Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado
No Município de Querência
RELATÓRIO FINAL
Denyse Mello
Consultora/Contrato IPAM 78/2015
NOVEMBRO 2016
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
Instituições e Supervisão da Pesquisa:
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM
Cecília Simões
Marcelo Stabile Andrea Azeevedo Thais Bannwart
Instituto Socioambiental - ISA
Heber Queiroz Galvão
Rodrigo Junqueira
Equipe de Trabalho:
Denyse Mello
Consultora e Coordenadora Responsável
Luciana Marcolino
Técnica Assistente
Equipe de Colaboração:
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Carlos Toniazzo Cecília Simões
Instituto Socioambiental – ISA:
Valter Hiron da Silva Junior Júnior Micolino
Heber Queiroz Galvão
Secretaria Municipal de Agricultura de Querência: Eleandro Mariani Ribeiro
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Márcio Almeida Ivanete Delphin
Erivaldo
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
METODOLOGIA 9
I - Caracterização dos Grupos de Produtores da Agricultura Familiar de Acordo com o Diagnóstico 11
1. 12
2. 22
2.1 - Características Gerais do Grupos entrevistados 20
2.2 28
3. 34
4. 37
II - Viabilidade Econômica, Social, Produtiva e Ambiental das Cadeias Produtivas da Agricultura Familiar 43
Apresentação 44
1. 48
1.1 48
1.2 50
2. 58
3. 64
4. 67
5. 72
2. 74
2.1 75
2.2 78
2.3 85
a) 85
b) 88
2.4 93
3. 99
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
3.1 99
3.2 99
3.3 101
a) 101
b) 104
3.4 104
a) 105
b) 106
c) 107
d) 108
e) 110
f) 113
4. 115
4.1 115
4.2 117
4.3 118
a) 118
b) 119
4.4 121
a) 121
b) 122
c) 124
4.5 126
III –Sugestões alternativas para as atividades que não possuem viabilidade econômica, social e/ou ambiental. 124
BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS 127
ANEXOS 130
1 – Relato das Oficinas do Contexto dos Assentamentos da Caracterização do PA Brasil Novo 130
2 – Caracterização do PA Coutinho União 133
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3 – Caracterização do PA São Manoel 137
4 – Caracterização do PA Pingo D’água 139
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TABELAS
Tabela 1 – Informações Gerais dos Assentamentos Obtidos no Diagnóstico Rápido Participativo. 16
Tabela 2- Distribuição dos Entrevistados por Grupos Produtivos 19
Tabela 3 - Informações Básicas dos Entrevistados por Grupo Produtivo 27
Tabela 4 - Resultado da Renda Bruta Referente Ano de 2015 por Atividade Produtivo por Grupos de Produtores 27
Tabela 5 - Síntese da Renda Bruta Agrícola e Renda Bruta Não-agrícola por Grupos de Produtores. 28
Tabela 6 - produtos comprados para merenda escolar SSE Querência 2015 37
Tabela 7 - Produto comprado de agricultores locais para merenda escolar 2015 Erro! Indicador
não definido.
Tabela 8 - Demanda Real dos produtos frutas e hortaliças da merenda escolar da Secretaria Estadual de Educação baseado no ano 2015 38
Tabela 9 - Demanda Real de produtos de lavoura branca e proteína animal para a merenda escolar da Secretaria Estadual de Educação baseado no ano 2015 39
Tabela 10- Cadeia Agroindustrial da Borracha Natural Erro! Indicador não definido.
Tabela 11 - Participação Percentual dos Itens Componentes do Custo de Produção para a Cultura da Seringueira, Sistema de Produção D4, Produção de 2.800kg de Coágulo, Hectare 68
Tabela 12- Análise da Rentabilidade para Diferentes Valores de Preços Recebidos. 68
Tabela 13- Municípios Representativos em Produção de Peixe do Estado de Mato Grosso. 78
Tabela 14 - Comparação da proporção na renda bruta (RB), das origens agrícola e não-agrícola nos PAs, no município de Querência/MT. 84
Tabela 15- Valor de Produção Bruto Total de Peixes Vendidos em 2015 pelos Entrevistados. Erro! Indicador não definido.
Tabela 16- Custo de produção por quilograma de peixe redondo produzido (R$/kg). 92
Tabela 17 - Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE) das regiões na produção de peixes redondos (R$). 93
Tabela 18 - Preço médio pago por kg de peixe por região: comparação em ter peixes redondos, bagres de couro e brycon. 94
Tabela 19 - Produção Bruta de Leite e Valor Bruto da Produção de Leite por Assentamento (2015) Erro! Indicador não definido.
Tabela 20 - Produção e produtividade dos produtores entrevistados dos assentamentos. 105
Tabela 21 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Leite 106
Tabela 22- Valor Bruto de Produção e Valor Agregado Bruto da Produção de Leite (2015) Erro!
Indicador não definido.
Tabela 23 - Produção e Valor Bruto da Produção de Palmito de Pupunha nos Assentamentos em 2015. Erro! Indicador não definido.
Tabela 24 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Palmito da Pupunha 120
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Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
FIGURAS
Figura 1- Número de lotes por Assentamentos no Município de Querência. 12
Figura 2 - Quantidade de Documentos Homologados por Assentamento. 12
Figura 3 - Relação do Número de Lotes com Número de Moradores 13
Figura 4 - Relação do Número de Famílias Pioneiras nos Assentamentos 14
Figura 5 - Relação de Assentados com Rendas Não-agrícola por Assentamentos 14
Figura 6 - Relação de Aposentados por Assentamentos 15
Figura 7 - Classificação dos Produtores segundo Renda Bruta por tipo de Produção. 18
Figura 8 - Origem dos Produtores Entrevistados. 19
Figura 9 - Área Média da Propriedade dos Produtores Entrevistado por Grupo (ha) 20
Figura 10 - Tipo de Financiamentos Recebidos pelos Produtores Entrevistados 20
Figura 11 – Forma de Uso da Terra por Grupo Produtivo Erro! Indicador não definido.
Figura 12 - Rendas Agrícolas e Não-agrícolas por Grupo Produtivo 22
Figura 13 - Fornecedores dos Produtos Comprados para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. 35
Figura 14 - Categoria de Produtos para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. 35
Figura 15- Proporção de famílias pioneiras/residentes nos Assentamentos. 53
Figura 16 - Proporção de famílias prestadoras de serviço fora da Propriedade. 54
Figura 17 - Variação do preço de mercado do coagulo 2014/2015 – Gaúcha do Norte/MT. 55
Figura 18 - Variação do preço de mercado do coagulo 2013/2015 – Guarapari/ES. 55
Figura 19 -Tipificação dos grupos de produtores nos PAs, em Querência/MT. 58
Figura 20 - Composição da renda bruta (RB) dos produtores nos PAs, em Querência/MT. Erro!
Indicador não definido.
Figura 21- Composição das áreas de plantio dos seringais, em fazendas, no município de Querência/MT (2015). 60
Figura 22 - Distribuição das áreas de plantio dos seringais, no município de Querência/MT em hectare (2015). 60
Figura 23 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da borracha nos PAs, no Município de Querência em 2015. 63
Figura 24 – Fluxo da Cadeia Agroindustrial da borracha natural. Erro! Indicador não definido.
Figura 25- Evolução da aquicultura no Brasil. Erro! Indicador não definido.
Figura 26 - Comparativo entre a produção extrativa e aquicultura de pescado brasileira. 76
Figura 27 - Organizações Participantes da Pesquisa do IMEA/MT. Erro! Indicador não definido.
Figura 28 - Motivação para Desenvolver piscicultura no Estado do Mato Grosso. Erro!
Indicador não definido.
Figura 29 - Atividade agropecuária que era exercida pelos entrevistados antes de iniciar o empreendimento piscícola em Mato Grosso. 80
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Figura 30 -Atividade agropecuária exercida em paralelo à piscicultura pelos entrevistados pelo IMEA em Mato Grosso. 81
Figura 31 - Tipificação dos grupos de produtores nos PAs, em Querência/MT. 83
Figura 33 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da Piscicultura nos PAS do Município de Querência/MT em 2015. 86
Figura 34 - Capital Investido na produção de leite no Estado de Mato Grosso 2010/2011. 100
Figura 35- Participação na Composição Total do Rebanho por Categoria nos Assentamentos. 103
Figura 36 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Leite no Município de Querência (2015). 108
Figura 37 - Área de Cultivo da Pupunha no Município de Querência/MT. Erro! Indicador não
definido.
Figura 38 - Área de Cultivo da Pupunha por Assentamento do Município de Querência/MT. Erro! Indicador não definido.
Figura 39 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Palmito da Pupunha no Município de
Querência (2015). 122
QUADROS
Quadro 1- Principais Dificuldades Relacionadas à Produção nos Assentamentos 17
Quadro 2 - Principais Problemas Levantados pelos Entrevistados Erro! Indicador não definido.
Quadro 3- Indicadores da Atividade Produtiva do Látex 52
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INTRODUÇÃO
Este documento é produto do trabalho de consultoria para o Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia – IPAM (Contrato No 78/2015). O objetivo da consultoria foi realizar um
diagnóstico da produção familiar e as opções de mercado para a produção no município de
Querência-MT. O Diagnóstico consistiu em a) Classificar os grupos de produtores dos cincos
Projetos de Assentamento (PAs) do município: Brasil Novo, Coutinho união, Canaã, Pingo
D’água e São Manoel, que representam 5,6% da área municipal (IPAM 2015); b) Avaliar a
viabilidade econômica, social, produtiva e ambiental das cadeias de produção da agricultura
familiar, como foco nas cadeias do leite, pupunha, piscicultura e da borracha; e c) Propor
alternativas para as atividades que não tenham viabilidade econômica, social e/ou ambiental.
O trabalho foi realizado no período de janeiro a junho de 2015, com levantamento de
informações de campo realizado no período de fevereiro a março de 2016, com uma coleta
extra de dados realizada em outubro de 2016. Este estudo foi desenvolvido com a colaboração
técnica da equipe local do IPAM e do ISA, técnico da secretaria de agricultura, e da contratação
de uma profissional autônoma para suporte no levantamento de campo, a qual contribuiu para
a elaboração do relatório.
METODOLOGIA
A metodologia do trabalho é dividida em método para levantamento de informações e
para análise dos dados. O levantamento de dados foi baseado em organização das informações
existentes: levantamento do material já produzido (dados de livre acesso como internet,
referências bibliográficas, outras fontes), outras informações obtidas junto ao público alvo,
instituições governamentais e ONG’s no município de Querência. Também, utilizou-se a
metodologia de diagnóstico rápido participativa (DRP), por meio de entrevistas com
questionários semi estruturados. O DRP foi realizado através de oficinas nos assentamentos,
com o objetivo de realizar a caracterização produtiva e socioeconômica dos produtores. O
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diagnóstico compreendeu questões relacionadas com aspectos sociais, econômicos,
infraestrutura e ambiental. Foram realizadas 04 oficinas (Brasil Novo, Coutinho União, Pingo
D’água, São Manoel) e reunião com uma liderança (Canaã) para obtenção das informações. Os
questionários semi estruturados foram elaborados e aplicados de acordo com a especificidade
dos informantes: representantes de instituições\organizações governamentais, produtores
rurais selecionados de acordo com tipo de uso da terra e com os agentes mercantis das cadeias
produtivas estudadas. Vale ressaltar que houve inicialmente o nivelamento metodológico com
a equipe de campo, onde foram revisados os objetivos, metas e o planejamento.
As principais fontes de dados secundárias consultadas foram o banco de dados do IBGE,
dados do INCRA, dados do MDA e de informações municipais coletadas junto aos órgãos do
município. Foram realizadas 06 reuniões/oficinas em cada assentamento, envolvendo um total
de 47 pessoas dos assentamentos, onde se levantou as informações. Realizou-se 85 entrevistas,
incluindo 48 entrevistas individuais às famílias de assentados e as demais com agentes das
cadeias e instituições governamentais.
Para a análise dos dados, as informações dos questionários foram organizadas em Excel
de acordo com a especificidade das informações. A sistematização dos dados das 48 entrevistas
com produtores selecionados foi por tipo de agroecossistema existente no lote. A classificação
dos grupos de produtores da agricultura familiar dos assentamentos foi estabelecida em
atividade nos lotes, onde o critério de classificação foi o percentual de participação na
composição da renda bruta do lote ser pelo menos maior que 55% do valor bruto da receita
obtida com a venda do produto.
Para a análise da demanda real da produção agrícola no município foram entrevistados
como mercado institucional: os responsáveis pela compra da merenda escolar da secretaria
estadual de educação e secretaria municipal de educação, assim como entrevistas com
comerciantes do município para elaboração da lista dos produtos de demanda real para
abastecimento do município. Também, foram entrevistados os órgãos responsáveis pela
fiscalização da qualidade dos produtos: vigilância sanitária do município e instituto nacional de
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defesa animal e vegetal – INDEA. O trabalho está organizado da seguinte forma: a primeira
parte traz o contexto e diagnóstico local usando os dados secundários e das entrevistas; a
segunda parte apresenta a viabilidade das cadeias produtivas da agricultura familiar eleitas
para este estudo - borracha, leite, piscicultura e pupunha; finalmente, apresenta-se sugestões
para as atividades produtivas das cadeias estudadas que não tenham viabilidade econômica,
social e/ou ambiental.
I - Caracterização dos Grupos de Produtores da Agricultura Familiar de Acordo com o Diagnóstico
1. Caracterização dos Assentamentos do Município Querência - MT
O município de Querência possui 17.850,25 km2, localizado na microrregião de
Canarana, mesorregião do Nordeste Mato-grossense, a 912 km de Cuiabá. A população de
Querência é estimada em 15.997 habitantes (IBGE 2015). São cinco Projetos de Assentamento
(PAs) do INCRA existentes no município: Brasil Novo, Canaã, Coutinho União, Pingos D’Água e
São Manoel, que representam 5,6% da área municipal (IPAM 2015). A criação dos
assentamentos foi na década de 90, sendo os mais antigos o PA Coutinho união e PA Pingo
D’água que foram criados em 1994; Brasil Novo criado em 1998 e São Manoel e Canaã em
1999. Somam-se um total de 1.265 lotes considerando todos os assentamentos, sendo que o
PA Pingo D’água concentra 44% dos lotes, seguido pelo Brasil Novo com 25%, em discrepância
com o PA Canaã abrigando somente 3% dos lotes (Figura 1). Do total de lotes, 41% já foi
homologado, sendo que a maioria dos lotes dos PA’s Canaã, Coutinho União, Pingo D’água e
São Manoel não chegam a 50% dos lotes homologados, enquanto que o PA Brasil Novo atinge
91% lotes com documento de homologação (Figura 2).
A origem geográfica é predominante de migração do centro-oeste (72%), sendo 80% do
próprio Mato Grosso, 16% dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e o restante do
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nordeste e sudeste. A maioria chegou na região no começo dos anos 2000. Hoje a população
dos assentamentos tem em média 09 anos na área, sendo menos de 10% os pioneiros da
década de noventa. Hoje, cerca de 40% não residem no lote, mas sim nas agrovilas ou na
cidade. O tamanho médio das famílias é de 3,2 pessoas, sendo parecido com o perfil das
famílias urbanas do Brasil e abaixo do tamanho médio das famílias em assentamentos no Brasil
da década de 2000 com média de 4,8 de pessoas. A característica de famílias pequenas e não
residente nos lotes restringe boa parte das possibilidades de inovação para sistemas
agroecológicos de base familiar, que demandam trabalho mais intenso por área e explica a
paisagem dos assentamentos conforme iremos abordar ao longo do relatório.
Figura 1- Número de lotes por Projeto de Assentamento no Município de Querência.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
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Figura 2 - Documentos Homologados por Assentamento.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Considerando a relação do número de lotes pelo número de moradores por assentamento, 40% dos 1.265 lotes poderiam ser classificados como abandonados ou que foram comprados pelos próprios assentados (Figura 3). Os PAs Brasil Novo, Pingo D’água e São Manoel apresentam 68%, 49% e 40%, respectivamente, dos lotes desocupados ou agregados a outros assentados. Diferentemente, no PA Canaã todos lotes estão ocupados, enquanto no PA Coutinho União, o número de moradores é 34% maior do que a quantidade de lotes existentes. Nesse caso, muitos dos moradores não possuem lotes, mas moram na agrovila e prestam serviço na comunidade.
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Figura 3 - Relação entre Número de Lotes com Número de Moradores
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
O fluxo migratório é uma característica comum em todos os assentamentos. Somente
14% dos moradores dos assentamentos são pioneiros, ou seja, estão desde início dos PAs. Os
PAs Brasil Novo e Pingo D’água são os que possuem mais pioneiros com 25% e 21%,
respectivamente, os demais possuem menos de 6% de moradores pioneiros (Figura 4).
68% 49%
40%
34%
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Figura 4 - Relação entre Número de Famílias Pioneiras nos Assentamentos
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Outra característica aos moradores dos assentamentos é a existência de renda não
agrícola na composição da renda bruta da unidade familiar, onde 54% dos assentados realizam
atividades econômicas fora do lote. A aposentadoria é recebida por 19% do total dos
moradores e a maioria desses aposentados encontra-se nos PAs São Manoel, Brasil Novo e
Coutinho União, respectivamente1 (Figura 5 e 6).
1 Mais informações no Anexo 1.
5%
4%
21%
25%
5%
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Figura 5 - Relação de Assentados com Rendas Não-agrícola por Assentamentos
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Figura 6 - Relação de Aposentados por Assentamentos
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Todos os assentamentos, com exceção de Canaã, possuem agrovilas onde se encontram
60% 80%
64%
SI
35%
40%
51%
5%
19%
11%
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
[email protected] - 19
toda a infraestrutura: escola, posto de saúde, igrejas, subprefeitura, infocentro, restaurantes,
comércio, etc.; dispõem de transporte público (ônibus escolares), bem como transporte privado
(ônibus de linha). Mesmo assim, a maioria das pessoas possui carro, moto e/ou bicicleta para
sua locomoção. Há também, área de lazer e área para a associação local e de mini
agroindústrias existentes. Os PAs têm uma relativa proximidade com os centros urbanos de
Querência ou Canarana. O assentamento mais próximo, Pingo D’Água, está a 20 km e o mais
distante, Brasil Novo, está a 140 km. As estradas, apesar de não serem pavimentadas, são
acessíveis durante o ano todo. De modo geral, são assentamentos que receberam
investimentos públicos, diferentemente da dinâmica de assentamentos em outras regiões,
onde a infraestrutura foi construída depois do decreto de criação ou foi construída pelos
próprios assentados (Tabela 1). As principais dificuldades relacionadas à produção pelos
assentamentos estão descritas no quadro 1.
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Tabela 1 – Informações Gerais dos Assentamentos Obtidos no Diagnóstico Rápido Participativo.
DISCRIMINAÇÃO BRASIL NOVO COUTINHO
UNIÃO SÃO MANOEL PINGO D'ÁGUA CANAÃ
Início do assentamento 1998 1994 1999 1994 1997
Quantidade famílias
pioneiras 317 12 15 60 42
Número de lotes 317 172 183 551 42
Origem das famílias GO,MT,BA, CE, RS,
PA, TO, MA,SP,SC,
PR,MTS
GO,MT,RS,MA GO,MT,BA, CE,
RS, PA, TO,
MA,SP,SC,
PR,MTS
GO,MT,MA,CE,RS,MST,
PR
GO, MT,PR
Famílias pioneiras
residentes 25 12 4 60 2
N. de famílias que saíram
recentemente (5 anos) 20-30 20 99 SI SI
Número de famílias com
títulos 287 68 90 60 10
Número de moradores 100 230 110 280 42
Número de idosos 40 25 56 84 SI
Aposentados 40 25 56 14
Bolsa Família 50 SI 6 SI SI
Funcionários públicos 25 31 12 SI SI
Comerciantes 15 11 1 7 SI
Prestadores de serviço fora
do lote 60 80 88 180 SI
Carro 50% 138 55 50% 90%
Moto 100% 184 99 80% 80%
Transporte publico/privado 3 8 1 1 SI
Casa com internet 40-50 1 SI SI SI
Agroindustria 3 0 1 0 0
Mercearias 4 s SI 7 SI
Igrejas 9 6 1 7 SI
Escola 1 2 1 SI
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Posto Saúde 1 1 1 1 SI
Campo futebol 1 2 1 2 SI
Na Tabela 1 o SI – significa “sem informação”.
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Quadro 1- Principais dificuldades apontadas pelos assentados para a produção
BRASIL NOVO COUTINHO UNIÃO CANAÃ SÃO MANOEL PINGO D'ÁGUA
Licença-legalização do projeto;
Incentivo para produção
Financiamento Infraestrutura, transporte e logística
Comercialização
Falta de compradores companheirismo e união
Assistência técnica
Coragem para trabalhar Organização social
Logística Ferramentas - maquinário comunitário
Logística Capital de giro "Pessoas que já tem estabilidade não precisam do vizinho"
Organização da produção para garantir regularidade, qualidade e escala para comercialização;
Financiamento individual
Mão-de-obra União: incentivo interno; parceria; cooperativismo
Pouco compradores
Infraestrutura adequada para processamento
Crédito para maquinário
Garantia de compra Atravessador de gado de corte
Embalagem adequada para mercado
Documentação/Licença Preço baixo e pouco incentivo (leite)
Capacitação sobre boas práticas/higiene
Mão-de-obra Financiamento
Informação do mercado
Assistência técnica Legalizar produtos/selo sanitário
Conhecimento sobre outras experiências
Capacitação sobre selo sanitário
Grupo de produção
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2. Classificação dos Grupos de Produtores da Agricultura Familiar dos Assentamentos do Município Querência - MT
A principal característica dos assentamentos é a diversidade de portfólio e estratégias
produtivas. Utilizou-se a tipologia para minimizar a variância e indicar diferentes estratégias
produtivas que levam a delimitar a maneira de interação com o solo, água e floresta. Para a
classificação dos grupos de produtores da agricultura familiar dos assentamentos, estabeleceu-
se como a atividade principal aquela de maior importância econômica no lote, considerando o
ano de 2015. O critério de classificação da atividade principal foi o percentual de participação
na composição da renda bruta do lote, quando até 60% do valor bruto da receita é oriunda da
mesma. Os resultados apontaram que todos os 48 produtores entrevistados trabalham com
produção diversificada (Figura 7). Encontrou-se 05 tipos de grupos produtivos nos
assentamentos: 1) Grupo da Agricultura; 2) Grupo da Pecuária de Corte; 3) Grupo da
Diversificação da produção; 4) Grupo da Pecuária Leiteira; 5) Grupo da Pecuária Mista; e 6)
Criação de Pequenos Animais.
Figura 7 - Classificação dos Produtores segundo Renda Bruta por tipo de Produção.
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Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
A tabela 2 abaixo apresenta a distribuição por assentamento dos 48 produtores entrevistados, segundo a classificação por grupo:
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Tabela 2- Distribuição dos Entrevistados por Grupos Produtivos
2.1 - Características Gerais do Grupos entrevistados
Dos 48 assentados entrevistados, a maioria é oriunda do próprio estado do Mato
Grosso, seguido pelo centro oeste (Goiás, Mato Grosso do sul) e Sudeste/Sul do país (São Paulo,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul) (Figura 8). Cerca de 67% desses produtores desenvolviam
atividades na área rural (29% na agricultura, 23% na pecuária e 15% prestadores de serviços)
antes de chegarem ao assentamento. Enquanto 33% destes trabalhavam em atividades do
setor urbano (por exemplo: técnico em informática, açougueiro, etc.). O tempo médio de
permanência no lote dos entrevistados é de 13 anos, variando de 2 a 28 anos.
Figura 8 - Origem dos Produtores Entrevistados.
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Fonte: Pesquisa de Campo 2016. A área média dos lotes é de 81 ha, onde algumas famílias possuem de 2 a 3 lotes,
distribuídos entre os membros da família. Os grupos pecuária de corte, pecuária leiteira e o de
agricultura foram os que apresentaram a maior área de terra. Dos entrevistados, 25% nunca
receberam nenhum tipo de financiamento para produzir por não possuírem documentação da
terra. Os financiamentos recebidos com mais frequência são o PRONAF A, D, custeio, mais
alimento e somente um produtor é beneficiário do programa balde cheio (Figuras 9 e 10).
