D A S E C A A C A R I Ú S / C E :
Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Trajetória histórica e estudo das construções
I s a b e l a S a l e s B r i d i2 0 1 0
ISABELA SALES BRIDI
DA SECA A CARIÚS/CE:
TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Trabalho Final de Graduação de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Brasileira – UNIVIX de Vitória/ES, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista.
Orientadora: Viviane Pimentel.
VITÓRIA - ES
2010
FACULDADE BRASILEIRA Credenciada pela Portaria/MEC N
o 259 de 11.02.1999 – D.O.U. de 17.02.1999
Rua José Alves, 301, Goiabeiras – Vitória, ES - CEP: 29075-080 – Tel: (0xx27) 3327-1500. CGC: 01.936.248/0001-21 - E-mail: [email protected] – www.univix.br
ATA DE APRESENTAÇÃO DE TFG – CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
O(A) aluno(a)
_________________________________________________
__ do ____º período do curso de Arquitetura e Urbanismo,
apresentou e defendeu o Projeto Final de Graduação, como
elemento curricular indispensável à colação de grau de
Arquiteto e Urbanista, tendo como título do Trabalho:
_________________________________________________
______________________ .
A Banca Examinadora, reunida em sessão reservada,
deliberou e decidiu pelo resultado
1_________________________________________
2_________________________________________
3_________________________________________
Média Final Banca: _______________________________
Nota da Pré Banca:_______________________________
Média Final TFG: (Nota Pré Banca + Nota
Banca):______________
Ora formalmente divulgado ao(à) aluno (a) e aos demais
participantes, e eu
______________________________________________, na
qualidade de Presidente da Banca, lavrei a presente Ata que
será assinada por mim, pelos demais membros e pelo (a)
aluno (a) apresentadora do trabalho.
Vitória, ____ de _____________ de 2010
___________________________________ Profª. Arq.
___________________________________ Convidado (a)
___________________________________ Convidado (a)
1. Observações:
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
AGRADECIMENTOS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
A minha mãe companheira de viagem, que se não fosse pelas suas raízes,
não teria dado inicio a este trabalho.
Ao meu pai pelo incentivo em sempre dar o máximo de si e “paitrocinio” às
longas viagens ao Ceará.
Aos meus irmãos e a toda minha família, que compartilharam os prazeres e
dificuldades proporcionadas por este trabalho.
A todos que colaboraram com entrevistas e pesquisas de campo realizadas.
Aos moradores de Cariús e seus conterrâneos, por simplesmente serem
desta terra acolhedora.
A minha orientadora Viviane, por transmitir seus valiosos conhecimentos e
pela paciência quando me deparei com obstáculos.
E principalmente à minha tia Angélica, que abriu suas portas e colaborou de
forma significativa, pois sem sua ajuda não teria atingido meus objetivos.
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 001 – Seca na Paraíba ............................................. 021
Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e
trajetória de fuga dos índios ................................................ 023
Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma
estação ferroviária do Ceará ............................................... 024
Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra
Galinha Choca, Quixadá/CE ................................................ 025
Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE ..... 026
Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a sede de
Quixadá/CE ......................................................................... 026
Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no
acampamento em Quixadá/CE ............................................ 027
Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria
maciça ................................................................................. 027
Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os
materiais de construção....................................................... 028
Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no
antigo acampamento de Quixadá/CE .................................. 028
Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de
concentração em Senador Pompeu/CE .............................. 033
Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua
construção .......................................................................... 033
Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a
história dos sobreviventes do “curral” em Senador
Pompeu ............................................................................... 033
Figura 014 – Face longitudinal do casarão ......................... 033
Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior
da construção e a má condição do patrimônio .................... 024
Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944 ............... 034
Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das
Secas .................................................................................. 035
Figura 019 – Localização do rio Cariús e Jaguaribe em
Cariús/CE ............................................................................ 037
Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e
ripas de madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao
fundo pela esquerda a casa do engenheiro mestre ............ 038
Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada
onde estava localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo
Bairro Acampamento, 2010 ................................................ 039
Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro
Acampamento no início do século XXI ................................ 039
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da
Drª Luisa Angélica Sales, 2010 ........................................... 039
Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente
residência, [20--] .................................................................. 040
Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência
Postal-telegráfica, [195-] ...................................................... 040
Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e
ao final da rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando
como a Agência Postal-telegráfica. Meados do
século XX ............................................................................ 040
Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À
direita, antiga Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital
e da casa do médico, 2010 .................................................. 040
Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas
dos operários, 2010 ............................................................. 041
Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas
residências da época, 2010 ................................................. 041
Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência,
2010..................................................................................... 041
Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o
Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as
residências dos engenheiros e topógrafos. Mais a frente o
Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas
dos operários, [19--] ............................................................ 042
Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX ... 043
Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal,
2010 .................................................................................... 043
Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação
de trem ................................................................................ 044
Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal
de trem, década 1930 ......................................................... 044
Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década
1930 .................................................................................... 044
Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados,
2010 .................................................................................... 045
Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em
1968 .................................................................................... 045
Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974 ...... 046
Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam
até onde a água subiu dentro da cidade, 1974 ................... 046
Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do
município em 1974 .............................................................. 046
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús.
À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a
sede da cidade de Cariús (à direita) banhada pelo rio Cariús,
que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem
escala .................................................................................. 047
Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à
esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala ............... 048
Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010 ......................... 049
Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que
sediava o Grupo Escola Adahil Barreto. Meados do
século XX ............................................................................ 052
Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto,
2010..................................................................................... 052
Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de
Cariús no início da década de 1970 .................................... 053
Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década
de 1970, vizinha ao Casarão ............................................... 053
Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas
alterações, 2010 .................................................................. 053
Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do
Casarão, 2006 ..................................................................... 054
Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de
Deus” na varanda do Casarão em 2007 ............................. 054
Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao
Casarão .............................................................................. 055
Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando
presentes para as crianças de Cariús em 2008 .................. 055
Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras,
no centro da Praça República em Cariús, 2009 .................. 056
Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de
rosas com garrafa pet, 2009] .............................................. 056
Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru .................... 056
Figura 059 – Cronologia do Casarão .................................. 057
Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do
hospital e residência médica as margens do mesmo,
[19--] .................................................................................... 059
Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--] ............ 059
Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções
do DNOCS .......................................................................... 060
Figura 063 – Implantação das construções do IFOCS em
Poço dos Paus, 2010 .......................................................... 061
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em
Lima Campos, 2010............................................................. 062
Figura 065 – Edificação utilizada pelo engenheiro mestre,
[19--] .................................................................................... 063
Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro
Acampamento de Poço dos Paus ....................................... 063
Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de
uma das residências dos engenheiros no Bairro
Acampamento de Poço dos Paus, [200-] ............................ 064
Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros
disposto com somente a varanda frontal, [200-] .................. 065
Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos
engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos
Paus .................................................................................... 065
Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por
varandas lateral e frontal, [200-] .......................................... 065
Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros
no Bairro Acampamento de Poço dos Paus ........................ 065
Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos
prováveis engenheiros no aclive em Lima Campos,
2010..................................................................................... 066
Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos
engenheiros, 2010 .............................................................. 066
Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência
proporcionando uma varanda lateral, 2010 ......................... 067
Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência,
2010 .................................................................................... 067
Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010 .............................. 067
Figura 077 – Residência geminada dos engenheiros
atualmente em Lima Campos, 2010 ................................... 068
Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos
engenheiros de Lima Campos ............................................ 068
Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na
Rua da Vila em Poço dos Paus, [200-] ............................... 068
Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros
disposto com somente a varanda frontal, 2010................... 069
Figura 081 – Residência dos operários brancos na Rua da
Vila com um novo anexo criado à esquerda descaracterizando
o imóvel, 2010 ..................................................................... 069
Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos
operários de Poço dos Paus ............................................... 069
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em
comum das antigas residências dos operários, 2010 .......... 070
Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos
operários barbadianos, 2010 ............................................... 070
Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua
Barbadiana já descaracterizadas, somente com a estrutura
original (mantendo a volumetria), 2010 ............................... 071
Figura 086 – Outra residência dos operários negros
observada na Rua Barbadiana, 2010 .................................. 071
Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente
chamada de Vila DNOCS em Orós, com algumas residências
descaracterizadas, 2010...................................................... 071
Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas
em terreno plano, [19--] ....................................................... 072
Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da
construção com uma pequena escada não original,
2010..................................................................................... 072
Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta,
2010..................................................................................... 073
Figura 091 – Uma das residências na antiga Vila Operária,
com descaracterização somente dos tipos de esquadrias,
2010..................................................................................... 073
Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no
aclive ................................................................................... 073
Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em
terreno plano ....................................................................... 073
Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em
Orós, 19[--] .......................................................................... 074
Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila
Modelo em Orós, 2010 ........................................................ 074
Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas
descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais
e um dos acessos em 2010 ................................................ 075
Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós ........ 075
Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico
com algumas descaracterizações, 2010 ............................. 075
Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico,
2010 .................................................................................... 076
Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS
atualmente na residência e pedra da alvenaria original
retirada da edificação .......................................................... 076
Figura 103 – Residência do médico ainda original.............. 076
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço
dos Paus .............................................................................. 076
Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma
grande área livre a frente..................................................... 077
Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas
modificadas, 2010 ............................................................... 077
Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal
com arcos abatidos a esquerda e a via à direita do
Almoxarifado/Escritório que segue até o rio Cariús,
2010..................................................................................... 078
Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no
antigo Almoxarifado/Escritório ............................................. 078
Figura 111 – Almoxarifado/Escritório atualmente, 2010 ...... 078
Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de
Poço dos Paus .................................................................... 078
Figura 113 – Antiga Gerência do IFOC S mais a frente com
o antigo Hospital ao fundo, 2010 ......................................... 079
Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010 ................... 079
Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma
de trapézio, [200-]. À direita o recuo na entrada, 2010 ........ 080
Figura 117 – Gerência do IFOCS atualmente como
residência, 2010 .................................................................. 080
Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço
dos Paus ............................................................................. 080
Figura 119 – Administração americana em Orós, [19--] ...... 081
Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de
Orós .................................................................................... 081
Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga
residência do médico à frente, seguida do antigo Hospital
e Gerência do IFOCS, 2010 ................................................ 082
Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010 ..... 082
Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do
imóvel, 2010 ........................................................................ 083
Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no
antigo Hospital .................................................................... 083
Figura 126 – Antigo Hospital em Poço dos Paus no ano de
2010 como residência ......................................................... 083
Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos
Paus .................................................................................... 083
Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente
abandonado, 2010 .............................................................. 084
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação
do terreno, 2010 .................................................................. 084
Figura 130 – Presença da base de pedras na escada,
2010..................................................................................... 084
Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras
no guarda-corpo, 2010 ........................................................ 085
Figura 132 – Palco nos fundos do interior do imóvel,
2010..................................................................................... 085
Figura 133 – Cabine de projeção acima da entrada principal
no interior do imóvel, 2010 .................................................. 085
Figura 134 – Antigo Hospital e Cineclube de Lima
Campos ............................................................................... 086
Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima
Campos ............................................................................... 086
Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento,
Califórnia/EUA ..................................................................... 089
Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô
californiano de 1914 construído em Victoria/Canadá
importado de Califórnia/EUA ............................................... 090
Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô
construído em Sacramento, Califórnia/EUA ........................ 090
Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua
construção no ano de 1922. Ainda sem o anexo que fora
construído a esquerda do edifício na década de 1930........ 091
Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido
na atual residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a
presença de varanda disposta por colunas, fachada por onde
era feito o acesso ................................................................ 092
Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas em 2003 ........ 097
Figura 143 – O casarão reconstruído, [200-] ...................... 097
Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente ............ 098
Figura 145 – Vista aera do Castelo de Garcia D’Ávila ........ 098
Figura 146 – Capela conservada e a ruína do castelo ........ 098
Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação
com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética
e Histórica ........................................................................... 099
Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma edificação
em ruína, utilizando a Instância Estética e Histórica ........... 099
Figura 149 – Cartaz do CIAM.............................................. 102
Figura 150 – Local original dos templos .............................. 103
Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa
preferida Neferetari ............................................................. 104
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D
demonstrando a volumetria original da edificação ............... 110
Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua
forma em “L” em 2002 ......................................................... 110
Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano
de 2001) e depois da intervenção [ca. 2002/2003] .............. 111
Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001 ...... 111
Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior
do imóvel, 2010 ................................................................... 112
Figura 159 – Edificações interligadas, 2010 ........................ 112
Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão
pelas varandas, 2010 .......................................................... 112 6
Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns
anos após a intervenção, na área posterior do terreno do
Casarão, 2010 ..................................................................... 113
Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina,
2010..................................................................................... 113
Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta
com duas vagas em 2006 .................................................... 113
Figura 164 – Localização das edificações
acrescentadas ..................................................................... 114
Figura 165 – Pequeno depósito, 2010 ................................ 115
Figura 166 – Parede elevada no final do antigo corredor de
acesso principal, 2010 ........................................................ 115
Figura 167 – Banheiro da suíte master. A porta principal
originalmente estava localizada onde está a atual báscula,
2010 .................................................................................... 115
Figura 168 – Adições de paredes ....................................... 116
Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no
ano de 2001 ........................................................................ 117
Figura 170 – Antigo banheiro, hoje como depósito,
2010 .................................................................................... 117
Figura 171 – Banheiro maior antes da reforma em 2001 .... 118
Figura 172 – Banheiro maior depois da reforma, 2006 ....... 118
Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros
existentes ............................................................................ 118
Figura 174 – Detalhe da coluna de concreto em forma de “U”,
2010 .................................................................................... 119
Figura 175 e 176 – Colunas construídas na reforma em 2006
e à direita como estão atualmente, 2010 ............................ 119
Figura 177 – Colunas de concreto com adaptação de um
pequeno depósito, 2010 ...................................................... 120
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte
master construídas em 2006 ............................................... 120
Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura,
2010..................................................................................... 121
Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de
concreto, 2010 ..................................................................... 121
Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem
as colunas, 2010 ................................................................. 121
Figura 183 – Viga em diagonal, 2010 .................................. 122
Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação ..... 123
Figura 185 – Antigo fogão à lenha encontrado em 2001 no
interior da edificação............................................................ 124
Figura 186 – Antiga cozinha e atualmente como sala de estar,
2010..................................................................................... 124
Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente, 2001 ................. 125
Figura 188 – Piso de madeira aroeira encontrado na suíte
master, antigo grande salão em 2001 ................................. 125
Figura 189 – Detalhe dos barrotes na suíte master,
2003..................................................................................... 126
Figura 190 – Detalhe dos barrotes no piso do corredor no ano
de 2003................................................................................ 126
Figura 191 – Piso atualmente revestido com cerâmica e
portas com soleira, 2010 ..................................................... 126
Figura 192 – Árvore frondosa na área frontal do terreno em
200 ...................................................................................... 127
Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara
Municipal parcialmente destruído pela árvore, 2001 ........... 127
Figura 194 – Jardim atualmente, 2010 ................................ 128
Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua
construção em 2001 e depois de pronto, 2003 ................... 128
Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos,
[200-] ................................................................................... 129
Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a
antiga escada de acesso principal. Atualmente para acesso
de veículos, 2006 ................................................................ 129
Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a
escada prestes a ser retirada em 2001 ............................... 130
Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada
localizada entre o copo original e o anexo acrescentado,
2001 .................................................................................... 130
Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos.
Acesso principal a residência, 2001 .................................... 131
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 202 – Marcação no piso para registro da antiga
escada, 2001 ....................................................................... 131
Figura 203 e 204 – Original fogão a lenha restaurado,
2010..................................................................................... 132
Figura 205 – Detalhe da chaminé do fogão a lenha,
2010..................................................................................... 132
Figura 206 – Caixa d’água durante sua restauração. Nota-se
o aumento de meio metro ainda visível,
[ca. 2001/2002] .................................................................... 132
Figura 207 – Caixa d’água depois da restauração,
2010..................................................................................... 133
Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a
lenha .................................................................................... 133 6
Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas
escavações .......................................................................... 134
Figura 211 – Fachada posterior, quase sem resquícios de
telhas na cobertura. Condições em que a edificação foi
encontrada em 2001 ............................................................ 134
Figura 212 – Outro perfil da fachada posterior com somente
algumas telhas restantes, 2001 ........................................... 135
Figura 213 – Telhas coloniais antigas postas como capa na
cobertura, 2010 ................................................................... 136
Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal,
para substituir as faltantes, 2010 ........................................ 136
Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010 ..................... 136
Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master,
2010 .................................................................................... 137
Figura 217 – Detalhes do antigo forro na atual suíte master
em 2001 .............................................................................. 137
Figura 218 – Detalhes do antigo forro no atual quarto de
visitas, 2001 ........................................................................ 137
Figura 219 – Estrutura de madeira o qual o forro era preso na
atual suíte master, e acima a cobertura da edificação com as
telhas sendo retiradas em 2001 .......................................... 138
Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento
das madeiras da cobertura, [200-] ...................................... 138
Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de
cupins (ano de 2001) e depois restaurada e pintada com tinta
a óleo em 2010 ................................................................... 139
Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de
aranha (em 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo,
2010 .................................................................................... 139
LISTA DE FIGURAS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda
Janelas da copa situada no anexo, e à direita imagem
da janela do corpo original, 2010 ......................................... 140
Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em
2001 e o mesmo mantido após a mesma em 2006 ............. 140
Figura 229 – Preenchimento do peitoril das janelas,
2010..................................................................................... 141
Figura 230 – Recuo do peitoril mantido somente nas janelas
da copa, 2010 ...................................................................... 141
Figura 231 – Fachada frontal ainda com todas as janelas
originais, [19--] ..................................................................... 141
Figura 232 – Alterações nas esquadrias da fachada principal,
2001..................................................................................... 141
Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original
adaptada para se transformar em uma porta, 2001 ............ 142
Figura 235 – Janela retomada ao seu estado original,
2010..................................................................................... 142
Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada
em alguma época do imóvel (2001), à direita a nova porta
substituída pela antiga, 2010 ............................................... 143
Figura 238 – Uma das antigas portas de acesso lateral, anos
antes da intervenção no imóvel na década de 1970 ........... 143
Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral
(vista pelo interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta
que foi substituída pela antiga (vista pelo exterior),
2010 .................................................................................... 144
Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-],
à direita o vão interno deixado ao retirar o elemento,
2006 .................................................................................... 144
Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas,
2010 .................................................................................... 145
Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo
lavabo (2001), e à direita a atual báscula fixa substituída pela
antiga janela, 2010 .............................................................. 145
Figura 245 – Janela da sala íntima mantida no exterior do
imóvel, 2010 ........................................................................ 146
Figura 246 – Janela da sala íntima fechada por dentro,
2010 .................................................................................... 146
Figura 247 – Duas janelas do quarto de visitas mantidas no
exterior do imóvel, 2010 ...................................................... 146
Figura 248 – Duas janelas do quarto de visitas fechadas por
dentro .................................................................................. 146
RESUMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Este trabalho de graduação trata da análise de intervenção
realizada em um imóvel aqui denominado de Casarão, em
Cariús (antigamente conhecido como Poço dos Paus), uma
cidadezinha no interior do Ceará na década de 1920.
Tal edificação foi construída pelo governo, através do DNOCS
(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) que
contratou empresas estrangeiras para empreitar açudes no
interior dos estados nordestinos onde a seca era mais
intensa.
Para chegar a este assunto, foi feito uma busca sobre a
cronologia das secas no sertão, o que levou ao
desenvolvimento de planos e metas e à criação do DNOCS.
Devido à necessidade de moradia e infra-estrutura dos
funcionários das empresas, foram criadas pequenas vilas no
perímetro dos rios onde eram construídas tais barragens,
entre elas a vila Poço dos Paus. Nela o Casarão era uma
edificação de destaque, inicialmente sendo o antigo Hospital,
e ao longo dos anos passou a abrigar inúmeras funções.
Após argumentar sobre a trajetória histórica da seca, a origem
da cidade Cariús e introduzir o Casarão através de uma
cronologia feita por entrevistas aos moradores locais, foram
apresentadas pesquisas sobre os aspectos das edificações
na mesma região de Cariús que conformam um conjunto com
unidade tipológica formal e construtiva.
Tal levantamento admitiu a criação de uma tipologia própria
para as construções do DNOCS da mesma época, além do
reconhecimento de suas origens americanas nos bangalôs,
devido aos operários estrangeiros que trabalharam no açude.
Esta metodologia favoreceu na análise dos procedimentos
executados pela atual moradora, Drª Angélica Sales. As
intervenções foram examinadas através de fundamentações
teóricas e Cartas Patrimoniais, após o que foi avaliada a
pertinência dos procedimentos adotados.
Palavras-chave: Seca, açude, DNOCS, Cariús/CE,
intervenção, patrimônio.
SUMÁRIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
1. INTRODUÇÃO ..............................................................18
2. DA SECA A CARIÚS ....................................................20
2.2 SECA NO BRASIL ........................................................21
2.2. CARIÚS (TRAJETÓRIA) ..............................................36
3. O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS...........50
3.1 TRAJETÓRIA DO CASARÃO........................................51
3.2 ANÁLISE TIPOLÓGICA DAS CONSTRUÇÕES DO
DNOCS..................................................................................58
A. IMPLANTAÇÃO.............................................................58
B. RESIDÊNCIA DOS ENGENHEIROS ............................63
C. RESIDÊNCIA DOS OPERÁRIOS E DEMAIS
FUNCIONÁRIOS ...................................................................68
D. EDIFICAÇÕES DE SERVIÇO ........................................77
3.3. O CASARÃO (ANÁLISE TIPOLÓGICA) ........................86
A. CARACTERÍSTICAS DOS BANGALÔS ........................89
B. SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE OS
BANGALÔS E O ANTIGO HOSPITAL DE POÇO DOS
PAUS .................................................................................... 91
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA ...................................... 93
4.1 CESARE BRANDI ......................................................... 94
4.2 CARTAS PATRIMONIAIS ........................................... 100
5. ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFICIO ............ 108
A. ADIÇÕES.................................................................... 109
B. INTERIOR................................................................... 115
C. ÁREA EXTERNA ........................................................ 127
D. COBERTURA ............................................................. 134
E. ESQUADRIAS ............................................................ 139
6. CONCLUSÃO ............................................................. 148
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................... 150
SUMÁRIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
8. ANEXOS ..................................................................... 156
A. PLANTA BAIXA ORIGINAL 1922 ................................ 157
B. PLANTA BAIXA PRÉ INTERVENÇÃO ........................ 158
C. PLANTA BAIXA ATUAL .............................................. 159
INTRODUÇÃO 18
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Restaurar uma edificação não é somente preencher os vazios
e reparar os bens danificados, e sim preservar tanto seu
passado e sua história quanto a construção (estrutura) em si,
revelando os valores estéticos e históricos levando em
consideração o material original e os registros documentados.
Também se deve levar em conta a integração das novas
partes com as antigas de forma harmônica. Tais
incorporações devem possuir linguagem da arquitetura atual
de maneira que não falsifiquem a edificação. Isso tudo só é
possível se antes tivermos conhecimento da sua história e do
local onde está localizada.
