 Não x Domicílio Kish Grid
Fonte: ISSP (2003)Nota: Informações para Eslováquia e Irlanda do Norte não disponíveis
Qual a probabilidade de selecação de cada indivíduo da
população amostrada?
Amostragem
Amostra desenhada para ser
representativa de toda a população?
Idade Mínima
Idade Máxima
Qual foi a unidade de
amostragem?
Qual o método de seleção
utilizado para identificar o
respondente?
Países Participantes
O documento de metodologia do ISSP (ISSP, 2003) afirma que em alguns casos as
informações sobre amostragem relatadas pelos países participantes são contraditórias. Um ponto
que devo chamar atenção relaciona-se à representatividade da amostra. Em alguns países, esta
não foi desenhada para ser representativa de toda a população, o que limitará as interpretações
18
dos dados ao longo deste trabalho. A tabela a seguir destaca as últimas considerações
metodológicas sobre a pesquisa apresentadas nesta seção, referentes ao trabalho de campo.
Tabela 1.2.5 – Questões Metodológicas sobre o Trabalho de Campo da Pesquisa ISSP
(1999)
Países Participantes Face a FaceSelf-Completion (via
entrevistador)Self-Completion
(postal)
Áustria x
Australia x
Bulgária x
Canada x
Chile x
Rep. Tcheca x
Alemanha Ocidental x
Espanha x
França x
Reino Unido x
Hungria x
Israel x
Japão x
Letônia x
Noruega x
Nova Zelândia x
Portugal x
Polônia x
Filipinas x
Russia x
Suécia x
Eslovênia x
Estados Unidos x
Fonte: ISSP (2003)Nota: Informações para Eslováquia e Irlanda do Norte não disponíveis
Trabalho de Campo
Existem outras considerações sobre o trabalho de campo nos países participantes, dentre
elas, se as entrevistas eram supervisionadas, dados sobre a duração total do trabalho, horários das
19
entrevi
lho de campo foi implementado entre Abril e Maio de 2001, em 26
estados brasileiros e 195 municípios13. O questionário foi testado previamente e traduzido pela
equipe
brasileiros elaboraram artigos ainda
não publicados, mas cujas idéias estarão incorporadas ao longo do presente texto – em especial,
Scalon
presentação das principais considerações metodológicas
relacionadas à pesquisa ISSP (1999). Na próxima seção, apresentarei empiricamente as
diferen
stas e se os entrevistadores eram pagos de acordo com desempenho. No entanto, para não
tornar esta seção mais extensa, não as inclui nesta apresentação.
O caso brasileiro
No Brasil, o traba
de pesquisa e especialistas; a seqüência de perguntas respeitou a prescrição do ISSP e
alguns itens adicionais foram incorporados ao final do questionário. A amostra foi desenhada
para ser representativa de toda a população brasileira, a idade mínima dos entrevistados era de 18
anos, sem limite máximo. A unidade de amostragem foi o domicílio e os entrevistados foram
selecionados por quota. As entrevistas ocorreram face a face.
A partir dos resultados, sociólogos e cientistas sociais
(2004) e Cardoso (2004). Está prevista para o final de 2004 a publicação de uma coletânea
destes trabalhos pela editora da UFMG.
Esta seção teve como objetivo a a
ças entre os padrões de percepção de desigualdade de renda entre os países considerados
neste trabalho.
13 O SENSUS foi contratado para a execução da pesquisa.
20
21
para ser representativa de toda a população do país – como é o caso de Áustria, Chile, França, Israel, Polônia, Rússia, Eslovênia e Estados Unidos.
1.3 Padrões de Percepção de Desigualdade
Nesta seção, investigo empiricamente os distintos padrões de percepção de desigualdade
de renda entre os países participantes da pesquisa do ISSP (1999). Como ilustração, tendo em
vista estes países como unidade de análise, discuto a fraca correlação entre a desigualdade real
(ou medida pelo índice de Gini) e aquela percebida. Ao final, destaco as limitações
metodológicas relacionadas ao item da pesquisa em evidência.
Para representar a percepção da desigualdade, destaca-se uma questão da pesquisa
associada às opiniões dos entrevistados sobre a magnitude das diferenças de renda em seus
países, já mencionada na introdução desta dissertação: “as diferenças de renda são muito grandes
em seu país?”. As respostas se dividiam em cinco categorias ordenadas: (i) discorda totalmente;
(ii) discorda; (iii) nem concorda nem discorda; (iv) concorda e; (v) concorda totalmente.
Para facilitar a análise, criou-se um indicador de percepção de desigualdade, estimado
para cada país da amostra, construído da seguinte forma. Ordenaram-se as categorias de 1
(discorda totalmente) a 5 (concorda totalmente) e estimou-se a média das respostas para cada
país. Assim, por exemplo, uma média próxima a 5 indicaria alta percepção de desigualdade em
dado país. Os resultados seguem na tabela abaixo14.
14 Chamo atenção para uma consideração metodológica importante: em alguns países a amostra não foi desenhada
Tabela 1.3.1 – As diferenças de renda são muito grandes em seu país? (em % do total)
Paíse Gini Desigualdade Percebida
Concorda Totalmente
Concorda Nem Concorda Nem Discorda
Discorda Discorda Totalmente
Não soube Responder ou Sem Resposta
Tamanho da
Amostra
Australia 0,352 3,76 0,17 0,51 0,16 0,11 0,00 0,04 1672CanadEUA 0,408 3,76 0,23 0,38 0,20 0,09 0,03 0,07 1272
Reino Unido 0,361 4,05 0,29 0,49 0,12 0,06 0,01 0,04 804
Austria 0,231 4,23 0,40 0,43 0,09 0,04 0,00 0,03 1016
Noruega 0,258 3,79 0,22 0,49 0,14 0,12 0,02 0,01 12681 0,01 0,01 11448 0,02 0,02 1150
Brasil 0,600 4,77 0,84 0,10 0,01 0,02 0,01 0,02 2000Chile 0,565 4,30 0,42 0,49 0,03 0,04 0,00 0,02 1503
FilipinIsrael 0,355 4,37 0,54 0,36 0,04 0,05 0,01 0,01 1208
Bulgária 0,283 4,78 0,82 0,13 0,01 0,01 0,01 0,02 1102
Hungria 0,308 4,58 0,68 0,25 0,03 0,03 0,00 0,01 1208
Polônia 0,329 4,32 0,45 0,39 0,06 0,03 0,01 0,06 1135Rep. Tcheca 0,254 4,40 0,60 0,27 0,06 0,04 0,02 0,01 1834
1705Fonte de Dados: ISSP (1999) e Banco Mundial.
s
á 0,315 3,76 0,26 0,40 0,16 0,12 0,03 0,03 974
Irlanda N 0,359 3,77 0,16 0,49 0,19 0,08 0,01 0,07 830N. Zelândia 0,439 3,88 0,28 0,42 0,13 0,11 0,02 0,04 1108
Alemanha 0,300 3,85 0,20 0,53 0,14 0,09 0,01 0,04 921
Espanha 0,325 4,22 0,36 0,53 0,07 0,03 0,00 0,01 1211França 0,327 4,40 0,59 0,27 0,07 0,05 0,01 0,01 1889
Portugal 0,356 4,75 0,81 0,14 0,02 0,0Suécia 0,250 3,87 0,29 0,41 0,18 0,0
as 0,462 3,67 0,22 0,43 0,17 0,14 0,03 0,01 1200
Japão 0,249 3,90 0,36 0,28 0,17 0,07 0,05 0,08 1325
Eslováquia 0,195 4,65 0,73 0,20 0,05 0,01 0,01 0,01 1082Eslovênia 0,268 4,36 0,49 0,41 0,05 0,04 0,01 0,02 1006
Letônia 0,324 4,52 0,57 0,39 0,02 0,01 0,00 0,01 1100
Russia 0,487 4,71 0,78 0,16 0,02 0,01 0,01 0,02
Na tabela acima, os países participantes da pesquisa ISSP (1999) foram agrupados em 5
conjuntos conforme localização geográfica15. Na primeira coluna, apresentam-se os valores do
índice de Gini para cada país16. Na segunda coluna, destacam-se os valores do indicador de
percepção de desigualdade mencionado anteriormente, considerando apenas as respostas válidas.
15 Japão, Filipinas e Israel foram agrupados em uma categoria de “outros países”, por não se adequarem aos demais grupos.
omenclatura, associarei arbitrariamente o termo “desigualdade real” ou desigualdade objetiva” ao grau de desigualdade medido pelo índice de Gini.
16 Banco Mundial (2000). Os valores são calculados sobre renda ou consumo pessoal e seguem padronização metodológica. A escolha desta medida de desigualdade respeitou a disponibilidade de dados em comparações internacionais. Por questão de n“
22
U o
com
am a
m
(40%), Japão (36%) e Suécia (29%).
Se comparados os extremos do ordenamento da desigualdade medida pelo índice de Gini,
verifica-se que a desigualdade percebida nos países mais igualitários não se distancia daquela
encontrada em países mais desiguais, sendo até mesmo superior em alguns casos. Na Eslováquia
e na Bulgária (país com o mais elevado indicador de percepção de desigualdade), mais de 70%
dos entrevistados concordaram totalmente com a questão. No Chile, este número ficou em
somente 42% das respostas válidas. Na Rússia, 78% dos entrevistados concordaram totalmente e,
no Brasil, esta categoria recebeu 84% das respostas, o maior valor dentre todos os países
participantes. Outros países que chamaram atenção pela alta percepção foram Portugal e França.
m primeiro fato que chama atenção refere-se às magnitudes do indicador de percepçã
de desigualdade incluídos na segunda coluna. O valor mais baixo encontrado foi de 3.67
(Filipinas) e, o segundo menor, 3.76 (EUA). Isso significa que, independentemente do país em
questão, a avaliação da desigualdade de renda tende a ser severa: a categoria média situa-se, em
todos os casos, próxima à resposta “concorda”. Este resultado será discutido à frente.
Outra questão refere-se aos indícios da fraca correlação entre a desigualdade real e a
percebida. Os Estados Unidos e as Filipinas, por exemplo, são países de reconhecida
desigualdade de renda sem, contudo, apresentarem níveis altos de percepção (mais do que isso,
o mencionado, são os dois países com os níveis mais baixos de desigualdade percebida
dentre todos os participantes da pesquisa). Observa-se que 9% dos entrevistados norte-
ericanos discordaram da questão, 14% dos filipinos e 11% dos neozelandeses seguiram
esma resposta. Entre os países mais igualitários, por outro lado, uma grande parcela dos
entrevistados concordou totalmente com a questão, como é o caso da Eslováquia (73%), Áustria
23
A correlação entre o índice de Gini e percepções de desigualdade: ilustração.
Como ilustração da fraca correlação entre desigualdade de renda objetiva e percebida,
utilizo um gráfico de dispersão entre o índice de Gini e o indicador de percepção estimado a
partir da pesquisa ISSP (1999). Uma regressão simples por mínimos quadrados ordinários entre
as duas
A partir deste gráfico, verifica-se uma fraca correlação entre o Índice de Gini e o
indicador de percepção de desigualdade (0.08), além do baixo poder de explicação da regressão
entre as duas variáveis (valor F de significação de 0.69). Apresentando o problema por um ângulo
diferente, o gráfico abaixo ordena os países de acordo com o índice de Gini e os relaciona ao
indicador de percepção de desigualdade.
variáveis também reforça a análise.
Gráfico 1.3.1 – Relação entre o Índice de Gini e o Indicador de Percepção de
Desigualdade
3,5
4,0
5,0 Indicador de Percepção de Desigualdade
RussiaPortugal
Eslováquia
N. Zelândia
y = 0,3098x + 4,1041R2 = 0,0069
3,0
4,5
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Índice de Gini
Brasil
Chile
EUA
Bulgária
Noruega
Fonte: ISSP (1999) e Banco Mundial (2000)
24
Gráfico 1.3.2 – O Indicador de Percepção d
As linhas representam grupos de países
com valores
seme ente grandes as
variações intragrupos. P o valor médio do
prim es e Filipinas
pressionam
resultados, destaco a seguir algumas restrições metodológicas relacionadas ao item da pesquisa
do ISSP (1999) em evidência.
Limitações: a pesquisa do ISSP (1999)
e Desigualdade de Renda: Ordenando Países
pelo Índice de Gini (do mais igualitário para o mais desigual)
3
4
4,5
5
íses
Eáq
uia
stria
apão
écia
Rep
.ue
gaên
iagá
riaA
anha gria
adá
ônia
panh
aan
çalô
nia
ralia
rael
ugal
da N ino
EU
AN
.lâ
ndia
ilipi
nas
ssia
Chi
leB
rasi
l
Fonte de Dados: ISSP (1999)
Indicador de Percepção de Desigualdade
3,5
Pa
slov A
u J Su
Nor
Esl
ovB
ulle
m Hun
Can Le
tE
s Fr Po
Aus
t IsP
ort
Irlan R
e
Ze F R
u
as médias dos indicadores de desigualdade em
definidos por três categorias: (i) aqueles com índices de Gini até 0.30; (ii) de 0.30 a 0.40 e; (iii)
o índice no valor de 0.40 em diante. Em média, todos os grupos apresentam
lhantes para a desigualdade percebida (em torno de 4.2), sendo relativam
ercebe-se que os países do Leste Europeu pressionam
eiro e segundo grupos positivamente, enquanto que os países anglo-saxõ
as percepções médias do segundo e terceiro grupos para baixo. A despeito destes
25
A
heterogêneo de p nte em países da
OCDE e do Leste Europeu. Lembro também que em alguns países, a amostra não foi desenhada
para ser representativa de toda a população.
Percebe-se claramente que os países do Leste Europeu, apesar do baixo grau de
concentração de renda, apresentaram níveis de percepção de desigualdade elevados – em geral, se
localizam entre os países do primeiro grupo, no gráfico anterior. Não obstante, além de
numerosos, estes países possuem trajetórias históricas semelhantes e passam por um profundo
processo de transição de regimes político e econômico, o que os tornariam um grupo de
observações sócio-culturalmente homogêneo entre si, embora díspar em relação aos demais. Os
países anglo-saxões, por outro lado, destacam-se pela desigualdade de renda medida pelo índice
de Gini mais elevada e pelos baixos níveis de percepção; no gráfico 1.2.2, estão situados no
segundo e terceiro grupos.
Outro exercício foi elaborado sem a inclusão dos países do Leste Europeu, quando se
observou uma clara melhora da correlação entre a desigualdade medida pelo índice de Gini e a
percebida. No entanto, a nova correlação encontrada continuou limitada em sua magnitude
(correlação igual a 0.40, R2 igual a 0.16, valor-P não significativo para o coeficiente de inclinação
e F de significação de 0.08).
Além do viés na amostra de países, outro problema é encontrado a partir da interpretação
dos respondentes frente à questão retirada da pesquisa ISSP. Scalon (2004) também destaca, para
um subgrupo de 8 países da pesquisa, uma distância grande entre desigualdade objetiva (medida
amostra de países da pesquisa ISSP (1999) é pequena e não representa um conjunto
aíses. São apenas 26 observações concentradas majoritariame
26
pelo ín
te exposto no discurso público, vinculado à ampla
propagação do ideal moderno de justiça social. Reforçando empiricamente esta crítica, como já
destaca
não haveria meios de alterar estas características sem, contudo,
desviar-me do objeto de estudo desta dissertação.
1.4 Conclusão
No presente capítulo, apresentei dois tópicos relevantes ao desenvolvimento desta
dissertação - os aspectos metodológicos da pesquisa ISSP (1999) e os distintos padrões de
percepção de desigualdade de renda encontrados entre os países em análise.
dice de Gini) e percebida, analisada justamente a partir da mesma pergunta do
questionário. No entanto, a autora afirma que seria importante atentar para o fato de que a
concordância com a afirmativa de que existe grande desigualdade de renda pode ser apenas o
reflexo de algo que tem sido constantemen
do, observa-se que, independentemente do país em evidência, em média, os respondentes
concordaram que existem grandes diferenças de renda. Logo, a observação da autora faz sentido
e deve ser levada em conta através da maior cautela na interpretação dos resultados empíricos
desta dissertação.
Portanto, as limitações levantadas acima impõem restrições à interpretação dos resultados.
Por um lado, através do conjunto de países presente na amostra. Por outro, a partir das
dificuldades de compreensão da questão escolhida para a construção do indicador de percepção
de desigualdade. Todavia,
27
Pode-se concluir que, apesar das restrições metodológicas, o fenômeno da percepção da
desigualdade guarda fraca correspondência aos níveis de desigualdade de renda medida pelo
índice de Gini17. Em especial, verificou-se que os entrevistados dos países do Leste Europeu
avaliam severamente a magnitude das diferenças de renda, enquanto que os anglo-saxões o fazem
com menos severidade, assim como os filipinos, os japoneses e os entrevistados de outros países
europeus, como os noruegueses, suecos e alemães. Os latino-americanos e os portugueses
apresentaram percepção elevada de desigualdade, embora os chilenos não configurem entre os
entrevistados mais severos. No próximo capítulo, desenvolvo conceitualmente a hipótese desta
dissertação.
e o índice de Gini como
considerado nos exercícios acima também impõe limitações à interpretação dos resultados. De um lado, existem restrições técnicas (sobre até que ponto esta medida reflete um ordenamento – um ranking transitivo e completo – dos grau de desigualdade de diferentes distribuições de renda; para esta referência, ver Sen (1973)). Por outro, existem restrições associadas à disponibilidade das estatísticas (supondo que as opiniões sobre desigualdade de renda guardem relação ao nível de padrão de vida dos respondentes, talvez uma medida construída sobre a renda domiciliar per capita refletisse com maior fidelidade uma percepção média da desigualdade).
17 Este comentário também é mencionado por Scalon (2004). Deve-se salientar o fato de qu
s
28
2 Avaliando a Desigualdade de Renda: Mensuração Técnica
2.1 Introdução
Este capítulo tem como objetivo desenvolver conceitualmente a hipótese sugerida por esta
dissertação, na qual a percepção da desigualdade de renda é relacionada a uma estimação
subjetiva da distância ou do grau de inadequação entre duas referências – o grau da desigualdade
que as pessoas observam em seus países e aquele que estas consideram como apropriado existir.
Para tanto, na seção 2.2 deste capítulo apresento métodos convencionais de avaliação da
desigualdade de renda e mostro seus respectivos mecanismos de funcionamento a partir da
correspondência entre referências positivas e normativas. Na seção 2.3, desenvolvo uma noção
conceitual e simplificada de percepção da desigualdade considerada neste trabalho, com o
objetivo de facilitar a sua interpretação e a visualização de suas propriedades. Em uma seção
conclusiva, apresento os comentários finais deste capítulo.
2.2 Medidas de Desigualdade
Com a finalidade de apresentar alguns dos métodos mais convencionais de avaliação da
e Percepção
desigualdade de renda existentes na literatura econômica, esta seção será organizada como se
29
segue18. Inicialmente, defino alguns parâmetros normativos encontrados na literatura econômica
para ibuições; são eles os axiomas distributivos fundamentais. Em seguida,
defino um dos instrumentos mais convencionais de comparação entre os graus de desigualdade de
duas ou mais distribuições de renda, a curva de Lorenz. Discutirei algumas de suas propriedades.
Passarei então aos métodos de comparação e ordenação que sintetizam a informação sobre a
desigualdade de renda de uma distribuição em um único escalar - em especial o índice de Gini.
Na segunda metade da seção, apresento a avaliação da desigualdade de renda através da
abordagem do bem-estar social, principalmente a partir da medida de Atkinson (1970) e de Van
Praag (1978), que utiliza diretamente a noção de percepção de desigualdade em seu
procedimento. Questões metodológicas encerram esta seção.
Aspectos Normativos e os Princípios Distributivos: como comparar e ordenar
distribuições de renda segundo níveis de desigualdade?
Suponha os países A e B, ambos com populações de 4 indivíduos e mesma renda total S =
10 unidades. Ademais, sejam respectivamente as duas distribuições de renda XA = [1 2 3 4] e XB
= [1 1 4 4]. Defina agora o método de comparação e ordenação dos graus de desigualdade de
renda em cada distribuição a partir da amplitude R = (xmax - xmin), onde distribuições com maiores
ais desiguais e vice-versa. Por este critério, observar-se-ia o
mesmo nível de desigualdade de renda em ambas as distribuições.
a ordenação de distr
amplitudes seriam consideradas m
18 A literatura técnica sobre medidas de desigualdade de renda é reconhecidamente sofisticada e, por tal motivo, gera dificuldades à redação desta seção. Desse modo, a elaboração da presente seção seguirá a forma de uma resenha conceitual e será baseada nos principais fatos estilizados e em trabalhos de excelência: Atkinson (1970), Sen (1973), Sen (1992), Hoffman (1998), Cowell (2000), Barros, Carvalho e Franco (2003), dentre outros.
30
No entanto, verifica-se que a distribuição XB pode ser derivada de XA, através da
transferência de renda de um indivíduo mais pobre para outro mais rico. Logo, pergunta-se: este
seria um bom método de comparação e ordenação dos graus de desigualdade de duas
distribuições de renda? A amplitude seria uma boa medida de desigualdade? Resposta: depende.
A escolha de um método de comparação entre níveis de desigualdade de distribuições de
renda demandaria uma contrapartida normativa em termos de justiça distributiva. Ou seja, a
ordenação entre duas ou mais distribuições de renda segundo níveis de desigualdade dependeria
de princípios distributivos justificáveis19. Posto isso, quais seriam então estes princípios?