Figura 9 - Área Média da Propriedade dos Produtores Entrevistado por Grupo (em ha)
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
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Figura 10 - Tipo de Financiamento Recebido pelos Produtores Entrevistados
Fonte: Pesquisa de Campo 2016. De maneira geral, os grupos apresentam semelhanças em relação aos tipos de
agroecossistemas encontrados: áreas de florestas, pastagem, cultivos perenes e cultivos
permanentes. O grupo de produtores da Agricultura apresenta uma área média de 63 hectares,
quando comparado com os demais grupos possui menor área de floresta e de pastagem e
maior área de cultivo de perenes, onde o cultivo de soja representa 95% da área plantada neste
grupo. O grupo de pequenos animais apresenta um valor significativo de área de pastagem,
indicando uma transição da atividade econômica de animais de grande porte para pequeno
porte, onde a falta de capitalização para manutenção e recuperação do pasto é um fator
relevante na mudança da atividade. O grupo de pecuária mista foi o que apresentou maior área
de floresta, fato que pode estar relacionado ao menor tempo no lote (em média 9 anos), baixo
capital de investimento e rigidez da lei contra desmatamento nos últimos anos (Figura 11).
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Figura SEQ Figura \* ARABIC 11 – Forma de Uso da Terra por
Grupo Produtivo
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Figura 11 - Forma de Uso da Terra por Grupo Produtivo
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
O valor médio da renda agropecuária (produção agrícola e animal) e da renda não-
agrícola (benefícios sociais, salários, prestação de serviço, etc.) variaram entre os grupos de
entrevistados. De modo geral, as atividades produtivas nas propriedades corresponderam, em
média, a 68% da composição da renda bruta total dos entrevistados. Somente o grupo pecuária
de corte possui 100% da sua renda bruta gerada em 2015 oriunda da atividade produtiva.
Baseado nos dados de renda e nas informações obtidas na entrevista com o pecuarista,
podemos dizer que, de todos os entrevistados que trabalham com a pecuária, somente um vem
se especializando e possui capital imobilizado de quase 100 mil reais. Entretanto, foi o que
apresentou a menor renda. Esse produtor chegou ao limite da capacidade de suporte da
pastagem (1,6 cabeça/hectares atualmente), com o sistema de baixa intensificação e,
consequentemente, atingiu o limite de desmatamento da sua área. O seu sistema de produção
encontra-se em momento crítico, pois não sua capitalização não é suficiente para a
intensificação do sistema. Por essa razão, é a propriedade que se encontra em situação mais
crítica do ponto de vista de renda (Figura 12).
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Figura 12 - Rendas Agrícolas e Não-agrícolas por Grupo Produtivo
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
2.2 - Características de cada grupo
A caracterização de cada grupo, apresentada abaixo, foi realizada considerando origem
dos produtores, tempo de permanência no lote, percentual da atividade principal em relação à
renda bruta, capital empregado em equipamento, transporte e máquinas (imobilizado) e
origem do capital de investimento (Tabela 2 e 3).
a) Grupo de Produtores Agricultura
O grupo de produtores da agricultura foi composto por 19 entrevistados dos
assentamentos: Brasil Novo, Canaã, Coutinho União, Pingo D’água e São Manoel. São oriundos
de Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. O tempo de
permanência no lote varia de 2 anos a 28 anos. O agroecossistema desse grupo é constituído
por lavoura de commodities, criação de pequenos animais (suínos, aves e derivados, incluindo a
piscicultura) e pecuária leiteira e seus derivados.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Em 2015, esse grupo obteve um valor médio de renda bruta de R$ 74.018, composto em
63% pela venda dos produtos agropecuários (especialmente pela lavoura de commodities, onde
soja representou 79% do total). A criação de pequenos animais e a pecuária de leite
contribuíram em percentuais menores, com 5% e 3% da venda de produtos agropecuários. A
renda não-agrícola advinda de outras atividades ou benefícios sociais, representou 27% do
valor total. Em relação ao capital de bens e serviços (máquinas, equipamentos, transporte),
cada produtor possui, em média, R$ 103,368,00 variando entre R$ 50.000,00 a 920.000,00.
Entre os assentados desse grupo, três nunca acessaram nenhum tipo de crédito para
investimento na atividade. Os demais acessaram créditos PRONAF A, D, custeio, mais alimento,
PRONAF mulher. A mão-de-obra é um fator limitante nesse grupo, onde somente 02 pessoas
são adultas e/ou 1-2 crianças.
b) Grupo Produtores de Pecuária de Corte
O grupo de pecuária de corte é composto por 01 produtor entrevistado, oriundo de
Mato Grosso e residente no PA Coutinho União. A atividade pecuária de corte ocupou 72% da
renda bruta da propriedade em 2015. O agroecossistema presente consiste na pecuária de
corte, criação de pequenos animais (26%) e derivados de leite (2%). O produtor possui uma
renda bruta total de R$ 20.136,00 e não possui renda não-agrícola. O capital de bens e serviços
(equipamentos e transporte) é em torno de R$100.000,00. Ele teve acesso aos créditos PRONAF
A, D, custeio e habitação. A mão-de-obra reduzida é fator limitante para o produtor.
c) Grupo de Produtores com Diversificação da Produção
Este grupo foi composto 09 produtores entrevistados dos PAs Coutinho União e Pingo
D’água. Os entrevistados são oriundos do próprio Mato Grosso e Rio Grande do Sul. A renda
bruta desse grupo ficou, em média, em R$ 45.156,00. O agroecossistema constituiu-se por
agricultura, agricultura de commodities, pequenos animais (aves, suínos, incluindo piscicultura)
e derivados de aves, leite e seus derivados. A agricultura representa 43% da composição da
renda, onde 29% advém da agricultura diversificada (abóbora, melancia, etc) e 14% da renda da
lavoura é oriunda da produção de soja. A criação de pequenos animais e derivados representou
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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17%, a produção de leite e derivados representou 39% e a pecuária de corte com 1% de
contribuição na composição da renda total do lote. Esse grupo traz características ligadas à
agricultura familiar quando comparado com demais tipos, como a maior quantidade de mão-
de-obra familiar no lote, e maior diversidade de produção em menor área. Possuem, em média,
11 anos de residência no lote, variando de 2 a 24 anos. A renda não-agrícola corresponde a 45%
do total da renda familiar. Possuem capital imobilizado menor que os demais grupos de
produtores, com um valor médio de R$ 38.350,00, variando entre R$ 3.000,00 a 71.400,00. A
maioria acessou crédito/financiamento como o PRONAF D, Mais Alimento e habitação, e
somente 01 não recebeu nenhum crédito ou financiamento para desenvolvimento da atividade
produtiva.
d) Grupo de Produtores de Pecuária Leiteira
Esse grupo foi composto por 09 assentados dos PAs Brasil Novo, Coutinho União, pingo
D’água e São Manoel, onde a atividade da pecuária leiteira gerou maior contribuição na
composição da renda familiar. A renda bruta média foi contabilizada em torno de R$ 65.293,00.
Verifica-se nesse grupo, assim como no grupo de produtores da agricultura, a especialização
dos produtores na pecuária de leite, responsável por 78% da renda gerada por esse setor
produtivo. O restante, é distribuído entre pecuária de corte, lavoura e criação de pequenos
animais e derivados com 10 %, 9% e 3%, respectivamente. Esses produtores são oriundos de
Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, estados com forte cultura pecuarista, fator que
provavelmente influenciou os assentados a se engajarem na produção animal. O tempo em
que os assentados estão nos PAs varia de 8 a 16 anos. Somente dois deles não acessaram
crédito para desenvolver a atividade, todos os demais receberam recursos do PRONAF A, D e
ou custeio. Finalizando, 03 desses produtores tem um valor significativo da renda não-agrícola
advinda de funcionalismo público e/ou serviço prestado por algum membro da família.
Também possuem menor quantidade de mão-de-obra familiar.
e) Grupo Pecuária Mista
Foram 03 produtores entrevistados residentes nos PAs Brasil Novo e São Manoel, que
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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constituíram o grupo pecuária mista, pois grande parte de suas rendas brutas totais vieram da
pecuária pecuária de leite e de corte, respectivamente. Este grupo, ao contrário dos demais,
apresenta na renda não-agrícola a maior parte da composição, com 62% da renda bruta total,
estimada em torno de R$ 58.018,00. Sendo os 38% restantes advindos da produção no lote. A
renda não-agrícola é caracterizada pelo recebimento de aposentadoria, que pode explicar o
engajamento na pecuária, uma vez que a renda da aposentadoria possibilita a contratação de
mão-de-obra e investimento na atividade.
Na composição da renda agrícola destacam-se a pecuária leiteira contribuindo com 58%
e pecuária de corte com 38%, seguindo com pequenos animais e lavoura (3% e 1%
respectivamente). O tempo de permanência nos assentamentos varia de 4 a 15 anos. Somente
um deles acessou crédito PRONAF mais alimento para desenvolver a atividade.
f) Grupo Pequenos Animais
O grupo produtor é composto por 08 produtores de pequenos animais presentes em
todos os PAs. Os entrevistados são originários de Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul. A
renda bruta média foi estimada em torno de R$ 61.335,00. A criação de pequenos animais
representou 87% da renda familiar no ano de 2015, (onde a piscicultura correspondeu a 47%, a
venda de aves e suínos correspondeu a 39%, derivados de leite corresponderam a 11%, e a
lavoura correspondeu a 3%. A renda não-agrícola representou 13% da renda total, sendo a
maior parte advinda da prestação de serviço, funcionalismo público (86%) e aposentadoria
(14%). Somente 02 assentados receberam algum tipo de crédito PRONAF A, mais alimento e
participa do programa balde cheio. Para os demais, o investimento é oriundo do próprio
capital. O capital investido em equipamentos, transporte e maquinário é o menor entre todos
os grupos, em torno de R$ 20.487,50.
As tabelas 3, 4 e 5 apresentam de forma resumida os dados obtidos na sistematização
das informações geradas para essa análise.
Tabela 3 - Informações Básicas dos Entrevistados por Grupo Produtivo
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Tipos
Média de Indivíduos Origem % por região Tempo no PA (anos)
Area Média (hectare) Adultos Jovens Crianças MT CO SE S NO N
G. Agricultura 2.1 0.7 0.5 42 26 5 26 0 0 13 74.5
G. Pec. Corte 1 2 0 100 0 0 0 0 0 20 98.5
G.Div. Produção 2.9 0.6 0.9 44 33 0 22 0 0 14 89
G. Pec. Leiteira 2.6 0.7 0.6 33 33 11 11 11 0 13 79
G. Pec. Mista 2 0.7 2.3 67 33 0 0 0 0 9.7 65
G. Cr. Peq. Animais
2.7 0.3 0.7 57 29 0 14 0 0 9.1 85
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Tabela 4 - Resultado da Renda Bruta Referente Ano de 2015 por Atividade Produtivo por Grupos de Produtores
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Tabela 5 - Síntese da Renda Bruta Agrícola e Renda Bruta Não-agrícola2 por Grupos de Produtores.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
2 Inclui renda advinda de atividades fora do lote (salários, transferência renda, aposentadoria, etc.);
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Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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3. Viabilidade Produtiva e Ambiental das Atividades Produtivas da Agricultura Familiar
O processo de colonização do município de Querência foi baseado na mesma dinâmica da
política de desenvolvimento do Governo Federal para a Amazônia que resultou em
desmatamento e degradação florestal. Os Projetos de Assentamentos foram criados na década
de 90 pelo INCRA, onde a principal atividade estava na produção agropecuária e na exploração
madeireira. Recentemente, a agricultura de commodities, sobretudo da soja, vem ganhando
espaço dentro dos assentamentos, cuja produção é totalmente orientada pelo e para o
mercado. Esse modelo torna os agricultores dependentes do mercado por insumos, serviços,
comercialização e ocasionando a exaustão dos recursos naturais rapidamente. Em
consequência, as unidades produtividades têm uma responsividade baixa, reflexo da pouca
diversidade do sistema e pela redução do banco de sementes, contribuindo para a insegurança
alimentar.
Com facilidade de acesso e boa infraestrutura, o público dos assentamentos imprime
diferentes identidades, objetivos, e relação com a terra, que se refletem no uso do solo e nas
atividades produtivas econômicas. Nesse contexto, há mudanças no padrão da agricultura
familiar camponesa, cuja a lógica produtiva é definida como aquela de reprodução da unidade
familiar a partir dos próprios recursos existente na propriedade, através da força-de-trabalho
familiar, para uma agricultura familiar especializada e altamente orientada e integrada ao
mercado.
Toda a política de investimento para setor produtivo foi alavancada fortemente para
agropecuária, especialmente para culturas temporárias e pecuária de corte. Essa dinâmica fez
Querência entrar para a lista negra dos municípios com altas taxa de desmatamento da
Amazônia. Para sair da lista, o município cumpriu com uma série de condicionantes, dentre elas
adotar políticas de contenção de desmatamento e queimadas orientada pelo Ministério do
Meio Ambiente, buscar outras alternativas produtivas, especialmente para agricultura familiar
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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(plantio seringueira, pupunha), e cadastramento de 80% das propriedades rurais.
Paralelamente a essas ações, a expansão do cultivo da soja aumenta no município, pela
intensificação da produção avançando em áreas descobertas (IPAM 2015).
O uso do solo é um fator preocupante. A atividade pecuária extensiva é muito dispendiosa,
o que tem levado muitos produtores a realizarem parcerias com produtores de soja. Nesse
acordo, arrenda-se a área de pastagem para implantação de soja, tendo como retorno uma
parte da produção de soja a partir do quinto ano e, ao final da parceria, o arrendante receberia
a área recuperada para plantio de pasto e retomar a atividade pecuária. No caso da pecuária
leiteira, a sua viabilidade e lucratividade requer promover investimentos em toda a cadeia,
fornecendo condições para a melhoria da pastagem, genética, custeio, instalações e
equipamentos como ordena.
A agricultura baseada no monocultivo da soja com ou sem safrinha de milho, em expansão
nos assentamentos, pode estar vinculado à possibilidade de recuperação da pastagem
degradada existente no lote, além de outras vantagens como, por exemplo, acesso a
financiamento bem como o preço do produto.
Do ponto de vista organizacional, os assentados estão pouco organizados socialmente,
prevalecendo ações individuais ou a partir grupos partidários, religiosos, produtivos, e ou de
mesmo núcleo familiar, dos quais foram observados dentro dos assentamentos. Uma das
possíveis explicações para a fragilidade da base social pode estar vinculado a rotatividade dos
moradores no assentamento, o que gera a descontinuidade das relações sociais entre os
assentados, acarretando uma ausência de uma identidade coletiva ou a identidade apresenta-
se fragmentada. Deslumbrar qualquer iniciativa de ação coletiva requer pensar em um formato
considerando os elementos acima apresentados e buscar os elementos aglutinadores de grupos
produtivos. Qual seria o formato de organização mais atrativo e realista ao contexto local? Qual
tipo de relação poderia ser estabelecido?
Sob o ponto de vista ambiental, um aspecto a ser ressaltado é a grande concentração de
agrotóxicos utilizada para cultivo da soja no município e dentro dos assentamentos. Segundo as
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entrevistas, muitas pessoas dos assentamentos associam o aparecimento de doenças
respiratórias, pele e dor de cabeça, câncer com a contaminação do ar, água pelos fertilizantes
utilizados, principalmente aquele que são aspergidos por meio de aviões próximos nas
agrovilas. Provavelmente, a bacia hidrográfica nessa região está sendo afetada direta e
indiretamente pelo alto grau de uso do agrotóxico nas lavouras de soja. A maioria dos
assentados relata que a qualidade da água dos igarapés, vem sendo imprópria para o consumo
humano. A maior parte dos assentados possuem poço artesiano ou cacimba. É altamente
relevante realizar estudos na bacia hidrográfica para ver o grau de comprometimento da água
pelo uso incontrolável de agrotóxicos na lavoura de soja. A contaminação da água dos igarapés
e açudes, principais fontes de água para cultivo da pupunha e do gado, poderá trazer
implicações para o desenvolvimento e expansão produtiva da cadeia do leite e seus derivados
assim como da cadeia da pupunha. No quadro 1, estão esquematizados os principais problemas
enfrentados nos assentamentos, segundo os entrevistados, assim como as tentativas de
solucionar o problema e como a gestão municipal poderia contribuir para a solução, na
percepção dos entrevistados.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Quadro 1- Principais Problemas Levantados pelos Entrevistados
Demanda do Mercado Local Por Produtos da Agricultura Familiar em Querência- MT
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O levantamento sobre a demanda do mercado local pelos produtos da agricultura
familiar foi feito no mercado institucional do município e no mercado varejista (grande, médios
e pequenos estabelecimentos). Os resultados apontam que demanda é maior que a oferta. Os
fatores que limitam o abastecimento do mercado local pelos produtos dos agricultores são a
falta de regularidade e ausência de inspeção da produção. O mercado local absorveria a
produção dos assentamentos, porém as estruturas produtivas ainda são frágeis, sem
organização e sem capacidade de atender ao mercado. Uma alternativa, seria o investimento
na COOPERQUER para ser um elo entre a produção dos assentamentos e a demanda do
município, tornando-a uma central de comercialização, com papel de organização da produção
nos assentamentos, sendo estruturada para tal.
1) Mercados institucionais: Programa de Merenda Escolar
Foram entrevistados representantes do setor de compras dos produtos para merenda
escolar da secretaria estadual e municipal de educação do município, usando um questionário
semiestruturado para obtenção das informações sobre o volume dos produtos agrícolas
adquiridos para merenda escolar no próprio município3.
O município possui 12 escolas municipais (06 escolas na área rural e 06 escolas na área
urbana) e 04 escolas estaduais (02 na área rural e 02 em área urbana). No ano de 2015 a rede
de ensino municipal atendeu um total de 4.362 alunos, onde 52% estão nas escolas estaduais e
48% escolas municipais. Do total de 53 produtos possíveis da agricultura familiar rural para
compor o cardápio da merenda escolar da rede estadual de ensino, somente 16 produtos
agrícolas foram comprados diretamente dos agricultores do município. Sendo que 05 dos
produtos comprados do agricultor também tiveram que ser comprados nas redes de
supermercados da cidade, pois os agricultores fornecedores não dispunham da quantidade
3 As quantidades de valores dos produtos adquiridos a partir do PAA aqui apresentados trabalhados são referentes
ao ano de 2015.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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total demanda (Figura 10 e 11).
Figura 13 - Fornecedores dos Produtos comprados para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Figura 14 - Categoria de Produtos para Merenda Escolar no Município de Querência em 2015. Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
No ano de 2015, o valor total em reais que foi inserido na economia local com a compra
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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desses produtos da agricultura familiar do município (Tabela 5) para abastecimento das escolas
estaduais do município foi em torno de R$ 46.503,00. Onde 67% desse montante foi destinado
aos produtores locais e outros 33% do volume transacionado ficou nos supermercados locais
com as compras de alimentos não fornecidos em quantidade suficiente ou sem fornecimento
pelos agricultores familiares. Isso implica que o município deixou de investir 33% do recurso
financeiro que poderia incrementar a economia local, uma vez que os produtos comprados em
supermercado vêm de outros municípios e/ou estados.
Na Secretaria Estadual de Educação (SEE) municipal, os valores foram praticamente os
mesmos. Em 2015, 09 produtos foram comprados correspondendo a um volume de 10.459
quilogramas, correspondendo a um valor de compra de R$ 36.117,00, que foram apropriados
por apenas 07 agricultores locais (Tabela 6). Por falta de produto local, a SEE municipal gastou
em torno de R$ 50.000, comprando produtos nos supermercados locais. A lista, abaixo,
apresenta a demanda real por ano dos produtos no mercado institucional, foi fornecida pelo
escritório local SEE municipal (Tabelas 7 e 8).
Tabela 6 - produtos comprados para merenda escolar SSE Querência 2015
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Tabela 7 - Produto comprado de agricultores locais para merenda escolar 2015
Fonte: Secretaria de Educação do município de Querência.
Fonte: Secretaria de Educação do município de Querência.
Tabela 8 - Demanda Real dos produtos frutas e hortaliças da merenda escolar da Secretaria
Estadual de Educação baseado no ano 2015
PRODUTO DE DEMANDA REAL UNIDADE QTE DEMANDADA
Frutas e derivados:
Abacaxi Kg 190
Banana nanica Kg 2700
Coco ralado Kg 86
Laranja Kg 2200
Limão Kg 120
Mamão Kg 240
Maracujá Kg 200
Melancia Kg 2800
Polpa abacaxi Kg 150
Polpa caju Kg 440
Polpa laranja Kg 150
Polpa maracujá Kg 360
SUBTOTAL 9636
Hortaliças:
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Abobora cabotiã Kg 360
Abrobrinha verde Kg 210
Açafrão Kg 15
Alface Kg 100
Beterraba Kg 430
Cebola Kg 900
Cenoura Kg 590
Cebolinha Kg 25
Chuchu Kg 30
Colorau Kg 100
Couve folha Kg 50
Pimenta de cheiro Kg 10
Repolho Kg 890
Salsa Kg 41
Tomate Kg 1220
SUBTOTAL 4971
Fonte: Secretaria Estadual de Educação no município de Querência.
Tabela 9 - Demanda Real de produtos de lavoura branca e proteína animal para a merenda escolar da Secretaria Estadual de Educação baseado no ano 2015
PRODUTO DE DEMANDA REAL UNIDADE QTE DEMANDADA
Lavoura:
Açucar Kg 1700
Açucar mascavo Kg 15
Amendoim Kg 160
Amido de milho Kg 310
Arroz Kg 4350
Canela Kg 9
Farinha mandioca Kg 470
Feijão carioca Kg 850
Fubá de milho Kg 350
Macaúba Kg 150
Mandioca Kg 1060
Milho p/canjica Kg 330
Polvilho azedo (goma) Kg 100
Proteína de soja Kg 10
SUBTOTAL 9864
Proteína animal:
Carne bovina Kg 4320
Carne suina Kg 310
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Frango Kg 3530
Doce leite Kg 125
Leite em pó Kg 1190
Linguiça Kg 680
Mel Kg 100
Ovos galinha Dúzia 880
Peixe Kg 400
Queijo mussarela Kg 400
SUBTOTAL 11055
Fonte: Secretaria Estadual de Educação no município de Querência.
a) Limitações Existentes para Fornecimento dos produtos da agricultura familiar para Merenda escolar
Dentre os fatores que limitam o fornecimento dos produtos oriundos da agricultura familiar
local, destacou-se os principais:
- Deficiência na organização da produção local nos assentamentos – os agricultores não
conseguem se organizar em cooperativas para fornecimento;
- Exigências sanitárias para fornecimento de produtos de origem animal estabelecidas
por legislação federal, estadual e municipal;
- Infraestrutura de estrada trafegável, transporte, armazenamento dos produtos
perecíveis na área rural;
- Processo burocrático administrativo para fornecimento como: licitação, DAP,
contratos, etc.;
- Forma de pagamento a curto, médio e longo prazo;
- Problemas de perda da produção por razões climáticas e de pragas doenças, etc.;
- Inflexibilidade dos contratos quanto a variação de preço durante o ano;
- Falta de fomento do município para aumento da produção, bem como suporte na
comercialização dos produtos;
- Dificuldade das organizações representativas buscarem alternativas para simplificar as
exigências burocráticas com órgãos municipais estaduais, exigiria mobilização;
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b) Sugestões para promoção da Agricultura na merenda escolar
Estabelecer política de abastecimento do setor urbano com produtos da agricultura familiar
local, elaborando projetos e programas com três frentes de trabalho:
1) promover adequação às normas de exigências de qualidade e higiene adaptada a
realidade do município;
2) dialogar com setores de defesa, fiscalização e vigilância para buscar alternativas;
3) viabilizar infraestrutura para produção e escoamento da produção, como por
exemplo, fomentar pequenos fundo (credito, financiamentos) que possam ser acessíveis a estes
agricultores;
4) melhoria das estradas, bem como colocar meio de transporte público nos ramais, que
os deslocamentos sejam pagos por produção;
2) Mercado Varejista local:
Já os varejistas do mercado local (grande, médios e pequenos estabelecimentos),
realizam compras diretas com os agricultores locais (chacareiros e assentados). Os produtos
são: hortaliças, peixes, leite e derivados (queijo). Principalmente no ano de 2015 reduziu-se as
compras desses produtos devido ao aumento de exigências sanitárias (embalagens, selos de
procedência e validade, etc.). Existem alguns fornecedores locais que possuem um certo grau
de organização e conseguem vender sua produção. No entanto, a produção é muito
insuficiente a demanda do mercado.