Com os argumentos citados acima o tema deste trabalho será
baseado na restauração do Casarão localizado no município
de Cariús, interior do Ceará, conhecida como uma edificação
de grande valor histórico, educacional, político e cultural para
o município pela comunidade da região.
Para abordar este assunto, o restauro, foi necessário seguir
uma linha de raciocínio, contando seu passado, para poder
entender como chegou ao seu estado atual, podendo assim,
trabalhar com uma base de informações sólida.
Inicialmente, no 2º capítulo foi abordada a cronologia das
secas no nordeste, principalmente no Ceará, que levou ao
desenvolvimento de planos contra a seca, sendo uma delas o
atual DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas), o que levou ao surgimento e trajetória histórica de
Cariús contada através de entrevistas com os moradores
mais antigos, além das pesquisas bibliográficas.
Em seguida, o 3º capítulo apresenta o Casarão, contando sua
cronologia. Devido à falta de documentos, a história do imóvel
é contada baseada apenas em entrevista com habitantes
locais e funcionários que trabalharam no Casarão nas
diversas funções abrigadas pelo edifício ao longo dos anos.
Entre eles o Sr. José Ferreira, ex-presidente da Câmara
Municipal de Cariús, a professora Diva Targino, a Sra. Joniza
Sales, Drª Luisa Angélica Sales, entre outros.
Esta trajetória histórica do imóvel será essencial para poder
desenvolver uma análise tipológica das construções do
DNOCS. Isto é possível através de pesquisa de campo na
região onde se encontra o Casarão, a região Centro Sul (Vale
do Salgado) do Ceará, em busca de informações não
somente em Cariús, mas também em outras duas cidades
(Icó e Orós) e um distrito (Lima Campos da cidade de Orós).
Esta pesquisa se baseou na procura de edificações
construídas pelo DNOCS, através de firmas estrangeiras, na
época da construção dos açudes nas cidades, para que fosse
possível desenvolver um parâmetro arquitetônico entre essas
construções do DNOCS.
No entanto, não foi possível trabalhar com os dados colhidos
da cidade de Icó devido às construções elevadas pelo
INTRODUÇÃO 19
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
DNOCS serem mais recentes (ano de 1973) e construídas por
uma empresa brasileira. Já a cidade de Orós e seu distrito
Lima Campos* têm origem na década de 1920 e 1930 e foram
edificadas por empresas estrangeiras, assim como em Cariús.
Todavia, através das informações colidas, é feita uma
busca da origem deste parâmetro, encontrados nos bangalôs
californianos com alguns traços semelhantes, podendo assim,
comparar as características arquitetônicas.
As bases utilizadas para analisar as feitorias no imóvel
aplicadas pela Drª. Angélica foram explicadas no 4º capítulo.
Entre eles está o teórico Cesare Brandi, e documentos como
a Carta Patrimonial de Burra e de Veneza.
No capítulo seguinte a analise é incrementada com o material
didático “Técnicas Básicas de Conservação e Restauração”
ensinadas na disciplina de Técnicas e Retrospectivas II pela
professora Viviane Pimentel.
___________
* Em pesquisas feitas nos Diários Oficiais da União da época, foi possível
encontrar a construtora americana, a Dwight P. Robinson & Co. Inc.,
responsável pelo açude de Orós – mesma de Cariús. Porém, não foram
descobertos registros históricos sobre Lima Campos. Neste caso, levando
em conta que as construções de Lima Campos são semelhantes às de
Orós e Cariús, pode-se supor que, as edificações deste distrito devem ter
sido originadas pela mesma firma americana.
Por intermédio destes elementos serão levantados
argumentos sobre as compatibilidades, incompatibilidades e
questões alternativas em relação aos procedimentos
tomados, além de apresentar o que poderia ser melhorado ou
feito de outro modo.
O objetivo principal e essencial deste trabalho consiste em
relembrar e trazer a vida novamente à história quase
esquecida de Cariús. Ao apresentar a cidade e o projeto de
restauração, tende-se a abrir caminhos para que pessoas
leigas ao assunto tenham mais interesse sobre a história de
sua cidade ou outra de referências marcantes.
A meta é despertar o estudo de centros históricos, edificações
antigas que possuem uma vasta e rica trajetória, abrangendo
diferentes métodos de pesquisa e estudos, podendo assim,
apresentar soluções tomadas em cada caso. Esta
competência enriquece o status do local analisado e também
impem que a história seja esquecida e patrimônios sejam
destruídos, prejudicados ou desfigurados.
20
DDDAAA SSSEEECCCAAA AAA CCCAAARRRIIIÚÚÚSSS 222
CAPITULO 02 21 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Hoje, a seca é um cenário constante na vida dos nordestinos
tendo seus primeiros registros antes do império português.
No século XVI estes colonizadores foram atraídos pelas belas
planícies e ótima vegetação rasteira das caatingas no
nordeste, propícias a pastagem mantendo uma visão no
desenvolvimento da pecuária e também na agropecuária com
a plantação de cana e algodão em altitudes que somente a
chuva poderia regar. Devido a tais características favoráveis
ao desenvolvimento da zona rural, não era de se esperar por
uma catástrofe natural, a seca (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
1922, p. 57).
A primeira estiagem a ser documentada chegou ao sertão do
nordeste entre Bahia a Pernambuco em 1583 durante a fase
do açúcar - onde o plantio era em larga escala, pois a cana-
de-açúcar se adaptou-se ao clima e ao solo nordestino -
devastando a produção canavieira além das plantações de
mandioca. Os engenhos que eram a base da economia
colonial foram obrigados a parar seu funcionamento, deixando
as fazendas sem água. Cerca de 5 mil índios que habitavam
as redondezas, mortos de fome e sede, desceram o sertão
em busca de alimento, segundo relatos do missionário Fernão
Cardin que tratavam sobre o clima e a terra do Brasil e as
origens e costumes os índios brasileiros (AMIGOS DO BEM,
[20--]).
Já no século XVII e início do século XVIII a seca abrange todo
o território nordestino, com alguns episódios em destaque
como no caso da capitania de Pernambuco em 1692 onde,
segundo relatos de Frei Vicente do Salvador, índios foragidos
se reuniram em grandes grupos para avançar sobre as
fazendas situadas as margens dos rios a procura de
alimentos (AMIGOS DO BEM, [20--]).
Figura 001 – Seca na Paraíba.
Disponível em: http://www.portalmidia.net/noticia/instituto-nacional-de-
pesquisas-espaciais-preve-grande-seca-na-paraiba/. Acesso em: 25 jul.
2010.
CAPITULO 02 22 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
2.1. Seca no Ceará
A dolorosa experiência da seca deixou rastros e cicatrizes
pela história da região nordeste. São grandes os relatos de
fome, sede, perda de produção agrícola e pecuária que
conseqüentemente causaram uma destruição massiva na
população.
Pode-se considerar que o estado que mais sofreu com esses
acontecimentos foi o Ceará, devido ao seu vasto histórico de
episódios de secas com no mínimo oito1 casos registrados de
estiagem entre o século XVIII até os dias atuais. Seu início
significativo na década de 1720 atingiu não só a província do
Ceará como também seu vizinho, o Rio Grande do Norte.
Poucos anos depois, ocorreu outra seca, porém em escala
maior, devastando engenhos e matando de fome não apenas
o gado e animais domésticos, mas também quase todos os
escravos da região nordeste. Segundo relatos do historiador
Irineu Pinto, os fiscais da Câmara pediram ao rei de Portugal
que mandasse mais escravos para trabalharem nos
engenhos, pois os que habitavam a região, por um triz, não
pereceram por completo (AMIGOS DO BEM, [20--]).
____________
1 Pesquisa/conclusão da autora, mediante observações dos registros
constantes nos sites da internet.
Após a crise nos engenhos, os sertanejos começam a obter
esperanças no intervalo de aproximadamente meio século
sem registros alarmantes de secas no sertão, quando um
surto de varíola em 1776 devastou quase todo o perímetro
nordestino, seguido de outra seca em 1777 conhecida como
“a seca dos três setes”. Coincidentemente, com a falta de
chuva a epidemia de varíola se alastra até 1778. Como
conseqüência a Corte Portuguesa ordenou que os flagelados
fossem reunidos nas margens dos rios repartindo, entre si, as
terras adjacentes (AMIGOS DO BEM, [20--]). De acordo com
os registros no acervo do DNOCS2 citados por Jaqueline
Cordeiro (2010), cerca de 7/8 do rebanho bovino foi perdido e
morrendo mais da metade da população nordestina.
Contudo, era de se esperar que a seca não desse trégua aos
nordestinos. Em 1791, pouco mais de uma década após a
seca dos três setes, a denominada Grande Seca tornou a vida
no sertão mais difícil. Transformou a população cearense em
pedintes, desde os homens às crianças (CORDEIRO, 2010).
No litoral nordeste do Ceará, em Aracati, ocorreu um
alastramento da peste de varíola e, devido à grande
aglomeração de famintos dos sertões, cerca de 600 pessoas
foram a óbito. Os índios que ali residiam, e não pereceram,
____________
2 DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
CAPITULO 02 23 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
fugiram para os estados ao oeste do Ceará, movendo-se em
direção ao interior do Piauí e Maranhão, restando apenas
uma pequena população indígena (CORDEIRO, 2010).
Segundo o professor Vieira Junior ([20--], p. 04), não somente
o litoral cearense sofreu com essa seca, mas também vilas
em extremos opostos da capitania, como Icó e Sobral ficaram
a mercê deste pesadelo. Ambas em área economicamente
desenvolvidas pelo agro-pastoril e banhadas pelos rios,
Jaguaribe e Acaraú, sentiram igualmente a dimensão em que
a grande seca seguiu seu rumo no Ceará. Até sete anos após
a lástima dominar os sertanejos, o assunto ainda era
queixado pela Câmara de Vereadores de Icó através da carta
enviada ao príncipe regente D. João no início do ano de 1801,
narrando a miséria em que seguia a vila durante os dois anos
de estiagem:
Daquelle ainda não visto castigo, os brados da pobreza, os gemidos dos que tinhão o impróprio nome de ricos, a dissolução dos Povos, e dos animaes, a consternação dos racionaes viventes (...) se arojam a comer toda, e qualquer (...) ave immunda que fose a carne dos mesmos, as raixes das arvores, com que se intranhão em grandes males [SIC]. (VIEIRA JUNIOR, [20--], p.04)
Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e trajetória de
fuga dos índios.
Fonte: Acervo pessoal.
Após grandes incidentes de secas durante três séculos desde
seus primeiros registros, é somente no início do século XIX
que surgiram as primeiras iniciativas do governo para apoio
aos flagelados, com a criação de organizações, instituições e
comissões de caráter administrativo.
PIAUÍ
MARANHÃO
RIO GRANDE DO NORTE
Fortaleza
Aracati Sobral
Icó
PARAÍBA
PERNAMBUCO
ALAGOAS
SERGIPE
PARAÍBA
PARÁ
TOCANTINS
1
2
Vilas mais afetadas pela seca
1 – Trecho do Rio Acaraú
2 – Trecho do Rio Jaguaribe
Trajetória dos índios
Legenda
CAPITULO 02 24 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
A primeira organização com intuito de dar assistências às
vítimas da seca e socorrer a pobreza incentivando o cultivo da
mandioca no país foi a Pia Sociedade Agrícola estabelecida
pelo governador da Paraíba, Luis da Mota Fêo em 24 de
outubro de 1802 - devido à sensibilidade da capitania (PB) à
última grande seca. Foi ordenada então a plantação de
duzentas mil covas de mandioca alcançando lucros até 1804
(NASCIMENTO FILHO, 2008).
Porém em períodos de dificuldades econômicas no preço da
farinha de mandioca, Luiz da Mota Fêo recorreu ao apoio do
governador da Bahia para importar a farinha e remediar a
situação dos fazendeiros que, com o ganho líquido, Fêo
alimentava o gado faminto, os escravos e repulham os furtos
feitos pelos flagelados da região (NASCIMENTO FILHO, 2008).
Mas em julho de 1805 a Pia Sociedade Agrícola foi abolida
devido à chuva que caía sobre a terra paraibana tornando o
solo inapropriado para a mandioca. Então tudo que estava
sobre sua posse como lavouras, fundos, propriedades, entre
outros, foi doado ao hospital Santa Casa de Misericórdia
(NASCIMENTO FILHO, 2008).
Agora não somente a Paraíba, mas toda a região nordeste e
principalmente o Ceará, foram devastados por uma das secas
com maior índice de mortalidade registrado até a atualidade
(AMIGOS DO BEM, [20--]).
A seca de 1877 a 1879 devastou vilas inteiras, carregando
consigo gado, crianças, mulheres, idosos e plantações,
deixando um rastro de 500 mil mortes na região, sendo 200
mil delas só no Ceará. Dos 800 mil habitantes cearenses 15%
migraram para Amazonas e 8,5% foram para outros estados,
alguns se deslocavam para lugares distantes. Fortaleza foi
extremamente devastada e cerca da metade da população
morreu (AMIGOS DO BEM, [20--]).
Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma estação
ferroviária do Ceará.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Seca_no_Brasil. Acesso em: 7
jun. 2010.
Em conseqüência da grande seca que devastou o Ceará, o
Governo Imperial adotou metas para abastecimento de água
CAPITULO 02 25 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
para a população e implantação de sistemas de irrigação para
a agricultura no interior da província. Com esse objetivo foi
criada uma das primeiras comissões formada por engenheiros
e cientistas, que baseados em iniciativas de estudos e
pesquisas, propuseram a construção de açudes para
retenção de águas pluviais e canal de ligação para os campos
próximos. Chefiada pelo engenheiro austríaco Julius Pinkas, a
coletiva da comissão desembarcou em Fortaleza no dia 12 de
janeiro de 1878. Após analises do território, foram
determinados a construção de 30 açudes e de sistemas de
irrigação nas províncias do Ceará (COSTA, 2001, p. 173).
Contudo, a única construção iniciada pela Comissão de
Açudes e Irrigação (mais tarde, o atual DNOCS) foi o Açude
do Cedro localizado em Quixadá, interior do Ceará, local
indicado pelo engenheiro Ernesto Antônio Lassance Cunha e
confirmado pelo engenheiro britânico Jules Jean Revy, sendo
este encarregado de executar o projeto original em 1882
(WIKIPÉDIA, 2010).
Entretanto, por questões de desacordos, a comissão foi
dissolvida em 1886. Devido a este acontecimento e à outra
seca que abateu não somente o Ceará, mas como
Pernambuco e Paraíba, motivou o abandono das vilas destes
estados e, conseqüentemente, a elaboração do projeto do
Açude do Cedro foi paralisado até 1888 (COSTA, 2001, p.
173).
Todavia, a comissão foi reestruturada novamente e, em 1889,
foram feitas algumas modificações no projeto original do
açude, elaboradas pelo engenheiro Ulrico Mursa da Comissão
de Açudes e Irrigação. As obras então foram iniciadas em 15
de novembro de 1890, sob a nova direção do engenheiro
Bernardo Piquet Carneiro e após várias suspensões da
construção, a barragem pode ser finalmente finalizada em
1906 (WIKIPÉDIA, 2010).
Hoje o Açude do Cedro, além de ser encarregado de prover
as redes de irrigação, propõe locais para pesca, prática de
esportes e banho.
Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra Galinha
Choca, Quixadá/CE.
Fonte: COSTA, Cacilda Teixeira. O sonho e a técnica: a arquitetura de
ferro no Brasil. Editora EDUSP. pg. 172, 2001.
CAPITULO 02 26 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7ude_do_Cedro>
Acesso em: 7 jul. 2010.
Durante a construção da barragem, os operários e
engenheiros montaram acampamento nas proximidades da
obra para servir de apoio e moradia. Os resquícios
constituídos dos casarões ainda estão presentes a seis
quilômetros da sede do município de Quixadá, como se pode
observar nas figuras 007 a 009. Porém, vale ressaltar que
algumas edificações eram direcionadas para hospedagem, e
outros casarões servia como galpões para o
acondicionamento dos materiais e equipamentos de
construção do Açude do Cedro.
SEDE QUIXADÁ
CEARÁ
QUIXADÁ
AÇUDE CEDRO
Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a
sede de Quixadá/CE.
Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.
QUIXADÁ
CAPITULO 02 27 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no
acampamento em Quixadá/CE.
Disponível em:
<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar
ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-
abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
jun. 2010.
Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria maciça.
Disponível em:
<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar
ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-
abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
jun. 2010.
CAPITULO 02 28 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os materiais de
construção.
Disponível em:
<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar
ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-
abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
jun. 2010.
Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no antigo
acampamento de Quixadá/CE.
Disponível em:
<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar
ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-
abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16
jun. 2010.
A formação da Comissão de Açudes e Irrigação desencadeou
o interesse do governo federal em ampliar a organização em
uma Inspetoria de Obras Contra as Secas - IOCS3,
____________
3 IOCS – Criada através do Decreto Nº 7.619 em 21 de outubro de 1909.
CAPITULO 02 29 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
promulgada em 1909 pelo Presidente da República, Nilo
Peçanha. Segundo Fritsch (1990), citado por Pomponet
(2009, p. 59) a inspetoria foi criada na “era de ouro” da
Primeira República, quando o país estava proporcionando
grandes obras de infraestrutura, tais como portos e ferrovias.
Com sede em Fortaleza, o IOCS proporcionava estudos,
planejamentos e obras contra as conseqüências das secas na
região nordeste do Brasil. Seus serviços eram executados de
acordo com a urgência da área, sendo dos mais variados
possíveis, promovendo infraestrutura de todos os efeitos:
estradas de ferro; vias de comunicação entre flagelados,
mercados e centro de produtores; açudes de pequeno, médio
e grande porte; poços tubulares e artesianos; canais de
irrigação; barragens transversais e submersas; drenagem de
vales; estações pluviométricas, estudos das condições
meteorológicas, geológicas e topográficas das zonas
assoladas; conservação das florestas; além de outros contra
os efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1909, p.
02).
Com intuito de acelerar o processo de construção de açudes
e poços nas regiões mais condenadas pelas secas, no dia 18
de outubro de 1912, é aprovado pelo Presidente da
República, Hermes da Fonseca, o projeto e orçamento
propostos pelo IOCS para construção do açude na Vila Poço
dos Paus - Ceará, antigo distrito do município de São Mateus,
atual Jucás. Com o passar do tempo a vila passou a ser
denominada Cariús, localidade que abriga o objeto de estudo
deste trabalho (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912a, p. 06).
Para que os projetos de caráter público fossem executados,
foi necessária uma concorrência pública entre as empresas
interessadas visando o menor custo. A sessão para o açude
do Poço dos Paus foi aberta na sede do IOCS, em Fortaleza,
com duração de um mês, tendo início dez dias após a
aprovação inicial do Presidente (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,
1912b, p. 29).
Grande parte das concorrências foi feita da mesma maneira,
como no caso do açude do Caio Prado, hoje sendo município
do Ceará, com a concorrência finalizada juntamente com o
açude do Poço dos Paus. Tal fato também pode ser verificado
em outras partes da região nordeste. O açude da Serrinha
pertencente ao município Serra Talhada, finalizado no mesmo
ano, é um exemplo (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912c p.
26).
Porém a prosperidade do IOCS, sob os decretos do
presidente Venceslau Brás, não foi muito além,
supostamente, devido ao alto custo na execução dos açudes.
No ano de 1914 somente 42 poços haviam sido escavados,
sendo que 33 deles eram privados e apenas 9 públicos
(VILLA, 2000, apud POMPONET, 2009, p. 59). Mas o
principal vilão foi a seca de 1915 que novamente arrasou a
CAPITULO 02 30 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
região nordeste. Junto à estiagem foi introduzido o primeiro
campo de concentração no Ceará, situado em Alagadiço a
oeste de Fortaleza (CORDEIRO, 2010).
Devido à massiva miséria em que os flagelados se
encontravam, era de se esperar que vítimas encurraladas
pela seca se alastrassem por todo o estado cearense. Para
evitar um reprise da seca de 1877, onde mais de 110 mil
sertanejos famintos tomaram conta das ruas de Fortaleza, as
autoridades tomaram providencias para que os "mulambudos”
do sertão, assim chamados, não chegassem à capital do
estado, aterrorizando, saqueando trazendo moléstia e sujeira
como davam parecer nos boletins do poder público da época
(SÁ, [20--]).
Com essa meta, foi criado pelos governos estadual e federal,
o campo de concentração, onde as famílias eram isoladas
das cidades e sob vigilância de soldados foram mantidas
neste recinto com um pouco de água e comida. Todavia a
média de mortalidade dos flagelados chegava a 150 por dia e
a acumulação dos famintos e a putrefação dos mesmos era
absurdamente grande, tanto que o governo estadual foi
obrigado a dispersar os prisioneiros em 18 de dezembro do
mesmo ano (SÁ, [20--]).
A “seca de quinze” foi um trágico marco que até os romances
deram vida aos relatos desse episódio, um deles é “O Quinze”
de Rachel de Queiroz. O livro narra o cenário da seca de
1915 onde a própria família de Rachel foi obrigada a fugir do
Ceará. Em trechos do livro, dois dos personagens principais,
Conceição e Vicente, dialogam sobre o campo de
concentração erguido nesta época. Em seu conto, a escritora
Rachel relembra que o curral chegou a aglomerar cerca de 8
mil flagelados da seca (SÁ, [20--]).
Em 1919, quando Epitácio Pessoa ascende à presidência da
República, a seca na região nordeste é administrada em
maior escala, visando propostas de açudes, barragens e
escavação de poços com a finalidade de reservar água pluvial
para épocas de grandes estiagens. A grande quantidade de
máquinas e equipamentos importados de Nova York e
desembarcados em Fortaleza era prova de que finalmente os
nordestinos iriam ter um mecanismo de defesa contra os
efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1922, p. 60).
Em meados do mesmo ano, a Inspetoria de Obras Contra as
Seca - IOCS recebe o nome de Inspetoria Federal de Obras
Contra as Seca – IFOCS4 através do decreto promulgado por
Epitácio Pessoa (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1919, p. 101-
109), seguido da lei que instituiu a Caixa Especial das Obras
____________
4 IFOCS – Aprovada pelo Decreto Nº 13.687 em 9 de julho de 1919.
CAPITULO 02 31 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
de Irrigação no Nordeste5 garantindo o financiamento
necessário para início das obras (DIÁRIO OFICIAL DA
UNIÃO, 1923, p. 51).
Após garantir a verba, Epitácio aprovou as cláusulas, em
1920, que autorizaram o IFOCS a contratar empresas
estrangeiras para as grandes construções de barragens e
canais de irrigação no nordeste, iniciadas em: Gargalheira e
Parelhas no Rio Grande do Norte pela empresa inglesa (com
sede em Londres) C. H. Walker & Co. Ltd.6 (DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO, 1920, p. 02); Orós e Poço dos Paus no Ceará e
São Gonçalo e Piranhas na Paraíba designando a empresa
americana Dwight P. Robinson & Co. Inc.7 (DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO, 1920, p. 04); Acarape (iniciada em 1910, mas
quase concluída), Quixeramobim e Patú no Ceará pela
empresa inglesa Norton Griffiths& Co. Ltd.8 (DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO, 1920, p. 06).