A literatura econômica convencional das medidas de desigualdade definiu a estrutura de
um sis
isto é, parâmetros normativos de justiça
distributiva - uma estrutura metodológica formal baseada em axiomas elementares e proposições
matem
a ordenação
qualquer das rendas individuais de uma população, permutações de rótulos pessoais são
consideradas neutras do ponto de vista distributivo. Ou seja, a regra de ordenamento das
tema de comparação dos graus de desigualdade das distribuições de renda através de um
conjunto de princípios éticos ou axiomas fundamentais,
áticas, um sistema de regras tomadas como fundamentais; ou seja, que não derivam de
quaisquer outros axiomas ainda mais elementares; que não necessitam se basear em experiências
e observações do mundo real e; que não requerem relação a outro sistema externo de valores20.
Dentre estes princípios destacam-se, por exemplo, o princípio do anonimato e o das
transferências (ou Pigou-Dalton). O princípio do anonimato assegura que, dada um
19 Ver Kolm (1996). 20 Ver Amiel e Cowell (1999).
31
distribu
princípio de Pigou-Dalton (ou das transferências) assegura que, dado um nível fixo de
renda t
opriada
pelo indivíduo mais rico da população, ou pelo mais pobre.
ições segundo níveis de desigualdade levaria em conta apenas a informação sobre a renda,
e não sobre quaisquer outras características pessoais, como raça, gênero, capacidades físicas e
psicológicas, idade etc.
O
otal, transferências progressivas de renda – de um indivíduo mais rico para outro mais
pobre – diminuiriam o nível de desigualdade de uma distribuição. No caso dos países A e B
acima, por exemplo, a regra de comparação baseada na amplitude não respeitaria integralmente
tal princípio, a menos que se transferisse renda de modo a atingir a proporção da renda apr
Outros princípios recorrentemente mencionados na literatura econômica são os da
população (onde replicações da distribuição são distributivamente neutros), da independência de
escala (adições proporcionais de renda não aumentam nem diminuem a desigualdade), da
independência de translação (em termos de adições absolutas) e o princípio da decomposição (se
a desigualdade aumenta em um subgrupo da população então, ceteris paribus, aumentará na
sociedade como um todo).
A importância deste conjunto de axiomas para a teoria econômica estaria na capacidade
de se ordenar os níveis de desigualdade de duas ou mais distribuições de renda e, ademais, que
isso fosse feito a partir de métodos que respeitassem determinados princípios elementares de
32
justiça distributiva21. Posto isso, passo a seguir à apresentação de alguns dos principais
instrumentos de comparação e ordenação dos graus de desigualdade de distribuições de renda.
Representando a desigualdade de uma distribuição de renda: a curva de Lorenz
Figura 2.2.1 – A Curva de Lorenz
Uma maneira convencional de se representar o grau de desigualdade em uma distribuição
de renda seria através da curva de Lorenz, definida a seguir. Considere uma ordenação crescente
das rendas individuais de uma população. Os valores da proporção acumulada desta população e
da proporção acumulada da renda total apropriada definem os pontos em um sistema de eixos
cartesianos ortogonais, como ilustra a figura abaixo.
A curva de Lorenz, portanto, mostra como a proporção da renda total aumenta em função
da proporção da população, considerando uma ordenação crescente de rendas. Se todas as
21 Um ordenamento, como já mencionado, significaria um ranking completo e transitivo. Por exemplo, apesar da arbitrariedade em termos normativos, a amplitude seria uma medida capaz de ordenar distribuições em termos de níveis de desigualdade. A busca de medidas de desigualdade que possibilitassem a construção de ordenamentos foi criticada em Sen (1973), o qual as defendia como quase-ordenamentos, ou seja, rankings transitivos, porém não necessariamente completos.
Porcentagem Acumulada da População
Por
cem
ula
Re
pro
a
Curva de Lorenzenta
g A
cum
da d
and
a A
pria
d
B1
Linha de Perfeita Igualdade
0 1
A
33
pessoas tivessem exatamente a mesma renda (igual à média da distribuição), a proporção
acumulada da renda seria sempre igual à proporção acumulada da população. Neste caso, a curva
de Lorenz seria o segmento de reta OB na figura acima – denominado por linha de perfeita
igualda
dida entre esta linha e a curva de Lorenz
como a área de desigualdade.
Segundo este método, quanto mais afastada estiver a curva de Lorenz do segmento 0B,
maior seria o grau de desigualdade da distribuição de renda. De fato, pode-se mostrar que se a
proporção da renda apropriada pelos x% mais pobres da população em um país A for maior que a
correspondente fração em um país B, para todo x, então o grau de desigualdade será menor em A
do que em B qualquer que seja a medida de desigualdade utilizada22. Quando isso ocorre, diz-se
que a distribuição de renda na economia A domina no sentido de Lorenz a distribuição de B.
igualitária. O método descrito acima permite então comparar duas ou mais distribuições de renda
de.
Por outro lado, se toda a renda fosse apropriada por uma única pessoa, a curva de Lorenz
ficaria sobre o eixo das abscissas até a proporção acumulada da população chegar a 1 – 1/n,
sendo n o número total de pessoas, saltando em seguida para o ponto B. Entre as duas situações
extremas, haveria sempre uma curva traçada dentro do triângulo formado abaixo da linha de
perfeita igualdade. Denomina-se a área A compreen
Pode-se observar também que através de transferências progressivas de renda, seria
possível alcançar a linha de perfeita igualdade a partir de qualquer curva de Lorenz não
segundo níveis de desigualdade (desde que suas respectivas curvas de Lorenz não se 22 Ver Barros, Carvalho e Franco (2003).
34
interceptem); ao respeitar o princípio de Pigou-Dalton, tal comparação apóia-se na linha de
perfeita igualdade como referência normativa basal, o que permitiria sua interpretação a partir de
um mecanismo construído sobre duas categorias analíticas distintas: uma referência positiva (a
própria curva de Lorenz) e outra normativa (a repartição de renda igualitária).
ma possível solução para alguns destes casos seria aumentar ainda mais as restrições
impost
ser
mais sensível às diferenças de renda existentes no topo da distribuição, enquanto outro, às da
base. D
Quando curvas se cruzam...
O método de comparação dos graus de desigualdade a partir da curva de Lorenz, no
entanto, é incompleto. Mais precisamente, não seria possível comparar duas ou mais curvas que
se interceptam – não haveria dominância no sentido de Lorenz.
U
as pelo conjunto de axiomas fundamentais, através do princípio das transferências
decrescentes (diminishing transfers), onde uma transferência progressiva de um indivíduo com
renda x para outro com renda x – ∆ teria maior impacto sobre a desigualdade quanto mais abaixo
o indivíduo com renda x estivesse localizado na distribuição23. Deriva-se tal propriedade a partir
do princípio da sensibilidade relativa às transferências, onde o impacto das transferências seria
distinto em diferentes partes da distribuição24. Por exemplo, um observador externo poderia
essa forma, o poderia ser possível comparar e ordenar duas curvas de Lorenz que se
interceptam.
23 Referência em Cowell (2000). 24 Ver Sen (1973) e Kolm (1976).
35
Segundo Sen (1973), entretanto, seria da natureza de determinados rankings, ou da
própria noção conceitual da desigualdade, a existência de situações onde não fosse possível
encontrar uma ordenação, onde duas ou mais distribuições sequer poderiam ser comparáveis
segundo seus graus de desigualdade.
Para Cowell (2000), esta é uma razão pela qual seria desejável dar um passo além dos
princípios fundamentais e da curva de Lorenz, seguindo o objetivo pragmático de se derivar
índices
ad hoc selection procedure for
methods that may have a neat statistical or graphical interpretation; (ii) the axiomatic approach
which
dispersão ou assimetria, pode servir à análise do grau de desigualdade em uma
distribuição de renda, embora encontre dificuldades sob uma avaliação mais rigorosa das
de desigualdade de implementação factível e que resultem em rankings completos e
transitivos - apesar da arbitrariedade envolvida. Para este propósito, destacam-se três paradigmas
de avaliação da desigualdade na literatura econômica: “...(i) an
invites the user to specify what the basic principles are for comparing distribution and;
(iii) the welfare-theoretic approach in which an explicit SWF is adopted as a basis for
distributional judgment; an inequality measure may then be inferred from the specified
SWF…”(Cowell 2000, p.108). O primeiro e o terceiro paradigma são tratados separadamente
nesta seção, enquanto que o segundo será examinado na próxima.
Procedimentos ad hoc de mensuração da desigualdade
A amplitude, utilizada como exemplo anteriormente, assim como outras medidas
estatísticas de
36
proprie
Lorenz. Analogamente a esta
interpr o gráfica, define-se também o índice de Gini como uma média normalizada das
diferen população. Ou seja, por trás deste
índice existiria um viés intuitivo em termos de distâncias médias entre os indivíduos27. Definindo
µ (F) a
dades desejáveis das medidas de desigualdade25. No entanto, me concentrarei em especial
sobre um índice que utilizo como referência ao longo desta dissertação, o índice de Gini. Não
obstante, apresentarei brevemente outra medida amplamente reconhecida pela teoria econômica,
o índice de Theil.
Como já mencionado, a área A compreendida entre segmento de reta 0B e a curva de
Lorenz, na figura 2.1.1, é denominada área de desigualdade. Como a área do triângulo abaixo de
0B é igual a 0.5, verifica-se então que 0 ≤ A < ½. O máximo de desigualdade ocorre quando uma
única pessoa se apropria de toda a renda e as demais não recebem nada. Neste caso a área de
desigualdade é um triângulo cuja base é igual a 1 – 1/n e cuja altura é 1. Então, o valor máximo
de A, para uma distribuição discreta, seria Amax = ½ (1 – 1/n). Tem-se ainda que 0 ≤ A < ½ (1 –
1/n), sendo o limite de Amax = ½ (1 – 1/n) com n → ∞ igual a ½26.
Define-se, portanto, o índice de Gini (G) como o quociente entre a área de desigualdade A
e o valor do limite acima, ou seja, G = 2A. De imediato, percebe-se que uma das propriedades
deste índice seria a sua associação direta à posição da curva de
etaçã
ças absolutas entre todos os pares de renda existentes na
renda média da distribuição F e x e x` pertencentes ao suporte de F, a fórmula do índice
segue abaixo para o caso contínuo:
25 Ver Sen (1973, capítulo 2). 26 Esta definição é encontrada em Hoffman (1998, capítulo 3). 27 Referência em Cowell (2000).
37
)(2 F ∫∫µ`)()(`1)( xdFxdFxxFG −= (2.1)
A análise n
ormativa desta medida, ademais, indica que um conjunto amplo de princípios
de justiça distributiva é respeitado - os princípios do anonimato, as independências de escala e de
transla
O ponto relevante para este capítulo reside na interpretação do índice de Gini como a
método de comparação dos graus de desigualdade pela curva de Lorenz. No entanto, por que a
lo
ais adequada
à concepção de justiça distributiva implícita no índice de Gini do que aquela igualitária.
Sob esta interpretação, o método de comparação dos graus de desigualdade de diferentes
cada curva de Lorenz a uma determinada referência. Esta distância seria representada pela área de
ordenam-se estas distâncias da menor para a maior, gerando então um ranking de desigualdade
normativos, a escolha da mesma referência igualitária ao
cálculo de todas as distâncias estaria de acordo com o princípio de justiça distributiva de Pigou-
Dalton.
ção e, em especial, o princípio de Pigou-Dalton.
estimativa de uma distância entre duas referências, de forma análoga à interpretação dada ao
referência normativa seria representada pe vetor de repartição de renda igualitária? Pelo
principio de Pigou-Dalton, não seria possível encontrar outra distribuição de renda m
distribuições de renda através do índice de Gini seria, em última instância, um exercício em dois
passos. No primeiro, se calcula a distância entre cada vetor de repartição de renda, ou melhor,
desigualdade (um escalar) e a referência seria a linha de perfeita igualdade. Em seguida,
transitivo e completo. Em termos
38
Uma outra medida de desigua
índice T de Theil, baseado em conceitos da teoria da informação. De modo breve, pode-se defini-
lo como o logaritmo de uma média geométrica ponderada das rendas relativas (dada a renda
relativa
de ponderação o vetor de repartição (a proporção de cada renda individual no total). Em termos
pulação e definindo-se a média de uma
distribuição contínua F(x) como µ(F), então pode-se escrever o índice T de Theil como:
ldade amplamente reconhecida pela literatura econômica é o
definida como a razão entre a renda individual e a média da distribuição), sendo o fator
formais, sendo x a renda dos indivíduos de uma po
∫= )(log)( xdFFT)()( F
xFx
µµ
Uma segunda medida de desigualdade de Theil, o índice L de Theil, é construída através
do logaritmo da razão entre a média aritmética e a média geométrica das rendas individua
(2.2)
is. Uma
proprie ade deste índice alternativo seria sua alta sensibilidade às rendas próximas a zero. Outra
caracte
d
rística dos índices T e L refere-se ao fato de que estes são considerados casos especiais de
uma classe mais flexível de funções de avaliação da desigualdade de renda. A fórmula
generalizada desta família de medidas segue abaixo:
− )(12 F
xα
αα
α
µ
(2.3)
Esta nova medida teria um parâmetro α pertencente ao intervalo (- ∞, + ∞), sensível às
diferentes partes da distribuição de renda. Para α alto, a medida é sensível às mudanças na
∫ −= )(1)( xdFFI
39
distribu
Do mesmo modo que o índice de Gini o faz, as demais medidas mencionadas acima
respeitam um conjunto amplo de princípios fundamentais, dentre eles o de Pigou-Dalton. No
entanto, o que fica claro na medida de Theil e, mais genericamente, em Iα(F), é que diferentes
valores para o parâmetro α implicam em distintas formas de se avaliar o grau de desigualdade de
uma distribuição de renda. Ou
distintos para o parâmetro normativo α, levariam a avaliação da desigualdade de renda a
resulta
Com o objetivo de não tornar esta seção ainda mais extensa, passarei na seqüência à
discussão sobre a avaliação da desig
a medida de Atkinson (1970) e de Van Praag (1978) como as principais referências teóricas.
ição que afetam a cauda superior. Para α baixo, o índice é sensível às mudanças afetando
a cauda inferior da distribuição. Quando α = 1, tem-se a medida T de Theil; para α = 0, a L de
Theil.
seja, mesmo considerando um mesmo estimador Iα(F), valores
dos diferentes. Em última instância, estas diferenças em termos de sensibilidade às
transferências de renda implicariam em formas alternativas de se avaliar a distância entre uma
distribuição qualquer de renda e a referência igualitária – assim, a depender da distribuição da
concentração da desigualdade ao longo da própria distribuição de renda, medidas alternativas
podem avaliar a desigualdade com maior ou menor severidade28.
ualdade de rendas via funções de bem-estar social, utilizando
28 Para a análise de sensibilidade das diferentes medidas de desigualdade às transferências de renda, ver Hoffman (1998).
40
Procedimentos de mensuração da desigualdade via funções de bem-estar social29
À primeira vista, uma função de bem-estar social30 (W) não parece ser um bom arcabouço
para a esigualdade31. No entanto, reconhecendo a priori o fato de que uma
distribuição igualitária de renda possa trazer algo de positivo para a sociedade, relacionar as
medidas de desigualdade à teoria do bem-estar talvez não seja uma idéia tão inusitada . A seguir,
examina-se como a manipulação de uma W permite a construção de um instrumento para análise
distributiva.
Seja uma transformação simples de uma função de bem-estar social W, a partir da
definição da renda equivalente igualmente distribuída – o valor da renda que cada indivíduo
deveria receber para, com todos recebendo o mesmo valor de renda, o nível de bem-estar social
ser igual ao da distribuição de fato existente. Seja então uma distribuição de probabilidades
uniforme H(.), uma função de bem-estar social W e uma distribuição de renda F(x) com média
µ(F). Definimos um número ξ tal que:
W (H ( )) = W (F) (2.4)
em-
valiação da d
32
ξ
Ou seja, dada uma distribuição F, ξ (F) é extraído da equação anterior, representando a
renda que, se imputada para todos os indivíduos da população, permitiria o mesmo nível de b
29 Seção baseada em Cowell (2000), Hoffman (1998), Sen (1973) e Barros, Carvalho e Franco (2003). 30 Para uma definição básica (Mas-Colell et. al., 1995; capítulo 22), uma função de bem-estar social (W) W(u) = W(u1,....,un) agrega utilidades dos n indivíduos em utilidades sociais. 31 Devido às propriedades das funções W mais freqüentemente encontradas na literatura econômica. Ver Cowell (2000). 32 No início desta seção, destaquei a diferenças entre duas perguntas: (i) entre duas ou mais distribuições, qual seria a
que, sob certas condições, a melhor distribuição de renda seria aquela igualitária. melhor? e; (ii) entre duas ou mais distribuições, qual seria a mais desigual? Através da teoria do bem-estar pode-se mostrar
41
estar so a renda
média da população µ, obtém-se uma base natural para a construção de um índice de
desigua
cial que a distribuição objetiva de renda o faz. Normalizando a diferença entre ξ e
ldade:
)()(
FF
µξ
Esta f
1)(FI A −= (2.5)
ormulação permite uma interpretação para os valores de bem-estar social a partir da
noção de aversão à desigualdade: para uma dada distribuição de rendas, quanto mais convexo o
contorn
função de bem-estar social W aditivamente sep
individuais xi para uma população de n indivíduos:
o da função W, maior a distância entre ξ e µ. Por conseqüência, mais elevada seria a
medida de desigualdade33. Pretendo exemplificar este procedimento através de uma das
principais contribuições teóricas de avaliação da desigualdade baseadas na literatura econômica
do bem-estar, a medida de Atkinson (1970), apresentada na seqüência para o caso discreto.
A medida de Atkinson
Suponha a arável e simétrica das rendas
∑=
=n
i
W1
ixU )( (2.6)
Introduzindo o conceito de renda equivalente igualmente distribuída ξ e sendo a renda
média µ(F), tem-se:
33 A referência para esta passagem está em Cowell (2000, p.114).
42
)()(1
ξnUxUWn
i
==∑ ou
∑= n UU 1)(ξ
i=
=
n
iix
1)( (2.7)
Assim, se U(xi) é uma função côncava, então ξ ≤ µ. Para se obter a medida de
desigualdade, no -
estar marginal é inversamente proporcional a xiε, isto é:
entanto, é preciso estabelecer uma estrutura para U(xi). Suponha que o bem
β
ii
xdU )(ε
i
xdx= (2.8)
ε−1
Restringindo os valores de β > 0 e ε ≥ 0, pode-se encontrar uma função U(xi) côncava.
Integrando a equação (2.8):
(2.9)
Das equações (2.7) e (2.9), verifica-se que34:
εβγ
−+=
1)( i
ixxU
1( ) εεξ −∑ −= 111in x (2.10)
Finalmente, substituindo-se a equação (2.10) em (2.5), obtém-se a medida de Atkinson
para 0 ε ≠1: ≤
−= 1n
ix εε
ε µ
−
=
−
∑1
1
1
1
1)(i
nFA (2.11)
34 Restrito apenas ao caso onde 0 ≤ ε ≠1.
43
O parâmetro ε representa um coeficiente de aversão à desigualdade. Pode-se interpretá-lo
como a elasticidad
maior o valor de ε, mais rápida seria a diminuição do bem-estar marginal a partir do aumento da
renda de um indivíduo. Neste caso, sendo as funções de utilidade individuais côncavas, o
aumento de bem-estar social seria maior a partir de uma elevação na renda de um indivíduo mais
pobre do que naquela de um mais rico.
Se ε é igual a zero, a utilidade marginal da renda é constante para todos os indivíduos e,
dessa f
, a medida de desigualdade de Atkinson seria
também zero e a distribuição da renda de forma igualitária não aumentaria o bem-estar social. Por
final, um dado ε tendendo ao infinito levaria a W à forma rawlsiana do maxmin35. Pode-se
mostrar ainda que as medidas Iα(F) e Aε(F) são ordinalmente equivalentes para casos onde α
– ε36.
ara um coeficiente estritamente positivo de aversão à desigualdade, a medida de
Atkinson respeita o princípio de Pigou-Dalton. Mais do que isso, observa-se que a conce
justiça distributiva da sociedade estaria explícita através deste parâmetro. Tendo em vista a
a seção, chamo atenção para o fato de que, uma vez mais, pode-se interpretar a
avaliação da desigualdade de renda descrita acima como um método baseado na estimação de
uma distância entre duas refe
e do bem-estar marginal em relação às variações de renda pessoal. Quanto
orma, o bem-estar social decorrente de um acréscimo de renda ∆x seria o mesmo para um
indivíduo pobre ou para um rico. Por conseqüência
= 1
P
pção de
finalidade dest
rências, uma positiva (o vetor de distribuição objetiva de renda e seu
35 Ver Mas Collel et al. (Capítulo 22, 1995) para exemplos da relação entre diferentes formatos da W e níveis de aversão de desigualdade. 36 Cowell (2000; p.115).