Para os comerciantes, a compra de produtos locais seria melhor opção, caso fosse
oferecida continuamente e de acordo com exigências sanitárias. Principalmente para pequenos
comerciantes, que demandam quantidade menores, a compra no local torna-se mais barata do
que comprar de fornecedores de fora.
Na visão desses comerciantes, seria necessária uma estrutura local que aglutinasse e
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distribuísse a produção aos varejistas, como por exemplo um CEASA, estimulando a produção,
melhorando a qualidade e, também, reduzindo o preço do produto ao consumidor final.
3) Outras oportunidades:
Segundo responsável de compras de produtos para alimentação dos funcionários da
Fazenda Tanguro, Grupo AMAGGI4, poderia se pensar em obter produtos dos agricultores dos
assentamentos. Algumas tentativas já foram realizadas, no entanto, a qualidade e quantidade
dos produtos demandados, bem como a irregularidade de fornecimento, foram fatores que
impediram continuar a negociação com os agricultores locais. Apesar disso, estariam dispostos
à uma experiência de compra, caso houvesse uma organização por parte dos agricultores.
As tabelas 5 e 6, abaixo apresentadas, destacam os produtos comprados dos
agricultores para merenda escolar; e tabelas 7 a 8 apresentam os produtos da agricultura
familiar e respectivas quantidades demandadas pelas secretarias de educação estadual e
municipal para merenda escolar.
ENTREVISTAS COM ÓRGÃOS
ENTREVISTA VIGILÂNCIA SANITÁRIA – QUERÊNCIA Bruna Vieira Vitor – Coordenadora
1. Atribuições da Vigilância Sanitária
Inspecionar todas as ações que possam afetar a saúde da população. Neste caso, a Vigilância
atua nos estabelecimentos que comercializam alimentos, postos de combustível, unidades de
beneficiamento de alimentos, prestadores de serviços relacionados à estética e saúde e outros
que sejam solicitados e estejam dentro de sua atuação.
Em suas vistorias avaliam a situação de higiene, o funcionamento, a segurança do trabalho,
4 Não foi repassado a lista de produtos, apesar das solicitações feitas.
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equipamentos de combate ao incêndio, e alvará de funcionamento (uma vez que se o
estabelecimento possui o alvará, consequente está em dia com outros documentos exigidos
pelo município).
A equipe é composta por 3 pessoas.
2. Leis vigentes que orientam a ação da Vigilância Sanitária
Lei Federal 6437/77 – Infrações à legislação sanitária federal e sanções
Lei Estadual 7110/99 – Código Sanitário Estadual
Lei Municipal 029/2003 – Código Sanitário do Município
RDC 216 – Manipulação de Alimentos
SIM – atualmente está sendo atribuição da Secretaria de Agricultura
3. Como estão trabalhando com a Agricultura Familiar?
A atuação da Vigilância consiste basicamente em orientar, notificar (em caso de
descumprimento da legislação) e aplicar as sanções cabíveis em caso de reincidência.
No caso dos produtos da agricultura familiar, solicita a identificação do produto, através de
rótulos com a data de fabricação e validade, e dados do produtor (telefone e endereço do sítio
e/ou local de beneficiamento).
Nos estabelecimentos comerciais atuam mais no sentido de recolher produtos com prazo de
validade vencido.
Atuam no sentido de colaborar com a agricultura familiar, pois entendem a importância do
produto para o município e para a geração de renda das famílias, que não possuem recursos
para investir na estrutura adequada e/ou exigida.
Os empreendimentos da Agricultura Familiar visitados pela Vigilância são:
• Produtores de iogurte do P.A. Pingo D’Água – 2 produtores
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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• Despolpadeira da Associação do P.A. Brasil Novo
• Hortas nos limites da cidade – 4 hortas
As visitas acontecem por demanda dos próprios produtores, que precisam se adequar para
comercializar nos mercados da cidade e na merenda escolar, mas quando identificam algum
produto novo no mercado, também realizam a visita para fiscalizar.
Além do supracitado, a equipe também possui um cronograma anual de tipos de
estabelecimentos para visitar e atua mais próximo à equipe da Vigilância Ambiental, também
pertencente à Secretaria de Saúde.
Em relação ao Selo de Inspeção Municipal (SIM), a equipe ainda não realizou nenhuma
intervenção baseada em sua regulamentação, ficando a cargo da Secretaria de Agricultura, mas
acredita que será necessária a homogeneização deste conteúdo junto a todos os órgãos que
atuam na fiscalização no município. A equipe não realiza fiscalização nas atividades de
vendedores ambulantes que comercializam alimentos e beneficiados (melancia, mandioca,
queijo, frango), embora acredite que seja necessário.
4. Apoio ao Desenvolvimento Rural
A equipe acredita que as famílias precisam de apoio, através de assistência técnica e recurso
financeiro, para as adequações e comercialização no município. Se sensibilizam com o temor
que as famílias apresentam em não poder comercializar seus produtos no município e com
práticas abusivas de fiscalização.
ENTREVISTA INDEA – QUERÊNCIA Daniel – Entrevistado
Órgão estadual de defesa animal e vegetal. Trabalham 04 pessoas (agrônomo, veterinário,
técnico administrativo) na fiscalização, com a legislação estadual que rege a defesa vegetal,
animal, inspeção de produtos, observando se tem registro estadual para comercializar.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Trabalham na orientação, educação sanitária e fiscalização.
II - Viabilidade Econômica, Social, Produtiva e Ambiental das Cadeias Produtivas da Agricultura Familiar
Apresentação
A segunda parte do trabalho consistiu em avaliar a viabilidade econômica, social,
produtiva e ambiental das cadeias de produção da agricultura familiar, sendo estudadas as
cadeias do leite, pupunha, piscicultura e da borracha.
1. Cadeia Produtiva da Borracha nos Assentamentos de Reforma Agrária do
município de Querência/MT
1.1 Introdução
Em 2015, a área total plantada com seringueiras ocupava 150 mil hectares,
representando apenas 1,50% da área nacional. Países expressivos nesta produção chegam a
índices de 33,10%, como é o caso da Indonésia, seguido pela Tailândia com 23,60%, Malásia
com 11,90%, China 7,60%, Índia 6,10% Vietnã 5,32% e Myammar 2,86%, segundo os dados do
Grupo Internacional de Estudos da Borracha (SERINGUEIRA, 2009).
Pode-se perceber que a produção do Brasil é insuficiente para atender sua própria
demanda. Pesquisas indicam que o país produz somente 30% da borracha que consome (LUPA,
2008), importando mais que dois terços do que é demandado pelo mercado. Segundo a
Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha, a demanda interna tende a
passar de 300.000 toneladas por ano para 1.000.000 de toneladas em 2030.
Neste recorte, será proposto o fortalecimento da cadeia produtiva do látex. Em parte
por se tratar de atividade demandada pelo mercado, de comprovada rentabilidade e
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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possibilitando o incremento de sua renda, e em parte pela possibilidade de agregar outras
oportunidades por meio de ações de REDD, vindo de encontro ao Plano de Combate aos
Desmatamentos e Queimadas do Estado do Mato Grosso, onde, através do Fundo Amazônia –
FA, estes produtores poderão pleitear o CAR, promovendo sua regularização ambiental e
consequente acesso ao planejamento ambiental e econômico desses imóveis rurais e demais
facilidades de acesso a crédito.
A produção de látex é comercializada para um único comerciante (intermediário) que
revende ao mercado nacional. Outro aspecto percebido é que o produto carece de
investimento, tecnologias e/ou boas práticas que garantam sua qualidade, sendo este um dos
principais motivos para sua não comercialização no ano de 2015.
As variáveis necessárias para dimensionar a viabilidade social e econômica, bem como
dimensionar o mercado que está inserido o produto não foram detalhadas em pesquisa de
campo, como por exemplo: custos operacionais, rendimento do produto in natura, mão de
obra empregada, os agentes e as condições de comercialização (preço, custos, condições de
entrega, entre outros).
Assim, considerando que o Brasil é pioneiro neste tipo de produção, buscou-se estudos
de casos similares, observando as mesmas condições das existentes em Querência, para aferir a
viabilidade econômica, ponderar questões que são importantes para uma avaliação adequada
dessa cadeia produtiva e propor o fomento a esta produção em um cenário apto para o
estabelecimento do negócio.
Em coerência com o público alvo a que se destina as informações aqui organizadas,
adaptou-se a linguagem, principalmente nos itens relativos a orientação para implantação do
negócio, sendo inseridas notas explicativas nos trechos técnicos. Importante ressaltar que este
documento é exclusivamente orientador e instigador no que concerne a ideia da promoção da
produção de látex nos Projetos de Assentamento. Sendo necessários os aprofundamentos dos
dados específicos, de cada comunidade interessada, bem como o acompanhamento de
profissionais da área, como agrônomos e economistas. Recomenda-se também, a partir da
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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decisão pelo estabelecimento do negócio, o intercâmbio junto a experiências bem-sucedidas,
na Amazônia.
1.2 - A Produção de Derivados do Látex no Brasil e Mato Grosso: um Negócio Comprovadamente Rentável
O mercado da borracha teve seu grande momento no Brasil entre a metade do século
XIX e a primeira década do século XX, quando o país detinha praticamente o monopólio da
produção mundial. Com a concorrência dos países do sudeste asiático, que começaram a
explorar o látex, a partir dos anos 80, de forma muito mais competitiva e produtiva, a produção
nacional sofreu um forte declínio. Somente a partir da década de 90, a seringueira voltou a ser
vista como uma oportunidade por instituições de pesquisa brasileiras, que passaram a aplicar
técnicas de cultivo na produção, ao invés de explorar a borracha pelo extrativismo.
Esta tendência incentivou pesquisadores a concluir que o Brasil teria um grande
potencial de se posicionar novamente no ranking mundial de produtores de seringueira,
principalmente devido alguns fatores como: clima favorável; novas técnicas de cultivo; grande
fronteira agrícola disponível no país para a exploração da cultura; o crescente interesse da
parte pública e privada pela seringueira; e ao positivo cenário do mercado heveicultor mundial.
A crescente demanda mundial por borracha natural e a diversidade da aplicação na
indústria conferem o elevado grau de importância econômica da heveicultura. Além disso, a
seringueira, cultura produtora da borracha natural, consolida-se como ótima alternativa para a
produção rural, por se tratar de uma atividade agrícola que, exceto pelo treinamento do
sangrador, é de fácil condução, além de fixar a mão de obra no campo. No Brasil, a seringueira
é cultivada em 12 estados: São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo,
Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná, Amazonas e Acre.
O setor que emprega uma pessoa por quatro hectares plantados (Portal Hevea Brasil,
03/03/16) é responsável pela geração de 80 mil postos de trabalho no país. A safra da
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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seringueira é de 10 meses e, mantidas as técnicas adequadas de manejo do plantio, produzirá
látex por mais de 30 anos. Sua madeira também pode ser aproveitada, gerando renda para
renovação do seringal. Apesar de já haver no mercado a borracha sintética, obtida do petróleo,
as características de flexibilidade, resistência, impermeabilidade e capacidade de isolamento
elétrico são oferecidas apenas pela borracha natural (NETO & GUGLIELMETTI, 2012).
Mesmo com todas estas vantagens, de toda borracha comercializada,
aproximadamente, 50% é originária do continente asiático. Nacionalmente a heveicultura
possui histórica dependência da borracha importada que, atualmente, responde por 2/3 do
consumo no Brasil. Essa dependência é reflexo, principalmente, da crescente demanda das
indústrias automotivas e pneumáticas. Conforme informado pela Agência Nacional de
Transportes Terrestres - ANTT (2015), a frota de veículos de cargas aumentou de 1,3 milhão a
2,3 milhões de unidades, entre 2008 e 2014.
A balança comercial dos produtos florestais, apesar de positiva, com o saldo de US$ 7,4
bilhões em 2014 (SECEX/MDIC, 2014), sofre grande impacto da importação da borracha natural,
correspondendo a 24%, em média (2006-2014), da importação de todos os produtos florestais.
Em 2005, o Governo Federal incluiu na Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM a
borracha natural para os produtores rurais e cooperativas. O preço mínimo é estabelecido para
o coágulo, com 53% de DRC (dry rubber content), que representa o conteúdo de borracha seca.
Algumas regiões comercializam o coágulo com diferentes porcentagens de borracha seca,
sendo necessária à sua conversão para comparativo. Naquela época, o preço mínimo da
borracha seca foi estipulado em R$ 1,00. Desde então, houve evolução gradativa e atualmente
está em R$ 2,00 (maio/2015).
Quando o preço de mercado do produto está abaixo do valor de referência, o Governo
Federal concede subvenção econômica denominada Prêmio Equalizador Pago ao Produtor –
PEPRO. Essa política consiste na venda do produto pela diferença entre o valor de referência e
o valor do PEPRO, arrematado em leilão, obedecida a legislação do ICMS vigente em cada
Estado (CONAB, 2015). Apesar da tentativa do Governo Federal em garantir uma renda mínima
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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para os heveicultores, o preço mínimo de R$ 2,00/kg não é suficiente para a manutenção da
cultura, em diversas regiões produtoras no país.
Sem uma organização social estabelecida, os pequenos produtores rurais, nos projetos
de assentamento se tornam meros coadjuvantes do processo produtivo. Empresários deste
setor contratam estes produtores para a atividade de sangria e coleta do látex. Ao empresário
proprietário cabe a comercialização e a manutenção do seringal. Na maioria das regiões
produtoras os sangradores recebem de 30% a 40% da produção, respondendo pelos tratos
culturais, sangria, coleta e transporte. Ao proprietário cabe o fornecimento de moradia e
insumos, administração e a comercialização. Ou seja, mais de dois séculos de luta pela
autonomia financeira dos seringueiros (mesmo que de floresta plantada), melhoria da
qualidade de vida nos Projetos de Assentamento e concentração da renda com o produtor,
temos de volta a Figura histórica dos “donos dos seringais”, por simples desinteresse e ausência
de políticas públicas que se ajustem a essa realidade.
Sabe-se que nem todo “sangrador é um “seringueiro5” e aqui não se trata de se opor
processo do capitalismo e devidas regras de mercado, no que concerne a estruturação de um
negócio rentável, seja ele público, privado ou comunitário. O que pode incentivar é a visão dos
arranjos comerciais e supor que o cenário nacional e mundial, para heveicultura, é propício
para Parcerias Público/Privada, Público/Privada/Comunitária, privada/Comunitária e que as
políticas públicas vigentes no país precisam alcançar esses grupos de interesses e vice e versa.
Nas regiões mais afetadas, muitos heveicultores estão desestimulados a permanecer na
atividade, suspendendo a sangria das árvores, ou como relatado por produtores do estado do
Mato Grosso, substituindo a seringueira por outras culturas agrícolas mais rentáveis. A médio e
longo prazo, essa situação agravará ainda mais a dependência brasileira na borracha importada.
Para conhecimento do custo de produção e entendimento dos fatores que afetam a
rentabilidade do seringal nas principais regiões produtoras do país, a Confederação da
5 Comunidade tradicional que explora o látex como fonte de subsistência.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA incluiu, em 2013, a heveicultura no Projeto Campo
Futuro. Esse projeto conta com a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR,
da Universidade Federal de Viçosa – UFV e do apoio das Federações de Agricultura e dos
Sindicatos Rurais. A metodologia utilizada no Projeto Campo Futuro, denominada Painel,
consiste na definição da propriedade típica de produção da região estudada e levantamento
dos indicadores para o cálculo do Custo Operacional Efetivo (COE), Custo Operacional Total
(COT) e Custo Total (CT); Receita (RBT), Margem Bruta (MB), Margem Líquida (ML) e Lucro (L)
(Quadro 3).
Quadro 3- Indicadores da Atividade Produtiva do Látex
Fonte: Canal do Produtor, 07/08/2015
Os Painéis foram realizados em Guarapari (ES), Igrapiúna (BA), Monte Aprazível (SP),
Gaúcha do Norte (MT) e São Mateus (ES). Em 2015, Ituberá (BA) também foi incluído no
projeto. Após a realização dos Painéis in loco, a CNA acompanha mensalmente o preço dos
insumos utilizados na cultura e atualiza os custos de produção
Segundo o estudo do Projeto Campo Futuro, “Os produtores são os principais
prejudicados, pois, de maneira geral, como o sangrador recebe parte da produção, seu lucro é
sempre positivo, enquanto o lucro do produtor, dependendo do preço do coágulo e do custo de
produção, pode ser negativo, ou seja, ter prejuízo na produção. Apesar disso, a remuneração
que os sangradores têm tido não é suficiente para mantê-los na cultura, resultando em uma
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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exigência no reajuste do percentual de parceria para até 55% da produção, agravando ainda
mais a situação econômica dos produtores, conforme relatado durante a realização dos
Painéis”. Esta situação relatada pela pesquisa se aplica a realidade dos heveicultores
empresários. Porém, estendendo esta realidade para os projetos de assentamento, com base
nos resultados do Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de
Querência, (2016), olhando o fluxo migratório e a proporção de ocupação com atividades fora
dos PAs, conforme Figuras 15 e 16, respectivamente, entende-se que a intervenção das
políticas públicas vigentes, que asseguram o modelo da reforma agrária, deveria tornar viável
que o produtor investisse em seu próprio lote, em seu próprio negócio, apropriadamente por
meio de associação em sua comunidade.
Figura 15- Proporção de famílias pioneiras/residentes nos Assentamentos.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
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Somente 14% dos moradores dos assentamentos são pioneiros, ou seja, estão desde
início da criação dos assentamentos; PA Brasil Novo e Pingo D’água são os que possuem mais
pioneiros, 25% e 21% respectivamente. Os demais possuem menos 6% de moradores pioneiros.
Figura 16 - Proporção de famílias prestadoras de serviço fora da Propriedade.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Do total de 762 moradores dos assentamentos, cerca 54% realizam outras atividades
econômicas fora do lote. Ainda segundo o estudo do Projeto Campo Futuro, independente do
modelo de produção, a heveicultura vem sendo prejudicada pela redução nos preços do
coágulo. Os resultados coletados mostram essa redução de preço, que em média foi de 27%
nas regiões avaliadas: São Mateus (-31%), Monte Aprazível (-30%), Igrapiúna (-28%), Gaúcha do
Norte (-22%) e Guarapari (-20%).
Os resultados mostram que as piores situações se encontram na região de Gaúcha do
Norte/MT, onde em nenhum mês durante o período avaliado, o preço de mercado do coágulo
esteve acima do COE (Figura1 7), e na região de Guarapari, onde somente durante os três
primeiros meses de avaliação (set-dez/2013), o preço do coágulo foi superior ao COE (Figura
18).
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Figura 17 - Variação do preço de mercado do coagulo 2014/2015 – Gaúcha do Norte/MT.
Fonte: UFV/CNA 2015
Figura 18 - Variação do preço de mercado do coagulo 2013/2015 – Guarapari/ES.
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Observa-se que a queda de preço de mercado do coágulo (Figura 18) é o principal fator
de impacto, pois o Custo Operacional Efetivo manteve-se com pouca variação, no período
avaliado. Os dados apresentados evidenciam que o país deverá estabelecer uma política de
fomento e incentivos fiscais à produção nacional para a heveicultura se tornar competitiva com
os principais produtores mundiais.
O cenário atual indica o desmantelamento de toda cadeia produtiva, formada por
produtores, sangradores, usinas de beneficiamento, viveiristas e produtores de insumos
específicos para a cultura. A dificuldade de competição com os principais produtores asiáticos é
a principal explicação para o cenário apresentado, seguida da ausência de estratégias para
posicionamento do produto no mercado interno nacional, uma vez que a demanda é bem
maior que a oferta, e o Brasil precisa importar para conseguir suprir sua necessidade.
Essa políticas precisam atuar na facilitação do acesso a tecnologias e assistência técnica.
A cultura da seringueira é perene, produz por até 30 anos, e inicia a sangria após o sétimo ano
do plantio. No entanto, o “payback”, que corresponde ao período necessário para a
recuperação do capital investido, é dado entre doze e quinze anos, com valor presente líquido
(VPL) positivo após 12 anos (FERREIRA et al, 2014). É imprescindível a elaboração de um plano
nacional para estímulo à reforma de seringais que possuem clones antigos e de baixa
produtividade, muitos deles recomendados pelo governo federal nas três edições do Programa
de Incentivo à Produção de Borracha Natural – PROBOR I (1972), PROBOR II (1977) e PROBOR III
(1982). Pretende-se com essas medidas melhorar a remuneração da cadeia produtiva da
borracha natural, como forma de atrair maiores investidores para a cultura e elevar a produção
de borracha natural no País. Essas medidas em conjunto contribuirão para, além da melhoria da
remuneração do produtor, a fixação do homem no campo, gerando empregos e
desenvolvimento rural, redução da dependência externa pelo produto e o impacto negativo na
balança comercial brasileira.
Impressiona o reduzido número de políticas públicas que poderiam incentivar terceiros
a investir neste setor. Principalmente para um país essencialmente agrícola e com várias
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iniciativas de assentar o homem no campo por meio da diversificação da produção. Sabendo
que o preço da borracha só tende a valorizar, comprovando-se por diversos motivos, tais como
os plantios não acompanham o crescimento do consumo; os países exportadores de borracha
não querem mais exportá-la in natura, preferindo vendê-la industrializada; a borracha sintética
é feita do petróleo, que além de ser um produto com reservas restritas, está numa crescente
valorização, que afeta diretamente o preço da borracha natural, empurrando-o para cima, estes
e tantos outros. Mesmo assim, o Brasil insiste em ignorar a tendência do mercado, deixando
sua produção cair e suas políticas agrícolas de maior vulto, representarem também as de maior
impacto ambiental.
2. Produção de Borracha no Município de Querência: Análise da Produção e Alternativas Viabilidade Econômica, Social e Ambiental
Do ponto de vista ambiental e econômico, a seringueira é importante para composição
da renda de pequenos produtores rurais e extrativistas, do ponto de vista social, para a fixação
do homem no campo, tanto em seringal nativo quanto em cultivado, dado que é um tipo de
produto que se encontra em produção durante todo ano. Em contrapartida, o extrativismo do
látex na região Amazônica tem pouca expressão, quando se considera o volume total de
borracha natural produzido no país e no exterior. Do seringal nativo, nessa região, um homem
obtém, por ano, de 500 a 600 kg de látex, e do seringal cultivado, mais de 20 toneladas/ano.
Como se vê, a preferência dos produtores por seringais cultivados pode ser visivelmente
justificada pelo volume do total produzido por ano.
O resultado do Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de
Querência (2016) apontou como principal característica dos assentamentos, foco do estudo
(Brasil Novo, Coutinho União, Pingo D’água, São Manoel e Canaã), a diversidade de portfólio e
estratégias produtivas. Para a classificação dos grupos de produtores da agricultura familiar dos
assentamentos, foi estabelecido pela atividade principal importância econômica no lote no ano
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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de 2015. O Estudo identificou que todos os produtores entrevistados trabalham com base à
produção diversificada, no entanto, a importância da produção de uma determinada atividade
produtiva na composição da renda familiar, indica o direcionamento da especialização para
uma ou mais produção.