____________
5 A Caixa Especial autorizava o Governo Federal a adquirir empréstimos
no exterior com um certo limite. Regulamentada pela Lei 3.965 em 25 de
dezembro em 1919.
6 Aprovada pelo Decreto Nº 14.433 em 22 de outubro de 1920.
7 Aprovada pelo Decreto Nº 14.434 em 22 de outubro de 1920.
8 Aprovada pelo Decreto Nº 14.435 em 22 de outubro de 1920.
Porém o insucesso foi inevitável. A execução dos serviços
pedia um orçamento muito superior ao que foi inicialmente
estipulado, e em 1923 algumas obras foram paralisadas,
outras tiveram que restringir suas atividades. Em outros
casos, as que já estavam quase concluídas, foram finalizadas
(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p. 63).
Em relação às construções no estado do Ceará, as obras que
tiveram os trabalhos suspensos foram as de Poço dos Paus,
Patú e Quixeramobim (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p.
63), entretanto foi concluída quase toda a infraestrutura para
a implantação dos acampamentos, tais como a construção de
casas para os trabalhadores, administradores e homens de
“categoria”, casas de oficinas e depósito de materiais.
Além da infraestrutura, em Poço dos Paus e Quixeramobim
foram concluídas as casas que abrigam os geradores de força
e somente em Poço dos Paus é garantido o registro de
abastecimento de água no acampamento (DIÁRIO OFICIAL
DA UNIÃO, 1922, p. 60, 61).
Já em Acarape as construções foram prosseguidas e
finalizadas somente em 19249 (DNOCS, [20--]a) e em Orós
foram concluídas em 196110 (DNOCS, [20--]b).
A desmotivação das famílias locais proporcionada pelas
estiagens, também ajudou na redução de verba para as obras
contra as secas. Contudo em 1925, segundo Fritsch (1990),
CAPITULO 02 32 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
citado por Pomponet (2009, p. 60) o sucessor de Epitácio
Pessoa, Artur Bernardes, propôs uma redução de despesas,
desamparando os investimentos na região nordeste.
Então novamente a estiagem assola o Nordeste em 1932 e o
movimento dos sertanejos foi feito em direção às grandes
cidades. Com função de bloquear os flagelados até a capital,
os campos de concentração, os chamados “Currais do
Governo”9, são reutilizados, porém neste caso o campo não
foi só implantado em Alagadiço (Fortaleza), mas também em
outras cidades com estrutura básica e estação de trem, sendo
alastrados Ppor todo estado do Ceará: Pirambu (em
Fortaleza, conhecido como Campo do Urubu), Senador
Pompeu, Quixadá, Quixeramobim, Cariús, Ipu e Crato. Os
flagelados recebiam comida, cuidados e podiam trabalhar em
obras sob vigia dos soldados, porém não evitou a mortalidade
dos sertanejos devido às condições desumanas nos “currais”
(CORDEIRO, 2010).
Entretanto, no livro Campos de Concentração no Ceará:
Isolamento e Poder na Seca de 1932, da historiadora Kênia
Souza Rios (2001), citados por Sá ([20--]) são encontrados
____________
9 Currais do Governo – Nome dado vulgarmente aos campos de
concentração, devido às condições precárias e o modo como os humanos
eram tratados pelos soldados do governo, feito animais encurralados.
relatos que afirmam a promessa não cumprida de água e
comida para os flagelados no campo de concentração do
Crato, onde o a quantidade de mortos por dia chegou a cerca
de 200 pessoas devido à fome e doenças. Segundo
estatísticas oficiais, dos 73918 flagelados aprisionados nos
“currais”, 16200 foram confinados em Crato, 28648 em
Cariús, 16221 em Senador Pompeu, 6507 em Ipu, 4542 em
Quixeramobim, 1800 em Fortaleza Sá ([20--]) .
Nesta época algumas construções feitas para apoio dos
operários dos açudes, serviram como sedes dos campos de
concentração no Ceará, tal como a antiga vila em Senador
Pompeu. Os casarões do antigo acampamento foram
construídos em 1919 pelos trabalhadores ingleses que
operavam na construção do açude na região (ROCHA, 2008).
Embora não sejam encontrados documentos oficiais que
afirmam quais imóveis foram utilizados para tal propósito,
ainda se podem observar as ruínas destas construções no
município, como no caso do resquício de um casarão
construído em 1923 representado nas figuras 011 a 016.
CAPITULO 02 33 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de
concentração em Senador Pompeu/CE.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817432>. Acesso
em: 9 jul. 2010.
Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua construção.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823198>. Acesso
em: 9 jul. 2010.
Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a história dos
sobreviventes do “curral” em Senador Pompeu.
Disponível em:
<http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=515480>. Acesso
em: 16 jun. 2010.
Figura 014 – Face longitudinal do casarão.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823197>. Acesso
em: 9 jul. 2010.
CAPITULO 02 34 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior da construção
e a má condição do patrimônio.
Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817433>;
<http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817434>. Acesso em: 9 jul. 2010.
Cerca de uma década depois, tropas revolucionárias contra o
exército brasileiro se erguiam em São Paulo com objetivo de
derrubar o Governo de Getúlio Vargas que assumiu a
presidência em1930, dando origem a Revolução de 32. E
para aumentar o volume de soldados, o governo federal e
estadual convocou cerca de 1200 dos flagelados cearenses,
inclusive idosos e crianças, que habitavam os campos de
concentração, para servir ao Exército brasileiro contra as
tropas revolucionárias em São Paulo. Em conseqüência a
falta de treinamento e experiência militar, a tropa composta
pelos cearenses sofreu com o frio devido às fardas
inadequadas. Em estimativa, menos da metade dos soldados
improvisados voltaram vivos para o Ceará (SÁ, [20--]).
As condições dos nordestinos também foram representadas
nas Artes Plásticas, como retratado na obra de Portinari que
enfatiza a miséria e sofrimento do povo nordestino, realçando
a tristeza e dramatização dos personagens bastante realistas
(fig. 017).
Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944.
Disponível em:
<http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/portinari_retirant
es.html>. Acesso em: 8 jul. 2010.
CAPITULO 02 35 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Devido a repetidas e prolongadas crises de estiagem durante
séculos em praticamente todos os municípios dos estados do
nordeste, incluindo o norte de Minas Gerais, esta área ficou
conhecida como Polígono das Secas em 1936, sendo foco de
atenção especial pelo Poder Público em 1.877 municípios
(SUDENE).
Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das Secas.
Disponível em:
<http://www.dnocs.gov.br/~dnocs/var/images/galeria/_piscicultura/penteco
ste/PoligonoSecas.jpg>. Acesso em: 9 jul. 2010.
Para uma nova reformulação do IFOCS, o Presidente da
República José Linhares em dezembro de 1945, adota um
novo nome para a Inspetoria, tornando-se finalmente em
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –
DNOCS10, hoje sendo o atual nome, administrando uma nova
estrutura para o Departamento que mais tarde, em 1963, se
transforma em uma autarquia federal independente do poder
central (DNOCS, [20--]c).
Novamente outra grande seca em 1958 se alastrou pelo
nordeste. As conseqüências foram ainda mais alarmantes
devido à exclusão da região no Plano de Metas "crescer
cinqüenta anos em cinco” do governo do Presidente da
República, Juscelino Kubitschek. Com a seca, o governo
federal foi obrigado a encaminhar obras de emergência para
mais de 500 mil habitantes do nordeste (CORDEIRO, 2010).
A partir de então, Kubitschek implementa o plano de “Uma
política de desenvolvimento para o Nordeste”, que leva à
fundação da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste) em 1959 que atua na região do Polígono das
Secas promovendo o desenvolvimento dos municípios desta
área (CORDEIRO, 2010).
____________
10 DNOCS – Conferido pelo Decreto-Lei Nº 8.846 em 28 de dezembro de
1945.
CAPITULO 02 36 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Somente uma década depois a taxa de mortalidade, devido à
estiagem no nordeste brasileiro, foi reduzida drasticamente.
Contudo 11% da população migrou procurando uma
qualidade de vida melhor. Tentando fugir da miséria, fome,
sede e principalmente das crises provocadas pelas secas que
assolavam qualquer flagelado do sertão nordestino fossem
homens, mulheres, crianças ou idosos (CORDEIRO, 2010).
2.2. Cariús – Trajetória
(...) para construirmos o futuro precisamos conhecer o passado. (...) Registrar fatos do presente para que mais adiante os ávidos neo-cariuenses tenham fontes de informações sobre tópicos de uma civilização passada, incrementando desta forma, a cultural, a alta estima e a cidadania. (...) sempre que possível editaremos fatos atinentes a personalidades que glorificaram nossa terra, buscando restabelecer a nossa história, para que estranhos que não conhecem nosso passado, nem o nosso povo, possam compreender que a nossa gente tem orgulho de pertencer a essa terra. (JORNAL FOLHA DO MUQUÉM, 2000, p. 01)
Este é o pensamento dos habitantes de Cariús11, que
transmitem o orgulho da terra natal onde ao longo dos
séculos se desenvolveu lutando contra secas e enchentes,
deixando de ser apenas um deserto no sertão para conquistar
sua emancipação como município do Ceará.
____________
11 Cariús – Nome indígena tupi que significa “Rio de Cari”, ou seja, peixe
de água doce. Mas segundo relatos de Tomaz Pompeu Sobrinho, possui
sentido de “água saindo do mato”.
CAPITULO 02 37 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
O povoamento desse território foi feito pelas primeiras tribos
indígenas que habitavam nas áreas das proximidades do rio
Jaguaribe, os quixelôs, naturais dos povoados de Telha, hoje
a atual cidade Iguatu. Entretanto, devido às missões jesuíticas
em meados do século XVIII, os nativos viviam em
aldeamentos na área de Poço dos Paus12 (atual Cariús)
sendo pacificados através dos métodos de catequese na
quadra colonial da ordem religiosa (IBGE, 1959).
De acordo com os conhecimentos sobre a colonização do
Brasil, após a desocupação dos índios na região, seu
povoamento foi atribuído no governo de D. João III, a partir da
concessão em sesmarias, onde os colonos tinham o direito de
ocupar a área com a produção que demarcaria seu território.
Supostamente por questões de necessidade, com a
proximidade da água para o próprio fornecimento e dos
animais, se localizaram às margens do rio Cariús, onde o
mesmo deságua no rio Jaguaribe, desenvolvendo a produção
de pecuária, e ali estabeleceram suas casas originando as
fazendas.
____________
12 Poço dos Paus – Segundo moradores locais, o nome foi dado devido a
formação dos vários poços nos perímetros dos morros com vegetação da
região. Não foram encontrados registros de quando o nome foi adquirido
pela vila.
SEDE CARIÚS
CEARÁ
CARIÚS
JUCÁS IGUATU
CARIÚS
Rio Cariús
Rio Jaguaribe
Legenda
Figura 0019 - Localização do rio Cariús e
Jaguaribe em Cariús/CE
Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.
CAPITULO 02 38 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Todavia, o território não passava de um deserto. Devido a
essas condições que obrigavam o homem a migrar de sua
terra, tocado pela necessidade, cansado de ver seu gado
morrer e sua plantação esvaecer, em 1920 o Presidente da
República, Epitácio Pessoa, aprova o decreto que permite a
autorização do IFOCS na contratação da empresa americana
Dwight P. Robinson & Co. In. para a construção da barragem
de alvenaria em Poço dos Paus com objetivo de conter as
águas do rio Cariús (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1920, p. 4).
Com a vinda dos americanos para as margens do rio, foi
necessária a implantação de acampamentos compostos de
várias edificações e construções necessárias para a fixação
de moradias dos operantes. Entre elas, foi construída a ponte
pênsil (fig. 020), o único acesso que ligava o território de Poço
dos Paus divido pelo rio Cariús. Em um lado do rio (entre o rio
Cariús e o rio Jaguaribe) foi construído o casarão do
engenheiro mestre em um nível mais alto (demolido
recentemente sem motivos), as residências para o alto
escalão, como os engenheiros e topógrafos (fig. 022) e a
Casa de Gelo – que através de rumores dos moradores
locais, servia para produzir gelo que era colocado nas
bebidas dos americanos – no Bairro Acampamento.
Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e ripas de
madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao fundo pela esquerda
a casa do engenheiro mestre.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Casarão do engenheiro mestre Residências dos
engenheiros e topógrafos
CAPITULO 02 39 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada onde estava
localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo Bairro Acampamento, 2010.
Fonte: Acervo.
Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro
Acampamento no início do século XXI.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Na outra margem do rio Cariús estava crescendo a vila do
Poço dos Paus, formada também pelos americanos, onde foi
edificado um Hospital (fig. 023), hoje atual residência da Drª
Luisa Angélica Sales fundadora do Instituto Mandacaru13, a
Gerência do IFOCS (fig. 024) que também abrigou os
funcionários e a casa do médico (fig. 025) – após alguns anos
foi a sede da Agência Postal-telegráfica e mais tarde se
tornou em uma residência – na Vila do Prado atual Praça da
República.
Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da Drª Luisa
Angélica Sales, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
____________
13 Instituto Mandacaru – ONG (Órgão Não Governamental) criada em
novembro de 2003 com objetivo de combater a exclusão social.
CAPITULO 02 40 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente residência, [20--].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência Postal-
telegráfica, [195-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e ao final da
rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando como a Agência
Postal-telegráfica. Meados do século XX.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À direita, antiga
Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital e da casa do médico,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 02 41 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Também foram construídos 18 casas modestas, 9 em cada
lado da rua, para os operários brancos na Rua da Vila (fig.
028), hoje Rua 7 de Setembro; na Rua Barbadiana – assim
chamada pela aparências robustas e pele negra dos
moradores - foram erguidas casas para os negros
estrangeiros que vieram do Caribe para trabalhar na
construção do açude (fig. 029); o Almoxarifado/Escritório (fig.
030) – que segundo moradores locais possuía um sino que
tocava para chamar os operários ao trabalho, além da
implantação da Casa de Força e Luz para o suprimento de
energia do acampamento.
Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas dos operários,
2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas residências da época,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 02 42 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as residências dos engenheiros e topógrafos.
Mais a frente o Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas dos operários, [19--].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Almoxarifado/Escritório
Casarão do engenheiro Chefe
Residências dos engenheiros e topógrafos.
Rua da Vila – Casas dos operários
CAPITULO 02 43 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
No mesmo ano, 1920, foi iniciada a construção da estação de
trem que levaria todo material de construção da barragem
para Poço dos Paus (fig. 032). Entretanto, durante sua
execução, as obras do reservatório de Poço dos Paus foram
paralisadas devido à racionalização de verba do governo. Em
virtude deste acontecimento, após a inauguração da estação
em 1922, o ramal ficou à disposição do tráfego de pessoas e
da produção algodoeira, trazendo homens à procura de
empregos que ao se depararem com uma infraestrutura
básica proporcionada pelos americanos, estabeleceram-se no
local, o que resultou em um pequeno núcleo de comércio
visando o desenvolvimento de um povoado.
Segundo moradores, em 1978 o trem já não estava mais em
funcionamento e em seu edifício está localizado o atual
Hospital Municipal Dr. Thadeu de Paula Brito (fig. 033). Tais
que vivenciaram a época em que o ramal ainda estava em
ativa, afirmam que a utilização do mesmo não era mais viável
por questões econômicas, devido à abertura de novas
estradas adentro do estado evidenciando e facilitando acesso
dos automóveis individuais e coletivos.
Com o adensamento de habitantes e o crescimento
econômico, o acampamento foi elevado à categoria de Vila
em 1938 pelo Decreto Lei 169, pertencendo ao Município de
São Mateus, hoje denominada de Jucás (IBGE, 1956).
Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX.
Fonte: IBGE. Enciclopédia dos Municípios, vol. XVI, 1959.
Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 02 44 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Além do comércio, a riqueza econômica da vila estava em
crescimento devido à alta produtividade de algodão através
de firmas como Montenegro (figs. 034 - 037), Mifrota e Cortez.
Foi então que, em abril de 1938, o Padre José Sobreira
chegou a Vila e escolheu o dia 8 de setembro, mesmo
período da colheita do algodão, para celebrar a festa da
padroeira Nossa Senhora Auxiliadora de Poço dos Paus
nesta época, dando ênfase ao dia da fartura do algodão.
Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação de trem,
década 1930.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal de trem,
década 1930.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década 1930.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 02 45 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Segundo o morador José Ferreira, ex-presidente da Câmara
Municipal, durante anos a população da cidade lutou pela
emancipação do distrito através de comitês para elevar a vila
em município do Ceará.
Em 22 de Novembro de 1951, através da Lei 1153/51, Poço
dos Paus é desmembrada da cidade de São Mateus, se
erguendo à categoria de município. Mas é somente em 25 de
março de 1955 que a formação oficial da Câmara Municipal é
instalada já com o novo nome de Cariús, elegendo como
primeiro prefeito o Sr. Silvestre Almeida Duarte (IBGE, 1959).
Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em 1968.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Embora Cariús esteja localizada no Polígono das Secas
sendo vítima de várias crises de estiagens durantes séculos,
os efeitos também podem ser o inverso. Como ocorreu em
1974, um dos maiores casos de enchentes no município.
Relatos de moradores que vivenciaram o acontecimento
alegam que as elevações das águas dos rios Jaguaribe e
Cariús foram tão violentas que balançaram a ponte pênsil,
feita de cabos de aço, até carregá-la correnteza a fora.
CAPITULO 02 46 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Destruiu grande parte da área baixa localizada na zona rural
da cidade, principalmente as casas feitas de taipa14, forçando
os moradores a se abrigarem na parte mais alta ou em
residências elevadas como o Casarão, antigo hospital do
acampamento dos americanos, instalando os flagelados da
enchente no grande salão da edificação.
Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
____________
14 Taipa - Antiga técnica construtiva em que a paredes eram constituídas
de entrelaçamento de madeiras verticais e horizontais amarradas umas as
outras com cipó e preenchidas com barro.
Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam até onde a
água subiu dentro da cidade, 1974.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do município em 1974.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 02 47 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús. À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a sede da cidade de Cariús (à
direita) banhada pelo rio Cariús, que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem escala.
Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.
CAPITULO 02 48 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala.
Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.
CAPITULO 02 49 DA SECA A CARIÚS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Cariús hoje possui uma área distribuída em cinco distritos:
Cariús (sede), Bela Vista, Caipu, São Bartolomeu e São
Sebastião. A educação no município é bem centrada,
contando com trinta e nove escolas: uma estadual de ensino
médio, uma particular de ensino fundamental e trinta e sete
municipais de ensino fundamental. Levando em consideração
o colégio Adahil Barreto, a primeira escola da cidade fundada
em 1938 pela professora Luiza Alencar Guimarães
denominada primeiramente como Escola Reunida, que será
tratada mais detalhadamente no capítulo seguinte.
Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010.
Fonte: SEPLAG; IPECE. Perfil Básico: Cariús. Fortaleza, 2010.
50
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CAPITULO 03 51 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
3.1. Trajetória do Casarão
Através de pesquisas de campo e entrevistas realizadas com
moradores de Cariús que conhecem o passado do município
– como o Sr. José Ferreira, Sra. Diva Targino, Sra. Jonisa
Sales e a atual moradora Dra. Luisa Angélica Sales – pode-se
desenvolver a trajetória histórica. Sendo assim, observou-se
que o Casarão (antigo Hospital) foi uma das construções
locais mais notáveis e de grande prestígio, desde sua
implantação até os dias atuais.
No ano de 1920, quando foi autorizada a construção da
grande barragem no rio Cariús em Poço dos Paus, os
americanos determinaram a necessidade de montar um
acampamento neste território para fixar suas moradias e
edifícios de serviço, saúde e administração. Entre esses
imóveis, havia um de suma importância e destaque, o
Hospital, que dava auxílio aos habitantes desse
acampamento.
Construído em 1922 pela firma americana Dwinght P.
Robinson & Co. Inc. e conduzida pelo IFOCS. Está
implantada nas margens do rio Cariús, perto da entrada
principal da cidade, na antiga Vila do Prado, que segundo
relatos, nada mais era que um grande pasto de animais. Hoje
sendo a praça mais importante da sede de Cariús, a Praça
República.
Após a paralisação da construção da barragem em Poço dos
Paus, o Hospital manteve seu funcionamento por poucos
anos na década de 1920. Já em meados da mesma época
até início da década de 1930 não se tem registro das
atividades no edifício. Porém, a partir desta data, o Sr. José
Ferreira afirma que o interventor de São Mateus (atual Jucás),
Maximinio, residiu no imóvel quando Poço dos Paus ainda era
distrito de São Mateus.
Durante a permanência do interventor no local, a professora
Luiza de Alencar Guimarães desejou uma nova função para o
imóvel, sediar sua escola. Nascida em 02 de dezembro de
1903, Dona Luizinha (assim chamada) começou a lecionar
em Araripe e Saboeiro logo após alguns anos de diplomada
em Fortaleza. Em 1936 fixou residência em Poço dos Paus,
na Rua da Vila (atual Rua 7 de Setembro) onde também
funcionava sua escola, Escola Isolada.
Com necessidade de formar uma escola maior, D. Luizinha
escreveu uma carta para o Presidente da República Getúlio
Vargas solicitando o imóvel pertencente ao IFOCS para fixar
residência e sediar sua escola. Como resposta o presidente
escreveu na mesma carta “Cumpra-se”. No entanto, diante da
dificuldade na desocupação do interventor, D. Luizinha
esperou dois anos até que a ordem fosse atendida. Então, em
CAPITULO 03 52 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
1938 mudou-se para o Casarão, convidando a amiga Diva
Targino para lecionar juntamente na futura sede da escola
que passou a se chamar Escola Reunida.
Em 1954 foi criado o Grupo Escola Adahil Barreto, nome pelo
qual a escola passou a ser chamada após vários debates
entre Luiza de Alencar Guimarães e líderes políticos, que
preferiam outro nome para a escola. Todavia, o nome
indicado por D. Luizinha em homenagem ao amigo deputado
Adahil Barreto, considerado um benfeitor de Cariús,
especialmente no setor da Educação, permaneceu (fig.45).
Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que sediava o Grupo
Escola Adahil Barreto. Meados do século XX.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Posteriormente, o Grupo Escola Adahil Barreto foi instalado
em uma nova sede próximo ao Casarão, onde mantém suas
atividade até os dias atuais (fig. 047).
Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Já em toda a década de 1960 não se tem registros ou
lembranças dos moradores locais sobre acontecimentos
relacionados ao Casarão ou sua ocupação. Mas foi no início
da década de 1970 que a Câmara Municipal de Cariús passa
a ser administrada no imóvel (fig. 048). Há relatos de que
festas e eventos culturais, políticos e educacionais teriam
acontecido no Casarão, entretanto a falta de arquivamento e
conservação dos registros da Câmara deixa a desejar por
mais informações sobre fatos e acontecimentos no imóvel.