44
respectivo nível de bem-estar social, alcançado também pela distribuição da renda no valor ξ para
toda a
são à Desigualdade e a Medida de Atkinson
Elaboração: Cowell (2000)
bserva-se que a distância entre ξ e µ depende da distribuição objetiva de renda (ponto F)
e da c
população) e outra normativa (se a aversão à desigualdade é estritamente positiva, então a
referência normativa é a distribuição de renda igualitária, cujo bem-estar social correspondente é
máximo, representado pela distribuição do mesmo montante µ para todos os indivíduos da
população). A figura abaixo ilustra esta idéia para uma população de dois indivíduos.
Figura 2.2.2 – Aver
O
urvatura da função W (representada pelo contorno das duas curvas ilustradas na figura
acima e determinada pelo parâmetro de aversão à desigualdade). Esta distância constitui a base
natural para a construção de medidas de desigualdade baseadas em funções de bem-estar social
(ver equação 2.5). Quando ε = 0, todas as possibilidades de repartição de uma renda total fixa
maximizam o bem-estar social, o que implica em uma distância nula entre ξ e µ - por exemplo,
neste caso, a medida de Atkinson teria um valor idêntico para a distribuição de renda brasileira ou
norueguesa ou qualquer outra.
45
Na seqüência, apresento um procedimento de avaliação de desigualdade de renda baseado
em funções W e que utiliza diretamente percepções individuais para a construção de uma medida
de desigualdade – o procedimento de Van Praag (1978).
O procedimento de Van Praag
O caminho escolhido por Van Praag para a avaliação da desigualdade de renda guarda
similaridades em relação ao m sua concepção.
Enquanto Atkinson externaliza os ju dida através de um único parâmetro
de aversão à desigualdad ação de
funções individuais de bem mpíricos; sua medida de
desigualdade agregada seria deri também explícitos, mas
individualizados37 ogia para avaliação da desigualdade
sugerida pelo autor, da for ente, destaca-se um conjunto de
problemas e hipóteses.
Em primeiro lugar, para o autor, os indivíduos não avaliariam a desigualdade na
distribuição de renda através de diferenças de renda, mas de bem-estar. Por conseqüência,
existiria uma questão central: como conectar empiricamente renda e bem-estar? Em segundo
lugar, uma vez definida esta conexão conforme determinada metodologia, torna-se possível o
exame de uma distribuição de bem-estar a partir da distribuição de renda para cada indivíduo.
étodo de Atkinson, sendo, contudo, distinto em
ízos de valor de sua me
e, válido para toda a sociedade, Van Praag o faz a partir da estim
-estar por meio de experimentos e
vada a partir de juízos de valor
. Apresentarei em seguida a metodol
ma mais sintética possível. Inicialm
37 Para Van Praag (1978, p. 113), “... it is futile to search for the measure of inequality, because it does not exist. The choice of an inequality measure is essentially a political value judgment…”.
46
Como, portanto, definir uma medida de desigualdade para aquela distribuição? Por último,
conside
omeçando então pela primeira questão, como conectar empiricamente renda e bem-
estar? S víduo, o qual a avalia como ruim, insuficiente, suficiente,
boa etc. Esta avaliação é registrada em uma escala numérica. Denotando a avaliação do nível de
renda x
aproxima de zero, = 0, x ≤ eµ ; Λ (x) = 1, x ≥ eµ. Assim, deve-se determinar os parâmetros µ
e σ para cada indivíduo – e, portanto, uma função U(x) para cada um. Para transformar esta
construção teórica em resultados empíricos, o autor admite que as pessoas seriam capazes de
avaliar intervalos de renda em termos de descrições qualitativas – ruins, bons, excelentes etc.
Dessa forma, aplicou-se o questionário abaixo para 12.000 indivíduos belgas e alemães.
rando que os resultados encontrados são individualizados, como então derivar uma
medida agregada?
C
eja x a renda anual de um indi
i como U(xi), seria natural associar zero ao pior nível de renda, U(0), e 1 ao melhor, U(∞).
Chamou-se U(x), portanto, de função individual de bem-estar, a qual tomaria valores no intervalo
[0, 1].
Segundo Van Praag (1978, p. 115), sob condições gerais, U(x) seria uma aproximação da
função de distribuição lognormal U(x) = Λ(x; µ, σ). Esta função tomaria o valor 0.5 quando x =
eµ e sua forma seria determinada por σ, chamado pelo autor de “welfare sensitivity”. O parâmetro
µ seria aquele pelo qual os indivíduos avaliariam os distintos níveis de renda. Quando σ se
Λ (x)
47
Figura 2.2.3 - Questionário utilizado para estimação de funções de bem-estar individuais
(Extraído de Van Praag (1978))
Encontrou-se, para cada observação da amostra, uma seqüência de pontos {xi, U(xi)}, 2 ≤ i
≤ 9. Se vale a hipótese de aproximação da função U(x) pela Λ (x; µ, σ), então U(x) = N (ln (xi);
µ, σ) = N ((ln (x ) - µ ) / σ); 0, 1). Logo, ln (x ) = σµ +µ, para i = 2,....,9. Para cada indivíduo da
amostra, aplicou-se o método de mínimos quadrados ordinários para a equação anterior,
considerando εi. idêntica e independentemente distribuído, com valor esperado zero.
ln (xi) = σµi+µ+εi (2.12)
Estimaram-se os parâmetros µ e σ para cada indivíduo38. Os principais resultados foram:
(i) em média, encontrou-se um R2 de 0.98; (ii) o parâmetro σ, de sensibilidade de bem-estar, teve
i i i
38 Para mais detalhes sobre a interpretação do modelo estimado e seus parâmetros, ver Van Praag (1971), Kapteyn e Van Praag (1976), Van Praag (1977) e Van Praag (1978).
Excellent if it were above f.45,000Good if it were between f.35,000 and 45,000
Sufficient if it were between f.25,000 and 30,000
Very insufficient if it were between f.17,000 and 20,000
Fonte: Van Praag (1978)
Taking into account your own family and job situation, you would call your net-income (including fringe benefis and after substracting social secutity contributions)*:
Amply sufficient if it were between f.30,000 and 35,000
Barely Sufficient if it were between f.22,000 and 25,000Insufficient if it were between f.20,000 and 22,000
Bad if it were between f.12,000 and 17,000Very bad if it were below f.12,000
* Dados de um respondente hipotético.
48
como m
pessoais e; (iii) eµ variou muito e
Examino a seguir os aspectos distributivos desta abordagem: como avaliar a
desigualdade? Como já exposto, o autor considera em sua formulação a distribuição de bem-estar
em detrimento à distribuição de renda. Portanto, sejam as funções individuais Ui (x), (i = 1,....,n),
e as correspondentes funções de utilidade marginal ui(x). Seja um exercício padrão de
maximização da função W do tipo Bergson-Harsanyi, sujeito ao somatório das rendas individuais
igual à renda total X.
W(X) = W (U1 (x1),.....,Un (xn)) = U1 (x1) + ..... + Un (xn) (2.13)
j ( j i i
os demais,
compreendendo e imaginado as funções de bem-estar de cada um? Neste ponto, a autor admite
eceriam perfeitamente a distribuição objetiva de renda. Todavia, não seriam
capaze nível de bem-estar concedido por esta distribuição a cada um de seus
congên
édia 0.5, variando entre os indivíduos, mas não sendo explicado por características
ntre os indivíduos39.
Dadas as condições de primeira ordem u x ) = u (x ) para todo i e j, os indivíduos
avaliariam uma distribuição de renda como desigual na medida em que esta não maximizasse W.
No entanto, um indivíduo seria capaz de se colocar na posição de todos
que as pessoas conh
s de avaliar o
eres. Sugeriu-se, portanto, uma função de bem-estar social individualizada:
39 Com regressões adicionais, o autor demonstrou que µ variava positivamente em relação ao tamanho da família do indivíduo, bem como à renda pessoal - quanto mais elevada esta última, maior seriam as necessidades da pessoa (por interpretação própria do autor, o aumento da renda deslocaria as preferências do indivíduo para um nível médio superior de bem-estar; este fenômeno recebeu o nome de preference drift). Em outro exercício, observou-se que µ era também influenciado pelo ambiente em torno das pessoas; ou seja, alguém avaliaria sua renda tendo como padrão a renda média do seu respectivo grupo de referência. Os grupos de referência foram montados por posição na ocupação, nível educacional e por ambiente de trabalho (empresas privadas, autônomos, organizações sem fins lucrativos e serviço civil). Para uma metodologia mais apurada deste exercício, o autor recomenda a leitura de Kapteyn, Van Praag e Van Herwaarden (1976).
49
Wi (X) = W (Ui (x1),.....,Ui (xn)) (2.14)
ndividual através da dispersão em ui (xj), 1≤ j≤ n40:
A equação acima não descreve a ordenação das preferências da sociedade sobre um
conjunto de distribuições de renda, como o fazem as funções de bem-estar social convencionais.
Descreve, pois, apenas o ordenamento das preferências do indivíduo i, que avaliaria o bem-estar
dos demais a partir do seu próprio ponto de vista. A percepção individual da desigualdade surge,
então, quando o indivíduo i não encontra em suas estimativas a função Wi maximizada. Estima-se
então esta percepção i
( )∑ −=n
iji uxuxuVar 2)())((=
ou41 j 1
( )∑=
=−=n
jiji uxuxVar
1
22ln))(ln()((ln µσ u (2.15)
Finalmente, o autor desenvolve uma medida agregada de desigualdade, refletindo a média
das percepções individuais. Chamou-se atenção para o fato de que tal agregação não demandaria
comparações interpessoais de utilidade, sendo a formulação apenas aplicada individualmente – o
µestar individual – com aversão absoluta ao risco constante, aversão relativa ao risco constante e com aversão relativa
lognormal:
40 Como exercício, obtiveram-se diferentes expressões para σ2 , a partir de distintos formatos da função de bem-
ao risco linearmente decrescente. Por exemplo, supondo esta última, observa-se a seguinte função de utilidade
Ln u(x) = α (ln x)2 + β ln x + γ
Adicionando a restrição ∫∞
=0
1)( dxxu e assumindo uma distribuição objetiva de renda lognormal M(x) = Λ (x; µ2,
σ2), o autor derivou a medida de percepção de desigualdade para cada indivíduo i, sendo µ*, σ*, os parâmetros estimados a partir das funções individuais de bem-estar:
]*)(2[*4
22
224
222 µµσ
σσσ µ −+=i
41 Utilizou-se a segunda medida por ser invariante às transformações lineares positivas.
50
bem-estar seria comparado intra pessoalmente. Segundo Van Praag (1978, p. 130), “... it does
marginal level) feel equally strong about welfare inequality. Under this assumption it is natural
to use
do anonimato.
Enfim, a interpretação do modelo de Van Praag seria similar àquela sobre a medida de
Atkinson. A avaliação individual da desigualdade de renda poderia ser interpretada a partir da
comparação entre duas referências – a distribuição objetiva de renda (gerando uma determinada
distribuição de bem-estar e um nível de bem-estar social) e aquela que deveria existir (a qual
satisfaria as condições de primeira ordem e geraria o bem-estar social máximo, de acordo com
parâmetros de avaliação de bem-estar individualizados). A percepção individual da desigualdade
surgiria, pois, quando a distribuição de renda não fosse capaz de se adequar àquela
bre a dimensão do bem-estar, sua medida de desigualdade não deixaria de se relacionar
distribuição de renda.
require the assumption that people who give the same number to perceived inequality (about any
the mean value of σ2µ, averaged over the income distribution, as the aggregate
measure…”.
O autor também analisou outros aspectos da medida σ2µ de desigualdade. Em especial,
verificou-se a não validação do princípio de Pigou-Dalton42 e também a sensibilidade de ricos e
pobres às mudanças proporcionais de renda43. Não há menção ao princípio
normativamente superior, o seja, quando σ2µ >0. Embora todo o modelo de Van Praag esteja
oltado sov
à
42 O autor (Van Praag, 1978: p.126) usa o seguinte exemplo para mostrar que, por se tratar de percepções, a não validação do princípio da transferênci 10, x2 = 11 e x3 = 100, e suponha que o indivíduo em questão é o primeiro. Portanto, seria normal que uma redistribuição para [10 31
0] não fosse vista como menos desigual por aquele indivíduo. is pobres o contrário.
a seria uma qualidade da medida: seja a distribuição x1 =
843 As pessoas mais ricas perceberiam este aumento como redutor da desigualdade; os ma
51
A seguir, destaco algumas questões metodológicas relacionadas às diferenças entre os
métodos de avaliação da desigualdade descritos ao longo desta seção.
Procedimentos ad hoc e funções de bem-estar: propriedades e preferências
Uma diferença entre as medidas de desigualdade baseadas em procedimentos ad hoc e
aquelas
vés da
função , em forma de preferências.
ribuição
construídas via funções de bem-estar social estaria na interpretação dos princípios de
justiça distributiva. Se por um lado diferentes concepções de justiça estariam implícitas nas
medidas ad hoc em forma de propriedades estatísticas, por outro, estariam explícitas atra
W
Assim, até que ponto uma estimativa encontrada a partir do índice de Gini, por exemplo,
poderia ser interpretada como a distância entre duas referências, sendo uma delas carregada de
juízos de valor? Ou melhor, até que ponto pode-se interpretar uma propriedade estatística em
termos de regra normativa? Acredito que as respostas possam surgir da relação entre os dois tipos
de procedimentos44. No entanto, devido ao escopo limitado desta dissertação, seguirei
interpretando as propriedades das medidas de desigualdade ad hoc e as preferências (por
equidade) das funções W apenas por analogia.
Repartição e Dist
44 A medida de desigualdade de Atkinson, por exemplo, seria construída sobre uma estrutura especificada da função
dade ad hoc e funções W, ver Cowell (2000, seção
W; de maneira inversa, índices ad hoc de desigualdade, como o Gini, podem ser transformados em funções W, respeitando-se uma série de restrições técnicas (como a monotonicidade das funções W). A sofisticação desta área de pesquisa, todavia, não me permitiria seguir adiante no desenvolvimento da relação entre propriedades estatísticas e preferências sociais. Para as relações entre índices de desigual5.3.).
52
Por trás do estudo da desigualdade de renda pode existir uma possível fonte de confusão
entre os conceitos de distribuição e repartição45. Uma distribuição de rendas envolve o vetor X =
Y.S, onde Y = (y1, y2,..., yn) representaria um outro vetor, de repartição da renda total S. Assim,
uma qu entre duas ou
mais distribuições, qual seria a melhor? e; (ii) entre duas ou mais distribuições, qual seria a mais
desigua
te sobre o vetor Y - ou seja, sobre o grau da desigualdade
da distribuição de renda, circunscrito ao vetor de repartição. Essa distinção é relevante para a
compre
ou grau de inadequação entre duas referências –
uma positiva e outra normativa. Ficou claro que na maioria dos casos, a referência normativa
basal é representada pela distribuição igualitária da renda ou pelo bem-estar social máximo
associado a esta configuração. Mencionei também o fato de que as estimativas encontradas a
estão que deve ser esclarecida refere-se à diferença entre as perguntas: (i)
l?
Qual a diferença? No primeiro caso a comparação entre distribuições levaria em
consideração o vetor X, incluindo um trade-off entre variações em S e na repartição Y; no
segundo caso, a análise recairia somen
ensão da noção da desigualdade de renda e para questões relacionadas à percepção da
desigualdade sugeridas à frente.
Conclusão
A finalidade desta resenha esteve em descrever os métodos de avaliação da desigualdade
de renda enquanto estimadores de uma distância
partir de cada medida de desigualdade e a ordenação dos graus de desigualdade de diferentes
45 Ver Barros, Carvalho e Franco (2003).
53
distribu
2.3 Percepção de Desigualdade
O fenômeno empírico da percepção da desigualdade de renda apresentado neste trabalho é
complexo e não encontra, na literatura econômica, tratamento teórico adequado. Acredito que
algumas contribuições podem servir à compreensão apenas de parte do problema, ao que
concerne principalmente à sua dimensão normativa.
Existe vasta literatura técnica concentrada sobre a noção de aversão à desigualdade
proposta por Atkinson (1970)46. Em outra linha de pesquisa correlata, Hirschman e Rothschild
(1973) e Bénabou e Ok (2000) sustentam a hipótese do efeito túnel, onde as preferências
individuais por redistribuição dependeriam das expectativas de mobilidade social futura47.
Contudo, estas contribuições concentram-se na explicação das raízes da tolerância ou aversão à
ições de renda dependem do formato do estimador e, em última instância, de juízos de
valor implícitos ou explícitos.
desigualdade são tratadas pela economia neoclássica sob a forma de externalidades ou de aversão individual ao risco
resultados. A partir de experimentos com estudantes, Amiel et al (1999) encontraram um valor de ε igual a 0.25,
al (1979), Glejser et al (1977), Van Praag (1977 e 1978). Stern (1977) apresenta um amplo survey sobre o tema e descreve várias formas metodológicas para a estimação de ε. Nesta literatura, o autor encontra uma amplitude de
47 De acordo com Hirschman e Rothschild (1973, p.545), “...in the early stages of rapid economic development,
46 Para resenha sintética, ver Amiel et al (1998), Lambert et al (2003) e Stern (1977). As raízes da aversão à
(ver Cowell, 2000). Existem tentativas de estimação empírica deste parâmetro, que me parecem arbitrárias em seus
muito inferior à amplitude convencionalmente utilizada em análise distributiva. Outros resultados estão em Gevers et
estimação para este parâmetro de ε =0.4 a ε =10.
when inequalities in the distribution of income among different classes, sectors, and regions are apt to increase sharply, it can happen that society’s tolerance for such disparities will be substantial. To the extent that such tolerance comes into being, it accommodates, as it were, the increasing inequalities in an almost providential fashion. But this tolerance is like a credit that falls due at a certain date”. Para o estudo da relação entre
tos de classes utilizando a pesquisa do ISSP (1999), ver Ribeiro (2004). expectativas de mobilidade futura e confli
54
desigualdade, estando, portanto, apenas parcialmente associadas ao fenômeno da percepção da
desigualdade como apresentado aqui48.
Em relação à vertente empírica da teoria econômica que se refere mais especificamente ao
tema da percepção da desigualdade, existe uma linha de pesquisa que se dedica à investigação da
adequação dos axiomas distributivos fundamentais das medidas de desigualdade às concepções
de justiça das pessoas comuns49. Os resultados, contudo, não são positivos a tais métodos de
avaliação. De acordo com Amiel e Cowell (1999, pp. 43-44), “...to compare distributions in
terms of the Lorenz curve we could need to invoke scale independence, the population principle
and the transfer principle. But if we were to look at the combined response to the relevant
questions on these issues (referindo-se aos testes empíricos que utilizam estudantes universitários
como respondentes), we would find that 76% of the students reject the Lorenz axiom system. If we
also include the principle of decomposability along with those in the Lorenz system, then 84%
reject the standard axioms. Our students’ responses seem to raise a serious question of whether
the standards axioms for inequality comparisons are appropriate” 50. Estes resultados indicam
que o que é desigualdade de renda para uns – especialmente para as medidas técnicas - pode não
o ser para outros – em particular, às pessoas comuns. Nesta vertente empírica, contudo, além de
não existir uma correspondência metodológica à noção da percepção da desigualdade considerada
48 Não pretendo discutir o porquê de uma aversão alta ou baixa à desigualdade, mas sim, investigar a relação entre a percepção da desigualdade e os níveis de desigualdade considerados como apropriados pelas pessoas. 49 Existem basicamente dois tipos de testes. No primeiro, os respondentes (estudantes universitários) comparam pares de distribuições hipotéticas de renda, escolhendo aquelas mais ou menos desiguais – denomina-se esta abordagem como direta. O segundo tipo de teste se aplica aos axiomas envolvendo bem-estar social – a abordagem indireta. Neste caso, os respondentes indicavam quais seriam as melhores e piores distribuições, na comparação entre pares (substituindo, portanto, a expressão mais ou menos desigual, por melhor ou pior). 50 Uma resenha destas contribuições está no Anexo 2.3. Os questionários são estruturados sobre pares hipotéticos de distribuições de renda. Os respondentes, então, devem escolher os mais ou menos desiguais dentre os pares. Isso permite então a avaliação da validade dos princípios distributivos fundamentais, como o da transferência, da decomposição e do anonimato.
55
no presente trabalho51, não há menção ao problema da percepção visual das diferenças de renda.
Acredito que este aspecto relevante da avaliação da desigualdade implementado pelos cidadãos
comuns (ao que chamei de desigualdade observada) ainda não foi explorado pela teoria
econôm
ica52.
Deixando de lado a teoria econômica, então, uma possível fonte de explicação para o
problema da percepção da desigualdade pode estar na investigação de trajetórias históricas e
culturais dos países. Fica clara na seção 1.3 a severidade com que os entrevistados dos países do
Leste Europeu encaram a questão das diferenças de renda. São países que passaram 2 ou 3
gerações sob regimes políticos e econômicos distantes da realidade capitalista, de seus valores e
de suas conseqüências distributivas. Por outro lado, seria natural encontrar entre chilenos,
filipinos ou brasileiros uma menor percepção relativa das diferenças de renda, posto que vivem
em países marcados por desigualdades intensas e estáveis no tempo53. Embora acreditando que
estes aspectos influenciem as concepções de justiça e as percepções de desigualdade de seus
cidadãos, creio também que qualquer tentativa de construir uma linha de argumentação utilizando
51 Os entrevistados pelo questionário do ISSP (1999) não estão comparando pares de distribuições de renda, mas avaliando uma dada distribuição de renda, a de seus países.