Durante o processo de tipificação dos grupos, não foi identificada atividade produtiva
do látex contribuindo com a composição da renda das cinco famílias entrevistadas que
possuíam cultivo de seringa, de forma a definir como atividade principal, nem tampouco como
atividade complementar, conforme Figura 20 da composição da renda bruta (RB), a seguir:
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Figura 20 - Composição da renda bruta (RB) dos produtores nos PAs, em Querência/MT.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
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Esse aspecto se justifica pela distribuição das áreas com cultivo de seringa, no município
de Querência, bem como o baixo preço do produto no ano de 2015 que levou a não colheita do
látex.. A partir de levantamento de dados secundários, o Diagnóstico da Produção Familiar e
Opções de Mercado No Município de Querência (2016), detectou que o município possui 1966
hectares de plantio de seringueira, onde 64% estão no ciclo de produção, 35% estão em fase de
implementação (crescimento e plantio), e somente 1% estão abandonadas e que desse plantio,
79% encontram-se na área de 05 fazendas do município (Figura 21). Este fato leva a baixa
produção nos assentamentos, onde somente 180 hectares, 9% do plantio, se encontram em
áreas de pequenos produtores, nos PAs (Figura 22)
Figura 21- Composição das áreas de plantio dos seringais, em fazendas, no município de
Querência/MT (2015).
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Figura 22 - Distribuição das áreas de plantio dos seringais, no município de Querência/MT em hectare (2015).
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Ainda segundo o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município
de Querência (2016), o município reage com uma série de ações estratégias, dentre elas adotar
políticas de contenção de desmatamento e queima orientada pelo Ministério do Meio
Ambiente, buscar alternativas produtivas, especialmente para agricultura familiar (plantio de
seringueira e pupunha) e adoção do Cadastro Ambiental Rural, por exemplo. Paralelo a essas
ações, a expansão do cultivo da soja aumenta no município, pela tecnologia, e intensifica a uso
das áreas já abertas (IPAM 2015).
Segundo Machado (et al., 2014), com o objetivo de quebrar a sazonalidade e minimizar
a carência inerente a heveicultura, foi proposto o consorciamento com banana maçã nos
corredores do seringal até o quarto ano e seguida seria plantado cacau até o sétimo ano.
Estudos apontam ainda que a este cultivo pode-se somar o milho, o abacaxi e leguminosas.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Assim, chegaram-se as seguintes considerações, para reflexão:
1. Considerando as diretrizes apontadas no Plano de Combate ao Desmatamento e
Queimadas do Estado do Mato Grosso – PPCDMT, no Eixo III - Fomento às atividades
sustentáveis, Componente 4. Cadeias Produtivas Sustentáveis, Alternativas Tecnológicas e de
Negócios (gestão de ações para negócios sustentáveis de cunho agrícola, florestal e extrativista,
focados em ganhos de produtividade produção/área) que facilitem a manutenção de sistemas
de controle de origem e certificação, onde se destaca a produção extrativista e, em um futuro
investimento no cultivo da seringueira voltado ao sequestro de carbono.
2. Considerando o potencial de consorciar espécies em um cultivo de seringueira,
diversificando a produção;
3. Considerando a identificação pelo Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de
Mercado No Município de Querência (2016), da tipificação dos grupos de produtores existentes
nos Projetos de Assentamentos, onde temos o Grupo da Agricultura Familiar e o Grupo da
Diversificação da produção;
4. Considerando que, ainda segundo o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções
de Mercado No Município de Querência (2016), nos Projeto de Assentamento (PAs), foi
identificada atividade pecuária extensiva e o alto custo de insumos e mão-de-obra para
atividade de recuperação da pastagem, das quais se encontram na sua grande maioria
degradada com muita presença de sapé e cupins, indicando alto grau de degradação, e com
presença de erosão;
5. Considerando que a diversificação da produção consegue minimizar laços de
dependência de agentes externos, reduzindo as relações mercantilizadas, criando um
agroecossistema com uma diversidade econômico-ecológica e social que lhe garante uma
estabilidade e flexibilidade, aproveitando as oportunidades que surgem no mercado local.
Conclui-se que, a partir da análise de considerações citadas acima e da aptidão agrícola
e de diversificação da produção apontada no Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de
Mercado No Município de Querência (2016), e embasados nos demais autores já citados neste
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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documento, deve-se fortalecer o cultivo da seringueira, com a consequente ampliação da área
plantada e a organização da atividade nas áreas de cultivo já existentes e produtivas, dos cinco
assentamentos do INCRA no município de Querência/MT, a saber: Brasil Novo, Canaã, Coutinho
União, Pingos D’Água e São Manoel, dos quais representam 5,6% da área municipal (IPAM
2015).
3. Característica da Cadeia de Produtiva do Látex no Município de Querência/MT
Elos da cadeia de valor (Figura 21), por Machado (et al., 2014):
1 – T1: Os fornecedores de insumos e serviços, que manufaturam máquinas e
equipamentos para todo o sistema, além de prestar serviços de assistência técnica.
T1.1 para o produtor, produz canecas, arames, ferramentas de sangria, ácidos
coagulantes, adubos, fertilizantes, hormônios e mudas de seringueira.
T1.2 para as usinas de beneficiamento de borracha, produz máquinas, fornos,
esteiras e prensas;
2 - T2: O viveirista que fornece a muda da espécie para o heveicultor/investidor que
quer expandir seu seringal.
3 - T3: O heveicultor/produtor, que realiza todo o investimento na plantação e cultivo
dos seringuais visando extrair o látex virgem.
4 - T4: A indústria de beneficiamento de borracha, que possui a função de coletar a
borracha in natura nas propriedades rurais, lavar, moer, esquentar, prensar, pesar e embalar a
borracha, para assim formar o GEB, que é a referência de preço para o setor (HEVEATEC, 2010).
5 – T5: A indústria que se divide em dois tipos:
T5.1: indústria leve (setores hospitalar, brinquedos, vestuário, calçados,
construção civil, maquinário agrícola e industrial e autopeça).
T5.2: indústria pesada (pneumáticas).
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Durante o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de
Querência (2016), foi identificada (Figura 23) a seguinte cadeia produtiva do látex:
Figura 23 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da borracha nos PAs, no Município de Querência em 2015.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
De acordo com Machado (et al., 2014), podemos afirmar que o elo da cadeia T4,
representa uma parte do trabalho a ser desenvolvido, justamente no que se refere ao
estabelecimento da relação de compra e venda, precificação do produto e retirada desse
produto do campo. Porém na Figura 24, temos no “comprador da produção” uma pessoa física,
em um papel de intermediário entre o heveicultor /produtor e a agroindústria em São Paulo.
O diagnóstico apontou esse personagem atuando somente nos Projetos de
Assentamento. Na cadeia de produção estabelecida nos negócios da borracha natural, nas
fazendas produtoras, a relação se dá diretamente com as agroindústrias, conforme descreve
Machado (et al., 2014), em situação ideal da relação entre os elos dessa cadeia.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Figura SEQ Figura \* ARABIC 24 – Fluxo da Cadeia Agroindustrial da borracha natural.
Fonte: Machado et al., 2014
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Impulsionando toda essa cadeia, existem órgãos e associações que regulam suas
atividades, preços mínimos, incentivos fiscais e custos, entre eles, a título de exemplo, o
Ministério da Agricultura, que tem como objetivo de atender o consumo interno e ainda formar
excedentes para exportação, executando políticas integrando aspectos mercadológicos,
tecnológicos, científicos, organizacionais e ambientais e a Associação Paulista de Borracha
(APABOR) que tem como objetivo auxiliar os produtores e beneficiadores de borracha natural
associados em todos os seus interesses comuns. Possibilitando maior proteção e valorização
técnica de seus produtos, além de colaborar com os órgãos do governo, na elaboração,
implantação, proteção e execução de programas relacionados com o desenvolvimento agrícola,
industrial e tecnológico do país.
4. Cenário da Produção de Borracha
Em uma análise da pesquisa “Custos e Rentabilidade da Seringueira em Diferentes
Cenários de Preço e Produtividade” (Mapa/Ceplac/Cepec, 2014), das orientações do SENAR e da
pesquisa “Custo de Produção e Rentabilidade da Cultura da Seringueira”, do Instituto de
Economia Agrícola - Comissão Especial para Estudos de Custos e Preços Reais da Borracha
Natural, propõe -se um cenário para o negócio da borracha natural em Projetos de
Assentamento, no município de Querência/MT.
Buscou-se proporcionar elementos decisórios por meio de estimativa de custos
operacionais e análise de indicadores de rentabilidade de um sistema de produção de
seringueira considerado sistemas que geram maior lucro e sejam condizentes com a realidade.
Porém, uma certeza proeminente é de que sem investimento, os 180 hectares existentes, nos
PAs, em Querência, não irão produzir de forma adequada, bem como aponta-se a necessidade
de ampliação dessas áreas.
Nesta projeção, estabelecemos que o seringal estava em seu 10º ano em 2016. Porém,
no ano de 2015 não houve exploração da produção. Dessa forma, vamos calcular como se o
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Tabela 10- Cadeia Agroindustrial da Borracha Natural
heveicutor/produtor fosse realizar o investimento da segunda colheita após 7 anos de carência,
uma vez que os insumos, como os painéis e demais investimentos, se perderam no ano de
2015.
Segundo Machado (et al., 2014), em relação ao nível de capital necessário para ingressar
na cultura, o investimento se resume em: custo da muda; o custo inicial para preparação do
solo; custo de adubação; o custo dos painéis; custo de manutenção do mato em volta do
seringal; custo da terra durante a carência de 7 anos. E os custos pós-seringal são: de mão-de-
obra, adubos e da terra.
Para conhecimento e posterior aprofundamento, temos a Tabela 10, ilustrando os
custos dos anos de implementação com custo total de implementação por hectare,
representando todo o investimento realizado até o fim da carência econômica oriunda da
cultura (7 anos). No caso dos 180 hectares nos projetos de assentamento, supõe-se que já
estejam compostos e que passaram por este período de instalação (carência) e que,
atualizando os valores, o investimento teria sido semelhante ao que se apresenta na Tabela 10.
Fonte: Machado et al., 2014.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Importante considerar em relação ao sistema de sangria:
1 - Em relação ao RRIM 600, que é o clone mais plantado em São Paulo e demais regiões
produtoras, o melhor sistema de sangria adotado foi o D3, com estimulação a 2,5%. Ele deu um
ganho líquido de 47% sobre a testemunha, que é o sistema D2;
2 - Em relação ao GP1, que é um clone da Malásia, o melhor sistema adotado foi o D7,
também com uso de estimulantes a 2,5%, dando uma rentabilidade 61% superior em relação ao
sistema D3, utilizado normalmente;
3 – Em relação ao PR 255, o melhor sistema adotado foi o D3, a 2,5%, que rendeu 43% a
mais do que a testemunha, que é o sistema D2;
4 – Em relação ao PB235, o mais eficiente foi o sistema D7, a 2,5%, que gerou um ganho
de 14% em relação à testemunha, que é o D2;
5 – Em relação ao IA873, este rendeu 39% em relação à testemunha com o uso do
sistema D7;
6 – Em relação ao PR 261, o melhor rendimento foi obtido no sistema D4, com
estimulação a 2,5%, gerando um ganho 92% superior à testemunha.
A Metodologia de custo de produção foi baseada em Martin et al. 1998. A Concepção de
curto prazo, remuneração do capital, terra e empresário não são computadas, supondo-se que
isso se fará pela renda líquida.
Estrutura:
a) custo operacional efetivo (COE): despesas efetuadas com mão de obra, encargos
sociais (40% sobre o valor da despesa com mão de obra), operações de
máquinas/equipamentos, veículos e materiais consumidos ao longo do ciclo da cultura;
b) custo operacional total (COT): o COE acrescido da Contribuição à Seguridade Social
Rural - CSSR (2,3% do valor da renda bruta), depreciação de máquinas e do seringal, encargos
financeiros que se refere aos juros de custeio à taxa de 8,00% a.a. sobre o COE, despesas com
mão de obra de fiscal e serviços de assistência técnica.
Tomando como base um seringal onde foi investido 630 mudas RIM 600 por hectare
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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com 10% de perda para replantio e espaçamento lateral entre as árvores de 8 metros, e 2,5
metros entre a árvore da mesma linha a frente, em 100m x 100m, cada hectare comporta
aproximadamente 500 árvores/ha. Com sistema de sangria D46, 6d/77, ET 2,5%8, em meia
espiral, ½S9. Produtividade de 7kg Cg/árvore10 = 2.800 Kg Cg/hectare e DRC 53%. BSV = 1484 kg
BSV. Na tabela 2 temos os componentes do custo de produção (Tabela 11).
Tabela 11 - Participação Percentual dos Itens Componentes do Custo de Produção para a Cultura da Seringueira, Sistema de Produção D4, Produção de 2.800kg de Coágulo, Hectare
Fonte: Instituto de Economia Agrícola 2015
Na tabela 12, temos diferentes projeções relacionadas a diferentes precificações do
6 A frequência de sangria mais utilizada hoje é a que apresenta um intervalo de sangria de 4 dias ou d/4. D4, com a sangria a cada quatro dias,
num total de oito hectares 7 Seis dias da semana, seguido por um dia de descanso
8 Com o objetivo de se obter um fluxo (escoamento) de látex por um maior período, visando aumentar o intervalo entre duas sangrias,
diminuindo, assim, o consumo de casca e a quantidade de mão-de-obra, sem prejuízo da produção, adotou-se a prática de aplicação de produtos
químicos na árvore. Estimulação por ET=Eterfon. 9 Meia espiral - representado por ½S ou S/2. É o sistema, normalmente, mais utilizado, pois divide o perímetro ou circunferência da árvore em
dois painéis de sangria exatamente do mesmo tamanho ou comprimento, permitindo-se obter uma boa produção sem comprometer a vida útil da
árvore. 10
Alguns pesquisadores afirmam que a produtividade do sistema D4 chega a 8kg/arvore.
http://www.heveabrasil.com/?page=simulacao_receita_despesa.asp
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produto.
Tabela 12- Análise da Rentabilidade para Diferentes Valores de Preços Recebidos.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola 2015
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5. Recomendações
A análise de viabilidade visa obter indicadores que recomendem ou não o investimento
no projeto de exploração de látex. No caso dos PAs, onde já se tem o investimento com 180
hectares implantados. Nesse sentido, segundo as análises apresentadas recomenda-se:
1- A continuidade do negócio, que se siga investindo, diagnosticando a situação dos
180 hectares de seringais, atualizando as técnicas para uma maior produtividade e
buscando estabelecer os elos da cadeia de valor corretamente;
2- Investir em novas formas de organizar-se para o mercado, tais como a organização
em cooperativa para o estabelecimento das relações produtivas e comerciais,
principalmente o fechamento de contratos visando a comercialização da produção,
em preços acima de R$2,45/kg e a superação da pessoa física identificada na cadeia
de valor, ora adotada; também se sugere um trabalho relacionado à busca de
investidores e compradores;
3- A ampliação dos seringais, já prevendo seu consorciamento com milho, abacaxi e
leguminosas e com banana maçã nos corredores do seringal até o quarto ano e, em
seguida, plantar cacau até o sétimo ano, proporcionando a geração de renda nos 7
anos de carência;
4- Contratação de consultoria especializada e/ou a parceria junto a instituições, sobre a
possibilidade da instalação de sistemas agroflorestais visando o consorciamento de
espécies madeireiras e não madeireiras, nas áreas dos seringais em produção;
também se sugere que sejam identificadas e recuperadas as áreas dos seringais
abandonados;
5- Que os produtores interessados busquem, antes de tudo, conhecer o negócio da
produção de borracha natural e que lancem mão do recurso de intercâmbio em
casos de sucesso em realidade semelhante;
6- Que o governo promova fomento com financiamento/crédito a baixos juros para
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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implementação do cultivo, principalmente em área que necessitam serem
recuperadas;
7- Que governo municipal discuta e desenvolva um plano de desenvolvimento para o
setor, levando em consideração toda a cadeia produtiva e os órgãos envolvidos na
cadeia, por exemplo, a melhora do serviço de ATER, infraestrutura para escoamento,
buscar estabelecer uma política de subsídio à borracha, com exemplo do estado do
Acre com a produção de borracha natural;
Por fim, recomenda-se que junto às áreas de cultivo se associe o processo de redução
de emissões de carbono11, recomposição de áreas de reserva legal e utilização como madeira12,
após seu ciclo de vida de 30 anos, ou antes disso em reaproveitamento (se for o caso).
Apesar do grande o número de despesas, os custos do negócio são relativamente
baixos. O que mais encarece a plantação de um seringal é a carência, que traz os custos de
oportunidade da terra, ou seja, nesse período o produtor deixa de explorar economicamente a
terra e não possui nenhum tipo de renda (Machado et al., 2014). A solução mais rentável é o
consorciamento, como foi citado anteriormente.
Portanto conclui-se que as barreiras de entradas são baixas, mesmo sendo necessária
certa curva de experiência para ingressar no setor, ao se colocar na balança todos esses pontos
como: custos moderados e o incentivo governamental para fomentar a economia. Assim,
buscando a autossuficiência em produção de borracha natural, o governo brasileiro possui
interesse no crescimento da produção brasileira, oferecendo através do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) empréstimos a juros baixos e prazos longos para essa
cultura, entre outras fontes de apoio, como por exemplo o próprio Fundo Amazônia/BNDES.
11
Em 100 ha de seringueira, para um ciclo de 30 anos, estima-se a produção de 6 mil toneladas de carbono orgânico na biomassa, ou seja,
22.020 toneladas de CO2. Se convertida em títulos certificados de emissões reduzidas, esta produção pode render US$ 67.000 com a venda de
créditos de carbono, sem considerar o carbono fixado na borracha e o CO2 potencial de emissões evitadas (HEVEA BRASIL, 2010). 12
No Vietnã, a meta de exportação de móveis produzidos com madeira de seringueira chegou a US$ 4 bilhões. Já realizado com sucesso em
países como Tailândia, Malásia e Indonésia, no Sudeste Asiático (KRONKA, 2010).
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2. Cadeia Produtiva da Piscicultura nos Assentamento de Reforma Agrária do Município de Querência/MT
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2.1 - Introdução
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, o
mundo produziu 148,3 milhões de toneladas de pescado em 2010, sendo que 128 milhões de
toneladas para o consumo humano – uma média de 18,4 kg per capita. Considerando o
aumento populacional, a FAO projeta que serão necessários no mínimo 100 milhões de
toneladas adicionais para se manter a média de consumo per capita atual em 2030, aumento
este que deverá ser suprido essencialmente pela aquicultura, o que contribuirá para a inserção
do Brasil no mercado internacional.
A previsão é de que até 2015 o consumo anual brasileiro de pescado passará dos atuais
9 kg para 13,8 kg por habitante/ano. Como a população brasileira está por volta de 200 milhões
de habitantes, a cada quilo de incremento de consumo precisamos produzir mais 200 mil
toneladas de pescado, ou o país será ainda mais dependentes da importação do que é hoje. A
fim de atender a essa demanda, o ritmo da produção deverá aumentar em torno de 19% ao
ano. Deve-se levar em conta que o crescimento do consumo em outros países também
aumenta anualmente e de forma cada vez mais acelerada (BRASIL, 2012).
O Estado de Mato Grosso produziu em 2011, aproximadamente, 49 mil toneladas de
peixes cultivados em água doce, se tornando o terceiro maior produtor nacional e o maior
produtor na região Centro-Oeste (MAPA, 201113). Dentre os grupos de peixes mais cultivados,
destacam-se os peixes redondos (formados pelas espécies nativas pacu e tambaqui e seus
híbridos tambacu e tambatinga), bagres de couro (pintado) e os brycons (piraputanga e
matrinxã).
Mesmo que no Brasil exista uma grande concorrência com peixes importados, como o
salmão e panga, e os exóticos produzidos internamente, como tilápia e carpa, espécies que já
têm uma cadeia produtiva desenvolvida, o mercado ainda comporta o pequeno produtor,
organizado por meio de cooperativas e atendendo a uma cadeia pré-estabelecida, orientada
13
Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura. MAPA, 2011.
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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por pesquisadores da área e principalmente voltada a espécie do tambaqui e pintado.
A produção de tambaqui na Região Norte do Brasil é, certamente, um caso de sucesso
na piscicultura brasileira, que vem apresentando as maiores taxas de crescimento no país,
acima de 17% ao ano na última década, sendo o tambaqui a principal espécie produzida,
respondendo por mais de 90% do volume total. De pouco menos de 5.000 toneladas anuais, há
dez anos atrás, sua produção atual superou as 65.000 toneladas distribuídas nos estados do
Norte (Nova Aqua, 2015).
Assim, entende-se que o estado de Mato Grosso possui as características da Amazônia
Brasileira, propícias para atividade da piscicultura, bem como dispõe de facilidades para o
estabelecimento desta atividade produtiva que são a alta disponibilidade de produtos para a
indústria de ração, abundância de água doce, clima favorável e experiências bem-sucedidas
nesta cadeia de valor, estando posicionado como um dos maiores produtores da Região Centro
Oeste.
Neste recorte, propõe-se o fortalecimento da cadeia produtiva da piscicultura, em
particular as espécies mais produzidas (tambaqui e pintado) e comercializadas pelos
produtores, nos Projetos de Assentamento. Citamos também que esta cadeia de valor contribui
para o alcance da meta de refreamento do desmatamento, assumida pelo estado de Mato
Grosso em seu Plano de Combate aos Desmatamentos e Queimadas, sendo comprovadamente
uma atividade de baixo impacto ambiental, a partir de sua implementação por tanques. Atua
ainda, no fortalecimento das ações de REDD, promovendo a regularização ambiental dos lotes
nos Projetos de Assentamento (PAs) e o consequente acesso ao planejamento ambiental e
econômico desses imóveis rurais e demais facilidades de acesso a crédito.
O processo de análise e proposição teve como ponto de partida a constatação da cadeia
produtiva da piscicultura (espécies regionais), existente nos PAs do município de Querência.
Percebe-se a ausência de processamento do produto no elo assumido pela cooperativa,
fazendo com que o ganho pela agregação de valor não retorne aos produtores/cooperados.
Outro ponto forte, percebido no Diagnóstico da Produção Familiar nos assentamentos do
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município de Querência, foi a desagregação dos produtores em relação a orientação para
organização da produção e foco na comercialização, principalmente no alcance do volume
necessário à aquisição e manutenção de contratos, negociação de melhores preços e etc. As
variáveis necessárias para dimensionar a viabilidade social e econômica, bem como
dimensionar o mercado em que está inserida a cadeia de valor não foram, quando
identificadas, possíveis de serem aprofundadas na pesquisa de Pesquisa de Campo, a saber:
custos operacionais, rendimento do produto in natura, mão de obra empregada, os agentes e
as condições de comercialização (preço, custos, condições de entrega, entre outros).
Assim, considerando que o Brasil, nos últimos anos, investiu e segue investindo na
piscicultura, buscaram-se estudos de casos similares, observando as mesmas condições das
existentes em Querência, para aferir a viabilidade econômica, ponderar questões que são
importantes para uma avaliação adequada dessa cadeia produtiva e propor o fomento a esta
produção em um cenário apto para o estabelecimento do negócio. Portanto, além da
bibliografia descrita, foi tomado como base a publicação “A cadeia da produção e o preço do
tambaqui” (Panorama da aquicultura, 2015), a pesquisa “Caracterização e prospecção da
cadeia produtiva da piscicultura no Estado de Rondônia” (Universidade Federal de Rondônia,
2013) e a pesquisa “Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso” (Instituto Mato-Grossense de
Economia Agropecuária /Cuiabá, 2014).
Em acordo com o público alvo a que se destina as informações aqui organizadas,
adaptou-se a linguagem, principalmente nos itens relativos a orientação para implantação do
negócio, sendo inseridas notas explicativas nos trechos técnicos. Importante ressaltar que este
documento é exclusivamente orientador e instigador no que concerne a ideia da promoção da
produção de peixe nos Projetos de Assentamento, sendo necessários os aprofundamentos dos
dados específicos, de cada comunidade interessada, bem como o acompanhamento de
profissionais da área, como agrônomos e economistas. Recomenda-se também, a partir da
decisão pelos ajustes e ampliação do negócio, o intercâmbio junto a experiências bem-
sucedidas, com referência em Parcerias Público-Privada-Comunitária – PPC e direcionada a
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Figura SEQ Figura \* ARABIC 25- Evolução da aquicultura no Brasil.