Alguns anos depois passou a ser ministrada na edificação
vizinha ao Casarão.
CAPITULO 03 53 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de Cariús no
início da década de 1970.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década de 1970,
vizinha ao Casarão.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas alterações, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
O ano de 1974 foi marcado pela grande enchente em Cariús,
quando transbordaram o rio Cariús e o rio Jaguaribe,
deixando as famílias das regiões mais baixas desabrigadas.
Entretanto, pelo Casarão ser uma construção elevada e das
mais altas da cidade, o imóvel foi uma das edificações que
serviu de abrigo para os flagelados durante março a começo
de maio daquele ano.
Após as águas da enchente baixarem, o Casarão se tornou
residência de habitantes locais como D. Cotinha, D. Sônia, D.
Jesuína e D. Maria Pequena durante 8 anos até se tornar, em
1983, sede do MOBRAL15 e residência do presidente da
comissão, o Sr. José Antonio, sua esposa Profª Maria Alcides
da Silva e seus filhos.
____________
15 MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.
CAPITULO 03 54 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Já de 1998 a 2001, o imóvel foi mantido como residência
somente dos filhos de José Antonio e Maria Alcides. Após a
desocupação, o Casarão foi deixado em péssimo estado de
conservação com rachaduras, deterioramento da cobertura e
vários danos no interior da edificação. Contudo, em julho
2001 é iniciada a restauração realizada pela Dra. Luisa
Angélica Sales que veio a residir no imóvel em março de
2003, após a conclusão das obras juntamente com seu irmão,
Dr. Lourenço Oliver Sales.
Em novembro do mesmo ano, fundaram o Instituto
Mandacaru, uma instituição não-governamental com o
objetivo de combater a exclusão social, cuja sede foi instalada
no imóvel. O instituto promoveu várias ações ao longo dos
anos como, por exemplo, o projeto Linhas e Renda em 2006,
que buscou capacitar jovens e adultos em corte e costura
para geração de emprego e renda para o mercado regional,
transformando o Casarão em um ateliê de costura e divulgado
na TV Verdes Mares do Ceará (fig. 051).
No ano seguinte, a ONG realizou a apresentação cultural do
Auto de Natal com o coral natalino “Pequenos Cantores de
Deus” da Associação Beneficente Otacílio Correia de Várzea
Alegre (CE) na varanda do Casarão (fig. 052). Já no ano de
2009 o instituto promoveu o evento da encenação da Via
Sacra que acontece todos os anos no feriado da Paixão de
Cristo, onde o Casarão foi utilizado como camarim para o
elenco da peça (fig. 053).
Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do Casarão, 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de Deus” na
varanda do Casarão em 2007.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 03 55 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao Casarão.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Os atos beneficentes continuam ao longo dos anos.
Funcionários da Companhia aérea TAM de Paris, há três
anos, se hospedam no Casarão para os preparativos da
campanha Natal Feliz que, promovida pelo Instituto
Mandacaru, pela fundação Otacílio Correia e pela Brazilian
Mission16, distribuem presentes para crianças carentes em
Cariús e em outros municípios da região do Cariri (fig. 054).
____________
16 Brazilian Mission – Organização não-governamental fundada por
cearenses que residem em Miami, Estados Unidos da América.
Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando presentes para as
crianças de Cariús em 2008.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Neste último natal (2009) ocorreu o Sonho de Natal, onde o
instituto proporcionou um projeto inovador utilizando cerca de
10.000 garrafas pet para ambientar a Praça República criando
uma grande árvore, um Papai Noel, quatro bonecos de neve,
quatrocentas luminárias e três velas (fig. 055 a 057). Não
somente os moradores de Cariús apreciaram a decoração,
mas também as cidades vizinhas como Jucás, Iguatu,
Saboeiro e Varzea Alegre.
CAPITULO 03 56 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras, no centro da
Praça República em Cariús, 2009.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de rosas com
garrafa pet, 2009].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Além de ter sido a sede do Instituto Mandacaru, o imóvel
mantém uma exposição permanente de fotografias chamada
de “NOSSA TERRA, NOSSA GENTE”, onde anualmente, na
semana de aniversário do município e na festa da padroeira,
professores e estudantes de escolas públicas da cidade
visitam o Casarão para apreciar um pouco da história do
município Cariús através de fotos antigas dos prédios, povo e
eventos culturais, políticos, educacionais, esportivos e
religiosos.
No início de agosto deste ano, a Drª Angélica hospedou no
Casarão 20 estudantes cubanas de medicina vindas para
fazer estudo de campo sobre o nível de satisfação do Sistema
Único de Saúde (SUS), como Cariús não possui hotel nem
pousada, Angélica ofereceu sua residência para alojar as
estudantes.
Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 03 57 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 059 – Cronologia do Casarão.
Hospital construído pelo atual DNOCS, funcionando até 1924
1922 a 1924
Residência de Maximinio, interventor de Jucás, quando Cariús ainda era distrito de Jucás
Escolas Reunidas de Cariús e residência de D. Luizinha (escreveu para Getúlio Vargas solicitando o casarão para a Escola e sua residência)
A Escolas Reunidas passou a se chamar Grupo Escolar, depois em Grupo Escolar Adahil Barreto dando continuidade a residência de D. Luizinha
Câmara Municipal de Cariús
Abrigou flagelados da enchente que transbordou os rios Jaguaribe e Cariús
1938
Início década de 1930 a 1937
1954 a Fins década de 1950
Início década de 1970
1974
Residência de D. Cotinha, D. Sônia, D. Jesuína e D. Maria Pequena
Sede do MOBRAL e residência do presidente da comissão do projeto, o Sr. José Antonio, sua esposa Profª Maria Alcides da Silva e seus filhos
1974 a 1982
1983 a 1998
Residência dos filhos de José Antonio e Maria Alcides
Início da restauração feita pela Dra. Luisa Angélica Sales
1998 a 2001
Julho 2001
Março: Residência da Dra. Luisa Angélica Sales e Dr. Lourenço Oliver Sales.
Novembro: Fundação e sede do Instituto Mandacaru
2003
CAPITULO 03 58 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
3.2. Análise tipológica das construções do DNOCS
Ao longo deste trabalho é ressaltado que os imóveis do
DNOCS (atualmente) pertinentes a construção das barragens
foram aplicadas pelas empresas contratadas, sendo assim,
coube a elas implantar de acordo com a necessidade do
próprio uso.
Estas edificações já foram citadas no capítulo 02, porém
agora é válido destacar novamente as construções – que a
firma americana construiu em Poço dos Paus – neste subitem
para analisar e comparar a tipologia da implantação e a
arquitetura desta vila com as demais erguidas pelas
proximidades dentro do estado Ceará.
A. Implantação
Em Poço dos Paus é nítida a implantação hierárquica das
edificações, separada pelo escalão e etnia dos funcionários,
além dos serviços promovidos para a vila em geral. Observa-
se (fig. 063), o agrupamento das construções através de suas
semelhanças, como no caso da Vila do Prado com
edificações de serviço e administrativa próxima ao rio e
também da massiva quantidade de casas para operários
agrupados na Rua da Vila com os funcionários brancos e a
Rua Barbadiana para os negros.
Os operários negros estavam localizados mais afastados dos
demais imóveis, deixando clara a idéia de superioridade de
uma etnia sobre a outra. O almoxarifado implantado na
proximidade do rio e junto às propriedades dos operários
evidencia a necessidade de facilitar o contato destes com o
setor. Do outro lado do rio ocorre a ocupação da classe
superior, os engenheiros, topógrafos e mestre no Bairro
Acampamento, visando o status destes funcionários.
Tais medidas também podem ser vistas nas vilas de Lima
Campos e Orós que, através de pesquisas em campo e
entrevistas com alguns habitantes locais pode-se analisar
algumas edificações elevadas na época do início das
construções de suas barragens.
Através da visita à Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”, foram encontrados
dados sobre as obras do açude procedidas em 1922, no
mesmo ano e pela mesma empresa americana do Poço dos
Paus, a Dwinght P. Robinson & Co. Inc.
Na cidade de Orós, foi possível comprovar a presença de
alguns imóveis às margens do rio Jaguaribe (fig. 060)
semelhantes aqueles de Poço dos Paus, como a
administração do IFOCS, a Casa de Hóspedes dos
CAPITULO 03 59 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
engenheiros e o agrupamento do hospital com a residência
médica, além das residências do acampamento (fig. 061).
Entretanto, na pesquisa de campo pela cidade de Orós, não
foi possível obter informações atuais sobre a existência
dessas construções na cidade, somente que, a Casa de
Hóspedes ainda está em funcionamento.
Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do hospital e
residência médica as margens do mesmo, [19--].
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
Todavia, próximas a estas construções, separadas pelo
terreno acidentado, ainda estão presentes a vila dos
operários, hoje chamada de Vila DNOCS. Outro grupo de
pequenas casas denominada de Vila Modelo também foi
erguido na redondeza, mas não se sabe ao certo se foram
construídas para os operários, funcionários da construtora ou
apenas habitantes da região. Este método de implantação
também visou distinguir a hierarquia dos envolvidos no
ordenamento da vila, porém não foi possível situar a
implantação das construções nesta cidade para este trabalho,
devido a falta de informação na localização dos imóveis.
Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--].
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
Já em Lima Campos distrito da cidade Icó (CE), segundo o
atual administrador do açude e morador de uma das
residências do DNOCS, José Gomes de Loiola, a construção
do açude foi iniciada em 1932 levando menos de um ano para
ser concluída. Entretanto, não foram encontradas informações
sobre a firma que empreitou a barragem, mas foi possível
encontrar no local o conjunto das possíveis casas dos
engenheiros e o antigo hospital da vila (fig. 064) que mais a
frente será analisado juntamente com a vila Poço dos Paus.
CAPITULO 03 60 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções do DNOCS.
Fonte: Google Mapas.
CAPITULO 03 61 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
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Acampamento:
Engenheiros, topógrafos
Ponte pênsil
Vila do Prado
Residência médica
Hospital
Administração IFOCS
Rua da Vila
Almoxarifado/ Escritório
IFOCS
Rua Barbadiana
Figura 063 – Implantação das
construções do IFOCS em Poço
dos Paus, 2010.
Fonte: Google Earth e acervo
pessoal.
LEGENDA
CAPITULO 03 62 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em Lima Campos, 2010.
Fonte: Google Earth e acervo pessoal.
Hospital
Rua dos engenheiros
Barragem do Açude Lima
Campos
LEGENDA
CAPITULO 03 63 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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B. Residência dos engenheiros
Feita a análise sobre a implantação das construções, agora
será possível fazer o estudo das tipologias arquitetônicas
destas edificações observadas. Tal estudo seguirá uma linha
de raciocínio baseada na classificação pela função dos
imóveis, separando por grupos de funcionários e serviços,
permitindo a comparação das construções de Poço dos Paus
com as vilas de Orós e Lima Campos sempre que possível.
Este planejamento será feito com a finalidade de descobrir
uma tipologia arquitetônica em comum entre estes imóveis
que classifique o Hospital de Poço dos Paus, para que mais a
frente possa ser feita uma análise mais profunda sobre seus
aspectos estéticos e construtivos. Todavia, não será possível
analisas os aspectos funcionais, pois a falta de dados de
grande parte dos imóveis pesquisados.
Vale ressaltar que ao longo dos anos os imóveis sofreram
alterações pelos inquilinos e que as análises aqui
apresentadas serão baseadas primeiramente em fotos
antigas e relatos de moradores locais. Quando não for
possível obter informações através destas fontes, será
possível recorrer ao estado atual dos imóveis.
Iniciando pelas construções dos funcionários da vila de Poço
dos Paus, foi encontrado o Bairro Acampamento pertencente
aos engenheiros. Neste local foram encontrados três tipos de
residências, duas referentes às casas dos engenheiros e
topógrafos e outra do engenheiro mestre.
As edificações dos engenheiros e topógrafos foram
implantadas na margem oposta ao Rio Cariús e enfileiradas
ao longo de uma estrada. Já a edificação do engenheiro
mestre estava situada em um terreno de nível mais elevado,
acidentado e isolado, porém voltada as outras edificações.
Devido a sua localização, esta construção foi provida de uma
escada centralizada com um patamar, enfatizando seu status
(figs. 065 e 066).
Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro
Acampamento de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 065 – Edificação utilizada pelo
engenheiro mestre, [19--].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª
Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 03 64 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Todos estes imóveis possuíam forma retangular com as
fachadas longitudinais maiores que a fachada frontal e
posterior, disposta em somente um pavimento térreo
proporcionando afastamentos laterais onde a cobertura de
duas águas do corpo principal da casa era direcionada. Tais
edifícios eram dispostos no terreno sem lote definido.
O alto pé direito é levado em consideração, devido à notável
inclinação das coberturas do corpo central. Além desta, as
residências dispunham de uma cobertura frontal que
proporcionou uma varanda, suportada por colunas. Nas
residências menores dos engenheiros e topógrafos, as
varandas eram ordenadas com 4 colunas (fig. 068 e 069), já
nos imóveis maiores e do engenheiro mestre, além de
possuírem de 5 a 6 colunas na fachada principal, também
eram dotadas de varandas laterais cobertas (fig. 070 e 071).
Tais residências eram dispostas de uma quantidade notável
de janelas em todo o entorno, com esquema de abertura para
fora em duas folhas. Em relação à porta principal, esta era
localizada na fachada principal, porém somente no imóvel
pertencente ao engenheiro mestre que a entrada estava
centralizada na fachada juntamente com a escada, já nas
edificações dos outros engenheiros, a porta estava localizada
ao lado esquerdo em relação ao centro da fachada.
O material construtivo das edificações desta época era
basicamente a alvenaria. As paredes eram duplas, e tanto
elas quanto as colunas das varandas possuíam
aproximadamente 40 centímetros de espessura feitas com
tijolos maciços deitados, transformando a edificação em auto-
portantes (fig. 067). Segundo a Dra Angélica Sales, as
coberturas eram compostas de telhas artesanais de barro
modeladas nas coxas17, no caso das esquadrias, as portas e
janelas eram feitas em ripas verticais de madeira maciça.
Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de uma das
residências dos engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos Paus,
[200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
____________
17 Vistas de perto, pode-se observar que as telhas de barro dos imóveis
possuem tamanhos diferentes entre si, o que realça o fato de serem
artesanais.
CAPITULO 03 65 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com
somente a varanda frontal, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos engenheiros no
Bairro Acampamento de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por varandas lateral
e frontal, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros no Bairro
Acampamento de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 66 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Em busca de edificações do IFOCS em Lima Campos,
também foram encontrados imóveis que provavelmente
pertenciam aos engenheiros e outros funcionários de cargo
superior da construção do açude na vila. A semelhança
destas residências ao analisá-las com Poço dos Paus é
notável. Sua implantação lado a lado ao longo de uma via
com afastamentos laterais, forma retangular e a presença de
varanda lateral e frontal mantida por colunas de alvenaria
realçam as tipologias destas construções (fig. 072).
Entretanto, tais imóveis não estão à margem do rio, porém
estão próximas a água. Além de terem sido edificadas em um
aclive, foram elevadas aproximadamente 30 centímetros do
solo para que a base da residência fosse niveladas (fig. 073).
Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos prováveis
engenheiros no aclive em Lima Campos, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Já a cobertura construída em quatro águas com beiral maior
nas laterais e na fachada principal proporcionando as
varandas dispostas com 5 colunas, as duas em cada extremo
evidenciavam as entradas da residência, que era geminada
para duas famílias diferentes. Estas entradas eram recuadas
em relação à fachada frontal até aproximadamente a metade
da fachada lateral (fig. 073 e 074).
Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos engenheiros, 2010.
Fonte: Acervo pessoal, 2010.
Colunas evidenciando a entrada
Porta de entrada principal
Recuo da entrada
LEGENDA
CAPITULO 03 67 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência proporcionando
uma varanda lateral, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Com a presença de um afastamento frontal, nota-se a
determinação de um muro entre a residência e a rua. Por
serem imóveis geminados, nota-se a presença de uma
mureta no jardim frontal para a divisão do imóvel e
privacidade das famílias que compartilham da mesma
edificação (fig. 075).
As esquadrias eram semelhantes aos imóveis de Poço dos
Paus, com abertura para fora em duas folhas, tanto as janelas
como as portas, o único diferencial era um tipo de bandeira
nas esquadrias de Lima Campos com seqüência de
quadrados vazados (fig. 076).
Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 68 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Em relação aos materiais construtivos, a utilização de
alvenaria em tijolo maciço, a cobertura em telha de barro
artesanais e as janelas e portas em madeira maciça não
mudaram nos dez anos de diferença entre as construções de
Poço dos Paus e Lima Campos.
Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos engenheiros de
Lima Campos.
Fonte: Acervo pessoal.
Já na pesquisa de campo em Orós não foi possível encontrar
informações referentes às residências dos engenheiros e
topógrafos na época da vila.
C. Residência dos operários e demais funcionários
Assim como as residências dos engenheiros de Lima
Campos, as pequenas casas dos operários de Poço dos Paus
também eram geminadas. Situadas perto do rio Cariús para o
contato direto dos funcionários à área de trabalho, foram
distribuídas em um terreno plano, lado a lado ao longo dos
dois lados de uma via, chamada Rua da Vila (fig. 079).
Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na Rua da Vila
em Poço dos Paus, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Sua forma simples e longitudinal em relação às laterais
proporcionou afastamentos para os quais a cobertura de duas
Figura 077 – Residência geminada
dos engenheiros atualmente em Lima
Campos, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 69 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
águas é inclinada, sendo desprovidas de varanda ladeando a
edificação. Todavia, vale ressaltar a presença do afastamento
frontal que permitiu a existência de um muro com
aproximadamente 80 centímetros de altura, e outro para
limitar esta área de cada família do imóvel (fig. 080),
necessitando assim de duas entradas que evidenciou as
portas principais na fachada frontal, localizadas em extremos
e separadas por duas janelas, uma para cada inquilino.
Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com
somente a varanda frontal, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Assim como nas outras construções já apresentadas, o
material construtivo foi a alvenaria auto-portante em tijolo
maciço, a cobertura em telha de barro e tanto as portas como
as janelas, eram em duas folhas com ripas de madeira
maciças na vertical.
Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos operários de
Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 081 – Residência dos
operários brancos na Rua da
Vila com um novo anexo criado
à esquerda descaracterizando
o imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 70 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Além dos operários brancos em Poço dos Paus, estavam
presentes os operários negros, estes estavam localizados na
Rua Barbadiana, afastados dos demais moradores e serviços
da vila. Suas residências eram dispostas em torno de uma
área em comum (fig. 083 e 084), e de acordo com as
informações obtidas pelos moradores foi possível encontrar
duas destas áreas onde foram identificadas quatro
edificações que ainda restam.
Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em comum das
antigas residências dos operários, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos operários
barbadianos, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Todas as tipologias arquitetônicas desta construção se
assemelham aos imóveis dos operários brancos, porém o
diferencial é encontrado no telhado – onde a água esquerda
da cobertura é menor que a da direita – e na ausência da
mureta que viria a evidenciar um afastamento frontal,
entretanto é possível levar em consideração que esta falta
seja decorrente do espaço em comum à frente as construções
(fig. 84 e 85).
Não se sabe ao certo se estas edificações eram geminadas,
pois não foram encontrados registros de como era a
CAPITULO 03 71 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
distribuição dos ambientes internos e das esquadrias na
fachada principal.
Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua Barbadiana já
descaracterizadas, somente com a estrutura original (mantendo a
volumetria), 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 086 – Outra residência dos operários negros observada na Rua
Barbadiana, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Em Lima Campos não foi possível encontrar informações
sobre as construções dos operários, contudo em Orós as
edificações foram localizadas em um terreno acidentado,
onde os imóveis foram alinhados e dispostos em uma quadra.
Parte das residências era direcionada para uma via em aclive,
já as demais, posteriores a estas, estavam situadas no ponto
mais alto, em um terreno plano.
Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente chamada de Vila
DNOCS em Orós, com algumas residências descaracterizadas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 72 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Devido ao desnível do terreno, os imóveis foram elevados
para manter o alinhamento da base, entretanto não se sabe
ao certo quanto a existência de escadas nos imóveis situadas
na via em aclive na época de sua construção – as que estão
presente não são originais (fig. 089), porém é possível afirmar
a presença dos mesmos nas edificações situadas no terreno
plano, devido à notável altura a ser vencida (fig. 088).
Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas em terreno
plano, [19--].
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
Como um modelo simplificado, o imóvel apresentada uma
forma retangular, ausência de varanda e afastamentos
laterais, sendo assim, a cobertura em duas águas foi obrigada
a ser direcionada para a fachada frontal e posterior. Todavia,
é somente nas edificações determinadas em terreno íngreme
que ocorreu a presença de um pequeno afastamento frontal
de aproximadamente 1,50 metros proporcionando uma
pequena mureta (fig. 089).
Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da construção
com uma pequena escada não original, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
A edificação é provida somente de um acesso através da
porta e apenas uma janela, localizadas na fachada frontal.
Entretanto é possível ressaltar um diferencial entre as
edificações situadas no aclive e no terreno plano, que está no
espelhamento de sua face principal, onde a entrada do imóvel
na área íngreme é feita pela esquerda e nas edificações
CAPITULO 03 73 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
posteriores é feita pela direita. O material construtivo
permanece o mesmo para todos os imóveis do DNOCS
direcionados aos operários desta época da década de 1920 e
1930.
Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no aclive.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em terreno
plano.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 091 – Uma das residências na
antiga Vila Operária, com
descaracterização somente dos tipos
de esquadrias, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 74 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Ainda em Orós, foram encontradas outras pequenas
residências pertencentes a Vila Modelo, mas pela falta de
identificação do DNOCS nos imóveis, não é possível afirmar
se estas construções foram elevadas pela firma contratada
pelo departamento e para quem foram construídas, porém
são dignos de um breve estudo.
Estas edificações estão situadas em uma área mais elevada
em relação ao restante da cidade. Suas disposições se
assemelham as construções da Rua da Vila em Poço dos
Paus, possuem o mesmo material construtivo e tipos de
esquadrias, são geminadas e implantadas nos dois lados ao
longo de uma via, com o corpo da edificação em forma
retangular, simples e com cobertura em duas águas
direcionadas para o afastamento lateral das edificações.
Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em Orós, 19[--].
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila Modelo em
Orós, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Entretanto, tais edificações possuem algumas características
diferentes de Poço dos Paus, como a elevação de
aproximadamente 40 centímetros do solo devido à inclinação
do terreno, a presença de área em comum para duas famílias
nos afastamentos laterais, por onde é feito o acesso principal
às residências, mantendo uma simetria na fachada principal
com apenas janelas, duas para cada inquilino do imóvel.
Também se pode observar a inexistência de afastamento
frontal diferente da Rua da Vila (fig. 096 e 097).
CAPITULO 03 75 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas
descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais e um dos
acessos em 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós.