52 Também não pretendo discutir as raízes do processo cognitivo dos indivíduos, valendo o mesmo argumento anterior relativo à dimensão normativa da avaliação da desigualdade. Dosi, Marengo e Fagiolo (1996) fazem uma resenha teórica extensa sobre aspectos cognitivos e de aprendizagem na teoria econômica economia, destacando os
pontado como
orjadas por anos de regime
sociais particulares de cada país”.
principais fatos estilizados. Referências freqüentes nesta literatura são Margolis (1987), Johnson-Laird (1983), Mayer (1992), Clark (1993), Denzau e North (1994) e North (1995, 1996). Holland et al. (1986) é aum dos principais textos sobre o tema. 53 Aqui estou levantando a suposição de que por mais que a desigualdade de renda esteja considerada pelo discurso popular, talvez sua face real não seja conhecida em detalhes pelas pessoas ou, pior, esteja relativizada pelo tempo. Em referência à importância da história na conformação de percepções, Scalon (2004, p.35) escreve: “...a opinião de chilenos e brasileiros está impregnada da história e da cultura desses dois países, fautoritário. Só assim é possível entender tal percepção na América Latina (...). Esses resultados dão indicações de que outros fatores, que não a racionalidade utilitária, podem estar jogando papel importante na percepção das desigualdades. Nesse sentido, seriam elementos vinculados a valores que estariam fundados na história, cultura, processos de socialização e relações
56
a relação entre percepções e história pode ser limitada pelo número elevado de países incluídos
neste trabalho e pelo arcabouço analítico que tal construção demandaria.
Assim, tendo em vista a importância do tema e a ausência de referencial teórico na
econom atégia deste trabalho consistirá em isolar e investigar duas
dimens
A Delimitação Conceitual da Percepção da Desigualdade: uma sugestão para análise
ia para desenvolvê-lo, a estr
ões do complexo problema da desigualdade de renda e sua percepção (o nível de
desigualdade que as pessoas observam à sua volta e o nível de desigualdade que estas consideram
apropriado existir), tendo como guia a interpretação desta percepção enquanto um método de
avaliação54.
Assim, com a finalidade de conectar as três dimensões em evidência em um mesmo plano
conceitual e facilitar a interpretação do problema, então, sugere-se a seguir um formato analítico
simplificador para a noção da percepção da desigualdade, a partir da interpretação desta enquanto
um método de avaliação análogo às medidas de desigualdade descritas no capítulo anterior55.
Para tanto, destacam-se algumas restrições que devem acompanhar a definição de um
estimador subjacente às percepções da desigualdade. Em primeiro lugar, este estimador subjetivo
deve explicitar as duas categorias referenciais requeridas por um processo de avaliação da
54 Assim fica claro que não se pretende investigar as raízes da cognição ou aversão à desigualdade - o objetivo do trabalho está delimitado em um patamar analítico superior a este. 55 Esta interpretação permite um passo direcionado ao exame das relações entre a desigualdade percebida, observada e normativa. Como já mencionado, propôs-se uma interpretação para a percepção da desigualdade nesta dissertação através da seguinte seqüência de suposições: (i) pode-se supor que a percepção individual da desigualdade é um método de avaliação subjetivo do grau de desigualdade implementado pelo indivíduo e; (ii) por ser um método de avaliação da desigualdade, segue receita metodológica que implica na estimação do grau de adequação ou distância entre duas categorias referenciais.
57
desigualdade em uma mesma dimensão analítica. Em segundo lugar, deve-se supor que a
avaliação da desigualdade é elaborada em termos de repartição de renda, não sendo consideradas
explicitamente quaisquer outras dimensões avaliatórias, como, por exemplo, o bem-estar56. Em
terceiro
Figura 2.3.1 – A Percepção Individual da Desigualdade e a Curva de Lorenz
positivo ou visualmente perceptível, notado por Y p ) e uma curva de Lorenz normativa ou
, a idéia deve conter um apelo intuitivo e gráfico e deve ser elaborada em um plano
conceitual, não formalizado. Por fim, deve ser possível avaliar as propriedades deste estimador
segundo os axiomas fundamentais das medidas de desigualdade. A figura abaixo ilustra a
delimitação conceitual da percepção individual da desigualdade de renda aqui sugerida.
Por analogia ao arcabouço técnico da literatura econômica, define-se a estimativa da
percepção individual da desigualdade de renda como a área notada por Dpi existente entre uma
curva de Lorenz observada pelo indivíduo i (ou a curva determinada pelo vetor de repartição
ob i
56 Com isso, pretendo eliminar, por suposição, problemas de interpretação ocasionados pelo trade-off avaliatório entre repartição e distribuição da renda. Este ponto está adequado à própria questão da pesquisa, que versa sobre diferenças de renda em um dado país, ou seja, não existe referência às variações no montante total de renda.
Porcentagem da População
Por
cen
da
aia
tage
m R
end
Apr
opr
da
Curva de Lorenz e Percepção de Desigualdade
Yobpi
Yn piDesigualdade Percebida
Dpi
O
B
58
apropriada (ou a curva determinada pelo vetor de repartição de renda notado por Ynpi)57.
Denomina-se a área entre Ynpi e o segmento OB de área de desigualdade normativa ou
apropriada, notada por Dnpi. Entre Yobpi e OB estaria a área de desigualdade positiva ou
observada, notada por Dobpi. Assim, Dpi poderia ser definida também pela diferença entre Dobpi e
Dnpi. Ou seja, a desigualdade percebida seria uma diferença entre a desigualdade observada (ou
grau de desigualdade de renda visualmente perceptível pelo indivíduo) e aquela normativa (ou o
grau de desigualdade considerado pelo indivíduo como o apropriado).
Não se rença
residiria nas referências utilizadas – a distribuição de renda ideal ou considerada apropriada não é
necessariam à sua volta não é
necessariamente id inarei conceitualmente as
propriedades da percepção individual da
omo a desigualdade percebida Dpi aqui sugerida se comportaria diante dos axiomas
distribu
ria coincidência a aproximação desta definição ao índice de Gini. A dife
ente a igualitária e a distribuição de renda que as pessoas observam
êntica àquela de fato existente58. A seguir, exam
desigualdade como definida acima.
Analisando as Propriedades da Percepção da Desigualdade
C
tivos fundamentais? Ao definir um estimador subjacente às percepções da desigualdade
similar ao índice de Gini, as propriedades válidas para este também o seriam para a desigualdade
percebida? Para analisar este ponto, discuto em primeiro lugar a validade das propriedades
57 As curvas definidas desse modo serão denominadas, deste ponto em diante, pela notação dos respectivos vetores de repartição.
58 Como já mencionado, pode-se definir o índice de Gini como uma média normalizada das diferenças absolutas entre todos os pares de renda existentes na população. Nesse sentido, esta delimitação da percepção individual da desigualdade atenderia à intuição distributiva em termos de distâncias médias entre as rendas dos indivíduos.
59
quando Yobpi não se corresponde ao vetor de repartição objetivo notado por Y59, dado Ynpi fixo e
representado pela linha de perfeita igualdade. Em segundo lugar, defino um vetor Yobpi fixo e
igual a Y, e verifico a validade das propriedades da desigualdade percebida quando Ynpi domina
ou intercepta Yobpi.
A primeira questão relaciona-se à referência positiva da desigualdade percebida. Ao invés
de incorporar o vetor de repartição de renda objetivo Y, considera-se o vetor alternativo Yobpi ≠ Y,
ou seja, o indivíduo i não conheceria perfeitamente a repartição de renda objetiva na sociedade
em que
ortanto, o princípio
da decomposição não seria integralmente válido. A mesma linha de interpretação pode ser
destaca -Dalton: suponha que ocorra
uma transferência de renda progressiva entre um indivíduo mais rico de uma população, porém
não inc
A segunda questão relaciona-se à referência normativa Ynpi. Considero esta dimensão
Dp
vive. Por conseqüência, se considerarmos Ynpi fixo ao segmento OB, as propriedades do
índice de Gini são válidas para Dpi somente em relação à informação contida em Yobpi.
Por exemplo, caso ocorra uma diminuição das diferenças de renda em um grupo de
pessoas não considerado pelo vetor Yobpi, nada ocorrerá à estimativa Dpi – e, p
da para os outros axiomas; por exemplo, o princípio de Pigou
luído no vetor Yobpi e outro, mais pobre, incluído em Yobpi e localizado ao topo desta
repartição observada. Desse modo, apesar da transferência progressiva de renda nesta população,
provavelmente a desigualdade percebida pelo indivíduo i (Dpi) aumentaria. A invariância de
escala e os princípios do anonimato e da população continuariam válidos.
mais complexa que a anterior, já que todas as propriedades de i seriam espelhadas a partir do 59 Chamo por distribuição ou repartição de renda objetiva aquela de fato existente em uma população.
60
momento em que a curva Ynpi dominasse no sentido de Lorenz a curva Yobpi. Complexos também
seriam os casos de interceptação de curvas e a interpretação da área Dnpi. Observe o exemplo
hipotético a seguir.
Figura 2.3.2 – Quando as Curvas Yobp e Ynp se Cruzam: o Exemplo de um Observador
a distribuição observada Xob, os dois indivíduos mais pobres participam cada um com
apenas
Hipotético
Indivíduos Xp Yp Xop Yop
1 1 0,02 5 0,112 1 0,02 5 0,11
4 10 0,22 5 0,115 10 0,22 5 0,11
Total 45 1
3 7 0,16 5 0,11
6 16 0,36 20 0,44
Gini 0,73 0,74
Ap 0,01
45 1 0,4
0,6
0,8
1
mnd
a Ap
ropr
iada
nDp2
Xob Xn YnYob
A figura acima ilustra o caso onde as curvas Yobp e Ynp se interceptam, considerando a
avaliação da desigualdade a partir de um observador hipotético, em relação a uma população de 6
indivíduos. A tabela apresenta duas distribuições de renda, Xob (a distribuição observada pelo
indivíduo) e Xn (a distribuição normativa), e seus respectivos vetores de repartição, Yobp e Ynp.
Observam-se também os respectivos índices de Gini, 0.39 e 0.2860. Como interpretar estes
números?
00 0,2 0,4 0,6 0,8 1
0,2
Porcentagem da População
Porc
enta
ge d
a R
e
Yobp
Y p
Dp1Dp1 + Dp2
0.39 0.28
Desigualdade Percebida
N
2% da renda total da população, 45. A classe intermediária se apropria de 60% da renda e
60 Estes índices de Gini são idênticos às desigualdades normativa e observada multiplicadas por dois. Mantenho o valor dobrado por questão de conveniência de interpretação.
61
o mais rico participa com 36%. No entanto, como deveria ser esta repartição? De acordo com
Ynp, os mais pobres deveriam participar ao todo com 22%, a classe intermediária com 33% e o
mais rico, com 44%. Neste caso, a percepção da desigualdade seria estimada pelo somatório das
áreas Dp1 e Dp2.
Para a diminuição da desiguald ida, portanto, seriam necessárias tanto
cial, quando
as curvas . Da mesma
form nuição das
ceteris paribus
de Gini diminuirá para 0.37 e a parte superior da curva Yobp se deslocará em direção à linha de
perfeita
seria em relação ao princípio da translação (em termos de adições absolutas de renda).
O princípio do anonimato continuaria válido. Pode-se observar ainda que, embora as
proprie
ade perceb
transferências progressivas como regressivas. Por conseqüência, o princípio de Pigou-Dalton não
seria válido para as percepções de desigualdade em determinadas situações: em espe
Yobp e Ynp se cruzam ou quando Ynp domina no sentido de Lorenz Yobp
a não seria válido o princípio da decomposição. Por exemplo, suponha a dimi
diferenças de renda entre os dois indivíduos mais ricos da população,
(transferindo-se 3 unidades de renda do mais rico para o segundo mais rico). Neste caso, o índice
igualdade. Por outro lado, a percepção da desigualdade aumentará, já que a área Dp2 será
maior.
Ademais, neste caso, a desigualdade percebida seria neutra em relação às adições
proporcionais de renda (ao princípio da independência de escala) e ao princípio da população,
mas não o
dades do índice de Gini sejam válidas separadamente para a desigualdade normativa e
para a observada, outras não o seriam para a desigualdade percebida61.
62
ueles encontrados nos testes empíricos realizados pela 61 Apenas para fins de especulação, os resultados encontrados em relação às propriedades da percepção da desigualdade definida nesta seção estariam de acordo com aq
Com a finalidade de operacionalizar a análise empírica da hipótese central desta
dissertação, tendo países ou grupos sociais como unidade de análise, discuto na seqüência uma
forma de agregar a percepção individual de desigualdade. Para tanto, alguns pressupostos e
definições são necessários62.
ssim, defino para uma população: (i) uma área média de desigualdade observada Dobp
delimit
Desigualdade Percebida Média
Em primeiro lugar, defino o vetor de repartição de renda agregado Yobp como uma
combinação linear dos vetores individuais Yobpi, o mesmo ocorrendo com a definição do vetor
Ynp e os vetores Ynpi. Ou seja, estou supondo que existe, em nível agregado, uma repartição
observada média e uma referência de repartição normativa também em termos médios, para um
país cuja população é composta por i = 1, 2, ..., n indivíduos. Em segundo lugar, com o objetivo
de facilitar o exercício, supõe-se que, para todo i, as curvas Yobpi e Ynpi não se interceptam.
A
ada entre a curva Yobp e a linha de perfeita igualdade e; (ii) uma área média de
desigualdade normativa Dnp delimitada entre a curva Ynp e a linha de perfeita igualdade. Por fim,
(iii) a desigualdade percebida em uma determinada população seria uma média aritmética das
desigualdades percebidas individualmente, ou a diferença entre as áreas Dobp e Dnp. O exemplo
abaixo apresenta estas definições em um país hipotético com população igual a quatro indivíduos,
literatura descrita anteriormente (Amiel, 1999; Amiel e Cowell, 1999). Obviamente, comparar duas abordagens tão distintas não faria sentido sem um tratamento mais rigoroso do ponto de vista metodológico. 62 Reconheço a tratamento bastante simplificado de questões complexas como processos de cognição e justiça distributiva. Este novo ponto representa apenas um esforço de organização de idéias e conceitos que se afastam em muito da simplicidade analítica.
63
onde os indivíduos 1 e 2 possuem avaliações idênticas dos vetores de repartição observada e
normat
– Exemplo de um País Hipotético com população n = 4
Nas primeiras duas colunas estão os vetores de repartição observada e normativa dos
indivíduos 1 e 2 (notados por Yobp(1e2) e Ynp(1e2)), cujas desigualdades percebidas são idênticas e
iguais a 0.175. Nas colunas seguintes estão os mesmos vetores para os indivíduos 3 e 4 (notados
por Yobp(3e4) e Ynp(3e4)). Por final, observa-se que os vetores médios, Yobp e Ynp, para o país
hipotético representam uma combinação linear entre os vetores de repartição de renda observada
e normativa dos indivíduos 1, 2, 3 e 4. Não obstante, Dp poderia ser estimado tanto pela diferença
entre Dobp e Dnp, como pela média aritmética entre Dp(1 e 2) e Dp(3 e 4) (0.363 - 0.050 ou pela
média entre 0.175 e 0.450).
Este esquema simplificado concede pesos idênticos aos indivíduos de uma população na
iva, mas distintas daquelas avaliações dos indivíduos 3 e 4 que, por sua vez, compartilham
entre si as mesmas opiniões sobre as desigualdades observada e normativa.
Figura 2.3.3
Y ob p (1 e 2) Y n p (1 e 2) Dp (1 e 2) Y ob p (3 e 4) Y n p (3 e 4) Dp (3 e 4) Y ob p Y n p Dp15 0,20 0,10 0,25 0,125 0,225
0,15 0,20 0,10 0,25 0,125 0,225
0,275 0,100 0,175 0,450 0,000 0,450 0,363 0,050 0,313
AgregadoIndivíduos 3 e 4
0,
0,20 0,30 0,10 0,25 0,150 0,2750,50 0,30 0,70 0,25 0,600 0,275
D ob p (1 e 2) D n p (1 e 2) D ob p (3 e 4) D n p (3 e 4) D ob p D n p
Nota: As áreas estão multiplicadas por dois (e, portanto, diretamente comparáveis ao índice de Gini)
Indivíduos 1 e 2
conformação de uma desigualdade percebida média. Embora ad hoc, creio ser uma estrutura
64
analítica capaz de ilustrar a noção da percepção da desigualdade de renda em termos agregados e
ainda assegurar um viés intuitivo.
Conclusão: A interpretação e o sentido das relações
Em síntese, a interpretação sugerida por esta dissertação estrutura um sentido para a
em a
e
com
inadequação entre ambas.
e, estruturei conceitualmente a hipótese central desta dissertação, a
partir de uma analogia entre medidas técnicas de desigualdade e percepções individuais,
associa
definição da percepção da desigualdade através de um arcabouço simplificado, capaz de tornar as
investigação acerca das relações entre a desigualdade percebida, a observada e a normativa, tanto
nível individual quanto agregado: a desigualdade percebida varia positivamente com
diferença entre a desigualdade observada e a normativa. Esta interpretação, em suma, confer
base à hipótese central deste trabalho - a percepção da desigualdade de renda é influenciada pela
paração de duas categorias referenciais e pela estimação subjetiva da distância ou do grau de
2.4 Conclusão
Na seção 2.2 deste capítulo apresentei alguns dos métodos mais convencionais de
avaliação da desigualdade de renda desenvolvidos na literatura econômica e os interpretei
enquanto estimadores de uma distância ou inadequação entre uma referência positiva e outra
normativa. Na seção seguint
ndo a avaliação leiga da desigualdade de renda ao cálculo subjetivo do grau de
inadequação ou distância entre uma referência positiva e outra normativa. Disto se seguiu a
65
duas categorias avaliatórias analiticamente comparáveis em uma mesma dimensão, seja em nível
individual ou agregado.
Este capítulo representou um esforço de construir uma estrutura capaz de direcionar a
investigação de um tema complexo, como a percepção da desigualdade, em meio à ausência de
teorias econômicas adequadas para tanto. O próximo capítulo será dedicado à descrição empírica
das duas categorias referenciais (a desigualdade observada e a normativa) e à investigação da
hipótese desta dissertação, a qual relaciona a inadequação entre ambas à desigualdade percebida.
66
3 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa: Análise
3.1 Introdução
Este capítulo representa a contrapartida empírica das idéias discutidas ao longo desta
dissertação e tem como finalidade investigar a hipótese levantada na introdução do trabalho a
partir dos dados do ISSP (1999). Mais precisamente, pretende-se examinar em um plano empírico
se a percepção da desigualdade de renda em cada país é relacionada ao grau de inadequação ou
distância entre as duas categorias avaliatórias supostamente consideradas pelos seus cidadãos.
Como já mencionado, os resultados empíricos serão examinados intrapaíses, embora
algumas interpretações possam servir à compreensão das diferenças de percepção da
desigualdade inter países. Para o exame da relação entre as desigualdades percebida, observada e
normativa, levarei em conta tabulações e cruzamentos dos itens do questionário que servirão de
base à investigação empírica da hipótese.
Organizo este capítulo como se segue. Na seção, 3.2 apresento os padrões de desigualdade
observada entre países, fazendo o mesmo na seção 3.3, em relação à desigualdade normativa. Na
seção 3.4 avalio a correspondência entre estas duas dimensões e a desigualdade percebida, da
qual se segue uma seção conclusiva.
Empírica
67
3.2 Desigualdade Observada
Com base em um item do questionário da pesquisa do ISSP (1999), examino nesta seção
i es de desigualdade observada encontrados entre os países incluídos neste
trabalho e defino um indicador agregado para esta dimensão.
m
determ ado país. Para tanto, supõe-se que os entrevistados pela pesquisa sejam capazes de
acionar
dicador sintético.
mais fielmente o ordenamento social existente em seus
respectivos países. A figura abaixo apresenta estes diagramas e destaca com exatidão a pergunta
do questionário.
os d stintos padrõ
Ao analisar as respostas dos entrevistados ao item associado empiricamente à
desigualdade observada, será preciso destacar um pressuposto de que estas representam um olhar
sobre a realidade isento de juízos de valor. Ou seja, a desigualdade observada refere-se a uma
reflexão quantitativa a respeito das diferenças de renda que separam as pessoas em u
in
assertivas do tipo “em meu país existem poucos muito ricos e muitos muito pobres” ou
“em meu país existem muitas pessoas que se posicionam no meio do ordenamento e recebem a
mesma remuneração, alguns poucos mais ricos e outros poucos mais pobres”. Posto isso,
apresenta-se na seqüência o item do questionário do ISSP (1999) que associo à noção de
desigualdade observada e propõe-se um in
Desigualdade Observada em Números
Em uma das questões da pesquisa ISSP (1999) os entrevistados escolhiam entre 5
diagramas aquele que descrevesse
68
Figura 3.2.1 – Desigualdade em Diagramas
Percebe-se que a pergunta do questionário não está associada diretamente à repartição
objetiva de renda dos países – a palavra renda não é mencionada. Mesmo assim, supõe-se que a
escolha do diagrama esteja associada em grande parte ao nível de desigualdade de renda
observada no país que o respondente tem como referência.