Fonte: UFMS, 2008.
organização da produção e a indústria de processamento de peixes.
2.2 - A Piscicultura no Brasil e Mato Grosso: Crescimento rumo à sustentabilidade e ao combate à fome
Desde 1970, a aquicultura mundial vem apresentando índices médios anuais de
crescimento de 9,2 %, comparados com apenas 1,4 % na pesca extrativista e 2,8% na produção
de animais terrestres (SEAP, 2007).
Em 1998, o Brasil tinha 96.657 aquiculturas, que cultivavam 78.552 hectares de espelho
d’água. Em 2001, estima-se que este número era de aproximadamente 128.000 produtores e
que o aumento na área cultivada tenha sido da ordem de 40 % em relação a 1998 (SEAP, 2007).
A Figura 25, abaixo, nos mostra a produção de pescado no Brasil no período de 1995 a 2005.
Na última década a produção de pesca no Brasil, como podemos notar na Figura 22 era
cerca de 650 milhões de toneladas, em 10 anos a produção quase dobrou, um crescimento de
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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aproximadamente 44.000 toneladas ao ano. Neste mesmo período, no país, houve a
disseminação da prática de piscicultura, o que colaborou claramente para este crescimento,
como pode ser percebido na Figura 26.
Figura 26 - Comparativo entre a produção extrativa e aquicultura de pescado brasileira.
Fonte: UFMS, 2008.
A Figura 26, mostra que no Brasil, no período compreendido entre 1995 e 2001, a
atividade da piscicultura experimentou significativo crescimento, afirmando-se como
importante atividade para o país no setor do agronegócio.
A piscicultura comercial brasileira firmou-se como uma atividade econômica no cenário
nacional da produção de alimentos a partir dos anos 80, isso se tornou possível devido à
existência de tecnologia compatível com uma criação racional, viabilizando diferentes
processos de produção que permitem o escoamento da produção, tanto em larga como em
pequena escala (Martin et al., 1995). Sendo que nos anos de 1990, a produção de pescado
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cultivado era de 25.000 toneladas/ano (SEAP, 2005). O valor da produção aquícola brasileira em
2001 chegou a um total de US$ 256.800.000,00, sendo US$ 80.000.000,00 decorrentes
piscicultura tropical (Agência Nacional de Águas, 2005).
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a
aquicultura é a mais rápida das atividades agropecuárias em termos de resultados produtivos e
uma das poucas capazes de responder com folga ao crescimento populacional, o que pode
contribuir para o combate à fome em todo o mundo. No Brasil, em 2009, a produção total da
aquicultura, foi de 415.649 t sendo 337.353t da piscicultura, das quais 81,2% foram oriundas da
produção de organismos aquáticos continentais (MPA, 2010).
A pesca baseia-se na retirada de recursos pesqueiros do ambiente natural. Já a
aquicultura é baseada no cultivo de organismos aquáticos geralmente em um espaço confinado
e controlado. A grande diferença entre as duas atividades é que a primeira, por ser extrativista,
não atende às premissas de um mercado competitivo. Já a aquicultura possibilita produtos mais
homogêneos, rastreabilidade durante toda a cadeia e outras vantagens que contribuem para a
segurança alimentar, no sentido de gerar alimento de qualidade, com planejamento e
regularidade.
De acordo com cadastro cedido pelo IMEA-MT, existiam 994 produtores de peixe em
Mato Grosso até janeiro de 2014, distribuídos por todo o Estado. Assim, após o conhecimento
da população, foi feita a seleção das regiões mais representativas em despesca de 2013. Foram
encontrados 28 municípios que representavam mais de 90% da despesca realizada em 2013.
Esses municípios foram divididos em seis núcleos de acordo com a localização e logística
intermunicipal (Tabela 13).
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Tabela 13- Municípios Representativos em Produção de Peixe do Estado de Mato Grosso.
Como se percebe na tabela 13, o município de Querência/MT ainda não se encontra
inserido dentre as localidades com produção de peixe mais expressiva. Com relação ao local
onde residem os piscicultores de Mato Grosso foi constatada uma predominância da área rural,
atingindo o valor de 74,12% da amostra estadual, e o restante da amostra (25,88%) afirmou
residir na área urbana de seus respectivos municípios (IMEA, 2014).
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
[email protected] - 83 Figura SEQ Figura \* ARABIC 27 - Organizações Participantes
da Pesquisa do IMEA/MT.
Fonte: IMEA 2014
Em relação às entidades representativas de classe, foram identificadas no Estado de
Mato Grosso, a Associação dos Criadores de Bovinos (ACRIMAT), Associação dos Produtores de
Soja e Milho de Mato Grosso (APROSOJA), Associação dos Aquicultores do Estado de
Mato Grosso (AQUAMAT) e a própria Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato
Grosso (FAMATO). Porém, a pesquisa realizada pelo IMEA encontrou resultados que apontam a
necessidade de um trabalho mais assíduo com os piscicultores para que exista conscientização
deles sobre uma melhor organização, seja por vínculo a sindicatos, cooperativas ou associações.
A Figura 27 apresenta os resultados encontrados pela pesquisa. Percebe-se que 54,98%
afirmaram não serem associados ou participarem de alguma entidade para a representação da
classe; 22,51% afirmaram que participam de associações de produtores de peixes; 11,69%
relataram que participam dos sindicatos rurais de suas respectivas regiões; outros 9,52%
afirmaram que participam de cooperativas; e 1,30% não responderam à questão. Sobre os
principais motivos para se iniciar a atividade da piscicultura no Estado de Mato Grosso, em
acordo com a Figura 28, abaixo, 30,07% da amostra estadual afirmou que o gosto pessoal pela
atividade foi o motivo que mais pesou na escolha de entrar; em segundo lugar, a
disponibilidade de água foi o fator mais importante para se iniciar a piscicultura no Estado. A
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
[email protected] - 84
Figura SEQ Figura \* ARABIC 28 - Motivação para Desenvolver piscicultura no
Estado do Mato Grosso.
necessidade de diversificação na propriedade rural e alto retorno do investimento
representaram 15,85% e 11,66%, respectivamente.
Fonte: IMEA 2014
No que se refere às atividades que eram exercidas antes da piscicultura pelos
entrevistados, percebe-se que os resultados para a amostra estadual foram de 34,59% de
participação da bovinocultura de corte; o mesmo valor, isto é, 17,67% de participação para as
atividades de agricultura e outra atividade; 16,54% de participação para a bovinocultura de
leite; 12,41% de participação para os que não exerciam nenhuma atividade; e 1,13% de
participação da atividade florestal (Figura 29).
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
[email protected] - 85
Figura 29 - Atividade agropecuária que era exercida pelos entrevistados antes de iniciar o empreendimento piscícola em Mato Grosso.
Fonte: IMEA, 2014
A bovinocultura de corte ainda é presente, com 33,85% da amostra estadual afirmando
que essa é a atividade desenvolvida em paralelo ao empreendimento piscícola. Porém, em
segundo lugar na participação de respostas afirmativas, 26,54% afirmaram não exercer
nenhuma atividade em paralelo, mostrando o ganho de importância da piscicultura (Figura 30).
Figura 30 -Atividade agropecuária exercida em paralelo à piscicultura pelos entrevistados pelo IMEA em Mato Grosso.
Fonte: IMEA 2014
A pesquisa do IMEA chegou a conclusão, sobre a piscicultura no estado do Mato Grosso,
para o produtor que possui vontade de empreender, essa cultura tem um fácil manejo diário,
alta produtividade, diversos sistemas de produção compatíveis a cada situação do produtor,
além de um amplo número de espécies nativas com potencial econômico para a exploração. O
estado possui uma grande produção de grãos para a ração e uma geografia favorável, com
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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grande disponibilidade hídrica e clima estável, adequados ao crescimento animal.
Por outro lado, faltam pesquisas para explorar todo esse potencial zootécnico, há
poucas informações mercadológicas, carência de quantidade e qualidade da mão de obra
especializada e, a falta de estratégia pública para o desenvolvimento da cadeia gera leis
complexas e burocráticas em relação ao meio ambiente e um crescimento desalinhado entre os
elos da cadeia. Ao mesmo tempo, gera risco à sanidade animal, uma vez que não existe um
protocolo padrão para evitar e controlar possíveis doenças, bem como inexistência de fármacos
específicos para a piscicultura.
O importante é se buscar a excelência na produção, os investimentos necessários e um
produto de baixo custo, de fácil acesso e preparo para o consumidor final, com o propósito de
competir diretamente com os filés de peixes congelados importados e outras carnes presentes
no mercado.
2.3 – Análise da Cadeia da Piscicultura no Município de Querência/MT
a) Análise da produção e alternativas para viabilidade econômica, social e ambiental
O resultado do Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de
Querência, apontou como principal característica dos assentamentos, a diversidade de portfólio
e estratégias produtivas. A classificação dos grupos de produtores da agricultura familiar dos
assentamentos foi estabelecida pela atividade principal importância econômica no lote no ano
de 2015. O Estudo identificou que todos os produtores entrevistados trabalham com produção
diversificada, no entanto, a importância da produção de uma determinada atividade produtiva
na composição da renda familiar, indica o direcionamento da especialização para uma ou mais
produção.
Durante o processo de tipificação dos grupos, foi identificada atividade produtiva da
piscicultura na proporção de 53%, de forma a definir como atividade principal do Grupo Criação
de Pequenos Animais, onde além da atividade de piscicultura dominante nesse grupo (53%),
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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foram identificadas também criação de aves, suínos e ovinos. A piscicultura também foi
apontada como atividade complementar (1%) no Grupo Agricultura, onde a produção de soja
alcança 69% da composição da renda bruta.
A partir de levantamento de dados secundários, o Diagnóstico da Produção Familiar e
Opções de Mercado No Município de Querência (2016), detectou ainda que as atividades
produtivas das propriedades correspondem em média com 75% do valor bruto total da
produção dos entrevistados. A renda não-agrícola é uma realidade na composição da renda
bruta total de quase todos os grupos, com exceção somente do grupo de pecuária de corte que
não a possuem.
Porém, em relação à atividade produtiva da piscicultura, no Grupo Criação de Pequenos
Animais, chama atenção a proporção da renda agrícola (69%) em comparação a renda não-
agrícola (31%), na tabela 14, gerada com o restante da aptidão do Grupo, a criação de
pequenos animais, entre eles, o peixe, sendo que, em proporção para este último, temos 53%
da RB, encerrando então somente 21,39% da Renda Bruta Total (RBT= renda agrícola + não-
agrícola). Assim, conclui-se que, mesmo com os investimentos para o estabelecimento da
cadeia da piscicultura, por parte dos produtores, ainda se faz necessário conhecer a realidade
da piscicultura familiar e de suas relações com as demais atividades existentes na propriedade;
priorizar as demandas tecnológicas e não tecnológicas; promover avaliações de impacto da
piscicultura e fortalecer o associativismo/cooperativismo entre os piscicultores de cada PA
promovendo a união e ação conjunta entre produtores de diferentes Projetos de
Assentamentos (PAs).
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Tabela 14 - Comparação da proporção na renda bruta (RB), das origens agrícola e não-agrícola nos PAs, no município de Querência/MT.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
As propriedades visitadas durante o Diagnóstico foram observadas com o objetivo de
avaliar como a piscicultura se comunica com os sistemas de produção agropecuários existentes
na propriedade. Esta abordagem relaciona os aspectos econômicos, sociais e ambientais,
contribuindo para o direcionamento de políticas públicas. Em relação às estruturas dos
tanques, notou-se a ausência de um padrão advindo de assistência técnica especializada.
Percebeu-se tamanhos diferentes e instalações em locais não adequados, contribuindo para
baixa produtividade. A mesma precariedade nota-se também em relação ao uso da ração e a
criação dos alevinos, no que concerne às técnicas de recria, engorda, contagem do povoamento
para fase de transferência e etc.
Há pouco domínio sobre o sistema de produção, ou seja, o manejo da piscicultura.
Ostrenskyet al. (2008) afirmam que o principal problema enfrentado pela piscicultura
continental brasileira nos últimos anos é a lenta, mas contínua transição de uma fase artesanal
e com baixos índices econômicos e zootécnicos, para uma atividade desenvolvida em escala
verdadeiramente comercial. Estes autores também relacionam como problemas da piscicultura
continental a falta de linhas de crédito, dificuldades de acesso ao crédito para o custeio da
produção, de treinamento e de qualificação técnica, dificuldade de acesso aos mercados, baixo
consumo de pescado per capita na sua região, problemas de logística (vias de transporte,
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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conservação do pescado), competição por produtos oriundos da pesca e a necessidade de
abertura de novos mercados consumidores. Sidônio et al. (2012) apontam outros problemas
como a dificuldade na obtenção de licenças, carência de assistência técnica, manejo
inadequado, falta de padronização, insuficiência de pacotes tecnológicos e grande necessidade
de capital de giro.
b) Característica da Cadeia de Produtiva da Piscicultura no Município de Querência/MT
Para Resende (2009) a cadeia produtiva da aquicultura necessita do desenvolvimento de
projetos que contemple aspectos como melhoramento genético, nutrição, sanidade, manejo e
gestão ambiental e aproveitamento agroindustrial e a eleição de espécies prioritárias
(Xavier,2013). Scorvo Filho (2004), acrescenta que para o alcance de maior produtividade é
necessário o apoio das atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Durante o Diagnóstico da Produção Familiar e Opções de Mercado No Município de
Querência, foi identificada a seguinte cadeia de comercialização da piscicultura (Figura 30). O
mercado local (município de Querência), inclui uma feira de produtores livres onde o piscicultor
tem acesso ao consumidor final, aos varejistas (mercearias, supermercados de porte médio) e
ao distribuidor local. De acordo com a Figura 33, foi identificado um produtor com prática
diferenciada e que consegue posicionar 20% de sua produção no mercado regional, alcançando
assim um melhor preço para seu produto (R$15,00/kg), entregando 65% ao distribuidor local,
no município de Querência/MT ou, dependendo da oportunidade, repassando, em quantidades
iguais como 7,5% varejista e 7,5% ao consumidor final. O restante dos produtores envolvidos
com estas atividades produtivas, repassam sua produção (peixe fresco in natura e sem
beneficiamento) a um distribuidor local que repassa a um varejista e este ao consumidor local.
O peixe é vendido inteiro e eviscerado e o preço médio praticado pelos piscicultores na venda é
de R$ 10,00/kg, verificando-se que os preços variam do distribuidor para o varejista
(R$12,00/kg) e deste para o consumidor final (R$18,00/kg).
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Figura 32 - Fluxo da Cadeia de Comercialização da Piscicultura nos PAS do Município de Querência/MT em 2015.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
A renda bruta total encontrada pelo levantamento realizado com agentes mercantis da
cadeia de comercialização do peixe no município de Querência foi de mais R$ 2 milhões. O
Valor Agregado Bruto gerado foi de R$ 2.309.020,00, correspondendo a mark-up de 104%. O
varejista local foi o que obteve a maior margem bruta 506%, pois cerca de 74% foi
transacionado pelo varejo urbano local, 11% pela distribuidora local e 15% pelos produtores. A
distribuidora local que é a COOPERQUER, facilita a venda dos produtores emitindo nota fiscal
para a comercialização. O resultado dessa margem está relacionado ao preço de compra e
venda do peixe pelo varejista local. (Tabela 15).
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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Tabela 15- Valor de Produção Bruto Total de Peixes Vendidos em 2015 pelos Entrevistados.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Percebe-se que a variação dos ganhos para cada sujeito elo da cadeia é inexpressivo. A
partir da estruturação de uma cadeia viável, podemos ter a agroindústria e consequente
agregação de valor retornando ao produtor, dependendo do modelo comercial a ser adotado.
Nesse caso sugere-se um modelo de parceria público Privada Comunitária (PPC), já adotada
com sucesso em alguns estados no Brasil, como é o caso do estado do Acre. Também foi
identificado que varejistas do mercado local (grandes, médios e pequenos), realizam compras
diretas com os agricultores, porém as quantidades, principalmente no ano de 2015, reduziram
devido ao aumento de exigências sanitárias (embalagens, selos de procedência e validade, etc.).
Poucos produtores possuem certo grau de organização e conseguem vender sua produção,
entretanto, não conseguem atender à demanda do mercado local.
Para os comerciantes em Querência, há um maior ganho em se comprar o produto local,
uma vez que a demanda por este produto possui uma escala reduzida e os preços operados
pelos produtores locais são mais atraentes. Porém, o produto ofertado deve ter fornecimento
contínuo e estar de acordo com exigências sanitárias.
Na visão desses comerciantes, seria necessária uma estrutura local que aglutinasse a
produção e distribuísse aos varejistas como, por exemplo, o modelo de atuação da CEASA. Isso
estimularia a produção e a compra e, consequentemente, o preço do produto ao consumidor
final sairia mais competitivo (baixo), além de ser ter um produto com melhor qualidade (IPAM,
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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2015).
Como apresentado anteriormente, uma possível alternativa seria investimento na
COOPERQUER para ser o elo entre a produção dos assentamentos e a demanda do município,
tornando-a uma central de comercialização, com papel de organização da produção nos
assentamentos. Merece destaque o fato de que não há registro de comercialização feita
através de programas oficiais de compra direta de alimentos. Essa comercialização ainda não é
explorada devido à impossibilidade de atender às exigências relativas ao beneficiamento do
pescado. Estas exigências dizem respeito principalmente a um processamento mínimo em um
entreposto, possuidor de certificação de um órgão de inspeção sanitária municipal, estadual ou
federal. Outro ponto de atenção ainda não resolvido para esta atividade produtiva nos PAs,
trata-se do licenciamento ambiental.
Nenhum dos piscicultores entrevistados afirmou ter previsão de investimentos na
piscicultura, mesmo no grupo de tipificação de criação de pequenos animais. Um dos
moradores, durante o processo das entrevistas para o levantamento do diagnóstico, propôs a
possibilidade da criação de uma colônia de pescadores na comunidade que possa exercer o
papel de fiscalização além da geração de renda através da pesca e a organização para receber o
conjunto de turistas.
De uma forma geral, os motivos que levam a esta desmotivação, ou a este estágio inicial
de desenvolvimento da piscicultura dentro do sistema produtivo no município de
Querência/MT, são, entre outros:
1 - Baixa produtividade decorrente de deficiências tecnológicas;
2 - Custo de produção elevado, devido ao elevado custo de ração e baixa produtividade;
3 - Investimento de implantação elevado devido ao alto custo de hora/máquina
necessária para a implantação dos viveiros escavados;
4 – Dificuldade nos processos de licenciamento junto aos órgãos competentes;
5 – Dificuldade de acesso a crédito;
6 – Cadeia de produção operando para uma desvalorização do produto e ausência de
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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agregação de valor;
7 – Ausência de comunicação entre os produtores dos PAs para organização e busca por
melhores condições de produção, arranjos institucionais, preço, entre outros aspectos.
Segundo Scorvo Filho (2004) pode-se definir, basicamente, três tipos de sistemas de
criação em aqüicultura:
1. Extensivo: É muito utilizado por pequenos produtores em pequenas áreas de espelho
d’água, no qual não se utiliza ração comercial e os organismos aquáticos são alimentados,
tradicionalmente, com subprodutos agrícolas, obtendo-se baixa produtividade. Tratando-se de
piscicultura, deve-se ressaltar que este sistema também é empregado em grandes represas,
onde o repovoamento é feito com alevinos, e do qual o peixe é retirado através da pesca
tradicional de pequena escala. Neste caso, a produtividade ainda é pequena e varia com a
capacidade de suporte do corpo d’água.
2. Semi-intensivo: É o mais utilizado no Brasil e já emprega alguma tecnologia de
criação, como: viveiros-berçário, ração comercial e controle (básico) da qualidade da água.
Neste sistema, a produtividade pode chegar a até 16 toneladas por hectare/ano.
3. Intensivo: Há poucos anos atrás, este sistema se restringia às regiões serranas, onde
se pratica a triticultura. Atualmente, já é utilizado na criação de espécies de peixes tropicais
(pacu e piauçu) e exóticos (tilápia), como também de outros animais aquáticos. Esse sistema
tem como característica principal a utilização de: a) em terra - pequenos tanques com alta
densidade de estocagem e alta renovação de água; b) em lagos, açudes e reservatórios de
hidrelétricas – tanques-rede e gaiolas. Com o sistema intensivo pode-se obter alta
produtividade, algumas vezes acima de 30 toneladas por hectare/ano. A prática da piscicultura
identificada junto aos produtores nos Projetos de Assentamento em Querência, encontra-se em
um processo de transição entre o sistema semi-intensivo para o intensivo, mas carece de
investimentos para dar celeridade ao processo de mudança.
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2.4 - Possíveis Alternativas para Cadeia Produtiva da Piscicultura nos Assentamentos no Município de Querência/MT
a. Custos na criação de peixes redondos14: uma proposta para melhoria da atividade de
piscicultura nas Projetos de Assentamento, no município de Querência/MT:
O documento apresenta agora uma análise de custos na produção de Tambaqui
(espécie já comercializada pelos produtores dos PAs em Querência/MT), com o objetivo de
sugerir melhorias na atividade de piscicultura identificada por meio do Diagnóstico da Produção
Familiar e Opções de Mercado No Município de Querência, sendo que existe a necessidade, em
um momento posterior, de se aprofundar no mapeamento do COT e COE estruturados de
forma precária para a atividade da piscicultura como ora se apresenta, somente como forma de
entender melhor o contexto e dimensionar/mensurar os gargalos já identificados, agindo como
fase preparatória para implementação de um negócio rentável aos produtores, que consiga
alavancar o orçamento familiar e gerar lucro real.
Se faz importante saber até onde essa atividade pode influenciar na renda final do
produtor, verificando o quanto a atividade é significativa a ponto de contribuir para o
fortalecimento e fixação dos produtores familiares, evitando a evasão (êxodo rural) dessas
famílias. De acordo com pesquisa da EMATER/RO realizada em 2006, a espécie aqui
caracterizada têm hábito alimentar onívoro, aceitando muito bem ração balanceada, além de
se alimentar do plâncton, alimento natural em viveiros bem fertilizados. Sua adaptação em
cativeiro está comprovada; o tambaqui pode alcançar em média 2 kg em um período de 12
(doze) meses, e dependendo do sistema e manejo utilizado, poderá alcançar maior peso.
Em relação aos custos de produção, estes são formados pela aquisição de alevinos,
preparo dos tanques para receber os peixes, ração, e depreciação dos tanques, máquinas e
equipamentos, redes de arrasto, tarrafas, motores elétricos, bombas d’água, cercas elétricas, e
em alguns casos há também um custo com câmeras de segurança para monitoramento dos
14
Espécies nativas pacu e tambaqui e seus híbridos tambacu e tambatinga.
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tanques. Além de custos com combustíveis, energia elétrica e mão de obra.
Para a construção dos tanques escavados utilizados na criação de peixes, é necessário
um investimento considerável, que varia não só com o tamanho da área a ser escavada, mas
também oscila de acordo com as condições do terreno. Para o cálculo da depreciação do
período foi utilizado um tempo de vida útil para os tanques de 50 (cinquenta) anos com base
em estudo de (IZEL; MELO 2004).
São realizadas análises do solo para indicar procedimentos de correção por meio do uso
de produtos como, cal, adubos químicos e orgânicos que venham dar condições apropriadas de
criação, e isso resultam em custos variados em cada propriedade conforme as características do
terreno onde estão os tanques. Após o procedimento de correção dos tanques se faz o
povoamento dos mesmos com alevinos que são adquiridos de produtores especializados, pois
sua produção exige altos investimentos e especialização técnica. A quantidade de alevinos
adquiridos por cada produtor varia de acordo com o tamanho da lâmina d’água disponível em
cada propriedade.
O Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso, realizado pelo IMEA em 2014, propõe a
construção de indicadores para formação do COT (Tabela 16) e COE (Tabela 17), a partir da
pesquisa de caracterização das atividades nas regiões do estado, junto a produtores típicos de
cada região.
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Tabela 16- Custo de produção por quilograma de peixe redondo produzido (R$/kg).
Fonte: IMEA, 2014
Dentre as regiões que cultivam peixes redondos, a região centro-sul, além de obter a
maior margem líquida do Estado, 22,23%, obteve o maior lucro líquido, no valor de R$
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159.624,18, seguida pela região sudeste, com uma margem de 16,67% e um lucro líquido de R$
14.653,99. A região norte apresentou uma margem líquida negativa de -14,00%, com um
prejuízo de R$ 16.404,78 (tabela 15).
Tabela 17 - Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE) das regiões na produção de peixes redondos (R$).
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Fonte: IMEA, 2014
Segundo o Diagnóstico da Piscicultura em Mato Grosso, realizado pelo IMEA em 2014, a
única fonte de receita da atividade piscícola modal do Estado foram as vendas de peixe
redondo, sendo o maior preço de venda praticado na região sudeste, no valor de R$ 4,30/kg do
peixe vivo, seguida pelo centro-sul, valor de R$ 4,20/kg, e a região norte, com o menor valor de
venda, de R$ 4,00/kg. Considerando o ponto de equilíbrio, momento em que o custo
operacional de produção é igual ao preço de venda, o preço de venda para remunerar todos os
custos na região centro-sul seria de R$ 2,82/kg, no Sudeste, R$ 3,04/kg e R$ 4,29/kg na região
norte (Tabela 18).
Tabela 18 - Preço médio pago por kg de peixe por região: comparação em ter peixes redondos, bagres de couro15 e brycon16.
15
Pintado 16
Tilápia
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Fonte: IMEA 2014
Apesar do número de despesas e custos do negócio serem expressivos, seu retorno,
quando implantado corretamente, é garantido, em um mercado que cresce continuamente, no
Brasil e no mundo. Uma das alternativas aos pequenos produtores, para sua inserção na
atividade da piscicultura de forma a gerar lucro real e gerenciar um empreendimento
competitivo, passaria pelo estabelecimento de consórcio de empresários, cooperativas e
governo do Estado num modelo de Parceria Público-Privada – Comunitária (PPC), garantindo a
participação mais efetiva do setor privado e do pequeno produtor familiar nesse processo e
chegando a indústria, de propriedade de uma futura Sociedade Anônima (S.A), encerrando
todos estes atores.
A FAO (2012) relata que muitos governos têm reconhecido atualmente a
sustentabilidade como objetivo principal da gestão da aquicultura, o que permite a este setor
que se estabeleça durante muito tempo. A prosperidade a longo prazo baseia - se no
cumprimento de quatro quesitos para o desenvolvimento sustentável da aquicultura: o
desenvolvimento tecnológico, a viabilidade econômica, a integridade ambiental e o consenso
social, compatível com o bem-estar ecológico e humano. Na visão de Castro et al. (2005), a
aquicultura moderna está embasada em três pilares: a produção lucrativa, a preservação do
meio ambiente e o desenvolvimento social. Os três componentes são essenciais e indissociáveis
para uma atividade perene.
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3. Cadeia Produtiva do Leite nos Assentamento de Reforma Agrária do Município de Querência/MT
3.1 - Introdução
A Bovinocultura Leiteira tem um papel significativo no desenvolvimento econômico de
países em desenvolvimento, principalmente nas regiões predominantemente agropecuárias.
Isso tem ocorrido devido à crescente inserção do agronegócio na “economia globalizada”. Por
outro lado, para atingir resultados satisfatórios, as atividades agropecuárias têm enfrentado
desafios para manter um elevado nível de competitividade em termos de custos, preços,
qualidade, condizentes com os padrões do mercado moderno. A cadeia produtiva é um sistema
formado por um conjunto de setores econômicos que estabelecem entre si significativas
relações de compra e venda. Tais setores, articulados de forma sequencial no processo
produtivo, envolvem toda a atividade de produção e comercialização de um produto de forma
que, no decorrer da cadeia, os produtos são crescentemente elaborados, obtendo-se agregação
de valor (Pacheco 2012).
Além da sua importância nutritiva, o leite desempenha um relevante papel social,
principalmente na geração de empregos. O País tem, hoje, acima de um milhão e cem mil
propriedades que exploram leite, ocupando diretamente 3,6 milhões de pessoas (Pacheco
2012).
3.2 - Metodologia Utilizada
Os dados da análise foram provenientes dos assentamentos Brasil Novo, Canaã,
Coutinho União, Pingo D’água e São Manoel. O levantamento de informações secundárias foi
realizado através de bibliografias sobre a cadeia do leite a nível local, estadual e nacional.
Foram realizadas reuniões com equipe técnica local da Secretaria Municipal de Agricultura, ISA
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e IPAM para mapeamento dos produtores dos assentamentos por categoria, considerando a
principal produção. Em seguida foi realizado um Diagnóstico Rural Participativo – DRP,
contendo duas etapas: uma etapa de levantamento através de uma oficina/reuniões nos
assentamentos, reunindo o máximo de pessoas informantes para quantificar a produção (ano
de 2015) do assentamento; outra etapa com realização de entrevista utilizando questionário
semiestruturado com grupo de produtores indicados pela equipe técnica. O questionário
semiestruturado continha informações sobre o aspecto social, produção, valor dos
equipamentos, benfeitorias, custo da produção, preço de venda, insumos e serviços. A coleta
de dados deu-se no período de fevereiro a março de 2016. Foram entrevistados 33 produtores
dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, a COOPERQUER, secretarias de educação
estadual e municipal, Vigilância Sanitária, INDEA, SAGRI e STTR.
O trabalho de viabilidade foi realizado com os dados levantados nas entrevistas dos 33
produtores dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, Secretaria de Agricultura Municipal
e a COOPERQUER. Foi utilizado o preço da terra baseado na tabela oficial do INCRA que
estabelece que 01 hectare de terra nua no município de Querência tem o valor de R$ 2.254,00
(INCRA 2015). Por ser difícil coletar informações dos produtores sobre depreciação e mão-de-
obra familiar, resolveu-se estabelecer como referência os valores de depreciação de máquinas,
equipamentos e benfeitorias (R$ 1.146,38/ano) assim como valor de mão-de-obra (R$
2.871,04/ano), e os valores médios para produtores que produzem até 50 litros/dia,
estabelecido no estudo da bovinocultura do Estado do Mato Grosso realizado pela FAMATO
(2012).
A Renda Bruta (RB) da atividade foi estimada utilizando-se os valores correspondentes à
venda da produção total do leite, utilizando o preço de mercado de R$ 0,65 por litro (variando
de R$ 0.63 a 1,00/litro de leite in natura), correspondendo ao valor local para que o leite seja
recebido na propriedade sem custos adicionais com fretes e transportes. Os custos
considerados foram os gastos com alimentação, mão-de-obra, medicamentos, aluguel de pasto,
manutenção de cerca, prática de correção de solo, entre outros. Os custos com insumos e
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serviços foram obtidos pelo total efetivamente utilizado, multiplicado pelos respectivos preços
unitários.
Considerando que na atividade de bovinocultura leiteira não se deve comparar preço do
leite com os custos da atividade leiteira, por se produzir tanto o leite como a carne, foi
necessário estabelecer uma metodologia de cálculo para transformar os custos desta atividade
em custos do leite. Sendo assim, o valor total dos custos foi multiplicado por 80%, a fim de se
obter, somente, o valor de custo da produção de leite.
3.3 - Contexto da Cadeia do Leite nos Assentamentos do Município de Querência/MT
a) Breve contexto sobre a Produção do Leite no Brasil e Mato Grosso
O Brasil ocupa a 5ª posição do ranking de grande produtor mundial de leite, ficando à
frente de países destacados no mercado internacional, como Alemanha, França, Nova Zelândia,
Argentina e outros. Os estados com maior participação nacional, em ordem de importância, são
Minas Gerais, com 27% de toda produção, Rio grande do Sul e Paraná, com 12% e Goiás, com
10%. No entanto, a produção de leite do país é proveniente, em sua maior parte, de sistemas
extensivos de produção, ou seja, o aumento da produção tem como principal fonte a
incorporação de vacas ao rebanho. Em 2010 a produção foi de 31,7 bilhões de litros, sendo a
produtividade do rebanho pequena, correspondendo em média a 1.381 litros por vaca
ordenhada/ano. Nesse período, de 1980 a 2010, houve crescimento da produção de leite em
3,41% ao ano. No entanto, as taxas de crescimento da produtividade foram de 2,27% ao ano,
ou seja, inferiores às da produção (FAMATO 2012).
No 2º trimestre de 2015, a aquisição de leite cru feita pelos estabelecimentos que
atuam sob algum tipo de inspeção - seja ela Federal, Estadual e/ou Municipal - foi de 5,64
bilhões de litros. Este número indica queda de 2,6% sobre o volume do produto captado no 2º
trimestre de 2014 e de 7,9% sobre o registrado no 1º trimestre de 2015. Da aquisição de leite
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cru, 41,3% foi localizada no Sudeste do país, tendo Minas Gerais 26,7% de participação, a maior
nacional. São Paulo apresentou 11,0% de participação na aquisição nacional do produto. O Sul
adquiriu 35,2% de todo o leite, tendo no Rio Grande do Sul seu principal representante nesta
região (14,4%). O Centro-Oeste ficou com 13,5%, sendo Goiás o estado com a maior
participação na Região (10,3%). O Nordeste representou 5,5% de participação, seguido pelo
Norte, 4,5%. No 2º trimestre de 2015, comparado ao mesmo período de 2014, houve queda na
aquisição de leite em todas as Regiões Geográficas, exceto a Sul (1,3%). Nesta, somente o
Paraná registrou queda de aquisição (-6,2%), enquanto que aumentos significativos foram
registrados nos demais estados que a compõem. Quedas absolutas importantes foram
registradas no Sudeste do país, sobretudo em Minas Gerais (-5,1%). No Centro-Oeste houve
queda de 8,7%, influenciada por Goiás (-7,8%), Mato Grosso (-13,0%) e Mato Grosso do Sul (-
7,4%). No Norte, a queda foi de 13,0%, sendo registrada, sobretudo em Rondônia (-10,8%) e no
Pará (-18,2%), estados que tem o maior peso regional. No Nordeste, a queda na aquisição de
leite foi de 6,0% e só não ocorreu na Paraíba, em Pernambuco e em Sergipe (IBGE 2015).
O Estado de Mato Grosso ocupou em 2010, a 10ª posição no ranking brasileiro
correspondendo por 2,3% da produção nacional de leite, tendo como os 05 principais
municípios produtores do Estado: Pontes e Lacerda, Guarantã do Norte, Araputanga, Terra
Nova e Cárceres. A produção de leite tem pequena expressão em termos de mercado nacional,
quando comparado às produções de soja, algodão e pecuária de corte, que ocupam locais
destacados no cenário nacional. Apesar desta tímida participação no cenário nacional, a
pecuária leiteira é caracterizada por grande número de pequenos produtores, principalmente
de pequenas propriedades, com diversos tipos de sistema de produção e variados níveis
tecnológicos.
O diagnóstico feito pelo FAMATO em 2012 sobre a cadeia produtiva do leite no estado
do Mato Grosso apontou que o sistema de produção é predominantemente extensivo, tendo a
área de pastagem ocupando até 91% do total da propriedade. A composição do capital
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investido na pecuária é em média R$ 306.517,00 (variando entre 190.240,00 a 1.428.523,00). O
valor da terra para o gado representou 50% desse capital investido, o que confirma a tendência
de sistema de produção extensivo à base de formação de pastagem (Figura 34).
Figura 33 - Capital Investido na produção de leite no Estado de Mato Grosso 2010/2011.
Fonte: Adaptado de FAMATO 2012
De modo geral, os produtores possuem um baixo nível tecnológico e com pouca adoção
de práticas agronômicas como calagem, correção da fertilidade, adubação de cobertura e uso
de defensivo, adoção de químicos para controle de plantas invasoras, bem como tratamento de
pragas, além da suplementação volumosa que é feita com pequenas quantidades de
forrageiras. Práticas como estas são mais adotados por produtores com maior volume de
produção e mais especializados. Outra característica importante da pecuária leiteira
desenvolvida no Estado de Mato Grosso é quanto o número de vacas em lactação em relação
ao total do rebanho na propriedade (24%). Tal número é menor do que recomendado (40%),
tanto em relação ao total de vacas quanto ao total do rebanho de produção.
Consequentemente, isso reduz o valor da renda bruta da atividade leiteira. Enfim, os rebanhos
são pouco especializados, com baixa produtividade. Enquanto no Estado de Goiás a produção é
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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de 2.103 litros/ha/ano, em Mato Grosso a produção fica em torno de 1.143litros/ha/ano, ou
seja, Goiás produz 84% a mais. (FAMATO 2012).
Dentre as características dos produtores de leite em Mato Grosso destacam-se: a mão-
de-obra para atividades é basicamente familiar. Apenas os produtores que ordenham mais de
200 litros/dia tem mais de 34% da mão-de-obra contratada; Mais de 80% ainda usam ordenha
manual e 11% somente realizam inseminação artificial. Praticamente todos (99%) os
produtores moram na propriedade e desenvolvem esta atividade entre 14 a 15 anos (FAMATO
2012).
b) Bovinocultura Leiteira no Município de Querência
A base econômica do município de Querência é essencialmente a agricultura, com
destaque para a soja, milho, arroz e diversas lavouras de subsistência. A pecuária está em fase
de retração. Segundo o INDEA (2015), em 2014 o rebanho bovino foi estimado em
aproximadamente 97.140 animais no município, dentre os quais o gado de corte é mais
expressivo. A produção de leite no município de Querência, em 2014, chegou a 739 mil litros,
correspondendo a uma renda bruta de 555 mil reais para o período (IBGE 2016).
No município de Querência, a atividade leiteira é desenvolvida na sua grande maioria
em propriedades onde a mão-de-obra predominante é a familiar. A atividade leiteira é
consorciada com outras atividades na propriedade, não existindo produtores especializados
que tem a produção de leite como sua única e exclusiva fonte de renda. A pecuária leiteira está
associada tanto com a pecuária de corte como à produção de soja e milho, de culturas
permanentes (pupunha, seringa, SAF’s), de hortifrutigranjeiros e criação de pequenos animais
como suínos, aves.
3.4 - Análise de Viabilidade Socioeconômica da Cadeia Produtiva do Leite nos Assentamentos do Município de Querência/MT
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a) Caracterização dos Produtores de Leite dos Assentamentos Estudados
Caracterizando produtores dos 5 assentamentos Brasil Novo, Canaã, Coutinho União,
Pingo D’água e São Manoel, os produtores da bovinocultura leiteira no município são oriundos
de Goiás e do próprio estado de Mato Grosso, desenvolvendo a atividade na propriedade em
média há 13 anos (variando de 2 a 24 anos). Possuem um tamanho de área da propriedade em
média de 75 ha e participam de organizações sociais como sindicato, associação e cooperativa.
A grande maioria já obteve crédito como PRONAF A, D e custeio, Mais Alimento e, atualmente,
alguns estão inseridos no Programa Balde Cheio.
A pouca mão-de-obra existente nos lotes em todos os assentamentos é um elemento
limitante e que, apesar de seguir a tendência atual do contexto rural, deve ser objeto de
atenção no desenvolvimento de uma atividade econômica nos assentamentos. Em média
moram na propriedade somente duas pessoas (homem e mulher).
Quanto ao agroecossistema existente, ou seja, o uso da terra, a área de pastagem
corresponde em média 41,5 ha, representando 55% da área total de uso da terra da
propriedade, tendo-se em média 25 vacas leiteiras por propriedade (variando de 6 a 45 vacas
leiteiras). Possuem um sistema de produção extensivo com baixo nível tecnológico e
infraestrutura rudimentar. Utiliza-se pouca suplementação volumosa com pequenas
quantidades de cana-de-açúcar, milho e outros como frutas e macaxeira.
De modo geral e assemelhando ao restante do Estado de Mato Grosso, a infraestrutura
existente para desenvolvimento adequado da cadeia produtiva do leite em Querência ainda é
precária. Segundo Jank e Galan (1999), os produtores não são especializados e trabalham com
tecnologia extremamente rudimentar. Para tais produtores, o leite ainda é considerado um
subproduto do bezerro de corte. Trata-se, em sua maioria, de produtores que encontram no
leite uma atividade típica de subsistência e de complementação da renda. Normalmente não
tem um acompanhamento efetivo dos órgãos de vigilância sanitária e, em alguns casos,
desenvolvem a comercialização na informalidade, distribuindo leite na forma in natura no
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município (para mercado varejista de pequeno porte ou no sistema de distribuição porta a
porta). Há alguns poucos casos daqueles que já conseguiram implantar algum tipo de
tecnologia como, por exemplo, a ordenha mecânica.
Para o escoamento da produção, a prefeitura dispôs recentemente de um caminhão de
refrigerador que viabiliza o armazenamento e transporte do leite dos produtores que fornecem
para a queijeira (agroindústria de queijo). A queijeira instalada no assentamento São Manoel é
uma iniciativa da prefeitura, especialmente da Secretaria Municipal de Agricultura em parceria
com INCRA para dinamização da atividade leiteira. A capacidade de produção da mini-
agroindústria é de 400 kg/dia de mussarela.
Para o resfriamento do leite nos assentamentos são utilizados 05 tanques de
resfriamento de leite comunitário: 1 no Brasil Novo, 1 em Coutinho União, 1 no São Manoel e
no Pingo D’água, além de um comunitário. Dois produtores possuem seus próprios tanques de
resfriamento do leite.
b) Quantidade do Rebanho
Dos 33 produtores entrevistados nos assentamentos, somente 45% do total de
produtores entrevistados desenvolvem atividade bovinocultura leiteira. O total do rebanho
(contabilizando animais de todos os entrevistados) foi de 2.071 animais. Deste total, somente
18% são de vacas leiteiras. Isso demonstra que a pecuária de corte ainda é mais expressiva do
que a pecuária leiteira (Figura 35). Basicamente, o rebanho total é composto por 596 novilhas
mestiças, 453 vacas para corte, 306 vacas leiteiras, 25 garrotes, 428 bezerros e 47 touros.
Alguns dos produtores já utilizam técnica de inseminação artificial para melhoria do rebanho.
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Tabela 19 - Produção Bruta de Leite e Valor Bruto da Produção de Leite por Assentamento (2015)
Figura 34- Participação na Composição Total do Rebanho por Categoria nos Assentamentos.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
c) Produção de leite nos assentamentos
Com base nas informações dos assentados, foram contabilizados nos assentamentos
durante o ano de 2015 uma produção bruta total de aproximadamente 509.250 mil litros,
contabilizando uma renda bruta da atividade de R$ 331.012,50. A produção dos entrevistados
correspondeu a 24% da produção declarada nas oficinas realizadas nos assentamentos, ou seja,
uma produção bruta total de 121.942 litros, correspondendo a uma renda bruta de R$
79.262,30 oriundos da comercialização do leite in natura (Tabela 19).
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
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A produção diária de leite computada foi baseada na produção média de 580 litros para
um total dos 241 animais lactantes por dia em uma área total de pastagem de 439 hectares,
com uma quantidade média de vacas leiteiras para cada entrevistado de 22 animais (variando
de 05 a 45 animais). Os resultados obtidos demonstram que a atividade é pouco expressiva
quando comparada à média estadual (tabela 20). A produção média de leite por lactação foi
inferior à média estadual. Os resultados apresentam que a produção média é de 31 litros/dia
por produtor nos assentamentos, sendo 3 vezes menor do que a média estadual (93 litros/dia),
consequente reflexo da baixa produtividade (1.4 litros/animal), representando uma
produção/hectare/ano de 278 litros, enquanto a média estadual é de 1.143litros/hectare/ano.
A baixa produtividade encontrada deve estar intrinsecamente ligada à interação de fatores
como a pouca utilização de volumoso de qualidade, baixo uso da suplementação e baixo
potencial genético dos animais, pelo alto preço dos insumos.
Tabela 20 - Produção e produtividade dos produtores entrevistados dos assentamentos.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016 e FAMATO 2015.
d) Custo de Produção
O valor do custo de produção para cada litro de leite foi R$ 0.33/litro (Tabela 21),
estando na média do custo de produção estadual para produtores que produzem até 50 litros
de leite/dia. De acordo com os dados, pode-se observar que insumos e mão-de-obra foram os
itens que mais trouxeram gastos para atividade, tendo o insumo representado 53% e a mão-de-
obra 21% do custo operacional efetivo da produção de leite no ano 2015 dos produtores
entrevistados. Um dos fatores que podem explicar é a pequena produção de grãos, obrigando o
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produtor a pagar valores altos para aquisição de insumos vindos de regiões de grande
produção. Além disso, a pastagem é utilizada apenas no período das chuvas, sendo necessária a
produção de cana-de-açúcar para servir de forragem para alimentação dos animais durante o
período seco (06 meses do ano). No entanto, são poucos os que cultivam a cana-de-açúcar para
suplemento alimentar do animal. O sistema de produção rudimentar exige maior quantidade
de mão-de-obra. Esse resultado demonstra que uma mudança significativa tanto de ordem
produtiva, tecnológica e gerencial é essencial para aumentar a produtividade da produção do
leite, aumentando as médias diárias de leite sem, contudo, aumentar o custo operacional
efetivo. Uma alternativa, segundo Lopes et al. (2004), é aumentar a eficiência produtiva, ou
seja, a produtividade por matriz, otimizando as despesas com mão-de-obra, alimentação com
volumoso, medicamentos, assistência técnica e energia.
A Tabela 21 apresenta os valores de renda bruta, renda líquida e resultado econômico e
a rentabilidade obtida. A renda bruta total da bovinocultura leiteira foi de R$ 97.162,30,
correspondendo a 82% da venda do leite. A produção leiteira total foi contabilizada em R$
79.262,30. Tanto a margem bruta quanto a margem líquida foram positivas, evidenciando que o
resultado da venda do leite produzido foi suficiente para cobrir as despesas operacionais
efetivas, ou seja, não houve prejuízo. É importante ressaltar que o leite é recolhido na
propriedade, portanto não embutiu custo de transporte.
De modo geral, os custos operacionais apresentam-se muito elevados,
consequentemente apresentando uma baixa margem líquida da atividade. No entanto, o preço
médio pago pelo litro de leite foi de R$ 0.65, maior que o custo operacional efetivo de R$0.33,
podendo-se dizer que no curto prazo, os produtores não precisam parar a atividade leiteira.
A taxa de remuneração do capital investido expressa a lucratividade da atividade e,
normalmente, utiliza-se a taxa de juros real como parâmetro de lucratividade da atividade
(Pacheco 2012). De acordo com a Tabela 21, a taxa de remuneração foi inferior a 6% ao ano, o
que significa dizer que, segundo os dados encontrados, no ano de 2015 não houve lucratividade
na atividade de bovinocultura leiteira. Isso está associado com alto capital investido e com
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baixo retorno pela pouca quantidade produzida.
Tabela 21 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Leite
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
e) Característica da Cadeia de Comercialização do Leite no Município de Querência
Os agentes envolvidos na cadeia produtiva do leite foram divididos em 03 categorias:
operadores, prestadores de serviço e os reguladores. Os operadores da etapa de produção são
representados pelos fornecedores de insumo e produtores; na etapa de transformação são a
mini-indústria e produtores; e na etapa de comercialização são a COOPERQUER, os produtores
e os pequenos varejistas urbanos; e, finalmente, os consumidores finais. A Secretaria Municipal
de Agricultura, enquanto prestadora de serviços, tem atuado de modo marcante em todas as
etapas da cadeia, de modo a alavancar a atividade no município, principalmente na assistência
técnica aos produtores que estão vinculados ao Programa Balde Cheio, além de oferecer o
transporte e a logística para a venda do leite. E os reguladores da cadeia identificados são o
INDEA, Vigilância Sanitária Municipal, Secretaria Municipal de Agricultura, SEMA e MAPA.