Fonte: Acervo pessoal.
Entre outras construções direcionadas à moradia dos
funcionários em Poço dos Paus, encontrou-se apenas uma
residência do médico do antigo Hospital, implantada na Vila
do Prado posterior à margem do Rio Cariús. Assim como as
casas da Vila Modelo em Orós, a tipologia desta edificação
também se assemelha às casas dos operários na Rua da
Vila, tal como a geometria simples e retangular que
proporcionou uma cobertura em duas águas direcionada para
as laterais, além da disposição de duas janelas ao centro e
duas portas nos extremos da fachada principal, todas em
duas folhas (fig. 099).
Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico com algumas
descaracterizações, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Anos depois, o imóvel aderiu à finalidade de Agência Postal-
telegráfica e moradia da família do funcionário, motivo da
existência de dois acessos na fachada principal, igualmente
as casas geminadas da Rua da Vila. Todavia, não se sabe ao
Afastamento lateral (área em comum)
CAPITULO 03 76 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
certo se antes desta função a residência era originalmente
dividida para duas famílias.
Entretanto é possível notar alguns diferenciais como a falta do
afastamento frontal excluindo a possibilidade de um pequeno
muro, a presença de ornamentos em forma de molduras nos
contornos das esquadrias evidenciando as aberturas na
fachada principal, ornamentos de frisos acima das portas e
janelas e detalhes no frontispício que se assemelham a figura
de um frontão com oitão e fisos demarcando o tímpano(fig.
100).
Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS atualmente na
residência e pedra da alvenaria original retirada da edificação.
Fonte: Acervo pessoal.
Nos imóveis mais simples não foi possível encontrar a
presença de varandas ladeando a construção, porém nesta
residência a cobertura foi estendida proporcionando um tipo
de varanda fechada nas laterais, com um pequeno guarda-
corpo alinhado a fachada principal (fig. 102 e 103).
As técnicas construtivas desta edificação são as mesmas que
as demais, com apenas uma diversidade. As paredes foram
construídas em pedras, com o mesmo tamanho que os tijolos
maciços e da mesma forma, com dois tijolos deitados
formando uma parede dupla.
Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 103 – Residência do
médico ainda original.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 03 77 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
D. Edificações de serviço
Além dos imóveis direcionados a moradia dos funcionários
das firmas contratadas pelo IFOCS, foi encontrado outro
grupo de construções que será analisado, os quais possuíam
a função de serviço aos habitantes das vilas. Iniciando pelo
Almoxarifado/Escritório de Poço dos Paus, sua implantação
está localizada próxima a margem do rio Cariús e ladeado
pelos conjuntos de residências dos operários. Seu terreno é
basicamente plano onde possuía uma vasta área livre a frente
da construção, possivelmente para reunião dos funcionários.
Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma grande
área livre a frente.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Com dimensões aproximadas de 17 metros de fachada
principal e 20 metros de lateral, formando uma geometria
retangular, foi uma construção diferenciada das demais
apresentadas até o momento, possuindo características do
ecletismo, como a presença de uma base determinada pela
elevação em relação ao solo, o corpo da edificação com a
presença de cinco entradas na fachada principal com portas
em formas de arcos abatidos (fig. 107), destacando a entrada
principal centralizada pelo seu tamanho maior que as demais,
além da notável distribuição de janelas pelas fachadas
laterais. Por último o coroamento do edifício foi marcado pela
presença de uma platibanda no entorno da construção com
frontão em formato de arco de volta perfeita na fachada
principal e detalhes de frisos ao longo da edificação.
Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas modificadas,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 78 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Em relação à cobertura do imóvel, não foi possível descobrir
sua tipologia, mas acredita-se que também foi construída com
telhas de barro, porém com uma pequena inclinação que não
pode ser visualizada graças à platibanda do coroamento.
Também não foi possível a descrição dos tipos e materiais
das esquadrias do Almoxarifado/Escritório, por não restar tais
materiais autênticos na construção. Entretanto sabe-se que a
estrutura da edificação ainda é a alvenaria com tijolos
maciços deitados.
Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal com arcos
abatidos a esquerda e a via à direita do Almoxarifado/Escritório que segue
até o rio Cariús, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no antigo
Almoxarifado/Escritório.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de Poço dos
Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 111 – Almoxarifado/Escritório
atualmente, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 79 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
A cada construção de açude pelas empresas do IFOCS, era
implantada uma administração, seja da Inspetoria ou das
firmas construtoras. Em Poço dos Paus foi descoberta a
Gerência do IFOCS situada na Vila do Prado, alinhada à
residência do médico e ao Hospital da vila, também localizada
à margem do Rio Cariús. Sua edificação é semelhante ao
imóvel do engenheiro mestre e aos demais engenheiros e
topógrafos do Bairro Acampamento e da vila de Lima
Campos.
Figura 113 – Antiga Gerência do IFOCS mais a frente com o antigo
Hospital ao fundo, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
As características mais aproximadas com a edificação do
engenheiro mestre estão na sua forma retangular
proporcionando uma cobertura no corpo central em duas
águas, afastamentos nas laterais facilitando a disposição de
varanda que ladeiam toda a edificação que para abrigá-las foi
criada outra cobertura em quadro águas separada da
principal, sustentadas por colunas ao longo de toda a varanda
(fig. 114).
Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Antigo Hospital
Antiga Gerência do IFOCS
CAPITULO 03 80 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Observa-se que a construção foi elevada do solo, tal
característica pode ser considerada devido à importância de
seu destino para a vila. Como resultado, vale notar a
presença de uma escada centralizada na edificação baseada
no desenho de um trapézio onde a base é mais larga que o
topo com um guarda-corpo dando continuidade aos
balaustres do corrimão (fig. 115), além do recuo centralizado
na fachada principal (fig. 116), são aspectos que frisam a
imponência da construção.
Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma de trapézio,
[200-]. À direita o recuo na entrada, 2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales e acervo
pessoal da aluna.
Em relação às esquadrias, a fachada principal possui três
portas, uma principal centralizada e duas nos extremos,
sendo circundada por altas janelas. Tanto estas como as
portas possuem duas folhas duplas, as frontais possuem
detalhes de venezianas na parte inferior e retângulos vazados
na parte superior, já as folhas posteriores são lisas para efeito
de proteção. Assim como todas as outras construções, esta
gerência ainda possui as esquadrias em madeira maciça,
estrutura em alvenaria auto-portante com tijolos maciços
deitados e cobertura com telhas de barro artesanais.
Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 117 – Gerência do
IFOCS atualmente como
residência, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 81 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
A falta de informações sobre algumas construções em Lima
Campos não permitiu que fosse encontrada a gerência da
construção do açude no local. Contudo, através do acervo de
imagens obtidos na Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”, foi possível analisar a
Administração americana de Orós, porém tal estudo foi
limitado em somente uma foto antiga (fig. 119).
As principais características desta construção são
basicamente as mesmas da gerência do Poço dos Paus,
entretanto, como imóvel estava implantado em um terreno
íngreme, sua elevação foi maior e com algum tipo de técnica
construtiva, pode-se observar na fachada principal pequenas
estruturas para dar estabilidade a construção neste tipo de
terreno (fig. 120). Os vãos formados pelas colunas nas
varandas possuem um estilo diferenciado, com arcos abatidos
e a presença de guarda-corpo ao longo deste espaço.
Resultante a ausência de dados sobre a edificação, não foi
possível analisar e localizar as esquadrias nas fachadas, nem
mesmo os materiais construtivos utilizados. Entretanto como
as demais construções da época e no mesmo local, é
provável que tenha sido construída igualmente ou semelhante
aos outros imóveis.
Figura119 – Administração americana em Orós, [19--].
Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-
Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.
Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de Orós.
Fonte: Acervo pessoal.
Estruturas de estabilidade
CAPITULO 03 82 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Entre outras construções relacionadas aos serviços
proporcionados em Poço dos Paus, encontrou-se o Hospital.
Por este ser o imóvel foco de estudo para este trabalho, sua
tipologia será analisada superficialmente neste capítulo junto
à outra construção hospitalar encontrada no Ceará para que
mais a frente o assunto seja abordado em detalhe.
Tal edificação está situada com os fundos do terreno para a
margem do rio Cariús, na antiga Vila do Prado, juntamente
com a Gerência do IFOCS e a residência do médico. Suas
características são familiares a algumas construções
apresentadas até o momento como, por exemplo, as
residências dos engenheiros e as gerências tanto de Poço
dos Paus quanto de Orós. Até então pode-se dizer que as
edificações de maior status possuem um estilo em comum.
Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga residência do médico
à frente, seguida do antigo Hospital e Gerência do IFOCS, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
O Hospital assim como algumas edificações citadas, é uma
construção elevada, realçando a imponência da mesma.
Possui a forma retangular, com a face frontal menor que as
laterais, proporcionando um afastamento nas fachadas
longitudinais, que através da extensão da cobertura central de
duas águas para estas direções permitiu a presença de uma
varanda, que para ser ladeada em toda a construção, foram
adicionadas coberturas frontal e lateral. Igualmente às demais
construções semelhantes a esta, ao longo da varanda foram
distribuídas colunas para dar suporte às coberturas seguindo
uma simetria.
Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Antigo Hospital Antiga Gerência
do IFOCS
Antiga residência médica
CAPITULO 03 83 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Originalmente as fachadas do imóvel eram dispostas de uma
notável quantidade de janelas. Na fachada principal estavam
presentes somente janelas, sendo o único imóvel elevado que
não foi encontrado registro de uma escadaria frontal
centralizada – vale ressaltar que este tipo de escada fora
construída alguns anos depois da desativação do Hospital.
Entretanto o único acesso conhecido era feito à direita do
imóvel por uma pequena escada. O restante das faces do
Hospital eram providas de grandes janelas com duas folhas
em venezianas e com postigo liso, tipologias e estética
semelhante à Gerência do IFOCS.
Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
As técnicas e materiais construtivos são iguais aos demais
imóveis. Feitas em alvenaria, tanto as paredes quanto as
colunas, com tijolo maciço deitado, cobertura em telha de
barro moldadas nas coxas e esquadrias em madeira maciça.
Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no antigo
Hospital.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos Paus.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 126 – Antigo Hospital em Poço
dos Paus no ano de 2010 como
residência.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 84 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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Outra edificação encontrada foi o Hospital de Lima Campos,
situado próximo às residências dos engenheiros. Este imóvel
se assemelha esteticamente a administração de Orós devido
a sua forma retangular e localização em um terreno alteado e
inclinado (fig. 128 e 129), que proporcionou a elevação da
construção aderindo a uma escadaria centralizada na fachada
em forma de trapézio - um diferencial nesta construção foi à
presença de uma base para a escada feita em pedras (fig.
130). As demais características semelhantes estão presentes
na tipologia da cobertura, sendo em quatro águas no corpo
central com adição de outra cobertura também em quatro
águas no entorno de toda a construção para abrigar a
varanda. Assim como os outros imóveis, foram dispostas
colunas ao longo de toda a varanda para sua sustentação da
cobertura.
Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente abandonado,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação do terreno,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 130 – Presença da
base de pedras na
escada, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 85 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Ainda na varanda é possível notar a presença de guarda-
corpos vazados com jardineiras entre as colunas, dispostas
ao longo de toda a varanda. Este guarda-corpo possui a
função de proteção devido à elevação da construção (fig.
131).
Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras no guarda-
corpo, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Devido à grande deterioração da construção, não foi possível
identificar os tipos de esquadrias presentes nas fachadas,
mas vale notar a grande presença de vãos de janelas ao
longo das faces laterais da edificação e a possível disposição
de três acessos na fachada principal. È importante mencionar
que após a desativação do Hospital na vila, este imóvel
passou a se chamar Cineclub, onde eram projetados filmes e
feitas apresentações no local, alterando a disposição original
e fazendo agregações em seu interior, como um palco e uma
cabine de projeção acima da entrada principal da edificação
(fig. 132 e 133).
Figura 132 – Palco nos
fundos do interior do
imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 133 – Cabine de
projeção acima da
entrada principal no
interior do imóvel, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 86 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Para finalizar vale ressaltar que as técnicas construtivas deste
imóvel permanecem as mesmas que as demais, alvenaria de
tijolo maciço em toda a construção, cobertura em telha de
barro, além do diferencial, a inclusão da base em pedra da
escadaria.
Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima Campos.
Fonte: Acervo pessoal.
3.3. O Casarão (Análise tipológica)
Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições seculares. A humanidade (...) as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras, se reconhece solidariamente responsável por preservá-las (...) (Carta de Veneza, 1964)
Analisando as tipologias das edificações do DNOCS, pode-se
observar algumas características comuns entre si. Tal
equivalência estava presente nas construções que
proporcionavam maior status em cada vila estudada, sendo
elas: as residências dos engenheiros e os Hospitais de Poço
dos Paus e Lima Campos, as administrações de Poço dos
Paus e Orós.
Como suas características já foram citadas, vale à pena
assinalar agora as semelhanças entre elas. De acordo com a
tabela 01 abaixo podemos classificar suas características em
uma tipologia em comum, para que em seguida seja possível
pesquisar sobre a origem destas características associando-
as com o antigo Hospital de Poço dos Paus, atual Casarão.
Figura 134 – Antigo Hospital e
Cineclube de Lima Campos.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 03 87 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Tabela 01 – Características em comum das edificações de maior status do DNOCS.
TIPOLOGIAS
ASPECTOS
FORMAIS
HOSPITAL ADMINISTRAÇÃO RESIDÊNCIA
Hospital de
Poço dos Paus
Hospital de Lima
Campos
Administração de
Poço dos Paus
Administração de
Orós
Residência do
engenheiro mestre
de Poço dos Paus
Residência dos
engenheiros e
topógrafos de Poço
dos Paus
Residência dos
engenheiros e
topógrafos de
Lima Campos
Forma retangular
com fachada principal
menor que as laterais
X
X
X
X
X
X
X
Edificação elevada do
solo X X X X X X
Varanda coberta
ladeando a edificação X X X X X X X
Presença de colunas
na varanda X X X X X X X
Cobertura do corpo
central em duas
águas com telhas de
barro
X
X
X
Cobertura do corpo
central em quatro
águas com telhas de
barro
X
X
X
X
CAPITULO 03 88 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
TIPOLOGIAS
ASPECTOS
FORMAIS
HOSPITAL ADMINISTRAÇÃO RESIDÊNCIA
Hospital de
Poço dos Paus
Hospital de Lima
Campos
Administração
de Poço dos
Paus
Administração
de Orós
Residência do
engenheiro mestre
de Poço dos Paus
Residência dos
engenheiros e
topógrafos de
Poço dos Paus
Residência dos
engenheiros e
topógrafos de
Lima Campos
Edificação
autoportante com
alvenaria dupla em
tijolos maciços
X
X
X
X
X
X
X
Escada centralizada
em forma de
trapézio
X X X X
(não possui forma
em trapézio)
Disposição de
grande quantidade
de janelas ao longo
das fachadas
X
X
X
X
X
X
X
Janelas e portas em
duas folhas X X X X X X X
Fonte: Acervo Pessoal.
CAPITULO 03 89 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Percebe-se que o antigo Hospital de Poço dos Paus possuía
a maior parte das características em comum com as demais
edificações, podendo dizer que está construção se encaixa na
tipologia definido para os imóveis do DNOCS.
Após pesquisas e analogia do Hospital com outras
edificações para definir sua origem, foi encontrada a
conformidade do imóvel com as residências nos Estados
Unidos da América deste período. O “Bungalow”18 é o que
mais se aproxima das características do antigo Hospital.
Segundo a revista virtual americana “American Bungalow”19,
os bangalôs foram construções mais comuns de 1880 a 1930
nos EUA, originalmente de Bengal na Índia – de onde
recebeu seu nome. São construções econômicas, simples e
horizontalizadas com objetivo de proporcionar toda a área de
moradia em somente um andar.
____________
18 Bungalow – No Brasil chamada de “bangalô”, são casas populares do
Estados Unidos da América, principalmente na Califórnia, que estiveram
no ápice da construção em final do século XIX até meados do século XX.
19 American Bungalow Magazine – Uma revista virtual americana que
disponibiliza informações e novidades sobre os bangalôs. Disponível em:
<http://www.americanbungalow.com/all-about-bungalows/what-is-a-
bungalow/>. Acesso em: 27 de junho de 2010.
Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento, Califórnia/EUA.
Disponível em: <http://architecture.about.com/od/housestyles/ig/Bungalow-
Pictures/ Curtis-Park-Bungalow.htm>. Acesso em: 27 jun. 2010.
A. Características dos Bangalôs
Para a análise tipológica formal, construtiva e do imóvel em
Poço dos Paus, inicialmente foram examinadas as
características marcantes dos bangalôs mais conhecidos, os
californianos. Em relação a essas características é possível
destacar alguns elementos como a implantação da edificação
em terreno plano, com afastamento frontal valorizando a
presença de jardins e vegetações à frente do imóvel (fig. 137).
A forma retangular possuía um pé direito não muito elevado –
quando elevado era para a disposição de um sótão – a face
CAPITULO 03 90 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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principal e posterior menor que as demais, proporcionaram
afastamentos laterais no terreno por onde a cobertura em
duas águas do corpo central é direcionada.
Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô californiano de
1914 construído em Victoria/Canadá importado de Califórnia/EUA.
Disponível em:
<http://www.maltwood.uvic.ca/cura/projects/hallmark/images.html>.
Acesso em: 14 ago. 2010.
Com o recuo parcial da fachada principal, foi possível a
disposição de uma varanda frontal – com a presença de
guarda-corpos em madeira – para reduzir o barulho da rua no
interior da residência e também para sombreamento, sendo
assim, foram propostos colunas ao longo desta varanda para
dar sustentabilidade à cobertura.
Devido à elevação da edificação ao solo, determinou-se uma
escadaria frontal, e como sinônimo de simetria foi centralizada
na edificação juntamente ao acesso principal. Tal elevação
também causou a ausência de garagem interna.
Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô construído em
Sacramento, Califórnia/EUA.
Disponível em: <http://architecture.about.com/od/housestyles/ig/Bungalow-
Pictures/Sacramento-Bungalow.-0a-.htm>. Acesso em: 14 ago. 2010.
Nas esquadrias dos bangalôs, as janelas eram largas em
média de três folhas. O material utilizado, tanto as janelas
quanto as portas eram freqüentemente feitas com vidros e
madeiras. Assim como as esquadrias, as paredes da
edificação eram também em madeira.
CAPITULO 03 91 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
B. Semelhanças e diferenças entre o Bangalô e o antigo
Hospital de Poço dos Paus
Em meio a essas informações, o Hospital possui algumas
características de mesma natureza que os bangalôs
americanos, entretanto com adaptações para o local em que
foi inserida.
Esta construção foi implantada em um terreno plano com
estilo simplificado, geometria retangular e horizontalizada
formada por apenas um andar, características formais
semelhantes às residências americanas. Todavia, outras
características equivalentes podem ser aderidas pelo imóvel.
Assim como os bangalôs, o corpo retangular do antigo
Hospital situado livre no terreno favoreceu afastamentos para
que a cobertura com forma de duas águas fosse direcionada
para as laterais.
Devido à alta temperatura constante na região quase todo o
ano, foram adaptadas varandas dispostas com colunas que
dão sustentação a cobertura em todo o entorno imóvel,
oferecendo proteção da insolação direta nas fachadas. As
questões de higiene e salubridade, também são levadas em
consideração na tipologia do edifício, sendo elevado do solo
para evitar o contato direto com o pasto de animais que se
encontrava a frente da edificação, seguindo o modelo
americano.
Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua construção no ano de
1922. Ainda sem o anexo que fora construído a esquerda do edifício na
década de 1930.
Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Nesta construção também estavam presentes algumas
características que se diferem das moradias californianas.
Uma delas é a adaptação do material construtivo ao local em
que foi inserido. O Hospital é uma edificação autoportante
devido à espessura das paredes – formadas por dois tijolos
maciços deitados – determinadas para proteção ao calor.
CAPITULO 03 92 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Diferente dos bangalôs que são construídos com paredes de
madeira e fundações rasas, raramente feitas em tijolos
(AMERICAN BUNGALOW MAGAZINE, 2010).
Outra característica que se diverge, é o acesso principal feito
pela lateral direita do edifício. No caso dos bangalôs, a
escadaria é construída à frente das residências, centralizada
na fachada frontal. Já as esquadrias da construção de Poço
dos Paus foram feitas todas em madeiras maciças, em duas
folhas e janelas com postigo, estreitas e altas (devido à alta
insolação), ao contrário dos bangalôs.
O alto pé direito desta construção foi proporcionado pelo tipo
de telha utilizada, colaborando no aumento do oitão devido à
inclinação, sendo assim, esta altura possui a finalidade de
proporcionar que calor suba e o ar frio desça, mantendo o
interior do imóvel sempre fresco.
Entretanto, também está presente outro diferencial no
Hospital, a inexistência de guarda-corpo ao longo de toda a
varanda do imóvel, essa carência ocorre possivelmente
devido a uma elevação não valorizada ao perigo.
Com esta analise comparativa dos bangalôs com o antigo
Hospital, é possível perceber que as semelhanças entre suas
tipologias são mais predominantes nas formais que
construtivas. Todavia vale ressaltar que grande parte de suas
diferenças são conseqüentes do clima em que estão situadas.
Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido na atual
residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a presença de varanda
disposta por colunas, fachada por onde era feito o acesso.
Fonte: Acervo pessoal.
93
444
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CAPITULO 04 94 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
“Em geral, entende-se por restauração qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto da atividade humana.” (BRANDI, 2004, p.25)
Este é o princípio do conceito de restauração idealizado por
Cesare Brandi20 em seu livro Teoria da Restauração na
década de 1960. Nele iremos analisar a fundamentação
teórica da restauração e conservação arquitetônica
juntamente com as Cartas Patrimoniais21 de Veneza e Burra
que possa seguir de base para o estudo da restauração feita
no antigo Hospital, atual Casarão em Cariús, objeto de estudo
deste trabalho.
4.1. Cesare Brandi
Em primeiro lugar devemos analisar a construção como um
todo, ou seja, como uma obra de arte. Para isso Brandi expõe
duas instâncias: a instância histórica e a instância estética,
____________
20 Cesare Brandi – Nascido em 1906 e falecido em 1988, formado em
letras e direito, entretanto possuiu grande presença na história da arte
direcionado a restauração.
21 Cartas Patrimoniais – Documentos onde são encontrados os principais
conceitos adotados para o gerenciamento de bens patrimoniais.
em que a obra deve ser representada sem exprimir falsidade
da mesma. Caso ocorram integrações, estas não devem
realçar mais que a obra original, sendo reconhecidas de
imediato. E o mais importante:
“(...) qualquer intervenção de restauro não torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções.” (BRANDI, 2004, p. 48)
Cada obra de arte, quando restaurada, será sempre analisada
como um caso a parte. O estudo preliminar que antecede as
aplicações das cartas patrimoniais e técnicas de restauração
e conservação é essencial e único em cada monumento, pois
os métodos utilizados em uma obra podem não ser
adequados a outra, tornando-os singulares.