Reconheço as limitações de tal suposição. De acordo com Sen (1999, p.132),
empiricamente, a relação entre desigualdade de renda e desigualdade em outros espaços de
avaliação pode ser muito distante e contingente devido às várias influências econômicas – além
da renda – que afetam a desigualdade de vantagens individuais e liberdades substantivas. Assim,
a suposição de que as pessoas correlacionam perfeitamente a desigualdade de renda à forma do
X X XX
X
X X
X X X XX X X X X X
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
X X X X X X X X X X X XX X X X X X X X X X X X X X
X X X X X X
1. Tipo A - Uma sociedade com uma pequena elite no
muitas na base
sociedade em forma de pirâmide, com uma pequena elite no topo, mais pessoas no meio e a maioria na base
3. Tipo C - Uma sociedade em forma de pirâmide, em eu apenas algumas pessoas estão na base
4. Tipo D - Uma
está no meio
5. Tipo E - Uma
estão perto do topo
Observe os desenho e leia as descrições. Os desenhos representam diferentes tipos de sociedade. Qual você acha que descreve melhor o seu país hoje?¨
XX
XX X X X X X X X X X X X X X
topo, poucas pessoas no meio e
2. Tipo B - Uma
X X X X X X X X X XX X X X X X X X X X X X X X X X
X X X X
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
X X
sociedade em que a maioria das pessoas
sociedade em que muitas pessoas
e apenas algumas estão perto da base
69
ordenamento social seria fort s e das perguntas da
pesquisa restringe a escolha de um indicador mais apropriado para a desigualdade observada.
Os diagramas representam sociedades com diferentes graus de desigualdade. Se válida a
suposição mencionada acima de que esta desigualdade esteja associada em grande parte à
repartição de renda, observa-se então que o grau de desigualdade de renda diminui entre o
diagrama A (o mais desigual) e o diagrama D. No diagrama A, existem poucos indivíduos
localizados no topo e muitos na base, enquanto que o diagrama D lembra uma distribuição
normal de probabilidades, com uma freqüência elevada de pessoas no meio e limitada nos
extremos. O diagrama E apresenta um grau semelhante de desigualdade ao C. Para facilitar a
análise, supõe-se então que os respondentes interpretam o diagrama E como o mais igualitário
dentre os 5.
o mais desigual, (i) pelo fato destes
serem apresentados ao entrevistado de modo ordenado e (ii) tendo em vista também o fato de que
existiri
e. No entanto, a disponibilidade dos dado
Acredito que se pode associar ao diagrama E um rótulo de “melhor” do que os demais. No
entanto, apesar destas limitações, creio ser possível interpretar os diagramas segundo uma
ordenação de graus de desigualdade, incluindo o E como
a uma ordenação clara de desigualdade entre os diagramas A e D. Seguindo esta
suposição, o diagrama E seria interpretado então como o menos desigual dentre todos.
Menciono também outra questão relacionada ao grau de dificuldade associado à
interpretação da pergunta do questionário. Não à toa, na maioria dos países, uma parcela não
70
desprezível dos entrevistados não soube ou não quis responder à questão. Dito isto, a próxima
tabela traz os resultados empíricos referentes à desigualdade observada63.
Tabela 3.2.1 – Qual o diagrama que melhor descreve o seu país hoje? (em % por país)
Observada Soube Escolher (6)
Australia 3,17 0,09 0,32 0,24 0,31 0,01 0,03Canadá 3,30 0,18 0,22 0,29 0,27 0,01 0,03
N. Zelândia 3,50 0,18 0,33 0,25 0,19 0,01 0,04
Austria 3,00 0,08 0,24 0,25 0,36 0,02 0,06
França 3,61 0,12 0,49 0,23 0,13 0,01 0,02Noruega 2,44 0,03 0,11 0,19 0,54 0,07 0,06
Suécia 3,09 0,10 0,24 0,27 0,33 0,01 0,05
Chile
Na tabela acima, a segunda coluna apresenta um indicador aproximado para a
Bulgária 4,59 0,65 0,21 0,04 0,02 0,01 0,07
Eslovênia 3,51 0,28 0,24 0,17 0,22 0,05 0,05
Letônia 4,52 0,66 0,23 0,05 0,04 0,01 0,02Polônia 4,22 0,49 0,16 0,08 0,07 0,03 0,17
Russia 4,51 0,59 0,18 0,05 0,03 0,01 0,13
Fonte de dados: ISSP (1999)
desigualdade observada, construído a partir de uma ordenação dos digramas de 1 a 5, sendo 1 o
diagram
a E, supostamente o menos desigual, 2 o diagrama D, e assim por diante, até a associação
do número 5 ao diagrama A, o mais desigual. Tomou-se então a média das respostas por país, não
63 Inglaterra e Irlanda do Norte não estão incorporadas à análise, pois não incluíam em seus questionários o item em evidência.
Países Desigualdade Tipo A (5) Tipo B (4) Tipo C (3) Tipo D (2) Tipo E (1) Sem Resposta ou Não
EUA 3,32 0,15 0,29 0,17 0,25 0,03 0,12
Alemanha 3,23 0,10 0,26 0,25 0,24 0,02 0,12
Espanha 3,21 0,07 0,33 0,24 0,22 0,03 0,13
Portugal 3,59 0,17 0,47 0,19 0,11 0,05 0,00
Brasil 4,02 0,32 0,36 0,05 0,05 0,05 0,173,96 0,27 0,46 0,11 0,07 0,02 0,07
ilipinas 3,36 0,25 0,29 0,11 0,20 0,12 0,03rael 3,52 0,21 0,33 0,23 0,19 0,02 0,02
Japão 3,03 0,06 0,29 0,20 0,32 0,03 0,10
Eslováquia 4,29 0,51 0,32 0,07 0,05 0,02 0,03
Hungria 4,41 0,57 0,24 0,05 0,04 0,02 0,07
Rep. Tcheca 3,81 0,30 0,35 0,18 0,12 0,02 0,03
Nota: A soma das porcentagens (1)+(2)+(3)+(4)+(5)+(6) = 100%
FIs
71
incluindo os entrevistados que não souberam ou não quiseram responder. Uma média próxima a 5
corresponde, portanto, a uma desigualdade observada elevada.
A s
com
s
Filip
dema
estes
resultados em
or de
desigualdade observada ao índice de Gini.
partir dos dados, pode-se verificar grande parcela dos noruegueses (54%), sueco
(33%), japoneses (32%) e austríacos (36%) escolheram o diagrama D, o que estaria de acordo
sociedades de fato mais igualitárias, segundo o índice de Gini. Por outro lado, no entanto,
em alguns dos países mais desiguais, esta estimativa não se mostrou elevada. Nos EUA, 25% dos
entrevistados escolheram o diagrama D; na Nova Zelândia este número chegou a 19%, na
inas, 20%, no Chile, 7% e no Brasil, 5%. França e Portugal continuaram se destacando dos
is países do grupo onde estão incluídos, mostrando níveis mais altos de desigualdade
observada, assim como os países do Leste Europeu. Chamo atenção para o fato de que
apontam uma correlação positiva entre a desigualdade que as pessoas observam
seus países e a severidade pela qual avaliam as diferenças de renda.
Ilustração: a relação entre a desigualdade observada e o índice de Gini
Apenas como ilustração, o gráfico de dispersão abaixo compara o indicad
72
Gráfico 3.2.1 – Desigualdade Observada e Índice de Gini
observada e o índice de Gini. No entanto, percebe-se que os entrevistados dos países do Leste
3,0
3,5
Nota: Incluindo os países do Leste Europeu
O gráfico indica uma correlação positiva, mas fraca entre o grau de desigualdade
Europeu apresentaram níveis elevados de desigualdade observada. Na Eslováquia, Hungria,
Letônia e Bulgária, por exemplo, mais de 50% das pessoas escolheram o diagrama A (no gráfico
de dispersão acima, encontram-se todos acima da linha de tendência). A interpretação de tal fato
pode estar vinculada à história recente desses países. Por décadas, estas sociedades
permaneceram homogêneas no que tange ao padrão de consumo e de vida. Uma transição de
modelo sócio-econômico em pleno curso possivelmente traz impactos sobre a imagem que as
pessoas têm de seus próprios países64.
64 Uma interpretação a partir do arcabouço estruturado no capítulo anterior pode indicar um possível argumento para a alta desigualdade observada nestes países. Em sociedades homogêneas do ponto de vista de padrões de consumo e de vida, pode-se supor que as diferenças sociais que existem são mais facilmente identificadas na população. Assim, as poucas pessoas que apresentam um padrão de vida relativamente mais alto apresentariam uma probabilidade maior de serem incorporadas aos vetores individuais de repartição de renda observada, elevando então o grau médio da desigualdade observada no país.
y = 0,0134x + 3,1739R2 = 0,06R = 0,24
4,0
4,5
5,0
10 20 30 40 50 60
Índice de Gini
Desigualdade Observada
Fonte de Dados: Banco Mundial (2000) e ISSP (1999)
73
Afastando-me d aíses do Leste
ervada ao índice de
Gini, a partir do gráfic
2
a regressão simples em 0.17). Embora se admita que as
análises e interpretações acima devam ser cautelosas e respeitar as restrições empíricas, estes
resultados parecem indicar que a relação entre a desigualdade observada e a desigualdade medida
pelo índice de Gini é mais forte do que entre a percebida (ou avaliada subjetivamente) e este
índice.
e uma interpretação mais específica para o caso dos p
Europeu, os exclui da amostra e relacionei o indicador de desigualdade obs
o de dispersão abaixo.
Gráfico 3.2.2 – Desigualdade Observada e Índice de Gini (excluindo os países do Leste
Europeu)
y = 0,0285x + 2,3047R2 = 0,6602R = 0,81
4,0
4,5Desigualdade Observada
Verifica-se que existe uma correlação forte entre as duas dimensões (0.81, R de 0.66),
superior àquela encontrada entre o indicador de desigualdade percebida e o índice de Gini
(quando excluídos os países do Leste Europeu, Inglaterra e Irlanda do Norte, a correlação entre as
duas variáveis fica em 0.41, e o R2 d
2,0
2,5
3,0
Fonte de Dados: Banco Mundial (2000) e ISSP (1999)
3,5
20 25 30 35 40 45 50 55 60
Índice de Gini
Nota: Excluindo países do Leste Europeu
Noruega
74
Em outro exercício, os países foram ordenados conforme suas posições no ranking da
desigualdade observada. Cada país recebeu um número relativo a sua posição neste ranking: 1, 2,
3,...,16 – excluindo os países do Leste Europeu. Por outro lado, da mesma forma, os mesmos
países foram ordenados segundo os valores de seus respectivos índices de Gini. Estas duas
ordenaçõ
16x16). Os mesmo passos foram adotados e dicador de percepção da desigualdade,
a visualização do desvio do país
em term a diagonal que representa o
lócus de perfeita orde resentam os
resultados.
es foram expostas conjuntamente em um gráfico de dispersão (uma caixa de dimensão
m relação ao in
gerando então outro gráfico. Este tipo de exercício permite um
os de desigualdade percebida ou observada, a partir de um
nação entre estas e o índice de Gini. Os gráficos abaixo ap
75
Gráfico 3.2.2 – Desigualdade Percebida, Observada e o Índice de Gini
Pode-se verificar que, no primeiro gráfico, os desvios em relação à diagonal são maiores
do que aqueles encontrados no segundo gráfico. Isso indicaria a maior adequação do grau da
desigualdade observada em relação ao índice de Gini, quando comparada àquela entre este índice
e o indicador de percepção da desigualdade (excluídos os países do Leste Europeu).
1
3
4
6
8
10
11
12
13
15
Austria
Japão
Suecia
Noruega
Canada
França
Australia
Brasil
Chile
Israel
Portugal
Filipinas
Ranking: Desigualdade Percebida
2
5
7
9
14
16
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Alemanha
Espanha EUA
Nova Zelândia
Ranking: Índice de Gini
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
BrasilChile
Austria
Japão
Suecia
Noruega
Alemanha
Canada
Espanha
França
Australia
Israel
Portugal
EUA
Nova Zelândia
Filipinas
Ranking: Índice de Gini
Ranking: Desigualdade Observada
76
Em síntes ção. Em
a
o
m
3.3
tiva,
r
individ al da desigualdade está associada a uma reflexão valorativa das pessoas a respeito do
grau d
desigualdade
e, pode-se chegar a algumas conclusões a partir dos resultados desta se
primeiro lugar, há entre os países do Leste Europeu um nível de desigualdade observada elevado,
quando comparado aos seus respectivos índices de Gini. Os entrevistados desses países parecem
ter uma imagem de suas sociedades enquanto ordenamentos sociais relativamente desiguais. Por
outro lado, os demais países apresentaram uma adequação maior entre a desigualdade observad
e o índice de Gini, embora existam desvios entre os dois rankings65 - de acordo com o últim
gráfico, os entrevistados da Noruega, EUA, Nova Zelândia, Austrália e Filipinas observam
enos desigualdade do que deveriam; do outro lado, o maior desvio ficou por conta dos
franceses.
Desigualdade Normativa
Apresento empiricamente nesta seção os distintos padrões de desigualdade norma
encontrados entre os países participantes da pesquisa do ISSP (1999), e defino um indicado
aproximado para esta categoria.
Como já discutido em outras seções desta dissertação, a dimensão normativa da percepção
u
e desigualdade de renda considerado como o apropriado. Neste caso, supõe-se que os
entrevistados da pesquisa do ISSP (1999) sejam capazes de refletir e que tenham uma opinião
formada sobre o modo como a sociedade deveria ser ordenada em termos de repartição da renda.
Posto isso, apresento na seqüência dois itens da pesquisa que associo à noção da
65 Segue Anexo 3.2 um diagrama de ranking entre o índice de Gini e o indicador de desigualdade observada que inclui todos os países participantes da pesquisa.
no
77
normat
s questões da pesquisa ISSP (1999) os entrevistados escolhiam dentre os mesmos 5
diagram s aquele que descrevesse o ordenamento social que deveria existir em seus respectivos
países66. Deve-se destacar que as restrições metodológicas e os pressupostos descritos na seção
anterior são válidos também na presente seção. A pergunta exata do questionário e os resultados
seguem na tabela abaixo.
iva – o primeiro é uma contrapartida normativa ao item utilizado para a análise empírica
da desigualdade observada; o segundo é complementar (destaca ocupações profissionais
selecionadas, distintas em termos de status social e pergunta ao entrevistado qual deveria ser a
remuneração correspondente a cada uma).
Desigualdade Normativa: Diagramas
De maneira análoga ao item utilizado para a análise empírica da desigualdade observada,
em uma da
a
66 Ver figura 3.2.1.
78
Tabela 3.3.1 – Diagramas: Como você acha que o seu país deveria ser? Qual deles o sr(a)
preferiria?
Na segunda coluna, uma proxy de desigualdade normativa foi construída de modo
análogo ao indicador da desigualdade observada na seção anterior - uma média próxima a 5
corresponde a uma desigualdade normativa elevada.
PaísesNormativa
Tipo A (5) TipoDesigualdade B (4) Tipo C (3) Tipo D (2) Tipo E (1) Sem Resposta ou Não Soube Escolher (6)
stralia 2,04 0,01 0,06 0,13 0,54 0,24 0,03Canadá 1,89 0,02 0,05 0,08 0,48 0,33 0,04
0,14 0,40 0,22 0,140,13 0,58 0,20 0,04
emanha 2,18 0,01 0,08 0,12 0,51 0,14 0,14Austria 2,12 0,00 0,07 0,16 0,51 0,19 0,07
França 2,20 0,00 0,08 0,22 0,44 0,21 0,04
Suécia 1,90 0,01 0,04 0,11 0,44 0,31 0,09
Filipinas 2,55 0,08 0,17 0,13 0,38 0,20 0,04
0,00 0,02 0,08 0,56 0,26 0,08Eslováquia 2,00 0,01 0,06 0,18 0,40 0,32 0,04
lovênia 2,11 0,01 0,06 0,14 0,53 0,19 0,06ngria 1,94 0,01 0,05 0,12 0,41 0,30 0,11
Letônia 1,87 0,00 0,02 0,10 0,58 0,28 0,02Polônia 2,15 0,02 0,08 0,09 0,42 0,20 0,19Rep. Tcheca 2,10 0,01 0,06 0,19 0,49 0,23 0,03Russia 1,98 0,01 0,04 0,11 0,46 0,23 0,16
Fonte de dados: ISSP (1999)Nota: A soma das porcentagens (1)+(2)+(3)+(4)+(5)+(6) = 100%
Au
EUA 2,16 0,02 0,08N. Zelândia 2,06 0,01 0,05
Al
Espanha 2,01 0,01 0,06 0,11 0,42 0,25 0,15
Noruega 1,85 0,01 0,03 0,07 0,53 0,29 0,08Portugal 2,16 0,03 0,07 0,16 0,49 0,24 0,00
Brasil 2,12 0,03 0,07 0,08 0,45 0,20 0,17Chile 2,04 0,02 0,06 0,14 0,45 0,26 0,08
Israel 1,98 0,02 0,06 0,12 0,49 0,30 0,03Japão 2,32 0,01 0,12 0,14 0,45 0,14 0,14
Bulgária 1,85
EsHu
79
Os resultados acima sugerem que, em média, existe uma preferência pela igualdade,
menos, segindependentemente do país em questão – ao undo a ordenação dos diagramas, a maior
es.
nado
s D e E,
me trevistados
continuam
e de
exam sigualdade
norm o que
cham
esigualdade Naturalizada
io, era apresentada ao entrevistado para que
este indicasse a remuneração que deveria
parcela dos entrevistados escolheu o diagrama D como aquele que deveria existir em seus país
Acredito que no caso normativo, exista um problema distinto de interpretação relacio
à escolha do melhor diagrama. Para este caso, em relação à interpretação dos diagrama
poderia existir um trade-off de escolha entre um ordenamento social menos desigual e outro
lhor, porém mais desigual. Deve-se destacar um pressuposto, portanto, de que os en
interpretando o diagrama E como o menos desigual dentre os 5.
Verificou-se uma fraca correlação positiva entre a desigualdade normativa e o índic
Gini (0.21 incluindo os países do Leste Europeu e 0.15, os excluindo). Em uma tentativa de
inar a partir de um ângulo alternativo esta relação e a própria questão da de
ativa, apresenta-se na seqüência outro item da pesquisa ISSP (1999) associado ao term
arei de desigualdade naturalizada67.
D
Utilizarei uma questão do questionário do ISSP (1999) onde uma lista de ocupações
profissionais, com diferentes níveis de status e prestíg
80
ser associada a cada uma delas. Além de ser
diretamente conectada à dimensão renda, destaca-se outra característica relevante deste item do
67 Scalon (2004) e Cabral (2004) associam este item ao termo “tolerância à desigualdade”. Souza (2004) trata especificamente do tema da naturalização das desigualdades no Brasil e será mencionado à frente.
questio
nário: a pergunta não é induzida. A próxima tabela inclui, para cada país, as diferenças
entre as médias salariais de cada ocupação, tomando como base a ocupação apontada como a que
deveria receber a menor remuneração68.
Tabela 3.3.2 – Quanto deveriam ganhar as pessoas com as seguintes profissões?
(Diferenças entre as médias salariais, tomando como norma a média mais baixa)
PaísesDesigualdade Naturalizada
Oper. nao Qualificado
Balconista de Loja uma Empresa uma Grande
Operario Qualificado Medico Advogado Juiz (STF) Ministro
Australia 5,6 1,00 1,07 5,46 3,89 1,39 3,52
Presidente de
Nacional
Diretor de
Empresa
3,68 5,21 3,52Canadá 7,2 1,00 1,11 7,27 6,19 1,40 4,03 3,17 4,12 2,63EUA 7,6 1,00 1,03 6,22 4,55 1,47 4,34 3,84 4,23 3,34N. Zelândi 6,2 1,00 1,05 5,76 4,42 1,36 3,66 3,68 5,17 3,74Média 6,7 1,00 1,06 6,18 4,76 1,41 3,89 3,59 4,68 3,31
AlemanhaAustria 7,5 1,00 1,09 5,50 7,28 1,34 3,81 4,18 3,85 4,44
FrançaNoruega 2,7 1,00 1,04 2,11 2,57 1,22 2,05 2,12 2,34 1,90
Suécia 3,0 1,00 1,01 2,97 3,14 1,17 1,92 2,27 2,62 2,31
Brasil 18,1 1,40 1,00 11,16 7,82 1,94 5,64 5,79 9,24 8,112 24,76 1,00 4,17 5,10 7,55 7,379 16,29 1,47 4,91 5,44 8,39 7,74
Israel 8,7 1,00 1,25 4,57 7,89 1,32 2,37 3,74 5,57 3,67Filipinas 51,5 1,00 1,20 15,25 39,0 1,19 3,62 5,53 8,39 7,20Japão 10,15 - 1,65 4,75 4,65 5,44 7,30Média 9,99 23,44 1,39 3,58 4,64 6,46 6,06
Bulgária 6,6 1,00 1,15 3,46 6,44 1,71 2,65 3,51 4,11 4,05Eslováqui 3,4 1,00 1,21 2,84 3,17 1,59 2,27 2,66 2,99 2,76Eslovênia 8,2 1,00 1,24 5,98 7,86 1,32 2,90 3,55 4,90 4,35HungriaLetônia 15,7 1,00 1,15 9,43 12,41 1,72 2,01 3,98 5,37 4,82
Russia 15,3 1,00 1,26 13,48 8,31 2,23 2,30 4,10 8,32 8,78
* Aparentemente os dados chilenos parecem estar errados, pois a remuneração de operários não qualificados é
a
6,9 1,00 1,13 6,12 6,51 1,41 3,42 3,59 4,34 4,16
Espanha 2,8 1,00 1,01 2,42 2,52 1,18 1,68 1,90 2,41 2,4810,2 1,00 1,10 9,09 8,59 1,28 3,23 3,95 3,61 4,44
Portugal 6,9 1,00 1,17 6,06 4,46 1,41 3,47 4,19 5,82 5,38
Média 5,7 1,00 1,08 4,90 5,01 1,29 2,80 3,17 3,57 3,59
Chile* 35,0 4,05 2,79 15,4Média 26,5 13,2
12,2 1,00 1,2524,1 1,00 1,24
a
10,3 1,00 1,13 7,40 9,52 1,32 2,54 4,09 5,08 4,94
Polônia 22,9 1,00 1,10 7,93 20,13 1,47 2,67 5,17 8,70 7,19Rep. Tcheca 12,3 1,00 1,25 6,69 11,40 1,55 2,68 4,21 6,96 5,58
Média 11,8 1,00 1,19 7,15 9,90 1,61 2,50 3,91 5,80 5,31
Fonte de Dados: ISSP (1999)
superior àquela dos qualificados
68 Este método é utilizado por Scalon (2004), para um conjunto menor de países. Uma diferença em relação à autora reside no fato de que as médias mencionadas acima e incluídas na próxima tabela foram estimadas considerando apenas os entrevistados que responderam a todas as profissões.