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A cadeia de comercialização do leite identificada no município (Figura 36) se caracteriza
por canal tradicional simples, pois apresenta dois agentes intermediários entre o produtor e o
consumidor. Observou-se que a produção comercializada no município é pouco especializada.
No entanto, existe infraestrutura básica para a realização do processamento para atender à
demanda.
Os produtores vendem sua produção diretamente para a mini-indústria de transformação local
(queijeira), além de vender diretamente para o consumidor final. A venda direta para
consumidor final está cada vez mais reduzida devido à fiscalização mais rígida no município. Os
produtores de Canaã vendem sua produção no mercado do município de Canarana pela
proximidade com o município. Entre os agentes mercantis identificados nas cadeias de
comercialização do leite:
1. Indústria de Transformação local: essa categoria está representada pela mini-indústria
(queijeira) localizada no assentamento São Manoel que compra a produção de leite in
natura diretamente dos produtores e entrega na unidade;
2. Distribuidor local: representado pela cooperativa COOPERQUER. A cooperativa, além de
exercer o papel de distribuidor no mercado local do queijo produzido na unidade de
transformação, facilita a comercialização da produção emitindo nota fiscal para os
produtores. É subsidiada pela prefeitura, com logística de transporte, assistência técnica
e administrativa;
3. Varejo Urbano Local: abrange comerciantes diversos (pequenos comerciantes,
restaurantes, supermercados,) que compram tanto direto de produtores como da
COOPERQUER, dos quais arcam com as despesas de transporte e vendem direto para
consumidor final local.
4. Varejo Urbano Estadual: representado por varejista do Estado de Goiás que comprou
queijo da COOPERQUER em 2015, mas em quantidade muito pequena.
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Figura 35 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Leite no Município de Querência (2015).
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
O mercado do leite in natura no município de Querência possui poucos compradores.
Existe somente a mini-indústria de queijo (queijeira) e alguns varejistas de pequeno porte
localizados em bairros periféricos da cidade, mas que compram muito pouco diretamente de 1
ou 2 produtores de chácaras localizadas no entorno da cidade. No mercado do leite in natura,
em Querência, houve um decréscimo na produção local. Segundo os entrevistados, isso se deu
por conta das inadequadas condições de produção e comercialização, não atendendo às
normas vigentes, bem como uma atuante fiscalização pela INDEA e vigilância sanitária nos
estabelecimentos comerciais.
A formação de preço do leite passa a ser predominantemente influenciada pelos
compradores, já que são estes que estabelecem o preço pago aos produtores rurais, além de
que os produtos in natura oriundos da agricultura familiar com baixa ou sem nenhuma
agregação de valor (beneficiamento, transformação, dentre outros) tendem a reduzir ainda
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Tabela 22 - Valor Bruto de Produção e Valor Agregado Bruto da Produção de Leite (2015)
mais de preços. Outro fator importante na formação de preços é o resultado direto das
condições de oferta e demanda, além da concorrência existente com leites industrializados
comercializados com menor preço, devido a escala de produção, para o abastecimento do
mercado local pelos varejistas.
f) Valor Bruto e Renda Bruta da Produção de Leite Comercialização
A renda bruta total encontrada pelo levantamento realizado com agentes mercantis da
cadeia de comercialização do leite no município de Querência foi de mais R$ 1 milhão. Ao setor
do varejo urbano local é a quem pertence o maior VBP (42%), comprando direto do produtor e
da COOPERQUER. O Valor Agregado Bruto gerado foi de R$ 643 mil, correspondendo a mark-up
de 101%. A Indústria de Transformação local e o Varejo Urbano local são aqueles com margem
bruta maior de 66% e 63% respectivamente, onde cerca de 42% é transacionado pelo varejo
urbano local, 25% pela COOPERQUER e 29% pelos produtores. O resultado dessa margem está
relacionado, principalmente, ao rendimento obtido pela transformação do leite nos derivados
queijo, iogurte, doce de leite, ricota, requeijão e da venda direta aos consumidores finais
(Tabela 22).
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
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VI - Considerações
Não há como conjecturar uma expansão desse mercado, sem antes definir ajustes em
todas as etapas da cadeia. A possibilidade de os produtores absorverem possíveis custos
adicionais, considerado que o preço é definido pelo comprador, implicaria em uma provável
redução da margem bruta e líquida desses produtos. Portanto, algumas melhorias precisam ser
implementadas para funcionamento correto da instalação da unidade de beneficiamento: local
de instalação, despejo dos resíduos, tecnologia utilizadas, dentre outros.
O fomento da atividade leiteira com o programa Balde Cheio é umas das alternativas
que deveriam ser expandidas e intensificadas para trazer melhorias que podem refletir na
qualidade do produto oferecido para à maioria desses produtores que possuem uma baixa
especialização da prática de manejo do rebanho.
A criação da COOPERQUER e da mini-indústria de processamento de queijo é uma
alternativa na qual os produtores estão apostando para expansão da atividade, pois está
desempenhando o papel de centralizadora da produção do leite in natura dos assentamentos
para produção de queijo, proporcionando um valor agregado ao produto. No entanto, a
cooperativa, que trabalha com preço de compra acima da média de preço trabalhado no Estado
do Mato Grosso, pela ausência de capital de giro para compra da produção, realiza a compra do
leite dos produtores a prazo (variando em até 30 dias para efetuar o pagamento). Outro serviço
que a COOPERQUER realiza é emitir nota fiscal para aqueles produtores que vendem
diretamente para os varejistas locais e/ou para merenda escolar.
Por fim, dentre o leque de melhorias desejadas, a possibilidade de adequar a queijeira
dentro de padrões de qualidade e níveis técnicos necessários para a oferta de produtos que
atendam às exigências legais e o mercado provavelmente é a alternativa mais viável para o
desenvolvimento da cadeia produtiva do leite. Nesse sentido, a definição da estrutura
organizacional e legal tanto da mini-agroindústria como da Cooperativa é um passo
fundamental desse processo.
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4. Cadeia Produtiva da Pupunha nos Assentamento de Reforma Agrária do Município de Querência/MT
4.1 - Introdução
A pupunha é uma palmeira originária da América Central e da Amazônia, sendo
domesticada e disseminada nessas regiões. O cultivo da pupunha para produção de palmito
vem despertando, desde a década de 1970, o interesse de agricultores de todo o país, devido à
alta demanda, tanto interna quanto externa, por palmito de boa qualidade e à alta
lucratividade da atividade. Além da pupunha ser uma ótima alternativa para a produção de
palmito, pode ser explorada em plantios organizados e possui características desejáveis como
precocidade, perfilhamento, rendimento e qualidade de seu palmito, que demora para
escurecer após o corte. A busca por novas opções de cultivo faz também que empresários de
outros setores invistam no negócio do palmito de pupunha (Soares 2011). O aumento do
mercado de palmito de pupunha está relacionado com a RIO-92, após a qual ficou determinado
que a partir do ano 2000 a importação de palmito no mundo só seria realizada a partir de
cultivos ou de planos de manejo sustentáveis. Relaciona-se, também, com a redução da
produção do palmito de açaí, pela diminuição dos estoques naturais da espécie juçara como
consequência da exploração predatória, e pela atual demanda dos frutos de açaí para produção
da polpa, que apresenta maior rentabilidade e menor risco ambiental para os extratores que o
mercado de palmito (Costa 2011).
O Brasil é o maior produtor e consumidor de palmito do mundo. Porém, já não possui
mais o título de maior exportador, o que ocorria na época em que exportava menos de 10% de
sua produção. A perda desse mercado deve-se ao fato de que o palmito brasileiro apresentar
baixa qualidade, por ser ainda resultante do processo de extrativismo, e de ser um produto
considerado não ecológico, devido ao corte de palmeiras nativas (Soares 2011); Além desse
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esgotamento da oferta de matéria-prima proveniente da coleta extrativa no Centro Sul, a
intensificação da fiscalização de órgãos oficiais impedindo a devastação predatória, o baixo
custo da taxa de reflorestamento e o alto preço do produto no mercado nacional e
internacional são fatores que vêm estimulando o investimento e a produção racional do
palmito industrializado (Verruma-Bernardi, 2007).
Devido ao potencial comercial do palmito de pupunha, muitos países latino-americanos
estão investindo no seu cultivo e industrialização. Dois fatores estão facilitando o aumento
deste investimento: a existência de mercado em nível mundial e a disponibilidade de tecnologia
para o cultivo e industrialização da pupunha para palmito (Soares 2011). Os países da América
do Sul e Central como o Equador, Venezuela, Peru e Colômbia também entraram no mercado
externo com palmito de pupunha cultivado e competem com o palmito brasileiro, nos
mercados importadores como França, Argentina e Estados Unidos. O Brasil é o maior
consumidor do mundo, concentrando-se em São Paulo o maior mercado mundial, levando o
mercado nacional a absorver quase a totalidade da produção de palmito do Brasil (Costa 2011).
A produção brasileira, segundo dados do IBGE em 2008, foi de 5.874 toneladas, sendo
que a região Norte responde por 97% desse total. Os principais estados produtores de palmito
são Pará (95%), Mato Grosso (1,3%) e Rondônia (1,2%). O consumo interno estimado é de 100 a
120 mil toneladas/ano. Nesse contexto, o palmito ainda é considerado “artigo de luxo” para a
maioria dos brasileiros e as regiões Sul e Sudeste lideram o consumo do produto em conserva.
O Brasil responde por 85% da produção mundial de palmitos, mas não domina as exportações.
As exportações anuais brasileiras de palmito já alcançaram US$ 40 milhões e hoje giram em
torno dos US$ 7 milhões. Segundo os dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), em 2013 o volume exportado foi de 5.102 toneladas. O mercado brasileiro de palmito,
oriundo de diversas espécies de palmáceas, é estimado em US$ 350 milhões anuais e gera 8 mil
empregos diretos e 25 mil empregos indiretos. Já o mercado mundial é de R$ 500 milhões. Em
2010, a produção de palmito no Brasil alcançou 116.495 toneladas, sendo que o consumo
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interno de pupunha cultivada aumentou de 19,5% em 2009 para 24% em 2010 (SNA 2015).
4.2 – Metodologia Utilizada
Os dados da análise foram provenientes dos assentamentos Brasil Novo, Canaã,
Coutinho União, Pingo D’água e São Manoel no município de Querência. O levantamento de
informações secundárias foi realizado através de bibliografias sobre a produção de palmito de
pupunha a nível local, estadual e nacional. Realizou-se reunião com a equipe técnica local da
Secretaria Municipal de Agricultura, ISA e IPAM, para mapeamento dos produtores dos
assentamentos por categoria de acordo com a principal produção. Seguido de um Diagnóstico
Rural Participativo contendo duas etapas: uma etapa de levantamento através de uma
oficina/reuniões nos assentamentos, reunindo o máximo de pessoas para quantificar a
produção (ano de 2015) do assentamento; outra etapa, realizando entrevistas utilizando um
questionário semiestruturado, com grupo de produtores indicados pela equipe técnica. O
questionário semi estruturado continha informações sobre aspecto social, produção, valor dos
equipamentos, benfeitorias, custo da produção, preço de venda, insumos e serviços. A coleta
de dados ocorreu no período de fevereiro a março 2016. Foram entrevistados 33 produtores
dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, a COOPERQUER, Secretarias de Educação
Estadual e Municipal, Vigilância Sanitária, INDEA, SAGRI e STTR.
O trabalho de viabilidade foi realizado a partir dos dados levantados nas entrevistas dos
33 produtores dos assentamentos, 15 comerciantes na cidade, Secretaria de Municipal de
Agricultura e a COOPERQUER. O preço da terra utilizado foi baseado na tabela oficial do INCRA,
que estabelece que 1 hectare de terra nua no município de Querência tem o valor de R$
2.254,00 (INCRA 2015).
De modo geral, o rendimento nos primeiros cortes (1º ano) gira em torno de 750 kg a
900 kg/ha/ano de palmitos inteiros (5000 touceiras = 5000 palmitos) e 1,5 t/ha de palmito tipo
rodelas e picadinho, oriundos da base caulinar e da parte apical. Da segunda colheita em
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diante, com o corte dos perfilhos, essa produtividade poderá variar de 975 kg à 1,2 ton de
palmitos inteiros. Este rendimento é para o adensamento de 5.000 plantas/ha. A produtividade
será maior se o adensamento aumentar (Silva, 1999). Considerando que o adensamento seja,
realmente, maior, a produtividade aumentará, na mesma proporção. No adensamento de
7.200 plantas/ha, por exemplo, a produtividade será de 8.500 hastes/hectare, podendo superar
10.000 hastas/ha/ano a depender do manejo (Aboboreira Neto, 2004). Para o presente
trabalho, o rendimento considerado foi de 5.000 haste/hectare, de acordo com o declarado
pelos produtores entrevistados.
A renda bruta (RB) da atividade foi estimada utilizando-se dos valores correspondentes
à venda da produção total do palmito, utilizando preço de mercado de R$ 5,35 por kg (variando
de R$ 3,4 a 6,6/haste in natura), o que corresponde ao valor local, para que a haste seja
recolhida na propriedade, sem custos adicionais com frete e transporte. Os custos considerados
foram os gastos com mão-de-obra para plantio, manutenção, irrigação, colheita, prática de
correção de solo, entre outros. Os custos com insumo e serviços foram obtidos pelo total
efetivamente utilizado, multiplicado pelos respectivos preços unitários.
4.3 – Contexto da Cadeia da Pupunha nos Assentamentos do Município de Querência/MT
a) Produção de Palmito de Pupunha no Município de Querência
O cultivo da pupunha para produção de palmito é uma atividade econômica recente
incentivada pela prefeitura e EMPAER no município. Em 2013, o município tinha um cultivo de
50 hectares de pupunha, com perspectiva de ampliação da área para 150 hectares. A prefeitura
em parceria com a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural
(EMPAER) incentivaram o cultivo da pupunha para produção de palmito com distribuição de
200 mil mudas para aproximadamente 70 agricultores familiares. Segundo dados da EMPAER,
que já havia trabalhado em 12 projetos para o cultivo da palmeira pupunha, em um hectare, o
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Figura 36 – Área(em ha) de Cultivo da Pupunha no Município de
Querência/MT.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Figura SEQ Figura \* ARABIC 37 - Área de Cultivo da Pupunha por Assentamento do
Município de Querência/MT.
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
produtor investe R$ 14 mil e o rendimento líquido por hectare pode chegar a R$ 600,00 ao mês,
após o terceiro ano de cultivo. A haste do palmito é comercializada por R$ 4,00 a unidade
(2013). Segundo informação da secretaria de agricultura do município, atualmente existem 101
hectares com plantio de pupunha, onde 10% do total da área foi plantado no ano de 2011, 58%
dessa área foi plantada antes de 2014 e já está em produção (59 hectares em produção); e
restante 32% da área foi plantando em 2015. As áreas cultivadas estão, na sua grande maioria,
nos assentamentos (65%), com destaque ao assentamento Pingo D’água que representa 68%
da área total dos assentamentos. E os 35% restantes das áreas cultivadas encontram-se nas
fazendas e chácaras (Figura 37 e 38).
b) Caracterização dos Produtores de Palmito de Pupunha dos Assentamentos
Dos entrevistados, 05 produtores de palmito pupunha no município são oriundos do
próprio estado do Mato Grosso, enquanto que outros são oriundos de Goiás e Santa Catarina,
habitam a propriedade em média há 12 anos (variando de 2 a 28 anos) com tamanho de área
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em média de 67 ha. Participam de organizações sociais como sindicatos, associações e
cooperativas. A grande maioria já obteve créditos como o PRONAF A, D e custeio, Mais
Alimento, enquanto que somente 01 deles investe por conta própria.
Todos os produtores possuem renda não agrícola, o que permite investimento na
propriedade e contratação de mão-de-obra, principalmente, no período da limpeza da área de
cultivo de pupunha e da colheita do palmito. Como foi observado, a mão-de-obra é um fator
limitante nos assentamentos. Os investimentos no plantio da pupunha foram, basicamente, no
sistema de irrigação, correção e adubação do solo.
A maioria dos produtores que cultivam a pupunha possui sistema diversificado,
apresentando um agroecossistema constituído de mata (reservas e APPs,), pastagens, área
agrícola e quintal. A área destinada ao cultivo da pupunha possui em média 3 hectares,
variando de 1 a 8 hectares.
Como a cadeia do palmito pupunha no município de Querência é recente, ainda não
estruturada e com produtores não especializados, o sistema de irrigação é a infraestrutura
essencial para o cultivo da pupunha no município, sendo o primeiro investimento realizado pelo
produtor para a implementação da cultura. Para melhor estruturação, a cadeia carece de
infraestrutura básica na cadeia produtiva, como: local de acondicionamento e armazenamento
adequado até o transporte recolher a produção, mão-de-obra especializada para colheita.
Nesse sentido a mão-de-obra está se especializando com a prática de corte. A prefeitura e
EMPAER investem com doação de mudas e assistência técnica para os produtores. A
COOPERQUER atua na intermediação da comercialização do produto para mercados externos.
No entanto, por ser uma cadeia recente para os produtores, a relação com o mercado ainda se
dá de forma deficiente, tanto no mercado formal como informal, à medida que ainda buscam
adequação às normas de qualidade exigida pelos órgãos de vigilância sanitária. Em alguns casos
é vendido no município o produto na forma in natura (para restaurantes, pizzarias, etc.) e para
compradores de fora.
O escoamento dessa produção para o mercado local é feito pelos próprios produtores
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Tabela 23 - Produção e Valor Bruto da Produção de Palmito de Pupunha nos Assentamentos em
2015.
através de transporte próprio e resulta em um acondicionamento inapropriado do produto no
ato do transporte. Com o aumento da fiscalização do INDEA muitos produtores têm perdido sua
produção. Quando realizada para fábricas de palmito fora do município, a entrega é na
propriedade, sendo esta negociação intermediada pela cooperativa. O transporte fretado tem
enfrentado problemas legais na fiscalização das cargas, pela falta de conhecimento do processo
burocrático para comercialização do palmito. Tais barreiras estão relacionadas à origem do
palmito, espécie, etc. A cooperativa não possui nenhum tipo de infraestrutura e falta
conhecimento mercadológico para trabalhar com o palmito.
4.4 - Análise de Viabilidade Socioeconômica da Cadeia Produtiva do Pupunha nos Assentamentos do Município de Querência/MT
a) Produção e Valor Bruto de Palmito de Pupunha nos Assentamentos
Com base as informações dos assentados obtidas nas oficinas realizadas, a
produtividade no assentamento é de 3 mil hastes por hectare. Em 2015, foi contabilizada nos
assentamentos uma produção bruta total de aproximadamente 126.700 kg de palmito, gerando
uma renda bruta da atividade de R$ 513.450,00. A produção dos produtores entrevistados
correspondeu a 64% da produção declarada nas oficinas realizadas nos assentamentos, ou seja,
uma produção bruta total de 121.942 kg por ano, correspondendo a uma renda bruta de R$
326.569,00 oriundos da comercialização do palmito in natura (Tabela 23).
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Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
Considerando as informações do representante da COOPERQUER, cooperativa que
intermedia a comercialização do palmito com os três principais compradores de fora do
município, é realizada a comercialização de 03 cargas por semana, o que corresponde 45 mil
hastes de palmito (1 carga = 15mil hastes de palmito). No ano de 2015, baseados nesses valores
foi negociado pela COOPERQUER um total de 315.000 hastes, ou 220.500 kg de palmito (1
haste é equivalente a 0.70kg).
b) Custo de Produção
O valor do custo de produção para cada kg de palmito foi R$ 0,49/kg (Tabela 24),
estando na média do custo de produção estadual para produtores que produzem até 5 mil/ha.
De acordo com os dados, pode-se observar que insumos e mão-de-obra foram os itens que
mais trouxeram gastos para atividade, o insumo representou 66% e mão-de-obra 34% do custo
operacional efetivo da produção de palmito no ano 2015 desses produtores entrevistados. Os
custos em insumos podem estar relacionados mais especificamente a correção de solo por
terem implantados o cultivo em áreas degradadas, enquanto que a pupunha demanda alto
nível de adubação para uma boa produção.
A Tabela 24 apresenta os valores da renda bruta média, renda líquida média, resultado
econômico e a rentabilidade média para o total de 31 produtores de palmito que estão
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negociando com a cooperativa. A renda bruta média total da foi de R$ 38.054,08. Tanto a
margem bruta e quanto a margem líquida foram positivas, evidenciando que o apurado com a
venda do palmito produzido deu para cobrir as despesas operacionais efetivas. É importante
ressaltar que o preço do transporte já se encontra deduzido no preço pago pelo produto.
De modo geral, os custos operacionais apresentam-se muito elevados,
consequentemente, percebe-se uma baixa margem líquida da atividade. No entanto, o preço
médio pago pelo kg de palmito foi de R$ 5,35, maior que o custo operacional efetivo de R$0,49,
o que significa dizer que, mesmo vendendo produto in natura, os produtores não obtiveram
prejuízos, gerando renda considerável para contribuir na composição da renda total na
propriedade.
Quanto à taxa de remuneração do capital investido, considera-se a mesma definição de
Pacheco (2012), onde para identificar a lucratividade da atividade normalmente utiliza-se a taxa
de juros real para fazer parâmetro de lucratividade da atividade. De acordo com a tabela 24, a
taxa de remuneração foi inferior a 6% ao ano. O que significa dizer, que segundo dados
encontrados, a atividade no ano de 2015 não houve lucratividade na atividade de pupunha.
Assim como no leite, isso pode estar associado com alto capital investido no sistema de
irrigação na implantação do cultivo, e como é uma atividade relativamente recente, eles
possuem uma produção com baixa escala e com um custo considerável de mão-de-obra
utilizada para a colheita do palmito. Porém, um fator decisivo é o preço médio praticado e a
forma de pagamento do palmito in natura que tem uma influência considerável nesta atividade
produtiva.
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Tabela 24 - Análise de Rentabilidade da cadeia produtiva do Palmito da Pupunha
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
c) Cadeia de Comercialização do Palmito da Pupunha no Município de Querência/MT
A cadeia de comercialização do palmito de pupunha no município possui canal
tradicional simples, com pouca intermediação e sem agregação de valor pelo produto a ser
vendido in natura, além de praticamente toda produção ser destinada para fora do município
(Figura 39). A COOPERQUER é uma intermediária estratégica também nessa cadeia, prestando
serviço de negociação com mercado externo para compra do produto e organizando o
transporte para escoamento da produção até a agroindústria. A COOPERQUER iniciou em 2016
a venda da produção para o mercado de Goiás, onde no processo de negociação a cooperativa
teve que associar-se à agroindústria Casa Verde como garantia da agroindústria de ter
regularidade e segurança na entrega da produção dos produtores dos assentamentos para eles,
já que a grande compradora em 2015 foi agroindústria Luana no município de Água Boa/MT. A
agroindústria Casa verde passou assim prestar serviço de beneficiamento, embalagem e venda
Relatório Elaborado por Denyse Mello – Consultora/Contrato IPAM 78/2015
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da produção dos assentados, enquanto a COOPERQUER contrata o transporte para coleta do
palmito na propriedade dos produtores. Como a cooperativa não possui capital de giro para a
compra à vista da produção, isso se reflete na forma de pagamento aos produtores pela
produção, sendo a prazo, variando de 30 a 60 dias para o recebimento desse pagamento. A
agroindústria Luana realiza o pagamento em 60 dias, os produtores encaminham a haste do
palmito que é beneficiado e, segundo a COOPERQUER, são pagos, em kg de palmito adquirido,
descontado as perdas ocorridas no beneficiamento e no transporte realizado. Segundo a
COOPERQUER, o preço médio vendido foi de R$ 6,66 por kg. A COOPERQUER estima que o
preço pago ao produtor é de R$ 5,35.
O produtor também vende direto para consumidor final, mas, em função da rigidez da
fiscalização realizada pelos órgãos de vigilância no município, a venda direta está sendo
reduzida. Abaixo se encontram as características dos agentes mercantis identificados nas
cadeias de comercialização do palmito da pupunha.