A restauração segundo a instância histórica implica na
qualificação da obra de acordo com o valor histórico da
mesma, ou seja, ligar a edificação ao passado, presente e
futuro certificando-se da presença de rastros humanos neste
monumento. Caso esses vestígios não sejam conservados no
passado e nem para o futuro, ocorrerá uma falha na
comunicação dos testemunhos, não sendo possível classificá-
la como uma instância história.
Por este lado a repristinação – ato que trás a obra em seu
estado inicial, de volta aos seus primeiros tempos - é abolida,
pois faz com que a história e os intervalos pela qual a
CAPITULO 04 95 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
construção passou seja anulada, esquecida. “Causando a
impressão de que o tempo nunca agiu sobre a obra, que se
mostra sempre acabada e nova” (ARAÚJO, 2006, p. 5).
A conservação de acordo com esta instância implica em
manter a obra da maneira em que foi encontrada, em poucas
palavras, uma restauração preventiva eliminando uma
intervenção direta, somente condicioná-la a técnicas de
preservação do seu estado atual, tornando-a legítima e
fazendo jus ao seu histórico, um testemunho, mesmo que
mutilado, reconhecido como uma obra de arte da passagem
do ser humano. Caberia, portanto, apenas a consolidação do
monumento.
O entorno da edificação também é levado em consideração
na conservação da obra de arte. É necessário fazer um
levantamento das belezas naturais no perímetro, pois as
mesmas podem estar integradas ao bem cultural. Todavia, os
aspectos naturais podem também não obter presença em sua
passagem histórica ou valor em determinadas culturas, neste
caso levamos em conta a predominância do panorama, em
que a vista da obra de arte não seja prejudicada pelo entorno.
Já no caso das adições, refazimentos e remoções da obra, é
necessário pesar o que é mais válido, a razão histórica ou a
razão estética. Uma obra que já suportou refazimentos e
remoções repetidamente, não será possível mantê-la apenas
pela instância histórica, pois se seu conceito está apenas nos
refazimentos das partes, sendo assim, estes atos
proporcionaram apenas o realce estético da obra.
Ao ver da instância histórica, todas as adições admitidas ao
longo dos anos, décadas e séculos na obra de arte é um
“testemunho do fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 71). Tais
adições possuem a função de complementar, sendo
conseqüência de um desenvolvimento tornando-se uma
introdução na obra, um enxerto. Neste caso deve ser
conservada. Em vista a este argumento, Brandi afirma que a
remoção implicará na redução a nada de um documento,
“donde levaria à negação e destruição de uma passagem
histórica e à falsificação do dado. (...) do ponto de vista
histórico, é apenas incondicionalmente legítima a
conservação da adição” (idem, p. 71).
O refazimento se difere da adição, nesta situação se pretende
ligar o passado com o presente, apresentando o processo
original ao qual a obra se desenvolveu. Ligando o antigo com
o atual “de modo a não distingui-los e a abolir ou reduzir ao
mínimo o intervalo de tempos que aparta os dois momentos”
(idem, p. 73). Então a idéia principal do refazimento é expor a
época em que a obra surgiu. Este ato pode ser consentido à
instância história, pois mesmo sendo um feito do presente,
marca o fazer do humano e no momento em que o futuro for
olhar pelo passado, verá esta assinatura do humano neste
refazimento.
CAPITULO 04 96 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Contudo, no caso da remoção, esta deverá ser questionada e
concedida uma razão plausível para o ato, e mesmo que seja
feita, deverá consentir traços de sua presença na obra em
que estava situada.
“a instância artística (...) corresponde ao fato basilar da artisticidade pela qual a obra de arte é obra de arte.” (BRANDI, 2004, p. 29)
Nesta definição acima, Brandi expõe de forma simples que a
instância estética nem sempre utiliza os mesmo critérios que
a instância histórica, pois uma edificação bem condicionada
não seguirá as mesmas regras que uma ruína.
“(...) do ponto de vista estético não somos constrangidos a definir a área conceitual da ruína com o mesmo critério do ponto de vista histórico.” (BRANDI, 2004, p. 78)
Neste pensamento citado por Brandi, caso a ruína fosse
considerada pelo seu valor estético, com objetivo de levá-la à
unidade potencial, seria através da cópia, um falso das
características originais. Portanto, a ruína que não pode ser
integrada, será conservada, ponderando o valor histórico,
conservando seu estado atual como uma passagem do tempo
e história humana. (idem, p. 78).
Em oposição a estes fatos, conceituar a ruína com referências
a instância estética implica em complexos enredos. Pois a
mesma pode estar integrada a monumentos, paisagens ou
até ser um caráter de uma determinada zona. Devido à
“delimitação negativa do conceito de ruína” como resquício de
uma obra de arte, “[a ruína] não pode ser reconduzida à
unidade potencial”. (idem, p. 79).
Com relação à remoção das adições, o valor artístico se
contradiz com o histórico, se manifestando contra a
conservação dos acréscimos. Em conseqüência remove a
“recordação da passagem histórica”. Esta ação deverá ser
efetuada com a devida atenção a documentação.
“Para a instância que nasce da artisticidade da obra de arte, o acréscimo reclama a remoção. (...) E como a essência da obra de arte (...) é claro que a adição deturpa, desnatura, ofusca, subtrai parcialmente à vista da obra de arte, [então] essa adição deve ser removida” (BRANDI, 2004, p. 83-84)
Para estes casos, se deve sempre analisar a importância dos
elementos. Determinar qual valor prevalece mais, se vale
remover as adições “além do valor intrínseco dos objetos
acrescentado”, ao ponto de destruir marcos e passagens
históricas. (idem, p. 85).
CAPITULO 04 97 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Outro caso em que a instância estética se opõe à histórica é a
pátina, pois a mesma documenta uma passagem que o tempo
causou na obra de arte e deve ser mantida. Todavia a
artisticidade propõe a remoção desta ação, por ser
considerada uma adição. (idem, p. 85-86).
Todavia, é notório ressaltar que, assim como a instância
histórica, a instância estética também é fruto da ação
humana, porém “se aqueles vestígios estão de fatos perdidos,
não pode mais tratar-se de artisticidade, mas apenas de
historicidade.” (idem, p. 78).
Sendo assim, a restauração da edificação como uma obra de
arte dependerá do peso dos valores que o imóvel carrega em
si. Seja pelos materiais nela contida, as técnicas construtivas
utilizadas ou pelos traços do autor, tornando o ato da
restauração dependente destas condições. Portanto, cada
bem requer uma análise específica e individualizada acerca
da instância a ser privilegiada.
Existem várias maneiras de abordar uma ruína que está
prestes a ser restaurada. Para entender melhor as instâncias
será mostrado dois casos de intervenção. O primeiro será o
antigo Hotel Pilão, situado na Praça de Tiradentes em Ouro
Preto, MG.
O conjunto urbano deste local é considerado um patrimônio
da humanidade, segundo a Listagem de bens protegidos em
Minas Gerais apresentados ao ICMS Patrimônio Cultural
(2010, p. 12).
Porém devido a um incêndio ocorrido no ano de 2003, tornou
o antigo imóvel em ruína, descaracterizando o conjunto
arquitetônico. Então como ação punitiva ao agente causador
do incidente, os resquícios do imóvel foram consolidados a
uma cópia do casarão original. Esta ação foi proporcionada
devido ao grande valor estético que o edifício tinha, e ainda
tem, em relação à paisagem em que está situada.
Portanto, foi considerado não só o valor do bem em si, mas
principalmente seu valor extrínseco. O papel do bem
danificado na composição da paisagem envolvente perderia
valor com a ausência do mesmo. Por este motivo, a
reconstrução foi realizada, considerando a reintegração do
valor estético da paisagem urbana como um todo.
Figura 143 – O casarão reconstruído,
[200-].
Disponível em: <http://www.ouropreto-
ourtoworld.jor.br/pilao2.htm>. Acesso em:
04 out. 2010.
Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas
em 2003.
Disponível em: <http://www.ouropreto-
ourtoworld.jor.br/FogoPilao.htm>. Acesso
em: 04 out. 2010.
CAPITULO 04 98 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Outro exemplo de patrimônio em ruína é o Castelo de Garcia
D’Ávila, situado no litoral da Bahia é uma das primeiras
edificações portuguesa construída no Brasil. Um conjunto
residencial-militar dos séculos XVI e XVII, considerado como
um monumento nacional desde 1938. (A CASA DA TORRE
[...],1989-2008)
A intervenção no complexo foi baseada predominantemente
na instância histórica, sua ruína foi mantida no estado em que
foi encontrada, devido ao significado como um testemunho da
história humana. Já a capela nela situada foi conservada ao
longo do tempo devido ao seu uso contínuo, restando apenas
pequenas intervenções sem alterar seu sentido.
A consolidação da ruína pressupõe a valorização da instância
histórica na medida em que, por exemplo, manteve expostas
as técnicas construtivas empregadas nos primórdios da
ocupação do Brasil Colônia, ao invés de reconstruir o bem.
Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente.
Disponível em: < http://shw.rafaelpires.fotopages.com/14234491/Castelo-
Garcia-dAvila.html >. Acesso em: 04 out. 2010.
Agora para exemplificar, seguem nas figuras 147 e 148 dois
exemplos de intervenções baseadas, uma em uma edificação
em ruína e outra estruturalmente conservada.
Figura 145 – Vista
aera do Castelo de
Garcia D’Ávila.
Disponível em:
<http://www.flickr.co
m/photos/ulyssesde
castro/4371102673/
sizes/z/>. Acesso
em: 04 out. 2010.
Figura 146 – Capela
conservada e a ruína do
castelo.
Disponível em:
<http://mundoposto.com.
br/blog/?tag=praia-do-
forte>. Acesso em: 04
out. 2010.
CAPITULO 04 99 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética e Histórica.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma
edificação em ruína, utilizando a Instância Estética e
Histórica.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 04 100 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
4.2. Cartas Patrimoniais
Inicialmente a salvaguarda do monumento histórico não foi
baseada na conservação e preservação do bem com a
essência de transmitir uma emoção ou memória viva, a fim de
relembrar uma geração passada, crenças e acontecimentos,
de forma “a preservar a identidade de uma comunidade étnica
ou religiosa, nacional, tribal ou familiar” constituindo “uma
garantia das origens” (CHOAY, 2001, p.18).
Naquele momento, a salvaguarda havia como intenção, a
recuperação dos monumentos para a reutilização, devido à
perda de “seu sentido e seu uso, a insegurança e a miséria”.
Os primeiros acontecimentos neste sentido podem ser
apresentados em Roma no século V, onde um decreto
autoriza a desapropriação dos edifícios “cujo estado não
permite conserto” para serem transformados em pedreiras.
(idem, p.35).
No século seguinte o papa Gregório I, em época onde a
construção implicava com altos gastos, adota uma política de
reutilização, onde seu sucessor, Honório, transforma grandes
residências patrícias em monastérios e as salas de recepção
em igrejas (idem, p.36).
A partir deste mesmo século, Roma é vista como “a maior
fonte de materiais prestigiosos para os novos santuários”,
além da reutilização dos espaços, os antigos monumentos
também são vítimas de recortes em pedaços para serem
adaptados e embelezar novas construções, onde “colunas,
capitéis, estátuas, frisos esculpidos são, desse modo,
retirados dos edifícios que faziam a glória das cidades
antigas” afim de serem reaproveitados. (idem, p.40-41).
Segundo Choay (2001, p.35), tais ações ocorrem até ao
século XI. Ainda em Roma o Coliseu sofre grandes
mudanças, seus arcos são fechados e reutilizados para
habitações, depósitos e oficinas, e no lugar da arena é
elevada uma igreja e uma fortaleza da família Frangipani.
O sinal de interesse pelo passado referente aos antigos
edifícios é despertado entre o século XIV e XV, através de
“abordagem literária” pelos humanistas, negligenciando o
conhecimento visual, onde seus interesses não estão
focalizados no monumento, e sim no “testemunho do texto
sobre o passado” acima de todos os demais. Nesta mesma
passagem são encontrados os artistas, que pela filosofia
semelhante, simpatizam pelas formas e descobrem novos
conceitos construtivos referentes às esculturas e antigos
edifícios. (idem, p.46-47,49).
Entretanto, cabe aos papas dar início à proteção dos edifícios,
com medidas modernas, a fim de preservar e/ou restaurá-las.
Através de bulas pontificais, em meados do século XV, o
papa Pio II Piccolomini, a favor de sua apreciação aos
edifícios antigos, aclama a abolição da depredação e
CAPITULO 04 101 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
demolição dos mesmos, punindo a todos que danificarem tais
imóveis. Entretanto, os papas não satisfeitos somente “com
medidas preventivas”, “retiram o entulhos, desobstruem,
restauram as antigüidades”. Como no caso do papa Eugênio
IV que além de manter limpo os arredores, restaura a
cobertura do Panteão. Já Nicolau V aconselhado por Leon
Battista Alberti, arquiteto italiano, faz um grande levantamento
topográfico de Roma, para um promissor plano de
restauração da cidade, além “de conservar e colocar em
destaque os grandes monumentos da Antigüidade”. (idem,
p.53-55).
Neste raciocínio, Pio II Piccolomini almeja não somente a
idéia de preservar e conceder manutenções nos “lugares
santos da cidade” no momento, mas sim “para que as
gerações futuras encontrem intactos os edifícios da
Antigüidade e seus vestígios”. (idem, p.53).
Seguindo o caminho da restauração, vale ressaltar algumas
teorias de restauro que foram vivenciadas ao longo do século
XVII até XX. Podendo-se iniciar pelo Restauro Arqueológico
(ou Empírico) exposta pelo Papa Leão XIII, surgem os
primeiros antiquários, onde os testemunhos dos objetos são
mais confiáveis que a escrita, ao contrário do que ocorria
entre o século XIV e XV. Tal teoria era meramente substancial
e não aprofundada em relação aos teóricos que estavam por
vir.
Já Viollet-le-Duc, propiciou o início efetivo da teorização do
restauro através do Restauro Estilístico. Neste caso o teórico
utiliza a analogia dos edifícios similares através de
arqueologia e da história de sua arte, a fim de alterar o
edifício chegando ao ponto de sua perfeição.
Entre outras teorias de restauro, estão presentes o Restauro
Romântico conhecido como Anti-restauro por John Ruskin; o
Restauro Histórico de Luca Beltrami utilizando critérios
específicos para cada restauração; Camilo Boito apresentou o
Restauro Moderno através da recuperação de um edifício
morto para suprimir uma necessidade contemporânea; o
Restauro Científico por Gustavo Giovannoni influencia a
preservação do monumento no contexto urbano que está
inserido; e por último o Restauro Crítico defendido por
Cesare Brandi, já caracterizado no tópico anterior.
(PIMENTEL, 2009/2010).
É válido concluir que tais teóricos contribuíram para o
desenvolvimento dos procedimentos e ações preservativas
nos bens, independentemente de suas variantes. Pois cada
especialista legitimou suas teorias de acordo com período em
que estava sendo vivenciado.
Para que o ato de salvaguarda de bens de interesse à
sociedade fosse adotado até os dias atuais, profissionais
envolvidos com o ramo da arquitetura, arqueologia, artes
plásticas, entre outros, conceberam encontros mundiais para
CAPITULO 04 102 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
discutir e formular parâmetros de abordagem ao patrimônio,
devido à carência de metodologias com base científicas. Afim
de orientar os procedimentos entre os profissionais.
Em favor deste conceito, foram desenvolvidas Cartas
Patrimoniais que recomendam aos órgãos responsáveis e
protetores dos bens culturais, políticas de preservação e
salvaguarda, reverenciando “os valores patrimoniais quanto a
amplos aspectos sócio-culturais”. (CÉSAR; STIGLIANO,
2010).
Um dos encontros que obteve o pontapé inicial para a
elaboração do primeiro documento internacional digno da
conservação e preservação do bem cultural, foi o I Congresso
Internacional de Arquitetos e Técnicos em Monumento –
CIAM, em Atenas no ano de 1931, que incentivou a
realização da Carta de Atenas. Neste documento é exposta a
importância do patrimônio na cidade, transpondo cuidados
especiais em relação ao entorno dos monumentos,
preservando sempre a perspectiva e vistas do imóvel além
das paisagens pelo qual ele oferece. Também leva em
consideração o todo como um conjunto arquitetônico. Já na
assembléia de 1933, é levantada a questão que diz respeito
aos conjuntos urbanos com repetição de imóveis, onde é
necessária a documentação e conservação de alguns, sendo
os demais demolidos, ou ao ponto de conservar uma parte
em que remete uma lembrança e modificar o restante de
forma vantajosa. (CARTA DE ATENAS, 1933).
Afora a valorização visual do monumento, cabe a Carta de
Atenas fortificar o respeito pelo patrimônio, onde as técnicas
utilizadas não causem danos aos elementos do mesmo
favorecendo também a utilização da anastilose22 – quando for
possível – diferenciando o novo material utilizado na técnica.
Para que isso ocorra o documento impõe a responsabilidade
pela conservação dos monumentos aos Estados. Entretanto
não somente os órgãos governamentais, mas também a
população deverá respeitar e participar dos acontecimentos
culturais e históricos da comunidade elevando importância do
___________
22 Anastilose – Recolocação de elementos do monumento em seus locais
originais.
Figura 149 – Cartaz do CIAM.
Disponível em:
<http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/edic
ao7/artigo_6.pdf>. Acesso em: 26 set. 2010.
CAPITULO 04 103 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
interesse educacional e trazendo em conseqüência, a
redução dos danos devido ao esquecimento dos
monumentos. (CARTA DE ATENAS, 1931).
Em novembro de 1945 é criada a UNESCO23, uma
organização internacional que visa à promoção de várias
atividades, sendo uma delas cultural, onde focaliza, dentre
outras questões, a salvaguarda do patrimônio cultural
estimulando sua preservação através de assistências técnicas
e divulgação de informações. (UNESCO, 2007).
De acordo com CÉSAR e STIGLIANO (2010), após
aproximadamente uma década, no ano de 1956, a UNESCO
promoveu uma Conferência Geral em Nova Delhi, Índia, onde
foram discutidos assuntos referidos à arqueologia.
Todavia vale ressaltar que também foram firmados os
cuidados dos bens históricos ao Estado e a importância da
comunicação e propagação de informações do mesmo com a
comunidade tanto local como internacional. (CÉSAR;
STIGLIANO, 2010).
Graças à UNESCO, também foi possível preservar grandes
monumentos, como no caso do complexo arqueológico Abu
___________
23 UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura.
Simbel construído no século XIII a.C (SABONGI, [20--]), salvo
pela organização na década de 1960:
“Início da Campanha da Núbia, no Egito, para deslocar o Grande Templo de Abu Simbel de modo a evitar que fosse submerso pelo Nilo depois da construção da represa de Assuan. Durante essa Campanha, ao longo de 20 anos, 22 monumentos e complexos arquitetônicos foram relocados. Esta foi a primeira e a maior de uma série de campanhas.” (UNESCO, 2007, p. 26)
Figura 150 – Local original dos templos.
Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.
Acesso em: 26 set. 2010.
CAPITULO 04 104 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
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Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa preferida
Neferetari.
Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.
Acesso em: 26 set. 2010.
Em suas grandes realizações, no ano de 1972 em Paris, a
Conferência Geral da UNESCO promoveu uma convenção a
favor da Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural,
criando em 1976 a Comissão do Patrimônio Mundial. Neste
ato a organização distribui informações e promove
mecanismos para iniciar a conservação e proteção do
patrimônio universal, incluindo convenções internacionais
para aqueles interessados na salvaguarda do mesmo.
(UNESCO, 1972).
Já em 1964 ocorre o II Congresso Internacional de Arquitetos
e Técnicos em Monumento - CIAM em Veneza, dando origem
a um novo documento, a Carta de Veneza, o qual servirá de
referência para a análise do Casarão no capítulo seguinte.
Sua utilização será de suma importância, pois as formas de
aplicação da mesma estão dentro dos parâmetros de como o
monumento histórico está situado na atualidade. Ou seja, a
Carta de Veneza se refere não apenas aos grandes edifícios
da Antiguidade, mas também valoriza “as obras modestas,
que tenham adquirido, com o tempo, uma significação
cultural”. (CARTA DE VENEZA, 1964, p.02).
Como no caso da edificação foco de estudo deste trabalho, tal
imóvel pode não possuir um significado em grande escala,
mas é de um testemunho, um acontecimento histórico, da
comunidade local. Segundo a Carta de Veneza, para manter
o monumento como uma obra de arte classificada como
testemunho histórico, é necessário visar sua salvaguarda
através de dois métodos: a conservação e a restauração.
A conservação se baseia primeiramente na manutenção
constante da edificação, para isso o documento permite que o
bem possua uma nova função, desde que não ocasione em
mudanças e alterações “na disposição ou decoração dos
edifícios”. Em conseqüência, tal feito poderá “alterar as
relações de volumes e de cores”, devido à importância da
preservação volumétrica e de sua escala. (idem, p.02).
Todavia, não somente o exterior, mas também o interior é
digno de conservação. Os elementos internos, sejam
esculturas ou decorações, fazem parte da edificação, sendo
CAPITULO 04 105 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
assim não podem ser removidos de seus locais de origem,
somente no caso em que tal ação seja o último recurso a
favor da integridade do objeto.
Portanto, não há como separar os registros materiais da
edificação, pois “o monumento é inseparável da história de
que é testemunho e do meio em que se situa. [...] o
deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não
pode ser tolerado”. Ocorrendo exceções apenas para os
casos extremos, quando o mesmo é exigido para a própria
salvaguarda ou for justificado por “razões de grande interesse
nacional ou internacional”. (idem, p.02).
Já a restauração tem a finalidade de manter o valor histórico e
estético do monumento, com o objetivo de manter os rastos
deixados pelas épocas em que a edificação vivenciou,
ostentando o material nelas contidas. Para que isso ocorra, é
necessário utilizar as técnicas tradicionais da época, porém
quando não for possível, pode-se optar pelas técnicas
modernas que comprovem o resultado pretendido, sem danos
ao monumento.
Em casos de substituição de partes faltantes, a Carta de
Veneza favorece a concepção de um novo elemento, de
modo em que o novo não sobressaia mais que o antigo, esta
integração deve ser feita através de materiais diferenciados
dos originais para que não ocorra a falsificação de partes do
monumento.
Neste caso, vale ressaltar que a restauração do monumento é
fundamentada “no respeito ao material original e aos
documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese”, ou
seja, em casos onde os documentos não sejam suficientes
para restaurar a edificação ou parte dela, não se deve
reconstruir onde ocorre a ausência de informação, para
indicio de complemento, evitando um falso na composição
arquitetônica. (idem, p.02).
Já os acréscimos serão aceitos somente em casos onde “o
equilíbrio e suas relações com o meio ambiente” não forem
abalados. (idem, p.03).