81
Inicialmente, verificam-se, entre os países mais igualitários, níveis baixos de desigualdade
naturalizada. Entre os respondentes noruegueses, em média, a profissão que deveria receber os
maiores salários (os(as) diretores(as) de grandes empresas) deveria ganhar, em média, apenas
2.57 vezes m não
qualificado( o(a)
presidente de uma grande empresa deveria ganhar, em média 11.2 vezes mais do que um(a)
ais do que os profissionais com a menor remuneração (operário(a) de fábrica
a)). Nas Filipinas esta amplitude chega a quase 40 vezes. Para os brasileiros,
balconista de loja69.
Na primeira coluna da tabela propôs-se o seguinte indicador. Para cada país,
selecionaram-se as duas ocupações profissionais cujas médias salariais fossem a maior e a menor
dentre todas. Assim, calculou-se, para cada entrevistado, em cada país, a razão entre os salários
destas duas profissões. Por final, tomou-se a média das razões por país, permitindo uma
ordenação de níveis de desigualdade naturalizada.
Por exemplo, no caso norueguês, a razão média entre os salários de operários não
qualificados e diretores de grandes empresas deveria ser de 2.7. Nas Filipinas, este número chega
a 51.5 e no Chile, 35 vezes70. Pode-se analisar este indicador de desigualdade naturalizada em
três grupos de países: (i) países com índices de Gini até 0.30; (ii) de 0.30 até 0.40 e; com índices
de Gini iguais a 0.40, em diante. Percebe-se então que a média dos indicadores por grupo de
69 Provavelmente haveria diferenças de prestígio e status entre as ocupações profissionais de cada país. Os resultados acima dependem em parte da tradução dos questionários, o que não permitiria a comparação fiel das categorias profissionais entre países. Chamo atenção também de que foram encontradas grandes variâncias em cada caso - em geral, em países mais desiguais, as profissões com maiores remunerações tenderam a apresentar variâncias ainda
ltados semelhantes.
mais elevadas. 70 Considero os resultados estranhos para o caso chileno, pelo fato de que a menor remuneração média estar associada aos operários qualificados. Scalon (2004) encontra resu
82
países aumenta com o grau de desigualdade objetiva de renda: respectivamente, 7.0, 10.0 e 22.3.
Excluin
que a desigualdade de rendas naturalizada se
correla ona positivamente àquela objetiva. Além de Polônia e Letônia, os maiores valores para
este in
A inclusão do item do questionário ISSP (1999) referente às remunerações deixa clara a
ento ao A, B ou C, por
do os países do Leste Europeu, esses números passam a 6.5, 6.9 e 22.3. O gráfico de
dispersão abaixo relaciona este indicador ao índice de Gini.
Gráfico 3.3.1 – A Desigualdade Naturalizada e o Índice de Gini
Filipinas
Em síntese, os resultados parecem indicar
10
20
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Índice de Gini
y = 0,6186x - 9,2819R2 = 0,33 R = 0,6
0
30
40
50
60 Desigualdade Naturalizada
Fonte de Dados: Banco Mundial (2000) e ISSP (1999)
Chile
BrasilRussia
ci
dicador ficaram com Brasil, Chile, Rússia e Filipinas. A exclusão dos países do Leste
Europeu não alterou o resultado do exercício de modo substancial.
Desigualdade Normativa: Preferências, Naturalização, Aceitação, Tolerância, Justiça
complexidade da dimensão normativa da avaliação da desigualdade. Observou-se empiricamente
que, apesar de existir uma aparente preferência pela igualdade (revelada quando os entrevistados
escolhem o diagrama D como o preferível para seus países, em detrim
83
exemplo), em certos países, as amplitudes normativas de renda se mostraram elevadas – por isso
o termo “desigualdade naturalizada”.
Estes fatos levantam uma questão sobre o que estaria por trás da desigualdade normativa:
preferências, concep
de renda? Não pretendo abordar esta discussão complexa no presente trabalho; com a finalidade
de simplificar as inte sobre escolhas de
diagramas como e este reflita com maior
consistência as op nto social apropriado ou
normativo71.
Em síntese, íses participantes da
pesquisa do ISSP (1999), em média, uma preferência pela igualdade. Na próxima seção, o
cruzam
ções de justiça ou a naturalização, a aceitação cultural de elevadas diferenças
rpretações e avaliações empíricas, priorizarei o item
o representante da desigualdade normativa. Acredito qu
iniões dos entrevistados em relação ao ordename
conclui-se nesta seção que parece existir entre os pa
ento dos itens descritos ao longo deste trabalho permitirá um exame intrapaíses da relação
entre a percepção da desigualdade e o grau de inadequação ou distância entre a desigualdade
observada e a normativa.
71 Como mencionado, não tratarei das causas da desigualdade normativa ou apropriada nesta dissertação. Acredito que a no o de repartição de renda normativa considerada aqui seja capaz de acomodar a concepção da desigualdade enquantoo procesdesigual e que priorize os indivíduos mais esforçados ou competentes ou, ainda, que acumulam uma alta carga de
constante no tempo possa influenciar diretamente a fronteira normativamente apropriada da repartição de renda:
cautela – tolerância pode trazer um sentimento de resignação, por exemplo. Assim, uma pessoa que tolera as
jáçã um conceito multidimensional. Por exemplo, uma pessoa que valoriza a igualdade de condições e percebe so gerador da repartição de renda em seu país como justo pode achar apropriado uma repartição de renda
responsabilidade no trabalho. Acredito também que a naturalização de uma desigualdade de renda crônica e
nesses termos, as “diferenças muito grandes de renda” poderiam ser relativizadas – o que são diferenças de renda grandes na Noruega talvez não o seja no Brasil, por exemplo. A tolerância é outro termo que deve ser tratado com
diferenças de renda talvez possa avaliá-las severamente.
84
3.4 Desigualdade Percebida, Observada e Normativa
Neste capítulo, concentro-me em investigar a hipótese levantada na introdução deste
trabalho. Mais precisamente, pretende-se examinar em um plano empírico se a percepção da
desigualdade de renda é relacionada ao grau de inadequação ou distância entre as duas categorias
referenciais, como definidas, a desigualdade observada e a normativa – por questão de
nomenclatura, associarei a esta distância o termo “grau de inadequação distributiva”. Para tanto,
analisarei conjuntamente as respostas dos itens descritos nas duas seções anteriores, tendo em
vista as variações de percepção de desigualdade intrapaíses72.
Cruzando percepções
Em um exercício preliminar, em nível de agregação elevado, propôs-se o seguinte
exercício: fixou-se o grau de desigualdade observada e verificou-se a relação entre a desigualdade
percebida e a normativa; por outro lado, fixou-se o grau de desigualdade normativa e examinou-
se a relação entre a desigualdade percebida e a observada. Os resultados seguem abaixo
utilizando a média para o indicador de percepção de desigualdade em cada caso e em cada país.
72 Para informações complementares sobre os resultados que serão apresentados ao longo desta seção, ver Anexo 3.4.
85
Tabela 3.4.1 – Comparação dos níveis de desigualdade percebida entre quatro grupos de
entrevistados
e
entrevistados. Para analisar estes resultados, em meiro lugar, apenas as pessoas que
escolheram os diagramas A, B e C como representantes da sociedade em que vivem foram
selecionadas. Ou seja, fixou-se o nível da desigualdade observada em um patamar elevado.
Assim, pôde-se analisar as diferenças entre os indicadores médios da desigualdade percebida
entre dois grupos de entrevistados, (i) aqueles mais igualitários (os que escolheram os diagramas
D e E como representantes de uma sociedade preferida) e (ii) os menos igualitários (os que
Como se pode verificar, em cada país a amostra foi dividida em quatro grupos d
áquia 4,76 4,67 4,69 4,52 -0,02 -0,04 -0,01 -0,03
Hungria 4,71 3,90 4,60 4,45 -0,17 -0,03 -0,02 0,14Letônia 4,42 4,25 4,56 4,18 -0,04 -0,08 0,03 -0,02
Rep. Tcheca 4,19 4,04 4,53 4,23 -0,03 -0,07 0,08 0,05Russia 4,70 4,46 4,77 4,35 -0,05 -0,09 0,01 -0,03
Desigualdade
(A, B e C) (1)
Desigualdade
(D e E) (2)
Desigualdade
(A, B e C) (3)
Desigualdade
(D e E) (4)
Canadá 3,64 4,43 4,20 3,35 0,22 -0,20 0,15 -0,24
N. Zelândia 3,87 3,43 4,16 3,52 -0,11 -0,15 0,08 0,03
Espanha 3,91 4,24 4,38 4,10 0,08 -0,06 0,12 -0,03
Noruega 3,63 4,25 4,31
Observada Alta Observada Baixa Observada Alta Observada Baixa (2)/(1) (4)/(3) (3)/(1) (4)/(2)
Australia 3,84 3,25 4,02 3,52 -0,15 -0,12 0,05 0,08
EUA 3,54 3,50 4,07 3,47 -0,01 -0,15 0,15 -0,01
Alemanha 3,83 3,92 4,14 3,54 0,02 -0,14 0,08 -0,10Austria 4,12 4,54 4,40 4,18 0,10 -0,05 0,07 -0,08
França 4,15 3,69 4,65 4,19 -0,11 -0,10 0,12 0,130,17 -0,16 0,19 -0,15
4 0,01 0,00 0,02 0,01Suécia 3,66 3,71 4,33 3,44 0,01 -0,21 0,19 -0,07
Brasi 4,67 4,69 4,84 4,64 0,00 -0,04 0,04 -0,01Chile 4,32 4,14 4,33 4,25 -0,04 -0,02 0,00 0,03
Filipin 3,44 3,77 3,71 -0,06 -0,02 0,03 0,08Israel 4,35 4,53 4,44 4,18 0,04 -0,06 0,02 -0,08Japão 3,99 3,97 4,34 3,48 0,00 -0,20 0,09 -0,12
Bulgária 4,47 5,00 4,78 4,64 0,12 -0,03 0,07 -0,07EslovEslovenia 4,69 4,60 4,48 4,19 -0,02 -0,06 -0,04 -0,09
Polônia 4,41 4,13 4,36 4,09 -0,07 -0,06 -0,01 -0,01
Fonte de Dados: ISSP (1999)
Diagramas A, B e C Diagramas D e E Normativa Observada
3,63Portugal 4,68 4,71 4,78 ,77
Fixando a Fixando a Desigualdade Normativa Alta Desigualdade Normativa Baixa
l
as 3,65
pri
86
escolher
média, a desigualdade percebida é maio mente, os países do
Leste Europeu despontaram como exceções. Os resultados estão na coluna (3)/(1).
m
No
dia,
ior
-
pode-se supor que a curva normativa domina a observada e, por isso, a desigualdade percebida é
mais alta neste grupo de pessoas do que entre os mais igualitários, onde o ordenamento
observado e o normativo estão adequados entre si .
am os diagramas A, B e C). Como resultado, verificou-se que, na maioria dos países, em
r entre os mais igualitários. Nova
Em uma segunda etapa, os entrevistados com baixa desigualdade normativa, os mais
igualitários, foram selecionados - coluna (4)/(3). Verifica-se que, na quase totalidade dos países,
aqueles que observam mais a desigualdade apresentaram indicadores de desigualdade percebida
ais elevados – a única exceção foi Portugal.
Nas colunas (2)/(1) e (4)/(2), inexiste um padrão de respostas facilmente interpretável.
primeiro caso, quando fixada a desigualdade normativa em um nível alto, ou seja, quando apenas
os entrevistados menos igualitários foram selecionados, verificou-se o seguinte: em mé
aqueles que observam mais a desigualdade nem sempre são os que a percebem com ma
intensidade. No segundo caso, quando fixada a desigualdade observada em nível baixo, o que se
verifica são, em média, avaliações mais severas daqueles entrevistados menos igualitários. Pode
se interpretar este resultado a partir do arcabouço desenvolvido no capítulo anterior. Neste caso,
73
73 A representatividade amostral dos menos igualitários que observam pouca desigualdade é limitada (coluna (2)). Como ilustração complementar, o Anexo 3.4 apresenta uma regressão por mínimos quadrados ordinários cuja
desigualdade observada e a normativa. Como variáveis de controle, utilizam-se algumas características dos
variável dependente é o item sobre percepção da desigualdade e as variáveis independentes são os itens sobre a
entrevistados – gênero, educação, posição política, religiosidade, renda (para alguns países) e emprego.
87
A Avaliação da desigualdade enquanto uma distância entre duas referências
A partir deste ponto, examino em maiores detalhes a questão central deste trabalho, a
relação
ido como a sociedade ideal ou normativa. Ou seja,
ao entrevistado que escolheu o diagrama A (número 5, o mais desigual dos diagramas) como o
indicat
entre a desigualdade percebida e o grau de inadequação distributiva. Para tanto, criou-se
um novo indicador da seguinte forma. Para cada entrevistado da amostra, tomou-se o módulo da
diferença entre o número associado ao diagrama escolhido como representante da sociedade
observada e o número associado àquele escolh
ivo do grau de desigualdade observada e o D (número 2, o segundo menos desigual
daqueles) como o indicativo da desigualdade normativa, associa-se o número 3 (5 – 2 = 3).
Assim, quanto maior esta diferença, maior ou grau de inadequação distributiva. A tabela abaixo
sintetiza o cruzamento entre o indicador de percepção de desigualdade e as cinco possíveis
categorias relacionadas a este indicador (categorias de 0 a 4).
88
Tabela 3.4.2 – Valores médios para o indicador de desigualdade percebida por categorias
Antes de descrever os resultados, apresento na seqüência um gráfico construído a partir do
mesmo exercício, mas que agrupa os diagramas D e E em uma única categoria, associada ao
número 2. Dessa forma, passam a existir apenas 4 possíveis categorias relacionadas ao indicador
de inadequação distributiva (categorias de 0 a 3, já que os números associados aos diagramas
variam de 5 a 2)74.
de inadequação distributiva
74 Acredito que este agrupamento possa minimizar eventuais problemas relacionados à escolha dos diagramas D e E – particularmente tendo em vista a dimensão normativa do problema.
Países 0 1 2 3 4
Canada 3,29 3,58 3,92 4,34 4,20
N. Zelândia 3,44 3,73 3,99 4,22 4,36
Austria 4,08 4,25 4,32 4,53 4,71
Noruega 3,50 3,87 4,31 4,09 4,14
Suecia 3,34 3,73 4,09 4,43 4,68
Chile 4,23 4,27 4,26 4,37 4,45
Israel 4,18 4,29 4,38 4,46 4,74
Bulgária 4,48 4,80 4,79 4,78 4,81
Hungria 4,44 4,49 4,55 4,59 4,644,60 4,54
Polônia 4,22 4,15 4,30 4,36 4,38Rep. Tcheca 4,09 4,29 4,42 4,52 4,75Russia 4,57 4,58 4,74 4,77 4,77Fonte de dados: ISSP (1999)
Grau de Inadequação ou distância entre a Desigualdade Observada e
Australia 3,48 3,73 3,90 4,13 4,15
EUA 3,30 3,69 3,95 4,18 4,09
Alemanha 3,46 3,78 4,01 4,28 4,44
Espanha 3,95 4,17 4,25 4,37 4,68França 3,92 4,27 4,57 4,66 4,85
Portugal 4,69 4,71 4,74 4,86 4,73
Brasil 4,63 4,74 4,80 4,82 4,85
Filipinas 3,68 3,62 3,71 3,73 3,75
Japão 3,41 3,83 4,18 4,29 4,33
Eslováquia 4,81 4,52 4,62 4,69 4,77Eslovênia 4,14 4,27 4,45 4,50 4,50
Letônia 4,06 4,30 4,43
a Normativa (em diagramas)
89
Gráfico 3.4.1 - Valores médios para a desigualdade percebida por graus de inadequação
distributiva (categorias de 0 a 3)
positiva entre a
desigualdade percebid
afirmar que, em nte a desigualdade
são aqueles que percebem um grau mais elevado de inadequação entre a imagem que eles têm da
socieda
ervada e a normativa)76, fenômeno este sendo mais patente entre os
A tabela e o gráfico anteriores indicam a existência de uma relação
a e o grau de inadequação distributiva: para quase todos os países, pode-se
termos médios, os entrevistados que avaliam mais severame
Ale
man
ha
Aus
tria
Esp
anha
Fran
ça
Nor
uega
Por
tuga
l
Sue
cia
Bra
sil
Chi
le
Filip
inas
Isra
el
Japã
o
Bul
gária
Esl
ováq
uia
Esl
ovên
ia
Hun
gria
0
SSP
Desigualdade Categorias
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
Aus
tralia
Can
ada
EU
A
N. Z
elân
dia
Letô
nia
Pol
ônia
Rep
. Tch
eca
Rus
sia
1 2 3
Fonte de Dados: I
Percepção da
de em que vivem e a idéia de uma sociedade ideal75.
Pode-se verificar também em ambos os exercícios que, para a maior parte dos países, a
desigualdade percebida aumenta monotonicamente com o grau de inadequação distributiva (entre
a desigualdade obs
75 Não pretendo explorar a composição destas categorias qualitativamente; para os objetivos deste exercício, basta
ativa de grau de inadequação distributiva. mostrar suas magnitudes em relação ao indicador de percepção de desigualdade. 76 Passo a chamar a diferença entre a desigualdade observada e a norm
90
neozelan
tchecos.
veis
dios
que
deses, os alemães, os austríacos, os espanhóis, os franceses, os suecos, os japoneses e os
Embora a relação entre a desigualdade percebida e a inadequação distributiva também
apresente resultados positivos para os países do Leste Europeu, Brasil, Chile e Portugal, verifica-
se que o indicador de percepção da desigualdade mantém-se, em média, alto e apresenta ní
baixos de variação perante as alterações nos graus de inadequação distributiva.
Analisando o problema por outro ângulo, o gráfico abaixo apresenta os valores mé
para este grau de inadequação em relação a dois grupos de entrevistados, (i) aqueles
concordaram e concordaram totalmente com o item sobre percepção de desigualdade e (ii)
aqueles que escolheram as demais categorias deste item77.
77 Esta divisão favorece a visualização gráfica dos resultados. Para o cálculo das médias, consideram-se os cinco diagramas das dimensões observada e normativa - sem o agrupamento utilizado pelo gráfico 3.4.1.
91
Gráfico 3.4.2 - Valores médios para o grau de inadequação distributiva, segundo
categorias de percepção da desigualdade.
Este gráfico indica que, em termos médios e independentemente do país em questão, os
entrevistados da pesquisa que avaliaram mais severamente as diferenças de renda são aqueles que
apresentaram em suas opiniões uma distância maior entre o ordenamento social observado e
aquele considerado como o ideal.
Como sugerido pela hipótese deste trabalho, os resultados empíricos apresentados ao
longo desta seção parecem corroborar o fato de que a percepção da desigualdade de renda é
positivamente relacionada ao grau de inadequação entre as duas categorias referenciais, como
definidas, a desigualdade observada e a normativa.
0,0
0,5
2,5
3,0E
UA
anha
Bra
sil
Chi
le
Isra
el
Japã
o
ssia
1,0
1,5
2,0Concorda Totalmente eConcorda
Desigualdade Observada e a Normativa
Aus
tralia
Can
ada
N. Z
elân
dia
Ale
m Aus
tria
Esp
anha
Fran
ça
Nor
uega
Por
tuga
l
Sue
cia
Filip
inas
Bul
gária
Esl
ováq
uia
Esl
ovên
ia
Hun
gria
Letô
nia
Pol
ônia
Rep
. Tch
eca
Ru
Fonte de Dados: ISSP
Valores Médios para a Distância ou Grau de Inadequação entre a
Outros
92
3.5 Conclusão
em
a seção seguinte, verificou-se que, em média e independentemente do país em que
vivem,
ni.
a distância entre o nível de desigualdade
observada e aquele considerado como o apropriado, mais elevada a desigualdade percebida.