1. Produtores: os produtores de pupunha encontram-se tanto nos assentamentos e nas
chácaras no entorno da cidade como em algumas fazendas do município. Todos vendem
a produção in natura. A maioria dos produtores realiza a venda para agroindústria
através da COOPERQUER;
2. Atacado local: representado pela cooperativa COOPERQUER. A cooperativa é o elo
intermediário na venda da grande maioria da produção do município. Ela busca o
produto no mercado, negocia a produção e preço, bem como facilita a comercialização
da produção emitindo nota fiscal para venda direta ao consumidor final.
3. Agroindústria Estadual: abrange a agroindústria Luana localizada no município de Água
Boa/MT e é a maior compradora da produção de palmito de Querência. Realiza compra
com produtores individuais ou através da COOPERQUER. Fornece transporte que busca
a produção na propriedade, sendo descontado o valor no preço do produto.
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Figura 38 – Fluxo da Cadeia de Comercialização do Palmito da Pupunha no Município de Querência (2015).
Fonte: Pesquisa de Campo 2016.
4.5 – Considerações
Uma das inúmeras vantagens observadas para o cultivo do palmito de pupunha, além da
sua sustentabilidade econômica e ambiental, é a adaptabilidade de sua espécie à agricultura
familiar, o que facilita a diversificação deste produto na cadeia de comercialização.
Enfatizando as vantagens da comercialização da pupunha, o pesquisador da Embrapa
Florestas, Álvaro Figueiredo dos Santos destaca que “A comercialização do palmito in natura
pode virar uma importante fonte de renda para agricultores familiares, uma vez que o
processamento não exige grandes investimentos e torna possível o fornecimento do produto
para mercados locais (feiras de produtores) ou para grandes centros” (EMBRAPA 2004).
Observa-se que no município de Querência o comércio é realizado principalmente no mercado
local e com ainda pouco grau de beneficiamento.
Além disto, há a possibilidade de criar diferenciais competitivos que impactam no
mercado, como por exemplo, a certificação concedida pela Fundação Banco do Brasil através
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do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, criado em 2001. Realizado a cada
dois anos, tem por objetivo identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já
aplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional, que sejam efetivas na solução
de questões relativas à alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos
hídricos, renda e saúde.
Novas perspectivas de consumo se apresentam como alternativas produtivas que
podem inserir o palmito nestes mercados, sem que resulte em grandes investimentos
tecnológicos e produtivos, como afirma a pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas
(IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Valéria Aparecida
Modolo: “Com o aumento da produção, o consumidor poderá desatrelar o consumo de palmito
ao produto processado (em conserva), podendo consumi-lo in natura como parte de saladas
cruas”. Suas características são diferenciadas em relação às demais espécies e podem promover
uma mudança nos padrões de conceito do sabor do produto assim como na forma de consumo.
Evidentemente que, por ser inovador, este novo nicho de mercado deverá passar por um
processo de marketing, uma vez que o hábito mais recorrente do consumidor é a demanda
pelo produto em conserva.
Apesar de atualmente a indústria de palmitos estar voltada para a produção de palmito
em salmoura, é importante avaliar a possibilidade do produto pronto para o consumo in
natura, sendo minimamente processado. Esta alternativa, sem tratamento térmico, é viável,
com pouca agregação de tecnologia, riscos no processamento, menores recursos investidos na
produção e com potencial de crescimento no mercado consumidor.
Assim, conforme afirma o pesquisador Álvaro Figueredo dos Santos, “O uso desta
tecnologia resulta em um palmito de qualidade, com alto valor comercial, permitindo que o
produto in natura possa ser comercializado em locais distantes da produção agroindustrial e até
mesmo exportado por via aérea, uma vez que o valor agregado é alto”.
A busca por alternativas viáveis e adequadas às condições dos PAs, tanto considerando
as características referentes à organização social dos Assentamentos como de possibilidades de
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beneficiamento com um mínimo de complexidade tecnológica, perpassa por estabelecer
parcerias com Instituições Governamentais que já desenvolvem pesquisas que seguem esta
linha de investigação, como é o caso da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Há de se
considerar que qualquer investimento mínimo no processamento de produtos alimentícios,
pressupõe uma adequação à legislação rigorosa vigente no país através da ANVISA/MS.
Portanto, quanto maior a agregação de parceiros com conhecimentos específicos neste ramo
da indústria, maior as chances de êxitos.
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III –Sugestões alternativas para as atividades que não possuem viabilidade econômica, social e/ou ambiental.
A partir da caracterização dos produtores dos assentamentos estudados: Brasil Novo,
Canaã, Coutinho União, São Manoel e Pingo D’água fica evidente que a diversificação da
produção é a melhor estratégica para a agricultura familiar nos assentamentos. Pode-se dizer
que as cadeias produtivas estudadas (borracha, piscicultura, leite e pupunha) ainda estão se
estruturando, com fluxo de comercialização simples e não especializados.
De modo geral, partindo do princípio de diversificação da produção, não se pode
considerar que essas cadeias não tenham viabilidade econômica, social e/ou ambiental. No
entanto, o setor produtivo da agricultura familiar necessita de organização produtiva interna
que passa pela melhoria de desenvolvimento dentro dos assentamentos e de responsabilidade
dos próprios agricultores, como melhor estruturar suas organizações sociais (associações), que
possam buscar melhorias na assistência técnica, bem como negociar com setores do governo
políticas de promoção da agricultura familiar. Por outro lado, seria importante que o governo
municipal junto com ONG’s e representantes dos setores produtivo do município estabelecesse
um plano de desenvolvimento levando em consideração às políticas de fomento, como crédito,
ATER, legalização e de regularização do produto e das atividades em todos os níveis baseadas
na realidade local, e incentivos fiscais para tornar os setores produtivos competitivos no
mercado local, regional e nacional. Como as recomendações já foram descritas em cada cadeia
produtiva, aqui se apresenta uma síntese das sugestões para melhoria das cadeias produtivas:
- Apresentar os resultados do trabalho e o potencial para a criação e realização de
políticas pública de crédito voltadas ao produtor como forma de cobrir os custos de adequação;
- Buscar, facilitar e promover acesso à tecnologias e assistência técnica;
- Promover e garantir preços mínimos, buscando viabilizar junto às políticas nacionais de
subsídios do setor, como por exemplo, o PROBOR – incentivo à produção da borracha natural;
- Fomentar a expansão do cultivo da seringueira consorciada as outras culturas (SAF’s);
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- Fomentar o plantio de seringueira para recuperação de área degradadas;
-Incentivar arranjos comerciais público x privado x comunitário ou privado x
comunitário;
- Promover parcerias para programas de capacitação/treinamentos, intercâmbio dos
produtores à experiência de sucesso semelhante a realidade dos assentados;
- Estudo adicional para adequação da piscicultura com as demais atividades existentes
na propriedade;
- Fomentar e estimular o acesso a práticas de manejo como por exemplo produção de
ração alternativas com intuito de reduzir custo com insumos para atividade;
- Necessidade de um estudo sobre impacto das instalações de tanques em relação a
disponibilidade de água e o percurso natural dos recursos hídricos nas áreas dos
assentamentos;
- Capacitar os produtores às possibilidades de consórcio da piscicultura com outras
atividades como SAF’s, criação de pequenos animais;
- Realizar intercâmbio com propriedade modelo de piscicultura no estado do Mato
Grosso;
- Realizar pesquisa sobre melhores espécies de peixe para criação;
- Readequação da mini agroindústria de queijo para melhorar o produto, acessar novos
mercados e assim conseguir absorver a produção local;
- Identificar potenciais empreendedores para cada cadeia produtiva para promover um
plano de desenvolvimento local com base nessas recomendações seria uma forma mais
fácil de organização, visto que os espaços formais de discussão estão enfraquecidos
(STTR, STR, Associação...)
-Reestruturação da organização comercial da COOPERQUER para reduzir a dependência
ao poder público municipal. Ela tem grande potencial para funcionar como uma central
de comercialização do município, no entanto por estar atrelada e ser subsidiada pelo
governo municipal, corre um risco eminente de não desenvolver seu papel de forma
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autônoma. Pensar em um plano de em médio prazo torna-la mais eficiente na
organização comercial dos produtos da agricultura familiar seria uma alternativa para
promoção dos produtos da agricultura familiar local;
- Formar uma comissão técnica (fórum) que discuta as exigências legais para
beneficiamento e comercialização, tendo em base outras experiências de outros estados
que possam contribuir para a adequação às exigências legais para a realidade local,
dinamizando assim a agricultura familiar.
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ANEXOS
1 – Relato das Oficinas do Contexto dos Assentamentos da Caracterização do PA Brasil Novo
Data Realização: 27/02/2016
Número de participantes: 26 (18 do assentamento)
1) Apresentação do Projeto
Apresentação do Projeto Querência Mais
Paisagens Sustentáveis: Eleandro (Secretário
de Agricultura), Cecília (IPAM), Heber (ISA).
2) Caracterização Geral do Assentamento
(Fotografia)
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O Assentamento possui 318 lotes, mas o conjunto de presentes considera que atualmente 100
famílias moram no lote.
O benefício social mais presente entre as (os) beneficiárias (os) é a aposentadoria.
A maioria das (os) jovens está fora do assentamento.
3) Divisão em grupos - Linha do Tempo
ANO AÇÃO
1998
Posto de saúde inicia suas atividades em uma casa alugada pela prefeitura com uma enfermeira e
uma Toyota para o deslocamento das (os) pacientes.
A escola desenvolve suas atividades através de uma parceria entre o INCRA e a comunidade na
Sede da Fazenda e no ano de 2000 é transferida para o barracão com apoio de transporte escolar
e maior número de professores e merendeira.
No início do assentamento 40% da área era de pastagens e 60% de mata.
Era permitido 3 hectares de desmatamento, mas a condição do Banco, para liberar o
financiamento para investimento na produção (PRONAF A) exigia um pacote/projeto produtivo de
9 vacas, 1 touro e uma área de 15 a 20 hectares de pastagem.
2002
A Associação Estrela da Paz inicia suas atividades no Assentamento. Sua ação se concentrou na
organização da produção e comercialização dos itens produzidos coletivamente em um lote
comprado pela Associação. Esta ação durou até 2008/2009, quando começou a declinar por falta
de tempo das (os) associadas (os), problemas financeiros e falta de união. A estrutura também era
aquém às necessidades da Associação.
Neste ano iniciavam no assentamento as atividades da Pastoral da Criança
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Neste mesmo período (1998 a 2003) o Sindicato dos Trabalhadores Rurais desenvolvia um
trabalho efetivo de apoio às famílias assentadas. Em 2003 a atuação cessou, retornando em 2006.
2002 a 2004 As culturas de mamona e gergelim foram implantadas pelas famílias através do Programa
Biodiesel, mas o valor acordado pelo produto não era pago às famílias desestimulando-as.
2004
Mudou a gestão municipal e o assentamento vivenciou uma mudança considerável em sua
estrutura.
A escola e o posto de saúde mudam de local (para o local atual), de onde passam por
modificações até a estrutura encontrada atualmente.
2005 - 2010
O Assentamento recebeu várias intervenções, em forma de apoio através de financiamento,
doação de insumos e assistência técnica, para implantação de projetos produtivos:
2005 – Pupunha
2008 – Heveicultura
2008/2009 – Piscicultura
2010 – Resfriador de leite
2011
A Associação de Mulheres iniciou suas atividades, mas, nesta trajetória, passou por muitas
dificuldades como a falta de estrutura e participação das mulheres. O projeto da despolpadeira de
frutas passa por dificuldades pela falta de estrutura para armazenamento das frutas e outras
necessidades de adequação.
2015 O Grupo da Terceira Idade Alegria de Viver inicia suas atividades com apoio do CRAS.
Intervenções:
Eleandro: se a família tivesse condições próprias de estabelecer seus projetos produtivos, teria
maior rendimento do que arrendar para soja.
Paulistinha: contra arrendar o lote inteiro para soja, ir morar na cidade e não desenvolver
nenhuma atividade produtiva. Deveria continuar na propriedade gerando renda.
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Guiomar: o custo de produção é alto, mesmo para a própria família tocar a soja. Falta um
armazém.
Aldo: Não acha justo quem arrendou todo lote, mora e trabalha na cidade e considera que no
futuro será melhor ter produção diversificada do que soja, pois em longo prazo é melhor ser
dono de seu próprio projeto produtivo do que arrendar.
“Quem está no lote produz algum alimento para subsistência”.
“As pastagens estão degradadas por causa de 40 anos de uso, arrendar para a soja não vai
resolver. Queimar renova a pastagem”.
“Os contratos de arrendamento (parceria segundo as famílias assentadas) para soja ganham
força no assentamento. As famílias afirmam que a parceria traz renda, emprego e ao final do
contrato e terra está recuperada”.
4. Produção: Agricultura e Produção Animal
Intervenções:
João: o turismo predatório está causando prejuízos ambientais no Rio Suiá (assoreamento,
abate de animais silvestres, pesca predatória de peixes nativos). Questiona sobre a
possibilidade da criação de uma colônia de pescadores na comunidade que possa exercer o
papel de fiscalização além da geração de renda através da pesca e a organização para receber o
conjunto de turistas.
Jane: apresentam dificuldade em comercializar pela distância e ausência de transporte.
Guiomar: a dificuldade está na falta de licença para comercializar. Precisa legalizar os produtos.
Aldo: falta organização para produzir. Sazonalidade da produção.
Dona Preta: Falta escala de produção. Reforça a preocupação com as barreiras e os produtos de
origem animal.
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Jane: reafirma a importância da despolpadeira para a geração de renda das famílias que
vendem as frutas.
Demandas em comum apontadas pelo grupo: informações sobre organização da produção,
mercado e comercialização, apoio para a produção: crédito e assistência técnica.
2 – Caracterização do PA Coutinho União Data de realização: 28/02/2016
Número de participantes: 14 (7 do assentamento)
1) Apresentação do Projeto
Apresentação do Projeto Querência Mais Paisagens Sustentáveis: Eleandro (Secretário de
Agricultura), Cecília (IPAM), Heber (ISA).
2) Caracterização Geral do Assentamento (Fotografia)
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3) Linha do Tempo
ANO AÇÃO
1994
O assentamento contava com aproximadamente 50 famílias, sendo que primeiramente chegaram 11
famílias e toda a área era de mata. Segundo as (os) presentes quem chegava ao assentamento nesta
época já ganhava um lote de produção e um terreno na Agrovila.
Neste mesmo ano é implantada uma escola no assentamento.
No início foi feito um barraco de lona para todas as famílias e em seguida o INCRA foi iniciando a
estrutura para as famílias. Pelas características da área, distância da cidade e dificuldade de
deslocamento, uma Figura pública da época chamava o assentamento Coutinho União de
“penitenciária agrícola”.
Dividiram o lote, mas inicialmente as famílias implantaram lavouras coletivas de milho e arroz, que
foram comercializadas em Querência e outras localidades.
Fomento habitação.
Neste mesmo ano é criada a Associação.
1996
INCRA abriu 5 hectares por família e estas já moravam em seus lotes.
As famílias acessam o PROCERA.
Posto de Saúde.
1997 A Agrovila já havia sido instalada e ganhava expressão no assentamento.
1998
O preço do arroz caiu e a produção foi baixa, muitas famílias quebraram e iniciaram a atividade da
pecuária com agricultura de subsistência. Neste período muitas famílias saíram do assentamento.
Serraria no assentamento.
1998 –2000 Novas famílias chegam ao Assentamento, comprando os lotes/pagando as benfeitorias.
2000 As famílias acessam o PRONAF.
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2002 - 2003 Mandioca e farinheira
2003 Arroz associado à soja
2004 Soja e safrinha
2006
Projetos seringueira chegam ao Assentamento.
Fecharam as madeireiras.
As áreas de seringueira aumentam.
2008
Período de maior desmatamento no Assentamento.
Práticas de limpar o pasto com fogo e incêndios acidentais.
Um Grupo de Mulheres inicia atividades de artesanato, mas não conseguia vender seus produtos,
cessando suas atividades.
2009 Energia elétrica
2010
Iniciam os projetos de pecuária leiteira
Fomento habitação – reforma.
Inicia em 2010 e segue até 2012 a produção de soja e gergelim para o Programa Biodiesel.
2012
Iniciam os projetos de piscicultura.
Asfalto na Agrovila.
Expressivo aumento da soja e das parcerias no Assentamento.
Neste mesmo período inicia um declínio da pecuária de corte, pois as pastagens cedem espaço para a
cultura da soja, como uma alternativa, para a recuperação das mesmas, que se encontravam
degradadas.
2013 Telecentro
2014/2015 Escola nova
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Chega um médico de Cuba para a Unidade de Saúde
2011 Financiamento e plantio de pupunha
4. Produção: Agricultura e Produção Animal
Intervenções:
Vanderlei: O Pequi é um mau negócio porque fornece renda apenas uma vez por ano, precisa
ter outras fontes de renda para compensar.
O custo de produção é muito alto para ovos e frango, a ração está muito cara e tem
muita gente vendendo ovo e frango na cidade.
Odair: Falta apoio de máquinas agrícolas. O trator da Associação não dá conta da demanda.
Os financiamentos realizados em grupo com aval cruzado prejudicam quem paga se um
do grupo não pagar.
Deveria ter uma linha de crédito para comprar trator usado ou seminovo.
“Falta incentivo: assistência técnica, união e troca de experiências”.
OUTRAS ANOTAÇÕES
Frete saca soja: R$ 2,50/saca
Preço da farinha de mandioca: R$ 5,00/kg
Se a mandioca for boa, renderá 60% em farinha
Seringueira: coletam aproximadamente 700 gramas/árvore
Vanderlei está iniciando um plantel com 50 matrizes de suíno
Pegar dados de piscicultura com Eleandro
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Adimplência satisfatória no Assentamento
O solo é fraco e não responde
Em nível de produção é possível ultrapassar as divergências para produzir e comercializar coletivamente
3 – Caracterização do PA São Manoel Data Realização:28/02/2016
Número de participantes: 26 (18 do assentamento)
1) Apresentação do Projeto
Apresentação do Projeto Querência Mais Paisagens Sustentáveis: Eleandro (Secretário de
Agricultura), Cecília (IPAM), Heber (ISA).
2) Caracterização Geral do Assentamento (Fotografia)
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3) Linha do Tempo
4. Produção: Agricultura e Produção Animal
Intervenções:
“Precisa melhorar a produção. Falta infraestrutura, mercado, transporte para a comercialização
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e capital para investimento”.
“Falta união e parceria das famílias assentadas”.
“Falta documentação para proteger a comercialização. Contrato para resguardar a compra e o
valor acordado entre fornecedor e comprador”.
“Falta mão de obra”.
“Precisa de assistência técnica e adequar para a fiscalização”.
“Os técnicos podiam ficar uma semana em cada localidade para facilitar a assistência técnica”.
“A Associação precisa ser mais forte e ativa”.
“Algumas famílias ainda precisam de energia”.
“As mulheres começaram a se reunir, mas não conseguiram levar o trabalho adiante. O grupo
ainda tem vontade de se reunir e precisa de capacitação e assistência técnica”.
4 – Caracterização do PA Pingo D’água
Data de realização:02/03/2016
Número de participantes: 10 (6 do assentamento)
1) Apresentação do Projeto
Apresentação do Projeto Querência Mais Paisagens Sustentáveis: Cecília (IPAM)
2) Caracterização Geral do Assentamento (Fotografia)
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O Assentamento possui 541 lotes, mas o conjunto
de presentes na atividade considera que
atualmente 280 famílias moram nos lotes e
Agrovila.
No início do Assentamento o mesmo possuía
aproximadamente 450 famílias, sendo que
atualmente apenas 60 famílias persistem na
localidade desde sua criação e, apesar de sempre
ter um fluxo de entrada e saída de famílias, nos
últimos cinco anos diminuiu a quantidade de
famílias que foram embora do Assentamento.
O Assentamento possui cerca de 30% de idosos e
destes aproximadamente 95% são aposentados.
Consideram que, por falta de apoio do INCRA, 180 famílias têm que exercer algum tipo de
atividade fora do assentamento.
Atualmente o Assentamento possui: 1 Unidade Básica de Saúde, 1 escola, 2 campos de futebol,
7 igrejas, 7 comércios, 1 ônibus escolar, 50% das famílias do Assentamento possuem carro e
20% bicicleta como meio de transporte (Denyse não anotei a porcentagem de moto).
3) Linha do Tempo
ANO AÇÃO
1997 As famílias começam a chegar ao Assentamento.
Toda a área era de mata e tinha apenas uma estrada precária.
1999 INCRA homologa o Assentamento.
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Chegam ao Assentamento aproximadamente 400 famílias com o apoio da igreja e do Sindicato.
No início só produzia abacaxi e mandioca e algumas famílias venderam madeira.
A agricultura inicial era de subsistência e o excedente era vendido em Querência.
Abriram aproximadamente 3 hectares de pasto e assim iniciaram a atividade da pecuária.
2001 - 2002 Acesso ao PRONAF A e Custeio com apoio da EMPAER – Projetos Produtivos de Pecuária.
O Assentamento conta com uma sala de aula em cada Setor.
2002 Começam os projetos de heveicultura no Assentamento, mas não ocorre a implantação da cultura.
2003 - 2004 Pequi – aproximadamente 30 hectares no Assentamento (depois o plantio cedeu espaço à soja).
2004 Começam os projetos de pupunha no Assentamento, mas não ocorre a implantação da cultura.
2005 - 2006 Máxima expressão da pecuária de corte.
2005
A escola construída na Agrovila reúne todos os estudantes do Assentamento.
Ônibus escolar.
A partir de 2005 começou a substituição de áreas de pastagem por soja. Este processo foi
aumentando com a degradação gradativa das pastagens.
As culturas de arroz e milho acompanham o crescimento da soja.
2008 Iniciam os plantios de seringueira no Assentamento.
2009 Auge da Associação (resfriador, patrulha agrícola)
2010 Posto de Saúde
2012 Associação encerra as atividades
Início de projetos de piscicultura
2014 Iniciam o plantio da pupunha
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2015
Seca
Uma mulher fomentou a organização de mulheres. Realizou algumas reuniões, mas foi embora do
Assentamento e o grupo, composto por aproximadamente 10 mulheres, cessou suas atividades.
4. Produção: Agricultura e Produção Animal
Intervenções:
“Falta organização/associação”.
“As pessoas que possuem melhores condições não se importam com os problemas”.
“O preço pago pelo litro de leite desestimula a atividade”.
“Deveria existir um entreposto ou central para a comercialização”.
“Falta legalização dos produtos”.
“Falta capacitação”.
OUTRAS ANOTAÇÕES
Nos anos de 2000 e 2001 o Assentamento registrou muitos casos de Malária e de 2012 para cá aumentaram
os focos de dengue nos lotes.
Em 2005 a Associação teve um importante papel na conquista da escola na Agrovila.
Nascente e córregos estão mais poluídos.
Relatos de que quando desmatou apareceram nascentes e córregos.
Apenas 5% das famílias acessaram o PRONAF Mais Alimentos, pois as famílias não satisfazem as condições do
banco.
As famílias contratam assistência técnica para a elaboração dos projetos e demais trâmites.
Existe expressiva produção de melancia por uma família que comercializa na cidade e para o CEASA de
Goiânia.
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Existe expressiva produção de abóbora por uma família que comercializa para o CEASA de São Paulo.
Deve existir uns 20 hectares de pequi em todo Assentamento.
A pecuária leiteira teve um auge, quando produzia até 4000 litros/dia, mas o preço baixo diminuiu
drasticamente a produção.
Tem uma família que produz aproximadamente 300 litros/dia e possui resfriador.
O Assentamento possui uma família que produz aproximadamente 600 frangos/mês e vende na cidade.
Duas famílias que possuem avicultura de corte comercializam para as famílias que trabalham no Seringal da
Maggi.
2 famílias produzem mel no Assentamento.
Falta incentivo para a atividade.
1 família vende aproximadamente 30 dúzias de ovos por semana e afirma que se tivesse mais ovos venderia
todos, pois existe grande demanda.