Outro testemunho escrito analisado juntamente com a Carta
de Veneza, foi a Carta de Burra, sendo ela um complemento
deste documento anterior. Elaborada em 1980 pelo Conselho
Internacional de Monumentos e sítios – ICOMOS na Austrália,
aprimorou os procedimentos de conservação e restauração
além de colaborar com as recomendações de preservação,
reconstrução do monumento edificado e de seus elementos.
Assim como a Carta de Veneza, a carta de Burra defende a
conservação com respeito ao “testemunho nela presente”,
designando o bem como “um local, [...] um edifício ou outra
obra construída, [...] que possuam uma significação cultural,
compreendidos [...] para as gerações passadas, presentes ou
futuras”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.01-02).
CAPITULO 04 106 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Entretanto, a mesma carta aceita “obras mínimas de
reconstrução”, mas apenas para atender as necessidades e
exigências do edifício em si (idem, p.01). Diferente da Carta
de Veneza, onde não denunciava alguma forma de
reconstrução do imóvel.
Ao esclarecer os procedimentos quanto à reconstrução, a
Carta de Burra (1980, p.04) cita que, o objetivo maior é
permitir uma “leitura” completa do monumento, trazendo o
significado cultural que foi perdido, onde deve “se limitar à
reprodução de substâncias cujas características são
conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou
documentais”.
Todavia, tais partes devem ser diferenciadas quando vistas
de perto e não sobressaírem mais que o entorno em que está
situada, limitando-se a “completar uma entidade desfalcada e
não [...] a construção da maior parte da substância de um
bem” (idem, p.04).
Seguindo a mesma linha da Carta de Veneza (1964, p.02), a
Carta de Burra (1980, p.03), afirma que quando for necessária
a remoção de elementos que forem pertencentes ao
monumento, só será permitido meramente para manter a
sobrevivência dos mesmos.
A preservação não é citada na Carta de Veneza, todavia,
segundo a Carta de Burra (1980, p.01 e 03) este ato será
admitido apenas para a manutenção da substância dos
edifícios, a fim de desacelerar o “processo pelo qual ela se
degrada, limitando-se “à preservação, à manutenção, e à
eventual estabilização da substância existente”. Deixando
claro que métodos onde depredam o significado do bem não
serão tolerados.
Paralelo a estas técnicas temos a restauração, onde envolve
a reposição dos elementos, porém a “um estado anterior
conhecido”, viabilizando a recolocação de materiais
desconjuntados, ou em outras condições subtrair acréscimos
de elementos. (idem, p.01 e 03).
Nestes casos, de acordo com a Carta de Burra (1980, p.03) a
restauração só é possível se for obtida a quantidade de dados
que suprem o testemunho de suas características anteriores,
assim como é mencionado simultaneamente na Carta de
Veneza (1964, p.02). Devendo equilibrar, qual época deve ser
privilegiada, já que “todas as épocas deverão ser
respeitadas”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.03).
Um procedimento considerável nos processos de salvaguarda
de um edifício histórico é o estudo, não apenas na
construção, mas também de seu entorno. Na Carta de
Veneza (1964, p.03) o ato de escavação é levemente
mencionado, mas é na Carta de Burra (1980, p.04) onde é
declarada que a escavação em casos o qual é permitido o tal
ato, se torna “necessária para a obtenção de dos
CAPITULO 04 107 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
indispensáveis à tomada de decisões relativas à
conservação”.
Para finalizar, tanto a teoria de Cesare Brandi, quanto os
procedimentos das Cartas Patrimoniais, realçam a proteção
do monumento edificado por ser um patrimônio importante
para a humanidade ou para uma coletividade. Deste ato surge
a necessidade de respeito aos bens materiais que circundam
a comunidade local podendo se expandir de forma nacional
até um ponto global.
Para isso deve-se relacionar o patrimônio com o cotidiano da
população, não excluí-la, mas tornar parte do dia-a-dia desta
comunidade. Difundindo a idéia de um pequeno projeto de
salvaguarda em grandes planejamentos e planos de
revitalização local para regional à nacional.
108
555 AAANNNÁÁÁLLLIIISSSEEE DDDAAA IIINNNTTTEEERRRVVVEEENNNÇÇÇÃÃÃOOO
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CAPITULO 05 109 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
O ato de intervir em um patrimônio está ligado em manter as
condições do objeto, prolongando ao máximo sua vida e de
seus elementos, levando em consideração que, nem sempre
é possível obter um parecer conclusivo, sendo necessária
uma constância nas ações de conservação do bem edificado.
“Contudo, não podemos perder de vista a percepção de que muitas vezes é impossível reconstituir o objeto em sua materialidade original, sabendo, porém, que é necessário estabilizar os processos de alteração/degradação da obra/objeto/ artefato, por meio de ações que não comprometam as características de seus materiais constitutivos. Ao perceber a imensa dificuldade que é a prática de um respeito rigoroso à integridade do objeto – tanto na sua preservação material quanto em relação ao seu significado –, compreendemos a necessidade de ações conscientes, realizadas por profissionais qualificados, que devem reciclar seus conhecimentos continuamente.” (FRONER; SOUZA. 2008. p.03-04).
Segundo Froner e Souza (2008) é necessário que um
profissional com especialização em restauro, preservação e
conservação atue nesta área. Porém um leigo com
consciência de preservação com objetivo em manter um
imóvel em sua forma original também pode aplicar técnicas
básicas sem mesmo obter conhecimento sobre o tema.
È a partir deste ponto que iremos avaliar e analisar os
procedimentos utilizados na intervenção feita pela Dra Luisa
Angélica Sales – atual moradora do imóvel – de acordo com
os princípios fundamentais citados no capítulo anterior e os
materiais didáticos sobre “Técnicas básicas de conservação e
restauração”24. E quando possível, indicar técnicas
alternativas que podem melhorar as condições físicas do
patrimônio.
A. Adições
Em relação à volumetria do Casarão, sua forma inicialmente
era retangular, quando foi construída em 1922. Entretanto
podemos observar a adição de um volume em forma de “L”,
para ampliação do imóvel, logo após a desabilitação do
Hospital, no começo do século 1930 – eventualmente durante
a moradia do interventor Maximinio, possivelmente feita pelo
mesmo – sendo mantida até os dias atuais.
___________
24 Material obtido na disciplina de Técnicas Retrospectivas II da professora
Viviane Pimentel. Faculdade Brasileira – UNIVIX.
CAPITULO 05 110 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Devido ao enredo histórico nela contida, optou-se manter tal
adição e considerar o patrimônio como uma instância
histórica, pois segundo Brandi, é por obrigação em manter um
testemunho do ser humano que se deve conservar as
adições, para assim, torná-la legítima. (BRANDI, 2004, p. 71).
Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D demonstrando a
volumetria original da edificação.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua forma em “L”
em 2002.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Segundo o artigo 13º da Carta de Veneza (1964, p.03) e o
artigo 8º Carta de Burra (1980, p.02-03) os acrescimentos e
adições de novas construções só poderão ser permitidos caso
não prejudique sua composição e visualização em relação ao
entorno.
A partir desta afirmação, pôde-se justificar as demais adições
inseridas, localizada na área posterior do imóvel durante sua
intervenção. Antes de serem inseridas, o estado em que este
terreno foi encontrado era desastroso. O suposto quintal do
CAPITULO 05 111 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
imóvel estava coberto de mato, ervas daninhas, e vegetações
que se alastraram para todos os lados.
Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano de 2001) e
depois da intervenção [ca. 2002/2003].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Após a capinação e limpeza do terreno que cercava o
Casarão, foi possível acrescentar outras edificações, como no
caso da lavanderia ao nível do terreno. Sua presença não
realça mais que a imagem do Casarão, apenas foi adaptada à
área externa, próxima ao imóvel de forma que não fosse
necessário alterar o interior para adequar o ambiente.
CAPITULO 05 112 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior do imóvel,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Outra volumetria acrescentada foi uma pequena residência
interligada ao Casarão somente pelas varandas, sem
necessariamente ser adicionada estruturalmente ao imóvel,
constituindo um volume independente. Já este acréscimo foi
motivado devido à necessidade de uma moradia direcionada
aos pais da Dra Angélica que fosse localizada próxima da
mesma.
Figura 159 – Edificações interligadas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão pelas varandas,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Cobertura da
Lavanderia
Varanda do
Casarão
Residência
acrescentada
CAPITULO 05 113 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Há também outras construções agregadas ao terreno,
próximas ao Casarão que são: a piscina, a garagem, o salão
de eventos e um deck coberto (fig. 161, 162 e 163). Estas
edificações foram aplicadas corretamente no terreno, pois não
estão anexadas ao imóvel analisado, não interferindo na
composição visual do mesmo.
Nestes casos, assim como a pequena residência, podem ser
justificados pela teoria de Brandi já citada anteriormente, onde
as adições feitas atualmente servirão de um testemunho do
fazer humano para o futuro. (BRANDI, 2008, p. 71).
Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns anos após a
intervenção, na área posterior do terreno do Casarão, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta com duas
vagas em 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 114 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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Figura 164 – Localização das edificações acrescentadas.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 115 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
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B. Interior
Outro exemplo de adições, agora na parte interior do
Casarão, são as paredes que foram construídas para adaptar
o imóvel a uma residência atual. Para esta situação foram
elevadas paredes para acrescentar um banheiro à suíte de
visitas. Próximo a este banheiro, na mesma suíte, foi
adaptado um pequeno depósito com acesso pelo banheiro da
suíte master.
Este último ambiente está situado onde era o antigo corredor
do primeiro acesso principal ao imóvel, a porta principal fora
substituída por uma báscula e o final do corredor fechado.
Tais adaptações foram decorrentes da necessidade e
privacidade tanto das visitas quanto da moradora.
Estas aplicações procuraram proporcionar uma melhor
adequação para o imóvel, pois foram construídas em áreas
ociosas, que não possuíam mais utilidade, como no caso do
corredor - já que este acesso não era mais conveniente,
devido ao quarto já possuir uma porta de acesso pela varanda
frontal.
Figura 165 – Pequeno depósito, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 166 – Parede elevada no
final do antigo corredor de acesso
principal, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 167 – Banheiro da suíte
master. A porta principal
originalmente estava localizada
onde está a atual báscula, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 116 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 168 – Adições de paredes.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 117 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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Além destes banheiros, a edificação foi encontrada com dois
banheiros adaptados. Um deles estava localizado no corpo
original, um pequeno ambiente – suposto lavabo - somente
para uma cuba e uma bacia sanitária. E outro banheiro no
anexo, consideravelmente grande comparado ao anterior.
Os dois ambientes estavam em péssimas condições
sanitárias, completamente sujos e com acúmulo de lixo. Neste
caso a Drª Angélica transformou o pequeno banheiro do
corpo original em um depósito, retirando os equipamentos
sanitários.
Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no ano de 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
O outro banheiro foi reformado, relocando a bacia sanitária no
lugar chuveiro, e separando por uma pequena parede a cuba
e a bacia sanitária da área molhada. Todas as paredes deste
ambiente foram revestidas com cerâmicas até o nível do
chuveiro, uma ótima proposta para melhor limpeza e higiene
do banheiro.
Essas mudanças foram um ponto positivo para o imóvel, pois
o lavabo, por ser um ambiente muito pequeno, não era viável
ergonomicamente para uma residência com idosos. Já a
Figura 170 – Antigo banheiro, hoje
como depósito, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 118 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
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reforma do banheiro maior proporcionou uma melhor
ambientação, aproveitando os espaços de forma útil.
Esta conduta é pertinente às disposições da Carta de Burra,
especificadas no art. 1 (1980, p. 1) que dispõe sobre a
possibilidade de intervir no bem para que seja adaptado para
atender às necessidades e exigências do imóvel ao contexto
atual. Entretanto, essas modificações podem ser facilmente
reversíveis, de acordo com sua destinação (idem, p.2).
Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros existentes.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 171 – Banheiro maior antes da
reforma em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 172 – Banheiro maior
depois da reforma, 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 119 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
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Dando continuidade às adições no interior da edificação,
temos presente algumas colunas de concreto acrescentadas
para dar sustentabilidade às tesouras da cobertura que
estavam cedendo. Estas colunas foram postas de forma que
“abraçassem” a linha da tesoura, através de encaixes em
forma de “U” na parte superior da mesma, para evitar que não
apenas fossem apoiadas e sim, presas às colunas.
Duas dessas colunas estão localizadas na suíte de visitas.
Estas suportam uma das três tesouras do corpo original, a
qual não evidência grande deterioração, porém tais métodos
foram utilizados como modo de prevenção.
Atualmente, para aproveitar o pequeno espaço criado entre
as duas colunas e a parede, foi adaptado para um pequeno
depósito.
Figura 174 – Detalhe
da coluna de
concreto em forma
de “U”, 2010.
Fonte: Acervo
pessoal.
Figura 175 e 176 – Colunas
construídas na reforma em 2006 e
à direita como estão atualmente,
2010.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 120 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Outro ambiente em que foram aplicadas mais três colunas de
concreto é a suíte master, o antigo grande salão. Em uma das
tesouras foram aplicadas duas colunas com o sistema de
encaixe em forma de “U”, assim como no caso da suíte de
visitas. Já na outra tesoura, foi aplicada somente uma coluna
de concreto com o mesmo sistema.
Entretanto, para maior reforço, foi necessário aplicar uma
barra de ferro na parte inferior da linha da tesoura, presa à
mesma por dois anéis de aço.
Um procedimento correto segundo a professora Viviane
Pimentel (2009/20010, p.08) em seu material didático afirma
que quando necessário, as peças de madeiras deterioradas
podem ser niveladas “aumentando sua seção com reforços de
madeira ou metálicos, fixados com cintas ou parafusos
passantes de aço inox”.
Esta intervenção é relevante na medida em que as barras de
reforço não se destacam em relação à peça de madeira. No
entanto, o mesmo não acontece com os anéis, que foram
mantidas na cor prata, sobressaindo em relação à madeira.
Neste caso seria necessário a pintura deste elemento à uma
cor semelhante a madeira.
Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte master
construídas em 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 177 – Colunas de
concreto com adaptação de um
pequeno depósito, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 121 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Atualmente, estas colunas estão embutidas nas paredes de
alvenaria. Tal solução promoveu mais segurança às tesouras
para evitar uma possível flambagem. Este local hoje é
ambientado por uma sala íntima na suíte.
Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de concreto,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem as colunas,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 122 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Além das duas colunas que suportam a tesoura na suíte
master, foi acrescentada uma viga de concreto em diagonal
no ambiente ao lado a suíte para dar apoio à mesma tesoura.
Não foi possível utilizar coluna de concreto nesta situação,
pois a tesoura não está alinhada com a parede, podendo ficar
um volume excedente em relação à mesma. Todavia, neste
caso seria necessário demolir parte da parede para construir
uma nova estrutura, o que não era justificável para esta
intervenção.
Figura 183 – Viga em diagonal, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Tais procedimentos interferem no valor estético em relação ao
interior do edifício, neste caso poderia ter sido aplicado
técnicas mais aprimoradas, que não interferissem nos
espaços.
Entretanto, são plausíveis se forem analisados juntamente
com as Cartas Patrimoniais e a teoria de Brandi, pois
segundo estes fundamentos, em caso de adições devem-se
sempre diferenciar o novo do velho. Nesta situação foram
utilizados métodos e materiais modernos na intervenção da
edificação, como o concreto, ferro e aço.
Estes métodos utilizados também estão corretos segundo a
instância histórica de Brandi, pois é importante mostrar cada
fase em que a edificação passou ao longo dos anos desde
sua construção até os dias atuais, para isso Brandi (2004, p.
73) afirma que “refundir o velho e o novo de modo a não
distingui-los”, é “abolir ou reduzir ao mínimo o intervalo de
tempo que aparta os dois momentos.” Por isso foi necessário
a diferenciação dos materiais aplicados na intervenção dos
originais, para que mostrasse a passagem de tempo entre o
velho e o novo acrescentado.
CAPITULO 05 123 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 124 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Assim como em várias casas em cidades do interior, em
Cariús é comum encontrar fogões à lenha feitos de tijolos.
Atualmente, na cidade ainda é muito utilizado este tipo de
fogão entre as famílias de baixa renda.
No Casarão não foi diferente, fora encontrado um fogão à
lenha feita em tijolos maciços – os mesmos da alvenaria da
edificação – onde estava situada na original cozinha,
atualmente sendo ocupada pelo lugar da sala de estar. Na
reforma, a cozinha passou a estar localizada no anexo
mencionado anteriormente.
Devido a essas mudanças o fogão ficou desabilitado não
sendo necessário manter este elemento histórico. Em todo
caso, Brandi (2004, p.71) afirma que “a remoção deve ser
sempre justificada e (...) deve ser feita de modo a deixar
traços de si mesma e na própria obra.” Infelizmente não foi
possível manter traços de sua existência no imóvel devido à
colocação do revestimento cerâmico no piso.
Entretanto, foi importante o registro em fotografia deste
elemento feito pela Drª Angélica, pois desta maneira é
confirmada sua existência e passagem pelo imóvel mantendo
um testemunho histórico.
Figura 185 – Antigo fogão à lenha
encontrado em 2001 no interior da
edificação.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 186 – Antiga cozinha e
atualmente como sala de estar,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 125 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Na maioria dos casos em que a edificação sofre uma
intervenção, é comum a reconstrução de pequenas partes da
alvenaria ou dos seus elementos.
Neste caso foi necessário o preenchimento do reboco em
algumas paredes no interior do Casarão, devido à presença
de fissuras e tijolos aparentes. Este procedimento foi utilizado
não somente no interior, mas também nas fachadas externas
da edificação.
Um ato devidamente correto, pois proporciona a reconstrução
de pequenas partes do imóvel e não em grandes alterações
que poderiam constituir em um falso restabelecimento da
obra. Este procedimento é comprovado pelo art. 18º da Carta
de Burra (1980, p. 04) onde afirma que “a reconstrução deve
se limitar à colocação de elementos destinados a completar
uma entidade desfalcada e não deve significar da maior parte
da substância de um bem”.
Em relação ao piso do imóvel, sabe-se que os pisos da suíte
master e de visitas eram originalmente em frisos de madeira
aroeira sobre barrotes25.
Os demais cômodos nãos apresentavam os revestimentos
originais. No entanto os antigos registros indicam a existência
de antigo barroteamento, demonstrando que provavelmente
em outros cômodos tinham o mesmo acabamento.
___________
25 Barrotes - O método de aplicação é chamado de barroteamento, que
são barrotes (vigas de madeiras) – apoiados em estruturas – que
suportam o piso.
Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente,
2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª
Luisa Angélica Sales.
Figura 188 – Piso de madeira aroeira
encontrado na suíte master, antigo
grande salão em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 126 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Devido ao precário estado de conservação do piso de
madeira, o mesmo foi retirado e, além das suítes, todo o
interior do Casarão foi revestido com piso cerâmico e
acrescentado soleiras em quase todos os vãos e portas.
Neste caso, talvez fosse possível restaurar o revestimento de
madeira, uma vez que os barrotes ainda estavam em bom
estado. Porém à falta de recursos e profissionais
especializados na região, não permitiu esta intervenção.
Entretanto, a justificativa teórica para este caso é equivalente
ao fogão à lenha. Antes da colocação do piso cerâmico foi
possível registrar os traços e a existência dos barrotes. Tais
elementos não foram retirados dos seus locais de origem, sua
existência ainda permanece abaixo do revestimento cerâmico.
Figura 190 – Detalhe dos barrotes
no piso do corredor no ano de
2003.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 189 – Detalhe dos barrotes na
suíte master, 2003.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 191 – Piso atualmente
revestido com cerâmica e portas
com soleira, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 127 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
C. Área Externa
A intervenção no imóvel começou pelo seu entorno. Devido
aos descuidos dos antigos proprietários ao longo dos anos,
tudo o que havia no terreno onde está situado o Casarão era
formigueiros, mato, lixo e uma enorme árvore frondosa
localizada na área frontal entre o Casarão e o imóvel vizinho,
a atual Câmara Municipal.
As raízes desta árvore estavam prejudicando os alicerces dos
dois imóveis, em conseqüência foi necessária a derrubada da
mesma. Segundo a Drª Angélica, para isso “foi solicitada e
concedida autorização do Ibama para derrubar a árvore. O
corpo de bombeiros de Iguatú [cidade vizinha a Cariús]
efetuou a operação de derrubada, e a Prefeitura Municipal de
Cariús transportou a madeira cortada.”
Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara Municipal
parcialmente destruído pela árvore, 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Hoje, no local onde estava situada a árvore frondosa está
presente um jardim florido com bouganvilles, pequenos
arbustos e um coqueiro.
Figura 192 – Árvore frondosa
na área frontal do terreno em
2001.
Fonte: Acervo pessoal
fornecido pela Drª Luisa
Angélica Sales.
CAPITULO 05 128 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 194 – Jardim atualmente, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
A retirada desta árvore foi um ato correto, e pode ser
justificada através do artigo 8 da Carta de Burra (1980, p. 02-
03) que declara “a introdução de elementos estranhos ao
meio circundante, que prejudique a apreciação ou fruição do
bem, deve ser proibida”. Ou seja, este elemento além de
prejudicar estruturalmente o imóvel, estava deturpando a
contemplação do mesmo.
Além da criação do jardim, foi elevado um pequeno muro e
acrescentados portões na área frontal do imóvel para
proteção e evitar intrusos. À frente do jardim está localizado o
muro feito de tijolos furados com detalhes em madeira e um
portão de ferro.
Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua construção em
2001 e depois de pronto, 2003.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 129 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Para proteger a passagem no afastamento lateral da
edificação, foi proposto um portão vazado de duas folhas para
passagem de veículos para a garagem do terreno.
Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos, [200-].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Devido à passagem de carros por este afastamento, foi
necessário remover uma pequena escada por onde era feito o
acesso principal ao imóvel original. Todavia não foi possível
obter registros documentados deste elemento.
Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a antiga escada
de acesso principal. Atualmente para acesso de veículos, 2006.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Assim como o muro, os portões e a retirada da escada lateral
são compreendidos como “obras mínimas de (...) adaptação
que atendam às necessidades e exigências práticas” (CARTA
DE BURRA, 1980, p. 1). Enquadrando o imóvel a uma
residência atual para veículos e com o mínimo de proteção.
Ainda por motivos de segurança, foram criados guarda-corpos
em volta de toda a edificação para a proteção dos idosos e
CAPITULO 05 130 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
crianças que circulam pelas varandas e residem no Casarão e
na residência acrescentada a este imóvel.
Devido à adição deste elemento, foi necessário remover outra
escada que estava situada na fachada frontal da edificação.
Por estar situada neste local, também trazia outra
conseqüência, a obstrução da passagem de pedestres na
calçada.
Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a escada prestes a
ser retirada em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Esta escada na fachada principal foi inserida anos após a
construção deste imóvel, não sendo original. Todavia este
elemento é um marco, um testemunho histórico na edificação.