Na seção 3.2 deste capítulo, apresentaram-se padrões de desigualdade observada
termos médios por país. Verificou-se que os entrevistados do Leste Europeu descreveram seus
países como sociedades desiguais, embora estas não sejam em termos de repartição da renda. No
sentido inverso, os norte-americanos, os neozelandeses, os australianos e os filipinos descreveram
seus países como mais igualitários, embora o índice de Gini não corrobore tal imagem. Estes
resultados implicaram em um desvio entre um indicador de desigualdade observada e o índice de
Gini.
N
os entrevistados tendem a associar sociedades mais igualitárias ao ordenamento social
considerado como o ideal. No entanto, complementarmente a este resultado, considerando um
item alternativo da pesquisa do ISSP (1999), existiria um nível de naturalização das diferenças de
renda crescente com o índice de Gi
A última seção deste capítulo investigou a hipótese central deste trabalho. Em linhas
gerais, os resultados indicaram uma relação positiva entre o nível de percepção da desigualdade e
o grau de inadequação distributiva que as pessoas verificam em seus países - tendo em vista os
resultados segmentados por países, quanto maior
93
Complementarmente a estes resultados, as diferenças de percepção da desigualdade
encontradas entre os países podem ser interpretadas pela variação no indicador de desigualdade
observada, se considerado o indicador de desigualdade normativa fixo em um nível relativamente
igualitário. Assim, a imagem que as pessoas têm do ordenamento social em seus países guardaria
correlação positiva às suas respectivas avaliações sobre a magnitude percebida das diferenças de
renda .
78
78 Pode-se supor que o indicador de desigualdade normativa influencia este resultado parcialmente e, por isso, a adequação entre a desigualdade observada e o índice de Gini e maior do que aquela entre a desigualdade percebida e este índice. Este fenômeno ocorreria principalmente nos países que apresentaram maior variação na intensidade da desigualdade percebida frente às diferentes categorias de inadequação distributiva.
94
4 Diferenças entre Ricos e Pobres e o Caso Brasileiro
4.1 Introdução
ste capítulo serve como complemento ao corpo desta dissertação e tem como objetivo
ilustrar empiricamente a relação entre a desigualdade percebida e o grau de inadequação
distributiva, a partir de um recorte analítico alternativo. Pretende-se mostrar as diferenças de
opiniões sobre estas dimensões entre as pessoas localizadas à base e ao topo da distribuição de
renda em países selecionados - no Brasil em especial.
Tendo em vista tal finalidade, este capítulo organiza-se em duas partes. Em primeiro
lugar, examino as diferenças de opiniões entre as pessoas localizadas ao topo e à base da
distribuição de renda em países selecionados. Encerro este capítulo com as atenções voltadas para
o caso brasileiro.
4.2 Percepção de Desigualdade entre Ricos e Pobres
Quais seriam as diferenças de percepção de desigualdade entre as pessoas localizadas ao
topo da distribuição de renda de um país e aquelas situadas à base? Para verificar esta questão
empiricamente, destacou-se um subconjunto heterogêneo de países participantes da pesquisa so
E
ISSP: Brasil, Rússia, EUA, Alemanha, Japão, Noruega, Suécia, Eslováquia, Bulgária e República
95
Tcheca79. Utilizando dados de renda domiciliar per capita, disponíveis a partir do próprio
questionário do ISSP (1999), selecionaram-se dois grupos de entrevistados para cada país. O
primeiro foi constituído pelas pessoas do décimo mais rico da distribuição de renda; o segundo,
por aquelas localizadas nos dois décimos mais pobres80. Tendo em vista os indicadores sugeridos
no capítulo anterior, os resultados seguem resumidos na tabela abaixo.
m síntese, tendo em vista os países selecionados, os resultados indicam que os
entrevistados localizados à base distribuição de renda tendem a perceber mais intensamente a
desigualdade de renda que aqueles localizados ao topo. Os mais pobres consideram maior a
distância entre a desigualdade observada e a normativa quando comparados aos mais ricos.
Quando se verifica o que se chamou de desigualdade naturalizada, em geral, a amplitude
Tabela 4.2.1 – Desigualdade Percebida, Grau de Inadequação e Naturalização
10% Ricos
20% Pobres P/R-1
10% + Ricos
20% + Pobres P/R-1
10% Ricos
20% Pobres P/R-1
Alemanha 3,35 4,01 19,5% 0,87EUA 3,84 3,77 -1,7% 1,20
Indicador de Desigualdade Desigualdade NaturalizadaGrau Médio de Inadequação
Bulgária 4,78 4,87 2,0% 3,12 3,41 9,1% 3,58 2,88 -19,6%
Japão 3,35 4,24 26,7% 0,69 1,13 63,9% 9,60 12,72 32,5%Eslováquia 4,46 4,70 5,6% 2,04 2,75 34,8% 3,01 2,65 -11,7%Brasil 4,78 4,69 -1,8% 2,62 2,12 -19,0% 19,87 14,31 -28,0%Média 12,9% 38,5% -22,3%
E
Esta escolha também foi condicionada à disponibilidade dos dados sobre renda.
80 Considerando a renda domiciliar per capita disponível na base de dados. Para esta construção, nenhuma variável 79
externa a esta base foi incorporada. A seleção dos países respeitou também a disponibilidade de dados da base – nem todos os países disponibilizaram o valor da renda pessoal e familiar do entrevistado em termos nominais. Apresento no anexo 4.1.1 os decis de renda considerados neste exercício.
1,46 67,5% 7,96 5,08 -36,1%1,33 10,9% 9,45 4,42 -53,2%
Noruega 3,12 4,09 31,2% 0,24 0,45 88,8% 2,29 2,25 -1,7%Suécia 3,06 4,16 35,9% 0,63 1,25 97,3% 4,65 2,07 -55,6%Rep. Tcheca 4,11 4,58 11,2% 1,58 1,91 21,0% 7,26 5,81 -20,0%
Rússia 4,62 4,63 0,3% 2,92 3,23 10,7% 14,06 9,90 -29,6%
Fonte de dados: ISSP (1999).
PercebidaPaíses
Distributiva
96
normativa de remunerações é superior entre os mais ricos do que entre os mais pobres. Abaixo,
apresento 3 gráficos que ilustram estes resultados.
Gráfico 4.2.1 – Desigualdade Inadequada: Diferenças entre Ricos e Pobres
Verifica-se em relação ao grau de inadequação entre a desigualdade observad
tiva, de modo geral, um viés nas diferenças de opinião dos mais ricos e mais
eiros consideram mais elevada a distância entre as duas dimensões. Na Suécia e na Noruega
0,00,5
1,01,5
Alemanha EUA Noruega Suécia Rep.Tcheca
Bulgária Rússia Japão Eslováquia Brasil
Fonte de Dados: ISSP
2,0
3,03,5
4,010% + Ricos20% + Pobres
2,5
a e a
norma pobres. Os
prim
as diferenças para este indicador entre os mais pobres e os mais ricos chegam a quase 100%. O
caso brasileiro surge como única exceção dentre os dez países considerados no gráfico acima. O
próximo gráfico examina a desigualdade naturalizada.
97
Gráfico 4.2.2 – Desigualdade Naturalizada: Diferenças entre Ricos e Pobres
iores quando
se claram
últimos
: Diferenças entre Ricos e Pobres
Os resultados sobre a desigualdade naturalizada apresentam variações ma
consideradas as diferenças de opinião entre os mais ricos e os mais pobres de cada país. Percebe-
ente que os primeiros apresentaram níveis mais altos para este indicador do que os
0
5
Alemanha EUA Noruega Suécia Rep.Tcheca
Bulgária Rússia Japão Eslováquia BrasilFonte de Dados: ISSP (1999)
10
20
1510% + Ricos
20% + Pobres
Desigualdade Tolerada
. Na Suécia, esta diferença chega a mais de 55%, no EUA, 53.2%. A única exceção neste
caso é representada pelo caso japonês, onde os mais pobres apresentaram uma desigualdade
naturalizada, em média, 32.5% maior do que os mais ricos. O gráfico abaixo analisa a última das
dimensões da tabela 4.2.1, a percepção da desigualdade.
Gráfico 4.2.3 – Desigualdade Percebida
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
Alemanha EUA Noruega Suécia Rep.Tcheca
Bulgária Rússia Japão Eslováquia Brasil
10% + Ricos
20% + Pobres
Desigualdade Percebida
Fonte de Dados: ISSP (1999)
98
Em sín rceber
menos a desigualdade do que os mais pobres. Na Noruega e na Suécia, por exemplo, as
destacam-se tam sileiro será
analisado brevem
4.3
Não escondo que grande parte do esforço despendido nesta dissertação direciona-se à
compreensão do caso brasileiro, objeto de investigação que dispensa justificativas. Segundo
Cardoso (2004, p.3), “...os estudos sobre desigualdades no Brasil parecem pressupor, quase
implicitamente, que entre nós esse fenômeno universal do capitalismo é qualitativamente diverso,
e para tanto se oferece, amiúde, um argumento de quantidade: somos um, senão o país de maior
desigualdade entre ricos e pobres, tal como medido pela distribuição de renda. O que nos
distingue é a magnitude das desigualdades, o que as torna objeto, por assim dizer, natural de
investigação, um objeto que não precisa de justificação ou sobre o qual não caberia a pergunta:
por que estudar desigualdades sociais? Não são elas, talvez, a mais importante das forças
estruturantes de nossa sociabilidade?”.
Essa
trabalho através das co esar da elevada
a
esigualdade
observada, um país menos desigual.
tese, verifica-se que em cada país, de modo geral, os mais ricos tendem a pe
diferenças entre os indicadores médios para os dois grupos sociais superam 30%. Não obstante,
bém duas exceções neste último gráfico – EUA e Brasil. O caso bra
ente a seguir.
Brasil: a Desigualdade Aceitável
força estruturante da sociabilidade brasileira mostrou sua presença ao longo deste
ntradições nas opiniões dos entrevistados deste país: ap
percepção da desigualdade, existiria uma alta naturalização das diferenças de renda, haveria um
parcela da população mostrando através da escolha dos diagramas sobre a d
99
Nesta seção, pretendo discutir um pouco mais as diferenças de opinião entre os mais ricos
e os mais pobres brasileiros em relação à desigualdade de rendas81. Mais precisamente, examino
brevemente o porquê das diferenças de percepção entre estes dois grupos sociais: por que os ricos
consideram a desigualdade no Brasil mais inadequada? Seriam eles mais bem informados? Para
levantar pistas sobre esta questão, começarei analisando amiúde as diferenças de desigualdade
observada entre os brasileiros mais ricos e os mais pobres. Observe a tabela abaixo.
Tabela 4.3.1 – Desigualdade Observada: Diferenças entre Ricos e Pobres (Qual Diagrama
Melhor Descreve sua Sociedade? - a linha soma 100%)
cima que, em geral, os mais ricos observam mais a
desigualdade, quando comparados aos mais pobres (escolhem o diagrama A e B com maior
freqüên
Percebe-se a partir da tabela a
Décimos Em R$ (2001)* Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D Tipo E Responder Resposta
9 450 38,7% 41,6% 3,6% 5,8% 6,6% 2,9% 0,7%300 30,1% 47,4% 4,3% 5,3% 5,3% 5,7% 1,9%
6 167 40,8% 39,3% 4,9% 2,4% 1,9% 8,7% 1,9%
4 100 36,4% 29,3% 5,0% 4,5% 7,4% 11,6% 5,8%3 77 31,4% 23,6% 11,4% 8,6% 2,1% 17,1% 5,7%
Pobres até 38 22,0% 27,4% 8,1% 7,0% 8,1% 20,4% 7,0%
Fonte de Dados: ISSP (1999)*Calculados a partir do survey ISSP (1999)
Não Soube Sem
Ricos acima de 450 37,8% 47,9% 2,7% 4,8% 2,7% 3,2% 1,1%
87 200 31,6% 39,5% 6,8% 3,4% 4,5% 10,7% 3,4%
5 125 30,3% 40,2% 5,3% 1,5% 5,3% 12,1% 5,3%
2 60 27,6% 28,9% 4,4% 6,2% 5,8% 21,8% 5,3%
100
cia). No entanto, percebe-se também que grande parte das pessoas localizadas na cauda
inferior da distribuição de rendas brasileira não soube ou não quis responder a este item do
questionário (quase 1/3 dos respondentes).
81 Para uma abordagem sobre as opiniões da elite brasileira em relação a aspectos de justiça social, ver Reis (2000).
Tal fato pode subsidiar uma possível interpretação preliminar. Em primeiro lugar, o item
da pes
ue a de fato
existente. Logo, por estes motivos, a desigualdade observada entre os brasileiros mais ricos seria
relativa
No entanto, pretendo mostrar que esta interpretação não é integralmente correta. Quais
seriam as diferenças de renda observadas pelos brasileiros mais ricos no país? Para analisar esta
questão, destaco mais um item do questionário ISSP (1999). Em uma das perguntas, o
entrevistado escolhia, em uma escala de 1 a 10 (base ao topo), a categoria que melhor
representasse sua respectiva localização no ordenamento social. O gráfico abaixo mostra a
distribuição da localização percebida dos 10% brasileiros mais ricos e dos 20% mais pobres nesta
escala8
quisa seria de difícil resposta e aqueles mais preparados educacionalmente souberam
responder melhor à pergunta, apontando com maior freqüência os diagramas A e B, como
aqueles que descreveriam mais fielmente a sociedade brasileira – uma sociedade que de fato é
desigual. Não obstante, poderia existir um desvio de conhecimento elevado entre os mais pobres
da população. Essas pessoas simplesmente não conheceriam a distribuição de renda brasileira e,
por tal motivo, a desigualdade observada entre elas poderia ser menos rigorosa q
mente maior do que aquela entre os mais pobres.
2.
82 Para a construção deste gráfico, agradeço o auxílio de Alinne Veiga.
101
Gráfico 4.3.1 – Brasil: Localização Percebida dos 10% Mais Ricos e dos 20% Mais
Pobres na Escala Social
0 2 4 6 8 10
Kernel density eskdensity v46461
10% mais ricos
Fonte de Dados: ISSP (1999)
0.0
5.1
.15
.2D
ensi
ty
v46461
timate
20% mais pobres
Neste gráfico, tendo em vista a pesquisa do ISSP (1999), os 10% mais ricos no Brasil são
aqueles
o a escala social completa – pois, em caso contrário, se localizariam com maior
coerência à realidade. Neste sentido, a alta desigualdade observada entre os mais ricos poderia
estar associada às diferenças de renda circunscritas, possivelmente, aos décimos superiores da
distribuição de renda brasileira85. Ou seja, apesar da desigualdade observada ser alta entre os
que vivem em domicílios nos quais a renda per capita é superior a R$45083. Os 20% mais
pobres vivem em domicílios com renda per capita inferior a R$6084. No entanto, verifica-se que
os dois grupos de pessoas se localizaram na escala social percebida em grande peso na sua
metade inferior.
O gráfico parece indicar que os mais ricos da população, na verdade, não estariam
observand
83 Considerando os dados da PNAD (2001), estas pessoas estariam localizadas acima do oitavo decil da distribuição de renda brasileira. 84 Na PNAD (2001) estas pessoas estão localizadas de fato nos primeiros dois décimos da distribuição de renda. 85 A cauda superior da distribuição de renda brasileira apresenta de fato grandes diferenças de renda (Barros e Mendonça, 1997).
102
ricos, tal p o
gráfico abaixo refaz o exercício para o caso norueguês.
os 20% Mais
fico, observa-se que a localização percebida dos noruegueses mais ricos e mais
pobres na escala social é quase oposta àquela encontrada no caso brasileiro. Os dois grupos de
pessoa
percepção de desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres no Brasil. Se, por um lado, uma
ros mais pobres parece desconhecer o ordenamento social no Brasil (embora tal
r
ercepção visual não estaria adequadamente correta à realidade. Como ilustração,
Gráfico 4.3.2 – Noruega: Localização Percebida dos 10% Mais Ricos e d
Pobres na Escala Social .2
.3D
ensi
ty
10% mais ricos
20% mais pobres
0.1
Neste grá
0 2 4 6 8 10v46461
Kernel density estimatekdensity v46461
Fonte de Dados: ISSP (1999)
s se percebem, em geral, na metade superior da escala. No entanto, chamo atenção para o
fato de que os noruegueses mais ricos se localizaram, em média, acima dos mais pobres, uma
situação mais coerente do que a observada entre os entrevistados brasileiros.
Estes fatos podem guardar uma possível fonte de explicação para as diferenças de
parte dos brasilei
esultado, novamente, possa ser associado às dificuldades de interpretação da pergunta da
103
pesquisa do ISSP 1999), os mais ricos, por outro, parecem não observar o ordenamento correto –
considerando talvez, apenas os décimos superiores da distribuição, onde as diferenças de rendas
são relativamente bastante elevadas.
Alguns fatos estilizados pod ir desta seção. Em primeiro lugar,
parece existir um nível alto de desconhecimento sobre o grau objetivo de desigualdade no Brasil.
A análise acima sugere que parte dos entrevistados brasileiros desconhece a maneira pela qual a
sociedade deste país está realmente ordenada – incluindo os mais ricos, que supostamente teriam
maior acesso à informação e ao conhecimento.
Em segundo lugar, apesar da alta percepção da desigualdade no caso brasileiro, haveria
também níveis elevados de naturalização das diferenças de renda. Pretendo encerrar este capítulo
com a ilustração da tal característica a partir do gráfico abaixo. Neste, selecionei apenas aquelas
pessoas que concordaram totalmente com a questão de que existiriam grandes diferenças de renda
e que e
em ser destacados a part
scolheram ou o diagrama D ou o E como o ideal.
104
Gráfico 4.3.3 – Naturalização e Percepção da Desigualdade de Renda
25,0Indicador da Desigualdade Natura
Considero este gráfico um retrato das contradições encontradas ao longo deste capítulo
em relação às opiniões dos brasileiros. Apesar da alta percepção de desigualdade verificada neste
país e da preferência pela igualdade, diferenças de renda grandes estariam naturalizadas,
principalmente entre os mais ricos86. A comparação com os entrevistados noruegueses torna o
resultado ainda mais claro.
Seria muito difícil destacar conclusões precisas acerca deste tema. No entanto, deixo nesta
seção alguns resultados que oferecem uma indicação de como os brasileiros pensam e
compreendem o seu próprio país - em especial, sobre como os mais ricos e os mais pobres
percebem a desigualdade. Em última instância, creio ser difícil afirmar que os brasileiros
86 Para uma reflexão sofisticada sobre o tema, ver Souza (2000) e Souza (2004). Para este autor, “A desigualdade e, mais importante ainda, a naturalização da desigualdade em países como o Brasil remetem a um processo opaco e pré-reflexivo em que o valor relativo de cada um individualmente e enquanto classe ou fração de classe já foi adrede decidido por mecanismos e esquemas classificatórios que não são perceptíveis na dimensão consciente, seja para os privilegiados, seja para as vítimas de sua lógica. Esse é o ponto central da naturalização da desigualdade” (Souza, 2004; p.29).
0,0
15,0
Ricos 9 8 7 6
5,0
10,0
20,0
5 4 3 2 Pobres
Brasil
Noruega
Fonte de Dados: ISSP (1999)
lizada
105
conheçam a desig ria difícil
afirm
4.4
a última seção deste capítulo, as opiniões dos brasileiros frente à desigualdade foram
investi
brasileiros parecem desconhecer a distribuição de renda vigente neste país.
ualdade de rendas de fato existente no Brasil. Mais do que isso, se
ar que esta desigualdade seja inaceitável.
Conclusão
Este capítulo serviu como complemento empírico ao corpo central desta dissertação. Não
obstante, por trás deste esforço esteve a intenção de mostrar, em um conjunto selecionado de
países, as diferenças de percepção entre os mais ricos e os mais pobres - no Brasil em especial.
Na seção 4.2, examinaram-se as diferenças de percepção de desigualdade entre as pessoas
mais ricas e as mais pobres em países selecionados. Verificou-se que, em geral, os mais ricos
tendem a considerar menos inadequada a desigualdade existente em seus países e a aceitar
maiores diferenças de remuneração.
N
gadas. Destacaram-se dois pontos relevantes. Em primeiro lugar, a aceitação ou
naturalização das diferenças de renda parece ser um fenômeno patente entre os brasileiros,
observado mesmo entre aquelas pessoas que percebem mais a desigualdade. Em segundo lugar,
embora seja alta, a desigualdade observada parece não se adequar àquela de fato existente. Os
106
Conclusão
Esta dissertação se propôs enquanto um esforço à compreensão de um tema complexo e
não convencional à teoria econômica. Como objeto de estudo, sugeriu-se a investigação da
te percepção da desigualdade de renda é positivamente relacionada à distância ao
grau de adequação entre duas categorias referenciais, uma positiva e outra normativa.
a
receita metodológica que implica na estimação do grau de adequação ou distância entre aquelas
categor
ões indicaram que a intensidade da percepção individual da
desigualdade de renda varia positivamente em relação ao grau de inadequação entre a
desigua
renda. Acredito que
naturalização e desconhecimento são elementos positivos ao continuísmo de uma desigualdade
reconhecidamente inaceitável.
hipó se na qual a
Para isso, supôs-se que tal percepção é um método de avaliação subjetivo do grau de
desigualdade implementado pelo indivíduo. Assim, por ser um método de avaliação, segue um
ias referenciais, chamadas de desigualdade observada e normativa.