Entretanto, para justificar sua remoção foi necessário
reivindicar a instância estética segundo a teoria de Brandi
(2004, p. 83-84), onde afirma que “a instância que nasce da
artiscidade da obra de arte, o acréscimo reclama a remoção”
para que seja retomando a forma original do imóvel. Neste
caso, é retirado o corpo estranho da obra.
Além desta escada, ocorre a presença de uma terceira,
localizada entre o corpo original e o anexo acrescentado
alguns anos após a construção da edificação. Porém este
elemento foi mantido, e acima do mesmo fora construída uma
nova escada adaptada para o atual imóvel, com adição de
guarda-corpos visando sempre à segurança do ser humano.
Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada localizada entre
o copo original e o anexo acrescentado, 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 131 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos. Acesso principal
a residência, 2001.
Fonte: Acervo pessoal.
Para manter registros de sua existência e “traços de si
mesma e na própria obra” (BRANDI, 2004, p. 71) a Drª
Angélica evidenciou no piso o local onde a antiga escada
ainda esta situada.
Segundo a Carta de Burra (1980, p. 02), os artigos 1 e 7 da
mesma, afirmam que é permitido pequenas modificações
destinadas a compatibilização para o bom usufruto do imóvel,
contanto “que sejam substancialmente reversíveis ou que
requeiram um impacto mínimo”. Sendo plausível o intuito de
manter o elemento intacto, podendo voltar ao seu primeiro
estado a qualquer momento.
Em relação à área posterior do terreno do Casarão, ainda
encontra-se o antigo fogão a lenha com uma pequena
chaminé inclusa. Foi essencialmente importante manter este
corpo, por possuir um valor histórico ligado ao primeiro
destino deste imóvel ainda como Hospital, pois este elemento
era utilizado pelas enfermeiras que escaldavam e
esterilizavam os lençóis do hospital.
Artigo 7º - O monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio em que se situa. Por isso, o deslocamento de
Figura 202 – Marcação no piso para
registro da antiga escada, 2001.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 132 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
todo o monumento ou de parte dele não pode ser tolerado (...). (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 02).
Outro elemento presente na área posterior do imóvel foi a
caixa d’água também construída na década de 1920. Quando
encontrada, estava desativada e os ambientes molhados do
imóvel não haviam instalações hidráulicas.
Então foi necessário adaptá-la ao Casarão e aos novos
ambientes como a copa, a lavanderia, os novos banheiros, a
piscina, deck, salão de eventos e a pequena residência
acrescentada. Para isso a nova moradora restaurou a caixa
d’água, consertando as rachaduras nela presente, e
acrescentou meio metro na altura para aumentar a pressão
da água.
Juntamente com a instalação hidráulica, também foi feita toda
a instalação elétrica do imóvel, e das edificações
acrescentadas em seu terreno, já citadas anteriormente. Figura 203 e 204 – Original fogão a
lenha restaurado, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 205 – Detalhe da chaminé
do fogão a lenha, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 206 – Caixa d’água durante
sua restauração. Nota-se o aumento
de meio metro ainda visível, [ca.
2001/2002].
Fonte: Acervo pessoal fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 133 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Segundo o artigo 20 e 21 da Carta de Burra (1980, p. 04), as
obras de adaptação, como no caso da caixa d’água, serão
consideradas de modo que seja o “único meio de conservar o
bem” limitando-se ao “mínimo indispensável à destinação do
bem a uma utilização”.
Nesta situação, a restauração foi de suma importância para a
reutilização do bem tratado. Caso contrário o elemento seria
descartado ou demolido para atingir as exigências atuais do
imóvel.
Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a lenha. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 207 – Caixa d’água depois
da restauração, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 134 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
As escavações no terreno de um imóvel prestes a sofrer uma
intervenção são essenciais para busca de informações e
histórias sobre o passado do local.
Assim como no artigo 15 da Carta de Veneza (1964, p. 03), a
Carta de Burra (1980, p.04) também beneficia, porém
especifica melhor as escavações:
Artigo 24º - Os estudos que implicam qualquer remoção de elementos existentes ou escavações arqueológicas só devem ser efetivados quando forem necessários para a obtenção de dados indispensáveis à tomada de decisões relativas a conservação (...).
Com este intuito a Drª Angélica, fez escavações ao entorno
da edificação em busca de dados informativos sobre o
Casarão e artefatos históricos. Em conseqüência foi achada
uma espécie de algema arcaica. Entretanto, não havia
revestimento de pisos, nem vestígios de construções ou
dados que pudessem interferir na intervenção do imóvel.
Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas escavações.
Fonte: Acervo pessoal.
D. Cobertura
Segundo Drª Angélica, a restauração da cobertura teve início
com a retirada das telhas, caibros e ripas. Estes dois últimos
elementos foram substituídos, pois partes dos mesmos não
podiam ser reaproveitados para o telhado, devido ao
envelhecimento das telhas pela exposição do sol e à chuva
sem manutenção preventiva.
O madeiramento da cobertura também apresentava peças
apodrecidas, além de outras atacadas por insetos xilófagos
(cupins), o que pode ter causado a instabilidade da cobertura,
deslocamento de telhas e problemas de escoamento.
Figura 211 – Fachada posterior,
quase sem resquícios de telhas na
cobertura. Condições em que a
edificação foi encontrada em 2001.
Fonte: Acervo pessoal fornecido
pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 135 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
A melhor solução encontrada pela moradora para
recompensar parte desta falta, foi comprar 8 mil telhas
coloniais também feitas de modo artesanal – assim como as
originais do Casarão – para repor as que não foram
aproveitadas.
Ainda assim, foi necessária uma maior quantidade de telhas.
Neste caso optou-se por telhas coloniais da atualidade para
complementar.
Mesmo desconhecendo sobre o assunto, a Drª Angélica
adotou técnicas corretas em relação à colocação e limpeza
das telhas. Para distinguir as antigas das novas, foram
separadas as telhas de mesma origem, utilizando “telha nova
como bica (canal) e as telhas originais como capa”.
(PIMENTEL, 2009/2010, P. 04).
Em relação à limpeza, todas as 18 mil telhas antigas foram
lavadas com água, sabão em pó e palha de aço, não
utilizando produtos químicos no procedimento que
desgastassem as peças.
Todos os métodos adotados atendem às orientações técnicas
que tratam sobre o assunto, evitando o uso de produtos que
poderiam danifica as peças originais.
Da mesma maneira, o procedimento relativo à utilização das
telhas antigas nas faces visíveis da cobertura então em
acordo com as determinações de Brandi, quando este orienta
que a unidade potencial da obra de arte deve ser o objetivo
de toda intervenção.
Figura 212 – Outro
perfil da fachada
posterior com
somente algumas
telhas restantes, 2001.
Fonte: Acervo pessoal
fornecido pela Drª
Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 136 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 213 – Telhas coloniais antigas postas como capa na cobertura,
2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal, para substituir
as faltantes, 2010.
Fonte: Acervo pessoal
Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010.
Fonte: Acervo pessoal
Além das telhas coloniais, a moradora optou por colocar
telhas translúcidas em dois pontos da cobertura, direcionados
para o escritório e a sala íntima situados na suíte master, pois
devido ao alto pé direito, o interior da edificação tende a ficar
escuro, o que leva a ser um ponto positivo. Portanto, além de
absorver iluminação natural de dia, evita a utilizar iluminação
artificial durante este período.
Estas telhas translúcidas não interferem na estética no
exterior do imóvel, pois as mesmas não sãos perceptíveis ao
ponto de vista do observador.
CAPITULO 05 137 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master, 2010.
Fonte: Acervo pessoal.
Em alguns quartos, como na suíte master e no pequeno
quarto de visitas, foram encontrados forros de madeira em
junta seca no teto, nivelados com a parte superior das
paredes internas. Ao encontro destes forros com as paredes,
também foram encontradas sancas de madeiras, na suíte
master trabalhada com ornamentos, já do quarto de visitas
eram simples.
Todavia, não se sabe ao certo se os demais ambientes
também presenciavam forros de madeiras.
Figura 217 –
Detalhes do
antigo forro na
atual suíte
master em
2001.
Fonte: Acervo
pessoal
fornecido pela
Drª Luisa
Angélica Sales.
Figura 218 –
Detalhes do
antigo forro no
atual quarto de
visitas, 2001.
Fonte: Acervo
pessoal
fornecido pela
Drª Luisa
Angélica Sales.
CAPITULO 05 138 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Contudo, segundo a Drª Angélica “os forros foram retirados
em função do cupim e também para que eu possa observar
melhor qualquer irregularidade nas telhas e tesouras”.
Neste caso, requerer que o forro fosse mantido não era
viável, pois desta maneira obstruiria a visibilidade interna da
estrutura da cobertura, evitando obter diagnósticos sobre as
tesouras que estão sofrendo flambagem.
Para evitar que toda a madeira retirada fosse descartada,
foram reaproveitadas peças dos forros, caibros e ripas que
estivessem em bom estado para confeccionar os armários da
copa e cozinha.
Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento das madeiras da cobertura, [200-]. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 219 – Estrutura de
madeira o qual o forro era
preso na atual suíte
master, e acima a
cobertura da edificação
com as telhas sendo
retiradas em 2001.
Fonte: Acervo pessoal
fornecido pela Drª Luisa
Angélica Sales.
CAPITULO 05 139 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
E. Esquadrias
Certamente as esquadrias também são elementos que fazem
parte da história do patrimônio e devem ser revitalizados
dando uma nova maneira de visualizá-las. Neste caso, não
podem ser desfeitas.
No entanto foram restauradas a partir da limpeza de todas as
janelas e portas do imóvel com a remoção de teias de
aranhas, ninhos de cupins, para posteriormente serem
lavadas. Após a higienização das esquadrias, foi aplicada
tinta a óleo azul - mesma cor de quando foram encontradas –
devido à boa aderência por oferecer impermeabilização.
Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de cupins (ano de 2001) e depois restaurada e pintada com tinta a óleo em 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de aranha (em 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
A tinta a óleo não possuir poder de penetração, neste caso,
não irá alterar as características químicas do material. Sendo
assim, o valor estético referente à cor original das esquadrias
é mantido com a pintura azul das mesmas.
Por possuírem uma significação cultural, o modo correto
utilizado pela atual moradora, em tratar todos os elementos
da mesma maneira, é confirmado pelo art. 5º da Carta de
Burra (1980, p. 02), onde “nenhum deles deve ser revestido
de uma importância injustificada em detrimento dos demais”.
Eventualmente a manutenção feita nas substâncias das
esquadrias teve o objetivo de preservar e “desacelerar do
processo pelo qual elas se degradam” (idem, p. 01).
Quando o anexo foi construído, todas as esquadrias
adicionadas a este corpo foram copiadas iguais às originais.
CAPITULO 05 140 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
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Entretanto os elementos de cada época em que a edificação
passou devem ser respeitados, por isso, manter as portas e
janelas deste corpo é historicamente convincente.
Tanto Brandi (2004, p.74), quanto as Cartas de Burra e
Veneza passam verossimilhança a este conceito, pois
consideram um “testemunho autêntico do presente de um
fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 74) na época em que as
esquadrias foram construídas. No entanto essas contribuições
são validas “visto que a unidade de estilo não é a finalidade a
alcançar no curso” da restauração desta obra (CARTA DE
VENEZA, 1964, p. 03), e sim a historicidade da mesma.
Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda Janelas da copa situada no anexo, e à direita imagem da janela do corpo original, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
As janelas do imóvel e seus peitoris eram recuados em
relação à parede interna. Estes recuos foram mantidos
durante a intervenção, porém alguns anos depois, estes
recuos foram preenchidos com alvenaria somente no peitoril,
pois foram classificados como espaços ociosos em quase
todos os ambientes por não possuírem utilidade, além da
necessidade de obter um apoio do peitoril mais largo.
Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em 2001 e o mesmo mantido após a mesma em 2006. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
As adições são aceitas por Brandi (2004, p. 65), na medida
em que tais atos irão possuir um valor e testemunho histórico
no futuro, não se limitando somente aos relatos do passado
CAPITULO 05 141 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
para o presente. A Carta de Burra também admite adições
como pequenas obras para adaptações do imóvel referente
às necessidades do mesmo.
Este método é plausível, em vista que a Drª Angélica manteve
os recuos nas janelas da copa, pois dessa maneira
evidenciou os aspectos originais de como eram as demais
esquadrias.
.
A fachada principal do corpo original era composta somente
por janelas. Contudo, ao longo dos anos, devido ao uso do
imóvel foram feitas alterações.
Antes da reforma, o imóvel era uma moradia geminada, e
para ter acesso frontal a uma das residências, uma janela
sofreu adaptada para se tornar em uma porta, sendo retirado
o peitoril de alvenaria e trocado por uma pequena porta de
madeira de duas folhas.
Figura 229 – Preenchimento do peitoril das janelas, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 230 – Recuo do peitoril mantido somente nas janelas da copa, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa
Angélica Sales.
Figura 231 – Fachada frontal ainda com todas as janelas originais, [19--]. Fonte: Acervo fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.
Figura 232 – Alterações nas esquadrias da fachada principal, 2001. Fonte: Acervo fornecido pela
Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 142 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original adaptada para se transformar em uma porta, 2001. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Para retornar a sua antiga forma, a instância estética “reclama
a remoção” dos acréscimos para “reencontrar a unidade
originária e não apenas aquela potencial, se as adições
fossem, onde possível, removidas” (BRANDI, 2004, p.83).
Nesta situação é correto admitir o retorno de sua antiga
forma, a fim de preservar seu significado e a composição
visual dos elementos, onde o elemento a ser retomada a sua
forma original possui maior interesse que o elemento
excluído.
Esta opinião é validada pela Carta de Veneza (1964, p. 03) no
art. 11º, onde o mesmo afirma que “a exibição de uma etapa
subjacente só se justifica [...] quando o que se elimina é de
pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor
histórico, arqueológico, ou estético”.
Já a janela ao lado desta, localizada no grande salão, foi
substituída por uma porta semelhante as demais da
edificação. Todavia durante a restauração do imóvel, esta
porta foi permutada por uma nova – somente a porta foi
trocada, a bandeira fixa da porta foi mantida – devido ao
apodrecimento da madeira causado por xilófagos (cupins).
Figura 235 – Janela retomada ao seu estado original, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 143 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada em alguma época do imóvel (2001), à direita a nova porta substituída pela antiga, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Segundo Brandi (2004, p. 47), a integração de novos
elementos é permitida, com a condição de “ser sempre e
facilmente reconhecível”. No que diz respeito a esta
incorporação de novos corpos a obra, o autor alega que não
deveram ser visíveis a distancia, “mas reconhecíveis de
imediato [...] quando se chega a uma visão mais aproximada”.
Por isso, o novo elemento foi empregado da maneira correta.
Pois está situado no conjunto de forma harmoniosa em
relação ao todo, utilizando formas diferenciais, novas
técnicas, não sendo uma cópia das originais.
A porta por onde é feito o acesso principal atualmente
também sofreu substituição, a mesma não pode ser
restaurada pelo mesmo motivo que a esquadria anterior,
devido a falta de conservação e tratamento da madeira, foi
deteriorada pelos cupins.
A justificativa para este caso é semelhante ao conceito de
Brandi sobre a porta do antigo grande salão na fachada
principal. Juntamente com a Carta de Veneza (1964, p. 03), o
artigo 12º diz respeito aos elementos fadados a “substituir as
partes faltantes”. Estes “devem integrar-se harmoniosamente
ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a
fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e
de história”.
Figura 238 – Uma das antigas portas de acesso lateral, anos antes da intervenção no imóvel na década de 1970. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
CAPITULO 05 144 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
No que consiste a troca da porta, é coerente a substituição do
mesmo. Tendo em vista que o novo elemento não se destaca
mais em relação ao entorno onde está situado, mantendo-se
em conformidade com o conjunto.
Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral (vista pelo interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta que foi substituída pela antiga (vista pelo exterior), 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
Além destas portas, havia outra situada no anexo, ao lado da
porta citada anteriormente. A remoção deste elemento foi
demandada devido à grande quantidade desnecessária de
acessos, e por questão de segurança. Entretanto, a marcação
do vão na edificação foi mantida, sendo preenchido somente
o espaço onde a porta estava situada.
Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-], à direita o vão interno deixado ao retirar o elemento, 2006. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.
O mesmo caso acontece com as janelas da suíte de visitas.
Este ambiente possui quatro janelas, entretanto como é um
local o qual não possui um uso constante, foram removidas
duas janelas. Suas extrações não foram conseqüente
somente para a devida a segurança, mas sim do
apodrecimento das madeiras também causado por xilófagos
CAPITULO 05 145 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
(cupins), como não foi possível aproveitá-las, foram
descartadas.
Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Outra situação de remoção da esquadria original acontece no
antigo lavabo. Por ser atualmente um depósito com estantes,
não teria como abrir a janela de suas folhas, então em vez de
retirar a peça e fechar o espaço do elemento faltante com
alvenaria, foi proposta a substituição da janela por uma
báscula fixa.
O preenchimento de alvenaria seria somente no vazio da
diferença entra as alturas da esquadria, mantendo o recuo da
báscula em relação à parede interna. Esta mudança foi uma
boa opção para iluminação e ventilação do ambiente.
Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo lavabo (2001), e à direita a atual báscula fixa substituída pela antiga janela, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales
Ou seja, nestes casos as mudanças foram aplicadas pela
necessidade de adaptar o imóvel às condições atuais
propostas. Este ato é pertinente a Carta de Burra (1964, p.
01), no art. 1º, em que diz respeito à liberação de pequenas
obras para enquadrar o imóvel a sua atual destinação.
O que é plausível, pois ao retirar o elemento do corpo ao qual
pertence, foi deixado sinais de sua existência na obra,
tornando as afirmativas de Brandi (2004, p. 71) coerentes
com o enredo. Onde o mesmo pronuncia que a remoção deve
ser questionada, e se a remoção ainda perdurar, devem ser
deixados “traços de si mesma e na própria obra”.
Mas de fato, os elementos estão destinados “a desaparecer e
o próprio monumento, quase reduzido a um resíduo da
CAPITULO 05 146 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
matéria que foi composto” (BRANDI, 2004, p. 64). Isto é, os
elementos que compõe a obra de arte estão fadados a
perecer, neste caso, pode ocorrer de serem substituídos,
danificados, retirados, entre outros. Em conseqüência o
monumento poderá estar destinado à degradação (caso não
seja restaurado).
A excessiva quantidade de esquadrias no imóvel é uma
questão constante. Relevante a situação, foi proposto em
algumas janelas o fechamento das mesmas somente pelo
interior da edificação com alvenaria e entulhos, preservando-
os no exterior. Este método é adequado na situação em que
foi proposto, como no caso dos ambientes ociosos, ou seja,
que não possuem uma incessante circulação ou estagnação
de pessoas.
Manter os elementos por fora foi um ato pertinente e pode ser
justificado de acordo com a Carta de Burra (1980, p. 02) no
art. 3º, onde evidência que o “respeito à substância existente
não deve deturpar o testemunho nela presente”. Neste caso
as modificações não alteraram seu significado e mantiveram o
valor estético exterior do monumento, não alterando a
disposição e mantendo a integridade visual do conjunto.
Figura 245 – Janela da sala íntima mantida no exterior do imóvel, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 246 – Janela da sala íntima fechada por dentro, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 248 – Duas janelas do quarto de visitas fechadas por dentro. Fonte: Acervo pessoal.
Figura 247 – Duas janelas do quarto de visitas mantidas no exterior do imóvel, 2010. Fonte: Acervo pessoal.
CAPITULO 05 147 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Em suma, a intervenção feita pela atual moradora, Drª Luisa
Angélica Sales, foi em grande parte compatível com as
fundamentações teóricas das cartas patrimoniais e do teórico
Cesare Brandi.
O ato de reciclar uma obra do passado e aplicá-la aos dias
atuais é um trabalho árduo, e pode sofrer algumas
interferências quando for revitalizada, mas demonstra que
nada é imutável e que até as edificações sofrem constantes
de transformações.
A revitalização do Casarão demonstra que qualquer pessoa
com força de vontade, disposição e com a devida orientação,
pode manter um patrimônio conservado. Entretanto, devemos
compreender o passado da obra de arte, não apenas
conhecendo a história, mas também saber como incorporá-la
no presente, com visão no futuro.
148
666
CCCOOONNNCCCLLLUUUSSSÃÃÃOOO
CONCLUSÃO 149
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
Para dar inicio ao trabalho final de graduação foi preciso, de
forma sucinta, identificar o assunto principal que foi tratado,
ou seja, procurar o histórico e acontecimentos que deram
origem ao objeto de estudo, o Casarão.
Após traçar esta linha de raciocínio, o assunto foi
desenvolvido ao longo do projeto, de forma detalhada e
objetiva. Porém a abordagem do assunto a ser trabalhado só
foi possível através da busca dos melhores métodos de
pesquisa.
Neste caso, as informações nem sempre eram encontradas
através de referências bibliografias , arquivos ou documentos.
A falta e o descuido com tais documentos também influenciou
a necessidade de buscar dados com entrevistas.
Em relação às entrevistas, o assunto “DNOCS” era muito
delicado, principalmente para os moradores das residências
construídas pelo departamento nas cidades onde foram feitas
as pesquisas de campo, o que dificultou em parte o
recolhimento de dados. Pois o DNOCS tomou a decisão de
vender os imóveis, uma vez que os mesmo foram
abandonados pelo órgão.
Devidos a essas dificuldades e barreiras ao longo dos
estudos, algumas lacunas foram criadas no enredo do
trabalho, não sendo possível preenche-las, como no caso da
trajetória histórica do Casarão. A falta de organização dos
documentos da Câmara Municipal de Cariús impossibilitou
obter a data exata de quando o Casarão foi sede da câmara.
O mesmo acontece com a Escola Adahil Barreto – também
funcionou no Casarão – a ausência de arquivos com os dados
históricos do colégio não permitiu a data de quando o mesmo
mudou de sede.
Já as fundamentações teóricas e a análise das condições
físicas da antiga edificação tiveram um bom fluxo devido ao
contato direto com a atual proprietária que efetuou a
restauração no imóvel, o que facilitou os argumentos
produzidos através das investigações do levantamento de
informações e fatos obtidos.
A seca, o sertão do Ceará e as construções históricas das
cidades do interior deste estado são assuntos interessantes,
mas pouco desfrutados, inclusive pelos habitantes locais –
com exceção de alguns, como no caso da Drª Angélica. A
questão cultural é abordada nestas cidades, porém somente
através de festas para união dos povos. Filmes culturais são
apresentados em praças, mas o desinteresse é grande entre
os moradores locais, principalmente os mais jovens.
Os patrimônios históricos também estão sendo deixados de
lado. A falta de proveito desses bens e a carência de
profissionais especializados em restauração acarretam no
descuido, abandono e descaracterização dos mesmos.
150
777 RRREEEFFFEEERRRÊÊÊNNNCCCIIIAAASSS
BBBIIIBBBLLLIIIOOOGGGRRRÁÁÁFFFIIICCCAAASSS
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