Empiricamente, pôde-se examinar que esta hipótese faz sentido nos países participantes
da pesquisa do ISSP (1999). Tabulaç
ldade observada e a normativa.
Por final, as idéias examinadas nesta dissertação foram investigadas empiricamente para o
caso brasileiro. Alguns fatos estilizados podem ser sugeridos aqui. Dentre eles, chamou atenção o
elevado grau de naturalização das diferenças de renda, assim como o aparente desconhecimento
acerca do modo como esta sociedade está ordenada em termos de
107
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v
111
Anexos
Anexo 2.3
Percepção de desigualdade e o teste dos axiomas: uma curta resenha87
A literatura econômica que existe sobre percepção de desigualdade tem como motivação a
investigação de opiniões individuais sobre distribuição de renda e bem-estar através de
dividualizar os juízos de valor na composição de uma medida de desigualdade agregada e de
ividem em duas linhas de pesquisa distintas, que surgiram ao longo dos últimos 30 anos.
o escopo limitado desta dissertação, não apresento em detalhes as metodologias utilizadas.
primeira linha de pesquisas refere-se à estimação empírica de funções individuais de bem-
cordo com categorias de bem-estar pré-fixadas, que variavam, em termos qualitativos de ruim à
mostra. A derivação de um índice de percepção de desigualdade se originou deste contexto89.
questionários e experimentos empíricos – o que representaria, portanto, uma forma de
in
testar os axiomas outrora dados como fundamentais. De modo geral, os trabalhos sobre o tema se
d
Apresento a seguir alguns dos principais exercícios e resultados encontrados. No entanto, devido
a
A
estar88. A partir de questionários, uma amostra de respondentes avaliava intervalos de renda de
a
excelente. Através das respostas, estimava-se uma função de bem-estar para cada indivíduo da
a
87 Baseada principalmente em Amiel (1999) e Amiel e Cowell (1999). O acesso aos trabalhos originais foi dificultado pelo fato de que a maior parte da literatura sobre o tema é composta por textos para discussão. 88 Ver Van Praag (1968). 89 Além de Van Praag (1978), ver também Van Praag (1977).
112
A segunda linha de experimentos relaciona-se ao teste dos axiomas fundamentais das medidas de
esigualdade. Existem basicamente dois tipos de testes. No primeiro, os respondentes (em geral
universitários) comparam pares de distribuições hipotéticas de renda, escolhendo
quelas mais ou menos desiguais – denomina-se esta abordagem como direta. O segundo tipo de
e indireta. Neste caso, os
spondentes indicavam quais seriam as melhores e piores distribuições, na comparação entre
studantes alemães, uma aceitação menor ao axioma da população do que aquela encontrada por
Amiel e Cowell (1992), assim como um apoio também menor ao princípio das transferências90.
d
estudantes
a
teste se aplica aos axiomas envolvendo bem-estar social – a abordag m
re
pares (substituindo, portanto, a expressão mais ou menos desigual, por melhor ou pior).
Cowell (1985) foi o primeiro a desenvolver a abordagem direta de testes sobre os axiomas,
mostrando que a maioria dos respondentes confirmava o princípio da independência de escala, ou
seja, que adições proporcionais de renda não aumentam a desigualdade. O princípio da
translação, contudo, não recebia tal suporte. Amiel e Cowell (1995) levantaram a hipótese de que
estes tipos de transformação dependeriam do nível de renda total e do formato das distribuições
de renda.
Amiel e Cowell (1992) encontraram pouca aceitação aos princípios da transferência e da
decomposição. Por outro lado comprovaram a validade empírica do princípio de Dalton (ou da
população). Amiel e Cowell (1996) verificaram que o princípio de Pigou-Dalton dependia
especificamente do nível de renda e da posição onde os indivíduos envolvidos nas transferências
se encontravam na distribuição hipotética de renda. Harrison e Seidl (1994a) encontraram, entre
e
90 Citando brevemente os testes da abordagem indireta, McClelland e Rohrbaugh (1978) investigaram o axioma da
pondentes o contestava. Amiel e Cowell (1994) não monotonicidade e verificaram que uma grande parte dos res
113
Anexo 3.2
11
21
Ranking: Índice de Gini
CanadáEspanha
Austrália
Israel
PortugalEUA
N. Zelândia
Filipinas Chile
11 6 11 16 21
Austria
SuéciaR. Tcheca
6
16
Ranking: Desigualdade Observada
EslováquiaJapão
Noruega
Eslovênia
Bulgária
Alemanha Hungria
LetôniaFrança Polônia
Brasil
Russia
encontraram aprovação aos princípios da decomposição e da transferência, tampouco ao da monotonicidade. Harrison e Seidl (1994b) também rejeitaram os axiomas acima, encontrando sustentação apenas ao princípio do anonimato. Para outras referências sobre esta abordagem, ver Amiel e Cowell (1999), Beckman, Cheng et al (1994) e Bernasconi (1994).
114
Anexo 3.4.a
Tabela 3.4.1 – Comparação dos níveis de desigualdade percebida entre quatro grupos de
entrevistados (Tamanho da Amostra)
Desigualdade Observada Alta (A, B e C) (1)
Desigualdade Observada Baixa
(D e E) (2)
Desigualdade Observada Alta (A, B e C) (3)
Desigualdade Observada Baixa
(D e E) (4)
Australia 259 62 810 468Canadá 117 25 540 245EUA 234 58 512 271
Desigualdade Normativa Alta Desigualdade Normativa Baixa Diagramas A, B e C Diagramas D e E
N. Zelândia 166 32 661 182
Alemanha 136 45 403 182Austria 178 50 383 324Espanha 165 45 571 236França 494 81 1058 159Noruega 96 31 300 717Portugal 260 46 691 147Suécia 126 51 553 301
Brasil 264 73 1177 119Chile 258 53 996 78
Filipinas 300 159 467 223Israel 174 50 742 200Japão 194 160 487 261
Bulgária 102 3 864 29Eslováquia 139 74 537 182Eslovenia 228 32 727 46Hungria 189 24 810 42Letônia 127 8 895 44Polônia 179 30 613 70Rep. Tcheca 387 74 1128 180Russia 240 24 1108 42Fonte de Dados: ISSP (1999)
115
Anexo 3.4.b – Regressões por Mínimos Quadrados Ordinários
io complementar, propõe-se o exame das relações entre a desigualdade percebida,
normativa e observada a partir de regressões. Pr étricas mais simples, o
prim os
quadrados ordinários, utilizan mo variável dependente – as
categorias relacionadas ao item sobre percepção da desigualdade: associando o número 1 à
categoria “d por diante, até associar ao
número 5 a catego
Adm a em questão,
já que o m categorias (a diferença
entre a categ uela entre o
núme por trás destas uma
bos, o diagrama
A foi associado ao núm E ser associado ao
núme os de
desigualdade.
Como exercíc
iorizando técnicas econom
eiro resultado que será apresentado a seguir foi estimado por um modelo de mínim
do uma variável categórica ordinal co
iscorda totalmente”, o número 2 à “discorda” e assim
ria “concorda totalmente”.
ite-se que a escolha desta metodologia não é a mais apropriada para o problem
odelo arbitrariamente assume uma distância idêntica entre as
oria representada pelo número 1 e o 2 são tratadas de maneira idêntica àq
ro 4 e o 5, por exemplo) e demanda o pressuposto de que existe
distribuição de probabilidades contínua91.
Dessa forma, os dois regressores relacionados à desigualdade observada e normativa foram
selecionados e transformados também em variáveis categóricas ordinais. Para am
ero 5, o B ao 4 e assim por diante, até o diagrama
ro 1. Dessa forma, supôs-se novamente que as variáveis são crescentes em term
91
A referência está em Greene (1993). Neste contexto, são recomendados modelos econométricos mais sofisticados,
como o logístico multinomial. No entanto, pela dificuldade operacional exigida por esta alternativa, escolheu-se o modelo linear como prioritário.
116
Como variáveis de controle, foram utilizados os seguintes regressores: gênero (variável binária,
o, 2 = primário incompleto, 3 =
rimário completo, 4 = secundário incompleto, 5 = secundário completo, 6 = universidade
aíses em uma segunda rodada de regressões. Os
sultados seguem na tabela abaixo; as atenções estarão voltadas sobre os sinais dos coeficientes.
homem = 0, mulher = 1), educação (1 = nenhuma educaçã
p
incompleta, 7 = universidade completa), desemprego (empregado = 0, desempregado = 1),
posição política conservadora (simpatizantes de partidos políticos de direita e extrema direita = 1,
outras tendências = 0) e religiosidade (1 = não participa de cultos religiosos, 2 = participa de
cultos religiosos poucas vezes por ano, 3 = algumas vezes por ano, 4 = uma vez ao mês, 5 = duas
ou três vezes ao mês, 6 = uma vez por semana ou mais). Os dados relativos à renda pessoal e
domiciliar per capita não estão disponíveis para a maioria dos países da amostra e, portanto, serão
incorporados à análise apenas para alguns p
re
117
Tabela 1 Anexo 3.4.b – Regressão por Mínimos Quadrados Ordinários
A partir da tabela anterior, pôde-se verificar que, para a maioria dos países incluídos na análise,
os sinais dos coeficientes dos regressores de desigualdade normativa e observada estão de acordo
com o arcabouço analítico sugerido por esta dissertação. Não obstante, estes coeficientes são
estatisticamente significantes (valores P inferiores a 0.05). As exceções ficaram por conta do
Canadá e, novamente, dos países do Leste Europeu. Além disso, as regressões para Filipinas,
Bulgária e Portugal não apresentaram significância estatística.
Canadá 703 4,09 0,00 0,23 0,00 -0,07 0,13 0,20 0,01 -0,19 0,00 0,36 0,09 -0,16 0,25 0,00 0,90
N. Zelândia 909 3,61 0,00 0,23 0,00 -0,11 0,02 0,14 0,03 -0,09 0,00 0,11 0,54 -0,24 0,00 0,04 0,03
Alemanha 740 4,02 0,00 0,18 0,00 -0,11 0,00 0,20 0,00 -0,11 0,00 0,26 0,10 -0,23 0,00 -0,08 0,00Austria 897 4,76 0,00 0,07 0,01 -0,08 0,03 0,07 0,19 -0,15 0,00 0,02 0,89 -0,15 0,01 0,02 0,30
França 1640 4,67 0,00 0,19 0,00 -0,11 0,00 0,20 0,00 -0,11 0,00 0,05 0,63 -0,51 0,00 -0,04 0,00
Suecia 968 4,12 0,00 0,27 0,00 -0,13 0,00 0,17 0,00 -0,20 0,00 0,20 0,18 -0,01 0,56
Chile 1252 4,17 0,00 0,05 0,02 -0,06 0,01 0,00 0,95 0,02 0,24 0,07 0,39 -0,10 0,11 0,00 0,96
Japão 1009 4,35 0,00 0,20 0,00 -0,04 0,27 0,25 0,00 -0,22 0,00 0,20 0,42 -0,08 0,37 0,02 0,59
Desig. Desig. Posição
N Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig.
Australia 1251 3,67 0,00 0,18 0,00 -0,09 0,00 -0,04 0,43 -0,05 0,01 0,30 0,00 -0,39 0,00 0,05 0,00
EUA 1004 3,29 0,00 0,20 0,00 -0,10 0,00 0,16 0,01 0,00 0,98 0,08 0,72 -0,32 0,00 0,00 0,92
Espanha 976 4,23 0,00 0,07 0,00 -0,08 0,00 0,03 0,51 -0,02 0,24 0,08 0,38 -0,21 0,00 0,00 0,75
Noruega 1101 4,35 0,00 0,20 0,00 -0,17 0,00 0,18 0,00 -0,13 0,00 0,15 0,53 -0,50 0,00 -0,01 0,65
Brasil 1580 4,77 0,00 0,03 0,04 -0,05 0,00 0,01 0,67 0,02 0,09 -0,12 0,01 -0,13 0,02 -0,01 0,49
Israel 1149 3,90 0,00 0,10 0,00 0,02 0,51 0,00 0,92 0,02 0,47 -0,12 0,25
slováquia 999 4,55 0,00 0,06 0,01 0,01 0,68 0,07 0,13 -0,04 0,02 0,06 0,35 -0,20 0,00 0,00 0,95Eslovênia 900 4,24 0,00 0,08 0,00 0,07 0,01 0,04 0,41 -0,08 0,00 -0,13 0,19 0,07 0,27 0,00 0,78Hungria 1062 3,99 0,00 0,09 0,00 0,00 0,92 0,09 0,04 0,01 0,52 -0,02 0,80 0,04 0,46 0,04 0,01Letônia 1053 3,67 0,00 0,14 0,00 0,00 0,98 0,00 0,97 0,01 0,53 -0,04 0,58 0,07 0,00Polônia 868 4,19 0,00 0,10 0,00 0,01 0,77 0,02 0,79 -0,09 0,00 -0,10 0,27 -0,05 0,53 0,02 0,22Rep. Tcheca 1715 4,56 0,00 0,10 0,00 -0,08 0,00 0,07 0,14 -0,07 0,00 0,09 0,45 -0,30 0,00 -0,01 0,40Russia 955 4,19 0,00 0,12 0,00 0,03 0,27 -0,05 0,17 -0,04 0,55 -0,03 0,54 0,01 0,69
Fonte de Dados: ISSP (1999)Nota: Filipinas, Portugal e Bulgária apresentaram valores F de significação superiores a 0,05.
Observada NormativaGêneroIntercep Educ
PolíticaDesemp Relig
E
118
Os resultados relativos aos outros regressores podem ser listados em linhas gerais: (i) as mulheres
oi
92.
e os desempregados tendem a perceber mais a desigualdade; (ii) as pessoas com maior educação
tendem a percebê-la com menor intensidade; (iii) assim como as pessoas com posições políticas
mais conservadoras; (iv) os resultados relacionados à religião, em geral, não foram
estatisticamente significativos.
A seguir apresento um novo modelo, também por mínimos quadrados ordinários, que inclui a
variável renda domiciliar per capita entre os regressores do modelo anterior. Esta variável f
construída utilizando-se os dados sobre renda da própria pesquisa do ISSP (1999) e agrupada em
cinco quintos da distribuição (em ordem crescente de renda). Os países analisados são o Brasil,
EUA, Noruega, Suécia, Alemanha, Japão e República Tcheca. Os resultados seguem abaixo
Tabela 2 Anexo 3.4.b – Regressão por Mínimos Quadrados Ordinários (incluindo renda)
Coef. Sig. Coef. Sig. Coef. Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf Sig. Cf S
Educ Posição Política
Desemp RendaDesig. Observada
Desig. Normativa
GêneroIntercep
Brasil 4,70 0,00 0,03 0,06 -0,05 0,01 0,03 0,35 0,01 0,43 -0,08 0,08 -0,13 0,03 0,02 0,15
Rep. Tcheca 4,69 0,00 0,11 0,00 -0,11 0,01 0,07 0,12 -0,05 0,02 0,00 0,99 -0,28 0,00 -0,06 0,00
Fonte de Dados: ISSP (1999)
ig.
EUA 3,32 0,00 0,19 0,00 -0,11 0,02 0,15 0,03 0,01 0,83 0,15 0,51 -0,32 0,00 0,01 0,57
Alemanha 4,23 0,00 0,14 0,00 -0,13 0,01 0,18 0,01 -0,11 0,00 0,27 0,13 -0,19 0,04 -0,07 0,01
Noruega 4,36 0,00 0,25 0,00 -0,14 0,03 0,16 0,00 -0,10 0,00 0,11 0,73 -0,48 0,00 -0,10 0,00
Suecia 4,62 0,00 0,25 0,00 -0,19 0,00 0,17 0,01 -0,19 0,00 0,01 0,97 nd nd -0,12 0,00
Japão 4,44 0,00 0,22 0,00 -0,05 0,30 0,27 0,00 -0,20 0,00 0,20 0,44 -0,07 0,40 -0,07 0,01
Nota: nd = item não disponível na pesquisa.
92 A escolha dos países respeitou a disponibilidade de dados. A variável sobre religiosidade foi excluída desta análise.
119
Verifica-se que a inclusão da variável de renda domiciliar per capita não altera os resultados
anteriores. Ademais, observa-se que a percepção da desigualdade varia negativamente com a
nda. Ou seja, os mais ricos tendem a perceber a desigualdade com menor intensidade do que os
re
mais pobres. Devo voltar a chamar atenção para as limitações deste modelo e para a cautela na
interpretação de seus resultados. Não obstante, o poder de explicação destas regressões foi
limitado (R2, em geral em torno de 0,10); verifica-se também que o coeficiente de intercepto é
invariavelmente significativo e alto para todos os países.
120
Anexo 3.4.c
Tabela 3.4.2 – Valores médios para o indicador de desigualdade percebida por categorias de
inadequação distributiva (Tamanho da Amostra)
Países 0 1 2 3 4 N
Australia 0,21 0,41 0,26 0,10 0,01 1599Canada 0,16 0,39 0,23 0,17 0,04 927EUA 0,22 0,35 0,25 0,15 0,03 1075N. Zelândia 0,13 0,38 0,31 0,17 0,02 1041
Grau de Inadequação ou distância entre a Desigualdade Observada e a Normativa (em % de N)
Alemanha 0,22 0,41 0,10 0,01 766Austria 0,30 0,41 1 0,08 0,01 935Espanha 0,17 0,40 0,27 0,14 0,02 1017
Noruega 0,43 0,42 0,11 0,04 0,01 1144
Israel 0,09 0,34 0,33 0,20 0,04 1166
Bulgária 0,03 0,06 0,22 0,50 0,19 998
Hungria 0,02 0,14 0,24 0,39 0,21 10651 0,16 1074
Polônia 0,07 0,21 0,23 0,37 0,13 892Rep. Tcheca 0,06 0,33 0,32 0,24 0,05 1769Russia 0,03 0,12 0,23 0,43 0,19 1414Fonte de dados: ISSP (1999)
0,260,2
França 0,09 0,42 0,32 0,15 0,02 1792
Portugal 0,14 0,31 0,32 0,20 0,03 1144Suecia 0,17 0,42 0,26 0,12 0,03 1031
Brasil 0,06 0,17 0,32 0,34 0,10 1633Chile 0,04 0,23 0,39 0,26 0,09 1385
Filipinas 0,19 0,30 0,21 0,22 0,07 1149
Japão 0,19 0,45 0,26 0,09 0,01 1102
Eslováquia 0,10 0,37 0,24 0,24 0,05 932Eslovênia 0,03 0,18 0,28 0,36 0,16 1033
Letônia 0,02 0,10 0,22 0,5
121
Anexo 3.4.d
Gráfico 3.4.2 - Valores médios para o grau de inadequação distributiva, segundo categorias de
percepção da desigualdade (Tamanho da Amostra).
Países Concorda Totalmente e Concorda
N
Australia 1142 1611Canada 646 947EUA 786 1188N. Zelândia 782 1069
Alemanha 468 500Austria 851 986Espanha 1069 1197França 1624 1871Noruega 906 1250Portugal 1087 1133Suecia 805 1132
Brasil 1866 1953Chile 1356 1470
Israel 1079 1201Jap
Bulgária 1044 1078Eslováquia 1007 1075Eslovênia 899 988Hungria 1118 1199Letônia 1056 1092Polônia 949 1063Rep. Tcheca 1599 1822Russia 1601 1671Fonte de dados: ISSP (1999)
3213512824734446
327
87114
122
3468898136
11422370
Outros
469301402287
Filipinas 779 1193
ão 845 1222
414
377
122
Anexo 4.2.a
Decis de renda dom rtir do ISSP (1999).
Anexo 4.3.a
s 20%
iciliar per capita em valores correntes, calculados a pa
Gráfico 4.3.1 e 2 – Brasil e Noruega: Localização Percebida dos 10% Mais Ricos e do
Mais Pobres na escala social (em %)
rasil Suecia Noruega Alemanha EUA Japao Rep. Checa Bulgaria
38 5000 73 750 3750 700 3375 2560 7000 95 1000 6500 1000 4080 4277 8000 112 1224 9000 1250 4800 50100 9683 130 1375 11250 1500 5150 60125 11000 150 1600 13750 1750 5500 72167 12500 175 1843 16875 2125 6000 82200 14000 200 2150 22500 2500 6667 100300 16800 250 2500 27500 3167 7667 125450 20000 300 3270 37500 4000 10000 200 (1999) e IBGE.
Decis PNAD B Russia Slovakia2001
10 42 150 325020 69 233 387430 100 300 440040 134 360 500050 174 400 540060 230 450 600070 301 533 650080 433 683 746790 750 1000 10000Fonte de Dados: ISSP
Posição Social Percebida: Ricos 9 8 7 6 5 4 3 2 PobresNão
Souberam Responder
Posição Social Real
Brasil 20% mais pobres 0,01 0,03 0,04 0,04 0,07 0,08 0,11 0,16 0,14 0,23 0,09Brasil 10% mais ricos 0,02 0,01 0,01 0,12 0,20 0,11 0,20 0,16 0,06 0,10 0,02
Noruega 20% mais pobres 0,00 0,01 0,07 0,18 0,36 0,17 0,09 0,08 0,02 0,02 0,00Noruega 10% mais ricos 0,01 0,06 0,28 0,32 0,19 0,06 0,05 0,03 0,01 0,00 0,00
Fonte de Dados: ISSP (1999)
123